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Valor lingüístico - Saussure Se um signo não se define, na Semântica Estrutural, particularmente pelo seu referente no mundo, se ele não tem uma significação dentro do contexto do uso, nem uma significação histórica, o que distingue um signo do outro e o torna uma unidade? Poderíamos responder a essa pergunta simplesmente dizendo: juntando uma imagem acústica particular a uma idéia única, eis a unicidade do signo. Mas, isso não se dá de fato. A palavra "manga" traz para os falantes do português do Brasil , por exemplo, dois conceitos distintos que nada têm de sinônimos. Nesse caso, temos dois conceitos, mas não temos para cada um deles (manga=fruta; manga=parte da camiseta) duas imagens acústicas distintas. Isso equivale a dizer que não é tão simples a questão. Todos os signos têm o par significado/significante, mas eles podem ser semelhantes no conceito ou iguais na imagem acústica (homonímia). Diante disso, Saussure propõe a noção de valor a partir da diferença entre signos. O valor de um signo e sua unicidade só podem ser garantidos em comparação aos outros signos do sistema, estabelecendo suas diferenças. O lingüista suíço pretende definir um signo pelo que ele não é; um signo não tem, assim, um valor determinado no mundo, mas sim um valor que lhe é atribuído pela sua diferença em relação aos demais signos do sistema. Para esclarecer, podemos ilustrar com esse diálogo: — "O que é um gato?" — "É tudo o que não é um gato!". Parece absurdo, mas a noção de valor reside bem nessa idéia; além dessa idéia outra mais: o valor de um signo pode ser dado a partir de seu "poder de troca". O que pode-se "trocar" com uma imagem acústica como panela, que não um conceito que exprima a idéia de "recipiente que comporta alimentos para cozinhar"? Desse mesmo modo, poder-se-ia "trocar" a imagem acústica panela pelo conceito "artifício de tecido que serve para cobrir-se"? Isso é, portanto, a noção de valor de Saussure. Em suas palavras, "quer se considere o significado, quer o significante, a língua não comporta nem idéias nem sons preexistentes ao sistema lingüístico, mas somente

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Valor lingüístico - Saussure

Se um signo não se define, na Semântica Estrutural, particularmente pelo seu referente no mundo, se ele não tem uma significação dentro do contexto do uso, nem uma significação histórica, o que distingue um signo do outro e o torna uma unidade? Poderíamos responder a essa pergunta simplesmente dizendo: juntando uma imagem acústica particular a uma idéia única, eis a unicidade do signo. Mas, isso não se dá de fato. A palavra "manga" traz para os falantes do português do Brasil, por exemplo, dois conceitos distintos que nada têm de sinônimos. Nesse caso, temos dois conceitos, mas não temos para cada um deles (manga=fruta; manga=parte da camiseta) duas imagens acústicas distintas.

Isso equivale a dizer que não é tão simples a questão. Todos os signos têm o par significado/significante, mas eles podem ser semelhantes no conceito ou iguais na imagem acústica (homonímia). Diante disso, Saussure propõe a noção de valor a partir da diferença entre signos. O valor de um signo e sua unicidade só podem ser garantidos em comparação aos outros signos do sistema, estabelecendo suas diferenças. O lingüista suíço pretende definir um signo pelo que ele não é; um signo não tem, assim, um valor determinado no mundo, mas sim um valor que lhe é atribuído pela sua diferença em relação aos demais signos do sistema. Para esclarecer, podemos ilustrar com esse diálogo: — "O que é um gato?" — "É tudo o que não é um gato!". Parece absurdo, mas a noção de valor reside bem nessa idéia; além dessa idéia outra mais: o valor de um signo pode ser dado a partir de seu "poder de troca". O que pode-se "trocar" com uma imagem acústica como panela, que não um conceito que exprima a idéia de "recipiente que comporta alimentos para cozinhar"? Desse mesmo modo, poder-se-ia "trocar" a imagem acústica panela pelo conceito "artifício de tecido que serve para cobrir-se"?

Isso é, portanto, a noção de valor de Saussure. Em suas palavras, "quer se considere o significado, quer o significante, a língua não comporta nem idéias nem sons preexistentes ao sistema lingüístico, mas somente diferenças conceituais e diferenças fônicas resultantes desse sistema".

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sem%C3%A2ntica_estrutural