Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de...

download Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

of 25

Transcript of Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de...

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    1/25

     

    O mensalão inserido na teoria dos escândalospolíticos midiáticos de Thompson

    Vevila Junqueira da Silva1 

    Resumo

    Este artigo insere o episódio político brasileiro conhecido como escândalo do mensalãona teoria social dos escândalos políticos, desenvolvida por John Thompson (2002). Oselementos constitutivos desse episódio político foram extraídos das matérias de capa dasrevistas Carta Capital, Época, Istoé e Veja, nas edições subseqüentes ao surgimentodesse escândalo na mídia – o marco referencial são as denúncias veiculadas pelo jornalFolha de S. Paulo em 6 de junho de 2005, repercutidas pelas referidas revistas nasedições de 13 de junho (Época) e 15 de junho (Carta Capital, Istoé e Veja). O estudoinsere o mensalão na categoria de escândalos político-financeiros e verifica a

     pertinência dessa inserção analisando a conceituação do episódio feita pelas revistas.Foi levantado como as reportagens trataram o escândalo na perspectiva da teoria socialdo escândalo e se foram – e como – apontados os pontos importantes para a dinâmicado escândalo tais como esvaziamento da credibilidade, estratégias para driblar a crise,reações dos adversários políticos, estágios da crise, motivos da crise, prognóstico eapontamento conseqüências, e dissociação das “más companhias”.

    Palavras-chave: escândalo político midiático, mensalão, Thompson, revistas semanais

    1. IntroduçãoO surgimento de formas modernas de comunicação midiática e difusão da

    informação transformaram o estatuto social e político no qual vivemos. Thompson

    (2002), ao traçar uma teoria do escândalo político midiático, destaca como o uso

    contemporâneo da mídia transformou a conduta dos líderes políticos e a vida política

    em geral. Grande parte dessa mudança pode ser atribuída à transformação da

    visibilidade, ou seja, ao desbotamento das fronteiras entre o que é público e o que é

     privado. Como público passou a ser tudo o que pode ser captado e difundido pelos

    meios de comunicação social, os atores políticos, ao mesmo tempo em que podem dar

    uma publicidade e amplitude maior aos seus atos, se vêem, em contrapartida, em uma

    situação de maior fragilidade e vulnerabilidade.

    É nesse contexto de reconfiguração política e social que o autor coloca a questão

    do escândalo político midiático, reconfiguração esta que dá forma também ao modo

    como o poder é exercido em nossa sociedade. Thompson mostra que, no cenário atual,

    1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Unesp-Bauru e graduada emComunicação Social / Jornalismo, UFMS. E-mail: [email protected]

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    2/25

     

    os alicerces sobre os quais o poder se fundamenta e os tipos de recursos regem a

    “cotação” dessas fontes de poder simbólico estão também fortemente ligados à natureza

    e à configuração dos escândalos políticos midiáticos.

    O objetivo deste estudo é verificar se a dinâmica e os elementos caracterizadores

    do escândalo político midiático propostos por Thompson se estendem ao tratamento

    dado pela mídia a esse fenômeno. Para tanto, tomou-se como objeto o escândalo do

    mensalão e as reportagens das revistas Carta Capital, Época, Istoé e Veja.

    2. Desenvolvimento

    2.1 Conceito de escândalo político

    De acordo com Thompson (2002), atualmente, o termo escândalo é entendido

    como revelação, através da mídia, de algum ato, procedimento ou atividade, que

    estavam antes ocultos, mas que implicam em transgressões a normas, valores, leis ou

    obrigações. Trata-se não meramente da divulgação de um segredo, mas desta

    divulgação configurada como um evento midiático, no qual não só o ato em si, mas o

    conjunto dos comentários reprovadores, imagens acusatórias, fotos comprometedoras e

    manchetes dramáticas veiculadas passam a ser parte constitutiva do próprio escândalo.Em linhas gerais, o autor define escândalo político como lutas pelo poder

    simbólico, em um contexto no qual aquilo que dá valor a esse poder simbólico é a

    reputação e a confiança. O acúmulo de capital simbólico está baseado na manutenção de

    uma boa reputação pessoal e na crença na probidade moral do indivíduo, ou seja, o

    exercício do poder simbólico depende de capital simbólico, que abastece a reputação,

    fonte vital desse tipo de poder. Os escândalos políticos são maléficos aos homens que

    almejam revestir-se de poder simbólico justamente porque esvaziam a cota deconfiabilidade depositada neles.

    As normas mais suscetíveis a renderem escândalos são as que governam as

    relações sexuais, o exercício do poder e as transações financeiras. O autor separa então

    os escândalos políticos em três categorias: político-sexual, escândalo de poder e

    escândalo político-financeiro.

    Um exemplo recente de escândalo político-sexual na história política

    internacional foi o envolvimento do ex-presidente norte-americano Bill Clinton com a

    estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky. Na época, instaurou-se um clima geral de

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    3/25

     

    crise no governo dos Estados Unidos, com ameaça de impeachment, e aquele tornou-se

    o mais importante escândalo sexual da história política do país, mais pelo fato de se ter

    tentado negar o fato – mentindo durante testemunho sob juramento diante de uma juíza

    federal e tentando manipular testemunhas – do que pelo adultério em si, já que Bill

    Clinton tinha um histórico de envolvimentos fora do casamento.

    O amplamente citado caso Watergate é um exemplo de escândalo de poder.

    Trata-se do envolvimento da Casa Branca (EUA) no episódio de escuta ilegal instalada

    no quartel-general do Comitê Democrático Nacional, no complexo de apartamentos em

    Washington chamado Watergate. O episódio freou repentinamente a carreira política do

    então presidente Richard Nixon, que renunciou no dia 8 de agosto de 1974, após

     período de intensa investida da imprensa sobre o caso. O grande paradoxo é que Nixon

    nunca foi indiciado por acusações criminosas nem condenado por ser mandante da

    instalação; seus delitos foram transgressões de segunda ordem, como encobrimento e

    reiteradas negações que se provaram falsas no decorrer das investigações.

    Para referir um exemplo brasileiro vale mencionar o escândalo do Orçamento no

    governo Itamar Franco, caracterizado como escândalo financeiro, que diz respeito a

    esquemas de corrupção no Congresso comandado pelos chamados anões do Orçamento,

    um grupo de parlamentares que se revezava nos postos-chave da comissão do

    Orçamento. O episódio resultou na cassação de seis deputados e quatro renúncias antes

    do julgamento.

    Os escândalos políticos podem ser colocados em três patamares. O primeiro se

    resume a um evento restrito, localizado, que não extravasa as dimensões de uma

    instituição, grupo ou comunidade. O segundo tipo é caracterizado pela intervenção da

    imprensa, a partir dos séculos XVI e XVII, num contexto em que o escândalo era

    difundido pelos meios de comunicação sem que, no entanto, esta difusão interferisse em

    sua dinâmica própria. Além disso, no tempo dos panfletos nas monarquias, o escândaloera mal visto, pois sua veiculação tinha um caráter jocoso ou denunciatório que beirava

    a subversão. O terceiro tipo, os atuais escândalos políticos, difere do segundo tipo,

     porque são constituídos por formas midiáticas de comunicação que se confundem, elas

     próprias, com o desenvolvimento do escândalo. Outra diferença é que, com o prestígio

    do jornalismo investigativo, criou-se uma cultura em que é bem-visto trazer a público

    atos imorais ou ilícitos antes encobertos.

    Para um tratamento dos escândalos, Thompson sugere o que chama de teoriasocial do escândalo, na qual estão em jogo elementos de poder, reputação e confiança.

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    4/25

     

    Essa teoria pode ser formulada pelo seguinte enunciado: “escândalos são lutas pelo

     poder simbólico em que a reputação e a confiança estão em jogo” (Thompson, 2002, p.

    296). Não é regra que escândalos destruam a reputação e enfraqueçam a confiança, mas

    eles têm o potencial considerável de fazer isso.

    2.6 Elementos de Thompson no escândalo do mensalão

    Para verificar a possibilidade do escândalo do mensalão emoldurado na teoria

    social dos escândalos políticos, desenvolvida por John B. Thompson (2002), foram

    destacados alguns aspectos da dinâmica e dos elementos caracterizadores dos

    escândalos políticos midiáticos enunciados pelo referido autor e averiguado se as

    revistas tiveram a preocupação com as mesmas questões levantadas e como essas

    questões foram tratadas. Este artigo vale-se de dois suportes oriundos da teoria de

    Thompson para estabelecer os pontos de análise, o que chamamos de fatores integrados

    e estrutura seqüencial.

    Fatores integrados

     No seu intento de desenvolver uma explicação analítica do escândalo político e

    delinear uma teoria social de suas condições e conseqüências, John B. Thompson (2002)

    faz um levantamento de fatores que permeiam os escândalos políticos como

    acontecimentos contemporâneos. Conceituando o escândalo político como “lutas pelo

     poder simbólico em que a reputação e a confiança estão em jogo” (p.296), ele aponta

    uma série de fatores que constitui o conjunto de forças relativas ao contexto em que essa

    “batalha” por gerir as “cotas” de reputação e confiança ocorrem. Na Figura 1, os três

    retângulos sombreados constituem os elementos diretamente ligados ao escândalo

     político: a visibilidade, a política da confiança e a busca da legitimação poder

    simbólico, através da administração da cota de reputação.Em torno de visibilidade, é possível averiguar que o papel central da mídia na

    contemporaneidade criou novas formas de interação que ocasionaram transformações na

    vida social e política. Se atualmente os políticos podem recorrer à mídia para dar uma

    amplitude maior aos seus feitos, eles também estão mais expostos e portanto mais

    vulneráveis a terem os seus deslizes amplificados pelos holofotes midiáticos.

    Com relação à política da confiança, nas democracias liberais, é possível

    entendê-la como resultado do declínio dos partidos políticos e do crescimento devotantes desvinculados de partidos classistas, que fazem agora suas escolhas de maneira

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    5/25

     

    mais independente. Nesse quadro no qual sobrepuja a política da confiança, as eleições

    regulares pressupõem uma reafirmação periódica da legitimidade do poder simbólico

    exercido pelos homens políticos, na tentativa de angariar votos.

    Figura 1 – fatores integrados: elementos incorporados que integralizam os escândalos políticos

    Com base na figura acima, é possível fazer comentários a respeito de alguns

    itens que serão úteis para traçar guias úteis à análise a que se propõe esse trabalho.

    ADMINISTRAÇÃO DA “COTA” DE REPUTAÇÃO: Muitas vezes não só a

    figura central de um escândalo político tem sua reputação prejudicada e sua carreira (ou

    mesmo vida pessoal) arruinada. Os danos podem se estender a outras pessoas

    implicadas em menor grau, ou mesmo instituições ou organizações políticas com as

    quais essas pessoas estiveram ligadas. Nesse sentido, é pertinente um olhar acurado

    sobre como a mídia retrata o se pode chamar de dissociação das “más companhias”, ou

    seja, as referências feitas a um partido que tentar banir um membro que esteja com a

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    6/25

     

    imagem comprometida, um político que rejeita ligação com um aliado declarado, uma

    diretoria que é dissolvida para tentar salvar a imagem de uma instituição, etc.

    POLÍTICA DA CONFIANÇA: Com o enfraquecimento da política baseada em

     partidos classistas que representavam interesses de distintas classes sociais, cresce a

     política de confiança.

    Cada vez mais os partidos e seus líderes têm de lutar para ganhar o apoio de umacrescente parcela de eleitores não comprometidos – isto é, de eleitores cujasafiliações políticas têm menos probabilidade de passarem de uma geração a outra eque mais provavelmente irão tomar suas decisões baseados nas opções a elesoferecidas (Thompson, 2002, p.146).

     Nesse contexto de disputa, grupos de interesse estão continuamente empenhados

    em atacar seus “concorrentes”. Qualquer infortúnio que venha prejudicar o desempenho

    do adversário será celebrado pelo opositor. Por isso é importante estar atendo às

    referências feitas às reações dos adversários políticos, ou seja, como a mídia retrata o

    comportamento de líderes de partidos opositores, por exemplo, inclusive às vezes

    assumindo declaradamente estratégias para se beneficiar do infortúnio que atinge o

    concorrente.

    LUTAS PELO PODER SIMBÓLICO: “O escândalo, seja ele político-sexual,

     político-financeiro ou de poder, pode corroer e esvaziar essas fontes de poder simbólico,

    que são a reputação e a confiança” (p.13-14). A mídia, consciente ou

    inconscientemente, acaba empreendendo um nítido esforço para ressaltar a questão do  

    “esvaziamento” de credibilidade como forma de ameaça à reputação e à confiança.

    VISIBILIDADE: Acontecimentos escandalosos de várias espécies acompanham

    a história da sociedade civilizada. A diferença é que agora, porque a mídia passou a

    ocupar papel central nas sociedades, esses episódios se confundem eles próprios com a

    atuação da mídia, que se adianta em denunciar, trazer a público, reunir provas, etc. Nesse sentido, um ato de corrupção por si só apenas se transfigura em um escândalo

     político midiático quando tornado público pelos veículos de comunicação. Com base

    nesse fenômeno, é válido observar como a mídia aponta os motivos da crise e lida com

    o fato de ela própria ter comprometimento com o fato de tê-lo tornado público, como

    quando, por exemplo, uma revista traz à tona gravações de câmera escondida em que

    um funcionário aceita suborno, transfigurando um evento que tinha essencialmente

    caráter privado. Como o caso torna-se um acontecimento público, conhecido pormilhões, e de caráter midiático, os próprios meios de comunicação, ao mesmo tempo em

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    7/25

     

    que imergem no escândalo e confundem-se eles próprios com a dinâmica dos

    acontecimentos, colocam-se como agentes externos, capazes de fazer julgamentos por

    vezes moralizadores, assim como arriscar  prognósticos e apontamento de

    conseqüências.

    Estrutura seqüencial

    Este artigo propõe, ainda, a usar a estrutura seqüencial dos escândalos políticos

    como aliada no levantamento dos itens. Embora seja marcado por um constante contar e

    recontar de histórias e consecutivas afirmações e contra-afirmações que podem se

    estender por dias, semanas, meses e até anos, os escândalos políticos midiáticos

    apresentam certa estrutura seqüencial. Isso se deve ao fato de ele ter um início – o

    estopim, evento ou circunstância que provoca a série de acontecimentos que constitui o

    escândalo – e um fim diagnosticáveis, ainda que esse fim possa traduzir-se em um

    definhamento até exaurir o interesse público no caso. O maior benefício de tomar a

    estrutura seqüencial como parte do trabalho é situar o analista, de modo que ele não se

     perca na aparente desarranjo e desconexão de fatos relacionados ao escândalo. O

    analista também pode avaliar o comportamento dos veículos de comunicação nos

    termos da série estrutural de acontecimentos, que engloba quatro fases definidas por

    Thompson, de acordo com a Figura 2:

    Figura 2 - estrutura seqüencial dos escândalos políticos

    O pré-escândalo é caracterizado por fofocas, boatos, rumores e comentários de

    “bastidores”, fora do “espaço cênico”. Nesse sentido, o escândalo propriamente não

    começa com a transgressão em si mesma, mas com a revelação (midiática) que a torna

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    8/25

     

    objeto de conhecimento público. Nessa fase (escândalo propriamente), os indivíduos

    envolvidos, auxiliados por seus conselheiros, assessores, advogados, defensores ou

    “padrinhos” se empenham em uma batalha estratégica (que será retomada no final do

    item) para dirigir o curso dos acontecimentos para um desenlace o menos catastrófico

     possível. A fase do clímax ou desenlace constitui o ponto crítico, às vezes revestida de

     poder simbólico, que estabelece os componentes para o resultado final do escândalo,

    como um julgamento, uma audiência ou evento de mídia transmitido ao vivo. Este

     ponto crítico interrompe o fluxo normal dos acontecimentos e cria uma atmosfera

    formal e solene, de alta expectativa. Na última fase do escândalo figuram as

    conseqüências. Essa fase é diagnosticável porque é conseguinte a uma confissão,

    renúncia, julgamento ou até mesmo se caracteriza pelo definhamento do caso.

    Geralmente neste momento menos “acalorado” é possível pensar retrospectivamente e

    os jornalistas, e até mesmo os protagonistas do escândalo ou pessoas indiretamente

    envolvidas, dedicam-se a uma reflexão sobre os acontecimentos e suas implicações.

    A batalha estratégica travada durante o desenvolvimento do escândalo

     propriamente é um fator que tem muito a acrescentar se for levado em consideração

     pelo analista. Podemos chamar isso de estratégias para driblar a crise. Um olhar mais

    acurado do pesquisador sobre referências a tipos de atitudes estratégicas pode ajudar a

    manter o foco em questões pertinentes à dinâmica do escândalo. As estratégias citadas

     por Thompson são: negar firme e repetidamente o envolvimento nas atividades

    referidas; trancar qualquer vazamento, impedindo de fazer-se pública uma notícia que

    não se deseja que seja divulgada; prevenir toda evidência de incriminatória; fechar

    linhas de investigação; cortar o fluxo de informação; e reverter o jogo contra a

    imprensa, colocando em dúvida sua credibilidade e imparcialidade.

    É importante ressaltar que a mídia continua fazendo pressão contrária a essas

    estratégias e que em muitos casos elas podem inclusive se reverter contra as pessoas queas adotam. Quando, por exemplo, uma negação prova-se falsa posteriormente, fica

    irremediavelmente afetada credibilidade de quem tentou usar de maneira mal-

    intencionada esse recurso.

    2.7 Reportagens na perspectiva da teoria social do escândalo

    Foi levantado como as reportagens trataram o escândalo na perspectiva da teoria

    social do escândalo  e se foram – e como – apontados os pontos importantes para adinâmica do escândalo tais como esvaziamento da credibilidade, estratégias para driblar

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    9/25

     

    a crise, reações dos adversários políticos, estágios da crise, motivos da crise,

     prognóstico e apontamento conseqüências, e dissociação das “más companhias”.

    Antes de adentrar cada um dos itens, para verificar a pertinência da classificação

    do episódio do escândalo do mensalão como um escândalo político-financeiro, foi

    assinalado como cada uma das revistas conceituou o mensalão. Depois, em se tratando

    dessa conceituação, para delimitar em que categoria de escândalo o episódio está, foram

    apontados quais os aspectos de poder, finanças ou sexo foram mencionados.

     Na etapa seguinte, foi feito um levantamento do tratamento dado pelas revistas

    aos itens mencionados no primeiro parágrafo: esvaziamento da credibilidade, estratégias

     para driblar a crise, reações dos adversários políticos, estágios da crise, motivos da

    crise, prognóstico e apontamento conseqüências, e dissociação das “más companhias”.

    Levando em conta que uma leitura prévia apontou várias referências a esses itens, foram

    reportados apenas os mais representativos. Todo o estudo se dá por meio da construção

    de tabelas.

    Conceituação do escândalo do mensalão

    É bastante evidente que as revistas deram destaque à questão do suborno, ao ato

    imoral ou “escandaloso” de se comprar a fidelidade dos aliados. O termo “traficar”,

    usado pela revista Veja, no sentido de praticar negócio clandestino e fraudulento, dá o

    tom do ponto de vista reprovador calcado na questão financeira: “A pergunta inevitável

    é se Lula sabia das traficâncias do tesoureiro do PT” (ver anexo 1). Época e Carta

    Capital usaram termos mais amenos como “mesada” e “repasse” de dinheiro. A Istoé

    chama o tesoureiro do PT, Delúbio Soares de “morcego petista” – no sentido jocoso de

    indivíduo que tem o hábito de somente sair à noite, ou seja, que age na surdina – que

    sobrevoava estatais recolhendo contribuições.

    Esvaziamento da credibilidade (ameaça à reputação e à confiança)

    “O escândalo, seja ele político-sexual, político-financeiro ou de poder, pode

    corroer e esvaziar essas fontes de poder simbólico, que são a reputação e a confiança”

    (Thompson, 2002, p.13-14). Os termos “cheque em branco”, “fissura”, “patrimônio

    ético”, “desencanto”, “estandarte ético” demonstram o enfoque dado à questão do

    “esvaziamento” de confiança e reputação, mencionado por Thompson.

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    10/25

     

    A questão do esvaziamento de credibilidade e quebra de confiança é bastante

    nítido nas abordagens das revistas. Carta Capital menciona que “o homem a quem o

     presidente Lula disse que entregaria um cheque em branco lançou o governo e o

    Congresso na mais profunda crise desde a posse” (ver anexo 2). Diz ainda que Jefferson

    “atingiu em cheio o patrimônio ético construído nos últimos 25 anos pelo PT”. A revista

    Época menciona que Lula tem medo de entrar para a História como o sindicalista que

    fracassou ao chegar no poder. A Istoé, em referência ao estandarte ético do Partido dos

    Trabalhadores, lança: “até tu, PT?”. A revista Veja reforça: “Logo o PT, que, em todas

    as pesquisas de opinião, sempre apareceu em primeiro lugar como o partido mais

    ‘idôneo’ e mais ‘confiável’ do país”.

    Estratégias para driblar a crise

    Thompson define escândalo político midiático como “lutas pelo poder simbólico

    em que a reputação e a confiança estão em jogo”. O poder simbólico, essencial à luta

     pelo poder político, é usado “para persuadir e confrontar, para influenciar ações e

    crenças, cultivar relações confiança e influenciar, o mais que puderem, o curso dos

    acontecimentos” (2002, p.134). Nesse sentido, é previsível que os indivíduos que se

    encontram no centro do escândalo, junto com seus conselheiros, advogados e

    defensores, armem estratégias para tentar direcionar o decurso de afirmações e contra-

    afirmações para uma conseqüência o menos desfavorável possível. E é na fase em que

    começa o escândalo propriamente dito, com a divulgação pública de uma ação ou

    acontecimento, que a adoção dessas estratégias se torna mais visível. As revistas

    mostraram preocupação em apontar as estratégias do governo para driblar a crise que se

     principiava. Mencionaram uma certa desarticulação e declarações desacertadas – “A

    reação do governo e do PT acabou por piorar a situação e tumultuar o cenário” (Carta

    Capital) –, além da estratégia de implementação de mudanças estruturais no governoatravés da reforma política e ministerial, e até na política econômica, para tentar reaver

    o controle da situação. A revista Época chegou a falar em desistência da reeleição do

     presidente Lula como uma carta na manga para evitar degringolamento na

    administração. Esse degringolamento ao qual a revista se refere tem a ver com o que

    Thompson diz: “Mas pior que tudo é quando o escândalo político leva a uma gradual

    corrosão das formas de confiança social, da qual depende a ação política cooperativa”

    (2002, p.18). Também foi bastante mencionada as artimanhas para, num primeiromomento, tentar barrar uma CPI e, num segundo momento, sem margem de manobra e

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    11/25

     

    com ela já instalada, tentar brigar pela relatoria e pela presidência – como neste trecho

    de Istoé: “num contorcionismo inédito para um partido que brigava havia dias para

    abafar a CPI e foi forçado pelo próprio Lula a engolir a investigação que pode devassar

    suas entranhas” (detalhes no anexo 3).

    Reações dos adversários políticos

    Enquanto a Veja não menciona a satisfação e possíveis articulações dos

    adversários políticos com os infortúnios do PT, as outras três revistas apontam a

    estratégia do PSDB como moderada, na intenção de não se precipitar e por reconhecer a

    força da ligação do presidente Lula com o povo, ou seja, ele é um alvo que não pode ser

    aberta e publicamente rechaçado e banido: “O PSDB teme que uma eventual

    radicalização dos ataques ao presidente acione o relé que liga Lula ao povo” (Carta

    Capital). Na abordagem da revista Istoé, o contentamento com o infortúnio do

    adversário não sobrepuja uma fria lógica estratégica para tentar tirar proveito da

    situação. A revista menciona que o ex-presidente Fernando Henrique telefonou pra

    diversos tucanos pedindo moderação: “O medo do PSDB é que, com o agravamento da

    crise, sobrevenha o caos, pondo por terra até mesmo os planos dos tucanos de vencer as

    eleições de 2006”. Veja detalhes no anexo 4.

    Estágios da crise

    Thompson salienta que a transgressão a normas, leis ou obrigações em si não

     principia o escândalo midiático; figuram, na verdade, na fase do pré-escândalo. O

    escândalo propriamente dito começa quando a violação se torna objeto de conhecimento

     público, ou seja, quando os veículos de comunicação noticiam o fato. Seguindo essa

    linha, as revistas se referem a um “antes” e um “depois” da denúncia, colocando a

    veiculação da denúncia de Roberto Jefferson à Folha de S. Paulo como estopim. Elasfazem alusão a conversas de bastidores pré-escândalo, retratando o comportamento dos

     políticos antes do caso vir à público. Um indício importante do conceito de Thompson

    sobre o escândalo político pressupor envolvimento de líder ou figura política e uma

    ação transgressora vindo à público é o fato de esse assunto já ter sido noticiado pelo

     Jornal do Brasil em 24 de setembro de 2004, mas como o denunciante Miro Teixeira

    negou que tivesse feito tais declarações ao jornal, o caso foi arquivado na Câmara e caiu

    no esquecimento da opinião pública. Em outras palavras, como a figura política que

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    12/25

     

     poderia dar sustentação à denúncia se esquivou, o escândalo político perdeu o seu

    “princípio criador”. Os recortes dos demais trechos relevantes estão no anexo 5.

    Motivos da crise

    Thompson acredita que o escândalo possa acontecer em qualquer sistema de

    governo, mas reconhece que nas democracias liberais há maior propensão, por conta

    das forças competitivas que estão no cerne de sua estrutura. Ele salienta nesse contexto

    de eleições em intervalos regulares, uma boa reputação é um recurso vital, na mesma

    medida em que a confiança é um aspecto do capital social, um componente importante

    das relações e interações sociais em muitas esferas da vida social. No campo político,

    facilita “as formas de interação e cooperação que devem ser desenvolvidas e mantidas

    entre representantes políticos dentro do campo restrito dos políticos profissionais”

    (2002, p.305). Embora não seja mencionado por Thompson, as revistas trazem à tona

    outra questão: se a reputação é um recurso vital, o caixa para a campanha política

    igualmente o é. E se a confiança genuína não existe, existem riscos em tentar forjá-la,

    ou melhor dizendo, comprá-la. A Carta Capital atribui as denúncias a um ato

     politicamente defensivo de Roberto Jefferson – envolvido em escândalo precedente, o

    dos Correios e Instituto de Resseguros do Brasil – dizendo que por isso ele age como

    franco-atirador. A definição do dicionário Houaiss ajuda a entender o tom desse

    adjetivo: franco-atirador é aquele que, numa campanha militar, se envolve em atos de

    hostilidade contra o inimigo, sem que pertença ao exército legalmente constituído ou

    ainda aquele que trabalha por algum objetivo, sem que faça parte de qualquer grupo ou

    organização. A Carta Capital diz ainda que manter a política econômica do governo

    anterior manteve o PSDB “insepulto” e não permitiu que Lula empreendesse as

    transformações exigidas por seus eleitores. A Época diz que a motivação das denúncias

    de Jefferson é política: a eleição presidencial de 2006. A Istoé, por sua vez, considera acrise produto das alianças – “É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir

     poder” – e a Veja não menciona motivos para a crise (detalhes no anexo 6).

    Prognóstico e apontamento conseqüências

    “Uma vez aceso, um escândalo midiático pode rapidamente se transformar em

    um incêndio incontrolável” (2002, p.117). As reportagens reconhecem a

    imprevisibilidade do desenrolar dos fatos – “conseqüências estão longe do controle doPalácio do Planalto” (Carta Capital) –, mas apontam alguns possíveis desdobramentos.

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    13/25

     

    Prevendo o desgaste em sua reputação, o governo e as próprias revistas tentam traçar o

     provável desenvolvimento futuro do escândalo e o impacto que terá nas eleições que

    estavam por vir: “Lula prevê meses de crise política, vê riscos para obter segundo

    mandato e se distancia do PT” (Época). Outro aspecto mencionado é a preocupação do

     presidente com sua reputação e uma possível comparação ao desmoralizado governo

    Collor: “O presidente acha que a crise durará meses e teme sinceramente que a

     população passe a comparar seu governo com a roubalheira dos anos Collor” (Época)

    ou ainda “O escândalo do ‘mensalão’ fez com que o medo invadisse a constelação

     petista, hoje assustada com o exemplo dos venerandos partidos socialistas europeus que

    nos anos 80 e 90 se afundaram em denúncias de corrupção” (Istoé). Uma conseqüência

    concreta já consolidada na época das edições das revistas foi a derrubada pelo TSE do

    dízimo cobrado por partido político de filiado em cargo comissionado, praticado pelo

    PT. Detalhes no anexo 7.

    Dissociação das “más companhias” 

    Muitas vezes não só a figura central de um escândalo político tem sua reputação

     prejudicada e sua carreira (ou mesmo vida pessoal) arruinada. Os danos podem se

    estender a outras pessoas implicadas em menor grau, ou mesmo instituições ou

    organizações políticas com as quais essas pessoas estiveram ligadas. Nessa mesma

    direção, muito se falou sobre a tentativa de desvincular o Partido dos Trabalhadores de

    algumas figuras comprometidas. De acordo com o publicado nas revistas, prevalece o

    ditado “diga-me com quem andas e eu te direi quem és”, como este trecho de Carta

    Capital: “Olívio Dutra, das Cidades, afirmou que a crise era conseqüência das ‘más

    companhias’”. Diante das denúncias e do escândalo, o governo petista quis desvincular-

    se do Partido dos Trabalhadores e vice-versa, jogando a responsabilidade da mesada um

     para o outro. Como a lógica do mensalão foi formulada com um enunciado que fez aculpa recair sobre o tesoureiro do PT, Delúbio Soares (ele é quem distribuía mesada

     para que parlamentares da base aliada votassem a favor do governo), Lula se sentiu,

    segundo as reportagens, fortemente impelido a afastá-lo do partido: “O presidente Lula

    queria uma resposta mais firme e irritou-se com a decisão do PT de manter Delúbio

    Soares no cargo de tesoureiro” (Veja).

    3 Considerações finais

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    14/25

     

    Este estudo permitiu um deslocamento da perspectiva sociológica dos

    escândalos políticos midiáticos desenvolvida por John B. Thompson para o tratamento

    dado por revistas semanais ao episódio político brasileiro conhecido como escândalo

    do mensalão. Observou-se que os itens abordados pelas reportagens coincidiu com os

    elementos caracterizadores dos escândalos políticos apontados por Thompson.

    O que se pode apontar é que a mídia se prevalece, consciente ou

    inconscientemente, do “calcanhar-de-aquiles” do homem político que precisa construir

    uma imagem pública calcada na reputação e confiança, usando seu poderio para atacar

     justamente as fontes de poder simbólico que estão em jogo quando eclode um

    escândalo político. Neste caso específico, foi confirmada a premissa de que as

    reportagens tratam o escândalo na perspectiva da teoria social do escândalo, colocando

    em questão a reputação e a confiança dos envolvidos, e trazendo à tona as estratégias

     por vezes desleais e pérfidas que os envolvidos se valem para tentar escapar da culpa.

    Além disso, a mídia alia-se à sociedade ao exigir o cumprimento de compromisso ético

    e cobrar de seus representantes um comportamento confiável e ilibado. Tendo em vista

    esse fenômeno de que a mídia opera de modo concordante com a teoria social do

    escândalo, esse estudo é bastante pertinente para análise de eventos políticos

    caracterizados como escândalos midiáticos, pois pode-se preestabelecer elementos

    estruturais que servirão como pontos de partida, verdadeiras guias capazes de balizar o

    desenvolvimento da pesquisa.

    Referências bibliográficas

    CABRAL, Otávio. O PT assombra o Planalto. Veja, São Paulo, v.38, n. 24, p. 52-63, jun. 2005.

    COSTA, Florência; CUNHA, Luiz Cláudio. Desencanto Petista.  Istoé, São Paulo,n.1861, p. 26-33, jun. 2005.

    LO PRETE, Renata. Jefferson denuncia mesada paga pelo tesoureiro do PT.  SãoPaulo, 06 de junho de 2005. Folha de S. Paulo (conteúdo on-line). Disponível em: 4 de março de 2007

    SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Novo caso amoroso ameaça Clinton.  Folha de S.Paulo (conteúdo on-line). São Paulo, 22 de janeiro de 1998. Disponível em:< http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft220107.htm> 4 de março de 2007.

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    15/25

     

    THOMPSON, John B. O escândalo político: poder e visibilidade na era da mídia. Trad. de Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, PJ: Vozes, 2002.

    TRAUMANN, Thomas; ULHÔA, Raquel. A reeleição de Lula corre riscos. Época,São Paulo, n. 369, p.34-38, jun. 2005.

    WEBER, Luiz Alberto; LIRIO, Sergio. A sombra do mensalão.  Carta Capital, SãoPaulo, v. 11, n. 346, p. 26-30, jun. 2005.

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    16/25

     

    ANEXO 1

    Conceituação do mensalão

    Carta Capital “Delúbio Soares, tesoureiro do PT, pagava uma mesada de até R$ 30mil a parlamentares do PP e PL em troca de fidelidade aos projetos dogoverno”

    Época “acusando o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de distribuir mesadas adeputados do PP e do PL”“o PT realmente teria repassado dinheiro para partidos aliados”“acusa o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de pagar mesada a

     parlamentares do PP e do PL para votarem a favor do governo” Istoé “denúncia de uma mesada para comprar a fidelidade de deputados da

     base aliada à custa dos cofres de empresas estatais”“o morcego petista – na figura do tesoureiro do partido, Delúbio

    Soares – sobrevoava algumas estatais, retalhadas entre os partidos eseus aliados, recolhia contribuições e as repassava para mãos deconfiança em Brasília”

    Veja “o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava mesada de 30.000 reaisaos deputados do PP e do PL”“traficâncias do tesoureiro do PT”“Pagando um preço, literalmente: são 30.000 reais por mês para um

     plantel estimado de uns noventa deputados, o que daria cerca de 2,7milhões de reais mensais. A mesada, que na gramática de Jefferson émensalão, uma irônica referência ao apelido dado ao pagamentoantecipado de imposto por contribuintes com mais de uma fonte derenda, é um segredo de polichinelo no Congresso.”

    Tabela 1 – Conceituação do escândalo do mensalão

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    17/25

     

    ANEXO 2

    Esvaziamento da credibilidade (ameaça à reputação e à confiança)Carta Capital “O homem a quem o presidente Lula disse que entregaria um cheque

    em branco lançou o governo e o Congresso na mais profunda crisedesde a posse”“Jefferson, de uma só vez,  provocou uma fissura irreparável na basealiada, tornou inevitável que a CPI dos Correios amplie suasinvestigações a outras estatais e atingiu em cheio o patrimônio éticoconstruído nos últimos 25 anos pelo PT, para deleite da oposição”

    Época “É a minha história que está em jogo. Não vou ser candidato comoFernando Henrique, que não fez nada no segundo governo”“O presidente acha que a crise durará meses e teme sinceramente quea população passe a comparar seu governo com a roubalheira dos anos

    Collor – e que ele entre para a História como o sindicalista quefracassou ao chegar ao poder.”“Falou com o tesoureiro Delúbio Soares e José Genoíno. Lula saiu dasconversas crente na inocência dos amigos de décadas.”

     Istoé “O desencanto venceu a esperança.”“o Brasil começou a se debater com uma dúvida impensável nacrônica corrupção que assola o País: até tu, PT?”“a perda do estandarte ético no lamaçal do “mensalão” pode ser umatrombada fatal com sua história e sua militância mais fiel”

    Veja “o PT vê desmoronar seu discurso ético”“o PT, essa legenda que, acalentada no berço por sindicalistas,

    estudantes e intelectuais e alçada ao comando do país aos 22 anos devida, senta agora no banco dos réus para ser acusada de carregar amala preta, imagem-síntese da roubalheira nacional, para corromper esubornar políticos”“Logo o PT, que, em todas as pesquisas de opinião, sempre apareceuem primeiro lugar como o partido mais “idôneo” e mais “confiável”do país.”“O partido que encarnou as aspirações nacionais de ética na política econstruiu uma liderança moral agora enfrenta o desafio de reinventar-se, sob pena de virar cinzas.”“Terá o PT se degenerado numa máquina glutona que corrompe até

    seus militantes mais antigos?”Tabela 2 – Esvaziamento da credibilidade

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    18/25

     

    ANEXO 3

    Estratégias para driblar a criseCarta Capital “A reação do governo e do PT acabou por piorar a situação e

    tumultuar o cenário. Na segunda 6, enquanto os dirigentes do partidonegavam conhecer a existência do mensalão, ministros secontradiziam sobre se Jefferson havia ou não informado ao Planalto o

     pagamento de mesada a parlamentares.”“Para uma parcela dos dirigentes petistas, principalmente osrepresentantes de tendências mais à esquerda, uma saída para a criseestaria em mudanças profundas na política econômica.”“Além de mudanças na política econômica, [o ex-prefeito de PortoAlegre Raul] Pont sugere uma ampla reforma ministerial.”“Palocci, afirma um graduado assessor palaciano, manteve o jogo sob

    controle. O ministro teria mostrado ao presidente Lula a capacidade deamortecimento de crises da política econômica adotada.”“A estratégia para tentar reagir à crise concentrou-se em três linhas.”“Em primeiro lugar, a Polícia Federal voltou a mostrar serviço.”“Em outra frente, Lula pediu que os ministros da área políticaapresentassem em 45 dias uma proposta de reforma política queincluísse a fidelidade partidária e o financiamento público decampanha.”“Por último, o Planalto deixou florescer a hipótese de uma amplareforma ministerial”“Factíveis ou não, o fato é que as propostas são uma tentativa do

    governo de vencer a paralisia e recuperar o controle da situação”“‘Estamos desconcentrados, desorganizados e dispersos. Não sabemosse nos posicionamos no flanco ou na retaguarda’, lamenta umexpoente petista do Congresso Nacional.”

    Época “a desistência da reeleição seria, em último caso, a carta na manga para evitar o degringolamento da economia e a perda do controle daadministração”“Nas últimas semanas, Lula voltou a ser pressionado a realizar umareforma ministerial que inclua o corte de cabeças petistas”“Com o agravamento da crise, o partido do presidente Lula decidiuapoiar e tentar controlar a CPI dos Correios”

    “O governo briga pela relatoria e pela presidência da CPI. A oposiçãoameaça obstruir a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias caso oPT tente minar a CPI”“O governo tenta ‘matar’ a CPI na CCJ da Câmara, argüindo suainconstitucionalidade.”“O governo recua e defende a CPI. A cúpula do PT discorda.”

     Istoé “num contorcionismo inédito para um partido que brigava havia dias para abafar a CPI e  foi forçado pelo próprio Lula a engolir ainvestigação que pode devassar suas entranhas.”“No rastro do incêndio, o Planalto desencadeou uma reforma políticade emergência para, em 45 dias, tentar modelar um novo sistema

     partidário imune à roubalheira e à compra de consciências, que o próprio PT estimulou para não repartir os gabinetes do poder com os

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    19/25

     

    aliados”“oposição e governo tentarão um acordo para escolher o presidente e orelator da CPI mista de deputados e senadores que vai investigar acorrupção nos Correios”“O impacto da denúncia foi tão grande que o presidente Lula dobrou a

    resistência do PT, obrigando-o a engolir a CPI exigida pela opinião pública.”“Contrariando uma antiga tradição das duas Casas, em que oposição egoverno se revezam nos cargos estratégicos de presidente e relator, oPT manobrava para excluir a oposição das duas cadeiras.”“Experiente advogado criminalista e amigo do presidente, o ministroda Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi o seu principal conselheiro,uma bússola em meio à tempestade.”“O PT agiu como barata tonta. Nos dois primeiros dias da crise, isolouDelúbio. Só mudou de idéia na quarta-feira: colocou-o diante dascâmeras para se explicar.”

    Veja “Houve desde ministro que fez silêncio sobre o assunto (José Dirceu)até ministro que confirmou tudo mas nada fez por falta de provas(Ciro Gomes). Houve ministro que confirmou só uma parte (MaresGuia) e ministro que negou tudo (Antonio Palocci). Houve, ainda,quem tenha confirmado até mais do que lhe foi perguntado.”“Na quarta-feira, depois de dois dias escondido da imprensa, otesoureiro, diligentemente escoltado pelo presidente do PT, JoséGenoino, apareceu diante de uma centena de jornalistas para explicar-se.”“Na segunda-feira de manhã, tão logo a entrevista-bomba de Jeffersonchegou às bancas, o PT levou quase quatro horas reunido para, ao fim,lançar uma nota pífia.”“na semana passada, finalmente adotou uma linha correta e maisvigorosa. Demitiu as diretorias das duas estatais sob suspeita, mandouos governistas apoiarem a criação da CPI dos Correios e defendeu areforma política”“Tudo o que Lula dizia querer, na semana passada, era lutar para

     preservar sua biografia, marcada por uma honestidade de propósitos e pela defesa da ética.”

    Tabela 3 – Estratégias para driblar a crise

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    20/25

     

    ANEXO 4

     Reações dos adversários políticosCarta Capital “A desorientação petista contrasta com a unidade de ação dos tucanos.

    O PSDB teme que uma eventual radicalização dos ataques ao presidente acione o relé que liga Lula ao povo.”“Ao mesmo tempo, os tucanos querem vestir o uniforme de oposiçãoresponsável.”

    Época “‘O erro do PT foi não ter deixado Collor sangrar. Eles teriam vencidoas eleições. Não vamos cometer o mesmo erro. Vamos deixar Lulasangrando e vencer as eleições’ , disse FHC a aliados.”

     Istoé “Na segunda-feira em que saiu a entrevista, o ex-presidente FernandoHenrique telefonou para diversos tucanos pedindo moderação.”“O medo do PSDB é que, com o agravamento da crise, sobrevenha o

    caos, pondo por terra até mesmo os planos dos tucanos de vencer aseleições de 2006”“‘Não interessa a nenhum de nós um fracasso completo dasinstituições, que só beneficiaria opções extravagantes e aventureirasde poder’, explica o líder do governo no Senado, AloizioMercadante.”

    Veja (Não menciona)Tabela 4 – Reações dos adversários políticos

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    21/25

     

    ANEXO 5

    Estágios da criseCarta Capital “a entrevista do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Folha de S.

    Paulo na segunda-feira 6, desencadeou uma série de acontecimentos”“Acuado pelas acusações de corrupção nos Correios e no Instituto deResseguros do Brasil (IRB), empresas nas quais teria montado umesquema de propina, Jefferson, desde a segunda-feira 6, age como umfranco-atirador.”

    Época “Lula não chorou ao ser chamado num canto e ouvir de Jefferson quehavia um ‘boato de mesada no Congresso’. Ficou intrigado, masdepois de conversar com Aldo e o líder do governo na Câmara,Arlindo Chinaglia, considerou que se tratava de um rumor.”“há muita expectativa em relação ao depoimento que ele [Roberto

    Jefferson] dará nesta semana na Câmara” Istoé “Cinco ministros, um governador de Estado e o próprio presidenteLuiz Inácio Lula da Silva chegaram a tomar conhecimento do“mensalão” ainda no ano passado, mas nenhuma providência foitomada.”

    Veja “As denúncias explosivas do deputado Roberto Jefferson, o homem- bomba do PTB, detonaram a mais grave crise política dos últimosanos”“O presidente Lula, por sua vez, admitiu ter ouvido falar da mesada,

     porém ressalvou que não recebera uma denúncia, mas só um‘comentário genérico’, sendo que Jefferson não apontou ‘fatos’ nem

    ‘pessoas’. Lula mandou dizer que, ao tomar conhecimento disso, pediu a dois auxiliares que examinassem o assunto. Os dois souberamque a Câmara faria uma investigação quando o caso foi denunciado

     por Miro Teixeira ao Jornal do Brasil, em setembro de 2004. Mas,como Miro disse que não disse o que dissera ao JB, o caso foiarquivado na Câmara. E o governo se deu por satisfeito.”

    Tabela 5 – Estágios da crise

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    22/25

     

    ANEXO 6

     Motivos da criseCarta Capital “Acuado pelas acusações de corrupção nos Correios e no Instituto de

    Resseguros do Brasil (IRB), empresas nas quais teria montado umesquema de propina, Jefferson, desde a segunda-feira 6, age como umfranco-atirador.”“A crise é produto mais da continuidade do que da eventual ruptura

     provocada pela chegada do PT ao Planalto. Ao optar pelo manualeconômico de Fernando Henrique e pelo mesmo perfil de alianças

     políticas, Lula manteve o PSDB insepulto e não conseguiu catalisar astransformações exigidas por seus 52,4 milhões de eleitores.”

    Época “O presidente está convencido de que o combustível das denúncias é aeleição presidencial de 2006”

     Istoé “‘É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir poder. Émais fácil alugar um deputado do que discutir um projeto de governo.Quem é pago não pensa’, definiu, impiedoso, o acusador [RobertoJefferson]. Ou numa declaração anterior, mais branda, de outro aliadomais refinado, o ex-presidente José Sarney”

    Veja (Não menciona)Tabela 6 – Motivos da crise

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    23/25

     

    ANEXO 7

    Prognóstico e apontamento de conseqüênciasCarta Capital “conseqüências estão longe do controle do Palácio do Planalto”

    “O presidente do PTB enfrentará um processo de cassação.”Época “Lula prevê meses de crise política, vê riscos para obter segundo

    mandato e se distancia do PT”“Mais de uma vez ele [Lula] mencionou a auxiliares a possibilidade denão ser mais candidato à reeleição.”“O presidente acha que a crise durará meses e teme sinceramente quea população passe a comparar seu governo com a roubalheira dos anosCollor”“uma vez instalada, uma CPI torna-se incontrolável.”“O risco de um processo de impeachment de Lula só é descartado porora porque não interessa a ninguém.”

     Istoé “A denúncia incendiou o Congresso, paralisou o governo, derrubou aBolsa de Valores, disparou o dólar, chamuscou a bandeira ética do PT,ocupou manchetes da imprensa internacional e, mais do que tudo,chocou o País.”“O tsunami da Esplanada pode varrer José Dirceu e Aldo Rebelo desuas cadeiras na Casa Civil e na Coordenação Política.”“Outros membros do primeiro escalão que estão sendo investigadostambém devem perder os cargos, como o presidente do Banco Central,Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá.”“ele [Lula] pode não disputar a reeleição”“O escândalo do ‘mensalão’ fez com que o medo invadisse a

    constelação petista, hoje assustada com o exemplo dos venerandos partidos socialistas europeus que nos anos 80 e 90 se afundaram emdenúncias de corrupção”“o TSE derrubou o dízimo cobrado por partido político de filiado emcargo comissionado – prática que só o PT tem.”“‘Quem dá golpe, hoje, é o povo nas urnas’, ecoou o baiano ACM.”“‘Esta CPI não vai terminar em pizza. Vai começar em pizza’,desconfia [o líder da minoria, José] Jorge.”

    Veja “no seu desdobramento mais dramático, pode afundar o governo junto”“jogaram uma espessa nuvem de fumaça sobre o futuro próximo.”

    “Agora, porém, a natureza ética da crise torna as coisas ainda maisconfusas e imprevisíveis.”“[o presidente Lula] perdera o ânimo para disputar a reeleição e queseu objetivo, agora, teria passado a ser encerrar bem seu mandato eevitar um processo de impeachment.”“Sim, falou-se na palavra impeachment, uma possibilidade que passoua ser discutida não apenas nas rodas de oposição, mas também no

     principal gabinete do Palácio do Planalto.”Tabela 7 – Prognóstico e apontamento de conseqüências

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    24/25

     

    ANEXO 8

     Dissociação das “más companhias”Carta Capital “O ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, chegou a dizer que

    o problema não era do governo, mas do Partido dos Trabalhadores,como se fosse possível dissociar um e outro em meio às acusações do

     petebista.”“em reunião com ministros e assessores no Palácio do Planalto, o

     presidente Lula, ainda na terça-feira 7, manifestou a vontade de verDelúbio Soares afastado da tesouraria do partido até a conclusão dasapurações.”“Mesmo assim, segundo petistas que estiveram na reunião, seuafastamento do partido nem chegou a ser cogitado.”“No Planalto, a permanência de Delúbio, peça-chave na estrutura dearrecadação do PT e ativo participante do time de negociadores quesolidificou as alianças com o PTB, PL e PP, causou desconforto.”

    “Olívio Dutra, das Cidades, afirmou que a crise era conseqüência das‘más companhias’.”Época “Exasperado com a tática do Planalto de se distanciar do PT, Dirceu

    fala em deixar o governo.”“Mas, segundo avisou [Lula], não protegerá ninguém. “Cortaria na

     própria carne”, discursou na terça-feira.”“‘O governo está pagando o preço das más companhias’, acusou oministro petista Olívio Dutra.”“Contrariando Lula, a direção do PT mantém Delúbio Soares no

     partido. Delúbio nega as acusações de Jefferson” Istoé “Para atenuar a crise, deve anunciar uma reforma, que promete

    sangrar até os ‘companheiros’, como Dirceu e Aldo Rebelo”“‘Não vamos acobertar ninguém’, avisou, apontando o dedo para o

     partido ao qual ajudou a fundar, 25 anos atrás, envolto na bandeira daética política. ‘Cortarei na própria carne, se necessário.’”“Lula também não gostou da decisão da cúpula petista de manterDelúbio no cargo.”“O ministro Jacques Wagner deu o recado do Planalto: ‘Ele (Delúbio)deveria fazer um julgamento para ver se ajuda ou atrapalha o PT.’”“Integrantes do partido, por sua vez, reclamavam que o governo é quedeixava o PT em situação delicada.”

    Veja “O presidente Lula queria uma resposta mais firme e irritou-se com a

    decisão do PT de manter Delúbio Soares no cargo de tesoureiro.”“Lula acusou o PT de estar ‘acabando com o governo’ e exigiu que o

     partido afastasse o tesoureiro do cargo enquanto as investigaçõesfossem realizadas.”“Lula disse que, se for necessário, vai ‘cortar na própria carne’ e,demonstrando clareza, diagnosticou: ‘O que está em jogo é arespeitabilidade das nossas instituições, das quais sou o principalguardião’.”“Lula comentou: ‘Não vou segurar ninguém acusado de corrupção.Esse governo não é conivente com corruptos e não vou mancharminha biografia’.”

    Tabela 8 – Dissociação das “más companhias” 

  • 8/18/2019 Vevila Junqueira da Silva- O mensalão inserido na teoria dos escândalos políticos midiáticos de Thompson.pdf

    25/25