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hJ ü êMwê '^VAAJC1®^/'-^.- INTRODUCCAO, Hoje que a mocidade emprega as suas horas de repouso no cul- íivo das letras, boje que cada qual procura na litteratara um pas- satempo útil e agradável, colhendo da pratica a critica e da critica o aproveitamento, também nós nos animamos a assestar o nosso Bi- noculo, para escolher d'entre as flores viçosas que ornão o jardim cia litteratura amena, bellas paginas para offerccer-mos cás nossas sym- pathicas e amáveis leitoras e attenciosos leitores. Sem pretenções, sem recommendação e.sem nome, vai este álbum pedir aos seus assignantes indulgência, aos seus collaboradores protecção, e se pela bóa vontade puder um dia ver compensados os seus desejos, orgulhoso entoará seu cântico de agradecimento. Dedica as suas paginas á mocidade estudiosa: desejo-a no.seu grêmio, porque delia precisa como um balsamo vivificante, como de um bordão amigo qr.e o ampare quando prestes a despenhar-se. Começa modesto e simples, porque quer viver muita vida, e ver Nrealisados os sonhos ideaes que phantasia. Apparece pois hoje o Pfr.ucto da perseverança de três moços, que aspirão ao desenvolvimento das letras pátrias, d'onde provem o en- gradecimento das nações.•/ Se n'essas pallidas paginas se não traduz o desejo que anima a redacçao, appcllamos para o futuro; elle fatiará por nòs.e nos jas- tiíicarA, da immensa vontade que nos anima. Faremos quanto cou- hov em nossas forças para que cada numero seja um ramalhete que possamos sem escrúpulo offerecer aos nossos protectores.

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INTRODUCCAO,

Hoje que a mocidade emprega as suas horas de repouso no cul-íivo das letras, boje que cada qual procura na litteratara um pas-satempo útil e agradável, colhendo da pratica a critica e da criticao aproveitamento, também nós nos animamos a assestar o nosso Bi-noculo, para escolher d'entre as flores viçosas que ornão o jardim cialitteratura amena, bellas paginas para offerccer-mos cás nossas sym-pathicas e amáveis leitoras e attenciosos leitores.

Sem pretenções, sem recommendação e.sem nome, vai este álbumpedir aos seus assignantes indulgência, aos seus collaboradoresprotecção, e se pela bóa vontade puder um dia ver compensadosos seus desejos, orgulhoso entoará seu cântico de agradecimento.

Dedica as suas paginas á mocidade estudiosa: desejo-a no.seugrêmio, porque delia precisa como um balsamo vivificante, comode um bordão amigo qr.e o ampare quando prestes a despenhar-se.

Começa modesto e simples, porque quer viver muita vida, e verNrealisados os sonhos ideaes que phantasia.

Apparece pois hoje o Pfr.ucto da perseverança de três moços, queaspirão ao desenvolvimento das letras pátrias, d'onde provem o en-gradecimento das nações. •/

Se n'essas pallidas paginas se não traduz o desejo que anima aredacçao, appcllamos para o futuro; elle fatiará por nòs.e nos jas-tiíicarA, da immensa vontade que nos anima. Faremos quanto cou-hov em nossas forças para que cada numero seja um ramalhete quepossamos sem escrúpulo offerecer aos nossos protectores.

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PAGINAS MT11AS

QUANDO?...

Desejos sempre vãos I.... reaes, só dores!(A. F. de Castilho).

Dolôres, quando te poderei chamar só minha?.....

Quando poderei junto a ti respirar o teu hálito perfumado, partidod'esse íeu peito virgem, d'essa hydria toda de perfumes?!

Quando, assentado a teu lado te ouvirei cantar cantos divinos,admirando ahi teus dedinhos voarem traquinos no teclado do piano,como nas flores voa o colibri?...

Quando no albor da aurora, sahiremos ambos a passeio por estascampinas deleitosas, onde as boninas desabrochão bellas, embalsa-mando a aura que as affaga, perfumando a atmosphera que as vigora:o.nde as mimosas borboletas de mil cores vão segredar ás flores seusmysticos amores, matizando as lindas veigas comobello colorido desuas douradas azas; ouvindo o doce chifrar dos passarinhos quesuspensos nas bordas de seus ninhos, entòão hymnos festivaes emlouvores â brisa que os baioiça; e no mimoso tapiz da verde relvateverei reclinar em meu grosseiro collo, a tua virginal fronte divina?!

Quando, nessas bellas tardes de verão, em que o sol com seus des-maios for descambando paraooccaso, te levarei pelo braço para veresa poética ribeira que se desdobra rápida por entre os delicados seixi-nhos, e que, no remando de suas águas vem beijar os brancos lyriosque pendem solitários sobre ella; e ahi, quando! como ella beija osbrancos lyrios, eu poderei beijar também as tuas divinaes faces-devirgem?

Quando n'essas noites d'almo luar, em que a lua se ostenta for-mosa, envolta em seu lindo manto marchetado de brilhantes estrellas,no azul do céo, te levarei junto á me» lado com as tuas vestes brancas,

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e no deleite das graças, com tuas negras madeixas soltas em teushombros de neve a estas sombrias florestas, onde n'um feito de molese cheirosas flores, descançarei a minha fronte de martyr sobre o teucollo de virgirtal pureza; e, embalado por teu canto que é mais bello

que os de todos os anjos, possa dormir um pouco ao som de tantasharmonias?....

Quando, ambos ábeira do poético regato, te ouvirei dizer baixinhoao som d'agua que corre somnolenta;— Eu te amo!... quando?....

-- Quando as flores da vida murcharemSem que eu possa jamais ter prazer?

Quando os risos p'ra mim forem dores,Quando eu preste estiver a morrer?

Quando a pelle se fôr enrugandoE o preto cabello alvejar ? .

Quando eu velho, curvado dos annos,A velhice me prive de andar?

Quando a luz dos meus olhos fôr baçaComo a fraca candeia sem luz?

Quando eu viva pensando na morteCo o rosário bem junto da cruz?

Quando o meu coração fôr envoltoDe uma vez no sudario de gelo;K que o peito sem doce sentelhaPossa ao menos um'hora aquecêl-o?

Não! porque n'essa idade o peito êfraco para conter em si um amortão forte!....

Mas, se estes lindos sonhos replectos de tantas esperanças cedo meviessem mostrar a sua realidade, arrancando-me d'esse mar tempes-tuoso da vida, onde minh'alma naufraga de continuo sobre esses ro-chcdos de infortúnios; meu peito, Dolôres, soltaria um brado taoforte semelhante aobramir da tempestade, porque medroso fugiria,abandonando o fragor sanhúdo de medonhos vagalhões, que, espe-

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idàçahdo-se raivosos n-esses escolhos sem fim; por onde o meu corpotantas vezes tem rolado, fosse em mar sereno de rosas,—onde asvagas não assustão, ciule a tempestade por mais forte não agita seubrandorumorejar e onde as ondas quebrão-so suspirosas, desusando-se mansamente por essas brancas praias, recamadas de mimosasconchas, assim como dos teus lábios virgens partem doces sorrisos,descançar este corpo fatigado por tantas insomnias ri'esse leito deventuras; onde abi, te visse formando uma coroa tecida por teusnevados dedos, para em recompensa ornares afronte do martyr dos^eus amores'

Céos, onde vai o pensamento!.., Se no-meio de tão doces visõesouço uma voz desconhecida bradar aos meus ouvidos:

« A virgem com quem sonhas não te poderápertencer!....»En'essa hora, bolores., para fazer cie uma vez calar no meu peito

tanta dor, eu peço a morte, porque cila, só cila será o balsamo dasminhas desventuras!

Ávida ! e de que me serve a vida sem a luz divina dos teus negrosolhos que scintillão formosos como a estrella da tarde ao descambarda noite? Sem o doce contacto dos meus grosseiros lábios nas tuasassetinadas faces de virgem? Sem te poder apertar contra meu seio,c no palpitar do coração oiTegante te dizer jubiloso: — eu te amo ! —Sem estes encantos de que serve a vida?

Viver sem que me ames, sem que me possas pertencer, eu quero milvezes a morte ; porque assim tudo emmudecerá, porque então o meucorpo a par dos desmaiados cyrios, efessa amortecida luz que bru-xulear triste o negro feretro que guardar meus restos, já pallidos pelainodorra da morte; talvez então te dignes piedosa lançar sobre elleum olhar de compaixão, embora não de amor, deixando escapar deteus vivos olhos uma lagrima furtiva de dor, que, rolando sobre omeu cadáver, com elle desça á sepultura!

Março de 1862.

Frederico Reinaldg,

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LEMBRA-TE.

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Apoz dias de amargo iormentoVirão dias mais bellos talvez.

SOARES DE PASSOS.

Farcwelll...Forget ménot!...

Lembra-te sempre, sempre que teus olhosFitarem ternos o luar sombrio,Do — adeos —• que t-envio suspirosoPelo das brisas tremulo cicio !

Unidas ambas nossas almas meigasVagarão sob a cupola do céo,Que tu geraste nJum sorrir bondoso,Ave, que o ninho, tens no peito meu!

Lembra-te sempre d'esses dias puros,De luz tão cheios.... cheios defulgor!Quando a voz solitária da harmoniaJunto a nós soluçava um terno amor!... s

Lembra-te sempre d'essas horas brancasEm que tu m'emballavas na esperança SQuando o suspiro de meu peito ardente,Encontrava em teu rir — sempre bonança J.,.

Lembra-te sempre, sempre que teus olhosFitarem ternos o luar sombrio,Do — adeos — que tenvio suspirosoPelo das brisas tremulo cicio!

AlphonseOhlitsac.

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Tu partes... foges... a chorar de certo,Eu fico mudo de pezar tranzido....Nas longas noites de saudade infinda....Ha de alentar-me o teu lembrar querido!

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A AU&ÜSTÃ.

Em teu caminho tropeçaste — agora !Cala esse pranto, minha pobre flor .Cabida mesmo — tropeçando embora,Conserva a alma um ultimo pudor.

Deve ser grande esse martyrio lento..,Já nos espinhos a minha alma puz;Sou como um Cyreneu do sóffrimento;Deixa-me ao menos carregar-te a cruz.

Eu sei medir as lagrimas vertidasNa sombra e só sem uma mão sequer !Vês tu as minhas palpebras doridas?Tem chorado talvez por ti, mulher!

E? fraquesa chorar? chorei contigo;Que a mesma nos banhou de luzComo em mim um pesar profundo e antigoNo fallar d'essa fronte se traduz S

Sei como custa desfolhar um risoEm face ás turbas que o senti por mim,Vêr o inferno e fallar do paraiso,Sentir os golpes e abraçar Gaim I

Chorei, que prantosI Promotheu atadoAo rochedo da vida e sem porvir!Poeta n'este século infamadoQue mata as almas e condemna a rir.

Cancei, perdi aquella fé robustaQue como a ti, nos sonhos me sorriu;Na identidade do calvário, AugustaBem vês como o destino nos mediu!

Ergue-te pois! Aredempção agoraDâ-te mais viço,'minha pobre flor!Se tropeçaste no caminho embora!Na tua queda ó-te bordão -— o amor!

1859. —Machado de assis.

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REVISTA THEATRAL.

Cançado deixara eu a perina que outr'ora, em dias de Esperança,e de vida. fora sempre minha companheira fiel e inseparável: èhoje que de novo d'ella preciso, vou encontral-a em umescaninhode larga gaveta; masjcá velha, enferrujada e quasi perdida: minhapobre penna! tu que n'essa epocha de tanto me serviste, tu que nãosoubeste ser parcial, não rne abandones agora que tanto de ti careço.

E tu, leitor, encantadora e amável leitora, sè indulgente e perdoai-me: se a minha penna já estava fora do combate!

Bem; tomemos o nosso posto: deixemos a individualidade e revés-tido de uma couraça impenetrante, ponham'o-nos a caminho.

Entremos em S. Pedro. A festa é brilhante: o concurso immenso:—tem lugar a installação do Jury Dramático, com a assistência de S. M.o Imperador. E' mais um serviço relevante que o seu distincto filho,esse astro da scena brasileira, o Sr. João Caetano dos Santos, prestaao seu^aiz. Necessária instituição! Assim ficaremos livres d'esse semnumero de analphabetos a quem sorriu em sua mente a carreira deartista dramático, e que abraçárôf>i sem conhecimento, sem intelli-gencia, sem nenhum dos muitos predicados que são preci$£>g para seser artista: não veremos bonitos trechos de excellentes authores,estropiados na boca de parodiadores do portuguez, que se fizeramartista por que não gostarão do covado, nem da vara.

Honra pois ao fundador e a quem com a sua augusta presença sane-cionou tão bonita idéa.

Rica de espectaculos foi a semana: —A 18 teve lugar no Lyrico obeneficio de Arthur Napoleão, coadjuvado pela companhia do AtheneuDramático, que representou — Os íntimos — traducção do Sr. De la-Pena. A enchente foi real na platéa ; mas nem por isso nítoitò grandeem camarotes. O beneficiado prehenchcu perfeitamente a noite to-cando admiráveis trechos de sua composição.

Ao mesmo tempo e á mesma hora representavam-se no theatro doS. Thereza em Nictheroy — Os nossos Íntimos¦—traclucção do Sr.Lessa Paranhos, em que o Sr. João Caetano desempenhou com mães-triaopapel do Dr. Tholosan apesar do seu melindroso estado desaúde, em obséquio ao presidente da provincia. Correu em geral

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muito bem, mesmo apesar do medo com que os artistas estavam deperder a barca que os devia conduzir á cidade.

A 19 subiu á scena em S. Pedro o drama— Virtude e Vicio — emsua segunda representação e beneficio dos authores, os Srs. JoaquimSilverio dos Reis Montenegro e Antônio Francisco Duarte. E' umacomposição de espirito queno entanto tem seus erros, como todas, demaior ou menor quilate. Reservo uma ou duas paginas do numeroseguinte para julgar devidamente este drama, cmittindo sobre ellea minha opinião.

Quanto ao desempenho, não gostei: quem viu este mesmo dramano dia Tf aqui, e a 8 em Nicthcroy, desconheceu-o na sua repeti ção.

A Sra. D. Ludovina, não se recordava bem do seu papel, o quemais para admirar é, porque nunca tal succede.O Sr. Leal estava frio, gelado mesmo: disse o seu papel; mas como

por demais. Tenha paciência ; se a penna o fere é porque é velha etudo quanto é velho, é rabujeftto e impertinente; mas por que nãointerpretou o triste Júlio como nas duas primeiras noites? Sr. Leal,Sr. Leal, veja que os louvores de artista, são bellos, mas que custama ganhar; é preciso muita vontade, muita perseverança, muito estudopara poder fazer alguma cousa: a não ser assim, nada fará.

Fico pjrtanto cá sua espera ate ao dia do seu beneficio que sean-nuncia para 26 na Praia Grande.

Hontem,20, devia ter lugar aprimeira representação dos — Tafuesde paris —em beneficio da actriz Antonina Marquelou; mas a suarepentina moléstia, obrigou-a a transferil-o, Deos sabe para quando.

O pouco tempo que me dão, e o ainda menor espaço que reservarãopara a Revista, não permite entrar em mais minuciosos detalhes:fal-o-hei para a semana, c se me conheceis da Esperança, tende fé, econfiança no

Jorge Lillo.

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SEGREDOS D'ALMA

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Como são povoadas de mistérios e dores tuas pobresvestes, flor! ?

Como és infeliz 'Nesse campo onde nasceste, onde vive a mnocencia,

companheira inseparável da virtude, ha também quemsofíra como tu !

No meio da fragancia das campinas, do odor dos vallesestreitados de agrestes plantas, lambem ha dores.

Ainda ahi, onde de quando em quando se ouve o echoda voz do rouxinol insomnio também se. cria o martyrio.

Os suspiros que te enredam, não te apagaram as chagasfeitas pelos cravos da ausência ?

Como tu choras ! !Essas lagrimas que vertes, são a recordação do passa-

do, são a lembrança de horas felizes que gozaste em doceènleio com a tua pobre madre-silva ?

Quem me dera ver-te então !Como estarias beila, erguendo altiva esse collo todo

esperança, todo fé ! Ta que és um doce amargo que de-ieita e contrista ! tu, esse sentimento mixto de prazer ededor que nos encanta e penalisa ! Como estarias bella! —Saudade!... Saudade!... que mil scenas de felicidade ede tormento me não recordas ao pronunciar-te !

Como é suave este nome —Saudade!!... — este nomeque só articula o portuguez com fé bem pura.

Saudade !... recordação de ledas horas de prazer.5 de Outubro " N 9

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Saudade!... reminiscencia do mais ardente beijo deamor, que os esposos ataram no leito nupcial.

Saudade!... lembrança amarga, doce agro, quando nosrecorda a perda da pessoa que mais se amou no mundo.

Saudade!.... como és infinita para os que infinitamenteamaram !

Flor, como te vergas ao peso da dor que infundes, aosque te decepam pelo pé e te alvergam em seu coração !

Como tu soffres e como te resignas!Tu és, saudade, a ílôr que mais simbolisa a dor ! tu é;s

aquella que constantemente meu peito abriga, no centrode seus maiores prazeres.

Gomo te quero, flor simbólica !Essa orla verde, côr de esperança, que te orna a fronte,

e aquella que ainda o moribundo conserva no leito damorte — a que o condemnado, lá em cima desse desbon-roso tablado, vê, na bandeira da infinita bondade docreador— a misericórdia — aquella que o nauta inda cor,-serva no fundo, bem no fundo do coração, quando iuc-tando, já sem leme e sem norte, com a procella e o mn-dava! —és ainda a mesma que o caminhante perdid<em cada grão de área que vem açoutar-lho a face, .cada sopro da aragem, que lhe vem desatar os cabellos. <bafejar-lbeo semblante macerado pela dor.

Essa côr tão roxa como a do lyrio, como nos faliade uma ventura perdida, d'uma gloria manchada defel do carrasco, d'uma alma precipitada no abismo daperdição, d'uma matricida lavada no sangue de sua inpo-cente victima!

Gomo és misteriosa ílôr!E que te não possa eu deixar ! Gomo a mariposa deixa

a ílôr de que bebeu o doce nectar, como a folha deixa ii

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planta soprada pelo brando zephiro, como a onda deixaa concha, como a aurora dissipa as trevas !

Oh ! como é doce chorar quando se soffre! !...Choras também?... sou feliz !Quiz-te mal, muito mal; inda mais do que ao crime.

Agora que me comprehendeste, que soube avaliar a poesiade tuas folhas, e a tristeza de tuas vestes—não !

Olha as flores que nos circundam, como se agrupam

para ver esse sorriso que agora desabrochaste e que te étão raro !

Olha como folgam porte ver assim!Mas tu sentes? sofres? choras ? tu vacillas? vais mor-

rer? porque !?... por piedade, dize, dize...A saudade definhou-se e em vez delia outra flor ali nas-

ceu ; era a rosa, o lyrio, o myrto?... não.Era... o não me deixes!

Alphonse Ohlitsac.

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A VIRGEM DOS TEMPLOS

Deos! dai-me um raio celeste da vossa luz divina euína harpa gemeclôra para nella cantar um anjo puro, —

vossa filha, Senhor !Dai-me um estro grandiluco e corrente, uma lyra de

sons harmoniosos onde doce tangendo as cordas suas, omundo me admire e os louros que sobre mim jogarem,na fronte d'essa virgem vão pairar ! Dai-me, ella é o anjo

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dos anjos, a mirrha santa que perfuma os vossos altares.a virgem que emanou dos céos para assombro da terra,que minha linguagem tosca, desconcertados sons de umajá quebrada lyra, gasta aos rudes cantos dessas noites devigílias, não tem as harmonias de uma harpa que o céome pode dar.

Erigi-lhe em meu. peito um culto santo, para doce roce-bel-a no sacrario de miníi7alma ; mas vede, de luz ellacarece; dai- me pois o clarão de uma lâmpada fulgente,que bastante será para ilínmina-la.

Como é bella ! Sim, mais bella que o branco lyrio de-bruçado á beira da lympha prateada que se desusa man-samente por entre as lindas conchinhas que a esmaltam :que o mimoso botão que em flor se torna, onde tremulamnas suas verdes pétalas as lagrimas do céo. Tão sublimadopainel, imagem tão bem esculpida, obra tão perfeita deum Deos, só por Elle poderá ser retractada: que a maisdourada palheta contendo em si as mais lindas e variadascores que possue a terra, não poderá de certo na maisfina tela, o mais elevado pincel conceber o desenho de tãosublime pintura.

Ella é dos templos o mais mimoso ornato.Sua voz é mais suave de que os sons melodiosos de uma

íraiita, quebrados á mudez do deserto, mais pura do queas águas de cascata que batem sonorosas nas folhas per-fumosas das mais odoriferas flores e que espalhando-sepelas naves magestosas desses templos, vai cheia do do-cura e harmonia, morrer aos pés de Deos !...

Altar das minhas crenças,idolo das minhas adorações,ente amo ! Sim, amo-te com esse amor puro que o mais ex-tremoso cios filhos offerece ao mais carinhoso dos pais ,que o casto irmão consagra á innocenle irmàsiiiha e que

o

d. puclica donzella aos sonhos seus d3 virgem; amo-tecomo os anjinhos anião a Deos ; como os pássaros aosprimeiros raios do sol, festejando-os com cânticos alegrese como dos jardins amão as flores o rocio matutino que asalenta, que as vivifíca com o seu frescor! Acolhe pois,em teu seu yirginal, a pureza desse afíecto, dando-lhe omesmo abrigo que as magestosas e copadas arvores dão ásaves que perdidas buseão nellas a mais prompta guarida ;para que eu possa um dia, depois de haver quebrado asnegras caclêas que me prendem, tomado por tamanha glo-ria, cingir a minha e a tua fronte com a coroa da maispura e sâ virtude !

Frederico Reinaldo

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—«»ns2j;!»5-<5^<,?,>-<®i /ggyjgsjj>c

Morrerás lentamente do coração abafando os gritosd'alma;, como o abutre que em silencio devora as suascarnes!

Louco 2 procuras risos quando não encontras senão la-grimas nas tuas dores! —procuras o céo quando oin-fenio se apresenta a teus olhos!

Viverás e morrerás como a flor á beira do regato semorvàlho d'amor e sem alento do piedade!

Vi verás só, como o proscripto sem pátria ! como o vultodo eondemnado nos desertos do exílio !

Sofírerás lentamente do coração, até que a descrençafria e positiva venha abrigar-se em teu peito !

Vacüaràs muito até que. a sociedade no lodo infame da

ucorrupção se apresente a teus olhos descarnada e lividacomo o cadáver do leproso; a cuspir-te na face e a escar-necerde ti.

E as gargalhadas da loucura suffocar-te-hão a voz !...E então! chorarás muito e... teràs allivio; porque doce

é o pranto que o Senhor envia ao desgraçado !Mas teu coração ficará plácido e socegaclo como as

águas do Mar Vermelho após a passagem dos peccadores!E abençoarás as lagrimas que alliviarão o teu soffrer !E bem d irás ao Senhor que te deu o chorar !

Jules Montmartin ,

«—5H!ü)-@H!H3h5

mwmimmA. mulher é a roseira de todo o anno.Amoçak um volume de muitas paginas com pouen

texto, que para ter aceitação, deve ser dorè sur tranche.A velha é a raposa da fábula : para ella todas as uvas

são verdes.O casamento é um sabão vegetal que lava muitas no-

doas. — E' um leilão, que tem lugar — quer chova quernão — e em que se compra tudo no estado em que seacha.

O publico é a reunião de muitos tolos, formando umtodo intelligente.

O homem é um titere com que se diverte o acaso.O amor é um barco que nos conduz lentamente para a

porto da morte.

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As illusoes são as andorinhas que fogem quando seaproxima o inverno da vida.

O namoro é uma escada, cujos dous primeiros degráossão de difficil accesso. — As namoradeiras são como as

caixinhas e bolas com que os pelotiqueiros fazem suasmágicas, passão de mão em mão.

Os lilteratos entre nós são umas massas folhadas quefazem muito baralho e occüpão muito lugar, e no entanto

pesão bem pouco.O coração de uma menina de dez annos éum quaderno

o

em branco.O de uma moça de vinte annos ó um livro escripto te-

gularmente.O de uma mulher de trinta annos ê um livro em que

por falta de espaço começa-se a escrever nas entrelinhas.O de uma mulher velha de quarenta annos é um livro

destelhado que só serve para embrulho.O de uma velha de cincoehia ou mais annos é um do-

cumento histórico. — O coração humano ó um cahos.

para o qual ainda não houve o fiai lux.Os partidos políticos são como as amêndoas, tem di-

versos nomes e diversas cores, mas o gosto ê sempre o

mesmo.¦ A virtude de uma mulher é como crystal que, uma vez

quebrado nunca mais tine por melhor que o liguem.O estado matrimonial seria o paraizo na terra, se não

houvesse sogra.O nariz grande vermelho de uma mulher, um íerro

em brasa que afugenta os melhores desejos de um ho~

mem.Moçapohre que quer casar è um anzol sem. isca.

.

Saudades —dos meus amoresSaudades—de minha terra.GÁsiMiiio d'AbreTj.

Nas horas trisídnhas das tardes d'estioNas horas que ledo se ouve o soarHo sino cTàldêa batendo a trindade :

Galado, sõsinho,Eu tenho saudadeBe tudo qu'émeo,

E quando á tardinha o céo s-escutèçe,E a terra s'envolve em manto de trevas.E o céo marchetadod'estrellas, formoso

Se mostra brilhante:Meu peito extremosoParece finar-se.

E o astro da noite sJeleva no céoRoçando na terra seus raios de prataR:a ínzbemfaseja da lua, formosa,

Réflèçté em minh'almaPaixão extremosaDe meiga saudade.

K quando no ramo da linda romeira "Euouçotrisionhaa voz darolinha:Eiisinío no peito saudades da terra,

Do campo das flores,Do come da serra,De tudo cítfé meo.

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llillltt

Em triste pensar minh'alma s'enlevaNesta bora de dores, d'amargo penar !Eu tenha saudades da terra demores, \

Dos prados mimososDos puros oloresQtras flores exalam!

l:l-

E quando na praia eu ouço o rolarDas ondas cadentes na areia batendo :Eu tenho saudades de tudo qu'é meo, I

De tudo que adoro \Na terra, no cèo i

Csituaoe tudo—saudades!JüLES MOJNTMARTIN.

2 de Novembro dei861.

Disia o nosso poeta Proenca que o chronista represen-íava no mundo o mesmo papel que um broche de gostono toiiette elegante deumamoça de 16 annos, espirituosa ie inlelligente. Sou da opinião d'elle, e por isso é já umadoença chronica, o susto que se apodera do mim, quandome pedem a chronica. E o mais é que eu prometti escre-vêl-ã. e não sei nem gosto de faltar ao queprometto ; detirri sorriso seu, interessante leitora, dependo portanto arainha franquillidade : negal-o ha ao pobre ehronisla ?...quem sabe!

A penas encontro novidades no mundo theatral; éil-asem resumo.

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S. Pedro abriu as suas portas no dia 25 em beneficiou.e um orphão, com o drama em verso, original de Césardo Lacerda — ííider-Aíjj, a cuja representação poucagente affluiu.

No desempenho o Sr. Florindo trabalhou muito bem»O sr. Lisboa não sabia o papel, o que se tornava notávelapesar mesmo da facilidade com que pôde passar desaper-cebida essa falta no 3o e 4o acto. A Sra. D. Líonor traba-Ihou com a graça e perfeição que lhe conhecemos, em quasiIodos os seus papeis.

O beneficio da Snra D. Clotilde passado para 26, effec-tuou-se a 25 com A Filluv do Lam^or e os Ovos deOuro. Nada digo a respeito do desemp. |ò por que nãopude ir assistir ao espetáculo.

O Sr Leal deu aos seus convidados urna noite agradávelh 26, no tlieatro de Santa Thereza. Kepresentava-se odrama —Virtude e Vicio— que tanto agradara ao publi-co nitheroyense. A casa estava completamente cheia, e no-final do cada acto lia-se no semblante de todos os espectadores a satisfacção peio bello enredo do drama, e o pra-^r pelo bom desempenho, que realmente excedeu á nossaexpectativa. Coube ao Sr. Florindo o papel do Cláudio e áSra. D. Kicciolini o de Thereza, que foi reproduzido comioda a fidelidade e expressão: esta acíriz comprehendeuopapel, apoderou-se da acção e disse-o ao publico comverdade que agradaria, inda quando fosse um papel demenos valor.

A Sra. D. Leónor deixou de o ser para se identificar uopapel de Emilia : na scena do 4o acto, confessou com tantaingenuidade e seducçâo o... sou eu que o amo, que pare-cia sentir o que dizia. O Sr. Leal trabalhou muito bem :esteve bello no 2° acto, ao fazer sahir Jorge de cada de

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seus proteçtores e no 4o acto, ao reconhecer seu pai :comprehendeu perfeitamente, que é a recordação de umamãe e fez rebentar as lagrimas nos olhos puros de muitasdonzellas ao recordãl-a na expressão intima e meiga com

que o Sr. Montenegro a traçou. Chamado à scena a final,pôde reconhecer nos applausos que recebeu e nas poesiasque lhe offertaram, o resultado dos seus esforços e oquanto pode fazer na arte... se estudar.

No dia 30 pôde alfim effectuar-se o beneficio da actrizí). Antonina, com a primeira representação do drama —Os Tafucs de Paris— eda comedia, originalportugnez —Por causa de um par de botas — A beneficiada foi recebidacom agrado pelo publico e por diversas veses applaudidaem differentes situações artísticas que executou, não commaestria, mas muito regularmente.

Do estudo e boa vontade tem esta actriz tirado já largoproveito ; e hoje que o peor está passado, não devedesa-nimar: se no estudo encontrar espinhos, suavisál-os-hae muito a simpamia do publico e o progresso na arte.

São conselhos de quem nada sabe; mas de quem tudodeseja.

Antes de hoqtem, 3, teve lugar o beneficio do artistaMartmho, que. segundo elle diz, deixa a carreira drama-tica. Representou-se o drama—O Segredo dos Cavalheiros— dando fim ao espectaculo três árias das que o publicocostumava ouvirem quasi todas as noites de recitas ordi-narias e extraordinárias.

Notei a indiferença do publico que o vio entrar em scena,sem lhe dar um applauso sequer, nem ao menos os seuspredilectos. Que quereriam significar com isto?... eu, nãosei.

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Em nome da redacção tenho um dever a cumprir:tributar sincero reconhecimento a' douta e muito illüs-Irada redacção do Jornal do Commercio, que tanto pròte-;en este pobre álbum com a sua valiosa recómmendação.acuraremos, quanto em nossas forças caiba, não desme-

recer do favor dos nossos assignantes, e de quem tão bemsabe animar uma empreza nascente, recommendando-a ápro.técçãodo publico.

Ao Consíiíiicional devemos o mesmo obséquio; para asnaattenciosa redacção, todo o nosso reconhecimento.

Tenho uma divida a cumprir e que não pago hoje: aapreciação da Lusbeíía que agora sobe á scena no Gym-ahio. Prometto cumpril-a. Até Domingo.

Jorge Lillo.

De novo oílerecemos as nossas paginas a todos os jovensestudiosos que nos quizerem honrar com a sua coadjuva-cão, devendo remetter osoriginaes em cartafechada á ruados Látoeiros n. 84, onde igualmente devem ser remetti-dos todos os avisos, reclamações e se recebem assignatu-ras a 3$000 por trimestre. * *i

Tv]).—Econômica—de J. J. Fontes, rua dos Látoeiros n. 'Si