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“Caravana do Selo UNICEF 2006”

Equipe Unicef Recife 2006

Fábio Atanásio de Morais Coordenador

Ana Maria Andrade de Azevedo Oficial de projetos

Jane Andrade dos Santos Oficial assistente de projetos

Telmo Teixeira de Barros Assistente administrativo

Lúcia Paiva - Secretária

Irinéia de Freitas - Recepcionista

Daniel Lima - Motorista

Maria José Gouveia dos Santos Apoio

Consultores: Conceição Cardozo (monitoramento e avaliação)

Inácio França (comunicação)

Lima, Samarone. Caravana do Selo Unicef 2006. Recife, Unicef, 2006 (Coleçao Faz e Conta vol III). 88 p.

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SumárioPrimeira semana 7Segunda semana 41Terceira semana 65

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Coordenação de Produção: Fabio Atanasio (UNICEF).

Coordenação Executiva: Ana Azevedo (UNICEF).

Produção Executiva: Valéria Pimentel

Produção: Jane Santos, Irinéia Freitas, Telmo Barros e Conceição Cardoso (UNICEF).

Administração: Lúcia Paiva (UNICEF)

Design Gráfico: Via Design Projetos de Comunicação

Sinalização do microônibus: Divulg Sinalização

Fotografia: Mateus Sá e Luca Barreto (CANAL 03).

Reportagem: Samarone Lima e Inácio França.

Filmagem: Francisco Atanásio Júnior

Confecção dos Baús de Leitura: Paulo Francisco – Artista Plástico

Espetáculo “Brincadeiras de Palhaço”: Circo da Trindade

Palhaça Satélite: Regina Medeiros

Palhaço Bicudo: Jaqueson Santana

Palhaço Maquito: Anderson Santana

Palhaça Sassete: Maria Luíza Trindade

Operador de som e Contra-Regra: Hugo Nascimento

Apresentação com Pernas de Pau: Brincantes Cênicos de Arcoverde Marcelo José dos Santos, Adriano Maciel de Morais, Vera Lúcia dos Santos

Técnico de Som: Valentim Filho

Condução da Equipe: Franklin (MARTUR) e Daniel Lima (UNICEF)

Representação UNICEF em Cerimoniais de Entrega de Troféu, Certificado e Baú de Leitura: Fábio Morais, Ana Azevedo, Lúcia Paiva, Telmo Barros, Irinéia Freitas, Daniel Lima, Jane Santos, Conceição Cardoso e Inácio França.

Ficha Técnica Caravana do Selo UNICEF 2006

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O Selo UNICEF Município Aprovado é, para nós, um processo de mobilização social de atores municipais pela proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes. Entretanto, essa iniciativa não será satisfatoriamente entendida se vista apenas pela lente da mobilização. O melhor e mais real entendimento da iniciativa acontece quando entramos fundo nas dinâmicas que motivam as pessoas do lugar a se irmanarem na formulação, operação e efetivo controle social das políticas publicas para promoção do bem comum.

Nesse contexto, o Selo UNICEF – Município Aprovado se coloca como um vigoroso instrumento que oportuniza, desde o cidadão comum até o mais expressivo dos gestores públicos, o diálogo e a proposição de alternativas que materializem os conteúdos preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

É na esteira desse entendimento que emerge o conceito do Selo como ação sustentada, resultado de uma perfeita combinação da motivação com o conhecimento que a orienta.

Assim, surge a Caravana do Selo UNICEF – Município Aprovado, que vai além da congratulação protocolar na entrega de troféus e certifi-cados: resgata o processo e re-anima os diferentes atores que levaram o município a ser reconhecido pelo UNICEF. Para nós e muita gente que

Apresentação

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a recebeu de braços abertos, a Caravana estimula ações de valorização da atenção integral para cada uma das crianças e adolescentes.

A Caravana do Selo UNICEF também é um instrumento de mo-bilização social, na medida em que comemora com cada protagonista a aprovação municipal. É o encontro entre pessoas que atuaram em inúmeras ações de promoção dos direitos, acreditaram que é possível encontrar soluções e superar os desafios para garantir o desenvolvimento, o aprender, a proteção e o crescimento sem violência de cada criança e cada adolescente, prioridade absoluta das políticas públicas.

Este terceiro exemplar da série Faz e Conta convida a percorrer os mais de 5 mil quilômetros da Caravana do Selo, com a equipe do UNICEF/Re-cife, artistas circenses, fotógrafos, jornalistas e todos os cidadãos e cidadãs que fizeram essa história em dezembro de 2006.

A crônica dessa longa e prazerosa viagem é contada pelo jornalista Sa-marone Lima, autor dois dos primeiros volumes da série (Tempo de Crescer – Saúde na Escola e A vitória da vida – Redução da mortalidade infantil em Alagoas) e de outros dois livros-reportagem: Zé – a biografia de José Carlos da Mata Machado (Editora Lê, 1998) e Clamor (Objetiva, 2005), além coletânea de crônicas Estuário – crônicas do Recife (Bagaço, 2006)

Tome o seu assento nessa viagem que visitou 31 Municípios Aprovados dos Estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco. Na bagagem, levaram e trouxeram novos sons, cores, saberes e sabores de um Semi-árido que não apenas conhece, mas que também reconhece cada um de seus meninos e meninas como verdadeiros sujeitos de direito.

Boa Leitura!

Fabio Atanasio de Morais

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primeira semana 1

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Na tarde do dia 22 de dezembro de 2006, uma animada caravana chegou à praça Dom Malan, no centro de Petrolina, cidade pernambucana

que faz divisa com a Bahia. Do microônibus decorado com fotos de crianças e adolescentes, desceram três artistas montados em suas enormes pernas-de-pau, maquiados e com roupas coloridas, acompanhados por três palhaços. Três integrantes da equipe do UNICEF Recife, um fotógrafo, um videasta e um jornalista completavam o grupo.

O objetivo de todos era entregar à cidade o Selo UNICEF Município Aprovado, obtido junto ao UNICEF, após cumprir vários objetivos de saúde, educação, proteção, e desenvolver projetos e ações com intensa participação social, melhorando as condições de vida das crianças e adolescentes.

O grupo disfarçou o cansaço e fez a festa para as crianças, especialmen-te as 25 que integravam o Coral Infantil da Igreja Batista Emanuel, ligada à APAE, que receberam os convidados com várias canções natalinas. A Caravana encerrava, naquela tarde, uma maratona de 5.205 quilômetros, iniciada três semanas antes, quando saiu do Recife, rumo a João Pessoa. A “trupe” percorreu 30 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, que conseguiram obter o Selo1. Na bagagem, além do Selo, o UNICEF entregou 30 “Baús de Leitura” e levou para milhares de crianças e adolescentes a magia do circo.

Coube ao prefeito da cidade, Fernando Bezerra Coelho, relembrar um fato importante. Acontecera justamente às margens do Rio São Francisco, em abril de 2005, o lançamento do Selo UNICEF/Município Aprovado. Era parte da mobilização social para estimular os 1.479 municípios dos 11 Estados do Semi-Árido a participarem da iniciativa, parte do Pacto Nacional Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semi-Árido. Do total, l.l79 municípios se inscreveram.

1 Foram aprovados 31 municípios nos três estados, mas Orobó (PE) preferiu uma solenidade posterior.

primeira semana

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Um ano e sete meses depois, foi suficiente para reduzir em 13,7% a mortalidade infantil e baixar de 9,2% para 6,8% o número de crianças desnutridas nesses 1.179 municípios inscritos no Selo. Cresceu também em 13,3% o número de crianças na educação infantil. Foi o tempo também de incluir 50 mil crianças e adolescentes na série correspondente à sua idade, reduzindo a distorção idade-série.

“Esse é um prêmio simbólico que todos devemos abraçar”, observou o prefeito, que destacou a ampla participação da sociedade civil, funcionários da prefeitura e secretários. Ele lembrou os “grandes e pequenos gestos”, que levaram o município a ser aprovado pelo Selo, e concluiu dizendo que Petrolina deu apenas alguns passos, ao confirmar a prioridade absoluta das crianças e adolescentes.

“Temos outros passos a serem dados”, frisou, repetindo o que vinha sendo dito por outros prefeitos, de cidades as mais diversas, ao longo de três semanas de Caravana.

Coral infantil com 25 crianças recebeu

a caravana do Selo Unicef em

Petrolina

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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Depois da entrega do “Baú de Leitura”, que sempre encerrava as apresentações, os integrantes da Caravana não tiveram dúvida. Foram imediatamente aproveitar o entardecer às margens do Rio São Francisco. Um banho no “Velho Chico” encerrou as três semanas de atividades in-tensas, com uma média de duas apresentações por dia, para milhares de crianças sorrindo para acolher os artistas.

Festa sob a lua cheiaFoi o momento de relembrar a turnê, que saiu do Recife no dia 4

de dezembro e fez a primeira escala no Teatro Santa Roza, em João Pessoa, onde estavam representantes do Governo do Estado, prefeitos e articuladores dos nove municípios paraibanos aprovados no Selo. No final daquela manhã, o grupo seguiu para Serra da Raiz, onde um trio elétrico fazia a recepção da Caravana, acompanhado por mais de 150 crianças. Palhaços e pernas-de-pau seguiram em cortejo até a Praça da Matriz, onde teve início a cerimônia e a festa.

Cerimônia no Teatro Santa Roza, em João

Pessoa, foi o ponto de partida da caravana

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Depois da apresentação do grupo de dança local, foi a vez dos Brin-cantes Cênicos de Arcoverde iniciarem suas acrobacias, em cima de per-nas-de-pau. Marcelo José, de 23 anos, Vera Lúcia, de 18 e Adriano Maciel, de 17, deixaram as crianças embevecidas com uma série de estripulias. Depois, as palhaças do “Circo da Trindade”, Maria Luisa Lopes, de 21 anos, e Regina Medeiros, de 22, junto com os irmãos Jaqueson Santana, de 25, e Anderson Santana, de 20, apresentaram o espetáculo “Brincadeiras de Palhaço”.

A festa da entrega do Selo na cidade foi entrando pela noite, ilumina-da por uma imensa lua cheia. No pátio da Igreja, com as luzes acesas, as crianças acompanharam atentamente toda a apresentação. Ficaram tão em-polgadas com o que assistiram, que não resistiram. Na hora da entrega do “Baú de Leituras”, avançaram para pegar, tocar, ver o que tinha dentro.

Festa em Serra da Raiz começou

à tarde e só terminou quando

a lua saiu

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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Crianças e banda de música

nas ruas de Bananeiras para receber a equipe

do Unicef

Passarinhos livres em BananeirasA Caravana chegou à sede da Prefeitura de Bananeiras às 10h da ma-

nhã do dia 5 de dezembro. Uma enorme mobilização das escolas da cidade levou centenas de crianças às ruas. Muitas estavam defronte ao palanque, e o grupo foi recebido pela secretária de Desenvolvimento Social, Márcia Maria Guimarães Santa Cruz. Ela falou rapidamente sobre uma enorme quantidade de trabalhos e iniciativas que estão sendo desenvolvidas no município, que tem 22.800 habitantes, em esporte, música (como a ban-dinha marcial), artes, resgate do pastoril (que tinha sumido há 40 anos), danças tradicionais (xaxado, ciranda, xote etc).

Enquanto os artistas da Caravana encantavam as crianças com as pernas-de-pau, palhaços, Márcia explicou iniciativas mais simples, que estão mobi-lizando as crianças para o desenvolvimento. Citou o exemplo do programa de rádio “Gente que sabe”, exibido toda sexta-feira, às 15h30, na Rádio AM Integração do Brejo (da Diocese de Guarabira, cidade vizinha). Durante meia hora, crianças e adolescentes da cidade tomam conta do programa, fazem entrevistas, lêem notícias etc. Para fazer este trabalho, há um rodízio entre as 44 escolas, onde estudam cerca de 6.500 alunos. O Programa vem funcionando desde março de 2006, por iniciativa do Selo.

“Três crianças participam ativamente do programa, recebem telefone-mas, dão explicações sobre as campanhas de vacinação, estímulo ao voto, tudo acompanhado por dois professores”, diz Márcia.

“Nós damos informações sobre o município, os fatos mais importantes, falamos sobre a importância do pré-natal e fazemos entrevistas”, conta Adriana Pedro da Silva, de 12 anos. As novas locutoras da rádio têm, em média de 10 a 12 anos. Adla Rafaela, Daniele dos Anjos, Jéssica da Silva, falam com orgulho do Programa, ao lado de André Luiz Souza, Lidiane da Silva, Ana Catarina dos Anjos e Joice da Silva.

primeira semana

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Gilvaniza Maia, secretária de Educação, coordenadora e locutora do Programa, explica que a Prefeitura paga para utilizar a rádio uma vez por semana. A professora Aparecida Marques, surpervisora de educação do município, acompanha o grupo toda semana, e diz que a resposta dos ouvintes é surpreendente. “Vem tanta carta, que fico impressionada”. Ela observa que um dos aspectos mais importantes para as crianças e adolescentes, está relacionado com o desenvolvimento. “A cada dia eles surpreendem mais, e mais crianças querem participar”.

Como o número de candidatos-locutores é muito grande, Aparecida tem que fazer “testes de leitura”. Após uma preparação, surgem as novas estréias. “As crianças sempre colocam coisas que a gente não tinha combinado, têm muita autonomia”, diz. Na última sexta-feira do mês, os alunos da rede pública passam pelo “Dia da Leitura”. A atividade, que visa o estímulo e reflexão sobre a leitura, é feita em todas as escolas, de forma coordenada.

Baú de Leitura reforça o dia

de leitura nas escolas da rede

pública

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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A prefeita Marta Eleonora Aragão recebeu a Caravana. Qualificou como “gratificante” receber o Selo Município Aprovado. “É também um incentivo para os outros municípios, que não conseguiram ser aprovados”, destacou. Ela informou que a ação articulada para o de-senvolvimento das crianças e adolescentes do município envolveu as secretarias de Educação, Ação Social e Saúde. “Todas as mulheres saem da maternidade com um kit-enxoval, o teste do pezinho em seu filho e o registro civil”, frisou.

Ela citou o exemplo do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), desenvolvido em parceria com o Governo Federal. Quando assu-miu, em 2005, ela tinha 600 crianças, divididas em dois turnos. O que ela mais escutava das crianças era apenas uma frase: “nós somos um bando de crianças brincando e brigando”. A situação era tão complicada, que em abril do mesmo ano, todos os secretários da área social entregaram o cargo. Ela teve que contornar a imensa crise, para começar a mudar os rumos para as crianças e adolescentes em Bananeiras.

Atualmente, as oficinas do PETI têm reforços escolares em todas as turmas. Continua com 600 crianças, e outras 200 vagas foram abertas pela própria Prefeitura. “As mães choram para conseguir uma vaga para seus filhos”, diz.

Em meio à animação dos atores na rua, vários profissionais acompa-nhavam seus alunos para a entrega do Selo. O educador Thyago Braz, de 19 anos, faz parte do projeto “Defensor do Meio Ambiente”, criado pela Secretaria de Meio Ambiente.

Através de palestras, passeios ecológicos e debates, os três educadores vão preparando uma nova geração de crianças e adolescentes preocupa-dos com o meio-ambiente. Já são 11 os que se consideram “Defensores”. Uma delas, Ingri Danielle, de 11 anos, levou o assunto tão a sério, que

Compromissso com a natureza

reforçado em Bananeiras

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não teve dúvidas: soltou todos os passarinhos do seu avô, avaliados em mais de R$ 1 mil.

“Gostei muito do passeio ecológico para a reserva de Goiamunduba. Aprendi a não maltratar as árvores, reciclar papel, papelão e outras coisas. Agora estou ensinando o meu pai e minha mãe”, conta Luana da Silva, de 11 anos, estudante da Escola Estadual Xavier Júnior. Thyago Braz explica que o projeto “Defensor” criou uma parceria de reciclagem de papel com a Universidade Federal da Paraíba. Outro que faz questão de vestir a camisa verde do grupo é Eduardo de Araújo Gomes Barbosa, de 11 anos. “Hoje protejo melhor a natureza”, conta.

Em meio à toda agitação, Maria Alaíde dos Santos Bezerra não largava as mãos de algumas crianças da Creche Donzinha Bezerra. Ela tem uma turma com 14 alunos, e passa o dia inteiro acompanhando as crianças. “De manhã, eles têm aulas com uma professora, à tarde com outra. Todos têm uma média de cinco anos, e fico cuidando deles”, explica.

“Foi a vitória do trabalho em conjunto”Araruna mobilizou todas as escolas municipais urbanas (cinco) e rurais

(28), para receber a Caravana. Outras quatro escolas estaduais também entraram no clima de confraternização e reconhecimento. A chegada dos palhaço e pernas-de-pau, defronte à agência do banco do Brasil, foi a senha para iniciar uma caminhada festiva até a Praça Rio Branco, no centro da cidade, onde começou a solenidade.

Um grupo de capoeira fez a apresentação inicial, e o momento da entrega oficial do Selo foi aberto com o hino da cidade. Ana Azevedo, do UNICEF, entregou o troféu e o Selo ao prefeito, Avaíldo Azevedo, destacando os principais avanços obtidos pelo município, para ser um dos selecionados.

“O agradecimento deve ser ao articulador e a todos os secretários, que

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trabalharam juntos pelas crianças e adolescentes do nosso município”, destacou Avaíldo.

No palco, Maria Helena Brito Moreira comemorava em silêncio. Ar-ticuladora municipal, Helena celebrou justamente o que o prefeito citou em seu agradecimento – o trabalho coletivo,

“Juntamos as secretarias de Educação, Saúde e Ação Social, e conse-guimos fazer coisas importantes”, lembrou.

A apresentação teatral dos palhaços da Caravana mobilizou as crianças. Maria Helena destacou a chegada do Baú de Leitura, que chegou justamente quando a cidade estava se inscrevendo no projeto “Pró-Letramento”, do MEC/Governo Federal.

“Foi muito importante o Baú, porque nossos professores estão sendo capacitados para trabalhar com a leitura nas escolas”, observou a articula-dora, logo depois. “Estamos pensando agora em fazer outros baús com nossos próprios recursos”, destacou.

Uma pequena homenagem foi feita aos integrantes da Caravana. Um

O trabalho integrado entre

as secretarias foi celebrado em

Araruna

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bolo foi preparado especialmente para ser oferecido, ao final da cerimô-nia. Após a partilha, a Caravana voltou à estrada. O próximo objetivo era Esperança.

O dia em que cheguei a Esperança “Já são vários dias na estrada, acompanhando uma Caravana do UNI-

CEF. Chegamos, a trupe de artistas faz uma festa imensa com a criançada, palhaços e pernas-de-pau arrancam sorrisos generosos, vou tomando nota de tudo, entrevistando gente. Após a festa, o prefeito recebe um selo de “Município Aprovado”, e seguimos para outro canto. Já fomos para Bana-neiras, Serra da Raíz, Araruna, voltamos para Bananeiras, hoje chegamos em Esperança. Isso só na Paraíba. Depois vem Pernambuco e Alagoas, que conheço bem. Escrevo de Picuí, porque as lan house de Esperança e Bananeiras são lentas, e não dá para postar nada. Foi isso que anotei em meu diário de viagem, pois o fato é que eu estava louco para chegar a Esperança. Só o nome da cidade valia a pena. Já imaginaram a pergunta:

“Você é de onde?”

“Esperancense”.

Eu faria uma licença poética e responderia:

“Sou esperançoso”.

Chegamos a cidade hoje, às 9h04 e pensem num sol do Semi-Árido paraibano. Num lugar simples, o prefeito João Delfino e quase todos os vereadores. Um carro de som foi designado para acompanhar a Caravana desde a entrada da cidade. Tocava o “Tema da Vitória”, aquela música que a TV botava no ar quando o Ayrton Senna ganhava, o que atrapalhou deveras o trabalho musical da Banda Sinfônica Prefeito Luís Martins de Oliveira, fundada a 1 de dezembro de 1973, atualmente com 24 músicos.

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Passamos pelo Supermercado Esperança, Sapataria Esperança, Esperança Temperos, e finalmente o Educandário Santa Catarina de Alexandria, uma santa que, inclusive, eu desconhecia por completo.

Alguém foi designado para ir soltando fogos, o que me preocupou intensamente, porque tinha muita criança no caminho. Chegamos ao Ginásio Vovozão. Parecia dia de clássico. Estava lotado até a tampa. Os palhaços e pernas de pau fizeram a alegria da criançada. Fiquei anotando tudo. Fiquei sabendo que em 2001, apenas 89,01% das mulheres faziam pré-natal. Ano passado, o número passou para 97,35%.

São muitos dados bacanas que o UNICEF acompanhou e cobrou, antes de fornecer o afamado Selo, que dá um cartaz danado para a cidade.

Mas o meu negócio é gente. Conversei com o senhor Thierry Walquer, aluno da terceira série. Antes que me perguntem, o nome dele é esse mes-mo, igual ao francês que botou a gente pra fora da Copa. Ele resolveu, por conta própria, fazer uma rádio na Escola Municipal Professora Maria Lopes, e conseguiu o apoio da diretora. Todo dia, na hora do recreio, que aqui é às 15h30, tem o programa dele, do Thierry, que tem um sorrisão imenso de bom. O camarada, simpaticíssimo e voz de locutor, coloca músicas, dá recados, avisos sobre a coleta seletiva de lixo. E não tem esse negócio de grade de programação, nada, é na raça mesmo.

“Meus colegas estão adorando”, diz.

Das 27 escolas do município (5.100 alunos), 17 já têm conselhos es-colares registrados. Recebem verba diretamente do MEC, sem passar pela mão do Prefeito, um tal Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Governo Federal, que eu nem sabia existir. Aliás, cada vez mais que viajo pelo interior do Nordeste, especialmente o Semi-Árido, concordo com a idéia de que há brasis que não se encontram e nem sabem um do outro. Tem ricaço no Recife que gasta R$ 3 mil num almoço em restau-

Adolescentes são protagonistas das iniciativas de inclusão na

Paraíba

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rante bacana, e tem escola, por aqui, que faria uma revolução na cidade com metade desse dinheiro.

Foi uma manhã inteira de apresentações. Vi o Corpo de Danças Xi-que-Xique, um aluno de uma escola tocou flauta doce (a insuperável Asa Branca, música predileta de qualquer tocador de flauta doce), vi os alunos de uma creche dançarem, vi os alunos da APAE se apresentarem, vi a Capoeira de sempre, vi o coral “Cantando Esperança”.

Vi mais que isso. Vi professores com os olhos brilhando com seus alu-nos, vi gente simples bem vestida, vi mães contentes porque os filhos estão sabendo ler, vi uma escola entupida de livros já para o ano que vem.

Saímos do Vovozão depois do meio dia, o sol nos cascos. O negócio é cansativo, não dá tempo nem de chegar, fazer amizades, que o ônibus do UNICEF já está saindo para outra cidade. Até dia 23, serão mais 28 cidades, creio, que andam se enchendo de esperança.

Iniciativas e programas sociais

bem-sucedidos: Esperança faz juz

ao nome

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Vou correndo, que a Caravana está saindo. Perdão pelos erros, é que estou escrevendo às pressas, nem deu tempo falar do agente de saúde que quase me fez chorar, mas isso é coisa para outro dia, quando a poeira baixar”.

“Picuí conquistou”A praça central de Picuí estava repleta de crianças. Um detalhe da

organização do município, que também se espalharia por várias outras cidades do Semi-Árido: foram confeccionadas diversas camisas com a logomarca do Selo e os dizeres: “Picuí conquistou”.

A filarmônica Coronel Antônio Xavier, fundada em 1883, orgulhosa-mente apontada pelos músicos como “a segunda mais antiga da Paraíba”, recebeu a Caravana. Os 29 músicos abriram a caminhada, sendo acom-panhados por alunos de várias escolas municipais e 60 crianças do Peti. Thenis Macedo, educadora social do PETI, organizou a apresentação do

Festas em ginásios esportivos

marcaram as visitas da Caravana

primeira semana

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“Sexteto de Flauta”. Ela contou que os meninos ficam de manhã realizando atividades do Programa, e à tarde vão para a escola. O Projeto “AABB Comunidade” acompanha outras 150 crianças da cidade.

Em meio à algazarra das crianças, palhaços, educadores, estava Ângela Maria Dantas, que é voluntária da Escola Municipal Ana Maria Gomes. Sua filha, Elizângela Silveira Dantas, de 11 anos, estuda na 6a série. “Tudo o que tiver de atividade na escola, eu ajudo. Se acho que minha filha está escrevendo e a escola está sendo boa, eu ajudo”, diz. Ela gosta de participar de qualquer iniciativa e se denomina uma “amiga da escola”.

Para receber a Caravana, Ângela foi à escola no dia anterior. Ajudou

Em Picuí, as famílias das crianças ajudaram a organizar

a recepção à Caravana do Unicef

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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os professores a pintarem faixas, preparou fantoches, deu sugestões na programação.

“Enchi tanta bola que estou com os lábios assados”, disse.

O cortejo dos pernas-de-pau até a Igreja de São Sebastião foi acompa-nhado por cerca de 2 mil pessoas, a maioria crianças. Gilma Vasconcelos da Silva Germano, secretária de Ação Social e articuladora municipal, disse que o município conseguiu o Selo graças ao trabalho integrado das várias secretarias.

Entre as várias iniciativas, ela destacou o Programa Bêbê do Futuro, que envolve saúde, prevenção social e educação. “Cuidamos das nossas crianças a partir da gestação”, explicou Gilma. Neste período, a mãe tem o acompanhamento pré-natal e teste de HIV. Ao final, se cumprir os ob-jetivos do Programa, a mãe recebe um kit básico e sai do hospital com a certidão de nascimento.

Outra iniciativa do município foi estimular doações para o Fundo Mu-nicipal da Criança e do Adolescente. O programa “Adote uma criança”, que prevê jornada ampliada, com aulas de música, dança, pintura, conse-guiu envolver 120 crianças, com uma forte participação dos empresários da cidade.

“Estamos todos muito felizes, satisfeitos. A gente sempre se reúne, vê os indicadores, cobra das equipes. Todos sabem que o Selo é resultado da participação deles”, diz a articuladora, se referindo aos funcionários da Prefeitura que se envolveram na mobilização pró-Selo.

Depois de percorrer as cidades da Paraíba e entregar quatro selos, a caravana foi para Campina Grande, onde pernoitou. No dia 7 de dezem-bro, foi a vez de ir ao Recife, no Palácio do Campo das Princesas, onde o governador Mendonça Filho recebeu 15 prefeitos e articuladores dos municípios aprovados em Pernambuco.

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Os palhaços e pernas-de-pau receberam os convidados à saída do Palácio. Ao final da manhã, a caravana já estava de volta à estrada. O ob-jetivo era chegar a Camutanga, primeira cidade pernambucana a receber a Caravana. O restante da Paraíba ficaria para outro momento. Até o domingo, dia 10 de dezembro, a Caravana teria muito chão pela frente. Depois de Camutanga, seriam visitados Lagoa do Carro, João Alfredo, Limoeiro, Casinhas e Chã de Alegria.

Camutanga: “E os resultados?”Um grupo de integrantes do projeto “Saber Viver”, programa social da

Associação Atlética Banco do Brasil que atende a 110 adolescentes, recebeu a Caravana em Camutanga, à entrada da cidade. Três vezes por semana, eles têm acesso à AABB de Timbaúba, cidade a 15 quilômetros, onde têm aulas complementares de música, praticam esportes etc. A AABB fornece material didático, alimentação e a estrutura física, enquanto a prefeitura entra com transporte e pagamento de monitores e psicólogos.

Parada no Palácio do Governo de

Pernambuco, antes de voltar para a estrada

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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No trajeto até a Casa de Festejos “O Gonzagão”, onde seria feita a entrega do Selo, a articuladora Zilma Albuquerque, fez informou à po-pulação, através do carro de som, sobre os principais índices de desen-volvimento da cidade.

“E aí, gente? E os resultados? Temos 8.000 moradores, e 39,5% de-les é de crianças e adolescentes. Nosso IDH, que era de 0,48, subiu para 0,54”, explicava.

Apesar de ser uma linguagem difícil, dava para entender que algo na cidade tinha mudado para melhor. A estudante Laysa Correia, de 13 anos, que cursa a 7ª série da Escola Municipal Júlio Maria, acompanhava a ca-minhada com pernas-de-pau e palhaços, e confirmou em outras palavras o que a articuladora mostrou em números.

“A escola está melhor mil vezes. Os professores estão melhor capa-citados, tiram qualquer dúvida. Melhorou muito o transporte da zona rural. Antes, os estudantes vinham de caminhão e a pé. Hoje, temos

Crianças beneficiadas por projeto da AABB acolhe a caravana

em Camutanga

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ônibus”, disse. Ela também elogiou bastante a merenda escolar, que tem sopa, galinha, inhame etc. Laysa pretende ser professora, porque adora estudar Inglês.

Já próximo ao “Gonzagão”, várias faixas davam boas-vindas à Cara-vana UNICEF:

“Camutanga recebe a Caravana do UNICEF de braços abertos”.

Cerca de 500 crianças estavam na casa de festejos. Um grande mural foi preparado, mostrando ações como a mobilização contra a dengue, entrega de enxovais às mães, campanhas de vacinação etc. Dados mostravam, por exemplo, que a taxa de desnutrição no município, que era de 13,28% em 2003, reduziu para 1,34% em junho de 2006.

Em seu discurso, o prefeito Armando Pimentel lembrou que a cidade já chegou a ter 129 mortes por mil nascidos. Hoje, o número reduziu para 19 por mil.

“Por este Selo, vamos lutar mais ainda”, garantiu, antes de começar as apresentações dos artistas da Caravana.

Jane Andrade, membro da equipe UNICEF Recife, lembrou que Ca-mutanga foi a cidade que mais avançou em Pernambuco.

“Quero estar daqui a dois anos, dizendo que Camutanga é bi-campeã”, complementou.

“A gente conquistou”

O dia 7 de dezembro foi o mais longo e cansativo da Caravana. O

grupo se deslocou de Camutanga a Limoeiro, chegando já à noite. À en-

trada da cidade, a articuladora Georgina Maria, secretária de Assistência

Social, estava esperando, para dar início a uma grande carreata pelas ruas

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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da cidade. Às 19h40, uma salva de fogos deu início à carreata, que atra-

vessou os vários bairros de Limoeiro.

Quase uma hora depois, o cortejo chegou à Praça da Bandeira, onde um grande palco foi montado, especialmente para o evento. A Orquestra Municipal 25 de Setembro, sob a regência do maestro Pepêe, abriu a ce-rimônia, com uma seleção de frevo. Georgina foi a primeira a falar.

“Não é que a gente ganhou. A gente conquistou. Maestro Pepêe, o padre, a irmã Marta etc”.

Uma faixa ao lado do palco homenageava as crianças da cidade:

“Uma cidade é feita da invenção dos homens e dos sonhos das crianças”.

Ao final da cerimônia, a secretária de Educação, Nelma Bezerra, re-cebeu o “Baú de Leitura”.

Em Limoeiro, a única festa noturna

da longa viagem.

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Uma cidade em festaCapoeiristas, grupo de caboclinhos do PETI, pessoas em situação de

deficiência, crianças que tocavam flauta, grupo de idosos em movimen-to, exposição de fotos, integrantes do “Alô Dr. Saúde”, que fazem uma campanha de prevenção ao HIV, além de muito algodão doce, picolé e pula-pula, receberam a Caravana, na manhã do dia 8 de dezembro. Lagoa do Carro estava literalmente em festa.

Um bloco de agentes de saúde, vestidos de palhaço, se encontrou com os palhaços da Caravana.

“A gente usa fantoches, faz animação como palhaços. O objetivo é fazer nosso trabalho de maneira divertida”, explicou Josineide Maria dos Santos, 32 anos, agente de saúde há 11.

Enquanto o prefeito Antônio Carlos Guerra Barreto agradecia a pre-sença da Caravana e explicava que “o prefeito não faz nada só”, a enfer-

Em Lagoa do Carro, agentes de saúde

seduzem as crianças com alegria

Caravana Selo Unicef Município Aprovado

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meira Luzia Alves, do Programa de Saúde da Família, mostrava que a frase fazia sentido. Ela aproveitou a festa para distribuir dezenas de panfletos com informações sobre DST/AIDS.

Uma pequena barraca, próxima ao palco, tinha uma encenação paralela. Eram os bonecos da Vigilância Epidemiológica e Ambiental. Os artistas que manipulavam os bonecos eram funcionários da Secretaria Municipal de Saúde, que davam informações sobre a questão da transmissão do HIV, numa linguagem fácil e divertida.

Em meio às muitas atividades, o índio Fulniô Paulo Roberto de Moura, o Peri, de 26 anos, organizava o enceramento de sua apresentação, junto com os alunos de caboclinhos. Ele mora em Paudalho, e desde pequeno está em contato com sua tribo, “para não perder as origens”. Ele ensina a dança para 80 alunos do PETI, espalhados nos colégios do município.

“Ensino gaita, caboclinhos, fazemos as flexas, tudo é com a gente”, explica.

Caboclinhos dos Índios fulniôs: Selo

UNICEF em defesa da diversidade

étnica e cultural.

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Ele aprendeu as danças e tradições de sua tribo especialmente com o tio, Elias Gomes da Silva, o Imperia, de 64 anos, também professor no município. “Foi ele quem me ensinou tudo”, diz.

A festa na cidade terminou com uma dança de um grupo de pessoas com deficiência auditiva.

Onde estão as crianças e adolescentes?A chegada ao município de Casinhas foi cercada de expectativa. Um

dos menores municípios de Pernambuco recebeu a Caravana com uma carreata pelas principais ruas da cidade, até o Palácio Municipal Miguel Agostinho Barbosa, sede da prefeitura. Para a surpresa dos artistas e equipe do UNICEF, quase não se via crianças ou adolescentes nas ruas, a exemplo do que acontecera em outras cidades. Especulava-se em torno do sol forte do Semi-árido, como um dos fatores do “deserto de crianças”.

Multidão à espera dos artistas da

trupe do UNICEF em Casinhas.

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A surpresa estava no ginásio coberto, ao lado da Prefeitura, repleto de crianças e adolescentes. A chegada dos pernas-de-pau e palhaços foi saudada pela Banda Fanfarra São Luís. Somente às 16h20, teve início a cerimônia oficial. A articuladora local, Maria D’Alva Marcos, secretária de Ação Social, lembrou a articulação de vários setores, para que o Selo fosse conquistado.

“Este selo não veio de mão beijada. Temos que fazer tudo de melhor para a criança e o adolescente”, frisou, numa mesa composta por diversos representantes de diversos órgãos do Executivo, Legislativo e sociedade civil.

A apresentação teatral dos palhaços do Caravana foi acompanhada atentamente por centenas de crianças e adolescentes, mas alguns tinham um olhar mais técnico para o trabalho. Márcio da Silva, de 19 anos, e Maria Lucivânia da Silva, de 18, estudantes da Escola São Luís, integrantes do grupo teatral “Alpargatas de Virgulino”, queriam aproveitar o espetáculo para ver novas técnicas teatrais.

Eles eram alguns dos muitos frutos de um trabalho envolvendo aulas de teatro com o professor Igor Alexandre, há dois anos. “Isso marcou muito a Escola. Hoje, esses alunos estão dando aulas de teatro em outras escolas”, observou Elaine Cardoso Leal Silva, diretora da Escola São Luís, que atende a 1.500 alunos nos três turnos.

Uma semana antes da visita da Caravana, foi realizado um Festival de Teatro, envolvendo todas as 10 escolas do município, com a participação direta de mais de 2.000 pessoas. Márcio e Maria, que estudaram teatro, foram convidados para ser jurados.

“O teatro foi muito importante para mim. Superei minha timidez, bus-quei conhecimentos e hoje me sinto mais desenvolvida”, observou Maria. A influência do trabalho acabou definindo os objetivos profissionais dos

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dois.“Quero ser professor de teatro ou ensinar no primário”, conta Márcio. Sua amiga diz “estar lutando” para ser professora – de teatro, claro.

Eles aplaudiram muito o trabalho dos atores recifenses. Ao final, pergun-tei se eles ficam nervosos quando vão entrar em cena, especialmente da peça “Uma paixão para Santinha”, que fala de um homem muito tímido do interior, sem nada para oferecer, que se apaixona por uma moça da capital.

“Já foi o tempo de ficar nervoso. Hoje, a gente fica mesmo é com vontade de se apresentar”.

Após a festa no Ginásio, os integrantes da Caravana embarcaram rumo a João Alfredo. Era tardinha quando todos entenderam o “deserto de crianças” da cidade. Quase todas estavam à espera da “surpresa” do UNICEF.

“Sem amor, não se chega a lugar nenhum”. O sábado de sol em João Alfredo teve um gosto de feriado. Cente-

nas de crianças, de diversas escolas, esperavam a Caravana. O ponto de encontro foi o prédio da Secretaria de Educação. A exemplo de muitas outras cidades que ganharam o Selo, a banda local fez a recepção musical. Desta vez, foi a Banda Fanfarra da Escola José Procópio, com 60 jovens, sob a batuta do maestro José Domingos Pereira. Após uma breve cami-nhada, a Caravana chegou ao Ginásio Poliesportivo, que estava lotado de crianças e seus familiares. Os músicos da Sociedade Musical Dom Bosco continuaram a trilha musical.

A prefeitura cuidou de chamar todos os parceiros para compor a mesa. De diretoras de escolas aos representantes do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. De professores ao padre João Ribeiro. Do presidente do Conselho da Paz à médica, ex-vereadores, coordenadores e professores. Ninguém ficou de fora. O jovem Vinicius foi chamado para representar todas as crianças do município.

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Ana Azevedo, da equipe do UNICEF, resgatou o hino de João Alfredo, cantado pouco antes, que tem o refrão “João Alfredo, teu lema é vencer”, para relacionar com a conquista do Selo.

“Cada criança pode dizer que este município me faz crescer. João Alfredo é vitória. Vitória da atenção integral”.

A prefeita Maria Sebastiana, que beijou uma medalhinha no pescoço e se benzeu, ao ser chamada para a mesa, não escondeu a emoção. Disse que, após dois anos de trabalho, estava vivendo o momento mais emo-cionante de sua vida.

“Não esperava que fosse ter uma família tão grande, tão bonita”, con-fessou. “É bom a gente aparecer na televisão por causa de uma grande conquista. Temos certeza que vamos fazer muito mais”. Depois de um breve silêncio, ela completou:

Povo na rua para celebrar o Selo

em João Alfredo.

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Em meio às comemorações pela obtenção do Selo, o regente José Aldemir da Silva, da Banda Musical Dom Bosco, que conta com 25 mú-sicos e 60 alunos, não escondia a satisfação com um projeto de resgate de jovens da periferia. “São crianças a partir de oito anos”, contou. A banda se mantêm de doações, bailes e repasse de um dinheiro da Prefeitura. Um projeto para o Ministério da Cultura conseguiu viabilizar a aquisição de 13 novos instrumentos.

Um desses jovens é Wellington Fernandes da Silva, de 15 anos, estudan-te da 7ª série. Ele diz que está atrasado na escola porque teve que viajar a São Paulo. “Lá, fiquei sem estudar”, diz. Ele, que não tinha interesse nenhum por música, segurava o trompete, num intervalo da apresentação.

“Eu vi um rapaz tocando e pensei: poxa, é bonito demais! Fui na Dom Bosco e disse que queria aprender. Daqui a alguns anos, quero tocar sax”, frisou.

“Sem amor, não se chega a lugar nenhum”.

Foi a frase que marcou a passagem por João Alfredo

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Para quem andou viajando a São Paulo e ficou longe da escola por algum tempo, a vida de Wellingtom mudou bastante. Está estudando re-gularmente, já toca um instrumento e tem um sonho – ser músico.

“Antes, eu sonhava em ser jogador de futebol. Agora eu só penso em música”.

O presidente da Banda, Edson de Lima, informa que 60 alunos têm aulas de música. No convênio com a Prefeitura, são repassados R$ 500,00 por mês. O objetivo é ampliar o trabalho para a zona rural, um projeto-piloto, para iniciar em 2007.

“Acho que vai dar certo”, avalia.

“Olha a surpresa chegando!” Depois de João Alfredo, a Caravana seguiu para Chã de Alegria. O

evento, cercado de expectativa, só começou às 15h45, na Praça de Eventos. O carro de som avisou às crianças a chegada dos artistas do UNICEF com apenas uma frase:

“Olha a surpresa chegando!”

A orquestra local era bem mais modesta que a de João Alfredo, Somen-te um bumbo, dois taróis, dois saxofones e um trompete acompanharam os pernas-de-pau e palhaços. A festa era bem mais simples, revelando as dificuldades estruturais da cidade.

O evento foi realizado na Praça Santa Luzia, um galpão simples, co-berto com uma lona azul, onde estavam aproximadamente 200 pessoas. Uma exposição de fotografias mostrava as várias atividades desenvolvidas pelos órgãos da Prefeitura para a conquista do Selo.

primeira semana

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O prefeito, Cláudio Honório, um ex-funcionário de duas usinas locais, não estava preocupado com as dificuldades e limitações para realizar uma grande festa. Ele preferiu destacar a importância do Selo e o papel dos gestores públicos.

“A mortalidade infantil em Chã de Alegria é a segunda menor do Es-tado. A gente tem que agradecer primeiro a Deus, mas é preciso lembrar que é também uma obrigação dos gestores públicos”, frisou. “Não só do prefeito, mas dos diretores, professores, dos pais, do povo”.

Antes das apresentações dos artistas da Caravana, Ana Verônica, articu-ladora local, lembrou que “o Selo UNICEF não é para quem quer, mas para quem é”. Um fato interessante é que Verônica também foi a articuladora em Camutanga, outra cidade que conseguiu conquistar o Selo.

O evento terminou ao anoitecer. Para os integrantes da Caravana, o domingo seria o primeiro descanso oficial. Terminava oficialmente a

Infra-estrutura precária e muito

carinho na passagem por

Chã-de-Alegria.

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primeira semana de muitas viagens, apresentações e entregas do Selo. Um domingo livre, antes de recomeçar a percorrer as muitas estradas pelas cidades que já aguardavam impacientes a chegada dos artistas.

primeira semana

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“Estamos praticamente terminando a primeira semana de Caravana. Daqui a pouco, debaixo de um calor escaldante, vamos a Casinhas, cidade que fica a 60 quilômetros aqui de Limoeiro, de onde escrevo. Passamos pelas cidades paraibanas de Bananeiras, Serra da Raiz, Araruna, Esperança, Picuí, depois visitamos o Palácio do Campo das Princesas, no Recife, e voltamos à estrada.

O micro-ônibus, pilotado pelo raçudo Franklin, já batizado obviamente de “Frank Aguiar”, segue firme, com a trupe de artistas, produtores, integrantes do UNI-CEF Recife e este que cuida de registrar tudo, para transformar em relatório ou em notícias, de preferência para que as pessoas leiam. Estivemos entregando o Selo e fazendo festa em Camutanga, Limoeiro, Lagoa do Carro, vamos a Casinhas, e terminaremos a jornada em Chã de Alegria.

Parece simbólico terminarmos a primeira semana em uma cidade que tem o nome “alegria”. Ela tem sido uma presença em todas as cidades visitadas pela Caravana. Em todas as cidades, há uma enorme mobilização das prefeituras, para receber “a turma do UNICEF”, como gostam de dizer. As atividades para o recebimento

Fim da primeira semana da Caravana

Ao final da primeira semana de Caravana, escrevi este texto, publicado no site do Selo UNICEF Município Aprovado:

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do Selo envolvem as escolas do município, professores, agentes de saúde, secretários, vereadores. Crianças e adolescentes inundam as ruas. Basta os palhaços, com suas imensas pernas-de-pau, despontarem, que o delírio é geral. Depois surgem mais palhaços, e neste momento, invariavelmente, a Filarmônica local entra solando, invariavelmente o Hino Nacional.

Há tanta coisa a ser dita, que lamento a falta de tempo e a precariedade das lan-house. Teria que falar dos “Defensores do meio ambiente” de Bananeiras, uma brigada tão eficiente, que uma das integrantes, Thayz Braz, de 12 anos, resolveu soltar todos os passarinhos do seu avô, avaliados em R$ 1 mil; teria que falar do simpático Thierry Walquer, de 9 anos, estudante da 3ª série em Esperança, que resolveu fazer uma rádio em sua escola, e está fazendo o maior sucesso, no horário de 15h30 às 16h; teria que falar longamente, um texto que pudesse dar conta do brilho nos olhos de Adenildo Amorim, de 27 anos, agente comunitário de Saúde, que acompanha com total de-dicação, 154 famílias em seu município, que se orgulha em dizer, com os dois filhos pequenos nos braços, que se sente parte de um “Exército da Saúde”;

primeira semana

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O relato teria que falar da festa que tem sido a entrega do simbólico Baú de Leitura; teria que talhar perfis destas figuras incansáveis, as “articuladoras”, sempre carre-gando uma legião de gente, impulsionando, costurando; teria que contar do orgulho de uma professora, ao dizer que não falta merenda para seus alunos, e que terminou a última capacitação há 15 dias; teria que falar da esperança que cresce no povo de Esperança, que conseguiu cobrir 97,35% do pré-natal; teria que falar dos “Pelotões de limpeza” criados em escolas longínquas;

Mas teria que falar também do menino que me acompanhou a tarde inteira, on-tem, pedindo que os palhaços voltassem, pedindo que eu falasse com o prefeito para ele chamar os pernas-de-pau de volta; teria que falar da raça e paixão com que os artistas da Caravana têm enfrentado o desafio de encantar e alegrar centenas, por onde passam.

Teria que falar um monte de coisas, mas Valéria, a produtora da Caravana, já deve estar na porta do ônibus, contando os segundos, porque vamos sair daqui a três minutos.

Aqui vai uma confissão: já trabalhei em vários projetos com o UNICEF, mas a Caravana é, de longe, a que consegue tocar o coração das pessoas.

Nunca vi tantos sorrisos iluminados. Melhor de tudo é saber que são sorrisos de crianças e adolescentes.

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segunda semana2

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segunda semana

A segunda semana de Caravana começou com uma concentração no Recife, teve uma parada em Palmares, para o almoço, chegando a

Flexeiras, em Alagoas, somente às 16h40.

Várias faixas, por toda a cidade, homenageavam a cidade e citavam o UNICEF.

“Flexeiras é premiada pelo UNICEF por reduzir a mortalidade in-fantil”; “Flexeiras recebe com carinho a Caravana do Selo UNICEF”; “Cuidando de nossas crianças, cuidamos de nosso futuro”; “Flexeiras conquista o Prêmio do UNICEF investindo em qualidade de vida para suas crianças”.

A chegada dos pernas-de-pau foi saudada com euforia pelas crianças.

“Olha o canela-de-pau”, gritou uma das crianças”, logo que os artistas saíram do microônibus.

Centenas de crianças seguravam bandeirolas referentes ao Selo, con-feccionadas pela Prefeitura

A rua principal da cidade, Coronel Alcântara, estava repleta de mora-dores. A impressão era que a cidade que mais avanços obteve em Alagoas, resolveu também fazer a maior festa para a Caravana. A segunda-feira à tarde tinha contornos de um feriado.

“Pedimos gentilmente ao maestro que toque Parabéns ao UNICEF e ao município”, sugeriu um dos coordenadores do evento. A Fanfarra do Município tocou a música, e depois houve uma apresentação das 15 crianças do Pastoril Infantil, um trabalho desenvolvido no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

Duas professoras acompanhavam tudo com atenção. Ângela Gomes, coordenadora da Escola Jarbas Maia disse que logo que o município se inscreveu no Selo, houve uma série de mobilizações para fazer com que

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Comemoração em Flexeiras atravessou a

tarde e só terminou no meio da noite

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houvesse um envolvimento de todos os setores. A escola atende 620 alu-nos, na faixa de 6 a 14 anos.

“Vamos ter um retorno no futuro. Temos boa merenda, bom material escolar. Nossas escolas estão sendo cuidadas.

Maria José Pereira, que estava ao seu lado, é coordenadora da pré-escola Antônio Almeida, que atende 304 crianças entre 4 e 5 anos. Ela avalia que o município vai bem, especialmente porque todas as escolas estão sendo tratadas da mesma forma. Para ela, o reconhecimento do Selo acabou sendo também o reconhecimento de um trabalho de formiguinha, realizado no cotidiano por professores, coordenadores, trabalhadores em vários setores da Prefeitura.

“Isso tem uma representatividade maravilhosa. A gente vê nosso tra-balho fluir. Chegou na hora certa”.

Várias apresentações foram organizadas pela Prefeitura, como o Balé Folclórico da cidade, desenvolvido por alunos do ensino médio, a banda

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Atrações locais deram o tom da

festa em Flexeiras ��

segunda semana

Baby Doll, sempre intercalados pela música da fanfarra local, acompa-nhados por bailarinas.

“Dos 46 municípios de Alagoas que aderiram ao Selo, Flexeiras foi a que apresentou maiores transformações nos indicadores na atenção integral às crianças e adolescentes”, destacou Ana Azevedo”, falando em nome do UNICEF.

Depois de várias apresentações, somente no início da noite, o Selo foi finalmente entregue. A prefeita, Arlene Cavalcante da Costa, chegou a pensar em não ir à cerimônia, por causa da emoção. É que ela está no terceiro “e último” mandato, e um mês antes da entrega do Selo, teve problemas cardíacos e foi levada às pressas para Maceió.

Fiquei feliz, muito emocionada, felicíssima, mas estava com medo de fraquejar”, comentou.

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Festa Inesquecível“Até hoje as crianças lembram”

Alguns meses depois de a Caravana passar por Rio Largo, a articu-ladora do município, Josiane Araújo, diz que as crianças não esquecem o dia em que chegou um microônibus repleto de artistas.

“Foi um dia lindo, maravilhoso. As crianças, até hoje, ainda lembram dos pernas-de-pau”.

De fato, foi um dia importante na história da cidade. As 34 escolas municipais foram mobilizadas, além das 13 extensões, enchendo as ruas de crianças e adolescentes. Acompanhados pela Banda Marcial da Cidade e fanfarras das escolas, a criançada acompanhou a comitiva até a Praça Dr. Gustavo Paiva, a principal da cidade, onde estavam a prefeita, Vânia Paiva, vereadores e diversos secretários.

Antes de ver o trabalho dos artistas da Caravana, houve um momento para Rio Largo mostrar a cultura local, com apresentações de Côco, o coral da Secretaria de Cultura e Desportos (Secudes), e uma surpresa teatral – as encenações de três escolas infantis. Um palco foi montado especialmente para a solenidade. A prefeita agradeceu o prêmio, destacou a participação das várias secretarias, de o Baú de Leitura foi entregue à secretária de Educação, Edilene Martins de Miranda.

A promessa da secretária, de manter o Baú circulando entre as escolas do município, vem sendo mantida. Alguns meses depois da passagem da Caravana, várias escolas já conheceram o Baú.

Agradecimento aos articuladoresMal terminou a cerimônia em Rio Largo, o microônibus ganhou a

estrada novamente, rumo a Arapiraca. À entrada da cidade, uma comitiva

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A conquista encheu de orgulho

a população de Arapiraca

�7aguardava os integrantes do UNICEF e artistas. Um desfile pela cidade abriu a cerimônia. O Parque Ceci Cunha, uma imensa área verde, recentemente inaugurada pela Prefeitura, foi o lugar escolhido para a festa do Selo.

Uma inovação da cidade foi a entrega, a todas as pessoas que integra-ram o Comitê Pró-Selo, de um certificado de participação.

“Foi uma forma que encontramos de agradecer publicamente o empe-nho deles”, salientou Maria Adjinã, articuladora municipal e coordenadora pedagógica.

Vários grupos locais se apresentaram, como o “Canarraiá” (Côco e quadrilha), e os jovens integrantes do projeto Candeeiro Aceso, de uma ONG local. Os jovens da cidade que tinha aprendido a andar em pernas-de-pau, se confraternizaram com os três pernas-de-pau que integravam a Caravana.

Dezenas de alunos, das 60 escolas municipais, participaram da ce-rimônia, especialmente os que integraram o projeto de meio ambiente.

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Adjinã considerou a cerimônia de entrega do Selo “um dia especial, um momento em que todos viram o resultado do projeto”. O ponto alto da festa foi quando o prefeito, Luciano Barbosa, recebeu o troféu e o certi-ficado, seguido pela entrega do Baú de Leitura à secretária de Educação, Rita Nunes.

“Os jovens do PETI estão ampliando a idéia do Baú. Já temos três novas unidades circulando entre as escolas municipais”, explicou a arti-culadora.

Traipu empossa o novo secretário da Criança e do Adolescente

A festa do Selo em Traipu teve um sabor especial, para todos os que lutam pelos direitos da Criança e do Adolescente. Na hora da entrega do Selo, foi empossado o primeiro secretário da Criança e do Adolescente do município. José Walter dos Santos, o “Walter da Farmácia”, foi o escolhido pelo prefeito para assumir a pasta.

“Pretendo trabalhar com os secretários de Educação, Saúde, Assistência Social e Conselho Tutelar, para a gente continuar avançando nesta parceria com o UNICEF”, disse.

Logo após a posse, ele iria ter uma reunião com o prefeito, o chefe de gabinete e conselho fiscal, para ver as primeiras ações. De uma coisa Walter já tinha certeza. A secretaria vai ter verba e “todo o apoio da Prefeitura”. Um jovem vai apóia-lo, fazendo a ponte das crianças e adolescentes do município. Seu gabinete vai funcionar na “Casa da Criança”, um amplo espaço destinado à sua secretaria, ao lado do Conselho Municipal dos Deficientes Físicos e Conselho Municipal da Criança e do Adolescente.

Antes da posse do novo secretário, a Orquestra Lira Jovem, criada há dois anos, abriu as festividades. Em seguida, houve a apresentação

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Crianças e Adolescentes do

Maculelê comemoram a conquista do Selo.

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segunda semana

da Orquestra de Crianças da Escola de Música Santo Antônio. A AABB Comunidade, presente em várias cidades que ganharam o Selo UNICEF, fez uma apresentação de flauta doce, com crianças na faixa de 7 a 12 anos. O Maculêlê ficou por conta das crianças de 6 a 13 anos, que participam do PETI.

Após as apresentações, entrega do Selo e do Baú de Leitura, a Caravana percorreu as principais ruas da cidade, chegando finalmente à Casa de Cul-tura e ao Museu do Meio Ambiente, às margens do rio São Francisco.

Quanto à conquista do Selo, o prefeito Valter Souza, dentista, ex-se-cretário de Saúde, foi objetivo:

“A gente vem fazendo um trabalho bem feito e é bom ser reconhecido. Amanhã, isso vai ter um reflexo na gente.”

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No alto do palco, o convite para a população

compartilhar a alegria em Palmeiras dos Índios.

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A exemplo de outras cidades do Semi-Árido, Traipu recebeu a Caravana com uma camisa especialmente confeccionada para a conquista do Selo. Os dizeres apontavam para uma parceria:

“Traipu e UNICEF integrados”.

Palmeira dos Índios: “Entre nessa história”Depois de percorrer quatro cidades em Alagoas, a Caravana chegou

a Palmeira dos Índios na tarde da quarta-feira, 13 de dezembro. Na pra-ça principal da cidade, o palco da cerimônia, com a frase “Entre nessa história”.

Cristiane Valéria Balbino Canuto, articuladora do Selo, recebeu a Ca-ravana. Para ela, a conquista do Selo foi mais uma conquista da sociedade

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Palhaços fizeram a alegria das crianças em plena praça �1

segunda semana

e dos movimentos sociais, numa rede de proteção e garantia de direitos das crianças e adolescentes.

“Todo mundo esteve envolvido”, destacou, apontando o trabalho “muito ativo” do Conselho de Direitos.

Enquanto os palhaços e pernas-de-pau circulavam na praça com as crianças de seis escolas, Cristiane destacou alguns dos avanços obtidos pelo município, como a redução da mortalidade infantil, a cobertura em 100% do pré-natal. O número de crianças desnutridas também caiu de 14,10% para 8% no mesmo período.

“Tem muita coisa que precisa ser melhorada, a gente tem consciência disso”, lembrou Cristiane, que é enfermeira.

Entre os principais atores da sociedade civil, ela destacou o Movimento Pró-Desenvolvimento Comunitário, ONG que articula diversas ações,

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Confraternização sob o sol de

dezembro em Estrela de Alagoas

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Caravana Selo Unicef Município Aprovado

como o Baú de Leitura e a Escola Oásis, e parceiros como Pastoral da Criança, SESC, Fundação de Amparo ao Menor (Fundanor), criada há 25 anos, e o Ministério Público. O Conselho Tutelar, segundo ela, é muito atuante, bem como o Conselho Municipal.

“A grande lição do Selo foi essa: a sociedade pode ter uma nova cultura, não ficar esperando o poder público atuar”.

Ao entardecer, a entrega do Selo. Um grupo de capoeira aguardava a Caravana, na praça defronte à

secretaria de Ação Social de Estrela de Alagoas. As crianças foram che-gando aos poucos, buscando árvores para se proteger do sol forte, sob a coordenação da articuladora do município, Graça Sandes.

As apresentações culturais começaram com um patrimônio da cidade. “Seu Belo” do Pífano tocou o hino de Estrela. Em seguida, ele regeu o

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segunda semana

Coral de Crianças do CRAS, numa apresentação com canções natalinas. O Selo foi entregue ao vice-prefeito, José Teixeira, na presença de auto-ridades, muitas crianças e adolescentes, projetos de entidades parceiras, e de Fábio Morais, coordenador do escritório Recife (que atende os estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco).

Após a apresentação inicial dos artistas locais, foi a vez dos palhaços encantarem as crianças. A Banda Afro, de Palmeira dos Índios, fez o encerramento da parte cultural, seguida de uma nova rodada do grupo de capoeira, ambos do projeto Fazer valer os Direitos em Alagoas, com apoio das prefeituras dos municípios vizinhos e vários parceiros, incluindo o próprio UNICEF.

Um dos detalhes da cerimônia em Estrela ficou por conta da entrega do Baú de Leitura, pelos palhaços Marquito e Bicudo, na varanda da se-cretaria. A secretária de Educação, Margarete Lima da Silva, demonstrou muita satisfação com a doação, exibindo os livros e CDs destinados às escolas locais. Lá mesmo, teve início a apresentação teatral intitulada “Teatrinho de Bonecos do Baú de Leituras”, acompanhado da “História do Sapo Vaidoso”.

Para o município, foi um momento de celebrar conquistas, relatadas no livreto “Baú de Leituras”, elaborado a partir da experiência de oito municípios, incluindo Estrela, que participaram do projeto “Fazer Valer os Direitos”.

“Eles só falam nisso: andar com os palhaços” O articulador Marcio José Soares estava à entrada de Quebrangulo,

esperando a comitiva do UNICEF. A cidade estava enfeitada com ban-deiras, e o clima era de festa.

“As crianças só falam nisso, em andar com os palhaços”, disse.

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Diversidade cultural foi a marca

registrada da festa em Quebrangulo

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Quando os palhaços e pernas-de-pau saíram do microônibus, o clima de euforia se espalhou pelas ruas da cidade. Vários carros ainda chegavam, com crianças das áreas rurais. Uma verdadeira procissão de crianças acom-panhou os artistas até o local do evento. Como a cidade é repleta de ladeiras, o jeito foi fazer o restante do percurso em cima de um caminhão.

O evento aconteceu no pátio da Biblioteca Municipal, onde estavam um palco de madeira e duas tendas. A primeira apresentação foi a do grupo “Negas da Costa” dança típico da cidade, com os meninos vesti-dos com roupas de baianas . Cada criança tinha o nome de uma “baiana do UNICEF”. “Nega Valéria, representava Valéria Farias, produtora da Caravana; “Nega Regina” era a palhaça Regina; “Nego Fábio”, represen-tava o coordenador do UNICEF, Fábio Atanásio. O Coral Mirim foi o segundo a se apresentar.

Ao receber o Selo, o prefeito Marcelo Lima fez questão de homenagear sua equipe de trabalho.

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Em Pedra, a criançada lotou o

clube da cidade para receber a trupe do

UNICEF.

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segunda semana

“Esse troféu não vai ficar comigo. Vai para a equipe que trabalhou comigo. Vou chamar o Márcio, o articulador, e o troféu vai para toda a equipe”.

Um dos momentos mais aguardados pelas crianças de Quebrangulo, no entanto, ficou por conta do Baú de Leitura.

“Todos já sabiam do Baú. Temos um trabalho na Biblioteca com o Baú de Leitura”, disse Márcio, se referindo ao resultado do projeto Fazer Valer os Direitos em Alagoas. “As crianças têm um cantinho só para leitura, com mamulengo, bonecos. Eles já tinham uma expectativa”, completou.

Encontros de Pernas-de-PauPedra, em Pernambuco, foi outro município que festejou o Selo. Foram

preparadas camisas especialmente para a solenidade, com os dizeres:

“O governo municipal, através das política públicas eficientes em favor da criança e do adolescente mostrou que o município avançou, conquistando o Selo UNICEF. Parabéns Pedra!”

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Quatro adolescentes em pernas-de-pau, fruto de um trabalho educa-tivo na cidade, se encontraram com os artistas do UNICEF. Após uma pequena carreata, a Caravana chegou ao Clube Polimático.

Enquanto a cerimônia oficial seguia, Marcelo Cavalcante, de 22 anos, explicava o trabalho com 30 jovens da cidade. Ele é de Arcoverde, e faz um trabalho como “instrutor de mobilidade e equilíbrio”, no PETI. O trabalho foi iniciado em junho de 2006, e visa principalmente a integração grupal e desenvolvimento.

“A maioria vem das partes mais pobres da cidade. Têm dificuldades com o toque, o abraço”, explicou Marcelo. Para 2007, ele vai começar um trabalho com samba de côco, pois faz parte do grupo “Quebra-Côco”, de Aliança.

Paloma Leite, de 13 anos, Adevan Ferreira Leita, de 12, Greiciele Leite, de 12, acompanhavam as apresentações com atenção. Elas fazem parte do PETI local, que vem trabalhando com o professor Marcelo. O grupo se chama “PÉ com o pau do PETI”.

“No primeiro dia a gente tem medo, mas gostamos e queremos con-tinuar”, contou Paloma. Marcelo disse que todos têm acompanhamento escolar.

“De manhã eles estão na escola, a tarde vão para o PETI”, explicou.

A prefeitura organizou também uma exposição no clube, com as principais ações de apoio à criança e ao adolescente, com destaque para a participação das crianças e adolescentes no mapeamento da cultura popular.

O articulador local, Genecy Leal destacou a importância do trabalho coletivo, para que o município conquistasse o Selo.

“Houve uma sinergia coletiva, em vários níveis do governo, um tra-

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segunda semana

balho articulado que facilitou muito a articulação. Trabalhar isolado não dá”, comentou Leal.

O prefeito, Francisco Brás, reconheceu os avanços obtidos pelo muni-cípio, mas alertou para os “dados significativos” que pretende alcançar.

“É só o início. Vem muito mais coisas por ai”, destacou.

Ao receber o Baú de Leitura, em meio à euforia das crianças e adolescen-tes, a secretária de Educação, Carla Brás, explicou que seria disponibilizado na Biblioteca Municipal, para a utilização de todas as escolas do município.

“O UNICEF trouxe livros para que vocês possam ler. Daqui a algum tempo, vocês serão os vereadores, prefeitos, professores. Para isso, vocês precisam ler”, destacou.

A “aldeia Arcoverde”“Bem vindos à capital brasileira do samba de côco!”, dizia o locutor

da cidade, de um carro de som que recebeu a Caravana, à entrada de Arcoverde. A recepção aconteceu na praça Wiston Siqueira, onde vários outros pernas-de-pau também desfilavam. A cerimônia foi aberta com uma roda de capoeira da Associação Palmares de Capoeira, seguida do Maracatu do PETI. A exemplo de várias outras cidades do Semi-árido, Arcoverde também organizou uma exposição fotográfica, mostrando alguns destaques da cultura local: o Côco Raízes de Arcoverde, o Reisado Mirim de Caraíbas, entre outros.

Fábio Atanásio, coordenador do UNICEF Recife, lembrou a im-portância do conjunto de esforços para garantir uma vida saudável para crianças e adolescentes.

“É preciso de todo uma aldeia para cuidar de uma criança. A aldeia que estamos falando aqui é a aldeia Arcoverde”, frisou.

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Encontro de cocos na “aldeia”

que cuida de suas crianças.

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O prefeito, José Cavalcanti Alves, fez uma saudação entusiasmada a todos os que estavam na praça:

“Nós adultos saudamos nossas crianças e nossos adolescentes, junto à Praça Wiston, junto ao povo de Arcoverde”.

Para ele, o reconhecimento do UNICEF representava o “Papai Noel” das crianças da cidade.

A orquestra Músicos do Futuro tocou logo em seguida à entrega do troféu e Selo aos representantes da Prefeitura. Ela é composta por 80 jovens, liderados pelo maestro Ronaldo Bezerra, que é o regente da Or-questra Filarmônica de Arcoverde. Na apresentação, 30 jovens mostraram o que estão aprendendo, no horário complementar à escola.

Antes da apresentação dos artistas da Caravana, o Reisado de Caraíbas fez uma performance, seguida do Samba Côco Raízes de Arcoverde, gru-

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Alegria do povo na rua. A cena se repete em

Pesqueira

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pos adulto e mirim. Na metade da apresentação dos palhaços levados pelo UNICEF, um ruidoso grupo de idosos chegou à Praça. Era o final da ÏII Ca-minhada natalina pela paz”, realizada pelo Grupo Novo Horizonte, do Sesc Arcoverde, fazendo uma verdadeira confraternização com a Caravana.

Já era noite quando o Baú de Leitura foi entregue à Secretária de Ação Social, Edivane da Silva Gomes, também articuladora no município. Ela não fez mistério. Informou que os livros e CDs seriam levados para o melhor lugar reservado para um livro: a biblioteca municipal.

Diploma para quem fez a liçãoNo sábado, 16 de dezembro, a Caravana finalmente chegou a

Pesqueira, terminando a segunda parte da viagem. No total, já tinham

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A magia dos palhaços prendeu

a atenção da criançada por

todos os cantos

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sido percorridos quase três mil quilômetros, em diversas cidades da Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

Várias apresentações movimentaram a entrega do Selo, mas a presença de três jovens animados e criativos chamava a atenção. Segundo o articu-lador na cidade, Ronaldo Machado Tenório (secretário de Agricultura), “eles têm um programa de rádio”, na Ororubá FM.

Carla Melo e Fabiano Santos, ambos de 19 anos e Karine Melo, de 17, têm realmente um programa de rádio todos os sábados, às 16h. Eles receberam uma capacitação do Movimento Fraterno de Ação Comunitária (MOFAC), e resolveram aceitar o desafio. Durante meia hora, apresentam o programa “Criança Cidadã”, com músicas, entrevistas, debates, avisos. A estréia aconteceu em julho, depois de um curso de preparação.

“Não tínhamos noção de nada. Hoje apresentamos o programa, dis-cutimos temas como trabalho infantil, alcoolismo, damos informações.

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segunda semana

Na hora dos sonhos, a gente fala, diz o que quer para a gente e para o mundo”, explicou Carla.

Perguntados sobre o que é “a hora dos sonhos”, eles responderam que é um momento em que cada jovem fala do desejo de realização para sua vida e para o mundo.

“Meu sonho é que toda criança tenha um lar, vê-las todas felizes. Além disso, quero me realizar profissionalmente”, disse Carla.

Em seu discurso de agradecimento, o prefeito João Eudes Machado Tenório lembrou dados importantes, como a melhoria do IDH, a geração de empregos e o aumento do PIB da cidade, que era de R$ 9,5 milhões, em 2001, e saltou para R$ 22 milhões, em 2006. Ele comparou o Selo a um certificado ISO 9000, dado às empresas que comprovam qualidade e eficiência no funcionamento.

“Recebemos um diploma, uma resposta à qualificação de tudo o que aconteceu em Pesqueira, uma afirmação de todas as políticas públicas. É o diploma. E o diploma é muito importante para quem estuda”, disse.

Após várias apresentações locais, foi entregue o Baú de Leitura. Ele foi levado para a secretaria de Educação. O objetivo da prefeitura é fazer um trabalho de estímulo à leitura nas escolas.

Ao longo dos dias, os veículos de comunicação de cada cidade demons-travam maior interesse pela chegada da Caravana, criando uma grande expectativa entre os envolvidos com a conquista do Selo e as crianças e adolescentes. Em algumas delas, os integrantes do escritório do UNICEF tiveram que arranjar alguns minutos, na apertada agenda, para participar de programas de rádio, ou dar entrevistas para os jornais locais.

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Um Baú que encantaVamos para a última parte da viagem, que já percorreu mais de 3.500 quilômetros no Semi-Árido Brasileiro. De tudo já aconteceu, nesta longa caminhada, que só terminará na sexta-feira, em Petrolina. Em todas as cidades, uma grande festa tem sido organizada para receber o Selo. As famosas bandinhas da cidade, por menor que sejam, estão sempre prontas, no sol à pino, para fazer a abertura da solenidade. Há desfiles pelas ruas da cidade.

Um dos pontos altos de cada solenidade, no entanto, tem sido um pequeno baú de madeira, colorido. Dentro, livros infantís, lápis de cor, CDs com histórias e canções e um pequeno micro sistem. É o “Baú de Leitura”, que procura incentivar os municípios a desenvolverem nas crianças o gosto pela leitura.

Em Serra da Raiz, houve um frenesí tão grande para receber o Baú, que ele acabou sendo “devorado” pelas crianças. Resultado: quebrou e teve que ser levado para o conserto, antes de ser disponibilizado para a população. Em Pedra, as crianças e adolescentes chegaram a invadir o palco para resgatar o Baú. Coube à secretária de Educação, Cleide Brás, fazer a intervenção, com uma mensagem pedagógica:

Ao final da segunda se-mana de Caravana, escrevi este texto para o site do Selo Município Aprovado:

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“Todo mundo vai ver de perto este presente. Quem sabe onde fica a biblioteca central?”

Dezenas de crianças levantaram o dedo.

“O Baú vai ficar na Biblioteca, e cada professor vai levar sua turma, para vocês conhecerem melhor os livros”.

E terminou com uma mensagem:

“O UNICEF trouxe livros para que vocês possam ler. Daqui a algum tempo, vocês serão professores, vereadores, prefeitos, e para isso, vocês precisam ler”.

Em Traipu, a secretária de Cultura, a ex-vereadora Dulcinéia Soares, responsável por um trabalho de incentivo à leitura nas escolas, não escondia a satisfação com a colorida caixa de madeira. Na Casa de Cultura Professor Luís de Medeiros Netoi, às margens do Rio São Francisco, ela mostrou algumas prateleiras com livros infantís e comentou com um certo orgulho:

“Eles já leram tudo. Agora vamos ler as coisas do Baú”.

O Baú de Leitura fez a festa da criançada em Serra da Raiz, Bananeiras,

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Araruna, Esperança, Picuí, Camutanga, Limoeiro, Lagoa do Carro, João Alfredo, Casinhas, Chã de Alegria, Flexeiras, Rio Largo, Arapiraca, Traipú, Palmeira dos Índios, Estrela de Alagoas, Qebrangulo, Pedra, Arcoverde, Pesqueira e agora São Caetano.

Até sexta-feira, as cidades de Brejo da Madre de Deus, Caruaru, Queimadas, Cabaceiras, Aparecida, Poço Dantas, Nazarezinho, Salgueiro e Petrolina também receberão o Baú”.

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terceira semana3

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A cidade de Ludwig Van BethoovenLudwig Van Beethoven da Silva, de 14 anos, toca trompete há três e

cursa a 8a série. Aprendeu música com os pais, Edileuza Tavares da Silva, e Carlos Antônio. Sua irmã, Clara Schumann, de 11 anos, estuda clarineta. Ele é o mais jovem fruto da famosa “Banda Sinfônica Meninos do Agreste – São Caetano”, mais conhecida como “Os Meninos de São Caetano”, surgida em 1987, que cresceu, criou raízes e já caminha para a segunda geração. Os pais, que tocavam, agora são professores de jovens. Alguns deles são seus próprios filhos.

A segunda geração foi batizada de “Banda Juvenil”. Atualmente, 100 jovens estudam teoria musical, preparando o caminho para o futuro, e 40 já tocam algum instrumento. Edileuza, a mãe de Beethoven e Clara, toca saxofone e é formada em Música pela Universidade Federal da Paraíba.

São Caetano: uma cidade que respira música.

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terceira semana

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Mãe e filhos estavam nas ruas de São Caetano, na manhã do dia 18 de dezembro de 2007, participando das várias atividades culturais organizadas pelo município para receber o Selo. Edileuza acompanhou seus alunos, e Beethoven tocou com os amigos.

“Este Selo é muito importante para a cidade. Vai ajudar muito na parte musical e cultural. Com a união a gente cresce”, destacou a mãe-professora.

A vida musical é uma das facetas mais conhecidas da cidade. O prefei-to, Jadiel Braga, demonstra orgulho com o sucesso dos “Meninos de São Caetano”, mas costuma lembrar a “redução significativa” do analfabetismo como uma das grandes vitórias dos últimos anos. Ele avalia que cerca de 2 mil pessoas vão aprender a ler, até o final de 2007.

“A pessoa que não sabe ler, vê, mas não enxerga”, disse.

A entrega do Selo foi acompanhada por uma série de apresentações. A Banda Marcial do Colégio Carmelita, fundada há seis anos, deu as boas-vindas, acompanhada, em seguida, pelos “Meninos de São Caetano”. Uma caravana musical percorreu as principais ruas da cidade, animada pelos artistas. Se destacava do restante da população um bloco de agentes de saúde, todos usando jaqueta azul.

A secretária de Ação Social, Maria Lúcia Nogueira Linhares, lembrou que a conquista do Selo UNICEF foi um trabalho coletivo, envolvendo diversas secretarias.

“A coragem é uma marca nossa. Entramos neste processo sabendo das exigências. Mesmo que não ganhássemos, saberíamos que tentamos”, observou. Antes de concorrer ao Selo, o município ainda não tinha Con-selho Tutelar, nem o Conselho de Direitos.

Ao final da cerimônia, o Baú de Leitura foi entregue à secretária de

Amor pela música em São Caetano

atravessa gerações

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Educação, que prometeu disponibilizá-lo para todas as 46 escolas do município. Ela prometeu cuidar de multiplicar o projeto.

“Com o tempo, vamos preparar outros 46 baús”, disse.

Jane Andrade, da equipe do UNICEF Recife, lembrou que o Baú é um projeto que incentiva a leitura.

“Um prefeito desse, que falou tanto em Educação, vai fazer um monte de baús”, observou.

“Não é o Baú da Felicidade, mas é o baú da educação”, respondeu o prefeito, encerrando a cerimônia.

Brejo da Madre de Deus: Quando a união faz a força

No mesmo dia, a trupe seguiu para Brejo da Madre de Deus. À entrada da cidade, a Caravana foi saudada por inúmeras faixas:

Brejo da Madre de Deus recebeu a

caravana no Pátio de Eventos, local das

grandes festas.

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“Para que todas as crianças e adolescentes tenham uma vida digna e feliz”, dizia uma delas. “Brejo da Madre de Deus: provando que a união faz a força”.

O local da cerimônia foi o “Pátio de Eventos”, onde dezenas de crian-ças já aguardavam, munidas de apitos.

A abertura do evento coube a Luciano Ferreira, de 17 anos, deficiente visual.

“Sou uma pessoa especial, mas faço um barulhinho com meu violão”, disse.

Ele estava acompanhado de seu professor, Salviano Oliveira da Silva, e de Matheus de Lima Silva, também deficiente visual, de 6 anos. Luciano está na 4a série e em 2007 vai para a 5a.

“Na Escola, temos 65 alunos. Sete são portadores de deficiência visual e outros têm Síndrome de Down”, disse o professor, explicando o trabalho de inclusão escolar.

“Gosto muito de música, pretendo seguir carreira. A aula é uma fonte”, observou Luciano, pouco antes de começar sua apresentação.

Enquanto seguia a cerimônia de entrega do Selo, a atendente de far-mácia Lucineide da Silva Siqueira acompanhava atentamente. Ela atende uma média de 70 pessoas por dia. Disse que o serviço de saúde melhorou muito, nos últimos anos.

“Na farmácia não falta remédio, especialmente a medicação contro-lada, que é mais cara. Tem um psiquiatra para fazer exame ambulatorial”, destacou.

“Acho que esse Selo vai ser muito bom para a cidade.

“Melhor para as crianças”, frisou.

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Ao final de sua apresentação, Luciano Ferreira lembrou que todos têm seus desafios, e fez uma previsão otimista:

“Em 2007, vamos ter muitas realizações e conquistas”.

Ele encerrou sua apresentação com uma paródia de “Olha pro céu meu amor”, em uma versão adaptada para a educação:

“Olha pra mim professor/ Veja como eu estou lindo”.

Na “Capital do Forró”O passo seguinte da Caravana foi chegar a Caruaru, conhecida na-

cionalmente por sua feira, e por ser também a “Capital do Forró”. Cerca de 200 jovens, de diversas escolas públicas, aguardavam a comitiva na Avenida Agamenom Magalhães, onde começaria uma caminhada até a Estação Ferroviária, no centro da cidade, mais conhecida como a “Praça do Forró”. Fogos e carro de som animaram a atividade.

Caminhada para marcar a conquista dos caruaruenses.

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terceira semana

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Antes da apresentação dos pernas-de-pau e palhaços da Caravana, crianças e adolescentes fizeram diversas apresentações, misturando ati-vidades esportivas com ginástica e outras atividades lúdicas. Elizabete Cristina da Silva Ferreira, secretária da Infância e Juventude, foi a mestre de cerimônias.

Depois foi a vez dos artistas da Caravana arrancarem gargalhadas das crianças e adolescentes do município. Sob a observação do prefeito, Tony Gel, e de diversos secretários, o Selo foi entregue a cerimônia se estendeu por boa parte da manhã. Na última parte, Lúcia Paiva e Jane Santos, do UNICEF, fizeram a entrega do Troféu destinado à cidade, e do Baú de Leitura.

Lúcia destacou o Artigo 227, cujo número faz parte do troféu.

“O artigo afirma que criança e adolescente deve ser prioridade absoluta. Por isso colocamos o número no troféu, para lembrar que Caruaru está cumprindo o que diz a Constituição”, disse.

No final da cerimônia, o Baú de Leitura foi entregue à secretaria de Educação.

Cabaceiras: onde os resultados são coisa de cinema

Não foi fácil chegar em Cabaceiras. Pela primeira vez, a trupe da Caravana pegou chuva na rodovia BR-104, logo na saída de Caruaru, pouco depois do almoço do dia 19 de dezembro. Ou melhor, foi a chuva, um autêntico temporal, quem pegou a caravana e acompanhou o ônibus até o entroncamento com a rodovia estadual PB-148. Além de revelar várias goteiras do veículo, a chuva diminuiu o ritmo da viagem e atrasou a chegada a Cabaceiras em quase uma hora.

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A cidade estava em silêncio. Poucas pessoas testemunharam a entrada do ônibus do UNICEF na cidade. Por conta do atraso, o comitê de recep-ção, com bandinha de música e centenas de crianças foi deslocado para o ginásio de esportes, pois a espera ao ar livre sob o céu nublado ameaçava os esforços dos organizadores da festa.

A chegada dos pernas-de-pau e dos palhaços no ginásio provocou um grande alarido nas modestas arquibancadas. Como aconteceu em quase todos os municípios visitados pela caravana, as crianças cercaram os artistas sem cerimônia. O prefeito Ricardo Aires, um funcionário licenciado do Banco do Brasil que fez a estréia na política como prefeito de sua cidade, falou com emoção do seu investimento em educação e cultura.

A aposta da prefeitura resultou na ampliação do atendimento das crianças de até 6 anos em Educação Infantil. Cem por cento das crianças de Cabaceiras nesta faixa etária estão em escolas ou creches. A taxa de-

Fora do ginásio, nuvens pesadas.

Dentro, o sol radiante da

curiosidade e dos sorrisos das

crianças

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distorção idade-série também caiu de 42,1% para 39,9% em apenas um ano. A cidade, famosa por ser um dos cenários preferidos dos diretores do cinema nacional (Auto da Compadecida foi filmado lá), também tem o que comemorar na saúde: lá, a taxa de mortalidade infantil caiu de 57,70 óbitos por 1000 nascidos vivos, patamar considerado muito alto, para 17,50 por 1000, índice bem abaixo da média nacional.

Educação para todos em AparecidaA chegada da Caravana ao município de Aparecida, no sertão da

Paraíba, não pôde ser tão festiva quanto nas demais cidades que conquis-taram o Selo. É que no dia anterior, o Damião Quirino de Souza, pai de um funcionário da secretaria de Educação, tinha morrido. O enterro fora marcado para o mesmo horário do evento.

“Vamos ter que reduzir o espetáculo”, observou o secretário de Edu-cação, Breno Trajano de Almeida, de 24 anos.

Em Aparecida, apresentação

acontece sob sol de 40 graus.

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Enquanto a cerimônia não começava, ele explicou que a prefeitura tem investido em Educação, com vários projetos em curso. Duas escolas funcionam em assentamentos, com quase 200 alunos, onde é desenvolvido o projeto “Viveiro de Mudas”.

“Temos horta no local, trabalho de educação ambiental e mudas”, explicou Trajano.

Duas outras escolas funcionam no município, com uma média de 450 alunos. Outro projeto desenvolvido é o “Vamos salvar o Rio do Peixe”, que visa preservar a mata às margens do rio. Para incentivar os jovens a se preocuparem com a questão ecológica, a Feira de Educação Ambiental foi inserida no calendário oficial da cidade, como parte das ações estimu-ladas pelo Selo.

A cerimônia, muito simples, foi realizada em cima de um caminhão antigo, enfeitado com bolas, na praça principal da cidade. O prefeito Júlio César de Araújo, de 43 anos, explicou que a conquista do Selo não causou muita surpresa no município.

“Na verdade, é o fruto de um trabalho de seis anos. A participação da gente é até simples, porque há um bom tempo, estamos envolvendo as ações da saúde, educação e esporte. Só no PETI, temos 200 crianças. Minha maior preocupação, agora, é melhorar outros índices”.

Enquanto fazia algumas anotações, sentado na praça, um menino se aproximou e ficou me olhando, curioso. Perguntei seu nome.

“Adaias Leonel de Araújo, tenho nove anos”, respondeu.

“Estuda aonde?”

“Escola Municipal Antônio Meira de Sá, estou na 2a série”.

“É estudioso?”

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“Sou e tenho cinco irmãos: Adilton, Pedro, Anderson, Paulinho e Adilson, que é gêmeo do Adailton”.

“Todos estão na escola?”

“Tudinho. Só não o Pedro, que tem quatro anos. Ele fica na creche”.

“A escola é boa?”

“É”.

“Tem merenda?”

“Tem. Nunca falta. Minha professora é a Valdete. Ela ensina Matemá-tica, Ciências, Português, História e Geografia”.

“Ela está por aií”.

“Tá não. Acho que está dando aula.

Depois de nossa conversa, Adaías foi dar uma volta e trouxe seu amigo, Luiz Eduardo Sousa da Silva, de 8 anos, também aluno da 2a série. Os dois escreveram seus nomes em meu bloquinho de anotações. Perguntei ao Luiz o que ele queria ser quando adulto. Ele anotou com sua letrinha arredondada de criança:

“Médico”.

Ao final da cerimônia, passou um senhor negro, forte, suado, levando o Baú de Leitura na cabeça.

“Já vou guardar o Baú da Felicidade”, disse, com um largo sorriso.

Era Hugo José dos Santos, de 59 anos, que trabalha no matadouro público. Toda semana, ele abate uma média de 10, 12 bois. A alegria com os livros tinha uma explicação: sua neta, de seis anos, que está matriculada em uma das escolas do município.

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“Esse baú vai servir muito para ela: é o Baú da Felicidade”, disse. Ele só não lembrava do nome da neta, afinal tem outros 19 netos.

“Meu município cuida de mim!”Logo à entrada de Poço Dantas, também na Paraíba, uma enorme

placa avisava:

“Parabéns Poço Dantas! Meu município cuida de mim!”.

A música “e vai rolar a festa”, vinda de um carro de som, dava as boas-vindas. Bastou o micro-ônibus estacionar, para que as crianças cercassem os artistas.

Na verdade, o município estava vivendo uma dupla comemoração. Naquela mesma tarde, estava chegando um caminhão trazendo uma biblioteca para a cidade, obtida graças a um projeto junto à Fundação Biblioteca Nacional.

Antes da festa, meninos e meninas de Poço Dantas

viveram momentos de alegria e ansiedade.

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“Recebemos mais de dois mil livros, prateleiras, computadores, me-sas, cadeiras, ar-condicionado, TV e DVD. É uma bibiloteca completa”, explicou o prefeito, Itamar Moreira.

A chegada da biblioteca, junto com a Caravana Selo Município Aprovado não foi uma coincidência. Poço Dantas, a cidade que teve o melhor desempenho de toda a Paraíba, vive um período de efervescên-cia. O prefeito, um técnico em agropecuária, é acostumado a trabalhar com projetos de extensão agrícola. Não fica esperando pelas verbas do Governo Estadual ou Federal. Ele corre atrás para captá-las e investir no município.

Quando a Internet no município está muito lenta, ele não tem dúvidas. Chama a secretária de Educação e articuladora municipal, Gilderlândia

Baú de Leitura, símbolo da conquista

para os Municípios Aprovados.

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Oliveira, para ir ao município vizinho de Uiraúna, que tem um acesso mais rápido, para algumas horas de “navegação”.

Os dois visitam sites do Governo Federal, ministérios, ficam olhando o que pode render melhorias para o município. A Biblioteca foi conquis-tada desse jeito.

“Fizemos esse projeto da biblioteca há seis meses, e chegou justamente hoje”, observou Gilderlândia.

Graças às “navegações e projetos”, todos os 1.047 alunos do ensino fundamental serão examinados por oftalmologistas e otorrinos, um projeto com o Ministério da Educação.

“A gente só consegue alguma coisa correndo atrás”, frisa a articuladora. “De dois em dois meses, o prefeito vai a Brasília, especialmente para ver como estão nossos projetos”.

A Escola de Fábrica, parceria com o Ministério de Ciência e Tecno-logia, foi inaugurada em setembro de 2006. É uma escola que funciona dentro de uma fábrica de polpa de frutas. Os 20 alunos têm aulas teóricas e práticas, e estão aprendendo a fazer polpa de fruta”.

A cerimônia de entrega do Selo aconteceu defronte à Igreja Matriz. Dezenas de crianças, acompanhadas de pais e professores, acompanharam tudo sentadas nas escadarias.

“A gente veio com todo esse povo para fazer uma homenagem a Poço Dantas”, disse o jornalista Inácio França, consultor do UNICEF. “Das 157 cidades inscritas na Paraíba, só 9 conseguiram o Selo, e Poço Dantas foi a que apresentou o melhor desempenho. É uma homenagem merecida”.

Ao final da cerimônia, a articuladora Gilderlânia não escondeu a emo-ção. Disse que o Selo ajudou a cidade a desenvolver melhor as políticas públicas para a criança e adolescente.

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“O Selo me ajudou a desenvolver meu trabalho, organizar, sistematizar, qualificar. Mexe com tudo, e por isso que é bom”.

Formada em História e ex-professora de crianças de 5a a 8a série, Gilderlânia foi chamada em 2005, para ser a secretária. Não imaginava que seu trabalho fosse gerar tantos resultados positivos para a cidade.

“Estou amando ser secretária. Assim, estou exercendo minha cidadania, desenvolvendo projetos que melhoram a vida das crianças e adolescentes. Estou prestando um serviço à sociedade”.

Ao final da cerimônia, o prefeito começou a contar sobre os muitos outros projetos que estão tramitando junto ao Governo Federal. Lembrou do projeto aprovado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento do Esporte (FNDE), que possibilitou a contratação de 13 monitores, que dão aulas de futebol para as crianças e adolescentes da cidade. Só pode treinar quem estiver bem na escola. Pra variar, o município recebeu bola, rede, coletes,

Em todos os lugares, as crianças interagiram com

os artistas da caravana.

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padrões, além de R$ 150,00 de auxílio mensal para cada monitor.

Como souberam do projeto? Navegando na Internet e fazendo projetos.

O prefeito lembra que no ano passado resolveu participar do I Fórum Nacional de Tecnologia Social. Ele era um dos únicos três prefeitos do Brasil presentes.

No caminho, uma carona para “Dona Maria”Depois da cerimônia em Poço Dantas, a caravana pernoitou em Sousa.

No dia 21, logo cedo, todos já estavam no microônibus, com destino a Nazarezinho. A rotina da longa viagem só foi quebrada pela presença de uma mulher que caminhava pela estrada, já perto de Nazarezinho. Era uma senhora encurvada, que seguia lentamente, carregando algumas sacolas com frutas e verduras.

A comemoração em Nazarezinho coincidiu com o

aniversário da cidade.

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O motorista, Franklin, parou e perguntou para onde ela estava indo.

“Vou para Nazaré”.

Ela gostou da carona. Sentou, respirou aliviada e disse seu nome: Maria Pereira da Silva.

“Mas me chamam de Maria”, disse.

Estava vindo de Sousa. Há 13 anos é viúva. Os três filhos e as três irmãs vivem em São Paulo.

“Fui professora durante 34 anos. Comecei ensinando Ciências e História”.

Ela aposentou-se em 1988. Lembra a data em que entrou na prefeitura: 3 de maio de 1954.

A surpresa da equipe da Caravana foi saber que aquela senhora de 72

Rotina nos municípios: Crianças nas alturas

com os pernas-de-pau.

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anos, morando no Sertão da Paraíba, seja contribuinte do projeto “Criança Esperança” há vários anos.

“Todo ano, dou dez reais”, contou.

O cansaço já tomava conta da Caravana UNICEF, mas a chegada ao município de Nazarezinho deixou todos empolgados. A exemplo de outras cidades, muitas faixas foram espalhadas, dando boas-vindas.

“Nazarezinho está feliz com a conquista do Selo UNICEF ação social”.

A cerimônia de entrega do Selo foi realizada no Centro Social de Educação Edilton Cezar Nitão, construído entre 1977 e 1978. Quando o Centro foi inaugurado, a secretária de Educação era Maria Auxiliadora Avelino Mendes. De lá pra cá, muita coisa mudou na cidade, somente uma coisa ficou inalterada – a secretária de Educação. Ela tinha 27 anos quando entrou, agora está com 55. É a secretária de educação mais antiga, em atividade, no Brasil.

À frente de 18 escolas (16 rurais e 2 urbanas), 1.382 alunos, 150 crianças no PETI, uma creche com 36 crianças, 9 classes de educação de jovens e adultos, 28 classes do projeto “Brasil Alfabetizado”, Auxiliadora aproveitou a entrega do Selo UNICEF para lembrar o duro caminho que percorreu, como secretária, durante 28 anos.

Ela foi professora de escolas do município, até que em 1978 foi con-vidada para o cargo.

“Quando cheguei, não tinha sequer prato para as crianças comerem”, lembra.

Hoje, todas as escolas têm horta. Atual vice-presidente da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Auxiliado-ra iniciou seu trabalho e começou a ver que fazia a diferença. Mudava

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prefeito, mas ela ficava. Enquanto acompanhava a cerimônia do Selo, sabia toda a programação da Educação para 2007. O Plano Municipal de Educação, preparado em parceria com a Secretaria Estadual de Educa-ção e UNICEF, já havia sido encaminhado à Câmara dos Vereadores. O Programa de Desenvolvimento Escolar (PDE), já estava com dinheiro na conta para as atividades de 2007. Cinco escolas já trabalhavam no modelo “Escola Ativa”, ação para trabalhar uma metodologia multi-seriada.

“O mais importante do Selo foi a integração das escolas”, avaliou.

Como Nazarezinho estava completando 45 anos justamente no mês de dezembro, ela não se conteve:

“Esse foi o melhor presente para a cidade, nesses 45 anos de exis-tência”.

Equipe de Nazarezinho está ciente de que há muito a ser feito.

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Sem esconder a emoção com a conquista da cidade, ela recorda que há muitos anos, a cidade vivia uma situação de penúria tão grande, que escutou várias vezes:

“Cuide de Nazarezinho, antes que ela acabe”.

A exemplo de Poço Dantas, a cidade também conseguiu uma bi-blioteca completa. Vários novos instrumentos musicais foram obtidos junto ao Ministério da Educação. Os músicos da Banda 22 de dezembro, fundada em 1984, sob o comando do Maestro “Bosco do Sax” (João Bosco Pedrosa) se apresentaram na abertura da cerimônia, tocando o hino do município

A faixa principal, junto à mesa principal, dizia o seguinte:

“Nazarezinho – 45 anos. O UNICEF me faz crescer”.

O Grupo Cirandeiros do PETI se apresentou, logo em seguida, levando o público e vários integrantes da Caravana para dançar.

Após receber o Selo UNICEF do jornalista Inácio França, o prefeito, Gilson Luís, foi comedido.

“Nós ainda não atingimos a média. Iremos trabalhar, não só a Pre-feitura, mas toda a sociedade, para a melhorar a vida de nossas crianças e adolescentes. Mas esse prêmio vai entrar para a história do município”.

Após a apresentação dos palhaços e pernas-de-pau da caravana, Maria Auxiliadora revelou que pretende ficar como secretária somente até o final da atual gestão.

“Depois disso vai descansar, não é?”, perguntei.

“Não. Vou ficar trabalhando como voluntária na Pastoral da Criança e do Idoso”.

No mesmo dia, a Caravana seguiu para Salgueiro. Era a 29ª cidade da

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longa maratona de atividades de artistas, profissionais de apoio e inte-grantes do UNICEF/Recife.

Cinco mil quilômetros depois: Salgueiro Uma série de apresentações foram organizadas no ginásio da cidade

de Salgueiro, para a cerimônia de entrega do Selo. O local estava repleto de estudantes, professores, representantes de diversas entidades, funcionários da Prefeitura. O evento começou com um “Desfile das artes”, com jovens pintores mostrando o resultado dos curso de pintura em tela, no projeto “Salgueiro formas e cores”, uma das atividades do PETI.

Nos quadros, os jovens mostravam o que tinham escolhido para pintar. A Igreja matriz, , a bandeira da cidade, o Carnaval, a Câmara de Vereadores, o céu estrelado, entre os vários temas exibidos em cores e formas as mais variadas. Não faltaram expressões da cultura local, como a

A prefeita Creusa, de Salgueiro, brincou tanto

quanto as crianças da sua cidade

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dança do Toré da aldeia Atikum, o quilombo de Conceição das Creoulas, vaqueijadas, Missa do Vaqueiro, São João etc.

Quem estava exultante em mostrar seu trabalho era Allyson Martins da silva, de 17 anos. Desde os seis anos ele desenha, mas “só com a força de vontade”, como explica. Ele fez o curso “Formas e Cores” na Escola José Mendes, e descobriu que tinha uma vocação esperando apenas a chance para ser lapidada. “Gosto de olhar as pinturas. Faço desenhos de Anita Mafalti, Tarsila do Amaral”. Agora, seu sonho é apenas um:

“Quero seguir a carreira. Se eu pudesse, sobreviveria da arte”.

Ele vive com a mãe e três irmãos. A mãe, que é coordenadora do PETI, ajuda comprando as tintas.

A prefeita Creuza Pereira deu as boas vindas à Caravana. Os pernas-de-pau da caravana arrancaram gargalhadas das dezenas de crianças e ado-

Allyson, o adolescente

autodidata que sonha em viver de arte. 87

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lescentes. Somente ao anoitecer, começou a encenação com os palhaços. Ao final, foi entregue o Baú de Leitura. A prefeita agradeceu e disse que iria enviá-lo para a biblioteca da cidade.

“A proposta é que o Baú seja itinerante”, disse.

A cidade também apresentou uma surpresa para os integrantes da Caravana: a apresentação do filme “Salgueiro tem história”, um trabalho usando desenho animado, para mostrar a história da cidade.

Ao final da apresentação, os integrantes da Caravana se preparavam para a última cidade, Petrolina. Era lá que onde tudo tinha começado. O cansaço já tomava conta do grupo. Juntos, tinham percorrido mais de 5.000 quilômetros.

Depois de milhares de quilômetros, mais uma

comunidade sem cansaço.

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ALAGOAS

Arapiraca Prefeito: José Luciano Barbosa da Silva Articuladora: Maria Adjinã Martins SilvaEstrela de Alagoas Prefeito: Ângela Maria Silva de Jesus Garrote Articuladora: Maria das Graças Sandes de AraújoFlexeiras Prefeita: Arlene Cavalcante da Costa Articulador: José Daniel de MagalhãesPalmeira dos Índios Prefeito: Albérico Cordeiro da Silva Articuladora: Christiane Valéria Balbino Canuto

Conheça os prefeitos e articuladores dos municípios que conquistaram o Selo UNICEF Município Aprovado em 2006

PARAÍBA

Aparecida Prefeito: Júlio César Queiroga de Araújo Articuladora: Daniele Vieira de Assis BrunetAraruna Prefeito: Availdo Luís de Alcântara Azevedo Articuladora: Maria Helena Brito MoreiraBananeiras Prefeita: Marta Eleonora Aragão Ramalho Articuladora: Márcia Maria Guimarães Santa CruzCabaceiras Prefeito: Ricardo Jorge de Farias Aires Articulador: Adriano Ferreira de MeloEsperança Prefeito: João Delfino Neto Articuladora: Marilene Diniz Rodrigues de Farias

Quebrangulo Prefeito: Marcelo Ricardo Vasconcelos Lima Articulador: Márcio José Soares AlvesRio Largo Prefeita: Vânia Oiticica Pinto Guedes de Paiva Articuladora: Josiane Omena AraújoTraipu Prefeito: Valter dos Santos Canuto Articulador: Marcos Antônio dos Santos

Nazarezinho Prefeito: Francisco Gilson Mendes Luiz Articuladora: Maria Luiza Mendes LuizPicuí Prefeito: Rubens Germano Costa Articuladora: Gilma Vasconcelos da Silva GermanoPoço Dantas Prefeito: Itamar Moreira Fernandes Articuladora: Gilderlânia de Sousa OliveiraSerra da Raiz Prefeita: Adailma Fernandes da Silva Articulador: Everaldo Ferreira de Lima

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PERNAMBUCO

Arcoverde Prefeito: José Cavalcanti Alves Júnior Articuladora: Maria Edivane da Silva GomesBrejo da Madre de Deus Prefeito: Roberto Abraham Abrahamian Asfora Articuladora: Sônia Maria Catel GenerCamutanga Prefeito: Armando Pimentel da Rocha Articuladora: Zilma de Albuquerque Martins da RochaCaruaru Prefeito: Antônio Geraldo Rodrigues da Silva Articuladora: Elizabete Cristina da Silva FerreiraCasinhas Prefeito: João Barbosa Camelo Neto Articuladora: Maria Dalva MarcosChã de Alegria Prefeito: Cláudio Estácio Honório da Costa Articuladora: Ana Verônica de Oliveira Luiz e SilvaJoão Alfredo Prefeita: Maria Sebastiana da Conceição Articuladora: Anna Amélia Alves dos SantosLagoa do Carro Prefeito: Antônio Carlos Guerra Barreto Articuladora: Ana Verônica de Oliveira Luiz e Silva

Limoeiro Prefeito: Luis Raimundo Medeiros Duarte Articuladora: Geórgia Maria Mateus DuarteOrobó Prefeito: Manuel João dos Santos Articuladora: Valdenice Maria dos Santos AguiarPedra Prefeito: Francisco Carlos Braz MacedoArticulador: Genecy Raimundo LealPesqueira Prefeito: João Eudes Machado Tenório Articulador: Ronaldo Machado TenórioPetrolina Prefeito: Fernando Bezerra de Souza Coelho Articulador: Isabel Cristina Sampaio AngelimSalgueiro Prefeita: Cleuza Pereira do Nascimento Articuladora: Ana Neide BarrosSão Caetano Prefeito: Jadiel Cordeiro Braga Articuladora: Maria Lúcia Nogueira Linhares Marquim

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