Violência Doméstica, Psicoterapia em Grupo e Momentos de...

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Universidade do Minho Escola de Psicologia Karla Jordana de Moraes Carvalho Violência Doméstica, Psicoterapia em Grupo e Momentos de Inovação junho de 2019 UMinho | 2019 Karla Carvalho Violência Doméstica, Psicoterapia em Grupo e Momentos de Inovação

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Universidade do MinhoEscola de Psicologia

Karla Jordana de Moraes Carvalho

Violência Doméstica, Psicoterapia em Grupo e Momentos de Inovação

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Karla Jordana de Moraes Carvalho

Violência Doméstica, Psicoterapia em Grupo e Momentos de Inovação

Dissertação de MestradoMestrado em Psicologia Aplicada (MPA)

Trabalho realizado sob a orientação daProfessora Doutora Marlene Matose da Doutora Mariana Gonçalves

Universidade do MinhoEscola de Psicologia

junho de 2019

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e

boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas

no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações CC BY-NC-ND

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

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Agradecimentos

A decisão de fazer o mestrado em Portugal envolveu mudanças em diversos níveis. Com as

mudanças vieram os desafios, como sair da casa da minha mãe, estar longe de familiares e amigos, me

inserir em uma cultura diferente, e ainda, estudar Psicologia em outro continente. Mas com os desafios

pude crescer profissionalmente e como ser humano, portanto, primeiramente agradeço ao meu

companheiro, João Pedro, que desde sempre é o meu maior incentivador nessa vida científica tão

desafiadora. À minha mãe, Maria do Carmo, que acredita e apoia as minhas escolhas, me amando

incondicionalmente. Aos meus sogros/pais, Denise e Luís Renato, por todo incentivo, apoio emocional e

material. Finalmente, gostaria de agradecer às minhas orientadoras, Professora Doutora Marlene Matos

e Doutora Mariana Gonçalves, que me deram o encorajamento e exemplo necessários para que eu me

sentisse confiante na realização deste trabalho da forma mais autônoma possível. E a todos (as) que,

direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação até aqui, muito obrigada.

Apoio financeiro

Bolsa de estudo pela Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES)

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não

recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou

resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

Mais declaro que conheço e que respe1t~ de Conduta Ética da Universidade do Minho.

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Violência doméstica, psicoterapia em grupo e momentos de inovação

Resumo

A violência doméstica consiste em práticas abusivas que geram narrativas prejudiciais nas vítimas e a

Terapia Narrativa de Re-autoria foca na desconstrução desses discursos com a promoção da elaboração

de momentos de inovação. O objetivo deste estudo foi compreender o processo de mudança terapêutica

de oito mulheres vítimas de violência doméstica, ao longo de oito sessões de psicoterapia em grupo, a

partir da análise dos momentos de inovação e dos resultados terapêuticos que foram verificados pela

aplicação de instrumentos de avaliação psicológica. Portanto, trata-se de um estudo com desenho misto.

Os resultados sugeriram que, a partir da intervenção, houve mudança tanto no padrão problemático de

narrativa, como na diminuição da vitimação recebida e na sintomatologia clínica. Apesar da progressão

da saliência dos MIs ao longo das sessões ter se mostrado semelhante aos estudos já realizados em

contextos de psicoterapia individual, o formato em grupo mostrou algumas especificidades: o potencial

de mudança próprio das interações em contexto de grupo; as diferenças no envolvimento e na

participação oral das mulheres nas sessões que influenciou na saliência dos MIs; e o facto deste contexto

poder proporcionar o benefício da mudança somente pela escuta.

Palavras-chave: momentos de inovação; psicoterapia em grupo; violência doméstica; terapia

narrativa de re-autoria; estudo misto.

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Domestic violence, group psychotherapy and innovative moments

Abstract

Domestic violence consists of abusive practices that generate harmful narratives in the victims and

Narrative Therapy focuses on the deconstruction of these discourses with the promotion of innovative

moments. The objective of this study was to understand the process of therapeutic change of eight women

victims of domestic violence, during eight sessions of group psychotherapy, based on the analysis of the

innovative moments and the therapeutic results that were verified by the application of psychological

assessment instruments. Therefore, it is a study with mixed design. The results suggested that, from the

intervention, there was a change both in the problematic pattern of narrative, in the reduction of the

victimization received and in the clinical symptomatology. Although the progression of IMs over the course

of sessions has been similar to studies already conducted in individual psychotherapy contexts, the group

format showed some specificities: the potential for proper change of interactions in a group context; the

differences in the involvement and oral participation of women in the sessions that influenced the salience

of IMs; and the fact that this context can provide the benefit of change only by listening.

Keywords: innovative moments; group psychotherapy; domestic violence; narrative therapy;

mixed design.

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Índice

1. Introdução.....................................................................................................................................8

2. Método.........................................................................................................................................11

2.1 Participantes...............................................................................................................................11

2.2 Instrumentos...............................................................................................................................12

2.3 Procedimentos............................................................................................................................14

2.4 Descrição do Programa de Intervenção em Grupo........................................................................15

2.5 Estratégias de análise de dados...................................................................................................17

3. Resultados....................................................................................................................................18

3.1 Resultados terapêuticos: Indicadores de mudança.......................................................................18

3.2 Resultados terapêuticos: subgrupos de sucesso e insucesso........................................................18

3.3 Processo terapêutico...................................................................................................................20

3.3.1 Tipos de momentos de inovação..............................................................................................22

4. Discussão.....................................................................................................................................24

5. Conclusão.....................................................................................................................................29

6. Referências bibliográficas..............................................................................................................30

Índice de Tabelas

Tabela 1. Estrutura e objetivos do programa de intervenção em grupo...............................................16

Tabela 2. Médias do grupo nos três momentos temporais e resultados do teste estatístico Friedman....18

Tabela 3. Médias dos resultados das medidas terapêuticas relativas aos subgrupos de sucesso e

insucesso..........................................................................................................................................19

Índice de Figuras

Figura 1. Total da saliência por sessão e média de MIs no total da intervenção..................................20

Figura 2. Total do número de palavras por sessão.............................................................................21

Figura 3. Média da saliência por sessão com relação aos subgrupos de sucesso e insucesso.............21

Figura 4. Total da saliência dos tipos de MIs em cada sessão.............................................................23

Figura 5. Média da saliência dos tipos de MIs relativamente aos subgrupos de sucesso e insucesso...24

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Violência doméstica, psicoterapia em grupo e momentos de inovação

A violência doméstica é um fenómeno universal que consiste em práticas abusivas em contexto

de intimidade ou familiar, sobretudo exercido contra as mulheres (Matos, Machado, Santos, & Machado,

2012). Pode ser manifestada de várias formas, tais como violência física, psicológica, social, sexual,

económica. A partir das experiências de violência, são construídas narrativas constituídas por auto-

culpabilização, vergonha, sentimento de impotência, falta de esperança, etc. (Matos & Gonçalves, 2004).

A motivação para a mudança depende do estádio em que a mulher se encontra e de vários fatores, como

o risco de revitimação e o julgamento social (Matos, Santos, Pinheiro, & Lourenço, 2016).

Em contexto europeu, segundo o European Union Agency for Fundamental Rights (2014), uma

em cada três mulheres experienciou violência física e/ou sexual depois dos 15 anos de idade. Em

Portugal, do total de registos na categoria dos crimes contra as pessoas, a violência doméstica

representou 27.6% dos casos em 2018, com mais de 32 mil vítimas, maioritariamente em relações de

intimidade, com mais de 22 mil casos contra cônjuges ou análogos, 78.6% das vítimas foram mulheres

e 83.5% dos denunciados foram homens (RASI, 2018). Segundo os dados da APAV (2018), dos crimes

registados no atendimento às vítimas, 77.5% foram de violência doméstica, sendo 82.5% vítimas do sexo

feminino.

Relativamente às explicações para a existência da violência doméstica, a etiologia é complexa,

sendo os fatores socioculturais uma das perspetivas. Os estudos feministas esclarecem que a violência

é consequência de desigualdades de poder em contexto familiar (Sagara, 1996 citado em Matos, 2006).

Um estudo realizado por Matos e Gonçalves (2004) demonstrou a presença de discursos culturais,

principalmente patriarcais (e.g. maior responsabilidade da mulher no cuidado com os filhos), associados

a barreiras para a mudança no processo terapêutico de mulheres vítimas de violência doméstica.

Portanto, os discursos dominantes de estereótipos de género, que são construções sociais, estão

presentes nas performances das pessoas em sociedade, o que pode ser demonstrado em crenças como

tolerância a comportamentos violentos, hierarquia da relação do casal e privilégios masculinos. As

crenças das vítimas e dos agressores sobre os maus tratos podem ser moldadas pelos discursos de

legitimação da violência, o que influencia o modo como as pessoas agem em sociedade, por exemplo,

tolerando atos violentos com a minimização de sua importância, auto-desculpabilização dos agressores,

etc. Assim, as vítimas não denunciam os abusos e os agressores não identificam a necessidade de

modificar seus comportamentos (Machado, Matos, & Moreira, 2003; Ismail, Berman, & Ward-Griffin,

2005).

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De acordo com Campbell (1998, citado em Matos et al., 2012), as mulheres em contexto de

violência doméstica têm maior probabilidade de desenvolver perturbações psicológicas e, como

consequências, problemas relacionais, de comportamento, ideação suicida. São elas as que mais

procuram ajuda para os cuidados de saúde. Os efeitos prejudiciais são vistos em diversas áreas da vida

da vítima, como emocional, profissional e social, mas também nas pessoas que a cercam, como

familiares, sobretudo os filhos (Matos, 2006). Estudos mostram que o maior impacto negativo e o mais

presente em mulheres no contexto de violência é a depressão (Dillon, Hussain, Loxton, & Rahman, 2013

citado em Matos et al., 2016).

Sobre a intervenção psicoterapêutica junto desta população, existem diferentes formatos, como

individual, em grupo e em casal, e inclusivamente nesses formatos há diferentes propostas

psicoterapêuticas, como intervenção de orientação feminista, intervenção em crise, intervenção cognitivo-

comportamental e intervenção narrativa de re-autoria (Matos & Santos, 2014). Em uma revisão

sistemática sobre intervenções específicas com mães e filhos em contexto de violência doméstica,

concluiu-se que existe uma atenção crescente às abordagens envolvendo a relação mãe-bebé, aspetos

de comportamento parental e desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas. Além disso,

o alvo dos programas também focou a autoeficácia, a saúde mental, a comunicação, o abuso de

substâncias, etc. (Austin, Shanahan, Barrios, & Macy, 2017).

Relativamente ao processo de mudança terapêutica, há vários estudos sobre mudança em

contexto de psicoterapia (Carey et al., 2007; Higginson & Mansell, 2008; Matos et al., 2016) e em

contextos não psicoterapêuticos (Carver, 1998; Gianakis & Carey, 2011; Hayes, Laurenceau, Feldman,

Strauss, & Cardaciotto, 2007; Lampropoulos & Spengler, 2005) que demonstram os elementos da

mudança, como o processo de reorganização/homeostase em direção ao autocontrole, a resiliência, o

desejo de mudar, a racionalização, a nova perspetiva de si, que estão presentes em diferentes tipos de

intervenção e contextos.

A intervenção abordada nessa pesquisa é o formato de grupo, que tem inúmeras vantagens

reconhecidas: as mulheres perceberem que não são as únicas a vivenciar tal problema, aumentar o

suporte social quebrando o isolamento, dar e receber informações com pessoas que passaram por

situações semelhantes, e perceber que existem outras formas de enfrentar os problemas (Matos &

Machado, 2011; Matos & Santos, 2014). Estudos mostram evidências de que a intervenção em grupo é

apropriada para o atendimento às demandas de mulheres vítimas de violência doméstica, pois ao final

as participantes mostram melhoria em seu bem-estar psicológico, saem com uma condição de sintomas

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sem relevância clínica, mostraram-se menos tolerantes a comportamentos violentos e aumentam o

suporte social devido ao contexto de grupo (Matos et al., 2012; Santos, Matos, & Machado, 2016).

Nesta pesquisa é abordada a terapia narrativa de re-autoria desenvolvida por White e Epston

(1990). Esta proposta foca-se na desconstrução das narrativas problemáticas que as pessoas têm de si

promovendo a elaboração dos momentos de inovação (MIs). Os MIs são tudo aquilo que emerge do

discurso do cliente que é exceção ao padrão problemático de narrativa (Matos, Santos, Gonçalves, &

Martins, 2009). Para a terapia narrativa de re-autoria, as histórias são baseadas em pressupostos que

são construções sociais e dão significado à vida. Essas histórias dão significação, mas podem impor

limites ao que pode ser significado. Em terapia o objetivo é facilitar a desconstrução dos discursos,

quebrando os padrões de pensamentos problemáticos, para que assim uma forma de narrativa ou

interpretação não descarte outras possibilidades de significação (White & Epston, 1990).

A exposição à violência influencia o modo como as vítimas narram as suas histórias, portanto, a

terapia narrativa de re-autoria é adequada para a intervenção com mulheres vítimas de violência

doméstica (Matos & Gonçalves, 2004). Um estudo sobre a eficácia da terapia narrativa com mulheres

em contexto de violência, num formato individual, mostrou que a produção dos MIs em terapia pode ser

um aspeto importante para a eficácia da terapia narrativa (Matos et al., 2009). Outros estudos mostraram

que as formas alternativas de abordar a experiência de vitimação são mais prevalentes através dos MIs

de reflexão (Matos et al., 2016), e que para a mudança ocorrer são necessários dois tipos de MIs:

reconceptualização e desempenho da mudança (Gonçalves, Santos, Matos, Mendes, & Martins, 2009;

Montesano, Oliveira, & Gonçalves, 2017). Também estudos com a mesma população, em formato

grupal, revelaram que a intervenção em grupo teve um impacto positivo, diminuindo a revitimação e

modificando crenças sobre a violência doméstica (Santos et al., 2016).

Importa dizer que os estudos sobre a mudança ocorrida em contextos de intervenção em grupo

são escassos. No entanto, um estudo recente que teve como participantes estudantes universitários

pouco envolvidos com seus estudos, com alto índice de reprovação e baixa motivação, revelou que ao

final da intervenção e no follow-up houve mudanças em suas cognições e nas performances académicas.

No final foi enfatizada a importância da elaboração de estudos similares para a garantia que os resultados

possam ser evidenciados em outros estudos de intervenção em grupo (Esposito, Ribeiro, Alves,

Gonçalves, & Freda, 2016).

A relevância desta pesquisa resulta da escassez de estudos sobre os MIs relacionados com o

formato de psicoterapia em grupo, reforçando a necessidade de reflexão sobre a complexidade do

processo de mudança terapêutica neste enquadramento. Além disso, interessa aprofundar a discussão

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sobre os MIs com uma temática complexa e problemática como a violência doméstica e analisar novas

abordagens de acompanhamento neste cenário para aprimorar a intervenção. Então, esta pesquisa

buscou responder à questão: como se processa a mudança, relativamente à produção dos momentos

de inovação e aos indicadores de mudança, num grupo psicoterapêutico de mulheres vítimas de violência

doméstica? Assim sendo, os objetivos foram compreender como ocorreram as mudanças terapêuticas e

analisar o potencial dos MIs em relação ao processo psicoterapêutico em grupo com mulheres vítimas

de violência doméstica.

Método

Para a sistematização dos procedimentos de codificação, foi desenvolvido o Sistema de

codificação dos MIs. Trata-se de um método qualitativo de análise de dados, baseado na terapia narrativa,

que foi construído para o estudo da mudança em psicoterapia e o acesso aos MIs (Gonçalves, Ribeiro,

Mendes, Matos & Santos, 2011). Para este estudo foram consideradas sete categorias específicas dos

MIs: ação (ações para superar o problema); protesto 1 (confronto com o problema); protesto 2

(demonstra assertividade e empoderamento - centrado na mudança); reflexão 1 (novo entendimento do

problema); reflexão 2 (processo de transformação do self com o que mudou - centrado na mudança);

reconceptualização (meta-posição, em que a pessoa expressa a mudança e que entendeu o processo de

mudança) e, ainda, desempenho da mudança (generalização da mudança para o futuro e para outros

contextos como consequência da mudança) (Esposito et al., 2016).

Participantes

Este estudo incluiu oito participantes mulheres, vítimas de violência doméstica. As participantes

foram integradas de acordo com os critérios de inclusão, que compreenderam ser vítima de violência

doméstica ou ter deixado o relacionamento abusivo nos últimos 12 meses. Os critérios de exclusão

incluíram diagnóstico clínico de perturbação da personalidade, depressão severa com indícios de ideação

e/ou comportamento suicida, sintomas psicóticos, e/ou abuso de substâncias. Para participar do grupo

de intervenção primeiramente foi feita uma triagem, em que as mulheres foram entrevistadas e avaliadas

individualmente. Os sintomas clínicos foram avaliados com a Entrevista Clínica e Estruturada do DSM IV

(SCID-I; First, Spitzer, Gibbon, & Williams, 2002), que abarca os diagnósticos de perturbação do DSM

(DSM-IV; American Psychiatric Association, 1994).

No âmbito desse formato de intervenção em grupo, 23 mulheres foram selecionadas e

distribuídas em três grupos. Todas as participantes completaram a intervenção e não houve desistências.

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Nesta pesquisa foi realizada a análise do grupo 1 (n = 8). As idades variaram de 26 a 47 anos, estando

sete delas acima de 30 anos (M = 36.25, DP = 6.62). Relativamente ao número de filhos, todas tinham

pelo menos um filho (M = 1.62, DP = 0.74). Sobre as habilitações literárias, no geral o grupo possuía

baixa escolaridade (1º ciclo, 25%; 2º ciclo 50%; 3º ciclo, 12.5%; secundário, 12.5%). Relativamente ao

estado civil, três participantes estavam casadas, duas divorciadas, uma em união de facto e duas

solteiras. Em termos de nacionalidade, sete participantes eram portuguesas e uma era angolana. Sobre

a situação profissional atual, cinco estavam empregadas, sendo uma dessas estudante de nível superior.

No começo e ao final da intervenção, relativamente à situação conjugal, seis estavam fora da

relação abusiva e duas estavam na relação. Sobre a duração da relação, a de menor tempo teve cinco

anos e a de maior tempo, 20 anos até a época da intervenção (M = 15.75, DP = 5.20). Das oito

participantes, quatro estavam em acolhimento institucional (50%). Em todos os casos foi verificada a

presença de violência psicológica. Três mulheres foram simultaneamente vítimas de violência física,

psicológica e sexual, três de violência física e psicológica, uma de violência física e sexual, e uma de

somente violência psicológica. Relativamente ao grau de severidade da violência recebida, cinco

vivenciaram nível grave e três, nível intermédio de violência, segundo a base de dados.

Instrumentos

Para a avaliação dos sintomas psicológicos clínicos foram utilizados o Inventário de Depressão

de Beck II (BDI-II; Beck, Steer, & Brown, 1996, adaptado por Coelho, Martins, & Barros, 2002) e o OQ-

45 (Outcome Questionnaire—Lambert et al., 1996, adaptado por Machado & Klein, 2006). O BDI-II é um

instrumento de auto relato que avalia a sintomatologia depressiva. A pessoa seleciona de quatro a cinco

frases avaliativas ordenadas de neutro (0) a severo (3) para descrever como se sentiram na última

semana. Esse instrumento permite um diagnóstico de sem depressão (0 – 13), depressão ligeira (14 –

19), depressão moderada (20 – 28) e depressão severa (29 – 63). Este teste revela alta consistência

interna (α = 0.89).

Relativamente ao OQ-45, este instrumento é uma medida geral de bem-estar ou desconforto

psicológico. Possui 45 itens, dos quais uma escala do tipo likert de 5 pontos (de nunca a sempre). Avalia

as seguintes subescalas: desconforto subjetivo, relações interpessoais e desempenho do papel social. A

pontuação total pode variar de 0 a 180. Qualquer indivíduo cuja pontuação total esteja entre 0 e 62 não

revela sintomatologia clínica relevante. O questionário apresenta alta consistência interna (α = 0,93) e

boa confiabilidade (α = 0,84; Lambert et al., 1996). A versão em português, adaptada por Machado e

Klein (2006), apresenta boa consistência interna (α = 0,89; Machado & Fassnacht, 2014). Uma

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mudança clínica significativa do OQ-45 é alcançada quando há diferença maior que 15 pontos entre duas

avaliações.

Para a avaliação da vitimação perpetrada pelos companheiros, foi usado o Inventário de Violência

Conjugal (IVC; Machado, Matos, & Gonçalves, 2007), que visa identificar vitimação e/ou perpetração de

comportamento abusivo no casamento ou relações semelhantes. Consiste em 21 itens, que envolvem

comportamentos fisicamente abusivos, comportamentos emocionalmente abusivos e comportamentos

de coerção/intimidação. Para cada um dos comportamentos listados na Parte A do inventário, pergunta-

se ao participante se, durante o ano anterior, (a) ele ou ela adotou essas práticas no contexto de sua

relação afetiva atual; e (b) se seu parceiro atual adotou essas práticas. Se a resposta a qualquer uma

dessas perguntas for sim, então é perguntado se esse comportamento ocorreu apenas uma vez ou mais

de uma vez.

Seguidamente, foi utilizada a Escala de Crenças Sobre a Violência Conjugal (ECVC; Machado,

Matos, & Gonçalves, 2007) para avaliar as crenças das participantes sobre a violência nas relações

íntimas. Essa escala possui 25 itens, que consistem em afirmações referentes à legitimidade da violência

conjugal. Os participantes respondem em uma escala do tipo likert de 1 a 5 (discordo totalmente a

concordo totalmente). Esse intervalo reflete um alto grau de consistência interna (α = 0.90). Essa escala

também explica 56% do escore de quatro fatores. Os fatores são: legitimação e banalização da violência

menor, legitimação da violência pela conduta da mulher, legitimação da violência pela sua atribuição a

causas externas e legitimação da violência pela preservação da privacidade familiar. A pontuação total é

obtida pelo somatório das respostas e varia de 25 a 110 pontos.

Para a avaliação da perceção de suporte social, foi utilizada a Escala de Satisfação com Suporte

Social (ESSS; Ribeiro, 1999), que consiste em 15 itens sobre quatro dimensões: satisfação com amigos,

intimidade, satisfação familiar e atividades sociais. Os itens são organizados em uma escala do tipo likert

de 1 a 4 (discordo totalmente a concordo totalmente). O alfa de cronbach da escala total é 0,85 e o fator

de carga geral dos itens é alto (acima de 50%). A pontuação total é a soma de todos os itens. O resultado

para a escala total pode variar entre 15 e 75.

Para a avaliação da autoestima, foi utilizada a Escala de autoestima de Rosenberg (RSES;

Rosenberg, 1965, adaptado por Santos & Maia, 2003) que é uma medida de autoadministração do tipo

likert de 10 itens de avaliação global da autoestima. Há quatro respostas alternativas de 1 a 4 (discordo

totalmente a concordo totalmente). Os escores totais variam de 10 a 40. O alfa de cronbach tem na

maioria valores médios situados acima de 0,80.

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Por fim, para a avaliação da aliança terapêutica foi utilizado o Working Alliance Inventory (WAI,

Horvath, 1981, 1982; versão portuguesa adaptada por P. Machado & A. Horvath, 1999), instrumento

de auto relato para medir a qualidade da aliança terapêutica. É composto por três sub-escalas: o acordo

nas tarefas que compõem o processo terapêutico; o acordo nos objetivos da intervenção terapêutica;

desenvolvimento da relação (a rede complexa de vinculações positivas entre terapeuta e cliente). Cada

sub-escala é composta por 12 itens. As respostas são do tipo likert de sete pontos (desde “nunca” a

“muito frequentemente”). O inventário permite obter uma pontuação global (obtida pelo somatório) e

uma pontuação parcial para cada uma das sub-escalas. Os valores de fiabilidade da versão portuguesa

apresentam-se adequados (alfa de cronbach de 0.95 para a escala total e de 0.80 a 0.93 para as três

sub-escalas; Machado & Horvath, 1999).

Procedimentos

As participantes foram recrutadas através de instituições especializadas no apoio a esta questão

social na região norte de Portugal. Depois de solicitar a sua colaboração, o programa foi divulgado por

meio de cartas, panfletos, apresentações públicas e pela mídia. Aquelas que participaram do estudo

vieram de encaminhamentos de casa abrigo ou agências de apoio a vítimas, e algumas vieram por

iniciativa própria. O processo de divulgação e recrutamento ocorreu durante 3 meses.

Na avaliação inicial, todos os procedimentos foram explicados às participantes. As mulheres

foram informadas sobre a confidencialidade dos dados, e todas assinaram o termo de consentimento

livre e esclarecido, que continha os objetivos do estudo e as principais regras do programa de

intervenção. A intervenção foi gratuita e a participação foi voluntária.

O desenho da pesquisa baseou-se num protocolo de avaliação psicológica que incluiu um pré-

teste (no início da intervenção), pós-teste (após o término da intervenção) e follow-up (3 meses após o

término). As mulheres preencheram questionários por conta própria para todos os eventos de avaliação.

A intervenção ocorreu numa instituição pública na cidade do Porto (Norte de Portugal).

Para evitar a criação de qualquer viés na terapia, o procedimento de codificação foi realizado

depois da finalização do processo terapêutico. A codificação dos MIs foi conduzida visualizando cada

sessão em vídeo com um relógio, registando o tipo e a duração (saliência) de cada MI conforme aparecia

na sessão. A duração foi avaliada medindo o início e o fim de cada MI, até o segundo mais próximo. Para

cada sessão, foi calculado um índice de saliência (a percentagem de tempo na sessão dedicada a esse

MI) para cada um dos tipos de MIs. Também foi calculado um índice de saliência geral dos MIs como a

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percentagem total de tempo na sessão dedicada a qualquer um dos tipos de MIs (a soma da saliência

dos MIs).

Com relação aos procedimentos de codificação e confiabilidade, as gravações das sessões foram

codificadas por juízes treinados: Juíza A (não tinha conhecimento dos resultados) codificou todas as

sessões; o Juiz B (uma equipe que compreende a terapeuta e outro juiz, um estudante de doutoramento)

codificou apenas as sessões nas quais os instrumentos de avaliação de resultados foram aplicados.

Índices de confiabilidade foram calculados nessas sessões. Os juízes discutiram, antes do procedimento

de codificação independente dos MIs, a compreensão do problema principal de cada mulher (a "regra"

ou a narrativa problemática) para codificar os MIs (as exceções à regra). Esta discussão permitiu uma

definição consensual dos principais problemas das clientes. Nestes casos, a narrativa problemática foi

definida em todos os casos como o abuso e seus diversos efeitos.

A saliência geral foi calculada como a proporção do tempo total em sessões dedicadas a qualquer

MI em que ambos os juízes concordaram. O consenso sobre saliência geral foi calculado como o tempo

identificado por ambos os juízes dividido pelo tempo identificado por um dos juízes (ou,

equivalentemente, o dobro do tempo gasto em MIs acordados dividido pela soma dos tempos de MIs

identificados independentemente pelos dois juízes). O tempo dedicado a cada MI foi dividido em unidades

de pensamento, definidos como passagens contínuas dedicadas à mesma classificação de MI.

Descrição do Programa de Intervenção em Grupo

O programa de intervenção em grupo para mulheres vítimas de violência doméstica foi

implementado em uma instituição pública ao longo de oito sessões semanais de 90 minutos cada, sob

a sigla GAM (Grupos de Ajuda Mútua; Matos & Machado, 2011). O programa, com base na abordagem

cognitivo-comportamental, teve como objetivo reduzir a revitimação, os efeitos clínicos da vitimação e

promover habilidades sociais e pessoais. Duas facilitadoras realizaram as sessões, com treinamento

prévio em terapia cognitivo-comportamental e experiência em atendimento a vítimas.

Em geral, os objetivos da intervenção foram reduzir: a vitimação, a tolerância à violência

doméstica, os sintomas clínicos, o isolamento social; e promover: o empoderamento, as habilidades

sociais, formas alternativas de comunicação e novos projetos de vida. Assim, foram implementadas

diferentes estratégias, como psicoeducação, técnicas de relaxamento, reestruturação cognitiva,

autoinstruções, tomada de decisões, resolução de problemas, assertividade e treinamento em

habilidades de comunicação. As participantes treinaram novas habilidades por meio de dramatização,

visualização de estudo de caso, debate a partir de vídeos e jogos educativos e brainstorming.

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16

A Tabela 1 resume cada sessão, objetivos e principais realizações para as participantes. O

programa de intervenção em grupo teve três fases principais. A primeira fase centrou-se na identificação

e compreensão do fenômeno, a segunda fase contou com o desenvolvimento de habilidades pessoais e

sociais e a terceira fase, sobre a prevenção da violência nas relações futuras e a consolidação dos ganhos

alcançados (Matos & Machado, 2011).

A intervenção foi realizada por duas psicólogas (mestrado e/ou doutoramento em Psicologia e

experiência em Violência Doméstica) que constituíram a equipe de facilitadoras e avaliada pelo

levantamento qualitativo das participantes após o término da intervenção.

Tabela 1

Estrutura e objetivos do programa de intervenção em grupo.

Nome da sessão Objetivos Principais conquistas

1. A nossa bússola Promoção da motivação e da

adesão ao grupo (explicação dos

objetivos do grupo e suas metas

terapêuticas).

Promover o sentimento de

pertença e coesão do grupo;

definir regras de

funcionamento.

2. Não sabia que ia ser

assim...

Identificar e definir as diferentes

formas de violência íntima e

promover a consciencialização do

impacto e consequências.

Reconhecer as dimensões

abusivas experienciadas pelas

participantes; Compreender as

várias dinâmicas abusivas.

3. Não sabia que ia ser

assim...

Reflexão sobre o impacto da

experiência de vitimação nos

filhos; Discussão sobre crenças

desajustadas sobre as relações

de intimidade.

Reconhecer o impacto da

violência nos filhos; construir

discursos alternativos face aos

desempenhos de género.

4. Mitos e desfeitos

Desconstruir os mitos acerca da

violência; Identificar e analisar os

discursos culturais relativos aos

estereótipos tradicionais e ao

papel da mulher na sociedade.

Construir discursos

alternativos face aos

desempenhos de género.

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17

5. “Cocktail de sentimentos” Diferenciar sentimentos e o quão

estes são úteis ou não para uma

gestão mais eficaz da

problemática em causa.

Formulação de pensamentos

alternativos; Treino de

relaxamento.

6. “Falar vs. comunicar”

Identificar os diferentes estilos de

comunicação e respectivas

características; Identificar

vantagens do estilo assertivo;

Enfatizar os direitos das

mulheres.

Promoção e treinamento do

uso do estilo assertivo de

comunicação.

7. “360º à volta de mim”

8. “Recriar a intimidade: De

volta... ao futuro”

Consciencializar para a

importância da autoestima no

desempenho pessoal.

Identificar os sinais de alerta de

potenciais relações violentas;

consolidar os pilares base de

relações saudáveis; sumarizar as

principais aprendizagens;

Reforçar conhecimentos

adquiridos; debater vivências do

grupo.

Valorização pessoal;

Autoconhecimento; Destacar

as características positivas de

cada participante.

Saber o que são e como são

as relações saudáveis;

consolidar as aprendizagens

do grupo.

Estratégias de análise de dados

Por se tratar de um estudo misto, para os resultados qualitativos realizou-se a análise das

sessões ao nível dos tipos de MIs ocorridos, a sua frequência, a saliência e o autor da emergência,

relacionando com o perfil sociodemográfico e o perfil psicológico de cada mulher. Relativamente aos

resultados quantitativos, foram realizados os testes estatísticos não-paramétricos de Friedman, para

instrumentos aplicados em três momentos temporais, e de Wilcoxon, para o instrumento aplicado em

dois momentos, com recurso ao IBM SPSS (Martins, 2011). Em seguida, realizou-se o cálculo do RCI

(Reliable change index; Jacobson & Truax, 1991): índice de mudança para determinar se a magnitude

da mudança de cada participante é estatisticamente confiável.

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Resultados

Resultados terapêuticos: Indicadores de mudança

Relativamente às médias do grupo, a Tabela 2 mostra que apesar de não haver mudança

significativa quanto aos sintomas psicológicos clínicos X² (2) = 4.07, p = .131, os resultados do OQ-45

nos três momentos temporais mostram que, após a intervenção, o grupo saiu da condição clínica,

permanecendo numa condição não clínica no follow-up. Sobre a satisfação com o suporte social, as

médias do ESSS mostram que as participantes já no pré-teste mostraram-se na média, e no pós-teste e

follow-up aumentaram para acima da média.

Tabela 2

Médias do grupo nos três momentos temporais e resultados do teste estatístico Friedman.

Pré-teste Pós-teste Follow-up Friedman

M DP M DP M DP X² (2) p

OQ-45 68.87 10.62 52.63 23.77 59.63 26.11 4.06 .131

BDI-II 18.13 13.26 14.25 10.79 16.87 10.42 1.22 .542

IVC 25.71 14.4 1.75 3.61 13.2 13.59 6.53 .038

ECVC 51.5 23.37 51.5 23.37 43.13 10.17 5.06 .079

RSES 22.25 9.08 22.25 9.08 30.13 4.25 6.25 .044

ESSS 45.25 9.6 45.25 9.6 46.88 19.55 2.25 .325

Por fim, sobre a WAI, instrumento aplicado no final da sessão 1 (M = 156.88, DPm = 18.05) e

no final da sessão 8 (M = 156.88, DP = 18.05), os resultados do teste Wilcoxon mostraram que não

foram evidenciadas diferenças significativas entre os momentos temporais quanto à aliança terapêutica,

Z = -.338, p = .735.

Resultados terapêuticos: subgrupos de sucesso e insucesso

Baseado no cálculo do RCI, concluiu-se que o do OQ-45 foi de 17.4 e o do BDI-II foi de 9.92.

Com as pontuações do RCI as participantes foram divididas em dois subgrupos, um subgrupo de sucesso

(cinco participantes) e outro de insucesso (três participantes). O critério de inclusão para o subgrupo de

sucesso foi ter a magnitude da mudança maior ou igual ao RCI encontrado, acrescido da diminuição da

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vitimação. A seguir, a Tabela 3 mostra as médias dos resultados dos subgrupos de sucesso e insucesso,

respetivamente.

Tabela 3

Médias dos resultados das medidas terapêuticas relativas aos subgrupos de sucesso e insucesso.

Pré-teste

Sucesso Insucesso

Pós-teste

Sucesso Insucesso

Follow-up

Sucesso Insucesso

OQ-45 68.6 69.33 39.6 74.33 51.2 73.67

BDI-II 20.8 18.33 7.6 25.33 14.6 21.33

IVC 29.4 29 0.8 3.33 0 20.5

ECVC 55.4 67.5 42.8 51.33 40.2 48

RSES 25.6 25 31.2 26.67 30.6 29.33

ESSS 46.4 43.33 53.4 42.33 49.2 43

WAI 157.4 156 188.75 122.67 -

Relativamente ao OQ-45, os dois subgrupos encontravam-se numa condição clínica no pré-teste.

Após a intervenção, o subgrupo de sucesso obteve melhora significativa e o subgrupo de insucesso

manteve-se em condição clínica. No follow-up, o subgrupo de sucesso manteve-se em condição não

clínica e o subgrupo de insucesso manteve-se em condição clínica. Com relação ao BDI-II, no pré-teste

o subgrupo de sucesso encontrava-se em média com depressão moderada e o subgrupo de insucesso

com depressão ligeira. No pós-teste o subgrupo de sucesso melhorou, indicando ausência de depressão

e o subgrupo de insucesso piorou para depressão moderada.

Sobre o IVC, os dois subgrupos encontravam-se com pontuações elevadas no pré-teste, referindo

à violência física, psicológica e sexual. No pós-teste, a violência física cessou nos dois subgrupos, sendo

que no subgrupo de sucesso ainda houve a presença de violência psicológica e no subgrupo de insucesso

houve simultaneamente violência psicológica e sexual.

Nos resultados do ECVC, no pré-teste os dois subgrupos encontravam-se na média quanto ao

grau de tolerância à violência conjugal. No pós-teste o subgrupo de insucesso não evidenciou mudanças,

permanecendo na média e o subgrupo de sucesso mudou para tolerância reduzida. No follow-up os

subgrupos apresentaram tolerância reduzida. Relativamente ao RSES (0-40), os dois subgrupos

encontravam-se dentro da média no pré-teste quanto à autoestima. Após a intervenção, o subgrupo de

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sucesso aumentou para acima da média e o de insucesso permaneceu na média. No follow-up os

subgrupos mostraram-se acima da média.

Sobre os resultados do ESSS, no pré-teste os dois subgrupos encontravam-se na média quanto

à satisfação com o suporte social. No pós-teste, o subgrupo de sucesso aumentou para média superior

e o subgrupo de insucesso continuou na média, e no follow-up, os subgrupos permaneceram na média.

E finalmente, os resultados da WAI mostraram que ao final da sessão 1 os dois subgrupos encontravam-

se na média quanto à aliança terapêutica. Ao final, na sessão 8, o subgrupo de sucesso aumentou para

média superior e o subgrupo de insucesso diminuiu a pontuação, mas continuou na média.

Processo terapêutico

No que se refere aos MIs, em média, 11.92% em cada sessão eram dedicadas à descrição de

MIs. Pode-se verificar na Figura 1 que a saliência foi gradual e progressiva ao longo das sessões, notando-

se algumas oscilações: houve valores acima da média nas sessões 3 (14.11%), 5 (15.32%) e 8 (16,62%)

e abaixo da média noutras sessões: 4 (11.37%), 6 (11.07%) e 7 (11.45%). Adicionalmente, na sessão 8

documentámos a maior saliência (16.62%).

Figura 1. Total da saliência por sessão e média de MIs no total da intervenção.

4,18

11,44

14,11

11,37

15,32

11,07 11,45

16,62

11,92

3

5

7

9

11

13

15

17

Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 Sessão 6 Sessão 7 Sessão 8

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Figura 2. Total do número de palavras por sessão.

Os resultados do total da saliência dos MIs (Figura 1) em comparação com o total do número de

palavras (Figura 2) relatadas pelas participantes mostram que, até a sessão 5, o número de palavras

variou proporcionalmente com os MIs. Entretanto, na sessão 6 a saliência diminuiu e o número de

palavras aumentou. Nas sessões 7 e 8, a saliência aumentou e o número de palavras diminuiu. Portanto,

no geral, a participação oral (i.e., produção de palavras) nas sessões de intervenção não se mostrou

diretamente proporcional à saliência dos MIs.

Figura 3. Média da saliência por sessão com relação aos subgrupos de sucesso e insucesso.

4414

6383

9128

5762

11623

12287

7464 7073

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 Sessão 6 Sessão 7 Sessão 8

0,47

1,8 1,841,57

3,12

1,86

1,94

3,38

0,61 0,82

3,38

1,18

1,98

0,88

0,58

1,56

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 Sessão 6 Sessão 7 Sessão 8

Sucesso Insucesso

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Relativamente aos subgrupos de sucesso e insucesso, a Figura 3 mostra que, em média, os

casos de sucesso suscitaram mais MIs por sessão (13.48%) que os de insucesso (9.05%). O subgrupo

de insucesso teve saliência maior que o de sucesso somente nas sessões 1 (0.61%) e 3 (3.38%).

Tipos de momentos de inovação

Em termos totais, o tipo de MI mais suscitado pelas participantes foi o de Reflexão (44.19%),

especificamente o Reflexão 1 (23.88%). Depois surgiu o Protesto (27.2%), nomeadamente o Protesto 2

(23.58%), seguido de Reflexão 2 (20.31%). Em seguida emergiram o MI de Ação (10.77%),

Reconceptualização (9.27%), Desempenho da mudança (4.13%) e o menos suscitado foi o Protesto 1

(3.62%).

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Figura 4. Total da saliência dos tipos de MIs em cada sessão.

1,6

2,35

2,79

0,74

1,671,16

0,38

0,08

2,58

3,28

0,53

5,99

3,3

2,54

1,92

3,74

0

1,82

1,12

0,23

4,8

1,05

5,475,82

0 00,13

0

0,3

1,13

1,92

0,14

0

1,21

6,46

3,28

1,91

5,07

1,76

3,89

0

0,81

1,98

1,13

3,34

0 0

2,01

0

1,97

1,1

0 00,12

0

0,94

0

1

2

3

4

5

6

7

Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 Sessão 6 Sessão 7 Sessão 8

Acção Reflexão 1 Reflexão 2 Protesto 1 Protesto 2 Reconceptualização Desempenho da Mudança

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No geral, como pode-se observar na Figura 4, o MI com maior saliência foi o Protesto 2 na sessão

3 (6.46%), seguido de Reflexão 1 na sessão 4 (5.99%), depois o Reflexão 2 na sessão 8 (5.82%) e 7

(5.47%). A Reconceptualização mostrou maior saliência nas sessões 3 (1.98%), 5 (3.34%) e 8 (2.01%).

Ao contrário das sessões 3 e 6, nas sessões 2, 4, 5 e 7 há aumento de Reflexão e diminuição de Protesto.

Figura 5. Média da saliência dos tipos de MIs relativamente aos subgrupos de sucesso e insucesso.

Relativamente aos subgrupos de sucesso e insucesso, é possível observar na Figura 5 que

somente o MI de Ação foi o mais suscitado pelo subgrupo de insucesso (1.59%) em comparação com o

subgrupo de sucesso (1.44%). A maior discrepância entre os grupos foi o Reflexão 2, em que o subgrupo

de sucesso (3.92%) suscitou consideravelmente mais que o subgrupo de insucesso (1.91%). O MI mais

suscitado pelo subgrupo de sucesso foi o Reflexão 2 (3.92%) e o menos suscitado foi o Protesto 1 (0.6%).

Sobre o subgrupo de insucesso, o mais suscitado foi o Protesto 2 (3.07%) e o menos suscitado foi o

Desempenho da Mudança (0.15%).

Discussão

Este estudo, que teve como objetivo analisar e compreender o processo de mudança de um

grupo de vítimas de violência doméstica, mostrou que os MIs emergiram nas oito sessões de intervenção

progressiva e gradualmente, mas com algumas oscilações em função das sessões. Essa característica

também pode ser verificada no único estudo sobre intervenção em grupo relacionada com os MIs

(Esposito et al., 2016), diferentemente do que é encontrado em intervenções individuais, em que os MIs

3,92 3,85

3,45

1,87

1,44

0,860,6

1,91

3,072,93

1,12

1,59

0,150,27

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Reflexão 2 Protesto 2 Reflexão 1 Reconceptualização Acção Desempenho daMudança

Protesto 1

Sucesso Insucesso

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tendem a surgir de modo progressivo, contínuo e linear no decorrer das sessões (Matos et al., 2009;

Montesano et al., 2017).

Os resultados também mostraram que, relativamente aos indicadores de mudança, houve

melhoria significativa quanto à autoestima, diminuição do grau de tolerância a violência conjugal e o fim

da violência tipo física. Estes resultados sugerem que a partir da intervenção houve mudança tanto no

padrão problemático de narrativa, como na diminuição da vitimação recebida. E ainda, sobre a aliança

terapêutica, no subgrupo de sucesso, das cinco participantes, três aumentaram a aliança terapêutica de

média para elevada, e no subgrupo de insucesso, duas diminuíram após a intervenção. Estes resultados

podem indicar a importância da aliança terapêutica para a mudança em terapia.

Sobre os subgrupos de sucesso e insucesso, o subgrupo de insucesso era composto por duas

participantes em acolhimento institucional, ou seja, receberam vitimação com grau de severidade

elevado, e uma participante que residia com o agressor. Já o subgrupo de sucesso era caracterizado por

uma participante que já no pré-teste se encontrava sem sintomatologia significativa, por duas outras

participantes em que a severidade da violência vivenciada teve grau moderado e por uma participante

que o tipo de violência vivenciada foi somente a psicológica. Os resultados sugerem que essas

características contextuais prévias e relacionais, como o afastamento da vítima e o agressor, também

podem influenciar a evolução em terapia (Matos et al., 2016).

Foi possível identificar que nessa intervenção em grupo, falar mais aumenta a probabilidade de

suscitar MIs, até porque os MIs só são suscitados pelo discurso do indivíduo. Mas isso não

necessariamente se refletirá na mudança terapêutica, visto que o processo terapêutico também depende

de outras variáveis, como as contextuais (Matos et al., 2016), as características pessoais e a

singularidade da intervenção em grupo. Nesse sentido, pensando no contexto deste estudo que envolve

a problemática da violência doméstica, em que algumas participantes ainda estavam a experienciar

vitimação diária, a vivenciar mudanças de vida que envolvem os filhos, questões financeiras, mudança

de residência, todas essas características são um obstáculo ainda maior para a mudança e vão

influenciar na produção dos MIs. Portanto, as sessões devem ser estruturadas como sendo facilitadoras

da produção dos MIs (Gonçalves, 2008), mas também devem ser elaboradas e analisadas dependendo

das características contextuais e individuais das participantes (Klein & Schemer, 2015).

Para cada sessão foram preparadas atividades específicas com objetivos específicos.

Consequentemente, o conteúdo das sessões também estará relacionado com a produção dos MIs. Na

sessão 4 a saliência diminuiu, visto que o conteúdo centrou-se nas crenças dos papéis tradicionais de

homens e mulheres, o que a constituiu como uma sessão mais educativa/instrutiva. Também houve

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diminuição da saliência na sessão 6, logo após a sessão 5 que abordou sentimentos e emoções, o que

naturalmente estimula a produção de reflexões, e a sessão 6 abordou os estilos de comunicação e os

direitos das mulheres, tendo um caráter mais educativo. Relativamente ao número de palavras

(participação oral das participantes), na sessão 6 (saliência diminuiu) o número de palavras aumentou,

e na sessão 8, sessão em que foram discutidas as mudanças a partir do processo terapêutico, a saliência

aumentou e o número de palavras diminuiu. Estes resultados sugerem e reafirmam o caráter

educativo/instrutivo da sessão 6 e o potencial da sessão 8 de estimulação de processos subjetivos de

reautoria e empoderamento, o que pode contribuir para o acesso a reflexões mais complexas. No geral,

pode-se perceber que algumas sessões têm um caráter mais psicoeducativo (sessões 3 e 6), outras

promovem mais processos de maior inovação e autoria (sessões 2, 5, e 7) e as outras possuem as duas

características (sessões 1 e 8). Ainda, é possível perceber que dependendo do conteúdo das sessões, os

tipos de MIs estão mais presentes. Nas sessões que envolvem mais processos subjetivos, estão mais

presentes os MIs de Reflexão. Assim como nas sessões mais psicoeducacionais, estão mais presentes

os MIs de Protesto. Estes resultados foram semelhantes aos do único estudo sobre os MIs em intervenção

de grupo (Esposito et al., 2016).

Nesse sentido, as sessões poderiam ter abordado temas que promovessem o surgimento dos

MIs de Desempenho da Mudança e Ação com, por exemplo, atividades focando no projeto de vida, com

questionamentos para verificar o que elas já haviam realizado. Assim como, algumas sessões poderiam

ser estruturadas para promover reflexão sobre os processos de mudança, a fim de promover o MI de

Reconceptualização. Somente na sessão 8 foi feita uma atividade diretamente neste sentido, tela das

mudanças, em que as mulheres tinham de relatar seus processos de mudança. Segundo Montesano,

Oliveira e Gonçalves (2017), as ferramentas terapêuticas mais benéficas são aquelas que focam em

processos reflexivos. Para tanto, o terapeuta deve atuar como um facilitador, a relação terapeuta-cliente

deve ser mais horizontal, com intervenções menos diretivas, uso de metáforas, questões reflexivas, ou

seja, baseado na Terapia Narrativa.

A Terapia Narrativa, diferentemente da cognitivo-comportamental que se caracteriza por ser mais

didática e diretiva, promove o contexto adequado para a nova re-autoria da história de vida da mulher.

Esta possui características bem diferentes da vivenciada na relação de intimidade, como a ausência de

hierarquia na relação terapeuta-cliente, uma postura colaborativa do terapeuta, o contexto terapêutico

conversacional que foca na desconstrução dos discursos e, se necessário, também são usadas

estratégias cognitivo-comportamentais (Matos, 2006).

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Relativamente aos tipos de MIs, o mais suscitado pelas participantes foi o de Reflexão, que se

caracteriza por uma nova perspetiva do problema e identificação das mudanças. Isso se verifica nas

características de cada caso, em que a maioria das participantes ainda se encontrava num nível

contemplativo da mudança, visto que quatro estavam em acolhimento institucional e uma ainda residia

com o agressor. Este resultado sugere que a intervenção promoveu a produção de MIs de natureza

reflexiva, mas em segundo lugar os MIs mais suscitados foram os de Protesto, que envolve um

posicionamento crítico e ativo em relação ao problema. Este resultado pode ser explicado pela temática

da violência doméstica, visto que os MIs de Protesto surgiram principalmente nas sessões em que eram

abordadas problemáticas que envolviam os filhos e o direito das mulheres. Em relação ao MI de Ação,

foi o único MI que o subgrupo de insucesso suscitou mais que o subgrupo de sucesso, e sobre o MI de

Protesto 1, quatro participantes do subgrupo de sucesso não o suscitaram, o que pode indicar a

superação de uma fase de maior confronto e que estavam mais centradas na mudança, tal como pôde

ser verificado em outros estudos sobre casos de sucesso (Mendes et al., 2011). E ainda, também os

resultados sobre a maior discrepância entre os dois subgrupos ter sido com o MI de Reflexão 2 são

congruentes com estudos prévios que dizem que um dos marcos de mudança para bons resultados em

terapia é a evolução do nível 1 para o nível 2 de mudança (Montesano et al., 2017).

Assim como em um estudo sobre intervenção individual (Matos et al., 2009), os resultados

sugerem que houve diferença no modo como os MIs foram produzidos através das sessões. No geral, os

tipos de MIs de Reflexão surgiram predominantemente do meio para o final da intervenção no subgrupo

de sucesso, e no subgrupo de insucesso esse tipo de MI se mostrou predominantemente somente nas

primeiras sessões. O MI de Protesto foi o que mais predominou o subgrupo de insucesso e o de Reflexão

foi o que esteve mais presente do subgrupo de sucesso, mas houve mais variações. Em comparação

com o estudo de Esposito e colaboradores (2016), o MI de reconceptualização foi suscitado quase na

mesma saliência, sendo que a reconceptualização foi a mais suscitada, portanto, no presente estudo a

saliência geral dos MIs foi maior. Isto pode ser explicado pela complexidade da violência doméstica, visto

que provavelmente a mudança na violência doméstica se faz muito nessa dinâmica da Reflexão, Protesto

e Reconceptualização. Segundo Matos e colaboradores (2009), o processo de mudança é cíclico,

podendo começar pela Reflexão e Protesto, sendo o próximo passo a Reconceptualização.

Diferente do que é evidente nos estudos de intervenção individual (Matos et al., 2009; Gonçalves

et al., 2009) e em grupo (Esposito et al., 2016) que dizem que não somente a elaboração dos MIs é

importante para o processo de mudança, mas a elaboração especificamente dos tipos de MIs de

Reconceptualização e Desempenho da mudança, os resultados deste estudo sugerem que a elaboração

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dos MIs em intervenção de grupo é importante, mas isso não é o que diferencia os subgrupos de sucesso

e insucesso. Comparativamente, o subgrupo de sucesso suscitou mais MIs que o subgrupo de insucesso.

Entretanto, olhando cada caso, por exemplo, o caso de uma das participantes do subgrupo de sucesso,

apresentou mudanças positivas em todos os instrumentos, experienciou violência com severidade grave,

foi uma das que menos suscitou MIs (0.78%), uma das que menos participou (721) e foi a única do

subgrupo de sucesso que não pontuou em Reconceptualização, diferente do que é visto em estudos

sobre casos de insucesso em que a principal característica é a ausência deste MI (Santos, Gonçalves, &

Matos, 2010). Este resultado sugere que o contexto de grupo pode ser suficiente para a mudança

terapêutica. Portanto, a mudança pode ter etapas (Higginson & Mansell, 2008) e depender de vários

fatores (Matos et al., 2016), como a presença da resiliência que facilita o processo de mudança e

adaptação (Carver, 1998).

Relativamente ao processo de mudança, as especificidades das intervenções individual e em

grupo dificultam uma possível comparação. Sabe-se que, para o processo de mudança, o “efeito de

dose” da intervenção é importante. Na individual o tempo de intervenção é maior e em grupo intervém-

se relativamente pouco, visto que o tempo de intervenção é menor e ainda é dividido pelas participantes.

Entretanto, as formas de intervenção são diferentes, uma vez que, em grupo, os estímulos para a

mudança partem não somente dos profissionais facilitadores, mas também da interação com as outras

participantes. Ainda, com relação à produção dos MIs, a intervenção individual eficiente exige que o

cliente necessariamente discuta o seu processo reflexivo de mudança nas sessões (Gonçalves et al.,

2011), o que não é exigido em intervenção grupal e ainda assim a pessoa pode ser beneficiada pela

mudança. Sendo assim, a elaboração dos MIs em intervenção de grupo, que envolve participação, pode

ser uma importante ferramenta para evidenciar a mudança, mas não necessariamente mostra a

magnitude da mudança. Para isto, talvez seja necessário que a intervenção promova a estimulação da

participação de todas e que preferencialmente seja estruturada com base no mesmo olhar teórico que

embasa o Sistema de codificação dos MIs, da terapia narrativa, em que o foco é no discurso (Gonçalves

et al., 2011). Portanto, os resultados deste estudo sugerem que uma das características essenciais da

intervenção em grupo, que diferencia da intervenção individual, é que o cliente pode beneficiar-se da

mudança somente pela escuta.

Outra singularidade da intervenção em grupo é que as participantes podem falar mais em

diferentes momentos e com níveis de envolvimento distintos (Esposito, et al., 2016). As características

individuais de cada pessoa também vão influenciar a sua participação, como a introversão, em que a

pessoa pode naturalmente participar menos e mesmo assim ser beneficiada pela mudança. Portanto, é

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difícil esperar a progressividade e linearidade da produção de MIs como é vista em terapia individual, já

que em um formato de grupo existem outras variáveis envolvidas, e ainda, com a temática da violência

doméstica em que são comumente presentes sentimentos de culpa e vergonha (Matos & Gonçalves,

2004).

Além disso, a intervenção em grupo tem um formato diferente, em que pode ser considerada

um formato de terapia mais horizontal, a quantidade de intervenção é menor e por isso é considerado

um método menos tradicional de intervenção (Lampropoulos & Spengler, 2005). Por conseguinte,

mesmo que as sessões tenham sido estruturadas, o diferencial do grupo é o potencial terapêutico que

existe na interação entre as mulheres na “mesma condição”.

Conclusão

Este estudo teve o propósito de fazer uma análise do processo terapêutico de um grupo de

mulheres vítimas de violência doméstica, a partir dos MIs e dos resultados terapêuticos. A principal

evolução encontrada foi a mudança tanto no padrão problemático de narrativa, como na diminuição da

vitimação recebida ao longo dos três momentos temporais avaliados. Foi possível verificar semelhanças

nos resultados com o estudo sobre os MIs em intervenção em grupo (Esposito et al., 2016), entretanto,

houve algumas diferenças principalmente com relação aos tipos de MIs, visto que no presente estudo a

amostra envolveu uma problemática mais complexa como a violência doméstica, portanto é expectável

que os resultados se distingam.

Uma das limitações deste estudo envolve o facto de não ter grupo controlo para verificar se as

mudanças são decorrentes da intervenção ou de outras variáveis. Também o número reduzido de

participantes que dificulta a realização de análises mais elaboradas e generalizações dos resultados.

Ainda, o facto de termos utilizado somente instrumentos de auto relato, a elevada frequência de Missings

nalguns momentos, principalmente na aplicação do instrumento IVC especificamente no follow-up, e a

ausência da avaliação da resiliência, dimensão importante para o processo de mudança (Carver, 1998)

Como implicações para futuro, sugere-se que sejam realizados mais estudos sobre os MIs

envolvendo o formato de intervenção em grupo, principalmente com intervenções elaboradas baseadas

na Terapia Narrativa. A importância de mais estudos sobre os MIs em outros formatos de intervenção

faz-se pela necessidade da descoberta de novos padrões de surgimento dos MIs em terapia.

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