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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA ENSINO MÉDIO INTEGRADO: UM ESTUDO SOBRE O CURSO DE INFORMÁTICA DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO PARANÁ ELAINE CRISTINA NASCIMENTO CURITIBA 2009

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

ENSINO MÉDIO INTEGRADO: UM ESTUDO SOBRE O CURSO DE

INFORMÁTICA DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO PARANÁ

ELAINE CRISTINA NASCIMENTO

CURITIBA

2009

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ELAINE CRISTINA NASCIMENTO

ENSINO MÉDIO INTEGRADO: UM ESTUDO SOBRE O CURSO DE

INFORMÁTICA DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO PARANÁ

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Mário Lopes Amorim

CURITIBA

2009

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N244e Nascimento, Elaine Cristina

Ensino médio integrado : um estudo sobre o curso de informática da

rede pública estadual do Paraná / Elaine Cristina Nascimento. – 2009.

113 f. : il. ; 30 cm

Orientador: Mário Lopes Amorim

Dissertação (Mestrado) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Curitiba, 2009

Bibliografia: f. 103-8

1. Ensino médio integrado. 2. Informática – Estudo e ensino.

3. Educação profissional. 4. Trabalho. I. Amorim, Mário Lopes, orient.

II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de

Pós-Graduação em Tecnologia. III. Título.

CDD 600

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Termo de aprovação

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Dedicatória

A meus pais, que na escola do trabalho e da vida, me ensinaram com sabedoria.

A Mariana, minha filha querida, por quem e de quem tenho muito amor.

A Vera Robert Zanotto, pelo apoio incondicional, pelo estímulo e carinho.

Aos jovens estudantes e professores, sujeitos históricos, pela atenção e por

relatarem suas experiências e sonhos.

Dedico este trabalho com amor e gratidão!

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Agradecimentos

Expresso meus sinceros agradecimentos ao meu orientador, Profº. Dr. Mário Lopes

Amorim, por ter acreditado neste trabalho, acompanhando de forma atenciosa o

desenvolvimento e conclusão desta pesquisa.

A UTFPR pela manutenção do programa de mestrado do PPGTE, na busca por

oferecer sempre um ensino de qualidade, público e gratuito.

Aos professores Dante Henrique Moura, Gracialino Dias e Nanci Stancki Silva que

compuseram a banca examinadora e deram preciosas contribuições a este trabalho.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente estiveram envolvidas neste

trabalho, que contribuíram seja intelectualmente, materialmente ou através de seu

apoio.

Muito obrigada!

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RESUMO

NASCIMENTO. Elaine C. Ensino Médio Integrado: Um estudo sobre o curso de Informática da rede pública estadual do Paraná. 2009. 111 f. Dissertação – Programa de Pós Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curitiba, 2009. Esta pesquisa buscou investigar o processo de implantação do Curso Técnico em Informática, na forma integrada a Educação Profissional, proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná – SEED/PR, no período de 2004 a 2008. O percurso feito através da revisão bibliográfica em torno da problemática envolvendo a Educação Profissional e a formação dos sujeitos, tomando como categoria fundamental o princípio educativo do trabalho, possibilitou compreender a importância da integração entre os conteúdos e em especial, a necessidade de formação docente para que estes compreendam e assumam uma nova postura pedagógica frente a esta modalidade de ensino, articulando as categorias educação, ciência, cultura, tecnologia e trabalho. Para melhor análise de nosso objeto, começamos por embasar o referencial teórico nos fundamentos gramscianos de educação, efetivando-se uma análise sobre os princípios da escola unitária, que tem como objetivo a formação humanista, geral, política e crítica do jovem, entendendo que esta formação poderia viabilizar ao jovem da classe trabalhadora sua desalienação em relação ao trabalho e às relações sociais de um modo geral. Estes elementos são fundamentais para construir os alicerces necessários para a análise da Legislação pertinente ao Ensino Médio Integrado a Educação Profissional e seu contexto histórico, bem como as ações propostas para a formação dos docentes e discentes do curso de Informática, verificando de que forma compreendem a proposta e os conceitos presentes na concepção do Ensino Médio Integrado a Educação Profissional. Assim, esta dissertação procurou verificar o perfil dos professores que atuam no curso de Informática, bem como de seus alunos, e como percebem a proposta de integração curricular defendida pela SEED-PR, bem como a sua relação com o mundo do trabalho, verificando a necessidade de maior conhecimento em relação aos fundamentos teóricos e metodológicos referentes a este curso. Palavras- chave: Educação Profissional, Trabalho, Educação, Ensino Médio Integrado.

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ABSTRACT

NASCIMENTO. Elaine C. Integrated High School: A study on the course of Informatics of the public state of Paraná. 2009. 111 f. Graduate Program in Technology, Federal Center of Technological Education of Paraná. Curitiba,2009. This study aimed to investigate the process of implementation of the Technical Course in Information Technology, in an integrated way the Vocational Education, proposed by the Education Department of the State of Paraná - SEED / PR, in the period 2004 to 2008. The route taken by the review around the issues surrounding the Vocational Education and training of subjects, taking as the fundamental educational principle category of work, has to understand the importance of integration between the content and in particular the need for teacher training to they understand and take forward a new teaching position for this type of education, linking the categories education, science, culture, technology and labor. For better analysis of our subject, started by the theoretical framework based on Gramscian grounds of education, is an effective analysis of the principles of the school unit, which aims at training humanistic, general, political and critical of the young, and that this training could make the couple of working class desalienação on his work and social relations in general. These elements are essential to build the foundations necessary for the analysis of legislation relevant to the Integrated Secondary School Vocational Education and its historical context and the actions proposed for the training of teachers and students of the course in Computer Science, noting how they understand the proposal and the concepts in the design of the Integrated Secondary School Vocational Education. Therefore, this dissertation sought to verify the profile of teachers who work in the course of computing, as well as their students, and perceive the proposal for curriculum integration advocated by the SEED-PR and its relationship to the world of work, verifying the need for more knowledge on theoretical and methodological foundations for this course. Keywords: Professional Education, Labor, Education, Secondary Education

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Alunos matriculados- Colégio A................................................................68

Gráfico 2 - Alunos matriculados- Colégio B................................................................70

Gráfico 3 - Sexo - alunos............................................................................................74

Gráfico 4 - Idade- alunos............................................................................................75

Gráfico 5 - Atividade dos pais/mães...........................................................................76

Gráfico 6 - Alunos que possuem computador............................................................77

Gráfico 7 - Alunos com acesso a internet..................................................................78

Gráfico 8 - Forma de divulgação do curso.................................................................79

Gráfico 9 - Atividade profissional dos alunos.............................................................80

Gráfico 10 - Alunos que atuam na área de formação................................................81

Gráfico 11 - Pretensão dos alunos ao concluirem o curso.........................................84

Gráfico 12 - Conhecimentos adquiridos no curso......................................................86

Gráfico 13 - Sexo- professores...................................................................................92

Gráfico 14 - Idade- professores..................................................................................92

Gráfico 15 - Tempo de exercício profissional.............................................................93

Gráfico 16 - Tempo de exercício na instituição pesquisada.......................................96

Gráfico 17 - Tempo de exercício no E.M.I.- Informática.............................................97

Gráfico 18 - Atividade profissional .............................................................................98

Gráfico 19 - Tipo de vínculo com a SEED................................................................100

Gráfico 20 - Integração nas aulas............................................................................102

Gráfico 21 - Planejamento do professor para E.M.I.- Informática............................105

Gráfico 22 - Conhecimento da proposta da SEED para o E.M.I.- Informática.........107

Gráfico 23 - Efetivação da proposta para o E.M.I.- Informática...............................107

Gráfico 24 - Orientação sobre a proposta do E.M.I - Informática.............................113

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Grade Curricular E.M.I. – Informática........................................................67

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CEEP- Centros Estaduais de Educação Profissional

CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica

CNE - Conselho Nacional de Educação

CONSED - Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação

EMI – Ensino Médio Integrado

EMR – Ensino Médio Regular

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC – Ministério da Educação e Cultura

NRE(s) - Núcleos Regionais de Educação

NREC - Núcleo Regional de Educação de Curitiba

PARANATEC – Agência para o Desenvolvimento da Educação Profissional

PROEJA- Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a

Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos

PROEM – Programa de Expansão, Melhoria e Inovação do Ensino Médio no Paraná

PROEP – Programa de Expansão da Educação Profissional

PPGTE- Programa de Pós- Graduação em Tecnologia

PSS – Processo Seletivo Simplificado

SEED – Secretaria de Estado da Educação

SEED/PR – Secretaria de Estado da Educação do Paraná

SETEC - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1.0 METODOLOGIA ............................................................................................... 18

1.1 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS ..................................................... 18

2. A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARANÁ: PRINCÍPIOS E

CONCEPÇÕES ......................................................................................................... 21

2.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL DA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL NO CENÁRIO NACIONAL A PARTIR DE 1997 ............................. 21

2.2 O CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

NO PARANÁ A PARTIR DE 2003 ............................................................................. 27

3 DIMENSÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

.................................................................................................................................. 33

3.1 OS PRINCÍPIOS GRAMSCIANOS: UM BREVE RESGATE HISTÓRICO .. 33

3.2 GRAMSCI E A ESCOLA UNITÁRIA ........................................................... 36

3.3 O PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI ........................................................ 39

4. O ENSINO MÉDIO INTEGRADO A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:

ANALISANDO A FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM INFORMÁTICA ......................... 49

5 A PESQUISA DE CAMPO ............................................................................... 56

5.1 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS SOBRE OS ALUNOS . 56

5.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS SOBRE OS DOCENTES ............... 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 99

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 103

APÊNDICE 1 – PROTOCOLO DE ENTREVISTA - ALUNOS ................................ 109

APÊNDICE 2– PROTOCOLO DE ENTREVISTA - PROFESSORES (AS) ............ 111

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APÊNDICE 3 CARTA DE APRESENTAÇÃO ....................................................... 113

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INTRODUÇÃO

A história da educação em nosso país foi marcada por políticas educacionais

que desconsideravam os pressupostos de integração entre a educação geral e a

educação profissional, e a formação humana dos trabalhadores, que freqüentavam a

escola pública de formação para o trabalho.

No caso da Rede Estadual Paranaense, o sistema público de ensino

profissionalizante consolidou, no referido período, o desmonte dos cursos

profissionalizantes de nível técnico, desativando 1080 cursos profissionalizantes

existentes até 1996, de acordo com dados apontados no documento orientador

elaborado pela Secretaria da Educação do Paraná - SEED-PR (2005), acarretando

inúmeras conseqüências para a população paranaense e afetando diretamente os

adolescentes e jovens que tiveram negado o seu acesso à escola do trabalho, tendo

no decorrer da história a oferta da educação profissional no Paraná reduzida,

mantendo em atividade os estabelecimentos que não cederam às medidas

autoritárias, assentadas nos dispositivos legais e de escassos recursos financeiros

presentes na reforma dos anos 1990.

A partir de 2003, novas propostas de integração entre o ensino médio e o

ensino técnico de nível médio foram delineadas, sobretudo quando as Diretorias do

Ensino Médio e de Educação Profissional da Secretaria de Educação Média e

Tecnológica, em conjunto com outros órgãos governamentais e representantes de

entidades da sociedade civil, buscaram subsídios para implementar mudanças na

Política do Ensino Médio e da Educação Profissional, tendo no âmago desses

debates os pressupostos da escola unitária proposta por Gramsci e o conceito de

politecnia, além de sugestões para a construção da minuta do Decreto nº

5.154/2004, que revogou o Decreto nº 2.208/1997.

Segundo (SAVIANI, 2003, p.137):

A noção de politecnia se encaminha na direção da superação da dicotomia entre trabalho manual e trabalho intelectual, entre instrução profissional e instrução geral. A sociedade moderna, que generaliza as exigências do conhecimento sistematizado, é marcada por uma contradição: como se trata de uma sociedade alicerçada na propriedade privada dos meios de produção, a maximização dos recursos produtivos do homem é acionada em benefício da parcela

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que detém a propriedade dos meios de produção, em detrimento da grande maioria, os trabalhadores, que possuem apenas a sua força de trabalho.

Desta forma, em 2003 a política estabelecida para a Rede Estadual

Paranaense inicia o processo de retomada da oferta de ensino público e gratuito

para a formação para o trabalho, assumindo a concepção de ensino e currículo em

que o trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia constituem os fundamentos

essenciais sobre os quais os conhecimentos escolares devem ser assegurados.

Cabe pontuar que esta é uma política de governo e suas alianças, o que não

garante a continuidade desta oferta que atualmente promete comprometer-se com a

formação da classe trabalhadora.

Ao assumir esta concepção, a Rede Pública Estadual do Paraná evidencia o

entendimento de que a educação básica de nível médio deve ser tomada como

direito universal de todo o cidadão, sendo indissociável da formação profissional,

apontando para além de uma formação como adaptação às demandas do mercado,

do capital e dos padrões da empregabilidade.

Nesta concepção, as diretrizes que sustentam a política de retomada da

oferta da Educação Profissional levam em consideração, em suas linhas

referenciais, a necessidade de expansão e reestruturação curricular, visando a

instituição de seu quadro próprio de professores, fator desencadeador de problemas

estruturais e na formação dos alunos; a formação continuada do seu quadro docente

e técnico, que em sua maioria era formada por professores contratados

temporariamente pela mantenedora; investimentos na melhoria da estrutura física e

material dos estabelecimentos, bem como a sua manutenção.

Assim, em 2004 o Estado do Paraná iniciou a implantação de cursos de

educação profissional técnica de nível médio, com organização curricular integrada

ao ensino médio, em 15 (quinze) estabelecimentos que ofertam cursos do setor

primário – área agropecuária/ florestal; em 5 (cinco) que ofertam cursos no setor

secundário – área eletromecânica/ química; em 6 (seis) que ofertam cursos no setor

terciário – área de comunicação e artes/informática/ administração da confecção/

meio ambiente – e nos 45 (quarenta e cinco) estabelecimentos que ofertavam o

Curso Normal em nível médio para a Formação de Docentes da Educação Infantil e

dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

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Em decorrência da análise do caso paranaense, o que se pode verificar é que

esta nova política afeta diretamente a realidade escolar, constituindo por sua vez um

dos grandes desafios na área da Educação; a formação dos docentes que atuarão

nesta forma de ensino sob uma nova concepção de educação profissional, tendo o

trabalho como princípio educativo e que considera o homem em sua totalidade

histórica e a articulação entre o trabalho manual e intelectual, presentes no processo

produtivo contemporâneo.

Assim, a necessidade e importância de realização de estudos e pesquisas

sobre políticas públicas para a educação profissional, e em especial para Ensino

Médio Integrado ofertado pela Rede Estadual de Educação do Paraná, continua a

ser um tema relevante, principalmente neste momento em que as primeiras turmas,

cujas atividades foram iniciadas em 2005, chegam a conclusão de seus cursos em

2009.

Este foi o contexto conjuntural que me levou a apresentar ao Programa de

Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná - UTFPR, o interesse pela realização desta pesquisa, que trata da realidade

das ações desenvolvidas nos cursos de Ensino Médio Integrado a Educação

Profissional – Informática, no município de Curitiba.

As inquietações que motivaram o desenvolvimento desta pesquisa surgiram

mais precisamente no decorrer do ano de 2006 quando, atuando como pedagoga

em uma das escolas que ofertavam o Ensino Médio Integrado, me deparei com o

grande desafio de auxiliar e orientar os docentes e alunos durante o processo

educativo, considerando as especificidades deste curso.

O maior impacto desta reformulação da Educação Profissional refere-se a sua

concepção, o que ficou claramente evidenciado em minha prática profissional. É

importante destacar que, para orientar este grupo de professores atuando como

pedagoga, não obtive qualquer formação específica, cabendo-me a busca de estudo

individualizado da proposta e posteriormente a participação em alguns eventos

promovidos pela Secretaria de Educação do Estado, onde participava muitas vezes

como ouvinte, pois as vagas eram destinadas aos coordenadores de curso e

gestores dos estabelecimentos.

Desde 2006 acompanho o processo de implantação do Ensino Médio

Integrado, convivendo diariamente com o desafio da formação dos docentes que

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atuam neste curso, principalmente no que se refere ao entendimento desta proposta

e as mudanças exigidas dos profissionais em sua ação pedagógica, evidenciando a

necessidade de uma nova prática educativa, que busque a integração entre os

conhecimentos propostos pela base nacional comum e os conhecimentos da base

técnica.

A partir dessas reflexões, surgiu a necessidade de buscar respostas sobre a

implantação destes cursos e como promover uma formação continuada dos

docentes para atuarem no Ensino Médio Integrado, garantindo a efetividade desta

proposta e contribuindo diretamente na formação de seus estudantes/trabalhadores

na perspectiva de uma formação politécnica. É importante destacar que:

À medida que o processo escolar se desenvolveu, surge a exigência de explicitar os mecanismos que caracterizam o processo de trabalho. Entendo, pois, que o ensino médio deveria já se organizar na forma de uma explicitação da questão do trabalho. Nessa etapa, o trabalho já aparece não apenas como uma condição, como algo que ao constituir, ao determinar a forma da sociedade, determina, por consequência, também o modo como a escola se organiza, operando, pois, como um pressuposto de certa forma implícito. Agora, trata-se de explicitar o modo como o trabalho se desenvolve e está organizado na sociedade moderna. Aí é que entra, então a questão da politecnia. (SAVIANI, 2003,p.136)

Esta pesquisa, portanto, tem como objetivo geral investigar o processo de

implantação do Ensino Médio Integrado a Educação Profissional – Curso de

Informática, proposto pela SEED -2004/2008, no Estado do Paraná, especificamente

no município de Curitiba.

Especificamente, esperamos alcançar os seguintes objetivos:

1. Analisar a Legislação pertinente ao Ensino Médio Integrado a

Educação Profissional e seu contexto histórico, bem como as ações

para a formação dos docentes, a partir do estudo de caso do curso

de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional – Informática.

2. Apreender de que forma os docentes e discentes do curso de

Informática compreendem a proposta e os conceitos presentes na

concepção do Ensino Médio Integrado a Educação Profissional

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3. Analisar as relações estabelecidas entre a proposta de integração

curricular implementada pela SEED-PR e a prática pedagógica

desenvolvida em sala de aula

4. Identificar o perfil dos professores e alunos envolvidos no curso de

Informática, considerando suas experiências profissionais,

expectativas em relação ao curso e da formação obtida no mesmo

em sua realidade

Para atender tais objetivos, o desenvolvimento da pesquisa revelou-se um

espaço de reflexões e aprofundamentos teórico-conceituais, em que foram

realizadas amplas consultas bibliográficas.

Inicialmente buscou-se investigar a partir do documento orientador elaborado

pela Secretaria de Estado da Educação – SEED, as concepções de educação e

políticas de formação para o Ensino Médio Integrado, sendo este estudo referência

para a realização de um levantamento das produções referentes ao tema, para que

evidenciássemos a validade e pertinência do objeto de estudo proposto. Para tal

confrontamos os documentos referentes à reforma do ensino médio - Decretos

nacional e estadual, e documentos do MEC e da SEED/PR com outros textos

produzidos por Kuenzer, Frigotto e Ramos (2005) buscando obter um aporte teórico

para a análise de seus objetivos e limites.

Em um segundo momento, evidenciou-se, na proposta elaborada para o

Ensino Médio Integrado, os fundamentos gramscianos de educação, efetivando-se

uma análise sobre os princípios da escola unitária, que tem como objetivo a

formação humanista, geral, política e crítica do jovem, entendendo que esta

formação poderia viabilizar ao jovem da classe trabalhadora sua desalienação em

relação ao trabalho e às relações sociais de um modo geral.

Na sequência da pesquisa, buscou-se contextualizar os estabelecimentos de

ensino que ofertaram o curso de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional –

Informática, no município de Curitiba. Foram analisados os impactos da reforma

educacional, sua implantação e como participaram efetivamente da mesma os

professores e alunos destas instituições. Buscou-se também verificar avanços,

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desafios e possibilidades enfrentados durante a implantação e continuidade deste

curso, visto que o estudo foi direcionado especificamente para os alunos e

professores que atuam nas turmas concluintes do mesmo.

No último capítulo, procurou-se levantar dados através da utilização da

técnica de documentação direta através de pesquisa de campo, mediante dois

instrumentos complementares: observação e questionário. Cabe destacar que os

questionários nos permitiram uma aproximação com os sujeitos que compuseram o

universo da investigação e os dados foram coletados de forma voluntária.

Com as observações das ações pedagógicas e das orientações fornecidas

pelos coordenadores de curso, registramos alguns aspectos da realidade

investigada a fim de apreender e explorar da melhor forma os significados das ações

e concepções educativas por parte dos professores e alunos deste curso.

Para encaminhar a análise dos resultados do estudo de caso referente ao

curso de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional - Informática, recorreu-se

à pesquisa qualitativa de natureza interpretativa, na qual o ambiente natural fornece

elementos a serem analisados, o que nos proporcionou a verificação dos embates

entre a teoria e prática, apontados com base nos dados obtidos, a partir dos quais

realizou-se algumas reflexões sobre a concreta condição do Ensino Médio Integrado

e as suas contradições, considerando o trabalho desenvolvido desde a sua

implantação até a conclusão das primeiras turmas.

Ao final, espera-se que este estudo possa se configurar num importante

instrumento crítico para a consolidação do Ensino Médio Integrado, pois acreditamos

que para a efetivação e consolidação desta proposta como elemento de avanço

educacional e social, não basta apenas integrar formalmente as concepções de

Ensino Médio e a Educação Profissional, mas deve-se buscar a promoção da

compreensão e avanços na prática docente que promova uma real integração,

atendendo aos requisitos necessários para a formação unitária, o que por sua vez

demanda uma profunda reorganização na forma, nos conteúdos e principalmente

nos processos formativos dos agentes envolvidos.

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1.0 METODOLOGIA

O percurso feito por meio da revisão bibliográfica em torno da problemática

envolvendo a Educação Profissional e a formação dos sujeitos, tomando como

categoria fundamental o princípio educativo do trabalho, possibilitou compreender a

importância da integração entre os conteúdos e em especial, a necessidade de

formação docente para que estes compreendam e assumam uma nova postura

pedagógica frente a esta forma de ensino, articulando as categorias educação,

ciência, cultura, tecnologia e trabalho.

Tendo presente estas informações, decidiu-se ir a campo para verificar, junto

aos professores e alunos do curso Ensino Médio Integrado a Educação Profissional-

Informática, como foi desenvolvida a proposta de integração e qual a dimensão de

entendimento quanto à proposta por parte dos envolvidos neste processo.

A pesquisa foi desenvolvida utilizando-se os procedimentos que serão

descritos a seguir.

1.1 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

A opção por realizar esta pesquisa relacionada diretamente ao curso Ensino

Médio Integrado a Educação Profissional – Informática deve-se ao fato de que esta

pesquisadora atuou como pedagoga em uma das instituições que ofertara o referido

curso entre os anos 2006 a 2008.

Na ocasião, dentre as atribuições de sua função deveria realizar a orientação

e organização do trabalho pedagógico da escola, envolvendo a formação dos

professores que assumiam aulas naquele estabelecimento e o acompanhamento

dos processos de ensino e aprendizagem.

Entretanto, para que realizasse esta ação, tornou-se necessário maior

conhecimento a respeito da proposta. Assim, como não havia recebido nenhum tipo

de capacitação ofertada pela mantenedora para atuar no Ensino Médio Integrado,

coube a esta pesquisadora, buscar referenciais teóricos e leituras específicas acerca

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do tema, realizando estudo individualizado e posteriormente organizando momentos

de estudos, reuniões individuais e coletivas com a comunidade escolar.

Ao acompanhar o desenvolvimento dos processos educativos, pôde-se

perceber as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos professores e alunos,

envolvendo desconhecimento sobre a concepção que embasa este curso,

acarretando por sua vez, dificuldades na elaboração dos planos de aula (que em

muitas vezes eram os mesmos utilizados no Ensino Médio Regular).

Percebeu-se um imenso distanciamento existente entre os princípios

defendidos na Proposta para o Ensino Médio Integrado da SEED/PR e a efetivação

da proposta no interior da escola, levando a analisar, através deste trabalho, de que

forma ficou configurada a implantação e desenvolvimento do referido curso, no

município de Curitiba.

Para encaminhar o estudo de caso do curso de Ensino Médio Integrado a

Educação Profissional – Informática recorreu-se à pesquisa qualitativa, de natureza

interpretativa, através da qual, segundo Moreira e Caleffe (2006, p. 61), a

pesquisadora poderá descrever e interpretar o fenômeno do mundo em uma

tentativa de compartilhar significados com outros. Para tanto utilizaram-se

entrevistas semiestruturadas, combinando perguntas estruturadas (fechadas e

abertas), de forma que o entrevistado possa ter a possibilidade de discorrer sobre a

proposta do tema, sem que haja a interferência do pesquisador.

A partir do marco teórico e do objetivo desta pesquisa, elaborou-se um

protocolo de entrevistas para os professores, contendo 14 questões e um protocolo

de entrevistas para os alunos, composto por 09 questões (ver apêndice 1). O

protocolo foi validado, sendo reestruturado de acordo com a especificidade das

questões abertas e fechadas. Durante a validação, percebeu-se a necessidade de

ampliar as questões referentes a compreensão da concepção de educação proposto

no Ensino Médio Integrado.

A coleta dos dados foi realizada através do preenchimento do protocolo de

entrevista, aplicado no interior das escolas selecionadas, sendo disponibilizado por

meio eletrônico, nos laboratórios de informática. As respostas foram impressas e

analisadas por esta pesquisadora.

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20

Para participar da pesquisa, foram convidados todos os professores que

ministravam suas aulas na 4ª série do E.M.I. - Informática, nos Colégios Estaduais A

e B, e os alunos desta mesma série. O critério de escolha dos professores que

lecionavam na 4ª série , deve-se ao fato de perceber através dos relatos, as

continuidades na formação e atuação profissional dos mesmos, durante o período

de duração do curso. Desta forma, pode-se verificar se o grupo que participou do

processo de implantação do curso, manteve-se em atuação até a conclusão deste

mesmo curso.

Em um momento posterior realizou-se uma abordagem direta a partir de uma

lista de docentes e alunos, cedida pela Equipe Pedagógica dos estabelecimentos

acima citados.

Também foi encaminhada uma carta de apresentação (ver apêndice 2), que

visava explicar o objetivo da referida pesquisa, a necessidade da mesma e a

importância da participação dos professores/alunos neste processo.

A amostragem final foi composta por 20 professores, abrangendo 11

disciplinas e 45 alunos do 4º ano E.M.I. – Informática de ambas as escolas

pesquisadas. As entrevistas foram realizadas no período que abrangeu os meses de

setembro/2008 a novembro/2008, sendo realizadas entrevistas piloto, onde se

avaliou a adequação das questões com o objetivo da pesquisa. Após a realização

desta amostragem piloto, constatou-se um resultado favorável, sendo dado

prosseguimento às demais entrevistas.

Todos os encontros com professores e alunos ocorreram no interior das

escolas onde os mesmo atuavam. Seus depoimentos foram codificados com a sigla

P (professor) P1, P2, P3, totalizando 20 professores e A (aluno) A1, A2, A3,

totalizando 45 alunos, preservando desta forma a identidade de cada participante da

pesquisa.

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21

2. A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARANÁ: PRINCÍPIOS E

CONCEPÇÕES

2.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

NO CENÁRIO NACIONAL A PARTIR DE 1997

As discussões acerca das propostas de integração entre o ensino médio e o

ensino técnico de nível médio, começaram a ser retomadas a partir do ano de 2003,

quando as diretorias do Ensino Médio e de Educação Profissional da Secretaria de

Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação, em conjunto com outros

órgãos governamentais e representantes de entidades da sociedade civil

envolveram-se na busca de subsídios para empreender mudanças na política do

Ensino Médio e da Educação Profissional.

Partindo das discussões acima citadas e da participação efetiva de

representantes das instituições científicas, educadores, pesquisadores, entidades de

classe, representantes dos Ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego e

outros órgãos do governo, Sistemas Educacionais de Ensino, representantes do

Sistema S e parlamentares, iniciou-se a elaboração da minuta de um novo decreto,

que viria por sua vez, substituir o Decreto 2.208/19971.

O Decreto 2.208/1997 estabelecia os objetivos e níveis da educação

profissional no país e nos mecanismos de articulação desta com o ensino regular.

Sob a coordenação do Ministério da Educação, a Reforma da Educação Profissional teve como objetivo promover o re-ordenamento estrutural e operacional do ensino técnico- profissional, separando- o da educação escolar nas instituições públicas. No que se refere à iniciativa privada, incentivou e promoveu, com recursos públicos, a diversificação e a ampliação da oferta. (SEED, 2006, p.16).

1 Este Decreto trata sobre a formação profissional, confirmando formalmente a separação

entre o ensino médio, com formação geral do ensino profissional, com formação específica. Cita em seu Artigo 5º que “A educação profissional de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio, podendo ser oferecida de forma concomitante ou seqüencial a este” (Decreto nº 2208, de 17 de abril de 1997).

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Fundamentalmente, a reforma estabeleceu a separação das duas redes de

ensino, uma destinada à formação acadêmica, e outra, à formação profissional.

Um ponto de suma importância a ser destacado, evidencia que:

[...] os frágeis mecanismos de articulação previstos reforçaram a dicotomia histórica que tem marcado o Ensino Médio: de um lado, a educação voltada para a formação das elites, e de outro lado, aquela voltada aos que ingressam precocemente no mundo do trabalho. (SEED, 2006, p.16)

Tendo início também no ano de 1997, o Programa de Expansão da Educação

Profissional (PROEP/MEC), constituiu o principal instrumento de implantação da

reforma, mediante a utilização de recursos da ordem de 500 milhões de dólares para

o período entre 1997 e 2003. Cabe destacar que este período foi amplamente

prorrogado garantindo o financiamento parcial do Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID).

Desta forma pode-se afirmar que:

O Decreto nº 2.208/97 e o Programa PROEP, que deram materialidade à reforma da educação profissional, trouxeram como conseqüências a fragmentação do sistema nacional de educação, o desmonte da rede pública e, em decorrência, a expansão da oferta da educação profissional pela esfera privada e a submissão da educação à lógica e às práticas do mundo dos negócios. (SEED, 2006, p.16).

É importante destacar que os embates acerca desta temática vêm sendo

abordados desde a década de 1980, vislumbrando uma proposta de educação

básica que supere a dualidade entre a formação geral e a formação técnica.

Cabe ressaltar, que no pano de fundo destes embates, os ideais e

pressupostos da escola unitária proposta por Gramsci estavam presentes

constantemente, assim como o conceito de politecnia, compreendida segundo

SAVIANI (2003), como:

a articulação entre o trabalho manual e o intelectual. Isto será organizado de modo que se possibilite a assimilação não apenas teórica, mas também prática, dos princípios científicos que estão na base da organização moderna. A partir deste conceito, o aluno terá não apenas de compreender todos os princípios científicos que conhece e assimilou de maneira teórica desde o ensino fundamental

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– em suma, como a natureza e a sociedade estão constituídas-, mas também de aplicar o conhecimento de que dispõe. (SAVIANI, 2003, P.141)

No ano de 2003 foram realizados dois seminários com abrangência nacional.

O primeiro deles denominado Seminário Nacional sobre o Ensino Médio e Educação

Tecnológica, teve como principal objetivo as concepções de educação média e

tecnológica e sua relação com a educação profissional, além de promover um

debate entre o governo federal, as Secretarias Estaduais de Educação, entidades

científicas e pesquisadores. Nesta ocasião, buscou-se aprofundar as reflexões

acerca das categorias conhecimento, trabalho e cultura, além de efetivar a

elaboração de documentos que pudessem fornecer elementos para a construção da

Política do Ensino Médio e da Educação Profissional (FRIGOTTO; CIAVATTA,

2005).

O segundo seminário, denominado Seminário Nacional de Educação

Profissional – Concepções, Experiências, Problemas e Propostas, foi realizado em

junho de 2003 e teve como um de seus objetivos a elaboração de um documento -

base que pudesse subsidiar os debates sobre a temática e estabelecer um diálogo

com as instituições e organizações interessadas nas questões referentes a

Educação Profissional. Nesta ocasião, elaborou-se um documento denominado

Propostas de Políticas Públicas para a Educação Profissional e Tecnológica.

Levando em consideração os fatores acima mencionados, foram elaboradas

três minutas do novo decreto, que revogou o Decreto 2.208/1997, sendo

incorporadas trinta sugestões por escrito das instituições, dos educadores, dos

pesquisadores e parlamentares ainda na primeira minuta. Na segunda e na terceira

minuta, os conceitos de caráter opinativo foram suprimidos, visando uma escrita

mais sintética e objetiva.

Frigotto e Ciavatta (2005), ao procederem a uma síntese analítica do conjunto

dos documentos encaminhados, constataram que embora não houvesse consenso

nas concepções, na forma, no conteúdo e no método, entre as concepções

defendidas pelos diversos participantes, três posições foram claramente

evidenciadas:

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Defesa da idéia de ou a tese de que caberia apenas revogar o Decreto nº 2.2008/1997 e pautar a Política de Ensino Médio e da Educação Profissional conforme a LDB nº 9.394/1996, pois ela já contemplaria as mudanças que estavam sendo propostas e que efetivar mudanças através de decreto, garantiria a continuidade aos métodos impositivos do governo anterior;

Defesa direta da manutenção do Decreto nº 2.208/1997. Nesta posição destacam-se as idéias dos representantes das escolas técnicas que defendiam a especificidade de sua formação apenas na oferta de Educação profissional e do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação – CONSED. Este, por sua vez, alegava que os sistemas estaduais não têm condições financeiras para atender a demanda da educação profissional e propôs o modelo adotado pelo decreto nº 2.208/1997, que promoveu mediante recursos do Programa de Educação Profissional – PROEP2, a construção de Centros de Educação Profissional, em nível estadual.

Defesa da idéia de que era necessário revogar o Decreto nº 2.208/1997, através de outro decreto. Entretanto reconhecia-se que a mera revogação não seria garantia da implementação de uma concepção de ensino médio e de educação profissional que considerasse a realidade da situação dos jovens e adultos trabalhadores brasileiros.

Considerando estes três posicionamentos, Frigotto e Ciavatta (2005) apontam

algumas proposições e sugestões de várias entidade e instituições, relativas a

questão da integração entre o ensino médio e a educação profissional. Dentre elas,

destacam-se três, bastante relevantes para referendar a estrutura dual da sociedade

brasileira.

1. A Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED, chama a atenção para o fato de que a política representada pelo Decreto nº 2.2008/1997 contrariava a possibilidade de superação dos entraves entre o dualismo e a

2 O Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP é uma iniciativa do Ministério da Educação

– MEC e tem por objetivo a implantação da reforma da educação profissional determinada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB. Os investimentos do programa destinam-se à construção, reforma e ampliação das escolas, aquisição de equipamentos para laboratórios, despesas de consultoria, capacitação e serviços de terceiros. Abrange, também, aspectos técnico-pedagógicos, como flexibilização curricular, gestão escolar que contemple a autonomia, flexibilidade, captação de recursos e parcerias, garantindo a expansão da rede de educação profissional. O PROEP é objeto do Acordo de Empréstimo n° 1052/OC-BR celebrado entre o Ministério da Educação e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, com vigência final prevista para novembro de 2008. O valor atual do Contrato é de U$ 312 milhões, dos quais 50% provenientes do financiamento BID e 50% de contrapartida brasileira. Ao final de sua execução, o programa terá financiado 261 projetos escolares, por meio de 275 convênios, além de 27 planos estaduais, totalizando 302 convênios firmados com os segmentos federal, estadual e comunitário. A partir dos investimentos do PROEP, os Centros de Educação Profissional terão a capacidade de ofertar 1.360.176 vagas em cursos técnicos, tecnológicos e de formação inicial ou continuada.

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mercantilização da educação brasileira, uma vez que introduzia no cotidiano escolar, uma ótica privatizante no nível organizativo e por sua vez, no plano pedagógico. Pode- se citar como exemplo desta situação, a mudança na nomenclatura dos coordenadores de ensino, no caso dos CEFETs, por gerentes. 2. O Conselho de Educação do Distrito Federal, acompanhando a posição do CONSED, considera que a proposta de Educação Integrada deve ser estudada, apoiada e incentivada como alternativa especial, sendo apropriada para casos específicos. Em seu entendimento, querer universalizá-la pode ser um retrocesso para a sociedade. 3. Neste mesmo sentido encaminham-se os apontamentos do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Aquidauana-MS, que evidenciam a necessidade de assegurar mecanismos que garantam os investimentos, bem como a estrutura e formação profissional adequados para um atendimento de qualidade aos alunos.

É válido pontuar e refletir sobre a adoção do termo “integrado”, conforme

expressa o artigo 3º, § 1º do Decreto nº 5.154/2004, questionado se seria o

suficiente para a construção de propostas pedagógicas que busquem a superação

da dualidade entre a formação geral e a formação técnica, em que a educação geral

seja encarada como parte inseparável da educação profissional. De outra forma,

teríamos apenas a mera junção de conteúdos em novas grades curriculares,

baseadas por sua vez, na pedagogia das competências3 e na ótica da

empregabilidade.

De acordo com Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) esperava-se que a

promulgação de um novo Decreto se constituiria num dispositivo transitório, que

pudesse garantir ao mesmo tempo a pluralidade de ações nos sistemas e

instituições de ensino e a mobilização da sociedade civil em torno do assunto.

Entretanto, isto se apresentou de forma tímida, o que provocou a

fragmentação da proposta de integração entre a educação básica e a formação

profissional. Esta fragmentação teve início no próprio Ministério da Educação, que

foi reestruturado deixando o ensino médio sob a responsabilidade da Secretaria de

Educação Básica, e o ensino técnico sob a responsabilidade da Secretaria de 3 Uma análise crítica sobre a pedagogia das competências está em RAMOS (2001), quando

concluímos que a noção de competência tem seus fundamentos filosóficos e ético-políticos radicalmente opostos à perspectiva da formação humana. Seu caráter ideológico visa a conferir legitimidade aos novos padrões de acumulação de acumulação do capital e de relações sociais, desviando os processos educativos dos horizontes de construção crítica de mundo. (RAMOS, 2005)

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Educação Média e Tecnológica. Cabe ressaltar que algumas medidas tomadas pelo

MEC deixaram “[...] claro que a política de integração não seria prioridade e que não

estavam claras as concepções das equipes dessas secretarias sobre o tema”.

(FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p.191).

Antes da reorganização do MEC, a integração do ensino médio com a

educação profissional fora pensada sob os princípios do trabalho, da ciência e da

cultura. Entretanto, a equipe que defendia essas categorias, propôs que fosse

encaminhado ao Conselho Nacional de Educação – CNE, uma proposta de

Diretrizes Curriculares Nacionais. Porém, o que de fato ocorreu, foi a homologação

do parecer nº 39/2004 da Câmara de Educação Básica do CNE e da Resolução nº

01/2005, que atualizaram as Diretrizes Curriculares Nacionais defendidas pelo CNE

para o Ensino Médio e para a Educação Profissional de Nível Médio, aprovada

respectivamente nos anos de 1998 e 1999, de acordo com as disposições do

Decreto nº 5.154/2004.

O parecer CNE/CEB nº 39/2004, estabelece que as Diretrizes Curriculares

para o Ensino Médio, para a Educação profissional e para os cursos superiores de

tecnologia, defendidas pelo CNE “[...] continuam válidas após a edição do Decreto nº

5.154/2004. Elas não perderam a validade, uma vez que regulamentam os

dispositivos da LDB em plena vigência[...] (BRASIL, 2004, p.3). Assim, ao ratificar a

vigência e validade das diretrizes citadas acima, o MEC demonstrou concordância

com seus princípios, reduzindo de certa forma o conteúdo do Decreto n º 5.154/2004

(FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005).

É importante questionar o fato de que se o parecer CNE/ CEB nº 39/2004

evidencia que para implantar a integração entre o ensino médio e a educação

profissional de nível técnico, de acordo com o disposto no Decreto nº 5.154/2004 é

necessária a adoção de uma nova e atual concepção político- pedagógica, por que o

MEC manteve as mesmas diretrizes?

Segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), a demonstração de que não

existe

[...] nova “concepção” pedagógica nesse parecer é a compreensão de que a educação profissional técnica de nível médio deva ser

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oferecida simultaneamente e ao longo do ensino médio. A proposta de integração distingue-se de simultaneidade. Este último princípio está de acordo com aquele que se manifesta permanentemente no parecer: o da independência entre cursos. Não foi isso que se buscou instituir com o Decreto nº 5.154/2004. (2005, p. 194).

Assim, um novo elemento passa a compor o Parecer CNE/CNB nº 39/2004

que foi incorporado pela Resolução CNB/CNE nº 01/2005, que atualiza as Diretrizes

Curriculares para o Ensino Médio e para a Educação Profissional Técnica de nível

médio, incluindo o parágrafo 3º ao artigo 12 da Resolução CNE/CNB Nº 03/98, de

acordo com a seguinte redação:

§ 3º A articulação entre a Educação Profissional Técnica de nível médio e o Ensino Médio se dará das seguintes formas:

I - integrada, no mesmo estabelecimento de ensino, contando com matrícula única para cada aluno; II- concomitante, no mesmo estabelecimento de ensino ou em instituições de ensino distintas, aproveitando as oportunidades educacionais disponíveis, ou mediante convênio de intercomplementaridade; e III- subseqüente, oferecida a quem já tenha concluído o ensino médio.

Cabe destacar que o parecer CNE/CNB nº 39/2004 reconhece a forma

integrada com curso, matrícula e conclusão únicos, entretanto estabelece que os

conteúdos do ensino técnico e da educação profissional apresentam natureza

distintas. Assim a dicotomia no currículo integrado se torna uma realidade, pois é

organizado com base em concepções educacionais diversas, fato este presente nas

práticas educativas verificadas no decorrer desta pesquisa.

2.2 O CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO

PARANÁ A PARTIR DE 2003

A reforma da Educação Profissional no Estado do Paraná acarretou em

inúmeras alterações no sistema de ensino público, afetando diretamente a formação

dos trabalhadores.

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No contexto da reforma, na rede estadual a política foi a da desativação dos 1080 cursos profissionalizantes existentes até 1996, e a implantação do Programa Expansão e Inovação do Ensino Médio (PROEM), que, como conseqüência, de longo e médio prazo, remeteu à iniciativa privada a formação profissional técnica de nível médio, inclusive com a utilização dos espaços das escolas públicas. ( SEED, 2006.17)

Como resultado da aplicação dos programas acima citados, em 2003 o

Paraná apresentava um cenário de enorme precariedade no que se refere à oferta

da Educação Profissional. Este fato é visivelmente percebido no ponto de vista

quantitativo, representado pelos dados de matrícula, que totalizavam 13.429 alunos

matriculados até o ano de 2002.

As primeiras iniciativas de execução da política para a educação profissional

no estado do Paraná, foram assumidas durante a gestão 2003/2006, visando a

retomada da oferta da Educação Profissional, instituindo o Departamento de

Educação Profissional e encerrando as atividades relativas á ofertada Educação

Profissional – PARANATEC, órgão que tinha como função o gerenciamento das

atividades relativas à oferta da educação profissional no Estado e que fora instituída

como resultado da implementação do Programa de Expansão, Melhoria e inovação

do Ensino Médio no Paraná – PROEM4

Desta forma, com a desativação da PARANATEC e a instituição do

Departamento de Educação Profissional, na Secretaria de Educação do Paraná,

procurou-se, no âmbito da educação pública estadual, “afirmar o compromisso com

a educação pública de qualidade”, segundo a concepção proposta no documento

orientador (SEED, 2006, p.17).

Sobre este aspecto, dados relevantes foram obtidos durante a análise dos

dados levantados na pesquisa de campo, possibilitando o estabelecimento de

4 Este programa traduz acordo de empréstimo (LOAN 950/OC-BR) celebrado entre o Governo do Paraná e o

BID em 23 de dezembro de 1997. Objetiva a reorganização do Ensino Público de 2º Grau dentro das

perspectivas básicas de eqüidade, eficiência e eficácia. Abrange toda a rede estadual, beneficiando diretamente

cerca de 450.000 estudantes e 25.000 professores. Significa recursos da ordem de US$ 200 milhões - US$ 100

milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID e US$ 100 milhões do Governo do Estado. Tem seu

prazo de encerramento marcado para setembro de 2007. Órgãos envolvidos na implementação: Secretaria de

Estado da Educação - SEED e Instituto de Desenvolvimento Educacional do Paraná - FUNDEPAR

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relações entre a proposta defendida pela mantenedora do Estado do Paraná e a

realidade enfrentada nas instituições de ensino pesquisadas, nas quais o

“compromisso com a educação de qualidade”, deixou de ser afirmado em aspectos

que envolvem entre outros, a contratação e formação dos professores e as

condições de trabalho destes profissionais.

Neste contexto, a realidade encontrada na rede pública estadual do Paraná,

apontava para dados preocupantes, em que a oferta de curso era diminuta,

considerando as seguintes informações:

[...] número de estabelecimentos dos cursos da área agropecuária (13) e os de formação de professores (14), seguidos pelos cursos da área industrial (04), ofertados nos chamados centros Estaduais de Educação Profissional – CEEP- e ainda os cursos da área de serviços (20) distribuídos em estabelecimentos localizados em regiões diferenciadas do Estado. (SEED, 2006, p.17)

Considerando os dados acima demonstrados, a política para a educação

profissional no estado do Paraná, priorizou a retomada desta forma de ensino,

iniciando através da realização de um diagnóstico, que deveria apontar para as reais

necessidades de expansão e formação dos sujeitos, considerando as tendências

sócio-econômicas das regiões do Estado.

Esta política de expansão vem considerando também a reestruturação curricular dos cursos, na perspectiva de favorecer a formação do cidadão/ aluno/trabalhador, que precisa ter acesso aos saberes técnicos e tecnológicos requeridos pela contemporaneidade, para o que contribuiu a revogação do Decreto 2.208/97 e a promulgação do Decreto 5.154/2004. (SEED, 2006, p.18).

Tomando como princípio a nova legislação, as políticas educacionais do

Estado do Paraná, visavam conceber propostas curriculares que levassem em

consideração a necessária articulação entre as diferentes dimensões do trabalho de

formação profissional do cidadão/aluno, na perspectiva da oferta pública da

educação profissional técnica de nível médio, enfatizando as categorias trabalho,

cultura, ciência e tecnologia, como princípios estruturantes da organização curricular

integrada ao ensino médio.

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Toma-se neste contexto, o conceito de trabalho, como categoria básica, que

por sua vez, estrutura o modo humano de existência, visto que é no processo de

trabalho que se gesta o processo de conhecimento e é onde se pode produzir

consciência da realidade, ou, dialeticamente pode-se gerar, produzir alienação à

realidade posta.

Segundo LIMA FILHO e GARCIA (2004):

O trabalho é processo coletivo e social mediante o qual o homem produz as condições gerais da existência humana, sendo fonte de produção de conhecimentos e saberes, portanto, princípio educativo. O ser social que trabalha, o trabalhador, é sujeito da construção do mundo, tanto de sua produção material, quanto intelectual. A educação, tendo o trabalho como princípio educativo, é processo de humanização e de socialização para participação na vida social e , ao mesmo tempo, processo de qualificação para o trabalho, mediante a apropriação e construção de saberes e conhecimentos, de ciência e cultura, de técnicas e tecnologia (LIMA FILHO e GARCIA, 2004, p. 30).

É importante evidenciar que a iniciativa da Secretaria de Educação do Estado

do Paraná – SEED-PR, para a oferta do ensino médio integrado deve-se em grande

parte a resistência e luta dos profissionais da educação, que no período de 1995 a

2003 mantiveram em funcionamento 26 cursos de ensino médio profissionalizante,

mesmo sem apoio do governo do Estado.

Neste contexto, tem início a política de retomada da oferta da Educação

Profissional, levando em consideração em suas linhas de ação, a expansão e

reestruturação curricular, a instituição de um quadro próprio de professores, a

formação continuada do seu quadro docente e técnico, a melhoria da estrutura física

e material dos estabelecimentos e a sua manutenção, sem a cobrança de taxas de

qualquer natureza.

Segundo o documento orientador da SEED/2006, o apoio ao desenvolvimento

das atividades pedagógicas de currículo e ensino destaca-se como estratégia

indispensável para a melhoria da formação dos alunos, de acordo com a concepção

de ensino assumida pela Rede Pública Estadual de Ensino.

Estes pontos serão analisados no decorrer desta pesquisa, verificando de que

forma este processo se efetivou no interior das escolas que passaram a desenvolver

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práticas educativas no curso de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional,

especificamente abordando o curso de Informática, desenvolvido em Curitiba entre

2004 e 2008.

Ainda de acordo com o documento orientador da SEED, foram realizados dois

encontros de educação profissional, que tiveram como objetivo discutir os principais

aspectos legais, técnicos, administrativos e pedagógicos, no que se refere à

formação profissional no Estado do Paraná.

Para a SEED (2006,p.18),

Com o domínio da teoria sobre a complexa temática da relação trabalho e educação, articulada à vivência do processo histórico de construção da política e dos princípios de organização curricular da Educação Profissional, os docentes expuseram, com a devida pertinência, o significado de uma proposta de organização curricular, que, pretende-se, venha ser integrada ao ensino médio, desde a sua concepção.

Nessa perspectiva, a partir de 2004, a proposta de implantação de cursos de

ensino médio com organização curricular integrada à educação profissional de nível

técnico, foi implantada em 71 escolas, sendo 15 que ofertam cursos do setor

primário – área Agropecuária/Florestal; 5 que ofertam cursos do setor secundário –

área Eletromecânica/Química; 6 que ofertam cursos do setor terciário – área

Comunicação e Artes/ Informática/ Administração da Confecção/ Meio Ambiente; e

nas 45 escolas que ofertam o Curso Normal em nível médio para a formação de

professores para atuarem na educação infantil e nas séries iniciais do ensino

fundamental (FERREIRA; GARCIA, 2005,p.160).

Segundo Santos (2006), dos 455 cursos de educação profissional (Agrícola,

Formação de Professores, Industrial e Serviços) ofertados em 2005, 234 eram

integrados e 221 eram subseqüentes. A autora pontua que na forma integrada, 36%

dos cursos, ou seja, 86 eram voltados para a formação de professores da educação

infantil e séries iniciais do ensino fundamental, o que não correspondia à distribuição

uniforme desses cursos entre as diversas áreas de trabalho.

Cabe destacar que o argumento da SEED- PR defende que os critérios para a

expansão da oferta desses cursos foram decorrentes da necessidade de priorizar o

desenvolvimento socioeconômico das regiões do Estado.

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O mesmo fato ocorreu com o curso de informática, objeto de estudo desta

pesquisa, que em 2004, foi autorizado para funcionamento em apenas duas

instituições de ensino, para atender a demanda de formação de técnicos na cidade

de Curitiba.

Assim, evidencia-se um novo momento na História da Educação Profissional

no Estado do Paraná, que busca através da implantação de uma proposta de ensino

voltada para os pressupostos da Escola Unitária, fundamentada nos princípios

gramscianos, promover uma formação intelectual e prática, visando o

desenvolvimento da autonomia dos educandos.

Desta forma, partindo das reflexões desenvolvidas neste capítulo, pretende-

se, no capítulo III, buscar elementos teóricos que permitam uma maior compreensão

sobre a concepção de escola unitária, apontando para possibilidades e perspectivas

de uma prática docente que considere as relações entre educação e trabalho como

referências para a implantação da proposta de Ensino médio Integrado a Educação

Profissional.

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33

3 DIMENSÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

3.1 OS PRINCÍPIOS GRAMSCIANOS: UM BREVE RESGATE HISTÓRICO

Compreender os fundamentos educacionais do pensamento gramsciano,

desenvolvidos para a escola unitária, é de suma importância, visto que são

considerados uma referência fundamental para a análise da relação entre educação,

trabalho, ciência, cultura e tecnologia, propostos pela SEED-PR para o Ensino

Médio Integrado a Educação Profissional.

Assim, as contribuições de Gramsci serão essenciais para compreender uma

escola necessariamente ativa e articulada à dinâmica da história da sociedade em

seu processo de desenvolvimento.

Para tanto, se faz necessário considerar que a proposta da SEED evidencia

em seu documento orientador, elaborado para subsidiar a compreensão da proposta

para o Ensino Médio Integrado, a necessidade de que:

Há que se recorrer a uma sólida formação geral fundamentada nos conhecimentos acumulados pela humanidade; a organização curricular deve promover a universalização dos bens científicos, culturais e artísticos tomando o trabalho como eixo articulador dos conteúdos, ou seja, como princípio educativo, respondendo às novas formas de articulação entre cultura, trabalho e ciência com uma formação que busque um novo equilíbrio entre o desenvolvimento da capacidade de atuar praticamente e trabalhar intelectualmente. (SEED,2006,p.36)

Desta forma, as contribuições de Gramsci são consideradas de grande

relevância, pois nos remetem a pensar e compreender a formação de nível médio,

unitária e politécnica, como sendo uma valiosa possibilidade de educação e um

direito dos jovens.

É imprescindível, portanto, conhecer e compreender o pensamento

educacional da escola unitária, proposta pelo intelectual Gramsci, para que

possamos posteriormente estabelecer relações entre a concepção de ensino

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defendida pela SEED-PR, e a compreensão e entendimento da mesma, que geraria,

conhecimento refletido em ação por parte dos alunos e professores.

Cabe pontuar que Gramsci é autor de uma obra fragmentada e inacabada,

considerada uma das mais inovadoras de nosso tempo, onde afirmava que a

principal fonte de conflitos políticos, estava centrada na distribuição desigual e

variada da propriedade. Em suas análises, acentuava os problemas de direção

cultural e política, abordando a realidade sem desvincular a política da sociologia, da

economia e da cultura.

Seu pensamento mantém-se importante na atualidade, mesmo inserido num

contexto ideológico radicalmente modificado, como os atuais. Porém, suas inúmeras

reflexões e pensamentos continuam sendo de grande relevância para se

compreender a política e a educação atuais.

Entretanto, deixou para a história inúmeras contribuições, principalmente na

área educacional, defendendo um método para o Ensino Médio e Universidade que

consistia na investigação, no esforço espontâneo e autônomo do discente, e no qual

o professor exerceria apenas uma função de guia.

Seu referencial teórico e sua prática política foram marcados pelo pluralismo,

flexibilidade, relação entre as aparentes disparidades e pela busca da autonomia.

Desta maneira, seria então possível sonhar com uma escola voltada para a

formação integral do ser humano e com outro tipo de sociedade, mais humana, mais

democrática e menos excludente.

Apesar de Gramsci não ter participado diretamente da construção da

educação russa, durante sua estada na União Soviética (entre 1922 e 1923),

certamente conheceu as primeiras experiências relacionadas a educação pós-

revolução. As correspondências trocadas com sua família, que vivia na União

Soviética, tratavam de questões educacionais relacionadas às instituições escolares

e sobre as diretrizes pedagógicas da educação socialista.

Desta forma, Gramsci é um autor importante para que possamos

compreender os fundamentos e os princípios da integração entre a formação geral e

a formação profissional, pois seus argumentos a respeito do trabalho como princípio

educativo estão baseados no processo histórico e ontológico da produção da

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existência humana, em que a produção do conhecimento emerge apenas como uma

das dimensões desse processo. Assim, nas críticas que fez à organização escolar

burguesa, ou seja, ao caráter eminentemente dual da educação que, de um lado

formava especialistas (técnico-científico-político) e, de outro formava técnicos

(instrumental e prático), revelou que a escola assumia a função de promover a

qualificação profissional do indivíduo, de acordo com sua origem social, mantendo

assim as classes subalternas nas funções instrumentais, de tal forma a atender aos

interesses imediatos da sociedade burguesa industrial.

Em sua crítica, Gramsci destacou o ilusório princípio democrático das escolas

profissionalizantes, pois o crescimento das mesmas era visto como mecanismo para

o aumento da participação dos trabalhadores, nas esferas das decisões políticas.

Entretanto, segundo Gramsci, esta participação não ocorria, visto que para as

escolas profissionalizantes faltava-lhes um princípio formativo que articulasse a

qualificação técnica e a preparação política e social dos indivíduos.

Denunciava ainda que à escola tradicional cabia a formação da nova geração

dos grupos dirigentes e chamava a atenção para a necessidade de

compreendermos que “não é a aquisição de capacidades diretivas, não é a

tendência a formar homens superiores que dá a marca social a um tipo de

escola.”(GRAMSCI, 1968, p.136).

Para ele a marca social é dada pelo fato de que “ cada grupo social tem um

tipo de escola próprio, destinado a perpetuar nestes grupos uma determinada

função, tradicional, diretiva ou instrumental.” (GRAMSCI, 1968, p.136). A escola,

dizia Gramsci, não pode ser socialmente qualificada ou discriminante, mas deve

conduzir a educação de modo que todo o indivíduo possa tornar-se dirigente, se

assim o quiser.

Para destruir esta trama, Gramsci propõe a escola unitária, de cultura geral,

humanista, formativa, que promova de forma equilibrada o desenvolvimento da

capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o

desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual. Esta escola deve se

fundamentar na igualdade e no estabelecimento de novas relações entre o trabalho

intelectual e o trabalho industrial.

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3.2 GRAMSCI E A ESCOLA UNITÁRIA

Considerar o princípio educativo de Gramsci como referência para uma

prática educativa realmente transformadora da sociedade é de grande importância

para os que buscam uma escola unitária e emancipadora.

Este princípio está amplamente difundido no documento que norteia as

concepções adotadas pela SEED-PR, ao promover a implantação do Ensino Médio

Integrado a Educação Profissional e evidenciar a tomada do trabalho como princípio

educativo, defendendo:

o direito ao acesso à cultura, à ciência e à tecnologia para todos os trabalhadores, não de forma enciclopedista ou estritamente profissionalizante, mas de modo a desenvolver as competências ao mesmo tempo intelectivas e práticas dos alunos, na perspectiva da dimensão formativa da práxis humana. Daí a importância da manutenção do caráter público da escola e de seu compromisso com a qualidade de sua proposta pedagógica. (SEED, 2006,p.37)

Assim, ao considerar os princípios gramscianos como referência, considera-

se a educação como instrumento para a formação dos intelectuais de vários níveis,

e o sistema educacional como um dos canais onde se dá a produção e a difusão da

ideologia. Neste sentido, a escola assume um papel social fundamentalmente

importante na formação dos jovens.

Para Gramsci, a organização da escola auxilia na consolidação e manutenção

da hegemonia que é exercida em nível de cultura, uma vez que o sistema

educacional burguês tradicional formava os intelectuais orgânicos. O autor criticou a

escola tradicional que dividia o ensino em “clássico” e “profissional”, justamente por

esse último destinar-se ás “classes instrumentais” e o primeiro às “classes

dominantes e intelectuais”.

Tendo como ponto de partida as críticas referentes à dualidade estrutural do

sistema de ensino italiano, que compreendia dois tipos de escola, a primeira,

humanista, com a finalidade de desenvolver a cultura geral dos indivíduos da classe

dominante, e a outra para preparar os alunos das classes ”dominadas” para o

exercício de profissões, Gramsci propõe a superação desta divisão através de uma

escola crítica e criativa, denominada Escola Unitária.

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Para ele, esta escola deveria ser ao mesmo tempo clássica, intelectual e

profissional, e, para a sua concretização, propôs um princípio educacional que

prezava a capacidade das pessoas trabalharem intelectual e manualmente em uma

organização educacional única, relacionada diretamente às instituições produtivas e

culturais.

As formulações gramscianas sobre a Escola Unitária, tendo no trabalho o

princípio educativo, estão inseridas no Caderno12, escritas no cárcere entre os anos

1929 e 1935. A principal característica desta escola está voltada para o fato de ser

mais técnica e mais orgânica em relação ao mundo industrial moderno, devido ao

fato de basear-se em princípios científicos e tecnológicos, e constituída num espaço

de síntese entre a prática e a teoria, entre o trabalho manual e intelectual.

Gramsci (1982) pensou a Escola Unitária para o trabalho a partir das

exigências postas pela industrialização da época, indicando que o princípio escolar

deveria ser a solução da crise através da integração entre cultura e trabalho. Assim,

propõe uma nova alternativa para a educação da classe trabalhadora, defendendo

uma escola “desinteressada” , ou seja, útil a toda coletividade.

Esta escola não deveria estar presa a uma concepção de mundo idealista,

típica de programas escolásticos. A escola “desinteressada” do trabalho deveria

basear-se na filosofia da práxis, coroando um movimento de reforma intelectual e

moral, contrariando, dialeticamente, os princípios da cultura proletária e da cultura

burguesa.

É importante evidenciar que a proposta de Escola Unitária não poderia ser

consolidada de forma isolada, mas sim, deveria ser gestada na militância, cujas

origens estavam no socialismo e no compromisso com a classe operária, que fazia

parte de um projeto maior, o de construir uma nova ordem de relações sociais e de

produção, tendo como fim a produção da contra-hegemonia.

Essa concepção é organizada pela unidade dialética entre atividades

intelectuais e manuais, entre ciência e técnica, entre teoria e prática, cujo objetivo

seria contrariar a divisão social do trabalho manual e intelectual, tão difundida na

concepção capitalista, individualista e fragmentada ainda presente nos dias de hoje

em muitas práticas pedagógicas. Gramsci ainda propõe a tarefa de realizar a

unidade entre teoria e ação, com a finalidade de articular a técnica do trabalho à sua

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base científica; a politecnia, articulada com a formação para o trabalho, pois, numa

perspectiva politécnica, encontraríamos nesta escola a formação básica necessária

para a construção de uma concepção crítica de mundo e de uma formação política.

Ela deveria criar condições para que os indivíduos tivessem acesso ao repertório de

informações que facilitasse o processo de ensino-aprendizagem e a criação de uma

rede de auxílios atuando paralelamente à Escola Unitária.

A criatividade deveria ser estimulada na escola e não deixada ao acaso da

vida prática. Para Gramsci, a descoberta fazia parte do processo criativo e

caracterizava que o indivíduo possuía método e por isso atingiria a maturidade

intelectual. Nesta escola, deveriam ser iniciadas as novas relações entre trabalho

intelectual e trabalho manual, que se estenderiam para toda a vida social do

indivíduo.

Assim, a aproximação entre educação e trabalho teria início na escola

elementar, com o objetivo de despertar uma nova concepção de mundo no

educando, pois com essa abordagem seria possível uma maior aproximação da

escola com a vida e, por outro lado, ocasionaria uma participação mais ativa dos

indivíduos na sociedade.

As propostas de Escola Unitária de Gramsci partem de uma concepção

socialista de educação, tendo como objetivo o desenvolvimento multilateral do

indivíduo pretendendo realizar a sua emancipação geral, com o pressuposto de

tornar os conhecimentos concretos atualizados com o desenvolvimento técnico e

científico. Desta forma, exigia a redefinição da relação entre estrutura, conteúdo e

método, numa perspectiva orgânica, requerendo que o ensino fosse impregnado

pelas questões do cotidiano e que o conhecimento fosse pautado no ensino

politécnico, o mais adequado na operacionalização do princípio educativo

gramsciano.

A escola Unitária, na concepção de Gramsci, seria uma forma única de escola

preparatória, elementar e média, fundamentada no princípio da atividade, e que

conduzisse o jovem até a escolha da profissão, proporcionando o conhecimento dos

fundamentos científicos nas diversas áreas. E na realidade concreta de nosso país,

seria possível pensar em uma proposta única de formação para os jovens? Há

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possibilidades reais em efetivar um projeto pedagógico cuja sua concepção esteja

pautada unicamente nos princípios gramscianos?

Desta forma, partindo da análise do princípio educativo do trabalho, proposto

por Gramsci para a Escola Unitária, pode-se problematizar a possibilidade de uma

escola com fundamentos unitários para o Ensino Médio Integrado a Educação

Profissional na realidade em que nos inserimos, tomados como referencial teórico

para sua proposta curricular, e difundidos através do documento orientador

elaborado pela SEED-PR (2006)

Cabe, neste momento, questionar a efetivação de tal proposta, através do

acompanhamento da implantação dos cursos a partir de 2004, verificando de que

forma estas categorias se apresentam, tanto no que se refere a compreensão das

mesmas por parte dos professores, quanto na efetivação da formação dos alunos.

3.3 O PRINCÍPIO EDUCATIVO EM GRAMSCI

Partindo da relação entre trabalho e educação, ou seja, compreendendo o

trabalho enquanto princípio educativo, Gramsci constrói sua concepção de escola

unitária.

Tal relevância destinada ao tema remete-se ao fato de que esta temática faz

parte das suas preocupações com a realidade italiana, visto que o trabalho que

estava em curso no desenvolvimento de seu país era o trabalho industrial moderno.

E era justamente sobre este trabalho que Gramsci se referia.

Sob este princípio, Nosella afirma que:

Gramsci volta a defender a mesma tese do trabalho industrial como princípio educativo, relacionando epistemologicamente e diretamente a atividade intelectual do operário com seu próprio esforço muscular – nervoso, não como um fato individual concreto e sim como um fato universal abstrato, isto é, “enquanto elemento de uma atividade prática geral, que inova perpetuamente o mundo físico e social”. (NOSELLA, 2004, p.174)

Assim, Gramsci elabora o conceito de unitariedade, resgatando de um lado a

intelectualidade do operário e do outro o efetivo trabalho físico do intelectual, o que

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para Nosella seria um resgate entre as mãos e a mente. Pontua ainda que o

trabalho intelectual requer um esforço muscular nervoso que transforma a matéria, a

natureza, o instinto e a cultura para o bem-estar de todos os homens. Assim, o

intelectual não pode esquecer que seu próprio ofício é também um trabalho e, ao

mesmo tempo, que o trabalhador pensa. Da mesma forma, o trabalhador operário

não pode esquecer que a função do intelectual não consiste em genialidades

misteriosas, mas no esforço disciplinado. (NOSELLA, 2004, p.174).

Desta forma, destaca-se a categoria unitariedade como elemento permanente

nas reflexões de Gramsci, pontuando as relações entre a união da ciência e do

trabalho. Nesse sentido, a escola deveria levar em consideração esta unitariedade

entre a escola e a sociedade no momento do trabalho educativo, pois, para Gramsci,

“o conceito e o fato do trabalho (da atividade teórico – prática) é o princípio

educativo imanente à escola, pois que a ordem social e estatal (direitos e deveres) é

introduzida e identificada na ordem natural pelo trabalho.” (MANACORDA, 1990, p.

244).

Entretanto Gramsci verifica que, ao contrário do que propõe enquanto escola

unitária, para a maioria das crianças havia uma dicotomia entre a concepção

educativa representada pelo currículo escolar e a concepção de vida e de história

representada pelas relações sociais concretas em que viviam as crianças no seu

tempo.

Cabe destacar que esta realidade não se apresenta de forma diferenciada

nos dias de hoje, quando os docentes muitas vezes não estabelecem relações entre

os conhecimentos da Base Nacional Comum e os conhecimentos técnicos,

desarticulando a proposta de integração e contribuindo para o dualismo estrutural.

Assim como Gramsci, havia em Marx a preocupação com um ensino que não

fosse puramente técnico, o qual atendesse apenas à demanda burguesa de mão-de-

obra. Era fundamental atrelar o trabalho ao ensino, visando a emancipação da

criança ou do adolescente, ou como pontua Manacorda, “a exigência da

versatilidade do operário, a necessidade de substituir uma população operária

(unilateral) mantida em reserva, para fazer frente às variações do trabalho pela

absoluta disponibilidade do homem onilateral” (MANACORDA,1996, p. 30)

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A partir desse pensamento, observa-se que a formação não poderia se dar puramente técnica, mas que pudesse considerar o homem na sua onilateralidade. Esse termo aparece com Marx no momento em que se discute a divisão do trabalho. Para ele, a onilateralidade é considerada objetivamente como o fim da educação. A divisão do trabalho condiciona a divisão da sociedade de classes e, com ela a divisão do homem. Esta divisão se torna verdadeiramente divisão, quando se apresenta como divisão entre trabalho manual e trabalho mental, assim as duas divisões do homem dividido, cada uma das quais unilateral, são essencialmente as do trabalhador manual, operário e do intelectual. (MANACORDA, 1996, p.67).

Partindo desta premissa, a formação da onilateralidade propõe-se como

oposto daquilo que o trabalho dividido e alienado tem caracterizado o homem, indo

ao encontro dos pressupostos da Escola Unitária em Gramsci. Para ele, a exclusão

a que está submetida a maioria dos trabalhadores, em função da divisão do

trabalho, também dividiu a educação, impondo a necessidade de uma escola para a

elite e outra para a massa.

Novamente pontuamos este elemento presente em nossa atualidade

educacional, não apenas na divisão entre ensino técnico e educação geral, mas

principalmente na manutenção das práticas educativas reprodutivistas e

fragmentadas, mesmo em propostas curriculares que visam a formação do sujeito

emancipado, consciente de sua realidade e preparado para agir sobre a mesma, tal

como se apresenta a proposta para o Ensino Médio Integrado.

O documento orientador da SEED/PR destaca, no capítulo denominado

Dimensões Teórico-Metodológicas da Educação Profissional, a necessidade de

“tomar o trabalho como princípio educativo”, articulando ciência, cultura, tecnologia e

sociedade, evidenciando que para tanto:

Há que se recorrer a uma sólida formação geral fundamentada nos conhecimentos acumulados pela humanidade; na qual a organização curricular deve promover a universalização dos bens científicos, culturais e artísticos tomando o trabalho como eixo articulador dos conteúdos, ou seja, como princípio educativo, respondendo às novas formas de articulação entre cultura, trabalho e ciência com uma formação que busque um novo equilíbrio entre o desenvolvimento da capacidade de atuar praticamente e trabalhar intelectualmente. (SEED, 2006,)

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Percebe-se nesta proposta uma real necessidade de se tomar o trabalho

como princípio educativo, uma vez que esta modalidade de ensino está sendo

ofertada pelas escolas públicas do estado, tendo como alunos os filhos das classes

trabalhadoras e seus professores também pertencentes a esta classe. Assim, a

consciência de classe e a importância de uma prática educativa emancipadora se

tornam de grande relevância para a real efetivação dos avanços sociais.

Segundo Gramsci (1968, p.36), a escola que unifica trabalho, ciência e cultura

será necessariamente ativa e articulada ao dinamismo histórico da sociedade em

seu processo de desenvolvimento. Sua finalidade é a formação de homens

desenvolvidos multilateralmente, que articulem à sua capacidade produtiva as

capacidades de pensar, de estudar, de dirigir ou exercer o controle social sobre os

dirigentes (SEED, 2006,p.36).

Neste mesmo documento orientador, pontua-se a necessidade de educar

tanto para as atividades intelectuais quanto para as instrumentais, propiciando uma

orientação múltipla para futuras atividades profissionais não definidas precocemente,

pois não é possível preparar para as atividades profissionais tão complexas e

articuladas à ciência senão sobre as bases de uma cultura geral formativa de caráter

teórico-prático, elemento presente nos pressupostos da Escola Unitária.

Ao mesmo tempo, a escola deverá estimular a necessidade de educação

permanente e contínua, que permita a atualização das atividades culturais e

profissionais dos alunos.

Para atender a este princípio, a proposta curricular deverá contemplar,

segundo o documento orientador – SEED/PR:

- os princípios científicos gerais sobre os quais se fundamentam as relações sociais e produtivas; - os conhecimentos relativos às formas tecnológicas que estão na raiz dos processos sociais e produtivos contemporâneos; - as formas de linguagem próprias das diferentes atividades sociais e produtivas; - os conhecimentos sócio-históricos e as categorias de análise que propiciem a compreensão crítica da sociedade capitalista e das formas de atuação do homem, como cidadão e trabalhador, sujeito e objeto da história.( KUENZER, 2000 apud SEED, 2006, p.37)

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Entretanto, para que tal prática pedagógica se efetive, se faz necessário

compreender que o princípio educativo presente na proposta da escola unitária de

Gramsci pressupõe relação entre teoria e prática, entendida não apenas como uma

estratégia didática, mas como política, uma vez que está diretamente relacionada ao

homem coletivo que se quer formar, determinado por um tipo de sociedade que se

deseja. Desta forma Gramsci contrapõe-se à escola clássica, defendendo a

democratização da cultura para os trabalhadores como forma de superação de sua

formação profissional estreita, tanto a adquirida nas escolas profissionais quanto a

adquirida no interior do processo produtivo, através das experiências e ações do

cotidiano do trabalhador.

Assim, Gramsci propõe a construção de uma proposta de ensino

comprometida com os interesses da classe trabalhadora, a partir da qual o trabalho

será tomado como princípio educativo, enquanto estágio do desenvolvimento das

relações sociais contemporâneas.

Em decorrência deste novo princípio educativo, propõe-se, de acordo com

Acácia Kuenzer, um ensino que do ponto de vista:

- da estrutura, será único, não admitindo mais a dualidade estrutural, antidemocrática na raiz, que separa a escola da cultura da escola do trabalho; do ponto de vista até das necessidades do capitalismo esta proposta não mais se sustenta, na medida em que o novo dirigente é síntese de competência técnica e competência política. (KUENZER, 1992, p.130)

É importante evidenciar que este elemento se faz presente na proposta para o

Ensino Médio Integrado, uma vez que esta forma de ensino busca a superação do

dualismo estrutural existente nas ações educativas, visando práticas pedagógicas

que integrem os conhecimentos científicos e técnicos, teóricos e práticos e que

principalmente, promovam uma formação unitária do sujeito.

Entretanto, para que tal proposta se efetive, se faz necessária a formação

permanente dos profissionais envolvidos, uma vez que não cabe à escola pública a

tarefa de formação para o mercado de trabalho, função ainda muito presente no

pensamento coletivo dos professores, mas sim, uma formação que vá além do

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atendimento às demandas do capital, que permita ao sujeito a compreensão da

realidade em que vive e que compreenda seu papel no mundo do trabalho.

Este é um grande e necessário desafio a ser superado, conforme os

elementos presentes nos relatos expostos no decorrer desta pesquisa.

Outro elemento bastante importante refere-se ao ponto de vista:

do conteúdo, será politécnico, enquanto propiciar o resgate da relação entre conhecimento, produção e relações sociais, através da apropriação do saber científico-tecnológico através de uma perspectiva histórico-crítica, que permita a participação na vida social, política e produtiva, enquanto cidadão e trabalhador. (KUENZER,1992. p.130)

Entretanto, o que se tem percebido nas escolas que ofertam o Ensino Médio

Integrado, é que existe uma grande dificuldade por parte dos professores em

articular os conhecimentos propostos nos currículos que embasam esta proposta de

ensino. Este fato tem criado certo desconforto, pois não há clareza por parte dos

professores sobre os fins da Educação Profissional e tão pouco sobre as

concepções que embasam e estruturam a proposta para o Ensino Médio Integrado.

Daí a necessidade de discutir no interior da escola, e nos cursos de Formação

Continuada, a concepção de educação proposta para o Ensino Médio Integrado,

partindo das discussões acerca da Politecnia e da Escola Unitária.

Assim, não é difícil encontrar práticas pedagógicas que estejam pautadas em

diferentes concepções, algumas delas, trazendo forte apelo mercadológico, de

formação de mão-de-obra e de investimento no capital humano.

Outras, apresentando tentativas de integração de acordo com os conceitos

gramscianos, mas que não passam de justaposição de conteúdos. Estes dados

serão exemplificados no decorrer desta pesquisa, que aponta a necessidade de que

haja conhecimento e entendimento conceitual acerca do Ensino Médio Integrado,

por parte de todos os envolvidos nesta proposta, visando desenvolver no interior das

escolas e no âmbito de políticas educacionais, a formação de sujeitos sociais.

Como estratégia de política educacional e busca da superação dos embates

sobre a integração dos currículos, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná

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realizou um programa denominado “Oficinas para Reestruturação Curricular dos

Cursos Técnicos dos Setores da Indústria e Serviços”. Estas oficinas foram

realizadas em três momentos distintos, no ano de 2007, e tinham como objetivo,

reestruturar as propostas curriculares que estão sendo trabalhadas nas escolas

públicas do Estado.

Esta reestruturação foi realizada pelos professores da formação específica

(técnica) e base nacional comum, coordenadores que atuam nos cursos técnicos,

docentes convidados da área específica de cada curso e da concepção teórica da

Educação Profissional, com o acompanhamento das equipes técnico-pedagógicas

da SEED/PR.

Cabe destacar que, ao término destas oficinas, uma nova proposta curricular

deveria ser organizada e apresentada à SEED, devendo por fim ser editada e

difundida para os demais sujeitos envolvidos nesta proposta educativa.

É importante destacar que até o presente momento, as escolas utilizam a

mesma proposta curricular encaminhada pela mantenedora no ano de 2004, e que o

documento elaborado na ocasião das Oficinas de Reestruturação Curricular ainda

não está sendo utilizado para nortear as práticas pedagógicas desenvolvidas no

interior das mesmas.

Devemos considerar que os Cursos Técnicos foram implantados nas escolas

do Estado, em sua maioria, a partir de 2004, quando foram elaboradas as propostas

que hoje estão em andamento, gerando conflitos estruturais, como por exemplo os

relacionados a infra-estrutura dos Colégios e ausência de professores qualificados

para atuar no E.M.I. A grande questão reporta-se a : como implantar cursos

“integrados” se no interior da própria escola e na organização do trabalho

pedagógico as ações estão cindidas?

Assim, ao promover momentos de análise da ação docente e das políticas

curriculares, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná assume

responsabilidade perante a sociedade, no sentido de entender que há uma

fragmentação e um dualismo estrutural na proposta atual e instiga os educadores a

participarem efetivamente na reconstrução do trabalho educativo.

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Esta estratégia é uma tentativa de tornar mais participativa a ação dos

docentes, que durante os encontros expuseram a realidade dos cursos de Educação

Profissional dos quais fazem parte, evidenciando seus avanços e dificuldades.

Além das reflexões sobre a prática pedagógica, houve debates acerca das

novas demandas de Educação Profissional, que resultam da própria natureza das

mudanças ocorridas no mundo do trabalho, que estabelecem uma nova relação

entre conhecimento compreendido como produto e como processo da ação humana,

com o que se passa a demandar maior conhecimento teórico por parte dos

trabalhadores.

Entretanto, até o presente momento os resultados da reformulação curricular,

ainda não chegaram ao interior das escolas, visto que trazem além de uma nova

dinâmica curricular, disputas políticas e de relações de poder fortemente marcadas,

envolvendo hierarquia de disciplinas, número de aulas, enfoques na formação dos

alunos para atendimento de necessidades pontuais e regionalizadas.

É de suma importância que os resultados destas reflexões possam ser

difundidos no interior das escolas, visando uma análise da realidade de cada

instituição, bem como promover mudanças necessárias no desenvolvimento das

propostas pedagógicas das mesmas.

Entretanto, ainda se faz necessário que a abrangência de oferta de

capacitação para os docentes tenha maior dimensão, abrangendo não apenas

alguns representantes desta classe, mas todos os envolvidos nesta proposta de

ensino.

Seria certamente um avanço para a Educação Profissional, se em âmbito

macro os conflitos manifestados durante os encontros pudessem efetivamente

contribuir na reformulação curricular, tornando o docente co-participante nas

decisões político-educacionais para esta modalidade de ensino.

Este seria um grande desafio para a Secretaria de Educação do Estado do

Paraná: desenvolver políticas de formação e capacitação de docentes, para atuar

diretamente com a Educação Profissional, que tenham consciência de seu papel

enquanto educadores e que assumam compromisso com a articulação dos

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conhecimentos histórico-sociais, visando um processo de educação emancipatória

que busque garantir o acesso e o direito de todo cidadão ao trabalho.

Todos os elementos acima citados influenciariam diretamente no ponto de

vista do método, uma vez que, ao tomar o trabalho com princípio educativo, deverá

ser:

- teórico-prático, reunificando saber e processo produtivo, ciência e produção, cultura e técnica, atividade intelectual e atividade manual, tomando o trabalho, enquanto forma de ação transformadora da natureza e de constituição da vida social como ponto de partida. (KUENZER,1992, p.130)

Para tal, um modelo de gestão democrática deverá permear as ações

educativas, partindo do princípio de que deverá ser:

- compreendida enquanto síntese superadora do dogmatismo e do espontaneísmo, uma vez que a transformação exige direção, organização, eficiência, disciplina, unidade de esforços, fruto não da ação autoritária, mas do coletivo obtido através da participação de cidadãos que se confrontam enquanto homens autônomos e independentes; isto só será possível mediante a existência de um projeto de sociedade, a partir do qual seja possível derivar um projeto pedagógico para o 2º grau, que, enquanto resposta às necessidades coletivas, confira a necessária direção à transformação pretendida, a partir do que será possível articular recursos e esforços. (KUENZER,1992, p.130)

E por fim, evidenciar a necessidade de obter condições físicas e estruturais

apropriadas ao desenvolvimento dos cursos propostos, para que a apropriação do

saber se efetive de forma a estabelecer relações entre teoria e prática. Segundo

Kuenzer, o princípio educativo também se dá a partir:

- das condições físicas, será moderna e atualizada, contando com equipamentos e com espaços tais com bibliotecas, oficinas, laboratórios, que permitam a apropriação do saber científico e tecnológico e histórico-crítico sobre os quais se constrói a modernidade sob todos os seus aspectos; superestruturais e produtivos; é impossível a politecnia em escolas de “cuspe e giz”; o trabalho como princípio educativo, exige a articulação entre ciência e processo produtivo, entre teoria e prática e esta articulação só será possível em uma escola adequadamente construída e equipada. (KUENZER, 1992, p.130)

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Porém, é importante evidenciar que para a implantação da modalidade de

ensino pesquisada, grandes recursos foram, e continuam sendo encaminhados às

escolas através de programas federais, como por exemplo, o Programa Brasil

Profissionalizado5 e o PROEJA6.

Entretanto, apenas obter recursos para a manutenção de equipamentos e

laboratórios não são garantia para uma ação pedagógica integrada. Esta ação

deriva do conhecimento da proposta e dos referenciais teóricos que a embasam e,

principalmente, da consciência e trabalho entendido como princípio educativo por

parte dos docentes. Estes elementos serão aprofundados no decorrer desta

pesquisa.

5 Buscando incentivar a expansão de matrículas no ensino médio integrado nas redes públicas estaduais, o Ministério

da Educação lançou o Brasil Profissionalizado, um programa de financiamento e assistência técnica que vai se estender de

2008 a 2011. Seu principal objetivo é prestar assistência financeira ao Distrito Federal e aos estados que possuam rede de

ensino médio ou de educação profissional de nível médio e tenham assinado o Compromisso Todos pela Educação. Os

recursos destinam-se à construção, ampliação, reforma e aquisição de equipamento, laboratórios e mobiliário para escolas

públicas de ensino médio e profissional. Esses recursos podem ser utilizados, ainda, na formação de professores na área de

ciências, nas disciplinas de Física, Química, Matemática e Biologia. A meta é investir R$ 900 milhões, nos próximos quatro

anos. A perspectiva inicial é atender 750 escolas e 500 municípios, matricular 800 mil alunos, capacitar 14 mil professores e

construir 2.500 laboratórios. Para ser contemplado com o Brasil Profissionalizado, é indispensável que o Distrito Federal e os

estados estejam com seus dados orçamentários relativos à educação atualizados no Sistema de Informações sobre

Orçamentos Públicos em Educação (Siope) do Ministério da Educação e que detenham título de dominialidade do terreno onde

haverá a edificação, em consonância com a Portaria Interministerial nº 127, de 29/5/2008.

6 O PROEJA- Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com Educação Básica na Modalidade de

Educação de Jovens e Adultos- pretende contribuir para a superação do quadro da educação brasileira explicitado pelos dados

da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-; PNAD divulgados, em 2003, que 68 milhões de Jovens e Adultos

trabalhadores brasileiros com 15 anos e mais não concluíram o ensino fundamental e, apenas, 6 milhões (8,8%) estão

matriculados em EJA. A partir deste contexto, o PROEJA tem como perspectiva a proposta de integração da educação

profissional à educação básica buscando a superação da dualidade trabalho manual e intelectual, assumindo o trabalho na sua

perspectiva criadora e não alienante. Isto impõe a construção de respostas para diversos desafios, tais como, o da formação

do profissional, da organização curricular integrada, da utilização de metodologias e mecanismos de assistência que favoreçam

a permanência e a aprendizagem do estudante, da falta de infra-estrutura para oferta dos cursos dentre outros.

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4. O ENSINO MÉDIO INTEGRADO A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:

ANALISANDO A FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM INFORMÁTICA

O curso de Informática, na forma de Ensino Médio Integrado a Educação

Profissional foi implantado pela SEED, no município de Curitiba, em dois

estabelecimentos de Ensino, a partir do ano de 2005.

De acordo com o § 1º do Artigo 4º do Decreto nº 5154/2004, a implantação

desta modalidade de ensino fora prevista como forma possível de concretização da

“articulação entre a Educação Profissional Técnica de nível médio e o Ensino Médio,

sendo ofertada de forma integrada” e:

oferecida somente a quem já tenha concluído o Ensino Fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno”. A instituição de ensino, porém, deverá, ampliar a carga horária total do curso, a fim de assegurar, simultaneamente, o cumprimento das finalidades estabelecidas para a formação geral e as condições de preparação para o exercício de profissões técnicas. ( § 1º do art. 4º Decreto 5154/2004)

Em Curitiba, este curso foi ofertado em dois estabelecimentos de ensino

sendo que ambos já ofertavam cursos de Educação Profissional na forma

Subseqüente, atendendo aos alunos que já haviam concluído o ensino médio, mas

que retornavam à escola para buscar aperfeiçoamento técnico.

Assim, os dois colégios deveriam, em obediência ao Decreto nº 5154/2004,

adotar novos planos de curso aprovados pelo sistema de ensino, composto por

projetos pedagógicos unificados e atender aos seguintes critérios estabelecidos pelo

Parecer nº 39/2004 (CNE/CEB) :

- O atendimento às demandas dos cidadãos, da sociedade e do mundo do trabalho, em sintonia com as exigências do desenvolvimento sócio- econômico local, regional e nacional;

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- A conciliação das demandas identificadas com a vocação da instituição de ensino e as suas reais condições de viabilização das propostas; - A identificação de perfis profissionais próprios para cada curso, em função das demandas identificadas e em sintonia com as políticas de promoção e desenvolvimento sustentável do país; - A organização curricular dos cursos de técnico de nível médio, por áreas profissionais, em função da estrutura sócio- ocupacional e tecnológica.

Caberia ainda, segundo o Parecer nº 39/2004:

uma orientação quanto às etapas a serem observadas pelas escolas para a organização curricular de seus cursos e conseqüente elaboração dos planos de curso a serem submetidos à devida apreciação dos órgãos superiores competentes, em cada sistema de ensino e, após, serem inseridos no Cadastro Nacional de Cursos Técnicos de nível médio, organizado e mantido pelo MEC, para fins de divulgação dos mesmos em âmbito nacional

Assim, as orientações do Parecer 39/2004 voltavam-se a:

- concepção e elaboração do projeto pedagógico da escola, nos termos dos Artigos 12 e 13 da LDB; - definição do perfil profissional do curso, a partir da caracterização dos itinerários formativos e de profissionalização nas respectivas áreas profissionais; - clara definição das competências profissionais a serem desenvolvidas, à vista do perfil profissional de conclusão proposta, considerando, nos casos das profissões legalmente regulamentadas, as atribuições funcionais em lei; - identificação dos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores a serem trabalhados pelas escolas para o desenvolvimento das requeridas competências profissionais, objetivando o desenvolvimento de uma educação integral do cidadão trabalhador; - organização curricular, seja por disciplinas, seja por projetos ou por núcleos temáticos incluindo, quando requeridos, o estágio profissional supervisionado e eventual trabalho de conclusão de curso;

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- definição dos critérios e procedimentos de avaliação das competências profissionais constituídas e de avaliação da aprendizagem e da Educação Profissional.

Para atender ao Parecer nº 39/2004, o Departamento de Educação

Profissional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná encaminhou aos

Núcleos Regionais o Ofício Circular nº 001/2005, referente à Aplicação do Decreto

nº 5154/2004 na Educação Profissional Técnica de Nível Médio e no Ensino Médio,

tendo como anexo o Parecer nº 39/2004 – CNE, para que fosse realizado estudo e

divulgação à todos os estabelecimentos de ensino, das redes estadual e privada,

que ofertam a Educação Profissional.

Entretanto, este ofício ressaltava que o Departamento de Educação

Profissional apresentava discordância do Parecer 39/04, entendendo que o mesmo

“não avançou no sentido de uma nova concepção de Educação Profissional, quando

coloca que para os cursos Integrados, ficam valendo as Diretrizes Curriculares do

Ensino Médio e da Educação Profissional.”

Este mesmo Ofício pontuava a necessidade de reuniões para estudo e

divulgação do Parecer 39/2004, para que se efetivasse uma crítica mais consistente

em relação ao proposto no Parecer, enfatizando a necessidade de maiores

esclarecimentos quanto aos seguintes elementos:

1- A “articulação” é a nova forma de relacionamento entre a Educação Profissional e o Ensino Médio. Não é mais adotada a velha fórmula do “meio a meio” entre as partes de educação geral e de formação específica no Ensino Médio.

2- As DCN (Parecer nº 16/99 e Resolução 04/99 ambos do CNE -

Educação Profissional, Legislação Básica, Vol. I) continuam válidas após a edição do Decreto 5154/2004.

Se faz necessário evidenciar o cuidado da SEED ao elucidar pontos

contraditórios entre o Decreto 5154/2004 e o Parecer 39/2004, principalmente no

que se refere a articulação dos conhecimentos da Base Nacional Comum e os

conhecimentos propostos nas disciplinas da Base Técnica, pontuando ainda a

necessidade de ressaltar que:

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- a forma integrada não pode ser vista, de modo algum, como uma volta saudosista e simplista da revogada Lei 5692/71; - a forma integrada deve assegurar, simultaneamente, a formação e a preparação para o exercício de profissões técnicas; - a forma integrada trata de um único curso, com projeto pedagógico único, com proposta curricular única e com matrícula única; - na forma integrada a duração do curso, obviamente, deverá ter a sua “carga horária total do curso” ampliada e NÃO será possível concluir o Ensino Médio de forma independente da conclusão do ensino Técnico de nível médio; - na forma integrada, admite-se como carga horária mínima, um total entre 3.000 e 3.200 horas, integralizadas num período mínimo de três a quatro anos de duração, nos termos dos projetos pedagógicos e planos de curso; - no caso da Rede Estadual do Paraná, os cursos (com exceção dos cursos em período integral) terão duração de 4 anos, independentemente da carga horária destinada a Educação Profissional.

Assim, no ano de 2005, após a reorganização das propostas curriculares das

escolas e aprovação da abertura de turmas de Ensino Médio Integrado, o

Departamento de Educação Profissional/SEED organiza e encaminha às escolas um

documento orientador denominado “Reformulação Curricular dos Cursos Técnicos

da Rede Estadual: Uma Construção Coletiva” (SEED, 2006), dando continuidade às

atividades de análise, reflexões e sínteses quanto a definição da proposta de

adequação curricular dos cursos técnicos.

Este documento orientador tinha como objetivo disponibilizar informações e

elementos de análise para o entendimento da organização curricular dos cursos

técnicos, visando contribuir para “a construção coletiva de uma base conceitual

unificada dos cursos técnicos, bem como propiciar o exercício democrático de

participação dos atores do processo educativo.” (SEED, 2006)

De acordo com o documento orientador, a proposta de integração curricular

tem como objetivo integrar o jovem ao contexto sócio-cultural atual, propiciando

formação que possibilite uma escolha profissional sintonizada com os requerimentos

técnicos e tecnológicos próprios de sua área de formação.

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Apresenta também uma concepção que orienta a organização curricular de forma a:

incorporar a perspectiva de romper com a estrutura dual que tradicionalmente tem marcado o Ensino Médio, oferecendo ao aluno uma formação omnilateral, portanto diversa da prevista pala Lei 5692/71, ultrapassando a formação unidimensional do técnico. (FRIGOTTO, apud SEED, 2003)

Entretanto, evidencia ainda no documento orientador a necessidade de que o

professor que atuará no contexto da Educação Profissional se identifique com o

papel que desempenhará na formação do jovem, estabelecendo a mediação entre o

conhecimento existente e as possibilidades de sua articulação e dinamização,

visando a formação integral para a transformação social.

Neste contexto, os cursos passaram a ser ofertados no início do ano 2005,

ainda com muitas dúvidas quanto aos encaminhamentos, propostas e

principalmente, quanto ao trabalho pedagógico desenvolvido no interior da sala de

aula, visto que os professores que passaram a atuar no Ensino Médio Integrado não

haviam recebido capacitação para desenvolver esta proposta.

É importante destacar que o Curso Técnico em Informática, na forma de

Ensino Médio Integrado a Educação Profissional, está organizado de forma seriada,

anualmente, e com duração de quatro anos, composto por uma carga horária

prevista em 3.200 horas, com 25 aulas semanais, perfazendo 4.000 horas/aula. Tem

como objetivo a formação de técnicos em Informática que:

no mundo do trabalho, empregando ferramentas de informática, conhecendo o funcionamento de computador e seus periféricos, sendo capaz de interagir com outros profissionais e colaborar na solução de problemas encontrados na área técnica. (SEED, 2004, p.5)

Apresenta ainda uma estrutura de organização curricular, onde é possível

verificar a organização das disciplinas desenvolvidas no curso, no decorrer dos

quatro anos previstos até a conclusão do mesmo. Esta estrutura foi elaborada e

encaminhada às escolas pelo Núcleo Regional de Educação de Curitiba, como

referência para a elaboração dos planos de curso e dos planos de trabalho docente.

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A estrutura organizativa do curso é composta por disciplinas da Base

Nacional Comum, Parte Diversificada e da Base Técnica-Formação Específica,

conforme a figura abaixo:

Tabela 1 : Grade curricular E.M.I. – informática

ESTABELECIMENTO:

MUNICÍPIO: CURITIBA NRE: CURITIBA

CURSO: TÉCNICO EM INFORMÁTICA

FORMA: INTEGRADA ANO DE IMPLANTAÇÃO: 2005

TURNO: MANHÃ-TARDE-NOITE C H: 4000 h/a 3330 horas

MÓDULO: 40 ORGANIZAÇÃO: SERIADA

Disciplinas 1.ª 2.ª 3.ª 4.ª H/A Horas

BASE NACIONAL COMUM

Arte 2 - - - 80 66

Biologia - - 3 3 240 200

Educação Física 2 2 2 2 320 266

Filosofia - - - 2 80 66

Física 2 2 2 - 240 200

Geografia 3 2 - - 200 166

História 2 2 2 - 240 200

Lingua Portuguesa e Literatura 3 3 3 2 440 366

Matemática 3 3 3 2 440 366

Química 2 3 - - 200 166

Sociologia - - - 2 80 66

PD Informática Instrumental 2 - - - 80 66

L.E.M. Inglês 2 2 2 - 240 200

Subtotal 23 19 17 13 2880 2400

FORMAÇÃO ESPECÍFIC

A

Análise e Projetos - - - 4 160 133

Banco de Dados - - - 2 80 66

Fundamentos e Arquitetura de Computadores 2 - - - 80 66

Internet e Programação WEB - 2 2 2 240 200

Linguagem de Programação - - 2 2 160 133

Lógica de Programação - 2 - - 80 66

Redes e Sistemas Operacionais - - 2 2 160 133

Suporte Técnico - 2 2 - 160 133

Subtotal 2 6 8 12 1120 930

Total 25 25 25 25 4000 3330

FONTE: PARANÁ. SEED, Secretaria de Educação do Estado do Paraná. DEP, Departamento de Educação profissional. Reformulação curricular dos cursos técnicos da rede estadual: uma construção coletiva. Curitiba, 2004.

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É de suma importância que haja entendimento e compreensão da proposta,

por parte dos professores que atuam no Ensino Médio Integrado, pois este será o

elemento fundamental para uma prática realmente emancipatória, conforme os

princípios gramscianos, ao evidenciar que a escola que unifica trabalho, ciência e

cultura será necessariamente ativa e articulada ao dinamismo histórico da sociedade

em seu processo de desenvolvimento; sua finalidade é a formação de homens

desenvolvidos multilateralmente, que articulem à sua capacidade produtiva as

capacidades de pensar, de estudar, de dirigir ou exercer o controle social sobre os

dirigentes.

Para atender a este princípio, a proposta curricular deverá, do ponto de vista

dos conteúdos, contemplar:

- os princípios científicos gerais sobre os quais se fundamentam as relações sociais e produtivas; - os conhecimentos relativos às formas tecnológicas que estão na raiz dos processos sociais e produtivos contemporâneos; - as formas de linguagem próprias das diferentes atividades sociais e produtivas; - os conhecimentos sócio-históricos e as categorias de análise que propiciem a compreensão crítica da sociedade capitalista e das formas de atuação do homem, como cidadão e trabalhador, sujeito e objeto da história. (KUENZER, 2000)

Assim, pode-se evidenciar que a forma como as disciplinas encontram-se

estruturadas na matriz curricular, nos remete a necessidade de que haja um trabalho

efetivo das equipes administrativa e pedagógica das escolas, a fim de orientar os

professores quanto a proposta de integração entre as disciplinas.

No próximo capítulo, será possível verificar aspectos referentes à prática

pedagógica dos professores e seu entendimento a respeito da proposta para o

Ensino Médio Integrado, que refletem diretamente na formação dos alunos inseridos

no curso, na turma de início em 2005 e conclusão em 2008, bem como os desafios

enfrentados por alunos e professores frente a uma proposta de ensino que vai além

da instrumentalização.

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5 A PESQUISA DE CAMPO

5.1 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS SOBRE OS ALUNOS

A partir de um levantamento realizado nas escolas pesquisadas, elaborou-se

um gráfico representativo sobre a evasão dos alunos no decorrer do curso, sendo

este um dos elementos fundamentais para uma análise da implementação desta

proposta de ensino. Os dados obtidos nos revelam um alto índice de evasão logo na

passagem da primeira para a segunda série do curso e um índice significativo de

alunos evadidos da segunda para a terceira série do curso, sendo praticamente

mantido o índice dos alunos nos dois últimos anos, conforme o gráfico abaixo:

GRÁFICO 1: Alunos matriculados - Colégio A

Os dados evidenciados no gráfico 1, referem-se ao Colégio A, que oferta o

curso Ensino Médio Integrado a Educação Profissional no período matutino (4ª série)

e vespertino (1ª, 2ª e 3ª séries), sendo uma turma de cada série. Desta forma, a

quantidade zero, representada na figura, refere-se a turmas não ofertadas pela

instituição naquele determinado turno.

Nº de alunos matriculados- tarde Nº de alunos matriculados- manhã

2005 34 0

2006 22 0

2007 12 0

2008 0 12

2005; Nº de alunos matriculados-

tarde; 34

2005; Nº de alunos matriculados-

manhã; 0

2006; Nº de alunos matriculados-

tarde; 22

2006; Nº de alunos matriculados-

manhã; 0

2007; Nº de alunos matriculados-

tarde; 12 2007; Nº de alunos

matriculados- manhã; 0

2008; Nº de alunos matriculados-

tarde; 0

2008; Nº de alunos matriculados-

manhã; 12

Alunos matriculados - E.M.I. Informática (Colégio A)

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É importante evidenciar que dos 35 alunos matriculados no início do curso em

2005, apenas 12 chegaram a concluí-lo, totalizando um percentual de 65,71%

evadidos. Considera-se evadido do curso o aluno que, por algum motivo, desistiu de

frequentar as aulas, seja por mudança de escola, mudança de cidade, opção em

retornar ao Ensino Médio Regular e também pelo fato de não realizar-se

pessoalmente ao cursar as aulas no curso de Informática.

No gráfico 1, os resultados apontam outras variáveis, visto que há maior

mobilidade dos alunos nos turnos em que o E.M.I é ofertado. Alguns alunos optam

pela mudança de turno em função de iniciarem estágios remunerados na área de

formação. Assim, havendo vagas disponíveis em outro turno, o aluno opta pela

mudanças, mas garante a continuidade do curso.

Um dado importante a ser destacado, refere-se ao fato de que neste Colégio,

a procura por uma vaga no E.M.I.-Informática, nem sempre está relacionada a opção

de formação técnica do aluno.Segundo o depoimento abaixo:

A6 (...) muitos dos meus colegas fizeram a matrícula no curso técnico,

porque não conseguiram vaga no “regular”. Aí eles ficam no técnico até

abrir uma vaga pra mudar. Muita gente também muda da manhã pra noite

ou desiste aí fica mais fácil.

Este elemento é fundamental para que a mantenedora possa reavaliar o

número de vagas ofertadas nesta instituição, visto que o acesso do aluno ao curso

técnico está “mascarando” uma deficiência no atendimento às demandas para o

Ensino Médio Regular.

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GRÁFICO 2: Alunos matriculados - Colégio B

Os dados representados no gráfico 2 referem-se ao Colégio B, que oferta o

curso Ensino Médio Integrado a Educação Profissional no período matutino (1ª, 2ª,

3ª e 4ª séries) e noturno (1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries), sendo uma turma de cada série.

É importante evidenciar que dos 131 alunos matriculados no início do curso

em 2005, no período da manhã, apenas 36 chegaram a concluí-lo, totalizando um

percentual de 72,51% evadidos e no período noturno, dos 32 alunos matriculados

em 2005, apenas 25 concluíram o curso, totalizando 21,87% de evasão7.

Estes dados foram de grande importância para a elaboração do protocolo de

entrevistas com os professores e alunos, pois reflete contradições na efetivação da

proposta e no fazer pedagógico, visto que altos índices de evasão representam a

descontinuidade do curso e consequentemente uma falha social grave, uma vez que

o aluno opta pela descontinuidade do curso após o primeiro ano letivo de trabalho.

7 Esta variação ocorreu pelo fato de que alguns alunos matriculados inicialmente no período matutino,

migraram para o período noturno. Muitos deles optaram pela mudança de turno, em função de obterem

colocação em estágios na área de estudo. Entretanto, os registros oficiais consideram estes alunos evadidos ou

reprovados.

Nº de alunos matriculados- manhã Nº de alunos matriculados- noite

2005 131 32

2006 86 28

2007 48 18

2008 36 25

Alunos matriculados - E.M.I. Informática (Colégio B)

2005

2006

2007

2008

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Um elemento importante sobre as suas expectativas ao ingressarem em um

curso técnico, uma aluna relatou:

A40. Bom, queria mesmo me tornar uma técnica em informática, mas

devido a falta de professores no primeiro e no segundo ano, acho que não

vai dar. Mas pelo que ocorreu, nosso coordenador conseguiu um curso de

montagem e manutenção que foi muito pouco tempo.

A falta de professores foi um fator presente durante a implantação do curso.

Os professores que ministravam aulas nas disciplinas da Base Nacional Comum

escolhiam suas aulas no início do ano letivo. Entretanto, para que as aulas das

disciplinas da Base Técnica pudessem ser preenchidas, era necessário aguardar o

chamamento da mantenedora para que os professores concursados nestas

disciplinas pudessem assumi-las.

Não havendo professores disponíveis, optava-se pala contratação de

professores PSS, realizada através da análise de currículo. Estes profissionais nem

sempre obtinham a formação necessária para atuarem, visto que muitos ainda eram

estudantes de graduação.

Este processo repetiu-se durante os quatro anos analisados, o que dificultou

bastante o desenvolvimento da aprendizagem da turma, e principalmente,

contribuindo para a descontinuidade do processo de capacitação dos profissionais

envolvidos neste curso, visto que a equipe de professores apresentava sempre uma

composição diferente, e a equipe pedagógica nem sempre era a mesma.

Outro posicionamento presente refere-se à relação entre a oportunidade de

formação e o mercado de trabalho, conforme apontam os relatos abaixo descritos:

A42. Entrei com a idéia de que o curso me daria uma estrutura a mais na

vida profissional. E que era realmente isso que eu queria, me formar uma

técnica em informática. Tinha como objetivo trabalhar como técnica para

assim pagar a faculdade, e assim me aprofundar mais na área. Fora que o

curso em informática é um curso que o mercado exige bastante, então o

conhecimento na área é fundamental. Eu via no curso isso, uma

oportunidade de me adequar ao mercado. Talvez não tanto para ser uma

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supertécnica, mas sim para além de ter um curso de informática eu teria o

ensino médio completo. (grifo meu)

A46. Ingressei no curso pensando no mercado de trabalho, sendo que hoje

a informática é tudo dentro de uma empresa. Então posso ter uma atividade

que chame a atenção quando mencionada no currículo. Não pensei muito

em questões de gostar de informática, entrei pelo grau de influência do

mercado de trabalho. (grifo meu)

A13. Eu esperava aprender mais sobre informática, para conseguir um

bom emprego. (grifo meu)

A14. Ter uma profissão, para entrar no mercado de trabalho. (grifo meu)

A15. Desenvolver melhor as minhas habilidades em informática e uma

melhor possibilidade de ingressar rapidamente no mercado de trabalho.

(grifo meu)

A22. Ter uma melhor aceitação no mercado de trabalho, e um maior

conhecimento na área. (grifo meu)

A23. Sair dele com uma qualificação melhor para o mercado de

trabalho. (grifo meu)

Esta visão utilitarista, muito difundida no interior da escola e fora dela, reduz

os alunos e professores a objetos de capital humano, trazendo em seu bojo

questionamentos de suma relevância para os envolvidos no processo formativo: que

cidadão queremos formar? Para qual sociedade? Cabe à escola, atender às

demandas do mercado de trabalho, do capital e estruturar seu currículo de forma a

adestrar seus alunos para a inserção no mercado de trabalho?

Para estes casos SAVIANI (2003, p.137) destaca:

todos já ouviram falar naquela famosa frase de Adam Smith, que

reconhecia ser necessária a instrução dos trabalhadores: “instrução

para os trabalhadores sim, porém em doses homeopáticas”. Significa

que os trabalhadores têm de dominar aquele mínimo de

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conhecimentos necessários para serem eficientes no processo

produtivo, mas não devem ultrapassar este limite.

A noção de politecnia contrapõe-se a essa idéia, postulando que o processo

de trabalho desenvolva, em uma unidade indissolúvel, os aspectos manuais e

intelectuais.

Um pressuposto dessa concepção é que não existe trabalho manual puro e nem trabalho intelectual puro. Todo trabalho humano envolve a concomitância do exercício dos membros, das mãos, e do exercício mental, intelectual. Isso está na própria origem do entendimento da realidade humana como constituída pelo trabalho. (SAVIANI, 2003,p.138)

Outro dado levantado aos alunos participantes da pesquisa, compondo o

seguinte perfil: 44% dos entrevistados são compostos por mulheres enquanto que a

representação masculina abrange 56% da amostra, conforme ilustra o gráfico 3 .

GRÁFICO 3: Sexo - alunos

Quanto à faixa etária dos alunos que cursam o E.M.I. – Informática, na 4ª

série do referido curso, destaca-se que 16% possuem 17 anos, 49% possuem 18

Série1; Fem.; 20; 44%

Série1; Masc.; 25; 56%

Gráfico 3 - Sexo

Fem.

Masc.

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62

anos, 18% possuem 19 anos, 4% possuem 20 anos, 2% possuem 35 anos e 11%

não informaram a idade (N/I), conforme ilustra o gráfico 4.

GRÁFICO 4: Idade - alunos

Quanto a atividade desenvolvida pelos pais dos alunos que cursam o E.M.I. –

Informática, evidencia-se conforme indicado no gráfico 5 que: 19 mães desenvolvem

atividades domésticas não-remuneradas, 2 encontravam-se desempregadas, 17

realizavam atividades remuneradas (serviços gerais, autônoma, professora, auxiliar

de produção, decoradora, comerciante, servidora pública, manicure, lojista,

costureira, pedagoga, bancária, corretora, empregada doméstica) e 2 eram

falecidas. Do total de pais , 33 encontram-se em atividade remunerada no 3º setor

(profissionais liberais, prestação de serviços e profissionais de nível médio).

Destaca-se ainda que 2 alunos têm seus pais falecidos, 3 pais estão

aposentados e 8 alunos não informaram a atividade de seus pais.

Série1; Entrevistados; 20;

31%

Série1; 17; 7; 11% Série1; 18; 22;

34%

Série1; 19; 8; 12%

Série1; 20; 2; 3%

Série1; 35; 1; 1%

Série1; N/I; 5; 8% Gráfico 4 - Idade

Entrevistados

17

18

19

20

35

N/I

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63

GRÁFICO 5: Atividade dos pais/mães

Foram levantados dados quanto ao acesso aos recursos tecnológicos,

representados no gráfico 6, onde se constatou que 89% dos alunos que cursam o

E.M.I. - Informática possuem computador em suas residências, 7% não possuem

computadores em casa e 4% não informaram.

GRÁFICO 6: Alunos que possuem computador

Gráfico 5- Atividade Profissional dos Pais / Mães

Ativ. Prof.Mãe

Possui computador em casa?; Sim; 40;

89%

Possui computador em casa?; Não; 3;

7%

Possui computador em casa?; N/I; 2; 4%

Gráfico 6 - Alunos que possuem computador

Sim

Não

N/I

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64

Ainda referente aos recursos tecnológicos, foram levantados dados quanto ao

acesso aos mesmos, por parte dos alunos, para a realização de pesquisas,

trabalhos e estudos, obtendo as informações ilustradas no gráfico 7, que aponta:

que 83% dos alunos acessam a internet de suas residências, 9% utiliza os

laboratórios da escola para o acesso a internet, 2% acessam em seu local de

trabalho, 2% acessam através de Lan House e 4% não informaram.

Este dado apresenta relevância ao relacionar-se diretamente ao objeto de

estudo - Curso Técnico em Informática. Deve-se levar em consideração que os

Colégios envolvidos nesta pesquisa, apresentavam laboratórios de Informática, com

acesso a Internet e suporte técnico de um professor laboratorista, professor este

responsável pela organização, manutenção e auxílio aos professores das demais

disciplinas. Entretanto, os horários disponíveis para a realização de estudos em

horário diferente das aulas eram dificultosos, visto que alunos de outros cursos e

turnos faziam uso deste mesmo espaço. Assim, muitos trabalhos e atividades eram

também direcionados para além dos muros da escola, fazendo-se necessário o uso

de recursos tecnológicos disponíveis.

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65

GRÁFICO 7: Alunos com acesso a internet

Outro elemento de grande relevância para esta pesquisa, refere-se à forma

de divulgação do curso, visto que é uma nova forma de ensino ofertada pelos

estabelecimentos públicos estaduais. Este é um grande desafio pelo qual as escolas

passam, pois nem todos os meios de comunicação de massa realizam a divulgação

da oferta da E.M.I., deixando a cargo da própria escola, realizar com financiamento

próprio , a divulgação para o público interno (alunos oriundos da 8ª série do próprio

estabelecimento) e externa (alunos oriundos das 8ª série de estabelecimentos

diversos e da própria comunidade em que a escola se insere.

Assim, reconhecer a forma através da qual os alunos ingressaram no curso,

se torna importante, na medida em que poderá orientar novas ações por parte da

mantenedora (SEED), auxiliando no seu processo de divulgação e incentivando a

comunidade para que tomem conhecimento da mesma, cumprindo sua função social

enquanto escola pública transformadora e emancipadora.

Assim, conforme ilustrado no gráfico 8, evidencia-se que 57% dos alunos,

tomaram conhecimento da oferta do curso e matricularam-se através de informações

repassadas por amigos e/ ou parentes, 27% através da divulgação realizada no

interior da escola, 7% através de jornais da própria comunidade, 2% através de

informes nas rádios locais e 7% não informaram.

Acesso a Internet?; Casa; 37; 82%

Acesso a Internet?; Escola; 4; 9%

Acesso a Internet?; Trabalho; 1; 2%

Acesso a Internet?; Lan House; 1; 2%

Acesso a Internet?; N/I; 2; 5%

Gráfico 7- Alunos com acesso a internet

Casa

Escola

Trabalho

Lan House

N/I

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66

GRÁFICO 8: Forma de divulgação do curso

Quanto às atividades profissionais dos alunos do curso E.M.I. – Informática,

verificou-se através da pesquisa que 33% dos alunos da 4ª série, possuem vínculo

empregatício ao mesmo tempo em que freqüentam o curso E.M.I.- Informática, 31%

são estudantes e não desenvolvem outras atividades relacionadas a emprego, 20%

estudam e estão contratados como estagiários, 9% não informaram sua situação e

7% estudam e trabalham como autônomos. Seria de grande valia obter informações

quanto ao vínculo de trabalho destes estudantes após concluírem o curso.

Estes dados podem ser verificados no gráfico 9 , que ilustra a relação entre a

escola e o trabalho realizado pelos alunos fora dela, dados estes de grande valia

para verificar de que forma os conhecimentos propostos no curso estão ou não

sendo colocados em prática durante a realização do curso, inserindo os alunos no

mundo do trabalho, conforme sugere a proposta da SEED.

Como tomou conhecimento

do curso; Amigos/Parentes

; 26; 58%

Como tomou conhecimento

do curso; Escola; 12; 27%

Como tomou conhecimento

do curso; Tv/Rádio; 1; 2%

Como tomou conhecimento

do curso; Jornal/Revista; 3;

6%

Como tomou conhecimento

do curso; N/I; 3; 7%

Gráfico 8 - Forma de divulgação do curso

Amigos/Parentes

Escola

Tv/Rádio

Jornal/Revista

N/I

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67

GRÁFICO 9: Atividade profissional dos alunos

Embora a figura anterior nos aponte que uma boa parcela dos estudantes

concluintes do E.M.I. - Informática está inserida no mundo do trabalho, outra

informação ilustrada no gráfico 10, nos indica que 62% dos alunos não desenvolvem

suas atividades profissionais de acordo com a área de formação do curso, não

atuando na área de informática.

Este é um dado bastante significativo, pois nos remete a questionar sobre

quais motivos estão distanciando os alunos de atividades relacionadas ao seu curso

de formação? Se apenas 29% dos estudantes encontram-se em atividade

profissional relacionada a área de informática, que elementos os distanciam da

continuidade nesta área desta formação?

Atual Atividade Profissional; Estagiário; 9;

20%

Atual Atividade

Profissional; Efetivo; 15;

33%

Atual Atividade Profissional;

Autônomo; 3; 7%

Atual Atividade Profissional;

Desempregado; 14; 31%

Atual Atividade Profissional; N/I;

4; 9% Gráfico 9 - Atual atividade profissional dos alunos

Estagiário

Efetivo

Autônomo

Desempregado

N/I

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68

GRÁFICO 10: Alunos que atuam na área de formação

O gráfico 11 indica quais as pretensões dos alunos concluintes do E.M.I. –

Informática, referente à continuidade de sua vida escolar, apontando para um alto

índice de estudantes que pretendem mudar de área do conhecimento, totalizando

63%, os alunos que pretendem continuar seus estudos na área de informática,

correspondem a 33%, nenhum dos estudantes entrevistados não dará continuidade

aos estudos e 4% não informou sua opção.

Estes dados podem ser corroborados, através dos relatos dos alunos abaixo

descritos:

A41. Como nós fomos os primeiros do colégio a fazer o curso integrado,

acredito que faltou muita coisa para nós (principalmente no 1º e 2º anos).

Muita aprendizagem não nos foi dada e o interesse da turma diminuiu muito

aos poucos. Acredito que isso já está bem resolvido com os alunos hoje do

1º e 2º ano técnico, já que o terceiro também teve as mesmas dificuldades

que a gente. Minhas expectativas são que eu aprendi menos que o básico.

Terei que fazer faculdade mesmo para aprender direito as coisas.

A42. Com o andamento do curso, percebi que não era isso que eu queria.

Talvez tenha sido pela falta de estrutura do curso, que com o tempo me fez

Gráfico 10 - Os alunos atuam na área de formação ?

Sim

Não

N/I

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69

ver que isso é um ramo para muitos, mas não para mim. Quero usar meus

conhecimentos na área que eu quero seguir mas não para dar assistência

ou algo assim. Creio que essa é a realidade de muitos que ainda estão

freqüentando o curso. Falta de estrutura e de professores qualificados (que

foram os principais problemas durante esses 4 anos), desmotivaram

bastante o meu (e da turma) interesse pelo curso. Muitas vezes pensei em

deixar o curo, mas achei melhor ficar, pois largar pela metade não ia

adiantar. Então optei por me formar.

Os relatos dos alunos 41 e 42 retratam uma das dificuldades encontradas no

decorrer da implantação do curso. Devido à falta de professores para atuarem no

E.M.I., os conteúdos propostos para este curso deixaram de ser abordados

conforme o esperado pelos alunos, o que segundo o relato acima, em tese justifica o

afastamento dos alunos e certa desmotivação em relação ao curso, contribuindo

para que ocorressem desistências.

A possibilidade de cursar o segundo ano na forma de Ensino Médio Regular,

concluir esta etapa de formação em três anos e não em quatro, como no E.M.I.,

aliada ao descontentamento dos alunos em relação ao curso, foram elementos

discutidos com os pais e professores, visto que o índice de solicitação de mudança

de curso era alto.

Desta forma, não basta haver uma proposta fundamentada em uma

concepção progressista, voltada para a formação do sujeito emancipado, autônomo

e consciente. É necessário que haja investimento, estrutura e vontade política para

que tal proposta se efetive. Faz-se necessário observar e analisar criteriosamente as

condições reais das escolas e dos sujeitos envolvidos neste processo, para que

ações efetivas possam posteriormente ser desenvolvidas.

Outro elemento preocupante refere-se à descontinuidade dos estudos na área

de Informática, conforme demonstra o gráfico abaixo:

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70

GRÁFICO 11: Pretensão dos alunos ao concluírem o curso

Sobre os resultados apontados na figura acima, cabe destacar que segundo a

SEED-PR, houve um alto investimento em recursos materiais, capacitação dos

gestores e adequação de várias escolas para que pudessem dispor de laboratórios

específicos para os cursos ofertados, além da contratação de profissionais, o que

não trouxe necessariamente um avanço significativo na formação dos estudantes,

visto o desejo de 63% dos mesmos seja a mudança de área do conhecimento, ou

seja, é um movimento contraditório, que nos faz questionar sobre os objetivos dos

cursos ofertados na Rede Pública Estadual do Paraná.

Este é um dado importante, que retrata o impacto da formação recebida pelos

alunos durante a sua permanência no E.M.I., apontando para alguns elementos que

podem, de alguma forma, nos auxiliar a compreender os motivos que levam 63%

deles a procuram outra área de formação, segundo os relatos abaixo:

A44.Ao concluir o curso pretendo cursar faculdade de psicologia e também

utilizar meus conhecimentos de informática para um bom desempenho

curricular.

Pretensão ao concluir o curso;

Continuar na área; 15; 33%

Pretensão ao concluir o

curso; Mudar de área; 28;

62%

Pretensão ao concluir o curso;

Não continuidade nos estudos; 0; 0%

Pretensão ao concluir o curso;

N/I; 2; 5%

Gráfico 11 - Pretensão dos alunos ao concluirem o curso

Continuar na área

Mudar de área

Não continuidade nos estudos

N/I

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71

A45. Não penso em continuar na área de informática, mas penso em fazer,

mais tarde, outro curso especializado em notebook e monitores, mas só por

curiosidade. Gosto de saber para informação própria, caso eu precise, não

parar de trabalhar e seguir uma carreira.

A46. Ao concluir o curso não pretendo seguir no ramo de informática.

Pretendo cursar uma faculdade de design, e me esforçar para ser uma

ótima profissional na área, e trabalhar neste ramo, tendo em vista também

que no futuro quero montar uma empresa de marketing.

Como já mencionado nos relatos dos alunos, as questões referentes aos

conteúdos ou a “ausência dos conteúdos” que deveriam ter sido abordados no

decorrer do curso, levaram a um descontentamento em relação à formação

recebida.

Segundo Kuenzer (1992):

esta ambiguidade da função que é atribuída à escola torna-se ainda mais crucial, ao constatar-se que a maioria dos trabalhadores não tem tido acesso ao saber sistematizado de qualquer espécie: quer o saber geral, que lhes permitirá conhecer-se como cidadãos, quer ao saber sobre o trabalho, que lhes permitirá reconhecer-se como profissionais. Neste sentido o “ser trabalhador” reflete exatamente sua situação de expropriado, que nada mais tem do que sua própria força de trabalho, a qual deverá vender para assegurar a sobrevivência. Ou seja, reflete sua situação de objeto, e não de sujeito histórico, produtor do mundo e do saber. (KUENZER,1992, p.123)

Estes argumentos estão presentes no gráfico 12, que ilustra se os

conhecimentos adquiridos no decorrer dos quatro (4) anos de curso são suficientes

para que os estudantes possam desenvolver suas atividades profissionais, ou se

precisa aprofundá-los para resolver as situações do cotidiano.

Do total de alunos entrevistados, 49% afirmam que os conhecimentos

adquiridos são insuficientes, 24% pontuam que há necessidade de aprofundamento,

18 % evidenciam que os conhecimentos obtidos são suficientes e 9% dos

estudantes não informaram suas opiniões.

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GRÁFICO 12: Conhecimentos adquiridos no curso

Segundo o documento orientador da SEED (2006, p. 34), a integração curricular

é um dos elementos presentes na proposta do E.M.I., e de acordo com a

mantenedora é preciso construir uma proposta que contemple a:

articulação entre conhecimento básico, conhecimento específico e conhecimento das formas de gestão e organização do trabalho, contemplando as conteúdos científicos, tecnológicos, sócio- históricos e das linguagens

Para a melhor compreensão das relações existentes entre a proposta de

integração curricular da mantenedora e o que de fato vem acontecendo nas

instituições que ofertam o E.M.I. – Informática, perguntou-se aos alunos se os

mesmos percebiam alguma relação entre as disciplinas ministradas no curso. Para

exemplificar os dados levantados, seguem os relatos:

A46. Bom, as matérias de informática têm relação entre si, no final elas

sempre se interligam, e acredito que todas as matérias são importantes

para este ensino, só acho que deveriam reforçar o inglês para as turmas

técnicas, pois teoricamente a base da informática é o inglês, e sabendo o

inglês facilita muito o uso do computador.

Os conhecimentos adquiridos no

curso são suficientes para desenvolver as

atividades profissionais ,ou

deseja aprofundá-los?; …

Os conhecimentos adquiridos no

curso são suficientes para desenvolver as

atividades profissionais ,ou

deseja aprofundá-los?; …

Os conhecimentos adquiridos no

curso são suficientes para desenvolver as

atividades profissionais ,ou

deseja aprofundá-los?; …

Os conhecimentos adquiridos no

curso são suficientes para desenvolver as

atividades profissionais ,ou

deseja aprofundá-los?; …

Gráfico 12 - Os conhecimentos adquiridos no curso foram suficientes ?

Sim

Não

Aprofundar

N/I

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73

Pode-se verificar contradições existentes entre o relato do aluno 46 e a

proposta da mantenedora, onde a integração é compreendida e realizada como

mera “utilização” de um conhecimento para alicerçar outra área do conhecimento.

Para RAMOS (2005, p. 121):

No currículo integrado nenhum conhecimento é só geral, posto que estrutura objetivos de produção, nem somente específico, pois nenhum conceito apropriado produtivamente pode ser formulado ou compreendido desarticuladamente da ciência básica. RAMOS (2005, p. 121)

Outros relatos apontam para uma integração que remete a relacionar

conteúdos de disciplinas afins, conforme os seguintes registros:

A14. Sim, temos disciplinas técnicas como por exemplo, Análise, Banco de

Dados e entre outros

AA32. Sim, é Linguagem de Programação, Análise de Projetos, Banco de

Dados, Matemática, entre outras.

A27. Além das disciplinas de informática que possuem uma ligação direta,

não há relação entre as disciplinas.

A34. Sim. Redes (capacidade de interligações entre várias máquinas).

Linguagem (capacidade de interagir com a máquina em várias formas

distintas de falas). Lógica (várias formas de formular programas no uso de

algorítmo). Programação Web (maneiras de confeccionar sites, designers e

programas).

A45. Poucas, as matérias do curso técnico tem muita relação entre elas, por

exemplo, Linguagem de Programação, Web e Banco de Dados. Mas as

outras matérias não vejo relação alguma.

A36. Sim. Quando fazemos apresentações de trabalho de slides entre

outros em outras disciplinas.

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74

A42. Só a matéria de inglês, onde a professora fazia trabalhos voltados para

o técnico.

Considerar que a proposta de integração que está sendo efetivada nas

escolas vai ao encontro de uma concepção de formação politécnica é uma

afirmação contraditória, visto que através dos relatos, a integração só ocorre pelo

entendimento de relação entre disciplinas, ou seja, muitas vezes “criam-se”

situações onde conteúdos e áreas do conhecimento possam dialogar entre si,

criando uma falsa idéia de integração, ou até mesmo, confundindo-a com ações

interdisciplinares.

Trabalhar de forma interdisciplinar não significa que esteja ocorrendo no

interior das salas de aula, e na formação dos sujeitos, uma ação educativa

integrada. Neste contexto, a idéia de politecnia não está sendo efetivada.

Segundo SAVIANI, é importante considerar que é necessário ultrapassar

certas concepções que, embora estejam na moda e pareçam muito progressistas,

precisam ser submetidas à crítica. Uma delas é, por exemplo, a interdisciplinaridade.

(SAVIANI, 2003, p.142),

Em certos momentos, acreditava-se que, pela via da interdisciplinaridade se iria superar a fragmentação do conhecimento, mas é preciso ter presente que a noção de interdisciplinaridade pode conter o risco apenas de uma justaposição. A própria noção, de certa forma, envolve o pressuposto da fragmentação. Com efeito, parte-se do entendimento que os conhecimentos são fragmentados e cada um tem uma especialidade. Se reúno diferentes profissionais, supondo com isso superar o problema, já estou pressupondo uma perspectiva parcial do conhecimento, contendo a idéia do especialista e do não-especialista. (SAVIANI, 2003,P.142)

Ao abordar as questões referentes a interdisciplinaridade, pode-se destacar,

os seguintes relatos:

A40. Sim, das matérias de Banco de Dados com Redes, e devido nosso

curso ser de informática, os professores tentam nos ensinar juntando o

ensino médio normal com o técnico em informática. (grifo meu)

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A17. Sim, sempre comentam sobre Informática.

A33. Matemática relacionada à Linguagem de Programação.

A35. Sim, Matemática com Linguagem de Programação, Banco de Dados

com Análise de Sistemas.

A41. Entre as de informática claro que sim, mas junto com as matérias

normais não vejo muita integração não. Apesar de que já fizeram trabalhos

com as matérias juntas.

Estes relatos assumem sua relevância, quando se torna concreta a realidade

dos processos e encaminhamentos metodológicos realizados no decorrer do curso.

Novamente, volta-se a questionar: qual é a finalidade desta proposta de

ensino? Para qual sociedade? Que alunos queremos formar?

Através dos dados relatados, e com base nas discussões realizadas por

KUENZER (1992, P.137), pode-se afirmar que ações realizadas:

-não superaram a dualidade estrutural; -não alteraram o princípio educativo, no que diz respeito ao conteúdo, e esta transformação é fundamental; -não alteraram as condições de funcionamento da escola as condições de qualificação do professor; -não alteraram a cisão entre teoria e prática; -não alteraram a forma de gestão das escolas, que ainda não conseguem organizar-se tendo em vista um projeto coletivo.

Uma proposta curricular que apresente áreas de conteúdo politécnico,

identificadas a partir dos processos de trabalho, deveria ser traduzida segundo

KUENZER (1992, p. 140) em uma proposta curricular que viabilize:

- a compreensão das relações sociais que dado processo de trabalho gera, em articulação com as relações sociais mais amplas, através de conteúdos histórico- críticos não tomados em si, mas à luz se processo de trabalho em questão; - a aquisição dos princípios científicos subjacentes a cada forma tecnológica específica do processo de trabalho em discussão; - a aquisição dos códigos e das formas de comunicação específicas de cada esfera produtiva;

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76

- a discussão das formas de participação na vida social e política, a partir da participação no processo produtivo.

5.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS SOBRE OS DOCENTES

O protocolo de entrevista destinado aos professores que atuam no E.M.I. –

Informática, lecionando na 4ª série do curso, nos aponta inúmeras informações a

respeito do perfil dos profissionais e principalmente sobre a prática pedagógica

desenvolvida por eles ao ministrarem suas aulas no Ensino Médio Integrado.

No gráfico 13, os professores participantes da pesquisa correspondem ao

seguinte perfil: 40% dos entrevistados são mulheres, enquanto que a representação

masculina abrange 60% da amostra.

GRÁFICO 13: Sexo- professores

Quanto a faixa etária dos professores que participaram da entrevista, destaca-

se que 25% possuem entre 31 e 35 anos, 25% possuem entre 36 e 40 anos, 24%

Entrevistados; Fem.; 8; 40%

Entrevistados; Masc.; 12; 60%

Gráfico 13 - Sexo - docentes

Fem.

Masc.

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77

possuem entre 26 e 30 anos, 13% possuem entre 20 e 25 anos e 13% possuem

mais de 40 anos, conforme o gráfico 14.

GRÁFICO 14: Idade - professores

Em relação ao tempo de exercício profissional na carreira do magistério, o

gráfico 15 apresenta dados significativos quanto a experiência na docência

agrupando os professores de acordo com a disciplinas ministradas pelos mesmos.

Através da ilustração torna-se evidente a pouca experiência em sala de aula no

grupo de professores que ministram aulas nas disciplinas técnicas, e em

contrapartida, os professores da Base Nacional Comum apresentam, em alguns

casos, mais de 20 anos de experiência no magistério.

Série1; 20 a 25; 1; 12%

Série1; 26 a 30; 2; 25%

Série1; 31 a 35; 2; 25%

Série1; 36 a 40 ; 2; 25%

Série1; >40; 1;

13%

Gráfico 14 - Idade - docentes

20 a 25

26 a 30

31 a 35

36 a 40

>40

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78

GRÁFICO 15: Tempo de exercício profissional

Quanto ao tempo de exercício na instituição pesquisada, os dados contidos

no gráfico 16 expressam que, do total de vinte (20) professores que participaram da

pesquisa, cinco (5) professores das disciplinas técnicas estão trabalhando na escola

a menos de um ano, o que influencia diretamente na prática docente, uma vez que

não participaram do processo de implantação da proposta e quatro professores

estão na escola entre 2 e 5 anos, isto significa que apenas estes docentes

apresentam alguma experiência no E.M.I. – Informática.

Dos docentes das disciplinas da Base Nacional Comum, a pesquisa aponta

que três estão na escola há apenas um ano, três estão na escola entre 2 e 5 anos,

um professor está na escola no período entre 6 e 10 anos, dois estão na mesma

instituição entre 11 e 15 anos, um docente está na escola entre 16 e 20 anos e um

docente está na mesma instituição há mais de 20 anos.

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GRÁFICO 16: Tempo de exercício na instituição pesquisada

Embora os professores das disciplinas da Base Nacional Comum apresentem

maior tempo de serviço na escola pesquisada, o gráfico 17 nos aponta que os

mesmos apresentam menos tempo de serviço no E.M.I. – Informática.

O dado mais alarmante para esta pesquisa aponta para o fato de que apenas

um docente das disciplinas Técnicas e um da Base Nacional Comum, lecionaram

durante os quatro anos do curso, participando ativamente do processo de

implantação da proposta e acompanhando o desenvolvimento dos alunos no

decorrer do curso até a sua conclusão.

Este dado é bastante relevante, uma vez que para atuar no E.M.I. –

Informática, os professores receberam capacitação, visto que a concepção de

ensino adotada para este curso privilegia a integração entre os conhecimentos das

diferentes áreas, sendo necessário envolvimento e estudo constante por parte dos

professores envolvidos.

Para estes docentes, questionou-se: Você conhece a proposta da SEED para

o Ensino Médio Integrado a Educação Profissional? De que forma tomou

conhecimento?

P2 - Não conheço totalmente.

P7 - Através de reuniões com a coordenação do curso.

Pro

fess

ore

s Gráfico 16 - Tempo de exercício na instituição (em

anos)

Base NacionalComumTécnicas

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80

P8 - Através da Equipe Pedagógica da escola.

P9 - Através de capacitações continuadas e reuniões pedagógicas.

P10 - Através da coordenação que procura fazer o corpo a corpo

anualmente.

P11 - Através da coordenação do curso.

P12 - Durante a graduação tive acesso ao mesmo, na disciplina de políticas

públicas.

P13 - Através da equipe pedagógica.

P14 - Quando participei da reestruturação curricular.

P15 - Reuniões e palestras.

P17 - Site da SEED.

P19 - Através da equipe pedagógica e coordenação do curso.

Como se pode verificar, os docentes recebem orientações advindas de

diferentes fontes, levando em consideração que a formação dos mesmos deveria

acontecer em serviço, como explicar o fato de que as equipes pedagógicas não

recebem formação específica para orientarem este grupo?

Sabe-se da existência da função de coordenador de curso, que é assumida

por um profissional que tenha formação específica na área do curso ofertado e que

supostamente deveria realizar um trabalho paralelo a equipe pedagógica, orientando

alunos e professores quanto aos procedimentos e encaminhamentos pedagógicos.

Assim, não basta capacitar apenas este profissional, é preciso avançar e ofertar

formação contínua, em serviço, para todos os envolvidos neste processo,

independente de sua função e tempo de serviço conforme gráfico abaixo:

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GRÁFICO 17: Tempo de exercício no E.M.I. - Informática

O gráfico 18 aponta para a representação dos professores que desenvolvem

outras atividades profissionais paralelamente a atividade docente.

Dos nove professores das disciplinas técnicas, quatro deles lecionam e

realizam outra atividade profissional paralelamente.

Em relação aos professores das disciplinas da Base Nacional Comum, dois

desenvolvem outras atividades profissionais e nove dedicam-se exclusivamente a

atividade pedagógica.

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GRÁFICO 18: Atividade profissional

Quanto ao vínculo empregatício do professores entrevistados, o gráfico 19

aponta para dois grupos distintos: professores que fazem parte do Quadro Próprio

do Magistério (QPM), que foram contratados através de concurso público e

professores que fazem parte do Processo de Seleção Simplificado (PSS), que tem

contrato com a mantenedora durante o prazo de um ano.

Os resultados da pesquisa apontam para: 10 professores QPM, sendo sete

das disciplinas da Base Nacional Comum e três das disciplinas da Base Técnica; e

10 professores PSS, sendo seis das disciplinas da Base Técnica e quatro das

disciplinas da Base Nacional Comum.

Este dado evidencia a rotatividade dos profissionais da educação que atuam

no E.M.I. - Informática, o que acarreta mais uma vez em nova capacitação para

atuar no Ensino Integrado e a descontinuidade do trabalho já desenvolvido, já que

ao término do ano, 50% dos professores envolvidos, encontraram seus contratos

encerrados, e o trabalho desenvolvido pela escola novamente fragmentado.

Segue abaixo, relato dos professores a respeito da sua participação no

processo de implantação do curso elemento este, intimamente relacionado ao

processo de contratação dos professores e o tipo de vínculo destes com a

mantenedora:

P1 - O curso já existia quando comecei a lecionar no integrado.

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P2 - Eu na realidade não participei do processo de implantação do curso,

somente os professores técnicos é que se envolveram.

P3 - Iniciei no mesmo ano da implantação, porém não tive nenhum

envolvimento.

P4 - Não houve participação no processo.

P6 - Procuro inteirar-me das atividades propostas pela escola e aplicar de

maneira mais correta possível.

P7 - Não participei do processo de implantação, pois este é o segundo ano

que ministro aulas no curso de informática.

P8 - Ainda encontro dificuldades em me adaptar aos quatro anos do Ensino

Médio Integrado.

P10 - Não participei. A proposta recebida veio pronta.

P11 - Não participei na ocasião da implantação do curso.

P12 - O curso já estava implantado quando comecei a ministrar aulas.

P13 - Nenhum, pois eu não trabalhava no colégio quando o curso foi

implantado.

P14 - Participei apenas da reestruturação curricular.

P15 - Quanto ao processo de implantação, não estava atuando no

estabelecimento.

P18 - Eu estava quando foi implantado, no entanto ainda não estava

havendo a integração. No ano que foi feito os estudos para a integração eu

não estava ministrando aulas.

P19 - O curso estava em andamento quando comecei a lecionar no Colégio.

P20 - O professor encontra dificuldades em ministrar aulas no médio

integrado, devido à imaturidade dos adolescentes que ainda não estão

aptos ou maduros o suficiente para o mercado de trabalho.

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GRÁFICO 19: Tipo de vínculo com a SEED

Entretanto, apesar de todos os desafios e conquistas encontradas no decorrer

da implantação do curso, muitos esforços foram realizados no sentido de garantir

uma formação de qualidade para os alunos.

Tal afirmação está representada no gráfico 20, que aponta para a existência

da integração entre os conhecimentos na prática pedagógica dos docentes.

Dos 20 professores que participaram da pesquisa, 13 afirmam que promovem

a integração, dois não atuam de forma integrada e dois pontuam que às vezes

trabalham de forma integrada.

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GRÁFICO 20: Integração nas aulas

Para (MACHADO, 2008, p. 15),

Superar o histórico de fragmentação, improviso e insuficiência de formação pedagógica que caracteriza a prática de muitos docentes da educação profissional de hoje implica reconhecer que a docência é muito mais que mera transmissão de conhecimentos empíricos ou processo de ensino de conteúdos fragmentados e esvaziados teoricamente.

Os dados apresentados anteriormente, apontam para uma prática pedagógica

que valoriza a integração dos conhecimentos nas diversas áreas. Entretanto, para

que esta prática se efetive, é necessário que o docente desenvolva ações

diferenciadas em Plano de Trabalho Docente, considerando a especificidade do

Ensino Médio Integrado a Educação Profissional (E.M.I.) e Ensino Médio Regular

(E.M.R.). Segundo Lucília Machado:

As exigências com relação ao perfil dos docentes da educação profissional estão, hoje, mais elevadas. Não é mais suficiente o padrão do artesanato, quando o mestre da oficina-escola se apresentava como espelho que o aluno praticante deveria adotar como referência. Superado também está o padrão da escola-oficina, que impunha ao aluno a aplicação de séries metódicas de aprendizagem. Instrutores recrutados nas empresas, segundo o padrão de que para ensinar basta saber-fazer, apresentam grandes limitações não somente pedagógicas, mas também teóricas com relação às atividades que ensinam. (MACHADO, 2008, p. 15)

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Pontua ainda que:

É pressuposto básico que o docente da educação profissional seja, essencialmente, um sujeito da reflexão e da pesquisa, aberto ao trabalho coletivo e a ação crítica e cooperativa, comprometido com sua atualização permanente na área de formação específica e pedagógica, que tem plena compreensão do mundo do trabalho e das redes de relações que envolvem as modalidades, níveis e instâncias educacionais, conhecimento da sua profissão, de suas técnicas, bases tecnológicas e valores do trabalho, bem como dos limites e possibilidades do trabalho docente que realiza e precisa realizar. (MACHADO, 2008, p. 17)

Com a intenção de exemplificar de que forma a integração vem ocorrendo na

prática pedagógica do professor, questionou-se se os mesmos encontram

dificuldades para que a proposta seja efetivada no interior da escola.

Os relatos apontam que as principais dificuldades estão relacionadas aos

seguintes fatores:

P1 - Não conheço a proposta da SEED.

P7 - Falta de material didático diferenciado para o curso e capacitação de

professores.

P8 - Os alunos em sua maioria não possuem perfil para o curso técnico,

procurando-o por falta de vagas no regular.

P9 - Sugiro melhorias na estrutura física e computadores. A proposta

deveria ser apresentada e discutida com alunos a cada início de ano letivo

para que fique clara a proposta do integrado.

P11 - As dificuldades de compreensão dos propósitos e limites do curso por

parte dos docentes e alunos, estes muitas vezes frustrados, principalmente

nas suas expectativas.

P13 - Não é possível no meu entendimento, correlacionar algumas

disciplinas.

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P14 - Resistência a mudanças. Sugiro providenciar mais encontros com os

professores com o objetivo de “esclarecer” o técnico e mostrar os enlaces

entre as disciplinas técnicas e base comum.

P15 - Dificuldade de integração de alguns professores.

P18 - A abertura dos professores para trabalhar nesta modalidade de

ensino. Sugiro reuniões de planejamento, conhecimento da proposta e

capacitação.

P19 - Os problemas são estruturais; salas realmente adaptadas para as

aulas de informática e laboratórios com softwares e periféricos para que as

aulas aconteçam com tranqüilidade.

P20 - Falta de apoio tecnológico, softwares mais atualizados, ferramentas e

laboratórios.

Como reflexo da realidade acima evidenciada, o gráfico 21 aponta para um

grande número de docentes que utilizam o mesmo Plano de Trabalho Docente, para

cursos e alunos com características, encaminhamentos e especificidades distintas.

Dos 20 professores entrevistados, nove não lecionam no E.M.R., pois são

professores das disciplinas técnicas. Dos 11 professores da Base Nacional Comum,

seis utilizam o mesmo planejamento e cinco afirmaram utilizar planejamentos

específicos para cada forma de ensino

de

Pro

fess

ore

s

Gráfico 21 - Utiliza o mesmo planejamento para o E.M.I. e para o E.M.R.

Técnicas

BaseNacionalComum

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GRÁFICO 21: Planejamento do professor para E.M.I. - Informática

É importante destacar que para que haja um trabalho diferenciado e

específico para o E.M.I., se faz necessário que tanto a equipe pedagógica da escola

quanto os professores tenham conhecimento dos princípios e concepções que

norteiam sua prática investindo na valorização de sua formação, desenvolvimento de

sua formação, desenvolvimento profissional, condições e trabalho, salário e carreira,

que lhes permitam enfrentar a precarização e se desenvolverem com todo o

comprometimento necessário à educação de qualidade. (MACHADO, 2008, p. 16), e

esta é uma atribuição política.

O gráfico 22 aponta para dados referentes aos professores que afirmam ter

conhecimento da Proposta Pedagógica para o E.M.I. - Informática. Os resultados

obtidos são: oito professores que atuam nas disciplinas da Base Técnica afirmam

conhecer a proposta, sendo que apenas um ainda não havia tomado conhecimento

da mesma.

Dos 11 professores da Base Nacional Comum, cinco afirmam ter

conhecimento da proposta da SEED e seis afirmam desconhecer tal proposta, o que

reforça o uso inadequado do mesmo planejamento para finalidades distintas

conforme apontou o gráfico18.

GRÁFICO 22: Conhecimento da proposta da SEED para o E.M.I. - Informática

de

Pro

fess

ore

s

Gráfico 22 - Conhece a proposta da SEED para o E.M.I.?

Sim

Não

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Sendo assim, ao serem questionados sobre as dificuldades encontradas para

a efetivação da proposta para o E.M.I. - Informática no interior da escola, 55% dos

docentes afirmam não encontrar nenhuma dificuldade para realizar seu trabalho (de

acordo ou não com a proposta) e 45% afirma encontrar dificuldades, conforme

ilustra o gráfico 23 desta pesquisa.

GRÁFICO 23: Efetivação da proposta para o E.M.I.- Informática

Os gráficos acima citados apresentam um quadro bastante contraditório na

relação entre a formação docente e a prática pedagógica desenvolvida pelos

professores.

Estas contradições podem influenciar diretamente nos fatores que justificam

em parte, o índice de abandono do curso por parte dos alunos e na fragmentação do

trabalho a ser desenvolvido na escola, pois segundo os professores a proposta de

integração curricular do curso é desenvolvida mediante dificuldades estruturais,

conforme relatos a seguir:

P2 - A proposta do curso integrado é aumentar o conhecimento do aluno na

área de informática, dando a ele um suporte básico para trabalhar em

qualquer empresa.

Todos; Sim; 9; 45%

Todos; Não; 11; 55%

Gráfico 23 - Encontra dificuldade para efetivar a proposta?

Sim

Não

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P3 - A distribuição das disciplinas do currículo comum não está adequada a

cada série, prejudicando na evolução da parte diversificada.

P5 - A distribuição das disciplinas do currículo não está adequada nas

séries, vindo a prejudicar os educandos no decorrer do curso.

P6 - Penso que seria de melhor proveito, se os dois primeiros anos, a base

curricular fosse comum e somente no terceiro ano o aluno optasse pelo

técnico ou não.

P7 - A proposta curricular é boa, mas necessita de mais recursos para que

o curso seja mais procurado.

P17 - Válida, porém é necessário maior interesse por parte dos alunos.

P19 - Analisando do lado documental a proposta é maravilhosa e tudo

funcionaria sem problema nenhum, se houvesse estrutura.

P20 - As disciplinas técnicas devem ser aplicadas nos terceiros e quartos

anos.

Partindo da análise realizada pelos professores quanto à estrutura disponível

para a implantação e desenvolvimento do curso E.M.I.- Informática, é possível

refletir sobre a idéia da qualidade do curso ofertado.

Pensar em qualidade neste âmbito é pensar em uma concepção que permita

ao aluno, enquanto sujeito histórico, uma formação que constitua a sua condição

social, econômica e material.

Assim, não há como pensar em uma formação de qualidade para o jovem que

cursa a Educação Profissional, quando ainda percebe-se de acordo com os

professores os seguintes elementos:

- forte discurso relativo ao mercado de trabalho e demanda de formação de

mão-de-obra, apoiando o conceito de mais-valia ainda presente na prática docente;

Segundo MOURA (2008):

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A formação e a capacitação devem, portanto, ir ale da aquisição de técnicas didáticas de transmissão de conteúdos para professores e de técnicas de gestão para os dirigentes. Evidentemente, esses aspectos continuarão sendo importantes, mas o objetivo macro é mais ambicioso e deve privilegiar a formação no âmbito das políticas públicas do país, principalmente as educacionais, numa perspectiva de superação do modelo socioeconômico vigente, de modo que se deve priorizar mais o ser humano do que, simplesmente, as relações de mercado e o fortalecimento da economia. MOURA (2008, p.30)

- Falta de recursos materiais nas escolas – há laboratórios e materiais

disponíveis em quantidade suficiente para o atendimento dos alunos? E as

condições de trabalho do professor? São condições apropriadas para o estudo,

pesquisa e desenvolvimento de práticas diversificadas? São favoráveis para o

desenvolvimento de uma proposta que exige do docente a formação integrada entre

ciência e trabalho?

- Contradições entre as concepções existentes na Proposta para o E.M.I. e a

realidade dos cursos ofertados, o que leva-nos a pontuar que a discussão das

diretrizes são fundamentais para o desenvolvimento de uma prática pedagógica

emancipadora, entretanto deve-se anteriormente discutir e reavaliar as condições

concretas dos elementos envolvidos no processo.

Assim, há que se discutir com os docentes sobre os desafios encontrados no

Ensino Médio Integrado, pois não há como efetivar uma proposta de integração

quando a própria ação do professor e da organização do trabalho na escola está

cindida.

Para exemplificar um dos desafios apontados, questionou-se aos docentes

quanto a sua metodologia de trabalho, evidenciando a proposta de integração. Os

professores pontuaram que utilizam os seguintes encaminhamentos;

P2 - Estou trabalhando o ensino do xadrez on–line, usando dessa nova

tecnologia para uma melhora do ensino aprendizagem.

P4 - Através de interpretação de textos sendo ou não relacionados ao curso

técnico, faz com que o aluno desenvolva habilidade de questionamento e

entendimento.

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P7 - Softwares especializados e sites de busca contribuem para enriquecer

as aulas, possibilitando pesquisas escolares e aumentando o conhecimento

dos alunos.

P8 - Que os alunos apresentem trabalhos de pesquisa utilizando-se das

ferramentas de informática.

P12 - Utilizar temas do Ensino Médio Regular na elaboração de programas

é uma alternativa.

P13 - As únicas matérias que possibilitam essa integração são matemática,

inglês e física.

P14 - Sempre procuro desenvolver algum trabalho com outra disciplina, algo

que seja visto em comum, ou que tenha relação com a outra disciplina.

P16 - Durante as aulas colocando algumas informações que tenha um

pouco a ver com o conteúdo, mas que não tenha informação na disciplina.

P18 - Sempre procuro estar em contato com os professores para que

realmente possamos fazer um trabalho de integração.

P19 - Na medida do possível vou adaptando com vídeos. Agora procuro

utilizar a internet em algumas turmas.

P20 - Busco trazer exemplos das aplicações práticas da informática nas

empresas.

Através destes exemplos, torna-se clara a necessidade de que os

professores, equipes pedagógicas e diretivas compreendam a proposta para o E.M.I.

e recebam orientações e formação para atuar neste curso. Estes são elementos

fundamentais para uma prática pedagógica e social efetiva.

Caso contrário, como podem os professores elaborar Planos de Trabalho

diferenciados se não conhecem a proposta? Como podem não encontrar

dificuldades para atuar neste curso ou até mesmo atuarem de forma a integrar os

conhecimentos das diversas áreas, se não receberam orientação? Como as equipes

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pedagógicas estão sendo capacitadas para orientar os professores se não passaram

por capacitação?

Estes questionamentos nos remetem a refletir sobre o quadro atual dos

cursos de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional, que assumem uma

função de suma relevância social e que vem sendo fragmentado muitas vezes pela

falta de capacitação dos elementos que deles fazem parte.

Estes dados podem ser visualizados no gráfico 24 que aponta que 60% dos

professores entrevistados foram orientados para atuar no E.M.I. - Informática, e que

40% não receberam orientação. Como esperar a efetividade de uma proposta de

integração apesar destes índices?

Gráfico 24: Orientação sobre a proposta do E.M.I. - Informática

Segundo os professores, o contato com a Proposta para o E.M.I.-Informática

ocorreu das seguintes formas:

P2 - Não tive nenhum tipo de orientação.

P6 - Tomei alguns conhecimentos através do curso de formação

pedagógica.

Todos; Sim; 12; 60%

Todos; Não; 8; 40%

Gráfico 24 - Foi orientado para atuar no E.M.I.?

Sim

Não

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P11 - Sistematicamente a coordenação e a orientação alerta para

eventualmente priorizar conteúdos afins ao mundo do trabalho,

considerando as prioridades imediatas desses alunos.

P12 - Na licenciatura em Computação o foco é a Educação Profissional e

com a carga horária pedagógica aprende-se como relacionar com outras

áreas.

P13 - Pela coordenação do curso e pedagogas.

P17 - Recebi poucas informações.

P18 - No começo não fui, mas agora estou sendo orientado.

De acordo com MACHADO (2008), a carência de pessoal docente qualificado

tem se constituído num dos pontos nevrálgicos mais importantes que estrangulam a

expansão da educação profissional no país. (MACHADO, 2008, p. 14)

Para refletir sobre a realidade encontrada durante a pesquisa, é preciso

segundo MOURA (2008), discutir uma proposta que busque, na sua concretude,

coerência com uma perspectiva de desenvolvimento socioeconômico voltado para a

construção de uma sociedade justa, na expectativa de que essa sociedade vá sendo

construída gradativamente e que a educação contribua para isso. (MOURA, 2008, p.

27), evidenciando ainda que:

o mundo do trabalho demanda por indivíduos autônomos que possam atuar em um ambiente de geração do conhecimento e, também, de transferência a outros contextos em constante transformação. Entretanto, é necessário que esses profissionais ultrapassem esses limites e, ao alcançarem uma verdadeira autonomia, possam atuar na perspectiva da transformação social orientada ao atendimento dos interesses e necessidades das classes trabalhadoras. (MOURA, 2008, p. 28)

Assim, os desafios dos educadores ao ministrar suas aulas no E.M.I., estão

voltados para uma metodologia que reflita a concepção de sujeito, de sociedade e

por sua vez de método, que estão presentes diretamente nas ações educativas

diárias.

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Desta forma, percebe-se que há professores que buscam desenvolver

práticas integradas pontuando que:

P2 - Vejo que a maioria dos professores tem dificuldade de realizar essa

integração.

P6 - Os professores deveriam estar melhor treinados para atuar com

exclusividade nestes cursos.

P7 - Fazendo um bom planejamento entre todos os professores do curso,

todos seguindo o mesmo planejamento, é possível.

P8 - Percebo que se o perfil dos alunos contribuísse, seria bem mais fácil.

Porém a falta de vagas no Ensino Regular faz com que o curso técnico se

inche e falte qualidade por falta do perfil dos educandos.

P9 - As principais dificuldades estão relacionadas a receptividade dos

alunos nas disciplinas não técnicas, pois para a maioria dos alunos esta

disciplinas não são importantes no curso.

P11 - Como um desafio a ser conquistado com o tempo e com a prática.

P13 - É impossível integrar algumas disciplinas.

P16 - Acho que a integração consegue ser feita. O problema maior é o

tempo para ter a conversa entre professores para montagem de

conhecimentos das duas bases e criação de materiais. Mas pensando bem,

existe um desafio devido à falta de conhecimento de base técnica para

alguns professores da outra base, que deveriam ter uma especialização.

P18 - É um desafio muito grande porque muitos profissionais não aceitam

essa integração. Pensam que tem que fazer a parte dele, seja técnico ou da

base comum. Não aceitam o trabalho em conjunto.

P19 - Não vejo dificuldades, pois trabalhando normas nos projetos de

português ou filosofia, por exemplo, fica mais fácil. O duro é quando

professores se negam a utilizar tecnologia. Assim os alunos também farão

barreiras para o desenvolvimento dos trabalhos com qualidade.

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Cabe diante dos relatos acima narrados, evidenciar a necessidade de buscar

soluções efetivas para a formação dos docentes, o que segundo MACHADO (2008),

destaca como sendo:

a resolução deste gargalo é condição fundamental de superação da estrutura fragmentada que ainda caracteriza a educação profissional no Brasil... isso só será possível mediante o desenvolvimento de concepção consistente e política nacional ampla e contínua de formação profissional de docentes para esta área. (MACHADO, 2008, p. 14.

Para que tal fato se concretize, faz-se necessária, segundo MACHADO

(2008), uma política:

definida para a formação de professores que atenda a tais necessidades será certamente um grande estímulo para a superação da atual debilidade teórica e prática deste campo educacional com relação aos aspectos pedagógicos e didáticos. (MACHADO, 2008, p. 15)

E esta é uma política que deve se dar através da luta da sociedade, buscando

políticas educacionais que visem a oferta de uma formação de qualidade para os

que vivem do trabalho. Políticas que traduzam as necessidades da classe

trabalhadora e que lhes assegurem acesso ao conhecimento e ao mundo do

trabalho. De acordo com MOURA (2008)

esse quadro não nos dá o direito, enquanto cidadãos e profissionais, de esperar pela consolidação da nova perspectiva defendida neste contexto e, somente a partir dela, materializar as novas concepções. Cabe-nos o imenso desafio de construir esse novo caminho nas brechas que cavamos no tecido social, político e econômico vigente. (MOURA, 2008, p. 27)

Para que as mudanças possam ocorrer, faz-se necessária uma reflexão sobre

a realidade apresentada, para que posteriormente, seja possível apresentar dados

referentes ao Ensino Médio Integrado que se diferenciem dos apontados nesta

pesquisa.

Estes dados tornam-se ainda mais significativos, quando de acordo com os

professores apresenta-se uma breve avaliação da formação obtida pelos alunos

concluintes do curso E.M.I.-Informática, sobre o qual os docentes são questionados

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sobre o fato dos alunos formados em 2008, terem recebido uma formação integral e

qualificada para atuar no mundo do trabalho.

Segundo os docentes:

P2 - Acredito que não. Há muito pouco investimento e pouca estrutura

nesses cursos.

P6 - Não, acho muito frágil as experiências em sala de aula. Deveríamos ter

mais concentração em experiências práticas, bem como estágios e aulas de

campo, envolvendo os alunos com mais afinco.

P7 - Não porque o curso precisa ser melhorado, com material didático e

professores capacitados.

P8 - Por incrível que pareça, na área técnica a maioria tem boa formação,

mas na parte integral, com certeza não. (grifo meu)

P11 - Considerando que é um curso em implantação e a há dificuldade de

estrutura técnica, acredito que o curso, ao menos parcialmente cumpriu seu

objetivo, principalmente para os que já atuam nesta área.

P14 - Não completamente. São alunos que não receberam toda qualificação

técnica, seja por falta de prática, laboratório, seja por falta de “experiência”

no curso (os professores não estavam preparados para atuarem de forma

integrada) e uma escola ainda não integrada no conceito.

P16 - Não, a dificuldade não está nem tanto em relação ao ensino, mas no

interesse dos alunos. Por mais que os professores façam de tudo para eles,

o retorno que dão é pouco. De todos os alunos, pouco se salva. Também,

outro fator são empregos em outra área que não seja informática.

P18 - Acredito que não, pois é a primeira turma que está se formando. Além

disso, só a partir do ano passado os professores tiveram contato com a

proposta de integração.

Com base nestes relatos, pode-se afirmar que a qualidade do curso ofertado

no período desta pesquisa foi prejudicada mediante os elementos trazidos pelos

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docentes e alunos. E os resultados estão acima apontados, sugerindo investimento

nas políticas educacionais.

De acordo com MOURA (2008), “a qualidade política também se preocupa

com o resultado, mas prioriza o processo desenvolvido e sua qualidade educativa,

sua capacidade de contribuir para a conscientização e a cidadania plena”.

E este é sem dúvida, o maior desafio para a construção de uma prática

pedagógica de qualidade no Ensino Médio Integrado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da realidade existente e exposta nesta pesquisa, não há como negar

que um ideal de educação, que seja capaz de desenvolver os princípios da

formação integrada ainda encontra-se distante do concreto real.

Entretanto, é importante pontuar que estamos inseridos em um processo

histórico de travessia entre uma concepção de currículo voltada para atender às

demandas imediatas do mercado e uma tentativa de construção de uma proposta

curricular que se fundamente nos princípios de uma unitariedade possível na

formação dos jovens que freqüentam a escola pública atualmente.

Para tal reflexão, a análise que empreendemos neste trabalho foi

fundamental, pois refere-se a questões pertinentes ao processo de implantação dos

primeiros cursos de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional, que

apresenta uma proposta de ensino que em sua forma:

(...) de forma articulada e integrada a uma formação científico- tecnológica e ao conhecimento histórico-social permitam as jovem a compreensão dos fundamentos teóricos, sociais, culturais e políticos do atual sistema produtivo (FRIGOTTO 2005).

Destaca-se que, embora o Decreto nº 2.208/1997 tenha sido revogado,

as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio e para Educação Profissional,

aprovadas pelo CNE respectivamente em 1998 e 2000, continuam válidas,

portanto a integração proposta pelo Decreto nº 5.154/2004 apresenta elementos

presentes na lógica das competências e da ideologia da empregabilidade que

impregnam a educação brasileira desde 1990, conforme alguns relatos descritos no

decorrer da pesquisa.

Entretanto, conforme esclarece RAMOS (2005),

No currículo que integra formação geral, técnica e política, o estatuto de conhecimento geral de um conceito está no seu enraizamento nas ciências como “leis gerais” que explicam fenômenos. Um conceito específico, por sua vez, configura-se pela apropriação de um conceito geral com finalidades restritas a objetos, problemas ou situações de interesse produtivo. A tecnologia, nesses termos, pode ser compreendida como a ciência apropriada com fins produtivos. Em razão disto, no

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currículo integrado nenhum conhecimento é só geral, posto que estrutura objetivos de produção, nem somente específico, pois nenhum conceito apropriado produtivamente pode ser formulado ou compreendido desarticuladamente da ciência básica. (2005, p. 120-121).

Assim, se faz necessário conhecer e analisar a realidade dos cursos

ofertados e as experiências de integração entre o ensino médio e a educação

profissional , pois elas podem dar continuidade à dualidade: formação

propedêutica/preparação profissional, apresentando mecanismos disfarçados de

integração, apenas para cumprir os dispositivos legais.

Ou ainda, utilizando se dos discursos e propostas favoráveis à formação

integral do homem, fortalecer a perspectiva do capital, no sentido de formar o

trabalhador para adequar-se às novas exigências impostas pelas empresas, às

imprevisibilidades do mercado ou para criar sua própria estratégia de emprego.

Desse modo, apontamos em conformidade com Kuenzer que o eixo do

currículo deverá ser o trabalho “compreendido como práxis humana e como

práxis produtiva, a partir do que não há dissociação entre educação geral e

formação para o trabalho” (2002 b, p. 50).

Acredita-se que toda educação é educação para o trabalho, porém não se

pode acreditar que todo conteúdo é formação para o trabalho, assim como não se

pode considerar que a formação profissional deixe de considerar as diversas

práticas sociais e produtivas e as características específicas dos jovens e das

diferentes regiões geográficas do país.

Se tomo o trabalho como a referência, e, portanto, a questão é entender como o trabalho está organizado hoje, a intervenção da história, da geografia, dos diferentes elementos considerados necessários, teria que se dar como aprofundamento da compreensão do objeto, ou seja, como se constitui o trabalho na sociedade moderna, quais são suas características e por que ele assume estas características e não outras. (SAVIANI, 2003, P.143)

Isto deve articular a consciência de que temos um logo caminho a percorrer,

no sentido de que as camadas populares tenham acesso aos instrumentos

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fundamentais do conhecimento historicamente produzido e, ao mesmo tempo,

tenham assegurada a habilitação profissional. Segundo NOSELLA (2007)

a sociedade atual, agonizante, solicita que os educadores ofereçam para todos os jovens uma escola que forme homens para o exercício pleno de sua interação coma natureza e com a sociedade....não é fácil determinar os conteúdos escolares que o mundo atual exige do cidadão moderno. Certamente todo cidadão precisa comunicar-se com propriedade, produzir algo útil para si e para os outros, e usufruir dos prazeres simples e elevados que a cultura e o planeta dispõem. (NOSELLA, 2007, p.34)

Para tanto, devemos ter otimismo para lutar pela efetivação de uma

escola unitária, politécnica e tecnológica e por uma sociedade não mais marcada

pela divisão social do trabalho e pelos valores do mercado, na qual o trabalho

seja visto como criador de valores de uso e como intercâmbio entre o homem e

a natureza e, portanto, como efetivador e mantenedor da vida humana. Segundo

MOURA (2008)

Apesar dessa dura realidade, existe outro tipo de sociedade que pode ser natureza, por meio do trabalho, como centro e na qual a ciência e a tecnologia estejam submetidas a uma racionalidade ética ao invés de estarem, quase exclusivamente, a serviço do mercado e do fortalecimento dos indicadores econômicos. Nessa sociedade, a pesquisa em geral e aplicada, em particular, também pode estar voltada para a busca de soluções aos problemas comunitários, notadamente das classes populares. (MOURA, 2008, p. 26)

Por fim, esperamos ter expressado a nossa compreensão teórica, política

e metodológica acerca da reforma do ensino médio e seus desdobramentos e

implicações para a identidade das escolas, relações e experiências pedagógicas e

para as trajetórias educativas e profissionais dos alunos e docentes.

Considerando os seguintes elementos de conclusão:

a) A organização curricular dos cursos ofertados, ainda não superaram a

dualidade estrutural, sendo possível verificar através da análise da Matriz Curricular,

da fragmentação do trabalho docente, a divisão do trabalho intelectual e manual.

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Pode-se perceber algumas tentativas de interdisciplinaridade, entendida muitas

vezes como tentativas de uma possível integração entre as disciplinas e não na

perspectiva de integração de todas as dimensões formativas do sujeito.

Superar a dualidade estrutural não é tarefa fácil, demanda um novo olhar

sobre o mundo que nos cerca e pontualmente, demanda uma estrutura curricular

não engessada, que permita o desenvolvimento de ações integradas no trabalho

efetivo dos professores e alunos.

Demanda também, que sejam feitas alterações nas condições de

funcionamento das escolas, tanto no que se refere a estrutura de laboratórios,

registros de acompanhamento das avaliações e principalmente e na qualificação do

professor, ou seja, se faz necessário alterar a forma de gestão das escolas,

buscando o desenvolvimento de um projeto coletivo.

Assim, ofertar cursos de Educação Profissional, requer comprometimento

com um projeto coletivo de formação da sociedade, projeto este que vise a formação

de sujeitos emancipados, e que conceba o sujeito como ser histórico -social

concreto, capaz de transformar a si mesmo e transformar a realidade em que vive;

que conceba a formação humana como síntese da formação básica e formação para

o trabalho,que tenha o trabalho como princípio educativo no sentido de que o

trabalho permitem concretamente, a compreensão do significado econômico , social,

histórico, político, e cultural das ciências e das artes e que seja baseado numa

epistemologia que considere a unidade de conhecimentos gerais e conhecimentos

específicos e numa metodologia permita a identificação das especificidades destes

conhecimentos quanto a sua historicidade, finalidades e potencialidades.

Enfim, que seja centrado nos fundamentos das diferentes técnicas que caracterizam

o processo de trabalho moderno, tendo como eixos o trabalho, a tecnologia. a

ciência e a cultura.

Em consequência da provisoriedade do conhecimento, tem-se clareza do

caráter transitório e incompleto de nossa pesquisa. Sabemos das nossas limitações,

e que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas temos consciência de que o

percurso aqui apresentado é fruto de um momento da nossa trajetória e, ponto de

partida para novos estudos e análises acerca dessa temática.

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APÊNDICE 1 – PROTOCOLO DE ENTREVISTA - ALUNOS

I- Identificação Gênero F ( ) M ( ) Idade: Atividade profissional da mãe: Atividade profissional do pai: Possui computador em casa? Sim ( ) Não ( ) Possui acesso a internet? Em casa ( ) na escola ( ) trabalho ( ) lan house ( ) II- Aspectos pedagógicos 1) Como tomou conhecimento do curso Ensino Médio Integrado a Educação

Profissional – Informática?

( ) amigos/ parentes ( ) jornal/ revistas ( )outros ( ) tv/ rádio ( ) outdoor

2) Quais as suas expectativas ao ingressar no curso?

03) Quais as suas expectativas ao concluir o curso?

04) Você percebe alguma relação entre as disciplinas do curso? Cite exemplos. III- Aspectos conceituais

05) Em sua opinião, tecnologia é... 06) Sua atividade profissional atualmente é:

( ) estagiário ( )efetivo- carteira assinada ( )trabalha no seu próprio negócio ( )desempregado

07) Atua na área de formação: ( )sim ( ) não

08) Após concluir do curso, você:

( ) pretende continuar na área de informática ( ) pretende mudar de área ( ) não pretende dar continuidade nos estudos

09)Os conhecimentos adquiridos no curso...

( ) são suficientes para desenvolver minhas atividades profissionais

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( ) são insuficientes para desenvolver minhas atividades profissionais ( ) mesmo sendo suficiente, pretendo aprofundar meus conhecimentos

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APÊNDICE 2– PROTOCOLO DE ENTREVISTA - PROFESSORES (AS)

I- Identificação Gênero F ( ) M ( ) Idade: Qual sua titulação? ( ) graduação ( ) pós- graduação ( ) mestrado ( ) doutorado Que disciplina você ministra no curso? Quanto tempo tem de exercício profissional, como professor? Há quanto tempo trabalha na instituição? Ministra aulas no Ensino Médio Integrado há quanto tempo? Ministra aulas no Ensino Médio Regular? Desenvolve outras atividades profissionais? É professor QPM ( ) PSS ( ) Área de formação: II- Aspectos pedagógicos

1) Qual foi seu envolvimento no processo de implantação do curso Ensino Médio Integrado a Educação Profissional – Informática? 2) Como você concebe a relação entre a formação técnica e a formação

científica?

3) Como você concebe a proposta de integração curricular deste curso? 4) Em sua opinião, existe integração em suas aulas?

( ) sim ( ) não ( ) às vezes Qual estratégia se integração você utiliza? 5) Você utiliza o mesmo planejamento para o Ensino Médio Integrado e para o

Ensino Médio Regular? ( ) sim ( ) não ( ) não tenho atividades no Ensino Médio Regular

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6) Você conhece a proposta da SEED para o Ensino Médio Integrado a

Educação Profissional? ( ) sim ( ) não

Caso sim, de que forma tomou conhecimento? 7) Encontra dificuldade para que a proposta seja efetivada no interior da escola? ( ) sim ( ) não Caso sim, quais dificuldades? 8) Você foi orientado para atuar no Ensino Médio Integrado a Educação

Profissional? ( ) sim ( )não Comente: 9) Como você percebe o desafio do curso em integrar os conhecimentos da

Base Técnica aos da Base Nacional Comum? III- Aspectos conceituais

10) O que você entende por mundo do trabalho? 11) Em sua opinião, os alunos formados em 2008, terão uma formação integral e

qualificada para atuar no mundo do trabalho? Argumente.

12) O que você entende por tecnologia?

13) Como você concebe a relação entre tecnologia e educação?

14) Como você percebe no curso, a relação entre tecnologia, educação e mundo

do trabalho?

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APÊNDICE 3 - CARTA DE APRESENTAÇÃO

Ofício nº 014/2008 – PPGTE

Carta de Apresentação

Dirijo-me a V.S, com o objetivo de solicitar sua participação no projeto de

pesquisa que está sendo desenvolvido pela aluna de mestrado do programa de Pós-

Graduação em Tecnologia da UTFPR, Elaine Cristina Nascimento, sob minha

orientação.

A intenção do projeto de pesquisa é analisar a proposta de integração

curricular no curso de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional –

Informática e de que forma esta problemática é trabalhada e assimilada na

prática pedagógica e na formação continuada dos professores que atuam

nesta modalidade de ensino, ofertada pela SEED. Este estudo constitui-se no

tema de dissertação para conclusão do curso.

Entretanto esse conhecimento só será possível, se puder contar com sua

participação através do relato de sua vivência e experiência, os quais são de

fundamental importância para o alcance do objetivo proposto.

Desta forma, gostaria de contar com sua participação por meio de uma

entrevista. Posso lhe assegurar que todos os dados fornecidos serão confidenciais e

nenhum participante que tomar parte do estudo será identificado em qualquer

comunicação ou publicação futura.

Sei o quanto seu tempo é valioso e quão importante será sua contribuição.

Entretanto, o único retorno que poderá ser oferecido será a informação acerca dos

avanços dos resultados do estudo, que será colocado à sua disposição.

Para qualquer informação adicional, ou qualquer dúvida, será disponibilizado o

telefone celular da mestranda ou seu e-mail: 9186 9819 [email protected]

Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Diretoria do Campus Curitiba

Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia - PPGTE

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