Viriato, um chefe invencivel

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Viriato, um chefe invencível Ninguém sabe ao certo quando nasceu Viriato nem a que família pertencia. Segundo a tradição, durante a juventude terá sido pastor nos Montes Hermlnios, que hoje se chamam Serra da Estrela. Há quem diga que Viriato participou desde muito novo em assaltos-relâmpago às povoações dominadas por romanos. E que já então se distinguia pela agilidade, pela força e pela inteligência guerreira.No entanto, foi um dos homens queue acreditaram nas promessas de Galba e desceram à planície na intenção de se instalar e viver em paz numa terra fértil. Assistiu ao ataque traiçoeiro; não pôde lutar porque não tinha armas, mas conseguiu fugir. Depois do massacre, todos os lusitanos sobreviventes regressaram aos seus castros nas montanhas. A pouco e pouco reorganizaram-se, fabricaram armas e prepararam o contra-ataque. No ano 147 a.C. dez mil lusitanos em fúria avançaram para sul e dirigiram-se a uma zona dominada pelos Romanos. Queriam saquear as povoações e vingar a morte dos companheiros, mas quando menos esperavam perceberam que 1

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Viriato, um chefe invencível

Ninguém sabe ao certo quando nasceu Viriato nem a que família pertencia.

Segundo a tradição, durante a juventude terá sido pastor nos Montes Hermlnios, que

hoje se chamam Serra da Estrela.

Há quem diga que Viriato participou desde muito novo em assaltos-relâmpago às

povoações dominadas por romanos. E que já então se distinguia pela agilidade, pela

força e pela inteligência guerreira.No entanto, foi um dos homens queue acreditaram

nas promessas de Galba e desceram à planície na intenção de se instalar e viver em

paz numa terra fértil. Assistiu ao ataque traiçoeiro; não pôde lutar porque não tinha

armas, mas conseguiu fugir.

Depois do massacre, todos os lusitanos sobreviventes regressaram aos seus castros

nas montanhas. A pouco e pouco reorganizaram-se, fabricaram armas e prepararam o

contra-ataque.

No ano 147 a.C. dez mil lusitanos em fúria avançaram para sul e dirigiram-se a uma

zona dominada pelos Romanos.

Queriam saquear as povoações e vingar a morte dos companheiros, mas quando

menos esperavam perceberam que estavam cercados à distância por um anel de

soldados inimigos. Que fazer?

Os chefes, para evitarem nova carnificina, propuseram-se ir negociar a rendição.

Viriato opôs-se com veemência.

Erguendo a voz, lembrou:

- Os Romanos não respeitam promessas. Enganaram-me uma vez, não me tornam a

enganar. Comigo não contem para negociações. Prefiro lutar ou morrer.

O discurso e a firmeza impressionaram toda a gente, sobretudo os outros chefes. E

Viriato continuou:

- Se não podemos vencê-los pela força, vencê-los-emos pela astúcia. Ora oiçam o

meu plano.

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Propôs-lhes então o seguinte: os homens queue combatiam a pé deviam formar

grupos e a um sinal combinado disparar em todas as direções e romper a barreira que

os cercava sem dar tempo aos inimigos de se organizarem.

- Enquanto vocês fogem, eu e os outros cavaleiros caímos sobre eles ora de um lado

ora de outro, de forma a derrotá-los e a proteger a vossa fuga.

O plano foi aceite; faltava combinar o sinal.

- Fiquem atentos. Quando eu montar a cavalo, já sabem... é ordem para arrancar.

Pouco depois ecoavam gritos de guerra pelos campos, zuniam setas e lanças, por

toda a parte se ouvia o tinir das espadas. Os romanos não estavam à espera daquela

tática-relâmpago e, tal como Viriato previra, desnortearam-se. Muitos grupos de

peões romperam o cerco e desapareceram, enquanto os bravos cavaleiros lusitanos,

apesar de estarem em minoria e de possuírem armas mais fracas, lutavam sem cessar.

O campo de batalha ficou juncado de mortos, o próprio general romano perdeu a

vida, mas não se pode falar de vitória ou derrota. Neste confronto, Viriato, mais do

que vencer os Romanos, salvou os Lusitanos. A partir de então foi reconhecido e

amado como chefe máximo por todas as tribos.

As mulheres sonhavam com ele, os homens admiravam-no, acatavam as suas

ordens e seguiam-no com tanto entusiasmo e convicção que durante anos lançaram o

terror entre as hostes inimigas. Viriato parecia invencível. E, de facto, em guerra

aberta ninguém o derrubou.

No ano de 139 a.C. Viriato foi assassinado à traição, quando dormia na tenda, por

três homens da sua tribo que os Romanos tinham aliciado e subornado. Os Lusitanos

choraram longamente a perda daquele chefe querido e ficaram muito enfraquecidos.

Quanto aos assassinos, parece que não chegaram a obter nenhuma recompensa pelo

crime. Segundo consta, foram recebidos com desprezo pelo chefe romano, que lhes

terá dito «Roma não paga a traidores».

É engraçado que tudo o que sabemos a respeito deste homem que os Portugueses

consideram como o primeiro dos seus heróis foi escrito por autores romanos.

Impressionados pela personalidade forte, austera e reta do chefe lusitano,

impressionados também pelo imenso valor que demonstrava na guerra, escreveram

vários textos elogiosos sobre ele. Apesar de serem adversários, foram os Romanos

que deram a conhecer ao mundo a figura de Viriato.

(1) Os historiadores atuais consideram que a ideia de Viriato ter sido pastor nos Montes Hermínios é lendária.(2)

in Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Portugal - História e Lendas, ed. Caminho

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