UPorto Alumni #22

52
22 Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 22, II Série, Agosto de 2015, 2.5 Euros INOVAÇÕES QUE ENSINAM A ENSINAR, Pág. 16 EDUARDO AIRES: UM PONTO BASTOU PARA REINVENTAR O PORTO, Pág. 08 NOVA ESTRATÉGIA PARA A EMPREGABILIDADE, Pág. 12 AVANÇOS NA REGENERAÇÃO CELULAR, Pág. 22 ENTREVISTA A NUNO PORTAS, Pág. 26 UM (RENOVADO) PLANETÁRIO 5 ESTRELAS, Pág. 32 CICAP:DOTURBILHÃO REVOLUCIO- NÁRIOÀ PACATEZ DASAULAS, Pág.36 OS POUCO CONVENCIONAIS LIKEARCHITECTS, Pág.40

description

22ª edição da revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto (agosto 2015).

Transcript of UPorto Alumni #22

Page 1: UPorto Alumni #22

22Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 22, II Série, Agosto de 2015, 2.5 Euros

INOVAÇÕES QUE ENSINAM A ENSINAR, Pág. 16 EDUARDO AIRES: UM PONTO BASTOU PARA REINVENTAR O PORTO, Pág. 08 NOVA ESTRATÉGIA PARA A EMPREGABILIDADE, Pág. 12 AVANÇOS NA REGENERAÇÃO CELULAR, Pág. 22 ENTREVISTA A NUNO PORTAS, Pág. 26 UM (RENOVADO) PLANETÁRIO 5 ESTRELAS, Pág. 32 CICAP: DO TURBILHÃO REVOLUCIO-NÁRIO À PACATEZ DAS AULAS, Pág. 36 OS POUCO CONVENCIONAIS LIKEARCHITECTS, Pág. 40

Page 2: UPorto Alumni #22

Faculdadede Economia

O Economista O Professor

figuraeminente .up.pt/2015

Uma magistratura de influência na academia e fora dela

“Há sempre [um aluno] que está diante de nós que é melhor do que nós.”

Contabilidade e Cálculo de Custos

Homenagem Figura Eminente2015

Junho 2015—Dezembro 2015

[1922-2004]

ManuelDuarteBaganha

8 outubro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: o aCaDéMiCoFaculdade de Economia da Universidade do Porto—22 outubro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: o EConoMistaLocal a confirmar—

6 novembro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: a intErvEnção CíviCaLocal a confirmar—20 novembro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: a visão Do MunDoLocal a confirmar—

27 novembro, 14h30MEsa rEDonDa os DEsaFios Da rEvisão DE ContasFaculdade de Economia da Universidade do Porto—27 novembro, 17h00MEsa rEDonDa os DEsaFios Da ContaBiliDaDEFaculdade de Economia da Universidade do Porto—

14 dezembro, 18h00sEssão DE FEChoSalão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto—

1º semestre 2016aprEsEntação livro DE hoMEnagEM a ManuEl DuartE Baganha—2º semestre 2016rEEDição artigos puBliCaDos por ManuEl DuartE Baganha soBrE sistEMas DE CustEio—

“Não há nada com mais interesse prático do que uma boa teoria”

Comissária da homenagemMaria de Fátima Brandão

Page 3: UPorto Alumni #22

1

Uma instituição universitária que pretenda estar na van-guarda da formação superior

tem que manter em permanência uma atitude e uma ação de inovação pedagógica, algo que exige muito da comunidade universitária, em parti-cular dos seus órgãos de governo, a todos os níveis, e dos seus professo-res. Não estou a falar em alterar a matriz fundamental. Para lá da muito canta-da “ligação à prática”, que em “dose equilibrada” deve estar presente de forma evolutiva na oferta formativa, os estudantes devem adquirir ao lon-go da sua formação um conhecimen-to sólido dos princípios fundamentais associados às suas áreas de estudo. Devem desenvolver uma visão holísti-ca dos fenómenos e das perceções, de forma a prepararem-se para o estudo que necessariamente irão continuar ao longo das suas vidas.Falo, sim, da adaptação do ambien-te de estudo e aprendizagem que a universidade deve proporcionar, de adequá-lo às vivências e motivações das novas gerações e aos meios tec-nológicos disponíveis em cada época. A inovação pedagógica implica, pois, mudanças qualitativas nas metodolo-gias de ensino e aprendizagem, o que significa promover ações, práticas e projetos que sejam inovadores em

relação aos modelos educativos em vigor, com o intuito de incrementar a qualidade da aprendizagem e a subi-da das taxas de sucesso escolar. Como se pode constatar pela leitura do tema em destaque neste número da revista, a U.Porto tem em curso uma estratégia determinada de pro-moção da inovação pedagógica. Com esta estratégia, pretendemos valorizar a componente pedagógica dos docen-tes, otimizar os modelos educativos dos cursos/unidades curriculares, promover a interdisciplinaridade do conhecimento, promover o uso de tecnologias digitais, fomentar a aprendizagem centrada no trabalho do estudante e fomentar a ligação en-tre a aprendizagem e a investigação. Este é o caminho para a melhoria con-tínua da qualidade do nosso ensino, aferida pelos padrões internacionais. Este é o caminho para o reforço da nossa reputação, forma única de com-petir, interna e externamente, pelos melhores estudantes e docentes. É no quadro desta política que a U.Porto atribui anualmente o Pré-mio de Excelência Pedagógica. A in-tenção é distinguir docentes que de-senvolvam atividades ou projetos de inovação pedagógica. Neste número da revista podemos conhecer alguns dos vencedores deste prémio, que nos explicam, na secção Em Foco, os seus novos métodos pedagógicos e os re-sultados que produzem. Durante este mandato, e tal como propus na minha candidatura a rei-tor, iremos aprofundar os métodos de “educação sem fronteiras e sem paredes”, com recurso às tecnologias digitais, um tema em grande desen-volvimento nas principais universida-des internacionais. É claro que todos estes instrumentos pedagógicos promovem a autoapren-dizagem, estimulam a cooperação entre parceiros distantes, tornam os conteúdos pedagógicos mais cati-

vantes e, no fim da linha, são agen-tes de aumento da produtividade do trabalho. Contudo, esta é uma área que exige gradualismo. Não se mu-dam métodos educativos e sobretudo mentalidades da noite para o dia. Em termos tecnológicos, já estamos pre-parados para dar um salto qualitativo no ensino aberto e à distância, mas ainda temos um caminho a percorrer em termos de massa crítica, de lide-ranças, de garantia de qualidade e de formação docente. Torna-se, pois, necessário apostar fortemente em ações de formação na área das novas tecnologias de educa-ção, dirigidas à nossa comunidade académica. Só assim seremos capazes de protagonizar uma evolução sólida nas metodologias pedagógicas. Ora é essa, justamente, a ação que temos em curso. Este é tempo de fim de ano letivo. Resta-me desejar a todos umas boas e certamente que merecidas férias.

Seba

stiã

o Fe

yo d

e A

zeve

do

R

eito

r da

Uni

vers

idad

e do

Por

to

EDITORIAL UPORTO ALUMNI 22

Page 4: UPorto Alumni #22

22

NO CAMPUSNotícias sobre a co-munidade académica da U.Porto, como a inauguração do Parque da Quinta de Lamas, as comemorações da Figura Eminente 2015, a acreditação da Universidade para a prestação de serviços a PME, a reabertura do Pavilhão de Exposições da FBAUP ou a aprova-ção do Plano de Ação do reitor.

16

4 EM FOCOO século XXI trouxe novos desafios para o interior das salas de aula da U.Porto. Para lhes dar reposta, a Universidade vem pro-movendo um conjunto alargado de experiências de ensino e aprendizagem inovadoras. Para conhecer esta nova realidade, fomos participar num parto si-mulado com bonecos, des-cobrir os mais complexos conceitos da engenharia com a ajuda do Youtube e aprender a desenhar no interior de uma galeria de arte virtual.

UP

ort

o A

lum

ni

Rev

ista

dos

An

tig

os E

stu

dan

tes

da

Un

iver

sid

ade

do

Po

rto

22, I

I Sér

ie

DIR

ET

OR

Seb

asti

ão F

eyo

de

Aze

ved

o

ED

IÇÃ

O E

PR

OP

RIE

DA

DE

Un

iver

sid

ade

do

Po

rto

Gab

inet

e d

o A

nti

go

Est

ud

ante

Ser

viço

de

Co

mu

nic

ação

e Im

agem

Pra

ça G

om

es T

eixe

ira

• 4

09

9-3

45

Po

rto

Tel:

220

40

82

10

ci@

reit

.up.

pt

CO

OR

DE

NA

ÇÃ

O E

DIT

OR

IAL

R

icar

do

Mig

uel

Go

mes

SUP

ER

VIS

ÃO

RE

DA

TO

RIA

L

Ric

ard

o M

igu

el G

om

es

RE

DA

ÇÃ

O

A

nab

ela

San

tos

Pau

lo G

usm

ão G

ued

es

Ped

ro R

och

a

Rau

l San

tos

Ric

ard

o M

igu

el G

om

es

Tia

go

Rei

s

AP

OIO

MU

LTIM

ÉD

IAT

VU

CO

LA

BO

RA

ÇÃ

O R

ED

AT

OR

IAL

Co

nse

lho

Co

ord

enad

or

de

Co

mu

nic

ação

:

An

a C

ald

as (

FPC

EU

P)

Car

los

Oliv

eira

(FE

UP

)

Cri

stin

a C

laro

(FA

DE

UP

)

Elis

abet

e R

od

rig

ues

(FC

UP

)

Fáti

ma

Lis

bo

a (F

LUP

)

Felic

idad

e L

ou

ren

ço (

FMD

UP

)

Gab

inet

e d

e M

arke

tin

g

e C

om

un

icaç

ão (

FEP

)

Jo

ana

Cu

nh

a (F

BA

UP

)

Jo

ana

Mac

edo

(FF

UP

)

Maf

ald

a Fe

rrei

ra

(Po

rto

Bu

sin

ess

Sch

oo

l)

Mar

ia M

anu

ela

San

tos

(FD

UP

)

Mar

ian

a P

izar

ro (

ICB

AS

)

No

émia

Go

mes

(FA

UP

)

Olg

a M

agal

hãe

s (F

MU

P)

FO

TO

GR

AF

IA

Eg

ídio

San

tos

DE

SIG

N

R

ui G

uim

arãe

s

IMP

RE

SSÃ

O

Mu

ltiP

on

to

DE

SIT

O L

EG

AL

149

48

7/0

0

ICS

56

91/

100

TIR

AG

EM

73.0

00

PE

RIO

DIC

IDA

DE

Bia

nu

al

12PORTO CIDADE REGIÃOO desemprego jovem é um drama social ao qual já nem os diplomados escapam. Para enfrentar esta situação, a U.Porto gizou uma estratégia de promoção da empregabi-lidade. Estratégia, essa, que passa pela reconfigu-ração do Observatório do Emprego da Universidade, pelo reforço da oferta de formação em competên-cias transversais e pela realização de uma feira de emprego.

PERCURSOEra ainda imberbe quando ganhou o seu primeiro prémio. E ganhou-o lá fora, no período em que viveu na Alemanha oci-dental. E ganhou-o num concurso de desenho, levando para casa uma bicicleta. Talvez fosse já augúrio dos vários e prestigiados prémios internacionais que, em três décadas de carreira, Eduardo Aires conquista-ria na área do design de comunicação.

8

Page 5: UPorto Alumni #22

22

32

46DESPORTOMais de duas mil pessoas, na sua grande maioria da comunidade acadé-mica da U.Porto, estão a “mexer-se” com o UPFIT, o programa do CDUP-UP que, desde 2013, trabalha para melhorar a qualida-de de vida de docentes, estudantes, alumni e cola-boradores. De resto, com o cartão UPFIT é possível participar em nove ses-sões à escolha.

EMPREENDERFazem parar, pensar e, talvez, agir. O convite é provocatório. Os materiais que usam são improváveis. As cores, inusitadas. Até a conceção de tempo não é a habitual para arquitetos… Se pensarmos que uma construção pode levar anos a erguer… As deles são efémeras. Estes não são arquitetos convencionais. Incubada no UPTEC, a star-tup LIKEarchitects nasceu em 2012.

INVESTIGARAs lesões na espinal me-dula, assim como as doen-ças neuro-degenerativas, parecem querer testar os limites do conhecimento humano sobre o seu pró-prio corpo e também a ca-pacidade de intervenção das ciências da saúde. Em dois institutos da U.Porto (IBMC e INEB), diversos grupos de investigadores procuram conhecer os mecanismos regenerati-vos e desenvolver técni-cas que permitam aplica-ções terapêuticas.

FACE A FACEProfessor Emérito da U.Porto e investigador da FAUP, Nuno Portas reflete sobre as políticas habitacionais, a “cida-de extensiva”, as áreas metropolitanas e a regio-nalização. Secretário de Estado da Habitação e Ur-banismo durante o PREC, o arquiteto que liderou politicamente o SAAL não vê hoje esse programa de realojamento como “a po-lítica da Revolução” nem como uma “experiência arquitetónica”.

CULTURAO cinema imersivo che-gou à cidade do Porto! Com uma cúpula nova, compatível com os mo-dernos sistemas de pro-jeção digital fulldome, e um investimento de cerca de 500 mil euros, o Pla-netário do Porto leva-nos numa viagem por dentro da “Vida - uma história cósmica”. Trata-se, aliás, do maior planetário di-gital em funcionamento no país.

VIDAS E VOLTASNo dia 3 de outubro de 1975, o Centro de Instru-ção de Condução Auto do Porto do Exército Português é encerrado. A ordem, emanada do co-mandante da Região Mi-litar Norte, Pires Veloso, pretendia pôr fim à “insu-bordinação coletiva” dos militares daquela unidade. Esta decisão deu origem a um dos episódios de maior tensão do PREC no Porto, mas fortaleceu a presença da Universidade no centro da cidade.

Page 6: UPorto Alumni #22

4

A U.Porto inaugurou, no dia 2 de julho, a

1.ª fase do Parque da Quinta de Lamas,

um espaço verde com aproximadamente

3 hectares, situado entre as faculdades

de Engenharia e de Economia (gaveto das

ruas Roberto Frias e D. Frei Vicente da

Soledade e Castro), no Polo da Asprela.

Cofinanciado ao abrigo do Convénio de

Cooperação entre a U.Porto e o Banco

Santander Totta, o primeiro parque urba-

no de uso público da Universidade teve

um custo total de cerca de 1,1 milhões de

euros e demorou quase um ano a ficar

concluído.

Antes de ser alvo da intervenção coorde-

nada pelo arquiteto paisagista e professor

associado da FCUP Paulo Farinha Mar-

ques, o conjunto de terrenos em causa

(na sua maioria propriedade da U.Porto)

incluía baldios, áreas cultivadas, edifícios

rurais (quase todos devolutos e em avan-

çado estado de degradação), edifícios

universitários, ruínas de uma antiga viela,

um parque de estacionamento improvisa-

do e uma ribeira encanada.

A somar a este cenário de baixa qualida-

de ambiental e paisagística, havia ainda

problemas de ordenamento territorial,

como a generalizada falta de unidade e

congruência do espaço urbano e a neces-

sidade de uma nova via que acomodasse

a circulação automóvel e pedonal e orga-

nizasse o estacionamento. Por outro lado,

sendo uma zona de grande concentração

humana, em particular de estudantes, tor-

nava-se gritante a carência de um espaço

de recreio e lazer ao ar livre.

Para atalhar este estendal de problemas

ambientais, paisagísticos e urbanísticos,

a anterior equipa reitoral e as anteriores

direções das faculdades de Engenharia

e Economia definiram, em conjunto com

a equipa de projetistas (na sua maioria

da FCUP e da FEUP), um programa de

requalificação urbana com as seguintes

prioridades de intervenção: projetar uma

mancha verde unificadora e promotora

da qualidade ambiental e paisagística da

zona; estabelecer uma ligação explícita

(física e visual) entre a FEP e a FEUP;

construir um novo arruamento e organi-

zar o estacionamento; proporcionar opor-

tunidades de recreio em espaço verde

(desporto informal, percursos pedonais

e cicláveis, zonas de socialização); maxi-

mizar a área permeável revestindo-a com

vegetação adequada ao uso público; ‘na-

turalizar’ a Ribeira da Asprela; redesenhar

os espaços exteriores a partir de uma

estrutura arbórea; e adotar materiais com

valor ecológico, económico e estético.

Com base nestas premissas, nasceu ago-

ra um parque urbano sobre os antigos

terrenos de uma quinta setecentista, pro-

priedade do Solar de Lamas. Parque, esse,

no qual sobressaem uma grande clareira

relvada, envolvida por uma orla arbórea.

Destaque ainda para uma alameda larga,

ensaibrada e flanqueada por dois alinha-

mentos paralelos de árvores. Há também

um novo arruamento, unindo equipamen-

tos e edifícios e regularizando o espaço

de estacionamento. Além disto, a Ribeira

da Asprela passou a correr a céu aberto,

com leito e margens naturalizados.

UPORTO ALUMNI 22NO CAMPUS

U.Porto inauguraparque para a cidade

Page 7: UPorto Alumni #22

5A vegetação do novo parque é extensa

e predominantemente arbórea. Para se

ter uma ideia, a área semeada atingiu os

18.300 m2 e foram plantadas cerca de

700 árvores e arbustos. Dominam as es-

pécies nativas, embora também existam

espécies ornamentais não invasoras.

Refira-se ainda a instalação na alameda

de um passadiço amplo, de estrutura me-

tálica e piso em madeira. E há também a

salientar a construção de muretes‐banco

em betão e de muros em alvenaria de pe-

dra, refazendo a tipologia vernácula dos

muros existentes na Quinta de Lamas.

Com este parque, a U.Porto está a pro-

porcionar à cidade um polo de recreio

ao ar livre, a promover a qualidade am-

biental do campus da Asprela e a conferir

unidade espacial, coerência urbanística,

valor estético e mobilidade acrescida a

uma zona de forte concentração urbana.

Objetivos que se enquadram na estratégia

de abertura à cidade, de interação com a

comunidade e de promoção do desenvol-

vimento local que está a ser seguida pela

U.Porto.

E foi também animada por estes propó-

sitos que, durante a cerimónia, a Univer-

sidade assinou um protocolo de colabo-

ração com a CM Porto, a Águas do Porto,

o IPP e a Porto Lazer tendo em vista a

concretização da 2.ª fase do parque. Tam-

bém o Banco Santander Totta se associou

a esta iniciativa, contribuindo para a com-

ponente de financiamento da empreitada

que cabe à U.Porto.

RMG

Foto

s E

gíd

o S

anto

s

Page 8: UPorto Alumni #22

6

UPORTO ALUMNI 22NO CAMPUS

Manuel Baganha (1922-2004) é a Figura

Eminente 2015 da U.Porto, sendo por

isso alvo de um conjunto de iniciativas de

homenagem, até ao final do ano. Do pro-

grama de eventos constam conferências,

debates, edições de livros, exposições,

entre outras ações que celebram a vida e

a obra do insigne economista.

Natural do Porto, Manuel Baganha fre-

quentou a primeira licenciatura da FEP

entre 1953 e 1958. Começava aí uma liga-

ção à U.Porto que se reforçaria a partir

de 1961, quando o economista integrou o

corpo docente da Faculdade. Até à sua ju-

bilação, em 1993, participou na Comissão

de Reestruturação da Licenciatura em

Economia da FEP (1977-1978), foi Presi-

dente do Conselho Diretivo da Faculdade

(1985-1993) e desenvolveu importantes

trabalhos científicos nos domínios da

Contabilidade de Custos, da Gestão de

Empresas e do Cálculo de Custos.

O economista distinguiu-se ainda pela

sua intensa participação cívica e cultural.

Esteve ligado ao Círculo de Cultura Tea-

tral, ao Orpheon Portuense e aos Amigos

do Coliseu, para além de ter assumido a

presidência da Assembleia Municipal do

Porto entre 1990 e 2002. Contribuiu tam-

bém para o desenvolvimento curricular de

outras instituições do ensino superior e

participou na formação e desenvolvimen-

to de várias organizações profissionais.

Foi distinguido com o grau de Grande Ofi-

cial da Ordem de Mérito, em 1995, e com

o grau de  Grande Oficial da Ordem do

Infante D. Henrique, em 1999.

PR / RMG

A U.Porto viu aprovados três projetos no

âmbito do programa Erasmus, totalizan-

do 3 milhões de euros. Desta forma, a

Universidade obteve apoio financeiro da

Comissão Europeia (CE) para fomentar a

mobilidade internacional de estudantes

de todo o mundo, objetivo que anima o

programa Erasmus.

Os três projetos aprovados foram o “Eras-

mus Tradicional”, para estudantes da

U.Porto que pretendam estudar dentro da

Europa, o “Mobile+: International Credit

Mobility”, para mobilidade fora da Europa,

e o “Work+”, um consórcio para estágios

em empresas sedeadas na Europa.

Recorde-se que, só ao longo deste ano, a

U.Porto recebeu cerca de 1.900 estudan-

tes de mobilidade, que se juntaram aos

mais de 1.600 estudantes e investigado-

res internacionais que estão já na Univer-

sidade a realizar um curso completo ou a

desenvolver atividades científicas.

Importa acrescentar, a propósito, que, se-

gundo o último relatório da CE, a U.Porto

é a 24.ª universidade europeia mais pro-

curada pelos estudantes estrangeiros que

participam no programa Erasmus.

A comunidade académica da U.Porto é

hoje constituída por 124 nacionalidades,

continuando a ser o Brasil, a Espanha e a

Itália os países mais representados numa

longa lista onde constam também o Ban-

gladesh, o Camboja, o Irão, Porto Rico ou

o Senegal, por exemplo.

PR/RMG

A U.Porto integra a bolsa de entidades

acreditadas para a prestação de serviços

no âmbito dos Vales de Internacionaliza-

ção, Inovação e Empreendedorismo do

Portugal 2020. O novo quadro comunitá-

rio prevê um conjunto de vales de descon-

to até 15 mil euros para incentivar as PME

a contratarem serviços especializados

nos domínios da inovação, empreendedo-

rismo, internacionalização e I&D. Vales,

esses, que funcionam como cheques ou

vouchers, financiando até 75% a fundo

perdido despesas elegíveis com um limite

máximo de 20 mil euros.

Antes de beneficiarem dos serviços de

consultoria da U.Porto, as empresas

devem concorrer aos vales através do

Balcão 2020 (www.portugal2020.pt) e até

março de 2016.

Para se candidatarem, as empresas têm

de apresentar uma situação líquida posi-

tiva, identificar o problema a solucionar

e demonstrar que os serviços a contratar

contribuirão efetivamente para a sua

rápida resolução. A criação de postos de

trabalho e a data de entrada da candida-

tura podem ser critérios de desempate na

atribuição dos vales.

Para aceder aos serviços de consultoria

da U.Porto nas áreas de empreendedoris-

mo, inovação e internacionalização, pode

ser usado o contacto [email protected].

RMG

3 milhões de euros para fomentar Erasmus

Manuel Baganhaé a Figura Eminente 2015

U.Porto acreditada para serviços de apoio a PME

Page 9: UPorto Alumni #22

7

Mais acessível, funcional e direcionado

para a promoção da instituição a nível

nacional e internacional, o novo portal

da Universidade nasce para facilitar a

interação com os públicos com quem ela

se relaciona, mas também para reforçar

o valor da marca U.Porto.

Na prática, esta aposta traduz-se na

disponibilização de duas formas de

navegação. A primeira está sustentada

em torno das sete áreas de informação

que compõem a estrutura principal de

conteúdos do site: Universidade, Ensino,

Investigação, Inovação, Internacional,

Cultura e Viver.

Uma outra forma de navegação passa

pelas gateways, através das quais os

diferentes públicos-alvo da U.Porto (pré-

-universitários, estudantes, estudantes

internacionais, alumni, profissionais e

empresas) podem aceder rapidamente a

um conjunto de informações relaciona-

das com os seus interesses específicos.

Uma versão otimizada para dispositivos

móveis e uma versão integral em inglês, a

estética cuidada do webdesign e a aposta

em conteúdos multimédia (ainda não

implementada na plenitude, mas que

passará pela inserção regular de infogra-

fias e conteúdos vídeo) são outras das

mais-valias do portal.

Suportado pelo sistema de informação

SIGARRA, o portal integra ainda uma se-

gunda dimensão (nível organizacional),

que  assegura o acesso a conteúdos infor-

mativos de natureza transversal a toda a

comunidade da U.Porto.

TR

O Conselho Geral, órgão de governo da

U.Porto, aprovou o Plano de Ação apre-

sentado pelo reitor, Sebastião Feyo de

Azevedo, para o seu mandato. Recorde-se

que este documento propõe um total de

179 medidas a implementar até final do

presente mandato, em 2018. Medidas,

essas, que contemplam 12 domínios de

intervenção, desde a formação e inovação

pedagógica às relações com as empresas,

inovação e empreendedorismo, passando

pela cultura, desporto e relações exter-

nas.

O Plano de Ação reafirma o desígnio

proposto pelo reitor no seu programa de

candidatura: “Tornar a U.Porto uma insti-

tuição mais moderna, sustentável, compe-

titiva e internacional; uma instituição que

cumpra de forma exemplar a sua missão

em prol do desenvolvimento de Portugal

e do fortalecimento das relações entre os

povos”.

O Conselho Geral aprovou ainda a conti-

nuação do regime fundacional, decorrido

que está o período experimental de cinco

anos estabelecido por lei para avaliação

deste modelo de governação pelas uni-

versidades constituídas em fundações

públicas de direito privado.

A decisão foi transmitida ao secretário

de Estado do Ensino Superior, José Fer-

reira Gomes, pelo presidente do Conselho

Geral, Alfredo de Sousa, que solicitou

a tomada das providências necessárias

para a extensão do regime fundacional na

U.Porto.

RMG

Desde 18 de maio que os estudantes

da FBAUP têm um espaço próprio para

exporem os seus trabalhos e a cidade do

Porto um local para descobrir o acervo da

escola que formou artistas como Ângelo

de Sousa, José Rodrigues, Júlio Resende

ou Nadir Afonso. Trata-se do reabilitado

Pavilhão de Exposições, uma sala de um

único piso com 280 m2 de superfície e

4,50 m de altura.

Após uma intervenção orçada em 400

mil euros, o Pavilhão de Exposições foi

ajustado às necessidades e expectativas

atuais, introduzindo melhores condições

de conforto, segurança e controlo am-

biental. No entanto, o projeto respeitou

e repôs as singulares características do

espaço expositivo original. Refira-se que

o Pavilhão beneficia de luz natural pro-

veniente de uma ampla janela na parede

norte e da cobertura envidraçada ao lon-

go de toda a galeria, controlada por um

sistema de lâminas ajustáveis.

O edifício encontra-se agora reabilitado

para os fins a que fora inicialmente desti-

nado: dar a conhecer o acervo do Museu

da FBAUP e revelar os trabalhos produzi-

dos pelos estudantes da Faculdade.

Para assinalar a abertura deste novo

espaço expositivo da cidade do Porto,

foi inaugurada a exposição “520 Horas”,

que reuniu obras do acervo do Museu da

FBAUP e esteve patente até 31 de julho.

RS / RMG

FBAUP reabre Pavilhão de Exposições

Novo portalda U.Porto

Conselho Geral aprova Plano de Ação do reitor

Page 10: UPorto Alumni #22

UPORTO ALUMNI 22

8

PERCURSO

RIC

AR

DO

MIG

UE

L G

OM

ES

Era ainda imberbe quando ganhou o seu primeiro prémio. E ganhou-o lá fora, no período em que viveu na Alemanha oci-

dental. E ganhou-o num concurso de desenho, levando para casa uma bicicleta. Talvez fosse já augúrio dos vários e prestigiados prémios in-ternacionais que, em três décadas de carreira, Eduardo Aires conquistaria na área do design de comunicação. Os últimos galardões foram arre-batados porque ao Porto acrescentou um ponto, como quem conta um conto. Esgravatando nos recônditos da memória, Eduar-do Aires atribui a origem do seu enlevo pelo design às visitas que o banco público alemão, o Sparkasse, fazia à sua escola primária na Renâ-nia do Norte, então na República Federal Alemã (RFA) – país onde os seus pais ensinavam Portu-guês para escaparem às agruras da ditadura, no início da década de 1970. “Sempre tive um fascí-nio por aquela marca [do Sparkasse]. Aquilo [um “S” semelhante ao do Super-Homem mas com um ponto em cima. Novo augúrio?] encantava--me. Acho que, a partir daí, percebi que a minha relação com o design era muito forte”, recorda o designer nascido no Cartaxo em 1963. Na verdade, independentemente do poder grá-fico daquele “S”, Eduardo Aires era já um puto constantemente reclinado sobre um bloco de papel, rabiscando desenhos como se não hou-vesse amanhã. Não é por isso de estranhar que, com menos de 10 anos, tenha ganho um prémio de desenho num concurso organizado por um desses bancos alemães que peregrinavam pelas escolas levando a boa nova da frugalidade e tem-perança teutónicas. “Ainda hoje a minha terapia é o desenho. Para mim, o desenho é uma espécie de templo onde me encontro e tenho tempo para a reflexão”, diz.

A passagem pela Alemanha, onde concluiu a es-cola primária, permitiu-lhe “viver na antecipação”. “Era uma sociedade mais organizada e eu bene-ficiei com isso. Quando regressei, sentia-me, não superior, mas mais à frente em relação aos meus colegas. Recordo-me de muito cedo andar de avião sozinho. E se nos primeiros tempos era uma coisa terrífica, depois passou a funcionar ao contrário, ou seja, aumentou imenso a minha confiança, a minha mobilidade, a minha capacidade de comu-nicar com as pessoas”. Além disso, “visitava mu-seus e viajava muito com os meus pais pelo centro da Europa. E isso deu-me mundo”.O regresso a Portugal dá-se em meados dos anos 70, quando Eduardo Aires já se sentia um ver-dadeiro alemão, ao ponto de, em 1974, ter vindo para a rua celebrar a conquista do Campeonato do Mundo de Futebol pela seleção capitaneada por Franz Beckenbauer. Arribou então em Coim-bra, onde tinha os avós tanto do lado paterno como materno. Os pais, esses, ficaram na RFA até ver no que é que o PREC dava. Dois ou três anos depois, Eduardo Aires já administrava so-zinho a casa dos pais, ainda que com os avós à ilharga. Isso “reforçou muito a minha autono-mia. Comecei a ter consciência da gestão da casa e da vida de uma forma muito precoce”.

ESBAP: uma “história bonita” No liceu, não vacilou ao escolher a área curricular que lhe permitia o ingresso num curso superior de Design. À época, finais dos anos 70, o design vivia ainda num relativo obscurantismo mas os pais acataram a decisão pacificamente. Assim, findo o ensino secundário, Eduardo Aires des-pede-se de Coimbra para ingressar, em 1982, na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), que, dez anos depois, deu origem à Faculdade de Belas Artes (FBAUP). Da ESBAP, que escolheu por ser a escola mais próxima da sua área de interesse, o design de comunicação, guarda “memórias muito fortes”. Destaca, a propósito, a “prática de um espírito ‘bauhausiano’ de integração das artes. Os estu-dantes de Arquitetura, Design, Pintura e Escul-tura sempre conviveram entre si e tinham aulas

“Quem conta um conto acrescenta um ponto”Provérbio popular

O DESIGNER QUE ACRESCENTOUUM PONTO AO PORTO

Page 11: UPorto Alumni #22

9

em comum. E isso fazia um caldo químico extre-mamente interessante”. Por outro lado, “a Facul-dade ainda hoje tem um campus lindíssimo, com um jardim muito bonito”. Ora, “quando somos poucos a viver intensamente um sítio belo, com muitos amigos, a história tem de ser bonita”. E mais bonita se revelou graças ao escol de artis-tas que então lecionava na ESBAP, do qual Eduar-do Aires destaca Fernando Pernes, Joaquim Matos Chaves, Dario Alves, Domingos Pinho e Gustavo Bastos. “Só tive um professor designer: Jorge Afonso, que foi um dos meus pilares, jun-tamente com Dario Alves. São as minhas grandes referências: Jorge Afonso mais ligado à compo-nente de projeto, mais cerebral, mais racional; Dario Alves mais ligado à emoção, à componente mais poética e utópica da criação. A fusão dos dois fez-me muito bem”, sublinha.Nos primeiros anos de curso, Eduardo Aires amo-dorrava nos jardins da ESBAP em transe artístico--boémio. Mas nos 4.0 e 5.0s anos despertou da le-targia e entregou-se furiosamente aos estudos, ob-tendo uma série de vintes. “Tive um aha! moment. Passei a focar o meu interesse exclusivamente na Faculdade. Jogava râguebi e futebol e deixei de o fazer. Apaixonei-me pela situação”.Mais assisado, Eduardo Aires descobriu, através de Jorge Afonso, a “Escola Suíça, o racionalismo e o funcionalismo no design. Uma componente muito cerebral do projeto, em que tudo é pensa-do ao detalhe de uma forma estratégica”, como é patente no trabalho de Emil Ruder e de Josef Müller-Brockmann. “Por outro lado, tinha as in-fluências do Dario Alves: o chamado late modern americano, com os Push Pin Studios e Milton Glaser, Seymour Chwast…”. Hoje, Eduardo Aires vai “beber a um outro mentor, Kenya Hara, que é o designer da Muji”.

Foto

s E

gíd

o S

anto

s

Ver vídeo em:http://tv.up.pt/premiums/54

Page 12: UPorto Alumni #22

10

UPORTO ALUMNI 22PERCURSO

O brilhantismo demonstrado no curso, que con-cluiu em julho de 1987, valeu-lhe o convite para participar num concurso para docente da ESBAP. Entrou e em outubro estava a dar aulas. “Não me revejo na ideia do mestre glorificado e endeusado, mas tenho gosto em dar aulas. O prazer maior é perceber que contribui para que um aluno pense o design de uma forma diferente. E acho de fac-to que consigo ensiná-los a pensar, perante um projeto, qual a metodologia que devem aplicar”. A respeito da docência, sublinha ainda que “é um processo dialético”. “Eu dou mas também recebo muito dos meus estudantes. Esta interação é ex-tremamente gratificante. Quando estou com os meus alunos, desligo completamente da minha vida profissional. E isso torna o ato de ensinar um momento muito especial. Saio espremido das aulas. Às vezes apetece-me ir ver o Beira-Mar – Campomaiorense de 1987 só para seguir a bola e não ter mais em que pensar”. No entanto, “não trabalho em função do título de mestre. Gosto, sim, de sentir que sou um professor amigo, que ajuda, que é sensível”.

Ateliê multipremiadoFeito o tirocínio na vida académica, Eduardo Aires abalançou-se no mercado como designer. Primei-ro com António Modesto, seu colega na FBAUP.

Alugaram uma sala de trabalho, “sem estatuto de ateliê”, ressalva, em que António Modesto criava ilustrações e ele dedicava-se ao design de comu-nicação. Depois, já nos anos 90, avançou final-mente para um ateliê, o Quatro Cores, em Gaia, que juntava cerca de 20 profissionais, entre eles os designers Mário Moura, Miguel Carvalhais e Rui Trindade. “Era um ateliê muito vocacionado para a componente editorial”, dado que “pratica-mente só fazíamos livros”.Contudo, “percebi que não era o meu modelo de trabalho. Comecei a sentir algum incómodo e depois entrei num registo de trabalho só com uma pessoa, num ateliê multidisciplinar chama-do Eduardo Aires Design”, conta. Mas ainda não era este o modelo ideal, por isso decidiu, no final da década de 1990, mudar o nome do ateliê para White Studio. “Percebi que faria mais sentido ter uma nomenclatura neutra, que fosse buscar con-ceitos com os quais eu estava mais ligado. Para mim, white is a starting point”.Como gosta de “ciclos na vida”, sentiu de novo a “necessidade de mudar de ares e de equipa”, que agora conta com cinco elementos. Assim, em 2013, deslocalizou da seleta Foz para a trendy mas mais barata Baixa. O seu novo estúdio está loca-lizado junto ao Mercado do Bolhão, num edifício cuja recuperação foi distinguida com o Prémio João de Almada, atribuído pela CM Porto. E, não contente, abriu ainda um escritório em Santiago do Chile e encontrou parceiros em Londres e Pa-ris. “Ao longo da minha vida, fui estabelecendo relações de amizade com muitas pessoas e essas relações deram origem a parcerias. Há um misto de aproveitamento dos canais que já tinha com a situação económica [portuguesa] e a capitalização dos prémios”, explica. Com esta internacionalização, o estúdio “ganhou visibilidade e proximidade”, assegura. “Um inglês tem alguma curiosidade mas também alguma relutância em contactar um estúdio português, sobretudo pela língua e pela distância. Tendo es-tes parceiros, tornámo-nos mais acessíveis e as pessoas contactam-nos mais facilmente”. Tanto assim que o White Studio é já bastante consulta-do para projetos internacionais, como desenhar a revista de bordo da Swissair ou o packaging de um perfume francês. De resto, estão atualmente a trabalhar na Alemanha e tiveram pedidos de co-laboração nos EUA. Eduardo Aires admite, contudo, que “o volume de

Painel com a nova identidade visual da cidade do Porto, nos Paços do Concelho.

Page 13: UPorto Alumni #22

11

trabalho [no exterior] ainda não é significativo”. Mas, “a médio prazo, vai haver frutos. Não quero esgotar energias numa corrida de 100 metros”, salienta, para logo acrescentar: “Isto [o White Studio] não é uma grande empresa: é um estú-dio que eu quero que cresça sempre pequeno. Não é o dinheiro que me motiva. É sempre o crescimento, que não tem a ver necessariamente com o crescimento económico mas sim com o crescimento em termos de valorização pessoal e com a procura de novas relações”.No ínterim do seu trabalho no White Studio, Eduardo Aires tornou-se o primeiro doutora-do em Design da FBAUP, em 2006. A tese que apresentou tinha por título “A estrutura gráfica das primeiras páginas dos jornais O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias”. O objeto de estudo deve-se a uma “paixão muito grande pela componente editorial, que desenvol-vi durante o curso”, esclarece. “Acho que a edi-ção é o verdadeiro laboratório para a prática do design de comunicação. É onde tudo se conjuga: texto, imagem e suporte. E também há a adre-nalina própria da publicação: projetamos hoje e amanhã está impresso. Este ciclo muito curto de produção é uma das particularidades do design e alimenta muito o nosso ego”. O White Studio reúne um vasto e prestigiante portfólio de projetos, alguns deles premiados internacionalmente (Graphis, Red Dot Commu-nication, Pentawards, D&AD, etc.). Para se ter uma ideia, o ateliê desenvolveu trabalhos para entidades tão idóneas como as Águas do Douro e Paiva, a Casa de Mateus, a CM Porto, os CTT, o Esporão, a Fundação Gulbenkian, a Impren-sa Nacional-Casa da Moeda, a Porto Editora ou a Fundação de Serralves. Para estas empresas e instituições, foram prestados serviços ao nível da direção de arte, da identidade corporativa, da edição, da infografia, do design de interiores, do packaging, da sinalética, da filatelia, da rotulagem e do webdesign.

Nova “Ribeira Negra”?Apesar dos inúmeros projetos marcantes de que foi autor, a criação da nova identidade visual da cidade do Porto é o trabalho mais conhecido e premiado de Eduardo Aires. Selecionada num concurso de ideias promovido pela autarquia, a marca apresenta, como assinatura, a palavra Por-to rematada com um ponto final. A ladear a as-sinatura surge um conjunto de ícones alusivos à cidade: Torre dos Clérigos, Casa da Música, caves de vinho do Porto, edifício da câmara, Sé Cate-dral… Tudo isto em branco e azul. “O Porto por si próprio tem caráter; afirma-se como uma cidade única. De tal forma que bas-tou acrescentar um ponto ao Porto. Levámos ao máximo a ideia de síntese”, explica Eduardo Aires, não deixando de revelar outros pormeno-

res sobre o processo de branding: “Na fase de discussão aqui no estúdio, por mais voltas que dessemos sobre o que era uma ideia de Porto, nós sempre dizíamos: ‘Eh pá, o Porto é o Porto e já está’. Deixem-se de tretas: o Porto justifica-se por si próprio. Não é preciso adjetivar”. Por isso, “o ‘Porto.’ é só e apenas a definição do caráter de uma cidade”. Quanto aos ícones, o designer esclarece que “fa-zem parte de uma gramática do Porto”, ao mes-mo tempo que “refletem a cidade na sua diversi-dade. O Porto de Campanhã é diferente do Porto da Foz. O Porto do Primavera Sound é um Porto diferente do Porto do futebol. O Porto expressa--se por diferentes ícones”. Aliás, a campanha começou com cerca de 20 ícones mas já vai em mais de 100. Trata-se “de um sistema aberto, que permite a entrada de novos ícones”. De resto, “a câmara está recetiva a propostas de novos ícones, se devidamente fundamentadas. Ainda há pouco tempo pediram-nos para desenhar o [Estádio do] Dragão e o coração de D. Pedro”. Tudo isto por-que “o ‘Porto.’ não é um Porto monolítico: é um Porto plural”.A marca “Porto.” foi quase unanimemente bem recebida por uma cidade que, amiúde, se revela conservadora e relutante à mudança. Para Eduar-do Aires, “as pessoas foram surpreendidas pela capacidade de síntese que aplicámos e tivemos a coragem de apresentar. Foi como se, de repente, alguém que foi gordo toda a vida se apresentasse magro, atlético e super bem vestido”. Na opinião do designer, “as pessoas cada vez mais se revêm e sentem que fazem parte do processo [de branding], e também se querem apropriar dele. Ao ponto de empresas querem adotar a imagem para elas. Já há um sentimento de pertença”, garante. Mais: Eduardo Aires admite mesmo que a marca pos-sa vir a tornar-se uma espécie de “Ribeira Negra” (painel de Júlio Resende) do século XXI. Internacionalmente, a marca “Porto.” também tem suscitado interesse e admiração, tendo até sido distinguida com alguns dos mais importan-tes prémios de design do mundo, como o D&AD (Lápis 2014), o Brandemia Award (Melhor Marca 2014) e o ED Awards 2014 (distinção “Ouro”). “Tenho tido contacto fora de portas e apercebo--me de que há um certo fascínio pela forma como a cidade foi caracterizada O modelo proposto para caracterizar a cidade é considerado realmen-te pioneiro. Fomos à essência e a partir da essên-cia começámos a crescer”, explica.

Logotipo da Sparkasse, que fascinou Eduardo Aires durante a infância vivida na RFA.

Page 14: UPorto Alumni #22

O desemprego jovem é um drama social ao qual já nem os diplomados escapam, como mostram as estatís-ticas oficiais e a recente emigração

de recursos qualificados. Para en-frentar esta situação, a U.Porto gi-

zou uma estratégia de promoção da empregabilidade. Estratégia, essa, que passa pela reconfiguração do Observatório do Emprego da Uni-

versidade, pelo reforço da oferta de formação em competências trans-

versais e pela realização de uma feira de emprego.

Page 15: UPorto Alumni #22

UPORTO ALUMNI 22

13

PORTO, CIDADE, REGIÃO

RIC

AR

DO

MIG

UE

L G

OM

ES

Em Portugal, o desemprego jovem (até aos 25 anos) é superior a 33%, quando no con-junto dos 28 Estados-membros da UE se

quedava, em março de 2015, pelos 20,9%. Acres-ce que, de acordo com o relatório Education Po-licy Outlook 2015 da OCDE, o desemprego entre os diplomados portugueses é o dobro do que se regista nos restantes países desta organização internacional: 10,5% contra uma média de 5%. Mais: o estudo Hays Global Skills Index 2014, rea-lizado pela consultora de recrutamento Hays em parceria com a Oxford Economics, revela que Por-tugal é um dos quatro países do mundo com um maior grau de desfasamento entre as necessida-des das empresas em termos de competências profissionais e os perfis disponíveis no mercado. Perante um cenário tão complexo, e consideran-do a especial responsabilidade das instituições do

Banco de Portugal, etc.), associações empresariais (AEP e no futuro a ANJE), instituições bancárias, órgãos de soberania (Assembleia da República e Forças Armadas), entre outras organizações com relevância no processo de empregabilidade. Segundo o pró-reitor da U.Porto responsável pela área da empregabilidade, Manuel Fontes de Car-valho, a abertura do Observatório a organizações externas permite “ter um feedback mais correto da realidade do emprego, cruzando os nossos da-

ensino superior na integração profissional dos seus diplomados, a U.Porto tem um curso uma estratégia de promoção da empregabilidade. Es-tratégia, essa, que passa, desde logo, pela recon-figuração do Observatório do Emprego e da Tra-jetória Profissional dos Diplomados da U.Porto, organismo a quem compete cumprir a obrigação legal de dar a conhecer o nível de empregabilida-de dos diferentes cursos da Universidade.A reformulação do Observatório implicou novos métodos, novas formas de intervenção e sobretu-do novos protagonistas. Uma das grandes inova-ções foi, justamente, a abertura do Observatório a entidades externas à U.Porto, nomeadamente ordens profissionais (advogados, engenheiros, arquitetos, etc.), associações socioprofissionais, organismos públicos (IEFP, IPDJ, INE, AICEP,

dos com dados que existem noutras entidades”, e ainda “estabelecer um quadro de cooperação mais alargado”. Desta forma, acrescenta, o Ob-servatório está também a “aproximar-se das em-presas, que são as destinatárias principais dos nossos diplomados”. O mesmo responsável acrescenta que “é impor-tante ter a sensibilidade do mercado [de traba-lho], porque muitas vezes ela escapa e sobretudo porque ela muda muitas vezes. Há 15 ou 20 anos, as competências exigidas para uma profissão eram bastantes diferentes das de hoje. Hoje as-sistimos, por exemplo, a empresas a contratarem licenciados em Filosofia ou em Psicologia para atividades de gestão”. Fontes de Carvalho ressal-va ainda que se trata de um “processo dinâmico”. “Estamos abertos a fazer parcerias com quais-

Page 16: UPorto Alumni #22

quer entidades representativas e que nos possam interessar”, garante. Com este novo perfil de banda larga, o Observató-rio procedeu, em primeiro lugar, a uma reestru-turação do inquérito dirigido aos recém-diploma-dos da U.Porto para aferir o seu nível de acesso ao emprego. Na opinião de Fontes de Carvalho, o referido inquérito “era demasiado longo em termos de questionário, o que limitava o núme-ro de respostas. As pessoas acabavam por tomar uma posição de alheamento face ao inquérito, porque este se tornava exaustivo demais”. Por conseguinte, houve necessidade de “simplificar e focar o inquérito”, tarefa realizada em conjunto com os representantes das entidades parceiras. Após várias reuniões, chegou-se a um formulário de inquérito consensual entre todos. “Não foi fá-cil, porque há particularidades que cada uma das organizações gostaria de ver contempladas”, diz.Agora, o Observatório prepara-se para realizar um novo inquérito, desta feita dirigido às em-presas. “O objetivo é ter o feedback das empresas relativamente ao entendimento delas sobre a adequação, ou não, dos currículos universitários à sua realidade e às suas necessidades. Isto é um desafio para a Universidade. E uma vez mais es-tamos a ser pioneiros”, salienta Fontes de Car-valho. “Os conselhos científicos das Faculdades necessitam de ter uma informação correta sobre aquilo que podem fazer no sentido de adaptarem a realidade dos cursos ao mercado de trabalho, de uma maneira transversal e horizontal. Se assim não for, teremos muita dificuldade para que al-guns cursos se sustentem”, acrescenta.

Formação em soft skillsPara além da dinamização do Observatório, a estratégia de promoção da empregabilidade da U.Porto contempla ainda a realização, em parce-ria com consultoras de recrutamento, de ações de formação que potenciem a integração profissio-nal. Referimo-nos quer a cursos pós-laborais de línguas estrangeiras, quer a workshops versando a gestão de carreira, as técnicas de procura ativa de emprego, o coaching, o marketing pessoal, entre outros temas relacionados com a empregabilida-de. Assim, para lá da qualificação especializada conferida nas faculdades, a U.Porto espera desta forma que, a jusante, os seus diplomados domi-nem técnicas essenciais para atrair os emprega-dores, ganhem competências transversais (soft skills) e melhorem o seu conhecimento do mer-cado de trabalho. Workshops intitulados “Como fazer o CV”, “Como promover a imagem” ou “Como falar em público”, por exemplo, conhe-ceram forte adesão dos estudantes nas primeiras edições. “Pensamos que é importante, independente-mente da formação de base, desenvolver com-petências transversais, que são hoje muito valo-rizadas pelo mercado de trabalho. As empresas valorizam, por exemplo, as experiências de mo-bilidade internacional e de voluntariado. São áreas que desenvolvem a inserção das pessoas no meio”, sublinha Fontes de Carvalho. Para este pró-reitor, “os estudantes estão muito focados na ideia de que o mais importante, para se ter acesso ao emprego, é a nota final do curso. Isso é mui-to importante, naturalmente. Mas pode não ser

14

Page 17: UPorto Alumni #22

esse o fator decisivo. Uma empresa é capaz de contratar um indivíduo que tenha tido 10 ou 11 valores [de média final de curso] em detrimento de quem teve 17 ou 18 apenas porque se mostrou, na entrevista, muito mais capaz”.Há ainda outras iniciativas deste cariz a salientar, como um projeto-piloto para proporcionar a estu-dantes selecionados a gravação de um CV vídeo, sessões informais de apresentação de estudantes a empresas e o programa Acredita-te. Esta última iniciativa “oferece aos estudantes a oportunidade de acompanharem um profissional (mentor) no seu dia a dia de trabalho”, conforme se pode ler na apresentação institucional do programa. “Ao participar neste  programa, o estudante (men-torado) tem  a oportunidade de discutir as suas perspetivas de carreira profissional com o men-tor, beneficiando do conhecimento, experiência e rede profissional daquele, mas também de en-tender a formação e as competências necessárias para o exercício da sua profissão, em contexto real”. Refira-se ainda que o programa Acredita-te prevê a organização de cinco workshops de curta duração e decorre durante cinco dias, de segunda a sexta-feira, entre as 8h00 e as 20h00.

1.ª edição da FINDE.UPA grande novidade é, porém, a realização da 1.a edição da FINDE.UP – Feira Internacional do Em-prego da U.Porto, que vai ter lugar nos dias 3 e 4 de novembro, entre as 10h00 e as 19h00, no Centro de Congressos da Exponor, em Matosinhos. O cer-tame é dirigido quer a estudantes de todas as ins-tituições do ensino superior, quer a profissionais que desejem ingressar no mercado de trabalho ou valorizar as suas carreiras, quer a empresas que pretendam recrutar diplomados, quer ainda a con-sultoras de recrutamento. Neste sentido, vão estar representadas empresas que procurem capital hu-mano qualificado (nacionais e internacionais), or-ganismos públicos de apoio ao emprego, institui-ções bancárias e agências de recursos humanos. “Para os empregadores, a feira é uma oportuni-dade de recrutamento qualificado. Para os es-tudantes e diplomados, é uma possibilidade de encontrar ofertas no mercado de trabalho, de acordo com as suas formações diretas e indiretas obtidas na Universidade”, nota Fontes de Carva-lho. De resto, está prevista a edição de um guia

da FINDE.UP com informação relevante sobre as empresas: as áreas onde operam, as vagas de emprego de que dispõem e os profissionais que procuram. Os preços para as empresas e institui-ções participantes variam entre 350 e 400 euros, consoante a data de inscrição. A médio prazo, a intenção é “evoluir para uma feira de emprego em permanência on-line”, reve-la Fontes de Carvalho. “Isso seria o desejável, e não apenas dois dias por ano. O que não quer di-zer que não se continue a fazer a feira física”, que “é importante até para o contacto direto entre as pessoas”. Mas, “se conseguirmos ter uma feira em permanência, articulando as necessidades de empregadores e diplomados, então atingimos o nosso objetivo. A dinâmica está criada”, conclui o mesmo responsável. Por opção dos organizadores, não estão previstos muitos eventos paralelos à FINDE.UP. Contudo, existe a possibilidade de realização, nas mesmas datas, no Porto, de mais uma edição da Conferên-cia Nacional Primeiro Emprego, organizada pela revista Forum Estudante. Realizada anualmente em estabelecimentos do ensino superior de cida-des diferentes, a iniciativa destina-se, em particu-lar, a estudantes finalistas, a profissionais de re-cursos humanos, a técnicos de gabinetes de saí-das profissionais de universidades/politécnicos e à comunidade académica em geral. O programa assenta num modelo de conferência com painéis temáticos, em que alguns dos maiores especialis-tas nacionais debatem o tema do emprego jovem.Importa acrescentar que será montado um ser-viço de transporte para os estudantes, o qual as-segurará ligações diretas de autocarro entre as diferentes faculdades e a Exponor. Para que este serviço cumpra os seus objetivos, os organizado-res da FINDE.UP contam com o apoio das asso-ciações de estudantes e da Federação Académi-ca do Porto, entidades que, aliás, participam no Observatório do Emprego. Será também pedida às direções das faculdades “alguma flexibilização dos horários das aulas”, revela Fontes de Carva-lho, para que os estudantes possam visitar a feira.

UPORTO ALUMNI 22

15

PORTO, CIDADE, REGIÃO

Page 18: UPorto Alumni #22

16

UPORTO ALUMNI 22EM FOCO

São 11 da manhã quando o alarme soa para o início do trabalho de parto. Mede. Puxa. Desata. Corta. Cose. Tudo se pre-

cipita em poucos minutos, o tempo necessário até o recém-nascido se revelar por entre as batas brancas que se encavalitam nervosamente à vol-ta da marquesa. Foi rápido. Demasiado rápido. “Na vida real pode demorar várias horas”, alerta o obstetra Diogo Ayres de Campos, segurando na mão um Nenuco de última geração e medin-do com a outra o pulso aos estudantes do 5.0 ano da cadeira de Ginecologia e Obstetrícia. Es-tamos na sala de partos do Centro de Simulação Biomédica (CSB) da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), espaço onde os futuros médi-cos aprendem diariamente a entubar, a aneste-siar, a realizar manobras de suporte básico de vida, mas também a trabalhar em equipa, entre outras “habilidades” adquiridas com a ajuda de bonecos e simuladores. Medicina de brincar?

TIA

GO

RE

IS /

RA

UL

SA

NT

OS

Partos simulados com bonecos, estudar engenharia no Youtube, aulas de desenho numa galeria de arte virtual… Estas são algumas das inovadoras experiências de ensino e aprendizagem que estão a trazer o século XXI às salas de aula da U.Porto. Fomos desvendar o futuro às nossas faculdades e, no caminho, descobrimos com quem e como se está a fazer a “revolução pedagógica” na Universidade. Um admirável mundo novo liderado pelas unidades orgânicas e apoiado pela Pró-Reitoria para a Inovação Pedagógica.

ESTÁ EM MARCHA UMA REVOLUÇÃO PEDAGÓGICA

Foto

s E

gíd

o S

anto

s

Page 19: UPorto Alumni #22

17

Nada disso. Pela terceira vez no CSB, Hélder Teixeira realça que “participar nestas simula-ções é fundamental para experimentar situa-ções que, por muito que se treine na teoria, só na prática é que conseguimos vivenciar”. Mais: “Aqui pode-se treinar as decisões de forma o mais real possível e de modo a reduzir o erro médico. Estamos a falar de competências que podem fazer a diferença entre a vida e a mor-te”, defende a diretora da FMUP, Maria Amélia Ferreira.A sentença ecoa ao longo de 300 m2 distribuí-dos por consultórios, salas de simulação avan-çada, uma sala para treino de situações de emer-gência, entre outras valências apetrechadas como se de um hospital real se tratasse. Desde a sua criação, em 2003, o primeiro centro de simulação constituído  por uma escola médica portuguesa (hoje existem oito, um dos quais no ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas Abel

Salazar) já recebeu mais de 3.200 estudantes. Juntos, protagonizam uma parte importante da história de sucesso que a FMUP tem vindo a escrever na última década. A ideia é tão sim-ples quanto ambiciosa: aplicar o que de mais inovador se faz ao nível da aprendizagem mé-dica, numa lógica que, segundo Maria Amélia Ferreira, pretende “envolver cada vez mais os estudantes num processo de ensino e apren-dizagem ativa”, integrando “competências que durante muito tempo não foram consideradas primordiais”. Quais? “Saber pensar, saber usar a informação e saber comunicar”. Não é fácil definir o movimento que, saindo por momentos da sala de partos da FMUP, se expande hoje para as restantes faculdades da U.Porto e se enraíza na nova matriz de ensino e aprendizagem que a Universidade vem pro-curando concertar. Esqueça (quase) tudo o que sabe sobre o ensino marcado a giz, acetatos mo-

Page 20: UPorto Alumni #22

18

UPORTO ALUMNI 22

nocromáticos e anfiteatros sonolentos. Neste ad-mirável mundo novo dominam os simuladores, os quadros telecomandados, as salas de aula on-line e uma nuvem de conceitos como e-learning, blended learning ou soft skills. A maior mudança vive-se, contudo, nos protagonistas. “O grande desafio que enfrentamos hoje, e que Bolonha aju-dou a evidenciar, passa por transformar o nosso modelo de aulas num modelo de ensino e apren-dizagem cada vez mais centrado no estudante. Eu hoje, quando tenho de dar uma aula, não es-tou preocupado com o que vou dar, mas com o como vou dar a aula, de forma a atrair o interesse dos estudantes“, sintetiza Fernando Remião, pró--reitor da U.Porto para a Inovação Pedagógica.

Não faltam exemplos da “revolução pedagógica” que se vive na U.Porto, mas as melhores práticas são reconhecidas anualmente com o Prémio de Excelência Pedagógica, um galardão – no valor de cinco mil euros – instituído pela Reitoria no ano letivo 2012/2013 para distinguir as expe-riências educativas de excelência desenvolvidas pelos docentes da Universidade.Na edição deste ano, o Prémio foi partilhado por dois projetos que ajudaram a melhorar os resulta-dos dos estudantes de primeiro ano nas faculda-des de Engenharia (FEUP) e de Economia (FEP). Quando Paulo Vasconcelos e Sofia Castro Gothen assumiram a tutela da unidade curricular Mate-mática I do primeiro ano de Gestão da FEP, esta era uma das mais “temidas” cadeiras do curso.

Em vez de resignarem às tradicionais dificulda-des no ensino da Matemática, os dois professores optaram por reformular as estratégias pedagógi-cas, de forma a motivar e a tornar os estudantes parte essencial da sua aprendizagem. Para cum-prir esse desígnio, recorreram a uma estratégia de blended learning, onde as aulas e os períodos de orientação tutorial são complementados com materiais de leitura, exercícios e fóruns de de-bates no Moodle. A nova estratégia rapidamente deu frutos e, nos últimos três anos letivos, pe-ríodo em que foi colocada em prática, a unidade curricular registou uma taxa de aprovação de 88% entre os estudantes avaliados.Um sucesso premiado pela U.Porto que é parti-lhado por Armando Jorge Sousa e Manuel Firmi-

no Torres, pelo trabalho desenvolvido no “Projeto FEUP”. A completar dez anos de existência, esta é provavelmente uma das unidades curriculares mais singulares da Universidade: conta com mais de 1.000 estudantes todos os anos, faz parte do currículo de todos os cursos da FEUP e a primei-ra semana do primeiro ano é-lhe inteiramente dedicada.O propósito do “Projeto FEUP” é precisamente ajudar a integração dos estudantes recém--chegados à faculdade, através de um conjunto de atividades pedagógicas que dão a conhecer os principais serviços disponíveis e prestam for-mação inicial nas soft skills (trabalho em equipa, comunicação, entre outros) necessárias ao per-curso académico e profissional dos estudantes.

Na FMUP, a estratégia montada pelo Departa-mento de Educação e Simulação Médica define--se logo à entrada do estudante na faculdade, com a indicação de um professor/tutor que assegura a sua integração no curso. E prossegue nos anos se-guintes, num modelo de ensino que privilegia o contacto próximo com a realidade clínica, por via da resolução de casos clínicos reais ou das visitas regulares ao vizinho Centro Hospitalar de São João, a integração dos estudantes em atividades de investigação logo nos primeiros anos do curso ou a possibilidade de assumirem o papel de mo-nitores em disciplinas básicas. Pelo meio, podem participar em formações sobre gestão de ansie-dade ou de stress. Nada é feito ao acaso. “Cada atividade nasce numa lógica de investigação-ação e resulta de avaliações que permitem identificar e corrigir os pontos fracos do curso”, refere Maria Amélia Ferreira.Ao chamamento da diretora acorre “toda a facul-

dade”. Dos departamentos aos estudantes, sem esquecer os não docentes, aos quais está reserva-do o papel de doentes simulados num programa que visa “recriar situações clínicas que o estudante tem que enfrentar, como, por exemplo, dizer a al-guém que o filho tem uma leucemia aguda e vai morrer”. E os professores, a quem a FMUP dis-ponibiliza um conjunto de métodos e práticas de ensino e avaliação adaptados ao seu perfil. “Cerca de 80% dos nossos docentes são médicos e quem está a implementar estas atividades são pares que conhecem as suas necessidades. Por outro lado, há a perceção de que o que está ser feito lhes pro-porciona uma maior qualidade no trabalho”. Primeira lição a reter sobre inovação pedagógica: todos ficam a ganhar.

Luzes, câmara, ação…Foi essa convicção que, há dois anos, levou a Fa-culdade de Engenharia (FEUP) a “transferir” as

EM FOCO

PREMIARA EXCELÊNCIA

O Reitor da U.Porto ladeado pelos vencedores do Prémio Excelência Pedagógica 2014/2015.

Page 21: UPorto Alumni #22

19

salas de estudo para… o Youtube. O pretexto foi o Vincere, um projeto dinamizado pelo Laborató-rio de Ensino e Aprendizagem (LEA) da FEUP e apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, que desafiou os docentes da faculdade a produzirem pequenos vídeos educativos sobre conceitos di-versificados da engenharia. Desde o lançamento, em agosto de 2013, o canal do projeto já acolheu 107 vídeos, aos quais o estudante pode aceder quando quiser para, em poucos minutos, apren-der a calcular o máximo divisor comum a partir do Algoritmo de Euclides, ou estudar as leis de Newton com a ajuda de animações tridimensio-nais. Mais de 150 mil visualizações depois, os re-sultados “mostram que quem ganha mais com estas ferramentas são os estudantes mais fracos”, revela Paulo Garcia, coordenador do LEA.A palavra “laboratório” não podia assentar me-lhor no organismo criado em 2008, em parceria com o Centro de Investigação e Intervenção Edu-cativa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP), para desenvolver e promo-ver as boas práticas pedagógicas na FEUP. Lição n0 2: “A inovação pedagógica existe enquanto há ensino. O que nos deve interessar é fazer coisas que tenham suporte científico, associando a isso uma cadeia de conhecimento e de eficácia”. Na prática, a máquina do LEA inclui o apoio a ativi-dades letivas desenvolvidas pelos docentes, como é exemplo o premiado Projeto FEUP (ver caixa). Na equação entra ainda a organização de eventos, projetos e formações para professores, mas tam-bém para estudantes dos programas doutorais da FEUP, com quem o laboratório vem trabalhando um portfólio de competências transversais tes-

tadas já este ano na organização do I Congresso Doutoral Português de Engenharia. A tudo isto junta-se o site do LEA, “uma janela para o ensi-no na FEUP” que reúne mais de uma centena de publicações produzidas pelos docentes na área da Educação em Engenharia. Dali, a paisagem revela muito mais do que o labi-rinto de blocos modulares que servem o campus da faculdade. Para isso concorre “uma cultura muito própria de exigência mas também de pro-ximidade entre docentes e estudantes”. À dimen-são humana, Paulo Garcia soma “o aspeto tecno-lógico, que é muito desenvolvido na FEUP e está associado a grande parte da inovação que é hoje feita no ensino, muito mediado pelo computador e por plataformas a que os estudantes se ligam para ver vídeos, consultar os conteúdos dados nas aulas ou fazer exercícios”.

Estudantes ao poder!Nos antípodas do mundo binário da FEUP, Sílvia Simões aplica a receita tecnológica para inovar a dinâmica das aulas de Desenho da Faculdade de Belas Artes (FBAUP). “O que acontece na práti-ca artística é que os estudantes, em contexto de ateliê, partilham as suas imagens e todos veem o que é feito. Mas quando vamos para a parte teóri-ca, cada um fica fechado a trabalhar na sua área”. Solução? “O que eu faço é criar um banco de ima-gens dinâmico em que os estudantes podem par-tilhar os seus portfólios online, assim como ima-gens de artistas que eles acham que podem ter interesse para a disciplina. O facto de poderem colocar imagens deles e dos artistas de quem eles gostam é muito mais motivador do que se forem

Aprender a trabalhar com o Moodle, a colocar a voz ou a manter uma postura correta nas aulas. Desde o passado mês de maio, es-tes são apenas alguns dos motivos que têm levado os professores da U.Porto de volta aos bancos da Universidade, através de um programa diversificado de formações pedagógicas organizado pela Unidade de Melhoria do Ensino e Aprendizagem (MEA) da U.Porto. Com esta inicia-tiva pretende-se ajudar os docentes a renovar as suas práticas de ensino, permitindo-lhes contactar com novas abordagens pe-dagógicas (metodologias de dinamização das aulas, mecanismos de avaliação, aplicação das novas tec-nologias, etc.) e trabalhar competências pessoais essenciais dentro da sala de aula. Logo os primeiros cursos contaram com lo-tação esgotada, revelando uma “resposta excelente” que, para o pró-reitor Fernando Remião, é ape-nas um primeiro passo. “Temos que caminhar num sentido em que não haja ninguém que seja profes-sor na Universidade sem ter tido formação pedagó-gica. Ou, pelo menos, que lhe seja muito desconfor-tável não ter esse tipo de competências”.

APOSTAR NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA

Page 22: UPorto Alumni #22

20

UPORTO ALUMNI 22

Pró-reitor da U.Porto para a Inovação Pedagógica e Desporto desde 2014, Fernando Remião é um dos rostos da revolução em marcha no ensino da Universidade. Em pouco mais de um ano, liderou a criação da Unidade para a Melhoria do Ensino e Aprendizagem (MEA), um grupo que junta professo-res, investigadores, técnicos e estudan-tes na promoção de projetos que con-tribuam para a excelência pedagógica da Universidade. O investimento na formação de professores e o reconhe-cimento das boas práticas são outros eixos desta estratégia.

Porquê esta preocupação com a inovação pedagógica?Ela nasce da constatação de que a exi-gência de um docente perante a sala de aula é hoje muito maior do que há 10 ou 20 anos. O mundo mudou, os estu-dantes mudaram e os excelentes profes-sores de antigamente, hoje, poderiam não ser tão excelentes quanto isso. Isto obriga-nos a encarar a pedagogia como um pilar estratégico da Universidade, à semelhança do que se fez há 20 anos com a componente científica.

Como é que Pró-Reitoria para a Inovação Pedagógica se enquadra nessa estratégia?Nós não queremos inventar nada, mas sim desenvolver ações que até já podem existir a nível local, nas faculdade, dar--lhes visibilidade e torná-las em algo transversal dentro da Universidade.

Que desafios é que traz esta mudança de paradigma?O grande desafio passa por transformar o modelo de aulas que temos num mo-delo de ensino e aprendizagem cada vez mais centrado nos estudantes e adap-tado às suas necessidades. O estudante tipo que entra na Universidade vem habituado a que o docente debite os co-nhecimentos que vai depois reproduzir no exame final. Mas depois temos os es-tudantes mais velhos e outros que estão na aula com um computador a checkar tudo o que o professor diz. Promover a autonomia neste quadro de diversidade é um dos maiores desafios que se colo-cam aos nossos professores. Por outro lado, isto obriga-nos a desen-volver outras competências importantes para a formação dos estudantes, que é uma área em que a Universidade tem de

conteúdos impostos pelos professores”.A gestão da galeria virtual é apenas uma das razões pelas quais o computador da também presidente do Conselho Pedagógico da FBAUP raramente encerra. O grande culpado é o Mood-le, uma plataforma online de gestão de aprendiza-gem adotada pela U.Porto desde 2006 e que ofe-rece aos docentes diversas funcionalidades para melhorar a prática pedagógica.  O “menu”, que só em 2014/2015 foi aplicado em 1.886 unidades curriculares da Universidade, inclui também a possibilidade de partilhar documentos, receber e comentar os trabalhos dos estudantes, aplicar testes com correção instantânea, ou comunicar com a turma através de fóruns e referendos. “Faço quase tudo online”, atira Sílvia Simões, remetendo o resto para “um acompanhamento muito individualizado do estudante, dentro e fora da sala de aula”.Foi também com a ajuda do Moodle que Pedro Moreira descobriu parte do “segredo” para mo-tivar os estudantes da cadeira de Alimentação e Nutrição Humana da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP). Ali não bas-ta ouvir o professor e tirar apontamentos para o exame. Em vez disso, opta-se por “dar ao estu-dante a autonomia e o gozo de descobrir por si a história que até aqui era o professor que conta-va”. Como? “Num processo clássico de aula teóri-ca eu posso contar uma história em 20 segundos. Em alternativa, propomos um modelo em que é dado um problema ao estudante e depois vamo--lo conduzindo até à descoberta da resposta”, ex-plica o diretor da FCNAUP.

A metodologia, implementada nas aulas teóricas e práticas, inclui a participação dos estudantes em estudos de caso e discussões em grupo, a re-solução de exercícios sob pressão, privilegiando ainda aspetos como a comunicação ou o trabalho em equipa. O trabalho feito dentro da sala é com-plementado pelo envolvimento em atividades de investigação e projetos extracurriculares promo-vidos pela faculdade. O resto passa pelo compu-tador, de onde o estudante pode aceder a filmes sobre a informação dada nas aulas, interagir com especialistas de todo o mundo por videoconfe-rência e aceder a ferramentas de blended learning (combinação do ensino presencial com o ensino à distância). Contas feitas, “o estudante que se preocupa em aprofundar este processo ganha competências de autoaprendizagem e de pensa-mento crítico, o que nos conduz a uma realidade em que o mais importante não é o saber mas a aprendizagem pelo saber fazer”, sentencia Pedro Moreira.A máxima, aprovada pelos estudantes através dos inquéritos pedagógicos promovidos anualmente pela U.Porto, expande-se “de uma maneira na-tural” ao resto da faculdade. Estará a revolução consumada? “Se esta estratégia resulta num pro-cesso de grande beleza, é também muito mais exigente na medida em que implica uma perda de protagonismo do docente”, trava Pedro Morei-ra, para quem “é preciso vários anos para interio-rizar esta mudança de paradigma”.Lição n0 3: a revolução não se faz da noite para o dia. No caso da U.Porto passa também por…

EM FOCO

EN

TRE

VIS

TA

“Se não fizermos esta revolução, daqui a 10 anos seremos irrelevantes”

Page 23: UPorto Alumni #22

21

dar passos largos. Falamos de competên-cias sociais, que podem ser trabalhadas através da participação em programas de voluntariado. Falamos da prática des-portiva, que é importante para promover o bem-estar do estudante. Falamos de competências ao nível da liderança, do empreendedorismo e ainda das compe-tências científicas, em que já tem havido um grande investimento nos últimos anos.

Que papel cabe aos docentes neste processo? Os professores têm que se aperceber que há soluções diferentes de ensinar, que passam por exemplo pela integração das tecnologias educativas. Os estudan-tes hoje em dia nascem agarrados a um telemóvel ou a um tablet. Imagino o que seja alguém entrar daqui a 5 ou 10 anos na Universidade e ter um professor

que não sabe trabalhar com estas fer-ramentas. Por outro lado, se virmos os currículos dos docentes, geralmente há 90 páginas para a componente científica e dez, se tanto, para a pedagógica. Isto tem e está a mudar, até porque o que acontece é que temos cada vez mais currículos científicos excelentes e onde se começa a ver a diferença é na questão pedagógica.

O que está a ser feito para mobilizar os professores?Os professores têm que sentir que este esforço é reconhecido pela Universidade e é fundamental para responder aos desafios que enfrentam diariamente. A esse nível, temos vindo a lançar um conjunto de formações diversificadas para professores [ver caixa]. Temos o Prémio de Excelência Pedagógica [atri-

buído desde 2013] e um site (http://ino-

vacaopedagogica.up.pt) onde registamos

as ações de formação que os docentes

fazem. E depois há o reconhecimento

dos estudantes, através dos inquéritos

pedagógicos, que são uma ferramenta

importante para avaliarmos o que está

a ser feito e o que pode ser melhorado.

E aqui importa dizer que se tem vindo a

desmontar o mito de que só são premia-

dos os docentes mais facilitadores ou

populares. Hoje os estudantes valorizam

a exigência e a inovação.

Qual é o risco desta estratégia falhar?

O preço a pagar é a Universidade tornar-

-se irrelevante daqui a dez anos em ter-

mos pedagógicos, como se teria tornado

a nível científico se continuasse a ter as

mesmas competências de há vinte anos.

Inovar em redeUm ensino focado no estudante, liderado por professores mais preparados e enriquecido com tecnologias que prolongam a aprendizagem para lá da sala de aula. O “manual” de inovação peda-gógica da U.Porto vai ganhando forma mas não fica completo sem o apelo que chega da Reitoria. “A ciência evoluiu como evoluiu na Universidade porque as pessoas começaram a colaborar. Te-mos que fazer o mesmo em termos pedagógicos e a esse nível já há vários exemplos interessantes que temos de transformar numa bola de neve”, desafia Fernando Remião. A resposta traduz-se hoje na oferta formativa da U.Porto, preenchida por dezenas de cursos resul-tantes da colaboração entre várias faculdades. Ou então em iniciativas como o “Par em Par”, um pro-grama iniciado em 2010, cujo conceito – já expor-tado para outras universidades – assenta na criação de grupos de docentes de diferentes faculdades que assistem e avaliam as aulas uns dos outros.Entretanto, a bola de neve “ameaça” o resto da Universidade. Na FMUP prepara-se o lançamento do mestrado em Educação Médica e Clínica, fruto de uma parceria pioneira que envolve também a FCNAUP, a FPCEUP, as faculdades de Medicina Dentária, Desporto, Farmácia e o ICBAS. Mas há também “casamentos” improváveis, como o que decorre no âmbito do Laboratório de Gestão de Projetos (LGP), uma unidade curricular da FEUP que todos os anos junta estudantes do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computa-ção e da licenciatura em Design de Comunicação da FBAUP na criação de aplicações informáticas

para empresas. “Num contexto em que os estu-dantes são muito mais exigentes na escolha da universidade, a U.Porto só tem a ganhar quando há uma resposta que envolve o melhor que existe nas faculdades”, destaca Paulo Garcia.Habituada a partilhar as técnicas do Desenho com médicos, cientistas e arquitetos, Sílvia Si-mões nota, porém, que “a Universidade ainda é muito fechada e faltam mais espaços de diálogo”. Para a docente da FBAUP, esse não é o único obs-táculo a erguer-se na frente de batalha: “Não po-demos pensar num modelo de ensino único para todas as faculdades. Esta revolução só faz sentido se houver diversidade e respeito pela diferença”.O recado é partilhado por Maria Amélia Ferreira da FMUP, para quem o futuro terá de passar pela “valorização da atividade docente” e pela coabita-ção de “ grandes investigadores ao lado de gran-des pedagogos”. Ao caldeirão de inovação, Pedro Moreira junta a necessidade de se “democratizar o ensino” através da aposta no ensino à distância, área que, já em 2015/2016, será enriquecida com o lançamento global do primeiro Curso Online Aberto e Massivo  (MOOC) da U.Porto. Curso, esse, que pode ser frequentado através da inter-net a partir de qualquer parte do mundo, com gestão própria de horários e de forma gratuita.Enquanto o futuro se vai desenhando no hori-zonte, Maria Amélia Ferreira deixa a sentença: “A Universidade tem que se afirmar como uma instituição de aprendizagem e, a esse nível, a inovação pedagógica constitui uma oportunidade muito grande”. O mote está lançado. A revolução, essa, segue dentro de momentos…

Pró-reitor da U.Porto,Fernando Remião

Page 24: UPorto Alumni #22

22

Page 25: UPorto Alumni #22

23

Mónica Sousa, bioquímica, lidera o gru-po de Regeneração Nervosa do Insti-tuto de Biologia Molecular e Celular

(IBMC). Depois ter trabalhado sobre doenças neuro-degenerativas do sistema nervoso periféri-co, o seu grupo tem-se dedicado à investigação do sistema nervoso central, tomando como modelo as lesões na medula espinal.As suas explicações sobre o contexto biológico em que exerce o seu trabalho são claras e preci-sas; damos-lhe a palavra: “Durante o desenvol-vimento embrionário, os neurónios começam por ser células esféricas, simétricas, que a dado momento desenvolvem um prolongamento – o axónio. Este filamento nervoso, por sua vez, en-trará em contacto com outras células para rece-ber ou transmitir informação. Mas, no sistema nervoso central (SNC) adulto, quando o axónio já está formado, essa capacidade de desenvolvimen-to deixa de existir”. Assim, não surpreende que qualquer lesão ou doença que afete este sistema se revele de tão difícil recuperação. E aponta uma possível solução: “Se conseguirmos perceber o que acontece no desenvolvimento embrionário, saberemos que fatores têm de ser induzidos ou reprimidos para que o crescimento axonal, após uma lesão ou uma doença, volte a ser possível”.De forma contrária, o sistema nervoso periféri-co (SNP) mantém a sua capacidade regenerativa. Foi, aliás, um dos trabalhos de investigação do grupo de Regeneração Nervosa que revelou um mecanismo deste processo. “Se olharmos para a estrutura neuronal, com o seu corpo celular es-férico e o prolongamento axonal, notamos que todas as proteínas, todos os sinais são produzi-dos na esfera, sendo depois transportados até pontos distantes do axónio; nós observámos que,

no SNP, após uma lesão, o transporte de orga-nelos e proteínas ao longo do axónio aumentava muito”. Este transporte de componentes celula-res indicia mecanismos de reparação que não se verificam em axónios do SNC, “que parecem não ter a mesma capacidade de sentir e responder a uma lesão”.

InibiçãoMónica Sousa nota que “o ambiente extracelu-lar no SNC é muito hostil: a bainha de mielina [substância isolante fundamental para a trans-missão do impulso nervoso] que envolve o axónio é altamente inibitória do processo de regenera-ção. Após uma lesão, a mielina sela o ambiente e funciona como uma barreira física e química ao crescimento do axónio”. Cumulativamente, na terminação nervosa, grandemente pela ação de astrócitos – células inflamatórias –, forma-se uma cicatriz, a cicatriz glial, “que é outra barreira que isola o local da lesão. No SNP, também existe mielina, mas as proteínas que a compõem não são tão inibitórias quanto as do SNC, permitindo a regeneração neuronal”.Fundamentalmente, os trabalhos do grupo de Regeneração Nervosa – e será talvez essa a prin-cipal importância desta descoberta – permitiram perceber que não é só o ambiente extracelular que é diferente, mas que o próprio neurónio res-ponde de forma diversa conforme seja do SNC ou do SNP. Ora, para além dos problemas provoca-dos por lesões nervosas, existem várias doenças neuro-degenerativas que estão relacionadas com problemas de transporte axonal, pelo que os da-dos do grupo de Mónica Sousa “contribuem para fortalecer a hipótese de que, se conseguirmos identificar alvos relacionados com este transpor-

PA

UL

O G

US

O G

UE

DE

S

As lesões ao nível da espinal medula, assim como as doenças neuro-degenerativas, com o seu alto grau de incapacitação funcional, parecem querer testar os limites do conhe-cimento humano sobre o seu próprio corpo e também a capacidade de intervenção das ciências da saúde. Se alguns investigadores se dedicam ao desenvolvimento de comple-xos – e dispendiosos – sistemas de movimentação artificial, outros procuram soluções mais orgânicas que se baseiam na capacidade humana de autorreparação. Em dois ins-titutos da U.Porto (IBMC e INEB) diversos grupos de investigadores procuram conhecer os mecanismos regenerativos – nesse processo revelando a complexidade funcional do sistema nervoso – e desenvolver técnicas que permitam aplicações terapêuticas.

UPORTO ALUMNI 22INVESTIGAR

Page 26: UPorto Alumni #22

24

UPORTO ALUMNI 22

te, poderemos potenciar a forma como as proteí-nas e os organelos são transportados ao longo do axónio, agindo sobre a capacidade de regeneração neuronal”.Outra das descobertas importantes deste grupo liga-se ao funcionamento do esqueleto celular – o citoesqueleto –, responsável pela forma das célu-las e por auxiliar o seu movimento. “A secção ter-minal de um axónio em desenvolvimento chama--se cone de crescimento, e tem uma forma que faz lembrar uma mão; esta extremidade tem que ser muito dinâmica, sentindo e interpretando de forma continuada o ambiente para determinar a direção do seu crescimento. Esta sinalização é dada por moléculas-guia de carga negativa e po-sitiva, sendo o citoesqueleto muito importante para as interpretar”.Entre os componentes do citoesqueleto encon-tramos os microtúbulos, que, continua Mónica Sousa, “são a estrutura que ‘empurra’ o axónio para a frente. Até há pouco tempo, defendia-se que os microtúbulos tinham de ser uma estrutu-ra muito estável. E, efetivamente, no axónio esta estrutura é estável. Mas nós demonstrámos que no cone de crescimento esta estabilidade não se pode manter e que só em cones de crescimento com microtúbulos muito instáveis é que o cres-cimento acontece de uma forma ótima”. A inter-venção sobre os mecanismos de crescimento des-tes microtúbulos poderá ser uma das formas de permitir ultrapassar a barreira formada pelo am-biente inibitório extracelular e pela cicatriz glial.O âmbito da atuação do grupo de Regeneração Nervosa situa-se claramente no da investigação fundamental: afinal, a compreensão dos me-canismos finos que permitem ou potenciam o crescimento neuronal. Contudo, isto não signifi-ca que a aplicação terapêutica do que descobrem esteja excluída dos seus horizontes; pelo contrá-rio, é procurada ativamente na colaboração com outros grupos de investigação.

Materiais guiaAna Paula Pêgo orienta o grupo de Biomateriais para Neurociências do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB). A sua formação de engenhei-ra orienta-a para a construção de soluções eficien-tes, e a ligação do seu grupo a projetos conjuntos com o grupo de Regeneração Nervosa é enten-dida como uma relação de complementaridade. Candidamente, Mónica Sousa reflete: “Eu quero

perceber coisas mais pequeninas e ela quer inter-vir. O trabalho conjunto dos dois grupos é mais competitivo, mais visível”.Tal como os seus colegas, o grupo de Biomate-riais para Neurociências tem vindo a deslocar a sua atenção do sistema nervoso periférico para o sistema nervoso central, particularmente para processos de regeneração de lesões sofridas na medula espinal. “O nosso grande contributo tem sido na área do desenvolvimento de biomateriais que permitam simultaneamente guiar o crescimento neuronal, criar um ambiente favorável a esse crescimento e servir de suporte para a administração de fárma-cos, de ácidos nucleicos para terapia genética e, até, para o transplante de células estaminais neu-rais para a medula espinal”. É, sem dúvida, um programa ambicioso, mas Ana Paula Pêgo está confiante: “Se bem que a nossa ação ainda esteja num nível pré-clínico – ou seja, testamos estas estratégias em modelos animais –, estou convic-ta de que no futuro este tipo de intervenção será mais comum”. O tipo de materiais com que o grupo trabalha “são materiais poliméricos, constituídos ao nível molecular por unidades de repetição de compos-tos que temos no nosso corpo, de forma que não sejam rejeitados e se degradem, por exemplo, em água, dióxido de carbono ou, no caso dos mate-riais específicos que temos vindo a utilizar, ácido caproico. São elementos que podem ser proces-sados pelo corpo humano sem impacto negativo, tornando desnecessária uma segunda interven-ção para retirar o dispositivo que se implantou”. Outra característica importante destes materiais é a flexibilidade: um dos trabalhos do grupo de-monstrou a existência de uma rigidez ótima para o crescimento do axónio. Ana Paula Pêgo faz notar que “as propriedades mecânicas de cada material não são indiferentes para a resposta a nível celular. No tecido nervoso, a própria matriz cicatricial tem propriedades mecânicas diferen-tes dum tecido normal, o que faz com que a res-posta celular seja negativa. Daí a importância de desenvolver materiais com propriedades que se adequam ao tecido que estamos a tratar”.Ainda em fase de preparação de publicação, um dos recentes trabalhos in vivo do grupo ilustra a sua forma de abordar o problema: depois de ter sido efetuada uma transecção completa da me-dula espinal de um ratinho, tornando-o paraplé-gico, procedeu-se à implantação de um tubo guia onde foram transplantadas células estaminais neurais num meio de hidrogel, para garantir um ambiente favorável. Os resultados foram encora-jantes: “Aquilo que observámos foi a existência de regeneração nervosa ao longo desse tubo, e que ela ultrapassa a zona da lesão quer no sen-tido descendente quer ascendente. E registámos

INVESTIGAR

01 Neurónio sensorial em cultura (foto IBMC)

02 Ana Paula Pêgo

03 Meriem Lamghari

04 Mónica Sousa

02

01

03

04

Page 27: UPorto Alumni #22

25

melhorias funcionais no animal. Se bem que este modelo de transecção completa não seja clinicamente provável – raras vezes se assistirá à completa remoção de 4 mm da medula espinal –, assim tivemos a certeza de que qualquer re-generação seria efetivamente resultado do nosso material e do ambiente permissivo que criámos”.

Questões e esperançasOs problemas relacionados com a formação da cicatriz glial e a hostilidade do meio extracelular à regeneração neuronal no SNC estão certamen-te longe de estar ultrapassados, mas podem ter razões para existir. O que explica, afinal, o dife-rente comportamento do SNP? Porque é que a capacidade regenerativa que existe num sistema é biologicamente negada ao outro? Mónica Sousa reflete que “há muitas teorias sobre a razão pela qual se terá evoluído para um sistema deste tipo. Mas a impossibilidade da regeneração pode ser um benefício, porque uma regeneração anormal pode ter consequências negativas, como a exis-tência de dor e de disfunções de vários tipos. Será este mecanismo uma salvaguarda contra a intro-dução do erro nestas células altamente especiali-zadas? Não sabemos”.Por outro lado, mesmo admitindo que – recor-rendo a biomateriais e a terapias combinatórias – seja possível ultrapassar a zona da lesão e pro-mover o crescimento axonal, conseguir-se-á uma verdadeira recuperação funcional? O crescimen-to orientado por estímulos – o tropismo – que se verifica durante o desenvolvimento embrionário poderá ter a mesma tradução em sistemas adul-tos? Por isso mesmo, adverte Ana Paula Pêgo, “a rea-bilitação é tão crítica: em lesionados, o músculo não se movimenta porque não tem inervação e, logo, não está comandado. Ora, o movimento do músculo cria sinais de tropismo para o cres-cimento axonal. Por outro lado, tendo em aten-ção a extensão que um só neurónio pode atingir, promover o crescimento nesta distância é certa-mente um desafio muito grande. Mas uma pe-quena regeneração pode fazer uma grande dife-rença. Por exemplo, conseguir que um paciente controle a sua bexiga, permitindo a redução da incidência de infeções urinárias. Não estamos, aqui, a falar apenas de uma questão de qualidade de vida, mas de situações que põem em risco a própria vida do doente”.

Depois de alguns períodos isolados – com algu-ma incidência nos cenários pós guerra – de re-novação do interesse na investigação em regene-ração do sistema nervoso central ou em outras terapias que permitam alguma recuperação fun-cional de lesionados, o estado atual da situação ainda espelha a dificuldade de intervir nesta área. A nível clínico, “continua a não se oferecer muito a uma pessoa que chegue ao hospital com uma lesão deste tipo. Executa-se um programa de rea-bilitação, basicamente de fisioterapia, que permi-te preservar o tecido muscular, mas que não fará muito mais, dependendo da gravidade da lesão”, comenta Mónica Sousa. Pelo seu lado, Ana Paula Pêgo adverte que “se as expectativas relativamente a esta área científica por parte dos cidadãos podem ser as de que se ve-nha a proporcionar uma recuperação total, quem nela trabalha não vê exatamente assim o cenário, mas antes a possibilidade de melhorias funcio-nais mais limitadas. Do ponto de vista clínico, as lesões na espinal medula são muito variáveis e podem ocorrer a diferentes níveis: o tipo de lesão, a sua extensão e a altura a que se situa fazem com que cada paciente seja um caso”.

Combinações de futuroIndependentemente do que sejam os desenvol-vimentos nesta área, existe certamente um con-senso: ninguém isoladamente descobrirá o Santo Graal, como Mónica Sousa bem coloca: “Qualquer estratégia futura será sempre uma estratégia com-binatória, usando alvos que diminuirão a capaci-dade inibitória do meio extracelular, por um lado, e outros alvos intrínsecos do neurónio, aumentan-do a sua capacidade regenerativa, por outro”. Ana Paula Pêgo expande esta ideia: “No cam-po da medicina regenerativa estamos a falar de três mundos que se juntam – materiais, células e fármacos – e devemos incorporar também as estratégias de reabilitação que já se utilizam. Precisamente porque num só produto terapêuti-co teremos várias componentes, as questões da regulamentação para ensaios clínicos assumem uma particular relevância”. E remata: “Saber que o sistema nervoso central tem capacidade rege-nerativa abre muitas portas, mesmo a nível das doenças neuro-degenerativas. Muitos dos traba-lhos atuais podem vir a ter translação e colocar desafios adicionais a outros níveis. Mas ainda temos de dar muitos passos.”

Quando, após uma fratura ou outra patologia, o osso entra em processo de regeneração, existe uma vascularização da zona afetada, fornecendo nu-trientes e células necessá-rios para a reparação ós-sea, mas também se veri-fica um padrão específico de inervação. “De facto”, explica Meriem Lamghari, líder do grupo de Neuro--osteogénese do INEB, “o tecido ósseo liberta fatores que vão orientar o crescimento das fibras nervosas”. Estas, por sua vez, são fundamentais para que a regeneração óssea se faça corretamen-te. “Para conseguirmos perceber esta complexa interação, desenvolvemos um sistema de cultura que a mimetiza e analisamos as moléculas expressas pelas células. Temos dedi-cado particular atenção ao recetor celular Y1 – de que se conhecia a função no sistema nervoso, mas não no osso – e descobrimos que o seu bloqueio provo-ca o aumento da massa óssea”.

Entre o osso e o sistema nervoso

Células do sistema nervoso sensorial (vermelho) em

co-cultura com células ósseas (verde) recorrendo a

tecnologia microfluídica (foto INEB)

Page 28: UPorto Alumni #22

26

Foto

s E

gíd

o S

anto

s

Page 29: UPorto Alumni #22

27

RIC

AR

DO

MIG

UE

L G

OM

ES

FACE-A-FACE UPORTO ALUMNI 22

Está atualmente patente no Centro Canadiano de Ar-quitetura, em Montreal, a exposição “SAAL: Arquite-tura ou Revolução?”. Porque é que, mais de 40 anos depois, o SAAL continua a despertar interesse não só em Portugal mas também internacionalmente?[Longa pausa] A razão pela qual isto reaparece agora não sei muito bem qual é. Mas o SAAL não era “a política da Revolução”, e coisas assim que foram inventadas. Era uma forma de, ime-diatamente, aproveitar o momento de transição política, em 1974, para experimentarmos outras formas de tratar a habitação social. Uns cinco ou seis anos antes do 25 de Abril, eu e outros cole-gas que trabalhávamos nestas questões, sobretu-do no Laboratório Nacional de Engenharia Civil [ingressou no LNEC em 1962, tendo coordenado o Núcleo de Pesquisa de Arquitetura, Habitação e Urbanismo], tínhamos feito coisas que, de certo modo, já preparavam o SAAL.

Este interesse pela habitação social decorria de uma consciência política, designadamente de contestação ao regime?Não se atacava de caras o regime com a questão da habitação. Até porque a habitação avançou com arquitetos e gente com outras formações que eram todos contra o regime. Esses bairros dos anos 60 não foram feitos por pessoas reacio-nárias.

É um dos maiores especialistas portugueses em urbanismo e o seu nome está ligado ao SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), um programa de habitação popular implementado durante o processo revolucionário de 1974-75 e que, agora, está a ser

recordado numa exposição no Canadá. Nuno Portas (Vila Viçosa, 1934) era, à época, secretário de Estado da Habitação e Urbanismo e, por isso, conduziu politicamente esse

conjunto de intervenções de construção, requalificação e realojamento desenvolvido em estreita articulação com os moradores. Mais de 40 anos volvidos, o arquiteto não

vê o SAAL como “a política da Revolução” nem como uma “experiência arquitetónica”. Tratou-se, diz, de “dar poder às pessoas que estavam interessadas na operação”. Professor Emérito da U.Porto e investigador da FAUP, Nuno Portas reflete ainda sobre as políticas

habitacionais de hoje, a “cidade extensiva”, as áreas metropolitanas e a regionalização.

“QUANDO SE FALA DO SAAL, ACHO SEMPRE QUE SE ESTÁ A EXAGERAR ALGUMA COISA”

Antes da Revolução já havia a consciência de que o país necessitava de uma experiência social deste género?Em 1968/69, houve muitas mudanças na Europa e também em Portugal. Percebia-se que a guerra [colo-nial] tinha de acabar, mais cedo ou mais tarde, e era preciso preparar o país para um outro período. De res-to, nos anos 60, mesmo com falta de dinheiro fez-se muita coisa na habitação social, embora de uma for-ma convencional. Nós começámos, então, a perceber os aspetos negativos do que se chamava a arquitetu-ra moderna de habitação social. As habitações eram convencionais mas de expressão moderna. Eu próprio fiz projetos nessa altura, com o arquiteto Nuno Teo-tónio Pereira e outros. Tinha essa experiência pessoal e, quando fui para o LNEC, chamei alguns sociólogos, alguns engenheiros, um grupo que pudesse fazer um inquérito às habitações que se estavam a construir.

Não acreditava que fosse possível reformar o país com o contributo da arquitetura? Relativamente. Digo relativamente porque havia, na política, questões muito mais sérias do que a habitação. Os bairros de Chelas, dos Olivais ou daqui do Porto não eram as razões principais para a mudança política.

Mas havia problemas de habitação na altura…Com a guerra colonial, o dinheiro público de-sapareceu, o que limitava os próprios bairros. E o problema da habitação só não foi pior porque houve uma enorme saída de portugueses, não apenas para a guerra mas também para outros países da Europa. Um milhão de pessoas foi-se embora.

Page 30: UPorto Alumni #22

Portanto, quando chega a secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, nos três primeiros Governos Provisórios de 1974-75, já tinha os estudos feitos e foi só avançar com o SAAL.Tínhamos esse dossier. E sabíamos que a questão principal não era arquitetónica. Há uma ideia de que o SAAL era uma questão dos arquitetos. De facto, eu chamei arquitetos de boa qualidade, de uma forma geral. Mas não era isso que caracte-rizava o SAAL. Havia uma outra questão muito mais delicada: a de saber qual era o papel, na habitação futura, das pessoas que precisavam de casa. Já nos inquéritos dos anos 60 tínhamos perguntado as pessoas como é que se sentiam nas suas próprias casas. Não era saber como se vivia nas barracas ou nas ilhas. Queríamos saber junto daqueles que já tinham casas novas, cons-truídas pelos nossos arquitetos, se essas casas deviam ser assim ou de outra forma. Se deviam, no fundo, ter outras características. Tratava-se de fazer o ajustamento entre a casa e os que viviam na casa, até para melhorar os projetos seguintes. Portanto, [o SAAL] não era uma questão revolu-cionária. Foi considerada como tal.

Apesar de tudo, o SAAL foi uma experiência que fi-cou aquém dos objetivos propostos.Foi um período muito curto: durou dois anos. Foi o tempo que se levou a estudar as questões urba-nas, a ver a população a realojar, a fazer os pro-jetos… Mesmo assim acelerou-se muito. Tanto que, quando me fui embora, já havia as primeiras obras. Mas as pessoas que ficaram no meu lugar estavam contra [o SAAL]. Portanto, não ajudaram nada.

Não deu para resolver os problemas da habitação social… Claro. Não se podia esperar que se construíssem milhares de casas melhores, mais baratas… Hou-ve um certo exagero na questão do SAAL.

Uma certa utopia?Não era utopia nenhuma. Era uma tentativa de melhorar os critérios, os projetos, o modo de dis-tribuição das casas pela população – que era um problema social.

Esse é o principal legado do SAAL? Quando se fala na questão do SAAL nesta altura, acho sempre que se está a exagerar alguma coi-sa. Nem o SAAL era uma alteração radical, nem era uma certeza – era uma experiência. E não era uma experiência arquitetónica. Essa já estava fei-ta por arquitetos bastante bons, antes do 25 de Abril. Era uma experiência para perceber como deviam ser as relações entre os futuros morado-res e os que estavam a estudar as novas casas. De-viam entender-se, claro. [No fundo], a novidade do SAAL foi procurar saber se os moradores dos bairros de lata ou das ilhas, que tinham de ser realojados, estavam interessados em participar nesse processo [de realojamento], podendo, in-clusivamente, intervir nas relações com os técni-cos das entidades públicas que pagavam as obras. Era [uma forma de] empowerment: dar poder às pessoas que estavam interessadas na operação.

Urbanismo mais perto das ciências humanas

Porque é que, depois de ter projetado obras importan-tes com o arquiteto Nuno Teotónio Pereira – como a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que vos deu o Prémio Valmor em 1975 –, decidiu tornar-se urba-nista em meados dos anos 60?Esta mudança foi feita com a cumplicidade do Teotónio Pereira, que é um homem de uma generosidade incrível. A certa altura, ele achou que eu devia ir para a investigação no LNEC. E também achava que eu devia ir para o ensino. As principais coisas que fiz na minha vida foram um bocado empurradas pelo Teotónio Pereira, que tem mais 11 anos do que eu. A investigação começou pela habitação e depois passou para o crescimento das cidades, numa fase em que esse crescimento era visto como um problema cada vez menos dos arquitetos e mais das ciências humanas. Antes, o urbanismo era uma super ar-quitetura. Mas, em meados dos anos 60, já não era um problema de arquitetura: era também um problema de arquitetura. Fui-me apercebendo de que o urbanismo era multifacetado e que cada vez mais as ciências humanas são importantes para o urbanismo, mais até do que a arquitetura. E foi isto que me levou a concentrar-me [no ur-banismo]; não foi para ser secretário de Estado.

Voltando ao SAAL. Nos dias de hoje, faz sentido uma experiência parecida com o SAAL?Nos dias de hoje, o problema é que há casas va-zias a mais porque as pessoas não as puderam pagar ou comprar. É totalmente diferente.

28

UPORTO ALUMNI 22FACE-A-FACE

“Há uma ideia de que o SAAL era uma questão dos

arquitetos. De facto, eu chamei arquitetos de boa qualidade, de uma forma

geral. Mas não era isso que caracterizava o SAAL”.

“Queríamos saber junto daqueles que já tinham

casas novas, construídas pelos nossos arquitetos,

se essas casas deviam ser assim ou de outra forma. Se deviam, no fundo, ter

outras características”.

Page 31: UPorto Alumni #22

Então, que política é que deve ser seguida para ultra-passar este problema?Isso é um problema que não tem nada que ver com os arquitetos, pois as casas, melhor ou pior, já estão construídas. Em todo o caso, devia ha-ver uma organização cooperativa, como houve nessa altura [do SAAL], para ver como é que as pessoas podem voltar às casas que lhes foram retiradas pelos bancos. Acho estranho que não haja este trabalho de ver se as pessoas podem ou não podem [regressar às casas]. Neste caso, até se poderia aproveitar alguma coisa do SAAL. Uma espécie de SAAL sem arquitetos.

Falou há pouco das ilhas. O Executivo Municipal do Porto está a preparar um programa de intervenção nas ilhas privadas da cidade, financiado por fundos comunitários. Acha que vale a pena recuperar as ilhas, mesmo tendo em conta o espírito comunitário que nelas se gera? Não sei bem o que se está a pensar fazer. Na maior parte dos casos, as ilhas não podem ser recuperadas, porque são mínimas em todas as condições. As ilhas estão no interior de umas casas burguesas e esse interior já é muito aper-tado. Talvez se pudesse fazer, em algumas ilhas, habitações para estudantes estrangeiros, para es-tadias de curta duração. Mas já estou a inventar… O que não me parece é que a solução normal seja recuperar as ilhas.

A demolição não foi, portanto, uma boa solução.A demolição das torres foi uma pura operação de limpeza. Encontraram uma solução dupla: por um lado, desalojava-se um conjunto de pessoas que estariam a fazer mal ao conjunto do bairro; e, por outro, passava-se [o terreno] para pessoas que podiam pagar mais e que podiam estar na-quele sítio magnífico em frente ao rio. As torres do Aleixo podiam ser melhoradas. Há dezenas e dezenas de torres do Aleixo, e estão a ser limpas, arranjadas, modernizadas. São edifícios bons. Portanto, o Aleixo é uma história mal contada. Hoje já não se sabe o que fazer àquilo…

Qual deve ser, então, a política de habitação social atual?O problema já não é tanto fazer casas novas, mas sim readaptar os edifícios e fazer a mobilidade das pessoas. Há casas com pessoas sozinhas, ou-tras com casais que já não têm lá os filhos… Por-tanto, há que realojar tendo em conta estas situa-ções. E temos também de adaptar os edifícios à realidade de hoje, porque as famílias diminuíram e têm outras características. É preciso, se calhar, deitar algumas paredes abaixo…

Em alguns casos é melhor demolir, como se fez com as torres do Aleixo?Não. O Aleixo é o pior dos exemplos. Foi feito para a classe média. E por responsabilidade minha, já que foi o Fundo de Fomento que financiou as tor-res do Aleixo. As torres ainda não tinham sido entregues [aos moradores] e foram utilizadas para a operação Ribeira/Barredo. Senão, não se podiam fazer aquelas obras. Era preciso deslocar essa população [da Ribeira/Barredo] para outro sítio, por algum tempo. Foi isso que se fez, mas as pessoas ficaram lá. Já não quiseram vir para a Ribeira/Barredo, [cuja recuperação] levou mais tempo do que se pensava.

No Porto, à semelhança de muitas outras cidades portuguesas, os bairros de habitação social estão apartados do centro, particularmente os de Campa-nhã. O que é que se pode fazer para integrar esses bairros na cidade?Não lhe posso dizer, concretamente, o que acon-tece naquela área. Mas há pouco tempo tive uma reunião muito interessante com gente de lá [Campanhã], que tem feito um bom trabalho social e está muito bem. Aparentemente, as ra-zões não são as que parecem. Por outro lado, os bairros podem ser melhorados outra vez e servir para outras famílias.

Mesmo num contexto de dificuldades financeiras das entidades públicas?Das entidades públicas e também das pessoas, que não podem pagar as rendas. Há problemas muito sérios para pagar as rendas. As pessoas pre-cisam de casas mas não têm dinheiro para as pa-gar, mesmo as sociais. Embora também haja casos em que as pessoas já podiam pagar muito mais e outros em que se mantêm as casas fechadas, para alguém que querem pôr lá. É muito difícil a gestão destes bairros. [Mas] alguns destes bairros já fo-ram melhorados, e não foi só a fachada.

Reforçar as áreas metropolitanas

No Porto, como em Lisboa, assistimos a um processo de reabilitação urbana na Baixa, em parte motivado pelo turismo. Depois da desertificação não estamos a assistir à gentrificação da Baixa portuense?[Risos] Mas o problema é saber se se podem alte-rar estas tendências. À medida que vão desapa-recendo as pessoas da minha idade, obviamente que há gentrification, com os [estudantes] Eras-mus e outras pessoas que gostam de viver nos bairros antigos, por exemplo. E também há mui-tos city users, como lhe chamam os sociólogos. São utilizadores da cidade, mas não são de lá nem são turistas. Vão lá trabalhar e depois regressam a casa. [Mas] as pessoas não são necessariamen-te expulsas dos centros das cidades: querem é ir para outro sítio. Não querem a confusão e o custo de vida das áreas centrais.

29

“Há problemas muito sérios para pagar as rendas. As pessoas precisam de casas mas não têm dinheiro para as pagar, mesmo as sociais”.

Ver vídeo em:http://tv.up.pt/premiums/54

Page 32: UPorto Alumni #22

Esta gentrificação não descaracteriza as cidades?As cidades sempre andaram a mudar. Gostaria que as cidades tivessem populações mistas, mas é preciso alguns esforços para manter o valor das rendas, à medida que as pessoas de idade mor-rem ou se vão embora. Quem ocupa essas casas reabilitadas [no centro] não são só estrangeiros ricos, são também casais novos…

Mas com elevado poder de compra. Sim, não são os mais pobres. Mas esses também têm direito, não são só os pobres. Também tem de se pensar nos “remediados”, como antes se chamava.

Um conceito que lhe é caro é o da “cidade extensiva”. O que é isso da “cidade extensiva”?É a cidade que se está a fazer entre as cidades. Este termo não foi inventado por mim. É um termo de um professor alemão, que acha que a grande novidade da segunda metade do século passado e deste que estamos agora é o nascimento de uma cidade entre as cidades que já estavam feitas. Nos últimos 50 anos, cresceu mais o que está entre as cidades do que as cidades antigas. Essas começaram a crescer, a crescer e, a certa altura, já não eram cidades antigas. Só eram antigas na Baixa. Dado que os empregos estão, cada vez mais, fora da cidade antiga, as pessoas são tentadas a viver nas casas entre as cidades. Donde, há uma nova cidade entre as cidades. É uma cidade contínua.

E como é que se gere essa cidade contínua, tendo em conta que atravessa vários municípios?Claro [que atravessa]. Por isso é que há certas atividades que não pertencem a nenhum muni-cípio, como os transportes. Logo, devem ser estu-dadas pelo conjunto das áreas metropolitanas…

As intervenções da SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana), no Porto, têm resultado num parque habi-tacional bastante caro. Por isso, muitas casas estão ainda por vender…Até que apareça quem compre. Em Lisboa já estão a comprar muito. E no Porto também. Há muitas pessoas aqui [FAUP] que estão a fazer muito trabalho de reabilitação de casas, o que su-põe pô-las mais caras do que estavam antes. O problema, para mim, está sobretudo nos jovens das classes médias ou submédias. Como não são todos ricos, o Estado teria, aí sim, de dar alguma ajuda, para poder atrair uma população mais jo-vem e mais perto da classe média.

O Programa Eleitoral do PS, de que é militante, prevê a aplicação de 10% do Fundo de Estabilidade da Segurança Social na aquisição e reabilitação de fogos devolutos para criar um mercado de arrenda-mento a preços acessíveis. Parece-lhe uma boa ideia? Há que experimentar. A ideia é boa. É uma forma de ir mantendo uma espécie de equilíbrio entre cidade rica/cidade pobre, para que as pessoas não sejam expulsas. Em princípio, é possível. De res-to, a razão principal da discussão não é a solução ser boa ou má. É por causa de se ir buscar um dinheiro que está parado e que pode ser utilizado assim [na reabilitação urbana], para depois voltar para o mesmo sítio. Não vejo aqui nenhum in-conveniente, desde que esteja garantido que, se falhar alguma coisa, o problema das pensões é resolvido.

Mas as áreas metropolitanas têm pouca capacidade de decisão.Não têm capacidade, não têm meios, não têm nada. Portanto, há que rever tudo. E eu também tive culpa, porque trabalhei na lei das áreas me-tropolitanas e pensava que aquela solução era a boa. Uma solução soft, que não tirava valor aos municípios. Neste momento, há que ressuscitar a área metropolitana como cidade em si mesma, que vai tratar das questões transversais. Nas cida-des de Lisboa e Porto, e talvez no Algarve, pode ser uma solução melhor para os transportes, saúde, escolas, bombeiros, polícia, entre outras coisas que não deviam ser tratadas pelos mu-nicípios em si mesmos. Há que ter uma gestão de conjunto, porque são três milhões à volta do Porto e outros três milhões à volta de Lisboa. Em Inglaterra, há muitos anos que é assim. Mas nos países latinos há uma grande resistência a estas alterações.

Em Portugal, assistimos a uma duplicação de equi-pamentos e serviços entre municípios vizinhos. A racionalização de recursos passaria pelas áreas me-tropolitanas?Exatamente. Nos países nórdicos, as decisões transversais são tomadas por um governo local “esticado”, digamos assim.

30

UPORTO ALUMNI 22FACE-A-FACE

“Há que ter uma gestão de conjunto, porque são três milhões à volta do Porto e outros três milhões à volta de Lisboa. Em Inglaterra, há muitos anos que é assim. Mas nos países latinos há uma grande resistência a estas alterações”.

“As cidades sempre andaram a mudar. Gostaria que as cidades tivessem populações mistas, mas é preciso alguns esforços para manter o valor das rendas, à medida que as pessoas de idade morrem ou se vão embora”.

Page 33: UPorto Alumni #22

Dúvidas sobre a regionalização

O reforço de poderes das áreas metropolitanas é com-patível com o modelo de regionalização que defende?Eu sempre achei que as regiões eram necessárias mas que as áreas metropolitanas constituíam um caso à parte, porque seis milhões vivem à volta do Porto e de Lisboa. Sobre as regiões, escrevi um par de artigos há muito tempo. Defendi as regiões como mini Estados, votadas autonoma-mente e com competências genéricas.

Mas a regionalização continua a ser pertinente hoje em dia? Acho que sim, por causa sobretudo do Interior. A questão mais difícil é criar uma estrutura pesada para as áreas metropolitanas e pôr-lhes ainda em cima uma região. Já começa a ser muita coisa: governo central, regiões e áreas metropolitanas. Era um excesso de administração, de burocracia, de despesismo… Mas, para as zonas mais pobres [do país], interessava a regionalização. Era uma forma de dar força à interioridade. Houve tempos em que tinha muitas certezas sobre esta questão. Hoje, acho que se devem tentar várias hipóteses e ir vendo se funcionam ou não. Não desisti [da regionalização] mas tenho menos certezas. Mas alguma coisa se tem de fazer…

Como acha que têm evoluído, em Portugal, os me-canismos de regulação urbanística, designadamente os PDM? Esse é o meu trabalho aqui na escola [FAUP] e a razão que me levou a ir para Gaia. Queria perce-ber a prática destas coisas por dentro. Era uma experiência que eu precisava de ter como pro-fessor, para depois dizer aos meus alunos como fazer. Por outro lado, fui autor dos PDM com mais dois ou três colegas do LNEC, em 1978. A minha ideia era que esses planos fossem muito flexíveis. E toda a gente pensou logo: “então, isto é a bandalheira”. Mas a bandalheira é capaz de ser o fingir que eles [os PDM] são rígidos e depois alterá-los às escondidas. Isso é que é o problema.

E a fusão de municípios, como a que se chegou a aventar para Porto e Gaia? Isso não vale a pena: é brincar. Mas porque não com Matosinhos? Ou com a Maia? Porque é que há de ser com Gaia? Nunca quis ser vereador do Porto, porque em Gaia [foi vereador do Urbanis-mo deste município entre 1990 e 1994] é que era preciso fazer um equilíbrio. Dar-lhe uma possibi-lidade de responder bem à evolução. Para um ur-banista, Gaia era um desafio; o Porto um dejà vu. Já se sabia como era, as receitas já estavam dadas.

Esse equilíbrio foi alcançado em Gaia?Em alguma coisa, sim. Mexemos em tudo o que se podia, antes dos dinheiros de Bruxelas. Quan-do vieram os dinheiros de Bruxelas, eu já lá não estava. Infelizmente, não foram bem utilizados. Centraram tudo no rio e nas praias, abandonan-do a Gaia pobre. Isso eu já não faria. Deixámos muitas coisas feitas, como o Plano Diretor [Mu-nicipal]. Fizemos o PDM em quatro anos, quando às vezes leva 10 ou 12 anos a fazer e a ser apro-vado.

Como devem, então, ser os PDM?Os planos têm de ser relativamente elásticos para que se possa, com uma boa gestão, ir alterando as cidades. Em quatro ou cinco anos não sabe-mos o que se vai construir. Não há capacidade de previsão. As coisas mudam muito rapidamente: aparece este acontecimento, aparece esta política de Bruxelas… Por isso, os planos não podem ter a segurança de outros tempos. Tem de se fazer um jogo muito cuidadoso entre aquilo que só deve ser alterado em casos muitos especiais e aquilo que pode se alterado com toda a facilidade. Ora, os planos não têm este grau: é tudo ou sim ou não. Tem de se mudar esta prática dos municí-pios. Até porque, hoje, as pessoas já acham que alterar uma regra [do PDM] não é uma aldrabice.

De que forma é que as instituições do ensino supe-rior, em particular a FAUP, podem contribuir para um melhor planeamento urbano em Portugal?Eu fiz, com o Fernandes de Sá, a Teresa Andre-sen, o Abílio Cardoso, cursos entre escolas para formação de gente para trabalhar nas câmaras. Fizemos isso durante muito tempo. Umas 300 ou 400 pessoas foram aqui [FAUP] formadas, já depois de serem diplomados. Uma boa parte dos técnicos dos municípios aqui à volta passaram por estes cursos. Era um mestrado em Urbanis-mo, de dois anos, comum a várias escolas: En-genharia, Paisagismo, Arquitetura, Direito... Foi muito interessante mas depois caiu. E faz falta aqui no Norte.

31

“Sobre as regiões, escrevi um par de artigos há muito

tempo. Defendi as regiões como mini Estados, votadas

autonomamente e com competências genéricas”.

Page 34: UPorto Alumni #22

32

UPORTO ALUMNI 22

O Francisco tem nove anos e veio com os avós. Gostou mais da parte em que a Terra começou e se desenvolveu. “Pa-

recia que éramos formigas no meio da floresta”. Também ficou a achar que “era giro estudar Bio-logia”. E voltar ao Planetário, onde se atira a ca-deira para trás e se fica de costas na horizontal e nariz espetado para… o que vier da cúpula. Quan-do se apagam as luzes somos “elevados” à con-dição de partícula. Que pode ser projetada para qualquer ponto no Universo. Depois descemos, em câmara lenta, até ao planeta Terra. Até… até sobrevoar a cidade do Porto. Já voltamos a falar sobre todo este céu, mapeado.Entretanto, começam os primeiros sinais da “Vida - uma história cósmica”. Em segundos fi-camos rodeados de troncos muito altos. São se-quoias. Os ramos passam pela direita do nosso corpo, raspou no ombro? Ouvem-se pássaros. O som tamborila na pele. Aproximamo-nos das fo-lhas, não… são elas que se aproximam de nós. E as formigas, a passear nas folhas, deslizam pelo canto do olho… e estamos já dentro dos poros das folhas. A chegar à célula. Viajamos até ao núcleo da célula de uma sequoia. O interior da fábrica da fotossíntese.  E do ADN. Tapeçaria da vida da qual fazemos parte. Partilhamos a mes-ma origem. Somos parentes. “A vida começou com células simples”, diz-nos a voz de Diogo In-fante. Seria a de Jodie Foster, se mantivéssemos a versão original. E lá vamos nós! Recuamos 13 mil milhões de anos até… até depois do Big Bang. Até à origem do carbono, “elixir da vida”. Ainda vamos ter tempo de dar um saltinho acima da

AN

AB

EL

A S

AN

TO

S

CULTURA

O cinema imersivo chegou à cidade do Porto! Com uma cúpula nova, compatível com os modernos sistemas de projeção digital fulldome, e um investimento de cerca de 500 mil euros, o Planetário do

Porto leva-nos numa viagem por dentro da “Vida - uma história cósmica”. Vamos ficar a perceber por que é que partilhamos todos (Homem, animal, planta) a mesma origem. E ser partícula? Que se

projeta para qualquer ponto no espaço? Este é o maior planetário digital em funcionamento no país. Se quer oferecer uma viagem pelos anéis de Saturno… Saiba que já não é preciso roubar.

Da próxima vez eu me mando Que se dane meu jeito inseguro

Nosso amor vale tanto Por você vou roubar os anéis de Saturno

Rita Lee

Já não é preciso roubaros anéis de Saturno

Daniel Folha, diretor do Planetário

Page 35: UPorto Alumni #22

33

nossa galáxia. Onde surgem novas estrelas. Para mergulhar, logo a seguir, até ao leito oceânico. E ver os continentes a ganhar forma… Mas, por agora, fazemos “pause”. Aonde estamos? Estamos no “novo planetário” do Centro de Astrofísica da Universidade do Por-to (CAUP). Tem uma cúpula nova, compatível com os modernos sistemas de projeção digital fulldome, ou sistema de vídeo imersivo. É a versão moderna de uma história que começou, diz-nos o diretor do Planetário, Daniel Folha, “antes mes-mo do Planetário existir”. O CAUP, criado em 1989, sempre achou, desde cedo, que a divulgação científica era prioritária e foi assim que se investiu na compra de um planetário insuflável. “Era uma bola insuflável e as crianças achavam muita piada…”. Foi assim que o Planetário começou por ir às escolas. “Ti-nha uma ventoinha, que o mantinha insuflado, e um sistema que projetava o céu noturno”. E contavam-se histórias acerca do céu noturno, ensinava-se e captava-se a atenção dos miúdos para a Astronomia e para o imaginário que a As-tronomia acarreta. “Era uma forma de fazer di-vulgação de ciência”. O que permitiu, ao Núcleo de Divulgação do CAUP, ganhar experiência para o que veio a ser o Planetário do Porto. Abriu por-tas em 1998 e, até hoje, já recebeu mais de 450 mil visitantes. Estava equipado com um sistema clássico ótico mecânico da Zeiss, que reproduzia o céu estrelado visto da Terra. Tinha 22 projeto-res de diapositivos e dois projetores de vídeo que complementavam a projeção das estrelas. No ve-

rão de 2014, o Planetário encerrou para iniciar um processo de remodelação….

Maior planetário digitalem funcionamento no paísO equipamento instalado já tinha mais de 30 anos, com tecnologia descontinuada e que come-çava a levantar inúmeros problemas de manuten-ção. Nos últimos anos, o Planetário foi perdendo funcionalidades. “O sistema de projeção da Zeiss era muito bom, mas datava dos anos 70. No iní-cio dos anos 90 começaram a surgir sistemas digitais e era necessário, para continuar a fazer o trabalho de divulgação de forma adequada, mu-dar”. O que implicou, acrescenta Daniel Folha, a instalação de um sistema digital de projeção, com técnicas de software atuais, que permitem construir novas sessões e viajar no Universo. “É a evolução natural da ciência, também nos Pla-netários”. O Planetário do Porto está, agora, equipado com uma cúpula compatível com os modernos sis-temas de projeção fulldome. “O novo sistema de projeção digital é um sistema de vídeo imersivo, com uma resolução de 2.560 pixeis”. Mas afinal, o que é isto de projeção fulldome? “Ao contrário da televisão ou do cinema, que tem um ecrã pla-

Planetário do Porto,um equipamento fundamental para divulgar a ciência entre a comunidade e, em especial, junto dos mais novos.

Page 36: UPorto Alumni #22

34

no, a projeção é feita numa cúpula hemisférica. Basta pensar em metade de uma esfera, a pro-jeção é feita nessa metade. Por cima das nossas cabeças e à nossa volta. Dá a sensação de ser 3D, não o sendo. É um sistema de projeção imersivo, sentimos como se estivéssemos dentro do filme. Temos a sensação de estar a viajar e não sentados numa cadeira. O nosso cérebro interpreta a infor-mação que recebe como estando em movimento. Tem 95 cadeiras e é o maior planetário digital em funcionamento no país. É difícil de explicar, mais vale vir cá”. A cúpula também foi substituída. “A anterior era a original, construída nos finais dos anos 80 para a projeção das estrelas. Com a crescente utilização de imagens de grande formato, as junções da cúpula começaram a tornar-se evidentes”. Recorrendo a outra tecnologia e tratamento, as junções tornam-se praticamente impercetíveis, mesmo com níveis ele-vados de iluminação. Toda esta “renovação”, com o novo sistema de projeção que inclui os projetores e o software, que permite obter a informação tridi-mensional do Universo e viajar nele, assim como a instalação da nova cúpula de projeção, custou cerca de 500 mil euros. Aproveitando um concurso na-cional no âmbito do QREN “Promoção da Cultura Científica – Ações materiais”, o Planetário apresen-tou uma proposta de renovação do Planetário com cofinanciamento a 60%.

Viajar pelos anéis de SaturnoE que tal ver de perto (de muito perto, atraves-sar, aliás, para sermos mais exatos), os anéis de Saturno? Percorrer as luas de Júpiter? Viajar até nebulosas distantes (nuvens de poeira, hidrogé-nio, hélio ou plasma), observar a nossa Galáxia de fora…. Ou visitar um exoplaneta (que orbita uma estrela que não o sol e, por isso, pertence a um sistema planetário distinto do nosso). O Pla-netário do Porto dispõe, agora, de um supercom-putador com uma extensa base de dados. Está

lá todo o Universo conhecido. Tudo “mapeado” com informação científica atualizada. “Toda a in-formação é rigorosa do ponto de vista científico”, acrescenta Daniel Folha, “com base nos dados e observações obtidas pelos diversos observatórios pelo mundo fora e no espaço”. Um sistema que tem, na sua base de dados, os planetas extrasso-lares conhecidos. “Podemos sair da terra, passar pelo sistema solar, viajar por entre as estrelas e chegar a um sistema planetário extrassolar”.É depois desta viagem pelo Universo que começa a “Vida - uma história cósmica”. São vinte e cin-co minutos a testemunhar acontecimentos chave para o desenvolvimento da vida, dirigidos ao pú-blico em geral. Para lá da biologia, da química, da física, da geologia, das artes… Recuamos milhares de milhões de anos, até à origem dos elementos. Até à altura em que o jovem Universo era cons-tituído, principalmente, por matéria escura que arrastou hidrogénio e hélio, levando à formação das primeiras estrelas. Foi nas várias gerações de estrelas que o carbono e os elementos mais pesa-dos, necessários aos organismos vivos, tiveram origem… E a viagem continua com um mergulho na Via Láctea, tal como era há milhares de mi-lhões de anos. Aproximamo-nos de uma região de estrelas em formação, onde está um disco proto-planetário a envolver o recém-nascido sol. Depois mergulhamos em direção ao jovem planeta Terra. Os primeiros microrganismos terrestres enrique-ceram a atmosfera em oxigénio, e talvez tenham despoletado uma idade do gelo global, que quase congelou a vida na Terra… Damos um salto em frente no tempo; assistimos ao movimento dos continentes e à alteração das condições ambien-tais até ao estado atual do planeta. E chega a altura de fazer a revisão da matéria dada. E perceber que, se foi através dos fósseis que chegamos a muito do que compreendemos acerca da evolução das espécies, a história evo-lutiva também se pode recriar através do estudo

U . PORTO ALUMNI 22CULTURA

O sistema de projeção da Zeiss.

Page 37: UPorto Alumni #22

35

da vida que nos rodeia. A nível molecular, todos os seres vivos partilham um antepassado e uma química comum. E é no momento em que esta evidência se instala que surgem, em catadupa, de todos os lados da sala, imagens de animais, plan-tas, múltiplos organismos numa espécie de dis-tribuição tridimensional pelo espaço. As imagens são agrupadas em forma de hélice, uma hélice dupla de filamentos de ADN que nos envolve e engole. Sentimos, à flor da pele, que fazemos par-te desta representação da estrutura fundamental da vida, tal como a conhecemos. Por tudo isto, não se admire se se levantar da ca-deira com vontade de saber mais sobre … tudo. Sobre nós e absolutamente tudo o que nos rodeia. Este sistema digital permite projetar filmes pro-duzidos por diversas produtoras internacionais e após uma pesquisa, entre tantos documentários, foi escolhido este. Porquê? “O estudo da vida é feito na terra, mas a origem da vida, embora um pouco desconhecida, tem como base a história do Universo”. Este documentário, explica Daniel Fo-lha, “conta-nos a história da vida, na medida do que é conhecido, desde a formação das estrelas iniciais, dos elementos fundamentais, como se terão juntado, e os blocos que constituem a vida tal como a conhecemos”. Tem uma forte compo-nente interdisciplinar e é muito abrangente do ponto de vista científico, o que constitui “uma mais-valia para o público em geral, assim como para as escolas, já que é uma faceta importante na formação dos jovens”.

“O Espantoso Telescópio”Para o diretor do CAUP, João Lima, “esta adapta-ção à tecnologia digital vai captar novos públicos e potenciar possibilidades de projeção de filmes de alta qualidade técnica e científica. Continua-remos a trabalhar na produção de novas sessões, sempre com ligação à investigação feita na ins-tituição para o fornecimento de dados técnicos

atualizados sobre a pesquisa de novos planetas que se encontrem fora do sistema solar”. Aliando o carater apelativo ao conteúdo científico rigoro-so. “Não é apenas divulgação, mas também co-nhecimento de ponta”. Mais para ver: “O Espantoso Telescópio”. Embo-ra dirigido para o público em geral, este está mais diretamente ligado à Astronomia. Começou com Galileu, diz-nos Daniel Folha, “quando resolveu apontar um telescópio para o céu”. Observou a lua, observou Vénus, Júpiter e… “Produziu uma revolução. Foi o início do fim do sistema geocên-trico, em que se pensava que a Terra era o centro do universo”. Produzido no âmbito do Ano Inter-nacional da Astronomia, em 2009, é um filme sobre a importância do telescópio na abertura de novos horizontes. Outro documentário é sobre os 25 anos do Hub-ble, em específico. O desafio foi lançado pela Agência Espacial Europeia, por altura dos 25 anos do lançamento, a 24 de abril último. Aproveitan-do o facto de disporem de um sistema digital e vários anos de experiência na produção de ses-sões, o Planetário estabeleceu uma parceria com as faculdades de Engenharia e de Belas Artes da U.Porto e embarcou na aventura de produzir um mini filme sobre os 25 anos do Hubble. Mas en-tão, que novo Planetário do Porto é este? É o lo-cal onde se faz divulgação e promoção da cultura científica e tecnológica, enquanto se oferece uma experiência sensorial. “Sensações únicas. É fasci-nante”, acrescenta o reitor da U.Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, após a sessão de apresentação. “E vai ser importantíssimo para a divulgação de ciência”. Uma estrutura que se quer alavancada numa estratégia museológica da U.Porto. “Ire-mos ter a Galeria da Biodiversidade e o Museu de Ciência e de História Natural que, com o Pla-netário, irão constituir um contributo da Uni-versidade do Porto para o conhecimento, para a cultura, para a cidade e para o país. Juntamente com os museus das faculdades de Belas Artes, de Medicina e de Engenharia… Isto é uma rota do conhecimento, toda uma dinâmica, um caminho que se cria e que vai dar frutos. Em união com a dinâmica da cidade”. Ir ao Planetário não é só ir ver o céu noturno ou o Universo, sublinha Daniel Folha, “é uma ex-periência nova para a maior parte do público. É participar deste ambiente imersivo que nos faz sentir uma partícula do Universo. Vai espantar quem vier”. Para quem preferir, é bom saber que há sessões ao fim de semana. É só consultar os horários em http://planetario.up.pt/visita/.

O CAUP foi criado em 1989. É uma associação científica e técnica priva-da, sem fins lucrativos que, através da investigação, da formação e da divulgação de ciência, apoia e promo-ve a Astronomia. A investigação científica organiza-se em duas gran-des equipas, cuja atividade se centra nos seguintes tópicos:  origem e evolução de estrelas e planetas e galáxias e cosmologia ob-servacional.  Recentemente, e no senti-do da consolidação da in-vestigação e do reforço da participação nacional em grandes projetos interna-cionais na área das Ciên-cias do Espaço, o CAUP e o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universi-dade de Lisboa criaram o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Trata-se de uma nova estrutura de investigação, com dimensão nacional, para o desenvolvimento da Astronomia, Astrofísica e Ciências Espaciais em Portugal. Engloba mais de dois terços de todos os investigadores ativos em Ciências Espaciais em Por-tugal e é responsável por uma fração ainda maior da produtividade nacional em revistas internacionais ISI nesta área. De resto, as Ciências Espa-ciais são a área científica com maior fator de im-pacto relativo (1,65 vezes acima da média interna-cional) e o campo com o maior número médio de citações por artigo para Portugal.

U . PORTO ALUMNI 22

Mais de 25 anos ao serviço da Astronomia

Ver vídeo em:http://tv.up.pt/premiums/54

Page 38: UPorto Alumni #22

36

UPORTO ALUMNI 22

O edifício histórico da U.Porto, na Praça de Gomes Teixeira, com o seu perfil neo-clássico, é certamente o símbolo mais

visível da presença da instituição no centro da cidade. Mas a austera fachada do edifício da Rua de D. Manuel II, que acolheu a Reitoria durante quase 30 anos, é o mais evidente testemunho – e legado – duma altura em que o país debatia apai-xonadamente os modelos sociais e políticos que substituiriam o meio século de ditadura que o isolou das principais correntes de transformação da Europa ocidental do pós-guerra.Em outubro de 1976, menos de um mês antes de abandonar o cargo de vice-reitor, que exercia em funções de reitor interino, José Morgado iniciava o processo de transferência dos serviços da Rei-toria para as instalações do Centro de Instrução de Condução Auto do Porto, encerradas no ano anterior por ordem do comandante da Região Militar Norte para que o quartel fosse “oportu-namente reestruturado”. Pretendia o brigadeiro António Pires Veloso pôr fim a um episódio de “insubordinação colectiva” dos militares daquela

VIDAS E VOLTAS

No dia 3 de outubro de 1975, o Centro de Instrução de

Condução Auto do Porto do Exército Português é encer-rado. A ordem, emanada do

comandante da Região Militar Norte, brigadeiro António Pi-res Veloso, pretendia pôr fim à “insubordinação colectiva”

dos militares daquela unidade. Se esta ação deu origem a um dos episódios de tensão mais elevada do período revolucio-nário no Porto, também teve

como resultado permitir o au-mento da presença da Univer-

sidade no centro da cidade.

Page 39: UPorto Alumni #22

37

unidade, mas, repercutindo-se num meio políti-co radicalizado, esta ação deu origem a um dos episódios de tensão mais elevada do período re-volucionário na cidade do Porto.No centro das atenções estava, afinal, uma zona ocupada por edifícios militares desde pelo menos o século XVIII, marcando nessa altura o final da área urbana do Porto, na estrada que se dirigia para a Foz e para Matosinhos, já em ambiente predominantemente rural. Na Rua dos Quartéis, depois do Triunfo (após o Cerco do Porto), hoje de D. Manuel II, pontuava o Quartel da Torre da Marca, que albergou, já no século XIX, tropas tão diversificadas quanto as dos invasores franceses ou as dos exércitos liberais que defenderam o Porto antes de conseguirem conquistar o país.Durante o século XX, aquele espaço militar foi várias vezes reorganizado, beneficiado e amplia-do: se, no início do século, se perderam alguns terrenos para permitir a regularização da Rua do Triunfo e, nos anos 30, se permutaram terrenos a nascente por terrenos a sul (os primeiros incorpo-raram-se no horto de Alfredo Moreira da Silva, os

segundos constituíam a Quinta da Bandeirinha), nos anos 40 foram expropriadas sete proprieda-des particulares para ampliação do quartel, que na altura albergava o Batalhão de Metralhadoras N.0 3. O aspeto atual do edifício de comando, que continua a dominar o troço poente da Rua de D. Manuel II, é resultado de obras conduzidas entre 1949 e 1958. No início dos anos 60, executam-se novas obras de melhoramento, ao mesmo tempo que se incorporam definitivamente no quartel os terrenos autónomos da Quinta da Bandeirinha e da Horta da Infantaria 6 (1), dando-lhe uma for-ma aproximadamente retangular. Nesta altura, a superfície do quartel ascendia a 34.466 m2, uma área generosa que permitiu que aí se instalasse o Centro de Instrução de Condução Auto N.0 1 (ou do Porto), cuja sigla é ainda hoje usada para referir aquele complexo: CICAP.

Encerramento por Pires VelosoApesar da importância desta unidade militar, as circunstâncias da sua rápida alienação são expli-cáveis pela conjuntura revolucionária de Abril.Os resultados das eleições de abril de 1975 para a Assembleia Constituinte tinham revelado que a influência dos setores de esquerda comunista nos acontecimentos políticos era desproporcio-nal às opções políticas da maioria da socieda-

de portuguesa. No seio do Movimento das Forças Armadas (MFA), o confronto das diferentes fações – extrema-esquerda, pró-Partido Comunis-

ta, moderada – é simultâneo com a exigência de protagonismo dos partidos políticos de inspira-ção parlamentar europeia. No início de um agos-to que se adivinha ‘quente’, o Documento dos Nove, manifesto dos elementos moderados do Conselho da Revolução, orienta a ação deste setor e propicia o fim do governo de Vasco Gonçalves, próximo do Partido Comunista. Os acontecimen-tos de 25 de novembro de 1975 provocarão o afas-tamento dos setores de esquerda comunista do MFA, predominando a ação dos moderados na definição do rumo político nacional. Mas, até lá, estamos no período em que a agitação chega ao rubro, uma vez que diversos eventos, como o juramento de bandeira revolucionário no Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) e as manifestações da organização Soldados Unidos Vencerão (SUV), demonstram a popularidade das ideologias de esquerda comunista – e parti-cularmente de extrema-esquerda – no seio das forças militares.Estamos num tempo em que as estratégias po-líticas, para além de rapidamente variáveis con-

PA

UL

O G

US

O G

UE

DE

S

Page 40: UPorto Alumni #22

38

UPORTO ALUMNI 22

forme as conjunturas, são indissociáveis das personalidades que, com as suas ações – com sensível grau de autonomia – marcam os even-tos. O brigadeiro António Pires Veloso será uma dessas figuras.Em setembro de 1975, Pires Veloso – aliás, antigo aluno da U.Porto, onde esteve inscrito nos Cursos Preparatórios Militares da Faculdade de Ciências antes de seguir para a Academia Militar – tinha sido nomeado Comandante da Região Militar do Norte (RMN) pelo general Carlos Fabião, em substituição de Eurico Corvacho, ligado ao setor gonçalvista do Conselho da Revolução. Vindo de S. Tomé e Príncipe, onde tinha acompanha-do, como governador e depois alto-comissário, o processo de descolonização, Pires Veloso colhia o consenso do setor moderado. Nas suas próprias palavras, era contra o comunismo (2) e vinha com a clara ideia de colocar ordem num exército em que a obediência hierárquica e a disciplina mili-tar tradicionais não seriam, certamente, as carac-terísticas mais visíveis.Numa tentativa de reduzir a influência de ele-mentos de esquerda no seio do CICAP – embora justificando-a na altura com motivos funcionais –, o Comando da RMN ordenara no início de outu-bro a transferência de dois oficiais e cinco solda-dos. A ‘assembleia da unidade’ (3), reunida no dia 3 de outubro, opõe-se ao “saneamento” dos seus camaradas. A resposta do Comando da RMN não se fará esperar: na madrugada de 4 de outubro, determina o imediato encerramento do CICAP, que acusa de “insubordinação colectiva”. Na noite desse mesmo dia, uma unidade do Agrupamento Militar de Intervenção (4) ocupa o quartel. Duran-te toda a noite, no exterior, manifestantes contra o encerramento do CICAP são dispersados com tiros para o ar e gás lacrimogéneo. No dia 6, os SUV, apoiados por diversas forças de extrema-es-querda e pelo Partido Comunista, organizam uma manifestação de apoio aos soldados do CICAP que o Jornal de Notícias descreve como “uma enorme multidão, constituindo certamente um dos maio-res cortejos que já desfilaram no Porto”. Entre as vozes de ordem, aqui nasce a célebre frase “o CICA é do povo, não é do Veloso”. Ao mesmo tem-

po, uma manifestação do Partido Popular Demo-crático (mais modesta, mas convocada para a mes-ma hora), encabeçada por Francisco Sá Carneiro, apoia as medidas de Pires Veloso. Felizmente, não se encontram. A manifestação dos SUV tomará lugar em frente ao quartel e, mais uma vez, du-rante a noite, existirão confrontos, desta vez com a Polícia de Segurança Pública, com os inevitáveis cassetetes, gás lacrimogéneo e, mesmo, alguns ti-ros (um dos manifestantes dá entrada no hospital com uma ferida de bala no abdómen). Nos dias seguintes, o conflito – em crescendo – será trans-ferido para o Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, com a ocupação da unidade por militares de diversas proveniências, que a engalanarão com bandeiras vermelhas.Esta situação de instabilidade – afinal, de con-fronto entre os diversos setores de esquerda e setores mais moderados, agravada no Norte pela ação dos radicais de direita – é ainda mais can-dente em Lisboa, onde se vive a “psicose do golpe de Estado” (5).Talvez por isso não surpreenda tanto que no co-municado emitido na madrugada de 4 de outu-bro pelo comandante da RMN não se fale apenas de reestruturação do CICAP e do licenciamento de todos os milicianos, mas também, e logo, da possibilidade de alienação do edifício: “prever o possível aproveitamento das instalações do C.I.C.A.P. para um estabelecimento de ensino, permitindo, deste modo, a concretização de uma tarefa revolucionária de valorização do povo, que neste momento o C.I.C.A.P não está em condi-ções de realizar”. Portanto, se a unidade se reve-lou incapaz de cumprir a sua função, deveria ser utilizada para fins que servissem o povo. Este dis-curso, que nos poderá surpreender hoje, é, con-tudo, uma marca que atravessa todas as corren-tes políticas do período revolucionário: as ações são justificadas, antes de mais, pela perceção que cada um tem do que é o interesse popular (neste caso, a noção das necessidades das instituições civis). Outra característica desse tempo é a auto-nomia revelada pelo brigadeiro Pires Veloso nes-ta decisão, mas cujo conteúdo de alguma forma prenuncia a reorganização das forças armadas

VIDAS E VOLTAS

Notas:

Todas as citações no texto não

identificadas são retiradas das

edições do Jornal de Notícias dos

dias 3 a 9 de outubro de 1975.

(1) O Regimento de Infantaria N.º

6 ocupou o Quartel da Torre da

Marca no decorrer do séc. XIX. A

Horta de Infantaria 6 era primi-

tivamente administrada por este

regimento, “que dizia pertencer-

-lhe por disposição testamentária,

para benefício das praças do

Regimento”. Em 1915, a horta foi

incorporada no património do

Estado. Foram, aliás, maioritaria-

mente estes terrenos que foram

cedidos quer para regularização

do traçado da Rua do Triunfo, em

1902, quer, em 1931, na permuta

efetuada com Alfredo Moreira

da Silva. Fonte: Tombo do Prédio

Militar N.º 19 / Porto, Direção do

Serviço de Fortificações e Obras

Militares, 3.ª Repartição – Patri-

mónio, 1963.

(2) Declarações de António Pires

Veloso a Carlos Pinto Coelho,

programa Conversa Maior, 2010.

Esta entrevista pode ser acedida

a partir de http://www.rtp.pt/

rtpmemoria/.

(3) Assembleia representativa

própria de cada unidade militar

com capacidade para “analisar a

evolução política da vida nacional

e da sua unidade ou órgão e sobre

a mesma emitir pareceres”. De-

finição constante da Portaria do

Conselho da Revolução 453/75,

de 24 de julho, neste caso relativa

à Força Aérea.

(4) O Agrupamento Militar de

Intervenção foi uma estrutura

operacional criada a 25 de se-

tembro de 1975 pelo Conselho da

Revolução para intervir em casos

de ordem pública, com o intuito

de reduzir a dependência do

Comando Operacional do Conti-

nente (COPCON) de Otelo Saraiva

de Carvalho, afeto à extrema-

-esquerda.

(5) REIS, António, 1994 – O pro-

cesso de democratização, in “Por-

tugal 20 anos de democarcia”,

coord. de António Reis. Lisboa:

Círculo de Leitores.

Page 41: UPorto Alumni #22

39

que se efetuará paulatinamente após o 25 de no-vembro de 75, levando à redução e concentração das unidades militares. Não será, aliás, o CICAP o único caso, uma vez que, por exemplo, se en-saiará também a transferência do Quartel das Taipas (parte do convento de S. Bento da Vitória), onde funcionava o tribunal militar territorial e uma dependência da cooperativa militar, para a posse da U.Porto.Embora o destino específico do edifício do CI-CAP não estivesse logo determinado, a Reitoria, instalada em condições precárias e incapaz de dar resposta ao crescimento acelerado da procu-ra estudantil, manifesta em setembro de 1976 a vontade de se transferir das suas exíguas instala-ções no edifício da Praça de Gomes Teixeira para o ex-complexo militar. Efetivamente, iniciará a transferência dos seus serviços ao longo do mês de outubro. Mas o CICAP será também impor-tante para o Hospital de Santo António, parti-cularmente após o incêndio da sua ala norte em 1976, permitindo-lhe aí a instalação de diversos serviços; em março de 1977, um protocolo esta-belece a divisão dos espaços entre as duas enti-dades, mas só em janeiro de 1980 será lavrado o auto de cessão às secretarias de Estado do Ensino Superior, por um lado, e da Saúde, por outro. No caso da U.Porto, estabelece-se aí a finalidade de instalação do Instituto Superior de Educação Física e de uma cantina universitária. A can-tina foi instalada, e a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física (hoje mais simples e elegantemente denominada de Faculdade de Desporto) também esteve no CICAP, mas tem-porariamente e por mero acaso, uma vez que al-guns serviços que estavam instalados no edifício do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) aí foram acomodados após o incêndio na ala sul deste edifício, em 1992.

Instalação da ReitoriaA Reitoria ocupará a maior parte do CICAP até ao seu regresso ao edifício da Praça Gomes Teixeira, mas pouco alterará as infraestruturas existen-tes: os diferentes edifícios do velho quartel ain-da seriam reconhecíveis para quem lá entrasse. Pelo contrário, o projeto que se executa após a sua saída – as novas instalações da Faculdade de Farmácia e do ICBAS – provocará uma profunda transformação daquele espaço. No que diz res-peito às instalações universitárias, a continuida-de do edifício de comando mantém a memória da presença militar, ao mesmo tempo que oculta o restante complexo; mas do quartel mais nada ficará, e o profundo desmonte alterará definiti-vamente a configuração daquela elevação sobre o rio. Não será exagerado afirmar que os novos edifícios universitários, a que devemos adicionar o Centro Materno-Infantil do Norte, constituem sob o ponto de vista urbanístico a maior interven-ção pública no centro do Porto no período pós--Capital da Cultura.Por outro lado, a inauguração deste complexo (agora) universitário, a 20 de janeiro de 2012, no mesmo dia de idêntica cerimónia no Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina, tem outro valor simbólico, marcando o final do ciclo de expansão das infraestruturas de ensino da U.Porto iniciado nos anos 80.E, finalmente, as duas faculdades da U.Porto que voluntariamente partilham as mesmas infraes-truturas, numa perspetiva de racionalização de recursos e de interação académica, estão em mais do que uma união de conveniência: fazem parte de um projeto mais vasto de desenvolvimento de um polo de saúde no centro da cidade, articulan-do as suas áreas formativas e de investigação com a prática clínica do Centro Hospitalar do Porto. Certamente que o general António Pires Veloso, falecido no ano passado, não teria capacidade de prever, naquele outono em brasa, os resultados do seu legado. Mas é certo que este se tornou uma peça fundamental para o desenvolvimen-to da Universidade, que por isso lhe deve estar grata.

Page 42: UPorto Alumni #22

40

AN

AB

EL

A S

AN

TO

S

Os termómetros marcam 370 C, numa tarde de verão, em Guimarães. Apetece uma piscina… E se for uma fonte públi-

ca, mesmo no centro da cidade? Ficar com água pelo joelho e deitar numa espreguiçadeira às ris-cas amarelas… Mergulhar o corpo todo também é opção. Ou, então, ficar sentadinho, por baixo do guarda-sol, também às riscas, com os pés molha-dos, a jogar às cartas? Vai saltar para a água e fa-zer o que nunca fez, ou calar o corpo e seguir em frente? “Fountain Hacks”, projeto dos LIKEarchi-tects, foi apresentado durante a Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. A propor ritmos na atmosfera, nem sempre suaves, desde 2012, a história desta gente da “Escola de Arquitetura do Porto” começou antes de serem LIKE.No início eram três. Diogo Aguiar e João Jesus cruzaram-se durante um estágio curricular na Holanda. Foi a distância que os cruzou. E apro-ximou. Regressaram ao Porto, à Faculdade de Arquitetura da U.Porto para defender a tese, em

Interferem no espaço público. Ou podemos dizer que dão respostas em forma de pontos de interrogação. Lançam anzóis que nos prendem a roupa, quando vamos, rotineiros, pela rua fora. Fazem parar, pensar e, talvez, agir. O convite é provocatório. Os materiais que usam são improváveis. As cores, inusitadas.

Até a conceção de tempo não é a habitual para arquitetos… Se pensarmos que uma construção pode levar anos a erguer… As deles são efémeras. Estes não são arquitetos convencionais. Incubada no UPTEC – Parque de Ciência e

Tecnologia da U.Porto, a startup LIKEarchitects nasceu em 2012. O período de incubação está a acabar… É preciso olhar em frente. E ainda bem.

2007, e depois rumaram em direção a Lisboa. Já eram três: Diogo, João e Teresa Otto. Entre a en-trega da tese e a viagem para Lisboa, ainda tive-ram tempo de apresentar uma candidatura para a realização de um bar para a Queima das Fitas do Porto. A necessidade do nome surge quando a Universidade do México os convida para dar um workshop. Criaram e registaram a marca em 2010 e, logo no ano seguinte, agarram um desafio clássico para qualquer arquiteto: trabalhar a luz. O Museu do Design e da Moda de Lisboa, em parceria com a Câmara Municipal, lançou um concurso que con-vocava ateliês de arte, design e arquitetura a pro-por instalações efémeras de luz para substituir as convencionais iluminações de Natal. Os LIKE venceram. Trouxeram a iluminação para o chão e criaram relações espaciais de proximidade. Ti-nham percebido, com o bar que fizeram para a Queima das Fitas, as potencialidades do plástico para a difusão da luz. “Absorve e expande. Com menos luz conseguimos ter um impacto maior. Não queríamos colunas opacas, mas sim etéreas. Transparentes”. Recorreram a dispensadores de sacos plásticos. A ideia venceu. “Acabou por ser a peça ideal. Definimos uma função e procura-mos o objeto que melhor desempenhasse essa função”. Assim nasceram as “Frozen Trees”. “Quando cheguei a casa, nesse Natal, o presépio era feito com dispensador de sacos plásticos”, re-corda Diogo Aguiar. Em 2012, foi a vez de a IKEA os procurar com uma proposta: fazer a promoção das lâmpadas led. A resposta foi: “LEDscape”, instalação que esteve nas imediações do Centro Cultural de Be-lém. As lâmpadas iam acendendo à medida que se ia percorrendo um determinado trajeto. “Per-

01

02

Page 43: UPorto Alumni #22

41

UPORTO ALUMNI 22EMPREENDER

cebemos que havia mercado para este tipo de ações de marketing, menos convencionais e mais ligadas à experiencia”. O projeto (finalista do Prémio Fomento de las Artes y del Diseño - FAD –  2013 e distinguido na Bienal Ibero americana de Desenho de 2014) “falava por si e foi funda-mental para percebermos o nosso posicionamen-to”, explica Diogo Aguiar. “Alguns arquitetos têm pudor em desenvolver determinadas áreas, no-meadamente a publicidade e o marketing, mas a arquitetura pode ter essa vertente: aproximar das marcas e trabalhar o espaço de forma a que seja mais interessante para todos”. O projeto mostrou “que não precisamos de ser ‘pornográficos’, ou impositivos na publicidade à marca. Às vezes, o impacto é maior se a coisa não for assim”.

Arte e Arquitetura, o statment da ambiguidade Ainda em 2012, depois de terem ganho o concur-so Performance Architecture, para a Guimarães 2012, com “Fountain Hacks”, e o concurso para o Circuito Aberto de Arte Pública de Paredes, avan-çaram para a criação da empresa no UPTEC. O âmbito de ação é, desde o início, transversal. Am-plo. Intencionalmente ambíguo. “É arquitetura ou é arte?” É essa a identidade que apresentam e é “esse posicionamento ambíguo” que os leva a angariar o cliente certo. “Esse statment, de que a arquitetura pode ser outras coisas, faz com só

nos procure quem tem ideias loucas, quer fa-zer coisas esquisitas, ou quer ser provocado com respostas que não estava à espera”, escla-rece Diogo Aguiar. Todo o processo de

investigação sobre materiais e espaços, toda a linguagem que têm desenvolvido já modelou o cliente e o tipo de projeto a que se propõem. “No espaço público criamos um pensamento, uma pergunta, um sentimento ou diversão”, explica João Jesus. “Provocar a discussão. Acontece… E acontece uma conversa saudável sobre…”. Outro projeto esclarecedor deste processo de in-tervenção no espaço público foi o “Museu Andy Warhol”, que criaram no Centro Comercial Co-lombo, em Lisboa, em 2013. Para expor as obras do pai da pop art, automaticamente associado a imagens como a da lata de sopa Campbell’s ou aos retratos da atriz Marilyn Monroe ou do cantor Mick Jagger (que também lá estavam), os LIKEarchitects reagiram de acordo com o con-texto. “Claro que, para [Henri] Matisse, não seria o pavilhão indicado. Há um diálogo entre a es-trutura expositiva e as obras expostas”. O corpo que resultou deste raciocínio [finalista do prémio International Space Design Award – Idea Tops 2013 – Exhibition (China) 12/2013] era totalmen-te constituído por latas e permitia diferentes ní-veis de leitura. “Um crítico de arte pode levantar a questão sobre o que é expor Andy Warhol num espaço que não é neutro, mas que é tão extrava-gante quanto a obra. Num espaço que reflete o observador, podem levantar-se várias questões”. Em 2013, chegou o convite do Museu da Presi-

01 “Frozen Trees”

02 “Fountain Hacks”

03 “Kinematix”

04 João Jesus e Diogo Aguiar (da esq. para a dir.)

03 04

Page 44: UPorto Alumni #22

42

OLHARES UPORTO ALUMNI 22

dência da República para iluminar os jardins da instituição. “A escala era vasta e o orçamento cur-to”. Tinham de “interferir num jardim barroco de forma delicada”. Não queriam ser impositivos, mas a intervenção teria de ter escala. Concebida para ser vista à noite, teria de ter impacto durante o dia. “Criamos arcos de luz”. E assim se formou “Conste.llation”. A seguir concorreram ao Amsterdam Light Fes-tival. E venceram. O concurso “tinha a ver com união e solidariedade. Estávamos a criar uma constelação, uma união de pontos para a união de pessoas”, justifica João Jesus. E a instalação seguiu para Amesterdão. “O contexto permitia utilizar a mesma instalação, ou princípio. Procu-ramos projetos em que o fator protótipo e de ex-perimentação esteja consolidado e damos passos de otimização, o que nos permite estar com mais segurança. Avançamos para um território desco-nhecido com elementos que já dominamos”. Cá dentro, mote para performances, encontros inesperados e, até, pensamentos cruzados com Escher, “Tripod” é outro projeto que seguiu a mesma lógica de projeção. Trata-se de uma es-pécie de escadaria com varanda pública que, durante o primeiro período de vida, esteve, lilás, no Largo São Domingos, no Porto. Integrado na Locomotiva, iniciativa de dinamização do Cen-tro Histórico do Porto concebido pela empresa municipal Porto Lazer, estará exposto durante o período de verão, agora em amarelo, na Rua Chã. As varandas, explica Diogo Aguiar, “muito visíveis no espaço público, são espaços privados. Queríamos dar a possibilidade, aos turistas por exemplo, de estarem à altura de uma varanda e verem o espaço público desse ponto”. Depois quiseram explorar a questão do acesso à varanda. “Provoca novas intimidades. Enquanto uma pes-soa está a descer, outra está a subir e encontram--se num espaço pequenino. Existe esse constran-gimento”. Subimos para ver mas, na verdade, estamos a ser vistos. “E não sendo nada é tudo ao mesmo tempo: houve corridas de degraus, um jantar (em parceria com um restaurante local), artes performativas, concertos, funcionou de play ground para crianças”. A ausência de uma fun-ção específica originou uma multiplicidade delas.

“Funcionou bem esse contraste de uma peça tão pequena poder confundir a mente”, acrescenta João Jesus.

Proposta pode ser convencional, a resposta não A lista de prémios e distinções é longa, para tão curto tempo de existência, e o próximo projeto impõe que se puxe do galardão “logo à cabeça”. Foi distinguido entre mais de quatro mil propos-tas oriundas de 35 países, concorrentes aos con-ceituados prémios chineses que todos os anos celebram a arquitetura e o desing de interiores a nível mundial. Já foi publicado em diversas re-vistas da especialidade, como a Domus, Blueprint ou Le Moniteur Architecture. O “Kinematix” ven-ceu o Prémio Internacional IDEA - Tops 2014, na categoria de Best Design of Office Space. É um projeto irreverente desenhado para um espaço de trabalho, com um sistema articulado de por-tões (como os de garagem), permitindo múltiplas reconfigurações formais. O recurso a elementos modulares móveis e o caráter interativo e versá-til foram as caraterísticas destacadas pelo júri. O cliente, uma empresa de microtecnologia que es-tava a sair da UPTEC, desafiou-os a redesenhar o interior de um espaço que já existia (nas Galerias Lumiére, no Porto). Vinha à procura de uma pro-posta inovadora. “Trabalhamos um conceito que introduzisse flexibilidade e compartimentasse o espaço de acordo com as necessidades do cliente, daí a colocação das portas de correr”. O ensino e a proximidade às escolas é uma ou-tra vertente, talvez menos mediática, do trabalho que os LIKEarchitects desenvolvem. Foi o caso do projeto que implementaram em Almada (com o ISCTE) e do qual resultou uma peça temporária, num bairro de construção não legalizada. Tema que começa agora a ser trabalhado e estudado

01 “Museu Andy Warhol”

02 Equipa da LIKEarchitects

03 “Fountain Hacks”

04 “Conste.llation”

05 “Tripod”

02

01

Page 45: UPorto Alumni #22

43

pelas escolas, diz-nos Diogo Aguiar. “Não é o território de ação ideal para o arquiteto de há uns anos, mais convencional, mas hoje começa a ver-se a arquitetura preocupada em dar digni-dade a estes espaços”. Neste bairro de Almada, que tinha uma lixeira numa zona de entrada e onde não havia espaços de usufruto público, um workshop de duas semanas, com os habitantes lo-cais, serviu para traçar o diagnóstico e fazer o de-senho do projeto. Desenharam uma mesa comu-nitária, com mais de cinco metros, com placas de OSB oferecidas por uma empresa. “Achamos interessante transformar aquela lixeira num jar-dim e ponto de encontro”. Balanço feito, podem não ter feito vingar a ideia de que aquele espaço já não era uma lixeira, porque dois anos depois voltou a assumir a antiga função, mas da perti-nência de um local de união pública já ninguém quis prescindir. A mesa foi protegida e deslocada para outro espaço que foi transformado pelos ha-bitantes locais em praça pública.

Internacionalização da empresaEm breve vão deixar de ser startup. E assumir outras responsabilidades. E então, daqui para a frente, o que se segue? Segue-se uma viagem até Praga, para participar em mais uma quadrienal de artes performativas em espaço público. Vão fazer um workshop com alunos de várias nacio-nalidades e explorar diferentes utilizações da fita--cola em espaço público. Já está esgotado. Segue--se Macau, para desenvolver outro workshop com estudantes de várias universidades. O objetivo é construir uma peça em espaço público. Vai cha-mar-se “Place Out”. As “Frozen Trees”, que após a primeira aparição no Rossio, em dezembro de 2011, aterraram em Londres, foram uma espécie de cavalo de Troia no mercado internacional. Depois foi a vez de “Conste.llation”, em Amesterdão, e, este ano, já receberam outra encomenda para fazer instala-ções de luz a seguir ao Natal. Nos Alpes. Também voltaram a vencer o concurso para o pavilhão ex-positivo do Shopping Colombo, o que quer dizer que, ainda este ano, voltam a reinventar uma es-trutura para aquele espaço. Mais a norte, vão fazer um bar temporário na

praia do Castelo de Queijo. Será uma estrutura efé-mera acoplada a outra já existente. Ainda no Porto, para a Rua da Picaria, estão a desenhar uma cer-vejaria com dois pisos e uma guest house com três. “Vamos explorar o diálogo entre as estruturas con-temporâneas e o existente. Há que perceber muito bem essa tenção entre o que é novo e o que sempre existiu”, explica Diogo Aguiar. No fundo, é deixar que o edifício conte a história do que sempre foi e assuma o que é novo. Um pouco à semelhança do que está a acontecer em todo o centro da cidade. “Vamos procurar explorar os contrastes, de uma forma um pouco provocatória, mas respeitosa do edifício”. Em Aveiro, estão a desenvolver o projeto de uma cervejaria com um hostel. Outro cliente que já sabia ao que vinha. “Veio à nossa procura. Sabia o que fazíamos e desafiou-nos. E nós queremos o melhor para o projeto, sendo que o melhor para o projeto é o melhor para o cliente”. A startup vai deixar de o ser em março de 2016, mas a proximidade do calendário não assusta. A relação que têm com o tempo também é peculiar. Enquanto os projetos mais convencionais de arquitetura de-moram anos a concretizar, a dinâmica dos LIKE é outra. “Os nossos projetos começam hoje para esta-rem prontos daqui a três meses e têm quinze dias de vida”. Daí que março de 2016 esteja, aonde está, no calendário do próximo ano. “Não vemos com gran-de preocupação”, diz Diogo Aguiar. O crescimento sustentado da empresa permite dar o corpo ao ma-nifesto do futuro. “Temos uma visão empresarial que não tínhamos quando entramos, temos uma rede de clientes mais constante e já conhecemos os fluxos ou cadência de solicitações, o que permite an-tever o estado da empresa”, resume Diogo Aguiar. E saber, acrescenta João Jesus, “aonde ir buscar clien-tes e comunicar os projetos”. Os sete, agora são sete, embora sem Teresa Otto, partilham um gabinete de janelas amplas para a rua. E se há coisa que já perceberam é que é isso que que-rem manter: luz natural a entrar e as pessoas a pas-sar lá fora na rua. “Achamos saudável essa intera-ção”. Também começa a fazer falta mais espaço. “Às vezes, sentimos a necessidade de encostar tudo para o lado e transformar o espaço em oficina”, confessa Diogo Aguiar. Resumindo, é chegado “o momento de charneira. Está na hora de dar o passo”.

03

05

04

Page 46: UPorto Alumni #22

44

UPORTO ALUMNI 22MÉRITO

A U.Porto atribuiu o título de Doutor

Honoris Causa ao ex-Presidente da Re-

pública Jorge Sampaio, reconhecendo,

desta forma, o seu notável percurso de

intervenção cívica, política e intelectual

que teve início na oposição à ditadura, no

dealbar dos anos 60, e prosseguiu com

o desempenho de relevantes cargos par-

tidários e de soberania, depois do 25 de

Abril de 1974.

Após cumprir dois mandatos como chefe

de Estado (1996-2006), Jorge Sampaio

dedicou-se a missões de apoio humani-

tário internacional, assumindo os cargos

de Enviado Especial do Secretário-Geral

da ONU para a Luta Contra a Tuberculose

(2006-2007) e de Alto Representante

da ONU para a Aliança das Civilizações

(2007-2013).

Foi distinguido com o Grande-Colar da

Ordem da Torre e Espada, do Valor, Leal-

dade e Mérito e da Ordem da Liberdade,

sendo ainda Grande-Oficial da Ordem do

Infante D. Henrique.

A cerimónia de atribuição do título teve

lugar a 24 de fevereiro e contou com a par-

ticipação de Alexandre Quintanilha, como

padrinho do doutorando, e de José Madu-

reira Pinto, como elogiador do mesmo.

Honoris Causa para Jorge Sampaio

João Ribeiro éo novo pró-reitor da U.Porto

Conselho de Curadores tem novos membros e presidente

João Ribeiro é desde 1 de junho o novo

pró-reitor da U.Porto para as áreas do Pla-

neamento Estratégico e das Participações

Empresariais. O professor auxiliar da FEP

foi o escolhido pelo reitor para substituir

no cargo Patrícia Teixeira Lopes – que

assumiu o cargo de vice-dean da Porto

Business School –, “atendendo aos vastos

conhecimentos e larga experiência nos

domínios em apreço”.

Licenciado em Economia pela FEP, mestre

e doutorado em Contabilidade e Finanças

pelo UMIST/Universidade de Manchester,

João Ribeiro, de 41 anos, é docente na

FEP desde 1996, tendo centrado a sua

atividade de docência e investigação nas

áreas do Controlo de Gestão e da Conta-

bilidade Financeira, as quais, segundo o

próprio, “assumem especial relevância”

nas funções que exerce na Reitoria.

O mais recente membro da equipa reitoral

apresenta também uma extensa experiên-

cia de gestão universitária: entre 2006 e

2009, foi o primeiro diretor do Programa

de Doutoramento em Ciências Empresa-

riais com componente escolar da FEP e,

atualmente, dirige o Mestrado em Gestão/

Master in Management.

Cinco anos após o início do seu mandato,

o Conselho de Curadores da U.Porto alte-

rou a sua composição. Os três membros

que cumpriram por completo o mandato

– Paulo Azevedo, Carlos Tavares e Maria

Amélia Cupertino de Miranda – foram

substituídos por outras três personalida-

des de relevo nacional.

No âmbito das suas competências, ouvi-

do o Reitor, o Conselho Geral da U.Porto

convidou para integrarem o Conselho de

Curadores Eugénia Aguiar Branco (licen-

ciada em História pela FLUP e diretora-

-geral da Fundação Eng. António de Al-

meida), Manuel Ferreira de Oliveira (licen-

ciado em Engenharia Eletrotécnica pela

FEUP, antigo professor catedrático desta

Faculdade e ex-CEO da Galp Energia)

e Miguel Cadilhe (licenciado em Economia

pela FEP e antigo ministro das Finanças).

Este último (na foto) foi, mais tarde, eleito

pelos seus pares presidente do Conselho

de Curadores.

Os dois curadores que permaneceram em

funções, por ainda não terem completado

o mandato, são Odete Patrício (diretora-

-geral da Fundação de Serralves) e José

Manuel Fernandes (presidente do Conse-

lho de Administração da Frezigest).

Page 47: UPorto Alumni #22

45

Um estudo liderado pela investigadora do

Ipatimup Sónia Melo, já publicado na Na-

ture, demonstrou que as células tumorais

do pâncreas produzem exossomas com a

proteína glypican-1 (GPC1). Mais: a presen-

ça destes exossomas no sangue permite

distinguir entre indivíduos sem doença ou

com doença benigna do pâncreas e doen-

tes com cancro do pâncreas.

Num modelo experimental foi possível

demonstrar que a deteção de exossomas

positivos para GPC1 se correlaciona com

a presença de lesões pancreáticas iniciais

não detetáveis por ressonância magnéti-

ca. Por conseguinte, este modelo pode ser

utlizado quer como ferramenta de diag-

nóstico não invasiva (pois os exossomas

com estas características são percetíveis

numa análise ao sangue), quer como

ferramenta para detetar fases iniciais de

cancro do pâncreas.

Licenciada em Bioquímica pela FCUP,

Sónia Melo concluiu o Programa GABBA

e fez um pós-doutoramento na Harvard

Medical School e no MD Anderson Cancer

Center. Este ano foi distinguida na 11.ª edi-

ção das Medalhas de Honra L’Oréal Portu-

gal para as Mulheres na Ciência.

Ramon O’Callaghan é o novo deanda PBS

U.Porto sobe três lugares na investigação iberoamericana

Sónia Melo descobre método de deteção precoce de cancrodo pâncreas

O espanhol Ramon O’Callaghan é, desde

4 de maio, o novo presidente da Direção

da Porto Business School. O atual dean

da escola de negócios da U.Porto, que su-

cede a Nuno de Sousa Pereira, conta com

uma extensa experiência em cargos de

direção de escolas de negócios na Europa

e Ásia Central. Foi já diretor da TIAS Busi-

ness School (Universidade de Tilburg, Ho-

landa), da Deusto Business School (Espa-

nha) e da Nazarbayev University Graduate

School of Business (Cazaquistão).

Licenciado em Engenharia pela Universi-

tat Politècnica de Catalunya, O’Callaghan

tem ainda um MBA pelo IESE Business

School e um DBA pela Harvard Business

School.

Especialista em gestão estratégica, tecno-

logia e inovação, O’Callaghan lecionou em

programas de formação para executivos

na INSEAD, na London Business School,

no MIT Sloan, na Purdue University e na

Solvay Brussels, por exemplo.

O novo dean acumula também experiên-

cia na área empresarial, graças à sua ati-

vidade de consultor em empresas como

a IBM, KPMG, Philips, Pricewaterhouse-

-Coopers ou Shell.

A U.Porto ascendeu à 7.ª posição do SIR

IBER (The Ibero-American SCImago Insti-

tutions Ranking), cuja edição de 2015 re-

sultou da análise da produção científica

das instituições de ensino superior ibe-

roamericanas (América Latina, Caraíbas e

Península Ibérica) entre 2009 e 2013.

Publicado pelo Grupo SCImago e tendo

como fonte a base de dados Scopus,

este ranking resulta de uma análise com-

parativa da atividade científica de todas

as instituições do espaço iberoamericano,

de acordo com indicadores bibliométricos

como o número de publicações, o impacto,

o fator de qualidade,  o índice de especiali-

zação, a liderança científica ou a excelên-

cia das publicações.

A U.Porto sobe três lugares em relação

a 2014, sendo a única do “top 10” a me-

lhorar a sua classificação. No total, a

Universidade  contabiliza 17.783 artigos

publicados no período em estudo, mais

2.000 do que os 15.750 registados em

2014 (relativos ao período entre 2008 e

2012) e 5.000 face à edição 2013 (12.904

artigos publicados entre 2007 e 2011). Re-

gista ainda um fator de impacto (citações

por publicação) de 1.16, o que significa que

é citada cerca de 16% acima da média

mundial.

Page 48: UPorto Alumni #22

46

UPORTO ALUMNI 22

São 18h30, aproxima-se o final de um au-têntico dia de verão mas hoje é dia de trei-no e ainda falta passar pela Faculdade de

Desporto da U.Porto (FADEUP). Motivo? Uma aula de ginástica rítmica, uma das 17 atividades diferentes ligadas ao fitness que é possível prati-car na Universidade. As participantes chegam a conta-gotas à sala da aula disponibilizada pela FADEUP. Pouco tempo depois, a aula avança já a bom ritmo. “Um libertar de energia acumulada ao longo do dia”, é a forma que Sara Cristóvão, funcionária da Faculdade de Engenharia, encon-tra para descrever estas aulas. A atividade já vai a meio mas continua com for-ça ou não fosse conduzida pela instrutora mais “antiga da casa”, a experiente Raquel Queirós, que coordena aulas deste tipo desde 2004 e é a responsável por motivar e treinar as “tropas”. “A vontade e a motivação parte das alunas, o que procuro é recebê-las bem, integrá-las e mantê-las motivadas para a prática desportiva”, diz. Mas, acima de tudo, confidencia que procura sempre “que todas as participantes saiam da aula com um sorriso”. Este parece ser um lema que resul-ta, já que Raquel Queirós tem sempre as suas aulas bem preenchidas (só nesta estavam 20 mu-lheres) – ela que, para além da ginástica rítmi-ca, já passou também pelo cardiolocal, aeróbica, musculação e localizada.

Vantagens do Programa UPFITPara esta instrutora, o programa UPFIT é “uma opção económica e excelente para a prática corre-ta de desporto”. O preço, a flexibilidade do horá-rio e a motivação incutida pelos professores são algumas das razões apontadas por Sara Cristóvão para frequentar estas aulas praticamente desde que apareceram na FADEUP. Já Shirley Batista, estudante de doutoramento da mesma faculda-de, é outra participante no UPFIT que confessa que tem vindo paulatinamente a ganhar “qua-lidade de vida, força, resistência e a combater o sedentarismo”. Mas não só de bem-estar físico vive o desporto. Para Shirley, a aula de ginástica rítmica ajudou também a “conhecer muita gente nova num país diferente do meu”, como nos confidenciou. Já Sara Cristóvão admitiu que “já trouxe pessoas que trabalham comigo, o que ajudou a criar espí-rito de equipa e de grupo e melhorou bastante o ambiente profissional”.

PE

DR

O R

OC

HA

DESPORTO

Mais de duas mil pessoas, na sua gran-de maioria da comunidade académica da

U.Porto, estão a “mexer-se” com o UPFIT, o programa do Centro de Desporto da Univer-sidade (CDUP-UP) que, desde 2013, trabalha para melhorar a qualidade de vida de docen-tes, estudantes, alumni e colaboradores. De resto, com o cartão UPFIT é possível parti-cipar em nove sessões à escolha entre uma

grande variedade de atividades físicas e mo-dalidades desportivas.

O DESPORTO ESTÁ MESMO A AGITAR O CAMPUS

Page 49: UPorto Alumni #22

47

Esta é apenas uma das aulas incluídas no Pro-grama UPFIT do Centro de Desporto da U.Porto (CDUP-UP), que engloba também sessões de fitness, sessões de musculação e treinos de mo-dalidades em diferentes instalações desporti-vas, como a FADEUP, o Pavilhão Luís Falcão, o CDUP-Boa Hora e o Estádio Universitário. No to-tal, há desporto de segunda a sábado e com todas as opções de horário. Estão previstas, por exem-plo, aulas de musculação a arrancarem às 7h30, na FADEUP, ou uma aula de tiro com arco, às 22 horas, no Estádio Universitário. Por isso, já não há mesmo desculpa para não se fazer desporto na Universidade. Este é mesmo o mote deixado pelo diretor do CDUP-UP, Bruno Almeida: “Se-jam ativos, estejam envolvidos, sejam U.Porto!”.Refira-se a propósito que, com o cartão UPFIT, a comunidade académica e não só podem partici-par em nove sessões à escolha. As atividades que compõem o Programa UPFIT são o fit, o cardio-local, o combat & abs, a djembel dance, as danças de salão, a ginástica GAP, o gymfit, a ginástica localizada, a hidroginástica, a musculação & car-diofitness, a natação (avançada, adultos, kids e adaptada), os pilates, o powerfit, o step, a yoga, o TRX e a zumba. Já as modalidades são o bad-

minton, a escalada, a esgrima medieval, o judo, o karaté, o karaté kids, o kung fu, o taekwondo, o tai-chi & qi gong e o tiro com arco. O preço do cartão UPFIT varia entre os 20 (estudante) e os 25 euros (externo). A modalidade do cartão mus-culação dá para utilizar durante nove sessões, com preços entre os 15 (estudante) e os 25 euros. Mais informação sobre os horários e os preços do programa pode ser encontrada em http://www.cdup.up.pt.

Dias temáticos e solidariedadeO CDUP-UP tem também apostado nos dias temáticos, que dão a oportunidade a potenciais utilizadores de experimentarem novas modalida-des ou, simplesmente, de verem como se faz e testarem noutros dias. São exemplos disso, o me-gacircuito realizado no Dia Mundial da Atividade Física, que juntou mais de 60 pessoas a fazerem gymfit e pilates com aconselhamento nutricional e avaliações físicas, a Halloween Party ou a UPFit Summer Party. Já nos dias da família (da mãe, pai e criança), o CDUP-UP convidou os pais a participarem na aula de Natação Kids, que reuniu cerca de 30 crianças com os respetivos progenitores a acom-panharem e a participarem ativamente na aula. Desde o Natal de 2013 que o CDUP-UP tem di-namizado a semana desportiva solidária com a comunidade académica e o público em geral, na qual se pode trocar um bem alimentar ou de higiene pessoal por uma hora de exercício físico saudável. São mais de 17 aulas diferentes, que contam com a solidariedade de várias pessoas. Ao longo de uma semana, nos quatro espaços desportivos da U.Porto (Estádio Universitário, Pavilhão Luís Falcão, FADEUP e CDUP-Boa Hora) são entregues mais de 100 produtos, que posteriormente chegam à Associação Protetora da Criança. Incentivar e sensibilizar a comunidade académi-ca da U.Porto para a necessidade de contribuir com um pequeno gesto para a melhoria da qua-lidade de vida das crianças é o grande objetivo desta campanha.

U.Porto coorganizou melhor mundial universitário de 2014

Nem só de desporto infor-mal vive a Universidade. O CDUP-UP é também res-ponsável por representar a U.Porto no desporto uni-versitário de competição. Ora, em junho, o Mundial Universitário de Voleibol de Praia 2014, organiza-do conjuntamente pela U.Porto, Instituto Politéc-nico do Porto e Federação Académica do Porto, foi reconhecido pela Federa-ção Internacional de Des-porto Universitário como o “Melhor Campeonato Uni-versitário do Mundo” do ano passado. Esta distin-ção é, para o reitor da Uni-versidade, Sebastião Feyo de Azevedo, “o coroar de uma grande organização desportiva, que trouxe ao Porto estudantes de todo o mundo”.

Page 50: UPorto Alumni #22

GUIA DOS TESOUROS ARQUITETÓNICOSDIANA FERREIRACHIADO EDITORA

O PANO DA TERRAPRODUÇÃO TÊXTIL EM PORTUGALNOS FINAIS DA IDADE MÉDIA

JOANA SEQUEIRAU.PORTO EDITORIAL

A TRADUÇÃO PARA EDIÇÃOVIAGEM AO MUNDO DE TRADUTORES E EDITORES EM PORTUGAL (1974-2009)

JORGE ALMEIDA E PINHOU.PORTO EDITORIAL

Da Grande Pirâmide de Gizé ao Mu-seu Guggenheim, sem esquecer o Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre Eiffel, este livro analisa a herança de mais de 20 exemplares arquitetónicos representativos da criação humana. Uma viagem pelo tempo para mostrar a evolução da arquitetura, assinalada por expoentes de diferentes culturas. Pensada para entendidos ou leigos mas, essencialmente, para estudantes da área da História da Arquitetura, esta obra nasce de uma lacuna sentida pela própria autora ao longo do seu percurso académico. Diana Ferreira é licenciada em História da Arte pela Faculdade de Letras da U.Porto e mes-tre em Museologia em Espanha, tendo trabalhado na Galleria Nazionale d’Arte Moderna di Roma e na direção da Gal-leria dos Uffizi, em Florença. Foi pro-fessora responsável pela disciplina de História da Arte no Porto e atualmente leciona Introdução à História da Arte, Iconografia e História da Arquitetura na Academia de Arte em Florença.

“Pano da terra” é uma expressão que surge nos documentos medievais para distinguir o tecido fabricado localmente daqueles que vinham de fora. Joana Sequeira lança esta investigação para, por um lado, mostrar as raízes dessa produção local e, por outro, combater a ideia feita de um reino português que dependia totalmente dos panos estran-geiros para se vestir. Em Portugal produzia-se principalmen-te linho, lã e seda, que eram transfor-mados pelas mãos de artesãos mouros, judeus e cristãos. Um domínio técnico sedimentado ao longo de séculos per-mitiu que as diferentes regiões do país fossem capazes de criar tecidos com marca de origem, os quais conquista-riam um lugar próprio no mercado. Al-guns desses panos cruzaram as frontei-ras, alimentando o comércio português com a Europa e com África. É este caminho que Joana Sequeira pretende esclarecer nesta obra. Douto-rada em História, em 2012, na Faculda-de de Letras da U.Porto e na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, em regime de cotutela, a autora especializou-se na área da História Económica Medieval e tem publicado estudos sobre a produção e o consumo de têxteis.

O livro e os Estudos do Livro são o mote para uma viagem ao território dos Estudos de Tradução, com pers-petivas sobre estudos internacionais fulcrais e a prática da tradução em di-ferentes culturas e contextos. A partir de um ângulo sociológico e literário, sustentado em factos recolhidos e na análise de diversas obras, é possível ver uma descrição fundamentada do atual estado da tradução para edição em Portugal. Analisa-se a intervenção dos traduto-res junto das casas editoras e as suas condições de formação e reconheci-mento público. É uma jornada de co-nhecimento sobre a interdependência e a interligação da tradução com vários sistemas socioculturais. Uma expedi-ção em que o tradutor continua a ser muitas vezes um explorador invisível.Jorge Manuel Costa Almeida e Pinho é doutorado em Estudos Anglo--Americanos – Tradução pela U.Porto, em cuja Faculdade de Letras fez toda a sua formação de nível universitário. Docente do ensino superior desde 1991, na área da Língua Inglesa e, em especial, dos Estudos de Tradução nas suas múltiplas vertentes, tem desem-penhado funções diversas de coorde-nação e direção nas instituições onde tem lecionado. Enquanto académico e investigador tem publicado vários arti-gos na área da Sociologia da Tradução e sobre o papel e posição do tradutor na sociedade contemporânea.

MONTRA DE LIVROS UPORTO ALUMNI 22

PE

DR

O R

OC

HA

Page 51: UPorto Alumni #22

Campus universitáriosFaculdades Business School

Docentes e investigadores (1 707 ETI) (cerca de 80% doutorados)Não docentes (1 569,7 ETI)

Estudantes Estudantes de 1º cicloEstudantes de 2º ciclo / MestradoEstudantes de Mestrado IntegradoEstudantes de EspecializaçãoEstudantes de 3º ciclo / Doutoramento

Estudantes estrangeiros (10% do total)PaísesEstudantes em programas de mobilidadeDiplomados estrangeiros (5%)Docentes e investigadores estrangeiros

Programas de Formação em 2013/14Cursos de 1º ciclo / LicenciaturaCursos de Mestrado IntegradoCursos de 2º ciclo / Mestrado Especialização e estudos avançados Cursos de 3º ciclo / DoutoramentoCursos de Formação Contínua

Vagas disponíveis em 2013/14Candidatos em primeira opçãoNúmero de candidatos por vaga

Unidades de InvestigaçãoLaboratórios AssociadosUnidades avaliadas com “Excelente” e “Muito Bom”Unidades avaliadas com “Bom”Papers indexados na Web of ScienceArtigos publicados em 2013Artigos publicados no quinquénio 2009-2013

BibliotecasTítulos de monografiasPublicações periódicas disponíveis on-lineDownloads de artigos científicos

Residências universitáriasCamasUnidades de alimentação (cantinas, bares, etc.)Refeições servidas por dia

Estudantes Bolseiros

314

1

2 2861 542

30 0668 7135 573

12 544241

3 236

3 282129

1 709514222

6783518

1411593

376

4 1607 630

1,83

519

2715

23,1%3 861

15 746

16864 324

18 9991 707 067

91 145

192 527

4 918

Universidade do PortoUma das 100 melhores instituição de ensino e investigação científica da Europa.

[email protected]

Page 52: UPorto Alumni #22