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1 UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DANIELA ROSSELLI UM CAMINHO NA ARQUITETURA PAULISTA: OBSERVAÇÃO DE CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO SYLVIO BARROS SAWAYA SÃO PAULO 2017

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

DANIELA ROSSELLI

UM CAMINHO NA ARQUITETURA PAULISTA:

OBSERVAÇÃO DE CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO

SYLVIO BARROS SAWAYA

SÃO PAULO

2017

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DANIELA ROSSELLI

UM CAMINHO NA ARQUITETURA PAULISTA:

OBSERVAÇÃO DE CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO

SYLVIO BARROS SAWAYA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Universidade São Judas Tadeu, como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção

do título de Mestre em Arquitetura e

Urbanismo.

Orientador:

Prof. Dr. Luis Octavio de Faria e Silva

SÃO PAULO

2017

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu

Bibliotecária: Cláudia Silva Salviano Moreira - CRB 8/9237

Rosselli, Daniela.

R828c Um caminho na arquitetura paulista: observação de casas projetadas pelo arquiteto Sylvio Barros Sawaya / Daniela Rosselli. - São Paulo, 2017.

f.: il.; 30 cm.

Orientador: Luis Octavio Pereira Lopes de Faria e Silva.

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu,

São Paulo, 2017.

1. Arquitetura de residências. 2. Arquitetura – São Paulo. 3. Arquitetos. I. Silva, Luis Octavio Pereira Lopes de Faria e. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo. III. Título

CDD 22 – 728

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DANIELA ROSSELLI

UM CAMINHO NA ARQUITETURA PAULISTA:

OBSERVAÇÃO DE CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO

SYLVIO BARROS SAWAYA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Universidade São Judas Tadeu, como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção

do título de Mestre em Arquitetura e

Urbanismo.

Aprovado em ___ de ___________ de _____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof.ª Dra. Ruth Verde Zein

_______________________________________

Prof.ª Dra. Edite Galote Rodrigues Carranza

_______________________________________

Prof. Dr. Luis Octavio de Faria e Silva

SÃO PAULO

2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o desenvolvimento

desta dissertação.

A todos os moradores e proprietários que abriram suas casas e suas vidas, contando

suas histórias, buscando fotos antigas de família e remexendo, às vezes, em

saudades dos que já se foram para poder ajudar em minha pesquisa.

A todos que participaram das nossas expedições e caravanas em visita e busca às

casas.

Aos meus familiares, colegas e amigos de trabalho, que por tantas vezes foram

compreensivos com minhas ausências.

Ao meu orientador, Prof. Li, que me apresentou à pesquisa acadêmica e me orientou

com tanto carinho, paciência e sabedoria.

Sylvio e Lúcia: OBRIGADA SEMPRE! Gratidão e reconhecimento pelo carinho com

que sempre me receberam em sua casa. Obrigada por me adotarem. É assim que

me trataram e é assim que me sinto.

Em especial a você, Sylvio: Obrigada por este privilégio. Homem de coração grande,

paciente, atento, prestativo. Que nossas expedições não parem por aqui. Imagino o

quanto também foi especial para você essas descobertas e essa retrospectiva de tudo

que produziu.

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RESUMO

Este trabalho tem a intenção de ressaltar a colaboração do arquiteto Sylvio Barros Sawaya no panorama da arquitetura paulista e brasileira das últimas cinco décadas pela observação de uma seleção de projetos residenciais desenvolvidos pelo arquiteto, sendo alguns já conhecidos e publicados e outros inéditos enquanto registro para conhecimento público. O objetivo da pesquisa é identificar e compreender os elementos projetuais característicos do arquiteto, alguns deles representativos dos membros de sua geração e outros resultantes de sua própria vivência e experimentação. Metodologicamente, partiu-se de uma revisão bibliográfica de conceitos que embasaram a essência do projeto de residências, explorando o sentido da palavra “casa” em diferentes interpretações e contextos, passando em seguida a considerações sobre as linhas do pensamento da arquitetura moderna no Brasil, levantando elementos que caracterizam a escola paulista dos anos 1950 e 1960, período no qual Sawaya adquiriu suas influências. O trabalho traz em seguida a análise gráfica e fotográfica de alguns dos principais projetos residenciais do arquiteto, momento em que é possível identificar comparativamente a evolução de elementos diferenciais e característicos de sua trajetória tais como a preocupação com a paisagem, a exploração dos materiais, a diversidade de sistemas construtivos adotados e a preocupação com detalhes de elementos e acabamentos. Essas observações levam às considerações finais onde se identificam na obra do arquiteto importantes influências peculiares que vão da afetividade familiar ao compromisso com as bases do movimento moderno.

Palavras-Chave: Projetos Residenciais; Arquitetura Paulista; Casas;

Arquitetos Contemporâneos.

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ABSTRACT

This work intends to emphasize the collaboration of the architect Sylvio Barros Sawaya in the Brazilian architecture panorama in the last five decades through a selection of residential projects developed by the architect, some of them already known and published and others still unpublished. The objective of the research is to identify and understand the architectonic design elements, some of them representative of his generation and others resulting from his own life experience and experimentation. Methodologically, a bibliographical revision of concepts based on the essence of the project of residences was explored, focusing the meaning of the word "house" in different interpretations and contexts, and then considering the lines of thought of modern architecture in Brazil, raising elements that characterize the São Paulo School of Architecture in the 1950s and 1960s, when Sawaya acquired his influences. On the sequence, the work brings graphic and photographic analysis of some of the architect's main residential projects, in which it is possible to identify comparatively the evolution of differential and characteristic elements of his trajectory such as the importance of landscape, the exploitation of the materials, the diversity of constructive systems adopted and the concern with details of elements and finishes. These observations lead to the final considerations where it is possible to identify the most important influences in the architect's work, that range from family affection to commitment to the modern movement bases.

Keywords: Residential Projects; Paulista Architecture; Houses; Contemporary Architects.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 01: Croquis do arquiteto Sylvio Sawaya – Resid. Glaucia Rodrigues. 15

Figura 02: Sylvio e Péo observando o terreno da Resid. Casa Redonda. 18

Figura 03: Contatos de fotos da pesquisa Brongo do Pau Miúdo/BA. 20

Figura 04: Cabana primitiva segundo Oscar Niemeyer. 22

Figura 05: Visita à Resid. Gilda. Conversa do arquiteto Sylvio com a cliente sobre

uma próxima edificação no mesmo terreno, 2016. 26

Figura 06: Sylvio em visita à Resid. Paulo e Jani. 2016. 29

Figura 07: Sylvio e Artigas com os alunos nos anos 80 na FAU-USP. 30

Figura 08: Sylvio fotografando a lápide de Millan, desenhada por ele em

homenagem ao amigo e incentivador. 31

Figura 09: Resid. Antônio D’ Elboux. 41

Figura 10: Resid. Carlos Millan. 41

Figura 11: Resid. Roberto Millan. 41

Figura 12: Sylvio Sawaya, Lucia Hashizume e Roque, o mestre de obras,

definindo detalhes construtivos. Resid. Glaucia Rodrigues. 44

Figura 13: Linha do tempo de 1880 a 1930. 47

Figura 14: Linha do tempo de 1940 a 2017. 48

Figura 15: Modelo de ficha catalográfica utilizada por Carranza. 50

Figura 16: Modelo de ficha catalográfica utilizada por Carranza. 51

Figura 17: Modelo de ficha catalográfica utilizada por Zein. 52

Figura 18: Modelo de ficha catalográfica utilizada por Zein. 52

Figura 19: Modelo de ficha catalográfica utilizada por Graça. 53

Figura 20: Modelo de ficha catalográfica utilizada por Matera. 54

Figura 21: Modelo de ficha catalográfica usada por Ana Tagliari Florio. 54

Figura 22: Modelo de ficha catalográfica utilizada nesta pesquisa. 56

Figura 23: Gráfico quantitativo de projetos da livre docência. 57

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ABREVIATURAS

FAU-USP: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

USP: Universidade de São Paulo

RESID.: Residência

SÉC.: Século

JUC: Juventude Universitária Católica.

DCE-USP/SP: Diretório Central dos Estudantes da Universidade de São Paulo.

CNPQ: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

EMPLASA: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.

ABC-Terra: Associação Brasileira dos Construtores com Terra.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

1.O QUE SIGNIFICA A CASA 14

1.1 DEFINIÇÕES 14

1.2 A CASA COMO CRIAÇÃO DO LUGAR 16

1.3 A EXPRESSÃO DA CASA 20

1.4 O DIÁLOGO ENTRE O ARQUITETO E O CLIENTE,

NO PROJETO RESIDENCIAL 25

2.TRAJETÓRIA DO ARQUITETO SYLVIO BARROS SAWAYA 29

2.1 FORMAÇÃO E INFLUÊNCIAS 29

2.2 O PROJETO DE RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES COMO

OPORTUNIDADE DE EXPERIMENTAÇÃO: DA ESCOLA PAULISTA

A UM CAMINHO ALTERNATIVO? 34

3.OBSERVAÇÃO DOS PROJETOS RESID. DO ARQUITETO DE 1965 A 2017 49

3.1 ESCLARECIMENTO SOBRE PROCEDIMENTOS DO

LEVANTAMENTO DOS PROJETOS 49

3.1.1 FORMA DE SISTEMATIZAÇÃO 50

3.1.2 MODELO DAS FICHAS DESENVOLVIDAS 55

3.2 AS RESIDÊNCIAS PROJETADAS POR SYLVIO SAWAYA 56

3.3 RECONHECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS PROJETUAIS 188

CONSIDERAÇÕES FINAIS: A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA DE SYLVIO SAWAYA PARA O ENTENDIMENTO DA CASA NO ESPAÇO E NO TEMPO 221

REFERÊNCIAS 226

ANEXOS 230

ANEXO 1: Entrevista Sylvio Sawaya 15/04/16 230

ANEXO 2: Entrevista Sylvio Sawaya 20/05/16 261

ANEXO 3: Entrevista Sylvio Sawaya 28/05/16 296

ANEXO 4: Entrevista Sylvio Sawaya 05/09/16 307

ANEXO 6: Publicação artigo Arq. Urb. 316

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INTRODUÇÃO

No panorama da arquitetura brasileira do século XX, a arquitetura paulista

representa uma vertente de destaque. A intenção deste trabalho é mostrar a

contribuição do arquiteto Sylvio Barros Sawaya, analisando seus projetos residenciais

desenvolvidos ao longo de cinquenta anos de atividade profissional.

Nas primeiras décadas do século passado a arquitetura brasileira deu seus

primeiros passos rumo à inclusão no panorama mundial da arquitetura moderna. Após

exemplares isolados da criação de arquitetos pioneiros, as mudanças no modo de

fazer a arquitetura foram incentivadas ao longo da Era Vargas e consolidaram-se nas

décadas seguintes, época em que uma geração de arquitetos dominou com

expressividade as possibilidades plásticas do concreto armado, seguindo as

tendências racionalistas e funcionalistas, sem perder os vínculos com a possibilidade

de exercício das artes plásticas e do paisagismo.

Além dos exemplos de obras institucionais, edifícios multifamiliares projetados

e edificados, um importante papel é desempenhado (no Brasil) pelo projeto de

moradias unifamiliares.

A possibilidade de desenvolver variadas soluções no programa da casa, em um

país com grande crescimento populacional e urbano, possibilitou o exercício

continuado para um grupo de profissionais que consolidou a arquitetura como uma

profissão de destaque e qualidade no Brasil nos anos 1960, 1970 e 1980.

Nomes como Gregori Warchavchik, Álvaro Vital Brazil, Rino Levi, Attilio Corrêa

Lima, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Sérgio Bernardes, João

Batista Vilanova Artigas, Joaquim Guedes, Carlos Barjas Millan, Jacques Pilon, João

da Gama Filgueiras Lima (Lelé) e Lina Bo Bardi foram alguns, entre tantos, que

ajudaram a construir esta trajetória, multiplicaram seus saberes e influenciaram novas

gerações (formadas pelas academias).

Todos os citados acima possuem suas obras revisadas e analisadas em

diversos trabalhos que buscam identificar a peculiaridade e genialidade de seu ato

criativo. Outros arquitetos com produção não menos significativa, também relevantes

no período, alguns até seguem atuando, não receberam ainda um olhar específico

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sobre seus projetos. Muitos foram discípulos dos mestres citados, trabalharam em

seus escritórios e participaram de muitos projetos em desenvolvimento à época.

Neste grupo insere-se Sylvio Barros Sawaya, arquiteto paulista, formado pela

FAU-USP em 1967, entre outras áreas de atuação, pelas diferentes respostas

oferecidas ao projeto de residências unifamiliares ao longo de sua vida. Sylvio possui

em seu currículo mais de uma centena de obras construídas e relevantes.

O objetivo deste trabalho é estudar os projetos residenciais de Sylvio Sawaya,

alguns já conhecidos e publicados e outros inéditos enquanto registro para

conhecimento público. Identificando e compreendendo seus elementos projetuais

característicos do arquiteto, alguns deles representativos dos membros de sua

geração e outros resultantes de sua própria vivência.

Entendo que a análise individual e comparada destes projetos pode contribuir

para a compreensão das premissas de sua obra residencial demonstrando sua

relevância no rol de arquitetos paulistanos de sua geração.

Metodologicamente, para chegar ao objetivo, foi necessário realizar uma

revisão bibliográfica de conceitos que embasariam a essência do projeto de

residências. Nesse sentido, foi importante explorar o sentido da palavra “casa” em

diferentes interpretações e contextos.

Também foi necessário revisitar as linhas do pensamento da arquitetura

brasileira e sobretudo paulistana dos anos 1950 e 1960, período no qual Sawaya

adquiriu suas influências e acompanhar o panorama da arquitetura brasileira dos anos

1970 a 1990, período onde sua produção amadureceu.

Realizou-se a análise gráfica e fotográfica de alguns dos principais projetos do

arquiteto, possibilitando apontar elementos diferenciais e característicos de sua

trajetória.

O primeiro capítulo desta dissertação traz considerações sobre o conceito de

moradia para o homem, com referências às questões antropológicas, históricas e

arquitetônicas que o tema envolve.

O segundo capítulo discorre sobre a figura do arquiteto Sylvio Sawaya, sua

atuação profissional, processo de trabalho e influências. Resgata parte da essência

da arquitetura brasileira e paulista no auge da utilização do concreto como sistema

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construtivo no país e no mundo, exemplificando, com obras dos arquitetos mais

significativos do período, como o projeto de edificações unifamiliares foi importante

para o exercício da arquitetura moderna no Brasil.

O terceiro capítulo comenta sobre formas de sistematização de registro de

projetos já realizadas por outros pesquisadores sobre o tema. Traz uma amostra dos

projetos residenciais de Sylvio Sawaya, executados entre 1965 e 2000, e obras atuais

do arquiteto, que servem de referência à identificação do seu fazer arquitetônico. As

fichas foram elaboradas sistematicamente para permitir essa identificação. Os

projetos apresentados foram escolhidos considerando diversidade de sistemas

construtivos, formas e programas, constituindo exemplos capazes de atestar a

diversidade projetual do arquiteto e permitindo ao observador reconhecer aspectos de

sua linguagem, expressão e influências de outros arquitetos em sua obra.

No quarto capítulo, apresentam-se as considerações e conclusões sobre os

diferenciais evidenciados em seus projetos que fazem da obra de Sylvio Sawaya, um

representante significativo da arquitetura brasileira contemporânea.

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1.O QUE SIGNIFICA A CASA

1.1. DEFINIÇÕES

Quando se aborda um tema que faz parte do cotidiano, pensa-se que ele seja

simples. “Uma casa é apenas uma casa”. A casa pode ser simplesmente a realização

de um sonho, desejo ou status. Iniciando os estudos sobre o tema “casa”, observa-se

que ele pode nos levar a pensar em muitas outras teorias e temas correlatos, da

arquitetura à antropologia.

As palavras casa, lar, lugar, morada e abrigo podem ser próximas na intenção

de caracterizar o espaço onde o ser humano se protege, onde se recolhe para o

convívio familiar ou para o isolamento do mundo.

Todas estas palavras possuem diferentes interpretações e significados,

dependendo do campo do saber que as interpreta.

Nas definições de dicionários e enciclopédias, a casa é um termo com

diferentes conceituações. Segundo o Dicionário Caldas Aulete digital (2017), seria

Casa: Construção, ger. com um ou poucos andares, com forma e tamanho diversos,

destinada a habitação; MORADIA; RESIDÊNCIA; VIVENDA, Local onde se vive; LAR.

No Dicio (2017) seria Moradia; construção em alvenaria, com distintos formatos ou

tamanhos, normalmente térrea ou com dois andares, geralmente destinada à

habitação. No dicionário de termos Arte e Arquitetura, a palavra casa, em português,

significa: um edifício para habitação, uma moradia, uma vivenda ou residência (SILVA;

CALADO, 2005 p.82).

A casa como espaço físico faz parte do estudo da teoria da arquitetura.

Algumas bibliografias citam a caverna como a primeira morada, a primeira casa do

homem. Casa como um local de abrigo das intempéries e perigos que a vida durante

a pré-história oferecia.

(...) o homem em suas origens primitivas, sem qualquer ajuda, sem outro guia além do instinto natural de suas necessidades. Ele deseja um lugar para acomodar-se. Ao lado de um córrego tranquilo. Ele avista um prado; a relva fresca agrada seus olhos, a macies o convida. Ele se aproxima; e reclinando sobre as cores radiantes desse tapete, pensa somente em desfrutar da paz, as dádivas da natureza; nada lhe falta e ele nada deseja; mas logo, o calor do sol começa a crestá-lo, forçando-o a procurar

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abrigo... Uma caverna surge à sua frente: ele escorrega para dentro, sentindo -se protegido da chuva e encantado com sua descoberta. Mas novas inconveniências tornam essa moradia do mesmo modo desagradável: ele vive no escuro, obrigado a respirar o ar insalubre. Ele deixa a caverna, decidido a compensar com sua indústria as omissões e negligências da natureza. O homem deseja uma moradia que o abrigue sem enterrá-lo. (LAUGIER apud RYKWERT, 2003, p.40).

A casa também se torna elemento importante de estudo e análise da filosofia e

fenomenologia. Ela é vista como um ninho, uma concha (BACHELARD, 1957), e a

ligação da casa com a identidade pessoal é bastante aprofundada na intenção de

compreender o comportamento humano. Memórias da infância, trazidas pela

recordação das casas, são elemento de trabalho da psicologia, pois abordam a

relação e influência delas com quem as habita.

A casa é um corpo de imagens que dão ao homem razões ou ilusões de estabilidade. Reimaginamos constantemente sua realidade: distinguir todas as imagens seria revelar a alma da casa; seria desenvolver uma verdadeira psicologia da casa. (BACHELARD, 1957, p.208).

A Casa faz parte da vida de todos. É nela que todos têm suas primeiras

experiências e é dela que se guardam lembranças, independentemente da forma que

ela exista e seja concebida. Desde de um simples abrigo até uma grande mansão.

Figura 1. Croquis do arquiteto Sylvio Sawaya – Resid. Glaucia Rodrigues Fonte: Arquivos do arquiteto

Nem mesmo o tempo retira das pessoas a relação marcante delas com as

casas em que cresceram. Isso pode ser percebido quando após uma mudança,

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tempos depois, ao retornarem à casa onde viveu tenham boas ou más sensações. Isso ocorre porque, como diz Botton (2007, p.10):

(...) ela proporcionou não apenas refúgio físico mas também psicológico. Tem sido uma guardiã da identidade. Ao longo dos anos, seus donos retornaram depois de períodos de ausência e, olhando ao redor, lembraram quem eles eram.

A casa segue sendo o lugar central da existência humana, o sítio onde a criança

aprende a compreender sua existência no mundo e o lugar de onde a homem parte e

regressa” (NORBERG-SCHULZ apud MIGUEL, 2002).

Outros nomes importantes da filosofia e da história do pensamento fizeram

suas considerações sobre as dimensões da casa para além da etimologia.

Desde Bachelard, em muitos dos seus textos, mas essencialmente na sua incontornável obra “A Poética do Espaço”, passando pelo sociólogo Pierre Bordieu, e seu conceito de Habitus, passando por Deleuze, Valery, Heideger, Max Weber, Walter Benjamin, Debord, Lefebvre, e muitos mais. Em qualquer um destes autores alcançamos diferentes vistas sobre o lugar da habitação e sobre a reflexão em torno da casa. Por essa razão, será difícil definir com nitidez o conceito da palavra casa, pelo menos aquele que estará agregado a seu significado, ou seja, o valor próprio da casa enquanto matéria do pensamento urbano, limitando essa definição a um número restrito de autores ou até, sendo mais exigente, na capacidade de síntese, explicar a casa num parágrafo, numa frase ou num conjunto de vocábulos (OLIVEIRA ET AL, 2003, p.149).

1.2. A CASA COMO CRIAÇÃO DO LUGAR

Antes de tratar da casa como elemento vital construído para a vida humana faz-

se necessário entendê-la como “lugar”.

A palavra lugar possui múltiplas interpretações. Do ponto de vista da geometria,

lugar é a delimitação do espaço. Seria um subconjunto do espaço infinito.

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O conceito de lugar tem sido alvo das diversas interpretações ao longo do tempo e entre os mais variados campos do conhecimento. Uma das mais antigas definições de lugar foi apresentada por Aristóteles na sua obra intitulada Física. Para ele o lugar seria o limite que circunda o corpo (LEITE, 1998, p.9).

Norberg-Schulz (1984) afirma que o lugar é algo mais do que uma mera

localização geográfica, ou seja, mais do que um espaço. “O lugar é a concreta

manifestação do habitar humano” (NORBERG-SCHULZ, 1984, p.6).

O termo “lugar” tem vital importância na Geografia e por muito tempo ficou

condicionado simplesmente à “posição geográfica”.

Mais recentemente, na década de 1970, a Geografia Humanística tornou-se um

campo de destaque valorizando as relações de afetividade desenvolvidas pelos

indivíduos em relação ao seu ambiente para caracterizar completamente um lugar

(LEITE, 1998).

Segundo Carlos (2007), um local só pode ser compreendido como “lugar”

quando se fizer parte de uma ação humana social, ou seja, quando apresenta no

presente alguma função e interação social ou quando representou alguma função

social no passado, tornando-se referência espacial, emocional ou histórica.

Bachelard (1957) explica que o mundo, interpretado como lugar, é constituído

por elementos que transmitem significados. E a casa, também nessa dimensão

necessita de significação. Mesmo com esta aproximação da palavra lugar com a

palavra significado, ele ainda se sentiu insatisfeito, buscando novamente na filosofia

uma outra definição, mais especificamente em Heidegger (2002). Este aponta que o

homem, para habitar sobre a terra, deve tomar consciência que habita entre dois

mundos opostos, o céu e a terra. Ele comenta que ao perceber que o homem vive

sobre a terra já significa que vive sob o céu (HEIDEGGER, 2002). Caberia ao homem

entender o paralelo existente entre o material e o imaterial, o existir e o habitar, ou

seja, a terra e o céu. Assim, Bachelard (1957, p.200) afirma que “a casa é nosso canto

do mundo. Ela é, como se diz frequentemente, nosso primeiro universo. É um

verdadeiro cosmos”.

Entendendo que o homem passou de uma vivência livre sobre a terra para

buscar abrigo em ambientes naturais e depois em ambientes por ele edificados, temos

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que estes ambientes só poderiam ser considerados “lugares” se possuíssem

significado para o homem, se tivessem uma importância relacional.

É a partir daí que se descerra a perspectiva da análise do lugar na medida em que o processo de produção do espaço é também um processo de reprodução da vida humana. O lugar permitiria entender a produção do espaço atual uma vez que aponta a perspectiva de se pensar seu processo de mundialização. Ao mesmo tempo que o lugar se coloca enquanto parcela do espaço, construção social. O lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço. Ao mesmo tempo, posto que preenchido por múltiplas coações, expõe as pressões que se exercem em todos os níveis (CARLOS, 2007, p.14).

Entretanto essa relação de afetividade, de conexão, que os indivíduos

desenvolvem com o lugar só se realiza em função de estes só se voltarem para ele

com interesses pré-estabelecidos, ou melhor, se houver uma intencionalidade.

Espaços delimitados a esmo, sem intenção não constituiriam um verdadeiro lugar: “o

não-lugar é o contrário da utopia: ele existe e não abriga nenhuma sociedade

orgânica” (AUGÉ, 2012, p. 102).

Figura 2. Sylvio e Péo observando o terreno da Residência Casa Redonda Foto: Acervo Péo

Os lugares, nesta percepção deixam de ser entes físicos e passam a ser

construções subjetivas. Desta forma não possuem limites reconhecíveis no mundo

concreto. Os verdadeiros lugares estão incorporados às práticas do cotidiano e as

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pessoas envolvidas com o lugar não o percebem como algo dimensional (LEITE,

1998, p. 12).

Uma análise dos conceitos sobre lugar feito por Tuan (1983) permitiu a Mello

(1990) criar três denominações específicas: lugar, espaço e deslugar. O lugar seria

uma parte do espaço, “é fechado, íntimo e humanizado” (TUAN, 1983, p. 61) recortado

afetivamente, que surge da vivência, entendido como um “mundo ordenado e com

significado” (TUAN, 1983, p. 65); o espaço seria qualquer porção da superfície

terrestre, grandiosa, desconhecida, e, portanto, temida ou rejeitada, provocando

inclusive a sensação de medo, já que é totalmente desprovido de valores e de

qualquer ligação que desperte afetividade. Para Mello (1990) as experiências e as

vivências significativas nos locais de habitação, trabalho, divertimento, estudo e

também nos ambientes de fluxos transformariam os espaços em lugares. O último

conceito seria o de “deslugar” (placelessness), uma acepção próxima do “não-lugar”

de Augé (2012) que designa porções do espaço com formas padronizadas, repetitivas

e com uniformidade sequencial, desprovidas de intencionalidade própria ou de uma

essência característica.

Neste conceito de “deslugar” estariam os ambientes em que o ser humano se

torna alienado, onde não percebe significado. Tanto podem ser conjuntos

habitacionais padronizados, lojas de franquias, ou os próprios shopping-centers

(Mello, 1990).

Tomando estes conceitos desenvolvidos por Mello, pode-se exemplificar a

caracterização de um lugar quando se estuda o conceito de casa. Se a construção em

si abriga uma vivência para determinado grupo de pessoas, esta casa é um lugar para

elas. Há uma relação que extrapola a materialidade dos elementos construtivos que

caracterizam uma casa e avançam para questões da afetividade, do envolvimento e

sobretudo do significado. A casa é um lugar de abrigo, de proteção.

Precisamos de um refúgio para proteger nossos estados mentais, porque o mundo em grande parte se opõe às nossas convicções. Precisamos que nossos quartos nos alinhem com versões desejáveis de nó mesmos e mantenham vivos os nossos aspectos importantes e evanescentes. (BOTTON, 2007, p.107)

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Nessa dimensão, a casa é um universo de significados, “onde compreendemos

nossa existência, onde partimos e voltamos, aprendemos a existir, este lugar é a

casa”. (NORBERG-SCHULZ apud MIGUEL, 2002, s.n.).

1.3. A EXPRESSÃO DA CASA

Arquitetura faz parte da vida e da história da evolução do homem. Parte dos

registros e análises feitos pelos historiadores sobre o viver do homem ao longo do

tempo teve apoio no estudo da arquitetura por ele produzida e deixada como legado.

Talvez o elemento mais básico da arquitetura seja a casa. Ela pode conter mais

significância do que castelos, igrejas, palácios ou outras construções mais

imponentes.

Figura 3. Contatos de fotos da pesquisa Brongo do Pau Miúdo/BA. Foto: Acervo Sylvio Sawaya

É na casa que se realizam os desejos e sentimentos das pessoas que lá

habitam e onde se materializa a interpretação sobre o viver por parte de seus autores,

construtores. “Estamos totalmente ligados a casa: nossa infância, felicidade,

aprendizado e amadurecimento. É ela o pano de fundo da nossa história”. (SACRISTE

apud MIGUEL, 2002).

Segundo o arquiteto Carlos Lemos, a função básica de uma casa é a chamada

função abrigo, pois ato de morar é uma manifestação de caráter cultural do ser

humano e, portanto, “a casa é o palco permanente das atividades condicionadas à

cultura e seus usuários. (CARRANZA, 2004, p.4).

A Casa faz parte da vida de todos. É nela que temos nossas primeiras

experiências e guardamos nossas lembranças, independente da forma que ela exista

e seja concebida. Desde de um simples abrigo até uma grande mansão.

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As discussões e estudos sobre a teoria da arquitetura se preocupam com a

casa como elemento fundamental para o homem há muitos tempo. A caverna e a

cabana e suas influências sobre a moradia humana e como cada arquiteto entende o

tema iniciam estes estudos na maioria das vezes.

A caverna, tornou-se local de proteção do homem primitivo. As interferências

dele no local fazem parte do processo de identidade e interferência sobre a natureza

que caracteriza a racionalidade e a evolução da espécie. Quando a caverna começa

a ter suas paredes pintadas, isto é, quando a caverna começa a ser tratada como

habitação, assume o papel de casa, de lar. As questões estéticas, a preocupação de

se ter um local agradável demonstra essa habitabilidade em exercício. Começa a

existir um vínculo sentimental com este local. Um significado maior do que apenas

proteção no sentido físico.

Foi a necessidade de proteção que fez com que o homem buscasse um abrigo

e ao longo de sua mudança de viver, transformou este abrigo em um espaço para

viver, conviver e construir sua história.

A passagem da vida na caverna para a construção de uma cabana, ainda que

primitiva, mostra mais um passo da evolução humana e sua necessidade de

transformar o mundo a seu favor.

Para existir um espaço fixo onde o homem até então nômade pudesse habitar,

deveria então se ter um “espaço organizado” (FALBEL in RYKWERT, 2003), um

espaço para que a vida acontecesse.

Cabanas, domus, castelos, villas, palazzos, são denominações históricas do espaço unifamiliar. São representativas da arquitetura mais elementar, mais próxima e utilizável pelo ser humano, considerada a sua real terceira pele, logo após a epiderme e a roupa que o protege do meio ambiente onde vive. Entretanto, haverá uma palavra que, independente das classes sociais, sintetizará toda noção de habitação privada: a casa (MIGUEL, 2002, s.n.).

Nem todo homem pré-histórico pode se abrigar numa caverna. Em diversas

regiões da África, onde supostamente evoluiu a espécie, não havia formações

rochosas habitáveis. A construção de cabanas nestas regiões foi o primeiro passo de

modificação da paisagem em benefício da vida humana.

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A cabana é entendida por muitos teóricos da arquitetura como a forma de casa

mais primitiva, possuindo mais elementos da evolução do homem que a própria

caverna, já que exigia o exercício de um sistema construtivo básico.

Figura 4. Cabana primitiva segundo Oscar Niemeyer. Fonte: MIGUEL (2002).

Em “A Casa de Adão”, Rykwert (2003) comenta e contrapõe alguns tratados de

arquitetura, trazendo opiniões e ideias de grandes arquitetos, filósofos e pensadores

sobre a cabana.

Segundo Oliveira et al (2013, p.148) um dos mais importantes tratadistas da

arquitetura, Vitrúvio, não teria considerado a cabana como modelo de edificação a ser

caracterizado em seus escritos, no entanto deixou bases para que no Renascimento

outros teóricos o fizessem.

No final do século XIX, Viollet-le-Duc publica em 1875, a sua versão de cabana.

Assim como ele, outros fazem sua própria leitura sobre o tema: Perrault (1688),

Laugier (1750), Quatremère de Quincy (1785) e Gottfried Semper (1851).(COMAS,

2006, p. 1).

Mais tarde, Le Corbusier também estuda a cabana. (MIGUEL, 2002, s.n.).

Centenas de anos separam as cavernas e cabanas dos exemplares que

serviram de morada aos homens da Idade Antiga. Nesta época, civilizações

demonstraram a capacidade de o homem como ser evolutivo racional, construindo

edificações de usos diversos e avançando na integração do tema arquitetura-

urbanismo.

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A casa como unidade ganha outras dimensões e reflete nitidamente uma

hierarquia social como célula do ambiente urbano.

Sua aproximação com o conceito de propriedade ou bem familiar só aparecerá

na Grécia Antiga, no Período Helenístico quando se relaciona à questão de “lote”

delimitado (OLIVEIRA ET AL, p.151).

O conceito primitivo de casa se expande depois, durante o Império Romano

como coloca Miguel (2002, s.n.).

Primitivamente, o conceito casa, surge durante o Império Romano como sinônimo de cabana, tugúrio, choupana, de característica rural, como antagonismo ao termo domus que indicava a habitação urbana. Domus nos deu domicílio. De domus originou-se dominius, “senhor”, porque o amo da casa era o senhor.

Na Idade média a casa deixa o ambiente urbano conquistado e volta a ser um

elemento na vila ou no feudo rural. As diferenças sociais continuam visíveis na

materialização do conceito. Grande destaque foi dado às construções que abrigavam

as igrejas, denominadas de Casa do Senhor.

No Renascimento, a ascensão burguesa urbana motiva a releitura do conceito

de casa associando ao mesmo elementos já valorizados pelos clássicos ligados em

grande parte à estética e à noção de propriedade familiar.

Os camponeses dão mais importância à palavra casa, os burgueses preferem a palavra família. Antropologicamente são também estas duas palavras que representam um maior conteúdo na descrição aos níveis de organização básica e social: a casa e a família. Como sabemos, a casa rural dos camponeses é uma estrutura física e social, não necessariamente familiar, que vive do sustento das terras, agregando uma comunidade que partilha o espaço físico. a burguesia, por seu lado, mais urbana, reforçou declaradamente, desde o século XVIII a importância da família nuclear enquanto estrutura fundamental que habita o espaço residencial. Esta diferenciação ou aproximação aos conceitos de casa e família, revelam-se também nas leituras etmológicas das palavras que dão significado ao habitat (OLIVEIRA ET AL, 2003, p.154).

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A Revolução Industrial acelerou a urbanização, com a modificação do uso do

solo nas cidades. A moradia urbana fez com que fisicamente as casas adquirissem

novas dimensões e utilizassem novos materiais. A diferenciação social foi

determinante para a caracterização da casa unifamiliar, dando espaço à manifestação

de estilos diversos, emprego de novas sistemas construtivos que ainda hoje permitem

compreender as sociedades do passado.

Este impacto da urbanização e da importância da casa como elemento

fundamental da cidade, sobretudo no século XIX, foi apresentado por diversos

tratadistas contemporâneos como Aldo Rossi, Robert Venturi e os irmãos Robert e

Leon Krier.

Para Rossi (1999, p.126,127) “cidade sempre foi caracterizada amplamente

pela residência”.

A chegada ao século XX trouxe novos estilos para influenciar a construção da

moradia do homem contemporâneo, e as novas tecnologias possibilitaram ensaiar

novas respostas ao tema da casa.

Depois de um período (final do sec. XIX) onde as residências burguesas nas

grandes cidades revisitaram quase todos os estilos do passado (e até mesmo em

conjunto1) as diretrizes do movimento moderno prometiam acabar com os excessos e

impor as normas do funcionalismo. As casas representativas do movimento moderno

impactaram pela simplicidade estética apesar de agregarem inúmeros novos

elementos. “A casa, já dizia Le Corbusier, é o palácio do Séc. XX” (ACAYABA, 2011,

p.15).

Não houve um modelo único de arquitetura residencial a ser seguido com o

movimento moderno. Apesar de elementos característicos como pilares, vidros,

grandes aberturas, telhados planos, foram infinitas as soluções dadas ao tema da

habitação ao redor do mundo.

1 Em algumas grandes cidades, o enriquecimento da camada burguesa permitiu o surgimento de um

estilo denominado “ecletismo” no qual elementos do clássico, gótico, barroco e rococó se misturavam em um único projeto. Exemplos disto ocorreram em Nova York, Buenos Aires, Madrid e até mesmo Rio de Janeiro e São Paulo.

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No pós-guerra, com a ampliação da diversidade tecnológica e de materiais a

habitação deixou de ser:

(...) um objeto capaz de ser controlado e proposto através de modelos de produção racionalista, funcional e delimitada pelos conceitos da media antropométrica, da procura do espaço mínimo essencial para o correto funcionamento das atividades inerentes ao “habitat”, para passara ser um espaço que se deseja inclusivo e compreensivo...o desenho de tendência mecanicista do movimento moderno é agora substituído ou ultrapassado pelo conceito humanista de desenho amigável e do espaço inclusivo, em especial nos espaços de habitação (OLIVEIRA ET AL, 2003, p.156,157).

Mesmo no atual século XXI as modificações continuam agregando traços do

tempo e da materialização das realizações do homem, sobretudo numa dimensão

inclusiva, trazendo aspectos como a acessibilidade, mobilidade, sustentabilidade e

preocupação ecológica.

Conclusivamente vê-se que a modificação morfológica das casas ao longo do

tempo não desfez a essência das mesmas: ser um lugar referencial para o homem.

Temos, hoje, a casa como um edifício ou parte dele, destinado à habitação humana. Estar destinado representa aqui um objeto construído à espera Ia de um uso familiar em que as relações do plano físico e a troca emotiva de seus moradores, possam fazer da casa um lar. (MIGUEL, 2002, s.n.).

1.4 O DIÁLOGO ENTRE O ARQUITETO E O CLIENTE NO PROJETO

RESIDENCIAL

A partir do momento em que surge a figura profissional do arquiteto, o projeto

residencial surge de uma demanda e coloca em contato o demandante (cliente) e o

profissional (arquiteto). De início, o demandante era também o usuário final do

produto, assim sendo, suas colocações sobre necessidades do projeto eram feitas

diretamente ao profissional. Uma vez que a moradia se tornou objeto comercializável,

somou-se a essa situação a figura do demandante-especulador, ou seja, um cliente

que necessitava do auxílio projetual do arquiteto para um produto cuja finalidade não

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era a sua habitação própria. Com essa diferenciação pode-se perceber que há

diversas respostas às demandas sobre uma residência.

Figura 5. Visita à Residência Gilda. Conversa do arquiteto Sylvio com a cliente sobre uma próxima edificação no mesmo terreno, 2016.

Foto: Daniela Rosselli

De qualquer forma, o projeto de uma casa surge de uma demanda e para

atendê-la, o arquiteto utiliza seus conhecimentos espaciais, construtivos, perceptivos,

funcionais e estéticos, dando em resposta um produto que acaba sendo também um

importante registro do modo de vida do homem no tempo e no espaço. Daí a

importância do estudo da arquitetura para diversos campos do conhecimento como a

História, a Sociologia, Antropologia entre outras ciências.

A figura do arquiteto foi por muitos anos exclusiva de uma classe social de elite.

O produto: casa, palácio, castelo, etc.; possuía um caráter simbólico de poder e isto

perpetuou-se até o séc. XIX quando também a classe média burguesa passou a

utilizar o serviço de arquitetos e engenheiros. Por influência de estilo, o modelo francês

de palacete foi adaptado às condições urbanas e inúmeros exemplares desta situação

são encontrados nas grandes cidades da Europa e também da América.

No Brasil, os palacetes franceses urbanos surgiram nas principais cidades, no

Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Manaus, Belém, entre outras.

A mudança mais significativa na estética do projeto residencial burguês, ocorre

no séc. XX com influência do modelo americano de viver (American way of life).

Nesta situação o diálogo cliente-arquiteto ainda provém de uma demanda

familiar tradicional, caracterizada nos anos 1950/1960 por uma família

economicamente patriarcal, mas funcional e esteticamente matriarcal.

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Aos desejos espaciais, somavam-se os desejos materiais por bens de

consumo, tais quais automóveis, televisão, eletrodomésticos, telefone, entre outras

modernidades. Tudo isso adaptou-se muito bem às características dos projetos

funcionalistas incentivados pelo movimento moderno. Esteticamente seguia-se o

pressuposto forma-função.

Nesta situação observava-se:

ARQUITETO MORADOR/CLIENTE

Técnica Referências/Valores

Estética Desejos/Programa

Valor agregado Desejos/Materiais

Solução-Forma/Função Expectativa/Resultados

Oportunidade/Experimentação Confiança

Os primeiros exemplos de casas modernistas foram construídos a partir dos

anos 1920 no Brasil, mas apenas no final dos anos 1940 é que elas se tornam mais

frequentes enquanto partidos consolidados nos bairros residenciais. A liberdade do

movimento moderno era bastante distinta do ato de projetar residências com influência

clássica, neoclássica de características francesas e europeias. O arquiteto podia

sugerir inovações em quase tudo, seja no formato de pilares, janelas, nas cores de

paredes e esquadrias, e até mesmo ao optar por coberturas planas, sem uso de

telhas.

Os clientes nessa época tinham que dar completo aval a seus arquitetos

mesmo que se arrependessem dos resultados obtidos. O que estava acima da casa

como resposta à moradia era a intenção no engajamento ao modernismo, mesmo que

isto fosse para muitos apenas uma questão de projeção social-status.

Observando hoje (2017), como acontecia o envolvimento entre arquitetos e

clientes o que se pode registrar é que o número de profissionais em atividade no

período que compreende as primeiras décadas do séc. XX era bastante restrito e a

demanda crescente, fato que possibilitou um exercício contínuo e significativo para

esses profissionais. Muitas vezes os clientes não tinham como se opor às sugestões

criativas de seus contratados. Vale lembrar que os profissionais daquela época que

também se envolviam com a construção de edifícios públicos e edifícios residenciais,

não tinham nesses projetos tantas liberdades.

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Essa liberdade criativa foi fundamental para a caracterização dos primeiros

grupos de arquitetos modernistas brasileiros.

Pode-se dizer que nos primeiros trinta ou quarenta anos do movimento

moderno no Brasil eram os arquitetos que manipulavam o diálogo com os clientes.

Eram eles que dominavam os elementos a serem inseridos nos projetos e dos quais

resultariam também mudanças na dinâmica do usuário.

Anos depois, nas décadas de 1960, 1970 e até 1980, ocorrem mudanças:

amplia-se o leque de profissionais (cresce o número de escolas de arquitetura no

país), a urbanização intensifica-se, a necessidade por moradias cresce e, como já foi

dito, a casa amplia seu papel enquanto mercadoria, e para tanto, quem volta a dominar

o diálogo arquiteto/cliente é o cliente empreendedor.

Ao mesmo tempo que algumas residências continuam sendo construídas como

verdadeiros ensaios do modernismo, as cidades brasileiras abrigam cada vez mais

exemplos de casas-abrigo, ou seja, construções que atendem a função básica da

moradia e que se descolam do aspecto formal.

Desta forma, o resgate da produção arquitetônica do seleto grupo de arquitetos

que pôde ensaiar o modernismo nas suas origens é muito importante para caracterizar

“o fazer arquitetura moderna no Brasil”.

É na análise dessa produção que será possível compreender a dinâmica

arquiteto/cliente efetiva.

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2. TRAJETÓRIA DO ARQUITETO SYLVIO SAWAYA

2.1. FORMAÇÃO E INFLUÊNCIAS

Apesar de reconhecido pela ascendência libanesa (já que seus avós paternos

vieram do Líbano por volta de 1890), o arquiteto Sylvio Barros Sawaya, assim como

grande parte dos brasileiros, possui uma genealogia formada por diferentes culturas.

Após se instalarem na cidade de Carmo do Rio Claro em Minas Gerais, os avós

paternos mudaram-se para São Paulo em 1917. Um de seus filhos, Paulo Sawaya se

forma médico ortopedista, depois se torna professor de Biologia na Universidade de

São Paulo-USP nos anos 1930, consolidando-se como grande nome nas pesquisas e

descobertas da área.

O Professor Paulo casa-se ainda jovem. Deste matrimônio teve um filho e após

tornar-se viúvo, casa-se novamente, com uma de suas alunas, Sonia Camargo

Barros, de pai português e cuja mãe pertencia a uma tradicional família paulistana.

Sonia era formada pelo Instituto Sedes Sapientiae, diplomada em Geografia, História

e Línguas. Após o casamento, dedica-se exclusivamente à família com nove filhos,

entre os quais, Sylvio.

Figura 6. Sylvio em visita à Resid. Paulo e Jani Vargas - 2016 Foto: Daniela Rosselli

Nascido a 16 de agosto de 1942, Sylvio era o filho de número cinco nesta

numerosa família, que se estabeleceu no bairro dos Campos Elíseos, na Rua

Conselheiro Nébias, próximo à Rua Glete, onde seu pai lecionava e onde funcionavam

os Departamentos de Botânica, Zoologia, Genética, Geologia, Mineralogia, Química e

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Biologia da Universidade de São Paulo até 1956, data em que ocorre a transferência

da faculdade para o campus da Cidade Universitária.

Nessa época, a família se muda para o bairro do Alto de Pinheiros, quando seu

pai começa a dar aulas no novo Campus da USP.

Sylvio faz seus estudos primários na escola Nossa Senhora das Graças,

completando o ginásio e o científico no Colégio Santa Cruz.

Com esta família numerosa, ele, seus irmãos e primos, passam sempre as

férias na fazenda do Tio Otávio e da Tia Cecília, irmã de sua mãe. Fazenda de café

que depois inicia criação de gado, situada na região de Campinas.

Na adolescência, no final dos anos1950, viaja sempre a São Sebastião,

acompanhando seu pai em busca de um terreno para criar um centro privado de

estudos ligados à Biologia.

Já frequentador e conhecedor do ambiente acadêmico, acompanhando seu pai,

Sylvio inicia o curso de Arquitetura em 1961 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade de São Paulo – FAU-USP, tendo com um de seus professores mais

marcantes, Vilanova Artigas. Participa de grupos políticos, tornando-se integrante do

JUC (Juventude Universitária Católica), grupo católico de esquerda.

Figura 7. Sylvio e Artigas com os alunos nos anos 80 na FAU-USP. Foto: Foto na Exposição pelo Centenário de Vilanova Artigas em 2015

Ele se descobre um líder político e em 1963 já era presidente do DCE-USP/SP

(Diretório Central dos Estudantes).

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Com esta sua intensa atividade política, em uma época conturbada, em 1964

já respondia a 4 inquéritos e quase fora exilado, durante a “Caça às Bruxas”2, tendo

seu nome citado inclusive em listagem de pessoas a observar por parte da polícia

militar.

Durante as festividades de Páscoa organizada pelo JUC nesse mesmo ano,

conhece aquele que se tornaria sua referência e grande incentivador, o arquiteto

Carlos Barjas Millan.

Quando Sylvio decide que vai largar a faculdade de arquitetura e ingressar na

de sociologia, Millan aconselha: ‘Sylvio, você é um arquiteto. Você não tem nada que

largar a mão de ser arquiteto.” (FAGGIN, 2015, p.81). Sylvio chega a estagiar com

Millan, de maio a novembro de 1964, quando Millan morre em um inesperado acidente

de carro.

Figura 8. Sylvio fotografando a lápide de Millan, desenhada por ele em homenagem ao amigo e incentivador.

Foto: Acervo Péo

Logo em seguida, Sylvio faz também estágio com arquitetos como Joaquim

Guedes e Benedito Lima de Toledo e quando finaliza os estudos em 1967, decide

abrir seu próprio escritório com um de seus colegas do JUC, Edmilson Tinoco, dois

anos mais novo que Sylvio.

2 Com a militarização do governo após o Golpe civil-militar, muitas pessoas foram perseguidas

politicamente, presas e até mesmo convidadas a um exílio forçado. Artistas, líderes acadêmicos, estudantes, políticos e cidadãos em geral foram afastados de suas atividades.

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Sobre a experiência de trabalho com Guedes e também com Millan, Sawaya

comenta:

O Guedes foi sócio, muito amigo e compadre do Carlos Millan, e eles ainda estavam juntos no escritório, na época da casa Cunha Lima. E o Millan era um caso curioso porque ele vinha do grupo do Miguel Forte, que era muito marcado pela arquitetura do Affonso Eduardo reidy. Ele tinha todo um requinte daquela elaboração sutilíssima de projetos, entendia de tecidos e de marcenaria como ninguém. Ele se despojava de tudo isso a partir da leitura do Corbusier e vai fazer uma arquitetura muito enxuta, muito consequente. E não era a arquitetura paulista que estava estabelecida, pois ela já possuía, na sua simplicidade, um grau de inteireza e de elaboração absolutos que iam do todo ao detalhe. Então, o Guedes e o Millan também eram muito próximos nesse sentido de trabalhar o objeto construído completamente. (SCHIMIDT 2016, p.265).

No final dos anos 1960, a realização de um projeto residencial para o

engenheiro João Marino, antigo cliente do escritório Millan, abriu importantes portas e

contatos comerciais aos arquitetos recém formados.

Estabelecido, Sylvio casa-se com a pedagoga baiana, Maria Amélia Pereira

(Péo), professora do Colégio Vera Cruz no bairro de Pinheiros em São Paulo.

Um dos amigos de Paulo Sawaya, pai de Sylvio, o arquiteto Hélio Queiroz

Duarte, convida o jovem arquiteto a lecionar na USP, no início dos anos de 1970. O

trabalho na Universidade ajudaria tanto na disciplinarização de seu trabalho enquanto

arquiteto, como no afastamento da atividade política que poderia levá-lo ao exílio por

incursão na Lei de Segurança Nacional. Não que o arquiteto abandonasse suas

convicções e ações políticas como um todo, mas o cargo universitário lhe conferia

maior respeitabilidade.

Nessa época, com a publicação da Revista Cruzeiro sobre os projetos de

Niemeyer em Brasília, Sylvio começa a se interessar por projetar a cidade e então faz

doutorado sobre o Largo da Concórdia, com enfoque na Arquitetura e Urbanização,

sob a orientação de Nestor Goulart Reis Filho.

O trabalho em apenas meio período na FAU-USP, possibilitava que o arquiteto

continuasse a dar atenção a seus projetos no escritório.

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Por conta de uma bolsa de pesquisa do CNPQ (Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Sylvio parte por alguns meses para a

Bahia, para realizar estudos relativos ao meio ambiente e à urbanização na região do

Rio Buranhém, nas proximidades de Porto Seguro. A pesquisa foi vital para o

direcionamento de parte de suas aulas.

A convite do arquiteto e professor Paulo Zimbres, Sylvio aceita dar aulas

também junto à Universidade de Brasília-UnB. A repressão do SNI-Serviço Nacional

de Investigação do Governo Militar inibe essa atividade e o arquiteto decide em 1977

concentrar sua atividade acadêmica apenas na FAU-USP.

Um ano depois, em 1978, passa a dar aulas também no curso de Pós-

Graduação da mesma faculdade. Seus trabalhos concentram-se na análise

urbanística da região da Avenida Dom Pedro e Avenida Do Estado, na Zona Sul de

São Paulo.

Por conta dos contatos realizados no período em que lecionou em Brasília,

Sylvio participa de um trabalho de apoio e pesquisa urbana, no estado de Rondônia,

tendo Milton Santos como um de seus colaboradores diretos, sob patrocínio do Banco

Mundial.

Nos anos 1980, período em que seu escritório desenvolveu inúmeros projetos,

recebe o convite para trabalhar junto à Prefeitura Municipal de Salvador, Bahia, no

Governo do Prefeito Mario Kertsk entre 1986 e 1988.

Sylvio foi sempre reconhecido por sua vida acadêmica, mas além de docente,

atuou ativamente como arquiteto em projetos de diferentes usos e dimensões como a

Residência João Marino (1969), o Templo da Igreja Messiânica junto à Represa

Guarapiranga (1989/91) e o prédio da FAPESP (1974). Atuou também como

Presidente da EMPLASA – Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A.

(1986/87) foi colaborador da ABC - Terra (Associação Brasileira dos Construtores com

Terra) (2000) e foi diretor da FAU-USP entre 2007 e 2010.

Em seus projetos, é clara a presença das influências de Millan e de muitos

outros arquitetos da escola paulista brutalista. Todos eles lhe ensinaram que a

experiência com materiais e formas é fundamental para um projeto de qualidade,

possibilitando mostrar a estrutura para dar forma à edificação. Sylvio faz parte de uma

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geração de arquitetos que ousava, experimentava e criava sem medo de rótulos. Sua

arquitetura explora sistemas construtivos e materiais vernaculares, do concreto à

taipa, sem deixar de projetar também detalhes peculiares para ferragens, esquadrias,

pisos e coberturas.

2.2. O PROJETO DE RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES COMO

OPORTUNIDADE DE EXPERIMENTAÇÃO: DA ESCOLA PAULISTA A

UM CAMINHO ALTERNATIVO?

A importância da arquitetura paulista no panorama da arquitetura brasileira,

ocorre pelo fato da capital paulista experimentar um vertiginoso crescimento entre as

décadas de 1930 a 1960, período em que a arquitetura moderna torna-se mais

expressiva no mundo. A cidade de São Paulo viveu entre meados do século XIX e

meados do século XX, uma mudança no perfil de sua arquitetura, tanto em termos

estéticos como técnicos.

Passou-se da simplicidade da taipa à suntuosidade dos palacetes ecléticos de

influência francesa para depois experimentar uma arquitetura funcionalista

influenciada pelo modo de viver americano.

Quando se fala em casa paulista, a arquitetura remonta às antigas casas do

período bandeirista, que deixaram inúmeros exemplares pelo estado e que foram

adaptadas em proporção e programa a lotes urbanos. Feitas em taipa de pilão, estas

casas possuíam um programa básico: sala central, varandas frontal e posterior,

dormitórios e cozinha laterais. A planta resultante era retangular, compacta e isolada

no lote (FLORIO, 2012, p.48).

Com a urbanização e o parcelamento dos terrenos, em vilas como São Paulo

do século XIX, o que se fazia era adaptar a taipa a um programa mais simplificado

(LEMOS, 1985). As construções em sua maioria, limitavam-se a possuir aberturas

frontais e posteriores e os ambientes se sucediam em direção ao interior do lote

(LEMOS, 1985).

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Quando havia mais espaço, as casas possuíam recuo lateral para coches e

elevavam-se do solo com porões ventilados, atendendo também às mudanças no

código de edificações da cidade (REIS FILHO, 1995; FLORIO, 2012).

As riquezas do café começaram a ter reflexos nas moradias da classe média e

alta paulistana. Até mesmo as moradias mais simples também se modificaram,

sobretudo por influência dos imigrantes europeus (LOUREIRO, 1981).

As influências europeias dominavam os estilos e misturavam-se, originando

exemplos de um ecletismo3. No final do século XIX, estas construções, feitas em sua

maioria em tijolos, e não mais em taipa, espalhavam-se pelos bairros centrais mais

nobres, como os Campos Elíseos. Nessa época, a imigração e também a

industrialização incipiente fizeram a vila tomar ares de pequena cidade.

Para a construção de residências maiores, foi necessário expandir a cidade.

Novos loteamentos na direção da Avenida Paulista, da Avenida Angélica, permitiram

as classes mais privilegiadas, edificarem verdadeiros palacetes, reflexo da riqueza

gerada pela agricultura, sobretudo pelo café (LEMOS, 1999; HOMEM, 1996).

Os padrões europeus ditaram os estilos de edifícios públicos, praças,

monumentos e também do planejamento urbano em expansão.

Havia um contraste entre a casa burguesa e a casa popular. Enquanto a

primeira fazia uso de materiais nobres, jardins, vidros, seguindo programas em estilo

francês, com projetos realizados pelos profissionais mais gabaritados da época, as

casas da imensa maioria da população ocupavam lotes estreitos em áreas de

topografia variada, com substituição progressiva da taipa pelo tijolo industrializado.

Mesmo assim, vale ressaltar que dentro da simplicidade havia espaço para detalhes

construtivos de fachada, portas e janelas. Até mesmo as vilas operárias possuíam

uma preocupação estética característica.

O café e a indústria, ampliaram a classe média paulistana e a cidade cresceu

em população e importância econômica e cultural.

3 O termo ecletismo se refere à tolerância a duas ou mais ideias ou comportamentos arquitetônicos e no caso da arquitetura em São Paulo, mostra junções do Neoclassicismo, Barroco e Neogótico (FABRIS, 1987).

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A realização da Semana da Arte Moderna em 1922 em São Paulo, demonstra

que a vanguarda tinha preferência pelo capital e não pela tradição. Passados os

traumas da crise de 1929 e os efeitos da revolução de 1932, São Paulo ampliou ainda

mais sua pujança. O número de automóveis em crescimento, já exigia planos

urbanísticos diferenciados e começavam a impactar sobre os programas residenciais.

Ao longo dos anos 1930 e 1940, por influência do cinema, das revistas e do Movimento

Moderno, a arquitetura paulistana recepcionou novas experiências em edifícios

públicos e privados.

Nesse contexto, novos loteamentos realizados principalmente pela Cia City,

receberam exemplares de uma nova arquitetura residencial paulistana, adequando

uma nova forma de morar a novos elementos construtivos.

Nessa época os primeiros cursos de arquitetura são oficializados, desligando-

se da engenharia. Nomes pioneiros do movimento moderno que imigraram para o

país, influenciam uma geração de arquitetos em formação, responsáveis pela

“modernização” da cidade.

Vale lembrar que as bases do movimento moderno consolidado no Séc. XX,

tiveram origem nas reflexões e descobertas de pesquisadores ligados ao uso de

novos materiais tanto no processo industrial como na construção civil. As mudanças

causadas pela Segunda Revolução Industrial impactaram na maneira de produzir

bens e também na maneira de produzir a cidade. A exploração do aço e do concreto

permite uma nova resposta arquitetônica às necessidades da sociedade da época. A

verticalização e o adensamento são causas e consequências de uma pesquisa

intensa sobre as possibilidades dos novos materiais em usos diversos.

Para tal intento, leva-se em conta a discussão teórica estabelecida no século XIX e início do século XX, que aborda a relação entre forma, função, técnica e meio de produção, e que surgiu no sentido de recuperar a atualidade da arquitetura enquanto manifestação da cultura material do mundo moderno. Relacionada à contribuição teórica, as investigações de Le Corbusier constituem um momento emblemático como tentativa de sistematizar uma linguagem própria do concreto, a partir dos “cinco pontos da nova arquitetura. (IMBRONITO, 2015, p.197)

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Tanto o aço como o concreto ampliaram as possibilidades construtivas em todo

o mundo. Nos EUA, o aço mostrou-se mais apto a uma necessidade de adequar

velocidade e altura aos edifícios; na Europa em algumas partes da América Latina, o

clima permitiu a exploração do trabalho em concreto também em altura, num ritmo

menos acelerado que o norte americano.

Nas metrópoles em crescimento viam-se exemplos de grandes construções

com maior frequência. Em Chicago e Nova York, arranha-céus em aço marcaram uma

nova paisagem. Em Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro, construções em aço

ganham altura.

No final dos anos 1920, as riquezas obtidas em consequência da primeira

grande guerra, permitiu aos países americanos um crescimento econômico que se

refletiu nas paisagens urbanas e permitiu experimentações da arquitetura, já com

pressupostos do movimento moderno, mas, com resultados estéticos ainda

influenciados pelos movimentos da época: art deco, art nouveau, neoclássico e o

ecletismo.

...Este procedimento abre caminho para o entendimento de que a arquitetura é expressão de cultura ligada a seu tempo, que engloba aspetos sociais e tecnológicos, o que invocou a necessidade de uma atualização da arquitetura, condição fundamental que moveu o movimento moderno. Exemplos disso são as colocações de John Ruskin de que não se devem falsear materiais, estrutura e processo de trabalho, e que a novos materiais correspondiam novas expressões. (IMBRONITO, 2015, p. 198).

No Brasil, o concreto surge como alternativa e complemento à alvenaria

tradicional por mãos das pesquisas das escolas de engenharia. Nomes como Victor

Dubugras são de grande importância na influência de gerações de estudantes no que

se refere à experimentação do concreto.

Ao campo de conhecimento teórico acumulado no século XX soma-se, para completar o cenário que nos interessa construir, a invenção do concreto armado. Nem estereotomia nem tectônica, o concreto armado era um material novo em busca de uma forma. Ele surgiu e foi demonstrado no século XIX, no contexto das Exposições Universais. Com possibilidades novas, que não se relacionam ao empilhamento, peso e amarração de fiadas com limitação de vãos, característicos da estereotomia, e

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nem tampouco à associação de barras formando estruturas complexas e delgadas a serem vedadas com materiais complementares, conforme as estruturas tectônicas leves, o concreto armado tem características e comportamentos próprios e desafiadores. (IMBRONITO, 2015, p. 199).

A São Paulo dos anos 1940/1950, aproxima-se em estilo e movimentação ao

uma metrópole norte americana: arranha céus em vidro, grandes avenidas, luminosos,

teatros, cinemas e uma população elegante davam vida as mais importantes regiões

centrais. É nesta época que a classe média, média alta multiplica o número de

residências em construção, a grande maioria delas seguindo as premissas do

movimento moderno.

Na década de 1940, começam a surgir em São Paulo as primeiras obras de

arquitetos formados sob a ótica do concreto e das premissas do movimento moderno.

O grande destaque cabe a Vilanova Artigas que vem somar à produção de nomes

como Carlos Cascaldi estrangeiros como Jacques Pilon, Lina Bo Bardi, Gregory

Warchavski, Victor Dubugras, Rino Levi, Fabio Penteado, Osvaldo Bratke, Franz

Heep, Roberto Aflalo e Plínio Croce.

Todos eles lançam as bases projetuais do que caracterizaria a Escola Paulista

de Arquitetura.

A assimilação da Arquitetura Moderna em São Paulo deveu-se muito aos esforços de Rino Levi, Oswaldo Bratke e João Batista Vilanova Artigas, através de sua prática profissional em projetos residenciais. Por outro lado, a revisão formal efetivada pelo trabalho de Vilanova Artigas, na metade dos anos 50, foi que permitiu uma definição própria para arquitetura de São Paulo. A partir de suas propostas, desenvolveu-se uma tendência de estética própria, com volumes compactos executados em concreto aparente. Esta corrente, contraposta à arquitetura racionalista do Rio de Janeiro, passou a ser intitulada como Escola Paulista. (SANVITTO, 1994, p.37)

No mesmo período também se consolida um grupo de arquitetos com produção

significativa no Rio de Janeiro. Esses compõem a base da conhecida Escola Carioca

de arquitetura, da qual fazem parte: Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy,

Jorge Moreira e Ernani Vasconcelos, Attílio Correa Lima, Hélio Duarte e os irmãos

Marcelo, Milton e Maurício Roberto, Sérgio Bernardes e Álvaro Vital Brasil.

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Enquanto capital, o Rio de Janeiro atraía uma atenção maior para construções

de porte e sobretudo institucionais. Não é à toa que a cidade recebeu a visita de Le

Corbusier, na incumbência de orientar os arquitetos cariocas no projeto do novo

edifício do Ministério da Educação (MESP), seguindo os cinco pontos característicos

da arquitetura moderna.

Estas características das duas cidades brasileiras mais destacadas traziam consequências ao campo da cultura arquitetônica. Enquanto a vanguarda carioca se dedicava ao estudo das ideias de Le Corbusier, em São Paulo as ideias de Frank Lloyd Wright tinham penetração principalmente por suas prairie houses. O ensino ministrado na Escola Politécnica era influenciado por Victor Dubugras, que havia orientado suas ideias de forma variada, passando por tendências neogóticas, art nouveau e também organicistas com base em Wright. Outro ponto que caracterizava a Escola Politécnica era uma certa ênfase nas questões técnicas, o que também a diferenciava do ensino carioca, preocupado com discussões estéticas. (SANVITTO, 1994, p.21)

O grande diferencial das duas escolas brasileiras, além da matriz americana ou

europeia, está ligada ao uso próprio dos materiais típicos da linguagem modernista. A

opção pelo uso do concreto aparente nas estruturas, aproximou a produção paulista

ao conceito de arquitetura brutalista4 desenvolvido sobretudo na Inglaterra.

Essa prática tornou-se tão característica na produção local, que passou a

compor o “brutalismo paulista”.

A busca das origens da tendência brutalista de São Paulo nos leva à sua afinidade com o Novo Brutalismo inglês, no que se diz respeito à predominância das questões éticas no projeto de arquitetura, e à obra tardia de Le Corbusier em relação à utilização do concreto bruto. (SANVITTO, 1994, p.44)

4 Segundo Sanvitto (1994, p.44): “O criador do termo brutalista foi hans Asplund, filho de Grunnar

Asplund, que em janeiro de 1950 usou o qualificativo neobrutalismo a respeito do trabalho de colegas suecos”. Segundo Leão (2013, p.4) o trabalho de Ruth Zein sobre o tema é bastante relevante, pois ela admite que o termo é controverso e de difícil definição. Poderia ter origem no uso do béton brut – concreto aparente nas obras de Le Corbusier e também no uso de materiais na forma bruta por arquitetos ingleses como o casal Smithson nos anos 1950.

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A forma de projetar dos arquitetos de São Paulo, tanto em edifícios como em

residências, acabou se proliferando por todo o país e intensificando a tendência nos

anos 1950 e 1960.

Influenciado por correntes estrangeiras, o brutalismo adquiriu características próprias no Brasil. Pelas semelhanças que manteve com suas origens é possível identifica-las. Pelas diferenças que desenvolveu conseguiu autonomia e afirmação. O ponto fundamental que diferencia a corrente brutalista brasileira das homônimas estrangeiras é a ênfase dada à ética. No Brasil a postura ética chegou a um extremo, ultrapassando a consideração que as correntes estrangeiras tinham com este preceito. Esta característica do brutalismo nacional pode ser atribuído ao trabalho desenvolvido por Vilanova Artigas. Embora não endoasse o qualificativo brutalista para sua arquitetura. Artigas difundiu esta tendência no Brasil a partir da metade dos anos 50. A sinceridade construtiva propagada em suas aulas ultrapassava os limites de uma ética para se tornar didática. (SANVITTO, 1994, p.58)

Por uma série de fatores, o período que compreende a passagem dos anos

1950 para os anos 1960 corresponde ao período de destaque do Brasil no panorama

mundial. O país ganha projeção em quase todas as áreas e atrai o olhar para sua

paisagem, tanto natural quanto modificada pelo homem.

A construção de Brasília é o ápice desse momento e sela a identidade do país

com o movimento moderno.

É nessa situação que uma nova geração de arquitetos, discípulos dos

precursores do movimento moderno no Brasil, se forma e passa a compor a frente de

produção da arquitetura nacional.

Por mais duas décadas, o brutalismo vai ser predominante no projeto

residencial autoral nas principais cidades do país.

Segundo Sanvitto (1994), as residências projetadas nesta linha se caracterizam

por dois conceitos: “prisma elevado” e “grande abrigo” que significa volumes isolados

no lote e erguidos do solo, caracterizados também pela opção de desenho em planta

livre seguindo eixos e malhas onde se alocam os elementos estruturais, descolados

das vedações.

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Nesse período, deve-se destacar a produção de Carlos Barjas Millan, arquiteto

paulista formado em 1951 e cuja produção manifestou as tendências da época de

forma clara e efetiva. Três projetos residenciais do arquiteto, executados entre 1960

e 1962, tipificam o fazer da arquitetura paulista na ótica brutalista.

Figura 9. Residência Antônio D’ Elboux. Fonte: ACAYABA (2002, p. 197).

Figura 10. Residência Carlos Millan. Fonte: MATERA (2005, p. 323).

Figura 11. Residência Roberto Millan.

Fonte: MATERA (2005, p. 229).

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O foco do trabalho será sua produção unifamiliar dos anos 60, iniciada com a já citada casa para seu irmão, Roberto Millan, e encerrada com a casa na Praia da Lagoinha para Mario Masetti (1964). Essa série de casas pode ser enquadrada no Brutalismo paulista, mas possui peculiaridades que são próprias de Carlos Millan, conhecido pelo alto nível de detalhamento de seus projetos. Além de arquitetos paulistas contemporâneos, entre eles Artigas, nesta fase Millan recebe influências de mestres internacionais, principalmente Le Corbusier. (LEÃO, 2013, p. 2).

A produção de Millan somou-se à produção de outros arquitetos já engajados

numa preocupação da arquitetura com a sociedade. Muitos deles experimentavam

nos projetos residenciais burgueses soluções que poderiam ser levadas ao projeto de

casas populares. A exploração da materialidade diversa poderia oferecer resultados

interessantes numa época em que o crescimento demográfico era preocupante e a

cidades já enfrentavam problemas com a moradia popular.

É na tentativa de imprimir marcas específicas que alguns arquitetos

experimentaram na produção. São elementos construtivos, formas geométricas,

cores, programas e soluções que apesar de vinculadas a uma origem comum,

permitem a ousadia e a possibilidade de novos caminhos.

Alguns pesquisadores referem-se a essa produção diferenciada da arquitetura

contemporânea paulista como sendo uma “Arquitetura Alternativa”. No entanto, a

arquitetura moderna tem como premissas a ousadia, e nessa categoria podem ser

compreendidas as experimentações feitas pelos arquitetos e artistas em geral que

aparentemente se desviam de paradigmas e modelos.

Carranza (2012, p. 21-22) chegou inclusive a elencar premissas que permitem

caracterizar a “arquitetura alternativa”:

1. Questionamento ao status quo sob o ponto de vista cultural, filosófico, social e artístico.

2. Autonomia teórica e crítica ao establishment: 2.1 Em relação ao Movimento Moderno e ao Estilo

Internacional. 2.2 Em relação à atuação profissional e seus contornos; 3. Produção arquitetônica divergente da corrente paulista

considerada hegemônica: 3.1 Pela solução plástica;

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3.2 Pelo uso de materiais e técnicas construtivas vernaculares ou populares ou ainda na utilização de técnicas de maneira inovadora;

3.3 Crítica à industrialização e repúdio a serialização; 3.4 Busca de referências externos ao contexto

arquitetônico local;

A mesma autora associa a arquitetura alternativa paulista com uma

movimentação contracultural ocorrida ao longo das décadas de 1950 e 1960 em

diversas partes do mundo em resposta à tensão provocada pela Guerra Fria, pela

estandartização comportamental da família e da sociedade, pela industrialização

crescente e massificação.

A Arquitetura Alternativa, como produção contracultural, é parte integrante de um universo de questionamentos ao establishment em que novas pautas surgem no cenário arquitetônico. Essa arquitetura se posiciona à margem da nascente Escola Paulista Brutalista (1953-1973) questionando alguns de seus valores, tais como: o uso da tecnologia mais avançada, com ênfase à tecnologia do concreto armado aparente em soluções que valorizam a plástica através através do conceito de “estrutura como arquitetura”; partidos com coberturas geralmente planas com tetos em grelhas “utilizando lajes nervuradas uni ou bidirecionais”; vedos modulares com alvenarias de tijolos de barro ou blocos de concreto sem revestimento para evidenciar a estrutura, soluções projetuais moduladas visando a serialização e possível industrialização dos componentes. A Arquitetura Alternativa se insere, também, nas discussões críticas ao Movimento Moderno e ao Estilo Internacional. CARRANZA (2012, p. 23).

Segawa (2010) identifica mais uma premissa nessa “Arquitetura Alternativa”, a

aproximação à linha esquerdista de pensamento, bastante compatível com a oposição

aos ideais capitalistas vigentes. Curiosamente, na escola carioca modernista, seu

maior representante, Oscar Niemeyer, tinha o mesmo posicionamento.

Nesse panorama formam-se dezenas de novos profissionais da arquitetura e é

nesse grupo que se insere Sylvio Sawaya.

Vale a pensa ressaltar que no final dos anos 1950, mais precisamente em 1958,

o arquiteto austríaco Friedensreich Hundertwsser publica o seu “Manifesto do Mofo”,

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um registro-protesto contra o possível esgotamento da “arquitetura estéril” do

modernismo. Hundertwsser defendia o resgate da essência humana para que a

arquitetura fosse legítima. Ele achava que o excesso de funcionalidade e a produção

seriada do modernismo estavam deixando a arquitetura distante de seus propósitos.

Para salvar a arquitetura funcionalista da ruína moral uma substância corrosiva deveria ser jogada nos muros de vidro e superfícies de concreto liso para permitir ao mofo que se fixe sobre eles. É tempo de que a indústria reconheça que a missão fundamental é a produção do mofo criativo! É preciso que agora a indústria desenvolva, entre seus especialistas, engenheiros e doutores, responsabilidades para a produção de um mofo criativo... Só os sábios e os engenheiros capazes de viver no mofo e de produzir mofo criativo serão os mestres do amanhã. Somente depois que todas as coisas sejam recobertas de mofo criativo, sobre o qual nós temos muito a aprender, uma nova e maravilhosa arquitetura nascerá. (SCHMIED. 1997, p. 46-48).

Esse manifesto veio a somar-se a práticas de arquitetos no mundo todo. No

Brasil serviu de respaldo para intensificar a proposta brutalista de exploração de

materiais e formas respeitando um projeto autoral criativo, não seriado, onde detalhes

podiam atender às demandas dos clientes e necessitavam da presença constante do

arquiteto no canteiro de obras na condução da execução das ideias pelos

trabalhadores.

Figura 12. Sylvio Sawaya, Lucia Hashizumi e Roque, o mestre de obras, definindo detalhes construtivos. Residência Glaucia Rodrigues. (2015/2017)

Foto: Daniela Rosselli. Dez/2016

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É somente quando o arquiteto, o pedreiro e o ocupante formam uma unidade, isto é, quando se trata da mesma pessoa, podemos falar em arquitetura. Todo o resto não é de modo algum arquitetura, porém a encarnação física de um ato criminoso. Arquiteto, pedreiro e ocupante são uma trindade como o pai, o filho e o espírito santo... Quando a unidade arquiteto-pedreiro-ocupante é quebrada não há arquitetura e essa é a situação atual. O homem deve reencontrar sua função crítico-criativa que se perdeu e que sem a qual deixa de existir enquanto ser humano. (SCHMIED. 1997, p. 46-48).

A aproximação do arquiteto com a obra reforçou os diálogos com os materiais

e a própria paisagem. A arquitetura moderna do início do século XX até a década de

1960, produziu obras que esgotaram a racionalidade e a funcionalidade e resultaram

em exemplos que se distanciavam de uma identidade local5.

Toda a contestação que marcou os anos 1960 foi fundamental para dar novo

fôlego ao modernismo e isso também aconteceu no Brasil.

O despojamento proposto pelo movimento Hippie, a música, a moda, o cinema,

o teatro e até mesmo a indústria foram responsáveis por uma alteração

comportamental-estética notável.

No Brasil, marcado no período pela militarização e censura da expressão, a

passagem da Bossa Nova para o Tropicalismo e até mesmo para a Jovem Guarda

marca também uma atenção para um Brasil mais “livre”, daí o encantamento pela

Bahia e pelos elementos de uma arquitetura tropicalizada6.

O Tropicalismo foi um dos retratos desse período. Definido como movimento pela imprensa, em 1968, foi inspirado no “Manifesto Pau-Brasil” de Oswald de Andrade, e criou a “estética antropofágica contemporânea” cujo objetivo seria “deglutir os movimentos de vanguarda” apresentando contrastes da cultura nacional “moderno e o arcaico, o místico e o industrializado, o primitivo e o tecnológico”, com

5 Muitos dos edifícios e casas modernistas poderiam estar na Europa, América do Sul, América do Norte ou Ásia, sem comprometimento estético. O universalismo (quase uma globalização) deixou de lado a manifestação de elementos locais.

6 Os projetos trazem mais natureza para o interior. As samambaias, o couro, a palha, a madeira, o tijolo usados em harmonia com o concreto, o vidro e o plástico.

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exemplos no cinema, teatro, artes plásticas, música, literatura e arquitetura cênica. (CARRANZA. 2012, p. 198).

Nesse período, nota-se a convivência dos arquitetos que se mantiveram fiéis

ao estilo globalizante do modernismo, mesmo que adaptado, como no caso da escola

paulista brutalista, com um outro grupo que praticou a ousadia de um regionalismo

crítico na arquitetura.

Entendemos que a produção arquitetônica de Lina Bo, ao valorizar a cultura do lugar, o tátil e o visual, além de elementos vernáculos reinterpretados, antecipou as discussões do “Regionalismo Crítico”, distanciando-se do Estilo Internacional e evidenciando as emoções proporcionadas pelo ambiente construído através do lúdico e do simbólico. Introduziu novos elementos na arquitetura paulista, frutos de sua subjetividade artística. Concluímos, portanto, que sua arquitetura é sincrética, pois alia saberes eruditos e populares além da colaboração dos operários, o que revela sua “ideia de arquitetura como ciência social” de matiz gramsciano. As obras que analisamos são alternativas pois não se enquadram às regras de mercado e se distinguem tanto da “grande-arquitetura-oficial-brasileira-moderna”, quanto da Escola Paulista Brutalista (CARRANZA. 2012, p. 266).

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FIGURA 13

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FIGURA 14

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3. OBSERVAÇÃO DOS PROJETOS RESIDENCIAIS DO ARQUITETO DE 1965 A

2017.

3.1. ESCLARECIMENTOS SOBRE PROCEDIMENTOS DO

LEVANTAMENTO DOS PROJETOS.

O primeiro contato com a trajetória e obra do arquiteto Sylvio Sawaya ocorreu

pela leitura de sua Livre Docência organizada com a colaboração de Anália Amorim,

Luis Octavio Pereira Lopes de Faria e Silva, Maria de Lourdes Zuquim, Maria Stella

Tedesco Bertaso, Nuno de Azevedo Fonseca, Tereza Herling e Teresa Riccetti.

O precioso trabalho elaborado em 1997 registrou o estudo das obras do

arquiteto entre 1965 e 1996 englobando toda sua produção, seja em projetos

residenciais, comerciais, edifícios institucionais, projetos para concursos e trabalhos

na área do urbanismo.

Por esta leitura percebeu-se que Sylvio não era um arquiteto de trajetória linear,

sendo versátil tanto nos temas a que se propôs a tratar como nas soluções

apresentadas.

Os organizadores citados acima já haviam demonstrado esta característica do

arquiteto ao redigir o memorial introdutório de suas obras.

No compêndio organizado à época foram reunidos desenhos originais dos

projetos, esboços, croquis, perspectivas e alguns desenhos técnicos.

Sentiu-se falta de fotografias que pudessem ilustrar os projetos realizados,

inclusive mostrando sua condição, passados alguns anos de sua construção. No

entanto vale lembrar que o intuito do material da Livre Docência era analisar o

processo projetual do arquiteto.

Nasceu desta primeira leitura a intenção de frutificar este trabalho, dando

especial atenção aos projetos residenciais do arquiteto com um enfoque voltado não

só ao ato criativo, como também ao resultado estético-espacial. Para tanto,

imediatamente, pensou-se num trabalho apoiado em revisão de projetos construídos

e não construídos, visitação das residências realizadas em São Paulo e entrevistas

tanto com o arquiteto Sylvio Sawaya como com seus clientes.

Um aspecto importante para a concretização deste trabalho de pesquisa seria

observar como outros pesquisadores realizaram levantamentos e registros de obras

de arquitetura para pesquisas acadêmicas.

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Esta observação e contato foram importantes na elaboração do fichamento

pretendido para esta pesquisa.

3.1.1. FORMA DE SISTEMATIZAÇÃO DE OUTROS

PESQUISADORES

Na procura por referências de trabalhos que tivessem realizado estudos

semelhantes sobre obras de arquitetos brasileiros, foram encontradas várias

produções. Dentre estas pesquisas realizadas chamaram a atenção aquelas que

desenvolveram uma metodologia própria para a análise de obras.

A arquiteta Edite Carranza realizou vasta pesquisa sobre a obra residencial do

arquiteto Eduardo Longo, trabalho que lhe permitiu defender sua dissertação de

mestrado em 2004.

Em seu trabalho ela redesenhou dezenas de projetos de habitações

unifamiliares do arquiteto e acrescentou vasto registro fotográfico sobre as obras.

Figura 15. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Carranza (2004). Fonte: CARRANZA, 2004.

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Para sistematização do material normatizou a catalogação em fichas onde constavam

dados gerais do projeto como ano de criação, ano de execução, localização, áreas,

material encontrado, existência de publicação sobre a obra e diferenciais.

Figura 16. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Carranza (2004). Fonte: CARRANZA, 2004.

No trabalho de Ruth Verde Zen, realizado sobre a obra de Paulo Mendes da

Rocha e utilizado em sua dissertação de mestrado em 2000, a pesquisadora definiu

fichas padronizadas de registro, onde analisou muitas das obras do arquiteto,

trazendo desenhos refeitos e fazendo análises sobre a estrutura do projeto, a

volumetria, a geometria além de observações e descrições complementares.

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Figura 17. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Zein (2000). Fonte: ZEIN, 2000.

Figura 18. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Zein (2000). Fonte: ZEIN, 2000.

Na dissertação de mestrado de Pablo Graça, realizada em 2007, o pesquisador

faz um levantamento da obra do arquiteto Joaquim Guedes entre 1957 e 1978 com

enfoque sobre projetos habitacionais e residenciais. Graça traz 14 obras organizadas

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em capítulos contendo itens como motivação do projeto, características dos clientes,

contexto histórico-cultural, o lugar de implantação, aspectos compositivos, formais,

funcionais e técnico-construtivos acompanhados de registro iconográfico (projeto

redesenhado e fotografias).

Figura 19. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Graça (2007). Fonte: GRAÇA, 2007.

O arquiteto Carlos Millan serviu de tema para a dissertação de Sergio Matera,

em 2005. Em sua pesquisa ele traz projetos gerais do arquiteto realizados entre 1951

e 1964, analisados a partir de projetos originais reproduzidos, redesenhos em

arquivos digitais, croquis, fotografias e entrevistas.

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Figura 20. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Matera – Residência para Olivo Gomes (2005). Fonte: MATERA, 2005.

A arquiteta Ana Tagliari Florio, realizou em 2012 detalhada análise sobre a obra

residencial não construída de Vilanova Artigas. Para a sistematização da pesquisa

desenvolveu fichas individuais dos projetos como desenhos originais, redesenhos em

arquivo digital, maquetes eletrônicas e fotografias de maquetes físicas construídas

pela pesquisadora. Sua análise posterior engloba aspectos volumétricos, espaciais,

de implantação, distribuição, circulação e contexto.

Figura 21. Modelo de ficha catalográfica utilizada por Ana Tagliari Florio (2012).

Fonte: FLORIO, 2012.

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Da observação destes trabalhos e de outros tantos consultados surgiram

premissas para a definição de como seria feita a sistematização dos registros das

obras de Sylvio Sawaya neste trabalho.

3.1.2. MODELO DAS FICHAS DESENVOLVIDAS PARA O

LEVANTAMENTO

Ao analisar as referências descritas acima foram registrados questionamentos

direcionadores:

- Como as obras foram selecionadas pelos pesquisadores?

- Quais os critérios de relevância?

- Como foram redesenhadas? Com que nível de detalhamento?

- O que cada pesquisador priorizou na descrição? Nas fichas?

- Qual a ordem para apresentação das obras? Cronológica, relevância,

tamanho, localização, sistema construtivo, partido?

- Qual a melhor linguagem para apresentação dos projetos? Fotografias,

croquis, redesenhos, maquetes físicas ou eletrônicas?

- No caso especial da obra residencial de Sylvio Sawaya, deveria abranger o

todo ou poderia haver um enfoque na obra realizada em São Paulo?

- Haveria a necessidade de adicionar os atuais projetos do pesquisado já que

o mesmo ainda se encontra atuante?

A partir destes questionamentos foram feitos ensaios de registro, dos quais

resultaram um modelo resumidor que poderia servir de fácil referência ao futuro leitor

como também ao desenvolvimento da própria pesquisa.

As fichas deveriam conter plantas, cortes e elevações refeitas em autocad,

utilizando cores suaves além do contraste preto e branco. Não haveria inclusão de

layout nos projetos. Fotografia atuais acompanhariam cada projeto. Uma pequena

ficha resumo traria dados com datas de criação e execução, áreas e referências a

publicações existentes. Em seguida uma pequena análise da obra comentaria

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aspectos como acessos, circulação, setorização, identificação de malha estrutural ou

geometria base e resultado volumétrico.

Figura 22. Modelo de ficha catalográfica utilizada nesta pesquisa.

Com esta definição partiu-se à etapa de criação das fichas com a seleção dos

projetos a serem estudados.

3.2 AS RESIDÊNCIAS PROJETADAS POR SYLVIO SAWAYA

A seguir, encontram-se listados diversos projetos de Sylvio Sawaya7 incluindo

obras residenciais, comerciais, projetos de planejamento urbano, escolas e projetos

participantes de concursos. Parte desta compilação foi obtida junto a sua tese de livre

docência e complementada com estudos paralelos.

7 Compilação realizada por ocasião da livre docência do arquiteto e utilizada neste trabalho como referência para a amostragem de projetos residenciais. Vale salientar que nesta listagem foram adicionados projetos posteriores por sua relevância ao tema residencial em pesquisa.

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Resumidamente temos:

Livre Docência projetos de 1965 a 1996...................97 Projetos

Sendo:

...................................................................................49 Casas (*R)

...................................................................................31 Diversos (*C)

...................................................................................12 Concursos (CC)

...................................................................................02 Escolas (*E)

...................................................................................03 Urbanismo (*U)

...................................................................................01 Pesquisa (*P)

*Código utilizado na Tabela geral de projetos da livre docência.

Figura 23. Gráfico quantitativo de projetos da livre docência de Sylvio Sawaya. Fonte: Adaptado pela autora.

Nesta lista encontram-se algumas das residências que serão analisadas em

seguida de modo mais específico, escolhidas pela representatividade e diversidade

projetual. A elas acrescentaram-se 4 residências cujos projetos foram desenvolvidos

após 1996 e que foram percebidos como relevantes durante esta pesquisa.

Assim sendo, após a listagem completa, segue a análise de 19 casas

projetadas por Sylvio Sawaya, construídas entre 1965 e 2017.

LEGENDA UTILIZADA

CÓDIGOS USO DA EDIFICAÇÃO

R-000 Residências

C-000 Edificações em geral

CC-000 Concursos

E-000 Escolas

U-000 Urbanismo

P-000 Pesquisa

CASAS DIVERSOS CONCURSOS ESCOLAS URBANISMO PESQUISA

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LISTA GERAL DA PRODUÇÃO DE SYLVIO SAWAYA DE 1965 A 1996*

FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

R-001 1965 Não construída Resid. Sr. Prosperi São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Tinoco, Luiz Carlos Daher, Cristiano Mascaro, Francisco Viveiros.

R-002 1965 Construído Resid. Paulo Sawaya São Sebastião - SP Sylvio Sawaya

C-001 1967 Não construído Fazenda Urubupungá Porto Feliz - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco, Luiz Carlos Daher, Cristiano Mascaro, Francisco Viveiros.

E-001 1967 Construída em desacordo

Escola D. Macário São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco, Luiz Carlos Daher, Cristiano Mascaro, Francisco Viveiros.

R-003 1968 Não construído Resid. Sr. Anibal Paes de Barros São Paulo - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

CC-001 1968 Sem legenda Concurso Biblioteca Salvador- Segundo Prêmio Salvador - BA Sylvio Sawaya, Joaquim Guedes, Tokuji Ito, Pedro Tadei

R-004 1969 Construído Resid. Sr. Hermínio Bianchi ----------- Sylvio Sawaya, Pedro Tadei (exilado)

R-005 1969 Construído Resid. João Marino São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-006 1969 Não construído Tulha Sr. Roberto Millan - reforma Itatiba - SP Sylvio Sawaya

C-002 1969 Não construído Consultório Sr. Roberto MIllan - reforma São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-007 1969 Não construído Resid. De campo SR. Fernando Ribeiro do Val São Simão - SP Sylvio Sawaya

R-008 1970 Construída Resid. Sylvio Sawaya – casinha 35m² Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

R-009 1970 Construído Resid. Denise e Ivete Palmas do Tremebé - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-010 1970 Construído Sítio Sabiá – Márcio Freitas Bragança Paulista - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-011 1971/72 Não construído Resid. Cantagalo Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

C-003 1971 Não construído Agência banco São Paulo Araraquara - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

C-004 1971/72 Não construído Antiquário Paulo Vasconcelos São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

C-005 1972 Não construído Control S. A. São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

U-001 1972 Sem legenda Largo da Concórdia - doutorado São Paulo - SP Sylvio Sawaya

R-012 1972 Construído Resid. Rene e Vera São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-013 1972 Não construído Resid. Jô e NIl São Paulo - SP Sylvio Sawaya

C-006 1972 Não construído Edifício Avenida Paulista São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

E-002 1972 Construída Escola Vera Cruz São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-014 1972 Construído Resid. Isaias Alves de Queiros São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-015 1972/73 Não construído Resid. Airton Russo São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

C-007 1972/75 Construído Fazenda São Sebastião Bragança Paulista - SP Sylvio Sawaya, Edmilson Tinoco

R-016 1973 Construído com alteração

Resid. Roberto Marino I Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

R-017 1973/74 Não construído Resid. Valdir Roval São Paulo - SP Sylvio Sawaya

R-018 1973/74 Construído Resid. Bruno Masetti Cotia - SP Sylvio Sawaya, Nelson Yamaga

CC-002 1974 Não construído Concurso Sede Indústria Gessy Lever São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Jorge Wilheim

C-008 1974 Construído Edifício Sede FAPESP São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Jorge Wilheim, Sueli Suchodowsky

R-019 1975 Construído Resid. Maria Amélia Pereira-casa redonda Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

R-020 1975 Construído Resid. J. Altivo leite Pinto Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya, Akiko Yamashita

C-009 1975 Construído parcialmente

Centro de Cultura ------- SP Sylvio Sawaya, Jorge Wilheim, Eloisa Fiusa, Nelson Yamaga, Akiko Yamashita

CC-003 1978 Não construído Concurso casa de Cultura Edgar Santos Salvador-BA Sylvio Sawaya

U-002 1978 Sem legenda Plano para ocupação das áreas vizinhas à Represa formada pelos Rios Jaguari, Jacareí, Juquei.

---------- -------

R-021 1980 Construído Resid. Paulo sawaya – casa e Biblioteca Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

C-010 1980 Sem legenda Brongo do Pau Miudo Salvador - BA Sylvio Sawaya e equipe

U-003 1978/80 Sem legenda Rondônia – Nucleos urbanos de apoio Rural Rondônia Sylvio Sawaya e equipe

P-001 1981 ------- Parque D. Pedro II-pesquisa São Paulo - SP Sylvio Sawaya – FAU-USP

R-022 1982 Não construído Resid. José Carlos Barros - estudos São Roque - SP Sylvio Sawaya

R-023 1983 Não construido Resid. Luis Gonzaga e Miriam São José dos Campos - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-024 1983 Construído Resid. Julio e Ana Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya, Cristina Schichi, Eloise Torres

R-025 1984 Não construída Casa experimental Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya, Marcio Mazza

R-026 1984 Construído Resid. Augusto Vitorino Pereira Salvador - BA Sylvio Sawaya

C-011 1984 Não construído Proposta Hospital Terra São Paulo - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-027 1984 Construído em desacordo

Projeto habitação Favela São Remo São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Maxim Bucaretchi, Paulo Fecarotta, Isabel Tavares

R-028 1984 Construído Resid. Sonia Lins Vinhedo - SP Sylvio Sawaya, Nuno, Claudia Leite

C-012 1984/85 Não construído Unidade Básica de Saude - CDH ------- Sylvio Sawaya coordenador

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

C-013 1985 Construída Galeria Millan São Paulo - SP Paulo Fecarotta, colaboração: Sylvio Sawaya

C-014 1986 Sem legenda Espaço do Gesto – Centro Cultural USP São Paulo - SP ---------

CC-005 1986 Sem legenda Concurso Anhangabaú São Paulo - SP Sylvio Sawaya e equipe

C-015 1987 Sem legenda Gremio Esportivo Atibaiense Atibaia - SP ----------

R-029 1987 Construído Resid. Fernão Bracher São Paulo - SP Sylvio Sawaya associados

R-030 1987 Construído Resid. Vera Ursaia e Rogério – reforma São Paulo - SP Arquitetura Cabodá, Nuno Fonseca, Claudia Leite

R-031 1987 Não construído Resid. Silvio Bresser Pereira Ibiúna - SP Sylvio Sawaya associados

R-032 1987 Construído Resid. Thomaz lanz São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Paulo Fecarotta

R-033 1987 Construído Resid. Piet Novel - reforma São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Nuno Fonseca

R-034 1988 Construído Resid. Fernão Bracher (pisos) São Sebastião - SP Sylvio Sawaya, Leticia Aschar

R-035 1988 Construído Resid. Dr Rogerio Sawaya São Paulo - SP Sylvio Sawaya e equipe

C-016 1988 Sem legenda Prefeitura de catiguá - estudos Catiguá - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer, Leticia Aschar

R-036 1988 Construído Resid. Nana e Giulia Sumaré - SP Paulo Fecarotta, colaborador: Sylvio Sawaya

CC-006 1989 Sem legenda Concurso anexo FAU-USP São Paulo - SP Sylvio Sawaya

CC-007 1989 Sem legenda Concurso Igreja Cerqueira Cedsar Cerqueira Cesar - SP ---------

C-017 1989 Não construído Studio Beth Sawaya São Paulo - SP Sylvio Sawaya

C-018 1989/91 Construído Santuário da Igreja Messiânica-Guarapiranga São Paulo - SP Sylvio Sawaya

R-037 1990 Não construído Resid. Monica e Edu Cotia - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer

C-019 1989 Não construído Casa Noturna Evelin’s São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer

R-038 1990 Construído Resid. Isaias Alves de Queiros - reforma São Sebastião - SP Nelson Yamaga, colaborador: Sylvio Sawaya

CC-008 1990 Sem legenda Concurso Pavilhão em Sevilha São Paulo - SP Sylvio Sawaya e equipe

C-020 1991 Não construído ILAM - Sorocaba Sorocaba - SP Sylvio Sawaya, Eduardo Longo, Paulo Montoro, Evelina Bloem

R-039 1991 Não construído Fazenda Paulo Sawaya São Carlos - SP Sylvio Sawaya

C-021 1991 Não construído Pavilhão de recepção I.M.M.B.-Guarapiranga São Paulo - SP Sylvio Sawaya

C-022 1991 Construído Ateliê da Licó-Elisa Sawaya Bracher São Paulo - SP Arquitetura Cabodá, Elsa Siefer

CC-009 1991 Sem legenda Concurso Tocantins ------ --------

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

R-040 1992 Não construído Sítio Luminoso Santo Antonio do Pinhal - SP Sylvio Sawaya e equipe

C-023 1992 Construído Teatro Brincante –reforma galpão São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Marcia macul, Leticia Maranhão

R-041 1992 Construído Resid. Pedro Nasi Neto Granja Viana - SP Arquitetura cabodá, Elsa Siefer

R-042 1992 Construído Resid. Jacira Barroso - reforma São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer, Stella Tedesco

R-043 1992/93 Não construído Resid. Luis Gonzaga Guimarães Pinheiro São José dos Campos - SP Arquitetura Cabodá, Elsa Siefer, Stella tedesco

R-044 1993 Construído Resid Mario e Beth Kaphan - reforma São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer, Stella tedesco

C-024 1993 Não construído ILAM – Rio Verde Goiania - GO Sylvio Sawaya, Eduardo Longo, Paulo Montoro, Elsa Siefer, Evelim Bloem

C-025 1993 Não construído ILAM – Campina Grande Campina Grande - PB Sylvio Sawaya, Eduardo Longo, Paulo Montoro, Elsa Siefer, Evelim Bloem

C-026 1993 Construído Sorana Sul Concessionária Volkswagem Taboão da Serra - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

C-027 1993 Não construído ILAM - Pindamonhangaba Pindamonhangaba - SP Sylvio Sawaya, Eduadro Longo, Paulo Montoro, Elsa Siefer, Evelim Bloem

R-045 1994 Construído Resid. Raquel Figueiredo - reforma São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

R-046 1994 Não construído Projeto Paraty mirim Parati Mirim - RJ Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

R-047 1994 Não construído Resid. Roberto Saito São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

C-028 1994 Construído Sorana Norte Concessionária Volkswagem São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

C-029 1994 Construído Sorana Audi Concessionária São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

C-030 1995 Construído Laboratório Embrabio-reforma e layout São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

R-048 1996 Em construção Resid. Paulo Cunha e Jani Vargas Cotia - SP Sylvio Sawaya, Stella Tedesco, colaboradora: Lucia Mayumi

C-031 1996 Construído Clínica Médica Dr. Rogerio Sawaya e Dr Renato Prandini

São Paulo - SP Sylvio Sawaya, colaboração: Stella Tedesco e Lucia Mayumi

R-049 1996 Construído Fazenda Gilda Moraes Ferreira Campinas - SP Sylvio Sawaya, Lucia Mayumi, Luis Octavio de faria e Silva, colaborador: Pascoal Odhul

CC-010 1996 Sem legenda Concurso de proposta para valorização urbana da Av. Paulista

São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer, Sandra Tiemi, Irene Rustchi, Lucia Mayumi, Evelim Bloem

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

CC-011 1996 Sem legenda Concurso Centro de São Paulo São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Stella Tedesco, Luis Octavio de faria e Silva, Andreina Nigrello, Lucia Mayumi, Marta Enokibara, Evelim Bloem, Teresa Riccetti.

CC-012 1996 Sem legenda Concurso Correio ---- Sylvio Sawaya, Lucia mayumi, Lilian Ried Muller, Luis Octavio de Faria e Silva

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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LISTA GERAL DA PRODUÇÃO DE RESIDÊNCIAS DE SYLVIO SAWAYA DE 1965 A 1996*

FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

R-001 1965 Não construída Resid. Sr. Prosperi Morumbi – São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Tinoco, Luiz Carlos Daher, Cristiano Mascaro, Francisco Viveiros.

R-002 1965 Construída Resid. Paulo Sawaya – casa caiçara São Sebastião - SP Sylvio Sawaya

R-003 1968 Não construída Resid. Sr Aníbal Paes de Barros São Paulo - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-004 1969 Construída Resid. Sr Hermínio Bianchi ---------- Sylvio Sawaya e Pedro Tadei (enquanto exilado)

R-005 1969 Construída Resid. João Marino Morumbi – São Paulo Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-006 1969 Não construída Tulha Sr. Roberto Millan - reforma Itatiba - SP Sylvio Sawaya

R-007 1969 Não construída Resid. Sr. Fernando Ribeiro do Val São Simão - SP Sylvio Sawaya

R-008 1970 Construída Resid. Sylvio Sawaya – casinha 35m² Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya e Lúcia Mayumi

R-009 1970 Construída Resid. Sra. Denise e Ivete Palmas do Tremembé - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-010 1970 Construída Resid Márcio Freitas-Sítio Sabiá Bragança Paulista - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-011 1971/72 Não construída Resid. Cantagalo Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-012 1972 Construída Resid. Renê e Vera Pinheiros – São Paulo - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-013 1972 Não construída Resid. Jô e Nil Morumbi – São Paulo Sylvio Sawaya

R-014 1972 Construída Resid. Isaias Alves de Queirós V. Madalena – São Paulo Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-015 1972/73 Não construída Resid. Ailton Russo São Paulo - SP Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco

R-016 1973 Construída c/ alteração

Resid. Roberto Marino - 01 Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

R-017 1973/74 Não construída Resid. Valdir Rovaí São Paulo - SP Sylvio Sawaya

R-018 1973/74 Construída Resid. Bruno Masetti Cotia - SP Sylvio Sawaya e Nelson Yamaga

R-019 1975 Construída Resid. Ma. Amélia Pereira-Casa Redonda Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

R-020 1975 Construída Resid. J. Altivo Leite Pinto – Associação Cisne Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya e Aiko Yamashita

R-021 1980 Construída Resid. Paulo Sawaya – (Sra Gisele) Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya

R-022 1982 Não construída Resid. Sr. José Carlos Barros São Roque Sylvio Sawaya

R-023 1983 Não construída Resid. Luiz Gonzaga e Miriam - taipa São José - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-024 1983 Construída Resid. Julio e Ana Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya, Cristina Schichi, Eloise Torres

R-025 1984 Não construída Casa experimental - Seminário Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya, Marcio Mazza

R-026 1984 Construída Resid. Augusto Vitorino Pereira Salvador - BA Sylvio Sawaya

Residências que farão parte do estudo de caso

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

R-027 1984 Em desacordo Habitação favela São Remo USP – São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Maxim Bucaretchi, Paulo Fecarotta, Isabel Tavares

R-028 1984 Construída Resid. Sonia Lins Vinhedo - SP Sylvio Sawaya, Nuno, Claudia Leite

R-029 1987 Construída Resid. Fernão Bracher São Paulo - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-030 1987 Construída Resid. Vera Ursaia e Rogério - reforma São Paulo - SP Arquitetura Cabodá, Nuno Fonseca, Claudia Leite

R-031 1987 Não construída Resid. Silvio Bresser Pereira Ibiuna - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-032 1987 Construída Resid. Thomaz Lanz ----------- Sylvio Sawaya, Paulo Fecarotta

R-033 1987 Construída Resid. Piet Novel - reforma ----------- Sylvio Sawaya, Nuno Fonseca

R-034 1988 Construída Resid. Fernão Bracher São Sebastião - SP Sylvio Sawaya, Leticia Aschar

R-035 1988 Construída Resid. Rogério Sawaya Santo Amaro – São Paulo Sylvio Sawaya e equipe

R-036 1988 Construída Resid. Nana e Guila Sumaré - SP Paulo Fecarotta - Sylvio Sawaya colaborador

R-037 1990 Não construída Resid. Monica e Edu Cotia - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer

R-038 1990 Construída Resid. Isaias Alves de Queirós-casa de praia São Sebastião – São Paulo Sylvio Sawaya e Nelson Yamaga

R-039 1991 Não construída Fazenda Paulo Sawaya São Carlos - SP Sylvio Sawaya

R-040 1992 Não construída Sítio Luminoso Santo Antonio do Pinhal - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-041 1992 Construída Resid. Pedro Nasi Neto Cotia - SP Arquitetura Cabodá, Elsa Siefer

R-042 1992 Construída Resid. Jacira Barroso São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer, Stella Tedesco

R-043 1992/93 Não construída Resid. Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro São José dos Campos - SP Arquitetura Cabodá, Elsa Siefer, Stella Tedesco

R-044 1993 Construída Resid. Mario Kaphan e Beth Sawaya - reforma São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer, Stella Tedesco

R-045 1994 Construída Resid. Raquel Figueiredo - reforma Brooklin – São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

R-046 1994 Não construída Resid. Paraty Mirim Paraty Mirim - RJ Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

R-047 1994 Não construída Resid. Roberto Saito São Paulo - SP Sylvio Sawaya, Elsa Siefer e equipe

R-048 1996 Construída Resid. Paulo Cunha e Jani Vargas Cotia - SP Sylvio Sawaya, Stella Tedesco, colaboradora Lucia Mayumi

R-049 1996 Construída Resid. Gilda Moraes Ferreira Campinas - SP Sylvio Sawaya, Lucia Mayumi, Luis Octávio de Faria, colaboração Pascal Odhul

Residências que farão parte do estudo de caso

*Material sistematizado durante a realização da livre docência do arquiteto.

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FICHA ANO STATUS NOME LOCAL AUTOR

R-050 1998 Construída Resid. Ma. Amelia Pereira – Casa Hexagonal Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya e Lucia Mayumi

R-051 2002 Construída Resid. Fatima Belo Caucaia do Alto - SP Sylvio Sawaya e equipe

R-052 2011 Em construção Resid. Roberto Marino - 02 Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya e Lucia Mayumi

R-053 2015/17 Em construção Resid. Glaucia Rodrigues Carapicuíba - SP Sylvio Sawaya e Lucia Mayumi

Residências que farão parte do estudo de caso

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3.3 RECONHECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS PROJETUAIS DO AUTOR

Para facilitar a comparação, identificação e análise dos elementos

característicos projetuais de Sylvio Sawaya, organizou-se um comparativo visual por

subtemas, onde se agrupam os projetos por similitude. Nessa ação também são

incluídas as referências que aproximam seus projetos a outros desenvolvidos no

mesmo período por outros arquitetos de sua geração.

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HEXÁGONO: FORMAS GEOMÉTRICAS EM PLANTA

As linhas retas são uma característica do modernismo, foram exploradas nas

artes visuais e também na arquitetura. Muitos arquitetos ousaram ao sair das

configurações retangulares para experimentar modulações com polígonos diversos

dos quais o hexágono e o octógono foram os mais utilizados. O encaixe dos módulos

permitiu plantas praticamente flexíveis a qualquer programa. Os exemplos aqui

trazidos de Acayaba, Millan e do próprio Sylvio Sawaya são resultados dessa

característica da Escola Paulista em explorar não só os materiais (na perspectiva

brutalista) como a forma. Vale lembrar que as fugas dos polígonos, na exploração do

círculo também marcaram essa geração.

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CASA: IDENTIDADE COM A CULTURA LOCAL

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O projeto residencial parte das demandas do cliente e também da identificação

do projeto com o entorno. Nesta linha de pensamento, casas urbanas seriam

diferentes de casas no campo ou na praia. Na visão de Sawaya seria possível agregar

elementos positivos das duas propostas em todas as situações. É visível sua intenção

em trazer a seus projetos residenciais as características de prazer e lazer presentes

nos projetos de veraneio, estejam eles onde estiverem. Curioso é que, nos projetos

de menor dimensão, as bases da setorização remontam às casas bandeiristas

integrando ambiente central de distribuição e também, quando possível a varanda e o

alpendre. Na mesma linha o fez Millan. É possível notar nas plantas aqui trazidas a

similitude de partido, tanto em planta como no resultado estético dos materiais. Nos

projetos de maior dimensão, esse pensar comum acabam produzindo também

projetos parecidos em alguns aspectos como a horizontalidade e paralelismo dos

ambientes.

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ESTRUTURA APARENTE COMO EXPRESSÃO

Na intenção de revelar as possibilidades dos elementos construtivos, a

arquitetura moderna revela em suas empenas sua estruturação. Explora-se ao

máximo o resultado estético dessa escolha. Os vedos são elementos coadjuvantes

que por sua simplicidade ampliam o destaque estrutural. Tanto em edifícios

comerciais, residenciais, como nas casas, os arquitetos deram especial destaque a

essa intenção. O uso de pilares que se ramificam foi bastante explorado em obras de

Niemeyer num conceito mais robusto. Gio Ponti utilizou o pilar e as nervuras em laje

para esse realce. Sawaya, Guedes e outros paulistas também fizeram uso dessa

plasticidade e imprimiram a marca do movimento moderno em seus projetos.

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CASA-APARTAMENTO

O uso do pilotis talvez seja uma das mais marcantes características do

movimento moderno. Le Corbusier explorou ao máximo esse recurso e quase todos

os outros arquitetos que o seguiram, fizeram o mesmo. O pilotis resulta na liberação

do embasamento, seja ele em terreno natural ou urbano. Na primeira opção facilita a

integração com a natureza e a menor impermeabilização do solo. Na segunda opção

permite o fluxo de pedestres, veículos e também a manutenção vegetal no plano

térreo. Nos projetos residenciais, essa situação leva ao plano superior a totalidade

dos ambientes, criando a sensação da “casa-apartamento”, já que, as aberturas de

todos os ambientes estão acima do plano inferior.

Sawaya soube tirar partido desse recurso em projetos residenciais de maior

porte na intenção de vencer topografias desfavoráveis e também nos lotes urbanos

para permitir maior amplitude. Da mesma forma, Bardi, Millan, fizeram o mesmo.

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USO DE CURVAS: ROMPENDO A LINEARIDADE

Dizer que o modernismo abusou das linhas retas pode ser exagero, já que são

inúmeros os projetos em que as curvas chamam a atenção. Sawaya e Millan

conseguiram integrar as duas propostas. Le Corbusier e Niemeyer ousaram em planta

e na volumetria. Na arquitetura paulista muitos arquitetos da geração 1960-1970

imprimiram sua marca no uso de ambientes curvos. Em geral banheiros e lavabos

recebiam essa atenção, como se nota nos projetos de Tozzi.

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USO DE CURVAS: ROMPENDO A LINEARIDADE - LAVANDERIAS

Em especial, Sawaya abusou das curvas na configuração dos espaços de

lavanderias e áreas de serviço. Artigas também o fez. Curiosamente, Sawaya descola

o espaço da “área de serviço” do espaço da cozinha, numa alusão às casas de campo,

onde a parte de serviços situava-se fora da casa.

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CARACTERÍSTICAS VISUAIS

Em se tratando de uma escola de arquitetura, não é de estranhar que muitas

vezes não se consiga identificar plenamente a autoria de um projeto. O uso de

mesmos elementos construtivos, mesmos aspectos estruturais, mesmas soluções

para vedações e coberturas e também determinações demandadas por clientes em

função de modismos temporais, acaba por resultar em projetos parecidos em

concepção. Aqui temos um exemplo dessa situação. O projeto de Sawaya atendeu à

solicitação de seu cliente, cujo irmão possuía residência criada por Mendes da Rocha

no final dos anos 1960. A preferência por vigas de concreto, claraboias, lareiras

monovolumétricas erguidas do piso e mosaicos em revestimentos, resultou em

projetos muito parecidos. Sawaya conseguiu imprimir sua marca na típica lavanderia

curva.

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COBERTURA EM ARCO

A cobertura românica abobadada feita em tijolos já era secular, assim sendo,

coube aos modernistas mostrar mais esta plasticidade do concreto, criando abóbadas

sequentes em projetos diversos. Le Corbusier, Millan e Guedes, são alguns dos que

usaram com frequência essa solução entre o final dos anos de 1950 e os anos 1970.

Sawaya também experimentou esta possibilidade em projetos residenciais, não

utilizou em muitas vezes, por questões de orçamento no projeto.

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MODULAÇÃO

A geometrização valorizada pelo movimento moderno e a intenção seriada

encontraram na modulação uma possibilidade projetual. A criação de eixos e módulos

facilitava o posicionamento dos elementos estruturais-pilares/vigas, que ficariam em

destaque no resultado final do projeto. A mesma modulação facilitava o projeto da

cobertura. Sawaya modulou praticamente em todos os seus projetos, inclusive nos

circulares.

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TEXTURAS – ACABAMENTOS

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TEXTURAS – ACABAMENTOS

Faz parte do posicionamento modernista, em especial da Escola Paulista a

exploração profunda dos materiais utilizados para as obras, bem como, a execução

de detalhes construtivos e ornamentais. Estes detalhes, que incluíam desenho de

caixilharia, portas, janelas, pisos e até mesmo metais exigiam dos arquitetos

criatividade e conhecimento. No caso de Sawaya, soma-se a isso o elemento afetivo.

O arquiteto trouxe de suas referências pessoais, formas para esses detalhes, como é

possível perceber nas portinholas presentes nas janelas da Casa Redonda, criadas

em alusão às fornalhas das casas rurais. Os diferentes tipos de tijolos vazados foram

por ele explorados para ambientes diversos, dos corredores aos dormitórios,

incorporando vidro e permitindo valorizar a ventilação e iluminação naturais. O uso de

instalações hidráulicas e elétricas aparentes, fato explorado por outros arquitetos da

geração, imprimia além da intenção de revelar a “verdade” funcional dos elementos,

o respeito a integridade das estruturas e dos vedos, facilitando a execução da obra

como um todo.

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SISTEMA CONSTRUTIVO

A relevância de um arquiteto em sua geração pode ser atestada e conferida

pela versatilidade, tanto no uso de sistemas construtivos diversos, como na resposta

a demandas diferenciadas. Sawaya preenche esses dois requisitos. Ele consegue

criar uma residência de aparência simples, feita com elementos típicos da arquitetura

histórica paulista, como a taipa e a madeira, incorporando uma racionalidade e

funcionalidade no partido adotado. Também consegue esse resultado no emprego

plástico do concreto em residências de volumetria imponente. No uso do tijolo, ele

foge do convencional, explorando formas, geometrias e modulações, possibilitando o

emprego de elementos simples em propostas ousadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA DE SYLVIO SAWAYA

PARA O ENTENDIMENTO DA CASA NO ESPAÇO E NO TEMPO

Depois de meses de imersão no universo da arquitetura de Sylvio Sawaya,

julgo necessário manifestar a grande dificuldade em analisar a produção de um artista

ainda vivo e em atividade. Foi necessário um distanciamento, típico de uma pesquisa

fenomenológica, para separar a admiração da interpretação na intenção de produzir

um trabalho isento.

Embora o objeto de pesquisa já tivesse reduzido o universo da produção total

do arquiteto para a análise apenas dos projetos residenciais, foi também difícil

selecionar uma amostra de exemplos desses projetos adequando: disponibilidade de

material, relevância, gosto pessoal da pesquisadora e indicação do próprio arquiteto.

Apesar de tudo isso, cada etapa percorrida foi fundamental na busca de

respostas para a confirmação das hipóteses levantadas e principalmente para o

enriquecimento da pesquisadora com relação ao universo da arquitetura e da

pesquisa acadêmica.

Na sequência textual aqui apresentada, discutiu-se sobre o papel da casa

enquanto elemento arquitetônico muito ligado a questão sócioafetiva que o tema

envolve. Em seguida falou-se da importância do projeto arquitetônico de residências

para o exercício criativo e profissional do arquiteto. Apresentou-se uma breve biografia

do arquiteto Sylvio Sawaya, complementada com um panorama da arquitetura

moderna sobretudo no Brasil, na intenção de situá-lo historicamente. Fichas

esquematizadas trouxeram aspectos diversos dos projetos residenciais mais

significativos do arquiteto. Após essas etapas ilustrativas foi possível apontar algumas

características projetuais identificáveis nos exemplos analisados.

O que se pode concluir disto tudo?

A convivência com uma família numerosa teve grande influência na relação do

arquiteto com a temática da residência unifamiliar. Sylvio percebeu que a casa tinha

que possuir espaços de integração e convívio, além de manter uma clara fluidez entre

espaços internos e externos. Suas memórias afetivas mantem-se viva ao longo de

sua produção e integra-se aos anseios dos clientes resultando numa concepção de

viver e morar pautada pela alegria e aconchego. Percebe-se uma preocupação em

permitir a comunicação de espaços, pessoas e acontecimentos.

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Alternando na juventude a vivência na cidade, no campo e na praia e

percebendo a diferença dos ambientes, Sawaya acabou por incorporar no seu projeto

residencial a ludicidade da residência de férias. Seria uma intenção de trazer para o

projeto residencial, elementos capazes de estimular a alegria e a descontração que

se vivenciam nos ambientes de lazer. Embora isso não esteja explícito, nota-se uma

interdependência da arquitetura com a paisagem.

No projeto arquitetônico, percebe-se o esmero do autor em explorar ao máximo

a capacidade dos materiais empregados. São detalhes dos desenhos de portas,

janelas, metais, estruturas de coberturas, pisos que aproximam o arquiteto da filosofia

brutalista do movimento moderno onde se busca a verdade dos materiais ou a ética

dos materiais e não sua estética e também da vertente de arquitetos que exerceu um

regionalismo crítico projetual.

O resultado desses fatores são residências peculiares, muitas delas em que o

elemento lúdico se manifesta mais fortemente ao observador. Não é à toa que

algumas residências projetadas pelo arquiteto, foram adaptadas como escolas e

instituições.

De certa forma a empatia despertada por seus projetos tem como segredo o

resgate da essência da casa resultante. É como se o elemento de destaque fosse as

possibilidades que a construção permite ao usuário/cliente.

Na arquitetura é evidente o papel do impacto do conjunto. Ninguém fica

indiferente ao visitar o Vaticano, ao erguer o olhar para o Empire State ou para o

Teatro da Ópera de Sydney, pois possuem uma escala majestosa8 de impacto. Em

alguns casos essa monumentalidade ofusca o uso primeiro que se estabeleceria

naquele espaço projetado. A arquitetura como ícone, como obra de arte de valor

próprio independente das ações humanas que possam ocorrer em seu interior.

Em muitos projetos residenciais a materialidade da arquitetura sobrepassa as

relações humanas envolvidas. Em alguns casos percebe-se a intenção do arquiteto

em valorizar certos elementos, mas existem excessos que comprometem os

resultados.

8 Lembrando que a grandiosidade e o impacto também ocorrem em projetos de menor escala, desde que a notoriedade do projeto sobressaia.

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Sylvio resgata a casa partindo do ser humano, no sentido de conhecer seu

cliente, sua família, sua dinâmica social, sua forma de morar e de se relacionar com o

mundo. Com essa aproximação ele pôde criar com comprometimento, ou seja,

manifestar sua intenção de projeto balizada pela apreensão. A casa resultante é

abrigo, ambiente de convívio, espaço de relações humanas e sobretudo um elemento

inserido na paisagem e que ao mesmo tempo a organiza.

Observando os exemplos trazidos neste trabalho, vê-se que o arquiteto encanta

tanto em projetos simples como a Casa Caiçara, a casinha de 35m², a residência de

Fátima Belo, como também em projetos suntuosos como a residência João Marino ou

Bruno Masetti. Em todos eles há uma dinâmica familiar geradora. Houve uma tradução

das relações sociais familiares para os espaços necessários e estimulantes dessas

relações. Em todos eles também é possível apreciar os diferenciais personalizados

projetados pelo arquiteto.

Ao longo da existência do homem o projeto de sua morada transformou-se. Nos

primórdios, as cavernas, as cabanas necessitavam do empenho do desejo humano.

Com o passar do tempo as moradias se tornam perenes para uma sociedade em

renovação. A urbanização e o crescimento demográfico transformaram o homem em

personagem temporário de uma arquitetura praticamente pré-determinada. Dessa

forma são poucos e privilegiados os que conseguem fazer o projeto de sua própria

morada.

Sylvio consegue fazer com que seus clientes “habitem” suas moradas. Muitas

delas já estão passando de uma geração a outra sem terem sido comercializadas

como mero objeto. Foram criadas relações tão fortes no viver nessas casas que os

moradores, proprietários, seus filhos e netos, criaram um apego que extrapola o

vínculo material, reforçando um vínculo afetivo. Parte disso deve-se também ao fato

de que os projetos se mostram atemporais, com programa e resultado estético ainda

compatíveis com o modo de viver contemporâneo.

A proximidade arquiteto-cliente foi aprendida por ele ainda em sua formação,

observando como seus mestres e parceiros faziam este importante contato, crucial

para um resultado perfeito.

O engajamento político de Sawaya exemplifica sua capacidade

comunicacional, é um elemento muito importante na questão de aproximação e

compreensão dos desejos demandados. A empatia entre as partes envolvidas é

fundamental para a fluência do projeto.

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Essa mesma empatia transferiu-se à relação arquiteto-trabalhadores. Sylvio

sempre foi muito presente no canteiro de obras, principalmente pelos detalhes

construtivos que necessitavam orientação às diferentes frentes de trabalho.

Muitas pessoas relatam inúmeros episódios em que o arquiteto se unia aos

mestres de obras, pedreiros, ferreiros, marceneiros na intenção de juntos encontrarem

as melhores soluções para materializar seus desejos. Não havia um posicionamento

hierárquico, o arquiteto se colocava como parceiro, ensinando e aprendendo a todo o

momento.

Nota-se nos projetos analisados uma vontade expressa de agradar ao cliente

com mimos projetuais, seja no desenho exclusivo de janelas, de mobiliário ou no

desenho de paginação de tijolos em pisos e paredes.

O jogo entre materiais, formas, cores e o cenário natural, não poderiam resultar

em soluções que não fossem percebidamente lúdicas. A formação do arquiteto num

período em que este fazer artístico era determinante, justifica a naturalidade com que

ele atua. Enquanto outros arquitetos de sua geração e das gerações posteriores

seguem uma linearidade projetual com repetição exaustiva de soluções, elementos e

materiais, Sylvio optou pela diversificação projetual, mais uma vez atendendo às suas

bases de formação que lhe desafiavam a experimentar e ousar.

Se muitas vezes essa experimentação aproximou-se de resultados com

características regionais marcantes, isso ocorreu por completa compatibilidade com o

pensar dos clientes. Criar casas com muitas aberturas, com muitos acessos, com

“ares” de moradia de férias, foi resultado de uma leitura do modo de vida dos futuros

habitantes da casa. O arquiteto juntou a isso sua vivência e sua interpretação sobre

esse desejo.

São perceptíveis as influências do campo, da praia e os regionalismos

incorporados. São as varandas das fazendas, os pisos frios das casas caiçaras, as

janelas coloridas do sul da Bahia, a taipa paulista, as ocas indígenas, presentes por

inteiro ou em detalhes que atestam a identificação e a preocupação com o entorno.

A análise individual e comparada de alguns projetos residenciais aqui trazidos,

foram capazes de mostrar uma grande versatilidade do arquiteto. Essa capacidade

em dar respostas tão diferentes à temática da casa sem abandonar as premissas do

movimento moderno, só foi possível pelo empenho do arquiteto em conhecer as

possibilidades dos materiais e elementos envolvidos.

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Seja no círculo, no quadrado, no hexágono ou em qualquer outro formato, em

planta ou corte, Sawaya mostrou-se capaz de inovar a cada instante, surpreendendo

com suas escolhas e principalmente com os resultados.

Em cinquenta anos de atuação profissional, são poucos os arquitetos com uma

produção tão vasta e diversificada. Além dos projetos aqui analisados, outros tantos

projetos receberam a atenção especial de seu autor e tornaram-se motivo de orgulho

por parte de seus clientes-usuários.

Pela versatilidade, criatividade, empenho, engajamento, e sobretudo pela

qualidade de sua produção é que se atesta a relevância de Sylvio Sawaya no rol de

arquitetos paulistanos de sua geração.

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Mendes da Rocha, Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, Rio Grande do Sul, 2000.

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ANEXOS

ANEXO 1 – ENTREVISTA SYLVIO SAWAYA 15/04/16

Entrevista concedida pelo Professor Sylvio Barros Sawaya

Participantes: Lúcia, Prof Li, Profa Edite Galote Carranza, Daniela Rosselli, Cristina

Brasileira.

15 de abril de 2016

SYLVIO - Por exemplo, essa casinha aqui em cima, ela foi feita em 70. E era uma casinha de

35 metros quadrados, dois quartos..... E eu morei nela 2 anos. Era pro caseiro, mas aí a gente

foi morar. E ela foi publicada na Casa e Jardim, como solução Econômica. E teve uma enorme

repercussão. Eu ia, sei lá, pra Goiás, e tinha um cara que tinha visto e tal. Mas eu não dei a

menor bola para ela. Só que existe um raciocínio que a gente pode recuperar. Porque essa

casinha é fruto de duas coisas: Do Guedes, com quem eu trabalhei, que tinha um escritório

que parecia com isto daqui assim, meia água e tal. E o Guedes pegou isso do Asplund. O

Asplund que tem uma casa dessa, desse tipo, maravilhosa!! Simplíssima. Deve ter sido feita

em 1930, 40, sei lá. E... Isso é uma coisa. Então, ela é fruto de uma intelecção de arquitetura,

por mais que fosse uma casinha.

Mas segundo, ela é fruto de eu ter conscientemente adotado a maneira de construir da

periferia. Ela é feita com sapatas. Sapatas de 40cm de profundidade, paredinha. Como

qualquer casa da periferia. Ela é uma casa da periferia. E a virtude dela e do sucesso que ela

teve, etc, eu acho que vem muito dela ter esta origem. Quer dizer, ela tem uma consistência

de arquitetura, ela nao é um “troço” que surgiu, e ao mesmo tempo ela é claramente, um

reconhecimento da periferia como propositora. E me impressiona, porque a casinha foi

vendida, depois a gente comprou. E quando foi vendida, foi feita a ampliação. O casal que

comprou queria a ampliação e foi o Li que me ajudou, né. Lembra? Tem todos os desenhos

do Li aí, tudo. E aí os caras moraram aí, mas continuou desse jeito. E eles reclamavam

porque..... baianos, né. Que isso aqui é muito frio...... No entanto, veem as pessoas aqui visita

a casa hoje e adoram a casa!! Adoram!!! E tem um arquiteto colega da Lucia, que veio e

adorou e fala pra todo mundo e etc. E é uma porcaria de um casinha de periferia aumentada.

Porque ela continuou com a mesma prática, a mesma técnica, etc. Bom... este é um exemplo.

Outro exemplo é a casa do..... que foi feita inicialmente pro João Marino que é a casa lá do...

acho que chama Jardim Leonor, lá perto do Jóquei, né.

Li – Na Lopes de Azevedo (?)

EDITE – Aquela que a gente foi?

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Li - Sim, nós fomos e agora puseram um muro. Não dá pra ver.

EDITE - Um muro grande.

SYLVIO – Ah é!?

Li - Que antes dava pra ver.

EDITE - E aquela tem as estruturas....

SYLVIO – Voando

EDITE – É. Soltas.

SYLVIO - Bom tem um cara.

Li - Que aliás a Daniela adora.

SYLVIO - Tem um cara que você tem que falar, chamado Antonio Carlos Santana.

EDITE - Ah! O Santana foi meu professor. No Mackenzie.

SYLVIO – O Santana um dia me encontrou na FAU, já aposentado, e passou, acho que uma

meia hora falando da casa. E ele falou coisas interessantíssimas. Ele falou: Pois é, agora que

todo mundo fala de transparência, essa casa é transparente desde 70! E ela é mesmo. Quer

dizer, ela tem a proposta que hoje... E ela.. como ela é... ela foi publicada na Acrópole. E ficou

por aí. Eu falei: Ah! Ninguém mais sabe dessa casa. Todo mundo conhece! E na época o

pessoal dava um jeito de descobrir onde era, pra tentar ir ver, pra visitar, pra não sei o que,

etc..... Então, é significativa também.

Bom....... o terceiro exemplo, muito sintomático, é a casa de taipas de Campinas. Eu fui lá

agora. Porque a Leticia que tá fazendo Mestrado.

Li – Leticia Azchbar (?)

SYLVIO – Leticia

PROF Li – Achkar (?)

EDITE – Achra(?)

Li - Que trabalha com terra também.

SYLVIO - A Leticia fez o Mestrado dela em cima da casa no final das contas. E ela precisava..

ela é técnica ela tá IPT, precisava tirar amostra da parede. Aí nós fomos lá na casa. A casa

tá lindissima. A minha prima, dona da casa, fez um jardim enorme e tal. E ela foi muito bem......

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o lugar que ela criou é muito bom. E foi criado de propósito, quer dizer, tinha um ângulo assim,

e o terreno abria, né. Eu peguei a bissetriz do ângulo e fui criando os degraus no terreno. Isso

deu uma implantação maravilhosa pra casa. E ela encheu de frutas e tal. Aí eu falei: bom.. vai

mexer nessa parede vai esfarelar tudo, vai ser uma desgraça. Mas eu fui. E aí a Letícia enfiou

aquela...

Li - Uma serra copos.

SYLVIO - Serra copos lá, do IPT. Uma grande assim, 8cm.

Li – Tirou 8cm do cilindrinho?

SYLVIO - Tirou. Eu falei: esse troço vai desmontar todo. Porque eu me lembrei como foi feito.

E eu lá esperando pra ver o que dava. A primeira amostra saiu uma pedra!

EDITE – Ah! Que lindo!

SYLVIO - Aí a outra amostras saiu outras pedra!! E a mistura da terra, você via na mão,

entende?! A ligação da cal com a coisa, a compressão, tava tudo ali!

EDITE - E o Sr. usou..... cal?

SYLVIO - O Sr. Tá lá no céu.

EDITE – Prof.... rsrsrsrs. Você usou qual mistura? Terra? Lembra assim? O traço?

SYLVIO - Ah! A terra era meio siltosa, não é! Não sei o que. A gente acrescentou acho que

um pouco de argila, mas fundamentalmente é 10% de cal.

EDITE - Cal. Cal deu a liga.

SYLVIO – E a gente pegou cal virgem. E aí “botamos” na água, hidratamos a cal. Mas depois

se viu que isso nao era importante, porque podia usar a outra cal também. E a cal é porque

na casa anterior de taipa que a gente fez a primeira que é da cidade universitária.

Li – Que é da Sao Remo?

SYLVIO – Não. Da prefeitura. A da São Remo tá lá. A da prefeitura, já conto a história dela, a

gente usou carbureto. Borra de carbureto.

EDITE - Ah, não sei o que é borra de carbureto?

SYLVIO - Quando fabrica o acetileno. O acetileno é tirado de uma terra lá que tem cal. E aí o

que sobra, que é jogado fora, é o carbureto, é a borra. E o acetileno é o carbureto. E o que

sobra é esse aí.

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EDITE - É um subproduto então?

SYLVIO - Não, não era nem um subproduto. A White Martins tinha terrenos cheios disso e

não sabia o que fazer. Aí a gente foi lá, pegou o tal carbureto, usou. E deu muito certo. Até

que viu que o carbureto era uma cal. Daí começaram a questionar: será que não tem mercúrio,

que tem.... Nós nunca vimos nada..... fizemos. Aí esse uso na Gilda já veio da experiência

anteriores de 84. A Gilda é mais ou menos de 98. A taipa de lá tem 20 anos. E aí a gente fez

duas experiências. Fez um murinho de taipa sem nada e fez um outro com cal. O sem nada

dissolveu com a chuva, o de cal ficou até o fim da obra. Foi desmanchado, porque tava lá.

Bom.... e essa casa foi publicada em tudo quanto é canto, via de regra sem contar que eu fui

o autor. Dizem que é da ABCTerra, que é de não sei quem.... mas foi publicada. Revista de

engenharia. Exemplo de casa de taipa, aparece ela. Então ela ocupou um espaço. E ela é

curiosa porque ela é meio pioneira nessa história.

EDITE - Esse ressurgimento, o Sr diz pioneiro no sentido de um ressurgimento dessa técnica

ancestral?

SYLVIO – Por três razões. Ela aconteceu porque a minha prima me chamou, porque ela tinha

comprado um banheiro numa exposicão, um banheiro pré fabricado, uma caixinha. Iam

queimar ela soube, foi lá na polícia e compro. Botou num caminhão. E botou no meio do pasto.

Então a idéia era fazer alguma coisa que aproveitasse o banheiro. Aí a gente mudou o

banheiro de lugar pra essa implantação e tal. E o programa foi crescendo. Bom.... vamos fazer

um quarto do lado. Aí dá uma casa que deve ter uns 300m². E ela.... a planta dela é uma

planta moderna. São tres paredes, tudo se organiza em função dessa coisas. Na frente, a

parede do meio pára e fica um espação. Mas ela tem no meio, quando o telhado faz assim.

Ela tem um andar. Então tem o térreo e o primeiro andar. E a taipa que ela foi feita nesse

andar, chega a 7 metros de altura.

EDITE – Nossa!

SYLVIO - E é solta! Foi feito solta! Depois com o andar que a gente pois as vigas, não sei o

que, deu uma travada. Mas ela ficava já de pé sozinha. E na planta original ela tinha uma

escada interna, muito bem resolvida, elegante (?). Minha prima, que não entende nada me

encheu a paciência, que escada não dava. Aí falou: eu quero uma escada outra (?) Então eu

fiz uma escada externa. Aí pra “gozar” da cara dela, eu fiz a escada, vai ser uma escada que

você vai descer vestida de baile! Tem 1.50m de largura. E aí pra conseguir fazer a tal da

escada, já tinha acabado a taipa, eu fiz uma estrutura metálica. E é curioso, porque apesar

de ser uma justaposição, a casa é terrea, mas a escada cria um caminho muito bom pra ir pro

andar de cima. Não é mais integrada no espaço da casa, mas... a escada propositadamente

foi feita dando a volta assim... então na medida que você sobre, você vai vendo todo o jardim.

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Então ficou legal! E aí tinha: como é que vai fechar a escada? Não fechou coisa nenhuma, tá

lá. As tábuas..... o piso, os degraus era de Itauba. Acho que é itauba, ou ipê, não sei. Mas

acho que é de itauba. E toma chuva não tem problema nenhum. E agora pra fechar elas

puseram uns arames e tá subindo trepadeira, e pode ficar muito bom.

Bom..... Essa casa é um outro exemplo de coisa que percorreu o mundo. Então isso me faz

desconfiar que existe alguma significação nisso que foi feito. Sem querer fazer comparação

com ninguém, sem dizer que é o melhor ou pior, nada disso.

EDITE - Mas é uma proposta. E a gente tem esse resgate que a Márcia Marcun (?) também

fez, esse resgate da taipa. Ela foi sua orientanda (?). Também fez propostas de taipa, numa

época que todo mundo gostava só de concreto!

SYLVIO – Quando teve a exposição de terra aqui, que foi antes da experiência da Cidade

Universitária, foi feito, a Marcia fez, um outro pessoal, umas esculturas de tijolo de tijolo

prensado, etc, embaixo do MASP, naquele vão. E aí participamos da (Nome em francês ?)

que é a exposição que veio do Pompidou, feito pelo pessoal de Grenoble (?).

EDITE - Nesse grupo estava o Professor Sérgio Ferro?

SYLVIO – Não. Não. Sérgio Ferro é outra coisa.

EDITE - Nesse grupo?

SYLVIO - Sérgio Ferro é outra coisa.

EDITE – É outra época.

SYLVIO – Não. O grupinho que fez esta experiência lá, continuo, e todo mundo depois fez a

experiência de terra: Paulo Montoro, a Marcia. E eu fiz esta casa da Gilda. E em 84 eu fui

para a França com Marcio Mazza, pra participar de um seminário em Paris, sobre.... - tem o

livro aí do seminário: Arquitetura para a população, esse troço todo. E nós fizemos a proposta

de uma casinha de taipa.

Li - Na livre docência tem.

SYLVIO – E aí nós fomos prá lá, e eu fui visitar o Sérgio Ferro em Grenoble.

EDITE - Ah! Então.

SYLVIO – O Sérgio Ferro quando foi ser professor em Grenoble, pegou uns alunos no quinto

ano, e mandou estudar o que acontecia em volta de Grenoble de arquitetura. E aí esse grupo

descobriu que Adolfinia (?) é toda construída de taipa. E daí se encantou com a taipa e criou

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CRATerre. Então o Sérgio Ferro é uma espécie de patrono disso daí. Aí eu fui lá, conversei

com ele, ele me apresentou o pessoal do CRATerre. Que é esse grupo. Foi ótimo. Depois

alguns caras do CRATerre estiveram aqui. E depois o Sérgio Ferro ficou meu inimigo, quando

eu fui diretor. Assinou manifesto contra mim. É o problema que eu tenho com o PT, porque

eles nunca me engoliram e sempre disseram que eu sou uma besta. É curioso isso. Eu

acredito que por duas razões: uma porque eu nunca fiz marketing (?) mas a segunda é porque

eu sempre fui muito livre. Eu nunca paguei pedágio pra ninguém nessa história. Então, o

Sérgio Tepperman (?), por exemplo, que era colega lá dando aula, um dia desceu o sarrafo

em mim: Sylvio, não sei o que....., porque eu tava “metendo o pau” na arquitetura bancária

que eles andavam fazendo. Esses monumentos de concreto, essas coisas. Então, eu devo

ter sido visto sempre como um marginal esquisito e perigoso, nesse mundo da arquitetura aí,

né.

TODOS – risos.

SYLVIO – E eu nunca percebi nem isso, não tava nem aí. Eu tava lá fazendo minhas

coisinhas. E acho que ficou isso. E quando eu fui diretor então, a coisa pegou fogo: Como o

Sylvio, aquele rearça, aquele isso e aquilo, tá botando a mão no prédio do Artigas. Ora, o

prédio do Artigas ficou 40 anos largado, tava caindo, não tinha mais banheiro, não sei o que,

eu dei um jeito de arrumar. Não fui eu que arrumei. Eu arrumei dinheiro, tudo isso, e meu

sucessor depois fez. Mas hoje prédio está recuperado estruturalmente. E aí diziam: O Sylvio

é inimigo do Artigas. Imagine! Eu..... O Artigas era meu irmão, meu ídolo e tudo. Eu fui uma

das últimas pessoas a ver vivo. Fui no hospital, ele tava saindo pra UTI. É uma ligação. Tem

uma foto, do Artigas, num seminário de terra, comigo e tal. Só pra mostrar.....

EDITE - O Sr disse que foi o Artigas que o apoiou!?

SYLVIO – Foi o único!

EDITE - Então!

SYLVIO – Foi o único que em 84, eu acho, um pouco antes de morrer, fez um seminário de

terra, que os alunos do quinto ano queriam. E ele “botou” todos os “professorzinhos” da

arquitetura moderna sentados e eles tiveram que ver aquilo. Nessa época, caras como

Katinsky, por exemplo, que é um grande entendido de taipa. Chegava pra mim e falava: tudo

bem, Sylvio, esse negócio é saudosista, é velho, imagine!! Serve pra casa bandeirista – que

é o que ele entende. E desci o “cacete”. Então, realmente o uso da terra e desses materiais

tradicionais, é uma coisa que vai começar a se afirmar, eu acho que na década de 90 e

começo desse século agora. E é óbvio que já tinha, no começo quando a gente tava mexendo

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nisso em 84, tinha a noção clara que era um material disponível em qualquer canto, um

material descentralizado, e um material - ele não é renovável – mas que você faz, desmancha,

reutiliza. Você pode pegar uma parede de taipa, desmanchar, plantar que dá certo, com

aquela terra. Então ja tinha essa noção muito clara. Inclusive o cara que me orientou muito

nessa época, que tava aqui, era o Gernot Mink. Que era um grande professor de cassio(?)

que escreveu alguns livros importantes, um deles é sobre construção com terra. Um grande

pesquisados. Discípulo daquele cara de Stuttgart, como é chama? O Frei Otto, que é um

engenheiro estrutural. E ele já tinha na ponta da língua toda questão, da..... de por quê usar

terra e não usar. Depois ele foi do Partido Verde. Essas casas cobertas de plantas, ele fez. E

ele já falava do equilíbrio energético, que o uso da terra consome muito menos energia que

qualquer outro material. Depois disso, surgiu acho que na Bélgica institucionalmente (?) ou

na Europa, então, esse negócio de calcular quantidade de energia pra construir. Que é uma

decorrência dessa história. E isso tende a ser um coeficiente importante daqui pra frente.

Então tudo isso tá embutido nessa casa de terra. Quer dizer, já era uma intelecção antes, ela

é feita, e ela virou um fenômeno aí. Aí a impressão que me dá é que as outras coisas que eu

andei fazendo, que em geral são casas. Mas tem uma escola interessante, que é o Santa

Cruz, o Vera Cruz, que o projeto foi meu, depois foi ampliado, etc. Na Vila Beatriz.

Li – Acabaram de recuperar também. Virou projeto agora de reforma.

SYLVIO – Deu uma melhorada, né. Tá lá. Mas é interessante. O projeto das concessionárias

que eu andei fazendo pra Sorana, também são interessantes, né. Tem um texto do Li com o

Nuno, na minha livre docência que é um texto muito bom!

EDITE - Já li. Já li.

SYLVIO – E esse texto fala do jeito de eu projetar, começa com um quadrado..... E fala desse

projeto da Sorana, que o projeto é uma espécie de gozação. Que todas as agências....... Então

eu fiz também uma agência pra vender carro, né. Mas fiz, talvez um pouco assim, como uma

certa ironia, vamos dizer. Mas tá lá, tá firme. E eu vou lá, ainda é usada pra vender carro, é

valorizada. E tem a outra Sorana que foi feita no Taboão que agora parou, mas que era uma

articulação interessante, porque era um jogo dos quadrados assim, com umas piramides que

entrava luz em cima, né. E na época ninguém tinha feito isso que eu saiba. Talvez o Kurt(?)....

não era..... depois todo mundo fez. Começou a fazer piramidezinha por aí. Aí quando pediram

pra eu publicar alguns trabalhos nesse negócio......

SYLVIO – Então, aí esse negócio da Sorana foi gozado. Eu ia publicar no inventário dos

arquitetos da FAU, uma publicação que Miguel Pereira e eu fizemos, com entrevista com 60

professores.

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EDITE - Ah! Sim!

SYLVIO – Foi. É coisa minha aquilo lá.

EDITE – Então, que foi o Paulo Portugal? Não! É...

SYLVIO – Do Portugal.

EDITE - Do Portugal que fez. Eu tenho os doze volumes.

SYLVIO – Aqui tem também. Então.....

EDITE – Doze volumes. Nós contribuímos com o trabalho do Corona, com o Dibau(?) também.

SYLVIO - E tem depoimentos todos em CD.

EDITE - Muito bacana.

SYLVIO – É muito interessante.

EDITE – É um trabalho que precisava ser feito.

Li – É aquele ali óh! Não é?

EDITE - São doze volumes.

SYLVIO - Inventário, qualquer coisa. Bom..aí eu ia “botar” o projeto da Sorana, o Portugal não

deixou. Falou: ihhh... isso aqui é meio assim.....

EDITE – risos.

SYLVIO – Putz, eu não tinha idéia. Nao tinha idéia de que isso fosse Kitsch. Mas em todo o

caso..... (risos). Só pra mostrar que eu não tenho a menor idéia do que repercurte do que foi

feito.

EDITE - E nos alunos também né, Prof! Porque assim.... a gente não tem noção, no seu caso,

do que sua presença repercurte, reverbera nesse grupo maior, né.

SYLVIO – Eu nunca me achei um bom professor. Eu fui professor, porque a única coisa que

sobrou era entrar na USP. Eu era perseguido da polícia em sessenta e... entrei em 71. Aí eu

fiz concurso, passei e entrei. E virei universitário. E era filho de um universitário ilustre e acabei

fazendo a carreira exatamente igual meu pai. Mas foi por acaso. E eu dava aula, eu ia lá,

falava, não sei o que, etc... Eu nunca entendi direito o que queria dizer aquilo que eu fazia.

Talvez pegando os depoimentos desses alunos, dê pra saber alguma coisa. Eu só sei que eu

era tido como o cara que sempre chegava atrasado.

EDITE – (risos). Aqui eu!! Os alunos!!! (risos).

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SYLVIO – Dava umas aulas de pós graduação que era divertido, porque era o Bira, o Miguel

e eu... E era um “quebra pau” só, e todo mundo adora aquela briga, né. E questionamentos,

mas que era divertido, a gente se gostava.

EDITE – Aquela disciplina Projeto Sensível-Projeto Tecnológico, eu fiz. Dois semestres! Acho

que eu não cruzei com o Li por um acaso, né Li?

Li – Porque foi a mesma época.

EDITE – Foi praticamente a mesma época, só que acho que talvez a diferença de um ano,

talvez. A gente assistiu a mesma disciplina . E era realmente bem interessante. Porque as

visões de mundo, as pessoas, né. Aquela efervescência era muito rica.

Li – Sim!. Interessante.

SYLVIO – E aí, recentemente, por conta do Li e da Cris, eu recuperei o trabalho que a gente

fez em Rondônia.

EDITE - Ah! Esse muito bom pra gente saber. A taipa, Prof. é depois da sua ida a Rondônia?

Só pra gente entender essa cronologia.

SYLVIO - Eu tenho uma formação moderna do Millan.

EDITE - Tá.

SYLVIO - Quer dizer, eu tive um professor que era o Millan. E o Millan me ensinou tudo. E eu

nunca fui um estudioso, ficava “fuçando” o que fizeram ou o que não fizeram. Eu fazia. E aí

eu usada bloco de concreto, que era uma grande novidade, o Millan, um cara brilhante.....

EDITE - Que morreu jovem.

SYLVIO - Que fazia estereotomia com concreto. E eu aprendi a fazer isso, que até hoje tem

aí. E estereotomia vem de uma tradição antiquíssima de fazer muro de tijolo de pedra, e o

Millan recupera isso com bloco. Aí eu fui pra Brasília em 76, fui dar aula lá. E de lá eu participei

de um Seminário de política urbana no Centro-Oeste e encontrei Rondônia. E em Rondônia

eu encontrei um drama. Trágico, no fundo. Que era aquela ocupação enorme, promovida

pelos militares - que era uma reforma agrária. Em que o INCA não deixava o pessoal fazer

nucleação dentro, interiorizado. Ele tinha até deixado uns lugares pra fazer, mas não fazia. E

aí o pessoal morria, porque na época das chuvas, a estrada não passava, e o pessoal não

tinha farmácia, não tinha nada. E outras histórias tristes do tipo: gente que vinha do Sul, que

morria de fome embaixo do pé de pupunha, porque não sabia que a pupunha era o pão do

Nordeste. Então eu vi tudo isso lá. E vi, na etapa seguinte, pediram pra gente fazer a

nucleação. E nessa nucleação a gente percorreu todo o território e fez seminários ao longo

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da BR 364. E vinha gente de longe pra participar dos Seminários. Os caras do campo mesmo,

né. Traziam coisas. Traziam capivara, sei lá o que..... frito e dava de presente. Cada esquema

mais tradicional de relação popular. E aí tem um belo dia que uma senhora levanta. Uma

senhora já uns 50 anos, sei lá. E levanta a bolsa e fala: Ói, tá tudo furada, isso é bala porque

os jagunço tão me expulsando. Mas não é o único caso, porque na época a briga era tão

violenta, que um cara, desses tomador de conta de lá, morava numa das cidades. Que era

um “jagunção” no fundo, né. O pessoal pegou uma calibre 12 pelo cerrado, que era uma arma

perigosíssima, com prego dentro, com coisa.... e mataram o cara, dentro da casa dele. Então

era briga mesmo, era guerra. E nesse projeto de Rondônia, ele não construiu nada. Ele

escolheu os lugares e estabeleceu um jeito de fazer o parcelamento. Que começava com uma

praça, com um centro cultural, não sei o que, não sei o que. E aí tendo lotes pequenos e

depois lotes e chacrinhas. Muito inspirado no que foi feito no Paraná 30 anos antes. E deu

certo! Porque eu passei 10 anos depois lá. Das 40 propostas novas, 20 e poucas tinham sido

construídas. E todo mundo falava com muito orgulho: isso daqui é o Núcleo Urbano de Apoio

Rural. E o administrado me explicou o que é. Ele falou o texto que eu tinha escrito no projeto

inteiro.

EDITE – (risos)

SYLVIO - Pra que que serve, etc. Então dá certo. Essas coisas dão certo. Aí era pra eu ficar,

pra acompanhar...... Tinha que sair da USP. Queria que eu fosse Reitor da Universidade, eu

falei: Não, Governador, eu vou embora. Ficou nisso aí. Mas o negócio continuo, deu certo,

pegou. Então, essa experiência em Rondônia, e depois em Salvador, que eu estudei, tem

todo o estudo aí e nunca foi publicado, chamado Brongo (?) do Pau Miúdo. Que é uma

ocupação popular, acho que na Liberdade. É uma encosta que eles desceram assim com

guias, só de pedestres, escadaria, não sei o que. E a gente estudou como aquilo se formou,

e o pessoal depois levantou tudo e tal. Então... novamente o contato popular. Mas o mais

interessante é que eu fiz uma casa, projetei uma casa. Ela é bonita! Ela fica em cima de uma

pedra assim, olhando pro mar e tal.

Li – Fica aonde essa casa? Você se lembra do bairro? É.. Vitorino....né..

SYLVIO - Era do.... do irmão da Pel.

Li - Que é irmão da Pel.

SYLVIO – Depois ele vendeu, depois o cara que comprou..... porque a casa era alta e depois

tinha um espação embaixo, um pernudo, né. Que era pra fazer alguma coisa. Ele não fez

nada. Mas o cara que comprou fez. Vai pra praia, etc. Tá bonita lá.

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Li - Mas em que praia que é? Você lembra, não?

SYLVIO - No Rio Vermelho. Perto do militares. E não tinha praia na época, o mar batia na

pedra. Hoje disse que o mar afastou e tem uma praia maravilhosa ali, pequenininha. Bom....

e nessa casa ele queria usar bloco de concreto, óbvio. E não tinha bloco de concreto na Bahia

naquela época.

EDITE - Isso que ano, Prof?

SYLVIO - Deve ter sido 80.

EDITE - 80!

SYLVIO - É

EDITE - Puxa, não tinha!!??

SYLVIO – Então, quando eu volto da Bahia, depois de passar por Rondônia e pela essa

experiência de estudar a formação popular de Salvador, eu já tinha mudado a cabeça. Falei:

não.. esse negócio de construir com concreto, de usar bloco..... é uma coisa paulista!

EDITE – Sim!

SYLVIO - O Brasil, é construído de terra! E aí, começa essa história.

EDITE - Prof Lemos diz que o Brasil “ilhas culturais”.

SYLVIO – É. E foi impressionante essa experiência de querer encontrar o bloco, porque era

uma novidade! Bom.... então.... a questão construtiva, que sempre foi marcante, desde o

Millan, que deu uma ampliada enorme, até que saiu a casa e tal. E eu acho que existe nisso

que foi feito, um aprendizado que não foi feito na FAU, foi feito com os mestres de obra.

Especialmente com o mestre que - um portugues - que era do Millan, que depois trabalhou

comigo, né. Que é o Joaquim.

EDITE - Aí o Lucio Costa disse: O velho portuga. (risos).

SYLVIO – É o próprio.

EDITE – É o próprio. (risos).

SYLVIO - Deve tá vivo ainda com 90 e tantos anos. Mora em Mongaguá. E ele me ensinou

muito! Mas outros também. Então.. eu sempre me preocupei muito como construir. E em tudo

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que eu fui fazendo, eu acho que desde sempre, mas cada dia mais. O desenho feito sempre

envolve como é que vai fazer. Isso é básico, né. Então nunca entrou, assim, um modismo

nunca apareceu, porque eu tinha essa dialética com o construir. E eu acho então que uma

pesquisa dessas casinhas, dessas coisas que foram feitas, num universo relativamente

pequeno, mas... valeria a pena pra entender o que pode ter de propositivo nisso. Que eu não

tenho a menor idéia.

EDITE - Bom, eu tenho algumas, mas.... vamos pensar.

Li – (risos)

EDITE – Mas eu acho que essa questão do resgate da cultura popular, era algo que, no meio

acadêmico.....Parece que no meio acadêmico não tinha uma valorização. E alguns indivíduos

valorizaram! E aí tem o Sylvio. A gente tá falando de quem? Lina, Sylvio, Lotufo. Agora mais

recente no tempo o Ronconi. Também, acho que um pouco.

SYLVIO - Quem?

EDITE – Ronconi, sim?

Li - Ronconi....

EDITE – Talvez.

SYLVIO - É. O Ronconi é bem construtivo.

EDITE – Bem mais pra frente do tempo. É... tem alguns nomes que eu vou esquecer, mas

falar de improviso....é sempre assim, né. Lembrar dos nomes...

Li – Fora o Ronconi?

SYLVIO - Mas hoje todos, né.

EDITE – É, tem! A gente tá pensando....

SYLVIO - Aquele que é filho do arquiteto, como é que chama? Que tá famoso. Que fez, que

era o arquiteto do Safra? Qual é que foi?

Li - Do Safra?

SYLVIO – Kogan?

Li – Kogan!! Marcio Kogan.

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SYLVIO – É o filho dele que hoje faz, claramente. Ele pesquisa algumas coisas, procura.

EDITE - Filho do Lotufo, que é a geração novinha.

SYLVIO – Que tá fazendo taipa não sei aonde.

EDITE – Termocultura(?), taipa.

SYLVIO - Tão usando bambu.

EDITE - Bambu..... Então a gente tem uma linhagem de alguns, né, digamos assim, que

buscaram nesse saberes aí populares, uma raiz de identidade, um conhecimento que tava

talvez adormecido. As pessoas não estavam mais pensando em fazer taipas, as pessoas

estavam pensando em fazer concreto armado, e esquecendo essa tradição ancestral.

SYLVIO - Mas tem uma experiência relativamente recente. Eu fiz uma casa grandona, aqui

perto.

Li - Que é do Marino também.

SYLVIO – Do Roberto Marino.

Li – Daniela está se familiarizando.

SYLVIO – E tem um documentário dela feito pelo Paolo.

Li – Ah! Que legal!

SYLVIO - Paolo eu dou o telefone. A gente tem o documentário, mas ele tem.

Li – Mas tem tipo, Youtube? Será que ele pos no youtube?

SYLVIO - Não sei. Precisa ligar pra ele. Aí o Paolo queria que eu fosse falar lá sobre alguma

coisa que eu tivesse feito. Então ele fez este documentário. Acontece que essa casa foi feita

nos anos 70, por aí. Bloco de concreto..... eu queria fazer abóboda de tijolo mesmo, abóboda

pra valer. Mas o engenheiro, que era o João Marino, da primeira casa: Ah, não! É muito

complicado. Então acabou ficando um canetão.

Li - São irmãos?

SYLVIO – Primo. Aí mudou, mas ficou uma casona lá.

EDITE - O Lotufo trabalha né, com tijolo.

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SYLVIO - E aí eu mostrei essa casa. Tinha uns arquitetos lá de Jundiaí, adoraram a casa, era

uma afirmação da arquitetura moderna.... e tem dentro, tem uma cobertura que é apoiada

“nuns” elementos de concreto assim, bem Artigas. Então mostra as coisas. Bom.....

EDITE – O próprio Artigas também resgata o tijolo?

SYLVIO – Não, O Artigas é outra história. Vou contar....

EDITE – Não, não! Depois você conta.

SYLVIO – Vou contar essa daqui.

EDITE – Mais recente.

SYLVIO – Aí o que que aconteceu....

Li – Teve uma reforma, não teve?

SYLVIO - Do lado dessa casa, a Lucia e eu fizemos uma outra casa pro mesmo cara.

Li – Ahh!!

SYLVIO – Que agora tem mais de 70 anos, tal. A primeira mulher morreu, ele casou

novamente com uma mulher mais nova. Então é a casa dele aí dessa fase. E essa casa foi

muito curiosa. Porque ela ... Tinha que fazer a casa! Tinha que fazer a casa!! Onde é? Onde

nao é? E que ligação tem com a outra casa. Acabou não tendo ligação nenhuma. Mas ela é....

tava lá aflito... e em geral eu sonho com as coisas. E eu sonhei que eu tava num lugar e caia

num porão cheio de terra tal, e daí veio a ideia da casa. E ela ficou de dois andares: térreo

mais um. E embaixo ela é toda de tijolo e em cima ela é toda de madeira. E deu certo esse

negócio. Mas o segredo é que a geometria é a mesma. De baixo e de cima, exatamente. E

não é vão grande não! Não é vão de arquitetura moderna! É vão de 2.80m. E embaixo tem

uma influência daquele do Dieste (?) Dia(?) não sei quem, que andou por aqui, que são

aquelas piramides de tijolo. E ela é muito agradável, eu gosto muito dela. E o Yopanan que

fez a casa.

EDITE – Yopanan (risos) é outro que a gente tem que incluir na lista.

SYLVIO - Esse é meu amigão! Yopanan....

Li – Que ajudou você aqui também.

SYLVIO – Aqui ele só especificou o ferro. Mas a oca foi ele que fez.

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EDITE - Já fiz alguns projetos com o Yopanan.

SYLVIO – Você fez?

EDITE - É.

SYLVIO – Adoro o Yopanan!

EDITE – É. Ele é gente miuto boa.

SYLVIO - E ele é um anarquista.

EDITE – E ele deu recentemente alguns depoimentos sobre o Masp (?), a gente foi lá

conversar com ele sobre os desenhos originais. Pra discutir algumas coisas lá. Mas...

parêntese a parte.

SYLVIO – Então essa casa tá lá. E eu acho ela extremamente interessante. Não foi publicada,

nada. Ela não foi nem habitada ainda.

Li - Ah, não foi... ainda...

SYLVIO - Não porque eles tão..... moram em Santo André...tão fazendo, tão fazendo.

Li - Ah ela não está concluída inclusive?

SYLVIO - Ela tá. A casa tá. Tinha uma torre, fez. Agora falta umas coisinhas, falta uma piscina.

E essa casa acho interessante. E ela é recente. Ela tem uns 5 anos.

EDITE - E tem esses detalhes que não...

SYLVIO – Ela é interessante de ver, porque ela... tem a valorização do tijolo e da madeira.

EDITE – Entendi.

SYLVIO - E dá certo.

EDITE – Esse detalhe da transposição da geometria do tijolo e depois vem a madeira?

SYLVIO - Como são quadrados também de 2.80 por 2.80, embaixo é um pilarão de 40 por 40

de tijolo. Aí ele serve de apoio pra um pilarzinho de duas vigas de madeira, com ligações.

Muito leve!

EDITE - Ah! E tem esses detalhes?

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SYLVIO - Tem.

EDITE - Projeto recente, foi feito....

SYLVIO – Foi tudo detalhado, só ir lá que tá tudo lá.

Li – Isso deve ter aqui, no desenho do cad deve ter.

SYLVIO - A Lucia tem tudo.

EDITE - Pedir pra Lucia esse aí, porque esse é interessante.

SYLVIO - Que ela fez comigo, né.

EDITE - Esse aí é com autoria da Lucia!?

SYLVIO - É. E recentemente a vizinha aqui, comprou o terreno do lado, que era uma sobra

do terreno original, e a gente tem uma casa que fez pra ela. E também novamente os dois

quadrados aparecem. Mas ela tem... é uma estrutura metálica. Nós estamos começando a

contruir agora. A Lucia é a engenheira da obra.

Li - Ah, já começou?

SYLVIO - Já! Já tá nos primeiros..... já tem orçamento da estrutura metálica, tem tudo. E é

interessantíssimo, porque dois meses o cara fabrica a estrutura, bota de pé a estrutura e

cobre. E depois que põe a laje, põe as paredes, etc.

EDITE - Então, só um parêntese, Li. Essa cronologia que a gente tava fazendo, inclui essa

última com o projeto, com autoria Lucia. Pra gente fazer aquela... o Plano. O plano do artigo,

né!?

Li – Sim, sim! Ótimo!

SYLVIO – É... Essa é interessante, essa que tá saindo, dá pra acompanhar a construção.

EDITE – Então. Pegar uns detalhes construtivos....

Li – O Sylvio tá falando dessa aqui. Acho que ela tá falando do Marino.

EDITE - Da.... tijolo, madeira.... Dessa tijolo, madeira que é com autoria da Lucia.

SYLVIO - Então....... tem um monte de casinhas. Um monte..... (negativo). Tem várias por aí.

Tem uma casa......

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Li – Daniela já deve sabe até o número, até 96.....

DANIELA - Qual é a planilha? (risos).

Li – Até 96 (risos) compilados na livre docência. Foram 50, 40?

DANIELA - 48.

SYLVIO - Tanta casa assim?

Li - Até 96. De 96 prá cá, deve ter, quantas você acha?

SYLVIO - Quase umas 15, por aí.

DANIELA - De 65 a ... o que tem na livre docência, né. A 96.

Li - Tem mais umas 15 que você vai agora ter notícia agora.

EDITE - E busca material, né.

SYLVIO - E daí tem alguns trabalhos curiosos. Sempre essa relação, construção e arquitetura.

Quer dizer, a forma é proposta, mas a maneira de ter a forma é sempre muito clara. E tem

uma casa que eu fiz em 73/74 também, pro mesmo dono da Sorana no sítio dele. Sítio do

Sabiá, se não me engano.

Li - Sitio Sabiá. Até a Daniela tem algumas dúvidas, Porque acho que o telhado... teve uma

questão do telhado, não teve? Começou era uma laje...

SYLVIO – Não. A história é a seguinte. Eu fiz uma proposta de eucalipto roliço, não sei o que.

Ele falou: imagine, Sylvio, que é isso!! Aí eu fiz uma moderníssima assim.... laje..... E aí virou

essa daí que é uma casa térrea, que o Feitosa calculou. Um grande calculista. E ela é.... acho

que é quatro.... quatro empenas, dois pilares, um triângulão e uma bola no meio assim.

Li - Ele fez uma cúpula? Uma abóbada?

SYLVIO – Não, não....

Li - Uma abóbada de forro?

SYLVIO – Não. E fora ela é um telhadão assim. Dentro ela tem um forro incrível de ipê. De

ipê, não. De perobinha do campo, que é uma madeira que não existe mais. Na época já foi

difícil, teve que comprar a tora, não sei o que. E ela faz assim, vem.. faz assim no meio. E é

uma planta moderna: quartos, sala, cozinha, nao sei o que. Mas é muito bem plantada na

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coisa. E ela tem um piso que eu adoro, porque a gente conseguiu um cara, o Antunes. Antonio

Augusto Antunes, sabe..... Conhecia esse cara. O Antunes depois morreu. Me indicou e eu

fui atrás dele. É um cara que importava pedra de Minas, ardósia. E ela tem um piso de ardósia

irregular, não, não..... toda assim, né. E toda assentada, seguindo o desenho da pedra

mesmo.

Li – Entendi.

EDITE – (risos) Então formou como um caquinho gigante.

SYLVIO – É. Só que!! Tem peças de ardósia de 3 metros.

TODOS – Nossa!!!

EDITE – Que fantástico!

SYLVIO – É uma loucura! Eu gosto muito dessa casa.

EDITE - Antes do recorte, né. Veio inteiro. Essa região de ardósia, ali de Minas, eles tem...

SYLVIO – Não! E tem uma história que a gente normalmente não sabe. Tem ardósia verde e

ardósia cinza.

EDITE – Cinza. Sim! Eu sei! Porque eu estive nessa região.

SYLVIO – Lá eu não sei qual que é. Se é a verde ou cinza. Não me lembro, mas eu acho que

é a verde.

Li – A casa fica em Bragança, né? Sitio Sabiá!

SYLVIO - Em Bragança.

EDITE - É, mas tem uma região ali de Minas, que tem ardósia até na beira da estrada. Você

passa alí, na região de Formiga..... que eu lembro que eu estive lá. Tem muita jazida.

SYLVIO – Então. Essa vem de lá!

EDITE – É então. Isso que eu to dizendo. É dessa região, Formiga.

SYLVIO – Hoje eu acho que não trazem mais pedras desse tamanho.

EDITE – Talvez não. Mas.... mas tem o limite do caminhão também pra colocar emplihadinho,

assim que eles trazem as lâminas verticais, né.

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Li – Até.... apareceu ali deu... algo que a gente ficou na dúvida. Tem uma casa, aquele projeto

ali da Vila Madalena... você sabe dela? Foi construída, né?

SYLVIO – Isaías Alves de Queirós.

Li – Isso! Que é concreto também, né?

SYLVIO - É! Isso!

DANIELA – Ela tá como construída.

Li - É Vila Madalena, lá? Ou é tipo Vila Beatriz?

SYLVIO – O nome é.... Santa não sei o que a rua..

DANIELA – É... Tereza.....

SYLVIO – Tereza não sei o que.

DANIELA – Tereza Cristina.

EDITE - Não é perto ali do Lotufo?

SYLVIO – O proprietário dela morreu há dois anos.

EDITE – Não é ali perto da xxx(?)

SYLVIO – Mas ainda tá a família lá. E quem era ele. Era..... Ele era mulato, mas era

elegantíssimo. Uma das pessoas mais finas que eu já conheci. E era o braço direto de vender

automóvel lá. E aí viu o patrão dele fazendo, pediu pra fazer......

Li – Ele era da Sorana?

SYLVIO – É. Ele era da Sorana. E aí eu fiz a casa dele. E eles gostam da casa, ficaram lá.

EDITE - Essa casa eu tô intrigada em saber se eu já passei pela frente dela.

Li – Ela de frente, você não vê....É, o concreto...

SYLVIO – Você vê o retangulozinho assim.....

DANIELA – De frente é só o retângulo.

EDITE – Ah, então não é essa.

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Li – E é ali no miolinho da Vila Madalena?

SYLVIO – É ao lado do Vera Cruz.

Li – Ahh! Mais ali pra baixo! Porque eu nem sei se lá é... mais Vila Beatriz.

SYLVIO – É Vila Beatriz. E aí... também foi um outro exemplo de fazer arquitetura moderna,

pra quem nunca soube o que era. Mas deu certo. Viveram a vida inteira lá. E...

Li – Olha, o Sitio Sabiá, aqui ó. Acho que essa é a versão final.

SYLVIO – É. É esse mesmo. Que tem......

Li - Que antes tem o desenho da varanda (?).....

SYLVIO – Que faz assim e tem um forro. É muito bonito ele. E fazer uma casa com telhado

na época era um escândalo.

TODOS – risos.

Li – (sem entendimento?)

SYLVIO – O anterior era de eucalipto.

Li - E esse de eucalipto acho que não tá aqui.

SYLVIO – Acho que nem tem registro.

EDITE – Você diz um escândalo, em função assim.... dos colegas também?

SYLVIO - É, porque era tudo laje!!

EDITE - Essa questão de telhado então era execrada.

SYLVIO - Agora vamos falar do Artigas.

LI – Uma coisa, Sylvio. Eu não tô entendendo aqui. Esse é o..... abóbada, e tem umas paredes

que elas seguem, é isso?

SYLVIO – É. Eu acho que é nos quartos que tem. Mas tem a abóbada toda. Nos quartos eu

acho que... Em cima tem um compartimento.....tem uma escadinha e tem uma salinha.

LI – É uma salinha essa aqui?

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SYLVIO. É. E que olha pra fora. E ela depois virou do Márcio Freitas. A filha do Márcio Freitas

acho que é arquiteta, sei lá.

LI – E os desenho da casa que você levou pra Paris, foram junto com o Marcio Mazza

também?

SYLVIO – Foi. Nós dois. Tá publicado lá.

EDITE – Essa aí de taipas?

LI – É. Essa tem os desenhos.

SYLVIO – No Maison... uma coisa assim....

LI – É um lugar hipotético...assim...??

SYLVIO – É. É hipotético. Bom..... aí o Artigas!

EDITE – (risos).

SYLVIO – O Artigas, ele sempre ia lá visitar e falava e tal. E quando ele voltou pra FAU foi

ótimo. Mas numa das visitas dele, ele tava fazendo as escolas que ele fez pra Vicente de

Carvalho.

EDITE - Essas de tijolos?

LI – Sim, sim.

SYLVIO - Ele não usa concreto, usa tijolo. E ele me explicou detalhadamente a cobertura. E

basicamente são duas empenas de tijolos e trelicinhas a cada 50 cm se não me engano, de

caibro. Caibro e pinho mesmo. E claramente uma coisa que ele trouxe dos EUA. E ele falou

isso: “oh, isso gasta muito menos madeira e não sei o que”. E coberto com telha. Pra

escândalo geral.

EDITE – (risos) pra escândalo geral... (risos).

LI – Por isso que a gente podia fazer uma visita e fotografar.

SYLVIO – São lindos.

LI – Mas será que tá direitinho lá?

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SYLVIO – Deve existir ainda. Bom, então o Artigas me mostrou isso. Outra coisa: um dia a

gente estava na saída da FAU. Três coisas, aliás. A gente estava olhando pro Oceanográfico.

Ele falou “Tá vendo! A gente faz as coisas. E os caras olham, reproduzem e dá essas coisas

que tá aí”. Tudo aquele concretão, aqueles troços. Então o Artigas tinha uma consciência

clara, da arquitetura como um todo. Como coisa construída, quer dizer.... ele usa concreto...

mas não era dele só. Ele.... era o que fosse. Ele falava: “Não! Eu comecei a minha profissão,

trabalhando numa companhia construtora. Eu era junto com os caras lá. E o projeto que eu

fazia era de graça. Porque era o projeto necessário pra construir”. E tem casas que são casas

absolutamente, do tipo da época. Entao ele é uma beleza de compreensão ampla. E a outra

coisa que ele tem, é... :A gente subindo lá na FAU, no salão caramelo. Catando pelo braço

como ele fazia. Ele falou: aí ta vendo, Sylvio. Isso daqui. Isso daqui não é meu! Isso daqui eu

fiz, Mas tá aí, óh! Isso daqui agora é do mundo!” Então ele tinha um desapego na obra feita,

esse negócio de autoria, etc. Pra ele não era importante. Então é muito do que eu acabei

radicalizando. E tem uma exposição com um vídeo feito pelo Eduardo de Jesus Rodrigues,

que é sobre as pranchinhas que o Artigas levava pra falar da sua obra, já velho, quando

chamavam ele pra explicar, que é lindíssimo! Então o Artigas sempre teve muito além da

gente. Quando ele vai dizer pra fazer similares de terra, ele sabia muito bem o que ele tava

fazendo, né. E a outra coisa que é importante, é que ele: combatível, ideológico, comunista e

o diabo. Mas ele pessoalmente, uma delicadeza absurda! E o sentido de humanidade de

preocupação com os outros enorme! Quando eu me separei da Peo: “Sylvio, toma cuidado,

será que é mesmo isso?” Ele não tinha duvida, ele conversava.

EDITE: Que máximo.

SYLVIO - É uma maravilha!

EDITE - Tem um vídeo dele já bem idoso que eu vi, que ele falava: “não, eu leio poesia”.

(risos).

SYLVIO – Hum?

EDITE – A pergunta que fizeram: “Que livros o Sr. está lendo?” - De arquitetura, claro, que

as pessoas queriam saber, né. “Não, não, não! Eu leio poesia”.(risos). Tem um vídeo. Ele já

bem idoso, já bem debilitado inclusive. É... uma outra pegada, mais sensível. (risos).

SYLVIO - E ele, eu enchia a paciência pra fazer exame, lá pra ser professor. E ele dizia: “Mas

eu não li Kant! Como é que eu vou fazer se não li Kant?”. E ele andava... ele sabia alemão,

né. Andava com o livrinho no bolso o tempo inteiro, e lia filosofia como ninguém, etc.

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LI - Mas o Kant ele não leu.

SYLVIO - Âh? O Kant era um problema pra ele.

TODOS – (risos).

LI – Mas o Kant não é um problema?

TODOS – (risos)

SYLVIO – Que falou sobre tudo. E enquadrou a gente. (risos). E... claro que o Hengel ele

sabia. E quando a gente foi escrever o texto lá, com a exposição dele em Portugal, eu fui lá

no escritório dele com Julio Artigas e pegamos o livrinho do Heidegger. Tinha o livro do

Heidegger e dentro tinha anotações. Tinha um papelzinho dele, sobre o que era a freguesia,

e não sei o que....

LI – Qual é o livro do Heidegger?

SYLVIO – O Caminho. (Eu acho que é). Que é o livro que vai dá o texto dele sobre o Design.

LI – O dele, Artigas.

SYLVIO – É. Então, o maior marxista não sei o que, lendo o Heidegger.

EDITE – Ai que bom!

SYLVIO - E tirando Heidegger e usando!

LI – Que ótimo!

SYLVIO - Então ele tinha uma dimensão pessoal enorme. Muito maior do que aquela que o

pessoal conhecia. Todo articulador e tal... combatível...... E tinha uma questão espiritual

também. Que a gente indo pra Campinas, ele já doente e tal pra falar, ele começou a falar:

“não, porque minha mãe morreu na igreja, porque não sei o que, não sei o que.” E tem aquela

frase célebre dele: materialismo histórico dialético para explicar a sociedade. As minhas

questões são minhas e eu não quero falar. Tá escrito na exposição dele essa frase. É linda.

Então é caso surpreendente. Desenhava maravilhosamente. Era um grande poeta, né. E é de

fato o grande mestre em São Paulo e no Brasil. E eu acho que em termos de fazer escola de

arquitetura é o mestre maior. Maior que Niemeyer e qualquer outro.

EDITE – É, eu concordo. Com esta última comparação. (riso).

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SYLVIO – Então esse meu amigo querido, irmão mais velho, pai, tio ou que quer que seja da

arquitetura, ele me passou uma mensagem de abertura enorme. Então eu já era meio livre

mesmo pra ver as coisas, católico no meio de um bando de comunista, então era um rolo, né.

E.... dane-se e eu fui em frente assim. Foi essa liberdade que eu acho que incomodou muita

gente.

EDITE – Entendi.

SYLVIO – Além do que eu falo as coisas meio na lata e tal, então... De fato eu nunca entendi

direito o ambiente que eu tava, como era, como não era. Eu tinha que fazer e fazia e ia

tocando.

EDITE – E ia seguindo seu caminho.

SYLVIO – Hum?

EDITE – Um caminho. Seguindo seu caminho.

SYLVIO – Tem uma loucura pessoal que me levou por aí. Então eu acho, que tanto essa

experiência de Rondônia, em que não se construiu nada, mas tá lá tudo construído lá agora,

e também o estudo que começou com o Largo da Concórdia. Eu tinha que fazer minha tese

de doutorado. Aí eu escolhi o Largo da Concórdia. Por que? Porque era a maior encruzilhada

de povo em São Paulo, de gente que pegava ônibus. E fui estudar a evolução e dali começou

a sair uma elaboração que depois virou um método de conseguir mostrar a dinâmica da

cidade. Como que a cidade vai surgindo.... e é um método que eu acho muito interessante.

Eu publiquei alguma coisa no livro do Milton Santos, Método e Espaço. Mas tem a elaboração

posterior dele que nunca foi publicado.

EDITE – Ainda! Né, Professor!

SYLVIO – Sei lá.

EDITE – Ainda!

SYLVIO – Agora essa elaboração posterior.

EDITE – Ainda não foi publicado.

SYLVIO – Na época era difícil de fazer, porque não tinha computador, mas hoje com os

computadores sai fácil. E a tal da dinâmica da cidade, no fundo contestava a arquitetura do

edifício. Porque em Rondônia eu já percebi isso. Quer dizer, você planeja um espaço, ele

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surge! Você não é dono disso, né. É uma contribuição de todos. E estudando a cidade a partir

do Largo da Concórdia e depois dando as aulas lá..... ficou evidente que a cidade é muito

mais do que uma arquitetura. Muito mais! A cidade é fruto de um trabalho coletivo, que vai se

justapondo e vai criando e tal, né.

EDITE – É impossível uma pessoa só conter toda essa dinâmica.

SYLVIO – Próprio (SEM ENTENDIMENTO), Corbu. Mesmo os projetos de cidade do Oscar,

etc, são objetos maiores, né. Mas que acabam se inserindo dentro de uma dinâmica muito

maior.

EDITE – E muitas vezes imprevisível.

SYLVIO – Sempre imprevisível! Brasília é um exemplo típico, quer dizer....

EDITE - (SEM ENTENDIMENTO)

SYLVIO – E o Lucio Costa sabia disso. O Lucio Costa fala: eu fiz uma cidade Renascentista,

pra 400 mil pessoas. O resto que acontecer, aconteceu!

EDITE - E aconteceu, né. No entorno de Brasília.

SYLVIO – Então esse papo de que arquitetura leva a cidade, e não sei o que. Vamos com

calma! A cidade é uma construção... é uma construção social. Econômica e social. Mas é

fundamentalmente a construção social, que perdura, que vai se transformando e que é

incontrolável no sentido de: você não pode defini-la! Você pode compreender a sua dinâmica,

que aí vem o método, e pode se inserir nessa dinâmica e tal. Bom.... da cidade tem alguns

estudos, tem... eu sempre dicuti o Parque II, não sei o que e tal..... O Magalhães, que foi meu

aluno lá na coisa, depois pegou o que a gente andou falando, e transformou na tal via Norte

Sul, eixo Norte Sul de São Paulo. Mas veio das conversas que a gente tinha. E.....a... tem

dois trabalhos que eu fiz, já recentemente no Governo Serra, que foi a proposta pro Campos

Elíseos, discutindo o Palácio, não sei o que e tal, e a proposta de um eixo monumental pro

Museu do Ipiranga, que depois foi retomada, etc. Esse que você trabalhou (disse para o Li).

Li – Até falei coloquei no Facebook. Algumas imagens daquele projeto.

SYLVIO – Os desenhos do Li são lindísimos!!

EDITE – Já vi os desenhos do Li. (riso).

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SYLVIO – Então, que arquiteto é esse? É um arquiteto que faz umas coisinhas, que acabam

tendo alguma presença, etc. Mas é um arquiteto que tem uma âncora no construído

fundamental, e ao mesmo tempo tem uma discução do espaço maior, que inclui arquitetura e

que não fica tentando transformar arquitetura em SEM ENTENDIMENTO.

EDITE – Tá bom.

(conversas diversas).

SYLVIO - Não foi excessivo falar isso?

TODOS – Não!

EDITE – Foi ótimo! A gente só tá pensando em não deixar tão exaustivo, até pro Professor,

né. Porque ainda tem muita coisa pra gente esmiuçar.

(Conversas diversas sobre os trabalhos dos temas. ).

SYLVIO – O que eu acho.... Só mais uma referência, depois a gente entra nesse assunto. O

que eu acho é que, ao mesmo tempo que a gente tá retomando o mesmo processo na

casinha, Lucia e eu, que a gente tá construindo aí, ao mesmo tempo, com a Cris e com o Li,

a gente tá discutindo a questão do campo, né. Que é a organização... como é que é? É a

propriedade social do espaço. O espaço pode ter, pode ser propriedade desse, daquele. Mas

o uso do espaço é social.

EDITE – E.... é.... um parênteses. Essa questão social e cultural, né. É uma questão mais

ampla.

SYLVIO – Não. É fundamentalmente cultural. Você trabalhar a dimensão social, você tem que

trabalhar a dimensão cultural.

EDITE – E esse resultado SEM ENTENDIMENTO.

SYLVIO – Foi por essa razão que eu apoiei muito, escrevi um artigo e tal, sobre a cidade limpa

do Kassab, que eu acho uma lei muito importante. Foi publicado na Folha, na página 3, sei lá.

E... elogioso e tal. Ninguém entendeu direito como que eu fazia isso pro Kassab. Mas foi uma

coisa que eu acho que recuperou a arquitetura da cidade, exatamente por permitir a expressão

cultural. Que aquelas publicidades todas encobriam. Então, a... o que eu acho, é que a linha

de intelecção desse artigo, pode ser uma discussão de arquitetura, com: Ah, essa casa,

depois aquela, depois aquela, não sei o que. Isso tem a ver com aquilo.... a babaquice normal

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que se faz em arquitetura. Mas eu acho pobre, entende!? Porque eu acho que tem arquitetos

muito significativos. – Tinha um livrinho aqui em cima.

Li – Qual livrinho você tá procurando?

SYLVIO – Escola Parque. Pega ali ó.

DANIELA – Esse aqui, ó. É esse?

SYLVIO – É. Esse livro é precioso! De um cara que me adotou na vida, que foi muito

importante. Que é o arquiteto Hélio Duarte.

EDITE – Huhum.

SYLVIO – Ele era amigo do meu pai. Meu pai cedeu espaço pra ele fazer projeto da Cidade

Universitária lá no laboratório dele. Apoiou. E o Hélio Duarte, carioca que veio pra São Paulo.

“Comuna”, que depois os “comuna” diziam que era “galinha morta”, que não sei o que....

porque não continuou “comuna”. Mas foi um grande professor da FAU, estruturou a Pós

Graduação da FAU, que eu nunca entendi, mas que depois que eu fui entender. E trabalhou

com Kneese, e fez os projetos Escola Parque aqui em São Paulo. E esse livro é um livro em

homenagem ao Anísio, que ele vai mostrar desde o começo, quando o Anísio vai pros EUA e

tal. E tem os projetos depois e tem tudo. Acho que tem os projetos dele também. Então.....

Li – (SEM ENTENDIMENTO)

SYLVIO - Não, esse daqui eu queria que você tomasse nota do nome. E falasse pra aquela

menina, filha do....

LUCIA – Katia? Joana?

SYLVIO – A Joana! Pra ela ler esse livro aqui.

Li – Ahh! Ótimo! Depois eu tiro um foto, porque agora tô sem bateria.

SYLVIO – Isso você encontra na FAU.

EDITE – Tem lá na Biblioteca lá da FAU.

SYLVIO – Tem.

Li – Deve ter ainda pra vender, não?

EDITE – É recente, não?

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SYLVIO – Ele é do tempo que eu era diretor. 2009. Bom... eu dei força pra sair, tinha o texto

do “coiso”... Takia pegou, fez, o pessoal do CEU, né. Então... é outro cara importante, que

tem uma vida única dedicada a arquitetura, que contribui muito na FAU, etc, etc. Que vai... vai

ter consequência na gente.

Li – Entendi.

SYLVIO – Toda intelecção universitária que ele faz, etc. É tudo muito bom. Ou seja, nós somos

devedores dessa turma. Que é uma turma que vai dos anos 30 até os anos 60, 70, 80. Que

estruturou tudo. Kneese de Mello... essa coisa toda. E... o que ele depõe sobre o...... o

depoimento que ele dá sobre o Anísio é belíssimo! Bom, então....Eu acho que o fio condutor

de um artigo como esse, é a discução da arquitetura como objeto, mas também da arquitetura

como lugar. E os dois lastreados na estrutura cultural, no universo cultural. E aí é gozado,

porque você pode ir do... dessa mesa que eu desenhei a trinta anos atrás, que é um móvel,

até pensar o país, do mesmo jeito. Não é a mesma maneira de fazer, etc.... mas a questão

fundamental é: um objeto situado no espaço, e esse espaço transformado no lugar de

agregação. E é curioso que isso vale tanto pro móvel que vai existir dentro de um espaço e

vai dialetizar com esse espaço. O móvel nunca é uma.... como os decoradores falam: “ah vai

ficar bonitinho”. Não! Não é! O móvel é um elemento, é um projeto que vai questionar o outro

projeto. Então vai desde isso, até pensar o território todo. E as pessoas no território, né. E a

componente cultural, né, ela não pode ser elitista. Ela tem que ser lastreada na prática social

e na prática popular, né. Isso eu fiz normalmente! Não era teoria nenhuma. Acontecia. Era

sempre assim. Mas porque talvez eu tenha visto a arquitetura desse jeito, né. Nas fazendas.

Na fazenda do meu tio, que eu ficava lá nas férias. Essa noção de que foi construída pelo

povo, pro povo de outra época, que deixou aquilo, que não sei o que que e que tava sendo

alterada, vem desde muito cedo. E a minha grande dificuldade com a arquitetura moderna,

por isso que eu não conseguia escrever nada, é porque tinha o decálogo da arquitetura tem

que ser, né.... a forma é desmanchada pelas lajes, pelas vedações, pelo que seja, né. A forma

em si (ou no ensino) é secundária e uma obra vem da outra que vem da outra, como se as

influências fossem só de um objeto com outro. Ignorando a vida que é abrigada, as pessoas

que vão viver, as transformações que vão ser feitas, percebe?

Li – Huhum!

SYLVIO – Então, eu acho que tentar escrever um texto que seja muito bom, que ele falasse

dos lugares criados além das formas, e que falasse da vida abrigada e da transformação

dessa vida.

Li – Ainda bem que tá gravando tudo.

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EDITE – Estamos gravando (riso).

SYLVIO – Ou seja, arquitetura é....

EDITE – Nós vamos fazer uma experiência, professor, de escrever juntos pela primeira vez.

Isso também, talvez em trio, né.

Li – Sim.

EDITE – Por que não?

SYLVIO – Você, você e você?

EDITE – É. A Daniela tá fazendo a dissertação. Cujo tema: Sylvio Sawaya. Tem um recorte.

Li é o orientador. Que melhor orientador não teria, né. Que conhece toda a obra. Jamais teria!

(riso).

SYLVIO – Eu vou ficar muito curioso, porque eu não tenho idéia de quem seja Sylvio Sawaya.

TODOS – risos.

(assuntos e risos).

Li- Mas essa idéia de ter o lugar de agregação e enfim, de ter essa... uma resposta a uma...

e tem a dinâmica culturais, você falou mais bonito na gravação. Eu já vi tudo! Tanto o artigo

quanto o trabalho dela.

EDITE – Agora, professor, só pra fechar o raciocínio então: a questão lá do que eu escrevi,

né e eu estou falando... defendi a tese de que existe uma arquitetura alternativa à essa linha

que o Sr acabou de comprovar o que eu falei. Porque existia assim uma arquitetura moderna

paulista, brutalista, concreto. Uma linha muito hegemônica, muito clara, e alguns agentes que

ficaram....

SYLVIO – Desculpe a expressão: muito ignorante.

EDITE – Oi.

SYLVIO - Porque, você tem caras maravilhosos na arquitetura paulista, um deles é o Bira. O

Bira tem um portfólio, que tá por aí. Invejável.

EDITE – Eu tenho a cópia desse portfólio. Ubirajara, não é?

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SYLVIO – E o Bira tem uma coisa lindíssima, que é o sentimento que ele emprega em tudo

que ele faz e é tudo muito claro, muito alegre, muito... né. E é um modernista de quatro

costados. Então essa história de que ser moderno não dá coisa boa, não é verdade. Dá coisas

ótimas! Mas não dá uma regra pra todo mundo seguir, como era estabelecido. E não dá

também um.... e essa regra não serve de parâmetro pra jogar o que é feito. Cada coisa que é

feita tem que ser entendida como ela é e etc. E a partir do seu entendimento ser inserido num

universo maior. E...

EDITE – O Sr. Concordaria. O.... Você concordaria que nós temos assim, lacunas nessa (SEM

ENTENDIMENTO) justamente porque quem faz a interpretação acaba colocando isso numa

linha.....

SYLVIO – Teve uma lacuna que foi preenchida por um pessoal do Rio, que foi a questão do

ecletismo. Que foi totalmente condenada, não sei o que, etc, que é maravilhoso!

EDITE – É como o Palácio Santa Helena que (SEM ENTENDIMENTO) Praça da Sé que foi

demolido porque julgaram que não seria....

SYLVIO – Que era insignificante.

EDITE – Que era insignificante pra Praça da Sé.

SYLVIO – Tem um livro de um cara que fala do ecletismo no Séc XIX no Rio, que é belíssimo.

EDITE – É uma coisa assim que você não entende.

SYLVIO - É um professor lá e vale a pena. E aí recentemente, a uns poucos 2, 3 anos atrás,

eu comecei a tomar contato. Ainda não consegui me aprofundar no Semper. Que é o Arquiteto

alemão (sem entendimento) daquela época, que é anterior ao modernismo e que vai, vai

questionar a visão historicista. E vai dizer que arquitetura não é, não é um encadeamento

histórico..... mas que arquitetura é feita de 4 pilares que é: tijolo, ferro, o tecido e sei lá o que

mais. E cada um desses trab. ... cada um dessa maneira de trabalhar desses materiais, gera

linguagens que depois uma caminha com a outra e etc. E que arquitetura no fundo é um

grande exercício de linguagem e memorial que se retoma continuamente. E o Semper

exatamente por ele tá nessa encruzilhada, é o cara que faz a ligação com Séc XVIII, XVII, até

os gregos e com aquilo que vai acontecer depois. Foi absolutamente condenado pelos

modernistas, o Heidegger, sei lá que isso, né. E... mas no entanto agora que o livro dele foi

publicado, traduzido pro inglês do alemão, pela Fundação Goethe, ele tá sendo um texto

fundamental pra repensar a arquitetura daqui pra frente. Porque ele faz essa ligação da

arquitetura como uma continuidade.

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EDITE – É verdade.

SYLVIO – Não historicista. E o pensamento dele que tá distribuído nessa obra, era pra se

transformar num texto, em que ele falaria aí das posições teóricas e tal, mas ele morreu antes.

EDITE – Gente!

Li – Agora vocês vão ter que sair correndo.

EDITE – Não! Assim... a gente vai precisar fazer mais sessões.

TODOS – risos.

EDITE – Acho que é isso. Desculpa, Sylvio. Mas é que a gente tá com pressa.

SYLVIO – Não, tá ótimo. Mas eu só queria deixar bem claro o seguinte, quer dizer, se vocês

conseguissem trabalhar essa questão da vida acontecendo nos lugares e os objetos que ela

vai propondo e transformando, seria muito bom.

EDITE – Ótimo! Fantástico! Assim, esse fio condutor já estabelecido, né. Pensar nisso.

SYLVIO – Porque esse fio vai explicar tudo que foi feito! Sem ficar na comparação: ah mas

não sei quem fez isso... tanto faz! Aconteceu! É isso!

EDITE – É, depois ele ainda fala que é um arquiteto que fez umas coisinhas....

TODOS – risos.

FIM.

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ANEXO 2 – ENTREVISTA SYLVIO SAWAYA 20/05/16

Entrevista concedida pelo professor Sylvio Barros Sawaya

Participantes: Daniela Rosselli e Lúcia Mayumi

20 de maio de 2016

PARTE I

LÚCIA – Eu vou falar... Eu vou falar aqui um pouquinho tá bom Sil. Tudo bom?

LÚCIA – Então pra o que eu sempre gosto assim então nestes vinte anos que eu acompanho,

não direto, mas assim acompanho no início como colaboradora tal e hoje como sócia da

Cabodá é que eu sempre acho assim realmente esta tríade que ele chama de lugar,

programa e forma e construção é realmente é, é muito isso assim acho que implantação é

uma coisa muito estudada, o programa da casa né, no caso do, do foco em relação a cidências

ele é sempre muito estudado e, e, o legal é isso assim sempre tem muito o espírito do, dos

moradores mesmo né então, é uma interpretação do Sylvio, então você olha todas as casas

tem a cara dele.......então acho interessante o Sylvio linkou agora a pouco é vário, vários

colaboradores, colaboradoras, é mas assim quase que isso não importa porque, é,

independente de quem esteja colaborando...

PARTE II

(Sylvio fala sobre o filme que Paolo fez da residência Roberto Marino):

SYLVIO - Porque a experiência foi interessante, ele veio fez um vídeo das duas casas do

Roberto Marino antigo e Roberto Marino novo pra, pra eu poder mostrar em Jundiaí, que tinha

que falar em arquiteto que faz coisas e num sei que. E foi muito interessante porque a casa

antiga fez um sucesso enorme (risos) Nossa Senhora! No meio dos arquitetos que tavam lá.

E a casa nova que eu, que eu, que eu curto mais hoje em dia né. Eles entenderam e tal, mas

num, num, num chegaram a perceber o que ela tem né, mas o vídeo é bem feitinho. Ele foi

visitou, viu, eu acho que pode te ajudar.

DANIELA – Não eu vou falar com ele sim, com certeza.

SYLVIO - E foi uma vez que isso é, aconteceu, quer dizer, de eu mostrar alguma coisa que

eu fiz e ter repercussão, entendeu.

DANIELA – Exatamente, exatamente. A gente tem que mostrar né.

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PARTE III

SYLVIO – Porque o que eu to achando agora que ficou bom primeiro esse recorte de inserir

as casas e aí podia ter uma discussão de casa mesmo. O Rykwert se não me engano, ele

coloca no texto dele que a arquitetura é fazer casas, ou que a arquitetura começa de fazer

casas, uma casa é um elemento.

DANIELA – Ele é, ele fala bem dessa, eu to num, não li ele ainda todo, to no meio.

SYLVIO – Mas aí o que a casa tem de muito especial, é que ela se refere sempre a um

cotidiano, de um grupo definido, se esse grupo é...,é um marido, uma mulher, filhos e, mas é

um grupo que mora junto e tem um cotidiano. E o cotidiano ele, ele não é uma, não é uma

dimensão sociológica, as classes, num sei o que, ele é mais uma coisa antropológica, quer

dizer, ele é uma realização concreta de um grupo de pessoas num determinado espaço, né

e, e aí pegando o gancho do Rykwert a, você trabalhar a casa um pouco, é trabalhar tudo,

que a partir dela sai o resto. A, a, a casa tá relacionada com a ideia de família seja de que

forma for. E a família é outro dado fundamental da vida social, a sociedade é formada por

famílias, quer queira quer não, são as famílias que, que, que acolhem, os que vem, os novos,

os que educam, o que isso, o que aquilo, então, ela tem um papel social muito grande, né, e

o cotidiano é estudado. Eu to começado a ler agora, eu já tinha dado uma olhada esse daqui,

esses dois livros.

DANIELA – Ah! Nossa que interessante!

SYLVIO – Ó... É, é esse cara, ele escreve isso em 80 e pouco. Depois ele morreu, mas é uma

pesquisa muito séria, financiada, tal, sobre o cotidiano. E, e, e, e ele vai insistir muito nessa

dimensão do cotidiano, tá. Então, talvez, e o Li também tá se interessando pra ler esse cara

e tal, talvez pudesse ter, a partir do Rykwert de tudo, essa questão do morar junto. Né Esse

aí é Morar e Cozinhar.

DANIELA -. É

LÚCIA – Que aí, que aí inclui a questão do, do grupo de amigos ou da co-habitação né.

DANIELA - É verdade!

LÚCIA - Porque no fundo tudo tem a ver com isso, com o cotidiano, com o morar junto e com

a evolução da fa (interrompe) Evolução não, com as alter (interrompe) com as transformações

da vida.

DANIELA - Com as transformações, do, do termo Família.

LÚCIA – É.

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DANIELA - Que inclusive agora teve uma alteração, não foi?

LÚCIA – No, no termo oficial?

DANIELA – No termo oficial de família teve uma alteração.

LÚCIA- Que agora, que agora.

DANIELA – Colocaram outra coisa.

LÚCIA – Que agora que colocaram só homem e mulher, não é? Tá vendo Sylvio, como isso.

DANIELA – Teve uma alteração mesmo. Eu li na internet.

LÚCIA – É, é tá vendo.

(risos)

SYLVIO – E aí então........Por exemplo, deu uma caracterizada na casa..........Então, mas,

colocando a casa, e aí, aí claro o Rykwert é fundamental, mas, a questão da evolução da

casa, né, porque, porque ela vai assumindo formas muito distintas no decorrer da, da, da

história, né. Essa casa que a gente conhece que tem quarto individual, num sei que, ela é

muito recente, se você for nas casas coloniais brasileiras se tinha salas, tinha cozinha e tinha

alcovas, e, e não tinha banheiro, né. E, e também a privacidade do quarto, não existia, você

atravessava um quarto para ir pra outro, etc. Então é, é essa estrutura do espaço, casa tem

uma evolução muito interessante de se analisar, e se você pegar essas casas que são dos

anos 70 até hoje, tem uma mudança radical nelas, eram casonas, e eram...e hoje ficou tudo

pequenininho e tal. Né.

DANIELA – É, é verdade.

SYLVIO – Então, o, o, o primeiro assunto é a casa, o segundo arquitetura como casa, né. E

aí, essa história da evolução da arquitetura recente entre nós da arquitetura habitacional, eu

acho que podia ser muito estudada. Eu te falei do, do Millan que tem

Daniela – Foi.

SYLVIO – Mas o Paulinho tem, o Artigas tem casas maravilhosas, quer dizer, tem que ter todo

um universo aí de, de, de casas. Que fazem parte desse percurso, né. E talvez, hummm, essa

questão da reforma, possa ser introduzida, não a reforma pela reforma, mas a reforma como

a reutilização da casa, né.

LÚCIA – É, eu acho, só dá, dá um pouquinho de receio de reduzir o, a, a obra. Porque né,

porque o recorte no trabalho do Sylvio que vai desde núcleos rurais até num sei que.

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DANIELA – É.

LÚCIA – É, é ser reduzido entre aspas. Eu sei que você tá um pouco receoso, não tá Sylvio?

SYLVIO – Do que?

DANIELA – Do que?

LÚCIA – Não de, de ter esse recorte reforma.

SYLVIO – Não, num to não! Eu to achando ótimo. Eu curto, curto horrores.

DANIELA – É mas a reforma fui eu que fiz.

LÚCIA – Mas não num é, a reforma num é a reforma, é quase que um, o que o Sylvio faz não

é uma reforma, é uma reinterpretação.

DANIELA – Exatamente!

LÚCIA – Então, é eu acho.

DANIELA - A palavra não é a Reforma, é que a gente utiliza, então.

LÚCIA – É.

SYLVIO – E, e aí eu acho que entra porque, no fundo você analisando a, a casa você vê que

ela vai mudando no decorrer dos tempos e tudo isso. E mesmo nos 50 anos, ela mudou né,

e, e, e então faz todo sentido se reinterpretar, né. Seja que a casa virou outra coisa, não é

mais casa, é um instituto cultural, exemplo. Seja que é uma casa mesmo, mas que é outro

cara tal, né. E, e talvez isso desse alguns elementos para fazer análise dessas casas, que,

que não fosse só uma análise assim, não essa é a obra desse cara e num sei que. Vai

aparecer isso, mas, das casas em si. Entende? Ter critérios para analisar isso né, então. O

que que era, o que foi, o que tá sendo, né. É nesse sentido esse trabalho que o Paolo pode

te passar é muito bom, porque é a primeira e a segunda casa, né.

DANIELA – É.

SYLVIO – O cara faz uma quando ele vai ter filhos, tá, tá, tá tendo os filhos pequenos, etc., e

faz outra quando ele tá com 50 anos.

LÚCIA – Ué, mas então nesse caso pode ter, pode ter a terceira casa, que é a primeira.

DANIELA – Que é a nova.

LÚCIA - Com essa nova.

SYLVIO – Reinterpretação.

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DANIELA – É.

LÚCIA – Reinterpretação.

SYLVIO - Então ai, é, é começa a ficar interessante a falar de arquitetura, porque não fica

falando de arquitetura em si o objeto arquitetônico, né, porque recheia ele. O que se

transforma no decorrer dele e como isso pode ser enfrentado fazendo arquitetura, né. Isso

pode ser muito bom.

SYLVIO – Aquela casa da Beth? Pega uma casa e reinterpreta e aí fica a casa deles criam os

filhos e agora. Há dois ou três anos atrás, teve uma nova reinterpretação que os filhos não

estão mais lá, mas eles querem continuar na casa, é a casa deles, e, e a sala que é muito

importante na proposta inicial nunca tinha sido resolvida, era sempre meio amontoada. Ai a

Beth pode te contar tudo. Ai nós fizemos um trabalho grande, demorado, de como pode ser

essa sala, o que ela devia ter, que móveis devia ter, onde punha um, onde punha outro, é

uma história. Até que conseguiu se configurar. E ai o Mario. Eu não sei como é que foi, a Beth

pode te contar melhor, mas a (?) eles queriam. A Beth precisava de armários, e o Mario queria

que tivesse apoios laterais, ai surgiram os móveis que são muito interessantes, você tem ai

a...

LÚCIA – Aqui não Sylvio.

SYLVIO – O da fazenda lá.

LÚCIA – Aqui não.

SYLVIO – Onde será que está?

LÚCIA – Algum lugar lá em cima. Eu deixo separado pra próxima.

SYLVIO – E foi feito pela marcenaria da fazenda que é muito boa. E do catalogo deles, que é

muito bem feito, abre assim que tem uma folha dupla que tem o móvel.

DANIELA – Ah!

SYLVIO – Esses móveis de fato são consoles, é uma variedade de consoles que serve pra

botar as coisas em baixo, pra por em cima, serve de barzinho, serve de apoio pra mesa de

comer etc.

DANIELA – Bacana!

SYLVIO – É muito interessante! E ai então eles compraram uma mesa bonita do Carlos Motta,

do Carlinhos Motta né, e compraram também umas poltronas e uns sofás... ai botou,

conseguiu-se o lugar, (?) é comprida né! Então é mais profunda a mesa depois os sofás né,

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alternam os sofás e as coisas e depois o jardim. E teve uma grande discussão dos tapetes,

que tapetes punha? Era um tapete só? Não era? Que tem o peso todo trabalhado. Ai se

descobriu o tapete pra mesa de jantar, que é um tapete de sisal, mas é um tapete tibetano, é

uma loucura, é bonito! E depois pro sofá é um tapete persa mesmo, verdadeiro, felpudo, que

custou pra encontrar, ai encontrou o tapete, e o tapete tem uma coisa legal, as meninas, as

netinhas brincam naquele lugar e no tapete, botou o tapete elas se apropriaram, então você

percebe como o espaço é vivo? E essa historinha no fundo é um exemplo.

DANIELA – É, é verdade! É verdade!

SYLVIO – E ai a postura diante do espaço, é muito mais uma postura de solicitações que vão

tendo que ser atendidas e vão assumindo uma expressão, do que simplesmente fazer o objeto

contemplativo, escultura ou o diabo que seja. Né, eu acho que de repente se conseguir pegar

essa coisa da casa em sua dinâmica... Sabe.

DANIELA - Você já começou a ler algum deles Sylvio? Ou não? Esse aqui?

SYLVIO – Eu li o. A introdução.

DANIELA – Ta! É onde ta marcado aqui? Tem só esses dois ou tem outros volumes?

SYLVIO – Não só saíram os dois volumes.

DANIELA – Só os dois né?

SYLVIO – Depois o cara morreu.

DANIELA – Ah!

SYLVIO – É, mas, ele concluía a pesquisa. Quase que um relatório da pesquisa, agora tem

outro livro que eu não consegui, de um cara chamado Richard Sennet.

DANIELA – Sennet?

SYLVIO – Sennet. S-E-N-N-E-T, sei lá, e esse Sennet já escreveu os livros. Ó, tem o primeiro

deles que é muito parecido que é “O declínio do homem moderno” alguma coisa assim Ele ta

escrevendo agora parece que são três volumes, um é ‘O artífice’ o outro acho que é ‘O morar’,

outro não sei o que, que é da mesma linha.

DANIELA – Tá!

SYLVIO – Que também acho que vale. E a vantagem dessa abordagem mais antropológica

é que você não cai nem uma visão histórica, estruturada e tal, e também não cai numa visão

sociológica de estrutura da sociedade, não você cai na vida efetiva das pessoas. Seja o que

for.

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DANIELA – É verdade!

SYLVIO – E, e, e ai eu não consigo ver ainda que seria um doutorado mas de qualquer forma

nesse material tem como puxar depois. Talvez o mais interessante de tudo isso é realmente

uma discussão de como fazer arquitetura, se não estudou a casa, (?) disse que a arquitetura

é a casa, começa com a casa, fazer arquitetura é sempre a casa. E essa discussão podia...

LÚCIA – Ele não para de falar!

DANIELA – É (risos) Pra mim ta ótimo, o problema é que ele fica cansado coitado.

SYLVIO – Então essa discussão do caminho de como se fazer arquitetura podia ai sim pegar

o passado, pegar sei lá desde a idade média né, passar por esses períodos, mas ai acho que

valia a pena conhecer o SEMPER.

DANIELA – Ta!

SYLVIO – Que eu também não li direito, mas eu acho que é um cara importante, mas sobre

tudo o prefacio do Rykwert que fala da, da indagação que se faz hoje em dia sobre a

arquitetura, e essa indagação também é do Rykwert ele fala “a arquitetura sempre existiu”

afirmando, né a cidade, afirmando... Nesse momento a arquitetura foi apropriada pelo capital

internacional que possui volumes brutais de dinheiro e esse capital ta transformando a

arquitetura de uma coisa fruto de uma realidade localizada né, num pedestal pra colocar seus

monumentos elogiando seu poderio etc. multinacional, tal, e ai ele mostrou isso em uma

conferencia linda aqui em São Paulo, aqueles prédio chineses incríveis, essa história de

arquiteto importante ficar fazendo prédio no mundo inteiro, o Calatrava que veio fazer ai...

Tudo bem tão fazendo, tem dinheiro pra fazer, que seja, mas isso não é toda a arquitetura e

talvez não seja nem arquitetura, porque arquitetura mesmo é uma postura, percebe? Então

essa discussão você podia já ‘cozinhando’ ela pra depois tirar.

DANIELA – Ta!

SYLVIO – E nisso, tem uma contribuição muito importante das questões de natureza, meio

ambiente, todo esse respeito que se começou a ter por tudo isso, e se percebe que esta sendo

perdido, e também pela maneira de você viver, de tomar cuidado com o físico, comer direito,

num se envenenar etc., então tem todo um plano de fundo numa maneira de se viver que se

está sendo proposta que corresponde a uma arquitetura que a gente não sabe direito qual é,

mas que vai existir se sabe? Então essa indagação do Cambinho (?), não é só pra falar do

que foi, mas é pra tentar já vislumbrar esse processo.

DANIELA – Ta.

SYLVIO – Eu não consigo ver nada.

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DANIELA – (risos). É só o que eu comecei a ver é a questão de Rondônia como realmente

interferiu, você já contou, mas como realmente interferiu, não só na forma assim né, eu não

tinha conversado com ele ainda, mas, depois que ele voltou de Rondônia muda assim, e a...

Não um estilo, não diria um estilo, mas assim as formas da cobertura e de tudo mais das

casas depois que ele volta de Rondônia, tem uma até que eu falei pro Li, eu falei assim,

parecem àquelas moradias de índios né aquelas que elas são aquele...

LÚCIA – Ocas? Sei lá.

DANIELA – Não parece?

LÚCIA – Ah que legal!

DANIELA – Porque ai eu fui olhar o ano dessa casa e o ano que ele já tinha voltado e eu falei

assim, olha como isso.

LÚCIA – Olha!

DANIELA – Lembra né. Não sei se o Sylvio viu isso lá ou não.

LÚCIA – Influenciou.

DANIELA – Mas é um tipo de construção que é própria de lá

LÚCIA – É.

SYLVIO – É mais complicado por que...

DANIELA – Mas ainda tenho que estudar muito.

SYLVIO – Rondônia foi quando eu descobri que o Brasil era outra coisa. O Brasil não era o

que a gente fazia em São Paulo, e ai foi um convite pra tentar interpretar essa coisa mais

ampla, né, ai veio os materiais naturais.

DANIELA – É.

SYLVIO – E tudo isso. Já tava embutido antes, mas toma uma ênfase.

DANIELA – Sim é, entendi.

SYLVIO – E tem uma coisa que eu to querendo fazer, que é, os conjuntos habitacionais se

transformarem em vilas. É um texto que eu escrevi agora aí. E...... a vila, a vila eu peguei a

definição do Uaulet (?) né, a vila no sentido de que é uma poção. É uma povoação que é

menor que uma cidade e maior que uma aldeia. Então quando se pensar nesses grandes

conjuntos se pense como uma porção de cidade com tudo dentro e, e aí eu to juntando com

esta indagação de materiais locais né, e se conseguisse fazer uma vila dessa com materiais

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locais em escala, eu acho que vai ser muito bom, porque ela vai acontecer, porque vai ser

muito boa, vai dar certo e também vai ter um custo interessante, entendeu? Então só para

você vê que essa indagação do piso, de repente vai ser uma indagação da cidade, né. É o

meu filamento.

DANIELA - É. Nossa, tem muita coisa né.

PARTE IV

LÚCIA – E, aí entao é isso assim, que tem.

DANIELA – Sempre tem a cara.

LÚCIA – Independente de quem é o colaborador.

LÚCIA – O Sylvio é o tipo do arquiteto que é muito forte a expressão da arquitetura dele, então

num, num, o Sylvio, acho legal também que ele sempre faz questão de colocar quem foi o

colaborador, mas eu acho sempre importante falar assim, você percebe que independente

de quem é o colaborador a, a ,a, eu acho que a lógica né da arquitetura tá sempre, é muito

forte e tá sempre muito presente, então por isso que eu minimizo um pouco a importância de

quem colaborou, assim, tem a graça de quem foi, o trabalho foi legal e tudo, mas assim eu

acho sempre que é uma arquitetura que expressa o que o Sylvio faz, não é Sylvio? Eu sempre

acho isso. Não importa se foi o período que era a Elza, que era a Elo, ou mesmo os projetos

que eu colaborei, eu acho que sempre tem...

SYLVIO - Vendo o que tá escrito nesse prefácio aí, tudo o que eu aprendi foi do Milan

LÚCIA – (risos) Hoje você resume assim.

SYLVIO – É então, eu, eu, ai Milan morreu e eu continuei, mas é, num caminho muito próprio

e é um caminho que tem, tem influência do que eu vi e do que fizeram mas a influência sempre

absorvida e traduzida, ela nunca é uma reprodução e tal, né. E, e que precisa colocar essa

biblioteca também. Que é a última obra né.

LÚCIA – Eu acho que ela entra a partir do, dessa residência, dessa casinha que começou

com casas de jardim com 35 metros quadrados.

DANIELA – Tá

LÚCIA - Depois teve a ampliação é Nadia Araujo que é o que o Li participou e depois agora

com o Sylvio retornando e morando depois de 45 anos nesse mesmo terreno e ampliando e

fechando, acho que fechando né o ciclo Sylvio, que é a biblioteca

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SYLVIO – mas esse projeto tanto a biblioteca, do Jardim que também é interessante de

mostrar, esse arranjo, foi feito com a Lucia.

SYLVIO – E, e, eu acho interessante mostrar nesse momento ter surgido isso

LÚCIA – É que agora nesse caso é um momento diferente, porque que a gente é casado né.

Somos dois arquitetos, é diferente de uma colaboração, é normal né, enfim, de escritório, mas

aí.

SYLVIO – O jardim é muito da Lúcia.

SYLVIO – o interessante é que a biblioteca tem a história da estrutura metálica, que depois

vai ser levada para casa que vai ser feita embaixo. Porque toda a estrutura é metálica, assim

como a oca é toda em...

LÚCIA – Eucalipto. É. Eu, eu, e aí uma coisa curiosa que tem nas casas, que eu já vi, não

digo todas, mas várias, é, eu acho que o programa da casa tem muito a ver com quem, com

o morador, o proprietário, o cliente né. Só que ao mesmo tempo, ela tem uma, uma lógica

própria que né, em vários casos, a casa redonda que se transformou num centro de estudos,

numa escola, a casa triangular, soube que virou também algum centro cultural. A casa João

Marino também, por um tempo ela ficou, virou quase que um Museu, né. Que a Mary Marino,

a filha

SYLVIO – A casa João Marino, tem que falar com o proprietário atual, porque ele fez ela é

uma arquiteta e fez um lindíssimo trabalho de restauro.

DANIELA – Denise ou Débora, eu não lembro o nome dela.

SYLVIO – Debora ou coisa assim. Ela é muito legal.

DANIELA – Que você, quando ela foi fazer o restauro ela chamou você para ir até lá, não foi?

SYLVIO – Eu dei uma olhadinha, mas...

DANIELA – É

SYLVIO - Ainda bem que eu não fiz, o que a gente queria fazer que era (gravação baixa –

sem entendimento) e a casa do João Marino um depoimento importante é do Antonio Carlos

Santana

LÚCIA – Professor? Por que?

SYLVIO – Porque ele fez pra mim uma vez, ele me pegou no estacionamento: Oh Sylvio, você

é o único arquiteto de nós, que escreveu e que fez projetos e escreveu sobre, e num sei que.

E aquela casa Sylvio, do.... do João Marino né, a gente lutava pra saber onde ela era pra ir

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ver e etc. Ela coloca naquela época coisas que são muito atuais hoje, que é a questão da

transparência, e ela é toda vazada né, então ela é uma casa curiosa porque, parece que ela

antecede coisas.

DANIELA – Ele deu uma entrevista em algum lugar, que ele fala exatamente tudo isso que

você tá falando.

SYLVIO – O Antonio? É

DANIELA – É. Por isso a hora que ele falou o nome, eu já li, porque eu tô precisando.

SYLVIO – Ele é um cara muito legal de ver. E, e tem.

DANIELA – Não sei se foi pra uma revista que ele falou e alguma coisa

LÚCIA – Será que, será que são os números de entrevistas dos professores da FAU?

DANIELA – Eu não sei onde que eu li isso, tenho anotado aqui, depois eu posso olhar.

SYLVIO - E tem, tem nesse percurso muito próprio, tem, tem uma persistência de algumas

coisas, mas que eu acho que eu não consigo ver nisso, talvez você possa ver, aí eu te ajudo

nisso.

DANIELA – Tá.

SYLVIO – E, tem, tem uma coisa que isso que eu faço que o pessoal quer, etc, mas que tem

uma marca, tem um aspecto de, de, procurar fazer alguma coisa que seja intemporal. Então

ela vem e fica, ela não é pra ser mudada.

LÚCIA – Acho que vem daí essa, essa, essa característica de que ela pode ser uma casa,

mas que também pode ser outras coisas que, que a Arquitetura sustenta né

DANIELA- É verdade.

LÚCIA – então acho que tem essa, sempre enxergo assim essa característica na casa deles.

Essa da Jani e do Paulo também, você vai ver, unidos. Então é um espaço que se você avaliar

ele pode ser um monte de coisa

DANIELA – É

SYLVIO – (voz bem fundo – sem entendimento) tem uns pisos na casa do Fernão Bracher,

que são uns pisos de tijolo no terraço e no jardim que minha irmã, que era mulher dele e aí

eu fiz com ela, e são, são muito interessantes, e, e aí tem esse negócio de piso e de, de, do

decor é uma coisa que sempre marcou, eu nunca tive medo de marcar piso disso e de botar

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cor forte, tal, né. E eu acho que, que tem uma coisa assim que faz com que a obra seja viva,

quer dizer, que ela, ela, que as pessoas adiram(?) a ela que, percebe?

SYLVIO – Ela, ela não tem nada a ver com, com essa arquitetura neo, neo, neomoderna, que

é bonita, que são os volumes, mas que é toda meio cinza, é meio branca, etc. E que, e que

num certo sentido tanto faz se tem gente ou não tem então todas essas obras elas, elas estão

intimamente ligadas à vida das pessoas. Apesar de serem obras em si afirmativas, percebe?

SYLVIO – E, eu acho que esta característica, é uma característica que tende a se firmar, daqui

pra frente, com esse negócio de sustentabilidade, de tudo isso que tá evoluindo, com o corpo

e tal.

SYLVIO – E a questão do décor sempre foi uma briga pra mim, porque a decoração era crime

né pra aquele cara lá do, o Loss né do coiso, e. Os arquitetos modernos todos entraram nessa,

e, e pra mim nunca foi pra mim sempre foi importante marcar, fazer e tal. E hoje pra mim ta

na cara que a decoração é o elemento fundamental na obra, a cor, o que você colocar a mais

etc. sabe?

SYLVIO – e ai eu descobri um cara chamado Semper, que é um arquiteto do início do século

XIX, que vai ser arquiteto do Wagner etc. Tem que ter um livro fundamental dos quatro pilares

da arquitetura, que agora... Ela em alemão só foi traduzido e. E ele é um cara que recupera

toda, toda a arquitetura anterior. E ele fala uma coisa muito curiosa, a arquitetura não vem da

tectônica não vem da cocção a arquitetura vem do tecido, porque era tudo feito com tecido as

divisões e etc. e tinha os desenhos e esses desenhos depois são transpostos pras pedras

pros materiais duros, mas a arquitetura é uma coisa que vem do tecido é uma das coisas que

ele coloca (?) e, portanto. Inclusive ele trabalha os quatro pilares que é a madeira, a cerâmica,

a pedra, num sei o quê. O ferro, e ele mostra como as decorações feitas com o material

passam pro outro passam pro outro etc. então ele faz essa discussão. Ele é detestado pelos

modernos, aquele (? ou?) e outros etc. por que eles estavam condenando tudo etc. Ele era

tido como um velho gagá né, e não é coisa nenhuma, ele é um cara importantéssimo, participa

da exposição de Londres, internacional de 1850, e... É muito sério, então nesse livro tem uma

introdução do Rykwert, que o Rykwert é meu amigo, ele teve aqui. O velhinho.

DANIELA – Do arquiteto né?

SYLVIO – É. Ele num é arquiteto ele (barulhos). É ele ai.

DANIELA – Não é esse?

SYLVIO – É esse ai!

DANIELA – É esse?

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SYLVIO – É esse ai! José Rykwert. De fato é um pseudônimo, o nome dele é outro. E o

Rykwert teve aqui e ele tem o texto lindíssimo da introdução desse livro do Semper mostrando

exatamente isso, e ai. Só pra explicar é que há um ato produzido pela arquitetura moderna de

limpar tudo, de num sei o que etc. e que às vezes assume uma pretensão meio esquisita de,

de que a arquitetura começou com eles, começou com os modernos, que o resto todo num

interessa etc; né. E, e esse ato da uma arquitetura, caras maravilhosos fizeram e tal né, mas

via de regra muito melancólica. E exatamente porque ela vai cair fora da decoração etc. né.

E eu acho que eu nunca fui isso eu sempre fui um cara que, que não queria saber de

melancolia queria saber da coisa viva, alegre e tal né, e... E eu acho que, que isso introduz a

questão da, da arquitetura como linguagem né, que de fato nada mais é do que uma

linguagem construída que diz coisas. Que diz coisas pra quem mora pra quem vai visitar e

então esse ato modernista ele, ele um pouco tenta. Tenta calcificar assim, a linguagem tenta

padronizar, estabelecer e, e ai deu tudo errado, quer dizer, a partir dos anos 70 tem toda uma

revisão do que foi feito né, começa a (cociar?) depois vem os outros e tal. E, e hoje o Rykwert

fala isso do prefácio. É. Torna-se muito importante recuperar o Semper porque ele é o cara

que vai fazer a ligação com tudo, e é o cara que dá diretrizes pra aquilo que a gente pode

fazer agora, ultrapassar o moderno. Entende? É muito bonito o texto dele, e, arquitetura como

linguagem é, ela entra na discussão da questão da linguagem, da língua, da fala, do... Entra

em tudo isso, entende? Ela não é apenas o objeto contemplativo. Ela é uma coisa vivida que

ta falando e você acrescenta falas, né. Percebe? Agora isso se você olhar, já ta no Millan

sobretudo numa casa que você vai ver que é a, a casa da Lagoinha. Ela foi feita pro Mario

Masetti. E, e é um lugar lindo porque tem o rio de um lado e o mar do outro, e... e essa casa

é visitável, porque hoje ela é do Hajin(?), esse que escreveu, e, e essa casa eu conto no

prefacio que eu vi o Milan fazer, e ela é um telhadão de telha de barro ela recupera a

arquitetura caiçara, recupera tudo. E ao mesmo tempo ela é de uma atualidade total, é um, é

um exemplo, e eu essa casa ser feita, o Milan conversava comigo, então essa coisa. Da, da

arquitetura como coisa viva, com certeza, Já tem essa marca né. Mesmo na casinha do

caiçara eu já to trabalhando isso, de não, não romper, a arquitetura, mas de dar continuidade

à arquitetura que foi feita e ver onde ela vai dar, e não criar um (?) com uma forma codificada,

estabelecida e tal. Você sabe? Explica um pouco o caminho dessa obra.

DANIELA – Certo. Essa casa da Alagoinha de que ano que é?

SYLVIO – Pega o livro que a gente vê.

DANIELA – Você lembra? Vamos ver.

SYLVIO – Deve ser de 63. Eu to sem os óculos, ta lá em cima.

DANIELA – Quer... Ah ta lá... Quer que pega?

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SYLVIO – Melhor, porque eu não enxergo.

DANIELA – Deixa eu ver

SYLVIO – Mas olha como ele usa telhado

DANIELA – Ah, mas depois eu dou uma olhada aí.

SYLVIO – Bom, aqui estão os telefones. Esse daqui não é dele, não sei por que que me

deram. Mas esse aqui é da casa dele, do Fajin, você pode falar com ele.

DANIELA – Ah é, ai que bom! Depois vou ver se consigo.

SYLVIO – Ele é muito gente fina.

DANIELA – Legal! Deixa aqui pra eu não esquecer.

SYLVIO – Daí o que tem de interessante é, sempre foi difícil para fazer arquitetura, nunca foi

fácil, a cada obra era uma luta pra conseguir e tal, então ficou assim, foi por isso que eu vendo

o que foi, eu me lembro de como foram as lutas o que conseguiu fazer o que não conseguiu,

etc. e, mas talvez neste percurso de, dê pra descobrir, é, esse contorne que, que vem desde

o Milan e tudo mais, que vai, vai contornar a produção da arquitetura estabelecida aí, até hoje,

entende?

SYLVIO - Foi aí que comecei a achar que tinha algum valor, mostrar as coisas e tal.

DANIELA - Entendi. Lucia e você continua, né só pra eu não perder também o que você tava

falando, é.

LÚCIA – Ah mas é, mas acho que no fim o Sylvio já foi e avançou bem mais.

DANIELA – Ah! Super, bem mais, é lógico. Dentre as obras dos Sylvio, é principalmente dessa

parte das residências, quais que, que você se identifica, assim que são exatamente essa,

essa característica do Sylvio, claro, todas são, mas que você elencaria

LÚCIA – É, mas acho que cada uma tem seu aspecto que tem isso, né. É, eu acho que a do

João Marino, com certeza é a mais, ele te falou da transparência, eu nunca tinha imaginado,

porque vc vê é uma massa, e se você for ver é isso mesmo, porque é uma massa brutalista,

né aquele concreto, escada de concreto ...

DANIELA – É, é.

LÚCIA - Parece que é monolítica, mas quando você vai ver, realmente como ela tá interligada,

através dos patamares e também é vidro pra fora, então é um, se for, eu nunca tinha pensado

por este aspecto, mas é um, o leve com o pesado...

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DANIELA – É

LÚCIA - Tem uma característica dessa também que depois na casa do Roberto Marino, essa

segunda casa.

DANIELA – É, essa nova, vamos dizer assim.

LÚCIA - É nova, é, vamos chamar de nova, também tem um aspecto curioso desse, que ela

é muito, a base dela, o andar térreo dela é bastante, é pesada né, toda de tijolo maciço e

aparente, e a parte de cima é super leve, com madeira e pedacinhos de madeira formando

pilares, então tem uma característica dessa que é bem interessante assim.

SYLVIO - (?) viu a casa do, do João Marino, quando tava sendo feita, e ele fez um comentário

que eu acho que vale. Ele falou: “É, essa construção não tem a ver com a arquitetura moderna

no sentido de pilar e laje e viga porque ela vai valorizar o volume, e a arquitetura moderna

não valorizava o volume.” Então, é ao mesmo tempo ela segue todos os padrões, norma,

estrutura independente (?), mas ao mesmo tempo ela firma o volume, entende, como um

elemento importante. E talvez isso tenha perdurado, no decorrer, né

DANIELA – Verdade.

LÚCIA – O que eu achei também é assim, que talvez, aí é uma sugestão, é, mesmo assim,

tem as obras até 96, né, que a gente tava comentando, eu acho que justamente nestes

últimos 20 anos, né, 96 dá vinte anos (risos) tem algumas residências da obra que diminuiu

mesmo, porque a gente tava comentando que aí ele ficou professor integral e então virou

diretor, então acho que a obra paralela dele diminuiu mesmo, mas eu acho que tem além da

USP Leste, tal, mas tem umas casas, que eu acho que , no caso, a do Roberto Marino é bem

interessante, porque tem também a história, assim como essa aqui, né, tem a casinha de 35

metros quadrados que depois virou uma ampliação para um outro casal e volta para ser a

casa dele atual, com o anexo da biblioteca, a do Roberto Marino também é interessante

porque ele percorre a casa de 400 metros quadrados, com piscina, na Granja, pros filhos e os

filhos crescendo, né, numa época na década de 70 e depois agora uma casa que ele volta,

sem, mais sem os filhos, numa outra época de vida. Eu acho interessante ter, né, como, como

a história do programa, do lugar, que tudo tá interligado. É.

SYLVIO – Você sabe o que eu acho? A casa do João Marino, a reforma da primeira casa.

LÚCIA – Ai, por acaso são dois primos né, o João Marino e o Roberto Marino. (risos)

DANIELA – Isso... Que um é engenheiro, não é isso?

SYLVIO – A casa do Roberto Marino, agora vai ser transformada em quatro casas.

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LÚCIA – Ahhh! Isso é interessante!

DANIELA – A primeira? A primeira casa do Roberto. Ahhh! Que legal!

SYLVIO – A primeira, é.

LÚCIA – Isso é muito interessante

SYLVIO – É, e ela tem uma característica muito interessante, que ela tem uma rua interna e

essa rua interna permite organizar quatro casas, eu fiz a proposta. Agora eles querem que

toque pra frente e, mas eu, a Lucia não tá querendo tocar, né, e realmente minha energia não

é tão grande, né, e, e eu tava pensando que talvez a gente pudesse pedir pra Estela tocar, a

Estela Tedesco, não?

LÚCIA – Não Sylvio, eu acho que num, eu acho que pode um monte de coisa, o que, eu acho

importante é essa, eu sempre acho interessante, não só na obra do Sylvio, mas acho que em

todas né, em todos os edifícios, essa, essa passagem e esse, essa reutilização e reusos, né

DANIELA- É o que você acabou de falar, é, é.

LÚCIA – É, então, e é verdade, eu tinha até esquecido, mas tem isso mesmo. É usar essa

casa que é grande que foi feita na década de 70 pra quatro filhos, família, cachorro, piscina e

o que que é isso hoje, ele mesmo, nem ele num precisa de uma casa desse tamanho, então

com um jardim maravilhoso, então essa reocupação e re-modulação da casa, reinterpretação

da casa pra terem várias pessoas morando e num precisa ser pessoas, né, num, num é tem

uma idade, num tem um programa específico, isso eles andaram perguntando, né, agora o

Roberto Marino e o, e o investidor quer tá junto que eu não sei o nome, é, mas é, ah tudo pra

velhinho, não num é, pode ter um casal jovem que tá trabalhando, trabalha pra num voltar pra

São Paulo que quer ter um lugar pra trabalhar, só pra trabalhar e ou outro quer morar, o outro

é um, uma pessoa mais idosa que, que, que aí vai poder utilizar aquilo e com criança também

que tem um jardim maravilhoso, então não precisa ter uma, né, é eu acho que uma casa pode

absorver vários programas também

DANIELA – É

LÚCIA – Acho que é uma parte de, mas, ainda mais o residencial

LUCIA - É uma parte que, que, que tem a interpretação né, e mesmo as... O cliente muda né,

ainda bem né.

DANIELA – Exatamente. Residencial é algo que muda muito, né.

(risos)

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LÚCIA – Então. O que eu acho um pouco diferente nesse caso, como tem o cliente que é

dono da casa, mas eu acho como tem um investidor, acho que tem um olhar um pouco

também, um pouco mais objetivo.

DANIELA – É, imagina-se que.

LÚCIA – Imagina-se que, né (risos) fica que, num vá mudar várias vezes, mas isso faz parte

também, né.

DANIELA – (risos) Lógico, lógico

LÚCIA – Acho que é isso assim, aí tem

SYLVIO – De qualquer forma, se essa casa aqui, se a transformação da casa do Roberto

Marino acontecer, seria uma boa coisa para acompanhar.

DANIELA – Tá, verdade.

LÚCIA – Esse seria muito interessante, realmente, porque diz, e aí juntando com essa questão

de que num, talvez, num, como foco de estudo né, eu acho que num deva ser bom dividir

mesmo, ah até noventa casas, até noventa e seis.

DANIELA – Sim! Entendi

LÚCIA – Eu acho que tem coisas atuais que, que já tão fazendo parte disso daí, de resignificar

ou de alterar que é interessante pra obra como um todo né.

DANIELA – Tem razão, é.

LÚCIA – Tem a casinha, mas ela não parou ali, ela, ela, ela foi mudando, a outra casa enorme,

também é ao contrário, uma é 35 metros e a outra tinha 400 metros e nem tanto elas estão

reinterpretadas.

DANIELA – É, é verdade.

LÚCIA – Outro, falando em residências, um... Outro, uma série de casas que o Sylvio fez,

também aqui na Granja, na região de Cotia, pra um cliente chamado Antônio Mendes, que é

um advogado, não é Sylvio? E que ele sempre gostou de investir, construir casas e o Sylvio

fez, acho que no, nos anos 2000, não foi? Concentrado mais nessa época, várias casas

comercias, que o Sylvio chama de comercias, né assim que são aquelas que, que não tem

um cliente diferente de todas as outras situações, não tem um cliente, ele não conhece o

cliente final, e, no entanto... Eu não sei se? É uma planta única Sylvio que você reproduziu?

SYLVIO – é um sistema construtivo.

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LÚCIA – um sistema construtivo baseado em blocos...

SYLVIO – e ele está bem (sem entendimento) a primeira casa que é daquele (sem

entendimento) Viana, que tem ai.

LÚCIA – que eu não sei se essa tá aqui?

DANIELA – não

LÚCIA – eu acho que não né?

DANIELA – não, aqui não.

LÚCIA – mas acho que é uma bem importante...

DANIELA – porque já é Dois mil e alguma coisa né?

LÚCIA – Ah! Pode ser. Deixa eu ver aqui.

DANIELA – Aqui é só 96.

LÚCIA – Só ate 96.

DANIELA – É aqui não tem.

LÚCIA – É aqui é 97 e 98, aqui na Granja Viana é uma casa na, 200 metros quadrados aqui

na granja é bem fácil, ah não sei se é fácil de entrar porque eu não sei quem é o dono né

SYLVIO – (?)

LÚCIA – Ah, mas ela ta lá a casa e... E ai é uma serie de casas, sei lá quantas Sylvio?

SYLVIO – Umas dez.

LÚCIA – Umas dez casas.

DANIELA – Nossa!

LÚCIA – Desse padrão assim, eventualmente mudava alguma coisa, mas, era um sistema

construtivo. Ah mudava inclusive pra implantação né...

SYLVIO – Ai tem um engenheiro que é o Martinez que pode falar muito também né.

LÚCIA – Roberto Martinez, ele que tocou. Construiu todas as casas nesse período pro,do

Antônio Mendes.

SYLVIO – O Antônio Mendes tem uma coisa que eu curti fazer, que foi a reforma da casa

dele, então é uma casona, um terreno enorme e, e era meio desconjuntada. Ai a gente, criou

um escritório, criou uma boa entrada, um enorme de um salão com lareira e, e pois mais

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elevado, tem a sala de jantar né, e, é uma coisa meio. Um tratamento meio conservador, mas

que eu acho interessante o resultado.

DANIELA E LÚCIA – (assuntos diversos)

SYLVIO – Também, talvez valesse a pena dar uma olhada.

DANIELA – Ta. Não, ta ótimo.

LÚCIA – É. Então no fundo assim imagina o. Já que é o assunto, esse assunto casa, acho

que tem essa, e a casa e o proprietário e o lugar que é muito importante e por outro lado tem

esse aspecto também de ter. De fazer casas comerciais, que eu acho, apesar de serem casas

comercias e ter um sistema construtivo especifico sempre tem a, sempre obviamente tem que

fazer a adaptação pra implantação.

SYLVIO – E uma linguagem muito estabelecida assim, porta e janela comprada pronta.

DANIELA – Sim...

SYLVIO – Telhado, num sei o que, nada, nada. Mas tinha sempre uma solução de planta e,

e uma implantação né.

SYLVIO – A casa da Regina Machado é uma casa do instituto de previdência, antigo do. Um

conjunto lá.

LÚCIA – Outra casa que virou um centro de, de terapia não é?

SYLVIO – É.

LÚCIA – Hoje então, ta vendo assim vira e mexe tem. Então hoje ela, ela, eu não sei

exatamente, eu nunca fui lá, mas eu sei que recebe é. Tem acupuntura, tem várias terapias.

DANIELA – Aonde é? Aqui?

SYLVIO – (?) Muito curioso é que.

LÚCIA – No Butantã.

DANIELA – A ta.

SYLVIO – é um terreno muito comprido então, a casa era numa pirambeira assim e eu fiz a

casa, depois sobrou o quintal lá no fundo e ai ela construiu, não sei qual foi o arquiteto, um

centro que recebe muita gente, que funciona e tal, e ela é uma pessoa curiosa porque ela é

contadora de histórias.

DANIELA – Ah que bacana!

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SYLVIO – Num sei se foi na época tudo, mas ela, meio que iniciou essa coisa de contar

história.

LÚCIA – Acho que ela fazia na TV Cultura se eu não me engano, não era?

SYLVIO – Era.

LÚCIA – Ela tinha um programa na TV Cultura.

DANIELA – Ah legal!

LÚCIA – De contação de histórias.

DANIELA – Bacana. É então, então assim, ta vendo, a gente nem tinha conversado ainda né

enfim...

LÚCIA – Olha esse é um aspecto bem interessante hein.

DANIELA – Pela livre docência. Pela livre docência dele eu até falei pro Li, que ai ele falou

assim, vai anotando as ideias, vai guardando as ideias pra um dia né. Porque aqui tem casas

que ele reforma.

LÚCIA – Exatamente.

DANIELA – Né.

LÚCIA – E você vê, por exemplo, mesmo a João Marino é. Então o Sylvio tava contando a

pouco teve um momento que a Mari Marino que é a filha que tomava conta da casa, enfim, é.

Ela queria usar pra morar, então o Sylvio fez uma reinterpretação daquela casa pra ela, uma

mulher tal, filhas tal, então uma trupe feminina ali...

LÚCIA – Mas tem. Não mas assim era completamente orgânica, então é legal ver esse projeto

porque é impressionante.

DANIELA – É.

LÚCIA – E ai assim no fim foi vendida e a arquiteta que retomou ela restaurou.

DANIELA – Debora, acho que é Debora.

LÚCIA – É acho que é Debora.

DANIELA – É eu tenho aqui.

LÚCIA – Mas ai é, é, seria uma reforma na própria casa que ele fez e que ia ser ate tombada

né assim, não sei se foi, mas...

DANIELA – Ia. Ta na lista.

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LÚCIA – Tem um lista.

DANIELA – Ta aqui ó, tem uma lista da prefeitura, eu tenho ate tudo aqui ó se você.

LÚCIA – Eu não sei. Ah olha só.

DANIELA – Quiser ver ta. Tem aqui ó, que eu sou a rainha do papel, mas eu tenho. Ta

impresso aqui essa lista da prefeitura essa casa ta nessa lista de prefeitura.

SYLVIO – E ela foi publicada por Xavier (?) casas em São Paulo.

DANIELA – Foi. Isso.

SYLVIO – (?)

LÚCIA – Nossa você tem tudo (risos)

DANIELA – Eu sei, eu sei. Isso eu sei.

LÚCIA – Que legal!

DANIELA – Esse livro eu conheço enfim, desde a época da faculdade né. E ele ta esgotado

eu to tentando comprar um e na to conseguindo, mas to. Vou achar em algum sebo, e, que

mais que eu ia te falar... Deixa eu te mostrar aqui.

DANIELA – Esse das reformas que o Sylvio faz né, quais, como que ele trabalhou essas

reformas né, e agora ele ta contando mais ainda.

LÚCIA – Inclusive as dele mesmo né.

DANIELA – Exatamente. Não essa daqui. Essa daqui é um, é um assunto, por conta da

reforma e por conta de um assunto que até o Sylvio comentou da outra vez que nos viemos

aqui, que é algo que ta acontecendo hoje, mas que ele já fazia há muito tempo atrás, a

questão, por exemplo, da casinha popular, num teve essa agora que ganhou o prêmio...

LÚCIA – Nossa! Você viu que agora virou o símbolo é a, sabe aquela casinha que a gente

viu, que a gente ate falou, nossa Sylvio isso você faz desde sempre.

DANIELA – A casinha de periferia, que ganhou o prêmio né?

LÚCIA – Que é de bloco de concreto com a elétrica aparente.

DANIELA – Isso não é novidade.

LÚCIA – Não é novidade. Não só pelo Sylvio, mas acho que vários arquitetos.

DANIELA – Sim, mas é que meu foco.

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LÚCIA – É.

DANIELA – Né, são as coisas, os trabalhos do Sylvio né. Outra coisa que ta super em alta e

ta super se comentando é essa questão da Vila de amigos que eu chamei de Vila de amigos

que e a do Canta Galo né. Quantas pessoas não estão já construindo essas vilas, porque

esse projeto é isso não é?

SYLVIO – É... (?)

DANIELA – Pelo o que eu vi pela livre docência, o pouquinho que tem.

SYLVIO – A gente ia construir a mesma coisa em todos os lotes.

DANIELA – É tem o nome de cada um né, já. (risos)

SYLVIO – Que é uma pétala né são três bolas assim com o núcleo no meio.

DANIELA – Isso. (risos)

SYLVIO – E o cara que desenhou isso é, Ele ligou outro dia, chama Cunil(?), o Cunil valia a

pena conversar com ele porque ele fez a maquete.

LÚCIA – Nossa!

DANIELA – Ah! Tem maquete. Não sabia que tinha maquete (risos)

LÚCIA – Ou teve né.

DANIELA – (risos) Ou tem uma foto dessa maquete né (risos)

LÚCIA – Em algum lugar.

SYLVIO – E essa casa. Acho que o Cunil fez depois uma parecida ou alguma coisa assim. E

ele me ligou outro dia ai, e.

LÚCIA – Agora juntando então esse do..... conjunto de amigos construindo. Não sei alguma

ligação, não conjunto de amigos, mas essa casa do Roberto Marino se ela vier a ser a, que é

uma espécie de moradia comunitária. Não na verdade são coisas diferentes né porque uma

seriam lotinhos ou casinhas separadas de amigos.

DANIELA – É. É porque ele é o incorporador né, então ele quer na verdade que vire algo

comercial e o que você falou, na verdade vai virar comercial né porque pelo que eu to

entendendo é que ele vai construir e ele vai repassar essas casas não é isso?

LÚCIA – É.

DANIELA – Então não sei se...

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LÚCIA – Que é uma coabitação né. É, é diferente.

DANIELA – É acho que seria diferente.

LÚCIA – São coisas bem opostas mas.

DANIELA – Não sei né.

SYLVIO – Vai ficar uma coisa extremamente atual, porque são quatro casas que tem o salão

em comum então é uma rua.

DANIELA – Ah! Olha ai. É conversa um pouco. E outro assunto que eu vou vir aqui conversar

com o Sylvio só disso são os banheiros redondos.

LÚCIA – (risos) É verdade hein. Porque é uma coisa..

DANIELA – Por que os banheiros redondos? Mas um dia eu vou vir aqui e você vai me contar

isso (risos).

LÚCIA – Gente, e nessa casa aqui foi construído assim no fim das contas, mas eu tava... Faz

tempo eu estava revendo a, os estudos desses banheiros redondos dali é uma loucura gente.

(risos)

SYLVIO – O banheiro tinha dois andares.

LÚCIA – Tinha dois andares.

DANIELA – Como? (risos)

LÚCIA – Pra tomar, o chuveiro você tinha que descer. Eu falei, o que? Mas é muito divertido.

SYLVIO – O banheiro redondo.

DANIELA – (risos) Ah! Pera ai que essa eu quero ouvir.

SYLVIO – O banheiro redondo, que não é um banheiro é um lavabo.

LÚCIA – (sem entendimento)

DANIELA – Vai, vai esse vai (risos).

SYLVIO – É. É parece que foi o,o... Marcou muito é o da casa do meu pai aqui do lado que

depois foi vendida, ele tem até hoje e, e ele é muito simples é um redondinho, tem a, tem a,

a bacia e depois a pia. Mas tá lá e em cima tem um vidro, o vidro é um, é um garrafão desses

grandes cortado colocado em cima, e funciona tá lá até hoje.

DANIELA – Não acredito.

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LÚCIA – O garrafão ó...

SYLVIO – E tem o, o banheirinho. O lavabo de entrada do João Marino também é redondo e,

e vale a pena porque é uma, é um caracol assim.

DANIELA – Isso!

SYLVIO – Não é?! (?)

DANIELA – Não, mas um dia você vai me contar direito (risos). E ai eu vou fazer um

levantamento de todos os banheiros redondos que você já fez porque...

LÚCIA – Ó, pode virar um tema mesmo.

DANIELA – É porque assim só aqui, têm vários aqui nessa (?).

LÚCIA – Tem um que eu acho muito legal que é da, na casa redonda, é, um banheiro externo

que inclusive acho que dá pra levar embora né? Como que é o nome daquele painel que você

usou pra casa redonda? Heraclite.

SYLVIO – Heraclite.

LÚCIA – Que é um painel de fibra de vidro é isso?

SYLVIO – Não ele é, ele é, raspa de eucalipto prensado com cimento.

LÚCIA – É, é uma, o OSB da década de 60

SYLVIO – Não

LÚCIA – Não?

SYLVIO – Ele é do século XIX

LÚCIA – Aff!

DANIELA – Nossa.

SYLVIO – ele foi usado na Europa pra fazer é, revestimento térmico, acústico etc.

LÚCIA – Caramba.

SYLVIO – E, e ai eles chamam de madeira mineralizada porque pega a raspa põe o cimento

num sei o que, e mineraliza, e o negócio dura eternamente.

LÚCIA – É. E ai então tem além da casa redonda ser redonda... Quer dizer na verdade ela é

octogonal né Sylvio?

SYLVIO – É

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LÚCIA – E então tem o banheirinho que sob... Eu não sei se ele foi feito antes ou depois, mas

ele é um banheirinho que hoje se encontra na garagem de, de, de oficina, de, de materiais

que eles têm um pouco anexo então ficou um banheirinho fora e funciona não é Sylvio?

SYLVIO – Funciona!

LÚCIA – E ele pode ser levado então é um banheirinho redondo, elevado do chão com o vaso,

não sei se tem um lavabo dentro e em cima é meio. Tem.

SYLVIO – Não, ele é só uma bacia.

LÚCIA – é só uma bacia?

SYLVIO – É. Ele era o lavabo da casa redonda, mas ai ele atrapalhava na entrada, quando

virou escola não sei o que, então a Péo mandou tirar, e levou e botou ele na garagem e as

crianças usam.

LÚCIA – é então ele vira um banheiro externo, e vira e mexe você acha que... A gente acha

que podia fazer um, né, sei lá, você tem uns terrenos grandes eventualmente, é fazer um

banheiro isolado assim...

DANIELA – É. É

LÚCIA – Por que não né? Como era antigamente né (risos) esse tema também é bom né?

DANIELA – ai tá vendo, é, é. E outra são os pisos que agora que me veio na cabeça, por que.

LUCIA – ahhh, muito interessante.

SYLVIO – que?

DANIELA – dos pisos...

LÚCIA – Os pisos Sylvio. Que é sempre um capítulo a parte mesmo

DANIELA – Que você comentou agora é que é um banco de ideias que eu to colocando aqui,

porque ele comentou agora do piso do Bracher...?

LÚCIA – Bracher

DANIELA – E da João Marino também tem isso.

LÚCIA – Tem.

DANIELA – Que tem os pisos lá que ela acabou não tirando, enfim que ela manteve um trecho.

LÚCIA – Que tinha ladrilhos hidráulicos, sim...

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DANIELA – Que entra muito nisso que o Sylvio tava falando agora da decoração...

SYLVIO – É

LÚCIA – É isso mesmo!

DANIELA – Que ele gosta e que ele não se acanha.

SYLVIO – É o que eu vi.

DANIELA – Enfim, etc, etc, etc. Porque arquitetura é muito mais, é o que ele disse é muito

mais que só a forma né, o volume enfim, interfere em tudo.

LÚCIA – E é muito, uma outra casa da Beth e do Mario acho que tem um piso também muito

legal.

DANIELA – É, tem vários aqui já, é, é.

LÚCIA – É vários! Acho que piso sempre é um capítulo a parte mesmo. Mesmo aqui na

casinha que é um piso de tijolo, é, o rejunte é verde sabe, então tem sempre um, um

tratamento é, importante pra questão do piso. É, e é mesmo, quando eu comecei a trabalhar

com o Sylvio, eu ficava um pouco assustada, porque a gente né, fez a FAU também aquela

arquitetura paulista, o concreto e aí quando começa aquele floreio, entre aspas, no começo

você fala: como assim?! (risos)

DANIELA – Como assim? (risos)

LÚCIA – Mas depois é contagiante, assim, acho que dá uma alegria né. Mesmo por exemplo

na casa hexagonal que é aqui perto, quem também é da, a mesma dona da casa redonda,

né.

DANIELA – Tá

LÚCIA – É um piso com peças cerâmicas de Brenan, então, é um, por exemplo, é um verde,

e aí tem peças brancas no meio que ilumina todo o ambiente. Então mesmo quando ele é

mais sóbrio, ele é, ele tem um aspecto que traz mais, mais vida, assim

DANIELA – Entendi.

LÚCIA – Aqui que a gente também, acho que, aqui foi culpa minha, ficar mais sóbrio mesmo,

porque o Sylvio queria colocar umas peças de mármore branco no meio e num sei que, então,

acho que aqui foi culpa minha, sim

DANIELA – (risos)

LÚCIA – É, mas então, ó também, outro aspecto.

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DANIELA – Já é um mais, banco de ideias, tá vendo.

LÚCIA – Talvez eles acabem virando capítulos do mesmo, do, porque realmente são, olha

esses que você citou, são aspectos muito interessantes mesmo das casas que o Sylvio.

DANIELA – É, é. Das casas dele né, com certeza é. Pelo pouco que eu vi, porque assim né

parece que já é muito, mas assim não é, é pouco ainda, porque é muita coisa pra ver, né

LÚCIA – É, é.

SYLVIO – E tem os azulejos também.

DANIELA – Os azulejos? Aqui não tem.

SYLVIO – Na casa da Beth tem.

LÚCIA – Que? Qual?

SYLVIO – Da cozinha

LÚCIA – Ah, não acho muito legal. Como assim?

SYLVIO – Tem um azulejo com a barrinha azul

LÚCIA – Ah, esse eu acho mais simples, é.

SYLVIO – Do banheiro tem

LÚCIA – É, acho que não é um, acho que o, por exemplo, os pisos são sempre mais.

DANIELA – É, piso daria um, um assunto acho que só de piso, realmente.

LÚCIA – É, é.

DANIELA – Porque existe né, essa, eu acho que seria interessante também. Mas aí é coisa

que eu vou lendo e vou, a gente vai anotando.

LÚCIA – Um que eu achei bem

SYLVIO – Esse piso aí

LÚCIA – Ó, eu gostei, pessoalmente eu gostei muito desse tema das Reformas, porque

apesar de ser né, do Sylvio ter casas maravilhosas e tudo, é eu acho que as casas

maravilhosas podem inclusive entrar nessa análise a partir da revisão que ele mesmo fez, ou

até que os outros fizeram.

DANIELA – Sim

SYLVIO – O piso, por exemplo, o piso do sítio (Saviarchi ?) é de ardósias enormes, né

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DANIELA – Foi, que você contou.

SYLVIO – E Esse piso aqui, ele variou muito, ele tinha encrustações não tinha? Aí junto com

a Lucia a gente conseguiu chegar

LÚCIA – Eu falei que a culpa é minha Sylvio, que eu deixei, eu não deixei você colocar

mármores, colocar outras.

SYLVIO – A Lucia tirou tudo.

LÚCIA – Eu tirei tudo! Sacanagem (risos)

DANIELA – (risos)

SYLVIO – Mas a Lucia, a Lucia conseguiu acertar o piso com a modulação das estantes,

então é um desenho completo, entendeu?!

DANIELA – Não tá perfeito.

(assuntos paralelos)

SYLVIO – E na casa do Roberto Marino embaixo o piso é, é Brenan, é muito bonito e tal, mas

é simplão, assim. Agora em cima, a própria geometria é retomada nos pisos formando uns

quadrados de pisos de madeira.

LÚCIA – Ah, é muito lindo.

DANIELA – Essa é essa casa nova, num é? Que você mandou a foto?

LÚCIA – Essa é a casa nova. Que eu mandei as fotos num é?

DANIELA – É não é essa do Marino? Que tá terminando num é?

LÚCIA - Exatamente

DANIELA – Eu ia falar desse piso, é esse mesmo. Foi

LÚCIA – Eu não lembro o que foi cobrado, mas, mas acho que foi isso, tem uma planta do

piso, e o piso é o rebatimento dessas pirâmides debaixo, é muito lindo, realmente.

DANIELA – Isso. É lindo! Tem muita coisa pra falar

LÚCIA – É, nessa casa do Roberto Marino também acho que, eu gosto muito do guarda corpo.

DANIELA – A antiga?

LÚCIA – Não, é essa nova.

DANIELA – Essa nova? Guarda corpo? Eu não lembro.

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LÚCIA – Se você olhar as fotos eu acho que tem, ele é todo cheio de detalhes que são coisas

que hoje...

DANIELA – Ah! Não lembro

LÚCIA - Nas mais modernas ou esse desenho limpo não tem, né, então é um, é um

rebuscamento que é, que eu acho que faz todo sentido assim

DANIELA – Eu gosto de reformas também, eu gosto de trabalhar com reforma e de reforma,

porque eu acho que, a hora que você reforma né, a hora que você, é uma releitura né, você

traduz, você transforma, é o que você tava falando tudo.

LÚCIA – è uma releitura. Você tem que entender o que aconteceu e essa é uma grande graça

da história, entender a história daquele lugar, história das pessoas que vão utilizar, seja que

uso que for e reinterpretar, e o Sylvio, eu acho que ele é muito bom, não só na interpretação,

mas na reinterpretação é uma loucura assim, eu, eu, eu sempre gosto muito.

SYLVIO – Isso é uma coisa, talvez o exemplo mais, mais completo de reforma é a casa do

Mario e da Beth. E aí você pode conversar, por que o Mario participou ativamente da reforma

da casa e tem o engenheiro que é o Valdivino, quem também é um cara interessantíssimo.

LÚCIA – Eu acho que eu não anotei o nome aqui. Valdivino, como era o nome inteiro dele

mesmo, Sylvio.

SYLVIO – Num me lembro, mas a gente tem o contato dele agora outra vez.

LÚCIA – A casa da Beth também a reforma é de quando? De 94 por aí.

SYLVIO – 96

DANIELA – Mario e Beth né? 98 e 97

LÚCIA – É. 98 e 97. E, 98 ou 80 e?

DANIELA – É alguma coisa. Não sei se foi você ou o Sylvio que falou.

SYLVIO – Mas lá tem coisas...

LÚCIA – Mas lá também começou com os filhos ou os dois filhos que fizeram arquitetura

também, é, mas jovens né, e adolescentes e depois é, é, vence toda essa fase que os filhos

saem e aí o casal fica ocupando a casa e agora os netos voltando, entendeu? Então eu acho

que tem, é essa a graça né, do projeto residencial que é a mudança da vida das pessoas né.

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LÚCIA – Uma opinião é essa, assim. Se já é um tema que te atrai, eu acho que é uma, claro

que é uma redução de tudo que o Sylvio fez, né, mas é, . porque tem que focar e cortar eu

acho um tema fascinante, assim

DANIELA – Sim, sim. Não, mas aí seria uma outra

LÚCIA – Um outro?

DANIELA – Lá na frente, já, né. E assim, só completando que é algo que ele já começa a

fazer com a casa caiçara do pai lá em São Caet..., em São Sebastião, né.

LÚCIA – É verdade, nossa!

DANIELA – Num é? Que você já começa a fazer isso que era antes de você se formar, não

era?

SYLVIO – Foi no último ano

LÚCIA - Eu acho que

DANIELA – É, que pela, pela. Que eu levantei sua ficha entendeu?

SYLVIO – Ah! E tem uma coisa que eu fiz antes...

LÚCIA – Ó

(risos)

DANIELA – Então eu vi o ano que você se formou, e vi o ano da casa, eu falei: não ele fez um

ano antes de se formar, né. Então foi no último ano

SYLVIO – Mas tem um negócio que eu fiz antes ainda, que são dois painéis, que estão na

Poli.

LÚCIA – Nossa!

SYLVIO – Que eu era, que eu era estagiário lá no fundo de construção e aí tinham umas

paredonas enormes e eles queriam, eu fiz dois painéis de ladrilho hidráulico lá. E estão até

hoje lá

LÚCIA – Você viu só!

DANIELA – Ah! Que legal, vou lá ver.

SYLVIO – Que é decoração.

DANIELA – É, é.

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LÚCIA – AH!

SYLVIO - Curioso isso, né

LÚCIA - E eu acho que essa tríade que...

SYLVIO – Eu acho que essa casa da Beth e do Mario ela é um sobradinho, germinado e tal,

e ela tinha coisas muito malucas, ela tinha um jardinzinho na frente, que a casa não usava,

era um jardim que ficava pra rua. Aí você vai ver a casa atual, esse jardim foi incluído na sala

e deu uma dimensão muito, muito satisfatória. Então a sala vem e aí ela tem um verde na

ponta, né e depois ela tinha uma escada interna no meio, e a escada atrapalhava, aí tirou a

escada, destruiu ela e construiu outra escada, direitinho, no fundo e ela tinha muita umidade,

porque que ela fica ali no Caxingui, na...

DANIELA – Ah! Era isso que eu ia te perguntar, onde que era

LÚCIA – No Butantã né

DANIELA - É

SYLVIO – Ai a gente tinha uma enorme discussão de injetar coisa, para impermeabilizar, num

sei que e nós fizemos um porão, uma laj...um porão de 50, 60 centímetros e aí tem uma laje

e aí foi tudo, ficou a laje na casa, que a casa era mais alta né, e isso é um negócio

interessante, que a casa é sequinha, sequinha, não tem umidade alguma. O Guedes detestou

a casa porque, é ele achou que era formalista, que eu fiz umas varandinhas, né. Mas ele não

entendeu nada, as varandinhas eram pra ganhar espaço que era tudo muito pequeno né. Aí

são as bay windows né. É muito curiosa, vale a pena olhar.

DANIELA – Não eu vou ver sim, vou ver sim. Muito bom o que mais, Lucia?

LÚCIA – É, eu to olhando aqui. Ai, eu acho que você foi falando das ideias, mas é...

DANIELA – É, meu banco de ideias

LÚCIA – Mas realmente são aspectos que foi direto ao ponto

SYLVIO – É, eu gostei dessa história de reforma pelo que vocês falaram, pelo que você falou.

Tem casas grandes, tem coisas maiores, etc, mas tem o trabalho da arquitetura mesmo e nas

reformas é a arquitetura pura, não é?

DANIELA – Pura, é.

SYLVIO – É resolver aquilo e ficar bom, não é? Que eu acho que vai ser uma característica

que ta também nas outras casas grandonas e tal, mas que qualquer coisa vira arquitetura, né,

ponto. E assim, uma postura respeitosa diante do espaço pra tirar dele o que ele pode ter e

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ao mesmo tempo humilde no sentido de não ficar impondo, né. Não humilde no sentido de

pequenininho, mas, respeitoso, né. E tem um negócio importante que é a Escola Vera Cruz.

DANIELA – Que também, tem reforma né.

LÚCIA – Foi uma reforma, não é?

SYLVIO – Não é

LÚCIA – NÃO?

DANIELA – Não foi reforma?

SYLVIO – O prédio da Escola Vera Cruz eu fiz ele todo.

DANIELA – Não, mas que agora teve uma reforma, não é?

SYLVIO- Teve, depois subiram um andar, depois num sei que. Mas essa Escola Vera Cruz

parece que sempre funcionou muito bem, e os alunos que estudaram nela, parece que tem

memórias de lá muito interessantes. E é um terreno horrível, que era uma pirambeira e

funcionou muito bem. Chamava Praça Emilia Barbosa Lima né

DANIELA – É, eu anotei aqui pra eu conhecer também. É que agora eu tenho que correr atrás

das casas.

LÚCIA – Das casas. E aí você queria, por exemplo, saber...

DANIELA – Então na verdade é assim, o que que eu preciso...

LÚCIA – Ter acesso ao material

SYLVIO – ( SEM ENTENDIMENTO)

LÚCIA – Aqui

SYLVIO - Ah não. Você lendo esse livro você vai ver, o Millan é isso aí. Eu realmente recebi

dele isso.

DANIELA – Ai que ótimo. Obrigada

SYLVIO – E o Milan tem um negócio interessante, ele é formado pelo Mackenzie e ele é

contemporâneo do Paulinho Mendes, acho que ele é um ano mais velho, e eu acho que ele,

ou não tinha FAU, sei lá, ou, mas ele foi pro Mackenzie. E no Mackenzie ele se ligou no grupo

do Branco e Preto, que era liderado pelo Miguel Forte, um arquiteto muito importante de São

Paulo, pouco valorizado, mas era um raitiano, e o Millan vira um raitiano, mas ele faz tudo,

faz móveis, faz, trabalha com tecidos, etc. E ele, é, ele casa com a Ana Tereza e começa a

se interessar pela dimensão social, e aí ele vai ver o, já respeitava muito o Artigas e ele vai

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ver o Artigas. E ele vira o Corbuzeriano, ele vai ler a obra do Corbu inteirinha e tal, né, e aí

ele pega todo o requinte que ele tinha e vai fazer uma arquitetura extremamente despojada

mas extremamente requintada, né. Ele estabelece portas padrão, num sei que etc. Tem uma

casinha dele maravilhosa, chamada a Casa do Delboux, que é genial. E ele nessa mudança

do grupo do Miguel Forte para uma linguagem Corbusiana, ele dá passos fundamentais. A

casa Paulista que depois o Paulinho faz, a primeira é dele, chama Casa do Coronel, que é a

casa que tem os quartos, a cozinha e a sala, que eles chamavam de casa apartamento

também e que ficou com uma planta paulista. E então, se ele não tivesse morrido tão jovem,

eu teria sido o sócio de um escritório (?) de arquitetura e provavelmente seria o escritório mais

importante de São Paulo. Dado o fôlego que esse cara tinha, entende? Você entendeu o que

quis dizer o Milan pra mim, quer dizer, eu encontrei pronto um cara que elaborou, ele passou

por uma arquitetura e foi pra outra e tava profundamente inserido na produção do momento e

tava abrindo caminhos que teriam ser maravilhosos, né. E aí eu, eu recebi tudo isso e

continuei, entendeu? Não com a vitalidade dele, com nada, mas em todo caso eu tive, eu tive

essa chance já de pegar pronto as coisas.

DANIELA – Entendi

SYLVIO - E de não ter que eu mesmo ficar elaborando, porque simplesmente, talvez por isso

que a minha obra era muito independente, porque tinha uma razão de ser, tinha num sei que,

eu não ficava na dependência do que tava acontecendo, mesmo também eu não olhava muito,

tudo isso que eu fiz, nada foi publicado, nada. Eu não fiz marketing, eu não fiz nada. Meus

clientes são relativamente pouco, né. É um caminho próprio mesmo, mas que vem desta

origem.

DANIELA – Entendi. E que agora todo mundo vai conhecer

SYLVIO – Ãh?

DANIELA – E que agora todo mundo vai conhecer (risos)

SYLVIO – Ãh? Mas o que é importante com essa releitura agora que eu pude fazer com o

Semper e tal né, deu pra pegar o nexo disso tudo, quer dizer, o Millan não é uma peça isolada,

ele é um cara que pega esse universo anterior, reelabora e propõe. E eu tive a chance de

encontrar ele jovem e cheio de energia com tudo isso formado, percebe?

DANIELA – Entendi

SYLVIO – E, e aí talvez explique a existência de um caminho próprio. Que não foi um caminho

próprio contra, pra fazer, num foi nada, foi, tinha um caminho e segui um caminho, né. Eu

acho que tem um valor isso, porque coloca a arquitetura como uma coisa mais comezinha,

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mais direta, mais vivida e não com um, com essa proposta do ego, de num sei que. E vai tanto

da casinha do caiçara até o que for. A postura não muda, né, não é interessante?

DANIELA – Nossa, se é! Se é interessante.

SYLVIO – Uma outra coisa que é muito gozada, é que eu sempre fui professor, né, mas eu

não queria ser professor, eu tava sendo perseguido pela revolução e surgiu a chance de eu ir

pra FAU dar aula e eu fiquei na FAU, né . Mas eu, eu, eu dei muita aula pra muita gente. Mas

não tenho a menor ideia do que eu falava, eu ia, não discutia, sempre tentava pegar o que o

cara tinha e fazia ele evoluir, eu, tirar o melhor e fazer ele evoluir, né, então eu não tenho

muita noção de qual foi esse percurso de professor, né, mas os alunos tem. Eles falam, você

falou isso e tal e fico...

DANIELA – (risos)

SYLVIO – Ou seja, talvez esse caminho próprio forte tenha ajudado no trabalho de professor

sem eu perceber direito como ele tava se dando.

DANIELA – É, e você também acabou deixando eles seguirem o caminho deles, sem moldar

o aluno, sem colocar ele dentro de um padrão, ou enfim

LÚCIA – Com certeza

SYLVIO – Eu respeitava sempre viu e tinha, e esse escritorinho, sempre foi um escritório

falido, tinha pouco cliente, mas formou tanta gente que passou e virou arquiteto, entende?

DANIELA – Entendi.

SYLVIO – E hoje, bicho, tudo isso vem nessa ( sem entendimento da palavra ) inicial

(Conversas diversas)

LÚCIA – Sylvio com certeza tem um monte de coisas pra falar né (risos)

DANIELA – Ah, mas eu adoro, eu acho ótimo.

LÚCIA – A gente podia organizar

SYLVIO – O texto da livre docência é muito curisoso, porque mostra toda a construção, mostra

tudo, mas, mas o texto mesmo é um texto que fala da, de uma coisa, que depois eu devia

reelaborar que é a questão do mítico, do mito e do projeto. E o texto ele define uma coisa que

eu acho fundamental, quer dizer, o arquiteto não é dono do mito, o mito vem pronto, o cliente

traz o mito, que eu acredito que é isso, que eu quero aquilo, etc, né, ou no caso dos

meceânicos, precisamos fazer uma igreja aberta pra todo mundo e num sei que. Então no

texto fica claro que, o que o arquiteto faz, é pegar o mito que lhe passam e logistizar esse mito

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para ele poder existir concretamente. Então a autoria do projeto, não é a autoria do mito, a

autoria do projeto é a logistilização daquilo que se encomendou e isso tem a ver com a postura

respeitosa, entende? De não ficar impondo o que você acha, bom o Stein tem uma frase, o

Stein é um grande filósofo, importantésimo, e ele era arquiteto também. E ele fez uma casa

linda, moderna lá para a irmã dele na Áustria, ele era austríaco, era de uma família muito rica

e ele fala o seguinte, o arquite... o filosofo, ou alguém comentando ele fala: o filósofo como

arquiteto são os profissionais que abrem mão daquilo que são pra poder ser aquilo que a

pessoa quer que seja. O filosofo que ele vai interpretar o mundo e vai dizer como ele é, né, a

partir do que o mundo lhe diz, e o arquiteto porque vai fazer alguma coisa que corresponde

ao que o cara pediu, percebe? Então são duas profissões muito despojadas nesse sentido

em que a afirmação. Por isso que eu reagi muito a estes superstars todos que vieram ai,

porque eles eram ego puro, a Zara Radid que coitadinha, que morreu agora, né.

DANIELA – É

SYLVIO- E, e ai eu tendo a valorizar os mais recentes eu conheço pouco, mas eu tendo a

valorizar o Foster, algumas coisas muito boas, mas, sobretudo rezo o piano, porque nele você

percebe isso com muita força, percebe? Então não é dizer que esse período moderno foi uma

besteira, ele é muito importante tem gente muito boa, mas, mas teve uma vertente de ficar

afirmando as coisas gongoricamente, etc, que eu acho que, que não é bem arquitetura,

percebe. E eu tenho um amigo agora, que conhece muito, visitou tudo, etc, é um colecionador

de artes, de móveis de tudo, que conhece muito as obras do Renascimento e do Barroco, etc,

sobretudo europeus. E ele não é arquiteto, não é nada, mas ele curte, conhece no detalhe,

visitou, etc. E tem sido muito gostoso conversar com ele porque ele tem esse sentido da

arquitetura falando, entende e não a arquitetura simplesmente se impondo, né. E eu acho que

isso é uma coisa boa de se falar, porque tira dos ombros do arquiteto muita, muita imposição

que é feita, tem que ser genial, tem que ser, tem que ser nada, tem que fazer arquitetura. O

que pediram pra fazer, você faz. E nesse sentido, toda obra que você fizer, é sempre original,

ela nunca é uma reprodução de uma outra, ela pode até ter retirado um monte de elementos,

mas como ela vai acontecer num novo lugar, numa nova situação, ela é nova, ela não é nova

pelas ideias geniais, ela é nova porque ela aconteceu nesse momento e depois vai acontecer

noutro, compreende? Dá uma, uma, essa visão dá uma estabilidade pra eu fazer arquitetura

muito grande. Pra você num ficar, a minha obra, o meu, não tem nada de meu, o que eu

conseguir interpretar, o que eu consegui fazer e até onde eu conseguir, e o que eu não

conseguir, não é?

FIM

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ANEXO 3 – ENTREVISTA SYLVIO SAWAYA 28/05/16

Participantes: Daniela Rosselli e Lúcia Mayumi

28 de maio de 2016

LÚCIA – Então falando aqui da, da casinha que o pessoal antigamente chamava, eu soube

que chamavam de casinha de cima porque a casa (principal?) dos pais era um pouco mais

abaixo e esta daqui era a que ficava mais perto da rua, portanto pra cima, então os familiares

do Sylvio se referem a esta casa aqui como a casinha de cima, e ela é bem próxima da rua,

né. Como ela era a edícula do caseiro então ela não respeitava esses 5 metros que hoje seria

o normal, então você olha a casa realmente é próxima da rua, né. A gente entrou por aqui,

por essa lateral, onde já existia então esse daqui eu peguei um, um levantamento um pouco

mais antigo que seria uma, uma espécie de rua. Que na verdade agora a gente meio que

recuperou com, com aqui tem os carro tão aqui na frente e aí essa passagem que vai direto

a esse patamar da, da, que hoje é a biblioteca foi meio que recuperada essa passagem. E

aqui tá, é, é a que aparece aqui assim ó.

DANIELA – A biblioteca é essa né, que a gente acabou desenhando até.

LÚCIA – É, é. Seria, seria. Exatamente, exatamente. Perfeito. O Li sabe bem. A escada é uma

referência importante que era do terreno inteiro e que ficou para este terreno aqui.

DANIELA – Aqui o que que é?

LÚCIA – Esse daqui é uma, cadê, cadê aqui ó...

DANIELA – Cadê a casinha?

LÚCIA – Acho que é esse daqui. A casinha tá aqui.

DANIELA – Tá, então tá. Tá na mesma direção né.

LÚCIA – Isso, tá na mesma direção. O que, que confundiu um pouco, aqui tá ó, eu acho, o

Sylvio saberia recuperar melhor aqui. Eu acho que o terreno era isso aqui ó. O terreno era

isso. Então o que você tem aqui é esse lote e esse lote aqui.

DANIELA – Isso aqui eu posso levar?

LÚCIA – Pode certeza.

DANIELA – Por que aí eu vou anotando as coisas.

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LÚCIA – E o arquivo também. Então esse daqui é o lote que era originalmente do Sylvio e da

Peo, a primeira esposa.

DANIELA – Esse aqui?

LÚCIA – Esse daqui. E aqui que contém a casa redonda, e por isso que nesse daqui não tem.

Ah ó, aqui tem um desenhinho aqui.

DANIELA – É que a gente tava conversando, é.

LÚCIA – É isso mesmo. Então esse daqui era o terreno do Sylvio e esses dois, essas duas

glebas, que é isso aqui né, era dos pais. E aí a gente junta no sentido de que é um vale só,

né, um vale que dá essa vista. Aqui é uma área do terreno lá deles né, da Peo e do Sylvio

antigo que foi vendido num certo momento da vida lá. Então ficou essa coisa meio.

DANIELA – E nunca teve nada ai mesmo. Não tem nada aqui?

LÚCIA – Do Sylvio nada. Não, tem uma casa.

DANIELA – Mas não é do Sylvio?

LÚCIA – Quem comprou... Não é do Sylvio, então ela fica meio, sempre fora assim desse

conjunto. Aí aqui é a casa redonda, aqui é a casa hexagonal, que é essa daqui que tá (?)

(Assuntos diversos)

DANIELA – Essa é a casa redonda, certo? Eu sei, mas eu vou escrever.

LÚCIA- Isso. Casa redonda, proprietária atual é a, que a gente chama de Peo, né, Maria

Amélia Pinho Pereira.

DANIELA – Que tem lá no caderno né?

LÚCIA- Que tem lá no caderno, exatamente. Essa casa aqui é a que a gente chama de casa

hexagonal naquela pasta que foi passada aqui, ela é essa daqui PEO Hexagonal de 98. Como

a casa, essa casa redonda, ela tem, era, era, ela foi a casa original do casal Sylvio e Peo,

depois virou uma escola e centro de estudos, e aí então em 98, 97/98 ela decidiu, e ela morava

aqui dentro, daí que decidiu então fazer essa casinha pra liberar a casa redonda toda como.

DANIELA – Essa casinha?

LÚCIA – Essa daqui, a hexagonal. Então ela, ela morava no andar de cima e a escola

embaixo.

DANIELA – E a escola continuava embaixo.

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LÚCIA – Ela morava junto com a escola. Então aí resolveu fazer essa casa, então aqui é a

casa de moradia mesmo da Peo, a casa redonda atualmente então continua com esse mesmo

tamanho.

DANIELA – E continua como escola?

LÚCIA – Continua como escola. Escola e Centro de Estudos que chama.

DANIELA – Escola do que?

LÚCIA - É uma escola, quer ver. Nossa, é um material que, sem fim, né. Saiu ano passado

esse livro.

DANIELA – Ai que legal!

LÚCIA – É. Então é uma experiência em educação é uma escola de, eu não sei como é que,

assim, em termos pedagógicos eu não sei como chama hoje. É pré-escola, né é de, sei lá,

acho que atualmente é de 2.

DANIELA – É uma escola Infantil?

LÚCIA – Infantil. De 2 a 5 anos né, ou a 4, que é pré-escola.

DANIELA – É eu acho que é, porque mudou agora né.

LÚCIA - É mudou, eu já não sabia, agora então sei menos ainda.

DANIELA – Também num sei. É, também já to por fora.

LÚCIA – Então é isso assim. Tem uma teoria pedagógica assim, por trás do brincar, eu não

sei se você conhece o Instituto Brincante, é.

DANIELA – Vocês já falaram.

LÚCIA – Ou Os Brincantes né, enfim. Brincante é um termo.

DANIELA – Vocês que falaram do Instituto Brincante, é não, mas eu não conheço.

LÚCIA – Foi. Então tem, tem uma teoria pedagógica assim...

DANIELA – Nossa, que bacana!

LÚCIA – Da ligação com a natureza, da criança, do brincar e de não ter, enfim, eu num sei,

agora eu, imagina não vou saber explicar.

DANIELA – É outro método de ensino.

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LÚCIA – É um método de ensino, não é aquela salinha fechada dando coisas que a pessoa

faz né assim, tarefinhas, né.

DANIELA – Que bacana! Sei, sei. Olha ela aqui. Que lindo! Depois um dia pode visitar?

LÚCIA – Exatamente. Linda né. Sim, com certeza. O Sylvio até ia querer ligar hoje, mas eu

achei que hoje não ia dar tempo, assim.

DANIELA – Acho que não vai dar tempo. É uma pena, puxa vida. Eu venho com mais tempo.

LÚCIA – Eu acho assim uma obra prima do Sylvio. É linda por dentro, por fora, as atividades

que acontecem lá. É muito legal.

DANIELA – Nossa, é linda, bonita mesmo. Muito bacana. Que legal!

LÚCIA – Talvez aqui um pouquinho mais pro fundo tenha umas fotos de dentro mais, mas. Aí

tem uma série de fotos, mas aí eu acho que era legal ter a autorização das pessoas.

DANIELA – Sim, sim. É logico.

LÚCIA - Que é desse fotógrafo Rinaldo Martinute que fez, por exemplo, essa foto é dele.

DANIELA – Ai que bonito!

LÚCIA - Essa obra é outra obra do Sylvio que é a Oca, que é uma Escola Cultural lá na Aldeia

de Carapicuíba, não é uma residência né, mas enfim, então.

DANIELA – Mas era uma residência?

LÚCIA – Nunca foi residência.

DANIELA – Nunca foi, ta.

LÚCIA – Essa foi conseguida como Escola Cultural mesmo. Essa daí que era uma casa que

virou um Centro Cultural. Então é um Centro Cultural, um Centro de estudos na verdade que

chama Centro de Estudos Casa Redonda, acho que você pode entrar no site também. Sempre

assim, como a casa é uma, é um elemento tão importante que virou um nome né, e então ela,

vira e mexe nos sites também acaba aparecendo, ela vira um elemento importante assim do

conceito todo. Isso aqui é uma, uma garaginha, é uma garagem, ela não é fechada. Mas é

bastante usada como oficina das crianças. Tem um dos banheirinhos redondos tá aí, aquele

portátil, que o Sylvio falou que tava dentro da casa e atrapalhava e ele botou pra fora, e aí é

legal. E, aqui é uma, era a casa do caseiro, dessa, desse, dessa da casa redonda.

DANIELA – Dessa parte.

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LÚCIA – Era não, é né, continua sendo. O que que aconteceu é que cresceu hoje, é eu acho,

agora o Sylvio poderia dizer melhor. Eu não sei se ele cresceu mais um pouco e virou no

andar, ou melhor, cresceu pra cima, era uma casa térrea e sei lá, há dois anos atrás mais ou

menos, recentemente, o Sylvio cresceu mais um andar pra fazer a biblioteca do Centro de

Estudos. E no ano passado, eu acho, eu não sei se to perdendo as contas, mas tudo bem

recentemente, aí aqui, ai deixa eu ver, tipo aqui assim, eu acho, que foi feito o, a cozinha e

refeitório da casa redonda. Porque tudo funcionava aqui, então é como a escola vai

crescendo, mas não muito, acho que sempre um número limitado, mas aí quem vai falar

melhor é a Peo, então a cozinha funcionava aqui, tudo funcionava aqui então aí tá começando

a sair e aqui vira só a escola mesmo.

DANIELA – Só a escola né. Mas essa cozinha o Sylvio que fez alguma coisa?

LÚCIA – O Sylvio que fez também tudo. Tudo!

DANIELA – Também tudo. Essa casa do caseiro, a parte de cima, tudo?

LÚCIA – A casa do caseiro, a ampliação pra cima, então esse conjunto todo é todo Sylvio né.

Aqui é o andar debaixo, a cozinha e o refeitório e o andar de cima é o salão, e aí você entra

por aqui ou vai pra cá ou vai pra cá. É legal (?)

DANIELA – É legal, a gente vai lá ver.

LÚCIA – O sistema construtivo mesmo, os mais interessantes, acho, é a casa redonda e a

hexagonal, aqui é um pouco mais tradicional, mas de qualquer forma é um conjunto.

DANIELA – Hexagonal. É faz parte. Tá. E isso aqui?

LÚCIA – Isso daqui ele é só um, ele é um quioscão assim, dá até pra ver daqui assim, ele é

um, quiosque não, como é que chama? Um telheiro, um telheiro redondo, mas muito legal

porque, é bem grandinho assim. É legal. Eu acho que aqui também deve ter outro. Agora,

agora eu to confundindo.

DANIELA – Quiosque? Tá. E aí aqui não é nada, aqui é só a escada, alguma coisa?

LÚCIA – É, aí aqui a gente já entra no tal do terreno daqui do, da parte do pai que então

originalmente era (?) do Sylvio.

DANIELA – Então essa era essa casa, que era a casa do pai? Entendi.

LÚCIA – Exatamente, exatamente, essa era a casa do pai.

DANIELA – Que ainda é o que, o que existe?

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LÚCIA – Ainda é uma residência, aí assim, se não me engano quando os pais faleceram, é

daí então vamos falar dessa parte que é essa daqui né. Esses dois, essas duas glebas

enormes esses dois terrenos eles foram divididos num condomínio, é, quer dizer, foram várias

tentativas, eu não acompanhei, mas o Sylvio falou acho que foram anos né, é como espólio

né Paulo Sawaya, é, aí acho que foram três irmãos, o Sylvio, o Rogério e a Gina que ficaram

com essa área toda e aí eles resolveram dividir e aí então que, que entra esse, deixa eu ver...

DANIELA – Em quantos irmãos eles são?

LÚCIA – Eles são em 10, (risos) 10, é, uma faleceu faz muito tempo.

DANIELA – Mas do mesmo pai e da mesma mãe?

LÚCIA – Do mesmo pai... Ah, não o mais velho é do mesmo pai, mas não da mesma mãe. Aí

a mãe do mais velho faleceu, acho que logo que casaram enfim, teve o bebê e já faleceu e

ele em seguida casou com a mãe do Sylvio e aí tiveram nove.

DANIELA – MEU DEUS, que coragem!

LÚCIA – Dos nove, uma faleceu, sei lá, acho que há mais de vinte anos e a mais velha faleceu

no ano passado. E só por enquanto. (risos)

DANIELA – Nossa! Tá, família grande.

LÚCIA – Mas é uma turmona, uma turmona, família grande. E aí então eles dividiram, aí então

ficou dividido neste lote aqui, eu não sei se dá pra entender, mas de qualquer forma tá aqui.

Ai eu ia até, posso até...

DANIELA – Esse tracejado?

LÚCIA – Posso passar uma caneta em cima? Quer ver?

DANIELA – Claro, por favor.

(assuntos diversos – Lúcia grifando as partes)

LÚCIA – Olha ele não chega aqui, ele vem pra cá, vem pra cá. Esse é o lote que a gente tá

mexendo agora que era o único vazio no meio dessa história. Aqui não vai coincidir direito

porque eu fui pegando pra montar isso eu fui pegando, levantamentos através das décadas

aí que o pessoal tinha né, então hoje o da, o da Peo, por exemplo, que não fazia parte do

espólio deles né, mas é, então, a casa redonda é isso daqui.

DANIELA – Ah! A casa redonda ficou com toda essa parte também.

LÚCIA – Ficou com essa área toda, é. Ah, é verdade, ela, parece que ela comprou essa parte.

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DANIELA – E o quiosque faz parte da dela.

LÚCIA – E o quiosque faz parte da dela.

DANIELA – AH, interessante! Eu achava que tinha ficado pra cá.

LÚCIA- É na verdade eu agora tô na dúvida, sabia?! Tô na dúvida mesmo.

DANIELA – Engraçado né.

LÚCIA – Esses dois terrenos são muito juntos, você vai andar por aqui e ele fica bem de cara

pra cá e você anda aqui e você fica bem de cara pra cá, eles são muito interligados. Quem é

a dona é a Gisela, Gisele, é, e ela é, ela trabalha inclusive na casa redonda, então ela é muito

amiga de todo mundo aqui.

DANIELA – E ela comprou essa casa e a casa é dela.

LÚCIA – Ela comprou essa casa e a casa é dela.

DANIELA – E ela mexeu nessa casa?

LÚCIA – E aí quem, eu tava contando, quem, e aí quem comprou primeiro então assim que

dividiu esses terrenos dessa forma, quem comprou primeiro foi, o “ah meu DEUS”! Como é

que é o nome dele. Ela é a UCHA, se eu não me engano é Lúcia e o apelido é Ucha, Nestor,

Nestor e Ucha, então Nestor e Ucha é pegaram a casa do pai e esse terreno e, e ampliaram,

aí quem a ampliação, eu não tenho certeza, se foi o Sylvio e aí ele poderia te explicar melhor,

porque eu acho que foi ampliado aqui pra trás.

DANIELA – É depois se der tempo eu já faço as perguntas pra ele e já mata.

LÚCIA – Exatamente. (?) Aí eu não sei se isso aqui foi ampliado pra trás, alguma coisa assim.

E aí fizeram a, um telheiro aqui que é o carro e aí uma rampa pra cá já direto da rua e é bem

inclinado e eu lembro que o Sylvio fala que essa rampa não foi o ele que fez, que é inclinada

demais então, a gente tá aqui e fica ouvindo o carro entrando e saindo derrapando entendeu

porque é muito inclinado. Então eu sei que o Sylvio falou que não foi ele que fez, então eu sei

que esse Nestor que é um construtor inclusive é, deve ter mexido na casa sem saber. E agora,

e agora recentemente.

DANIELA – E aí veio essa Gisele pra morar.

LÚCIA – De 2011 pra cá a Gisele. Eu acho que ela não fez alterações não, da época desse

Nestor. Esse terreno aqui, assim que fez então a divisão, desse, desse espólio Paulo Sawaya

pra cá, quem comprou foi Nádia e Antonio, então que é esse projeto que o Li participou, que

tá aqui nessa listinha 1998 Nadia e Antonio.

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DANIELA – Então, mas a Nadia e Antonio compraram a casinha com 35 metros?

LÚCIA – Compraram a casinha com 35 metros, exatamente.

DANIELA – É que eu lembro que você falou. Tá

LÚCIA – Quando eles compraram tinha este levantamento aqui. Então aí, este aqui, este

levantamento aqui é da época Nadia e Antonio. Que então tava mais ou menos assim, este

caminho indicado, aqui já tinha acho que um patamarzinho na frente, mas aqui era um (?),

essa escada não é exatamente essa que tá aí, era outra mas era uma escada que você

entrava por aqui acessava a casinha, esse piso de tijolo acho que já existia. Então quando o

Li e o Sylvio e eu participei um pouquinho do projeto pegamos ela tava assim.

DANIELA – Ela tava assim.

LÚCIA – Esse interno a gente tentou recuperar agora, mas pelo jeito tá lá. Então na dúvida

dá pra ainda, sei lá.

DANIELA – É, tem aqui.

LÚCIA – Acho que era bem isso.

DANIELA – Parece que era isso mesmo, as duas né, aqui, aqui

LÚCIA – É, Ele falou cama de casal aqui. É, e aí o que tem é isso, que aí na verdade.

DANIELA – Aqui o que tem é uma cama e um guarda roupa. Uma cama e um guarda roupa.

LÚCIA – Exatamente, direitinho. Que nem ele desenhou.

DANIELA – É isso que ele fez. Não tinha essa parede né?

LÚCIA – Tinha, não tinha. Então era o armário que dividia?

DANIELA – Não tinha. Num sei, aqui parece que tá aberto, ó tá vendo? Não parece que tá

aberto?

LÚCIA – É verdade. Ele achou que tinha uma porta aqui e outra aqui.

DANIELA – Não. Parece que é uma porta que entra pra cá e pra cá, ó, não parece que aqui

tem um guarda roupa, aqui tem um (?)

LÚCIA – É verdade. Ó, o que ele falou que ele achava que era, mas assim, aqui seria uma

cama de casal encostada na parede.

DANIELA – É pode ser, olha aqui ó.

LÚCIA - É, e aqui um armário.

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DANIELA - Pode ser ó.

LÚCIA - Essa quininha aqui, ó. Ah sabe por quê?! Porque assim, essa coisa do chanfrado, o

Sylvio gosta muito, você vai ver esse armarinho aqui, essa estante na verdade, essa estante

está lá, original até hoje e ela é chanfrada.

DANIELA – Então essa casa eu estou vendo ela. A gente tá nela assim né. A gente tá assim

né?

LÚCIA – Ah! Verdade. Coitada, sacanagem ainda por cima! (risos)

DANIELA – Não é porque agora que eu to me encontrando nela, porque eu sempre li ela,

como se fosse ao contrário. Entendeu?

LÚCIA – Ah! Entendi. Como se tivesse entrando por esse lado e tal.

DANIELA – Agora que eu acordei pra vida (risos).

LÚCIA – Então é isso mesmo. Aqui é a rua, né.

DANIELA – Entendi. Então esse dormitório aqui. Essa sala é essa.

LÚCIA – Verdade. Ó, tá vendo aqui? Isso daqui até lá e daqui pra lá até o fundo. Então a

gente podia começar a ver daqui, é esse ambiente aqui.

DANIELA – Tá, é esse ambiente aqui. E essa divisão?

LÚCIA – Na verdade a gente tá aqui, ó, a gente tá aqui. E aqui tinha um móvel, um vidro

redondo, tá vendo o (?) redondo? Esse vidro redondo está ali, atrás daquela persiana. Então

a gente pegou o mesmo vidro e colocou ali

DANIELA – Que dá pra gente ver de fora.

LÚCIA – Que dá pra ver de fora, exatamente. Então, ela ...

DANIELA – Então aqui era o fora de casa.

LÚCIA – Aqui era o fora de casa. (?)

DANIELA – E a entrada dela?

LÚCIA – Aqui tinha piso de tijolo (?)

DANIELA – Mas não era esse?

LÚCIA – Não, não. Com certeza não. Era um piso de tijolo pra ficar na varanda, uma coisa

assim.

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DANIELA – Entendi. E a entrada da casa era por aqui, pelo lado.

LÚCIA – E a entrada da casa era por aqui. Você entrava pra cá e aqui era o caseiro. Então

imagina que você entra por aqui pra aquela casa maior então aqui é aquele famoso caseirinho.

Originalmente ainda, ela foi construída, aí o Sylvio pode falar melhor a ordem. Eu sei que a

Peo e o Sylvio no início do casamento moraram aqui, depois o outro casal Beth e Mario, da

tal casa do Butantã, também morou aí, inclusive criando os filhos.

DANIELA – Aqui?

LÚCIA – Nessa casinha de 33 metros quadrados.

DANIELA – Nossa!

LÚCIA - Tanque, tudo aqui. (?) pia, tanque, fogão, geladeira e a passagem, e a entrada (?).

Depois, parece que quando a Beth e o Mario que é a irmã mais nova dele vieram morar, aí

eles fizeram a área de serviço pra fora para ganhar um pouco mais de cozinha. Mas ficou

assim muito tempo. Vamos olhar aqui, vamos?

(assuntos diversos)

DANIELA – (?)

LÚCIA – Como moradora? Eu sempre gostei de São Paulo, minha cidade original é São

Vicente, litoral, então eu sempre quis vir pra São Paulo porque eu gostava da agitação urbana

e tudo, então, na faculdade eu fiz aqui em São Paulo e tudo, então quando eu vim pra cá foi

um choque, porque eu falei, não é, vai ser estranho né assim ficar num, mas assim por outro

lado esse lugar, a região não é nada novidade pra mim, porque eu trabalhei muito tempo no

outro lado do vale na Cristino Xavier, então eu saia de São Paulo e vinha pra essa região. Por

um tempo também eu acompanhei toda a obra da Casa Hexagonal, então eu vinha trabalhar

aqui de certa forma. Então essa região é muito conhecida, né. E tem uma história agora, mas

é particular minha, que meus avós, meu avô quando veio do Japão pro Brasil, o primeiro lugar

que ele se instalou foi na, na Estrada da Aldeia aqui, em 1927, então imagina depois foi se

instalar no largo de Pinheiros, mas o primeiro lugar que ele veio foi nessa região. Então eu

brinco com o Sylvio que a minha família tá, tá há mais tempo que ele aqui na região. Então

meu avô frequentava a festa de Vera Cruz na Aldeia de Carapicuíba, então assim ao mesmo

tempo que eu fiquei um pouco com medo de sair do urbano de São Paulo, eu sabia, aqui é

um lugar muito familiar pra mim. Até por isso, né, até por esses antepassados. E, mais é muito

gostoso, é um privilégio, é um privilégio, né a gente já morava numa casa no Butantã, mas,

que era legal também, mas assim aqui é um privilégio. Então, é, ter os vizinhos próximos

também é um privilégio, eu acho, não sei é real isso mas assim, em alguns momentos a Peo

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comentou da gente fazer, já que somos todos amigos e conhecidos, tirar até todas as divisas,

sabe, quase que é voltar a ser como era. Cada um tem sua casa, ok, mas assim, quer andar

vai andar até lá, vai e volta né.

DANIELA – Que bacana!

LÚCIA – Então é uma coisa que, é muito gostoso, não por ser uma casa, por ter uma vista (?)

assim, mas, além disso, acho que o que eu mais gostei é de ter gente, é enfim, ter amigos e

poder contar mesmo com eles, então é um misto, da casa em si, mas também tem. E o

tamanho da casa eu acho como moradora eu acho ótimo, eu acho perfeito, ela tem 100, 120

metros quadrados, é pequena, mas pra um casal perfeito né, ainda mais com esse pequeno

anexo da biblioteca agora né.

DANIELA – É que vocês ficam bastante aqui agora né. Legal. É verdade, vocês são

privilegiados, porque aqui é uma delícia!

FIM.

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ANEXO 4 – ENTREVISTA SYLVIO SAWAYA 05/09/16

Entrevista concedida pelo professor Sylvio Barros Sawaya

Participantes: Daniela Rosselli e Sylvio – Sobre a Casa Redonda

05 Setembro de 2016

SYLVIO – (?) Eu nunca tive noção disso, era, correspondia o que você queria espaço

integrado e tal, né. E, e aí aconteceu uma coisa curiosa, que eu acho que nos anos 80, no

começo, quando a gente voltou de Brasília e foi morar nela, ela virou escola e acabou se

afirmando como escola e aí a Peo pediu pra fazer a Casa Hexagonal. A gente já tinha se

separado, a gente se separou no começo de 80 e aí fez a Casa Hexagonal que é a casa, casa

mesmo dela né. E ela se revelou muito, muito correta pra ser escola, que ela tá num ponto

central do terreno, foi escolhido junto, ela é bem interiorizada no terreno, a gente sentiu o

lugar, criou uma pedra fundamental né e, e ela tem o eixo central fortíssimo, que é marcado

pela, pela luz e a luz passa né, inclusive aquela peça redonda que organiza toda a estrutura,

onde tá tudo pendurado é um, é um tubo, então é o centro oco de luz né, e aí a luz forma um

cone, e escrito nesse, tem um mezanino né, que é redondo e escrito no mezanino tem o

quadrado que afunda no chão. E, e ele tá na, com pedrinhas dormentes e ele tá direto na

terra, tem uma camada de areia e a terra e no meio tem um seixo rolado enorme que a gente

trouxe de lençóis da Bahia, de, que é espécie de umbigo da casa. Então ela tem esses, tem

umas histórias gozadas. Tem um rapaz (?) visitar e ele começou a rodar dentro da casa, saiu

fora e vomitou, por conta dessa dinâmica de rotação que ela tem que é fortíssima. E a amiga

da Peo, chamada Agnes, você pode perguntar pra ela, que é húngara, mora no Brasil tudo,

ela foi visitar a casa e disse que ela lembrava a história do castelo mágico que roda da

Hungria. Então, é, ela tem um eixo e ela roda e o curioso é que ela é, tem é de 74 isso, dela

mais ou menos quer dizer ela tem 50, 40, quanto que dá?

DANIELA – É eu sou de 74, vou fazer 42 anos então, ela tem uns 40 e pouquinhos.

SYLVIO – Ela tem uns 40 e poucos anos. E ela, ela se manteve integra, ela não mudou né,

mesmo com a variação que houve pra escola, ela continuou e na escola, como ela tá centrada

num terreno e ela organiza toda a área externa, as crianças entenderam isso muito bem e pra

eles a Casa Redonda é um lugar central onde eles se organizam pra explorar tudo, entende?

E como ela abre pra todos os lados da paisagem, ela abarca todo o entorno, se relaciona

direto e as crianças entendem isso perfeitamente. E aí aquela escadinha que sobe pro andar

de cima, a gente pôs aquelas varetas pra servir de parapeito né e as crianças sobem e descem

aquilo numa boa, nunca aconteceu nada, apesar de ser uma escada caracol, e vão lá em

cima e tal e as festas, você precisa ver as festas lá, são lindíssimas porque aquele espaço

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interno é todo organizado com bandeirolas, com luzes, com coisas e ela fica um universo né.

A outra coisa que se revelou muito curiosa é, é que é um lugar bom pra ter palestra, pra ter

conferencia, pra ter apresentação, é música. Principalmente teve um japonês que tocou flauta,

aquelas flautas de bambu assim, o som é maravilhoso, provavelmente porque ela vibra a

estrutura permite vibrar e a madeira do piso e tal, então funciona como uma caixa acústica do

violão e ela tá aí firme, eu não sei, é um negócio que.

DANIELA – É, e aquelas esquadrias, as janelas e as portas da onde você tirou isso Sylvio? A

Peo tava me mostrando que até elas encaixam, desencaixam né, que você consegue tirar.

Elas estão inteiras também.

SYLVIO – Isso tem um trabalho de desenho nessa casa muito grande, porque tudo foi

desenhado, as portas, as janelas, os gonzos, é tudo com gonzos, etc, é tudo foi fabricado aí.

É um exemplo típico do canteiro do Sergio (?) isso aí. É uma equipe que era mesma, fez tudo

né. E eu fui desenhando tudo, e aquelas portinholas lembram muito as portinholas dos fornos

do fogão a lenha e coisa de fazenda mesmo, eu tinha uma experiência da fazenda em

Campinas e que era num sei lá no, no fim do Séc XIX, durante o Séc XX, e tinha essas

ferragens esses ferrolhos tudo, e acho que veio daí. Num certo sentido, tem uma certa

discordância do produto industrializado na medida que não se usou nada já pronto, dobradiça

e tal e se fez tudo, entende? A ideia de que se pode fazer tudo e é tudo bem forte tal, as

madeiras da janelas apodrecem tem que trocar e tal mas ela tem um inteireza construtiva

muito curiosa, e virou tudo né, quer dizer a escola é a Casa Redonda e num sei que.

DANIELA – É, é, não ficou, nossa, ela ficou muito bacana. E ela incorporou a escola assim

perfeitamente mesmo né. Você olha, porque aquelas janelas coloridas, que elas já eram

coloridas né?

SYLVIO – Quem visitou essa casa passou uma tarde lá, sentadinho naquele chão de tijolos,

com o pé dentro daquele lugar cheio de (?) foi o Artigas, e o Artigas ficou impressionadíssimo

com a casa, ele falou: “- Sylvio eu não sabia que você fazia isso e esse vermelho Sylvio (?)

são as cores básicas (?)”. E eu fiquei muito feliz com essa visita do Artigas, foi lindíssimo.

Deve ter foto disso.

DANIELA – Quem será que tem essa foto hein Sylvio, você ou a Peo? Quem será que tem?

SYLVIO – A Peo lembra deles. (?) tinha sido ministro (?) Paulo Freire. E ela acolheu todo

mundo muito bem, então ela é uma casa que acolhe e ela acolhe, mas não prende, e ela solta

pra fora, e eu acho que era a ideia mesmo.

SYLVIO – (?) é parede baixa né, usada nas casas (?) e é uma reinterpretação, ao invés de

ser de pau a pique é uma armação de madeira com placas de raspas de madeira comprimida

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com cimento e areia né chamada Eraclite. Esse produto ainda é fabricado no, fabricado no

Rio Grande do Sul, mas esse produto é antigo, ele já existia acho que no séc XIX ele era

usado como, como elemento acústico e também pra conter o frio, câmara gelada (?) era como

enchimento e aí a gente recuperou isso aí.

DANIELA – Mas vocês compraram prontas essas placas, não montaram nada?

SYLVIO – Compramos, é.

Fim.

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ANEXO 5 – ENTREVISTA SYLVIO SAWAYA 12/10/16

Data: 12/10/2016

Participantes: Daniela e Sylvio Sawaya – Sobre Buranhém

DANIELA – Bom, o Li me passou umas lições de casa aqui pra fazer e ele me

perguntou porque ele diz que viu alguma vez uma foto do Buranhém, eu nem sei o

que é Buranhém, e a gente precisa conversar sobre Buranhém e saber se você tem

alguma material dele porque a gente vai colocar no artigo.

SYLVIO – Muito. Então, Buranhém é o rio que vai desaguar em Porto Seguro, ele

nasce em Minas Gerais quase divisa com a Bahia e eu fiz um trabalho de pesquisa

de reconhecimento do rio, primeiro topografia e tal, depois eu fui levantando as

localidades ao longo dele, Vale Verde, e aí foi, passa perto de, acho que Dionápolis,

não sei, vai indo, vai até uma cidade, eu esqueci, depois a gente vê e a gente foi quase

até as nascentes dele e esse percurso eu fiz com meu irmão de motocicleta, cada um

com uma motocicleta e tem um filme, e tem fotos disso, muitas fotos.

DANIELA – E tem um vídeo disso?

SYLVIO – Tem um filme, super oito, de toda a viagem.

DANIELA – E com quem que tá?

SYLVIO – Tá aqui, e tem as fotos que tão já coladinhas e tal. É um documento

antropológico.

DANIELA – Essas fotos tão aí também?

SYLVIO – É e aí a gente chegou numa cidadezinha, uma aldeia chamada Buraí que

era, acho que era Guaratinga a cidade, que era no caminho dos romeiros pra Nossa

Senhora D’Ajuda, é uma festa tradicional anual né, e fazia parte do caminho de tropas

que foi o caminho que a gente percorreu só que depois a estrada mudou e passou por

Guaratinga e aquilo ficou uma cidade fantasma, eu tenho ela toda documentada, tem

poucos habitantes, tem um pico enorme que a gente subiu.

DANIELA – Essa aldeia de Buranhém? Ficou desse jeito?

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SYLVIO – É. É interessantíssima porque tá muito como era antigamente né, e o Vale

Verde que eu falei é um aldeiamento jesuítico tipo Trancoso, com aquela praça grande

no meio, a igreja e tem muito dos hábitos das pessoas na época porque foi em 76 por

aí, em 74, então é um outro mundo né e eu nunca publiquei esse trabalho, ele tá todo

documentado e é um documento muito importante dessa região e pra mim significou

muito o reconhecimento da cultura popular construída né, que é uma coisa que vai me

marcar a vida inteira, que eu já desde antes vinha procurando mas ali pode fazer,

pode ser feito sistematicamente.

DANIELA – Isso foi em quando assim, você lembra?

SYLVIO – Eu acho que é 74. Faz 40 anos.

DANIELA – E foi só você e o seu irmão?

SYLVIO – É a viagem.

DANIELA – Mas foi você que idealizou todo esse projeto assim ou?

SYLVIO – Foi. Eu tinha uma bolsa do CNPQ se eu não me engano e aí eu fiz o relatório

a respeito existe esse relatório da viagem, mas o trabalho mesmo a ser publicado

nunca foi publicado. Mas é onde eu vou descobrir que o Brasil é feito de taipa.

DANIELA – Ah, é nesse projeto e não em Rondônia então na verdade, ne?

SYLVIO – Não é antes, nesse projeto.

DANIELA – Não é antes né, é em 74. É depois né, entendi.

SYLVIO – Rondônia eu já vou com essa informação toda. E o outro estudo que eu fiz,

aí foi em 78 foi no bairro da Liberdade em Salvador, que Salvador originalmente são

caminhos pelas cumeadas com ruas perpendiculares que descem pros vales e os

vales eram hortas, eram chácaras e sítios né e essas descidas eram onde o povo

ficava e era construídos por eles mesmos, quer dizer num tinha praticamente

interferência governamental e na Liberdade eu descobri um lugar chamado Brongo,

Brongo do Pau Miúdo, na região do Pau Miúdo e Brongo quer dizer isso: buracão. E

aí eu juntei uma equipe que continua o estudando e levantou tudo, fez todas a ruas,

as casas, os usos, tudo né, é um trabalho também do fundo de antropologia urbana

muito interessante.

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DANIELA – Mas você tem?

SYLVIO – E tá tudo documentado, fotografado e o pessoal, eu vim pra São Paulo,

mas eles continuaram trabalhando e depois me mandaram tá por aí os rolos com os

desenhos, as fotos, tudo. Então, são dois trabalhos e que dá pra se aproximar da

feitura popular do espaço que vai me marcar pra sempre. Eu tinha noção disso, mas

neles deu pra ver claro e deu pra ver claro a presença do povo por conta própria

fazendo as coisas e independente das estruturas institucionais.

DANIELA – E esse do Brongo do Pau Miúdo foi através desse outro trabalho que você

foi fazer do bairro da Liberdade que surgiu, mas foi você também que idealizou?

SYLVIO – Foi porque aí em Salvador eu fiquei, acho que um ano, dois anos de

assessor da Prefeitura e aí fiz a proposta da avenida que paralela ao mar que vai de

Salvador até Itapuã e ela foi concluída depois por um outro colega que ficou, ela existe

hoje e fiz o estudo, que queria fazer o estudo das comunidades locais, queria propor

que tivesse a, organizações comunitárias locais né e aí eu escolhi a Liberdade pra

verificar isso e o Brongo foi o meu ponto de pesquisa.

DANIELA – Entendi. Esses materiais tanto do Buranhém como o do Brongo você tem

aí, a gente pode pegar para escanear e tudo? Porque a gente vai colocar no artigo

isso.

SYLVIO – Tenho, pode, pode, tudo. Tem um monte de fotos.

DANIELA – Tá, eu vou ver com a Lucia então onde tá. Agora deixa eu te fazer uma

pergunta:

“- Porque que começou a surgir esse seu interesse por esses estudos né de

Antropologia Urbana e tal, porque você fez a FAU aonde é uma escola né totalmente

urbana vamos dizer assim né, de uma arquitetura urbana, não é? Como que você

mudou, como que você desviou esse seu olhar?”

SYLVIO – Eu acho que eu sempre tive esse olhar, por causa das férias que eu

passava na fazenda e tudo isso né, e também por andar por tudo quanto é canto aí

né, e Trancoso quando a gente foi lá porque eu tinha uma terrinha em Trancoso e aí

eu conheci Porto Seguro e Porto Seguro era um vilarejo ainda, nada turístico muito

pouco turístico e tal e aí eu me encantei com a região e aí resolvi entender como ela

se formou, aí quando eu fui pra Salvador já era um trabalho sistemático, eu tava na

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assessoria do Prefeito, trabalhava na OCEPLAN né, e comecei a fazer esses estudos,

tem inclusive uma aplicação do meu método pra Salvador que é que tem o trabalho

do Brongo que a gente pegou ontem, é muito interessante um diagrama, é muito

completo, então é não é que eu tivesse negando a arquitetura que eu sabia, mas eu

vi que tinha uma outra realidade e fui atrás dela, e isso é importante porque vai dar

além desses trabalhos vai da Rondônia depois que a, fundamentalmente um ato de

acreditar na possibilidade do povo de fazer coisas e isso permanece como uma

constante. Se bem que eu nunca tive muita chance de trabalhar isso, salvo nesses

três momentos.

DANIELA – Tem uma entrevista que a gente fez com você, que você comentou nome

daquela exposição de terra que o Li foi, mas ele não lembra o nome.

SYLVIO – (sem entendimento – palavra estrangeira) É uma exposição que veio do,

foi feita pelo pessoal de Grenoble e tal no Pompidou.

DANIELA – É foi essa mesmo.

SYLVIO – E essa exposição percorreu o mundo e cada país que ela ia editavam o

catálogo da exposição, eu tenho ele em francês, tem em português.

DANIELA – Você tem esse material?

SYLVIO – Tem e foi nela, eu já tinha voltado de Salvador e a gente tava querendo

estudar (sem entendimento) na Cidade Universitária, na Prefeitura, a Prefeita era

amiga e tal, foi quando a gente construiu a Creche lá e depois as casinhas que foram

feitas pelo Max e pelo Marcio Mazza né. Tem todo o material aí, a gente até ganhou

um prêmio (sem entendimento)

DANIELA – (fala baixa- sem entendimento) Ah, outra pergunta, mudando totalmente

o assunto. “- Porque você fez a lápide do Millan, aonde é que era aquele cemitério

Sylvio?” Eu preciso ir lá tirar foto.

SYLVIO - É o Cemitério do Araçá.

DANIELA – Ah, é no Araçá!

SYLVIO – É, é na parte baixa dele porque o cemitério vai descendo.

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DANIELA – Tá, é que eu vou lá pra tirar foto, porque eu escaneei a do álbum, mas a

foto é bem legal né. Que mais... Eu não conversei com você ainda sobre o Roberto

Pinho, como que você conheceu o Roberto Pinho?

SYLVIO – O Roberto Pinho é primo da Peu.

DANIELA – É primo mesmo? A gente ficou com essa dúvida, porque ela comentou,

mas a gente não sabia se era.

SYLVIO – É primo dela e ele que levou a gente pra Salvador, pra trabalhar na

Prefeitura que ele era muito ligado ao Mario Kerts que era Prefeito e daí saiu esse

trabalho.

DANIELA – Esse trabalho da, do bairro da Liberdade.

SYLVIO – Da Liberdade.

DANIELA – Entendi. E aí depois você acabou ficando por lá e aí foi aonde você fez a

casa?

SYLVIO – Não eu fiquei o tempo de trabalho só.

DANIELA – Só e quando você fez você fez duas casas em Salvador, uma do irmão

da Peu não é isso? Que é a, como é que chama?

SYLVIO – É. Do Augusto Pinho Pereira

DANIELA – Altino Pinho Pereira? Não, é Augusto?

SYLVIO – Augusto.

DANIELA – Então a gente confundiu os nomes aqui.

SYLVIO – Altivo Leite é a casa aqui, dos triângulos.

DANIELA – Ah é a gente. É a do triangulo mesmo. Foi na mesma época que você fez

a casa você tava lá ou a casa dele você fez depois que veio embora?

SYLVIO – Eu acho que foi depois.

DANIELA – Depois né? Bom, eu acho que é isso que a gente precisava de material

pra poder... Ah, vocês que vivem indo lá pra praia será que aquela Escola do Artigas

lá na Vicente de Carvalho ainda existe?

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SYLVIO – Deve existir e a fundação deve ter os desenhos tudo, é muito importante,

eu nunca visitei a escola eu só tive a conversa com o Artigas e ele me mostrou o

projeto.

DANIELA – Ah a gente estava conversando sobre isso essa semana passada né e

será que como vocês vão lá pra praia né.

SYLVIO – Não, deve tá tudo documentado.

FIM.

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ANEXO 6 – PUBLICAÇÃO ARTIGO REVISTA ARQ-URB setembro/dezembro de

2016 no.17, p.162-177