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Sumário 99 Editorial Artigos científicos 100 Clonagem em ruminantes: anomalias placentárias e disfunções perinatais Carina de Fátima Guimarães; Marcela Gonçalves Meirelles; Bruna Marcele Martins de Oliveira; Fabio Celidonio Pogliani; Claudia Barbosa Fernandes 110 Tecnologias e programas de fomento em prol da sustentabilidade na bovinocultura: revisão de literatura Carine Oliveira Alves; Ricardo Pedroso Oaigen; Felipe Nogueira Domingues; Augusto Sousa Miranda; Janaina Teles da Silva Maia; Gabrielle Virginia Ferreira 128 Ocorrência de leite instável não ácido (LINA) em uma usina de beneficiamento da região metropolitana de Porto Alegre/RS Alana Ciprandi; Bianca Pinto Pereira; Andrea Troller Pinto 134 Avaliação do desempenho biológico de bovinos de corte terminados sobre pastagem de azevém (Lolium multiflorum) Carlos Gottschall; Fábio Tolotti; Ariel Silveira; Camila Caneppele; Leonardo R. Silva 143 Scrapie em ovinos: etiologia e diagnóstico in vivo Cristina Santos Sotomaior; Fernanda Trentini Lopes Ribeiro; Rüdiger Daniel Ollhoff 158 Estudo bacteriológico e histológico de abscessos em ovinos abatidos em Campo Grande, Mato Grosso do Sul Renata Amarilha Valençoela; Fernando de Souza Rodrigues; Osvaldo Alves Rodrigues; Eurípedes Batista Guimarães; Cássia Rejane Brito Leal 164 Cryptosporidium spp.: avaliação de corante fluorescente benzazólico em esfregaços fecais Sandra Márcia Tietz Marques; Valter Stefani

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97Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012

Sumário

99 Editorial

Artigos científicos100 Clonagem em ruminantes: anomalias placentárias e disfunções perinatais Carina de Fátima Guimarães; Marcela Gonçalves Meirelles; Bruna Marcele

Martins de Oliveira; Fabio Celidonio Pogliani; Claudia Barbosa Fernandes

110 Tecnologias e programas de fomento em prol da sustentabilidade na bovinocultura: revisão de literatura

Carine Oliveira Alves; Ricardo Pedroso Oaigen; Felipe Nogueira Domingues; Augusto Sousa Miranda; Janaina Teles da Silva Maia; Gabrielle Virginia Ferreira

128 Ocorrência de leite instável não ácido (LINA) em uma usina de beneficiamento da região metropolitana de Porto Alegre/RS

Alana Ciprandi; Bianca Pinto Pereira; Andrea Troller Pinto

134 Avaliação do desempenho biológico de bovinos de corte terminados sobre pastagem de azevém (Lolium multiflorum)

Carlos Gottschall; Fábio Tolotti; Ariel Silveira; Camila Caneppele; Leonardo R. Silva

143 Scrapie em ovinos: etiologia e diagnóstico in vivo Cristina Santos Sotomaior; Fernanda Trentini Lopes Ribeiro; Rüdiger Daniel

Ollhoff

158 Estudo bacteriológico e histológico de abscessos em ovinos abatidos em Campo Grande, Mato Grosso do Sul

Renata Amarilha Valençoela; Fernando de Souza Rodrigues; Osvaldo Alves Rodrigues; Eurípedes Batista Guimarães; Cássia Rejane Brito Leal

164 Cryptosporidium spp.: avaliação de corante fluorescente benzazólico em esfregaços fecais

Sandra Márcia Tietz Marques; Valter Stefani

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173 Adjuvantes para cicatrização cutânea Priscilla Domingues Mörschbächer; Tuane Nerissa Alves Garcez; Emerson Antonio

Contesini

184 Acidente aracnídico em um cão: relato de caso Priscilla Domingues Mörschbächer; Tuane Nerissa Alves Garcez; Rose Karina

Reis Correa; Verônica Noriega Torres; Emerson Antonio Contesini

189 Ruptura de hemangiossarcoma hepático em canino idoso: relato de caso Edmilson Rodrigo Daneze; Aline Gomes de Campos

199 Normas editoriais

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EditorialAs necessidades da sociedade atual vêm cada vez mais exigindo do profi ssional

médico-veterinário habilidades e competências para solucionar problemas importantes como a fome, o impressionante crescimento do mundo pet, a indústria do cavalo, entre outras atividades que também exigem novas tecnologias. Novas tecnologias são baseadas em pesquisa e devem ser divulgadas.

Considerando o objetivo principal da maioria dos cursos de graduação ainda estar focado em formar generalistas, a revista Veterinária em Foco vem possibilitando oportunidade ao meio científi co na grande área das Ciências Veterinárias de dispor de um veículo ágil, acessível, reconhecido, com crescente preocupação em qualidade por parte de seu corpo editorial e consultores.

Neste contexto, nossos colaboradores, bem como os leitores, podem encontrar em nossa revista um amplo repertório de assuntos técnicos.

Boa leitura a todos!

Comissão Editorial

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Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012100 n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.100-109Canoas

Clonagem em ruminantes: anomalias placentárias e disfunções perinatais

Carina de Fátima GuimarãesMarcela Gonçalves Meirelles

Bruna Marcele Martins de OliveiraFabio Celidonio Pogliani

Claudia Barbosa Fernandes

RESUMOA clonagem animal traduz um grande avanço na biotecnologia animal e um interesse cada

vez maior em produzir animais de padrões genéticos superiores, ou manter características desejáveis nos rebanhos. Tal técnica tem resultado em insucesso nas taxas de recuperação de neonatos viáveis e adultos sistemicamente normais. Esta inefi ciência está relacionada em grande parte a uma reprogramação nuclear falha, alterações placentárias e disfunções perinatais. A literatura atualmente compulsada relata o atraso no desenvolvimento do trofoblasto, número reduzido de placentônio, desenvolvimento vascular comprometido, que resultam em defi ciências nas trocas materno-fetais, menores expressões de importantes fatores, como VEGF e bFGF menores concentrações de progesterona provenientes da placenta; anormalidades dos envoltórios fetais, aumento das dimensões do cordão umbilical, alterações imunológicas e expressão inadequada de genes apoptóticos, levando a problemas de retenção placentária. Em gestações mais avançadas, hidroalantoide e síndrome do feto gigante são observadas em aproximadamente 50 % dos nascimentos, associadas ou não às disfunções cardiorrespiratórias, imunológicas, hepáticas, renais e articulares ou alterações multissistêmicas, culminando em perdas gestacionais ou perinatais em 90% dos animais produzidos por técnica de clonagem. Avanços na aplicabilidade da técnica de clonagem por Transferência Nuclear são buscados incessantemente a fi m de minimizar as defi ciências geradas e presentes no procedimento utilizado.

Palavras-chave: Clone. Bovinos. Neonato. Placenta. Transferência nuclear.

Ruminant cloning: Placental abnormalities and perinatal disorders

ABSTRACTThe animal cloning represents a great advance in animal biotechnology and a growing interest

in producing animals of superior genetic patterns, or maintain desirable characteristics in livestock. Animal cloning has resulted in failure recovery rates of viable neonates and systemically normal

Carina de Fátima Guimarães e Marcela Gonçalves Meirelles – Mestrandas do Departamento de Reprodução Animal – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo – USP – São Paulo – São Paulo, Brasil, 2012. E-mail: [email protected] Marcele Martins de Oliveira – Doutoranda do Departamento de Reprodução Animal – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo – USP – São Paulo – São Paulo, Brasil, 2012. Email: [email protected] Celidonio Pogliani – Prof. Dr. Departamento de Clínica Médica – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo – USP – São Paulo – São Paulo, Brasil, 2010. E-mail: [email protected] Barbosa Fernandes – Departamento de Reprodução Animal – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo – USP – São Paulo – São Paulo, Brasil, 2008. Email: [email protected]

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adults. This ineffi ciency is mainly related to nuclear reprogramming failure, placental and perinatal disorders. The reviewed literature reports the delay in the development of the trophoblast, reduced number of placentomes, impaired vascular development that results in defi ciencies in the maternal-fetal exchanges, lower expression of VEGF and bFGF factors, low levels of progesterone from the placenta, fetal envoltory abnormalities, increased size of the umbilical cord, immunological changes and inadequate expression of genes leading to apoptotic placental retention problems. In advanced pregnancies, hydrallantois and large calf syndrome are observed in approximately 50% of births, being or not associated with cardio-respiratory, immune, liver and kidney disorders or multisystemic changes, culminating in gestational losses or perinatal abortion in 90% of animals produced by cloning technique. Advances in the applicability of the technique for cloning by nuclear transfer are continuously sought in order to minimize the defects generated and the present procedure.

Keywords: Clone. Bovine. Neonate. Placenta. Nuclear transfer.

INTRODUÇÃOA clonagem animal traduz um grande avanço na biotecnologia animal e um

interesse cada vez maior em produzir animais de padrões genéticos superiores, ou manter características desejáveis nos rebanhos (ARNOLD et al., 2002).

Embora muitas espécies tenham sido clonadas com sucesso, sugerindo boas perspectivas, o processo ainda não é considerado efi ciente, decorrente a baixas taxas de gestação e altas perdas gestacionais (PANARACE et al., 2007; KOHAN-GHADR et al., 2008), sendo observado que apenas 6 a 8% dos fetos apresentam-se viáveis ao nascimento (MIGLINO, 2004).

Atualmente sabe-se que grande parte das perdas no período gestacional de clones bovinos e ovinos está relacionada à defi ciência do desenvolvimento vascular placentário e, consequentemente, à defi ciência na funcionalidade da placenta (ARNOLD et al., 2002; BAUERSACHS et al., 2009). No entanto, os problemas com animais clonados não se restringem somente às disfunções placentárias como também a disfunções respiratórias, cardiocirculatórias, imunológicas, hepáticas, renais, articulares e até mesmo disfunções multissistêmicas. O peso elevado dos bezerros no nascimento também é um problema frequentemente detectado (BATCHELDER et al., 2007; CHAVATE-PALMER, et al., 2007). No entanto, o exato mecanismo envolvido no alto número de anomalias placentárias e neonatais ainda permanece como objetivo de pesquisas e será revisado neste trabalho.

CLONAGEM ANIMAL POR MEIO DE TRANSFERÊNCIA NUCLEARA Transferência Nuclear (TN) foi inicialmente proposta por Spemann, em 1938,

como instrumento para o estudo da equivalência nuclear, entretanto, apenas em 1952 os pesquisadores Briggs e King conseguiram realizar a técnica em anfíbios. A hipótese de que células completamente diferenciadas poderiam ser usadas para a clonagem de animais somente foi confi rmada 50 anos mais tarde, com o nascimento da ovelha Dolly, produto

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de um núcleo originário de uma célula de tecido mamário, retirado de um animal adulto (BORDIGNON et al., 2008).

Os procedimentos normalmente utilizados para produção de embriões por meio de TN se baseiam nos descritos por Willadsen e colaboradores (1995) e envolvem a obtenção e cultivo das células doadoras de núcleo, obtenção e maturação in vitro (MIV) de citoplastos receptores, enucleação, reconstrução e fusão com o núcleo doador, ativação e cultivo in vitro (CIV) dos embriões gerados, seguidos de transferência para as receptoras (PEREIRA; FREITAS, 2009; YAMAZAKI, 2006).

A obtenção e preparação das células doadoras de núcleo variam em função do tipo de célula utilizada. Atualmente, têm-se utilizado embriões, fetos, neonatos, animais jovens, e até mesmo animais que tenham vindo a óbito (YAMAZAKI, 2006). A possibilidade da utilização de animais adultos de qualidade comprovada revela uma grande vantagem da utilização da técnica (MIGLINO, 2004). Na rotina verifi cam–se praticidade e efi ciência de linhagens celulares primárias, estáveis, homogêneas e estabelecidas a partir de fi broblastos coletados da pele, principalmente devido à alta capacidade mitótica e da resistência ao processo de criopreservação (HEYMAN et al., 2002).

A sincronização do ciclo celular entre o núcleo doador e citoplasto receptor é importante para assegurar o correto desenvolvimento após a reconstrução. A sincronização do ciclo celular pode ser efetuada com fármacos responsáveis pela inibição da replicação do DNA, ou de forma a interromper o ciclo celular na metáfase ou ainda na ativação do Fator Promotor de Maturação – MPF (YAMAZAKI, 2006). No entanto, para que ocorra manutenção da ploidia normal dos blastômeros, eles devem estar nas fases G0-G1 no momento da TN (FERNANDES, 2008).

Na obtenção de citoplastos receptores, têm–se utilizado ovócitos em estágio de metáfase II (M-II) (FERNANDES, 2008; YAMAZAKI, 2006); maturados in vitro, em condições de cultivo que favoreçam a qualidade e competência ovocitárias (DIELEMAN et al., 2002). É durante a ovogênese que os ovócitos em desenvolvimento acumulam proteínas, RNAm e seus percussores, no interior do citoplasma, necessários para o início do desenvolvimento embrionário. Este período é o que antecede a ativação do genoma embrionário que ocorre nos bovinos no estágio de 8 a 16 células. Sendo assim, o desenvolvimento embrionário depende dos três primeiros dias de desenvolvimento dos transcritos maternos, portanto, o sucesso da TN depende da qualidade do citoplasto receptor (FERNANDES, 2008).

Após o período de maturação in vitro, realiza-se a enucleação dos ovócitos por micromanipulação, que consiste na aspiração de uma porção do citoplasma onde se localiza a cromatina ovocitária (YAMAZAKI, 2006).

Na reconstituição dos zigotos, o método mais utilizado para transferir um núcleo doador para um citoplasto receptor, é pela fusão entre as membranas plasmáticas das células (BORDIGNON et al., 2008).

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A eletrofusão é utilizada na maioria das espécies, e compreende um pulso de corrente alternada com o intuito de alinhar as membranas a serem fundidas em posição paralela aos eletrodos e outra direta para induzir a formação de poros nas membranas, o que leva à fusão entre as células (BORDIGNON et al., 2008).

Outra técnica também utilizada é a injeção nuclear intracitoplasmática, realizada com a introdução da célula ou do núcleo isolado no citoplasto receptor, técnica semelhante à injeção intracitoplasmática de gametas. O isolamento do núcleo, bem como a injeção intracitoplamática, podem ser realizadas por meio do método piezo elétrico (FERNANDES, 2008; YAMAZAKi, 2006).

A ativação da célula recém-reconstituída é a penúltima etapa decisiva para o sucesso da TN (BORDIGNON et al., 2008). Durante o processo de fertilização ovocitária ocorre um rearranjo das organelas citoplasmáticas, alterações nas concentrações de cálcio intracelular, recrutamento de mRNAs, formação de pró-núcleo e síntese de DNA (FISSORE et al., 1999). Na clonagem, os atuais protocolos de ativação estão geralmente fundamentados na indução da ativação paternogenética de ovócitos em metáfase II e nos dados do subsequente desenvolvimento embrionário (FISSORE et al., 1999). Assim como no espermatozoide, os métodos artifi ciais utilizados para ativação dos ovócitos também se baseiam na indução de oscilações de cálcio intracitoplasmática (BORDIGNON et al., 2008). Ativações inefi cientes ou não fi siológicas podem levar a falhas do desenvolvimento embrionário mesmo após a implantação (BORDIGNON et al., 2008; YAMAZAKI, 2006).

Após a reconstituição embrionária e ativação, têm-se adotado basicamente as mesmas condições de cultivo de embriões produzidos in vitro (PIV). O método de cultivo in vitro, bem como o estágio de desenvolvimento no qual os embriões reconstituídos são transferidos para receptoras, varia de acordo com a espécie (YAMAZAKI, 2006). A porcentagem de embriões reconstruídos que atinge o estágio de blastocisto, em geral, é inferior a dos embriões PIV (WESTHUSIN et al., 2001).

A reprogramação completa do núcleo de uma célula somática com o citoplasto receptor deveria resultar um embrião com padrão de transcrição gênica similar àqueles produzidos in vivo (RIDEOUT et al., 2001). Essa reprogramação resume-se na totipotência celular com função equivalente ao zigoto (PALMIERI et al., 2008). A micromanipulação e o cultivo de embriões bovinos está relacionada a anormalidades; no entanto, acredita-se que a mortalidade gestacional e pós-natal possa ser decorrente de uma reprogramação nuclear incompleta, o que leva a expressão errônea de genes, portanto, ao não desenvolvimento embrionário (PALMIERI et al., 2008), o que resultará em prejuízo da formação de proteínas envolvidas no desenvolvimento placentário, sistema imune e esteroidogênese fetal (WAKISAKA-SAITO et al., 2006; SANTOS et al., 2010). Santos e colaboradores (2010) ainda afi rmam que alterações epigenéticas têm estreita correlação com o tipo de célula doadora, com a metilação de histonas e com os mecanismos ligados ao DNA.

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ANOMALIAS PLACENTÁRIAS NA GESTAÇÃO DE CLONES RUMINANTESAs perdas ao longo da gestação são características do desenvolvimento fetal de

clones, sendo esse um dos maiores obstáculos a ser vencido durante o desenvolvimento desta técnica (CHAVATE-PALMER et al., 2007).

As alterações placentárias estão entre as principais causas apontadas como responsáveis pelas perdas gestacionais de clones bovinos e ovinos e estão relacionadas à deficiência do desenvolvimento vascular placentário, demora na implantação, formação de número reduzido de placentônios, placentomegalia e consequentemente defi ciência na funcionalidade da placenta (ARNOLD et al.,2008; BORDIGNON et al., 2008; BAUERSACHS et al., 2009; KOHAN-GHADR et al., 2008). As falhas no desenvolvimento placentário são responsáveis pela morte de aproximadamente, 82% dos bovinos clonados entre o 30º e 90º dia de gestação e, dentre os neonatos, apenas uma pequena proporção possui fenótipo, crescimento e sistema imune funcional normais (MIGLINO, 2004).

Perdas iniciais são atribuídas à inadequada transição da nutrição do saco vitelínico para o alantoide em decorrência da falta ou inefi ciência de vascularização, à rejeição imune e alterações de placentônios (HILL et al., 2000).

O baixo desenvolvimento da placenta caracterizado pela presença de poucos placentônios, cerca de 60% menores em número e de 50% maiores em tamanho e pela baixa vascularização tem sido frequentemente descrito na fase inicial das gestações. Os locais de trocas materno-fetais podem ainda apresentar-se edemaciados com focos hemorrágicos, correlacionando-se diretamente com o comprometimento vascular

(MIGLINO, 2004).

Perdas que costumam ocorrer na segunda metade da gestação são descritas em decorrência de hidroalantoide (CONSTANT et al., 2006) enquanto que alterações como aumento na espessura do cordão umbilical e membranas placentárias edematosas são descritas nos diferentes estágios da gestação (POGLIANI, 2010).

Miglino (2004) e Bordignon (2008) sugeriram a existência de três tipos de alterações na placenta de animais clonados produzidos por TN: o subdesenvolvimento do epitélio coriônico da placenta, com evidente decréscimo dos vasos sanguíneos do alantoide, promovendo a morte fetal antes mesmo da formação dos placentônios; a diminuição do número de cotilédones, sem desestruturação do epitélio coriônico, gerando uma diminuição nas trocas materno-fetal, culminando em morte do feto próximo aos 60 dias de gestação e, por fi m, diminuição do número dos cotilédones associado ao aumento do tamanho destes e edema dos envoltórios fetais no terço fi nal da gestação. A redução numérica dos placentônios e a observação do aumento do diâmetro dos cotilédones indicam a defi ciência no desenvolvimento placentário ou uma ligação materno-fetal inadequada. Dessa forma pode-se inferir que o aparecimento de cotilédones gigantes seria um mecanismo compensatório para a placentação defi ciente no início da gestação (MIGLINO, 2004).

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Alterações morfológicas nas placentas de clones bovinos sugerem uma falta de arquitetura para suportar o crescimento fetal, e dentre os principais achados encontram-se o sistema capilar materno com menor número de ramifi cações e com menor diâmetro, os vilos mais curtos quando deixam o eixo materno, a árvore vilosa com arranjo desorganizado e células trofoblásticas com núcleos alterados (LACERDA, 2006).

Palmieri e colaboradores (2008) avaliaram o peso das carúnculas de placentas de fetos ovinos provenientes de inseminação artifi cial (IA), PIV e TN aos 150 dias de gestação e comprovaram que as carúnculas de gestações TN apresentavam peso aumentado (1133 ± 86g) seguido das carúnculas PIV (811 ± 109g) e IA (802 ± 28g). É possível que o aumento da massa e área de superfície dos placentônios seja uma estratégia do organismo animal para tentar compensar a redução do número destas estruturas e da defi ciência circulatória envolvida no processo (BORDIGNON et al., 2008).

Miglino (2004) comparou a produção de progesterona (P4) na placenta de bovinos clonados e não clonados, sob a infl uência do fator de crescimento endotelial (VEGF) e do fator de crescimento básico dos fi broblastos (bFGF). Foi verifi cado que as células placentárias das gestações dos animais clonados não são capazes de produzir P4, tal como as células placentárias de gestações controle na mesma fase. Na comparação das reações imunomarcadas dos placentônios o VEGF e o bFGF estão menos expressos nas amostras dos animais clonados, indicando que dois dos principais fatores controladores da vasculogênese e angiogênese na placenta de clones estão alterados.

Yamazaki (2006) avaliou os padrões de expressão dos genes imprinted IGF2, de expressão paterna, e H19 e IGF2r, de expressão materna, na placenta de clones bovinos. Alterações no padrão de expressão dos genes imprinted H19 e IGF2 podem provocar distúrbios na placenta e no desenvolvimento do feto, o que pode contribuir para a mortalidade pós-natal. A placenta dos clones apresentou diminuição da expressão relativa dos genes H19 (41,5%) e IGF2 (42,9%) em comparação ao grupo controle. As placentas de clones fêmeas apresentaram diminuição de 72,6% dos transcritos de H19 quando comparados com a placenta de clones machos. Na placenta de clones pesando mais que 40kg, foi observada diminuição da expressão relativa do H19 (40,1%) e IGF2 (36,3%), em comparação ao grupo controle. A diminuição da regulação do gene H19 na placenta de clones fêmea sugere que o processo de reprogramação em alguns genes pode ser infl uenciado pelo sexo (YAMAZAKI, 2006).

Palmieri e colaboradores (2008) supõem que a disfunção na placentação em gestações por TN resulta das aberrações na expressão de alguns genes conhecidos por serem necessários para a proliferação e diferenciação, Mash2 e Hand1, respectivamente, dos trofoblastos. Desta forma, compararam a expressão desses genes em trofoblastos de embriões provenientes de monta natural, PIV e TN anterior ao dia 17º e posterior ao 40º dia de gestação e foi possível observar que houve maior expressão dos genes nos cotilédones de TN. As alterações desses genes na TN podem causar diferenciação anormal dos trofoblastos e contribuirem para as perdas gestacionais (ARNOLD et al., 2002).

A retenção de placenta é frequente após o parto de clones, sugerindo menor frequência de apoptose nos placentônios provenientes de TN. Quantifi cando-se a

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expressão dos genes apoptóticos BAX, BCL2 e GAPDH em placentônios provenientes de TN, foi verifi cado que o gene BAX possui uma redução de expressão no grupo de TN, corroborando com a hipótese inicial de que a falha na apoptose pode ser responsável pela redução na taxa de regressão dos placentônios aumentando, portanto, os casos de retenção placentária (BRAGA, 2006).

Em bovinos clonados, ocorre expressão anormal do complexo de histocompatibilidade maior do tipo I no trofoblasto e um maior acúmulo de linfócitos T no endométrio, o que sugere que a rejeição imunológica também possa estar contribuindo para a grande incidência de perdas gestacionais de embriões clonados (HILL et al., 2000).

DISFUNÇÕES PRÉ E PÓS-NATAIS EM CLONES RUMINANTESA taxa de neonatos viáveis ainda é baixa, com média entre 6-8%, podendo variar

entre 0% e 12% (KEEFER, 2008; MIGLINO, 2004; OBACK, 2008; PANARACE et al., 2007). São descritas alterações associadas à clonagem e complicações peri e pós-natais tais como: má formação congênita em órgãos, como coração e rins, macrossomia ou síndrome do neonato gigante, disfunções respiratórias, cardiocirculatórias, imunológicas, hematológicas, bioquímicas, hormonais, hepáticas, umbilicais, metabólicas e musculoesqueléticas (BORDIGNON et al., 2008; MAIORKA et al., 2005; MEIRELLES et al., 2010; WILSON et al., 1995; SANTOS et al., 2010; BRISVILLE et al., 2011). As condições descritas pelo termo “síndrome do neonato gigante” ou conhecidas como “síndrome da placenta grande” estão presentes em um total de 50% das gestações provenientes de TN (LANDIM-ALVARENGA, 2006). O aumento na concentração da glicoproteína plasmática materna PSP60, produzida pelas células trofoblásticas binucleadas, pode estar correlacionada com o crescimento compensatório do feto a partir do 70º dia de gestação (HEYMAN et al., 2002; LANDIM-ALVARENGA, 2006; MIGLINO, 2004). Estas e outras alterações como edema nas membranas da placenta, placentomegalia, aumento do peso ao nascimento, hepatomegalia, acúmulo de gordura nos hepatócitos, congestão hepática foram descritas em fetos ovinos (PALMIERI et al., 2008), assim como aumento da vascularização na região do cordão umbilical em fetos bovinos (BORDIGNON et al., 2008).

Em um estudo de Kohan-Ghadr e colaboradores (2008) 40% das gestações de clones atingiram o nascimento e apenas 35% dos bezerros estavam vivos ao nascer. Em ambos o comprimento do placentônio e o diâmetro umbilical estavam maiores nos clones quando comparados aos fetos controle em todo o período gestacional. As anormalidades da membrana amniótica no 120ºdia de gestação, incluindo edema focal e a presença de nódulos, foram detectadas em 38% dos clones e estavam normalmente acompanhados de focos de hiperecogenicidade ou irregularidades ao redor do cordão umbilical e células infl amatórias degenerativas com diminuição na espessura do epitélio coriolantoide.

Recentemente, Santos e colaboradores (2010) descreveram as anormalidades de clones bovinos neonatos. De 21 animais avaliados entre os dias 1 a 19 após nascimento,

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30,7% apresentavam anomalias no aparelho locomotor, 46,1% alterações cardíacas 100% apresentaram padrões cianóticos, incompleta cicatrização do cordão umbilical e hidrotórax sero-fi broso. As anomalias pulmonares como enfi sema pulmonar difuso, atelectasia e edema pulmonar estavam presentes em todos os animais necropsiados, sendo que 23% dos animais apresentaram congestão pulmonar. Anormalidades hepáticas foram encontradas em 46,1% dos animais, enquanto as desordes hemolinfáticas, como a hipoplasia de timo, ocorreram em 84,6% dos casos e em 100% dos animais foram encontradas linfoadenomegalias. Hipoglicemia e hiperfrutosemia são achados clínicos comuns em bezerros clonados recém nascidos e o aumento da produção de frutose a partir da placenta pode ser um fator importante na etiologia das anormalidades umbilicais e cardíacas observadas nestes animais (BORDIGNON et al., 2008).

CONCLUSÃOLimitações ainda são encontradas na produção de animais clonados por meio

da técnica de TN. Estudos apontam a reprogramação nuclear como um das etapas fundamentais da biotécnica, podendo ser a gênese do problema, gerando prejuízos no desenvolvimento e implantação embrionária. As defi ciências mais comumente encontradas dizem respeito a desordens placentárias de origem trofoblástica e anormalidades neonatais. Perdas em gestações iniciais são relacionadas ao número reduzido de placentônios e alterações na implantação, enquanto hidroalantoide e aumento das dimensões do cordão umbilical são achados em gestações mais avançadas. Assim, avanços na aplicabilidade da técnica de clonagem por TN são buscados incessantemente a fi m de minimizar as defi ciências geradas e presentes no procedimento.

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Recebido em: set. 2012 Aceito em: nov. 2012

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Tecnologias e programas de fomento em prol da sustentabilidade

na bovinocultura: revisão de literaturaCarine Oliveira Alves

Ricardo Pedroso OaigenFelipe Nogueira Domingues

Augusto Sousa MirandaJanaina Teles da Silva MaiaGabrielle Virginia Ferreira

RESUMOA população mundial, sobretudo nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, demanda

alimentos que estejam inseridos em sistemas de produção pecuários sustentáveis, sob a ótica ambiental, econômica, social e institucional. Frente a essa realidade, buscou-se revisar e discutir as principais tecnologias de produção e programas de incentivos à produção sustentável na bovinocultura de corte e leite no Brasil. Entre as tecnologias, podemos citar a otimização do manejo do pastejo, a recuperação de pastagens degradadas e a integração lavoura-pecuária-fl oresta (ILPF). Entre os principais programas de fomento existentes, podemos citar os programas ABC e ILPF (MAPA), Arco Verde (Governo Federal), PRODUSA (BNDES), Grupo de Trabalho em Pecuária Sustentável (GTPS), Plano Safra da Agricultura Familiar (MDA), Boas Práticas Agropecuárias (Embrapa) e o Fundo Vale (Vale S.A.). Entretanto para que tenhamos sucesso nestas ações, é necessário que os governos, nas diferentes esferas, incentivem a adesão a estes programas proporcionando extensão rural de qualidade, o que levará a uma maior conscientização e comprometimento dos produtores rurais quanto à importância da adoção destas tecnologias sustentáveis.

Palavras-chave: Agronegócio. Desenvolvimento sustentável. Pecuária de corte e pecuária de leite.

Technologies and development programs in support of sustainability in livestock: Literature review

ABSTRACTThe world’s population, particularly in developed or developing countries, demand foods

that are produced in sustainable livestock production systems, from the perspective environmental, economic, social and institutional. Facing this reality, were review and discuss the main production technologies and incentive programs for sustainable on beef and dairy cattle production systems in Brazil. Among the technologies we can mention the optimization of grazing management, recovery

Carine Oliveira Alves é Médica Veterinária.Ricardo Pedroso Oaigen e Felipe Nogueira Domingues são Professores Adjuntos, Faculdade de Medicina Veterinária, Campus de Castanhal, Universidade Federal do Pará.Augusto Sousa Miranda e Janaina Teles da Silva Maia são Médicos Veterinários, Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, UFPA.Gabrielle Virginia Ferreira é Acadêmica de Medicina Veterinária. Bolsista PIBIC/UFPA.Endereço para correspondência: R. P. Oaigen. Fone: (91) 3721.1686. Endereço: Avenida Universitária S/N, Bairro Jaderlândia, CEP 68745-000, Castanhal/PA. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.110-127Canoas

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of degraded pastures and crop-livestock-forest integration (ILPF). Among the main programs to promote we mention ABC and ILPF (MAPA), Green Arc (Federal Government), PRODUSA (BNDES), Sustainable Livestock Work Group (GTPS), Family Agriculture Crop Plan (MDA), Good Agricultural Practices (Embrapa) and the Fund Valle (Valle Corporation). However for us to succeed in these actions is necessary for governments encourage accession to these programs, providing quality on extension rural, which will lead to greater awareness and commitment of farmers on the importance of adoption of these sustainable technologies.

Keywords: Agribusiness. Sustainable development. Beef cattle. Dairy cattle.

INTRODUÇÃOAtualmente o mercado consumidor está preocupado com a qualidade e a

sustentabilidade do produto adquirido, sendo este um pré-requisito para a exportação de produtos agropecuários brasileiros, sobretudo para os países desenvolvidos. Neste contexto o produtor rural deve compreender a importância de produzir de acordo com as exigências nacionais e internacionais, respeitando o meio ambiente e ao mesmo tempo gerando emprego e renda para as gerações futuras.

A produção de alimentos está sofrendo crescente pressão da mídia nacional e internacional por uma maior sustentabilidade, principalmente nas áreas agropecuárias, fundiárias e, sobretudo ambientais. Entre as regiões mais criticadas do Brasil destacam-se o Sul e Sudeste do Pará, Tocantins, Norte do Mato Grosso, Rondônia e Acre, conhecidos como o “arco do desmatamento”.

Essas tensões sociais, econômicas e ecológicas são justifi cadas principalmente pelo aumento populacional, cujas repercussões são pressentidas pelo desequilíbrio no ecossistema e no modo de vida e sobrevivência das populações nativas. Por isso, atenção especial deverá ser dada ao desenvolvimento sustentável para combinar a utilização dos recursos naturais com a conservação do meio ambiente (BENCHIMOL, 2000).

Uma das causas do setor pecuário ser fortemente criticado relaciona-se com a liberação de gases de efeito estufa (GEE) pela atividade. O efeito estufa é um processo natural para manutenção da temperatura média da Terra que pode sofrer efeitos antropológicos que intensifi cam suas consequências através do aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e clorofl uorcarbonos (CFC’s) na atmosfera (COSTAet al., 2005). Esses GEE tem origem em diversos setores de produção, entre eles o agropecuário, em especial a bovinocultura, e o de mudanças no uso da terra e fl orestas (BRASIL, 2009).

De acordo com o Inventário Brasileiro das Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (BRASIL, 2009), no ano de 2005 a agropecuária foi responsável por 22,1% da emissão antrópica desses gases. O setor de maior participação foi a mudança no uso da terra e fl oresta, com 57,5%, sendo esse um setor fortemente infl uenciado pelo avanço da pecuária, sobretudo na Amazônia.

De forma a minimizar impactos como este, o crescimento da pecuária deve ser baseada na intensifi cação da produção em áreas já desmatadas e consequente aumento da

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produtividade e efi ciência do sistema. Para isso, se faz necessário o uso de tecnologias de recuperação de pastagens como a integração lavoura-pecuária, adubação de pastagens, sistemas de plantio direto, entre outras (DIAS FILHO; ANDRADE, 2005).

O objetivo deste trabalho é revisar as principais tecnologias e programas de incentivo disponíveis à atividade pecuária que estimulem a produção de alimentos de uma maneira sustentável e com qualidade reconhecida. Para defi nir quais tecnologias e programas seriam explorados, foi levada em consideração a necessidade de sua utilização e a relação existente entre elas, de acordo com as literaturas consultadas.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: DEFINIÇÕES E CONCEITOSO desenvolvimento sustentável pode ser defi nido como um processo que atende

às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades (WCED, 1987) ou a capacidade que tem um sistema de enfrentar distúrbios mantendo suas funções e estrutura, ou seja, é a habilidade de absorver e se adequar aos choques, podendo até mesmo tirar benefícios por adaptação e reorganização (VEIGA, 2010).

Essas defi nições variam de acordo com a área de estudo em questão, porém obrigatoriamente seus conceitos irão ter suas raízes interligadas à ecologia. Entretanto, por mais que o conceito da sustentabilidade enfatize o ambiente, ela é sustentada pela sociedade e pela economia. A integração dessas três partes é conhecida como Tripé da Sustentabilidade, sendo este um pré-requisito para a realização da sustentabilidade institucional, promovida através de Universidades e órgãos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (NEWPORT et al., 2003).

O núcleo do pensamento da sustentabilidade deve englobar a ideia de três dimensões – ambiental, social e econômico –, sendo que esses três objetivos precisam estar interligados, com ações que visem ao equilíbrio entre elas (ADAMS, 2006). Portanto, para que um sistema de produção animal seja considerado sustentável ele deve ser responsável no âmbito social, ao ponto de garantir o bem-estar humano e animal; apresentar resultados econômicos positivos, tornando-se viável economicamente; e ambientalmente correto ao visar à preservação e à conservação do meio ambiente (LIMA; POZZOBON, 2005).

De modo a acompanhar e avaliar os avanços e retrocessos do desenvolvimento sustentável, surgiu a necessidade de utilização de ferramentas capazes de identifi car a diversidade de princípios que envolvem o conceito. De acordo com o IBGE (2008), os indicadores de desenvolvimento sustentável (IDS) são classifi cados como fontes de informações sistematizadas do progresso alcançado e apresentam variáveis de pesquisa de acordo com a sua dimensão, como mostra a Figura 1.

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FIGURA 1 – Variáveis dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) de acordo com sua dimensão de classifi cação.

Atmosfera

Terra

Água doce

Oceanos, mares e áreas costeiras

Biodiversidade

Saneamento

População

Trabalhoe rendimento

Saúde

Educação

Habitação

Segurança

Quadro

econômico

Padrõesde produçãoe consumo

Quadro

institucional

Capacidade

institucional

Ambiental Social Econômico Institucional

Fonte: Adaptado de IBGE (2008).

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS À BOVINOCULTURAA bovinocultura vem sendo tratada como vilã do desmatamento no Brasil,

principalmente nas áreas de fronteira agrícola. Além da recorrente afi rmação de que a abertura de novas áreas para a formação de pastagens é o principal fator para o aumento do desmatamento, existe também o fato dos ruminantes, principalmente os bovinos, serem taxados como os grandes produtores de gases do efeito estufa (GEE).

No contexto de aquecimento global, apesar da pecuária de corte ter o balanço de carbono negativo, quando as pastagens são pouco produtivas e mal manejadas, a literatura mostra situações onde é possível otimizar a produção a pasto, alterando o balanço de carbono, o que tornaria a pecuária de corte uma atividade que sequestraria carbono (RUGGIERI et al., 2011).

A visão do meio ambiente como obstáculo para o crescimento econômico e social se modifi ca quando passamos a utilizar tecnologias sustentáveis e de comprovada efi ciência na bovinocultura. Existe hoje um considerável número de técnicas que podem ser utilizadas para o aumento da produtividade, cabendo ao pecuarista escolhê-las a partir do auxílio de um técnico especializado. Dentre as tecnologias disponíveis podemos citar como de maior relevância e efi cácia o manejo do pastejo, recuperação de pastagens degradadas e integração lavoura-pecuária-fl oresta – ILPF (Figura 2).

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A mitigação dos GEE em pastagens está diretamente associada ao manejo inadequado, que resulta nas mudanças das características químicas e físicas do solo. A adoção de técnicas sustentáveis propicia a incorporação de matéria orgânica ao solo, uma vez que, nessa situação, se tem alta oferta de forragem, muitas vezes superior ao consumo dos animais (REIS et al., 2012).

Da mesma forma, o manejo do pastejo, quer seja em lotação contínua ou intermitente, implica forragem de valor nutritivo mais alto, o que permite maior efi ciência de utilização de nutrientes, resultando em menores perdas no sistema, representadas pelos GEE, como por exemplo CH4 e N2O (REIS et al., 2012).

FIGURA 2 – Tecnologias sustentáveis aplicáveis a bovinocultura: manejo do pastejo, recuperação de pastagens degradadas e integração lavoura-pecuária-fl oresta.

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

SUSTENTABILIDADE SOCIAL

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

• redução da erosão

• diminuição da necessidade de abertura de novas áreas

• aumento no sequestro de carbono nas pastagens

Aumento na receita

Aumento na carga animal

Aumento na oferta e qualidade do pasto

Aumento na necessidade de mão de obra: na fazenda, na indústria

e no comércio

Aumento no uso de insumos

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

Melhora na relação solo + planta + animal

Fonte: os autores.

Manejo do pastejoOs principais erros que ocorrem na bovinocultura em sistemas de produção a

pasto são a incoerência na escolha do sistema de pastejo, espécie forrageira e carga animal diferente da suportada pelo sistema. Estas limitações fazem com que os índices zootécnicos sejam baixos e as pastagens tenham vida útil reduzida, fazendo com que a bovinocultura seja alvo de críticas de ambientalistas e caracterizada como uma atividade insustentável.

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O manejo do pastejo diz respeito a decisões que determinam a intensidade e a frequência de desfolhação de uma planta forrageira visando a sua exploração racional na produção animal em pastagens, simplifi cando, é a forma com que se permite aos animais terem acesso ao pasto (NASCIMENTO JUNIOR et al., 2008).

A adoção de técnicas de manejo é uma decisão operacional que envolve considerações biológicas, econômicas e de manejo geral da propriedade, além das variáveis: planta forrageira, animal, clima e solo. Em casos de baixa taxa de lotação, o desempenho biológico é semelhante tanto para o sistema de pastejo em lotação contínua como para o sistema de pastejo em lotação intermitente (RODRIGUES; REIS, 1997).

As principais vantagens do sistema que utiliza o sistema de lotação intermitente estão no controle sobre o crescimento e a disponibilidade da planta, uniformidade da desfolha, maior efi ciência do sistema por suportar maiores taxas de lotação, aproveitamento da pastagem evitando sub e superpastejo, entre outros (MARTHA JÚNIOR et al., 2003; SANTOS et al., 2005; PERIN et al., 2009).

O sistema de lotação contínuo pode ser escolhido por necessitar de menor mão de obra, menor custo de implantação e, dependendo das condições da pastagem, poder ter maior ganho de peso em função da capacidade de seleção do alimento pelo animal (CYPRIANO et al., 2011).

Recuperação de pastagens degradadasCom vistas na intensifi cação de sistemas de produção a pasto, a recuperação de

pastagens degradadas desempenha papel decisivo na modernização da bovinocultura, possibilitando o aumento na produção sem a expansão de novas áreas.

A ausência de práticas como a calagem na implantação e na manutenção das pastagens, juntamente com superlotação, ausência de adubação de manutenção e uso do fogo como instrumento de “limpeza” (controle de plantas invasoras), ou de eliminação do excesso de pasto não consumido, constituem-se em importantes causas de degradação de pastagens (BERNARDI et al., 2009; DIAS FILHO, 2005).

Nas regiões de fronteiras agrícolas, as pastagens são formadas geralmente por derrubada da fl oresta seguida da queima (TOWNSEND et al., 2010), sendo que nos primeiros anos o efeito da incorporação das cinzas no solo aumenta sua fertilidade, aumentando a produtividade das pastagens, e com o passar dos anos ocorre um declínio dessa produtividade em consequência dos problemas de degradação do solo (RODRIGUES FILHO et al., 2009). A degradação das pastagens está diretamente relacionada com o vigor e a produtividade das plantas forrageiras.

As estratégias para recuperação de pastagens degradadas podem ser pela renovação da pastagem e implantação de sistemas agropastoris. A escolha da estratégia a ser adotada para recuperação está condicionada a diversos fatores de ordem econômica, agronômica e ambiental.

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Dentre as estratégias de recuperação da pastagem, destaca-se a integração lavoura-pecuária que contribui para amortizar os custos de recuperação da pastagem, com o retorno mais rápido do investimento pela venda da produção da lavoura (TOWNSEND et al. 2009). Assim como também propicia melhoria na qualidade do solo ao longo do tempo. Por outro lado, a adoção dessa estratégia requer maior grau de especialização por parte dos produtores, sendo atividade de maior risco e exige maiores investimentos.

Uma das formas de recuperar pastagens degradadas e consequentemente alcançar a sustentabilidade do sistema de produção é restaurando a fertilidade do solo pelo uso efi ciente de fertilizantes e corretivos agrícolas (ARAÚJO FILHO et al., 2006), ou seja, através da adubação de pastagens que é essencial para recuperação dessas áreas (VILELA et al., 2001).

A adubação é definida como o fornecimento de nutrientes essenciais ao desenvolvimento dos vegetais, através da adição de adubos (fertilizantes). Essa prática é recomendada tecnicamente para produções agrícolas, juntamente com o preparo do solo, calagem, qualidade da semente, entre outros. Os fertilizantes têm a função de melhorar as características químicas do solo, isto é, aumentar seu aporte nutritivo (ALCARDE et al., 1998).

O intenso uso de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) como fertilizantes mistos ocorre em função de serem aqueles que as plantas exigem em maior quantidade e que se aplicam com maior regularidade nos programas de fertilização. Quando o solo apresenta defi ciência de micronutrientes, podem-se preparar fertilizantes mistos especiais que os levem junto com elementos principais (NPK) na mistura. As técnicas de uso e proporções relativas dos elementos nutritivos de fertilizantes dependem do tipo de sistema de produção e do sistema de pastejo e conforme a análise de solo (VEIGA, 2005).

Entretanto, práticas alternativas para o uso de insumos sem agrotóxicos que favoreçam os processos biológicos do ecossistema vêm sendo cada vez mais requeridas pela sociedade. Para isso, se destaca a adubação orgânica para pequenas áreas com o uso de esterco animal, capaz de afetar o crescimento das plantas e seu rendimento pelo fornecimento de nutrientes ou por modifi cações nas propriedades físicas do solo (CHANG et al., 2007); e a adubação verde, que consiste na utilização de culturas em rotação ou consorciação com as culturas de interesse econômico, sendo capazes de melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo (SMYTH et al., 1991).

Segundo Espíndola et al. (1997), a adubação verde apresenta vantagens relacionadas à fi xação biológica de nitrogênio, além de proteger e melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo; entretanto destaca a importância da diversifi cação de espécies que devem ser utilizadas como adubos verdes, evitando os inconvenientes da monocultura.

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117Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012

Integração lavoura-pecuária-fl orestaA integração lavoura-pecuária-fl oresta (ILPF) engloba no mesmo sistema de

produção componentes agrícolas, pecuários e fl orestais em rotação, consorciação ou sucessão, com o objetivo de otimizar os ciclos biológicos das plantas, animais, insumos e seus respectivos resíduos. Podemos dividir a ILPF por tipos de sistemas de produção, de acordo com os componentes envolvidos, em: agropastoril, silvipastoril, silviagrícola e agrossilvipastoril (ALVARENGA; NOCE, 2005; KLUTHCOUSKI et al., 2009).

O sistema agropastoril integra os componentes agrícolas e pecuários na mesma área em um mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos; o silvipastoril engloba o manejo pecuário e fl orestal em consórcio em uma mesma área; o silviagrícola associa espécies arbóreas com cultivos agrícolas (anuais ou perenes); e o agrossilvipastoril integra os componentes agrícola, pecuário e fl orestal em rotação, consórcio ou sucessão na mesma área (PEREIRA et al., 2009).

De acordo com Alvarenga e Noce (2005), os principais objetivos da ILPF envolvem: i) recuperação ou reforma de pastagens degradadas, onde a pastagem aproveita os nutrientes residuais das lavouras; ii) melhorar as condições físicas e biológicas do solo, já que a pastagem deixa uma boa quantidade de palha sobre o solo e de raízes no perfi l do solo, aumentando a matéria orgânica, a fonte de carbono, além de facilitar trocas gasosas e a movimentação descendente da água; iii) produzir pasto, forragem e grãos para alimentação animal, o que diminui a dependência por insumos externos e reduz os custos de produção por ganhos de produtividade e aproveitamento da mão de obra.

Além disso, esse sistema envolve o conceito de economia de escopo por ser capaz de produzir até três produtos distintos na mesma propriedade com redução no custo médio, em consequência do preço dos insumos. Isto signifi ca que os indicadores econômicos de uma propriedade que tenha a ILPF poderão ser mais efi cientes do que de três propriedades distintas onde uma seja pecuária, outra agrícola e outra madeireira (SZWARCFITER; DALCOL, 1997).

Porém, esse tipo de sistema ainda é pouco utilizado, devido a sua complexidade, necessidade de altos investimentos em máquinas e equipamentos, necessidade de solo e clima favoráveis à produção de grãos, baixo poder de barganha do produtor rural para compra de insumos e escoamento de produtos, baixa capacitação tecnológica, assistência técnica, entre outros (KICHEL; MIRANDA, 2002).

A Figura 3 representa como a sustentabilidade do sistema ILPF está relacionada principalmente com a diversifi cação de atividades de produção (produto animal, agrícola e madeireiro), contudo também vai infl uenciar na redução dos custos de produção e no cumprimento da função social do imóvel rural através do aumento da efi ciência de utilização da terra, máquinas, equipamentos e mão de obra, além da geração de alimentos, renda e emprego, e na possibilidade de investimentos no turismo ecológico agregando valor à propriedade (TOWNSEND et al., 2009).

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FIGURA 3 – Resultados esperados com a utilização da integração lavoura-pecuária-fl oresta para sustentabili-dade dos sistemas de produção na bovinocultura.

ILPF

Diversifi cação da produção

Economia de escopo

Otimização dos recursos físicos

e naturais

Geração de alimento, renda

e emprego

Preservação ambiental

Custos de produção

Ecoturismo

Função social do imóvel rural

Fonte: os autores.

PROGRAMAS INSTITUCIONAIS DE APOIO À SUSTENTABILIDADESerão descritos brevemente os principais programas e projetos existentes na

atualidade que fomentam a produção de alimentos de uma maneira sustentável e com qualidade reconhecida, com uma maior ênfase na bovinocultura de corte. Deve-se destacar que a difusão das tecnologias sustentáveis de produção, citadas anteriormente no trabalho, fazem parte do escopo dos mesmos.

Plano Agrícola e Pecuário (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento- MAPA)Descrição

De acordo com o MAPA (2011), o Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012 é uma política adotada pelo Governo Federal que busca assegurar o apoio necessário ao produtor rural, de forma a garantir a superação dos desafi os impostos pelo mercado interno e externo. Suas principais ações são focadas na representatividade do Brasil no mercado mundial de alimentos, aumentando ganhos de efi ciência e sustentabilidade na produção agropecuária.

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Objetivos

Os objetivos estão relacionados ao desenvolvimento sustentável da economia, da sociedade e do ambiente pela expansão na produção de grãos, fi bras e oleaginosas; incentivo às práticas que mitigam os gases causadores do efeito estufa e a recuperação de pastagens para aumentar a produtividade e a oferta de carne e leite; e apoio ao médio produtor rural. A pretensão atual é ampliar as atuações em crédito rural, apoio à comercialização, gestão de risco rural e medidas de infraestrutura. Dentro das ações em crédito rural, os recursos dividem-se em investimento, custeio e comercialização e linhas especiais.

Programa para redução da emissão de gases de efeito estufa na agricultura (programa ABC)Descrição

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) instituiu em junho de 2010 o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC). A iniciativa pretende aliar produção de alimentos e bionergia com redução dos gases de efeito estufa. O Programa ABC incentiva processos tecnológicos que neutralizam ou minimizam os efeitos dos gases de efeito estufa no campo, a serem adotados pelos agricultores nos próximos anos.

Objetivos

O Programa ABC visa incentivar o produtor a adotar boas práticas agronômicas capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa oriundas das atividades agropecuárias e contribuir para a redução do desmatamento transformando terras desgastadas em áreas produtivas para a produção de alimentos, fi bras, carne e fl orestas. A previsão é recuperar 15 milhões de hectares e reduzir entre 83 e 104 milhões de toneladas de CO2 equivalentes.

As ações deste programa têm como fi nalidade a recuperação de pastagens e áreas degradadas, implantação de sistemas de ILPF e a implantação, plantio e manutenção de fl orestas comerciais ou destinadas a recomposição de reserva legal ou de áreas de preservação permanente, plantio direto na palha, fi xação biológica de nitrogênio e tratamento de resíduos de animais.

Programa ILPF (integração lavoura-pecuária-fl oresta) Descrição

O conceito de integração lavoura-pecuária-fl oresta (ILPF) contempla estratégias de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e fl orestais realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, para buscar efeitos

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sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica.

Objetivos

O propósito é a sistematização de processos de tecnologias já existentes para serem transferidas aos produtores rurais. A orientação técnica do programa e das atividades da Rede é exclusiva da EMBRAPA. A integração lavoura-pecuária-fl oresta (ILPF) promove a recuperação de áreas de pastagens degradadas agregando, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos, como os de grãos, fi bras, carne, leite e agroenergia. Busca melhorar a fertilidade do solo com a aplicação de técnicas e sistemas de plantio adequados para a otimização e a intensifi cação de seu uso. Dessa forma, permite a diversifi cação das atividades econômicas na propriedade e minimiza os riscos de frustração de renda por eventos climáticos ou por condições de mercado.

A integração também reduz o uso de agroquímicos, a abertura de novas áreas para fi ns agropecuários e o passivo ambiental. Possibilita, ao mesmo tempo, o aumento da biodiversidade e do controle dos processos erosivos com a manutenção da cobertura do solo. Aliada a práticas conservacionistas, como o plantio direto, se constitui em uma alternativa econômica e sustentável para elevar a produtividade de áreas degradadas.

Fundo Vale (VALE S.A.)Descrição

O Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável é um fundo de cooperação que atua em parceria com instituições públicas, empresas e organizações do terceiro setor. Com título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), o Fundo é uma organização sem fi ns lucrativos que investe em projetos estruturantes e transformadores. Seu foco inicial de atuação foi o bioma amazônico, no Brasil, onde já está presente em quatro estados: Pará, Amazonas, Mato Grosso e Acre.

Os projetos apoiados pelo Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável são realizados por organizações que possuem comprovada experiência em campo e buscam respostas efi cazes para as questões centrais da sustentabilidade. O objetivo é trabalhar em conjunto com entidades de classe, organizações da sociedade civil e instituições públicas e privadas.

Objetivos

O objetivo é apoiar projetos que promovam o desenvolvimento sustentável, conciliando a preservação e a conservação do meio ambiente com a melhoria das condições socioeconômicas de países em desenvolvimento. Visa ao apoio a projetos

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de monitoramento estratégico do desmatamento, consolidação de áreas protegidas e biodiversidade e promoção de municípios verdes (VALE, 2012).

Programa de estímulo à produção agropecuária sustentável – PRODUSA (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES) Descrição

É um programa com recursos do BNDES que visa disseminar o conceito de agronegócio responsável e sustentável, agregando características de efi ciência, de boas práticas de produção, responsabilidade social e de preservação ambiental, concedendo aumento de até 15% em crédito de investimento para o produtor que tem em sua propriedade área de reserva legal ou ainda que esteja em processo de implantação de Programa de Integração de Lavoura, Pecuária e Floresta – ILPF.

Objetivos

• Estimular a recuperação de áreas degradadas, como pastagens, para o aumento da produtividade agropecuária, em bases sustentáveis;

• Apoiar ações de regularização das propriedades rurais frente à legislação ambiental (reserva legal, áreas de preservação permanente, tratamento de dejetos e resíduos, entre outros);

• Diminuir a pressão por desmatamento em novas áreas, visando à ampliação da atividade agropecuária em áreas degradadas e que estejam sob processo de recuperação;

• Assegurar condições para o uso racional e sustentável das áreas agrícolas e de pastagens, reduzindo problemas ambientais; e

• Intensifi car o apoio à implementação de sistemas produtivos sustentáveis, como o sistema orgânico de produção agropecuária.

Operação Arco Verde (Governo Federal)Descrição

De acordo com o Decreto Nº 7.008, de 12 de novembro de 2009, fi cou estabelecida a Operação Arco Verde, programa da Casa Civil em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A operação possui três eixos principais de atuação: produção sustentável, cidadania e regularização fundiária e ambiental.

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A B

Objetivos

Gerar modelos produtivos sustentáveis nos municípios considerados prioritários para o controle e prevenção do desmatamento na Amazônia Legal. O programa tem suas ações voltadas para processos produtivos que implicam no uso de recursos naturais, entre eles a qualidade ambiental, regularização fundiária, assistência técnica e extensão rural, fi nanciamento, desenvolvimento social, pecuária, manejo fl orestal, entre outros. Com base nessas linhas de pensamento, são elaboradas as ações a serem implantadas pelos órgãos responsáveis em municípios (MAPA, 2011; MDA, 2011).

Programa Boas Práticas Agropecuárias – BPA (EMBRAPA)Descrição

O Programa Boas Práticas Agropecuárias de Bovinos de Corte iniciou com a criação do primeiro documento referente às Boas Práticas de Produção de Bovinos de Corte em 2002. Assim o BPA detalha os procedimentos de boas práticas que orientam o produtor rural a utilização adequada das tecnologias sustentáveis disponíveis, englobando ferramentas de manejo e de gestão que possuem grande importância para obtenção de um alimento seguro, além de consolidar o Brasil como um dos maiores produtores mundiais de carne bovina oriunda de sistemas de produção sustentável.

Objetivos

O BPA propõe avanços em termos quantitativos e qualitativos para sistemas de produção pecuários, visando a um alimento seguro, que o mercado nacional e internacional exige, de qualidade reconhecida, preço acessível e proveniente de uma produção sustentável (CNPGC, 2011).

O BPA detalha os procedimentos de boas práticas que orientam o produtor rural à utilização adequada das tecnologias sustentáveis disponíveis. As informações são divididas em 12 áreas específi cas: gestão da propriedade, função social do imóvel rural, gestão dos recursos humanos, gestão ambiental, instalações rurais, manejo pré-abate, bem-estar animal, manejo de pastagens, suplementação animal, identifi cação do animal, controle sanitário e manejo reprodutivo.

Plano Safra da Agricultura Familiar (Ministério do Desenvolvimento Agrário)Descrição

O Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012 (MDA, 2011) aperfeiçoa as políticas públicas implantadas nos últimos anos para esse segmento produtivo, buscando

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aumentar a capacidade e qualidade de investimentos, promovendo a inclusão produtiva daqueles produtores em situação de pobreza extrema. Suas atuações estão relacionadas com a concessão de crédito, assistência técnica e extensão rural, comercialização, seguro e na ampliação das ações do Plano Brasil sem Miséria.

Objetivos

O programa contempla as linhas verdes do Pronaf (Eco, Agroecologia, Floresta e Semiárido) o novo Plano Safra estimula os agricultores familiares a aderirem à agricultura agroecológica e a investirem na produção de alimentos mais saudáveis. As ações de assistência técnica e extensão rural, por meio da PNATER (Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural), busca equilibrar a sustentabilidade ambiental, econômica e social através do apoio à organização da produção e dos empreendimentos e de parcerias com instituições de ensino e pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias de gestão e produção.

Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)O Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável foi criado no fi nal de 2007 e

formalmente constituído em junho de 2009. É formado por representantes de diferentes segmentos que integram a cadeia de valor da pecuária bovina no Brasil. Participam representantes das indústrias e de organizações do setor, associações de pecuaristas, varejistas, bancos, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e universidades (GTPS, 2012).

O objetivo deste programa é debater e formular, de maneira transparente, princípios, padrões e práticas comuns a serem adotados pelo setor, que contribuam para o desenvolvimento de uma pecuária sustentável, socialmente justa, ambientalmente correta, e economicamente viável. Neste contexto, o envolvimento de todos os segmentos que compõem a cadeia de valor, e também da sociedade civil, é fundamental para se atingir este objetivo (GTPS, 2012).

As principais linhas estratégias do GTPS são defi nir critérios socioambientais objetivos e auditáveis para toda cadeia de valor da pecuária bovina; contribuir e participar do desenvolvimento de mecanismos de monitoramento do desmatamento; atuar como interlocutor entre a cadeia de valor e os órgãos do governo para a promoção e desenvolvimento de políticas públicas; desenvolver mecanismos de incentivo econômico para promoção de práticas de produção mais sustentáveis; sistematizar e disseminar boas práticas produtivas para cadeia de valor da pecuária bovina, de programas de recuperação de áreas degradadas e dos passivos ambientais; desenvolver projetos piloto de adequação de propriedades rurais às boas práticas socioambientais e desenvolver mecanismos de medição de gases de efeito estufa com o objetivo de reduzir emissões e criar oportunidades de renda com a preservação das vegetações nativas.

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CONSIDERAÇÕES FINAISA sustentabilidade de um sistema de produção de bovinos deve atender os princípios

ambientais, sociais, econômicos e institucionais de forma equilibrada e harmoniosa, buscando principalmente minimizar os efeitos em relação à emissão dos GEE. A sociedade, assim como a mídia nacional e internacional tem criticado fortemente o setor primário, em especial a bovinocultura, como responsável pelo aquecimento global e devastação do bioma amazônico.

Para isso, torna-se necessário um maior comprometimento e interesse por parte dos produtores rurais e órgãos públicos e privados para o desenvolvimento e adesão aos programas de fomento e tecnologias que promovam a sustentabilidade dos sistemas de produção pecuários. No entanto, deve-se conhecer o efeito e a aplicabilidade de cada tecnologia disponível, visando a auxiliá-los na escolha da técnica a ser adotada, de acordo com as características intrínsecas de cada propriedade rural. É evidente que as tecnologias de produção discutidas no trabalho não são as únicas disponíveis para os pecuaristas, no entanto, na visão dos autores, podem ser implantadas de forma rápida e efi ciente, com resultados interessantes para os sistemas de produção.

Programas de fomento a sustentabilidade devem valorizar uma visão sistêmica da cadeia produtiva, valorizando melhores relações sociais entre os seus diversos elos. Isso facilita o desenvolvimento econômico de toda cadeia, otimizando a competitividade frente ao mercado interno e externo e a geração de renda. Simultaneamente, são necessários mecanismos de simplifi cação e difusão para que os produtores rurais os adotem com mais frequência. Ações futuras são fundamentais através das instituições de pesquisa e extensão, na busca por conscientização e implantação correta dessas tecnologias de produção; de órgãos de fomento e incentivo fi scal, para facilitar o acesso dos produtores a essas práticas e difundir os programas já disponibilizados; ou, principalmente, da própria população, ao exigir produtos de qualidade e com certifi cação, oriundos de sistemas sustentáveis.

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Recebido em: jul. 2012 Aceito em: set. 2012

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Ocorrência de leite instável não ácido (LINA) em uma usina de benefi ciamento

da região metropolitana de Porto Alegre/RSAlana Ciprandi

Bianca Pinto PereiraAndrea Troller Pinto

RESUMOO presente trabalho teve como objetivo avaliar a ocorrência de LINA em 92 amostras de leite

cru provenientes de uma usina de benefi ciamento da cidade de Taquara-RS, nos meses de agosto e setembro de 2008. As amostras foram classifi cadas, com base nos parâmetros legais de acidez titulável e teste de estabilidade ao etanol em alcalina, normal, ácida e LINA. Foram identifi cadas 42,40% das amostras como normais; 33,7% LINA; 22,82% alcalinas, e uma amostra ácida. Nesse estudo foi utilizado o etanol 72°GL conforme a Instrução Normativa 62 do MAPA, porém se empregado etanol 78°GL, graduação utilizada pela maioria das indústrias no Estado com o intuito de garantir a qualidade da matéria-prima, essa ocorrência de LINA dobra, passando para 67,40%. A ocorrência de LINA foi elevada na região de Taquara (33,7%), reforçando a necessidade de estudos sobre essa síndrome.

Palavras-chave: Estabilidade do leite. Teste do etanol. Acidez titulável.

Occurrence of non-acid unstable milk in the processing plant in the Porto Alegre Metropolitan Region, Rio Grande do Sul

ABSTRACTThe objective of the present work was to evaluate the occurrence of LINA in 92 raw milk

samples from a processing plant at Taquara-RS city, in August and September 2008. The samples was classifi ed based on legal parameters of titrate acidity and ethanol stability test in alkaline, normal, acid and LINA. The percentage of normal samples was 42,40%; LINA 33,7%; alkaline 22,82%, and one acid sample. In this study we used the 72°GL ethanol as the MAPA 62 Normative Instruction, but with the employee of 78°GL ethanol, graduation used by most industries of the State by means of assure the quality of raw material, this occurrence passes to 67,40%. The occurrence of LINA was high in Taquara region (33,7%), increasing the need for studies about this syndrome.

Keywords: Milk stability. Ethanol test. Titrate acidity.

INTRODUÇÃOO controle da qualidade do leite que chega à plataforma de recepção das usinas

de benefi ciamento e nas fábricas de laticínios, além de ser fundamental para garantir a

Alana Ciprandi – Pós-graduanda em Ciências Veterinárias PPGCV/ UFRGS.Bianca Pinto Pereira – Pós-graduanda em Ciências Veterinárias PPGCV/UFRGS.Andrea Troller Pinto – Profa. Dra. do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva/ UFRGS.E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.128-133Canoas

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segurança dos alimentos, norteia a forma de processamento dessa matéria-prima. Entre os diversos testes realizados para avaliar a qualidade do leite produzido, um dos mais utilizados é a prova do álcool, realizada na propriedade antes do carregamento do leite. A prova avalia a estabilidade das proteínas lácteas submetidas à desidratação provocada pelo álcool e é usada para estimar a estabilidade do leite quando submetido ao tratamento térmico (MARQUES et al., 2007), ou seja, a capacidade do leite suportar elevadas temperaturas sem coagular ou geleifi car (SINGH, 2004). O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da Instrução Normativa 62 (BRASIL, 2011), determinou como critério inicial de aceitação do leite pela indústria, a realização do teste do álcool na concentração mínima de 72ºGL, embora as indústrias utilizem graduações mais elevadas, como 78ºGL no intuito de selecionar leite de melhor qualidade.

Problemas relacionados à estabilidade do leite ao teste do álcool foram, por muito tempo, ignorados ou confundidos com os relacionados à acidez elevada (RIBEIRO et al., 2011), causada pela fermentação da lactose por microrganismos incorporados ao leite, quando na ordenha ocorrem falhas de higiene (SILVA et al., 2012). O leite instável não ácido – LINA caracteriza-se pela perda da estabilidade da caseína do leite ao teste do álcool, sem apresentar acidez acima de 18ºD, sua ocorrência causa signifi cativos prejuízos econômico-fi nanceiros a toda cadeia produtiva, pois o leite é rejeitado ou subvalorizado pela indústria, mesmo apresentando níveis de acidez considerados normais pelos padrões do MAPA, sendo deixado, na maioria das vezes, na propriedade rural (MARX et al., 2011). Leites com estas condições apresentam diminuição do teor de caseína e aumento na concentração de íons, particularmente cálcio, e parecem estar correlacionados com épocas de carência alimentar ou dietas defi citárias (OLIVEIRA et al., 2007).

Alterações relacionadas à estabilidade térmica do leite já foram relatadas em diferentes países do mundo e da América Latina, no Chile (MOLINA et al., 2001), em Cuba (PONCE, 2001), no Uruguai (BARROS, 2001) e no Brasil (MARQUES et al., 2007; ZANELA et al., 2009; MARX et al., 2011).

O objetivo do estudo foi quantifi car a ocorrência de leite instável não ácido (LINA) em amostras de leite cru, provenientes de uma fábrica de laticínios situada no município de Taquara, região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde é benefi ciado o leite de mais de 80 propriedades da região.

MATERIAL E MÉTODOSFoi verifi cada a qualidade do leite armazenado nos silos para leite cru, com

capacidade média de 49 mil litros de uma usina de benefi ciamento. O leite era transportado até a usina por caminhões com tanques isotérmicos, com capacidade de 12 a 16 mil litros cada. O tempo médio entre ordenha e recepção do mesmo era de 48 horas, com temperatura média na chegada de 7ºC. Foram coletadas 92 amostras diretamente dos silos, nos meses de agosto e setembro de 2008. As análises físico-químicas realizadas foram: determinação da acidez titulável e estabilidade ao etanol através da graduação do álcool etílico.

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A determinação da acidez titulável do leite foi realizada conforme a Instrução Normativa 68 (BRASIL, 2006), utilizando solução de hidróxido de sódio 0,111 N e indicador fenolftaleína. As amostras foram classifi cadas de acordo com o julgamento legal das provas: sendo considerado leite normal aquele que apresenta acidez titulável entre 14 e 18°D, e ácido e alcalino respectivamente aqueles que apresentam acidez >18° e <14°D.

Para a análise da estabilidade ao etanol, utilizou-se álcool etílico nas concentrações de 70 a 80°GL, com intervalos de 2°. O teste foi realizado adicionando-se, em placa de Petri, 4ml de leite e 4ml da solução de álcool etílico, seguido de leve agitação. Para ser considerado normal, o leite deve apresentar-se estável ao etanol 72°GL pelo menos, conforme a Instrução Normativa 68 (BRASIL, 2006).

Desta maneira as amostras foram classifi cadas como: alcalinas (coagulação ao etanol >72°GL e acidez ≤14ºD); normal (coagulação ao etanol >72°GL e acidez entre 14 e 18ºD); ácida (coagulação ao etanol <72°GL e acidez >18ºD); e instável não ácido (LINA) (coagulação ao etanol <72°GL com acidez ≤14 a 18ºD).

RESULTADOS E DISCUSSÃOConforme os parâmetros adotados para a determinação de LINA, 42,40% foram

caracterizadas como estável (ou normal); 33,70% como LINA; 22,82% como alcalinas, e uma amostra como ácida (Figura 1).

FIGURA1 – Ocorrência de LINA em álcool 72º e 78°GL.

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Essa ocorrência de LINA (33,70%) assemelha-se à relatada por outros autores em trabalhos realizados no sul do Brasil. Zanela et al. (2009) analisaram 2.396 amostras no noroeste do Rio Grande do Sul, onde 55,2% destas foram caracterizadas como LINA, embora a graduação alcoólica utilizada tenha sido de 76ºGL. No sul do Estado, a ocorrência de LINA foi de 58% de 9.892 amostras analisadas por Marques et al. (2007), que também empregaram graduação alcoólica de 76ºGL. Essas concentrações são próximas às empregadas no teste realizado pelas indústrias receptoras de leite, que utilizam atualmente 78ºGL no Rio Grande Sul. Em Santa Vitória do Palmar o estudo foi conduzido por Oliveira et al. (2007) através da análise de 282 amostras, que foram identifi cadas como LINA quando da precipitação no teste álcool 70ºGL e acidez normal; 20, 21% das amostras sem acidez adquirida apresentaram reação positiva ao álcool 70ºGL, número que poderia ser maior quando da utilização de álcool 72ºG. O valor de 70ºGL foi utilizado pelos autores por ser o mesmo que o teste realizado pela indústria de laticínios que benefi ciava o respectivo leite.

É possível observar que a ocorrência de LINA dobra quando da utilização de álcool 78°GL em comparação com o álcool 72°GL (Figura 1), passando de 33,70% quando utilizado álcool 72ºGL, para 67,40% com álcool 78ºGL. De fato a ocorrência de LINA no Rio Grande do Sul é elevada, mas também é preciso levar em consideração a superestimação dessa ocorrência pelo rígido teste do álcool realizado com graduação alcoólica 78ºGL. A ocorrência de LINA vem causando transtornos pela falta de informações sobre as consequências no benefi ciamento do leite e na produção de derivados lácteos. Todavia, a indústria, no intuito de captar leite de melhor qualidade e se precaver quanto a possíveis falhas no transporte e armazenamento que possam causar acidifi cação do leite, opta por realizar o teste com etanol de graduação alcoólica 78ºGL, que acaba gerando resultados falsos positivos com consequente prejuízo tanto para a própria indústria, que deixa de benefi ciar este leite de boa qualidade, quanto para o produtor, que recebe menor remuneração ou tem sua produção rejeitada. Foram identifi cadas 35,88% das amostras, como estáveis ao teste do etanol, tendo acidez situada entre 14 e 18ºD sem coagular ao álcool 72ºGL, conforme o padrão estabelecido pela Instrução Normativa 51 (BRASIL, 2002).

Das 92 amostras analisadas, 30,43% foram consideradas anormais quanto à acidez, sendo 29,34% alcalinas e uma ácida (Figura 2). Apenas uma amostra apresentou acidez elevada, a ocorrência de leite ácido está relacionada a falhas de higiene da ordenha e/ou da refrigeração, Amiot et al. (1991) explicam que esse processo de acidifi cação se dá pelo desenvolvimento de bactérias láticas no leite que transformam a lactose principalmente em ácido lático, caracterizando-a como acidez desenvolvida, causada pela desestabilização das proteínas.

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FIGURA 2 – Classifi cação do leite quanto à acidez Dornic.

Conforme o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (MAPA, 1952) só pode ser benefi ciado o leite que apresentar acidez entre 14 a 18ºD. O número de amostras identifi cadas como alcalinas foi 29,35%, diferindo dos trabalhos anteriormente citados, onde Zanela et al. (2009) identifi caram 6,1% das amostras alcalinas e Marques et al. (2207) encontraram apenas 1%. Essa ocorrência pode estar relacionada à adição de substâncias neutralizantes, como hidróxido de sódio, com a fi nalidade de reduzir a acidez, prática caracterizada como fraude. Por outro lado, a substância com poder neutralizante, pode ser adicionada ao leite sem que seja de forma intencional, na falha do enxágüe da tubulação do sistema de ordenha, por exemplo, quando são utilizados detergentes alcalinos. Fagundes (1997, apud GONZALEZ, 2004) afi rma que a alcalinidade do leite também pode estar relacionada à maior porcentagem de mastite. Essa alta ocorrência de leite alcalino coloca em questão a realização dos testes para identifi cação de adição de substâncias neutralizantes da acidez na plataforma da indústria, se estão sendo detectadas fraudes ou há falhas na pesquisa dessas substâncias pelo Controle de Qualidade. Segundo o Serviço de Inspeção Federal, o leite que não atender à legislação brasileira de lácteos, como na presença de substâncias neutralizantes da acidez, deve ser recusado pela indústria.

CONCLUSÕESA ocorrência de LINA na região de Taquara-RS foi elevada, 33,70%, corroborando

com outros achados no Rio Grande do Sul. Este resultado reforça a necessidade de estudos sobre essa síndrome a fi m de avaliar as consequências para a indústria, facilitar a tomada de decisões e evitar prejuízos aos produtores. Dessa maneira, minimizar o abandono da atividade leiteira.

AGRADECIMENTOSAgradecemos à Médica Veterinária Caroline Halmenschlager da Silva pela coleta

dos dados.

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Recebido em: nov. 2012 Aceito em: dez. 2012

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Avaliação do desempenho biológico de bovinos de corte terminados sobre

pastagem de azevém (Lolium multifl orum)Carlos Gottschall

Fábio TolottiAriel Silveira

Camila CaneppeleLeonardo R. Silva

RESUMOA terminação de bovinos de corte em pastagens é uma alternativa economicamente viável,

no entanto, conhecer as variações do desempenho animal nas pastagens naturais e cultivadas é fundamental para otimizar o uso de tais recursos. Neste trabalho são associadas variáveis medidas para a determinação do ganho médio diário de peso (GMD) de bovinos de corte submetidos a um sistema de engorda, que associa a recria em campo nativo e a terminação em pastagem cultivada de azevém. Os dados foram obtidos a partir das informações de 401 bovinos machos castrados entre 3 e 5 anos de idade terminados em pastagem de azevém, sendo estes ordenados conforme o mês de entrada (ME) na pastagem, maio (24 animais), junho (89 animais), julho (90 animais), setembro (123 animais) e outubro (75 animais). A área total de pastagem utilizada foi de 287ha e a produtividade total de 138,24kg/ha de peso vivo. As variáveis utilizadas para medir o GMD foram: peso médio inicial (PMI), peso médio fi nal (PMF) e tempo médio de permanência (TMP) dos animais na pastagem. Dentre os resultados observados, os mais representativos foram os referentes ao lote maio, que apresentou o maior PMI (496,25kg) e o menor GMD (0,582kg), e, ao lote setembro, que apresentou o menor PMI (371,26kg) e o maior GMD (1,578kg). As relações entre as variáveis foram avaliadas utilizando a análise de correlação de Pearson. Nas correlações observadas para o GMD, observou-se correlação negativa para PMI dos animais (P<0,01) e correlações positivas para ME e PMF dos animais (P<0,01), sem signifi cância para TMP (P=0,49). Entre as correlações realizadas, a análise da idade não mostrou signifi cância com GMD (P=0,87) e PMI (P=0,12), e sim com ME, TMP e PMF (P<0,01). O GMD foi maior para animais que entraram mais leves na pastagem. O GMD apresentou comportamento crescente nos meses de maio a setembro e decrescente no mês de outubro, coincidindo com o ciclo produtivo do azevém utilizado na terminação dos animais. A curva de variação do PMI foi contrária ao comportamento da curva do GMD dos animais, coincidindo com o ciclo produtivo do campo nativo utilizado na recria dos animais.

Palavras-chave: Pastagem cultivada. Azevém. Terminação.

Carlos Gottschall – Médico veterinário, Doutor, Professor Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA.Fábio Tolotti – Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. Bolsista de Iniciação Científi ca PROICT/ULBRA.Ariel Silveira – Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.Camila Caneppele – Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.Leonardo R. Silva – Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.Endereço para correspondência: Carlos Gottschall – Av. Farroupilha, 8001. Canoas, RS. Bairro São José. Prédio 14, sala 126. CEP 92425-900. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.134-142Canoas

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135Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012

Biological performance evaluation of beef cattle fi nished in ryegrass pasture (Lolium multifl orum)

ABSTRACTThe grazing fi nishing of beef cattle is a viable alternative, however, know the variations

of animal performance in natural and cultivated pastures is essential to optimize the use of this resources. This paper reports the measured variables for determining the average daily weight gain (ADG) of beef cattle undergoing a fattening system, which links rearing in native pasture and termination on ryegrass. Data were obtained from the information of 401 cattle from 3 to 5 years old fi nished on ryegrass. The animals are ordered according to the month of entry (ME) in the pasture, in May (24 animals), June (89 animals), July (90 animals), September (123 animals) and October (75 animals). A total area of 287ha of pasture was used and the total yield was 138.24 kg / ha of live weight. The variables used to measure ADG were: mean initial weight (MIW), mean fi nal weight (MFW) and mean residence time (MRT) of animals on grazing. Among the observed results the most representative were the May batch, which showed the largest MIW (496.25 kg) and lower ADG (0.582 kg/day), and the September batch, which showed a lower MIW (371.26 kg) and higher ADG (1.578 kg/day). Relationships between variables were assessed using the Pearson correlation analysis. The correlations observed for ADG, we observed a negative correlation for MIW (P <0.01) and positive correlations for ME and MFW (P <0.01), without signifi cance for MRT (P = 0.49). Among the correlations performed, the analysis of the age was not signifi cant for ADG (P = 0.87) and MIW (P = 0.12), but with ME, MRT and MFW (P <0.01). The ADG was greater for the animals that came from the pastures in lower weight. The ADG had an increasing behavior in the months from May to September and decreased in October, coinciding with the production cycle of ryegrass used in the termination of the animals. The curve of variation of the MIW was opposite to the behavior of the ADG curve. This fact coincides with the production cycle of the native pasture used in the animals rearing.

Keywords: Cattle. Pasture. Termination.

INTRODUÇÃOO período de outono/inverno na região Sul do Brasil resulta em um ciclo de baixa

disponibilidade de forragem das pastagens naturais (MOOJEN; MARASCHIN, 2002). Desta forma, a terminação de bovinos de corte em pastagens cultivadas de inverno é uma alternativa recomendada. Segundo Soares et al. (2001), na busca de um aumento da produtividade, o uso de tais pastagens pode proporcionar ao produtor a comercialização de animais no período de entressafra, onde os preços são mais atrativos, aumentando o resultado fi nanceiro da atividade. Considerando-se que os custos de implantação destas pastagens são altos, é necessário que os recursos sejam usados da maneira mais efi ciente e racional possível (RESTLE et al., 2000), em contrapartida a não utilização de tal tecnologia pode levar a perda de peso dos animais e redução nos resultados fi nais da propriedade. Nesse aspecto, o estabelecimento, a adubação, o manejo da pastagem e a escolha da categoria animal têm grande importância para o sucesso e a lucratividade do sistema (SANTOS et al., 2004).

Resultados de pesquisa (LESAMA, 1997; RESTLE et al., 1998; e ROSO, 1998) demonstram que a mescla forrageira de aveia preta e azevém apresenta elevado

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potencial de produção animal, quando se utilizam manejo adequado e elevada adubação nitrogenada.

Segundo Aguinaga et al. (2006), o uso de pastagens hibernais com elevado valor nutritivo e alto potencial produtivo torna viável a terminação de bovinos durante a entressafra e apresenta-se como alternativa para o aumento de rentabilidade das empresas rurais. Desta forma, é fundamental conhecer as variações do desempenho animal nas pastagens naturais e cultivadas para otimizar o benefício das mesmas.

O presente trabalho apresenta por objetivo avaliar o desempenho de bovinos de corte através do ganho médio diário de peso (GMD) e correlacionar o peso médio inicial (PMI), peso médio fi nal (PMF), tempo médio de permanência (TMP) e mês de entrada (ME) de animais submetidos a um sistema de produção que associa a recria em campo nativo e a terminação em pastagem cultivada de azevém.

MATERIAIS E MÉTODOSO estudo foi conduzido no município de Cachoeira do Sul, localizando-se na região

fi siográfi ca denominada Depressão Central do estado do Rio Grande do Sul (RS), em uma propriedade rural que trabalha com integração lavoura e pecuária, utilizando-se para tal fi m uma área de 287 hectares de pastagem cultivada de azevém.

Foram analisadas informações de 401 bovinos machos castrados da raça Braford entre 3 e 5 anos de idade terminados em pastagem de azevém (Lolium multifl orium), oriundos de campos naturais, selecionados de acordo com o estado e desenvolvimento corporal para o ingresso na pastagem de azevém. A entrada dos animais em pastagem ocorreu conforme a estimativa visual de capacidade de suporte da mesma, buscando-se preservar uma altura mínima de 15 cm. Animais com melhor estado corporal foram escolhidos dentro do universo da propriedade, independente da idade. Os animais foram ordenados conforme o mês de entrada na pastagem, sendo respectivamente, Maio = 24 animais; Junho = 89 animais; Julho = 90 animais; Setembro = 123 animais e Outubro = 75 animais. A saída ou venda dos animais ocorreu à medida que os mesmos atingiram grau de acabamento (gordura) estimado através de observação visual e plena aceitação pelos frigorífi cos compradores.

As variáveis mensuradas e calculadas foram: peso médio inicial (PMI), peso médio fi nal (PMF), tempo médio de permanência (TMP), mês de entrada (ME) e o ganho médio diário (GMD) e suas correlações.

As relações entre as variáveis foram avaliadas utilizando a análise de correlação de Pearson.

Os testes estatísticos foram feitos com o auxílio dos softwares Microsoft Excel 2010 e SPSS for Windows 16 (Statistical Package for the Social Sciences).

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RESULTADOS E DISCUSSÃOO GMD apresentou comportamento crescente nos meses de maio, junho, julho

e setembro (0,58±0,36, 0,98±0,79, 1,11±0,24, 1,58±0,32 kg/dia respectivamente) e decrescente no mês de outubro (0,88±0,40 kg/dia) (Figura 1) (r=0,237, p<0,01), coincidindo com o ciclo produtivo do azevém. Restle et al. (2000, 2001) encontraram resultados semelhantes, relatando um GMD de 1,48 Kg para vacas de descarte durante os meses de julho a agosto, e um GMD de 0,92 Kg para vacas de descarte nos meses de setembro a novembro, coincidente com o período de redução de qualidade e quantidade do azevém. Segundo Blaser (1993) a redução no valor nutricional das espécies coincide com o avanço do estágio de desenvolvimento das plantas, ocorrendo aumento dos tecidos de sustentação constituídos por carboidratos estruturais e lignina. Restle et al. (1998) observaram que novilhos e vacas apresentaram maior redução percentual no GMD com a queda na qualidade da pastagem. No experimento de Restle et al. (1998) o menor GMD observado no último período (07/10 – 03/11) foi consequência da menor oferta de forragem e de sua baixa qualidade, limitando o consumo e suprimento das exigências nutricionais para maior ganho de peso. Comportamento semelhante foi observado por Difante et al, (2006), os autores observaram que a redução da qualidade da pastagem coincide com o aumento das exigências nutricionais dos animais, principalmente de energia para assegurar incremento no GMD.

A curva de variação do PMI foi oposta à curva do GMD dos animais (r=-0,351, p<0,01) (fi gura 1), coincidindo com ciclo produtivo do campo nativo utilizado na recria dos animais. O campo nativo apresenta seu ápice de produção nos meses de primavera-verão, e um declínio nos meses de outono-inverno, conforme Lobato (1985). O mesmo autor relata que o principal fator limitante na produção pecuária em campos naturais resume-se a defi ciência nutricional do campo nativo no período hibernal. No presente experimento os animais que entraram na pastagem cultivada no mês de maio aproveitaram a condição benéfi ca do campo nativo durante o período primavera-verão e início do outono, e não enfrentaram a condição de menor qualidade e quantidade de forragem nativa no período hibernal. Diferentemente do ocorrido com os animais que ingressaram na pastagem posteriormente, pois o menor PMI foi atingido para os animais que entraram no mês de setembro, voltando a aumentar em novembro, coincidindo com a resposta positiva do campo nativo na primavera. De acordo com Lobato (1985) em condições extensivas de recria em campo natural os animais estão sujeitos às fortes variações cíclicas do valor nutritivo e produtivo da forragem.

A idade dos animais apresentou correlação positiva com o mês de entrada (r=0,315, p<0,01). Nesse sistema de produção os animais mais velhos entraram primeiro na pastagem por apresentarem maior desenvolvimento e melhor condição corporal, fatores decisórios para o ingresso dos animais na pastagem. Os animais mais velhos e maiores apresentam basicamente demanda nutricional para deposição de gordura. Conforme Di Marco et al (2006) em termos gerais é aceito que a quantidade de gordura aumenta com a taxa de ganho de peso, com o peso do animal, com o avanço da idade, portanto quanto mais jovem é um animal menor quantidade de gordura ele acumula, ou maior

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a necessidade energética da dieta para o mesmo depositar gordura. Esse fato explica as diferenças na ganho de peso sobre a deposição de gordura. Enquanto um terneiro ganhando 0,5 kg/dia deposita basicamente musculatura, um boi de 5 anos com a mesma taxa de ganho irá depositar gordura. Os animais com maior idade atingiram um maior peso médio fi nal (r=0,262, p<0,01) e permaneceram na pastagem por um menor tempo (r=0,280, p<0,01), refl exo do maior peso de entrada na pastagem (r=-0,212, p<0,01), e maior idade favorecendo a deposição de gordura que representa o último tecido a ser depositado (DI MARCO, 1994). De acordo com Euclides Filho (2000) o tempo de permanência em sistemas de terminação intensiva de diferentes tipos animais (tardios e precoces) pode variar até 90 dias entre animais. Segundo Poppi e McLennan (1995), as fl utuações estacionais na disponibilidade e qualidade das pastagens resultam redução do ganho de peso com consequências na elevação da idade de abate dos animais. Di Marco et al. (2006) afi rmam que a taxa de ganho de peso é bifásica, isto é, aumenta com o aumento do peso vivo até que o animal atinge o ponto de engorda, sendo que, após essa fase,o ganho de peso tende a diminuir. De acordo com Gottschall (2009) se o ganho de peso diário for semelhante, novilhos mais velhos e com elevado peso corporal necessitarão de um menor tempo para atingir o grau de terminação adequado do que animais mais jovens, pois o ganho de peso necessário para tanto será menor. Quanto menor a idade e o peso de entrada no confi namento maior será o tempo de permanência até o abate, o que leva à redução na efi ciência do sistema de produção (DI MARCO, 1998).

O mês de entrada infl uenciou o peso médio inicial (r=-0,542, p<0,01), peso médio fi nal (r=-0,215, p<0,01) e tempo médio de permanência (r=0,153, p<0,01), sendo que os animais que entraram no mês de maio, ingressaram mais pesados (496,25 ± 51,53), saíram mais pesados (526,42 ± 51,38) e permaneceram por menor tempo na pastagem (46,87 ± 30,79), benefi ciados pelas boas condições do campo nativo durante o verão, e não sendo prejudicados pelas más condições do mesmo durante o inverno. Nabinger (2006) demonstra que o manejo do campo natural permite ganhos de peso mesmo no inverno, porém com grande variação entre os meses do ano (primavera 0,780 kg/dia; verão 0,677 kg/dia; outono 0,283 kg/dia; inverno 0,178 kg/dia). Segundo Restle (1999), a variação que ocorre na produção de forragem no campo nativo durante o ano é bastante alta devido à variação das condições climáticas que afetam a quantidade e qualidade da mesma.

No presente trabalho a correlação mais alta encontrada foi entre peso médio inicial e peso médio fi nal (0,599, p<0,01), comprovando que os animais que possuíam maior peso médio no momento de ingressar na pastagem, foram os animais com maior peso médio fi nal de saída para o abate. Resultados semelhantes foram descritos por Gottschall et al.(2007), cujo os novilhos superprecoces com maior peso inicial obtiveram maior peso ao abate.

Os animais que permaneceram por mais tempo na pastagem (TMP), saíram com um maior peso médio fi nal (PMF) (r=0,368, p<0,01), com exceção dos animais que

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entraram no mês de maio, pois estes possuíam um peso médio inicial (PMI) elevado, resultando em poucos dias para atingirem o acabamento desejado pelo frigorífi co. O peso médio fi nal (PMF) também apresentou correlação positiva com o ganho médio diário (GMD) (r=0,238, p<0,01), os animais que atingiram maior peso fi nal apresentaram maior GMD, com exceção novamente para os animais que entraram no mês de maio, e que possuíam elevado peso médio inicial. Moreira et al. (2005) obtiveram ganhos de peso de 1,19 kg ao dia em animais ½ sangue Limousin pastejando aveia preta. Em pastagem de aveia preta e ervilhaca, Canto et al. (1997) observaram GMD de 1,27 kg/dia para novilhos com peso inicial médio de 320 kg. Restle et al. (1998) observaram GMD de 1,60 kg/dia para novilhos com peso inicial médio de 276 kg, em pastagens de aveia preta e azevém.

TABELA 1 – Coefi cientes de correlação entre idade, peso médio inicial (PMI), mês de entrada (ME), peso médio fi nal (PMF), tempo médio de permanência (TMP) e ganho médio diário de peso (GMD) de animais terminados

entre três e cinco anos de idade em pastagem de azevém.

Idade PMI ME PMF TMP GMD

Idade 1 0,078 0,315* 0,262* 0,280* -0,008

PMI -- 1 -0,542* 0,599* -0,212* -0,351*

ME -- -- 1 -0,215* 0,153* 0,237*

PMF -- -- -- 1 0,368* 0,238*

TMP -- -- -- -- 1 -0,03

GMD -- -- -- -- -- 1

* P<0,01

TABELA 2 – Valores de peso médio inicial, peso médio fi nal, tempo médio de permanência conforme o mês de entrada dos animais em pastagem de azevém (maio a outubro de 2010). (Média e desvio padrão)

Mês de Entrada

Maio

(N = 24)

Junho

(N = 89)

Julho

(N = 90)

Setembro

(N = 123)

Outubro

(N = 75)

Peso Médio Inicial (kg) 496,25 ± 51,53 426,37 ± 40,94 418,01 ± 36,46 371,26 ± 34,47 392,73 ± 35,14

Peso Médio Final (kg) 526,42 ± 51,38 474,38 ± 43,06 526,76 ± 52,17 501,86 ± 41,62 450,03 ± 43,49

TMP (dias) 46,87 ± 30,79 59,48 ± 29,25 98,22 ± 23,08 84,89 ± 16,23 66,20 ± 10,07

GMD(kg) 0,58 ± 0,36 0,98 ± 0,79 1,11 ± 0,24 1,58 ± 0,32 0,88 ± 0,40

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FIGURA 1 – Relações entre peso médio inicial (PMI) e ganho médio diário de peso (GMD) conforme o mês de entrada em pastagem de azevém.

CONCLUSÕESO mês de entrada na pastagem de azevém apresenta infl uência sobre o ganho de

peso dos animais.

O ganho médio diário é afetado pelo ciclo produtivo do azevém, variando conforme os meses em pastejo.

A idade dos animais não infl uencia o desempenho dos animais, expresso por ganho médio diário de peso.

O peso de entrada na pastagem de azevém (PMI) é infl uenciado pelo ciclo produtivo do campo nativo.

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Recebido em: out. 2012 Acesso em: dez. 2012

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Scrapie em ovinos: etiologia e diagnóstico in vivo

Cristina Santos SotomaiorFernanda Trentini Lopes Ribeiro

Rüdiger Daniel Ollhoff

RESUMOScrapie é uma doença neurodegenerativa, progressiva e fatal de ovinos e caprinos,

pertencente ao grupo das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET), ou doenças priônicas, que inclui a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). O acúmulo de uma isoforma anormal (PrPSc) da proteína priônica celular (PrPC) do hospedeiro no tecido nervoso e linforreticular é a causa do scrapie. Os principais sinais clínicos são: prurido, alterações no comportamento, incoordenação motora, ataxia e perda progressiva de peso. Scrapie, assim como outras doenças priônicas, possui um impacto considerável na saúde e bem-estar animal e apresenta-se como uma doença ainda pouco compreendida nos rebanhos ovinos brasileiros. O diagnóstico é baseado na demonstração da PrPSc no cérebro ou, no animal vivo, no tecido linfoide periférico. Como o acúmulo da PrPSc no tecido linfoide é anterior ao acúmulo no sistema nervoso central, biópsias de tecidos linfoides como tonsila, terceira pálpebra e tecido linfoide associado à mucosa reto-anal, seguida de imunocoloração para PrP, possibilitam o diagnóstico pré-clínico do scrapie. Esta revisão ressalta os novos métodos de diagnóstico in vivo, delineando seu potencial para uso em programas de controle do scrapie.

Palavras-chave: Biópsia retal. Imunohistoquímica. Proteína prion celular.

Scrapie: Etiology and diagnosis in live sheep

ABSTRACTScrapie is a fatal, neurodegenerative disease that affects sheep and goats and belongs to

the Transmissible Spongiform Encephalopathies (TSE) or prion diseases, which include Bovine Spongiform Encephalopathy (BSE) in cattle. It is caused by the deposition of an abnormal isoform (PrPSc) of the host-encoded cellular prion protein (PrPC) in the central nervous system and

Cristina Santos Sotomaior é Médica Veterinária, Doutora em Processos Biotecnológicos (2007/UFPR), Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Campus São José dos Pinhais, BR 376 Km 14, São José dos Pinhais, PR 83010-500, Brasil. E-mail: [email protected] Trentini Lopes Ribeiro é Bióloga, Mestre em Ciência Animal (2011/PUCPR), bolsista de mestrado do CNPq. Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Campus São José dos Pinhais, BR 376 Km 14, São José dos Pinhais, PR 83010-500, Brasil. E-mail: [email protected]üdiger Daniel Ollhoff é Médico Veterinário, Doutor em Microbiologia Clínica (1996/Tierärztliche Hochschule Hannover), Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Campus São José dos Pinhais, BR 376 Km 14, São José dos Pinhais, PR 83010-500, Brasil. E-mail: [email protected] Endereço para correspondência: Cristina Santos Sotomaior – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Campus São José dos Pinhais, BR 376 Km 14, São José dos Pinhais, PR 83010-500, Brasil. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.143-157Canoas

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lymphoreticular system. Characteristic clinical signs of the disease are behavioural disturbances, pruritus and increased diffi culty in locomotion. Scrapie, as other prion diseases, has considerable impact on animal health and welfare and is not completely understood in Brazilian sheep fl ocks. Scrapie diagnosis is based on the demonstration of disease-associated prion protein (PrPSc) in brain or, in the live animal, in readily accessible peripheral lymphoid tissue. PrPSc accumulations are detectable in the lymphoid tissues of scrapie infected sheep before they can be detected in the central nervous system. So demonstration of PrPSc in tissues of the lymphoreticular system can be used to detect preclinical cases of scrapie. Biopsy of accessible lymphoid tissue such as tonsil, third eyelid or recto-anal mucosa-associated lymphoid tissue (RAMALT) followed by immunostaining for PrP offers the possibility of detection of incubated scrapie cases. This review emphasizes new methods of diagnosis in vivo, outlining their potential for use in scrapie control programs.

Keywords: Cellular prion protein. Immunohistochemistry. Rectal biopsy.

INTRODUÇÃOScrapie é uma doença neurológica fatal que acomete ovinos e caprinos. É uma

enfermidade da lista da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), portanto de notifi cação obrigatória. Faz parte de um grupo heterogêneo de doenças priônicas ou Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET), que inclui Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), Doença Crônica de Cervídeos e Encefalopatia Transmissível de Mink (PRUSINER, 1998). As ETTs são doenças neurodegenerativas, com longos períodos de incubação, (PRUSINER, 2004a), que se caracterizam pela deposição da isoforma anormal da proteína priônica (PrP) celular do hospedeiro em vários tipos de células, especialmente no sistema nervoso central (SNC) e tecido linforreticular (baço, tonsilas e linfonodos) (BÜELER et al., 1993; PRUSINER, 1998; HARRIS, 1999; ANDRÉOLETTI et al., 2000).

Scrapie também é denominada como Paraplexia Enzoótica dos Ovinos e Tremor Enzoótico Ovino. O termo scrapie vem da palavra inglesa scrape, que tem o signifi cado de raspar, arranhar ou esfolar. O scrapie foi a primeira das EETs a ser descrita e comprovada, com o primeiro registro em 1732 na Grã Bretanha (McGOWAN, 1922 apud DETWILER; BAYLIS, 2003); apesar disto, muitos aspectos do scrapie ainda permanecem parcialmente ou totalmente desconhecidos (DAWSON et al., 2008).

É considerada uma doença endêmica em vários países da Europa, no Canadá e nos Estados Unidos, sendo relatada em diversos países do mundo. Poucos países, como Austrália e Nova Zelândia, são consideradas livres da ocorrência desta enfermidade (DETWILER; BAYLIS, 2003; DAWSON et al., 2008; HARRINGTON et al., 2010). No Brasil, o primeiro relato de scrapie ocorreu em 1978 em um ovino Hampshire Down, importado da Inglaterra (FERNANDES et al., 1978). Desde então, há várias notifi cações na Organização Mundial da Saúde Animal – OIE (www.oie.int) e também casos relatados na literatura (RIBEIRO, 1996; RIBEIRO; RODRIGUES, 2001; RIBEIRO et al., 2007). O caso ocorrido em 2003 no Paraná foi considerado o primeiro caso autóctone do Brasil (POHL DE SOUZA et al., 2005).

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Apesar do scrapie não ser transmissível para o homem, a possibilidade da EEB estar circulando nas populações de pequenos ruminantes (FOSTER et al., 1993, 1996; ELOIT et al., 2005) tornou esta EET dos ovinos e caprinos uma preocupação de segurança alimentar e saúde pública (ELOIT et al., 2005). Historicamente, o scrapie clássico provou ser uma doença de difícil controle. O longo período de incubação, que pode durar anos, e a má compreensão da etiologia, patogenia e epidemiologia limitam as opções de controle (DAWSON et al., 2008).

Polimorfismos nos códons 136 (alanina, A/ valina, V), 154 (histidina, H/ arginina, R) e 171 (histidina, H/ glutamina, Q/ arginina, R) do gene da proteína prion celular (PRNP) são capazes de indicar ou refl etir as variações na susceptibilidade (GOLDMANN et al. 1990; BELT et al., 1995; HUNTER et al., 1997a,b). Entre as possíveis combinações dos aminoácidos nestes três principais códons, apenas cinco (ARR, ARQ, ARH, AHQ, VRQ) são normalmente encontrados em ovinos, cujos pareamentos em homo ou heterozigose geram 15 genótipos possíveis (BELT et al., 1995; DAWSON et al., 1998). O genótipo ARR/ARR, apesar de casos comprovados de animais ARR/ARR infectados (GROSCHUP et al., 2007), é considerado o mais resistente aos agentes causadores do scrapie clássico. O alelo VRQ está associado à alta susceptibilidade no desenvolvimento da doença (HUNTER et al., 1997a,b; ELSEN et al.,1999; ACÍN et al., 2004; BILLINIS et al., 2004).

Programas baseados em seleção de animais geneticamente resistentes ao scrapie têm conseguido resultados relevantes na diminuição de animais clinicamente afetados (DOESCHL-WILSON et al., 2009; ORTIZ-PELAEZ; BIANCHINI, 2011).

O objetivo desta revisão é abordar aspectos etiológicos e de diagnóstico, enfatizando os novos métodos de diagnóstico in vivo, delineando seu potencial para uso em programas de controle do scrapie.

PRIONSPrions são proteínas infecciosas e o termo “prion” denomina o agente infeccioso

de uma série de doenças, caracterizadas por neurodegeneração espongiforme e proliferação de células da glia (PRUSINER, 2004b). Prusiner em 1982 estabeleceu que uma macromolécula específi ca, ou seja uma proteína, era necessária para criar um fator infeccioso; a partir daí criou o termo prion (dos termos em inglês: proteinaceous e infectious), para descrever as moléculas pequenas do processo infeccioso.

Bolton et al. (1982), trabalhando com cérebro de hamster infectado com scrapie, identifi caram uma proteína com massa molecular variando de 27 a 30 kDa. Esta proteína apresentou resistência a tratamento com proteinase K (PK) e foi detectada em cérebro de animais infectados após digestão com esta enzima, não sendo detectada em cérebro de animais sadios submetido ao mesmo tratamento. Sob ação da proteinase K, 67 aminoácidos da região N-terminal da proteína são degradados resultando na molécula que fi cou conhecida como PrP 27-30, devido a variação de sua massa

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molecular, e que corresponde à porção da proteína prion scrapie que é resistente a PK e capaz de manter infectividade (PRUSINER, 1998, 2004c; THACKRAY et al., 2007).

Prusiner (1982) propôs um modelo de infecção que descreve a capacidade da forma “scrapie” da proteína em induzir a modifi cação da proteína prion celular normal por “mímica”. Mais tarde, o gene para esta proteína foi identifi cado e sua sequência não apresentou nenhuma diferença entre animais infectados e sadios (BASLER et al., 1986). Esses dados mostram que a proteína priônica causadora do scrapie é codifi cada no genoma do próprio hospedeiro independentemente da doença e, portanto, indicam que eventos pós-traducionais seriam responsáveis pelas diferenças entre a isoforma celular e a isoforma relacionada à doença (CAUGHEY et al., 1991; BÜELER et al., 1993; HORIUCHI; CAUGHEY, 1999).

Segundo McKintosh et al. (2003), considerando as ETT de modo geral, sabe-se que a proteína modifi cada pode ter vários mecanismos de origem: infecciosos, hereditários ou espontâneos. No caso do scrapie clássico, para o animal se infectar, há a necessidade da infecção via oral pela proteína alterada (mecanismo infeccioso), ainda que os diferentes genótipos do animal possam interferir na velocidade da conversão da proteína inalterada (PrPC) para a proteína alterada infectante (PrPSc) (STEVENS et al., 2009). No entanto, em casos de scrapie atípico (BENESTAD et al., 2003), especula-se que este poderia ser resultado de mecanismos espontâneos, como ocorre na Doença de Creutzfeldt-Jakob Esporádica em humanos (NÖREMARK, 2006).

A PrPC é uma proteína com cerca de 250 aminoácidos (dependendo da espécie), expressa por um gene cromossômico de cópia única, localizado no cromossomo 13, apresentando uma homologia de sequência de 80 a 90% nas distintas espécies de mamíferos (LEE et al. 1998). A PrPC localiza-se na superfície da célula ancorada a um sistema denominado GPI (localizado na porção C-terminal glicofosfatidilinositol) e presente em todos os animais (HUNTER, 1997). Apesar de muitos estudos descritos, a função celular da PrPC ainda não é totalmente conhecida (PRCINA; KONTSEKOVA, 2011).

O acúmulo anormal da proteína em tecidos linfoides e sistema nervoso acontece devido à transformação conformacional da alfa-hélice, presente em grande quantidade na isoforma normal (PrPC) para beta-folha, presente em grande quantidade na isoforma atípica (PrPSc), insolúvel e particularmente resistente (CAUGHEY et al., 1991; SORBY et al., 2009). A mudança conformacional entre PrPC e PrPSc refl ete em diferentes respostas físico-químicas. Enquanto PrPC responde de forma lábil, tanto in vivo quanto in vitro, a PrPSc apresenta uma resposta lenta e se torna propensa a formação de agregados, conhecidos como amiloide (PRUSINER, 1998, 2004c), e apresenta também resistência aos mais severos tratamentos químicos (MASTRANGELO; WESTAWAY, 2001). Além disso, PrPSc é insolúvel em detergentes e se acumula, ao contrário de PrPC que é reciclada rapidamente (CAUGHEY et al., 1991; MASTRANGELO; WESTAWAY, 2001).

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TRANSMISSÃO, PATOGENIA E SINAIS CLÍNICOSA transmissão do scrapie acontece de forma natural, porém o modo de

transmissão da doença ainda não é totalmente conhecido (RYDER et al., 2004; DAWSON et al., 2008). O meio mais comum pelo qual o scrapie é introduzido num rebanho livre da doença é através da introdução de animais infectados e que estejam na fase de incubação (HOINVILLE, 1996). Em condições naturais, a infecção pelo agente do scrapie acontece pela via oral (DETWILER; BAYLIS, 2003).

A principal fonte de contaminação do ambiente por tecidos infectivos é a placenta e os fl uidos fetais, levando a um aumento na transmissão do scrapie durante a estação de nascimentos (ANDRÉOLETTI et al., 2002; TOUZEAU et al., 2006). Fluidos corporais como fezes, urina, sêmen e saliva são considerados como não contagiosos (DETWILER; BAYLIS, 2003). Trabalhos relatam presença do prion no sangue (CASTILLA et al., 2005; HOUSTON et al., 2008) e leite (LIGIOS et al., 2005; FRANSCINI et al.; 2006; KONOLD et al., 2008).

A disseminação da doença inicia-se logo após a infecção direta do animal com o prion. A PrPSc se acumula e torna-se detectável nas placas de Peyer, onde a infecção provavelmente ocorre. A partir daí, a PrPSc se espalha progressivamente nos tecidos e estruturas linfoides secundárias replicando-se e chegando ao Sistema Nervoso Entérico (SNE). O Sistema Nervoso Central (SNC) é invadido, a partir deste ponto, via tratos nervosos autônomos (ANDRÉOLETTI et al., 2006). Ainda que os mecanismos de infecção do scrapie não sejam totalmente entendidos, a deposição da PrPSc nos tecidos está diretamente relacionada ao processo infeccioso das ETT e é o principal marcador molecular para este grupo (ANDRÉOLETTI et al., 2000).

Este esquema de infecção é o observado em ovinos com os genótipos mais susceptíveis. Entretanto, não correlaciona com dados obtidos em ovinos naturalmente afetados e heterozigotos para o alelo ARR (VAN KEULEN et al., 1996); em alguns animais ARQ/VRQ (JEFFREY et al., 2000) ou na EEB bovina (WELLS; WILESMITH, 2004). Em todos estes casos, nenhuma (ou quantidades muito pequenas) da PrPSc é detectada no tecido linfoide.

Nos ovinos, a doença clínica se manifesta como uma desordem não febril, crônica, progressiva, neurodegenerativa e fatal. Os principais sinais clínicos que são relatados estão associados a uma irritação na pele, mudanças de comportamento, na postura e movimentação e perda de peso, mesmo que o animal continue se alimentando. Os sinais clínicos podem variar e alguns animais não apresentam um quadro típico (COCKCROFT; CLARK, 2006; OLLHOFF; SOTOMAIOR, 2011). Os relatos podem ser diferentes de acordo com o país onde se realizou a observação (VARGAS et al. 2005) e a acuidade da investigação, porém alguns sinais são constantemente relatados, tais como o prurido. Outros sinais podem incluir: défi cit propioceptivo, bruxismo, tetraparesia, perda do refl exo de ameaça, nistagmos, vômitos, disfonia e timpanismo ruminal (TYLER; MIDDLETON, 2004; COCKROFT; CLARK, 2006).

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A duração dos sinais clínicos é muito variável, podendo ser de duas semanas a seis meses. Períodos de stress podem coincidir com o início dos sinais clínicos, ou exacerbar a severidade dos mesmos (COCKCROFT; CLARK, 2006). Estudos realizados por Foster e Dickinson (1989) indicam que a idade na qual o ovino infectado morre com sintomatologia de scrapie depende fundamentalmente da idade na qual foi primeiro exposto e da dose infectante.

O período de incubação é também bastante variável, de um a quatro anos experimentalmente (HUNTER, 1997) e de um a sete anos a campo (ESPINOSA et al., 2004). Atualmente, reconhece-se que este período de incubação está diretamente relacionado ao genótipo do animal acometido, podendo variar de 174 dias para os animais VRQ/VRQ a 2150 dias em animais ARR/AHQ (HUNTER, 2006).

DIAGNÓSTICOA detecção de PrPSc é o método mais específi co para o diagnóstico da doença em

qualquer animal (PRUSINER et al., 2004). PrPSc somente é encontrada nas doenças priônicas e, assim, a sua presença em ovinos e caprinos é diagnóstica da infecção priônica. No Brasil, segundo a Instrução Normativa nº 15 de 2008 (BRASIL, 2008) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), são considerados animais com diagnóstico para scrapie os ovinos e caprinos com resultado positivo à prova de imunohistoquímica (IHQ) em amostras de tecido nervoso ou linfoide.

O diagnóstico diferencial do scrapie deve ser feito com doenças que apresentam sinais neurológicos, prurido, ataxia, hiperestesia e emagrecimento (COCKCROFT; CLARK, 2006). Entre as principais, pode-se destacar: pneumonia progressiva ovina, listeriose, pseudo-raiva, raiva, ectoparasitos, toxinas, toxemia da gestação, polencefalomalácia, envenenamento por chumbo, migrações parasitárias no SNC, abscessos cerebrais, Maedi-visna e defi ciência de vitamina A (ESPINOSA et al., 2004).

O diagnóstico das EET foi inicialmente feito a partir da descoberta de mudanças espongiformes e da deposição de amino-plaquetas no exame histológico. A histopatologia, no entanto, pode ser bastante variável, com vacuolização da neurópila e astrogliose reativa variando consideravelmente na intensidade e localização. Segundo Jeffrey (2006), as lesões histológicas de scrapie continuam a ser descritas como vacuolização, astrocitose e perda neuronal, apesar de nenhuma das três estar sempre presente nos casos clínicos de scrapie e que a perda neuronal seja raramente observada histologicamente. As alterações espongiformes da neurópila são comumente encontradas no scrapie clássico, mas a distribuição neuroanatômica da vacuolização na substância cinzenta e a proporção da vacuolização da neurópila e intraneuronal podem variar. Alguns casos clínicos de scrapie podem demonstrar poucas evidências de vacuolização e, em algumas situações, não se detecta vacuolização no cérebro de animais clinicamente afetados (ERSDAL et al., 2003). Segundo Gavier-Widén et al. (2005), o diagnóstico baseado somente nos achados histopatológicos é possível quando há a presença característica dos vacúolos no encéfalo, com distribuição neuroanatômica típica.

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O teste mais específi co para as EETs disponível até o momento é o reconhecimento da presença de imunomarcação específi ca da doença nas áreas alvo e com os padrões característicos (GAVIER-WIDÉN et al. 2005). A detecção da doença associada com acúmulo de proteína priônica pode ser feita pelas técnicas de imunoblotting e imunohistoquímica (GONZÁLEZ et al., 2003). A produção de anticorpos tem permitido que a análise imunohistoquímica promova especifi cidade no diagnóstico, em especial nos casos onde placas não são prolífi cas ou onde há dúvida sobre a causa das mudanças espongiformes (McKINTOSH et al., 2003). Há também evidências de que o acúmulo de PrPSc no tecido nervoso é prévio à neurodegeneração espongiforme (DeARMOND; PRUSINER, 1993; JEFFREY et al., 2001), o que permite que estes métodos possam diagnosticar as ETT antes do aparecimento de sinais clínicos e também nos casos em que as lesões neuropatológicas são mínimas ou ausentes. Ambos os métodos podem ser utilizados para identifi car PrP anormal nos tecidos linfoides, no trato alimentar e nos sistemas nervoso periférico e autônomo. O grau em que tecidos periféricos estão envolvidos no scrapie clássico depende da dose e cepa infectante e do genótipo do animal (JEFFREY, 2006).

A análise imunohistoquímica normalmente é realizada a partir de material conservado em formol e envolve o uso de pré-tratamento das secções histológicas com ácido fórmico e autoclavagem para a exposição dos epítopos e remoção da PrPC normal (VAN KEULEN et al. 1995). Alguns protocolos incluem também a digestão proteolítica. Diferentes anticorpos monoclonais e policlonais anti-PrP podem ser usados e um número crescente estão agora disponíveis no mercado, variando apenas a efi ciência de cada um dependendo da espécie utilizada. Alguns têm melhor desempenho em uma determinada espécie, e outros são espécie-específi cos (GAVIER-WIDÉN et al. 2005). Estes anticorpos não são necessariamente capazes de distinguir entre as duas isoformas de PrP. Portanto, previamente à detecção de PrPSc é necessário degradar a PrPC, geralmente com proteinase K (PK). Estão sendo desenvolvidos alguns anticorpos que detectam epítopos específi cos da PrPSc (ZOU et al., 2004), possível pela alteração conformacional da proteína no momento de conversão da isoforma PrPC para a PrPSc, expondo epítopos que na forma normal (celular) permanecem ocultos (PARAMITHIOTIS et al., 2003). Porém, até agora nenhum destes anticorpos provou ser realmente adequado para a identifi cação direta da PrPSc pela IHQ, e sua aplicação em outros testes ainda precisa ser estudada (GAVIER-WIDÉN et al. 2005).

A técnica de IHQ detecta a PrPSc in situ, permitindo determinar tanto a presença da proteína patológica como sua distribuição no tecido, sua localização celular e as características morfológicas do acúmulo (GONZÁLEZ et al., 2003).

DIAGNÓSTICO IN VIVOHistoricamente, Hoinville (1996) responsabilizava a falta de diagnóstico ante

mortem de animais infectados pelo prion, como o principal fator de disseminação da doença. Até recentemente, somente diagnósticos post mortem eram possíveis de

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serem realizados. Atualmente, o diagnóstico pré-clínico pode ser realizado em ovinos e caprinos (GROSCHUP, 2006). Considera-se possível a realização de diagnóstico pré-clínico a partir de biópsias de terceira pálpebra e tonsilas (VAN KEULEN et al., 1996; O´ROURKE et al., 1998, 2000; JEFFREY et al., 2001).

Entretanto, em casos de ovinos com genótipos menos susceptíveis ao desenvolvimento da doença, há uma menor distribuição da PrPSc relacionada ao tecido linfático, limitando-se ao tecido linfoide associado ao intestino (KONOLD et al., 2008). Estas limitações do acúmulo da PrPSc, levaram González et al. (2005, 2006), a pesquisar o potencial diagnóstico do tecido linfoide associado à mucosa reto-anal (RAMALT – do termo em inglês recto-anal mucosa-associated lymphoid tissue) quanto ao acúmulo da PrPSc.

Além disso, segundo González et al. (2008b), o diagnóstico em animais vivos, assintomáticos, baseado em biópsias de tonsila palatina ou terceira pálpebra, são procedimentos pouco práticos de serem realizados a campo, em larga escala, devido a sua difícil metodologia e técnica. A biópsia de amostras da mucosa retal, para obtenção de tecido linfoide associado à mucosa retoanal (GONZÁLEZ et al. 2005; ESPENES et al., 2006), apresenta uma técnica de colheita do material via mucosa retal que causa o mínimo de desconforto para o animal. Pode, entretanto, ocorrer hemorragia caso a colheita seja feita em dois momentos contínuos. Porém, segundo Espenes et al. (2006), quando desenvolvida da forma correta, apresenta caracteres morfológicos bem conservados, exceto artefatos localizados nas “bordas” da amostra. Em animais com diagnóstico positivo por IHQ no SNC ou em outros tecidos linforreticulares, o método apresentou 97,0% de sensibilidade, detectando apenas aqueles animais cuja IHQ era positiva para SNC e não para os outros tecidos linfoides. Em 100% dos casos negativos para os outros órgãos ou tecidos, a IHQ da mucosa retal também foi negativa (GONZÁLEZ et al. 2005). Após certo treinamento, a técnica é rápida e simples de ser feita, não necessitando sedação e podendo ser repetida várias vezes durante a vida do animal (GONZALEZ et al., 2008a,b).

As técnicas de diagnóstico in vivo também apresentam limitações. A detecção de PrPSc no tecido linfoide é efi ciente quando a doença se encontra aproximadamente na metade do período de incubação. Estudos apontam que resultados negativos para o tecido linfoide, não garantem que ovinos e caprinos estejam livres da infecção do scrapie (SCHREUDER et al., 1996; GONZÁLEZ et al., 2008b). Enquanto que a IHQ de tecidos linfoides pode detectar casos em fase de incubação do scrapie, antes da PrPSc ser detectada no SNC, alguns ovinos que apresentam genótipos menos suscetíveis, mesmo em um estágio clínico mais avançado doença, podem não apresentar acúmulo da PrPSc no tecido linfoides (VAN KEULEN et al., 1996; MONLEON et al., 2005).

Outra difi culdade das biópsias de tecidos linfoides é o fato de que, em muitos casos, uma quantidade insufi ciente de tecido é obtida. A primeira distribuição da PrPSc no tecido linfoide não é homogênea, portanto, deve-se considerar, segundo Gavier-Widen et al. (2005), um número mínimo de quatro a seis folículos com centro germinal a ser examinado na IHQ para se considerar um diagnóstico confi ável.

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SCRAPIE ATÍPICOO scrapie atípico/Nor 98 é uma encefalopatia espongiforme transmissível (EET)

de pequenos ruminantes (BENESTAD et al., 2003; MOUM et al. 2005). Esta doença foi identifi cada em 1998 e sua etiologia e epidemiologia é pouco conhecida (BENESTAD et al., 2003; FEDIAEVSKY et al., 2009).

O Nor98 difere claramente do scrapie clássico em muitos aspectos e desafi a o diagnóstico do scrapie. Os casos do Nor98 têm menos PrPSc PK-resistente no tecido encefálico que os casos de scrapie clássico. Essas características poderiam explicar, pelo menos parcialmente, o porquê de alguns testes rápidos apresentarem problemas em detectar a maioria dos casos de Nor98 (BENESTAD et al., 2006).

Em muitos casos, o scrapie atípico não coexiste com o scrapie clássico; porém, há relatos de desenvolvimento do prion atípico em rebanhos onde existia previamente a forma clássica da doença. Também são descritos em locais onde há biossegurança ativa e aonde não há qualquer ocorrência anterior de scrapie clássico ou atípico (SIMMONS et al., 2010). Na maioria dos casos, a forma atípica é detectada apenas em um ovino por rebanho e no estudo de dois casos-controles ocorridos na Noruega e França nenhum fator de risco, indicando transmissão entre rebanhos, foi detectado (RODRÍGUEZ-MARTINEZ et al., 2010), o que poderia permitir que fosse considerada espontânea, como ocorre na Doença de Creutzfeldt-Jakob Esporádica em humanos (NÖREMARK, 2006).

Os casos de Nor 98 diferem do scrapie clássico e do BSE em diversos fatores, incluindo a distribuição neuroanatômica de lesões histopatológicas e a deposição de PrPSc. A distinção entre os tipos se baseia nestas características e é confi rmada pela observação do perfi l eletroforético da Nor 98 no Western blot, caracterizado por uma rápida migração de uma banda de aproximadamente 12 KDa (BENESTAD et al., 2003).

Para o scrapie clássico, a coloração de imunohistoquímica e as mudanças histopatológicas no encéfalo, nas regiões do óbex e da medula oblonga e principalmente no núcleo motor dorsal do nervo vago caracterizam a doença, porém no caso de amostras de scrapie atípico isso difere. Quando presente, a vacuolização e a coloração de IHQ se apresentam de forma mais acentuada nas regiões do córtex cerebelar e cerebral, caracterizando a região do cerebelo em adição a região do óbex, como pontos cruciais para o diagnóstico de Nor98 (BENESTAD et al., 2006; RODRÍGUEZ-MARTINEZ et al., 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAISOs avanços conquistados com a possibilidade de diagnósticos mais precoces da

presença da PrPSc, associados à possibilidade de direcionamento nos cruzamentos para aumentar a resistência dos animais, tem diminuído a incidência do scrapie em alguns países.

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No Brasil, ainda que haja poucas notifi cações de scrapie, considera-se que a situação do controle de todas as encefalopatias espongiformes transmissíveis é essencial para a comercialização dos produtos de origem animal, tanto a partir de rebanhos de pequenos ruminantes, quanto de bovinos; para isto, o conhecimento das técnicas de diagnóstico por parte do médico veterinário com atuações no campo e no laboratório é de fundamental interesse para a proteção da saúde de nossos rebanhos.

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Recebido em: jun. 2012 Aceito em: jul. 2012

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Estudo bacteriológico e histológico de abscessos em ovinos abatidos em Campo

Grande, Mato Grosso do Sul

Renata Amarilha ValençoelaFernando de Souza Rodrigues

Osvaldo Alves RodriguesEurípedes Batista Guimarães

Cássia Rejane Brito Leal

RESUMOO objetivo deste estudo foi caracterizar as bactérias presentes em abscessos de ovinos no

Estado de Mato Grosso do Sul e os aspectos histológicos das lesões. Amostras foram coletadas em um frigorífi co, durante o abate dos animais. No total foram obtidas 21 amostras. Dentre as bactérias isoladas, encontraram-se Staphylococcus sp., Arcanobacterium pyogenes, Corynebacterium pseudotuberculosis e enterobactérias. Nas lâminas histológicas submetidas à coloração de Ziehl-Neelsen-Faraco, não se observou presença de bacilos álcool ácido-resistentes (BAAR). A análise histopatológica com hematoxilina-eosina revelou lesões características de linfadenite caseosa, porém, por não serem patognomônicas, a associação das análises histológicas e bacteriológicas tornam-se imprescindíveis para o diagnóstico defi nitivo desse tipo de lesão.

Palavras-chave: Ovinos. Abscessos. Linfadenite caseosa.

Bacteriological and histological study of abscesses in carcases of sheep from Campo Grande, Mato Grosso do Sul State

ABSTRACTThe aim of this study was to isolate bacteria from abscesses of sheep carcases at Mato

Grosso do Sul State and its histological lesions aspects. It was collected 21 abscesses samples during the slaughter in a slaughterhouse. Amongst the isolated bacteria are Staphylococcus sp., Arcanobacterium pyogenes, Corynebacterium pseudotuberculosis and enterobacteria. Acid-fast-bacilli (AFB) were not detected at histological slides stained with Ziehl-Neelsen-Faraco special staining. The histopathological analysis on samples stained by hematoxylin-eosin revealed

Renata Amarilha Valençoela é Médica Veterinária, Residente de Patologia Clínica Veterinária na FAMEZ/UFMS.Fernando de Souza Rodrigues é Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFMS.Osvaldo Alves Rodrigues é Médico Veterinário, Mestre em Produção e Gestão Agroindustrial, Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento.Eurípedes Batista Guimarães e Cássia Rejane Brito Leal são Médicos Veterinários, Professores Doutores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFMS.Endereço para correspondência: Avenida Senador Felinto Müller, 2443, Bairro Ipiranga. Campo Grande/MS, Brasil. CEP 79070-460. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.158-163Canoas

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caseous lymphadenitis lesions, however, these lesions are not pathognomonic, so the association of histological and bacteriological analysis becomes essential for defi nitive diagnosis.

Keywords: Sheep. Abscesses. Caseous lymphadenitis.

INTRODUÇÃOEntre as principais doenças que afetam ovinos, os abscessos merecem atenção

devido a sua alta incidência em rebanhos e a possibilidade de resultarem na condenação de carcaças em frigorífi cos e consequentes perdas econômicas (RIET-CORREA, 2007). Uma das bactérias geralmente associadas à etiologia dos abscessos é o Corynebacterium pseudotuberculosis, agente etiológico da Linfadenite Caseosa (LC) (QUINN et al., 2005).

A LC é uma enfermidade crônica contagiosa, de caráter insidioso, que acomete ovinos e caprinos, caracterizada por lesões purulentas e caseosas nos linfonodos superfi ciais ou internos e em órgãos como, pulmões, baço, rins, fígado e ocasionalmente nos testículos e no sistema nervoso central (ALVES et al., 2004; RIET-CORREA, 2007). A bactéria é um bacilo Gram-positivo, intracelular facultativo, aeróbio ou anaeróbio facultativo, que causa infecção a partir da pele lesionada ou intacta, além de outros meios de transmissão. O diagnóstico defi nitivo, considerado padrão ouro, só é realizado mediante cultura bacteriana e identifi cação do agente, além de exames histológicos (PATON et al., 1994; FONTAINE; BAIRD, 2008). Alguns autores relatam o isolamento de outros microorganismos do conteúdo de abscessos de ovinos, responsáveis por lesões semelhantes às encontradas na LC (UNANIAN et al., 1985; ABREU et al., 2008).

Com o objetivo de relatar a ocorrência da LC no Estado de Mato Grosso do Sul, descreve-se o isolamento de Corynebacterium pseudotuberculosis em ovinos abatidos em frigorífi co com Serviço de Inspeção Federal no município de Campo Grande, a localização dos abscessos, assim como a análise histológica dos mesmos, e identifi cação dos agentes causais em lesões macroscopicamente semelhantes à linfadenite caseosa, encontradas durante o abate.

MATERIAL E MÉTODOSEm um período de quatorze meses, realizou-se a coleta de abscessos em ovinos,

durante a inspeção do processamento do produto, em um frigorífi co de Campo Grande. As lesões que, à macroscopia, sugeriam tratar-se de linfadenite caseosa, com nódulos fi rmes, de cápsula espessa contendo em seu interior material purulento de aspecto caseoso, eram colhidas em sacos plásticos hermeticamente fechados e encaminhadas, sob refrigeração, ao laboratório de Bacteriologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ/UFMS.

No total foram obtidas 21 amostras, cujo conteúdo foi semeado em ágar sangue ovino (10%) e ágar Mac Conkey, sendo as placas incubadas a 37ºC, em aerobiose, pelo período de 72 horas. Após o período de incubação as amostras foram identifi cadas por

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características morfotintoriais e reações bioquímicas em meios específi cos, de acordo com parâmetros metodológicos defi nidos por Koneman et al. (2008).

As mesmas amostras, depois de utilizadas para pesquisa bacteriológica, foram imersas em solução de formol a 10%, neutro, tamponado, na proporção de uma parte do material para 10 partes do formol e encaminhadas ao Laboratório de Anatomia Patológica da FAMEZ/UFMS. Depois de fi xadas, foram processadas pela técnica rotineira de inclusão em parafi na. Foi realizada coloração Hematoxilina-Eosina (HE) (TOLOSA et al., 2003) e coloração de Ziehl-Neelsen-Faraco (COPETTI, 1996) para pesquisa de bacilos álcool ácido-resistentes (BAAR).

RESULTADOS E DISCUSSÃODas 21 amostras submetidas a cultivo e caracterização bioquímica, doze (57,14%)

foram identifi cadas como Corynebacterium pseudotuberculosis, cinco (23,81%) classifi cadas como enterobactérias, três (14,29%) positivas para Staphylococcus sp. e em uma amostra (4,76%) isolou-se Arcanobacterium pyogenes.

Nas lâminas histológicas sob coloração especial de Ziehl-Neelsen-Faraco, não foi observada presença de bacilos álcool ácido-resistentes (BAAR).

Quanto à distribuição das lesões em ovinos, neste estudo, os achados foram variáveis. Aproximadamente 54.1% das lesões ocorreram disseminadas pela carcaça, o que provavelmente representa infecções em consequência de tosquias e outros traumatismos de pele, facilitando a entrada do agente causal. Em 27.42% dos casos, os pulmões ou linfonodos mediastínicos foram afetados e em 14.47% as lesões encontravam-se na região da cabeça. Também foram encontrados, porém em menor intensidade, abscessos no fígado (3,81%) e no intestino (0.2%), fato igualmente observado por Souza et al. (2011).

O isolamento de outros agentes como, enterobactérias, Staphylococcus sp. e Arcanobacterium pyogenes também foi observado em trabalhos anteriores (UNANIAN et al., 1985; ABREU et al., 2008; SOUZA et al., 2011). Isso demonstra a importância de se utilizar técnicas corretas de coleta, transporte e processamento das amostras para o isolamento do C. pseudotuberculosis. Este microrganismo tem crescimento fastidioso, podendo ser difícil seu isolamento se houver contaminação da amostra. Entretanto, patógenos oportunistas como Staphylococcus sp., Arcanobacterium pyogenes e algumas enterobactérias, podem causar infecções piogênicas em várias espécies, predispostas principalmente por traumas e vulnerabilidade inerente de certos órgãos (QUINN et al., 2005).

Os abscessos apresentavam-se como nódulos fi rmes, de cápsula fi brosa espessa que ao corte, evidenciava conteúdo purulento caseoso de coloração esverdeada (Figura 1).

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FIGURA 1 – Abscessos de ovinos, característicos de linfadenite caseosa, apresentando cápsula fi brosa e con-teúdo purulento esverdeado. Material obtido durante abate de animais em frigorífi co. Campo Grande, MS.

À histopatologia, as vinte e uma amostras (100%) apresentaram lesões histológicas consideradas características de LC. As lesões se caracterizaram por uma área central de necrose de liquefação, dispostas em lamelas concêntricas de material amorfo fortemente eosinofílico, em meio ao qual foram observados precipitados de cálcio. Esta área estava envolta por uma faixa de intenso infi ltrado infl amatório, composto basicamente por polimorfonucleares neutrófi los, formando uma camada conhecida como membrana piogênica. Adjacente a esta membrana, havia proliferação de tecido conjuntivo fi broso denso, altamente vascularizado, característico de tecido de granulação (Figura 2). Em oito (38,1%) amostras foram observadas células gigantes multinucleadas (Figura 3), em número de um a seis em todo o corte histológico, o que corrobora com outros autores (SOLANET et al., 2011; SOUZA et al., 2011).

FIGURA 2 – Abscessos de ovinos característicos de linfadenite caseosa. (A) Observa-se área central de necrose de liquefação, formada por lamelas concêntricas, em material fi xado em formol 10%. (B) Histologica-

mente há tecido de granulação (TG), membrana piogênica (MP) e material amorfo fortemente eosinofílico (MA) (HE, 10X). Material obtido durante abate de animais em frigorífi co. Campo Grande, MS.

A

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FIGURA 3 – Abscesso de ovino característico de linfadenite caseosa. Observa-se célula gigante multinucleada (HE, 40X). Material obtido durante abate de animais em frigorífi co. Campo Grande, MS.

A análise histológica de abscessos, nos quais se isolou Staphylococcus sp., foi muito semelhante ao encontrado em abscessos provocados por C. pseudotuberculosis, o que demonstra que o diagnóstico histológico não poderia ser utilizado como único critério de diagnóstico da linfadenite caseosa. No entanto, existe a possibilidade de que em lesões causadas por C. pseudotuberculosis, contaminadas por Staphylococcus sp., seja isolado unicamente este último, que cresce mais rapidamente e pode inibir o crescimento de C. pseudotuberculosis (SOUZA et al., 2011). Os mesmos autores relatam ser frequente a presença de células gigantes, o que também foi observado em oito (38,1%) amostras avaliadas nesse estudo. As células gigantes são alterações também encontradas na tuberculose, uma doença transmissível entre os animais e o homem, de importância mundial e crescente nos rebanhos nacionais de caprinos, por estes serem susceptíveis quando mantidos em associação com rebanhos de bovinos acometidos (RADOSTITS et al., 2002; PIGNATA et al., 2009). Isolamentos simultâneos do agente causador da linfadenite caseosa e micobactérias já foram relatados (MARCONDES, 2007; HIGINO, 2010).

Ressalta-se que as lesões histológicas consideradas características da linfadenite caseosa não são patognomônicas, embora permitam um diagnóstico presuntivo da doença. Salientamos a necessidade da associação de análises bacteriológicas para obtenção do diagnóstico conclusivo da linfadenite caseosa.

CONCLUSÃOA Linfadenite Caseosa está presente no rebanho ovino do Mato Grosso do Sul,

demonstrando a necessidade de ações que minimizem sua ocorrência e consequentes prejuízos econômicos. A associação da análise histopatológica e bacteriológica é imprescindível para o diagnóstico da linfadenite caseosa, uma vez que as lesões histológicas não são patognomônicas e a associação com outros patógenos é um achado frequente.

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Recebido em: maio 2012 Aceito em: set. 2012

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Cryptosporidium spp.: avaliação de corante fl uorescente benzazólico em esfregaços fecais

Sandra Márcia Tietz MarquesValter Stefani

RESUMOEste trabalho avalia o uso de corante fl uorescente do grupo dos compostos heterocíclicos

benzazólicos em protocolo diagnóstico para oocistos de Cryptosporidium spp. em lâminas de esfregaços fecais. De um total de 578 amostras fecais foram selecionadas 54 (9,34%) positivas para oocistos de Cryptosporidium spp., evidenciadas pela técnica de Ziehl-Neelsen modifi cada (ZNm) e testadas com o corante fl uorescente 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzoxazol isotiocianato (BzICT). A leitura das lâminas observadas em microscopia de epifl uorescência confi rmou todas as amostras positivas por ZNm. O corante fl uorescente mostrou fotoestabilidade nas lâminas de esfregaços fecais. Este corante está ainda sendo investigado sob outras condições, tais como amostras fecais frescas, diferentes tempos de impregnação do fl uorocromo, trocas nos valores de pH e esforço para reduzir o background de outros componentes das amostras fecais, como restos de material celulósico.

Palavras-chave: Cryptosporidium spp.. Oocistos. Compostos benzoxazólicos. Fluorocromo.

Cryptosporidium spp.: evaluation of a benzazolic fl uorescent dye in fecal smears

ABSTRACTThis study assesses the use of a fl uorescent dye of the group of benzoxazole heterocycles

in a diagnostic protocol for Cryptosporidium spp. oocysts using fecal smears. Of 578 fecal samples submitted to the modifi ed Ziehl-Neelsen (mZN) method and tested with fl uorescent dye 2-(2’-hydroxy-5’aminophenyl) benzoxazole isothiocyanate (BzICT), 54 (9.34%) were positive for Cryptosporidium spp. oocysts. Epifl uorescence microscopy confi rmed that all samples were positive in the mZN. The fl uorescent dye showed photostability of fecal smears. This fl uorochrome is still being investigated under other conditions, such as the use of fresh stool specimens, different fl uorochrome impregnation times, change in pH value, and attempt to reduce the background in other fecal sample components as, for instance, in remnants of cellulosic material.

Keywords: Cryptosporidium spp.. Oocysts. Benzoxazole compounds. Fluorochrome.

Sandra Márcia Tietz Marques – Médica Veterinária, Dra., Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFRGS. Pesquisa como parte do estágio de Pós-doutorado no Instituto de Química da UFRGS sob a supervisão do Prof. Dr. Valter Stefani.Valter Stefani – Químico, Prof. Titular, Dr. Instituto de Química, Laboratório de Novos Materiais Orgânicos (LNMO) da UFRGS.Endereço para correspondência: S. M. T. Marques. Av. Bento Gonçalves, 9090, CEP: 91540-000. Porto Alegre/ RS, Brasil. Fone: (51) 3308.6136. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.164-172Canoas

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165Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012

INTRODUÇÃOCryptosporidium spp. é um protozoário intracelular extracitoplasmático que parasita

a superfície das células epiteliais intestinais sem entrar no interior delas, ocorrendo em outros sítios teciduais, dependente da espécie e do grupo zoológico hospedeiro. Há diagnóstico em mais de 150 espécies de mamíferos, e responsável em humanos pela diarreia de verão e diarreia dos viajantes (ACHA; SZYFRES, 2005; FAYER, 2008; XIAO; RYAN, 2008).

Estudos epidemiológicos têm demonstrado que as infecções são mais comuns e amplas que previamente se pensava e o predomínio de infecções em animais ou populações humanas é difícil de determinar com algum grau de precisão. Muitos pacientes apresentam quadro clínico de severa doença, o sufi ciente para ter garantida a atenção médica e/ou veterinária. Embora a verdadeira extensão de infecção por Cryptosporidium permaneça conjuntural, a importância como patógeno animal e humano tem se tornado mais reconhecida através do número crescente e diversidade de casos clínicos registrados ao redor do mundo (LUNA, 2002; YOIDER; BEACH, 2007; PUTIGNANI; MENICHELLA, 2010).

A identifi cação dos oocistos do parasito é obtida com técnicas parasitológicas rotineiras de baixo custo, porém de valor limitado pela baixa sensibilidade (TEE et al., 1993; KEHL et al., 1995; HUBER et al., 2004). A imunofl uorescência incrementa a sensibilidade em comparação com estes métodos (CONNALLY et al., 2006) e técnicas moleculares apresentam alta sensibilidade e especifi cidade (AARNAES et al., 1994; PETRY; HARRIS, 1999; CACCIO, 2004), porém o fator limitante é seu alto custo para a rotina (PAUL et al., 2009).

Compostos heterocíclicos benzazólicos são alvo de grande investigação em função de suas propriedades fotoemissoras devido a seu maior rendimento quântico de fl uorescência em relação a outros fl uoróforos. A família dos benzazóis é bastante utilizada para esse fi m, uma vez que apresenta transferência protônica intramolecular no estado excitado (ESIPT) e, como consequência, uma maior estabilidade fotoquímica (STEFANI et al., 2003). Sua elevada fl uorescência tem motivado pesquisas visando aplicações como corantes para laser e ótica não linear, monômeros para a síntese de polímeros fl uorescentes ou como sondas para marcação de proteínas (HOLLER et al., 2002; CORBELLINI, 2004).

Este experimento avalia pela primeira vez a potencialidade do uso do composto 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzoxazol isotiocianato (BzICT) como corante fl uorescente para a marcação de oocistos de Cryptosporidium spp. em lâminas de esfregaços fecais.

MATERIAL E MÉTODOS

Teste de concentração dos corantes benzazóisOs corantes e as soluções utilizadas na investigação desta metodologia variaram

de concentrações de 10-3 a 10-6. O teste inicial utilizou amostras fecais caninas (material

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estoque) com quantidade sufi ciente de oocistos para os testes de concentração com o objetivo de resguardar os esfregaços fecais das espécies a serem avaliadas. Foram confeccionadas lâminas de esfregaços fecais de amostras previamente positivas para oocistos de Cryptosporidium spp. em número sufi ciente para os testes reativos de fl uorescência, observados em microscópio de epifl uorescência marca Zeiss Axiolab. O protótipo escolhido foi 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzoxazol isotiocianato na concentração 3x10 3 molar.

Obtenção de 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzoxazol – 3x10 3 molarEm um balão de 50 mL foram misturados e aquecidos até a solubilização 9,8 g de

ácido fosfórico 85 % e 10,2 g de pentóxido de fósforo. Em seguida foram adicionados 1,64 g de orto-aminofenol e 2,3 g de ácido 5-aminosalicílico, degaseifi cou-se com nitrogênio e aqueceu-se por 2 h a 180-190 ºC e 2 h a 220-230 ºC. O conteúdo do balão foi vertido em 50 mL de água, neutralizado com solução saturada de bicarbonato de sódio, fi ltrado e o precipitado foi seco à temperatura ambiente e extraído em Soxhlet contendo sílica 70-230 mesh por uma semana com hexano: diclorometano 1:1. A evaporação do solvente produziu 2,2 g (65 %) de cristais amarelos em forma de agulhas com fl uorescência cor alaranjada à luz UV (365 nm) e Razão de eluição (Rf) em Cromatografi a de Camada Delgada (CDD) idêntico ao de amostra previamente preparada no laboratório.

A concentração da solução testada consistiu de 3x10 3 molar do fl uorocromo em etanol como solvente. A espectroscopia de emissão de fl uorescência foi obtida através do registro do espectro de fl uorescência em um espectrofl uorímetro Hitachi modelo F-4500. Os comprimentos de onda dos máximos de emissão e excitação foram expressos em nanômetros (nm), e utilizadas cubetas de quartzo de 1cm de caminho ótico (FIGURA 1).

FIGURA 1 – Modelo de espectro de absorção (à esquerda) e de emissão (à direita) de 2-(2’-hidroxifenil) benzazolas.

250 300 350 400 450 500 550 600

Comprimento de onda (nm)

λK

λE

Intensidade

λa

λs

Fonte: Corbellini, 2004, p.77.

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Esfregaços fecaisDe um total de 578 amostras fecais foram utilizados 54 amostras positivas para

oocistos de Cryptosporidium spp. pelo método de Ziehl-Neelsen modifi cado (ZNm), distribuídos em: 18 amostras de suínos (4,6%) e 25 de equinos (27,8%). As 11 amostras fecais de animais cativos em zoológico foram obtidas de um exemplar de: Alouatta caraya, Aotus nigriceps, Ateles chamek, Puma concolor, Sphiggurus villosus, Dama dama, Cervus unicolor, Kobus ellipsiprymnus e Myrmecophaga tridactyla e dois exemplares Rhea americana (TABELA 1). Os esfregaços positivos corados pela técnica de ZNm (HENRIKSEN; POHLENZ, 1981) formaram o grupo controle. As amostras foram consideradas positivas quando ao menos um oocisto com correta morfologia (4.6-5.6 um X 4- 4.8 um) e coloração foram identifi cados.

TABELA 1 – Diagnóstico parasitológico através da técnica de Ziehl-Neelsen modifi cada em esfregaços fecais, segundo Henriken e Pohlenz (1981).

Animais Número de amostras fecais ZNm (%)

Equinos 90 25 (27,8)

Suínos 390 18 (4,6)

Cativos de Zoo 92 9 (9,8)

Emas 6 2 (33,3)

TOTAL 578 54 (9,34)

Uma fração das fezes de cada amostra positiva foi homogeneizada e centrifugada. Uma alíquota de sedimento, resultante da centrifugação, foi depositada em lâmina de vidro numerada, totalizando 54 esfregaços fecais. As lâminas foram secas à temperatura ambiente, fi xadas em metanol, por 1 minuto, e submetidas a secagem com fogo. Estas lâminas formaram o grupo teste e foram submetidas à metodologia com 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzoxazol isotiocianato na concentração de 3x10 3 molar.

Teste de 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzazol isotiocianato (BzICT)Os esfregaços fecais foram secos à temperatura ambiente. As lâminas foram

submetidas à fi xação em metanol durante 1 minuto e secas pelo fogo; no passo seguinte, 2 ml da solução 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzazol isotiocianato cobriu toda a lâmina, sendo mantida em incubação por 5 minutos; em seguida descorada 2 vezes com ácido clorídrico 0,5% em metanol absoluto, intercalando com lavagem em água corrente e deixada para secar à temperatura ambiente.

As lâminas com os esfregaços prontos foram examinadas para a presença de oocistos de Cryptosporidium spp. em microscópio de epifl uorescência equipado com

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uma lâmpada Hg 100 w marca Osram de alta pressão de mercúrio, com fi ltro UV-2A (330-380 nm) para derivados benzoxazólicos (CORBELLINI, 2004) e fi ltros de barreira violeta (V), verde (G) e azul (B) e visualizados e fotografados em objetivas 40X e 100X, utilizando microscópio marca Zeiss Axiolab. As imagens foram capturadas usando uma máquina digital Sony.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOocistos de Cryptosporidium spp. foram detectados por ZNm em 54/578 (9,34%)

dos esfregaços (TABELA 1), variando na quantidade de oocistos por amostra fecal. Cada esfregaço fecal submetido à análise por microscopia óptica e de epifl uorescência foi esquadrinhado em toda a sua extensão. Pelo método ZNm os oocistos são visualizados corados de rosa, contra um fundo verde, correspondendo a lâmina controle (Figura 2a). A solução 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzazol isotiocianato confi rmou todas as amostras positivas (FIGURAS 2b-d).

FIGURA 2 – a. Oocisto de Cryptosporidium spp. em esfregaço fecal de suíno corado por ZNm (aumento 100X) – b. Oocisto em esfregaço fecal de suino corado com BzICT (100X – Filtro UV) – c) oocisto em esfregaço fecal

de Rhea americana corado com BzICT (100X – Filtro G) – d) Oocisto em esfregaço fecal de equino corado com BzICT (100X – Filtro UV).

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Este é o primeiro estudo que utiliza 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzazol isotiocianato (BzICT) para avaliar a reatividade em oocistos de Cryptosporidium spp. obtidos de esfregaços fecais confeccionados em lâminas de vidro.

As técnicas de concentração e fl utuação permitem melhorar a sensibilidade e quantifi car a excreção de oocistos, importantes para estudos epidemiológicos, com facilidade de execução, rápida obtenção de resultado e guarda permanente de material. Entretanto, técnicas imunológicas tem maior sensibilidade que as técnicas de esfregaços fecais para o diagnóstico de Cryptosporidium spp. Porém, Casemore et al. (1985) e Tee et al. (1993) relataram que a metodologia preferida é a combinação de técnicas que utilizem um corante fl uorescente e o método de ZNm, para ampliar a possibilidade de resultado positivo, pois só o método de ZNm pode resultar em não identifi cação de oocistos em infecção leve.

Em relação a outras metodologias empregadas, a performance dos testes fenol-auramina e imunofl uorescência foram sufi cientemente comparáveis para suportar o uso de mais de um método como procedimento de rotina, embora com custo maior quando se utiliza kit de imunofl uorescência ou PCR, podendo limitar seu uso (TEE et al, 1993; PAUL et al., 2009).

As técnicas baseadas em fl uorescência provêm um meio efi ciente para qualifi car e quantifi car o diagnóstico de biomoléculas, signifi cando sufi ciência na detecção de uma simples molécula quando as condições são otimizadas, tendo-se apenas o cuidado de discriminar daquelas de autofl uorescência. Técnicas de seleção espectral são úteis para suprimir a autofl uorescência mas nem sempre são aplicáveis, por causa da abundância e alcance espectral de autofl uoróforos (CONNALLY et al., 2006). Nesta pesquisa não ocorreu a presença de material autofl uorescente, o que permitiu que se descartasse o confundimento com outras estruturas biológicas presentes nas fezes.

Quanto à visualização dos oocistos, houve diferença no aspecto de tridimensionalidade das amostras positivas submetidas à microscopia de epifl uorescência (Figuras 2b-d), provavelmente dependente da composição do material fecal, podendo esta diferença estar relacionada à dieta alimentar, ou pela espessura do esfregaço ou ainda pela diferente impregnação do fl uoróforo que interagiria de maneira diferenciada com as camadas hidrofóbica e/ou lipofílica da parede dos oocistos.

Embora não exista um padrão internacionalmente aceito sobre critérios de validação de técnicas laboratoriais para o diagnóstico de rotina em criptosporidiose, verifi ca-se que os resultados por nós encontrados, até o presente, ainda não foram totalmente satisfatórios, em qualidade de imagem e facilidade na visualização. Deparamo-nos com algumas limitações decorrentes do ineditismo. Técnicas parasitológicas e de colorações rotineiras como os métodos de Willis-Mollay, de Faust et al., coloração com fuccina fenicada ou auramina também tem limitações, principalmente aquelas que utilizam para o diagnóstico a microscopia óptica e reagentes de baixo custo, que é o mais comum em laboratórios de países menos desenvolvidos. Além disso, o diagnóstico de criptosporidiose necessita ainda de observador “expert” porque os oocistos são de dimensões reduzidas e podem

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ser confundidos com outras estruturas biológicas parasitárias de patogenia importante nas espécies animal e humana.

As benzoxazolas apresentam fotosmaecimento praticamente nulo devido ao mecanismo de fotoexcitação e fotoemissão, que rapidamente regenera a população de moléculas no estado fundamental mesmo em exposição continuada de excitação o que facilita a análise microscópica, de material marcado por maior tempo, como o relatado por Corbellini (2004) quando utilizou este corante em amostras fúngicas.

Em nosso entender, minimizar a perturbação do sistema biológico é o maior desafi o, o que talvez possa ser resolvido utilizando técnica de desagregação física das fezes para remover debris contaminantes e visualizar com maior facilidade os oocistos em esfregaços fecais.

Aperfeiçoar as condições do protocolo de diagnóstico, pela redução dos passos da técnica ou a melhor impregnação do fl uorocromo no oocisto é o que devemos alcançar. Outro ponto ainda não esclarecido é como os oocistos do gênero Cryptosporidium se comportam frente às ligações oocisto-fl uorocromo. O que buscamos é dar maior destaque aos oocistos nas lâminas de esfregaços fecais e facilitar a identifi cação do agente, podendo dar retorno de resultado diagnóstico mais rápido e de melhor relação custo-benefício.

CONCLUSÃONas condições em que foi executado este estudo, conclui-se que os oocistos

detectados com a solução de 2-(2’-hidroxi-5’aminofenil) benzazol isotiocianato mostraram grande fotoestabilidade nas lâminas de esfregaços fecais, o que é um resultado muito importante tendo em vista que a maior parte dos fl uorocromos normalmente usados em microscopia de epifl uorescência apresentam elevado fotoesmaecimento (photobleaching) em curto espaço de tempo. Do mesmo modo, este fl uorocromo ainda é um candidato que deve ser avaliado sob outras condições, como a utilização de amostras fecais frescas, diferentes tempos de impregnação do fl uorocromo e esforço no sentido de reduzir o background, relacionado à impregnação do fl uoróforo nos outros componentes da amostra fecal como, por exemplo, em restos de material celulósico.

AGRADECIMENTOSEste trabalho foi fi nanciado em parte pelo CNPq (projeto Universal 475126/2008-

4) e UFRGS (projeto número 14295) como parte do programa de Pós-doutorado da UFRGS (Sandra M. T. Marques) no Laboratório de Novos Materiais Orgânicos (LNMO) do Instituto de Química da UFRGS. Agradecemos também ao biólogo Rodrigo Ludwig pelas amostras obtidas dos animais do zoológico da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul; ao professor Dr. David E. S. N. de Barcellos (UFRGS) e ao Médico Veterinário Ricardo T. Lippke pelas amostras fecais de suínos.

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Recebido em: mar. 2012 Aceito em: abr. 2012

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Adjuvantes para cicatrização cutâneaPriscilla Domingues Mörschbächer

Tuane Nerissa Alves GarcezEmerson Antonio Contesini

RESUMOOs adjuvantes da cicatrização são alternativas utilizadas pelos cirurgiões e/ou clínicos

para ajudar na reparação dos tecidos. As tentativas humanas de intervir no processo da cura das feridas remontam à antiguidade. A cicatrização de feridas é um evento complexo que ocorre espontaneamente, mas quando tratada tende a ocorrer de forma mais rápida e com melhores resultados funcionais e estéticos. A necessidade ou escolha de um tratamento para a ferida depende da etiopatogenia, dos fatores locais e sistêmicos. Por esses motivos, a intervenção de qualquer ferida deve ser individualizada e o produto de escolha do curativo deve ser avaliado cuidadosamente, correlacionando indicações, contraindicações, efi cácia, custo e benefício.

Palavras-chave: Curativos. Reparação. Feridas.

Adjuvants for skin healing

ABSTRACTProcessing aids healing alternatives are used by surgeons and/or clinical trials to aid in tissue

repair. The human attempts to intervene in the process of healing the wounds date back to antiquity. Wound healing is a complex event that occurs spontaneously, but when treated tends to occur faster and with better functional and aesthetic results. The necessity or choice of treatment for a wound depends on the etiology, the local and systemic factors. For these reasons, the intervention of any wound should be individualized and the product of choice of dressing should be evaluated carefully, correlating indications, contraindications, effi cacy, cost and benefi t.

Keywords: healing, repair, wounds.

INTRODUÇÃOA cicatrização de feridas é um evento complexo, que envolve a interação de diversos

componentes celulares e bioquímicos e ocorre espontaneamente, mas quando tratada através de artifícios, tende a ocorrer de forma mais rápida e com melhores resultados. A possibilidade de acelerar o fechamento de lesões cutâneas tem sido objeto de investigação de muitos pesquisadores (SWAIN; HENDERSON, 1997).

Priscilla Domingues Mörschbächer é Doutoranda do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Veterinária (FAVET) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.Tuane Nerissa Alves Garcez é Mestre do Programa de Pós-graduação da FAVET/UFRGS.Emerson Antonio Contesini é Professor do Departamento de Medicina Animal FAVET/UFRGS.Endereço para correspondência: P. D. Mörschbächer – Fax: (51) 3308.6112 Endereço: Av. Bento Gonçalves, 9090 – Agronomia Porto Alegre /RS CEP 91540-000. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.173-183Canoas

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Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012174

A escolha de um tratamento para a ferida depende da etiopatogenia, dos fatores locais (grau de contaminação e exsudato) e sistêmicos. Por esses motivos, o tratamento de qualquer ferida deve ser individualizado e o produto de escolha do curativo deve ser avaliado cuidadosamente, correlacionando indicações, contraindicações, efi cácia, custo e benefício (SANTOS; PEIXOTO, 1998). Este trabalho tem como objetivo demonstrar alguns tipos de curativos em vigência atual, tais como: sulfadiazina de prata, alginato de cálcio, carvão ativado, hidrocoloide, hidrogel, colagenase, fi lme de poliuretano. Todas essas coberturas buscam manter o ambiente propício à reparação tissular (BLANES, 2004).

DESENVOLVIMENTO

Classifi cação e cuidados da feridaOs ferimentos basicamente são classifi cados como abertos: lacerações ou

perdas de pele; e fechados: lesões por esmagamento e contusões. As feridas abertas podem ser classifi cadas pelo grau de contaminação: limpas e contaminadas. As limpas são aquelas criadas cirurgicamente. As contaminadas-limpas têm infecção mínima e essa pode ser efetivamente removida. As contaminadas caracterizam-se pela intensa infecção e presença de corpos estranhos (WALDRON; TREVOR, 1998). Os primeiros cuidados de uma ferida devem ser a tricotomia da área e a lavagem copiosa com solução salina isotônica, solução de Ringer ou Ringer Lactato para reduzir a quantidade de bactérias. Estas substâncias dependem da ação mecânica proveniente do processo de lavagem para que ocorra a remoção das bactérias e debris (SWAIN; HENDERSON, 1997; KNAPP, 2003).

Os curativos usados nos ferimentos abertos são compostos de camadas primárias, secundárias e terciárias. A camada primária ou de contato do curativo pode ser aderente ou não. Os aderentes podem ser classifi cados como úmidos-úmidos, secos-secos e úmidos-secos. Os curativos úmidos auxiliam o movimento do exsudato viscoso para fora do ferimento e para o interior da camada secundária, enquanto que os secos aderem aos tecidos necrosados, produzindo um debridamento mecânico. Os curativos úmido-secos são utilizados no inicio do tratamento das feridas, pois permitem a remoção do exsudato e debridamento mecânico. Os curativos úmidos-úmidos são usados para ferimentos que exijam remoção de exsudato viscoso, mas nenhum tecido necrosado (WALDRON; TREVOR, 1998). A frequência de trocas de curativos vai depender do volume de exsudato produzido. Com o avançar do processo cicatricial a frequência de trocas deve diminuir para evitar o traumatismo do tecido de granulação saudável (SWAIN; HENDERSON, 1997; KNAPP, 2003).

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175Veterinária em Foco, v.9, n.2, jan./jun. 2012

Adjuvantes para cicatrização cutânea

HidrocoloidesSão curativos que podem ser apresentados na forma de placas, géis, pastas

ou grânulos. O hidrocoloide é um curativo sintético derivado da celulose natural, que contém partículas hidrofílicas que formam uma placa elástica autoadesiva. A sua face externa contém uma película de poliuretano semipermeável não aderente. A camada de poliuretano proporciona uma barreira protetora contra bactérias e outros contaminantes externos (BLANES, 2003; GOMES; BORGES, 2003; MANDELBAUM et al., 2003).

As partículas de celulose expandem-se ao absorverem líquidos e criam um ambiente úmido, que permite às células do microambiente da ferida fornecer um desbridamento autolítico. Esta condição estimula o crescimento de novos vasos, tecido de granulação e protege as terminações nervosas. Ele mantém o ambiente úmido, enquanto protege as células de traumas, da contaminação bacteriana, e mantém também o isolamento térmico (SANTOS, 2000; EAGLSTEIN, 2001; BLANES, 2003; GOMES; BORGES, 2003). Este produto é contraindicado em casos de infecção, principalmente por anaeróbicos, porque são impermeáveis ao oxigênio e não podem ser usados em casos com excessiva drenagem, devido à limitada capacidade de absorção. Não deve ser usado também quando há exposição de músculos, ossos e tendões. Suas maiores desvantagens são a de não permitir a visualização da ferida e o seu alto custo (MANDELBAUM et al., 2003).

Açúcar cristalO efeito do açúcar cristal no tratamento de feridas infectadas ou não é mais

comumente atribuído aos efeitos bactericida ou bacteriostático, à oferta de nutrientes às células lesadas, à diminuição do edema local pela ação hidroscópica, à estimulação dos macrófagos e à formação rápida do tecido de granulação. Além disso, o açúcar cristal é um tratamento acessível, já que possui um baixo custo, o que torna este terapia uma boa alternativa em pacientes economicamente desfavorecidos (HADDAD et al., 2000; COELHO et al., 2002).

Alginato de cálcioO alginato é um polissacarídeo composto de cálcio, derivado de algumas algas.

Realiza a hemostasia, a absorção de líquidos, a imobilização e retenção das bactérias na trama das fi bras. Este tipo de curativo tem propriedade desbridante. Antes do uso, é seco e, quando as fi bras de alginato entram em contato com o meio líquido, realizam uma troca iônica entre os íons cálcio do curativo e os íons de sódio da ferida, transformando as fi bras de alginato em um gel suave, fi brinoso, não aderente, que

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mantém o meio úmido ideal para o desenvolvimento da cicatrização. A sua colocação deve ser feita de maneira frouxa, para possibilitar a expansão do gel. Após o seu uso, observa-se no leito da ferida uma membrana fi brinosa, amarelo pálido, que deve ser retirada somente com a irrigação (SANTOS, 2000; EAGLSTEIN, 2001; GOMES; BORGES, 2001; MANDELBAUM et al., 2003).

Mandelbaum et al. (2003) relataram que este tipo de curativo pode ser usado em feridas superfi ciais com perda relativa de tecido ou em lesões cavitárias profundas, altamente exudativas, com ou sem infecção. Pode ser usado em associação com outros produtos. As trocas devem ser mediante a saturação dos curativos, geralmente após 24 horas. Apresenta como vantagem a alta capacidade de absorção, e desvantagem, a potencialidade de macerar quando em contato com a pele sadia.

Ácidos graxos essenciais (AGE) ou trigliceril de cadeia média (TCM)É um produto originado de óleos vegetais polinssaturados, composto

fundamentalmente de ácidos graxos essenciais que não são produzidos pelo organismo, como: ácido linoleico, ácido caprílico, ácido cáprico, vitamina A, E, e a lecitina de soja. Os ácidos graxos essenciais são necessários para manter a integridade da pele e a barreira de água (DE NARDI et al., 2004). Segundo Mandelbaum et al. (2003) encontram-se três subgrupos de AGE: derivados do ácido linoleico (Dersani, Ativoderm, AGE Derm, Ativo Derm); derivados do ácido linoleico com lanolina (Sommacare, Saniskin); derivados do ácido ricinoleico da mamona (Hig Med).

Atualmente, os ácidos graxos essenciais, juntamente com a lecitina de soja e as vitaminas A e E têm sido empregados com êxito no tratamento de lesões abertas, com ou sem infecção, na espécie humana, indicado como acelerador cicatricial (DE NARDI et al., 2004). Seu mecanismo de ação sobre a membrana celular aumenta a permeabilidade da mesma, além disto facilita a entrada de fatores de crescimento no local da lesão, promove mitose e proliferação celular, estimula a neoangiogênese e atua como quimiotáxico para leucócitos (MANDELBAUM et al., 2003).

Sulfadiazina de prataO íon prata causa precipitação de proteínas e age diretamente na membrana

citoplasmática da célula bacteriana, e tem ação bacteriostática residual, pela liberação deste íon. Existe também no mercado a sulfadiazina de prata com nitrato de cério, que pode ser utilizado em queimaduras, úlceras infectadas e crônicas, reduzindo a infecção e agindo contra uma grande variedade de microorganismos. Facilita o desbridamento, auxilia na formação do tecido de granulação e inativa a ação de toxinas nas queimaduras. É contraindicada em casos com grandes áreas (mais de 25% de extensão), em gestantes, recém-nascidos e prematuros (MANDELBAUM et al., 2003; COELHO et al., 2010).

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Carvão ativadoEste tipo de curativo possui cobertura composta de uma almofada contendo

tecido de carvão ativado cuja superfície é impregnada com prata, exercendo atividade bactericida, reduzindo o número de bactérias presentes na ferida, principalmente as gram negativas. O curativo não deve ser cortado, porque as partículas soltas de carvão podem ser liberadas sobre a ferida e agir como um corpo estranho (SANTOS, 2000; BRASIL, 2002; BAJAY et al., 2003).

Esta cobertura possui um alto grau de absorção e eliminação de odor das úlceras. O tecido de carvão ativado remove e retém as moléculas do exsudato e as bactérias, exercendo o efeito de limpeza. A prata exerce função bactericida, complementando a ação do carvão, o que estimula a granulação e aumenta a velocidade da cicatrização. É uma cobertura primária, com uma baixa aderência, podendo permanecer de 3 a 7 dias, quando a ferida não estiver mais infectada. No início, a troca deverá ser a cada 24 ou 48 horas, dependendo da capacidade de absorção (BRASIL, 2002; BAJAY et al., 2003).

PapaínaÉ uma enzima proteolítica retirada do látex do vegetal mamão papaia (Carica

Papaya). Pode ser utilizada em forma de pó ou em forma de gel. Provoca dissociação das moléculas de proteínas, resultando em desbridamento químico. Tem ação bactericida e bacteriostática, estimula a força tênsil da cicatriz e acelera a cicatrização (ROGENSKI et al., 1998; MANDELBAUM et al., 2003).

A periodicidade de troca deverá ser no máximo de 24 horas, ou de acordo com a saturação do curativo secundário. A papaína em pó deve ser diluída em água destilada. A papaína gel deve ser conservada em geladeira (SANCHES et al., 1993; SILVA, 2003). Durante o preparo e aplicação da papaína, deve-se evitar o contato com metais, devido ao risco de oxidação. O tempo prolongado de preparo pode causar a instabilidade da enzima, por ser de fácil deterioração (BAJAY et al., 2003; MANDELBAUM et al., 2003).

LaserAos lasers de baixa potência se atribuem efeitos analgésicos, antiinfl amatórios e

estimulantes da cicatrização. A radiação soft-laser tem sido utilizada para acelerar processos regenerativos, sendo-lhe atribuído aumento no fl uxo sanguíneo, ação antifl ogística, antiedematosa, analgésica e estimulante do metabolismo celular (MAZZANTI et al, 2004). Paim et al. (2002), avaliaram clinicamente os efeitos da radiação laser Arseneto de Gálio (AsGa) em enxertos autólogos de pele em malha na reparação de feridas carpometacarpianas de 20 cães, e os resultados indicaram diferença signifi cativa em favor dos enxertos tratados com laser AsGa quando comparados aos enxertos testemunhas, considerando as variáveis exsudação, coloração e edema. Isso permite concluir que enxertos irradiados exibem uma pega mais avançada no estádio inicial da enxertia.

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Fatores de crescimentoSão moléculas de polipeptídeo extracelular envolvido em sinalização, que estimula

uma célula a crescer ou proliferar. Os principais fatores de crescimento utilizados como adjuvantes do processo cicatricial são o fator de crescimento insulínico, fator de crescimento transformador α e β, fator de crescimento derivado de plaquetas, fator de crescimento de fi broblasto básico, proteínas ósseas morfogenéticas, fator de crescimento endotelial vascular (DUQUE, 1998).

Fator de crescimento insulínico (IGF): Butler e Le Roith (2001), afi rmaram que o desenvolvimento da maioria, se não de todos os tecidos e órgãos são regulados em algum grau pela IGF. A IGF estimula a proliferação óssea e a expressão do colágeno tipo I.

Fator de crescimento transformador (TGF): a TGF participa dos processos infl amatórios e de reparação. Apresenta efeito mitogênico para fi broblastos e é um potente estimulador do colágeno, fi bronectina e produção de proteoglicanos pelos fi broblastos. O TGF-ß é considerado um importante regulador da proliferação celular, diferenciação, apoptose, resposta imune e remodelamento da matriz extracelular. TGF também infl uencia a expressão de seu próprio gene, o que pode ser importante no processo de cicatrização (MASTROCINQUE et al., 2004).

Fator de crescimento de fi broblasto básico (FGFb): dos fatores de crescimento, os que parecem ter maior destaque na cicatrização das feridas são os fatores de crescimento de fi broblasto (FCF), sendo que o FCF de reação básica (FCFb) exerce um maior número de reações fi siológicas. As principais fontes destas citocinas são macrófagos, linfócitos e plaquetas. Os fatores de crescimento são essencialmente angiogênicos, aspecto extremamente desejável em um processo cicatricial. Além disso, eles exercem ação indireta na síntese de colágeno, proteína fi brosa que fornece resistência às anastomoses. Os FCFb tanto podem estimular como inibir os fi broblastos, tornando-se importante mecanismo de retroalimentação na síntese e destruição do colágeno, assim como da própria cicatrização das feridas (MEDEIROS et al., 2003).

Plasma rico em plaquetas (PRP)O PRP é preparado através da centrifugação de sangue recém colhido, e subsequente

lavagem, para retirada das células vermelhas, recentrifugação e separação das frações, obtendo-se desta forma um concentrado plaquetário (VENDRAMIN et al, 2005; MAIA; SOUZA, 2009).

O estudo dos fatores de crescimento, junto com a descoberta de sua liberação por grânulos plaquetários conduziu ao desenvolvimento de um concentrado de plaquetas autólogo, ideal para melhorar o processo de cicatrização dos tecidos moles e a regeneração óssea (GARCIA et al., 2004; MAIA, 2008). Sua utilização em medicina ainda é pequena, porém os estudos existentes sobre este produto mostram um grande potencial de melhorar os resultados em diversos procedimentos ortopédicos, neurocirúrgicos e de cirurgia plástica (VENDRAMIN et al., 2006).

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Células tronco (CT)As CT são um tipo especial de célula que possui capacidade de proliferação

indefi nida, autorrenovação, produção de diferentes linhagens celulares e regeneração de tecidos. Estão presentes principalmente em embriões (CT embrionárias), no cordão umbilical, placenta e na medula óssea (CT adultas) (SILVEIRA et al., 2006).

As CT possuem capacidade de se diferenciar de acordo com o meio ambiente local. As células da medula óssea podem sofrer dois processos de diferenciação: as células mononucleares indiferenciadas e as multinucleares. Dentre as células mononucleares, existe a hematopoiética, que originará células do sangue (linfócitos, eosinófi los, basófi los, neutrófi los, células vermelhas e plaquetas) e a mesenquimal (CTM), que poderá originar células musculares, hepatócitos, osteócito, tecido adiposo, condrócitos e estroma (SOUZA et al., 2005).

Eletroacupuntura (EA) Nos últimos anos, inúmeros estudos em humanos e animais, têm produzido

evidências de que correntes elétricas de baixa frequência levam a uma cicatrização aumentada e acelerada (LOWDEN; REED, 2003). Isto ocorre, pois a proliferação e a migração de células epiteliais e tecido conjuntivo, envolvidos no reparo de feridas parecem ser aumentadas por um campo elétrico. Além disso, a terapia por EA tem ganhado destaque na clínica cirúrgica por proporcionar analgesia, aumentar a circulação local, estimular a colagênase e reduzir edemas (ROBINSON, 2001). Vários estudos sobre os efeitos da corrente direta na cicatrização de feridas de coelhos e porcos têm sido realizados. Alguns desses estudos têm relatado aumento na velocidade de cicatrização e/ou aumento na força tênsil do tecido cicatrizado sem presença de contaminação (LOWDEN; REED, 2003).

Membrana biológicaMembranas biológicas consistem em materiais de natureza orgânica, livres,

inertes, de aplicação ortotópica ou heterotópica, autólogos, isogênicos, halogênicos ou xenólogos, como característica principal, por serem constituídos quase que exclusivamente por colágeno, apresentando baixa antigenicidade. Possui como principais vantagens a disponibilidade, o baixo custo, preparo simples, a esterilização viável, a facilidade de estocagem e utilização, possuindo mínima reação histológica ou tecidual. A fáscia lata, pericárdio, peritônio, centro frênico, duramáter, são alguns dos tecidos biológicos mais estudados (ALVARENGA, 1992).

Novos materiais produzidos por meios biológicos têm sido desenvolvidos na tentativa de criar curativo que possa estimular reparação, entre os biomateriais recentemente propostos é a película de celulose chamada comercialmente de Veloderm� (CARDONI et al, 2000).

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Outros adjuvantes tópicosFitoterápicos como arnica, calêndula, barbatimão entre outros, também são

utilizados como adjuvantes numa tentativa de acelerar, ou mesmo modular a cicatrização cutânea. Segundo Mandelbaum et al. (2003) algumas enzimas proteolíticas como a colagenase, fi brinolisina, papaína ou a combinação da fi brinolisina (derivada do plasma bovino) com a desoxirribonuclease (derivada do pâncreas bovino) são efetivas no auxílio da cicatrização, e a combinação destas com antibióticos são contraindicados, pois pode levar ao aparecimento de resistência bacteriana.

Novas tecnologiasMatriz de regeneração dérmica (Integra): possui uma camada interna formada

por matriz tridimensional, derivada da polimerização do colágeno e glicosaminoglicano (GAG); promove crescimento celular e síntese de colágeno. A camada externa é formada por silicone, que atua como barreira à infecção e proteção mecânica. É indicada em feridas limpas e queimaduras (KIRSNER, 2003).

Biopolímeros do látex da seringueira (Pele NovaBiotecnologia): Segundo Mandelbaum et al. (2003) trabalhos realizados em pacientes com feridas crônicas, portadores de diabetes, apresentaram resultado altamente positivo no processo de granulação e epitelização, devido à propriedade do látex de estimular a angiogênese. É uma tecnologia nova, desenvolvida no Brasil, que requer mais estudos, mas que se mostra promissora e com custo 10 vezes menor do que os similares importados.

Secreção do caramujo (Elicina): formada por óleo mineral, propilenoglicol, ácido cetílico, lauril sulfato de sódio, ureia e parabenos. Tem ação cicatrizante, pois mantém o leito úmido, facilita a neoangiogênese e formação de tecido de granulação. Requer maiores estudos, pois seu uso foi restrito a feridas superfi ciais, mas os resultados demonstraram ação positiva sobre a formação do tecido de granulação e aceleração do processo de cicatrização (MANDELBAUM et al., 2003).

CONCLUSÃOO crescente avanço científi co nos disponibiliza cada vez mais recursos para auxiliar

na cicatrização de diversos tecidos. Cabe aos profi ssionais saberem utilizá-los de forma adequada, procurando conhecer as indicações e efeitos adversos de cada um deles, bem como a dose apropriada para cada situação.

REFERÊNCIASALVARENGA, J. Possibilidades e limitações da utilização de membranas biológicas preservadas em cirurgia. In: DALECK, C. R. Tópicos em cirurgia de cães e gatos.

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Recebido em: jun. 2012 Aceito em: ago. 2012

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Acidente aracnídico em um cão: relato de caso

Priscilla Domingues MörschbächerTuane Nerissa Alves Garcez

Rose Karina Reis CorreaVerônica Noriega Torres

Emerson Antonio Contesini

RESUMOOs acidentes causados por aranhas são frequentes em nosso meio. A Phoneutria sp. é

conhecida popularmente por aranha-armadeira e considerada a mais perigosa do Brasil. Estas aranhas são responsabilizadas pelo maior número de acidentes aracnídeos notifi cados ao Ministério da Saúde. Foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS) um canino, cocker spaniel, 11 meses de idade, picado por aranha do gênero Phoneutria sp., que foi internado e submetido às terapias necessárias. O animal apresentando sinais clínicos de acidente aracnídico de grau grave, pela indisponibilidade, não recebeu o soro antiaracnídico, indo a óbito por choque neurogênico.

Palavras-chave: Cão. Aranha. Phoneutria sp.

Arachnid accident in dog: Case report

ABSTRACTAccidents caused by spiders are very frequent in our practice. The Phoneutria sp is

popularly known by “aranha armadeira” and is considered the most dangerous of Brazil. These spiders are responsible by the biggest number of arachnids accidents notifi ed to the Health Ministry. A canine, cocker spaniel, 11-months-old, pricked by Phoneutria sp. spider was referred to the Hospital de Clínicas Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS), addmitted in and medicated. The animal presented signals of arachnid accident of serious degree, and for not having the antiarachnid serum, it came to death by neurogenic shock.

Keywords: Dog. Spider. Phoneutria sp.

Priscilla Domingues Mörschbächer é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Veterinária (FAVET) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.Tuane Nerissa Alves Garcez é Mestre em cirurgia animal da FAVET/UFRGS.Rose Karina Reis Correa é Mestranda do Programa de Pós-Graduação da FAVET/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.Verônica Noriega Torres é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da FAVET/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.Emerson Antonio Contesini é professor do Departamento de Medicina Animal FAVET/UFRGS.Endereço para correspondência: P. D. Mörschbächer – Fax: (51) 3308.6112 – Endereço: Av. Bento Gonçalves, 9090 – Agronomia – Porto Alegre/RS – CEP 91540-000. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.184-188Canoas

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INTRODUÇÃOOs acidentes causados por aranhas são frequentes em nosso meio, talvez pela

convivência destes aracnídeos com o homem no ambiente doméstico. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), foram registrados no Brasil, no ano de 2006, 10.768 casos de intoxicação humana envolvendo aranhas e escorpiões (FERREIRA; SOARES, 2008). As principais aranhas de interesse médico pertencem aos gêneros Phoneutria sp., Loxosceles sp., Latrodectus sp. e Lycosa sp., sendo os três primeiros responsáveis pelos acidentes mais graves (BARRAVIERA; FERREIRA JUNIOR, 2002; CARDOSO, 2003; LISE et al., 2006).

Quase a metade dos acidentes causados por animais peçonhentos são devidos a aranhas e, nas Regiões Sudeste e Sul, eles constituem importante problema médico, principalmente no Paraná e no Rio Grande do Sul. Nestas regiões, o principal gênero envolvido é o Phoneutria sp., seguido do Loxosceles sp. (BARRAVIERA; MACHADO, 1999; LISE et al., 2006; CHAGAS et al., 2010).

A Phoneutria sp. é conhecida popularmente por aranha-armadeira ou aranha-dos-mercados-de-frutas e encontra-se distribuída por todo o território nacional. É considerada as mais perigosa do Brasil. As principais espécies do gênero, envolvidas com acidentes, são: Phoneutria fera, P. keyserlingi, P. reidyi e P. nigriventer. O nome Phoneutria, originado do grego, signifi ca a que mata; o nome específi co refere-se, sem dúvida, à agressividade com que elas reagem quando pressentem perigo (NICOLELLA, 1997; BARRAVIERA; MACHADO, 1999; BRASIL, 2001; CHAGAS et al., 2010).

Elas não constroem teias e vivem principalmente em cachos de bananas. Quando ocorrem variações bruscas de temperatura, procuram as residências, razão pela qual este tipo de acidente ocorre com mais frequência nos meses de inverno. Os acidentes ocorrem nos domicílios e suas proximidades, principalmente ao calçar sapatos, ao manusear entulhos, lenhas ou materiais de construção (NICOLELLA, 1997; BARRAVIERA; MACHADO, 1999; BRASIL, 2001; CHENET et al., 2009). São aranhas grandes medindo aproximadamente 5cm de corpo e até 15cm de envergadura das pernas. São cobertas por pelos cinzentos curtos, tem pares de manchas claras no dorso do abdômen, formando dupla fi la longitudinal mediana (NICOLELLA, 1997; BARRAVIERA; MACHADO, 1999).

Os primeiros acidentes por Phoneutria sp. documentados na literatura nacional datam da década de 20, quando a ela foram atribuídos os casos graves e fatais de envenenamento neurotóxico provocados por aranhas. Foi então preparado o primeiro soro contra picada da aranha produzido no Brasil, obtido em 1924 a partir do veneno de Phoneutria keyserlingi (BARRAVIERA; MACHADO, 1999).

Objetiva-se relatar um caso de intoxicação por picada de aranha Phoneutria em um canino, fêmea, cocker spaniel, com 11 meses de idade, apresentando sinais clínicos de acidente aracnídeo grau grave.

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RELATO DE CASOFoi atendida no HCV-UFGRS uma canina da raça cocker spaniel, 11 meses de idade,

com o histórico de picada por uma aranha. A proprietária relatou que após a picada o animal começou a salivar e não caminhou mais e durante o trajeto para o HCV começou a vocalizar. Trouxeram a aranha morta sendo identifi cada como pertencente à espécie Phoneutria nigriventer, assim facilitando os primeiros socorros.

Ao exame clínico a paciente apresentava taquicardia, taquipneia, algia não localizada, temperatura retal de 39,2ºC, sialorreia, tremores musculares e agitação psicomotora. O animal foi imediatamente internado e recebeu fl uidoterapia (Ringer com lactato), fentanil (0,0025mg.kg-1) a cada 30 minutos, diazepam (0,5mg.kg-1) e cetoprofeno (2mg.kg-1). Como o animal continuou a apresentar algia administrou-se morfi na (0,5mg.kg-1), dipirona (25mg.kg-1) e midazolam (0,3mg.kg-1) para aumentar a sedação. Também recebeu oxigenioterapia.

O acidente aracnídeo foi classifi cado como grau grave e por não apresentar o soro antiaracnídeo no HCV, o animal foi á óbito 5 horas após a sua internação por choque neurogênico.

DISCUSSÃONos acidentes causados por aranhas, o diagnóstico etiológico se baseia na

identifi cação do agente agressor, no relato de picada e nos sinais e sintomas determinados pelos diferentes tipos de veneno. O tratamento varia conforme o gênero da aranha envolvida (BARRAVIERA; MACHADO, 1999; CASTRO et al., 2009; CHAGAS et al., 2010). O fato de o proprietário ter trazido a aranha causadora do acidente facilitou o diagnóstico e tratamento.

Alguns dos sinais clínicos apresentados pelo canino relatado condizem com a literatura que cita intensa dor, aumento de secreções, alterações visuais, midríase, tremores, prostração, dispneia, hipotensão, hipotermia, taquicardia seguida de bradicardia, síncope, priapismo, emese e morte (CHULA, 1997). Deve-se avaliar o acidente em leve, moderado ou grave.

O tratamento, na maioria dos casos é apenas sintomático. Pode-se realizar bloqueio da dor com infi ltração anestésica local e/ou fazer o uso de analgésicos (dipirona, opioides, antinflamatórios não esteroidais), diazepam em casos de espasmos musculares e convulsões, amenizar sintomas como vômitos com o uso metoclopramida, fazer constante monitorização cardiorespiratória e controle das convulsões. O soro antiaracnídico deve ser administrado por via endovenosa ou subcutânea (NICOLELLA, 1997; BARRAVIERA; MACHADO, 1999; PARDAL; YUKI, 2000; BRASIL, 2001). No tratamento para acidentes com Phoneutria em animais domésticos, não é preconizado o bloqueio anestésico, pois raramente localiza-se o local da picada. O tratamento suporte segue a mesma rotina dos acidentes em

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humanos (NICOLELLA, 1997; PARDAL; YUKI, 2000; BRASIL, 2001). O protocolo utilizado na paciente seguiu as orientações da literatura.

Pelo fato da paciente apresentar agitação psicomotora evoluindo para choque neurogênico e óbito, o acidente aracnídeo foi classifi cado como grave. Segundo a literatura os sinais clínicos de acidente grave são: sudorese profusa, lacrimejamento abundante, prostração, agitação psicomotora, sialorreia, priapismo, hipertonia muscular, tremores musculares, convulsões, coma, arritmia cardíaca, hipotensão arterial, choque e/ou edema pulmonar agudo e parada cardiorespiratória. Podendo evoluir para choque neurogênico e morte (CHULA, 1997, NICOLELLA, 1997; CASTRO et al., 2009; BRASIL, 2001).

O óbito em caninos é comum porque esta espécie é mais sensível ao veneno da aranha Phoneutria. A dose subletal para cães é estimada entre 0,18 e 0,20mg.kg-1de peso. O veneno é 4 vezes mais tóxico em cães do que em ratos (SCHUVARTSMAN, 1992).

CONCLUSÃOSegundo a literatura, os casos de acidentes aracnídicos são muito comuns em

humanos, mas em cães não há muitos relatos; talvez por estes muitas vezes já aparecerem mortos nos domicílios devido à sensibilidade ao veneno de aranha que esta espécie possui. Outro fator que difi culta o tratamento aos acidentes aracnídicos em animais é a ausência de soros antiaracnídicos em hospitais e clínicas veterinárias.

REFERÊNCIASBARRAVIERA, B.; FERREIRA JUNIOR, R. S. Artrópodes de importância médica. Rio de Janeiro: EPUB, 2002.BARRAVIERA, B.; MACHADO, J. M. Araneísmo. In: BARRAVIERA, B. Venenos – Aspectos Clínicos e terapêuticos dos acidentes por animais peçonhentos. Rio de Janeiro: Editora de Publicações Biomédicas Ltda., 1999. p.313-314.BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2.ed., rev. Brasília, 2001. p.120.CARDOSO, J. L. C. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003.CASTRO, A. P.; SILVA, T. C.; SILVA, J. C. R. Ocorrência, controle e prevenção de aranhas e escorpiões no nordeste brasileiro. 2009. Disponível em: http://www.eventosufrpe.com.br/eventosufrpe/jepex2009(cd)resumos/R0947-1.pdf. Acesso em: 20 nov. 2011.CHAGAS, F. B.; D’AGOSTINI, F. M.; BETRAME, V. Aspectos epidemiológicos dos acidentes por aranhas no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Evidência, v.10 n.1-2, p.121-130, 2010.CHENET, D. C. et al. Incidência de Aranhas de Importância em Saúde Pública em Curitibanos, Santa Catarina. Revista Ciência & Saúde, v.2, n.1, p.25-29, 2009.

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CHULA, S. S. Araneísmo – Acidentes com Aranhas do Gênero Phoneutria sp em Pequenos Animais – Relato de casos. In: Congresso De Medicina Veterinária do Conesul. Gramado, Anais... Porto Alegre: SOVERGS, 1997. p.308.COELHO, C. A. O; NISHIDA, S. M. Animais Sinantrópicos – Aranhas. 2011. Disponível em: http://www.ibb.unesp.br/museuescola. Acesso em: 20 nov. 2011.FERREIRA, A. M.; SOARES, C. A. A. A. Aracnídeos Peçonhentos: Análise das Informações nos Livros Didáticos de Ciências. Ciência & Educação, v.14, n.2, p.307-314, 2008.LISE, F.; COUTINHO, S. E. D.; GARCIA, F. R. M. Características Clínicas do Araneísmo em Crianças e Adolescentes no Município de Chapecó, Estado de Santa Catarina, Brasil. Acta Sci Health Sci, v.28, n.1, p.13-16, 2006.NICOLELLA, A. Acidentes com Animais Peçonhentos: consulta rápida. Porto Alegre: HCPA, 1997. p.207.PARDAL, P. P. O.; YUKI, R. N. Acidentes por animais peçonhentos. Belém: Universitária, 2000. p.40.SCHVARTSMAN, S. Plantas Venenosas e Animais Peçonhentos. 2.ed. São Paulo: Sarvier, 1992. p.288.

Recebido em: jun. 2012 Aceito em: set. 2012

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Ruptura de hemangiossarcoma hepático em canino idoso: relato de caso

Edmilson Rodrigo DanezeAline Gomes de Campos

RESUMOEste trabalho tem por objetivo relatar um caso de ruptura de hemangiossarcoma hepático

em um canino idoso, macho, com aproximadamente 10 anos de idade, da raça Dálmata. Devido à morte súbita, o referido animal foi encaminhado ao Departamento de Patologia Animal do Hospital Veterinário da Faculdade Dr. Francisco Maeda para exame necroscópico. Durante o mesmo, observou-se hemoperitôneo acentuado e uma massa hemorrágica na face diafragmática do fígado, o que permitiu considerar que o animal foi a óbito por choque hipovolêmico. Mediante os achados histopatológicos, concluiu-se que a massa encontrada se tratava de uma neoplasia, sendo a mesma diagnosticada como hemangiossarcoma. Dessa forma, conclui-se que, dependendo da localização e do órgão acometido, tal neoplasia pode acarretar ruptura com posterior hemorragia, causando a morte do animal.

Palavras-chave: Dálmata. Hemorragia. Choque hipovolêmico. Neoplasia.

Liver hemangiosarcoma rupture in ancient dog: Case report

ABSTRACTThis study reports a case of hepatic hemangiosarcoma disruption in a male, approximately

10 year-old Dalmatian. Due to sudden death, this animal was referred to the Animal Pathology Department at the Veterinary Hospital of Dr. Francisco Maeda College for autopsy. The autopsy discovered a sharp hemoperitoneum and a hemorrhagic mass in the liver’s diaphragmatic face, which led to the conclusion that the animal died of hypovolemic shock. Through histopathological fi ndings, we concluded that the discovered mass was a neoplasia, diagnosed as being the same hemangiosarcoma. We conclude that, depending on the location and affected organ, the hemangiosarcoma may lead to rupture with subsequent hemorrhage, causing the death of the animal.

Keywords: Dalmatian. Hemorrhage. Hypovolemic shock. Cancer.

INTRODUÇÃOOs avanços ocorridos nos últimos anos no campo da Medicina Veterinária

contribuíram para o estabelecimento e consolidação de melhorias nas condições de sobrevivência dos animais de companhia, acompanhadas por maior interação entre

Edmilson Rodrigo Daneze – Aluno do Programa de Aprimoramento em Clínica e Cirurgia Veterinária. Faculdade Dr. Francisco Maeda (FAFRAM/FE).Aline Gomes de Campos – Professora Mestre. Departamento de Patologia e Morfologia Animal. FAFRAM/FE.Endereço para correspondência: FAFRAM/FE, Rod. Jerônimo Nunes Macedo, Km 01, Bairro das Acácias, 14500-000, Ituverava-SP, Brasil. E-mail: [email protected]

n.2v.9Veterinária em Foco jan./jun. 2012p.189-198Canoas

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proprietários e seus animais, permitindo-lhes ampliar sua expectativa de vida. Com estes fatores, surge também a necessidade de dedicar maior atenção às afecções consideradas outrora raras devido à concentração de sua prevalência em indivíduos de idade avançada, como as neoplasias (ROCHA, 2008; FERRAZ et al., 2008).

Os cães podem ser considerados idosos assim que atingirem o terço fi nal de sua expectativa de vida. O cuidado passa, então, a ser maior com esse animal, devido à tendência em desenvolver doenças renais, ósseas, hepáticas e diabetes (WALTHAN NEWS, 2008). Atualmente, as neoplasias passaram a se enquadrar neste contexto, pois sua ocorrência torna-se cada vez mais rotineira na prática veterinária (FERRAZ et al., 2008). Nos Estados Unidos, em levantamento feito a partir de 2.000 necropsias, 45% dos cães que viveram até dez anos de idade tiveram morte relacionada a doenças neoplásicas (WITHROW, 2001).

Os hemangiomas/hemangiossarcomas são neoplasias que se originam das células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos (JONES et al., 2000; MEUTEN, 2002; RASKIN, 2003; BERSELLI et al., 2009).

Os hemangiossarcomas, também denominados hemangiomas malignos ou hemangioendoteliomas, formam massas celulares sólidas ou massas vermelhas a vermelho-escuras preenchidas por sangue com espaços vasculares histologicamente indefi nidos, de ocorrência solitária ou múltipla (VLEET; FERRANS, 1998; JONES et al., 2000; MEUTEN, 2002; VAN DIJK et al., 2008; BERSELLI et al., 2009). Comumente são encontradas áreas hemorrágicas e de necrose, porém são pouco circunscritos, não encapsulados, e frequentemente aderidos a órgãos adjacentes (MACEWEN, 2007). Apresentam-se altamente vascularizados e invasivos e tendem a se disseminar rapidamente através dos vasos sanguíneos e linfáticos (JONES et al., 2000; BORTOLUZZI et al., 2008). É considerada uma neoplasia extremamente agressiva (FERRAZ et al., 2008), vista como uma doença multicêntrica e, na maioria dos casos, parece ser de natureza espontânea (JONES et al., 2000). A etiologia é desconhecida, porém descreve-se o desenvolvimento da afecção associada à exposição solar ou predisposição genética (HARGIS et al., 1992; FERRAZ et al., 2008; BERSELLI et al., 2009).

Cães da raça Pastor Alemão são acometidos com maior frequência, seguidos por Golden Retriever, Labrador, Boxer, Schnauzer, Pointer, Pitbull, Boxer e Dálmata, sendo que a ocorrência é maior em indivíduos com idade acima dos oito anos, ou seja, animais idosos. Contudo, a predisposição sexual ainda não se encontra claramente defi nida (PASTOR, 2002; SCHULTHEISS, 2004; FERRAZ et al., 2008).

DESCRIÇÃO DO CASOUm canino macho da raça Dálmata, com aproximadamente 10 anos de idade, foi

encaminhado ao setor de Patologia Animal do Hospital Veterinário da Faculdade Dr. Francisco Maeda para exame necroscópico devido à morte súbita dias após ser submetido a procedimento de cistotomia para remoção de urólitos.

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A necropsia e a avaliação macroscópica dos órgãos foi realizada conforme proposto por Barros (1998), a colheita e remessa de material para processamento histopatológico foi feita seguindo as recomendações de Serakides (1996) e a análise histopatológica mediante as orientações de Williams (1997).

Durante o exame necroscópico, observou-se a presença de hemoperitôneo grave. Ao exame macroscópico detalhado da cavidade abdominal, constatou-se que o fígado apresentava-se congesto e, na face diafragmática do lobo lateral esquerdo, havia a presença de uma massa de aproximadamente 5,0 cm de diâmetro, com grande quantidade de sangue e presença de coágulos (Figura 1), sugerindo ruptura com o animal ainda vivo, causando hemorragia interna e posterior choque hipovolêmico. Após dissecação e exame do órgão observou-se presença predominante de material sanguinolento, aspecto friável e sem características de tecido hepático ou glandular, apresentando grandes espaços sanguíneos e margens bem delimitadas, assim como evidente na face diafragmática do órgão. Macroscopicamente não foram localizados outros sítios neoplásicos. Sendo assim, foi coletado material para avaliação histopatológica, acreditando-se na possibilidade de ruptura de um hemangioma/hemangiossarcoma hepático primário.

No exame histopatológico, a lesão foi diagnosticada como hemangiossarcoma, caracterizado por proliferação neoplásica de células endoteliais, não delimitada e não encapsulada. Essas células apresentavam pleomorfi smo elevado, núcleos anaplásicos e alongados, cromatina pouco vesiculosa e nucléolos múltiplos e proeminentes. Observou-se disposição irregular das células endoteliais neoplásicas, arranjadas em canais vasculares rudimentares preenchidos por eritrócitos e várias fi guras de mitose. Assim como áreas extensas de hemorragia e degeneração dos hepatócitos adjacentes à proliferação neoplásica e presença discreta e multifocal de hemossiderose (Figura 2).

FIGURA 1 – Em A, imagem fotográfi ca da face diafragmática do fígado do animal apresentando lesão decor-rente de ruptura. Em B, superfície de corte da lesão hepática encontrada no animal, onde se observa a

presença de sangue e coágulos.

A B

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FIGURA 2 – Fotomicrografi a da lesão encontrada no fígado do animal. Observa-se proliferação neoplásica de células endoteliais, não delimitada e não encapsulada, apresentando pleomorfi smo elevado, núcleos

anaplásicos e alongados (setas amarelas), cromatina pouco vesiculosa e nucléolos múltiplos e proeminentes (setas verdes). Observa-se, também, áreas de hemorragia e degeneração de hepatócitos adjacentes

a proliferação neoplásica. H&E, 20X.

DISCUSSÃOCom o resultado conclusivo do exame histopatológico, comprovou-se, através

das características observadas, de que a lesão acometida por ruptura se tratava de um hemangiossarcoma (VLEET; FERRANS, 1998; MEYER, 2003; MACEWEN, 2007; VAN DIJK et al., 2008).

Os hemangiossarcomas podem desenvolver-se primariamente em qualquer órgão, contudo são mais comuns em órgãos altamente vascularizados, como o baço, pele e coração (VLEET; FERRANS, 1998; MEUTEN, 2002; PASTOR, 2002; BERSELLI et al., 2009). Em estudo retrospectivo de 761 neoplasias cutâneas em cães, provenientes do arquivo de biópsias do Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (LPV-UFSM) no Rio Grande do Sul, encontraram-se 25 hemangiossarcomas, ou seja, 3,3% dos casos (SOUZA et al., 2006). Em outro estudo, realizado no Laboratório Regional de Diagnóstico da Universidade Federal de Pelotas (LRD-UFPel) no Rio Grande do Sul, compreendendo cães e gatos, a prevalência da neoplasia foi maior entre os cães, chegando a 92,6% dos animais acometidos, sendo que 47,5% acometeram a pele e 37,5% foram sistêmicos e os órgãos mais atingidos foram o fígado e o baço (BERSELLI et al., 2009).

Neoplasias hepáticas primárias ou metastáticas às vezes aparecem como lesões solitárias, sendo assim, a cavidade abdominal e torácica devem ser minuciosamente examinadas em busca de alterações (NYLAND et al., 2004). No animal em questão, não foram localizados outros sítios neoplásicos durante os

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exames necroscópicos, concluindo-se que se tratava de uma neoplasia primária. Porém, mediante comparação com a incidência encontrada em órgãos como a pele e o baço, os hemangiossarcomas são considerados incomuns quando localizados primariamente no fígado (CULLEN, 2009).

O fígado e os pulmões representam os dois sítios mais comuns para disseminação metastática de neoplasias malignas, sendo que as metástases hepáticas são mais frequentes do que as neoplasias malignas hepáticas primárias (MEUTEN, 2002; D’IPPOLITTO; MUGLIA, 2007; GUNDERMAN, 2007; CULLEN, 2009). No entanto, o hemangiossarcoma apresenta tendência metastática para quase todos os tecidos (BORTOLUZZI et al., 2008; FERRAZ et al., 2008), podendo acometer órgãos como bexiga, aorta, próstata, músculos, pulmões, cavidade oral, rins e útero, porém, são descritas com maior frequência metástases no cérebro, seguido por pele, ossos e glândulas adrenais (HARGIS; GINN, 2009; VALENTINE; MCGAVIN, 2009; ZACHARY, 2009). Pastor (2002) descreve que cerca de 80% dos cães acometidos por hemangiossarcoma podem ter metástases no momento do diagnóstico.

Devido à fragilidade de seus capilares, os hemangiossarcomas são neoplasias susceptíveis à ruptura, com desenvolvimento de hemorragia signifi cativa (SEARCY, 1998; MORRISON, 2002; BERSELLI et al., 2009). Quando localizado em órgãos que possuem grande volume sanguíneo, como o fígado (TAKIMOTO et al., 2001), a hemorragia decorrente de sua ruptura pode levar o individuo a óbito por choque hipovolêmico, devido à diminuição rápida do fl uxo sanguíneo (PAGE; THRALL, 2004; MOROZ; SCHWEIGERT, 2007; FIGHERA et al., 2008; JORGE, 2010). Sendo essa uma das maiores causas de óbito nos animais acometidos (BROWN et al., 1985), fato compatível com o caso relatado.

Na maioria dos casos, os hemangiomas/hemangiossarcomas são assintomáticos (GUNDERMAN, 2007), fato compatível com o presente caso. No entanto, doenças hepáticas como neoplasia, intoxicação, infl amação, traumatismo mecânico, obstruções biliares, entre outras, causam distúrbios que promovem lesão de hepatócitos e/ou colestase e, progressivamente, insufi ciência hepática (JONES et al., 2000; KERR, 2003; LASSEN, 2007; CULLEN, 2009). Contudo, Lassen (2007) refere que deve ocorrer perda de 70 a 80% da massa hepática funcional para que a insufi ciência hepática se instale.

A ocorrência de um hemangiossarcoma hepático pode causar compressão dos hepatócitos adjacentes, ocasionando disfunção hepática progressiva (BORTOLUZZI et al., 2008) e, consequentemente, lesão com liberação de substâncias ou enzimas no sangue (LASSEN, 2007). Os parâmetros clinico-patológicos usados para avaliar o fígado refl etem os componentes estruturais e podem ser divididos em testes de enzimas séricas e testes funcionais (MEYER et al., 1995).

O conhecimento da anatomia normal do órgão e das características no imageamento das lesões patológicas é fundamental para a detecção de alterações hepáticas (GUNDERMAN, 2007). Jorge (2010) refere que os hemangiomas/hemangiossarcomas podem ser visualizados, ao acaso, durante o exame ultrassonográfi co. Contudo, um

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parênquima normal visibilizado durante a ultrassonografi a não exclui uma doença hepática, da mesma forma que um achado anormal pode não ser patognomônico (NYLAND et al., 2004; GARCIA, 2011). Dessa forma, o conhecimento dos sinais, das manifestações clínicas e da evolução dos distúrbios hepáticos facilita a seleção de exames diferenciados, de imagem ou não, para o correto diagnóstico da afecção (GUNDERMAN, 2007; MORIM, 2008).

No entanto, o principal motivo de dúvidas com relação à presença de uma neoplasia hepática é diferenciá-la entre neoplasia primária ou metástase (GUNDERMAN, 2007). D’Ippolitto e Muglia (2007) referem que tal diagnóstico de metástase hepática pode ser feito através da ultrassonografi a, da tomografi a computadorizada ou da ressonância magnética na presença de nódulos com aspecto “em alvo”. Sendo este o sinal diagnóstico mais efi caz e correspondente a uma conjunção de fatores como infi ltração do parênquima hepático adjacente, compressão de áreas sadias e presença de neovascularização neoplásica na periferia da lesão. As metástases hipervasculares são mais bem identifi cadas na fase de contrastação arterial, entre 20 a 50 segundos após o inicio da injeção de contraste. No entanto, em caso de fígado esteatótico, cerca de 20% dos hemangiomas/ hemangiossarcomas tem apresentação atípica em pelos menos um método de imagem.

Em casos questionáveis ou inconclusivos, devem ser sempre correlacionados os achados clínicos, bioquímicos ou, ainda, mediante a realização de um ou mais métodos de diagnóstico por imagem (KEALY; MCALLISTER, 2005; NYLAND et al., 2004; SALGADO et al., 2007; SARTOR, 2008; SANTOS, 2009).

Baseado nessas informações, em casos de alterações hepáticas que permaneçam inconclusivas após exames clínicos ou de imagem, a laparotomia exploratória associada à biopsia tecidual é necessária para o diagnóstico conclusivo (TOSTES; BANDARRA, 2002; DAY, 2004; FOSSUM 2005; GUNDERMAN, 2007; MOMM, 2008), sendo que o exame histopatológico é essencial para a diferenciação entre hemangioma e hemangiossarcoma (PASTOR, 2002; NYLAND et al., 2004; SIMON, 2006; TEIXEIRA; LAGOS, 2007; BORTOLUZZI et al., 2008).

CONCLUSÃOO hemangiossarcoma, quando localizado em órgãos que possuem grande volume

sanguíneo circulante, como o fígado, pode causar ruptura e resultar em hemorragia grave causando a morte do animal. Contudo, a realização de exames clínicos e laboratoriais, associados aos de imagem, realizados de maneira rotineira em animais idosos ou com predisposição racial ou genética, podem antecipar o diagnóstico da afecção e favorecer seu tratamento.

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Recebido em: ago. 2012 Aceito em: out. 2012

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Normas editoriais

POLÍTICAS E REGRAS GERAISA revista VETERINÁRIA EM FOCO, publicação científi ca da Universidade Luterana

do Brasil (ULBRA), com periodicidade semestral, publica artigos científi cos, revisões bibliográfi cas, relatos de casos e notas técnicas referentes à área de Ciências Veterinárias, que a ela deverão ser destinados com exclusividade. É editada sob responsabilidade do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.

Os artigos científi cos, revisões bibliográfi cas, relatos de casos e notas devem ser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fonte 12, Times New Roman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4 (21,0 x 30,0 cm), margem direita 2,5cm e esquerda 3cm. As páginas devem ser numeradas e rubricadas pelos autores. Os trabalhos devem ser acompanhados de ofício assinado pelos autores.

Os artigos serão submetidos a exame por 3 pesquisadores com atividade na linha de pesquisa do tema a ser publicado, tendo a Revista o cuidado de manter sob sigilo a identidade dos autores e dos consultores. Disquetes serão solicitados após a submissão dos trabalhos e aprovação pelos consultores.

1- O artigo científi co deverá conter os seguintes tópicos: título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; INTRODUÇÃO (com revisão da literatura); MATERIAL E MÉTODOS; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; AGRADECIMENTOS; REFERÊNCIAS.

2- A revisão bibliográfi ca deverá conter: título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS.

3- A nota deverá conter: título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; seguido do texto, sem subdivisão, abrangendo introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusão, com REFERÊNCIAS.

4- O relato de caso deverá conter: título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; INTRODUÇÃO (com revisão de literatura); RELATO DO CASO; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS.

ORGANIZAÇÃO DO TEXTOTítulo

Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto fi nal, em português e inglês.

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Autores

Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguido de informação sobre atividade profi ssional, maior titulação e lugar/ano de obtenção, Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail.

Resumo e abstract

O resumo deve ser sufi cientemente completo para fornecer um panorama adequado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após, indicar as palavras-chave / key words (mínimo de três) para indexação.

Citações e referências

Citações bibliográfi cas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIAL E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científi co, conforme exemplo: um único autor (SILVA, 1993); dois autores (SOARES; SILVA, 1994); mais de três autores (SOARES et al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírgula dentro do parênteses (SOARES, 1993; SOARES; SILVA, 1994; SILVA et al., 1998).

Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023).

Tabelas e fi guras

As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com números arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à do texto, mas em tamanho menor.

As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas.

Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto.

Endereço para correspondência

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