VIGILÂNCIA DE ESCORPIÕES NO ESTADO DA BAHIA · Estes exemplares estão tombados na Coleção...

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No Brasil, especialmente no Nordeste, as notificações de acidentes por escorpi- ões têm crescido mais de 100% nos últimos 10 anos, ultrapassando o número de acidentes ofídicos. Na Bahia, este agravo correspondeu a 70% dos acidentes por animais peçonhen- tos nos últimos quatro anos (2012-2015) segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que notificou 54.578 casos, sendo que 38.106 foram ocasionados por escorpiões. Respeitando o fluxo de encaminhamento das amostras zoológicas estabelecido pelo Ministério da Saúde, o LACEN/BA já recebeu 2.205 escorpiões coletados pelas Regio- nais de Saúde. Estes exemplares estão tombados na Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA, contemplando 15 espécies, o que representa 65% da diversidade do estado da Bahia, que possui 23 espécies registradas perdendo apenas para o estado do Amazonas (Porto, 2008). No levantamento das espécies coletadas, além das duas de importância médica do estado: Tityus serrulatus e Tityus stigmurus, as espécies Tityus brazilae e Rhopalurus rochai que também possuem registros de acidentes com pouca gravidade, foram as que apresentaram maior distribuição geográfica nos municípios trabalhados (Figura 1). A espé- cie Tityus serrulatus possui a maior representatividade na Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA, encontrada em 73 municípios baianos (Mapa A); Tityus stigmurus em 31 municípios (Mapa B); Tityus brazilae em 13 municípios (Mapa C) e Rhopalurus rochai em 46 municípios (Mapa D). 22 DE JUNHO DE 2016 Boletim Entomológico Nº 04 VIGILÂNCIA DE ESCORPIÕES NO ESTADO DA BAHIA Principais espécies de escorpiões no Estado da Bahia Sua ocorrência é registrada para quatro Estados do Nordeste do Brasil: Ceará, Rio Grande do Norte, Per- nambuco e Bahia. Suas ninhadas variam de 23 a 55 filhotes (a mais numerosa dentre os escorpiões da família Buthidae). Na Bahia, sua ocorrência é ampla, registrada em 45 municípios, todos dentro dos biomas de Caatinga e Cerrado. Ocorre nos estados da Bahia, Espírito Santo e Sergipe, e até o momento, é registrada nos biomas da Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado. Na Bahia, sua distribui- ção é ampla, registrada em 34 municípios. Assim como T. serrulatus, esta espécie é partenogenéti- ca*, com ninhadas entre 6 a 13 filhotes. Ocorre na região Nordeste do Brasil, nos Estados da Bahia, Sergi- pe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. Na Bahia, está amplamente distribuí- da em 45 municípios, com ocorrência em todos os biomas. É a espécie de maior importância médica do Brasil. Apresenta populações partenogenéticas* e, original- mente, habitava ambientes de mata de transição, florestas secas, cerrados e caatinga. Atualmente, tem vivido em ambientes antropizados. Na Bahia, a espécie apresenta distribuição generalista, com ocorrência em 86 municípios. Rhopalurus rochai Borelli, 1910 Tityus serrulatus Lutz & Mello, 1922 Foto: Eduardo Motta Tityus stigmurus (Thorell, 1876) Foto: Tom Ende Tityus brazilae Lourenço & Eickstedt, 1984 Foto: Tiago Porto A B C D Figura 1 - Mapas da distribuição geográfica na Bahia das espécies Tityus serrulatus, Tityus stigmurus, Tityus brazilae e Rhopalurus rochai para os municípios trabalhados pelos profissionais das Regionais de Saúde.

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No Brasil, especialmente no Nordeste, as notificações de acidentes por escorpi-ões têm crescido mais de 100% nos últimos 10 anos, ultrapassando o número de acidentes ofídicos. Na Bahia, este agravo correspondeu a 70% dos acidentes por animais peçonhen-tos nos últimos quatro anos (2012-2015) segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que notificou 54.578 casos, sendo que 38.106 foram ocasionados por escorpiões. Respeitando o fluxo de encaminhamento das amostras zoológicas estabelecido pelo Ministério da Saúde, o LACEN/BA já recebeu 2.205 escorpiões coletados pelas Regio-nais de Saúde. Estes exemplares estão tombados na Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA, contemplando 15 espécies, o que representa 65% da diversidade do estado da Bahia, que possui 23 espécies registradas perdendo apenas para o estado do Amazonas (Porto, 2008). No levantamento das espécies coletadas, além das duas de importância médica do estado: Tityus serrulatus e Tityus stigmurus, as espécies Tityus brazilae e Rhopalurus rochai que também possuem registros de acidentes com pouca gravidade, foram as que apresentaram maior distribuição geográfica nos municípios trabalhados (Figura 1). A espé-cie Tityus serrulatus possui a maior representatividade na Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA, encontrada em 73 municípios baianos (Mapa A); Tityus stigmurus em 31 municípios (Mapa B); Tityus brazilae em 13 municípios (Mapa C) e Rhopalurus rochai em 46 municípios (Mapa D).

22 DE JUNHO DE 2016

Boletim Entomológico Nº 04

VIGILÂNCIA DE ESCORPIÕES NO ESTADO DA BAHIA

Principais espécies de escorpiões no Estado da Bahia

Sua ocorrência é registrada para quatro Estados do Nordeste do Brasil: Ceará, Rio Grande do Norte, Per-nambuco e Bahia. Suas ninhadas variam de 23 a 55 filhotes (a mais numerosa dentre os escorpiões da família Buthidae). Na Bahia, sua ocorrência é ampla, registrada em 45 municípios, todos dentro dos biomas de Caatinga e Cerrado.

Ocorre nos estados da Bahia, Espírito Santo e Sergipe, e até o momento, é registrada nos biomas da Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado. Na Bahia, sua distribui-ção é ampla, registrada em 34 municípios.

Assim como T. serrulatus, esta espécie é partenogenéti-ca*, com ninhadas entre 6 a 13 filhotes. Ocorre na região Nordeste do Brasil, nos Estados da Bahia, Sergi-pe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. Na Bahia, está amplamente distribuí-da em 45 municípios, com ocorrência em todos os biomas.

É a espécie de maior importância médica do Brasil. Apresenta populações partenogenéticas* e, original-mente, habitava ambientes de mata de transição, florestas secas, cerrados e caatinga. Atualmente, tem vivido em ambientes antropizados. Na Bahia, a espécie apresenta distribuição generalista, com ocorrência em 86 municípios.

Rhopalurus rochai Borelli, 1910

Tityus serrulatus Lutz & Mello, 1922

Foto: Eduardo Motta

Tityus stigmurus (Thorell, 1876)

Foto: Tom Ende

Tityus brazilae Lourenço & Eickstedt, 1984

Foto: Tiago Porto

A B

C D

Figura 1 - Mapas da distribuição geográfica na Bahia das espécies Tityus serrulatus, Tityus stigmurus, Tityus brazilae e Rhopalurus rochai para os municípios trabalhados pelos profissionais das Regionais de Saúde.

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FLUXOGRAMA

DE AMOSTRAS

A EQUIPE A Capacitação em Controle e Manejo de Escorpiões no estado da Bahia, coordenada pelo Ministério da Saúde, implantada em 2009, objetivou formar profissionais que atuavam nos serviços de vigilância entomológica do estado da Bahia como multiplicadores do programa de controle dos animais peçonhentos de importância em saúde. Dando continuidade a este ciclo de formação, entre os anos de 2013 e 2014 o Núcleo de Entomologia do Laboratório Central de Saúde Pública Prof. Gonçalo Moniz (LACEN/BA), através de uma ação integrada com o Centro de Informações Antiveneno da Bahia (CIAVE/BA) e a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do estado da Bahia (DIVEP/BA), realizou as Capacitações em Controle e Manejo de Escorpiões em quatro Regionais de Saúde: Santa Maria da Vitória, Caetité, Guanambi e Vitória da Conquista visando a estruturação/implementação do Programa para o Controle e Manejo desses animais no estado e, consequentemente, a diminuição do número de acidentes e a sua morbi-mortalidade. As capacitações foram compostas de aulas teórico-práticas, que tinham como objetivos a identificação das espécies de escorpiões de importância para a saúde pública; treinamento dos métodos de captura, manejo, acondicionamento e fluxo dos exemplares; além da discussão das medidas de educação em saúde para a orientação da população sobre o risco e controle dos acidentes escorpiônicos, Figura 3.

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VIGILÂNCIA DE ESCORPIÕES NO ESTADO DA BAHIA

Curiosidades

Partenogênese em Tityus serrulatus e Tityus stigmurus

A partenogênese é uma forma de reprodução assexuada, na qual as fêmeas maturam seus óvulos gerando embriões viáveis sem a necessida-de de fecundação. Este fenômeno facilita a disper-são de espécies que apresentam grande valência ecológica, capazes de se adaptar à diversos ambi-entes, incluindo áreas antroponizadas. É o caso das espécies de interesse em saúde públi-ca T. serrulatus e T. stigmurus, as quais apresen-tam alta capacidade de infestação e proliferação. Assim, as medidas de controle devem ser desenca-deadas a partir da ocorrência ainda que de um único exemplar em áreas povoadas.

População Sexuada de Tityus serrulatus e Tityus stigmurus

Até o ano de 1999, quando foram descritos pela primeira vez machos de T. serrulatus provenientes do município de Irapé (Minas Gerais), esta espécie era reconhecida como estritamente partenogené-tica; e, T. stigmurus tinha sua estratégia reproduti-va ainda em discussão. Em 2009, quando pesquisa-dores do Instituto Butantan publicaram a descri-ção completa e distribuição dos machos de ambas as espécies, passou-se a reconhecer que ambas também se reproduzem sexuadamente. Há um consenso que a ocorrência de machos é rara e que as populações sexuadas estão restritas a áreas ainda preservadas, enquanto que as populações partenogenéticas prevalecem nas regiões antropi-zadas. Em 2011, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia publicaram a ocorrência da população sexuada de T. serrulatus no município de São Desidério-BA, antes conhecida apenas para a Região Sudeste do país (Irápé-MG e Espinosa-MG), e ampliaram a distribuição da população sexuada de T. stigmurus para mais 8 municípios desse Estado (Feira de Santana, Iraquara, Jacobina, Lauro de Freitas, Morro do Chapéu, Ruy Barbosa, Salva-dor e Santo Estevão). Sua ocorrência anterior era publicada apenas para Camaçari e Paulo Afonso. Recentemente, uma das autoras desta publicação, dando continuidade aos estudos com a equipe de profissionais do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA e, a partir dos exemplares enviados pelas Regionais de Saúde, identificou-se novas popula-ções sexuadas na Bahia para ambas espécies. Tityus serrulatus para dois novos municípios (Caetité e Jaborandi) e T. stigmurus para mais um (Itaberaba). Estes exemplares encontram-se depo-sitados na Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA (Figura 3-B).

Referências:

Boletim elaborado pelo Núcleo de Entomologia do LACEN/BA BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de con-trole de escorpiões. Série B. Textos Básicos de Saúde. Brasília: Fundação nacional de Saúde. 131p. 2009 PORTO, T. J. Escorpiofauna do Estado da Bahia, Brasil: diagnóstico, distribuição e caracterização. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal da Bahia, Instituto de Biolo-gia, 100f. 2008. Mapas: Bruno Cova

Figura 2 - Fluxograma de envio de amostras estabelecido pelo Ministério da Saúde adapta-do para a estruturação/implementação do Programa de Controle e Manejo de Escorpi-ões na Bahia (Fonte: Ministério da Saúde, CIAVE/BA e LACEN/BA).

Contatos Entomologia/LACEN E-mail: [email protected] Telefone: (71) 3116-5034

Figura 3 - Capacitações em Controle e Manejo de Escorpiões para os profissionais das Regionais de Saúde do estado da Bahia: A: Capacitação em Salvador (2009); B: Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA; C: Aula Prática para a equipe da Regional de Saúde de Santa Maria da Vitória; D e E: Aula de Campo em Riacho de Santana para as equipes das Regionais de Saúde de Caetité e Guanambi; F: Equipe que trabalhou na Capacitação para os profissionais da Regional de Saúde de Vitória da Conquista.

A

B

C

D

F

E