VIMP_MODULO1

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  Módulo 1 – Compreendendo o tema Apresentação do Módulo “Feche seus olhos e conte até dez de forma espaçada.” Essa foi a proposta que a  palestrante fez a todos os pr esentes em um seminário que abordava o tema violência do méstica. Sobre o comando dela, ao abrirmos os olhos, haviam se passado exatamente 10 segundos. De acordo com a palestrante, nesse breve intervalo de tempo, muitas mulheres tinham sido vítimas de violência doméstica e nada havia sido feito. Neste módulo, você estudará aspectos importantes que o auxiliarão a compreender o tema. Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:  Analisar dados referentes aos aspectos econômicos e sociais relacionados à violência doméstica e familiar contra a mulher;  Compreender a definição e as causas da violência contra mulher a partir da compreensão do conceito de gênero;  Definir violência doméstica e familiar;  Enumerar os motivos pelos quais as mulheres permanecem numa situação de violência. Estrutura do Módulo Este módulo é formado por quatro aulas. Aula 1 – Por que é importante conhecermos as questões referentes à violência doméstica e familiar contra a mulher?

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Módulo

Transcript of VIMP_MODULO1

  • Mdulo 1 Compreendendo o tema

    Apresentao do Mdulo

    Feche seus olhos e conte at dez de forma espaada. Essa foi a proposta que a

    palestrante fez a todos os presentes em um seminrio que abordava o tema violncia domstica.

    Sobre o comando dela, ao abrirmos os olhos, haviam se passado exatamente 10 segundos. De

    acordo com a palestrante, nesse breve intervalo de tempo, muitas mulheres tinham sido vtimas

    de violncia domstica e nada havia sido feito. Neste mdulo, voc estudar aspectos importantes

    que o auxiliaro a compreender o tema.

    Objetivos do Mdulo Ao final do estudo deste mdulo, voc ser capaz de:

    Analisar dados referentes aos aspectos econmicos e sociais relacionados

    violncia domstica e familiar contra a mulher;

    Compreender a definio e as causas da violncia contra mulher a partir da

    compreenso do conceito de gnero;

    Definir violncia domstica e familiar;

    Enumerar os motivos pelos quais as mulheres permanecem numa situao de

    violncia.

    Estrutura do Mdulo Este mdulo formado por quatro aulas.

    Aula 1 Por que importante conhecermos as questes referentes violncia domstica e

    familiar contra a mulher?

  • Aula 2 O que violncia domstica e familiar contra a mulher?

    Aula 3 Quais as causas da violncia domstica e familiar contra a mulher?

    Aula 4 Por que as mulheres permanecem numa situao de violncia?

  • Aula 1 Por que importante conhecermos as questes referentes violncia domstica e familiar contra a mulher?

    A violncia contra as mulheres constitui uma das principais formas de violao dos seus

    direitos humanos, atingindo-as em seus direitos vida, sade e integridade fsica. um

    fenmeno que apresenta distintas expresses violncia psicolgica, fsica, moral, patrimonial,

    sexual, trfico de mulheres, assdio sexual e que requer, portanto, que o Estado Brasileiro adote

    polticas acessveis e integrais.

    Importante - Entendem-se por polticas acessveis as polticas que respeitam as

    diversidades de gnero, raa, etnia, orientao sexual, deficincia e insero social, econmica e

    regional existentes entre as mulheres.

    J polticas integrais so polticas que englobam as diferentes modalidades pelas quais o

    fenmeno da violncia contra a mulher se expressa.

    A violncia contra a mulher constitui um problema que atinge mulheres de diferentes

    classes sociais, origens, regies, estados civis, escolaridades ou raas. Os nmeros relativos aos

    casos de violncia contra as mulheres so alarmantes e representam um alto custo para os

    governos, com gastos nas reas de sade, jurdica, do trabalho, entre outras (Faleiros, 2007;

    Jacobucci & Cabral, 2004). Alm disso, a violncia contra as mulheres tem repercusses para sua

    sade fsica e mental.

    Importante - Os dados referentes violncia contra as mulheres passaram a ser sistematicamente

    notificados pelos servios de sade em 2006, por meio da Vigilncia de Violncia e Acidentes (VIVA), a partir da

    promulgao da Lei 10.778, de 24 de novembro de 2004, que estabelece a notificao compulsria, no territrio

    nacional, do caso de violncia contra a mulher que for atendida em servios de sade pblicos ou privados.

  • Analisando os nmeros, pode-se aprender muito sobre a violncia contra mulher.

    Veja o que eles dizem:

    Os custos da violncia

    H um dispndio de bilhes de dlares com a violncia em todo o mundo. A Amrica

    Latina compromete 14,2% do Produto Interno Bruto PIB, o equivalente a 168 bilhes de

    dlares com gastos relacionados violncia. De todos os pases dessa regio, o Brasil o pas

    que tem maior gasto, 10,5% do PIB (Carreira & Pandjiarjian, 2003).

    Episdio de violncia: infelizmente muitas mulheres j passaram por isso.

    Dados de investigao conduzida pela Universidade de So Paulo em conjunto com a

    Organizao Mundial de Sade (2001) demonstram que 27% de 4.299 mulheres entrevistadas na

    Grande So Paulo e 34% na Zona da Mata pernambucana relataram algum episdio de violncia

    fsica cometido por parceiros ou ex-parceiros; e que 29% das entrevistadas com mais de 15 anos

    afirmaram ter sido vtimas de violncia sexual por parte de estranhos.

    Os tipos de violncia mais citados

  • 19% das 827 entrevistadas revelaram que j sofreram agresses.

    62% das entrevistadas disseram conhecer mulheres que j sofreram violncia domstica e

    familiar.

    Entre as agresses mais sofridas, as mais citadas foram a fsica (55%), a moral (16%) e a

    psicolgica (15%). (Fonte: DataSenado/ 2009)

    A principal vtima a mulher

    27 municpios, de 01/08/06 a 31/07/07, mostram que o sexo feminino a principal vtima

    das violncias domstica e sexual, da infncia at a terceira idade. Do total de 8.918 notificaes

    de atendimentos de violncia domstica, sexual e outras violncias registradas no perodo

    analisado, 6.636, ou seja, 74% referiam-se a vtimas do sexo feminino. As mulheres adultas (20 a

    59 anos) foram as que mais sofreram violncia: 3.235 atendimentos, representando 79,9% do

    total de agresses (MS, 2008).

    (Fonte: Vigilncia de Violncia e Acidentes - VIVA)

  • Observe que homens e mulheres so atingidos pela violncia de maneira diferenciada:

    enquanto os homens tendem a ser vtimas de homicdios no espao pblico, as mulheres tm

    maior probabilidade de morrer em decorrncia da violncia praticada dentro de seus prprios

    lares, na grande parte das vezes praticada por seus (ex)-companheiros e familiares.

    O mapa da violncia

    Pesquisa recente realizada pelo Instituto Sangari e coordenada por Julio Jacobo Waiselfisz

    (Mapa da Violncia 2010. Anatomia dos Homicdios no Brasil) mostra que em dez anos

    (1997 a 2007), foram 41.532 que morreram vtimas de homicdios ndice de 4.2 assassinadas

    por 100.000 mil habitantes. Segundo o estudo, as mulheres morrem em menor proporo que os

    homens.

    A violncia e a sade da mulher

    Estima-se que a violncia de gnero seja responsvel por mais bitos das mulheres de 15

    a 44 anos quando comparada com o cncer, a malria, HIV, problemas respiratrios, metablicos,

    infecciosos, acidentes de trnsito e as guerras. As repercusses dessa violncia incluem leses

    permanentes e problemas crnicos. As decorrncias incluem depresso, apatia, sintomas fbicos,

    ansiedade e desordem do estresse ps-traumtico, aumento do uso de lcool e drogas e alteraes

    do sistema endcrino.

    A violncia domstica afeta todas as reas da sade da mulher: fsica, reprodutiva e

    mental. Pesquisas mundiais apontam que 35% dos motivos de procura das mulheres aos servios

    de sade esto relacionados s consequncias da violncia domstica e no so puramente

    queixas decorrentes de leses fsicas (Minayo, 2009).

    Importante!

  • O Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade (Krug et. al, 2002) aponta que a mulher

    passa a ser mais suscetvel a depresso; tentativas de suicdio; sndromes de dor crnica;

    distrbios psicossomticos; leso fsica; distrbios gastrintestinais; sndrome de intestino

    irritvel; alm de diversas consequncias na sade reprodutiva.

    A Associao Mdica Americana (1992) cita como consequncias psicolgicas da

    violncia domstica: sentimentos de isolamento, dificuldades de enfrentamento, abuso de lcool e

    drogas, depresso, transtornos de pnico, tentativas de suicdio e transtornos de ansiedade.

    O Council on Scientific Affairs (1992) reporta sequelas anlogas ao bem-estar

    psicolgico e social das mulheres, tais como: medo, ansiedade; fadiga; transtornos alimentares e

    do sono; percepes de perda e vulnerabilidade; isolamento social; depresso e tentativas de

    suicdio.

    Ser vtima de violncia do prprio parceiro fator de risco para diversas doenas e

    comportamentos prejudiciais, tais como tabagismo, abuso de lcool e outras drogas e

    sedentarismo.

    Aula 2 O que violncia domstica e familiar contra a mulher?

    Nesta aula voc estudar que a violncia contra a mulher requer a compreenso de

    outras tipologias e fatores geradores da violncia. Sendo a violncia domstica e familiar um

    dos tipos de violncia.

    A violncia contra a mulher constitui uma forma de violncia que foi definida pela

    Conveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a Mulher

    Conveno de Belm do Par1, como: Qualquer ao ou conduta, baseada no gnero, que cause

    1 Art 1- A violncia contra a mulher constitui qualquer ao ou conduta, baseada no gnero, que cause morte, dano ou sofrimento fsico, sexual ou psicolgico mulher, tanto no mbito pblico como no privado

  • morte, dano ou sofrimento fsico, sexual ou psicolgico mulher, tanto no mbito pblico como

    no privado.

    (Art. 1 da Conveno do Par).

    Para compreender a definio de violncia contra as mulheres, necessrio considerar

    que o tema abarca diferentes formas de violncia, tais como:

    A violncia domstica ou em qualquer outra relao interpessoal, em que o agressor

    conviva ou haja convivido no mesmo domiclio que a mulher e que compreende, entre

    outras, as violncias fsica, psicolgica, sexual, moral e patrimonial (Lei 11.340/2006);

    A violncia ocorrida na comunidade e que seja perpetrada por qualquer pessoa e que

    compreende, entre outros, violao, abuso sexual, tortura, trfico de mulheres,

    prostituio forada, sequestro e assdio sexual no lugar de trabalho, bem como em

    instituies educacionais, estabelecimentos de sade ou qualquer outro lugar;

    A violncia institucional que perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde

    quer que ocorra.

    Segundo a Poltica Nacional de Enfrentamento Violncia contra as Mulheres, a

    violncia contra as mulheres no pode ser entendida sem se considerar a dimenso de gnero, ou

    seja, a construo social, poltica e cultural da(s) masculinidade(s) e da(s) feminilidade(s), assim

    como as relaes entre homens e mulheres. A violncia contra a mulher d-se no nvel relacional

    e societal, requerendo mudanas culturais, educativas e sociais para seu enfrentamento e um

    reconhecimento das dimenses de raa/etnia, de gerao e de classe na exacerbao do

    fenmeno (SPM, 2007, p. 8).

  • De acordo com Lei 11.340, de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), a violncia

    domstica e familiar contra a mulher deve ser entendida como:

    Qualquer ao ou omisso baseada no gnero que cause mulher morte, leso, sofrimento

    fsico, sexual ou psicolgico e dano moral ou patrimonial no mbito da unidade domstica, no

    mbito da famlia ou em qualquer relao ntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha

    convivido com a ofendida, independentemente de coabitao (Lei Maria da Penha).

    A violncia domstica contra a mulher compreende ainda:

    Violncia fsica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

    integridade ou sade corporal;

    Violncia psicolgica qualquer conduta que lhe cause dano emocional e

    diminuio da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou,

    ainda, que vise degradar ou controlar suas aes, comportamentos, crenas e decises,

    mediante ameaa, constrangimento, humilhao, manipulao, isolamento, vigilncia

    constante, perseguio contumaz, insulto, chantagem, ridicularizao, explorao e

    limitao do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuzo sade

    psicolgica e autodeterminao;

    Violncia sexual qualquer conduta que a constranja a presenciar, a

    manter ou a participar de relao sexual no desejada, mediante intimidao, ameaa,

    coao ou uso da fora; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a

    sua sexualidade; que a impea de usar qualquer mtodo contraceptivo; que a force ao

    matrimnio, gravidez, ao aborto ou prostituio, mediante coao, chantagem,

  • suborno ou manipulao; ou que limite ou anule o exerccio de seus direitos sexuais e

    reprodutivos;

    Violncia patrimonial qualquer conduta que configure reteno,

    subtrao, destruio parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,

    documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econmicos, incluindo os

    destinados a satisfazer suas necessidades;

    Violncia moral qualquer conduta que configure calnia, difamao ou

    injria.

    Aula 3 Quais as causas da violncia domstica e familiar contra a mulher?

    As causas da violncia domstica e familiar contra a mulher devem ser compreendidas a

    partir da definio de violncia contra as mulheres da Conveno de Belm do Par, que traz a

    questo de gnero (ou seja, a perspectiva da construo social das masculinidades e das

    feminilidades) como a base do problema.

    Assim, para entender as causas da violncia contra as mulheres, preciso comear pela

    definio de gnero. Segundo Kabeer (1990), gnero deve ser entendido como:

    O processo por meio do qual indivduos, que nasceram em categorias biolgicas de

    machos ou fmeas, tornam-se mulheres e homens pela aquisio de atributos de feminilidade e

    masculinidade, definidos localmente.

    O termo gnero indica rejeio ao determinismo biolgico suposto no uso de palavras

    como sexo e evidencia que os papis desempenhados por homens e mulheres so uma

    construo social. Saffioti (2001, p.129) afirma que o nico consenso existente sobre o conceito

  • de gnero reside no fato de que se trata de uma modelagem social estatisticamente, mas no

    necessariamente, referida ao sexo.

    Assim, adotar uma perspectiva de gnero significa:

    Distinguir entre o que natural e biolgico, o que social e culturalmente construdo e,

    no processo, renegociar as fronteiras entre o natural e, por isso mesmo, relativamente inflexvel

    e o social relativamente transformvel (Kabeer, 1990).Para uma diferenciao entre sexo e

    gnero, veja tabela a seguir:

    Tabela 1 Sexo X Gnero

    SEXO GNERO Macho e fmea Masculinidades e feminilidades

    Determinismo biolgico Construo social e histrica das diferenas entre homens e mulheres Naturalizao das diferenas entre homens e mulheres Possibilidade de mudanas

    Importante!

    A construo social dos sexos atribui diferentes espaos de poder para homens e

    mulheres, nos quais a mulher em geral ocupa lugares de menor empoderamento, de

    desvalorizao e de subalternidade. No se fala, portanto, em diferenas, mas em desigualdades

    que so produzidas e reproduzidas em diferentes espaos no mbito domstico, no trabalho, nas

    religies, nas profisses etc. A violncia contra as mulheres s pode ser entendida no contexto

    das relaes desiguais de gnero, como forma de reproduo do controle do corpo feminino e das

    mulheres numa sociedade sexista e patriarcal. As desigualdades de gnero tm, assim, na

    violncia contra as mulheres sua expresso mxima que, por sua vez, deve ser compreendida

  • como uma violao dos direitos humanos das mulheres. (Poltica Nacional de Enfrentamento

    Violncia contra as Mulheres /Secretaria de Polticas para as Mulheres, 2007, p.8)

    Assim, as violncias baseadas no gnero, entre as quais se destaca a violncia contra as

    mulheres, surgem como uma estratgia de manuteno desta hierarquia social, segundo a qual as

    mulheres devem ser submetidas ao poder masculino.

    AULA 4 Por que as mulheres permanecem numa situao de violncia?

    Uma das indagaes mais intrigantes acerca da violncia contra as mulheres diz respeito

    aos fatores que levam as mulheres a permanecer numa relao conjugal violenta, a despeito de

    seu sofrimento. comum que as pessoas, no cotidiano, busquem explicaes para tal baseando-

    se em ideias preconcebidas relacionadas s mulheres em situao de violncia. Entre essas ideias,

    uma crena comum a de que elas permanecem com parceiros agressores porque, decerto,

    gostam de apanhar.

    Mas...cabe indagar:Como as pessoas costumam ver uma mulher envolvida em uma

    situao conjugal violenta?O que as pessoas pensam de uma mulher que resolve dar mais uma

    chance ao parceiro, ainda que as violncias dele prossigam no cotidiano a dois?De que modo a

    escolha desta mulher afetaria o modo de escut-la, de atend-la?

    Veja a seguir os resultados de duas pesquisas realizadas recentemente que possibilitaram

    identifica as razes para manuteno do vnculo conjugal.

    Razes para Manuteno do Vnculo Conjugal

    Dependncia afetiva;

    Receio de no arranjar outro parceiro, por j estar velha, por ter filhos;

  • Medo de ficar s;

    Percepo de que incapaz de tocar a vida e de educar os filhos sem um

    companheiro;

    Medo da perda;

    Esperana de que o par conjugal mude;

    Preocupao com o sofrimento que o parceiro poder ter em funo da

    separao e com as dificuldades que poder enfrentar sozinho;

    Falta de apoio de familiares para lidar com os desafios trazidos pela

    separao.

    Fonte: Casais participantes de atendimentos psicossociais relacionados violncia

    conjugal no contexto da justia em Braslia (Pondag 2009).

    Razes para Manuteno do Vnculo Conjugal

  • Fonte: IBOPE/Instituto AVON (2009)

    Nesse sentido, para que se possa ampliar a compreenso sobre as razes pelas quais a

    mulher permanece numa situao de violncia, leia abaixo um trecho da cartilha Enfrentando a

    Violncia contra as Mulheres: Orientaes Prticas para Profissionais e Voluntrios, de Brbara

    Soares, publicada pela Secretaria de Polticas para as Mulheres/Presidncia da Repblica em

    2005.

    Existem muitas razes para uma mulher no conseguir romper com seu parceiro violento.

    Veja algumas dessas razes:

    1. O MAIOR DE TODOS OS RISCOS JUSTAMENTE ROMPER A RELAO;

    2. PROCURAR AJUDA VIVIDO COMO VERGONHA E GERA MUITO

    MEDO;

    3. SEMPRE RESTA A ESPERANA DE QUE O MARIDO MUDE O

    COMPORTAMENTO;

    4. A VTIMA, MUITAS VEZES, EST ISOLADA DA SUA REDE DE APOIO;

    5. NOSSA SOCIEDADE AINDA EST DESPREPARADA PARA LIDAR COM

    ESSE TIPO DE VIOLNCIA;

    6. CONCRETAMENTE, H MUITOS OBSTCULOS QUE IMPEDEM O

    ROMPIMENTO;

    7. ALGUMAS MULHERES DEPENDEM ECONOMICAMENTE DE SEUS

    PARCEIROS VIOLENTOS.

    Leia mais detalhes sobre essas razes.

    1. Riscos do rompimento Talvez voc j tenha tido notcia de vrios casos de

    mulheres que so mortas quando esto tentando deixar o agressor. A violncia e as

    ameaas contra a vida da mulher e dos filhos se tornam mais intensas no perodo

  • da separao. O homem violento percebe que perdeu o controle sobre sua parceira.

    Exigir que a mulher em situao de violncia abandone o agressor, pode ser uma

    enorme irresponsabilidade, se no pudermos oferecer a ela as condies mnimas

    de segurana para que possa dar esse passo to arriscado.

    2. Vergonha e medo Imagine o que significa para uma mulher denunciar seu

    prprio parceiro! No a mesma coisa que apontar um ladro desconhecido que

    lhe rouba a bolsa na esquina. Alm disso, h o perigo dele se tornar ainda mais

    violento, por ela o ter denunciado. Ainda considere a vergonha de ter que

    reconhecer que seu romance fracassou e seu projeto de ser feliz ao lado da pessoa

    amada acabou em uma delegacia de polcia.

    3. Esperana de que o marido mude o comportamento Um homem violento faz

    mais do que pedir perdo durante a fase de lua-de-mel. Ele pode pedir ajuda e

    comear a fazer algum tipo de tratamento: entrar para os Alcolicos Annimos,

    procurar um psiquiatra ou uma igreja. Ele pode demonstrar o amor, admitir seus

    erros e jurar que vai fazer o que estiver ao seu alcance para mudar. Se a mulher

    ama seu companheiro, ela tenta evitar o fim da relao. Quem ir julg-la por

    isso?

    4. Isolamento As mulheres em situao de violncia perdem seus laos familiares

    e sociais. Os maridos violentos so muito ciumentos e controlam os movimentos

    da parceira. Querem saber onde ela foi, com quem falou ao telefone, o que disse,

    por que usou tal roupa, para quem olhou na rua etc.

    5. Em muitos casos, elas acabam restringindo as relaes com a famlia e com os

    amigos para esconder as dificuldades que esto atravessando. Tornar a violncia

    um fato pblico significa encher-se de vergonha e reduzir as esperanas de

    recompor o casamento.

  • 6. Negao social Quando pedem ajuda, as vtimas de violncia se defrontam com

    pessoas despreparadas e desinformadas sobre o problema que elas esto vivendo.

    Cada vez que um mdico, um psiclogo, um lder religioso, um policial ou um

    advogado as trata com indiferena, desconfiana ou desprezo, contribuem para

    aumentar a violncia. Quando isso acontece, as vtimas perdem a esperana de

    encontrar apoio externo e acabam se recolhendo novamente ao seu inferno

    particular.

    7. Barreiras que impedem o rompimento Ao ver que a mulher est disposta a

    sair da relao violenta, o agressor recorre a todo tipo de chantagem e ameaa:

    requisita a custdia dos filhos, nega a penso alimentcia, interfere no trabalho da

    esposa, difama-a, mata a mulher e os filhos, se mata etc. So muitas as

    dificuldades e so poucos os recursos disponveis em nossa sociedade. Essa

    mulher precisa de apoio e de pessoas dispostas a ajud-la a ser capaz de vencer as

    barreiras. Se ao contrrio, ela encontra apenas crtica e julgamento, tender a

    desistir de buscar apoio, ficando exposta ao risco e sentindo-se isolada e

    desamparada.

    8. Dependncia econmica Muitas mulheres em situao de abuso no tm

    capacitao profissional para iniciar uma vida no mercado de trabalho ou para

    estabelecer novas relaes de trabalho em outra cidade ou estado, onde poderiam

    encontrar as condies ideais de segurana.

    9. Deixar a relao um longo processo Ao perceber a necessidade de escapar da

    relao violenta, a mulher tem um longo caminho a seguir: preparar-se

    afetivamente para o desenlace; preparar-se com segurana para a fuga, preparar-se

    economicamente. Essas iniciativas podem levar anos, principalmente se a mulher

    no contar com nenhum apoio. Esse esforo envolve idas e vindas, avanos e

    recuos, tentativas e desistncias, acertos e erros. No se pode culpar a vtima.

  • Essas oscilaes so tpicas de quem est em situao de violncia. O maior

    desafio ajud-la a encontrar sadas e vencer as dificuldades e hesitaes.

    Finalizando...

    Neste mdulo voc estudou que:

    A violncia contra as mulheres constitui uma das principais formas de violao dos seus

    direitos humanos, atingindo-as em seus direitos vida, sade e integridade fsica.

    um fenmeno que apresenta distintas expresses violncia psicolgica, fsica, moral,

    patrimonial, sexual, trfico de mulheres, assdio sexual e que requer, portanto, que o

    Estado Brasileiro adote polticas acessveis e integrais.

    Violncia contra a mulher constitui uma forma de violncia que foi definida pela

    Conveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a Mulher

    Conveno de Belm do Par como qualquer ao ou conduta, baseada no gnero, que

    cause morte, dano ou sofrimento fsico, sexual ou psicolgico mulher, tanto no mbito

    pblico como no privado. (Art. 1 da Conveno de Belm do Par).

    A violncia domstica e familiar contra a mulher deve ser entendida como qualquer ao

    ou omisso baseada no gnero que cause mulher morte, leso, sofrimento fsico, sexual

    ou psicolgico e dano moral ou patrimonial no mbito da unidade domstica, no mbito

    da famlia ou em qualquer relao ntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha

    convivido com a ofendida, independentemente de coabitao. (Lei Maria da Penha)

    As causas da violncia domstica e familiar contra a mulher devem ser compreendidas a

    partir da definio de violncia contra as mulheres da Conveno de Belm do Par, que

    traz a questo de gnero (ou seja, a perspectiva da construo social das masculinidades e

  • das feminilidades) como a base do problema. De acordo com Poltica Nacional de

    Enfrentamento Violncia Contra as Mulheres, a construo social dos sexos atribui

    diferentes espaos de poder para homens e mulheres, nos quais a mulher em geral ocupa

    lugares de menor empoderamento, de desvalorizao e de subalternidade.

    Uma pesquisa realizada com casais participantes de atendimentos psicossociais

    relacionados violncia conjugal no contexto da justia em Braslia destaca que a

    manuteno do vnculo conjugal est relacionada s seguintes razes: dependncia

    afetiva; receio de no arranjar outro parceiro, por j estar velha, por ter filhos; medo de

    ficar s; percepo de que incapaz de tocar a vida e de educar os filhos sem um

    companheiro; medo da perda; esperana de que o par conjugal mude; preocupao com o

    sofrimento que o parceiro poder ter em funo da separao e com as dificuldades que

    poder enfrentar sozinho e falta de apoio de familiares para lidar com os desafios trazidos

    pela separao.