Cuidados nutricionais durante episódios de diarreia infantil
Vírus da Diarreia Epidêmica dos Suínos
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TécnicoSaúde Animal
Vírus da Diarreia Epidêmica dos SuínosAutora: Andrea Panzardi - M.V., D.Sc.
Supervisora Técnica de Aves e Suínos da Ourofino Agronegócio
EM DIASuínos
TécnicoSaúde Animal
EM DIASuínos
Introdução
O Vírus da Diarreia Epidêmica dos
Suínos (PEDv) vem causando pre-
juízos incalculáveis à produção de
suínos em diversos países do Con-
tinente Americano, modificando o comportamento
do mercado de suinocultura em nível mundial.
A primeira ocorrência deste vírus foi em 1971
na Inglaterra, sendo incialmente denominado vírus
similar da Gastroenterite Transmissível (TGEv), que
causava alta mortalidade em leitões em diferentes
fases de produção. Em 1977 foi dissociado do vírus
da TGE, e então passou a ser chamado de PEDv
(Wood, 1977). Desde então, o vírus foi identificado
na República Checa, Húngria, Corea, Filipinas, China,
Itália Tailândia, Alemanha, Espanha e Japão (Pospis-
chil et al., 2002 & Song and Park, 2012).
Somente em meados de março de 2013, este
mesmo vírus ressurgiu nos Estados Unidos, e em pou-
cos meses já atingiu 80% da suinocultura americana.
Os primeiros estados americanos acometidos foram
os de Iowa e Indiana, e logo em seguida mais estados
indicaram a presença da doença, chegando ao total
de 25 estados acometidos (Figura 1). Desde então,
este vírus vem se espalhando de maneira devastadora
em diversos países do continente americano, europeu
e asiático. Os principais países acometidos até o mo-
mento são o México e Peru no 2º semestre de 2013,
Japão em Outubro de 2013, Canadá em Janeiro de
2014, Colômbia em Março de 2014, (Figura 2).
Figura 1. Número de estados americanos acometidos pela PEDv em
março de 2014.
Figura 2. Número de estados americanos acometidos pela PEDv em
março de 2014.
Apesar de ser um vírus extremamente conta-
gioso, é também espécie-específico, e, portanto, não
apresenta risco algum para outras espécies animais,
bem como para humanos, não sendo classificado
como uma zoonose.
Estimativas indicam que as perdas ocorridas nos
Vírus da Diarreia Epidêmica dos SuínosAutora: Andrea Panzardi - M.V., D.Sc. - Supervisora Técnica de Aves e Suínos da Ourofino Agronegócio
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Estados Unidos já atingiram a casa dos 3 milhões de
suínos prontos para o abate. Dados fornecidos pelo
Rabobank, no primeiro trimestre de 2014, demonstr-
aram que até setembro de 2014 poderá haver uma re-
dução de 27% na quantidade de cevados disponíveis
nos EUA, Canadá e México (Figura 3).
Uma estratégia que os produtores estão real-
izando em função desta redução de disponibilidade
de animais é o aumento do peso de abate daqueles
que sobrevivem para que haja uma maior oferta de
carne no mercado.
Figura 3. Estimativa realizada pela AASV e Rabobank de falta de
cevados no mercado americano, canadense e mexicano ao longo
de 2014 e 2015.
Caracteristicas do Vírus
O vírus da diarreia epidêmica dos suínos (PEDv)
é um Coronavirus (Figura 4), da família Coronaviri-
dae, causador de lesões nas vilosidades intestinais,
levando à atrofia, e, consequentemente, à má ab-
sorção dos nutrientes ingeridos. Como já comentado
acima, este vírus infecta somente suínos, não tendo
importância em Saúde Pública.
O Vírus da PED é um RNA envelopado, de cadeia
única (monocatenário) de polaridade positiva, o que
faz com que ele seja prontamente traduzido por ri-
bossomos e assim agindo como um RNA mensageiro
(McOrist, 2013). Talvez essa seja uma das explicações
de sua rápida disseminação.
Segundo Pospischil et al. (2002) o PEDv possui
uma boa estabilidade em pH variável, em média de 5
a 9, sendo bastante resistente, e, portanto, não sendo
o pH uma boa metodologia para inativá-lo. Em tem-
peratura ambiente pode sobreviver até 2 semanas,
pode ser inativado em temperatura de 60 ºC por 30
minutos, sendo, portanto, bem resistente. Além disso,
possui 4 proteínas estruturais codificantes apresenta-
das na figura abaixo (Figura 4):
•Spike(S);
•Membrana(M);
•Envelope(E);
•Nucleocapsídeo(N).
Segundo informações de pesquisas realizadas,
há uma semelhança gênica de 99,5% entre as 3 pri-
meiras diferentes estirpes/sorotipos do Coronavi-
rus americano com o vírus asiático do ano de 2012
presentes no banco genético - National Center for
Biotechnology Information -NCBI – GenBank (Bi et
al., 2012). Além desta semelhança os autores desta
pesquisa (Huang et al, 2013) observaram linhagens
distintas entre esses 3 sorotipos, o que segundo eles,
certamente houve alguma introdução do vírus asiáti-
co no continente americano e a partir daí houve a
ocorrência de sucessivas recombinações gênicas ao
longo do tempo e que deram origem a estas novas
formas do vírus. Entretanto, de uma maneira geral
há uma grande discussão, pois os a nimais introduz-
idos ao EUA são oriundos do Canadá, e segundo in-
formações o último lote de animais importados foi
negativo ao vírus e não apresentam sintomatologia
alguma. Portanto, há uma grande suspeita de que o
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vírus deva ter sido carreado por alguma outra forma
que não pelo transporte de animais infectados.
Figura 4. Figura representativa do Vírus da PEDv.
Epidemiologia
Segundo dados de Goede et al. (2014) até o pre-
sente momento há um total de 680 granjas de suínos
já positivas para a PEDv nos Estados Unidos, totalizan-
do 2.300 milhões de matrizes, o que representa 40%
da população de suínos positivas para a PEDv.
Atipicamente este é um vírus de rápida dissem-
inação, apresentando um período de 12 a 36 horas
em infecções experimentais (Kim et al., 2000), sendo
sua presença detectada em conteúdo intestinal em 12
horas após a infecção (Linhares, 2014a).
De acordo com a literatura, depois de infectado
o animal permanece excretando o vírus para o ambi-
ente em média de 7 a 10 dias. Entretanto, segundo
pesquisas recentes, esta excreção tem ocorrido em
média de 21 a 30 dias, e caso o animal apresente uma
reinfecção ele voltará a excretar vírus pelas fezes por
mais 20 a 30 dias ambas as excreções em alta concen-
tração viral (Yoon et al., 2014).
Segundo dados obtidos de diversas granjas nos
EUA no momento em que a fêmea se infecta, ela leva
de 4 a 5 semanas para criar uma resposta imune con-
tra o PEDv. Durante este período, há um alto percen-
tual de mortalidade, chegando a 100%, e após este
período as fêmeas passam a transferir esta imunidade
via leite, e então, contribuindo positivamente para a
redução gradativa da ocorrência de mortalidade até
voltar a patamares zootecnicamente aceitos (Gráfi co
1).
Gráfi co 1. Distribuição do percentual de mortalidade após a intro-
dução da PEDv na semana 0 e o comportamento deste percentual
com o passar das semanas.
Formas de transmissão
A excreção do vírus ocorre através das fezes,
sendo esta a principal fonte de infecção. A quanti-
dade do vírus para se tornar infectante é muito baixa
quando comparada a outros vírus, sendo que a con-
centração média de dose infectante para leitões é de
105 a 108 vírus. Esta característica associada a sua alta
resistência às temperaturas mais adversas fazem com
que o vírus se torne facilmente infectante.
Um grande número de partículas virais pode
ser transmitido através de um volume muito pequeno
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de fezes, sendo que cada ml de fezes pode conter de
1011 a 1013 vírus.
As formas de infecção ainda não estão mui-
to bem elucidadas, entretanto segundo dados de
Schwartz & Main (2013) há uma gama de diferentes
possibilidades de transmissão indireta, como camin-
hões, instalações de frigoríficos, pessoas, ar, pássaros,
ração e diversos fômites, mostrando o vasto poten-
cial de transmissão deste agente. Ainda estão sendo
feitos estudos no intuito de elucidarem ao certo qual
dessas formas seria a mais importante.
Patogenia
O Coronavirus causa, principalmente, danos
nos enterócitos maduros presentes nas vilosidades in-
testinais ao longo de todas as porções do intestino
delgado (ID), provocando severa atrofia em suas vilo-
sidades, sendo raramente identificados em colonóci-
tos (células do cólon – intestino grosso - IG). O vírus
da PED não foi identificado fora do TGI, como nos
pulmões, linfonodos mesentéricos. Assim sendo não
apresentam importância como agente de problemas
respiratórios.
O período de incubação da PEDv é em média de
12 a 18 horas. Os primeiros sinais de diarreia ocorrem
geralmente de 24 a 36 horas após a infecção.
Sinais Clínicos
Este vírus é semelhante ao vírus da Gastroenter-
ite Transmissível (TGE), entretanto possui diferenças
antigênicas. Animais acometidos pela PEDv apresen-
tam os seguintes sinais clínicos (Figura 5):
•Anorexia;
•Diarreia aquosa severa e amarelada em
leitões de todas as idades, principalmente em leitões
de1a4semanasdevida;
•QuadrosdeVômitos;
•Desidrataçãointensa;
•Alta mortalidade – praticamente 100% de
mortalidade em leitões lactentes.
Figura 5. Sinais clínicos de animais acometidos pelo vírus da PED.
Lesões
As lesões macroscópicas presentes em quadros
da PEDv não são patognomônicas, entretanto através
da realização de necropsia é possível observar, ao
abrir a cavidade abdominal, a presença de grande
quantidade de líquido no interior das alças intesti-
nais, demonstrando a presença de conteúdo líquido,
característica marcante da PEDv (Figura 6).
Figura 6. Presença de grande quantidade de líquido nas alças intes-
tinais (ID) e consistência aquosa da diarreia em amostra de fezes
coletada.
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As lesões microscópicas observadas na Histo-
patologia demonstram uma atrofia severa de vilosi-
dades intestinais, o que faz com que a absorção de
nutrientes fique prejudicada ou até mesmo comple-
tamente impedida (Figura 7).
Figura 7. Cortes histológicos mostrando vilosidades intestinais ín-
tegras (à esquerda) e severa atrofia das vilosidades intestinais (à
direita) de leitões infectados após 36 horas pelo vírus da PED.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser realizado levando em
consideração a epidemiologia, os sinais clínicos, como
o aparecimento súbito de diarreia associada a uma
alta mortalidade (de 40 a 60%). Além disso, deve-se
levar em consideração análise histopatológica bem
como análises laboratoriais. As análises disponíveis
hoje são PCR (diversos tipos), histopatologia, e provas
rápidas de campo (imunocromatografia) e sorologia
(Kit sorológico – Minnesota). Há também a possibi-
lidade de realizar testes de imunohistoquimica, mi-
croscopia eletrônica, entretanto ambas as técnicas
possuem algumas limitações.
No campo ou no laboratório pode ser extraído
o RNA a partir de suspensões frescas de conteúdo in-
testinal com kits comerciais. Já existe kit de detecção
rápida do vírus da PED, representado pelo Anigen
Rapid PED Ag Test Kit (Bionote®). Este kit pode ser
levado para a propriedade e a análise e resultado po-
dem ser observados in loco, não havendo necessidade
de encaminhar ao laboratório.
Segundo Schwartz & Main (2013), apenas 10
mL de fezes ou conteúdo intestinal de leitões com
sintomatologia aguda, dentro das primeiras 24 horas
após o início da diarreia são suficientes para confir-
mar o diagnóstico de PEDv por PCR. Além da amostra
de fezes, há possibilidade de diagnóstico do vírus PED
através de fluidos orais e ração.
Os diferentes tipos Coronavirus são muitas vezes
difíceis de cultivar e o PEDv não é uma exceção, uma
vez que a maioria das tentativas realizadas a partir de
material de campo apresentaram pouco êxito.
Formas de Prevenção
Em países com diagnóstico positivo para o
PEDv, as autoridades veterinárias estão solicitando
aos produtores que sejam mais vigilantes com o trans-
porte dos animais, roupas usadas pelos funcionários
da granja e qualquer objeto que possa ter entrado
em contato com o vírus. Há necessidade de muita cau-
tela e cumprir todos os protocolos de biossegurança.
Em granjas positivas, um dos manejos que estão
praticando é o de desmamar todos os leitões, a fim
de evitar alto percentual de mortalidade na fase de
maternidade. Além disso, estão expondo as leitoas/
marrãs ao vírus, para que após 4 a 5 semanas elas pas-
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sem a produzir anticorpos (Ac) contra o PEDv, e assim
estando imunologicamente preparadas para passar
esses Ac a seus leitões na fase de lactação.
Um ponto bem debatido e que deve se muito
bem seguido para evitarmos a entrada do PEDv no
Brasil, é a execução dos protocolos de Biossegurança
descritos abaixo:
•Monitoramento de Importação de material
genético – testar animais na origem e no destino –
Quarentenárioprotegidoecomtestesdediagnóstico
eficazes;
•Limparedesinfetarcaminhõesdetransporte
deanimais;
•Evitarentradadepessoase/ouequipamentos;
•Ações durante a Copa – efetuar uma fiscal-
izaçãorígidapelaANVISA;
•Fecharasgranjasparavisitaçãodepessoases-
trangeiras,independentementedopaísdeorigem;
•Suspender a importação de matérias primas
de origem animal – não mais utilizadas, ou caso haja
necessidade de utilizar, realizar análise por PCR para
verificarapresençaounãodovírus;
•Utilizarroupasdescartáveis;
•Limpar e desinfetar as botas e/ou utilizar
Propé;
•Realizar todososmanejosbásicosdegranja
com muita seriedade:
•ManejodeColostro;
•Todosdentrotodosfora;
•Limpezaedesinfecçãomuitobemrealizada.
•Controledevetores–roedores,moscas,pás-
saros;
•Utilizardesinfetantescomcomprovadaação
viricida.
Segundo trabalho desenvolvido por Pospis-
chil et al. (2002), na tabela abaixo estão descritos os
desinfetantes que possuem uma ação efetiva contra
o PEDv.
Tabela 1. Desinfetantes com ação efetiva contra o vírus da PED
Considerações finais
Este é um momento muito delicado e que re-
quer muita seriedade, profissionalismo e união, para
que juntos possamos evitar a entrada deste agente
em território brasileiro. Portanto, seguindo à risca to-
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dos os protocolos e processos de Biossegurança, cer-
tamente, teremos êxito em nos mantermos como país
livre do vírus da PED.
Últimas notícias
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Andrea Panzardi
Formada em Medicina
Veterinária pela UNISA.
Mestre em Biotecnologia
da Reprodução Animal
pela UFPEL.
Doutora em Fisiopatologia da
Reprodução Animal pela UFRGS.
É atualmente Supervisora Técnica de Aves &
Suínos da Ourofino Agronegócio
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