VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS METODOLOGIAS DE COMBATE

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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS METODOLOGIAS DE COMBATE Por: Grazzia Tereza Cohen Confettura Orientadora: Profa. Geni Lima Rio de Janeiro 2010

Transcript of VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS METODOLOGIAS DE COMBATE

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

“LATO SENSU”

ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO

ESCOLAR

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

METODOLOGIAS DE COMBATE

Por: Grazzia Tereza Cohen Confettura

Orientadora: Profa. Geni Lima

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

“LATO SENSU”

ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO

ESCOLAR

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

- METODOLOGIAS DE COMBATE –

Apresentação de monografia ao INSTITUTO A VEZ DO

MESTRE – Universidade Cândido Mendes como requisito

para obtenção do grau de Especialista em Administração

e Supervisão Escolar.

Por: Grazzia Tereza Cohen Confettura

Orientadora: Profª. Geni Lima

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Geni Lima, orientadora e amiga, pela competente

orientação durante a pesquisa.

Aos professores do IAVM, colegas de turma, pelo estímulo e o

carinho no convívio durante o curso.

Aos profissionais de ensino do Colégio Pedro II – Unidade Escolar

Tijuca II, pelo tempo concedido nas entrevistas realizadas.

Aos meus colegas de trabalho Virgília Augusta e Cesar Cavaliere,

por terem me fornecido meios para levar adiante essa empreitada.

À querida amiga Ana Luiza Pureza Sampaio, pela dedicação e

carinho na digitação do texto monográfico.

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DEDICATÓRIA

À Deus,

porque sem Ele nada se realiza nessa vida.

À minha mãe, Lia,

que trilhou comigo o caminho do autoconhecimento,

permitindo-me vislumbrar a verdadeira

amplitude da dimensão humana.

Ao meu pai, Vincenzo,

que me incentivou e apoiou

durante todo esse trabalho de pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................7

CAPÍTULO I – PRÁTICAS DE VIOLÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES

ESCOLARES ......................................................................................................9

CAPÍTULO II – METODOLOGIAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA ESCOLAR -

ASPECTOS FUNDAMENTAIS..........................................................................16

CAPÍTULO III - EDUCAÇÃO SEM VIOLÊNCIA - PRÁTICAS DE

ENSINO.............................................................................................................34

CONCLUSÃO....................................................................................................36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................38

ÍNDICE...............................................................................................................41

ANEXO I - ENTREVISTAS................................................................................42

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“A agressividade é uma praga inerente

ao ser humano. É necessário freá-la

para não contaminar o mundo”

Grazzia

7

INTRODUÇÃO

A violência nas escolas públicas trata-se de assunto polêmico e bem

atual. Lidamos no Brasil com uma fase de violência. Esse tema informa a fala

das pessoas no cotidiano, aparece de modo espetacular na mídia, permeia os

discursos políticos, provoca ações de políticas públicas, produz pesquisas,

debates. A sensação é de que a violência tomou conta do mundo.

Aparentemente, estaríamos vivendo um momento histórico em que encaramos

a face violenta da sociedade, com seus preconceitos de classe, de raça, com

sua violência estrutural. Há dimensões da violência que deixam de ser

invisíveis; há tipos de vitimização coletiva e individual que começam a ser

vistos. Verifica-se a existência de conflitos coletivos, sociais, familiares que

resultam em respostas violentas. Há todo um esforço para quebrar o silêncio

que envolve essas questões que não são mais vistas como da vida privada ou

secreta, e sim como questões políticas e públicas.

Essa violência se refletiu na escola que deixou de ser um foco de paz e

segurança na sociedade. A escola espelha as condições sociais em que está

inserida. Localizada muitas vezes em meio à violência, reflete as tensões e os

conflitos dos grupos à sua volta e dentro dela. Mesmo quando bem localizada,

apresenta muitas vezes, casos individuais de violência.

Este trabalho monográfico aponta maneiras de enfrentamento no

combate à violência nas escolas públicas; suscitando reflexão sobre o tema

apresentado; traçando um perfil do aluno-adolescente; resgatando e

preservando valores éticos e sociais, estabelecendo critérios de igualdade e

diferenciação da violência nas escolas públicas; sugerindo métodos de

combate à violência escolar, traçando paradigmas; servindo para resgate da

auto-estima e da auto-confiança do educador e do aluno no âmbito escolar,

8

promovendo o respeito mútuo; atentando a comunidade escolar para a defesa

e preservação da instituição como um bem social; acentuando a importância da

não violência para recuperação do bom clima escolar e apontando sugestões

para combate à violência nas escolas públicas.

Acredita-se que as medidas aventadas de combate à violência nas

escolas públicas dão embasamento à reflexão e planos de ação a serem

adotados por entidades governamentais, não-governamentais e comunidades

escolares com a finalidade de a minimizarem ou dirimirem.

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CAPÍTULO I - PRÁTICAS DE VIOLÊNCIA NAS

INSTITUIÇÕES ESCOLARES

1.1 DEFINIÇÃO DE VIOLÊNCIA ESCOLAR

Definir a violência escolar é tarefa de vários estudiosos do assunto. No

entanto, foram transcritas aquelas julgadas mais oportunas e direcionadas ao

tema em questão.

O termo VIOLÊNCIA é provido de múltiplos sentidos e significados,

acolhendo diferentes situações que fazem menção a realidades distintas e

heterogêneas. Estes múltiplos sentidos vão ecoar, tanto no processo de

aprendizado do aluno e nas relações no interior da escola quanto na imagem

da instituição escolar como espaço protegido, de direito e responsável pela

educação das novas gerações, precioso para o desenvolvimento auto-

sustentável do país (Gadotti e Romão, 2000:43).

As relações entre violência e escola, segundo alguns autores

(Debarbieux, 1990, 1998) estão na base da constituição da instituição escolar,

como os castigos físicos e a humilhação pública, só se modificando a partir de

meados do século XX.

Para Philipe Áries (1981), a escola infligiu à criança o chicote, a prisão,

em suma, correções reservadas aos condenados das condições mais baixas.

Assim, para Corti (2001), passamos de um estado em que a violência

era instrumento para garantir a autoridade para outro em que ela passa a ser

evitada. Nesse sentido, poderíamos afirmar que a instituição escolar sofreu um

processo de pacificação.

Apesar da complexibilidade do termo e da dificuldade de

conscientização, existe um consenso básico. Todo ato de agressão - física,

10

moral, institucional - que tenha como alvo a integridade do(s) indivíduo(s) ou

grupo(s) é considerado ato de violência (Abramovay e Rua, 2002).

1.2 CATEGORIAS DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

O conceito de violência pode ser categorizado da seguinte forma:

violências contra as pessoas (ameaças, brigas, violência sexual, uso de

armas); violências contra a propriedade (furtos, roubos); e violências contra o

patrimônio (vandalismo e depredação). A pesquisa da Unesco conclui que: "(...)

as violências nas escolas não se resumem a uma série de dados objetivos,

mas a experiências vivenciadas de formas múltiplas e distintas por aqueles que

a sofrem". (Unesco, p. 342). As recomendações para políticas e estratégias

partem do pressuposto de que o combate às violências nas escolas deve

aparecer como parte de uma agenda pública de sedimentação da democracia

e não como um problema dos jovens ou da escola, o que impede um

investimento continuado por parte de muitas agências (Unesco, p. 324) .

1.3 PESQUISAS ACADÊMICAS SOBRE VIOLÊNCIA ESCOLAR

NO BRASIL

As primeiras pesquisas aparecem nos anos de 1980: "(...) é no quadro

de uma ampla demanda de segurança por parte dos moradores das periferias

dos centros urbanos que o fenômeno da violência nos estabelecimentos

escolares torna-se visível e passa a acompanhar a rotina do sistema de ensino

público no Brasil, desde o início dos anos 80". (Sposito, 2001, p. 90)

As ações violentas identificadas são as depredações, os furtos e as

invasões aos prédios escolares. Há uma violência contra a escola, que,

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aparentemente não é vista como um bem comum, como um bem público a ser

preservado. Essas ações violentas poderiam talvez, ser respostas à violência

do ambiente escolar, pois presente em escolas rígidas ou desorganizadas.

O poder público e os dirigentes das escolas respondem a essas ações

violentas, geralmente, com o incremento da segurança física dos locais, seu

cercamento com muros e grades, e a criação de sistemas de vigilância.

Começam, então, a existir nas cidades, escolas hostis e hostilizadas, que

combinam com a arquitetura urbana dominante - com suas guaritas, cercas

eletrificadas, muros enormes. A partir de 1980, convivemos com a cidade

murada.

Há, também, ações que tentam enfatizar a permanência dos alunos,

combater a evasão - expulsão escolar. Existem experiências precursoras de

escolas que tiveram uma gestão democrática e aberta que mostraram a

reversão do quadro de depredação e ataque ao prédio escolar. São tentativas

e respostas diferentes, que apontam para os caminhos de construção de

políticas públicas para lidar com a violência escolar.

Retomando o levantamento realizado por Sposito, nos anos de 1990, há

uma série de estudos sobre jovens e a violência mais geral. Essas pesquisas

são provocadas pelos dados da presença de jovens nos casos de homicídio,

pela visibilidade crescente das gangues juvenis e pelo crime organizado em

torno do tráfico de drogas.

Registram-se três tipos de situação: a manutenção das depredações,

furtos ou roubos do patrimônio da escola; o incremento das agressões físicas

entre os alunos; e casos de agressão de alunos contra professores. Embora os

resultados sejam bastante fragmentários, é possível considerar que os anos

1990 apontam mudanças no padrão da violência observada nas escolas

públicas, atingindo não só os atos de vandalismo, que continuam a ocorrer,

mas as práticas de agressões interpessoais, sobretudo entre o público

estudantil. Dentre estas últimas, as agressões verbais e ameaças são as mais

12

frequentes (Sposito, 2001, p. 94). São as brigas, que sempre existiram, mas

que agora chamam mais profundamente a atenção dos educadores.

Relacionam-se, por vezes, com a existência de gangues e tribos, grupos de

jovens que se unem em torno de "estilos" ( clubbers, punks, rappers, torcidas

esportivas, etc .).

As pesquisas sobre vitimização em ambiente escolar - mesmo quando

centralizando sua preocupação nas escolas públicas - mostram que as

unidades de ensino não vivem uma situação de violência generalizada. As

teses e dissertações procuram analisar a relação entre a violência que ocorre

nos bairros e a vida escolar. Tentam alcançar uma compreensão das relações

entre a violência e a escola, apontando para a influência do aumento da

criminalidade e da insegurança geral sobre os alunos com a consequente

deterioração do clima escolar: “(...) a violência observada na escola retraduz

parte do ambiente externo em que as unidades operam, particularmente em

localidades dominadas pelo crime organizado” (Sposito, 2001, p.96).

Há, sem dúvida, uma influência de fatores externos que encontram

tradução no cotidiano escolar. Não se trata apenas da presença da violência do

crime organizado, mas também da violência social, da violência econômica, da

vida nas periferias urbanas em uma sociedade que convive com a quebra das

garantias, com a incerteza e a insegurança.

1.4 - A UNESCO - SUA IMPORTÂNCIA NO COMBATE À

VIOLÊNCIA ESCOLAR

Conscientes de que a violência é um veneno que corrói aos poucos a

sociedade, entidades governamentais e não-governamentais de todos os

países vêm se preocupando em criar subsídios capazes de coibí-la, através de

mudanças desejáveis por todas as populações.

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No Brasil, essa incumbência coube a UNESCO (Organização das

nações unidas para a educação, a ciência e a cultura), que através de um

trabalho árduo em estudos e pesquisas, vem adotando medidas inovadoras a

fim de preservar e estruturar a instituição escolar.

UNESCO: PROGRAMA ABRINDO ESPAÇOS

Essa instituição entende que os jovens são um grupo heterogêneo em

constante fluxo e evolução, sendo que alguns deles correm mais riscos e são

mais vulneráveis do que outros.

Nas Nações Unidas, o fórum de juventude da UNESCO é único e

trabalha especialmente para a faixa etária de jovens entre 15 e 25 anos.

Em 1986, foi firmado um compromisso a respeito da violência, em uma

conferência internacional celebrada em Sevilha, Espanha - "Compromisso de

sem violência", de caráter científico, adotado pela UNESCO em 1989.

Em 2000, a UNESCO lançou o programa Abrindo Espaços: Educação e

Cultura para a Paz. Trata-se de uma estratégia de inclusão social que já se

tornou política pública pelo ministério da Educação, cultura, esporte e trabalho

para a juventude.

Esse programa é um incentivo no combate à violência. Ele prevê a

abertura de escolas públicas nos finais de semana, com a oferta de oficinas e

ações diversas - trabalhadas de maneira integrada, democrática, que

compreendem atividades de estímulo a expressão oral, artística, de

desenvolvimento físico, reforço escolar, de convivência, sociabilidade e

cidadania. Assim, ela atua sobre três focos distintos, mas complementares: o

jovem, sobretudo de vulnerabilidade social; a escola, com o intuito de torná-la

mais atrativa e atuante; a comunidade, incentivando sua participação e criando

condições para uma atuação mais responsável em relação à escola.

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Sabe-se que a escola deixou de ser um espaço protegido e seguro para

os jovens brasileiros, tornando-se um dos alvos da violência juvenil.

Procurando configurar alternativa a esse alarmante quadro de violência,

fruto de uma abissal desigualdade social e contribuir para a melhoria do

ambiente escolar, o Abrindo Espaços tem se tornado, desde sua

implementação, um atrativo para os jovens, colaborando para a construção de

espaços de cidadania e de co-participação, além de contribuir para o

desenvolvimento de lideranças juvenis.

Um dos marcos da produção institucional direcionada para esse assunto

foi, sem dúvida, a publicação de Violência nas Escolas. Lançada pela UNESCO

em 2002, traz os resultados de uma vasta pesquisa realizada em 14 capitais

das Unidades da Federação, abordando diversos temas relacionados às várias

formas de manifestação da violência no cotidiano escolar. Foi tão grande o

impacto desse livro, que gerou parcerias entre instituições nacionais e

internacionais, dentre as quais a criação do Observatório de Violências nas

Escolas - Brasil, parceria estabelecida entre a UNESCO e a Universidade

Católica de Brasília e que atua ainda, aliado ao Observatório Europeu de

Violências nas Escolas, com sede em Bordeaux (FA) e o Observatório

Internacional de Violências nas Escolas composto por países de vários pontos

do mundo interessados em ampliar a compreensão sobre o problema e propor

saídas viáveis para o seu enfrentamento.

Contudo, a violência ainda impera, sufoca, escraviza e o jovem é

personagem crucial desse contexto.

Não basta apenas uma intervenção efetiva. É preciso uma formação

correta, um planejamento lógico e mensurável para o combate à violência nas

escolas.

No estudo "Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas

públicas", a UNESCO objetivou dar visibilidade a uma série de experiências

que vêm sendo desenvolvidas em escolas públicas das regiões metropolitanas

15

de 14 unidades da Federação, que, por meios distintos, têm enfrentado e

prevenido situações de violência nas escolas.

"Inovadoras" porque traçam um novo modelo de gestão da escola

pública, em que se pressupõe a articulação com a sociedade imediata - bairro

ou comunidade local, vila, cidade - e vínculos mediatos com as esferas

estadual, nacional e global (Frigotto, 2000, p.11). Observa-se aqui, a

importância crucial do papel indutor que compõem o sistema educacional

brasileiro, como o Ministério da Educação, os Conselhos Nacional, Estaduais e

Municipais de Educação, as Secretarias de Estado e Municipal de Educação,

na consolidação de um apoio técnico e financeiro.

É de se ressaltar que essas experiências bem-sucedidas nas escolas

chamadas "inovadoras" não minimizam nem inferiorizam quaisquer outras

medidas adotadas por outras escolas objetivando a mesma finalidade.

Não há uma forma de padronização, mas sim de se visualizar cada

escola como um "ser único", individualizado de acordo com sua localização,

seu espaço físico, seu entorno, seu projeto político pedagógico, os vários

problemas de violência que enfrenta e as perspectivas de resolução dos

mesmos.

Contudo, é importante que cada escola busque, através de um conjunto

de ações, mecanismos de superação e diminuição dos atos de violência,

calcada em sua realidade, para que a mesma não atinja proporções

irreversíveis.

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CAPÍTULO II - METODOLOGIAS DE COMBATE À

VIOLÊNCIA ESCOLAR - ASPECTOS FUNDAMENTAIS

Para um melhor entendimento e reflexão a respeito do tema abordado,

poderíamos evidenciar alguns aspectos relativos ao combate da violência em

escolas públicas, tais sejam:

Ø A importância do "bom clima" na vida da escola.

Como se definiria o "bom clima" escolar? Fontes o define como

qualidade do meio interno que se vive numa organização e o compreende

como resultante de diversos fatores, sobretudo dos que são de natureza

imaterial, como as atitudes, o tipo de gestão. Sampaio, por sua vez, refere-se a

uma espécie de personalidade, de "maneira de ser" que é característica do

conhecimento, determinada por uma série de variáveis, entre as quais a

estrutura, o processo organizacional e os comportamentos individuais e de

grupo (Sampaio,1996:4).

Para Fox, a qualidade de vida e a produtividade dos docentes e dos

alunos é determinada pelo clima, "um fator crítico para a saúde e para a

eficácia de uma escola" (Fox, 1973:5-6, apud Brunet, 1992).

Alguns fatores contribuem para esse "clima harmonioso" nas relações

estabelecidas dentro do colégio, destacando-se o papel dos diretores, dos

supervisores, dos professores e demais funcionários.

Uma gestão mais aberta e igualitária permite uma maior integração entre

a direção, os docentes e demais funcionários, gerando um clima de harmonia.

Principalmente, o diretor atuando fora do seu gabinete, andando pela escola,

participando de todos os eventos, promovendo a união da comunidade escolar.

17

É com essa abertura e preservado o respeito no relacionamento da

"equipe" da escola com os alunos, que se configura um dos mais importantes

componentes do bom clima escolar e consequentemente a redução do conflito

e violência na escola.

A construção desse bom clima também está pautada no investimento

em propostas educativas e em projetos que valorizem aqueles que

compartilham o espaço da escola.

A maneira como algumas atividades culturais e esportivas se organizam,

permite a integração entre alunos, professores, pais e responsáveis. Os

projetos esportivos são muito interessantes, pois servem como pontes para a

transformação do coletivo.

A realização de projetos parece assumir especial significado na medida

em que são incorporados ao cotidiano, ao projeto político pedagógico vigente,

e contribuem para a mudança de padrões de relacionamento e atitude dos

diversos atores da vida escolar.

É fato que a construção do bom clima escolar passa por um trabalho

pautado no combate às mais variadas formas de exclusão, tão presentes na

sociedade e ele se torna melhor a partir da percepção de que a escola, em si,

passa a ser objeto de cuidado e apreço pelos que respondem por ela. Neste

sentido, a questão de segurança é uma das mais importantes.

Ø O papel do diretor: uma gestão dinâmica.

Os diretores afetos à mudanças inovadoras devem ter a preocupação de

criar condições de participação de toda a comunidade escolar no planejamento

e nas decisões, a partir de ações que não se limitem a consultas e votações,

mas que demandem um envolvimento reflexivo e propositivo.

Logo, no que diz respeito ao papel da gestão, especificamente dos

diretores no investimento em estratégias capazes de contribuir para o combate

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à violência nas escolas, cabe considerar que o olhar desse gestores em

relação ao futuro pode representar um diferencial inovador fundamental.

Ø A valorização do aluno, do professor e da escola.

É também de suma importância no combate à violência, a construção de

mecanismos de valorização, cujo funcionamento, na maioria das vezes, se dá

no sentido de resgate de suas identidades. O olhar respeitoso do outro pode

provocar uma série de mudanças nos comportamentos e atitudes dos jovens e

dos professores, significando valorização e reconhecimento social.

Segundo Soares (2002), a existência social se dá essencialmente pelo

olhar do outro. Dessa forma, no que se refere aos processos educacionais,

essa premissa torna-se, particularmente, imprescindível.

Nesse contexto, um passo importante para a mudança ocorre no

momento em que a direção possibilite a abertura do espaço escolar para os

demais atores. A inovação passa por legitimação dessa direção junto aos

alunos e aos professores, através de estratégias de valorização dos mesmos.

Quanto aos alunos, essa valorização ocorre no momento em que a escola os

escuta e considera suas opiniões, criando mecanismos onde suas sugestões

são analisadas por todos e, muitas das vezes, implementadas. Quanto aos

professores, os estabelecimentos de ensino devem investir em ações capazes

de gerar um clima de satisfação entre eles, caracterizado por acolhimento,

suporte e condições para que desenvolvam o seu trabalho.

Os aspectos "humanizadores" dos projetos desenvolvidos pela escola

são fonte de estímulo para os professores pelos bons resultados obtidos por

seus alunos nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), pelo fato

de se afastarem das drogas e por alcançarem uma consciência cidadã.

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Ø O exercício do diálogo.

É importante que a gestão seja mais participativa e a direção rompa com

o caráter centralizador, o qual tem como herança histórica, e estabeleça

relações de respeito e paridade com toda a comunidade escolar.

O diálogo cria a possibilidade de se estabelecerem relações de amizade

entre alunos e professores, a partir de como pensa e vive o grupo.

O exercício do diálogo é também fator decisivo no processo de

transformação da escola em instância de pertencimento e identidade. Freire

afirma que não se pode pensar pelos outros nem para os outros nem sem os

outros. A significação do diálogo está no fato de que os sujeitos dialógicos

crescem um com o outro. Ao contrário, implica um respeito fundamental dos

sujeitos nele engajados (Freire, 1992: 117-118).

A prática do diálogo sempre constituirá um importante fator de

superação dos problemas internos de violência com que se defronta a escola,

onde muitas vezes, impera a lei do silêncio.

Quando o diálogo passa a ser mais valorizado dentro da escola, as

hierarquias existentes, consequentemente, deixam de se configurar como

empecilhos entre aqueles que convivem a maior parte do tempo juntos no

espaço escolar.

Entretanto, para estabelecer um diálogo com o jovem, é necessário

interesse, vontade de aprender e penetrar em um universo muitas vezes

distante daquele do interlocutor. A linguagem das gírias, das entrelinhas, dos

não-ditos, da postura, das maneiras de pensar e agir do jovem se configura em

"dialetos" nem sempre compreendidos pelos professores, uma vez que pouco

padronizados e sofrendo sempre variações, a partir do contexto social e

cultural em que vive o aluno. Embora a escola trabalhe com a concepção de

que o educando está imerso na história e na cultura, nem sempre permite que

seus alunos re-signifiquem os padrões estabelecidos.

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Há também a preocupação, por parte dos professores, com a ausência

de diálogo dos alunos com a família. Sendo assim, atribuem à escola essa

função, a de poder aprender com o outro.

Vale ressaltar que, quando há o diálogo na comunidade escolar, há

também abertura para sugestões de alunos e professores e, portanto,

mudanças no ambiente escolar, seja por conta de um professor com pouco

vínculo com os alunos ou, ainda, por conta da própria família.

Ø O trabalho coletivo.

Seria um trabalho realizado pelas escolas no sentido de potencializarem

os recursos humanos e materiais de que dispõem em função de projetos que

venham a privilegiar o investimento da chamada "força do coletivo", onde todos

têm responsabilidade. Esse processo deve ser realizado de forma gradativa. O

objeto principal do trabalho coletivo é a participação, que pressupõe o

envolvimento de todos no processo.

Os resultados do investimento no coletivo se traduzem no fato de dentro

da escola, a maioria dos que nela atuam sabem a sua função. Assim, a

eventual ausência dos componentes da direção não constitui obstáculo a que

tudo ocorra normalmente, ou seja, o trabalho se garante pelo coletivo. No caso,

a escola possui uma rotina que é conhecida por todos, e isso facilita a sua

organização.

Como bem pontua Paro (2001), uma gestão participativa e

descentralizada resultante do compromisso de todos pressupõe uma prática de

discussão coletiva, que envolve desde a divisão de responsabilidades e a

definição das funções de cada um até as decisões sobre encaminhamentos e

ações concretas. Dentro dessa estratégia, a coesão dos professores e demais

funcionários mostra-se fundamental.

21

Bastante significativa é a mudança representada pela possibilidade do

trabalho coletivo retirar os vários sujeitos que circulam no ambiente escolar do

isolamento. Dentre esses sujeitos, destacam-se professores e alunos que, a

partir de um maior envolvimento, passam a dar maior atenção ao contexto em

que se dão as práticas educativas.

Entretanto, trabalhar coletivamente não é tarefa fácil. É necessário

superar barreiras, uma vez que a afinidade pessoal e profissional é algo que

não existe a priori, mas que vai sendo construída paulatinamente.

Ø A participação da família e da comunidade.

A participação da família no meio escolar é o ponto crucial para o

combate à violência.

Os pais e responsáveis devem ser chamados ou convidados pela escola

sempre que se fizer necessário, para obterem maior interação sobre tudo o que

se passa com seus filhos, cooperando assim, de maneira atuante para seu

ensino-aprendizagem.

Não obstante, a participação da comunidade, muitas vezes, preenche

determinadas carências das escolas. Como na maioria delas há dificuldades

para obtenção de recursos para investimentos, notadamente os de infra-

estrutura, é comum a realização de pequenas reformas com a participação dos

moradores e comerciantes locais. Essas iniciativas, sem dúvida, serão um bom

mecanismo de aproximação com o entorno.

Ø A re-significação do espaço físico.

É certo que determinadas mudanças realizadas na dinâmica dos

ambientes sociais geram transformações de atitudes e comportamentos.

Percebe-se que as iniciativas que visam a organizar e a preservar o

espaço físico trazem a concepção de uma proposta pedagógica calcada na

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construção de uma escola capaz de atender aos interesses de alunos e

professores.

Tais procedimentos singularizam o jovem, o professor e a escola,

permitindo que este espaço seja especial para todos. A existência de um

espaço físico limpo, ordenado e bem ocupado constitui o sonho de todos os

integrantes da comunidade escolar.

É importante ressaltar que existem inúmeras escolas que se encontram

em estado precário, com paredes descascadas, pichadas, riscadas, sujas e,

em alguns momentos, ameaçadas de invasão por gangues e bandos do

entorno. Entretanto, mesmo com essas condições, podem ser realizadas

iniciativas que visem à melhoria do ambiente escolar e a diminuição da

violência.

Como a maioria das escolas têm dificuldades em obter recursos para

investimentos em infra-estrutura, muitos estabelecimentos optam por realizar

pequenas reformas com a participação de moradores e comerciantes locais.

Tal procedimento mostra-se útil para que a comunidade possa também ajudar

a escola a encontrar soluções para os problemas de invasão, depredação e

pichação.

Quando isso ocorre, é certo que haja reclamações de alunos e

professores sobre certas atitudes desrespeitosas ao patrimônio público,

praticadas por outros alunos: muitos atos de "vandalismo" são a ele atribuídos.

No entanto, devem existir vigilância e controle interno em relação a esses

alunos, por parte dos professores ou dos próprios colegas.

Acompanhando a vigilância do patrimônio, as escolas, de acordo com

suas possibilidades, devem investir na recuperação do espaço físico como

estratégia para a diminuição das depredações. As escolas também devem

procurar melhorar e ampliar suas instalações, adquirindo novos equipamentos

e realizando obras de infra-estrutura. Essas medidas são de extrema

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importância, pois conseguem interessar e motivar tanto à comunidade escolar

como à do entorno, contribuindo para resgatar a imagem positiva da escola.

É notória a relação por vezes tensa da escola com seu entorno.

Observa-se que alguns bairros onde ficam as escolas são desprovidos de

equipamentos sociais públicos, tais como hospitais, postos de saúde,

bibliotecas, centros culturais, áreas de lazer, etc., sendo a escola, às vezes, a

única opção de lazer.

Essa percepção leva a um arranjo e a uma organização da unidade

escolar concebidos de forma a "protegê-la" da ameaça externa - policiamento

na porta da escola, portões fechados e vigias...

2.1 - INDISCIPLINA - UM TRAMPOLIM PARA A VIOLÊNCIA

ESCOLAR

A questão da disciplina do aluno na escola é outro fator que contribui

como fato gerador de violência. Para discuti-la, torna-se necessário

historicizarmos de modo breve o conceito de disciplina dos alunos no cotidiano

escolar.

No século XVII, Comênio em "Didática Magna", destinava um capítulo à

questão disciplinar, cujas palavras introdutórias eram:

“é verdadeiro o seguinte provérbio na linguagem popular

Boema uma escola sem disciplina é um moinho sem água.

Efetivamente, assim como se tira a água de um moinho, ele

pára necessariamente, assim, se na escola falta a disciplina,

tudo afrouxa (...). Daqui não se segue a Escola deva estar

cheia de gritos, de pancadas e varas, mas cheia de vigilância e

de atenção, da parte dos professores e da parte dos alunos.

24

Com efeito, que é a disciplina se não processo adequado de

tornar os discípulos verdadeiramente discípulos?” (Comênio in

Coharik apud Castro, 2000, p. 76)

mais adiante, Comênio explicava quando e porquê a disciplina deveria ser

utilizada:

“antes de tudo, creio que a doutrina aceite por todos que a

disciplina se deve exercer contra quem exorbita, mas não

porque exorbitou (efetivamente o fato não pode desfazer-se),

mas para que não exorbite mais (...). Não deve empregar-se

uma disciplina severa no que se refere aos estudos e às letras,

mas apenas nos aspectos ligados aos costumes. Com efeito,

se os estudos são adequadamente regulados ( como

ensinamos já), são, por si mesmos, atrativos para os espíritos,

e, pela sua doçura, atraem e encantam a todos (...). Se

acontece diversamente, a culpa não é mais dos alunos, mas

dos professores. Mas se ignoram os métodos de atrair com

arte os espíritos é, sem dúvida, em vão que se emprega a força

(...). É desta maneira que deve chegar se a criar, nos alunos,

um amor harmonioso dos estudos, se quer evitar que a sua

indiferença se transforme em hostilidade e a sua apatia em

estupidez.” (Comênio in Coharik apud Castro, 2000, p. 76)

Com essas afirmações, o autor apresentava significados de disciplina

que norteariam durante muito tempo e a prática pedagógica, isto é de suma

importância para a eficiência do processo ensino-aprendizagem, e sua

caracterização como algo que deveria ser exercido sobre os alunos por parte

do professor.

25

Durante os séculos XVIII e XIX, a concepção de que a disciplina era

importante para a atividade intelectual perdurou, justificando, ainda no início do

século passado, a intervenção constante do professor com relação aos alunos

no sentido de manter na sala de aula o ambiente de tranquilidade essencial

para que o processo ensino-aprendizagem se desenvolvesse adequadamente.

Para as tendências pedagógicas de caráter progressista, a disciplina foi

vista no final do século XX anterior como algo que naturalmente brotava no

fazer pedagógico, a partir do interesse e da mobilização do educando em

participar das tarefas propostas pelo professor:

“o fundamental porém, é que, se sadia a disciplina exigida, se

sadia a compreensão da disciplina, se democrática a forma de

criá-la e de vivê-la, se sadios os sujeitos forjadores da

indispensável disciplina, ela sempre implica a experiência dos

limites, o jogo contraditório entre autoridade e liberdade e

jamais prescinde de sólida ética.” (Freire, 1995, p. 20)

No final do século XX, Koff (in Candau, 2000, p. 135) nos diz que a

disciplina é fruto de uma prática pedagógica que resgata, supera e estabelece

relações entre autoridade e participação. A disciplina na escola passaria então,

a ser estudada como resultado de compromissos formados pelo grupo.

Podemos observar que, com certeza, houve diferenciação na

conceituação de disciplina de moda a adequá-la ao que os contextos social e

pedagógico esperavam da atuação da escola em sua missão de educar.

Porém, se por um lado as concepções de disciplina mudaram, por outro, as

manifestações de "indisciplina" também variaram bastante. Há alguns anos, os

docentes se queixavam de conversas paralelas em sala de aula, hoje queixam-

26

se do barulho. Todos os alunos conversam, perdem o monitoramento auditivo,

gritam, se agridem, e até, quando participam, comportam-se como uma platéia:

aplausos para acertos e vaias para os erros, compondo um quadro analisado

por Garcia (2000) quando diz:

“o fato de ser destacado refere-se a diversificação das

expressões de indisciplina, sua complexificação, seu caráter

criativo e desafiador, um panorama que apresenta aos

professores situações novas, difíceis de equacionar e resolver

de um modo efetivo.” (p.274).

Os alunos, além de falarem bastante, apresentam outros

comportamentos, no mínimo "inadequados" a uma sala de aula: "atendem

celulares", "dormem", "jogam cartas", "arremessam pequenos objetos uns nos

outros",... Talvez, isto se dê pelo fato de que a "sala de aula" no imaginário de

alguns alunos, comporte uma gama mais ampla de atividades extra-escolares,

até então não pensadas, e que ocorrem durante o tempo das aulas, que já não

é mais exclusiva para as atividades orientadas pelos professores, consideradas

"chatas" e "sem propósito", como já diagnosticava Freire: É necessário que se

reconheça que este conteúdo artificial e gratuito da maioria das lições

escolares é uma das causas de desinteresse e falta de atenção por parte dos

alunos (Freire, 1986, p. 13).

Não podemos negar, também, que entre as causas da indisciplina se

encontrem:

1. A influência exercida pelos meios de comunicação, onde a desmoralização

do magistério e da escola é frequente, podendo afetar significativamente os

vínculos entre educação e sociedade. A inter- relação entre a desvalorização

27

da escola e do magistério e o aumento da violência escolar não pode ser

negada. (Candau, 2001, p. 45).

2. A violência social e familiar, pois a combinação da presença de violência no

bairro com a violência doméstica poderá trazer efeitos sobre o desempenho

acadêmico das crianças e dos jovens que estão expostos a essas

circunstâncias, sobre a sua capacidade de adaptação a normas de disciplina,

fatos que podem gerar uma postura violenta com relação a escola. (Candau,

2001, p. 35).

3. A decadência do ambiente escolar, tanto em termos físicos como de

recursos humanos, uma vez que hoje muitas escolas públicas se encontram

em más condições físicas: prédios mal-tratados, paredes pichadas e sujas,

pátios mal iluminados, quadros-negros destruídos. A pauperização da escola

fica evidente na falta de recursos humanos, que acompanha o descuido com os

prédios escolares. Faltam professores, funcionários, administradores,

inspetores, porteiros, serventes e merendeiras. Se o poder público trata a

escola com descaso, como as novas gerações podem ter interesse em cuidar

da mesma? (Candau, 2001, p. 44).

4. O esvaziamento da importância do papel da escola no imaginário dos

alunos, pois, muitos deles na maioria das vezes atores ou vítimas da violência

escolar, não vêem outras alternativas atribuídas à importância da escola, além

da antiga crença na ascensão social, legado das gerações adultas. (Sposito,

1998, p. 72).

O cenário de ficção sugerido por Bigum (apud Tadeu, 2000) em seu

texto "Os alienígenas na sala de aula" (2000) como análogo às nossas salas de

28

aula não está muito distante do que foi apresentado nos itens anteriores.

Alienados de um lado versus alienígenas de outro, as relações pedagógicas no

cotidiano escolar atual estão longe do ideal de Paulo Freire (1995), onde

liberdade e autoridade estariam em perfeito equilíbrio:

“para que haja disciplina, é preciso que a liberdade não apenas

tenha o direito mas o exerça de dizer não ao que lhe propõe

como a verdade e o certo. A liberdade precisa aprender a

afirmar negando, não por puro negar, mas como critério de

certeza. É neste movimento de ida e volta que a liberdade

termina por internalizar a autoridade e se torna uma liberdade

com autoridade somente, como, enquanto autoridade, respeita

a liberdade.” (p. 116).

Na prática escolar, os docentes têm oscilado entre a licenciosidade e o

autoritarismo, o que só piora o quadro de indisciplina. Melhor seria se os

professores, assumindo uma postura democrática (porém firme) "falassem"

com seus alunos, escutassem seus alunos e, respeitando seus anseios e

expectativas, transformassem suas salas em um "desafio" e não em uma

"cantiga de ninar", onde eles exercem o narcisismo oral. (Freire, 2000, p. 96).

Sobre a "indisciplina" dos alunos em sala de aula, estudos houve,

também, que fizeram alusão a novas formas de indisciplina. Por isso, as novas

formas de indisciplina exigiram do professor novas formas de condução das

relações pedagógicas, onde haveria superação da dicotomia autoridade/

participação (Candau) abolindo a licenciosidade em nome da autonomia

(Freire). Desse modo, alienados e alienígenas (Bigum apud Tadeu, 2000)

conseguiriam conviver pacificamente nas Escolas através de acordos e

negociações.

29

2.2 COLÉGIO PEDRO II - ESTUDO DE CASO

No que se refere especificamente ao colégio Pedro II (de âmbito federal

com 171 anos de existência), no ato da matrícula, o responsável legal, além de

outros documentos, recebe o Código de Ética - Direitos e Deveres do Corpo

Discente. Esse Código é formulado pelo Diretor Geral dessa entidade escolar

baseado em Regimento Geral, baixado pela Portaria 503/ MEC, de 28 de

setembro de 1987.

CÓDIGO DE ÉTICA - DIREITOS E DEVERES DO CORPO

DISCENTE

Alteração realizada em outubro de 2009 ao texto da Portaria nº 545, de 03 de

agosto de 1999, do Colégio Pedro II.

“DAS INFRAÇÕES E SANÇÕES”

Art. 6º Por má conduta ou infração disciplinar, dependendo da classificação da

gravidade do ato praticado, o aluno fica sujeito a advertência individual, ou a

repreensão escrita, ou a suspensão, ou a transferência de turno e/ou Unidade

Escolar ou a exclusão.

§ 1° As advertências individuais e/ou repreensões escritas podem ser aplicadas

pelos professores e pelo pessoal técnico-administrativo do CPII, sempre que a

conduta do aluno o exigir.

§ 2° As suspensões de um a três dias e as transferências de turno e/ou

Unidade Escolar, são aplicadas pelo Diretor da Unidade Escolar, após detido

exame da ocorrência com os elementos envolvidos, ouvidas sempre as

alegações do aluno e verificada sua gravidade.

30

§ 3° Para as transferências de turno e/ou Unidade Escolar devem ser

chamados para esclarecimentos: professores, coordenador de turno,

inspetores, SOE e representantes da turma, ouvidas sempre as alegações do

aluno.

§ 4° A transferência de turno e/ou Unidade Escolar é uma tentativa última de

recuperação do aluno.

§ 5° As sanções de suspensão, transferência de turno e/ou Unidade Escolar e

exclusão devem ser lançadas no assentamento escolar do educando.

§ 6° A reincidência nas penalidades de suspensão por 3 (três) no decorrer do

mesmo ano escolar, pode implicar a exclusão do aluno.

§ 7° A classificação da gravidade da infração praticada, acima de 3 (três) dias e

a exclusão do aluno são da alçada exclusiva do Diretor Geral a quem, para isto

cumpre proceder ao levantamento de sua vida escolar e disciplinar. A exclusão

será feita em qualquer época do ano.

§ 8° A critério do Diretor Geral, o aluno submetido a processo de exclusão

poderá ser afastado, preventivamente, até a sua conclusão.

§ 9° Ao aluno desonesto na realização das provas, é-lhe atribuído grau zero no

referido ato escolar, com a devida advertência em sua caderneta.

§ 10° A reincidência na desonestidade acarreta ao aluno o desligamento do

CPII, no fim do período escolar.

§ 11° A posse, o uso ou o tráfico de produto considerado entorpecente, a posse

ou a utilização de artefato explosivo, quer sejam no interior do Colégio ou em

suas imediações, e a prática de trote, no qual a integridade física de colega

seja colocada em risco, são consideradas faltas gravíssimas, e ensejarão

denúncia as autoridades competentes, independentemente da exclusão do

aluno do CPII.

§ 12° Ao aluno sujeito a exclusão, prevista no caput deste artigo, é garantido o

direito a mais ampla defesa, por si ou por seu representante legal.

31

§ 13° Todas as demais sanções constantes deste artigo são consideradas

educativas e visam o ensino e aprendizagem, portanto, irrecorríveis.

§ 14° O aluno excluído poderá, com base em fatos novos, recorrer ao Sr.

Diretor Geral, no prazo de 15 (quinze) dias da ciência da decisão.

II - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário.

De acordo com o §1º do artigo 6º do Código de Ética, os alunos com três

advertências em suas fichas, localizadas e controladas pelo SESOP (Serviço

de Orientação Pedagógica do CPII) estão sujeitos a suspensão. Essa

suspensão corresponde, dependendo do delito, de um a três dias sem poder

frequentar as aulas, nem sequer ir ao Colégio. Para desespero da maioria dos

responsáveis, os alunos, ao contrário, até gostavam dessa situação de "ficar

em casa". Alguns até mesmo aproveitavam esses dias de penalidade para irem

à praia ou ao Shopping e depois, comentavam no Colégio, achando ótimo.

Revista então essa estratégia, a direção da UETII optou para nesses casos,

manter os referidos alunos na escola, mais precisamente na Biblioteca, no

horário em que teriam aula. Para tanto, lhes são passados trabalhos de

redação. Os temas são escolhidos pela direção no tocante a infração que o

aluno tenha cometido. Logo, falta de respeito ao professor - redação sobre

respeito, valores éticos e morais. Agressão ao colega - escreverá sobre

cidadania, respeito, companheirismo e, assim por diante. Em se tratando de

agressões verbais, as medidas adotadas são as mesmas.

No caso de alunos com poder de liderança que insuflam os demais a

apresentar um mau comportamento, são os mesmos colocados em posição de

destaque em alguma atividade construtiva. Achando-se assim, importantes,

essa agressividade é canalizada para o bem. Esse aluno passa a se sentir o

"máximo", o "melhor", o "representante".

32

A boa convivência dos educadores com o grêmio estudantil também é

fator fundamental para um bom entrosamento escolar.

Contudo, cada caso é sempre estudado individualmente, sendo

evitadas, sempre que possível, medidas punitivas ou repressivas que nada

acrescentem ao aluno, tão só indignação e revolta.

É interessante relatar que na Semana Cultural da UETII - CPII, no

período de 13 a 16 de outubro de 2009, dentre outras atividades, a equipe de

professores de Educação Física convidou a Polícia Federal para ministrar

palestra. Três agentes federais compareceram e expuseram sobre: "Prevenção

do uso de drogas e entorpecentes", com apresentação de filmes e

demonstração de dois cães farejadores, um pastor alemão e um pastor belga.

O auditório ficou lotado com a presença inclusive, dos responsáveis e da

comunidade do entorno. O corpo discente ficou extremamente interessado e

vários alunos fizeram perguntas pertinentes ao assunto apresentado e tiraram

fotos. Todos aplaudiram de pé.

A equipe de Educação Musical prepara os alunos com dons artísticos

para a prática do canto e manuseio de instrumentos musicais.

Toda semana, o corpo discente se reúne no pátio com a direção e, pelo

menos, uma professora de música para saudarem a pátria, num ato de

cidadania, cantando os hinos. Isso é uma obrigatoriedade, mas as crianças

adoram.

Todo ano são realizadas festas juninas, promovidas pelo Grêmio

escolar. Toda a comunidade participa. Os responsáveis dos alunos sempre

montam barraquinhas. Conjunto de forró é contratado pela direção. O alunado

dança quadrilha. Todos participam ativamente.

Há sempre uma série de eventos, de atividades que prendem, que

seguram os alunos na escola. A maioria reclama quando há feriados.

33

Verifica-se que todas essas medidas adotadas, pois que envolvem o

alunado, são de incontestável contribuição, acarretando um bom clima escolar,

desejado por tantas escolas.

34

CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO SEM VIOLÊNCIA –

PRÁTICAS DE ENSINO

A força da não-violência (Abimsa) foi um dos princípios diretivos usados

por Mahatma Gandhi para libertar a Índia do domínio inglês. Foi ele um dos

primeiros líderes a usar a rejeição da violência como método de ação política.

"A não-violência" é a teoria e prática holística que rejeita a agressão e a

violência para atingir objetivos ou resolver conflitos de maneira construtiva.

O termo não violência é geralmente utilizado no que se refere à forma

coercitiva de combate à lutas. Assim, proteger os vulneráveis, resgatar os

assaltados, manter a ordem civil, resistir a denunciar injustiças são ações que

podem ser realizadas usando métodos de não-violência: o contato (o diálogo) e

a não-cooperação.

No que tange à área educacional, mais do que teoria, tem que se utilizar

a prática, com atitude cooperativa entre toda a comunidade escolar,

envolvendo todos os profissionais, estudantes e pais.

Quando a educação é vista sob o ângulo da não-violência, tem como

finalidades:

§ Aprender a conviver, respeitando nossas diferenças e similaridades;

§ Desenvolver o aprendizado baseado na cooperação, no diálogo e na

troca inter cultural.

§ Ajudar as crianças a encontrarem soluções não-violentas para

resolverem seus conflitos utilizando maneiras construtivas de mediação

e estratégias de resolução.

§ Promover valores e atitudes de não-violência: autonomia,

responsabilidade, cooperativismo, criatividade, solidariedade e auto-

estima.

35

§ Capacitar estudantes para construírem juntos, em harmonia com seus

colegas, seus próprios ideais.

É nesse sentido que a UNESCO vem desenvolvendo avaliações,

pesquisas e diagnósticos que subsidiam o debate em torno da elaboração de

políticas públicas. Tal iniciativa está referenciada na construção de uma

"Cultura de Paz", que busca a prevenção e resolução não-violenta de conflitos,

a partir dos seguintes princípios: tolerância, solidariedade, compartilhamento

em base cotidiana, pluralismo de idéias, diálogo, negociação, mediação,

respeito aos direitos humanos e combate às desigualdades e exclusões

sociais.

36

CONCLUSÃO

O objetivo desse trabalho de pesquisa foi estudar diversas e diferentes

formas de combate à violência nas escolas públicas.

As pesquisas específicas sobre a problemática refletem o foco de

preocupação em sua prevenção.

Relatou-se algumas medidas adotadas pelas escolas que pode-se dizer:

deram certo.

A diretora e os professores entrevistados não se referiram à violência

nas escolas públicas como uma questão insolúvel.

Enfatizaram que a escola tem que dar lugar ao diálogo e ao

compartilhamento, se tornando um centro cívico na comunidade.

Para se obter um real impacto, a educação sem violência tem que ser

um projeto de pesquisa, integrado em todos os aspectos do currículo escolar,

envolvendo todos os professores e profissionais da escola. Todos interagindo

como uma equipe na tomada de decisões educacionais.

Os professores devem ter um bom treinamento e uma boa formação.

Serem qualificados e preparados para a solução pacífica no ambiente escolar,

na sala de aula. Isso é incontestavelmente um importante passo para que seja

atingida a utopia da conquista da paz.

Seria interessante que o Ministério da Educação, as Secretarias

Municipais e os Conselhos Estaduais de Educação exigissem a

obrigatoriedade nos currículos escolares de todas as escolas públicas a

inserção de disciplinas como Ciências Sociais (ensino fundamental) e

Sociologia (ensino médio) a fim de ser trabalhado o conceito de cidadania,

envolvendo temas como preconceito, racismo, tolerância, convívio social,

respeito às diferenças, com o objetivo de combater a agressividade e a

violência.

37

A adoção de medidas punitivas funcionaria como paliativo. Não que se

trate de permissividade, pois tanto as escolas conservadoras como as de

vanguarda apresentam normas, regras, que devem ser cumpridas ou se

tornaria a anarquia, o caos. Porém, com a atualização de nossos tempos e o

crescimento desenfreado da violência que assola nossas escolas percebe-se a

necessidade premente de mudanças em relação ao comportamental do aluno.

Seria interessante e engenhoso a adoção de práticas educativas permanentes,

ações eficazes que contribuam para a formação do educando como um todo.

Tendo em vista que os problemas familiares interferem no aprendizado

do aluno, e consequentemente no seu desempenho escolar, a alternativa para

minimizar o problema da agressividade e dos distúrbios de comportamento

seria uma efetiva integração escola-família, como por exemplo, a realização de

debates, palestras envolvendo toda a comunidade escolar.

O encaminhamento dos alunos que apresentam casos mais graves para

tratamento e acompanhamento psicológico constante, em instituições

especializadas.

Partindo-se do princípio de que cada escola é um "universo" e que seus

problemas se apresentam sob formas diferenciadas de violência, não seria

possível o emprego de métodos iguais no seu combate, mas as sugestões são

evidenciadas, os exemplos citados. A preocupação sobre o tema e as

pesquisas que vêm sendo realizadas nos mostram que há um objetivo a atingir

- combater a violência.

Constata-se, então, que definir metas para o combate a esse mal

crescente em um contexto atual como o que estamos vivenciando não é tarefa

fácil, mas é importante nos lembrarmos de que o ato de educar envolve duas

grandes artes: a do diálogo e a do respeito e isso, em qualquer época, deverá

ser preservado.

38

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39

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58 - 75.

40

UNESCO. Abrindo espaços: educação e cultura para a paz. Brasília: UNESCO,

2001.

41

ÍNDICE

INTRODUÇÃO....................................................................................................7 CAPÍTULO I PRÁTICAS DE VIOLÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES......................9

1.1. - Definição de violência escolar...............................................................9

1.2. - Categorias de violência escolar........................................................10

1.3. - Pesquisas acadêmicas sobre violência escolar no Brasil..............10

1.4. - A UNESCO - Sua importância no combate à violência escolar.12

CAPÍTULO II METODOLOGIAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA ESCOLAR - ASPECTOS

FUNDAMENTAIS..............................................................................................16

2.1. - Indisciplina - um trampolim para a violência escolar...........................23

2.2. - Colégio Pedro II - estudo de caso....................................................29

CAPÍTULO III EDUCAÇÃO SEM VIOLÊNCIA - PRÁTICAS DE ENSINO...............................34 CONCLUSÃO....................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................38 ÍNDICE...............................................................................................................41 ANEXO I - ENTREVISTAS................................................................................42

42

ANEXO I

ENTREVISTAS

As entrevistas foram feitas individualmente com 1 diretor, 1 Coordenador

Pedagógico, professores das equipes de Ciências/ Biologia e de História do

Colégio Pedro II - Unidade Escolar Tijuca II, nos meses de agosto e setembro

de 2009.

Foi adotada a mesma pergunta para todos os entrevistados: "Em sua

visão, quais seriam os métodos mais eficazes de combate à violência nas

escolas públicas?"

v O uso exclusivo e irrestrito da afetividade por parte dos professores,

técnicos e profissionais da área de educação. Contudo, a cobrança, o

controle e os limites não podem ser ignorados nem rechaçados.

Também cabe fazer um levantamento dos endereços, áreas de risco e

condições básicas das famílias dos alunos, lares desfeitos, famílias de

novas famílias oriundas de separações, alimentação e relacionamento

para orientar palestras, atividades para aquisição de conhecimentos

relativos ao ECA, doenças transmissíveis, sexualidade, crimes, etc.

Professora Virgília Augusta da Costa Nunes (Diretora).

v É importante observar que a violência não vem desacompanhada de

outros fatores. Não é algo que surge e termina dentro da sala de aula.

Ela é uma das características, dentre outras, que afetam o jovem

diariamente: a violência familiar, social, estatal, verbal, física,

comportamental, dentre outras. A violência que o jovem sofre em casa

ou na rua é meio de transporte para que a mesma chegue ao Colégio.

Para o professor é importante identificar as causas e controlar as

43

conseqüências. É então necessário um conjunto de ações para

combatê-la e uma boa gestão da escola, ou seja, a vontade dos

diretores e professores fazendo uma gestão de qualidade, incluindo

projetos que tragam os professores, pais e voluntários para perto dos

alunos, dentro da escola. Projetos como atividades internas nos

períodos em que não se tenham aulas, nos finais de semana, incluindo

nesses projetos a iniciativa da própria comunidade. O importante é

acreditar no aluno e não desistir daquele que não consegue aprender e

tem dificuldades dentro e fora da escola, pois sendo vítima, com a

frustração, ele pode agir com violência. É de grande importância inserir

atividades extracurriculares na rotina do jovem. Professor Nelson

Resende (Coordenador Pedagógico de Matemática).

v A violência tem de ser combatida com diálogo e trazendo o aluno para o

colégio, onde, por meio de atividades culturais, o mesmo participaria

ativamente. Os mais problemáticos teriam funções de destaque, fazendo

do aluno parte integrante do processo cultural na escola e

proporcionando a ele, de alguma forma, participar de um grupo de

destaque na sociedade estudantil. Todos devem ter importância no

processo educacional. Grupos violentos tornam-se participativos,

atuantes e esses alunos passam a gostar do Colégio. A violência é

combatida com atividades e participação efetiva do aluno no

processo/educação. Professores da equipe de Ciências/Biologia.

v A escola deve promover debates sobre esse tema junto à comunidade

escolar, com alunos, pais, professores e até mesmo com a comunidade

em volta da escola. Tal debate buscaria a maior compreensão do

problema e promoveria uma maior conscientização sobre a violência nas

escolas públicas. Professores da equipe de História.