Versão dos jornalistas 140

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Versão Publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS Rua dos Andradas, 1270/133 - CEP 90.020-008 Ano 22 - Nº 140 - Setembro de 2014 - Porto Alegre dos Jornalistas www.jornalistas-rs.org.br Jornalismo sem patrão e sem empregado Há 40 anos, um grupo de jovens jornalistas gaúchos promoveu uma revolução em plena ditadura militar, criando uma inédita cooperativa que deu origem a um jornal que não tinha dono. O Coojornal passou a publicar versões diferentes de notícias editadas pela grande mídia da época. Em dois artigos publicados nesta edição, mostramos visões contraditórias em torno da ascensão e do declínio do periódico que mexeu com o mundo jornalístico a partir de 1974 Páginas 5 a 7 Jornalistas recebem aumento real no piso e reposição da inflação Página 3 SINDICATO Baile do Sindicato reuniu colegas e homenageou funcionário Página 8 COMEMORAÇÃO Seminário reúne diferentes classes para discutir condições de trabalho SAÚDE Página 4 cooJORNAL FOTOS: LIBRETOS FOTO: ROBINSON ESTRÁSULAS

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Setembro de 2014 1

Versão Publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RSRua dos Andradas, 1270/133 - CEP 90.020-008Ano 22 - Nº 140 - Setembro de 2014 - Porto Alegre

dos Jornalistaswww.jornalistas-rs.org.br

Jornalismo sem patrão e sem empregadoHá 40 anos, um grupo de jovens jornalistas gaúchos promoveu uma revolução em plena ditadura militar, criando uma inédita cooperativa que deu origem a um jornal que não tinha dono. O Coojornal passou a publicar versões diferentes de notícias editadas pela grande mídia da época. Em dois artigos publicados nesta edição, mostramos visões contraditórias em torno da ascensão e do declínio do periódico que mexeu com o mundo jornalístico a partir de 1974 Páginas 5 a 7

Jornalistas recebem aumento real no piso e reposição da inflação Página 3

Sindicato

Baile do Sindicato reuniu colegas e homenageou funcionário Página 8

comemoração

Seminário reúne diferentes classes para discutir condições de trabalho

Saúde

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cooJORNAL

Fotos: Libretos

Foto: robinson estrásuLas

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Versão dos Jornalistas é uma publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS). Rua dos Andradas, 1270/133 – Centro Histórico – Porto Alegre, RS – CEP 90020-008Fones: (51) 3226-0664 - www.jornalistas-rs.org - [email protected]

Edição: Jorge CorreaEdição executiva e reportagem: Bruna Fernanda SuptitzEdição de Fotografia: Robinson EstrásulasDiagramação: Luís Gustavo Schuwartsman Van OndheusdenImpressão: Gráfica PioneiroTiragem: 5 mil exemplaresFotos Coojornal: Coojornal - Um jornal de jornalistas sobre o regime militar - Reportagens Selecionadas/ Libretos

Diretoria ExecutivaPresidente - Milton Simas1º Vice Presidente - Luiz Armando Vaz2ª Vice Presidenta - Vera Daisy Barcellos Costa1º Secretário - Ludwig Larré2ª Secretária - Márcia de Lima Carvalho1º Tesoureiro - Robinson Luiz Estrásulas2º Tesoureiro - Renato BohuschSuplente - José Maria Rodrigues NunesSuplente - Luiz Salvador Machado Tadeo

Diretoria GeralCelso Antonio Sgorla, Fernando Marinho Tolio, Carlos Alberto Machado Goulart, Cláudio Fachel Dias, Elson Sempé Pedroso, Mauro Roberto Lopes Saraiva Junior, Léo Flores Vieira Nuñez, Alan da Silva Bastos, Jeanice Dias Ramos, Jorge Luiz Correa da Silva, Márcia Fernanda Peçanha Martins, Ana Rita Marini, Clarissa Leite Colares, Neusa Teresinha Nunes, Pedro Luiz da Silveira Osório

Conselho FiscalCelso Augusto Schröder, José Carlos de Oliveira Torves, Antonio Eurico Ziglioli Barcellos, Adroaldo Bauer Spindola Correa, Cláudio Garcia Machado

Comissão de ÉticaAntônio Silveira Goulart, Antônio Carlos Hohlfeldt, Carlos Henrique Esquivei Bastos, Cristiane Finger Costa, Flávio Antônio Camargo Porcello, José Antônio Dios Vieira da Cunha, Celestino Meneghini, Edelberto Behs, Sandra de Fátima Batista de Deus, Marcos Emilio Santuário, Moisés dos Santos Mendes

Versãodos Jornalistas

Filiado:

categoria humor de Santiago

editorial

Coragem e exemplo. Assim que podemos buscar uma definição para a representatividade da Coope-rativa dos Jornalistas de Porto Alegre, a primeira do gênero no país, e o seu ousado periódico Coojornal no momento em que movimentos sociais, grupos e partidos políticos de oposição entravam na luta pela reabertura política que marcou o período entre 1974 e 1985 no Brasil. Nesta edição do Versão dos Jorna-listas, decidimos homenagear o grupo de 66 colegas - e outros agregados depois - que decidiram criar no âmbito da comunicação uma cooperativa, que mais rimava com trigo e soja do que com Jornalismo. A cooperativa foi criada em agosto de 1974 e, a des-peito do seu curto tempo de duração, fez história e transformou-se em parâmetro para gerações futuras. Foi um periódico predominantemente político, assu-midamente de oposição, mas que procurava tratar também de temas vinculados à cultura, à economia e à sociedade.

Não foi em vão que a primeira edição já tratava de um dilema permanente da profissão: demissão. A ma-

téria principal do jornal que circulou nas redações de Porto Alegre no final de 1975 falava da crise no diário Folha da Manhã, editado pela Companhia Jornalís-tica Caldas Júnior. Um grupo de 21 jornalistas pediu demissão em solidariedade ao afastamento do repór-ter Caco Barcellos - hoje reconhecido nacionalmente - em razão de uma matéria sobre violência policial.

A manchete da primeira edição do veículo produzi-do em máquina de escrever elétrica era: “O jornalista entre a sua ética e os interesses da empresa”. Quarenta anos depois do surgimento do Coojornal podemos afir-mar, com certeza, que pouca coisa mudou. Estamos às voltas com demissões em todos os veículos de comuni-cação do Estado e o tema sobre ética é rotineiro.

É desnecessário nos alongarmos sobre as histórias da e do Coojornal pois a matéria produzida nos faz voltar no tempo em que um grupo corajoso caracteri-zou-se por denunciar a repressão ditatorial, sofrendo por isso sérias intimidações do governo e de grupos de extrema-direita. É necessário, no entanto, tirar-mos lições deste período recente em que a união e

a solidariedade fizeram muito bem ao Jornalismo. Hoje, vivemos um momento em que as empresas es-timulam a competição e a disputa acirrada entre os profissionais.

As mesmas universidades, que ficaram olhando o avanço da ação do STF que derrubou a obrigatorieda-de do nosso diploma, estão mais uma vez andando na contramão dos fatos e se distanciando da realidade.

Espaços que poderiam ser ocupados para discus-são e melhoria do ensino do jornalismo que se faz, estão servindo para poucas reflexões e contam, cada vez mais, com a presença das grandes empresas. São as mesmas que demitem depois de utilizar todo o conteúdo e descartar o trabalhador como se fosse uma laranja estragada. A união e envolvimento dos jornalistas em torno de sua cooperativa, ainda ser-vem de exemplo de boas iniciativas a serem admira-das e seguidas.

Coojornal 40 anos: ousadia em período conturbado

Milton SimasPresidente do SINDJORS

Sindicato se reúne com empresas

Atendendo pedidos da categoria, o Sindica-to dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS) tem realizado visitas às empresas de comunicação no Estado. O obje-tivo das agendas é levar aos gestores pedidos, sugestões e reivindicações da categoria quan-to às condições de trabalho. Em setembro, a direção do jornal O Sul recebeu o presidente da entidade, Milton Simas, acompanhado da delegada sindical na empresa, Laura Santos Rocha. A pauta da reunião foi definida a partir de um questionário aplicado junto aos funcio-nários para elencar prioridades dentre as de-mandas que necessitam de solução. Também neste mês, a gerência de jornalismo do Gru-po Record recebeu a visita do presidente do SINDJORS, acompanhado do diretor da enti-dade e funcionário do grupo Renato Bohusch, para apresentar aos novos dirigentes da em-presa assuntos de interesse da categoria.

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Sindicato

Proposta aprovada prevê aumento real para pisos na capital e interior

O acordo coletivo de 2014 foi aprovado pela ca-tegoria em assembleia geral realizada em 11 de se-tembro. A proposta, apresentada pela entidade pa-tronal, prevê aumento real de 1% para os pisos da capital e interior, além da reposição do INPC no pe-ríodo (6,08%) para todos os salários.

Com a aprovação da proposta, o piso passa dos atuais R$ 1.825,50 na capital para R$ 1.955,90 e de R$ 1.554,52 no interior para R$ 1.665,50. Também estão contemplados com o percentual do INPC o adicional salarial por viagem e o auxílio creche.

A campanha deste ano iniciou no mês de abril, mais cedo em relação aos anos anteriores, com o objetivo de se antecipar aos eventos que poderiam atrapalhar o andamento da pauta (Copa do Mundo e eleições). Contudo, as tratativas entre os sindica-tos dos jornalistas e patronais se estenderam além da data-base, que é 1º de junho.

As empresas deverão pagar o retroativo referente a junho de 2014 aos jornalistas que não receberam

nenhum adiantamento. Os profissionais que foram demitidos no período que corresponde ao reajuste salarial (entre junho e setembro) têm direito à resci-são complementar. As pessoas que se incluem neste quesito devem procurar o setor de Recursos Huma-nos da empresa e, se não obtiverem retorno, podem buscar auxílio junto ao Sindicato.

Na avaliação do presidente do Sindicato dos Jor-nalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, Milton Simas, a análise do atual cenário da comunicação no Estado e no país é fator relevante para a apreciação desta pauta. “Precisamos compreender a conjuntura em que estamos envolvidos e buscarmos força para a próxima campanha, que teremos mais tempo para desenvolver”, avalia. “Essa proposta corresponde à

informação do DIEESE de que, no primeiro semes-tre deste ano, todas as negociações tiveram ganho acima da inflação”, complementa Simas.

Eleições para delegados sindicaisCom a aprovação da pauta e confirmação de

homologação do acordo coletivo, será aberto o processo de escolha dos novos delegados sindicais nos veículos de comunicação, assessorias de im-prensa e órgãos públicos. Para concorrer, o can-didato deve ser sindicalizado e estar em dia com suas mensalidades.

O delegado é o representante do sindicato dentro de cada redação, assessoria e espaço público. Atra-vés deste profissional as denúncias de abuso e as propostas de melhoria chegarão até a entidade com maior agilidade. Mobilize seus colegas e participe. A força do sindicato é construída com a participação ativa da categoria. Acompanhe em nosso site a data das eleições.

Jornalistas do Vale do Gravataí criam delegaciaDentro das ações da campanha de sindicalização, o Sindicato dos Jornalistas

Profissionais do Rio Grande do Sul está expandindo seu contato com os profissio-nais que atuam no interior do Estado. No início do mês, a cidade de Bagé recebeu a visita de dirigentes da entidade, que apresentaram a proposta de criar uma delega-cia do sindicato que atenda a campanha.

Próximo da Capital, os jornalistas da região do Vale do Gravataí (Alvorada, Ca-choeirinha, Glorinha, Gravataí e Viamão) receberam uma delegacia da entidade. O início das atividades foi marcado com confraternização realizada no dia 26 de setembro (foto). A Delegacia Regional do Vale do Gravataí tem como seus primei-ros representantes os jornalistas Ernani Campelo na função de delegado, Luciane Ferreira como secretária e Silvia Fernandes como tesoureira.

As articulações para a criação da regional já vinha sendo realizadas no primeiro semestre deste ano, com reuniões semanais desde junho. O colega Dolcimar Luiz da Silva, funcionário da prefeitura de Gravataí, foi o responsável por intermediar o diálogo entre o grupo de profissionais e o Sindicato.

“Através das delegacias, o sindicato atua na defesa da categoria. Realizamos as negociações e fixação de pisos, fechamento de acordos coletivos, promoção de se-minários, palestras, assembleias e reuniões para debater temas ligados ao Jornalis-mo”, destaca o presidente do SINDJORS, Milton Simas.

Seguem abertas as inscrições para o 1º Prêmio Agricultura Familiar de Jornalismo – Região Sul do Brasil, uma realização da Unidade de Coordenação de Projetos da ONU/FAO para a Região Sul do Bra-sil, organismo da ONU para a agricultura e alimen-tação, com o apoio do Sindicato dos Jornalistas Pro-fissionais do Rio Grande do Sul. A premiação visa a valorização da agricultura familiar e dos profissio-nais de comunicação que trabalham para colocá-la em evidência como elo na cadeia do desenvolvimen-to sustentável e da segurança alimentar.

Estão aptos a concorrer jornalistas diplomados dos três estados da região Sul do Brasil (Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina e Paraná), com matérias e

reportagens publicadas em veículos de circulação e veiculação periódica, entre janeiro de 2013 e dezem-bro de 2014. A premiação dos trabalhos acontecerá durante cerimônia que será realizada em Curitiba, em março de 2015.

Podem ser inscritos trabalhos de jornalismo impresso (jornais e revistas), eletrônico (rádio e televisão) e mídia digital (sites e blogs). Serão ofe-recidos prêmios em dinheiro para os primeiros três vencedores em cada categoria e uma passagem para um país onde a agricultura familiar é desta-que para o primeiro colocado em cada categoria.

ONU valoriza trabalhos da Região Sul

Novos pisosCapital - R$ 1.955,90Interior - R$ 1.665,50

Informações: www.premioagriculturafamiliar.jor.br

Foto: DivuLgação / sinDJors

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Saúde

O I Seminário Estadual Saúde do Trabalhador, realizado em 30 de agosto, reuniu mais de 50 pes-soas que atuam em diferentes áreas para acompa-nhar as palestras sobre as relações de emprego e causas de adoecimento das classes trabalhadoras no Brasil. O encontro, sediado no Plenarinho da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, foi uma realização do Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais do Rio Grande do Sul (SINDJORS) e do Fó-rum Sindical de Saúde do Trabalhador (FSST).

A proposta de suscitar o debate de questões re-lacionadas à saúde da classe trabalhadora surgiu a partir dos encontros do grupo de trabalho Saúde do Trabalhador Jornalista, dentro do SINDJORS. Constituído em 2013 e formalizado em maio deste ano, o GT conta com a participação de profissionais que buscam entender a relação entre o adoecimento de colegas jornalistas com as atividades desenvol-

vidas no ambiente de trabalho. Com o objetivo de identificar estas questões e buscar alternativas de prevenção dos quadros de adoecimento ou aciden-tes, o grupo está desenvolvendo uma pesquisa jun-to à categoria, que resultará em um mapeamento da saúde dos profissionais de imprensa no Estado.

No seminário, a primeira palestra foi do médico do trabalho Rogério Dornelles, assessor do FSST e de entidades de classe do Rio Grande do Sul. Em sua apresentação, foram apresentados números que exemplificam o descaso de empresas e poder público com a saúde dos profissionais. Dornelles chamou atenção para os dados, que são elabora-dos contabilizando somente acidentes de profis-sionais com carteira assinada como relacionados ao trabalho. Ainda assim, o médico entende que os números acendem um alerta por apontar um grande aumento na quantidade de acidentes em

função do trabalho nos últimos anos, sendo que o contingente de trabalhadores não aumentou no mesmo ritmo.

Na segunda palestra do evento, o psicólogo e pesquisador Roberto Heloani destacou o estudo que realizou ao longo de dez anos com profissio-nais da imprensa que atuam no Rio de Janeiro e São Paulo, onde observou que muitos buscavam a saída para seus problemas pessoais e de traba-lho no uso de álcool e drogas ilícitas. Além disso, o medo de perder o emprego faz com que o jornalista se submeta a uma jornada de trabalho estressante, com o descumprimento da carga horária prevista em lei. Sobre o assédio moral, Heloani informou que o Brasil não conta com uma legislação federal regulamentando o tema, e explicou que este deve ser tratado com calma para garantir conquistas que atendam aos interesses dos trabalhadores.

Condições de trabalho e doenças são debatidas pelo Sindicato

A mesa de abertura esteve composta pelo presidente do SINDJORS, Milton Simas, coordenador do (FSST), Marcelo Jurandir, representante da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Robinson Estrásulas, e coordenador da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, Paulo Javiel Rezende Filho

Um dos palestrantes presentes no I Seminário Estadual Saúde do Traba-lhador, o médico do trabalho Rogério Dornelles é pós-graduado na área e atua como assessor do FSST e de enti-dades sindicais. Em entrevista ao Ver-são dos Jornalistas, Dornelles fala da necessidade das categorias se unirem para vencer os problemas que afetam a saúde de todos os trabalhadores. “A saúde é questão de princípios. Não se pode fazer mal a outra pessoa”, disse, ao relacionar o assunto com uma cláu-sula da constituição.

Dornelles iniciou o diálogo com uma interessante explicação da diferença entre trabalho e emprego. Disse que “trabalho é toda a atividade humana transformadora. A relação que a gente tem é emprego, que é a contratação da

força de trabalho”. Ou seja, quando se fala de empregador e empregado, que pressupõe um contrato nos termos da lei, está se falando de emprego.

Dentro das relações existentes nas organizações, um instrumento utiliza-do pelos patrões ou gestores para au-mentar a produção é o assédio moral. Para Dornelles, o objetivo é sempre o de desqualificar o trabalho. “Se o em-pregado está ganhando um valor x, que corresponde à média de mercado, a jus-tificativa para não ter aumento é que já está ganhando muito. Se é remunerado com o salário mínimo, deve agradecer por estar empregado”, explicou. O mé-dico enfatizou que esta situação pode ser observada quando as atividades deste funcionário são sempre desqua-lificadas, mesmo que utilizadas pelo

patrão, ou quando o gestor estabelece metas que não podem ser cumpridas, o que considera uma agressão. “São armadas formas de a pessoa trabalhar por menos”, lamentou.

Tão perigoso para as relações pro-fissionais quanto o assédio moral é o assédio sexual. Mesmo sendo mais fácil de identificar, por apresentar um objetivo claro, muitas vezes é utilizado o artifício de culpar a vítima por não aceitar o tipo de assédio praticado. A identificação destes dois males que atingem o trabalhador nem sempre é simples, mas alguns pontos em co-mum podem torná-los evidentes. Um deles é a relação de poder estabeleci-da, com o objetivo de causar medo no assediado. Outra característica é a fre-quência. “Não é assédio ‘explodir’ por-

que alguma coisa não deu certo. Mas se continuamente a pessoa agir assim, o entendimento é outro” explicou.

Sobre as questões que podem afetar a saúde dos jornalistas, Rogério Dornel-les entende que é preciso conquistá-lo, apresentando uma visão mais ampla dos problemas da categoria. “Todo empregado intelectual não se sente trabalhador, por não ser um trabalho alienado e pressupor a sua participação em todas as etapas do processo de pro-dução”, observou. Dornelles explicou que a maneira como a sociedade está se organizando passa por estes profissio-nais. “Intelectualmente eles estão traba-lhando para a construção do processo. E mesmo que alguns se beneficiem, está se criando uma doença social e que deve ser colocada em discussão”, concluiu.

Saúde como questão de princípiosSaúde como questão de princípios

Foto: geraLDo Muzykant

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hiStória

Coojornal

Casa de número 372, na Rua Comendador Coruja, serviu como sede da Cooperativa e redação do jornal. Na foto, associados e colaboradores do periódico, em 1979.

Foto: eDuarDo tavares / Libretos

Ele deu voz àqueles que não aceitaram se calar diante dos absurdos cometidos pelo regime militar no Brasil. Os jornalistas que não se conformaram com a decisão das redações em fazê-los não cumprir

com o compromisso social da profi ssão, de infor-mar sobre tudo que possa ser de interesse do pú-blico, encontraram neste espaço, constituído por profi ssionais da comunicação gaúchos, a chance de escrever, divulgar e denunciar aquilo que os gran-des jornais da época não faziam. Com alguns anos de antecedência, se anteciparam ao que fazem hoje, em tempo de internet, os blogueiros e os veículos independentes diante da omissão da grande mídia.

Circularam por todo o Rio Grande do Sul e nas principais capitais do Brasil 78 edições do periódico chamado Coojornal, nome inspirado na identidade do grupo que o criou, a Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre. Foi fundada em 24 de agosto de 1974, no fi nal do Governo Médici, período marca-do pela maior onda de repressão política da história do país. Reunia profi ssionais da imprensa que se uniram para criar um veículo de comunicação que atendesse aos interesses da categoria e da popula-ção, em um modelo socialista de negócio onde todos os associados tinham direito a voto, a cooperativa

atraiu aqueles que sonhavam em trabalhar no seu próprio jornal. Não havia patrão e não havia censu-ra na edição.

O começo e a consolidação Exatamente 66 jornalistas aderiram à ideia de

trabalhar em seu próprio jornal quando este era apenas um projeto. E, antes de conseguir recursos para editar o Coojornal, a Cooperativa dos Jorna-listas de Porto Alegre sustentou sua estrutura física e pessoal produzindo boletins e jornais para outras cooperativas, sindicatos, instituições públicas e pri-vadas. Assim seguiu pelos próximos anos, mesmo quando já estava produzindo seu próprio periódico.

Inicialmente tratando de assuntos de interesse dos gaúchos, em pouco tempo a circulação conquis-tou alcance nacional. A tiragem de 3,5 mil exempla-res enquanto boletim passou para dez mil assim que chegou às bancas. O grupo de associados passou de 300 pessoas em seu melhor momento, sendo manti-do um grande número permanente de funcionários e colaboradores na sede que abrigava a Cooperativa, um casarão na Rua Comendador Coruja.

Tratadas, na essência, como trajetórias distintas, o jornal e a cooperativa, na prática, dependiam um do outro para sobreviver. O mensário, que inicial-

mente era distribuído em redações e universidades e em pouco tempo conquistou espaço e público nas bancas, precisava da verba que a cooperativa ob-tinha através de outros serviços prestados na área editorial. E era no jornal e em seu conteúdo infor-mativo que estava a razão de existir da cooperativa.

Divergências econômicas e políticas O fato de estarem estritamente condicionados

um ao outro é um dos motivos que culminaram com o fi m de tudo que se realizava pelo grupo de jorna-listas até então. A esse fator pode se somar a preten-são de ser uma empresa onde, em tese, todos os seus mantenedores e funcionários são tratados da mes-ma maneira, e a coragem de enfrentar os detentores do poder à época. Atuante no cenário gaúcho e cir-culando entre 1975 e 1983, com notoriedade nacio-nal conquistada através da circulação do Coojornal, a Cooperativa de Jornalistas sofreu com os boicotes econômicos articulados pelos militares e, especial-mente, com as diferentes interpretações quanto ao rumo que deveria seguir, motivada por divergências políticas, assim que vislumbrou uma possibilidade de uma reabertura da democracia no país.

* SEGUE

372, na Rua

Foto: eDuarDo tavares / Libretos

A ascensão de uma alternativae o fi m de um projeto

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hiStória

André Pereira*

Sizudo e denunciador, o nanico gaúcho Coojornal correu em faixa própria paralela à trajetória dos jor-nais alternativos liderados pelo irreverente e gracioso Pasquim durante a ditadura.

À truculência desta, aliás, costuma-se atribuir a responsabilidade pelo fim da pioneira Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre, criada em 1974, há jus-tos 40 anos, por um grupo de profissionais da capital gaúcha inspirados em modelo europeu de gestão pró-pria da categoria.

Dois anos depois de fundada, a cooperativa lan-çou o mensário de mesmo nome, Coojornal, que se notabilizou como uma publicação que desafiava o regime militar e que produzia grandes reportagens, incomuns na mídia convencional vigiada de perto pe-los censuradores. Arrebatou prêmios, mas teve jor-nalistas presos. Alcançou o sucesso, mas findou em melancólica agonia, quase por inanição.

Passadas quatro décadas, para alguns jornalistas que discordam da visão simplificada de que a enti-dade foi abatida pela ação dos sabujos de coturnos, ainda perdura uma angustiante interrogação: a Coo-jornal teria sobrevivido ao impacto eleitoral que de-terminou o rompimento interno e a saída de suas hostes de boa parte do núcleo da reportagem e da fotografia?

Teria ela mais alguns gordos anos de sobrevida se os jovens contestadores de então assumissem a con-dução da empresa gerida por jornalistas, sabidamen-te avessos aos meandros da gestão?

Para os que prosseguiram na direção com a árdua missão de administrar a famosa Cooperativa dos Jor-nalistas de Porto Alegre até a penosa angústia final imposta aos mais de 300 sócios e compartilhada com os colegas fiadores da locação imobiliárias de dois prédios e de empréstimos bancários ferinos, defen-sores da versão conveniente de que a ditadura exa-cerbada daqueles idos é culpada maior pelo fim da Coojornal, certamente a resposta é não.

A r g u m e n t a m que, ao impor a cen-sura jornalística ver-de-oliva e mostrar as garras de condor para assustados anunciantes que deixaram de investir em peças publicitá-rias na publicação, o arbítrio asfixiou-lhe mortal e irremedia-velmente o fôlego financeiro.

Ademais, os afoi-

tos cabeludos e as meninas de bata da oposição cer-tamente não estavam amadurecidos o suficiente para dirigir a Coojornal com a visão empresarial que se exigia. Então, interrogam tão prosaicamente: de que adiantaria uma diretoria com postura divergente frente a este contexto externo violentamente avassa-lador?

É possível que se concorde com este diagnóstico por conta da interpretação recorrente mais conheci-da e firmada, como sempre, pelos vitoriosos. E que tem sido, amiúde e à exaustão, disseminada até por graduados de Jornalismo, com a conivência descom-prometida com a história da imprensa de mestres e doutores em comunicação.

Mas se, afinal, no âmbito da especulação, cabem assertivas e negativas ao gosto do freguês, posso es-tabelecer a hipótese de uma opinião bem oposta: a da versão ignorada dos esquecidos.

Sim, com o crédito de ter sido um primeiros re-pórteres associados a integrar o dia a dia executivo da instituição, vos digo: animem-se, pois a Coojor-nal teria sobrevivido com destino diferente se aquele pioneiro grupo idealista e de vigorosa juvenilidade permanecesse, portando-se fiel à doutrina cooperati-vista que originara a Coojornal em 1974.

Teriam, por óbvio, que ajustá-la à prática de uma gestão viável no mercado capitalista em que se inse-ria, mas não precisariam abdicar do cotidiano que três dezenas de nós, cumpridores de expediente diá-rio alongado, incorporamos ao nosso estilo de vida, a nossa própria jornada vivencial.

Coojornal, um outro destino seria possívelIntegrante do grupo pioneiro na formação da Cooperativa de Jornalistas dos Porto Alegre e elaboração do periódico Coojornal, André Pereira foi um dos associados que se opôs ao rumo tomado pelo jornal logo após os primeiros anos de existência, integrando a chapa de oposição que perdeu a eleição para a diretoria em 1978. Hoje, 40 anos depois da assembleia em que adquiriu sua quota-parte, André assume que, mesmo sendo um entusiasta da ideia, esta é para ele uma experiência traumática. “Naquele momento saiu do Coojornal a mão de obra doutrinária da Cooperativa, substituídas por pessoas que viam lá como emprego, mas não tinham vínculo histórico e doutrinário com a Cooperativa”, avalia.

Era uma doce época de resistência cívica, dos al-moços caseiros preparados por dona Leocádia, dos romances adúlteros que saíram dos lençóis para ca-samentos com prole, das mudanças radicais de vo-cações profissionais, dos bailecos com chope na sala maior da casa alugada na rua Comendador Coruja; das reuniões de pauta em que tonitruava uma escri-tora em busca de recorde no Guiness sem contudo interromper o dormitar de um chargista; das cenas habituais que sequer apareceram naquele vídeo pro-mocional com protagonistas alienígenas e debocha-dos que acompanha a coletânea de reportagens do mensário, "Coojornal, um jornal de jornalistas sob o regime militar".

De fato, não estava em nosso horizonte administra-tivo, assentado em auditoria externa que nossa chapa propugnava, a aventura do lançamento do semanário O Rio Grande nem a megalomania da aquisição de uma gráfica própria que resultaram em frustração fi-nanceira impondo o fracasso econômico que o geren-te executivo de então iluminou depois, em entrevista para o jornalista Danilo Ucha. Para Eládio Vieira da Cunha (que se demitiu antes do lançamento do pe-riódico semanal que durou apenas 22 edições), era "coisa de louco" lançar um jornal naquele momento, nas condições deficitárias que a Coojornal vivia.

Não bastou a chamada à razão do gerente e tam-bém interposta na histórica assembleia extraordi-nária em que a situação venceu a eleição graças aos votos enviados por correio de outros estados por associados mal informados sobre a situação cá nos pagos.

À esta morte anunciada ali contrapomos com um planejamento modesto com limiar econômico orto-doxo, conservador até – logo nós, os mais inexperien-tes, os socialistas pré-PT, como alguns anos depois nos cunharam, simpáticos brittistas. Nosso progra-ma de governo rejeitava arroubos de grandiloquência e ignorava a criação de novos veículos; ao contrário, apostava na produção para terceiros como base para investir na principal publicação mensal, isto é, refor-çando a edição do Coojornal.

Propúnhamos, também e sobretudo, uma gestão com igualdade participativa e democracia interna, valores teóricos que a Coojornal defendia nas páginas do mensário mas repórteres e fotógrafos só acom-panhávamos na prática de algumas cooperativas de produção no interior do estado, que cobriam com regularidade para a inovadora revista Agricultura & Cooperativimo que era (bem) paga pela poderosa Federação das Cooperativas de Trigo e Soja (Fecotri-go).

A participação solidária animaria o grupo e con-vocaria novos adeptos na cruzada da imprensa con-tribuindo para o fim do regime que já durava mais de uma década.

Por esta projeção sonhadora de equilíbrio nas fi-nanças e convivência harmoniosa entre almas dife-rentes, seríamos todos felizes no final, como sói acon-tecer em novelas platinadas e em filmes oscarizados.

Entretanto, em nome da sobriedade existencial e do rigor profissional que repele teses sem comprova-ção possível, só me resta acatar a férrea realidade e concordar que a pergunta, passadas quatro décadas, não tem e jamais terá uma resposta definitiva.

O Coojornalse notabilizou

como uma publicação que

desafiava o regime militar

e que produzia grandes

reportagens, incomuns na mídia

convencional* Jornalista gaúcho,

um dos primeiros repórteres do Coojornal

Foto: Libretos

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Setembro de 2014 7

José Antonio Vieira da Cunha*

A Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre foi a mais revolucionária iniciativa adotada por profissio-nais desta categoria em todo o Brasil nos anos 70 e 80. E o Coojornal, que a Cooperativa editou e bancou durante sete anos, é considerado, dentre todos exem-plos de bons jornais alternativos que vicejaram como pilares contra a ditadura – Opinião, Movimento, Pas-quim, Versus, para citar os mais emblemáticos –, o mais profissional e consequente.

Este jornal de jornalistas, como se apresentava com orgulho e razão, era democrático e participativo como poucos. Tinha um Conselho Editorial, do qual parti-cipavam todos os que estivessem envolvidos com seu fazer, fossem repórteres, redatores, editores, diagra-madores, fotógrafos, todos. Estes, aliás, tinham seus próprios e autônomos conselhos: havia o Conselho dos Fotógrafos e o Conselho da Redação, boas amos-tras de quão participativo era mesmo este processo.

Longe de uma aventura ou um fugaz momento de rebeldia, na origem do Coojornal está um projeto que amadureceu após meses de discussão, seguidos de meses de trabalho.

No início dos anos 70, ditadura no apogeu, sindica-tos atrofiados e im-prensa amordaçada, jornalistas trocavam ideias sobre aqueles momentos difíceis e tentavam encon-trar alternativas. No fundo, a vontade que aqueles profissionais alimentavam, ontem como hoje, era a de ter um jornal em que pudessem decidir so-

bre sua linha editorial, ter influência direta sobre a pauta, os rumos do investimento, enfim, sobre todo o processo.

Foi uma pequena nota publicada em um diário paulista que apresentou o ovo de Colombo: em Mi-lão, Il Giornale era um jornal que prosperava a partir de uma cooperativa de editores. Por que não se tentar uma saída semelhante aqui?

Cooperativismo era um princípio vitorioso naque-les tempos, com grandes cooperativas de trigo e soja levando prosperidade e modernidade ao interior do Rio Grande do Sul. A ideia de levar esta opção a jor-nalistas foi muito bem recebida por todos os que, à medida em que ela frutificava, a ela aderiam. Afinal, o cooperativismo tinha, e tem, princípios universais que consagram a participação: reúne pessoas com in-teresses comuns, cada um tem direito a um voto em assembleia, independente do tamanho de seu capital, não visa lucros como fim imediato.

Depois de meses de avaliação, uma ampla divulga-ção em redações e nos jornais anunciava que, no dia

24 de agosto de 1974, seria fundada uma cooperativa de jornalistas, e todos os profissionais interessados po-deriam dela participar. Para surpresa e alegria dos que idealizaram o projeto, 67 jornalistas compareceram naquele sábado à tarde na sede da ARI (Associação Riograndense de Imprensa) para serem os fundadores da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre Ltda.

Apenas um não se sentiu tocado, enquanto 66 apostaram na ideia e criaram ali a sociedade que as-sumiu a sigla Coojornal, síntese da entidade e do que todos sonhavam: ter um jornal próprio. O caminho revelou-se naturalmente difícil para uma empresa criada por assalariados – que, disciplinadamente, de-cidiram durante algum tempo capitalizar a empresa e, para isso, passaram a pagar uma mensalidade de alguns cruzeiros, a moeda vigente.

Seis meses depois, abriu-se a janela da prestação de serviços: a cooperativa dedicou-se a prestar ser-viços para terceiros, fossem empresas, sindicatos, órgãos públicos, contemplando duas necessidades importantes, a de fortalecer sua musculatura como organização e, melhor, a de oferecer oportunidades de trabalho para seus associados.

Deu muito certo e, em poucos meses, dezenas de profissionais já estavam atuando ali, produzin-do boletins, jornais, revistas para estes clientes. Em novembro de 1975, outra decisão: criar um boletim para ser um elo de informação entre cooperativa e cooperativados. Deu-se a ele o mesmo nome dela, Coojornal. E foi aí que tudo começou. Um ano de-pois, em outubro, foi para as bancas o mensário que faria história na imprensa brasileira.

Resgatar a memória da Coojornal não diz respeito apenas ao grupo de jornalistas que participaram da-quela experiência, mas à própria história da imprensa no Rio Grande do Sul. A Cooperativa dos Jornalistas resultou de uma reação a uma situação que oprimia toda a imprensa brasileira, naqueles tempos som-brios. Por tudo isso e porque, cada vez mais, a impren-sa é fonte a que recorrem os pesquisadores e historia-dores, é importante evitar que prosperem equívocos repetidos em artigos e reportagens.

Então, corrijam-se as versões enviesadas que vice-jam por aí. Uma delas é o entendimento de que a coo-perativa nasceu a partir da demissão de 21 jornalistas da Folha da Manhã, tão difundida a ponto de levar ao engano mesmo jornalistas experientes. Não foi de uma crise na Folhinha, esta ocorrida em outubro de 1975, que surgiu a cooperativa ou seu jornal – que, aliás, já existia como boletim e noticiou esta crise. Na origem da cooperativa não está o ímpeto de um grupo de desempregados. Ao contrário, foi madura a deci-são por sua criação.

No final da década de 70, o Coojornal circulava nas principais cidades brasileiras, com uma tiragem de cerca de 33 mil exemplares, número extraordinário para a época e para o tipo de jornalismo que se exer-cia. Não à toa, foi considerado um dos cinco alterna-tivos mais importantes na imprensa brasileira, como registrado em livros como ‘Jornalistas e Revolucioná-rios’, de Bernardo Kucinski.

A história feita por jornalistas

No fundo, a vontade

que aqueles profissionais

alimentavam, ontem como hoje,

era a de ter um jornal em que

pudessem decidir sobre sua linha

editorial

Líder da primeira gestão da cooperativa, José Antonio Vieira da Cunha diz que o Coojornal era um projeto de jornalistas, antes de ser uma publicação ideológica, como eram os seus similares na época. Destaca, entretando, que o periódico teve embates com o governo militar, enfrentando a censura em função de seu conteúdo crítico. “A Cooperativa dos Jornalistas foi revolucionária à sua maneira”, explica.

* Primeiro presidente da Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre

Revolucionou o Jornalismo que se praticava aqui porque foi, antes de tudo, um projeto de jornalistas, de profissionais, antes de ser uma publicação com conota-ção ideológica, como seus similares da época. Mesmo assim, também teve embates com os governos e com a censura em função de seu conteúdo crítico e contun-dente em relação ao momento político que se vivia.

A Cooperativa dos Jornalistas também foi revolu-cionária à sua maneira. Pioneira no meio, inspirou a criação de outras 12 nas principais capitais brasileiras. Em seu melhor momento, em 1979 e 1980, era a prin-cipal fonte de renda, quando não a única, de quase 100 (cem!) profissionais. Chegou a ter cerca de 450 asso-ciados, quase uma centena deles de fora do Estado.

Estabeleceu-se então claramente uma disputa de poder. Uns querendo permanecer no caminho que estava sendo trilhado, com seus projetos que conside-ravam vencedores sendo tocados adiante. Outros pre-tendendo ocupar aquele espaço, com outros projetos que, idealizavam, seriam melhores ou mais confiáveis ou mais consequentes.

Houve uma eleição em que inevitavelmente um destes grupos venceu. Faltou maturidade a uns e ou-tros para não fazer daquela batalha uma guerra final; o resultado é que os vencedores ficaram, enquanto mui-tos dos perdedores se afastaram. Foi ruim para todos, pois os que ficaram deixaram de ser fortes como eram quando todos estavam unidos, e alguns bons talentos se afastaram da cooperativa e de seu dia a dia, indo brilhar em outros cantos.

Quatro anos depois boa parte daquele grupo então perdedor voltou à atividade na cooperativa e assumiu o comando. Menos de dois anos após a cooperativa e seu jornal fecharam as portas.

Esta é a história. Incomoda e ainda indigna ouvir e ler tantas fantasias sobre este rico episódio da im-prensa gaúcha. Enquanto uns acusam de ter faltado democracia, já houve até quem escrevesse que havia tanta naquele ambiente que se transformara em de-mocratismo!

Foto: Libretos

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Setembro de 20148

de história

CONVêNIOs

comemoração

Mais de 200 pessoas comemoraram, juntamente com a diretoria e os funcionários da entidade, os 72 anos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. Fundado em 23 de setembro de 1942, o SINDJORS construiu sua história como uma instituição engajada na defesa dos interesses da cate-goria, envolvendo-se em lutas pela garantia e manu-tenção de direitos sociais, da liberdade de imprensa e liberdade de expressão.

Neste ano, a homenagem foi dedicada não só aos jornalistas gaúchos, mas a um profissional que, mes-mo não tendo sua careira constituída na comunica-ção, é conhecido por todos aqueles que já tiveram alguma passagem pela entidade de classe. Em 2014, o gerente Cristiano Campos Nunes completa 25 anos de serviços prestados ao Sindicato dos Jornalistas, tendo neste período construído uma relação de con-fiança e credibilidade com a categoria.

Respeito pela categoriaDo início de carreira como office boy até a atual

função de gerente financeiro administrativo, Cris-tiano passou por seis diretorias dentro do Sindicato dos Jornalistas. A cada novo jornalista que conhece, é uma nova pessoa de quem conquista admiração e confiança. Foi assim quando começou a trabalhar na entidade, aos 17 anos, em 1989, através de indicação da então presidente Vera Spolidoro.

Mesmo dedicando a maior parte do seu dia ao Sindicato, Cristiano não deixa de manter contato com outras atividades de seu interesse, como tecno-logia em segurança e informática. “Acho que eu teria condições de me adaptar em diversas áreas. Tudo se aprende quando se tem boa vontade e quer traba-lhar”, comenta. E disposição não lhe falta. Reconheci-do por gestores da entidade e pela categoria, uma das características que mais se destacam no profissional é a disponibilidade em atender a quem precisa.

Da personalidade de Cristiano (na foto receben-do uma placa do presidente do SINDJORS, Milton Si-mas) se destaca uma qualidade que para ele é inerente ao seu trabalho. “Não tem como deixar uma pessoa que está precisando de ajuda sair do Sindicato com o mesmo problema ou com mais porque alguém não o ajudou, isso pra mim é inaceitável”, conta o gerente. Nestes 25 anos junto à categoria, Cristiano lembra que sempre procurou ajudar a quem precisa “indepen-dente do problema. O importante é que todos saiam do Sindicato com menos peso que chegaram”.

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72 anosFotos: Luiz aviLa