UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO ... · 2019....
Transcript of UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO ... · 2019....
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
CURSO DE ECOLOGIA DE CAMPO: UMA ABORDAGEM DE ESTUDO DO
MEIO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE ECOLOGIA NA
GRADUAÇÃO.
THAYARA YERAY AVELLAN RESENDE
SÃO PAULO
2017
2
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
THAYARA YERAY AVELLAN RESENDE
CURSO DE ECOLOGIA DE CAMPO: UMA ABORDAGEM DE ESTUDO DO
MEIO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE ECOLOGIA NA
GRADUAÇÃO.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Universidade Presbiteriana Mackenzie como
requisito obrigatório para a obtenção do grau
de Licenciada em Ciências Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Leandro Tavares Azevedo Vieira
SÃO PAULO
2017
3
Agradecimentos
Gostaria de agradecer à instituição da Universidade Presbiteriana
Mackenzie e o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde por proporcionar o
espaço e materiais para a construção do conhecimento ao longo de minha
graduação.
Agradeço também a todo o corpo docente do curso de Ciências
Biológicas, por me instruir e mostrar as possibilidades desta área de estudo,
em especial ao Adriano por ser um coordenador empenhado em melhorar o
curso constantemente e próximo aos estudantes, disponível em seu pouco
tempo para ouvir e ajudar se possível nas crises de quem o procura.
Dentre as pessoas que participaram da minha formação na Licenciatura,
gostaria de agradecer principalmente à Magda e Rosana por me mostrarem e
alimentarem a paixão pela docência, acompanhando e estimulando minhas
experiências na área, instruindo sempre que necessário.
Também sou grata ao meu orientador, Leandro, que além de toda
orientação, permitiu que eu me sentisse confortável e ouvida durante todo o
desenvolvimento desse trabalho. Obrigada, aos participantes da banca, Paola
e Adriano por aceitarem participar desta etapa importante de minha formação.
Agradeço à minha família, que sempre me apoiou, guiou e mostrou que
haja o que houver, nunca estive, estou ou estarei sozinha perante o mundo.
Aos meus amigos, dentre eles o André, Allison, Bruno, Danniela, Denise,
Marcela e Raquel que aguentaram minhas crises, me divertiram, ajudaram e
acalmaram ao longo da graduação. Ao meu namorado Nicholas, que foi
presente mesmo durante minha ausência.
Aos monitores, Bianca Abud, Roni Garcia e Natalia Pineda pelos relatos
e apoio durante o desenvolvimento desse trabalho.
A todos, o meu muito obrigada.
4
Dedico esse trabalho à minha família, em especial à Maria Luiza.
Querida, você não sabe ainda, mas tornou nossos dias infinitamente mais
felizes.
5
Resumo
O estudo do meio é um método de ensino integrador no currículo escolar
que visa proporcionar contato direto com diferentes realidades a fim de gerar
reflexão e diálogo para construção de novos conhecimentos. Ele é composto
por três grandes etapas: planejamento, desenvolvimento e avaliação, podendo
ou não ser composto de saídas a campo ou visitas técnicas. Entretanto, as
aulas de campo vêm como uma metodologia que permite a renovação de
modelos tradicionais, fomentando a ideia de que o ato de educar é um
processo conjunto de construção entre aluno e professor. Buscou-se verificar
as contribuições do Curso de Ecologia de Campo realizado no curso de
Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie para o ensino de
ecologia. Para tanto, foi feita a descrição e análise do referido curso realizado
do dia 22 a 24 de setembro de 2016 no Parque Estadual do Juquery com base
na literatura e com enfoque principal no processo de ensino e de aprendizagem
e estudo do meio. As análises refletiram o caráter de estudo do meio deste
curso e que existem contribuições significativas em sua realização para o
processo de ensino aprendizagem segundo os relatos dos participantes. Um
fato marcante é como as relações pessoais interferem no processo de ensino e
de aprendizagem, influenciando escolhas tanto por parte do professor como
dos estudantes. No que se refere ao processo de ensino e de aprendizagem,
percebe-se uma mobilização de conceitos, atitudes e mesmo valores,
permitindo a reflexão e reestruturação de saberes numa maneira constante e
processual, um ciclo que começa e termina em questionamentos.
Palavras-chave: processo de ensino-aprendizagem; ensino de ecologia;
estudo do meio; relações pessoais.
6
Abstract
Field study trip is an integrative teaching method in school curriculum
that aims to provide direct contact with different realities in order to generate
reflection and dialogue for the construction of new knowledge. It is composed of
three major steps: planning, development and evaluation, and may or may not
be composed of a field or a technical query. However, a field class comes as an
methodology that allows a renewal of traditional models, fostering an idea that
the act of educating a joint process of construction between student and
teacher. It was sought to verify as contributions of the Course of Field Ecology
realized in the course of Biological Sciences of the Universidade Presbiteriana
Mackenzie for the teaching of ecology. For that, a description and an analysis of
the course of September 22, 2016 in Juquery State Park was carried out based
on the literature with main focus on the teaching - learning process and the
study of the environment. The analysis reflected the study character of the field
study trip and there are significant contributions in teaching and learning
process according participants' reports. A remarkable fact is how personal
relationships interfere in the process of teaching and learning, influencing
choices either from teachers or from students. Regarding teaching and learning
process, it is notable the mobilization of concepts, attitudes and values, allowing
a reflection and restructuring of knowledge in a constant and procedural way, a
cycle that begin and ends in questioning.
Key-words: Process of learning and teaching, field study trip, ecology teaching,
personal relationships.
7
Sumário
1. Introdução .................................................................................................... 8
2. Referencial Teórico .................................................................................... 10
2.1. Educação ambiental e ecologia ............................................................. 10
2.2. Processo de Ensino e de Aprendizagem ............................................... 12
2.3. O estudo do meio ................................................................................... 15
3. Objetivos .................................................................................................... 18
4. Material e métodos .................................................................................... 18
5. Resultados ................................................................................................. 20
5.1. Professor: planejamento e preparo do curso ...................................... 20
5.2. Alunos: organização da viagem .......................................................... 22
5.3. Descrição do curso.............................................................................. 23
5.3.1. Dia 01 ........................................................................................... 23
5.3.2. Dia 02 ........................................................................................... 25
5.3.3. Dia 03 ........................................................................................... 26
5.3.4. Dia 04 ........................................................................................... 27
5.4. Avaliação formal do curso ................................................................... 29
5.5. Monitores ................................................................................................ 30
6. Discussão .................................................................................................. 30
7. Considerações finais.................................................................................. 34
8. Referências Bibliográficas ......................................................................... 34
ANEXO A - Autorização para atividades com finalidade didática no âmbito do
ensino superior. ................................................................................................ 37
ANEXO B - Projeto de ensino-pesquisa. .......................................................... 40
ANEXO C - Carta de aprovação. ...................................................................... 48
ANEXO D - Lista de materiais necessários para desenvolvimento do curso. .. 51
ANEXO E – Folheto explicativo do parque. ...................................................... 53
8
1. Introdução
Ao longo do curso de licenciatura focou-se intensamente na importância
das relações presentes no processo de ensino aprendizagem para a formação
do indivíduo, de forma a instigá-lo a ser reflexivo, observador, consciente e
ativo não somente durante sua formação educacional, mas também como
indivíduo dentro da sociedade em que se encontra.
Foram apresentadas aos discentes diferentes maneiras de possibilitar
esse processo, dentre estas, o estudo do meio e aulas de campo. Devido ao
caráter dinâmico desse tipo de atividade, a presente graduanda acredita na sua
utilização para que todo e qualquer indivíduo possa exercer um papel
protagonista durante sua aprendizagem.
O estudo do meio é um método processual, no qual professor e alunos
desenvolverão em conjunto o estudo desde seu planejamento,
desenvolvimento, até sua avaliação. Para tanto, o professor atua como
orientador, delimitando tarefas a serem realizadas em conjunto ou
individualmente, é um mediador de conflitos, aconselha e direciona o fluxo do
trabalho para que o objetivo do projeto em questão seja atingido. Portanto, faz-
se necessário o envolvimento ativo e corresponsabilidade de todos os
envolvidos (COZZA; SANTOS, 2004).
Já as aulas de campo podem ser parte do estudo do meio, tratando-se
do desenvolvimento de atividades com o caráter teórico e prático no campo,
objeto de estudo, permitindo a integração entre essas partes e uma experiência
mais completa e dinâmica na formação do participante, pois este se percebe
como integrante ativo e modificador, reconhecendo sua responsabilidade e
importância a partir de sua inserção e observação de determinado ambiente
natural. Para tanto, as informações ali obtidas são analisadas de acordo com o
conhecimento prévio adquirido em sala de aula (FERREIRA; PASA, 2015).
Além disso, a ecologia e a importância de tratar no ensino sobre as
relações entre grupos, indivíduos e o ambiente em que estão inseridos, bem
como as consequências destas inter-relações sempre foram de interesse dessa
discente, pois a mesma compreende que estes saberes são essenciais para
que todo ser humano compreenda seu papel no planeta e como sua existência
e ações interferem e modificam tudo aquilo que está a sua volta.
9
A presente aluna também acredita que um indivíduo ciente e consciente
desses fatos, pode se integrar melhor à sociedade, ter empatia para com aquilo
que o cerca e principalmente, ter atitudes capazes de promover a melhoria dos
locais e pessoas com quem se relaciona.
Na sexta etapa do curso de Ciências Biológicas desenvolvido na
Universidade Presbiteriana Mackenzie ocorre uma saída a campo vinculada à
disciplina de Ecologia Vegetal. Tal saída é intitulada pelo professor responsável
como “Curso de ecologia de campo” e apresenta segundo a visão desta
discente, as características referentes a um estudo do meio, sendo composto
por aulas de campo.
Nesta saída, são passados quatros dias no Parque Estadual do Juquery,
que apresenta diversas fitofisionomias de Cerrado com áreas de Mata
Atlântica, que permite a quem o visita verificar a importância, diferenças,
semelhanças e demais características destes biomas, complementando e
tornando mais prático o conhecimento teórico previamente adquirido sobre os
mesmos.
Partindo disto, o presente trabalho tem como tema o processo de ensino
e de aprendizagem de ecologia com uma abordagem de estudo do meio a
partir do “Curso de Ecologia de Campo” realizado no ensino superior de
Ciências Biológicas. Busca-se, portanto, relacionar um curso de ecologia de
campo com a abordagem adotada em estudo do meio, e analisar as possíveis
contribuições referido curso no ensino de ecologia na graduação.
Para tanto, essa monografia apresenta o relato deste curso,
observações pessoais do mesmo sob o ponto de vista de monitores e alunos
participantes bem como a análise dos dados encontrados com base na
literatura sobre ecologia, estudo do meio e processo de ensino e de
aprendizagem.
Além disso, ao longo deste material apresentam-se questões quanto ao
processo de ensino e de aprendizagem, educação ambiental, ecologia, relação
professor-aluno e estudo do meio.
10
2. Referencial Teórico
2.1. Educação ambiental e ecologia
A ação antrópica gera diversas consequências para o meio em que
ocorrem, sejam essas de aspectos espaciais: acarretando mudanças no
ambiente em si; ou sociais: mudanças relacionadas às ações cotidianas, não
necessariamente ligadas ao espaço em si, mas nas relações ali presentes, por
exemplo. A partir disso, a realização de uma educação ambiental tendo em
vista a participação da população como indivíduos conscientes das alterações
que acarretam no meio ambiente, deixa de ser tão somente importante para
tornar-se necessária (REIGOTA, 1995).
Segundo a lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, artigo 1º do capítulo 1
que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental:
Entende-se por educação ambiental os processos por
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
O artigo 2º da referida lei também dita que tal educação deve estar
presente em todas as modalidades, caráteres e níveis de ensino, não devendo
tratar-se de uma disciplina, mas presente de maneira articulada entre as áreas
de ensino na educação nacional (BRASIL, 1999).
Teixeira (2001) relata que essa educação deve ser realizada por meio de
debates que tratem questões sobre o meio ambiente e a relação do ser
humano para com esse. É importante ressaltar que ao falar de educação
ambiental, não é o mesmo que ensinar as disciplinas clássicas, como biologia,
geografia ou ecologia de maneira individual, mas integrada.
Educação ambiental envolve discussões sobre aspectos sociais,
políticos, ambientais e mesmo pessoais, logo, deve se tratar de uma reflexão
quanto às diversas relações existentes no meio ambiente, principalmente no
11
que se refere às ações antrópicas e suas consequências (TEIXEIRA, 2001). A
ecologia, por sua vez, é uma ciência que busca estudar essas relações
existentes dentro de um determinado ambiente, sejam elas entre os seres vivos
ali presentes (fauna e flora), ou entre eles e o próprio meio, ou seja, fatores
bióticos e abióticos (SILVA et al., 2014).
Essa ciência permite que o ser humano sinta-se como parte da natureza,
compreendendo-a por meio de uma sensibilização e consequente valorização
de seus componentes. O ensino dos ecossistemas e demais princípios básicos
de ecologia é essencial para a conservação e manutenção de recursos naturais
e consequentemente para a sobrevivência da humanidade, pois a
compreensão desses princípios é o primeiro passo para que se possa viver de
acordo com os mesmos (SILVA et al., 2014).
Seniciato e Cavassam (2009) relatam a importância desses conceitos e
da educação ambiental em todos os níveis de formação relacionando
conhecimento e atitudes condizentes entre si para a utilização de forma
responsável de recursos naturais. Trabalhar a ecologia pode ser feito de
diferentes formas, desde aspectos altamente específicos como a relação de um
inseto e determinado vegetal, até mesmo tratando de estrutura de
comunidades vegetais e animais, seu funcionamento, transferência de energia
e consequências de ações antrópicas em diferentes escalas.
Para que o processo de ensino e de aprendizagem aconteça no âmbito
educacional, faz-se necessária uma apropriação de códigos e conceitos
acordados pela construção de modelos para que haja a interpretação de
fenômenos comumente conhecidos como científicos. Vale ressaltar que
fundamentos científicos devem subsidiar a formação de atitudes conscientes
dos alunos, por exemplo, sabemos que não basta ensinar que não se deve
jogar lixo nas ruas para que de fato parem de ter essa atitude (BRASIL, 1997).
Esse, como qualquer outro, é um processo de aprendizagem que exige uma
construção complexa, objetiva e organizada (CUNHA, 1997).
12
2.2. Processo de Ensino e de Aprendizagem
O ser humano é um ser social, influenciado pelo meio em que se
encontra, pelas relações, valores e ideais ali presentes, tendo suas concepções
explicitadas não somente em palavras, mas em atitudes. As ações educadoras
não fogem deste fenômeno, aquilo que é ensinado, como é ensinado, em que
contexto, fala e todas as ações docentes são baseadas em valores e
concepções individuais e sociais, construídas ou aceitas de acordo com
situações vivenciadas pelo docente em questão. As concepções de ensino e
aprendizagem adotadas por cada pessoa regem suas ações pedagógicas
interferindo em suas relações com alunos, demais professores e todo o
ambiente em que se encontra inserido (ROSA, 2007).
Segundo Kubo e Batomé (2001), os conceitos de ensino e
aprendizagem mesmo que diferentes não necessariamente representam ato e
consequência respectivamente, caminham juntas na educação como um todo.
Para os autores, aprendizagem é um processo referente às interações
comportamentais entre alunos e professores juntamente à um complexo
processo composto de investigações, percepções e ações.
A aprendizagem pode ocorrer de diferentes formas de acordo com as
concepções de cada educador, pois vai ser influenciada por suas definições
quanto a ensinar, aprender e as relações entre professor e aluno consideradas
adequadas por ele. Portanto, é preciso ter conhecimento e consciência das
diferentes concepções de ensino e aprendizagem para assim direcionar sua
prática docente (MIZUKAMI, 1986) a fim de atingir um objetivo (KUBO;
BATOMÉ, 2001).
Segundo Mizukami (1986), existem dentre outras, cinco abordagens de
ensino, que entre si divergem em suas definições para o conceito
aprendizagem, relação entre professor e aluno, além de demais características,
que guiam o cotidiano em sala de aula. Para a abordagem tradicional a
aprendizagem trata-se de uma apreensão da realidade a partir de experiências,
a relação entre professor e alunos é de superioridade, onde o professor sabe
tudo e o estudante ali se encontra por nada saber.
Já a abordagem comportamentalista trata também desse tipo de relação
interpessoal e apreensão de conhecimento, contudo, parte de reforços
13
positivos e negativos para a apreensão do que se considera adequado ou não.
Objetiva principalmente moldar o comportamento dos estudantes para atender
ao padrão social e/ou pessoalmente considerado adequado (MIZUKAMI, 1986).
A abordagem humanista por sua vez, defende que o conhecimento se
encontra no ser humano que deve buscar tal conhecimento em si quando e
considere estar preparado, portanto, a aprendizagem depende de si mesmo.
Logo, o professor atua de acordo com a demanda, aguardando que o aluno o
busque, consequentemente sua relação interpessoal pode ou não existir
(MIZUKAMI, 1986).
Em contrapartida, tanto para a abordagem cognitivista quanto para a
sócio cultural, a aprendizagem é resultante da construção do conhecimento,
que ocorre pelas interações vivenciadas pelo indivíduo, a relação entre
professor e aluno é mais aproximada da igualdade, pois se leva em conta o
conhecimento anterior de ambos para que a partir de sua comunicação e
trabalho conjunto, um novo conhecimento seja construído. O diferencial entre
estas últimas abordagens é que a primeira não considera as interações sociais
enquanto a segunda eleva a importância de tais interações (MIZUKAMI, 1986).
Rosa (2007) trata do construtivismo que por meio de interações, busca
utilizar dos conhecimentos prévios dos estudantes para a resolução de
situações problemas. Para tanto, esse conhecimento prévio é desconstruído e
reconstruído com a interação entre antigas e novas ideias.
Dentro dessa perspectiva de ensino, o professor atua como mediador
durante o processo de construção do conhecimento. Portanto, os conheci-
mentos prévios devem ser explorados e utilizados por parte do professor para
estimular a reflexão mediada diante dos conteúdos abordados (ROSA,2007).
Esse processo de reflexão sobre o conhecimento antigo diante do novo
ocorre por esquemas de conhecimentos, que nada mais são que
representações de um indivíduo sobre determinado assunto em determinado
momento. Consequentemente, com a mudança de momentos e estímulos, a
construção do conhecimento ocorre de forma constante (MAURI, 1996).
A mudança de conhecimentos ocorre quando há um significado atribuído
ao mesmo. Significados são únicos para cada ser humano, uma vez que são
14
resultantes de experiências e vivências de cada um, são referentes ao contexto
de cada ser humano e sua visão quanto ao mesmo. Portanto, são mutantes e
finitos, uma vez que o conhecimento prévio sobre um mesmo assunto é
variável de acordo com o momento daquele que o vivencia (MAURI, 1996).
Ao atuar como facilitador da aprendizagem, o professor pode interferir
neste processo de atribuição de significado, podendo utilizar de meios que
busquem a aproximação daquilo que é discutido com a realidade daquele que
o discute, buscando instigar e estimular a reflexão durante esse processo.
(CARVALHO, 1998).
Freire (2006), por sua vez, trata de dois tipos de educação, uma
opressora (também tida como bancária, pois busca o depósito e retorno de
conhecimentos a partir e para o professor por parte do aluno), segundo a qual
o bom professor é aquele que deposita todo seu conhecimento no aluno e
cobra-o de volta. Já a outra ele chama de educação libertadora, na qual bom
professor irá estimular a inquietação do aluno, estimulando e permitindo-o se
tornar um agente transformador da realidade e sociedade.
Ter consciência desse condicionamento, diante da estrutura, sociedade
e cultura é uma exigência para o ensino, pois a partir disto, o ser humano poder
intervir em seu meio de atuação, rever suas práticas e concepções a fim de
exercer seu papel transformador (FREIRE, 2010).
Segundo a epistemologia interacionista - entende-se por epistemologia o
estudo da origem do conhecimento – todo conhecimento já existente pode ser
construído e modificado de acordo com as interações e experiências
vivenciadas pelo estudante, sejam estas recentes ou não (ROSA, 2007). Tal
ideia é oposta à educação tradicionalmente encontrada no ambiente escolar
atual, a qual pretende que o conhecimento seja apenas transmitido como uma
corrente elétrica que infelizmente se esvai conforme se distancia da origem,
enquanto a construção de conhecimento permanece, prolifera-se e torna-se
significativo ao aluno que a constrói em um contexto social (FREIRE, 2010).
De acordo com Pechliye e Trivelato (2005), ensina quem fornece
ferramentas ao aluno para que a partir de suas escolhas de caminhos para
aprendizagem, o mesmo seja capaz de construir o próprio conhecimento. Ainda
segundo os referidos autores, dúvidas, incertezas e a prática são ferramentas
15
fundamentais para a construção do conhecimento, pois por meio dessa
reestruturação, escolhas podem ser feitas para a resolução de situações.
Pozo e Crezpo (2009) ressaltam que professores não seguem
estritamente as condutas de determinada abordagem, nem mesmo os alunos,
suas atitudes dentro e fora da sala de aula podem ser classificadas com
nuances de cada abordagem de ensino. No entanto, em todas elas, para que o
aprendizado ocorra é preciso que o estudante tenha interesse, logo, uma das
funções do professor é estimular o interesse de seus estudantes para o
conhecimento científico. Cada educando deve, de alguma forma, ser motivado
a realizar pesquisas extras sobre determinados assuntos.
Vale salientar que escolhas estão relacionadas aos objetivos de
determinado trabalho e são reveladas progressivamente pelo modo de trabalho
e atitudes do professor em questão e nem sempre estão vinculadas a uma
linha filosófica única e linear. O modo de ser e agir de cada educador são
influenciados pelas situações adversas em que se encontra, portanto, o
planejamento daquilo que se pretende ensinar e como pretende fazê-lo pode
ser uma ferramenta importante ao professor, permitindo ter segurança diante
de situações adversas (CUNHA, 1997).
Segundo Machado (2004), o ato de planejar é uma característica
humana que juntamente a valores individuais visa à transformação de
determinada realidade, transformação essa que dependerá da relação
existente ou não entre projetos pessoais e coletivos. Portanto, a educação é
influenciada e varia de acordo com os interesses e necessidades dos
envolvidos nesse processo, o que torna a educação algo tão complexo e
distinto dentre os setores sociais (CUNHA, 1997).
2.3. O estudo do meio
O estudo do meio surgiu no Brasil no início do século XX baseado na
pedagogia de Ferrer que defendia que os alunos desenvolvessem propostas de
transformação da sociedade partindo da reflexão sobre as dinâmicas sociais,
pessoais e individuais presenciadas. A percepção dessas dinâmicas e sua
análise crítica parte do contato com o meio, sendo ele não apenas um espaço
16
físico, mas também um local de interações sociais, intelectuais, pessoais,
dentre outras (COZZA; SANTOS, 2004).
Essa proposta de estudo do meio visa proporcionar contato direto com
diferentes realidades a fim de gerar reflexão e diálogo para construção de
novos conhecimentos. Pode ser utilizada como ferramenta de verificação de
conhecimentos prévios, permitindo maior autonomia para os educadores e
educandos participantes do estudo, pois toda a elaboração do projeto em si
demanda muito diálogo, independência, iniciativa, planejamento e dedicação,
tornando ambas as partes autoras do processo (LOPES; PONTUSCHKA,
2009).
Esse tipo de atividade é essencial, uma vez que no Brasil existe uma
preocupação crescente em relacionar a educação escolar com o cotidiano dos
estudantes, devido principalmente à inclusão do meio ambiente como um dos
temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997 (COZZA;
SANTOS, 2004).
O estudo do meio é composto por três grandes etapas: planejamento,
desenvolvimento e avaliação, podendo ou não ser composto de saídas a
campo ou visitas técnicas, uma vez que o meio pode ser entendido como
qualquer local de interações. O planejamento pressupõe um trabalho conjunto
entre alunos e professores, definindo locais, métodos, conceitos, dinâmicas,
dentre outras características do estudo proposto; o desenvolvimento é quando
o planejamento é colocado em prática, momento em que as interações
envolvendo alunos, professores e o meio escolhido ocorrerão de fato em busca
do cumprimento de um objetivo; a avaliação pode ser feita de maneiras
variadas, devendo levar em conta não somente o desenvolvimento
propriamente dito, mas todo o processo desde o planejamento (COZZA;
SANTOS, 2004).
O estudo do meio não se restringe, portanto, a um momento específico,
mas a um processo como um todo objetivando a aprendizagem partindo das
interações vivenciadas e, portanto, influenciado pelos valores de todos os
envolvidos (LOPES; PONTUSCHKA, 2009).
Segundo Cozza e Santos (2004) tal estudo, é um método de ensino
integrador do currículo de escolas, oferecendo ao educando possibilidades de
17
construção de seu conhecimento e, portanto, contribuindo para o processo de
ensino-aprendizagem. Segundo Nogueira et al. (2005), o estudo do meio
envolve uma série de fatores, como metodologia de pesquisa e de organização
de novos saberes, além de requerer atividades anteriores à visita,
levantamento de questões a serem investigadas, seleção de informações,
observações em campo, comparações entre os dados levantados e os
conhecimentos já organizados por outros pesquisadores, interpretação,
organização de dados e conclusões.
Tais fatores, segundo Kubo e Botomé (2001), envolvem investigação,
percepções e ações, devendo atender a realidade, a fim de que possa ser
importante e fazer sentido no processo de ensino e aprendizagem. Os referidos
autores ainda afirmam que o estudo do meio se trata de um complexo sistema
de interações envolvendo aluno e professor, precisando ser planejado e
contextualizado de acordo com o objetivo. Para tal, a participação tanto de um
como do outro se torna um componente essencial. Trata-se de um processo
que caminha conforme necessidades e, sendo efetivo apenas quando envolve
reflexão e resolução de problemas (PECHLIYE; TRIVELATO, 2005).
A realização de estudos do meio é motivadora para os alunos, pois
desloca o ambiente de aprendizagem para fora da sala de aula. É apenas uma
das metodologias de ensino existentes, mas com um grande potencial e
relevância, já que chama a atenção do aluno, tirando-o do ambiente comum de
aprendizagem para uma nova percepção de mundo. O estudante entra em
contato com ambientes naturais e pode perceber-se como integrante e agente
transformador do ambiente (BRASIL, 1998).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), “a
utilização de outras metodologias de ensino significa, também, construir o
currículo ao longo do processo, partindo de vivências do grupo (professor e
aluno), sem deixar de considerar o conhecimento historicamente constituído. ”
(p.64). Portanto, é um trabalho que carrega consigo uma possibilidade, uma
ferramenta metodológica distinta, em que o aluno e o professor são educados
na prática, através de participação, envolvimento e reflexão.
Junto às possibilidades oferecidas por esse tipo de estudo, a aula de
campo vem como uma metodologia alternativa que permite a renovação de
18
modelos tradicionais, fomentando a ideia de que o ato de educar é um
processo conjunto de construção entre aluno e professor (FERREIRA; PASA,
2015).
3. Objetivos
Relacionar o curso de ecologia de campo com a abordagem adotada em
estudo do meio e analisar as possíveis contribuições do referido curso no
ensino de ecologia na graduação.
4. Material e métodos
O Curso de Ecologia de Campo em questão foi realizado no Parque
Estadual do Juquery (PEJY), localizado na Rua Miguel Segundo Lerussi, s/n no
município de Franco da Rocha, SP (Figura 1). O parque fazia parte das áreas
da Fazenda Juquery que foram adquiridas pelo Estado em 1895 para a
implantação do Hospital Psiquiátrico do Juquery. Em 1989 o conjunto
arquitetônico, o acervo documental e a área verde foram tombados pelo
CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (BRASIL, 2017).
Figura 1: Localização do Parque Estadual Juquery. Fonte: https://www.google.com.br/maps/place/Parque+Estadual+do+Juquery.
19
A criação do PEJY ocorreu em junho de 1993 pelo Decreto nº 36.859
devido à necessidade de preservação de importantes áreas de vegetação
nativa de Cerrado, Mata Atlântica e áreas de Mananciais do Sistema
Cantareira. O parque é, portanto, uma Unidade de Conservação de Proteção
Integral e abriga o último remanescente de Cerrado ainda preservado na região
Metropolitana de São Paulo, possuindo 2.058,09 hectares com uma rica
biodiversidade de fauna e flora (BRASIL, 2017).
As Unidades de Conservação (UCs) objetivam conciliar a proteção da
fauna, flora e atrativos naturais com a exploração de seus recursos para fins
científicos, educacionais, recreativos e turísticos. Portanto, constituem uma
importante ferramenta para a integração entre homem e natureza (BRASIL,
2017).
Unidades de Conservação são áreas - territoriais e marinhas -
protegidas, por apresentarem papel fundamental na proteção e preservação do
meio ambiente, esses territórios apresentam atributos naturais e culturais
essenciais para a manutenção do equilíbrio ecológico do planeta. Essas UCs
são instituídas pelo Poder Público e constituídas em âmbito federal, estadual
e/ou municipal, e são reguladas pela Lei no. 9.985, de 2000 que institui o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e estão divididas em
dois grupos: de proteção integral e de uso sustentável (BRASIL, 2017).
UCs de proteção integral visam preservar a natureza por meio de pouca
ou nenhuma atividade humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus
recursos naturais. Já UCs de uso sustentável objetivam a harmonia entre
conservação da natureza e utilização de seus recursos em benefício da
comunidade local. A exploração de seus recursos é permitida desde que feita
de forma sustentável (BRASIL, 2017).
Partindo disso, a presente pesquisa apresenta caráter qualitativo,
realizada no período de dez meses durante os quais foi feito o
acompanhamento do professor responsável pelo Curso de Ecologia de Campo
realizado no PEJY. Foram acompanhadas as aulas da disciplina de Ecologia
Vegetal durante o segundo semestre de 2016, o planejamento dos alunos e
professor para a saída em questão, bem como a aplicação e avaliação do
referido curso que foi realizado do dia 22 de setembro de 2016 até o dia 25 do
20
mesmo mês e ano. Cabe ressaltar que a disciplina de Ecologia Vegetal conta
com uma carga horária de 68 horas/aula, sendo 34 horas/aula de aula prática.
A partir deste acompanhamento, foi feito um levantamento das
referências bibliográficas a serem utilizadas para desenvolvimento desta
pesquisa, um relato minucioso das observações feitas a partir da visão da
presente discente tanto como monitora quanto como aluna do curso. Além
disso, foram utilizados relatos informais de antigos participantes do referido
curso, sendo esses tanto monitores quanto alunos. As conversas com o
professor responsável pelo curso e disciplina foram essenciais na elaboração
deste trabalho, permitindo que ao longo desse processo, conhecer as opiniões
de diferentes partes envolvidas.
Para que fosse possível cumprir com o objetivo desse trabalho, foi
necessário descrever o Curso de Ecologia de Campo, seu planejamento por
parte dos diferentes envolvidos no processo, seu desenvolvimento, avaliação, e
demais características observadas na visão de aluna/monitora participante.
Então, foi necessário relatar e diferenciar as vivências de monitores e alunos
durante esse curso, suas motivações, responsabilidades, dificuldades,
facilidades e demais aspectos levantados em seus relatos.
A posterior análise destes dados foi realizada com base na literatura
encontrada, com enfoque principal no processo de ensino e de aprendizagem e
as contribuições do curso de ecologia de campo para esse processo.
5. Resultados
5.1. Professor: planejamento e preparo do curso
O curso foi realizado do dia 22 de setembro de 2016 ao dia 25 do
referido mês e ano, para tanto, foi necessário organizar diversas
documentações, tanto em relação à Universidade em questão quanto aos
demais órgãos reguladores. Além disso, há uma série de conceitos e saberes
necessários para o desenvolvimento eficaz do Curso de Ecologia de Campo.
Dentre os documentos referentes a órgãos externos, são estes:
Autorização para atividades com finalidade didática no âmbito do ensino
21
superior – SISBIO (ANEXO A), Projeto de ensino-pesquisa e Carta de
aprovação – COTEC (ANEXOS B e C respectivamente) e ao final do curso, o
Relatório parcial referente ao mesmo – COTEC. O primeiro documento trata-se
de uma autorização de âmbito Federal para que haja coleta biológicas como
insetos e plantas. O COTEC é a Comissão Técnico-Científica do Instituto
Florestal, este, órgão estadual que gere as Unidades de Conservação do
Estado de São Paulo. Assim, o professor desenvolveu o projeto de ensino-
pesquisa, submeteu ao COTEC, que então aprovou sua realização no PEJY.
Em contrapartida, há a necessidade de envio de relatórios sobre as atividades
desenvolvidas e submissões periódicas do projeto.
Referente à UPM, além dos documentos institucionais para solicitação
de ônibus e aprovação da viagem, o professor também disponibiliza aos
técnicos de laboratório e demais responsáveis a lista de materiais necessários
para desenvolvimento do curso (ANEXO D).
Para que os alunos tenham arcabouço mínimo para realização do
relatório final da saída, o professor em suas aulas práticas e teóricas trata de
grandes temas como, por exemplo: História da Ecologia Vegetal; Luz e
Fotossíntese; Balanço Hídrico; Solo e Nutrição; Crescimento e História da Vida;
Competição e Coexistência; Interação Planta- Animal; Diversidade, Abundância
e Raridade; Gradientes, Perturbação e Sucessão; Código Florestal,
recuperação e restauração.
É importante ressaltar que parte do conteúdo foi estudado previamente à
saída enquanto o restante é trabalhado após o retorno, variando de acordo
com a data agendada para a ida à campo. Independente da data escolhida, na
última aula prática antes do desenvolvimento do curso, o professor abordou
com os alunos, diversos métodos de Estudos em Ecologia Vegetal, justamente
para que durante a criação dos projetos, os estudantes sejam capazes de
escolher dentre os métodos o mais adequado.
Além disso, o professor leva guias, chaves de classificação, livros e
demais materiais para identificação dos espécimes coletados e diversos artigos
em PDF com temas variados para auxílio durante o desenvolvimento dos
projetos.
22
Após o retorno, as aulas práticas focam em métodos de tabulação e
organização de dados, busca de espécies, utilização de Excel, Qgis e Specis
Link, todas ferramentas importantes para o desenvolvimento de trabalhos
escritos em Ecologia Vegetal e que auxiliam na elaboração do relatório.
5.2. Alunos: organização da viagem
Para que a viagem em questão ocorresse de forma adequada, o
professor logo nos primeiros dias de aula explicou sobre como seria o
desenvolvimento desse trabalho e fala dos materiais pessoais a serem levados,
dentre esses:
Kit de remédios e primeiros socorros: ele levará, mas é bom que cada
um leve o seu em caso de necessidades especiais;
Colchão inflável e roupas de cama: principalmente para aqueles que
apresentam doenças alérgicas e/ou respiratórias;
Produtos de uso pessoal e higiene: roupas para trilhas (tênis, calças
cumpridas, camisetas, calçados, mochilas, etc.), protetor solar; garrafas
d’água, etc.
Um notebook por grupo de trabalho para serem realizadas as análises
dos dados e apresentações dos projetos,
Além disso, os estudantes também são responsáveis de se organizarem
para a compra dos alimentos a serem levados ao parque. O professor
acompanha o ônibus de carro próprio em caso de eventuais necessidades de
comprar alimentos que faltarem na hora ou emergências médicas, já que o
ônibus apenas leva e busca os alunos nas datas agendadas.
O professor indica que a sala se divida em grupos de tarefas e
organizem um cardápio para cada dia e, assim, programem melhor os
ingredientes a serem comprados, dividindo o valor entre todos os participantes
(professor, alunos e monitores).
A sala se dividiu e o grupo responsável pela alimentação montou uma
proposta de cardápio sujeita à aprovação da sala, questionando sempre se
havia algum participante com restrições alimentares. Após a turma aprovar a
proposta, os responsáveis arrecadaram o dinheiro e foram às compras,
23
também solicitaram que no dia da saída cada aluno levasse um pouco de
dinheiro para possíveis emergências com relação a alimentos e medicações.
Conforme os mantimentos eram comprados os alunos puderam deixá-
los na sala de preparo de um dos laboratórios da UPM, bem como suas malas
5.3. Descrição do curso
5.3.1. Dia 01
No primeiro dia, o encontro entre professor, alunos e monitores foi
marcado para as 7h. 30 min. na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Todos
deixaram suas malas no bagageiro do ônibus e buscaram os materiais
necessários para realização das atividades nos próximos dias, tais como,
podão, tesoura de poda, jornais, fitas crepe, barbantes, estacas, martelo,
pranchetas, caixas, sacolas de plástico e papelão. Materiais estes que haviam
sido previamente separados pelos técnicos de laboratório.
O que coube dos alimentos foi levado no bagageiro do ônibus, sendo
que, os mais sensíveis foram levados dentro do ônibus com os estudantes e
monitores. O professor também levou bebidas e outros materiais em seu carro.
A saída do local combinado foi aproximadamente às 8h. levando um
pouco mais de uma hora para chegar ao Parque Estadual do Juquery. Ao
chegar, alunos, professor e monitores deixaram seus materiais no alojamento.
Um monitor funcionário do PEJY distribuiu panfletos explicativos do parque
(ANEXO E) e mostrou aos alunos a área de Educação Ambiental do parque e
deu uma breve palestra sobre a história do local, principais características, flora
e fauna ali encontradas, localização, trilhas e demais informações sobre o
parque.
Após a explicação, os participantes do curso retornaram ao alojamento e
se organizaram para o preparo do almoço, instalação nos quartos, salas,
distribuição das camas e organização dos materiais a serem levados a campo,
bem como a limpeza do local depois da refeição.
Foi então realizada a primeira trilha chamada de Trilha da Árvore
Solitária para reconhecimento do parque e coleta de dados em parcelas. Ao
24
chegar à referida árvore, a turma foi dividida em quatro grupos que
demarcaram parcelas de 20x20 metros para o estudo de Fitossociologia. Este
método consiste em contar todos os indivíduos de cada espécie vegetal com
diâmetro a altura do solo (DAS) maior que um centímetro. Em uma das áreas
não foi possível à utilização desse critério de inclusão por se tratar de um local
recém-queimado (aproximadamente dois anos atrás), então os estudantes e
monitores deveriam coletar e anotar características de todos os indivíduos
lenhosos presentes na parcela.
Os indivíduos coletados foram nomeados, colocados em sacos plásticos
e tiveram dados como altura, diâmetro a altura do solo e características
marcantes anotados para facilitar sua posterior catalogação e classificação,
etapas que foram realizadas parcialmente no alojamento e pelos membros da
Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM após o término do curso. Em
caso de mais de um indivíduo de uma mesma espécie, sua coleta não era
necessária, mas os dados deveriam ter sido anotados para realização da
análise de cálculos dos parâmetros fitossociológicos como densidade,
frequência e área basal por espécie.
Cada grupo foi acompanhado por um monitor e o professor responsável
caminhou entre os grupos fazendo observações, tirando as dúvidas e
auxiliando quando necessário. Quando cada grupo terminou as suas coletas e
retirou as parcelas, foi feito um breve descanso à sombra da árvore antes de
retornar a sede do parque pela Trilha da Nascente.
Já no alojamento o grupo responsável pelo jantar se reuniu para cumprir
sua tarefa enquanto os demais prensavam os indivíduos coletados,
organizavam os materiais utilizados durante o processo. Os monitores
dividiram as tarefas de organização do alojamento com os demais participantes
e auxiliaram durante o processo de prensa, uma vez que muitos alunos nunca
o tinham feito.
Após todos alimentados, o alojamento foi limpo e organizado para que o
grupo pudesse se reunir para uma breve apresentação feita pelo professor
sobre a História do Cerrado, suas fitofisionomias, unidades de conservação
ambiental, importância e dados quanto à conservação desse bioma. A
apresentação foi realizada com auxílio de projetor multimídia e notebook.
25
Ao finalizar a apresentação o professor orientou os alunos quanto às
atividades a serem realizadas no dia seguinte: É uma longa trilha que
atravessa grande parte do parque, os grupos deveriam se atentar para
observar o caminho, conhecer e pensar nas possibilidades de projetos a serem
realizados no parque, pois na noite do dia seguinte deverão apresentar para
ele e monitores as propostas de pesquisa a serem desenvolvidas no terceiro
dia.
O grupo foi dispensado e ficou livre para realizar as atividades que
consideraram adequadas, a maioria das pessoas foi descansar enquanto
outros ficaram socializando com os monitores e professor e/ou planejando o dia
seguinte.
5.3.2. Dia 02
No segundo dia o grupo se levantou, tomou o café da manhã, organizou
o alojamento e partiu para a Trilha do Ovo da Pata com os materiais que
julgaram necessários para a caminhada (água, mochila, repelentes, protetor
solar, alimentos, etc.). Os que pretendiam fazer coletas botânicas no caminho
levaram os materiais para isso – saco de coletas, tesoura de poda, lápis, papel,
fita crepe, etc.- A saída do alojamento foi por volta das 9h.
A trilha é classificada pelos funcionários do parque com nível alto de
dificuldade e aproximadamente 14 km de extensão. Novamente, cada pequeno
grupo foi acompanhado ao longo da trilha por um monitor que portava consigo
um rádio comunicador, assim como o próprio professor. A trilha durou
aproximadamente 6 horas até que todos retornaram ao alojamento, incluindo
aproximadamente os 30 min. de descanso realizado no topo do Morro do Ovo
da Pata antes do retorno.
Cada grande grupo seguiu seu próprio ritmo, os monitores e professor
se dividiram entre cada ritmo, ficando sempre um à frente puxando a fila, outros
no meio e mais atrás e um fechando o grupo, cada grupo fez paradas que e
quando achou necessário.
No alojamento os alunos se dividiram em suas tarefas de organização
do lugar, preparo do almoço e mesmo discutindo as possibilidades de projetos
entre si. Depois do almoço – que foi quase no final do dia- o professor passou
26
entre os grupos junto dos monitores para discutir as ideias e métodos por eles
pensados. O professor deixa os monitores livres para opinar e fazer
questionamentos que considerarem pertinentes.
Ao finalizar com os grupos, o professor deu orientações aos monitores
quanto às trilhas que podem ser utilizadas no dia seguinte, materiais, cuidados
extras, etc. Então os monitores passaram entre os grupos afinando os detalhes
para o melhor desenvolvimento do trabalho a ser realizado.
Durante o preparo do jantar houveram desavenças entre os alunos
envolvidos, no entanto, foram resolvidas entre os próprios sem quase
necessidade de intervenção dos monitores e professor.
O jantar foi servido e após limpeza do local todos dispensados para
realizar atividades livres, desta vez, a maior parte dos participantes se reuniu
na sala com o professor para conversar sobre temas diversos, todos contaram
sobre suas vidas, dificuldades, experiências, professores, família, contaram
piadas, etc.
5.3.3. Dia 03
Cada grupo organizou os materiais necessários para seus respectivos
projetos e partiram com seus respectivos monitores para suas trilhas após o
café da manhã e organização do alojamento.
Dois grupos que usaram os clorofilômetro em seus métodos entraram
em conflito sobre quem iria usar primeiro e mesmo os monitores não foram
capazes de entrar em um acordo quanto a isso, então após árdua discussão, o
grupo cujo tema tratava especificamente sobre índice de clorofilas utilizou o
material primeiro.
Caso necessário, cada grupo deveria conversar com seu monitor e
reestruturar seu método de acordo com as condições encontradas em campo
para que seja possível atingir seu objetivo. O professor passou auxiliando os
grupos com dificuldades e se manteve comunicando com os monitores o tempo
todo via rádio para verificar o andamento das atividades.
Ao final de sua coleta, cada grupo foi autorizado a retornar ao
alojamento para realizar a tabulação dos dados, busca de referências, prensar
27
os espécimes coletados e preparar a apresentação em PowerPoint que foi feita
a todos os grupos no período da noite. Tal apresentação deveria conter uma
breve introdução que contemple os objetivos, hipótese e justificativa da
pesquisa, o material e método utilizado, resultados, e uma discussão e
conclusão simples que explique suas hipóteses para o resultado obtido.
Após o jantar os grupos apresentaram seus respectivos trabalhos e
receberam questões dos colegas, observações e pareceres tanto dos
monitores como do professor. Durante essa etapa os alunos relataram como a
hipótese anterior à coleta de dados foi diferente das hipóteses após a
interpretação dos dados. Essa apresentação inicial e os dados coletados foram
utilizados como base para o relatório a ser escrito e entregue após o final do
curso, na data estipulada pelo professor, mais próxima ao final do semestre. O
referido relatório será enviado pelo professor para o parque com o intuito de
auxiliar os gestores em sua manutenção e conhecimento sobre a área. O
professor explicitou isso em sua fala.
O professor questionou se algum grupo sentia a necessidade de realizar
nova coleta de dados e quando nenhum grupo se manifestou ele perguntou se
preferem retornar antes ou após o almoço do dia seguinte, e ficou acordado
que o retorno será de manhã, com saída prevista até às 10h. Após o acordo
todos foram liberados para fazer o que se sentirem à vontade, a maioria do
grupo se reúne para conversar.
Como na noite anterior, todos conversaram animadamente, ninguém
mais se referiu ao professor como professor, a essa altura todos se chamaram
pelo primeiro nome. Às 4h. a maioria ainda estava acordada e perguntaram
para o professor se poderiam ir ver o sol nascer na pista de pouso, o professor
concordou em leva-los e quem quis ir se preparou para a caminhada, os que
desistiram organizaram suas coisas e foram descansar ou conversar.
5.3.4. Dia 04
Ao acordar o grupo tomou café da manhã e se organizou para deixar o
alojamento em ordem, a maioria do alimento que sobrou sem ser preparado foi
deixado para os funcionários do parque.
28
Os monitores e professor conferiram os materiais que estavam
retornando utilizando a lista enviada pelos técnicos de laboratório,
questionando quando necessário os alunos quanto aos materiais faltantes –
alguns se esqueceram de tirar da mochila usada em campo.
Após tudo pronto para a partida o professor reuniu o grupo para levantar
o parecer de todos sobre o curso: elogios, observações, questões e demais
comentários. Muitos alunos gostaram “apesar de ser cansativo”, comentam
sobre a independência ao desenvolver os projetos e também sobre a
dificuldade de trabalhar e resolver problemas em grupo e a organização como
um todo.
Outro fator comentado pelos alunos é o fato dessa atividade permitir
estabelecer uma relação de igualdade entre os participantes, que ali deixam
seus papéis de monitores, alunos ou professor e passam todos a serem
pesquisadores. E que o fato dos relatórios das pesquisas feitas nessa saída
serem encaminhados para a administração do parque, é estimulante, pois
sabem que os trabalhos poderão ser utilizados de fato, para a melhoria e mais
pesquisas sobre o local.
O professor comentou sobre outras universidades que fazem esse tipo
de curso, mas de forma extracurricular e sobre como isso possibilita a
independência do aluno, e que a proposta dessa aplicação é justamente se
aproximar ao máximo da experiência vivenciada por pesquisadores já
formados.
Uma monitora falou sobre a dificuldade de convivência e resolver
conflitos, e que esse tipo de coisa não é importante só na hora de trabalhar
com diferentes profissionais –fato levantado pelo professor- mas também na
vida pessoal. São experiências que te promovem um crescimento pessoal.
Professor comentou sobre como a mudança dos monitores é visível
desde a época que foram à saída como alunos e hoje como monitores, “eles
sempre fazem comentários pertinentes, é marcante como é diferente quando
eles vêm como monitores de quando vieram como alunos”.
Para finalizar os alunos comentaram novamente sobre ser muito
cansativo, mas desejam voltar e fariam tudo de novo, alguns já até pediram
29
para retornar no próximo semestre como monitores. Uma aluna comentou que
“essa foi a primeira vez que me senti bióloga de verdade e não aluna” e outros
disseram que “deveriam ter mais saídas como essa, essa é a única que a
gente faz desse tipo e é muito boa” e “essa foi a melhor saída que a gente já
fez na faculdade”, além disso uma aluna comenta “Eu não gosto de plantas,
mas eu nunca vou esquecer do Cerrado”.
Após esse fechamento todos se encaminharam para o ônibus. Ao
chegar à UPM todos descarregaram os materiais do ônibus e encaminharam
de volta ao laboratório aonde retiraram tais materiais no primeiro dia. Os alunos
cujos pais já chegaram foram dispensados para ir embora. Os monitores
ajudaram o professor e demais alunos a levar as caixas até que todos foram
dispensados após o término.
5.4. Avaliação formal do curso
Durante a primeira aula de ecologia vegetal após o retorno da saída de
campo, o professor explicou que sabe que “a construção da pesquisa foi algo
processual”, mas que o relatório a ser produzido com base nessa atividade
será o produto final a ser avaliado – da mesma forma que seria se eles
tivessem feito essa saída como um funcionário, ou seja, “o seu chefe não olha
o processo por trás disso, ele quer ver o produto final”- e é o que vai lhe
permitir verificar o desemprenho deles e a qualidade de tudo que foi construído
até aquele momento.
Portanto, a avaliação formal deste curso foi feita por meio do relatório da
saída e entregue próximo ao final do semestre com nota de zero a dez, sendo
seu peso 25% na nota final da disciplina. Ele explica o que deverá conter no
relatório, tira dúvidas sobre sua estrutura e sobre as demais questões que
surgem.
Após a nota final ser liberada no sistema, o professor permitiu àqueles
que não alcançaram a média intermediária maior ou igual a 7,5 escolhessem
entre corrigir o relatório segundo as observações da monitora que o corrigiu ou
realizar a prova substitutiva, sendo que somente um aluno escolheu a última
opção.
30
5.5. Monitores
Em conversas informais os monitores relatam suas motivações por trás
de continuarem acompanhando a saída mesmo após o cumprimento da
disciplina, e principalmente, porque se voluntariam a isso.
Os principais fatores por trás dessa escolha têm a ver com questões
pessoais: alguns gostam do parque – tanto que acabam por desenvolver
projetos de iniciação científica ou TCC no próprio local; outros gostaram da
vivência e desejam continuar participando dessas experiências; alguns relatam
sobre a relação que isso tem a ver com a educação ambiental – área que
pretendem seguir ao se formar; todos relatam a relação afetiva que
desenvolveram com o professor responsável e sobre a independência e caráter
autoral que essa saída a campo proporciona na formação de cada um.
Eles relatam como cada saída é única e muda de acordo com a
dinâmica da sala acompanhada e a relação que eles desenvolveram ao longo
do semestre com o professor. Segundo eles, essa alteração entre cada
vivência é determinante em desejar participar da próxima “cada sala muda, a
gente sabe que não vai ser igual e fica ansioso em descobrir como vai ser”.
Outro fator que foi levantado é que a experiência de ir como aluno é
muito diferente de ir como monitor, “a responsabilidade é totalmente diferente,
nossas atitudes têm que cumprir com o esperado de um monitor, o Leandro
está contando com a gente, e os alunos também”.
Já o professor comenta sobre os critérios para a escolha dos monitores
a serem convidados para participar da saída e alguns critérios se sobressaem,
dentre eles: responsabilidade, comprometimento, liderança, confiança e boa
relação tanto entre monitor e alunos, monitor e monitor, quanto entre monitor e
professor. A experiência relacionada à ecologia é outro fator relevante na
seleção dos monitores.
6. Discussão
Tratando-se das questões de ecologia e educação ambiental, é notável
que mesmo tratando-se de assuntos diferentes, a sua correlação é possível de
31
ser feita por meio do caráter integrador do estudo do meio e da realização de
projetos por parte dos alunos como descrito tanto Machado (2004) quanto
Cozza e Santos (2004). Estas relações geram questionamentos, reflexão,
utilização de saberes antigos e diferentes tipos (conceituais, atitudinais e
procedimentais) para construção de novos e, principalmente, por conciliar
projetos individuais e coletivos para que o objetivo proposto seja alcançado,
que no caso é auxiliar a gestão do parque por meio dessas produções.
A aproximação dos participantes do ambiente natural por meio da
aprendizagem de conceitos de ecossistemas, a conscientização quanto aos
riscos de degradação ambiental que o Cerrado e aproximação entre os
próprios participantes durante o desenvolvimento das atividades mesmo diante
de conflitos pessoais, cumprem a ideia relatada por Teixeira (2001) de uma
educação ambiental consciente quanto às questões pessoais, sociais e
ambientais.
A realização de trilhas antes e depois da aula sobre a fitofisionomias de
cerrado presentes no parque permitiu que os alunos conhecessem o local em
um primeiro momento e repensassem sobre o que foi visto após e durante a
aula e assim, tendo uma nova reaproximação do Bioma em questão. Esta é
uma vivência de possível modificação dos esquemas de conhecimento por
parte dos participantes envolvidos e levando em conta a constante mudança de
significados ao longo do curso. Ideias essas defendidas por Mauri (1996).
Durante as atividades em campo, percebe-se que ocorre um processo
de entendimento dos conceitos estudados em aula quando os alunos
apresentam seus projetos e discutem com o professor as possibilidades de sua
execução pois precisam argumentar suas hipóteses e reflexões quanto ao
tema escolhido. Para tanto, é necessária a realização de pesquisas e retomada
de conceitos já sabidos por eles, os chamados conhecimentos prévios.
Ao longo das atividades as concepções de ensino por trás das atitudes
dos participantes são diferentes. No que se refere às abordagens de Mizukami
(1986), quando o professor deixou que durante a elaboração do projeto os
alunos ficassem livres e o buscassem para tirar dúvidas caso precisassem, o
professor pode ter apresentado aspectos de conduta referente à concepção
cognitivista e sócio cultural. E ao olhar outros aspectos desse processo de
32
ensino e de aprendizagem, pode-se verificar mais aspectos da abordagem
cognitivista, principalmente quando se trata da mediação feita pelo professor
em determinados pontos do processo, permitindo que os alunos repensem e
questionem as práticas e conceitos decorridos até aquele momento.
Já no que se refere à relação entre professor e aluno, a aproximação e
relação de igualdade entre as partes é evidente, sendo esse um traço marcante
tanto da abordagem sócio cultural de Mizukami (1986), quanto à educação
libertadora de Feire (2006). Isso permite que cada indivíduo se coloque no
lugar do outro, estabelecendo uma relação de igualdade e compreensão da
realidade alheia. Eles passam a se conhecer e compreender a realidade do
outro para fora da relação puramente acadêmica.
Outro aspecto importante é que a construção do conhecimento ocorre de
forma organizada num ato de construção e reconstrução de conhecimentos
prévios (MAURI, 1996) que baseiam as hipóteses por trás dos projetos
desenvolvidos por cada grupo de estudantes. Nesse sentido, a relação
estabelecida entre percepção, investigação e ação é essencial na construção e
organização do produto final. Tão importantes quando as interações
comportamentais entre os envolvidos na dinâmica do grupo como um todo,
levando em conta monitores e o professor em si, para que cada um possa
desenvolver o seu papel mediador durante a construção do novo
conhecimento.
Quando o professor relata a mudança dos monitores a cada edição do
curso, melhorando suas observações sobre os projetos e sua evolução durante
o processo, deixam claro como o processo de construção e reconstrução é
observável. Uma vez que o conhecimento prévio, e as vivências entre cada
curso são diferentes, é de se esperar que ao retornarem para a próxima
realização do curso, tenham um olhar diferenciado em relação à anterior.
Situação que corrobora as ideias de Rosa (2007) e a influência do ser humano
perante as situações.
Kubo e Batomé (2001) defendem a importância dos diversos tipos de
relações ocorridas durante o processo de ensino e de aprendizagem, portanto,
a vivência de quatro dias imersos em um grupo composto por diferentes
histórias e realidades pessoais é enriquecedora no que se trata da
33
aproximação e interação social. Rosa (2007) trata do ser humano como um ser
social que sofre influência constante das situações e indivíduos que o cerca,
logo não pode negar como a experiência de conviver com pessoas diferentes é
enriquecedora para a formação dos participantes que ali se encontram. A partir
do ocorrido ao longo do curso, cada participante irá a partir dos conhecimentos
prévios, rever e pensar, transformando a si e o meio a sua volta.
Freire (2010) trata da importância que é ter essa consciência do poder
transformador individual e coletivo para a mudança de realidades. Portanto,
essa consciência é essencial para todo e qualquer ser humano, para que ele se
integre como cidadão participativo e ativo dentro da sociedade.
Durante todo o decorrer do curso e nos relatos daqueles que já
participaram, é evidente como as relações pessoais são influenciadoras para
que as atividades passem a exprimir um significado pessoal bom aos
participantes e instiguem seu comprometimento. Isso fica claro durante o relato
dos monitores, onde o principal fator em comum entre eles, é o fato de que a
boa relação estabelecida com o professor e curiosidade quanto a forma que a
próxima saída decorrerá. Esse fato também fica evidente quando a aluna diz
“Eu não gosto de plantas, mas eu nunca vou esquecer do Cerrado”.
Segundo Cunha (1997), a educação depende dos interesses dos
envolvidos e do estímulo para pesquisa e participação das atividades. Logo,
quando alguém é estimulado quanto a um tema que é de seu interesse ou
instigado a questionar aquilo que lhe é dito, passa a se interessar em buscar
respostas e novos questionamentos. Outro fator que guia os monitores a se
oferecerem para continuar na tarefa, o estímulo por continuar em contato com
a área que é de seu interesse.
Por fim, ao descrever o Curso de Ecologia de Campo, sua
caracterização como estudo do meio fica clara, mesmo que não tenha sido a
ideia durante sua montagem. Existe um planejamento prévio de todas as partes
envolvidas, seja conceitual e/ou pessoal, um desenvolvimento por parte de
projetos coletivos durante a saída em si e avaliação do processo como um todo
por meio de um produto final. Características essas descritas por Cozza e
Santos (2004). Além da aproximação de uma realidade que não lhes é habitual,
permitindo conhece-la e compreendê-la sobre diferentes aspectos.
34
7. Considerações finais
A partir dos dados coletados e sua análise, é possível concluir alguns
aspectos sobre o Curso de Ecologia de Campo e suas contribuições para o
ensino de ecologia na graduação. Primeiramente, sim se trata de um estudo do
meio com papel integrador principalmente pela utilização de projetos para
alcance do objetivo proposto, que no caso é auxiliar a gestão do parque por
meio dessas produções científicas.
No que se refere ao processo de ensino e aprendizagem, percebe-se
uma aproximação de conceitos, atitudes e mesmo valores, permitindo a
reflexão e reestruturação de saberes numa maneira constante e processual,
um ciclo que começa e termina em questionamentos. É importante ressaltar
que quando um estudante vê significado e proposta em sua atividade escolar,
se compromete e sente-se motivado a prosseguir e desenvolver sua autonomia
mais ativamente.
Também é possível observar uma aproximação pessoal entres os
participantes do curso e rompimento da barreira hierárquica tradicionalmente
imposta na educação comumente presenciada, em todos os seus níveis. Um
fato marcante é como as relações pessoais interferem no processo de ensino e
de aprendizagem, influenciando escolhas tanto por parte do professor como
dos estudantes. Tal interferência, no entanto, tende a ser ignorada diante da
burocracia e institucionalização da educação.
8. Referências Bibliográficas
BRASIL, Governo do Estado de São Paulo. Parque Estadual do Juquery. São Paulo: 2017. Disponível em: < http://www3.ambiente.sp.gov.br/parque-estadual-do-juquery/>. Acesso em: 15 mai. 2017.
BRASIL, Governo do Estado de São Paulo. Parques e Unidades de Conservação. São Paulo: 2017. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/ambiente/parques-e-unidades-de-conservacao/>. Acesso em: 15 mai. 2017.
BRASIL. Lei n°. 9.975, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras
35
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Casa Civil.
BRASIL. MEC. PCN+ Ensino Médio – Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf>. Acesso em: 30 out. 2016.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. 166p.
COZZA, M. M. R.; SANTOS, O. R. de A. Estudo do meio. In: Projeto Araribá: Informes e documentos. São Paulo: Editora Moderna, 2004.p.1-16.
CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. 10 ed. São Paulo: Papirus, 1997.
FERREIRA, A. L. de S.; PASA, M. C. Aula de campo como metodologia de ensino em ecologia de florestas, Chapada dos Guimarães – MT, Brasil. 2015. Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=8&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiRv9nm25rSAhWFFpAKHWoJB1kQFghTMAc&url=http%3A%2F%2Fperiodicoscientificos.ufmt.br%2Fojs%2Findex.php%2Fbiodiversidade%2Farticle%2Fdownload%2F2251%2F1620&usg=AFQjCNEVbxICYpASVnuHanFWe5qkIuac4w>. Acesso em: 12 fev. 2017.
FREIRE, P. Ensinar não é transferir conhecimento. In: FREIRE, P. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2010. p.47-90.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 44. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
KUBO, O. M.; BOTOMÉ, S. P. Ensino-aprendizagem: uma interação entre dois processos comportamentais. 2001. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewFile/3321/2665>. Acesso em: 06 nov. 2016.
LOPES, C. S.; PONTUSCHKA N. N. Estudo do meio: teoria e prática. 2009. Disponível em: <https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/561488/mod_resource/content/1/estudo%20do%20meio.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2016.
MACHADO, N. J. Educação: Projetos e Valores. 5 ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2004. p.1 - 67.
MAURI, T. O que faz com que o aluno e aluna aprendam os conteúdos escolares. In: COLL, C.; MARTÍN, E.; MAURI, T.; MIRAS, M.; ONRUBIA, J.; SOLÉ, I.; ZABALA, A. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996. p. 153-196.
MIZUKAMI, M. G.N. Ensino: As abordagens do processo. Temas básicos de Educação e Ensino. São Paulo: EPU. 1986.
36
NOGUEIRA, A. P. F.; MACENA, C. V.; OLIVEIRA, E. V. da; LIMA, F. S. de; BRITO, J.N. de; OLIVEIRA, L. G. de; COSTA, L. B.; CAVALCANTE, M. dos S.; FREIRE, N. P.;NASCIMENTO, P. P. G. do; ALBUQUERQUE, M. A. M. de. Projeto Integrado Monitoria do Curso de Geografia – UFPB: uma experiência de Estudo do Meio. X Encontro de Iniciação à Docência, 2005. Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/documentos/anais/4.EDUCACAO/4CCENDGEOCMT05.pdf>.Acesso em 11 out. 2016.
PECHLIYE, M. M.; TRIVELATO, S. L. F. Sobre o que professores de ecologia refletem quando falam de suas práticas. Ensaio, São Paulo. 2006. v. 7, n. 2, p. 1 - 16. Disponível em: <http://www.fae.ufmg.br/ensaio/>. Acesso em: 05 nov. 2016.
POZO, J. I. e CRESPO, M. A. A aprendizagem e o ensino de ciências – do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. 5ª Ed. Porto Alegre, Artmed, 2009.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. v. 41. São Paulo.
Editora Cortez, 1995.
ROSA, S. S. da. Construtivismo e a mudança. 10. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2007.
SENICIATO, T.; CAVASSAN, O. O ensino de ecologia e a experiência estética no ambiente natural: considerações preliminares. Ciência & Educação, Bauru. v 15, n. 2, p. 393-412, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132009000200010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mar. 2017.
SILVA, T.S.; ROSA, I.S.C.; BRITO, D. de V.; LANDIM, M. F. Análise do ensino de ecologia em cursos de graduação em Sergipe quanto a utilização de aulas de campo. Scientia plena. Sergipe. v. 10, n.04, p. 1-16, 2014. Disponível em: <
https://www.scientiaplena.org.br/sp/article/view/1597>. Acesso em: 10 abr. 2017.
TEIXEIRA, E. C. Ensino de ciências para jovens e adultos: a educação ambiental como tema central. Aprendendo com jovens e adultos: revista do Programa de Ensino Fundamental para Jovens e Adultos Trabalhadores. 1 ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/faced/pesquisa/niepe-eja/pefjat/educacao_ambiental.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2017.
37
ANEXO A - Autorização para atividades com finalidade didática no âmbito
do ensino superior.
38
39
40
ANEXO B - Projeto de ensino-pesquisa.
CURSO DE ECOLOGIA DE CAMPO NO PARQUE ESTADUAL DO
JUQUERY
Projeto de ensino-pesquisa apresentado
à Comissão Técnico-Científica do
Instituto Florestal (COTEC)
Responsável:
Prof. Dr. Leandro Tavares Azevedo Vieira
São Paulo
2015
41
Curso de Ecologia de Campo no Parque Estadual do Juquery
Palavras-chaves: campo cerrado, ecótono, área de transição, mata atlântica.
Equipe executora e respectiva instituição filiadora:
Responsável pelo Projeto: Leandro Tavares Azevedo Vieira
RG: 294160120-3 CPF: 302715938-06
Email: [email protected] DDD e Telefone: 11-99264-7486
Instituição: Universidade Presbiteriana Mackenzie, Campus Higienópolis
CGC 60.967.551\0001-50 Inscrição Estadual: isenta
Endereço: R. Consolação 930 CEP: 01302-907
Representante legal da Instituição: Berenice Carpigiani Cargo: Diretora de Unidade
Objetivo
A referente proposta é um projeto de ensino-pesquisa-extensão a ser
desenvolvido nos moldes de um curso de campo de três a quatro dias com
alunos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Campus Higienópolis, como parte da disciplina de Ecologia
Vegetal.
O objetivo deste projeto é promover o treinamento técnico, científico e
educacional aos alunos participantes do curso, por meio de pequenos projetos
de pesquisa em Ecologia Vegetal. Todos os projetos irão gerar relatórios que
serão disponibilizados por meio eletrônico e deixados à disposição do Parque
Estadual do Juquery. O curso será repetido semestralmente, gerando uma boa
quantidade de dados e de forma temporal, beneficiando o conhecimento da
flora e fauna do parque.
Justificativa
O Parque Estadual do Juquery é o último remanescente de Cerrado na
região Metropolitana de São Paulo (Florestal, 2015) com poucos trabalhos
acadêmicos publicados sobre sua fauna e flora. O trabalho mais completo
sobre a flora revela uma riqueza total de 420 espécies abrigando várias
espécies ameaçadas e pouco frequentes na região (Baitello et al., 2013).
Algumas características tornam o parque especialmente rico para a pesquisa
42
científica dentro do contexto de um curso de campo: a) ser um encrave
fitogeográfico de formações campestre, savânica e florestal (Baitello et al.,
2013); b) um regime climático e uma classificação de solo atípico para
Cerrados Brasileiros, com maior semelhança às condições florestais; c)
proximidade com as Florestas Ombrófilas Densas da Serra da Cantareira; d) a
proximidade parcial de áreas antropizadas; entre outras. Essas características
permitem aos alunos desenvolverem inúmeras perguntas ecológicas que
poderão ser respondidas através das coletas de dados e eventualmente serem
respondidas in loco devido à boa estrutura do parque. Buscamos, além de
aumentar o interesse do aluno no assunto, proporcionar um maior
conhecimento sobre as relações ecológicas que ocorrem dentro do Parque
Estadual do Juquery.
Revisão Bibliográfica
O Cerrado é amplamente conhecido por sua grande biodiversidade e
alto índice de degradação, sendo considerado um dos 35 “hotspots” em para a
conservação do mundo (Mittermeier et al., 2011), tendo cerca de 10.000
espécies de plantas, 161 de mamíferos, 837 de pássaros, 120 de répteis e 150
espécies de anfíbios (Myers et al., 2000). Terceiro hotspots em extensão do
mundo, o Cerrado detém cerca de 4.400 espécies vegetais endêmicas, isto é,
1,5% de todas as plantas endêmicas do mundo (Myers et al., 2000).
O Cerrado sensu lato não tem uma fisionomia única e uniforme, mas
variações fisionômicas que podem ser incluídas em três grupos: o campestre
(campo limpo), o savânico (campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto)
e o florestal (cerradão; (Coutinho, 1978). Ribeiro e Walter (2008) descrevem 11
fisionomias principais adicionando aos anteriores o campo rupestre
(campestre); parque cerrado, palmeiral e vereda (savânico); mata ciliar, mata
de galeria e mata seca (florestal). Considerando ainda os subtipos, o cerrado
pode ter 25 fitofisionomias diferentes (Ribeiro e Walter, 2008).
Devido à alta complexidade de seus habitats e pelos altos níveis de
endemismo e beta diversidade de plantas, o Cerrado também foi incorporado à
lista das duzentas ecorregiões do mundo com prioridade para conservação
(Olson et al., 2002). Segundo (Myers et al., 2000), restam apenas 20% de sua
43
vegetação natural e apenas 6% de área protegida em unidades de
conservação, a mais baixa proporção de todos os hotspots mundiais
considerados no estudo. Arruda et al. (2008) apontam que o Cerrado possuí
2,51% de área protegida em unidades de conservação, porém considerando
terras indígenas esse valor sobe para 6,48%. Em 2006 o governo brasileiro
estabeleceu a meta de 10% da área do Cerrado protegida em unidades de
conservação até 2010, porém foi atingido apenas 7,44% (MMA, 2011). Além da
baixa proteção em unidade de conservação, o relatório do Ministério do Meio
Ambiente (MMA, 2009) aponta o crescimento no desmatamento de áreas em
todas as regiões do Cerrado entre 2002 e 2008 (Fig 1.).
No Estado de São Paulo, o Cerrado lato sensu ocupava em 2001 uma
área de apenas de 211.925 ha (Kronka et al., 2005), apenas 11,53% do que
ocupava em 1961 ou apenas 5,9% do que ocupava de sua cobertura primitiva
(Kronka et al., 2005). Além disso, historicamente, não houve nenhum momento
de recuperação de sua área em entre estes anos (Farinaci e Batistella, 2012).
As atividades humanas que mais têm ameaçado as áreas do Cerrado paulista
são a pastagem, a plantações de cana de açúcar, estradas, reflorestamentos e
culturas anuais (Durigan, Siqueira e Franco, 2007). Assim, estudos nos
remanescentes de Cerrado no Estado de São Paulo são cada vez mais
importantes para seu conhecimento e sua conservação.
44
Fig. 1. Ocupação do Cerrado até o ano de 2008 de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2009) usando o mapa oficial dos domínios fitogeográficos (IBGE, 2004)
Material e métodos
-Área de estudo
O Parque Estadual do Juquery foi criado em 1993 em razão da
necessidade de conservação de importantes remanescentes de vegetação
nativa e da importante função de preservar áreas de mananciais do Sistema
Cantareira (Florestal, 2015). O Parque (Fig. 2) apresenta 2.058,09 hectares de
um mosaico vegetacional de formações campestre, savânica e florestal,
delimitado, ao norte, pelo vale do rio Juquery, a oeste, pela represa Paiva
Castro e, ao sul e leste, pelo interflúvio do conjunto de colinas no qual está o
chamado Morro Grande ou Morro do Juquery (Baitello et al., 2013).
Fig. 2 – Foto de satélite do Parque Estadual do Juquery (Fonte: Google Maps)
-Atividades a serem desenvolvidas
Este projeto visa o desenvolvimento do pensamento científico dos
alunos, em que eles serão incentivados e conduzidos a desenvolverem
pequenos projetos nas mais diversas áreas da ecologia. Assim, teremos
diversos métodos de coleta de dados, como observação, fotografias, coleta de
dados com equipamentos disponibilizados pela universidade, coleta de material
45
botânico e faunístico (invertebrados), sempre com critério e rigor científico,
respeitando a biodiversidade do parque e sem degradação do mesmo.
Os alunos também terão treinamento básico em reconhecimento de
espécies vegetais de Cerrado e Mata Atlântica do parque, treinamento em
métodos de amostragem (método de parcelas e de quadrantes), aplicação de
métodos estatísticos para avaliação de biodiversidade, métodos e técnicas de
comparações entre comunidades biológicas e treinamento em estudos em
dinâmica de populações. Estes treinamentos poderá se dar de forma teórica ou
teórica-prática, dependendo dos projetos a serem desenvolvidos pelos alunos.
Coleta de material biológico
Havendo coleta de material botânico, as amostras serão identificadas e
confeccionadas suas respectivas exsicatas, que serão incorporadas ao
Herbário MACK da Universidade Presbiteriana Mackenzie e suas duplicatas
encaminhadas ao Herbário Dom Bento José Pickel do Instituto Florestal.
Eventuais coletas de invertebrados terrestres serão incorporados ao acervo
zoológico da Universidade Presbiteriana Mackenzie que poderá ser usada para
fins didáticos, e um exemplar de cada espécie coletada e devidamente
identificada será encaminhada à instituição indicada pela Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo.
Cronograma
Serão agendadas diretamente com o gestor Francisco Assis Honda do
Parque Estadual de Juquery, 4 dias de campo, uma vez por semestre, entre
agosto de 2015 a agosto de 2020, adequando o calendário acadêmico do curso
de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Os dias
agendados serão de quinta-feira a domingo. O número de alunos inscritos será
informado ao gestor do parque que poderá dar um limite máximo de alunos
participantes. Será solicitado a hospedagem dos participantes, de acordo com
a capacidade informada. Toda a logística de refeição, material de campo será
providenciada pela universidade juntamente com os participantes do curso.
46
Origem dos Recursos
O curso de ecologia de campo no Parque Estadual do Juquery será
apoiado pelo curso de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie e /ou recursos próprios dos participantes.
Referências bibliográficas
ARRUDA, M. B. et al. Ecorregiões, Unidades de Conservação e Representatividade Ecológica do Bioma Cerrado. In: SANO, S. M.;ALMEIDA, S. P., et al (Ed.). Cerrado: ecologia e flora. Brasília, DF: Embrapa Cerrados/Embrapa Informação Tecnológica, 2008.
BAITELLO, J. B. et al. Parque Estadual do Juquery: refúgio de cerrado no domínio atlântico. IF Série Registros, v. 50, p. 1-46, 2013.
COUTINHO, L. M. O conceito de cerrado. Revista Brasileira de Botânica, v. 1, n. 1, p. 17-23, 1978.
DURIGAN, G.; SIQUEIRA, M. F. D.; FRANCO, G. A. D. C. Threats to the Cerrado remnants of the state of São Paulo, Brazil. Scientia Agricola, v. 64, p. 355-363, 08 2007. ISSN 0103-9016. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-90162007000400006&nrm=iso >.
FARINACI, J. S.; BATISTELLA, M. Variação na cobertura vegetal nativa em São Paulo: um panorama do conhecimento atual. Revista Árvore, v. 36, p. 695-705, 2012. ISSN 0100-6762. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-67622012000400011&nrm=iso >.
FLORESTAL, F. Parque Estadual Juquery. 2015. Disponível em: < http://www.ambiente.sp.gov.br/parque-estadual-do-juquery/sobre-o-parque/ >. Acesso em: 03/02/2015.
IBGE. Mapa de biomas do Brasil. Escala 1:5.000.000. Instituto Brasilero de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro. 2004
KRONKA, F. J. N. et al. Inventário florestal da vegetação natural do estado de São Paulo. FLORESTAL, S. D. M. A. I. São Paulo: Imprensa Oficial: 200 p. 2005.
MITTERMEIER, R. A. et al. Global biodiversity conservation: The critical role of hotspots. In: ZACHOS, F. E. e HABEL, J. C. (Ed.). Biodiversity Hotspots:
47
distribution and protection of conservation priority areas. Heidelberg: Springer, 2011. p.550.
MMA. Relatório Técnico de Monitoramento do Desmatamento no Bioma Cerrado, 2002 a 2008: Dados Revisados. MMA/IBAMA/PNUD. 2009
______. Monitoramento do desmtamento nos biomas brasileiros por satélite - Monitoramento do bioma Cerrado 2009-2010. MMA/IBAMA/PNUD. 2011
MYERS, N. et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v. 403, n. 6772, p. 853-858, 2000. ISSN 0028-0836. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1038/35002501 >.
OLSON, D. M. et al. Conservation Biology for the Biodiversity Crisis. Conservation Biology, v. 16, n. 1, p. 1-3, 2002. ISSN 1523-1739. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1046/j.1523-1739.2002.01612.x >.
RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. As principais fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.;ALMEIDA, S. P., et al (Ed.). Cerrado: ecologia e flora. Brasília: Embrapa Cerrados/Embrapa Informação Tecnológica, v.1, 2008. p.p.151-199.
48
ANEXO C - Carta de aprovação.
Carta COTEC nº 472/2015 D25/2015 BA
São Paulo, 28 de Julho de 2015.
Senhor
Leandro Tavares Azevedo Vieira
Rua Isaura, 101
São Paulo-SP
CEP: 02.247-090
Tel.: (11) 9-9264-7486
E-mail: [email protected]
Apraz-nos informar que o projeto “Curso de Ecologia de Campo no Parque Estadual do
Juquery”, constante do processo em referência, de autoria de Leandro Tavares Azevedo Vieira
e em torno de 25 alunos, foi aprovado para ser executado, no período de Março de 2015 a
Julho de 2016, na seguinte Unidade:
UNIDADE e
RESPONSÁVEL ENDEREÇO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OBSERVAÇÕES
Parque Estadual do Juquery Ao responsável pela Unidade Téc. de Apoio à
Pesq. Cient.
Tecnológica: Alda Maria Silva de Souza
a) Sede Administrativa: Endereço: Rua Miguel Segundo Lerussi, s/n° Parque Industrial Franco da Rocha-SP CEP: 07.859-390 Telefones para informação: (11) 4449-5545 (de 2ª-f a 6ª-f, das 8h às 17h) E-mail: [email protected] Dias e horário de funcionamento: de terça-feira
a domingo 8h às 17h. b) Visitação: Endereço: Rua Miguel Segundo Lerussi, s/n° Parque Industrial Franco da Rocha-SP CEP: 07.859-390 Dias e horário de funcionamento: de terça-feira
a domingo, das 8h às 17h.
Com relação à realização do projeto no Parque Estadual do
Juquery, manifestamo-nos: De acordo com a execução do projeto; Com relação aos resultados do projeto, as informações
geradas serão de: Alta prioridade; Com relação ao planejamento da Unidade, Parque Estadual
do Juquery, possui: outros documentos de planejamento; Com relação às atividades previstas pelo projeto: não existe
restrição; As seguintes colocações devem ser observadas pelos
autores, por ocasião da visita a esta Unidade: As visitas devem ser agendadas com no mínimo 30 dias de
antecedência por e-mail e confirmados por contato telefônico; Relatórios parciais e final encaminhados à COTEC devem
também ser remetidos à administração do Parque Estadual do
Juquery, para serem juntados ao acervo da Unidade.
“Disciplina de campo, condensada (3 a 4 dias), com enfoque em promover
o treinamento técnico, científico e educacional, por meio de pequenos projetos
de pesquisa a ser desenvolvido pelos alunos do curso.
O curso prevê a coleta de material botânico e insetos, no interior do
Parque Estadual do Juquery.
Como há coleta de material botânico e insetos é necessário apresentar
autorização de coleta para ambos.
A programação da disciplina apresenta-se adequada para ser
desenvolvida em áreas protegidas, sem óbices para a sua aprovação.”
49
Por ocasião das visitas nesta Unidade, solicitamos:
1. Agendar os trabalhos de campo junto à administração da Unidade, com antecedência
mínima de 15 dias, fornecendo o nome de todos os membros da equipe visitante;
2. Visitas de pesquisadores, representantes de outras instituições, convidados,
pesquisadores estrangeiros, alunos, amigos, fotógrafos, imprensa, etc., não relacionados
no projeto original como membro da equipe executora devem ser previamente
notificadas e autorizadas pela administração da Unidade;
3. Permitir acompanhamento por pessoal da Unidade, quando o responsável pela Unidade
assim estabelecer;
4. Atividades não previstas no projeto original estão vetadas, devendo ser previamente
notificadas e submetidas à análise e aprovação do Instituto Florestal;
5. Atividades não previstas no projeto original, como a captura e manipulação da fauna,
estão vetadas, devendo ser previamente notificadas e submetidas à análise e aprovação
do Instituto Florestal;
6. Portar a licença do SISBIO/IBAMA. Quando renovada, apresentar cópia para ser anexada
ao processo;
7. Somente os autores nomeados na licença do SISBIO/IBAMA poderão efetuar coletas;
8. As atividades devem restringir-se à observação de mamíferos/aves..., não sendo
permitida a captura e manipulação da fauna;
9. Questionários, formulários, entrevistas orais e outras formas de abordagem de pessoal
local e do público visitante devem ter o roteiro previamente submetido à ciência do
responsável pela administração da Unidade;
10. Atividades de coleta de amostras da biodiversidade estão condicionadas à apresentação
de cópia da licença SISBIO/IBAMA. Quando renovada, apresentar cópia para ser anexada
ao processo;
11. As intervenções a serem executadas na Unidade, como colocação de placas, pregos,
faixas, distribuição de folhetos, etc. devem ser previamente e formalmente autorizadas
pelo responsável pela administração da Unidade;
12. Não deixar no campo vestígios da passagem no local como resíduos, buracos,
embalagens, armadilhas, tambores, etc. Trincheiras e escavações devem ser seguidas de
processos de recuperação, minimizando o dano local;
13. Havendo necessidade de acompanhamento por mateiros, guarda-parques, consultar a
Unidade sobre possível disponibilidade, com antecedência mínima de 15 dias e;
14. Havendo necessidade de deslocamento de equipamentos, realizar por conta própria ou
consultar a Unidade sobre possível disponibilidade de auxiliares, com antecedência
mínima de 15 dias.
Responsáveis por projetos com previsão de coletas devem providenciar a autorização
SISBIO/IBAMA na página http://www.ibama.gov.br/sisbio/index.php?id_menu=205. Obtida a
autorização, encaminhar cópia à Comissão Técnico-Científica – COTEC para ser anexado no
50
processo respectivo. A partir de janeiro de 2008, toda e qualquer forma de coleta nas UCs
deverá ser formalmente licenciada pelo SISBIO/IBAMA.
Conforme estabelece a Portaria do Diretor Geral de 23/01/90, e cientificado à V. Senhoria nos
Termos de Compromisso e de Responsabilidade assinados em 06/02/015, há necessidade de
encaminhar à COTEC, um relatório anual, no mês de Dezembro de cada ano. Nos
relatórios assinalar a área de estudos em GPS/coordenadas geográficas.
Relatórios parciais e final encaminhados à COTEC devem também ser remetidos à
administração das Unidades de Conservação, para serem juntados ao acervo da Unidade.
Cópia da dissertação, tese, artigos, resumos em eventos científicos e outras formas de
publicações podem ser apresentados como relatório parcial e final. Não havendo possibilidade
de cópias, solicita-se o encaminhamento da(s) referência(s) bibliográfica(s), que possibilite(m)
o acesso a todas as informações geradas no projeto.
A utilização para outros fins que não seja a pesquisa científica, de fotografias, imagens, vídeos
e outras mídias registradas nas Unidades a título deste projeto devem ser objetos de termo
específico, conforme a Portaria CINP, de 09/02/1999, publicada no DOE de 10/02/1999.
Esta aprovação não implica em suporte financeiro de qualquer natureza por parte do Instituto
Florestal. A participação e ou auxílio financeiro por parte do Instituto Florestal, quando houver,
deverá ser detalhado e formalizado através de contratos, convênios e outros instrumentos
legais pertinentes, cuja cópia deve ser juntada ao presente processo.
Para qualquer informação ou eventualidade, colocamo-nos à sua inteira disposição.
Por prestigiar a nossa instituição, agradecemos.
Atenciosamente,
Israel Luiz de Lima
COTEC - Comissão Técnico-Científica
Instituto Florestal
Rua do Horto, nº 931
02377-000 - São Paulo – SP
Fone: (011) 2231- 8555 – Ramal 2071
Fax: Ramal 2220 [email protected]
51
ANEXO D - Lista de materiais necessários para desenvolvimento do
curso.
Aula 6
Saída a Campo – Parque Estadual do Juquery
Equipamentos Quantidade (por grupo)
Martelo 1
Trena de 10 m 1
Trena de 50 m 1
Podão 1
tesoura de poda manual 1
Prensa e barbantes 3
GPS 1
prensa 5
prancheta 1
Paquímetro 1
Fita métrica 1
Furador de rolha 1
Potes para coleta de insetos 4
Luxímetro 1
Medidor de teor de clorofila 1
Balança analítica 1
Rádios Transmissores 5 (total)
Material Biológico Quantidade (por grupo)
Vidrarias(Tipo) Quantidade(p/grupo
)
Kits Quantidade(Total)
52
Placa de petri grande 1
Placa de petri
pequena
1
Vidro de relógio 1
Reagentes Quantidade(p/grupo
)
Materiais de
consumo
Quantidade(p/grupo)
Álcool 70% 1 Estacas de madeira
ou ferro
8
Rolo de Barbante ou
fita zebrada
2
Sacos plásticos
grandes para
coleta
3
Jornal para
exsicatas
200 (total)
Fita crepe 2
Prensa 3
Sacos ziploc para
solo
6
Papelão para prensa 20
Material: Pissetas
c/ Água
Pissetas c/
Álcool 70%
ou Iodado
Canetas
de marcar
vidro
Bicos de Bunsen
(c/ ou s/ tela e tripé)
Álcool éter
Quantidade: 2
53
ANEXO E – Folheto explicativo do parque.
54
55
56
FOLHA FINAL DE CIÊNCIA
Eu, professor Leandro Tavares Azevedo Vieira, estou ciente do conteúdo do
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pelo aluno (a) Thayara Yeray
Avellan Resende com o Título Curso de ecologia de campo: Uma abordagem
de estudo do meio e suas contribuições para o ensino ecologia na
graduação a ser defendido em sessão pública como parte dos requisitos para
a obtenção do grau de bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
_________________________________________________
Assinatura do aluno
_________________________________________________
Assinatura do orientador (a) – Universidade Presbiteriana Mackenzie
_____________________________
Local e Data