Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde...

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UNIVERSIDADE DO SUL E SUDESTE DO PARÁ INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO DO CAMPO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO (TURMA 2009) Marcelle Moreira Ribeiro Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos científicos e saberes locais na prática docente de professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Pará Marabá- PA 2015

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Page 1: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

UNIVERSIDADE DO SUL E SUDESTE DO PARAacute

INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS

FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO

(TURMA 2009)

Marcelle Moreira Ribeiro

Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de

professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute

Marabaacute- PA

2015

MARCELLE MOREIRA RIBEIRO

Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de

professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute

Versatildeo Final do Trabalho de Conclusatildeo de Curso

apresentado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo do Campo

(Fecampo) como requisito para a obtenccedilatildeo do

grau em Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

com habilitaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas e Sociais

da Universidade Federal do Sul e Sudeste do

Paraacute (UNIFESSPA) sob a orientaccedilatildeo da Prof

Ms Haroldo de Sousa

Marabaacute- PA

2015

MARCELLE MOREIRA RIBEIRO

Valorizando o Local

Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de

professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute

Data da Defesa 22102015

Conceito _______________

Banca Examinadora

_______________________________________________________

Haroldo Souza Prof Msc

FECAMPOUNIFESSPA

Orientador

Maura Pereira dos Anjos Profa Msc

FECAMPOUNIFESSPA

Examinadora Interna

Maria Ceacutelia Vieira ProfaMsc

FECAMPOUNIFESSPA

Examinadora Interna

Marabaacute-PA

2015

Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa

Moreira (minha Matildee)

Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila

espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso

para chegar ateacute aqui

A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que

pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o

mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as

feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu

Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo

intervalar) Sabrina Nascimento e outros

As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me

ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo

profundamente pelo tempo passado com vocecircs

A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em

suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis

Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci

assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de

lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de

sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior

A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me

ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este

trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo

A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos

fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando

forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana

Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute

o fim de nossas vidas Obrigada

As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas

alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a

qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas

brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila

A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos

saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa

coragem para seguirmos em nosso caminho

Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a

margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos

proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio

de nossa descoberta

E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras

cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e

honesto

Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no

Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do

qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e

ribeirinhos

Obrigada a todos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 2: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

MARCELLE MOREIRA RIBEIRO

Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de

professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute

Versatildeo Final do Trabalho de Conclusatildeo de Curso

apresentado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo do Campo

(Fecampo) como requisito para a obtenccedilatildeo do

grau em Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

com habilitaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas e Sociais

da Universidade Federal do Sul e Sudeste do

Paraacute (UNIFESSPA) sob a orientaccedilatildeo da Prof

Ms Haroldo de Sousa

Marabaacute- PA

2015

MARCELLE MOREIRA RIBEIRO

Valorizando o Local

Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de

professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute

Data da Defesa 22102015

Conceito _______________

Banca Examinadora

_______________________________________________________

Haroldo Souza Prof Msc

FECAMPOUNIFESSPA

Orientador

Maura Pereira dos Anjos Profa Msc

FECAMPOUNIFESSPA

Examinadora Interna

Maria Ceacutelia Vieira ProfaMsc

FECAMPOUNIFESSPA

Examinadora Interna

Marabaacute-PA

2015

Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa

Moreira (minha Matildee)

Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila

espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso

para chegar ateacute aqui

A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que

pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o

mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as

feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu

Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo

intervalar) Sabrina Nascimento e outros

As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me

ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo

profundamente pelo tempo passado com vocecircs

A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em

suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis

Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci

assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de

lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de

sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior

A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me

ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este

trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo

A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos

fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando

forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana

Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute

o fim de nossas vidas Obrigada

As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas

alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a

qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas

brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila

A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos

saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa

coragem para seguirmos em nosso caminho

Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a

margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos

proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio

de nossa descoberta

E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras

cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e

honesto

Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no

Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do

qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e

ribeirinhos

Obrigada a todos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 3: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

MARCELLE MOREIRA RIBEIRO

Valorizando o Local

Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de

professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute

Data da Defesa 22102015

Conceito _______________

Banca Examinadora

_______________________________________________________

Haroldo Souza Prof Msc

FECAMPOUNIFESSPA

Orientador

Maura Pereira dos Anjos Profa Msc

FECAMPOUNIFESSPA

Examinadora Interna

Maria Ceacutelia Vieira ProfaMsc

FECAMPOUNIFESSPA

Examinadora Interna

Marabaacute-PA

2015

Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa

Moreira (minha Matildee)

Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila

espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso

para chegar ateacute aqui

A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que

pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o

mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as

feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu

Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo

intervalar) Sabrina Nascimento e outros

As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me

ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo

profundamente pelo tempo passado com vocecircs

A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em

suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis

Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci

assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de

lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de

sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior

A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me

ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este

trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo

A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos

fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando

forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana

Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute

o fim de nossas vidas Obrigada

As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas

alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a

qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas

brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila

A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos

saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa

coragem para seguirmos em nosso caminho

Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a

margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos

proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio

de nossa descoberta

E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras

cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e

honesto

Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no

Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do

qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e

ribeirinhos

Obrigada a todos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

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puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 4: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa

Moreira (minha Matildee)

Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila

espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso

para chegar ateacute aqui

A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que

pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o

mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as

feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu

Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo

intervalar) Sabrina Nascimento e outros

As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me

ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo

profundamente pelo tempo passado com vocecircs

A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em

suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis

Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci

assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de

lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de

sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior

A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me

ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este

trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo

A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos

fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando

forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana

Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute

o fim de nossas vidas Obrigada

As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas

alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a

qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas

brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila

A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos

saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa

coragem para seguirmos em nosso caminho

Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a

margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos

proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio

de nossa descoberta

E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras

cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e

honesto

Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no

Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do

qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e

ribeirinhos

Obrigada a todos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

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lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 5: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

Agradecimentos

Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila

espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso

para chegar ateacute aqui

A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que

pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o

mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as

feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu

Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo

intervalar) Sabrina Nascimento e outros

As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me

ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo

profundamente pelo tempo passado com vocecircs

A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em

suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis

Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci

assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de

lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de

sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior

A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me

ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este

trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo

A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos

fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando

forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana

Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute

o fim de nossas vidas Obrigada

As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas

alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a

qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas

brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila

A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos

saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa

coragem para seguirmos em nosso caminho

Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a

margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos

proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio

de nossa descoberta

E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras

cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e

honesto

Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no

Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do

qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e

ribeirinhos

Obrigada a todos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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2007 Curitiba Ed UFPR 2010

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Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 6: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos

saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa

coragem para seguirmos em nosso caminho

Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a

margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos

proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio

de nossa descoberta

E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras

cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e

honesto

Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no

Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do

qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e

ribeirinhos

Obrigada a todos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

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Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

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MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 7: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

Sumaacuterio

RESUMO 08

ABSTRACT 09

LISTA DE IMAGENS 10

INTRODUCcedilAtildeO 11

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20

Capitulo 3

Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26

Capitulo 4

(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31

Consideraccedilotildees Finais 36

Referecircncias 38

Outras referecircncias 40

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 8: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

Resumo

Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de

Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de

Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto

utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais

assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola

mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala

de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto

investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais

aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental

menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de

educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas

justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina

assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar

aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local

Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo

Conhecimento cientiacutefico Saberes locais

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

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PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 9: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

Abstract

This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System

(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located

in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the

areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews

with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational

processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal

concerns as research educators working for years in traditional communities presented

here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and

high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn

during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days

have to close the discipline so there would be moments of interaction with the

community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the

reality of the place

Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific

knowledge and local Knowledge

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 10: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

Lista de Imagens

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)

11

Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 11: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

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Introduccedilatildeo

Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no

edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um

curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras

universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me

chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se

inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses

grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e

demandas imanentes do campo

Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade

Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me

identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento

construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que

me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia

pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e

tarde nesses meses

Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo

diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava

voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os

atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros

Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de

alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do

movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que

reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de

se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras

Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo

durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute

por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento

quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma

loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do

tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade

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na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

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trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

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Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

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Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

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partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

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Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

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chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

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etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 12: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

12

na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e

esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do

Campo

Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de

Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades

civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que

serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo

valorizada e pensada para e pelos povos do campo

Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS

seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e

se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de

discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de

onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas

O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo

junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de

camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas

Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que

eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos

Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de

experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes

localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus

compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)

nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo

proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os

quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula

Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute

aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute

onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em

meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a

realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo

assim como fora no inicio para mim

Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de

Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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2007 Curitiba Ed UFPR 2010

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Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

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FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

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de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

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Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 13: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

13

trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e

juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas

contadas na sala da diversidade cultural

O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos

de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador

do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de

forma mais agradaacutevel para ambos

De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da

Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe

que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que

compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter

acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado

proveniente da vida na sua comunidade

Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa

refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos

que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano

O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois

se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-

Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de

diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de

conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas

Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia

histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o

modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos

necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em

cada um algo que os toquem socialmente

O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute

denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica

tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas

quilombolas indiacutegenas e outras

Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr

em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo

como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)

professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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2007 Curitiba Ed UFPR 2010

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

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Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 14: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

14

suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos

(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam

com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino

Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas

identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo

Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora

Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual

fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar

de onde viemos

Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba

situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da

cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo

surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar

pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo

para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela

aconteccedila

Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade

realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em

aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e

praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que

tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades

ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto

eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada

seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento

local

A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em

evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se

incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as

disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da

realidade

Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo

participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da

escola Nossa Senhora de Guadalupe

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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Petroacutepolis Vozes 1988

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sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

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GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

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Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

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em abril de 2015

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

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Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 15: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

15

Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1

intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um

pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional

O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a

comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para

melhor ambientar o leitor

No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais

objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da

sala de aula

No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo

do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os

conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas

Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este

trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em

trabalhos posteriores

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 16: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

16

Capitulo 1

A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha

A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os

processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou

ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes

O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo

como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e

suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas

consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por

vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que

A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos

do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades

contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o

paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos

interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao

fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo

(SOUZA 2010)

Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros

meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade

concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de

movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os

trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem

antagonicamente

Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos

alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os

que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios

empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a

outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de

outros brasileiros (PINHEIRO 2011)

Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute

tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de

poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do

campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros

Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos

locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que

esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

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uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

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Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

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Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

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dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

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traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

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GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 17: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

17

partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o

reconhecimento de suas comunidades reelaborar

Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos

territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas

distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria

emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada

essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo

torna-se dominaccedilatildeo

Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no

sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do

processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste

Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre

movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo

Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios

paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria

desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do

Campo como ressalta Fernandes (2008)

No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural

empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES

2008)

No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se

fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo

Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e

coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua

construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida

no campo

Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter

profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que

possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos

na aacuterea da educaccedilatildeo do campo

Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para

professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades

Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de

18

Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 18: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias

educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola

Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento

e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem

educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli

Caldart (2008)

A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo

formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem

da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos

da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)

A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que

antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e

Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural

natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra

visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam

preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio

teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo

E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de

trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no

campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o

diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da

educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se

identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua

participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas

e sociais

A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para

pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar

melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles

de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou

abandonem seus costumes

Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela

engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo

natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 19: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

19

Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do

rio tucumanduba

Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso

aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz

uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)

Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para

as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as

atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em

consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as

proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os

alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se

reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da

educaccedilatildeo formal ou informal

Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do

local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em

acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando

assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas

Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria

de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura

politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-

pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que

nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma

Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 20: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

20

Capitulo 2

De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe

O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a

duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e

Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno

de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A

localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio

Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em

educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre

alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um

com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no

ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na

ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais

Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas

tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea

contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz

conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves

cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em

Abaetetuba Beleacutem e outras cidades

O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade

de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro

horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas

de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas

(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros

Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das

seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute

1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de

Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104

vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em

especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros

dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o

rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos

rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 21: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

21

chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove

horas da manhatilde

Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba

Fonte Google Imagens2015

Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para

regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o

tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de

gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto

ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu

destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas

com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de

transporte para esse local o hidroviaacuterio

Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava

em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das

aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares

observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas

baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que

atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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2007 Curitiba Ed UFPR 2010

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Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

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CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

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FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

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em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 22: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

22

Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que

estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio

(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por

virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha

famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como

algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta

pesquisa

De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos

que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios

de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que

satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em

um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem

natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute

integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense

o ribeirinho

Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia

enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de

dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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Beleacutem Cejup 1994

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MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 23: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

23

Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem

nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso

passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja

Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de

Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como

Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os

alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir

Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas

denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf

Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um

passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local

Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e

Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade

de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental

Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino

satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de

Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo

anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele

vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo

24

do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

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MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

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PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

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Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 24: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de

conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de

recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia

de cursar o ensino meacutedio

Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de

rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com

carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura

saberes e processos histoacutericos

Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado

dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos

com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e

permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade

identidade e saberes locais debatidos em sala de aula

Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se

levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se

dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a

complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com

que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo

o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na

zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas

movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se

compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas

A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado

estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$

600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno

professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente

de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor

Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada

moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito

educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas

delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola

informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que

hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

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PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

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VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

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Editora da UFRJ 1987

40

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 25: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

25

uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo

voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4

O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de

ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em

formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para

os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e

ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas

diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual

Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de

accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas

famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou

aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha

conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador

associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs

durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de

paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada

regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos

durante esse periacuteodo

Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de

comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo

na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da

quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico

4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da

Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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Editora da UFRJ 1987

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Outras referecircncias

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 26: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

26

Capitulo 3

Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais

Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco

da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de

Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema

de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em

relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos

possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de

educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo

Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo

as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro

do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como

organizam os conteuacutedos

Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam

meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo

do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

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Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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40

Outras referecircncias

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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 27: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

27

campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso

somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta

pesquisa

Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015

Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes

localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como

Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros

Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os

coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra

localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)

Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz

parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba

com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo

ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois

passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo

ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas

e continua

Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos

dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar

seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

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SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 28: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

28

Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter

viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a

necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que

o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas

aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua

Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo

dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles

exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos

(Entrevista cedida em novembro de 2014)

Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural

poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida

cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas

comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios

primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e

acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social

dentro de sua comunidade

A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz

conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de

idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos

artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de

idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns

momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e

adultos

Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo

entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo

aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

dessa comunidade

Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante

no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o

sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em

qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes

culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade

5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades

segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do

presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo

29

Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

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Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

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Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

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Page 29: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o

trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu

dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta

Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o

entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e

conferem sentido agrave sua existecircnciardquo

Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu

acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana

desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito

antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os

mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e

chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola

Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo

comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem

outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno

quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute

patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo

apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater

o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7

estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo

da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe

atrasa a chegada

Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees

podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo

do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo

sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)

legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento

promovendo a Pedagogia da Alternacircncia

Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se

estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se

tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento

6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo

7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que

navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

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39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

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em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

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SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

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40

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lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 30: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

30

alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas

experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de

aprendizagens a partir desse movimento

Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador

do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes

agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma

troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais

Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)

interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os

modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam

desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso

levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida

em comunidade

O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por

exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas

e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de

aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao

ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia

Andrade (1993)

Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades

agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido

os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem

no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a

educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud

ANDRADE 1993)

Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de

experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa

diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da

pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos

pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais

legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes

semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e

elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural

8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore

apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto

das aacutervores

31

Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

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2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

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CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 31: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

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Capitulo 4

(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo

A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a

base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um

novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem

na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e

que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar

pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa

histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade

Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que

traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave

permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes

valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos

organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida

As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que

sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os

professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona

pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho

pedagoacutegico

Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola

da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de

educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e

das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)

Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o

grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se

trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees

sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua

particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos

sociais e da cultura como praacutexis

Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de

profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que

eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas

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dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 32: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

32

dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo

em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias

indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas

lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades

ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de

trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a

educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a

isto que ela se propotildee

E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando

estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas

histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e

se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo

Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as

escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas

recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de

2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam

ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os

alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de

chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no

processo de ensino- aprendizagem

Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo

natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse

em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e

meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam

durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua

trajetoacuteria

O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser

humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as

comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da

histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de

conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos

alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de

forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo

esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 33: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

33

Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos

educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de

descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar

democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica

e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos

ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do

conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como

um criacutetico- dialeacutetico

De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de

apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros

fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e

suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que

passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o

conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico

despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos

O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de

conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do

campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo

praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social

direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora

Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de

ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da

cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de

educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na

cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias

Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do

Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de

mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem

curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)

Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia

profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino

possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo

aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta

(FREIRE 2003)

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 34: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

34

Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam

realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos

livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se

afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)

A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do

conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica

tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu

desmascaramento (FREIRE 2003)

Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de

dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo

precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo

diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do

aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos

negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos

Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro

preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se

antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio

com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na

formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde

emerge esse profissional

Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a

valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de

nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador

existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo

humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo

O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a

desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do

discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-

existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e

poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)

Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na

educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a

comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue

persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 35: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

35

traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia

essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os

educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos

troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que

se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se

preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da

perseveranccedilardquo

O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que

devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates

mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa

cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na

historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em

possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)

Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e

aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o

pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos

seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos

desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser

livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire

(2001)

E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza

(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade

(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes

(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades

accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo

(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute

possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar

social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de

cultura de educaccedilatildeordquo

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 36: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

36

Consideraccedilotildees Finais

A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo

simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no

e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo

Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na

busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos

cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem

desenvolvido em um contexto ribeirinho

Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o

propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as

demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do

Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu

histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar

Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir

articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar

em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas

educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o

professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes

desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que

possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem

A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar

os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja

percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo

educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas

verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto

profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a

educaccedilatildeo do campo

A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos

professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte

no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria

Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores

comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo

conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015

Page 37: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

37

encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da

comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo

Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os

processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees

para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo

soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos

curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos

inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do

Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo

acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees

38

Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet

etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015

Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

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Page 38: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

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Referecircncias

ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os

assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e

movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a

2007 Curitiba Ed UFPR 2010

BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade

Petroacutepolis Vozes 1988

BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras

Vozes 2008

CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso

Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009

CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej

Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125

2011

FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas

puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008

FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003

FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001

GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para

aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010

GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos

CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394

de 20 de dezembro de 1996

LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio

Beleacutem Cejup 1994

MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para

reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010

MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez

Autores Associados1991

39

PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

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Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar

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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

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Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015

Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

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PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das

politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom

trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado

em abril de 2015

RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola

Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013

RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa

Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio

(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da

turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e

Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014

RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da

comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02

f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias

Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal

do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011

RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio

Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase

em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010

SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos

sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas

Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso

saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000

SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do

conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010

VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ

PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo

Editora da UFRJ 1987

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar

lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a

setembro de 2015

Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba

lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

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Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha

lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar

lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb

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Page 40: Valorizando o Local - FECAMPO · À minha mãe (Maria da conceição Correa Moreira), que desde quando nasci assumiu a total responsabilidade de me criar e educar, repassando os ensinamentos

40

Outras referecircncias

Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar

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lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-

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lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-

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