V Encontro de Educação Ambiental em Contextos Escolares · ISSN: 2359-5574 2 Universidade do...

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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e Educação Núcleo de Estudos em Educação Cientifica, Ambiental e Práticas Sociais- NECAPS ANAIS V Encontro de Educação Ambiental em Contextos Escolares Tema: Pesquisas em Educação Ambiental na Amazônia: Uma agenda em permanente construção Belém-PA Junho 2015

Transcript of V Encontro de Educação Ambiental em Contextos Escolares · ISSN: 2359-5574 2 Universidade do...

  • Universidade do Estado do Par

    Centro de Cincias Sociais e Educao

    Ncleo de Estudos em Educao Cientifica, Ambiental e Prticas Sociais-

    NECAPS

    ANAIS V Encontro de Educao Ambiental em

    Contextos Escolares

    Tema: Pesquisas em Educao Ambiental na

    Amaznia: Uma agenda em permanente

    construo

    Belm-PA

    Junho 2015

  • ISSN: 2359-5574

    2

    Universidade do Estado do Par

    Centro de Cincias Sociais e Educao

    Ncleo de Estudos em Educao Cientifica, Ambiental e Prticas Sociais- NECAPS

    ANAIS V Encontro de Educao Ambiental em

    Contextos Escolares

    Belm-PA, 09 a 11 de junho de 2015.

    Tema: Pesquisas em Educao Ambiental na

    Amaznia: Uma agenda em permanente

    construo

    ARTIGOS APROVADOS

  • ISSN: 2359-5574

    3

    JUAREZ ANTNIO SIMES QUARESMA

    Reitor da Universidade do Estado do Par

    RUBENS CARDOSO DA SILVA

    Vice-Reitor da UEPA

    MARIA MARIZE DUARTE

    Pr-Reitora de Extenso - PROEX

    ANA DA CONCEIO OLIVEIRA

    Pr-Reitora de Graduao - PROGRAD

    PEDRO FRANCO DE S

    Diretor do Centro de Cincias Sociais e Educao

    MARIA DE NAZAR DOS REMDIOS SODR

    Coordenadora do Ncleo de Estudos em Educao Cientfica, Ambiental e Prticas Sociais

    Necaps

    MARNA COSTA DIAS

    Presidente da Comisso Organizadora do V EEACE

  • ISSN: 2359-5574

    4

    COMISSO CIENTIFICA

    Dr, Celso Snchez (UNIRIO)

    Me. Albert Alan de Sousa Cordeiro (UNIFAP)

    Me. Carlos Alberto Saldanha da Silva Jnior (SEDUC)

    Me. Fernanda Rocha (NECAPS)

    Me. Giza Bandeira (SEDUC)

    Me. Gustavo Maneschy Montenegro (UNIFAP)

    Me. Marna Costa Dias (NECAPS)

    Me. Marcia Hellen Soutello Santos (NECAPS)

    Me. Maria de Nazar dos Remdios Sodr (UEPA)

    Me. Neriane da Hora (UFOPA)

    Me. Rafaela Gama (PUC-SP)

    Me. Saiara Conceio de Jesus da Silva (SEMEC-PA)

    Me. Tania Roberta Costa de Oliveira (UEPA)

    Me. Vitor Cunha Nery (UEAP)

  • ISSN: 2359-5574

    5

    COMISSO ORGANIZADORA Adriano dos Santos

    Adriene Rabelo

    Aldo Cativo

    Aldri Felipe

    Amanda Paloma

    Ana Carolina

    Ana Julia

    Brbara Maues

    Brenda Luane

    Brenda Melo

    Bruna Livia,

    Cristiane Cardoso

    Dhenyfer

    Eduardo Simes.

    Eduardo Simes.

    rica Ferreira.

    Estagirio: Juliana Silva

    Evellin Natasha

    Ewellyn Gadelha

    Fernanda Sousa

    Francilene

    Gabriel

    GizaBandeira

    Izabeli de Paula

    Juliana Correa

    Julianne

    Julio Richard

    Kecidiones

    Laira

    Larissa Mayara

    Larissa Sales

    Layla Rocha

    Victor Saulo

    Alessandra Silva

    Luciana Silva

    Marcia Soutello

    Nayara

    Nayara Silva

    Neriane da Hora

    Paula Sodr

    Placido Oliveira

    Priscila

    Raquel

    Rosilene

    Tamiris

    Valria

    Vitoria Catarina

    Walber Azevedo

    Yasmin Kasahara

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    6

    SUMRIO

    APRESENTAO Pgina 08

    01. ENTRE A SECA E A CHEIA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA

    COMO ESTRATGIA PARA PROMOVER A VALORIZAO DA GUA ATRAVS DA

    CULTURA LOCAL (VENCEDOR DO PRMIO MARIA DE JESUS PARA EDUCADORES

    AMBIENTAIS) Pgina 09

    02. LUTANDO PELA GUA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA NAS

    CERCANIAS DA BAA DA GUANABARA, RIO DE JANEIRO. Pgina 16

    03. PLANEJANDO NOSSAS GUAS Pgina 21

    04. UMA REFLEXO CRTICA SOBRE A PROPOSTA DE EDUCAO PARA O

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (EDS) DA UNESCO EM ESPAOS ESCOLARES

    Pgina 28

    05. REAPROVEITAMENTO DE RESDUOS SLIDOS COMO PRTICA DE EDUCAO

    AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL CECLIA PINTO NO MUNICPIO DE MACAP,

    AMAP. Pgina 35

    06. O QUE AS INSTITUIES DE ENSINO PRECISAM SABER SOBRE A COLETA

    SELETIVA. Pgina 41

    07. AVES QUE VISITAM AS PALMEIRAS: Euterpe oleracea Mart. e Mauritia flexuosa L. f.

    EM REA COSTEIRA DA VILA DE BEJA- ABAETETUBA-PA. ANALISE DE UMA

    PROPOSTA AMBIENTAL PARA O ENSINO DE CINCIAS Pgina 48

    08. PRATICAS DE SABERES AMBIENTAIS: COM CONHECIMENTO DA

    COMPOSTAGEM COM ALUNOS DO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL

    Pgina 55

    09. TRABALHANDO A FORMAO DO SUJEITO ECOLGICO A PARTIR DA

    EDUCAO SOCIOAMBIENTAL Pgina 62

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    SEO: TEXTOS ENCOMENDADOS

    (Relato dos Palestrantes do V Encontro de Educao Ambiental em Contextos Escolares)

    1. COMPARTILHANDO IDEIAS E PRTICAS DE PESQUISA E EXTENSO EM EDUCAO FSICA, ESPORTE E LAZER: a experincia do NEPEFEL em questo.

    Autor: Professor Mestre Gustavo Maneschy Montenegro (Universidade Federal do Amap)

    Pgina 70

    2. AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA EDUCAO AMBIENTAL E A PERSPECTIVA DE UMA FORMAO CULTURAL DO PROFESSOR

    Autor: Professor Mestre Carlos Alberto Saldanha da Silva Jnior (SEDUC-PA)

    Pgina 76

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    APRESENTAO

    O Ncleo de Estudos em Educao Cientfica, Ambiental e Prticas Sociais (Necaps) da

    Universidade do Estado do Par (UEPA), vem nos ltimos anos realizando o Encontro de

    Educao Ambiental em Contextos Escolares (EEACE), visando discutir sobre questes

    ambientais desenvolvidas no mbito escolar; no coletivo de professores e alunos; suas

    possibilidades; dificuldades e relevncia deste fazer para a formao de professores e da juventude

    da Educao Bsica.

    No ano de 2015, o Necaps prope o V EEACE com o tema: Pesquisas em Educao

    Ambiental na Amaznia: uma agenda em permanente construo, que foi realizado no

    perodo de 09 a 11 de junho de 2015, com o objetivo de promover discusses e difundir as

    pesquisas em Educao Ambiental (EA) desenvolvidas por profissionais e/ou instituies de

    ensino superior, no intuito de potencializar as aes em EA no espao escolar. Tivemos como

    perspectiva pensar e o dialogar sobre as prticas em EA como processo permanente de ao e

    reflexo articulado aos diferentes saberes, atitudes, hbitos e construo de valores ticos e

    ambientais e, assim, contribuir para a formao de educadores ambientais.

    Neste sentido, comunidade acadmica, escolar, pesquisadores e instituies que

    desenvolvem estudos com foco no tema em questo submeteram relatos de suas experincias dos

    quais, os que esto apresentados nesta Coletnea auxiliam na valorizao e enriquecimento das

    discusses deste evento.

    Dessa forma, o V EEACE foi organizado em eixos temticos que resultaram das atividades

    de ensino, pesquisa e extenso desenvolvidas pelo Necaps no ano de 2014, em suas diferentes

    linhas de pesquisa. De tal modo, desejamos ter construdo prxis pedaggicas que visem a

    ampliao da formao inicial e continuada de professores. Desta forma, o evento contou com as

    seguintes prxis pedaggicas:

    Educao para Sociobiodiversidade;

    Educao Ambiental para valorizao da gua;

    As DCNs para Educao Ambiental e a perspectiva de uma Formao Cultural do

    Professor;

    Lixo e Sustentabilidade: refletindo sobre os 3Rs;

    Reinventar o cenrio escolar na Amaznia: dilogos sobre tecnologias sustentveis

    Alm disso, o Encontro contribuiu no fortalecimento do V Frum de Educadores

    Ambientais do NECAPS, no qual foram discutidas temticas importantes para docentes da

    educao bsica e todos/todas que discutem EA no coletivo, expandindo suas vivncias

    profissionais acrescidas de outros conhecimentos resultados de estudos na rea.

    Profa. Mestre Marna Costa Dias Presidente da Comisso Organizadora do V Encontro de Educao Ambiental em Contextos Escolares:

    Pesquisas em Educao Ambiental na Amaznia: uma agenda em permanente construo

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    ENTRE A SECA E A CHEIA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA

    COMO ESTRATGIA PARA PROMOVER A VALORIZAO DA GUA ATRAVS

    DA CULTURA LOCAL*

    Daniel Renaud1**

    Celso Snchez2

    Joyce Alves da Rocha3

    [email protected]**

    RESUMO

    Este trabalho pretende apresentar uma proposta de Educao Ambiental de carter popular que considerou a cultura local como um elemento para a contextualizao da proposta educativa s realidades locais dos distritos de

    Chapada do Norte (sede), Cachoeira do Norte, Santa Rita do Araua e So Sebastio da Boa Vista, no Municpio de

    Chapada do Norte (MG), localizado no Mdio Jequitinhonha. O municpio de Chapada do Norte apresenta-se como

    um territrio de grandes contrastes, onde a gua - ou a falta desta - representa um elemento fundamental para a

    estruturao e permanncia das comunidades locais. A gua, neste caso, surge como base para as principais atividades

    econmicas desempenhadas na regio, da lavagem do ouro (garimpo) criao de animais e agricultura de

    subsistncia. Historicamente, as comunidades da regio se desenvolveram em torno de fontes de gua como crregos,

    poos ou rios e sempre vivenciaram uma relao complexa com os recursos hdricos, aprendendo a lidar com as secas

    e com as cheias, conhecendo bem as conseqncias da estiagem e das enxurradas. Este trabalho apresenta algumas

    possibilidades de atividades de Educao Ambiental realizadas em comunidades do municpio de Chapada do Norte,

    considerando relatos de moradores e elementos da cultura local. O trabalho partiu de uma perspectiva

    etnometodolgica para o recolhimento e anlise de dados, considerando o cruzamento de conversas informais,

    entrevistas semi-estruturadas e histrias de vida. Foram selecionados 36 informantes distribudos pelos trs distritos,

    sendo 14 do sexo masculino e 22 do sexo feminino, em idades que variam de 36 a 98 anos. As informaes obtidas

    serviram de base para discusses realizadas durante os cursos, oficinas e palestras de Educao Ambiental

    desenvolvidos com professores, moradores dos distritos e alunos da Escola Estadual Oldia Lemos.

    Palavras-Chave: Vale do Jequitinhonha; Educao Ambiental de base comunitria; Cultura Popular; Regime

    hdrico.

    1) INTRODUO

    Este trabalho investigou comunidades dos Distritos de Cachoeira do Norte, So Sebastio

    da Boa Vista e Santa Rita do Araua, no Municpio de Chapada do Norte (MG), na regio do

    Mdio Jequitinhonha. O clima do municpio de Chapada do Norte considerado semi-rido,

    apresenta duas estaes com caractersticas distintas, a seca e a poca das chuvas.

    1 Bacharel em Cincias Ambientais (UNIRIO), Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Educao (UNIRIO),

    pesquisador do Grupo de Estudos em Educao Ambiental Desde El Sur (GEASUR), pesquisador e professor

    voluntrio do Projeto Social Construindo e Preparando para o Futuro (Projeto CPF) 2 Doutor em Educao (PUC-RJ), Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),

    pesquisador do Grupo de Estudos em Educao Ambiental Desde El Sur (GEASUR). 3 Doutora em Meio Ambiente (UERJ), Professora do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio de

    Janeiro (IFRJ)

    * Texto Vencedor do Prmio Maria de Jesus para Educadores Ambientais (1 edio) do V

    EEACE/NECAPS/UEPA. Belm, 2015.

    mailto:[email protected]**

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    O Vale do Jequitinhonha retratado na mdia como uma das regies mais pobres do pas4,

    compreende a regio do Sul da Bahia e o Nordeste do estado de Minas Gerais. O Rio

    Jequitinhonha nasce na Serra do Espinhao (MG) e atravessa o Vale indo desaguar no sul da

    Bahia, na cidade de Belmonte. Segundo Gonalves (1997), embora o rio seja o recurso natural

    mais importante da regio, ele vem sofrendo com as atividades humanas de desmatamento para

    fins agropastoris, de minerao e de garimpagem, o que vem causando, no decurso dos anos,

    modificaes importantes no ciclo hidrolgico.

    Toda a histria da penetrao do colonizador na regio do Jequitinhonha, assim como a

    histria do incio da ocupao do Vale, pelas entradas e bandeiras, ocorreu atravs das margens

    dos crregos e rios, pelas bordas (RIBEIRO, 1984). A histria da ocupao da regio onde hoje se

    encontra o Municpio de Chapada do Norte remete ao tempo da expedio de Sebastio Leme do

    Prado que chegou regio atrada pela notcia de ouro nas margens do rio Capivari (AMARAL,

    1988; RIBEIRO, 1984). O Bandeirante Sebastio Leme do Prado funda a Vila do Fanado (atual

    cidade de Minas Novas), impulsionando a explorao do ouro na regio.

    A fundao da Vila do Fanado concentrou grande quantidade de negros escravizados para

    a extrao do ouro. No final da dcada de 1720, uma grande seca afetou a produo de alimentos

    da regio, gerando fome na Vila do Fanado, em especial entre os pobres e escravos, os quais

    alguns conseguiram fugir e sobreviver (RIBEIRO, 1984).

    Os sobreviventes migraram pelas margens do Capivari chegando numa regio de terras

    frteis onde fundaram um povoado, que com o tempo, veio a ser chamado de Santa Cruz da

    Chapada (AMARAL, 1988).

    Em seu livro, Lembranas da Terra, Histrias do Mucuri e Jequitinhonha, Ribeiro (1984)

    aponta que, j no final do sculo IXX chegaram ao Vale do Jequitinhonha grandes levas de

    migrantes vindos do norte, em especial moradores de cidades mais ao norte do Vale e baianos,

    fugindo da seca dos noventinha, que castigou o Nordeste na dcada de 1890. Na mesma obra o

    autor ressalta como a ocupao do vale sempre se deu de maneira exploratria, considerando a alta

    fertilidade das terras se plantou e se colheu sem retribuir, muita mata foi derrubada para dar lugar

    as plantaes e criaes de gado (mal adaptadas ao terreno da regio, extremamente acidentado).

    Segundo dados do site da Prefeitura do Municpio de Chapada do Norte, inicialmente

    Chapada do Norte foi reconhecida como Distrito de Minas Novas, tendo sido criado com o nome

    de Chapada pela lei n 472, de 31 de maio de 1891. Posteriormente Chapada elevou-se categoria

    4 Estudo da ONU aponta que Brasil possui 13 bolses de pobreza, ou seja, regies carentes de investimentos e

    estrutura. O Vale do Jequitinhonha apontado como uma destas regies. Ver em:

    http://www.sinjus.org.br/modulos.php?nome=noticia&arquivo=visu_not&id_not=6805

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    de Municpio atravs da lei estadual n 2763, de 30 de Dezembro de 1962 sendo desmembrada de

    Minas Novas. O municpio se encontra a 555 km de Belo Horizonte, possui uma rea de 830km,

    apresenta populao estimada de 15.648 habitantes (IBGE, 2014), densidade demogrfica de 18,3

    hab/km, as principais atividades econmicas so a agropecuria e o comrcio. Segundo dados do

    censo demogrfico do IBGE (2010), quando o municpio apresentava 15.189 habitantes, 9.495

    indivduos residiam em reas rurais e 5.694 em reas urbanas.

    Com relao Hidrografia5, o municpio de Chapada do Norte se encontra na Bacia do Rio

    Jequitinhonha, sendo os principais rios da regio o Araua, o Capivari e o Setbal. A regio se

    caracteriza pela presena de rios e crregos intermitentes (peridicos). O solo da regio apresenta

    colorao intensa, geralmente vermelho alaranjado, torna-se facilmente lamacento durante as

    chuvas e levanta muita poeira durante o perodo de seca, sendo classificado como LE Latossolo

    vermelho escuro com textura argilosa.

    A cultura popular de Chapada do Norte apresenta enorme riqueza traduzida em

    manifestaes como o Congado, Tamborzeiros, Festa do Rosrio, bem como vrias prticas de

    curadores, como benzedeiras, erveiros e mezinheiros6, entre outras manifestaes tpicas da regio

    que compreendem um repertrio de saberes e fazeres tpicos do interior do pas. Tais

    manifestaes culturais fazem parte inclusive da identidade cultural de tais comunidades.

    2) METODOLOGIA

    Este trabalho parte de uma perspectiva de Educao Ambiental Crtica, a proposta se

    desenvolve em torno da cultura local como estratgia de aproximar a Educao Ambiental

    realidade dos moradores das comunidades do Municpio de Chapada do Norte, considerando os

    contextos histrico, social, cultural e econmico. Desta forma, a perspectiva da EA adotada vai

    para alm da mudana de hbitos e valores como costuma ser preconizada esta prtica educativa, a

    dimenso critica da EA adotada, prope ma leitura da realidade e dos contextos culturais que da

    emergem como substrato das aes educativas no sentido de transformaes sociais e

    autoemancipao dos sujeitos

    Os dados sobre a histria e cultura das comunidades foram obtidos no perodo de Fevereiro

    de 2012 e Janeiro de 2015 e o tempo de permanncia nas comunidades variou de 7 14 dias. O

    trabalho considerou os saberes locais como base para propostas de EA (RENAUD, 2014) e a

    5

    6 Mezinheiro o termo utilizado para descrever os sujeitos envolvidos com o cultivo e uso de plantas medicinais para

    a produo de remdios caseiros. Em geral, tais plantas so cultivadas em hortas, canteiros ou vasos, prximos s

    moradias, sendo os medicamentos produzidos na prpria casa do mezinheiro ou na do paciente.

    http://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspxhttp://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspx

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    Cultura como um conceito antropolgico (FREIRE, 1987), ou seja, buscou-se articular a Cultura

    Local como um elemento de contextualizao de uma proposta de Educao Ambiental que

    chamamos de base comunitria, pois parte da realidade das comunidades e se destina a elas.

    Antes de realizar o processo de investigao, o contedo da pesquisa, seus objetivos e

    modo de realizao foram devidamente esclarecidos aos informantes como parte do processo de

    Consentimento Prvio Informado7, autorizando o uso das informaes obtidas para divulgao da

    pesquisa e sendo informados que poderiam desistir de participar sem nenhum tipo e prejuzo. Para

    a etapa de Investigao foi aplicada uma Etnometodologia compreendendo o cruzamento das

    seguintes tcnicas:

    - Observao Participante como observador, as interaes dirias com os moradores e

    observao do dia a dia da comunidade, foram documentadas.

    - Entrevistas semi-estruturadas inicialmente foram aplicados questionrios de maneira informal,

    no seguindo a ordem das perguntas e em alguns casos no aplicando todas as perguntas aos

    entrevistados, compreendendo uma busca pelos saberes locais que se adapto a diferentes sujeitos e

    momentos.

    - Conversas informais observao e documentao do contedo das conversas com moradores e

    informantes.

    - Histrias de vida dar liberdade para o informante relatar sua vida, com objetivo de, a partir da

    trajetria de vida do entrevistado, destacar elementos teis a criao de uma proposta de Educao

    Ambiental contextualizada realidade local.

    As informaes obtidas nesta etapa foram registradas em cadernos de campo, gravaes de

    udio (utilizando um aplicativo gratuito de smartphone) e registros audiovisuais.

    O processo de escuta sensvel na educao ambiental em comunidades (SANCHEZ,

    MONTEIRO & MONTEIRO, 2010) foi utilizado durante todas as etapas do trabalho,

    compreendendo a considerao e o respeito por absolutamente tudo o que dito ou transmitido

    pela comunidade

    A seleo dos informantes se deu a partir de conversas informais com moradores,

    indicaes da prpria comunidade (reconhecimento social) e da tcnica da bola-de-neve, onde a

    comunidade e os prprios informantes indicaram outros mestres dos saberes locais. Para esta

    pesquisa considerou-se como mestres dos saberes locais, os moradores, em especial os mais

    7 Considerando as recomendaes da Medida Provisria n 2.186-16, de 23 de Agosto de 2001, sobre a Conveno

    sobre Diversidade Biolgica, que dispe sobre o acesso ao patrimnio gentico, proteo e o acesso ao

    conhecimento tradicional associado, a repartio de benefcios e o acesso tecnologia e transferncia de tecnologia

    para sua conservao e utilizao, e d outras providencias.

  • ISSN: 2359-5574

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    antigos, que presenciaram as transformaes e eventos de secas e cheias no Municpio de Chapada

    do Norte. Foram selecionados 36 informantes distribudos pelos trs distritos, sendo 14 do sexo

    masculino e 22 do sexo feminino, em idades que variam de 36 a 98 anos.

    Uma das aes desenvolvidas durante o projeto de pesquisa foi estimular os professores, a

    partir de encontros como cursos, oficinas e palestras, a discutir com os alunos questes

    relacionadas seca e cheias, em especial do Rio Araua, integrando os saberes e percepo dos

    prprios moradores s discusses levantadas em sala de aula. Os encontros foram realizados nos

    Distritos de Chapada do Norte (sede), Cachoeira do Norte, So Sebastio da Boa Vista e Santa

    Rita do Araua. As atividades foram destinadas aos moradores das comunidades, professores e

    alunos da Escola Municipal Oldia Lemos.

    Os cursos, oficinas e palestras tiveram como foco principal o retorno das informaes

    obtidas com a pesquisa para as comunidades. A inteno foi explicitar o potencial do uso da

    Cultura e Histria Local como temas geradores para propostas de Educao Ambiental de base

    comunitria contextualizadas s realidades das comunidades. As atividades foram realizadas na

    tentativa de relacionar os saberes revelados com a pesquisa com prticas de Educao Ambiental.

    Durante os encontros foram contadas as lendas locais, histrias da regio, discutimos as

    conseqncias das secas e cheias com base em relatos, notcias e fotografias apresentados pelos

    moradores locais que retratam secas e cheias extremas. Alm disso, foram apresentados vdeos

    como parte de uma campanha contra a dengue. Os vdeos foram produzidos no crrego do Distrito

    de Cachoeira do Norte, onde a gua parada estimulou a proliferao de mosquitos. Foram

    registrados os trechos de gua parada, as larvas de mosquitos, o baixo fluxo de gua no crrego e

    os trechos onde a gua se encontrava poluda, sobretudo pela decomposio de matria orgnica,

    presena de resduos e despejo de gua de fossas (gua cinza).

    3) RESULTADOS E DISCUSSO

    Nas falas dos moradores, a partir das entrevistas, os relatos ressaltam memrias dos

    perodos de secas e chuvas extremas, onde os moradores se uniram para reconstruir as

    comunidades aps as secas e os dilvios. Alm disso, os moradores apresentaram fotografias e

    notcias sobre os perodos de chuvas extremas, em especial nos anos de 1929, 1979 e 20138.

    Segundo eles em situaes como os dilvios se evidenciaram os conflitos entre as posies dos

    moradores e de autoridades responsveis pela construo de pontes que apesar das advertncias

    dos moradores insistiram em construir sobre o rio uma ponte que foi levada na primeira chuva

    8 Anos de chuvas extremas, referidos como os anos de dilvios pelos moradores locais.

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    mais forte, que popularmente chamada de dilvio. Este rpido exemplo nos permite corroborar

    com o que Santos (2010) chama de ecologia de saberes e de epistemicdio, quando os saberes

    reificados e de carter cientfico se impe sobre os saberes locais criando conflitos

    epistemolgicos. Desta forma, entende-se que a EA de base comunitria busca nos saberes locais

    seu substrato para a construo de uma Ecologia de Saberes de onde emergem outras

    possibilidades de conexo entre as distintas plataformas epistemolgicas e vises de mundo.

    A rica cultura popular da regio mostrou-se como um territrio frtil para conexes com a

    EA proposta. A experincia desenvolvida com professores, moradores dos distritos e com alunos

    do Ensino Fundamental da Escola Municipal Oldia Lemos, localizada no distrito de Cachoeira do

    Norte demonstrou que a partir da Cultura e Histria Locais houve uma identificao do publico

    envolvido com suas prprias expresses culturais e histricas, o que facilitou e muito o

    desenvolvimento das atividades.

    A histria ambiental revelada nos depoimentos aponta que grande parte das terras das

    comunidades era mata e que com o tempo foi cortada, dando origem as casas, sendo substituda

    por pasto para o gado, pelas roas, ou foi vendida. Com isto foi possvel perceber a importncia

    das relaes entre a histria oral e a histria ambiental para a construo de propostas de EA

    crtica e de base comunitria.

    4) CONSIDERAES FINAIS

    Foi possvel perceber uma influencia das secas nas migraes e na formao das

    comunidades A seca influencia as migraes de algumas maneiras, em primeiro lugar, quando

    chega este perodo, ocorrem as migraes sazonais (sobretudo rumo ao corte de cana de acar,

    colheita de laranja, caf e construo civil), em segundo lugar provocando o xodo rural, como o

    caso dos antigos agregados9, onde os migrantes partem para grandes centros urbanos em busca de

    melhores condies de vida, por fim, tambm influenciou o processo de formao das

    comunidades gerando ondas de migrao, sobretudo vindas da regio do Nordeste, fugindo da

    seca.

    Esta proposta permite valorizar a memria dos moradores, considerando a opinio popular

    como uma fonte de informaes sobre o regime hdrico local. Alm da valorizao e

    reconhecimento das lendas locais demonstrando seu potencial para a construo de uma proposta

    de Educao Ambiental Crtica.

    9 Moradores das antigas fazendas que no possuem terras ou bens para se manter na regio.

  • ISSN: 2359-5574

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    Incentivo a preservao do conhecimento local a partir de uma articulao entre os

    moradores das comunidades e o sistema de ensino local, permitindo um dilogo de saberes e o

    conhecimento da histria da regio a partir da memria dos moradores.

    5) REFERNCIAS

    - AMARAL, Leila. Do Jequitinhonha aos Canaviais: Em busca do Paraso Mineiro. (dissertao

    de mestrado) Belo Horizonte, 1988.

    - FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17 Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

    - GONALVES, Ronaldo do Nascimento (org). Diagnstico Ambiental da Bacia do Rio

    Jequitinhonha: Diretrizes Gerais para a Ordenao Territorial. Ministrio do Planejamento e

    Oramento, Fundao Brasileira de Geografia e Estatstica IBGE, Diretoria de Geociencias,

    Diviso de Geociencias do Nordeste DIGEO, 1997.

    - RENAUD, Daniel. Contos, Bnos e Mezinhas: Educao Ambiental Popular como Estratgia

    de Proteo dos Saberes Locais (trabalho de concluso do curso de Bacharelado em Cincias

    Ambientais). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. 2014.

    - RIBEIRO, A. E. M (org) Lembranas da Terra: Histrias do Mucuri e Jequitinhonha. Cedefes.

    1986.

    - SANCHEZ, C.; MONTEIRO, B.; MONTEIRO, R. Na Trilha das Pedras: Algumas

    consideraes sobre as metodologias de Educao Ambiental e o Processo de Escuta. Rev.

    Eletrnica, v. 24, 2010.

    - SANTOS, B. S & MENESES, M. P (orgs). Epistemologias do Sul. So Paulo, Editora Cortez,

    2010.

    - SILVA, Vanda Aparecida da. Eles no tm nada na cabea: jovens do serto mineiro entre a

    tradio e a mudana. (Dissertao de Mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade

    de Educao. Campinas, SP. 2000.

    acessado dia 14 de Maio de 2015 s 18:20.

    acessado dia 14 de Maio de 2015 s 18:30.

    acessado dia 14 de Maio de 2015 s 18:45.

    acessado dia 14 de Maio de 2015 s 19:00.

    acessado dia 15 de Maio de 2015 s 16:20.

    http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=311610&search=||infogr%E1ficos:-hist%F3ricohttp://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=311610&search=||infogr%E1ficos:-hist%F3ricohttp://www.sinjus.org.br/modulos.php?nome=noticia&arquivo=visu_not&id_not=6805http://blogdobanu.blogspot.com.br/2013/12/enchente-do-rio-aracuai-leva-ponte-em.htmlhttp://www.chapadadonorte.mg.gov.br/novo_site/http://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspxhttp://www.cemig.com.br/pt_br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/rio_jequitinhonha.aspx

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    LUTANDO PELA GUA: EDUCAO AMBIENTAL DE BASE COMUNITRIA NAS

    CERCANIAS DA BAA DA GUANABARA, RIO DE JANEIRO.

    Marcelo Aranda Stortti 1

    Resumo:

    Desde 2007 o direito a gua est assegurado atravs da lei 11.445, porm a existncia dessa lei, bem como

    outras no tem assegurado s pessoas a desfrutarem desse direito. O municpio de Duque de Caxias apresenta um

    dficit hdrico segundo o Plano Diretor de recursos Hdricos da Regio Hidrogrfica da Baa da Guanabara, logo se

    ocorrer instalao de muitas empresas nessa regio ocorrer um aumento desse dficit. Ser que as populaes locais

    ficaro sem gua? Este estudo teve por objetivo identificar se existe violao do direito ao abastecimento de gua,

    coleta e tratamento de esgoto de uma populao de baixa renda localizada em um polo petroqumico no municpio de

    Duque de Caxias, bom como, os conflitos socioambientais referentes a essa questo. Para coletar os dados dessa

    pesquisa utilizou-se a metodologia de grupos focais. Como resultado a maioria dos depoentes explicou que no so

    abastecidos com gua tratada da empresa responsvel (CEDAE). Eles explicaram que a maioria usa da gua da

    refinaria de petrleo (REDUC), que permite que eles faam instalaes clandestinas e redirecione a gua para as suas

    casas. A partir das nossas conversas com tcnicos das duas empresas essa gua no tratada para atender a populao,

    pois a mesma usada apenas para o resfriamento das caldeiras da refinaria. Um pequeno grupo de moradores possui

    poo artesiano, porm para eles essa gua est contaminada. Os moradores afirmaram que no possui rede de coleta

    de esgoto e alguns poucos apresentam fossa sptica. Nesta pesquisa podemos destacar a presena do conflito

    ambiental, relacionado com o uso desigual dos recursos hdricos disponveis e com a impossibilidade de

    universalizao de direitos, caracterizando um processo de excluso e de desigualdades sociais. Alm disso, ainda

    ocorre o aumento de casos de doenas nessa comunidade que relacionadas baixa qualidade da gua.

    Palavras-chave: Educao Ambiental de base comunitria, Cultura Popular, Recurso hdrico.

    Introduo

    Desde 2007 o direito a gua est assegurado atravs da lei 11.445, porm a existncia dessa lei,

    bem como outras no tem assegurado s pessoas a desfrutarem desse direito. Duque de Caxias

    uma regio que tem sido escolhida para a implantao de vrias indstrias, pela sua proximidade

    com o Rio de Janeiro em com outros centros como So Paulo e Minas Gerais. Esse municpio

    apresenta um dficit hdrico segundo o Plano Diretor de Recursos Hdricos da Regio

    Hidrogrfica da Baa da Guanabara, logo se ocorrer instalao de muitas empresas nessa regio

    ocorrer um aumento desse dficit. Ser que as populaes locais ficaro sem gua? A partir dessa

    reflexo realizamos uma reviso das pesquisas no campo dos conflitos ambientais e da justia e do

    racismo ambiental, buscando entender se existe uma violao de direitos aos moradores de baixa

    rende relacionado ao saneamento bsico nessa regio e como ocorre esse processo. Este artigo

    teve por objetivo refletir sobre as lutas sociais relacionadas ao abastecimento de gua, coleta e

    tratamento de esgoto de uma populao de baixa renda localizada no entorno da Baa da

    Guanabara no municpio de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.

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    Metodologia

    Para coletar os dados dessa pesquisa utilizou-se a metodologia de grupos focais, pois permitiu que

    compreendessem as experincias desse grupo social do seu prprio ponto de vista. Para tal,

    escolhemos como sujeitos dessa pesquisa alunos moradores de uma comunidade de 128 famlias

    de baixa renda (de at um salrio mnimo) e em vulnerabilidade social situadas atrs de 6

    empresas do plo Petroqumico localizado no fundo da Baa da Guanabara no bairro de Campos

    Elsios em Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro. Realizamos quatro grupos focais com uma

    mdia de 20 alunos (moradores) por grupo. As reunies ocorreram no colgio estadual localizado

    na regio, com reunies durante a semana no contra turno escolar.

    Alm disso, entrevistamos dois funcionrios de uma das empresas do plo petroqumico e dois

    funcionrios da empresa estadual de guas e esgoto (CEDAE). As entrevistas foram semi

    estruturadas, durando uma mdia de 40 minutos cada (STORTTI, 2009).

    O referencial terico desse artigo parte de uma perspectiva de Educao Ambiental Crtica,

    definida por Loureiro (2004, p. 66) como:

    ... a adjetivao ambiental se justifica to somente medida que serve para destacar

    dimenses esquecidas historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao

    entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da

    modernidade capitalista e do paradigma analtico-linear, no-dialtico, que separa:

    atividade econmica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo;

    matria e esprito, razo e emoo etc."

    Nessa perspectiva a ao educativa deveria auxiliar na transformao das condies

    socioambientais (GUIMARES, 2004), reforando o seu carter poltico (BONFIM, PICOLLO,

    2011; TOZONI-REIS, 2007), apoiada na teoria crtica que desvela as contradies do modo de

    produo capitalista, favorecendo o dialogo entre os projetos societrios em voga (TREIN, 2007),

    bem como, redefinir as relaes entre homem e natureza, a fim de romper com a atual ordem

    poltica, cultural e econmica (DIAS, BONFIM; 2011).

    Alm disso, buscar as interfaces dos dilogos que emergem das demandas populares e dos

    movimentos sociais no contexto dos debates em torno dos conflitos ambientais a partir dos

    referenciais de estudos acerca da decolonialidade e da interculturalidade no contexto regional

    latino-americano. Dialogando a partir das epistemologias emergentes (SANTOS, 2010) que se

    soerguem das disporas com povos originrios, populaes tradicionais, em particular de matriz

    africana e indgena, as quais produzem ecologias de saberes, em sua relao de conflito, com

    territrios muitas vezes estigmatizados e em disputa no contexto latino-americano

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    Resultados e Discusso

    Nas falas desses jovens moradores daquela localidade, a partir dos grupos focais, os relatos

    ressaltam memrias dos perodos de conflitos e lutas pela gua. Como resultado a maioria dos

    depoentes explicaram que no so abastecidos com gua tratada da empresa responsvel pela

    distribuio e tratamento de gua e esgoto (CEDAE). Eles explicaram que a maioria usa da gua

    da refinaria de petrleo (REDUC), que atualmente finge que eles no fazem instalaes

    clandestinas e redirecione a gua para as suas casas. Para esses moradores era uma questo de vida

    ou morte, pois como no existia gua superficial para ser consumida, pois os rios da localidade

    estavam poludos (por esgoto ou por resduos das industrias qumicas) e faltava dinheiro para furar

    um poo e torcer para que aquelas guas tambm no estivesse contaminada. Os jovens

    afirmaram que no possuem rede de coleta de esgoto e alguns poucos construram fossa sptica.

    Segundo os depoentes o esgoto de cada casa vai parar no valo, que corta a comunidade, e depois

    vai parar no rio e finalmente chega Baa de Guanabara.

    Os depoentes destacaram que sabiam daquelas informaes porque os moradores mais antigos

    lutam a anos para resolver o problema da falta de gua e da sua baixa qualidade.

    Segundo uma depoente no ano de 2014 ocorreu um fato novo nessa luta, os moradores cansados

    de usar gua de m qualidade comearam a denunciar nos meios e comunicao sobre esse

    problema e da ausncia de rede de abastecimento. Para surpresa de todos, durante um programa

    jornalstico televisivo um representante da CEDAE foi localidade e viu que as torneiras no

    tinham gua nenhuma e se comprometeu em resolver esse problema. Segundo a jovem no final

    daquele ano comearam a fazer obras na localidade para colocar novos canos e levar gua para

    algumas ruas.

    Para aprofundar as informaes levantadas os tcnicos entrevistados, citados anteriormente,

    afirmaram que conhecem a situao, porm no querem correr o risco de criar um problema maior

    se cortarem as ligaes que eles chamaram de clandestinas. Segundo uma das funcionrias,

    quando eles tiveram que cortar o fluxo de gua para fazer manuteno nos dutos, quase que a

    populao foi para rua e fechou entrada da refinaria e da Rodovia Washington Luiz, foi um

    sufoco, confessa ela. Para os moradores isso acaba sendo um favor que a refinaria faz por causar

    tanta poluio. Segundo um dos entrevistados a empresa de abastecimento alega que as tubulaes

    que existem na regio foram aterradas em obras de pavimentao das ruas e perderam a sua

    funcionalidade. O outro depoente (representante da CEDAE) justificou essa ausncia de gua

    devido falta de reclamaes no sistema da empresa, pois segundo ele, ...se isso tivesse ocorrido

    esse problema j teria sido resolvido.

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    Consideraes

    A falta de acesso gua se configura como violao do direito humano a sade, a alimentao etc.

    A gua de qualidade importantssima para o consumo de alimentos saudveis e higienizados.

    Nesta pesquisa podemos destacar a presena do conflito ambiental, relacionado com o uso

    desigual dos recursos hdricos disponveis e com a impossibilidade de universalizao de direitos,

    caracterizando um processo de excluso e de desigualdades sociais. Alm disso, ainda ocorre o

    aumento de casos de doenas na comunidade que esto relacionadas baixa qualidade da gua.

    Como podemos observar existe uma disputa entre diferentes formas de apropriao e uso da gua,

    alm de outros recursos ambientais (terra, ar, seres vivos) sendo fonte de sobrevivncia para os

    moradores locais e fonte de acumulao de lucro para as grandes corporaes.

    Alm disso, podemos destacar a memria dos moradores mais antigos, considerando o

    conhecimento popular como uma fonte de informaes sobre os conflitos e injustias ambientais

    da localidade. Alm da valorizao e reconhecimento da troca de saberes entre os moradores

    antigos e os jovens, demonstrando seu potencial para a construo de uma proposta de Educao

    Ambiental Crtica.

    Outras questo que pode ser destacada a necessidade de incentivar a preservao do saber

    local a partir de uma articulao entre os moradores das comunidades e o sistema de ensino local,

    permitindo um dilogo de saberes e o conhecimento da histria e das lutas da regio a partir das

    memrias e histrias locais.

    Relacionado s questes anteriormente destacadas com uma educao voltada para o tema

    da gua, ser que ela deveria continuar centrada apenas nos usos que fazemos dela (BACCI,

    PATACA; 2008), ou que ns somos os nicos culpados pela crise hdrica atual, ou devemos

    pensar que a gua um bem que pertence a um sistema maior, integrado, a um processo produtivo

    capitalista, com todos os seus conflitos e disputas. Para muitos professores ensinar o ciclo

    hidrolgico e todos os contedos relacionados a ele (dinmica fluvial, fenmeno das cheias, os

    aqferos, riscos geolgicos, assoreamento, enchentes etc) essencial para que possamos entender

    a dinmica da hidrosfera e suas relaes com as demais esferas terrestres (BACCI, PATACA;

    2008). Ser que compreender isso bastaria?

    A construo de um programa que tenha a gua como tema gerador, numa proposta de

    ao interdisciplinar, apoiada nos conceitos fundamentais, deve ser entendida pelos professores

    nas relaes mais profundas entre esse contedo e a ao educativa, com envolvimento coletivo,

    dialgico e troca de saberes (BACCI, PATACA; 2008).

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    Referncias

    BACCI, D. L., PATACA, E.M. educao para a gua .Estudos Avanados. n 22 (63), 2008

    BONFIM, A.; PICOLLO, F.D.. Educao ambiental crtica: a questo ambiental entre os

    conceitos de cultura e trabalho. Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental. v.27,

    junho-dezembro. 2011. Disponvel em: http://www.seer.furg.br/remea/article/view/3236/1923.

    Acessado em: 14/06/2014.

    DIAS, B.. BONFIM, A.. A TEORIA DO FAZER EM EDUCAO AMBIENTAL CRTICA:

    uma reflexo construda em contraposio Educao Ambiental Conservadora. VIII Encontro

    Nacional de .Pesquisa em Educao em Ciencias (VIII ENPEC). 2011. Disponvel em: acessado

    em:

    GUIMARES, M.. Educao Ambiental Crtica. In: Layrargues, P. P. (Coord.). Identidades da

    Educao Ambiental Brasileira. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2004.

    JACOBI, P. R. (Coord). Aprendizagem social : dilogos e ferramentas participativas :

    aprender juntos para cuidar da gua. So Paulo: IEE/PROCAM, 2011.

    LOUREIRO, C. F. B.. Educao Ambiental Transformadora. In: Layrargues, P. P.

    (Coord.) Identidades da Educao Ambiental Brasileira. Braslia: Ministrio do Meio

    Ambiente, 2004.

    SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.). Epistemologias do Sul. So

    Paulo: Editora Cortez. 2010.

    STORTTI, M.. Dos movimentos sociais academia: uma anlise das representaes sociais

    de educao ambiental dos pesquisadores do grupo de trabalho (22) da ANPED. Dissertao

    do Programa de Ps graduao em Educao da Universidade Estcio de S. Rio de Janeiro:

    Universidade Estcio de S. 2009.

    TOZONI-REIS, M.F.. Contribuies para uma pedagogia crtica na educao ambiental: reflexes

    tericas. LOUREIRO, C. F. B. (Org.) Et. al.. A questo ambiental no pensamento crtico:

    natureza, trabalho e educao. Rio de Janeiro: Quartet. 2007.

    TREIN, E.. A contribuio do pensamento marxista educao ambiental. In: LOUREIRO, C. F.

    B. (Org.) Et. al.. A questo ambiental no pensamento crtico: natureza, trabalho e educao.

    Rio de Janeiro: Quartet. 2007.

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    PLANEJANDO NOSSAS GUAS

    Gleice Mira Fernandes Alves1

    [email protected]

    Priscila Moura2

    Resumo:

    Durante os anos de 2008 a 2012 a ONG GEMA - Grupo de Educao para o Meio Ambiente executou o PROJETO

    AGENDA GUA NA ESCOLA, uma iniciativa do INEA - Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro em

    parceria com o Comit de Bacia Hidrogrfica Lagos So Joo. O projeto envolveu 46 escolas municipais e estaduais

    de 12 municpios em quatro Regies Hidrogrficas (RH) RH Lagos So Joo, RH Rio das Ostras e Maca, RH

    Baixo Paraba do Sul e RH Itabapoana, envolvendo 800 jovens e 350 professores. Durante essa etapa os jovens

    envolvidos desenvolveram diagnsticos socioambientais, resgates histricos e expedies de monitoramento da

    qualidade da gua e ocupao e conservao da Faixa Marginal de Proteo de rios e lagoas inseridos no escopo do

    programa. As atividades desenvolvidas com os jovens culminaram na construo participativa junto comunidade das

    Agendas das guas, que apontavam aes a serem desenvolvidas com o intuito de minimizar os problemas e

    preservar as qualidades das comunidades do entorno das escolas. No ano de 2013 a Cmara Tcnica Permanente de

    Educao Ambiental do Comit de Bacia Hidrogrfica Lagos So Joo fomentada pela REAJO Rede de Educadores

    Ambientais Lagos So Joo disponibilizou recurso para a realizao da Pesquisa Planejando nossas guas, com o

    objetivo de analisar em que medida o Projeto Agenda gua na Escola contribuiu para aumentar a capacidade de

    governana participativa nas comunidades onde foi desenvolvido. Para a pesquisa foram selecionadas 06 unidades

    escolares, distribudas em seis municpios da rea de abrangncia do Comit de Bacia Hidogrfica Lagos So Joo

    (Araruama, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito e Silva Jardim).

    Palavras-chave: Gesto, recurso hdrico, escola, valorizao, educao ambiental.

    ______________________________________________________________________

    1 - Pedagoga, aluna de Mestrado em Educao. UNIRIO.

    2- Biloga, aluna de Mestrado em Biogentica. Fiocruz

    mailto:[email protected]

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    INTRODUO

    Um novo modo de gesto, que tem como nfase a participao da sociedade civil

    organizada, atualmente vem sendo denominada de governana e se traduziria num regime onde h

    aes coordenadas entre governantes e governados (LEFTWICH, 1993; MACCARNEY, 1995,

    apud WINCHESTER & RODRIGUEZ, 1998), com maior valor s instituies, representando

    maior democratizao atravs da descentralizao, onde o funcionamento do Estado tomaria mais

    um sentido horizontal, opondo-se ao modelo vertical e puramente hierrquico.

    Alguns estudos (VEIGA, 2006; ORTEGA,1998) apontam para a perspectiva de que o processo

    de governana se d atravs do dilogo que o poder pblico venha a exercer com as

    organizaes da sociedade civil, principalmente atravs de espaos institucionais de

    descentralizao de polticas, materializados nos conselhos gestores, (TPIA, 2005).

    Refletindo sobre essa participao juvenil nos processos de gesto, o GEMA Grupo de

    Educao para o Meio Ambiente, desenvolveu um projeto cujo objetivo foi a formao de

    Jovens Gestores Ambientais para a construo de uma agenda de aes definidas de forma

    participativas com base no monitoramento da qualidade da gua e controle da ocupao da

    Faixa Marginal de Proteo, buscando ser um instrumento de mobilizao social para a gesto

    integrada dos recursos hdricos e de conservao ambiental. Atravs de metodologias

    participativas (Biomapa e Oficina do Futuro), os Jovens Gestores Ambientais realizaram um

    diagnstico do territrio onde a escola estava inserida, buscando identificar as potencialidades

    e as degradaes. Durante 8 meses as questes apontadas no diagnstico foram trabalhadas em

    oficinas dinmicas e divertidas. Simultaneamente s oficinas, expedies foram realizadas,

    para coleta e anlise da gua do recurso hdrico prximo escola.

    Para aprofundar a compreenso sobre o territrio, a comunidade foi envolvida atravs do Resgate

    Histrico, onde os moradores mais antigos foram convidados para um caf, compartilhando de sua

    vivncia, contribuindo para o entendimento do processo de ocupao e crescimento do bairro. A

    partir desse encontro, os moradores do bairro, assim como associaes e ONGs foram convidados

    a participar do projeto. Comunidade e escola iniciaram uma conversa sobre as questes apontadas

    buscando construir uma agenda, a Agenda gua, com sugestes de aes, que uma vez

    desenvolvidas, poderiam contribuir para a melhoria de vida de todos. Finalizada, a agenda foi

    encaminhada aos espaos de Gesto Compartilhada, como o Comit de Bacia Hidrogrfica e os

    Conselhos Municipais, buscando unir foras para executar as aes propostas. O Comit de Bacia

    Hidrogrfica Lagos So Joo, aprovou recursos para a realizao de uma pesquisa que pudesse

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    acompanhar o desdobramento das aes estipuladas pelas agendas de 06 municpios: Silva Jardim,

    Casimiro de Abreu, Cabo Frio, Araruama, So Pedro da Aldeia e Iguaba Grande. De cada

    municpio uma escola participante do Projeto foi escolhida para receber o recurso e executar a

    agenda. Durante essa etapa, os pesquisadores utilizando de metodologias participativas puderam

    medir o grau de envolvimento e participao social das comunidades envolvidas.

    METODOLOGIA

    A metodologia foi desenvolvida sob duas perspectivas, uma terica com a reviso

    bibliogrfica de determinados temas e a de campo baseada em observao participante.

    O projeto se props a fazer um estudo sociolgico, qualitativo da Ao do Projeto Agenda

    gua na Escola nas 06 comunidades cujas escolas receberam recurso para desenvolver as aes

    propostas nas agendas.

    A tcnica utilizada foi baseada nas metodologias participativas (observao participante;

    grupo focal; entrevistas semi estruturada) Com o acompanhamentos das aes e a realizao de

    um diagnstico participativo com educandos, educadores e comunidades das 06 escolas que

    receberam recurso para a realizao das aes apontadas por eles nas agendas, buscando

    identificar a forma de pensar a participao social dos grupos. Com base nos resultados se buscou

    analisar o impacto do projeto na comunidade e a relao entre o projeto e a participao social dos

    jovens, elucidando at que ponto, como e com que intensidade ou qualidade a educao ambiental

    interfere - pode influenciar no processo de governana social, formando ou no indivduos

    crticos.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    A pesquisa-ao simplesmente uma forma de questionamento coletivo dos participantes

    em uma determinada situao social com o intuito de promover a racionalidade e a justia destas

    mesmas prticas sociais, a compreenso destas prticas e das situaes em que se encontram, e,

    desta forma, poder transform-las. Assim, elimina-se a dicotomia sujeito-objeto e, ao invs de um

    pesquisador externo estudar e aconselhar um grupo social, eles prprios estudam (investigam) sua

    realidade e atuam sobre ela. (Mion & Saito, 2001: 126).

    A apropriao das metodologias fez com que os grupos de estudantes j sensibilizados pelo

    Programa Agenda gua na Escola, definissem formas e meios de ampliar e validar o que

    produziram junto comunidade residente no entorno de suas escolas, incentivando as

    comunidades a se organizarem e a participarem da elaborao, cumprimento e fiscalizao das

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    polticas pblicas, dentro de fruns de gesto municipal participativa (Conselhos de Meio

    Ambiente) e regionais (Consrcio e Comit de Bacia).

    Foto 1. Pesquisadores, comunidade e estudantes e reunio para planejamento das aes.

    Foto 2. Estudantes e comunidade construindo o biomapa que serviu de base para as aes.

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    Estudantes e comunidade discutiram as questes socioambientais apontadas nas agendas e

    executaram as aes de forma participativa, envolvendo o Comit de Bacia Hidrogrfica Laos So

    Joo, o poder pblico e empresas locais.

    Realizaram oficinas de resduos para tratar a temtica lixo e gua nas 6 escolas e

    associaes de moradores;

    Envolveram o poder pblico e implementaram nas escolas coletores seletivos de

    lixo;

    A escola Agrcola do municpio de Cabo Frio recuperou o viveiro de mudas ,que se

    encontrava inativo e iniciou a produo de mudas nativas que sero usadas na

    recuperao da mata ciliar (ao prevista para 2016);

    Capacitao de professores e estudantes para monitoramento de gua;

    Fortalecimento de laboratrio escolar para anlise de gua;

    Placas educativas nas margens do Rio So Joo.

    Implantao de coletores de gua da chuva nas escolas com construo de cisternas

    para armazenamento.

    Presena dos produtores de guas para nas reunies da Cmara Tcnica do Comit,

    para um continuo monitoramento e preservao das nascentes.

    CONSIDERAES

    O presente projeto fruto da dedicao daqueles que acreditam no fortalecimento das

    pessoas para a conservao dos recursos hdricos aliada ao desenvolvimento humano e de uma

    gesto compartilhada. Assim, apresenta uma metodologia de ao participativa que buscou

    desenvolver um contedo que possa contribuir com o aprimoramento dos jovens e professores

    dentro de uma Educao Ambiental critica voltada para uma gesto dos recursos naturais de

    forma compartilhada envolvendo o Comit de Bacia Hidrogrfica Lagos So Joo.

    Enquanto ferramenta de interveno, teve como principal objetivo a realizao de um

    diagnstico socioambiental construindo um plano de ao para a preservao dos recursos hdricos

    e mitigao dos problemas causados pelo homem.

    Para um educador e pesquisador ambiental, desenvolver um processo como esse foi de

    grande aprendizado e realizao. Foi poder acompanhar jovens se transformando em gestores

    ambientais, redescobrindo sua comunidade, que uma vez reconhecida, atendeu ao chamado e se

    juntou a uma grande mobilizao. A metodologia colocou o jovem com sua fora e curiosidade ao

    lado dos mais velhos que chegaram com sua sabedoria e vivncia.

  • ISSN: 2359-5574

    26

    O resgate histrico aproximou o passado do presente, e abriu o caminho para um

    entendimento de todo o processo de degradao ocorrido na comunidade, e juntos jovens e velhos,

    mulheres e homens, educadores e educandos continuam construindo o processo de gesto de sua

    comunidade que ganha vida atravs da Agenda das guas. Uma ao que no ter fim, na

    medida em que as comunidades ocupam os espaos de gesto e participam das tomadas de

    deciso.

    REFERNCIAS

    BOAVENTURA, S. Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos. So Paulo: Cortez Editora,

    2013.

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  • ISSN: 2359-5574

    28

    UMA REFLEXO CRTICA SOBRE A PROPOSTA DE EDUCAO PARA O

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (EDS) DA UNESCO EM ESPAOS

    ESCOLARES Rafaella Ucha

    Mestranda no Programa de Ps-Graduao em Educao e Pesquisadora do Grupo de Estudos em Educao

    Ambiental Desde el Sur (Geasur)

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

    [email protected]

    Jlio Vitor Silva

    Mestrando no Programa de Ps-Graduao em Educao e Pesquisador do Grupo de Estudos em Educao

    Ambiental Desde el Sur (Geasur)

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

    [email protected]

    Celso Snchez

    Professor Programa de Ps- Graduao em Educao e Pesquisador do Grupo de Estudos em Educao

    Ambiental Desde el Sur (Geasur)

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

    [email protected]

    RESUMO:

    O presente artigo tem como objetivo discutir o conceito de Educao para o Desenvolvimento Sustentvel

    (EDS) da Unesco, a partir dos marcos referenciais da Educao Ambiental Crtica e trazer reflexes no mbito dos

    espaos escolares. Busca-se portanto, construir contribuies a partir das interfaces entre a Educao Ambiental

    Crtica com os campos da Ecologia Poltica, Justia e Racismo Ambiental, a fim de aprofundar o debate em torno da

    necessidade de contextualizao da educao ambiental s realidades locais. Pde-se compreender que os acmulos e

    os marcos referenciais nacionais da Educao Ambiental Crtica compem um importante arcabouo terico-

    metodolgico para compreender as limitaes e possibilidades da EDS no contexto escolar brasileiro, bem como

    apontou-se para elementos fundamentais na contextualizao das aes educativas ambientais as diferentes realidades

    locais.

    Palavras-chave: Educao para o Desenvolvimento Sustentvel, Educao para Sustentabilidade, Educao

    Ambiental Crtica

    1. DESENCONTROS ENTRE A EDUCAO AMBIENTAL CRTICA E A EDUCAO

    PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (EDS) DA UNESCO:

    O ano de 2014 encerra a chamada Dcada da Educao para o Desenvolvimento

    Sustentvel (DEDS) anunciada pela Unesco em 2005. O objetivo era criar um movimento

    internacional que estimulasse iniciativas de escolas, professores, ongs, coletivos e demais

    instituies em torno de aes educativas para o desenvolvimento sustentvel. O documento

    oficial preconiza que:

    "O objetivo geral da DEDS integrar os princpios, valores e prticas do desenvolvimento

    sustentvel em todos os aspectos da educao e aprendizagem. Este esforo vai encorajar

    mudanas de comportamento que iro criar um futuro mais sustentvel em termos de integrao

    ambiental, viabilidade econmica e uma sociedade justa para as presentes e futuras geraes."

    (Unesco, 2005)

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • ISSN: 2359-5574

    29

    No Brasil, a DESD foi recebida com crticas, pois ia de encontro com o acmulo da

    educao ambiental brasileira que havia se identificado com o Tratado de Educao Ambiental

    para Sociedades Sustentveis construdo no Frum Global durante a Conferencia das Naes

    Unidas para o Meio ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, documento que,

    inclusive, serviu de base para debates na construo da Poltica Nacional de Educao Ambiental,

    Lei 9795/99, bem como de outras legislaes e normatizaes.

    Para educadores ambientais brasileiros reunidos no Congresso Ibero-Americano sobre

    Desenvolvimento Sustentvel (Sustentvel 2005) tambm ocorrido no Rio de Janeiro em 2005,

    no se tratava apenas de uma alterao de nomenclatura, mas uma reestruturao poltica e

    ideolgica promovida pela UNESCO que deliberadamente apagava todo o percurso da educao

    ambiental que, neste momento, inclusive, ganhava um tom mais crtico. Estes educadores ento,

    elaboram o Manifesto pela Educao Ambiental : da educao ambiental para a educao para o

    desenvolvimento sustentvel apontando a centralidade do desenvolvimento como meta e que em

    contrapartida, a educao ambiental teria a educao como eixo, segundo o documento:

    "a indicao funcionalista e finalista da viso de Educao quando a coloca para alguma

    coisa (Educao para o Desenvolvimento Sustentvel), ainda mais sendo esse o desenvolvimento

    sustentvel, conceito/noo ainda sem um sentido claro e bastante criticado por quem acredita que

    nessa idia cabe a manuteno da racionalidade economicista / desenvolvimentista, um dos pilares

    da crise socioambiental da atualidade." (Manifesto pela Educao Ambiental, 2005).

    Os educadores ambientais que defenderam esta argumentao pertencem corrente crtica

    do campo da Educao Ambiental brasileira, que vem se consolidando e tem sido importante para

    fundamentar inclusive polticas pblicas e como define Loureiro (2004), a educao ambiental no

    Brasil, vista como elemento de transformao social, entendida como movimento integrado de

    mudanas de valores e de padres cognitivos com ao poltica democrtica e reestruturao das

    relaes econmicas. Pode-se dizer que a abordagem crtica no contexto brasileiro tem

    apresentado um importante acmulo que aponta para a importncia das perspectivas

    emancipatrias, transformadoras e libertrias que se fazem presentes de maneira expressiva nas

    diferentes possibilidades e identidades da EA nacional, que Layrargues (2004), chama de

    "sentidos identitrios das novas denominaes de educao ambiental".

    Esta abordagem fundamental para percebermos questes e problemticas na elaborao e

    execuo de programas e polticas em Educao Ambiental de instituies internacionais, como a

    ONU.

  • ISSN: 2359-5574

    30

    2. A EDUCAO AMBIENTAL CRTICA E SUAS FUNDAMENTAES

    De maneira geral, a linha crtica considera as realidades histricas dos processos

    pesquisados, buscando perceber as problemticas intrnsecas ao cotidiano antes de ser ambiental,

    educao, e preocupa-se em considerar tambm questes polticas, sociais, culturais e econmicas,

    que em sua percepo, no tem como estarem separadas. A linha crtica prioriza, por exemplo, os

    desafios enfrentados pelo professor, as questes do sistema de ensino, esta linha, a realidade social

    do aluno alm dos portes da escola, os saberes das comunidades tradicionais no entorno das

    escolas, os obstculos que enfrentam para se manterem tradicionais, enfim, vulnerabilidades e

    potencialidades reais de cada situao a ser pesquisada.

    De matriz marxista a educao ambiental crtica, relaciona o modelo de produo

    capitalista ao agravamento da problemtica ambiental. Essa viso se afasta ao mximo das

    premissas positivistas, considera a cultura e a historicidade dos sujeitos e leva em considerao o

    acesso desigual que os seres humanos tm aos bens ambientais.

    A educao ambiental crtica acredita, com base na histria, que possvel a superao do

    modelo de produo e de vida atual para um modelo mais harmnico e menos desigual. A

    Educao Ambiental crtica no se contenta apenas a conhecer e interpretar o mundo, mas tem

    inteno de intervir na realidade, transformando-o pela atividade consciente na relao teoria e

    prtica, o que parece que vai de encontro aos ideais da educao para o desenvolvimento

    sustentvel proposto pela UNESCO.

    3. REFLEXES SOBRE AS CONTRIBUIES DA EDS EM ESPAOS ESCOLARES:

    A perspectiva elucidada no item anterior acima se aproxima de uma construo de

    caminhos e possibilidades que contemplem a realidade desta relao contextualizada entre os

    sujeitos e os espaos em que vivem, o que tambm uma questo importante: aproximar a teoria

    da prtica, vislumbrando a importncia da teorizao e da produo de conhecimento para a

    interveno na realidade, a comear pela prpria prtica de pesquisa, que j representa uma

    interveno, dentro do que se prope.

    Neste contexto, trazemos aqui a contribuio de Barraza, pesquisadora mexicana, que

    comenta sobre suas experincias no seminrio Educao Ambiental: das polticas prtica, que

    ocorreu na Kings College de Londres, em 2001:

    "Para ns da Amrica Latina, questes ambientais esto fortemente ligadas com questes

    polticas dentro de uma dimenso Norte/Sul. Portanto, por exemplo, perspectivas em

    educao ambiental globalmente "acordadas" (como idias acerca de educao apara o

    desenvolvimento sustentvel), podem ser vistas de forma a prover ao Norte outras

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    31

    significaes para reformular e redefinir o comportamento e o pensamento das pessoas no

    Sul, no que Escobar (1995) v, pode se tornar um mecanismo de controle sutil, mas

    eficaz, e uma outra expresso de neo-colonialismo. Novos paradigmas em educao so

    focados na construo de uma sociedade sustentvel, mas o que isso quer dizer? Uma

    sociedade sustentvel frequentemente vista como democrtica, participativa e

    equitativa. No entanto, o acesso a e a qualidade da educao em pases da Amrica

    Latina reforam prticas e valores que no so sustentveis e a educao (ambiental) no

    tem como estar desvinculada de questes polticas. Podemos tomar como exemplo

    projetos que foram trabalhados no Brasil com comunidades sem terra, com foco de

    recuperao de terras, o que se relaciona questo poltica da reforma agrgria.

    Participantes de diferentes contextos viram uma aresta razoavelmente poltica para suas

    prprias conceituaes em educao ambiental. Conceitos como democracia, equidade,

    justia e participao foram relacionados a diferentes definies de educao ambiental.

    No entanto, o que ficou evidente que eles se referem a diferentes perspectivas em

    diferentes contextos, isto o modelo realizvel de democracia na Sucia difere dos

    modelos realizveis em outros pases. Isto significa que todos ns devemos aspirar a

    adotar ou adaptar o modelo sueco, ou ser melhor trabalhar com as possibilidade que

    melhor cabem aos nossos diferentes contextos e s nossas prprias dinmicas polticas?

    Isto coloca em perspectiva definies internacionais e as implicaes polticas de tentar

    implement-las globalmente: estas so questes intrinsicamente ligadas a problemas de

    poder, superioridade e legitimao que precisam ser contabilizadas dentro de dinmicas

    geopolticas globais." (BARRAZA, 2003)

    Esta colocao de Barraza nos traz a reflexo sobre a influncia desta proposta de

    educao para o desenvolvimento sustentvel proposta pela Unesco, em nosso sistema

    educacional, que no se reduz apenas s escolas propriamente ditas, mas s particularidades e

    desafios enfrentados pela educao no que tange s realidades socioambientais e econmicas dos

    pases latino-americanos como um todo. O carter simplista da proposta da EDS no traz a

    contemplao de problemticas presentes em nossa educao brasileira e no contextualiza

    realidades histricas latino-americanas, como por exemplo, a existncia de favelas e comunidades

    sem acesso educao, sade e saneamento pblicos; a gentrificao das cidades; a

    desapropriao de agricultores familiares e camponeses pelo agronegcio e outros setores da

    indstria; os altos ndices de analfabetismo; as diversas violaes de direitos humanos; o

    apagamento de populaes indgenas e de negros,o racismo ambiental entre tantas outras questes.

    Pontuamos estas fragilidades, porque a funo poltica da educao no est desvinculada destas

    discusses, e nem tampouco os espaos escolares, que, quando inseridos em territrios

  • ISSN: 2359-5574

    32

    encharcados de vulnerabilidades e de oprimidos, tem papel fundamental na prtica e no exerccio

    da cidadania e na leitura crtica do mundo.

    Desta forma, a educao ambiental que preconizamos e que precisamos , deve estar

    inserida na realidade, contextualizada a ela, isso significa, compreender os conflitos ambientais

    no como espaos ou territrios distantes da escola, mas sim, como situaes profundamente

    educativas. A dimenso pedaggica dos conflitos ambientais faz emergir o contexto de

    vulnerabilidades e injustias ambientais que recai de forma desigual sobre certas populaes em

    particular os indgenas e negros, a este fenmeno em particular, d-se o nome de racismo

    ambiental (Paes e Silva , 2012) e da se pode notar a importncia da contribuio deste campo bem

    como da ecologia politica e da justia ambiental para a educao ambiental contextualizada as

    nossas realidades, sobretudo latino-americanas.

    Paulo Freire nos ajuda a entender esta dimenso, quando considera lamentvel que o

    carter socializante da escola, o que h de informal na experincia que se vive nela, de formao

    ou deformao, seja negligenciado e que o ensino dos contedos seja sempre entendido como

    transferncia do saber. O autor v esta questo como uma das razes que explicam o descaso em

    torno do que ocorre no espao-tempo da escola, ignorando-se o que ele chama de pedagogicidade

    da materialidade do espao. (FREIRE, 1996).

    Freire nos incita a reflexo sobre a materialidade histrica dos territrios de escolas

    pblicas brasileiras e a relacion-la com a proposta da EDS. Como uma escola inserida em

    territrios de conflitos armados por exemplo, no caso de escolas em muitas de nossas favelas

    cariocas ou de tantas periferias de grandes cidades, quando nem sequer trazem a discusso destes

    conflitos para dentro do espao escolar, podem pensar em cumprir agendas que propem a prtica

    de sustentabilidade? H espao para falar em um desenvolvimento sustentvel organizado em

    agendas pr-estabelecidas, em espaos escolares onde alunos so mortos nestes conflitos, por

    exemplo? A Unesco prope educao para o desenvolvimento sustentvel, orientando a adoo de

    "estilos de vida sustentveis" (Unesco, 2005), mas ser possvel adotar um estilo de vida

    sustentvel em uma escola habitada por alunos que obtm sua nica refeio diria, na escola?

    Como falar em economia de gua em uma escola que fica em uma comunidade que no tem

    acesso gua? Estas so questes que visivelmente no so contempladas pela proposta de

    educao para o desenvolvimento sustentvel e para embasar este posicionamento, destacamos o

    seguinte trecho de um artigo de Anderson e Strecker (20120) que evidencia este descaso com tais

    realidades:

    "Em 2009, a UNEP (Programa Ambiental das Naes Unidas) e a UNESCO lanaram a

    primeira Pesquisa Global sobre Estilos de Vida Sustentveis (GSSL). O objetivo global

  • ISSN: 2359-5574

    33

    foi o de ouvir jovens adultos, mais de 8 mil pessoas de diferentes pases, para alcanar

    uma compreenso melhor de seus cotidianos, expectativas e vises para o futuro no que

    diz respeito sustentabilidade. Os resultados da pesquisa revelaram necessidade de mais

    informaes sobre desafios globais e os caminhos que relacionam estilos de vida e aes

    individuais.

    Os resultados desta pesquisa culminaram na construo de uma Agenda que

    prioriza cinco pontos:

    Apoiar desenvolvimento de qualidade na infncia e oportunidades de aprendizados para meninos e

    meninas;

    Garantir que o letramento bsico seja aprendido na escola;

    Permitir jovens a fazer a transio para completar a educao ps-primria, que relevante;

    Equipar jovens com habilidades relevantes para as vidas e os meios de subsistncia do sc. 21;

    Tornar espaos de aprendizagem seguros, sustentveis e resistentes a alteraes climticas.";

    (ANDERSON & STRECKER, 2012).

    A partir desta questo que envolve as agendas criadas pela Unesco em seus eventos e

    encontros que renem representantes de seus pases membros, assim como a Agenda 21,

    documento que foi gerado na Rio-92, fao uma analogia com a problemtica dos manuais

    didticos, levantada por Layargues (2012):

    "Manuais didticos podem ser especialmente teis para o caso das vtimas da armadilha

    paradigmtica e/ou da modernizao conservadora, que ideologicamente captura

    intencionalidades poltico-pedaggicas manifestadas como crticas, mas que, contraditria

    e ingenuamente, acabam exercendo sua prxis de modo pragmtico ou conservacionista.

    Aqui, abre-se um dilogo tanto com os processos formativos em Educao Ambiental,

    como um novo e potencial campo de investigao cientfica, analisando a realidade das

    relaes entre as macrotendncias poltico-pedaggicas da Educao Ambiental."

    (LAYARGUES, 2012)

    ALGUMAS CONSIDERAES INICIAIS

    A anlise preliminar de nossas leituras de alguns dos documentos oficiais da Unesco sobre

    a EDS, aponta para uma perspectiva conservadora e legitimadora de valores hegemnicos e que

    no contempla as realidades sociopolticas do Brasil e nem da Amrica Latina como um todo,

    realidades estas que influenciam diretamente as polticas. As ausncias de discusses de temas

    como conflitos, justia e racismo ambiental, apontam para um silncio eloquente, o que revela o

    apagamento de uma dimenso da realidade na qual estamos inseridos, justificada numa lgica que

    homogeniza escolas e produz uma educao com misso civilizadora de domesticao e

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    34

    apaziguamento de conflitos que so produto de uma realidade desigual que se perpetua por estes

    mesmos silncios eloquentes e to educadores.

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  • ISSN: 2359-5574

    35

    REAPROVEITAMENTO DE RESDUOS SLIDOS COMO PRTICA DE EDUCAO

    AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL CECLIA PINTO NO MUNICPIO DE

    MACAP, AMAP.

    Monizi Costa Aires1*

    Tain Lobato Vanzeler1

    Eduarda Emanuelle da Silva Pena1

    Kelvin Rodrigues da Costa1

    Cristiane Rodrigues Menezes2

    Resumo:

    A Educao Ambiental um processo permanente e participativo de explicitao de valores, instruo sobre

    problemas especficos relacionados com a gesto do ambiente, formao de conceitos e aquisio de competncias

    que motivem o comportamento de defesa, preservao e melhoria do ambiente. A educao de jovens e crianas surge

    como uma ferramenta poderosa, pois possibilita a formao de futuros cidados ambientalmente conscientes.

    Objetivou-se neste trabalho sensibilizar a cerca da importncia do reaproveitamento de resduos slidos como prtica

    de Educao Ambiental com alunos do 5 ano B do Ensino Fundamental I da Escola Estadual Ceclia Pinto, localizada

    no Municpio de Macap-AP, trabalhando de acordo com o princpio dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Para

    isso, foram aplicados questionrios estruturados com 7 perguntas, elaboradas de forma simples e de fcil

    compreenso, com alternativas em forma de figuras ilustrativas condizentes com a temtica, ministrou-se uma palestra

    abordando temas pertinentes ao conhecimento e a prtica da educao ambiental, e oficinas para a recriao de

    objetos. Devido demonstrao do grande interesse que os alunos mostraram cerca da temtica, acredita-se que

    tenha sido possvel atingir o objetivo do projeto.

    Palavras-Chave: Sensibilizao, 3Rs, Meio Ambiente e Sustentabilidade.

    Introduo

    Desde a poca das colonizaes, passando pela Revoluo Industrial at o incio do sculo

    XX, os recursos naturais existentes tinham como finalidade atender a demanda de matria-prima

    para o desenvolvimento econmico a curto prazo e favorecer as classes dominantes do capital em

    distintas fases de nossa histria. Para garantir o abastecimento de matrias-primas no setor

    produtivo dessas atividades, e de outras que surgiram no decorrer dos anos, aparecem s primeiras

    intervenes do Estado para a racionalizao do uso dos recursos naturais, para que a degradao

    ambiental no prejudicasse os objetivos econmicos, e apesar de no haver nessas iniciativas a

    ideologia ambientalista, elas abriram caminhos para sua criao (BARSANO & BARBOSA,

    2014).

    A preocupao oficial com a necessidade de um trabalho educativo que procurasse

    sensibilizar as pessoas para as questes ambientais surge em 1972, na Conferncia sobre Meio

    Ambiente Humano, realizado pela ONU, em Estocolmo. A conferncia gerou a Declarao sobre

    o Meio Ambiente Humano e teve como objetivo chamar a ateno dos governos para a adoo de

    novas polticas ambientais, entre elas um Programa de Educao Ambiental, visando a educar o

  • ISSN: 2359-5574

    36

    cidado para a compreenso e o combate crise ambiental no mundo. Em 1977, ocorreu a

    Primeira Conferncia sobre Educao Ambiental, em Tbilisi, Gergia, considerada o mais

    importante evento para a evoluo da EA no mundo. A Conferncia de Tbilisi, como ficou

    conhecida, contribuiu para fortalecer o conceito de EA, definindo seus objetivos, caractersticas,

    recomendaes e estratgias pertinentes ao plano nacional e internacional (SOUZA, 2009).

    A Lei Federal N 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999, institui a Poltica Nacional de

    Educao Ambiental. Essa a mais recente e a mais importante lei para a Educao Ambiental.

    Nela so definidos os princpios relativos Educao Ambiental que devero ser seguidos em

    todo o Pas. Essa Lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, atravs do Decreto N. 4.281. A

    lei estabelece que todos tm direito educao ambiental, sendo ela, um componente essencial e

    permanente da educao nacional, devendo estar presente em todos os nveis e modalidades do

    processo educativo, em carter formal e no formal (MARCATTO, 2002).

    A Educao ambiental se constitui numa forma abrangente de educao, que se prope

    atingir todos os cidados, atravs de um processo participativo permanente que procura

    sensibilizar sobre a problemtica ambiental. Pode-se entender que um processo pelo qual o

    educando comea a obter conhecimentos acerca das questes ambientais, onde ele passa a ter uma

    nova viso sobre o meio ambiente, sendo um agente transformador em relao conservao

    ambiental (BRASIL, 2015).

    Nas escolas, a educao ambiental contribui para a formao de cidados aptos para

    decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o

    bem-estar de cada um e da sociedade (MEDEIROS et. al., 2011).

    A atual sociedade em expanso apresenta um perfil com alto nvel de consumo, o que

    consequentemente gera um aumento na produo de resduos domsticos e industriais (QUEIROZ

    et. al., 2009). Anualmente so produzidos milhes de toneladas de resduos slidos, contendo

    vrios materiais reutilizveis como vidros, papeis, latas, entre outros. A Lei 12.305 que institui a

    Poltica Nacional de Resduos Slidos tem vista gesto integrada e ao gerenciamento dos

    mesmos para proteo da sade pblica e da qualidade ambiental. Reaproveitando os resduos

    antes de serem descartados, o acmulo desses no meio ambiente diminui e com isso a poluio

    minimizada, melhorando a qualidade de vida (FADINI et. al., 2006; BASSANI et. al., 2008).

    Este trabalho teve como objetivo sensibilizar a cerca da importncia do reaproveitamento de

    resduos slidos como prtica de Educao Ambiental, trabalhando de acordo com o princpio dos

    3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), buscando a formao de cidados com hbitos

    ambientalmente responsveis no meio social.

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    Metodologia

    O presente trabalho foi realizado durante o ano de 2014, no 5 ano B do Ensino Fundamental

    I da Escola Estadual Ceclia Pinto, localizada no Municpio de Macap, Amap.

    Para a coleta de dados, foram aplicados questionrios estruturados com 7 perguntas,

    elaboradas de forma simples e de fcil compreenso, com alternativas em forma de figuras

    ilustrativas condizentes com a temtica abordada. O questionrio foi aplicado primeiramente antes

    da palestra, para saber o nvel de conhecimento que os alunos possuam, e como atividade final,

    objetivando obter dados cerca da assimilao do contedo ministrado durante a execuo do

    projeto em sala de aula.

    Na palestra foram abordados temas pertinentes ao conhecimento e a prtica da educao

    ambiental, a qual foi elaborada de forma didtica contando com a participao dos prprios

    alunos, possibilitando aprendizado e conhecimento sobre a temtica, que de forma enriquecedora

    despertou o interesse e a curiosidade sobre o assunto.

    As oficinas contaram com a total participao dos alunos, onde formaram-se quatro

    grupos, aos quais foram distribudos materiais reaproveitveis. Os participantes desenvolveram

    um novo produto a partir do material que lhe foi dado, criando assim uma nova utilizao ou

    funo.

    Resultados e Discusso

    O questionrio repassado para os alunos no incio das atividades mostrou que existe pouco

    conhecimento cerca da Educao Ambiental. As questes que apresentavam figuras

    representativas tiveram respostas corretas, porm percebeu-se que no havia conhecimento prvio

    cerca dos conceitos dos 3Rs, sendo que 9 dos 26 alunos no responderam a essa questo. O

    mesmo ocorreu com a questo sobre coleta seletiva, notou-se que poucos alunos acertaram as

    cores das lixeiras correspondentes aos tipos de resduos.

    A oficina serviu como um mtodo de estmulo sensibilizao do tema reaproveitamento.

    Todos os alunos participaram e recriaram produtos a partir de resduos slidos como garrafas pets,

    latas, folhas de papel, tampas de garrafas e outros, que foram distribudos a cada grupo, com o

    auxlio de um monitor para cada equipe (Figura 01 e 02).

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    Figura 01: Grupos divididos para a confeco de

    material.

    Figura 02: Produtos criados pelos alunos.

    Aps a confeco do produto, os alunos de cada grupo comentaram sobre a experincia e

    principalmente sobre a importncia do seu material confeccionado para a sociedade e o meio

    ambiente (Figura 03 e 04).

    Figura 03 e 04: alunos comentando cerca da importncia do produto confeccionado.

    Atravs dos questionrios aplicados no fim da atividade, pde-se observar uma expressiva

    melhora nas respostas, embora ainda houvesse dificuldade em discernir os conceitos Reaproveitar

    e Reutilizar.

    Para Filho & Dias (2009), a Educao Ambiental a ferramenta que proporciona

    sensibilidade na comunidade alvo das aes interventoras; ela subsidia conhecimento sobre a

    problemtica da gerao e do descarte inadequado do lixo, favorecendo a tcnica prtica no caso

    da coleta seletiva e da reciclagem.

    Segundo Crisostimo (2001), a educao um processo de transformao, que deve ocorrer

    no aluno para que o mesmo mude as suas atitudes. Uma pessoa ao ser educada passa a se

    reconhecer na sociedade e engloba as prticas cotidianas da mesma. A Educao Ambiental deve

    estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em

    carter formal e no formal, onde um dos principais objetivos consiste em permitir que o ser

    humano compreenda a natureza complexa do ambiente. A concepo de Ambiente foi evoluindo,

    existindo atualmente a percepo de que os problemas ambientais no se reduzem apenas

    degradao do ambiente fsico e biolgico, mas que englobam dimenses sociais, econmicas e

    culturais.

    A aplicao de atividades ldicas na sala de aula uma interveno que permite o uso da

    temtica ambiental, podendo ser executada transversal e interdisciplinarmente, em todas as

    disciplinas, sendo uma ao possvel e parte integrante do fazer pedaggico cotidiano,

    independentemente da rea, bem como do nvel de ensino. na escola, principalmente no ensino

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    fundamental, que podemos observar os interesses dos alunos quando se desenvolvem atividades

    que estimulam a participao, tornando-os sujeitos ativos no processo. No entanto esta dinmica

    depende de docentes qualificados para esta questo (DIAS, 1994; DALRI, 2010).

    Consideraes

    O trabalho desenvolvido teve uma excelente aceitao por parte dos alunos, que mostraram

    grande interesse na temtica abordada e na manipulao e confeco de novos objetos a partir de

    outro que seria considerado lixo. Frente a isso, acredita-se que tenha sido possvel atingir o

    objetivo do projeto, que era a sensibilizao cerca do reaproveitamento.

    A anlise demonstrou que a prtica de Educao Ambiental na escola possui falhas ou nem

    praticada, observando-se claramente que atitudes sustentveis no esto includas na rotina dos

    alunos, tanto na escola quanto em casa.

    Referncias

    BASSANI, F; SILVA, F. L; SANTOS, M. L; SOUSA, L. S. Prticas de Educao Ambiental

    voltadas aos Resduos Slidos de uma Unidade Escolar de Conceio do Araguaia Par. II

    Co