V Encontro de Educação Ambiental em Contextos Escolares · ISSN: 2359-5574 2 Universidade do...
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Universidade do Estado do Par
Centro de Cincias Sociais e Educao
Ncleo de Estudos em Educao Cientifica, Ambiental e Prticas Sociais-
NECAPS
ANAIS V Encontro de Educao Ambiental em
Contextos Escolares
Tema: Pesquisas em Educao Ambiental na
Amaznia: Uma agenda em permanente
construo
Belm-PA
Junho 2015
-
ISSN: 2359-5574
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Universidade do Estado do Par
Centro de Cincias Sociais e Educao
Ncleo de Estudos em Educao Cientifica, Ambiental e Prticas Sociais- NECAPS
ANAIS V Encontro de Educao Ambiental em
Contextos Escolares
Belm-PA, 09 a 11 de junho de 2015.
Tema: Pesquisas em Educao Ambiental na
Amaznia: Uma agenda em permanente
construo
ARTIGOS APROVADOS
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ISSN: 2359-5574
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JUAREZ ANTNIO SIMES QUARESMA
Reitor da Universidade do Estado do Par
RUBENS CARDOSO DA SILVA
Vice-Reitor da UEPA
MARIA MARIZE DUARTE
Pr-Reitora de Extenso - PROEX
ANA DA CONCEIO OLIVEIRA
Pr-Reitora de Graduao - PROGRAD
PEDRO FRANCO DE S
Diretor do Centro de Cincias Sociais e Educao
MARIA DE NAZAR DOS REMDIOS SODR
Coordenadora do Ncleo de Estudos em Educao Cientfica, Ambiental e Prticas Sociais
Necaps
MARNA COSTA DIAS
Presidente da Comisso Organizadora do V EEACE
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COMISSO CIENTIFICA
Dr, Celso Snchez (UNIRIO)
Me. Albert Alan de Sousa Cordeiro (UNIFAP)
Me. Carlos Alberto Saldanha da Silva Jnior (SEDUC)
Me. Fernanda Rocha (NECAPS)
Me. Giza Bandeira (SEDUC)
Me. Gustavo Maneschy Montenegro (UNIFAP)
Me. Marna Costa Dias (NECAPS)
Me. Marcia Hellen Soutello Santos (NECAPS)
Me. Maria de Nazar dos Remdios Sodr (UEPA)
Me. Neriane da Hora (UFOPA)
Me. Rafaela Gama (PUC-SP)
Me. Saiara Conceio de Jesus da Silva (SEMEC-PA)
Me. Tania Roberta Costa de Oliveira (UEPA)
Me. Vitor Cunha Nery (UEAP)
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COMISSO ORGANIZADORA Adriano dos Santos
Adriene Rabelo
Aldo Cativo
Aldri Felipe
Amanda Paloma
Ana Carolina
Ana Julia
Brbara Maues
Brenda Luane
Brenda Melo
Bruna Livia,
Cristiane Cardoso
Dhenyfer
Eduardo Simes.
Eduardo Simes.
rica Ferreira.
Estagirio: Juliana Silva
Evellin Natasha
Ewellyn Gadelha
Fernanda Sousa
Francilene
Gabriel
GizaBandeira
Izabeli de Paula
Juliana Correa
Julianne
Julio Richard
Kecidiones
Laira
Larissa Mayara
Larissa Sales
Layla Rocha
Victor Saulo
Alessandra Silva
Luciana Silva
Marcia Soutello
Nayara
Nayara Silva
Neriane da Hora
Paula Sodr
Placido Oliveira
Priscila
Raquel
Rosilene
Tamiris
Valria
Vitoria Catarina
Walber Azevedo
Yasmin Kasahara
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SUMRIO
APRESENTAO Pgina 08
01. ENTRE A SECA E A CHEIA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA
COMO ESTRATGIA PARA PROMOVER A VALORIZAO DA GUA ATRAVS DA
CULTURA LOCAL (VENCEDOR DO PRMIO MARIA DE JESUS PARA EDUCADORES
AMBIENTAIS) Pgina 09
02. LUTANDO PELA GUA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA NAS
CERCANIAS DA BAA DA GUANABARA, RIO DE JANEIRO. Pgina 16
03. PLANEJANDO NOSSAS GUAS Pgina 21
04. UMA REFLEXO CRTICA SOBRE A PROPOSTA DE EDUCAO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (EDS) DA UNESCO EM ESPAOS ESCOLARES
Pgina 28
05. REAPROVEITAMENTO DE RESDUOS SLIDOS COMO PRTICA DE EDUCAO
AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL CECLIA PINTO NO MUNICPIO DE MACAP,
AMAP. Pgina 35
06. O QUE AS INSTITUIES DE ENSINO PRECISAM SABER SOBRE A COLETA
SELETIVA. Pgina 41
07. AVES QUE VISITAM AS PALMEIRAS: Euterpe oleracea Mart. e Mauritia flexuosa L. f.
EM REA COSTEIRA DA VILA DE BEJA- ABAETETUBA-PA. ANALISE DE UMA
PROPOSTA AMBIENTAL PARA O ENSINO DE CINCIAS Pgina 48
08. PRATICAS DE SABERES AMBIENTAIS: COM CONHECIMENTO DA
COMPOSTAGEM COM ALUNOS DO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Pgina 55
09. TRABALHANDO A FORMAO DO SUJEITO ECOLGICO A PARTIR DA
EDUCAO SOCIOAMBIENTAL Pgina 62
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SEO: TEXTOS ENCOMENDADOS
(Relato dos Palestrantes do V Encontro de Educao Ambiental em Contextos Escolares)
1. COMPARTILHANDO IDEIAS E PRTICAS DE PESQUISA E EXTENSO EM EDUCAO FSICA, ESPORTE E LAZER: a experincia do NEPEFEL em questo.
Autor: Professor Mestre Gustavo Maneschy Montenegro (Universidade Federal do Amap)
Pgina 70
2. AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA EDUCAO AMBIENTAL E A PERSPECTIVA DE UMA FORMAO CULTURAL DO PROFESSOR
Autor: Professor Mestre Carlos Alberto Saldanha da Silva Jnior (SEDUC-PA)
Pgina 76
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APRESENTAO
O Ncleo de Estudos em Educao Cientfica, Ambiental e Prticas Sociais (Necaps) da
Universidade do Estado do Par (UEPA), vem nos ltimos anos realizando o Encontro de
Educao Ambiental em Contextos Escolares (EEACE), visando discutir sobre questes
ambientais desenvolvidas no mbito escolar; no coletivo de professores e alunos; suas
possibilidades; dificuldades e relevncia deste fazer para a formao de professores e da juventude
da Educao Bsica.
No ano de 2015, o Necaps prope o V EEACE com o tema: Pesquisas em Educao
Ambiental na Amaznia: uma agenda em permanente construo, que foi realizado no
perodo de 09 a 11 de junho de 2015, com o objetivo de promover discusses e difundir as
pesquisas em Educao Ambiental (EA) desenvolvidas por profissionais e/ou instituies de
ensino superior, no intuito de potencializar as aes em EA no espao escolar. Tivemos como
perspectiva pensar e o dialogar sobre as prticas em EA como processo permanente de ao e
reflexo articulado aos diferentes saberes, atitudes, hbitos e construo de valores ticos e
ambientais e, assim, contribuir para a formao de educadores ambientais.
Neste sentido, comunidade acadmica, escolar, pesquisadores e instituies que
desenvolvem estudos com foco no tema em questo submeteram relatos de suas experincias dos
quais, os que esto apresentados nesta Coletnea auxiliam na valorizao e enriquecimento das
discusses deste evento.
Dessa forma, o V EEACE foi organizado em eixos temticos que resultaram das atividades
de ensino, pesquisa e extenso desenvolvidas pelo Necaps no ano de 2014, em suas diferentes
linhas de pesquisa. De tal modo, desejamos ter construdo prxis pedaggicas que visem a
ampliao da formao inicial e continuada de professores. Desta forma, o evento contou com as
seguintes prxis pedaggicas:
Educao para Sociobiodiversidade;
Educao Ambiental para valorizao da gua;
As DCNs para Educao Ambiental e a perspectiva de uma Formao Cultural do
Professor;
Lixo e Sustentabilidade: refletindo sobre os 3Rs;
Reinventar o cenrio escolar na Amaznia: dilogos sobre tecnologias sustentveis
Alm disso, o Encontro contribuiu no fortalecimento do V Frum de Educadores
Ambientais do NECAPS, no qual foram discutidas temticas importantes para docentes da
educao bsica e todos/todas que discutem EA no coletivo, expandindo suas vivncias
profissionais acrescidas de outros conhecimentos resultados de estudos na rea.
Profa. Mestre Marna Costa Dias Presidente da Comisso Organizadora do V Encontro de Educao Ambiental em Contextos Escolares:
Pesquisas em Educao Ambiental na Amaznia: uma agenda em permanente construo
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ENTRE A SECA E A CHEIA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA
COMO ESTRATGIA PARA PROMOVER A VALORIZAO DA GUA ATRAVS
DA CULTURA LOCAL*
Daniel Renaud1**
Celso Snchez2
Joyce Alves da Rocha3
RESUMO
Este trabalho pretende apresentar uma proposta de Educao Ambiental de carter popular que considerou a cultura local como um elemento para a contextualizao da proposta educativa s realidades locais dos distritos de
Chapada do Norte (sede), Cachoeira do Norte, Santa Rita do Araua e So Sebastio da Boa Vista, no Municpio de
Chapada do Norte (MG), localizado no Mdio Jequitinhonha. O municpio de Chapada do Norte apresenta-se como
um territrio de grandes contrastes, onde a gua - ou a falta desta - representa um elemento fundamental para a
estruturao e permanncia das comunidades locais. A gua, neste caso, surge como base para as principais atividades
econmicas desempenhadas na regio, da lavagem do ouro (garimpo) criao de animais e agricultura de
subsistncia. Historicamente, as comunidades da regio se desenvolveram em torno de fontes de gua como crregos,
poos ou rios e sempre vivenciaram uma relao complexa com os recursos hdricos, aprendendo a lidar com as secas
e com as cheias, conhecendo bem as conseqncias da estiagem e das enxurradas. Este trabalho apresenta algumas
possibilidades de atividades de Educao Ambiental realizadas em comunidades do municpio de Chapada do Norte,
considerando relatos de moradores e elementos da cultura local. O trabalho partiu de uma perspectiva
etnometodolgica para o recolhimento e anlise de dados, considerando o cruzamento de conversas informais,
entrevistas semi-estruturadas e histrias de vida. Foram selecionados 36 informantes distribudos pelos trs distritos,
sendo 14 do sexo masculino e 22 do sexo feminino, em idades que variam de 36 a 98 anos. As informaes obtidas
serviram de base para discusses realizadas durante os cursos, oficinas e palestras de Educao Ambiental
desenvolvidos com professores, moradores dos distritos e alunos da Escola Estadual Oldia Lemos.
Palavras-Chave: Vale do Jequitinhonha; Educao Ambiental de base comunitria; Cultura Popular; Regime
hdrico.
1) INTRODUO
Este trabalho investigou comunidades dos Distritos de Cachoeira do Norte, So Sebastio
da Boa Vista e Santa Rita do Araua, no Municpio de Chapada do Norte (MG), na regio do
Mdio Jequitinhonha. O clima do municpio de Chapada do Norte considerado semi-rido,
apresenta duas estaes com caractersticas distintas, a seca e a poca das chuvas.
1 Bacharel em Cincias Ambientais (UNIRIO), Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Educao (UNIRIO),
pesquisador do Grupo de Estudos em Educao Ambiental Desde El Sur (GEASUR), pesquisador e professor
voluntrio do Projeto Social Construindo e Preparando para o Futuro (Projeto CPF) 2 Doutor em Educao (PUC-RJ), Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),
pesquisador do Grupo de Estudos em Educao Ambiental Desde El Sur (GEASUR). 3 Doutora em Meio Ambiente (UERJ), Professora do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio de
Janeiro (IFRJ)
* Texto Vencedor do Prmio Maria de Jesus para Educadores Ambientais (1 edio) do V
EEACE/NECAPS/UEPA. Belm, 2015.
mailto:[email protected]**
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O Vale do Jequitinhonha retratado na mdia como uma das regies mais pobres do pas4,
compreende a regio do Sul da Bahia e o Nordeste do estado de Minas Gerais. O Rio
Jequitinhonha nasce na Serra do Espinhao (MG) e atravessa o Vale indo desaguar no sul da
Bahia, na cidade de Belmonte. Segundo Gonalves (1997), embora o rio seja o recurso natural
mais importante da regio, ele vem sofrendo com as atividades humanas de desmatamento para
fins agropastoris, de minerao e de garimpagem, o que vem causando, no decurso dos anos,
modificaes importantes no ciclo hidrolgico.
Toda a histria da penetrao do colonizador na regio do Jequitinhonha, assim como a
histria do incio da ocupao do Vale, pelas entradas e bandeiras, ocorreu atravs das margens
dos crregos e rios, pelas bordas (RIBEIRO, 1984). A histria da ocupao da regio onde hoje se
encontra o Municpio de Chapada do Norte remete ao tempo da expedio de Sebastio Leme do
Prado que chegou regio atrada pela notcia de ouro nas margens do rio Capivari (AMARAL,
1988; RIBEIRO, 1984). O Bandeirante Sebastio Leme do Prado funda a Vila do Fanado (atual
cidade de Minas Novas), impulsionando a explorao do ouro na regio.
A fundao da Vila do Fanado concentrou grande quantidade de negros escravizados para
a extrao do ouro. No final da dcada de 1720, uma grande seca afetou a produo de alimentos
da regio, gerando fome na Vila do Fanado, em especial entre os pobres e escravos, os quais
alguns conseguiram fugir e sobreviver (RIBEIRO, 1984).
Os sobreviventes migraram pelas margens do Capivari chegando numa regio de terras
frteis onde fundaram um povoado, que com o tempo, veio a ser chamado de Santa Cruz da
Chapada (AMARAL, 1988).
Em seu livro, Lembranas da Terra, Histrias do Mucuri e Jequitinhonha, Ribeiro (1984)
aponta que, j no final do sculo IXX chegaram ao Vale do Jequitinhonha grandes levas de
migrantes vindos do norte, em especial moradores de cidades mais ao norte do Vale e baianos,
fugindo da seca dos noventinha, que castigou o Nordeste na dcada de 1890. Na mesma obra o
autor ressalta como a ocupao do vale sempre se deu de maneira exploratria, considerando a alta
fertilidade das terras se plantou e se colheu sem retribuir, muita mata foi derrubada para dar lugar
as plantaes e criaes de gado (mal adaptadas ao terreno da regio, extremamente acidentado).
Segundo dados do site da Prefeitura do Municpio de Chapada do Norte, inicialmente
Chapada do Norte foi reconhecida como Distrito de Minas Novas, tendo sido criado com o nome
de Chapada pela lei n 472, de 31 de maio de 1891. Posteriormente Chapada elevou-se categoria
4 Estudo da ONU aponta que Brasil possui 13 bolses de pobreza, ou seja, regies carentes de investimentos e
estrutura. O Vale do Jequitinhonha apontado como uma destas regies. Ver em:
http://www.sinjus.org.br/modulos.php?nome=noticia&arquivo=visu_not&id_not=6805
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de Municpio atravs da lei estadual n 2763, de 30 de Dezembro de 1962 sendo desmembrada de
Minas Novas. O municpio se encontra a 555 km de Belo Horizonte, possui uma rea de 830km,
apresenta populao estimada de 15.648 habitantes (IBGE, 2014), densidade demogrfica de 18,3
hab/km, as principais atividades econmicas so a agropecuria e o comrcio. Segundo dados do
censo demogrfico do IBGE (2010), quando o municpio apresentava 15.189 habitantes, 9.495
indivduos residiam em reas rurais e 5.694 em reas urbanas.
Com relao Hidrografia5, o municpio de Chapada do Norte se encontra na Bacia do Rio
Jequitinhonha, sendo os principais rios da regio o Araua, o Capivari e o Setbal. A regio se
caracteriza pela presena de rios e crregos intermitentes (peridicos). O solo da regio apresenta
colorao intensa, geralmente vermelho alaranjado, torna-se facilmente lamacento durante as
chuvas e levanta muita poeira durante o perodo de seca, sendo classificado como LE Latossolo
vermelho escuro com textura argilosa.
A cultura popular de Chapada do Norte apresenta enorme riqueza traduzida em
manifestaes como o Congado, Tamborzeiros, Festa do Rosrio, bem como vrias prticas de
curadores, como benzedeiras, erveiros e mezinheiros6, entre outras manifestaes tpicas da regio
que compreendem um repertrio de saberes e fazeres tpicos do interior do pas. Tais
manifestaes culturais fazem parte inclusive da identidade cultural de tais comunidades.
2) METODOLOGIA
Este trabalho parte de uma perspectiva de Educao Ambiental Crtica, a proposta se
desenvolve em torno da cultura local como estratgia de aproximar a Educao Ambiental
realidade dos moradores das comunidades do Municpio de Chapada do Norte, considerando os
contextos histrico, social, cultural e econmico. Desta forma, a perspectiva da EA adotada vai
para alm da mudana de hbitos e valores como costuma ser preconizada esta prtica educativa, a
dimenso critica da EA adotada, prope ma leitura da realidade e dos contextos culturais que da
emergem como substrato das aes educativas no sentido de transformaes sociais e
autoemancipao dos sujeitos
Os dados sobre a histria e cultura das comunidades foram obtidos no perodo de Fevereiro
de 2012 e Janeiro de 2015 e o tempo de permanncia nas comunidades variou de 7 14 dias. O
trabalho considerou os saberes locais como base para propostas de EA (RENAUD, 2014) e a
5
6 Mezinheiro o termo utilizado para descrever os sujeitos envolvidos com o cultivo e uso de plantas medicinais para
a produo de remdios caseiros. Em geral, tais plantas so cultivadas em hortas, canteiros ou vasos, prximos s
moradias, sendo os medicamentos produzidos na prpria casa do mezinheiro ou na do paciente.
http://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspxhttp://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspx
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Cultura como um conceito antropolgico (FREIRE, 1987), ou seja, buscou-se articular a Cultura
Local como um elemento de contextualizao de uma proposta de Educao Ambiental que
chamamos de base comunitria, pois parte da realidade das comunidades e se destina a elas.
Antes de realizar o processo de investigao, o contedo da pesquisa, seus objetivos e
modo de realizao foram devidamente esclarecidos aos informantes como parte do processo de
Consentimento Prvio Informado7, autorizando o uso das informaes obtidas para divulgao da
pesquisa e sendo informados que poderiam desistir de participar sem nenhum tipo e prejuzo. Para
a etapa de Investigao foi aplicada uma Etnometodologia compreendendo o cruzamento das
seguintes tcnicas:
- Observao Participante como observador, as interaes dirias com os moradores e
observao do dia a dia da comunidade, foram documentadas.
- Entrevistas semi-estruturadas inicialmente foram aplicados questionrios de maneira informal,
no seguindo a ordem das perguntas e em alguns casos no aplicando todas as perguntas aos
entrevistados, compreendendo uma busca pelos saberes locais que se adapto a diferentes sujeitos e
momentos.
- Conversas informais observao e documentao do contedo das conversas com moradores e
informantes.
- Histrias de vida dar liberdade para o informante relatar sua vida, com objetivo de, a partir da
trajetria de vida do entrevistado, destacar elementos teis a criao de uma proposta de Educao
Ambiental contextualizada realidade local.
As informaes obtidas nesta etapa foram registradas em cadernos de campo, gravaes de
udio (utilizando um aplicativo gratuito de smartphone) e registros audiovisuais.
O processo de escuta sensvel na educao ambiental em comunidades (SANCHEZ,
MONTEIRO & MONTEIRO, 2010) foi utilizado durante todas as etapas do trabalho,
compreendendo a considerao e o respeito por absolutamente tudo o que dito ou transmitido
pela comunidade
A seleo dos informantes se deu a partir de conversas informais com moradores,
indicaes da prpria comunidade (reconhecimento social) e da tcnica da bola-de-neve, onde a
comunidade e os prprios informantes indicaram outros mestres dos saberes locais. Para esta
pesquisa considerou-se como mestres dos saberes locais, os moradores, em especial os mais
7 Considerando as recomendaes da Medida Provisria n 2.186-16, de 23 de Agosto de 2001, sobre a Conveno
sobre Diversidade Biolgica, que dispe sobre o acesso ao patrimnio gentico, proteo e o acesso ao
conhecimento tradicional associado, a repartio de benefcios e o acesso tecnologia e transferncia de tecnologia
para sua conservao e utilizao, e d outras providencias.
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antigos, que presenciaram as transformaes e eventos de secas e cheias no Municpio de Chapada
do Norte. Foram selecionados 36 informantes distribudos pelos trs distritos, sendo 14 do sexo
masculino e 22 do sexo feminino, em idades que variam de 36 a 98 anos.
Uma das aes desenvolvidas durante o projeto de pesquisa foi estimular os professores, a
partir de encontros como cursos, oficinas e palestras, a discutir com os alunos questes
relacionadas seca e cheias, em especial do Rio Araua, integrando os saberes e percepo dos
prprios moradores s discusses levantadas em sala de aula. Os encontros foram realizados nos
Distritos de Chapada do Norte (sede), Cachoeira do Norte, So Sebastio da Boa Vista e Santa
Rita do Araua. As atividades foram destinadas aos moradores das comunidades, professores e
alunos da Escola Municipal Oldia Lemos.
Os cursos, oficinas e palestras tiveram como foco principal o retorno das informaes
obtidas com a pesquisa para as comunidades. A inteno foi explicitar o potencial do uso da
Cultura e Histria Local como temas geradores para propostas de Educao Ambiental de base
comunitria contextualizadas s realidades das comunidades. As atividades foram realizadas na
tentativa de relacionar os saberes revelados com a pesquisa com prticas de Educao Ambiental.
Durante os encontros foram contadas as lendas locais, histrias da regio, discutimos as
conseqncias das secas e cheias com base em relatos, notcias e fotografias apresentados pelos
moradores locais que retratam secas e cheias extremas. Alm disso, foram apresentados vdeos
como parte de uma campanha contra a dengue. Os vdeos foram produzidos no crrego do Distrito
de Cachoeira do Norte, onde a gua parada estimulou a proliferao de mosquitos. Foram
registrados os trechos de gua parada, as larvas de mosquitos, o baixo fluxo de gua no crrego e
os trechos onde a gua se encontrava poluda, sobretudo pela decomposio de matria orgnica,
presena de resduos e despejo de gua de fossas (gua cinza).
3) RESULTADOS E DISCUSSO
Nas falas dos moradores, a partir das entrevistas, os relatos ressaltam memrias dos
perodos de secas e chuvas extremas, onde os moradores se uniram para reconstruir as
comunidades aps as secas e os dilvios. Alm disso, os moradores apresentaram fotografias e
notcias sobre os perodos de chuvas extremas, em especial nos anos de 1929, 1979 e 20138.
Segundo eles em situaes como os dilvios se evidenciaram os conflitos entre as posies dos
moradores e de autoridades responsveis pela construo de pontes que apesar das advertncias
dos moradores insistiram em construir sobre o rio uma ponte que foi levada na primeira chuva
8 Anos de chuvas extremas, referidos como os anos de dilvios pelos moradores locais.
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mais forte, que popularmente chamada de dilvio. Este rpido exemplo nos permite corroborar
com o que Santos (2010) chama de ecologia de saberes e de epistemicdio, quando os saberes
reificados e de carter cientfico se impe sobre os saberes locais criando conflitos
epistemolgicos. Desta forma, entende-se que a EA de base comunitria busca nos saberes locais
seu substrato para a construo de uma Ecologia de Saberes de onde emergem outras
possibilidades de conexo entre as distintas plataformas epistemolgicas e vises de mundo.
A rica cultura popular da regio mostrou-se como um territrio frtil para conexes com a
EA proposta. A experincia desenvolvida com professores, moradores dos distritos e com alunos
do Ensino Fundamental da Escola Municipal Oldia Lemos, localizada no distrito de Cachoeira do
Norte demonstrou que a partir da Cultura e Histria Locais houve uma identificao do publico
envolvido com suas prprias expresses culturais e histricas, o que facilitou e muito o
desenvolvimento das atividades.
A histria ambiental revelada nos depoimentos aponta que grande parte das terras das
comunidades era mata e que com o tempo foi cortada, dando origem as casas, sendo substituda
por pasto para o gado, pelas roas, ou foi vendida. Com isto foi possvel perceber a importncia
das relaes entre a histria oral e a histria ambiental para a construo de propostas de EA
crtica e de base comunitria.
4) CONSIDERAES FINAIS
Foi possvel perceber uma influencia das secas nas migraes e na formao das
comunidades A seca influencia as migraes de algumas maneiras, em primeiro lugar, quando
chega este perodo, ocorrem as migraes sazonais (sobretudo rumo ao corte de cana de acar,
colheita de laranja, caf e construo civil), em segundo lugar provocando o xodo rural, como o
caso dos antigos agregados9, onde os migrantes partem para grandes centros urbanos em busca de
melhores condies de vida, por fim, tambm influenciou o processo de formao das
comunidades gerando ondas de migrao, sobretudo vindas da regio do Nordeste, fugindo da
seca.
Esta proposta permite valorizar a memria dos moradores, considerando a opinio popular
como uma fonte de informaes sobre o regime hdrico local. Alm da valorizao e
reconhecimento das lendas locais demonstrando seu potencial para a construo de uma proposta
de Educao Ambiental Crtica.
9 Moradores das antigas fazendas que no possuem terras ou bens para se manter na regio.
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Incentivo a preservao do conhecimento local a partir de uma articulao entre os
moradores das comunidades e o sistema de ensino local, permitindo um dilogo de saberes e o
conhecimento da histria da regio a partir da memria dos moradores.
5) REFERNCIAS
- AMARAL, Leila. Do Jequitinhonha aos Canaviais: Em busca do Paraso Mineiro. (dissertao
de mestrado) Belo Horizonte, 1988.
- FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17 Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
- GONALVES, Ronaldo do Nascimento (org). Diagnstico Ambiental da Bacia do Rio
Jequitinhonha: Diretrizes Gerais para a Ordenao Territorial. Ministrio do Planejamento e
Oramento, Fundao Brasileira de Geografia e Estatstica IBGE, Diretoria de Geociencias,
Diviso de Geociencias do Nordeste DIGEO, 1997.
- RENAUD, Daniel. Contos, Bnos e Mezinhas: Educao Ambiental Popular como Estratgia
de Proteo dos Saberes Locais (trabalho de concluso do curso de Bacharelado em Cincias
Ambientais). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. 2014.
- RIBEIRO, A. E. M (org) Lembranas da Terra: Histrias do Mucuri e Jequitinhonha. Cedefes.
1986.
- SANCHEZ, C.; MONTEIRO, B.; MONTEIRO, R. Na Trilha das Pedras: Algumas
consideraes sobre as metodologias de Educao Ambiental e o Processo de Escuta. Rev.
Eletrnica, v. 24, 2010.
- SANTOS, B. S & MENESES, M. P (orgs). Epistemologias do Sul. So Paulo, Editora Cortez,
2010.
- SILVA, Vanda Aparecida da. Eles no tm nada na cabea: jovens do serto mineiro entre a
tradio e a mudana. (Dissertao de Mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade
de Educao. Campinas, SP. 2000.
acessado dia 14 de Maio de 2015 s 18:20.
acessado dia 14 de Maio de 2015 s 18:30.
acessado dia 14 de Maio de 2015 s 18:45.
acessado dia 14 de Maio de 2015 s 19:00.
acessado dia 15 de Maio de 2015 s 16:20.
http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=311610&search=||infogr%E1ficos:-hist%F3ricohttp://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=311610&search=||infogr%E1ficos:-hist%F3ricohttp://www.sinjus.org.br/modulos.php?nome=noticia&arquivo=visu_not&id_not=6805http://blogdobanu.blogspot.com.br/2013/12/enchente-do-rio-aracuai-leva-ponte-em.htmlhttp://www.chapadadonorte.mg.gov.br/novo_site/http://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspxhttp://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspx
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LUTANDO PELA GUA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA NAS
CERCANIAS DA BAA DA GUANABARA, RIO DE JANEIRO.
Marcelo Aranda Stortti 1
Resumo:
Desde 2007 o direito a gua est assegurado atravs da lei 11.445, porm a existncia dessa lei, bem como
outras no tem assegurado s pessoas a desfrutarem desse direito. O municpio de Duque de Caxias apresenta um
dficit hdrico segundo o Plano Diretor de recursos Hdricos da Regio Hidrogrfica da Baa da Guanabara, logo se
ocorrer instalao de muitas empresas nessa regio ocorrer um aumento desse dficit. Ser que as populaes locais
ficaro sem gua? Este estudo teve por objetivo identificar se existe violao do direito ao abastecimento de gua,
coleta e tratamento de esgoto de uma populao de baixa renda localizada em um polo petroqumico no municpio de
Duque de Caxias, bom como, os conflitos socioambientais referentes a essa questo. Para coletar os dados dessa
pesquisa utilizou-se a metodologia de grupos focais. Como resultado a maioria dos depoentes explicou que no so
abastecidos com gua tratada da empresa responsvel (CEDAE). Eles explicaram que a maioria usa da gua da
refinaria de petrleo (REDUC), que permite que eles faam instalaes clandestinas e redirecione a gua para as suas
casas. A partir das nossas conversas com tcnicos das duas empresas essa gua no tratada para atender a populao,
pois a mesma usada apenas para o resfriamento das caldeiras da refinaria. Um pequeno grupo de moradores possui
poo artesiano, porm para eles essa gua est contaminada. Os moradores afirmaram que no possui rede de coleta
de esgoto e alguns poucos apresentam fossa sptica. Nesta pesquisa podemos destacar a presena do conflito
ambiental, relacionado com o uso desigual dos recursos hdricos disponveis e com a impossibilidade de
universalizao de direitos, caracterizando um processo de excluso e de desigualdades sociais. Alm disso, ainda
ocorre o aumento de casos de doenas nessa comunidade que relacionadas baixa qualidade da gua.
Palavras-chave: Educao Ambiental de base comunitria, Cultura Popular, Recurso hdrico.
Introduo
Desde 2007 o direito a gua est assegurado atravs da lei 11.445, porm a existncia dessa lei,
bem como outras no tem assegurado s pessoas a desfrutarem desse direito. Duque de Caxias
uma regio que tem sido escolhida para a implantao de vrias indstrias, pela sua proximidade
com o Rio de Janeiro em com outros centros como So Paulo e Minas Gerais. Esse municpio
apresenta um dficit hdrico segundo o Plano Diretor de Recursos Hdricos da Regio
Hidrogrfica da Baa da Guanabara, logo se ocorrer instalao de muitas empresas nessa regio
ocorrer um aumento desse dficit. Ser que as populaes locais ficaro sem gua? A partir dessa
reflexo realizamos uma reviso das pesquisas no campo dos conflitos ambientais e da justia e do
racismo ambiental, buscando entender se existe uma violao de direitos aos moradores de baixa
rende relacionado ao saneamento bsico nessa regio e como ocorre esse processo. Este artigo
teve por objetivo refletir sobre as lutas sociais relacionadas ao abastecimento de gua, coleta e
tratamento de esgoto de uma populao de baixa renda localizada no entorno da Baa da
Guanabara no municpio de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
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Metodologia
Para coletar os dados dessa pesquisa utilizou-se a metodologia de grupos focais, pois permitiu que
compreendessem as experincias desse grupo social do seu prprio ponto de vista. Para tal,
escolhemos como sujeitos dessa pesquisa alunos moradores de uma comunidade de 128 famlias
de baixa renda (de at um salrio mnimo) e em vulnerabilidade social situadas atrs de 6
empresas do plo Petroqumico localizado no fundo da Baa da Guanabara no bairro de Campos
Elsios em Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro. Realizamos quatro grupos focais com uma
mdia de 20 alunos (moradores) por grupo. As reunies ocorreram no colgio estadual localizado
na regio, com reunies durante a semana no contra turno escolar.
Alm disso, entrevistamos dois funcionrios de uma das empresas do plo petroqumico e dois
funcionrios da empresa estadual de guas e esgoto (CEDAE). As entrevistas foram semi
estruturadas, durando uma mdia de 40 minutos cada (STORTTI, 2009).
O referencial terico desse artigo parte de uma perspectiva de Educao Ambiental Crtica,
definida por Loureiro (2004, p. 66) como:
... a adjetivao ambiental se justifica to somente medida que serve para destacar
dimenses esquecidas historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao
entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da
modernidade capitalista e do paradigma analtico-linear, no-dialtico, que separa:
atividade econmica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo;
matria e esprito, razo e emoo etc."
Nessa perspectiva a ao educativa deveria auxiliar na transformao das condies
socioambientais (GUIMARES, 2004), reforando o seu carter poltico (BONFIM, PICOLLO,
2011; TOZONI-REIS, 2007), apoiada na teoria crtica que desvela as contradies do modo de
produo capitalista, favorecendo o dialogo entre os projetos societrios em voga (TREIN, 2007),
bem como, redefinir as relaes entre homem e natureza, a fim de romper com a atual ordem
poltica, cultural e econmica (DIAS, BONFIM; 2011).
Alm disso, buscar as interfaces dos dilogos que emergem das demandas populares e dos
movimentos sociais no contexto dos debates em torno dos conflitos ambientais a partir dos
referenciais de estudos acerca da decolonialidade e da interculturalidade no contexto regional
latino-americano. Dialogando a partir das epistemologias emergentes (SANTOS, 2010) que se
soerguem das disporas com povos originrios, populaes tradicionais, em particular de matriz
africana e indgena, as quais produzem ecologias de saberes, em sua relao de conflito, com
territrios muitas vezes estigmatizados e em disputa no contexto latino-americano
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Resultados e Discusso
Nas falas desses jovens moradores daquela localidade, a partir dos grupos focais, os relatos
ressaltam memrias dos perodos de conflitos e lutas pela gua. Como resultado a maioria dos
depoentes explicaram que no so abastecidos com gua tratada da empresa responsvel pela
distribuio e tratamento de gua e esgoto (CEDAE). Eles explicaram que a maioria usa da gua
da refinaria de petrleo (REDUC), que atualmente finge que eles no fazem instalaes
clandestinas e redirecione a gua para as suas casas. Para esses moradores era uma questo de vida
ou morte, pois como no existia gua superficial para ser consumida, pois os rios da localidade
estavam poludos (por esgoto ou por resduos das industrias qumicas) e faltava dinheiro para furar
um poo e torcer para que aquelas guas tambm no estivesse contaminada. Os jovens
afirmaram que no possuem rede de coleta de esgoto e alguns poucos construram fossa sptica.
Segundo os depoentes o esgoto de cada casa vai parar no valo, que corta a comunidade, e depois
vai parar no rio e finalmente chega Baa de Guanabara.
Os depoentes destacaram que sabiam daquelas informaes porque os moradores mais antigos
lutam a anos para resolver o problema da falta de gua e da sua baixa qualidade.
Segundo uma depoente no ano de 2014 ocorreu um fato novo nessa luta, os moradores cansados
de usar gua de m qualidade comearam a denunciar nos meios e comunicao sobre esse
problema e da ausncia de rede de abastecimento. Para surpresa de todos, durante um programa
jornalstico televisivo um representante da CEDAE foi localidade e viu que as torneiras no
tinham gua nenhuma e se comprometeu em resolver esse problema. Segundo a jovem no final
daquele ano comearam a fazer obras na localidade para colocar novos canos e levar gua para
algumas ruas.
Para aprofundar as informaes levantadas os tcnicos entrevistados, citados anteriormente,
afirmaram que conhecem a situao, porm no querem correr o risco de criar um problema maior
se cortarem as ligaes que eles chamaram de clandestinas. Segundo uma das funcionrias,
quando eles tiveram que cortar o fluxo de gua para fazer manuteno nos dutos, quase que a
populao foi para rua e fechou entrada da refinaria e da Rodovia Washington Luiz, foi um
sufoco, confessa ela. Para os moradores isso acaba sendo um favor que a refinaria faz por causar
tanta poluio. Segundo um dos entrevistados a empresa de abastecimento alega que as tubulaes
que existem na regio foram aterradas em obras de pavimentao das ruas e perderam a sua
funcionalidade. O outro depoente (representante da CEDAE) justificou essa ausncia de gua
devido falta de reclamaes no sistema da empresa, pois segundo ele, ...se isso tivesse ocorrido
esse problema j teria sido resolvido.
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Consideraes
A falta de acesso gua se configura como violao do direito humano a sade, a alimentao etc.
A gua de qualidade importantssima para o consumo de alimentos saudveis e higienizados.
Nesta pesquisa podemos destacar a presena do conflito ambiental, relacionado com o uso
desigual dos recursos hdricos disponveis e com a impossibilidade de universalizao de direitos,
caracterizando um processo de excluso e de desigualdades sociais. Alm disso, ainda ocorre o
aumento de casos de doenas na comunidade que esto relacionadas baixa qualidade da gua.
Como podemos observar existe uma disputa entre diferentes formas de apropriao e uso da gua,
alm de outros recursos ambientais (terra, ar, seres vivos) sendo fonte de sobrevivncia para os
moradores locais e fonte de acumulao de lucro para as grandes corporaes.
Alm disso, podemos destacar a memria dos moradores mais antigos, considerando o
conhecimento popular como uma fonte de informaes sobre os conflitos e injustias ambientais
da localidade. Alm da valorizao e reconhecimento da troca de saberes entre os moradores
antigos e os jovens, demonstrando seu potencial para a construo de uma proposta de Educao
Ambiental Crtica.
Outras questo que pode ser destacada a necessidade de incentivar a preservao do saber
local a partir de uma articulao entre os moradores das comunidades e o sistema de ensino local,
permitindo um dilogo de saberes e o conhecimento da histria e das lutas da regio a partir das
memrias e histrias locais.
Relacionado s questes anteriormente destacadas com uma educao voltada para o tema
da gua, ser que ela deveria continuar centrada apenas nos usos que fazemos dela (BACCI,
PATACA; 2008), ou que ns somos os nicos culpados pela crise hdrica atual, ou devemos
pensar que a gua um bem que pertence a um sistema maior, integrado, a um processo produtivo
capitalista, com todos os seus conflitos e disputas. Para muitos professores ensinar o ciclo
hidrolgico e todos os contedos relacionados a ele (dinmica fluvial, fenmeno das cheias, os
aqferos, riscos geolgicos, assoreamento, enchentes etc) essencial para que possamos entender
a dinmica da hidrosfera e suas relaes com as demais esferas terrestres (BACCI, PATACA;
2008). Ser que compreender isso bastaria?
A construo de um programa que tenha a gua como tema gerador, numa proposta de
ao interdisciplinar, apoiada nos conceitos fundamentais, deve ser entendida pelos professores
nas relaes mais profundas entre esse contedo e a ao educativa, com envolvimento coletivo,
dialgico e troca de saberes (BACCI, PATACA; 2008).
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Referncias
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Universidade Estcio de S. 2009.
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Rio de Janeiro: Quartet. 2007.
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PLANEJANDO NOSSAS GUAS
Gleice Mira Fernandes Alves1
Priscila Moura2
Resumo:
Durante os anos de 2008 a 2012 a ONG GEMA - Grupo de Educao para o Meio Ambiente executou o PROJETO
AGENDA GUA NA ESCOLA, uma iniciativa do INEA - Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro em
parceria com o Comit de Bacia Hidrogrfica Lagos So Joo. O projeto envolveu 46 escolas municipais e estaduais
de 12 municpios em quatro Regies Hidrogrficas (RH) RH Lagos So Joo, RH Rio das Ostras e Maca, RH
Baixo Paraba do Sul e RH Itabapoana, envolvendo 800 jovens e 350 professores. Durante essa etapa os jovens
envolvidos desenvolveram diagnsticos socioambientais, resgates histricos e expedies de monitoramento da
qualidade da gua e ocupao e conservao da Faixa Marginal de Proteo de rios e lagoas inseridos no escopo do
programa. As atividades desenvolvidas com os jovens culminaram na construo participativa junto comunidade das
Agendas das guas, que apontavam aes a serem desenvolvidas com o intuito de minimizar os problemas e
preservar as qualidades das comunidades do entorno das escolas. No ano de 2013 a Cmara Tcnica Permanente de
Educao Ambiental do Comit de Bacia Hidrogrfica Lagos So Joo fomentada pela REAJO Rede de Educadores
Ambientais Lagos So Joo disponibilizou recurso para a realizao da Pesquisa Planejando nossas guas, com o
objetivo de analisar em que medida o Projeto Agenda gua na Escola contribuiu para aumentar a capacidade de
governana participativa nas comunidades onde foi desenvolvido. Para a pesquisa foram selecionadas 06 unidades
escolares, distribudas em seis municpios da rea de abrangncia do Comit de Bacia Hidogrfica Lagos So Joo
(Araruama, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito e Silva Jardim).
Palavras-chave: Gesto, recurso hdrico, escola, valorizao, educao ambiental.
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1 - Pedagoga, aluna de Mestrado em Educao. UNIRIO.
2- Biloga, aluna de Mestrado em Biogentica. Fiocruz
mailto:[email protected]
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INTRODUO
Um novo modo de gesto, que tem como nfase a participao da sociedade civil
organizada, atualmente vem sendo denominada de governana e se traduziria num regime onde h
aes coordenadas entre governantes e governados (LEFTWICH, 1993; MACCARNEY, 1995,
apud WINCHESTER & RODRIGUEZ, 1998), com maior valor s instituies, representando
maior democratizao atravs da descentralizao, onde o funcionamento do Estado tomaria mais
um sentido horizontal, opondo-se ao modelo vertical e puramente hierrquico.
Alguns estudos (VEIGA, 2006; ORTEGA,1998) apontam para a perspectiva de que o processo
de governana se d atravs do dilogo que o poder pblico venha a exercer com as
organizaes da sociedade civil, principalmente atravs de espaos institucionais de
descentralizao de polticas, materializados nos conselhos gestores, (TPIA, 2005).
Refletindo sobre essa participao juvenil nos processos de gesto, o GEMA Grupo de
Educao para o Meio Ambiente, desenvolveu um projeto cujo objetivo foi a formao de
Jovens Gestores Ambientais para a construo de uma agenda de aes definidas de forma
participativas com base no monitoramento da qualidade da gua e controle da ocupao da
Faixa Marginal de Proteo, buscando ser um instrumento de mobilizao social para a gesto
integrada dos recursos hdricos e de conservao ambiental. Atravs de metodologias
participativas (Biomapa e Oficina do Futuro), os Jovens Gestores Ambientais realizaram um
diagnstico do territrio onde a escola estava inserida, buscando identificar as potencialidades
e as degradaes. Durante 8 meses as questes apontadas no diagnstico foram trabalhadas em
oficinas dinmicas e divertidas. Simultaneamente s oficinas, expedies foram realizadas,
para coleta e anlise da gua do recurso hdrico prximo escola.
Para aprofundar a compreenso sobre o territrio, a comunidade foi envolvida atravs do Resgate
Histrico, onde os moradores mais antigos foram convidados para um caf, compartilhando de sua
vivncia, contribuindo para o entendimento do processo de ocupao e crescimento do bairro. A
partir desse encontro, os moradores do bairro, assim como associaes e ONGs foram convidados
a participar do projeto. Comunidade e escola iniciaram uma conversa sobre as questes apontadas
buscando construir uma agenda, a Agenda gua, com sugestes de aes, que uma vez
desenvolvidas, poderiam contribuir para a melhoria de vida de todos. Finalizada, a agenda foi
encaminhada aos espaos de Gesto Compartilhada, como o Comit de Bacia Hidrogrfica e os
Conselhos Municipais, buscando unir foras para executar as aes propostas. O Comit de Bacia
Hidrogrfica Lagos So Joo, aprovou recursos para a realizao de uma pesquisa que pudesse
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acompanhar o desdobramento das aes estipuladas pelas agendas de 06 municpios: Silva Jardim,
Casimiro de Abreu, Cabo Frio, Araruama, So Pedro da Aldeia e Iguaba Grande. De cada
municpio uma escola participante do Projeto foi escolhida para receber o recurso e executar a
agenda. Durante essa etapa, os pesquisadores utilizando de metodologias participativas puderam
medir o grau de envolvimento e participao social das comunidades envolvidas.
METODOLOGIA
A metodologia foi desenvolvida sob duas perspectivas, uma terica com a reviso
bibliogrfica de determinados temas e a de campo baseada em observao participante.
O projeto se props a fazer um estudo sociolgico, qualitativo da Ao do Projeto Agenda
gua na Escola nas 06 comunidades cujas escolas receberam recurso para desenvolver as aes
propostas nas agendas.
A tcnica utilizada foi baseada nas metodologias participativas (observao participante;
grupo focal; entrevistas semi estruturada) Com o acompanhamentos das aes e a realizao de
um diagnstico participativo com educandos, educadores e comunidades das 06 escolas que
receberam recurso para a realizao das aes apontadas por eles nas agendas, buscando
identificar a forma de pensar a participao social dos grupos. Com base nos resultados se buscou
analisar o impacto do projeto na comunidade e a relao entre o projeto e a participao social dos
jovens, elucidando at que ponto, como e com que intensidade ou qualidade a educao ambiental
interfere - pode influenciar no processo de governana social, formando ou no indivduos
crticos.
RESULTADOS E DISCUSSO
A pesquisa-ao simplesmente uma forma de questionamento coletivo dos participantes
em uma determinada situao social com o intuito de promover a racionalidade e a justia destas
mesmas prticas sociais, a compreenso destas prticas e das situaes em que se encontram, e,
desta forma, poder transform-las. Assim, elimina-se a dicotomia sujeito-objeto e, ao invs de um
pesquisador externo estudar e aconselhar um grupo social, eles prprios estudam (investigam) sua
realidade e atuam sobre ela. (Mion & Saito, 2001: 126).
A apropriao das metodologias fez com que os grupos de estudantes j sensibilizados pelo
Programa Agenda gua na Escola, definissem formas e meios de ampliar e validar o que
produziram junto comunidade residente no entorno de suas escolas, incentivando as
comunidades a se organizarem e a participarem da elaborao, cumprimento e fiscalizao das
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polticas pblicas, dentro de fruns de gesto municipal participativa (Conselhos de Meio
Ambiente) e regionais (Consrcio e Comit de Bacia).
Foto 1. Pesquisadores, comunidade e estudantes e reunio para planejamento das aes.
Foto 2. Estudantes e comunidade construindo o biomapa que serviu de base para as aes.
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Estudantes e comunidade discutiram as questes socioambientais apontadas nas agendas e
executaram as aes de forma participativa, envolvendo o Comit de Bacia Hidrogrfica Laos So
Joo, o poder pblico e empresas locais.
Realizaram oficinas de resduos para tratar a temtica lixo e gua nas 6 escolas e
associaes de moradores;
Envolveram o poder pblico e implementaram nas escolas coletores seletivos de
lixo;
A escola Agrcola do municpio de Cabo Frio recuperou o viveiro de mudas ,que se
encontrava inativo e iniciou a produo de mudas nativas que sero usadas na
recuperao da mata ciliar (ao prevista para 2016);
Capacitao de professores e estudantes para monitoramento de gua;
Fortalecimento de laboratrio escolar para anlise de gua;
Placas educativas nas margens do Rio So Joo.
Implantao de coletores de gua da chuva nas escolas com construo de cisternas
para armazenamento.
Presena dos produtores de guas para nas reunies da Cmara Tcnica do Comit,
para um continuo monitoramento e preservao das nascentes.
CONSIDERAES
O presente projeto fruto da dedicao daqueles que acreditam no fortalecimento das
pessoas para a conservao dos recursos hdricos aliada ao desenvolvimento humano e de uma
gesto compartilhada. Assim, apresenta uma metodologia de ao participativa que buscou
desenvolver um contedo que possa contribuir com o aprimoramento dos jovens e professores
dentro de uma Educao Ambiental critica voltada para uma gesto dos recursos naturais de
forma compartilhada envolvendo o Comit de Bacia Hidrogrfica Lagos So Joo.
Enquanto ferramenta de interveno, teve como principal objetivo a realizao de um
diagnstico socioambiental construindo um plano de ao para a preservao dos recursos hdricos
e mitigao dos problemas causados pelo homem.
Para um educador e pesquisador ambiental, desenvolver um processo como esse foi de
grande aprendizado e realizao. Foi poder acompanhar jovens se transformando em gestores
ambientais, redescobrindo sua comunidade, que uma vez reconhecida, atendeu ao chamado e se
juntou a uma grande mobilizao. A metodologia colocou o jovem com sua fora e curiosidade ao
lado dos mais velhos que chegaram com sua sabedoria e vivncia.
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O resgate histrico aproximou o passado do presente, e abriu o caminho para um
entendimento de todo o processo de degradao ocorrido na comunidade, e juntos jovens e velhos,
mulheres e homens, educadores e educandos continuam construindo o processo de gesto de sua
comunidade que ganha vida atravs da Agenda das guas. Uma ao que no ter fim, na
medida em que as comunidades ocupam os espaos de gesto e participam das tomadas de
deciso.
REFERNCIAS
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UMA REFLEXO CRTICA SOBRE A PROPOSTA DE EDUCAO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (EDS) DA UNESCO EM ESPAOS
ESCOLARES Rafaella Ucha
Mestranda no Programa de Ps-Graduao em Educao e Pesquisadora do Grupo de Estudos em Educao
Ambiental Desde el Sur (Geasur)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
Jlio Vitor Silva
Mestrando no Programa de Ps-Graduao em Educao e Pesquisador do Grupo de Estudos em Educao
Ambiental Desde el Sur (Geasur)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
Celso Snchez
Professor Programa de Ps- Graduao em Educao e Pesquisador do Grupo de Estudos em Educao
Ambiental Desde el Sur (Geasur)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo discutir o conceito de Educao para o Desenvolvimento Sustentvel
(EDS) da Unesco, a partir dos marcos referenciais da Educao Ambiental Crtica e trazer reflexes no mbito dos
espaos escolares. Busca-se portanto, construir contribuies a partir das interfaces entre a Educao Ambiental
Crtica com os campos da Ecologia Poltica, Justia e Racismo Ambiental, a fim de aprofundar o debate em torno da
necessidade de contextualizao da educao ambiental s realidades locais. Pde-se compreender que os acmulos e
os marcos referenciais nacionais da Educao Ambiental Crtica compem um importante arcabouo terico-
metodolgico para compreender as limitaes e possibilidades da EDS no contexto escolar brasileiro, bem como
apontou-se para elementos fundamentais na contextualizao das aes educativas ambientais as diferentes realidades
locais.
Palavras-chave: Educao para o Desenvolvimento Sustentvel, Educao para Sustentabilidade, Educao
Ambiental Crtica
1. DESENCONTROS ENTRE A EDUCAO AMBIENTAL CRTICA E A EDUCAO
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (EDS) DA UNESCO:
O ano de 2014 encerra a chamada Dcada da Educao para o Desenvolvimento
Sustentvel (DEDS) anunciada pela Unesco em 2005. O objetivo era criar um movimento
internacional que estimulasse iniciativas de escolas, professores, ongs, coletivos e demais
instituies em torno de aes educativas para o desenvolvimento sustentvel. O documento
oficial preconiza que:
"O objetivo geral da DEDS integrar os princpios, valores e prticas do desenvolvimento
sustentvel em todos os aspectos da educao e aprendizagem. Este esforo vai encorajar
mudanas de comportamento que iro criar um futuro mais sustentvel em termos de integrao
ambiental, viabilidade econmica e uma sociedade justa para as presentes e futuras geraes."
(Unesco, 2005)
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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No Brasil, a DESD foi recebida com crticas, pois ia de encontro com o acmulo da
educao ambiental brasileira que havia se identificado com o Tratado de Educao Ambiental
para Sociedades Sustentveis construdo no Frum Global durante a Conferencia das Naes
Unidas para o Meio ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, documento que,
inclusive, serviu de base para debates na construo da Poltica Nacional de Educao Ambiental,
Lei 9795/99, bem como de outras legislaes e normatizaes.
Para educadores ambientais brasileiros reunidos no Congresso Ibero-Americano sobre
Desenvolvimento Sustentvel (Sustentvel 2005) tambm ocorrido no Rio de Janeiro em 2005,
no se tratava apenas de uma alterao de nomenclatura, mas uma reestruturao poltica e
ideolgica promovida pela UNESCO que deliberadamente apagava todo o percurso da educao
ambiental que, neste momento, inclusive, ganhava um tom mais crtico. Estes educadores ento,
elaboram o Manifesto pela Educao Ambiental : da educao ambiental para a educao para o
desenvolvimento sustentvel apontando a centralidade do desenvolvimento como meta e que em
contrapartida, a educao ambiental teria a educao como eixo, segundo o documento:
"a indicao funcionalista e finalista da viso de Educao quando a coloca para alguma
coisa (Educao para o Desenvolvimento Sustentvel), ainda mais sendo esse o desenvolvimento
sustentvel, conceito/noo ainda sem um sentido claro e bastante criticado por quem acredita que
nessa idia cabe a manuteno da racionalidade economicista / desenvolvimentista, um dos pilares
da crise socioambiental da atualidade." (Manifesto pela Educao Ambiental, 2005).
Os educadores ambientais que defenderam esta argumentao pertencem corrente crtica
do campo da Educao Ambiental brasileira, que vem se consolidando e tem sido importante para
fundamentar inclusive polticas pblicas e como define Loureiro (2004), a educao ambiental no
Brasil, vista como elemento de transformao social, entendida como movimento integrado de
mudanas de valores e de padres cognitivos com ao poltica democrtica e reestruturao das
relaes econmicas. Pode-se dizer que a abordagem crtica no contexto brasileiro tem
apresentado um importante acmulo que aponta para a importncia das perspectivas
emancipatrias, transformadoras e libertrias que se fazem presentes de maneira expressiva nas
diferentes possibilidades e identidades da EA nacional, que Layrargues (2004), chama de
"sentidos identitrios das novas denominaes de educao ambiental".
Esta abordagem fundamental para percebermos questes e problemticas na elaborao e
execuo de programas e polticas em Educao Ambiental de instituies internacionais, como a
ONU.
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2. A EDUCAO AMBIENTAL CRTICA E SUAS FUNDAMENTAES
De maneira geral, a linha crtica considera as realidades histricas dos processos
pesquisados, buscando perceber as problemticas intrnsecas ao cotidiano antes de ser ambiental,
educao, e preocupa-se em considerar tambm questes polticas, sociais, culturais e econmicas,
que em sua percepo, no tem como estarem separadas. A linha crtica prioriza, por exemplo, os
desafios enfrentados pelo professor, as questes do sistema de ensino, esta linha, a realidade social
do aluno alm dos portes da escola, os saberes das comunidades tradicionais no entorno das
escolas, os obstculos que enfrentam para se manterem tradicionais, enfim, vulnerabilidades e
potencialidades reais de cada situao a ser pesquisada.
De matriz marxista a educao ambiental crtica, relaciona o modelo de produo
capitalista ao agravamento da problemtica ambiental. Essa viso se afasta ao mximo das
premissas positivistas, considera a cultura e a historicidade dos sujeitos e leva em considerao o
acesso desigual que os seres humanos tm aos bens ambientais.
A educao ambiental crtica acredita, com base na histria, que possvel a superao do
modelo de produo e de vida atual para um modelo mais harmnico e menos desigual. A
Educao Ambiental crtica no se contenta apenas a conhecer e interpretar o mundo, mas tem
inteno de intervir na realidade, transformando-o pela atividade consciente na relao teoria e
prtica, o que parece que vai de encontro aos ideais da educao para o desenvolvimento
sustentvel proposto pela UNESCO.
3. REFLEXES SOBRE AS CONTRIBUIES DA EDS EM ESPAOS ESCOLARES:
A perspectiva elucidada no item anterior acima se aproxima de uma construo de
caminhos e possibilidades que contemplem a realidade desta relao contextualizada entre os
sujeitos e os espaos em que vivem, o que tambm uma questo importante: aproximar a teoria
da prtica, vislumbrando a importncia da teorizao e da produo de conhecimento para a
interveno na realidade, a comear pela prpria prtica de pesquisa, que j representa uma
interveno, dentro do que se prope.
Neste contexto, trazemos aqui a contribuio de Barraza, pesquisadora mexicana, que
comenta sobre suas experincias no seminrio Educao Ambiental: das polticas prtica, que
ocorreu na Kings College de Londres, em 2001:
"Para ns da Amrica Latina, questes ambientais esto fortemente ligadas com questes
polticas dentro de uma dimenso Norte/Sul. Portanto, por exemplo, perspectivas em
educao ambiental globalmente "acordadas" (como idias acerca de educao apara o
desenvolvimento sustentvel), podem ser vistas de forma a prover ao Norte outras
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significaes para reformular e redefinir o comportamento e o pensamento das pessoas no
Sul, no que Escobar (1995) v, pode se tornar um mecanismo de controle sutil, mas
eficaz, e uma outra expresso de neo-colonialismo. Novos paradigmas em educao so
focados na construo de uma sociedade sustentvel, mas o que isso quer dizer? Uma
sociedade sustentvel frequentemente vista como democrtica, participativa e
equitativa. No entanto, o acesso a e a qualidade da educao em pases da Amrica
Latina reforam prticas e valores que no so sustentveis e a educao (ambiental) no
tem como estar desvinculada de questes polticas. Podemos tomar como exemplo
projetos que foram trabalhados no Brasil com comunidades sem terra, com foco de
recuperao de terras, o que se relaciona questo poltica da reforma agrgria.
Participantes de diferentes contextos viram uma aresta razoavelmente poltica para suas
prprias conceituaes em educao ambiental. Conceitos como democracia, equidade,
justia e participao foram relacionados a diferentes definies de educao ambiental.
No entanto, o que ficou evidente que eles se referem a diferentes perspectivas em
diferentes contextos, isto o modelo realizvel de democracia na Sucia difere dos
modelos realizveis em outros pases. Isto significa que todos ns devemos aspirar a
adotar ou adaptar o modelo sueco, ou ser melhor trabalhar com as possibilidade que
melhor cabem aos nossos diferentes contextos e s nossas prprias dinmicas polticas?
Isto coloca em perspectiva definies internacionais e as implicaes polticas de tentar
implement-las globalmente: estas so questes intrinsicamente ligadas a problemas de
poder, superioridade e legitimao que precisam ser contabilizadas dentro de dinmicas
geopolticas globais." (BARRAZA, 2003)
Esta colocao de Barraza nos traz a reflexo sobre a influncia desta proposta de
educao para o desenvolvimento sustentvel proposta pela Unesco, em nosso sistema
educacional, que no se reduz apenas s escolas propriamente ditas, mas s particularidades e
desafios enfrentados pela educao no que tange s realidades socioambientais e econmicas dos
pases latino-americanos como um todo. O carter simplista da proposta da EDS no traz a
contemplao de problemticas presentes em nossa educao brasileira e no contextualiza
realidades histricas latino-americanas, como por exemplo, a existncia de favelas e comunidades
sem acesso educao, sade e saneamento pblicos; a gentrificao das cidades; a
desapropriao de agricultores familiares e camponeses pelo agronegcio e outros setores da
indstria; os altos ndices de analfabetismo; as diversas violaes de direitos humanos; o
apagamento de populaes indgenas e de negros,o racismo ambiental entre tantas outras questes.
Pontuamos estas fragilidades, porque a funo poltica da educao no est desvinculada destas
discusses, e nem tampouco os espaos escolares, que, quando inseridos em territrios
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encharcados de vulnerabilidades e de oprimidos, tem papel fundamental na prtica e no exerccio
da cidadania e na leitura crtica do mundo.
Desta forma, a educao ambiental que preconizamos e que precisamos , deve estar
inserida na realidade, contextualizada a ela, isso significa, compreender os conflitos ambientais
no como espaos ou territrios distantes da escola, mas sim, como situaes profundamente
educativas. A dimenso pedaggica dos conflitos ambientais faz emergir o contexto de
vulnerabilidades e injustias ambientais que recai de forma desigual sobre certas populaes em
particular os indgenas e negros, a este fenmeno em particular, d-se o nome de racismo
ambiental (Paes e Silva , 2012) e da se pode notar a importncia da contribuio deste campo bem
como da ecologia politica e da justia ambiental para a educao ambiental contextualizada as
nossas realidades, sobretudo latino-americanas.
Paulo Freire nos ajuda a entender esta dimenso, quando considera lamentvel que o
carter socializante da escola, o que h de informal na experincia que se vive nela, de formao
ou deformao, seja negligenciado e que o ensino dos contedos seja sempre entendido como
transferncia do saber. O autor v esta questo como uma das razes que explicam o descaso em
torno do que ocorre no espao-tempo da escola, ignorando-se o que ele chama de pedagogicidade
da materialidade do espao. (FREIRE, 1996).
Freire nos incita a reflexo sobre a materialidade histrica dos territrios de escolas
pblicas brasileiras e a relacion-la com a proposta da EDS. Como uma escola inserida em
territrios de conflitos armados por exemplo, no caso de escolas em muitas de nossas favelas
cariocas ou de tantas periferias de grandes cidades, quando nem sequer trazem a discusso destes
conflitos para dentro do espao escolar, podem pensar em cumprir agendas que propem a prtica
de sustentabilidade? H espao para falar em um desenvolvimento sustentvel organizado em
agendas pr-estabelecidas, em espaos escolares onde alunos so mortos nestes conflitos, por
exemplo? A Unesco prope educao para o desenvolvimento sustentvel, orientando a adoo de
"estilos de vida sustentveis" (Unesco, 2005), mas ser possvel adotar um estilo de vida
sustentvel em uma escola habitada por alunos que obtm sua nica refeio diria, na escola?
Como falar em economia de gua em uma escola que fica em uma comunidade que no tem
acesso gua? Estas so questes que visivelmente no so contempladas pela proposta de
educao para o desenvolvimento sustentvel e para embasar este posicionamento, destacamos o
seguinte trecho de um artigo de Anderson e Strecker (20120) que evidencia este descaso com tais
realidades:
"Em 2009, a UNEP (Programa Ambiental das Naes Unidas) e a UNESCO lanaram a
primeira Pesquisa Global sobre Estilos de Vida Sustentveis (GSSL). O objetivo global
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foi o de ouvir jovens adultos, mais de 8 mil pessoas de diferentes pases, para alcanar
uma compreenso melhor de seus cotidianos, expectativas e vises para o futuro no que
diz respeito sustentabilidade. Os resultados da pesquisa revelaram necessidade de mais
informaes sobre desafios globais e os caminhos que relacionam estilos de vida e aes
individuais.
Os resultados desta pesquisa culminaram na construo de uma Agenda que
prioriza cinco pontos:
Apoiar desenvolvimento de qualidade na infncia e oportunidades de aprendizados para meninos e
meninas;
Garantir que o letramento bsico seja aprendido na escola;
Permitir jovens a fazer a transio para completar a educao ps-primria, que relevante;
Equipar jovens com habilidades relevantes para as vidas e os meios de subsistncia do sc. 21;
Tornar espaos de aprendizagem seguros, sustentveis e resistentes a alteraes climticas.";
(ANDERSON & STRECKER, 2012).
A partir desta questo que envolve as agendas criadas pela Unesco em seus eventos e
encontros que renem representantes de seus pases membros, assim como a Agenda 21,
documento que foi gerado na Rio-92, fao uma analogia com a problemtica dos manuais
didticos, levantada por Layargues (2012):
"Manuais didticos podem ser especialmente teis para o caso das vtimas da armadilha
paradigmtica e/ou da modernizao conservadora, que ideologicamente captura
intencionalidades poltico-pedaggicas manifestadas como crticas, mas que, contraditria
e ingenuamente, acabam exercendo sua prxis de modo pragmtico ou conservacionista.
Aqui, abre-se um dilogo tanto com os processos formativos em Educao Ambiental,
como um novo e potencial campo de investigao cientfica, analisando a realidade das
relaes entre as macrotendncias poltico-pedaggicas da Educao Ambiental."
(LAYARGUES, 2012)
ALGUMAS CONSIDERAES INICIAIS
A anlise preliminar de nossas leituras de alguns dos documentos oficiais da Unesco sobre
a EDS, aponta para uma perspectiva conservadora e legitimadora de valores hegemnicos e que
no contempla as realidades sociopolticas do Brasil e nem da Amrica Latina como um todo,
realidades estas que influenciam diretamente as polticas. As ausncias de discusses de temas
como conflitos, justia e racismo ambiental, apontam para um silncio eloquente, o que revela o
apagamento de uma dimenso da realidade na qual estamos inseridos, justificada numa lgica que
homogeniza escolas e produz uma educao com misso civilizadora de domesticao e
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apaziguamento de conflitos que so produto de uma realidade desigual que se perpetua por estes
mesmos silncios eloquentes e to educadores.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
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Environmnent: Science and Policy for Sustainable Development. New York, nov./ dez. 2012.
BARRAZA, Laura et al. Environmental Education: from policy to practice. Environmental
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessrios Prtica Educativa. So Paulo:
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GUIMARES, Mauro. Armadilha paradigmtica na educao ambiental. In LOUREIRO,
C.F.B.; LAYRARGUES, P.P.; CASTRO, R.S.de (orgs.). Pensamento complexo, dialtica e
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HUCKLE, John. Environmental education and sustainability: A view from critical theory. In
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________________ Para onde vai a Educao Ambiental? O Cenrio Poltico-Ideolgico da
Educao Ambiental Brasileira e os Desafios de uma Agenda Poltica Crtica Contra-Hegemnica.
Revista Contempornea de Educao, v.7, n.14 ago./dez. 2012.
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disponvel em: www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/manifestoea.pdf
LAYS HELENA PAES E SILVA. Ambiente e justia: sobre a utilidade do conceito de racismo ambiental
no contexto brasileiro, e-cadernos ces [Online], 17, 2012, consultado o 21 de Maio 2015. Disponvel em:
http://eces.revues.org/1123.
WALS, A. United Nations Decade of Education for Sustainable Development (DESD, 2005-
2014): Review of Contexts and Structures of Education for Sustainable Development.Unesco,
Paris, 2009.
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REAPROVEITAMENTO DE RESDUOS SLIDOS COMO PRTICA DE EDUCAO
AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL CECLIA PINTO NO MUNICPIO DE
MACAP, AMAP.
Monizi Costa Aires1*
Tain Lobato Vanzeler1
Eduarda Emanuelle da Silva Pena1
Kelvin Rodrigues da Costa1
Cristiane Rodrigues Menezes2
Resumo:
A Educao Ambiental um processo permanente e participativo de explicitao de valores, instruo sobre
problemas especficos relacionados com a gesto do ambiente, formao de conceitos e aquisio de competncias
que motivem o comportamento de defesa, preservao e melhoria do ambiente. A educao de jovens e crianas surge
como uma ferramenta poderosa, pois possibilita a formao de futuros cidados ambientalmente conscientes.
Objetivou-se neste trabalho sensibilizar a cerca da importncia do reaproveitamento de resduos slidos como prtica
de Educao Ambiental com alunos do 5 ano B do Ensino Fundamental I da Escola Estadual Ceclia Pinto, localizada
no Municpio de Macap-AP, trabalhando de acordo com o princpio dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Para
isso, foram aplicados questionrios estruturados com 7 perguntas, elaboradas de forma simples e de fcil
compreenso, com alternativas em forma de figuras ilustrativas condizentes com a temtica, ministrou-se uma palestra
abordando temas pertinentes ao conhecimento e a prtica da educao ambiental, e oficinas para a recriao de
objetos. Devido demonstrao do grande interesse que os alunos mostraram cerca da temtica, acredita-se que
tenha sido possvel atingir o objetivo do projeto.
Palavras-Chave: Sensibilizao, 3Rs, Meio Ambiente e Sustentabilidade.
Introduo
Desde a poca das colonizaes, passando pela Revoluo Industrial at o incio do sculo
XX, os recursos naturais existentes tinham como finalidade atender a demanda de matria-prima
para o desenvolvimento econmico a curto prazo e favorecer as classes dominantes do capital em
distintas fases de nossa histria. Para garantir o abastecimento de matrias-primas no setor
produtivo dessas atividades, e de outras que surgiram no decorrer dos anos, aparecem s primeiras
intervenes do Estado para a racionalizao do uso dos recursos naturais, para que a degradao
ambiental no prejudicasse os objetivos econmicos, e apesar de no haver nessas iniciativas a
ideologia ambientalista, elas abriram caminhos para sua criao (BARSANO & BARBOSA,
2014).
A preocupao oficial com a necessidade de um trabalho educativo que procurasse
sensibilizar as pessoas para as questes ambientais surge em 1972, na Conferncia sobre Meio
Ambiente Humano, realizado pela ONU, em Estocolmo. A conferncia gerou a Declarao sobre
o Meio Ambiente Humano e teve como objetivo chamar a ateno dos governos para a adoo de
novas polticas ambientais, entre elas um Programa de Educao Ambiental, visando a educar o
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cidado para a compreenso e o combate crise ambiental no mundo. Em 1977, ocorreu a
Primeira Conferncia sobre Educao Ambiental, em Tbilisi, Gergia, considerada o mais
importante evento para a evoluo da EA no mundo. A Conferncia de Tbilisi, como ficou
conhecida, contribuiu para fortalecer o conceito de EA, definindo seus objetivos, caractersticas,
recomendaes e estratgias pertinentes ao plano nacional e internacional (SOUZA, 2009).
A Lei Federal N 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999, institui a Poltica Nacional de
Educao Ambiental. Essa a mais recente e a mais importante lei para a Educao Ambiental.
Nela so definidos os princpios relativos Educao Ambiental que devero ser seguidos em
todo o Pas. Essa Lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, atravs do Decreto N. 4.281. A
lei estabelece que todos tm direito educao ambiental, sendo ela, um componente essencial e
permanente da educao nacional, devendo estar presente em todos os nveis e modalidades do
processo educativo, em carter formal e no formal (MARCATTO, 2002).
A Educao ambiental se constitui numa forma abrangente de educao, que se prope
atingir todos os cidados, atravs de um processo participativo permanente que procura
sensibilizar sobre a problemtica ambiental. Pode-se entender que um processo pelo qual o
educando comea a obter conhecimentos acerca das questes ambientais, onde ele passa a ter uma
nova viso sobre o meio ambiente, sendo um agente transformador em relao conservao
ambiental (BRASIL, 2015).
Nas escolas, a educao ambiental contribui para a formao de cidados aptos para
decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o
bem-estar de cada um e da sociedade (MEDEIROS et. al., 2011).
A atual sociedade em expanso apresenta um perfil com alto nvel de consumo, o que
consequentemente gera um aumento na produo de resduos domsticos e industriais (QUEIROZ
et. al., 2009). Anualmente so produzidos milhes de toneladas de resduos slidos, contendo
vrios materiais reutilizveis como vidros, papeis, latas, entre outros. A Lei 12.305 que institui a
Poltica Nacional de Resduos Slidos tem vista gesto integrada e ao gerenciamento dos
mesmos para proteo da sade pblica e da qualidade ambiental. Reaproveitando os resduos
antes de serem descartados, o acmulo desses no meio ambiente diminui e com isso a poluio
minimizada, melhorando a qualidade de vida (FADINI et. al., 2006; BASSANI et. al., 2008).
Este trabalho teve como objetivo sensibilizar a cerca da importncia do reaproveitamento de
resduos slidos como prtica de Educao Ambiental, trabalhando de acordo com o princpio dos
3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), buscando a formao de cidados com hbitos
ambientalmente responsveis no meio social.
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Metodologia
O presente trabalho foi realizado durante o ano de 2014, no 5 ano B do Ensino Fundamental
I da Escola Estadual Ceclia Pinto, localizada no Municpio de Macap, Amap.
Para a coleta de dados, foram aplicados questionrios estruturados com 7 perguntas,
elaboradas de forma simples e de fcil compreenso, com alternativas em forma de figuras
ilustrativas condizentes com a temtica abordada. O questionrio foi aplicado primeiramente antes
da palestra, para saber o nvel de conhecimento que os alunos possuam, e como atividade final,
objetivando obter dados cerca da assimilao do contedo ministrado durante a execuo do
projeto em sala de aula.
Na palestra foram abordados temas pertinentes ao conhecimento e a prtica da educao
ambiental, a qual foi elaborada de forma didtica contando com a participao dos prprios
alunos, possibilitando aprendizado e conhecimento sobre a temtica, que de forma enriquecedora
despertou o interesse e a curiosidade sobre o assunto.
As oficinas contaram com a total participao dos alunos, onde formaram-se quatro
grupos, aos quais foram distribudos materiais reaproveitveis. Os participantes desenvolveram
um novo produto a partir do material que lhe foi dado, criando assim uma nova utilizao ou
funo.
Resultados e Discusso
O questionrio repassado para os alunos no incio das atividades mostrou que existe pouco
conhecimento cerca da Educao Ambiental. As questes que apresentavam figuras
representativas tiveram respostas corretas, porm percebeu-se que no havia conhecimento prvio
cerca dos conceitos dos 3Rs, sendo que 9 dos 26 alunos no responderam a essa questo. O
mesmo ocorreu com a questo sobre coleta seletiva, notou-se que poucos alunos acertaram as
cores das lixeiras correspondentes aos tipos de resduos.
A oficina serviu como um mtodo de estmulo sensibilizao do tema reaproveitamento.
Todos os alunos participaram e recriaram produtos a partir de resduos slidos como garrafas pets,
latas, folhas de papel, tampas de garrafas e outros, que foram distribudos a cada grupo, com o
auxlio de um monitor para cada equipe (Figura 01 e 02).
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Figura 01: Grupos divididos para a confeco de
material.
Figura 02: Produtos criados pelos alunos.
Aps a confeco do produto, os alunos de cada grupo comentaram sobre a experincia e
principalmente sobre a importncia do seu material confeccionado para a sociedade e o meio
ambiente (Figura 03 e 04).
Figura 03 e 04: alunos comentando cerca da importncia do produto confeccionado.
Atravs dos questionrios aplicados no fim da atividade, pde-se observar uma expressiva
melhora nas respostas, embora ainda houvesse dificuldade em discernir os conceitos Reaproveitar
e Reutilizar.
Para Filho & Dias (2009), a Educao Ambiental a ferramenta que proporciona
sensibilidade na comunidade alvo das aes interventoras; ela subsidia conhecimento sobre a
problemtica da gerao e do descarte inadequado do lixo, favorecendo a tcnica prtica no caso
da coleta seletiva e da reciclagem.
Segundo Crisostimo (2001), a educao um processo de transformao, que deve ocorrer
no aluno para que o mesmo mude as suas atitudes. Uma pessoa ao ser educada passa a se
reconhecer na sociedade e engloba as prticas cotidianas da mesma. A Educao Ambiental deve
estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em
carter formal e no formal, onde um dos principais objetivos consiste em permitir que o ser
humano compreenda a natureza complexa do ambiente. A concepo de Ambiente foi evoluindo,
existindo atualmente a percepo de que os problemas ambientais no se reduzem apenas
degradao do ambiente fsico e biolgico, mas que englobam dimenses sociais, econmicas e
culturais.
A aplicao de atividades ldicas na sala de aula uma interveno que permite o uso da
temtica ambiental, podendo ser executada transversal e interdisciplinarmente, em todas as
disciplinas, sendo uma ao possvel e parte integrante do fazer pedaggico cotidiano,
independentemente da rea, bem como do nvel de ensino. na escola, principalmente no ensino
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fundamental, que podemos observar os interesses dos alunos quando se desenvolvem atividades
que estimulam a participao, tornando-os sujeitos ativos no processo. No entanto esta dinmica
depende de docentes qualificados para esta questo (DIAS, 1994; DALRI, 2010).
Consideraes
O trabalho desenvolvido teve uma excelente aceitao por parte dos alunos, que mostraram
grande interesse na temtica abordada e na manipulao e confeco de novos objetos a partir de
outro que seria considerado lixo. Frente a isso, acredita-se que tenha sido possvel atingir o
objetivo do projeto, que era a sensibilizao cerca do reaproveitamento.
A anlise demonstrou que a prtica de Educao Ambiental na escola possui falhas ou nem
praticada, observando-se claramente que atitudes sustentveis no esto includas na rotina dos
alunos, tanto na escola quanto em casa.
Referncias
BASSANI, F; SILVA, F. L; SANTOS, M. L; SOUSA, L. S. Prticas de Educao Ambiental
voltadas aos Resduos Slidos de uma Unidade Escolar de Conceio do Araguaia Par. II
Co