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USO E DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES NATURAIS
DE BIRIBA (ESCHWEILERA OVATA [Cambess.] Miers):
SUBISÍDIOS AO MANEJO E CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE
EDUARDO GUSSON
Dissertação apresentada à Escola Superior de
Agricultura "Luiz de Queiroz" Universidade de São
Paulo, para obtenção do título de Mestre em Ecologia
de Agroecossistemas.
P I R A C I C A B A
Estado de São Paulo - Brasil
Novembro – 2003
USO E DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES NATURAIS
DE BIRIBA (ESCHWEILERA OVATA [Cambess.] Miers):
SUBISÍDIOS AO MANEJO E CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE
EDUARDO GUSSON
Engenheiro Florestal
Orientador: Prof. Dr. PAULO YOSHIO KAGEYAMA
Dissertação apresentada à Escola Superior de
Agricultura "Luiz de Queiroz" Universidade de São
Paulo, para obtenção do título de Mestre em Ecologia
de Agroecossistemas.
P I R A C I C A B A
Estado de São Paulo - Brasil
Novembro – 2003
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP
Gusson, Eduardo Uso e diversidade genética em populações naturais de biriba (Escweilera
ovata [Cambess.] Miers) : subsídios ao manejo e conservação da espécie / Eduardo Gusson. - - Piracicaba, 2003.
91 p.
Dissertação (mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2003.
Bibliografia.
1. Biriba 2. Conservação genética 3. Diversidade genética 4. Ecologia florestal 5. Eletroforese 6. Manejo florestal 7. Mata Atlântica I. Título
CDD 634.94
“PERMITIDA A CÓPIA TOTAL OU PARCIAL DESTE DOCUMENTO , DESDE QUE CITADA A FONTE – O AUTOR”
iii
AGRADECIMENTOS
Inicialmente agradeço ao prof. Paulo Kageyama, meu mestre da arte florestal,
por sua orientação, apoio e contribuição para a realização deste trabalho, impulsionando
meu desenvolvimento cientifico e profissional, e pela boa amizade ao longo de alguns
anos de convivência.
Ao pesquisar Alexandre Sebbenn, pela grande contribuição nas análises
genéticas e discussão dos resultados, as quais foram muito enriquecedoras,
possibilitando darboa qualidade ao trabalho, e a Rita, pela hospitalidade nos prolongados
dia de trabalho em sua casa.
A pesquisadora Maria Beatriz Perecin, pelas sugestões e críticas e aceite de
participação na composição de minha banca.
Ao camarada Leonardo, conhecedor do ambiente cultural e ambiental de
Salvador, o qual contribui grandemente para o desenvolvimento logístico deste trabalho,
juntamente a Ana, pela hospitalidade em suas terra natal.
Aos técnicos do LARGEA, Andréia, Gelson e Elza, pela colaboração nos
exaustivos dias de trabalho, e a todos os estagiários que passaram pelo laboratório.
Aos amigos pós-graduando do LARGEA, Jõao, Cipó, Graciela, Renato, Edu,
entre outros que eu possa ter esquecido de citar, que de formas diferenciadas
colaboraram com na execusão deste projeto. Em especial ao Luciano, pela ajuda na
leitura dos géis, e a Sybelle e Karina pelas críticas e sugestões finais do trabalho, grande
saudação a todos.
Ao pessoal da Fundação Garcia D'Avila, pelo apoio logístico na coleta de campo
iv
na Reserva de Camarugipe, principalmente ao guias Biu, Jorge e Zé, com os quais pude
trabalhar e aprender.
Agradecimento especial ao extrator Sr. Carlinhos, exímio conhecedor das matas
de Itaparica e do manejo da biriba, pelo aprendizado e amizade nos exautivos dias de
trabalho debaixo de muita chuva.
A meus camaradas do grupo da capoeira, pela manutenção das atividades na
minha ausência e pela compreensão da situação, forte abraço a todos.
A meus filhos Lucas e Júlia e minha esposa Teresa, dos quais tanto me ausentei
durante longos dias de trabalho noturno e finais de semana, muita paz em nossos
caminhos.
Eternos agradecimentos a meus pais Aldo e Marlene e familiares pela liberdade
em minha formação na escola da vida e apoio em todos os momentos.
E a quem mais esteve comigo durante este período que, por motivos alheio a
minha vontade, deixo de citar.
v
Dedico
a todas as pessoas que possam vir a ler este trabalho
e tirar algum proveito de seu conteúdo
SUMÁRIO
Página
AGRADECIMENTOS............................................................................................ iii
DEDICATÓRIA ...................................................................................................... v
SUMÁRIO ................................................................................................................ vi
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. ix
LISTA DE TABELAS ............................................................................................ x
RESUMO .................................................................................................................. xi
SUMMARY ............................................................................................................. xiv
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 5
2.1 Manejo em floresta tropical por comunidades locais ................................... 5
2.2 Diversidade, raridade e dinâmica sucessional das espécies na floresta
tropical e suas relações com o manejo florestal........................................... 8
2.3 Conservação in situ de recursos florestais ..................................................... 12
2.4 Estrutura genética de populações .................................................................... 15
2.5 Estrutura espacial dos genótipos ..................................................................... 16
2.6 Sistema de Reprodução de espécies arbóreas tropicais ................................ 17
2.7 Eletroferese de izoenzimas ............................................................................... 18
2.8 A espécie ............................................................................................................ 20
2.9 O Manejo tradicional da biriba por comunidades locais .............................. 24
3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 27
vii
3.1 Áreas de estudo.................................................................................................. 27
3.1.1 Caracterização da extração e comercialização de “biribas” em
Itaparica .......................................................................................................... 31
3.2 Amostragem....................................................................................................... 32
3.3 Protocolo de isoenzimas ................................................................................... 34
3.4 Análise estatística.............................................................................................. 37
3.4.1 Sistema de reprodução................................................................................... 37
3.4.2 Diversidade genética intrapopulacional ...................................................... 38
3.4.3 Estrutura genética........................................................................................... 39
3.4.3.1 Estrutura nas populações de adultos......................................................... 40
3.4.3.2 Análise individual das populações............................................................ 40
3.4.3.3 Análise da variância conjunta das populações ........................................ 41
3.4.4 Distribuição espacial de genótipos............................................................... 41
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................... 43
4.1 Sistemas isoenzimáticos ................................................................................... 44
4.2 Sistemas de Reprodução................................................................................... 47
4.2.1 Teste de Equilíbrio de Hardy-Weinberg ..................................................... 47
4.2.2 Desequilíbrio de ligação entre pares de locos ............................................ 48
4.2.3 Freqüências Alélicas dos Óvulos e do Pólen.............................................. 49
4.2.4 Homogeneidade nas Freqüências Alélicas das Árvores das Populações
adultas dos populações e Freqüências Alélicas dos Óvulos e Pólen .... 51
4. 2.5 Taxa de cruzame nto multiloco e uniloco ................................................... 52
4.2.6 Taxa de Cruzamento entre Parentes ............................................................ 55
4.2.7 Taxa de cruzamentos correlacionados ......................................................... 56
4.2.8 Índices de Fixação......................................................................................... 58
4.2.9 Coeficiente de coancestria e tamanho efetivo de variância ...................... 59
4.3 ESTRUTURA GENÉTICA............................................................................. 61
4.3.1 Freqüências alélicas....................................................................................... 61
viii
4.3.2 Distribuição da diversidade genética entre e dentro de populações ........ 63
4.3.2.1 Divergência genética entre populações.................................................... 63
4.3.2.2 Distância genética entre populações......................................................... 64
4.3.3 Diversidade genética intrapopulacional ...................................................... 65
4.4 Estrutura genética espacial............................................................................... 67
4.6 Subsídios ao manejo e a conservação genética de populações naturais de
E. ovata ............................................................................................................. 72
5 CONCLUSÕES .................................................................................................... 78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 79
ix
LISTA DE FIGURAS
Página
1 Mapa esquemático da localização das áreas de estudo .......................................... 29
2 Distribuição por classes diamêtricas dos troncos dos indivíduos amostrados nas
populações natural e manejada................................................................................... 33
3 Amostras de géis de diferentes sistemas izoenzimáticos utilizados para a análise
genética de E. ovata................................................................................................... 45
4 Representação esquemática da interpretação de bandas dos sistemas enzimaticos
analisados para E. ovata............................................................................................. 46
5 Correlograma para o índice I de Moran para o método do vizinho mais próximo por
classes de distância na população Camarugipe, em E. ovata..................................... 70
6 Correlograma para o índice I de Moran para o método do vizinho mais próximo por
classes de distância na população manejada de Itaparica, em E. ovata..................... 71
LISTA DE TABELAS
Página
1 Probabilidades do teste exato de Fisher para o Equilíbrio de Hardy-Weinberg
(EHW) em populações de Eschweleira ovata..................................................... 48
2 Resumo do teste de qui-quadrado para ligação entre pares de locos, conjunto
para ambas populações de progênies .................................................................. 49
3 Estimativa das freqüências alélicas, número total de alelos (na) e tamanho amostral
(n) do pólen e óvulos das progênies de Eschweleira ovata ........................................ 50
4 Estimativa da divergência genética entre as freqüências alélicas do pólen que
fecundou as progênies, entre as freqüências alélicas das árvores adultas e os
óvulos e entre as árvores adultas e o pólen em duas populações de
Eschweleira ovata............................................................................................... 51
5 Estimativa de parâmetros do sistema de reprodução em uma população de E.
ovata.................................................................................................................... 53
6 Estimativa da taxa de cruzamento multiloco individual por planta materna
( $t ) em população de E. ovata. ( ): Intervalo de confiança, a 95% de
probabilidade pelo teste t de Student. [ ]: Erro padrão da média, obtido por
1.000 reamostragens bootstrap ........................................................................... 54
7 Estimativa de freqüências alélicas em adultos e progênies de Eschweleira
ovata.................................................................................................................... 62
8 Divergência genética entre populações e progênies............................................ 64
xi
9 Matriz de distâncias genéticas não viesadas de Nei (1978) (diagonal superior)
e divergência genética entre populações ............................................................. 65
10 Índices de diversidade genética intrapopulacional e relação $N e/n em
populações de E. ovata........................................................................................ 66
11 Coeficientes de autocorrelação espacial (Índice I de Moran) obtidos nos 13
alelos de sete locos polimórficos, para 10 classes de distâncias na população
de Camarugipe, em E. ovata............................................................................. 70
12 Coeficientes de autocorrelação espacial (Índice I de Moran), obtidos nos 13
alelos de sete locos polimórficos, para 10 classes de distâncias na população
de Itaparica, em E. ovata.................................................................................. 71
xii
USO E DIVERSIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES NATURAIS
DE BIRIBA (ESCHWEILERA OVATA [Cambess.] Miers):
SUBISÍDIOS AO MANEJO E CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE
Autor: EDUARDO GUSSON Orientador: PROF. DR. PAULO YOSHIO KAGEYAMA
RESUMO
A exploração de produtos não madeireiro em florestas nativas tem sido
alternativa na composição da renda de comunidades locais. Dentre as diversas espécies
exploradas da Mata Atlântica, a biriba - Eschweilera ovata (Cambess.) Miers - vem
sendo intensamente utilizada para a confecção do berimbau. Disponibilizar informações
que auxiliem em apontar diretrizes para adequadas formas de conservação genética e
manejo desta espécie é de fundamental importância, tanto do ponto de vista ecológico
como econômico e social. Com este objetivo, realizou-se o estudo do sistema
reprodutivo e da estrutura genética de E. ovata, através da técnica de eletroforese de
isoenzimas, em três áreas de ocorrência natural de populações da espécie sob diferentes
graus de antropização, sendo uma explorada e outras duas sem exploração, localizadas
próximas à cidade de Salvador - BA. Os resultados do sistema de reprodução, obtidos
para duas populações, mostram que a espécie reproduz-se predominantemente por
cruzamento, tendo $t m variado de 98,5% a 99,9%, valor este superior à média apresentada
pelas espécies arbóreas tropicais. Uma certa taxa de cruzamentos endogâmicos foi
xiii
evidenciada nas populações estudadas, sendo praticamente 100% da endogamia gerada
nas progênies resultado de cruzamento entre parentes na população natural, e 76,8% na
população explorada, sendo o restante atribuído a autofecundação. O valor estimado
para o coeficiente de coancestralidade dentro de progênies ( $θF) variou de 0,191 a 0,211.
As estimativas das correlações de autofecundação (sr̂ ), foram relativamente baixas em
ambas as populações e não diferentes estatisticamente entre si, (variando de 0,100 a
0,107). O número provável de árvores doadoras de polén foi extremamente baixo, tendo
em média, dois indivíduos por árvore matriz. O tamanho efetivo de variância (Ne(v))
médio das populações foi de 2,13, sendo necessário assim, para reter o tamanho efetivo
de 50, a coletas de cerca de 23 árvores nestas populações. O tamanho efetivo
populacional foi próximo ao número de indivíduos amostrados. A divergência genética
entre as populações de adultos ( $θ pA ), foi de apenas 2,5%,indicando que a maior parte da
diversidade genética encontra-se distribuída dentro das populações (97,5%). A
divergência entre populações, estimada com base nas progênies ( $θ pP ) foi ainda menor,
de 1,4% (0,1 a 3,5 O número médio de alelos por locos foi de 2,14 nos adultos e de 2,41
nas progênies. A porcentagem de locos polimórficos nas árvores adultas foi de 85,4% e
nas progênies de 81,8%. A heterozigosidade esperada segundo as expectativas do
Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) foram altas e variaram de 0,354 a 0,431, e a
heterozigosidade observada variou de 0,332 a 0,371, sendo, tanto na progênies como nos
adultos das populações, menor do que a heterozigosidade esperada, indicando que há
mais homozigotos nas populações que o esperado pelas proporções do EHW. A análise
de autocorrelação espacial das árvores de E. ovata dentro da populações estudadas
mostrou haver estruturação, sendo que quanto mais próximos os indivíduos maior é
probabilidade deles serem parentes. Os resultados obtidos possibilitaram realizar
inferências a respeito da conservação e manejo da espécie.
PALAVRAS-CHAVES: diversidade genética; sistema reprodutivo; manejo florestal;
eletroforese de isoenzimas; biriba (Eschweilera ovata).
xiv
USE AND DIVERSITY GENETIC IN NATUAL POPULATIONS OF
BIRIBA (ESCHWEILERA OVATA [Cambess.] Miers): SUBSIDIES TO
MANAGEMENT AND CONSERVATION OF SPECIE
Author: EDUARDO GUSSON
Adviser: PROF. DR. PAULO YOSHIO KAGEYAMA
SUMMARY
The exploitation of non-timber resources from tropical forest has been an
alternative income to local human communities. Among the tree species which are
exploited in the Atlantic forest, the “biriba” – Eschweilera ovata (Cambess.) Miers – has
been used to manufacture the arc of “berimbau”. The genetic conservation and the
sustainable management of E. ovata populations are necessary to guarantee the long-
term exploitation of this resource in an ecological, as well economic and social point of
view. Adequate management strategies can be planned by getting information about the
population genetic structure and mating system of the species. The aim of this study was
to evaluate the mating system and the population genetic structure of E. ovata, using the
allozyme electrophoresis technique. Three populations under different levels of human
action in an area of natural occurrence of E. ovata near Salvador, Bahia state, were
chosen. The results of the evaluation of the mating system of E. ovata, obtained for two
population, indicate that the species reproduces itself through outcrossing. The
outcrossing rate ($t m ) varied from 98.5% to 99.9%. These values are higher than that
average estimates observed in tropical tree species. Inbred crosses were observed in the
xv
progenies. Almost 100% of the inbreeding observed in the non-disturbed population and
76.8% in the exploited population was due to crossing among related individuals. Self-
fertilization was also observed. The estimated value of the coefficient of the
coancestrality among the progenies ( $θF) varied from 0.191 to 0.211. The estimates of
self- fertilization correlation (sr̂ ) were low and statistically similar and non significant in
both populations (the values varied from 0.100 to 0.107). The expected number of pollen
donors was extremely low, having an average of two pollen donors by mother-tree. The
average effective number of variance (Ne(v)) was 2.13. With this estimate was possible to
conclude that it is necessary to collect about 23 adult trees in these populations to keep
an effective size of 50. The effective population size was similar to the number of
individuals sampled. The genetic divergence among the adult populations ( $θ pA ) was
2.5%, showing the genetic diversity is mainly distributed within populations (97.5%).
The genetic divergence among the populations obtained from the progenies ( $θ pP ) was
also lower, 1.4% (0.1 to 3.5%). The average number of alleles by loci was 2.14 in the
adult populations and 2.41 in the progenies. The percentage of polymorphic loci was
85.4% in the adults and 81.8% in the progenies. The expected heterozigosity varied form
0.354 to 0.431 and the observed heterozigosity varied from 0.332 to 0.371. The values of
observed heterozigosity were inferior to the expected heterozigosity, indicating that
there are more homozygous individuals than expected by the Hardy Weinberg
Equilibrium. The spatial autocorrelation analysis of E. ovata shows that there is
intrapopulational genetic structure in the studied populations of adult individuals. Closer
individuals show a higher probability of being genetic related. The results obtained in
this study are helpful to infer about the genetic conservation and the management of the
species.
KEY WORDS: genetic diversity; mating system; forest management; isoezymes
electrophoresis; biriba (Eschweilera ovata).
1 INTRODUÇÃO
A redução dos ecossistemas tropicais, determinada pelos processos degenerativos
resultantes da desordenada atividade humana sob estes ambientes, tem causado perdas
inestimáveis desses repositórios de diversidade biológica, estando a Floresta Atlântica,
representante de uma das mais complexa diversidade de espécie e altos índices de
endemismo, entre os biomas mais ameaçados, restando atualmente cerca de apenas 7,3%
de sua cobertura original.
Esta região, caracterizada por pequenas áreas de remanescentes florestais
isolados, é determinada pela forte ocupação populacional, abrigando em torno de 70%
da população brasileira, a qual, de formas diversas, interagem com esses ambientes
desde os primórdios de sua ocupação. Os diferentes graus de interferências nestes
ambientes, que vão desde a utilização de seus recursos florestais à substituição desses
complexos sistemas em sítios de produtividade monocultural, aliado ao isolamento
dessas populações naturais, não representam boas perspectivas para a conservação, visto
que a perda da diversidade genética e, conseqüente redução da capacidade de adaptação
às mudanças ambientais, aumenta drasticamente as possibilidades de extinção de
inúmeras espécies.
Particularmente na região costeira do nordeste, as modificações das paisagens
naturais continuam apresentando riscos eminentes para várias espécies de plantas, das
quais muitas são endêmicas (Mori et al., 1981). Como um agravante, essa região abriga
centros secundários de distribuição para algumas famílias, destacando-se a
Lecythidaceae, com algumas espécies de grande importância econômica (Mori, 1990;
1995).
A exploração de florestas nativas tem sido alternativa na composição da renda,
seguindo, com poucas exceções, modos de extração desprovidos de qualquer estratégia
2
de manejo que contemple tanto a necessidade de uso quanto da continuidade de
populações geneticamente viáveis. Neste contexto, a necessidade de desenvolvimento de
técnicas de exploração racional das florestas, através de formas de manejo sob regime de
produção sustentada, é primordial para a conservação dos recursos florestais tropicais,
além de ser exigência corrente nas atuais legislações ambientais.
Deve-se considerar que populações humanas vêm interagindo durante anos com
a diversidade da floresta tropical e possuem valiosas informações de uso e manejo dos
recursos florestais, inseridos em seus contextos culturais ,sendo elementos chave para
entender, utilizar e proteger a biodiversidade local, porém, os impactos ecológicos e
genéticos das técnicas locais deste manejo não são claramente explicitados.
O manejo sustentável necessita de parâmetros demográficos e genéticos que
possibilitem subsidiar a elaboração dessas ações bem como o seu monitoramento no
espaço e tempo. Porém a diversidade genética das espécies, um dos fatores primordiais
a manutenção da vida nos ecossistemas tropicais, não tem sido considerada na quase
totalidade dos programas de manejo, sendo estes baseados apenas em informações
dendrométricas e demográficas.
Possíveis conseqüências da exploração desordenadas das espécies nas florestas
tropicais são alterações no seu comportamento dentro das populações, como: alteração
do tamanho populacional; dos padrões espaciais e no comportamento dos polinizadores,
afetando de forma negativa a estrutura genética de suas populações, podendo levar, por
exemplo, à perda de alelos raros, à redução na heterozigosidade e na taxa de cruzamento,
ao aumento da endogamia intrapopulacional e divergência entre populações. Estas
alterações podem causar redução na aptidão e adaptação das gerações futuras, devido à
erosão genética, colocando em risco a produção contínua e sustentada deste produto
florestal e a conservação e manutenção da espécie, assim como dos ecossistemas que a
abrangem.
Dentre as diversas espécies exploradas da Mata Atlântica, a biriba - Eschweilera
ovata (Cambess.) Miers - vem sendo intensamente utilizada, entre outros usos, para a
confecção do berimbau, sendo seu manejo inserido dentro de contextos culturais locais
de sua área de extração. Comandando o andamento rítmico do jogo, o berimbau
3
apresenta-se como indispensável na composição da orquestra de instrumentos nas rodas
de capoeira, sendo acessório elementar, dotado de simbologias e fundamentos
difundidos por antigos mestres desta arte, a qual, atualmente, possui grande número de
praticantes em todo o mundo.
O uso da “biriba” para a confecção deste instrumento musical, por conferir
instrumentos de ótima qualidade, é culturalmente tradicional, ligado intrinsecamente
aos valores que regem o ambiente da capoeiragem. A mais, os incentivos ao turismo
obtido pela Bahia nas últimas duas décadas, fortaleceram o comércio de acessórios que
representem a marca de seu povo, sendo o berimbau um símbolo folclórico bastante
apreciado pelos turistas que visitam este estado. Por esses motivos, a exploração de E.
ovata vem se intensificando nos últimos anos, envolvendo um número
significativamente grande de pessoas nas atividades relacionadas ao comércio do
berimbau, que vai desde a extração da biriba até a comercialização do instrumento no
mercado, tanto interno como externo, com um valor agregado alto.
A importância da manutenção das populações de E. ovata está sustentada não só
na sua relevância ecológica, mas cultural, enquanto instrumento indispensável na
realização da capoeira, elemento profundamente arraigado às tradições e identidade do
povo brasileiro, e econômica, já que a extração e comercialização de caules da espécie,
bem como do instrumento do qual é confeccionado, permite a captação de renda por
uma parcela significativa de baianos, em sua maioria pequenos comerciantes, artesãos
com micro empresas de estrutura familiar, extratores e capoeiristas (Pacheco, 2002 - não
publicado).
O estudo de espécies utilizadas por populações tradicionais é de grande relevância,
já que possibilita inferir sob a influência antrópica na estrutura ecológica e genética com
base nas informações de manejo que estão presentes no contexto cultural dessas
populações.
Propôs-se com este trabalho disponibilizar informações úteis à construção de
modelo de manejo sustentável com respaldo à conservação genética de populações
naturais de espécies arbóreas tropicais em áreas de florestas secundárias sob domínio da
Mata Atlântica. Este foi realizado através do estudo genético de E. ovata, buscando
4
identificar padrões no comportamento genético populacional desta espécie, em áreas sob
diferentes condições de intervenção antrópica, localizadas no entorno da Grande
Salvador - BA, com o objetivo de verificar se o manejo tradicional da espécie E. ovata
nos ecossistemas naturais pode causar alteração nos padrões reprodutivos e na
diversidade genética intra e interpopulacional.
Buscou-se com isso, dar continuidade à pesquisa sobre seu uso e subsídios técnico-
científicos para suprir a urgente necessidade de se ordenar e regulamentar a extração de
caules desta típica espécie da Mata Atlântica, conforme discrimina o Artigo 2o do
Decreto 750 de 1993, que trata sobre o uso e a exploração dos recursos florestais deste
bioma. Especificamente, este trabalho teve por finalidade:
1. estudar os padrões de reprodução desses tipos de populações por marcadores
bioquímicos;
2. quantificar a diversidade genética entre e dentro de populações sob diferentes
níveis de interferência antrópica;
3. verificar a existência de estruturação genética espacial nessas populações;
4. realizar inferências com base em indicadores genético-ecológicos que
subsidiem o monitoramento da eficácia do manejo desta espécie.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Manejo em floresta tropical por comunidades locais
A Mata Atlântica foi alvo de diferentes modos de ocupação humana conforme os
ciclos econômicos e aspectos culturais e étnicos (Neves et al., 1999), sendo o histórico
de ocupação destas áreas bem relatada no trabalho de Dean (1996) - A ferro e fogo: A
História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira. Com cerca 93% da cobertura
original destruída e 80% destes remanescentes localizados em propriedade privada, seus
recursos florestais são ainda alvo do extrativismo predatório, que vai da coleta seletivas
de produtos não madeireiros, passando pela exploração de produtos madeiros, à
substituição do uso da terra pela agropecuária, segundo Relatório para a Convenção
sobre Diversidade Biológica do Brasil (Ministério do Meio Ambiente- MMA, 1998).
O artigo 10 da Convenção sobre a Diversidade Biológica (MMA, 1998), assinada
durante a Conferência Rio-92, trata do uso sustentável da biodiversidade, atribuindo a
seus signatários, entre outras, a tarefa de "adotar medidas econômica e socialmente
racionais que incentivem à conservação e a utilização sustentável dos componentes da
diversidade biológica, apoiando populações locais na elaboração e aplicação de medidas
corretivas que minimizem os impactos na diversidade biológica".
Mais adiante, o Decreto nº 750, de 10 de fevereiro de 1993, que dispõe sobre o
corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e
médio de regeneração da Mata Atlântica, permite a execução de projetos de manejo de
espécie da floresta atlântica, desde que seja de interesse social, podendo ser autorizado,
mediante decisão motivada do órgão competente, quando fundamentados, entre outros
aspectos, em estudos prévios técnico-científicos de estoq ues e de garantia de capacidade
de manutenção da espécie alvo. Desta forma, fica evidenciado haver necessidade de
6
desenvolvimento de pesquisas no campo do manejo florestal, voltados à utilização de
recursos naturais deste bioma, para que se estabeleçam ações de manejo.
Lidar com a complexidade dos fatores sociais e suas interações com os fatores
ambientais tem sido o grande desafio que se coloca para os que buscam entender e
promover a sustentabilidade no uso dos recursos naturais, o qual exige um diálogo entre
as ciências humanas, físicas e biológicas que ainda não se estabeleceu de fato (Teixeira,
2002). Neste sentido, esforços no campo da etnociência, vêm explicitando elementos de
uma convivência dinâmica e sustentável, por vezes harmônica, estabelecida entre
populações tradicionais e meio ambiente, via regimes de subsistência e de pequena
produção mercantil (Neves et al., 1999), sendo este o tema de diversas reuniões
cientificas. O uso de recursos vegetais de Mata Atlântica por populações tradicionais foi
recentemente evidenciado por diversos autores (Begossi et al., 2001; Viana & Diegues
2000; Simões, 2002). Estes usos podem estar relacionados de maneira mais complexa,
englobando também a dinâmica florestal, não se restringindo apenas a espécies
(Brookfield & Padoch 1994; Balée 1989).
Na busca de formas de manejo sustentáveis para a conservação da
biodiversidade, deve-se considerar que populações humanas que habitam florestas
tropicais representam um dos componentes chave para entender, utilizar e proteger a
biodiversidade tropical, pois são elas que interagiram durante séculos com a diversidade
biológica presente nestes ambientes, possuindo as informações de uso e manejo
presentes em seus contextos culturais. Considerar o conhecimento desta população na
elaboração de planos de manejo e outras estratégias de conservação de espécies de uso
comercial, pode ser fundamental para a garantia da manutenção das populações vegetais
sem penalizar as comunidades locais que as tem como principal fonte de renda (Redford
& Padoch, 1992).
Com a crescente necessidade de alternativas econômicas para pequena produção,
estes usos locais fazem com que esta diversidade de espécies tenha um potencial muito
grande de aproveitamento, podendo servir como modelos para exploração sustentável de
outras espécies (Cunningham, 2001). Assim, estudo do conhecimento dos extratores a
respeito dos recursos naturais explorados é fundamental para a compreensão da
7
dinâmica de extração e uso da espécie (Ellen, 1999), principalmente quando a espécie é
explorada com a finalidade de atender a demanda comercial (Cunningham, 2001).
Porém, apesar do conhecimento local sobre a grande maioria das espécies, os impactos
ecológicos e genéticos das técnicas locais de manejo não são claramente explicitados
(Cunningham, 2001).
A sustentabilidade dos programas de manejo só é possível quando inclui a
manutenção dos processos dinâmicos característicos de cada comunidade florestal,
garantindo a diversidade ambiental e biológica com suas intrínsecas interações, uma vez
que a continuidade destes processos é a única forma de manter a estrutura das
populações conservadas e produtivas por tempo indefinido nas florestas tropicais (Reis,
1993).
A manutenção de uma população sob manejo é dependente do recrutamento de
novos indivíduos, independente da espécie ou do tipo de recurso explorado
(Cunningham, 2001). Esses dados auxiliam na determinação de ciclos de exploração,
que se apoiam na hipótese de que o crescimento da floresta deva ser igual ou superior à
quantidade explorada da mesma. Porém, este modelo de manejo não considera um dos
fatores primordiais para a manutenção da vida nos ecossistemas tropicais que é a
diversidade genética das espécies - responsável pelas diferenças em produtividade,
adaptação e reprodução entre indivíduos de uma espécie (Sebbenn et al., 2000).
Gandara & Kageyama (1998) julgam fundamental para a conservação, manejo e
recuperação do que resta da Floresta Tropical Atlântica, a junção dos conceitos de
ecologia e genética de populações como forma de orientar as ações a serem efetuadas e
definir parâmetros adequados para o monitoramento das mesmas. Neste sentido, Ratnam
& Boyle (2000) e Bawa & Krugman (1994) argumentam que a exploração sustentada de
florestas nativas necessita de estimativas confiáveis de parâmetros demográficos e
genéticos que permitam a manutenção no espaço e no tempo das espécies exploradas.
8
2.2 Diversidade, raridade e dinâmica sucessional das espécies na floresta tropical e
suas relações com o manejo florestal
Biodiversidade refere-se à variedade natural em todos os níveis hierárquicos,
desde do nível genético ao de ecossistemas, e toda a variabilidade existente dentro destes
níveis, bem como de suas inter-relações ecológicas. Na Mata Atlântica, estima-se a
existência de aproximadamente 20.000 espécies de plantas vasculares (Conservational
International, 2003), das quais aproximadamente metade está restrita ao bioma. O
trabalho de Reis (1993) contribui para compreender a divisão desta diversidade. Em
estudo na Mata Atlântica de Santa Catarina, este autor identificou que o número de
espécies arbóreas representa somente 35% das espécies vegetais, sendo as lianas e
epífita representantes de 42% e as herbáceas e arbustos 23% do restante.
Kricher (1997), citado por Kageyama (2000), enfatiza que na floresta tropical a
diversidade de espécies animais/microorganismos é cerca de 100 vezes a de vegetais,
mostrando que a diversidade de espécie total aponta para uma intensa interação das
plantas com outros organismos. Bawa (1985) constatou ser a maioria das espécies
arbóreas tropicais (97,5%) polinizadas por insetos, morcegos e beija- flores. Neste
contexto, Estrada & Fleming (1986) apontam para alta taxa de dispersão zoocórica de
sementes nos ambientes tipicamente tropicais. Isto certamente prediz a existência de
uma grande especiação, entre plantas e animais, resultante do processo de co-evolução
dessas espécies. Do ponto de vista genético é o que possibilita entender as altas taxas de
cruzamento, apontada por Kageyama (2001) com sendo acima de 90%, e conseqüente
diversidade genética das espécies arbóreas tropicais. Em vista esta imensa interação
entre amimais e plantas, esta não pode deixar de ser considerada nos planos de manejo,
já que a sustentabilidade destes está diretamente relacionada à manutenção desses
complexos processos biológicos intrínsecos desses ecossistemas.
Kageyama (2000) atribui a alta diversidade de espécies da floresta tropical como
um dos fatores responsáveis pela alta ocorrência de espécies raras, espécie com menos
que 1 indivíduo por hectare, sendo estas a grande maioria das espécies arbóreas
tropicais. De modo diferente, algumas espécies apresentam-se bastante adensadas,
9
aparecendo com maior freqüência e abundância nos levantamentos fitossociológicos,
recebendo a denominação de espécies comuns.
A raridade possibilita a coexistência de um maior número de espécie por área,
podendo, segundo Schäffer (2002), ser encontrada mais de 450 espécies arbóreas em
apenas1 ha de Mata Atlântica. Hubbell & Foster (1986) em levantamento de 50 ha na
Ilha de Barro Colorado, Panamá, demostram ser os indivíduos amostrados
representantes de 75% das espécies da Ilha, a qual possui uma área de 1.5000 ha. Na
amostragem de apenas 1 ha, foram representados apenas 43% de todas as espécies do
total de espécies, tendo porém uma igual representatividade das famílias. Ainda neste
sentido, Kageyama et al. (1991), em revisão de sete levantamentos fitossociológicos
realizados no estado de São Paulo, verificou que 30% das espécies se mostraram raras,
ou com um só indivíduo na parcela, sendo estas, em média, pouco menores que 1 ha,
enquanto 28% dos indivíduos pertenciam a somente três das espécies mais comuns.
Deve-se considerar que existe um gradiente na densidade das espécies nas
comunidades, ocorrendo espécies com mais de 100 indivíduos adultos por hectare, até
aqueles com 1 indivíduo adulto a cada 66 hectares (Kageyama et al., 1991 - não
publicado). Torna-se evidente que em função das diferentes densidades de indivíduos, os
mecanismos ecológicos e genéticos relacionados à manutenção desta espécie são, por
vez, diferenciados.
Kageyama et al.(1991) comentam que embora existam espécies que podem
apresentar variação em sua densidade de indivíduos dentro de sua região de ocorrência,
a maioria das espécies arbóreas em florestas primárias ocorre em uma densidade mais ou
menos fixa, estando esta densidade coerente com a distância de vôo dos polinizadores, o
que é justificável, já que as arbóreas tropicais são preferencialmente alógamas. No caso,
as espécies arbóreas raras seriam polinizadas por polinizadores de vôo longo e as
comuns por polinizadores de vôo curto. Neste sentido, o fluxo gênico via pólen e
sementes tem demostrado associado à estrutura genética das populações de espécies
arbóreas tropicais, mostrando que a distância do vôo dos polinizadores e dispersores
pode predizer a variação genética dessas espécies (Kageyama & Lepsch-Cunha, 2001).
10
Assim, as espécies raras apresentariam menor variação genética dentro, sendo maior
entre populações, e menor taxa de cruzamento comparativamente às espécies comuns.
A distribuição desigual entre aos diferentes tipos de espécies é atribuída,
segundo Kageyama & Gandara (2000), aos processos de sucessão secundária,
responsável pela contínua mudança na composição florística e estrutural da floresta. Este
processo de cicatrização de clareiras em áreas naturais ou em locais perturbados é a
forma pela qual as florestas se auto-renovam (Gómez-Pompa, 1971). Essas clareiras são
ocupadas por distintos grupos de espécies arbóreas, adaptadas para regenerarem em
clareiras de diferentes tamanhos (Whitemore, 1982) Diferentemente da sucessão
secundária, em áreas degradadas pela ação antrópica, ocorre uma sucessão diferenciada,
especialmente quanto à origem das espécies iniciais (Pereira, 2002).
A separação das espécies em grupos sucessionais ou funcionais foi um
catalizador de esforço de pesquisa de diversos autores (Budowski, 1965; Deslow, 1980;
Whitemore, 1982; Martínez-Ramos, 1985; Gómez-Pompa, 1971; Bazzaz et al., 1980), e
tem sido um instrumento de grande utilidade para o entendimento da dinâmica das
florestas tropicais, bem como na elaboração de estratégias de regeneração de áreas
desflorestadas (Kageyama & Gandara, 2000). Uma forma muito habitual de separação
das espécies é apresentada por Budowski (1965), classificando as espécies em 4 grupos
sucessionais: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climácicas.
Tanto fatores naturais como antrópicos têm influenciado e modificado padrões de
vegetação, em que se estabelece uma complexa interação entre fatores físicos, como
topografia, pluviometria, e geologia, e fatores biológicos e sociais (Cunningham, 2001).
Determinadas espécies que na floresta primária apresentam-se como raras, têm
demostrado alterações em seu comportamento ao ocuparem áreas antropizadas. A
exemplo disto, algumas espécies raras têm se tornado comuns, apresentando alta
densidade de indivíduos, nesses ambientes antropizados. Esses desvios de seu
comportamento vêm gerando confusão quanto à classificação das espécies em grupos
sucessionais. Neste contexto, Kageyama & Gandara (2000) consideram duas outras
classes de classificação em grupos sucessionais, as das pioneiras antrópicas: espécies
não tipicamente pioneiras na floresta primária, mas que fazem papel de pioneira em
11
áreas degradadas, e secundárias/pioneiras Antrópica: espécies secundárias raras na
floresta primária e que em área antrópicas fazem papel de pioneiras (Kageyama et al.,
1994).
Os indicadores utilizados na separação das espécies nos diferentes grupos
sucessionais provêm de uma série de características ecológicas como: velocidade de
crescimento, tolerância à sombra, tempo de vida, dispersão e dormência de sementes,
polinização, densidade de indivíduos, entre outras, que nos permite inferir sobre a
dinâmica destes grupos nas comunidades/ecossistemas. O entendimento desta dinâmica
ecológica, associada à questão da raridade das espécies tropicais, determina o
comportamento da estrutura genética das espécies arbóreas tropicais. Estes
conhecimentos são essenciais para apontar as potencialidades e limitações de manejo e
conservação das espécies dos diferentes grupos sucessionais em seus ambientes naturais,
sendo as espécies exploradas economicamente, em geral dos grupos finais da sucessão.
A raridade das espécies é característica marcante do grupo das secundárias
tardias. Em levantamentos exaustivos de espécie deste grupo, estes têm indicado que
estas espécies que são raras, apresentam curvas de freqüência de diâmetro seguindo uma
curva normal de adultos, não aparecendo indivíduos jovens nesses levantamentos, que
contribuam estatisticamente, constatando-se apenas a ocorrência de plântulas em uma
outra curva separada (Kageyama, 2000). Tal ocorrência é determinada pela forma de
regeneração das espécies deste grupo que forma banco de plântulas temporários, as quais
só serão recrutadas no ambiente se houver condições ambientais, determinadas por
pequenas clareiras na floresta, suficientes para seu estabelecimento.
Como a maioria das espécies arbóreas da floresta tropical é rara, a probabilidade
de uma plântula passar para a classe de jovens é um evento muito raro, o que explica a
raridade dos adultos (Kageyama, 2000). Sendo o manejo florestal atual, principalmente
os de produtos madeireiros, enfocado sobre um número limitado de espécies as quais
são exploradas maximamente, ocorre uma limitação das fontes de propágulos de
sementes, bem como a possibilidade de formação dos bancos de plântulas das espécies
exploradas na área, reduzindo as possibilidades destas entrarem na composição dos
novos indivíduos recrutados. Este é um dos principais motivos que tem gerado
12
incertezas quanto a sustentabilidade do manejo nas florestas tropicais aos moldes
praticados até o momento, conforme argumentado por Higushi & Hummel (1997).
Um pressuposto básico para um possível manejo adequado de uma população é a
existência de indivíduos jovens em quantidade e qualidade adequadas para repor, em um
tempo predizível e econômico, a população a um patamar de uma nova exploração
(Kageyama, 2000). Para esta ocorrência é requisito que a espécie sob manejo, apresente
curva de freqüência de diâmetros do tipo "J invertido", ou seja, um grande número de
indivíduos na classe dos jovens, reduzindo gradativamente para a classe dos adultos.
Esta é uma característica típica do grupo das espécies climácicas, a exemplo da espécie
Euterpe edullis (Reis, 1996).
Em se tratando da necessidade de manter as florestas e garantir, ao mesmo
tempo, às comunidades locais o acesso a recursos de suma importância para sua
subsistência, complementação de renda e bem-estar (Martin, 1995; Arnold & Pérez,
2001), a exploração comercial de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM) surge
como uma alternativa de relevante importância ao manejo correlacionado à conservação
das florestas tropicais (Pacheco, 2002 - não publicado), sendo este menos impactante.
2.3 Conservação in situ de recursos florestais
Diante a evidente necessidade de conservação da Floresta Tropical Atlântica,
considera-se fundamental que ferramentas de análise que possibilitem inferir sobre as
condições de conservação da biodiversidade deste bioma sejam explicitadas. Noss
(1990) propõe o estudo da biodiversidade através da identificação de atributos e
indicadores mensuráveis dentro dos diferentes níveis hierárquicos que a compõe, sendo
estes representados pelos componentes genético, população/espécie e
comunidade/ecossistema. O entendimento da composição, estrutura e função destes
níveis serviriam para inventariar, monitorar e elaborar programas de conservação.
Torna-se então, importante a definição do nível da informação que está se gerando,
quando se busca apontar ferramentas para a compreensão e monitoramento da
complexidade da diversidade da floresta tropical.
13
Pereira (2002), expõe que entre os componentes da biodiversidade, os mais
utilizados para gerar índices de diversidade são em nível de espécies e ecossistemas,
principalmente relacionados à composição, de modo que muitas vezes espécies ou
ecossistemas são alvo de extensos estudos e nem sempre representam o estado de
conservação do bioma.
Redford & Richter (1999) apontam o componente genético como sendo de
grande sensibilidade ao uso humano. Do ponto de vista genético, tamanho efetivo
populacional, estrutura genética espacial, diversidade e estrutura genética, fluxo gênico,
entre outros, são aspectos que vem sendo estudados para inferir sobre o grau de
conservação de populações de espécies nesses ambientes, sendo utilizado por diversos
autores (Pereira, 2002; Sebbenn,2000; Ribas, 2003; Perecin,2000).
Na definição da eficiência no tocante à conservação dos recursos naturais, as
teorias de metapopulação e ecologia de paisagem têm ganhado respaldo, não
substituindo, mas sim acrescendo conceitos teóricos ao restrito contexto que abrangia as
discussões a respeito dos SLOSS (single large ou several small). Estes conceitos
consideram a questão do grau de isolamento dos fragmentos florestais e disposição
destes na paisagem, levando em conta a conectivividade entre estas comunidades,
estando a ciência gerando parâmetros confiáveis que possibilitam apontar para as
expectativas de conservação in situ dos recursos naturais.
Deve-se considerar que a Floresta Atlântica encontra-se bastante fragmentada em
sua paisagem original. Kageyama et al. (1998) propõem que para minimizar os efeitos
genéticos e aumentar a probabilidade de manutenção das populações das espécies nos
fragmentos, deve-se ter uma visão primeiramente da paisagem, e segundo, considerar o
conceito de metapopulação. Dessa forma, o mosaico de fragmentos, o corredor de fluxo
gênico, a distância mínima entre fragmentos pequenos, assim como os efeitos
estocásticos de muitas gerações em várias sub-populações, são aspectos importantes para
fundamentar teoricamente as ações.
Neste sentido, Kageyama (2001) argumenta que a efetividade da conservação in
situ exige que se conheça a diversidade genética das populações das espécies, devendo
haver um monitoramento dos padrões da variação genética ao longo do tempo. As
14
principais conseqüências teóricas da fragmentação e redução populacional,
principalmente de espécies raras são: a deriva genética, aumento da endogamia e
diminuição do fluxo gênico. Como estudar estes parâmetros de modo a gerar
informações úteis é a essência para se realizar a conservação in situ na floresta tropical.
O uso de grupos de espécies de comportamento semelhante baseado em padrões
ecológicos (status sucessional) e demográficos (densidade populacional), e de respostas
à perturbação antrópica, são úteis para determinar padrões de espécies que apresentem
característica e funções comuns, que podem também apresentar estruturas genética e
populacional semelhantes (Kageyama et al., 2001). Estes comentam que o trabalho está
em monitorar os parâmetros demográficos (abundância, distribuição etária ou
crescimento, mortalidade) e genéticos (diversidade, taxa de cruzamento, autorelação
espacial, etc) destas espécies, as quais são altamente dependentes das interações com
outras espécies (polinização, dispersão de sementes, predação, competição, etc), de
modo a apontar para a estabilidade da manutenção das interações de uma considerável
parte da comunidade. Assim, os dados obtidos de poucas espécies modelo poderia ser
extrapolados para boa parte da comunidade.
A influência antrópica na estrutura genética de espécies arbóreas tropicais assim
como nos níveis de diversidade tem sido evidenciada (Ratnam & Boyle, 2000). Uma
proposta relevante e deve ser considerada é o estudo de espécies úteis que estejam sob
regime de exploração, já que estas não só refletiria a influência antrópica na estrutura
ecológica e genética, como minimizaria o problema de encontrar quais espécies seriam
mais importantes para conservação, pois seu estudo e enriquecido com informações de
manejo as quais já estão presentes no contexto cultural das populações humanas locais.
2.4 Estrutura genética de populações
Estrutura genética é definida como a distribuição não aleatória de alelos e
genótipos dentro populações de espécies (Hamrick, 1983). O desenvolvimento e a
manutenção da estrutura genética ocorrem devido às interações de um conjunto
complexo de fatores evolucionários, com variação no conjunto gênico; organização
desta variação dentro de genótipos; distribuição espacial dos genótipos; sistema de
15
reprodução que controla a união dos gametas para a formação das progênies; dispersão
das progênies; seleção; deriva; mutação; eventos casuais; e processos de crescimento,
mortalidade e reposição dos indivíduos que darão origem às populações futuras (Clegg,
1980; Hamrick, 1983; Loveless & Hamrick, 1984; Hamrick, 1989). São ainda de
importância fundamental o tamanho efetivo populacional, a seleção e a habilidade da
espécie de dispersar pólen e sementes (Hamrick, 1983).
Hamrick (1983) aborda a necessidade do conhecimento da variabilidade genética
tanto dentro como entre as populações para dar suporte à conservação dos recursos
genéticos. Espécies que apresentam sistema misto de reprodução, mecanismos eficientes
de dispersão de sementes e pólen, deverão apresentar alta variação genética dentro das
populações e baixa entre estas (Loveless & Hamrick, 1984). Já espécies com populações
pequenas, de autofecundação e/ou reprodução vegetativa, com limitada dispersão de
pólen e sementes, deverão mostrar baixa variabilidade dentro e alta entre as populações
(Loveless & Hamrick, 1984).
Neste sentido, Guries & Kageyama (2000), indicam que tanto a densidade natural
como o estágio sucessional afeta a estrutura genética das espécies. Baseado em dados
preliminares, os autores apontam possuir as espécies raras, menor variação genética
dentro de populações e menor taxa de cruzamento, comparativamente ás espécies
comuns. As espécies pioneiras, por sua vez, apresentam menor variação genética e maior
taxa de cruzamento do que as espécies não pioneiras.
Para Barret & Kohn (1991), o importante é considerar o número de indivíduos
que efetivamente realizam trocas gênicas, sendo este número geralmente diferente do
tamanho real ou número senso da população. Esta ocorrência é devido a fatores como,
flutuações temporais no número de indivíduos, cruzamentos direcionados, diferenciais
de fertilidade e fluxo gênico entre populações. Frankel e Soulé (1983) comentam que
grandes tamanhos populacionais são de suma importância para minimizar os riscos de
extinção das espécies.
A redução no tamanho populacional, em função da fragmentação ou práticas
predatórias de exploração, pode reduzir a variabilidade genética através da deriva
amostral causada pelo gargalo genético. A deriva genética e o restrito fluxo gênico,
16
provocam um acréscimo na endogamia promovendo um aumento da divergência
genética entre populações. A endogamia pode levar a fixação de alelos recessivos
deletérios, colocando em risco de extinção determinadas populações presentes em certos
habitats (Young et al., 1996). A diferenciação entre as populações é aumentada pela
seleção e deriva genética, sendo que espécies com intenso movimento de pólen e
sementes, em geral, têm menor diferenciação do que espécies com fluxo gênico restrito
(Hamrick, 1989)
Para Yeh (1988), a capacidade de regeneração e diversidade genética seriam dois
pontos importantes para o desenvolvimento de um guia do manejo florestal sustentável e
estratégias efetivas de conservação. Sebbenn et al. (2000) comentam que o manejo
envolve alterações no tamanho populacional e nos padrões espaciais dentro das
populações, variáveis que, dependendo da forma trabalhada, podem ter efeitos negativos
sobre a estrutura genética das populações de uma espécie, como a perda de alelos raros,
aumento da endogamia e redução na produtividade e adaptação das gerações futuras,
colocando em risco o principal objetivo do manejo que é a produção contínua e
sustentada dos produtos florestais Os referidos autores comparando uma população
manejada com uma natural de Tabebuia cassinoides L. observaram redução nas
heterozigosidades, taxa de cruzamento e aumento na endogamia das populações sob
manejo. Também foram observadas perdas de alelos raros na população manejada.
2.5 Estrutura espacial dos genótipos
Gandara (1996) destaca a importância do conhecimento da estrutura genética
espacial para o estabelecimento de estratégias de amostragem de populações naturais,
tanto para a conservação genética quanto para fins de melhoramento, possibilitando a
formação de amostras significativas. Cita, também, a importância deste conhecimento
para minimizar o impacto de práticas de manejo na sustentabilidade dos recursos
genéticos.
Estudos na estrutura intrapopulacional de espécies arbóreas têm demonstrado que
a distribuição de alelos e genótipos não é aleatória dentro das populações. Tal estrutura
pode ser determinada pela dispersão de pólen e sementes, habitat de distribuição e
17
seleção micro ambiental (Hamrick, 1983). Isto porque a freqüência alélica na próxima
geração, será influenciada pelo número de indivíduos que efetivamente trocarão alelos.
Especialmente em pequenas populações, e a taxa de homozigotos tenderá a crescer com
a autofecundação, os cruzamentos de indivíduos aparentados, e entre indivíduos
similares que ficaram próximos em decorrência de dispersão de pólen e sementes a curta
distância. Estes cruzamentos, segundo Whight (1978), proporcionam a formação de
demes panmíticos e reduzem a proporção de heterozigotos na população, a qual pode ser
quantificada pelo índice de fixação, a partir do teorema de Hardy-Weinberg.
Futuyma (1992) comenta que como em uma população existem limitações físicas
que não permitem o cruzamento de todos com todos, ou seja, aleatória, devendo haver
maior probabilidade de cruzamentos entre indivíduos próximos, o que gera a redução
dos heterozigotos e formação dos grupos, estruturando a população.
2.6 Sistema de reprodução de espécies arbóreas tropicais
O estudo do sistema de reprodução permite estimar a taxa de cruzamento entre
indivíduos, determinando o modo de transmissão de genes de uma geração à próxima
(Brown,1990). Relevância é dada ao pioneiro trabalho realizado por Bawa (1974) , que
estudando o sistema de reprodução em espécies arbóreas tropicais da Costa Rica, através
de polinização controlada e observações da biologia floral, verificou apresentarem, em
um total de 130 espécies estudadas, 14% espécies autocompatíveis, 54% auto-
incompatíveis, 68% hermafroditas, 22% dióicas e 10% monóicas. Marcadores
isoenzimáticos ou moleculares vêm sendo utilizado com grande eficiência nos estudos
de sistemas de reprodução em espécies arbóreas tropicais, as quais têm demostrado ser a
grande maioria das espécies florestais alógamas ou de sistema misto, com predomínio de
alogamia (O'Malley & Bawa 1987, Murawski et al. 1990, Murawski, 1995).
Diferente das espécies predominantemente de autofecundação, onde a maior
parte de sua variabilidade genética está distribuída entre populações, espécies de
cruzamento mantêm a maior parte da variabilidade dentro e menor entre populações,
(Hamrick 1983, Hamrick & Godt, 1989), o que prediz maior heterozigosidade dentro e
reduzidos níveis de divergência genética entre populações, devido ao intenso fluxo de
18
pólen entre populações e grandes tamanhos efetivos e de vizinhança com reduzida
subdivisão dentro de populações Sebbenn (2001). O sistema misto de reprodução prediz
variabilidade genética intermediarias entre espécies de autofecundação e alógamas,
sendo o potencial de diferenciação entre populações variável em função do balanço
dessas duas formas de reprodução (Loveless & Hamrick, 1984).
Dois modelos têm sido utilizados para caracterização dos sistemas de
cruzamento, o modelo de cruzamento aleatório, e o modelo misto de reprodução, sendo
o segundo o modelo mais difundido para avaliação do sistema de reprodução em plantas
a partir de dados de marcadores genéticos (Clegg, 1980). As pressuposições básicas para
a aplicação do modelo misto são: (a) os genótipos foram gerados por cruzamento
aleatórios ou autofecundação; (b) as freqüências alélicas do pólen são homogêneas para
todos os cruzamentos com genótipos maternos; (c) a taxa de cruzamento é independente
do genótipo materno; e (d) não existe seleção atuando nos marcadores entre o período
de cruzamentos e avaliação genética das progênies. (Ritland & Jain, 1981; Ritland,
1990).
O sistema de reprodução, juntamente com os mecanismos de dispersão de pólen
e sementes, tem papel fundamental na determinação da estrutura genética espacial e
temporal das populações (Hamrick, 1983; Hamrick & Lovelless, 1986). Portanto, o
conhecimento da forma de reprodução de uma espécie é de fundamental importância em
programas de melhoramento e conservação genética pois permite delinear estratégias
que otimizem a amostragem da variabilidade genética e a adoção de modelos genéticos-
estatísticos adequados para a estimativa de parâmetros genéticos (Souza, 2003), e para
determinar estratégias de manejo de populações em áreas naturais de modo que sejam
mantidos os mecanismos de manutenção da diversidade genética das espécies.
2.7 Eletroforese de isoenzimas
Glaubitz & Moram (2000) apresentam diversas aplicações dos marcadores
genéticos na conservação genética dos recursos florestais, sendo estas: mensuração da
diversidade genética e diferenciação em populações naturais e manejadas, estimativas
das taxas de fluxo gênico ou migração, caracterização do sistema de cruzamento, análise
19
de paternidade, avaliação da eficiência do pomar de sementes, estudos filogenéticos e
taxonômicos, bem como quantificação e mapeamento de ligações genéticas.
Uma ferramenta que tem sido usada com grande eficiência para a análise do
sistema reprodutivo e da estrutura genética de populações de espécies de plantas é a
técnica de eletroforese de isoenzimas, tendo sido empregada na grande maioria dos
estudos populacionais com plantas. A eletroforese de isoenzimas consiste na migração
de moléculas ionizadas em um gel submetido à influência de um campo elétrico. A taxa
de migração é determinada pelo tamanho, forma e carga da proteína (Alfenas, 1998). As
isoenzimas são controladas geneticamente por um ou vários genes, situados num mesmo
loco ou em diferentes locos (Alfenas et al., 1991). A variação na intensidade de bandas
de atividade enzimática que são visualizadas em gel, denominadas isoenzimas, é função
da atividade enzimática, da estrutura quaternária da enzima, do número de loco e
número de alelo no loco que contribuem para a síntese da enzima (Alfenas et al., 1991).
Esta técnica apresenta vantagens em relação aos outros métodos clássicos
quantitativos de análise da estrutura genética de populações, pois: permite a análise de
vários locos simultaneamente; os alelos de cada loco são codominantes, permitindo a
identificação de heterozigotos; e mede a variabilidade a um nível próximo do DNA pois
constituem um produto direto da ação gênica (Alfenas, 1991). Cheliak & Pitel (1984),
acrescenta que os marcadores genéticos não são associados às características fenotípicas
observadas, sendo, portanto, neutros, ou seja, agem como variantes casuais não
influenciadas diretamente pela ação natural, permitindo a formulação de hipóteses
relativas à quantidade, distribuição e manutenção da variabilidade genética.
A principal limitação da técnica de isoenzimas é o número pequeno de locos
acessíveis e a variação da expressão das isoenzimas de acordo com o tecido da planta
(Pereira, 2002. A mesma afirma ser o grau de polimorfismo geralmente de baixo a
moderado, enquanto que em outras técnicas, como microssátelites, é alto.
20
2.8 A espécie
Ocorrência
A espécie Eschweilera ovata (Cambess.) Miers, conhecida popularmente por
biriba ou imbiriba, pertencente à família Lecythidaceae, é uma espécie com distribuição
disjunta entre o leste da Amazônia e o leste do Brasil. Característica e exclusiva das
matas pluviais Atlântica e Amazônica, apresenta freqüência ocasional e dispersão quase
que contínua ao longo da sua área de distribuição entre os Estados de Pernambuco e
Espírito Santo (Mori, 1995; Lorenzi, 1998; Mainieri et al, 1989). Espécie perenifólia,
heliófita, seletiva xerófita, ocorre preferencialmente em terrenos bem drenados, tanto na
floresta primária como em formações abertas e capoeiras (Lorenzi, 1998; Mori, 1990).
Descrição morfológica e fenologia
Árvore de porte pequeno a médio, com altura de 3 a 20 m, dotada de copa
piramidal densa. Sendo que, nas restinga e capoeiras, costuma apresentar-se, florescendo
e frutificando, como um arboreto com tamanho médio de 3 m. Possui tronco ereto e
cilíndrico, de 40 - 60 cm de diâmetro, revestido por casca grossa, acizentada, com
fissuras longitudinais superficiais. A casca pode variar também de acordo com o
ambiente no qual a espécie se desenvolve: nas capoeiras e áreas abertas apresenta-se
mais clara e no interior das matas a casca é quase negra . Lâminas foliares elípticas, 5-
14,5 cm x 3-6,5 cm, glabra, cartácea a coriácea, com oito a dez pares de nervuras laterais
visíveis, ápice agudo ou acuminado, base obtusa a redonda, margens inteiras, pecíolo de
5 a 10 cm de comprimento. Plantas de mata higrófila possuem folhas maiores e menos
espessas que as plantas de restinga e capoeira. (Mori & Prance, 1983, 1990; Mori, 1995;
Lorenzi, 1998).
Inflorescências em racemos ou terminais axilares, geralmente não ramificado, de
3–12 cm de comprimento. Flores amarelas e brancas, com tamanho de 3–4 cm de
diâmetro, zigomorfas, cálice com 6 lóbulos bem ovalados, pétalas em número de seis,
usualmente amarelo claro, às vezes branco, bem ovalados, com capuz estaminal
completamente espiralado, formando um rolo duplo, apêndices do capuz completamente
21
estéreis, anel estaminal com 160 - 170 estames, ovário bilocular, com 7–9 óvulos
basalmente anexados, estilete com cerca de 2- 3 mm. Frutos turbinados, pixídios,
deiscentes, geralmente assimétrico na base, 2,5–3,5 x 2,5–4,0 cm (excluindo o
opérculo). Pericarpo 2–3 mm de espessura, contendo de 1 a 4 sementes listradas, com
arilo lateral (Mori & Perante, 1983, 1990; Mori, 1995; Lorenzi, 1998).
Flores podem ser encontradas durante todo o ano, com exceção de junho,
julho e agosto, contudo, a floração parece estar concentrada nos meses compreendidos
entre setembro e fevereiro. Costuma ocorrer quando as folhas estão maduras, não
existindo uma relação entre o lançamento de folhas e a floração. A polinização das flores
foi freqüentemente observada sendo realizada por abelhas do gênero Xylocopa (Mori &
Prance, 1981; Mori, 1988; Knudsen, 1996) Santos (2003), em recente estudo da
polinização da espécie, aponta também Xylocopa frontalis como o principal polinizador
na área de estudo, enquanto Epicharis bicolor, Eulaema nigrita e Eufriesea mussitans
como sendo polinizadores secundários. A frutificação costuma ocorrer de janeiro a
junho. Apesar da ausência de informações disponíveis para a espécie, estudos com
outras plantas da família indicam que os frutos de Lecythidaceae costumam ser
dispersos, principalmente, por morcegos, aves, pequenos roedores e símios (Prance &
Mori, 1978; Mori, 1990; Forget, 1992; Stevenson, 2001).
Utilização
A sua madeira é pesada e dura ao corte, compacta, uniforme, de propriedades
mecânicas altas, mediamente resistente ao ataque de fungos e moderadamente durável,
podendo ser usada para construções externas, como postes e mourões, dormentes,
estacas marítimas e trapiches, entre outros serviços de marcenaria (Mainieri et al., 1989;
Lorenzi, 1998). Porém o principal objetivo de sua exp loração é para se confeccionar o
arco (verga) do berimbau. Estudos recentes têm demostrado que a madeira da biriba
possui excelentes características de sonoridade, ressonância e operacionalidade,
justificando, em parte, a empiricidade de seu uso como artefato deste mais típico
instrumento musical da Bahia (Bonates et al., 1998).
22
A espécie apresenta um grande potencial de rebrotamento quando seus caules são
cortados. Seus indivíduos possuem uma porção caulinar subterrânea disposta
horizontalmente, que se torna bastante engrossada com o desenvolvimento da planta. Os
brotamentos se dão desse órgão subterrâneo, ou mesmo das porções aéreas
remanescentes dos caules cortados (Assis & Piccolo, 2000). A expressiva regeneração
vegetativa da espécie favorece para que a mesma seja uma promissora fonte de matéria-
prima, seja para a construção de berimbaus ou para outras finalidades.
A espécie também é recomendada para composição de reflorestamento mistos
destinado à recuperação da vegetação de áreas degradas (Lorenzi, 1998). Neste sentido,
Montagnini et al.(1995) a considera uma espécie chave em processos de recuperação de
áreas degradadas, contribuindo à reabilitação do solo através do incremento de carbono e
nitrogênio. Em se tratando da restauração ecológica de paisagens degradadas, Reis &
Kageyama (Reis et al., 1999) atentam pela utilização de "bagueiras", que são espécies
atrativas na alimentação de um grande número de animais para ampliar as
probabilidades de dispersão de propágulos advindos de outras áreas. A E. ovata é uma
espécie bastante atrativa neste sentido, já que por apresentar estas características, são
utilizadas como "seva" por caçadores locais em sua época de frutificação.
Estudos fitoquímicos com outras espécies do gênero Eschweilera apresentaram
alguns constituintes com atividades farmacológicas antifúngicas e antimicrobianas, pela
presença de triterpenos pentacíclicos, saponinas, ácidos elágicos e alcalóides (Carvalho,
1999), havendo necessidade de estudos para averiguar a presença destes compostos em
E. ovata.
Dinâmica sucessional
Em estudo comparativo da vegetação em três estágios de sucessão (capoeira
baixa, < 2 anos; capoeira alta, > 20 anos; mata primária) na Estação Ecológica do Pau-
brasil, Bahia, realizado por Serpa et al. (1984), foi observado que E. ovata ocorreu nos
três tipos de vegetações estudadas, tendo sido na capoeira alta a espécie com maior
densidade. Neste mesmo trabalho, ao se comparar os índices de valor de importância
23
(IVI) das espécies para cada estágio de sucessão, a espécie se apresentou em quinto
lugar na capoeira alta e em terceiro lugar na mata primária.
Outros estudos conduzidos em Florestas de Tabuleiros do sul da Bahia e norte do
Espírito Santo, verificaram que a espécie pode ocorrer em densidades consideravelmente
elevadas (Rizzini et al., 1997; de Souza et al., 1996; Mori et al., 1983). Assis & Piccolo
(2000) estimaram densidades de 190 e 210 indivíduos/ha, desde plântulas a adultos, em
duas diferentes áreas de ocorrência de biriba, tendo apresentado área basal de 1,05 e 2,21
m2/ha, sendo o maior valor obtido em área menos antropizadas. Mori et al. (1983)
estimaram 16 ind/ha da espécie com DAP > 10 cm em estudo realizado no sul da Bahia.
Souza et al. (1996), considerando DAP > 10 cm, obtiveram a estimativa de 39,1 ind/ha
pem um fragmento também no sul da Bahia.
Prance (1975) verificou altos valores de densidade para 5 espécies dessa família
(Lecythidaceae), sendo que estas cresciam principalmente por brotamentos. Prance &
More, (1979) alertam ao fato das espécies que possuem a habilidade de rebrota, podem
tornar-se dominantes em vegetação secundária, sendo favorecidas pela ocorrência
sucessiva desse tipo de ação perturbadora. Galvão & Medeiros (2002) fazem menção à
espécie, na ocupação em altas densidades destas em áreas de pastagem recém formadas,
atribuindo o fato, a capacidade de rebrota desta.
Com relação ao grupo sucessional, no presente trabalho, a E. ovata será
classificada como espécie climácica, atuando como pioneira antrópica na ocupação de
áreas degradas. Esta classificação foi baseada nas seguintes características apresentadas
pela espécie: apresenta velocidade de crescimento de média a lenta; possui madeira dura
e pesada; demostra-se tolerante à sombra, com rebrota independente das condições local
de luz; é pouco exigente a tipo de ambientes; suas sementes são dispersas por muitos
animais (zoocórica) ou por gravidade (barocórica), não apresentando dormência, sendo
estas sementes do tipo recalcitrantes, perdendo o poder germinativo muito rapidamente;
possui polinizadores específicos; apresenta alta densidade de indivíduos na floresta, o
que a caracteriza como uma espécie comum; apresenta tempo de vida longo.
24
2.9 O Manejo tradicional da biriba por populações locais
A capoeira, uma manifestação cultural afro-brasileira, apresenta-se como um
jogo/luta, traz embutido em seu universo outros elementos, como a dança e a música.
Em torno de seu desenvolvimento, desde de seu princípio até atingir o estágio de
complexidade em que ela se expressa hoje, muitos elementos influenciaram sua
trajetória, mantendo vários traços marcantes da cultura negra. Conhecida e praticada em
todo o Brasil e presente em mais de 50 países, é considerada como esporte pelo Comitê
Olímpico Mundial. O jogo da capoeira chega aos nossos dias com um conteúdo artístico,
filosófico, cultural, histórico e social resultado de uma intensa contribuição sócio
cultural dos africanos e seus descendentes na formação de uma identidade nacional,
englobando valiosos aspectos etnobiológico em seu contexto.
O berimbau, um instrumento musical utilizado como componente principal da
orquestra da capoeira, onde tem a função de impor um comando rítmico ao jogo,
constitui elemento indispensável à sua execução (Oliveira, 1958; Shaffer, 1977). A
Eschweilera ovata, por ser culturalmente tradicional e ligado intrinsecamente aos
valores que regem o ambiente da capoeiragem, é a espécie preferencialmente utilizada
na confecção deste instrumento. Devido ao crescimento vultuoso da capoeira e na
transformação do berimbau em um símbolo áudio-visual da Bahia e, por conseguinte,
em um dos souvenires mais comercializados no estado (Menezes, 1996) - citado por
Pacheco (2002), a exploração de E. ovata vem se intensificando nos últimos anos,
envolvendo um número significativamente grande de pessoas envolvidas nas atividades
relacionadas ao comercio do berimbau, que vai desde a extração da biriba até a
comercialização do instrumento tanto no mercado interno como externo, com um valor
agregado bastante alto.
A fragmentação, devido principalmente ao crescimento desorganizado da
urbanização da grande Salvador, tem ocasionado uma lenta e gradual diminuição dos
espaços tradicionalmente utilizados para coleta desse recurso, pondo em risco as das
populações de Eschweilera ovata nestes locais, bem como da manutenção dos ricos
aspectos sócio culturais que envolvem seu uso (Pacheco, 2002 - não publicado)
25
Visto a urgente demanda de minimizar os problemas relacionados ao uso
desordenado deste recurso florestal, estudos visando conhecer os aspectos da extração e
uso de E. ovata foram realizados através de uma equipe multidisciplinar e apresentado
por Cunha et al. (1996), dimensionando e mapeando o processo extrativo em
Fragmentos de Mata Atlântica e englobando as relações sócio-econômicas existentes na
extração desta espécie. Conjuntamente, realizou-se a evolução espaço-temporal da
cobertura vegetal. Estes estudos geraram alguns sub-produtos os quais foram
apresentados por Assis & Piccolo (2000), enfocando principalmente os padrões
estruturais de populações impactadas, e por Neves et al. (1999), divulgando este trabalho
no primeiro Seminário Nacional sobre Recurso florestais da Mata Atlântica, cujo tema
foi a exploração e utilização dos recursos, seus impactos sócio-econômicos atuais e
potencialidades de manejo sustentável.
Algumas considerações, com relação ao estudo a respeito do manejo da espécie
E. ovata, apresentadas pelos autores acima citados, serão aqui explicitadas como forma
de auxiliarem nas implicações a respeito do manejo da espécie.
1) O conhecimento do eixo etnobotânico deste estudo demostrou que após o
corte em qualquer lugar do caule, ela rebrota com dois a cinco perfilhos, sendo
possível observar moitas com mais de uma dezena destes perfilhos.
2) a prática de extração não diminui a densidade de caules de biriba na mata,
ao contrário, esta induz um aumento no número destes devido a capacidade de
rebrota.
3) As populações de E. ovata das áreas analisadas demostraram-se sofrer
exaustivas intervenções, apresentando poucos indivíduos adultos na área mais
antropizada abordada pelo estudo. Nestas áreas, não foram observadas qualquer
planta jovem isolada, pois todas pertenciam a sistemas de rebrotas das moitas sendo
este fato atribuindo ao pequeno número de indivíduos adultos na área, decorrente de
ações antrópicas no passado, podendo ser o fator de impedimento à reprodução
sexuada.
4) Há necessidade de manter indivíduos adultos na população, para a
manutenção da reprodução sexuada, garantindo a diversidade genética.
26
5) A espécie apresenta distribuição diamétrica do tipo "J" invertido, porém a
extração exaustiva do recurso em uma área pode levar ao desbalanceamento desta
curva, pondo em risco o recrutamento de indivíduos jovens para a classe dos adultos.
6) Existe há necessidade de estabelecimento de plano de rotação dentro da
mata estudada, que, segundo informação dos extratores, este está em torno de um
ano, sendo este período questionado pelos autores. Porém, dentro do tempo do
projeto, dados sobre esta questão não foi possível de serem obtidos.
Mesmo não sendo o trabalho acima mencionado, realizado nas mesmas áreas
utilizadas para a coleta de dados do presente estudo, este conhecimento vem a ser útil
quando da inferência sob a estrutura demográfica populacional de E. ovata submetidas à
exploração.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Áreas de estudo
Para a escolha das áreas de estudo, realizou-se o levantamento de informações, junto
a pessoas que possuíam conhecimento das atividades de coletores, artesãos e comerciantes
de berimbaus na Grande Salvador, a respeito de áreas com ocorrência de populações de
biribas que apresentassem diferentes graus de interferência antrópica.
Efetuou-se o reconhecimento de locais de extração de biribas através de visitas às
áreas, acompanhadas pelos extratores que as utilizavam para coleta de material, sendo
selecionada para o estudo como representante de uma área de extração, a que possuía um
maior número de informações do histórico de interferência antrópica, e que não incluísse outro
tipo de interferência alheia à exploração de caules da espécie para a confecção do berimbau,
bem como apresentava condição logística viável para implantação da atividade desta pesquisa.
Criteriosa também foi a escolha de outras duas áreas para amostragem de populações de
E.ovata que não sofressem atividade de exploração.
Deve-se ressaltar que as matas nesta região são, ainda hoje, fontes fornecedoras de
matéria-prima para moradores locais. Além da extração de biribas, outra atividade comumente
realizada é a extração de fibras de piaçava, considerada, aparentemente, como atividade de
baixo impacto. Nessas, soma-se ainda uma notória exploração de produtos madeireiros,
realizada de forma predatória, sem distinção de técnicas que garantam um sistema de manejo
sustentável, destinado, principalmente, à construção civil. Firmou-se a
28
amostragem para o estudo genético da espécie em três populações naturais de E. ovata,
sendo elas:
• Mata de Itaparica 1 (ITE) - população natural sob regime de exploração tradicional.
Esta área localiza-se no Município de Itaparica - BA, nas proximidades da localidade
denominada de Tairu. A área está contida em um contínuo florestal bastante extenso,
formado por um mosaico de estruturas fisionômicas distintas determinadas em função das
diferentes interferências antrópica sofridas ou ainda atuantes, apresentando desde
capoeirões em processo de regeneração, bem como áreas com fisionomias da Floresta
Ombrófila Densa secundária. Esta floresta vem, a mais de uma década, sendo utilizada
intensamente para a extração de caules da espécie E.ovata destinados à fabricação de
berimbau.
• Mata de Itaparica 2 (ITBA) - população natural sob baixa influência antrópica.
Localiza-se próxima à população sob regime de exploração de Itaparica, porém, devido a
não autorização do proprietário, dificuldade de acesso de pessoal e escoamento da
matéria-prima do local, esta não é utilizada pelos extratores, apresentando fisionomia da
Floresta Ombrófila Densa em bom estado de conservação.
• Mata de Camarugipe (CAN) - população natural sob baixa influência antrópica.
Localiza-se no município de Malhada - BA, próxima à Reserva de Sapiranga, sendo a
área administrada pela Fundação Garcia D`Ávila,. Considerada pelos pesquisadores
locais como sendo uma das florestas que menos sofreu a ação do homem na região norte
de Salvador, tem cerca de 1.300 ha de floresta contínua. Segundo informações de
moradores locais, as atividades de extração seletiva de madeira podem ter ocorrido no
local, não havendo, porém, nenhum indício de que possíveis atividades perturbadoras de
grande impacto deste ambiente possam ter ocorrido nos últimos 30 anos.
Um esquema representativo da localização das áreas pode ser visto na Figura 1.
29
Figura 1 - Mapa esquemático da localização das áreas de estudo (adaptado de Assis & Picollo, 2000)
30
A distância da Mata de Camarugipe com relação às áreas localizadas em Itaparica é de
95,1 Km (ITE) e 96,7 Km ( ITBA), sendo a distância entre estas duas áreas de Itaparica de
aproximadamente 1.830 m. As coordenadas geográficas aproximadas das áreas são: 13o 01'
90" S e 38o 43' 97" W para a população ITE; 13o 02' 63" S e 38o 44' 70 " W para a
população de ITBA; e 12o 30' 43" S e 38o 01' 87 W " para a população de Camarugipe. As
três áreas se caracterizam por apresentarem uma vegetação característica da Floresta
Ombrófila Densa de tabuleiros de planícies litorâneas. Essas apresentam uma estratificação
evidente com cerca de 15 a 20 metros de altura, salvo algumas emergentes, sendo esta altura
um pouco menor na área de exploração, com cerca de 10 a 15 m. As áreas apresentam-se
em condições secundárias com diferentes grau de conservação, conforme apresentado
anteriormente.
O clima regional é do tipo tropical constantemente úmido, classificado como AF no
sistema Köppen. As temperaturas médias anuais são elevadas ( 24o C), sem ocorrência de
estação fria. Mesmo nos meses quentes, as temperaturas médias sempre são superiores à 15o
C. Os totais pluviométricos variam entre 1750 a 2000 mm anuais, sendo relativamente bem
distribuídos durante as diferentes estações do ano, com uma curta estação seca nos meses de
janeiro e fevereiro.
3.1.1 Caracterização da extração e comercialização de "biribas" em Itaparica.
A grande riqueza de elementos etnobotânicos que envolvem esta atividade e o
significativo contingente de pessoas envolvidas na cadeia de comercialização, bem como a
forma que esta ocorre, fazem com que a apresentação destas informações, baseadas em
dados empíricos advindos dos exaustivos diálogos realizados junto aos extratores e
comerciante local, no período de coleta de dados para este trabalho, ainda que sucinta, seja
importante para a compreensão da atividade de extração da espécie neste local. Contribuindo,
assim, não apenas para o entendimento dos resultados deste trabalho, mas principalmente
para a proposição de um manejo adequado da espécie em áreas naturais.
31
A extração de "biribas" para a confecção desse instrumento se da através do corte de
caules de indivíduos jovens da espécie. São caules úteis para esta finalidade os que
apresentam cerca de 3 a 5 cm de diâmetro, desprovidos de nós e retilíneos. O corte é
usualmente feito na base do caule a uma altura variável, de 10 a 30 centímetros. Porém,
muitas vezes podem ser observados indivíduos cortados a alturas superiores, bem como o
corte de indivíduos de maior diâmetro. Este tipo de corte é realizado para se obter partes de
caule úteis que se encontram em alturas superiores. Devido à alta capacidade de rebrota da
espécie, verifica-se que após o corte dos caules, estes emitem brotações laterais na cepa,
sendo o número de brotos variável. Assis & Picollo (2000), em outras áreas de extração de
caules da espécie para esta finalidade, observaram que esta atividade de corte favorece o
aumento do número de caules da espécie na área para a extração futura, devido ao sucesso
no fenômeno de rebrota. A verga (arco do berimbau) possui não mais que dois metros, assim,
toda a porção de caule do indivíduo cortado que apresente estas condições são utilizadas,
podendo um único caule proporcionar mais que uma verga.
No contínuo florestal onde se realizou o estudo, cerca de quatro extratores atuam
freqüentemente, tendo esta atividade como a principal fonte de renda. Este número de
pessoas pode aumentar dependendo da demanda do mercado. Esta demanda é maior nos
meses de dezembro a fevereiro, em conseqüência principalmente do aumento do turismo na
região de Salvador. O número de "biribas" (ou caules de E.ovata) extraídas pela equipe varia
de 100 a 150 unidades por dia. O tempo de retorno a uma área já explorada, segundo
informações dos extratores, está em torno de um ano. Deve-se ressaltar que este tempo não é,
possivelmente, o mesmo que um rebroto necessita para atingir a classe de diâmetro
considerada viável para o corte. Este é, porém, o tempo necessário para que a área
apresente novos caules, recrutados em função do crescimento de novas plantas via sementes
na área, ou do desenvolvimento de brotações de cepas geradas em cortes anteriores à
intervenção de um ano.
32
O transporte dessa matéria-prima é realizado por animal, assim é mais comum a
extração nas proximidades (cerca de 200 m) das trilhas utilizadas por estes extratores para se
movimentarem na floresta. Esse material é repassado a um comerciante local que revende em
diversos mercados, tendo como principal ponto de venda o Mercado Modelo, ponto de
artesões em Salvador. No caso local, os extratores são ressarcidos financeiramente em função
do cento de vergas úteis entregues ao comerciante. As vergas que não servem para a
confecção do instrumento, são reaproveitadas na construção de estruturas rústicas, como
cercas, casas, entre outras. Segundo informações destas pessoas, o aproveitamento da coleta
de biribas par confecção do instrumento é entorno de 70%. A agregação de valor na cadeia
de comercialização desse material, que se inicia na venda da matéria-prima pelo extrator até
atingir o consumidor final, é bastante alta e desproporcionalmente distribuída.
3.2 Amostragem
Após prévio reconhecimento de trechos das florestas em estudo, visando uma
caracterização preliminar de suas fisionomias para coleta de material foliar dos indivíduos
nessas populações, foram determinadas áreas onde houvesse uma boa representatividade de
indivíduos adultos da espécie. Nas populações de Camarugipe e Itaparica Explorada, fez-se
um transecto, a partir do qual todos os indivíduos adultos que estivessem a até 20 m
perpendicularmente a esse, foram numerados, recebendo identificação de seu respectivo
número. A distância do transcecto variou em função do sucesso de identificação do número
de árvores previamente estabelecido, o qual foi de 60 indivíduos. Na população de Itaparica
de Baixa Antropização, ao invés da demarcação com transecto determinou-se o
posicionamento dos indivíduos através da obtenção da distância (Rumo) da última árvore
marcada e angulação entre estas (azimute).
O georeferenciamento espacial de alguns indivíduos foi realizado com o auxílio de um
aparelho de GPS, sendo possível na análise dos dados, a amarração dos pontos de
localização de todos os indivíduos. Destes, anotou-se o DAP, a altura total e a localização
33
espacial. Consideraram-se adultas as árvores que apresentavam DAP de aproximadamente 10
cm (CAP > 30 cm). A distribuição por casses de diâmetro do tronco dos indivíduos
demarcados são apresentados na Figura 2. Estas populações apresentaram demografia muito
semelhante, sendo de 52 e 56 árvores/ha na população de Camarugipe e na de Itaparica
explorada, respectivamente.
Figura 2 - Distribuição por classes diamêtricas dos troncos dos indivíduos amostrados
nas populações natural e manejada
Para análise das populações foram amostrados tecidos foliares em 60 indivíduos
adultos de cada população, totalizando 180 amostras. As amostras de tecidos foliares foram
embaladas em sacos de papel identificados com o número da árvore de origem,
acondicionados em ambiente refrigerado, por no máximo cinco dias, e transportadas ao
Laboratório de Reprodução e Genética de Espécies Arbóreas (LARGEA - ESALQ/USP),
onde foi realizado o processo de extração das isoenzimas. Estas amostras foram armazenadas
em microtubo no ultrafreezer (-80oC) onde aguardaram para serem utilizadas por um período
máximo de três meses.
0
10
20
30
40
9,5-
1515
-20
20-2
5
25-3
0
30-3
5
35-4
0
Classes de DAP (cm)
No d
e in
div
ídu
os
Pop. CAN Pop. ITMPop. ITE
34
Para a caracterização do sistema de reprodução, coletou-se semente de 30 árvores
adulta na população explorada de Itaparica e na população de Camarugipe. Para a coleta
caminhou-se aleatoriamente pelas florestas escolhendo as árvores que serviriam para esta
finalidade em função da disponibilidade de sementes nas copas. Assim, a área utilizada para a
coleta das sementes foi muito além da área de amostragem dos adultos, pelo fato de poucas
árvores adultas demarcadas apresentarem número suficientes de sementes e que estivessem
ainda nos frutos na copa. De cada árvore foram coletadas sementes em várias partes da copa,
objetivando a obtenção de pelo menos 30 sementes viáveis por árvore matriz. As sementes
foram colocadas para germinar em recipientes gerbox com vermiculita, separadamente por
árvore matriz. A germinação foi realizada em incubadora, sob condições controladas de luz e
temperatura. Estas condições consistiram em fotoperíodo de 8 horas com temperatura de 300
C, simulando o período de luz, e de 250 C, durante o período escuro (16 horas).
Os gerboxes que apresentavam mais que 10 plântulas germinadas eram retirados da
incubadora e colocados em ambiente natural, para continuidade do processo de
desenvolvimento das mudas. O maior número de sementes germinadas foi observado entre 20
e 25 dias após incubação De cada população foram analisadas por eletroforese de isoenzimas,
plântulas de 20 árvores matrizes, e de cada árvore matriz foram genotipadas 10 plântulas,
totalizando 400 plântulas analisadas (20 progênies x 2 populações x 10 plântulas).
3. 3 Protocolo de isoenzimas
O protocolo de análise eletroforética de isoenzimas foi desenvolvido para E. ovata
por não haver previamente nenhum estudo neste sentido. As “corridas” eletroforéticas foram
realizadas no LARGEA (ESALQ/USP). Durante a extração das isoenzimas, testou-se o uso
de três diferentes tampões, sendo determinado a utilização do tampão 1, citado em Alfenas
(1998), por apresentar melhores resultados, além de ser bastante completo e já ser utilizado
para várias espécies florestais. Após extração, wicks (papel whatman n.3) foram embebidos
35
nos extratos obtidos, colocados em micro tubos e armazenados em um freezer (-800C), onde
aguardaram o momento da realização da corrida eletroforética.
A constituição do gel foi adequada às condições de laboratório, sendo testado quatro
sistemas tampão gel/eletrodo e 28 sistemas enzimáticos, apresentados no Quadro 1. A
eletroforese de isoenzimas foi a horizontal, conduzida em meio suporte de gel horizontal de
amido de milho (penetrose) e amido de batata (13% de amido). Em cada gel foram colocadas
20 amostras e 3 wicks com azul de bromofenol para marcar distância de migração.
Os sistemas tampão gel/eletrodo e sistemas enzimáticos foram avaliados de acordo
com a qualidade dos padrões de bandas obtidos nas amostras, nas diferentes condições de
corrida. As bandas foram avaliadas quanto à atividade enzimática e quanto à resolução das
mesmas (recebendo nota 0, 1 ou 2). A constituição dos tampões e das soluções de revelação
das diferentes enzimas foi usada de acordo com ALFENAS et al. (1991;1998). Para o
material coletado dos indivíduos adultos, os sistemas tampões gel/eletrodo 8 - morpholina-
citrato, pH 7,1/6,1 e o sistema 25 - histidina-HCl/tris-citrato, pH 7,0/7,0 foram os que
apresentaram melhor resolução das bandas. Descartou-se a utilização dos sistemas 19 - tris-
citrato/sodio-borato, pH 7,5/7,5 e do TC- tris-citrato, pH 7,5/8,6, logo na primeira corrida
eletroforética por não apresentarem boas resoluções para os sistemas enzimáticos que haviam
apresentado atividade e melhor resolução nos outros sistemas tampões.
36
Enzima Código Esterase α EST - EC. 3.1.1.1 Malato Desidrogenase MDH - EC 1.1.1.37 β- Glucosidade β- GLU - EC 3.2.1.21 Fumarase FUM - EC 4.2.1.2 Galactose desidrogenase GLDH - EC 1.1.1.48 6-fosfogluconato desidrogenase 6PGDH - EC 1.1.1.44 Leucina aminopeptidase LAP - EC 3.4.11.1 Menadinona redutase MR -EC 1.6.99.3 Fosfatase ácida ACP - EC 3.1.3.2 Glutamato desidrogenase GDH - EC 1.4.1.3 Isocitrato desidrogenase IDH - EC 1.1.1.42 Fosfoglucose isomerase PGI -EC 5.3.1.9 Lactato desidrogenase LDH - EC 1.1.1.27 Glucose-6-fosfato desidrogenase G6PDH - EC 1.1.1.44 Álcool desidrogenase ADH - EC 1.1.1.1 Nicotinamida adenina dinucleotídeo desidrogenase NADHDH - EC 1.6.99.3 Glutamato-oxaloacetato transamitase GOT - EC 2.6.1.1 Diaforase DIA - EC 1.6.4.3 Peroxidase PO - EC 1.11.1.7 Fosfoglucomutase PGM -EC 2.7.5.1 Xiquimato desidrogenase SKDH - EC 1.1.1.25 Sorbitol desidrogenase SDH - EC 1.1.1.14 Fosfatase alcalina ALP - EC 3.3.3.1 Superóxido dismutase SOD - EC 1.15.1.1 Glicerato 2 desidrogenase G2DH-EC 1.1.1.29 Endopeptidase ENP- EC 3. 2. Manitol desidrogenase MADH- EC 1.1.1.67 Peroxidase método II POII- EC 1.11.1.7
Quadro 1 - Enzimas testadas e seus respectivos códigos (Alfenas, 1998)
37
3.4 Análise estatística
3.4.1 Sistema de reprodução
O sistema de reprodução da população de E. ovata foi analisado com base nos
modelos de reprodução mistos de Ritland & Jain (1981) e cruzamentos correlacionados
(Ritland, 1989), com o auxílio do programa “Multilocos MLTR” (Ritland 1997). Foram
estimadas: 1) a taxa populacional de cruzamento multilocos ($tm ), pelo método de máxima
verossimilhança (Expectation-Maximization - EM); 2) a taxa populacional de cruzamento
unilocos ($t s ); 3) a taxa de cruzamento entre aparentados ($tm - $ts ); 4) a taxa individual de
cruzamento multilocos ($t ), 5) as freqüências alélicas dos óvulos e do pólen (o e p); 6) o
índice de fixação nas árvores maternas ( $Fm ); 7) a correlação de autofecundação ( $rs ) e; 8) a
correlação de paternidade ( $rp ). As pressuposições do modelo misto são: a) que o conjunto
de pólen é homogêneo para o cruzamento de todos os genótipos maternos; b) que os alelos
de diferentes locos segregam independentemente e; c) que os locos avaliados não sofreram
seleção ou mutação entre o evento reprodutivo e a análise dos indivíduos (Ritland & Jain,
1981; Ritland, 1990).
O erro padrão das estimativas dos parâmetros foi obtido por 500 reamostragens
bootstraps, onde a unidade de amostragem para as estimativas das taxas de cruzamento
individual e populacional foi as plantas dentro das progênies e as progênies, respectivamente.
O teste de cruzamentos aleatórios foi avaliado pelo teste de Equilíbrio de Hardy-
Weinberg, teste de homogeneidade entre as freqüências alélicas dos óvulos vs. pólen,
calculando-se o estimador $FST (Nei, 1977) apenas como uma medida de divergência
genética entre freqüências alélicas de diferentes grupos. Para testar a significância de $FST ,
para cada loco, aplicou-se o teste de qui-quadrado [χ²=2n $FST (k-1); GL=(k-1)(s-1)],
proposto por Workman & Niswander (1970), em que: n = número de indivíduos nos dois
grupos, k = número de alelos e s = número de grupos. Os índices de fixação para adultos
( $F ) e progênies ( $Fp ) e seus respectivos intervalos de confiança foram obtidos por 10.000
38
reamostragens bootstraps, estimativas estas obtidas pelo programa GDA (Lewis & Zaykin
1999).
O coeficiente de coancestria (θ ) dentro de progênies foi estimado do coeficiente de
correlação de parentesco ( $rxy ), entre plantas dentro de progênies, conforme Ritland (1989),
$ , ( $ )[ $ ( $ $ $$ )( $ )]r F s t str rxy p s p= + + + +0 25 1 4 12 .
sendo, $Fp o coeficiente de endogamia da geração parental e $s é taxa de autofecundação (1-
$tm ). Os demais parâmetros foram definidos anteriormente. Como em espécies diplóides, na
ausência de endogamia, o coeficiente de parentesco ( xyr̂ ) é o dobro do coeficiente de
coancestria (θ), têm-se que:
2/ˆˆxyr=θ ; e,
$ , ( $ )[ $ ( $ $ $$ )( $ )]θxy p s pF s t str r= + + + +0 125 1 4 12 .
O tamanho efetivo de variância de uma simples progênie foi estimado com base em
Cockerham (1969),
$ ,
$$( )N
nn
Fn
e vo
=−
+ +0 5
1 12
θ.
3.4.2 Diversidade genética intrapopulacional
A diversidade genética intrapopulacional foi avaliada pelas freqüências alélicas,
heterozigosidade observada ( $H o ), diversidade gênica esperada segundo o equilíbrio de
Hardy-Weinberg ( $H e ), número médio de alelos por loco (A), porcentagem de locos
polimórficos (P) e índices de fixação de Wright ( $f ) - estimativas obtidas a partir do
programa BIOSYS-1 (Swofford & Selander, 1989). As freqüências alélicas foram estimadas
por :$pij = nij /n.j , em que $pij = freqüência do alelo i na população j; nij = número de
ocorrência do alelo i na população j; n.j = número total de alelos amostrados na população j.
39
A $H o para cada loco foi obtida por Ho = 1 - ∑Pii, em que: Pii = freqüência do homozigoto ii
e $He por $He = 1 - ∑pi 2, em que: pi = freqüência alélica estimada do i-ésimo alelo. O valor
de P foi estimado pela média arITEética do número total de locos polimórficos dividido pelo
número total de locos (polimórficos + monomórficos). O índice de fixação ( $f ) foi estimado
por:
e
o
HH
f ˆˆ
1ˆ −=
A representatividade genética dos indivíduos adultos das populações, foi realizada pelo
tamanho efetivo de endogamia ( $Ne ), de acordo com Vencovsky (1997),
$$
Nn
fe =
+1,
em que n é o tamanho amostral e $f é o índice de fixação de Wright.
3.4.3 Estrutura genética
A distribuição da variabilidade genética entre e dentro das populações foi caracterizada
pelas estatísticas F de Wright, segundo a metodologia de Cockerham & Weir (1984),
utilizando o programa GDA (Lewis & Zaykin (1999).
Análise de variância de freqüências alélicas
Em um primeiro momento analisaram-se os dados considerando duas
populações e, após, desconsiderando-se esta estrutura, tomando os dados como sendo de
uma única população.
Esta análise foi inicialmente realizada ao nível de alelo e, posteriormente,
conjunta para todos os alelos. Para cada alelo de cada loco polimórfico das plantas adultas e
plântulas foi feita a análise de variância no modelo aleatório hierárquico desbalanceado,
baseado em Weir (1990) e Vencovsky (1992). Assim, de acordo com estes autores, a
40
variável xil corresponde ao gene “l” na população “i”, portanto, quando xil estava presente
recebeu o valor um, e quando estava ausente recebeu o valor zero.
3.4.3.1 Estrutura nas populações de árvores adultas
Para análise das freqüências alélicas das árvores adultas foi realizada pelo
modelo estatístico,
Yikl = m + pi + bk(i) + gl(ik)
em que, Yikl: freqüência do gene l, dentro do indivíduo k, dentro da população i; m: média
geral da freqüência alélica; pi: efeito da população i, com i = 1, 2, ...,a; bk(i): efeito do indivíduo
k, dentro da população i, com k = 1, 2,..., bi; gl(ik): efeito do gene l, dentro do indivíduo k,
dentro da população i, com l = 1,2,...,nik.
Os parâmetro estimados foram: divergência genética média entre populações, $θP ;
correlação entre alelos dentro de indivíduos de diferentes populações, $F ; correlação entre
alelos dentro de indivíduos de mesma populações, $f .
3.4.3.2 Análise Individual das Populações
O modelo estatístico para a análise hierárquica de indivíduos dentro de progênies foi:
Yijk = m + f i + bj(i) + gk(ij) em que, Yijk = freqüência do alelo k, dentro do indivíduo j, dentro da progênie i; m = média
geral das freqüências alélicas; fi = efeito da progênie i, com i = 1, 2,...,a; bj(i) = efeito do
indivíduo j, dentro da progênie i, com j = 1, 2,..., bi; gk(ij) = efeito do alelo k, dentro do
indivíduo j, dentro da progênie i, com k = 1,2,..., nij.
Estimou-se o coeficiente de coancestralidade médio entre duas plantas dentro das progênies
( Fθ̂ ) ou divergência genética entre progênies; a correlação entre alelos, dentro de indivíduos
de diferentes progênies, F̂ ; e o índice de fixação ou correlação entre alelos dentro de
indivíduos de uma mesma progênie, f̂ .
41
3.4.3.3 Análise da variância conjunta das populações
Para análise da variância das freqüências alélicas de indivíduos dentro de progênies,
dentro de populações, utilizou-se o modelo estatístico:
Yijkl = m + p l + f i(l) + b j(il) + gk(ijl)
em que, Yijkl = freqüência do alelo dentro do indivíduo, dentro da progênie, dentro da
população ; m = média geral das freqüências alélicas; pl = efeito da população l, com i = 1, 2,
..., a; fi(l) = efeito da progênie i, dentro da população l, com i = 1, 2,..., bl; bj(il) = efeito do
indivíduo j, dentro da progênie i, dentro da população l, com j = 1, 2,..., cil; gk(ijl) = efeito do
alelo k, dentro do indivíduo j, dentro da progênie i, dentro da população l, com k = 1,2,...,
nijl.
Para verificar se as estimativas médias de $θP , $θF , $F , e $f eram diferentes de zero,
estimaram-se os intervalos de confiança a 95% de probabilidade pelo método de
reamostragem bootstraps. Foram utilizadas 10.000 repetições sobre os locos.
3.4.4 Distribuição espacial de genótipos
A análise de autocorrelação genética espacial foi realizada dentro de duas das
populações. Para análise de autocorrelação espacial, os dados de cada genótipo foram
codificados para suas freqüências alélicas, ou seja, quando o genótipo era homozigoto para o
alelo sob análise recebeu valor 1,0, quando heterozigoto recebeu valor 0,5 e quando
homozigoto para outro alelo recebeu valos 0,0 (Sokal e Oden, 1978). Para locos que tinham
mais de dois alelos, a análise foi realizada para todos os alelos, independente de sua
freqüência. Todos os possíveis pares de combinações de árvores foram considerados como
um conjunto e foram acessados para uma das 10 classes de distância. As extensões das
classes de distância foram selecionadas sem a equalização do número total de cada conjunto
de pares de comparações, sendo as classes de distância eqüidistantes dentro da população
42
analisada Foram calculados os valores do índice I de Moran (Sokal e Oden, 1978) para cada
uma das classes de distância, em cada loco e para a média dos locos pela expressão:
$ /I n w Z Z w Zij i j iiji
= ∑∑∑ 2,
em que: w i j = 1 para todas as células i e j localizadas em uma classe de distância (r, r+∆r), e
do contrário w i j = 0; W é a soma de todos os pesos (contagem de todos os pares usados em
todos os casos); e Z i é o desvio da freqüência alélica da i-ésima célula da média. O valor
esperado de I = -1/(n-1) aproxima-se de zero para grandes n. Os valores estimados do índice
I de Moran foram usados para testar a significância dos desvios dos valores esperados, E(I) =
-1/(n-1), sobre a hipótese de nulidade de distribuição aleatória (Cliff e Ord, 1981). A
significância total de cada correlograma foi testada usando critérios de Bonferroni (Sakai e
Oden, 1983). As análises de autocorrelação espacial e os teste foram realizado utilizando-se o
programa SAAP (versão 4.3) de D. Wartenberg.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Sistemas enzimáticos
Dos 28 sistemas enzimáticos testados no protocolo de isoenzimas dos indivíduos
adultos de E.ovata, 13 apresentaram atividade. Destes, quatro (α-EST, PGM, GOT e
G6PDH) apresentaram baixa resolução ou revelação irregular, motivo pelo qual foram
descartados. Os nove sistemas selecionados para serem utilizados apresentaram condições
passíveis de interpretação das bandas. Considerou-se trabalhar com o sistema tampão
gel/eletrodo 25 (Alfenas, 1998) para os sistemas enzimáticos PO, SKDH, 6PGDH, IDH e
ACP, e com o sistema 08 (Alfenas, 1998) para os sistemas enzimáticos PGI, MDH, MR e
DIA.
Após elaboração do protocolo para as progênies, selecionou-se para utilização os
seguintes sistemas enzimáticos: ACP, G6PDH, IDH e 6PGDH no sistema tampão gel/cuba
TC; e os sistemas PGI, MDH, DIA, NADHDH e MR no sistema tampão gel/cuba CM. Os
sistemas G6PDH e NADHDH foram analisados exclusivamente nas progênies. O sistema MR
foi posteriormente descartado da análise, tanto dos adultos como nas progênies, pelo fato de
expressar os mesmos locos que a enzima DIA. Notificou-se, após obtenção dos géis com
amostras de indivíduos de progênies, que o sistema MDH não apresentava o mesmo padrão
de expressão de bandas observado nos géis contendo amostras dos adultos. Esse sistema
apresentou alta complexidade de expressão da enzima, o que tornou difícil a definição na
genotipagem, sendo também descartado da análise dos adultos. O sistema PO também foi
descartado da análise pelo mesmo motivo. Cabe ressaltar que o padrão de resolução dos géis
das amostras de progênies foi superior aos adultos.
A Figura 3 apresenta os padrões izoenzimáticos obtidos, após transparentização, dos
44
géis de cada um dos sistemas enzimáticos utilizados, sendo possível identificar o nível de
resolução obtido após otimização dos protocolos. Na análise genética das populações adultas,
os sete sistemas isoenzimáticos avaliados revelaram um total de oito zonas de atividades que
foram passíveis de interpretação. Embora o sistma IDH tenha sido totalmente monomórfico,
este foi mantido. Apenas o sistema PGI apresentou duas zonas interpretáveis, sendo
observados dois locos polimórficos em estrutura dimérica, onde o da região mais anódica
revelou três alelos e o outro dois alelos. A enzima 6PGDH apresentou um loco polimórfico
com dois alelos em estrutura dimérica. A SKDH apresentou uma zona de atividade,
interpretada como loco polimórfico de expressão monomérica. A ACP apresentadou duas
zonas de atividade. Uma delas com baixa resolução não compôs a análise. A PO apresentou
uma zona interpretável, sendo esta polimórfica com dois alelos, os quais apresentavam
migração oposta no campo eletroforético. Para a DIA foi possível identificar três zonas de
atividade, sendo interpretada apenas a região mais anódica nos adultos, pelo fato dos outros
dois locos não apresentarem boa resolução. Para esta enzima, nas progênies, todos os locos
foram analisados, sendo estes polimórficos com três alelos em cada um. Nos sistemas
enzimáticos exclusivos para a progênie, a MDH apresentou dois locos, com dois alelos no
loco mais anódico e três alelos no mais catódico. A NADHDH apresentou duas zonas de
atividade, em estrutura monomérica, sendo ambos os locos polimórficos com até três alelos
por loco. Já a G6PDH, apresentou uma zona de atividade composta por enzima de expressão
monomérica com polimorfismo, tendo esta dois alelos. A análise genética das progênies foi
composta por 13 locos distribuídos em sete sistemas enzimáticos interpretados. Destes locos,
apenas cinco foram utilizados nas análises tanto de adultos como de progênies. A Figura 4
demostra a representação esquemática dos zimogramas adotados na interpretação da bandas
reveladas nos géis com amostras da espécie.
45
6 PGDH ACP
IDH MDH
PGI
PO SKDH
NADHDH
DIA
Figura 3 - Amostras de géis de diferentes sistemas izoenzimáticos utilizados para a análise genética de E. ovata
G6PDH
46
Figura 4 - Representação esquemática da interpretação de bandas dos sistemas enzimaticos analisados para E. ovata.
47
4.2 Sistema de reprodução
4.2.1 Teste de Equilíbrio de Hardy-Weinberg
Inicialmente, abordou-se o sistema de reprodução de E. ovata pelo teste de Equilíbrio
de Hardy-Weinberg (EHW) nas populações adultas e nas progênies por meio do uso do teste
exato de Fisher (Tabela 1). Este último teste é o mais adequado quando existem freqüências
esperadas inferiores a 5%. Em EHW a freqüência relativa dos alelos deve permanecer a
mesma de uma geração para outra, sendo a única mudança possível na composição genética
da população a redistribuição dos alelos dentro dos genótipos da nova geração (Futuyma,
1992).
O teste exato de Fisher para o EHW revelou desvios das freqüências genotípicas
observadas em relação às esperadas pelo modelo em 57% dos locos polimórficos (Po, Dia,
Skdh e 6pgdh) da população de adultos de Camarugipe, 29% (Pgi-2 e Skdh) da explorada
de Itaparica e 42% (Pgi-2, Skdh e 6pgdh) da Itaparica com baixa antropização. Nas
progênies, o teste de Fisher apresentou desvios de EHW, em 75% dos locos na população de
Camarugipe e em 66% da população de Itaparica. Portanto, foram detectados desvios de
EHW nas populações estudadas, tanto nos adultos como em suas progênies. Desvios do
EHW podem ser causados pelo sistema de reprodução ou por fatores evolutivos e genéticos
como seleção, migração, deriva genética ou mutação (Sebbenn et al., 2000). O uso do teste
de equilíbrio de endogamia de Wright permite separar os efeitos do sistema de reprodução
dos fatores evolutivos. Contudo, esse teste só pode ser aplicado em locos com três ou mais
alelos, visto que em locos com dois alelos não existem graus de liberdade suficientes para sua
execução (um grau de liberdade a mais é perdido na estimativa do coeficiente de endogamia).
Como a maioria dos locos que apresentaram desvios do EHW tinha apenas dois alelos, não
foi possível aplicar o teste.
48
Tabela 1. Probabilidades do teste exato de Fisher para o Equilíbrio de Hardy-Weinberg
(EHW) em populações de Eschweleira ovata
Loco CAN ITE ITBA Adulto Progênies Adulto Progênies Adultos
Mdh-1 ---- 1,000 (2) ---- 0,917 (2) ---- Mdh-2 ---- 0,010 ** (2) ---- 0,027 * (2) ---- 6Pgdh 1,000 * (2) 0,021 * (2) 1,000 (2) 0,000 ** (2) 0,023 * (1) Acp 1,000 (1) 0,002 ** (1) 0,648 (1) 0,218 (1) 0,326 (1) G6pdh --- 0,000 ** (1) ---- 0,000 ** (1) ---- Pgi-1 0,558 (2) 0,473 (2) 0,168 (2) 0,015 * (2) 1,000 (2) Pgi-2 1,000 (2) 0,000 ** (2) 0,047 * (1) 0,018 * (3) 0,045 * (1) Dia1 0,030 * (1) 0,000 ** (2) 1,000 (1) 0,002 ** (1) 0,700 (1) Dia2 ---- 0,028 * (2) ---- 0,015 * (2) ---- Dia3 ---- 0,037 * (2) ---- 0,599 (2) ---- Nadhdh-1 ---- 0,042 * (1) ---- 0,745 * (1) ---- Nadhdh-2 ---- 0,592 (2) ---- 0,795 (2) ---- Skdh 0,021 * (1) ---- 0,000 ** (1) ---- 0,005** (1) Po 0,020 * (1) ---- 0,565 (1) ---- 1,000 (1)
*: P ≤ 0,05; **: P ≤ 0,01. ( ): graus de liberdade.
4.2.2 Desequilíbrio de ligação entre pares locos
Um das pressuposições básicas do modelo de reprodução mista de Ritland & Jain
(1981) é a independência na segregação de alelos de diferentes locos, ou em outros termos, é
a presença de equilíbrio de ligação entre os locos utilizados na análise do sistema de
reprodução. Assim, em estudos de sistema de reprodução é desejável a avaliação da
associação entre locos antes das análises. Na Tabela 2 são apresentados os resultados do
teste de qui-quadrado (χ2) e a probabilidade para os locos que apresentaram ligação.
Os resultados indicaram associação altamente significativa entre os locos Idh e Pgi2,
6Pgdh e Pgi2, Dia1 e Dia2 e Dia2 e Dia3, sugerindo que estes encontram-se ligados e
próximos entre si. Observa-se que os locos Pgi2 e Dia2 encontram-se em todos os grupos de
ligações e, a sua exclusão quebra a ligação entre estes grupos, motivo pelo qual foram
excluídos da análise do sistema de reprodução.
49
Tabela 2. Resumo do teste de qui-quadrado para ligação entre pares de locos conjunto para
ambas populações de progênies
Locos χ2 GL P
Idh e Pgi2 Infinito 2 0,0000
6Pgdh e Pgi2 Infinito 4 0,0000
Dia1 e Dia2 Infinito 4 0,0000
Dia2 e Dia3 Infinito 4 0,0000
4.2.3 Freqüências alélicas dos óvulos e pólen
A estimativa da divergência genética entre as freqüências alélicas dos óvulos e do
pólen revelou diferenças significativas para os locos Mdh-2, Pgi-1 e Dia-1 na população
natural de Camarugipe e para o loco Mdh-2, Acp e Dia-1 na população explorada de
Itaparica (Tabela 3). Diferenças entre as freqüências alélicas do pólen e dos óvulos podem ser
atribuídas a diferenças nas funções masculina e feminina das plantas, imigração de pólen de
fora das populações amostradas, seleção entre o período de polinização e análise de
isoenzimas, devido à amostragem não representativa das árvores maternas (Ritland & Jain,
1981) e desvios de cruzamentos aleatórios causados por autofecundações, cruzamentos
biparentais, cruzamentos endogâmicos (cruzamentos entre indivíduos aparentados) e variação
na fenologia de florescimento. Dentre estes fatores, o primeiro é pouco provável já que
estudos fenológicos da espécie não demostraram esta ocorrência (Santos, 2003). Os mais
prováveis são amostragem não representativa das árvores maternas e desvios de cruzamentos
aleatórios.
Tabela 3. Estimativa das freqüências alélicas, número total de alelos (na) e tamanho amostral (n) do pólen e óvulos
das progênies de Eschweleira ovata
Natural Explorada Loco Alelo Pólen Óvulo $FST
n GL χ2 Pólen Óvulo $FST n GL χ2
Mdh-1 1 0,005 0,025 0,005 0,024 2 0,995 0,975 0,007 193 1 1,31 0,995 0,976 0,006 199 1 1,26 Mdh-2 1 0,021 0,024 0,051 0,005 2 0,890 0,732 0,660 0,925 3 0,089 0,244 0,039 194 2 15,13** 0,289 0,025 0,101 188 2 38,15** 6pgdh 1 0,440 0,550 0,384 0,405 2 0,380 0,250 0,396 0,336 3 0,180 0,200 0,012 192 2 4,.55 0,220 0,260 0,009 197 2 3,41 Acp 1 0,208 0,300 0,274 0,387 2 0,792 0,700 0,011 196 1 2,19 0,726 0,613 0,054 196 1 10,55** G6pdh 1 0,444 0,400 0,447 0,386 2 0,556 0,600 0,002 182 1 0,36 0,553 0,614 0,016 196 1 3,08 Pgi-1 1 0,151 0,100 0,132 0,104 2 0,604 0,450 0,688 0,682 3 0,245 0,450 0,029 192 2 11,20** 0,180 0,215 0,004 188 2 1,63 Dia-1 1 0,249 0,463 0,582 0,429 2 0,746 0,512 0,418 0,572 3 0,006 0,024 0,053 179 2 18,93** ---- ---- 0,096 174 1 16,74** Dia-3 1 0,106 0,075 0,029 O,052 2 0,753 0,725 0,864 0,845 3 0,141 0,200 0,003 169 2 1.06 0,108 0,104 0,003 143 2 0,96 Nadhdh-1 1 0,667 0,725 0,877 0,876 2 0,333 0,275 0,004 100 2 1,06 0,123 0,124 0,000 120 1 0,00 Nadhdh-2 1 0,623 0,683 0,629 0,656 2 0,344 0,293 0,365 0,329 3 0,034 0,024 0,003 149 1 0,99 0,006 0,015 0,005 166 2 1,52
** P < 0,01; P< 0,05. 50
51
4.2.4 Homogeneidade nas freqüências alélicas das árvores adultas das populações e
freqüências alélicas dos óvulos e pólen
Na Tabela 4 são apresentados para cada população os resultados da divergência
genética entre as freqüências alélicas do pólen que fecundou cada uma das árvores, entre as
árvores adultas e o óvulo e entre as árvores adultas e o pólen.
Tabela 4. Estimativa da divergência genética entre as freqüências alélicas do pólen que
fecundou as progênies, entre as freqüências alélicas das árvores adultas e os
óvulos, e entre as árvores adultas e o pólen em duas populações de Eschweleira
ovata
Heterogeneidade do polen Adultos vs óvulos Adultos vs pólen Loco Natural Explorada Natural Explorada Natural Explorada
Mdh-1 0,052 0,138** - - - - Mdh-2 0,043 ** 0,645** - - - - 6pgdh 0,164** 0,255** 0,024 ** 0,011 ** 0,004 0,011 ** Acp 0,110** 0,122** 0,092 ** 0,136** 0,380** 0,015 ** G6pdh 0,134** 0,244** - - - - Pgi-1 0,070 ** 0,153** 0,033** 0,002 0,018 ** 0,009 * Dia-1 0,084 ** 0,170** 0,011 ** 0,045** 0,123 ** 0,011 ** Dia-3 0,096** 0,127** - - - - Nadh-1 0,114* 0,157** - - - - Nadh-2 0,115* 0,125** - - - -
Todos os locos, nas duas populações apresentaram divergência genética ( $FST )
significativa entre as freqüências alélicas do pólen que fecundou cada uma das árvores
maternas, com exceção do loco Mdh-1 na população natural. Isto demonstra que o pólen que
fecundou as árvores não era homogêneo e indica que os cruzamentos não foram aleatórios. A
homogeneidade nas freqüências alélicas é um dos pressupostos básicos do modelo de
reprodução mista de Ritland & Jain (1981). Contudo, desvios desta pressuposição abrem
espaço para o entendimento de outros fatores do processo de reprodução. Por exemplo, a
heterogeneidade nas freqüências alélicas pode ser causada por cruzamentos biparentais, que
por sua vez, podem estar associados à pequenas vizinhanças. Outra causa pode ser a
variação espacial e temporal entre árvores na
52
fenologia de florescimento e fecundidade (Mitton, 1992) e a proporção de árvores adultas que
se reproduzem dentro da estação (Murawski & Hamrick, 1991).
A comparação entre as freqüências alélicas das árvores adultas e os óvulos e das
árvores adultas e o pólen foram significativas, revelando divergência genética ( $FST) significância
em quase todos os locos, com exceção do loco Pgi-1 na população explorada e 6pgdh na
população natural. Estes resultados indicam que as 20 árvores maternas amostradas em cada
população não representavam as árvores adultas das populações, em termos de freqüências
alélicas. Portanto, neste caso seria necessário um número maior de árvores maternas,
provavelmente, 50 a 60 árvores seriam suficientes, considerando os resultados obtidos por El-
Kassaby & Sziklai (1983) e Sebbenn (2002), que estudaram o efeito da amostragem para
representar freqüências alélicas em populações de espécies arbóreas. Contudo, tendo em vista
o alto custo e a dificuldade de genotipar progênies de 50 a 60 árvores de uma simples
população, acredita-se que a coleta de sementes em 30 a 35 árvores já seria suficiente.
A heterogeneidade nas freqüências alélicas das árvores adultas e do pólen também
indica que este último não era uma amostra representativa da população. A causa pode ser
atribuída a cruzamentos biparentais, autofecundações, cruzamentos entre parentes e a fluxo de
pólen de fora da população. É difícil determinar qual foi a real causa, mas provavelmente
todos estes fatores podem ter contribuído para este resultado.
Ressalta-se que, embora tenham sido detectados desvios das pressuposições do
modelo de reprodução mista, segundo Ritland & Jain (1981), tais desvios têm pouco efeito
nas estimativas multiloco de cruzamento, sendo a pressuposição de ausência de ligação entre
locos a mais importante.
4.2.5 Taxa de cruzamento multiloco e uniloco
A estimativa da taxa de cruzamento multiloco (Tabela 5) foi de 0,999 na população
natural e 0,985 na população explorada. Estas estimativas não foram significativamente
diferentes da unidade, podendo ser consideradas altas em ambas as populações e indicando
que a espécie se reproduz predominantemente por cruzamento.
53
Tabela 5. Estimativa de parâmetros do sistema de reprodução em uma população de E. ovata
Populações Parâmetros Natural Explorada
Taxa de cruzamento multiloco ( $t m ) 0,999 (0,004) 0,985 (0,023)
Taxa de cruzamento uniloco ( $ts ) 0,933 (0,011) 0,912 (0,017)
Taxa de cruzamento entre aparentados ( $tm - $t s ) 0,066 (0,012) 0,073 (0,016)
Correlação de autofecundação ( $rs ) 0,107 (0,001) 0,100 (0,008)
Correlação de paternidade ( $rP) 0,577 (0,088) 0,423 (0,070)
No médio de árvores doadoras de pólen (1/ $rP) 1,7 2,4
Proporção de irmãos de autofecundação ( $PIA ) 0,2% 2,2%
Proporção de irmãos-completos ( $PIC ) 57,6 % 41,7 %
Proporção de meios-irmãos( $PMI ) 42,2 % 56,8 %
Índice de fixação na árvores adultas ( $F ) 0,032 [-0,224 a 0,254] 0,193 [-0,020 a 0,441]
Índice de fixação nas progênies ( $Fp ) 0,071 [-0,0520 a 0,1750]
0,061 [-0,0784 a 0,1864]
Coancestria dentro de progênies ( $θF ) 0,211 0,191
Tamanho efetivo de variância ( $( )Ne v ) 2,05 2,22
Número de matrizes para reter o $Ne = 50 ( $m ) 25 23
[ ] Intervalo de confiança a 95% de probabilidade, obtido por 10.000 reamostragens (bootstrap) sobre locos. ( ) Erro padrão da média, obtido por 500 reamostragens (bootstrap).
A taxa de cruzamento uniloco foi menor do que a taxa de cruzamento multiloco, com
valores de 0,933 na população natural e 0,912 na explorada. Estas estimativas da taxa de
cruzamento sugerem ausência de mecanismos de auto-incompatibilidade na espécie.
Comparando estes resultados com a estimativa da taxa de cruzamento multiloco, calculada
para a média das espécies arbóreas tropicais (0,880 ± 0,040; Sebbenn, 2001), observa-se
que os valores obtidos para as populações estudadas da espécie E. ovata são levemente
superiores a este, diferindo estatisticamente em ambas as populações estudadas. Altas
estimativas de cruzamentos são prerrogativas de alta taxa de recombinação e, portanto,
predizem que a espécie apresenta alta variabilidade genética. A reprodução por cruzamentos
favorece a recombinação e a formação de ampla variedade de genótipos, os quais podem
54
conferir alto potencial evolutivo para as espécies e fazer frente à seleção natural nos mais
diversos ambientes de ocorrência de uma espécie.
A Tabela 6 apresenta a taxa de cruzamento individual em ambas as populações.
Verifica-se que estas apresentaram grande variação entre plantas.
Tabela 6. Estimativa da taxa de cruzamento multiloco individual por planta materna ( $t ) em
população de E. ovata
Pop. CAN Pop. ITE Progênies n $t Progênies n $t
1 10 1,00 (0,00) 1 10 0,91 (0,09) 2 10 1,00 (0,00) 2 10 0,33 (0,17) 3 10 0,41 (0,18) 3 10 1,00 (0,00) 4 10 1,00 (0,00) 4 10 1,00 (0,00) 5 10 1,00 (0,04) 5 10 0,93 (0,08) 6 10 0,39 (0,23) 6 10 1,00 (0,00) 7 10 0,98 (0,07) 7 10 1,00 (0,00) 8 10 1,00 (0,00) 8 10 1,00 (0,00) 9 10 0,53 (0,18) 9 10 1,00 (0,00) 10 10 1,00 (0,00) 10 10 0,32 (0,21) 11 10 0,97 (0,06) 11 10 1,00 (0,05) 12 10 0,99 (0,10) 12 10 0,91 (0,09) 13 10 0,82 (0,13) 13 10 0,96 (0,10) 14 10 0,92 (0,09) 14 10 0,71 (0,15) 15 10 1,00 (0,00) 15 10 0,91 (0,10) 16 10 0,98 (0,11) 16 10 0,72 (0,23) 17 10 1,00 (0,00) 17 10 1,00 (0,00) 18 10 1,00 (0,03) 18 10 1,00 (0,00) 19 10 1,00 (0,00) 19 10 1,00 (0,00) 20 10 1,00 (0,00) 20 10 0,83 (0,13)
( ): Intervalo de confiança, a 95% de probabilidade pelo teste t de Student.
[ ]: Erro padrão da média, obtido por 1.000 reamostragens (bootstrap) sobre locos
Na população natural a taxa de cruzamento variou de 0,39 a 1,0 e na explorada de
0,32 a 1,0. Entretanto, apenas 10% das estimativas em ambas as populações foram menores
do que 0,5. E ainda, 20% das estimativas obtidas na população natural e 25% na explorada,
foram estatisticamente diferentes de um, reforçando que a espécie se reproduz por sistema
misto com predomínio de cruzamentos e que, provavelmente, não existe auto-
incompatibilidade na espécie.
55
4.2.6 Taxa de cruzamento entre parentes
A diferença entre a taxa de cruzamento multiloco e uniloco ( $tm - $t s ) tem sido utilizada
para quantificar a ocorrência de cruzamentos endogâmicos ou, em outros termos, entre
indivíduos aparentados. Os resultados aqui obtidos revelaram cruzamento entre parentes em
ambas as populações, sendo de 0,066 na população natural e de 0,073 na explorada (Tabela
5). Estes valores não diferem-se estatisticamente entre si e podem ser considerados
moderadamente baixos, porém em ambas as populações estes são significativamente diferente
de zero. O cruzamento entre parentes, além da autofecundação, é outra foram de geração de
endogamia nas populações de espécie arbóreas, embora seus efeitos sejam mais brandos do
que os efeitos da autofecundação. Tendo em vista que a endogamia observada nas progênies
( $Fp) da população natural foi de 0,071, e que a endogamia pode ser gerada por
autofecundações (1 - $t m ) e por cruzamentos entre parentes, somando-se a taxa de
autofecundação a taxa de cruzamento entre parentes, conclui-se que praticamente 100%
dessa endogamia foi gerada por cruzamento entre parentes. Aplicando o mesmo raciocínio de
cálculo com os dados da população explorada, determina-se ser 76,8% da endogamia,
gerada por cruzamentos entre parentes, sendo o restante atribuído à autofecundação. Ainda,
visto que em espécies de cruzamentos, a endogamia nas progênies é igual a coancestria entre
os parentais cruzados (Lindgren et al., 1997), pode-se dizer que o parentesco entre as plantas
responsáveis pela taxa de cruzamento entre aparentados foi próximo a primos de primeiro
grau (0,0625), ou resumidamente, existe parentesco nas populações sendo esse em média
próximo ao esperado entre primos de primeiro grau.
56
4.2.7 Taxa de cruzamentos correlacionados
As estimativas das correlações de autofecundação ( sr̂ ), ou a probabilidade de
encontrar um indivíduo gerado por autofecundação onde foi encontrado outro indivíduo de
autofecundação, foram relativamente baixas em ambas as populações e não diferentes
estatisticamente entre si, tendo apresentado valores de 0,107 (+0,001) para a população
natural e 0,100 (+0,008) na população explorada. Este resultado sugere que não existe forte
tendência de algumas plantas maternas deixarem mais descendentes por autofecundação ou
cruzamentos do que outra, estando os indivíduos advindos de autofecundação, distribuídos
aleatoriamente dentro das progênies. Isto reforça novamente a possibilidade da espécie ser
autocompatível.
A correlação rp mede a proporção de indivíduos de cruzamentos que foram gerados
por cruzamentos biparentais (irmãos-completos) (Ritland 1989). A estimativa da correlação
rp em E. ovata (Tabela 5) foi elevada e significativamente diferente de zero, nas duas
populações, sendo de 0,577+0,088 e 0,423+0,070, respectivamente, para a população de
natural e explorada. Também se verificou que elas não se diferiram estatisticamente. Estes
resultados sugerem que uma parte das progênies de cruzamentos foram geradas pelo mesmo
parental materno e paterno, indicando haver a presença de cruzamentos biparentais dentro das
populações. Assim, as progênies oriundas de cruzamentos não são compostas por meios-
irmãos exclusivamente, mas também por irmãos completos. Sun & Ritland (1998), atribuem as
causas dos cruzamentos biparentais: ao comportamento dos polinizadores, visitando de forma
sistemática árvores próximas; ao pequeno número de vizinhos próximos; e ao assincronismo
no florescimento das árvores. Além disso, em algumas espécies pode ocorrer poliandria ou o
depósito de múltiplos grãos de pólen de um simples polinizador (Muana et al., 1991).
Variações ambientais podem também afetar o comportamento e/ou a densidade das
populações de polinizadores, levando à alterações na taxa de cruzamento das espécies em
diferentes populações (Murawski, 1995).
Souza et al. (2003) afirmam que o sistema misto de reprodução normalmente é
57
conceituado como a mistura de cruzamentos aleatórios e autofecundações, porém, esta
conceituação desconsidera a ocorrência de cruzamentos biparentais, que é outra forma de
reprodução a qual também pode causar desvios de cruzamentos aleatórios, mesmo em
espécies obrigatoriamente de cruzamento (espécies dióicas). Em Cariniana legalis Mart. O.
Ktze. (Sebbenn et al 2000), espécie da mesma família da E. ovata, as correlações de
paternidade variaram entre populações de 0,212 a 0,324. Em populações de Esenbeckia
leiocarpa Engl. (Seoane et al., 2001) as estimativas das correlações de paternidade variaram
de 0,749 a 0,986, sendo estas umas das mais altas detectadas em espécies arbóreas tropicais.
Em Tabebuia cassinoides (Lam.) A.P. de Candolle (Sebbenn et al. 2001) foi detectada maior
correlação de paternidade em uma população natural (0,547), em comparação a uma
população explorada (0,295). Apesar das correlações não diferirem estatisticamente entre si,
nota-se a mesma ocorrência nas populações de E. ovata estudadas, ou seja, maior rp na
população não explorada, sendo ambas as espécies com comportamento muito semelhante
com relação ao adensamento demográfico. Em concordância com estes estudos, Murawski &
Hamrick (1991) observaram que em populações de espécies arbóreas de baixa densidade, o
pólen dos cruzamentos era menos diversificado do que em espécies de alta densidade. Estudo
recente realizado com Pachira quinta (Jacq.) Alverson (Fuchs et al., 2003), uma espécie
arbórea tropical das florestas da Costa Rica, comparando a estimativa da correlação de
paternidade em uma população adensada em relação à outra com 15 árvores, distantes por
pelo menos 500 m entre si, detectou rp de 0,470 para a população adensada e 0,740 para a
de árvores isoladas. Os autores atribuíram a maior correlação de paternidade na última
população ao isolamento das árvores e a baixa densidade populacional.
A partir da correlação de paternidade é possível estimar o número médio de
indivíduos polinizadores efetivos por árvore (1/ $rp ), ou seja, a média do número provável de
indivíduos que contribuíram com pólen no evento de reprodução de uma árvore-mãe. Os
números de indivíduos polinizadores efetivos foram extremamente baixo, tendo em média, dois
indivíduos por árvore. Estudos semelhantes sobre o sistema de reprodução em espécies
arbóreas tropicais, corroboram com este resultado. Alves et al. (2003) estudando uma
58
população de Teobroma grandiflorum (Willd. & Spreng.) Schum. encontraram que o
número médio de polinizadores era de um a dois indivíduos. Moraes et al. (2003 - no prelo),
estudando duas populações de Myracrodruon urundeuva Fr. All, no sudeste do Brasil,
detectaram de dois a três polinizadores efetivos. Resultados próximos ao encontrado também
foram observados em Eucalyptus rameliana F. Muell (Sampson, 1998), Picea mariana
(Mill.) BSP (Perry & Bosquet (2001) e Grevillea iaspicula McGill (Hoebee & Young,
2001). Estes resultados vêm de encontro com a teoria geral de que a polinização natural em
espécies arbóreas é realizada a partir de grande número de plantas.
Combinando a correlação de paternidade ($rp ) com a taxa de cruzamento multiloco
( mt̂ ) é possível conhecer a proporção dos diferentes tipos de parentesco dentro das
progênies. A proporção de irmãos de autofecundação foi nula na população natural e de
apenas 2,2% na população explorada. A proporção de irmãos-completos foi de 56,6% e
41,7% nas populações natural e explorada, respectivamente, e a proporção de meios-irmãos
foi de 42,2% e 56,8% nas populações natural e explorada, respectivamente. Estes resultados
demostram que as progênies de E. ovata da população natural são compostas em maior
proporção por irmãos-completos, enquanto que na população explorada a proporção de
meios-irmãos é maior.
4.2.8 Índices de fixação
O índice de fixação de Whight (1965) mede a relação entre a heterozigosidade
observada e a esperada em uma população de cruzamentos aleatórios, conforme as
expectativas do EHW. Na população de natural, a estimativa do índice de fixação mostrou
maior endogamia nas progênies (Fp =0,071), em comparação às árvores adultas ( F̂ =0,032).
O mesmo não ocorreu na população de manejada, onde o valor de $F (0,193) é
consideravelmente maior que Fp (0,061). Contudo, o índice de fixação nas árvores adultas e
nas progênies de ambas as populações não foram estatisticamente diferentes de zero e entre si.
O índice de fixação verificado na população natural sugere que está ocorrendo seleção contra
59
homozigotos, visto que a endogamia nas progênies foi superior à observada nos adultos.
Resultado semelhante tem sido observado em diversos estudos comparando gerações de
árvores tropicais adultas com suas progênies (Sebbenn et al., 2001; Seoane at al., 2001;
Souza et al, 2003; Alves at al., 2003).
Em arbóreas de fecundação cruzada, a endogamia pode ter efeitos negativos sobre a
capacidade adaptativa e reprodutiva de populações pequenas, sendo estes efeitos
incrementados pela sobreposição de gerações. Em populações pequenas, na ausência de
seleção contra homozigotos, a taxa de endogamia e parentesco pode crescer rapidamente,
levando à depressão endogâmica. Suas principais características são a perda de vigor,
fertilidade, capacidade de adaptação e reprodução (Allard, 1970).
4.2.9 Coeficiente de coancestria e tamanho efetivo de variância
Em concordância com as estimativas da correlação de paternidade, o valor estimado
para o coeficiente de coancestralidade dentro de progênies da população natural ($θF=0,211)
e explorada ( $θF=0,191) atingiu valores relativos 40,8% e 34,5% superiores ao esperado em
progênies de meios-irmãos (0,125). A maior coancestria na população natural pode ser
atribuída a maior correlação de paternidade, ou seja, a maior proporção de cruzamentos
biparentais, sendo a maioria das progênies geradas, aparentadas no grau de irmãos-
completos.
Vale ressaltar que na população explorada foi detectada taxa de cruzamento entre
indivíduos aparentado de 7,3% e na natural de 6,6%, podendo-se, assim, dizer que uma parte
pequena, porém significativa, das progênies geradas por cruzamentos aleatórios e biparentais,
devem ser aparentadas em grau superior ao de meios-irmãos e irmãos-completos.
O coeficiente de coancestria (θ̂ ) tem papel central, em programas de melhoramento e
conservação genética, na estimativa do coeficiente de correlação parentesco (rxy ) entre
plantas dentro de progênies e tamanho efetivo de variância. O coeficiente de correlação é a
base do cálculo da variância genética aditiva e coeficientes de herdabilidade e ganho na
60
seleção. Em espécies de cruzamentos, o coeficiente de correlação de parentesco é o dobro do
coeficiente de coancestria (rxy xy= 2θ ), de forma que alterações na coancestria geram
simultaneamente alterações no coeficiente de correlação de parentesco. Em progênies
perfeitamente de meios-irmãos o coeficiente de parentesco estima 25% da variação genética
aditiva. No presente trabalho a correlação de parentesco estimada do coeficiente de
coancestria corresponde a 0,422 e 0,382, na população natural e explorada, respectivamente.
Portanto, em termos de melhoramento, os coeficientes de correlação estimados indicam que
assumir progênies de meios-irmãos para a estimativa de parâmetros genéticos irá gerar
superestimativas na variância genética aditiva e parâmetros a fins.
O tamanho efetivo de variância mede a representatividade genética de uma população,
em função de alterações nas freqüências alélicas entre gerações, devido efeitos da deriva
genética. O sistema misto de reprodução tem implicações na estimativa do tamanho efetivo de
variância (Ne(v)), devido à endogamia causada por autofecundações e pelos cruzamentos entre
aparentados, além da representatividade genética diminuir por causa da menor diversidade de
indivíduos polinizadores (plantas doadoras de pólen). Os valores estimados para o Ne(v) foram
de 2,05 para a população natural, e 2,22 para a explorada. Estes valores são basicamente a
metade do valor teórico máximo esperado (aproximadamente quatro) em uma simples
progênie de uma população idealizada (tamanho infinito, praticando cruzamentos aleatórios,
sem seleção, mutação e migração).
O tamanho efetivo de 50 tem sido sugerido como suficiente para manter o coeficiente
de endogamia a uma taxa de 1% por geração, até 10 gerações, em locos com dois alelos, em
populações de espécies com gerações discretas (Frankel & Soulé, 1981). Através das
estimativas do tamanho efetivo de variância (Ne(v)), foi possível estimar o número de matrizes
necessárias para reter um Ne igual a 50 para E. ovata, sendo este número calculado pela
divisão Ne/ Ne(v. Este número foi de 25 e 23 matrizes para as populações natural e explorada,
respectivamente. Assim, havendo interesse na conservação ex situ a curto prazo da espécie,
aproximadamente 25 indivíduos seria o número médio mínimo de árvores matrizes de uma
população a ser considerado na coleta de sementes para a formação de um banco ativo de
61
germoplasma. Este número é basicamente o dobro do sugerido em literatura, e comumente
utilizado como referência na coleta de sementes para formação de mudas a serem utilizadas
em plantios de restauração florestal.
O tamanho de 50 conserva muito dos genes de uma população e pode ser suficiente
para evitar os danos da depressão por endogamia a curto prazo, mas não é suficiente para
manter por longo tempo grande proporção da variação genética (Sebbenn, 2002). Com o
propósito a conservação genética a longo prazo, Franklin (1980) sugeriu o tamanho efetivo de
500, o qual para a espécie seria representada por um número de aproximadamente 244
árvores matrizes.
4. 3 Estrutura genética
4. 3. 1 Freqüências alélicas
As estimativas das freqüências alélicas das populações de indivíduos adultos e
progênie de E. ovata são apresentadas na Tabela 7. Observa-se algumas alterações nas
freqüências alélicas entre populações. No loco Pgi-1 a freqüência do alelo 2 apresenta-se
elevada sobre os alelos 1 e 3 em todas as populações, ocorrendo o mesmo com o alelo 1 do
loco Pgi-2. Moderadas alterações nas frequências alélicas são também observadas no locos
Dia-1, Dia-2 e Nadhdh-2 e Nadhdh-1, exceto este último na população explorada,
apresentando maior freqüência do alelo 1, e no loco Po com maior frequência do alelo 2,
exceto na população explorada. Alterações maiores nas freqüências alélicas são observadas
nos locos Acp, Mdh-1, Mdh-2, Dia-3, tendo o alelo 2 destes locos elevada freqüência sobre
os demais. As freqüências alélicas apresentaram-se equalitariamente distribuídas nos locos
6pgdh, G6pdh na população natural, no loco Skdh-1, nas populações de baixa antropização,
e no loco 6pgdh-1, na população explorada. No demais locos nas populações, estes
apresentaram posições intermediárias de distribuição.
Alelos exclusivos foram detectados nas árvores adultas da população natural (alelo 3
no loco Pgi-2) e nas progênies, no loco Dia-1 (alelo 3) na população natural e Pgi-2 (alelo 4)
na população explorada. Os alelos exclusivos observados nas progênies não estavam
62
presentes nas árvores adultas dessas populações. A causa pode estar associada ao tamanho
da área de amostragem das árvores adultas ou a fluxo de genes de fora das populações.
Tabela 7. Estimativa de freqüências alélicas em adultos e progênies de Eschweleira ovata
Adultos Progênies Loco Alelo CAN ITE ITBA CAN. ITE Idh 1 ---- ---- ---- 1,000 1,000 Mdh-1 1 ---- ---- ---- 0,010 0,056 2 ---- ---- ---- 0,820 0,787 3 ---- ---- ---- 0,170 0,157 Mdh-2 1 ---- ---- ---- 0,008 0,003 2 ---- ---- ---- 0,992 0,997 6Pgdh 1 0,362 0,290 0,394 0,490 0,409 2 0,404 0,355 0,221 0,315 0,338 3 0,234 0,355 0,385 0,195 0,254 Acp 1 0,074 0,173 0,327 0,242 0,385 2 0,926 0,827 0,673 0,758 0,615 G6pdh 1 ---- ---- ---- 0,420 0,388 2 ---- ---- ---- 0,580 0,612 Pgi-1 1 0,298 0,079 0,255 0,135 0,114 2 0,457 0,632 0,592 0,518 0,665 3 0,245 0,289 0,153 0,346 0,231 Pgi-2 1 0,764 0,658 0,638 0,558 0,640 2 0,198 0,342 0,362 0,386 0,229 3 0,038 ---- ---- 0,056 0,123 4 ---- ---- ---- ---- 0,008 PO 1 0,302 0,404 0,264 2 0,698 0,596 0,736 Dia-1 1 0,578 0,476 0,661 0,394 0,422 2 0,422 0,524 0,339 0,603 0,578 3 ---- ---- ---- 0,003 ---- Dia-2 1 ---- ---- ---- 0,178 0,244 2 ---- ---- ---- 0,647 0,659 3 ---- ---- ---- 0,175 0,096 Dia-3 1 ---- ---- ---- 0,083 0,035 2 ---- ---- ---- 0,757 0,846 3 ---- ---- ---- 0,160 0,119 Nadhdh-1 1 ---- ---- ---- 0,665 0,883 2 ---- ---- ---- 0,335 0,117 Nadhdh-2 1 ---- ---- ---- 0,648 0,654 2 ---- ---- ---- 0,336 0,343 3 ---- ---- ---- 0,017 0,003
Em geral, as freqüências alélicas não foram extremamente diferentes entre populações,
indicando que a divergência genética deve ser baixa entre estas e a diversidade genética dentro
63
das populações deve ser alta. Frankel et al. (1995) afirmam ser a maior equidade nas
freqüências alélicas de uma população um indicador de maior diversidade genética, estando
estas populações mais protegidas dos efeitos da deriva genética se comparadas às que têm
alelos muito menos freqüentes do que outros.
4.3.2 Distribuição da diversidade genética entre e dentro de populações
4.3.2.1 Divergência genética entre populações
Estimativas da divergência genética entre populações de adultos e progênies, com base
em medidas de coancestria de Weir & Cockerham (1984), são apresentadas na Tabela 8. A
divergência genética entre as populações de adultos, ou o coeficiente de coancestria entre dois
indivíduos dentro de populações ( $θ pA ), foi de apenas 2,5% (variação de 1,4 % a 5,5%),
indicando que a maior parte da diversidade genética encontra-se distribuída dentro das
populações (97,5%). A divergência entre populações, estimada com base nas progênies
( $θ pP ) foi ainda menor, de 1,4% (0,1 a 3,5), confirmando que a maior parte da diversidade
genética reside dentro de populações. Contudo, apesar dos baixos valores, para as
populações de adultos, estes foram significativamente diferentes de zero, a 99% de
probabilidade. Baixos valores de divergência genética eram esperados, visto que não foram
observadas diferenças contrastantes nas freqüências alélicas entre populações.
A divergência genética entre progênies dentro de populações ($θ pp ), entre progênies
dentro da população natural ( $θ pp1) e dentro da população explorada ( $θ pp2 ) foram de 0,149,
0,118 e 0,162, respectivamente. Em progênies perfeitamente de meios-irmãos, como
anteriormente comentado na análise do sistema de reprodução, o coeficiente de coancestria
assume o valor de 0,125. Assim, as coancestria estimadas para a média das populações e
população explorada, indicam igualmente como detectado anteriormente, que as progênies
não são exclusivamente formadas por meios-irmãos, sendo possivelmente misturas de meios-
irmãos, irmãos-completos e irmãos de autofecundação. A diferença entre a coancestria
estimada anteriormente e a atual está associada ao método de estimação, sendo esta baseada
64
na análise de variância de freqüências alélicas e a anterior com base na probabilidade de
identidade por descendência combinada com freqüências de ocorrência dos diferentes tipos
de progênies.
Tabela 8. Divergência genética entre populações e progênies
Parâmetros Estimativa
Divergência entre populações - adultos - $θ pA 0,025 (0,014 a 0,055) a
Divergência entre populações - progênies - $θ pP 0,014 (-0,001 a 0,035) b
Divergência entre progênies/populações - $θ pp 0,140 (0,104 a 0,175) b
Divergência entre progênies/população natural - $θ pp1 0,112 (0,085 a 0,139) b
Divergência entre progênies/população explorada - $θ pp2 0,145 (0,098 a 0,193) b
a e b: Intervalo de confiança a 99% e 95% de probabilidade, respectivamente, obtido por
10.000 reamostragens (bootstrap) sobre locos.
4.3.2.2 Distância genética entre populações
A divergência genética entre pares de populações, calculada com base no método de
Weir & Cockerham (1984) e a distância genética de Nei (1978) são apresentadas na Tabela
9. Ambos os estimadores mostram que existe pouca diferença entre os pares de populações.
Contudo, todas as divergências genéticas foram significativamente diferentes de zero a 95% de
probabilidade. É possível observar que as populações mais próximas geograficamente
apresentaram menor distância genética do que populações distantes, sugerindo um
agrupamento ao modelo de isolamento por distância de Wright (1943), embora a medida de
divergência genética não confirme este padrão. Apesar de ser praticamente inexpressiva, nota-
se ser a divergência genética entre a população explorada de Itaparica mais semelhante à
população de Camarujipe do que da área vizinha (ITBA). Contudo, em geral, as distâncias e
65
divergência foram todas baixas, confirmando que a maior parte da diversidade encontra-se
dentro das populações.
Tabela 9. Matriz de distâncias genéticas não viesadas de Nei (1978) (diagonal superior) e
divergência genética entre populações
CAN ITE ITBA
CAN - 0,017 0,026
ITE 0,021** - 0,015
ITBA 0,034 ** 0,024 * -
* e **: Significativo a 95% e 99% de probabilidade, respectivamente, a partir de 10.000
reamostragens bootstrap.
4.3.3 Diversidade genética intrapopulacional
E. ovata apresenta altos níveis de diversidade genética intrapopulacional (Tabela 10).
O número médio de alelos por locos foi de 2,14 nos adultos e de 2,41 nas progênies. A
porcentagem de locos polimórficos nas árvores adultas foi de 85,4% e nas progênies de
81,8%. A heterozigosidade esperada segundo as expectativas do EHW variaram de 0,354
(progênies da população explorada) a 0,431 (adultos da população de baixa antropização) e a
heterozigosidade observada variou de 0,332 (progênies da população explorada) a 0,371
(adultos da população natural), sendo esta em todos os casos menor do que a
heterozigosidade esperada, indicando que há mais homozigotos nas populações que o
esperado pelas proporções do E.H.W. (Tabela 10), embora estes valores não sejam
significativos, conforme observado na análise do sistema de reprodução.
Comparando os níveis de diversidade genética aqui obtidos com os observados por
Hamrick & Godt (1990) para o número médio de alelos por locos (2,19), a porcentagem de
locos polimórficos (64,7%) e heterozigosidade esperada (0,177) em espécies arbóreas,
verifica-se que E. ovata apresenta níveis bem superiores a estes. A baixa ocorrência de alelos
raros e freqüências alélicas equilitariamente distribuídas, provavelmente, contribuíram para a
66
alta diversidade. Outro fator que provavelmente contribuí para esta diversidade foi a alta
densidade populacional apresentada pela espécie. Hamrick & Murawski (1991) compararam
a diversidade genética em espécies arbóreas tropicais comuns e raras e observaram a
tendência das espécies comuns em apresentar maiores níveis de diversidade relativamente às
espécies raras. A maior densidade de indivíduos pode permitir maior número de
recombinações e múltiplas paternidades nas progênies, favorecendo ao aumento dos níveis de
diversidade genética.
Tabela 10. Índices de diversidade genética intrapopulacional e relação $N e /n* em populações
de E. ovata
População n $A $P (%) $He $Ho $N e $N e /n*
Adultos
CAN 45,4 2,14 85,7 0,402 0,390 55,3 0,97
ITE 38,6 2,14 85,7 0,426 0,345 49,5 0,84
ITBA 46,6 2,14 85,7 0,431 0,379 49,0 0,89
Média 43,5 2,14 85,7 0,420 0,371 51,0 0,89
Progênies
CAN 177 2,45 81,8 0,380 0,353 - -
ITE 179 2,36 81,8 0,354 0,332 - -
Média 178 2,41 81,8 0,367 0,343 - -
n* - tamanho da amostra.
O tamanho efetivo de endogamia foi próximo ao número de indivíduos amostrados. A
maior diferença foi observada na população explorada, com uma relação entre o tamanho
efetivo e o número senso de 0,84. Este resultado pode ser um indicativo dos efeitos das ações
antrópicas ocorridas nesta área. O maior valor dessa relação foi observado na população
natural, sendo esta de 0,97. Tomando estes valores e considerando a alta densidade da
67
espécie (comum) e o tamanho das áreas estudadas, quando combinada com as altas
heterozigosidades, número médio de alelos por locos e porcentagem de locos polimórficos,
pode-se afirmar que as populações estudadas têm alto potencial para a conservação genética
in situ da espécie, bem como para a coleta de germoplasma visando sua conservação ex situ
e coleta de sementes para a restauração de áreas degradadas.
4.4 Estrutura genética espacial
Os resultados das análises de estrutura espacial nas populações de E. ovata em
Camarugipe e na explorada de Itaparica são apresentados na Tabela 11 e 12, mostrando as
estimativas do Índice de Moran para cada alelo nas dez classes de distância estabelecidas.
Uma representação gráfica do comportamento médio dos coeficientes de autocorrelação
espacial está na Figura 5 e 6.
As estimativas de autocorrelação espacial, obtidas pela correlação de Bonferroni,
demostrou que 11,5% dos valores totais estimados do I de Moran foram significativos na
população natural de Camarugipe, enquanto que na população explorada de Itaparica esta
significância foi em 34,6% dos casos. De modo geral, estes resultados apontam haver indícios
de estruturação na distribuição genética espacial nestas populações em parte dos alelos
analisados, tendo a população de Itaparica apresentado uma estruturação um pouco mais
pronunciada em relação a de Camarugipe. Os resultados não foram consistentes para todos os
alelos e locos analisados em ambos os locais. O alelo 1 do loco Skdh na população de
Camarugipe e o alelo 1 da PGI-2 na população de Itaparica, foram os que apresentam maior
evidência à autocorrelação.
A população de Camarugipe apresenta dois valores positivos e significativos na
primeira (0 a 26 m) e segunda classe (26 a 51 m) de distância, um na sétima (154 a 180 m) e
na nona classe (205 a 231 m), e três na oitava (180 a 205 m). Quatro classes desta população
apresentam valores negativos e significativos, sendo esta ocorrência observada nas classes
mais distantes. Observando o comportamento dos alelos nos locos analisados (Tabela 11)
nota-se que existe tendência dos indivíduos da primeira classe de distância apresentarem
68
correlação, podendo ser esta considerada fraca. De modo geral, vê-se uma tendência à
aleatoriedade ao invés de agregação. Porém, os resultados médios obtidos para esta
população demostraram uma tendência maior de os indivíduos localizados mais distantes
apresentarem genótipos mais divergentes do que os mais próximos. Isto pode ser observado
através do correlograma (Figura 5). Neste, nota-se que a classe de distância na qual passa
pelo eixo horizontal ocorre num raio próximo de 50 m, reforçando a afirmação de que há uma
pequena agregação dos genótipos parecido nesta classe de menor amplitude de distância.
Na população de Itaparica, todas as classes de distância apresentam valores
significativos. Valores significativos e positivos são observados na primeira classe de distância
enquanto que valores negativos também significativos expressam-se nas classes de maior
distância, apresentando as classes intermediárias uma tendência à aleatoriedade. Isto implica
em haver nesta população, uma tendência predominante das árvores mais próximas
apresentarem genótipos mais parecidos do que as árvores que se encontram mais distantes. O
correlograma demostra haver agregação de genótipos parecidos não apenas quando se
considera as classes menores de distância como também nas intermediárias.
Na análise de estrutura espacial dos genótipos em populações, autocorrelações
significativas podem ocorrer em resposta a diferentes fatores, tanto seletivos como aleatórios
(Sokal & Oden, 1978). Os gradientes de variação da frequência alélica ao longo de uma
distância geográfica ocorrem freqüentemente em resposta à gradientes ambientais, podendo a
ação aleatória da deriva provocar o isolamento pela distância, sem que haja envolvimento de
qualquer fator seletivo no processo.
Em espécies alógamas, a presença de autocorrelação pode ser atribuída muitas vezes à
seleção, ou à dispersão de sementes nas vizinhanças das matrizes. Linhart & Grant (1996) -
citados por Perecin (2000), explicam que o arranjamento espacial dos genótipos em
estruturação de famílias pode ser causado por alguns fatores ecológicos como a restrita
dispersão do pólen e sementes. Estes autores comentam, ainda, que o fluxo gênico e a
dispersão de sementes, contrariamente à sua natureza homogeneizadora, podem operar como
uma fonte importante de heterogeneidade local em curtas distâncias. A existência de
69
autocorrelação entre os indivíduos mais próximos e a detecção de cruzamentos entre parentes
em E. ovata, pressupõe a presença de uma certa estruturação genética espacial nas
populações estudadas.
Uma observação importante obtida nas áreas estudadas, é a notória presença de
sementes germinadas próximas às árvores mães. Não é possível inferir sobre o sucesso de
estabelecimento destas progênies no local, porém, sendo a espécie bastante comum, cerca de
200 indivíduos por hectare, desde plântula a adulto (Assis & Picollo, 2000), e havendo na
amostragem dos indivíduos adultos representantes de várias gerações, é provável que essa
eficiência de estabelecimento seja alta.
Cruzamentos entre parentes foi detectado na análise do sistema de reprodução em
ambas as populações estudadas, sendo esta maior na população de Itaparica. O índice de
fixação nas árvores adultas também se apresentou maior nesta última população (0,193).
Estes fatos podem explicar a presença de uma certa estruturação genética espacial nas
populações, com maior expressão desta na população de Itaparica.
Fatores históricos de interferências antrópicas causadoras de distúrbios ambientais,
como a exploração desordenada, devem interferir sobre os padrões de distribuição genotípica
na população, porém, não é possível afirmar que esta maior autocorrelação na distribuição
espacial dos genótipos na população de Itaparica está associada intrinsecamente ao manejo
voltado à extração de caules de E. ovata para a confecção de berimbau, já que esta é uma
atividade que vem se desenvolvendo a não mais de que 13 anos. Sabe-se, porém, que a
extração seletiva de madeira na área ocorreu em proporções consideráveis, sendo a espécie
em questão bastante utilizada. Esta forma de intervenção na população pode estar associada
ao padrão de estruturação apresentado pelos indivíduos adultos atualmente estabelecidos.
70
Tabela 11. Coeficientes de autocorrelação espacial (Índice I de Moran) obtidos nos 13 alelos
de sete locos polimórficos, para 10 classes de distâncias na população de
Camarugipe, em E. ovata
Limite de distância 26 51 77 103 128 154 180 205 231 257 No pares 211 266 221 217 175 145 128 86 67 80 Prob
Pgi-11 0,01 0,11** -0,10 -0,09 -0,12 -0,04 -0,07 0,23** -0,00 -0,03 0,051 Pgi-12 -0,01 -0,09 0,02 -0,07 0,03 0,09 -0,12 0,20* -0,27** 0,10 0,097 Pgi-13 0,03 -0,05 0,03 0,05 -0,07 -0,09 0,08 -0,12 -0,01 -0,12 1,000 Pgi-21 0,04 -0,10 -0,04 -0,01 0,03 -0,07 -0,03 0,18* -0,03 -0,03 0,211 Pgi-22 0,14** -0,10 -0,08 0,00 -0,00 -0,18* -0,05 0,26** 0,00 -0,02 0,021 Pgi-23 0,04 0,05 0,03 0,05 -0,02 -0,14* -0,07 -0,14 -0,18 -0,14 0,418 Po-11 -0,04 -0,04 -0,05 0,02 0,02 -0,04 -0,04 0,07 0,01 -0,03 1,000 Acp-11 -0,03 -0,04 -0,05 0,01 -0,02 0,01 -0,01 -0,02 -0,01 0,04 1,000 Dia-11 -0,03 0,00 -0,03 -0,05 -0,08 0,03 0,06 -0,01 0,06 -0,10 1,000 Skdh-11 0,12* 0,12** -0,02 -0,08 -0,03 -0,04 0,13* -0,18* -0,16 -0,57** 0,000 6Pgdh-11 -0,03 -0,02 0,00 0,00 0,06 -0,16* 0,03 -0,09 0,16* -0,13 0,334 6Pgdh-12 0,08 -0,06 -0,05 -0,00 0,09 -0,04 -0,19* -0,03 -0,01 0,01 0,183 6Pgdh-13 -0,07 0,00 -0,01 -0,06 -0,06 0,10 -0,05 0,00 0,03 0,01 0,697 Média 0,02 -0,02 -0,03 -0,02 -0,01 -0,04 -0,02 0,03 -0,03 -0,08
P: Significância total do correlograma (aproximação de Bomferroni); **: P<0,01; * P<0,05.
Figura 5. Correlograma para o índice I de Moran para o método do vizinho mais próximo por
classes de distância na população Camarugipe, em E. ovata
-0,5-0,4-0,3-0,2-0,1
00,10,20,30,40,5
0 50 100 150 200 250 300
Classe de distâncias (m)
I de
Mor
am
71
Tabela 12. Coeficientes de autocorrelação espacial (Índice I de Moran), obtidos nos 13 alelos
de sete locos polimórficos, para 10 classes de distâncias na população de
Itaparica, em E. ovata
Limite de distância 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
No pares 303 266 218 123 71 101 107 104 128 64
Pgi11 0,07** 0,01 0,03 0,00 -0,02 0,02 -0,12* -0,10 -0,11* -0,32**
0,001
Pgi12 0,34** 0,20** 0,03 0,07 -0,01 -0,09 -0,06 -0,53**
-0,67**
-0,62**
0,000
Pgi13 0,09** -0,02 0,10* -0,11 -0,07 -0,23**
-0,07 -0,24**
-0,03 0,10 0,046
Pgi21 0,48** 0,23** 0,16** 0,14* -0,31**
-0,33**
-0,32**
-0,71**
-0,71**
-0,54**
0,000
Pgi22 0,11** -0,00 -0,01 0,11 0,03 -0,07 -0,03 0,04 -0,37**
-0,31**
0,000
Pgi23 -0,05 -0,04 0,06 -0,06 -0,01 -0,10 0,07 -0,09 0,09 -0,10 0,655
Po11 -0,03 0,03 -0,07 0,04 0,01 -0,08 0,07 0,12 -0,10 -0,23* 0,258
Acp11 0,06* -0,04 0,02 -0,01 -0,05 0,01 -0,15 -0,21* -0,01 0,00 0,159
Dia11 0,09* -0,13* -0,16**
0,08 0,19* -0,11 0,10 0,18* -0,19* -0,07 0,097
Skdh11 -0,08 0,00 -0,06 0,07 0,01 -0,02 0,03 -0,06 -0,06 0,15 0,599
6Pgdh11 0,05 0,07* -0,03 0,04 -0,16 -0,14 -0,19* 0,03 -0,04 -0,19 0,236
6Pgdh12 0,06* -0,04 -0,14* -0,10 -0,24* 0,10 0,10 -0,00 0,17** -0,27* 0,084
6Pgdh13 0,23** -0,13* -0,33**
0,06 0,06 -0,11 0,05 0,09 -0,05 0,02 0,000
Média 0,11 0,01 -0,03 0,03 -0,04 -0,09 -0,04 -0,11 -0,16 -0,18
P: Significância total do correlograma (aproximação de Bomferroni); **: P<0,01; * P<0,05. Figura 6 - Correlograma para o índice I de Moran para o método do vizinho mais próximo
por classes de distância na população explorada de Itaparica, em E. ovata
-0,5
-0,4
-0,3
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0 50 100 150 200 250 300
Classes de distâncias (m)
I de
Mo
ran
72
O reconhecimento da existência de um certo nível de estruturação genotípica nas
populações da espécie, auxilia no estabelecimento de medidas de conservação genética,
indicando formas de maximizar a diversidade genética na coleta de sementes para conservação
ex situ, bem como inferir nos tamanhos mínimos de área para conservação in situ. Por
exemplo, com base nos presentes resultados, a coleta de sementes não deve ser realizada em
árvores localizadas dentro de distâncias inferiores a 50 m, para evitar amostrar sementes de
árvores parentes, o que reduziria o tamanho efetivo da amostra. Além disso, notada a
presença de maior agregação dos genótipo na população de Itaparica, o que possibilita
afirmar que efeitos antrópicos podem ser geradores de estruturação, quando então na
realização de práticas de manejo em áreas naturais, deve-se considerar essa característica de
estruturação, devendo as extrações de indivíduos da espécie ser realizada de modo que
reduzam o agrupamento de árvores aparentadas.
4.5 Subsídios ao manejo e à conservação genética de populações naturais de E. ovata
Com base nos conhecimentos ecológico e genético da espécie, a proposição de
recomendações gerais à prática do manejo de E.ovata em área naturais torna-se possível,
sendo esta importante como forma de subsidiar sua extração adquada por populações locais,
bem como para determinar o uso de estratégias de conservação genética da espécie.
A capacidade de rebrota é de fundamental importância à sustentabilidade do manejo
da espécie. A rebrota pode ser considerada uma estratégia evolutiva para a sobrevivência do
indivíduo em caso de danos físicos como, por exemplo, a quebra por ventos, capacidade esta
observada em diversas espécies. A rebrota é uma característica relevante à conservação da
espécie, pois, teoricamente, os genótipos dos indivíduos que rebrotam mantêm-se nas
populações. Sabe-se, porém, que em algumas espécies de Eucalyptus que apresentam
rebrota após corte, esta condição ocorre em até cerca de 5 ciclos de corte, vindo a cepa a
perder seu vigor de regeneração posteriormente, levando assim o indivíduo à morte. É
possível que a mesma condição venha a ocorrer em E. ovata, devendo o manejador conhecer
o número de cortes sucessivos que a espécie suporta, com o intuito de não excluir indivíduos
da população.
73
Por outro lado, deve-se considerar que alguns caules de rebrota deixam de apresentar
características desejáveis para a confecção do instrumento, motivo pelo qual o manejador
deixa de extraí-los, vindo a ser este indivíduo recrutado para a classe superior de diâmetro.
Esses indivíduos, junto aos novos que se estabeleceram na área via sementes, passaram a
compor um agrupamento que irá representar as futuras classes de adultos. Assim, o fato da
espécie apresentar rebrota de cepas após seu corte faz com que a intervenção numa
determinada área, apenas retarde o recrutamento desses indivíduos ao conjunto de adultos
sexualmente ativos na população.
Outro fato importante a ser considerado é que alguns locais da floresta estudada são
mantidas sem intervenção de manejo, devido à dificuldade de retirada do material coletado em
algumas destas áreas. Essss, assim, caracterizam pontos cruciais para conservação da espécie
na área, servindo como fonte de propágulos na recolonização das áreas adjacentes à
exploradas.
As estimativas dos parâmetros analisados do sistema reprodutivo e estrutura genética
das populações natural e explorados de E. ovata abordadas neste estudo, de modo geral,
demostram que o manejo tradicional da espécie nesta área, caracterizado pela extração de
caules novos com a finalidade de obtenção de matéria-prima para a confecção do arco de
berimbau, não apresentam, até o momento, diferenças significativas que possam estar
associadas à influência desta atividade de exploração. O reconhe cimento da forma de atuação
dos extratores e da dinâmica de recrutamento da espécie na área manejada, obtidos através
do levantamento de informações etnobotânicas junto aos extratores locais, apontavam, de
certa forma, para a obtenção desses resultados.
Pode-se considerar que a extração da espécie na área estudada, caracterizada por ser
um contínuo florestal bastante extenso, apresenta peculiaridades singulares. A visitação das
áreas pelos mesmos extratores, os quais possuem bom conhecimento da dinâmica desta
floresta, faz com que haja boas perspectivas à conservação genética da espécie, ao menos, a
curto e médio prazo. Esta atividade tradicional de extração deve ser reconhecida como uma
condição ideal, caso não se altere o método de extração.
Não é esta, porém, a configuração apresentada na grande maioria das áreas utilizadas
74
para a extração de biribas nos arredores de Salvador, onde a extração é comumente realizada
em pequenos fragmentos, os quais se apresentam em níveis de conservação, muitas vezes,
inferiores ao caso estudado, e apresentam intensidade de extração diferenciadas. É
reconhecido que a alta intensidade de manejo nas populações, normalmente, reduz o número
de indivíduos recrutados às classes superiores de diâmetro. Gentry (1978), porém, aponta que
diferentes formas de distúrbios provocados por ações antrópicas podem determinar influências
diferenciadas sobre as populações de plantas, muitas vezes favorecendo o aumento de
densidade de certas espécies. Esta condição é observada na espécie E ovata, a qual
apresenta expressiva regeneração assexuada nas áreas sob extração intensiva, conforme
apresentado por Cunha et al. (1996). No estudo de áreas manejadas da espécie realizada por
estes autores, foram encontradas elevadas quantidades de caules na classe inferior (2,5 a 5
cm), o que de certa forma é bastante favorável para o manejo de biribas, porém, deve-se
levar em conta que a grande maioria destes caules eram constituídos de rebrotas de um
mesmo indivíduo.
Os brotamentos na espécie ocorrem tanto nas porções aéreas remanescentes após o
corte, como da porção caulinar subterrânea que se apresenta disposta horizontalmente. Assis
& Picollo (2000), em estudo da populações da espécie sob exploração, observaram que
apenas 15,7% dos indivíduos amostrados eram constituídos de um único caule, tendo
praticamente todas os caules cortados apresentado brotações, em média, cinco brotações por
indivíduo, constituindo touceiras. Este fenômeno de rebrota faz com que o número de caules
presentes numa determinada área seja diferente do número efetivo de indivíduos, tendo na
realidade uma grande proporção de caules que são de uma mesma árvore, o que implica em
um menor tamanho efetivo populacional. Dessa forma, os caules que irão constituir as classes
dos jovens na distribuição diamétrica em "J” invertido, apresentada pela espécie, possuirão a
mesma composição genética. Em outros termos, não estará ocorrendo o recrutamento de
novos indivíduos provindo de recombinação gênica.
Mesmo que indivíduos de menor diâmetro venham a participar deste processo de
reprodução, a quantidade de sementes disponibilizadas por estes indivíduos será bastante
inferior.
75
Cunha et al. (1996) observaram também a inexistência de regeneração via sementes,
fato este atribuído ao baixo número de indivíduos adultos na área por eles estudada. Estas
condições não constituem boas perspectivas à manutenção genética da espécie. A participação
de poucos indivíduos no fenômeno de reprodução, dependendo da distribuição espacial
destes, aumenta a possibilidade de cruzamentos entre aparentados ou a ocorrência de maior
taxa de autofecundação pelo isolamento de indivíduos, tendo como conseqüência o aumento
na endogamia, levando à diminuição da diversidade genética. Esta perda de diversidade deve
refletir diretamente na sustentabilidade da população alvo de manejo. Seria interessante que a
manutenção dos estoques, ou a manutenção de grande número de indivíduos das classes de
menor diâmetro, fosse composta não só de caules de rebrotas mas, principalmente, por
indivíduos jovens provindos de regeneração via sementes, minimizando os problemas
relacionados aos processos geradores de endogamia populacional.
Tendo sido observado que a espécie apresenta uma certa agregação espacial dos
genótipos, e sendo os indivíduos mais próximos aparentados entre si, seria viável que no
manejo de uma área fossem extraídos os caules próximos às árvores matrizes, reduzindo a
estruturação familiar apresentada pela espécie. A espécie possui bom potencial ao manejo de
produto madereiro devido sua distribuição diamétrica, conforme estudo realizado por Araújo
et al. (1993) - citado por Cunha (1996). A mesma recomendação, de retirada de indivíduos
espacialmente próximos, seria dada caso fosse o manejo voltado à obtenção de produto
madereiro, prática esta não recomendada, devido à baixa representatividade dos
remanescentes florestais da Mata Atlântica existente atualmente.
Com base nas informações levantadas, para que o manejo da espécie em populações
naturais seja considerado viável e adequado, deve ser considerado não apenas o número de
indivíduos dentro população mas também a conformação da distribuição espacial destes na
área.
Considerando a relação $N e/n média observada nas populações estudadas de 0,89,
pode ser um equivoco considerar que uma área com uma população de 57 indivíduos adultos
reprodutivos seja suficiente à manutenção genética da espécie a curto prazo, e 560 indivíduos
para a manutenção a longo prazo. Deve-se pensar que, tendo as populações revelado uma
76
certa agregação de genótipos em um raio de aproximadamente 50m, a simples determinação
da existência de 57 indivíduos adultos dentro de uma população não garantiria a capacidade
de manutenção do nível de diversidade genética nas gerações subsequentes, vindo
possivelmente a ocorrer erosão genética nestas populações. Mais coerente seria, do ponto de
vista da conservação, considerar a área de abrangência de um "agrupamento gênico" (conjunto
de indivíduos próximos aparentados) de uma área, sendo este de aproximadamente 0,785 ha.
Deve-se considerar que, quanto mais destes agrupamentos em uma população, menos
ameaçadas estariam estas às perdas de sua diversidade genética.Visando a conservação a
longo prazo da espécie, a população deve então ser consideravelmente maior.
Como forma de apontar indicadores do potencial de manejo e conservação em áreas
florestais, um raciocínio possível de se desenvolver seria o de que uma área com
aproximadamente 400 hectare e com adensamento populacional de ao menos 20 indivíduos
por hectare, seja sufuciente para conter 500 desses agrupamentos gênicos, servindo para a
conservação a longo prazo da espécie. Populações de cerca de 40 ha, seriam, então,
suficientes à conservação a curto prazo. Estas estimativas não devem ser tomadas como
números fixos que podem ser extrapolados a todas as condições, por haverem variáveis
como, por exemplo, diferentes densidades demográficas e históricos de perturbação, que
influenciam diretamente nesses valores. Porém, estas servem como um indicativo ao
reconhecimento de populações viáveis ao manejo. A proposição de um plano de manejo da
espécie deve ser realizado perante a determinação e acompanhamento da curva de
distribuição diamétrica balanceada, para se quantificar a intensidade possível de manejo na
área, no tempo e espaço.
Considerando a potencialidade da espécie nos processo de restauração/recuperação
florestal, recomenda-se a coleta de sementes em árvores espaçadas por pelo menos 50 m.
Esta recomendação aplica-se também na formação de bancos de germoplasma para a
conservação "ex-situ". Deve-se salientar que para estas finalidades, a coleta deve ser realizada
de aproximadamente 23 árvores, para que se garanta um tamanho efetivo de 50. A coleta em
matrizes próximas não assegura a obtenção deste tamanho efetivo, já que este banco estaria
sob influência do efeito da endogamia, ocasionada devido ao sistema reprodutivo na
77
população. E, ainda, o tamanho efetivo só é assegurado caso a coleta seja realizada em áreas
com as mesmas características apresentadas pelas áreas de estudo, ou seja, áreas com grande
número de indivíduos adultos na população, conforme comentado anteriormente.
6 CONCLUSÕES
1. A reprodução em E. ovata ocorre predominantemente por cruzamentos.
2. Os cruzamentos nas populações de Eschweilera ovata não ocorrem de forma aleatória,
podendo suas progênies serem constituídas de misturas de irmãos de autofecundação,
irmãos-completos e meios-irmãos.
3. Para a coleta de sementes em populações de E. ovata para fins de conservação ex situ e
recuperação de áreas degradadas são necessárias sementes de pelo menos 23 árvores
para reter o tamanho efetivo de 50. Se o tamanho efetivo requerido for maior, este número
deverá ser ampliado.
4. As árvores de E. ovata dentro das populações estudadas encontram-se espacialmente
estruturadas, sendo que quanto mais próximos os indivíduos maior é probabilidade deles
serem parentes.
5. As populações estudadas da espécie apresentam altos níveis de diversidade genética
dentro e baixa entre populações. Os níveis de diversidade genética dentro são superiores
aos apresentados pela maioria das espécies arbóreas tropicais estudadas.
6. O estudo do sistema reprodutivo e estrutura genética na população manejada de E. ovata,
demostraram que o manejo tradicional da espécie na área estudada, caracterizado pela
extração de caules novos com a finalidade de obtenção de matéria-prima para a confecção
do arco de berimbau, não apresentaram diferenças significativas dos parâmetros analisados
em relação às populações não exploradas, que possam ser atribuídas a esta atividade de
exploração, não devendo esse resultado ser extrapolado para toda e qualquer área sob
regime de exploração.
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