VIVEIROS DE MUDAS DE CANA-DE-AÇÚCAR Mauro...

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1 VIVEIROS DE MUDAS DE CANA-DE-AÇÚCAR Mauro Alexandre Xavier 1 - INTRODUÇÃO E PLANEJAMENTO A cultura da cana-de-açúcar, dentre as chamadas grandes culturas, talvez seja a que utilize na forma convencional de multiplicação o maior peso de material botânico de plantio por unidade de área, 8 a 12 t.ha -1 . Sendo de reprodução assexuada, é portadora de problemas fitossanitários diversos, inclusive e, sobretudo doenças sistêmicas, cujo controle requer adequado preparo de viveiro para sua produção em condições que garantam elevada taxa de sanidade e indispensável autenticidade varietal. Nesse sentido é importante a realização de um planejamento eficiente e criterioso, a começar pela instalação do viveiro. Dessa forma, para equacionar as áreas de viveiro, o tempo de produção das mudas e o custo, deve-se instalar inicialmente o viveiro básico que dará origem ao viveiro primário e secundário. Para a obtenção de mudas adota-se um conjunto de medidas preventivas, tal como o tratamento térmico, utilização de máquinas e equipamentos sistematicamente desinfetados, seguidos de operações de “roguing”, que consiste na inspeção a campo com eliminação de touceiras sintomáticas. Para se obter sucesso e viabilizar a produção de mudas também são fundamentais outras práticas agrícolas, tais como fertilizações de base e cobertura com aplicação de macro e micro nutrientes, controle de plantas daninhas e de pragas, preparo do solo, além da utilização de irrigação complementar e de subprodutos como a torta de filtro ou outro, peculiar ao sistema de cada unidade produtora. As variedades, associadas às condições de clima, solo e manejo constituem a base para qualquer novo projeto no setor agrícola, não sendo diferente na cultura canavieira. As instituições de pesquisa, públicas ou privadas através de seus programas de melhoramento, PROGRAMA CANA IAC, RIDESA, CTC, CANAVIALIS e SYNGENTA ao longo de sua história têm disponibilizado ao setor sucroalcooleiro variedades cada vez mais produtivas, com maior potencial de acúmulo de sacarose, resistentes às principais doenças e pragas e adaptadas às condições atuais de manejo como, por exemplo, a colheita de cana crua. No entanto, todas as etapas do processo de produção de cana-de-açúcar são fortemente influenciadas pela qualidade adotada no planejamento do plantel varietal e de formação dos viveiros de mudas para os plantios comerciais, sendo este o grande “capital” a ser agregado valor ao longo das demais etapas de produção. A equipe de planejamento deve trabalhar com foco no cenário atual, porém, estando sempre atendo às tendências de médio e longo prazo a fim de definir estratégias a serem adotadas na formação das diversas categorias de viveiros. Basicamente estes viveiros são agrupados em três estágios:

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VIVEIROS DE MUDAS DE CANA-DE-AÇÚCAR

Mauro Alexandre Xavier

1 - INTRODUÇÃO E PLANEJAMENTO

A cultura da cana-de-açúcar, dentre as chamadas grandes culturas, talvez seja a

que utilize na forma convencional de multiplicação o maior peso de material botânico

de plantio por unidade de área, 8 a 12 t.ha-1. Sendo de reprodução assexuada, é

portadora de problemas fitossanitários diversos, inclusive e, sobretudo doenças

sistêmicas, cujo controle requer adequado preparo de viveiro para sua produção em

condições que garantam elevada taxa de sanidade e indispensável autenticidade

varietal.

Nesse sentido é importante a realização de um planejamento eficiente e

criterioso, a começar pela instalação do viveiro. Dessa forma, para equacionar as

áreas de viveiro, o tempo de produção das mudas e o custo, deve-se instalar

inicialmente o viveiro básico que dará origem ao viveiro primário e secundário.

Para a obtenção de mudas adota-se um conjunto de medidas preventivas, tal

como o tratamento térmico, utilização de máquinas e equipamentos sistematicamente

desinfetados, seguidos de operações de “roguing”, que consiste na inspeção a campo

com eliminação de touceiras sintomáticas. Para se obter sucesso e viabilizar a

produção de mudas também são fundamentais outras práticas agrícolas, tais como

fertilizações de base e cobertura com aplicação de macro e micro nutrientes, controle

de plantas daninhas e de pragas, preparo do solo, além da utilização de irrigação

complementar e de subprodutos como a torta de filtro ou outro, peculiar ao sistema de

cada unidade produtora.

As variedades, associadas às condições de clima, solo e manejo constituem a

base para qualquer novo projeto no setor agrícola, não sendo diferente na cultura

canavieira. As instituições de pesquisa, públicas ou privadas através de seus

programas de melhoramento, PROGRAMA CANA IAC, RIDESA, CTC, CANAVIALIS e

SYNGENTA ao longo de sua história têm disponibilizado ao setor sucroalcooleiro

variedades cada vez mais produtivas, com maior potencial de acúmulo de sacarose,

resistentes às principais doenças e pragas e adaptadas às condições atuais de

manejo como, por exemplo, a colheita de cana crua.

No entanto, todas as etapas do processo de produção de cana-de-açúcar são

fortemente influenciadas pela qualidade adotada no planejamento do plantel varietal e

de formação dos viveiros de mudas para os plantios comerciais, sendo este o grande

“capital” a ser agregado valor ao longo das demais etapas de produção. A equipe de

planejamento deve trabalhar com foco no cenário atual, porém, estando sempre

atendo às tendências de médio e longo prazo a fim de definir estratégias a serem

adotadas na formação das diversas categorias de viveiros. Basicamente estes

viveiros são agrupados em três estágios:

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Viveiros básicos: também denominados de pré-primário formados a partir de

gemas provenientes preferencialmente de tratamento térmico;

Viveiros primários: Originados da multiplicação do viveiro básico, faz parte

desta categoria também a soca do viveiro básico;

Viveiros secundários: são originados da multiplicação da soca do viveiro

básico e da cana planta do primário, sendo seu tamanho, portanto, de 10 a 15 vezes

superior à soma das áreas dos anteriores.

Para o planejamento e formação dos viveiros de mudas de uma unidade

produtora é necessário considerar e conhecer um conjunto de fatores, que darão

referências às equipes de planejamento.

O primeiro fator a ser considerado é a estimativa da demanda de matéria prima a

ser fornecida à unidade industrial, pois esse está relacionado com a capacidade

instalada da unidade e ao mercado.

O segundo fator refere-se à qualificação dos diversos ambientes de produção

dentro da unidade produtora, que irão direcionar a adequada alocação varietal,

determinando não somente o genótipo a ser plantado, mas também influenciando a

longevidade do canavial e os percentuais de áreas para reforma, atuando como uma

ferramenta para a definição do perfil das variedades a serem introduzidas nos viveiros.

O terceiro fator a ser considerado é a localização do viveiro, que deverá ser

alocado preferencialmente nas melhores áreas, atendidas por irrigação, e o mais

próximo possível da área de plantio em escala comercial, o que reduz custos de

transporte, de acordo com a (tabela 1).

Tabela 1 – Custo de transporte de mudas, na região de Sertãozinho (SP), em

setembro de 2006. Fonte: CANAOESTE

Faixa de distância (Km) Custo da tonelada (R$)

0 – 5 6,38

5,1 – 10 7,74

10,1 – 15 10,94

15,1 – 20 13,65

20,1 – 25 16,26

25,1 – 30 19,14

30,1 – 35 21,96

35,1 – 40 23,74

40,1 – 45 26,70

45,1 – 50 29,14

Para exemplificar é apresentado um esquema de planejamento para atender a

necessidade de plantio de uma área de 10.000 ha, considerando seus respectivos

ambientes de produção. (tabela 2).

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Tabela 2 – Planejamento de plantio de cana-de-açúcar em um módulo de produção

de 10000 ha.

Ambientes de

produção

Área (ha) Área (%) Nº de cortes

estimados

Taxa de

reforma (%)

Superior 3000 30% 7 15

Médio 3000 30% 5 20

Inferior 4000 40% 4 25

Nas tabelas 3, 4 e 5 são apresentados os cronogramas de plantio dos viveiros

que atenderão a área de plantio comercial e seus respectivos ambientes de produção.

Tabela 3. Cronograma para plantio comercial de 3000 ha com variedades para

ambiente de produção superior.

Ano de

implantação

Tipo de viveiro Área (ha) Objetivo

2010 Básico 2,48 Produção de mudas

2011 Primário 24,8 Produção de mudas

2012 Secundário 272,8 Plantio comercial

Para atender este tipo de ambiente de produção podemos adotar variedades de

perfil responsivo e que possuam maturação para final de safra (primavera).

Tabela 4. Cronograma para plantio comercial de 3000 ha com variedades para

ambiente de produção médio.

Ano de

implantação

Tipo de viveiro Área (ha) Objetivo

2010 Básico 2,48 Produção de mudas

2011 Primário 24,8 Produção de mudas

2012 Secundário 272,8 Plantio comercial

Neste caso poderemos utilizar variedades de perfil rústico e estável-responsivo

que apresentem período de maturação na segunda quinzena de maio / julho, ou seja,

safra de inverno.

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Tabela 5. Cronograma para plantio comercial de 4000 ha de variedades para

ambiente de produção inferior.

Ano de

implantação

Tipo de viveiro Área (ha) Objetivo

2010 Básico 3,65 Produção de mudas

2011 Primário 36,5 Produção de mudas

2012 Secundário 401,5 Plantio comercial

As variedades rústicas de elevado potencial produtivo, que apresentem

maturação intermediária, são as indicadas para formarem esse viveiro.

Finalizado a implantação desse projeto hipotético de 10.000 ha e considerando

não haver previsão de expansão, passaremos a planejar a instalação de viveiros que

serão utilizados nas áreas de reformas que atenderão os percentuais de 25, 20 e 15%

respectivamente para os ambientes inferior, médio e superior.

2 – TRATAMENTO TÉRMICO

O tratamento térmico da cana-de-açúcar é uma medida adotada para controlar o

raquitismo da soqueira. Essa doença é causada pela bactéria Leifsonia xyli subsp.

xyli., L., transmitida pelos colmos-sementes provenientes de plantas doentes.

Caracteriza-se por apresentar sintomas e perdas muitas vezes não observadas pelos

produtores tais como redução nos componentes biométricos, altura e diâmetro dos

colmos, sintomas estes, que ocorrem principalmente nas soqueiras (Gheller, 1986). A

principal forma de transmissão ocorre quando facões utilizados em plantas doentes

entram em contato com plantas sadias. Da mesma forma, colhedoras e plantadoras de

cana-de-açúcar também são responsáveis pela transmissão da bactéria.

Os sintomas e danos provocados por essa doença são mais evidentes em

função de fatores ambientais, principalmente estresse hídrico.

O carvão, ferrugem, mosaico e a escaldadura são doenças importantes, que em

maior ou menor grau têm sido controladas pelos programas de melhoramento através

da seleção de variedades resistentes. No entanto, os cuidados na formação de

viveiros de mudas sadias devem ser priorizados ou retomados como prática rotineira

para excluir ou minimizar as possibilidades de ocorrências de epidemias como as

ocorridas no passado. Para tanto os métodos desenvolvidos para tratamento térmico a

52°C por 30 minutos, de gemas isoladas ou de toletes de 3 gemas (SANGUINO et al.

1988 e 1996) muito contribuíram para o controle do raquitismo, facilitando os trabalhos

para a produção de mudas sadias.

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Época

É aconselhável a realização do tratamento térmico entre os meses de setembro a

março, pois é nesse período que existe uma faixa de temperatura ideal para a

brotação das gemas tratadas. Essa faixa pode ser mais ou menos elásticos de acordo

com a temperatura média da região, sendo que esta não deve ser inferior a 25°C.

(SANGUINO et al., 2005).

Deve-se tomar cuidado ao eleger o material que será utilizado no tratamento

térmico, para evitar ocorrências futuras de doenças que não são controladas pela

termoterapia. No Brasil foram registradas 58 doenças e, destas pelo menos dez

podem ser consideradas de grande importância econômica, sendo que algumas não

são controladas eficazmente pelo tratamento (Tabela 6) , podendo prejudicar a

qualidade das mudas que serão obtidas. A preferência deve ser dada às áreas de

canas provenientes de viveiros que já foram tratados termicamente, de maneira que o

aumento na freqüência de tratamento permita melhorar a qualidade do processo de

produção.

Tabela 6. Principais doenças da cana-de-açúcar no Brasil

Doença Agente causal Formas de

transmissão

Controle

Escaldadura das

folhas

Bactéria Mudas, corte Variedade

resistente, mudas

sadias

Raquitismo das

soqueiras

Bactéria Mudas, corte Variedade

resistente,

tratamento

térmico

Mosaico Vírus Mudas, pulgões Variedade

resistente,

“roguing”

Carvão Fungo Mudas, vento Variedade

resistente,

“roguing”

Estria vermelha Bactéria Mudas, vento Variedade

resistente,

adubação

balanceada

Mancha ocular Fungo Vento Variedade

resistente,

adubação

balanceada

Ferrugem Fungo Vento Variedade

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resistente, manejo

da colheita

Mancha amarela Fungo Vento Variedade

resistente

Podridão

vermelha

Fungo Broca e chuva Controle de broca,

variedade

resistente

Podridão abacaxi Fungo Inseto, solo Época de plantio,

mudas novas,

plantio raso

A primeira medida a ser tomada na seleção das canas para o tratamento térmico

é a execução das operações de “roguing” nas áreas selecionadas, de maneira a não

se utilizar material propagativo que apresente qualquer tipo de sintoma doença além

de eliminar a possibilidade de misturas varietais que podem comprometer a qualidade

do viveiro. É oportuno mencionar que a realização do “roguing” deve ser iniciada nos

primeiros estádios da cultura.

O “roguing” deve ser extremamente rigoroso em variedades que apresentem

suscetibilidade ao vírus do mosaico e a bactéria causadora da doença denominada

escaldadura. Essas duas doenças não são controladas a temperatura de 52º C

utilizada no caso específico do raquitismo da soqueira servindo de fonte de inóculo

nas multiplicações futuras.

Na operação de corte das canas os facões devem ser desinfetados ao fogo ou

com solução de amônia quaternária. As canas não devem ser despalhadas, devendo

ser carregadas cuidadosamente para evitar danos mecânicos às gemas. No caso de

canas que apresentem despalha natural, as operações de corte, carregamento e

transporte devem ser efetuados de maneira ainda mais criteriosa. A idade média das

canas para efetuar o tratamento térmico, deve ser de 10 meses.

Os toletes devem ser selecionados para eliminar gemas brocadas, danificadas e

em início de brotação. Posteriormente à seleção, os toletes devem ser colocados em

sacos de malhas largas (batata) de modo que os toletes fiquem bem soltos na

embalagem, facilitando a circulação da água através dos mesmos. O peso dos toletes

nos sacos não deverá exceder a 30kg em cada tratamento, sendo, no entanto

dependente do tamanho do tanque utilizado, obedecendo-se à relação mínima de 1:6

(volume de água/ volume de cana).

Um dos modelos para tratamento térmico é constituído por um tanque com

capacidade para 250 litros de água, 3 resistências de 3000 watts, 1 bomba para

circulação forçada de água e 1 conjunto rele-termostato automático para controle da

temperatura Figuras 1,2 e 3. A temperatura do banho deve ser aferida com um

termômetro com escala de precisão de 0,1°C.

Os toletes quantificados e ensacados são lavados, para eliminar impurezas

vegetais e minerais.

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O tempo para a execução do tratamento deve ser considerado quando a

temperatura no tanque atinge 52º C, permanecendo a partir desse momento por 30

minutos.

Após esse período, os toletes são retirados do tanque e esfriados por 15

minutos. Para que a água do tanque se mantenha limpa devemos substituí-la após 4

ou 5 tratamentos. Uma vez esfriados, os toletes são colocados em banho de imersão

com fungicida, durante 10 minutos. A titulo de exemplo o princípio ativo do produto

comercial “Bayfidan” é utilizado na dose de 100 ml para cada 100 litros de água,

devendo ser substituído diariamente. Este tratamento é recomendado com a

finalidade de prevenir o ataque de fungos que causam falhas na brotação,

FIGURA 1. Tanque de 250 litros para tratamento térmico

FIGURA 2. Detalhes do tanque mostrando as resistências do tanque.

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3 - “ROGUING”

Para assegurar a indispensável autenticidade varietal e a elevada taxa de

sanidade dos viveiros de cana-de-açúcar, torna-se necessária à realização do

“roguing”, que consiste na inspeção e eliminação de canas de outras variedades e de

touceiras que apresentem sintomas de doenças.

No plantio dos viveiros de mudas deve-se sistematicamente identificar cada

variedade para evitar a ocorrência de misturas varietais.

Dentre as doenças para as quais devem ser realizado o “roguing”, podemos

destacar: carvão, escaldadura e o mosaico da cana-de-açúcar.

O “roguing”, portanto, constitui-se em uma importante prática complementar a

termoterapia.

Vale ressaltar que, não se deve instalar o viveiro de mudas em áreas próximas a

talhões de variedades suscetíveis a doenças, assim como de culturas de milho, sorgo

e outras gramíneas que podem estar infectadas e servir como fonte de inóculo do

vírus causador do mosaico.

FIGURA 3. Detalhe mostrando eletro bomba

para agitação e mistura da água.

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Como e quando efetuar o ”roguing”

Essa atividade é executada por pessoal previamente treinado no reconhecimento

de doenças da cana-de-açúcar, assim como na identificação de qualquer touceira

estranha à variedade a ser avaliada.

Para efetuar o “roguing”, uma inspeção visual é feita, mensalmente, touceira por

touceira em todas as linhas. Essa tarefa deverá ser iniciada aos 30-45 dias após a

brotação das gemas, persistindo até os 6 meses de idade.

O período mais adequado para essa atividade é o da manhã, pois, a temperatura

é mais amena e a luminosidade é mais favorável, tornando a atividade menos

cansativa e mais eficiente.

O caminhamento tanto dos “roguistas” como do supervisor deverá seguir o

esquema da figura 4, facilitando o trabalho de ambos.

Roguistas Supervisor

FIGURA 4. Esquema de caminhamento dos roguistas e do supervisor no

roguing.

Formas de “roguing”

O “roguing” poderá ser mecânico ou químico. Entende-se por “roguing” mecânico

aquele realizado com enxadão, em que a touceira é arrancada e transportada para um

local distante para ser queimada.

O material arrancado deverá ser queimado, evitando que eventuais pulgões

possam se deslocar para novas plantas dispersando inóculo.

No caso do carvão deve ser realizado o ensacamento e retirada dos chicotes,

que deverão ser queimados, para evitar a disseminação dos esporos.

No “roguing” químico, a eliminação da touceira é realizada pelo uso de um

herbicida a base de glifosato a 6%, aplicado em jato dirigido ao cartucho foliar dos

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colmos da touceira doente. Para tanto, se utilizam pulverizadores de pequeno volume

(5 litros). Outra maneira de realizar o “roguing” químico é usando glifosato puro, 2 a 3

gotas no cartucho, aplicado com pequenas bisnagas, que facilitam a operação.

Seleção e treinamento dos “roguistas”

A eficiência do “roguing” depende inteiramente da habilidade e da atenção

constante da pessoa que a executa, sendo de fundamental importância para esse

profissional a aptidão em distinguir sintomas de doenças e características fenotípicas

das variedades de outros sintomas relacionados às deficiências nutricionais,

fitotoxidades, ataques de pragas e sintomas abióticos.

Algumas pessoas são incapazes de perceber as pequenas diferenças

importantes na execução do “roguing” ou não conseguem manter a concentração

necessária exigida para a essa atividade. A esses indivíduos não pode ser atribuída a

execução dessa atividade.

4 - SISTEMAS DE PROPAGAÇÃO

Os programas de melhoramento de cana-de-açúcar atualmente necessitam em

média, doze anos para pesquisa, desenvolvimento e disponibilização de suas

tecnologias, incluindo a fase inicial de hibridação até a validação final e a conseqüente

liberação do material. Desta maneira, é necessário e essencial que as unidades

produtoras de cana-de-açúcar adotem um conjunto de estratégias que permitam a

sincronização da fase final de validação tecnológica por parte das instituições de

pesquisa com a instalação de seus viveiros de multiplicação dos clones “promissores”.

Para tanto, além das opções de multiplicações existentes e que serão descritas a

seguir, são de extrema importância o envolvimento e a interação do corpo técnico de

usinas e cooperativas com os pesquisadores dos programas de melhoramento ao

longo das etapas finais de experimentação. Este ponto é fundamental para orientar o

profissional quanto as novas multiplicações em tempo adequado, dentro de conceitos

amplos, que contemple não apenas o conhecimento da variedade, mas também a sua

interação com os ambientes de produção, proporcionando assim, conhecimento para

interpretar as recomendações e manejos hoje disponíveis, como o exemplo

apresentado na tabela 7.

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TABELA 7. Produtividade agrícola (TCH) das novas variedades IACSP

em três épocas de colheita (Safra de Outono, Inverno e Primavera) em

ambientes de produção de diferentes potencial (Superior e Inferior).

(LANDELL et. al, 2005)

Técnicas de multiplicação

Este conjunto de métodos tem por finalidade permitir a multiplicação de

variedades a uma taxa acelerada e pode ser adotado para atender a ampliação de

áreas de plantio das novas variedades de interesse agro-industrial, para substituir

variedades por outras que proporcionem incrementos de produtividade e também para

atender áreas de expansão.

MÉDIA DE 3 CORTES MÉDIA DE 3 CORTES MÉDIA DE 2 CORTES

AMBIENTE ÉPOCA 1 ÉPOCA 2 ÉPOCA 3

S (1)

VARIEDADE TCH VARIEDADE TCH VARIEDADE TCH

U IACSP94-4004 134.65 IACSP94-4004 120.62 IACSP94-2101 119.26

P IACSP93-3046 123.67 IACSP94-2101 119.56 RB72454 119.14

E IACSP94-2101 122.84 IACSP93-3046 117.54 IACSP94-4004 118.59

R SP81-3250 120.08 IACSP94-2094 115.90 IACSP94-2094 117.72

I IACSP94-2094 114.41 RB72454 114.31 RB855536 117.27

O SP80-1842 111.94 IAC87-3396 111.78 IACSP93-3046 116.27

R RB835486 111.29 SP80-1816 108.13 RB855113 108.23

DMS (Tukey 5%) 11.28 10.06 10.20

Coeficiente de variação (%) 11.80 11.71 7.90

AMBIENTE ÉPOCA 1 ÉPOCA 2 ÉPOCA 3

I (2)

VARIEDADE TCH VARIEDADE TCH VARIEDADE TCH

N IACSP94-4004 110.66 IACSP94-4004 97.09 IACSP93-3046 109.44

F IACSP93-3046 105.82 IAC87-3396 94.60 IACSP94-2094 108.18

E SP81-3250 102.65 IACSP93-3046 93.96 SP86-42 105.86

R SP80-1842 102.46 IACSP94-2094 92.48 IACSP94-4004 104.51

I IACSP94-2094 101.28 RB72454 90.59 SP83-2847 103.34

O IACSP94-2101 98.84 IACSP94-2101 84.13 IACSP94-2101 103.09

R RB835486 94.88 SP80-1816 82.42 RB72454 102.93

DMS (Tukey 5%) 6.35 6.48 7.93

Coeficiente de variação (%) 10.64 10.99 6.02

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4.1 “Quebra-Quebra”

Este método permite dependendo da época de plantio, cana de ano ou cana de

dezoito meses, conforme esquema adaptado de Sanguino, (Figuras 5 e 6), em um

período de 2 anos, uma taxa de multiplicação entre 1:282 a 1:360.

Condições para adoção do método “Quebra-Quebra”

A - Canas tratadas termicamente;

B - Colmos com cinco a sete gemas viáveis;

C - Plantio sem desponte;

D - Utilização de irrigação ou fertirrigação;

E - Utilização de adubações nitrogenadas complementares;

F - Quebra a cada 5 -7 meses;

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FIGURA 5. Esquema para cana de ano e meio sistema “quebra-quebra”.

Ano 01

Março

Plantio

Ano 01

Outubro

1º Quebra

Ano 02

Março

2º Quebra

Taxa 1:4

--------------

04 ha

Taxa 1:7

--------------

07 ha

Taxa 1:6

--------------

24 ha

Taxa 1:10

--------------

10 ha

Taxa 1:10

--------------

70 ha

Taxa 1:10

--------------

240 ha

Taxa 1:10

--------------

40 ha

Área

comercial

360 ha

1 ha

ressoca

Ano 03

Março

Corte

1 ha

1 ha

soca

soca

--------------

04 ha

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FIGURA 6. Esquema para cana de ano sistema “quebra – quebra”.

Ano 01

Outubro

Plantio

Ano 02

Março

1º Quebra

Ano 02

Setembro

2º Quebra

Taxa 1:6

--------------

06 ha

Taxa 1:4

--------------

24 ha

Taxa 1:07

--------------

42 ha

Taxa 1:08

--------------

48 ha

Taxa 1:08

--------------

192 ha

Área

comercial

282 ha

1 ha

ressoca

Ano 03

Março

Corte

1 ha

1 ha

soca

Taxa 1:6

--------------

06 ha

Taxa 1:6

--------------

06 ha

Taxa 1:06

--------------

06 ha

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4.2 MÉTODO INTERCALAR ROTACIONAL OCORRENDO SIMULTÂNEAMENTE

(MEIOSI)

Este sistema, conhecido como MEIOSI foi idealizado em 1984 por José Emilio

Teles de Barcellos e desenvolvido na estação experimental do PLANALSUCAR em

Uberlândia, tendo como objetivo viabilizar a utilização racional de cana-de-açúcar com

culturas anuais ou adubos verdes, em áreas de reforma, buscando, dessa forma,

minimizar os custos de produção. Posteriormente passou a ser utilizado nos plantios

comerciais de diversas unidades produtoras.

O sistema MEIOSI apresenta algumas vantagens e desvantagens

(LANDELL,1998) :

VANTAGENS

LIMITAÇÕES

Redução da movimentação de

maquinários;

Ausência de danos mecânicos na

muda;

Redução do nº de pessoas envolvidas

no plantio;

Maior eficiência de plantio;

Redução do custo da muda;

Riscos de erro na marcação e

falta de paralelismo entre sulcos;

Necessidade de

acompanhamento técnico mais

rigoroso durante a implantação;

Necessidade de plantio de

cana de ano destinado a muda da

implantação do sistema de MEIOSI;

A vantagem quantitativa e econômica na adoção dessa técnica esta relacionada

principalmente ao vigor das mudas, o que justifica menor consumo de gemas, melhor

sanidade e maior rendimento do quebra. O plantio a partir de mudas via sistema

MEIOSI elimina a necessidade do carregamento e do transporte. Isto significa redução

nos custos de produção. Outra vantagem é a não interrupção do plantio causado

pelas precipitações comuns nos meses de fevereiro e março. O plantio é realizado

tomando como referência as duas linhas base, que serão “quebradas” ou cortadas e

distribuído nos sulcos vizinhos sem a necessidade da eliminação do palmito (Figura 7).

Basicamente, a MEIOSI é um sistema de rotação de culturas feito em faixas de

terreno. Comparado com o sistema de rotação de culturas, que utiliza 100% da área

disponível , o sistema MEIOSI destina 12% da área para o plantio de cana (linha base)

para fins de obtenção de mudas, enquanto 88% ficam destinados a uma cultura de

rotação (BARCELOS, 1990). O gasto operacional pode atingir a 7.5 diárias/ha,

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estimando-se que a redução da necessidade de operações mecânicas atinja 30% em

relação ao sistema convencional (DIAS et al, 1995).

1ª pessoa 2ª pessoa

Linha Base = 2 (mudas)

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

3ª, 4ª e 5ª pessoas

FIGURA 7. Esquema de utilização do sistema MEIOSI.

4.3 CULTURA DE MERISTEMAS

A ausência de patógenos em material propagativo vegetal consiste em uma das

premissas básicas na implantação de qualquer cultura agrícola. Uma vez presentes

nas matrizes, esses agentes serão prontamente perpetuados nas suas progênies e

muitas vezes, como no caso dos vírus, não existem medidas de controle efetivas no

campo, exceto a eliminação e a remoção de plantas infectadas. Adicionalmente, a

possibilidade de infecções secundárias em cana-de-açúcar por vírus como o mosaico

e o amarelinho, internacionalmente conhecido como Sugarcane yellow leaf vírus

(SCYLV) é iminente, pela presença de insetos vetores no campo, com o material

infectado servindo como fonte de inóculo. Por esse motivo, o principal método de

controle de vários patógenos envolve o princípio da exclusão desses organismos

antes da distribuição de material propagativo e da implantação da cultura. Nesse

contexto, estão incluídas a produção e certificação dos micropropágulos de cana,

mediante a cultura de meristemas, também conhecida como micropropagação. O

Quebra a cana e

distribui transversal

a 1ª linha

Coletam as canas jogadas transversalmente e as

distribuem nas três linhas

restantes

Quebra a cana e

distribui na 1º

linha

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tratamento por termoterapia em combinação com a cultura de meristemas pode

aumentar a possibilidade da eliminação dos vírus da planta infectada, e também deve

ser considerado nos programas de limpeza de material propagativo.

Atualmente a micropropagação de cana-de-açúcar no Brasil tem sido realizada

tanto em laboratórios privados como em usinas. Em algumas usinas parte do material

micropropagado é destinado ao plantio próprio, sendo o excedente utilizado para

atender a outras unidades e fornecedores. As variedades liberadas pelos programas

de melhoramento levam alguns anos para se estabelecer em plantios comerciais,

ocorrendo em virtude da quantidade de mudas inicialmente disponíveis serem

pequenas. A multiplicação de mudas das variedades liberadas pelos programas de

melhoramento, através da cultura de meristemas permite a produção com alto grau de

sanidade e em larga escala.

Os meristemas são retirados de mudas provenientes de viveiros, tratadas

termicamente, submetidas a rigoroso controle fitossanitário e testes sorológicos para

diagnóstico das principais doenças. Em linhas gerais, o processo de propagação in

vitro pode ser dividido em três estádios (GRATTAPAGLIA e MACHADO, 1998):

Estádio I – Laboratório

Seleção e desinfecção dos explantes, parte da planta a ser introduzida in vitro

(meristema do palmito ou das gemas).

Cultura em meio nutritivo sob condições assépticas.

Estádio II – Laboratório

Multiplicações mediante sucessivas subculturas.

Enraizamento.

Estádio III – Casa de vegetação

Transplantio em substrato.

Aclimatação.

O estádio I envolve basicamente a retirada dos meristemas de brotações

oriundas de plantas matrizes e a sua introdução in vitro, e no estádio II ocorre o

desenvolvimento das plântulas com posteriores subcultivos em meio de cultura líquido.

Essas etapas ocorrem em um período de aproximadamente seis meses, multiplicando-

se a uma taxa de 1:10 (SANGUINO et al., 2005). Posteriormente, as plântulas são

transferidas para frascos contendo meio de cultura para a promoção do

desenvolvimento radicular (Figura 8), atingindo uma taxa média de multiplicação de

1:8. Para essas etapas são utilizadas salas climatizadas, onde deverão ser

consideradas as seguintes condições:

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3000 lux de intensidade luminosa;

Fotoperíodo de 14 horas;

Temperatura de 28º C;

FIGURA 8. Promoção do desenvolvimento radicular.

Fonte: Binova

No período de aclimatação, as plantas enraizadas passam pelo processo de

individualização e posterior plantio em bandejas devidamente preenchidas com

substrato orgânico. Essas bandejas serão mantidas em casa de vegetação em

ambiente com alta umidade relativa, durante aproximadamente dez dias. Após esse

período as plântulas são expostas ao ambiente natural, normalmente em canteiros

suspensos, onde permanecerão por mais 45 dias, completando, assim, o período de

aclimatação. Estarão assim, em condições de serem transferidas para o campo. A

escolha do local de plantio deve ser criteriosa, com irrigação. Isso é de fundamental

importância para o adequado “pegamento” das mudas.

4.1 SISTEMA TRADICIONAL - CANA INTEIRA

Esse método de multiplicação é bastante usual (Figura 9), sendo utilizada a cana

inteira. A cana é cortada, retirado o palmito, carregada e transportada para posterior

plantio. Nesse sistema, a taxa de multiplicação pode chegar até 1:228 em um período

de dezoito meses.

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FIGURA 9. Esquema para sistema tradicional - cana inteira.

4.5 Mini Toletes

Este método é utilizado em casos especiais tal como pouco volume de muda

disponível. Pode chegar a uma taxa de multiplicação de 1:40, portanto, quatro vezes

superior à taxa normal. Isso considerando que o volume de muda necessária para

implantar esse sistema é ¼ menor do que o tradicional, porém, para tanto, se

recomenda maiores cuidados em relação as seguintes operações:

Ano 01

Outubro

Plantio

Ano 02

Março

1º Corte

Ano 02

Setembro

2º Corte

Taxa 1:6

--------------

06 ha

Taxa 1:5

--------------

25 ha

Taxa 1:06

--------------

36 ha

Taxa 1:07

--------------

35 ha

Taxa 1:06

--------------

150 ha

Área

comercial

228 ha

1 ha

ressoca

Ano 03

Março

Comercial

1 ha

1 ha

soca

Taxa 1:5

--------------

05 ha

Taxa 1:5

--------------

05 ha

Taxa 1:07

--------------

07 ha

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Preparo do solo.

Obtenção dos mini toletes

Plantio duplo, ou seja, dois mini toletes/cova, espaçadas de 50 cm.

Irrigação complementar.

5. CONDUÇÃO DO VIVEIRO

Além dos cuidados normais de um plantio, ou seja, bom preparo do solo e

adubação no plantio adequada, outras práticas devem ser adotadas nas áreas de

viveiro, ou seja, irrigação complementar, adubações parceladas em cobertura

(nitrogênio e potássio), operações de “roguing” e cuidados com a infestação de plantas

daninhas e corte das mudas.

Controle de plantas daninhas

Em relação ao controle de plantas daninhas os viveiros devem ser conservados

rigorosamente livres de plantas daninhas. Podendo ser adotado os seguintes manejos:

1 - Rotação de cultura, com semeadura de leguminosas;

2 - Uso de herbicidas seletivos em pré-emergência e se necessário em pós

emergência;

3 – Cultivo mecânico;

Adubações complementares

Dentre os macro nutrientes, o nitrogênio quando aplicando em elevadas doses

obteve um aumento de 25% na brotação e redução no tempo de emergência

Arceneaux, citado por (CASAGRANDE, 1991). Isto quer dizer que a aplicação de

nitrogênio em doses maiores que as usuais em cana-de-açúcar destinadas a muda,

podem, além de aumentar a produção, melhorar a brotação. Os resultados desses

trabalhos indicam que somente doses acima de 270 kg.ha -1 de N possibilita conferir

vantagens. (CASAGRANDE 1991),

Ainda, de qualquer modo, é unânime entre os autores a afirmação de que quanto

melhor o estado nutricional, melhor será a brotação (CASAGRANDE, 1991). Este

melhor estado nutricional pode ser alcançado utilizando-se recursos que beneficiem o

bom desenvolvimento das mudas (torta de filtro, solo fértil, vinhaça, etc.)

Irrigações complementares

O plantio de cana-de-açúcar em condições de seca ou em período de estiagem é

comprometedor, mas caso necessário deve-se utilizar irrigações complementares.

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Quanto ao período de maior demanda (CASAGRANDE, 1991), a cana plantada

em setembro-outubro, denominada cana de ano (12 meses) apresenta máximo

desenvolvimento no período novembro a abril; já a cana plantada de janeiro ao início

de abril, cana de ano e meio (18 meses) tem maior desenvolvimento de outubro a

abril, com pico máximo no período de dezembro a abril.

Cuidado no momento do corte das mudas

Os facões devem ser desinfetados na operação de corte e ao longo do processo

de corte para que não haja disseminação de inóculos de doenças para as áreas

comerciais e também para preservar a qualidade dos demais estágios do viveiro.

Deve-se utilizar para tanto solução composta de amônia quaternária a 30% Chemitec

(cloreto de alquil-dimetil-benzil-amônio) a 30% e Killbac (digluconato de clorhexidina) a

20%, de acordo com (SANGUINO e MORAIS, 2005).

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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

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Funesp/Unesp. 1991. 157p.

FERNANDES, A.J. Manual a cana-de-açúcar. 1990. 196p.

GRATTAPAGLIA, D.; MACHADO, M. A . Micropropagação. In: TORRES, A C.;

CALDAS, L. S.; BUSO, A J.(Eds.). Cultura de tecidos e transformação de plantas.

Brasília:EMBRAPA-SPI/CNPH, 1998. v.1,p.183-260.

LANDELL, M. G. de A; et. al.Variedades de cana-de-açúcar para o centro sul do

Brasil: 15ª liberação do Programa Cana IAC (1959-2005). Campinas: Instituto

Agronômico, 2005. 37p. (Boletim técnico 197).

LANDELL, M. G. de A; Plantio com MEIOSI. 2º seminário IDEA, Redução de custos

na lavoura canavieira. 29 julho 1998 p. 54-62.

SANGUINO, A, V. A MORAES; M. V. CASAGRANDE. Curso de formação e

condução de viveiros de mudas de cana-de-açúcar. Outubro 2005 p.43.

SANGUINO, A., J.M. CAMPANHÃO; J.C.MOMESSO; R.A GONÇALVES. Controle do

raquitismo da soqueira da cana de açúcar em toletes de três gemas pelo tratamento

térmico em água a 52ºC por 30 minutos. 1996 (Relatório CTC).

GHELLER, A.,C.A. – Avaliação da eficiência de dois sistemas de tratamento

térmico para inativação da bactéria causadora do Raquitismo da Soqueira em

cana-de-açúcar. 1986 p. 99. Dissertação de mestrado. ESCOLA SUPERIOR DE

AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ.

DIAS, L.C.S.; ZANIN, R.; TAMELLINE JR; A. Produção de cana pelo sistema de

MEIOSI. STAB, Piracicaba, Vol 14, p.13-15, 1995

BARCELOS, J.,E.T. Comparação entre dois sistemas de rotação de culturas com

a cana –de-açúcar (Saccharum spp). 1990 p. 65. Dissertação de mestrado.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO –

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE

JABOTICABAL.

MARCHERONI, W; MATSUOKA, S. Manual de Patologia da cana-de-açúcar

(Boletim técnico).

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XAVIER, M. A.; ANJOS, I. A. ; NOGUEIRA, G. A. Viveiros de mudas de cana-de-

açúcar. p.204-231., 2006. APOSTILA CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM ÊNFASE

NA CADEIA PRODUTIVA DA-CANA-DE-AÇÚCAR.