VISÕES DA NATUREZA

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Relatório Final. Disciplina: Visões da natureza: Poética, artificialismo e ciência. Professor: Hugo Fernando Salinas Fortes Junior. Aluna: Teresa Maria Siewerdt 05-07-2011.

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pequeno texto sobre arte e natureza, feito para a disciplina "visões da natureza" da ECA

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Relatrio Final.Disciplina: Vises da natureza: Potica, artificialismo e cincia.Professor: Hugo Fernando Salinas Fortes Junior.Aluna: Teresa Maria Siewerdt05-07-2011.

VISES DA NATUREZA: Potica, artificialismo e cincia.

Como base para a discusso sobre arte, natureza e cincia, tomamos como germe inicial o binmio physis X techne, oriundo da problemtica da organizao e repartio do mundo e cuja base terica viria da filosofia grega, dividindo o mundo entre os fenmenos naturais e a capacidade humana de manipular o mundo fsico, do qual a arte partcipe, dai sua raiz comum com a palavra artificial.Desta forma, natureza e artifcio surgem como conceitos opostos, um nega o outro, ainda que paradoxalmente a prpria diviso das categorias, assim como o termo natureza, so eles prprios artifcios do homem.O termo natura j existia no vocbulo latino, mas a idia de natureza tal qual a conhecemos hoje, veio a se firmar no sc. XVIII, quando as cincias fsicas comeam a desvendar de maneira mais precisa os fenmenos da natureza, ou a natureza das coisas. Surge da uma relao que posiciona o homem diante da fora impetuosa de uma natureza que deve ser estudada, compreendida e dominada.A natureza a priori uma inveno, uma espcie de conveno humana, e se o cientificismo do sculo XVIII descobria a natureza atravs das cincias fsicas, da botnica ou da zoologia, paralelamente o romantismo a tornava o seu novo mito, substituindo a religio e a histria. Na arte ocidental a partir do sculo XVIII, se observa a natureza como principal protagonista, atravs do gnero da pintura de paisagem, onde a natureza pode ser apreciada livre de justificativa histrica, moral ou literria, sendo ela importante por si.Um novo termo criado para dar conta do sentimento diante da apreciao do mundo, o sublime. Kant, em 1764, aborda a noo de sublime como aquilo que nos comove, que profundo, que revela foras que ameaam nos destruir. Sendo assim, o sublime carrega em si sempre algo de elevado e trgico, como na natureza, onde coexistem foras antagnicas de criao e destruio. A pintura de paisagem, via de acesso ao sublime, lograva acima de tudo associar o mundo natural interioridade daquele que olha e exterioridade daquilo que olhado, compondo uma espcie de retrato cuja emoo vai repousar nos gestos que somente a natureza capaz de esboar.O esprito Romntico tambm contribuiu em grande medida, com a nsia pelo conhecimento que acabaria por impulsionar uma srie de expedies e viagens de carter cientifico e geogrfico, catalogando lugares, plantas, animais e tantas outras coisas que at ento o homem no havia ainda enumerado, formando verdadeiras colees, espcie de gabinete de curiosidades, precursoras dos futuros museus, contendo de tudo que o olho humano pudesse abarcar para o seu deleite.

Neste primeiro momento da histria da cincia moderna, ocorre um certo hibridismo entre a figura do artista e o cientista, antes de se estabelecerem as normas que afastariam qualquer idia de subjetividade na representao catalogrfica do mundo natural. Dos estudos variados de Da Vinci, passando pelas meticulosas naturezas mortas de Jan Van Kessel s exuberantes criaturas aquticas de Ernst Haeckel, h uma inegvel coexistncia entre arte e cincia, compartilhando do interesse comum por formas e fenmenos da natureza.

No sculo XIX, com o advento da fotografia, a possibilidade de alcanar o verossmil via o novo mecanismo, revoluciona o mundo da arte e da cincia. Poder se ia alcanar o nunca visto, produzir imagens cuja preciso jamais se atingiria com outra prtica. O mundo natural diante do acontecimento fotogrfico quis mais do que nuca ser visitado, quanto mais longe e mais extico um panorama, melhor. Paisagens antes nunca valorizadas, pelo seu carter singular, ou pitoresco, eram os alvos favoritos das lentes dos fotgrafos, fosse a fotografia um meio de catalogao, operava tambm uma transferncia inegvel da subjetividade do fotografo sobre a natureza. A fotografia tambm instigou estudos diversos a partir do registro imediato que fornecia sobre a observao de um fenmeno, a exemplo, Muybridge no final do sculo XIX, ao realizar seus clebres estudos de decomposio do movimento de animais e pessoas.Karl Blossfeldt, entre o final do sculo XIX e comeo do sculo XX, centra seu interesse no mundo das plantas, e logra atravs da fotografia um efeito no qual o mudo vegetal torna-se metlico. Blossfeldt, cuja formao era de escultor, tinha interesse em modelar com base em plantas vivas, e a fotografia lhe resultou um excelente meio de transferncia do mundo natural a forma escultrica.

Fazemos aqui um pequeno apndice sobre a esttica da ornamentao baseada em formas da natureza produzida entre a metade do sculo XIX e comeo do XX. Saltamos do Romantismo para a Modernidade, no momento em que a maquina passa a ocupar o centro das atenes e a natureza solicitada a purificar o que a industrializao corrompia. O movimento arts & crafts que surge na Inglaterra em metade do sculo XIX, e a art nouveau do final do sculo XIX na Frana, tentariam aliar arte as necessidades das novas metrpoles, atravs de um produo artesanal feita para poucos. Em ambos estilos, na Art Nouveau em especial, abundavam formas orgnicas e citaes a natureza, como floreados, linhas sinuosas e formas de animais, que eram usados em cartazes, na arquitetura, em jias, roupas e moblias, e que ao fim acabariam se tornando, ambos movimentos, uma marca do estilo da nova burguesia industrial. Observamos nestas manifestaes uma ateno sobre a natureza que em verdade faria lembrar do seu grau de utilidade para o enriquecimento da metrpole, trata-se mais bem de uma imagem de natureza domesticada e dcil, a servio do homem.

Muitos artistas at nossos dias seguem utilizando-se de recursos que lembram o da catalogao cientfica. Marcel Broodthaer, recolhe, coleciona e inventa maneiras de expor seus materiais como forma de discutir a instituio museogrfica. Alberto Baraya documenta plantas falsas como se fossem reais. Walmor Corra trafega entre o universo imaginrio e a preciso cientifica e Damian Hirst apresenta animais seccionados e empalhados dentro de caixas de vidro.Voltamos agora nossa ateno novamente ao termo paisagem no campo da arte. O termo ou o conceito de paisagem desenvolveu-se na Europa por volta do sculo XVI, originalmente na Holanda, mas no se generalizou na linguagem cotidiana at o sculo XVIII, quando a jardinagem e a pintura tornam-se paisagistas.Contudo, a natureza exterior se transforma em paisagem somente quando percebida por um expectador enquanto tal, passando por uma relao de interioridade que confere a um fragmento selecionado certa unidade. Nesta relao a paisagem capaz de transmitir ao espectador diferentes estados de nimo. A experincia da emoo ao contemplar-se um territrio e dele desvelar algum mistrio. Mas, ainda a apreciao do entorno depende em grande medida da sensibilidade de cada pessoa, dos mecanismos de percepo assim como de categorias culturais de interpretao, da mesma forma no se pode negar que o espao atinge e afeta a cada um de maneira diferente, escapando e indo alm a lgicas que o possam definir e delimitar de maneira nica.Falamos anteriormente de como no Romantismo a pintura de paisagem encontrou sua autonomia enquanto gnero pictrico, e a natureza passou a ser venerada tambm por sua capacidade de expressar sentimentos humanos, havia uma idealizao, por assim dizer da natureza. No sculo XX., a partir dos anos 60, ocorrem novos meios de apropriao da paisagem pelos artistas, como na Land art nos Estados Unidos , a Earth Art na Inglaterra, estabelecendo-se novas formas de criao na qual a natureza ou o meio fsico so o prprio sujeito da obra, seja como processo ou como destino do ato artstico. No mais uma natureza idealizada com a que trabalham estes novos artistas, ainda assim, o sublime romntico recuperado, e o carter mstico dos lugares no descartado. A fotografia, que segundo vimos alavancou viagens a lugares distantes e jamais vistos, torna-se aliada e parte integrante de uma srie de trabalhos de artistas contemporneos sobre a paisagem. A paisagem, alis, transfigura-se a outros termos anlogos, podendo ser lugar, territrio, campo expandido, site ou ambiente. Surgem obras e experincias realizadas longe de espaos expositivos, como os realizados por Richard Long ou Robert Smithson, somente vistos atravs da documentao e registro fotogrfico que o artista realiza em torno da obra. A obra, nestes casos, tambm a prova que o artista decide revelar ao expectador, muitas vezes, o nico que resta.

NOTAS SOBRE O PRPRIO TRABALHO.

Dissoluo

Como artista, interessa-me primeiramente o desencadeamento da imaginao a partir de um espao real e suas qualidades fsicas. A paisagem, o lugar, existem para mim enquanto espaos recriados, onde o corpo est sempre presente, mas tentando encontrar um meio de desaparecer, ou de esconder-se no fora. Desde algumas experimentaes entre 2001 e 2003, nas quais trabalhei com carne em decomposio dentro de caixas de vidro e em um segundo, cuja matria prima era urina coletada e congelada em cubos, e posteriormente levados a derreter em lugares de minha escolha, desde ento, questes referentes a dissoluo entre ser e espao me so atraentes. Junto a isso o interesse pelo comportamento dos fenmenos naturais e o uso destes em operaes artsticas.

Dispositivos de percepo

Outro aspecto que veio a se tornar importante para mim diz respeito ao posicionamento do expectador diante do fenmeno da exterioridade. Elaborei mecanismos de empuxo para despertar o estado de alerta, como no caso do adesivo: todos os espaos so suspeitos, e do dispositivo sonoro que desdobrou-se desta frase. O funcionamento deste trabalho ocorre mediante a insero de um sensor de presena que dispara um som de vidro estilhaado, conforme algum entre em seu campo de ativao.

Em um segundo momento, quis realizar o caminho oposto, desta vez desejava atrair o corpo do espectador para um estado de repouso, como no caso do dispositivo para contemplao realizado em 2007 e projeto para sarcfago de vidro da mesma poca. A imagem do objeto como escultura, sem um corpo instalado em seu interior, desperta para qualidades espirituais ao sugerir um corpo ausente.

Revestimentos

Em meus trabalhos mais recentes, est presente todavia o interesse pela dissoluo com o meio, porm desta vez o trabalho solicita um estado de abandono do corpo para que haja sua mimetizao com o meio ambiente. Em Dafne, espcie de performance voltada para a fotografia, o corpo se torna planta no espao do jardim domestico. Em Venus de limo, trabalho em fotografia de 2009, havia j uma operao de implante de uma coisa sobre uma outra paralisada, ao inserir limo sobre uma escultura de Venus de Jardim como se fossem seus cabelos. No projeto para performance: vestido de carrapicho, conforme a roupa entra em contato com a superfcie da roupa de outros, os carrapichos vo sendo transferidos, numa espcie de semeadura por proximidade, revestindo um outro lugar.

BIBLIOGRAFIA:

MADERUELO, Javier. Arte y Naturaleza, actas:Earthworks Land art: Una dialctica entre lo sublime y lo pitoresco. Edicta.disputacin de Huesca, 1995

SIEWERDT, Teresa Maria. Paisagem em Ana Mendieta: Distancia, fissura e vestgio. Monografia. 2007.