Volume 2 - 2ª edição - 11/08/ 2010 ENEBIO · reformulado e é lançada a Carta de Princípios do...

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ENEBIO ENTIDADE NACIONAL DE ESTUDANTES DE BIOLOGIA Volume 2 - 2ª edição - 11/08/ 2010 SALVE, SALVE ESTUDANTES DE BIOLOGIA DO BRASIL! Mais um ano de muito trabalho. Junto a isso há a necessidade de expormos o acúmulo desta caminhada. Ao refletir sobre todos estes anos de MEBio, seguimos avaliando nossas ações ligadas ao momento histórico no qual estamos inseridos. Temos passado por um processo de reorganização da entidade, conjuntura que também se apresenta no movimento estudantil como um todo. As manifestações organizadas dos estudantes de biologia começaram no início dos anos 70, proporcionando muitos debates e ações que se consolidou na regulamentação da profissão em 1979. Desde esta época havia reuniões e encontros dos estudantes para se debater os eixos políticos, culturais e científicos ainda não fragmentados. A criação de uma executiva de curso se deu no final dos anos 80, com diversas estruturas organizativas e atuantes, mas em meados dos anos 90 há indícios da desorganização da nossa entidade. Nesta trajetória, perdendo o caráter de luta e combatividade do movimento começam os questionamentos desta falta de organização. Em 2007, no ENEB de Viçosa-MG a partir de vários anos de discussão e de amadurecimento, a ENEBio é reerguida (agora então como Entidade Nacional de Estudantes de Biologia), o estatuto é reformulado e é lançada a Carta de Princípios do movimento, conjuntamente com suas bandeiras de luta. Neste percurso chegamos ao XXXI ENEB, ao completar três anos nota-se consolidação desta organização. Assim, compreendendo as contradições expostas pela sociedade, nos surge o desafio de concretizar essas construções para que avancemos na luta contra a mercantilização da educação, a degradação do meio ambiente e a exploração do homem pelo homem. Uma série de atividades foram fomentadas pela ENEBio neste período de 2009 ao início de 2010. Estreitamos relações com diversas entidades com a construção da Semana Nacional de Mobilização (impulsionada pela FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil, pela ABEEF – Associação Brasileira de Engenharia Florestal e com a participação da Via Campesina), que ocorreu em maio deste ano. A constante participação como observador no FENEX (Fórum Nacional das Executivas de Curso)nos proporcionou um grande amadurecimento como também o avanço na formulação e atuação unificada com outras executivas, além da construção do I ERA (Encontro Regional de Agroecologia) Sudeste e do IV ERA Nordeste o que reforça esta atuação conjunta com outras entidades. Ao nos propor a diversas construções temos caminhado significantemente: novos EREB’s (Encontros Regionais), CONEBio’s e COREBio’s ( Conselhos Nacionais/Regionais de Entidade de Base), como também o 3° CFPBio Sudeste (curso de Formação Política da Biologia) e a organização dos EIV’s (Estágio interdisciplinar de Vivência) São Paulo e Sergipe. Além do fomento aos Cursos de Coordenadores (espaço estruturado metodologicamente que ocorre anterior aos Encontros Regionais e Nacionais)para que haja mais preparo e organicidade dos coordenadores dos Eventos, sendo também muito importante para que novas pessoas se aproximem do movimento e de nossa construção. Considerando o acúmulo produzido pela Entidade na política de passadas (visitas que podem ser bem elaboradas, onde há a apresentação da ENEBio e da importância do Movimento Estudantil da Biologia enquanto organização autônoma dos estudantes) as quais foram realizadas em diversas escolas, ampliamos o contato com Minas Gerais e também com o Centro-Oeste, onde há muitas escolas e muitas problemáticas a serem discutidas. Levamos materiais, introduzimos diversos debates que nos colocam em contradição atualmente: educação, formação profissional e diretrizes curriculares e meio ambiente. Nesta edição do jornal traremos textos referentes às atividades realizadas neste ano (Semana Nacional de Mobilização, 2º CFPBio SUL, ERA, XXXI ENEB e um texto de contribuição sobre a passada na UFMT – Universidade Federal do Mato-Grosso). Neste ano o tema da Campanha Nacional está focado na: Formação do profissional biólogo e sua relação com a mercantilização da educação. Contribuições sobre esta irão ser apresentadas aqui, para entendermos melhor a importância de haver um foco de estudo, acumulo e atuação durante um ano de gestão da entidade. Textos sobre o sucateamento das licenciaturas, currículo e complexidades da formação do profissional biólogo, que culmina na temática do XXXI ENEB, poderá trazer um pouco deste atual debate dentro da ENEBio. Sobre a presente conjuntura na esfera do meio ambiente, que também se reflete na mudança do código florestal e na situação de criminalização dos movimentos sociais, incorrem a necessidade de uma abordagem crítica para que possamos debater mais a fundo e estabelecer ações concretas para a mudança deste cenário. Uma boa leitura a tod@s! Está a procura de materiais, textos, notícias e diversas informações sobre tudo o que acontece na ENEBio? Acesse o nosso site: www.enebio.org o Blog da Campanha Nacional: cnenebio.wordpress.com. Quer entrar no grupo de emails da Biologia Nacional? Mande um email em branco para [email protected] Movimento Estudantil: isso aí é pra mim? A importância dos Cursos de Formação Política ENEB 2010 em Feira de Santana Encontro Regional de Agroecologia - ERA Semana Nacional de Mobilizações Passada: experiência na UFMT Criminalização dos Movimentos Sociais Código Florestal Currículo de Biologia Que acesso é esse? Campanha Nacional 2 3 4 5 6 7 8 8 10 12 14 Nesta 2ª Edição

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ENEBIOENTIDADE NACIONAL DE ESTUDANTES DE BIOLOGIA

Volume 2 - 2ª edição - 11/08/ 2010

SALVE, SALVE ESTUDANTES DE BIOLOGIA DO BRASIL!

Mais um ano de muito trabalho. Junto a

isso há a necessidade de expormos o acúmulo

desta caminhada. Ao refletir sobre todos estes

anos de MEBio, seguimos avaliando nossas

ações ligadas ao momento histórico no qual

estamos inseridos. Temos passado por um

processo de reorganização da entidade,

conjuntura que também se apresenta no

movimento estudantil como um todo. As manifestações organizadas dos

estudantes de biologia começaram no início dos

anos 70, proporcionando muitos debates e

ações que se consolidou na regulamentação da

profissão em 1979. Desde esta época havia

reuniões e encontros dos estudantes para se

debater os eixos políticos, culturais e científicos

ainda não fragmentados. A criação de uma

executiva de curso se deu no final dos anos 80,

com diversas estruturas organizativas e

atuantes, mas em meados dos anos 90 há

indícios da desorganização da nossa entidade.

Nesta trajetória, perdendo o caráter de luta e

combatividade do movimento começam os

questionamentos desta falta de organização. Em

2007, no ENEB de Viçosa-MG a partir de vários

anos de discussão e de amadurecimento, a

ENEBio é reerguida (agora então como Entidade

Nacional de Estudantes de Biologia), o estatuto é

reformulado e é lançada a Carta de Princípios do

movimento, conjuntamente com suas bandeiras

de luta. Neste percurso chegamos ao XXXI ENEB,

ao completar três anos nota-se consolidação

desta organização. Assim, compreendendo as

contradições expostas pela sociedade, nos surge

o desafio de concretizar essas construções para

que avancemos na luta contra a mercantilização

da educação, a degradação do meio ambiente e

a exploração do homem pelo homem.Uma série de atividades foram fomentadas

pela ENEBio neste período de 2009 ao início de

2010. Estreitamos relações com diversas

entidades com a construção da Semana Nacional

de Mobilização (impulsionada pela FEAB –

Federação dos Estudantes de Agronomia do

Brasil, pela ABEEF – Associação Brasileira de

Engenharia Florestal e com a participação da Via

Campesina), que ocorreu em maio deste ano. A

constante participação como observador no

FENEX (Fórum Nacional das Executivas de

C u rs o ) n o s p ro p o rc i o n o u u m g ra n d e

amadurecimento como também o avanço na

formulação e atuação unificada com outras

executivas, além da construção do I ERA

(Encontro Regional de Agroecologia) Sudeste e

do IV ERA Nordeste o que reforça esta atuação

conjunta com outras entidades. Ao nos propor

a diversas construções temos caminhado

significantemente: novos EREB’s (Encontros

Regionais), CONEBio’s e COREBio’s ( Conselhos

Nacionais/Regionais de Entidade de Base),

como também o 3° CFPBio Sudeste (curso de

Formação Política da Biologia) e a organização

dos EIV’s (Estágio interdisciplinar de Vivência)

São Paulo e Sergipe. Além do fomento aos

Cursos de Coordenadores (espaço estruturado

metodologicamente que ocorre anterior aos

Encontros Regionais e Nacionais)para que haja

m a i s p r e p a r o e o r g a n i c i d a d e d o s

coordenadores dos Eventos, sendo também

muito importante para que novas pessoas se

aproximem do movimento e de nossa

construção.Considerando o acúmulo produzido pela

Entidade na política de passadas (visitas que

podem ser bem elaboradas, onde há a

apresentação da ENEBio e da importância do

Movimento Estudantil da Biologia enquanto

organização autônoma dos estudantes) as

quais foram realizadas em diversas escolas,

ampliamos o contato com Minas Gerais e

também com o Centro-Oeste, onde há muitas

escolas e muitas problemáticas a serem

discutidas. Levamos materiais, introduzimos

diversos debates que nos colocam em

contradição atualmente: educação, formação

profissional e diretrizes curriculares e meio

ambiente. Nesta edição do jornal traremos textos

referentes às atividades realizadas neste ano

(Semana Nacional de Mobilização, 2º CFPBio

SUL, ERA, XXXI ENEB e um texto de

contribuição sobre a passada na UFMT –

Universidade Federal do Mato-Grosso). Neste

ano o tema da Campanha Nacional está focado

na: Formação do profissional biólogo e sua

relação com a mercantilização da educação.

Contribuições sobre esta irão ser apresentadas

aqui, para entendermos melhor a importância

de haver um foco de estudo, acumulo e

atuação durante um ano de gestão da

entidade. Textos sobre o sucateamento das

licenciaturas, currículo e complexidades da

formação do profissional biólogo, que culmina

na temática do XXXI ENEB, poderá trazer um

pouco deste atual debate dentro da ENEBio.

Sobre a presente conjuntura na esfera do meio

ambiente, que também se reflete na mudança

do código florestal e na situação de

criminalização dos movimentos sociais,

incorrem a necessidade de uma abordagem

crítica para que possamos debater mais a fundo

e estabelecer ações concretas para a mudança

deste cenário.Uma boa leitura a tod@s!

Está a procura de materiais, textos, notícias e

diversas informações sobre tudo o que

acontece na ENEBio? Acesse o nosso site:

www.enebio.org o Blog da Campanha

Nacional: cnenebio.wordpress.com.

Quer entrar no grupo de emails da Biologia

Nacional?Mande um email em branco para

[email protected]

Movimento Estudantil: isso aí é pra mim?

A importância dos Cursos de Formação Política

ENEB 2010 em Feira de Santana

Encontro Regional de Agroecologia - ERA

Semana Nacional de Mobilizações

Passada: experiência na UFMT

Criminalização dos Movimentos Sociais

Código Florestal

Currículo de Biologia

Que acesso é esse?

Campanha Nacional

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Nesta 2ª Edição

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2 ENEBio

Movimento estudantil: isso aí é pra mim?

Quando você se pergunta, porque

tenho que ler esse texto, que fala de

movimento estudantil, logo, você pensa

que assunto chato, entediante e porque

eu, estudante tenho que contribuir com

a construção do mesmo. Nesse breve

artigo vamos tentar dar uma leve

importância do Movimento Estudantil,

principalmente aqui na Biologia. Será

que tem importância mesmo o

Movimento Estudantil?Segundo a História, a primeira

idéia que tivemos de movimento

estudantil foi no século XV, nas

Universidades Européias, quando

estudantes universitários da nobreza

começaram a questionar seu próprio

Deus. Não é novidade que pessoas

como Martinho Lutero e João Calvino

começassem a se perguntar será que

Deus mesmo é amor? Por que eu vivo

assim e a população vive de outro jeito.

Em Univers idades Saxônicas e

Francesas era comum ver esse

comportamento social surgindo com

jovens da nobreza. Mas será mesmo

que isso tem ligação com a realidade de

hoje? Lógico que não. Hoje vivemos

com novos problemas e logo surge o

primeiro ponto que é uma realidade de

movimento estudantil, os problemas

são rotativos, como foi à questão

estrutural da Universidade em 1915 em

Córdoba e atualmente vivenciada nas

Universidades brasileiras.O estudante também é um ser

rotativo. Essa rotatividade se presencia

logo após a conclusão do curso

universitário, onde alguns trocam os

ideais de luta por um paletó e uma

gravata. O ideal de coletividade não

pode ser esquecido e levado para

segundo plano.

O movimento estudantil é o

princípio da conquista, estudantes se

reúnem e começam a reivindicar

direitos. Você, estudante, deve

lembrar-se daqueles antigos ditados

“A união faz a força” ou “Juntos somos

milhões”. A união estudantil é a base

para que todos nos direitos sejam

realmente garantidos para acabar com

as injustiças que acontecem não só no

Brasil, mas em várias partes do globo.

No Brasil, durante as décadas de 40 a

60 era comum a atuação firme dos

estudantes brasileiros como a

fundação da UNE ou como a luta

contra a ditadura militar. Esse

movimento foi perdendo a força e

atualmente encontra-se num estado

em que vários estudantes já entram na

universidade, para apenas se formar

“cientificamente” e desprezar tal

movimento que exercemos com tanto

fulgor anteriormente.A realidade é outra, leitor.

Hoje fazer movimento estudantil é

uma realidade para poucos, indagar e

construir algo útil para benefício da

sociedade é raro. Por alguns motivos:

falta de interesse, marginalização do

movimento estudantil, descrédito dos

próprios reitores e membros de pró-

reitorias universitárias, que puxando a

memória foram estudantes que nem

você e eu, cr iminal ização dos

movimentos. Também, não podemos

esquecer que a sociedade brasileira

tem péssima memória. Você se lembra

em quem votou na eleição em 2006?

Hoje desmandos governamentais nos

atingem e muitos nem se lembram do

que aconteceu. Não podemos esquecer

os políticos do mensalão ou das

sanguessugas que podem já ser eleitos.Hoje se inserir no movimento

estudantil é uma realidade que é

alcançável, não temos mais a polícia

instalada nos nossos Diretórios

Acadêmicos ou nos nossos Centros

Acadêmicos. Basta apenas você, leitor,

se inserir no contexto em que vivemos

na sociedade e você verá que: “A

revolução acontece através do homem,

mas o homem tem de forjar, dia a dia, o

seu espírito revolucionário”.

"... É tempo sobretudoDe deixar de ser apenasA solitária vanguardaDe nós mesmos.Se trata de ir ao encontro.(Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros).Se trata de abrir o rumo.Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando.”

Thiago de Mello

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3ENEBio

A IMPORTÂNCIA DOS CURSOS DE FORMAÇÃO POLÍTICA

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Os cursos de formação política para

a Biologia (CFPBios), têm, como o

próprio nome já indica, um caráter de

formação crítica para os estudantes de

Biologia, e também caractariza-se por

aproximar a ENEBio das escolas de suas

respectivas regiões em âmbito

nacional, por fomentar os debates,

pensar em atuação e organização,

também cumprindo um grande papel

para as escolas que se propõem a

construí-lo. Sempre tendo em vista que

a f o r m a ç ã o d e

sujeitos críticos que

n ã o e s t e j a m

s o m e n t e

preocupados em

estudar o meio em

que vivem, mas que

possam transformá-

lo, superando o

modelo capitalista

q u e d e s t r ó i

diariamente vidas e

sonhos.Foi pensando na

importância e no

caráter que esses

cursos tem para a nossa entidade que

colocamos esse texto nesse jornal.Analisando a construção do II CFPBio

Sul, percebemos a necessidade de

termos um grupo coeso entre as

Comissões Organizadoras, assim como

uma maior proximidade das escolas

que bancam essas estruturas. Além

disso, os cursos promovem uma maior

organicidade no movimento de nossa

entidade, trazendo a superfície as

problemáticas que existem tanto nos

âmbitos estudantis e profissionais,

como nos meios sociais.O modelo político econômico

atual, o modelo capitalista neoliberal,

passa constantemente por diversas

manutenções para se manter vigente,

isso é facilmente observado quando

passamos por períodos de crises. Tais

m a n u t e n ç õ e s i n c l u e m a

t r a n s f o r m a ç ã o d e t u d o e m

mercadoria, e a isso incluímos a

educação, os recursos naturais, as

nossas necessidades básicas e as

relações humanas.As problemáticas no Ensino

Superior e nos meios sócio-ambientais

provenientes de tal modelo são

sistêmicas, por isso a luta por sua

superação também deve ser. A nossa

organização tem papel fundamental

nessa empreitada, pois só construindo

uma frente de mobilização e luta é que

conseguimos trazer as verdadeiras

relações entre os seres humanos e

todo o restante do meio natural.

Percebendo o caráter de

nossa entidade e fomentando as

discussões do objetivo dos cursos de

formação, salientamos que devemos

ter 3 bases de atuação: a luta por uma

u n i v e r s i d a d e g r a t u i t a , l a i c a ,

socialmente referenciada e de

qualidade, que se dá com o movimento

estudantil; a aproximação com os

movimentos sociais, pois devemos

estar lado a lado com a classe

trabalhadora, na consquista por

direitos seja no campo ou nas grandes

cidades; e o nosso horizonte de atuação

p e n s a n d o e n q u a n t o f u t u r o s

profissionais biólogos, estando dentro

do mercado de trabalho e sendo peça

chave nos debates

ambientais, daí os

d e b a t e s d e

movimento de área.

Olhar além das

l e n t e s d o s

m i c r o s c ó p i o s e

perceber um mundo

a se transformar pela

nossas mãos e as

mãos de toda uma

classe trabalhadora,

é nesse sentido que

e l e n c a m o s a

importânc ia dos

CFPBios Regionais,

pois só entendemos a complexidade do

meio em que vivemos analisando,

juntando as suas partes constituintes e

lutando diariamente para construir

uma história mais coerente.

"Mas é nelas (bocas e mãos, sonhos, greves e denúncias) que te vejo pulsando,mundo novo,ainda que em estado de soluços e esperança"

Ferreira Gullar

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4 ENEBio

ENEB 2010 em Feira de Santana - BA

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"

Propomos então colocar no olho deste

furacão a formação do sujeito biólogo. Colocar no olho do furacão significa aqui colocar em perspectiva contextual e mergulhada em meio a este turbilhão. Uma perspectiva que não dissocia jamais o fato de este sujeito estar inserido nestas

complexidades e contradições

“Complexidades e Contradições no Mundo a se Transformar:

a formação do sujeito biólogo no olho do furacão”

Afinal, o que é ENEB?

ENEB é a sigla de Encontro Nacional de Estudante de Biologia, que é o espaço máximo de discussões e deliberações do Movimento Estudantil da Biologia (MEBio), servindo como espaço de fomento ao debate sobre inúmeras táticas que envolvem as esferas de interesse que nós, futur@s ou já formad@s Biológ@s, nos envolvemos durante a formação acadêmica e atuação enquanto trabalhador@s. Tendo periodicidade anual, ocorre desde 1980, sediado sempre em uma Instituição de Ensino Superior Brasileira, as quais oferecem a estrutura necessária para a realização do Encontro. O ENEB também é um significante espaço de interação e integração, servindo para trocas de experiências pessoais e coletivas.

Vale ressaltar que o ENEB é uma das estruturas da ENEBio (Entidade Nacional de Estudantes de Biologia), a qual tem por finalidade integrar, representar e fomentar a organização d@s estudantes de biologia de todo Brasil, no sentido de tocar e cantar as discussões necessárias e encaminhar (e fazer caminhar) deliberações para que possamos vir construir uma sociedade m a i s j u sta e a m b i e nta l m e nte sustentável.

O ENEB então, baseado nos

pr inc íp ios da ENEBio, a lmeja proporcionar um espaço ideal para troca de experiências e opiniões entre os participantes acerca de suas diferentes realidades. Desta forma, busca discutir, propor e atuar em prol da construção de ideais coletivos, relacionados à formação profissional e

humana, ao combate à degradação ambiental, contrário a exploração h u m a n a e a precarização/mercantilização da educação, dentre outras questões que atingem nossa realidade. O ENEB promove também a formação acadêmica, propiciando uma visão crítico-reflexiva sobre o meio que nos permeia, uma vez que nossos curr ículos não promovem tal formação.

O ENEB desse ano, 2010, ocorrerá em terras baianas, na cidade de Feira de Santana, a Princesa do Sertão, na Universidade Estadual de Feira de

Santana (UEFS). Terá como temática principal a discusão sobre a formação e a atuação do sujeito biólogo, colocando numa perspectiva em que não dissocia jamais o fato de que o sujeito biológo está inserido nas complexidades e contradições inerentes ao sistema em que vivemos. Este sujeito que é estudante a se formar ou que é o profissional atuante e em constante formação que, como todo sujeito social, vivencia as tensões sociopolíticas e transforma-se com elas ainda que involuntariamente. Transforma-se nem que seja com alterações na sua rotina de trabalhos, nas bases teóricas h e g e m ô n i c a s d a s u a p r á t i c a profissional, no modelo de organização e atuação de sua categoria trabalhista. Propomos então colocar no olho do furacão, em perspectiva contextual, a formação e atuação desse sujeito biólogo.

“Defendemos uma formação que leve o indivíduo a refletir e atuar conforme as reais necessidades do seu meio social, e que garanta que cada um contribua de acordo com as suas possibilidades e seja atendido segundo as suas necessidades.”

(Carta de Princípios da ENEBio)

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5ENEBio

Encontro Regional de Agroecologia - ERA

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O pão de cada diaQue o pão encontre na boca

o abraço de uma cançãoconstruída no trabalho.

Não a fome fatigadade um suor que corre em vão.

Que o pão de cada dia não cheguesabendo a travo de luta

e a troféu de humilhação.Que seja a benção da flor

festivamente colhidopor quem deu ajuda ao chão

Mais do que flor, seja frutoque maduro se oferece,

sempre ao alcance da mão.Da minha e da tua mão.

(Thiago de Mello)

Olá enebian@s, estamos aqui para explicar um pouco sobre os ERA’S, que são os Encontros Regionais de Agroecologia, e para mostrar a importância da inserção da ENEBIO na construção desse espaço junto com outras Entidades estudantis.

A partir da necessidade de discutir novas alternativas ao modelo de desenvo lv imento agropecuár io imposto e também entender mais profundamente como se ramificam essas relações (principalmente dentro da realidade do campo e como influencia também na realidade urbana), foi que a partir dos anos 70, por iniciativa de estudantes de agronomia, a Agroecologia veio sendo abordada e colocada em lugar de destaque nas discussões.

O m o d e l o c a ra c t e r i za d o n a “Revolução Verde”, implantado no Brasil e que vivemos hoje, baseado na alta produtividade de cultivos de monoculturas em imensas áreas de terras, onde se alimenta um círculo vicioso entre a necessidade de agrotóxicos e a apropriação das sementes crioulas, vem de encontro ao modelo de produção agrícola baseada na agricultura familiar e de subsistência que respeita a natureza, a diversidade biológica e a segurança alimentar da sociedade, o qual acreditamos e defendemos.

A Agroecologia pode ser usada como ferramenta de alta abrangência para responder e em longo prazo resolver as problemáticas de um modelo de produção agrícola e ideológico que a p e n a s refo rça e ex p a n d e a s contradições e desigualdades da nossa sociedade, ou seja, ela pode permitir e sustentar uma transição para uma nova relação do homem com a natureza, e do próprio homem também. Diante disso fica claro o caráter emancipatório que a agroecologia permite, quando baseada nas suas premissas e quando seus objetivos estão bem traçados.

Os ERA’S (Encontros Regionais de Agroecologia) vêm para suprir a necessidade de acúmulo sobre essa temática, acontecendo em níveis regionais com o intuito de trabalhar a relação entre teoria e prática, baseada no intercâmbio do conhecimento c i e n t í f i c o e n o re s ga t e d o s conhecimentos populares das comunidades rurais, refletindo dentro e fora do “universo” da academia e proporcionando ainda a aproximação dos estudantes de biologia, que fazem parte de grupos de Agroecologia, ao Movimento Estudantil através da ENEBIO, quebrando a dicotomia entre ME e Agroecologia, transformando-a em uma ferramenta de transformação social que não está dissociada das

diferentes lutas que travamos em nossa Entidade.

Temos a consciência de que unidos somos mais fortes e atingiremos nossos objetivos de maneira mais eficiente diante de uma sociedade baseada no antagonismo de classes, e com isso ressaltamos a importância de trabalharmos em conjunto com outras entidades, como a FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e a ABEEF (Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal), no intuito de reforçar os laços que já existem e focar em uma bandeira de luta conjunta para todas as ent idades - a Agroecologia, conseguindo também alcançar unidade com outros movimentos sociais. Sendo assim, desde 2008 a ENEBIO vem debatendo

a Agroecologia e caminhando junto com a ABEEF e a FEAB na construção dos ERA’S, avançando cada vez mais n e s s a c o n s t r u ç ã o c o l e t i v a e interiorização dessa bandeira.

Devemos sempre reafirmar a existência de espaços dentro da nossa entidade para aprofundar ainda mais essa temática como um todo. O GTP de Agroecologia, por exemplo, existe para garantir um melhor acúmulo e repasse sobre esse tema, juntamente com a inserção da ENEBIO na construção dos últimos ERA’S que aconteceram. Mesmo que tenha sido de forma inicial, fica óbvia a importância desse debate para os militantes da ENEBIO, fazendo valer as palavras que fazem parte do princípio 14 de nossa Carta de Princípios:

“14. Defendemos a construção da agroecologia como instrumento de luta que garanta a emancipação do t r a b a l h a d o r e t r a b a l h a d o r a , disseminando técnicas e práticas de manejo contextualizada com suas realidades, que respeitem a dinâmica natural do meio ambiente, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos seres humanos, que priorize valores socialmente justos, a m b i e n t a l m e n t e s e g u r o s e economicamente viáveis.

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6 ENEBio

Semana Nacional de Mobilização de Estudantes

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“Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir.Mas nós conseguiremos.”

(Rosa Luxemburgo)

(Thiago de Mello)

Unificar a luta em ações concretas!

Vivemos em um período complexo para as organizações, para a construção de sínteses que elevem o estágio de consciência e também quanto ao nível organizativo destas. A criminalização e violência aos movimentos sociais por parte dos aparatos repressivos do Estado, apesar de vivermos na “grande democracia”, vem aumentando absurdamente. Nós estudantes, passando por um processo de reorganização do movimento, analisamos a falta de capacidade real de i n t e r v i r m o s n e s t e contexto e também a fragi l idade de ações nacionais concretas. Esta Semana, proposta pela FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e pela ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal), se objetiva t a n t o n o â m b i t o p e d a g ó g i c o q u a n t o a g i t a t i v o , p a r a a construção de ações diretas de mobilização e também de acúmulo de f o r ç a s e n t r e a s organizações.

Com a participação da E N E C O S ( E x e c u t i v a Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), FEMEH (Federação do Movimento Estudantil de História), EXNEEF (Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física), CONEP FEAB , ABEEF e nós da ENEBio, foi construído em maio deste ano a p r i m e i ra S e m a n a N a c i o n a l d e Mobilização Estudantil. A partir da realidade local de cada escola, foi proposto o fomento de atividades

abordando as pautas específicas de cada executiva. Eixos centrais pautados pela semana: Contra a criminalização dos movimentos sociais e contra a mercantilização da Educação. Houve atividades em diversas escolas do país, a UFMT foi uma delas e traz um relato desta experiência:

“Na UFMT contamos com a participação da FEAB, ABEEF, ENECOS e FEMEH. As primeiras reuniões, para

debater e organizar a Semana Nacional de Mobilização. Mesmo com a possibilidade de flexibilização de datas, se precisasse de mais tempo, a semana foi realizada entre os dias 18 e 21. Durante as reuniões iniciais nos deparamos com atividades pré-agendadas para a semana, portanto integramos os calendários de

atividades da semana e dividimos tarefas entre as Executivas de curso presentes. Contamos com um debate sobre “Universidade e Formação Profissional” (FEAB), uma discussão sobre Gênero (ABEEF), um debate a respeito do Documentário “Complexo Narciso” (ENECOS), uma exposição com fotos e cartazes no Saguão do Restaurante Universitário com direito a intervenção com teatro, poemas e palavras de ordem e encerrando com a

Passada da UEL na UFMT (ENEBio). O sucesso na realização da semana fez brotar um sentimento e demanda real de unidade entre as Executivas, tanto que foi criado o Fórum Estadual de Executivas-FEEX, ainda embrionário, contudo r e a l i z a n d o r e u n i õ e s p e r i ó d i c a s e a t u a n d o a t i v a m e n t e , a ú l t i m a c o n q u i s t a f o i a disponibilização de ônibus para os Encontros Nacionais de cursos para todas as Executivas e cursos que fizeram a solicitação.”

A p a r t i r d e s t a s c o n s t r u ç õ e s t a m b é m conseguimos abordar e explorar o tema da nossa c a m p a n h a n a c i o n a l , começando a caminhada desta nova proposta para a ENEBio.

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7ENEBio

Passadas: experiência na UFMT

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A s p a s s a d a s s ã o u m a

ferramenta adotada pela Entidade

Nacional dos Estudantes de Biologia -

ENEBio - que surgiu diante da

necessidade da maior aproximação

entre os/as estudantes e as escolas de

Biologia da construção do Movimento

Estudantil de Biologia – MEBio, com o

objetivo de consolidar um movimento

mais atuante. Esta ferramenta é

importante para o trabalho de base

quando permite que uma escola de

biologia já inserida na construção

orgânica visite outras escolas que

estejam com uma pequena, ou

nenhuma inserção no MEBio e a partir

de espaços de sensibilização e debates,

o r g a n i z a d o s e e s t r u t u r a d o s

coletivamente entre as duas escolas,

socializar a importância do trabalho e da

organização dentro da ENEBio,

considerando as especificidades e a

conjuntura da realidade de cada local.Neste ano, entre os dias 19 e 23

de maio, a Universidade Estadual de

Londrina (UEL), atual Articulação

Nacional Movimentos Sociais realizou

uma passada na Universidade Federal

de Mato Grosso (UFMT), responsável

pela Articulação Regional do Centro

Oeste (AR-CO). passada, com o tema

“Revelando Caminhos e Expandindo

Conexões”, fez parte da programação da

Semana Nacional de Mobilizações que

aconteceu do dia 18 a 23 de maio. Apesar de a UFMT ser a AR-

CO, havia uma demanda histórica de

uma passada nessa escola para

reforçar as articulações. O Centro-

Oeste possui poucas escolas inseridas

no MEBio atualmente e por ser uma

reg ião de intensos conf l i tos ,

principalmente relacionados à

concentração de terra e suas

consequências, há a necessidade

concreta da conscientização e atuação

dos estudantes de Biologia da região a

respeito do tema.Muitas vezes, os estudantes se

interessam em part i c ipar do

movimento, porém têm a dificuldade

de acompanhar as discussões por falta

de acúmulo teórico, ou mesmo por

falta de identificação, acarretando o

desinteresse, e inclusive afastamento

da luta. isso, durante a construção da

p a s s a d a , c o n s i d e r o u - s e u m

diferencial: não apenas divulgar e

fomentar a importância dos nossos

espaços de organização (ENEB´s,

EREB´s - Encontros Nacionais e

Regionais, CFPBio´s – Cursos de

Formação Política, CONEBio´s e

COREBio´s – Conselhos Nacionais e

Regionais, dentre outros), mas

t a m b é m c r i a r v í n c u l o s m a i s

consistentes dos estudantes de

Biologia com uma introdução mínima

teórica das problemáticas, locais e

nacionais, enfrentadas por nós,

estudantes de Biologia.Então, a programação da

passada teve a duração de três dias, na

própria UFMT, com apresentações e

explanações dos conteúdos escolhidos

para serem abordados, incluindo

debates e trocas de experiências.

Estiveram presentes participantes de

universidades públicas e particulares,

movimentos sociais e coletivos

organizados. Essa diversidade foi

enriquecedora para os espaços.

Discutimos o papel da universidade

pública e privada, as formas e a

importância de organização dentro da

ENEBio, do MEBio e do Centro

Acadêmico, debatemos as diferenças

entre as modalidades licenciatura e

bacharelado, e abordamos temas locais

como o Zoneamento-Sócio-Econômico-

Ecológico de Mato Grosso.A realização e organização da

passada proporcionou uma contato

mais aproximado entre os estudantes

da UFMT e a ENEBio e introduziu

debates referentes a temas relevantes à

construção crítica na formação do

estudante e sujeito biólogo.

UFMT: Suzanne, Luã, MaraUEL: Patrícia (Patê =)

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8 ENEBio

Crininalização dos Movimentos Sociais

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O necessário combate à Criminalização dos Movimentos

Sociais

A s l u t a s e m d e fe s a d a biodiversidade, do direito à terra, à água, aos alimentos, as quais se colocam opostas à exploração e mercantilização dos recursos naturais, tão difundidos nesse momento da história em que vivemos, é travada pelos movimentos sociais que lutam pela superação do modelo econômico em que estamos inseridos. Nesse sentido, são esses movimentos que travam a batalha pelo que é condição básica para a manutenção da vida no planeta, a qual hoje se encontra tão ameaçada. Mas colocar ‘em xeque’ a manutenção do ‘status quo’ existente na sociedade em que estamos inseridos tem seu custo.

Os constantes ataques e a perseguição da grande mídia, que faz questão não apenas de deslegitimar o d i r e i t o à a u t o - o r g a n i z a ç ã o e manifestação do povo, mas também de criminalizar os movimentos; a violência

no campo contra os trabalhadores organizados; a polícia invadindo os campi das universidades para reprimir os estudantes em greve; os processos administrativos encabeçados pelas REItorias das universidades contra e s t u d a n t e s q u e o u s a r a m s e manifestar contra os diversos d e s d o b ra m e nto s d a Refo r m a Universitária do governo Lula da Silva; a tentativa do próprio estado “democrático de direito” brasileiro de colocar na ilegalidade um dos maiores movimentos da América Latina, que surgiu resultante do acúmulo de forças e do aprendizado gerado pelos mais de 500 anos de exploração e pela fundação da propriedade privada da terra no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST; os próprios dirigentes desse movimento, MST, que foram mantidos em cárcere em São Paulo, em fevereiro deste ano, sendo considerados presos políticos. Isso tudo sem contar com a c r i m i n a l i za ç ã o d a q u e l e s n ã o organizados, como é o caso da juventude das periferias e dos

milhares de pobres espalhados pelo país, seja pela polícia ou por segurança p r i v a d a e / o u c l a n d e s t i n a .

Cabe a nós portanto, estudantes organizados através da ENEBio, nos mantermos comprometidos com a resistência e a luta em defesa dos nossos princípios, a nos mantermos ao lado daqueles que, como nós, defendem um mundo realmente justo e sustentável para todos e todas, aonde o direito à vida não seja uma concessão dada para aqueles que podem pagar para existir.

Código FlorestalENEBIO PELA MANUTENÇÃO DO CÓDIGO

FLORESTAL: Em defesa dos pequenos produtores

e do meio ambiente

O estatuto da terra, presente na legislação

brasileira desde 1964, garante que toda e

qualquer atividade que se realize sobre a terra

deve cumprir sua função social. Essa tal função

social deve garantir três elementos básicos:

Produtividade; Regulamentação do trabalho e

Preservação ambiental. O primeiro tem sido o

principal fator de desapropriações de terras para

reforma agrária, porém os outros dois elementos

também podem ser responsáveis por isto. Neste

texto tomaremos como foco a Legislação

Ambiental e o Código Florestal Brasileiro como

empecilho para o latifúndio e para a degradação

ambiental e por esses motivos estão sujeitos a

diversas alterações.

SOBRE A ATUAL CONJUNTURA

As atuais mudanças no Código Florestal

Brasileiro vêm sendo estruturadas desde julho

de 2008, após um decreto Federal que definia

multas e punições para quem não cumprisse as

demandas do Código. Após este decreto os

grandes latifundiários se organizaram de

diversas maneiras para barrar estas punições.

Em 2009 existiam mais de trinta projetos de lei

(PL) tramitando na Câmara; dez deles foram

apensados (reunidos) a um único projeto de lei

(Nº 1.876), do deputado Sergio Carvalho

(PSDB/RO), e com isso este PL foi encaminhado

com regime de urgência dentro da Câmara.

Uma Comissão Especial sobre o Código

Florestal foi criada com 18 membros sendo 13

deles componentes da Bancada Ruralista. A presente reforma é coordenada pela

Bancada Ruralista, sendo hegemonizada por um

grupo de grandes produtores que colocam seus

mandatos no parlamento a serviço do

agronegócio e do latifúndio. São os mesmos

parlamentares contrários à votação da PEC

438/01 de Combate ao Trabalho Escravo e são

também responsáveis por conflitos fundiários e

a violência no campo. Dentro da Comissão

Especial, o Deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP) foi

o relator de um novo projeto, substitutivo ao PL

Nº 1.876, de 1999, em que propunha diversas

modificações. Este relatório insere uma visão

preponderantemente economicista das

florestas brasileiras e dos recursos naturais,

começando pelo artigo 1 do Código Florestal,

onde as florestas deixariam de ser entendidas

enquanto BEM PÚBLICO para receber

tratamento de mera MATÉRIA-PRIMA, ou seja,

anula a importância da vegetação para o bem

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9ENEBio

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estar coletivo, o clima global, as terras que

revestem e os níveis de conseqüências,

externalidades e riscos gerados com a

supressão florestal.Este relatório foi votado na comissão especial

sobre o Código Florestal, no dia 06 de julho de

2010, e quase que integralmente mantido. A

votação foi de 13 votos a favor do projeto de lei

e apenas 5 pela manutenção do Código

Florestal.

SOBRE AS MODIFICAÇÕES NO CÓDIGO

Para entendermos um pouco mais sobre o

que está por trás deste PL, citaremos algumas

das mudanças que já foram aprovadas na

Comissão Especial e agora serão enviadas ao

plenário da Câmara e ao Senado.Inicialmente, é interessante destacar que não

apenas o Código Florestal está sofrendo

modificações, mas também outras partes

fundamentais de nossa legislação ambiental.

Este PL revoga o Código Florestal (4.771 de

1965) e a lei que estabelece medidas de

proteção das Áreas de Proteção Permanente

(7.754 de 1989), além de alterar as leis de

Política Nacional do Meio Ambiente (6.938 de

1981), sobre o Imposto da Propriedade

Territorial - ITR e pagamento da dívida

representada por Títulos da Dívida Agrária

(9.393 de 1996) e sobre a utilização e proteção

da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica

(11.428 de 2006).Uma das mudanças que mais interessa a

Bancada Ruralista está relacionada ao

“Programa de Regularização Ambiental” que

foi inserido no texto da lei. Com esse

“programa”, todos os fazendeiros que

suprimiram de forma irregular vegetação

nativa, antes do dia 22 de julho de 2008, e

aderirem ao "programa", têm suas atividades

agropecuárias e florestais nas áreas de

preservação permanente e reservam legal

asseguradas e não podem ser autuados pelas

infrações que antes foram cometidas. Além

disso, a cobrança das multas já estabelecidas fica

suspensa. A data de 22 de julho de 2008, que

aparentemente não possui nenhum critério para

seu estabelecimento, é exatamente a data do

decreto federal 6.514 que regulamentou e

definiu as infrações e multas/punições para os

crimes ambientais.Algumas modificações estão relacionadas à

definição de alguns termos que orientam a

aplicação da lei, duas destas definições são

muito importantes e foram alteradas:

interesse social e utilidade pública. Ambas são

necessárias para regulamentar possíveis

intervenções em área de preservação

permanente. Na lei atual, essas intervenções

devem seguir resolução do CONAMA

(Conselho Nacional do Meio Ambiente), que é

composto por diversas entidades civis, técnicas

e governamentais, e no PL as intervenções

passam a ser regulamentas apenas pelos

incisos da própria lei, independendo do

CONAMA.Um ponto muito pouco discutido e que foi

alterado no PL, diz respeito às terras

indígenas. Foram suprimidos os incisos que

definiam como APP as florestas que integram

o patrimônio indígena e que, apenas

permitiam a exploração dos recursos

florestais nestas áreas, por comunidades

indígenas em um regime de manejo florestal

sustentável, para atender a subsistência. Esse PL já altera profundamente a legislação

ambiental e sua aplicação, mas ainda é

possível que mais alterações sejam realizadas.

Quando for submetido ao plenário para

votação, podem ser incluídas novas

modificações, o que é muito interessante para

a bancada ruralista que não conseguiu

aprovar o projeto na íntegra em primeira

instância. Entre partes do projeto que não foram

aprovadas pela Comissão Especial, mas

devem ser novamente colocadas em votação

no plenário pelos ruralistas, estão alguns

pontos que estavam no projeto de lei 5369, de

2009, de autoria do Deputado Federal Valdir

Colatto (PMDB/SC, membro da Frente

Parlamentar da Agropecuária e autor do

Código Ambiental de Santa Catarina). Os

pontos que provavelmente serão propostos e

votados em plenário são: dar autonomia aos

estados que poderiam ter sua própria legislação

ambiental , legis lando sobre as "suas

peculiaridades" seguindo diretrizes gerais sobre

a política nacional de meio ambiente,

permitindo a redução ou aumento das faixas

mínimas de APPs em até 50%, e tornar o

CONAMA um órgão apenas consultivo e

propositivo e não mais deliberativo, reduzindo

muito seu poder de atuação.

SOBRE NOSSA ATUAÇÃO

Percebendo este quadro preocupante,

os estudantes de Biologia tem se organizado

dentro das estruturas da ENEBio a fim de

buscarem maior formação sobre o tema, além

de organizar-se com outros movimentos e

entidades preocupadas com a alteração do

código. Em Janeiro de 2010, na fase final do 3º Estágio

Interdisciplinar de Vivência de São Paulo,

organizado pela ENEBio juntamente com

outras entidades estudantis e movimentos

sociais, houve um espaço de formação sobre

o Código e uma articulação com diversos

movimentos locais, que culminaram em dois

atos públicos em defesa da manutenção do

Código Florestal, um na Câmara dos

Deputados de Ribeirão Preto-SP, e outro na

dita “audiência pública” organizada pela

Comissão Especial sobre o Código Florestal

também em Ribeirão Preto, com a presença

do relator Aldo Rebelo. Surgiu a necessidade de se levar esta

discussão mais a fundo nas escolas de Biologia,

assim espaços de formação foram organizados

pelos coletivos nas universidades e também em

âmbito regional, como um Grupo de Discussão

no XXI EREB-SE e formação e agitação no 3º

CFPBio-SE. Com isto, na Assembléia Regional

deste mesmo EREB-SE, é encaminhado com

caráter de urgência que a ENEBio gere mais

acúmulo sobre este tema. Para isto, alguns

estudantes se propuseram a colaborar com o

Grupo de Trabalho Permanente (GTP) de Meio

Ambiente, com a atual gestão pela UFV, para

que possamos melhor balizar nossas ações e

discussões enquanto estudantes de biologia

organizados . Cabe a nós , organizar

nacionalmente uma ampla luta em defesa do

meio ambiente, dos povos tradicionais, da

produção de alimentos e da soberania

alimentar, para além do lucro e da exploração

ambiental!

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10 ENEBio

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Currículo de BiologiaO que é ser biólogo(a)?

Qual o limite iminente que nos é imposto em silêncio?

“Mesmo produzindo rugidos, a natureza é a grande muda."

C. Drummond

Bom, segundo o “santo google”:“Biologia é o estudo da vida. É um

campo da ciência empírica que examina a estrutura, função, crescimento, origem, evolução e distribuição de coisas vivas no passado e presente. Classifica e descreve as várias formas de organ ismos , como organ ismos funcionam, como espécies vem a existir e as interações que eles têm com outros e com o ambiente natural. Biologia inclui um amplo espectro de campos que endereça fenômenos relatados a organismos vivos. Um vasto campo, biologia envolve um grande número de disciplinas altamente especializadas”

Partindo desse princípio, podemos começar a nos questionar até que ponto o Currículo de Biologia - para uns ou Ciências Biológicas, para outros – que nos é oferecido nos restringe sem que percebamos... Enquanto estamos estudando tudo aquilo que os professores nos orientam como importante, sendo “bons alunos” superempolgados, querendo nos entregar ao “mundo da biologia”... será que não acabamos criando um mundo à parte e esquecendo daquele que nos circunda?

Não que a nervura da asa esquerda da b a r a t a n ã o s e j a a l g o u l t r a “interessante” a ser estudado com detalhes, entretanto os detalhes da transposição do rio São Francisco, por exemplo, e sua relação com todos nós, são também de extrema importância, porém acabam sendo colocados de

Currículo de Biologia

lado. Por que será?!Por que será que esses tipos de

discussões não são contempladas no nosso dia-dia na universidade?

Va m o s l á , o u t r o e x e m p l o : Tr a n s g ê n i c o s - o r g a n i s m o s geneticamente (Opa, Genética! Aqui na UFAL temos umas 4 disciplinas sobre genética na grade... e em n e n h u m a d i s c u t i m o s s o b r e transgênicos...) modificado que podem ser utilizados na alimentação... e aí, o que você sabe sobre isso? O quanto você, como futuro biólogo e ser pertencente à sociedade vem adquirindo conhecimento sobre tal tema e buscado discutir sobre ele?

Nos últimos meses, o governo Lula estava para aprovar a venda e consequentemente o consumo de um tipo de arroz transgênico aqui no Brasil produzido pela empresa alemã Bayer. Arroz este que foi negado por diversos outros países pelos riscos que um alimento transgênico pode trazer à saúde e ao meio ambiente...Até que ponto questões como essa estão relacionadas com nosso trabalho enquanto pessoas que dedicam boa parte de sua vida à estudar a vida, a distribuição de coisas vivas no passado

e presente e as interações que eles têm com outras e com o ambiente natural?

Diante da agenda de estudos que nos é imposta através do currículo nos sobra tempo para investirmos em tais pautas? Tempo para estudarmos tais questões e buscarmos formas de nos organizar e agir?

Quando nos formarmos, o que seremos?

Se fizermos bacharelado, seremos bacharéis/pesquisadores em biologia... e aí, qual a verdadeira diferença daqueles que são licenciados? Será que essa dualidade é necessária? No final das contas uma universidade em ciências biológicas deveria formar b ió logos capazes de produz i r conhecimentos (à partir das pesquisas – seja no campo ou em laboratório) e também de contribuir metodologico e pedagogicamente para construção do conhecimento a ser lecionado na sala de aula ou de explanar sobre suas próprias pesquisas. Mas isso acontece hoje? Não.

A carga horária de disciplinas base para o estudo da biologia, como zoologia e botânica por exemplo, no currículo de Licenciatura em Ciências

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11ENEBio

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Biológicas aqui na UFAL é menor que a carga das mesmas disciplinas no currículo de Bacharelado, o que leva os l i c e n c i a n d o s à p a s s a r e m superficialmente pelos assuntos. Por outro lado, seu currículo está recheadíss imo de matér ias de p e d a g o g i a , e n q u a n t o q u e n o bacharelado não se tem nenhuma disciplina que trabalhe questões didáticas e pedagógicas. Quer dizer então que um licenciado não precisa ter conhecimentos mais amplos sobre zoologia, botânica, genética etc. e um bacharel não necessita de estudos pedagógicos para o desenvolvimento de suas profissões?! Afinal de contas, não são todos biólogos?

Q u a n t a s v e z e s n ã o e s c u t a m o s n o s s o s professores, no início de suas disc ipl inas externarem: “Olhem, estudaremos esse assunto mas como o tempo n ã o é s u f i c i e nte p a ra q u a n t i d a d e d e te o r i a , veremos de tudo um pouco, s u p e r f i c i a l m e n t e ” o u simplesmente “Não vai dá tempo de vermos o que temos pra estudar”? … Se os próprios professores adimitem que a forma como estão organizadas as disciplinas dentro do currículo não é satisfatoria para o rendimento das mesmas, logo de cara nos fica evidente a necessidade de alterações na grade curricular...

Êpa! Mas o nosso currículo não foi modificado recentemente?!

Pior que foi! Contudo, não temos clareza do “porque” ou “para quem” isso aconteceu. E essa clareza não vem porque não nos chegam discussões sobre esse tipo de coisa... “o currículo vai mudar” é o máximo que chega à nossos ouvidos (quando não corremos atrás) quando de fato já foram amadurecidas e feitas todas as modificações que “os iluminados do saber” acham necessárias. Acabamos então achando que “se mudou é

porque foi preciso e foi pra melhor” e nem passa por nossa cabeça (na maioria das vezes), que anda tão preocupada com nosso estágio em Herpetologia, nosso projeto de PIBIC ou com aquelas provas surreais de Anatomia, que nós seremos os principais afetados por essas a l terações e que dever íamos minimamente participar desse processo de discussão e alteração curricular.

Bom, aqui o que queremos é colocar a pulga atrás da orelha dos estudantes

de biologia (sejam eles licenciandos ou bacharelandos) , para que comecemos à nos questionar o porque dessas modificações, se elas estão de fato trazendo melhorias na qualidade de ensino, se estão nos proporcionando uma segurança maior daquilo que estamos aprendendo etc e tal.

Se faz necessário que comecemos a refletir sobre os objetivos de nosso currículo, sob os interesses de quem que nosso currículo é construído? Nossas disciplinas, estágios e projetos acabam beneficiando alguma parcela da sociedade? Que parcela é essa? Os beneficiados são aqueles que sustentam a universidade através dos impostos pagos ou são aqueles que extrapolam o l imiar de uma exploração real mas que parece

inimaginável? (Será que tem alguma relação entre o Centro de Ciências Agrárias da UFAL produzir as mais avançadas pesquisas do setor sucro-alcoleiro e o estado de Alagoas ser dominando por latifúndios voltados ao plantio de cana-de-açúcar?)

Pois é....muitas perguntas, angústias, apreensões... Diante delas “o que fazer” e onde procurar respostas vem a ser algo extremamente importante para a formação de um futuro cientista, professor, cientista-professor ou simplesmente ser vivente.

As respostas estão diante da busca de informações, da pesquisa e discussão, da dúvida, da hipótese, da tese, da antítese! Estão diante de tudo que se encontra na nossa frente e resta, portanto, à nós, a apropriação desse lugar em que vivemos, agindo para que ele continue a viver, atitudes estas que DEVEM ultrapassar o b r i g a t o r i a m e n t e a s limitações que o próprio c u r r í c u l o n o s i m p õ e . . . v a l o r i z a n d o integralmente o estudo da VIDA e nos tirando do patamar

de profissionais incompletos e mecanizados, passando a ser de fato seres críticos e potenciais agentes transformadores da realidade.

"Somos a transformação que queremos no mundo." M. Gandhi

“Quando já se viveu muito tempo numa civilização específica e com

frequência se tentou descobrir quais foram suas origens e ao longo de que

caminho ela se desenvolveu, fica-se às vezes tentado a voltar o olhar para

outra direção e indagar qual destino que a espera e quais as

tranformações que está fadada a experimentar”

(Freud—Futuro de uma ilusão)

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12 ENEBio

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O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) surge em 1998, e foi criado pelo Ministério da Educação durante o governo de Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino médio, o desempenho dos a lunos, suas competências e habilidades que s u p o s t a m e n t e t e r i a m s i d o incorporadas durante a escolaridade básica.

A partir de 2004 o ENEM passa também a ser utilizado como seleção para o PROUNI (Programa Universidade Para Todos) com finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda do ens ino s u p e r i o r e m instituições privadas. c o n t ra p a r t i d a a s i n s t i t u i ç õ e s q u e aderem ao PROUNI recebem isenção de tributos.

C o n t u d o , s a b e - s e q u e o dinheiro investido em tal projeto poderia ser v o l t a d o p a r a a m e l h o r i a d a s condições do ensino p ú b l i c o ( d a d o s indicam que para sustentar um aluno e m u m a e s c o l a p r i v a d a , p e l o PROUNI, poderiam ser sustentados 3 em uma universidade pública).

Posteriormente, em 2009, o ministro da Educação Fernando Haddad apresentou a proposta de unificar o vestibular das universidades federais utilizando um novo modelo de prova para o ENEM. começou a ser utilizado como exame de acesso ao Ensino Superior em universidades públicas brasileiras através do SiSU (Sistema de Seleção Unificada) – que é um sistema colocado na internet pelo MEC que promove a seleção dos candidatos para as vagas nas universidades em todo o país.

Esse Novo ENEM propõe 180 questões – entre objetivas e discursivas – divididas em quatro eixos: Códigos,

Linguagens e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; C iênc ias da Natureza e suas Tecnologias; e Matemática e suas Tecnologias; e uma redação. A prova será realizada em dois dias e o aluno também terá a opção de escolher 5 cursos e as instituições em que desejaria cursá-los. Tais cursos podem ser modificados durante o processo seletivo e por não ser necessária vinculação entre as opções o candidato poderá escolher cursos diferentes em instituições distintas. Tanta para inscrição quanto para a realização da prova o estudante não

precisa sair do seu estado.O projeto do Novo ENEM não

pode ser entendido de maneira isolada, ele faz parte do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) e dele faz parte o REUNI, PROUNI, ENADE. Tais decretos, que privilegiam o setor privado em detrimento do público, representam os pilares de um projeto da matriz neoliberal que o governo Lula/PT aplica desde seu primeiro mandato na educação brasileira. Ou seja, essa nova prova é mais uma cereja desse bolo de reformas neoliberais.

Esse novo modelo vem sendo exaltado pela mídia, nos meios de comunicação em massa, como representante de uma grande transformação positiva na educação

do nosso país. As argumentações proclamam que ele vem a por um fim ao decoreba do velho vest ibular, afirmando ser uma iniciativa à capacidade de raciocinar do estudante e o caminho certo para o resgate da qualidade no ensino médio. Outro principal bônus colocado é que este seria um processo de democratização do acesso ao ensino superior, quando na verdade mascara, não propondo soluções, os reais problemas da educação

Tal modelo causará uma reforma no atual currículo do Ensino Médio, hoje adaptado às necessidades

d e d i f e r e n t e s vestibulares. O Ministro da educação Haddad, já apresentou o projeto para essa reforma que foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Nele consta a proposta de substituir as 12 disciplinas tradicionais por quatro grandes eixos t e m á t i c o s ( c i ê n c i a , cultura, tecnologia e trabalho).

Tal reformulação dos conteúdos do ensino médio exige dos alunos s e c u n d a r i s t a s u m a interdisciplinaridade que os professores formados em nossas universidades não oferecem, uma vez

que paralelo a essa proposta de refo rmu lação n ão h o u ve u ma a d e q u a ç ã o d o s c u r r í c u l o s d e licenciaturas, que historicamente vem sendo sucateados.

Há outro ponto a ser destacado quanto ao novo ENEM, o mito da mobilidade acadêmica. O estudante p o d e e s c o l h e r 5 c u r s o s e m universidades pelo país e, dependendo de sua pontuação será classificado para alguma delas. Contudo, sabe-se que não basta entrar na universidade, o estudante precisa se manter, o que deveria ser garantido pela assistência estudantil, o que não faz parte da realidade. Tal mobilidade favorecerá apenas a classe social que tem condições de sustento em outros

.

ENEM: Que acesso é esse?

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estados e que teve melhor acesso a educação. Ou seja, as vagas serão preenchidas não de forma democrática, como dizem que tal prova faz, mas sim, seguindo o mesmo padrão de classe que o atual vestibular, apenas mudando a l ó g i c a d o a c e s s o . A q u e l e s desfavorecidos desde o ensino médio acabarão ingressando em universidades menos concorridas, ou cursos privados e ensino a distância, ou desistindo de seus cursos por falta de assistência (aumento da evasão).

Continuando a destrinchar o problema, sabemos que a educação brasileira se dá de maneira desigual entre as regiões do país e isso acarreta que a lgumas reg iões , como o sul/sudeste, se tornam “exportadores” de alunos, enquanto norte/nordeste “recebedoras”.

Ressaltando novamente, não há uma política de assistência estudantil que acompanhe a mobilidade, portanto, garantir a mobilidade de todos sem assistência estudantil é, na prática, tornar o sistema mais excludente e elitista. Temos como exemplo o que aconteceu na UFAM, onde dentro desse sistema de ingresso do Novo ENEM, 100% das vagas de medicina da universidade foram preenchidas por estudantes de outros estados.

Diante do exposto, pode-se concluir que o novo ENEM somente reforça o caráter elitistas das nossas

universidades públicas enquanto mascara uma falsa democratização ao acesso à elas e rebaixa a “agenda de estudos”, como se conceitos não fossem necessários para uma educação de qualidade e culpabiliza o individuo e seu “raciocínio lógico” se este não obtiver sucesso com tal prova. Esta, beneficia aqueles alunos que tiveram as melhores condições de estudo nas escolas particulares e nos cursinhos e que tem mais condições de se manterem em estados diferentes do seu de origem.

Os estudantes do ensino

médio da rede pública brasileira, extremamente precarizada, terão profundas dificuldades de acesso, pois a proposta não conta com uma política que garanta a melhoria da qualidade do ensino médio público, nem a assistência estudantil que dê condições de permanência em outras universidades fora do seu estado original.

Será mesmo que o novo ENEM com essas exclamações de real democracia vem para por fim ao vestibular ou é mais uma forma de disfarçar os reais problemas na educação pública brasileira? Estamos próximos de uma educação de qualidade para todos? Diante desse quadro devemos nos perguntar isso e analisar a fundo o que de fato são essas mudanças que andam ocorrendo pelo Brasil. Assim, muitos jovens estão esperando para que essa tal democracia chegue. Enquanto as mascaras não caem, eles ficam sem estudar.

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza.

Deixemos de coisas,cuidemos da vida,

senão chega a morte(ou coisa parecida) e nos arrasta moço sem ter visto a vida ou coisa parecida

Ou coisa parecida ”Belchior

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Contra a Mercantilização da Educação

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de

pensar.É da empresa privada o seu passo em

frente,seu pão e seu salário. E agora não

contente queremprivatizar o conhecimento, a

sabedoria,o pensamento, que só à humanidade

pertence."Bertold Brecht

Nesse ano de 2010, a E n t i d a d e N a c i o n a l d e Estudantes de Biologia - ENEBio está construindo uma c a m p a n h a p a r a q u e debatamos nacionalmente a atual situação da educação superior no Brasil, pensando que papel ela cumpre na sociedade e a quais interesses ela atende. Mais do que isso, queremos discutir como muitas dessas contradições expressam-se no dia a dia do estudante de biologia. Unida à essa proposta está a temática do ENEB-2010 : "Complexidades e C o nt ra d i çõ e s n o M u n d o a s e Transformar: a Formação do Sujeito Biólogo no olho do furacão", por o Encontro enquanto estrutura da Entidade onde qualificamos nosso debate frente a diversas temáticas, construímos sínteses conjuntas o intuito de referenciar nossa atuação prática cotidiana.

A u n i v e rs i d a d e d e v e r i a caracterizar-se pela universalidade na produção e transmissão da experiência cultural e científica da sociedade: uma instituição de interesse público que através da garantia da diversidade e pluralismo na produção crítica do conhecimento, expressasse seu caráter - de forma articula nas relações de representação social, política, cultural, intelectual e científica da evolução histórica da sociedade.A ela caberia contribuir para a construção de formulações que viabilizem soluções para os diversos problemas sociais. Entretanto não é isto que se observa na história recente do ensino superior no

Campanha Nacional da ENEBIO 2010

Brasil, desde a implementação da reforma universitária imposta pela Lei nº 5540 de 1968 até o projeto de Lei 7200 de 2006 da reforma universitária de Lula. A educação superior brasileira continua cumprindo a função de reprodução estrutura, relações e valores.

Atualmente a educação, uma mercadoria muito lucrativa (90% das Instituições de Ensino Superior-IES são privadas), é item a ser debatido nas reuniões da OMC (Organização

Mundial do Comércio). Muito do que são as universidades brasileiras é regido pelas proposições do Banco Mundial:“Uma força de trabalho competente e dotada das habilidades necessár ias é a base de um cresc imento econômico auto-sustentado. As economias abertas e integradas ao mercado global requerem t raba lhadores com capacidade de adaptar-se a mudanças e ca p a c i d a d e d e m a n e j o d e tecnologias de vanguarda. (...) Unir vontades e esforços é imperativo para consolidar uma reforma exitosa. Nós, os empresários, podemos colaborar com nossos governos para iniciar e sustentar uma reforma educativa e f i c a z ” - D e c l a ra ç ã o d e a ç ã o (Movimento “Todos pela Educação” composto pelos maiores bancos e empresas mundiais).

O modelo referencial de universidade entra em conflito com essa a proposta pragmática e mercantilizada gerando contradições que aparecem para nós, estudantes de

biologia, através da legitimação dessa política por meio das diretrizes curriculares do curso: ementas das disciplinas; dicotomização entre bacharelado e licenciatura; perfil do profissional a ser formado; habilidades específicas requeridas, segregação entre Ensino, Pesquisa e Extensão e precarização dos estágios. Outras expressam-se nas áreas de atuação do profissional biólogo/a, como na falta de autonomia e liberdade na produção científica, baixos salários e más condições de trabalho, principalmente

para os licenciados.São por essas e

m u i t a s o u t r a s q u e c o n v i d a m o s t o d o s / a s estudantes de biologia do B r a s i l a e n c a m p a r e m c o n o s c o e s s a l u t a , construindo debates e mobilizações locais, frente às m u l t i p l i c i d a d e s d e expressões dessa política de m e r c a n t i l i z a ç ã o d a e d u c a ç ã o, e p o r u m a qualidade na formação de um/a biólogo/a crítico e p r o d u t o r d e u m conhecimento referenciado na sociedade.

A campanha está apenas começando e depende de cada um de nós para superarmos esse modelo de educação. Centros acadêmicos, coletivos locais organizados e todos/as que dispuserem-se, podem encontrar textos de acúmulo, materiais de divulgação e muito mais sobre a campanha e a ENEBio no Blog: .cnenebio.wordpress.com.

Sigamos em Luta por uma educação pública, gratuita, laica, de q u a l i d a d e e s o c i a l m e n t e referenciada!!!

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Fotos ENEBio

DEFENDEMOS O ENSINO

VOLTADO PARA A FORMAÇÃO

DE SUJEITOS CRÍTICOS E

ATUANTES, QUE POSSIBILITE

A CONSTRUÇÃO E A PRÁTICA

DE METODOLOGIAS

PARTICIPATIVAS E QUE

BUSQUE A INTEGRAÇÃO DOS

CONHECIMENTOS NUMA

PERSPECTIVA TOTALIZANTE

(CARTA DE PRINCÍPIOS ENEBIO)

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Gestão da ENEBio 2009-2010

AN's (Articulações Nacionais)UEL - PR (Movimentos Sociais)UFRPE - PE (Comunicação)UNESP Botucatu - SP (Fundo Nacional)

AR's (Articulações Regionais)UFMT - MT (Centro-Oeste)UFF - RJ (Sudeste)UFC - CE (Nordeste)

GTP (Grupos de Trabalhos Permanente)UFRJ - RJ (Agroecologia)USP - SP (Universidade)UNESP São Vicente - SP (Educação)UFV - MG (Meio Ambiente)PUC - MG (Arquivo Histórico)