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Comunicação Social VALE TUDO COMO METÁFORA DO BRASIL: O IMAGINÁRIO NACIONAL NA TELENOVELA Alunos: Maria Eduarda Monnerat e Theo Villaça (voluntário) Orientadoras: Tatiana Siciliano e Ana Paula Gonçalves de Almeida (doutoranda PPGCOM) Este trabalho tem como objetivo discutir a obra Vale Tudo, veiculada no horário nobre da TV Globo em 1988, a partir da perspectiva de que o produto é um dos construtores do imaginário nacional. A telenovela no Brasil pode ser descrita como uma “narrativa da nação” (LOPES, 2003), por ter conquistado reconhecimento público artístico e cultural, além de ser um catalizador popular no debate sobre cultura brasileira e temáticas nacionais (HAMBURGUER, 2011 e SICILIANO e ALMEIDA, 2018). Por isso, podemos utilizar aspectos dessa telenovela inclusive discutidos contemporaneamente na mídia para se falar do Brasil e analisar questões estruturais relacionadas ao “jeitinho brasileiro”, no sentido em que DaMatta (1979) conceituou. Compreende-se aqui a telenovela como um produto cultural que “fala da sociedade” (BECKER, 2010). Assim, vemos cenas e diálogos que apresentam personagens seja em papéis ligados a práticas de “malandragem” e desonestidade, seja em atuações em que se pontua a descrença com o cenário político-social no, então novo, contexto de redemocratização. Destaca-se também a apropriação da Rede Globo como disseminadora de um discurso sobre o Brasil e os brasileiros, constituindo-se como uma importante agente de construção de uma identidade nacional na indústria do entretenimento (KORNIS, 2001). Para se discutir Vale Tudo como uma obra que trata sobre signos do Brasil e do imaginário nacional, se analisará: a) os conteúdos da abertura da novela, imagens e a música de abertura “Brasil”, composta por Cazuza em 1988; b) cena síntese do primeiro e o último capítulo do referido folhetim eletrônico, por respectivamente, introduzirem e fecharem a concepção da obra, podendo ser vistos como uma representação desta sociedade, cuja elaboração se dá pela linguagem (HALL, 2016), por ser “um dos meios através do qual pensamento, ideias e sentimentos são apresentados em uma cultura”

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VALE TUDO COMO METÁFORA DO BRASIL:

O IMAGINÁRIO NACIONAL NA TELENOVELA

Alunos: Maria Eduarda Monnerat e Theo Villaça (voluntário)

Orientadoras: Tatiana Siciliano e Ana Paula Gonçalves de Almeida (doutoranda

PPGCOM)

Este trabalho tem como objetivo discutir a obra Vale Tudo, veiculada no horário

nobre da TV Globo em 1988, a partir da perspectiva de que o produto é um dos

construtores do imaginário nacional. A telenovela no Brasil pode ser descrita como uma

“narrativa da nação” (LOPES, 2003), por ter conquistado reconhecimento público

artístico e cultural, além de ser um catalizador popular no debate sobre cultura brasileira

e temáticas nacionais (HAMBURGUER, 2011 e SICILIANO e ALMEIDA, 2018). Por

isso, podemos utilizar aspectos dessa telenovela – inclusive discutidos

contemporaneamente na mídia – para se falar do Brasil e analisar questões estruturais

relacionadas ao “jeitinho brasileiro”, no sentido em que DaMatta (1979) conceituou.

Compreende-se aqui a telenovela como um produto cultural que “fala da

sociedade” (BECKER, 2010). Assim, vemos cenas e diálogos que apresentam

personagens seja em papéis ligados a práticas de “malandragem” e desonestidade, seja

em atuações em que se pontua a descrença com o cenário político-social no, então novo,

contexto de redemocratização. Destaca-se também a apropriação da Rede Globo como

disseminadora de um discurso sobre o Brasil e os brasileiros, constituindo-se como uma

importante agente de construção de uma identidade nacional na indústria do

entretenimento (KORNIS, 2001).

Para se discutir Vale Tudo como uma obra que trata sobre signos do Brasil e do

imaginário nacional, se analisará: a) os conteúdos da abertura da novela, imagens e a

música de abertura “Brasil”, composta por Cazuza em 1988; b) cena síntese do primeiro

e o último capítulo do referido folhetim eletrônico, por respectivamente, introduzirem e

fecharem a concepção da obra, podendo ser vistos como uma representação desta

sociedade, cuja elaboração se dá pela linguagem (HALL, 2016), por ser “um dos meios

através do qual pensamento, ideias e sentimentos são apresentados em uma cultura”

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(p.18). Assim, por meio da linguagem, é que a telenovela não apenas comunica como

elabora sentidos que vão orientar nossas práticas e condutas sociais.

A telenovela no Brasil

A telenovela é um produto artístico cultural que, de acordo com Lopes (2003),

virou “agente central do debate sobre a cultura brasileira e a identidade do país”. A

visibilidade alcançada pela narrativa televisiva na sociedade brasileira é consequência

da reprodução de representações presentes nas tramas com um repertório comum.

Lopes (2003) pontua que a novela permite que diferentes classes sociais, gerações, sexo,

raça e regiões se reconhecem umas as outras diante deste repertório compartilhado.

O gênero telenovela tem como característica uma estrutura de contar uma

história por meio de imagens, diálogos, todos os dias, em uma mesmo horário, por cerca

de 6 meses, com média de 200 capítulos, sendo “mais complexa, mais longa e mais

enredada” do que a minissérie, além de escrita conforme se produz ( PALLOTINI,

2012, p. 53). A telenovela tornou-se um dos produtos mais assistidos na televisão

brasileira e, junto com o telejornalismo, estruturou o modo de assistir televisão no

Brasil, tornando, durante um bom tempo, de 1970 aos anos 2000, o telespectador

“pautado” pela grade (OLIVEIRA SOBRINHO, 2011). Apesar da televisão ter vindo

para o Brasil na década de 1950, se firma como indústria do entretenimento e da

informação no final da década de 1960 e atinge seu ápice nas décadas de 1970 e 1980,

com a instalação de satélites pelo governo federal e com a programação única em rede

nacional. A TV Globo, a partir de sua experiência com o grupo estadunidense Time Life,

alcança a liderança com o chamado “padrão Globo de qualidade” (ALENCAR, 2004).

E a telenovela passa, então, a se configurar um meio comunicativo e uma narrativa da

nação (LOPES, 2003), por ser um dos principais entretenimentos da população na época

sob os auspícios governamentais, mesmo com a presença da forte censura durante a

ditadura militar.

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A Rede Globo

A criação da Rede Globo ocorreu anos antes do começo dos anos de chumbo1,

em 1965. Com “relações amistosas com o regime, sintonia com o incremento do

mercado de consumo, uma equipe de produção e administração preocupada em otimizar

o marketing e a propaganda, um grupo de criadores de esquerda vindos do cinema e do

teatro” (LOPES, 2003). Enfim, empresarialmente a TV Globo, a partir do aprendizado

com o grupo internacional, soube aliar profissionais da cultura com estratégias de

marketing.

Além disso, a urbanização também foi importante para a consolidação da

telenovela como um gênero nacional e popular. Utilizava a linguagem e cotidiano das

camadas médias e altas das metrópoles na construção de suas narrativas, não apenas

trazendo um panorama da vida cotidiana, mas pedagogicamente ajudando na formação

de uma comunidade imaginada, no sentido desenvolvido por Anderson (2008). A

novela captava as ambiguidades que caracterizavam as transformações que o Brasil

passava, ensinando os modos de viver modernos. A Rede Globo torna-se, assim, “a

narradora da história do Brasil” (KORNIS, 2001) ao construir um discurso em sua

programação ficcional.

A partir da reabertura, em 1985, com as novas conjunturas políticas e

transformações comportamentais, as narrativas ficcionais televisivas são restruturadas

para esse novo cenário. E seus signos continuam trazendo elementos da identidade

nacional. Para Ortiz, (1998) não existe uma identidade legítima, mas várias identidades

que são criadas por grupos sociais em momentos históricos dispares.

1 A ditatura civil-militar no Brasil é dividida em três períodos. A primeira fase pode ser chamada branda e

durou de 1964 a 1968, com a decretação do Ato Institucional número 5 que suprimiu todas as liberdades

individuais. O segundo momento é caracterizado como “os anos de chumbo”, fase de terror onde a

repressão e a tortura se configuram em estratégias de manutenção de poder. A terceira e última etapa é a

abertura política e redemocratização, de 1979 com a anistia ampla e irrestrita até 1985 com a eleição

indireta para presidência da república. Cf. informações no site Memórias da Ditatura. Disponível em:

http://memoriasdaditadura.org.br/periodos-da-ditadura/index.html. Acessado em 17.7.2018.

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Vale Tudo: as múltiplas facetas do Brasil

As alegorias presentes na telenovela Vale Tudo podem ser vistas como um

recorte da brasilidade da época, considerando-se especialmente o cenário político e

social em que o país se encontrava após os anos de chumbo. A trama de Gilberto Braga

foi exibida no horário nobre na emissora, em 1988. Kornis (2001), a partir da

metodologia desenvolvida por Garcia, esclarece que para analisar uma trama

audiovisual é necessário entender o contexto – econômico, político, social e cultural –

no qual a telenovela está inserida dentro da relação tempo-espaço.

A abertura da novela Vale Tudo tem como trilha sonora a música Brasil,

composta por Cazuza, George Israel e Nilo Romeiro, em 1988, é interpretada por Gal

Costa. O timbre da cantora baiana junto às imagens dispostas na abertura da trama

ironiza a temática que vai ser tratada: os dilemas do Brasil. Em cortes rápidos, a

bandeira do país aparece em três momentos diferentes: sendo feita à mão na máquina de

costura, em uso oficial no mastro, carregada pela torcida de futebol. Podemos

vislumbrar as três etapas como símbolos da nação, nesse caso, valorados de forma

positiva, que contrastam com a agressividade da canção. Tal ambiguidade expressa uma

relação de amor e de ódio dos brasileiros com a pátria-mãe.

As imagens da abertura são mescladas com os rostos dos personagens principais

e o créditos dos nomes e apontam diferentes signos da nação nos frames. A música

vibrante e política sobreposta no conteúdo visual do clipe de abertura mostra acima de

tudo a pluralidade das representações que nos remetem aos brasis:

vemos a bandeira do Brasil em meio as imagens dos comícios em prol das eleições para

presidência, desfile militar, bonecos de artesanato nordestino, tucanos, a floresta

amazônica, a seca no nordeste, os seringueiros, o Olodum na Bahia, a praia de Copacabana,

algumas cenas de igrejas católicas, o maracanã, um jogo do time carioca Flamengo, as

favelas, cenas de uma enchente, fitinhas do Senhor do Bonfim, uma antena parabólica, um

manguezal, as cataratas do Iguaçu, um prédio sendo implodido...São muitos os “Brasis”

mostrado neste clipe de rapidez vertiginosa (SICILIANO E ALMEIDA, 2018,p.2.276)

Enquanto isso, a letra da música cantada de forma contundente, por Gal Costa,

dá o contraponto agressivo de que não se trata do Brasil do cartão postal. Como

denuncia a canção a “droga” que vem malhada é a própria estrutura da nação que já

está desgastada e rota: “Não me convidaram, pra esta festa pobre, que os homens

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armaram/ pra me convencer, a pagar sem ver, toda essa droga, que já vem malhada,

antes de eu nascer”2

Imagens da abertura de Vale Tudo

2 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VADMqDK9W9k. Acesso em: 18 de julho de

2018.

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Cena síntese do primeiro capítulo: na alfândega “vale tudo”

O primeiro capítulo da novela começa com Raquel, personagem de Regina

Duarte, discutindo com o marido Rubinho, interpretado por Daniel Filho, em São Paulo.

A briga começa quando Rubinho chega em casa no meio da madrugada bêbado e

Raquel o questiona por conta do atraso de pagamento das contas do casal. Nesta cena, a

mocinha já deixa explícita a sua marca no folhetim: a honestidade.

A briga termina em agressão; após o episódio, Raquel se muda para Foz do

Iguaçu, no Paraná. Lá ela vai morar na casa de seu pai Salvador (Sebastião

Vasconcelos), com a sua filha Maria de Fátima (Glória Pires), que por sua vez, é o

oposto de Raquel. A telenovela apresenta o crescimento da menina Maria de Fátima em

que ela se torna uma jovem ambiciosa e com caráter duvidoso, disposta a qualquer coisa

para vencer na vida. A fim de conseguir uma figuração em um comercial que estava

sendo filmado em um hotel da cidade e, também, de criar laços com pessoas

“influentes” no Rio de Janeiro, a moça pede ao avô, indignado, para passar umas fitas

cassetes na alfandega sem cobrar imposto.

Salvador ao recursar o pedido da neta enfatiza que tem 35 anos de Ministério e

que nunca fez algo do tipo. Ele explica que não vai burlar a lei e que é preciso priorizar

produtos nacionais para aquecer o mercado interno do país. O signo da ética presente na

fala do pai da Raquel – personagem que passa a trama toda sem se corromper – deixa

claro a importância dada aos valores morais. “Quem é conivente, é responsável (...)

Princípio, dignidade e honra” fazem parte da herança que ele diz querer deixar para a

neta.

Apenas com o recorte da família Acioli da trama encontramos duas

caracterizações distintas do “ser brasileiro”. As representações alegóricas mostram a

descrença que assolava a nação quanto ao caráter das pessoas. A desonestidade é posta

em questão como algo natural, que a honestidade mantida na personagem Raquel ao

logo da trama aparenta ser superficial.

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Discussão entre Salvador e Maria de Fátima no primeiro capítulo de Vale Tudo

Raquel entra na discussão apoiando a decisão do pai de não se corromper por conta do pedido de

Maria de Fátima

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Cena síntese do último capítulo: nós bananas e a banana para você

No último capítulo, os “peixes pequenos”, assim como a Raquel (Regina Duarte)

narra, os funcionários com menor poder aquisitivo são presos. Em compartida, os

personagens de má índole não foram punidos.

Empregada entrando na viatura para ser presa

Funcionário indo para a prisão acompanhado de policiais

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O Brasil parou para saber “quem matou Odete Roitman”3, a assassina foi Leila

(Cássia Kis), mulher do mau-caráter Marco Aurélio (Reginaldo Faria). O personagem

de Faria aplicou golpes ao longo da trama e, no último capítulo, foge do país com Leila.

O casal termina no helicóptero dando a emblemática banana tendo como pano de fundo

a Baia de Guanabara.

A banana dada por Marco Aurélio, o diretor da TCA, é um deboche ao povo,

que, enquanto ele foge, permanece vivendo no meio da corrupção do país. Os frames do

momento em que o personagem de Faria decola com Leila, sua companheira e assassina

de Odete, deixam clara a ausência de justiça e a descrença do autor da novela com o

Brasil.

A assassina de Odete Roitaman e companheira de Marco Aurélio, Leila, fugindo do país

3 Conforme o site Memória Globo, o mistério da morte de Odete Roitman durou 11 capítulos e foi tema

de conversa por todo o país. Disponível em:

http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/vale-tudo/curiosidades.htm. Acessado

em 10/07/2018

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Marco Aurélio dando a banana para o país

O Poliana (Pedro Paulo Rangel) aparece na cena seguinte comendo uma banana.

O nome do personagem faz alusão ao clássico Polyanna, livro escrito em 1913 por

Eleanor H. Porter, uma menina que vê lado positivo das coisas. Ao contrário do livro,

na trama, o personagem de Rangel não contagia as pessoas com seu otimismo. A cena

que sucede a banana do empresário corrupto que escapa impunemente, colocam em

evidência o lado dual e desigual do país: os economicamente favorecidos sempre

burlam a lei e não enfrentam às consequências, enquanto “os peixes pequenos” são

presos, e o resto da população assiste a cena, sem ação, mas pagando a conta. Polyana

comendo banana é uma alegoria da população “não convidada para a festa”, que vê o

luxo da rua e é transformada em “banana”.

Poliana comendo banana

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Considerações finais

As cenas são costuradas com as estrofes finais da música Brasil. Enquanto as

cenas das prisões e das bananas passam, os trechos “grande pátria, desimportante, em

nenhum instante, eu vou te trair, não, não vou te trair” ao fundo. Este momento

evidencia o deboche feito pelo autor do folhetim com o “inesperado” final, no qual o

mau-caratismo termina ileso na novela e espelha o Brasil da “vida real”.

A música, conforme Siciliano e Almeida (2018) explica, ecoou como uma

metonímia do país, que aspira em ser moderno, mas continua sendo arcaico nas suas

estruturas desiguais. Cenas como a banana para bananas mostram imagens dessa

dualidade que nos perguntamos sempre: Que país é esse?

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