Violência simbólica e lutas políticas

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Prof. Msc. Araré de Carvalho Júnior

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Para entender a sociologia bourdieusiana, se faz necessário, assim como sugere nosso autor, remontar as condições de ‘campos’ que geraram o autor e sua teoria.

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Prof. Msc. Araré de Carvalho Júnior

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Pierre Félix Bourdieu , (Deguin, 01 de agosto de 1930 - Paris, 23 de janeiro de 2002).

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Para entender a sociologia bourdieusiana, se faz necessário, assim como sugere nosso autor, remontar as condições de remontar as condições de ‘campos’ que geraram o autor e sua ‘campos’ que geraram o autor e sua teoria.teoria.Para isso, é necessário nos aproximarmos da tendência científica, do início do século XX, e que precisamente na França, ao longo dos anos 50 e 60, influenciou grande parte dos intelectuais do meio acadêmico e, assim, as respectivas áreas do conhecimento.

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Pierre Bourdieu é reconhecido como sociólogo e colaborou para que a sociologia se desenvolvesse ao longo de suas publicações. Contudo, sua formação inicial sua formação inicial não se deu no campo sociológiconão se deu no campo sociológico. .

“Sob pena de surpreender um leitor que espera talvez me ver começar pelo começo, isto é, pela evocação de meus primeiros anos e do universo social da minha infância, eis por que devo, como exige o bom método, examinar de início o estado do campo no momento em que nele ingressei, por volta dos anos 50”. (Bourdieu, 2005, p 40).

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Seguindo o modelo proposto pelo autor em seu Esboço da auto-análise (2005). Nos aproximamos da visão do autor em relação ao campo em que se fez. Com efeito, reconheceremos na vida intelectual de Bourdieu: “O efeito do campo exerce-se em parte por meio do confronto com as tomadas de posição de todos ou de parcela daqueles que também estão engajados no campo (...)”. (Bourdieu, 2005. p 55).

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Numa época em que a filosofiafilosofia, na França, era considerada “disciplina-“disciplina-rainha”, rainha”, detentora de maior prestígio em relação a outras áreas do conhecimento, sobretudo em relação à Sociologia, ignorada pelos intelectuais e que sofria uma nítida aversão, poucos foram aqueles que romperam essa barreira: (...)

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Percebido pelos profanos como próxima de uma espécie de jornalismo por conta de seu objeto, a sociologia é ainda desvalorizada perante a filosofia por sua feição de vulgaridade cientificista, inclusive positivista, que avulta mais ainda quando ela atinge as crenças mais indiscutíveis do mundo intelectual, como as que dizem respeito à arte e à literatura, ou, então, quando ameaça ‘reduzir’ (um dos efeitos ou desfeitas com mais freqüência imputados ao ‘sociologismo’) os valores sagrados da pessoa e da cultura, em suma, da pessoa cultivada. (Bourdieu, 2005, p 49).

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Por certo, aquele que alcançava o almejado diploma em filosofia gozava de reconhecimento no meio acadêmico. Tal titulação confere status, ou ainda, um capital simbólico, já que os filósofos desfrutavam dos objetos e disciplinas mais caros ao meio acadêmico, quer dizer, pesquisavam e estudavam os objetos que estavam à altura dos filósofos.

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Assim se constituíam a legitimidade estatutária de uma aristocracia escolar universalmente reconhecida e, o sentido de altivez que impõe ao ‘filósofo’ digno desse nome as maiores ambições intelectuais e lhe impede o rebaixamento ao se ligar a certas disciplinas ou objetos; em especial aqueles objetos com que lidam os especialistas das ciências sociais.

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Entretanto, esse sentimento de pertence não se apossa de todos os estudantes ou intelectuais da época, inclusive de Pierre Bourdieu. “Sem ser verdadeiramente inconscientes, minhas ‘escolhas’ manifestavam-se, sobretudo, pelas recusas e pelas antipatias intelectuais com freqüência pouco articuladas (...).” (Bourdieu, 2005, p 38) .

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Assim, aqueles que não se encontravam no existencialismo e, por que não, no HABITUSHABITUS filosófico da época, recorriam a linhas diferentes do pensamento hegemônico filosófico da época, e que deixou marcas distintivas em Pierre Bourdieu. Sobretudo, a aproximação e contato com Georges Canguilhem que, nas palavras de Pierre Bourdieu: “(...) me ajudou muito a conceber a possibilidade realista de viver a vida intelectual de outro jeito.”

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Sartre era o expoente destes intelectuais e, claro, da filosofia. Sobre este, havia sido criada a idéia do “intelectual total”. Logo, Bourdieu não nega a admiração que dispensou por Sartre. “Tanto para mim como para todos os que têm alguma relação com a filosofia, é claro que o personagem de Sartre exerceu, quer no âmbito intelectual, quer no domínio da política, uma fascinação não destituída de certa ambivalência.” (Bourdieu, 2005, p 45).

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Ainda jovem Bourdieu formou-se em 1954 no curso de Filosofia. Nesse mesmo ano foi nomeado professor assistente do curso de filosofia no liceu de Moulins. Contudo, em meados de 1955, Pierre Bourdieu, então com 25 anos é convocado para o serviço militar na Argélia. Recusa fazer a Escola dos Oficiais de Reserva e se envolve em discussões pouco amigáveis com oficiais de alta patente do exército francês, o que resulta na ordem para partir para a guerra.

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Na Argélia, apesar da violência da guerra, empreende observações e desenvolve estudos. Em 1958, findado o período de guerra, Bourdieu decidiu continuar na Argélia. Para tanto, assumiu o cargo de professor assistente na Faculdade de Letras de Argel, onde lecionou filosofia e sociologia.

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Em 1960, Bourdieu retorna a Paris. Recebe um convite de Raymond Aron para tornar-se seu assistente na Faculdade de Letras de Paris. No ano seguinte, começou a lecionar em Lille onde ficou até 1964, ano em que inicia na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS).

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No ano de 1970, cria o laboratório “Centro de Sociologia da Educação e da Cultura” junto ao Centro de Sociologia Européia, em que será diretor até o ano de 1984. Contudo, alcançou o apogeu no ano de 1981 quando foi nomeado professor titular da cadeira de Sociologia no prestigiado Collège de France

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Esse percurso acadêmico ou intelectual de Bourdieu, de algum modo, relaciona-se com seu meio familiar. Tal origem confere determinadas disposições corporais que, com certeza, refletem sensivelmente seu modo de pensar e agir e contribuem para que lhe simpatizem ou repilam.

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Esse aspecto está intrínseco na obra de Pierre Bourdieu. Ademais, se expressa num estilo extremamente particular de conduzir suas pesquisas, na escolha dos objetos, muitas vezes, socialmente secundários, politicamente insignificantes e intelectualmente desdenhados”

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É claro que a conversão que tive de fazer para chegar à sociologia não deixava de ter ligação com a minha trajetória social. Passei a maior parte da juventude numa pequena aldeia escondida no sudoeste da França. E só pude satisfazer as exigências da instituição escolar renunciando a muitas de minhas experiências e aquisições primeiras, e não apenas ao meu sotaque... Na França, o fato de ser originário de uma província longínqua, principalmente quando é situada ao sul do rio Loire, confere algumas propriedades que têm uma certa equivalência com a situação colonial.

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A espécie de relação de exterioridade objetiva e subjetiva que resulta disso favorece uma relação muito peculiar com as instituições centrais da sociedade francesa, principalmente no mundo intelectual. Há formas mais ou menos sutis de racismo social, que despertam forçosamente um certo tipo de lucidez; o fato de ser constantemente lembrado da sua estranheza leva a perceber coisas que outros não podem ver nem sentir. Dito isso, é verdade que sou um produto da Escola Normal que traiu a Escola Normal. (Bourdieu, P. & Wacquant apud Bonnewitz, 2003, p 11)

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(...) enquanto a posteridade fica confinada às obras, os contemporâneos têm uma experiência direta ou quase direta, pelos jornais, pelo rádio, hoje pela televisão, mas ainda pelo boato e pela intriga, da pessoa em sua totalidade, de seu corpo, de suas maneiras, de sua indumentária, de sua voz e de seu sotaque – traços que, salvo alguma exceção marcante, não deixam vestígios nos textos –, bem como de suas ligações, de suas tomadas de posição políticas, de seus amores e de suas amizades etc. (Bourdieu, 2005, p 54).

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Bourdieu introduziu uma síntese teórica entre o modelo durkheimiano e o estruturalismo. O estruturalismo se conecta à sociologia de Durkheim na medida em que pretende desvendar justamente o peso das estruturas sociais por trás das ações dos sujeitos. Na verdade, trata-se aqui de uma versão mais radical do modelo de Durkheim, que leva às últimas conseqüências o ponto de partida segundo o qual os indivíduos estão submetidos ao controle das estruturas da sociedade.

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Para o estruturalismo em geral, e também para o de Bourdieu na sua primeira fase de produção, publicada por volta da década de 1960, os sujeitos sociais são vistos como uma espécie de marionetes das estruturas dominantes. Para o sociólogo francês, a teoria durkheimiana e o estrtuturalismo permitem demonstrar como os indivíduos, em sua ação, apenas reproduzem as orientações determinadas pela estrutural social vigente.

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Segundo ele, os agentes sociais, mesmo aqueles que pensam estar liberados das determinações sociais, são na verdade movidos por, digamos assim, forças ocultas, que os estimulam a agir, mesmo que não tenham consciência disso

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São essas ‘condições objetivas’ que o investigador deve desvendar, pois nelas é que residem as explicações. Os sujeitos da ação estão ausentes daquele nível da sociedade em que são objetivamente determinadas as ações. O sujeito não existe. O que chamamos de ação, para Bourdieu, é na verdade o processo pela qual as estruturas se reproduzem.

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O sujeito está simplesmente submetido aos desígnios da sociedade, faz o que suas estruturas determinam, não sabe disso e ainda é iludido pelos discursos dominantes, que o fazem pensar que sua ação é resultante de vontade própria.

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No entanto, quando o autor remete ao ‘modo de pensamento estrutural’, precisamos nos ater a algumas particularidades.

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Se eu tivesse de caracterizar o meu trabalho em duas palavras [...], falaria de constructivist structuralism ou de structuralist constructivism, tomando a palavra ‘estruturalismo’ num sentido muito diferente daquele que lhe dá a tradição saussuriana ou lévi-straussiana., (2003, p 17).

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Por ‘estruturalismo’ ou ‘estruturalista’, quero dizer que existem, no próprio mundo social, e não apenas nos sistemas simbólicos, linguagem, mito, etc., estruturas objetivas, independentes da consciência e da vontade dos agentes, que são capazes de orientar ou de comandar as práticas ou as representações destes agentes. Por ‘construtivismo’, quero dizer que há uma gênese social, por um lado dos esquemas de percepção, pensamento e ação [...], por outro lado das estrutura sociais. (Bourdieu apud Bonnewitz).

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Se eu gostasse de rótulos, diria que tento elaborar um estruturalismo genético: a análise das estruturas objetivas – dos diferentes campos – é inseparável da análise da gênese, no seio dos indivíduos biológicos, das estruturas mentais que são, em parte, o produto da incorporação das estruturas sociais e da análise da gênese destas próprias estruturas sociais. (Bourdieu apud Bonnewitz, 2003, p 16).

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A contribuição de Bourdieu, se articula em torno de dois temas recorrentes: os mecanismos de dominação e a lógica das práticas de agentes sociais num espaço social inigualitário e conflituoso, ou ainda, sobre a questão da mediação entre o agente social e a sociedade.

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No aspecto especificamente teórico das influências que Bourdieu sofreu, além do que já vimos, o sociólogo demonstra então uma disposição eclética e, contudo, bastante seletiva, que levava a rechaçar as certezas moldadas para restringir o universo dos recursos teóricos e das possibilidades empíricas.

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Desde o começo do meu trabalho, pareceu-me que seria possível fazer com que a sociologia progredisse decisivamente se conseguisse reunir os conhecimentos, na aparência antagônicos ou, em todo caso, dispersos, desta disciplina; se, em outras palavras, conseguisse integrar, sem recorrer a conciliações retóricas ou a compromissos ecléticos, as tradições simbolizadas pelos nomes dos ‘pais fundadores’:

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[...]Marx, Durkheim, Weber, e a superar as oposições, epistemologicamente fictícias mas socialmente reais, entre os ‘teóricos’ e os ‘empiristas’ ou ainda, dentre estes últimos, entre os partidários da indagação estatística e os que defendem a observação etnográfica. Para isto, era preciso criar as condições sociais para uma prática científica realmente coletiva e, portanto, unificada (...). (Bourdieu, 1983, p 38).

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Dessa maneira, para que Bourdieu pudesse dar seqüência em suas pesquisas sem se perder, por um lado, no objetivismo ou, por outro lado, num subjetivismo, propõe um novo modo de conhecimento, (...) “que pretende articular dialeticamente o ator social e a estrutura social” (Ortiz, 1994, p 8), em outras palavras, o método praxiológico (1974, 1989):

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(...) o conhecimento que podemos chamar de praxiológico tem como objeto não somente o sistema das relações objetivas que o mundo de conhecimento objetivista constrói, mas também as relações dialéticas entre essas estruturas e as disposições estruturadas nas quais elas se atualizam e que tendem a reproduzi-las, isto é, o duplo processo de interiorização da exterioridade e exteriorização da interioridade:

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[...] este conhecimento supõe uma ruptura com o modo de conhecimento objetivista, quer dizer, um questionamento das condições de possibilidade e, por aí, dos limites do ponto de vista objetivo e objetivante que apreende as práticas de fora, enquanto fato acabado, em lugar de construir seu principio gerador situando-se no próprio movimento de sua efetivação. (Bourdieu, 1983, p 47).

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Assim, o método praxiológico proposto por Bourdieu pode, a nosso ver, ser sugerido como sendo a síntese da proposta sociológica do autor, em que se pode observar a objetivação da estrutura de seu campo teórico em ação, tornando-se evidente a importância tanto dos elementos como da forma de apreensão e articulação dos objetos pesquisados.

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O resultado desta proposta teórica se constitui em uma diversificada gama de áreas pesquisadas tanto por Bourdieu e sua equipe na França como pelos demais pesquisadores mundo afora, nas mais diferentes áreas como as da economia, da cultura, das artes e da educação entre outras.

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Sobre o seu método Bourdieu afirma:

(...)explicita a verdade da experiência primeira do mundo social, isto é, a relação a relação de de familiaridade com o meio familiar, familiaridade com o meio familiar, apreensão do mundo apreensão do mundo social como mundo social como mundo natural e evidente, sobre o qual, por natural e evidente, sobre o qual, por definição, não se pensa definição, não se pensa e que exclui a questão de suas próprias condições de possibilidade. (Bourdieu, 1983, p 46). método Bourdieu afirma:

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(...) constrói relações objetivas (isto é, constrói relações objetivas (isto é, econômicas ou lingüísticas), que econômicas ou lingüísticas), que estruturam as práticas e as estruturam as práticas e as representações das práticas representações das práticas (ou seja, o conhecimento primeiro, prático e tácito, do mundo familiar), ao preço de uma ruptura com esse conhecimento primeiro e, portanto, com os pressupostos tacitamente assumidos que conferem ao mundo social seu caráter de evidência e de natural (...). (Bourdieu, 1983, p 46)

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O habitus bourdieusiano é o mediador, ou ainda, o elo, que garante a coerência e sustentação de sua concepção de sociedade e de agente social individual. Do mesmo modo, os ataques científicos mais rígidos serão, em grande parte, direcionados a esta noção. Através desta construção sociológica, advinda de inúmeras pesquisas teóricas e empíricas do autor, que contribuíam para seu aprimoramento, nos aproximaremos do conceito central da sociologia prática de Pierre Bourdieu.

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Segundo o autor, o habitus está arraigado habitus está arraigado às condições materiais de existência da às condições materiais de existência da classe ou fração de classe ou fração de classe a qual o agente classe a qual o agente pertence.pertence. Vale dizer que o sociólogo também opera uma redefinição da classe social marxista . Em poucas palavras, o o sociólogo articula três modos de sociólogo articula três modos de compreensão das classes sociais, a compreensão das classes sociais, a sabersaber: a classe social marxista: a classe social marxista definida definida economicamente; economicamente; o estilo de vida ou o estilo de vida ou Stand weberianoStand weberiano

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considerado não apenas do ponto de considerado não apenas do ponto de vista de suas propriedades intrínsecas vista de suas propriedades intrínsecas ou de suas relações mecânicas, mas ou de suas relações mecânicas, mas também, segundo também, segundo suas relações suas relações simbólicassimbólicas como sistema de diferenças como sistema de diferenças percebidas e apreciadas pelos próprios percebidas e apreciadas pelos próprios sujeitos sociais, como estrutura de sujeitos sociais, como estrutura de separações diferenciais, de separações diferenciais, de distinções distinções significantes.significantes.; e, por último, tomou ; e, por último, tomou a a idéia durkheimiana das relações entre idéia durkheimiana das relações entre os grupos e suas ‘formas de os grupos e suas ‘formas de classificação’.classificação’.

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Com isso, podemos dizer que o o habitus habitus aproxima-se de uma herança social aproxima-se de uma herança social que que o agente e/ou um conjunto de agentes, o agente e/ou um conjunto de agentes, que participam de determinada classe que participam de determinada classe ou estrato de classe social, recebem ou estrato de classe social, recebem durante, podemos dizer, o processo de durante, podemos dizer, o processo de socialização ou o processo de socialização ou o processo de aprendizagem.aprendizagem. Com efeito, o conceito de habitus permite compreender de que maneira o homem se torna um ser social.

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A relação entre o meio social e o agente social inerente aquele, possui peso considerável na produção de esquemas de percepção e formas de classificação, ou seja, no desenvolvimento de uma matriz de percepções e apreciações do mundo social.

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De acordo com Bourdieu: Cada agente, quer ele saiba ou não, quer ele queira ou não, é produtor e reprodutor de sentido objetivo: porque suas ações e suas obras são o produto de um modus operandi do qual ele não é o produtor e do qual não tem domínio consciente.

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Diferentemente das avaliações eruditas que se corrigem depois de cada experiência segundo rigorosas regras de cálculo, as avaliações práticas conferem um peso desmesurado às primeiras experiências, na medida em que são as estruturas características de um tipo determinado de condições de existência que,

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através da necessidade econômica e social que elas fazem pesar sobre o universo relativamente autônomo das relações familiares, ou melhor, no interior das manifestações propriamente familiares dessa necessidade externa (por exemplo, interditos, preocupações, lições de moral, conflitos, gostos etc), produzem as estruturas da apreciação de toda experiência ulterior.

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Essa filiação social a qual os agentes se inserem favorece a produção de inclinações, tendências, enfim, predisposições, afinal, ocupar determinado espaço social requer, numa linguagem próxima a de Bourdieu, um conjunto de capitais específicos.

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Utilizando o duplo movimento que o sociólogo francês enunciou em seu método praxiológico, ou seja, a “interiorização da exterioridade e a exteriorização da interioridade”, procuramos compreender de que maneira agentes situados numa mesma classe social ou estrato de classe tendem, ou seja, tem mais probabilidades, a práticas sociais homogêneas, eventualmente, fruto do habitus de classe.

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(...) é mais fácil pensar em termos de realidades que podem, por assim dizer, ser vistas claramente, grupos, indivíduos, que pensar em termos de relações. É mais fácil, por exemplo, pensar a diferenciação social como forma de grupos definidos como populações, através da noção de classe, ou mesmo de antagonismos entre esses grupos, que pensá-la em forma de um espaço de relações. (Bourdieu, 1989, p 28)

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A partir disso, encontramos a possibilidade de aproximação ao modo como Bourdieu construiu sua teoria do espaço social. Assim, num primeiro momento, indica o rompimento ou uma vontade de distanciamento com o modo de pensamento substancialista e realista e, em seguida, aponta sucessivas rupturas com a teoria marxista de classe social. Desta última, apresenta pelo menos três tendências e, em seguida, sugere o distanciamento destas características, tais como:

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(...) a tendência a privilegiar as substâncias – neste caso, os grupos reais, cujo número, cujos limites, cujos membros, etc. se pretende definir – em detrimento das relações e com a ilusão intelectualista que leva a considerar a classe teórica, construída pelo cientista, como uma classe real, um grupo efetivamente mobilizado; ruptura com o economicismo que leva a reduzir o campo social (...) unicamente ao campo econômico (...); por fim, com o objetivismo, que caminha lado a lado com o intelectualismo e que leva a ignorar as lutas simbólicas desenvolvidas nos diferentes campos (...). (Bourdieu, 1989, p 133)

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As hierarquizações empreendidas pelas representações tradicionais, geralmente, apresentadas através de pirâmide social e analisadas, em geral, somente pelo aspecto das condições materiais de existência, são duplamente redutoras. Em outras palavras, redutoras não apenas no plano empírico, pois analisam somente um princípio de hierarquização, como também, no plano teórico em que omitem a condição necessária para a definição de uma classe social, ou seja, a relação com as outras classes.

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O autor, para efetivamente se distanciar das concepções dos pensamentos marxista, substancialista e realista, propõe o termo campo de poder em relação à classe dominante. De acordo com Pierre Bourdieu a nova noção empregada, essa sim apresenta característica realista, já que:

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(...) designa uma população verdadeiramente real de detentores dessa realidade tangível que se chama poder (...), entendendo por tal as relações de forças entre as posições sociais que garantem aos seus ocupantes um quantum suficiente de força social – ou de capital – de modo a que estes tenham a possibilidade de entrar nas lutas pelo monopólio do poder, entre as quais possuem uma dimensão capital as que têm por finalidade a definição da forma legítima do poder (...).

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O autor encara a sociedade enquanto um espaço social em que coexistem outras dimensões, outros campos e subcampos sociais e que esses são constituídos ou se organizam, como foi dito, por princípios de diferenciação ou de distribuição constituídos pelo conjunto das propriedades que atuam neste espaço ou nos campos sociais, a saber, OS CAPITAIS.

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‘Os Capitais’ são princípios de diferenciação, segundo Bourdieu, que atuam no universo social. Em outras palavras, as diferentes espécies de capital, ou ainda, “as diferentes formas de energia social” (Bourdieu, 1983, p 45). O sociólogo, para ilustrar, se utiliza da metáfora do jogo:

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(...) As espécies de capital, à maneira dos trunfos num jogo, são os poderes que definem as probabilidades de ganho num campo determinado (de fato, a cada campo ou subcampo corresponde uma espécie de capital particular, que ocorre, como poder e como coisa em jogo, neste campo). Por exemplo, o volume do capital cultural (o mesmo valeria, mutatis mutandis, para o capital econômico) determina as probabilidades agregadas de ganho em todos os jogos em que o capital cultural é eficiente, contribuindo deste modo para determinar a posição no espaço social (na medida em que esta posição é determinada pelo sucesso no campo cultural). (Bourdieu, 1989, p 134)

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Podemos distinguir, entre os mais comuns, quatro diferentes espécies de capital, a saber: O CAPITAL ECONÔMICO, O CAPITAL CULTURAL, O CAPITAL SOCIAL e o CAPITAL SIMBÓLICO. Dessa forma, num primeiro contato com a obra de Bourdieu, pode-se estranhar a utilização da palavra capital num contexto para além de uma perspectiva econômica. De fato, o sociólogo empreende analogia às propriedades inerentes ao capital de compreensão econômica

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O capital econômico se compõe pelos diversos fatores de produção, posse de terras, meios de produção, trabalho, além do conjunto dos bens econômicos, como: renda, patrimônios, bens materiais enfim, as condições materiais de existência. Ademais, essa forma de capital possui a propriedade de ser transmitida instantaneamente por herança, seja em espécie, seja em propriedades.

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O capital cultural, por sua vez, surge da necessidade do autor em compreender a relação entre o desempenho escolar e o pertencimento a determinada classe. Para ilustrar, podemos verificar a seguinte passagem:

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A noção de capital cultural impôs-se, primeiramente, como uma hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais, relacionando o ‘sucesso escolar’, ou seja, os benefícios que as crianças das diferentes classes e frações de classe podem obter no mercado escolar, à distribuição do capital cultural entre as classes e as frações de classe.

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Este ponto de partida implica em uma ruptura com os pressupostos inerentes, tanto à visão comum que considera o sucesso ou fracasso escolar como efeito de ‘aptidões’ naturais, quanto às teorias do ‘capital humano’. (...) Além disso, (...) sujeitam-se a deixar escapar, por um paradoxo necessário, o mais oculto e determinante socialmente dos investimentos educativos, a saber, a transmissão doméstica do capital cultural.

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Assim, o capital cultural pode existir, pelo menos, em três diferentes modos: no estado incorporado, no estado objetivado e no estado institucionalizado.

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O capital cultural no estado INCORPORADO caracteriza-se pelas disposições duráveis arraigadas ao organismo, ou ainda, “está ligado ao corpo e pressupõe incorporação. A acumulação de capital cultural exige uma incorporação que, enquanto pressupõe um trabalho de inculcação e de assimilação, custa tempo que deve ser investido pessoalmente pelo investidor (tal como o bronzeamento, essa incorporação não pode efetuar-se por procuração).

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O estado OBJETIVADO. Com efeito, se caracteriza sob a forma de bens culturais – quadros, livros, dicionários, instrumentos, máquinas, que constituem indícios ou a realização de teorias ou de críticas dessas teorias, de problemáticas, etc. No entanto, o capital cultural no estado objetivado, para realizar-se, depende da relação com o capital cultural incorporado. Ou seja, as obras, quadros, livros, pinturas, etc., são transmissíveis em sua materialidade, contudo, apenas a propriedade jurídica é transferida, quer dizer, a condição da apropriação específica, ou ainda, os instrumentos, os signos, que possibilitam desfrutar desses bens

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E, por último, o capital cultural no estado INSTITUCIONALIZADO, ou seja, socialmente sancionado por instituições. Nesse momento, ocorre a objetivação do capital incorporado, quer dizer, a transformação do capital cultural em uma certificação, qual seja, um diploma. Dessa maneira, verificamos algumas propriedades vinculadas ao diploma:

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Com o diplomao diploma, essa certidão de competência cultural que confere ao seu portador um confere ao seu portador um valor convencional, constante e valor convencional, constante e juridicamente garantido no que diz juridicamente garantido no que diz respeito à culturarespeito à cultura, a alquimia social produz uma forma de capital cultural que tem uma que tem uma autonomia relativa em relação ao seu autonomia relativa em relação ao seu portador e, até mesmo em relação ao portador e, até mesmo em relação ao capital cultural que ele possuicapital cultural que ele possui, efetivamente, em um dado momento histórico. (Bourdieu, 1998, p 78)

Mas, além disso:

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Ao conferir ao capital cultural possuído por determinado agente um reconhecimento institucional, o certificado escolar o certificado escolar permite, além disso, a comparação entre permite, além disso, a comparação entre os diplomados e, até mesmo, sua os diplomados e, até mesmo, sua ‘permuta’ (substituindo os uns pelos ‘permuta’ (substituindo os uns pelos outros na outros na sucessão); permite também sucessão); permite também estabelecer taxas de estabelecer taxas de convertibilidade convertibilidade entre o capital cultural e o capital entre o capital cultural e o capital econômicoeconômico, garantindo o valor em dinheiro de determinado capital escolar. (Bourdieu, 1998, p 79).

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O capital social, então, se define como o conjunto das relações sociais de que dispõe um indivíduo ou grupo. Assim, o pertencimento ou vinculação a um grupo possibilita um espaço de ligações permanentes e, sobretudo, úteis, que implicam no desenvolvimento manutenção dessas relações.

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O capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à estão ligados à posse de uma posse de uma rede durável de relações rede durável de relações mais ou menos mais ou menos institucionalizadas de institucionalizadas de interconhecimento e de inter-interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, em outros reconhecimento ou, em outros termos, termos, à vinculação a um grupo, como à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não conjunto de agentes que não somente somente são dotados de propriedades comuns, são dotados de propriedades comuns, mas também são unidos por mas também são unidos por ligações ligações permanentes e úteispermanentes e úteis.

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E, por último, dentre os capitais que nos propomos a tratar, o capital simbólico, também denominado pelo autor como distinção. Desse modo, podemos nos aproximar do capital simbólico colocando que este se caracteriza pelo reconhecimento do conjunto dos diferentes capitais. Dito de outra maneira, o poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de poder.

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Em resumo, desvendando essas espécies de capitais e colocando o modo como os agentes ou conjunto de agentes assumem determinada posição no espaço social através do volume do capital que possuem e, também, da composição deste capital, acreditamos, de modo bastante simplificado, colocar o modo como Bourdieu compreende o mundo social.

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A posição de um determinado agente no espaço social pode assim ser definida pela posição que ele ocupa nos diferentes campos, quer dizer, na distribuição dos poderes que atuam em cada um deles; seja, sobretudo, o capital econômico – nas suas diferentes espécies –, o capital cultural e o capital social e também o capital simbólico, geralmente chamado prestígio, reputação, fama, etc. que é a forma percebida e reconhecida como legítima das diferentes espécies de capital.

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Com isso, vale ressaltar que o autor indica uma hierarquia dos capitais e, assim, podemos dizer que nessa perspectiva sociológica, entre as diversas formas de poder ou capitais atuantes nas sociedades desenvolvidas, sobretudo, Como capital econômico e o capital cultural são os que fornecem os critérios de diferenciação mais pertinente para construir o espaço social. efeito, para Bourdieu o mundo social é também representação e vontade, e existir socialmente é também ser percebido como distinto.

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Assim o mundo social, por meio sobretudo das propriedades e das suas distribuições, tem acesso, na própria objetividade, ao ao estatuto de estatuto de sistema simbólico que se sistema simbólico que se organiza organiza segundo a lógica da diferença, do segundo a lógica da diferença, do desvio diferencial, constituído assim em desvio diferencial, constituído assim em distinção significante.distinção significante. O espaço social e as diferenças que nele se desenham ‘espontaneamente’ tendem a funcionar simbolicamente como espaço dos estilos de vida conjunto de Stände, isto é, de grupos caracterizados por estilos de vida diferentes.

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As categorias de percepção do mundo As categorias de percepção do mundo social são, no essencial, produto da social são, no essencial, produto da incorporação das estruturas objetivas do incorporação das estruturas objetivas do espaço social.espaço social. Em conseqüência, levam os agentes a tomarem o mundo social tal comocomo ele é, a aceitarem-no como natural, mais do que a rebelarem-se contra ele, a oporem-lhe possíveis diferentes, e até mesmo antagonistas: o sentido da posição, um sentido dos limites (‘isso não é para nós’)

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ou, o que é a mesma coisa, um sentido das distâncias, a marcar e a sustentar, a respeitar e a fazer respeitar – e isto, sem dúvida, de modo tanto mais firme quanto mais rigorosa é a imposição do princípio de realidade.

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Sobretudo, o que está em disputa nesse jogo ou no campo do poder, segundo Bourdieu, é o domínio, a autoridade, que pode ser necessário ou conservar ou conquistar através dos trunfos (capitais) herdados e, além disso, da disposição do herdeiro em herdar. Assim, podemos identificar a emersão de outra questão, dessa vez, relativo à transmissão dos capitais, ou seja, da transmissão da herança.

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“A illusio é um jogo social levado a sério — fantasia subjetiva coletivamente sancionada, calcada em uma metafísica da distinção, pois para ser o centro do mundo devemos ser reconhecidos como distintos, tendo algum valor, alguma honra e dignidade frente a nós mesmos e aos demais. As instituições, ou os campos, através dos atos da constituição de seus prêmios e de alvos estabelecidos, realizam um verdadeiro milagre:

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"eles conseguem fazer crer aos indivíduos consagrados que eles possuem uma justificação para existir, ou melhor, que sua existência serve para alguma coisa" (Bourdieu 1996d:106). Proclamados como dignos de tal honraria e autorizados a receberem os lauréis da glória estarão aqueles que melhor vivenciarem esse jogo como algo sério, efetivo, aqueles que fantasiarem e experienciarem sua illusio em um grau de adesão e investimento libidinal o mais alto possível.” (Pedro Paulo Oliveira, 2008).