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IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA 2012 Anselmo Borges João Gouveia Monteiro COORDENAÇÃO AS RÊS RELIGIÕES DO LIVRO T Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

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“Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso globo com paz e justiça sem um novo paradigma de relações internacionais, baseado em padrões éticos globais.” Foi sob o signo desta declaração, feita pelo célebre teólogo Hans Küng na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Novembro de 2001 (na linha da “Declaração de uma Ética Mundial” aprovada em 1993 pelo Parlamento das Religiões Mundiais que reuniu em Chicago mais de 200 representantes de todas as religiões do mundo), que a Imprensa da Universidade de Coimbra convidou, em Novembro de 2010, um conjunto de especialistas para discutirem as premissas e as condições actuais do diálogo inter-religioso. A iniciativa congregou representantes e estudiosos das religiões proféticas (as três grandes religiões abraâmicas ou ‘religiões do livro’: judaísmo, cristianismo e islão) e das religiões místicas, tendo suscitado um interesse assinalável e que comprova a urgência desta discussão no mundo actual. O volume que agora se publica constitui a memória enriquecida desse evento e pretende também ser um contributo e um impulso para outras iniciativas congéneres.

Anselmo BorgesPadre da Sociedade Missionária Portuguesa. Estudou Teologia (Universidade Gregoriana, Roma), Ciências Sociais (École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris) e Filosofia (Universidade de Coimbra). Leccionou Filosofia e Teologia na Universidade Católica Portuguesa e no Seminário Maior de Maputo, Moçambique. É docente de Filosofia (Antropologia Filosófica, Filosofia da Religião, Ética, Mulheres e Religiões) na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Algumas das suas publicações: Marx ou Cristo?; Janela do (In)visível; Religião: Opressão ou Libertação?; Morte e Esperança; Corpo e Transcendência; Deus no século XXI e o futuro do cristianismo (coord.); Janela do (In)finito; Deus e o sentido da existência; Religião e Diálogo Inter-Religioso (esta última editada em 2010 pela Imprensa da Universidade de Coimbra). É colunista do “Diário de Notícias” sobre temas de religião.

João Gouveia MonteiroProfessor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde, ao longo das últimas três décadas, ensinou história política, história cultural e das mentalidades, história da educação e história militar da Antiguidade e da Idade Média. Coordenou a obra Diálogo de Civilizações. Viagens ao fundo da História em busca do tempo perdido, publicada pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 2004. Como Pró-Reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra (2003-2007) e como Director da Imprensa da Universidade de Coimbra (2009-2011), desenvolveu diversas actividades de sensibilização para o diálogo cultural e inter-religioso e de promoção do livro e da leitura entre os jovens. A Imprensa da Universidade de Coimbra reuniu recentemente em livro as crónicas que sobre estas e outras matérias escreveu no “Diário de Coimbra” entre 2009 e 2011 (Crónicas de História, Cultura e Cidadania, IUC, 2011).

Série Documentos

Imprensa da Universidade de Coimbra

Coimbra University Press

2012

9789892

601472

IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA2012

Anselmo BorgesJoão Gouveia MonteiroCOORDENAÇÃO

ASRÊS RELIGIÕES DO LIVROT

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Isabel Allegro de Magalhães14

monoteÍsmo( s ) e fundamental ismo (s )

A difícil interrogação entregue aos três participantes desta Mesa –

O monoteísmo conduz ao fundamentalismo? – fez-me pensar na sábia frase

de Tchouang-tseu, quando num texto taoísta sobre o Uno diz: Ficam as

perguntas. Aguardam-se as respostas15. Talvez não seja possível mais do que

isso mesmo, mas sossega-nos Hans-G. Gadamer, ao dizer que as perguntas

hão-de condicionar as respostas.

I. Monoteísmo(s) e fundamentalismo(s)

Uma das coisas que pode suscitar a pergunta quanto a se há ou não no

conceito e na prática do monoteísmo algo intrínseco que incite ao fundamen-

talismo e propicie violência em palavras e actos (para além das questões “de

princípio”, é claro) é o facto de, ao mesmo tempo, se presenciar duas coisas

opostas: por um lado, conhecermos circunstâncias exemplares de grande

respeito e admiração até entre os monoteísmos, e de estes para com outras

religiões; por outro lado, sabermos que a maior violência religiosa exercida

na História foi (e ainda é) levada a cabo por monoteísmos. (Naturalmente,

sem aqui mencionar outras formas de violência, e não menor, totalmente

autónomas em relação a religiões, ligadas a ideologias, elas próprias já

quase “religião”).

14 Universidade Nova de Lisboa. 15 Agradeço a Yvette K. Centeno o acesso a este texto.

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