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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ UFPI CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA CCN PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DOS MATERIAIS LUZANA LEITE BRASILEIRO Utilização de Agregados Reciclados Provenientes de RCD em Substituição ao Agregado Natural no Concreto Asfáltico TERESINA PI 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA – CCN

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DOS MATERIAIS

LUZANA LEITE BRASILEIRO

Utilização de Agregados Reciclados Provenientes de RCD em

Substituição ao Agregado Natural no Concreto Asfáltico

TERESINA – PI

2013

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LUZANA LEITE BRASILEIRO

Utilização de Agregados Reciclados Provenientes de RCD em Substituição ao Agregado

Natural no Concreto Asfáltico

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências dos Materiais da

Universidade Federal do Piauí como parte integrante

dos requisitos para obtenção do título de Mestre em

Ciência dos Materiais.

Orientador: Prof. Dr. José Milton Elias de Matos

Teresina – PI

2013

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LUZANA LEITE BRASILEIRO

Utilização de Agregados Reciclados Provenientes de RCD em Substituição ao Agregado

Natural no Concreto Asfáltico

Esta dissertação de mestrado foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM

CIÊNCIAS DOS MATERIAIS e aprovada em sua forma final pelo professor orientador e

pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências dos Materiais pela Universidade Federal do

Piauí.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, Beroniza

Brasileiro, fonte inspiradora de trabalho, luta e

vitória. Exemplo que eu quero sempre seguir.

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AGRADECIMENTOS

Desejo os mais sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma

contribuíram para a realização deste sonho. Alguns contribuíram com um simples gesto de

força e incentivo, outros com conhecimento técnico, com informações relevantes e até

mesmo, com a força e suor nos trabalhos pesados.

Ao Prof. Orientador José Milton Elias de Matos, por acreditar em mim e me orientar

com tanta presteza e acima de tudo, ter-se tornado um amigo.

Ao Coordenador Edson Cavalcanti da Silva Filho, pelo incentivo à pesquisa e à vida

acadêmica e, à Profª. Rita, pela dedicação e orientação no decorrer da pós-graduação.

À Construtora Sucesso, por ter aberto suas portas e me deixado entrar e acompanhar a

execução do trecho de pavimentação asfáltica Itaueira – Canto do Buriti (PI), compartilhando

seu profissionalismo e experiência. Ao Eng. Daniel, Eng. Adriano, Eng. Bento, Téc. de

Estradas Edimar e Téc. de Estradas Valério, a experiência de vocês tornou mais simples o

entendimento laboratorial e a visão de como os materiais realmente se comportam na prática.

Agradecer também à disponibilização do britador para confecção do agregado reciclado,

imprescindível para a realização desta pesquisa.

Ao 2º Batalhão de Engenharia de Construção, pela disponibilização do seu laboratório

de solos e asfalto, no qual foram realizados praticamente todos os ensaios físicos, químicos e

mecânicos deste trabalho. Agradecer ao Capitão Fábio Barros, ao Sargento Cristiano Dias, aos

Técnicos Moisés Almeida e Raimundo Lima, aos soldados D. Souza, F. Souza, Pablo,

Nascimento, Azevedo e todos os outros que contribuíram para a colheita dos resultados.

À Universidade Federal do Piauí e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência dos

Materiais que me concederam esta oportunidade. Aos professores Edson Cavalcanti, Maria

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Rita, José Milton e Renata Barbosa, pelo conhecimento e aos funcionários do LIMAV

Fabrícia Dourado, Kelson Silva e Kilson pelo auxílio prestado.

Aos colegas de mestrado Kerlaine Alexandre, Mirna Sales, Adriano Santana, Carlos

Fonteles, Giselle Feitosa, Marcos Pereira, Neilson Mendes, Osanildo Pereira e Paulo Ronaldo

pelo incentivo, apoio, auxílio, força e principalmente, pelo convívio ao longo desta jornada.

Aos amigos João Zózimo, Bárbara Alves, Camila Moura, Lívia Reis, Elaine Cristina,

Íris Mendes e Murilo Mendes, por todo carinho e compreensão.

Aos meus pais, Felipe e Beroniza, que sempre me incentivaram ao estudo e ao trabalho.

Sem o incentivo deles, a minha vida não seria tão gratificante.

Aos meus irmãos Igor e Liana, pelo apoio e carinho, e ao meu sobrinho Bruno, por

irradiar alegria na minha vida.

Ao meu namorado Pablo, pelo carinho, amor, auxílio e principalmente pelo cuidado.

A Deus, por tudo, simplesmente tudo. Ele é a luz da minha vida. O caminho para o qual

sempre estou seguindo.

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BRASILEIRO, Luzana Leite, Utilização de Agregados Reciclados Provenientes de RCD

em Substituição ao Agregado Natural do Concreto Asfáltico, 2013, Dissertação (Mestrado

em Ciência dos Materiais) – Programa de Pós-Graduação em Ciências dos Materiais,

Universidade Federal do Piauí, Teresina.

RESUMO

Dados estatísticos, no decorrer dos anos, vêm mostrando a crescente parcela dos resíduos

sólidos da construção e demolição (RCD) no montante dos resíduos sólidos urbanos (RSU),

resíduo este que, apesar de vários estudos com uma vasta aplicabilidade, se observa uma

restrita utilização, sendo a principal, a execução de aterros e o seu destino final é, na maioria

dos casos, os aterros sanitários municipais, ocupando grandes áreas para deposição. O Brasil,

quando comparado a alguns países desenvolvidos, apresenta grandes índices de geração de

RCD e baixíssimos índices de reciclagem ou reutilização. Com a chegada da Política

Nacional de Resíduos Sólidos, estados e municípios terão que implantar seus planos de

gerenciamento de resíduos, e resíduos passíveis de reciclagem, devem retornar à cadeia

produtiva do mercado. O RCD é uma rica fonte na produção de agregados, material este

bastante utilizado na construção civil, podendo ter as mais variáveis aplicações e reduzir a

extração dos agregados naturais das jazidas. O objetivo deste estudo foi avaliar o

comportamento do agregado reciclado de RCD na execução de pavimentos flexíveis, do tipo

concreto asfáltico usinado a quente, visto que a quantidade de pesquisas nesta área é

relativamente pequena e, este tipo de serviço consumir uma elevada quantidade de agregados

(mais de 90%, em peso, das misturas asfálticas, corresponde a agregados). Os resultados

demonstram a viabilidade da utilização dos agregados de RCD na execução de pavimentos

flexíveis, abrindo caminho para uma estrada rumo ao desenvolvimento sustentável.

Palavras chave: RCD, reciclagem, pavimentos flexíveis, concreto asfáltico.

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BRASILEIRO, Luzana Leite, Use of Recycled Aggregates Coming in the CDW

Replacement Natural Aggregate in the Asphaltic Concrete, 2013, Dissertation (MSc in

Materials Science) - Graduate Program in Materials Science, Federal University of Piaui,

Teresina.

ABSTRACT

Statistical data, over the years, have shown a growing portion of the solid waste from

construction and demolition (CDW) in the amount of municipal solid waste (MSW). This

residue, almost with no applicability or reuse, except for use in landfills, and your final

destination is, in most cases, municipal landfills, occupies large areas for deposition. Brazil,

when compared to some developed countries, presents large indices of CDW generation and

low rates of recycling or reuse. With the arrival of the National Solid Waste Policy, states and

municipalities will have to implement their waste management plans, and waste suitable for

recycling should return to the supply chain market. The CDW is a rich source for the

production of recycled aggregates, widely used in the construction industry, having the most

variable applications and reducing the extraction of natural aggregates from the quarries. The

objective of this study was to evaluate the behavior of recycled aggregate CDW in the

execution of flexible pavements such as asphalt concrete hot machined, since the amount of

research in this area is relatively small and this type of service consume a large quantity of

aggregates (more than 90 percent of asphalt mixtures, by weight, correspond to aggregates).

The results demonstrate the feasibility of using aggregates of CDW in the execution of

flexible pavements, opening the way for a road towards sustainable development.

Keywords: CDW, recycling, flexible pavements, asphalt concrete.

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LISTA DE FIGURAS

Revisão Bibliográfica: Reutilização de Resíduos da Construção e Demolição na

Indústria da Construção Civil

Figura 2.1 – Total de RCD coletado no Brasil e por região do Brasil (ABRELPE, 2011) ..... 40

Produção de Concreto Asfáltico Usinado a Quente Utilizando Agregados Reciclados

Provenientes de RCD

Figura 3.1 – Denominação dos agregados naturais e reciclados .................................................. 70

Figura 3.2 – Denominação do material finamente pulverizado.................................................... 70

Figura 3.3 – Amostra de 5 Kg do RR 19 ......................................................................................... 71

Figura 3.4 – Separação por catação da amostra de RR 19 ............................................................ 71

Figura 3.5 – Percentual em peso dos resíduos componentes do RR 19 ...................................... 72

Figura 3.6 – Curvas granulométricas dos agregados ..................................................................... 73

Figura 3.7 – Curvas granulométricas das misturas e da faixa “C” do DNIT-ES 031/2006 ...... 88

Figura 3.8 – Curva viscosidade x temperatura do CAP 50/70 (LUBNOR) ............................ 89

Figura 3.9 – Massa específica aparente das misturas (g cm-3

) ............................................. 102

Figura 3.10 – Volume de vazios das misturas (%) ................................................................ 103

Figura 3.11 – Relação betume/vazios das misturas ............................................................... 103

Figura 3.12 – Estabilidade das misturas (Kgf) ...................................................................... 104

Figura 3.13 – Resistência à tração das misturas (MPa) ......................................................... 104

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LISTA DE TABELAS

Introdução

Tabela 1.1 – Métodos de caracterização dos agregados .......................................................... 26

Produção de Concreto Asfáltico Usinado a Quente Utilizando Agregados Reciclados

Provenientes de RCD

Tabela 3.1 – Distribuição granulométrica dos agregados naturais e reciclados ...................... 73

Tabela 3.2 – Absorção e massa específica dos agregados graúdos ......................................... 75

Tabela 3.3 – Densidade real do agregado miúdo..................................................................... 77

Tabela 3.4 – Porosidade dos agregados graúdos ..................................................................... 78

Tabela 3.5 – Abrasão “Los Angeles” dos agregados graúdos ................................................. 80

Tabela 3.6 – Índice de forma dos agregados graúdos ............................................................. 82

Tabela 3.7 – Durabilidade dos agregados graúdos .................................................................. 83

Tabela 3.8 – Equivalente de areia dos agregados miúdos ....................................................... 84

Tabela 3.9 – Caracterização do ligante asfáltico CAP 50/70 (LUBNOR) .............................. 85

Tabela 3.10 – Faixas granulométricas para concreto asfáltico (DNIT ES-31/2006)............... 87

Tabela 3.11 – Dosagem dos agregados nas misturas............................................................... 87

Tabela 3.12 – Teor de ligante estimado para cada projeto de mistura .................................... 88

Tabela 3.13 – Valores limites adotados para concreto asfáltico (DNIT-ES 031/2006) .......... 90

Tabela 3.14 – Parâmetros volumétricos das misturas.............................................................. 92

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Tabela 3.15 – Valores das estabilidades das misturas (Kgf) ................................................... 94

Tabela 3.16 – Valores da RT das misturas (MPa) ................................................................... 95

Tabela 3.17 – Valores dos teores de projeto das misturas (%) ................................................ 96

Tabela 3.18 – Dosagem dos agregados para o teor ótimo de ligante ...................................... 96

Tabela 3.19 – Custo unitário das misturas (R$/m³) ................................................................. 97

Tabela 3.20 – Resultados da caracterização dos agregados .................................................... 98

Tabela 3.21 – Resultado da caracterização das misturas ....................................................... 101

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

Abs Absorção

AL Areia Lavada

An Abrasão “Los Angeles” da graduação n

ANP Agência Nacional de Petróleo

AR Areia de Resíduo

B 19 Brita 19 mm

B 9,5 Brita 9,5 mm

BEC Batalhão de Engenharia de Construção

CA Concreto Asfáltico

CAP Cimento Asfáltico de Petróleo

CAUQ Concreto Asfáltico Usinado a Quente

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CP Cimento Portland

D Diâmetro do corpo-de-prova

D25 Densidade real do agregado miúdo a 25ºC

DMT Densidade máxima teórica

DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

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DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

EA Equivalente de Areia

F Carga de ruptura

f Índice de forma;

FR Fíler de Resíduo

Ga Massas específica real do asfalto (CAP)

GAg Massas específica real do agregado graúdo

GAm Massas específica real do agregado miúdo

Gf Massas específica real do fíler

Gmb Massa específica aparente da mistura

H Altura do corpo-de-prova

LUBNOR Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste

M 1 Mistura 1

M 2 Mistura 2

M 3 Mistura 3

M 4 Mistura 4

M 5 Mistura 5

m³ Metro Cúbico

Ms Massa do corpo-de-prova seco

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Msub Massa do corpo-de-prova submerso

OECD Organization for Economic Cooperation and Development

PB Pó de Brita

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PR Pó de Resíduo

Pt Porosidade total

RBV Relação Betume/ Vazios

RCD Resíduos da Construção e Demolição

RR 19 Resíduo Reciclado 19 mm

RR 9,5 Resíduo Reciclado 9,5 mm

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

RT Resistência à Tração

V Volume do corpo-de-prova

VAM Vazios do agregado mineral

Vv Volume de Vazios

γs Massa específica na condição seca

γsss Massa específica na condição saturada superfície seca

%a Porcentagem de asfalto (CAP)

%Ag Porcentagens de agregado graúdo

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%Am Porcentagens de agregado miúdo

%f Porcentagens de fíler

∑%n Porcentagem em massa dos agregados

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SUMÁRIO

Capítulo 1 – Introdução ........................................................................................................ 20

1.1 Objetivo da pesquisa ..................................................................................................... 25

Geral ............................................................................................................................... 25

Específico ....................................................................................................................... 25

1.2 Procedimentos para alcançar os objetivos .................................................................... 27

1.3 Organização da pesquisa ............................................................................................... 27

Referências .............................................................................................................................. 28

Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica: Reutilização de Resíduos da Construção e Demolição

na Indústria da Construção Civil ......................................................................................... 31

Resumo .................................................................................................................................... 32

Abstract .................................................................................................................................... 33

2.1 A Indústria da construção civil x Sustentabilidade ....................................................... 34

2.2 A geração de RCD ........................................................................................................ 37

2.3 Legislações a cerca do gerenciamento dos resíduos sólidos ......................................... 40

2.4 A reciclagem de RCD ................................................................................................... 45

2.5 Aplicabilidade do RCD reciclado ................................................................................. 48

2.5.1 Aplicabilidade de agregados reciclados em misturas asfálticas a quente ............. 49

2.6 Conclusão ...................................................................................................................... 51

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Referências .............................................................................................................................. 53

Capítulo 3 – Produção de Concreto Asfáltico Usinado a Quente Utilizando Agregados

Reciclados Provenientes de RCD ......................................................................................... 64

Resumo .................................................................................................................................... 65

Abstract .................................................................................................................................... 66

3.1 Introdução ..................................................................................................................... 67

3.2 Parte experimental ........................................................................................................ 69

3.2.1 Materiais ................................................................................................................ 69

3.2.2 Caracterização dos agregados ............................................................................... 70

3.2.2.1 Nomenclatura ................................................................................................ 70

3.2.2.2 Composição do RCD ..................................................................................... 71

3.2.2.3 Composição granulométrica .......................................................................... 72

3.2.2.4 Massa específica ............................................................................................ 74

3.2.2.5 Porosidade ..................................................................................................... 77

3.2.2.6 Resistência ao desgaste ................................................................................. 78

3.2.2.7 Adesividade ao ligante betuminoso ............................................................... 80

3.2.2.8 Forma dos agregados ..................................................................................... 81

3.2.2.9 Durabilidade .................................................................................................. 83

3.2.2.10 Equivalente de areia .................................................................................... 84

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3.2.3 Caracterização do ligante ...................................................................................... 85

3.2.4 Caracterização das misturas .................................................................................. 86

3.2.4.1 Preparação das misturas: dosagem e moldagem dos corpos-de-prova .......... 86

3.2.4.2 Cálculo dos parâmetros volumétricos das misturas ...................................... 90

3.2.4.3 Ensaios mecânicos ......................................................................................... 93

3.2.4.4 Cálculo do teor ótimo de ligante das misturas .............................................. 95

3.2.4.5 Análise do custo das misturas ....................................................................... 96

3.3 Análise dos resultados .................................................................................................. 97

3.3.1 Agregados ............................................................................................................. 97

3.3.2 Misturas ............................................................................................................... 100

3.4 Conclusão .................................................................................................................... 105

Referências ............................................................................................................................ 108

Anexos ................................................................................................................................... 110

Anexo I – Composição de Custo da Mistura 1 ................................................................. 110

Anexo II – Composição de Custo da Mistura 2 ................................................................ 111

Anexo III – Composição de Custo da Mistura 3 .............................................................. 112

Anexo IV – Composição de Custo da Mistura 4 .............................................................. 113

Anexo V – Composição de Custo da Mistura 5 ................................................................ 114

Anexo VI – Composição de Custo Similar à Mistura 3 ................................................... 115

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Capítulo 4 – Considerações Finais e Perspectivas Futuras ............................................. 116

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Capítulo 1

Introdução

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1. Introdução

A construção civil é uma das atividades mais antigas que se tem conhecimento e, desde

os primórdios da humanidade, até hoje, ainda é executada de forma artesanal, gerando como

subproduto grande quantidade de resíduos de diversas naturezas, sendo também, responsável

pelo consumo excessivo de recursos naturais provenientes de fontes não-renováveis (Boldrin

et al., 2006; Lintz et al., 2012).

A Indústria da Construção Civil é reconhecida como uma das mais importantes

atividades para o desenvolvimento econômico e social, mas por outro lado, comporta-se ainda

como grande geradora de impactos ambientais (Pinto, 2005). A cadeia produtiva da

construção civil consome entre 20 e 50% dos recursos naturais de todo o planeta (John, 2001).

As atividades de construção demandam uma notável quantidade de materiais inertes,

tais como areia e cascalho, que usualmente são fornecidos por meio da extração de

sedimentos aluviais. A extração desses sedimentos modifica o perfil dos rios e o seu

equilíbrio, além de introduzir problemas ambientais como modificação em sua estrutura

hidrológica e hidrogeológica. A extração de material inerte de formações rochosas em área

acidentadas e montanhosas também é uma danosa atividade ao meio-ambiente, uma vez que

altera a paisagem e provoca problemas de instabilidade (Bianchini et al., 2005; Cabral et al.,

2009).

Com a urbanização acelerada que resultou no rápido adensamento das cidades, e, por

conseguinte, o crescimento das atividades do setor construtivo, além da larga exploração dos

recursos naturais, a geração de resíduos da construção e demolição (RCD) alcançou índices

alarmantes, produto do desperdício nas obras de construções, reformas e demolições (Morais,

2006). Esses resíduos representam aproximadamente, de 20 a 30% do fluxo de resíduos

sólidos gerados pelas cidades dos países desenvolvidos, sendo que nos demais pode alcançar

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índices bem maiores (Chung e Lo, 2003; Costa et al., 2007). Segundo Pinto (2003), nas

cidades brasileiras o RCD representa de 41 a 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos

(RSU). Para Cabral et al. (2009) o RCD constitui uma importante parcela do RSU,

correspondendo em torno de 50%, enquanto que para Silva e Fernandes (2012), em alguns

municípios, representa 60% do montante de RSU.

Um ponto que demonstra a relevância dos RCD e a sua crescente participação no total

de RSU, é o caso da cidade de Salvador, que no período de 1990 a 2000 o RCD aumentou a

sua participação na composição do RSU de 4,4% para 49,8% (Quadros e Oliveira, 2001;

Cabral et al., 2009).

A falta de gerenciamento desses resíduos afeta as cidades nos aspectos sociais,

econômicos e ambientais, desta forma, ações no sentido de enfrentar este problema tiveram

início no final da década de 80 em alguns países da Europa, enquanto que no Brasil, somente

no início do século XXI. O Brasil, até 2002 não tinha implantado políticas públicas para os

resíduos gerados pelo setor da construção civil. Em 05 de Julho de 2002 entrou em vigor a

Resolução nº 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), a qual estabelece

diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, visando

proporcionar benefícios de ordem social, econômica e ambiental (Lintz et al., 2012).

Unindo força à Resolução nº 307 do CONAMA, no ano de 2010 o Brasil aprovou a

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), através da Lei nº 12.305 de 2 de Agosto de

2010, a qual define a forma como o país deve dispor os seus resíduos, incentivando a

reciclagem e a sustentabilidade. A Lei se baseia no princípio de responsabilidade

compartilhada (art.3° – inciso XVII), pois a maioria dos problemas ambientais vem seguida

de questões sociais e econômicas que acabam por impactar grande parte da sociedade, ou

seja, o problema ambiental é compartilhado. Desta forma, todos os agentes envolvidos na

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fabricação, distribuição, venda e consumo são responsáveis pelos seus resíduos. A Lei

estabelece também o fechamento dos conhecidos “lixões” (local onde o lixo é depositado sem

tratamento ou separação), até o ano de 2014. Para os aterros sanitários municipais somente

serão destinados os rejeitos, material este composto quase na sua totalidade por matéria

orgânica. Desta forma, a palavra do momento é RECICLAR. Se houver uma efetiva

fiscalização da lei e o fechamento dos “lixões”, o tratamento e a reciclagem de resíduos

sólidos como papel, plásticos, metal e inclusive, dos resíduos sólidos da construção e

demolição, proporcionarão um incremento do valor agregado do material, além de ganhos

sociais.

Geralmente, a maioria dos resíduos gerados nos canteiros de obras e de demolição é

composta por restos de argamassas, tijolos, concretos, cerâmicas, gesso, madeira, metais e etc.

que são descartados em aterros sanitários, devido à ausência de mercados para suas formas

recicladas (Duran, Lenihan e O’Regan, 2006). O RCD serve de matéria-prima para agregados

de ótima qualidade, podendo ser utilizados num leque de variedades de processos

construtivos: confecção de tijolos, blocos pré-moldados, meio-fio, calçadas, argamassa de

revestimento e assentamento, camadas de base e sub-base, pavimentos, entre outros.

Na maioria dos países, emprega-se largamente o revestimento asfáltico como camada de

pavimentos rodoviários e urbanos. No Brasil, mais de 95% das estradas pavimentadas são de

revestimento asfáltico, além de ser também utilizado em grande parte das vias urbanas

(Bernucci et al., 2008). O agregado que é utilizado nas misturas asfálticas é obtido da

exploração de jazidas e provém da britagem de rochas como o basalto, granito, gnaisse,

calcário, entre outros tipos, os quais são transformados em pedra britada com vários tamanhos

e de graduação específica (Zhu, Wu e Wang, 2012). A construção e a manutenção dos

pavimentos asfálticos requerem grandes quantidades de agregados, os quais normalmente são

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responsáveis por mais de 90%, em peso, das misturas asfálticas (Huang, Bird e heidrich,

2007).

A produção e venda de ligante asfáltico pela Petrobras para fins de aplicação em obras

de infraestrutura no Brasil registraram recorde em 2010, tendo sido produzido 2,763 milhões

de toneladas de asfalto, um crescimento de 32% em relação ao ano de 2009 (Petrobras, 2011),

o que leva a estimar um consumo de aproximadamente 35 milhões de toneladas de agregados

extraídos das reservas naturais somente para misturas a quente. Por outro lado, em 2011, a

coleta de RCD, aumentou 7,2% em relação a 2010, chegando a 33 milhões de toneladas em

todo o Brasil, executada apenas pelos órgãos públicos, não incluindo o RCD coletado por

serviços privados, os quais constituem a grande maioria do total de RCD gerado (ABRELPE,

2011).

O crescente consumo de agregados naturais juntamente com a crescente produção de

RCD e as diretrizes da resolução nº 307 do CONAMA e da PNRS, têm levado à consolidação

de técnicas de reciclagem. O uso de agregados reciclados em misturas asfálticas tem sido um

tema interessante para a proteção do ambiente e desenvolvimento sustentável (Zhu, Wu e

Wang, 2012).

Desta forma, este trabalho visa à utilização de agregados reciclados provenientes de

RCD para produção de concreto asfáltico (CA). Foram realizados ensaios de caracterização

nos agregados reciclados e naturais para fins de comparação; e caracterização dos corpos-de-

prova de CA através do cálculo de parâmetros volumétricos e ensaios mecânicos de

estabilidade e resistência à tração por compressão diametral, de forma a verificar os limites

exigidos pela legislação vigente nacional para concreto asfáltico (DNIT-ES 031/2006).

Foram realizados cinco projetos de mistura, sendo que no primeiro (parâmetro da nossa

pesquisa), utilizou-se apenas agregados naturais (0% de RCD), no segundo, terceiro e quarto

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25

substituiu-se 25%, 50% e 75% respectivamente, do agregado natural pelo agregado reciclado

e no quinto e ultimo, utilizou-se apenas agregados reciclados (100% de RCD).

1.1 Objetivo da Pesquisa

Geral

Caracterizar os agregados reciclados de RCD e os agregados naturais e comparar ambos

com as normas vigentes brasileiras utilizadas para produção de concreto asfáltico, de forma a

verificar se os agregados reciclados de RCD podem ou não substituir os agregados naturais

(areia, brita e pó de brita) nos pavimentos flexíveis; Produzir um concreto asfáltico utilizando

estes agregados reciclados em proporções definidas e comparar ao concreto asfáltico

produzido somente com agregados naturais e à especificação do DNIT para concretos

asfálticos (DNIT-ES 031/2006).

Específicos

Caracterizar os agregados de RCD e agregados naturais quanto à composição

granulométrica, densidade real e aparente, absorção, porosidade, resistência ao

desgaste, adesividade ao ligante betuminoso, forma do agregado, durabilidade e

equivalente de areia, através das normas específicas vigentes utilizadas para

pavimentos flexíveis, apresentadas na Tabela 1.1.

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Tabela 1.1 – Métodos de caracterização dos agregados.

Ensaios Método de Ensaio

Composição granulométrica DNER-ME083/98

Absorção e massa específica do

agregado graúdo DNER-ME195/97

Massa específica real do agregado

miúdo DNER-ME 084/95

Massa específica real do material

finamente pulverizado DNER-ME 085/94

Desgaste por abrasão DNER-ME035/98

Adesividade ao ligante betuminoso DNER-ME078/94

Forma dos agregados DNER-ME086/94

Durabilidade DNER-ME089/94

Equivalente de Areia DNER-ME054/97

Dosar misturas contendo teores de 0, 25, 50, 75 e 100% de agregados de RCD e

moldar os corpos-de-prova conforme a metodologia Marshall (DNER–ME 043/95),

em seguida calcular os parâmetros volumétricos das misturas a fim de se determinar

o volume de vazios e a relação betume/ vazios de forma a verificar os limites

impostos pela norma DNIT-ES 031/2006 – “Pavimentos flexíveis – Concreto

asfáltico”.

Calcular as propriedades mecânicas de estabilidade e resistência à tração por

compressão diametral seguindo a metodologia DNER–ME 043/95 e DNIT 136/2010-

ME, respectivamente, de forma a verificar os limites impostos pela norma DNIT-ES

031/2006 – “Pavimentos flexíveis – Concreto asfáltico”.

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27

1.2 Procedimentos para Alcançar os Objetivos

Os procedimentos para se alcançar os objetivos são:

Coleta de resíduos da construção e demolição em diversas obras da cidade de

Teresina;

Britagem dos resíduos coletados em diversas granulometrias, de forma a produzir o

agregado reciclado de RCD, visto que a cidade de Teresina não dispõe de usina de

reciclagem de entulho;

Caracterização dos agregados de RCD, agregados naturais e material finamente

pulverizado (Cimento Portland);

Caracterização das misturas quanto aos parâmetros volumétricos (índices físicos);

Avaliação do comportamento mecânicos das misturas através dos ensaios de

estabilidade e resistência à tração por compressão diametral;

Análise dos resultados.

Conclusão.

1.3 Organização da Pesquisa

Esta dissertação foi estruturada conforme estabelecido no programa de pós-graduação

em Ciências dos Materiais, de forma que os capítulos se desenvolvem da seguinte forma:

Capítulo 1 – Introdução: Apresenta a justificativa para a realização do estudo, seus

objetivos, procedimentos para alcançar os objetivos e a organização do trabalho;

Capítulo 2 – Revisão bibliográfica: Artigo de revisão bibliográfica sobre a reutilização

de resíduos da construção e demolição na própria indústria da construção civil sob a forma de

agregados reciclados. O artigo explana à cerca das disparidades da indústria da construção

com os conceitos de sustentabilidade, da quantidade de RCD gerado no mundo, das

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legislações implantadas com o intuito de minimizar os impactos ambientais gerados pelo

RCD, da reciclagem do RCD e sua aplicabilidade nos mais diversos ramos da construção

civil, inclusive nos pavimentos flexíveis.

Capítulo 3 – Parte experimental: Artigo descrevendo a parte prática da pesquisa

realizada com o apoio laboratorial do 2º Batalhão de Engenharia de Construção, sendo que

este descreve materiais utilizados, métodos e caracterização dos agregados, procedimentos de

dosagem, verificação do comportamento das misturas em laboratório, resultados, análise dos

resultados e conclusão.

Capítulo 4 – Considerações finais e Perspectivas futuras: Expõem as conclusões

finais obtidas através dos dois artigos desenvolvidos e sugestões para um melhor

desenvolvimento de pesquisas futuras.

Referências

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Capítulo 2

Revisão Bibliográfica: Reutilização de Resíduos da Construção e Demolição na

Indústria da Construção Civil

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO

E DEMOLIÇÃO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Luzana Leite Brasileiro1,

*; José Milton Elias de Matos1

1LIMAV, CCN, UFPI, Teresina-PI, CEP 64049-550.

*[email protected]

RESUMO

As questões ambientais têm ocupado cada vez mais espaço nas legislações dos países, devido

à grande geração de resíduos, oriundos principalmente, da indústria da construção civil. Para

qualquer país, não tem como haver crescimento, sem que a indústria da construção o

acompanhe. Crescimento este, que gera grandes impactos ambientais, desde a extração de

recursos naturais para a produção de insumos, até a produção de resíduos, que são dispostos

no meio ambiente sem nenhum controle. Este artigo expõe pesquisas que retratam a

preocupação quanto à geração dos resíduos provenientes da indústria da construção não

somente no Brasil, mas em todo o mundo. Pesquisadores de todo o planeta disponibilizam

dados quanto à quantidade de RCD gerado, legislações empregadas com o intuito de

minimizar e prevenir a geração de RCD e aplicabilidades dos resíduos reciclados nos mais

diversos ramos do setor construtivo, de forma a promover o seu retorno à cadeia da

construção. Dados estes, que foram apresentados neste trabalho, com o intuito de “acordar” o

Brasil, para a nova ordem mundial, em que a palavra RECICLAR, não mais será uma opção,

e sim, rotina de cada brasileiro.

Palavras chave: meio ambiente, RCD, construção, reciclagem.

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ABSTRACT

Environmental issues have occupied more and more space in the laws of countries due to the

large generation of waste, coming mainly from the construction industry. For any country,

there can be no growth without the parallel growth in the construction industry. This growth

generates large environmental impacts, from the extraction of natural resources for the

production of raw materials through production of waste that are sometimes discharged into

the environment without any control. This article presents research that portrays concern over

the generation of waste from the construction industry not only in Brazil but worldwide.

Researchers from around the world provide information about the amount of CDW generated,

laws employed in order to minimize and prevent the generation of CDW and applicability of

recycled waste in the most diverse branches of the construction sector in order to promote its

return to the construction chain. The data, which were presented in this paper, is intended to

"wake up" Brazil, for the new world order, where the word RECYCLE, will no longer be an

option, but rather, routine in the life of every Brazilian.

Keywords: environment, CDW, construction, recycling.

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2.1 A Indústria da construção civil x Sustentabilidade

Desde a Pré-História o homem tem transformado matérias-primas (pedras, barro, peles,

lã, trigo, etc.) em produtos úteis à sua sobrevivência. Trata-se de um antigo método de

transformação a que se denominou artesanato, na qual através de instrumentos transformava a

matéria-prima até chegar ao produto final (Portal Brasil, 2013).

Nos séculos XVIII e XIX, houve o início da Revolução Industrial em algumas cidades

européias e americanas e a consequente criação de fábricas nas cidades. A população de

muitas cidades começou a aumentar rapidamente, recebendo milhares de pessoas vindas dos

campos, abandonando trabalhos nas áreas rurais, para trabalhar na indústria. Este fato gerou

imensas aglomerações humanas que passaram a consumir uma grande quantidade de energia,

alimentos e espaço, ocasionando em cidades superlotadas, barulhentas, sujas e sem nenhum

saneamento. Esses grandes aglomerados humanos originaram os mais variados problemas de

urbanização: abastecimento de água, canalização de esgotos, criação e fornecimento de

mercadorias, modernização de estradas, fornecimento de iluminação, fundação de escolas,

construção de habitações e etc.

Segundo o Worldwatch Institute (1999) citado por Morais (2006), em 1960 somente

10% da população mundial, o que corresponde a 300 milhões de pessoas, residia em cidades.

Em apenas 40 anos, esse percentual subiu para 50%, ou seja, cerca de 3,2 bilhões de pessoas

estavam vivendo nas cidades nos anos 2000.

Os impactos ecológicos não eram considerados nas sociedades primitivas, pois a

produção de resíduos era pequena e a assimilação ambiental era grande. Somente após o

desenvolvimento tecnológico da revolução industrial no mundo, é que esta preocupação veio

à tona. A partir desta constatação, começam a surgir as primeiras preocupações e

questionamentos relativos ao efeito estufa e consequentemente o aumento do consumo de

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energia, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar e as chuvas ácidas, o consumo

desmedido de matérias-primas não renováveis, a geração de resíduos, dentre outros. E é

justamente a partir daí que surge o termo desenvolvimento sustentável. Desta forma,

desenvolvimento sustentável pode ser definido como aquele que “permite atender às

necessidades básicas de toda a população e garanta a todos a oportunidade de satisfazer suas

aspirações para uma vida melhor sem, no entanto, comprometer a habilidade das gerações

futuras atenderem suas próprias necessidades.” (Chen e Chambers, 1999).

Com relação ao desenvolvimento sustentável, segundo Leal (2008), a implicação mais

imediata é a necessidade de se produzir a maior quantidade de bens com a menor quantidade

de recursos naturais e a menor poluição, ou seja, o desenvolvimento econômico deverá ser

desvinculado da geração de impactos ambientais negativos. Para conseguir esta desvinculação

são necessárias várias ações:

Redução do consumo de matérias primas, que pode ser obtido pela redução e

reciclagem de resíduos, aperfeiçoamento de projetos, substituição dos materiais

tradicionais por outros mais eficientes e aumento da durabilidade dos produtos;

Redução do consumo de energia (especialmente a produzida pela queima de

combustíveis não renováveis);

Redução global da poluição (incluindo resíduos).

A indústria da construção civil é a atividade humana com maior impacto sobre o meio

ambiente. Estima-se que 50% dos recursos naturais extraídos estão relacionados à atividade

de construção. É ainda, a responsável por aproximadamente 15% do produto interno bruto

(PIB) brasileiro, com investimentos que ultrapassam R$ 90 milhões por ano, geração de 62

empregos indiretos para cada 100 empregos diretos, contribuindo para a redução do déficit

habitacional e da infraestrutura, indispensável ao progresso (Dias, 2004; Morais, 2006).

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Apesar do seu papel tão representativo na economia nacional, a construção civil

apresenta-se também como um dos grandes vilões ambientais. É o maior consumidor de

matérias-primas (entre 15 e 50% do total de recursos consumidos pela sociedade), envolve

processos com grande consumo de energia (cerca de 80% da energia utilizada na produção de

um edifício é consumida na produção e transporte de materiais), gera poluição em quase todos

seus processos (da extração de matérias-primas à produção de produtos como cimento e

concreto), e até mesmo na fase de uso dos edifícios os impactos ambientais são inúmeros

(Leal, 2008).

Tendo em mente a grandiosidade da cadeia produtiva da indústria da construção civil,

fica claro que não é possível alcançar o desenvolvimento sustentável sem que a indústria da

construção também se torne sustentável.

Para minimizar os impactos ambientais da indústria da construção, Kilbert (1994)

propôs os seguintes princípios:

I. Minimizar o consumo de recursos: gastar mais tempo na fase de planejamento e projetos

para otimizar a utilização de materiais e minimizar a produção de resíduos;

II. Maximizar a reutilização de recursos: reutilizar componentes que ainda possam

desempenhar a função para a qual foram produzidos, ou mesmo serem utilizados em outra

função;

III. Usar recursos renováveis e recicláveis: optar por materiais recicláveis ou cujas fontes

de matéria-prima sejam renováveis;

IV. Proteger o meio-ambiente: evitar o uso de materiais cuja extração de matéria-prima

cause danos ambientais, aproveitar os recursos naturais para iluminação e ventilação,

reusar águas servidas, etc.;

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V. Criar um ambiente saudável e não tóxico: evitar utilização de materiais que podem

causar danos tanto ao meio ambiente quanto aos usuários;

VI. Buscar a qualidade na criação do ambiente construído: projetar utilizando técnicas que

permitam uma construção mais econômica, menos poluente e que impacte menos

agressivamente no meio-ambiente.

Com base no que foi apresentado até aqui, pode-se concluir que a sustentabilidade da

indústria da construção ainda é uma meta distante e difícil de ser alcançada. No entanto, vale

ressaltar que o primeiro passo rumo à sustentabilidade já foi dado com a implantação de leis e

resoluções que demonstram uma efetiva preocupação com a gestão dos resíduos, e hoje

grande parte dos envolvidos na cadeia produtiva já estão conscientes de que mudanças são

necessárias para que o objetivo de uma indústria da construção sustentável seja alcançado.

2.2 A geração de RCD

Segundo John (2001) citado por Morais (2006), a geração de RCD é anterior ao início

de qualquer obra ou serviço, se observarmos que a produção de insumos para a construção

civil, além de consumir recursos naturais também produz resíduos.

O RCD pode ser oriundo de obras viárias, material de escavação, demolição de

edificações, construções, renovação de edifícios, limpeza de terrenos (Swana, 1993) e até

mesmo de catástrofes naturais (tsunamis, tornados, terremotos, etc.) ou artificiais (incêndios,

desabamentos, bombardeios, etc.) (Levy e Helene, 1997).

Segundo Oliveira et al. (2011), um ponto que demonstra a relevância dos resíduos de

construção e demolição é a sua crescente participação no total dos resíduos sólidos urbanos

(RSU). Na Malásia, esses resíduos correspondem, juntamente aos resíduos industriais, a 28%

do total dos RSU, enquanto que o resíduo doméstico totaliza 37% do total (Begun et al.,

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2006). Na Austrália, os resíduos da indústria da construção civil correspondem a

aproximadamente 37% do total de resíduos sólidos produzidos no país (Terry, 2004). Em

Hong Kong, no Kuwait e no Reino Unido, esse tipo de resíduo corresponde a 38, 58 e 60%,

respectivamente (Tam e Tam, 2006; Rahal, 2007; Dhir, Paine e Dyer, 2004; Cabral, 2007) de

todo o resíduo sólido produzido, enquanto que, nos Estados Unidos, estima-se que os resíduos

de construção e demolição (RCD) correspondem de 10 a 30% do total de resíduos gerados no

país (Broviak, 2005).

Para se ter uma idéia de grandeza da geração desses resíduos, no Reino Unido este setor

produz em torno de 109 milhões de toneladas por ano, sendo que esta quantidade equivale a

66% dos 165 milhões de toneladas de agregados naturais consumidos anualmente na

construção civil (Dhir, Paine e Dyer, 2004; Cabral, 2007).

Estima-se também, que, aproximadamente, 200 milhões de toneladas de resíduos de

concreto são atualmente produzidos anualmente no continente da China (Xiao, 2008; Xiao et

al., 2012). Enquanto que em Taiwan, no ano de 2004, a geração deste mesmo resíduo foi

estimada em 640.000 toneladas (Liu et al., 2004; Cabral, 2007). Em Hong Kong, também no

ano de 2004, foram gerados em torno de 20 milhões de toneladas de RCD (Poon, 2007;

Cabral, 2007).

Segundo Cabral et al. (2009), como em todo processo industrial, o uso dos insumos da

indústria da construção civil gera resíduos em grande escala, que necessitam ser gerenciados.

O macrocomplexo da indústria da construção civil é responsável por 40% dos resíduos

gerados na economia (John, 2001). Em 1992 era estimada a produção de aproximadamente 50

milhões de toneladas de resíduos das atividades da construção civil na comunidade européia,

60 milhões nos Estados Unidos e 12 milhões somente no Japão (Hansen, 1992). Esses

resíduos representam aproximadamente, de 20 a 30% do fluxo de resíduos sólidos gerados

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pelas cidades dos países desenvolvidos, sendo que nos demais pode alcançar índices bem

maiores (Chung e Lo, 2003; Costa et al., 2007).

No Brasil, a tarefa de quantificação é ainda mais difícil, diferentemente de outros países,

pois uma importante fonte na geração de RCD são os geradores informais, para os quais

dados estatísticos estão indisponíveis e podem representar uma parcela importante dos RCD

gerados em um município (Pinto, 1999; Pinto et al., 2005). Porém, em algumas grandes

cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, têm estimativas específicas. Nestas três

cidades, a média de produção de RCD foi de 0,49 kg por habitante/ dia, correspondendo a

cerca de 31% dos resíduos recolhidos nacionalmente (Nunes, 2004; Nunes et al., 2007).

Segundo Pinto (2003), nas cidades brasileiras o RCD representa de 41 a 70% da massa

total de resíduos sólidos urbanos (RSU). Para Cabral et al. (2009) o RCD constitui uma

importante parcela do RSU, correspondendo em torno de 50%, enquanto que para Silva e

Fernandes (2012), em alguns municípios, representa 60% do montante de RSU.

A ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e resíduos

especiais) divulgou em seu Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2011, uma estimativa

feita entre o ano de 2010 e o ano de 2011 do total de RCD coletado no Brasil e nas suas cinco

regiões. Todos os dados referem-se apenas à coleta executada pelo serviço público, o qual

usualmente limita-se a recolher os resíduos desta natureza lançados em logradouros públicos,

pois a responsabilidade da coleta e destino final destes resíduos é de seu gerador. Portanto, de

maneira geral, as projeções sobre tais resíduos não incluem os RCD oriundos de demolições e

construções coletados por serviços privados, os quais constituem a grande maioria do total de

RCD gerado. Observa-se pela Figura 2.1 que, em 2011, a coleta de RCD aumentou 7,2% em

relação ao ano de 2010, chegando a 33 milhões de toneladas em todo o Brasil, executadas

apenas pelos órgãos públicos, dados estes bastante significativos.

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Figura 2.1 – Total de RCD coletado no Brasil e por região do Brasil (ABRELPE, 2011).

Os problemas ambientais resultantes da disposição do RCD são motivos de preocupação

por causa dos impactos que locais de disposição ilegais (que ocorrem rotineiramente) têm

sobre as cidades e seu ambiente, além de aumentar rapidamente áreas de aterro sanitário

público em municípios em que o mesmo não possui nenhuma aplicabilidade ou áreas de

disposição (aterros) de RCD. Esta questão tem sido amplamente debatida e tem estimulado o

interesse por soluções ambientalmente sustentáveis. Neste contexto, a legislação ambiental

tornou-se mais rigorosa, com uma tendência a fazer, geradores de resíduos, responsáveis pela

destinação do seu resíduo, levando à adoção de técnicas de minimização do desperdício e

políticas de reciclagem.

2.3 Legislações a cerca do gerenciamento de resíduos sólidos

John (2001) afirmou: “Nenhuma sociedade poderá atingir o desenvolvimento

sustentável sem que a construção civil, que lhe dá suporte, passe por profundas

transformações”.

A maioria das ferramentas usadas nas políticas públicas de minimização de RCD pode

ser implantada em vários estágios do processo de construção, projeto, demolição e manejo de

resíduos. Murakami et al. (2002) apud Scheneider e Philippi (2004) citam alguns dos

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melhores exemplos de políticas vigentes no mundo, segundo pesquisa realizada em 1999, pelo

WPPPC (Working Party Pollution Prevention and Control) of the Environment Policy

Committee of the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD):

Incentivo ao uso de materiais de construção reciclados e recicláveis: a Alemanha, a

Coréia e o Japão têm leis com recomendações gerais para estimular o uso de materiais

recicláveis e reciclados;

Cobrança de preços elevados para a deposição de RCD em aterros: amplamente

utilizada na Dinamarca, Inglaterra, República Checa, Itália e França. A cobrança

funciona como incentivo para a reciclagem dos resíduos. Em cinco países europeus é

proibida a deposição de algumas categorias de RCD em aterros. Estas proibições

variam de país para país, mas o objetivo principal é prevenir a deposição no solo de

materiais recicláveis e reutilizáveis;

Triagem obrigatória de RCD em obras e entrega obrigatória em unidades de

reciclagem: sete países europeus e o Japão introduziram esse importante instrumento

de política regulatória;

Demolição controlada: em quatro países europeus é necessário apresentar às

autoridades documentação de como o RCD serão tratados antes da demolição das

edificações. Na Suécia, por exemplo, o plano de gestão deve acompanhar a

documentação para demolição da edificação, o qual deve ser aprovado pelas

autoridades. Neste deve estar descrita a destinação de cada um dos materiais

resultantes;

Taxação de matérias-primas oriundas da atividade de mineração: é também usada

como forma de estimular o uso de materiais provenientes dos RCD. Na Dinamarca a

taxa sobre recursos naturais é imposta a pedreiras e na Suécia à exploração dos bens

minerais por escavação. Na Inglaterra são taxadas a areia, cascalho e pedras;

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Subsídios financeiros para unidades de tratamento de RCD: a Inglaterra subsidia a

compra de equipamentos e a Bélgica investe em companhias de reciclagem que

processam RCD; e

Padrões para o uso de materiais reciclados: são utilizados na Alemanha e Holanda. Na

Bélgica, foi desenvolvido um esquema de certificação voluntária para agregados

reciclados, baseada em especificações técnicas estabelecidas pelas autoridades.

No Brasil, até o ano de 2002 não tinha políticas públicas para os resíduos gerados pelo

setor da construção civil. Em 05 de Julho de 2002 entrou em vigor a Resolução nº 307 do

Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), a qual estabelece diretrizes, critérios e

procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, visando proporcionar benefícios

de ordem social, econômica e ambiental (Lintz et al., 2012).

Considerando-se que os resíduos dessa natureza representam um significativo

percentual dos resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas e que a disposição de resíduos

da construção civil em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade

ambiental, os Municípios são os responsáveis pela gestão e destinação ambientalmente correta

de tais resíduos buscando a efetiva redução dos impactos ambientais.

Segundo a Resolução nº 307 os resíduos da construção civil são classificados em quatro

classes:

I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de

infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos

(tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento, etc.), argamassa e concreto;

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c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos,

tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,

papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou

aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os

produtos oriundos do gesso;

IV - Classe D - são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas,

solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde, oriundos de

demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros bem

como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos

à saúde.

Esta resolução atribui responsabilidades tanto para o poder público quanto para a

iniciativa privada (Pinto et al., 2005). As empresas privadas de construção, que são grandes

geradoras do resíduo Classe A, devem desenvolver projetos de gerenciamento específicos, por

exemplo, triagem em canteiros de obras, incluindo o uso de transportadores cadastrados e área

licenciadas para manejo e reciclagem. O poder público deve oferecer uma rede de coleta e

destinação ambientalmente correta para os pequenos geradores, responsáveis por reformas e

autoconstruções e incapazes de implementar a autogestão (Angulo et al., 2011).

A publicação da resolução do CONAMA Nº 307 motivou alguns municípios a

implantarem planos de gerenciamento. Contudo, de acordo com o levantamento de Pinto

(2008), dos 5.565 municípios existentes no país (IBGE, 2010), apenas 50 implantaram planos

de gerenciamento de RCD. Um levantamento recente sobre usinas brasileiras de reciclagem

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de RCD mostrou que essas usinas, operando nas capacidades máximas, conseguiriam reciclar

apenas cerca de 4,5% do RCD gerado (Miranda, Angulo e Careli, 2009; Angulo et al., 2011).

Dentre as dificuldades apontadas para a implantação dos planos de gerenciamento de

RCD, Marques Neto (2009) destaca a falta de recursos financeiros e a inexistência de corpo

técnico qualificado nos quadros profissionais dos órgãos públicos responsáveis capazes de

diagnosticar fontes geradoras e implementar ações, como a fiscalização.

Unindo força à Resolução nº 307 do CONAMA, no ano de 2010, o presidente Luís

Inácio Lula da Silva sanciono a Lei nº 12.305 de 02 de Agosto de 2010 após longos 21 anos

de discussão no Congresso Nacional. A Lei se refere à Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS), a qual define a forma como o país deve dispor os seus resíduos, incentivando a

reciclagem e a sustentabilidade. A Lei se baseia no princípio de responsabilidade

compartilhada (art. 3° – inciso XVII), pois a maioria dos problemas ambientais vem seguida

de questões sociais e econômicas que acabam por impactar grande parte da sociedade, ou

seja, o problema ambiental também é compartilhado. Desta forma, todos os agentes

envolvidos na fabricação, distribuição, venda e consumo são responsáveis pelos seus resíduos.

As principais diretrizes da PNRS são:

Eliminação de áreas irregulares de disposição final de RCD (“bota-fora”) em todo o

território nacional;

Implantação de áreas de transbordo e triagem, de reciclagem e de reservação

adequada de RCD em todo o território nacional;

Realização de inventário de resíduos de construção civil;

Incremento das atividades de reutilização e reciclagem do RCD nos

empreendimentos públicos e privados em todo o território nacional;

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Fomento a medidas de redução da geração de rejeitos e resíduos de construção civil

em empreendimentos em todo o território nacional.

Uma das metas mais promissoras da PNRS é o fechamento dos conhecidos “lixões”

(local onde o lixo é depositado sem tratamento ou separação), até o ano de 2014. Para os

aterros sanitários municipais somente serão destinados os rejeitos, material este composto

quase na sua totalidade por matéria orgânica. O RCD deve ser destinado a aterros Classe A,

onde o mesmo será reservado para usos futuros. Além disso, serão implantadas área de

triagem, reutilização e reciclagem. Espera-se que até 2014 haja a eliminação de 100% das

áreas de disposição irregular do RCD (Bota Fora).

Desta forma, o mercado da reciclagem atrelada aos resíduos da construção civil promete

reverter o cenário atual nacional e atrelar poder econômico aos resíduos.

2.4 A Reciclagem de RCD

Nos anos 80, em virtude da escassez de áreas para disposição final de RCD na Europa, a

reciclagem e a minimização de resíduos passaram a ser objeto de atenção especial no setor da

construção civil e diversas políticas públicas foram implementadas com esse objetivo

(Scheneider, 2003).

Uma solução, que a cada dia ganha força entre os pesquisadores, é a reciclagem de RCD

e sua reutilização na própria construção civil como matéria-prima alternativa. Além de

redução da superexploração de jazidas minerais, para extração de recursos naturais não

renováveis, há também, a carência de locais para a deposição desses resíduos, fazendo com

que as distâncias entre os locais de demolição e as áreas de disposição sejam cada vez

maiores, onerando os custos de transporte.

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A reciclagem de RCD contribui também para a ampliação da vida útil dos aterros,

especialmente em grandes cidades em que a construção civil é intensa e há escassez de área

para deposição. Em cinco países europeus é proibida a deposição de algumas categorias de

RCD em aterros. Estas proibições variam de país para país, mas o objetivo principal é

prevenir a deposição no solo de materiais recicláveis e reutilizáveis (Dinamarca, 1997;

Holanda, 1997; Bélgica, 1998; Alemanha, 2001 e Suécia, 2002) (Murakami et al., 2002).

Segundo Costa et al. (2007), estes resíduos são compostos em sua maioria por restos de

argamassa, tijolo, alvenaria, concreto, cerâmica, gesso, madeira, metais, etc., e, em maior

parte, são considerados inertes. A reciclagem de RCD traz benefícios econômicos e

ambientais para as cidades em que é implantada. Além da diminuição dos custos de

gerenciamento do resíduo, o custo do produto reciclado é bem menor que o agregado natural.

Segundo a pesquisa de Leite (2001) citado por Costa et al. (2007), se obtém uma economia de

67% em média quando comparados os preços do agregado reciclado e do agregado natural,

porém este valor varia consideravelmente de pesquisa para pesquisa, observando-se sempre

uma relativa redução dos custos do agregado reciclado sobre o agregado natural.

Segundo Pereira (2002) citado por Coelho e de Brito (2013), em Portugal, cerca de 76%

do RCD são depositados em aterros, 11% é reutilizado, 9% é reciclado e 4% incinerado. A

realidade atual neste país é clara: a quantidade de RCD reciclados/ reutilizados (20%) é

pequena quando comparado com outros países, como o Reino Unido (52%), a Holanda

(92%), a Bélgica (89%), a Áustria (48%) e Dinamarca (81%) (Symonds Group Ltd, 1999). A

realidade de Portugal no quesito reciclagem ainda está muito aquém da Comunidade Européia

(CE), que estabelece que, no ano de 2020, pelo menos 70% do RCD deve ser reutilizado/

reciclado (Official Journal of the European Union, 2008/98/CE; Coelho e de Brito, 2013).

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Já na Irlanda, uma pequena parcela do RCD é utilizada como cobertura em aterros

sanitários, sendo a maior parte depositada em aterros ilegais. Apenas 43% do RCD foi

reutilizado/ reciclado no ano de 2000 (personal communication, JBA Consultants, 25th

August, 2003; Duran, Lenihan e O’Regan, 2006).

Sabai et al. (2013) em sua pesquisa, afirma que na Tanzânia, o RCD não é reciclado e

estudos sobre como ele pode ser reciclado, especialmente em produtos de valor como

materiais de construção, ainda são limitados. Enquanto que os Estados Unidos recicla até 70%

e a Alemanha até 90% (Conceição Leite et al., 2011).

Para Duran, Lenihan e O’Regan (2006), a viabilidade econômica do RCD é viável

quando o custo de deposição em aterro exceder o custo de transporte para o centro de

reciclagem e o custo de utilização do agregado primário exceder o custo do agregado

reciclado.

No Brasil, estudos sobre a reciclagem de RCD datam de 1983 (Pinto, 1999), porém

somente no final de 1995 as primeiras usinas de reciclagem começaram efetivamente a

operar, em escala industrial (Levy e Helene, 1997; Morais, 2006).

Para Evangelista, Costa e Costa (2010) citado por Silva e Fernandes (2012) a

reciclagem de RCD no Brasil encontra-se em atraso quando comparado aos países europeus.

De acordo com o IBGE (2000), apenas 12 dos 5.507 municípios brasileiros (0,2%) possuem

centrais de reciclagem de RCD. Somente uma parte do RCD desses municípios é destinada às

usinas de reciclagem, concluindo-se que a grande maioria dos RCD no Brasil não é reciclada.

Embora a reciclagem do RCD ainda não tenha se consolidado no âmbito das prefeituras

municipais e nem da iniciativa privada, espera-se que a partir da entrada em vigor da Política

Nacional de Resíduos Sólidos e estabelecimento de prazos para o alcance das metas, alguns

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municípios se organizem para uma efetiva política de gerenciamento do seu RSU, objetivando

a reutilização e reciclagem, inclusive, do RCD, resíduo este que compõe entre 50 e 60% do

RSU no Brasil.

2.5 Aplicabilidade do RCD reciclado

A construção civil é um dos setores que apresenta maior potencial para absorver os

resíduos sólidos. Exemplos de aplicações têm sido apresentados por diversos autores

(Carneiro et al., 2001; Levy e Helene, 1997; Lima, 1999; Pinto, 1999; Cabral et al., 2007).

Dentre as várias possibilidades, a reciclagem de RCD pode ser aplicada para diversos fins,

tais como: camadas de base e sub-base para pavimentação, coberturas primárias de vias,

fabricação de argamassas de assentamento e revestimento, fabricação de concretos, fabricação

de pré-moldados (blocos, meio-fio, dentre outros), camadas drenantes e etc.

Por exemplo, pesquisas utilizam o agregado de concreto para utilização em novos

concretos e apontam bons resultados técnicos e de custo (Tam, 2008; Oikonomou, 2005; Kou,

Poon e Chan, 2004; Buyle-Bodin, Skoczylas e Wirquin, 2003; Richardson, 2010; Grübl,

Nealen e Schmidt,1999; Farias et al., 2005). O agregado de cerâmica vermelha foi utilizado

para fazer novos tijolos (Reis, 2007), como também se revelou num ingrediente de sucesso de

argamassa (Silva, 2006; Silva, Brito e Veiga, 2007). A reciclagem de misturas betuminosas,

principalmente da demolição de estradas, tem sido exaustivamente estudada (Ainchil e

Burgueño, 2004; Baptista, 2006). Bastos et al. (2004) também salientam o emprego do RCD

em pavimentação de novas vias.

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2.5.1 Aplicabilidade de agregados reciclados em misturas asfálticas a quente

Na pavimentação do tipo concreto asfáltico mais de 90% em peso do total da mistura

corresponde a agregados de várias granulometrias. Como freio à crescente exploração de

jazidas para extração de agregados naturais juntamente com a redução de áreas destinadas a

aterros e à ampliação de técnicas de reciclagem de resíduos sólidos, diversos pesquisadores

têm aplicado agregados reciclados na pavimentação asfáltica, com a finalidade de impulsionar

o seu retorno à cadeia da construção civil.

Zhu, Wu e Wang (2012) citam em seu trabalho misturas asfálticas produzidas a partir de

agregados reciclados de concreto (Mills-Beale e You, 2010; Paranavithana e Mohajerani,

2006; Wong, Sun e Lai, 2007), agregados reciclados de tijolos (Khalaf, 2004), agregados

reciclados de vidro (West, Page e Murphy, 1993), agregados de materiais de construção

recuperados (Shen e Du, 2004; Shen e Du, 2005), agregados de resíduos da construção

e demolição (RCD) (Aljassar, Al-Fadala e Ali, 2005; Pérez, Pasandín e Medina, 2011) e

agregados provenientes de resíduos de material decorativo de quartzo (Rubio et al., 2010).

Zhu, Wu e Wang (2012) estudaram as propriedades do concreto asfáltico produzido

com agregados reciclados provenientes de edificações danificadas pelo Terremoto Wenchuan

(China). Che, Lin e Wu (2011) utilizaram o resíduo de concreto como agregado miúdo e

material de enchimento (<1,8mm) nas misturas asfálticas, mantendo os agregados graúdos

naturais. Mills-Beale e You (2010) estudaram as propriedades mecânicas do concreto

asfáltico no qual utilizaram o agregado reciclado de concreto em substituição ao agregado

natural nas proporções de 25, 35, 50 e 75% em peso.

Já Su e Chen (2002) em sua pesquisa, utilizaram agregado reciclado de vidro em

substituição ao agregado natural nas proporções 0, 5, 10 e 15% em peso e, Akbulut e Gurer

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50

(2007) utilizaram agregado proveniente de resíduo de mármore para a produção de concreto

asfáltico, ambos os resultados comprovam a viabilidade técnica das misturas.

Uma pesquisa realizada em 2012 na Espanha por Pérez, Pasandín e Medina utilizou

agregado reciclado de RCD em substituição ao agregado graúdo no concreto asfáltico. Os

pesquisadores substituíram 20, 40 e 60% do agregado graúdo natural pelo reciclado. Segundo

eles, existe uma larga aplicação do agregado reciclado de RCD em camadas de base e sub-

base e apenas um pequeno número de investigações tem lidado com este agregado em

misturas asfálticas a quente.

No Brasil, Frota, Menta e Nunes (2003) substituíram o seixo (agregado graúdo) da

mistura asfáltica por agregados reciclados produzidos na cidade de Manaus (AM). Realizaram

três misturas, sendo uma com seixo e outras duas com agregado reciclado em diferentes

proporções (50 e 60%), incluindo em todos os casos areia e também cimento Portland como

fíler. Notaram que as misturas com agregado reciclado necessitam de uma maior quantidade

de ligante, o que já era esperado, pois estes materiais apresentaram maior porosidade que os

convencionais. O teor ótimo de ligante para a mistura apenas com seixo foi de 5,5%, enquanto

para as outras misturas contendo agregado reciclado foi de 6,4 e 6,5%, respectivamente, para

as misturas com 50 e 60%. Os autores concluíram que as misturas contendo agregado

reciclado são tecnicamente viáveis, porém refletem um maior custo pelo maior consumo de

ligante.

Um artigo apresentado por Ron et al. (2008) na 15ª Reunião de Pavimentação Urbana,

em Salvador, consiste em utilizar o RCD reciclado como agregado alternativo em misturas

asfálticas, comparando suas características mecânicas e físicas com misturas confeccionadas

com agregado convencional. Concluíram que os agregados reciclados estudados apresentam

boas características, atendendo às especificações das normas na maioria dos aspectos, porém

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o teor ótimo de ligante da mistura também foi bastante elevado (7,6%), quando comparado

com misturas que utilizam agregados convencionais, acarretando em custos maiores.

Outra pesquisa brasileira, de Silva (2009), realizou quatro projetos de mistura à quente

contendo agregados de RCD, nas quais utilizou dois tipos de CAP, 30/45 e 50/70 e duas

faixas granulométricas “B” e “C” do DNIT, para fins de comparação. Realizou ensaios de

caracterização dos agregados e dosagem do concreto asfáltico baseada na metodologia

Marshall. Concluiu que, em virtude das suas propriedades físicas e mecânicas, associados aos

ligantes, o RCD é adequado para substituir os agregados naturais em camadas betuminosas de

vias urbanas de tráfego leve.

2.6 Conclusão

Apesar dos mais diferentes dados quanto ao percentual de reaproveitamento do RCD

nos mais diferentes países do mundo, pesquisadores, políticos, governos e a própria sociedade

estão se voltando cada vez mais para esta realidade, buscando a redução da sua geração e o

seu reaproveitamento através de legislações e das mais diversas aplicabilidades,

principalmente, na indústria da construção civil, na forma de agregados reciclados, a fim de

promover o seu retorno à cadeia da construção.

Os agregados reciclados, além de apresentarem custo de produção inferior ao dos

agregados naturais, ainda promovem um “ganho ambiental”, uma vez que deixa-se de extrair

matéria-prima natural e dá-se um destino final a este tipo de resíduo que tem uma elevada

participação no RSU. Porém, o grande empecilho para sua reutilização, é cultural, uma vez

que há desconfiança de construtores e clientes quanto ao bom desempenho dos produtos

gerados pelo mesmo, e também normativo, uma vez que não há normas que assegurem a sua

aceitação no mercado, devido à sua grande heterogeneidade.

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Políticas e campanhas de conscientização devem inserir tal consciência à sociedade,

uma vez que, as ações para alcançar a sustentabilidade devem abranger desde a escala

individual, em que cada indivíduo faz o seu papel, até a escala mundial, através de governos,

organizações, associações e empresas privadas. E, uma forma de assegurar o desempenho e

qualidade dos agregados de RCD, é através da implantação de controle de qualidade, de

forma a reduzir a variabilidade, de acordo com a sua aplicação. Diversas pesquisas já

apresentam algumas estratégias para se reduzir a variabilidade, como por exemplo, o uso de

dosador para se produzir misturas de agregados reciclados e naturais; britagem somente de

alguns tipos de RCD, de acordo com a sua finalidade; classificador espiral para remover a

fração orgânica dos agregados; e etc.

No Brasil, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, espera-se que cada estado

adote medidas de reciclagem de RCD, através da implantação de usinas de britagem para a

produção de agregados. Porém, além de produzir agregados reciclados, devem implantar

medidas que garantam a sua utilização. Alguns estados, como por exemplo, Minas Gerais, na

cidade de Belo Horizonte, a prefeitura utiliza o RCD reciclado em obras de reestruturação de

vilas habitacionais de baixa renda, em obras de manutenção de instalações de limpeza urbana,

em pavimentações e em outras obras públicas.

Desta forma, é necessário, com urgência, não mais apenas a implantação de leis para

uma efetiva redução deste resíduo; mas uma efetiva execução destas medidas, para que não se

tenha apenas no papel e sim no cotidiano, de cada brasileiro, essa realidade. De forma que

possamos ver, um inimigo, o resíduo da construção e demolição, tornar-se um aliado.

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Capítulo 3

Produção de Concreto Asfáltico Usinado a Quente Utilizando Agregados Reciclados

Provenientes de RCD

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PRODUÇÃO DE CONCRETO ASFÁLTICO USINADO A QUENTE UTILIZANDO

AGREGADOS RECICLADOS PROVENIENTES DE RCD

Luzana Leite Brasileiro1,

*, José Milton Elias de Matos1

1 LIMAV, CCN, UFPI, Teresina-PI, CEP 64049-550.

*[email protected]

RESUMO

A cada ano, há um considerável aumento na exploração de jazidas para suprir o

mercado dos agregados. Por outro lado, cresce também a produção de resíduos sólidos

provenientes da construção e demolição (RCD). No ano de 2010 o Brasil aprovou a PNRS

(Política Nacional de Resíduos Sólidos), a qual define a forma como o país deve dispor os

seus resíduos, incentivando à reciclagem e à sustentabilidade. Como alternativa para o

problema exposto, este trabalho tem como objetivo investigar a viabilidade da substituição

parcial e total dos agregados do concreto asfáltico por agregados reciclados provenientes de

RCD, de forma a reduzir os impactos ambientais provocados pela exploração de jazidas e dar

uma destinação final adequada sob a forma de reciclagem ao resíduo produzido pelo homem

na construção civil. Executaram-se 05 (cinco) projetos de mistura: no primeiro (parâmetro da

nossa pesquisa) utilizaram apenas agregados naturais (0% de RCD), no segundo, terceiro e

quarto substituíram 25%, 50% e 75% respectivamente, do agregado natural pelo agregado

reciclado e no quinto e ultimo, utilizaram apenas agregados reciclados (100% de RCD).

Realizaram-se a caracterização dos agregados por meio de ensaios físicos, químicos e

mecânicos, analisando-os com base de referência em normas específicas de pavimentação.

Em relação às misturas, foram calculados os parâmetros volumétricos e realizados ensaios

mecânicos de resistência à tração e estabilidade. Os resultados indicam que o agregado

reciclado, em proporção definida, pode substituir o agregado natural nos pavimentos flexíveis.

Palavras chave: RCD, agregados reciclados, agregados naturais, concreto asfáltico.

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ABSTRACT

Each year, there is a considerable increase in the exploitation of deposits to supply the

market for aggregates. On the other hand, also increases the production of solid waste from

construction and demolition waste (CDW). In 2010, Brazil approved the PNRS (National

Policy on Solid Waste), which defines how the nation should dispose its waste, encouraging

recycling and sustainability. As an alternative to the problem above, this study aims to

investigate the feasibility of partial and total replacement of the asphalt concrete aggregates

by recycled aggregates from CDW, to reduce the environmental impacts caused by the

operation of mines and give adequate final destination in the form of recycling the waste

produced by humans in the construction industry. Were executed five (05) mix designs: the

first (parameter of our research) used only natural aggregates (0% CDW); in the second, third

and fourth replaced 25%, 50% and 75% respectively of natural aggregate by recycled

aggregate; and the fifth and last, using only recycled aggregates (100% CDW). The

characterization of the aggregates was made through physical, chemical and mechanical

assays, analyzing them based on specific reference standards of paving. For mixtures,

volumetric parameters were calculated and performed mechanical testing of traction

resistance and stability. The results indicate that the recycled aggregate in definite proportion,

can replace natural aggregate in flexible pavements.

Keywords: CDW, recycled aggregates, natural aggregates, asphalt concrete.

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3.1 Introdução

A Construção Civil é reconhecida como uma das mais importantes atividades para o

desenvolvimento econômico e social, mas por outro lado, comporta-se ainda como grande

geradora de impactos ambientais (Pinto, 2005). Na maioria dos países, emprega-se largamente

o revestimento asfáltico como camada de pavimentos rodoviários, urbanos, entre outros. No

Brasil, mais de 95% das estradas pavimentadas são de revestimento asfáltico, além de ser

também utilizado em grande parte das vias urbanas (Bernucci et al., 2008).

O agregado que é utilizado nas misturas asfálticas é obtido da exploração de jazidas e

provém da britagem de rochas como o basalto, granito, gnaisse, calcário, entre outros tipos, os

quais são transformados em pedra britada com vários tamanhos e de graduação específica

(Zhu, Wu e Wang, 2012). A construção e a manutenção dos pavimentos asfálticos requerem

grandes quantidades de agregados, os quais normalmente são responsáveis por mais de 90%

em peso das misturas asfálticas (Huang, Bird e heidrich, 2007).

A produção e venda de ligante asfáltico pela Petrobras para fins de aplicação em obras

de infraestrutura no Brasil registraram recorde em 2010, tendo sido produzido 2,763 milhões

de toneladas de asfalto, um crescimento de 32% em relação ao ano de 2009, o que leva a

estimar um consumo de aproximadamente 35 milhões de toneladas de agregados extraídos

das reservas naturais para misturas a quente (Petrobras, 2011). Por outro lado, em 2011, a

coleta de RCD (Resíduos da Construção e Demolição) executada apenas pelos serviços

públicos, aumentou 7,2% em relação a 2010, chegando a 33 milhões de toneladas em todo o

Brasil (ABRELPE, 2011), sem considerar a coleta efetuada pelas empresas privadas, a qual

ocupa um percentual bem superior ao dos órgãos públicos.

De posse do fato que há um crescente consumo de agregados naturais, tanto para a

geração de insumos como para aplicação direta na indústria da construção civil; aliado à

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crescente produção de RCD, têm levado à consolidação de técnicas de reciclagem. O uso de

agregados reciclados em misturas asfálticas tem sido um tema interessante para a proteção do

ambiente e desenvolvimento sustentável (Zhu, Wu e Wang, 2012).

Unindo força à Resolução nº 307 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio

Ambiente) de 2002, a qual determina diretrizes para uma efetiva redução dos impactos

ambientais provocados pelo RCD, no ano de 2010 o Brasil aprovou a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS), a qual define a forma como o país deve dispor os seus resíduos,

incentivando a reciclagem e a sustentabilidade. Neste contexto, a reciclagem de resíduos é

fundamental para implementar um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de

satisfazer as necessidades do conjunto da população do presente sem comprometer a

capacidade de sobrevivência das gerações futuras (Jadovski, 2005).

Com base no exposto, este trabalho visa avaliar o uso do agregado reciclado de RCD na

produção de concreto asfáltico usinado a quente (CAUQ). O agregado reciclado foi produzido

pela britagem do RCD, e o mesmo foi caracterizado físico, químico e mecanicamente, de

forma análoga aos agregados naturais, utilizando como referências normas do DNIT e DNER

adotadas para aplicação em pavimentos flexíveis.

De posse das propriedades dos agregados, foram realizados cinco projetos de mistura,

sendo que no primeiro (parâmetro da nossa pesquisa), utilizou-se apenas agregados naturais

(0% de RCD), no segundo, terceiro e quarto substitui-se 25%, 50% e 75% respectivamente,

do agregado natural pelo agregado reciclado e no quinto e ultimo, utilizou-se apenas

agregados reciclados (100% de RCD). Essas misturas foram caracterizadas, físico e

mecanicamente, de forma a verificar as condições impostas pela norma DNIT-ES 031/2006.

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3.2 Parte Experimental

3.2.1 Materiais

Agregados

O RCD utilizado neste trabalho foi gerado de várias obras da cidade de Teresina. O

mesmo foi coletado manualmente e colocado em sacos de nylon de capacidade

aproximadamente de 60 Kg, até a totalização de 10 sacos (600 Kg). Como a cidade de

Teresina não é provida de usina de reciclagem de entulho, o mesmo foi britado em um

britador de mandíbulas, da marca METSO, de propriedade particular da Construtora Sucesso.

O RCD sofreu britagem e separação de graduação análoga à dos agregados naturais, e a partir

deste processo, foi denominado de Agregado Reciclado de RCD.

Os agregados naturais, brita e pó de brita, foram provenientes da usina Britaplan

Mineração, situada na cidade de Floriano (Piauí) e a areia lavada foi extraída do Riacho

Riachão, situado na cidade de Monsenhor Gil (Piauí); ambos foram cedidos pelo 2º Batalhão

de Engenharia e Construção (2° BEC), material este que está sendo utilizado para a execução

de um projeto de concreto asfáltico na cidade de Manoel Emídio (PI).

Como material finamente pulverizado, foi utilizado o cimento Portland da marca Poty,

adquirido no comércio local da cidade de Teresina-PI.

Ligante Asfáltico

O ligante utilizado nesta pesquisa foi o cimento asfáltico de petróleo – CAP 50/70,

proveniente da empresa Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste – LUBNOR,

refinaria da Petrobrás, situada na cidade de Fortaleza – CE, também cedido pelo 2º BEC.

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3.2.2 Caracterização dos agregados

3.2.2.1 Nomenclatura

Os agregados naturais foram classificados como Brita 19 (B 19) (maior percentual pass.

# 19,1mm e ret. # 12,7mm), Brita 9,5 (B 9,5) (maior percentual pass. # 9,5mm e ret. #

4,76mm), Pó de Brita (PB) (granulometria corrida, maior percentual pass. # 4,76mm)e Areia

Lavada (AL)(maior percentual pass. # 0,42mm e ret. # 0,18mm). De forma análoga, o

agregado reciclado proveniente de RCD foi denominado de Resíduo Reciclado 19 (RR 19),

Resíduo Reciclado 9,5 (RR 9,5), Pó de Resíduo (PR) e Areia de Resíduo (AR), conforme

mostrado na Figura 3.1.

Figura 3.1 – Denominação dos agregados naturais e reciclados.

O material finamente pulverizado foi denominado de Cimento Portland (CP) e Fíler de

Resíduo (FR) (Figura 3.2), cuja granulometria de ambos, mais de 95% passa na peneira de n°

200 (0,075mm).

Figura 3.2 – Denominação do material finamente pulverizado.

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3.2.2.2 Composição do RCD

O RCD utilizado é composto basicamente por concretos, argamassas, pedras, cerâmicas

vermelhas (telhas, tijolos e lajotas), cerâmicas de revestimento (pisos e azulejos), asfalto,

mármore e granitos. Como o processo de seleção do RCD foi manual, foram excluídos do

RCD materiais como madeiras, plásticos, ferragens e isopor. Para avaliar a constituição do

RCD foram avaliadas 3 amostras de 5 kg do RR 19 (Figura 3.3) por meio de análise visual e

separação por catação (Figura 3.4) em grupos da mesma natureza.

Figura 3.3 – Amostra de 5 Kg do RR 19.

Figura 3.4 – Separação por catação da amostra de RR 19.

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Cada grupo foi pesado e determinado sua porcentagem em relação ao peso total da

amostra do agregado coletado (Figura 3.5). Todos os outros agregados reciclados seguem a

mesma composição do RR 19, com exceção da areia de resíduo (AR) que é composta

basicamente de resíduos de concreto e argamassa.

Figura 3.5 – Percentual em peso dos resíduos componentes do RR 19.

3.2.2.3 Composição granulométrica

A granulometria é a distribuição do tamanho relativo dos grãos que formam a fase

solida dos solos. Nesta avaliação foi utilizado o método de ensaio do Departamento Nacional

de Infraestrutura de Transportes (DNIT), DNER-ME 083/98: “Agregados – Análise

granulométrica”, utilizando o seguinte conjunto de peneiras de malhas quadradas: 25,4; 19,1;

12,7; 9,5; 4,8; 2,0; 0,42; 0,18 e 0,075 mm. Para os agregados B 19 e RR 19, utilizamos

amostras de 7 Kg; para os agregados B 9,5 e RR 9,5, amostras de 5 Kg; e para os agregados

PB, PR, AL e AR, amostras de 1 Kg, conforme discrimina o item 5, da referida norma.

45,47%

24,19%

12,68% 12,04%

3,10% 2,53%

0,00%

25,00%

50,00%

75,00%

100,00%

Concretos/ argamassas

Rochas

Cerâmica vermelha

Cerâmica de revestimento

Asfalto

Granitos/ mármores

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73

Na Tabela 3.1, são apresentados os valores médios resultantes de 2 ensaios e adotados

para a distribuição granulométrica e, na Figura 3.6, as curvas granulométricas dos agregados.

Tabela 3.1 – Distribuição granulométrica dos agregados naturais e reciclados.

Agregados Percentual Passante (%)

25,4 19,1 12,7 9,5 4,8 2,0 0,42 0,18 0,075

Naturais

B 19 100 100 44,0 15,0 0,6 0,5 0,5 0,5 0,5

B 9,5 100 100 100 95,5 39,4 4,1 2,6 2,2 1,6

PB 100 100 100 99,9 97,7 48,9 14,3 5,4 0,8

AL 100 100 100 100 100 100 89,6 14,5 1,4

Reciclados

RR 19 100 100 11,9 0,8 0,5 0,5 0,4 0,3 0,2

RR 9,5 100 100 100 63,2 1,5 0,8 0,7 0,7 0,6

PR 100 100 100 100 88,7 63,3 32,6 10,4 2,8

AR 100 100 100 100 99,8 82,0 26,9 6,7 0,8

Figura 3.6 – Curvas granulométricas dos agregados.

Os materiais de enchimento CP e FR apresentaram distribuição granulométrica de 97 e

98% passando na peneira 0,075mm (nº 200), respectivamente.

0,1 1 10 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Pe

rce

ntu

al p

ass

an

te (

%)

Abertura das peneiras (mm)

AR

AL

PR

PB

RR 9,5

B 9,5

RR 19

B 19

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74

3.2.2.4 Massa específica

Agregado graúdo

A massa específica e absorção dos agregados graúdos foram obtidas de acordo com o

método DNER – ME 195/97: “Agregados – determinação da absorção e da massa especifica

do agregado graúdo”, bem como as seguintes definições:

Absorção: aumento da massa do agregado, devido ao preenchimento dos seus poros por

água, expresso como percentagem de sua massa seca;

Massa específica na condição seca (densidade real): relação entre a massa do agregado

seco e seu volume, excluindo os vazios permeáveis;

Massa específica na condição saturada superfície seca (densidade aparente): relação

entre a massa do agregado na condição saturada superfície seca e o seu volume, excluídos os

vazios permeáveis;

Vazios permeáveis: descontinuidades ligadas diretamente à superfície externa dos

agregados que, na condição saturada superfície seca, são passíveis de reter água;

Foram separadas amostras de 3 Kg para os agregados B 19 e RR 19 e, amostras de 2 Kg

para os B 9,5 e RR 9,5, conforme item 5 da referida norma. Todas as amostras foram lavadas

e secas até a constância de massa. Em seguida, foram imersas em água, por um período de

24h. Após as 24h foram secas superficialmente com um pano absorvente, de forma a retirar o

excesso de água constante na superfície. Este serviço foi executado rapidamente de forma a

evitar a evaporação da água contida no interior do agregado (poros). Com utilização de uma

balança, registramos a massa dos agregados na condição saturada superfície seca

(determinação “B”). Imediatamente após, foi acoplada a haste na parte inferior da balança de

forma a retirar a massa dos agregados imersos em água à temperatura ambiente (determinação

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75

“C”). As amostras foram secas novamente até a constância de massa e por último, retirada a

massa do agregado seco (determinação “A”).

Os parâmetros foram obtidos através das seguintes Equações 1.a, 1.b, e 1.c:

Eq. 1

a) b) c)

Em que:

Abs = absorção (%);

γs = massa específica na condição seca (g cm-3

);

γsss = massa específica na condição saturada superfície seca (g cm-3

);

A = peso da amostra seca (g);

B = peso da amostra saturada superfície seca (g);

C = peso da amostra imersa (g).

A Tabela 3.2 mostra a média resultante da realização do ensaio em 2 amostras:

Tabela 3.2 – Absorção e massa específica dos agregados graúdos.

Ensaios Agregados reciclados Agregados naturais

Absorção (%) RR 19 – 4,78 B 19 – 0,63

RR 9,5 – 7,46 B 9,5 – 0,68

Densidade real (g cm-3

) RR 19 – 2,562 B 19 – 2,855

RR 9,5 – 2,550 B 9,5 – 2,814

Densidade aparente (g cm-3

) RR 19 – 2,283 B 19 – 2,805

RR 9,5 – 2,143 B 9,5 – 2,761

100xA

AB=Abs

CA

A=γs

CB

A=γsss

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76

Agregado miúdo

Para avaliar a massa específica do agregado miúdo, fração abaixo de 4,8mm, foi

utilizado o método do picnômetro do DNER – ME 084/95: “Agregado miúdo – determinação

da massa específica real”. Este procedimento faz uso do picnômetro de 500 ml e 500 g de

material situado entre as peneiras de 4,8 e 0,075 mm.

A densidade real do agregado miúdo é calculada pela seguinte expressão:

B)(CA)(D

AB=D

25 Eq. 2

Em que:

25D = Densidade real do agregado miúdo a 25ºC;

A = Peso do picnômetro limpo e seco (g);

B = Peso do picnômetro mais amostra (g);

C = Peso do picnômetro mais amostra e água, após fervura (g);

D = Peso do picnômetro mais água (g).

Foram analisadas 2 amostras do agregado miúdo, cujo resultado das médias encontra-se

na Tabela 3.3. Não foi possível a obtenção da densidade aparente do agregado miúdo devido à

impossibilidade da obtenção da condição saturado superfície seca em razão das partículas

finas.

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77

Tabela 3.3 – Densidade real do agregado miúdo.

Ensaio Agregados reciclados Agregados naturais

Densidade real do

agregado miúdo

PR – 2,574 PB – 2,699

AR – 2,571 AL – 2,556

Material de enchimento

O cimento Portland (CP) apresentou massa específica real de 3,077 g cm-3

, enquanto o

Fíler de Resíduo (FR) apresentou massa específica real de 2,778 g cm-3

. A metodologia

utilizada foi a do DNER-ME085/94: “Material finamente pulverizado – determinação da

massa específica real”, como uso do frasco de Le Chatelier.

3.2.2.5 Porosidade

A absorção do agregado, como função da densidade, está diretamente relacionada à

porcentagem de interstícios (poros) na massa cristalina das partículas, dessa forma Lettier et

al. (1949), citado por Gouveia et al. (2004), relacionaram porosidade e absorção através da

densidade aparente do agregado, verificando que quanto menor a densidade aparente dos

agregados de mesma origem, maior é a absorção de água.

A porosidade total dos agregados pode ser determinada pela razão entre a massa

específica na condição saturada superfície seca e a massa específica seca, definida pela

Equação 3 e os resultados são apresentados na Tabela 3.4. Como não possuímos a densidade

aparente dos agregados miúdos devido à dificuldade de obtenção da condição saturada

superfície seca, a porosidade somente é determinada para os agregados graúdos.

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78

100100Pt xγ

γ

s

sss Eq. 3

Em que:

Pt = Porosidade total (%);

γs = Massa especifica na condição seca (g cm-3

);

γsss = Massa especifica na condição saturada superfície seca (g cm-3

).

Tabela 3.4 – Porosidade dos agregados graúdos.

Ensaio Agregados reciclados Agregados naturais

Porosidade (%) RR 19 – 10,90 B 19 – 1,75

RR 9,5 – 15,98 B 9,5 – 1,89

3.2.2.6 Resistência ao desgaste

A avaliação do desgaste em laboratório objetiva verificar a resistência do agregado

frente às ações do tráfego, bem como dos efeitos do processo de compactação. Essa

determinação pode ser efetuada quando se submete uma quantidade de agregados na máquina

“Los Angeles” juntamente com uma carga abrasiva e a um nº determinado de revoluções,

proposto no método de ensaio DNER-ME 035/98: “Agregados - determinação da abrasão Los

Angeles”.

Para separação das amostras a serem ensaiadas, deve-se conhecer, em princípio, a

distribuição granulométrica dos agregados ou seus diâmetros - máximo e mínimo - de modo a

enquadrá-las em uma das faixas de graduação do item 5.1 da referida norma, que relaciona o

diâmetro dos agregados, com a massa da amostra e o número de rotações do tambor. Desta

forma, os agregados RR 19 e B 19 se adequaram à “graduação B”, e foram separadas 2.500 g

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79

de material passante na peneira de 19,1 mm e retido na peneira 12,5 mm, juntamente com

2.500 g de material passante na peneira de 12,5 mm e retida na peneira de 9,5 mm, totalizando

uma amostra de 5.000 g. Os agregados RR 9,5 e B 9,5 se adequaram à “graduação C”, e

foram separadas 2.500 g de material passante na peneira de 9,5 mm e retido na peneira 6,3

mm e 2.500 g de material passante na peneira de 6,3 mm e retida na peneira de 4,8 mm,

totalizando uma amostra também de 5.000 g. Ambas as amostras serão submetidas a 500

rotação no tambor Los Angeles.

A carga abrasiva consiste em esferas de aço pesando entre 390 e 445 g. O número de

esferas colocadas junto com a amostra no cilindro Los Angeles varia em função do diâmetro

máximo do agregado de acordo com o item 5.3.1 da norma utilizada. Para as amostras de

“graduação B”, foram utilizadas 11 esferas e para as amostras de “graduação C”, 8 esferas.

As amostras foram inseridas no tambor a uma rotação de 30 a 33 rpm até completar as

500 rotações. Em seguida o material foi retirado e lavado na peneira 1,7mm. O material retido

foi colocado na estufa a 110º C por um período de 3h. O desgaste por abrasão foi calculado

pela Equação 4 e o resultado da média de 3 amostras ensaiadas, na Tabela 3.5.

Eq. 4

Em que:

An = abrasão “Los Angeles” da graduação n;

n = graduação (A, B, C, D, E, F ou G) escolhida para o ensaio;

mn = massa total da amostra seca colocada na maquina (g);

m’n = massa após o desgaste retida na peneira de 1,7 mm (g).

100

n

nnn

m

m'm=A

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80

Tabela 3.5 – Abrasão “Los Angeles” dos agregados graúdos.

Ensaio Agregados reciclados Agregados naturais

Abrasão “Los Angeles”

(%)

RR 19 – 46 B 19 – 15

RR 9,5 – 48 B 9,5 – 23

3.2.2.7 Adesividade ao ligante betuminoso

A adesividade do agregado ao ligante betuminoso é definida como a propriedade que o

agregado possui de ser aderido pelo material betuminoso. Essa característica é importante no

sentido de se prever uma possível falta de afinidade entre o agregado e o ligante, resultando

na soltura do betume e o desnudamento do agregado, levando à desagregação da mistura

asfáltica. É nesse procedimento que se analisa a inclusão do promotor (melhorador) de

adesividade no ligante ou no agregado, de maneira a sanar essa deficiência. Para melhorar a

adesão ligante-agregado adicionam-se compostos que melhorem a afinidade química do par.

Exemplos desses aditivos são a cal hidratada e os aditivos promotores de adesão (líquidos e

sólidos) conhecidos como “dope” e disponibilizados pelos próprios fornecedores de asfalto.

A avaliação da adesividade do agregado de RCD e do agregado pétreo natural ao

cimento asfáltico de petróleo (CAP) foi realizada conforme o método preconizado pelo

DNER – ME 78/94: “Agregado graúdo – adesividade a ligante betuminoso”.

O procedimento consiste em adicionar 17,5 g de cimento asfáltico em 500 g de

agregado graúdo (fração que passa na peneira de 19,1mm e retida na peneira de 12,7 mm)

devidamente aquecidos, ligante a120 ºC e agregados a 100 ºC.

A mistura envolvida é colocada em superfície lisa para esfriamento. Em seguida é

colocada no vasilhame de vidro e recoberta com água destilada e colocada em repouso, em

estufa a 40 ºC por um período de 72h.

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81

O resultado do ensaio é apenas qualitativo, sendo considerado satisfatório se não houver

deslocamento da película asfáltica ao final do período de 72h e não satisfatório se houver

deslocamento parcial ou total no mesmo período. Os agregados naturais, B 19 e B 9,5,

apresentaram resultado satisfatório.

No caso do agregado de RCD, o procedimento descrito passou por uma adaptação em

razão da dificuldade de se obter um envolvimento adequado do agregado pelo ligante.

Ressalta-se que ao executá-lo, observou-se que a quantidade de CAP de 17,5 g, que

corresponde a 3,5% em peso do total da amostra, após a mistura com o agregado de RCD, era

absorvida, não sendo suficiente para um total recobrimento da superfície do agregado. Pode-

se atribuir o fato à absorção do ligante pelo agregado, em razão de sua porosidade.

Para sanar essa questão, foram efetuadas tentativas de misturas com teores crescentes de

betume, na ordem de 0,5%, até que se verificasse uma película de ligante envolvendo todo o

agregado. A mistura com teor de 4,5% de betume foi a que se mostrou mais adequada para as

amostras de RCD estudadas nesta pesquisa. Após 72 horas de permanência a 40ºC, não houve

deslocamento da película aderida aos agregados. Resultado também considerado satisfatório.

3.2.2.8 Forma do agregado

Nas misturas asfálticas as partículas de agregados devem ser mais cúbicas que planas

(chatas), finas ou alongadas. As partículas de forma angular exibem um maior

intertravamento e atrito interno, resultando consequentemente em uma maior estabilidade

mecânica que partículas lamelares. Assim, a avaliação dessa propriedade é fundamental para

o desempenho da mistura.

Nesta pesquisa, foi adotada a norma DNER-ME 86/94: “Agregado – determinação do

índice de forma” que prescreve o procedimento por meio do qual se determina o índice de

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82

forma de agregados. O método utiliza conjuntos de peneiras com crivos de abertura circular e

conjunto de crivos redutores com aberturas retangulares.

Inicialmente, através da análise granulométrica do material a ser ensaiado, determina-se

a graduação a qual o material se encaixa, conforme item 5, da referida norma. Os agregados B

19 e RR 19 se encaixaram na “graduação C”, a qual utiliza as peneiras de crivos circulares de

abertura 19; 16; 12,7 e 9,5 mm, totalizando uma amostra de 6 Kg. Estas amostras foram

passadas nos crivos redutores: crivos I – 9,5; 8,0; 6,3 mm e crivos II – 6,3; 5,3 e 4,2 mm. O

material, passante nos crivos I, é em seguida passado nos crivos II e, anotados os pesos

retidos em ambos os crivos.

Após seguir toda a metodologia do ensaio o índice de forma é calculado pela Equação 5

e a Tabela 3.6 identifica o resultado do ensaio descrito acima para os agregados graúdos.

Eq. 5

Em que:

f = índice de forma;

P1 = soma das percentagens retidas nos crivos I (%);

P2 = soma das percentagens retidas nos crivos II (%);

n = n° de frações que compõem a graduação escolhida.

Tabela 3.6 – Índice de forma dos agregados graúdos.

Ensaio Agregados reciclados Agregados naturais

Índice de forma RR 19 – 0,89 B 19 – 0,76

RR 9,5 – 0,90 B 9,5 – 0,79

n

P2O+P1=f

100

,5

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83

3.2.2.9 Durabilidade

Os agregados podem sofrer processos de desintegração química quando expostos às

condições ambientais como umedecimento e secagem com variações de temperatura no

pavimento. A resistência dos agregados sujeitos à ação do tempo e à desintegração química

pode ser determinada por meio de ensaio que consiste em atacar o agregado com solução

saturada de sulfato de sódio ou de magnésio, em cinco ciclos de imersão com duração de 16 a

18 horas, à temperatura de 21º C, seguidos de secagem em estufa. Para avaliação da

durabilidade dos agregados foi utilizado o método DNER-ME 089/94: “Agregados –

Avaliação da durabilidade pelo emprego de soluções de sulfato de sódio ou de magnésio”

As amostras foram separadas conforme descreve o item 5 da referido norma, totalizando

1.000 g para os agregados B 19 e RR 19 e 300 g para os agregados B 9,5 e RR 9,5. As

amostras foram imersas em solução de sulfato de magnésio por um período de 16h e depois

colocadas em estufa para secagem. Este processo foi repetido até se completar 5 ciclos e ao

final do último ciclo as amostras foram lavadas em solução de cloreto de bário e depois em

água corrente e colocadas novamente na estufa para secagem até a constância de massa.

A perda de massa encontrada através percentagem da fração passante pela peneira na

qual foi originalmente retida está representada na Tabela 3.7:

Tabela 3.7 – Perda de massa dos agregados graúdos.

Ensaio Agregados reciclados Agregados naturais

Perda de massa (%) RR 19 – 9 B 19 – 2,7

RR 9,5 – 11 B 9,5 – 5

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84

3.2.2.10 Equivalente de Areia

O ensaio DNER-ME 054/97 “Equivalente de Areia” é usado para determinar a

proporção relativa de finos plásticos e pó em agregados finos. É definido como a relação

volumétrica entre a altura do nível superior da areia e a altura do nível superior da suspensão

argilosa do agregado miúdo numa proveta em meio a uma solução padronizada.

O ensaio consiste em inserir a solução floculante até atingir a altura da primeira marca

da proveta, em seguida, com o auxílio de um funil inserir a amostra, bater no fundo da proveta

para remover as bolhas de ar existentes e deixar em repouso pelo período de 10min. Em

seguida, agitar vigorosamente, conforme metodologia descrita no item 7.d da referida norma,

lavar as paredes da proveta com a solução, até que o líquido atinja a segunda marca da

proveta, deixando-a novamente em repouso, por 20 minutos. Após 20 minutos, determina-se

a altura no topo da suspensão argilosa e com o auxílio de um pistão, a altura no topo da areia.

Calcula-se o equivalente de areia através da Equação 6 e os resultados encontrados em 3

determinações estão contidos na Tabela 3.8:

Eq. 6

Tabela 3.8 – Equivalente de areia dos agregados miúdos.

Ensaio Agregados reciclados Agregados naturais

Equivalente de areia (%) PR – 73,7 PB – 78,6

AR – 80,3 AL – 68,7

100arg

xiladatoponoLeitura

areiadatoponoLeitura=EA

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85

3.2.3 Caracterização do ligante

Esta pesquisa não realizou diretamente a caracterização do ligante, visto que o produto

betuminoso ao sair da refinaria, cada lote, é atestado com os resultados dos ensaios

laboratoriais exigidos pela ANP (Agência Nacional de Petróleo), conforme mostra Tabela 3.9,

fornecida pela LUBNOR.

Tabela 3.9 – Caracterização do ligante asfáltico CAP 50/70 (LUBNOR).

Característica Método Limites Resultado Unidade

Penetração ASTM D5-73 50 A 70 69 0,1 mm

Ponto de amolecimento ASTM D36-76 46 MIN 47,2 Grau C

Visc*.Saybolt Furol a 135 gc ASTM E102-93 141 MIN 193 S

Visc. Brookfield 135 gc–sp21

20 rpm

ASTM D4402 274 MIN 379 Cp

Visc. Brookfield 150 gc–sp21 ASTM D4402 112 MIN 188 Cp

Visc. Brookfield 177 gc–sp21 ASTM D4402 57 A 285 69 Cp

Rtfot penetração retida ASTM D5-73 55 MIN 67 %

Rtfot – aumento do ponto de

amolecimento

ASTM D36-76 8 MAX 4,6 Grau C

Rtfot – ductilidade a 25 gc ASTM D113-79 20 MIN >150 Cm

Rtfot variação em % massa ASTM D2872 -0,50 A

0,50

-0,005 %

Ductilidade a 25 gc ASTM D113-79 60 MIN >150 Cm

Solubilidade no tricloroetileno ASTM D2042 99,5 MIN 100,0 % massa

Ponto de fulgor ASTM D92-78 235 MIN >300 Grau C

Índice de suscetibilidade

térmica

X 018 -1,5 A 0,7 -0,2 N/A

Aquecimento a 177 gc X 215 NE** NE N/A

*Viscosidade, **Não espuma

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86

3.2.4 Caracterização das misturas

Neste trabalho foram estudadas 5 (cinco) misturas asfálticas com distribuições

granulométricas contínuas. A Mistura 1 possui um traço bastante usual e é aplicado tanto em

rodovias como em vias urbanas das mais diversas cidades. Seu traço é composto por

agregados naturais e um percentual muito pequeno de material de enchimento industrial,

cimento pozolânico (3% em peso). Este traço, foi o traço projetado pelo 2° BEC para

execução do trecho de concreto asfáltico a ser executado na cidade de Manoel Emídio (PI).

As outras misturas substituíram gradativamente os agregados naturais por agregados

reciclados de RCD, de forma que as Misturas 2, 3 e 4 possuem 25, 50 e 75% (em peso),

respectivamente, de agregados reciclados em substituição do agregado natural. A Mistura 5 é

composta completamente por agregados reciclados, inclusive o material de enchimento CP

(cimento Portland) foi substituído pelo fíler de resíduo (FR). Nesta parte do trabalho

mostraremos como foram feitas as dosagens e a caracterização das misturas.

3.2.4.1 Preparação das misturas: dosagem e moldagem dos corpos-de-prova

O procedimento de dosagem seguiu a metodologia Marshall, metodologia esta utilizada

para concreto asfáltico usado em camada de rolamento. É especificado pelo DNIT, na norma

DNER–ME 043/95: “Misturas betuminosas à quente – ensaio Marshall” e pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas – ABNT na norma NBR 12891 – “Dosagem de misturas

betuminosas pelo método Marshall”.

O método consiste, primeiramente, na análise granulométrica de todos os agregados

que irão compor a mistura. Em seguida escolhe-se uma faixa granulométrica estabelecida na

especificação de concreto asfáltico, DNIT-ES 031/2006, conforme Tabela 3.10.

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87

Tabela 3.10 – Faixas granulométricas para concreto asfáltico (DNIT ES-31/2006).

Peneira de malha quadrada % em massa passando

Serie ASTM Abertura (mm) A B C Tolerâncias

2” 50,8 100 - - -

1½” 38,1 95-100 100 - ±7

1” 25,4 75-100 95-100 - ±7

¾” 19,1 60-90 80-100 100 ±7

½” 12,7 - - 80-100 ±7

3/8” 9,5 35-65 45-80 70-90 ±7

Nº4 4,8 25-50 28-60 44-72 ±5

Nº10 2 20-40 20-45 22-50 ±5

Nº40 0,42 10-30 10-32 8-26 ±5

Nº80 0,18 5-20 8-20 4-16 ±3

Nº200 0,075 1-8 3-8 2-10 ±2

Adotou-se a faixa “C” devido ser a faixa mais comumente utilizada para execução de

camada de rolamento de concreto asfáltico. Após a escolha da faixa, é escolhido o percentual

em massa de cada agregado para formar a mistura, somando-se 100% sem considerar, ainda, o

percentual de ligante, de forma que a mistura dos agregados se enquadre totalmente dentro da

faixa escolhida. A Tabela 3.11 apresenta o percentual adotado para cada agregado nas

misturas.

Tabela 3.11 – Dosagem dos agregados nas misturas.

Misturas Agregados % de

RCD B 19 RR 19 B 9,5 RR 9,5 PB PR AL AR CP FR

M 1 25% - 30% - 30% - 12% - 3% - 0%

M 2 25% - 38% - - 25% 10% - 2% - 25%

M 3 - 10% - 40% 39% - 8% - 3% - 50%

M 4 21% - - 19% - 56% 2% - 2% - 75%

M 5 - 13% - 30% -- 45% - 10% - 2% 100%

A Figura 3.7 ilustra as curvas granulométricas das misturas de forma a perceber o

encaixe dentro das faixas inferior e superior da faixa “C” do DNIT 031/2006.

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88

Figura 3.7 – Curvas granulométricas das misturas e da faixa “C” do DNIT-ES 031/2006.

Em seguida, foi estimado um teor ótimo de ligante para cada mistura, estabelecendo

porcentagens abaixo (-0,5% e -1,0%) e porcentagens acima (+0,5% e +1,0%) dessa estimativa

(Tabela 3.12).

Tabela 3.12 – Teor de ligante estimado para cada projeto de mistura.

Mistura % de ligante adotado

M 1 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

M 2 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0

M 3 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5

M 4 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

Este teor de ligante é estimado com base na experiência de campo, mas como o

agregado reciclado não nos oferece esta experiência, foi estimado aleatoriamente, de forma

que foram feitas diversas tentativas de teores até se encontrar um faixa em que os resultados

0,01 0,1 1 10 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Pe

rce

ntu

al p

assa

nte

(%

)

Abertura da peneiras (mm)

Faixa superior

M 1

M 2

M 3

M 4

M 5

Faixa inferior

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89

encontrados dos parâmetros volumétricos se encaixassem dentro dos limites adotados pela

norma DNIT-ES 031/2006.

Foram preparados 3 corpos-de-prova para cada teor de ligante, seguindo a metodologia

Marshall (DNER-ME 043/95). A temperatura do ligante adotada de 160 °C para a execução

da mistura foi determinada com base na curva viscosidade x temperatura (viscosidade entre

85 ± 10 sSF) e a temperatura dos agregados de 170 °C (10 a 15 ºC acima da temperatura do

ligante). A temperatura da mistura de 150°C (viscosidade entre 140 ± 15 sSF), conforme

mostrado na Figura 3.8.

Figura 3.8 – Curva viscosidade x temperatura do CAP 50/70 (LUBNOR)

Os corpos-de-prova foram preparados mecanicamente com a utilização de um soquete

Marshall padronizado com 4.540 g de massa e 45,72 cm de altura de queda. O número de

golpes utilizados foi de 75 por face do corpo-de-prova.

Após a compactação e o repouso de no mínimo 12 horas, os corpos-de-prova foram

desenformados, medidos, pesados ao ar e pesados imersos para a determinação de parâmetros

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90

volumétricos e mecânicos necessários para atender à especificação de serviço 031/2006 do

DNIT (Tabela 3.13).

Tabela 3.13 – Valores limites adotados para concreto asfáltico (DNIT-ES 031/2006).

Características Método de ensaio Camada de

Rolamento

Porcentagem de vazios % DNER-ME 043/95 3 a 5

Relação betume/vazios DNER-ME 043/95 75 a 82

Estabilidade, mínima, (Kgf) (75 golpes) DNER-ME 043/95 500

Resistência à Tração por Compressão

Diametral estática a 25ºC, mínima (MP) DNIT-ME 136/2010 0,65

3.2.4.2 Cálculo dos parâmetros volumétricos das misturas

Após o resfriamento e desmoldagem dos corpos-de-prova, calculou-se vários

parâmetros volumétricos a fim de se determinar o percentual de vazios e a relação betume/

vazios das misturas. Obteve-se as dimensões dos mesmos (diâmetro e altura), a massa seca

(Ms) e a massa submersa (Msub). Com esses valores determinamos a massa específica

aparente dos corpos-de-prova (Gmb) através das Equações 7.a e 7.b:

Eq. 7

a ) b)

Em que:

Gmb = Massa específica aparente da mistura (g cm-3

);

Ms = Massa do corpo-de-prova seco (g);

Msub = Massa do corpo-de-prova submerso (g);

V = Volume do corpo-de-prova (cm³).

Calcula-se também a massa específica máxima teórica (DMT), que é a ponderação entre

todas as massas dos constituintes da mistura asfáltica e é dada pela fórmula:

V

Ms=Gmb MsubMs=V

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91

Eq. 8

Em que:

DMT = densidade máxima teórica (g cm-3

);

%a = porcentagem de asfalto (CAP) em relação à massa total da mistura;

%Ag, %Am e %f = porcentagens de agregado graúdo, miúdo e fíler, respectivamente,

em relação à massa total da mistura;

Ga, GAg, GAm, Gf = massas específicas reais do asfalto (CAP), do agregado graúdo, do

agregado miúdo e do fíler, respectivamente (g cm-3

).

Em seguida calcula-se o volume de vazios (Vv) dos corpos-de-prova, pela expressão:

Eq. 9

Porcentagem em massa dos agregados (∑%n) pela Equação 10:

Eq. 10

Vazios do agregado mineral (VAM) pela Equação 11:

Eq. 11

E a relação betume/vazios (RBV) pela Equação 12:

Eq. 12

fAmAga G

f

G

Am

G

Ag

G

a=DMT

%%%%

100

DMT

GmbDMT=Vv

a=n %100%

Gmb

nGmb=VAM

%100

VAM

VvVAM=RBV 100

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92

Todos estes parâmetros foram calculados em um programa de Excel disponibilizado

pelo 2° Batalhão de Engenharia, no qual introduzimos apenas dados iniciais como percentual

de cada agregado, teor de ligante adotado, densidades reais de todos os componentes das

misturas, espessuras, peso ao ar e peso submerso dos corpos-de-prova. Todos os resultados

são provenientes da média dos resultados obtidos a partir de 3 corpos-de-prova para cada teor

de ligante. A Tabela 3.14 mostra os resultados obtidos dos parâmetros volumétricos de cada

mistura.

Tabela 3.14 – Parâmetros volumétricos das misturas.

Teor de ligante (%) 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

M 1

Massa específica aparente (Gmb) (g cm-3

) 2,424 2,480 2,509 2,508 2,500

Densidade máxima teórica (DMT) (g cm-3

) 2,586 2,565 2,545 2,525 2,505

Volume de vazios (Vv) (%) 6,3 3,3 1,4 0,7 0,2

Vazios do agregado mineral (VAM) (%) 15,8 14,2 13,7 14,2 14,9

Relação betume vazios (RBV) 60,3 76,8 89,7 95,1 98,6

Teor de ligante (%) 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0

M 2

Massa específica aparente (Gmb) (g cm-3

) 2,321 2,318 2,353 2,383 2,375

Densidade máxima teórica (DMT) (g cm-3

) 2,525 2,505 2,486 2,467 2,449

Volume de vazios (Vv) (%) 8,1 7,5 5,3 3,4 3,0

Vazios do agregado mineral (VAM) (%) 19,5 20,0 19,2 18,6 19,3

Relação betume vazios (RBV) 58,5 62,6 72,1 81,6 84,5

Teor de ligante (%) 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5

M 3

Massa específica aparente (Gmb) (g cm-3

) 2,228 2,255 2,272 2,281 2,279

Densidade máxima teórica (DMT) (g cm-3

) 2,413 2,396 2,379 2,362 2,345

Volume de vazios (Vv) (%) 7,7 5,9 4,5 3,4 2,9

Vazios do agregado mineral (VAM) (%) 19,7 19,2 19,0 19,1 19,6

Relação betume vazios (RBV) 61,0 69,2 76,4 82,0 85,5

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93

Continuação da Tabela 3.14 – Parâmetros volumétricos das misturas.

Teor de ligante (%) 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 4

Massa específica aparente (Gmb)

(g cm-3

)

2,121 2,126 2,134 2,152 2,146

Densidade máxima teórica (DMT)

(g cm-3

)

2,273 2,257 2,242 2,227 2,212

Volume de vazios (Vv) (%) 6,7 5,8 4,8 3,4 3,0

Vazios do agregado mineral

(VAM) (%)

27,5 27,7 27,8 27,6 28,2

Relação betume vazios (RBV) 75,6 79,0 82,6 87,8 89,4

Teor de ligante (%) 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 5

Massa específica aparente (Gmb)

(g cm-3

)

2,084 2,107 2,120 2,121 2,112

Densidade máxima teórica (DMT)

(g cm-3

)

2,230 2,215 2,201 2,187 2,173

Volume de vazios (Vv) (%) 6,5 4,9 3,7 3,0 2,8

Vazios do agregado mineral

(VAM) (%)

27,0 26,6 26,5 26,9 27,7

Relação betume vazios (RBV) 75,7 81,6 86,1 88,8 89,8

3.2.4.3 Ensaios mecânicos

Estabilidade Marshall

A estabilidade é o valor máximo de carga (força) de compressão aplicada

diametralmente no molde Marshall, e que causa a ruptura do corpo-de-prova. Esta força

cresce até um determinado ponto em que ocorre uma perda de estabilidade do material,

causada por deslocamento ou quebra de agregados (Bernucci et al., 2008).

Este ensaio segue a metodologia do DNER–ME 043/95: “Misturas betuminosas à

quente – ensaio Marshall”, onde os corpos-de-prova são imersos em banho-maria por período

de 30 a 40 minutos a uma temperatura de 60ºC±1ºC. Após esse tempo, os corpos-de-prova

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94

são transferidos para o molde de compressão, centrados na placa base da prensa Marshall e

submetidos à ruptura pela ascensão do êmbolo, a uma velocidade de 5 cm por minuto, até o

seu rompimento. Essa carga de ruptura é medida e chamada de estabilidade lida.

A estabilidade Marshall é calculada pela multiplicação da estabilidade lida por um fator

tabelado, calculado em função da altura do corpo-de-prova. Os resultados estão apresentados

na Tabela 3.15.

Tabela 3.15 – Valores das estabilidades das misturas (Kgf).

Teor de ligante (%) 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

M 1 1.097,2 1.361,1 1.441,1 1.423,4 1.070,0

Teor de ligante (%) 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0

M 2 1.696,1 1.700,0 1.642,4 1.588,7 1.449,2

Teor de ligante (%) 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5

M 3 863,6 967,8 1.146,2 1.402,5 1.156,7

Teor de ligante (%) 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 4 1.862,1 1.959,4 1.695,6 1.592,0 1.497,8

Teor de ligante (%) 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 5 1.735,1 2.102,6 2.014,6 1.462,3 1.104,1

Resistência à tração por compressão diametral (RT)

Devido à dificuldade de se obter a resistência à tração diretamente, este método foi

desenvolvido para a sua determinação indireta, através da resistência à compressão.

Este ensaio seguiu a metodologia da norma DNIT 136/2010-ME “Determinação da

resistência à tração por compressão diametral”, na qual o corpo-de-prova é colocado num

sistema de refrigeração por um período de 2h, a uma temperatura de 25 °C ± 1 °C, em seguida

dois frisos metálicos são posicionados na sua superfície cilíndrica e o carregamento é aplicado

em planos paralelos, diametralmente opostos. Essa configuração gera um estado de tensão de

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95

tração no plano perpendicular ao da aplicação da carga e o valor da carga de ruptura é

anotado. A resistência à tração é determinada pela Equação 13 e os resultados na Tabela 3.16:

Eq. 13

Em que:

RT = resistência à tração por compressão diametral (MPa);

F = carga de ruptura (Kgf);

D = diâmetro do corpo-de-prova (cm);

H = altura do corpo-de-prova (cm).

Tabela 3.16 – Valores da RT das misturas (MPa).

Teor de ligante (%) 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

M 1 0,86 0,92 1,12 1,24 1,06

Teor de ligante (%) 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0

M 2 1,25 1,29 1,21 1,20 1,09

Teor de ligante (%) 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5

M 3 0,76 0,85 0,9 1,19 1,06

Teor de ligante (%) 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 4 1,21 1,25 1,23 1,20 1,07

Teor de ligante (%) 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

M 5 1,36 1,47 1,33 1,18 1,10

3.2.4.4 Cálculo do teor ótimo de ligante das misturas

Há várias formas de se obter o teor de projeto das misturas asfálticas. O método

utilizado neste trabalho utiliza dois parâmetros volumétricos: Vv e RBV, no qual cruzam-se

os gráficos do volume de vazios e da relação betume/vazios, identificam-se os 4 valores

limites de teor ótimo de ligante correspondentes aos mínimos e máximos dos dois parâmetros

e por fim retira-se a média dos 2 valores centrais. Desta forma, calculou-se o teor ótimo de

ligante para cada uma das misturas, conforme apresentado na Tabela 3.17.

πDHRT

2F

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96

Tabela 3.17 – Valores dos teores de projeto das misturas (%).

Mistura Teor ótimo de ligante (%)

M 1 4,56

M 2 6,42

M 3 6,71

M 4 10,85

M 5 10,53

3.2.4.5 Análise do custo das misturas

De posse do teor ótimo de ligante (Tabela 3.17), calculou-se o percentual de cada

agregado para o respectivo teor de CAP, de forma a manter a proporcionalidade da dosagem

apresentada na Tabela 3.11.

Recalculou-se a quantidade de cada agregado acrescentando-se o percentual de ligante,

de forma que o percentual, em peso, das misturas, somasse 100%. A dosagem de cada

componente da mistura está representada na Tabela 3.18 e serviu para elaboração da

composição de custo de cada mistura.

Tabela 3.18 – Dosagem dos agregados para o teor ótimo de ligante

Mis

tura

s

Teo

r

óti

mo d

e

CA

P (

%) Dosagem dos agregados (%)

B 1

9

RR

19

B 9

,5

RR

9,5

PB

PR

AL

AR

CP

FR

M 1 4,56 23,86 - 28,63 - 28,63 - 11,45 - 2,86 -

M 2 6,42 23,40 - 35,56 - - 23,40 9,36 - 1,87 -

M 3 6,71 - 9,33 - 37,32 36,38 - 7,46 - 2,80 -

M 4 10,85 18,72 - - 16,94 - 49,92 1,78 - 1,78 -

M 5 10,53 - 11,63 - 26,84 -- 40,26 - 8,95 - 1,79

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97

Obteve-se com a Prefeitura Municipal de Teresina, a composição de custo de produção

de 1 m³ (metro cúbico) de concreto asfáltico usinado a quente, composta por equipamentos,

mão-de-obra e materiais. Na Tabela 3.19 constam os custos referentes à usinagem de cada

Mistura e nos Anexos, a respectiva composição de preço. Vale ressaltar que os preços de

aquisição dos agregados reciclados, foram solicitados para uma usina de reciclagem de

entulho da cidade de Fortaleza (Usina de Reciclagem de Fortaleza LTDA – USIFORT), visto

que na cidade de Teresina não possui tal usina, sendo R$ 30,00/m³ o valor do RR 19 e RR 9,5

e R$ 20,00/m³ o valor do PR, AR e FR. Enquanto que a Prefeitura Municipal de Teresina

utiliza agregados de valor R$ 90,00/m³ para os agregados pétreos britados (B 19, B 9,5 e PB),

R$ 35,00/m³ para a areia extraída de rios e riachos (AL) e R$ 21,50 o saco de 50 Kg de

cimento. Através do traço determinado e dos valores dos agregados, chegou-se aos seguintes

preços das misturas:

Tabela 3.19 – Custo unitário das misturas (R$/m³)

Mistura Custo unitário (R$/m³)

M 1 380,28

M 2 406,06

M 3 401,55

M 4 491,33

M 5 450,86

3.3 Análise dos resultados

3.3.1 Agregados

Na Tabela 3.20 foram dispostos os resultados de todos os ensaios de caracterização

realizados nos agregados, bem como os valores limites impostos pela especificação de serviço

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98

DNIT-ES 031/2006 para execução de pavimentos flexíveis, de forma a analisar se os valores

encontrados são aptos ou não para uso em concretos asfálticos.

Tabela 3.20 – Resultados da caracterização dos agregados.

Ensaio Agregado reciclado Agregado natural/

industrial

Valores limites

(DNIT-ES

031/2006)

Densidade real (g cm-³)

*adimensional

RR 19 – 2,562

RR 9,5 – 2,550

PR – 2,574*

AR – 2,571*

FR – 2,778

B 19 – 2,855

B 9,5 – 2,814

PB – 2,699*

AL – 2,556*

CP – 3,077

-

Densidade aparente (g cm-3

) RR 19 – 2,283

RR 9,5 – 2,143

B 19 – 2,805

B 9,5 – 2,761 -

Absorção (%) RR 19 – 4,78

RR 9,5 – 7,46

B 19 – 0,63

B 9,5 – 0,68 -

Porosidade (%) RR 19 – 10,90

RR 9,5 – 15,98

B 19 – 1,75

B 9,5 – 1,89 -

Resistência ao desgaste (%) RR 19 – 46

RR 9,5 – 48

B 19 – 15

B 9,5 – 23 50% (max)

Índice de forma RR 19 – 0,89

RR 9,5 – 0,90

B 19 – 0,76

B 9,5 – 0,79 0,5 (min)

Adesividade ao ligante

betuminoso RR 19 – satisfatória B 19 – satisfatória Satisfatória

Durabilidade (%) RR 19 – 9

RR 9,5 – 11

B 19 – 2,7

B 9,5 – 5 12% (max)

Equivalente de areia (%) PR – 73,7

AR – 80,3

PB – 78,6

AL – 68,7 55% (min)

Podemos observar que as densidades real e aparente dos agregados reciclados são

inferiores às do agregado pétreo natural, com exceção da AR (Areia de Resíduo), devido

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99

possuir sua granulometria um pouco mais grossa quando comparada à AL (Areia Lavada).

Isso ocorre devido à quantidade de poros (interstícios) no interior dos agregados,

proporcionando uma maior “leveza” do material, característica esta que, consequentemente,

aumenta a absorção e porosidade. Então, quanto menor a densidade, maior a absorção e

porosidade do material. E, como a absorção do agregado reciclado é muito superior que a do

agregado natural, haverá um maior consumo do ligante asfáltico, pois parte do ligante será

absorvido para o interior do agregado devido à quantidade de poros e a outra parte fará a

coesão entre os agregados da mistura.

Apesar de relativamente altos os valores de absorção e porosidade, quando comparados

aos agregados pétreos naturais, estes resultados são coerentes e se encontram dentro da média

observada em outras pesquisas (Silva et al., 2009). A determinação dessa propriedade nos

materiais reciclados é importante uma vez que o agregado poroso pode absorver o ligante

asfáltico, o que resultaria em uma mistura mais seca ou pobre, vindo a sofrer desagregações

durante o uso.

No ensaio de abrasão a Los Angeles, o agregado reciclado teve um desgaste superior ao

do agregado natural, o que nos leva a concluir que o agregado natural é mais resistente à ação

abrasiva das esferas de aço e consequentemente, ao fluxo de veículo e à carga de compactação

que o reciclado, porém ambos os valores estão dentro do limite admitido pela norma vigente,

que é de 50%.

Quanto ao índice de forma, ele varia de 0 a 1, sendo o agregado considerado de ótima

cubicidade quando f = 1,0 e lamelar quando f = 0 (Bernucci et al., 2008).O DNIT na

especificação de serviço031/2006 “Concreto asfáltico” adota o limite mínimo de f = 0,5 para

aceitação de agregados quanto à forma.O índice de formado agregado de RCD é mais cúbico

do que o agregado natural, pois está mais próximo de 1, apresentando melhor intertravamento

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100

entre os grãos compactados, podendo conferir uma maior estabilidade mecânica que

partículas com índice de forma inferior.

Em relação à adesividade ao ligante betuminoso, ambos os agregados tiveram uma

adesividade satisfatória após as 72h de imersão em água. E mesmo que essa condição não

fosse alcançada, poder-se-ia fazer uso de um melhorador de adesividade, como por exemplo,

o “dope”.

A perda de massa encontrada no ensaio de durabilidade para o agregado de RCD foi

bastante elevada quando comparada à do agregado natural, porém ainda dentro do limite

imposto pela norma DNIT-ES 031/2006, que é de no máximo 12%, sendo neste caso, aceito

para a execução de concreto asfáltico.

A referida especificação também recomenda que o agregado miúdo apresente partículas

livres de torrões de argila e de substâncias nocivas através de um equivalente de areia igual ou

superior a 55%, pelo método DNER-ME 054/97. Os resultados do ensaio de equivalente de

areia para todos os agregados miúdos, naturais e reciclados, foram superior a este limite,

inclusive os agregados de RCD com valores superiores aos agregados naturais.

3.3.2 Misturas

Após determinar o teor ótimo de ligante para cada mistura, foram identificados os

valores do volume de vazios, da relação betume/ vazios, da estabilidade e da resistência à

tração para o respectivo percentual de ligante. Os resultados são apresentados na Tabela 3.21,

os gráficos dos parâmetros volumétricos nas Figuras 3.9, 3.10 e 3.11, e os gráficos das

propriedades mecânicas nas Figuras 3.12 e 3.13.

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101

Tabela 3.21 – Resultado da caracterização das misturas

Características M 1 M 2 M 3 M 4 M 5

Valores

limites

DNIT ES

031/2006

TOL* (%) 4,56 6,42 6,71 10,85 10,53 -

Vv (%) 3,6 4,2 4,25 5,0 5,0 3 a 5

RBV 78,5 77,5 78,0 82,0 82,0 75 a 82

Estabilidade

(Kgf) 1.390,0 1.600,0 1.240,0 2.000,0 1.835,0 500 (min)

RT** (MPa) 0,94 1,20 1,0 1,23 1,47 0,65 (min)

*Teor ótimo de ligante, **Resistência à Tração por Compressão Diametral

Como pode ser observado, a Mistura 1 (0% RCD) apresentou o menor teor de ligante

(4,56%), enquanto que a Mistura 4 (75% RCD) apresentou o maior percentual (10,85%). Era

esperado que a Mistura 5 (100% RCD) apresentasse o maior percentual de CAP, devido À

maior quantidade de agregados reciclados. Porém a composição granulométrica da mistura

interfere neste resultado, pois a Mistura 4 apresenta na sua composição 56% de PR (pó de

resíduo) enquanto que a Mistura 5 apresenta apenas 45% deste mesmo agregado. Como não

possuímos o valor da porosidade e absorção do agregado miúdo devido à impossibilidade da

condição saturada superfície seca, sabemos que o agregado fino consome mais ligante que

agregado grosso devido à sua superfície de contato ser bem maior, o que nos leva a deduzir

que este agregado miúdo foi o responsável pelo maior consumo de ligante da mistura.

Nota-se também tal fato ao observar as Misturas 2 e 3. A Mistura 2, apresenta na sua

composição um percentual de 25% de RCD, sendo estes 25% apenas PR (pó de resíduo),

obteve um teor de ligante de 6,42%; enquanto que a Mistura 3, que apresenta na sua

composição um percentual de 50% de RCD composto por RR 19 e RR 9,5, obteve um

consumo de ligante próximo ao da mistura 2, de 6,71%. Ou seja, uma mistura com 25% de

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102

agregados reciclados miúdos, consumiu o equivalente a uma mistura com 50% de agregados

reciclados graúdos.

A massa específica aparente das misturas, apresentada na Figura 3.9, expõe que com o

aumento do percentual de agregados reciclados, a densidade das misturas diminui, devido à

porosidade destes agregados, exigindo um maior teor de ligante para que estas misturas

alcancem os valores limites dos parâmetros volumétricos exigidos pelo DNIT.

Figura 3.9 – Massa específica aparente das misturas (g cm-³).

Pelas Figuras 3.10 e 3.11, podemos perceber através dos gráficos da Mistura 1, situados

bem mais a esquerda, mostrando que com um baixo teor de CAP conseguiu atingir os limites

especificados para Vv (3 a 5%) e RBV (75 a 82). Observamos também, a proximidade dos

gráficos das Misturas 2 e 3 e das Misturas 4 e 5, isto por que ambas as misturas tiveram uma

proximidade em relação ao consumo de CAP que necessitaram para se enquadrarem nos

parâmetros volumétricos de Vv e RBV. Este fato está diretamente ligado à composição dos

agregados de cada mistura, proporcionando uma não linearidade nos resultados.

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0 12,5

2,00

2,05

2,10

2,15

2,20

2,25

2,30

2,35

2,40

2,45

2,50

2,55

Ma

ssa

esp

ecific

a a

pa

ren

te d

a m

istu

ra (

g c

m_³)

Teor de ligante (%)

M 1 (0% RCD)

M 2 (25% RCD)

M 3 (50% RCD)

M 4 (75% RCD)

M 5 (100% RCD)

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103

Figura 3.10 – Volume de vazios das misturas (%).

Figura 3.11 – Relação betume/vazios das misturas.

Os gráficos dos ensaios mecânicos (Figura 3.12 e 3.13) também retrataram a não

linearidade dos resultados, uma vez que as Misturas 2, 4 e 5 apresentaram valores de

estabilidade e resistência à tração superior às Misturas 1 e 3. Estes resultados de propriedades

mecânicas para misturas contendo agregados de RCD superior às misturas convencionais

foram também encontrados por outros pesquisadores (Guimarães e Ribeiro, 2005). Este fato

não está relacionado à resistência à abrasão do agregado graúdo, pois misturas contendo

agregado graúdo reciclado em substituição ao natural conferiram propriedades mecânicas

superiores. Este fato está relacionado à composição e dosagem das misturas, pois o arranjo

proporcionou uma melhor interação granulométrica, oferecendo um melhor funcionamento do

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0 12,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

7,5

8,0

8,5

9,0

9,5

10,0

Vo

lum

e d

e v

azio

s (

%)

Teor de ligante (%)

M 1 (0% RCD)

M 2 (25% RCD)

M 3 (50% RCD)

M 4 (75% RCD)

M 5 (100% RCD)

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0 12,5

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Re

laça

o b

etu

me

/ va

zio

s

Teor de ligante (%)

M 1 (0% RCD)

M 2 (25% RCD)

M 3 (50% RCD)

M 4 (75% RCD)

M 5 (100% RCD)

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104

conjunto e uma melhor estabilidade, devido ao maior atrito interno obtido por entrosamento

das partículas.

Figura 3.12 – Estabilidade das misturas (Kgf).

Figura 3.13 – Resistência à tração das misturas (MPa).

É interessante ressaltar que, as Misturas 2, 3 e 4, apresentam dosagens nas quais houve

a substituição do PB pelo PR, enquanto que nas Misturas 1 e 3, utilizou-se o PB. O agregado

PR possui uma granulometria mais corrida (contínua) que o PB, oferecendo uma curva

granulométrica mais suave e, consequentemente, um melhor preenchimento entre os

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0 12,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

Re

sis

tên

cia

à tra

ça

o p

or

co

mp

ressa

o d

iam

etr

al (M

Pa

)

Teor de ligante (%)

M 1 (0% RCD)

M 2 (25% RCD)

M 3 (50% RCD)

M 4 (75% RCD)

M 5 (100% RCD)

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0 12,5

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

1300

1400

1500

1600

1700

1800

1900

2000

2100

2200

Esta

bili

da

de

(K

gf)

Teor de ligante (%)

M 1 (0% RCD)

M 2 (25% RCD)

M 3 (50% RCD)

M 4 (75% RCD)

M 5 (100% RCD)

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105

agregados graúdos e miúdos. A este fato, também se alia, os índices de forma, que foram mais

altos para os agregados de RCD, conferindo um melhor intertravamento dos grãos da mistura

e, consequentemente, propriedades mecânicas relativamente melhores.

Porém, todas as misturas conferiram propriedades mecânicas aceitáveis pela

especificação DNIT-ES 031/2006, com estabilidade superior a 500 Kgf e resistência à tração

superior a 0,65 Mpa.

Quanto ao custo, a Mistura 1 apresenta o menor custo de produção (R$ 380,28/m³),

enquanto que a Mistura 4 apresenta o maior (R$ 491,33/m³), comprovando que o ligante

comanda o valor final da composição, devido ser o material de maior custo, pois a Mistura 4

consumiu a maior quantidade de CAP (10,85%) que as outras misturas. A Mistura 2 e Mistura

3 obtiveram valores próximos (R$ 406,06/m³ e R$ 401,55/m³, respectivamente), valores estes

que já eram esperados, pelo consumo aproximado de ligante de ambas as misturas. As

Misturas 4 e 5, tiveram custo de R$ 491,33/m³ e R$ 450,86/m³, respectivamente, valores estes

também esperados devido a Mistura 4 ter consumido maior teor de ligante que a Mistura 5.

Porém, a Mistura 5, ainda teve valor mais baixo ainda, pois foi a única mistura que não

utilizou como fíler o CP (Cimento Portland), material de elevado custo quando comparado ao

custo dos agregados.

3.4 Conclusão

Pela caracterização dos agregados demonstrou-se que os agregados reciclados

apresentam algumas características inferiores e outras superiores ao agregado convencional,

porém todas dentro dos limites admitidos pelas normas para utilização em concreto asfáltico.

Desta forma, há a viabilidade técnica de utilização destes agregados para a produção de

pavimentos flexíveis, devido às propriedades alcançadas e, também, a viabilidade econômica,

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106

visto que o custo de produção dos mesmos é bastante inferior ao custo de produção do

agregado natural.

Todas as misturas contendo RCD apresentaram parâmetros volumétricos e

características mecânicas dentro dos limites impostos pela norma do DNIT para produção de

concretos asfálticos, comprovando a viabilidade técnica de utilização destes agregados para a

produção de pavimentos flexíveis. Inclusive, algumas misturas contendo agregado de RCD,

apresentaram propriedades mecânicas superiores à mistura contendo agregados

convencionais, fato este que é relativamente positivo, pois quando o concreto asfáltico

apresenta valores muito elevados de estabilidade e resistência à tração torna-se muito rígidos,

estando sujeito à formação de trincas.

A dificuldade de utilização do agregado de RCD na pavimentação asfáltica está

destinada, prioritariamente, ao fato deste apresentar um alto consumo de ligante, material de

maior custo da composição. O concreto asfáltico contendo agregados de RCD deve ser

projetado, de maneira tal que, apresente características físicas e mecânicas satisfatórias e

principalmente, um menor consumo de ligante possível, de forma que não comprometa o

custo-benefício da obra.

Pode-se concluir, através da dosagem das misturas, que o uso de agregado reciclado

miúdo demanda um maior consumo de ligante que o agregado graúdo, pois, na Mistura 2

(25% RCD) e na Mistura 3 (50% RCD), o consumo de CAP foi muito próximo (6,42 e

6,71%, respectivamente), sendo que no primeiro substituiu-se somente o agregado fino e no

segundo apenas o agregado grosso, o que nos permite afirmar que a absorção e porosidade do

miúdo é muito superior à do agregado graúdo.

Este fato também se comprova através da Mistura 4 (75% RCD) e Mistura 5 (100%

RCD), pois o consumo de ligante foi de 10,85% e 10,53%, respectivamente. Inclusive, o

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107

consumo de CAP na Mistura 4 foi superior ao da Mistura 5, pois na dosagem, a primeira

recebeu um maior percentual do agregado PR (Pó de Resíduo), do que a última, demandando

maior quantidade de CAP.

De qualquer forma, a pesquisa comprova a viabilidade do ponto de vista técnico, para a

utilização de agregados reciclados no pavimento asfáltico, tanto na sua granulometria grossa

como na granulometria fina, pois através dos ensaios e comparação às normas exigidas,

verifica-se que todos os projetos de mistura contendo RCD (25, 50, 75 e 100%) satisfazem à

legislação brasileira. Porém, na indústria da construção civil, o fator técnico não anda

separado do fator custo, e a viabilidade econômica também é fundamental.

Através da análise do custo de cada mistura, conclui-se que a Mistura 1, continua sendo

a Mistura mais economicamente viável e, obviamente, a mistura que qualquer construtor

escolheria para executar. Já as demais misturas, mesmo se reduzindo o valor do agregado ao

substituir o natural pelo reciclado, o valor ainda continua superior ao da Mistura 1, pois o

valor do CAP é consideravelmente mais alto, não proporcionando um projeto de mistura com

agregados de RCD com custo mais baixo que o convencionalmente utilizado.

Porém, se houvesse uma obrigatoriedade de execução de pavimentos flexíveis com

agregados de RCD parcialmente na mistura, dentre os traços apresentados, o melhor seria o da

Mistura 3, pois consome 50% de agregados reciclados graúdos (RR 19 e RR 9,5) e consome

6,71% de ligante, resultando num custo R$ 21,27/m³ a mais que a Mistura 1. Mas, o ideal,

seria projetar um traço em que se utilizasse a maior quantidade de agregados de RCD, com

um menor consumo possível de ligante, de forma a garantir sua viabilidade econômica. Desta

forma, concluímos que dentre os agregados apresentados, o agregado graúdo (RR 19 e RR

9,5), demandam uma menor quantidade de ligante quando comparados aos agregados miúdos

(PR e AR) e, para o material finamente pulverizado, o Fíler de Resíduo (FR), seria uma boa

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108

opção, em substituição ao Cimento Portland (CP), pois a quantidade demandada deste

material nas misturas é pequena (cerca de 2%) e o custo de aquisição do mesmo é muito

inferior ao do CP, proporcionando um menor custo da mistura.

Se houvesse sido executada uma mistura similar à composição da Mistura 3 e nela

substituíssemos apenas o CP (Cimento Portland) pelo FR (Fíler de resíduo) teríamos uma

mistura de valor equivalente à Mistura 1 (R$ 376,75/m³ - composição apresentada no

ANEXO VI), o que nos comprova a viabilidade técnica e econômica do concreto asfáltico

usinado a quente com agregados graúdos e fíler reciclados de RCD.

Além de todas as conclusões apresentadas, as misturas asfálticas contendo agregados de

RCD são extremamente viáveis do ponto de vista ambiental, pois além de reduzir a aquisição

e consequentemente, exploração do agregado natural das jazidas, estaria dando uma

destinação final a este resíduo que, na maioria das cidades, não tem nenhuma reutilização no

mercado, ocupando grandes áreas naturais de aterros e depósitos, poluindo o meio-ambiente.

Referências

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abrelpe.org.br/panorama_apresentacao.cfm acesso em 20 de agosto de 2012.

Bernucci, L. B., Motta, L. M. G., Ceratti, J. A. P., Soares, J. B. (2008). Pavimentação

asfáltica: formação básica para engenheiros (1ª ed.).Rio de Janeiro: PETROBRAS, ABEDA.

Gouveia, L. T., Furlan, A. P., Parreira, A. B., Fernandes Junior, J. L., Fabbri, G. T. P.

(2004).Considerações acerca da absorção de asfalto pelos agregados e sua influência na

suscetibilidade à umidade. XVIII ANPET - Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes,

Disponível em http://www.ljsenger.net/ltgouveia/files/Anpet-ltgouveia2004.pdf

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109

Guimarães, R. C., Ribeiro, H. C. (2005). Utilização de Agregados Reciclados de Resíduos

Sólidos da Construção Civil em Revestimentos Asfálticos. Projeto de pesquisa da Unidade

Universitária de Ciências Exatas e Tecnológica Engenharia Civil. Anápolis – GO.

Huang, Y., Bird, R. N., Heidrich, O. (2007). A review of the use of recycled solid waste

materials in asphalt pavements. Resources, Conservation and Recycling, 52, 58-73.

Jadovski, I. (2005). Diretrizes técnicas e econômicas para usinas de reciclagem de resíduos de

construção e demolição. Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Engenharia.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

PETROBRÁS. (2011). Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/01/

06/petrobras-registra-novo-recorde-deproducao-e-venda-de-asfalto-em-2010 acesso em 20 de

agosto de 2012.

Pinto, T. P. (2005). Gestão ambiental de resíduos da construção civil: A experiência do

SINDUSCON-SP.(1ª Ed.). São Paulo: SINDUSCON-SP, (Capítulo 1).

Silva, C. A. R. (2009). Estudo do agregado reciclado de construção civil em misturas

betuminosas para vias urbanas. Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Geotecnia.

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Zhu, J., Wu, S., Wang, J. Z. D. (2012). Investigation of asphalt mixture containing demolition

waste obtained from earthquake-damaged buildings. Construction and Building Materials, 29,

466-475.

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110

ANEXOS

ANEXO I – COMPOSIÇÃO DE CUSTO DA MISTURA 1 (0% RCD)

ITEM SERVIÇO: USINAGEM C.B.U.Q.

UNIDADE m³

EQUIPAMENTO MODELO CÓDIGO QUANT. UTILIZAÇÃO CUSTO OPERACIONAL CUSTO

HORÁRIO PROD. IMPR. PROD. IMPR.

USINA DE ASFALTO 40/80/H ---- 1 1,00 0 221,60 13,32 221,60

CARREGADEIRA 924 ---- 1 0,40 0,60 104,46 14,94 50,75

GRUPO GERADOR 38/40KVA ---- 1 1,00 0 28,91 11,53 28,91

GRUPO GERADOR 164/180KVA ---- 1 1,00 0 83,99 11,53 83,99

TANQUE ESTOQUE 20.000 L ---- 2 1,00 0 4,20 8,40

CALDEIRA 600 LTS ---- 1 1,00 0 19,50 19,50

TOTAL (A) 413,15

MÃO DE OBRA L.S.=126% S.M = R$ 678,00

CÓDIGO K OU R QUANT. SALÁRIO BASE CUSTO HORÁRIO

ENCARREGADO ---- 10 1 6,96 69,65

OPERADOR USINA ---- 3 2 6,96 41,79

OPERÁRIOS ---- 1 8 6,96 55,72

FERRAMENTAS 5% m.o ---- 8,36

TOTAL (B) 175,52

PRODUÇÃO EQUIPE 25 m³ / h CUSTO HORÁRIO TOTAL (A+B) 588,66

CUSTO UNITÁRIO DA EXECUÇÃO (A+B)/C = (D) 23,55

MATERIAIS ton/m³ UNID. CONSUMO CUSTO CUSTO MATERIAIS

BRITA 19 mm..................................23,86% 1,41 m³ 0,389 90,00 35,01

BRITA 9,5 mm.................................28,63% 1,26 m³ 0,523 90,00 47,07

PÓ DE BRITA..................................28,63% 1,49 m³ 0,442 90,00 39,78

AREIA LAVADA ..............................11,45% 1,49 m³ 0,177 35,00 6,20

FÍLER (Cimento Portland).................2,86% 1,30 m³ 0,051 516,00 26,32

CAP 50/60......................................... 4,56% 1,02 Ton 0,103 1.349,99 138,81

ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF 1,00 Ton 0,029 2.210,00 63,54

TOTAL (E) 356,73

CUSTO DIRETO TOTAL D + E 380,28

CUSTO UNITÁRIO TOTAL 380,28

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111

ANEXO II – COMPOSIÇÃO DE CUSTO DA MISTURA 2 (25% RCD)

ITEM SERVIÇO: USINAGEM C.B.U.Q.

UNIDADE

EQUIPAMENTO MODELO CÓDIGO QUANT. UTILIZAÇÃO CUSTO OPERACIONAL CUSTO

HORÁRIO PROD. IMPR. PROD. IMPR.

USINA DE ASFALTO 40/80/H ---- 1 1,00 0 221,60 13,32 221,60

CARREGADEIRA 924 ---- 1 0,40 0,60 104,46 14,94 50,75

GRUPO GERADOR 38/40KVA ---- 1 1,00 0 28,91 11,53 28,91

GRUPO GERADOR 164/180KVA ---- 1 1,00 0 83,99 11,53 83,99

TANQUE ESTOQUE 20.000 L ---- 2 1,00 0 4,20 8,40

CALDEIRA 600 LTS ---- 1 1,00 0 19,50 19,50

TOTAL (A) 413,15

MÃO DE OBRA L.S.=126% S.M = R$ 678,00

CÓDIGO K OU R QUANT. SALÁRIO BASE CUSTO HORÁRIO

ENCARREGADO ---- 10 1 6,96 69,65

OPERADOR USINA ---- 3 2 6,96 41,79

OPERÁRIOS ---- 1 8 6,96 55,72

FERRAMENTAS 5% m.o ---- 8,36

TOTAL (B) 175,52

PRODUÇÃO EQUIPE 25 m³ / h CUSTO HORÁRIO TOTAL (A+B) 588,66

CUSTO UNITÁRIO DA EXECUÇÃO (A+B)/C = (D) 23,55

MATERIAIS ton/m³ UNID. CONSUMO CUSTO CUSTO MATERIAIS

BRITA 19 mm.....................................23,40% 1,41 m³ 0,382 90,00 34,38

BRITA 9,5 mm...................................35,56% 1,26 m³ 0,649 90,00 58,41

PÓ DE RESÍDUO...............................23,40% 1,24 m³ 0,434 20,00 8,68

AREIA LAVADA ................................9,36% 1,49 m³ 0,144 35,00 5,04

FÍLER (Cimento Portland).....................1,87% 1,30 m³ 0,033 516,00 17,03

CAP 50/60............................................. 6,42% 1,02 ton 0,145 1.349,99 195,43

ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF 1,00 ton 0,029 2.210,00 63,54

TOTAL (E) 382,51

CUSTO DIRETO TOTAL D + E 406,06

CUSTO UNITÁRIO TOTAL 406,06

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112

ANEXO III – COMPOSIÇÃO DE CUSTO DA MISTURA 3 (50% RCD)

ITEM SERVIÇO: USINAGEM C.B.U.Q.

UNIDADE

EQUIPAMENTO MODELO CÓDIGO QUANT. UTILIZAÇÃO CUSTO OPERACIONAL CUSTO

HORÁRIO PROD. IMPR. PROD. IMPR.

USINA DE ASFALTO 40/80/H ---- 1 1,00 0 221,60 13,32 221,60

CARREGADEIRA 924 ---- 1 0,40 0,60 104,46 14,94 50,75

GRUPO GERADOR 38/40KVA ---- 1 1,00 0 28,91 11,53 28,91

GRUPO GERADOR 164/180KVA ---- 1 1,00 0 83,99 11,53 83,99

TANQUE ESTOQUE 20.000 L ---- 2 1,00 0 4,20 8,40

CALDEIRA 600 LTS ---- 1 1,00 0 19,50 19,50

TOTAL (A) 413,15

MÃO DE OBRA E.S.=126% S.M = R$ 678,00

CÓDIGO K OU R QUANT. SALÁRIO BASE CUSTO HORÁRIO

ENCARREGADO ---- 10 1 6,96 69,65

OPERADOR USINA ---- 3 2 6,96 41,79

OPERÁRIOS ---- 1 8 6,96 55,72

FERRAMENTAS 5% m.o ---- 8,36

TOTAL (B) 175,52

PRODUÇÃO EQUIPE 25 m³ / h CUSTO HORÁRIO TOTAL (A+B) 588,66

CUSTO UNITÁRIO DA EXECUÇÃO (A+B)/C = (D) 23,55

MATERIAIS ton/m³ UNID. CONSUMO CUSTO CUSTO MATERIAIS

RR 19 mm................................................9,33% 1,17 m³ 0,183 30,00 5,49

RR 9,5 mm............................................37,32% 1,06 m³ 0,810 30,00 24,30

PÓ DE BRITA......................................36,38% 1,49 m³ 0,562 90,00 50,58

AREIA LAVADA ..................................7,46% 1,49 m³ 0,115 35,00 4,03

FÍLER (Cimento Portland)......................2,80% 1,30 m³ 0,050 516,00 25,80

CAP 50/60............................................... 6,71% 1,02 Ton 0,151 1.349,99 204,26

ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF 1,00 Ton 0,029 2.210,00 63,54

TOTAL (E) 378,00

CUSTO DIRETO TOTAL D + E 401,55

CUSTO UNITÁRIO TOTAL 401,55

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113

ANEXO IV – COMPOSIÇÃO DE CUSTO DA MISTURA 4 (75% RCD)

ITEM SERVIÇO: USINAGEM C.B.U.Q.

UNIDADE

EQUIPAMENTO MODELO CÓDIGO QUANT. UTILIZAÇÃO CUSTO OPERACIONAL CUSTO

HORÁRIO PROD. IMPR. PROD. IMPR.

USINA DE ASFALTO 40/80/H ---- 1 1,00 0 221,60 13,32 221,60

CARREGADEIRA 924 ---- 1 0,40 0,60 104,46 14,94 50,75

GRUPO GERADOR 38/40KVA ---- 1 1,00 0 28,91 11,53 28,91

GRUPO GERADOR 164/180KVA ---- 1 1,00 0 83,99 11,53 83,99

TANQUE ESTOQUE 20.000 L ---- 2 1,00 0 4,20 8,40

CALDEIRA 600 LTS ---- 1 1,00 0 19,50 19,50

TOTAL (A) 413,15

MÃO DE OBRA L.S.=126% S.M = R$ 678,00

CÓDIGO K OU R QUANT. SALÁRIO BASE CUSTO HORÁRIO

ENCARREGADO ---- 10 1 6,96 69,65

OPERADOR USINA ---- 3 2 6,96 41,79

OPERÁRIOS ---- 1 8 6,96 55,72

FERRAMENTAS 5% m.o ---- 8,36

TOTAL (B) 175,52

PRODUÇÃO EQUIPE 25 m³ / h CUSTO HORÁRIO TOTAL (A+B) 588,66

CUSTO UNITÁRIO DA EXECUÇÃO (A+B)/C = (D) 23,55

MATERIAIS ton/m³ UNID. CONSUMO CUSTO CUSTO MATERIAIS

BRITA 19 mm.....................................18,72% 1,41 m³ 0,305 90,00 27,45

RR 9,5 mm...........................................16,94% 1,06 m³ 0,368 30,00 11,04

PÓ DE RESÍDUO................................49,92% 1,24 m³ 0,926 20,00 18,52

AREIA LAVADA .................................1,78% 1,49 m³ 0,027 35,00 0,95

FÍLER (Cimento Portland).....................1,78% 1,30 m³ 0,031 516,00 16,00

CAP 50/60.............................................10,85% 1,02 ton 0,245 1.349,99 330,28

ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF 1,00 ton 0,029 2.210,00 63,54

TOTAL (E) 467,78

CUSTO DIRETO TOTAL D + E 491,33

CUSTO UNITÁRIO TOTAL 491,33

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114

ANEXO V – COMPOSIÇÃO DE CUSTO DA MISTURA 5 (100% RCD)

ITEM SERVIÇO: USINAGEM C.B.U.Q.

UNIDADE m³

EQUIPAMENTO MODELO CÓDIGO QUANT. UTILIZAÇÃO CUSTO OPERACIONAL CUSTO

HORÁRIO PROD. IMPR. PROD. IMPR.

USINA DE ASFALTO 40/80/H ---- 1 1,00 0 221,60 13,32 221,60

CARREGADEIRA 924 ---- 1 0,40 0,60 104,46 14,94 50,75

GRUPO GERADOR 38/40KVA ---- 1 1,00 0 28,91 11,53 28,91

GRUPO GERADOR 164/180KVA ---- 1 1,00 0 83,99 11,53 83,99

TANQUE ESTOQUE 20.000 L ---- 2 1,00 0 4,20 8,40

CALDEIRA 600 LTS ---- 1 1,00 0 19,50 19,50

TOTAL (A) 413,15

MÃO DE OBRA L.S.=126% S.M = R$ 678,00

CÓDIGO K OU R QUANT. SALÁRIO BASE CUSTO HORÁRIO

ENCARREGADO ---- 10 1 6,96 69,65

OPERADOR USINA ---- 3 2 6,96 41,79

OPERÁRIOS ---- 1 8 6,96 55,72

FERRAMENTAS 5% m.o ---- 8,36

TOTAL (B) 175,52

PRODUÇÃO EQUIPE 25 m³ / h CUSTO HORÁRIO TOTAL (A+B) 588,66

CUSTO UNITÁRIO DA EXECUÇÃO (A+B)/C = (D) 23,55

MATERIAIS ton/m³ UNID. CONSUMO CUSTO CUSTO MATERIAIS

RR 19 mm.......................................11,63% 1,17 m³ 0,229 30,00 6,87

RR 9,5 mm......................................26,84% 1,06 m³ 0,582 30,00 17,46

PÓ DE RESÍDUO..........................40,26% 1,24 m³ 0,747 20,00 14,94

AREIA DE RESÍDUO......................8,95% 1,24 m³ 0,166 20,00 3,32

FÍLER DE RESÍDUO.......................1,79% 1,30 m³ 0,032 20,00 0,64

CAP 50/60......................................10,53% 1,02 Ton 0,237 1.349,99 320,54

ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF 1,00 Ton 0,029 2.210,00 63,54

TOTAL (E) 427,31

CUSTO DIRETO TOTAL D + E 450,86

CUSTO UNITÁRIO TOTAL 450,86

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115

ANEXO VI – COMPOSIÇÃO DE CUSTO SIMILAR À MISTURA 3

ITEM SERVIÇO: USINAGEM C.B.U.Q.

UNIDADE m³

EQUIPAMENTO MODELO CÓDIGO QUANT. UTILIZAÇÃO CUSTO OPERACIONAL CUSTO

HORÁRIO PROD. IMPR. PROD. IMPR.

USINA DE ASFALTO 40/80/H ---- 1 1,00 0 221,60 13,32 221,60

CARREGADEIRA 924 ---- 1 0,40 0,60 104,46 14,94 50,75

GRUPO GERADOR 38/40KVA ---- 1 1,00 0 28,91 11,53 28,91

GRUPO GERADOR 164/180KVA ---- 1 1,00 0 83,99 11,53 83,99

TANQUE ESTOQUE 20.000 L ---- 2 1,00 0 4,20 8,40

CALDEIRA 600 LTS ---- 1 1,00 0 19,50 19,50

TOTAL(A) 413,15

MÃO DE OBRA E.S.=126% S.M = R$ 678,00

CÓDIGO K OU R QUANT. SALÁRIO BASE CUSTO HORÁRIO

ENCARREGADO ---- 10 1 6,96 69,65

OPERADOR USINA ---- 3 2 6,96 41,79

OPERÁRIOS ---- 1 8 6,96 55,72

FERRAMENTAS 5% m.o ---- 8,36

TOTAL (B) 175,52

PRODUÇÃO EQUIPE 25 m³ / h CUSTO HORÁRIO TOTAL (A+B) 588,66

CUSTO UNITÁRIO DA EXECUÇÃO (A+B)/C = (D) 23,55

MATERIAIS ton/m³ UNID. CONSUMO CUSTO CUSTO MATERIAIS

RR 19 mm.........................................9,33% 1,17 m³ 0,183 30,00 5,49

RR 9,5 mm......................................37,32% 1,06 m³ 0,810 30,00 24,30

PÓ DE BRITA.................................36,38% 1,49 m³ 0,562 90,00 50,58

AREIA LAVADA ...............................7,46% 1,49 m³ 0,115 35,00 4,03

FÍLER DE RESÍDUO........................2,80% 1,30 m³ 0,050 20,00 1,00

CAP 50/60........................................ 6,71% 1,02 ton 0,151 1.349,99 204,26

ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF 1,00 ton 0,029 2.210,00 63,54

TOTAL (E) 353,20

CUSTO DIRETO TOTAL D + E 376,75

CUSTO UNITÁRIO TOTAL 376,75

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116

Capítulo 4

Considerações Finais e Perpectivas Futuras

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117

Considerações Finais

Através do artigo de revisão bibliográfica comprovou-se a necessidade e urgência da

reutilização do resíduo de construção e demolição frente ao seu elevado potencial na produção

de agregados reciclados, reduzindo o seu acúmulo em áreas clandestinas de bota-fora e em

áreas regularizadas de aterro sanitário, pois o seu elevado percentual no total dos resíduos

sólidos urbanos ocupa grandes áreas para deposição final. Em relação aos países norte-

americanos e europeus, o Brasil encontra-se ainda bastante atrasado nos mais diversos ramos

de aplicação da construção civil quando o assunto é reciclagem e reutilização.

Os elevados índices de reciclagem e de reutilização do RCD na cadeia produtiva da

construção civil nos países desenvolvidos nos propiciam a desenvolver estudos e pesquisas a

fim de assegurar a qualidade dos produtos e serviços que utilizam matéria-prima reciclada e

estimular os governos e mercados brasileiros para esta nova realidade. O pontapé inicial foi

dado através de legislações, legislações estas que mencionam o gerador como responsável

pelo resíduo que produz, obrigando-os a aplicar técnicas de reutilização ou mesmo destinar o

resíduo gerado a locais próprios onde será reciclado, bastando apenas uma efetiva fiscalização

por parte dos órgãos públicos, para que o exigido seja realmente cumprido.

Este novo cenário mundial caracterizado pela palavra RECICLAR nos motivou a

pesquisar um revestimento asfáltico utilizando agregados reciclados provenientes de RCD a

fim de reduzir os impactos ambientais provocados tanto pela extração dos agregados naturais,

como pela disposição final de um entulho com elevado potencial agregado. A pesquisa

comprovou a viabilidade técnica do agregado de RCD nos pavimentos flexíveis, bem como a

viabilidade econômica para determinados tipos de dosagens e a inestimável viabilidade do

ponto de vista ambiental.

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118

Perspectivas Futuras

Investigar alternativas que visem minimizar a absorção do ligante asfáltico pelo

agregado de RCD;

Realizar mais ensaios mecânicos de forma a caracterizar mais precisamente o

comportamento mecânico das misturas contendo agregado de RCD em relação às

misturas convencionais;

Pesquisar mais dosagens utilizando agregados graúdos e fíler de RCD de forma a

encontrar as que mais ofereçam custo-benefício do ponto de vista técnico-

econômico;

Construir pista experimentais em vias de tráfego com as misturas estudadas nesta

pesquisa de forma a acompanhar o seu desempenho;

Realizar estudos no CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo) de maneira a barateá-lo

pois o seu elevado custo faz com que a substituição do agregado natural pelo

reciclado pouco interfira na composição de preço da mistura.