Vantagens da cultura de células

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A discusso sobre o uso de animais como cobaias em pesquisas cientficas ainda permanece sem uma expectativa de soluo. Entretanto, crescente a adeso da populao e dos prprios cientistas para que evitem sofrimentos desnecessrios aos animais. justo que os humanos, auto denominados animais superiores, se aproprie do direito de dispor da vida de um outro ser vivo de forma indiscriminada? A mdica cardiologista Odete Magalhes, professora da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande So Paulo afirma que grande parte das pesquisas realizada para massagear o ego de cientistas - que precisam "aparecer" com novas descobertas - ou as necessidades dos grandes laboratrios. O bem estar da populao, e dos animais, ficaria em segundo plano. As pesquisas andam por um caminho prprio, que muitas vezes no est relacionado s necessidades da populao. apenas conhecimento pelo conhecimento". Os dados sobre uso de pesquisas com animais no Brasil ainda no so conhecidos mas, nos Estados Unidos, onde a produo cientfica mais acentuada, so utilizados cerca de 17 a 23 milhes de cobaias por ano. Em 2007, os cientistas Mario Capecchi, Oliver Smithies e Martin J. Evans foram agraciados com o prmio Nobel de medicina. Suas pesquisas so direcionadas para a criao de uma tcnica para simulao de doenas humanas em camundongos com a finalidade de identificao de efeitos gentipos. Essa premiao inflou o apelo popular para o uso racional de animais em pesquisas. Se a imensa quantidade de animais expostos a vrios tipos de procedimentos dolorosos ou mutilantes ainda no for suficiente para a busca de alternativas para a pesquisa, a maior carga legislativa deveria ser considerada. A Lei 11.794 do ano de 1998 estabelece procedimentos para o uso cientfico de animais. Essa regulamentao cria o CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentao Animal) que promove o controle e cumprimento da legislao pelas CEUAs (Comisses de tica no Uso de Animais), obrigatrias para o credenciamento das instituies com atividade de ensino e pesquisa com animais. Dentre as obrigaes dessas instituies esto a criao de instalaes (alojamento) adequadas aos animais utilizados, bem como o suprimento de todas as suas necessidades nutricionais e fsicas (temperatura, umidade). necessria criar todas as condies que simulem as condies naturais do habitat do animal utilizado. Os pesquisadores assumem o compromisso de submeterem suas pesquisas a anlise da CEUA, determinando o nmero e uso pretendido de animais. Em relao aos animais, a exigncia causar o mnimo de dano e sofrimento ao animal, reduzindo o tempo dos procedimentos, utilizando substncias analgsica e/ou algsica. A burocracia envolvida no uso de animais para fins cientficos apenas uma das dificuldades. O consumidor est cada vez mais exigente em relao a todo o ciclo de produo, incluindo a chegada do produto em suas mos e o seu destino final. A indstria verde amplia sua participao no mercado a cada dia, enquanto indstrias que no possuem uma poltica ambiental sofrem rejeio constante por grande parte do pblico consumidor. Uma soluo mais promissora para a substituio de pesquisas com animais a utilizao de cultura de clulas. Embora a maioria dos cientistas concordem que a eliminao completa do uso de animais seja impossvel, pela impossibilidade de simular de forma completa toda a interao fisiolgica do organismo vivo, consenso que a pesquisa in vitro possibilita a reduo do seu uso. O uso de cultura celular facilita a compreenso microscpica das alteraes fisiolgicas. Os fenmenos que ocorrem em cultura, secreo de colgeno pelos fibroblastos, clulas derivadas do tecido muscular embrionrio fusionando e contraindo-se espontaneamente, sinapses nervosas, dentre outras atividades celulares, so impossveis de serem observadas em organismos vivos, intactos. Culturas secundrias, derivadas da cultura inicial, podem ser recultivadas repetidamente por semanas ou meses. O uso de clonagem celular em que uma clula primria serve de base para culturas derivadas permite um maior controle dos resultados do experimento. Embora, ainda seja observada clulas clones de comportamentos diferentes, esse processo reduz alteraes nos resultados por diferenas de metabolismos. A cultura celular possibilita tambm a anlise bioqumica dos efeitos da adio ou remoo

de molculas especficas, como hormnios e fatores do crescimento. Esses efeitos podem ser verificados de forma isolada ou anlise simultnea de vrios tipos celulares com o uso de culturas mistas. A observao da clula por esse mtodo pode ser estendida para alm da visualizao em mono camadas. As clulas podem explorar as trs dimenses do espao, formando estruturas esferoides multicelulares. Essas estruturas apresentam uma heterogeneidade celular em seu interior, formando microambientes com exposio diferencial a nutrientes, oxignio e outras substncias. Essa morfologia semelhantes a alguns tumores avasculares. As vantagens desse mtodo incluem a reduo do custo. O farmacutico Daniel Rossi de Campos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprovou atravs do seus estudos com o medicamento pantoprazol, indicado para distrbios gastrointestinais, que os resultados das pesquisas in vivo e in vitro apresentam resultados bastante semelhantes. Segundo o pesquisador, o processo utilizando clulas in vitro pode ser utilizado para medicamentos de liberao imediata e ampla faixa teraputica. Esse tipo de pesquisa aceita pelas agncias reguladoras americana (FDA) e europeia (EMEA). A legislao brasileira chegou a permitir o estudo de bioequivalncia em cultura de clulas no ano 2000. Mas nenhum laboratrio demonstrou interesse em adotar esse procedimento. A partir do ano de 2006, a permisso para o estudo de bioequivalncia foi restrito a pesquisas in vivo (animais e humanos, na etapa final). Nessa mesma publicao, o autor afirmou que apesar do inconveniente de conduzir estudos de pesquisa de permeabilidade no exterior, o custo dos experimentos in vitro, R$ 50 mil a R$ 100 mil, pode chegar a cerca de 6% do custo do mesmo experimento in vivo, R$ 200 mil a R$ 800 mil.