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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
GUILHERME AFONSO VERGARA
O QUE ALUNOS E PROFESSORES DO CURSO DE CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS PENSAM SOBRE A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE
TAXONOMIA NA GRADUAÇÃO
São Paulo
2015
GUILHERME AFONSO VERGARA
O QUE ALUNOS E PROFESSORES DO CURSO DE CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS PENSAM SOBRE A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE
TAXONOMIA NA GRADUAÇÃO
Monografia apresentada à disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso na
Área de Licenciatura de Ciências Biológicas
Orientadora: Profa. Dra. Mônica Ponz Louro
São Paulo
2015
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer à Universidade Presbiteriana Mackenzie e ao Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) por me proporcionar um ensino e
formação de qualidade.
A todos os professores do curso de Ciências Biológicas, técnicos dos
laboratórios e em especial para a minha orientadora Prof. Dra. Mônica Ponz Louro e
aos professores da modalidade de Licenciatura Prof. Dra. Magda Medhat Pechliye e
Prof. Dra. Rosana dos Santos Jordão, que em suas aulas e na orientação desse
trabalho me proporcionaram um crescimento imensurável como aluno e como
pessoa. Tenho certeza de que não saí das salas de aula da mesma forma que
entrei, e com certeza essas mudanças foram para melhor. Agradeço pelo seu
esforço, dedicação e confiança em mim, e também pela paciência frente às minhas
dificuldades apresentadas. De todo o coração, muito obrigado.
Agradeço os membros convidados da banca Prof. Ms. Ricardo Pedro
Guazzelli Rosario e Profa. Dra. Paola Lupianhes Dall'Occo não somente pela
participação e colaboração com o meu trabalho, mas por toda a convivência e a
atenção que tiveram comigo durante toda a graduação. Todas as oportunidades que
me proporcionaram, isso não tem preço, pensarei em vocês sempre com muito
carinho.
E por fim gostaria também de agradecer a todos os meus colegas, em
especial os que colaboraram com a pesquisa respondendo o questionário, familiares
e amigos que acreditaram em mim e tiveram paciência e compreensão durante esse
percurso da graduação.
"A ciência está longe de ser
um instrumento perfeito de
conhecimento; é apenas o melhor
que temos".
(Carl Sagan)
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo analisar, comparar e discutir a importância do
ensino de Taxonomia na graduação com base em levantamento bibliográfico e
levantamento de opinião de alunos de diferentes etapas e de professores responsáveis por
diferentes disciplinas do Curso de Graduação de Ciências Biológicas da Universidade
Presbiteriana Mackenzie sobre Taxonomia, suas aplicações e consequências em diferentes
esferas. A pesquisa de opinião se baseou na consulta aos alunos e professores do curso
citado. Ao todo foram analisados 36 questionários respondidos. Para cada uma das
questões foram elaboradas categorias nas quais as respostas de cunho subjetivo dos
participantes pudessem ser analisadas e agrupadas dentro nestes padrões categorizados. A
partir da análise sobre o que os professores e alunos pensam da Taxonomia, notou-se que
a visão da amplitude da área é ainda muito restrita e que isso tem perdurado ao longo da
graduação; alunos do primeiro e do último semestre compartilham da mesma visão e alguns
professores não acreditam que trabalhos na área gerem impactos sociais, tampouco
imaginam a profundidade e benefícios de tais trabalhos e pesquisas. Essa visão dos
professores pode justificar a concepção dos alunos, uma vez que a Taxonomia não é
trabalhada em sua real forma, dimensão e profundidade na maioria dos componentes
curriculares que está intrinsecamente relacionada e, portanto, as concepções dos alunos e
as reestruturações de seus esquemas de conhecimento não serão influenciados pelas
informações necessárias para a compreensão do panorama da Taxonomia. Somente a
partir dessa compreensão será possível reconhecer devidamente essa área e maximizar os
benefícios que ela propicia, tanto no âmbito científico, bem como no social. Além disso,
como muitos participantes sugeriram, esse reconhecimento levaria à um aumento da
divulgação científica e, portanto, uma aproximação entre comunidade científica e
comunidade leiga, o que poderia ser explorado como um ponto de início para a
desmistificação da ciência em si como absoluta. No âmbito educacional, com enfoque na
graduação de biologia, essa compreensão também traria benefícios, pois auxiliaria o ensino
de diversos componentes curriculares e contribuiria em grandes proporções para o processo
de ensino e aprendizagem e formação profissional do biólogo, capacitando-o e aprimorando-
o para a atuação em diversas áreas logo ao final da graduação, o que não desmotivaria a
escolha de carreira acadêmica, uma vez que abriria novas portas aos graduados,
incentivando-os à essa decisão, de certa forma. No entanto, para alcançar essa
compreensão, o ensino deve sofrer algumas alterações, começando pela abordagem de
ensino do docente, seleção do conteúdo dentro da temática, forma de avaliar os discentes e
etc. de forma que o professor introduza a Taxonomia de forma contextualizada e revelando
a amplitude da área. Tal visão e compreensão não serão alcançadas apenas com a criação
de (mais um) componente curricular exclusivo para o tema em questão.
Palavras chave: Taxonomia; Ensino; Aprendizagem;
Abstract
This study aimed to analyze, compare and discuss the importance of teaching
Taxonomy at biology course graduation, based on literature review and survey of opinion of
students from different quarters and teachers responsible for different disciplines of
Biological Sciences Graduate Program at the University Mackenzie on Taxonomy, its
applications and consequences in different spheres. The survey was based on consultation
with students and teachers of that course through questionnaries. Altogether, 36
questionnaires were analyzed. For each question, several categories were prepared in which
the subjective nature of the participants' responses could be analyzed and grouped within
these categorized standards. From the analysis of what teachers and students think of
taxonomy, it was noted that the big picture of the extent of the area is still very limited and it
has lasted over graduation; students of the first and last quarter share the same vision and
some teachers do not believe that research in the area generate social impacts, nor imagine
the depth and benefits of such works and research. This point of view of teachers can justify
the thoughts of the students, since the taxonomy is not presented in their actual form, size
and depth, even though is intricately linked with most disciplines and therefore the views of
students and restructuring of their schemes of knowledge will not be influenced by
information necessary for understanding the overview of the taxonomy. Only with this level of
understanding will be possible to properly recognize this area and maximize its benefits, both
in the scientific and social. Moreover, as many participants suggested, this recognition would
lead to an increase in science communication and therefore an approach between the
scientific community and lay community, which could be exploited as a starting point for the
demystification of science itself as absolute. In education, focusing on biology degree, this
understanding would also bring benefits because it would help the teaching of various
curricular components and contribute in large proportions for the process of teaching and
learning and vocational training biologist, empowering it and tweaking it for the performance
in several areas soon to Graduation end, which does not demotivate the choice of academic
career, as it would open new doors to graduates, encouraging them to this decision, in a
way. Nevertheless, to achieve this understanding, teaching must undergo some changes,
starting with the teacher's teaching approach, the content within the theme selection, how to
assess the students and etc. in order to introduce the contextualized Taxonomy and
revealing the extent of the area. Such a view and understanding will not be achieved only
with the creation of (another) unique curricular component to the issue at hand.
Key words: Taxonomy; Education; Learning;
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................... 9
2. Referencial Teórico ......................................................................................... 10
3. Métodos .......................................................................................................... 21
3.1 Caracterização dos Participantes ............................................................. 21
3.2 Instrumentos e Procedimento ................................................................... 22
4. Resultados e Discussão ................................................................................. 26
5. Considerações Finais ..................................................................................... 49
6. Referências Bibliográficas .............................................................................. 51
7. Apêndices ....................................................................................................... 54
9
1. INTRODUÇÃO
Até o momento, ao longo da graduação, realizei dois treinamentos científicos
como monitor e desenvolvi três projetos de iniciação científica que envolveram o
tema Taxonomia. Em conversas informais com colegas, orientadores, demais
professores do curso e nas elaborações de justificativas para tais projetos, me
deparei diversas vezes com a seguinte questão: "Qual a relevância social desse
projeto?". Refletindo sobre isso, comecei a me questionar quanto à importância,
principalmente no âmbito social de projetos dessa natureza, no sentido de fazer
questão de nomear e alocar organismos em grupos criados por critérios
estabelecidos por nós mesmos. Simpatizando com a área, aprofundei meus estudos
sobre o tema por conta própria, visando entender suas aplicações em diferentes
ramos da biologia.
Foi então que compreendi que a Taxonomia é mais que uma ferramenta
biológica, e que por grande parte do meu curso de graduação, enxerguei-a com uma
visão muito limitada em termos de aplicabilidade e contribuição, pois não considerei
suas contribuições para o estudo das demais áreas da biologia. Hoje posso afirmar
com certeza de que o conhecimento dessa área é um grande diferencial para o
biólogo no mercado de trabalho.
Isso é reflexo de consequências do processo de ensino e aprendizagem,
tanto metodológicas quanto da concepção dos professores, de modo que não há
respeito pela capacidade individual de cada aluno, a avaliação, no geral formativa e
não processual, não há "avaliação" propriamente dita do processo de aprendizagem
do aluno: todos esses empecilhos do processo de ensino e aprendizagem foram
discutidos ao longo do curso da Licenciatura em diferentes componentes
curriculares sobre diferentes tendências e linhas de pensamentos, visando um
aprimoramento processual do futuro professor quanto à prática docente.
Buscando uma conexão entre a Taxonomia e essa questão, refleti sobre o
ensino de Taxonomia como grande área e pensei em como ela estava contemplada
na graduação do futuro biólogo, bem como as consequências de uma boa formação
nessa área, principalmente com relação ao exercício profissional. Com essas
questões em mente, decidi levantar a opinião de colegas e professores e realizar
esse trabalho. O objetivo foi, portanto, analisar, comparar e discutir a importância do
ensino de Taxonomia na graduação com base em levantamento bibliográfico e
10
levantamento de opinião de alunos de diferentes etapas e de professores
responsáveis por diferentes disciplinas do Curso de Graduação de Ciências
Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie sobre Taxonomia, suas
aplicações e consequências em diferentes esferas.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
É característica do ser humano classificar, seguindo algum padrão, os
diferentes objetos, animados ou inanimados, que o cercam e que estão presentes no
meio em que vive (KRIPKE, 2012). No âmbito científico-biológico, deseja-se por
ordem e estabilidade no caos e na confusão no reconhecimento das milhares de
formas de vida do planeta, que só serão alcançadas através da categorização de
todas as formas de vida, de forma que seja possível visualizar o cenário composto
por todos os seres (CORLISS, 1964).
Aristóteles (ca. 350 aC), filósofo grego fundador da filosofia ocidental, é
reconhecido como o fundador das ciências como uma disciplina e como um dos
primeiros humanos a classificar os seres utilizando um critério de cunho "científico",
descritivo e categórico. Posteriormente, o reconhecimento do estabelecimento de
princípios e de leis que padronizassem essa prática se deu por volta de 1700, com
Carolus Linnaeus, botânico, zoólogo e médico sueco considerado o "pai da
Taxonomia moderna", pela difusão da nomenclatura binomial e da classificação
científica. Mas, como todo sistema de organização, a Taxonomia também precisa de
uma unidade básica de trabalho. Mas, como definir cada ser como uma unidade, de
forma que possa ser trabalhada? Surgem então as diversas considerações a
respeito de como considerar o que é uma espécie: a ideia de espécie e, com isso, o
problema: como definir tal conceito de forma que seja aceito pelas diversas áreas da
ciência? (KNAPP, 2010).
Sobre a problemática a respeito do critério de definição de o que uma
espécie, denominado de problema espécie, Corliss (1964) explica:
Basta dizer que nenhum conceito até agora emitido sobre 'espécie natural' - quer biológico, genético, fenotípico, morfológico, fisiológico, ecológico, psicológico, filogenético, paleontológico ou tipológico - satisfez as exigências de todos os taxonomistas. E nem há esperança de se ver o dia em que isto acontecerá (CORLISS, 1964, p.62)
11
Desde antes da década de 60 do século passado, a Taxonomia era
denominada como um arranjo dos organismos em diversos níveis, considerando
obrigatoriamente suas características genéticas, fisiológicas, ecológicas e evolutivas,
fato este que não a difere, então, da sistemática (CORLISS, 1964). No entanto, há
autores que defendem a Sistemática como a ciência que estuda a classificação,
identificação e nomenclatura dos organismos. Do grego syn e histanai, significa
"colocar com", "juntar", sem dar uma ideia de precisão, padrão, ao passo que o
termo "taxis" e "nomos" (Taxonomia), significando "dispor segundo um princípio",
confere maior precisão e é, portanto, a palavra mais adequada para representar
essa área da Biologia (JOLY, 1985).
É para ela que o conhecimento e informações provenientes dos demais ramos
da biologia convergem, culminando numa integração de dados e hipóteses para
melhor compreensão, síntese e organização de fatores que são usados na
formulação de critérios de classificação e de identificação dos organismos de
natureza biológica (HENNIG, 1950; JOLY, 1985). Então, a Taxonomia tem como
principal tarefa, definir o que são os diferentes organismos do planeta, viventes ou
não, de forma que seja possível uma identificação deles em diferentes
circunstâncias de classificação (MATEUS, 1989).
É impossível entendermo-nos nos níveis biológicos sem a organização de um
sistema de ordenação nesses estudos, que culminam na representação sintética
desses níveis. Além disso, vale ressaltar o crescente número de espécies e as
múltiplas designações que estas apresentam, além do nome considerado válido
(MATEUS, 1989). No entanto, deve-se considerar todos os grupos com o mesmo
peso, ao invés de voltar toda a atenção para o mais recentemente definido (MAY,
1990).
Inicialmente, pretendia-se, através da Taxonomia, estruturar arranjos que
facilitassem a identificação e o enquadramento dos seres vivos em um sistema de
classificação. Para tal, bastava a partir do exame de um organismo, eleger uma
característica, seja essa presente ou ausente no objeto de estudo, que servisse para
enquadrá-lo em um grupo sintético. Formavam-se assim os sistemas, quadros
classificatórios a partir de uma característica escolhida arbitrariamente, que serviu
para denominar a atual área da Sistemática (MATEUS, 1989).
No entanto, a Taxonomia se manteve como a integração do conhecimento de
todos os campos da biologia, capaz de definir e relacionar os grupos de organismos,
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mostrando semelhanças e diferenças entre eles. Biólogos que atuem em outros
ramos muitas vezes impõem ideias que vão de encontro com essa premissa, seja
por desconhecer o rigor das regras taxonômicas ou por não saber aplicá-las no seu
campo de atuação, gerando incoerências e agravando o problema de definição do
termo espécie (MATEUS, 1989).
Sobre discussões com relação à esse entrave que durou por gerações,
Simpson (1989) afirma: "O mundo está tão cheio de seres diversos - que se pode
tornar extremamente, até desesperadamente, confuso" (SIMPSON, 1989, p.6). Se
cada um dos organismos fosse considerado como único, um ser, em si próprio não
relacionado a qualquer outro, a compreensão que temos de mundo dissociar-se-ia
numa completa falta de expressão.
Reitera-se, nessa passagem, a necessidade de agregar diferentes conceitos
em classes como uma característica absolutamente geral dos seres vivos, ainda que
sem aplicação, porém, com atos de generalização (KRIPKE, 2012). Como exemplo
temos a ideia de 'árvore'. Se cada uma fosse considerada como um indivíduo único,
isolado, não poderia ser uma árvore, pois essa é a designação à uma generalização
humana, que engloba diversos vegetais diferentes para formar a mesma ideia e,
portanto, possui diversas representações aceitas. Dessa forma, Kripke (2012)
confirma a importância de associações no comportamento inteligível dos seres.
Associação por contiguidade ou por semelhança são as duas formas mais
exclusivas da espécie humana, dada o modo como ordenamos as percepções que
temos do mundo exterior. Esses tipos de associação permitem uma percepção mais
completa, persistente e consciente que em qualquer outro ser vivo conhecido. Elas
alcançaram incomparáveis máximos de intensidade e diversidade na espécie
humana (SIMPSON, 1989).
A primeira diz respeito à relação funcional e estrutural entre seres, com base
em terminologias da psicologia. Nesse caso, as semelhanças entre os envolvidos
são irrelevantes, por exemplo, a relação entre um coelho e a raposa que o persegue.
Já a associação por semelhança, diz respeito ao agrupamento entre seres com base
em características em comum. Essa forma é a base da linguística e de outros
sistemas simbólicos usado na construção de definições, como na Taxonomia
(SIMPSON, 1989; KRIPKE, 2012).
Pode-se então fazer uma alusão à Taxonomia em três fases, de acordo com
Corliss (1964): a fase alfa, caracterizada pela identificação e denominação de novas
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espécies, sendo uma etapa puramente descritiva; a fase beta, que compõe a
incorporação de fatores filogenéticos na construção dos esquemas naturais de
classificação e, por último, a fase gama, com a centralização do interesse na
pesquisa (com foco em evolução e filogenia), selecionando os grupos capazes de se
prestarem ao estudo experimental. Naquela época (1960), tratar de taxonomia
implicava em refinar técnicas e instrumentos de classificação. Dessa forma, as
técnicas de análise foram multiplicadas e refinadas, ideias convencionais de
filogenia foram revisadas e, quando necessário, reformuladas e novas ideias foram
promulgadas (CORLISS, 1964; MATEUS, 1989).
Além disso, hipóteses genéticas e evolucionistas foram aplicadas de forma a
que todas as fases - alfa, beta, e gama - fossem atingidas e melhoradas por esse
refinamento (CORLISS, 1964). Dessa forma, o estágio alfa adquiriu uma nova
concepção, focando mais nas populações do que nos indivíduos em si, alterando
também, a forma como os dados de estudos comparativos (bioquímicos, anatômicos
e etc.) são analisados, tornando tais pesquisas mais integrativas. No entanto, esse
reconhecimento de variabilidade morfológica e fisiológica em espécies (espécies
polimorfas) levou a uma drástica redução do número total de espécies de certos
grupos (CORLISS, 1964).
O estágio beta, por sua vez, teve suas hipóteses aplicadas em evolução e
filogenia, ao invés do abandono de tais ideias por serem puramente teóricos, sem
aplicação direta na fase alfa. Com isso, os diagramas tidos como filogenéticos e
genealógicos poderão ter aplicação para validar os prognósticos posteriores. Nessa
época, houve também muitas outras publicações que apresentam discussões sobre
problemas e conceitos taxonômicos, estimulados pelos simpósios de comemoração
do bicentenário da publicação da décima edição do Systema Naturae, de Lineu,
coincidindo com o centenário de A Origem das Espécies, de Darwin (CORLISS,
1964).
Em relação à fase gama, da evolução dinâmica com foco em subdivisões da
espécie, progrediu com base no refinamento dos métodos de estudos de populações
naturais, anteriormente citado, que culminou na criação do campo da genética
populacional como componente curricular integrante e independente na formação do
biólogo, sendo possível uma especialização formal na área (CORLISS, 1964). Mas o
problema de espécie persistira.
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A comunidade científica pensou, então, no uso de métodos diferentes, como
nas fases - alfa, beta e gama - mas com aplicações diferentes e partindo de
unidades básicas distintas. Na taxonomia clássica, a ênfase é dada à espécie como
unidade central, conceituando-se sua posição na hierarquia dos organismos. Para
alcançar tal objetivo, a morfologia externa é o ponto fundamental para distinção dos
caracteres em estudo. Com isso, as vezes apenas as características presentes em
um único exemplar são consideradas para representar a espécie. Esse sistema
requer um profissional experiente e ocupa muito tempo do taxonomista para
descrever um táxon com representatividade considerável (CORLISS, 1964).
Naquela época, já havia taxonomistas que consideravam populações e
subespécies como unidades centrais, priorizando raças biogeográficas em
detrimento das espécies. Dessa forma, o profissional conseguia conceituar espécie
de forma dinâmica, considerando polimorfismos, uma vez que estudavam-se fatores
ecológicos, ontogênicos, genéticos e comportamentais (CORLISS, 1964).
Atualmente, ainda ocorre o refinamento da Taxonomia, na tentativa de mitigar o
problema da denominação "espécie', direta ou indiretamente. Segundo Amorim
(2002), a Taxonomia em sua totalidade possui vertentes, denominadas de escolas
taxonômicas. O eixo para tal divisão são as diferentes bases lógicas e filosóficas e,
consequentemente, os significados de táxons e os métodos empregados para
denominá-los. O autor considera cinco linhas principais: essencialista, catalagórica,
fenética, gradista e filogenética.
Fundamentada na primeira linha, essencialista, a Escola Lineana segue a
lógica aristotélica e, portanto, a ontogenia essencialista, na qual, acredita-se que
existam essências que podem ou não ser compartilhadas por uma ou mais espécies.
Portanto, reunir táxons significa indicar a existência de essências compartilhadas
entre eles (AMORIM, 2002).
A Escola Catalogatória, fundamentada na linha de mesmo nome, é
considerada como uma prática descompromissada de determinados taxonomistas.
Isso se deve ao fato do desinteresse de muitos taxônomos em conhecer e
considerar a evolução biológica, assumindo que o objetivo se resumiria em propor
sistemas de classificação que sejam úteis (AMORIM, 2002). Esses sistemas não
passariam de meros catálogos de espécies, sem conexão obrigatória com os
processos que resultam na diversidade de organismos e suas características. Não
há espaço nem fundamentação para se discutir a ontologia, pois essa prática seria
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considerada como uma mera ferramenta operacional, não constatando-se quaisquer
relações com processos evolutivos e seus padrões.
A Escola com base na linha Fenética é denominada taxonomia numérica, e
possui como enfoque as operações numéricas extensas e análises de semelhanças
médias (para um conjunto grande de caracteres) entre espécies. A proposição dessa
vertente à Taxonomia foi influenciada por fatores diferentes na época em questão
(1960), como a dificuldade em lidar com os padrões aparentemente incongruentes
da evolução (essas operações e análises explicavam certos padrões). Outros fatores
de grande influência foram o subjetivismo da decisão dos taxonomistas tradicionais
(Lineanos e Catalogatórios) que criavam ou desfaziam táxons sem critérios definidos
e o interesse do desenvolvimento de um sistema operacional ágil para as atividades
de identificação taxonômica, possibilitado pelos recursos computacionais disponíveis
(AMORIM, 2002).
A quarta Escola, denominada evolucionista, também pode ser referida por
sistemática gradista, uma vez que se fundamenta na linha de mesmo nome.
Taxonomistas dessa escola, têm a intenção declarada de trabalhar com o
conhecimento sobre a história filogenética. Dessa forma, a classificação seria um
reflexo das relações filogenéticas entre táxons, porém, esses reflexos não devem
ser inequívocos, nem aprofundados; devem ser levados em consideração
exclusivamente informações de parentesco do atual objeto de estudo, abordando
apenas uma visão generalizada da ontogenia e história evolutiva do grupo
(AMORIM, 2002).
A escola ou sistemática filogenética, baseada na linha de mesmo nome, parte
da premissa de Hennig (1950) de que as classificações biológicas devem ser
reflexos inequívocos do que se sabe das relações de parentesco entre os táxons
estudados. Dessa forma, o leitor que tivesse acesso à classificação filogenética,
teria também a filogenia proposta para tal grupo (AMORIM, 2002).
A Taxonomia nessa visão é, ao mesmo tempo, a parte mais elementar e
pertinente da biologia (SIMPSON, 1989; SMITH, et al., 2011), e dessa forma,
admite-se seu caráter de reunir diversas informações de diferentes tipos de
conhecimento e de traduzir conceitos diversos para que seja acessível à
comunidade científica, em um primeiro momento. Frente a esse caráter definido por
regras, organização própria e aplicação partindo de princípios estabelecidos em
consenso por uma comunidade e, visando a troca facilitada de informações, de
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símbolos e de permutação de pensamentos, permite denominá-la como uma forma
de linguagem (SACKS, 2013; KRIPKE, 2012).
Não poderia haver nenhuma linguagem inteligível se cada objeto e percepção
tivessem sua própria e única designação, nem ideia racional se símbolos não
generalizassem características e relações comuns de diferentes objetos (SIMPSON,
1989). Dessa forma, admite-se a tradução de percepções em símbolos, específicos
para cada linguagem (SACKS, 2013). Nesse sentido, é possível a tradução das
percepções da Taxonomia para além da comunidade científica, em um segundo
momento. Isso só é possível após o primeiro momento já explicado, no qual a
comunidade científica se apropriaria dos conceitos contemplados na área. Dessa
forma, o profissional em questão estaria capacitado para atuar como divulgador
científico (SMITH, et al., 2011).
No entanto, devido em parte pela concepção restrita da Taxonomia pelos
próprios profissionais, poucas das colaborações dessa área, principalmente de
cunho social, são difundidas; sempre são lembradas as regras de nomenclatura e
formalidades que devem ser seguidas e os principais benefícios que essa área
proporciona são focados para a comunidade científica, sem nem ao menos
mencionar os benefícios para o público em geral (KNAPP, 2010; SMITH et al.,
2011).
Com isso, a Taxonomia é considerada como uma parte estática de alguns
ramos, como Zoologia e Botânica, o que restringe ainda mais a concepção em
relação às consequências de trabalhos na área, tornando-as praticamente
exclusivas à comunidade científica, quando a realidade deveria ser o contrário:
impactos em diversas esferas da sociedade. Assim, o taxonomista atual deve ser um
cientista de campo e laboratório, além de trabalhar integrado a grupos com outros
conhecimentos de outros ramos, utilizando portanto a metodologia inerente a cada
um deles, remetendo às escolas taxonômicas citadas anteriormente (PIRANI, 2005;
AMORIM, 2002).
Estudos prévios mostraram os impactos de pesquisas envolvendo Taxonomia
através de alguns casos, como a correta identificação de alguns organismos
contribuindo na área da saúde e economia, como por exemplo identificando insetos
vetores e pragas, na solução de epidemiologias e implementação de políticas de
controle (SENNA; MAGRIN, 1999; SMITH, et al., 2011).
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Com relação à área da saúde, há o caso da criação do reservatório de
Yaciretá, no rio Paraná, que afetou significativamente a fauna e flora da região
devido ao alagamento da área, e após uma cheia, extravasou um volume
considerável na selva marginal do Paraná, o que propiciou o surgimento de
criadouros de hematófagos vetores de doenças. A amostragem e identificação da
época revelou a presença de 58 espécies, das quais apenas uma era espécie
vetora. O governo Argentino não tomou nenhuma providência (SMITH, et al., 2011).
Após diversos surtos em comunidades próximas, revisaram a identificação dos
hematófagos amostrados e revelaram que, na verdade, cinco eram espécies vetoras
de importância epidemiológica. Dentre essas espécies, duas transmitem malária,
outras duas tem potencial para transmissão de febre amarela e dengue, e uma
considerada principal transmissora de filariose. Após essa apuração e mudança da
avaliação de risco, foi implementado um programa de controle que minimizou a
ocorrência de novos casos nas comunidades estudadas (SMITH, et al., 2011).
Já com relação à impactos socioeconômicos, a classificação correta de pragas
foi muito benéfica para plantações, determinando a profilaxia adequada e
protegendo safras inteiras para exportação. Um caso relatado em plantações de
café no Quênia demonstra as consequências da falta de conhecimento na área.
A plantação sofreu a introdução de uma Pseudococcus lilacinus, identificado de
forma equivocada como P. citri. Por 15 anos, essa idenficação incorreta danificou a
região, com a introdução de predadores não adequados, que desequilibraram toda a
ecologia da área, fora o excesso de pesticidas e o custo crescente para esse
controle químico e desenvolvimento de novas fórmulas. Ao longo desses anos, pelo
menos 10% das safras eram completamente perdidas como consequência desses
fatores (SMITH, et al., 2011).
Após correta identificação da Pseudococcus lilacianus, foi possível erradicá-la
com predadores naturais, porém, o dano já fora causado e a região conta com
espécies invasoras introduzidas como tentativa desse controle biológico (SMITH, et
al., 2011).
Houve relatos do auxílio da taxonomia na área de toxicologia, uma vez que a
correta identificação do exemplar pode ser crucial na determinação da composição
do veneno, uma vez que varia de espécie para espécie. Muitas complicações, que
por vezes resultou em óbito, se deve ao fato da identificação incorreta do exemplar
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peçonheto ou venenoso envolvido no acidente, levando ao uso de outro soro, que
pode ser ineficaz (SMITH et al., 2011).
Um biólogo que eventualmente trabalhe com identificação e que não pratique
uma "boa" identificação dos organismos-alvo do estudo não consegue aplicar
diversos índices de diversidade e similaridade no tratamento de riqueza de espécies
e biodiversidade, comprometendo os resultados e a validade do projetos, além das
consequências socioambientais citadas anteriormente, de introdução de espécies
invasoras e demais consequências devastadoras se tais pesquisas envolverem
políticas de intervenção ou até a determinação de áreas de proteção e preservação
dificultada ou inviabilizada (SENNA; MAGRIN, 1999)
Além disso, tanto a área de conservação quanto a de identificação sofrem
limitações de fomento e de mão de obra, o que pode ser solucionado com um maior
reconhecimento da taxonomia, valorizando trabalhos na área (MACE, 2004).
Com esse panorama da Taxonomia explicado, nota-se grande relevância e
contribuição, direta e indireta, em diversas esferas e áreas de conhecimento. Isso
confere uma grande importância para a capacitação de profissionais na área, ou
seja, deve-se preocupar com a formação de biólogos com essa capacitação, que
deveria ser um tópico intrínseco e integrante do biólogo, não só pelas
consequências desse conhecimento, mas pela contribuição da Taxonomia e sua
trajetória ao longo da história da ciência (KNAPP, 2010).
Isso remete ao ensino de biologia, principalmente no curso de graduação
dessa área. Atualmente, não só o ensino superior, mas também médio e
fundamental, são baseados em uma abordagem tradicional, na qual temos a postura
do professor como detentor de todo o conhecimento, único sujeito na relação
professor-aluno (FREIRE, 2010).
Além disso, nessa perspectiva acredita-se apenas na transmissão do
conhecimento; considera-se o bom aluno é aquele que reproduz o mais idêntico
possível o que lhe foi mostrado. O aluno é comparando à uma tabula rasa capaz de
gravar e reproduzir o que lhe foi transmitido, sem espaço para questionamento ou
reflexão (MIZUKAMI, 1986).
Peralva e Sposito (1997) ressaltam que o problema em relação ao conteúdo
nesse esquema de ensino não é somente quantitativo, mas qualitativo também, pois
o aluno não consegue assimilar as informações novas. Isso é dito também por Mira
(2006), pois não há uma preocupação em se levantar o que ele já sabe sobre o tema
19
para tomar como ponto de partida de uma explicação nessa abordagem, de forma
que o conteúdo é apresentado de forma descontextualizada para o aluno. Silva
(2010) ratifica outra complicação desse processo tradicional, na qual o aluno pode
acabar gravando e reproduzindo apenas as metáforas e comparações feitas para
exemplificar, e não a definição real do conceito estudado.
Ora, não faz sentido ensinar Taxonomia em sua real dimensão a partir dessa
abordagem. Calor e Santos (2004) criticam essa abordagem no ensino de ciências,
no geral. Para eles, a importância da filosofia nesse ensino tem sido há muito
negligenciada.
Discussões de pensadores como Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend
sugerem abordagens de ensino que rompam com o tradicional caráter linear e
atemporal do ensino, que abordem sob uma ótica mais dinâmica o processo de
ensino e aprendizagem, o que vai de encontro com os Parâmetros Curriculares
Nacionais, uma vez que apresentaria o conteúdo em um contexto histórico-filosófico
(CALOR; SANTOS, 2004).
Esse rompimento com o caráter tradicional se daria em parte pela concepção
de que qualquer conceito nas ciências é passível de questionamento e pode ser
modificado (CALOR;SANTOS, 2004; LEWONTIN, 2000). Nessa perspectiva,
trabalhar a partir da consideração da existência de inúmeras ideias conflitantes seria
uma maneira de introduzir os alunos ao mundo científico. Dessa forma, o ensino de
biologia pode ser considerado um exercício constante de avaliação e discernimento
de hipóteses científicas ao invés da imagem tradicional, equiparando ciência à uma
ferramenta, um objeto neutro (CALOR; SANTOS, 2004).
Ao invés de uma ferramenta, a Ciência é uma instituição social e que, como tal,
tem valores sociais e históricos, não sendo, portanto, neutra. Um fato verdadeiro
para a ciência ontem, hoje pode já não ter validade, pois a "verdade", construída
pela ciência, também tem valores históricos e culturais, uma vez que é uma
produção humana. A Ciência, portanto, não é absoluta, tampouco suas vertentes o
são, o que torna incoerente ensiná-la em abordagens de epistemologia empirista,
como o atual ensino tradicional (LEWONTIN, 2000).
Em abordagens de ensino fundamentadas na epistemologia interacionista, a
concepção do processo de ensino e aprendizagem compactua com essa forma de
ensino proposta. No entanto, esse envolvimento é influenciado pelas diferentes
20
concepções de cada abordagem, o que resulta em diferenças metodológicas, por
exemplo (MIZUKAMI, 1986; FREIRE, 2010).
Ao contrário da abordagem tradicional, fundamentada na epistemologia
empirista, na abordagem cognitivista (MIZUKAMI, 1986), o processo de ensino e
aprendizagem seria construído, uma vez que o conhecimento é produto da interação
ente docentes e discentes; o professor não é o detentor de todo o conhecimento,
conferindo aos estudantes papel de sujeito na relação professor-aluno (FREIRE,
2010).
Com isso, há espaço para reflexão e questionamento ao invés da postura
passiva de receptor de informações (MIZUKAMI, 1986), além de ter a preocupação
por parte do docente de contextualizar o conteúdo ensinado. Esse reconhecimento
do aluno como participante ativo é fundamental, tendo como base a interação entre
professor e aluno, ambos com papel de sujeito, desconsiderando concepções
inatistas. Portanto, o professor deve problematizar e atuar como mediador,
perguntando de forma a explorar várias características e tomando como base os
conhecimentos prévios do aluno sobre o tema (MIRA, 2006; MIZUKAMI, 1986).
Essas abordagens levam em consideração o contexto histórico em que o
homem se encontra. A partir da reflexão e compreensão dele sobre esse contexto é
que ele se torna sujeito, o que remete à ideia de Mauri (2006) na qual é fundamental
levar em conta dois pontos em especial: qual o sentido que o conteúdo novo tem na
vida do aluno, ou seja, qual a relevância desse conhecimento para ele e, não menos
importante, qual o meio cultural em que o aluno está inserido, ou seja, quais os
símbolos culturais relacionados à sociedade na qual o aluno vive.
Esses símbolos devem ser não só entendidos, mas passíveis de aplicação
por parte do aluno. Para isso, é imprescindível que o aluno domine-os, relacionando
o que já se sabe com esses conteúdos, atingindo novos graus de significados. Isso é
alcançado pela mediação do professor, auxiliando o aluno na atribuição desses
novos significados, por isso a importância de instigar o aluno para que ele pergunte,
questione determinado conteúdo e compare com sua própria concepção sobre ele.
Esse raciocínio é explicado por Mauri (2006) através da relação entre esquemas de
conhecimento e estruturas cognitivas.
21
Os esquemas de conhecimento são tudo aquilo que o indivíduo já sabe, ou
seja, suas definições pessoais de conceitos já vistos. Esses esquemas diferem de
pessoa para pessoa, pois além das diferenças na vivência e experiência, há a
diferença nas interpretações (MAURI, 2006).
Esses esquemas estariam relacionados entre si, formando uma "teia". Essa
relação é denominada de estrutura cognitiva, sujeita à reestruturação sempre que há
um novo esquema de conhecimento ou uma modificação em um já existente. Essa
reestruturação requer um conflito de ideias, um desequilíbrio nos esquemas para
posterior restauração do equilíbrio, ou seja uma reorganização para atribuição de
significados mais profundos, demonstrando maior propriedade do aluno sobre o
tema (MAURI, 2006).
Esse desequilíbrio provém da atuação do educador, que deve levar em conta
as concepções prévias (CARVALHO, 1998; MIRA, 2006), ao passo que o
reequilíbrio provém do aluno, ainda que o educador auxilie. Portanto, nessa
abordagem, a aprendizagem é processual, uma situação de constante
aprofundamento, adquirindo propriedade, ao passo que, para a abordagem
tradicional, a aprendizagem era a habilidade de repetir e copiar os conteúdos
(MIZUKAMI, 1986; MAURI, 2006; FREIRE, 2010).
Dessa forma, ao apresentar o conhecimento científico como dinâmico e não
absoluto, o professor é capaz de trazer a filosofia da ciência para dentro da sala de
aula, especialmente sobre a natureza transitória das teorias e a importância do
criticismo em relação aos métodos e hipóteses. Os alunos são estimulados a utilizar
a argumentação para escolher entre hipóteses diferentes e, por vezes, antagônicas,
ultrapassando a mera assimilação de conteúdos conceituais e factuais, conferindo
sucesso no processo de ensino e aprendizagem (MIZUKAMI, 1986; CALOR;
SANTOS, 2004; FREIRE, 2010).
3. MÉTODO
3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
22
A pesquisa qualitativa e quantitativa se baseou na consulta aos alunos e alunas
regularmente matriculados nos cursos de licenciatura e/ou bacharelado em Ciências
Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e professores e professoras
com regência em pelo menos uma disciplina do curso citado. Ao todo foram
analisados seis questionários respondidos por professores e 30 de alunos,
totalizando 36 participantes.
3.2. INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTO
Foi aplicado um modelo único de questionário com questões abertas (GIL,
1999) (Apêndice A), enviado via internet tanto aos alunos, quanto aos professores
que responderam por e-mails. As questões são dissertativas e foram compiladas e
analisadas subjetivamente.
Visando um maior número de sujeitos de pesquisa, o questionário foi também
disponibilizado aos professores do curso e alunos através da divulgação em um
grupo em rede social, anexado a uma mensagem explicando o tema do trabalho,
propósito do questionário e reiterando o termo de consentimento livre e esclarecido
de acordo com as normas estabelecidas pela Comissão Interna de Ética da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Foi divulgada também uma data limite para a devolução das respostas pelos
participantes para que os resultados pudessem ser organizados e analisados.
Para cada uma das questões foram elaboradas categorias nas quais as
respostas de cunho subjetivo dos participantes pudessem ser analisadas e
agrupadas dentro nestes padrões categorizados. A descrição das categorias criadas
vem a seguir.
As categorias propostas para enquadrar as respostas com relação à primeira
questão constaram de apenas duas possibilidades: sim ou não. Na compilação das
respostas dos alunos, há a categoria 1 Semestre, para contemplar as respostas dos
alunos recém ingressados que não tiveram a oportunidade de cursar o componente
curricular exclusivo para a Taxonomia na graduação e, portanto, comprometeriam a
amostragem nesse ponto.
Para a segunda questão, foram consideradas as categorias: pouco importante
(se fosse relacionada a uma ideia restrita ou ao simples fato das normas de
23
nomenclatura) e muito importante (se relacionasse a Taxonomia a mais de uma área
da biologia, de forma que ficasse claro uma contribuição direta).
Para a organização das respostas na terceira questão, foram considerados
como categorias os nomes de todas as áreas das Ciências Biológicas mencionadas
nas respostas dos participantes: Zoologia, Botânica, Microbiologia, Evolução,
ZooGeografia, FitoGeografia, Ecologias, Parasitologia, Paleontologia, Sistemática,
Etologia, Fisiologia (entende-se a humana, vegetal e animal comparada), Genética,
Dinâmica Populacional. Os que não responderam, alegaram não saber, portanto há,
também, a categoria Não Sabe. Além disso, como muitos responderam que todas as
disciplinas envolvem a Taxonomia, mesmo que em níveis diferentes, há uma
categoria denominado Todas.
Na quarta, quinta e oitava questões, a criação das categorias dependeu da
interpretação das respostas, de forma à minimizar generalizações e possíveis
distorções nas respostas, similar ao método de análise da questão dois. As
categorias organizadas para a quarta questão são: Políticas de Conservação,
englobando respostas que abordassem temáticas como conservação, tanto de fauna
quanto de flora, recuperação e criação de áreas de proteção; Valorizar Diversidade,
abrangendo as respostas que referissem a temáticas como levantamento de fauna e
flora, quando não atrelados à conservação, mas sim a elaboração de catálogos e
literatura específica. Se esses levantamentos estivessem relacionados com uso
sustentável de recursos e controle biológico para equilíbrio de ecossistemas, se
enquadram na categoria Sustentabilidade, juntamente com respostas com menção
direta à área.
Outra categoria criada tem relação com a desmistificação do Antropocentrismo,
ao relacionar Taxonomia com o entendimento da espécie humana sendo apenas
mais uma dentre as demais.
Se tratassem da Taxonomia como sendo relevante apenas por dar
continuidade à demais trabalhos científicos ou afirmar que não há relevância social,
foram compiladas na categoria Restrita à Comunidade Científica. Se, nesse âmbito,
estivesse explícito a ideia de contribuição para divulgação, foram compiladas na
categoria Divulgação Científica. As demais respostas envolviam temas de doenças
negligenciadas, parasitoses, saneamento básico, epidemias, englobadas na
categoria Saúde Pública.
24
Na quinta questão, todas as categorias, tanto de repercussões para a
comunidade científica, quanto no âmbito socioeconômico foram compiladas no
mesmo gráfico. As categorias são: Insustentabilidade, se as respostas citassem
problemas no manejo de recursos;
Problemas em Pesquisas Subsequentes, se explicitassem
consequências restritas à continuidade de linhas de pesquisas;
Impactos Socioambientais ou Consequências Socioeconômicas, quando
deixam claro repercussões dessa natureza;
Erro Biodiversidade, quando não especificaram consequências da
identificação errada;
Inflação Taxonômica, quando referiu-se à tal ideia;
Ainda nesse âmbito restrito à comunidade Científica, foram observadas
respostas que remetessem à ideia de invalidação de Hipóteses, que foram
contempladas na categoria de mesmo nome.
Outra categoria criada foi Contra Populações Problema, se abordassem efeitos
negativos em relação às ideias da temática de controle de pragas e vetores de
doenças. Quando as respostas mencionavam doenças desatreladas dos vetores e
meios de contração ou complicações médicas, foram contempladas na categoria
Consequências Médicas. Por último, foi criada a categoria Nenhuma, para aqueles
participantes que não souberam responder ou acreditam que não há consequências.
Já na questão oito, que seguiu esse mesmo padrão de análise, as categorias
criadas são:
Não, se a resposta abordasse a ideia de que a Taxonomia deveria ser
trabalhada apenas após a graduação;
Valorização da Taxonomia, se contemplassem ideias de que a área teria
maior reconhecimento, fomento ou prestígio;
Êxito na Área Ambiental ou na Área da Saúde caso fosse explicitado
que haveria mais sucesso em pesquisas, dependendo do ramo
contemplado;
Maior Divulgação Científica, quando citaram como consequência de um
melhor conhecimento de Taxonomia durante a graduação, o aumento de
literatura de natureza de divulgação científica;
Não Soube, contemplando as respostas de quem não soube opinar.
25
Na questão seis, não houve uma comanda que delimitasse um limite máximo
de respostas, apenas um mínimo, o que levou à elaboração de um gráfico que
contemplasse todas as respostas e indicasse a frequência de cada uma nas
diferentes categorias pré-estabelecidas, com base na relevância. Como algumas
respostas sempre apareceram em conjunto com outras, sem exceção, foi possível
criar categorias que englobassem mais de um componente curricular, por exemplo
Botânica, Zoologia e Ecologia formando uma única categoria, Matérias Específicas
para o Ser Humano formando outra, que contempla Anatomia Humana, Fisiologia
Humana e Genética Humana e Química e Física formando uma terceira.
Nos demais casos, nos quais não foi possível agrupar diferentes
componentes, há uma categoria para cada um dos componentes citados, que são:
Biotecnologia, Saúde, Biogeografia, Evolução, Genética, Filosofia e História da
Ciência, Matérias da Licenciatura, Epidemiologia, Embriologia, Bioética, Dinâmica
Populacional, Imunologia, Etologia, Museu, Paleontologia, Sistemática, Fisiologia,
Biologia Molecular, Biossegurança e Anatomia.
Fez-se necessário a criação da categoria Não Consegue para contemplar as
respostas em que os participantes alegavam não se sentir confortável ou não julgar
uma área em que seja Nula a relevância da Taxonomia.
Na sétima questão, foi necessário separar a resposta em duas partes, afim de
se ter uma análise mais precisa. A primeira parte foi separada em duas categorias
Sim e Não, para os que já trabalharam em uma área que envolvesse taxonomia ou
nunca trabalharam, respectivamente. A segunda parte, aborda as justificativas dos
participantes: aos que nunca trabalharam, as categorias são Falta de Interesse ou
Proposta Melhor e aos que já trabalharam, as categorias remetem à ideia da
necessidade ou não de se realizar um aprimoramento, independente da natureza
(curso extra, oficina, treinamento etc.), são elas: Aprimoramento ou Aprimoramento
Desnecessário. A primeira engloba as respostas que explicitaram a necessidade de
se ter um aprimoramento como uma capacitação imprescindível ao passo que a
segundo aborda todas as respostas que deixaram claro que um aprimoramento era
facultativo, opcional ou até irrelevante.
Para a questão 9, as respostas foram separadas em duas partes, para
posterior análise. A primeira contempla a parte inicial da resposta em: Discorda,
Concorda Parcialmente, Concorda Totalmente ou Não Soube. Já a segunda parte,
26
considera apenas dentre os que concordaram, se a busca por saber como os
organismos se ordenam na natureza teria fim. As respostas foram contempladas nas
seguintes categorias: Acabará, Não acabará e Não Respondeu.
As respostas, após atribuídos nas categorias descritas acima, foram
compilados em gráficos, de modelos diferentes para a adequação dos dados e estes
permitiram a análise dos resultados. Quando se fez necessária a elaboração de
mais de um gráfico por questão, o enunciado foi separado para melhor visualização
dos dados. O mesmo questionário foi aplicado para todos os participantes, mas a
compilação dos resultados foi dividida de acordo com o perfil dos participantes,
formando duas seções distintas: o que os professores pensam e o que os alunos
pensam.
Em ambas as seções há o enunciado das questões do questionário modelo
(Apêndice A) e os questionários respondidos, de professores e alunos, foram
compilados e anexados sem identificação nominal, de acordo com as normas da
comissão interna de ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à questão um (Figura 1), 50% dos professores alegou não ter um
componente curricular exclusivo para o ensino de Taxonomia em sua graduação, no
entanto, um dos professores respondeu: "Taxonomia não, mas de sistemática sim".
Levando em consideração o que Amorim (2002) explica sobre a Taxonomia e suas
ramificações (taxonomias e sistemáticas), pode-se afirmar que se trata de uma frase
incoerente e até contraditória, uma vez que ambas estão intrinsecamente
relacionadas.
Figura 1: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à questão
1.
50%
50%
Você teve algum componente curricular dedicado exclusivamente para a taxonomia na graduação?
Sim
Não
27
Na década de 60, Corliss (1964) já discutia essa ramificação entre taxonomia
e sistemática, e deixava claro que usou Taxonomia e Sistemática como sinônimos
perfeitos intercambiáveis em sua obra. No entanto, Joly (1985) medeia a transição
desse pensamento de 1960 à atualidade, esclarecendo que a Taxonomia é o termo
mais adequado ao se tratar dessa área do conhecimento, pois concebe maior
precisão e retrata de forma mais clara seu panorama e suas aplicações. Isso não só
justifica o título desse trabalho, como expõe um dos pontos problemáticos no ensino
da Biologia: a concepção dos professores em relação à Taxonomia.
No que diz respeito às demais respostas, todas envolvem o trabalho indireto
em outros componentes curriculares, como Zoologia e Botânica, mas com
aplicações exclusivas nessas áreas, o que faz o graduando perder noção (se é que
um dia a teve) das aplicações da Taxonomia nos mais variados campos que a
Biologia proporciona. Contudo, fica claro que alguns professores enxergam uma
relação com as demais áreas nesse curso de graduação.
Em relação as respostas dos alunos (Figura 2), 17% dos participantes afirmou
que não teve e nem menciona Fundamentos da Sistemática, componente curricular
obrigatório na graduação de biologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Vale
ressaltar que os dados referentes de participantes do primeiro semestre não foram
computados no 'SIM' e 'NÃO' representados no gráfico, uma vez que eles não
cursaram a disciplina ainda e não poderiam recordar de tal oportunidade. Contudo,
nota-se que para alguns alunos, o componente curricular citado não tem relação
com Taxonomia.
Figura 2: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à questão 1.
73% 17%
10%
Você teve algum componente curricular dedicado exclusivamente para a taxonomia na graduação?
Sim
Não
1 Semestre
28
A segunda questão deu liberdade para que o participante discorresse sobre o
tema, para que pudesse argumentar e expor suas opiniões acerca da relevância do
ensino da Taxonomia. Mais de 80% dos professores (Figura 3) deixou claro que há
uma importante relevância do ensino da taxonomia na graduação, uma vez que, em
sua visão, contribui para a aprendizagem da história das ciências biológicas, auxilia
diretamente na compreensão de aspectos relacionados à evolução e não só
aumenta a visão do graduando quanto aos campos de atuação, como propicia um
melhor preparo para o exercício profissional, principalmente em estudos ecológicos
e ambientais.
Figura 3: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à questão
2.
Figura 4: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à questão 2.
83%
17%
Qual a importância do ensino da Taxonomia na graduação?
Muito Relevante
Pouco Relevante
34% 66%
Qual a importância do ensino de Taxonomia na graduação?
Muito Relevante
Pouco Relevante
29
Com relação à história da ciências biológicas, não há divergências de
opiniões, uma vez que a Taxonomia é uma das áreas pioneiras do campo, e de
grande debate desde Aristóteles (ca. 350 aC), Linnaeus, Hennig, Mayr e outros
cientistas que, visando o refinamento da área, geraram reconsiderações,
reformulações e discussões, o que repercutiu em novas áreas de atuação
profissional do biólogo (KNAPP, 2010).
Além disso, por se tratar da ciência responsável pela concepção, nomeação e
classificação dos objetos de natureza biológica (HENNIG, 1950; LAWRENCE, 1973;
SIMPSON, 1989; SMITH et al., 2011), denota uma necessidade humana, de
classificar objetos (animados ou inanimados) que nos acerca (KRIPKE, 2012).
Outro fator de grande contribuição do ensino de Taxonomia é para a lógica
evolucionista atualmente aceita que, segundo Sepúlveda e El-Hani (2007) pode
ajudar os cidadãos a compreenderem fenômenos de evolução adaptativa,
considerados de grande importância no âmbito social, como a resistência bacteriana
à antibióticos e de pragas agrícolas a inseticidas, ou ainda, as dificuldades
encontradas no controle de pandemias como a AIDS, de modo a auxiliá-los a intervir
em políticas públicas que terão consequências diretas na qualidade de vida. Não
devemos esquecer a contribuição da Taxonomia em conjunto com a paleontologia
no embasamento do Darwinismo, ainda nesse âmbito evolucionista (SMITH et al.,
2011).
O último fator apresentado, que diz respeito à atuação do biólogo, foi
contemplado direta e indiretamente na discussão dos outros dois fatores levantados,
uma vez que não só a visão de oportunidades de atuação seria ampliada, como
novas habilidades e conhecimentos seriam construídos.
Outro ponto levantado, que remete à ideia da problemática envolvendo a
concepção dos professores é o de que a "a Taxonomia deva ser explorada nas
disciplinas de Zoologia e Botânica. A sistemática, muita mais ampla, deve ter um
componente curricular específico, sem o qual o Biólogo não conseguiria ordenar e
estudar a biodiversidade" A Taxonomia, por si só é a ciência da classificação e
ordenação (LAWRENCE, 1973), e conta com a taxonomia numérica, lineana,
catalogatória e com as sistemáticas gradista ou evolucionista e filogenética
(AMORIM, 2002). Portanto, a sistemática seria uma das ferramentas da Taxonomia,
e não o contrário.
30
Outro ponto de destaque é o de "achar a temática importante, mas não
concordo com a forma como tem sido ensinada". De fato, o atual ensino tradicional
nos cursos de graduações tende a não contextualizar conteúdos e atrelar
conhecimento à memorização (FREIRE, 2010), o que de fato ocorre em inúmeros
componentes curriculares e áreas da Biologia, e a Taxonomia não é exceção.
Atualmente, o ensino desse tema foca na memorização das normas de
nomenclatura e na descrição minuciosa de certos táxons, geralmente. Ainda
segundo Freire (2010), essa forma de ensino aliena e restringe a capacidade
cognitiva dos estudantes, que não são estimulados.
Algumas respostas inesperadas, de certa forma, discutiram a importância da
Taxonomia em si e não a importância de ensiná-la na graduação. Entende-se
inesperadas uma vez que a formação taxonômica de qualidade, propiciará o que foi
exposto, mas, nesse caso, não há distinção entre essa formação ser proveniente da
graduação ou de uma pós-graduação, desconfigurando o alvo da pergunta.
Contudo, pode-se afirmar que o eixo que guiou todas essas respostas foi a
distinção de espécies, tanto para estudos de biodiversidade, conservação e
sustentabilidade. Smith (et al., 2011) engloba todos esses pontos e ratifica a
importância da atuação de taxônomos na área ambiental e suas influências na
esfera socio-econômica.
Destacou-se, em sua obra, a importância da boa formação na taxonomia no
biólogo, assim como um dos participantes afirma nessa questão "Assim o futuro
biólogo deve estar consciente disto e durante a graduação ter desenvolvido
habilidades e competências para tratar de maneira adequada esse aspecto em sua
vida profissional", a fim de evitar erros de classificação que podem comprometer
todo o estudo e uma série de pesquisas subsequentes relacionadas com tal estudo,
culminando em consequências negativas para a população em geral, seja um
prejuízo econômico em uma plantação, surto de populações problemas, ou até um
caso de saúde pública, com vetores de doenças ou administração de soros
ineficazes devido ao erro na identificação de animais peçonhentos (SMITH et al.,
2011). Isso remete ao que é discutido na questão quatro do questionário, sobre
reflexos sociais.
O ponto abordado com maior frequência nas respostas dos professores
(Figura 5) diz respeito às políticas de conservação, seguido da valorização da
biodiversidade, que estão intrinsecamente relacionados. Não se pode preservar sem
31
conhecer o que se está preservando. Para que as medidas e políticas de
conservação instauradas sejam efetivas, deve-se realizar um planejamento levando
em conta toda a biota local, ainda que em meio a toda a diversidade da região,
apenas uma ou duas espécies estejam em risco de extinção. Com isso, deve-se
refletir sobre a elaboração de planos de manejo de reservas e parques ecológicos,
que nem sempre contemplam esses aspectos (MACE, 2004).
Para tal, uma das justificativas amostradas foi a de que "Taxonomia possibilita
a ordenação e troca de conhecimentos, sem os quais não seria possível preservar a
biodiversidade do planeta", que ratifica o que foi discutido até agora.
Esses pontos remetem a outros dois, com menor frequência, mas igualmente
importantes: sustentabilidade e desmistificação do antropocentrismo. O primeiro diz
respeito ao uso consciente, sustentável de recursos naturais, alcançado através do
conhecimento de tais recursos, de avaliações de diversidade, planos de manejo,
políticas de conservação e os demais métodos e procedimentos já explicados
(REGAN et al., 2002).
O segundo está relacionado à interdependência entre as diferentes espécies,
valorização da biodiversidade e ao desenvolvimento da noção do pertencimento da
espécie humana a essa diversidade. A questão que se propõe para essa
desmistificação não é “o que torna o ser humano uma espécie pertencente ao reino
animal?”, e sim “o que torna o ser humano diferente de outros animais?” (PASINI et
al., 2014 apud INGOLD, 1999).
Oliveira (1992) ressalta a importância dos professores não reforçarem esse
egocentrismo dos alunos, propondo questionamentos e debates sobre essas
concepções, pensando no ser Humano como mais um dos seres vivos a habitar este
planeta e que compartilha o ambiente com outros seres, o que vai ao encontro do
que foi respondido: Taxonomia como um meio/forma do ser humano enxergar a si
mesmo como um ser pertencente à diversidade.
Outro ponto de destaque é a afirmação de um dos professores: "Vejo a
taxonomia como ferramenta para estudos ecológicos e de evolução. Por isso, julgo
que projetos nessa área sejam bastante relevantes, embora não tenham um impacto
social direto". Essa afirmação remete novamente à problemática da concepção dos
professores, que não poderiam trabalhar com os alunos a dimensão da Taxonomia
no componente curricular ministrado, tampouco suas aplicações, visto que não
32
consideram-na como produtora de impactos sociais, o que já foi contestado acima.
Dessa forma, essa visão do docente é o que será trabalhado sem, ao menos, citar
demais aplicações taxonômicas (FREIRE, 2010).
Figura 5: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à questão
4.
Nas respostas dos alunos (Figura 6), 29% dos participantes alegaram não
saber responder. A segunda resposta mais frequente (20%) sugere impactos
exclusivos à comunidade científica. Isso denota uma concepção de senso comum,
como se a Taxonomia não passasse de uma ferramenta (JOLY, 1985), o que
compactua com a concepção de alguns professores (Figura 5). Pode-se, então,
aferir que o ensino e a motivação dos alunos não depende do conteúdo em si, mas
sim da concepção do docente sobre o objeto trabalhado, de forma que acaba
influenciando a formação das estruturas cognitivas dos alunos, induzindo a
concepção dos alunos pelo mesmo viés (MAURI, 2006; FALCÃO, 1999).
45%
33%
11%
11%
Qual a relevância social de projetos na área?
Políticas de Conservação
Valorizar Diversidade
Sustentabilidade
DesmistificarAntropocentrismo
33
Figura 6: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à questão 4.
Ainda nesse tópico de concepção e ensino, a questão cinco levantou a
questão do exercício profissional inválido, visando expor o pensamento deles quanto
à uma prática de identificação errada, e as possíveis consequências para a
comunidade científica especificamente, bem como os reflexos sociais. É evidente a
relação entre a formação do taxônomo e sua atuação, no sentido de que a qualidade
de um é reflexo do outro (SENNA; MAGRIN, 1999). As respostas foram compiladas
nos gráficos das figuras 7 e 8.
Dentre a diversidade de respostas, notou-se que alguns dos participantes,
principalmente alunos (Figura 8), não acreditam que tenha alguma consequência,
seja essa positiva ou negativa. Isso é incoerente com o que Knapp (2010) destaca
sobre a história da Taxonomia, bem como problemas gerados pela sua prática
incorreta em diferentes esferas (social e científica), demonstrando que o trabalho
taxonômico impacta não só na comunidade científica, mas na totalidade da
sociedade (SENNA; MAGRIN, 1999).
Essa questão é reiterada por Smith et al. (2011), que complementam com
impactos na esfera econômica, principalmente com problemas no controle de pragas
e seus impactos na área agrícola, apresentando estudos de caso como de
plantações de café que tiveram uma praga identificada errada diversas vezes.
Esse erro levou ao desenvolvimento de um pesticida que, ao ser aplicado,
não foi eficaz em erradicar a população problema alvo, mas causou um desequilíbrio
na fauna local que, em um curto intervalo de tempo, resultou em um crescimento
29%
20% 17%
12%
12%
7%
3%
Qual a relevância social de projetos na área?
Não Soube
Restrita à C. Cient.
Manejo e Conservação
Conscientização Ambiental
Sustentabilidade
Divulgação Cient.
Saúde Pública
34
acelerado da praga, uma vez que erradicou o seu predador natural e devastou uma
proporção muito maior da plantação. Isso, somado ao custo da elaboração e
aplicação de métodos de controle químicos e biológicos, resultou em um
endividamento extremo da indústria de café do Quênia e na introdução de um
parasita Hymenoptera exótico na fauna local (SMITH et al., 2011), o que denota
prejuízo econômico e ambiental grave.
Algumas respostas, principalmente dos professores (Figura 7), podem estar
relacionadas a tais consequências de forma clara e direta, como por exemplo ao
afirmar que a prática incorreta "gera verdades equivocadas" e "inflação taxonômica",
se está dizendo que esse erro será a base de uma cascata com consequências
desastrosas socialmente e cientificamente: desde o "atraso de pesquisas
subsequentes" (36% dos alunos), "extinção de espécies ameaçadas por políticas de
conservação ineficazes" (41% dos alunos) até a "liberação de áreas para pastos,
construção civil e etc.", pois sem ter conhecimento adequado da biodiversidade de
um local, não se conhece suas relações com as demais comunidades humanas e
não-humanas.
Isso resulta numa visão "turva" da interdependência das espécies e,
consequentemente, compreensão superficial do equilíbrio ecológico do local (MACE,
2004, SENNA; MAGRIN, 1999). No geral, o consenso das respostas permeia a
perda de tempo e recursos para "consertar" o erro, bem como atraso e invalidação
de pesquisas, além da mitigação de impactos ambientais.
Outro ponto de destaque é referente às respostas dos alunos (Figura 8), nas
quais 8% dos participantes citaram como consequência da prática indevida a
invalidação de hipóteses, que podem ser relacionadas a alguns argumentos dos
professores (Figura 7), retomando a discussão das influências da concepção do
docente na de seus alunos (FALCÃO, 1999).
35
Figura 7: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à questão
5.
Figura 8: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à questão 5.
Após a discussão dessas questões, espera-se ter um posicionamento
favorável à importância e relevância do ensino de Taxonomia em sua totalidade,
34%
17% 25%
8%
8% 8%
Quais as consequências de uma prática de identificação incorreta de organismos ?
Inflação Taxonômica
Prob. Em Pesq.Subsequentes
Imp. Socio-Amb.
Contra Pop. Problema
Insustentabilidade
Erro Biodiversidade
36%
5%
41%
5% 8% 5%
Quais as consequências de uma prática de identificação incorreta de organismos ?
Prob. em Pesq. Subsequentes
Nenhuma
Prob. de Preserv. e Manejo
Conseq. Sócio-Econômicas
Invalidação de Hipóteses
Conseq. Médicas
36
contextualizada e aplicável em diversas áreas da biologia, que foram contempladas
nos gráficos relativos as respostas da questão 6 (Figura 9 e 10).
Figura 9: Compilação das respostas dos professores em relação à questão 6. O eixo Y representa as
porcentagens referentes à amostragem total desse perfil de participantes ao passo que o eixo X
representa as categorias pré-estabelecidas, com base na relevância.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
R. Alta R. Média R. Baixa R. Nula
Áreas com Relevância Taxonômica Esp. Ser Humano
Química e Física
Biotecnologia
Saúde
Biogeografia
Evolução
Genética
F.H. Ciências
Licenciatura
Bot, Zoo e Eco
37
Figura 10: Compilação das respostas dos alunos em relação à questão 6. O eixo Y representa as
porcentagens referentes à amostragem total desse perfil de participantes ao passo que o eixo X
representa as categorias pré-estabelecidas, com base na relevância.
Nesse mesmo âmbito, a questão 3 possibilitou que os participantes
escolhessem componentes curriculares da graduação que envolvessem a
Taxonomia de alguma forma, segundo a opinião deles (Figura 11 e 12). Dessa
forma, há mais precisão na determinação de quais componentes curriculares podem
abordar a Taxonomia, uma vez que a questão 6 é mais ampla, de forma que
poderiam citar áreas da biologia ao invés dos componentes curriculares, na questão
6.
Com isso, conclui-se que dos 78 componentes da matriz curricular da
graduação de biologia, apenas 16 são citados pontualmente, além dos votos
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
R. Alta R. Média R. Baixa R. Nula
Áreas com Relevância Taxonômica Não Consegue Epidemiologia
Licenciatura Embriologia
Biossegurança Bioética
Física e Química Fil. Hist. Ciências
Din. Populacional Anatomia
Imunologia Museu
Biologia Molecular Parasitologia
Etologia Genética
Biogeografia Meio Ambiente
Fisiologia Microbiologia
Paleontologia Evolução
Sistemática Ecologia
Botânica Zoologia
38
generalistas daqueles que alegaram que todas as disciplinas abordam a temática
(Figura 12).
Figura 11: Compilação das respostas dos professores em relação à questão 3. O eixo Y representa a
quantidade de votos da amostragem total desse perfil de participantes e o eixo X contempla todas as
respostas dessa questão nos questionários
Figura 12: Compilação das respostas dos alunos em relação à questão 3. O eixo Y representa a
quantidade de votos da amostragem total desse perfil de participantes e o eixo X contempla todas as
respostas dessa questão nos questionários.
0
2
4
6
Quais disciplinas envolvem Taxonomia?
02468
1012141618
Quais disciplinas envolvem Taxonomia?
39
A partir disso, é possível ter uma noção das áreas que envolvem Taxonomia
na concepção dos professores e alunos, de acordo com as respostas das questões
3 e 6; pretendeu-se, então, saber quais dos graduados e graduandos, que já
trabalharam em alguma das áreas acima, acharam necessária uma
complementação de estudo para a atuação e aos que não trabalharam, o motivo
para tal, se era por falta de oportunidade ou interesse.
De acordo com as respostas da questão 7 (Figuras 13 e 14), pode-se
confirmar dois pontos principais:
1- Aqueles que já atuaram ou atuam na área da Taxonomia, em sua maioria,
precisou de alguma espécie de curso extra para realizar tal exercício e, quando não
precisaram, afirmaram buscar auxílio de profissionais da área quando depararam-se
com dificuldades, denotando insuficiência pela graduação por si só para desenvolver
um trabalho de forma independente;
2- A não atuação de biólogos na área, ainda que se tenha comprovado a
importância de profissionais na área (SMITH, et al., 2011; MACE, 2004; SENNA;
MAGRIN, 1999), é devido a falta de interesse ou propostas melhores e não pela falta
de oportunidade, comprovando que há espaço para a atuação profissional, mas falta
profissionais qualificados (SENNA; MAGRIN, 1999).
Figura 13: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à questão
7. Todos os professores que responderam 'SIM' confirmaram que foi necessário um aprimoramento
na área. Os que responderam 'NÃO', alegaram falta de interesse no desenvolvimento de trabalhos na
área.
56% 44%
Já trabalhou com Taxonomia?
Sim
Não
40
Figura 14: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à questão 7: O
eixo Y indica a porcentagem referentes à amostragem total desse perfil de participantes ao passo que
o eixo X separa os participantes que já trabalharam dos que nunca trabalharam. As áreas coloridas
referem-se as justificativas dos participantes.
Com isso, desenvolveu-se a questão oito, pretendendo obter dados sobre
possíveis impactos caso a graduação propiciasse uma formação mais completa em
Taxonomia. De acordo com as respostas dos participantes (Figuras 15 e 16), notou-
se que a maioria absoluta opinou de forma que a Taxonomia, como área de atuação,
seria mais reconhecida e valorizada e, portanto, teria mais adeptos profissionais.
Levanto em conta as problemáticas do ensino levantadas e discutidas
anteriormente, pode-se concluir que ao se tratar de ensino de Taxonomia, está se
determinando uma concepção que será trabalhada com os alunos. Se essa
concepção for muito restrita, limitada em relação ao que se aceita sobre a temática,
de pouco adiantaria para essa valorização e reconhecimento, pois ainda faltaria
motivação intrínseca para tal (FALCÃO, 1999).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Sim Não
Já trabalhou com Taxonomia?
Proposta Melhor
Falta de Interesse
AprimoramentoDesnecessário
Aprimoramento
41
Figura 15: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à questão
8. Os professores que não acreditam que teria algum reflexo social alegaram que "um melhor
conhecimento na área" só seria necessário se um graduado iniciar uma especialização na área.
Aqueles que disseram "NÃO", justificaram com a ideia de que a Taxonomia deveria ser trabalhada
apenas após a graduação.
Figura 16: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à questão 8.
Segundo Falcão (1999), a motivação intrínseca é quando o estudante aprende
por aprender, reconhecendo o seu progresso com novos conhecimentos ou
aprofundando os que ele já possui. A aspiração de instituições de ensino, segundo
ele, deve ser o desenvolvimento de motivação predominantemente de natureza
intrínseca nos alunos, para um melhor ensino, no sentido de ser contextualizado ao
34%
33%
33%
Quais os reflexos de um melhor conhecimento na área?
Não
Valorização da Taxonomia
Êxito na Área Amb.
23%
21%
12% 12%
32%
Quais os reflexos de um melhor conhecimento na área?
Não Soube
Êxito na Área Amb.
Êxito na Área da Saúde
Maior Divulgação Cient.
Valorização da Taxonomia
42
ponto de que o estudante, após a graduação, tenha como aplicar o que foi aprendido
na sua vida profissional (FREIRE, 2010).
Nesse sentido, os conteúdos programáticos ensinados atualmente são as
ferramentas taxonômicas, como chaves dicotômicas e códigos de nomenclatura, o
que a caracteriza, de forma simplista, como uma mera ferramenta para a prática da
ciência biológica (JOLY, 1985). Como exemplo, em uma das respostas, temos a
seguinte justificativa: "mas não vejo sentido em fazê-los ficar memorizando nomes e
características de gêneros e famílias", mostrando que o que de fato é ensinado e
qual o objetivo influenciam a forma que graduados e graduandos que, tendo ou não
passado por um componente curricular específico para Taxonomia, enxergam tal
área.
A concepção, a forma como algo é encarado, depende principalmente da
sensibilização, do primeiro contato com um conceito novo, e como ele é trabalhado
ao longo da graduação, por exemplo no caso de biólogos, em todo o processo de
formação profissional, no qual haverá reformulações das estruturas cognitivas do
sujeito para cada novo conceito relacionado ao inicial (Taxonomia) (MAURI, 2006).
Dessa forma, é possível conceber a ideia da "introdução" da Taxonomia como
área (ao invés da atual visão de ferramenta), ao longo da graduação de forma
gradativa, uma vez que ela é muito mais complexa do que é encarada e pode gerar
consequências sociais, ambientais e econômicas de grande relevância (KNAPP,
2010; MACE, 2004). Essa complexidade poderia ser amenizada uma vez que a
aprendizagem ocorreria ao longo do processo (FREIRE, 2010), diminuindo a
quantidade (quanto de X deve ser ensinado) de conteúdo por tempo, que é um dos
principais problemas na educação atualmente, segundo Dubet (PERALVA;
SPOSITO, 1997). Outro problema apontado é o da qualidade do conteúdo, ou seja,
o que deve ser ensinado, que está intrinsecamente relacionado à estrutura cognitiva
do(s) docente(s), pois é o que determina a concepção deles sobre o tema (MAURI,
2006), no caso, Taxonomia.
Frente ao perfil da Taxonomia, que possui regras internas para a própria
organização e outras para a aplicação, abrangência de áreas e suas consequências
a uma comunidade específica, por exemplo a "troca de conhecimentos entre áreas
da ciência", "melhoria na divulgação científica" ou seja, contribuição para a
comunicação entre duas comunidades (científica- público leigo), permite denominar
a Taxonomia como uma forma de linguagem (SACKS, 2013; KRIPKE, 2012).
43
Cada língua é originária de uma cultura e deve ser adquirida o mais cedo
possível pelos simpatizantes de tal cultura, a fim de possibilitar o desenvolvimento
dos conhecimentos abordados em tal e a capacidade de "proposicionar", meio de
troca simbólico, permutar pensamentos (SACKS, 2012). Tais símbolos e
pensamentos dependem do contexto em que se está comunicando: na Taxonomia,
seria uma comunicação cientista-cientista e cientista-sociedade, essa última, não
excluindo-o da sociedade, mas colocando-o numa posição de 'divulgador' (SMITH et
al., 2011).
Portanto, partindo da premissa de Sacks (2012) deve-se propiciar aos
graduandos (considerando a graduação o estágio mais cedo possível para a
sensibilização do tema) um conhecimento completo da linguagem que será
necessária após a formação, para um exercício profissional de excelência.
Levando em consideração à complexidade de tal área, defende-se, aqui, a
ideia de que, como é incabível trabalhar todos os conceitos e ferramentas da
Taxonomia em sua totalidade (JOLY, 1985), espera-se, ao menos, que se trabalhem
as partes mais relevantes, determinadas pelas consequências a curto, médio e
longo prazo do ensino proposto.
Com isso, vê-se que um melhor conhecimento da Taxonomia na graduação
contribuirá, de fato, ao aumento de profissionais da área, maior reconhecimento e
consequente valorização dessa atuação do biólogo. Como área de atuação, ela
deveria ser entendida em sua totalidade ou, pelo menos, o mais próximo possível
disso, o que remete à nona questão.
A última questão do questionário refletia sobre a filosofia da Taxonomia: a
questão de dividir, classificar e identificar que, segundo Kripke (2012) e Knapp
(2010) é uma necessidade humana, aplicadas à biologia. Essa aplicação pode ser
resumida e constatada na afirmação: "a taxonomia, encaixa-se exatamente no
dilema de dividir o indivisível, para tentar compreender a Natureza e, à medida que o
Conhecimento científico progride, a divisão se torna mais árdua, dificultando a busca
pela exata posição dos organismos no ordenamento natural (HENNIG, 1950;
CORLISS, 1964; LAWRENCE, 1973; SIMPSON, 1989; SENNA; MAGRIN, 1999;
AMORIM, 2002; SMITH et al., 2011).
Tal afirmação era passível de discussão em alguns pontos pré-estabelecidos,
dentre eles: considerar natureza como algo indivisível; buscar a compreensão da
natureza (admitindo-se que é algo lógico e passível de compreensão); divisão
44
dificultada pelo avanço do conhecimento científico da área (diminui o número de
divisões possíveis de serem identificadas dentre as estabelecidas pelo
"ordenamento natural", ou com novos adventos, o que se sabe passa por uma
reformulação, como é o caso da sistemática filogenética, negando-se o ordenamento
natural, uma vez que todos seriam sintéticos); o porquê de se preocupar em atribuir
categorias (táxons) para cada organismo conhecido; a finalidade em se reconhecer,
fomentar e, consequentemente, incentivar pesquisas nessa área e, por fim, se um
dia a humanidade conseguirá acabar com essa ordenação (para essa resposta,
mais concepções, biológicas ou não, deveriam ser expostas direta ou indiretamente,
como o que se pensa de evolução, ordenação e, de certa forma, algumas
interiorizações, como a realização pessoal através de fomento e reconhecimento
(gerando melhor status científico e remuneração ao profissional dessa área). As
frequências relativas das respostas foram compiladas nas figuras 17, 18, 19 e 20.
Em relação às respostas de alunos e professores (Figuras 17 e 18), mais de
60% dos participantes concordam com a afirmação, ou seja, simpatizam com a
concepção de que a Taxonomia se enquadra no dilema de dividir a natureza, que é
indivisível (LAWRENCE, 1973), e que não só há um ordenamento natural, como tem
sido mais difícil de revelá-lo com o progresso na área (SIMPSON, 1989).
Mais de 15% concordaram parcialmente. Um dos professores explicou que
não acredita no ordenamento natural, o que tornaria a natureza indivisível por si
mesma, só sendo possível dividi-la a partir de sistemas sintéticos e, em função de
novos conhecimentos moleculares, toda a Taxonomia é levada a reinterpretação, o
que Amorim (2002) deixa claro em sua obra, ao explicar os diferentes fundamentos
e bases das ramificações da Taxonomia, de forma que para uma escola X, o táxon A
é concebido de uma forma e enquadrado em uma posição no ordenamento natural
específica (seja essa cambiável ou não), ao passo que para a escola Y, o táxon A é
denominado de B, pois apresenta uma característica que X não leva em
consideração, devido ao conflito de fundamentações.
Ainda em relação aos professores (Figura 17), 17% discordou da afirmação,
denotando uma concepção de certa forma contrária à dos que concordam, pois não
acreditam que a taxonomia tenta dividir a natureza, nem que ela é indivisível,
tampouco creem que exista um ordenamento natural, ou que os novos adventos na
área dificultem a tarefa, independente da natureza dessa complicação.
45
Figura 17: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à primeira
parte da questão 9: Você concorda com a afirmação: "a taxonomia, encaixa-se exatamente no
dilema de dividir o indivisível, para tentar compreender a Natureza e, à medida que o Conhecimento
científico progride, a divisão se torna mais árdua, dificultando a busca pela exata posição dos
organismos no ordenamento natural"? Se não, por que? Os professores que disseram 'Concordar
Parcialmente' questionam o que seria o ordenamento natural e se é que de fato há um.
Figura 18: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à primeira parte
da questão 9: Você concorda com a afirmação: "a taxonomia, encaixa-se exatamente no dilema de
dividir o indivisível, para tentar compreender a Natureza e, à medida que o Conhecimento científico
progride, a divisão se torna mais árdua, dificultando a busca pela exata posição dos organismos no
ordenamento natural"? Se não, por que?
67%
16%
17%
"a taxonomia, encaixa-se exatamente no dilema de dividir o indivisível, para tentar compreender
a Natureza"
Concordam
Concordam Parcialmente
Discordam
18%
17% 61%
4%
"a taxonomia, encaixa-se exatamente no dilema de dividir o indivisível, para tentar
compreender a Natureza
Discorda
Concorda Parcialmente
Concorda Totalmente
Não Soube
46
Uma resposta de destaque se deve a um dos professores participante, que
afirmou que " Para mim, o ordenamento é sempre feito por um ser humano. Nós
ordenamos ao observarmos. O termo natural me faz pensar em algo que exista
independente de nós e, por isso, não acho que haja um ordenamento natural dos
seres vivos" que vai de encontro com a ideia de Lawrence (1973) e de Simpson
(1989), de que a Taxonomia busca a resposta para o ordenamento natural, ideia que
fundamenta o Darwinismo (SEPÚLVEDA; EL-HANI, 2007).
Com relação à evolução, outros participantes responderam de forma que o
ordenamento provavelmente não terá fim devido à força da seleção natural,
"evoluindo ao longo do tempo", indicando que o ordenamento natural não é fixo, no
sentido de ocupar as mesmas categorias por tempo indefinido, mas ainda assim
ocupa categorias, não descaracterizando-o (KRIPKE, 2013).
No que diz respeito ao ordenamento natural, outra ideia apresentada foi a de
que ele seria fixo, mas a "dificuldade está em determinar quais características são
mais relevantes", mostrando que, dependendo da ótica usada para a análise do
ordenamento natural, ele pode apresentar diferentes concepções. Para Amorim
(2002), o eixo central dessa divisão é a mutabilidade aceita do ordenamento, que
varia nas diferentes fundamentações de Escolas Taxonômicas.
Dos professores que concordaram (Figura 19), 20% não se posicionou em
relação ao fim da classificação (e consequente determinação do ordenamento
natural). 60% acredita que não terá fim, o que foi defendido com duas hipóteses:
1- não acabará, pois está em constante mudança; aferindo que o ordenamento
natural não é estático, imutável.
2- não acabará, pois o progresso e avanço da ciência causam constantes
reformulações nos métodos de análise, o que, segundo Amorim (2002) e Corliss
(1964) ocorrem devido às diferentes concepções de táxon, espécie, e método de
análise.
Os 20% restantes afirmaram que acabará, mas que isso depende da
determinação dos critérios de classificação e identificação: não foi possível
selecionar os "corretos" para revelar a ordenação natural, fixa e imutável (HENNIG,
1950) até agora. Em relação aos alunos (Figura 20), 15% dos participantes alegou
47
acreditar que um dia irá acabar; as justificativas foram as mesmas dos professores.
Retoma-se a problemática da concepção. Falcão (1999) explica que a motivação do
estudante é professor-dependente, ou seja, a motivação para estudar um
determinado assunto X, é influenciada pela concepção e visão que o professor tem
do assunto X. Isso é condizente com o que foi possível aferir a partir dos dados
obtidos nesse trabalho: a concepção dos professores reflete no entendimento dos
alunos sobre o tema trabalhado, portanto, uma visão restrita (senso comum) da
Taxonomia resulta em explicações simplistas e, por vezes, descontextualizadas e
sem aplicação (FREIRE, 2010; PERALVA; SPOSITO 1997), visto que ela pode ser
considerada como uma mera "ferramenta" biológica, na qual apenas apresenta
métodos para se alcançar determinados objetivos, sem considerar fatores como as
diferentes óticas englobadas, provenientes de fundamentos completamente variados
na concepção dos profissionais taxonômicos.
Ainda com relação aos alunos, 42% dos participantes que concordaram não
se posicionou em relação ao fim da classificação (e consequente determinação do
ordenamento natural) (Figura 20), o dobro dos professores (Figura 19). Isso
corrobora com a ideia da motivação já citada, pois assim como alguns professores
não possuem opinião formada sobre o assunto, ele pode não ser abordado em aula,
desestimulando o aluno à desenvolver um posicionamento crítico sobre o assunto
(FALCÃO, 1999).
Outros 43% dos alunos compactuam com os professores participantes, nas
hipóteses anteriores, com algumas adesões. Uma delas é "se houvesse regras mais
simples de classificação talvez não houvesse tantos nomes e tantas subdivisões,
talvez assim os organismos pudessem ocupar categorias fixas e facilitaria o
entendimento", denotando que o ordenamento natural seria mutável e manipulável,
quase que sintético. Não deve ser considerado sintético, pois por mais que esses
sistemas de classificação sejam artificiais, sob certa ótica, eles refletem o processo
evolutivo, que deve ser compreendido juntamente com o progresso da Taxonomia
(JOLY, 1985).
48
Figura 19: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos professores em relação à segunda
parte da questão 9: Se sim, a classificação dos organismos, ou seja, a busca incansável por saber
como se ordenam na Natureza, não vai acabar nunca? Ou, para que então, se preocupar em
classificar os organismos, se eles não são passíveis de ocupar categorias fixas? Pra que se
preocupar em fomentar e reconhecer essa área, afinal?
Figura 20: Frequência relativa em porcentagem das respostas dos alunos em relação à segunda
parte da questão 9: Se sim, a classificação dos organismos, ou seja, a busca incansável por saber
como se ordenam na Natureza, não vai acabar nunca? Ou, para que então, se preocupar em
classificar os organismos, se eles não são passíveis de ocupar categorias fixas? Pra que se
preocupar em fomentar e reconhecer essa área, afinal?
Concordaram
0%
50%
100%
A busca incansável por saber como os seres se ordenam na Natureza, não vai acabar nunca?
Não Respondeu
Acabará
Não Acabará
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Concordaram
A busca incansável por saber como os seres se ordenam na Natureza, não vai acabar nunca?
Acabará
Não Acabará
Não Respondeu
49
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo analisar, comparar e discutir a
importância do ensino de Taxonomia na graduação com base em levantamento
bibliográfico e levantamento de opinião de alunos de diferentes etapas e de
professores responsáveis por diferentes disciplinas do Curso de Graduação de
Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie sobre Taxonomia,
suas aplicações e consequências em diferentes esferas. Para isso, foram utilizados
os dados obtidos nos questionários disponibilizados aos participantes.
A partir da análise sobre o que os professores e alunos pensam da
Taxonomia, notou-se que a visão da amplitude da área é ainda muito restrita e que
isso tem perdurado ao longo da graduação; alunos do primeiro e do último semestre
compartilham da mesma visão e alguns professores não acreditam nos impactos
sociais provenientes de trabalhos na área, tampouco imaginam a profundidade e
benefícios de tais trabalhos e pesquisas.
Essa visão dos professores pode justificar a concepção dos alunos, uma vez
que a Taxonomia não é trabalhada em sua real forma, dimensão e profundidade na
maioria dos componentes curriculares que está intrinsecamente relacionada e,
portanto, as concepções dos alunos e as reestruturações de seus esquemas de
conhecimento não serão influenciados pelas informações necessárias para a
compreensão do panorama da Taxonomia.
Somente a partir dessa compreensão será possível reconhecer devidamente
essa área e maximizar os benefícios que ela propicia, tanto no âmbito científico, bem
como no social. Além disso, como muitos participantes sugeriram, esse
reconhecimento levaria à um aumento da divulgação científica e, portanto, uma
aproximação entre comunidade científica e comunidade leiga, o que poderia ser
explorado como um ponto de início para a desmistificação da ciência em si como
absoluta.
No âmbito educacional, com enfoque na graduação de biologia, essa
compreensão também traria benefícios, pois auxiliaria o ensino de diversos
50
componentes curriculares e contribuiria em grandes proporções para o processo de
ensino e aprendizagem e formação profissional do biólogo, capacitando-o e
aprimorando-o para a atuação em diversas áreas logo ao final da graduação, o que
não desmotivaria a escolha de carreira acadêmica, uma vez que abriria novas portas
aos graduados, incentivando-os à essa decisão, de certa forma.
No entanto, para alcançar essa compreensão, o ensino deve sofrer algumas
alterações, começando pela abordagem de ensino do docente, seleção do conteúdo
dentro da temática, forma de avaliar os discentes e etc. de forma que o professor
introduza a Taxonomia de forma contextualizada e revelando a amplitude da área.
Tal visão e compreensão não serão alcançadas apenas com a criação de (mais um)
componente curricular exclusivo para o tema em questão.
51
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APÊNDICE A - Modelo de questionário
Semestre:
Curso de (especificar se fez licenciatura ou bacharelado):
Professor (indicar disciplinas ministradas):
Partindo da premissa de Lawrence (1973) de que a taxonomia é o ramo da
ciência responsável pela concepção, nomeação e classificação dos objetos de
natureza biológica, responda:
1- Você teve algum componente curricular dedicado exclusivamente para a
taxonomia na graduação?
2- Na sua opinião, qual a importância do ensino da taxonomia na graduação?
3- Quais componentes curriculares (disciplinas) na graduação de biologia você
acredita que envolvem essa área?
4- Qual a relevância social de projetos nessa área?
5- Quais as consequências de uma prática de identificação incorreta de organismos
para a comunidade científica? E no âmbito social e econômico em trabalhos de, por
exemplo, levantamento de fauna ou flora, biodiversidade ou até de descrição de
uma suposta nova espécie?
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6- Cite no mínimo 1 área da biologia, em pelo menos 3 das categorias listadas
abaixo, no que diz respeito à relevância do conhecimento de taxonomia para o
estudo e elaboração de projetos na área, de acordo com a sua opinião.
Relevância Alta:
Relevância Média:
Relevância Baixa:
Relevância Nula:
7- Já trabalhou ou trabalha em alguma área que envolvesse taxonomia? Se sim, foi
necessário algum aprimoramento ou curso extra além do que foi ensinado na sua
graduação? Se não, por que? Falta de oportunidade, de interesse ou outro motivo?
8- Se, após a graduação, os biólogos em geral tivessem um melhor conhecimento e
fomento nessa área, você acredita que teria algum reflexo social? Justifique
9a- Você concorda com a afirmação: "a taxonomia, encaixa-se exatamente no
dilema de dividir o indivisível, para tentar compreender a Natureza e, à medida que o
Conhecimento científico progride, a divisão se torna mais árdua, dificultando a busca
pela exata posição dos organismos no ordenamento natural"? Se não, por que?
9b-Se sim, a classificação dos organismos, ou seja, a busca incansável por saber
como se ordenam na Natureza, não vai acabar nunca? Ou, para que então, se
preocupar em classificar os organismos, se eles não são passíveis de ocupar
categorias fixas? Pra que se preocupar em fomentar e reconhecer essa área, afinal?