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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária Denise França Senegalia RELATO DE DOIS CASOS CLÍNICOS - EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA AO LINFOMA MEDIASTINAL E EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA À CARCINOMATOSE CURITIBA 2017

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

Denise França Senegalia

RELATO DE DOIS CASOS CLÍNICOS - EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA AO

LINFOMA MEDIASTINAL E EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA À

CARCINOMATOSE

CURITIBA

2017

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Denise França Senegalia

RELATO DE DOIS CASOS CLÍNICOS - EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA AO

LINFOMA MEDIASTINAL E EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA À

CARCINOMATOSE

Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médica Veterinária.

Professora Orientadora: MSc. Fabiana Monti.

Orientador Profissional: Kelly Cristina Cruz Choque.

CURITIBA

2017

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Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitora Promoção Humana

Profa. Ana Margarida de Leão Taborda

Pró-Reitora

Sra. Camille Rangel

Pró-Reitor Acadêmico

Prof. João Henrique Faryniuk.

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Diretor de Graduação

Prof. João Henrique Faryniuk

Secretário Geral

Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular

Prof. Jesséa de Fátima França.

Campus Barigui

Rua Sydnei A Rangel Santos, 238

CEP: 82010-330 – Curitiba – PR

Fone: (41) 3331-7958

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TERMO DE APROVAÇÃO

DENISE FRANÇA SENEGALIA

EFUSÃO PLEURAL SECUNDÁRIA AO LINFOMA MEDIASTINAL E À

CARCINOMATOSE – RELATO DE DOIS CASOS CLÍNICOS

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médica Veterinária no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná.

Curitiba, ____ de ___________ de 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profa. MSc. Fabiana Monti.

Presidente

__________________________________________

Prof. M.Sc. Rogério Guedes.

__________________________________________

Prof. M Sc Jesséa de Fátima França.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, não só agradeço como também dedico, por estar

sempre ao meu lado em todas as dificuldades e me dar a oportunidade da

realização deste sonho, que parecia não inatingível anos atrás.

A todos os meus professores, tanto da Faculdade Evangélica do Paraná

como da Universidade Tuiuti do Paraná. Em especial a minha professora orientadora

Fabiana Monti, pela paciência e principalmente pela clareza, tanto nos ensinamentos

como nas correções.

Toda gratidão aos médicos veterinários e funcionários do Hospital Veterinário

Batel, em especial as Doutoras Sabrina e Rafaelle.

Agradeço a minha amada mãe, por todo o seu suor derramado para

proporcionar a continuidade dos meus estudos. Obrigada pelo voto de confiança

concedido, por ser minha amiga e por todos os seus ensinamentos.

Agradeço também ao Rodrigo, que sempre esteve ao meu lado, abrindo mão

de muitos finais de semana e de noites de sono para me ajudar nos estudos.

A minha amiga Débora, sem você a Medicina Veterinária não seria a mesma.

Obrigada pela amizade construída nestes anos, por estar comigo em praticamente

todos os trabalhos e etapas, além de viver junto comigo as alegrias, aprendizagens

e dificuldades do curso.

E por último mas não menos importante, agradeço a todos que me ajudaram

direto ou indiretamente para o desenvolvimento deste trabalho.

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APRESENTAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso será apresentado ao Curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de

Médica Veterinária. É composto pelo relatório de estágio, no qual estão descritas as

atividades realizadas durante o período de 02 de fevereiro a 21 de abril de 2017, no

Hospital Veterinário Batel, localizado no município de Curitiba - PR, onde foi

cumprido o estágio curricular. A outra parte do trabalho refere-se a dois relatos de

casos sobre efusão pleural, sendo um deles secundário à linfoma mediastinal em um

gato e o outro de carcinomatose pleural em um cão.

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RESUMO São denominadas efusões pleurais qualquer acúmulo excessivo de líquido dentro da cavidade pleural. Efusões podem ser oriundas de diversas etiologias. Dispneia, letargia e angústia respiratória são os sinais clínicos mais comuns. No entanto o paciente pode apresentar quadros de anorexia, febre, desidratação, tosse, taquipneia compensatória, cianose, dentre outros. O diagnóstico pode ser obtido através do conjunto exame clínico, radiografia/ultrassonografia e análise de líquido cavitário, podendo nem sempre ser conclusivo. Quanto aos tipos de efusão, podem ser classificadas como transudato, transudato modificado (como por exemplo o hemotórax e o quilotórax), exudato asséptico, exsudato séptico (piotórax) e neoplásico. O tratamento principal é baseado na etiologia, no entanto a toracocentese pode ser utlizada objetivando melhorar as condições respiratórias do paciente. Linfoma mediastinal e carcinomatose são duas causas neoplásicas de efusão pleural, que serão relatadas neste trabalho.

Palavras-chave: derrame, pleura, líquidos cavitários, toracocentese.

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ALT Alanina aminotransferase

AST Aminotransferase de aspartate

BID Bis in die (duas vezes ao dia)

CD Compact Disc (Disco compacto)

EDTA Ácido etilenodiamito tetra-acético

EIC Espaço intercostal

FeLV Vírus da Leucemia Felina

FIV Vírus da Imunodeficiência felina

FOCMA Antígeno de membrana celular por oncomavírus felino

g/dL Gramas por decilitros

GGT Gama glutamil transferase

HVB Hospital Veterinário Batel

IV Via intravenosa

kg Quilograma

mg/m2 Miligramas por superfície corpórea

ml Mililitro

mm3 Milímetro cúbico

pH Potencial Hidrogeniônico

PIF Peritonite Infecciosa Felina

SC Subcutâneo

SID Semel in die (uma vez ao dia)

SRD Sem raça definida

TP Tempo de protrombina

TTPa Tempo de tromboplastina parcialmente ativada

TNCC Concentração total de células nucleadas

UTI Unidade de Terapia Intensiva

VO Via oral

µL Microlitros

% Porcentagem

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 FACHADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO BATEL (HVB) 2017.... 16

FIGURA 2 RECEPÇÃO (A) E SALA DE ESPERA (B) DO HVB, 2017............. 16

FIGURA 3 CONSULTÓRIO 2 (A) E CONSULTÓRIO 4(B) DO HVB, 2017...... 17

FIGURA 4 SALA DE ULTRASSONOGRAFIA (A) E SALA DE

RADIOGRAFIA (B) HBV, 2017........................................................

17

FIGURA 5 POSTO DE ENFERMAGEM DO INTERNAMENTO HVB, 2017..... 17

FIGURA 6 INTERNAMENTO DE FELINOS (A) E BAIA PARA

INTERNAMENTO DE CÃES (B) HVB, 2017...................................

18

FIGURA 7 INTERNAMENTO DE CÃES (A) e UNIDADE DE TERAPIA

INTENSIVA (B) HVB, 2017.............................................................

18

FIGURA 8 CENTRO CIRÚRGICO HVB, 2017................................................. 18

FIGURA 9 RADIOGRAFIA NO POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DE

TÓRAX DE PACIENTE COM EFUSÃO PLEURAL. NOTA-SE

AUMENTO DE RADIOPACIDADE (SETAS VERMELHAS),

DESLOCAMENTO DE TRAQUEIA (SETA AZUL) E FALTA DE

NITIDEZ DE SILHUETA CARDÍACA (SETA AMARELA)...............

25

FIGURA 10 TORACOCENTESE REALIZADA EM GATO COM EFUSÃO

QUILOSA.........................................................................................

27

FIGURA 11 RADIOGRAFIAS EM POSIÇÃO VENTRODORSAL DE

PACIENTE GATO, SRD, MACHO, DOIS ANOS, COM

DIAGNÓSTICO DE LINFOMA MEDIASTINAL: ANTES DO

TRATAMENTO (A) E APÓS 35 DIAS, COM REMISSÃO DA

NEOPLASIA (B)..............................................................................

37

FIGURA 12 DRENAGEM DE EFUSÃO PLEURAL HEMORRÁGICA VIA

TORACOCENTESE DE CÃO, FÊMEA, 11 ANOS,

ESTERELIZADA..............................................................................

40

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 RAÇAS FELINAS ACOMPANHADAS DURANTE O PERÍODO

DE ESTÁGIO NO HVB....................................................................

20

GRÁFICO 2 RAÇAS CANINAS ACOMPANHADAS NO PERÍODO DE

ESTÁGIO NO HVB..........................................................................

20

GRÁFICO 3 FAIXA ETÁRIA DE CÃES E GATOS ACOMPANHADOS

DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO NO HVB, 2017..................

21

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E

CITOPATOLÓGICAS DAS EFUSÕES PLEURAIS.........................

28

QUADRO 2 RESULTADO FÍSICO, QUÍMICO E CITOLÓGICO DA ANÁLISE

DO LÍQUIDO TORÁCICO DE GATO, MACHO, 2 ANOS,

ESTERELIZADO.............................................................................

36

QUADRO 3 RESULTADO FÍSICO, QUÍMICO E CITOLÓGICO DA ANÁLISE

DO LÍQUIDO TORÁCICO DE CÃO, FÊMEA, 11 ANOS,

ESTERELIZADA..............................................................................

41

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ÁREAS ACOMPANHADAS NO PERÍODO DE ESTÁGIO NO

HVB NO PERÍODO DE 6 DE FEVEREIRO A 21 DE ABRIL DE

2017.................................................................................................

22

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

2 LOCAL DO ESTÁGIO .................................................................................. 15

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................. 20

3.1 CASUÍSTICA ................................................................................................. 20

3.1.1 Áreas de atuação .......................................................................................... 22

4 EFUSÕES PLEURAIS .................................................................................. 23

4.1 ANATOMIA DA CAVIDADE PLEURAL ......................................................... 23

4.2 FISIOPATOLOGIA DA EFUSÃO PLEURAL..................................................23

4.3 SINAIS CLÍNICOS ........................................................................................ 24

4.4 DIAGNÓSTICO ............................................................................................. 24

4.4.1 Radiografia torácica....................................................................................... 25

4.4.2 Ultrassonografia torácica ............................................................................... 26

4.4.3 Toracocentese ............................................................................................... 26

4.4.4 Avaliação laboratorial .................................................................................... 27

4.5 CLASSIFICAÇÃO DAS EFUSÕES ............................................................... 28

4.5.1 Transudato .................................................................................................... 28

4.5.2 Transudato modificado .................................................................................. 29

4.5.2.1 Quilotórax ...................................................................................................... 29

4.5.2.2 Efusão hemorrágica ...................................................................................... 29

4.5.3 Exsudato asséptico ....................................................................................... 30

4.5.4 Exsudato séptico - piotórax ........................................................................... 30

4.6 TRATAMENTO .............................................................................................. 30

4.7 PROGNÓSTICO ........................................................................................... 31

5 LINFOMA MEDIASTINAL FELINO............................................................... 32

5.1 LINFOMAS .................................................................................................... 32

5.2 FELV E FIV ................................................................................................... 32

5.3 LINFOMA MEDIASTINAL .............................................................................. 33

5.3.1 Etiopatogenia ................................................................................................ 33

5.3.2 Sinais clínicos ................................................................................................ 33

5.3.3 Diagnóstico .................................................................................................... 33

5.3.4 Tratamento .................................................................................................... 34

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5.4 RELATO DE CASO 1 - LINFOMA MEDIASTINAL EM GATO DOMÉSTICO. .. 35

5.4.1 Discussão ........................................................................................................ 37

6 CARCINOMATOSE PLEURAL ...................................................................... 39

6.1 RELATO DE CASO 2 – CARCINOMATOSE PLEURAL EM UM CÃO ........... 39

6.1.1 Discussão ........................................................................................................ 42

7 CONCLUSÃO ................................................................................................. 45

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

Efusão ou derrame pleural é o acúmulo excessivo de líquido na cavidade

pleural, resultado de afecções que afetam a homeostase das vias linfáticas e

sanguíneas. Efusões são manifestações clínicas de uma determinada doença de

base, portanto deve haver uma investigação desta causa base para determinar o

tratamento específico (MELO; MARTINS, 2009).

Os principais sinais clínicos das efusões pleurais são resultantes da presença

física do liquido na cavidade, diminuindo a capacidade expansível dos pulmões. Em

outras palavras, quanto mais repleta estiver a cavidade pleural, maior será a

dificuldade respiratória do paciente (FARAON et al., 2010).

O derrame pode ser classificado de acordo com a citopatologia e

características físicas e químicas em transudato, transudato modificado, exsudato

asséptico e exsudato séptico. Efusões de origem neoplásica podem apresentar

inúmeras variações (RADLINSKY, 2014).

Dentre as formas de efusão neoplásica encontradas, pode-se destacar o

linfoma mediastínico, sendo considerada a neoplasia causadora de efusão mais

comum dos gatos (CÁPUA et al., 2005).

Disseminação pleural de neoplasias malignas também podem ocasionar

quadros de efusão pleural. Esta afecção é denominada carcinomatose. Este tipo de

efusão é visível em pacientes que apresentam uma neoplasia base em estágio

avançado (MOORE et al., 2016).

O diagnóstico da efusão pode ser obtido pela auscuta, radiografia e

ultrassonografia de tórax. O diagnóstico definitivo ou da causa base é obtido

principalmente pela análise do líquido cavitário. O tratamento depende da causa de

origem, no entanto toracocentese e terapia paliativa podem proporcionar melhora

clínica e bem estar ao animal (MELO; MARTINS, 2009).

A finalidade deste trabalho foi descrever o estágio obrigatório realizado no

Hospital Veterinário Batel (Curitiba - PR), além da realização de revisão bibliográfia

sobre efusão pleural e relatar dois casos clínicos acompanhados no estágio que

tinham como queixa principal a efusão pleural.

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2 LOCAL DO ESTÁGIO

O estágio foi realizado no Hospital Veterinário Batel (HVB), situado na Rua

Bruno Filgueira, 501, Bairro Batel em Curitiba – PR. O Hospital é especializado no

atendimento de cães e gatos, apresentando profissionais de diversas especialidades

de clínica e cirurgia. Possui atendimento 24 horas, porém agendamentos só são

realizados em horário comercial.

O HVB conta com um corpo clínico que abrange diversas áreas, como

cardiologia, nefrologia, ortopedia, oncologia, odontologia, endocrinologia,

homeopatia, dermatologia, oftalmologia, neurologia, diagnóstico por imagem,

comportamento animal, medicina de felinos, análises laboratoriais, clínica e cirurgia

geral.

O HVB possui ao todo cinco consultórios, de tamanhos variados, todos

localizados no térreo. Um dos consultórios destina-se exclusivamente para o

atendimento clínico de gatos.

Ainda no térreo encontra o setor de diagnóstico por imagem, contando com

sala de ultrassonografia, sala de radiografia e uma sala para impressão das imagens

radiográficas, gravação de CD’s contendo imagens ultrassonográficas e um

computador para confecção dos laudos e análise de imagens.

O piso superior compreende o centro cirúrgico, internamentos de cães e

gatos, UTI, posto de enfermagem, farmácia, sala dos veterinários, cozinha,

administração, banheiro e vestiários. O posto de enfermagem fica situado

estrategicamente entre os internamentos facilitando o manejo dos internados.

Existem duas salas para o internamento de cães. Em uma primeira sala,

estão dispostas diversas gaiolas além de um anexo para armazenamento de

insumos. A outra sala de internamento possui duas baias para abrigar cães de

grande porte.

O gatil conta com gaiolas, mesa para exame clínico e armário com insumos

necessários. O hospital dispõe de uma unidade de terapia intensiva (UTI),

oferecendo todo aporte necessário à pacientes críticos.

O HVB tem um amplo centro cirúrgico, contendo vestiário, sala de

paramentação, sala de armazenamento de materiais estéreis, expurgo e duas salas

cirúrgicas, sendo a menor destinada a procedimentos odontológicos. Na parte

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externa, o hospital dispõe de uma ambulância equipada, comumente utilizada para

transporte de pacientes.

Figura 1 – Fachada do Hospital Veterinário Batel (HVB), 2017.

Figura 2 – Recepção (A) e sala de espera (B) do HVB, 2017.

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Figura 3 - Consultório 2 (A) e consultório 4 (B) do HVB, 2017.

Figura 4 – Sala de ultrassonografia (A) e sala de radiografia (B) HBV, 2017.

Figura 5 – Posto de enfermagem do internamento HVB, 2017.

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Figura 6 – Internamento de felinos (A) e baia para internamento de cães (B) HVB, 2017.

Figura 7 – Internamento de cães (A) e Unidade de Terapia Intensiva (B) HVB, 2017.

Figura 8 – Centro cirúrgico HVB, 2017.

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3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

O estágio proporcionou atuação em todos os setores do hospital. Nas

consultas (além do acompanhamento), o auxílio foi na contenção dos animais,

preparação de vacinas e reposição de insumos necessários durante a consulta.

No internamento, as atividades compreendiam contenção dos animais, exame

clínico, preparação e fornecimento de alimentos aos internados, checagem de todas

as gaiolas, troca de fluidos, preparo e administração de medicamentos e reposição

de insumos.

No setor de diagnóstico por imagem, tanto em ultrassonografia quanto em

radiologia, as atividades compreenderam basicamente a contenção correta dos

animais, além da tricotomia (apenas na ultrassonografia).

No centro cirúrgico as atividades consistiam no auxílio de procedimentos

cirúrgicos, seja de cirurgias ortopédicas ou de tecidos moles. Além de auxiliar, foi

possível atuar como volante e preparo de medicamentos solicitados pelo

anestesista. As atividades incluíam ainda a reposição de insumos e auxílio na

limpeza após cirurgias.

3.1 CASUÍSTICA

O estágio ocorreu entre os dias 06 de fevereiro e 21 de abril de 2017,

totalizando 420 horas. Foram acompanhados ao todo 299 pacientes (em consultas,

cirurgias e exames de imagem). Os animais internados não foram contabilizados

devido a alta rotatividade.

Destes 299 pacientes, foram registradas informações como espécie, raça,

sexo, idade, área e diagnóstico (seja ele conclusivo ou presuntivo).

A maioria dos acompanhamentos ocorreu em cães (79% aproximadamente).

Quanto ao sexo dos animais, independente da espécie, foram acompanhadas 163

fêmeas (54,52%) e 136 machos (45,48%)

Outro dado registrado foi quanto as raças dos pacientes acompanhados

(conforme Gráficos 1 e 2). Ao todo foram atendidas 33 raças de cães e cinco de

gatos, além dos animais sem raça definida, que foram maioria em ambas as

espécies. De todos os cães acompanhados, 83,26% pertenciam ao porte pequeno

ou médio.

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Gráfico 1 – Raças de gatos acompanhadas no período de estágio no HVB durante o período de 06 de fevereiro a 21 de abril de 2017.

Gráfico 2 - Raças de cães acompanhadas no período de estágio no HVB durante o período de 06 de fevereiro a 21 de abril de 2017.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1

Raças de gatos acompanhadas

SRD

Exótico

Lambkin

Maine Coon

Persa

Ragdoll

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1

Raças de cães acompanhadas

SRD

Cocker Spaniel

Daschund

Golden Retriever

Lhasa Apso

Maltês

Pinscher

Poodle

Pug

Schnauzer

Shi tzu

Spitz Alemão Anão

Yorkshire Terrier

Outras raças

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Foram acompanhados animais de idades que variaram de um mês a 17 anos.

A grande maioria dos animais (Gráfico 3), independente de ser cão ou gato possuía

entre oito e treze anos de idade. Este dado pode ser justificado por ser nesta faixa

etária em que os sistemas do organismo começam a demonstrar os sinais do

envelhecimento, estabelecendo diversas afecções. Alterações no metabolismo e as

neoplasias dessa faixa etária também podem justificar a alta incidência.

Gráfico 3 – Faixa etária de cães e gatos acompanhados durante o período de estágio no HVB, 2017.

3.1.1 Áreas de atuação

Com exceção do internamento que possuía uma alta rotatividade de animais,

todas as áreas acompanhadas foram contabilizadas. Na maioria dos casos, o

paciente só chegava ao especialista após passar pelo clínico geral. Afecções do

trato gastrintestinal e vacinações lideraram o motivo pelo qual os tutores procuraram

atendimento.

Em dermatologia, a dermatite atópica foi a afecção mais prevalente. Nas

consultas de cardiologia, os check-ups devido a idade foram mais frequentes, sendo

a endocardiose a enfermidade mais presente. Apenas duas consultas de nefrologia

foram acompanhadas, sendo ambas de pacientes com Doença Renal Crônica.

Dos quatorze pacientes acompanhados em oncologia, cinco passaram por

sessões de quimioterapia. A neoplasia mais frequente foi o mastocitoma cutâneo.

Em oftalmologia, onze consultas foram acompanhadas com nove afecções

diferentes, permitindo o contato com diversas enfermidades. Ceratoconjuntivite seca

foi a doença mais encontrada.

9%

18%

20%

47%

6%

Faixa etária

Filhotes (até 1 ano)

Adultos jovens (1 a 4,9 anos)

Adultos (5 a 7,9 anos)

Idosos (8 a 13,9 anos)

Idosos (acima de 14 anos)

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Dos sete casos de odontologia, todos se tratavam de limpeza de cálculo

dentário. Ao todo, 25 intervenções cirúrgicas foram acompanhadas, seja como

auxiliar ou como volante. Ovariosalpingohisterectomia eletiva liderou os

procedimentos.

Conforme demonstrado na Tabela 1 o setor de diagnóstico por imagem (seja

por ultrassonografia ou por radiologia) foi a área mais acompanhada durante o

período de estágio. Esta alta prevalência pode ser justificada pela necessidade de

contenção correta para realização deste exame, sendo o estagiário de grande ajuda

para esta função. Nos acompanhamentos ultrassonográficos, as afecções no

sistema gastrintestinal foram mais prevalentes, representando 16,34% dos

atendimentos. Nas radiografias, a exposição do tórax foi a mais realizada

(aproximadamente 65% dos exames acompanhados). Os motivos que mais levaram

a procura desta exposição foi o sinal clínico de tosse e o acompanhamento de

metástases pulmonares.

Tabela 1: Áreas acompanhadas no período de estágio no HVB no período de 6 de fevereiro a 21 de

abril de 2017.

ESPECIALIDADES CASOS ACOMPANHADOS %

Ultrassonografia 104 34,78

Radiologia 59 19,74

Clínica Médica Geral 46 15,38

Intervenções cirúrgicas em geral 25 8,36

Dermatologia 16 5,35

Oncologia 14 4,69

Cardiologia 13 4,35

Oftalmologia 11 3,68

Odontologia 7 2,35

Nefrologia 2 0,66

Ortopedia 1 0,33

Comportamento Animal 1 0,33

TOTAL 299 100

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4 EFUSÕES PLEURAIS

4.1 ANATOMIA DA CAVIDADE PLEURAL

Formada por células mesoteliais, a pleura é uma membrana serosa

subdividida em dois folhetos: parietal e visceral. Em sua porção parietal, a pleura

recobre a superfície interna do diafragma e da parede torácica, além de estruturas

centrais como o coração, grandes vasos e esôfago, originando o mediastino. A

pleura mediastínica subdivide a cavidade torácica em duas porções, com

comunicações entre si através de fenestras (PEREIRA et al., 2017).

A pleura visceral é responsável pelo revestimento da superfície dos pulmões

(inclusive as fissuras interlobares). A fusão entre pleura parietal mediastínica e

pleura visceral origina os ligamentos pulmonares (RADLINSKY, 2014).

O espaço existente entre as duas pleuras é denominado espaço pleural. Este

espaço abriga poucos mililitros de um líquido seroso, pobre em proteína, que age

como lubrificante, auxiliando no deslizamento entre as pleuras nos movimentos

respiratórios. A presença de quantidade mínima e sempre constante deste líquido é

devido ao equilíbrio de sua produção e absorção pelos vasos linfáticos, segundo a

Lei de Starling (MAC PHAIL, 2012).

4.2 FISIOPATOLOGIA DA EFUSÃO PLEURAL

Efusão (ou derrame) pleural é o acúmulo excessivo de líquido na cavidade

pleural. Existem diversos tipos de efusões (como transudato, transudato modificado,

exsudato e exsudato asséptico), com diversas causas e prognósticos (COHN, 2006).

Efusões são desenvolvidas quando alguma afecção altera a formação e/ou

absorção do líquido pleural. Portanto, uma efusão pleural deve ser interpretada

como um sinal clínico e a descoberta da causa base é fundamental para determinar

o tratamento (MELO; MARTINS, 2009).

Existe um equilíbrio entre entrada e saída do líquido pleural na cavidade.

Equilíbrio este mantido pela força hidrostática (que filtra o líquido para fora dos

vasos) e pela força osmótica (que reabsorve a água para dentro dos vasos). De

acordo com Ávila et al (2017), as efusões pleurais são formadas quando, por algum

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motivo, há um aumento da entrada do líquido na cavidade pleural ou diminuição da

sua saída.

São causas do aumento do líquido o aumento da pressão hidrostática, a

diminuição da pressão osmótica, o aumento da permeabilidade vascular pleural

(dificultando a saída do líquido do espaço) e a diminuição da pressão da cavidade

pleural. Já, como causa de comprometimento da sua drenagem, redução da função

linfática pleural (DEMPSEY; EWING, 2011).

A presença excessiva de líquido na cavidade pleural diminui a expansão

pulmonar devido à privação de espaço para ventilação. Portanto, quanto mais

líquido houver, mais limitados serão os movimentos diafragmáticos e pulmonares,

levando as anormalidades de ventilação e perfusão (RADLINSKY, 2014).

4.3 SINAIS CLÍNICOS

Pequenas quantidades de efusão podem não resultar em alterações no

exame físico. As manifestações clínicas das efusões dependem da afecção de base,

das características e da quantidade de líquido presente. A sintomatologia pode

também variar de acordo com a espécie. Os gatos, por exemplo, são mais

habilidosos em lidar com o acúmulo de líquido podendo até reduzir sua atividade

física evitando esforços respiratórios (FARAON; TOURRUCÔO; FERREIRA et al,

2010).

Devido ao acometimento na ventilação, os primeiros sinais clínicos são

respiratórios. Pode ocorrer taquipneia compensatória e/ou dispneia, letargia,

intolerância a exercícios, cianose, anorexia, febre, desidratação e tosse. A duração

dos sinais varia de acordo com a cronicidade (MELO; MARTINS, 2009).

No exame físico, o animal pode demonstrar angústia respiratória, com

expressões faciais de ansiedade e a permanência em decúbito esternal com os

membros torácicos em abdução (COHN, 2006).

A ausculta torácica pode revelar sons cardíacos e respiratórios abafados ou

inaudíveis na região ventral; enquanto que a ausculta respiratória é normal

dorsalmente. A percussão sobre o espaço pleural repleto de líquido demonstra

hiporressonância (MELO; MARTINS, 2009).

4.4 DIAGNÓSTICO

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Histórico e exame clínico podem fornecer apenas o diagnóstico presuntivo. A

presença da efusão pleural pode ser estabelecida por toracocentese e por

diagnóstico por imagem. No entanto, o diagnóstico quanto ao tipo de efusão só pode

ser obtido mediante análise laboratorial do líquido. O exame histopatológico também

pode ser útil dependendo da causa. O diagnóstico da causa base nem sempre é

conclusivo (MELO; MARTINS, 2009).

4.4.1 Radiografia torácica

É um exame útil e amplamente utilizado para diagnosticar e avaliar as

efusões pleurais (Figura 9). As exposições mais indicadas para este tipo de afecção

são a laterolateral e ventrodorsal (FRAGA; KIM, 2002).

De acordo com Cohn (2006), para que a efusão seja percebida

radiograficamente, é necessária uma quantidade de líquido superior a 10 ml/ kg. No

caso de animais muito dispneicos, é indicado a realização de toracocentese antes

do exame.

A radiografia pode revelar perda de silhueta cardíaca; radiopacidade

indicando presença de líquido em um ou nos dois hemitórax (em caso de efusões

bilaterais); evidenciação das fissuras interlobares; arredondamento das bordas

pulmonares; alargamento do mediastino e deslocamento dorsal da traqueia (MELO;

MARTINS, 2009).

Figura 9: Radiografia no posicionamento laterolateral de tórax de paciente com efusão pleural. Nota-

se aumento de radiopacidade (setas vermelhas), deslocamento de traqueia (seta azul) e falta de

nitidez da silhueta cardíaca (seta amarela).

FONTE: MELO; MARTINS, 2009, p. 444.

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4.4.2 Ultrassonografia torácica

O uso do ultrassom no diagnóstico auxilia na avaliação da efusão pleural,

além de poder identificar possíveis doenças mediastinais, pleurais, pulmonares e

presença ou não de afecções no diafragma e no coração (LOPES; LARSSON,

2011).

Fraga e Kim (2002) consideram a ultrassonografia o melhor exame para

diagnóstico de líquido pleural, além de ser complementar ao exame radiográfico. A

imagem ultrassonográfica é anecoica, quando oriunda de líquido translúcido e

acelular. A presença de celularidade na efusão revela imagens com porções ou

pontos hiperecoicos.

A presença da efusão pleural atua como ‘’janela acústica’’ no tórax, realçando

a visualização das estruturas torácicas, portanto o exame deve ser realizado antes

da remoção total do líquido via toracocentese (LOPES; LARSSON, 2011).

4.4.3 Toracocentese

Apesar de ser invasiva, a toracocentese é extremamente benéfica devido ao

potencial terapêutico (como o alívio da dispneia), além de auxiliar no diagnóstico

pela obtenção de amostras do líquido pleural para posterior análise. Os riscos de

complicações são pequenos, e na maioria dos casos ocorrem devido a realização

errônea do médico veterinário. Nestes casos, pode haver perfuração de órgãos da

cavidade torácica e indução de pneumotórax, por exemplo (MELO; MARTINS,

2009).

A escolha do local de punção pode ser definida pelo hemitórax afetado,

informação esta obtida por meio da radiografia ou auscultação torácica. Após

tricotomia e antissepsia local, a punção da pele pode ser realizada no 10º espaço

intercostal (EIC), seguida pela transfixação da cavidade torácica no 9º EIC,

prevenindo a formação de pneumotórax iatrogênico. Em relação ao animal, o cateter

deve ser inclinado entre 45 e 90º, afim de evitar complicações (VALENCIANO et al.,

2014).

Os cateteres (calibre 18G a 20G) são mais seguros, porém scalps (19G a

23G) também podem ser utilizados, acoplados em uma torneira de três vias com

uma seringa de 10 ml (PEREIRA; JESUS; MORENO, 2017).

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Figura 10: Toracocentese realizada em gato com efusão tipo quilosa

FONTE: MELO; MARTINS, 2009, p. 443.

4.4.4 Avaliação laboratorial

A composição da efusão pleural indica qual processo patológico levou a sua

formação, ou, se não for conclusiva, pode revelar possíveis explicações para a

formação do mesmo. A amostra deve ser acondicionada em um tubo de EDTA (para

não coagular) e em outro tubo estéril, além da preparação do conteúdo em lâminas.

As amostras devem passar pela avaliação citopatológica, bioquímica, cultura e

antibiograma (PEREIRA et al., 2017).

A coloração é o principal item verificado na análise física da amostra.

Amostras hemorrágicas variam de rosa, vermelho e castanho; leitosas sugerem

lipoproteínas; amarela/laranja, bilirrubina; dentre outros. A análise microscópica

permite identificar e avaliar a quantidade de células nucleadas, bem como de

estruturas extracelulares (como os microrganismos) e contagem de céluas

anucleadas (DEMPSEY; EWING, 2011).

A contagem de células nucleadas (TNCC) consiste na segunda etapa da

análise da amostra. Esta contagem pode ser manual (pela câmara de Neubauer) e

automatizada. Vale ressaltar que caso as células nucleadas estejam aglomeradas, o

resultado no TNCC será inferior à concentração real da amostra (THOMPSON et al.,

2016).

A análise citopatológica avalia o predomínio celular, alterações na morfologia

das células, microrganismos e outras possíveis estruturas. A amostra pode ainda

passar por análises bioquímicas (como a concentração de eletrólitos), avaliação da

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concentração proteica e pela mensuração do hematócrito (quando a coloração da

amostra for rosa a vermelho) (SCOTT; STOCKHAM, 2008).

4.5 CLASSIFICAÇÃO DAS EFUSÕES

Conforme demonstrado no Quadro 1, os derrames pleurais são classificados

de acordo com suas características físicas (cor, turbidez e densidade), químicas (pH

e proteínas) e citopatológicas. A classificação do fluido determina o princípio para a

descoberta do diagnóstico da causa de base (RADLINSKY, 2014).

As efusões pleurais podem ser classificadas em transudatos, transudatos

modificados (hemorrágico ou quiloso), exsudatos assépticos e exsudatos sépticos

(piotórax). As neoplasias podem resultar tanto em transudato modificado como

exudato asséptico (MAC PHAIL, 2012).

Quadro 1: Características físicas, químicas e citopatológicas das efusões pleurais.

Características Efusões

Transudato Transudato modificado

Exsudato asséptico

Exsudato séptico

Coloração e aspecto

límpido e

incolor

avermelhado,

branco ou amarelo;

aspecto levemente

turvo

branco, rosa,

âmbar ou

vermelho;

aspecto turvo

branco-róseo, ambar ou

vermelho; aspecto turvo

Proteínas totais (g/dL)

< 2,5 ≥ 2,5 ≥ 2,5 > 3,0g/dL

Predomínio

celular

Mononucleares.

Poucos

neutrófilos não

degenerados.

Células mesoteliais.

Poucos neutrófilos.

Macrófagos

eritrócitos e

linfócitos.

neutrófilos,

macrófagos,

eosinófilos e

linfócitos

Predominância de

neutrófilos degenerados;

bactérias podem ser

visualizadas tanto

dentro de neutrófilos e

macrófagos como

extracelularmente

Contagem de células

nucleadas (cel/μl)

< 1.000 1.000 - 5.000 > 5.000 3.000 - 100.000

Densidade <1017 1015 a 1025 >1020 >1025

FONTE: Adaptado de Radlinsky, 2014.

4.5.1 Transudato

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O líquido transudato é, na maioria dos casos, desenvolvido secundário a

hipoproteinemia. A diminuição da albumina sérica e consequentemente, da pressão

oncótica aumenta a evasão do líquido para o espaço pleural, além de diminuir sua

reabsorção, resultando em efusão. A diminuição sérica das proteínas ocorre nos

casos de deficiência nutricional, falência hepática, nefropatias e em enteropatias

(DEMPSEY; EWING, 2011).

4.5.2 Transudato modificado

Ocorrem geralmente nos casos de insuficiência cardíaca, hérnias

diafragmáticas e neoplasias. Pode ocorrer dos transudatos crônicos se tornarem

transudatos modificados ao adquirirem maior celularidade e concentração proteica.

Isto ocorre quando um transudato permanece na cavidade tempo suficiente para

provocar pressão no tecido epitelial seroso (PEREIRA; JESUS; MORENO, 2017).

4.5.2.1 Quilotórax

A vasodilatação linfática associada ao aumento da pressão nos mesmos,

resulta no extravasamento de exsudato quiloso na cavidade pleural. Podem causar

este tipo de efusão doença cardíaca, afecções dos vasos sanguíneos e/ou linfáticos

e a obstrução das vias linfáticas, podendo ser idiopática (JEREMIAS; CARCIOFI;

BRUNETTO, 2009).

Devido à alta quantidade lipídica na linfa, a efusão apresenta coloração

leitosa, aspecto turvo e com concentração de triglicerídeos que pode ultrapassar

1000 mg/dl (VAZ; SANTOS; CHAGAS et al, 2017).

4.5.2.2 Efusão hemorrágica

É categorizada como transudato modificado. Pode ser formada a partir de

diferentes mecanismos. Causas como traumas, coagulopatias, neoplasias e

processos infecciosos podem levar a formação de efusões hemorrágicas. Pode

ainda ser iatrogênica (MELO; MARTINS, 2009).

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O hematócrito da efusão hemorrágica é consideravelmente inferior ao do

sangue periférico. Como os vasos linfáticos tentam reabsorver os componentes da

efusão, o seu hematócrito altera a todo instante (SCOTT; STOCKHAM, 2008).

4.5.3 Exsudato asséptico

Mediadores inflamatórios aumentam a permeabilidade vascular, o que resulta

em extravasamento do plasma sanguíneo e consequente efusão (SCOTT;

STOCKHAM, 2008).

Os exudatos pleurais não sépticos podem ser ocasionados pela presença de

corpo estranho estéril, por tecido necrótico e pela peritonite infecciosa felina (PIF)

(MAC PHAIL, 2012).

4.5.4 Exsudato séptico – piotórax

Quando os mediadores inflamatórios responsáveis pela formação do exudato

possuem causas sépticas bacterianas o mesmo é denominado piotórax. Como o

próprio nome diz, o aspecto da efusão pleural formada é purulenta (MAC PHAIL,

2012).

As causas que levam a formação do piotórax compreendem: ruptura do

esôfago; inalação de corpo estranho; ferimento torácico penetrante (mordeduras, por

exemplo); ruptura de abscessos ou tumores infectados; disseminação bacteriana

hematogênica; migração parasitária; extensão de pneumonias ou até mesmo causas

iatrogênicas (SCOTT et al., 2017).

4.6 TRATAMENTO

Tratar apenas as efusões pleurais é paliativo uma vez que a efusão é apenas

um sinal clínico de uma causa base. Caso a afecção esteja sendo tratada de

maneira correta, a efusão é resolvida espontaneamente. No entanto, efusões

oriundas de causas mais graves, ou sem diagnóstico, e que estejam causando

desconforto respiratório ao paciente, por exemplo, precisam ser drenadas via

toracocentese. Em casos de formação recorrente de efusões, o dreno torácico é

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indicado. O tratamento paliativo é indicado para os possíveis sinais clínicos

secundários a efusão (RADLINSKY, 2014).

Deve haver um acompanhamento minucioso do paciente (clinicamente e com

exames complementares) quanto ao tempo em que as efusões levam para serem

formadas. Esta informação determinará a possibilidade de futuras drenagens e o

tempo entre elas (PEREIRA; JESUS; MORENO, 2017).

Casos inconclusivos ou não responsivos ao tratamento ou que necessitem de

estabilização rápida podem necessitar de intervenções cirúrgicas, como a

toracotomia exploratória. A toracoscopia é outra opção, sendo menos invasiva

(COHN, 2006).

4.7 PROGNÓSTICO

O prognóstico varia de acordo com a causa base e condições do paciente.

Efusões neoplásicas, por exemplo, apresentam um prognóstico ruim. Restrições

financeiras e potencial de recorrência das efusões levam muitos animais a serem

eutanasiados sem tratamento (COHN, 2006).

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5 LINFOMA MEDIASTINAL FELINO

5.1 LINFOMAS

Neoplasias hematopoiéticas podem representar aproximadamente 30% das

neoplasias que afetam os gatos. O linfoma (linfossarcoma ou linfoma maligno) é a

neoplasia hematopoiética mais comum, sendo considerada com prevalência superior

quando comparada a outras espécies. Podem ser classificados de acordo com o

local afetado em multicêntrico, alimentar, extranodal e mediastinal, sendo este último

o que mais induz a formação de derrames pleurais (CÁPUA et al., 2005).

Linfomas são neoplasias responsáveis pela proliferação de linfócitos

neoplásicos. Pode atingir todos os órgãos, porém, na maioria dos casos acomete

primeiramente os linfonodos, seguido de órgãos linfoides (timo, baço, medula óssea

e fígado) (CÁPUA et al., 2005).

Gatos idosos são os mais afetados, assim como jovens positivos para FeLV

e/ou FIV. As raças orientais (principalmente os Siameses) são as mais predispostas

a desenvolverem a doença (AMORIM et al., 2006).

5.2 FeLV E FIV

O vírus da leucemia felina (FeLV) e o vírus da imunodeficiência felina (FIV)

são considerados fatores predisponentes ao surgimento dos linfomas. Por esse

motivo, em casos de suspeita de linfoma, é indicado que FIV e FeLV sejam testadas

no paciente (ALVES et al., 2015).

Por ser um lentivírus linfotrópico, o vírus da imunodeficiência felina pode

influenciar no aparecimento dos linfomas devido à sua participação indireta na

oncogênese. Por ser uma afecção imunossupressora, o vírus prejudica o sistema

imune na sua função de destruir células malignas, predispondo o gato a desenvolver

neoplasias, como o linfoma (CÁPUA et al., 2005).

O vírus da FeLV é um retrovírus com potencial carcinogênico (denominado

oncovírus). O FOCMA (antígeno de membrana celular por oncovírus felino) é um

antígeno tumoral específico da FeLV, responsável por fixar nas membranas das

células do organismo deixando o gato suscetível ao desenvolvimento de neoplasias,

como o linfoma (KRUNIC et al., 2015).

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5.3 LINFOMA MEDIASTINAL

5.3.1 Etiopatogenia

Originado a partir de mutagêneses causadas em células precursoras dos

linfócitos T, pode envolver tanto o mediastino, como timo e/ou linfonodos esternais.

Na maioria dos casos, a neoformação é encontrada aderida ao tecido linfoide

intratorácico, no entanto, pode estar situada em outros órgãos, como os pulmões

(AMARAL et al., 2015).

5.3.2 Sinais Clínicos

A sintomatologia mais frequente é respiratória, devido a compressão dos

pulmões pela neoplasia e pela efusão pleural resultante da mesma. O animal pode

apresentar dispneia, tosse, anorexia e prostração. A neoformação pode ainda

obstruir o esôfago, resultando em episódios de regurgitação (CÁPUA et al, 2005).

5.3.3 Diagnóstico

De acordo com Cápua et al (2005), é indicada a radiografia de tórax, que

pode revelar uma neoformação mediastinal, desvio dorsal de traqueia e/ou efusão

pleural. A ultrassonografia pode revelar presença de líquido e irregularidade nos

órgãos locais. Teste sorológico para FIV e FeLV também são indicados, uma vez

que ambas afecções predispõem ao linfoma (ELEUTÉRIO, 2014).

A análise do derrame pleural aspirado é sempre indicada, pois no linfoma

podem ser encontrados linfócitos imaturos em maior número que linfócitos normais,

dentre outras anormalidades como células linfomatosas, com cromatina grandular

dispersa, nucléolos anormais, aumento no número de mitoses, dentre outros A

análise do líquido nem sempre é conclusiva, sendo então sugeridos outros exames.

O exame histopatológico da massa mediastinal é o único que permite a

diferenciação dos graus do linfoma (CÁPUA et al., 2005).

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5.3.4 Tratamento

O tratamento é paliativo e quimioterápico. O prognóstico é ruim quando o tutor

opta em não fazer a quimioterapia ou quando o paciente está imunossuprimido.

Vale ressaltar que, durante a quimioterapia, o emprego de protocolos e/ou doses

errôneas pode levar a resistência tumoral aos quimioterápicos. A toxicidade dos

quimioterápicos utilizados também deve ser analisada em cada caso (CÁPUA et al.,

2011).

A quimioterapia do linfoma tem foco sistêmico e é dividida em três etapas:

indução da remissão, manutenção e terapia de resgate. Na primeira etapa utilizam-

se fármacos com doses maiores e curtos intervalos entre eles, objetivando a

remissão do quadro clínico. Após remissão, inicia-se a etapa de manutenção, com

doses menores. A terceira etapa (terapia de resgate) é agressiva e busca uma nova

remissão da neoplasia (caso o quadro clínico recidiva). Antes de cada sessão de

quimioterapia, é preconizada a realização de um hemograma completo, pois a

leucopenia é um fator limitante do tratamento (LARA, 2009).

Dentre os protocolos a serem utilizados destacam-se: protocolo OP,

associação de Vincristina 0,75 mg/m2, a cada 7 dias, IV e prednisona 1mg/kg/dia do

7º ao 28º dia do início do protocolo, depois segue a mesma dose a cada 48 horas,

VO. O protocolo COP é um dos mais utilizados, apresentando bons resultados. A

indução da remissão do COP é realizada com a ciclosfosfamida 300mg/m2 a cada

15 dias, IV ou VO; Vincristina 0,75 mg/m2 a cada 15 dias, IV; prednisona 2mg/kg/dia,

VO. A manutenção do COP é realizada com ciclofosfamida 300 mg/m2, IV ou VO,

vincristina 075 mg/m2, IV, prednisona 2mg/m2 (uso contínuo) durante 1 ano (LARA,

2009).

O protocolo CHOP é mais agressivo (portanto mais eficiente) e tem duração

média de seis meses. Possui custo elevado (comparado ao COP) e ocasiona

toxicidade renal, motivo estes que inviabilizam seu uso em muitos casos. Utiliza

vincristina (0,5mg/m2, IV); ciclofosfamida (200 mg/m2 VO); doxorrubicina (1 mg/Kg,

IV) e a prednisolona (40 mg/m2, VO). Possui ciclos de 21 dias. A manutenção pode

ser realizada com doxorrubicina (1 mg/Kg, IV) a cada 21 dias, num total de 5 a 7

sessões (PÉREZ, 2010).

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5.4 RELATO DE CASO 1 – LINFOMA MEDIASTINAL EM UM GATO DOMÉSTICO

Um gato SRD, macho, de dois anos, esterelizado, pesando 5,3 kg, foi

atendido no Hospital Veterinário Batel com queixa de dispneia com evolução de

quinze dias. O paciente se encontrava levemente prostrado, porém, com bom

apetite. Demais parâmetros dentro da normalidade. O tutor negou outras alterações

como diarreia e vômito.

O paciente foi encaminhado para radiografia de tórax e ultrassonografia

abdominal a qual não apresentou alterações significativas de nota. A radiografia foi

realizada nas projeções ventrodorsal e laterolateral. Segundo laudo, na região

mediastinal havia um aumento de radiopacidade em todas as projeções (Figura 11).

A avaliação dos lobos pulmonares craniais e do coração foi dificultada devido ao

aumento de radiopacidade local. O trajeto da traqueia se encontrava desviado

dorsalmente nas projeções laterolaterais. Havia presença de efusão pleural em

todas exposições. A impressão radiográfica sugeria como diagnóstico diferencial

principal o linfoma mediastinal.

Foram solicitados toracocentese, análise de líquido cavitário, sorologia para

FIV/FeLV, hemograma completo e exames bioquímicos (ALT, GGT, ureia, creatinina

e albumina). Ainda nesta primeira consulta foi prescrita a prednisolona 2 mg/kg SID

até novas recomendações.

O eritrograma não demonstrou alterações. O leucograma apresentou apenas

linfopenia (544-µL, sendo os valores de referência entre 1500 - 7000-µL). Nas

análises bioquímicas, foi revelado hipoalbuminemia, com valor próximo do limite

inferior. A sorologia para FIV/FeLV (realizada pelo método de ELISA), resultou em

positivo para o antígeno FeLV e negativo para FIV.

Como já previsto, a toracocentese do animal demonstrou presença de efusão

pleural, com coloração serosanguinolenta e aspecto turvo (Quadro 2). O exame

citopatológico da amostra demonstrou alta celularidade, com predomínio de

linfoblastos e linfócitos, dentre outros. A análise classificou o líquido como efusão

neoplásica, sugerindo para linfoma.

A conclusão da análise do líquido cavitário, a radiografia evidenciando massa

em região mediastinal, a linfopenia, sinais clínicos como dispneia e prostração, e a

positividade para FeLV (que é fator predisponente) permitiram concluir diagnóstico

de linfoma mediastinal.

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Quadro 2: Resultado físico, químico e citológico da análise do líquido torácico, de gato, macho, 2

anos, esterelizado.

Exame físico

Volume 10 ml

Densidade 1036

pH 7

Cor Serosanguinolento

Aspecto Turvo

Exame químico

Proteínas 6,2 g/dL

Citologia

Células nucleadas 60.700/mm3

Foi estabelecido como tratamento quimioterápico o protocolo CHOP, que

utiliza como medicamentos a vincristina, ciclofosfamida, doxorrubicina e

prednisolona, com sessões semanais. Hemogramas foram realizados antes de cada

sessão quimioterápica.

Na primeira sessão foi utilizada a vincristina (0,7mg/m2 - IV). Houve terapia

prévia com ondasentrona (pois os quimioterápicos podem causar êmese). Para

tratamento domiciliar, foram prescritos a prednisolona (5mg/kg SID) e

metoclopramida (BID, por 3 dias).

Após a primeira sessão o paciente não apresentou alterações clínicas. Uma

semana depois, a segunda sessão foi realizada administração de ciclofosfamida 50

mg/m2 por via oral, além de metoclopramida previamente. O uso da prednisolona

(prescrita anteriormente) foi mantido.

Em anamnese antecedente a terceira sessão, o tutor relatou que o paciente

permanecia hígido. O hemograma manteve-se sem alterações. A terceira sessão

quimioterápica foi realizada com vincristina (0,7 mg/m2 - IV) e terapia prévia com

ondasentrona 0,2 mg/kg, SC.

Na quarta sessão foi utilizada a doxorrubicina (1mg/kg - IV) e fluidoterapia

com NaCl 0,9%, durante cinco horas. Assim como nas outras sessões, houve

terapia prévia e prescrição de antiemético. A dose da prednisolona foi alterada para

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0,7 mg/kg a cada 48 horas por sete dias. A quinta sessão e os exames prévios

foram agendados para 14 dias.

Após as quatro sessões, foi realizada radiografia de tórax para avaliar a

efetividade da terapia quimioterápia de indução de remissão. Conforme ilustrado na

Figura 11, pelo exame radiográfico, houve remissão da neoplasia, além, da

topografia e radiopacidade do tórax estarem dentro da normalidade. Diante disso foi

iniciada a fase de manutenção do tratamento quimioterápico. Até a descrição deste

relato, a quinta sessão quimioterápica ainda não havia sido realizada.

Figura 11: Radiografias em posição ventrodorsal de paciente gato, SRD, macho, 2 anos, com

diagnóstico de linfoma mediastinal: antes do tratamento (A) e após 35 dias, com remissão da

neoplasia (B).

5.4.1 Discussão

Eleutério (2014) afirma que a infecção pelo vírus da leucemia felina ainda é

um dos principais fatores predisponentes para o linfoma mediastínico. Foi o

conhecimento desta prevalência que levou os médicos veterinários a solicitarem a

sorologia para FeLV do paciente, o qual foi positiva.

Dentre os sinais clínicos do linfoma mediastinal, Amaral et al (2015)

afirmaram que, além da prostração e dos sinais respiratórios, é comum a

regurgitação esofágica devido a compressão pela massa tumoral. O paciente do

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relato não apresentou em nenhum momento quadros de regurgitação. Como a

radiografia não conseguiu mensurar o tamanho da neoplasia, provavelmente, o

mesmo não possuía tamanho suficiente para comprimir o esôfago.

É esperado, nos casos de linfoma mediastinal, encontrar alta contagem de

linfócitos e linfoblastos na efusão pleural. Nos oito casos estudados por Melo et al

(2009) todos apresentaram alta taxa de linfócitos na análise citopatológica da

efusão. O mesmo aconteceu com o caso aqui relatado.

Norsworthy et al. (2011) relataram que o uso da prednisolona como

tratamento prévio a quimioterapia pode induzir resistência aos quimioterápicos, em

cães, afirmação não comprovada em felinos. O paciente do relato respondeu bem

ao protocolo quimioterápico mesmo fazendo uso prévio da prednisolona.

Segundo Araújo (2009), o linfoma mediastinal é o que melhor responde ao

tratamento quimioterápico, porém gatos FeLV positivos apresentam prognóstico

desfavorável. No paciente relatado, houve remissão completa do quadro neoplásico

apenas com quatro sessões de quimioterapia, provavelmente devido às boas

condições clínicas do paciente associado ao uso do protocolo CHOP, que apesar de

possuir custo elevado (o que pode impedir o seu uso), apresenta bons índices de

sucesso.

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6 CARCINOMATOSE PLEURAL

Carcinomatose ou carcinose é um termo aplicado à disseminação, via linfática

ou hematógena, de neoplasias de caráter maligno. Quadros de carcinomatose

costumam ser oriundos de neoplasias em estágio avançado e sem tratamento.

Diversas são as neoplasias que podem levar a carcinomatose, sendo as neoplasias

epiteliais as que apresentam maior incidência (MOORE; COFFEY; LEAVELL et al,

2016).

As neoformações carcinomatosas podem estar presentes em praticamente

todos os órgãos das cavidades torácica e abdominal. Independente se presente em

cavidade pleural ou peritoneal (ou em ambas), quadros de carcinomatose levam à

formação de efusão, apresentando ou não células neoplásicas no líquido resultante.

A efusão normalmente é do tipo exsudato asséptico ou transudato modificado

(MOORE et al., 2016).

Como qualquer efusão pleural é comum o paciente apresentar sintomatologia

respiratória. Outros sinais clínicos dependem da neoplasia de base e da proporção

da efusão (MOORE et al, 2016).

De acordo com Marques Neto (1992), em humanos, endocardite pode estar

presente como síndrome paraneoplásica da carcinomatose.

O diagnóstico é realizado pela análise da efusão, na qual serão identificadas

células oriundas da neoplasia primária que levou a carcinomatose. Exames de

imagem podem auxiliar na avaliação do volume e aspecto do líquido e na procura de

massas tumorais. Nem sempre é possível identificar a neoplasia primária da

carcinomatose, sendo considerada idiopática (FILGUEIRA; REIS; MACEDO et al,

2014).

O tratamento é quimioterápico, utilizando fármacos de acordo com a origem

primária. Toracocentese e paracentese são indicadas para melhorar a clínica do

paciente (BEST; FRIMBERGER, 2017).

A administração intracavitária de quimioterápicos é outra opção de

tratamento. Este tipo de terapia apresenta bons resultados, reduzindo a efusão por

longos períodos. Podem ser utilizadas drogas como a cisplatina, carboplatina

mitoxantrona e fluororacilo, dependendo da neoplasia de origem (LARA, 2009).

6.1 RELATO DE CASO 2 – CARCINOMATOSE PLEURAL EM UM CÃO

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Um cão, fêmea, Cocker Spaniel, 11 anos, esterelizada, foi encaminhada ao

HVB há 18 meses com histórico de efusão pleural e abdominal com evolução de

dois meses. A paciente já havia sido submetida à alguns procedimentos de

toracocentese e abdominocentese prévios a aproximadamente dois meses antes da

primeira consulta no HVB. As queixas relatadas pelo tutor eram a prostração e a

distenção abdominal. A causa de base era desconhecida.

No exame clínico, o animal encontrava-se prostrado e com distensão

abdominal. A auscuta torácica revelava sons abafados. Demais parâmentros dentro

da normalidade.

Foram solicitados exames para identificar a causa de base. Hemograma,

albumina, creatinina, fosfatase alcalina, AST, ureia, TTPa e TP apresentaram

valores dentro da normalidade. A radiografia torácica não revelou alterações dignas

de nota. O ecocardiograma evidenciou presença moderada de efusão pleural.

Amostras da efusão peritoneal e pleural foram obtidas para análise

laboratorial. Possuíam coloração avermelhada e conforme características

demonstradas no Quadro 2, a amostra pleural foi classificada como transudato

modificado, enquanto a abdominal, exsudato asséptico hemorrágico. Em ambas as

análises não foram encontrados critérios de malignidade suficientes para

caracterizar neoplasia.

Figura 12: Drenagem de efusão pleural hemorrágica via toracocentese de cão, fêmea, 11 anos,

esterelizada.

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Quadro 3: Resultado físico, químico e citológico da análise do líquido torácico, de cão, fêmea, 11

anos, esterelizada.

Exame físico

Volume 2 ml

Densidade 1020

pH 9

Cor Vermelha

Precipitado Positivo

Coagulação Negativo

Exame químico

Proteínas 2,2 g/dL

Glicose 100 mg/dL

Sangue oculto 4+

Bilirrubina 1+

Hemoglobina 2,4 g/dL

Citologia

Macrófagos 2%

Segmentados 3%

Células mesoteliais 95%

Devido ao diagnóstico inespecífico, na qual não foi encontrada causa de

base, o animal foi conduzido à laparotomia exploratória, que evidenciou múltiplos

nódulos presentes em todos os órgãos da cavidade, além da parede abdominal. Foi

realizada biópsia de nódulos do cólon, jejuno e peritônio e colhidas amostras da

efusão para cultura fúngica e bacteriana, as quais resultaram negativas.

A análise histopatológica da amostra resultou em adenocarcinoma papiliforme

indiferenciado, o qual poderia ser proveniente do epitélio superficial ovariano,

segundo o patologista.

Foi instruído protocolo quimioterápico com sessões a cada 21 dias. Antes de

cada sessão foram realizados exames bioquímicos (creatinina, glicose e ALT) e

hemograma. Terapia antiemética foi instituída antes e após todas as sessões

quimioterápicas.

A primeira sessão de quimioterapia foi realizada com carboplatina 200mg/m2,

IV. Para terapia domiciliar foi prescrito timomodulina (Leucogen®) (5ml/animal), SID

por 21 dias e piroxicam 0,3mg/kg, a cada 48 horas, por 30 dias. Na segunda sessão

foi utilizada doxorrubicina 25mg/m2, IV.

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A terceira sessão quimioterápica foi realizada com mitoxantrona 5 mg/m2, IV.

O piroxicam foi mantido na mesma dose e frequência, além da ciclofosfamida na

dose de 12 mg/m2, VO, a cada 48 horas.

Em consulta antecedente à terceira e quarta sessões, devido a distensão

torácica, abdominal e apatia, foi realizada nova toracocentese e abdominocentese.

Houve suspensão do piroxicam após quarta sessão quimioterápica e prescrição da

prednisona 1mg/kg, SID, por 7 dias, após 0,5 mg/kg SID, espironolactona 2 mg/kg,

SID e dipirona 25 mg/kg, TID por 3 dias. A quarta sessão quimioterápica foi

conduzida com aplicação de mitoxantrona 5 mg/m2 IV.

Na quinta sessão de quimioterapia foi realizada aplicação de mitoxantrona, na

dose de 5 mg/m2, IV, além de toraco e abdominocentese, pois a paciente

apresentava-se dispneica e com histórico de tosse. Foi prescrito ciclofosfamida 12

mg/m2, VO a cada 24 horas.

Apesar da quimioterapia, o animal continuou com efusões, além de anemia e

início de quadro neurológico (convulsões). Para a anemia foi prescrita um

suplemento com vitaminas do complexo B e minerais (Hemo Care®), suplemento a

base de vitaminas e sulfato ferroso (Combiron®) clara de ovo e gelatina incolor. Para

as convulsões, foi prescrita gabapentina na dose de 100 mg/kg BID.

Devido o animal não ter respondido ao protocolo quimioterápico realizado

anteriormente (pois a formação das efusões não regrediu), optou-se pela

quimioterapia intracavitária, sendo utilizada a carboplatina 100 mg/m2 em cavidade

torácica, e 200 mg/m2, em cavidade abdominal a cada 28 dias (após drenagens das

efusões), além da utilização associada do piroxicam 0,3 mg/kg a cada 48 horas.

Foram ao todo três sessões de quimioterapia intracavitária.

Atualmente, a paciente ainda apresenta efusões moderadas a graves em

ambas as cavidades, sendo as drenagens frequentes. Continua fazendo uso da

gabapentina, suplemento a base de vitaminas e sulfato ferroso (Combiron®),

timomodulina (Leucogen®) e de anti-inflamarórios esteroidais, como a prednisona

(0,5 mg/kg).

6.1.1 Discussão

Apesar da bibliografia científica veterinária acerca de carcinomanose pleural

ser escassa (sendo mais comum a peritoneal), a bibliografia humana revela vastos

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estudos acerca do assunto, indicando a alta incidência em humanos. Em um estudo

realizado por Bottini (1994) de 92 pacientes humanos diagnosticados com neoplasia

e com quadros de derrame pleural, 40,2% apresentaram carcinomatose pleural.

Queiroz et al (2017) citam que há uma prevalência de neoplasias epiteliais em

animais com idade próxima a 10 anos. Os autores afirmam ainda que metástases

são comuns, principalmente quando a origem é ovariana.

A dificuldade respiratória devido a carcinomatose e efusão pleural é o

principal sinal clínico que leva o tutor a procurar o diagnóstico e tratamento. De

acordo com Filgueira et al (2014) a presença de massas pulmonares são as

principais causas de óbito nestes casos. A dispneia do caso apresentado era o sinal

clínico mais frequente na paciente.

No relato de caso de Santos et al (2013) o paciente cão apresentava efusão

pleural de aspecto hemorrágico. A necrópsia e histopatologia revelaram presença de

lesão focal em lobo caudal esquerdo, constituída de células epiletiais

carcinomatosas e com formações papiliformes. No relato aqui apresentado,

histopatológico semelhante foi encontrado nas lesões da cavidade abdominal, além

da semelhança nas características da efusão. Devido ao aumento de ecogenicidade

no pulmão pela efusão pleural, este mesmo tipo de lesão talvez estivesse também

presente na cavidade torácica.

Rowan et al (2016) também relataram paciente cão que apresentava

carcinomatose, sendo encontrados múltiplos nódulos pequenos de aspecto

papiliforme na superfície de órgãos abdominais. Neste caso, a neoplasia de base foi

o adenomacarcinoma papilar ovariano. Esta foi a mesma neoplasia sugerida pelo

caso aqui apresentado, no entanto, deixou dúvidas pelo fato da paciente já ser

esterilizada.

Moore et al (2016) relataram caso de paciente cão que apresentava derrame

pleural e abdominal de origem neoplásica epitelial. Aproximadamente quinze dias

após a primeira toracocentese, foi observada a presença de uma massa subcutânea

no local da toracocentese. O fato de não ter havido, aparentemente, semeadura

durante o procedimento para a drenagem da efusão no paciente relatado, pode ser

um ponto positivo no prognóstico quando comparado ao paciente relatado por Moore

et al (2016).

O tratamento quimioterápico (sistêmico e intracavitário) da paciente não

apresentou resultados satisfatórios. O mesmo houve com o relato de Best et al

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(2017), em que a carboplatina intracavitária também foi realizada em um cão com

carcinomatose. Apesar de tanto no caso de Best et al (2017) e no caso do paciente

relatado ambos os casos não houver a cessação da efusão, a quimioterapia e o

tratamento paliativo permitiram que a neoplasia progredisse lentamente,

aumentando a expectativa e bem estar dos animais.

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7 CONCLUSÃO

As efusões pleurais devem ser consideradas em quadros de dispneia, e o

diagnóstico conclusivo depende da causa base, pois o prognóstico e a conduta

terapêutica é diferente para cada etiologia.

Nos casos de linfoma mediastínico em gatos, é de grande importância testar

os pacientes para FIV e FeLV, pois estes vírus são fatores predisponentes.

Embora não haja cura, a resposta do linfoma ao tratamento costumam ser

satisfatórias. O que é diferente nas carcinomatoses.

Nas carcinomatoses, o diagnóstico da neoplasia de origem é necessária para

a escolha do protocolo quimioterápico, apesar de nem sempre ser possível. O

prognóstico das carcinomatoses é reservado, sendo considerado ruim quando a

causa de base não é descoberta e quando não há resposta no tratamento paliativo.

Qualquer seja a causa da efusão pleural, acompanhamentos rotineiros de

imagem e exames hematológicos são fundamentais para avaliar a progressão da

causa base e estabelecimento de conduta terapêutica.

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