Uso racional da água

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ECONOMIA 7 CORREIO DO ESTADO TERçA-FEIRA, 1º DE OUTUBRO DE 2013 Consumo com inteligência começa em casa O dia a dia de uma empresa em muito se difere do cotidia- no de uma residência. Mas o uso racional da água repre- senta, nos dois ambientes, economia de dinheiro e dos recursos naturais. O gestor de projetos sociais da Águas Guariroba, William Carvalho, destaca algumas ações que fazem diferença expressiva no bolso e na preservação da natureza. sustentabilidade Uso racional da água gera economia de R$ 1 mil por mês à empresa A sujeira do macacão do me- cânico se transforma em ma- téria-prima para a fabricação de óleo automotivo e a água é reutilizada na lavagem de outras roupas. Além de aju- dar a reduzir os passivos am- bientais, esse processo pro- porciona economia média de R$ 1 mil mensais ao caixa da lavanderia Toalheiro Campo Grande (TCG). São 400 litros de óleo por mês que deixam de ser descartados na natureza. “Lavamos material com graxa e óleo, uniformes de me- cânicos, toalhas usadas nas oficinas”, detalha o empre- sário Paulo César Fernandes. Ele conta que, na lavanderia, há um sistema de tratamen- to, que permite reaproveitar a água usada na lavagem de roupas. Nesse processo, as impurezas – graxa e óleo – são separadas e destinadas à reci- clagem. Do material, é possí- vel fazer óleo automotivo. A rotina produtiva cíclica tem, ainda, a colaboração di- reta da natureza. Fernandes conta que também usa a água, captada da chuva, para lavar as roupas e a calçada. Além dos ganhos ambien- tais, as práticas sustentáveis no uso da água impactam po- sitivamente na contabilidade da empresa. De acordo com Fernandes, são economiza- dos, mensalmente, a média de 30 mil litros de água, o que corresponde a aproximada- mente R$ 1 mil. Ele também afirma que, por mês, o volu- me de tecidos lavados chega a três toneladas, dos quais são tirados e reaproveitados 400 litros de óleo. “Se esses uniformes fossem lavados em casa, os resíduos iriam para o esgoto, aumen- tando o passivo ambiental. Seria uma água com óleo con- taminando o meio ambiente”, afirma. É PRECISO AVANçAR Práticas como a da lavande- ria de Paulo Fernandes ainda são tímidas entre as empresas de Campo Grande, observa o técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso do Sul (Se- brae/MS), Vítor Gonçalves Fa- ria. “A sustentabilidade ainda é uma tema distante das micro e pequenas empresas. Para os empresários de modo geral, esse assunto envolve apenas burocracia e custo”, afirma. Em meio a essa resistência generalizada, há, por outro lado, empresas que já perce- beram que a sustentabilida- de representa um diferencial na concorrência, segundo nota Faria. E as vantagens – enfatiza ele – são de diversas ordens: “Os empresários re- duzem os desperdícios, eco- nomizam, colaboram para a preservação ambiental. Além disso, ligam a imagem da em- presa à sustentabilidade, o que, do ponto de vista da pu- blicidade, é muito bom”. Além de reutilizar a água, lavanderia transforma sujeira em óleo automotivo OSVALDO JúNIOR Consciência. Lavanderia de Campo Grande destina os resíduos deixados nos macacões dos mecânicos para a produção de óleo automotivo GERSON OLIVEIRA “No consumo da água com inteligência, a pessoa deve es- tar atenta às diversas formas de desperdício”, adverte. Es- sa atenção deve contemplar desde o gotejamento de uma torneira até vazamentos que não são visíveis. Uma maneira fácil e efi- ciente de acompanhar o vo- lume consumido é verificar os números do hidrômetro. “A pessoa deve anotar esses nú- meros assim que for dormir e no início da manhã seguinte. Esses registros não podem ser diferentes. Se isso acontecer, há algum vazamento inter- no”, explica. Além de prestar atenção aos vazamentos, o consumidor também precisa mudar hábi- tos que resultam em desper- dícios. Carvalho lembra de práticas bem difundidas e, no entanto, pouco adotadas. “Na hora do banho, não deixar o chuveiro ligado o tempo to- do; quando escovar os den- tes e lavar a louça, só abrir a torneira quando necessá- rio”, orienta. Esse consumo inteligente da água segura o ritmo de dois relógios: o hidrômetro, que proporciona economia financeira; e outro menos visível, que “marca o tempo” de vida do planeta. (OJ) O excesso de chuvas e as ge- adas, ocorridos em julho e agosto, derrubaram em qua- tro milhões de toneladas a safra de cana-de-açúcar 2013/2014, de Mato Grosso do Sul, causando prejuízos de R$ 600 milhões às usinas do Estado. O setor, que es- perava crescer 18% frente o ano passado, chegando a 44,1 milhões de toneladas moídas, por conta dos problemas cli- máticos, terá incremento de apenas 8% na produção, tota- lizando 40,3 milhões de tone- ladas processadas. As seguidas chuvas nos meses de junho e julho impe- diram a entrada das máqui- nas nas lavouras, atrasando o cronograma de colheita. Em seguida, apenas três dias (23, 24 de julho e 15 de agosto) de geadas queimaram cerca de 100 mil hectares de canaviais do centro-sul do Estado. A região é atualmente a princi- pal produtora de cana de MS, respondendo por 84% do to- tal do Estado. A queima ocasionada pela geada – considerada a pior ADRIANA MOLINA Produção da cana deve crescer 8% e somar 40 mi de toneladas abaixo da expectativa desde 1975 -, provocou dimi- nuição de açúcar nas plantas aptas à colheita. A redução ficou em torno de 10 quilos por tonelada, segundo a As- sociação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul). “Tivemos ainda que ace- lerar o cronograma e colher cana que era para ser colhi- da em novembro. Isso causa uma grande perda de massa: somando-se os prejuízos, fi- camos com quatro milhões de toneladas a menos nesta safra por causa dos proble- mas climáticos”, aponta o presidente da Biosul, Roberto Hollanda. Também foram perdidas mudas e rebrotas, o que, se- gundo o presidente, impacta- rá na próxima safra. “Termos uma entressafra maior - pro- vavelmente a safra 2014/2015 de Mato Grosso do Sul, co- meçará apenas em maio de 2014”, prevê. ANDAMENTO Até agora, as 22 usinas que operam em MS já colheram 28,9 milhões de toneladas de cana, volume 18,8% maior que no mesmo período do ano passado. A produção de açúcar, porém, caiu 11,8%, por conta dos prejuízos da ge- ada, saindo de 1,13 milhão de toneladas, para um milhão de toneladas. O etanol anidro já evoluiu mais que na safra passada, 26,87%, saindo de 305,5 mi- lhões de litros, para 387,6 mi- lhões de litros. Já o anidro sal- tou de 915,7 milhões de litros para 1,14 bilhão de litros. Até agora, o mix de produ- ção está em 71% para etanol e 29% de açúcar. ESTIMATIVA Caso não ocorra mais ne- nhum imprevisto climático, as lavouras de cana de Mato Grosso do Sul devem fechar a safra com 40,3 milhões de toneladas moídas – cerca de 8% mais que os 37,3 mi- lhões processados na safra 2012/2013. Estima-se que a produ- ção de açúcar chegue a 1,7 milhão de toneladas, vo- lume 2,41% menor que os 1,74 milhão do ano passa- do – o que, segundo a Bio- sul, não chega a impactar no preço final do produto, ao consumidor. Já no etanol anidro, aque- le adicionado à gasolina, prevê-se crescimento de 28% na produção, por conta das políticas de aumento do seu uso no combustível. O produto no Estado deve fi- car em 620 milhões de litros, contra 484,3 milhões apura- dos em 2012. No hidratado, a previsão é de queda de 7%, fechando a safra com 1,33 milhão de litros. Cíclico. Paulo mostra a diferença entre a água antes e após o tratamento. São 400 litros de óleo por mês 33 % DE ECONOMIA Uso racional da água é bem-vindo tanto nas empresas quanto nas residências. No banho, por exemplo, pode-se economizar... e muito. Banho de ducha por 15 minutos, com a torneira meio aberta, consome 243 litros. Se a pessoa fechar o registro enquanto se ensaboa, diminuindo o tempo de banho para cinco minutos, o consumo cai em 33%. GERSON OLIVEIRA Prejuízo. Produção de cana em Mato Grosso do Sul foi prejudicada pelo excesso de chuva e geada PAULO RIBAS

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economia 7Correio do estadoterça-feira, 1º de outubro de 2013

Consumo com inteligência começa em casaO dia a dia de uma empresa em muito se difere do cotidia-no de uma residência. Mas o uso racional da água repre-senta, nos dois ambientes, economia de dinheiro e dos recursos naturais. O gestor de projetos sociais da Águas Guariroba, William Carvalho, destaca algumas ações que fazem diferença expressiva no bolso e na preservação da natureza.

sustentabilidade

Uso racional da água gera economia de R$ 1 mil por mês à empresa

A sujeira do macacão do me-cânico se transforma em ma-téria-prima para a fabricação de óleo automotivo e a água é reutilizada na lavagem de outras roupas. Além de aju-dar a reduzir os passivos am-bientais, esse processo pro-porciona economia média de R$ 1 mil mensais ao caixa da lavanderia Toalheiro Campo Grande (TCG). São 400 litros de óleo por mês que deixam de ser descartados na natureza.

“Lavamos material com graxa e óleo, uniformes de me-cânicos, toalhas usadas nas oficinas”, detalha o empre-sário Paulo César Fernandes. Ele conta que, na lavanderia, há um sistema de tratamen-to, que permite reaproveitar a água usada na lavagem de roupas. Nesse processo, as impurezas – graxa e óleo – são separadas e destinadas à reci-clagem. Do material, é possí-vel fazer óleo automotivo.

A rotina produtiva cíclica tem, ainda, a colaboração di-reta da natureza. Fernandes conta que também usa a água, captada da chuva, para lavar as roupas e a calçada.

Além dos ganhos ambien-tais, as práticas sustentáveis no uso da água impactam po-sitivamente na contabilidade da empresa. De acordo com Fernandes, são economiza-dos, mensalmente, a média de 30 mil litros de água, o que corresponde a aproximada-

mente R$ 1 mil. Ele também afirma que, por mês, o volu-me de tecidos lavados chega a três toneladas, dos quais são tirados e reaproveitados 400 litros de óleo.

“Se esses uniformes fossem lavados em casa, os resíduos iriam para o esgoto, aumen-tando o passivo ambiental. Seria uma água com óleo con-taminando o meio ambiente”, afirma.

É preciso avançarPráticas como a da lavande-ria de Paulo Fernandes ainda são tímidas entre as empresas de Campo Grande, observa o técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso do Sul (Se-brae/MS), Vítor Gonçalves Fa-ria. “A sustentabilidade ainda é uma tema distante das micro e pequenas empresas. Para os empresários de modo geral, esse assunto envolve apenas burocracia e custo”, afirma.

Em meio a essa resistência generalizada, há, por outro lado, empresas que já perce-beram que a sustentabilida-de representa um diferencial na concorrência, segundo nota Faria. E as vantagens – enfatiza ele – são de diversas ordens: “Os empresários re-duzem os desperdícios, eco-nomizam, colaboram para a preservação ambiental. Além disso, ligam a imagem da em-presa à sustentabilidade, o que, do ponto de vista da pu-blicidade, é muito bom”.

Além de reutilizar a água, lavanderia transforma sujeira em óleo automotivo

osvaldo júnior

Consciência. Lavanderia de Campo Grande destina os resíduos deixados nos macacões dos mecânicos para a produção de óleo automotivo

gerson oliveirA

“No consumo da água com inteligência, a pessoa deve es-tar atenta às diversas formas de desperdício”, adverte. Es-sa atenção deve contemplar desde o gotejamento de uma torneira até vazamentos que não são visíveis.

Uma maneira fácil e efi-ciente de acompanhar o vo-lume consumido é verificar os números do hidrômetro. “A pessoa deve anotar esses nú-

meros assim que for dormir e no início da manhã seguinte. Esses registros não podem ser diferentes. Se isso acontecer, há algum vazamento inter-no”, explica.

Além de prestar atenção aos vazamentos, o consumidor também precisa mudar hábi-tos que resultam em desper-dícios. Carvalho lembra de práticas bem difundidas e, no entanto, pouco adotadas. “Na

hora do banho, não deixar o chuveiro ligado o tempo to-do; quando escovar os den-tes e lavar a louça, só abrir a torneira quando necessá-rio”, orienta.

Esse consumo inteligente da água segura o ritmo de dois relógios: o hidrômetro, que proporciona economia financeira; e outro menos visível, que “marca o tempo” de vida do planeta. (oj)

O excesso de chuvas e as ge-adas, ocorridos em julho e agosto, derrubaram em qua-tro milhões de toneladas a safra de cana-de-açúcar 2013/2014, de Mato Grosso do Sul, causando prejuízos de R$ 600 milhões às usinas do Estado. O setor, que es-perava crescer 18% frente o ano passado, chegando a 44,1 milhões de toneladas moídas, por conta dos problemas cli-máticos, terá incremento de apenas 8% na produção, tota-lizando 40,3 milhões de tone-ladas processadas.

As seguidas chuvas nos meses de junho e julho impe-diram a entrada das máqui-nas nas lavouras, atrasando o cronograma de colheita. Em seguida, apenas três dias (23, 24 de julho e 15 de agosto) de geadas queimaram cerca de 100 mil hectares de canaviais do centro-sul do Estado. A região é atualmente a princi-pal produtora de cana de MS, respondendo por 84% do to-tal do Estado.

A queima ocasionada pela geada – considerada a pior

adriana molina

Produção da cana deve crescer 8% e somar 40 mi de toneladasabaixo da expectativa

desde 1975 -, provocou dimi-nuição de açúcar nas plantas aptas à colheita. A redução ficou em torno de 10 quilos por tonelada, segundo a As-sociação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul).

“Tivemos ainda que ace-lerar o cronograma e colher cana que era para ser colhi-da em novembro. Isso causa uma grande perda de massa: somando-se os prejuízos, fi-camos com quatro milhões de toneladas a menos nesta safra por causa dos proble-mas climáticos”, aponta o presidente da Biosul, Roberto Hollanda.

Também foram perdidas mudas e rebrotas, o que, se-gundo o presidente, impacta-rá na próxima safra. “Termos uma entressafra maior - pro-vavelmente a safra 2014/2015 de Mato Grosso do Sul, co-meçará apenas em maio de 2014”, prevê.

anDaMenToAté agora, as 22 usinas que operam em MS já colheram 28,9 milhões de toneladas de cana, volume 18,8% maior

que no mesmo período do ano passado. A produção de açúcar, porém, caiu 11,8%, por conta dos prejuízos da ge-ada, saindo de 1,13 milhão de

toneladas, para um milhão de toneladas.

O etanol anidro já evoluiu mais que na safra passada, 26,87%, saindo de 305,5 mi-

lhões de litros, para 387,6 mi-lhões de litros. Já o anidro sal-tou de 915,7 milhões de litros para 1,14 bilhão de litros.

Até agora, o mix de produ-

ção está em 71% para etanol e 29% de açúcar.

esTiMaTivaCaso não ocorra mais ne-nhum imprevisto climático, as lavouras de cana de Mato Grosso do Sul devem fechar a safra com 40,3 milhões de toneladas moídas – cerca de 8% mais que os 37,3 mi-lhões processados na safra 2012/2013.

Estima-se que a produ-ção de açúcar chegue a 1,7 milhão de toneladas, vo-lume 2,41% menor que os 1,74 milhão do ano passa-do – o que, segundo a Bio-sul, não chega a impactar no preço final do produto, ao consumidor.

Já no etanol anidro, aque-le adicionado à gasolina, prevê-se crescimento de 28% na produção, por conta das políticas de aumento do seu uso no combustível. O produto no Estado deve fi-car em 620 milhões de litros, contra 484,3 milhões apura-dos em 2012. No hidratado, a previsão é de queda de 7%, fechando a safra com 1,33 milhão de litros.

Cíclico. Paulo mostra a diferença entre a água antes e após o tratamento. São 400 litros de óleo por mês

33%de eConomiaUso racional da água é bem-vindo tanto nas empresas quanto nas residências. No banho, por exemplo, pode-se economizar... e muito. Banho de ducha por 15 minutos, com a torneira meio aberta, consome 243 litros. Se a pessoa fechar o registro enquanto se ensaboa, diminuindo o tempo de banho para cinco minutos, o consumo cai em 33%.

gerson oliveirA

Prejuízo. Produção de cana em Mato Grosso do Sul foi prejudicada pelo excesso de chuva e geada

pAulo ribAs