VISCARDIi, Cláudia. Federalismo oligárquico com sotaque mineiro.pdf

7
Cláudia Maria Ribeiro Viscardi Ensaio 97 Incluído entre os seis Estados hegemônicos da República Velha, Minas Gerais valeu-se da forte articulação interna entre suas elites para exercer sobre o poder federal influência consideravelmente maior da que lhe é habitualmente atribuída. Revista do Arquivo Público Mineiro Revista do Arquivo Público Mineiro Federalismo oligárquico com sotaque mineiro

Transcript of VISCARDIi, Cláudia. Federalismo oligárquico com sotaque mineiro.pdf

  • Cludia Maria Ribeiro Viscardi

    Ensaio 97

    Includo entre os seis Estados hegemnicos da Repblica Velha, MinasGerais valeu-se da forte articulao interna entre suas elites para exercersobre o poder federal influncia consideravelmente maior da que lhe habitualmente atribuda.

    Revista do Arquivo Pblico MineiroRevista do Arquivo Pblico Mineiro

    Federalismo oligrquico com sotaque mineiro

  • no de indivduos isolados de seu contexto. Foram identi-

    ficados os projetos coletivos, as estratgias, as filiaes

    ideolgicas e as afinidades personalsticas. Optamos por

    abrir mo de paradigmas anteriormente construdos, tais

    como o de buscar nas fontes o esprito mineiro, identi-

    ficar na bancada parlamentar um comportamento mono-

    ltico e monofnico, justificar a atuao poltica do Estado

    a partir de sua aliana com os paulistas e atrelar a ao

    de suas elites dirigentes defesa dos interesses corpora-

    tivos dos cafeicultores.

    Tomando tal premissa como um desafio, empreendemos

    um estudo sobre o desempenho de Minas Gerais na pri-

    meira experincia federalista brasileira, com o propsito

    principal de responder seguinte questo: tendo em vista

    a grande diversidade entre os membros da Federao,

    a experincia pregressa de um Estado centralizado, os

    limites do iderio liberal inspirador das elites nacionais e

    o predomnio de uma cultura poltica fundada no corone-

    lismo oligrquico, como foi possvel construir um federa-

    lismo relativamente duradouro e estvel? Qual o papel

    desempenhado por Minas Gerais nesse contexto? Como

    esse federalismo conformou o comportamento da elite

    poltica mineira? No buscvamos, portanto, a especifici-

    dade caracterstica de Minas, mas revelar os elementos

    que o Estado teria em comum com os demais membros

    da Federao, sobretudo aqueles que equivaliam ao seu

    tamanho e sua importncia.

    Revendo paradigmas

    H cerca de 20 anos, a histria econmica da Repblica

    Velha passava por importantes revises historiogrficas.

    Data da dcada de 1980 a publicao no Brasil dos tra-

    balhos de Steven Topik e Winston Fristch.4 Partindo de

    uma crtica s teses tradicionais que vinculavam as polti-

    cas econmicas do regime exclusivamente aos interesses

    das elites cafeicultoras, ambos os pesquisadores de

    forma diferenciada buscaram analisar com profundidade

    a conduo econmica do pas, no perodo em questo,

    pelos diferentes governos e nos diferentes setores da

    economia.

    A reviso de teses inspiradas no paradigma liberal e no

    marxista, ou no weberiano, foi o ponto alto desses dois

    trabalhos. A identificao de perodos da histria republi-

    cana nos quais as polticas econmicas implementadas

    foram de encontro aos interesses dos setores politica-

    mente hegemnicos acentuou a convico, j manifesta,

    de que o Estado republicano resguardava para si uma

    certa margem de autonomia em relao aos grupos

    exportadores. A esse respeito, os exemplos mais tpicos

    foram as medidas de valorizao cambial propostas e

    implementadas por dois governantes paulistas que se

    sucederam no poder: Campos Salles (1898-1902) e

    Rodrigues Alves (1902-1906). Ambos os presidentes

    eram cafeicultores e foram, ao mesmo tempo, respon-

    sveis pela introduo de polticas ortodoxas e recessivas

    que prejudicaram interesses consolidados dos setores

    agroexportadores.

    Com essa mudana de enfoque, os prprios agentes

    econmicos, com seus variados interesses, converteram-se

    em renovado objeto de investigao.5 Ficou patenteado

    que a complexidade de interesses existentes entre os

    membros de uma mesma corporao impedia uma ao

    ou reao unvoca por parte desses setores em relao s

    polticas econmicas implementadas pelo poder central.

    Exemplo claro dessa afirmao encontra-se na anlise do

    Convnio de Taubat, principal poltica de valorizao do

    caf. Uma reflexo genrica e apressada levaria a tom-la

    como exemplo que contraria a proposio sobre a relativa

    autonomia do Estado nacional republicano em relao aos

    interesses dos cafeicultores. No entanto, estudos recentes

    tm concludo que a poltica protecionista em questo

    resultante de difceis acordos em cuja implementao o

    Estado nacional mostrava-se reticente foi ineficaz para a

    maioria dos agentes econmicos interessados em sua

    aplicao, ou insuficiente para resolver os principais

    Cludia Maria Ribeiro Viscardi | Federalismo oligrquico com sotaque mineiro | 100

    A historiadora Armelle Enders diagnosticou com

    propriedade a produo historiogrfica acerca do Estado

    na Velha Repblica. Para a autora, o regime federalista

    implantado a partir da constituio de 1891 acabou por

    engendrar um federalismo historiogrfico, caracterizado

    pela ausncia de anlises sobre o modelo de Estado

    nacional, em contraste com a predominncia de estudos

    regionalizados, ou melhor, estadualizados.1

    O exemplo mais tpico desta assertiva foi a trilogia elabo-

    rada pelos brasilianistas John Wirth, Joseph Love e

    Robert Levine, que estudaram, respectivamente, os

    Estados de Minas Gerais, So Paulo e Pernambuco.2

    patente a ausncia de trabalhos voltados para a

    discusso do Estado nacional republicano, a despeito de

    algumas iniciativas isoladas.

    Esse tipo de produo historiogrfica acabou resultando

    em trabalhos regionalizados em suas abordagens, que

    tm como caracterstica a busca de motivaes majorita-

    riamente endgenas, na tentativa de explicao do com-

    portamento das elites dirigentes. Tal abordagem resultou

    no arrolamento de especificidades que comporiam, por

    sua vez uma identidade regional, sem levar em conta

    que aquilo que era percebido como uma exceo ou

    elemento diferencial se repetia invariavelmente em outras

    regies, justamente porque resultava de influncias exerci-

    das no mbito da macropoltica.

    As anlises sobre Minas Gerais, durante um certo perodo,

    no escaparam desse paradigma. O olhar de muitos his-

    toriadores esteve voltado para as disputas intra-elitistas

    mineiras, sem necessariamente relacion-las a condicio-

    nantes de carter nacional ou mesmo internacional.3

    Por esta razo, o papel poltico de Minas, no contexto da

    Repblica Velha, foi extremamente estereotipado. A elite

    mineira foi descrita como conciliadora, fortemente sub-

    metida s ordens do PRM e, por isso, apelidada a

    carneirada, vista ainda como aliada incondicional das

    elites paulistas, alm de outras caractersticas que

    acabaram por reforar o mito da mineiridade. Toda essa

    gama de caractersticas definidoras de uma suposta

    identidade mineira foi construda, em sua maior parte,

    com base no estudo das trajetrias individuais de

    algumas lideranas que se destacaram, no estudo de

    suas alianas polticas personalizadas, de suas moti-

    vaes psicolgicas e de suas reaes a acontecimentos

    intrnsecos ao Estado.

    Acreditamos ser difcil identificar padres de comporta-

    mento da elite mineira sem atentar para as relaes que o

    Estado travava no mbito macropoltico. sabido que o

    federalismo implantado aps o regime monrquico foi

    extremamente desigual. A posio ocupada por Minas na

    diviso de poder instituda pelo novo regime e as alianas

    estabelecidas pelo Estado nesse contexto constituram-se

    elementos centrais a definir o comportamento interno de

    suas elites.

    Por outro lado, acreditamos que o acompanhamento das

    trajetrias dos grupos de poder contribui mais decisiva-

    mente para a histria poltica do que as biografias indivi-

    duais de lderes em destaque. A anlise dos arquivos pri-

    vados permite que sejam identificados variados grupos de

    aliados polticos que, em geral, agiam compartilhando

    idias, projetos e atitudes. O levantamento prosopogrfico

    tem sido muito til na identificao dos elementos que

    compem as culturas polticas de determinados grupos, e

    essas, por sua vez, acabaram por motivar comportamen-

    tos, induzir estratgias e reforar identidades de grupais.

    Portanto, ao se estudar Minas Gerais no contexto do fede-

    ralismo oligrquico, a partir do estudo dos arquivos priva-

    dos de importantes lderes do perodo, buscamos evitar as

    armadilhas que acabam por reforar o carter explicativo

    de uma identidade mineira, ou seja, de um modelo de

    comportamento endogenamente constitudo. Para escapar

    a esse paradigma, procuramos explicar o comportamento

    poltico da elite montanhesa a partir de suas relaes com

    o contexto nacional, abordando as trajetrias dos grupos e

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Ensaio99 |

    >

    JonasTypewriterEstudos individuais

    JonasTypewriter

    JonasTypewriter preciso olhar a inser-o do estado na federa-o.

    JonasTypewriterGrupos mais importantesque personalidades.

    JonasTypewriterCultura poltica

    JonasTypewriter

    JonasTypewriterProjetos -afinidades -estratgias - filiaes ideo-lgicas

    JonasTypewriter

    JonasTypewriterO EstadoNacionalguardavapara si cer-ta margem de autono-mia.

    JonasTypewriterOs agenteseconmicosno so mo-nolticose nem cola-dos ao esta-do.

  • construo e desconstruo de alianas polticas. No

    modelo de federalismo implantado no Brasil, as sucesses

    presidenciais funcionavam como verdadeiros jogos, tendo

    como jogadores os Estados membros da Federao, cada

    um com suas estratgias de ao, fundamentadas nas

    armas de que dispunham. Em cada evento sucessrio,

    foi possvel acompanhar o processo de negociao e bar-

    ganha polticas que resultavam na escolha do candidato

    Presidncia da Repblica, condio que praticamente

    garantia a sua eleio.

    Na ausncia de meios de comunicao mais eficazes, as

    correspondncias e o uso poltico da imprensa eram vitais

    para a construo e desconstruo de lideranas. Boa

    parte dessa documentao encontra-se disponvel em

    inmeras instituies arquivsticas, permitindo diferentes

    leituras acerca desses intricados processos.

    Optou-se por analisar todas as sucesses presidenciais a

    partir do governo de Rodrigues Alves marcado pela

    ascenso mineira no federalismo ps-monrquico ,

    ocasio em que Afonso Pena assumia a condio de vice-

    presidente da Repblica. conhecida a constatao de

    que Minas Gerais viveu, ao longo da primeira dcada

    republicana, intensas disputas intra-oligrquicas que

    prejudicaram, sobremaneira, uma participao mais

    efetiva do Estado na organizao e consolidao do novo

    regime implantado aps 1889.

    A experincia prvia de um movimento republicano

    relativamente frgil, que no empolgou a maior parte das

    elites polticas mineiras, afastou o Estado das principais

    articulaes polticas que resultaram da proclamao

    da Repblica. Distante dessas articulaes e tendo que

    se reorganizar internamente em razo das mudanas

    macropolticas ocorridas, o Estado viveu ferrenhas

    disputas internas, reflexos de suas marcantes diferenas

    at ento, encobertas pela centralizao monrquica

    e das disputas que dividiam a nao.10

    Muito embora o Partido Republicano Mineiro (PRM) seja

    habitualmente conhecido pelos pesquisadores como uma

    instituio monoltica e avessa s disputas internas, e a

    bancada mineira reiteradamente nomeada como a

    carneirada dado o seu nvel de coeso interna ,

    encontraram-se nas fontes pesquisadas rduas disputas

    de carter pessoal, regional e ideolgico pelo poder que,

    em geral, resultaram na excluso de muitos dissidentes.

    consenso na historiografia sobre Minas Gerais que as

    disputas internas mais contundentes, que comprometiam

    uma ao mais unificada do Estado no cenrio nacional,

    comearam a arrefecer a partir dos ltimos anos do

    sculo XIX, ao longo do governo de Campos Sales. Seu

    arrefecimento, contudo, no significou que deixassem de

    existir. O acompanhamento de todos os processos

    sucessrios internos (escolha dos presidentes de Estado) e

    externos (escolha dos presidentes da Repblica) permitiu

    que fossem identificados diversos momentos em que as

    disputas intrapartidrias comprometeram uma ao mais

    exitosa de Minas na Federao. O exemplo mais notrio

    dessa assertiva encontra-se na sucesso do prprio

    Afonso Pena, quando dissidncias internas, congregadas

    em torno da candidatura de David Campista, impediram a

    continuidade da presena de Minas no Catete.

    A partir da segunda dcada republicana, a pujana

    econmica de Minas aliada sua maior coeso poltica

    propiciaram ao Estado condies de reivindicar maior

    participao nos rumos do novo regime, compatvel com

    seu papel exercido ao longo do regime imperial. Embora

    relativamente tardia, a ascenso mineira no contexto do

    Estado federal republicano foi rpida e extremamente

    eficiente, como se ver.

    Uma outra razo para que tenhamos iniciado o estudo

    das sucesses presidenciais a partir de Rodrigues Alves

    est relacionada consolidao, nesse perodo, de um

    novo modelo sucessrio. At a ascenso de Afonso Pena,

    houve predomnio de uma aliana entre o Exrcito e a

    Cludia Maria Ribeiro Viscardi | Federalismo oligrquico com sotaque mineiro | 102

    problemas do setor cafeeiro.6 Portanto, a relao simplista

    e direta entre a existncia de polticas de valorizao do

    caf e a preponderncia de interesses dos cafeicultores

    sobre o Estado nacional republicano foi, em nosso

    entendimento, oportunamente questionada.

    Os autores citados anteriormente reivindicaram, portanto,

    uma explicao no campo da poltica para suas con-

    cluses. Tal explicao no tardou. Um conjunto expressi-

    vo de trabalhos, fundamentado em fontes de carter bas-

    tante diferenciado e tendo como foco diferentes regies

    brasileiras, propiciou uma nova reflexo acerca do Estado

    republicano, a partir do estudo de suas elites regionais.7

    Algumas importantes concluses que derivaram desses

    trabalhos podem ser sintetizadas nas seguintes afirmaes:

    Muito embora os setores relacionados direta ou indire-tamente exportao do caf fossem politicamente

    hegemnicos, oligarquias ditas de segunda ou terceira

    grandeza (elites fluminenses, gachas, baianas etc.)

    tiveram importncia significativa nos processos de

    deciso poltica em curso.

    Em que pese o fato de a aliana entre Minas e SoPaulo ter sido hegemnica, isso no impediu a cons-

    truo de eixos alternativos de poder por parte de

    outros setores a ela no vinculados.

    A despeito de o Estado nacional ter a sua sustentaovinculada ao contnuo fluxo de capital estrangeiro para

    o pas cujo principal motor era a exportao do caf ,

    a poltica econmica implantada visava tambm a ga-

    rantir a estabilidade das finanas pblicas e o atendi-

    mento a compromissos financeiros junto aos credores

    internacionais, o que, muitas vezes, fez com que os inte-

    resses corporativos dos cafeicultores fossem contrariados.

    O estudo da aliana Minas-So Paulo precisava serrevisto para que se impusesse um melhor entendi-

    mento do perodo em questo.

    Adotando parte das concluses acima esboadas e

    tomando a quarta delas como um desafio, empreendemos

    uma pesquisa que constou da anlise da rica documen-

    tao que compe os arquivos privados da elite brasileira.

    Foram consultados 11 desses arquivos, constitudos por

    correspondncias, recortes de imprensa, relatrios, discur-

    sos, plataformas eleitorais etc.8

    Entre os Estados-atores, priorizamos o estudo de Minas

    Gerais uma das unidades federadas por trs razes.

    Primeira, por ter sido Minas a unidade que mais se apro-

    priou do aparelho burocrtico estatal ao longo do perodo,

    conforme se ver. Segunda, por ter sido o segundo maior

    exportador de caf, superado apenas por So Paulo.

    Terceira, por ter sido um dos parceiros da aliana que,

    pressupostamente, dominava o regime oligrquico

    brasileiro, a qual se pretendia discutir.

    Para questionar o modelo que, para grande parte dos his-

    toriadores, explicava a estabilidade poltica da Repblica

    Velha, qual seja, o da aliana Minas-So Paulo, tornou-se

    imprescindvel entender qual arranjo alternativo teria con-

    ferido ao sistema um grau mnimo de funcionalidade.

    Realizadas as pesquisas, apresentou-se a seguinte

    proposio:

    A estabilidade do regime poltico republicano

    foi garantida pela instabilidade das alianas entre

    os Estados politicamente mais importantes da

    Federao, impedindo-se, a um s tempo, que a

    hegemonia de uns fosse perpetuada e que a

    excluso de outros fosse definitiva. Tal instabi-

    lidade pde conter rupturas internas, sem que o

    modelo poltico fosse ameaado, at o limite em

    que as principais bases de sustentao deste

    modelo deixaram de existir, ocasionando a sua

    capitulao.9

    Com a finalidade de confirmar a proposio acima, foi

    estudada boa parte das sucesses presidenciais ocorridas

    no perodo. A escolha das sucesses como objeto de

    anlise se explica por terem sido episdios recorrentes de

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Ensaio101 |

    JonasTypewriterUsou os arquivosparticularespara detalharo relacionamentoSo PauloMinas

    JonasTypewriteros estadoscomo joga-dores.Joga cadaum comsuas armas.

    JonasTypewriterA partir de Campos Sales,as lutasinternasdiminuem

  • oligarquia de So Paulo no controle dos rumos do novo

    regime, resultando em conseqncia duas presidncias

    militares e trs paulistas. Em que pese a participao de

    outros Estados, inclusive Minas Gerais, na sustentao do

    regime, a Repblica era claramente controlada pelas elites

    paulistas, reunidas no forte Partido Republicano Paulista

    (PRP), tendo como aliados os militares.11

    A proeminncia do PRP sobre as demais instituies par-

    tidrias regionais se explicava no s pela sua coeso

    interna, mas, sobretudo, pelas disputas intra-oligrquicas

    vivenciadas pelos demais Estados que teriam condies

    de disputar com So Paulo o controle do novo regime,

    como ocorria em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia,

    Pernambuco e Rio Grande do Sul.12 Dessa forma, a

    hegemonia paulista sobre a Repblica comeou a ser

    contestada somente quando essas unidades federadas

    agregaram internamente parte de suas foras, tornando

    possvel uma articulao alternativa ao controle paulista

    sobre o regime. Foi o que se deu por ocasio da sucesso

    de Rodrigues Alves, muito provavelmente em razo da

    poltica dos Estados implantada por Campos Sales, que

    acabou por consolidar no poder, em alguns Estados,

    faces oligrquicas em detrimento de outras.

    Se forem analisadas as sucesses de Deodoro, de

    Floriano, de Prudente e a de Campos Sales, percebe-se

    que foram episdios bem menos marcados por disputas

    entre as unidades federadas, quando comparadas s

    Cludia Maria Ribeiro Viscardi | Federalismo oligrquico com sotaque mineiro | 104Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Ensaio103 |

    Velhice PrecoceA Repblica: Meu Pai! Deodoro: Voc? Minha Filha? Com 38 anos e neste estado?Charge de Guevara (Manh, 7-8-1927). In: LIMA, Hermes. Histria da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Jos Olympio Editora, 1963.

    Um cotillon em famlia. Mme. Poltica num gesto alambicado ergue o leno em sinal de recusa.Charge de J. Carlos (Careta, 17-5-1913). In: LIMA, Hermes. Histria da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Jos Olympio Editora, 1963.

    JonasTypewriterForte aliana entre So Paulo e os militares.

    JonasTypewriterA poltica dosestados podeter derrotado a aliana So Paulo - Militares

    JonasTypewriterA unidade do Estado depende da liderana de uma facosobre outra, o que s vezes implica em eliminao de uma dessas foras.

  • de cada Estado nos processos de deciso na esfera federal

    era proporcional predominncia de tais critrios. O

    Quadro 1 comprova parcialmente tais afirmaes.

    Nele percebe-se que os seis Estados citados compunham

    mais de 60% da bancada parlamentar no perodo

    monrquico e tiveram sua representao ligeiramente

    ampliada na Repblica. Houve, porm, aps o novo

    regime, uma redistribuio de poder entre eles.

    Pela ordem, So Paulo foi o Estado que mais lucrou com o

    novo regime, em termos de representao no Congresso

    Nacional, seguido por Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

    Os outros trs Estados elencados tiveram a sua represen-

    tao diminuda. Apesar dessa diminuio, os seis em

    conjunto compunham mais de 60% do Congresso, tendo

    ampliado em 2,03% o seu percentual de representao

    congressual na Repblica, em relao ao perodo imperial.

    A partir dessa redistribuio de bancadas, definiu-se que

    Estados-atores desempenhariam papel de relevo na nova

    ordem republicana. Embora no tenham sido operadas

    mudanas muito radicais, o nvel de autonomia concedido

    aos Estados, aliado s mudanas nos critrios de repre-

    sentao poltica parlamentar, erigiu um sistema federa-

    lista cuja principal marca foi a rejeio da isonomia entre

    as unidades federadas.

    Essa heteronomia seria agravada pela descentralizao

    do Estado nacional. Sabe-se que, ao longo do perodo

    monrquico, a concentrao das receitas fiscais pelo

    Imprio e sua redistribuio entre as provncias man-

    tinham entre elas um razovel equilbrio econmico e

    poltico. Sabe-se, tambm, que o federalismo fiscal era

    uma das mais significativas bandeiras da luta pela

    implantao da Repblica. A mudana implementada

    pela Carta de 1891 que reservou aos Estados as

    receitas derivadas dos impostos sobre as exportaes, e

    Unio, as receitas derivadas dos impostos sobre as impor-

    taes permitiu que os recursos fiscais gerados pelos

    Estados exportadores l permanecessem, aprofundando

    as desigualdades econmicas regionais entre eles.

    Mantendo a desigualdade na representao parlamentar e

    ampliando as desigualdades econmicas entre os

    Estados, a Repblica aprofundaria, sobremaneira, seu

    carter heteronmico.

    O poder poltico dos seis Estados hegemnicos no se

    limitava ao tamanho de suas bancadas. Tambm a ocu-

    pao de cargos ministeriais constitui importante indi-

    cador de sua influncia ao longo da Repblica Velha,

    como se pode observar no Quadro 2.

    Nele, constata-se que, embora os paulistas tenham ocu-

    pado mais vezes a Presidncia da Repblica (quatro con-

    tra trs de Minas Gerais) e o Rio Grande do Sul apenas

    uma (Hermes da Fonseca), Minas foi o Estado que mais

    se destacou na ocupao de postos ministeriais. Se for

    levada em considerao que, ao longo da primeira dcada

    republicana, a participao de Minas no cenrio nacional

    foi modesta, os ndices apresentados tornam-se mais

    relevantes. Seguindo Minas Gerais, vinham Rio Grande

    do Sul e So Paulo. No que tange a So Paulo, com-

    preensvel que esse Estado, tendo ocupado por quatro

    vezes a Presidncia da Repblica (no foi includo nesse

    cmputo a segunda presidncia de Rodrigues Alves, por

    no ter governado) e sido afastado das principais articu-

    laes polticas nacionais entre 1906 e 1914, tenha

    tido menor representao ministerial que Minas Gerais e

    Rio Grande do Sul.

    Chama a ateno tambm o caso do Rio de Janeiro.

    A ocupao de postos ministeriais por polticos flumi-

    nenses foi pequena, quando comparada aos demais

    Estados, principalmente por estarem includos no

    quadro os representantes do Distrito Federal. razovel

    supor que a proximidade com a sede do governo

    pudesse ter contribudo mais efetivamente para a pro-

    jeo poltica nacional daquele Estado. A esse respeito,

    compartilhamos a hiptese de alguns historiadores que

    sucesses posteriores. J a sucesso de Alves foi marcada

    por uma importante mudana. Pela primeira vez, aps a

    proclamao da Repblica, Estados importantes ques-

    tionaram duramente a pretenso paulista de eleger o

    quarto presidente, na pessoa de Bernardino de Campos.

    Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul

    aliaram-se em torno de uma coligao que ficou conhe-

    cida como Bloco. Essa coligao conseguiu agregar-se

    em torno de uma chapa composta por Afonso Pena e pelo

    poltico fluminense Nilo Peanha. Contestada por quatro

    dos seis Estados mais importantes da Federao, a candi-

    datura de Bernardino de Campos teve que ser retirada,

    mas os paulistas recusaram-se a integrar o governo de

    Afonso Pena, a despeito da insistncia de alguns setores

    do Bloco em inclu-los na aliana.

    Pesquisas anteriores tentaram explicar essa crise

    sucessria pela rejeio dos cafeicultores ausncia de

    compromissos de Bernardino de Campos com a valoriza-

    o do caf. Ao contrrio, Afonso Pena teria se compro-

    metido a efetuar a primeira poltica de valorizao o

    Convnio de Taubat , derivando da a sua aceitao

    pela maior parte dos atores envolvidos na escolha. Essa

    hiptese aceitvel somente a partir de uma convico

    que inspirou, durante muito tempo, boa parte da historio-

    grafia brasileira, que via os acontecimentos polticos como

    refns dos interesses econmicos dominantes. Quando

    no se compartilha essa convico, preciso buscar nas

    fontes uma explicao alternativa para a rejeio ao nome

    de Campos em prol do de Pena.

    A pesquisa que realizamos permitiu comprovar que,

    quando o chamado Convnio de Taubat comeou a ser

    efetivamente discutido, a candidatura de Afonso Pena j

    estava consolidada. Ao mesmo tempo, constatou que a

    alternativa paulista para o cargo possua um discurso

    muito semelhante ao de Afonso Pena, quando se tratava

    da questo protecionista, o que no justificaria a sua

    excluso. Por fim, no se encontrou, na farta documen-

    tao analisada, nenhum indcio emprico que

    relacionasse a candidatura de Pena efetivao do

    Convnio de Taubat. Pelo contrrio, em anlises feitas

    sobre a implementao do Convnio, percebeu-se que os

    obstculos interpostos por Afonso Pena poltica de pro-

    teo foram inmeros, da resultando o atraso na sua

    operacionalizao e a omisso do Estado no controle da

    mesma, relegando-a a mos estrangeiras.13 interes-

    sante destacar que, a partir desse evento, os paulistas se

    afastariam voluntariamente das disputas federais, per-

    manecendo no ostracismo, s rompido anos mais tarde,

    durante longo perodo.

    Dessa forma, a sucesso de Rodrigues Alves foi um

    evento fundador de uma nova ordem republicana. A

    aliana constituda pelo Bloco impediu a monopolizao

    do poder por um s Estado, no caso So Paulo. A partir

    da, todos os processos sucessrios passaram a ser

    largamente negociados pelos Estados-atores mais

    proeminentes do regime, tendo a reg-los algumas regras

    tacitamente aceitas.

    Paradigmas alternativos

    Acredita-se que a estabilidade do regime republicano

    baseou-se, sobretudo, na garantia de que seu elemento-

    motor estivesse nas mos dos Estados-atores, cujo peso

    poltico era diretamente proporcional ao tamanho de suas

    bancadas federais e ao seu poderio econmico.

    Pode-se observar que, ao longo do regime republicano,

    pelo menos seis Estados foram firmando sua hegemonia:

    Minas Gerais, So Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de

    Janeiro (incluindo o Distrito Federal), Bahia e Pernambuco.

    Essa hegemonia foi, em parte, herdada do perodo

    monrquico. Os critrios utilizados para caracteriz-la

    foram o tamanho das bancadas de cada Estado, seu grau

    de autonomia financeira (receita fiscal) em relao aos

    cofres da Unio, a concentrao populacional e o nvel de

    atuao parlamentar, dentre outros. O grau de participao

    Cludia Maria Ribeiro Viscardi | Federalismo oligrquico com sotaque mineiro | 106Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Ensaio105 |

    JonasTypewriterDa a indi-cao de Miguelpara o mi-nistrio.

    JonasTypewriter

    JonasUnderline

    JonasUnderline

    JonasUnderline

    JonasUnderline

    JonasTypewriterOs impostos de exportao e a representaona cmara federal.

  • e abria parcialmente espao participao daqueles que

    compunham o grupo hegemnico. A monopolizao do

    poder, a simples excluso de um ou mais membros do

    grupo ou o mero revezamento excludente seriam fatores

    de instabilidade do regime.

    A renovao do poder passava pelas sucesses presiden-

    ciais. Porm, o falseamento das instituies democrtico-

    eleitorais vigentes no contexto do regime oligrquico fazia

    com que a verdadeira disputa entre atores no restrito mer-

    cado poltico se desse no durante as eleies, mas na

    fase que as antecedia. Nessa fase, ocorria a indicao de

    um nome para a disputa, seguindo-se seu posterior acata-

    mento por parte das lideranas dos principais Estados da

    federao. Assim, os mecanismos de escolha escapavam

    institucionalidade formal posta em vigor a partir da Carta

    de 1891, uma vez que as deliberaes eram tomadas

    informalmente por um reduzido e seleto corpo de atores.

    Cada sucesso presidencial implicava na realocao de

    cargos e na redistribuio do poder. A ausncia de par-

    tidos gerava a proliferao de blocos, correntes e tendn-

    cias difusas. Os elos constitudos entre os principais

    Estados-atores eram de carter pragmtico e se faziam e

    se desfaziam ao sabor das conjunturas. No se formaram

    grupos nacionais durveis. Assim, a cada sucesso esta-

    beleciam-se coalizes provisrias de partidos estaduais,

    que rapidamente se dissolviam. Isso conferia ao regime

    um grau muito baixo de competitividade.

    As sucesses presidenciais obedeciam a um ritual prprio.

    Vencido o primeiro binio da gesto do presidente eleito,

    iniciavam-se as articulaes com vistas escolha de um

    nome para suced-lo. Esse processo durava, em mdia,

    seis meses.16 Os nomes dos candidatos deveriam ser

    lanados por outros Estados, que no o de origem do

    candidato. Essa formalidade visava levar ao mundo

    poltico a informao de que, por trs do nome proposto,

    havia uma aliana construda entre, pelo menos, dois

    Estados-atores importantes.

    Uma importante vlvula inibidora da monopolizao da

    Presidncia da Repblica era o mecanismo que proibia a

    reeleio presidencial. Os Estados tinham necessaria-

    mente que barganhar a cada quatro anos. Exemplo con-

    trrio a essa regra ocorria no Rio Grande do Sul, onde a

    lei permitia a reeleio. Por essa razo, Borges de

    Medeiros pde perpetuar-se no controle poltico daquele

    Estado.17 Havia tambm o inconveniente de o ocupante

    do Catete intervir no processo de sua prpria sucesso.

    O fato de a eleio ser decidida previamente consulta

    s urnas refletiu-se em baixssimos nveis de competi-

    tividade eleitoral, resultando em desmobilizao e apa-

    tia polticas entre a populao. Em levantamento rea-

    lizado sobre os ndices de comparecimento s urnas e o

    total de votos obtidos pelos vencedores, percebem-se

    os limites da competitividade eleitoral do perodo. O

    maior ndice de comparecimento foi de 5,7%, em

    1930. A mdia geral permaneceu em torno dos

    2,65%. Percebe-se, tambm, que as votaes que

    apresentaram um maior nvel de competitividade foram

    as que tiveram candidaturas de oposio e que dividi-

    ram mais eqitativamente os grandes Estados. Foram

    os casos das eleies de 1910 (Hermes x Rui), a de

    1922 (Bernardes x Nilo) e a de 1930 (Jlio Prestes x

    Vargas). As demais foram quase unnimes.

    Diante das consideraes acima esboadas, pode-se

    dizer que, a partir da pesquisa realizada, existem

    subsdios para afirmar que o Estado de Minas Gerais

    teve no contexto da Repblica Velha importncia, tanto

    econmica quanto poltica, muito maior do que normal-

    mente lhe atribuda. Procurou-se nessas breves linhas

    reforar argumentos anteriormente enunciados e apre-

    sentar algumas reflexes que reiteram a convico de

    que o Estado nacional republicano, em seu perodo

    oligrquico, foi insuficientemente estudado e, por essa

    razo, permanece ainda pouco conhecido. Ficam essas

    breves linhas como um convite curiosidade de novos

    pesquisadores.

    | 108Cludia Maria Ribeiro Viscardi | Federalismo oligrquico com sotaque mineiro

    relacionam esse fraco desempenho do Rio de Janeiro s

    dificuldades de construo de um razovel consenso

    interno entre suas elites polticas. Somam-se a isso os

    obstculos encontrados na construo de uma identi-

    dade poltica prpria, exatamente pelo fato de abrigar a

    sede do governo federal.14

    Mas a supremacia mineira e a dos demais Estados hege-

    mnicos no se limitavam influncia exercida sobre o

    executivo federal. Outro indicador importante dessa con-

    centrao de poder de que eram beneficirios a ocupa-

    o de presidncias das principais comisses parlamen-

    tares no Congresso Nacional, como apontado no Quadro 3.

    Nesse quadro, nota-se a grande preponderncia mineira

    em relao aos demais Estados hegemnicos. Minas

    Gerais, sozinha, ocupava quase a metade das presidn-

    cias das mais importantes comisses parlamentares.

    Esses nmeros indicam que o Estado usava como estrat-

    gia poltica priorizar a ocupao de espao no mbito do

    parlamento federal, em razo do peso de sua numerosa

    bancada. Nota-se, tambm, que seu poder no parlamento

    foi ampliado a partir do governo Afonso Pena, perodo

    em que se consolidou a ascenso de Minas, aps a

    constituio da aliana com o Bloco, que se manteria

    durante anos frente.

    Em relao ao Rio de Janeiro, a pequena representao

    nas comisses, desproporcional ao seu peso poltico no

    parlamento, medido inclusive pelo tamanho de sua ban-

    cada, na qual havia 17 deputados, pode ser atribuda s

    razes anteriormente aventadas.

    Se levada em conta a relao entre o tamanho das ban-

    cadas e a ocupao das presidncias das comisses

    parlamentares mais importantes, torna-se perceptvel

    tambm que os Estados de Pernambuco e do Rio

    Grande do Sul estiveram sub-representados e os Estados

    de Minas Gerais e Bahia, super-representados. J So

    Paulo teve uma representao proporcional ao tamanho

    de sua bancada.

    O tamanho das bancadas estava relacionado ao nmero

    de eleitores de cada Estado que, por sua vez, era determi-

    nado pelo nmero de homens adultos alfabetizados.

    Acredita-se que cerca de um quarto da populao sabia,

    na poca, ler e escrever. Assim, os indicadores popula-

    cionais do perodo podem oferecer mais subsdios para se

    entender a distribuio de poder entre os Estados (ver

    Quadro 4).

    Por esse quadro, percebe-se a absoluta concentrao

    populacional brasileira nos seis Estados analisados.

    Em seu conjunto, reuniam quase 70% da populao

    brasileira, o que explica a sua hegemonia poltica e

    econmica. Os nmeros relativos produo industrial

    desses Estados, em dois anos distintos para os quais

    os dados estavam disponveis, mostram que eles

    concentravam tambm mais de 80% da produo

    industrial do pas (Quadro 5).

    O que muda nesse quadro em relao aos anteriores a

    preponderncia de fluminenses e paulistas. Como o pas

    era majoritariamente agrrio, o desenvolvimento industrial

    pouco contribua para a distribuio do poder poltico

    entre os Estados, mas, ainda assim, esse , no conjunto,

    um indicador importante.

    Levando-se em conta a pauta de exportaes do

    pas, percebe-se que os produtos mais exportados

    eram caf (em mdia 60% do conjunto das exportaes

    brasileiras), acar, algodo, cacau, couros e peles,

    exatamente os produtos exportados pelos Estados que

    so objeto de nossas anlises.15 Tambm no setor

    agrrio, esses seis Estados eram hegemnicos em

    relao aos demais.

    Barganhas pelo poder

    Havia entre os Estados um pacto de garantia da reno-

    vao de poder, que impedia a monopolizao dos cargos

    Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Ensaio107 |

    JonasTypewriterO bloco se man-tm.

    JonasTypewriterNmero da bancadarelacionada comnmero de eleitores.

    JonasTypewriterObserve que os primeirosintegram a pauta de expor-tao baiana.

    JonasHighlight

  • Revista do Arquivo Pblico Mineiro | Ensaio109 | Cludia Maria Ribeiro Viscardi | Federalismo oligrquico com sotaque mineiro | 110

    Notas |

    1. ENDERS, Armelle. Pouvoirs et federalisme au Brsil (1889-1930). Tese(Doutorado) - Sorbonne, Paris IV, 1993. cap. 6.1.

    2. LOVE, Joseph. A locomotiva: So Paulo na federao brasileira: 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982; WIRTH, John. O fiel da balana:Minas Gerais na federao brasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1982; e LEVINE, Robert. A velha usina: Pernambuco na federaobrasileira (1889-1937), Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

    3. Aqui nos referimos aos seguintes exemplos: FRANCO, Afonso A. de M.Um estadista na repblica. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1955; FRANCO,Virglio A. Melo. Outubro, 1930. Rio de Janeiro: Schimidt, 1931; CAVALCANTI, Pedro. A presidncia Wenceslau Braz (1914-1918). Braslia:UNB, 1983; CARVALHO, Daniel de. Captulos de memrias. Rio de Janeiro:Jos Olympio, 1957; CARVALHO, Daniel de. Estudos e depoimentos. Rio deJaneiro: Jos Olympio, 1953; PEREIRA, Lgia M. L.; FARIA, Maria A.Presidente Antnio Carlos: um Andrada da Repblica, o arquiteto daRevoluo de 30. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998; VALADO, Alfredo.Campanha da Princeza. Rio de Janeiro: Leuzinger S.A., 1937, volumes 1 a4; LACOMBE, Amrico J. Afonso Pena e sua poca. Rio de Janeiro: JosOlympio, 1986; BARBOSA, Francisco de Assis. Juscelino Kubitschek: umareviso na poltica brasileira. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1960.

    4. FRISTCH, Winston. Apogeu e crise na Primeira Repblica: 1900-1930.In: ABREU, Marcelo de P. (Org.). A ordem do progresso: cem anos de polti-ca econmica republicana (1889-1930). Rio de Janeiro: Campus, 1989; eTOPIK, Steven. A presena do estado na economia poltica do Brasil de1889 a 1930. Rio de Janeiro: Record, 1989.

    5. PERESSINOTTO, Renato M. Estado e capital cafeeiro: burocracia e inte-resse de classe na conduo da poltica econmica (1889/1930). Tese(Doutorado) - UNICAMP, Campinas, 1997.

    6. HALLOWAY, Thomas H. Vida e morte do convnio de Taubat: A primeiravalorizao do caf. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978; MENDONA, SniaR. de. A primeira poltica de valorizao do caf e sua vinculao com aeconomia agrcola do estado do Rio de Janeiro. Dissertao (Mestrado) -UFF, Niteri, 1977; e VISCARDI, Cludia M. R. Minas Gerais no Convniode Taubat: uma abordagem diferenciada. In: III Congresso Brasileiro deHistria Econmica e IV Conferncia Internacional de Histria de Empresas.Anais da Associao Brasileira de Pesquisadores em Histria Econmica.Curitiba: UFPR, 1999.

    7. Aqui nos referimos principalmente a: KUGELMAS, Eduardo. Difcil hege-monia: um estudo sobre So Paulo na Primeira Repblica. Tese (Doutorado)- USP, So Paulo, 1986; ENDERS Armelle. Pouvoirs et federalisme au Brsil (1889-1930). Tese (Doutorado) - Sorbonne, Paris IV, 1993; FERREIRA, Marieta M. Em busca da Idade do Ouro. Rio de Janeiro: UFRJ,1994; PERESSINOTTO, Renato M. Estado e capital cafeeiro: burocracia einteresse de classe na conduo da poltica econmica (1889/1930). Tese(Doutorado) - Unicamp, Campinas, 1997; MENDONA, Snia R. de. Oruralismo brasileiro (1888-1931). So Paulo: Hucitec, 1997.

    8. Foram pesquisadas as seguintes colees: Afonso Pena e Afonso PenaJnior (Arquivo Nacional); Wenceslau Brs, Raul Soares e Ribeiro Junqueira(Arquivo do CPDOC- Fundao Getlio Vargas); Rui Barbosa (Arquivo daFundao Casa de Rui Barbosa); Rodrigues Alves e Epitcio Pessoa (Arquivodo Instituto Histrico-Geogrfico Brasileiro); Arthur Bernardes e JooPinheiro (Arquivo Pblico Mineiro); Jlio Bueno Brando (Correspondnciasreproduzidas e impresas no livro de Guerino Casasanta, Correspondncia deBueno Brando. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1958).

    9. VISCARDI, Cludia. Teatro das oligarquias: uma reviso da poltica docaf com leite. Belo Horizonte: C/Arte, 2001. p. 22.

    10. Acerca das disputas internas mineiras ver: VISCARDI, Cludia M. R.Elites polticas mineiras na Primeira Repblica brasileira: um levantamentoprosopogrfico. Anais das Primeiras Jornadas de Histria RegionalComparada. CD-ROM. Porto Alegre: 2000; VISCARDI, Cludia M. R. Minasde dentro para fora: a poltica interna mineira no contexto da PrimeiraRepblica. Locus, Revista de Histria, Juiz de Fora, EDUFJF, v. 5, n. 2,1999; VISCARDI, Cludia. Elites polticas em Minas Gerais na PrimeiraRepblica. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, v. 8, n. 15, p. 39-56, 1995; RESENDE, Maria E. L. de. Formao e estrutura de domi-nao em Minas Gerais: o novo PRM, 1889-1906. Belo Horizonte: UFMG,1982; WIRTH, John. O fiel da balana: Minas Gerais na federaobrasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

    11. A este respeito ver: CASALECCHI, Jos nio. O Partido republicanopaulista: 1889-1926. So Paulo: Brasiliense, 1987.

    12. Para o caso do Rio de Janeiro, ver: FERREIRA, Marieta M., op. cit.; parao caso de Minas Gerais, ver: WIRTH, John, op. cit.; para o caso do RioGrande do Sul, ver: TARGA, Luiz R. (Org.). Breve inventrio de temas do sul.Porto Alegre: UFRGS; FEE; Univates, 1998; para o caso de Pernambuco,ver: LEVINE, Robert, op. cit.

    13. Uma sntese deste tema pode ser encontrada em: VISCARDI, CludiaM. R. Minas Gerais no Convnio de Taubat: uma abordagem diferenciada,op. cit.

    14. Acerca do Rio de Janeiro ver: FERREIRA, Marieta de M., op. cit.;MENDONA, Snia R. de., op. cit.; e PINTO, Surama C. S. A corres-pondncia de Nilo Peanha e a dinmica poltica na Primeira Repblica.Rio de Janeiro: Arquivo Pblico do Estado do Rio de Janeiro, 1998.

    15. Composio relativa das Exportaes Brasileiras (percentuais). Fonte:HGCB, volume III, So Paulo, Difel. Embora a borracha tenha sido impor-tante elemento na pauta de exportaes brasileira, esta importncia se deudurante um curto perodo.

    16. Algumas sucesses iniciaram-se tardiamente, ou seja, no terceiro anode governo. Foram elas: a de Hermes da Fonseca, a de A. Bernardes e a deWashington Lus. Quanto durao, muito embora a mdia fosse de seismeses, a de R. Alves (1906) durou cerca de um ano, e as trs ocorridasentre 1916 e 1921 (Wenceslau, a segunda de R. Alves e a de Epitcio)duraram apenas dois meses.

    17. FRANCO, Afonso A. de M. Um estadista na repblica. Rio de Janeiro:Jos Olympio, 1955. p. 478.

    18. Os trs ministrios considerados no perodo como os mais importanteseram: Fazenda, Viao e Obras Pblicas e Interior e Justia.

    19. Foram computadas as seguintes comisses parlamentares: Obras Pbli-cas, Finanas, Poderes e Justia.

    Estado

    So Paulo

    Rio Grande do Sul

    Minas Gerais

    Bahia

    Rio de Janeiro

    Pernambuco

    Total

    Nmero de deputados/

    Imprio

    9

    6

    20

    14

    12

    13

    74

    Nmero de deputados/Repblica

    22

    16

    37

    22

    17

    17

    131

    RelaoImprio/

    Repblica

    + 3,15

    + 2,74

    + 1,31

    - 0,95

    - 1,7

    - 2,52

    + 2,03

    %

    7,37

    4,91

    16,39

    11,47

    9,83

    10,65

    60,62

    %

    10,52

    7,65

    17,7

    10,52

    8,13

    8,13

    60,65

    Quadro 1 - Percentual de crescimento da representao parlamentar dos Estados na transio do Imprio paraa Repblica

    Fontes: PEREIRA VIEIRA, Evantina. Economia cafeeira e processo poltico: transformaes na populao eleitoral da zona da mata mineira (1850-1889).Dissertao (Mestrado) - UFPR, Curitiba, 1978, anexo 1; e ABRANCHES,Dunshee. Governos e congressos da repblica: 1889-1917. Rio de Janeiro:1918. v. 1.

    Estado

    Minas Gerais

    Rio Grande do Sul

    So Paulo

    Bahia

    Pernambuco

    Rio de Janeiro

    ndices de ocupao nostrs ministrios mais

    importantes18 (%) (b)

    23,14

    16,65

    14,00

    10,55

    8,2

    5,92

    ndices de ocupao

    geral (%) (a)

    28,73

    20,69

    21,39

    18,85

    12,33

    11,16

    Mdias entre colunas a e b

    25,94

    18,67

    17,7

    14,7

    10,27

    8,54

    Quadro 2 - Ocupao de cargos ministeriais por Estado

    Fonte: LOVE, Joseph. O regionalismo gacho. So Paulo: Perspectiva, 1975. p. 130.

    Estado

    MG

    BA

    SP

    PE

    RS

    RJ

    1891-1898

    8

    8

    4

    4

    1

    2

    1899-1906

    10

    10

    5

    1

    0

    0

    1907-1914

    16

    0

    0

    1

    3

    0

    1915-1922

    19

    0

    2

    3

    0

    0

    1923-1930

    18

    1

    5

    1

    3

    0

    Total

    71

    19

    16

    10

    7

    2

    %

    44,37

    11,87

    10

    6,25

    4,37

    1,25

    Quadro 3 - Ocupao de presidncias de Comisses doParlamento por Estado 19

    Fonte: WIRTH, John. O fiel da balana: Minas Gerais na federao brasileira(1889-1937). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p. 244.

    Estado

    MG

    SP

    BA

    RS

    PE

    RJ

    Total

    Percentualnacional

    19,57

    14,54

    11,18

    7,00

    6,97

    8,99

    68,25

    Percentualnacional

    19,08

    15,13

    10,72

    7,16

    7,04

    8,86

    67,99

    Percentualnacional

    18,64

    15,57

    10,42

    7,25

    7,07

    8,96

    67,91

    1910-1916

    5.242.397

    3.896.618

    2.995.754

    1.877.160

    1.869.649

    2.408.413

    18.289.985

    1917-1923

    6.122.363

    4.855.353

    3.440.398

    2.296.939

    2.260.633

    2.844.365

    21.820.045

    1924-1930

    6.880.942

    5.748.074

    3.845.997

    2.679.480

    2.611.890

    3.307.996

    25.074.373

    Quadro 4 - Populao recenseada dos seis maioresEstados (1910-1930)

    PS: Para a composio desta tabela, somamos os indicadores do Rio de Janeirocom os do Distrito Federal.

    Estado

    Rio de Janeiro

    So Paulo

    Rio Grande do Sul

    Pernambuco

    Minas Gerais

    Bahia

    Mdia

    Percentuais em 1920

    28,20

    31,50

    11,00

    6,80

    5,50

    2,80

    85,80

    Percentuais em1907

    32,44

    16,11

    10,35

    7,99

    6,53

    6,60

    80,00

    Mdia dos dois perodos

    30,32

    23,80

    10,67

    7,39

    6,01

    4,7

    82,90

    Quadro 5 - Produo industrial por Estado (1907 e 1920)

    Fontes: CARONE, Edgar. A Repblica Velha: instituies e classes sociais.So Paulo: Difel, 1975; JOBIM, Jos. Brazil in the making. New York: The Macmillan Company, 1943. p. 96.

    Cludia Maria Ribeiro Viscardi doutora em Histria Socialpela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), profes-sora adjunta do Departamento de Histria da UniversidadeFederal de Juiz de Fora (UFJF) e professora do programa dePs-graduao em Histria da mesma universidade.

    Politicagens. Aparecem entre outros: Arthur Bernardes (dentro do bonde), Antnio Carlos (na janela dianteira), Jos Bonifcio (em cima, direita) e Mello Vianna, de braos dados com a Presidncia de Minas representada

    como uma melindrosa. Charge de Guevara (Crtica, 3-9-1929). In: LOREDANO, Cssio. Guevara e Figueroa; caricatura no Brasil nos anos 20.

    Rio de Janeiro: Funarte; Instituto Nacional de Artes Grficas, 1988.

    jonasArrow