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VI SEMINÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DA UFSCAR CADERNO DE RESUMOS 20 a 24 de Setembro de 2010

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VI SEMINÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM FILOSOFIA DA UFSCAR

CADERNO DE RESUMOS

20 a 24 de Setembro de 2010

VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar 20 a 24 de setembro de 2010

Caderno de Resumos - 2 - PPG-Fil - UFSCar

VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar

20 a 24 de Setembro de 2010

CADERNO DE RESUMOS

PPG-Fil – UFSCar São Carlos, SP

VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar 20 a 24 de setembro de 2010

Caderno de Resumos - 3 - PPG-Fil - UFSCar

Universidade Federal de São Carlos Centro de Educação e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Filosofia

Pró-Reitor de Pesquisa Prof. Dr. Claudio S. Kiminami

Pró-Reitor de Pós-Graduação

Prof. Dr. Bernardo Arantes do N. Teixeira

Diretora do Centro de Educação e Ciências Humanas Profa. Dra. Wanda Aparecida Machado Hoffman

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia

Prof. Dr. Paulo Roberto Licht dos Santos

Desenho da Capa Nathalia Muylaret Locks Guimarães

Editoração Eletrônica

Deborah Christina Antunes Vinícius dos Santos

Comissão Organizadora

Deborah Christina Antunes Nathalia Muylaert Locks Guimarães

Vinícius dos Santos Solange Bitterbier

Gustavo Oliveira Fernandes Melo Ciro Henrique Afonso Garcez

Tayrone Barbosa Justino Alves

http://www.ufscar.br/~semppgfil [email protected]

Ficha Catalográfica

Caderno de Resumos - VI Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar PPG-Fil/UFSCar São Carlos – SP, 2010, p. 53. 1.Filosofia 2.Ciências Humanas 3.Pesquisa em Pós-graduação

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APOIO

Centro de Educação e PPG-Fil Ciências Humanas

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Caderno de Resumos - 5 - PPG-Fil - UFSCar

SUMÁRIO

Apresentação e objetivos 06 Cronograma 06 Mapa do Campus 07 Programação 08 Resumos 14

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Caderno de Resumos - 6 - PPG-Fil - UFSCar

APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS

Esse evento é destinado a todos os alunos regularmente matriculados em

programas de Mestrado/Doutorado em Filosofia. O objetivo do Seminário é criar um

espaço acadêmico que favoreça o debate e a interação entre os estudantes de pós-

graduação, bem como divulgar a produção acadêmica discente dos PPGs.

Para que o debate aconteça de forma mais profunda, adotamos uma estrutura

diferente da usual realizada nos eventos de filosofia. Todos os apresentadores de

trabalhos são também debatedores. Para que esta dinâmica funcione, os textos integrais

das comunicações aprovadas devem ser enviados antecipadamente pelos participantes à

comissão organizadora, nos prazos devidos e constantes no cronograma do evento. Cada

apresentador recebe, a seguir, um texto - com cerca de 20 dias de antecedência ao início

do evento - de área afim, de outro apresentador da mesma mesa, e com este em mãos,

deve desenvolver, sob a forma de debate, questões sobre ele.

Para manter a qualidade dos debates, procuramos, em cada mesa - montada a

partir das temáticas dos trabalhos aprovados - manter o número de 3 apresentações.

Assim, o tempo das mesas deve ser dividido em 20 minutos de apresentação, 10

minutos de debate e 30 minutos de perguntas abertas ao público.

CRONOGRAMA

Datas Atividade

Até 16/07/2010 Envio dos resumos

Até 30/07/2010 Divulgação, no site do evento, dos trabalhos aprovados

Até 23/08/2010 Envio dos textos completos dos trabalhos aprovados

20/09/2010 Início do VI Seminário de Pós-graduação em Filosofia da UFSCar

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Caderno de Resumos - 7 - PPG-Fil - UFSCar

MAPA DO CAMPUS Anfiteatro Bento Prado Jr. TO Filosofia Sociais AT 8 Letras CECH

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Caderno de Resumos - 8 - PPG-Fil - UFSCar

PROGRAMAÇÃO

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

MATUTINO 10:00-12:00

MESA: BERGSON Mediadora:

Solange Bitterbier

Sala de Projeções Depto de Letras

MESA: DESCARTES

Mediador: Gustavo Oliveira

Sala de

Reuniões PPG-Fil

MESA: FILOSOFIA ANTIGA

Mediadora: Solange Bitterbier

Auditório

Ciências Sociais

MESA: FILOSOFIA DA PSICOLOGIA

Mediadora: Deborah Antunes

Auditório

Ciências Sociais

MESA: FILOSOFIA MEDIEVAL Mediadora:

Solange Bitterbier

Sala de

Reuniões PPG-Fil

MESA: FILOSOFIA MODERNA Mediador: Gustavo Oliveira

AT 8

Sala 181

MESA: FILOSOFIA DA

CIÊNCIA Mediador: Ciro

Garcez

Sala de Reuniões PPG-Fil

VESPERTINO 14:00-17:00

PALESTRA DE ABERTURA

Prof. Dr. Mateu Cabot

Universitat de les Illes Balears, España (UIB)

Anfiteatro Bento Prado Jr.

MESA: HUME Mediador: Gustavo

Oliveira

Sala Anísio Teixeira CECH

MESA: AGAMBEN Mediadora:

Deborah Antunes

Sala de

Reuniões PPG-Fil

(a confirmar)

MESA: MARX

Mediadora: Nathalia Locks

Sala de Vídeo

TO

MESA: KANT 1

Mediador: Ciro Garcez

Sala de

Reuniões PPG-Fil

MESA: FOUCAULT 1

Mediador: Vinícius dos Santos

Sala de Projeções Depto de Letras

MESA: FILOSOFIA POLÍTICA Mediadora:

Deborah Antunes

Sala Anísio

Teixeira CECH

PALESTRA DE ENCERRAMENTO

AT 8

Sala 181

MESA: MERLEAU-

PONTY Mediador:

Vinícius dos Santos

Sala Anísio Teixeira CECH

MESA: ESTÉTICA 1

Mediador: Ciro Garcez

Sala de

Reuniões PPG-Fil

(a confirmar)

MESA: FOUCAULT 2 Mediador: Ciro

Garcez

Sala de Projeções Depto de Letras

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Caderno de Resumos - 9 - PPG-Fil - UFSCar

NOTURNO 18:00-21:00

MESA: TEORIA CRÍTICA

Mediadora: Deborah Antunes

AT 8

Sala 180

MESA: HUSSERL Mediador:

Ciro Garcez

Sala de Reuniões PPG-Fil

MESA: WITTGENSTEIN Mediador: Gustavo

Oliveira

AT 8 Sala 184

MESA: NIETZSCHE

Mediador: João PauloVilas

Boas

Sala de Reuniões PPG-Fil

MESA: SARTRE Mediador:

Vinícius dos Santos

AT 8

Sala 184

MESA: KANT 2

Mediador: Ciro Garcez

Sala de

Reuniões PPG-Fil

MESA: MONTANGNE

Mediadora: Solange Bitterbier

AT 8

Sala 184

MESA: ESTÉTICA 2 Mediadora:

Nathalia Locks

Sala de Reuniões PPG-Fil

MESA: DELEUZE Mediador:

Vinícius dos Santos

AT 8

Sala 184

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

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Caderno de Resumos - 10 - PPG-Fil - UFSCar

Palestra de Abertura: Prof. Dr. Mateu Cabot - Universitat de les Illes Balears, España (UIB) - “El objeto de la estética en el siglo XXI y “lo normal” Mesa de Encerramento: a definir. MESA: TEORIA CRÍTICA Mediadora: Deborah Antunes

1. “Dominação e restauração da natureza em Herbert Marcuse” – Rafael C. Silva (Doc/UFU);

2. “As impossibilidades de uma Aufhebung na Sociedade Atual” – Nathalia M. Locks (M/UFSCar);

3. “A teoria do agir comunicativo de Habermas e a formação do sujeito moral” – Danilo Persch (Doc/UNEMAT);

4. “De Frankfurt à Califórnia: há continuidade nas pesquisas empíricas da Escola de Frankfurt entre 1929 e 1950?” – Deborah C. Antunes (D/UFSCar);

MESA: HUSSERL Mediador: Ciro Garcez

1. “O limite da reflexão fenomenológica nas Lições de Husserl” – Scheila Thomé (D/UFSCar);

2. “O ser-no-mundo e o modo de ser do conhecimento” – Luciano Campos (M/Unicamp); MESA: BERGSON Mediadora: Solange Bitterbier

1. “O problema da localização das “causas” da diferenciação na evolução das formas vivas em Henri Bergson e Gabriel Tarde” – Rafael H. Teixeira (D/UFSCar);

2. “Bergson e Sartre: uma discussão acerca do termo imagem” – Solange Bitterbier (M/UFSCar);

MESA: HUME Mediador: Gustavo Oliveira

1. “Elementos para uma interpretação do problema da identidade no Tratado da Natureza Humana de David Hume” – Cristiano Moraes Junta (D/UFRGS);

2. “Empirismo, Geometria e a Teoria das ideias abstratas” – Gustavo O. F. Melo (M/UFSCar);

MESA: MERLEAU-PONTY Mediador: Vinícius dos Santos

1. “Merleau-Ponty crítico do estatuto ontológico cartesiano” Eloísa Benvenutti de Andrade – (M/Unesp);

2. “A obscuridade fundamental do expresso: o não-ser como criação ou como resquício de um idealismo?” – Mariana Scarpa (M/UFPR);

MESA: WITTGENSTEIN Mediador: Gustavo Oliveira

1. “A Filosofia da Ciência de H. Hertz e sua Influência sobre o Tractatus de L.

Wittgenstein” – Eduardo Simões (D/UFSCar);

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Caderno de Resumos - 11 - PPG-Fil - UFSCar

2. “A linguagem como práxis racional” – Tatiane Boechat (D/UFSCar); 3. “Frege contra os formalistas” – Anderson Nakano (M/UFSCar);

MESA: DESCARTES Mediador: Gustavo Oliveira

1. “Falsidade material em Descartes” – Otavio Kajevski Jr. (M/UFPR); 2. “O último grau da sabedoria” – Lílian Cantelle (M/Univ. São Judas Tadeu); 3. “O recurso à luz natural e o problema da justificação de sua validade nas Meditações de

Descartes” – Marcio A. Zaboti (M/UFPR); MESA: AGAMBEN Mediadora: Deborah Antunes

1. “Estado de exceção em Giorgio Agamben – Raphael Valério (M/Unesp); 2. “O universal na construção do processo hegemônico” – Mario Massini (M-

Sociologia/Unicamp); MESA: ESTÉTICA 1 Mediador: Ciro Garcez

1. “Cartas Schillerianas: a conciliação entre a dimensão estética e a política” – Guilherme K. G. Ferreira (M/Unesp);

2. “Concepções particularistas em ontologia da arte” – Jean R. Siqueira (Doc/Univ. Camilo Castelo Branco);

MESA: NIETZSCHE Mediador: João PauloVilas Boas

1. “Probidade e retidão em um ditirambo dionisíaco” – Misael J. Oliveira Filho (Mestrado – UEL);

2. “Entre o maquiavelismo e o agon: Nietzsche e a polêmica sobre a ‘grande política’” – João Paulo S. Vilas Boas (M/UFPR);

MESA: FILOSOFIA ANTIGA Mediadora: Solange Bitterbier

1. “Justiça: a excelência da virtude em Aristóteles” – Ana Paula D. Amorim (M/UFSCar) 2. “A palavra (mýthos) sobreposta pela nova modalidade da palavra (lógos)” – Nestor

Muller (M/UFSCar); 3. “Breve análise da diferença entre ‘significar algo uno’ e o ‘significar de algo uno’ no

livro Gama da Metafísica de Aristóteles” – Thiago S. F. Oliveira (D/Unicamp); MESA: DELEUZE Mediador: Vinícius dos Santos

1. “O capitalismo axiomático de Deleuze e Guattari: sobre o sentido da ideia de ‘axiomática geral dos fluxos descodificados’ elaborada em O Anti-Édipo e Mil Platôs” – Bernardo Tavares dos Santos (M/PUC-SP);

2. “A produção de subjetividade capitalista na educação” – André C. Camargo (M/Unesp); MESA: SARTRE Mediador: Vinícius dos Santos

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Caderno de Resumos - 12 - PPG-Fil - UFSCar

1. O conceito de Bem nos Cahiers pour une morale e a possibilidade de superação da alienação” – Carlos Eduardo de Moura (D/UFSCar);

2. “Sartre: razão e dialética” – Vinícius dos Santos (D/UFSCar); MESA: MARX Mediadora: Nathalia Locks

1. “Continuidade e rompimento – uma análise sobre a unidade teórica de Karl Marx” – André Cressoni (M/Unicamp);

2. “O dilema entre Estado e Democracia: um estudo sobre a crítica da política na obra do jovem Marx” – Fabio. F Barros (M/Unicamp);

3. “Marx leitor de Feuerbach” – Frederico Paschoal (M/Unifesp); MESA: KANT 1 Mediador: Ciro Garcez

1. “A metafísica dos Träume eines Geistersehers: o visionário Swedenborg e os limites do conhecimento” – Marcio Girotti (M/Unesp);

2. “A solução da ação má em Kant e a sua determinação causal” – Jorge V. C. Conceição (M/PUC-PR);

3. “O método do simbolismo em Kant” – Fabiano Queiroz (D/Unicamp); MESA: KANT 2 Mediador: Ciro Garcez

1. “Representação e Objeto na Filosofia Kantiana” – Ciro Garcez (M/UFSCar); 2. “Os paradoxos do sentido interno na Crítica da Razão Pura” – Elias S. Dutra

(D/UFSCar); 3. “Uma pérola em Kant: a recuperação do juízo reflexionante kantiano sob uma dimensão

política” – Paulo Eduardo Bodziak Jr. (M/Unicamp) MESA: FILOSOFIA DA PSICOLOGIA Mediadora: Deborah Antunes

1. “Múltipla Exemplificação, Holismo e Funcionalismo acerca de Predicações Psicológicas” – Filipe Lazzeri (M/UnB);

2. “Fundamentos metodológicos da teoria piagetiana: uma psicologia em função de uma epistemologia” – Rafael Reis Ferreira (M/Unesp);

MESA: FOUCAULT 1 Mediador: Vinícius dos Santos

1. “Entre Bergson e Foucault: disciplina e sociedade” – Rafael F. Hack (D/UFSCar); 2. “A morte em Rosa Luxemburgo e Michel Foucault” – Caio Souto (M/UFSCar);

MESA: FOUCAULT 2 Mediador: Ciro Garcez

1. “A relação representação – sujeito – homem em As palavras e as coisas, de Michel Foucault” – Fillipa Silveira (D/UFSCar);

2. “A genealogia das tecnologias de segurança da população em Michel Foucault” – Leandro Menezes (M-História/UFG);

MESA: MONTANGNE Mediadora: Solange Bitterbier

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Caderno de Resumos - 13 - PPG-Fil - UFSCar

1. “Entre a subjetividade como auto-retrato em Montaigne e como consciência de si em Descartes” – Edgar V. C. Zanette (M/Unioeste);

2. “A amizade indivisível em Montaigne” – Nelson M. B. da Silva (M/Unesp); MESA: FILOSOFIA MEDIEVAL Mediadora: Solange Bitterbier

1. “O estatuto dos sentidos na teoria do conhecimento de Tomás de Aquino” – André Berger (M/UFSCar);

2. “A sociabilidade entre os soberbos: um estudo dos parágrafos finais do segundo livro das Confissões de Agostinho de Hipona” – Rafael B. Rodrigues (M/USP);

MESA: FILOSOFIA POLÍTICA Mediadora: Deborah Antunes

1. “Lukács, o problema da reificação e a perspectiva formativa em História e Consciência de Classe” – Bruno M. Falcão Mendes (M/UFSCar);

2. “A dialética entre carisma e racionalidade no pensamento de Max Weber” – Luis Felipe Roselino (D/UFSCar);

3. “A família no sistema hegeliano” – Claudeni R. Oliveira (M/Unesp);

MESA: ESTÉTICA 2 Mediadora: Nathalia Locks

1. “O sublime em Assim falava Zaratustra” – Martha de Almeida (D/UERJ); 2. “A filosofia entre o sistema e não-sistema – Friedrich Schlegel e a linguagem da

filosofia” – Thiago C. Santos (M/UFSCar); 3. “O papel das poéticas artísticas em tempos de definição institucional da arte” –

Guilherme R. S. Elias Ferreira (M/UERJ); MESA: FILOSOFIA MODERNA Mediador: Gustavo Oliveira

1. “A dinâmica das paixões humanas em Thomas Hobbes” - Luiz Carlos Santos da Silva (D/Unicamp);

2. “A expansividade do amor de si na filosofia de Rousseau” – Marisa Vento (D/Unicamp);

3. “Leibniz e a fraqueza da vontade” – André Chagas (D/USP); MESA: FILOSOFIA DA CIÊNCIA Mediador: Ciro Garcez

1. “O realismo de entidades de Ian Hacking” – Tales Lazarin (D/UFSCar); 2. “O conceito de percepção-ação na Filosofia Ecológica” – Juliana Moroni (M/Unesp);

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Caderno de Resumos - 14 - PPG-Fil - UFSCar

RESUMOS

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Caderno de Resumos - 15 - PPG-Fil - UFSCar

PALESTRA DE ABERTURA

El objeto de la estética en el siglo XXI y “lo normal”

Prof. Dr. Mateu Cabot Universitat de les Illes Balears

Adorno escribía en 1968 que el concepto de estética filosófica parecía anticuado, como los de sistema y de moral. Adorno se refería al tipo de estética de los grandes sistemas, como el de Kant y el de Hegel. El objeto de una estética contemporánea, de después de Auschwitz, ya no pueden ser los propios conceptos a priori que la han constituido históricamente, aquellos conceptos heredados cuya aplicación incontrolada lleva, según Benjamin, “a la transformación del material [que el concepto pretende aprehender] en un sentido fascista”. Su objeto de estudio tiene que ser, más bien, aquellos fenómenos, fugitivos y efímeros, tanto como puedan serlo la luz y el sonido, de las pantallas y los anuncios, que conforman la experiencia: en esos fenómenos se representan modelos de, además de lo claramente ideológico, aquello que ha de ser considerado como normal, sentido común, lo socialmente dominante. Es en este sentido que entendemos la afirmación adorniana de que “la estética es ya sociología”.

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Caderno de Resumos - 16 - PPG-Fil - UFSCar

COMUNICAÇÕES

Teoria Crítica

Dominação e restauração da natureza em Herbert Marcuse

Rafael Cordeiro Silva

Docente – UFU [email protected]

O tema da dominação da natureza é recorrente entre os autores da Teoria Crítica. Basta mencionar, a título de exemplo, a clássica tese de Adorno e Horkheimer, apresentada no primeiro capítulo da Dialética do esclarecimento, de que a dominação da natureza levou à dominação dos homens. Marcuse também discute esse conceito em suas obras, principalmente a partir de Eros e civilização. O autor parte do pressuposto da necessária dominação da natureza como forma de satisfação das necessidades humanas e caminho para a liberdade. A dominação da natureza é realizada pelo trabalho. No entanto e em geral, o trabalho não causa prazer, mas penúria e frustração, embora seja entendido como fonte de produção de riquezas, cujo acúmulo deveria levar à superação da penúria e frustração. Nas sociedades industriais avançadas, a produção de riqueza atingiu um patamar elevado, que se poderia pensar a possibilidade da redução da jornada de trabalho. Porém, estas sociedades não trilharam esse caminho e o trabalho, em vez de libertar, continuou a ser motivo de penúria e dominação. Aqui a tese marcuseana se completa: a dominação da natureza se tornou dominação do homem sobre o homem. Na atual forma de organização social, os homens estão fadados ao trabalho do berço ao túmulo. O fomento das potencialidades humanas e o ócio criativo são apenas um apêndice na existência condenada ao trabalho. Correlato ao trabalho alienado, a dominação da natureza tornou-se um fim em si mesmo. Ela atingiu níveis exacerbados por causa da produtividade ilimitada das sociedades industriais. A reversão desta tendência é possível segundo o autor. Trata-se, então, de restaurar a natureza e esse processo envolve um duplo aspecto: restaurar a natureza interna, através do fomento de uma nova sensibilidade, de modo a se forjar um novo homem; em seguida, empreender a restauração da natureza externa. Todavia, ressalta o autor, a plena restauração da natureza não é possível no modo de produção capitalista.

As impossibilidades de uma Aufhebung na Sociedade Atual

Nathalia Muylaert Locks Mestrado – UFSCar

Bolsista CAPES [email protected]

A possibilidade de uma Aufhebung está vinculada à compreensão do que é

Sociedade Atual. Esta, por sua vez, é aquela que não só apresenta o capitalismo como sistema econômico, mas um Estado Autoritário. Em “The State Capitalism is the Authoritarian state of the present”, o Estado Autoritário é considerado aquele que

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Caderno de Resumos - 17 - PPG-Fil - UFSCar

ultrapassa as barreiras do liberalismo, um Estado em que a possibilidade da extrem Freedom - tão defendida na época do iluminismo - é eliminada; acaba-se assim com qualquer possibilidade de liberdade. Se no capitalismo monopolista a visão liberal de mercado evocava uma não liberdade, sendo que estas estavam submetidas às leis de mercado, agora, no Capitalismo Tardio (Spätkapitalismus), a liberdade é totalmente eliminada, pois todas as leis do mercado são liquidadas. Dessa forma, o Estado Autoritário intensifica o sistema de massificação da sociedade, que se direciona para uma uniformização do todo social. Assim, nos perguntamos como pensar em uma superação se fazemos parte desta homogeneização social.

De Frankfurt à Califórnia: há continuidade nas pesquisas empíricas da Escola de Frankfurt entre 1929 e 1950?

Deborah Christina Antunes

Doutorado – UFSCar Bolsista CAPES

[email protected]

Entre 1929 e 1950 três grandes estudos empíricos foram realizados pelo Instituto

de Pesquisa Social de Frankfurt. A partir da direção de Horkheimer, a temática das pesquisas foi redirecionada; deixou o marxismo ortodoxo de Grünberg e partiu para uma análise da sociedade que levava em conta o problema da conexão existente entre a vida econômica da sociedade, o desenvolvimento psíquico dos indivíduos e as transformações ocorridas nas esferas culturais. O objetivo dessa apresentação é mostrar em que medida esses estudos empíricos encontram-se em continuidade, tanto entre si, quanto em relação ao programa de materialismo interdisciplinar proposto por Horkheimer no início dos anos 1930. Parte-se do estudo dirigido por Erich Fromm em 1929, denominado “The working class in Weimar Germany”, que objetivava obter evidências sobre a existência de conexões entre a aparência psíquica e o desenvolvimento da sociedade a partir de opiniões, estilos de vida e atitudes de trabalhadores manuais e de escritório na então República de Weimar. Em seguida, apresenta-se seus pontos de contato com os “Studien über Autorität und Familie” de Horkheimer e colaboradores, publicado em 1936, que se baseava na consideração do papel central da família na mediação entre a subestrutura material e a superestrutura ideológica. Ao final, pretende-se mostrar que, a despeito das críticas em relação a um suposto caráter positivista da obra “The authoritarian personality” da qual Adorno participou, os “Studies in Prejudice”, realizados durante o exílio americano na década de 1940, podem ser vistos não apenas como uma continuidade dos trabalhos anteriores contendo os princípios iniciais da Teoria Crítica, como também como um conjunto de trabalhos mais maduro.

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Caderno de Resumos - 18 - PPG-Fil - UFSCar

A teoria do agir comunicativo Habermas e a formação do sujeito moral

Danilo Persch

Docente – UNEMAT [email protected]

A primeira parte do presente texto constitui-se de algumas considerações sobre o

que Habermas compreende por ação comunicativa. Em seguida proceder-se-á com uma análise de como acontece, na visão desse filósofo, a constituição da sociedade e da subjetividade das pessoas, ou seja, a formação dos indivíduos. Tal análise levará à conclusão de que, para Habermas, tanto a sociedade como os indivíduos se constituem reciprocamente por meio do agir comunicativo.

Husserl

O limite da reflexão fenomenológica nas Lições de Husserl

Scheila Cristiane Thomé Doutorado - UFSCar

Bolsista Fapesp [email protected]

O objetivo desta comunicação será o de analisar o limite da reflexão

fenomenológica na obra Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo de Husserl. Para tanto será analisada primeiramente a estrutura da dupla intencionalidade da retenção. Dupla intencionalidade que, por um lado, garante a possibilidade de uma reflexão vir a apreender vivências no interior do fluxo de consciência, e, por outro lado, limita o próprio campo de apreensão da visada reflexiva. Pois, é a dupla intencionalidade da retenção que garante uma unidade ao fluxo absoluto de vivências - unidade que garante que o fluxo absoluto não se dissipe nas diversas modalizações da consciência temporal. É o caráter infinito da unidade do fluxo absoluto de vivências que motiva a limitação da captação reflexiva, pois a captação da auto-aparição do fluxo nunca é uma captação completa, é sempre parcial. A auto-aparição (Selbsterscheinung) do fluxo absoluto só pode ser “captada no seu fluir”, ou seja, na sua abertura e exposição no tempo (aquilo que do fluxo absoluto é originado), mas não na sua estrutura infinita, que é sem tempo (zeitlos), que nunca aparece integralmente, porquanto a subjetividade absoluta é estrutura de puras possibilidades de fluência, realização e aparição temporal.

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Caderno de Resumos - 19 - PPG-Fil - UFSCar

O ser-no-mundo e o modo de ser do conhecimento

Luciano Campos dos Santos

Mestrado - Unicamp Bolsista FAPESP

[email protected]

A análise do fenômeno do conhecimento, em Ser e Tempo, realizada no parágrafo 13 e estendida aos parágrafos 20, 331 e 69b, desenvolve-se calcada em uma tese fundamental que, embora recorrente na filosofia contemporânea desde Marx, ganha, a partir sua interpretação ontológico-existencial, uma conotação seguramente inovadora. Em sua generalidade, a tese reedita a inversão da tradicional relação entre teoria e práxis, considerando como anterior, nessa relação, justamente a práxis, em seu sentido originário. Em termos propriamente heideggerianos, a tese diz: é porque o Dasein é essencialmente um ser-no-mundo que é possível o comportamento teórico. Assim, a abordagem do fenômeno do conhecimento, a ser empreendida neste trabalho, visa: 1) explicitar a tese de que o conhecimento é um modo de ser do Dasein, fundado na estrutura ontológica “ser-no-mundo”; 2) examinar a possibilidade do enraizamento ôntico das operações cognoscitivas (contexto teórico) em práticas pré-cognoscitivas (contexto pragmático); 3) discutir a idéia da necessidade de se passar pela compreensão pragmática dos entes para o estabelecimento de suas determinações teóricas.

Bergson

O problema da localização das “causas” da diferenciação na evolução das formas

vivas em Henri Bergson e Gabriel Tarde

Rafael Henrique Teixeira Doutorado – UFSCar

[email protected]

Meu objetivo é esboçar, no interior da revisão que Henri Bergson e Gabriel

Tarde propõem às doutrinas evolucionistas do século XIX, o modo pelo qual constroem suas visões próprias a respeito da Evolução das formas vivas: o “evolucionismo verdadeiro” de Henri Bergson e o “transformismo transformado” de Gabriel Tarde. Não se trata de esgotar a análise de seus postulados, mas antes de apontar para um ponto de partida comum, tomado como necessário diante das insuficiências que a ciência e a filosofia trazem ao trato da questão da Evolução. Tomo como diretriz desse trabalho comparativo a afirmação, realizada por ambos, da impossibilidade de reduzir as transformações do mundo organizado a uma mecânica universal. Para afirmarem a

1 No parágrafo 33, é Heidegger mesmo quem afirma: “o que anteriormente foi mostrado a respeito do conhecimento do mundo não é menos válido para o enunciado” (SZ, p. 156s). O inverso também é verdadeiro.

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Caderno de Resumos - 20 - PPG-Fil - UFSCar

realidade e a “criatividade” da Evolução – o que os caracteriza como pensadores do movente – ambos realizam uma revisão da causalidade de ordem mecânica, que remete “sempre o mesmo ao mesmo” (Tarde) ou que considera que “as mesmas causas produzem os mesmos efeitos” (Bergson). Para ambos esse trato oferecido às mudanças mutila a própria idéia de transformação. Essa crítica leva os autores a uma reconsideração a respeito da natureza da “causa” das variações que a vida apresenta. Henri Bergson concebe a noção de “Elã vital”, e Gabriel Tarde, por meio de uma reformulação das noções leibziniana e biraniana de força, concebe uma “Energia” que anima a diferenciação constituinte e constitutiva do Universo. Meu objetivo é ver até que ponto é possível afirmar um paralelismo entre as duas doutrinas, pautadas no imperativo de definição de uma causa de diferenciação imanente à Vida. Não sem apontar, no curso da exposição, para algumas descontinuidades de fundo que podemos vislumbrar nas conclusões a que chegam os dois autores.

Bergson e Sartre: uma discussão acerca do termo imagem

Solange Bitterbier Mestrado – UFSCar

Bolsista CAPES [email protected]

Responsável por uma análise da percepção que se distingue das tradicionais,

Bergson se destaca por suas abordagens minuciosas acerca da consciência. Abordagens estas que, por sua vez, renderam-lhe muita admiração e, ao mesmo tempo, muitas críticas, dentre elas, as que estão no texto de Sartre intitulado A Imaginação, o qual aborda aspectos obscuros da obra Matéria e Memória, cuja discussão não encontrou termo nem nos debates da época e nem nos atuais. Sartre inicia sua argumentação que defende o malogro da filosofia bergsoniana apontando que a suposta “revolução filosófica” trazida pelas obras Ensaio sobre os dados imediatos da consciência e Matéria e Memória não trouxe nada de novo para as discussões anteriores. Diante de tal afirmação, nosso objetivo será de analisar duas concepções bergsonianas: a de imagem e a possibilidade de uma consciência não intencional dentro de um campo de imagens, sendo que este campo, por sua vez, é parte de um procedimento metodológico adotado por Bergson com vistas a desfazer o “equivoco” de se compreender a percepção como conhecimento. Sendo assim, buscaremos, a partir da crítica de Sartre, precisar a análise da percepção e o porquê dela nos permitir considerar a consciência, inicialmente, sem subjetividade.

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Caderno de Resumos - 21 - PPG-Fil - UFSCar

Descartes

O Último Grau da Sabedoria

Lílian Cantelle

Mestrado – Univ. São Judas Tadeu [email protected]

Esta comunicação tem por objetivo discutir a definição de “moral” dada por

Descartes no prefácio à edição francesa aos Princípios da Filosofia. A moral “é o último grau da sabedoria” e pressupõe “um conhecimento pleno das outras ciências”. No entanto, a moral, descrita por Descartes como algo que exige um conhecimento perfeito e como o último nível da sabedoria é precisamente um campo no qual a precisão e a certeza, que caracterizam a filosofia cartesiana, são praticamente impossíveis. Sabemos que no plano da união substancial as ideias são naturalmente confusas, fato que não ocorre no âmbito epistemológico. Acreditamos que Descartes descobriu que não poderia pautar todas as suas ações em um conhecimento claro e distinto, dado que as decisões morais estão fundamentadas sobre as ideias confusas. Essa descoberta é muito importante para a moral cartesiana a ponto de dominar toda a concepção da moral, porque é a partir dela que ele apresenta a noção de virtude. O conhecimento metafísico e a moral não possuem o mesmo padrão de certeza. Não podemos esperar a certeza absoluta nos problemas da conduta. A união substancial dita a estrutura da moral cartesiana mais do que qualquer outro princípio metafísico. O empreendimento filosófico cartesiano é como um processo orgânico: em um organismo vivo, como em uma árvore, todas as partes estão conectadas e crescem simultaneamente, uma dependendo da outra. Então, mesmo na estrutura mais básica de uma árvore, os galhos e todas as outras partes estariam se desenvolvendo. De maneira similar, mesmo nas conclusões mais primárias da metafísica e da física poderíamos formar a estrutura da moral. Logicamente, os galhos se modificarão à medida que as raízes e o tronco se tornem mais complexos e fortes. Assim, a filosofia nunca encontraria uma solução definitiva, pois esta sempre em desenvolvimento, pois o melhoramento da moral acontece por meio da aquisição de novos conhecimentos. Com isso, podemos cogitar a possibilidade de que a perfeita sabedoria sempre será um ideal para os seres humanos.

O recurso à luz natural e o problema da justificação de sua validade nas

Meditações de Descartes

Marcio Alessandro Zaboti Mestrado – UFPR

[email protected]

A estratégia cartesiana para tentar refutar definitivamente o ceticismo radical da Primeira Meditação consiste, após o estabelecimento do cogito, na demonstração da existência e veracidade divinas. Para efetuar essa prova, Descartes assume a validade de um princípio geral de causalidade conhecido, segundo ele, de maneira evidente pela luz

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Caderno de Resumos - 22 - PPG-Fil - UFSCar

natural da razão. No entanto, que validade teria o recurso a ela nessa altura das Meditações se, como Descartes mesmo afirma, antes da demonstração da existência e veracidade de Deus “não parece que eu possa jamais estar completamente certo de nenhuma outra coisa”? Se a luz natural é mesmo posta em dúvida dessa maneira, é preciso então saber como Descartes evita raciocinar em círculo aqui, pois aparentemente seu argumento implica que ele teria admitido que Deus existe e é veraz porque conhece isso pela luz natural, e, ao mesmo tempo, teria admitido que aquilo que ele conhece pela luz natural é verdadeiro porque Deus existe e é veraz. Vê-se que essa suspeita de circularidade muito se assemelha àquela envolvendo a regra geral de clareza e distinção objetada a Descartes por seus contemporâneos. Segundo essa objeção, após reconhecer que a hipótese do Deus enganador poderia impugnar a certeza mesmo da regra geral de clareza e distinção, Descartes teria procurado justificar sua validade por meio da prova da existência e veracidade divinas, mas teria, ao mesmo tempo, efetuado essa prova recorrendo a essa mesma regra. Quanto à luz natural, em particular, Descartes não só a considerou indubitável como procurou efetivamente oferecer uma justificativa prévia à prova de Deus para sua suposta indubitabilidade. Contudo, teria sido essa justificativa de fato suficiente para vencer o ceticismo radical derivado da hipótese de um Deus enganador? Ou teria Descartes na verdade recaído numa argumentação circular? Tal é em suma o problema que nos propomos examinar neste trabalho.

Falsidade material em Descartes

Otávio Luiz Kajevski Junior Mestrado – UFPR

Bolsista CAPES [email protected]

O objetivo da comunicação é situar as idéias materialmente falsas, ditas obscuras

e confusas, por relação tanto às afecções ou vontades quanto às idéias claras e distintas. O pano de fundo do qual partimos é a discussão entre Descartes e Arnauld, nas Quartas Objeções e Respostas, em que é retomado, por oposição à falsidade formal do juízo, o conceito de falsidade material de algumas idéias (a saber, das idéias sensíveis), conceito que surge pela primeira vez na Terceira Meditação de Descartes. Nesta discussão, Descartes se refere às idéias enquanto “formas”, o que nos remete à segunda definição da Exposição Geométrica, precisamente a de idéia, a qual se encontra dissociada da definição de realidade objetiva que a segue. Assim, mostra-se ambígua a questão sobre se toda idéia tem realidade objetiva, o que dá ocasião a uma querela em torno da realidade objetiva das idéias sensíveis, em especial. Esta querela é refletida pelas interpretações de Lilli Alanen e Michelle Beyssade, de um lado, e de Raul Landim e Margaret Wilson, de outro. Enquanto aquelas admitem um mínimo de realidade objetiva nas sensações, estes preferem negar. Se com as primeiras podemos tirar como conseqüência uma distinção ontológica entre as idéias e as afecções, com os segundos podemos traçar uma distinção deste tipo entre as próprias idéias. Em ambos os casos, portanto, tomamos como critério a realidade objetiva, conforme sua presença ou ausência.

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Caderno de Resumos - 23 - PPG-Fil - UFSCar

Hume

Elementos para uma interpretação do problema da identidade no Tratado da Natureza Humana de David Hume

Cristiano Moraes Junta

Doutorado – UFRGS Bolsista CAPES

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Discutimos a interpretação de Donald Baxter e John Perry sobre a caracterização de Hume sobre o problema da identidade no Tratado da Natureza Humana. O problema é interpretado a luz da distinção fregeana de sentido e referência. Por fim concluímos que essa distinção concorre positivamente para esclarecer o problema em Hume, embora não possa pretender resolvê-lo de todo.

Empirismo, Geometria e a Teoria das ideias abstratas

Gustavo Oliveira Fernandes Melo Mestrado – UFSCar

Bolsista CAPES [email protected]

Com o intuito de apresentar os resultados iniciais de nossa pesquisa, pretendemos abordar questões concernentes à estrutura básica do Livro I do Tratado da Natureza Humana, sobretudo, aquelas que dizem respeito ao princípio empirista, à geometria e à teoria das ‘ideias abstratas’. Pretendemos, à luz do debate sobre a constituição do espaço geométrico, analisar o processo de abstração, tomando este ramo da matemática como exemplo paradigmático da formação das ideias abstratas. Como sabemos, o modo como foi erigida a noção de ideia abstrata gerou questões metodológicas e lógicas, ao revelar o caráter demasiado psicológico da constituição dos conceitos ou das ideias abstratas. O impasse, no caso, pode ser observado ao vincular impressões simples, definidas e limitadas por nossa percepção, à ideias abstratas, as quais podem corresponder a conceitos universais, indispensáveis às proposições lógicas e demonstrações matemáticas. Em outras palavras, a questão surge quando Hume é obrigado a vincular ideias universais a impressões simples, em consequência da adoção prévia do princípio empirista. Deste modo, devemos concentrar todos os nossos esforços no trato do problema das ideias abstratas, o qual figura como uma questão fundamental enfrentada por toda a corrente empirista. Cabe observar que, devemos cumprir a nossa tarefa, guiados por uma questão cuja análise deve revelar a estrutura sobre a qual foi constituída a noção de ideia abstrata. Para tanto, vamos lançar mão de duas distinções presentes na obra de Hume, utilizando-as como ponto de partida para a nossa análise. A primeira, que pode ser encontrada no Tratado, é a distinção entre Relação Natural e Relação Filosófica. Enquanto que a segunda é a conhecida distinção entre conhecimento e probabilidade, nos termos do Tratado, ou entre matters of fact e relations of ideas, conforme o vocabulário empregado na Investigação sobre o entendimento humano.

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Caderno de Resumos - 24 - PPG-Fil - UFSCar

Merleau-Ponty

Merleau-Ponty crítico do estatuto ontológico cartesiano

Eloísa Benvenutti de Andrade

Mestrado – Unesp Bolsista CAPES

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O objetivo do presente trabalho é analisar o estatuto da consciência e do corpo

no pensamento de Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961). Para a realização deste intento, propomos como fio condutor de análise o dualismo substancial mente e corpo cartesiano, uma vez que por meio da análise de tal dualismo podemos contrapor as diferentes epistemologias que estão em questão: de um lado, Descartes e a admissão da existência de um espírito e de um corpo no processo de aquisição do conhecimento das coisas do mundo; de outro, Merleau-Ponty e a admissão da imersão do sujeito perceptivo em um mundo prático onde a experiência originária não acontece pela elaboração de uma representação mental consciente, mas pelo comportamento e pela conduta, deslocando o caráter intencional da psicologia cartesiana para o corpo. Veremos através do pensamento de Merleau-Ponty que, a partir da adoção de alguns pressupostos calcados num olhar internalista, o pensamento de Descartes originou toda uma teoria do conhecimento que estabelece uma crença sólida nas representações mentais e seu poder mediador entre o sujeito e o mundo, e concedeu à mente um estatuto ontológico análogo ao concedido aos corpos extensos, que habitam o mundo físico. Pela análise feita por Merleau-Ponty em sua fase inicial sobre a percepção, os indivíduos captam diversas formas de acordo com sua “situação” no mundo. Daqui o filosofo dirá que não é possível reduzir consciência a coisa e construirá o mundo da reflexão. A intenção é mostrar como Merleau-Ponty constrói a leitura sobre o dualismo supracitado em sua obra, e como pretende objetar tal fundamento.

A obscuridade fundamental do expresso: o não-ser como criação ou como resquício de um idealismo?

Mariana Cabral Tomzhinsky Scarpa

Mestrado – UFPR Bolsista CNPq

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Na Fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty encontramos dois modos

diferentes no tratamento da linguagem. O primeiro diz respeito a uma “fala falada”, entendida como linguagem já constituída e sedimentada pela cultura. Ao passo que, no segundo modo encontramos uma “fala falante”, afigurada como uma linguagem nascente, cujas significações não se encontram dadas culturalmente, mas sim em vias de se fazer. Será neste segundo sentido da linguagem, o da fala falante, que investigaremos a noção de não-ser apresentada por Merleau-Ponty no momento em que ele aborda o movimento criativo da linguagem. Visto que, é no retorno à experiência primordial da

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Caderno de Resumos - 25 - PPG-Fil - UFSCar

linguagem, neste movimento de abertura para o novo, que uma certa “polarização” é requerida para que se dê o nascimento do sentido, e esta abertura será exposta por Merleau-Ponty como “não-ser”. Entretanto, neste momento a Fenomenologia... pode ser levada a um impasse, pois a postulação de um não-ser, de uma obscuridade fundamental, instaura uma dupla interpretação no discurso merleaupontiano. De um lado, podemos compreendê-la como inerente ao movimento de criação, como uma abertura necessária no âmbito da própria temporalidade, sendo aquilo que impede a linguagem de se fixar totalmente, possibilitando o surgimento de significações autênticas. Por outro lado, tal postulação pode ser entendida como reveladora de um impensado em Merleau-Ponty, como se ela reabrisse o dualismo por meio de um resquício de idealismo, uma vez que este não-ser seria compreendido ainda como uma interioridade por meio da qual a experiência é organizada. Neste trabalho pretendemos investigar o que é, a partir da análise da fala, esta região de não-ser; bem como analisar em que sentido Merleau-Ponty pode introduzir esta noção, tendo em vista o projeto de uma fenomenologia da percepção. E, se é possível afirmar, como alguns comentadores o fazem, que Merleau-Ponty ainda é cúmplice da tradição que ele procurou criticar.

Agamben

Estado de Exceção em Giorgio Agamben

Raphael Guazzelli Valério

Mestrado – UNESP Bolsista CAPES

[email protected]

Neste trabalho pretendemos analisar o conceito de estado de exceção a partir da

perspectiva biopolítica de Giorgio Agamben. Retomando a célebre formulação do jurista Carl Schmitt em sua “Teologia

Política”, “soberano é quem decide sobre o estado de exceção”, Agamben traçará uma genealogia do estado de exceção, demonstrando que este espaço de anomia é, na verdade, o motor secreto de todas as formas políticas.

Ao proclamar o estado de exceção e assim suspender a lei, o soberano cria um espaço onde direito e fato, natureza e cultura não podem se distinguidos e, desta maneira, pode ele dar à luz a um novo ordenamento. Sendo assim, o estado de exceção passa a ser visto não como um conceito jurídico, nem tampouco, como um conceito político, mas, anterior e, portanto, essencial para a criação do ordenamento jurídico-político.

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Caderno de Resumos - 26 - PPG-Fil - UFSCar

O universal na construção do processo hegemônico

Mario Guillermo Massini Mestrado (Sociologia) – Unicamp

Bolsista CAPES [email protected]

El trabajo a presentarse tiene como finalidad explorar la relación universal/particular como práctica hegemónica que posibilita la conformación y dirigencia de un cierto proyecto socio-político. El enfoque se concentra su atención en el proceso mediante el cual una figura emergente del campo de lo particular se eleva al rango de universal convirtiéndose en eje articulador de una formación política. Es relevante destacar que dicha operación es propuesta a partir del corrimiento de posturas esencialistas deterministas (como el caso de las economicistas) como de aquellas que refieren a particularizaciones inconsistentes (especialmente las relativistas a ultranza), y reivindica la actuación de un sujeto activo comprometido con la instancia de la política en el orden de lo político.

Para dar cuenta de ese proceso, se abordarán analíticamente algunos desarrollos teóricos efectuados por Ernesto Laclau, respecto a como pensar la configuración de una subjetividad política que sea pasible de intervenir en el escenario político actual. Asimismo, y a manera de introducción, se incursionará en el marco teórico laclauiano donde confluyen fuentes como la filosofía política, la lingüística, el análisis del discurso, el psicoanálisis y el marxismo –especialmente en su vertiente gramsciana-. Al mismo tiempo, se ahondará brevemente en el concepto “democracia radical”, que es con el cual Laclau implusa un tipo específico de organización social en el que se prioriza la participación e inclusión de diferentes sujetos en el complejo entramado de relaciones de las sociedades contemporáneas.

Estética I

Cartas Schillerianas: a conciliação entre a dimensão estética e a política

Guilherme Kaiala Goulart Ferreira Mestrado – UNESP

[email protected] A presente comunicação propõe discutir a obra Educação Estética do Homem: numa série de cartas de Friedrich Schiller. O tema proposto confronta a Estética e a Política. O momento histórico em que Schiller escreve tais cartas é o fim do século XVIII, o Século das Luzes, em passagens para a primeira geração romântica alemã. O problema central desta comunicação: como Schiller torna possivel a conciliação entre a dimensão Estética e a Politica na Educação Estética do Homem? Nossa atenção cai sobre o que Schiller considera os esfeitos da Cultura Estética sobre a humanidade. As Cartas apresentam um projeto de educação, como propedêtica para uma nova civilização, o meio seria a educação da faculdade de sentir, o meio: a educação estética – fundamentada na crença da qualidade formativa da beleza. Para

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Caderno de Resumos - 27 - PPG-Fil - UFSCar

Schiller, esta possui a função de mediar os impulsos da natureza humana, harmonizar o conflito entre as dimensões racional (formal) e sensível (material). Tem a finalidade de formar o homem completo: pleno e autônomo: livre e harmônico. O objeto da Educação Estética é a formação do homem para a verdadeira liberdade política. Para Schiller, o estético pode ser entendido como tudo que é próprio do domínio da dimensão sensível, que apresente-se enquanto fenômeno, seja de caráter artístico como natural. O estético schilleriano liga-se à noção de harmonia da natureza humana. Assumimos no caráter de hipótese, que esta conciliação poderá ser demonstrado no que Schiller considera os feitos formativos da beleza:. evoca uma possível eticidade a partir da influência da beleza. Neste sentido, os efeito do belo no processo de formação do homem poderá resgatar a aliança perdida entre sensibilidade e intelectualidade, entre forma e matéria, entre arte e vida. Schiller é um helenista, evidencia-se a vontade de atualização moderna do sentido de Cultura dos gregos antigos. Schiller é crítico da modernidade.

Concepções particularistas em ontologia da arte

Jean Rodrigues Siqueira

Docente – Universidade Camilo Castelo Branco [email protected]

Que tipo de coisa é uma obra de arte? Responder adequadamente a essa pergunta implica a elaboração de uma ontologia da arte. Em geral, uma teoria ontológica se propõe a apresentar uma análise das entidades que consideramos existentes a fim de classificá-las em tipos mais gerais e fundamentais, tradicionalmente chamados de categorias. Uma ontologia da arte deve, então, esclarecer a que categorias as obras de arte pertencem. Nesse sentido, uma tarefa importante – e que recentemente tem sido palco de intensas discussões – consiste em determinar se as obras de arte são objetos particulares ou universais. A questão se coloca de modo mais evidente quando consideramos que existem obras de arte que parecem singulares e outras que parecem múltiplas. Como exemplo de obras singulares poderíamos considerar todas as pinturas e esculturas, uma vez que estas existem na forma de uma ocorrência espacial única em um dado momento; obras múltiplas, por outro lado, são aquelas cuja existência se dá simultaneamente em diversos pontos espaciais distintos – como é o caso da música, dos filmes, da fotografia, entre outros gêneros artísticos. Assim, a pintura de Lasar Segall intitulada “Guerra”, que atualmente faz parte do acervo do MASP, na medida em que existe apenas nesse local e em nenhum outro, é uma obra singular. Já o romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, é uma obra múltipla, pois inúmeros são os exemplares dessa obra espalhados mundo afora – todos eles exemplares da mesma obra. A partir dessa constatação de que algumas obras de arte são singulares e outras são múltiplas, poderíamos ser tentados a concluir que estas são universais e aquelas são particulares. Contudo, alguns autores defendem que toda obra de arte é sempre algo particular, seja ela singular ou múltipla. Apresentar e discutir algumas abordagens ontológicas particularistas da arte é, pois, o objetivo deste trabalho.

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Caderno de Resumos - 28 - PPG-Fil - UFSCar

Wittgenstein

A linguagem como práxis racional

Tatiane Boechat

Doutorado – UFSCar Bolsista CAPES

[email protected]

Abordaremos a questão sobre a linguagem a partir da proposta wittgensteiniana de tomarmos a linguagem como o instrumento dos propósitos e das necessidades humanas. Importa, então, observá-la em seu funcionamento e conteúdo. Veremos aí uma imagem arraigada que se manifesta no privilégio concedido a certo tipo de palavra que, à primeira vista, se adéqua e se conforma com o objeto; como se a sua essência estivesse nessa relação de designação. Nessa perspectiva, levantamos a crítica que Wittgenstein direciona ao conceito de significação utilizado pela filosofia; modelo que fornece uma “determinada imagem da essência da linguagem humana” (PU, §1). A importância do exame desse modelo, chamado “objeto e designação” (Gegenstand und Bezeichnung - PU §293), é central durante todo o texto das Investigações Filosóficas justamente por sua natureza exemplar e amplamente disseminada. Nosso questionamento aponta justamente na direção que diz que é no âmbito dessa imagem bruta de linguagem, através de seu modo de operar, que fica vedado extrair que a essência da linguagem está na designação. Desde essa consideração, desde a linguagem em operação, é que se pode investigar a questão da essência e afastar a concepção de sentido que assemelha a significação à palavra.

A Filosofia da Ciência de H. Hertz e sua Influência sobre o Tractatus de L. Wittgenstein

Eduardo Simões

Doutorado – UFSCar [email protected]

O objetivo do presente trabalho assenta-se na defesa da idéia de que o mundo, tal

como apresentado no Tractatus Logico-Philosophicus (1922) de Wittgenstein é tributário do sistema mecânico do Físico Heinrich Hertz – com todos os seus acréscimos e aperfeiçoamentos. A proposta principal é a defesa de que a ontologia do Tractatus, apresentada nos aforismos de 1 ao 2.063, é mais uma manifestação de uma prática comum, desde a antiguidade grega, de pensadores que apresentam suas concepções de mundo e de realidade muito mais como “criadas” do que “observadas” – e Hertz foi um desses cientistas/filósofos. Em seu livro Os Princípios da Mecânica (1894) apresentou uma concepção de “realidade” que, em última análise, não passa de uma realidade imaterial, transitória, apresentada em uma linguagem descritiva, onde, segundo ele, todas as suas afirmações seriam “julgamentos a priori, no sentido de Kant”. E como Wittgenstein deixa transparecer que foi um leitor atento dessa obra, pelas várias vezes que a referencia em seus escritos anteriores ao Tractatus, como também no próprio Tractatus, é plenamente lícito conceber a ontologia da primeira fase de seu pensamento

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Caderno de Resumos - 29 - PPG-Fil - UFSCar

como tributária da obra de Hertz. Com relação à defesa de que a ontologia do Tractatus de Wittgenstein é tributária do sistema mecânico de Hertz, o que possibilita a comprovação de tal hipótese é a identificação dos elementos dessa mesma ontologia (objeto simples, espaço lógico, concatenação...) com os elementos da mecânica hertziana (partículas materiais coordenadas, sistemas de pontos materiais, estrutura...). De acordo com essa hipótese, o que Wittgenstein faz é uma reaplicação dos conceitos que foram trabalhados em Os Princípios da Mecânica e a comprovação pautar-se-á, principalmente, no entendimento dos conceitos de objetos simples em Wittgenstein e partículas materiais em Hertz. É evidente que tais concepções reúnem todos os indícios de que se trata de uma análise plausível, basta entender a função de tais objetos no sistema tractariano e das partículas materiais em Hertz: ambos apontam para entidades lógicas coordenadas, em vez de entidades físicas. Mas, não se finda com isso nossa identificação da influência de Hertz sobre a filosofia do jovem Wittgenstein; em última análise, averiguaremos que nos aforismos tractarianos que tratam da filosofia da ciência (6.3 a 6.372), a própria ciência é concebida em um espírito hertziano, como algo que contém elementos a priori, que seria a rede de nossa descrição do mundo. Com a imagem das manchas pretas irregulares sobre uma superfície branca, Wittgenstein, como os sistemas de coordenadas Hertz, faz uma projeção da distribuição de simples pontos materiais no espaço, isto é, indica que há pontos no espaço combinando com formas de manchas. E a rede em si é o sistema coordenado pelo qual a distribuição das manchas é definida. Essa rede poderia ser mais ou menos fina e, desse modo, descrever fatos mais ou menos acuradamente. Portanto, tanto o olhar de Wittgenstein sobre a ciência, como sua concepção de mundo, estão plenamente de acordo com a filosofia da ciência de Hertz e este trabalho tem como objetivo principal a exploração e análise dessas semelhanças.

Frege contra os formalistas: infinito atual x infinito potencial

Anderson Luis Nakano Mestrado – UFSCar

[email protected] Na obra Grundgesetze der Arithmetik, Frege critica a tentativa dos formalistas de

fundar uma aritmética segundo a qual o número é o próprio signo numérico e as leis da aritmética são tão-somente regras para manipulação destes signos. Uma parte da crítica envolve a noção de sequências infinitas, imprescindíveis para construir os números reais a partir de sequências de Cauchy. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é apresentar este comentário crítico de Frege no que tange à tentativa dos formalistas de construção de sequências infinitas baseada em séries formais, isto é, séries que apelam para o conceito de infinito potencial, utilizando-se de uma regra para a construção de novos termos da série.

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Caderno de Resumos - 30 - PPG-Fil - UFSCar

Nietzsche

Entre o maquiavelismo e o agon: Nietzsche e a polêmica sobre a “grande política”

João Paulo Simões Vilas Bôas Mestrado – UFPR

Bolsista Fundação Araucária [email protected]

No livro Nietzsche contra Rousseau, Keith Ansell-Pearson contesta a corrente

interpretativa que entende o filósofo alemão como um pensador fundamentalmente apolítico argumentando que não se podem negligenciar as polêmicas menções à "Grande Política" em certos escritos tardios de Nietzsche, nos quais o pensador defenderia uma mudança fundamental nas estruturas políticas da sociedade. No entender do comentador inglês, a postulação de uma política nos moldes de um maquiavelismo aristocrático seria o sinal por excelência da falência do "projeto filosófico" do pensador alemão. Afinal, na medida em que propõe o sacrifício do presente em prol de um futuro supostamente "grande", Nietzsche acabaria por recair na dinâmica de ressentimento e de pensamento vingativo contra o devir, que projeta esperanças num “futuro ideal”, a qual é tão criticada pelo filósofo. Diante desta leitura, nosso trabalho tem por objetivo apresentar uma avaliação dos argumentos de Ansell-Pearson à luz da interpretação contextual dos textos de Nietzsche. Trata-se de compreender a quê o filósofo se refere quando emprega a expressão "Grande Política" e, com isso, avaliar as críticas propostas pelo comentador inglês. Tomando por base a metodologia de leitura contextual proposta por Werner Stegmaier — a qual considera que, em Nietzsche, o sentido de um mesmo termo possui significados diferentes quando empregado em diferentes contextos — buscaremos elucidar o sentido de algumas palavras-chave como "Aristocracia", "Guerra", "Nobreza" e "Agon", que estão na base não apenas da leitura de Ansell-Pearson, mas de todas as outras leituras “políticas” de Nietzsche. Com isso, acreditamos ser possível delinear um panorama inédito de compreensão da grande política em Nietzsche, o qual não se pauta nem pela negação de qualquer pretensão política de seus escritos, nem considera que suas menções à política possam ser compreendidas como um discurso sobre mecanismos de administração de um grupo social.

Probidade e retidão em um ditirambo dionisíaco

Mizael José de Oliveira Filho

Mestrado – UEL Bolsista Fundação Araucária

[email protected]

Nietzsche, o conhecedor de si, carrasco de si, fica apascentado somente em meio ao fidedigno jogo filológico. Não que ele deixe de requerer a metáfora; muito pelo contrário: como diz Cragnolini (2001), Heidegger segura-o demais onde ele se quer deixar perder, tanto em seus aforismos como em seus fragmentos quanto em seus

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Caderno de Resumos - 31 - PPG-Fil - UFSCar

poemas. O problema não está na dubiedade balouçante da metáfora que advoga um sentido não expresso mas sim na desonestidade e no postulado da má leitura como arte promovidos pelo cristianismo (A, I, 84 – “A fisiologia da cristianismo”). Nietzsche está preocupado com um certo tipo de retidão (GC, IV, 335 – “Viva a física!”) que desce aos fundos fisiológicos e se transforma em necessária probidade intelectual, uma verdadeira probidade de disciplina nas letras e nas artes (GC, V, 366 – “Diante de um livro erudito”) e, decorrentemente, probidade ante a vida. Tal probidade exigida pela vida fora apartada pelo culto da erudição ocidental no desalinhavar de sua filosofia. Por isso, o filósofo requere como lugar para si, conhecedor de sua arte vital, e para seu Zaratustra a altura das aves de rapina. Aqueles que dele querem se aproximar não podem temer tanto a altitude quanto o abismo, a profundeza que se abre por se ir ao céu infindo. Para ir ter à filosofia nietzscheana deve-se zelar pela retidão do jugo não só de conhecer seu próprio mister como também de ser próximo e conhecedor de si mesmo (GM, Prólogo, 1). Posto entre as aves de rapina deverá amar o abismo, fincando raízes onde mesmo o penhasco tem medo de postar os olhos; aprender a ser duro, calado, tolerante e solitário... louco risonho tal qual ave de rapina em seu predileto lugar, cruel zombador imoralista alado... (AC, “Entre aves de rapina”, Ditirambos de Dioniso”).

Filosofia Antiga

Justiça: a excelência da virtude em Aristóteles

Ana Paula Dezem Amorim Mestrado - UFSCar

Bolsista CAPES [email protected]

A justiça como fundamento da sociedade sempre esteve presente na história da

Grécia Antiga. A importância desta concepção para os gregos pode ser verificada em seus textos filosóficos e poéticos que refletem não somente o interesse dos estudiosos pelo tema, mas principalmente a grandeza do espaço que ocupava a justiça na vida pública daquele tempo. A filosofia, assim, irá refletir o interesse político e social da justiça para os gregos, e os textos aristotélicos retratam muito bem isso.

O foco central deste estudo está na justiça como virtude, tratada por Aristóteles em todo livro V da Ética Nicomaquéia. A justiça em seu conceito absoluto é para este filósofo uma virtude moral, um termo que expressa a moralidade, a conformidade da conduta do cidadão com o conjunto de regras de conduta, com as leis escritas e os costumes. Como esse conjunto de leis visa prescrever todos os atos virtuosos, a justiça será a soma destes atos, ou seja, a virtude em sua universalidade. Assim, ser justo no sentido universal do termo, significa ser piedoso, corajoso, prudente, temperante, isto é, ser virtuoso em sua plenitude, e mais além, significa ser justo do melhor modo que se pode ser, contemplando o bem do outro, ser justo em excelência.

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Caderno de Resumos - 32 - PPG-Fil - UFSCar

Breve análise da diferença entre “significar algo uno” e o “significar de algo uno” no livro Gama da Metafísica de Aristóteles

Thiago Silva Freitas Oliveira

Doutorado – Unicamp Bolsista Capes

[email protected]

O presente trabalho pretende considerar que o pano de fundo de toda a

argumentação estabelecida por Aristóteles no trecho de 1006a 31-b 10 é o da distinção entre duas classes de predicados totalmente distintos de acordo com as propriedades lógico-semânticas de cada um. A distinção entre o significar algo uno e significar de algo uno não diz respeito à relação entre o sentido do termo e o termo tomados em separado de uma relação predicativa. Assim, de um lado teríamos que o significar algo uno é o mesmo, neste caso, que a capacidade de transferir o predicado que concede sentido a um termo enquanto esse termo é predicado de outro. Significar algo uno é também condição necessária, mas não suficiente, para identificarmos predicados essenciais. Por outro lado, significar de algo uno nada mais seria que a relação mais geral característica de toda e qualquer predicação, seja ela essencial ou por concomitância. No caso destes tipos de predicados, não importa se são concomitantes ou essenciais, o que importa é se, na relação entre o termo e o predicado no dado momento da predicação, o termo apresenta aquelas características presentes no predicado e pode ser por ele substituído. Assim, todo e qualquer tipo de predicado pode ser subsumido sob o titulo de significar de algo uno, uma vez que essa característica pode ser exercida por qualquer predicado, mas alguns predicados, dotados de características distintas, são incluídos na classe daqueles predicados que significam algo uno. Os predicados incluídos nessa última classe podem exercer as duas funções. No mais, essa distinção deve sempre levar em conta uma relação predicativa.

A palavra (mýthos) sobreposta pela nova modalidade da palavra (lógos)

Nestor Müller Mestrado – UFSCar

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Trabalhos de Michel Detienne e Luc Brisson, entre outros, conduziram a uma completa revisão da antiga questão das relações entre mýthos e lógos. Ainda se divulgam entre nós versões que desconhecem investigações rigorosas realizadas há mais de quatro décadas, mostrando que temos ali um exemplo nítido das diferenças entre processos da tradição oral, ainda correntes nos tempos de Platão, e os processos de conhecimento - radicalmente diferentes - da cultura baseada na escrita, assumidos com relevância na sociedade da Grécia antiga só a partir do século VII a.C. Nosso propósito é analisar como a poesia e os mitos correspondem a um nível de excelência no seio de uma cultura oral e como a filosofia, que se louva no lógos, foi elaborada no decurso das mudanças emergentes com a utilização das tecnologias da escrita. Sem desconsiderar a força das transformações socioeconômicas, para as quais Jean-Pierre Vernant nos ensinou a olhar, aprendemos a notar melhor como uma mudança nos meios de

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Caderno de Resumos - 33 - PPG-Fil - UFSCar

comunicação acarreta uma mudança na forma e no conteúdo dos discursos e abre uma vasta reorganização das estruturas culturais. Mas com isso não se colhem, também, indícios que podem nos ajudar a pensar vertentes atuais das novas tecnologias digitais?

Marx

Continuidade e rompimento – uma análise sobre a unidade teórica de Karl Marx

André de Góes Cressoni

Mestrado - Unicamp Bolsista CNPq

[email protected] Nas tentativas de elaborar uma análise quanto ao desenvolvimento teórico do

jovem Marx até suas teses de maturidade, há uma dicotomia rompimento/continuidade que, por sua predominância, tem a tendência de enfraquecer essas interpretações. Nesta problemática, o presente artigo busca analisar, sucintamente, o desenvolvimento teórico de Marx como uma unidade de rompimento e continuidade. Para tanto, é necessário remeter-se ao legado hegeliano, sem o qual a dialética de Marx perde a linha que unifica e ao mesmo tempo separa essas duas fases de seu pensamento. Tendo como referências principais os Manuscritos Econômico-Filosóficos, a Ideologia Alemã, e O Capital, defendemos que o ponto nodal deste debate consiste na relação entre o caráter especulativo da dialética hegeliana e o conceito de negatividade tal como aparece no decorrer da obra de Marx, adquirindo, a partir disso, uma reinterpretação da palavra umstülpen (inversão) para compreender no que consiste a inversão que Marx opera na dialética hegeliana. Neste ínterim, veremos que o desenvolvimento teórico de Marx ocorre no sentido de uma transposição da dialética do trabalho, fundamentada no ser-genérico (Gattungswesen), a uma dialética pautada na negatividade da luta de classes, que teria sido velada pela filosofia alemã, inclusive Hegel. É assim que Marx deixa para trás a dialética pautada no ser-genérico, que, apesar da negatividade trabalho-capital, encontra sua unidade última na essência humana, para uma dialética de caráter mais revolucionário, onde a unidade lógica do capital se desfaz diante da luta de classes. A inversão, portanto, se encontra na estrutura lógica que Marx elabora, e consistiria, deste modo, na transposição da negatividade a uma esfera mais abrangente, onde a unidade lógica não reina senão na medida em que se encontra em processo de destruição. Somente assim Marx se desvencilha não somente do caráter idealista, mas também do caráter especulativo da dialética hegeliana.

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Caderno de Resumos - 34 - PPG-Fil - UFSCar

O dilema entre Estado e Democracia: um estudo sobre a crítica da política na obra do jovem Marx

Fabio Florence de Barros

Mestrado – Unicamp Bolsista FAPESP

[email protected] Este estudo tem como objetivo analisar o conceito de democracia e seu papel na mudança radical do posicionamento tomado por Karl Marx em face do Estado moderno nos textos redigidos em 1842 e 1843. Assumiremos como hipótese de leitura que o progressivo aprofundamento de Marx do conceito de democracia resultou em uma mudança de concepção, e em consequência na sua negação da possibilidade de solucionar as questões sociais de seu tempo por meio do Estado, já que este na verdade não é um reparador e sim um reprodutor das desigualdades próprias da modernidade. Para organizar nosso estudo, enunciamos os problemas que pretendemos examinar na forma das seguintes perguntas: Quais são os princípios democráticos presentes nos artigos da Gazeta Renana? Em quais pontos eles conflitam com a ideia de um Estado racional? Quais foram as novidades introduzidas no conceito de democracia na Crítica da Filosofia do Direito de Hegel? Qual passou a ser o estatuto político da comunidade humana?

Marx leitor de Feuerbach Frederico A. Paschoal Mestrado – UNIFESP

Bolsista CAPES/CNPq [email protected]

O objetivo do presente estudo é o de verificar algumas categorias feuerbachianas analisadas por Marx, na medida em que essas contribuíram, enquanto representações ideológicas humanistas, como influência imediata para suas concepções da condição operária e do comunismo, encontradas principalmente nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, de 1844. Em especial na crítica de alienação religiosa, localizada em A Essência do Cristianismo, Feuerbach nos dá pistas da submissão do gênero humano a uma representação imaginária, nula de objetividade, criada pelos próprios homens. A figura de Deus como ser dotado de predicados inalcançáveis, fantásticos, alça um patamar a que os homens não mais o reconhecem como “criatura”, mas sim como “criador” (invertem os papéis? Acreditam na própria mentira?), e se transforma em algo que os domina. Essas concepções são mesmo avançadas e antecipam os argumentos sobre dominação que viriam a ser encetados a partir de Marx, que transpõe com seu rigor, ao campo econômico-social (trabalho alienado).

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Caderno de Resumos - 35 - PPG-Fil - UFSCar

Kant I

A metafísica dos Träume eines Geistersehers: o visionário Swedenborg e os limites do conhecimento

Marcio Tadeu Girotti

Mestrado - UNESP Bolsista CAPES

[email protected]

No contexto da década de 1760, a obra Träume eines Geistersehers aparece

como aquela que poderia demarcar o fim da modernidade pré-crítica kantiana delegando à Dissertação de 1770 o papel de marco divisório da filosofia crítica, tal como Kant afirmou em uma Carta datada de 1797. Ao denunciar o embaraço que a metafísica tradicional se encontrava, Kant utiliza as histórias fantasiosas do visionário sueco, Swedenborg, para apontar os limites das provas metafísicas, bem como os limites do próprio conhecimento. Nesse sentido, buscamos abordar a caracterização da obra como um escrito de cunho crítico, que denuncia a metafísica como a “ciência dos limites da razão” aproximando a mesma aos delírios dos visionários, os quais profetizam e acreditam caminhar em um mundo não acessível à razão, tal como as provas da metafísica dogmática.

A solução da ação má em Kant e a sua determinação causal

Jorge Vanderlei Costa da Conceição Mestrado – PUC-PR

Bolsista CAPES [email protected]

O homem é mau por natureza? Qual é o significado da afirmação: o homem é

mau¿ Qual é a origem do mal? Pode-se alinhar as perguntas acima elencadas num único ponto: demonstrar a possibilidade do mau não é recorrer a uma entidade ontológica ou à ausência do bem ou a manifestação de leis da natureza; pelo contrário é analisar o móbil determinante da máxima moral. Na perspectiva de Kant, o mau moral é uma propensão (Neigung) (propensio) da natureza humana, porque aufere para a tendência do homem enquanto membro da humanidade, ou seja, é uma característica do gênero humano e não do homem na sua singularidade. Nesse sentido, perguntar-se pela existência do mal é inquirir-se pela possibilidade de assentá-lo na natureza humana, isto é, criar a possibilidade de sensificá-lo. Sensificar é instituir uma denotação para o mal que não ultrapasse os limites do conhecimento possível, delimitando-o ao campo da experiência. Solucionar o problema do mal é demonstrar o seu modo de operação causal (causa e efeito).

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Caderno de Resumos - 36 - PPG-Fil - UFSCar

O método do simbolismo em Kant

Fabiano Queiroz da Silva Doutorado – Unicamp

[email protected] Neste trabalho, temos por objetivo uma investigação do papel do procedimento analógico, que constitui o núcleo metodológico da simbolização, utilizado por Kant, no tratamento de duas ideias da razão, a saber, forças fundamentais e Deus. Ambas serão trabalhadas a partir do Apêndice à Dialética Transcendental da Crítica da Razão Pura. Posteriormente, trataremos novamente da segunda ideia, mas, desta vez, não mais no âmbito teórico. A análise será realizada no âmbito prático. Para tanto, consultaremos as obras Crítica da Razão Prática, Antropologia de um ponto de vista pragmático e Religião nos limites da mera razão.

Sartre

Sartre: razão e dialética

Vinícius dos Santos Doutorado – UFSCar

Bolsista FAPESP [email protected]

Em 1960, Sartre publica o primeiro tomo de sua Crítica da razão dialética. O objetivo destacado da obra era conciliar o marxismo, filosofia demarcadora de todo o campo do saber possível sobre o homem (e que o explica a partir do feixe de condições sociais e históricas no qual está inserido), com o existencialismo que, enquanto ideologia (em sentido sartriano) incrustada no corpo teórico marxista, privilegia uma abordagem compreensiva da experiência vivida pelo indivíduo.

Para que tal empresa pudesse ser levada a cabo, Sartre considerava indispensável uma crítica, no sentido kantiano, da Razão Dialética descoberta por Hegel e Marx. Esta, de fato, fornecia o único método capaz de compreender verdadeiramente o movimento e o sentido da práxis humana, ela própria dialética e, portanto, histórica. Mas, segundo Sartre, só seria possível compreender a inteligibilidade dialética da História se deixássemos de pensá-la como mero desdobramento de uma história natural, extra-humana, como queria o dogmatismo marxista, apoiado, por vezes, na letra do próprio Marx. Pelo contrário, para Sartre, tratava-se de tomar a dialética, a partir de uma crítica radical de sua racionalidade, como a lógica viva de nossa ação, com o intuito de recompor a inteligibilidade do cenário no qual os próprios homens, em sua práxis individual e coletiva, fazem livremente a História. Nosso objetivo, aqui, é expor as bases dessa crítica da razão dialética proposta por Sartre, sobretudo a partir da Introdução ao livro de 1960.

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Caderno de Resumos - 37 - PPG-Fil - UFSCar

O Conceito de Bem nos Cahiers pour une morale e a possibilidade da superação da alienação

Carlos Eduardo de Moura

Doutorado – UFSCar Bolsista CAPES

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Nesse texto, o Bem será apresentado como subjetividade e fato, como um fim

que existirá por meio da ação. Ele não será um em-si, mas contingente, frágil e temporalizado, um absoluto-relativo, ou seja, o reflexo do jogo de relações de uma sociedade. O Bem se dará por meio de uma relação ontológica e do grupo enquanto tensão entre a Moral e a História. Sartre entenderá o Bem como fim, como projeto e nunca como “Natureza Humana” ou um a priori. Ele será fruto do esforço humano, penetrando na História, como totalidade destotalizada, ele se dará por meio do conflito entre consciências, pela diversidade e pelo risco (não poderia ser diferente, posto que o homem não é um em-si, um a priori). O Bem existirá na dimensão do “Olhar”, dentro de um jogo dinâmico de relações entre uma pluralidade de vontades autônomas e dentro de uma pluralidade de deveres. Será na relação “Eu”-Mundo que se poderá colocar a dimensão eu-e-os-outros como o campo da moral na existência. Trazer a Moral para o campo da existência permitirá a possibilidade de se estabelecer uma moral ligada à política enquanto “Teoria do Compromisso”, de uma praxis construída dentro da tensão “Universal-Singular”, pela possibilidade de uma conversão em situação. Por meio desse contexto, será possível a superação da alienação em coletividade, por uma ação sistemática sobre a situação.

Deleuze

O capitalismo axiomático de Deleuze e Guattari: sobre o sentido da ideia de

“axiomática geral dos fluxos descodificados” elaborada em O Anti-Édipo e Mil Platôs

Bernardo de Carvalho Tavares dos Santos

Mestrado – PUC/SP Bolsista CAPES

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Que querem dizer Deleuze e Guattari quando definem o capitalismo como uma “axiomática geral dos fluxos descodificados”? Se não se trata aí duma “simples metáfora”, deve haver, então, um movimento comum ao funcionamento de ambos. Segundo os autores, tal movimento remeteria, fundamentalmente, à descodificação dos fluxos, sua conjunção em sistemas lógico-abstratos e, por fim, à “concretização” destes sistemas em modelos de realização empíricos. Tanto o capitalismo quanto uma teoria axiomatizada consideram diretamente “elementos e relações puramente funcionais cuja natureza não é especificada” (descodificados), encadeamentos lógicos “em si”, fora de campos específicos nos quais responderiam a um código que os determinaria e limitaria.

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Caderno de Resumos - 38 - PPG-Fil - UFSCar

Mas isto não basta para que se crie uma axiomática – toda sociedade testemunha acontecimentos que fogem de suas codificações; também os saberes sempre conheceram algo das relações e elementos puramente funcionais. É preciso, portanto, que tais fluxos se encontrem e se articulem mutuamente – que sejam consistentes e componham, assim, um sistema, social ou teórico. Este sistema, contudo, ainda permanecerá abstrato e “inútil”, se não se aplicar a modelos de realização concretos, cujas formas reais expressam-se no encadeamento lógico proposto pela axiomática: tanto teorias científicas empíricas, quanto relações sociais concretas, às quais se impõem as necessidades abstratas do capital, analisadas por Marx. Na medida em que uma única axiomática comporta modelos de realização diversos, a axiomatização será sempre generalizante. Esta perspectiva propõe uma ideia diferente das crises do capitalismo e sua suposta “flexibilidade”: esta não seria sua capacidade de “ceder” frente a demandas variadas, mas de englobá-las para nunca parar de crescer; aquelas não corresponderiam à possibilidade de sua dissolução, mas a períodos de adaptação. Em ambos os casos se tratará então dum “jogo” axiomático, que permite a adição ou subtração de axiomas ao sabor das contingências e em função de um núcleo fixo, fundamental, do capital.

A produção de subjetividade capitalista na educação

André Campos de Camargo [email protected]

O presente artigo propõe analisar os efeitos atuais da produção de subjetividade capitalista no campo educacional a partir da filosofia de Pierre-Félix Guattari. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa com enfoque na produção teórica deste autor, como também nas suas experiências de engajamento social. Embora Guattari, em sua obra, não tenha escrito diretamente sobre pedagogia ou educação, os problemas com os quais se preocupou nos oferecem subsídios importantes para problematizarmos essas áreas. Para dar sustentação as problematizações, procuramos expor os principais conceitos de Guattari, ora utilizando-se de intercessores, ora explicitando o que está implícito ou difuso em sua obra, no que se refere à educação e, deste modo, pensar como sua filosofia pode colaborar para compreendermos o campo educacional e suas relações com o capitalismo atual. Pensar a educação a partir da perspectiva da produção de subjetividade implica demonstrar a função atual da escola de ensino básico pública no cenário capitalista, assim como nos alertar para a necessidade de criarmos uma educação que permita aos indivíduos adquirirem autonomia para não se tornarem facilmente moduláveis pelas diversas formas de poder. Por fim, procuraremos deixar claro, neste artigo, que a filosofia da diferença, na perspectiva de Guattari, é um instrumento necessário para se pensar a educação neste novo século e uma opção para construirmos a partir da educação novos meios de enfrentarmos o capitalismo.

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Caderno de Resumos - 39 - PPG-Fil - UFSCar

Kant II

Representação e Objeto na Filosofia Kantiana

Ciro Garcez Mestrado – UFSCar

Bolsista CAPES [email protected]

O objetivo desta pesquisa é analisar o objeto das representações em dois momentos da filosofia de Immanuel Kant, a saber, na Dissertação de 1770 e na Crítica da Razão Pura. A determinação precisa do conceito do objeto do conhecimento em Kant é o ponto fundamental desta pesquisa. É necessário voltar algumas obras antes da Crítica, e esclarecer certos problemas relativos à questão da representação/objeto, apoiando-se em dois momentos fundamentais da filosofia de Kant. A compreensão da gênese do período crítico elucida o problema do objeto das representações. Kant, em diversos momentos de sua filosofia, utiliza termos distintos no alemão para se referir a objeto. A palavra usada por Kant para objeto das representações na Crítica da Razão Pura é Gegenständ. “Gegen” em alemão significa contra e “Stand” pode ser traduzido por aquilo que está posto. A palavra equivalente a “Gegenstände” em inglês seria “stand against”, que pode ser traduzida por “estar contra”. Este objeto do conhecimento, portanto, é aquilo a que se está contra, ou aquilo a que se faz face. Kant utiliza Sache e Ding em outros textos, como a Dissertação de 1770 e a Carta a Marcus Herz para referir-se a objetos. Outro termo aparentado que pode-se encontrar na filosofia kantiana é objekt. Estas Sachen transformar-se-ão em Gegenstände na Crítica da Razão Pura? Um problema ocorre quando tanto Sache (a coisa) quanto Gegenständ (o objeto da experiência) são traduzidos e referidos como “objeto”. O mesmo valeria para Sache e Ding no contexto que precede à Crítica da Razão Pura? O que Kant realmente quer dizer, quando ele fala do objeto? Ele usa estes quatro termos em diversos momentos, contudo, haveria um sentido unívoco por trás da variação terminológica? E caso não haja tal sentido, que diferenças implicam tais termos? Em outras palavras quais as diferentes implicações que devem ser consideradas na investigação do objeto da representação?

Os paradoxos do sentido interno na Crítica da Razão Pura

Elias S. Dutra Doutorado - UFSCar

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O nosso objetivo é analisar alguns paradoxos presentes na teoria kantiana do

sentido interno. As contradições ou paradoxos permanecem na Crítica, mesmo após as tentativas de Kant para conceituar o que é o sentido interno. Vejamos: Em A 23 / B 37 ele faz uma afirmação que a primeira vista parece ser contraditória. Primeiramente ele diz “O sentido interno não nos dá nenhuma intuição da própria alma como objeto” e depois afirma: “é pelo sentido interno que o espírito se intui a si mesmo ou intui também o seu estado interno”. Num primeiro momento ele interdita qualquer acesso do

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Caderno de Resumos - 40 - PPG-Fil - UFSCar

sentido interno à alma como objeto. Talvez ele faça tal afirmação pelo fato de que o sentido interno não poderá nos dar intuição. Mas se pudesse, que tipo de intuição ele poderia nos dar? A do eu? Se isto for possível ele não poderá nos dar intuição, pelo menos como a intuição externa a procede. Mas fazer semelhante afirmação parece ir contra a todo Paralogismo. Allison identifica essa contradição como sendo a principal dificuldade para a compreensão do sentido interno e semelhante dificuldade repousa no fato de que ele carece de diversidade, isto é, não possui dados que possam ser considerados representações da alma. Se há uma diversidade ela depende do sentido externo. E ainda para ele, tal teoria, a do sentido interno, não cumpre a tarefa que Kant a designou, na melhor das hipóteses, ela explica como podemos ter conhecimentos de nossas representações (dos dados dos sentidos externos), mas não explica como poderemos ter conhecimento sensível da alma, do eu e da mente considerados como sujeitos empíricos ao qual pertencem essas representações.

Uma pérola em Kant: a recuperação do juízo reflexionante kantiano sob uma

dimensão política

Paulo Eduardo Bodziak Junior Mestrado – Unicamp

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Em sua busca por uma filosofia política não escrita em Kant, Hannah Arendt foi conduzida a uma nova leitura da obra “Crítica da Faculdade de Julgar”. Arendt encontrou na “Analítica do Belo”, mais precisamente no Juízo Estético Reflexionante, um paradigma para seu modo de definir o juízo político. Logicamente esta apropriação sem muitos pudores causa crítica entre os leitores de Kant dado o fato de que Arendt desconsidera todos os pressupostos do idealismo transcendental kantiano para chegar ao juízo estético reflexionante como paradigma do pensar político. Ela nos convida a refletir sobre os motivos que a levaram a desconsiderar a obra moral de Kant como referência para sua teoria política e, de maneira ainda mais intrigante, o que poderia autorizar Arendt a realizar tal recorte e a buscar uma filosofia política em uma obra tão inusitada. Arendt enquadra Kant na galeria de autores da tradição ocidental e, enquanto tal, este deve ser re-pensado. Constatada a ruptura na tradição com o advento dos regimes totalitários no século XX, as categorias políticas tradicionais de compreensão perdem sua capacidade de oferecer sentido à realidade. De tal maneira, os textos de Kant foram deparados no século vinte com o esvaziamento de sentido operado pelos eventos totalitários. Na tarefa de compreender sem categorias viáveis Arendt encontrou um caminho possível de relação com o passado em uma historiografia fragmentária, tal qual pensada por Walter Benjamin. Assim, o juízo reflexionante é o fragmento teórico usado por ela a fim de retomar nossa capacidade de compreensão, pois esta é a nossa faculdade verdadeiramente política ao permitir a construção de critérios de ação a partir da comunicação entre os homens.

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Caderno de Resumos - 41 - PPG-Fil - UFSCar

Filosofia da Psicologia

Múltipla Exemplificação, Holismo e Funcionalismo acerca de Predicações Psicológicas

Filipe Lazzeri

Mestrado – UnB Bolsista CAPES

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A tese da múltipla exemplificação, o holismo e o funcionalismo acerca de

predicações psicológicas são três teses frequentemente formuladas pressupondo-se uma tese mentalista a respeito deste tipo de atribuição. Ou seja, caracteriza-se a múltipla exemplificação de predicações psicológicas em termos de poderem ser verdadeiras a respeito de sistemas de diferentes constituições físicas, designando causas mentais que podem ser realizadas, em princípio, por entidades internas relevantes de diversos tipos físicos; caracteriza-se o traço holista das predicações psicológicas em termos de designarem estados e processos mentais (tomados como causas de comportamentos) em massa e não se deixarem reduzir a predicações que não os mencionem; e associa-se o funcionalismo à ideia de que as predicações psicológicas designam estados e processos internos que realizam funções de causar comportamentos e produzir outros estados e processos internos análogos. O presente trabalho tem o objetivo de (1) mostrar que as três teses em questão, na verdade, não pressupõem a tese mentalista, ou seja, elas independem da ideia de que as predicações psicológicas funcionam pela referência a entidades ou propriedades internas causadoras de comportamentos. Além disso, (2) defendemos que aquelas três teses são compatíveis com uma perspectiva marcadamente behaviorista a respeito destas atribuições. Em particular, com a tese (de nosso interesse), restringida a predicações formadas por termos psicológicos intencionais e termos para “traços” psicológicos (e que não se estende a predicações formadas por termos para experiências), segundo a qual, em resumo, funcionam pela remissão a padrões de comportamento, oriundos de processos de seleção pelas consequências. Temos como resultados disso algumas ponderações de pressuposições encontradiças sobre o behaviorismo e o funcionalismo em filosofia da mente.

Fundamentos metodológicos da teoria piagetiana: uma psicologia em função de uma epistemologia

Rafael dos Reis Ferreira

Mestrado - UNESP Bolsista FAPESP

[email protected] A teoria piagetiana é vista, comumente, como simplesmente um estudo em

Psicologia. É comum, pois, dizer que Piaget é um psicólogo que estudou o desenvolvimento das crianças para compreender sua cognição. Mas será que esta visão condiz com as questões fundamentais da teoria piagetiana? É nosso objetivo, no presente trabalho, mostrar que a teoria piagetiana é, como o próprio autor sempre se

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Caderno de Resumos - 42 - PPG-Fil - UFSCar

propôs, fundamentalmente epistemológica. Veremos, em particular, que: (i) as questões fundamentais colocadas por Piaget são fundamentalmente epistemológicas e não propriamente psicológicas; (ii) o recurso à Psicologia é um recurso metodológico com o objetivo de desenvolver uma epistemologia científica que permita recorrer aos dados empíricos e, ao mesmo tempo, se posicionar frente aos debates metafísicos da filosofia tradicional, em Epistemologia e em Teoria do Conhecimento; (iii) Piaget desenvolveu estudos em Psicologia e Biologia para que se possa compreender o sujeito epistemológico a partir do sujeito psicológico e biológico.

Filosofia Medieval

A sociabilidade entre os soberbos: um estudo dos parágrafos finais do segundo

livro das Confissões de Agostinho de Hipona

Rafael A. de S. Barberino Rodrigues Mestrado – USP

[email protected] O episódio do furto das peras (um simples delito juvenil narrado em sete linhas e analisado por mais de sete páginas) encerra o livro segundo das Confissões de Agostinho de Hipona, evidentemente não se trata de um mero relato autobiográfico, mas de uma ocasião para se pensar o ato imoral, num primeiro momento, e a estranha sociedade formada pelos infratores, num segundo momento. Como objeto para esta comunicação tomamos apenas o segundo momento da análise (Conf. II, 16 e 17). Com efeito, interessa-nos a caracterização das relações sociais nos moldes deste tipo de sociedade: a relação de proximidade e distância (conhecimento e desconhecimento) do Outro, de confiança e traição, a centralidade da virtude (vício) da justiça (injustiça) nas relações sociais, e as relações entre singular e universal na determinação do juízo prático.

O estatuto dos sentidos na teoria do conhecimento de Tomás de Aquino

André de Deus Berger Mestrado – UFSCar

Bolsista CAPES/ CNPQ [email protected]

Propomos investigar os fundamentos da tese de Tomás de Aquino sobre a

possibilidade de o homem estabelecer conhecimento sobre os corpos sensíveis, uma vez que, segundo o autor, o conhecimento dos corpóreos, não só é possível ao intelecto humano como é também a única via pela qual este pode chegar ao conhecimento da verdade. De acordo com o Aquinate, os sentidos trazem ao intelecto a matéria da causa do conhecimento intelectual. Em A unidade do intelecto; contra os averroistas, o autor apresenta a tese de que a natureza do sensível é inteligida em potência enquanto está no sensível, e passa a ser inteligida em ato tendo em vista duas operações. A primeira delas é a mediação, realizada pelos sentidos, de algo que, advindo dos sensíveis, chega à

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Caderno de Resumos - 43 - PPG-Fil - UFSCar

fantasia: as espécies. A segunda é a abstração, pelo intelecto agente, de uma versão inteligível deste algo que chega à fantasia, mas que está presente no intelecto possível: as espécies inteligíveis. Nosso intento, é o de averiguarmos como é possibilitado aos sentidos operar a mediação acima mencionada, tendo em vista que Tomás considera a materialidade como um obstáculo à intelecção, uma vez que nada é inteligido a não ser materialmente. Os sentidos serão considerados os intermediários entre o material (os sensíveis) e o imaterial (os inteligíveis), e nesta apresentação nos deteremos neste estatuto de grau mediador dado aos sentidos, uma vez que é por ele que o autor pode postular a ocorrência do conhecimento imaterial daquilo que existe materialmente tendo em vista a afirmação de sua Suma de teologia de que é por eles que o intelecto humano tem acesso a seu objeto próprio.

Foucault I

Entre Bergson e Foucault: disciplina e sociedade

Rafael Fernando Hack Doutorado – UFSCar

[email protected] A análise do poder no período genealógico foucaultiano encontra na disciplina

um de seus objetos de estudos preponderantes, sobretudo, na obra “Vigiar e Punir” de 1975. Todavia, já em 1932, Bergson, em sua obra “As duas fontes da moral e da religião”, nos disponibiliza elementos que, também, nos proporcionam pensar o conceito de disciplina. Portanto, pretendemos analisar e comparar a utilização do conceito de disciplina nas duas obras supracitadas, bem como, verificar sua implicação nos modelos sociais caracterizados por ambos os filósofos.

Em “As duas fontes da moral e da religião” Bergson nos apresenta duas distintas formas sociais: a sociedade fechada e a sociedade aberta. Sendo que a estas duas formas corresponderiam duas religiões, respectivamente, a religião estática e a religião dinâmica. É, sobretudo, no interior da sociedade fechada que verificamos a presença da disciplina. Segundo o filósofo parisiense esta sociedade pode ser comparada “[...] a um organismo, cujas células, unidas por laços invisíveis, se encontram subordinadas umas as outras numa sábia hierarquia e se vergam naturalmente, em vista do bem maior do todo, a uma disciplina (grifo nosso) que poderá exigir o sacrifício da parte.” (BERGSON, 2005, p. 23). A sociedade fechada seria uma forma inicial, contudo já elaborada, de organização humana.

Assim, questionamo-nos sobre qual a compreensão e relevância do conceito de disciplina na caracterização da sociedade fechada. Tomando como referência e comparação a obra “Vigiar e Punir” de Michel Foucault, pretendemos analisar a compreensão de sociedade e disciplina verificando as eventuais semelhanças e diferenças entre os dois filósofos.

Foucault, diferentemente de Bergson, afirma que a disciplina é um fenômeno recente na sociedade, firmando-se, sobretudo, entre os séculos XVII e XVIII. A disciplina seria responsável por uma organização social ímpar.

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Caderno de Resumos - 44 - PPG-Fil - UFSCar

A morte em Rosa Luxemburgo e Michel Foucault

Caio Augusto T. Souto Mestrado – UFSCar

Bolsista da CAPES [email protected]

Pretende-se fomentar a discussão neste pequeno texto de que, a despeito das

diferenças que marcam os pensamentos de Rosa Luxemburgo e Michel Foucault, no que respeita à maneira como se deu uma fusão entre sua obra e sua vida, numa insólita imbricação entre teoria e prática, os dois autores dos quais se falará estão bem próximos. A finalidade é a de tentar aclarar, a partir de uma breve reflexão sobre o modo como conceberam a vida e a morte, bem como viveram e morreram, a possibilidade de uma estética da existência tal como a tratou Foucault em seus últimos escritos em relação à práxis revolucionária tal como teorizada e vivida por Rosa Luxemburgo. Pretende-se, assim, apostar num entrecruzamento de existências singulares culminante no contundente encontro divisado no momento, seja ele sublime ou inaudito, da morte. Ademais, não excluiremos da discussão a dor correlata a um tal sacrifício ao qual chamaremos: o sacrifício de uma vida como obra de arte. Rosa Luxemburgo, num contexto hostil, enfrentou com armas tanto teórico-conceituais quanto práticas e concretas, à custa inclusive de sua própria vida, o capitalismo e a socialdemocracia alemã, seu inimigo mais direto. Michel Foucault no fim da vida não apenas lutou contra sua doença, mas em favor de um novo tipo de militância que renovava as tradicionais posições às quais grande parte dos intelectuais se engajavam, tendo tornado sua própria vida um instrumento de combate e de luta.

Foucault II

A relação representação – sujeito – homem em As palavras e as coisas, de Michel Foucault

Fillipa Silveira

Doutorado – UFSCar [email protected]

Este artigo pretende interpretar determinadas passagens do texto As palavras e as coisas de Michel Foucault onde os conceitos de representação, de sujeito e de homem são tratados de maneira explícita e significativa. O propósito é o de examinar de uma maneira aproximativa o significado de cada um destes elementos nessa obra, além de testar a possibilidade de compreendê-los numa relação de co-implicação sequencial. Isto quer dizer que cada um dos elementos supra-citados emergiria de dentro da exposição do elemento anterior. As passagens a serem examinadas encontram-se no capítulo 3 da parte I (Representar) e na parte II da obra, que anuncia os limites da representação e o nascedouro do sujeito do conhecimento, que estaria vinculado, numa relação ainda a ser examinada, ao nascimento do homem – objeto das ciências humanas.

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Caderno de Resumos - 45 - PPG-Fil - UFSCar

A pergunta diretora do artigo seria: Qual o lugar do sujeito ou da subjetividade na representação e, no sujeito, o lugar arqueológico do homem? O artigo se insere no contexto de uma pesquisa mais ampla que procura localizar a relação entre sujeito e homem na filosofia e indicar um espaço viável para a pergunta antropológica no entrecruzamento da filosofia e das ciências humanas, mais especificamente da antropologia cultural.

A genealogia das tecnologias de segurança da população em Michel Foucault

Leandro Alves Martins de Menezes Mestrado (História) – UFG

Bolsista CAPES [email protected]

O trabalho proposto está assentado nas pesquisas apresentadas por Michel

Foucault no curso do Collège de France, ministrado no ano de 1977 e intitulado Segurança, território, população. A pesquisa visa evidenciar o modo como, a partir do século XV e XVI, se instalou uma crise geral do pastorado no fim do feudalismo e, em que medida, isso gerou novas forças de poder, de contracondutas, de relações econômicas, culturais, sociais, novas estruturações políticas e, sobretudo, um novo modelo de pastorado. Momento em que vemos a formação efetiva de uma governamentalidade política, de diferentes artes de governar que tem sua emergência no século XVII.

Michel Foucault enxerga esse movimento histórico como pontual para as condições de possibilidade do Estado liberal e consequentemente do Estado biopolítico. Esses modelos de governamentalidade passam a administrar a população por meio de uma política de saúde atenta a questões da estatística. O desenvolvimento ao longo do século XVIII da medicina social, da polícia médica, das questões de higiene pública, está inscrita no marco fundador da biopolítica como principal ferramenta de gestão das forças estatais.

O conceito governamentalidade é um neologismo criado por Michel Foucault, para apresentar em suas obras e cursos a maneira como os governos historicamente conduziram a conduta dos homens, das populações, auxiliando como ponto de análise para as relações de poder que são por ela estabelecidas.

Filosofia Política

Lukács, o problema da reificação e a perspectiva formativa em História e Consciência de Classe

Bruno Moretti Falcão Mendes

Mestrado – UFSCar [email protected]

Nosso trabalho tem como intuito abordar a obra História e Consciência de Classe, de Georg Lukács, com a preocupação de analisar a perspectiva formativa que é desenvolvida pelo autor húngaro na parte central da obra, A Reificação e a Consciência

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Caderno de Resumos - 46 - PPG-Fil - UFSCar

do Proletariado. Desse modo, seguindo a linha de exposição de Lukács no que se refere ao capítulo 4 da obra, em suas partes I, II e III, proporemos um estudo da problemática da reificação, entendida como totalidade manifesta na produção material da realidade, com a correspondente possibilidade de formação da consciência, como consciência de si da realidade mediante o processo de concretização na própria história.

Tendo como foco o capítulo 4, A Reificação e a Consciência do Proletariado, nosso estudo reporta a problemática das antinomias, desenvolvida na parte II do respectivo capítulo. A exposição de Lukács no tocante às antinomias, ao longo do desenvolvimento da trajetória da filosofia clássica alemã de Kant a Hegel buscará enfocar o ponto de partida do racionalismo burguês moderno a partir da filosofia transcendental kantiana e as tentativas em busca de uma universalização teórica no plano da consciência, do ser, caracterizando por isso mesmo um processo constitutivo, em vários níveis gradativos, de ontologização.

Em suma, a análise de Lukács da trajetória da filosofia clássica alemã como o primeiro momento formativo do ser no que se refere à busca por uma universalização no plano do pensar, e as antinomias irresolúveis a um determinado nível de desenvolvimento desse processo permite ao autor apreender toda a fecundidade constitutiva do marxismo. Tendo em vista estes pontos iniciais, o presente trabalho buscará discutir como o marxismo pode ser compreendido como herdeiro da filosofia clássica alemã, ou em outros termos, como Lukács realiza uma interpretação da história da filosofia sob uma perspectiva marxista.

A dialética entre carisma e racionalidade no pensamento de Max Weber

Luis de Salles Roselino Doutorado – UFSCar

Bolsista CAPES [email protected]

Contrapondo-se à racionalização, Weber apresenta, em seu arcabouço teórico, o

carisma como único elemento capaz de superar a rigidez do espírito antigo e do moderno, o elemento que desestabiliza, que dá movimento e vida à história. Trata-se do elemento que promove mudanças e viradas segundo esse seu conteúdo capaz de inspirar os homens. Se a princípio Weber identifica no aprisionamento técnico do mundo, no domínio pelo cálculo racional, um processo que se mostra predominante no curso da sociedade ocidental moderna, essa noção não implica reduzir as mudanças históricas como uma determinação dos meios técnicos, uma transformação material que se origina no domínio econômico e penetra nos valores humanos. Junto a essa concepção histórica que se apresenta “desde fora”, isto é, como determinação materialista e não idealista, Weber dá um estatuto de igualdade ao carisma frente aos demais fatores determinantes da história, sendo que dele parte uma transformação “de dentro”, no domínio do mundo espiritual, como “manifestação de tipo religioso, ético, artístico, científico, político”, a qual se expressa em função de um querer objetivo dos homens e com singular força revolucionária. Reintegrando o aspecto idealista ao que poderia soar, enquanto “racionalização”, como uma concepção sem alma que “transforma primeiro as coisas e as organizações e depois, os homens” (WEBER. WuG, p.1217), mesmo que possua, por assim dizer, um sentido mais “idealista”, esse sentido só pode ser interpretado corretamente se contraposto (dialeticamente) à transformação técnica, que é

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Caderno de Resumos - 47 - PPG-Fil - UFSCar

marcantemente materialista. Trata-se da noção idealista de espírito, interpretada junto às transformações técnicas (condições materiais) da história. A concepção destas duas forças que se contrapõem mostra-se como uma dialética que integra elementos da visão de mundo marxista a tradição idealista da ciência do espírito. A proposta desta exposição é destacar o aspecto amplo (universal) da interpretação weberiana da história em oposição à visão fragmentada da sociologia (burguesa) contemporânea.

A família no sistema hegeliano

Claudeni Rodrigues de Oliveira Mestrado – UNESP

[email protected]

Pretende-se investigar o lugar da família dentro do sistema hegeliano. Para tanto,

primeiramente destacaremos no âmbito da família, os desdobramentos das relações entre o pai, a mãe, o filho e a eticidade. Num segundo momento, enfocaremos o papel do filho, ou seja, o outro, no seio familiar, observando o significado do seu envio e retorno à comunidade. Por fim, destacaremos como as primeiras experiências da eticidade desenvolvidas no âmbito da família contribuem para a compreensão do sistema hegeliano.

Montaigne

A amizade indivisível em Montaigne

Nelson M. Brechó da Silva Mestrado – UNESP

[email protected]

O presente resumo busca estabelecer os elementos que sustentam o tema da amizade relacionado à sua indivisibilidade. Por esse motivo, principia-se da equidade para apontar a união das vontades, bem como a sua distinção com as amizades comuns, tidas como corriqueiras e opacas, visto que acentuam o bem particular ou privado, o utilitarismo e o bem familiar.

Nota-se que a amizade, para Montaigne, associa-se com o termo aequitas, que indica o amor equitativo vinculado à justiça e à igualdade. Dessa forma, Montaigne se fundamenta na amizade virtuosa proposta por Aristóteles como teleia philia, finalidade que seja perfeita. Depois, parte para Plutarco, que define o homem virtuoso como aquele que segue conforme a natureza, a razão e o costume. E, finalmente, Cícero, que mostra a cautela e a circunspeção como dados imprescindíveis para a escolha do amigo, sem se esquecer de caminhar com prudência.

Fato mais interessante é que Montaigne junta esses textos dos antigos e elabora os ensaios como tentativa de ressaltar a relevância de sua amizade com La Boétie, juntamente com suas experiências mais marcantes para se tornar impresso aquilo que se

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Caderno de Resumos - 48 - PPG-Fil - UFSCar

pode perder com o tempo. Por isso, o “eu” se encontra disperso e está numa constante formação e num exercício de dúvidas e incertezas.

Montaigne chega à noção da amizade indivisível, porque, uma vez que a porção da igualdade seja recíproca, não se pode dividi-la. Acrescenta-se, inclusive, que a reciprocidade se alia ao sentimento de entrega ao outro. Logo, a amizade indivisível é uma entrega, a saber, uma doação movida pelo desejo de se unir ao outro a fim de compartilhar as experiências e valores. No entanto, o autor lamenta pelo fato de não poder multiplicá-la, porque a amizade envolve duas pessoas no desejo de unir as almas.

Entre a subjetividade como auto-retrato em Montaigne e como consciência de si em Descartes

Edgard Vinícius Cacho Zanette Mestrado – Unioeste

Bolsista CAPES/ CNPq [email protected]

Neste trabalho propomos aproximar duas leituras distintas sobre a noção de subjetividade. Na primeira temos em Montaigne, sobretudo na obra Apologia de Raymond Sebond, um ceticismo neo-pirrônico em íntima relação com o fideísmo. A imersão de Montaigne no ceticismo o levou a radicalizar a máxima socrática: conhece-te a ti mesmo para a proposição cética: que sei eu? Este modo de formular o problema do que é possível ao homem conhecer, traz o discurso filosófico para uma estreita discussão em primeira pessoa, em que o expediente retórico perpassa não mais uma objetividade, mas antes que essa possibilidade, há que perpassar uma experiência de auto-retrato. Já na segunda, Descartes escrevendo em primeira pessoa usa o ceticismo como um mecanismo de destruição dos prejuízos, para que emerja, a partir deste primeiro momento cético, a descoberta de si mesmo, do cogito, como pura consciência de si. Vemos assim que a dúvida metódica cartesiana também, ao seu modo, é uma experiência de auto-retrato. Contudo, essa experiência será a desconstrução mesma de toda uma experiência de vida para uma outra. Neste caso o manuseio dos argumentos céticos por parte de Descartes faz que o seu discurso cético promova um abandono de uma experiência alicerçada sobre o engano. Assim, esse mergulhar na experiência do ceticismo não será uma imediata experiência de auto-retrado como em Montaigne, mas a procura metódica em abandonar completamente uma imagem de si mesmo e do mundo com vistas à descoberta de uma outra compreensão que supere àquela, agora não mais uma imagem de si mesmo, mas a fundação indubitável da verdade de si mesmo. Ao aproximarmos Montaigne e Descartes, ambos considerados no limiar mesmo do nascimento da filosofia moderna, propomos apontar uma oposição entre ambos diante do desenvolvimento de uma noção em comum: a constituição da subjetividade a partir do ceticismo.

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Caderno de Resumos - 49 - PPG-Fil - UFSCar

Estética II

O sublime em Assim Falava Zaratustra

Martha de Almeida Doutorado – UERJ

[email protected] Este artigo tem como objetivo abordar a questão do sublime na obra Assim

falava Zaratustra de Friedrich Nietzsche, com base no discurso “Dos sublimes”. Nele, o filósofo apresenta uma necessária passagem do sublime ao belo, reinterpretando o sublime, entendendo o belo como a finalidade de toda arte e entendendo, o próprio homem como obra de arte. Assim, o sublime em Assim Falava Zaratustra tem dupla finalidade: uma crítica ao ideal artístico de Richard Wagner e uma necessária transformação humana para que esse possa alcançar o estágio de transvaloração de todos os valores a caminho do sobre humano.

A filosofia entre o sistema e não-sistema – Friedrich Schlegel e a linguagem da filosofia

Thiago das Chagas Santos

Mestrado - Universidade Federal de São Carlos Bolsista CAPES

[email protected]

Schlegel foi contemporâneo do triunfo do sistema como expressão filosófica

adequada, e sua contínua negação em construir um para si colocou-o do lado de fora daquilo que comumente chamamos de Idealismo Alemão. Porém, esta questão, que foi por muito tempo tomada como falta de capacidade de Schlegel para a filosofia, nos últimos anos vem sendo pensada como característica de uma preocupação com a exposição da filosofia, uma reflexão em torno da linguagem da filosofia e suas formas de exposição. Partindo desta idéia, procuraremos pensar a questão da forma da filosofia como prática comunicativa, e não apenas como posterior momento de comunicação da idéia, como prática do pensamento-linguagem e de como estas questões levam Schlegel a construir uma exigência sistemática entre a filosofia e a poesia, entre sistema e não-sistema.

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Caderno de Resumos - 50 - PPG-Fil - UFSCar

O papel das poéticas artísticas em tempos de definição institucional da arte

Guilherme Ronan de Souza Elias Ferreira

Mestrado – UERJ Bolsista FAPERJ

[email protected]

Diante da dificuldade de se encontrar a propriedade universal compartilhada por todas as obras de arte, aparentemente tão díspares entre si, que as defina e separe de outros objetos, a “definição institucional da arte” proposta pelo filósofo George Dickie, sob o pano de fundo heterogêneo da arte contemporânea, privilegia metodologicamente os elementos extrínsecos à materialidade da arte, detendo-se na sua “embalagem”. Dickie defende que não se pode encontrar uma definição para a arte, em sentido classificativo, generalizando características de sistemas artísticos particulares, tampouco generalizando os critérios do que se considerou historicamente e esteticamente como boa arte. Nosso objetivo será, num primeiro momento, discutir o modo como esta definição é estruturada, a fim de verificar como ela agencia o conceito da arte e o seu valor, tido como irrelevante para que seja atribuído o estatuto de arte a determinado objeto. Num segundo momento, a partir do esvaziamento que a própria definição condiciona, questionaremos o papel das poéticas artísticas como instâncias criativas capazes de justificar de modo valorativo, a cada obra posta, a sua sobrevivência num cenário onde a morte da arte foi anunciada tantas vezes. Nesta direção, poderíamos encontrar nelas indicações filosóficas para o lugar ocupado pela arte na dinâmica da cultura, aí incluídas questões cognitivas, morais e sensoriais, indo além do território da definição.

Filosofia Moderna

A dinâmica das paixões humanas em Thomas Hobbes

Luiz Carlos Santos da Silva

Doutorado – Unicamp [email protected]

Nossa comunicação visa apresentar o modo como, a partir de uma aplicação de princípios gerais da filosofia natural (particularmente o princípio inercial do movimento) na consideração do homem e de seu comportamento natural, Hobbes formula uma teoria mecanicista das paixões humanas. Teoria das paixões essa regula as investigações de Hobbes acerca do comportamento natural que conduz os homens rumo à constituição do Estado civil. Sob esse prisma, visamos discursar acerca dos conceitos de apetite, paixão e desejo que caracterizam o homem hobbesiano em estado de natureza como um animal hostil, competitivo e belicoso por natureza.

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Caderno de Resumos - 51 - PPG-Fil - UFSCar

Leibniz e a Fraqueza da Vontade

André Chagas Ferreira de Souza Doutorado – USP Bolsista FAPESP

[email protected]

O tema da ação humana é central dentro da obra de Leibniz, que é um filósofo muito conhecido por ter buscado associar liberdade e destino, também conhecido como o labirinto da liberdade. Nesta apresentação, procuro enfatizar outro problema também ligado à ação humana que pode ser extraído dos textos leibnizianos, a saber, a fraqueza da vontade, que está resumida de maneira emblemática na frase de Ovídio: “Vejo o melhor e o reconheço, mas faço o pior”. O autor da Teodicéia não fornece uma solução expressa para a akrasia, mas parece ser possível ao menos esboçar qual seria a posição de Leibniz. Uma boa fonte para essa investigação é um famoso capítulo (II xxi) dos Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, onde ele debate diretamente com o livro quase homônimo de Locke. Nesse trecho, intitulado “Sobre a Potência e a Liberdade”, um dos conceitos discutidos é o de uneassiness, que pode ser traduzido por incômodo, dor, preocupação. Locke entende que o princípio motor para as ações seria evitar o incômodo causado pela sensação de falta de um bem. Leibniz não refuta essa ideia do filósofo inglês, porém busca aperfeiçoá-la ao introduzir as percepções inapercebidas. Assim, em meio a esse diálogo, entra a discussão sobre uma zona desconhecida no homem, a qual é fundamental para seus atos. Não busco aqui tratar o filósofo alemão como um precursor das teorias sobre o inconsciente, mas apenas apontar que dentro da filosofia leibniziana o problema da fraqueza da vontade pode não passar de uma ilusão formulada pelo agente, o qual poderia resolver seus problemas por uma espécie de terapia racional. Isso põe em cena o intelectualismo leibniziano.

A expansividade do amor de si na filosofia de Rousseau Marisa Vento

Doutorado – Unicamp Bolsista FAPESP

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O filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau, ao meditar sobre as primeiras e

mais simples operações da alma humana percebe o princípio do amor de si e caracteriza-o como princípio anterior à razão, que “nos interessa ardentemente ao nosso bem estar e à nossa conservação”. O amor de si é “a fonte de nossas paixões, a origem e o princípio de todas as outras, a única que nasce com o homem e nunca o abandona enquanto ele vive” (O. C. iv, 491). Parece evidente aqui que o amor de si não é próprio apenas do homem no estado de natureza, mas da natureza do homem. Considerando como premissa chave da filosofia moral e política de Rousseau que “o amor de si é o único motivo que faz agir os homens” (Lettres Philosophiques), a proposta deste texto é discutir a expansividade positiva do amor de si a partir da vida primitiva e suas

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Caderno de Resumos - 52 - PPG-Fil - UFSCar

conseqüências no desenvolvimento ou aparecimento da razão como condição de moralidade-virtude.

Filosofia da Ciência

O realismo de entidades de Ian Hacking

Tales Carnelossi Lazarin Doutorado – UFSCar

[email protected]

O realismo científico é a tese de que as teorias científicas são capazes de

descrever o mundo como ele é (ao menos de forma aproximada), mesmo com respeito a seus aspectos que não são diretamente observáveis. Antirrealistas de orientação empirista geralmente se opõe a essa tese alegando que, como o acesso aos inobserváveis sempre é mediado por teorias científicas ou por instrumentos construídos com seu apoio, não é possível estabelecer a verdade das teorias que os mencionam (pois é possível formular teorias rivais que preservam todas as consequências empíricas, mas que citam inobserváveis distintos). Ian Hacking assume uma posição intermediária neste debate, e o faz amparado em algumas concepções particulares sobre a natureza da ciência. O autor afirma que a última se constitui de atividades complementares de representação e intervenção nos diversos domínios da natureza, e concede aos empiristas que as múltiplas representações que sempre são possíveis para qualquer fenômeno estudado sustentam o ceticismo teórico. Mesmo assim, Hacking busca substanciar uma tese realista enfraquecida, conhecida por “realismo de entidades”, e o faz voltando-se às atividades de intervenção. O autor confronta toda uma tradição na Filosofia da Ciência que entende a experiência como subordinada à teorização científica, desenvolvendo no percurso uma verdadeira filosofia dos experimentos científicos. Baseando-se na análise de diversas situações experimentais, Hacking alega que há, sim, razão para asseverar a existência das entidades inobserváveis na medida em que é possível manipulá-las em experimentos científicos e empregá-las em aplicações tecnológicas; e também busca mostrar que essas atividades empíricas têm uma “vida própria” e não são essencialmente guiadas pelas teorias científicas, como é normalmente admitido pelos teóricos da ciência. Assim, Hacking se posiciona de modo original no debate citado, assumindo o ceticismo com respeito às teorias científicas e defendendo, concomitantemente, a manipulabilidade experimental como apoio para alegações de existência de certas entidades inobserváveis postuladas nas ciências.

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Caderno de Resumos - 53 - PPG-Fil - UFSCar

Conceito de percepção-ação na Filosofia Ecológica

Juliana Moroni Mestrado – UNESP

Bolsista CAPES [email protected]

Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo do conceito de percepção-

ação no contexto da Filosofia Ecológica, indicando a sua importância para o debate Internalismo versus Externalismo na Filosofia da Mente. Para isso, procuramos mostrar que, na concepção de Gibson (1986), o pai da Filosofia Ecológica, o processo de percepção-ação está intrinsecamente conectado as affordances, invariantes e informação ecológica. O conceito de affordance é caracterizado por este filósofo como as disponibilidades informacionais de ação que emergem da inter-relação entre os sistemas ecológicos: organismos (entre si) e ambiente. A percepção das affordances ocorre através da apreensão direta da informação (sem a necessidade da mediação de representações mentais) presente nas affordances e invariantes do ambiente ecológico. As invariantes são padrões que se formam no processo co-evolutivo entre os sistemas ecológicos, constituindo nichos que possuem a marca evolutiva dos organismos que atuam em certo ambiente. Nesse sentido, na perspectiva ecológica, o processo de percepção-ação é estudado no viés da vertente Externalista na Filosofia da Mente. Isso porque ela dispensa as representações mentais como mediadoras da relação agente-ambiente, focalizando a dinâmica relacional formadora de nichos sistêmicos nos quais a percepção-ação se desenrola. Argumentamos que a abordagem ecológica surge como uma alternativa promissora à vertente internalista no estudo da percepção-ação.