Vida e Obra de Noemia de Sousa

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Índice Introdução .................................................................................................................................... 2 Rui de Noronha ........................................................................................................................... 3 Nascimento.............................................................................................................................. 4 Carreira .................................................................................................................................... 4 Temática .................................................................................................................................. 5 Texto poético de Rui de Noronha ............................................................................................ 6 Noémia de Sousa ....................................................................................................................... 8 Nascimento.............................................................................................................................. 9 Carreira .................................................................................................................................... 9 Temática de Noémia de Sousa .......................................................................................... 10 Textos poéticos de Noémia de Sousa .................................................................................. 11 Nascimento............................................................................................................................ 13 Carreira .................................................................................................................................. 13 Temática ................................................................................................................................ 13 Textos poético de Rui de Nogar ............................................................................................. 15 Conclusão .................................................................................................................................... 16 Referência bibliográfica............................................................................................................... 17

Transcript of Vida e Obra de Noemia de Sousa

Índice Introdução .................................................................................................................................... 2

Rui de Noronha ........................................................................................................................... 3

Nascimento .............................................................................................................................. 4

Carreira .................................................................................................................................... 4

Temática .................................................................................................................................. 5

Texto poético de Rui de Noronha ............................................................................................ 6

Noémia de Sousa ....................................................................................................................... 8

Nascimento .............................................................................................................................. 9

Carreira .................................................................................................................................... 9

Temática de Noémia de Sousa .......................................................................................... 10

Textos poéticos de Noémia de Sousa .................................................................................. 11

Nascimento ............................................................................................................................ 13

Carreira .................................................................................................................................. 13

Temática ................................................................................................................................ 13

Textos poético de Rui de Nogar ............................................................................................. 15

Conclusão .................................................................................................................................... 16

Referência bibliográfica............................................................................................................... 17

Introdução O presente trabalho é sobre as poesias, vida e obra de Rui de Noronha, Noémia de

Sousa e Rui Nogar.

São objectivos deste trabalho caracterizar as poesias destes autores acima citado,

suas maiores poesia destacadas, e principalmente a luta que estes autores deram por

usar a poesia como arma para reivindicar seus direitos como sendo cidadão

moçambicanos violados pelos colonizadores.

O trabalho contém 14 páginas. A metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica

enriquecida por pesquisas em livros, internet e filmes.

Rui de Noronha

Rui de Noronha

Nascimento

António Rui de Noronha nasceu no então Lourenço Marques, actual Maputo,

Moçambique a 28 de Outubro de 1909. Mestiço, de pai indiano, de origem brâmane, e

de mãe negra, foi funcionário público (Serviço de Portos e Caminho de Ferro) e

jornalista. O autor colaborou na imprensa escrita de Moçambique, notadamente em O

Brado Africano, com apenas 17 anos de idade. Esta produção inicial, que se reduziram

apenas a três contos, e que correspondem ainda a uma fase de afirmação literária,

virá a ser prosseguida a partir de 1932, com uma intervenção mais activa na vida do

jornal, chegando mesmo a integrar o seu corpo directivo.

Uma desilusão amorosa, causada pelo preconceito racial, fez, segundo os seus

amigos, com que o escritor se deixasse morrer no hospital da capital de Moçambique,

com 34 anos, no dia 25 de Dezembro de 1943.

Carreira

Escritor moçambicano, desde logo mostrou e deixou transparecer, na sua vida e na

sua escrita, um temperamento recolhido, uma personalidade introvertida e

amargurada. Foi, sem dúvida, um homem infeliz. Nunca chegou a concretizar, em

vida, o grande sonho de publicar o seu livro de poemas, que se diz ter intitulado Lua

Nova . Seria, postumamente, um grupo de amigos que viria a cumprir o seu desejo, ao

publicar, em 1943, Sonetos , em parte composto de sonetos publicados na imprensa

local.

Muitos dos seus poemas, porém, ainda se encontram inéditos, ou então esquecidos

na Imprensa, como é o ocaso de "O Brado Africano", na década de 30.

Poeta de transição, e vivendo numa época em que os escritores moçambicanos ainda

não tinham tido a oportunidade de acordar a sua consciência para as mensagens

poéticas de conteúdo social, caracteristicamente moçambicanas, por outro lado

limitado como estava pela repressão cultural em que utilizar a África real como

fundamento/tema-chave era imediatamente alvo do exercício diário da Censura, a

obra de Rui de Noronha ficará marcada como o primeiro sinal expressivo, o precursor

mesmo, de uma nova fase da poesia moçambicana, que viria mais tarde a alcançar o

verdadeiro ponto de ruptura com o passado.

É fundamental, assim, chamar a atenção para a importância deste poeta que veio a

anteceder, em cerca de mais de dez anos, o arranque, definitivo e altivo, para a

construção de uma poesia tipicamente moçambicana.

Rui de Noronha estava desacompanhado neste fulcral início; estava completamente

desamparado e retraído por um sistema que impedia a existência de uma tradição

literária moçambicana. Daí que o poeta se visse forçado a agarrar-se aos modelos

portugueses - com vínculos do século passado ou dos princípios do século XX. Daí

que "apenas" tenha conseguido murmurar as reivindicações do seu povo, em vez de

as gritar e levar bem longe; daí que "apenas" tenha podido insinuar os valores

africanos, o sofrimento do homem moçambicano, a injustiça criada pelo colonialismo,

em vez de os denunciar clara e explicitamente.

Mesmo que assim tivesse que ser, Rui de Noronha manifesta a sua clara intenção e

consciencialização da necessidade de moçambicanizar os modelos estéticos

tradicionais portugueses: incorpora, em muitos poemas, discursividades (palavras e

expressões) próprias de Moçambique. Em muitos dos seus textos encontramos uma

espécie de simbiose entre a oratura (forma oral de transmissão de conhecimentos) e

a escrita, numa tentativa de exigir a reabilitação nacional. Neste sentido, poderá

claramente dizer-se que a acção dos seus poemas é sempre orientada para os

caminhos do futuro: os caminhos que levarão à moçambicanidade.

Sintetizando o principal papel levado a cabo por este magnífico poeta, poder-se-á

dizer que, na década de 30, a poesia moçambicana, pela voz de um dos seus maiores

poetas - Rui de Noronha - exprime, com elevado grau de firmeza, as oposições racial,

económica e cultural que definem as relações colonizadoras versus colonizado.

Rui de Noronha teve essa consciência nacional e, em termos de criação literária,

iniciou a expressão dessa situação. Certo é que essa expressão começou por ser algo

tímida, embora sempre extremamente fecundante, o que será facilmente

compreensível se tivermos em conta a época de repressão vivida em Moçambique,

dominada por um fortíssimo e intransigente sistema colonial. Mesmo assim, Rui de

Noronha é universalmente apontado como o iniciador da mais poderosa aposta na

desalienação cultural e política, persistindo na construção de uma literatura autónoma,

verdadeiramente nacional.

Temática

Autor de "Sonetos", livro póstumo publicado por um grupo de amigos que coligiu vários

poemas dispersos pela imprensa local moçambicana, Rui de Noronha é considerado

um poeta de transição, percursor de uma poesia moçambicana em ruptura com o

passado. Continuam ainda hoje inéditos vários poemas seus, escritos num período em

que a censura impedia a utilização poética da temática de raiz africana ou de cariz

social.

Texto poético de Rui de Noronha

LUA NOVA

“Quenguêlêquêze!...

“Quenguêlêquêze!...

(Lua Nova)

Surgia a lua nova,

E a grande nova]

Quenguêlêquêze!...—

ia de boca em boca

Traçando os rostos de

expressões estranhas,

Atravessando o

bosque, aldeias e

montanhas,

Numa alegria enorme,

uma alegria louca,

Loucamente,

Perturbadoramente...

Danças fantásticas

Punham nos corpos

vibrações elásticas,

Febris,

Ondeando ventres,

troncos nus, quadris...

E ao som de palmas

Os homens,

cabriolando,

Iam cantando

Medos de estranhas

vingativas almas,

Guerras antigas

Com destemidas impias

inimigas

— Obscenidades

claras, descaradas,

Que as mulheres

ouviam com risadas

Ateando mais e mais

O rítmico calor das

danças sensuais.

“Quenguêlêquêze!...

Quenguêlêquêze!...”

Uma mulher de vez em

quando vinha,

Coleava a espinha,

Gingava as ancas

voluptuosamente,

E diante do homem,

frente a frente,

Punham-se os dois a

simular segredos...

— Nos arvoredos

Ia um murmúrio eólico

Que dava à cena, à luz

da lua, um que

diabólico...

“Quêze!Quenguêlêqu

êze!...”

... Entanto uma mulher

saíra sorrateira

Com outra mais

velhinha;

Dirigiu-se na sombra à

montureira,

Com uma criancinha.

Fazia escuro e havia

Ali um cheiro estranho

A cinzas ensopadas,

Sobras de peixe e fezes

de rebanho

Misturadas...O vento,

perpassando a cerca de

caniço,

Trazia para fora o ar

abafadiço,

Um ar de podridão...

E as mulheres

entravam com um tição:

E enquanto a mais

idosa

Pegava na criança e a

mostrava à lua

Dizendo-lhe: “Olha, é a

lua”,

A outra, erguendo a

mão,

Lançou direito à lua a

acha luminosa.

— O estrepitar de

palmas foi morrendo...

E a lua foi crescendo...

foi crescendo...

Lentamente...

Como se fora em

brando e afogado leito

Deitaram a criança,

revolando-a,

Ali na imunda podridão,

no escuro,

Lhe deu o peito...

Então, o pai chegou,

Cercou-a de desvelos,

De manso a conduziu

p´los cotovelos,

Tomou-a nos seus

braços e cantou

Esta canção ardente:

“Meu filho, eu estou

contente!

Agora já na temo que

ninguém

Mofe de ti na rua,

E diga, quando errares,

que tua mãe

Te não mostrou a lua!

Agora tens abertos os

ouvidos

Para tudo

compreender;

Teu peito afoitará,

impávido, os rugidos

Das feras, sem tremer...

Meu filho, estou

contente!

Tu és agora um ser

inteligente,

E assim hás-de crescer,

hás-de ser homem forte

Até que já cansado

Um dia muito velho

De filhos, rodeado,

Sentido já dobrar–se o

teu joelho

Virá buscar-te a Morte...

Meu filho, eu estou

contente!

Agora, sim, sou pai!...”

Na aldeia, lentamente,

O estrepitar das palmas

foi morrendo...

E a lua foi crescendo...

— Crescendo

Como um ai...

Noémia de Sousa

Noémia de Sousa

Nascimento

Escritora moçambicana, Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de

Setembro de 1926, em Catembe, Moçambique, em 1926 e faleceu em Cascais,

Portugal, em 2002. Poeta, jornalista de agências de notícias internacionais viajou por

toda a África durante as lutas pela independência de vários países. Só publicou

tardiamente seu livro de poesias Sangue Negro, em 2001.

Carreira

O seu trabalho poético continua por publicar em livro. Poetiza que, numa espécie de

postura predestinada, desembaraçando-se das normas tradicionais europeias, de

1949 a 1952 escreve dezenas de poemas, estando muitos deles dispersos pela

imprensa moçambicana e estrangeira.

Noémia de Sousa estudou no Brasil e começou a publicar em O Brado Africano.

Entre 1951 e 1964 viveu em Lisboa, onde trabalhou como tradutora, mas, em

consequência da sua posição política de oposição ao Estado Novo teve de exilar-se

em Paris, onde trabalhou no consulado de Marrocos.

Começa nesta altura a adoptar o pseudónimo de Vera Micaia.

Com apenas 22 anos de idade, surge na senda literária moçambicana num impulso

encantatório, gritando o seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado (bem

fundo) na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência social, revelando um

talento invulgar e uma coragem impressionante.

Noémia de Sousa estudou no Brasil e começou a publicar em O Brado Africano.

Mestiça, revela ser marcada por uma profunda experiência, em grande parte por via

dessa mesma circunstância de ser mestiça.

A sua poesia, desde logo, se mostrou "cheia" da "certeza radiosa" de uma esperança,

a esperança dos humilhados, que é sempre a da sua libertação.

Toda a sua produção é marcada pela presença constante das raízes profundamente

africanas, abrindo os caminhos da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos

valores africanos, do protesto e da denúncia.

Poesia de forte impacto social, acusatória, a sua linguagem recorre estilisticamente à

ressonância verbal, ao encadeamento de significantes sonoros ásperos, à utilização

de palavras que transportam o "grito inchado" de esperança.

Noémia de Sousa, como autêntica pioneira da Literatura Moçambicana (como assim

sempre foi considerada) preconiza - no seu percurso literário - a revolução como único

meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra moçambicana.

Sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo avançasse uno, em colectivo,

em direcção a um futuro que alterasse os eixos em que se fundamentava a atitude do

homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumanização. Afirma-se, acima de

tudo, africana e aposta fortemente na divulgação dos valores culturais moçambicanos.

As propostas essenciais da sua expressão literária vão do desencanto quotidiano, de

uma certa amargura, de uma certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgulho racial, até

ao protesto altivo que contém a pulsão danada contra cinco séculos de humilhação.

Temática de Noémia de Sousa

A grande base do texto de Noémia de Sousa está centrada na eterna dicotomia

"nós/outros" - "nós", os perfeitamente africanos; os "outros", as gentes estranhas, os

que chegaram a África, os colonizadores. Assim, estes são, sem dúvida, os dois

grandes temas da poesia de Noémia de Sousa: se por um lado temos a contínua

denúncia da total incompreensão por parte do colonizador, que apenas capta a

superficialidade dos rituais, não compreendendo o âmago de África, demonstrando,

desta forma, uma visão plenamente distorcida, por outro lado lança-nos em poemas

de elogio aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente perceptível

que a presença do colonizador em África é sinónimo de força que apenas veio

denegrir a imagem daquela terra.

Noémia de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por parte dos africanos. E por

esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar

essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África tinha forçosamente

que ser entendido por oposição à maneira de cantar do colonizador.

Nos seus poemas, o "eu" de Noémia de Sousa é entendido como um "colectivo", um

povo inteiro que quer ter palavra - o povo moçambicano. Desta forma, a poetiza

assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à terra-mãe que

os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação

demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva

devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica.

Apesar de breve, porém prolífera, passagem de Noémia de Sousa pelo panorama da

literatura moçambicana, a qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser

reconhecida e admirada.

Textos poéticos de Noémia de SousaA MINHA DOR

Dói

a mesmíssima angústia

nas almas dos nossos corpos

perto e à distância.

E o preto que gritou

é a dor que se não vendeu

nem na hora do sol perdido

nos muros da cadeia.

AFORISMO

Havia uma formiga

compartilhando comigo o isolamento

e comendo juntos.

Estávamos iguais

com duas diferenças:

Não era interrogada

e por descuido podiam pisá-la.

Mas aos dois intencionalmente

podiam pôr-nos de rastos

mas não podiam

ajoelhar-nos.

GRÃO D´AREIA

Um só ínfimo grão de ‘areia

nunca imaginei

pesar tanto...

eu depondo

no clássico ritual

sobre o nosso adeus

constrangidos torrões

à mancheias.

EM VEZ DE LÁGRIMAS

Só um choro em seco

põe no vértice da minha dor

o mais intenso

auge do luto.

INFELIZMENTE JAMAIS

No instintivo temor das ruas

Maria hesitava nos passeios

até não pressentir

o mais fugaz

presságio.

Contorno de sombra

à berma de uma além – asfalto

fatal presságio da rua

infelizmente já não

a intimida.

Cumprido o funesto prenúncio

já atravessava uma avenida

infortunadamente já nenhum risco

intimida o espírito

de Maria.

Doentiamente eu amaria ver

Maria ainda amedrontada

e nunca como depois

em que já nada a intimida.

Rui Nogar

Rui Nogar

Nascimento

Escritor e político moçambicano, Rui Nogar, pseudónimo de Francisco Rui Moniz

Barreto, nasceu a 2 de Fevereiro de 1935, em Lourenço Marques (actual Maputo),

Moçambique.

Após a morte do pai, abandonou os estudos secundários, a fim de prover ao sustento

da família. Considerava-se um autodidacta, cuja formação devia tanto ao exemplo dos

pais como ao de professores, exilados políticos portugueses, que o alertaram para as

questões sociais e a necessidade de as problematizar no contexto colonial.

Carreira

Poeta, contista, declamador, Rui Nogar colaborou em publicações de imprensa, como

Itinerário, O Brado Africano, A Voz de Moçambique, Caliban e África. A sua obra está

incluída em várias antologias nacionais e estrangeiras, como Poetas Moçambicanos

(1960), Resistência Africana (1975) e No Ritmo dos Tantãs (1991).

Rui Nogar morreu em Lisboa, em 1994.

Viveu de perto desigualdades e injustiças, quer no subúrbio laurentino, que «conhecia

como os seus dedos», quer no seu percurso profissional: trabalhou junto dos

carregadores do cais e como praticante de escriturário nos Caminhos de Ferro de

Moçambique, funções que só não foram mais humildes porque, como disse, «era

impossível ser servente. Na altura só os havia de raça negra». Posteriormente, foi

copywriter, contabilista e redactor em diversos títulos da imprensa, como a Tribuna ou

O Brado Africano.

Com Craveirinha, participou nas actividades da Associação Africana, aí se

notabilizando como declamador. Foi, aliás, na sequência de uma das sessões culturais

dinamizadas naquela associação, em 1953, que a polícia política o deteve pela

primeira vez. Os seus poemas mais antigos datam de 1954-55 e surgem em O Brado

Africano e no Itinerário. Nessa época, reconhecia «ser mais provocador de vocações

do que ser ele próprio vocacionado», mas acabou por assumir a escrita como um

instrumento de expressão do seu «mundo interior», o que, nas suas palavras,

significava tudo «aquilo que nós achávamos justo», tudo o que «pensávamos

realmente não poder continuar a acontecer à nossa volta».

Temática

Combatente da FRELIMO

A coerência com que pautou a sua postura levou-o a ingressar na FRELIMO, em

1964. Incumbido da organização da região político-militar do sul do Save, acabou por

ser novamente detido, em Janeiro de 1965. Julgado com Craveirinha, Luís Honwana,

Malangatana Valente e outros, foi libertado da Cadeia Central da Machava a 28 de

Maio de 1968. Deste período de detenção datam muitos dos poemas que reuniu no

seu único livro, Silêncio Escancarado, dado à estampa em 1982.

No período de transição, empenhou-se na preparação da independência, encarregue

de organizar os grupos dinamizadores em Lourenço Marques. Depois, além de

deputado à Assembleia Popular, assumiu outros cargos oficiais, tendo sido o primeiro

secretário-geral da Associação de Escritores Moçambicanos e, a partir de 1987, vice-

presidente da Assembleia Geral da mesma associação.

Muitos dos seus textos mantêm-se esquecidos e dispersos, como são o caso do conto

«Fabião», de 1958, ou do poema narrativo «Nove Hora», dramatizado pelo Grupo

Mutumbela Gogo, num espectáculo estreado a 27 de Março de 1989, no Teatro

Avenida, em Maputo.

Os poemas de Rui Nogar representam, sobretudo, a vivência de um homem mais

preocupado com os «outros homens da sua época» do que com a imortalidade

literária. De facto, o poeta privilegiou, de igual modo, a acção político-social e a

actividade poética: a consciência crítica dos problemas conjunturais da sociedade

moçambicana conduziu-o à assunção da escrita como meio de expressão das suas

inquietações, motivadas pela solidariedade e desejo de intervir em defesa da condição

humana. Semelhante posicionamento norteou o seu trajecto biográfico e literário,

balizado no enraizamento no «caniço», quer dizer, no subúrbio de Lourenço Marques,

na preocupação com o homem, nas memórias da luta anticolonial e na convicção nos

ideais do socialismo.

Regida embora pelo comprometimento ideológico e político, a criação poética de Rui

Nogar não se limita a representar literalmente a realidade, nem se aglutina apenas em

torno da indignação, da denúncia ou da defesa da acção militante. Enunciados

também na primeira pessoa do singular, os poemas encontram no real os pretextos

para desvendar o íntimo de um sujeito que, exprimindo-se, constrói uma poesia onde

têm lugar quer a militância quer a afeição à terra e ao homem moçambicanos, o amor

ou a reflexão sobre o poema e a própria palavra.

Deste modo, os textos de Rui Nogar tanto se ligam ao sistema literário, por neles se

manifestar a preocupação estética de «fazer» poesia, como se aproximam do

documento, já que também evidenciam funções pragmáticas, relacionando-o com o

contexto de luta pela independência ou de construção de «uma bela pátria socialista/

onde caberão todas as rimas/ que uma a uma rimarão/ com os povos do mundo

inteiro/ em busca da liberdade

Textos poético de Rui de NogarNA ZONA DO INIMIGO

As instruções foram bem precisas

Todos nós as compreendemos

camaradas

“Permanecer no interior do país

cumprindo tarefas que vos daremos

guardar o santo e senha

que de Dar-es-Salam vos irá

revelar a cada um

as fronteiras da humilhação

e depois a luta e a conquista

de novas zonas libertadas”

As instruções foram bem precisas

todos nós as compreendemos

camaradas

E aguardaremos ansiosamente

o mensageiro que já tardava

XICUEMBO

Eu bebeu suruma

dos teus ólho Ana Maria

eu bebeu suruma

e ficou mesmo maluco

agora eu quero dormir quer comer

mas não pode mais dormir

não pode mais comer

suruma dos teus olhos Ana Maria

matou sossego no meu coração

Oh matou sossego no meu coração

Eu bebeu suruma oh suruma suruma

dos teus ólho Ana Maria

com meu todo vontade

com meu todo coração

e agora Ana Maria minhamor

eu não pode mais viver

eu não pode mais saber

que meu Ana Maria minhamor

é mulher de todo gente

é mulher de todo gente

todo gente todo gente

menos meu minhamor.

Conclusão No presente trabalho abordei os assuntos sobre as poesias, vida e obra Rui de

Noronha, Noémia de Sousa e Rui Nogar.

António Rui de Noronha em Lourenço Marques, actual Maputo, Moçambique a 28 de

Outubro de 1909. Rui de Noronha colaborou na imprensa escrita de Moçambique,

notadamente em O Brado Africano, com apenas 17 anos de idade. Morreu no hospital

da capital de Moçambique, com 34 anos, no dia 25 de Dezembro de 1943.

Autor de "Sonetos", livro póstumo publicado por um grupo de amigos que coligiu vários

poemas dispersos pela imprensa local moçambicana, Rui de Noronha é considerado

um poeta de transição, percursor de uma poesia moçambicana em ruptura com o

passado, a ”Lua Nova” foi a poesia mais destacada deste autor.

Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em

Catembe, Moçambique, em 1926 e faleceu em Cascais, Portugal, em 2002.

Noémia de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por parte dos africanos. E por

esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar

essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África tinha forçosamente

que ser entendido por oposição à maneira de cantar do colonizador.

São destacados os seguintes poemas de Noémia de Sousa: minha dor, aforismo, em

vez de lagrimas, infelizmente jamais, etc.

Rui Nogar, pseudónimo de Francisco Rui Moniz Barreto, nasceu a 2 de Fevereiro de

1935, em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique.

Datam muitos dos poemas que reuniu no seu único livro, Silêncio Escancarado, dado

à estampa em 1982.

Os poemas de Rui Nogar representam, sobretudo, a vivência de um homem mais

preocupado com os «outros homens da sua época» do que com a imortalidade

literária.

Referência bibliográfica.

Sonetos (1946), editado pela tipografia Minerva Central.

Os Meus Versos, Texto Editores, 2006 (Organização, Notas e Comentários de

Fátima Mendonça)

Ao mata-bicho: Textos publicados no semanário «O Brado Africano» Pesquisa

e Organização de António Sopa, Calane da Silva e Olga Iglésias Neves.

Maputo, Texto Editores, 2007

Rui Nogar. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult.

2013-07-22].

Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$rui-nogar>.

Revista Rubra nº 6 » Rui Nogar, poeta guerrilheiro