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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: Agosto de 2014 a Agosto de 2015 ( ) PARCIAL (x) FINAL 1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO: Adolescência, Juventude e Violência: fatores de risco e proteção em diferentes contextos (escola, família, comunidade, pares e instituições de atendimento). Nome da orientadora: Lúcia Isabel da Conceição Silva. Titulação do Orientador: Doutora em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Unidade: Instituto de Ciências da Educação- ICED/ Faculdade de Educação- FAED Grupo de Estudos e Pesquisas em adolescência, Juventude,vulnerabilidade e Fatores de Proteção (GEPJUV). Título do Plano de Trabalho: Juventude, risco e proteção: identificando percepções sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores em estudantes residentes na cidade de Belém. Nome do Bolsista: Mateus Souza dos Santos. Tipo de Bolsa:(x) PIBIC/FAPESPA RESUMO: Estudos apontam que existem diversos fatores e eventos presentes nas trajetórias de vida dos jovens que podem se configurar como risco ou

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: Agosto de 2014 a Agosto de 2015( ) PARCIAL(x) FINAL

1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO: Adolescência, Juventude e Violência: fatores de risco e proteção em diferentes contextos (escola, família, comunidade, pares e instituições de atendimento).

Nome da orientadora: Lúcia Isabel da Conceição Silva.Titulação do Orientador: Doutora em Teoria e Pesquisa do Comportamento.Unidade: Instituto de Ciências da Educação- ICED/ Faculdade de Educação- FAEDGrupo de Estudos e Pesquisas em adolescência, Juventude,vulnerabilidade e Fatores de Proteção (GEPJUV).

Título do Plano de Trabalho: Juventude, risco e proteção: identificando percepções sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores em estudantes residentes na cidade de Belém.Nome do Bolsista: Mateus Souza dos Santos.Tipo de Bolsa:(x) PIBIC/FAPESPA

RESUMO: Estudos apontam que existem diversos fatores e eventos presentes nas trajetórias de vida dos jovens que podem se configurar como risco ou proteção ao desenvolvimento. Nessa perspectiva, o presente estudo teve por objetivo identificar percepções sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores em jovens residentes na região metropolitana de Belém, visando compreender a dinâmica interacional entre fatores de risco e proteção em contextos específicos. A metodologia utilizada foi quanti-qualitativa, com duas amostras independentes: a primeira (quantitativa) foi constituída a partir de algumas variáveis de um banco de dados composto por informações de 658 jovens (estudantes de 13 escolas públicas do município de Belém) que responderam ao Questionário Juventude Brasileira (Versão II); na segunda amostra (qualitativa) foi adotada a metodologia dos Grupos de Diálogo, que permite compreender as percepções e significações de um grupo social a respeito de uma determinada temática. foram realizados 03 grupos, com participação de 50 jovens estudantes de uma das escolas participantes da primeira etapa. Os resultados mostram que os jovens têm percepções positivas sobre a família e que as situações estressantes mais frequentes são aqueles ligadas às questões econômicas dentro do contexto familiar. Além disso, os estressores que causam mais impactos na juventude são: a morte de alguém muito importante, ser assaltado e passar fome. Sobre o uso de drogas, as análises mostram que os jovens têm um número considerável de

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amigos e familiares que usam essas substâncias (lícitas e ilícitas), o que pode caracterizar exposição a elas. Os dados concordam com outros estudos que também identificaram riscos relacionados à exposição às drogas e à violência em diversos contextos. Os resultados apontam também a necessidade de políticas públicas de proteção ao desenvolvimento na juventude, que passem por ampliar as oportunidades e as perspectivas de proteção integral nos diferentes contextos nos quais estes sujeitos estão inseridos, sendo a família um dos principais. Palavras-chave: Drogas, Família, Eventos estressores.

Titulo do projeto do orientador: ADOLESCÊNCIA, JUVENTUDE E VIOLÊNCIA: FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO EM DIFERENTES CONTEXTOS (ESCOLA, FAMÍLIA, COMUNIDADE, PARES E INSTITUIÇÕES DE ATENDIMENTO).

Classificação do trabalho na Tabela de Áreas do Conhecimento no CNPq.Grande-área: Ciências HumanasÁrea: Psicologia do desenvolvimento humanoSub-área: Direitos Humanos – Adolescência - Juventude - Políticas Públicas.

1. RESUMO DO RELATÓRIO ANTERIORO relatório anterior apresentou os resultados que foram alcançados com base nos três

primeiros objetivos específicos do plano de trabalho que direcionou minhas atividades, a saber: 1. Categorizar os itens do questionário Juventude Brasileira referentes à Percepção sobre a família; 2. Categorizar os itens do questionário Juventude Brasileira referentes à exposição às drogas; 3. Categorizar os itens do questionário Juventude Brasileira referentes a eventos estressores.

Por meio das análises iniciais constatou-se principalmente que: 1. A juventude de Belém possui uma percepção positiva sobre a família; 2. Os eventos estressores mais frequentes são aqueles ligados às questões econômicas dentro do contexto familiar e; 3. Os pesquisados têm um número considerável de amigos e familiares que usam drogas (lícitas e ilícitas), o que pode caracterizar exposição a essas substâncias.

Além disso, também alcançamos parte do objetivo específico número quatro (4. Identificar percepções e relações entre risco e proteção nas trajetórias dos jovens em relação aos fatores categorizados), uma vez que havíamos realizado dois grupos de diálogo que permitiram captar as percepções dos jovens sobre os fatores categorizados relacionados à família.

Desse modo, as atividades dos últimos seis meses de bolsa foram para cumprir por completo o quarto objetivo específico e aperfeiçoar algumas análises estatísticas se teóricas dos objetivos anteriores, de modo que os dados fossem mais bem analisados.

2. INTRODUÇÃOEste relatório é resultado de ações desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos e

Pesquisas em Adolescência, Juventude, Vulnerabilidade e Fatores de Proteção (GEPJUV), no qual fui inserido como bolsista de Iniciação científica orientado pela Professora Dr.ª Lúcia Isabel da Conceição Silva. Meu plano de trabalho intitulado “Juventude, risco e proteção: identificando percepções sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores em estudantes residentes na cidade de Belém” faz parte projeto "Adolescência, juventude e

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Violência: Fatores de risco e proteção em diferentes contextos (Escola, família, comunidade, pares e instituições de atendimento)".

Este projeto dá continuidade à pesquisa “Entre risco e proteção: o ser jovem em Belém do Pará”, também coordenado pela Prof.ª Lúcia Isabel Silva que possibilitou a organização de um banco de dados sobre o perfil da juventude de Belém. Destaca-se que outros pesquisadores de diversos estados do Brasil também coletaram informações regionais sobre suas juventudes, constituindo um Banco Nacional sobre a juventude brasileira.

Assim sendo, caracterizei algumas variáveis do banco de dados quantitativo de Silva (2013) e, por meio da metodologia dos Grupos de Diálogo, participei da construção e da análise de um novo banco de dados (SILVA, 2015) com informações qualitativas sobre a juventude de Belém. Destaca-se que os dois estudos são complementares, pois as metodologias utilizadas para coleta de dados falam dos mesmos temas, sob perspectivas diferentes, o que possibilita uma interconexão entre as informações.

Este relatório, portanto, descreve parte dos resultados obtidos nas duas pesquisas mencionadas anteriormente, trabalhando com as variáveis relativas à percepção dos jovens sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores, buscando compreender a dinâmica interacional entre fatores de risco e de proteção.

3. JUSTIFICATIVAA adolescência e a juventude têm sido atualmente etapas da vida enormemente

afetadas por uma série de adversidades: baixa escolaridade, desemprego, ausência de uma rede de apoio social e afetiva, dentre outras. Em estudo recente, realizado por Silva (2013),com 658 jovens de 13 escolas públicas do município de Belém do Pará, vários indicadores de risco puderam ser identificados, em especial relacionados à vivência da sexualidade, à exposição à violência intrafamiliar e na comunidade, ao abuso sexual, à reprovação escolar, etc. De acordo com a autora “esses dados revelam um interjogo entre risco e proteção em relação a sujeitos e contextos que se revezam em papéis de agressores e protetores” (SILVA, 2014, p. 15).

De forma geral, as analises de Silva (2014) concordam com estudos anteriores que identificam forte exposição a riscos entre os adolescentes e jovens brasileiros (LIBÓRIO & KOLLER, 2009; KOLLER, MORAIS & CERQUEIRA-SANTOS, 2009; SILVA, 2013; NUNES et al., 2014), dentre outros.).

Em pesquisa com 7353 jovens de escolas públicas brasileira sobre os motivos que contribuem para comportamentos violentos, Paludo (2011) descobriu que a maioria (78%) apontou problemas familiares. Os contextos sociais, como a família, exercem grandes influências no desenvolvimento dos sujeitos, entretanto, devemos ter clareza de que não podemos explicar a violência apenas a partir das relações que se estabelecem dentro de um único ambiente.

Paludo (2011) salienta que quando há uma culpabilização individualizada da família, todos os outros segmentos parecem estar isentos de responsabilidade, defendendo, desse modo, a importância de analisar a dinâmica familiar relacionando-a com um sistema maior – o sistema social.

Outro fator que também pode estar relacionado com comportamentos de risco na juventude é exposição às drogas. Costa e Dell’Aglio (2011), ao estudarem 7316 jovens de

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baixo nível socioeconômico, identificaram uma alta incidência de uso de drogas, sendo que as motivações para o uso foram associadas a questões pessoais, tais como: desinibição, sentir-se forte e corajoso, esquecer a tristeza e os problemas.

Ademais, os chamados eventos estressores também podem interferir de forma negativa na vida dos jovens. Alguns eventos de vida, apesar de já fazerem parte do ciclo vital humano, podem ser estressantes, tais como: mudanças na composição familiar, transições na escola e com pares, morte de algum amigo próximo ou doenças (POLETTO, KOLLER & DELL’AGLIO, 2009).

Como pudemos perceber, os estudos demonstram que existem diversos fatores e eventos presentes nas trajetórias de vida dos jovens que, dependendo da interação e do modo como os sujeitos os percebem, podem se configurar como risco ou proteção ao desenvolvimento.

Dentro dessa perspectiva, torna-se essencial analisar e compreender quais as estruturas, espaços, instituições, eventos ou possibilidades interativas, presentes na vida dos jovens, que podem funcionar (ou funcionam efetivamente) como risco ou proteção ao desenvolvimento, principalmente para que novos conhecimentos sobre a dinâmica interacional entre esses fatores possam ser construídos, bem como pensar na possibilidade de alternativas de intervenção e de políticas geradoras de desenvolvimento para esses sujeitos. Foi nesta intenção que realizamos a presente pesquisa, focado em três destes fatores (percepções sobre família; uso de drogas e eventos estressores).

4. OBJETIVOS4.1. GERALIdentificar percepções sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores em jovens residentes na região metropolitana de Belém, visando compreender a dinâmica interacional entre fatores de risco e proteção na juventude. 4.2. ESPECÍFICOS4.2.1. Categorizar os itens do questionário Juventude Brasileira, referentes a Percepções sobre a família; 4.2.2. Categorizar os itens do questionário Juventude Brasileira, referentes à exposição às drogas; 4.2.3. Categorizar os itens do questionário Juventude Brasileira, referentes a eventos estressores;4.2.4. Identificar percepções e relações entre risco e proteção nas trajetórias dos jovens em relação aos fatores categorizados.

5. MATERIAIS E MÉTODOSNa primeira fase foi utilizado o Questionário Juventude Brasileira II (DELL’AGLIO

et al., 2011), que é constituído de 77 questões, sendo algumas de múltipla escolha e outras em formato Likert de cinco pontos sobre intensidade e frequência. Tal instrumento permite, por exemplo, coletar informações sobre aspectos relacionados à educação, à saúde, ao trabalho, a fatores de risco e a fatores de proteção. (DELL’AGLIO et al., 2011).

Para o desenvolvimento deste relatório utilizou-se algumas variáveis do banco de Silva (2013). A seguir estão descritas as variáveis que foram analisadas e as suas respectivas

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questões no questionário: percepções sobre família (questão 30); exposição às drogas (questões 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39 e 40) e eventos estressores (questão 63).Ressalta-se que os dados foram analisados de forma descritiva, observando-se frequências, médias e desvios padrão.

No segundo estudo,utilizou-se a metodologia dos Grupos de Diálogo (chamados em inglês de ChoiceWork Dialogue) que parte da concepção de que a opinião não é formada de forma individualizada, mas no processo de interação entre os indivíduos. Com o diálogo, os sujeitos são levados a novas reflexões pessoais e coletivas, o que pode favorecer o consenso entre as opiniões para que possíveis decisões possam ser tomadas de forma democrática. Trata-se, portanto, de uma metodologia que favorece a compreensão das percepções e significações de um grupo social a respeito de um determinado tema. (IBASE & PÓLIS, 2006; SILVA, 2013).

A instituição educacional selecionada para a realização dos Grupos de Diálogo foi a Escola Estadual de Ensino Médio Alexandre Zacharias de Assumpção, localizada na periferia do município de Belém. A mesma já havia participado da primeira etapa do estudo, por isso foi escolhida para a coleta dos dados qualitativos. Para o desenvolvimento deste relatório foram realizados três grupos de diálogo:

TURNO TURMA N.º DE ESTUDANTESTarde 204 20 ESTUDANTES (07 meninos; 13 meninas).Tarde 204 22 ESTUDANTES (14 meninos; 08 meninas).Tarde 102 15 ESTUDANTES (3 meninos; 12 meninas).

Os jovens dialogaram por cerca de uma hora sobre alguns dados quantitativos da primeira fase da pesquisa que foram apresentados em forma de cenários provocativos.Os cenários são utilizados para fomentar a discussão e podem ser organizados em forma de textos, slides, vídeos ou qualquer outro material informativo que possa provocar o diálogo (IBASE & PÓLIS, 2006). Em nossa pesquisa, os cenários foram construídos em apresentação em Power Point a partir dos dados do estudo anterior (SILVA, 2013) com o objetivo de apresentar e discutir com os (as) alunos (as) as variáveis sobre risco e proteção identificadas em diferentes contextos, de modo que pudéssemos compreender as percepções e significações que esses sujeitos têm sobre as respectivas variáveis.

Além do mais, foi solicitado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos pais (para adolescentes com menos de 18 anos de idade), assim como a concordância dos próprios adolescentes em participar do estudo. Esclarecemos aos jovens que a sua participação era voluntária e que as informações pessoais seriam mantidas sob sigilo. Os participantes também tinham a possibilidade de desistir a qualquer momento da pesquisa.

Os grupos de diálogo aconteceram no próprio espaço físico da escola e, após a sua realização, eles foram transcritos para análises posteriores.

Ademais, também realizei uma pesquisa bibliográfica que “é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros antigos, teses, etc.” (SEVERINO, 2007, p.112), com o objetivo de reunir literaturas que discutem as temáticas que norteiam o meu plano de trabalho, aprofundando, assim, a minha compreensão sobre as mesmas.

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6. RESULTADOSDiversos são os estudos que buscam compreender as especificidades da juventude. Por

se tratar de um conceito complexo e abrangente, vários autores discutem que não há uma única forma de ser jovem, visto que o juvenil está ligado a inúmeros aspectos, tais como biológico, econômico, cultural e social. Estas características se vinculam, demonstrando a existência de uma diversidade de juventudes, que constituem um conjunto heterogêneo, vivendo experiências em contextos diversos, o que pode resultar em diferentes processos de desenvolvimento, provenientes das interações entre características biológicas e os fatores contextuais onde estes indivíduos se encontram inseridos (ESTEVES & ABRAMOVAY, 2007; LEON, 2005; LEON, 2007; UNFPA-FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2010).

Os jovens vivenciam uma variedade de eventos e experiências em suas trajetórias, que podem ser significadas como risco e/ou como fatores de proteção, o que irá influenciar na constituição de suas identidades, ou seja, no seu desenvolvimento. Os fatores de risco “estão relacionados a toda sorte de eventos negativos de vida que, quando presentes no contexto, aumentam a probabilidade do indivíduo apresentar problemas físicos, psicológicos e sociais” (POLETTO & KOLLER, 2011, p. 31). Esses fatores não podem ser concebidos de forma estática, mas em constante movimento, visto que eles irão interagir com outras variáveis, resultando em outros fatores, que poderão ser percebidos como protetivos (POLETTO & KOLLER, 2011).

Assim, os fatores percebidos como de proteção poderão melhorar, modificar ou alterar respostas individuais a determinados riscos de desadaptação, contribuindo, portanto, para o desenvolvimento saudável do sujeito. Ressalta-se que risco e proteção interagem entre si e alteram o percurso da pessoa, podendo tanto produzir uma experiência estressora quanto uma protetora em seus efeitos (POLETTO & KOLLER, 2011).

Esses conceitos iniciais nos ajudam a desenvolver um olhar mais crítico sobre algumas noções que circulam rotineiramente no contexto brasileiro a respeito da juventude. São ideias, por exemplo, que costumam ver o juvenil apenas como uma fase de preparação para a vida adulta ou como uma etapa problemática, sendo que, essas visões são reducionistas, pois não levam em consideração a diversidade que marca a juventude (ESTEVES & ABRAMOVAY, 2007; DAYRELL & CARRANO, 2003; ABRAMO, 2005). Desse modo, devemos deixar de lado essas classificações aprioristas e compreender as múltiplas formas de ser jovem.

A seguir iremos apresentar alguns dados biosociodemográficos dos participantes do estudo.

No total participaram da pesquisa 658 jovens, com idades entre 13 e 24 anos, de

ambos os sexos, estudantes de 13 escolas públicas do município de Belém (Pará).

Tabela 01: Distribuição da amostra por sexo.

Sexo N % % acumuladoMasculino 230 35,0 35,0

Feminino 366 55,6 90,6

Em branco 62 9,4 100,0

FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

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Percebe-se um número maior de meninas na amostra, o que irá influenciar, por exemplo, nas análises do uso de drogas por sexo.

Tabela 02: distribuição da amostra por faixas etárias.

Faixa etária Frequência % % acumulado

13 a 14 anos 149 23,5 23,5

15 a 17 anos 318 50,0 73,5

18 a 20 anos 131 20,5 94,0

21 a 24 anos 38 6,0 100,0FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

Na amostra há um número reduzido de jovens com idades acima de 20 anos devido às dificuldades que encontramos em acessar turmas do período noturno.

Tabela 03: Distribuição da amostra quanto à cor.

Cor Frequência % % acumulado

Branca 141 21,9 21,9

Negra 98 15,2 37,1

Parda 378 58,8 95,9

Amarela 17 2,7 98,6

Indígena 09 1,4 100,0FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

Percebe-se que há uma predominância de negros e pardos que juntos somam 74% da amostra. De acordo com o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE, 2010), a população parda e negra do estado do Pará somava 5.834.690 pessoas, enquanto que os demais grupos étnicos (brancos,amarelos e indígenas) somavam 1.745.089. Desta forma, percebe-se que os grupos éticos que estão mais presentes em nosso estado são de negros e pardos, o que pode justificar o maior contingente de jovens negros e pardos na amostra.

No que tange à renda, 65 % dos participantes declaram não saber a renda da família. Dentre aqueles que declaram, a média é de R$ 603,00 mensais. Os pais aparecem como principais provedores do sustento em 49 % dos casos, sendo que mães e avós representam 45,0 %. Além disso, 66,9 % dos jovens afirmam que suas famílias recebem recursos do programa bolsa-família.

Todos os jovens que participaram da pesquisa estavam matriculados em instituições de ensino públicas, uma vez que estar estudando era uma das condições imprescindíveis para inclusão de sujeitos no estudo. Além disso, outras variáveis sobre escolaridade foram identificadas. Os questionários, em sua grande maioria, foram aplicados em turmas de primeiro ano (32,7%), sendo que esta série também corresponde a um maior percentual de jovens entre 14 e 17 anos (48,17%), o que indica uma adequada relação idade – série na amostra.

Contudo, verificamos um dado importante: 16,9 % dos jovens estavam na faixa entre 19 e 24 anos que ainda não concluíram o Ensino Médio (EM), o que representa alto índice de

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distorção idade-série. Este percentual confirma os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP, 2013) que apontou no município de Belém um elevado índice de distorção idade-série no EM. De acordo com os dados do INEP, no ano de 2013 de cada 100 alunos belenenses do EM, aproximadamente 44 (56 %) estavam com atraso escolar de 2 anos ou mais.

Por fim, além das informações supracitadas, também coletamos dados sobre com quem os jovens moravam:

Tabela 04: Com quem moram jovens.Com quem moram os adolescentes e jovens Frequência %

Pai Sim 335 61,4Não 210 38,5

Mãe Sim 497 83,5Não 98 16,5

Padrasto Sim 53 8,1Não 411 62,5

Madrasta Sim 14 3,1Não 432 96,9

Irmãos Sim 335 62,7Não 199 37,7

Avô Sim 79 16,8Não 392 83,2

Avó Sim 106 77,3Não 362 22,7

Tios Sim 115 24,0Não 364 76,0

Filhos/as Sim 13 2,9Não 433 97,1

Companheiro Sim 29 6,4Não 426 93,6

Outra pessoa Sim 39 8,6Não 412 91,4

FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

Embora, grande parte dos jovens esteja em uma mesma residência que os pais, percebe-se um índice maior de mulheres na constituição das famílias, revelada pela diferença entre a presença do pai (61,4 %) e da mãe (83,5 %) nas famílias e ainda a ampla presença das avós (77,3 %) em relação aos avôs (16, 8 %). Esses dados parecem corroborar com a tendência de aumento das famílias chefiadas por mulheres e a mudança no perfil tradicional familiar. De acordo com dados do IBGE (2010), as mulheres estavam à frente de 38, 7 % dos lares brasileiro. Um aumento de 13, 8 % em relação ao censo demográfico anterior.

A média de pessoas na família dos jovens é de cinco pessoas, sendo que o desvio padrão é de 2,27%. A maioria dos jovens se declara solteiro (a) (89,1%) com um percentual bem pequeno daqueles que são casados (1,5 %) ou moram junto (2,6%) e daqueles que declaram em “outra situação” (6,6%).

A seguir apresentaremos as análises das variáveis previstas no plano de trabalho de Iniciação Científica apresentado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA (PROPESP-UFPA).

6.1. Percepção sobre a família

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Estudos apontam a família como uma importante rede de apoio social (SOUZA & OLIVEIRA, 2011; NARDI & DELL’AGLIO, 2012). De acordo com Brito &Koller (1995 apud COSTA, 2009), a rede de apoio social refere-se à rede de relações próximas e significativas que os indivíduos estabelecem, as quais representam o apoio percebido e recebido pelos indivíduos. O apoio social, portanto, é entendido como um fator de proteção que se estabelece a partir do processo de socialização (COSTA & DELL’AGLIO, 2011).

Para Souza & Oliveira (2011), numa perspectiva sistêmica, a família possui uma função de cuidado e de proteção. Entretanto, estudos têm apontado que algumas situações que acontecem neste contexto podem potencializar comportamentos de risco (NARDI & DELL’AGLIO, 2012).

Na tabela 05 podemos analisar a percepção que os jovens de Belém têm sobre suas famílias (mãe, madrasta, pai, padrasto ou outras pessoas que cuidam/cuidaram dos jovens):

Tabela 05: Percepção dos jovens paraenses sobre a família

Percepção sobre a família N Média / desvio padrão.

Costumo conversar sobre problemas da nossa família. 612 3,49 (dp= 1, 466)

Meus pais raramente me criticam. 608 2,96 (dp= 1, 487)

Raramente ocorrem brigas na minha família. 610 3,23 (dp= 1, 476)

Quando estou com problemas, posso contar com a ajuda dos meus pais.

613 4,04 (dp= 1, 368)

Sinto que sou amado e tratado de forma especial pelos meus pais. 617 4,09 (dp= 1, 286)Meus pais em geral sabem onde eu estou. 614 4,11 (dp= 1, 291)

Nunca sou humilhado por meus pais. 609 3,84 (dp= 1, 500)Meus pais raramente brigam entre eles. 597 3,33 (dp= 1, 520)

Meus pais dão atenção ao que eu penso e ao que eu sinto. 612 3,54 (dp= 1, 439)Meus pais conhecem meus amigos. 611 3,88 (dp= 1, 324)Eu me sinto aceito pelos meus pais. 603 4,41 (dp= 1, 113)

Meus pais me ajudam quando eu preciso de dinheiro, comida ou roupa.

614 4,65 (dp= 2, 254)

Costumo conversar com meus pais sobre decisões que preciso tomar.

613 3,76 (dp= 2, 543)

Meus pais sabem com quem eu ando. 615 4,9 (dp= 1, 256)Eu me sinto seguro com meus pais. 614 4,53 (dp= 1, 057)

FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

Destacam-se as percepções positivas que os jovens têm sobre suas famílias. São sujeitos que dialogam (N=612; M= 3,49) e que se sentem aceitos pelos pais (N=603; M= 4,41). Ademais, outra informação que nos chama a atenção é a sensação de segurança que as figuras paternais passam aos jovens (N= 614; M= 4,53).

No que tange ao diálogo em família, Wagner et al. (1999) destaca que ele pode favorecer o bem estar dos jovens. Estudos apontam que esta prática ajuda no fortalecimento de laços afetivos entre pais e filhos, o que, somado a outros elementos, pode contribuir para o desenvolvimento dos jovens. Entretanto, a falta de diálogo pode acarretar ou, em certos casos, acentuar algumas dificuldades, principalmente no que diz respeito ao relacionamento dos

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membros da família, o que pode interferir até mesmo na saúde psíquica dos sujeitos que a compõe (PRATTA & SANTOS, 2007; WAGNER et al., 1999).

Ademais, as médias quanto às variáveis “Raramente ocorrem brigas na minha família” (N= 610; M= 3,23) e “Meus pais raramente brigam entre eles” (N= 597; M= 3,33) demonstram que os jovens não concordam e nem discordam destas afirmações. As brigas e os desentendimentos no ambiente familiar podem favorecer o surgimento de diversos tipos de violências, seja através de um soco (violência física); da destruição da auto-imagem do outro (violência psicológica); ou até mesmo da negação da existência e dos direitos garantidos e efetivados (negligência). (NARDI & DELL’AGLIO, 2012; FALEIROS & FALEIROS, 2008).

Os dados também mostram que as famílias desses jovens os ajudam quando eles precisam de dinheiro, comida ou roupa (N=614; M= 4,65). Estes auxílios materiais podem favorecer a permanência dos jovens na escola, uma vez que elementos ligados às questões econômicas são imprescindíveis no processo educativo. Entretanto, os jovens que não possuem esse apoio familiar, muitas vezes são forçados a entrar de forma precária e prematura em um atual contexto laboral marcado pela informalidade e pelo desemprego (THOMÉ, TELMO & KOLLER, 2011; LEON, 2009).

Em síntese, os dados apresentados mostram que as famílias dos jovens pesquisados oferecem elementos que são essenciais para o seu desenvolvimento, o que as configuraria como uma rede de apoio social. Para Souza e Oliveira (2011), a família passa a ser concebida como uma unidade possuidora de recursos e fatores protetores para o enfrentamento de situações de risco, no caso dos jovens que participaram de nosso estudo, comportamentos como conversar com os pais e receber apoio destes em momentos de dificuldades podem funcionam como fatores de proteção.

Entretanto, eventos que acontecem na família também podem agir como risco ao desenvolvimento. A fala de uma aluna em um dos Grupos de Diálogo expressa os resultados negativos de violência intrafamiliar1pode causar:

Eu acho assim, que os pais que agridem seus filhos desde pequeno com certeza aquela criança vai ser uma pessoa violenta, porque não pára pra conversar e agressivo ensinar aí vai violentando e agredindo, esses pais que violentam criança pequena, aí quando cresce vai ser revoltado, o que que [sic] ele vai passar pra outra pessoa, violência.

A aluna discute que atos de violência intrafamiliar podem influência no futuro de crianças, tornando-as, portanto, também violentas. Moreira e Sousa (2012) destacam que

A violência nas relações intrafamiliares revela, muitas vezes, a perpetuação do ciclo da violência, ou seja, os adultos reproduzem a violência vivida em sua própria infância, enquanto as crianças são socializadas para no futuro utilizarem a violência como estratégia de enfrentamento de seus conflitos e dificuldades.(MOREIRA & SOUSA, 2012, p. 22).

Desse modo, percebe-se o caráter histórico e culturas que a violência adquire na sociedade, podendo ser perpassada por gerações. Minayo (2001) salienta que muitas práticas de castigos corporais nos quais diversas crianças e adolescestes foram submetidos em tempos passados, permanecem até os dias atuais.

1 Entendida como “toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família” (BRASIL, 2001, p. 15).

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Do mesmo modo, outros estudos também identificaram fatores de risco e proteção no contexto familiar. Garcia e Yunes (2011) pesquisaram famílias monoparentais em situação de pobreza e apontaram que o apoio afetivo recebido na família pode ter funcionado como fator de proteção para os jovens. Em estudo realizado com 7738 jovens em situação de vulnerabilidade social, Souza e Oliveira (2011) identificaram que atitudes de apoio familiar e de acolhimento podem ter contribuído para o aumento do otimismo e da perspectiva de futuro dos jovens.

Vemos, pois, que uma das funções primordiais da família é de construir nos sujeitos as qualidades humanas. Para Bronfenbrenner (2011),

De todos os contextos que nos ajudam a sermos humanos, a família fornece as condições de desenvolvimento mais importantes. (...) Outros contextos, como a escola, igreja ou creche são importantes para o desenvolvimento de crianças, mas ninguém pode substituir esta unidade básica no nosso sistema social: a família é o mais humano, o mais poderoso e o mais econômico conhecido para tornar e manter os seres humanos mais humanos (BRONFENBRENNER, 2011, p. 279).

Muitas famílias, principalmente as que estão situação de pobreza, se deparam com uma série de fatores que vão interferir na sua função de cuidado e proteção, desse modo emergem as políticas públicas para garantir que o papel desta instituição seja garantido.Concordamos com Stephen Hamilton e Stephen Ceci quando afirmam - no posfácio da obra de Bronfenbrenner (2011) - que a função humanizadora da família é verdadeira e que o desafio se coloca aos políticos e profissionais em oferecer apoio e suporte a esta instituição, em especial aquelas que mais precisam, devido às limitações impostas pelo contexto social.

No próximo tópico deste relatório discutiremos os efeitos que os chamados eventos estressores causam à saúde e ao bem estar da juventude, sendo que os estressores mais frequentes, de acordo com os nossos dados, são justamente os que acontecem dentro do ambiente familiar.6.2. Eventos estressores

Estudos apontam que diversos eventos estressantes podem agir como risco na trajetória de crianças, adolescentes e jovens (MORAIS, KOLLER & RAFFAELLI, 2012; DELL’AGLIO et al., 2005; SCHNEIDER & PACHECO, 2010). Hutz, Koller e Bandeira (1996) comentam que ao enfrentar situações estressantes em suas vivências, muitas crianças apresentam distúrbios evolutivos, problemas de conduta e desequilíbrio emocional.

Os eventos estressores, de acordo com Masten e Garmezy (1985 apud MORAIS, KOLLER & RAFFAELLI, 2012), são aqueles que alteram o ambiente e que provocam um alto grau de tensão, influenciando nas respostas dos indivíduos. Em alguns casos, os eventos estressores podem ocasionar diversas consequências à saúde e ao bem estar social e psicológico dos seres humanos (KRISTENSEN et al., 2004).

Destaca-se que dificilmente os eventos estressores acontecerão de forma isolada e seus impactos são determinados tanto pela forma como eles ocorrem quanto pela forma como são percebidos (significados) pelos sujeitos. Portanto, diante da variabilidade de reações ao estresse e considerando os aspectos que os envolvem, deve haver cautela ao classificá-los como um fator de risco que pode gerar problemas psicológicos (POLETTO, KOLLER & DELL’AGLIO, 2009).

A tabela 06 apresenta os eventos estressores mais frequentes e impactantes de acordo com os jovens que participaram de nosso estudo:

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Tabela 06: Eventos Estressores em jovens estudantes do município de Belém/PA.

Evento estressor (N) Total

Sim Não Quanto foi ruim (média//Desvio

Padrão)N % N %

O nível econômico da minha família baixou de uma hora para outra

564 293 52,0 271 48,0 3,46 (dp =1,202)

Alguém em minha casa está desempregado 559 305 54,6 253 45,3 3,18 (dp =1,288)Meus pais se separaram 561 237 42,2 323 57,6 3,24 (dp =1,582)

Já estive internado em instituições (abrigo, orfanato)

565 12 2,1 553 97,9 2,56 (dp =1,896)

Já fugi de casa 568 44 7,7 524 92,3 2,81 (dp =1,565)Já morei na rua 568 2 0,4 566 99,6 1,20 (dp = 0,447)Já dormi na rua 566 20 3,5 546 96,5 2,65 (dp =1,631)

Já trabalhei na rua 568 27 4,8 541 95,2 2,37 (dp = 1,523)Alguém da minha família está ou esteve preso 566 135 23,9 431 76,1 3,16 (dp =1,402)

Sofri algum acidente grave 562 84 14,9 477 84,9 3,83 (dp =1,310)Alguém muito importante pra mim faleceu 551 280 50,8 270 49,0 4,43 (dp =1,014)

Já passei fome 563 97 17,2 464 82,4 3,99 (dp =1,439)Meu pai/mãe casou de novo. 560 105 18,8 454 81,1 2,51 (dp =1,575)

Meu pai/mãe teve filhos com outros parceiros 561 200 35,7 360 64,2 2,20 (dp =1,490)Já fui assaltado (a) 566 241 42,6 324 57,2 4,01 (dp =1,338)

Já cumpri medida socioeducativa sem privação de liberdade

566 62 11,0 503 88,9 3,36 (dp = 1,637)

Já estive privado de liberdade (Instituição fechada)

563 9 1,6 552 98,0 2,33 (dp =1,759)

Já fui levado para o Conselho Tutelar 565 20 3,5 545 96,5 2,45 (dp =1,565)Já tive problemas com a justiça 564 13 2,3 551 97,7 2,53 (dp =1,700)Já tive problemas com a polícia 563 18 3,2 545 96,8 2,86 (dp =1,797)

FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

Uma análise desta tabela indica que os eventos estressores mais frequentes para amostra total foram: Alguém em minha casa está desempregado (N= 305), O nível econômico da minha família baixou de uma hora para outra (N=293) e Alguém muito importante pra mim faleceu (N=280). Já entre os eventos de maior impacto destacam-se: Alguém muito importante pra mim faleceu (m= 4,43, dp= 1,014), Já fui assaltado (a) (m=4,01; dp=1,338) e Já passei fome (m= 3,99; dp=1,439).

No que tange aos dois primeiros eventos estressores mais frequentes, estudos apontam que a pobreza e o desemprego têm forte relação com comportamentos de risco (GOMES & PEREIRA, 2005; CARA & GATO, 2009). Em estudo realizado por Antoni, Barone &Koller (2011) também se identificou o desemprego como evento causador de estresse. No estudo das autoras, além da instabilidade financeira vivenciada pela família pesquisada, havia uma preocupação e angústia com a ausência de alimento para os filhos. Nesse sentido, a falta de oportunidades laborais potencializa outras situações estressantes no ambiente familiar.

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A situação “alguém muito importante pra mim faleceu” aparece entre os estressores mais frequentes e impactantes. No que tange ao impacto, pudemos confirmá-lo através da fala de uma aluna em um dos Grupos de Diálogo:

Aluna: Acho que o pior pra mim daí dessa lista é quando a gente perde alguém. Perdi meu pai.Mediadora: Recente?Aluna: Eu tinha treze anos (...).Mediadora: Biológico?Aluna: É. No tempo que ele ficou doente – teve câncer – acho que aí que eu fui ficar mais ligada com ele, quando eu recebi a notícia, foi o pior momento da minha vida (aluna começa a chorar)parece que alguma coisa tinha saído de mim.

Combinato e Queiroz (2006) discutem que em cada tempo e cultura há um significado atribuído à morte. Inicialmente, esse significado é externo ao indivíduo, ou seja, pertence à cultura. À medida que esse significado é internalizado, transforma-se num instrumento subjetivo da relação do indivíduo consigo mesmo. E assim, o significado externo adquire um sentido pessoal para o indivíduo. Dessa maneira, o conteúdo que tinha um significado externo passa por uma mediação psíquica e adquire um sentido pessoal, singular, único para cada pessoa. Assim sendo, o significado que os jovens dão à morte está permeado pelas relações culturais e por um processo de ressignificação subjetiva que eles mesmos constroem.

A situação estressante “já fui assaltado” também apresentou um alto impacto na vida da juventude pesquisada.Durante um assalto diversos tipos de violência podem acontecem, desde a violência física (agressão corporal sem utilização de objetos ou agressão com armas brancas ou de fogo) até a violência psicológica (relação de poder exercida por meio de atitudes de mando arbitrário, de agressões verbais, de chantagem, de regras excessivas, de ameaças, humilhações, desvalorização, estigmatização, desqualificação, etc.). (FALEIROS & FALEIROS, 2008).

Uma aluna discute no Grupo de Diálogo as suas sensações perante o assalto do seu aparelho celular:

Fui assaltada no Riacho Doce, tempo de eleição, a minha primeira reação foi correr atrás do bandido, sendo que eram dois, a minha mãe tava comigo, ela ficou desesperada. Foi minha mãe que me deu, é uma coisa que é minha!Eu entrei na rua, quando eu entrei, ele voltou, ele tava armado. Foi o tempo da população se reunir e meu pai chegar de carro, na hora a minha primeira reação foi pegar o meu celular de volta, só que depois veio aquele medo, frio na barriga, assim, foi uma sensação muito ruim, muito [sic].

Scarpato (2004) afirma que cada pessoa age de forma distinta diante de uma situação violenta, assim sendo, algumas pessoas podem sentir uma grande densidade de sensações ruins perante um assalto e depois as mesmas podem ser amenizadas, entretanto outras pessoas podem ficar traumatizadas e sofrerem com as consequências do assalto para o resto de suas vidas.

A situação estressante “já passei fome” configura-se como um tipo de violência – mais especificamente à negligência, uma vez que nega o direito básico que o sujeito possui de se alimentar (FALEIRO & FALEIROS, 2008).

Acreditamos que os eventos estressores mais frequentes que estão ligados às questões econômicas e familiares podem ser minimizados com o aperfeiçoamento e desenvolvimento de políticas públicas, de modo que todos os cidadãos possam ter acesso às riquezas

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produzidas pelo nosso país. Os eventos estressores não estão presentes apenas dos contextos imediatos nos quais os jovens estão inseridos, eles também surgem quando os direitos constitucionais que deveriam ser garantidos para todos não são efetivados na prática.

6.3. Exposição às drogasDrogas ou substâncias psicoativas são compreendidas como substâncias que podem

inibir, acentuar ou modificar em parte um comportamento passível de ocorrer no indivíduo (CAMPOS, 2012).

O uso de drogas pode estar associado à vulnerabilidade social que muitos jovens vivenciam, sendo que a falta de estruturas materiais pode intervir na vida dos mesmos (COSTA, 2011). A vulnerabilidade é compreendida como uma situação caracterizada pelo resultado negativo da relação entre a disponibilidade de “recursos materiais ou simbólicos que permitem aos diversos atores se desenvolver em sociedade” e o acesso às “estruturas de oportunidades que provêm do mercado, do estado e da sociedade” (ABRAMOVAY et al., 2002, p. 30).

Em nossa pesquisa, altos índices de uso de drogas foram identificados, tanto entre os participantes do sexo Masculino (M), como entre as do sexo Feminino (F). Por meio dos dados coletados ficou evidenciado que os jovens paraenses estão próximos às drogas, seja na condição de consumidor ou por meio de pessoas próximas que as consomem. Na tabela 07 estão organizados os dados referentes ao uso de drogas por sexo:

Tabela 07: Tipos de drogas já experimentadas por sexo.

Tipos de drogas (%)Bebida

alcoólicaCigarro comum Maconha Cola,solvente

s, etc. Cocaína Crack Esctasy

M F M F M F M F M F M F M F56,9 66,5 23,4 25,1 6,2 2,7 3,1 1,8 3,6 0,3 2,0 0,5 2,5 0,5

FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

Percebe-se que há uma maior frequência de uso entre as drogas lícitas e que as principais usuárias são as meninas. No estudo de Costa & Dell’Aglio (2011), os rapazes são os maiores consumidores de bebida alcoólica. No que tange ao uso de cigarro, o estudo destas autoras destacou que não houve diferenças significativas nas frequências entre sexo o que está de acordo com nosso estudo.

As tabelas 08 e 09 apresentam os dados sobre o contato que os jovens têm com amigos e familiares que usam drogas:

N Usa drogas (%) Drogas lícitas (%) Drogas ilícitas (%)

529 Não: 43,7 9,3 45,6Sim: 56,3 90,7 54,4

Tabela 08: Você tem algum amigo próximo que:FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

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Tabela 09: Você tem algum familiar que:N Usa Drogas (%) Drogas Lícitas (%) Drogas Ilícitas (%)

586 Não: 50,2 8,7 55,9Sim: 49,8 91,3 44,1

FONTE: Entre risco e Proteção: O ser Jovem em Belém do Pará (SILVA, 2014).

A primeira droga utilizada pelos jovens na cidade de Belém é a bebida alcoólica e estes relatam que fazem uso pela primeira vez entre os 10 e 17 anos. Em geral, os jovens consomem quando estão com amigos (75,5%) ou com familiares (22,0%). O que pode indicar uma contradição no papel de fator de risco ou de proteção para amigos e familiares. Dentre os que consomem drogas, 38,9% afirma que já pensou em parar de usar.

De acordo com Pechansky, Szobot & Scivoletto (2004) algumas atitudes familiares podem contribuir para a inserção dos jovens nas drogas: (1) A falta de suporte parental; (2) O uso de drogas pelos próprios pais; (3) atitudes permissivas dos pais perante o uso de drogas pelos filhos; (4) a incapacidade de exercer controle dos pais sobre filhos;(5) e a indisciplina e uso de drogas pelos irmãos. Assim sendo, os altos índices de uso de drogas no contexto familiar explícitos na tabela 5 podem influenciar os jovens a também utilizarem tais substâncias.

Estudos também apresentam altos índices de uso de drogas entre adolescentes e jovens no Brasil (COSTA & DELL’AGLIO, 2011; HORTA et al., 2007; PECHANSKY, SZOBOT & SCIVOLETTO, 2004).

Horta et al. (2007) realizou um estudo com 960 adolescentes e mostrou que 19,5% das meninas entrevistadas afirmaram consumir cigarros uma vez por semana ou mais no mês que antecedeu as entrevistas, enquanto que 13% dos meninos afirmaram fazê-lo. A prevalência de tabagismo foi 1,51 vezes maior entre as meninas.

No que diz respeito à exposição às drogas, uma aluna em um dos Grupos de Diálogos afirma:

Mediadora: Vocês têm medo disso? É uma preocupação? Quando vocês olham? Podia ser eu, por exemplo. Vocês têm medo disso? De se envolver?Aluna: A gente não imagina, porque o meu tio também é usuário de droga. A minha avó tem medo dele chegar em casa, de dever as pessoas, porque uma vez ele foi lá pro Tenoné e fizeram casinha pra ele, pra ele e pros meus primos. Aí o traficante de lá falou: “vou matar um da família de vocês”. Aí Todo mundo andava assim na rua, nem andava mais.

Percebe-se que possuir um familiar que usa drogas pode ser compreendido como um fator de risco a partir de duas perspectivas: 1. A influência que o usuário de drogas pode exercer sobre os familiares, levando-os a também experimentarem estas substâncias; 2. O risco de vida que os familiares correm devido às dívidas que um usuário de drogas pode acumular com traficantes.

Além disso, os jovens paraenses que nunca usaram drogas, afirmam que os motivos para terem tal atitude são: saúde, medo de viciar, a família ser contra, dentre outros. Também foi observada diferença significativa entre os sexos nessa questão, sendo que os jovens do sexo masculino referiram mais a família, amigos ou namorada ser contra e medo da polícia do que as meninas. A esse respeito, a pesquisa realizada por Costa e Dell’Aglio (2011), com 7316 jovem, também indicou que a razão pela qual os sujeitos pesquisados não usam drogas

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está associada à saúde, ao medo de viciar, às restrições familiares, aos amigos, ao (a) namorado (a) e à religião.

Dessa forma, as restrições sociais, da família e dos pares interferem no comportamento que os jovens têm no que se refere ao uso de drogas. Em famílias que possuem atitudes permissivas, o uso dessas substâncias pode ser significativamente maior, o que potencializa o surgimento de fatores de risco. Além do mais, por meio dos dados coletados, pode-se considerar, que o fato de família, amigos ou namorada serem contra o uso serviu como fator de proteção para os jovens em relação ao comportamento de usar drogas.

Do mesmo modo, os dados apresentados sobre a variável “drogas” neste relatório vêm para contribuir com as discussões sobre os riscos que essas substâncias têm causa donos seus usuários e naqueles que estão ao seu redor, sendo necessários maiores estudos sobre esta temática no município de Belém.

Ao mesmo tempo em que é motor de mudanças e desenvolvimento, a população jovem é um dos estratos sociais que está mais exposta a diversos males, um deles é o uso de drogas (UNFPA-FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2010).A luta contra o uso de drogas precisa ser intensificada nas famílias, escolas e demais instituições que compõe a sociedade. As análises deste estudo comprovam que os jovens estão expostos às drogas, desse modo medidas eficazes de combate precisam ser desenvolvidas.

A juventude é uma fase de grande relevância para o desenvolvimento humano, uma vez que nela acontecem mudanças comportamentais e biológicas que interferem no modo como o sujeito lida com o mundo. Essas modificações são permeadas por situações que favorecem a saúde e o bem estar dos jovens e também por circunstâncias que podem ser propulsoras de diversos fatores de risco.

O estudo realizado objetivou identificar percepções sobre a família, exposição às drogas e eventos estressores em jovens estudantes da região metropolitana de Belém, visando compreender a dinâmica interacional entre fatores de risco e proteção na juventude. Percebe-se que os jovens que participaram da pesquisa têm uma boa percepção sobre as suas famílias.

A pesquisa entra em concordância com outros estudos que também identificaram risco na juventude, principalmente no que tange ao nível socioeconômico das famílias e à situação de exposição às drogas e à violência em que os jovens se encontram, o que contribui, portanto, para se chegar à conclusão de que os jovens precisam ser atendidos por inúmeras políticas públicas que os contemplem em diferentes contextos e de forma integral, desde a saúde até a educação.

7. PARTICIPAÇÕES EM EVENTOS.

CHAVES, Vera L. J. ; SILVA, Lúcia I. C.; HAGE, Salomão; SANTOS, Mateus S. I Seminário Internacional de Políticas Públicas Educacionais, Cultura e Formação de Professores - XXI Seminário Nacional de Políticas Educacionais, Cultura e Formação de Professores. 2014 (Comissão Organizadora).

CHAVES, Vera L. J.;SANTOS, Mateus S. III Encontro Nacional do Projeto OBEDUC-PAR. 2014 (Comissão Organizadora).SILVA, Lúcia I. C.; SANTOS, Mateus. S. Seminário: Direito à Educação: Os Desafios da Gestão e da Participação Popular. 2014. (Comissão Organizadora).

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SILVA, Lúcia I. C.; SANTOS, Mateus. S. Seminário: Direito à Educação: Os Desafios da Gestão e da Participação Popular. 2014. (Comissão Organizadora).

SOUZA, Nilo C. P.; SANTOS, Mateus S. II Simpósio de Literatura Infantojuvenil e Formação do Leitor na Amazônia. 2014. (Comissão Organizadora).

7.1. PUBLICAÇÕES:

MAIA, Rosely C.; GERMANO, Tatiene; SILVA, Lúcia Isabel C.; SANTOS, Mateus S. Violência Intrafamiliar como fator de risco: Exposição à violência física em jovens paraenses. In: I Seminário Internacional De Políticas Públicas Educacionais, Cultura E Formação De Professores - XXI Seminário Nacional De Políticas Educacionais, Cultura E Formação De Professores, 2014, Belém. (Artigo apresentado em evento).

SANTOS, Mateus S. Juventude, risco e proteção: análise da frequência e do impacto de eventos estressores em uma amostra de jovens do município de Belém/Pará. In: VI Simpósio Internacional Sobre a Juventude Brasileira (IV JUBRA), 2015. (Resumo estendido aceito para apresentação).

8. CONCLUSÃO

Antes de entrar neste projeto de pesquisa eu não compreendia a sociedade de forma relacional e contextual. Neste sentido, para mim os jovens deveriam ser punidos severamente pelos seus erros, pois eles eram os únicos culpado em cometê-los. Digamos que meus pensamentos, infelizmente, eram semelhantes os daqueles que defendem com todas as forças a redução da maioridade penal.

Assim sendo, meus escritos iniciais estavam carregados de visões baseadas no senso comum. Entretanto, a partir de muitas leituras e debates pude elaborar outra forma de compreender a vida juvenil e a sociedade.Uma visão diferente daquela que durante muito tempo permaneceu intrínseca em minha formação, pois, assim como boa parte da população brasileira, minhas ideias eram fundamentadas principalmente em informações repassadas pela mídia.

Desse modo, precisei de certo período de tempo para compreender que os jovens são sujeitos em desenvolvimento e que precisam de oportunidades para que isto ocorra. A juventude da periferia enfrenta muitos desafios para concretizar seus objetivos, bem como afirma uma aluna que participou dos Grupos de Diálogo:

Aluna: Eu acho que o mundo que a gente vive já é um risco. Só pelo fato da gente tá nesse mundo aqui, a gente já tá correndo um risco.

Esta é a fala de uma estudante que, assim como várias de nosso país, convive diariamente com a violência, com a desigualdade social, isto é, com a negligência histórica de um Estado que beneficia uma classe dominante e que não garante todos os direitos que foram garantidos em lei. O mundo em que vivemos é um risco, principalmente quando nascemos em

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um país que não nos oferece condições mínimas e humanas para que possamos nos desenvolver.

Por se tratar de um tema complexo, pretendo continuar meus estudos sobre a abordagem e o tema que fundamentam a pesquisa, entretanto, a oportunidade de ser Bolsista de Iniciação Científica já produziu grandes alterações no meu modo de perceber a juventude e a sociedade em que vivemos.

Aí está a importância da iniciação científica, pois ela nos oportuniza o acesso a outros conhecimentos que vão além daqueles que são ensinados dentro das salas de aula dos cursos de graduação.

9. DIFICULDADESDe forma geral as atividades foram desenvolvidas dentro do planejado. Algumas

dificuldades deveram-se a alguns contratempos para realização da coleta de dados nas escolas, que em função de greve prolongada prejudicou um pouco o andamento do cronograma.

10. REFERÊNCIAS

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