Usos, percepções, instrumentos de gestão e sustentabilidade da flora do Estado de Sergipe
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
REITORAngelo Roberto Antoniolli
VICE-REITORAndr Maurcio Conceio de Souza
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
COORDENADOR DO PROGRAMA EDITORIALMessiluce da Rocha Hansen
COORDENADORA GRFICA DA EDITORA UFSRenata Voss Chagas
O CONSELHO EDITORIAL DA EDITORA UFSAdriana Andrade CarvalhoAlbrico Nogueira de QueirozAriovaldo Antnio Tadeu LucasDilton Candido Santos MaynardEduardo Oliveira FreireJos Raimundo Galvo
Cidade Universitria Prof. Jos Alosio de CamposCEP 49.100-000 So Cristvo SE.Telefone: 2105 6922/6923. e-mail: [email protected]/editora editoraufs.wordpress.com
Este livro segue as normas do Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.
Leda Pires CorreaMaria Batista LimaMaria da Conceio V. GonalvesMaria Jos Nascimento SoaresPericles Morais de Andrade JniorVera Lcia Correia Feitosa
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE
DA FLORA DO ESTADO DE SERGIPE
Organizadoras
Dbora Moreira de OliveiraAllvia Rouse Carregosa Rabbani
Laura Jane GomesRenata Silva-Mann
So Cristvo/SE2014
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TODOS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas grficos, microflmicos, fotogrficos, reprogrficos, fonogrficos e vdeogrficos. Vedada a memorizao e/ou a reproduo total ou parcial em qualquer sistema de processamento de dados e a incluso de qualquer parte desta obra em qualquer programa jusciberntico. Essas proibies aplicam-se tambm s caractersticas grficas da obra e a sua editorao.
Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro, s comunidades envolvidas, aos pesquisadores que participaram da pesquisa e Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Bahia (IFBA) pelo apoio cientfico.
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
U86uUsos, percepes, instrumentos de gesto e sustentabilidade da flora do estado de
Sergipe / Dbora Moreira de Oliveira ... [at al.] . So Cristvo : Editora UFS, 2014. 412 p.
Disponvel em:
ISBN 978-85-7822-445-5ISBN 978-85-7822-446-2 (online)
1. Desenvolvimento sustentvel. 2. Gesto ambiental. 3. Plantas Sergipe. I. Oliveira, Dbora Moreira de.
CDU 502.131.1(813.7)
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Sumrio
APRESENTAO 7
PREFCIO 9
USOS 13
Usos dos quintais no Assentamento Agroextrativista So Sebastio, Pirambu 15
Conhecimento local e uso de espcies arbreas em comunidades do Baixo So Francisco 43
Extrativismo e comercializao do junco (Scirpus sp.) e ouricuri (Syagrus sp.) no Municpio de Pirambu 87
Conhecendo a flora mstico-farmacolgica do agreste sergipano 127
PERCEPES 175
Elaborao participativa de material paradidtico com estudantes da escola Municipal Zumbi dos Palmares em Poo Redondo 177
Percepo e representaes da natureza: o caso das crianas do Assentamento Agroextrativista So Sebastio 203
Percepo ambiental dos moradores da rea de Proteo Ambiental Morro do Urubu Aracaju 229
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 6
INSTRUMENTOS DE GESTO 253
Legislao e uso dos recursos genticos vegetais 255
Polticas pblicas para conservao da biodiversidade no Estado de Sergipe 265
Anlise dos sistemas de atendimento de denncias por crimes ambientais no Estado de Sergipe 283
Analise das autuaes por crimes contra a flora em Sergipe, 1995 a 2007 311
SUSTENTABILIDADE 329
Indicadores de sustentabilidade ecolgica em Assentamento Agroextrativista em Pirambu 331
Seleo de indicadores de sustentabilidade para Carciniculturas de terras baixas em So Cristvo 353
REFERNCIAS 373
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7Apresentao
Estudos veiculados pelo rgo estadual de Meio Ambiente in-dicaram recentemente que restam apenas 13% da vegetao nati-va no Estado de Sergipe. Por outro lado, so recentes os registros referentes relao homem natureza que possam contribuir para a construo de processos de gesto visando conversao da vegetao nativa que resta no Estado, bem como na constru-o de estratgias para a recuperao destas reas.
Entende-se que no se pode pensar em gesto florestal sem o envolvimento da populao que a conhece e a utiliza. Neste sentido este livro uma coletnea de pesquisas desenvolvidas ao longo dos ltimos dez anos, em parceria cientfica com docentes dos cursos de Engenharia Florestal, Agronmica e de Pesca, bem como de ps-graduaes da Universidade Federal de Sergipe e, destes, com as novas geraes de profissionais que, com destaque, escolheram trilhar o caminho da pesquisa cientfica.
Com o intuito de apresentar os esforos multidisciplinares na conservao da biodiversidade, este livro divide-se em quatro partes, com os respectivos temas: usos, percepes, instrumentos de gesto e sustentabilidade. O primeiro tema apresenta quatro estudos construdos com base na etnocincia, com nfase na etnobotnica. No segundo tema trabalhou-se com base em conceitos de autores relacionados Educao Ambiental. O terceiro tema, em seus quatro estudos, traz uma anlise de importantes Instrumentos de Gesto florestal e faz algumas reflexes no intuito de contribuir para o fortalecimento da
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gesto florestal do Estado de Sergipe. O quarto e ltimo tema composto por dois estudos que utilizaram a metodologia MESMIS para a mensurao de sistemas de produo: um agroextrativista e outro para a carcinicultura em terras baixas.
Deste modo, espera-se que este livro possa ser uma aproxi-mao do dilogo entre os diferentes conhecimentos: ddasco-munidades envolvidas, das cincias e dos gestores de polticas pblicas florestais.
Organizadoras
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9Prefcio
Nunca esteve to na moda falar de conservao da biodiversi-dade, gesto de recursos naturais, sustentabilidade e uso racional da biodiversidade. Infelizmente, as reflexes cientficas, polticas e ideolgicas sobre como acessar esses temas na modernidade no avanaram no mesmo compasso. Estamos vivendo um momento, particularmente propcio para abordar essas temticas de forma mais objetiva, prtica e cientificamente embasada devido, justa-mente, popularidade desses temas. A opinio dos pesquisadores e cientistas est cada vez mais requisitada, especialmente para dar suporte a decises que, no raro, afetam a sociedade em diferentes escalas. A produo de um conhecimento contextualizado surge, ento, como um imperativo para prover a sociedade e os indiv-duos de informaes que ajudem a entender o cenrio em que atualmente vivemos em relao ao uso dos recursos naturais e que fornea os instrumentos para a tomada de decises.
Todavia, quando nos referimos aos usos da biodiversidade, alguns conceitos se tornam patentes e, embora tenham vida e uso prprios, surgem fortemente conectados aos debates atuais. Destacam-se, nesse sentido, os seguintes termos: usos, percepes, instrumentos de ges-to e sustentabilidade. Sem dvida alguma, h muitos outros termos que esto associados ao discurso dos cientistas e ambientalistas, mas os citados refletem a orientao epistemolgica/didtica seguida pelas organizadoras deste livro, Usos, percepes, instrumentos de gesto e sustentabilidade da flora do Estado de Sergipe, o que considero uma escolha muito feliz. Vou explicar o porqu.
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Quanto ao uso, penso que faz parte de uma viso ingnua querer desvincular a biodiversidade de seu uso pelos seres hu-manos. Claro que seria timo, para fins de conservao ou pre-servao, que ns, seres humanos, pudssemos deixar de explo-rar os recursos naturais. Porm, isso no possvel. Alm disso, nossa dependncia da natureza sempre foi grande e continuar sendo. Um passo importante para comearmos a tratar das ques-tes ambientais de forma contextualizada aceitar que temos diferentes graus de dependncia dos recursos naturais. Seja uti-lizando a diversidade vegetal para atender s nossas demandas mdicas (no caso, as plantas medicinais), seja para atender a uma demanda econmica, a natureza oferece-nos uma base de segu-rana para o desenvolvimento de nossa cultura. Por isso, torna-se imperativo entender como nos apropriamos da natureza, para a partir disso, conciliar o uso de seus recursos com as necessidades de conservao.
J a percepo das pessoas sobre a natureza algo que vem motivando investigaes em diferentes campos do saber, como a biologia, a psicologia e a geografia, no esforo de compreender como ns damos significado para aquilo que percebemos pelos nossos sentidos e que passa por diferentes filtros (sensoriais e cul-turais, por exemplo). Nesse contexto, torna-se importante estudar como as pessoas percebem as questes ambientais. As organiza-doras desse livro trazem, ento, captulos pautados em estudos de caso com enfoque descritivo, nos quais os usos e as percepes so apresentadas de modo a explicar um pouco sobre como a flora de Sergipe ganha contornos e significados para a sua gesto.
Esses textos/casos conduzem ao terceiro elemento do livro, que trata dos instrumentos de gesto. Obviamente que, quando nos referimos conservao da biodiversidade, faz-se necessrio o uso
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Prefcio
das ferramentas que possibilitam ao gestor tomar decises. Esses instrumentos de gesto caracterizam-se por diferentes ferramentas que vo desde as polticas pblicas at os pequenos mecanismos que permitem o seu cumprimento. Aqui, as organizadoras tiveram a preocupao de contextualizar o cenrio para o estado de Sergipe, principalmente no captulo que trata das Polticas Pblicas para a conservao da Biodiversidade no Estado de Sergipe. Encerrando a obra, surge o termo sustentabilidade. A palavra encerra uma ideia que julgo bastante clara, mas extremamente difcil de mensurar e de se aproximar na prtica. Afinal, como mensurar a sustentabilidade de determinada prtica? Sem qualquer pretenso de oferecer um tratado sobre o assunto, encontramos neste livro um captulo sobre indicadores de sustentabilidade que podem ajudar o leitor a com-preender um pouco dos desafios que a obra traz tona.
Muito embora este livro aborde a flora de Sergipe, no tenho dvidas de que ser til no s para aqueles que lutam pelas ques-tes ambientais no estado, sejam cientistas, pesquisadores, gesto-res, comunidades locais ou o pblico em geral, mas tambm para todo aquele interessado no futuro da biodiversidade em nosso pas. Acredito, ainda, que este livro pode servir de inspirao para pesquisadores brasileiros, interessados em aproximar-se, cada vez mais, da realidade ambiental de sua regio. Por fim, parabenizo as organizadoras e autores pelo desafio assumido e por mostrarem neste livro algumas das inmeras possibilidades de estudos e refle-xes sobre a biodiversidade.
Prof. Dr. Ulysses Paulino de AlbuquerqueLaboratrio de Etnobiologia Aplicada e Terica - LEA
Universidade Federal Rural de Pernambuco
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Usos dos quintais no Assentamento Agroextrativista So Sebastio, Pirambu
Dbora Moreira de Oliveira; Luiz Aquino Silva Santos; Laura Jane Gomes
Os sistemas de produo humanos que possuem por princ-pio a base ecolgica/sustentvel comportam uma viso sistmi-ca que incorpora parte de uma lgica de manejo produtivo que concebida e empregada por populaes tradicionais, e que permanece em inmeros locais (SIQUEIRA; SILVA, 2008).
Dentro da etnobotnica existem diversos focos de estudo e uma das vertentes que ganha destaque est relacionada a investigaes em um tipo de sistema de produo: os sistemas agroflorestais em reas tropicais, notadamente, nos espaos conhecidos como quin-tais (ALBUQUERQUE; ANDRADE; CABALLERO, 2005).
As caractersticas do local conhecido no Brasil como quin-tal variam de acordo com diferentes pases. Para os brasileiros, na maior parte das vezes, o termo relaciona-se ao terreno si-tuado no entorno da casa, onde o acesso se faz de forma rpi-da e cmoda, e no qual se realizam atividades como cultivos e criao de diversas espcies que proporcionam suprimento famlia sejam elas nutricionais, medicinais ou lenhosos (AMARAL; GUARIM-NETO, 2008).
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 16
O quintal um espao que possui mltiplas funes e ca-ractersticas expressivas para o cotidiano domstico. Ele pode se caracterizar desde um simples vazio, para o qual a habitao est voltada, at a um ambiente vivo e dinmico envolvido ativamente na rotina da casa. Pode estar relacionado ma-nuteno da vida familiar, ao cultivo de espcies frutferas, verduras e legumes, bem como s funes de lazer, a exemplo do plantio de espcies ornamentais (DOURADO, 2004).
Alm disso, os quintais so caracterizados como ambientes sus-tentveis, visto serem uma das formas mais antigas de manejo por terra e ainda persistirem (AMARAL; GUARIM-NETO, 2008). No Brasil, Dourado (2004) destaca a importncia dos quintais desde o incio da colonizao, como a casa rural, onde se deu boa parte das atividades e da aquisio da subsistncia familiar.
O que se verifica, contudo, que apesar da evidente mul-tiplicidade de usos humanos, das funes ecolgicas e im-portncia socioeconmica dos quintais, na literatura no se observam dados precisos sobre a diversidade florstica e as variaes encontradas em reas tropicais (ALBUQUERQUE; ANDRADE; CABALLERO, 2005). Diante do exposto, esta pesquisa teve como objetivo, investigar os usos dos quintais pelos moradores do Assentamento Agroextrativista So Sebas-tio (PAE So Sebastio).
rea de estudo
O estado de Sergipe possui aproximadamente 21.918 Km e situa-se na regio Nordeste. O assentamento fica localizado na cidade de Pirambu, litoral norte, em rea que compreen-de o Bioma Mata Atlntica e comporta uma populao de
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8.369 habitantes distribudos em 206 Km de rea (IBGE Ci-dades, 2011). A zona rural no municpio de Pirambu apresen-ta oito povoados, dentre eles Alagamar, que se diferencia por ser o mais distante da sede municipal (31 Km) (GONZAGA, 2007). L vivem em torno de 532 moradores, e est s mar-gens do Rio Betume, afluente do So Francisco e encontra-se no entorno da Reserva Biolgica de Santa Isabel.
O Assentamento Agroextrativista So Sebastio, foi regu-larizado oficialmente no ano de 2006 em prol de 28 famlias antes pertencentes ao povoado Alagamar (PEREIRA, 2008). Devido s peculiaridades do ecossistema predominante na re-gio do assentamento (Restinga), a modalidade agroextrati-vista foi a que melhor se enquadrou no contexto local. Esta modalidade especial de assentamento rural foi regulamentada pela Portaria n268/1996 do Instituto Nacional de Coloniza-o e Reforma Agrria (INCRA), e tem como objetivo pos-sibilitar a explorao de recursos extrativos por comunidades locais em bases socioeconmicas e ambientais sustentveis.
Os lotes localizados na agrovila do PAE So Sebastio fo-ram regularizados quando da criao do assentamento, e, portanto, foram delimitados em tamanho iguais, de 20x100 metros de extenso, totalizando 2.000m por quintal. Todos os quintais possuem uma casa de no mnimo 6x14 metros, centralizada frente do terreno. Os lotes residenciais ficam dispostos em torno de uma rua central, em ambos os lados. Os recursos dos assentados so obtidos por mltiplas ativida-des, notadamente as extrativistas, como o artesanato a partir da palha do ourizurizeiro (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) e o extrativismo da mangaba (Harconia speciosa Gomes) e do coco (Cocos nucifera L.), bem como estratgias variadas: agricultura
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familiar de subsistncia, criao de pequenos animais, pesca artesanal, pequeno comrcio e assalariamento temporrio na agricultura, alm de benefcios governamentais como aposen-tadoria e bolsa famlia (PEREIRA, 2008).
Coleta de informaes e anlise dos dados
Observaes e obteno dos dados foram realizadas entre agosto e novembro de 2011. Houve contato inicial com as 28 famlias do assentamento, a fim de explicitar os objetivos do es-tudo e solicitar o consentimento de participao de um dos che-fes de famlia, aquele que se considerou mais familiarizado e/ou responsvel pelo manejo do quintal (mantenedor do quintal). Porm, no momento da aplicao das entrevistas e estudo do quintal apenas 25 famlias encontraram-se disponveis, ou seja, 25 quintais (89% do total de quintais do assentamento). Os dados foram obtidos por meio de 25 entrevistas (14 mulheres e 11 homens) semi-estruturadas abordando aspectos relativos rea do quintal com duas perguntas relativas importncia do quintal para a subsistncia da famlia (Bloco I); trs perguntas relativas diviso de trabalho no quintal (Bloco II); trs pergun-tas relativas ao manejo do quintal (Bloco III).
Todas as espcies de plantas citadas e presentes nos quintais foram coletadas sob a indicao dos informantes empregan-do a tcnica da turn-guiada (ALBUQUERQUE; LUCENA; ALENCAR, 2010) com os moradores na rea de seus prprios quintais para buscar uma melhor interao entre pesquisador-colaborador. Aps a coleta foram prensadas in situ para poste-rior secagem e herborizao (SANTOS et al.; 2010). O material botnico foi depositado no herbrio ASE, da Universidade Fe-deral de Sergipe, onde ocorreu a identificao.
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Um aspecto importante a ser relatado a disposio e orga-nizao dos quintais, assim foi elaborado um croqui para cada quintal a fim de caracterizar a fisionomia, com base tanto nos componentes verticais como nos horizontais, com a finalida-de de localizar as espcies e identificar preferncias no posicio-namento das diversas categorias de uso. Utilizou-se como base para este procedimento as medidas de altura e o Dimetro ao Nvel do Solo (DNS) 3 cm (MILLAT; MUSTAFA, 1998, apud FLORENTINO, ARAJO, ALBUQUERQUE, 2007).
Com base nos croquis, possvel averiguar a relao entre o tipo de quintal e o tamanho da famlia. A escolha da meto-dologia a ser empregada deve considerar o tempo dos plantios. As espcies com DNS 3 cm foram quantificadas para cada quintal, para as demais foi apenas registrada a ocorrncia. Jus-tifica-se o uso do DNS (comumente utilizado em reas do bioma Caatinga apenas para espcies lenhosas) em detrimento do Dimetro ao Nvel do Peito (DNP, comumente usado no bioma Mata Atlntica), devido ocorrncia de espcies jovens na rea dos quintais. Como a criao do assentamento foi ofi-cializado h apenas seis anos, boa parte das espcies ainda no atingiu altura ao nvel do peito e, no entanto, como esto em processo de crescimento e fazem parte da constituio destes quintais, imprescindvel catalog-las.
Os tipos de uso dos recursos vegetais no madeireiros fo-ram distribudos nas categorias definidas de acordo com Florentino, Arajo e Albuquerque (2007), a saber: alimen-tar, forragem, medicinal, ornamental, produo de sombra e outros usos. Para os recursos madeireiros foram utilizadas as recomendaes sugeridas por Ramos; Medeiros e Albuquer-que (2010), em ambos os casos, levou-se em considerao o
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carter mico (interno, relativo cultura local) das informa-es e, por conseguinte, foram empregados os ajustes que se tornaram necessrios para um melhor enquadramento.
As espcies foram identificadas quanto abundncia (Ab), ao nmero de unidades amostrais com ocorrncia do taxon (NUA), as frequncias absoluta (FAi) e relativa (FRi) dos taxa, alm da rea basal (AB) ocupada (ARAJO; FERRAZ, 2010).
A mdia de diversidade de espcies dos quintais foi comparada origem dos entrevistados, para isso, empregando mdias ponde-radas de diversidade de espcies dos quintais com moradores de origem de uma mesma localidade. Bem como averiguando, por meio da anlise de Componentes Principais PCA, a contribui-o das variveis para cada agrupamento visando a identificao de relaes da origem dos entrevistados para a escolha de espcies que compem a diversidade do quintal.
As entrevistas foram analisadas mediante a tcnica do Dis-curso do Sujeito Coletivo (DSC), proposta por Lefreve e Lefre-ve (2005). Algumas informaes que foram citadas durante o dilogo, mas, no se enquadraram nas perguntas inicialmente propostas, no foram descartadas, sendo apenas transcritas no texto; para os demais dados utilizou-se da estatstica descritiva.
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Composio florstica
Constatou-se 35 plantas com DNS 3 cm presentes nos quintais. Destas, 33 foram identificadas, agrupadas em 23 fa-mlias e 31 gneros botnicos (Tabela 1). Este nmero de es-pcies baixo quando comparado aos estudos em quintais de outras regies, como exemplo na caatinga em que Florentino, Arajo e Albuquerque (2007) categorizaram 84 espcies. Em regies urbanas inseridas na Amaznia Carniello et al. (2010) encontraram 240 espcies e Amaral e Guarim-Neto (2008) encontraram 94 espcies.
Convm ressaltar, que no foram encontrados trabalhos publicados em quintais no ecossistema de restinga.
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 24
USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 24
As famlias botnicas de maior frequncia foram Myrtaceae (4), Anacardiaceae (3), Euphorbiaceae (3) e Arecaceae (3). As espcies se enquadraram em quatro categorias de uso, a saber: Alimentcias (24), Medicinais (10), Ornamentais (2) e Outras (6). Ocorreram ainda sete espcies consideradas teis pelos moradores. Estas espcies so cultivadas e foram computa-das apenas na forma de presena e ausncia, para cada quintal, sendo elas: abbora (Cucurbita moschata Duchesne, NUA=2); melancia (Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai, NUA=1); batata doce (Ipomoea batatas (L.) Lam., NUA=7); boa noite (Catharanthus roseus (L.) G. Don, NUA=2); man-jerico (Ocimum basilicum L., NUA=12); hortel grande/si-gulera (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng., NUA=5); e hortel pequeno (Mentha sp., NUA=1).
Em associao s reas destinadas ao plantio de batata doce e macaxeira (Manihot esculenta Crantz) foram encontradas es-pcimes de coqueiros (Cocos nucifera L.), mamoeiros (Carica papaya L.) e mangueiras (Mangifera indica L.), padro encon-trado tambm em estudos na regio de caatinga (FLOREN-TINO; ARAJO; ALBUQUERQUE; 2007); que, no caso do presente estudo, parece refletir trs diferentes situaes: 1) o melhor aproveitamento de espao; 2) o no planejamento prvio de reas de plantio e 3) a manuteno de espcies es-pontneas - como no caso dos ouricurizeiros - que j existiam antes da implantao do assentamento.
Todas as 10 espcies (com DNS 3 cm) de maior ocorrncia e abundncia nos quintais se enquadraram na categoria Alimen-tcia; destas, trs se destacaram pela nfase dada pelos morado-res sua importncia econmica e social, a saber: coqueiro com 127 unidades catalogadas em 24 quintais; as bananeiras (e/ou
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indivduos isolados) ocorreram 129 vezes em 20 quintais; e o ouricurizeiro, com 106 ocorrncias em 19 quintais (Tabela 1).
Pulido et al. (2008) afirma que, dentro do conceito de cul-tura, espera-se que a ao humana em relao ao manejo e seleo de espcies sejam afetadas por elementos que fazem parte dos costumes locais. Assim, estabelecer um quintal questo de status social em diversas culturas, desta forma as espcies estabelecidas nos quintais refletem o nvel socioeco-nmico da famlia. Portanto, de acordo com este autor, pode-se inferir que a predominncia visvel de escolha de espcies alimentcias por parte dos moradores e a escassez de citao/presena de espcies ornamentais coincide com a situao so-cioeconmica do PAE So Sebastio: de agricultura familiar de subsistncia, dentro dos moldes de um assentamento de reforma agrria com tempo recente de criao.
Origem do informante e diversidade de espcies
A origem dos moradores, que se consideraram os principais responsveis pelo cuidado com o quintal, variou nas 25 resi-dncias. As pessoas advieram do povoado vizinho, Alagamar (15), de um municpio vizinho a Pirambu, Pacatuba (7), de outro municpio de Sergipe (Ilha das Flores, 1) e do estado de Alagoas (2). Em relao mdia ponderada da diversidade de espcies encontradas nos quintais em relao origem dos entrevistados, houve uma maior diversidade de espcies nos quintais de moradores de Alagoas (mdia=12) e de Pacatuba (mdia=9,8), e apenas uma espcie no quintal de morador de origem de outro municpio.
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Os moradores de Alagoas mantinham estreito contato entre as famlias e a quantidade de diferentes espcies presentes nos quintais era semelhante, o que pode ser explicado pela cultu-ra de cultivo dos quintais advinda da localidade de origem. O mesmo ocorreu para os quintais de Pacatuba. A menor mdia de diversidade de espcies para os moradores de origem no po-voado Alagamar (mdia=7,26) pode estar relacionada a dois fa-tores: 1) estes assentados possuem um maior conhecimento da flora nativa local, o que faz com o que o plantio de espcies nos quintais seja menor pela disponibilidade de espcies alternativas na mata; ou 2) a maioria possui parentes e/ou outra residncia no povoado vizinho, e, portanto, utilizam recursos de ambos os quintais com a vantagem de que as casas do povoado vizinho, segundo os entrevistados, possuem abastecimento de gua que facilita o processo de irrigao.
Por meio da Anlise de Componentes Principais (ACP), os grupos formados no so explicados pela origem (Figura 1). Sugere-se que a escolha de espcies para os quintais est relacionada necessidade de obter maior diversificao de ali-mentos bsicos do que origem dos entrevistados.
Apenas dois quintais, Pacatuba (23) e Alagamar (24) no apresentaram as espcies encontradas nos demais quintais.
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Figura 1. Anlise de componentes principais (ACP) para os quintais estudados do Projeto de Assentamento So Sebastio, de acordo com a origem dos entrevistados e as diferentes espcies presentes (Ala=Alagamar; Pac=Pacatuba; IF=Ilha das Flores; ALA=Alagoas).
Convm destacar que o quintal Pac23 (Pacatuba, n 23) foi um dos mais bem estruturados em diversidade de espcies, e, provavelmente, sua diferenciao se deu tanto pela ocorrncia de espcies menos comuns no assentamento (cana-de-acar, manjelo e pimenteira) quanto pela ausncia de espcies como ouricurizeiro e mamoneiro. O quintal Ala24 (Alagamar, n24), semelhantemente, teve inclusive a presena de espcies exclusivas como o ingazeiro e o umbuzeiro.
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Estrutura
Nos 25 quintais visitados 11 possuem casas de fogo, onde preparada a comida, que, so as antigas moradias dos as-sentados feitas de pau-a-pique, onde ficam os foges lenha. Quatro quintais possuem galinheiro, e em quinze se criam as galinhas soltas. Oito possuem pequenas hortas e dois possuem barracos que funcionam como depsitos. A ornamentao va-ria de nula (15 quintais), a escassa (7 quintais) - com apenas dois ou trs representantes de palmeiras e, abundante (3 quintais). Em todos os quintais foi encontrado acmulo de lixo. A prefeitura local (Pirambu) no recolhe o lixo na locali-dade, que acumulado no quintal em pontos distantes da casa para depois queim-lo ou enterr-lo.
As espcies com maiores valores de frequncia absoluta e relativa dos taxa se enquadram na categoria alimentcia (Tabe-la 1), evidenciando a importncia das espcies frutferas para a complementao da alimentao familiar e a influncia des-tas na estrutura vertical e horizontal dos quintais. Florentino, Arajo & Albuquerque (2007) afirmam que, mesmo diante das amplas funes exercidas pelos quintais, a principal, em todas as regies a produo de alimentos, constituindo fa-tores essenciais economia local e autosuficincia familiar.
A rea basal (AB) representa a rea que a espcie ocupa com a base de seu tronco. A rea total de espcies com DNS 3 cm encontradas nos 25 quintais foi de 50.000 m. A ba-naneira, espcie com maior rea basal, ocupa 26% da rea total dos quintais. Isto ocorre devido s brotao de rebentos, que inviabiliza a ocupao da rea dos terrenos ao redor delas, e, portanto, foi computada como rea basal pertencente s
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brotaes. O mesmo ocorreu para a cana-de-acar. Diante destes dados, pode-se pensar que a maior parte do terreno dos quintais aproveitada, no entanto, no esta a realidade. As demais espcies, com poucas excees, esto com valores bem distantes dos valores de rea basal ocupados pelas bananeiras. Assim, a soma total de reas basais ocupadas de 15.783,39 m, o que equivale a 31,6% da soma da rea dos quintais aproveitada.
Analisando-se os croquis (Figura 2) pode-se contatar que a distribuio das espcies com DNS 3cm no segue um padro, nem no plano horizontal nem no vertical, apenas as espcies de horta e ornamentais se localizam predominante-mente no entorno da casa, num raio mximo de 15 m, no entanto, ambas so encontradas em poucas unidades residen-ciais. As espcies comuns como coqueiro, bananeira e ouricu-rizeiro, de grande porte, foram os principais componentes da estrutura horizontal nos quintais. Porm, mesmo estes espaos tendo o mesmo tempo de criao, a altura mdia das espcies variou entre um (espcies jovens) e 15 m.
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Grande parte da rea do quintal no considerada um quintal propriamente dito pelos moradores, pois o quintal para os entrevistados apenas a parte em que estes efetuam algum tipo de cuidado/manejo. Assim, as zonas do quintal, pertencentes a cada lote residencial, em que os moradores no realizam estas atividades acabam se tornando uma extenso da mata nativa local. Desse modo, os moradores costumam dividir seus quintais, com o auxlio de cercas, entre os 50 e os 70 m. A primeira parte (mais prxima a casa) mais roada e organizada, j a segunda, onde so encontradas mais espcies nativas, geralmente usada para a criao de cavalos e a tercei-ra (ltima) tomada pela mata nativa.
Nos croquis houve predominncia de trs tipos representa-tivos de quintais. O tipo A caracterizado por ampla rea no cultivada (mata expontnea nativa) e poucas espcies com DNS 3 cm, e quatro quintais se enquadraram nestas caractersticas; o tipo B coberto em toda a sua extenso por vegetao rasteira e/ou em processo de rebrota, pois os moradores roam toda a rea, e um grande nmero de espcies est distribudo mais espaadamente at cerca de 80 m, com dois quintais representa-dos no local. Por fim, 19 quintais se enquadram no tipo C, com quintais divididos em uma ou duas partes, e sua rea cultivada no ultrapassa os 60 m, com menor nmero de espcies que o quintal B, porm, mais concentradas.
Seria plausvel pensar que o nmero de pessoas na famlia influenciaria no nmero e na qualidade de espcies cultivadas no quintal, visto que maior nmero de pessoas exigiria maior quantidade de alimentos e, menor nmero de pessoas exigiria menos; e tambm forneceria menos mo-de-obra para o cul-tivo no quintal. No entanto, verificou-se que, para a localida-
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de estudada, o nmero de pessoas na famlia no influenciou nos croquis (Figura 3). Nos quintais pouco cultivados (tipo A) ocorrem famlias com at sete membros. Um dos quintais do tipo B (o com maior aproveitamento de espao e maior plantio de espcies) tem apenas o casal como moradores, e nos quintais do tipo C, a maioria para a presente localidade, ocorreu uma famlia com at 10 membros.
Figura 3. Relao entre o tipo croqui em que o quintal se enquadra e o tamanho da respectiva famlia do Projeto de Assentamento So Sebastio, Pirambu, Sergipe.
O nmero de ouricurizeiros na zona quintal-mata signifi-cativo, porm, estes no foram computados por serem locais de difcil acesso aos pesquisadores devido mata alta. Mesmo nesta zona que descaracterizada como quintal, todos os morado-res relataram que fazem uso destes ouricurizeiros. Isto refora a idia de que esta parte do quintal funciona como uma extenso
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da mata nativa, j que os moradores no tm tempo e/ou inte-resse de cultivar a totalidade do espao do quintal. Estes consi-deram essa rea como uma parte no efetivamente utilizada e a desqualificam como se percebe nos comentrios:
A s mato minha filha...d at vergonha M, q19, 48 anos.
O que tem mais a mato, pouco o que se aproveita! M, q24, 42 anos.
Esta relao quintal-mata confirmada por Pulido et al. (2008), que afirma que, ao nvel de paisagem, os quintais fa-zem parte de um mosaico de sistemas agrcolas misturados vegetao natural, e, tambm, que a proximidade destes aos recursos florestais facilita a coleta e torna o cultivo nestas reas desnecessrios. Neste estudo, a permanncia da zona quintal-mata pode promover a melhor manuteno das espcies na-tivas teis a exemplo do ouricuri, que segundo os moradores, encontra-se com baixa densidade na rea do assentamento, o que contribui para se percorrer quilmetros para encontr-lo a fim de extrair as palhas para artesanato. No entanto, para s demais espcies presentes na zona quintal-mata, quando a rea do quintal aproveitada com outros cultivos ou roada para a limpeza da rea elas so retiradas, permanecendo ape-nas os ouricurizeiros isolados na paisagem. Entende-se, por-tanto, que a zona-quintal mata vista pelos moradores como uma rea que ainda no teve sua potencialidade explorada, para a segurana alimentar, um dos papis dos quintais, e fica comprometida quando a rea est tomada pela mata nativa.
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Importncia, diviso de trabalho e manejo no quintal
Quando questionados sobre a importncia do quintal para a famlia foi possvel identificar dois Discursos do Sujeito Co-letivo (DSCs) com base na idia central (IC) de que h pouca ou nenhuma representatividade do quintal no sustento da fa-mlia; e, outro que afirma o contrrio, inclusive agregando ou-tros elementos que no o da subsistncia, conforme podemos ver na composio de expresses-chave (Ech) que formaram os trs discursos a seguir:
DSC T dando pouca coisa. mais pra o consumo da casa mesmo. Ajuda com algumas frutas, banana, coco, mamo, e com as galinhas
DSC Por enquanto no ta ajudando com nada. No t botando ainda; DSC O meu sustento timo! Daqui eu tiro de tudo. E ns tem lazer, tem sombra... um pomar sabe?
Os entrevistados que se enquadraram no DSC foram 23, enquanto que dois se enquadraram no DSC e um no DSC. Isso demonstra dois fatos: 1) por serem quintais de pouco tem-po de uso (cerca de oito anos) as espcies de ciclo longo ainda no produzem, por isso, moradores que as escolheram (a maio-ria) para compor o seu quintal ainda no possuem recurso para o sustento familiar proveniente do quintal; 2) a falta de aprovei-tamento das reas do quintal com espcies anuais, visualizado no tpico anterior, contribui para a falta de recursos.
Ao serem questionados sobre a importncia relativa do lote, do quintal e da mata para o sustento familiar buscou-
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se comparar a importncia destes trs locais com a obteno de recursos. Foi possvel identificar, trs DSCs que refletem a escolha do lote ou da mata, ou de ambos:
DSC4 O lote mais importante porque tem maior quantidade de produtos. Principalmente por causa da farinha de mandioca e das mangabas, pra quem tem
DSC5 Tanto o lote quanto a mata, por conta das plantaes e da mangaba, mas bom mesmo quando t no tempo da mangaba
DSC6 A mata a mais importante, por conta da cata da mangaba e das palhas do artesanato.
O DSC4 foi citado por 16 entrevistados, seguido do DSC5 com quatro respostas enquadradas e do DSC6 com trs. Apenas um morador afirmou que os mais importantes eram o quintal e o lote, o mesmo que se enquadrou no DSC, e outro que todos eram importantes. A questo que o lote, escolhido pela maio-ria dos entrevistados, como mais importante na atual realidade do PAE So Sebastio, fornece uma grande quantidade de pro-dutos, porm com diversidade relativa baixa (mandioca, milho, batata doce, coco e manga) quando comparado ao potencial do quintal. Conforme relato dos moradores, possvel um cuida-do com espcies classificadas localmente como mais exigentes, com a rega comumente efetuada pelos moradores quando as espcies cultivadas nos quintais esto se estabelecendo que permite qualidade e diversificao na alimentao:
Essas plantas (horta) a gente tem que regar sempre, a tem que ficar no quintal...no d pra botar na roa qu no d
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pra levar gua at l, l fica as mais fortes igual mandioca H, q7, 48 anos.
Existe diferena na distribuio de espcies como o ouricu-ri e a mangaba nos lotes. Na transio entre acampamento e assentamento os lotes foram separados e distribudos median-te sorteio, portanto, alguns moradores tm abundncia dessas duas espcies, enquanto outros no. Os primeiros afirmam que o lote importante, pois raramente precisam recorrer mata para catar mangaba e palha de ouricurizeiro, enquanto os de-mais optam ou pela mata ou por ambos, no querendo deixar de valorizar nem os produtos extrativos nativos nem a roa.
Quanto pergunta, quais membros participam do cuida-do do quintal, os entrevistados afirmaram que alm deles, o conjugue participa do cuidado com o quintal (3H e 4M); que cuidam sozinhos (3H e 3M); participam junto com os filhos (2H e 3M); que todos na famlia participam (2H e 3M); que atribuem mais tarefas aos filhos (1H e 1M), mas ainda as-sim se consideram os principais responsveis pelo zelo com o quintal. Verifica-se, portanto, que no h um consenso quan-to aos participantes do cuidado com o quintal.
importante ressaltar que os homens que afirmaram cuidar de seus quintais sozinhos (3) ou com os filhos (2) apresentaram espontaneamente as duas primeiras justificativas abaixo, ou de ausncia dos filhos ou de incapacitao da mulher por falta de tempo e/ou sade. Bem como, no geral, as mulheres entrevis-tadas que afirmaram realizar as tarefas junto ao conjugue (4) e junto toda a famlia (3) informaram que os maridos dedica-vam menos tempo s atividades no quintal devido manuten-o constante por parte deste gnero nas roas familiares; e que
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os filhos recebiam pequenas funes, configurando-se como um tipo de treinamento. Conforme os relatos:
Eu fico sozinho, meus filhos to tudo em outros estados, e o trabalho da mulh faz trana H, q5, 65 anos
Eu e meus filhos, a mulher no aguenta porque tem problema nos braos H, q11, 52 anos
Eu quem cuido, o marido cuida do campo, ele ajuda no quintal mas pouco M, q18, 53 anos.
Verifica-se, portanto, que a maior participao das mulheres em atividades do lar reflete ainda o maior domnio e autonomia do gnero feminino nesta esfera (BRUMER, 2004, PULIDO, et al., 2008), e ao contrrio, a ida dos homens ao campo se configura como atividade mantenedora do sustento alimentar da famlia, pontuado apenas por ajudas passageiras em atividades relacionadas ao ambiente domstico (incluindo os quintais).
Com a segunda questo procurou-se investigar quais membros da famlia trabalham com maior intensidade no quintal. Obteve-se, para os 17 informantes que afirmaram no realizar a tarefa de manejo do quintal sozinhos, que: nove cuidam mais do quintal, eles mesmos; que em quatro quintais o cuidado distribudo igual-mente, isto , todos realizam coletivamente as mesmas tarefas; trs afirmaram que os filhos cuidam mais do quintal; e apenas um afir-mou que ele e o conjugue tm maior responsabilidade.
A pergunta seguinte foi semelhante anterior, no entanto, buscou-se entender se h diferenciao de tarefas entre os par-ticipantes no cuidado com o quintal (17 entrevistados afirma-ram no realizar sozinho o manejo do quintal). Foi possvel
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construir dois DSCs referentes s tarefas atribudas aos homens (narrados pelas mulheres) e aos filhos e mulheres (narrados pe-los homens), ficando notrio que, apesar das mulheres terem um maior domnio da organizao do quintal, as tarefas mais leves ficam incumbidas a elas e s crianas. As primeiras, por terem outras tarefas domsticas e de produo (como o arte-sanato) que as ocupam; as segundas pelo carter educativo das tarefas. Os discursos foram assim constitudos: DSC7
DSC7 As mulheres e as crianas ficam mais na primeira parte do quintal, varrendo, limpando. Na hora de plant eu cavo e eles plantam
DSC8 O marido baixa os mato, eu e os meninos mais varremos e plantamos
Com a questo O que voc faz para cuidar do seu quintal? buscou elucidar as tcnicas de manejo empregadas. Em todos os quintais os responsveis afirmaram que realizam atividade de roagem e limpeza do matos que crescem (pelo menos no entorno da casa). A aplicao de adubo orgnico (seis quintais) se d tanto de forma processada, como com adubos prepara-dos com excrementos de galinha e restos de vegetais; como de forma direta, com o amontoamento de restos de plantas sobre as razes das espcies consideradas mais sensveis pelos participantes da pesquisa. O adubo qumico (cinco quintais) utilizado em coqueiros e laranjeiras. Em dois quintais se faz uso de adubo qumico e orgnico.
Constatou-se, que nos quintais no Projeto de Assentamen-to So Sebastio predominam tcnicas simples de manejo, sendo enquadrado como manejo tradicional, que segundo
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Huai e Hamilton (2009), so caracterizados pela baixa entra-da de insumos e uso de tecnologias simples, tendo o trabalho humano como nica entrada.
Em resposta ao questionamento sobre a origem do apren-dizado do cuidado com o quintal, todos os moradores infor-maram que aprenderam com os pais desde jovens, assim foi possvel formar um nico DSC:
DSC9 Agente nasce nessa vida. Desde pequeninho os pais ensina agente a fazer as coisas, leva agente pro quintal...agente vai se virando, observando tambm os vizinhos, de modo que aqui todo mundo sabe fazer isso.
Esta pergunta foi feita para averiguar a existncia de assistn-cia tcnica para os assentados, na forma de cursos de capacita-o. Os assentados afirmaram ter conhecimentos passados de pai para filho, que apesar de essenciais, muitas vezes carecem de complementao tcnica. Na literatura a escassez de assistncia tcnica agricultura familiar ampla, afetando diretamente os aspectos socioeconmico-ambientais regionais (SCHMITZ, 2002). No entanto, h atuao de tcnicos contratados pelo Ministrio do desenvolvimento Agrrio, principalmente nas reas dos lotes produtivos dos assentados. Existe tambm uma iniciativa recente de instalao de hortas nos quintais, de modo que a carncia de assistncia tem sido minimizada.
Em resposta penltima questo, sobre possveis espcies que possuem algum tipo de tratamento especial, os moradores citaram: coqueiro (5), que precisa ser adubado; olercolas (2), que precisam ser regadas; os demais citaram espcies que mor-reram logo ao brotar como jaca, mamo e tomate (Solanum
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lycopersicum L. 5) ou no responderam (6). Onze afirmaram que no havia nenhuma espcie com tratamento especial. E ainda, uma ltima pergunta foi feita: O que voc gostaria de acrescentar/retirar para melhorar o seu quintal? Nenhum dos entrevistados citou algo que pudesse ser retirado e, como dese-jo de acrescentar foram citadas vrias espcies frutferas (jaca, jambo, acerola, mamo, uva, ma, carambola, abacate, pi-tanga etc.) e o desejo de ter hortas (3). Sete no souberam o que responder. Interessante notar que nem mesmo o lixo foi lembrado pelos moradores como algo a ser retirado, bem como a escassez de gua para irrigao no foi lembrada para ser adicionada. O foco dos assentados voltou-se s espcies frutferas e hortalias que, de imediato, proveriam mais fontes de alimentao para a famlia novamente reforando o po-tencial de segurana alimentar atribudo aos quintais.
Consideraes finais
A hiptese inicial de que as espcies escolhidas para forma-o dos quintais no Projeto de Assentamento So Sebastio tm, predominantemente, o carter de contribuir para a ali-mentao das famlias, foi confirmada. Segundo depoimentos pode-se inferir que a quantidade de alimentos produzidos e obtidos tem sido suficiente, no entanto, os quintais no so os nicos provedores destas espcies, somando-se produo nos lotes/roas. Sob o aspecto qualitativo, na percepo dos entrevistados, ainda h pouca variedade de espcies. Portanto, existe uma tendncia por parte dos moradores de aumentar a diversificao de espcies. Alm disso, as prticas de manejo poderiam ser melhor empregadas, a exemplo do aproveita-
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mento dos resduos orgnicos das residncias para a compos-tagem, ao invs do descarte a cu aberto.
A zona quintal-mata, muito evidente na localidade, no vista como rea que pode ser aproveitada, exceto pela uso da espcie ouricurizeiro. As demais espcies nativas alimentcias e/ou medicinais no so aproveitadas nessas reas, e no h nenhum tipo de iniciativa no sentido de estabelecer um ma-nejo agroflorestal. Quanto ao uso da rea, os moradores reco-nhecem que o quintal no est sendo aproveitado no mximo de sua capacidade, no entanto, a pouca infraestrutura local como a falta de abastecimento de gua, e a baixa articulao de cooperao entre os moradores do assentamento tm con-tribudo para a permanncia desta realidade.
Portanto, pode-se concluir que para que os quintais estudados possam, ao longo do tempo, exercer outras funes alm das que atualmente exercem (alimentao e medicinal), tais como lazer e ornamentao, alguns obstculos devem ser trabalhados, como o acesso aos servios bsicos de saneamento (gua, coleta de resdu-os) e uma extenso rural integrada gesto participativa.
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Conhecimento local e uso de espcies arbreas em comunidades do Baixo So
Francisco1
Bruno Antonio Lemos de Freitas, Allvia Rouse Carregosa Rabbani, Laura Jane Gomes, Suzana Russo Leito, Adonis Reis de
Medeiros Filho e Renata Silva-Mann
A degradao do meio ambiente proporciona problemas econmicos, sociais e polticos. A utilizao irracional e des-mesurada do ambiente acarreta graves danos de ordem mate-rial, ocasionando prejuzos irrecuperveis (RABBANI, 2013), e tem levado ao esgotamento dos recursos naturais existentes e ao aumento na destruio dos ecossistemas. Visando reverter essa situao, estudos so realizados com o intuito de preser-var e conservar os recursos vegetais e a vida silvestre.
As pesquisas dessa grandeza apontam para aspectos posi-tivos e negativos da interveno humana nas comunidades vegetais, tanto em relao estrutura, evoluo e biologia de determinadas populaes de plantas, como tambm, promo-vendo e beneficiando o manejo adequado desses recursos (AL-BUQUERQUE & ANDRADE, 2002).1 Parte dos resultados do projeto de Desenvolvimento Cientfico Regional intitulado Caracterizao de gentipos de canafstula (Cassia grandis L.f.) e juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.): espcies de potencial econmico localizadas no Estado de Sergipe financiado pela Fapitec/CNPq.
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Os conhecimentos desse segmento tm sido preserva-dos pela transmisso verbalizada, sendo facilmente perdidos no decorrer do tempo. Para Guarim-Neto, Santana e Silva (2000), a transmisso da cultura popular entre as geraes tende diminuio ou ao desaparecimento com o avano da modernidade, reforando assim a necessidade do registro do saber popular de comunidades locais.
O estudo das interaes de populaes tradicionais com as plantas e o modo como elas utilizam esses recursos, tem ajudado na conservao de muitos recursos naturais. Assim, de forma abrangente, esta interao compreende o estudo de comunidades humanas e suas interaes ecolgicas, genticas, evolutivas, simblicas e culturais com as plantas (FONSECA-KRUEL & PEIXOTO, 2004).
Portanto, o conhecimento local pode servir como subsdio s pesquisas que visam proteo das espcies e uso sustentvel dos recursos, contribuindo com o resgate e valorizao de conheci-mentos e hbitos perdidos com o passar do tempo, j que o ter-ritrio brasileiro abriga uma das floras mais ricas do mundo, da qual 99% so desconhecidas (GOTTLIEB et al.,1998).
Conhecimento local no Estado de Sergipe
Em Sergipe, h uma dcada se iniciaram pesquisas relaciona-das ao conhecimento tradicional, o que resultou, at o momento, em poucos registros dos conhecimentos locais ou tradicionais das comunidades do Estado. Uma forma de abordagem nas comu-nidades por meio de questionrios semi-estruturados (SILVA, 2003; OMENA, 2003; BOTELLI, 2010; LIMA, 2010; OLI-VEIRA, 2012; FREITAS, 2013). Nesse mtodo perguntas so
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previamente estabelecidas pelos pesquisadores, porm apresen-tam flexibilidade que permitem aprofundamentos nos elemen-tos que surgem durante a entrevista (ALBUQUERQUE et al., 2010).
Um dos primeiros trabalhos foi realizado por Silva (2003) e tratou do uso popular de plantas medicinais com fins farmaco-lgicos contra distrbios do trato gastrintestinal no Povoado Colnia Treze, municpio de Lagarto. Paralelamente, foram realizados estudos na mesma linha de investigao, contudo para espcies da Caatinga do municpio de Porto da Folha, que agissem no sistema nervoso central (OMENA, 2003).
Mais recentemente, foi apresentado o primeiro trabalho deste gnero no entorno do Parque Nacional Serra de Itabaia-na, registrando o uso popular de comunidades daquela regio (BOTELLI, 2010). Nesta pesquisa constatou-se o desinteresse dos jovens da regio em relao aos conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais, o que contribui para uma perda significativa de tais saberes tradicionais ao longo das geraes.
No mesmo sentido, Lima et al. (2010) realizou um levanta-mento do conhecimento tradicional com 180 espcies e o uso destas por especialistas locais por meio de questionrios semi-estruturados e turns guiadas, em quatro comunidades rurais do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana, margea-das pelo rio Poxim-Au, so elas: Pedrinhas e Caroba no mu-nicpio de Areia Branca, e Cajueiro e Ladeira localizadas em Itaporanga dAjuda. Estas reas caracterizam-se por estarem situadas em uma transio entre os Biomas Mata Atlntica e Caatinga, ocorrendo exemplares de fauna e flora de ambas as localidades. As espcies foram agrupadas em cinco categorias quanto ao uso: combustvel, mstico-farmacolgico, alimen-
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tar, madereiro, outros usos, sendo o primeiro predominante na pesquisa. O autor constatou ainda a similaridade de conhe-cimento entre os especialistas das comunidades.
No municpio de Pirambu, no assentamento agroextrativis-ta So Sebastio, inserido no Bioma Mata Atlntica, Oliveira (2012) estudou a relao dos moradores com o ambiente natural que os rodeia e o uso botnico que fazem dele, juntamente com o uso dos quintais. Foram identificadas 106 espcies e agrupadas em sete categorias de uso: alimentcia, medicinal, combustvel, artesanal, mstico-religiosa, ornamental e outros. A autora cons-tatou ainda a importncia do quintal para o sustento familiar e observou a presso de uso sofrida por algumas espcies da regio, apontando assim a necessidade de novos estudos e a elaborao de estratgias sustentveis no assentamento.
No Bioma Caatinga, Freitas (2013) realizou levantamento etnobotnico no Assentamento So Judas Tadeu, em Porto da Folha, onde o autor trabalhou de forma participativa, aplican-do mtodos como a lista livre e o exerccio de pontuao adap-tados para aquela realidade. Nesta pesquisa foram citadas 44 espcies, classificadas em seis categorias de uso: medicinal hu-mano, medicinal animal, alimento humano, alimento animal, lenha, e outros, sendo a primeira predominante. Com isso, o autor constatou a importncia de espcies como o matruz, catingueira, umb, umbu-caj, mandacaru e macambira, para os moradores, alm da riqueza do saber popular.
Diante da riqueza existente sobre o conhecimento e uso das plantas, este trabalho props registrar o conhecimento local e identificar os usos para as espcies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa ame-ricana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.). As espcies
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foram escolhidas devido sua importncia econmica e de con-servao para o estado e por j serem alvo de diversas pesquisas realizadas (SILVA-MANN et al., 2013; RABBANI et al., 2012; GOIS, 2010; SANTANA et al., 2008) pelo grupo idealizador do projeto, o Grupo de Pesquisa em Conservao, Melhora-mento e Gesto de Recursos Genticos (GENAPLANT).
rea de trabalho
Os povoados de atuao foram o Alto Verde e o Assen-tamento Modelo localizados em Canind do So Francisco, alm do Assentamento Borda-da-Mata no municpio de Ca-nhoba, localizados em cidades do Baixo So Francisco.
A primeira comunidade visitada foi a de Borda-da-Mata (1058 S, 365653 O), localizada no municpio de Ca-nhoba (Sergipe). Segundo relatos dos moradores, o povoado foi estabelecido como assentamento de reforma agrria em 1982 decorrente da demanda de antigos trabalhadores rurais.
Esta regio tem apresentado ocupao e mudana do uso do solo muito rpida, comprometendo a rea de ocorrncia natural de espcies florestais (GARRASTAZU & MATTOS, 2013).
O segundo povoado o Alto Verde (93621.1 S, 375044.5 O) est localizado s margens do Rio So Francisco. Segundo relato dos habitantes, este foi estabelecido aps a realocao dos moradores do antigo povoado Cabea-de-Negro devido inundao da regio pela construo dos diques da Usina Hidreltrica de Xing. A comunida-de encontra-se s margens do Rio So Francisco, possui dez mora-dias, e a principal fonte de renda dos habitantes a pesca.
Por ltimo, foi visitado o Projeto Assentamento Modelo (9435 S, 375041 O), localizado s margens da Rodovia SE-206,
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municpio de Canind do So Francisco, Alto Serto Sergipano. Criado em fevereiro de 1998 e financiado pelo Instituto Nacional de Crdito Rural (INCRA), segundo dados oficiais contidos no Plano Preliminar do Projeto de Assentamento Modelo datado de 1998, este conta com 30 famlias residentes e a principal fonte de renda dos habitantes a agricultura.
Coleta e anlise dos dados
O trabalho consistiu de uma pesquisa qualitativa, onde foram aplicados nas localidades selecionadas formulrios se-miestruturados (ALBUQUERQUE et al., 2010). As comuni-dades foram questionadas sobre as espcies juazeiro, canafs-tula, jenipapo e mulugu; salvo a localidade de Borda-da-Mata, onde a espcie mulungu no foi inserida no questionrio.
Foram aplicados 49 formulrios na regio de Borda-da-Ma-ta, o que correspondeu a 78% das residncias, oito formul-rios no povoado Alto Verde, correnpondeu a 80%; e 17 no Projeto Assentamento Modelo, com 57%. Os dados obtidos nesta pesquisa foram agrupados em planilhas, e apresentados em forma de grficos e tabelas.
Os formulrios continham perguntas, a priori, sobre o perfil scioeconmico dos moradores, e questes relacionadas aos prin-cipais usos dessas espcies, as partes utilizadas e suas respectivas finalidades, alm da percepo da comunidade quanto s altera-es dos ambientes nos quais estas espcies esto inseridas.
Por fim, foram realizadas pesquisas nos principais sites de registro de patentes: European Patent Office (EPO), World In-tellectual Property Organization (WIPO), United States Patent and Trademark Office (USPTO) e Instituto Nacional de Pro-
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priedade Industrial (INPI) a fim de confirmar se os usos das espcies encontrados nos povoados so conhecidos pela co-munidade cientfica e esto descritos em patentes.
Perfil dos entrevistados
Quanto ao gnero os participantes das entrevistas 24% eram homens e 76% mulheres, no Projeto Assentamento Mo-delo; 35% de homens e 65% de mulheres no Povoado Borda da Mata; e 50% para os dois gneros no Povoado Alto Verde (Figura 4). Observou-se uma predominncia da participao das mulheres em relao aos homens no Assentamento Mode-lo e no Assentamento Borda da Mata, este fato se deu, pois a pesquisa foi realizada durante a semana, em horrio que os homens dedicam tempo para agricultura ou a pesca.
Figura 4. Sexo dos participantes em trs localidades do Baixo So Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
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A faixa etria dos participantes variou para as localidades trabalhadas (Figura 5). No Assentamento Modelo, a maioria dos entrevistados apresentou-se na faixa entre 30 e 39 anos (35%), assim como ocorrido em Borda da Mata (24%); no entanto, a maioria dos entrevistados do Povoado Alto Verde apresentou idade mais avanada, entre 50 e 70 anos, corre-spondendo a 50%.
Figura 5. Faixa etria dos participantes em trs localidades do Baixo So Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
Em relao escolaridade, em todas as regies trabalhadas, a maioria dos entrevistados afirmou no ter concludo os estudos, sendo que somente em Borda da Mata 14% haviam concludo o ensino mdio. Nas trs regies, a maioria afirmou ter parado no ensino fundamental (53% no Assentamento Modelo, 55% em Borda da Mata e 50% no Alto Verde). No Assentamento Modelo, 24% dos entrevistados disseram ser analfabetos, assim como 18% em Borda da Mata e 38% no Alto Verde (Figura 6).
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Analfabeto Ens. Fund. Ens. Fund.Incomp.
Ens. Mdio Ens. MdioIncomp.
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Escolaridade
Assentamento Modelo Povoado Borda-da-Mata Povoado Alto Verde
Figura 6. Escolaridade dos participantes da pesquisa em trs localidades do Baixo So Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
Os entrevistados afirmaram ainda retirar o sustento de suas famlias da agricultura (71% no Assentamento Modelo e 55% em Borda da Mata; Figura 5), com exceo dos entrevistados do Povoado Alto Verde, onde 50% afirmaram ter a pesca como principal meio de subsistncia, devido localizao deste estar s margens do rio So Francisco. Embora o Povoado Borda da Mata tambm esteja localizado s margens deste mesmo rio, so-mente 4% dos entrevistados responderam possuir a pesca como fonte de sustento. Para a maioria, provavelmente, isto se deva por esta regio estar em pleno crescimento econmico o que pode levar a formao de outras oportunidades de trabalho.
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Figura 7. Fonte de renda de entrevistados em comunidades de trs localidades no Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
A maioria dos entrevistado no soube informar a renda mensal. Entre os que souberam informar, a maioria afirmou receber menos de R$ 300,00 por ms, no Assentamento Mo-delo (29%) e no Povoado Alto Verde (13%). Em Borda da Mata, maioria afirmou possuir renda mensal entre R$ 679,00 e R$1.356,00, correspondente a dois salrios mnimos, para 18% dos entrevistados (Figura 8).
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Figura 8. Renda mensal de entrevistados em trs localidades do Baixo So Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco ).
Conhecimento sobre as espcies pesquisadas
Para canafstula, a maioria dos entrevistados em Borda da Mata afirmou conhecer essa planta (96%), ao contrrio do As-sentamento Modelo, onde a maioria afirmou no conhec-la (76%), e 88% dos entrevistados em Alto Verde no souberam afirmar. A maioria dos entrevistados nas trs localidades afir-mou conhecer o juazeiro (82% no Assentamento Modelo, 98% no Povoado Borda da Mata e 88% no Assentamento Alto Ver-de). Assim como a maioria do Assentamento Modelo e do Alto Verde afirmou conhecer o mulungu (41% e 50%) (Figura 9).
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Figura 9. Conhecimento sobre as espcies: juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) para os moradores de trs localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
A maioria dos entrevistados afirmou no comercializar ou ver comercializao das espcies em questo. Em Borda da Mata foram 70% para a canafstula, 78% para o juazeiro. No Assentamento Modelo o porcentual correspondeu 70% para juazeiro e no souberam informar a respeito de canafstula (94%). No Alto Verde os moradores no souberam responder (74% -canafstula, 50% - juazeiro).
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Figura 10. Conhecimento tradicional para as espcies: juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) informada pelos moradores de trs localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
Os moradores dos trs povoados usam as espcies estudadas (Figura 11). Os moradores de Borda-da-Mata afirmaram utili-zar canafstula (84%) e juazeiro (96%), no entanto, a maioria informou no usar jenipapo (61%), para mulungu no houve resposta. No Assentameto Modelo, os moradores informaram utilizar o jenipapo (76%), porm poucos afirmaram usar cana-fstula (6%) e juazeiro (35%). Ningum afirmou utilizar mu-lungu nesta localidade. No Assentamento Alto Verde os mora-dores afirmaram utilizar pouco as espcies pesquisas.
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Figura 11. Usa a espcie de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) pelos moradores de trs localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
No Assentamento Borda da Mata, foram citados 16 usos di-ferentes para juazeiro e quatro para canafstula. No Povoado Alto Verde, ocorreram trs usos diferentes para o juazeiro e um para canafstula. No Assentamento Modelo foram citados 10 usos para juazeiro e um para canafstula. Estas citaes foram classifi-cadas em cinco categorias de usos principais, so elas: medicinal, veterinrio, alimento para humano, alimento para animal, e ou-tros, para usos que no se enquadravam nas categorias anteriores.
Assentamento Borda-da-Mata
A categoria medicinal foi predominante em relao s ou-tras, para todas as espcies pesquisadas, esta categoria corres-pondeu a 28% para juazeiro, 63% para canafstula e 60% para o jenipapo. A segunda categoria de uso foi Alimentao
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humana, onde o jenipapo e a canafstula se destacaram. Para juazeiro, a categoria Veterinrio e Alimentao animal apre-sentaram a mesma porcentagem de citaes, 3%; e esta foi a nica espcie que os moradores reconheceram outros usos (26%), alguns destes foram: sombreamento (5%), lenha (2%) e sabo (7%). Foram registrados participantes que afirmaram no conhecer usos para as espcies pesquisadas, e correspon-deu a 38% para juazeiro; 18% canafstula (Figura 12).
Figura 12. Citaes de comunidades para o conhecimento associado ao uso para as espcies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.) e jenipapo (Genipa americana L.) no Assentamento Borda-da-Mata em Canhoba (Sergipe).
Entre as utilidades do juazeiro citadas pelos moradores, destaca-se: o uso para escovar dentes (15%), para lavar feri-mentos (10%), no combate caspa (7%) e no tratamento da gripe (4%), entre outros. Esta foi espcie mais citada, para diversos usos e a nica entre as trs onde os moradores ci-
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taram usos que foram agrupados na categoria Outras, como sombreamento (5%), lenha (2%) e outros. O uso na forma de lambedor (xarope) para combate gripe (47%) e anemia (15%) foram citados para canafstula.
Em Borda da Mata, os moradores demonstraram conhe-cer mais usos relacionados ao fruto para canafstula (75%). Em relao ao juazeiro, a maioria dos moradores no soube responder qual parte era utilizada para as finalidades citadas durante entrevista (27%) (Figura 13).
Figura 13. Partes das plantas das espcies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.) e jenipapo (Genipa americana L.) utilizados no Assentamento Borda-da-Mata em Canhoba (Sergipe).
Projeto de Assentamento Modelo
Nesta localidade, houve predominncia da categoria Medici-nal referente ao juazeiro (67%) e Alimento para humanos para
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jenipapo (65%) (Figura 14). Grande parte dos moradores no soube citar usos para a canafstula (94%) e mulungu (88%).
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Medicinal Alimentohumano
Alimentoanimal
Outras No soubedizer
Cita
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Usos
Juazeiro Canafistula Jenipapo Mulungu
Figura 14. Principais categorias de usos relatadas por comunidadesdo Projeto Assentamento Modelo em Canind do So Francisco (Sergipe), para as espcies juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.).
Para o juazeiro os moradores destacaram o uso contra cas-pa (17%), como dentifrcio (27%) e no tratamento da gripe (7%). Somente o uso como alimento para o gado (6%) foi citado para canafstula.
As partes das plantas usadas pelas comunidades reflete um potencial risco que esta pode ter quanto sua sobrevivncia na natureza. Os moradores informaram usar mais a casca do juazeiro (37%) e o fruto do jenipapo (75%). Estes ainda, no souberam informar partes que podem ser utilizadas da cana-fstula (94%) e mulungu (94%) (Figura 15).
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Todarvore Fruto Folhas Polpa Casca Semente Nosoubeinformar
Citaes (%)
Parte utilizada
Juazeiro Canafstula Jenipapo Mulungu
Figura 15. Partes das plantas de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) indicadas para uso pelos moradores do Projeto Assentamento Modelo em Canind do So Francisco (Sergipe).
Povoado Alto Verde
No povoado Alto Verde, para o juazeiro, houve predomi-nncia da categoria de uso Medicinal (89%). Para o jenipapo, a predominncia se deu na categoria Alimento para humanos (75%). Assim como ocorrido no Assentamento Modelo, a maioria dos entrevistados no soube citar usos para a canafs-tula (88%) e mulungu (75%) (Figura 16).
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Medicinal Alimento humano No soube dizer
Cita
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Tipos de uso
Juazeiro Canafistula Jenipapo Mulungu
Figura 16. Citaes para as principais categorias de usos para as espcies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) feitas por moradores no Povoado Alto Verde em Canind do So Francisco (Sergipe).
Nesta localidade, o juazeiro foi citado para tratamento da gripe (11%), no controle de caspa (44%) e para lavar ferimen-tos (33%). Para canafstula citou-se o uso no preparo de xarope (lambedor) para combate dos sintomas da gripe (12,5%). Os moradores destacaram o uso do suco do jenipapo na alimen-tao humana (75%) e como remdio para gastrite (12%). O mulungu foi citado somente como remdio para dormir (25%).
Os moradores afirmaram utilizar o fruto do juazeiro (50%) e jenipapo (50%), predominantemente. Novamente, estes no souberam citar partes que podem ser utilizadas da cana-fstula (94%) e mulungu (100%) (Figura 17).
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 62
Figura 17. Uso de partes das plantas relatados pelos moradores no Povoado Alto Verde em Canind do So Francisco (Sergipe) para juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulungu (Erythrina velutina Willd.).
Nota-se que ocorrem citaes de usos similares entre as lo-calidades, como por exemplo, para o juazeiro os moradores das trs localidades citaram usos para combate dos sintomas da gripe, caspa e lavar ferimentos o que demonstra um conhe-cimento generalizado acerca das espcies.
Para duas comunidades situadas no municpio de Canind foram citadas usos semelhantes para as espcies, mesmo sendo uma localizada em beira de rio e a outra prxima a rodovia, o que demonstra a difuso da importncia das espcies na regio.
Os usos das espcies alvos desta pesquisa foram reconhecidos pelos moradores, confirmando assim a importncia cultural des-tas para o Estado. Este estudo destaca a importncia do registro dos saberes locais relatados na pesquisa, pois a falta de interesse das novas geraes contribui para a perda de significado.
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Percepo dos moradores sobre as mudanas no meio
Aos moradores foi questionado sobre a quantidade de indi-vdos existentes na regio, e se eles observam um acrscimo ou descrecimo nas redondezas (Figura 18).
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Juazeiro Canafistula Jenipapo Mulungu
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Percepo dos moradores
Povoado Borda-da-Mata Assentamento Modelo Povoado Alto Verde
Figura 18. Pecepo dos moradores quanto quantidade de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) no Assentamento Modelo (Canind do So Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canind do So Francisco).
Segundo os moradores, em Borda-da-Mata a quantidade de ps de jenipapo aumentou, pois os indivduos plantados na beira do rio, em uma ao de recuperao florestal no as-sentamento, iniciada em 2003, cresceram e do uma maior quantidade de frutos disponveis para os moradores.
Os moradores do Assentamento Modelo afirmaram que a quantidade de jenipapo nesta regio sempre foi pequena, com
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 64
raros indivduos distribudos, segundo eles, esta quantidade per-manece a mesma.
Para o juazeiro, os entrevistados das trs comunidades afirma-ram que a quantidade de indivduos na regio diminuiu. Os mo-radores do Assentamento Modelo informaram o mesmo sobre o mulungu, afirmando que a quantidade de indivduos na rea teve um decrscimo.
Prospeco tecnolgica
As pesquisas realizadas nos principais sites de patentes resulta-ram em nove resultados para o juazeiro, nove para a canafstula, 35 para o jenipapo e 15 para o mulungu. No total, foram 68 re-sultados de pesquisa.
Quando organizadas por ano de deposito, pde observar um aumento de registro de patentes ocorrido na ltima dcada, e pi-cos nos anos de 2008, 2009, 2011 e 2012 (Figura 19).
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Observa-se que os pases mais detentores de patentes so Japo com 18 patentes, Estados Unidos com 15 e Brasil com 11 patentes (Figura 20).
Figura 20. Total de registros por pas para juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafstula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) segundo principais banco de dados de patentes.
Na tabela 2 esto descritos todos os registros encontrados na pesquisa.
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USOS, PERCEPES, INSTRUMENTOS DE GESTO E SUSTENTABILIDADE... 68
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