UYRUHV GH Revi - Graduação em JORNALISMO – UFOP · Curinga propiciou reflexões. Para a...

32
1 Revista Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 | Novembro de 2011 nº 00 Revista Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 | Novembro de 2011 nº 00 Bandeira, megafone e marcha p.26 | Curinga pergunta: e a qualidade de vida? p.22 | Mochila nas costas, passaporte na mão p.10 Reforçar o orçamento com arte p.12 | Artur Versiane responde: e os jovens? p.6 | Poltrona, Prólogo e Refrão p.28

Transcript of UYRUHV GH Revi - Graduação em JORNALISMO – UFOP · Curinga propiciou reflexões. Para a...

1

Revista Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 | Novembro de 2011nº 00

Sobre crescer, mudar e amadurecer

Revista Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 | Novembro de 2011 nº 00

Bandeira, megafone e marcha p.26 | Curinga pergunta: e a qualidade de vida? p.22 | Mochila nas costas, passaporte na mão p.10

Reforçar o orçamento com arte p.12 | Artur Versiane responde: e os jovens? p.6 | Poltrona, Prólogo e Refrão p.28

Árvoresde vida

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufop

3

Editorial

ExpEdiEntE

Uma revista aberta ao debate e fechada ao preconceito. Assim se resume a ideia norteadora dos trabalhos da revista-laboratório do curso de Jornalismo da UFOP, a Curinga.

A premissa editorial – fazer uma revista de variedades voltada ao público jovem univer-sitário – veio antes, escolhida pelos alunos do sétimo período do curso de Jornalismo da Ufop. O nome da publicação veio depois, selecionado por parte de nosso público-alvo, em votação realizada por meio do Facebook. Assim como a carta de baralho, com diversas faces, papéis e valores, Curinga carrega a mesma proposta: informar, entreter e evidenciar valores ocultos em temas de interesse dos jovens.

Similar ao jogo, em que o Curinga se associa a outras cartas rumo à vitó-ria, na produção da Curinga três professores se uniram, cada qual atuando em um dos três eixos – texto, foto e planejamento gráfico –, em trabalho conjunto com cerca de trinta estudantes. Mais do que conhecimen-to teórico e prático para a futura atuação profissional dos alunos, Curinga propiciou reflexões.

Para a primeira edição, preparamos matérias que resumis-sem o objetivo das editorias: nossa matéria de capa discute a mudança de cidade (e de raízes) enfrentada por jovens em busca da graduação; Trocando cartas com traz uma conversa sobre símbolos de status na juventude; Mochilão fala de tipos de intercâmbio; Outro Cam-

pus mostra estudantes que fazem do seu talento uma renda; Retina traz fotos sobre a marcha dos indgnados; Transborda discute o conceito qualidade de vida; Poltrona trata do Brasil como produtor e cenário cinematográ-fico; Refrão aponta novas formas de divulgação musical; e em Prólogo

os livros bibliográficos marcam presença.

Esperamos que a Curinga ajude você, lei-tor, a ter sempre uma ideia na manga!

Boa leitura!

Curinga é uma publicação da disciplina Laboratório Impresso II - Revista produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Ufop - Universidade Federal de Ouro Preto.

Editor-geral e jornalista responsávelRuleandson do Carmo - 12440/MGEditora de planejamento visualPriscila BorgesEditor de fotografiaAnderson Medeiros

Equipe: CAPA E SUMÁRIO - Diagramação e Direção de Arte Simião Castro Ilustração Lucas Lameira Editorial e expediente Enrico Mencarelli TROCANDO CARTAS COM - Produção: Douglas Gomides e Rayanne Resende | Texto: Mayara Gouvea | Edição de Texto: Lucas Araujo | Fotografia: Sophia Figueiredo | Diagramação: Sabrina Carvalho | Edição de fotografia: Sara Oliveira | Direção de Arte: Yumi Inoue | Revisão: Tábatha Campelo MOCHILÃO - Edição de Texto: Sabrina Carvalho | Produção e Texto: Sara Oliveira, Tabatha Campelo e Yumi Inoue | Edição de Fotografia: Fábio Seletti | Diagramação: Amanda Rodrigues | Direção de Arte: Lucas Lameira | Revisão: Mateus Fagundes OUTRO CAMPUS - Produção: Lucas Lameira | Texto: Dalila Carneiro e Fábio Seletti | Fotografia: Simião Castro | Edição de Texto: Mateus Fagundes | Diagramação: Sophia Figueiredo | Edição de Fotografia: Lorena Caminhas | Direção de Arte: Raísa Geribello | Revisão: Thales Lelo MATÉRIA DE CAPA - Produção: Allãn Passos e Luiza Lourenço | Texto: Leidiane Vieira e Olívia Mussato | Fotografia: Allãn Passos, Leidiane Vieira e Luiza Lourenço | Edição de Texto: Amanda Rodrigues | Diagramação: Luana Viana | Edição de Fotografia: Marcelo Quintino e Dalila Carneiro | Direção de Arte: Rodolfo Gregório | Revisão: Fernando Gentil TRANSBORDA - Produção e Edição de Texto: Lorena Caminhas | Texto: Enrico Mencarelli e Thales Lelo | Fotografia: Raísa Geribello | Diagramação: Paulo Dias | Edição de Fotografia: Mari Fonseca | Direção de Arte: Beatriz Noronha | Revisão: Ana Cláudia Garcêz RETINA - Produção: Ana Cláudia Garcêz, Mari Fonseca, Paulo Dias | Texto: Beatriz Noronha | Fotografia: Beatriz Noronha | Diagramação: Olívia Mussato | Edição de Fotografia : Allãn Passos | Direção de Arte: Luiza Lourenço | Revisão: Leidiane Vieira REFRÃO, POLTRONA e PRÓLOGO - Produção e Texto: Fernando Gentil, Luana Viana, Marcelo Quintino e Rodolfo Gregório | Diagramação: Mayara Gouvea | Edição de Fotografia: Douglas Gomides | Direção de Arte: Lucas Araujo | Revisão: Rayanne Resende Revisão Fotográfica geral: Fábio Seletti

EndereçoRua do Catete 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MGTiragem: 1.500 exemplaresNovembro 2011Impressão: Gráfica ConceitoCartas do leitor: Para comentar as matérias ou sugerir pautas para a nossa próxima edição, envie e-mail para [email protected]

Ruleandson do CarmoEditor-geral da Revista Curinga

Projeto Gráfico:Allãn PassosLucas Lameira Luiza LourençoSimião Castro

4

novembro de 2011

p. 12

p. 26

p. 16Árvores da vidaAdaptar-se a novos lugares e realidades é inevitável

Talentos setransformam

em rendaO dom dos universitários

além da faculdade

Marcha dos indgnados

p. 28Refrão

5

p. 6p. 10

Passaporte para o conhecimentop. 29

Poltrona

p. 30Prólogo

p. 22Para onde vai sua qualidade

de vida?Uma discussão sobre os

parâmetros de “bem estar”

Trocando cartas com Arthur Versiani

Símbolos de status na juventude

6

Trocando cartas com Arthur Versiani

Símbolos de Status na

FOTO: SOPHIA FIGUEIREDO

7

TExTO Lucas Araujo e Mayara Gouvea EDIÇÃO GRÁFICA Sabrina Carvalho

Status s. m. 2 núm. 1. Estatuto ou situação de uma pessoa ou entidade. 2. Estatuto privilegiado. Palavra que influencia a vida dos jovens.

Bebida, consumo e aparência são status da juventude contemporânea. A palavra de quem já passou por essa fase é fundamental para a discussão do assunto, ainda mais quando se tra-ta de um adulto de alma jovem. É o caso do doutor em Educação Arthur Versiani.

Nosso entrevistado está em todas as rodas conversando desde história do Brasil até o último jogo da NBA. Amante de basquete, o Diretor do IFMG - Instituto Federal de Minas Ge-rais é presença nos jogos do campus ouro-pretano. É com ele que vamos trocar cartas.

JuventudeSímbolos de Status na

8

O bullying é algo seríssimo. Sempre existiu, mas hoje o jovem pratica o bullying por muito menos coisa! Qualquer defeitinho vira um apelido pejo-rativo, que pode levar à bulimia, anorexia.

C: Certos comportamentos carregam estigmas que podem afetar negativamente o status do indivíduo. Como você ana-lisa essa forte desaprovação de características ou crenças pessoais?

V: Algumas crenças pessoais são aceitáveis, outras não. Eu acho que hoje há mais tolerân-cia. Mas por outro lado há essa cobrança violenta pelos padrões dominantes, hegemônicos. Se você não está enquadrado nele, você passa a fazer parte de grupos marginais. Existem as tensões sociais entre centro e periferia. A gente vê que há uma certa violência na referên-cia de um com o outro. O cara do morro falando do playboy.

C: Como você analisa a ne-cessidade que os jovens têm de fazer ações como beber e fumar para se tornarem pertencentes a um grupo?

V: Esse é um fenômeno mais novo, que os jovens usam pra

C: A juventude de ontem desafiava a cultura da competi-ção, “não confiava em ninguém com mais de 30 anos” e vestia-se com um desmazelo proposi-tal. O jovem de hoje reformulou seus conceitos, preocupando-se com a qualidade de vida e não desprezando a valorização do aspecto físico, característica de sua idade. Até que ponto chega a supervalorização do aspecto físico?

V: Essa supervalorização do corpo é algo que atinge toda a sociedade. Chegou ao jovem, claro, mas as pessoas mais velhas também se preo-cupam com isso. A diferença é que o jovem vira o padrão de beleza, então ele quer estar enquadrado nos padrões de consumo, se preocupa com a moda, e faz isso sem pudor. Eu aprovo. Primeiro que eu gos-to da beleza em todas suas for-mas. Algo que eu acho legal é o jovem buscar a beleza no que é diferente. Há modismos, lógico, mas o jovem quer ser único e parte em direção à criatividade, o que é muito legal.

C: Na sociedade atual os jo-vens têm dado muito atenção à aparência. O que você acha de meninas de 15 anos já fazen-do cirurgias plásticas para se tornarem “mais bonitas”?

V: Sempre há um risco de isso virar uma patologia, já que o homem peca muitas vezes pelos excessos. Essa busca desenfreada também gera uma competição, aquela vontade de estar dentro dos padrões, o medo de ser rejeitado... Isso acaba virando uma paranóia e o jovem quer de qualquer modo estar encaixado no que se entende como ideal, e passa a ser um ideal massacrante. E o jovem também é cruel demais.

“Essa é a dificuldade, vencer a natureza humana. Ela está inclinada a ir para o prazer”

CURINGA: Há quanto tempo você trabalha com os jovens?

VERSIANI: Eu tenho vinte e tantos anos dedicados a traba-lhar com a juventude porque sou professor e desde sempre atuei no Ensino Médio. Há dez anos também comecei a tra-balhar com o Ensino Superior. Tenho um gosto muito grande por atuar no esporte, já atuei como atleta, técnico da Seleção ouro-pretana de Basquete. É um envolvimento muito grande que a gente tem com os meni-nos e por isso acaba se tornando um pouco jovem também ao passar tanto tempo junto com eles. E também tenho o traba-lho com o projeto Timbalê, que é focado no audiovisual, mas que também trabalha com a inclusão digital, educação patri-monial, teatro, música, reforço escolar, recreação. Enfim, várias ações que envolvem jovens mais carentes, que vivem em uma realidade de grande vulnerabili-dade social.

C: Diferentes gerações, di-ferentes status. Quais eram os status dos jovens na sua época?

V: Nos últimos trinta anos, a mudança em relação a status na juventude foi muito gran-de. Na minha época, era uma juventude mais provinciana, mais preocupada com questões locais, pouco antenada nas coisas do mundo. Aqui em Ouro Preto, a gente tinha um círculo muito fechado de amizades, o que nos levava a ter poucas ambições. A gente não tinha muito conhecimento de mundo. Por outro lado, o provincianis-mo nos aproxima da natureza, inclusive a natureza humana, mais difícil de lidar, e isso nos tornava mais espertos, de certo modo, para driblar os proble-mas que apareciam.

9

superar a timidez. A questão de pertencer a um grupo é a que mais preocupa os pais. Começa na escola e depois na faculdade, quando os jovens saem de casa, vão morar sozinhos e têm que se agrupar. São quando eles ganham uma liberdade muito grande. Quem não se agrupa já é estigmatizado como anti-social, e aí as pessoas já não querem mais ficar perto dele, e ele se isola cada vez mais, é um círculo vicioso. Enquanto o po-pular, que está em um grupo, se submete a várias coisas, inclusi-ve às sessões de tortura que são esses trotes. Há uma perda de dignidade. São ritos de passa-gens pelos quais eles têm que passar para entrar no grupo. E, se estiver fora, está perdido!

C: Alguns jovens parecem se utilizar do consumo como uma fuga da rotina. Como você vê esse consumismo excessivo? Quais as consequências disso?

V: Hoje você tem que frear o consumo senão a natureza vai embora, e o jovem tem que en-tender isso. Um consumo mais responsável, com qualidade. Esse consumismo frívolo é uma característica marcante do sta-tus da juventude atual. Eu acho engraçado que mesmo os jovens dessas tribos mais alternativas são consumistas.

C: Como você vê a participa-ção do jovem na política hoje?

V: O jovem precisa de uma motivação pra agir e a própria sociedade não propicia isso. Eu não atribuo a alienação polí-tica do jovem a uma condição da juventude, mas sim a uma apatia social generalizada face à desilusão das ideologias.

C: Alguns estudiosos acredi-tam que o fato de realizar uma

faculdade, as vezes, está ligado muito mais a uma obrigação de pertencer a um determinado grupo da sociedade, do que a vontade de realizar tal curso. Isso realmente acontece?

V: Acontece. A pessoa faz um curso pra ter um diploma, por uma questão de status. Tem muito emprego que exige qualquer diploma universitário. Existe uma tendência de certos pensamentos corporativistas de achar que o cara entra no curso e tem que ter aquela fatia do mercado garantida. Todo mundo quer fazer reserva de mercado pra si. Eu acho que qualquer curso superior pode sim propiciar um de-senvolvimento huma-no, importante é o cara acabar se descobrindo ali ou então descobrir um caminho alternativo.

C: O tempo da universidade se torna como o “período de relativa liberdade de respon-sabilidades” especialmente àqueles que mudam de cidade. Como você analisa essa res-ponsabilidade dada aos jovens universitários?

V: Aquele que não tiver responsabilidade não vai saber lidar com a liberdade. Na uni-versidade, o pessoal vem mais de longe, tem a questão das repúblicas, a questão da aceita-ção. O jovem vem com grande liberdade, que é a maior vonta-de do ser humano. É isso que a gente precisa desfrutar na vida, especialmente quando a gente é jovem, que a gente tem ousadia, saúde, espírito de aventura, curiosidade, que é uma das coi-sas mais importantes. Aqui em Ouro Preto, em especial, a gente tem a exacerbação dos prazeres. Se você quiser ir em festa de segunda a segunda, você vai. As

regras têm que ser postas por si próprio, essa é a dificuldade, vencer a natureza humana. Ela está inclinada a ir para o prazer, você quer ir para o prazer. Você está longe de casa, a universida-de não é repressora e a socieda-de hoje é permissiva.

FOTO

: AR

QU

IVO

PE

SS

OA

L

10

Intercâmbio SocialGabriella Guimarães, 21

anos, conseguiu realizar o intercâmbio social por meio do programa Cidadão Global da AISEC, organização formada por estudantes que promovem mobilidade internacional. A estudante de Ciências Biológi-cas da PUC-Minas viajou para a Indonésia por seis semanas.

Lá, pode dar aulas voluntá-rias de inglês para alunos de en-sino médio e no curso de inglês da vila Gresik. Com o objetivo

de, juntamente com o trabalho social e aperfeiçoamento da lín-gua, conhecer também outras tradições e lugares, Gabriella visitou vários locais, como a mística Bali. “A finalidade dessa proposta era desenvolver o meu potencial, sair da rotina, e aju-dar as pessoas sem esperar nada em troca”, afirma.

Cursos de línguas Viajar para o exterior é uma

forma de aprender ou melhorar um segundo idioma. O estudan-

te de Ciência da Computação da Ufop, Tales Mota, foi para a Inglaterra a passeio, mas apro-veitou para fazer um curso de inglês em uma escola na cidade de Bournemouth. “Foi uma ex-periência diferente. É claro que o período de viagem não serviu só para estudar, aproveitei para conhecer metade da Inglaterra e também Paris”, conta.

Mobilidade AcadêmicaAlunos de universidades

brasileiras têm a disposição convênios com instituições de ensino superior em diversos pa-íses. A estudante de Arquitetura e Urbanismo, Marília Coutinho, encontrou no intercâmbio uma forma de complementar os estu-dos e aperfeiçoar outro idioma. A escolha pela Argentina foi motivada pelo déficit de conte-údos latino-americanos relacio-nados ao curso no currículo da Universidade Federal do Ceará. “Não acho justo conhecer mais sobre arquitetura e urbanismo da Europa do que dos países vizinhos ao meu”, diz.

P a s s a p o r t epara o conhecimento

Muitos jovens sonham em passar um período fora do país. Co-nhecer novos lugares, línguas e culturas é uma oportunidade não só de entretenimento, como também de aumentar a experiência no currículo. Por isso, muitas pessoas optam por realizar esse sonho na faculdade ou em cursos posteriores.

TExTO Sara Oliveira, Tábatha Campelo e Yumi InoueEDIÇÃO GRÁFICA Amanda Rodrigues

Gabriela fez intercâmbio na Indonésia, onde foi professora voluntária de inglês para crianças no distrito de Gresik

10

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Mochilão

11

Doutorado SanduícheDepois da graduação e do

mestrado, alguns alunos come-çam a pensar em um doutora-do. Para eles, existe a oportuni-dade de fazer parte do curso em outra universidade do Brasil e até do exterior. São os chama-dos doutorados sanduíche. O processo de escolha do país e da instituição de destino se asse-melha com o de quem vai para uma mobilidade acadêmica.

A aluna do doutorado em Biologia na Universidade Federal de Ouro Preto, Caro-lina Morais, se prepara para a viagem à cidade de Baltimore, nos Estados Unidos, onde vai estudar na Catholic University of America. “Optei pelo dou-torado sanduíche, pois terei acesso a tecnologia de ponta e técnicas novas que ainda não dominamos no Brasil”, diz.

Trabalho no ExteriorOutro exemplo de intercam-

bistas são os que aproveitam a viagem para trabalhar. A opção é válida, já que o dinheiro arre-cadado colabora para que o es-tudante possa conhecer outros lugares e fazer cursos.

Marcello Nonatto, estudante de Direito da UFOP, é um exem-plo de intercambista que usou o trabalho para custear gastos nos quatro meses em que ficou nos Estados Unidos. “Eu não pagava pela moradia, pois como trabalhava em um hotel, ganha-va a hospedagem”, explica.

Países da Europa também são destinos muito visados. Iara Cardoso, também estudante de Direito da UFOP, passou dez meses na Irlanda e aproveitou para conhecer o continente. Os trabalhos como au pair - babá residente em casas de família - e divulgação para uma empresa colaboraram para o pagamen-to da viagem, que custou em torno de R$ 10 mil, mas não a impediram de aproveitar ao má-ximo a temporada no exterior. “É uma situação de desafios constantes, mas com grandes recompensas”, afirma.

É preciso conhecer quais são as opções de convênios que a sua universidade possui. Depois, é preciso descobrir detalhes como o custo de vida, o valor do real frente a moeda local, o funcionamento do sistema de saúde, transporte, segurança, moradia e, claro, a cultura do lugar para onde se quer ir.

Quem deseja fazer o doutorado-sanduíche, pode obter bolsas de auxilio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou do Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para isso, é preciso ser aprovado pela universidade de origem, apresentar a documentação exigida e esperar pela avaliação da Capes ou do CNPq.

O visto de entrada e de permanên-

cia no país de destino é outro detalhe importante.

No caso da Argentina, é possível entrar no país apenas com a

carteira de identidade. Mas, vale lembrar que é necessário ter

um visto de permanência depois de 90 dias. Lembrando que

as universidades exigem que o aluno esteja em uma situação

legal dentro do país.

As universidades analisam cur-

rículos, cartas de intenções, e

em alguns casos, os conheci-

mentos do aluno em relação ao

idioma local.

Check-in

Marília Coutinho conheceu outros países do continente

O trabalho ajudou Iara a bancar a viagem

11

FOTO

: AR

QU

IVO

PE

SS

OA

LFO

TO: A

RQ

UIV

O P

ES

SO

AL

12

Talentosse transformam em renda

Outro Campus

Sonhar é preciso. Mas é necessário que seja com os pés num chão por vezes esburaca-do, lotado de pedras e espinhos. E, então, uma vez superados os desafios, pode-se sonhar de novo e de novo, pois é assim o ser humano: cheio de anseios, de angústias, de alegrias. Cheio de vida.

É no universo da juventude que as ideias são afloradas e centenas de obras elaboradas; os sonhos, sonhados.

Maquiagem, dança, música e artefato. A vida universitária, além de favorecer a formação de novos profissionais capacitados para o mercado, aguça o desejo de envolvimento com a arte de muitos desses. Conheça a história de universitários que, por meio da arte, conquista-ram fama, dinheiro ou apenas o reconhecimento por um trabalho bem feito.

TExTO Fábio Seletti e Dalila CarneiroEDIÇÃO GRÁFICA Sophia Figueiredo

12

13

se transformam em renda

Misticismo e maquiagemE tudo começou em Ubera-

ba, no Triângulo Mineiro. Lá, o estudante Jairo Alna, entre pincéis e alicates, blushes e sementes, rostos e colares, aprendeu os ofícios da arte material. Nas noitadas, em meio às drag queens, conheceu a arte da maquiagem e como se divertir com os seus estere-ótipos. Também aprendeu com uma artesã, Morgana, a trançar pedras e a energizá-las e, ainda, a manipular filtros que fazem as pessoas sonharem bem. Técnica e mística. Material e imaterial.

As circunstâncias que rode-avam Jairo o fizeram se interes-sar por maquiagem. Ele conta que em Uberaba, em meados de 2007, havia um grande precon-ceito contra os homossexuais em geral. Nessa época ele tinha 22 anos. A intolerância também atingia homens que se vestiam de mulher, inclusive os hete-rossexuais. A resposta a esse preconceito? Foi um certo forta-lecimento da causa gay e, com isso, o aumento do número de drag queens na cidade. Aquele universo drag – colorido, humo-rístico, mas nem por isso pouco denso – chamou-lhe a atenção. “O único jeito de entender esse processo é mergulhar nesse universo”, afirma Alna. E ele mergulhou. Fez da diversidade de seu talento a diferença, e a sua profissão.

Quando passou no vestibu-lar, este desejo de mergulho não foi extinto do coração de Jairo. Pelo contrário, foi reforçado. “Entrei na faculdade de Artes Cênicas em 2008 e tive uma ca-deira chamada Caracterização”, diz. Ele teve novamente acesa em si a chama da arte material.

O estudante tem como seu tipo favorito a maquiagem

Jairo maquiando atores do curso de Cênicas da Ufop

O estudante prefere maquiagens artísticas

FOTOS: SImIãO CASTRO

artística. “Tem maquiagem que termino e choro. Não pelo pra-zer estético, mas pelo retorno que a pessoa me dá”, emociona-se. E lembra-se da história de um curta metragem no qual maquiou a atriz principal. É so-bre a história dos devaneios de uma enfermeira. “No começo ela era uma enfermeira simples: cabelo amarrado, com cara de

cartaz de hospital. Ela tinha o sonho de ser uma pop star. No fim, ela tinha os cabelos todos trabalhados no cabeleireiro, “com cílios postiços e figurino de saia curtinha, luvinhas brancas e um batom que aumentava seus lábios”, conta ele, empolgado.

Jairo, todavia, não é somente um maquiador. Também tem ou-tros “dotes” artísticos. Ele faz artesanato, tendo como preferência, trabalhar com pedrarias e “filtro dos sonhos”. Mas o estudante não se restringe apenas aos trabalhos artísticos. Jairo também garante seu retorno financeiro trabalhando para eventos, como batismos, formaturas e casamentos. “Dá para conseguir uns R$ 150 reais por final de semana”, afirma.

Nas questões relacionadas à mística, o estudante é meticuloso, e sempre há crença para influenciar. Nesse sentido, o entrelaçamento dos fios se emenda com o processo espiritual da sua arte. “Gosto de trançar pedras em lua cheia. Nunca [tranço] em lua minguante”, diz. Artesanato e maquiagem ajudam Jairo a permanecer na facul-dade. Mas também financiam a sua diversão, “tomar uma cerveja com os amigos e [fumar] uns três cigarros”.

14

Fernanda em momento de criação

Arte que vem de berçoBolsas, carteiras, broches, roupas, bonecos.

Tudo produzido por uma mente criativa e mãos pacientes. Não é por acaso que Fernanda Ribeiro é artesã. Desde pequena, sua avó já lhe ensinava corte e costura. A menina cresceu. Seu desejo pela arte também.

Foi na escola que começou a vender suas peças. Nessa época produzia cordões, pulseiras e cintos confeccionados com elástico. Hoje, Fer-nanda é graduanda em História na Universidade Federal de Ouro Preto e seus colegas são seus principais clientes.

Mas o talento da jovem não se restringiu ape-nas a Mariana, onde reside atualmente.

Uma estudante belga, de passagem pela cida-de, encantou-se com uma de suas peças. “Minha carteira está na Bélgica”, revela Fernanda.

Com o dinheiro que ganha a partir da venda de artesanatos, Fernanda se diverte com amigos e compra livros para a faculdade. A renda ainda não supre todas as necessidades da estudante. Ela já tentou vender suas obras para lojistas, mas alega que os comerciantes oferecem um baixo valor pelo produto.

Fernanda deseja mais tempo para produzir suas peças. Ela almeja também se graduar em moda, cursar mestrado em História da Arte e criar sua própria marca. Enquanto luta para realizar

15

Coreografia de um sonhoViver da arte é o sonho

profissional de muitos. Fazer o que gosta, se doar por inteiro e de diversas formas a esse tão extenso universo cultural e ain-da conseguir achar uma forma de viver. Muitos passam a vida inteira tentando realizar os sonhos e, em muitos casos, não conseguem alcançar o sucesso desejado.

Mas, essa não é a história de Georgianna Dantas. Aos 21 anos, ela já conquistou sua independência financeira fa-zendo arte. Graduanda de Artes Cênicas da Ufop, ela partilha seu tempo entre os estudos e as aulas de dança que leciona para estudantes em Mariana e do distrito Bento Rodrigues.

Ela ministra 18 aulas se-manais. Nos encontros, Ge-orgianna procura desenvolver um trabalho voltado para a expressão corporal e educar os alunos através da arte da dança. “Não é simplesmente ensinar

Diversão que virou trabalhoAs noites da capital mineira já faziam parte da

rotina de Luísa Reiff. Entre baladas e drinks, a es-tudante de jornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) começou a se interessar pelo universo da música eletrônica.

Aos poucos, passou a discotecar com amigos uma música ou outra. Mesmo sem muito espaço para demonstrar seu talento, a DJ que ali nascia era decisiva em suas aparições e, assim, foi con-quistando espaço nas casas noturnas.

Hoje é um das DJs mais influentes no cenário belorizontino. Contudo, Luh Reiff, como é conhe-cida artisticamente, ainda sente aquele “friozinho na barriga” de vez em quando. Para ela ainda há muito caminho pela frente. “Venho me empe-nhando para aprimorar meu trabalho diariamen-te. Ou melhor, noturnamente”, brinca.

Novidades, estilos e tendências são acompa-nhados de perto por ela. Uma caprichada pré-

produção que justifica o sucesso de suas baladas. “Cada público é um, preciso sempre me preparar antes de um show”, revela Luísa.

Dividindo o tempo entre a noite e os estudos, Luh espera ainda que outra paixão se torne tra-balho. Ela escreve ainda para o blog NafilaA. Ela quer um dia também ser reconhecida nessa área. Obstinada, não há dúvidas de que ela provavel-mente conseguirá.

passos coreografados, a dança tem muito mais a oferecer. Sou responsável por formar a visão crítica e criativa dessas crian-ças”, pondera a artista.

Para deixar tudo mais diver-tido, são utilizados instrumen-tos musicais, lenços, brinquedos e até filmes. O humor corporal de Charlie Chaplin faz parte da didática da professora. “Tem pessoas que acham que ele não tem nada a ver com dança, mas eu acho que tem tudo a ver” explica Georgianna, cujos olhos brilham ao falar do assunto.

A arte se tornou uma sa-tisfação profissional e pessoal. Após uma apresentação de dança dos alunos, a professora se alegra com o resultado. “Fo-ram poucos meses de trabalho e já posso ver a evolução deles”, orgulha-se.

Georgianna se empenha para concluir a graduação e poder se dedicar integralmen-te à carreira profissional. Ela tem a expectativa de continuar vivendo de arte – a sua arte.

seu sonho, a estudante “subli-ma” seus sentimentos fazendo artesanato. Para ela, arte é uma forma de exteriorizar seus pen-samentos e, por isso, o homem que não cria, não é ser humano. “Cada peça é única e resultante de um processo. É a visão do artista que cria a identidade da obra”, reflete.

FOTO: DIVULGAÇãO

15

16

Raízes servem para fixar. Levam nutrientes e outros alimentos do solo para toda estrutura de uma árvore. Protegem contra as instabilidades provocadas pelo vento ou pelas adversidades do mau tempo. Mas as mudanças intensas no terreno ou outras inter-venções exteriores podem modificar o destino já previsto para o ser vivo.

O ser humano compartilha deste mesmo destino. Criamos raízes em solos familiares, em colos afetuosos. Porém, a vida nos impõe uma condição: transformar para sobreviver. Permitir que as nossas folhas e sementes sejam levadas para outros lugares. Buscar a adaptação inevitável para que nossas flores e frutos nasçam e continuem viçosos.

TExTO Olivia Mussato e Leidiane VieiraEDIÇÃO GRÁFICA Luana Viana

Árvores da Vida

AS (MU)DANÇAS DAS RAÍZES

16

17

Sem domínio total sobre a direção de suas partes, que necessitam de novos ares para crescer, a árvore deve aceitar que o afastamento pode ser necessário e compreender que suas sementes sempre carregarão seus ensinamentos e expecta-tivas por onde passarem.

Pequenas sementes seguem em busca de um terreno fértil para se instalarem. As opções são muitas. Só no Brasil, 2.314 instituições de ensino superior oferecem vagas anualmente em seus processos seletivos, segundo o Ministério da Edu-cação. Desafio para alguns, oportunidade para outros, a universidade é vista como um campo di-verso, com muitas trilhas e novas passagens para uma vida adulta que se avista logo à frente.

O Censo da Educação Superior de 2009 reve-lou o número de 5,9 milhões de universitários no país. Sementes geradas por diferentes árvores. Es-palhadas por lugares distintos. Ao se encontrarem no ensino superior, os novos seres estabelecem um espaço comum de troca de experiências, se apropriam da diversidade ali presente e se modi-ficam constantemente através do contato com o outro.

Lilian Cristina, Maria Augusta, Willer Moraes e Milena Gallerini, alunos de graduação da UFOP, são algumas dessas sementes que se aventura-ram e se dispuseram a crescer em outros solos. Planejamento, questionamentos, experimentação e auto-conhecimento fazem parte do percurso de cada um, revelando não só suas personalidades, mas também os anseios diante da vida.

17ILUSTRAÇãO: LUCAS LAmEIRA

18

Novo Ciclo

Enquanto somos crianças e estamos junto aos nossos pais, nos sentimos seguros, protegidos. Crescemos, e quando começamos a entrar na ado-lescência eis que surge o sonho de liberdade, pas-samos a nos achar donos do nosso próprio nariz. Nesta fase, tudo o que queremos é independên-cia. As interferências da família em nossas vidas se tornam até irritantes, às vezes. Terminamos o ensino médio e, para grande parte dos jovens, logo chega a hora de ir para a faculdade.

Alguns têm a possibilidade de continuar mo-rando com os pais; outros, por opção ou neces-sidade, acabam tendo que se mudar para outro município ou mesmo outro Estado, como é o caso da estudante Lilian Cristina Miranda. Desde quando cursava o terceiro ano do Ensino Médio, a jovem que morava na capital do Espírito Santo, Vitória, estava decidida a fazer o curso de História na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Sair da comodidade de casa e ir morar em um lugar ainda desconhecido, junto a pessoas nunca vistas antes, pode parecer assustador. Mas para Lilian não foi assim tão complicado. Ela se dizia psicologicamente preparada. Quando foi aprova-da no vestibular, já tinha se decidido que esse era o caminho que deveria seguir, e o apoio da família fez com que se sentisse segura. “Eu já tinha certa independência, desde bem cedo minha mãe já me acostumou a resolver as coisas sozinha. Então, quando eu cheguei aqui, no começo fiquei meio receosa, mas foi bem pouco.”

Lilian foi morar em uma república com outras três meninas. Era difícil administrar o dinhei-ro do mês para arcar com todas as contas. “Eu recebia o dinheiro e achava que estava rica, mas depois eu percebia que tinha um monte de contas para pagar e que não era assim.”

Mais que isso, a vida longe do aconchego de casa lhe ensinou a importância da tolerância, do respeito mútuo e da convivência com pessoas diferentes. Aprendizagem que fez com que Lilian estabelecesse fortes laços de amizade em sua república. A estudante também se viu encantada pela nova cultura com a qual convive. “Gostei muito da cidade, achei o povo muito simpático, acolhedor e muito festeiro. Prefiro a tranquilida-de, prefiro essa calma, essa paz do povo mineiro”, conta a capixaba.

Lilian Cristina, estudante de história da Universidade Federal de Ouro Preto

FOTO: LEIDIAnE VIEIRA

18

19

Além do Caule

Quem imagina que as incer-tezas sobre o futuro se acabam na escolha do curso nos exames de vestibular ou mesmo duran-te a matrícula em determinada instituição de ensino superior, pode estar enganado. Conhe-cendo a história do estudante de Ciências Econômicas da UFOP, Wiler Moraes, vemos que o período de transição entre a adolescência e a idade adulta pode ser repleto de dúvidas e desafios, além de novas e cons-tantes escolhas.

Viçosa foi sua primeira expe-riência fora de casa. Wiler saiu de Itabirito, sua cidade natal, e começou o curso de Ciências Econômicas na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 2006. Vida universitária no seu melhor estilo. Aulas, amigos, festas, liberdade. Liberdade... Liberdade... A sensação de controle total sobre sua própria vida não foi suficiente para que Wiler se sentisse feliz longe de casa.

Os quase duzentos quilôme-tros de distância entre Itabirito e Viçosa ficaram ainda maiores. Para ficar mais próximo da família, em 2009, o estudan-te resolveu cursar Direito na Unipac e Ciências Econômicas na UFOP, na cidade de Mariana,

que fica a cerca de cinquenta quilômetros de Itabirito.

“Liberdade versus conforto. Isso é morar fora de casa. Ao mesmo tempo em que você conhece pessoas e situações diferentes das quais já está acostumado e também faz laços importantes, toda sua rotina é alterada e você já não tem mais acesso a tudo que poderia ter enquanto vivendo em família”, explica Wiler.

De dezembro de 2010 a março deste ano, o estudante realizou um intercâmbio nos Estados Unidos. Wiler fez uma imersão na cultura americana e teve que “se virar” com o novo idioma. Empregos inusitados, amigos de diversas nacionali-dades, uma casa com morado-res novatos a cada semana. A estadia em San Diego, Califór-nia, foi movimentada. E mais do que a curiosidade despertada pelo novo lugar, o intercâmbio trouxe uma oportunidade para compreender sua própria reali-dade. “É através das dificulda-des que o crescimento é alcan-çado. Saindo do meu país de origem e vivenciando essa outra cultura, pude aprender muito e o principal, aprendi a lidar com outras regras”, enfatiza o estudante.

Wiler em suas viagens

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

19

20

Florescer é preciso

Há quatro anos, Milena Gallerini desembarcava em Mariana para cursar Letras. Nas malas, o sentimento de liberdade e as histórias de uma capixaba que já morou em di-versos estados do país, mas que, em 2007, teve que enfrentar sozinha o desafio da vida uni-versitária. Para ela, caminhar com as próprias pernas não é tão simples quanto parece. “Dar satisfações para você mesmo vai muito além do que responder às exigências impostas pelos pais”, ela diz.

“Antes de vir pra cá, eu não tinha nenhuma intimidade com a rotina doméstica. Sempre morei com meus pais, e a gente tinha empregada. Não sabia nem cozinhar, por exemplo”, conta. A mudança de cidade alterou também o trato com sua própria saúde. Ao ter que cuidar mais da sua alimentação, Mile-na viu que as fases de macarrão instantâneo e de sanduíches teriam que passar para que os hábitos saudáveis se tornassem comuns na agitada vida estu-dantil.

A decisão por uma república em Mariana foi crucial para que a capixaba se firmasse em solos mineiros. Sempre acompanhada pelas sete amigas de república, Milena não se sentia sozinha e as considerava uma segunda família. Já na reta final da gra-

duação, a estudante se mudou para uma kitnet com outra ami-ga para poder se dedicar mais aos trabalhos finais e ao projeto de iniciação científica.

Desde sua chegada, além de cumprir com seus compromis-sos acadêmicos, Milena sempre trabalhou, e aprendeu a valori-zar seu próprio dinheiro. “Com qualquer cinquenta centavos estou rica”, brinca. “Você tem que se virar sozinha, crescer a cada dia que passa”, conclui.

Consciente dos desafios da vida adulta, a estudante enten-de que este é apenas o começo de um novo caminho que se coloca diante dela.

“Já senti vontade de aban-donar tudo, ainda mais nessa reta final. Você vê que está se

formando e que as incertezas ainda são muitas. Mas o curso, as oportunidades de crescimen-to, as amizades e o namoro me deram suporte em todo esse tempo por aqui. Acho que tudo valeu a pena... Cada pequena coisa em todo esse tempo”, reflete.

Os novos solos podem trazer muitas incertezas para essas raízes tão jovens. Há terra suficiente para todas? Há água e alimento para nutrir os seus desejos e suas expectativas diante da vida? A profundidade da terra pode guardar as respos-tas, mas, somente a vitalidade de cada raiz pode desenhar seus próprios caminhos e, assim, so-lidificar os sonhos construídos por cada embrião.

Milena Gallerini trabalha na Assessoria de Comunicação Institucional da UFOP

FOTO: ALLãn PASSOS

20

21

Os frutos da convivência

Maria Augusta Tavares era uma daquelas pessoas que sonhava estudar fora de sua ci-dade natal. Logo que terminou o terceiro ano do Ensino Médio, foi aprovada no vestibular para cursar Pedagogia na UFOP. Era hora de abandonar São Gonçalo do Sapucaí, que fica no Sul de Minas Gerais, e seguir para Ma-riana em busca de novos hori-zontes que a fizessem conhecer outras culturas e pessoas.

Ao chegar na cidade, Maria Augusta teve de enfrentar a primeira dificuldade: encontrar um lugar para morar. Sem con-seguir uma vaga definitiva nas repúblicas, a estudante foi aco-lhida por uma delas para morar como “agregada”, ou seja, ela não tinha lugar fixo para dormir nem para guardar seus pertences, que ficavam distri-buídos nos guarda-roupas das moradoras. Até que uma vaga surgiu na casa e Maria Augusta conseguiu um quarto.

No início, havia o receio e a timidez diante das outras mora-doras, já que eram pessoas des-conhecidas. Mas, com o passar do tempo, Maria Augusta foi se soltando e hoje vê a repúbli-ca como sua própria casa. Aos poucos percebeu que conviver com indivíduos diferentes é enriquecedor. “Cada pessoa que você conhece te agrega uma

coisa nova”, garante. Mas reconhece também que dividir o espaço com pessoas diferentes é mais um desafio. “A convivência com as pessoas é algo que você tem que aprender todos os dias”, afirma.

Ainda no início de seu curso, Maria Augusta já nutre outros sonhos, como ter seu próprio em-prego, sua casa, suas coisas. Aprendeu o valor da palavra liberdade e não quer mais abrir mão dela. Liberdade que a fez compreender suas responsa-bilidades e ainda perceber que nem tudo acontece como e no momento em que se quer.

Maria Augusta aprendeu a conviver em uma república estudantil

LUIzA LOUREnÇO

21

FOTO: LUIzA LOUREnÇO

22

TExTO Enrico Mencarelli e Thales LeloEDIÇÃO GRÁFICA Paulo Dias

A qualidade de vida se tornou não só uma busca para quem quer ter equilíbrio, mas uma enorme discussão sobre o que é ou não aceitável como parâmetro de análise do bem-estar. Mas, afinal, o que é qualidade de vida?

Para tentar entender um pouco esta relação por vezes conflituosa, Curinga apresenta alguns dos luga-res mais comuns nos quais ela se faz presente.

Para onde vai sua qualidade

de vida?FOTOS: RAíSA GERIbELLO

FOTO DE FUnDO: bEATRIz nOROnHA

Corpo que come corpo. Vivo ou morto, o corpo consome.

Transborda

22

23

Quem vive com quali-dade?

Há indícios de que o termo qualidade de vida tenha sur-gido na literatura médica na década de 1930. De lá pra cá, diversas técnicas e métodos foram desenvolvidos no intuito de tentar mensurar os níveis de comodidade e conforto no dia a dia das populações. Em 1980, publicações médicas especializadas como a Directory of Ins-truments to Measure Quality of Life já apontavam 322 crité-rios para avaliação da qualidade de vida de camadas sociais. Em 1998, este número atingiu a marca de 446 instrumentos de análise. Porém, apesar de muitos esforços, uma controvérsia ainda persistia: é pos-sível padronizar uma definição de qualidade de vida?

Em meados da década de 1970, o pesquisador Augus Campbell já afirmava que a tal “qualidade de vida” ainda era uma entidade sobre a qual se falava muito, apesar de haver pouco consenso e compreensão de suas particu-laridades. Para se ter uma ideia da variedade de definições do conceito ao longo do tempo, é possível encontrar na literatura sobre o assunto cerca de quatro definições gerais. De uma defi-nição global –que não apontava muitas dimensões do termo e se continha em avaliar coisas como a satisfação e a insatisfa-ção das pessoas – as pesquisas foram avançando e a ideia de qualidade de vida foi sendo

cada vez mais associada à habi-lidades físicas e à saúde, até o ponto em que surgiram mode-los de trabalho que tentaram, enfim, fazer uma ponte entre as condições médicas e subjetivas dos indivíduos.

Ainda assim, o objetivo de boa parte dessas pesquisas era o de desenvolver critérios quanti-

de Janeiro, Joel Birman, diz que, atualmente, vive-se uma espécie de imperativo da quali-dade de vida. Não só na medi-cina, mas também nos meios de comunicação seria reforçada, constantemente, uma série de práticas ideais a serem seguidas por aqueles que querem ter au-toestima elevada e independên-cia. Receitas de alimentação se misturam com guias de viagem e práticas esportivas e terapêu-ticas. Viver com saúde passou a ser, segundo o professor, um estilo de vida para aqueles que querem fugir dos riscos futuros de uma dieta mal balanceada ou de um corpo pouco traba-lhado. Este desespero em fugir dos malefícios futuros criou, em contrapartida, um conjunto de novos anormais. Fumantes, obesos, sedentários, alcóolatras e tan tos outros são enquadra-dos segundo a seguinte norma: quem não segue as regras da qua lidade de vida, só pode ter problemas morais.

Como se mede a quali-dade de vida?

A mensuração da qualidade de vida parte dos princípios de desenvolvimento e de bem-estar social e individual, escolhidos a partir de parâmetros subje-tivos e objetivos. Os parâme-tros subjetivos, não materiais, relacionados a esse termo são amor, liberdade, solidariedade e inserção social, realização pessoal e felicidade. Por outro lado, os parâmetros objetivos, materiais, são compostos pelos fatores de alimentação, acesso à água potável, habitação, traba-lho, educação, saúde e lazer.

De acordo com resultados de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, a noção de qualidade de vida tem sido alterada e mode-lada a partir de fatores histó-

Vinho, virtude e o avesso disso: a ressaca social.

tativos para condições mais ge-rais daquilo que seria uma vida de qualidade. As críticas a essas propostas são muitas. Estudio-sos das Ciências Humanas, por exemplo, dizem que o emprego de técnicas unificadas acaba por favorecer respostas este-reotipadas dos entrevistados. Essas respostas só acabariam reafirmando ideologias que não dizem nada realmente sobre a vida em comunidade.

O psicanalista e professor da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e da UERJ – Universidade Estadual do Rio

24

res de saúde e acesso a cuidados médicos, emprego e condições de trabalho, recursos econômi-cos, educação, integração fami-liar e social, recreação, cultura e recursos políticos.

Para a Doutora em sociologia e professora da UFF – Universi-dade Federal Fluminense, Sele-ne Herculano, esses indicadores são informações resumidas e simplificadas. “Propomos que ‘qualidade de vida’ seja definida como a soma das condições eco-nômicas, ambientais, científico-culturais e políticas, coletiva-mente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas

potencialidades”, diz a pesqui-sadora.

Assim, medir a qualidade de vida seria marcar os níveis de conhecimento científico-culturais e políticos e as formas para seu estímulo em uma re-gião. Selene Herculano aponta alguns itens que segundo ela deveriam ser considerados in-dicadores de qualidade de vida: a produção e o consumo de ci-ência e arte, o acesso aos meios de comunicação e informação e a participação nos destinos coletivos e nos espaços naturais urbanos.

Qualidade na forma-ção tanto na universida-

de quanto na vidaA noção de qualidade de

vida se insere no cotidia-no como uma junção dos vários conceitos e indicado-res adotados ao longo dos anos. A cada dia as pessoas se apropriam dessa noção e tentam aplicá-la em seu dia a dia. Para o joven universi-tário não é diferente.

O período universitá-rio é tempo de escolhas. Desde as escolhas iniciais, que abrangem escolher o curso e a universidade, até as mais específicas, como com quem e onde morar. Essas últimas talvez sejam tão importantes quanto as primeiras, considerando o período médio de um curso de graduação, em torno de quatro anos. A qualidade da moradia e alimentação, o

acesso à cultura e ao lazer são fatores inerentes à qualidade de vida no decorrer da forma-ção acadêmica. Mas será que os estudantes universitários têm estes recursos à sua disposição?

A região dos Inconfidentes, com destaque para as cidades

ricos, culturais e de mudanças na estratificação social. Apesar disso, o conjunto de indicado-res para sua medição segue um padrão e busca juntar todos os valores culturais de conforto e bem-estar, como a satisfação na vida familiar, amorosa, social e ambiental.

Atualmente, a mensuração da qualidade de vida de uma população é feita a partir da avaliação das necessidades ma-teriais e não materiais da comu-nidade, isto é, através da análi-se dos recursos disponíveis, da capacidade de os grupos sociais satisfazerem suas necessidades e dos consequentes graus de sa-tisfação ao atingirem patamares de cidadania desejados.

Para essa avaliação, são consideradas três grandes áreas de atuação: as condições mate-riais, as necessidades sociais e o crescimento pessoal. Elas são medidas através dos indicado-

Causa da morte: equívoco recorrente.

O conflito ecoa no mantra ocidental.

25

de Ouro Preto e Mariana, é conhecida pelos fortes atributos culturais, tanto da cultura material das igrejas e construções históricas, como da ri-queza imaterial, presente nas tradições popula-res. Porém, a dualidade entre passado e presente causa alguns problemas àqueles que procuram conhecimento na região.

Um desses transtor-nos é a dificuldade em encontrar um lugar pra morar. Com a super-população do centro histórico, no caso de Mariana, os estudantes têm procurado moradias distantes do campus uni-versitário. A alta procura imobiliária - relacionada à migração de traba-lhadores vinculados às mineradoras e aos novos cursos da Universidade Federal de Ouro Preto - reflete nos altos preços dos alugueis.Consequên-cia - a superlotação de morado-res por domicílio.

Mas não só de lamentos vi-vem os estudantes de Mariana. Com um preço camarada de R$ 2,00, o popular “bandeijão” ga-rante uma refeição de qualidade no dia a dia acadêmico. E se morar é difícil, sair de casa não é um desafio tão grande. Desde eventos grandes, como o Fes-tival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, o Festival Tudo é Jazz e o Festival da Vida, a vida cultural da cidade também é incentivada por alguns coletivos culturais, como a companhia de Teatro Lunática e os coletivos Baobá e Muzinga. E as super-lotadas repúblicas que saem da rotina com festas a preços “uni-versitários”, por assim dizer.

As múltiplas formas de bem viver Diante de diversas visões sobre a ideia de qualidade de vida, surgem algumas dúvidas: o que elas dizem para aqueles indivíduos que se preocupam com seu bem-estar diário? É ou não é necessário se preocupar com uma vida de melhor qualidade?

É preciso ponderar sobre dois aspectos essenciais. O primeiro aspecto é que a busca por uma vida de me-lhor qualidade nem sempre é uma escolha individual. As disparidades socioeconômi-cas entre as diversas cama-

das sociais interferem muito na possibilidade de poder alcançar mu-danças no atual estilo de vida. Por isto, cabe aos governos oferece-rem, através de políti-cas públicas, condições para que os cidadãos possam desfrutar um cotidiano mais promis-sor do ponto de vista do bem-estar.

O segundo aspecto a ser considerado é que, embora a qualidade de vida seja um parâmetro razoável de mensuração de expectativas que é pressuposto para aque-les que dizem desfrutar o cotidiano; ele não é a única forma de garantir quem é ou não é feliz e muito menos um limiar entre os moralmente satisfeitos e os desa-fortunados. A própria ideia de qualidade de vida sofreu amplas alterações ao longo das

décadas, e até hoje a questão da subjetividade incomoda aque-les que desejam desenvolver recursos estatísticos genéricos para a apreensão garantida des-se conceito nos mais distintos conjuntos socioculturais.

Há sim outras formas de viver bem que vão além da-quelas catalogadas no manual. Não seguir à risca ou não estar enquadrado na lista daqueles que possuem cientificamente “qualidade de vida”, não quer dizer que se esteja vivendo um momento ruim. É necessário perceber que há uma infinita gama de culturas e de projetos de vida, e que nem sempre es-sas múltiplas variâncias podem ser compreendidas segundo um modelo geral.

Ação: censura hereditária. Reação: insatisfação crônica.

26

Era dia 15 de um outubro indignado!Gente, cor, bandeira, papel, abraço, primavera, angústias, povos, toque, cor-

pos, passos, ideias, vozes, alarmes, panfletos, máscaras, mãos, olhos, gente! Capitalismo. A inflação. As bolsas. O estômago. A fome. O desemprego. As quedas. As vidas. Os medos. As utopias. O desejo. As superfícies. O ralo. As pri-sões e os avessos. No dia 15 de outubro, espalhadas ao redor do mundo e nas principais capitais, marcharam inúmeras pessoas a caminhar em pensamentos, reflexões e ânsias humanas.

Marchas: não aceitação das determinações de uma burocracia caquética, de instituições empoeiradas, de estante! Avante! Na cadência harmônica das vibran-tes melodias e letras viscerais é que se segue – “É preciso estar atento e forte!” (Gilberto Gil/ Caetano Veloso).

TExTO beatriz noronha EDIÇÃO GRÁFICA Olívia Mussato

RetinaIlu

stra

ção:

Lui

za L

oure

nço

dosMarcha

IndIgnados

26

27

IzA

bE

LLA m

AG

ALH

/àE

SSevilla, Espanha

bE

ATRIz

nO

RO

nH

A

IzA

bE

LLA m

AG

ALH

ãE

S

bE

ATR

Iz n

OR

On

HA

nAT

áLI

A G

OU

LAR

T

Buenos Aires, ArgentinaBelo Horizonte, Brasil

Sevilla, Espanha

Belo Horizonte, Brasil

Buenos Aires, Argentina

dos

nAT

áLI

A G

OU

LAR

T

27

28

Refrão Lado B

Há quanto tempo você náo vai a uma loja de CD’s? Talvez para conhecer as novas tendên-cias, ou as novidade de seu artista predileto, ou ir “de bobeira” ouvir algumas faixas de bandas

conhecidas, programinha comum há um tempo. Mas, antes de sair de casa, você pensa em todo o trabalho que terá e vê o computador, a internet, a cama, aí, já era... A comodida-

de está bem à sua frente, com um detalhe extremamente importante: gratuitamente.Na verdade, os CD´s (os originais, pelos menos) não estão tão presentes no

nosso cotidiano como já estiveram. E aí, depende do suor e da criatividade do artista para estar, de alguma forma, presente na vida do público. Daí entramos

nas novas formas que estes encontram para estar em evidência, usando uma ferramenta bem acessível: a Internet.

Na briga das gravadoras, a distribuidora digital sueca X5 Music Group AB passou a licenciar catálogos de outras companhias, propondo novos agrupamentos de músicas e a venda pela web. Grande parte das cole-ções da X5 contendo até 100 músicas, custam menos de US$ 8. Dessa forma, a empresa, que surgiu no mercado há 5 anos, se tornou con-corrente direta no mercado de música clássica da tradicional Universal Music Group. A diferença é que a Universal concentra suas forças no lançamento de CD´s, que têm um custo muito maior.

Há artistas que encontram formas alternativas de mercado, tornando-se sucesso de vendas a partir do êxito em outras mídias. Com apenas dois álbuns, Adele, cantora e compositora britânica, conseguiu

seu primeiro contrato com uma gravadora a partir de seu perfil no MySpace. Depois de performances invejáveis em programas de televisão,

a cantora se tornou fenômeno na web, nas paradas de sucesso e o êxito se estendeu para o mercado, aumentando significativamente a venda de

CD´s. Adele é hoje, segundo a Billboard, a cantora que mais vende CDs em todo o mundo. No cenário nacional, dois grandes nomes da música já se

renderam à internet. Chico Buarque e Marisa Monte criaram sites para divulgação e compartilhamento de seus últimos trabalhos. As faixas, bem como vídeos e outros

conteúdos, foram disponibilizados, gradativamente, para o público. Outras bandas como Pedra Letícia e Móveis Coloniais de Acaju, oferecem o material de seus discos gratuitamente

na internet. Embora muitos ainda prefiram o velho e palpável CD, existem outras formas de acesso à música – depende qual delas satisfaz o fã.

Lado

ATExTO Rodolfo GregórioEDIÇÃO GRÁFICA Mayara Gouvea

Novas possibilidades do antigo mercado fonográfico

29

Poltrona

Brasil, o país do cinema

Sabe aquela superprodução do cinema que você só consegue assistir legendada? Pois é, esta realidade está mudando. O Brasil vem se tornando uma potência na indústria cinematográfica. Exemplo disso é o sucesso do filme “Tropa de Elite 2”, lançado em 2010, que superou todas as produções norte-americanas, faturando a primeira colocação nas bilheterias nacionais, segundo o Instituto Filme B.

Filmes hollywoodianos, campeões de bilheterias mundiais estão, periodicamente, sendo gravados no Brasil. Cenários como o Rio de Janeiro e a Floresta Ama-zônica são lugares constantemen-te procurados como locações para produção dos longas. Mas por que essa escolha repentina? Será a exuberância natural do país? Ou a simpatia do povo bra-sileiro que contagia esse mercado cinematográfico?

De acordo com o cientista so-cial Roberto da Matta, o jeitinho brasileiro faz parte da populariza-ção da imagem do Brasil, na qual a malandragem e a capacidade de resolução dos problemas são a “tônica” para o fascínio por esse povo.

A história do cinema no Brasil começou em 1896, no Rio de Janeiro, por iniciativa do exibidor itinerante belga, Henri Paillie. Na ocasião, oito cenas de, aproxima-damente, um minuto cada uma, foram apresentadas para a elite carioca. Muito diferente de hoje em dia, em que as bilheterias TE

xTO

Mar

celo

Qui

ntin

oED

IÇÃO

GRÁ

FIC

A M

ayar

a G

ouve

a

só se fazem numerosas e lucrativas em função da popularidade e fácil acesso ao cinema nacional.

No país do futebol surge agora uma nova indús-tria: a cinematográfica, que já faz parte da rotina e dos bolsos dos brasileiros, apesar de, ainda, não ser o ponto forte da economia do país. Neste contexto, filmes como Tropa de Elite, Se eu fosse você, Chico Xavier, 2 Filhos de Francisco, Bruna Surfistinha, entre outros, se tornaram campeões de bilheterias, se equiparando às inúmeras produções norte-america-nas, também de acordo com o Instituto Filme B.

Mas, para esta ação mercadológica fazer parte da economia brasileira e se firmar de vez como re-ferência, é necessário um apoio do estado brasileiro. “Educação é obrigação do estado, e cultura tam-bém”, afirma o cineasta Fernando Meirelles.

E assim surge um novo Brasil, que vai do samba ao carnaval, das montanhas das Minas Gerais à beleza do Rio de Janeiro, do “Ancoradouro de Pescadores na Baía de Guanabara” (primeiro filme brasileiro, produ-zido em 1987) à Tropa de Elite 2 (maior sucesso do cinema brasileiro em 2010).

A indústria dos longas está cada vez mais presente no nosso cotidiano. A nação do futebol agora também pro-duz e é cenário de filmes de sucesso.

29

30

Prólogo

Vida e obra de...Biografia, o gênero literário que ganha lugar nas estantes dos brasileiros.

A curiosidade em torno de celebridades e perso-nalidades tem colocado as biografias entre os livros mais comentados e lidos no país, transformando-as em verdadeiros best-sellers. Com relação ao ano pas-sado, por exemplo, pode-se citar algumas biografias que se destacaram, como: Hitler (o ditador nazista); Marina (a ex-senadora e ex-candidata à presidência do Brasil); Oprah (apresentadora americana); Eu (cantor Rick Martin); e Eu sou Ozzy (cantor Ozzy Osbourne). Em todos esses livros há algo em comum. Percebeu? Todos tratam de personalidades que sempre estão na mídia, sejam por fofocas ou por terem feito algo que os levaram até os grandes meios. A biografia de Rick Martin, por exemplo, fala de assuntos polêmi-cos, como a revelação de sua homossexualidade. Além disso, Martin utilizou o Twitter para divulgar que estava fazendo uma autobiografia, o que gerou mais curiosidade dos fãs do cantor.

As biografias são amadas por uns e odiadas por outros. Há vários indícios de censura por parte de biografados que não gostaram de ver suas histórias desvendadas. Dois exemplos recentes são a biogra-fia sobre o cantor Roberto Carlos, escrita por Paulo César de Araújo, censurada pelo rei, e a biografia do senador José Sarney, feita pelo jornalista Palmério Dória. O Coronel proibiu a venda do livro no Mara-nhão, porém, mesmo com essa proibição, o livro se tornou um best-seller, sendo um dos mais vendidos no ano passado, segundo a revista Veja.

TExTO Fernando Gentil e Luana VianaEDIÇÃO GRÁFICA Mayara Gouvea

O biógrafo Palmério Dória afir-ma que a maior dificuldade em es-crever um livro desse gênero é que ele não é uma autobiografia, pois se fosse não precisaria pesquisar tanto. Quando questionado sobre quanto tempo durou sua pesquisa para “Honoráveis Bandidos”, obra sobre o político José Sarney, Palmério respondeu que “HB não é exatamente uma biografia. É um livro-reportagem, envolve outras figuras”. E completa brincando: “mas levou uns sessenta e dois anos”.

Pois é, apesar de vender igual água, as biografias dão um traba-lhão. Ruy Castro, autor de Estrela Solitária, Carmem Miranda e O Anjo Pornográfico, demora cerca de três meses só para reunir o material necessário para escrever uma biografia, e só depois disso começa a escrever. E, então, é só você ir a uma livraria, escolher o seu personagem favorito, sentar em uma cadeira ou deitar na cama e se divertir com as mais diversas histórias. Polêmicas, risadas, emo-ções... Enfim, dá até para se sentir parte da vida do biografado. E aí, já decidiu qual biografia vai ler?

31

32

www.revistacuringa.ufop.br