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Visita técnica ao Japão A área de pisos industriais de concreto sempre teve como um de seus desafios o desenvolvimento de tecnologias para combater os efeitos da retração do concreto. A retração em pisos é um dos principais causadores de manifestações patológicas, tais como fissuras, abertura excessiva de juntas, empenamento de placas; e também é um dos fatores que limitam o aumento da distância entre juntas. O controle dos efeitos da retração possibilitaria uma redução destas patologias, assim como das manutenções dos pisos durante a sua utilização. Esta busca tecnológica já trouxe vários produtos que hoje fazem parte do dia a dia do profissional da área de pisos, como, por exemplo, as fibras de aço, as fibras sintéticas, aditivos redutores de água do concreto, entre outros, que proporcionaram expressivos benefícios a toda a cadeia de profissionais envolvidos com pisos de concreto. Seguindo esta trilha, a LPE Engenharia tem como uma de suas metas o desenvolvimento e a busca de novas tecnologias relacionadas a pisos e pavimentos de concreto. E dentro deste contexto, a LPE e a fabricante de cimentos japoneses Denka estão, atualmente, trabalhando no desenvolvimento tecnológico de cimentos expansivos adaptados aos padrões nacionais. Estes tipos de cimentos são utilizados no Japão, e também na Europa, como um aditivo ao concreto que proporciona expansão e, com isto, compensa, ou até elimina, o efeito da retração no concreto. Com o objetivo de adquirir conhecimento técnico sobre esta tecnologia, a LPE, a convite da Denka, fez uma viagem técnica ao Japão, em agosto de 2014, que será resumidamente relatada nos próximos parágrafos. Durante a viagem, foi feita uma visita à fábrica da Denka que, além de produzir cimentos, também fabrica diversa gama de produtos que utilizam matériaprima mineral. Um deles, voltado para a área de construção, é um cimento que proporciona expansão ao concreto e é largamente utilizado na execução de pisos de concreto no Japão, assim como na na indústria de préfabricados. Nesta visita, foi possível ter contato com as etapas da fabricação deste material, incluindo a origem da matériaprima que é obtida de uma mina onde eles extraem o calcário. Um fato que chamou a atenção foi a preocupação que os japoneses têm com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. A extração do calcário, que usualmente é uma atividade que agride severamente o meio ambiente, no caso da Denka, é gerenciada por um programa que leva em conta a preservação e o crescimento da vegetação local, visando reduzir ao máximo o impacto ao meio ambiente. Também foram feitas visitas técnicas a especificadores e desenvolvedores de tecnologias que utilizam cimentos expansivos e foi possível entender o comportamento físico destes produtos, a forma de especificação, as normas que regem estas especificações e suas formas de controle. Complementando esta parte teórica da viagem, fiz uma visita a uma estrutura em steel deck com acabamento no próprio concreto, que usualmente apresenta muitas fissuras em sua superfície acabada, mas que, neste caso, as fissuras foram controladas pelo uso do expansor. Uma outra visita que teve destaque foi a uma concreteira, onde eles informaram que grande parte dos concretos destinados a pisos industriais utilizam aditivos expansores para reduzir a

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Visita técnica ao Japão 

A  área  de  pisos  industriais  de  concreto  sempre  teve  como  um  de  seus  desafios  o 

desenvolvimento de tecnologias para combater os efeitos da retração do concreto. A retração 

em  pisos  é  um  dos  principais  causadores  de manifestações  patológicas,  tais  como  fissuras, 

abertura  excessiva  de  juntas,  empenamento  de  placas;  e  também  é  um  dos  fatores  que 

limitam o aumento da distância entre  juntas. O controle dos efeitos da retração possibilitaria 

uma  redução  destas  patologias,  assim  como  das  manutenções  dos  pisos  durante  a  sua 

utilização. 

Esta  busca  tecnológica  já  trouxe  vários  produtos  que  hoje  fazem  parte  do  dia  a  dia  do 

profissional da área de pisos, como, por exemplo, as fibras de aço, as fibras sintéticas, aditivos 

redutores de  água do  concreto,  entre outros, que proporcionaram  expressivos benefícios  a 

toda a cadeia de profissionais envolvidos com pisos de concreto. 

Seguindo esta trilha, a LPE Engenharia tem como uma de suas metas o desenvolvimento e a 

busca de  novas  tecnologias  relacionadas  a pisos  e pavimentos  de  concreto.  E dentro deste 

contexto, a LPE e a  fabricante de cimentos  japoneses Denka estão, atualmente, trabalhando 

no  desenvolvimento  tecnológico  de  cimentos  expansivos  adaptados  aos  padrões  nacionais. 

Estes  tipos de  cimentos  são utilizados no  Japão, e  também na Europa,  como um aditivo ao 

concreto  que  proporciona  expansão  e,  com  isto,  compensa,  ou  até  elimina,  o  efeito  da 

retração no concreto. Com o objetivo de adquirir conhecimento técnico sobre esta tecnologia, 

a  LPE, a  convite da Denka,  fez uma viagem  técnica ao  Japão, em agosto de 2014, que  será 

resumidamente relatada nos próximos parágrafos.  

Durante  a  viagem,  foi  feita uma  visita  à  fábrica da Denka que,  além de produzir  cimentos, 

também  fabrica  diversa  gama  de  produtos  que  utilizam matéria‐prima mineral.  Um  deles, 

voltado para a área de construção, é um cimento que proporciona expansão ao concreto e é 

largamente utilizado na execução de pisos de concreto no Japão, assim como na  na indústria 

de  pré‐fabricados. Nesta  visita,  foi  possível  ter  contato  com  as  etapas  da  fabricação  deste 

material, incluindo a origem da matéria‐prima que é obtida de uma mina onde eles extraem o 

calcário.  Um  fato  que  chamou  a  atenção  foi  a  preocupação  que  os  japoneses  têm  com  a 

sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. A extração do calcário, que usualmente é 

uma atividade que agride severamente o meio ambiente, no caso da Denka, é gerenciada por 

um programa que  leva em conta a preservação e o crescimento da vegetação  local, visando 

reduzir ao máximo o impacto ao meio ambiente. 

Também foram feitas visitas técnicas a especificadores e desenvolvedores de tecnologias que 

utilizam cimentos expansivos e foi possível entender o comportamento físico destes produtos, 

a  forma  de  especificação,  as  normas  que  regem  estas  especificações  e  suas  formas  de 

controle. Complementando esta parte  teórica da viagem,  fiz uma visita a uma estrutura em 

steel deck  com acabamento no próprio  concreto, que usualmente apresenta muitas  fissuras 

em  sua  superfície acabada, mas que, neste  caso, as  fissuras  foram  controladas pelo uso do 

expansor. 

Uma outra visita que teve destaque foi a uma concreteira, onde eles  informaram que grande 

parte dos concretos destinados a pisos  industriais utilizam aditivos expansores para reduzir a 

ocorrência de  fissuras por  retração. Uma diferença das concreteiras no  Japão em  relação às 

brasileiras se refere à forma que eles procedem a mistura do concreto. No Japão, ela é feita 

integralmente  numa  central,  que  leva  cerca  de  25  segundos  para  garantir  uma  mistura 

completamente  homogênea.  Lá  o  caminhão  betoneira  serve  apenas  para  transportar  o 

concreto, diferentemente do Brasil que o caminhão  funciona como misturador de concreto. 

Isto  não  quer  dizer  que  a  técnica  brasileira  seja  ineficiente;  na  verdade,  são  apenas  duas 

formas  distintas  de  executar  este  procedimento.  Outro  ponto  que  chamou  a  atenção,  na 

concreteira,  foi  a  baixa  quantidade  de  água  que  eles  utilizam  para  garantir  abatimentos 

elevados, e com permanência destes abatimentos por longo período de tempo. Por exemplo, 

um  traço que verifiquei na sua execução, utilizava cerca de 150  litros/m3 de água e garantia 

um abatimento acima de 120mm por cerca de 90 minutos; já aqui no Brasil este mesmo traço 

normalmente  utilizaria  uma  quantidade  de  água  que  superaria  200  litros/m3.  Esta 

característica  é  obtida  pelo  tipo  de  aditivo  que  eles  utilizam  e  também  pelos  tipos  de 

agregados; a grande vantagem é que permite executar concretos de baixa retração. 

Todas  estas  informações  técnicas  obtidas  na  viagem  abrem  um  horizonte  sobre  as  novas 

tecnologias  que  podem  ser  implantadas  no  Brasil,  que,  obviamente,  irão  demandar  uma 

campanha  de  estudos  para  a  sua  adaptação  aos  padrões  nacionais,  mas  que  poderão 

proporcionar  grandes  benefícios,  tais  como  otimização  nos  processos  executivos,  menor 

abertura das  juntas e a redução do número delas, que  impactarão diretamente na execução, 

na  especificação  e,  principalmente,  na  redução  das  manutenções  e  no  aumento  da 

durabilidade de novos pavimentos de concreto. 

Para concluir, gostaria de destacar algumas particularidades culturais do Japão. Como a viagem 

abrangeu a região de Tóquio e também uma cidade no interior do Japão, onde fica a fábrica de 

cimentos,  tive  a oportunidade de  conhecer  características  específicas de  cada  região.  Entre 

elas, observei  como o  japonês  valoriza a  sua  terra.  Lá praticamente qualquer pedacinho de 

terra  é  aproveitado  para  algum  cultivo;  desde  campos  e  vilarejos  no  interior  do  Japão  até 

cobertura  de  edifícios.  Outra  característica  que  observei  foi  o  sistema  de  transporte.  Em 

Tóquio, por exemplo, existe uma extensa malha metroviária que praticamente abrange  todo 

ponto da cidade, e que auxilia fortemente na mobilidade urbana. Eles também têm uma malha 

de  trens bala, o Shinkancen, que permite viajar para quase  todas as  regiões do  Japão,  com 

conforto, e em um curto período de tempo. E, por fim, posso destacar a limpeza da cidade, a 

receptividade, e a educação dos  japoneses, que são peculiares e nos  induzem a recomendar 

que todos que tiverem oportunidade visitem o Japão. 

Breno Macedo Faria 

Gerente de Projetos da LPE Engenharia