UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA CAROLINA ALBERTI SIBUT RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PACIENTE CANINO DURANTE RECONSTITUIÇÃO DE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA RELATO DE CASO CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

CAROLINA ALBERTI SIBUT

RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PACIENTE CANINO DURANTE

RECONSTITUIÇÃO DE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA – RELATO DE CASO

CURITIBA

2016

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CAROLINA ALBERTI SIBUT

RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PACIENTE CANINO DURANTE

RECONSTITUIÇÃO DE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA – RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de

Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná como requisito parcial para a obtenção do

grau de Médica Veterinária.

Orientador Acadêmico: Prof. Diogo da Motta

Ferreira

Orientador Profissional: Prof. Dr. Juan Carlos

Duque Moreno

CURITIBA

2016

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitora Promoção Humana

Prof. Ana Margarida de Leão Taborda

Pró-Reitor

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Prof. Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Diretor de Graduação

Prof. João Henrique Faryniuk

Secretário Geral

Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular

Prof. Elza Maria Galvão Ciffoni Arns

Campus Barigui

Rua Sydnei A Rangel Santos, 238

CEP: 82010-330 – Curitiba – PR

Fone: (41) 3331-7958

TERMO DE APROVAÇÃO

CAROLINA ALBERTI SIBUT

RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PACIENTE CANINO DURANTE

RECONSTITUIÇÃO DE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA – RELATO DE CASO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para

obtenção do título de Médica Veterinária pela Comissão Examinadora do Curso

de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Comissão Examinadora:

Presidente: Prof. Diogo da Motta Ferreira

Profª. Carolina Lacowicz

Prof. Rogério Luizari Guedes

Curitiba, 30 de novembro de 2016

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu avô Dante,

que foi um homem excepcional e

sempre me incentivou a estudar. Vô, sei

que esta singela homenagem há de

chegar até o senhor. Espero que eu

possa ajudar a melhorar o mundo assim

como você o fez.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por trilhar com maestria a minha vida, me ajudar a levantar

após as quedas e me conduzir até aqui.

À minha família transmito minha mais sincera gratidão. Sinto-me honrada por

estar rodeada de pessoas tão boas. Sou grata especialmente à minha mãe (minha

melhor amiga e pessoa que mais admiro no mundo), meu amado pai, avós e noivo. Sem

vocês, eu não teria conseguido.

Aos meus amigos que me apoiaram e estiveram comigo por todo este tempo.

Vocês foram – e são – importantíssimos para mim e sempre guardarei todos no meu

coração.

Aos mestres que passaram pela minha vida, desde o maternal até a graduação.

Sou grata a cada professor (principalmente da Universidade Tuiuti do Paraná) que me

transmitiu um pouco de seu vasto conhecimento, instigando cada vez mais a minha

busca pelo saber. Especialmente, à professora Maria Aparecida Alcântara, por todo o

crescimento pessoal e profissional que me proporcionou.

À equipe Intensiva, hospital veterinário que foi minha segunda casa por dois anos

e meio durante a graduação. Não foi apenas um estágio, mas uma experiência de vida.

Obrigada!

Às equipes do HV UFPR (professores, residentes e funcionários) que me

acolheram no período do estágio obrigatório e tornaram esta experiência incrível!

Agradeço, principalmente, aos componentes do departamento de Anestesiologia

Veterinária por terem me ensinado tanto no tempo que estive lá.

Por fim, minha gratidão se volta aos animais. Estes grandes seres que formam

o alicerce da profissão tão nobre que estou prestes a seguir. Que eu tenha a capacidade

de ajudar a promover sua saúde e bem estar.

APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Medicina

Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade

Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Médica

Veterinária, é composto pelo Relatório de Estágio, onde são descritas as

atividades realizadas durante o período de 01 de agosto a 11 de outubro de

2016, no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, totalizando

392 horas, localizada no município de Curitiba-PR, local de cumprimento do

Estágio Curricular Obrigatório, revisão de literatura e relato de um caso sobre

ressuscitação cardiopulmonar em um cão durante reconstituição cirúrgica de

hérnia diafragmática.

RESUMO

O presente relatório de estágio obrigatório, apresentado ao curso de

Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial

para obtenção do título de Médica Veterinária, descreve as atividades realizadas

no período de 01/08/2016 a 11/10/2016 no Hospital Veterinário da Universidade

Federal do Paraná, na área de Anestesiologia Veterinária, sob orientação

acadêmica do professor Diogo da Motta Ferreira e orientação profissional do

professor Juan Carlos Duque Moreno. Foram acompanhados 135 pacientes. As

atividades desenvolvidas no estágio envolveram acompanhar e auxiliar nas

atividades do serviço de anestesia e na rotina da Unidade de Terapia Intensiva

(UTI) de animais de companhia. Também foi acompanhada a rotina geral do

hospital e grande parte de seu funcionamento.

O relato de caso e revisão de literatura presentes neste trabalho tiveram

como tema a hérnia diafragmática traumática e a ressuscitação cardiopulmonar.

O caso relatado é sobre um paciente canino, macho, de quatro meses de idade,

que sofreu um politrauma por acidente automobilístico. O evento causou três

fraturas (uma em úmero direito, uma em décima primeira costela esquerda e

uma em fêmur direito) e ruptura diafragmática no paciente. A parada

cardiorrespiratória ocorreu no período transoperatório (durante a sutura do

diafragma, quando as vísceras herniadas já haviam sido reposicionadas) e foi

revertida com sucesso. Após cinco dias, o paciente retornou ao centro

cirúrgico para outro procedimento, desta vez de estabilização das fraturas de

fêmur e úmero direitos. Neste procedimento foi realizada a anestesia local com

bloqueio paravertebral clássico para a abordagem do úmero e isquiático e

femoral profundo para a abordagem da fratura de fêmur.

Palavras-chave: Anestesiologia; Emergência; Trauma Torácico; Parada

Cardiorrespiratória

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS........................................................................................... 8

LISTA DE FIGURAS................................................................................................................... 9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..................................................................................... 11

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 12

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO – HV-UFPR................................................................ 13

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO....................................................................... 26

3.1 CASUÍSTICA.............................................................................................................................. 26

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................................... 29

4.1 HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA........................................................................................................ 29

4.2 RESSUSCITAÇÃO CÉREBRO CARDIOPULMONAR............................................................... 30

4.2.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 30

4.2.2 CAUSAS DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA................................................................... 31

4.2.3 SUPORTE BÁSICO À VIDA (SBV) ............................................................................................ 32

4.2.4 SUPORTE AVANÇADO À VIDA (SAV) ..................................................................................... 33

4.2.4.1 DROGAS.................................................................................................................................... 35

4.2.5 MONITORAÇÃO DURANTE A RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR................................. 36

4.2.6 CUIDADOS APÓS O RETORNO DA CIRCULAÇÃO ESPONTÂNEA....................................... 37

5 RELATO DE CASO.................................................................................................................... 38

6 DISCUSSÃO .............................................................................................................................. 43

7 CONCLUSÕES.......................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 47

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Relação entre espécies animais acompanhadas durante o estágio.............. 27

GRÁFICO 2 Relação entre número de pacientes e especialidade/área onde foram

acompanhados..............................................................................................

27

GRÁFICO 3 Fármacos utilizados como medicação pré-anestésica (MPA)........................ 28

TABELA 1 Relação de procedimentos cirúrgicos acompanhados.................................. 28

TABELA 2 Objetivos da Ressuscitação Cardiopulmonar resumidos.............................. 31

TABELA 3 Valores do exame de hemogasometria......................................................... 39

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Fachada do HV-UFPR, 2016........................................... 14

FIGURA 2 Ambulatório 1 – Clínica Cirúrgica – HV-UFPR, 2016...... 14

FIGURA 3 Ambulatórios comuns – HV-UFPR, 2016........................ 15

FIGURA 4 Ambulatório de Grandes Animais – HV-UFPR, 2016..... 15

FIGURA 5 Centro Cirúrgico de Pequenos Animais 1: Geral – HV-UFPR, 2016.....................................................................

16

FIGURA 6 Centro Cirúrgico de Pequenos Animais 2: Especialidades – HV-UFPR, 2016..................................

16

FIGURA 7 Centro Cirúrgico de Pequenos Animais 3 – HV-UFPR, 2016.................................................................................

17

FIGURA 8 Ambulatório de Oftalmologia – HV-UFPR, 2016............. 17

FIGURA 9 Corredor do Centro Cirúrgico de Pequenos Animais – HV-UFPR, 2016...............................................................

18

FIGURA 10 Sala de Radiologia – HV-UFPR, 2016............................ 18

FIGURA 11 LABEST: Laboratório de Anestesia e Analgesia Veterinária – HV-UFPR, 2016.........................................

19

FIGURA 12 Sala de MPA – HV-UFPR, 2016...................................... 19

FIGURA 13 Sala de Odontologia– HV-UFPR, 2016........................... 20

FIGURA 14 Internamento e Sala de Oncologia– HV-UFPR, 2016..... 20

FIGURA 15 Laboratório de Coleta – HV-UFPR, 2016........................ 21

FIGURA 16 UTI – HV-UFPR, 2016..................................................... 21

FIGURA 17 UTI – Diferente perspectiva – HV-UFPR, 2016................ 22

FIGURA 18 Internamento Geral – HV-UFPR, 2016............................ 22

FIGURA 19 Internamento Cirúrgico – HV-UFPR, 2016....................... 23

FIGURA 20 Internamento exclusivo para Gatos – HV-UFPR, 2016.... 23

FIGURA 21 Centro cirúrgico de Grandes Animais – HV-UFPR, 2016 24

FIGURA 22 Sala de Indução e Recuperação Anestésica de Grandes Animais – HV-UFPR, 2016.................................................

25

FIGURA 23 Carrinho de Emergência da UTI – HV-UFPR, 2016............ 25

FIGURA 24 Radiografia torácica, projeção ventrodorsal evidenciando herniação de estruturas com formato de alças intestinais no hemitórax esquerdo e fraturas em úmero direito e décima primeira costela esquerda.......................................

38

FIGURA 25 Neurolocalizador Amrra Myotest IV ®................................. 41

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AESP Atividade Elétrica Sem Pulso

BEcf Excesso de base

BP Pressão barométrica da sala

BPM Batimentos por minuto

Cl- Cloro

ECG Eletrocardiografia

EtCO2 Dióxido de Carbono ao fim da expiração

FiO2 Fração inspirada de Oxigênio

HCO3- Bicarbonato

HV-UFPR Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná

IM Intramuscular

IV Intravenoso

J Joule

K+ Potássio

kg Quilograma

Na+ Sódio

mg Miligrama

MPA Medicação Pré-anestésica

PaO2 Pressão parcial de oxigênio

PaCO2 Pressão parcial de dióxido de carbono

PCR Parada cardiorrespiratória

pH Potencial hidrogeniônico

RCE Retorno da circulação espontânea

RCP Ressuscitação Cardiopulmonar

SC Subcutâneo

THb Hemoglobina total

TIVA Anestesia Total Intravenosa

UTI Unidade de Terapia Intensiva

12

1 INTRODUÇÃO

O estágio obrigatório supervisionado tem como objetivo fornecer e

aprimorar os conhecimentos teórico-práticos que o acadêmico obteve durante a

sua graduação. O presente relatório refere-se ao período de estágio curricular

supervisionado compreendido entre os dias 01 de agosto de 2016 e 11 de

outubro de 2016, realizado no Hospital Veterinário da Universidade Federal do

Paraná sob orientação profissional do professor Juan Carlos Duque Moreno,

totalizando 392 horas, na área de Anestesiologia Veterinária. A orientação

acadêmica foi realizada pelo professor Diogo da Motta Ferreira. O estágio

proporcionou a oportunidade de acompanhar a casuística do serviço de

anestesia em inúmeras espécies animais bem como a rotina da Unidade de

Terapia Intensiva (UTI) de animais de companhia.

Neste relatório serão apresentados os casos acompanhados durante o

período de estágio na especialidade de Anestesiologia Veterinária. Os objetivos

do estágio foram acompanhar e auxiliar em procedimentos ambulatoriais

(sedação), procedimentos anestésicos para a realização de cirurgias em

diversas espécies, exames de imagem, odontologia, consultas pré-anestésicas

e auxílio na monitorização e cuidados críticos em pacientes internados na UTI.

O HV-UFPR foi escolhido para a realização do estágio obrigatório por

apresentar boa estrutura, grande casuística e acompanhamento profissional por

professores especialistas.

13

2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO – HV-UFPR

O estágio curricular supervisionado foi realizado inteiramente no Hospital

Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV-UFPR), na área de

Anestesiologia Veterinária. O hospital fica localizado no Câmpus Ciências

Agrárias, na cidade de Curitiba-PR, Rua dos Funcionários, 1540, bairro Juvevê.

CEP 80.035-050.

O Hospital Veterinário conta com prestação de serviços em diversas

áreas. São elas: diagnóstico por imagem, anestesiologia veterinária, clínica

médica e cirúrgica de grandes animais (ruminantes e equinos), clínica médica de

pequenos animais, clínica e cirurgia de animais silvestres, patologia clínica,

cirurgia de pequenos animais, patologia animal, biologia molecular, medicina do

coletivo (Shelter Medicine), odontologia, dermatologia, cardiologia, oftalmologia

e ortopedia.

A estrutura do hospital é dividida em uma recepção conectada a cinco

ambulatórios (figuras 2 e 3), área de atendimento e internação de grandes

animais com baias para equinos, suínos e ruminantes, um internamento cirúrgico

para pequenos animais (figura 19), um internamento clínico para cães (figura

17), um para gatos (figura 20) e um para pacientes oncológicos (figura 14).

Também possui um centro de diagnóstico por imagem com sala de radiologia

(figura 10), ultrassonografia e sala de laudos. Conta com três centros cirúrgicos

para o atendimento de pequenos animais (figuras 5, 6 e 7) conectados por um

corredor à sala de medicação pré-anestésica (figura 12) e um para grandes

animais (figura 21) com uma pré-sala para indução e recuperação de grandes

animais (figura 22). O hospital conta também com uma farmácia, um ambulatório

específico para o atendimento oftalmológico (figura 8), uma sala para a

realização de procedimentos odontológicos (figura 13) e uma Unidade de

Terapia Intensiva (UTI) (figuras 16 e 17).

O atendimento do HV-UFPR ao público ocorre entre as 08h00 e 12h00 e

também das 14h00 às 18h00 durante a semana (de segunda à sexta-feira). O

hospital funciona 24h por dia com cuidados aos pacientes internados.

14

Figura 1 – Fachada do HV-UFPR, 2016

Figura 2 – Ambulatório 1 – Clínica Cirúrgica – HV-UFPR, 2016

15

Figura 3 – Ambulatórios comuns – HV-UFPR, 2016

Figura 4 – Ambulatório de Grandes Animais – HV-UFPR, 2016

16

Figura 5 – Centro Cirúrgico de Pequenos Animais 1: Geral – HV-UFPR, 2016

Figura 6 – Centro Cirúrgico de Pequenos Animais 2: Especialidades – HV-UFPR, 2016

17

Figura 7 – Centro Cirúrgico de Pequenos Animais 3 – HV-UFPR, 2016

Figura 8 – Ambulatório de Oftalmologia – HV-UFPR, 2016

18

Figura 9 – Corredor do Centro Cirúrgico de Pequenos Animais– HV-UFPR, 2016

Figura 10 – Sala de Radiologia – HV-UFPR, 2016

19

Figura 11 – LABEST: Laboratório de Anestesia e Analgesia Veterinária – HV-UFPR, 2016

Figura 12 – Sala de MPA – HV-UFPR, 2016

20

Figura 13 – Sala de Odontologia– HV-UFPR, 2016

Figura 14 – Internamento e Sala de Oncologia– HV-UFPR, 2016

21

Figura 15 – Laboratório de Coleta – HV-UFPR, 2016

Figura 16 – UTI – HV-UFPR, 2016

22

Figura 17 – UTI – Diferente perspectiva – HV-UFPR, 2016

Figura 18 – Internamento Geral – HV-UFPR, 2016

23

Figura 19 – Internamento Cirúrgico – HV-UFPR, 2016

Figura 20 – Internamento exclusivo para Gatos – HV-UFPR, 2016

24

Figura 21 – Centro cirúrgico de Grandes Animais – HV-UFPR, 2016

Figura 22 – Sala de Indução e Recuperação Anestésica de Grandes Animais – HV-UFPR, 2016

25

Figura 23 – Carrinho de Emergência da UTI – HV-UFPR, 2016

26

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO

No período do estágio obrigatório, foi possível auxiliar e acompanhar

diversas atividades relacionadas à anestesiologia veterinária. Foram

acompanhadas consultas pré-anestésicas, realização de anestesias para

procedimentos cirúrgicos em diversas espécies animais (domésticas e

silvestres), sedações para procedimentos ambulatoriais e radiografias, rotina da

UTI e anestesias para procedimentos odontológicos. As anestesias gerais eram

mantidas em sua maioria de maneira inalatória com isoflurano e em segundo

lugar como anestesias intravenosas com propofol.

A UTI funciona durante vinte e quatro horas por dia, com exceção dos dias

em que não há pacientes em situação crítica. Neste caso, ela é trancada ao final

do dia e reaberta na manhã seguinte. Possui dois berços para conforto dos

pacientes críticos, duas mesas de aço inoxidável para apoio, um carrinho de

emergência com monitor multiparamétrico e utensílios de fácil acesso para

situações emergenciais (figura 23) e armários onde são guardadas bombas de

infusão, fichas de acompanhamento intensivo, objetos médicos e medicamentos.

3.1 CASUÍSTICA

Durante o período do estágio obrigatório, foram acompanhadas nove

espécies, descritas no gráfico 1. No total, foram acompanhados 135 animais.

Deste total, oito foram pacientes avaliados em consultas pré-anestésicas, trinta

e dois eram pacientes da UTI, sete foram sedados para a realização de

radiografias e sete pacientes sedados/anestesiados para procedimentos

ambulatoriais. Os pacientes restantes foram submetidos a procedimentos

cirúrgicos, sendo onze da área de oncologia, onze da área de ortopedia, quatro

da oftalmologia, sete da odontologia, 48 cirurgias do sistema reprodutor (31

orquiectomias e 17 ovariossalpingohisterectomias), uma toracoscopia e uma

correção de persistência do quarto arco aórtico, todos descritos no gráfico 2.

O gráfico 3 demonstra os fármacos utilizados para medicação pré-

anestésica. A associação mais comum de fármacos foi a de acepromazina e

meperidina.

27

Gráfico 1 – Relação entre espécies animais acompanhadas durante o

estágio

¹ Sendo um Sabiá (Turdus rufiventris) e um Gavião-carijó (Rupornis magnirostris)

Gráfico 2 – Relação entre número de pacientes e especialidade/área onde foram acompanhados

¹ Sendo 31 orquiectomias e 17 ovariossalpingohisterectomias

² Sendo 7 procedimentos ambulatoriais: uma esofagostomia, dois casqueamentos, uma redução

de prolapso retal, uma coleta de medula óssea, uma biópsia de cavidade oral e uma rinoscopia

³ Os três procedimentos restantes: toracoscopia em cão, correção de persistência do quarto arco

aórtico em cão e amputação de membro pélvico direito em sabiá

97

24

5 3 2 2 1 10

20

40

60

80

100

120

Cão Gato Coelho Bovino Equino Ave¹ Tigre Suíno

ESPÉCIES DOS ANIMAIS ACOMPANHADOS

32; 24%

7; 5%

11; 8%

10; 7%4; 3%7; 5%

48; 35%

8; 6%

10; 7%

ESPECIALIDADES/ÁREAS ONDE OS ANIMAIS FORAM ACOMPANHADOS

Intensivismo (UTI)

Sedação em Diagnóstico porImagemOncologia

Ortopedia

Oftalmologia

Odontologia

Sistema Reprodutor ¹

Consulta Pré-anestésica

Outros ² ³

28

Gráfico 3 – Fármacos utilizados como medicação pré-anestésica (MPA)

Tabela 1 – Relação de procedimentos cirúrgicos acompanhados

Procedimento Quantidade Porcentagem

Orquiectomia 31 36,90%

OSH 17 20,24%

Tratamento Periodontal 6 7,14%

Osteossíntese 4 4,76%

Amputação 4 4,76%

Mastectomia 4 4,76%

Nodulectomia 3 3,57%

Blefaroplastia 2 2,38%

Correção de Persistência do 4° arco aórtico 1 1,19%

Retirada de Pino Intramedular 1 1,19%

Desgaste Molar 1 1,19%

Enucleação 1 1,19%

Conchectomia 1 1,19%

Mandibulectomia 1 1,19%

Denervação Coxofemoral Bilateral 1 1,19%

Correção de Hérnia Diafragmática 1 1,19%

Ressecção de Abscesso 1 1,19%

Osteotomia de Nivelamento do Platô Tibial 1 1,19%

Laparotomia Exploratória 1 1,19%

Sepultamento de Terceira Pálpebra 1 1,19%

Toracoscopia 1 1,19%

Total 84 100%

55

49

40

34

15

11

9

6

4

3

1

1

Acepromazina

Midazolam

Meperidina

Cetamina

Alfentanil

Metadona

Dexmedetomidina

Butorfanol

Xilazina

Morfina

Azaperone

Fentanil

0 10 20 30 40 50 60

FÁRMACOS UTIL IZADOS NA MPA

29

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM PACIENTE CANINO DURANTE

RECONSTITUIÇÃO DE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA – RELATO DE CASO

4.1 HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA

O diafragma é caracterizado como uma estrutura em forma de cúpula

músculo-tendinosa cuja função é separar os órgãos torácicos dos abdominais,

auxiliando na ventilação (SLATTER, 2007).

A hérnia diafragmática é definida como uma interrupção no diafragma que

resulta no deslocamento de vísceras abdominais para dentro da cavidade

torácica (MAZZAFERRO, 2010). Pode ser de origem traumática (resultante de

traumas bruscos) ou congênita, resultante de má embriogênese; sendo mais

comum a traumática (SILVERSTEIN, 2009). As rupturas diafragmáticas são

geralmente causadas pela excessiva força de algum agente realizando grande

pressão sobre o abdômen (SEYMOUR, 2007).

Existem três fases nas quais a hérnia diafragmática pode ser dividida. A

primeira, ou aguda, ocorre imediatamente após o insulto que a gerou. Isto

significa que, dependendo do tipo de trauma e extensão da lesão, a situação

poderá se agravar se não for diagnosticada e tratada de forma rápida. A segunda

fase é caracterizada pelo encarceramento das vísceras abdominais no espaço

torácico por conta da pressão negativa constante. A terceira fase é a crônica

(mais de duas semanas passadas do insulto) onde ocorrem as complicações

como obstrução e estrangulamento das alças intestinais (FELICIANO, 1988).

Ao exame físico o profissional poderá notar com facilidade a diminuição

dos sons de vias aéreas à auscultação (MACINTIRE et al, 2004). A dispneia

pode estar de ausente a intensa dependendo do órgão herniado. Os órgãos mais

frequentemente envolvidos são o fígado, estômago, intestino delgado e baço. O

omento também pode estar presente (SILVERSTEIN, 2009). A ruptura

diafragmática deve ser diferenciada da dificuldade respiratória causada por

contusão pulmonar e pneumotórax traumático (ROZANSKI, 2007). O exame

físico pode auxiliar a decidir o próximo passo a tomar, uma vez que, tendo em

mente que a hérnia diafragmática tende a ocorrer em apenas um hemitórax,

apenas um lado do tórax do paciente estará abafado à ausculta e com

30

borborigmos perceptíveis. Na maioria dos casos, efusão pleural e pneumotórax

causam alterações em ambos os lados do tórax (MACINTIRE et al, 2004).

Quando o abdômen encontra-se comprimido devido ao trauma, o

aumento de pressão abdominal é transmitido ao tórax. Se a glote estiver aberta

no momento do trauma, o ar contido nos pulmões escapará e aumentará

consideravelmente as chances de ruptura diafragmática por conta do gradiente

de pressão. Já se a glote estiver fechada, há chance maior de ocorrer

pneumotórax (MAZZAFERRO, 2010). À palpação abdominal, o clínico pode

notar a ausência de órgãos e disposição alterada da topografia.

A radiografia torácica é uma importante ferramenta para diagnóstico

(ROZANSKI, 2007), desde que realizada após estabilização do paciente. As

radiografias torácicas podem revelar – além da disposição de órgãos abdominais

no tórax – uma borda diafragmática incompleta, efusão pleural e gás nos órgãos

que estão deslocados cranialmente. Há a chance de o paciente apresentar

efusão pleural no exame radiográfico, o que pode mascarar a presença de

órgãos abdominais no tórax (MACINTIRE et al, 2004).

As abordagens cirúrgicas mais utilizadas em caso de ruptura

diafragmática são a toracotomia intercostal e a celiotomia pela linha média. É

imprescindível que o paciente esteja estável antes de ser submetido à cirurgia;

entretanto, se este estiver em um caráter emergencial em que há

comprometimento cardiorrespiratório real com risco à vida, a cirurgia deve ser

realizada o quanto antes mesmo que o animal não se apresente estável (BECK,

2004).

4.2 RESSUSCITAÇÃO CÉREBRO CARDIOPULMONAR

4.2.1 INTRODUÇÃO

A parada cardiorrespiratória (PCR) é definida como a interrupção da

perfusão e ventilação devido à ausência de uma coordenada função cardíaca e

respiratória (MAZZAFERRO, 2010). A proficiência na ressuscitação

cardiopulmonar é essencial para a prática do médico veterinário em um serviço

de emergências. Todo profissional deve ser apto a reconhecer uma parada

cardiorrespiratória e agir de forma rápida e eficaz o suficiente para que se

31

alcance o retorno do paciente à vida e sua manutenção (SILVERSTEIN, 2009)

(COLE, 2002).

Tabela 2 – Objetivos da Ressuscitação Cardiopulmonar resumidos

Objetivos da Ressuscitação Cardiopulmonar

Restaurar e maximizar a perfusão coronária e cerebral

Restabelecer o ritmo cardíaco normal

Restaurar a troca respiratória eficiente

Prevenir danos neurológicos irreversíveis

Evitar danos irreversíveis ao coração, rins e outros órgãos vitais

Evitar nova parada

Fonte: SEYMOUR (2007)

Segundo FLETCHER (2013), o rápido início da RCP em pacientes com

PCR é de suma importância. Equipes em clínicas e hospitais devem ser

treinadas pelo menos a cada 6 meses para lidar com sucesso com uma situação

emergencial de parada. Adicionalmente, as ferramentas de ressuscitação devem

estar sempre preparadas e prontas para o uso, como Crash Carts (carrinhos que

transportam medicamentos e equipamentos para uso na emergência).

A AHA (American Heart Association) publica, a cada 5 anos, novas

diretrizes para a RCP em humanos. Seguindo esta premissa, veterinários

desenvolveram em 2012 a iniciativa RECOVER (Reassessment Campaign on

Veterinary Resuscitation), que pela primeira vez reuniu diretrizes baseadas em

consensos para a correta reanimação em pacientes veterinários (BOLLER et al,

2012).

4.2.2 CAUSAS DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA

Entre os fatores de risco/causas de PCR estão as doenças cardíacas pré-

existentes, doenças respiratórias, trauma, anestesia, sepse, endotoxemia,

arritmias, tônus parassimpático aumentado, hipoxemia causada por algum déficit

ventilatório, descargas elétricas, desequilíbrios ácido-básicos, hipovolemia,

desequilíbrios eletrolíticos, choque, entre outros. Cada uma destas condições

pré-existentes podem alterar a homeostasia corpórea de um modo

(MAZZAFERRO, 2010).

32

4.2.3 SUPORTE BÁSICO À VIDA (SBV)

O principal objetivo da RCP é o retorno da circulação espontânea, ou RCE

(em inglês tratado como ROSC – return of spontaneous circulation). O suporte

básico à vida inclui o reconhecimento da PCR, a aplicação da técnica de

compressões torácicas, o manejo das vias aéreas e o acesso à ventilação.

Diferentemente do ABC tradicional (airway – breathing – circulation), quando um

paciente vivo chega em emergência, o manejo de um paciente com parada

cardiorrespiratória se torna “CAB” (circulation – airway – breathing) de acordo

com as novas diretrizes. Os pesquisadores perceberam que a circulação

sanguínea provocada pela bomba cardíaca deve ser retomada artificialmente

antes de se produzir uma via aérea patente; ou seja, o processo de abertura das

vias aéreas acaba resultando em um atraso no início da reanimação

(FLETCHER et al, 2012).

O objetivo das compressões torácicas (tanto a externa quanto a interna)

é gerar fluxo sanguíneo oxigenado suficiente para este chegar ao coração e ao

cérebro. Independentemente da técnica de compressões, deve-se buscar

maximizar o fluxo sanguíneo para os leitos vasculares coronarianos e cerebrais.

O profissional que fará a massagem cardíaca terá de estar corretamente

posicionado. Deverá estar arqueado levemente, direcionando seus pesos para

os braços (que deverão estar firmes) evitando de distribuí-lo para as pernas. Os

braços precisam estar a 90° de inclinação do tórax (RABELO, 2012)

(SILVERSTEIN, 2009)

Compressões cardíacas externas devem ser realizadas com o paciente

em decúbito lateral no ritmo de 100 a 120 compressões por minuto (exceto em

animais que possuem o tórax em forma de barril, como o buldogue inglês. Neste

caso, pode ser considerada a realização das compressões com o paciente em

decúbito dorsal) (FLETCHER et al, 2012). O tórax deve ser comprimido na

profundidade de 25 a 33%. Mais do que isto pode gerar um aumento da pressão

intratorácica, redução do retorno venoso para o tórax e coração, e redução no

fluxo sanguíneo cerebral (FLETCHER, 2013). Para pacientes com menos de 15

kg, as compressões devem ser realizadas diretamente na direção do coração

para maximizar a efetividade do mecanismo de bomba cardíaca. Pacientes muito

pequenos (e gatos) exigem que o tórax inteiro seja circundado com as mãos e o

33

local do coração seja comprimido com os dedos polegares. Animais com mais

de 15 kg necessitam que a massagem seja realizada na porção mais larga do

tórax (SILVERSTEIN, 2009). A massagem cardíaca com tórax aberto é indicada

quando a fechada não puder ser realizada ou for sabidamente ineficaz (em caso

de hérnia diafragmática, pneumotórax hipertensivo e trauma torácico, por

exemplo).

Cada ciclo de compressões torácicas deve levar dois minutos. Ao fim de

cada ciclo, o massageador deve trocar de lugar com outra pessoa da equipe

para minimizar o cansaço dos profissionais, o que poderia culminar na redução

da qualidade das compressões (RABELO, 2012). A pessoa que estiver

realizando as compressões deve deixar o tórax retornar à sua posição inicial

para garantir o recoil (ou recuo) torácico. Isto é importante para que a pressão

intratorácica fique mais negativa, permitindo que o sangue chegue à periferia

(FLETCHER, 2013).

A hipóxia cerebral e a hipercapnia são considerados fatores preocupantes

na ressuscitação cardiopulmonar porque reduzem as probabilidades do RCE.

Portanto, se o animal não estiver intubado deve-se proceder à intubação com o

mesmo em decúbito lateral (ou no decúbito que estiver sendo massageado) sem

cessar as compressões torácicas e realizar 10 ventilações por minuto com

oxigênio a 100% conectado ao circuito. Não se deve hiperventilar o paciente,

pois isto pode gerar alcalose respiratória (RABELO, 2012).

4.2.4 SUPORTE AVANÇADO À VIDA (SAV)

O suporte avançado é a fase seguinte à estabilização do paciente pelo

suporte básico até que se chegue ao RCE. Inclui terapia com vasopressores,

parassimpatolíticos, correção de distúrbios ácido-base, eletrolíticos e de volume

e a desfibrilação (quando sua realização for possível) (ROZANSKI et al, 2012).

A terapia com fármacos, monitoração eletrocardiográfica e desfibrilação elétrica

são alguns dos principais tópicos da SAV. A utilização de drogas busca melhorar

a eficácia das técnicas do SBV, bem como auxiliar o manejo dos distúrbios que

causaram a PCR. A eletrocardiografia (ECG) é uma ferramenta de fácil utilização

cujas análises podem definir o próximo passo a ser tomado na terapia

farmacológica (SILVERSTEIN, 2009).

34

Existem dois tipos de desfibriladores elétricos: o monofásico, cuja corrente

elétrica é unidirecional de um eletrodo para o outro, e o bifásico, que fornece a

corrente inicialmente em uma direção e, quando ela alcança o outro eletrodo, é

revertida na outra direção (contrária). A desfibrilação precoce em caso de

fibrilação ventricular com desfibrilador bifásico tem se mostrado mais eficaz e

causa menor dano ao miocárdio por ter uma corrente menor (FLETCHER, 2013)

(ROZANSKI et al, 2012). Na rotina veterinária, assim que há a confirmação de

inconsciência do paciente, as compressões torácicas e ventilação devem ser

iniciadas e a desfibrilação deve acontecer assim que possível. Em alguns casos,

80% das taquicardias ventriculares e fibrilações ventriculares podem ser

revertidas com apenas uma aplicação de corrente. Existe um padrão de 5 J/kg

que pode ser aplicado a cães e gatos. Contudo, a dose deve ser diminuída em

dez vezes se a desfibrilação for por aparelho bifásico ou interna (RABELO,

2012).

A terapia farmacológica durante a RCP é descrita como um fator

importante no sucesso do RCE melhorando o fluxo sanguíneo para o miocárdio

e cérebro. A obtenção de um acesso venoso (se o animal ainda não tiver um)

enquanto o restante da equipe realiza o SBV é recomendável pela facilidade de

administração e rapidez da ação dos fármacos pela via intravenosa; desde que

não atrapalhe a realização do SBV (FLETCHER, 2013). Contudo, outras vias

também podem ser utilizadas na emergência se não houver sucesso na

obtenção do acesso venoso. Vias alternativas, como a intraóssea e intratraqueal

podem ser utilizadas, entretanto alguns medicamentos como bicarbonato de

sódio e cálcio não são recomendados para esta última via (SILVERSTEIN,

2009). Injeções intracardíacas não são recomendadas, exceto quando há

visualização direta do coração. Estas injeções podem causar complicações

como lacerações dos vasos coronários, hemorragia, arritmias, pneumotórax e

isquemia miocárdica (RABELO, 2012).

Dada a facilidade de se conseguir acessos venosos periféricos, estes são

preferidos pela maioria dos veterinários. Entretanto, deve-se levar em

consideração que, ao se administrar fármacos de emergência por estas vias,

pode ocorrer um atraso indesejável na condução destas drogas para o centro do

organismo. Por isso, é recomendável que seja realizado um bólus de solução

35

cristaloide isotônica (0,5 mL/kg são suficientes) para que o fármaco seja mais

facilmente conduzido ao centro (BOLLER, 2012).

4.2.4.1 DROGAS

A Epinefrina (adrenalina) produz efeito inotrópico e cronotrópico positivo

(SPINOSA, 2010) é uma droga indicada em todos os ritmos de parada. A dose

de 0,1 mg/kg (“high”) é associada a maiores chances de RCE; todavia não há

relação com o aumento da sobrevivência por conta dos efeitos adrenérgicos

exacerbados. As novas diretrizes recomendam utilizar a dose baixa (0,01 mg/kg

– “low”) diluída em solução isotônica cristaloide a cada ciclo de SBV. A dose alta

então passa a ser recomendada após 10 minutos de SBV sem RCE (FLETCHER

et al, 2012).

A Vasopressina (ou hormônio antidiurético) é um fármaco vasopressor

não-catecolamina cujos estudos em animais demonstram melhorias no fluxo

sanguíneo aos órgãos vitais, melhorias na perfusão cerebral e menor

vasoconstrição renal e coronária do que na periferia. Pode ser utilizado em

conjunto com a adrenalina na RCP, entretanto a eficácia deste fármaco em

relação à adrenalina na RCP é pouco estudada (FLETCHER et al, 2012)

(RABELO, 2012). BOLLER (2012) relata que pode-se utilizar a vasopressina em

dose baixa (0,8 U/kg IV ou IO) entre duas administrações de adrenalina low

durante os ciclos de RCP. Além das propriedades supracitadas, esta

administração pode ser útil em pacientes com acidose pelo fato de a

vasopressina ser mais efetiva do que a adrenalina na presença de acidose

(SILVERSTEIN, 2009).

A Noradrenalina, também chamada de norepinefrina, é uma catecolamina

adrenérgica específica que pode ser utilizada em infusão contínua para o

tratamento da hipotensão pós-RCE. Produz efeitos associados à vasoconstrição

e aumenta a pressão arterial. Diminui o fluxo sanguíneo nos rins, fígado, cérebro

e musculatura esquelética (FLETCHER et al, 2012) (SPINOSA, 2010).

A Atropina é uma droga anticolinérgica utilizada com frequência em

pacientes em PCR. Estudos demonstraram que esta droga não produz efeitos

benéficos na RCP, sendo indicada somente em bradiarritmias (FLETCHER et al,

2012) (RABELO, 2012).

36

A Amiodarona é um agente antiarrítmico muito prescrito em medicina

veterinária. Pode ser utilizada como um fármaco de emergências quando o

paciente apresenta taquiarritmias supraventriculares, fibrilação atrial e

taquiarritmias ventriculares refratárias à lidocaína (SPINOSA, 2010). Entretanto,

este fármaco é pró-arrítmico na hipocalemia e na bradicardia. Pode levar à

vasodilatação periférica, inotropismo negativo leve e hipotensão (RABELO,

2012)

4.2.5 MONITORAÇÃO DURANTE A RESSUSCITAÇÃO

CARDIOPULMONAR

Um dos parâmetros mais fáceis e rápidos de se avaliar nos pacientes é o

pulso femoral. Este parâmetro pode ser útil, entretanto deve-se associar esta

palpação com a aferição de outros parâmetros (auscultação da frequência

cardíaca, pressão arterial, oximetria de pulso). A tentativa prolongada de aferição

de pulso pode prejudicar o diagnóstico de PCR por não ser uma avaliação

precisa, portanto, se há suspeita de PCR (respiração agônica, inconsciência,

reflexos palpebrais diminuídos ou ausentes), deve-se proceder à RCP

imediatamente (FLETCHER, 2013) (SILVERSTEIN, 2009).

A eletrocardiografia (ECG), apesar de ser altamente suscetível a artefatos

durante o processo de RCP – principalmente pela movimentação provocada

pelas compressões cardíacas – é uma das ferramentas mais importantes do

processo de monitoração do paciente. O objetivo do ECG é diagnosticar qual

dos três ritmos mais comuns está presente: assistolia, atividade elétrica sem

pulso (AESP) ou fibrilação ventricular. Uma vez que a visualização destas ondas

se torna impossível durante a massagem cardíaca, o momento correto para se

observar o monitor multiparamétrico e ler as ondas é no intervalo entre ciclos

(SILVERSTEIN, 2009) (FLETCHER, 2013).

A capnografia (EtCO2: CO2 ao final da expiração) também é uma

excelente ferramenta na monitoração durante uma RCP, pois pode ser

determinada de forma contínua. A mensuração deste valor pode ser usada para

confirmar o correto posicionamento do tubo endotraqueal e principalmente para

avaliar o RCE, uma vez que ocorre súbito aumento no valor de EtCO2 no

momento da volta do paciente por conta do maior fluxo sanguíneo pulmonar.

Durante a RCP, é recomendado que o valor de EtCO2 seja maior do que 15

37

mmHg para cães e maior do que 20 mmHg para gatos (FLETCHER et al, 2012)

(FLETCHER, 2012) (BOLLER, 2012).

4.2.6 CUIDADOS APÓS O RETORNO DA CIRCULAÇÃO ESPONTÂNEA

Os cuidados com o paciente após o retorno da circulação espontânea são

tão importantes quanto os cuidados durante a RCP em se tratando de

sobrevivência do paciente. A ocorrência de nova parada é um fator muito

comum, principalmente se o fator causador da PCR não foi revertido

(SILVERSTEIN, 2009). Devem-se aplicar os princípios da monitoração intensiva

de pacientes críticos. Devido à alta probabilidade de ocorrer uma nova parada

(seja pela hipóxia cerebral, choque cardiogênico, falência múltipla de órgãos,

doença preexistente, etc), a monitoração deve ser eficaz o suficiente para prever

recidivas e para que a equipe médica possa buscar a terapia adequada para

aquele indivíduo em particular (FLETCHER et al, 2012) (BRAINARD et al, 2012).

A ventilação é a principal via de eliminação do gás carbônico. A

importância da monitoração deste gás é que a hipocapnia pode diminuir a

perfusão cerebral e originar hipóxia cerebral. Por outro lado, a hipercapnia pode

causar aumento do fluxo sanguíneo do cérebro levando à hipertensão

intracraniana. Se o volume corrente encontrar-se insuficiente, isto pode

desencadear hipoxemia e atelectasia pulmonar. Recomenda-se oferecer

oxigênio suficiente para deixar o animal normocápnico (PaCO2 de 2-43mmHg

para cães e 26-36 para gatos) (FLETCHER et al, 2012).

A monitoração do sistema cardiovascular também é muito importante para

o sucesso na manutenção da vida do paciente. Deve-se monitorar a pressão

arterial, saturação venosa de oxigênio, volume sanguíneo, capacidade de

carreamento de oxigênio, equilíbrio eletrolítico, função renal e equilíbrio ácido-

base (SEYMOUR, 2007). Segundo FLETCHER et al (2012), é recomendado

permitir hipertensão (pressão arterial média maior do que 150 mmHg) em

animais pós-reanimação. Isto estaria relacionado com melhores prognósticos

neurológicos.

O suporte nutricional sempre deve ser considerado em pacientes críticos,

principalmente no período pós-reanimação (SEYMOUR, 2007).

38

5. RELATO DE CASO

Foi recebido no serviço de triagem do HV-UFPR um paciente canino, de

4 meses de idade, macho, da raça Pinscher, pesando 2,8 kg. O responsável

relatou que o animal havia sido vítima de acidente automobilístico há seis dias,

apresentado fratura exposta em fêmur direito e levado a uma clínica veterinária

no mesmo momento para atendimento emergencial. Entretanto, o proprietário

relatou que as condições clínicas do paciente ainda não se encontravam

satisfatórias e optou por conduzi-lo ao HV-UFPR.

Durante a triagem, o animal encontrava-se alerta, normotérmico, com

mucosas normocoradas, frequências cardíaca e respiratória normais e pulso

forte. A região do úmero direito apresentava-se edemaciada; o hemitórax

esquerdo apresentava-se com som abafado à auscultação (emitindo sons

maciços à percussão) e a região de fêmur direito encontrava-se envolta por uma

tala. Ao retirá-la, foi possível visualizar a fratura exposta. Como o animal

encontrava-se alerta e aparentemente estável, foi encaminhado à radiografia

torácica (figura 24).

Figura 24 – Radiografia torácica, projeção ventrodorsal, evidenciando

herniação de estruturas com formato de alças intestinais no hemitórax esquerdo

e fraturas em úmero direito e décima primeira costela esquerda

39

À imagem radiográfica, pôde-se notar a presença de alças intestinais

dentro da cavidade torácica (hemitórax esquerdo) e perda da visibilização da

cúpula diafragmática esquerda. Logo, fechou-se o diagnóstico de ruptura

diafragmática com herniação para o tórax. Também foi observada uma fratura

de 11ª costela esquerda e uma fratura completa em diáfise de úmero direito.

A avaliação pré-anestésica habitual não foi realizada devido ao fato de

o animal ter sido admitido em situação de urgência. Contudo, foram coletadas

amostras sanguíneas para hemogasometria e exames bioquímicos. O resultado

do exame de hemogasometria está listado na tabela 3.

Tabela 3 – Valores do exame de hemogasometria

Parâmetro Valor ¹ Referência (Cães) ²

pH 7,387 7,351 a 7,463

Na+ (mmol/L) 156,1 ↑ 140 a 155

K+ (mmol/L) 2,96 ↓ 3,7 a 5,5

Cl- (mmol/L) 121,6 ↑ 105 a 117

HCO3- (mmol/L) 21,8 18,8 a 25,6

BEcf (mmol/L) -3,2 ↓ -3 a 3

THb (g/dl) 12,3 11,9 a 18,9

Hct (%) 37 37 a 55

PaCO2 (mmHg) 36,6 30,8 a 42,8

PaO2 (mmHg) 70 ↓ 80,9 a 103,3

%sO2c 92,7 ↓ 97 a 100

Anion Gap 14,6 ↓ 15 a 25

¹ Valor obtido por sangue arterial, FiO2 21%; temperatura do paciente 38,1; BP 689,1;

² Valores de Referência: DIBARTOLA (2007)

As alterações significantes clinicamente foram a PaO2 e a %sO2c, que

demonstram que o animal não apresentava oxigenação satisfatória. Entretanto,

pode-se notar que o valor de PCO2 normal indica que ainda não há aumento na

concentração de dióxido de carbono suficiente para gerar acidose (DIBARTOLA,

2007).

Os exames bioquímicos solicitados foram Albumina, ALT, Ureia,

Creatinina, Globulina Proteína Total e Fosfatase Alcalina, e apenas a última

40

alterada (206UI/L; referência de 20 a 156). O paciente então foi encaminhado à

cirurgia de correção da hérnia e osteossíntese de fêmur.

A MPA foi realizada com Midazolam na dose de 0,5 mg/kg e Butorfanol

na dose de 0,1 mg/kg. A indução anestésica foi realizada com Midazolam,

Fentanil (2,5 mcg/kg) e Propofol. O paciente foi intubado com um tubo

endotraqueal de número 4,0, circuito aberto sem reinalação (Baraka) e a

manutenção anestésica se deu pela via intravenosa (anestesia intravenosa total

– TIVA) com propofol. Antes do início da cirurgia, o paciente recebeu Cefalotina

(antimicrobiano) na dose de 30mg/kg IV. A analgesia do período transoperatório

foi realizada com infusão contínua de SuFLK (Sufentanil, Lidocaína e Cetamina)

a 5ml/kg/h IV.

Foi realizada uma celiotomia mediana associada à incisão paracostal

esquerda para acessar o lado da ruptura. Um catéter foi posicionado para

obtenção da pressão arterial invasiva, porém o acesso foi perdido durante a

cirurgia. Logo após o reposicionamento das alças intestinais no abdômen e

pouco antes do término da sutura do diafragma, o paciente iniciou um quadro de

hipotensão e bradicardia que rapidamente evoluiu para uma parada

cardiorrespiratória (PCR). Imediatamente, a equipe de cirurgiões iniciou um ciclo

de dois minutos massagem cardíaca (de tórax fechado) a 120bpm.

Simultaneamente, um profissional pausava a infusão de propofol, outro realizava

a ventilação do paciente e outro administrava adrenalina na dose baixa

(0,01mg/kg IV). Ao fim do primeiro ciclo, pôde-se observar ao ECG um ritmo de

escape ventricular com atividade elétrica sem pulso (AESP), sem retorno da

circulação espontânea.

Iniciou-se outro ciclo com as mesmas configurações do anterior. Sem

sucesso, foi iniciado então um terceiro ciclo. Ao fim deste, o paciente obteve o

retorno da circulação espontânea (RCE). Foram, ao todo, 6-7 minutos de PCR.

A frequência cardíaca encontrava-se satisfatória; contudo a ventilação ainda não

acontecia espontaneamente (por isto o paciente foi mantido sob ventilação

manual por 30 minutos). A pressão arterial do paciente –que estava sendo

avaliada pelo método oscilométrico tanto no monitor multiparamétrico quanto via

doppler vascular– se manteve baixa nos primeiros momentos pós-RCE, o que

levou à decisão de iniciar uma infusão de noradrenalina a 0,05 mcg/kg/min.

41

A cirurgia foi retomada. A região do membro pélvico direito onde ocorreu

a fratura foi desbridada, limpa e foi posicionado um fixador externo no fêmur.

Após 30 minutos, o paciente retomou a ventilação espontânea e a pressão

arterial se manteve estável, portanto a infusão de noradrenalina foi

descontinuada. Após o término da cirurgia, o paciente foi encaminhado para a

UTI para observação e manteve-se estável.

Cinco dias após o procedimento, o animal retornou ao centro cirúrgico

para a realização da osteossíntese de úmero e uma nova osteossíntese de

fêmur. A MPA foi feita com Metadona 0,3mg/kg IM e a indução combinou

Propofol 2mg/kg e Diazepam 0,5mg/kg IV. Foram realizados três bloqueios

locorregionais: paravertebral clássico, isquiático e femoral profundo, todos com

o auxílio de um neurolocalizador (Figura 25). Os fármacos utilizados para o

bloqueio foram lidocaína 0,05ml/kg/ponto e bupivacaína 0,05ml/kg/ponto.

Figura 25 – Neurolocalizador Amrra Myotest IV ®

O paciente apresentou hipotensão arterial no início do procedimento.

Foram realizadas duas provas de carga (10ml/kg em 10 minutos) e a pressão

42

arterial estabilizou após a infusão de solução hipertônica (4mg/kg – 1ml por

minuto). O restante do procedimento ocorreu sem intercorrências. O animal

recuperou-se bem e a analgesia dos bloqueios se manteve pelo tempo correto.

O paciente encontra-se saudável e sem sequelas aparentes (uma vez que não

foi realizado exame neurológico completo após o retorno do paciente) da hipóxia

decorrente da parada cardiorrespiratória.

43

6. DISCUSSÃO

Os fármacos opioides são conhecidos por promover boa sedação e

analgesia. São agonistas dos receptores opioides endógenos encontrados em

alguns locais do cérebro, medula e intestino. Estes receptores possuem grande

importância na regulação da sensação dolorosa. Existem três tipos de

receptores opioides, sendo o μ (mi) o mais comum. Entre os principais efeitos

deste tipo de receptor estão a analgesia supraespinhal, depressão respiratória e

euforia, bem como dependência física. Os efeitos mais conhecidos dos

receptores κ (kappa) são analgesia medular, miose, sedação e disforia. Já os

receptores ð (delta) são caracterizados por analgesia espinhal, depressão

respiratória e redução da motilidade gástrica (SPINOSA, 2010). O Butorfanol,

fármaco utilizado na MPA do paciente relatado, foi escolhido por ser um dos

opioides que não produzem depressão respiratória importante pois age em

receptores kappa. Isto foi levado em consideração para o momento pré-

anestésico pois o paciente apresentava quadro de anormalidade respiratória.

Entretanto, o Butorfanol também desempenha papel de antagonista dos

receptores μ. O Fentanil utilizado na indução, por ser agonista de receptores μ,

foi inibido parcialmente pela ação do Butorfanol que havia sido aplicado no

momento da MPA. Isto não afetou o processo de indução do paciente.

A hérnia diafragmática é uma condição que geralmente desencadeia

intenso desconforto respiratório para o paciente, principalmente se for de origem

traumática (SILVERSTEIN, 2009). O animal relatado foi recebido no período da

tarde, passou por atendimento emergencial e foi encaminhado à avaliação

radiográfica por se encontrar com alterações na ausculta de hemitórax esquerdo

e uma leve dificuldade de respiração. No momento em que foi diagnosticada a

hérnia diafragmática, a equipe decidiu que seria necessário encaminhar o

paciente à cirurgia de herniorrafia diafragmática. Segundo SEYMOUR (2007), o

paciente com hérnia diafragmática pode apresentar-se de assintomático a

excessivamente dispneico.

Mesmo se o paciente apresentar-se assintomático, a indicação é realizar

a cirurgia de correção da hérnia diafragmática traumática o mais rápido possível.

O encarceramento de órgãos como o baço e fígado pode resultar em formação

de efusão com progressivo acúmulo. O encarceramento intestinal ou gástrico

44

também pode resultar em problemas de timpanismo e distensão tornando a

ventilação do paciente cada vez mais difícil e podendo interferir no retorno

venoso (ALVES, 2008). Segundo Macintire et al (2004), em casos crônicos, pode

ocorrer choque ou hipotensão quando os órgãos comprometidos são

reposicionados, gerando toxemia e lesão de reperfusão. Portanto, o profissional

anestesiologista deve estar preparado para manter a pressão sanguínea do

paciente com fluidoterapia e/ou agentes vasopressores se necessário.

Entre as outras causas de descompensação e/ou PCR envolvendo hérnia

diafragmática traumática, pode-se citar pneumotórax, contusão pulmonar,

hipotensão, efusão pleural e aderências de órgãos na parede torácica

(BOUDRIEAU, 1987) (MACINTIRE et al, 2004). O paciente apresentou

hipotensão severa que evoluiu para PCR. Esta condição pode ter ocorrido por

conta da manipulação das alças intestinais de volta para a cavidade abdominal

e do estímulo vagal ao restabelecer a topografia anatômica do paciente. Outra

opção possível é de que a parada possa ter ocorrido pelo fato de que o paciente

apresentava-se há dias com hipóxia tecidual intestinal devido à hérnia

diafragmática. Logo, uma vez que as alças foram reposicionadas pode ter havido

liberação das toxinas e radicais livres presentes nestes locais para a circulação

sistêmica, configurando lesão de reperfusão.

Segundo RABELO (2012), a equipe deve estar preparada para uma

possível PCR a qualquer momento; realizando treinamentos para atualização

constante, conferindo todos os fármacos do carrinho, sabendo prontamente

localizar todos os equipamentos e objetos e realizando um trabalho integrado.

No caso relatado, antes mesmo de o paciente entrar para a cirurgia a equipe

prontamente calculou as doses de alguns fármacos de emergência e separou

objetos e equipamentos que poderiam ser utilizados caso o animal entrasse em

PCR. Esta preparação foi imprescindível para o sucesso e rapidez das ações da

RCP.

O pronto reconhecimento da PCR é mais um pré-requisito

importantíssimo para o sucesso da RCP (FLETCHER, 2013). Como o paciente

encontrava-se anestesiado, intubado e sob avaliação de ECG, capnografia,

oximetria de pulso e pressão arterial não invasiva (tanto no monitor

multiparamétrico quanto no doppler vascular), o reconhecimento da PCR foi

facilitado os procedimentos emergenciais da RCP foram iniciados. O ideal para

45

a mensuração da pressão arterial seria manter um circuito de avaliação invasiva

por esta ser mais fidedigna; entretanto, durante a cirurgia, o catéter deslocou-se

para fora do membro e a mensuração foi perdida antes da ocorrência da PCR.

A hérnia diafragmática é um dos principais fatores que contraindicam a

ressuscitação cardiopulmonar com tórax fechado (SEYMOUR, 2007). Uma vez

que o diafragma já havia sido quase completamente suturado no momento em

que o paciente entrou em parada, a decisão tomada foi a de realizar a RCP com

o tórax fechado. O procedimento ocorreu com sucesso.

46

7. CONCLUSÕES

O estágio obrigatório possui extrema importância na formação

acadêmica do aluno, proporcionando uma grande troca de experiências e

trazendo oportunidades de amadurecimento pessoal e profissional. O estagiário

curricular desenvolve atividades práticas, inicia a moldagem de sua

personalidade profissional e aprende a pensar de acordo com novas

perspectivas, sendo inserido ao exercício prático da Medicina Veterinária de

maneira gradual e aprendendo a realizar procedimentos na sua área de

interesse.

A hérnia diafragmática traumática é uma condição emergencial.

Necessita intervenção cirúrgica rápida na maioria das vezes, sendo secundária

apenas quando há outra condição mais preocupante no paciente. Deve-se

lembrar que a ruptura diafragmática ocorre geralmente associada a politraumas,

portanto é de suma importância que o médico veterinário realize o ABC e

determine quais são as prováveis causas de morte iminente do seu paciente,

tratando-as de acordo com o grau de prioridade.

A ressuscitação cardiopulmonar possui novas diretrizes que foram

publicadas no ano de 2012. O processo da RCP consiste em saber diagnosticar

a parada, iniciar o suporte básico à vida, iniciar o suporte avançado à vida e

mantê-lo concomitantemente ao básico, utilizar o desfibrilador quando disponível

e necessário, obter formas de monitoração adequadas e prevenir nova parada

com acompanhamento intensivo do animal.

O procedimento de ressuscitação cardiopulmonar realizado no paciente

relatado obteve sucesso devido à rapidez e eficiência das equipes médicas em

diagnosticar, tratar e prever possíveis problemas futuros pelo histórico e dados

do paciente. A maioria dos passos da RCP foi seguida. O paciente, por ser jovem

e hígido, se recuperou bem e não apresentou sequelas aparentes.

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