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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO RUBENS LIMA DA SILVA Mestrado em Ciências da Religião OS MÓRMONS EM SANTA CATARINA: Origens, conflitos e desenvolvimento São Paulo - SP 2008

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

RUBENS LIMA DA SILVA

Mestrado em Ciências da Religião

OS MÓRMONS EM SANTA CATARINA:

Origens, conflitos e desenvolvimento

São Paulo - SP

2008

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RUBENS LIMA DA SILVA

OS MORMONS EM SANTA CATARINA:

Origens, conflitos e desenvolvimento

Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

ORIENTADOR: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira

São Paulo - SP

2008

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S586m Silva, Rubens Lima da Os Mórmons em Santa Catarina: origens, conflitos e desenvolvimento / Rubens Lima da Silva. 119 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2008. Bibliografia: f. 97-99.

1. Mórmons 2. Imigração alemã 3. Santa Catarina I.Título.

LC BX8629.A6 CDD 230.93

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RUBENS LIMA DA SILVA

OS MORMONS EM SANTA CATARINA:

Origens, conflitos e desenvolvimento

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira – Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Renato da Silva Queiroz Universidade de São Paulo - USP

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À minha esposa, que pacientemente auxiliou e

nos incentivou; ao meu filho pelo tempo de

minha ausência; a todos que nos auxiliaram pela

confiança na realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, autor e sustentador de toda a vida, pela força e pela coragem que nos concedeu, nos

sustentando e concedendo todo o sustento necessário para que este trabalho fosse concluído.

Ao Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira, que em sua paciência e sabedoria, muito nos

auxiliou no desenvolvimento deste trabalho, nos orientou de forma segura e lúcida, e com

sapiência nos conduziu.

Ao Élder Prof. Henrique João Blind, que muito nos auxiliou, nos concedendo importantes

informações e materiais históricos de sua família e de sua Igreja.

Ao Élder Joni L. Koch, que nos auxiliou cordialmente, e nos proporcionou contato direto com

líderes da Igreja.

Aos membros da 2ª. Igreja Presbiteriana de Itajaí, que nestes últimos meses, pacientemente,

toleraram as inúmeras ausências de seu pastor.

A todos aqueles, que, direta ou indiretamente auxiliaram-me com conselhos e orientações

especiais, e principalmente com suas orações, que com segurança, foi através delas que Deus,

nos concedeu sua maravilhosa graça, que nos sustentou e nos fortaleceu em todos os

momentos. A todos a minha gratidão.

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RESUMO

Este trabalho trata da trajetória da chegada da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos

Dias, no Brasil, em sua primeira fase de implantação, de forma mais específica, até o ano de

1941. Seu surgimento no Estado de Santa Catarina aconteceu de forma oficial, na cidade de

Joinville – colônia alemã – vindo posteriormente o trabalho junto à família Lippelt.Este

trabalho trata do desenvolvimento da imigração alemã no Estado de Santa Catarina. Será

tratado o surgimento das primeiras cidades, que serão o alvo do trabalho de proselitismo dos

Missionários Mórmons e o estabelecimento das famílias de imigrantes nas colônias criadas,

tanto por iniciativa do Governo brasileiro, quanto por iniciativas de particulares, como é o

caso das cidades de Joinville e de Blumenau. As colônias tinham o objetivo do povoamento

do Centro-Oeste Catarinense, para salvaguardar o domínio do território brasileiro, que

anteriormente havia sido contestado pela Argentina, como também, salvaguardar o território

Catarinense após o acordo de limites entre Santa Catarina e Paraná. O trabalho trata também

dos conflitos gerados pela construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande – EFSPRG,

e dos benefícios que ela trouxe. Pela Ferrovia temos a chegada dos imigrantes, sendo também

o meio utilizado pelos Missionários Mórmons para a implantação da Igreja no Centro-Oeste

Catarinense. Trata-se da família precursora da Igreja, os Lippelt, elo importante para a

implantação da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Brasil, na região de

Ipoméia, distrito de Rio das Antas – SC.

Palavras-chave: Mórmons, Imigração Alemã, Santa Catarina.

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ABSTRACT

This work is about the trajectory of the arrival of The Church of Jesus Christ of Latter-day

Saints in Brazil, during its first stage of establishment, in a more specific way, until the year

of 1941. Its starting in the state of Santa Catarina took place in the city of Joinville – German

colony – and later, working together with the Lippelt family. This work describes the

development of German immigration in the state of Santa Catarina. It will be analysed the

appearing of the first cities, which will be the target of proselytizing work by Missionary

Mormons and the establishment of the immigrant families in the founded colonies by the

Brazilian government as well as by private enterprise, as it is the case of the cities of Joinville

and Blumenau. The colonies had the goal of populating the Middle-West of Santa Catarina in

order to protect the dominance of the Brazilian territory, which had been formerly required by

Argentina, as well as protecting the territory of Santa Catarina and Paraná. This work also

analyses the conflicts aroused by the construction of the São Paulo-Rio Grande – EFSPRG

railway and the benefits that it brought. The immigrants arrived through this railway, means

of transport also used by Missionary Mormons for the settlement of the Church in the Middle-

West of Santa Catarina. The family Lippelt, pioneer of the Church, is discussed as an

important link for the establishment of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints in

Brazil in the region of Ipoméia, district of Rio das Antas – SC.

Key words: Mormons, German Immigration, Santa Catarina.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Placa de identificação da Estação de Rio das Antas – SC ................................................. 31�

Figura 2 – Estação ferroviária de Ipoméia e de missionários Mórmons ............................................... 32�

Figura 3 – Estação Ferroviária de Caçador. ......................................................................................... 33�

Figura 4 – Composição de Trem vista de forma mais aproximada ...................................................... 33�

Figura 5 – Composição estacionada na estação turística de Caçador. ................................................ 34�

Figura 6 – Vista da estação Ferroviária de Rio das Antas .................................................................... 35�

Figura 7 – Vista da estação Ferroviária de Ipoméia (Antiga Princesa Isabel) ...................................... 35�

Figura 8 – Vista do Vilarejo no vale de Ipoméia. ................................................................................... 40�

Figura 9 – Grupo de jagunços armados que participaram da “Guerra do Contestado” ....................... 44�

Figura 10 – Presidente Brigham Young ................................................................................................ 50�

Figura 11 – Élder Parley P. Pratt ........................................................................................................... 51�

Figura 12 – Élder Melvin J. Ballard e Élder Rey. L. Pratt – Buenos Aires - 1925 ................................. 54�

Figura 13 – Profeta Presidente Herbert J. Grandt ................................................................................ 54�

Figura 14 – Élder Reinhold Stöof e sua esposa Ella Stöof e os Élderes Melvin J. Ballard, Rey L. Pratt e J. Vermon Sharp – Buenos Aires 1926 .............................................................................................. 56�

Figura 14 – Presidente Reinhold Stöof e sua esposa Sister Ella Stöof – Argentina – Buenos Aires, 1926 – Segundo Presidente da Missão Sul Americana – Argentina .................................................... 59�

Figura 15 – A Força Missionária da Missão Sul Americana – Agosto de 1927. Da esquerda para a direita, sentados: Élders Russel Spencer, Frederick S. Williams, Gouglas Merril, Paul Davis, Lewis E. Christan, Waldo Stoddard, Ella Stöof, Reinhold Stöof, Jewel Jensen, Heber Clegg e Williams F. Heinz. 61�

Figura 16 – Foto ilustrativa da flor de Ipoméia ...................................................................................... 63�

Figura 17 – Auguste Kuhmann Lippelt e Robert Fridrich Heinrich Lippelt – Bremenn Alemanha ........ 67�

Figura 18 – Reunião em 03 de Agosto de 1930 no Ramo de Ipoméia na “casa” dos Lippelt dirigidos pelos Éders Jack C. Cannon e David Ballstaedt ................................................................................... 71�

Figura 19 – Família Lippelt prontos para a reunião da igreja no domingo em sua própria casa. ......... 72�

Figura 20 – Robert H. Lippelt – Após seu batismo - Ipoméia ............................................................. 72�

Figura 21 – Foto de Max Richard , Amália Augusta e Robert Richard “Zapf” Ipoméia SC 1931 ....... 76�

Figura 22 – Família Zapf em Ipoméia SC 1931 .................................................................................... 76�

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Figura 23 – Vista parcial da cidade de Joinville por volta do ano de 1929 ........................................... 77�

Figura 24 – Foto de reunião no Ramo de Joinville ............................................................................... 79�

Figura 25 – Foto da família Seel, tirada no dia do batismo em 14 de abril de 1929 em Joinville ........ 80�

Figura 26 – Foto da família Sell no ano de 1929 – Joinville - SC ......................................................... 80�

Figura 27 – Foto do batismo de Berta A. Just Sell, sendo batizada pelo Élder Emil A. J. Schindler. .. 81�

Figura 28 – Foto Éder William Fred Heinz e Élder Emil A. J. Schindler ............................................... 82�

Figura 29 – Foto da Capela do Ramo de Joinville – SC. ...................................................................... 82�

Figura 30 – Foto da 1ª. Sociedade de Socorro ..................................................................................... 84�

Figura 31 – Foto da casa alugada da Rua Itapeva no bairro da Bela Vista – SP em 1935 ................. 88�

Figura 32 – Foto Conferência na Capela do Ramo de Ipoméia no ano de 1940. ................................ 92�

Figura 33 – Foto da abertura do terreno para a construção da Capela de Ipoméia ............................. 92�

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Batismos por Nacionalidade – Missão Sul Americana: 1925 - 1930 ............ 57

TABELA 2 – Estatística da Missão Sul Americana: 1925 - 1934 ...................................... 83�

TABELA 3 – Estatística da Missão Brasileira – novembro de 1935 .................................. 87�

TABELA 4 – Estatística da Missão Brasileira: 1935 - 1944 ............................................... 90�

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 14

CAPÍTULO I – O CENÁRIO HISTÓRICO ............................................................................................. 18

1.1 A colonização alemã em Santa Catarina ................................................................................. 18

1.2 A Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande – EFSPRG ........................................................ 27

1.3 Formação da região de Ipoméia (antiga Princesa Isabel) ...................................................... 36

1.4 Contexto de Lutas – suas origens – Guerra do Contestado. ................................................... 40

CAPÍTULO 2 – OS PIONEIROS ........................................................................................................... 45

2.1 Os protagonistas - Sumário da História dos Mórmons – origem. ............................................ 45

2.2 A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na América do Sul ............................. 50

2.2.1 A Primeira Tentativa – Chile – Frustração ............................................................................... 51

2.2.2 A Segunda Tentativa – Argentina - Implantação .................................................................... 53

2.2.3 Karl Bruno Reinhold Stöof – 2º. Presidente da Missão Sul Americana ................................... 59

2.3 Início do trabalho – Ipoméia ..................................................................................................... 61

2.4 Os precursores – A Família Lippelt .......................................................................................... 64

CAPÍTULO 3 – SEUS MEMBROS ........................................................................................................ 67

3.1 Os Lippelt .................................................................................................................................. 67

3.1.1 A conversão de Robert Fridrich Heinrich Lippelt ...................................................................... 72

3.2 Os primeiros membros da “A Igreja de Jesus Cristo” no Brasil – A Família Zapf .................... 74

3.3 A Igreja implantada – Joinville .................................................................................................. 76

3.4 A Missão Brasileira ................................................................................................................... 85

3.5 A Capela de Ipoméia ................................................................................................................ 90

CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 94

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................... 97

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ANEXO 1 ............................................................................................................................................. 100

ANEXO 2 ............................................................................................................................................. 101

ANEXO 3 ............................................................................................................................................. 102

ANEXO 4 ............................................................................................................................................. 103

ANEXO 5 ............................................................................................................................................. 104

ANEXO 6 ............................................................................................................................................. 105

ANEXO 7 ............................................................................................................................................. 106

ANEXO 8 ............................................................................................................................................. 107

ANEXO 9 ............................................................................................................................................. 108

ANEXO 10 ........................................................................................................................................... 109

ANEXO 11 ........................................................................................................................................... 110

ANEXO 12 ........................................................................................................................................... 111

ANEXO 13 A ........................................................................................................................................ 112

ANEXO 13 B ........................................................................................................................................ 113

ANEXO 14 ........................................................................................................................................... 114

ANEXO 15 ........................................................................................................................................... 115

ANEXO 16 ........................................................................................................................................... 116

ANEXO 17 ........................................................................................................................................... 117

ANEXO 18 ........................................................................................................................................... 118

ANEXO 19 ........................................................................................................................................... 119

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INTRODUÇÃO

Este projeto insere-se em outro, de maior abrangência, coordenado pelo

professor Dr. João Baptista Borges Pereira, cujo tema é “Relação entre Etnia e Religião no

Brasil”, na medida em que “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, embora

não étnica ou etnicizada faz parte da imigração alemã no Brasil às vezes confunde-se com este

processo.

Na mesma linha deste projeto já foram elaboradas sete dissertações de

mestrado, sendo elas: Alvorada: Negros e Brancos numa Congregação Presbiteriana de

Londrina1, que analisa a presença de protestantes negros nesta Congregação; Terra Nostra em

Mudança: Identidade Étnica Religiosa e Pluralismo Religioso numa Comunidade Italiana no

Interior Paulista2, que focaliza a italianidade e o protestantismo em um ex-núcleo de

colonização italiana pós-guerra, na localidade de Pedrinhas Paulista, Estado de São Paulo;

Missão Caiuá: Caiuá da Ação Missionária Protestante entre índios Guaranis, Caiuá e

Terena3, trabalho orientado pelo Prof. Dr. Antonio Gouvêa Mendonça, que busca examinar o

relacionamento entre índios e missionários na Missão Caiuá; Um Véu sobre a Imigração

Italiana no Brasil4, que trata da presença de imigrantes italianos na fundação da Congregação

Cristã no Brasil, bem como a marca étnica italiana dessa igreja a partir de seus primórdios

1 NETO, José Furtado Martins Trigueiro, “Alvorada: Negros e Brancos, numa congregação Presbiteriana de Londrina – estudo de caso, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2004. 2 GOUVÊA, Marivaldo, Terra Nostra em Mudança: Identidade Étnica Religiosa e Pluralismo Religioso Numa Comunidade Italiana no Interior Paulista, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005. 3 NASCIMENTO, Jonas Furtado do, Missão Caiuá: Caiuá da Ação Missionária Protestante entre os índios Guarani, Caiuá e Terena, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2004. 4 BIANCO, Gloecir, Um Véu sobre a Imigração Italiana no Brasil, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005..

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(1910); Os Coreanos Protestantes na Periferia de São Paulo – Um Estudo de Caso5, trabalho

este, que está voltado a um estudo sobre os missionários presbiterianos coreanos na corrente

migratória desse grupo étnico no Brasil, analisando o significado bem como a proposta desses

membros da Igreja Presbiteriana, em sua atuação no diversificado e complexo campo

religioso; Delírios Religiosos e Estruturação Psíquica – “O Caso Jacobina Mentz Maurer e o

Episódio Mucker” – Uma Releitura Fundamentada na Psicologia Analítica6, uma proposta de

releitura da psicologia analítica do Movimento Messiânico Mucker, relacionando esse

movimento a imigrantes alemães luteranos; A Igreja Católica Ortodoxa Russa no Exílio em

São Paulo – Identidade Étnica e Religião – Um Estudo de Caso7, busca revelar a atuação da

“Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Russa no Exílio”, também conhecida como “Igreja

Ortodoxa Russa fora das Fronteiras”, junto a imigrantes russos em São Paulo.

O presente trabalho tem como base, o trabalho elaborado por Nádia Fernanda

Maia de Amorim, “Os Mórmons em Alagoas – Religião e Relações Raciais”, que foi

orientada pelo Prof. Dr. Oracy Nogueira, um dos mais expressivos entre os sociólogos

brasileiros, que foi também, orientador do Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira, em

dissertação de mestrado realizada na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. O trabalho

de Nádia é o único trabalho acadêmico conhecido no Brasil, sobre o grupo de Mórmon. No

entanto, há trabalhos elaborados, na Universidade de Utah – USA, no departamento de

história, sobre o desenvolvimento e implantação da Igreja na América do Sul, como o de John

DeLon Peterson, dissertação de Mestrado, sobre a história do movimento Missionário

Mórmon na América do Sul até o ano de 1940, citado no corpo deste trabalho.

O trabalho de Nádia Amorim faz um estudo sobre a aceitação do não branco na

“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. Faz um estudo histórico da

implantação da Igreja, no Estado de Alagoas, estudando o Ramo do Farol – Maceió, onde a

Igreja foi implantada inicialmente, naquela localidade, através do trabalho de proselitismo dos

Missionários Mórmons. Nadia destaca os três momentos desta implantação: 1) A ação

missionária rigorosamente fechada aos não brancos; 2) O crescimento do número de

5 ARAÚJO, Edson Isaac Santos, Os Coreanos Protestantes na Periferia de São Paulo – Um Estudo de Caso, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005.6 MÓDULO, Heloisa Mara Luchesi, Delírios Religiosos e Estruturação Psíquica – “O Caso Jacobina Mentz Maurer e o Epsódio Mucker”- Uma Releitura Fundamentada na Psicologia Analítica, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2006.7 LOIACONO, Maurício, A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Russa no Exílio em São Paulo – Identidade Étnica e Religião – Um Estudo de Caso, Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2006.

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“simpatizantes” (os não brancos), no trabalho; 3) o efetivo trabalho de crescimento a partir de

uma atividade missionária extensiva aos não brancos.

O presente trabalho tem como objetivo, um estudo de campo, em busca do

levantamento da história da implantação da Igreja no Brasil. Busca-se as bases do

estabelecimento das famílias de imigrantes alemães no Brasil, imigrantes estes, que foram não

só os precursores, como também, os primeiros alvos do trabalho de proselitismo dos

Missionários que se estabeleceram no Brasil. Os Missionários buscaram nas cidades de

colônias de imigrantes alemães para implantarem a Igreja, como é o caso da cidade de

Joinville, cidade esta, que tem uma forte predominância de imigrantes alemães.

Será também, tratado sobre a visão dos primeiros líderes tanto na pregação do

Evangelho, como as estratégias utilizadas para o desenvolvimento de seu trabalho, buscando-

se subsídios para o estabelecimento e desenvolvimento histórico da implantação da Igreja

Mórmon. Os primeiros membros da Igreja, os Lippelt, e a família Zaph. A perseverança

demonstrada pela matriarca da família, Auguste Lippelt. Os líderes da Igreja, que tinham a

responsabilidade da implantação, e a demonstração de amor à obra de proselitismo e de

pregação do Evangelho.

Será traçado a história do trabalho dos Missionários Mórmons, sua liderança e

o trabalho dos jovens Missionários, que serão os responsáveis pela expansão da Igreja,

trabalho este, que iniciado na América do Sul como alvo primordial. O termo América do Sul,

neste trabalho, designará primariamente a Argentina e o Brasil. Nestes países, ocorreram os

primeiros e reais avanços Missionários. O Chile será mencionado como início do trabalho

Mórmon na América do Sul, porém, como será discutido, houve por parte da Igreja uma

desilusão em reconhecer que a América não estava preparada para receber o Evangelho

naquela primeira investida.

O desenvolvimento, e os meios pelos quais este desenvolvimento será

alcançado, serão ilustrados neste trabalho; como também, os personagens principais, serão

traçados e em alguns casos, sua história será registrada, como é o caso da família Lippelt e da

família Zaph.

O trabalho limita-se ao contexto histórico da imigração alemã em Santa

Catarina; a implantação da Igreja; a cidade de Joinville; a colônia de Rio Preto (Ipoméia) e

posteriormente a cidade de São Paulo e o Brasil. Serão tratados os primeiros anos do trabalho,

de forma mais específica até o ano de 1941, quando se dá a saída dos Missionários

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americanos que estavam estabelecidos em terras brasileiras e a proibição por parte da Igreja,

da vinda de novos Missionários.

O transcurso da 2ª. Guerra Mundial, e a entrada por parte dos Estados Unidos

causou a paralisação do trabalho de proselitismo, no Brasil, por parte dos Missionários

Americanos, esta decisão causou várias dificuldades e conseqüentemente, alguns

enfraquecimentos. Foi a perseverança e a confiança dos conversos que manteve a Igreja em

funcionamento. Os Missionários retornam ao Brasil no ano de 1945, logo após o

encerramento do conflito Mundial, dando continuidade aos projetos e conseqüentemente o

desenvolvimento da Igreja, em todo o território brasileiro.

A pesquisa busca dados da Igreja, no interior de Santa Catarina, nas cidades de

Videira, Rio das Antas e Caçador, região que também foi o palco do conflito armado, que

ficou conhecido como “Guerra do Contestado”, embora, tendo sido encerrado em 1916, as

conseqüências se estenderam por muitos anos, gerando muitas implicações para os imigrantes

que se estabeleceram naquelas colônias.

Busca-se a história da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”

na América do Sul. A implantação primeiramente na Argentina e o estabelecimento da

Missão Sul-Americana, a responsável pela pregação do Evangelho no Brasil, e de onde

partiram os primeiros Missionários Mórmons para o Brasil e para outros Países da América

do Sul.

Veremos o cotidiano dos Missionários e dos imigrantes alemães, e o respectivo

envolvimento com a Igreja, sem se distanciar de sua identidade étnica. Mesmos afastados de

seu País, os imigrantes alemães, buscaram preservar sua etnia e pelo menos, no início, não

houve a miscigenação; fato este, que é de suma importância para a Igreja.

A finalidade deste trabalho é estabelecer o registro histórico, do início da “A

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” no Brasil, e buscar observar a aceitação

da nova forma de pensar religioso demonstrado por este grupo. Observar sua inserção na

sociedade brasileira e investigar sua inserção no vasto campo religioso brasileiro.

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CAPÍTULO I

O CENÁRIO HISTÓRICO

1.1 A colonização alemã em Santa Catarina

Para conhecermos um pouco sobre as histórias dos imigrantes alemães,

precisamos conhecer os fatos que levaram tais pessoas a abrirem mão de sua pátria e

buscarmos compreender os fatos que levaram a tomarem tal atitude.

Parte da história da colonização de Santa Catarina se inicia com a chegada dos

primeiros imigrantes alemães em terras brasileiras, fatos estes que foram motivados pelas

boas notícias que chegaram a partir de 1826: as notícias positivas do sucesso da Colônia São

Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

O interesse dos alemães paraa emigrarem para o Brasil aumentou nas cidades

Hanseáticas (norte da Alemanha) – Bremen, Hamburg e Lübeck – cujos armadores davam

preferência ao transporte de pessoas. Estas cidades constituíam uma organização econômica-

política medieval destinadas a proteger o seu comércio marítimo contra a pirataria e assegurar

os privilégios comercias alcançados. A Liga Hanseática (em alemão – die Hanse, sendo que

An Hanse significava aproximadamente associação) no final da Idade Média e início da Idade

Moderna (entre os séculos XIII e XVII), mantiveram monopólio comercial sobre quase todo

norte da Europa e do Báltico, sendo que no início o objetivo era comercial, mas com o passar

do tempo, desdobrou-se numa aliança política entre as cidades. Esta estrutura foi desmontada

pelo Tratado de Westfália (1648), que definiu o conceito de Estado-Nação. No século XVIII,

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o governo Hanseático, subsistiu apenas em Lübeck, Hamburg e Bremen, sendo que nas duas

últimas, ainda hoje, referem-se a si mesmas como vilas hanseáticas8.

O agente de Encargos Políticos do Imperador Dom Pedro I, Major Georg

Anton Schäfer9, que não havia sido bem recebido, em sua missão de recrutar soldados para o

exército Imperial, havia sido hostilizado pelo Chanceller da Áustria, Matternich. Ele encontra

grande apoio naquelas cidades Hanseáticas.

Os anos de 1827 e 1828 vão encontrar os agentes do Major Schäfer em plena

atividade no vale do Mosela, no Eifel (próximo a fronteira da França e Luxemburgo), no

Hunsrück (sul da Alemanha) e no Satre (norte da Alemanha).

O major Schäfer, com residência em Bremen, comandou a propaganda de

aliciamento, executada com eficiência por seus prepostos. Havia por parte do Imperador, a

procura de famílias que quisessem se estabelecer como colonos.

A Prússia10, um estado independente, de 1701 até 1871, chamado de “O Reino

da Prússia”, era tolerante quanto ao envio de seu povo, desde que não levassem aqueles que

estivessem em idade de serviço militar. Este Estado foi o maior dos Estados constituintes do

Império Alemão, a maior unidade territorial e administrativa dentro do Império, da República

do Terceiro Reich, desde 1871 até 1945, tendo por este motivo, restringido a saída de

imigrantes em idade de prestarem o serviço militar.

O governo Imperial do Brasil oferecia aos interessados, ótimas vantagens,

como relata Philippi (1975, p. 18):

1. Os emigrantes para a colonização no Brasil não necessitarão de recursos. O Governo se encarregará da passagem marítima e da alimentação durante a viagem. Uma vez no Brasil, serão assistidos pelo Governo com utensílios agrícolas, com as primeiras provisões e com um subsídio diário11 até que estejam em condições de eles mesmos se alimentarem.

2. Os emigrantes mais abastados, que viajarem às próprias expensas, entrarão no gozo de todas as vantagens previstas depois de chegados

8Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ acessado em 27/04/2008. 9 Para uma descrição mais detalhada sobre o assunto, ver em: PHILIPPI, Aderbal João, São Pedro de Alcântara: A primeira colônia alemã de Sta Catarina, Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1975, p.16, 17. 10 A Prússia (Pr�sa, em prussiano antigo; Preüßen, em alemão; Prusy, em polonês; Pr�sai, em lituano; Borussia, em latim) foi no contexto histórico mais recente, um Estado que surgiu a partir da Prússia Oriental, que ao longo de séculos exerceu forte influência sobre a história da Alemanha e da Europa. A última capital da Prússia foi Berlim. http://pt.wikipedia.org/ – acessado em 27/04/2008. 11 Este subsídio, segundo o aviso Imperial, de 25 de outubro de 1828, por ordem do Presidente da Província de Santa Catarina, ordenava que estabelecessem os colonos alemães, que chegariam pelo bergantim Marques de Vianna – entre a Capital e a Vila de Lajes, lugar que mais comodidade oferecia, recebendo cada um a diária de 160 réis pelo prazo de um ano, a serem pagos pela Junta da Fazenda da Província.

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ao Brasil, tendo direito a maior área de terras, proporcionalmente aos custos da viagem.

3. Ninguém será obrigado ao serviço militar. Os engajamentos serão voluntários. Para isso, já na Alemanha, são concedidas cartas àqueles que não pretendem prestar o serviço militar.

4. Os emigrantes serão estabelecidos em agrupamentos próprios para preservar, pela tradição, seu patrimônio cultural e moral e para não perderem seus valores de origem, inclusive o idioma num ambiente estranho e de não correrem, os seus descendentes, o perigo da degeneração e da decadência de costumes.

5. Aos não católicos conceder-se-á casa de oração e escola, mesmo não sendo elas públicas, e todas as ajudas por parte do governo. Cada colônia receberá, para suas comunidades eclesiásticas e escolares, concessões de terras, que serão cultivadas depois que chegarem os pastores e professores, pelos membros da colônia.

6. O Governo Brasileiro, antes da emigração, fornece a cada emigrante, para que apresente às autoridades do seu país, o Certificado de Recepção (Aufnahmezusicherung), o qual garante aos colonos, que fixarem residência em terras concedidas pelo Governo, a equiparação política com os demais súditos do Império.

7. Os colonos serão estabelecidos na Província do Rio Grande do Sul.

Antes do embarque, era celebrado, no porto, um contrato entre o emigrante e o

representante consular brasileiro, discriminando o número de pessoas de cada família. A

localização para o estabelecimento dos colonos foi alterada: de vez da Província do Rio

Grande do Sul, seria nas suas imediações.

Assim iniciaram-se as primeiras viagens de alemães para colonizarem as terras

de Santa Catarina. Uma canção, composta em 1826, por Peter Minor, era cantada pelos

viajantes durante a travessia oceânica, que naqueles tempos demorava cerca de 90 dias, e

dizia assim, com transcrição da letra por Philippi (1975, p. 19, 20):

Wir Treten jetzt die Reise nach Brasilien an; Sei bei uns, Herr, und weise, ja, mache selbst die Bahn; Sei bei uns auf dem Meere mit Deiner Vaterhand! So Kommen wir ganz sicher in das Brasilien-Land.

Durch Gott sind wir berufen, sonst käm’s uns nie Sinn; So glauben wir und wandern auf Dein Geheiss dahin. Gott führt uns auf dem Meere mit Seiner Vaterhand, So kommen wir ganz sicher in das Brasilien-Land.

Gott sprach zu Abrahame; Geh aus von deinem Land, Ins Land, das ich Dir zeige durch Meine starke Hand! Auch wir vertrauen feste auf Gott, sein heilig Wort, So gehen wir von dannen jetzt nach Brasilien fort. Wie oft haben wir gerufen zu Dir, mein Gott und Herr, So hat sich jetzt eröffnet ein Land, worinnen wir Auf Deinen Wink hingehen. Durch Leitung Deiner Hand Wirst Du uns wohl versorgen in dem Brasilien-Land.

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A tradução feita pelo Rev. Siegfried Heinzle, pastor da Igreja Presbiteriana de

São Francisco do Sul – SC, descendente de imigrantes alemães da região de Blumenau, como

segue:

Hoje iniciamos a viagem para o Brasil: Sê conosco, Senhor, e indica, sim, faze tu mesmo o caminho; Sê conosco sobre o mar com tua mão paternal! Assim chegaremos bem seguros na terra brasileira (ou terra do Brasil)

Por Deus vocacionados, do contrário jamais viria a nossa mente; Assim cremos nós e caminhamos sob tua ordem para lá. Deus dirige-nos sobre o mar com sua mão paternal; Assim chegaremos bem seguros na terra brasileira.

Deus falou a Abraão: sai da tua terra, Para a terra que eu te mostrarei com minha forte mão! Também nós cremos firmemente em Deus, na sua palavra, Por isso vamos nós, agora, embora para o Brasil.

Quantas vezes clamamos por ti, meu Deus e Senhor, Assim agora se abriu (se apresentou) uma terra para a qual Sob teu aceno, vamos. Pela direção de tua mão, Certamente tu nos proverás na terra brasileira.

Porém, como podemos notar, na tradução da música, entoada pelos imigrantes,

há elementos que demonstram um forte apelo de confiança em Deus e uma ansiedade pelo

destino que os aguardava.

A primeira colônia européia em Santa Catarina foi instalada por iniciativa do

governo, em São Pedro de Alcântara, em 1829. Eram 146 famílias 523 colonos católicos

vindos de Bremen (Alemanha), que haviam desembarcado na ilha de Santa Catarina, vindos

nos brigues Marquês de Vianna e Luíza, uma embarcação à vela, que era usada como navio

mercante e navio de guerra, provida de dois mastros, sendo que o menor era inclinado para

trás. Esta colônia achava-se situada sobre a margem esquerda do Rio Maruim, distrito da Vila

de São José, distante quatro léguas e meia a oeste do arraial da mesma Vila.

Destas 146 famílias, 14 ficaram na cidade e em seus arredores 132 restantes,

foram alocadas para terras demarcadas, recebendo terras em quantidades reguladas de 50 a

100 braças, dependendo do número de pessoas que continha cada família.

Porém, ao chegarem à ilha de Santa Catarina, os colonos se depararam com

uma realidade diferente da prometida. Com o término da hostilidade com a Argentina

(questão das Terras Contestadas – questão de Palmas ou questão das Missões), voltavam do

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sul os batalhões militares que aí tinham sua sede, bem como outros corpos de tropa sediados

na Corte e que para lá não podiam regressar por falta de espaço nos quartéis. A tudo isso,

somava-se o fato dos cofres da Junta da Fazenda estarem vazios12.

Comentando esta situação, Philippi afirma:

Alojados na Armação, os colonos alemães ficaram em completa ociosidade, além de ter de conviver com os soldados do 4º Batalhão no mesmo espaço [...] Sem perspectivas quanto ao destino que teriam. Ociosos e desesperançados, os imigrantes confinados na Armação da Lagoinha foram, aos poucos, sendo tomados de impaciência. Vinte e cinco deles resolveram dirigir ao Presidente Albuquerque Mello uma representação, datada de 25 de janeiro de 1829. (1975, p. 30, 31)

A resposta à representação dos imigrantes foi transcrita por Philippi, da

seguinte forma:

Por Portaria de 9 de fevereiro de 1829, o Presidente da Província resolveu nomear o Major Silvestre José dos Passos, diretor da futura colônia: “Os senhores comandantes dos distritos a quem esta Portaria for apresentada prestarão todos os auxílios que lhe forem requeridos pelo Sargento Mor Silvestre José dos Passos, a fim de que ele possa bem e com toda a brevidade dar desempenho à comissão de que o tenho encarregado, tanto de abertura da estrada como dos edifícios para estabelecer sobre a estrada projetada desta cidade para a vila de Lajes a Colônia dos Alemães chegados no Bergantim Marques de Viannna, em virtude das Imperiais Determinações. Francisco Albuquerque de Mello”. (1975, p. 33)

No 1º. dia do mês de maio de 1843, é realizado o casamento entre o príncipe de

Joinville, Francois d’Órleans, filho do rei Louis Philipe de França, com a princesa Dona

Francisca, irmã do Imperador do Brasil D. Pedro II, no Rio de Janeiro. Como parte do dote

nupcial, o casal recebeu grandes extensões de terras devolutas na então província de Santa

Catarina13. Estas terras foram escolhidas em 1844, pelo procurador do príncipe, o vice-cônsul

da França no Brasil, Sr. Leónce Aubé. Estas terras foram medidas e demarcadas em 25 léguas

quadradas, que foram anexadas à Comarca de São Francisco do Sul.

Havia relações comerciais entre o Brasil e Alemanha, desde 1827, e diversas

companhias de navegação enviavam, seus grandes veleiros para os portos brasileiros, trazendo

12 Cf PHILIPPI, Aderbal João, São Pedro de Alcântara: A primeira colônia alemã de Sta Catarina, Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1975, p. 30. 13 Partindo do princípio de costumes de que cada consórcio em uma família real implicava no estabelecimento de um dote, a Família Imperial brasileira não poderia fugir da regra. Assim, pela Lei nº 166, de 29 de setembro de 1840, ficava estabelecido que as princesas, filhas de Dom Pedro I, e, portanto, irmãs de D. Pedro II, em idade de se casar, teriam, entre outras vantagens econômicos-financeiras, um patrimônio em terras, pertencentes à Nação. Caso optassem por morar no exterior, receberiam quantia correspondente ao valor das terras, em dinheiro.

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seus produtos e levando café, peles, madeiras e matéria prima. Entre os armadores de

Hamburgo, havia a “Christian Mathias Schroeder”, que mantinha no Rio de Janeiro, uma

agência comercial própria. Um de seus acionistas, o Senador Christian Mathias Schroeder,

como será visto mais à frente, está ligado diretamente à história da Colônia Dona Francisca,

fazia também, parte da “Sociedade de Proteção aos Imigrantes no Sul do Brasil”, fundada em

1842, com duas finalidades: 1) regularizar a emigração espontânea para o Brasil; 2)

desenvolver as relações comerciais hanseáticas com o Brasil, mediante a introdução de

imigrantes alemães e o estabelecimento de colônias agrícolas, pois, dela faziam parte vinte

dos capitalistas mais respeitáveis da Alemanha.

Em Hamburgo, dá-se início as conversações entre o enviado do Príncipe de

Joinville, o vice-cônsul da França no Brasil, Leóncé Aubé e o Senador Schroeder. Em 05 de

maio de 1849, foi firmado um contrato, através do qual, 8 léguas quadradas seriam cedidas

para uma colonização em grande escala, sendo os encargos assumidos pelo próprio Senador

Schroeder, ou por uma Sociedade a ser fundada. Ficou decidido que em cinco anos, deveriam

ser fixados 1.500 colonos na área concedida, com acomodação e sustento para os imigrantes

durante dois anos, construção de igrejas e escolas, etc.

No mesmo ano de 1849, o Senador Schroeder fundou em Hamburgo, uma

empresa por ações, a “Colonisations-Verein Von 1849 in Hamburg” (Sociedade

Colonizadora de 1849, em Hamburgo). Em 15 de maio de 1850, o decreto do Governo

Imperial no. 537 exigiu da Sociedade Colonizadora, entre outras questões, a proibição do

trabalho escravo na colônia. Teve sua vigência prorrogada por mais cinco anos, pelo decreto

no. 712, de 16 de setembro de 1853, no qual ficava assegurada a proteção ao culto: “que

professarem os colonos estabelecidos nas referidas terras”, e estendia a naturalização, após

dois anos de residência, ao que adquirissem terras na Colônia, como rezava o artigo 3º,

conforme Piazza (1994, p. 136, 137).

Em 22 de maio de 1850, o engenheiro da Sociedade Colonizadora, recebeu das

mãos do vice-cônsul da França no Brasil, o título de posse de 8 léguas quadradas destinadas à

futura colonização européia. Iniciava-se, em seguida, a construção de ranchos para a recepção

dos imigrantes e a abertura das primeiras picadas através do mato fechado.

Começou assim, o maior empreendimento colonial de iniciativa privada da

América do Sul, a “Colônia Dona Francisca”, futura cidade de Joinville em 1851. O pequeno

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núcleo, localizado junto ao ribeirão Matias na sua confluência com o Rio Cachoeira, recebeu

o nome de “Schroedersort” em homenagem ao velho Senador14.

Esta cidade será de vital importância no desenvolvimento da Igreja de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons) pois, será esta a cidade escolhida como base

do trabalho de proselitismo dos Missionários Mórmons, e como primeira cidade escolhida

para a implantação da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, por ser uma

colônia genuinamente alemã, como será visto adiante.

Em 1846, o Dr. Hermann Blumenau, membro da Sociedade de Proteção aos

Imigrantes no Sul do Brasil, buscou estudos sobre a possibilidade da aquisição de terras no sul

do Brasil. Em 1850 é fundada a colônia de Blumenau, no Vale do Itajaí-Açu, às margens

desse Rio, a qual foi vendida, dez anos depois ao Governo Imperial. Veja no quadro (anexo

1), a relação com a data de fundação de vários municípios de Santa Catarina, bem como, a

predominância da etnia e também de alguns, o nome de seu fundador15.

Apesar das dificuldades encontradas pelos imigrantes que se estabeleceram, na

Colônia Dona Francisca: o clima, o solo e o relevo, a colônia prosperou, expandindo-se pelos

vales e planaltos, dando origem em 1873, a colônia de São Bento do Sul. Como podemos ver

no mapa de 198316 (anexo 2), a hegemonia alemã naquela região, foi pouco a pouco se

expandindo, não só na colônia, mas, subindo a serra, em busca de novas terras.

No grupo de pioneiros que chegaram a estas terras, predominavam as famílias

oriundas da região da Prússia ocidental, da Pomerânia, da Boêmia e da Áustria. E desde então,

não cessou mais a corrente de austríacos, alemães e poloneses que se fixaram em São Bento

do Sul. Em 1878, cinco anos após a fundação da colônia agrícola, já havia um franco

predomínio de boêmios. No arquivo histórico da cidade de Joinville, encontram-se os

registros dos imigrantes alemães, que desembarcaram no porto de São Francisco do Sul, que

foram trazidos à Joinville e de lá foram encaminhados para a colônia que estava se formando.

Porém, os relatos estão incompletos, sendo que o último volume restante é de 1902 – 1907 e

depois de 1920 – 192217.

14 Disponível em: São Bento do Sul subsídios para a sua história de Carlos Ficker, 1973 - Impressora Ipiranga - Joinville-SC em: http://www.portalsbs.com.br/historia/de_sao_bento_em_1873.htm15 Disponível: http://www.portalsbs.com.br/ 16 Disponível: http://www.portalsbs.com.br/17 Informações brochura Die Kolonie Harmonia Zu Ihrem 25 jarhrigen bestehen (A Colônia Harmonia pelo seu 25º. Ano de existência) elabrorado por José Deeke e traduzido por Helena Remina Richin – tradutora do arquivo histórico de Joinville, agosto de 1999.

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A alegria dos imigrantes, em face às aquisições de grandes porções de terras

virgens e de boa qualidade, era muitas vezes turvada pelas dificuldades encontradas com a

ambientação, e pelo esforço quase sempre, sobre-humano, onde o imigrante confrontava-se

com as dificuldades que o desbravamento exigia. Outra dificuldade encontrada surgia quando

o chefe de família tinha de dedicar-se, de tempos em tempos, em algumas semanas

trabalhando na construção da Estrada Dona Francisca, com a finalidade de conseguir dinheiro

para a complementação do sustento da família, que quase sempre era numerosa.

As lutas contra as adversidades eram imensas, o que resultava na aproximação

dos grupos. As transações em dinheiro eram raras. Dominava em quase todas elas, a permuta

ou o empréstimo de gêneros.

Os pioneiros, em sua maioria, eram lavradores de mantimentos, secundados

por mestres de carpintaria, marcenaria, tanoaria, pedreiros, pintores e artistas mecânicos de

vários ofícios. Depois deles, vieram outros e mais outros. As famílias continuavam a chegar.

Somando esforços souberam formar um ambiente que enaltecia a colônia. Ao centeio, cevada,

feijão, milho, aipim e batatas, que começavam a cobrir parte das planícies, vales e colinas

verdejantes, foram aos poucos sendo acrescentadas hortas e pomares, galinhas e outras aves

domésticas, porcos, vacas, cavalos, armazéns, carpintarias, marcenarias, ferrarias, cervejarias,

moinhos e olarias.

Os imigrantes trabalhavam com afinco, buscando não só, uma vida melhor,

como também sacrificavam-se para beneficiar as gerações vindouras.

Os filhos e netos dos primeiros imigrantes só falavam alemão em casa e nas

escolas. Todos mantiveram costumes simples, profunda religiosidade e tradição no idioma. A

devoção ao trabalho e a devoção à família e a esperança no futuro, davam bem a medida do

seu amor à nova pátria.

Com o crescimento da comunidade, em conseqüência da chegada de novos

imigrantes, dentre os quais outros pomerânos que, a exemplo dos primeiros, se fixaram ao

longo da Estrada da Serra (Dona Francisca). O número de habitantes de religião evangélica

aumentou.

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Entre as muitas necessidades que surgiam, estava a de um cemitério.

Pressionada pela população, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo mandou demarcar uma

área para tal fim18.

Outro problema surgiu, pois a maioria destes imigrantes eram provenientes da

então maior igreja evangélica na Alemanha que era a da Prússia, e alguns deles ainda se

recordavam de que a direção desta Igreja estava a cargo do Supremo Conselho de Igreja em

Berlim. Assim, em carta, dirigiram-se àquele órgão, solicitando a presença de um pastor

residente, e justificando tal pedido em extenso arrazoado. No ano de 1887, no mês de maio,

chegou uma carta do Dr. Fabri, de Godesberg, onde trazia a comunicação de que seu pedido

seria atendido e que o pastor designado para aquela região de São Bento era o senhor Wilhelm

Quast (nascido em: 1862, Westfália, Alemanha – faleceu em: 1939, Rio Presto – SC), que

partiria de Hamburgo em junho de 1888, chegando a São Bento em 20 de julho.

A primeira iniciativa colonial em todo o Brasil após a instituição do Ato

Adicional foi a Lei provincial Catarinense no. 11, de 5 de maio de 183519. De acordo com o

texto da lei, foram fundadas as seguintes colônias em Santa Catarina, conforme apresenta

Voigt, preservando a escrita original:

Art. 1º. – Nos rios Itajahy, e Itajahy Meri, da Freguesia do Santíssimo Sacramento se estabelecerão duas Colonias, cada uma com dous Arraiaes.

Art. 2º. – Nos lugares denominados Possinho, e Taboleiro, aquelle no Itajahy grande, e este no Itajahy Meri, se situarão os dous primeiros Arraiaes. Os duos últimos, no caso de progredirem as Colonias, deverão ser, hum nas nascentes do Ribeirão da Conceição, braço deste último, e outro no alto d’aquelle, no lugar do Belchior ou mais acima, em sitio tal, que ambas as margens possão ser habitadas.

Art. 3º. - Podem ser Colonos, não só qualquer Cidadão Brasileiro; mas também os estrangeiros, que ao presente se acharem na Provincia, e os que para o futuro a vierem habitar. (1999, p. 24)

Uma visão mais abrangente da distribuição dos imigrantes no Estado de Santa

Catarina pode ser vista pelos mapas20 (anexo 3), do início do séc. XX e do ano de 1986

(anexo 4). Assim, temos uma visão mais ampla da formação daquelas regiões, que

posteriormente facilitarão a entrada de outros imigrantes, no desbravamento do Oeste

Catarinense, formando a região de nosso estudo, às margens da estrada de ferro São Paulo Rio

18 Sobre este assunto: PFEIFFER, Alexandre, História da Comunidade Evangélica Luterana de São Bento do Sul, São Bento do Sul, 1999. 19 Coleção de Leis do Império Brasileiro. Arquivo Público do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, p. 225 – 226. 20 Disponível: http://www.portalsbs.com.br/

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Grande do Sul, a região de Ipoméia, região esta, que irá proporcionar a chegada da família

precursora do mormonismo no Brasil.

1.2 A Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande – EFSPRG

A Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande foi a precursora do início da

colonização do Vale do Rio do Peixe, pois o Governo brasileiro demonstrava pressa para a

construção desta ferrovia, devido a resolução sobre a questão das terras chamadas

“Contestadas”.

A questão dos limites entre Santa Catarina e Paraná – que permeia a “Guerra

do Contestado”, como será visto adiante, tem seu início em 1853, quando os paranaenses

desmembrados da Província de São Paulo, procuram firmar posse sobre as terras do Oeste

Catarinense. Houve grande confronto entre os dois contentores, confrontos estes sendo

arrastados por medidas de ordem puramente de retórica política, conforme afirma Auras

(1984, p. 25, 26). Havia contestação de área por parte dos dois Estados, buscando ampliar

suas fronteiras, como se vê no mapa destes limites contestados, segundo registrado por

Thomé (1998, p. 83), (anexo 5).

Em 1881, em virtude da presença de outro contestador daquelas terras, a

Argentina, que tinha a intenção de expandir seus territórios, o governo imperial acorda para

esta questão, que somente em 1895 será resolvida com a intervenção arbitral do presidente

dos Estados Unidos Glover Cleveland, dando ganho de causa ao Brasil e assim, estabelecendo

a demarcação hoje vigente entre os dois países naquele trecho contestado21. Havia por parte

da Argentina, a contestação de terras, tanto no Estado do Paraná, como no Estado de Santa

Catarina, como podemos ver os limites das terras contestadas, segundo registrado por Thomé

(1998, p. 82), (anexo 6).

Resolvida a questão com a Argentina, desencadeou-se um confronto maior

entre o Paraná e Santa Catarina pelas terras contestadas, questão esta, que foi inicialmente

resolvida em 1904, com a questão sendo submetida ao Supremo Tribunal Federal que dá

ganho de causa a Santa Catarina, questão que é novamente vista, devido ao recurso imposto

21 HEINSFELD, Adelar, A questão de Palmas entre Brasil e Argentina e o início da Colonização Alemã no Baixo Vale do rio do Peixe-SC, Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, 1996, p.107

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pelo Paraná. Em 1909, o mesmo Tribunal se pronuncia novamente favorável à Santa Catarina,

sendo esta decisão reafirmada em 20 de outubro de 1916, quando os governadores de ambos

os estados, Felipe Schimit (SC) e Afonso Camargo (PR), mediados pelo presidente da

República Wenceslau Bráz, eles assinaram o acordo, e findam o prolongado litígio e

estabelecem os limites entre os dois Estados22.

Em 1885, o Engenheiro João Teixeira Soares concluiu a Ferrovia Curitiba-

Paranaguá, vencendo terrenos cheios de desafios. Como havia pressa por parte do governo

brasileiro no povoamento da região sul, e na necessidade de uma ligação entre a região

sudeste do Brasil e este território, em 1887, foi contratada uma equipe de técnicos e

exploradores para efetuar o reconhecimento da área compreendida entre os pontos

previamente escolhidos: ao norte, a vila de São Pedro do Itararé, na província de São Paulo e

ao sul, a vila de Santa Maria da Boca do Monte, localidade cerca de 30 km da cidade de Santa

Maria no Rio Grande do Sul. Em 1889, os técnicos apresentaram relatório do trabalho, onde a

estrada aparece já traçada, numa extensão de aproximadamente 1.400km, como nos mostra

Auras:

A concessão lhe foi dada através do Decreto 10.432, de 09 de novembro de 1889, por D. Pedro II, sendo ratificada através do Decreto 305 de 07 de abril de 1890, pelo governo provisório da República. Neste mesmo ano, Teixeira Soares levantou o capital necessário junto aos investidores europeus, ingleses e franceses. Ainda em 1890, a obra foi iniciada, partindo de Santa Maria da Boca do Monte rumo ao norte. Em junho desse mesmo ano, parte da concessão foi transferida para outra empresa, que assumiu o longo trecho de Itararé a Cruz Alta. (1984, p. 36)

Somente em 1895 foram aprovados os estudos definitivos e completos da

ferrovia que foram entregues à Cia. São Paulo – Rio Grande, num total de 941,88 quilômetros

de extensão até o Rio Uruguai, divisa do Estado de Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. O

trecho entre as cidades de União da Vitória (Paraná) ao Rio Uruguai (divisa de Santa Catarina

e Rio Grande do Sul), foi concedido à empresa Brazil Railway Company, organizada pelo

norte-americano Percival Farquhar, que assumiu o controle acionário da Companhia Estrada

de Ferro São Paulo – Rio Grande.

O grupo Farquhar foi incentivado a vir para o Brasil pelo então Ministro da

Viação e Obras Públicas, o catarinense Lauro Severiano Müller23. O trecho entre o Rio

22 AURAS, Marli, Guerra do Contestado: A Organização da Irmandade Cabocla, Editora da UFSC, Florianópolis, 1984, p. 26. 23 cf HEINSFELD, Adelar, A questão de Palmas entre Brasil e Argentina e o início da Colonização Alemã no Baixo Vale do rio do Peixe-SC, Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, 1996, p.105

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Uruguai e Santa Maria ficou ao encargo da empresa Compagnie Chemins de Fer, o qual em

1896 foi privatizado pelo Estado do Rio Grande do Sul.

Esta ferrovia atravessou o Estado de Santa Catarina, no território chamado

Contestado, como podemos ver pelo mapa (anexo 7)24, e, posteriormente, estendeu um ramal

pelo norte Catarinense até o litoral (Joinville e São Francisco do Sul), ligando esta região à

São Paulo e ao Rio Grande do Sul. Faltou um braço para que se apresentasse em forma de

cruz, atravessando o Estado de Santa Catarina, em seu território Centro Oeste, ligando o

Paraguai ao Oceano Atlântico, como podemos ver pelo mapa (anexo 8), o traçado desta

ferrovia, conforme nos mostra Thomé (1998, p. 53). Esta região será posteriormente o palco

do grande conflito conhecido como “Região do Contestado”. A região na qual a ferrovia foi

construída, entre o Rio Iguaçu (ao norte) e Rio Uruguai (ao sul), a estrada era margeada pelo

rio do Peixe em quase toda a sua totalidade, aproximadamente ¾ de sua extensão, na parte

mais estreita do Estado de Santa Catarina. Heinsfeld registra a decisão da seguinte forma:

“Concede privilégios, garantia de juros e terras devolutas, mediante autorização legislativa, para a construção, uso e gozo de uma estrada de ferro, que partindo das margens do Itararé, na província de São Paulo, vá terminar em Santa Maria da Boca do Monte na província do Rio Grande do Sul, com diversos ramaes”. (1996, p.103)

Desta forma, houve o descontentamento das famílias que já habitavam o lugar,

com a empresa construtora americana Brazil Railway Company, que pelo Decreto

governamental, receberia uma grande faixa de terras de ambos os lados da ferrovia, como será

visto à frente. Estes desapossados se juntarão, mais tarde aos jagunços num conflito armado.

Segundo Heinsfeld (1996, p. 113), face à pressa da construção da ferrovia,

vários foram os tipos de pessoas que foram contratadas. Pessoas essas, que mais tarde, irão se

juntar ao movimento de revolução, que irá desencadear uma luta armada, muito além de uma

batalha por terras, ela se tornará um confronto religioso messiânico (o estabelecimento do

novo Reino), pois, o homem sem a segurança da terra, terá de buscar algo mais para alimentar

sua esperança de vida.

Em torno de 8.000 mil trabalhadores vieram para o Vale do Rio do Peixe, pois,

na região não havia mão-de-obra disponível. De um lado, pais de famílias, pessoas honestas e

boas, e do outro, maltrapilhos, vagabundos, aventureiros, ex-presidiários, desertores, e até

fugitivos da justiça. Thomé mostra este fato da seguinte forma:

24Disponível em: http://www.conttur.com.br/ - acessado em 08/05/2008

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Como os trabalhadores foram contratados em todo o território brasileiro, sem nenhuma legislação trabalhista a regulamentar o sistema contratual, sem nenhum registro de trabalho que garantisse o vínculo empregatício, a mão-de-obra formada voluntariamente reuniu pessoas estranhas umas às outras, de todas as cores, credos, profissões e classes sociais. Para a região ocorreram, ao lado de pais de famílias, de pessoas honestas boas, outro tanto de maltrapilhos, vagabundos, aventureiros, ex-presidiários, desertores, e até fugitivos da justiça. (1998, p. 89)

Essas pessoas, após o término da construção da Estrada de Ferro, não sendo

reconduzidas às suas origens, e que por decorrência permaneceram de forma precária, às

margens da linha do trem, vão mais tarde, em sua grande parte, se transformar nos Jagunços

que vão lutar, na Guerra do Contestado25, que ocorreu no período da Primeira República ou

República Velha, 1912 a 1916, que envolveu milhares de caboclos e boa parte do efetivo do

Exército de então.

O Decreto nº 10.432, de 9 de novembro de 1889, determinava que uma faixa de

terra de 30 km de cada lado da ferrovia seria da empresa construtora, e que esta teria que

utilizar estes terrenos dentro do prazo de 50 anos, além do que, ficava a companhia obrigada a

transportar gratuitamente, “os colonos e imigrantes, suas bagagens, ferramentas e utensílios e

instrumentos aratórios” que viessem a ocupar as terras cedidas à companhia construtora.

Em 1890, pelo Decreto nº 305, o governo federal alterava e regulamentava a

cessão das terras marginais, estabelecendo, uma faixa de 15 km de cada lado da ferrovia.

Estas terras eram fertilíssimas, num total de 15.894 km2, cobertas de araucárias, numa área de

656.776 alqueires. Terras estas, consideradas oficialmente pelo Governo e pela

concessionária, a Brazil Railway Company, como sendo terras devolutas e desabitadas.

Porém, a realidade era outra, pois, o início do povoamento daquelas terras teve início no

século XVIII, com o comércio de gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, quando por

ali, surgiram os primeiros locais de pouso. Durante muito tempo, estes habitantes, viviam

quase que isolados, vivendo da criação de gado, da coleta de erva mate e da extração

rudimentar de madeira para seu próprio consumo.

A companhia construtora Brazil Railway Company iria receber por quilometro

construído, conforme decreto no. 10.432. O acordo financeiro previa o pagamento com

garantia de 6% (seis por cento) durante 30 anos para o capital que fosse necessário para a

25 Para maiores detalhes ver: AURAS, Marli, Guerra do Contestado: a Organização da Irmandade Cabocla, Ed. UFSC, São Paulo, Cortez, 1984; QUEIROZ, Maurício Vinhas de, Messianismo e Conflito Social (A Guerra Sertaneja do Contestado: 1912-1916), São Paulo, Ática, 1981; THOMÉ, Nilson, Sangue, Suor e Lágrimas no Chão do Contestado, INCON Edições/UNC, 1992, entre outros.

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construção, até o limite máximo de 37.000$000 (trinta e sete mil contos de Réis), o que fez

com que a ferrovia fosse feita de forma serpenteada26, como pode ser visto pelo mapa de parte

do traçado da ferrovia, até a região de Caçador (anexo 9), registrado por Thomé (1998, p. 94),

o que acarretou um acréscimo elevado de valores e uma grande quantidade de terras à

construtora.

O trem foi de fundamental importância para o desenvolvimento de toda aquela

região, pois, além do escoamento da produção agrícola e madeireira, proporcionaria aos

imigrantes a possibilidade de chegada e de estabelecimento em toda aquela região, e

posteriormente, auxiliaria no trabalho dos Missionários. As dificuldades no transcurso da

viagem eram inúmeras, a começar por vencer o forte aclive entre o litoral e a serra do Meio-

Oeste Catarinense, como nos mostra a placa gravada na porta da estação ferroviária de Rio

das Antas (figura 1), mostrando a quilometragem a partir de sua origem e a Altitude de quase

800 metros acima do nível do mar.

Figura 1 – Placa de identificação da Estação de Rio das Antas – SC

A viagem a partir de Joinville teria um obstáculo natural à frente: Esta estação

foi inaugurada em 1º. de maio de 1910, juntamente com as estações de Rio Caçador

(Caçador), de Rio das Pedras (Videira). Esta é a região onde “A Igreja de Jesus Cristo dos

Santos dos Últimos Dias” será implantada. Este será o caminho utilizado pelos missionários

Mórmons que irão de Joinville até o lugar chamado Ipoméia (entre Videira e Caçador, no

26 Para maiores detalhes sobre esta companhia, ver: THOMÉ, Nilson, Trem de Ferro: a Ferrovia do Contestado,Florianópolis, Lunardelli, 1983, p. 51-68

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distrito de Rio das Antas), residência da família de imigrantes alemães, que como veremos

mais à frente, irá proporcionar o início dos trabalhos da “A Igreja de Jesus Cristo do Santos

dos Últimos Dias”.

Durante anos e anos, a ferrovia foi o único meio de comunicação e transporte

que ligava o Vale do Rio do Peixe ao restante do Brasil. Além dos passageiros, a ferrovia

transportava as riquezas produzidas na região e trazia para as comunidades de imigrantes as

mercadorias compradas nos grandes centros do País. As composições trafegavam à média de

20 a 30 Km por hora.

Foi na estação ferroviária de Rio das Antas, que no ano de 1924, desembou a

família Lippelt, no anseio pela busca de novas terras estabelecendo-se em definitivo no Brasil.

Posteriormente, propiciará a chegada dos primeiros Missionários Mórmons que vão, através

de seu trabalho de proselitismo, estabelecer as bases da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos

dos Últimos Dias” no Brasil (figura 2). Pode-se ter uma idéia de como eram as estações e as

composições de trens, naquele período, observando as ilustrações que seguem mais abaixo

(figuras 3, 4 e 5).

Figura 2 – Único meio de chegar a Ipoméia, por intermédio da ferrovia (foto da estação ferroviária de Ipoméia e de missionários Mórmons)

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Figura 3 Réplica da Estação Ferroviária de Caçador, onde atualmente, abriga o “Museu do Contestado”, sob a responsabilidade administrativa da Universidade do Contestado. Na plataforma estão estacionados,

sobre trilhos fabricados na Europa em 1908, a locomotiva a vapor “Mogul”, fabricação norte-americana, de 1908, utilizada no trecho a partir de 1910 e, dois carros, um de passageiro e um de

administração, remanescentes da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande – EFSPRG.

Figura 4 - Composição de Trem vista de forma mais aproximada

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Figura 5 Composição estacionada na estação turística de Caçador, possibilitando uma visão, ainda que de forma nostálgica, das viagens feitas, pelos imigrantes e por aqueles que utilizavam este meio de

transporte. O transporte que também foi utilizado pelos Missionários Mórmons em suas viagens de Joinville à Ipoméia.

Segundo Thomé27, dominado pela corrupção, todo complexo da Brazil Railway

Company havia entrado em concordata em 1917. Já em 1940, transcorridos os 50 anos do

prazo da concessão dada em 1890, juntamente com todos os bens do Sindicato Farquhar, o

Governo Federal encampou esta estrada-de-ferro, revertendo-a a autarquia Rede da Viação

Paraná – Santa Catarina (RVPSC), a qual, em 1957, somados a outras autarquias veio a

constituir a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), com 100% das ações pertencentes à

União. Hoje, algumas destas estações são utilizadas apenas como pontos turísticos (figura 6).

Outras estão completamente abandonadas, como é o caso da Estação de Ipoméia, (figura 7).

27 Nilson Thomé, Histórico da Ferrovia do Contestado, disponível em: http://www.cdr.unc.br/ambientes/museu/museu.htm - acessado em 09/05/2008

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Figura 6 - Vista da estação Ferroviária de Rio das Antas, em maio de 2008 – aproximadamente 5 Km de Ipoméia

Figura 7 - Vista da estação Ferroviária de Ipoméia (Antiga Princesa Isabel) vista hoje – maio de 2008

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1.3 Formação da região de Ipoméia (antiga Princesa Isabel) – Município de Rio das

Antas – SC

A colonização dos terrenos da concessão Federal começou em Rio das Antas,

nome este dado, devido à grande quantidade de antas, por volta de 1910, onde se estabeleceu

a direção da Colônia. A história desta cidade está diretamente ligada à Guerra do Contestado

(1912 – 1916). Com a construção da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, muitos

imigrantes ali se estabeleceram, sendo eles: alemães e italianos.

As terras eram vendidas a preços acessíveis e em suaves prestações semestrais,

o que logo atraiu colonos do Vale do Rio Itajaí e do Rio Grande do Sul em busca das férteis e

ricas terras do Vale do Rio do Peixe. Eram colonos estrangeiros ou descendentes de italianos

e alemães.

Heinsfeld (1196, p. 131, 132), citando as crônicas Pastorais, da Igreja

Evangélica de Rio do Peixe, nos mostra este novo momento dos imigrantes:

Seguindo os trilhos em busca das terras que estavam sendo vendidas, em maio de 1913 se instalava nos arredores da estação Rio do Peixe, Pedro Geib, primeiro colono alemão a chegar no Vale do Rio do Peixe. No mesmo ano, chegavam na estação de Rio do Peixe, as famílias Deiss, Rogge, Ko Freitag, Zimmermann, Muller, Arndt, Kopp, Klein, dentre outras. Estes colonos ‘em sua maioria, eram Hundsrücker28 das colônias velhas do Rio Grande, que arriscaram ir para a mata virgem, até então praticamente não pisadas por europeus’. Iniciava-se desta maneira o primeiro núcleo de colonização de origem alemã no Vale do Rio do Peixe.

Todavia, a Campanha do Contestado, muito prejudicou o desenvolvimento da

região. A vila foi atacada pelos militantes do Contestado, causando a morte de muitos colonos

em defesa de seus bens e interesses, conforme Heinsfeld (1996, p. 132).

Esses inícios modestos, mas satisfatórios foram atrapalhados pelas ‘Revolta dos Fanáticos’ em 1914. Apesar de os colonos alemães de Rio do Peixe não terem sido atacados pelos fanáticos (frequentemente passaram tropas por ali), viviam em constante medo e preocupação.

Este fato é observado nos relatos históricos que dão conta de como eram as

estratégias dos revoltosos, quanto a sua subsistência. Buscavam nas fazendas e povoados

entre outras coisas, alimentos para suas trincheiras. Fato este, que gerou tremenda insatisfação

e medo aos colonos e aos pequenos povoados que se formavam.

28 Imigrantes da região norte da Alemanha, fronteira com a Áustria, Suíça e França

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Terminada a Campanha do Contestado, por muito tempo foram paralisados os

serviços de colonização. Somente após o fim dos conflitos e o acordo da divisão das fronteiras

entre Santa Catarina e Paraná, é que novamente reinicia-se a campanha de povoamento

daquela região. A direção da Colônia recomeçou seus trabalhos pelas estações do Sul, e só em

1918, houve o repovoamento da região.

Como as terras eram povoadas por uma densa e extensa floresta de pinhais, o

que dificultava o trabalho agrícola, os colonos fixaram-se ao Sul, nas proximidades da foz do

Rio do Peixe. Porém, o pinheiro que era um incômodo para os colonos, de repente tornou-se

uma fonte de riqueza, atraindo para a região grande migração de gaúchos que desejavam

explorar esses recursos florestais. Ver foto que ilustra esta época (anexo 10).

A colonização do Vale do Rio do Peixe ocorreu tendo por base a pequena

propriedade agrícola. Esta forma de colonização conseguia atender à demanda de todos os

colonos que já não tinham terra no Rio Grande do Sul.

Heinsfeld, citando informativo da Companhia construtora da Estrada de Ferro

São Paulo - Rio Grande, publicado em agosto de 1908, assinado pelo senhor Francisco

Bacellar, encarregado do serviço de colonização, que traz nota referente ao loteamento das

terras que havia recebido como forma de pagamento pela construção nas seguintes palavras:

Peço-lhe levar ao conhecimento dos colonos e a quem mais interessar que, a companhia da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande está mandando dividir em lotes coloniais, terras de 1ª qualidade [...] isto ao longo da Estrada de Ferro, a 20 kilômetros desta Cidade e perto de uma estação. Cada um lote de 10 alqueires custa ao colono 250$000 tendo o colono de pagar à vista 80$000 ficando o restante 170$000 para pagar ao prazo de 8 anos com dinheiro ou em serviço. (1996, p. 139, 140)

Mais adiante na mesma publicação, a empresa colonizadora especifica a forma

e as vantagens alcançadas pelos colonos para a compra destes lotes, como se vê:

A Companhia daria arame para fechar a frente dos lotes, ao longo da ferrovia e que também dá transporte ao colono na Estrada de Ferro, para famílias e suas bagagens. Quem desejar obter terra nestas condições pode vir receber pagando a primeira prestação de 80$000 (1996, p. 141).

O transporte gratuito era uma norma determinada pelo Decreto nº 10.432, de 9

de novembro de 1889, que havia autorizado a construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio

Grande29.

29 HEINSFELD, Adelar, A questão de Palmas entre Brasil e Argentina e o início da Colonização Alemã no Baixo Vale do rio do Peixe-SC, Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, 1996, p.140

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Heinsfeld (1996, p. 141), referindo-se ao modelo agrário adotado nas áreas de

colonização alemã ou de origem alemã, afirma: “A colonização baseada na pequena

propriedade e no trabalho livre do proprietário e sua família tornou-se de relevância não

inferior para a Província de Santa Catarina”. Destaca-se que o objetivo desta colonização

não era apenas agrário, pois, os colonos com suas origens e a preservação destas, irá gerar

vilas e cidades e a composição de todas as instituições sociais necessárias para uma sociedade

diversificada e desenvolvida. O que contribuirá muitíssimo na formação, no surgimento e no

desenvolvimento de novas idéias.

A região deste novo campo é formada em sua maioria por terras de excelente

qualidade. O colono trabalhará em sua própria terra, utilizando-se apenas de mão-de-obra

familiar, irá produzir produtos para abastecer o mercado interno dos grandes centros urbanos,

especialmente São Paulo, sendo estes produtos exportados pela Estrada de Ferro São Paulo-

Rio Grande. Heinsfeld registra exemplos do que era produzido naquela região:

Rio do Peixe chega em 1940 produzindo: alfafa 1.964.455 Kg; açúcar: 21.307 Kg; banha: 626.494 Kg; feijão: 1.696.980 Kg; lentilha: 205.840 Kg; farinha de mandioca: 62.650 Kg; cachaça: 32.259 Lt; madeira: 8.513m3; ovos: 400.000 dúzias. Isto faz com que a estação de Rio do Peixe seja, nas décadas de 30 e 40, uma das mais movimentadas em toda a extensão da via - férrea em território catarinense. (1996, p. 143)

Preocupado em ocupar fisicamente todo o Meio-Oeste e principalmente o

Oeste de Santa Catarina, salvaguardando a fronteira com a Argentina, o governo brasileiro,

através da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande vai oportunizar a vinda de colonos para o

Vale do Rio do Peixe, povoando assim, o Meio-Oeste Catarinense e posteriormente o Oeste

Catarinense30.

Segundo Thomé31, a Cia EFSPRG constituiu uma subsidiária, a Brazil

Development & Colonization Company. De acordo com os termos da concessão da

construção da estrada de ferro, a empresa ganhou do governo um total de 15.894 Km2 de

terras. A EFSPRG recebeu 6.696 Km2 de terras, o equivalente a 276.694 alqueires. A

companhia promoveu o loteamento e concedeu oportunidade para que a colonização das

terras marginais à estrada de ferro fosse efetuada por imigrantes europeus, a partir das

estações do Rio do Peixe (Piratuba) e de Rio das Antas. Esta colonização foi interrompida,

devido à “Guerra do Contestado” e também, a 1ª. Grande Guerra Mundial.

30 HEINSFELD, Adelar, A questão de Palmas entre Brasil e Argentina e o início da Colonização Alemã no Baixo Vale do rio do Peixe-SC, Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, 1996, p.145 31 Nilson Thomé, Histórico da Ferrovia do Contestado, disponível em: http://www.cdr.unc.br/ - acessado em 09/05/2008

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Com o fim da guerra do “Contestado” e consequentemente a assinatura do

acordo de limites entre Santa Catarina e Paraná, desta vez pela administração das empresas

colonizadoras gaúchas particulares, que compraram da Cia. EFSPRG grandes áreas, que

foram divididas em colônias.

Nas sedes destas colônias, a partir das estações ferroviárias, nasceram as vilas

de São João (Matos da Costa), Calmon, Rio Caçador e Santelmo (Caçador), Rio das Antas,

Perdizes e Vitória (Videira), Pinheiro Preto, Rio Bonito (Tangará), Bom Retiro (Luzerna),

Herval d’Oeste, Barra Fria (Lacerdópolis), Rio Capinzal (Capinzal) e Ouro, Rio do Peixe

(Piratua) e Ipira, hoje, importantes cidades do Meio-Oeste Catarinense.

No início, o município foi criado com a denominação de Rio Caçador,

subordinado ao Município de Campos Novos, mas que em 1933, por divisão administrativa,

figurava ligado ao município de Curitibanos. Em 22 de fevereiro de 1934, foi desmembrado o

município de Caçador pelo decreto estadual no. 508. Este município é constituído de 6

distritos: Caçador, Rio das Antas, Rio Preto, São Luis (que será denominado Iomerê),

Taquara Verde e Vitória. Pelo decreto estadual no. 238 de 01 de dezembro de 1938, o distrito

de Rio Preto passou a denominar-se Princesa Isabel. Em 31 de dezembro de 1943, pelo

decreto estadual no. 941 o distrito de Princesa Isabel passou a denominar-se Ipoméia. Pela lei

estadual no. 247, de 30 de dezembro de 1948, o distrito de Ipoméia ex-Princesa Isabel (antigo

Rio Preto) é transferido do município de Caçador para o município de Videira, que em divisão

territorial de 01 de julho de 1950, o município é constituído de 3 distritos: Caçador, Rio das

Antas e Taquara Verde. Por decisão do Supremo Tribunal Federal acórdão de 26 de novembro

de 1955, representação no. 229, o distrito de Ipoméia volta a pertencer ao município de

Caçador. Em divisão territorial de 01 de julho de 1955, o município é constituído de 5

distritos: Caçador, Macieira, Ipoméia, Rio das Antas e Taquara Verde. Em 21 de junho de

1958, a lei estadual no 348, desmembra do município de Caçador, os distritos de Rio das

Antas e Ipoméia, formando o novo município de Rio das Antas32.

Assim, nasceu e se estabeleceu a colônia de Rio das Antas e seus distritos,

entre eles o de Ipoméia, local onde a família Lippelt, se estabeleceu, sendo ela a precursora da

“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.

Uma visão de como se deu a colonização daquela região, é vista abaixo (figura

8). Houve por parte do imigrante e de sua família a necessidade de muita disposição para o

32 Disponível em: www.biblioteca.ibge.gov.br acessado em 30/04/2008.

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assentamento. As dificuldades e os desafios foram inúmeros, mas que, com a disposição e os

anseios do coração foram todos eles vencidos.

Figura 8 – Aproximadamente Um ano após a chegada da família Lippelt, formou-se um vilarejo no vale de Ipoméia semelhante ao vale acima.

1.4 Contexto de Lutas – suas origens – Guerra do Contestado.

A Guerra do Contestado é parte integrante do cenário histórico que estamos

tratando. Esta Guerra foi um conflito armado ocorrido entre os anos de 1912 e 1916 na região

sul do Brasil, especificamente em um território disputado pelos Estados de Santa Catarina e

Paraná. O estopim da revolta foi a reunião de dezenas de pessoas em torno de um “monge”

chamado José Maria, em agosto de 1912.

Expulsos por tropas de Santa Catarina e combatidos pela polícia paranaense

(na localidade do Irani, em um conflito onde morreu o próprio José Maria), os “caboclos”

(como eram chamados os trabalhadores rurais da região – normalmente mestiços) deram

continuidade a sua “guerra santa” formando novos redutos a partir de novembro de 1913.

Surgiram acampamentos formados por gente das mais diversas origens:

pequenos agricultores expropriados, aqueles que foram expulsos de suas propriedades, onde

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estavam estabelecidos, mas que, devido à Estrada de Ferro, perderam direito à terra; posseiros

expulsos por fazendeiros, fazendeiros envoltos em disputas pelo poder na região, bandidos a

procura de refúgio, crentes em busca de palavras santas. Os combates entre esses “fanáticos”

e as tropas oficiais perpassaram os três anos seguintes, chegando a envolver o mais moderno

equipamento bélico e mais de 7.000 soldados no auge da guerra.

Vários autores33 destacam que esta guerra não pode ser entendida sem

levarmos em consideração as transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas na

região a partir de finais do século XIX. Tal conjuntura foi marcada, sobretudo, pela

construção da Estrada de Ferrovia São Paulo – Rio Grande a EFSPRG, pela instalação de

enormes serrarias, além da implantação de colônias para imigrantes estrangeiros,

empreendimentos estes ligados ao Sindicato Farqhuar, administrado por Percival Farquhar.

Percival Farquhar (1864 - 1953). Nascido de família rica “Quakers” na

Pensilvânia – EUA, de tradição protestante, completou seus estudos na Universidade de Yale,

um dos centros estudantis da elite, formando-se em Engenharia. Foi vice-presidente da

Atlantic Coast Eletric Railway Co., e da Staten Island Electric Railway Co. empresas que

controlavam os serviços de bondes em Nova Yorque. Foi também, sócio e diretor da

Companhia de Eletricidade de Cuba sócio e vice-presidente da Guatemala Railway. Farquhar

foi um homem visionário, controvertido, audacioso e polêmico, tornando-se o maior

investidor privado do Brasil entre 1905 e 191834.

A história escrita de Farquhar é repleta de contradições, o que se torna

extremamente difícil de identificar o que é lenda, quais são as louvações e quais as acusações

feitas por terceiros. Um homem destacado em suas posições, arrojado financista, com trânsito

livre pelos mercados de capitais da Europa, e que segundo narrativas “homem capaz de

financiar qualquer coisa”35.

33 Tarcísio Motta de Carvalho, Terra, Luta de Classes e Estado: a Guerra do Contestado (1912-1916),Universidade Federal Fluminense – RJ. SERPA, Élio Cantalício, A guerra do Contestado (1912-1916).Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1999. 75 p. Oswaldo R. Cabral (Oswald Rodrigues). Acampanha do contestado, Florianópolis: Lunardelli, 1979. 358p. Delmir Jose Valentini, Da cidade santa à corte celeste: memórias de sertanejos e a guerra do Contestado. 2. ed. Caçador: Universidade do Contestado, 2000. 191 p.. Marli Auras, Guerra do Contestado: a organização da irmandade cabocla, Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1984. 177p. Douglas Teixeira Monteiro, Os Errantes do Novo Século: Um Estudo sobre o Surto Milenarista do Contestado, Livraria Duas Cidades, São Paulo, 1974 34 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ - Acessado em 15/05/2008.35 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ - Acessado em 15/05/2008.

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O início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, foi um momento de grande

complicação para Faquhar, pois, foi interrompida a sua fonte de recursos para financiamentos

de seus projetos, o que enfraqueceu grandemente o já precário império Faquhar, que desde

que fora criado tinha sobre si, o poder de contrair dívidas sobre dívidas, pois, como já visto, o

Império era somente o financiador, uma espécie de provedor dos projetos. Tendo-se

endividado grandemente, desmoronou. Suas empresas entraram em concordata em outubro de

1914, pois, havia perdido todo o capital investido. Reergue-se novamente após o término da

Guerra, utilizando-se das mesmas táticas anteriores, quebrando-se novamente na grande crise

financeira mundial do ano de 1929. Deixou o Brasil após a Revolução de 1930, onde seus

espaços empresariais foram contidos pelo governo de Getúlio Vargas.

Sua chegada no Brasil, muito provavelmente, deve-se ao distrato com o

Bolivian Syndicate e ao compromisso com o governo brasileiro para a construção da Estrada

de Ferro Madeira-Mamoré (1907 – 1912), ligando as localidades de Porto Velho a Guajará-

Mirim no estado de Rondônia. O Tratado de Petrópolis, de 17 de novembro de 1903, com a

Bolívia, que conferia ao Brasil a posse do Estado de Roraima, o governo brasileiro

comprometia-se, entre outras coisas, com a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, para a

escoação da produção boliviana através do Rio Amazonas.

Farquhar cercou-se de amigos importantes, como Alexandre Mackenzie e Ruy

Barbosa, e usou um intermediário brasileiro para a compra da concessão de construção da

Madeira-Mamoré – Joaquim Catrambi, o qual operou como seu testa de ferro. Catrambi

obteve junto ao Governo Rodrigues Alves a concessão para a construção da ferrovia em 1906.

Em 1907, Faquhar assumiu esta ferrovia, que foi inaugurada em 30 de abril de 1912. No

mesmo ano de 1907, Farquhar fundou a Madeira-Mamoré Railway Company, fundada em

Boston (EUA), em agosto de 1907. Após a revolução de 1930 viu seus espaços contidos,

durante o governo Getúlio Vargas, e assim terminou por deixar o Brasil.

Farquhar foi o controlador da Brazil Railway e da Southern Brazil Lumber and

Colonization Company, empresas estas, responsáveis pelo extrativismo florestal, tanto pela

construção da Estrada de Ferro quanto pelo povoamento das terras concedidas, atividades

estas, que acabaram provocando a “Guerra do Contestado”, na qual morreram mais de 10.000

brasileiros.

Em 1908, Farquhar, através da Brazil Railway Company adiquiriu o controle

da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande – EFSPRG, devido à potencialidade de lucros

que obteria com a exploração de madeira que seria exportada, das florestas virgens do Meio-

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Oeste Catarinense, florestas de grandes araucárias que sob suas copas amparavam árvores de

madeiras nobres como a imbuía de mais de 10 metros de circunferência.

Nas terras concedidas através da concessão do governo, foi criada a Southern

Brazil Lumber & Colonization Company, que se tornou amplamente conhecida como Lumber.

Empresa colonizadora e tornou-se também, a maior serraria para exportação de madeira.

Chegou a ter 6.000 funcionários.

Todas estas atividades, tanto da construção da ferrovia, como da exploração

extrativista daquela região, o que como já visto anteriormente, causou a expulsão daqueles

que ali estavam estabelecidos no caminho dos tropeiros em viagem do Rio Grande do Sul à

Paraná e São Paulo, mas que tiveram suas terras como terras inabitadas. Estas mudanças

ocasionaram um violento e intenso processo de expulsão de posseiros e a resistência a esse

processo, baseada no Costume e numa concepção de justiça fortemente defendida por aqueles

caboclos, que foram assim, aspectos essenciais para entendermos a adesão de milhares de

pessoas aos redutos e cidades santas no Contestado. Carvalho sobre as lutas enfrentadas pelos

caboclos nos mostra o seguinte:

Para a região do Contestado, a “saída” encontrada para estas duas necessidades foi a expulsão de pequenos posseiros, há muito presentes na região e a instalação de importantes projetos de colonização, especialmente européia. Assim, mesmo que as legislações estaduais estivessem se constituindo de forma a adotar uma postura liberal em relação às posses, a especificidade do planalto catarinense exigiu a efetiva regularização da propriedade da terra, o que gerou conflitos intraclasse dominante, mas também entre estes e os caboclos. (2002, p. 9)

O conflito arrastou-se até o ano de 1916, quando em 20 de outubro deste ano,

por meio do “Acordo de Limites” assinado pelo governador de Santa Catarina – Felipe

Schimidt e pelo governador do Paraná – Afonso Camargo, sendo o encontro mediado pelo

Presidente da República Wenceslau Brás, no Palácio do Catete no Rio de Janeiro, sendo que,

este acordo já havia sido homologado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo Decreto no.

3.304, de 03 de agosto daquele ano.

Com o encerramento da Guerra do Contestado, com a morte de seus líderes, os

que não foram mortos, permaneceram naquelas terras e agora, estavam sem liderança e sem

esperança quanto ao futuro. Não havia mais o sonho do “Novo Reino” e com isso, os errantes

permaneceram na vida de conflitos com os imigrantes, inclusive com àqueles que se

instalaram na região de Ipoméia. Estes conflitos estenderam-se até a década de 20.

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É nesse contexto de história da imigração alemã, que chegará a terras

brasileiras, a família que irá proporcionar o início da história da “A Igreja de Jesus Cristo dos

Santos dos últimos Dias”. Contexto não apenas de crescimento e expansão, mas contexto de

lutas e de conflitos armados conforme vemos abaixo (figura 9). Havia também, crises com

relações aos conflitos mundiais, 1ª e 2ª Guerras Mundiais, quanto às crises vividas pelos

colonos, pela luta de posse da terra, pela luta armada em prol de um momento apocalíptico e

da origem tanto dos chamados evangélicos quanto do catolicismo, demonstrado tanto pelos

alemães quanto pelas outras etnias que aqui chegaram bem como as implicações da transição

do período das Repúblicas (velha e nova República).

Figura 9 – Grupo de jagunços armados que participaram da “Guerra do Contestado”

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CAPÍTULO 2

A IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS

OS PIONEIROS

2.1 Os protagonistas - Sumário da História dos Mórmons – origem.

A origem desta igreja, remota aos anos de 1820, na pessoa de seu Profeta

Fundador Joseph Smith Jr. (Sharon, Vermont, 23 de dezembro de 1805 – Carthage. Illinois,

27 de junho de 1844), que então, aos 15 anos de idade, aproximadamente, tem uma visão,

conforme descrito por Amorim, descrevendo a história desta Igreja em Alagoas, escreve:

Joseph Smith Jr., filho de Joseph Smith e Lucy Mack Smith, descendente de ingleses e escoceses, chegara com os pais e oito irmãos, em 1816 ao Estado de Nova Iorque, procedentes do Estado de Vermom [...] Envolvido pelo clima de dissidência religiosa predominante na “fronteira Americana” durante a primeira metade do século XIX, insatisfeito com o universo religioso povoado de preceitos metodistas e presbiterianos ao qual se convertera a família, Joseph Smith encontraria na Bíblia e na oração um referencial para a eclosão de sua experiência. (1986, p. 29)

Foi no texto de Tiago capítulo 1, verso 5, que nos diz: “Se, porém, algum de

vós necessita de sabedoria, peça-a a Deu, que a todos dá liberalmente e nada lhes

impropera; e ser-lhe-á concedida”36. Após um momento de meditação, retirou-se para um

lugar propício para meditação. O próprio Joseph Smith descreve da seguinte forma:

36 Bíblia Sagrada, Versão: Revista e Atualizada, 2006

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(...) Apenas fizera isto, quando fui subitamente subjugado por uma força que me dominou inteiramente, e seu poder sobre mim era tão assombroso que me travou a língua de modo que eu não pude falar. Intensa escuridão envolveu-me e pareceu-me por algum tempo que estivesse destinado a uma destruição repentina (JS 2:15)

Ele descreve a angustia e aflição do momento, onde o Inimigo sabendo de sua

tão grande tarefa de restauração do Evangelho buscou a todo custo destruí-lo. Joseph clamou

a Deus, sendo imediatamente salvo. Foi então, naquele bosque, que teria tido a primeira visão

e recebido a primeira revelação: “Dois Personagens” apareceram-lhe, dizendo que “a

nenhuma seita se filiasse porque todas estavam erradas”. Disse que tinham “religiosidade

aparente”, mas negavam “o Meu poder”37.

Após três anos da primeira visão, uma nova visão aconteceu. Era noite do dia

de 21 de setembro de 1823. Nesta visão, aparece a Joseph Smith, um mensageiro, “Morôni”,

filho de Mórmon38, dizendo-lhe que Deus tinha um trabalho que deveria ser efetuado por ele –

a tradução do livro de Mórmon – mediante poder divino e citando-lhe profecias do Antigo

Testamento, Joseph escreveu:

“Ele me chamou pelo nome e me disse que era um mensageiro enviado da presença de Deus, e que se chamava Morôni; que Deus tinha um trabalho a ser feito por mim; e que meu nome seria conhecido por bem ou por mal entre todas as nações, famílias e línguas, ou que seria citado por bom ou por mau entre todos os povos. Disse que havia um livro depositado, escrito sobre placas de ouro, dando conta dos antigos habitantes deste continente, assim como a origem de sua procedência. Disse também, que nele se encerrava a plenitude do Evangelho eterno, como foi entregue pelo Salvador aos antigos habitantes”. (JS 2: 33-34)

Mórmon, um profeta que teria vivido no continente americano e compilado em

placas de ouro um registro em torno de seus habitantes, que aqui teriam chegado cerca de 600

anos a.C., proveniente de Jerusalém. Foi no espaço decorrido entre os anos de 1823 e 1827,

em que as várias aparições de Morôni faziam com que Joseph Smith fosse instruído quanto ao

trabalho que desempenharia.

Em 22 de setembro de 1827, recebeu as placas de ouro das quais traduziu o

Livro de Mórmon, história da América pré-colombiana39, sendo sua esposa Emma Hale, com

quem Joseph Smith casou-se no início desse ano, sua auxiliadora servindo como escrevente

por um breve período, e mais tarde, Joseph foi auxiliado por um seu amigo, Martin Harris,

37 AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais, Editora USP – FFLCH/USP, 1981, p.30. Joseph Smith 2:19. 38Cf. AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais, Editora USP – FFLCH/USP, 1981, p.30, nota 3. 39 AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais, Editora USP – FFLCH/USP, 1981, p.30

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como escrevente. Foi através da quebra de palavra de Martin, que as primeiras páginas

traduzidas puderam ser roubadas. Mas, outra história fora traduzida, a Profecia de Néfi, que

continham profecias mais importantes sobre Cristo, do que a primeira que havia sido

roubada40.

A partir de então, surge na primeira fase da história dos Mórmons o nome de

Oliver Cowdery, que em 7 de abril de 1829, começou a escrever sobre este momento tão

importante, “Esses foram dias inolvidáveis – estar sentado ouvindo o som de uma voz ditada

pela inspiração do céu despertou a mais profunda gratidão neste peito!” (JS 2.7, nota de

rodapé). Oliver Cowdery relata41:

“Este livro é verdadeiro (...) eu próprio o escrevi conforme saía dos lábios do Profeta. Ele contém o evangelho eterno e cumpre as revelações de João, onde lemos que ele viu um anjo trazendo o evangelho eterno para o proclamar a toda nação, tribo, língua povo. Este livro contém princípios de salvação. E, se andarem por sua luz e obedecerem a seus preceitos, serão salvos no reino eterno de Deus”.

O trabalho de tradução, após algumas mudanças de localidades, devido as

perseguições impostas a Joseph Smith e a Oliver Cowdery, terminou no decorrer do mês de

junho de 1829, na cidade de Fayette, Estado de Nova York, Está registrado no livro Nosso

Legado (1996, p.9): “terminar esse trabalho em meio a tantas provações foi, sem dúvida, um

milagre de nossos dias”. Segundo, o Nosso Legado, a tradução do livro de Mórmon, continua

hoje essencialmente o mesmo hoje.

Ainda em Fayette, o Senhor revelou a Joseph Smith que Oliver Cowdery,

David Whitmer e Martin Harris deveriam ser as três testemunhas especiais que receberiam a

permissão para verem as placas de ouro. O testemunho de David Whitmer registrado no

Nosso Legado:

“Fomos a um bosque próximo dali, sentamo-nos num tronco e ficamos conversando por algum tempo. Em seguida, ajoelhamo-nos e oramos. Joseph orou. Depois, levantamo-nos, sentamo-nos no tronco novamente e estávamos conversando quando, de repente, desceu uma luz do céu envolvendo-nos; e o anjo apareceu diante de nós”. Esse anjo era Môroni. David contou ainda: “Ele estava vestido de branco e, chamando-me pelo nome, disse: ‘Abençoado é aquele que guarda Seus mandamentos’. Diante de nós surgiu uma mesa sobre a qual estavam as placas. O registro dos Nefitas, de onde o Livro de Mórmon foi traduzido, as placas de latão, a Esfera de Guias, a espada de Labão e outras placas”. Enquanto os homens examinavam essas coisas, ouviram uma voz que dizia: “Estas placas foram

40 ___________Nosso Legado – Resumo da História de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1996, p.8 41 ___________Nosso Legado – Resumo da História de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1996, p.8, 9

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reveladas pelo poder de Deus e traduzidas pelo poder de Deus, a tradução que vistes é correta, e ordeno-vos que presteis testemunho do que vistes e ouviste”. (1996, p. 10)

Os primeiros exemplares do Livro de Mórmon foram colocados à venda na

Livraria E. B. Grandin em 26 de março de 1830.

Enquanto traduziam o Livro de Mórmon, Joseph e Oliver confrontaram-se com

a menção ao batismo para remissão de pecados, buscaram maiores informações sobre o

assunto, orando ao Senhor, era a data de 15 de maio de 1829. Enquanto oravam, às margens

do Rio Susquehanna, apareceu-lhes um mensageiro celestial que se identificou como sendo

João Batista, o mesmo do Novo Testamento, aquele que precedeu a vinda de Jesus Cristo.

Foram batizados, por imposição de mãos de João Batista, dizendo: “A vós, meus conservos,

em nome do Messias, eu confiro o Sacerdócio de Aarão, que possui as chaves da ministração

dos anjos, do evangelho do arrependimento e do batismo por imersão para remissão dos

pecados ...” Nosso Legado (1996, p. 13).

Após a ordenação, Joseph batizou Oliver; e Oliver batizou Joseph, como

haviam sidos instruídos por João Batista, conferindo um ao outro, o Sacerdócio Aarônico –

responsabilidade sobre as coisas temporais. Mais tarde, Pedro, Tiago e João apareceram a

Joseph e Oliver e conferiu-lhes o Sacerdócio de Melquisedeque, concedendo-lhes poder e

autoridade sobre os assuntos temporais e espirituais, concedendo-lhes também, as chaves do

reino de Deus. O Sacerdócio de Melquisedeque é a maior autoridade dada ao homem na

Terra. Sendo ordenado como profeta Joseph Smith recebeu autoridade e pôde assim organizar

“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” nesta dispensação e começar a formar

os vários quóruns do sacerdócio como são conhecidos hoje na Igreja42.

Segundo Nosso Legado, “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos

Dias” foi organizada no dia 06 de abril de 1830, na casa de troncos de Peter Whitmer Sênior

em Fayette, Estado de Nova York. Nesta reunião, com o consentimento dos presentes, Joseph

ordenou Oliver como Élder da Igreja, e da mesma forma Oliver procedeu com o Profeta,

conforme o mandamento recebido do Senhor.

O nome, ou denominação “Santos dos Últimos Dias”, prende-se à tentativa de

retorno ao tempo dos primeiros cristãos, chamados “Santos” pelos apóstolos e à expectativa

42 ___________Nosso Legado – Resumo da História de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1996, p.14

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do “Milênio”, era do estabelecimento absoluto do poder de Deus, momento este, em que os

homens viverão em condições paradisíacas43.

A expressão “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, refere-se,

como os próprios membros da Igreja afirmam como sendo a única Igreja verdadeira de Jesus

Cristo, a Igreja restaurada. Vejamos em rápidas palavras como é o funcionamento eclesiástico

desta igreja, nas palavras de Amorim, demonstrado através do fluxograma de funcionamento

(anexo 11), da Organização básica da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos

Dias”44, da seguinte forma:

O termo “Élder” designa todo o possuidor do sacerdócio de Melquisedeque. Designa também, uma atividade específica. Na condição de missionário ele batiza, administra os sacramentos – pão e água – ensina, conduz reuniões, preside, opera em todos os cargos da Igreja. Os Setenta são élders viajantes que trabalham sob a supervisão do Primeiro Conselho dos Setenta. Os Sumo-Sacerdotes administram assuntos temporais e espirituais e podem presidir Estacas e Missões que correspondem, respectivamente, às áreas nas quais encontra-se a Igreja em fase completa de organização e estabelecimento ou expansão e implantação. As Estacas e Missões, na condição de unidades regionais, supervisionam os Ramos e Alas, menores unidades de organização e que tratam diretamente com os membros. (1986, p. 31)

Assim, deu-se início a “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”,

difundindo-se primeiramente, nos Estados Unidos e posteriormente para o mundo.

Neste trabalho, não trataremos de forma mais aprofundada o desenvolvimento

e a constituição da Igreja dos Mórmons, suas origens e seu desenvolvimento no mundo, nem

sobre sua doutrina, pois, este não é o propósito deste trabalho. Neste momento, buscarei,

apenas, subsídios para a compreensão do desenvolvimento do trabalho missionário

desenvolvido no Brasil, o trabalho e as responsabilidades que os primeiros missionários irão

desenvolver no solo brasileiro e de como será o início do trabalho de pregação da doutrina

Mórmon no Brasil.

43 AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais, FFLCH/USP, 1981, p.31 44 Cf.,AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais,FFLCH/USP, 1981, p.32

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2.2 A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na América do Sul

Segundo a Liahona, publicação mensal da Igreja – novembro de 1978 – o

início efetivo do trabalho das missões na América do Sul, ocorreu em 1925, na Argentina, a

partir da solicitação de conversos alemães, que ali emigraram em 1920, que enviassem

missionários para Buenos Aires para auxiliá-los a constituírem a Igreja entre seus familiares e

amigos.

Figura 10 – Foto do Presidente Brigham Young

A história da Igreja na América do Sul tem seu início após o Martírio de

Joseph Smith, ainda no século XIX. Após a morte de Joseph, o Profeta, em 1844, o Dirigente

da Igreja passou a ser Brighan Young, (figura 10). Young presidiu a Igreja por 33 anos.

Enfrentou grandes dificuldades encontradas pelos primeiros membros da Igreja: perseguições;

saída de Nauvoo no Estado de Illinóis, e a implantação da Igreja em Salt Lake, no Estado de

Utah. O Presidente tinha a visão da implantação e do início do proselitismo na América do

Sul. Reunido com o conselho dos Doze Apóstolos, em Utah, deliberaram sobre a implantação

da Igreja na América do Sul. O que foi feito, como será visto a seguir.

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2.2.1 A Primeira Tentativa – Chile – Frustração

Foi por intermédio de instruções do Presidente da Igreja Brigham Young, que

o Élder Parley P. Pratt (figura 11) em fevereiro de 1851 recebeu ordens para coordenar a

proclamação do Evangelho no Pacífico Sul. O Presidente tinha a visão de alcançar a outra

parte do mundo ainda não alcançado pelo Evangelho restaurado.

Figura 11 – Élder Parley P. Pratt , membro do Conselho dos Doze Apóstolos, desembarca em Valparaiso no Chile em 08 de novembro 1851, para iniciar o trabalho de pregação do Evangelho no

Pacífico Sul (América do Sul).

Pratt e sua esposa permaneceram em São Francisco, pregando o Evangelho e

buscando informações para sua Missão. Havia muitas dificuldades a serem vencidas e a

língua espanhola era uma delas; outra dificuldade era a falta de material da Igreja para ser

distribuído aos habitantes daquela localidade. Iria depender apenas de seu testemunho pessoal

e da orientação do Espírito para a pregação do Evangelho.

Pratt obteve informações sobre a religiosidade predominante na América do

Sul. Descobriu que era Católica, e que tinha forte influência no governo, buscando dificultar

a entrada e aceitação de novas religiões.

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Pratt descobriu também, que em Valparaíso no Chile, havia comunidades

evangélicas (protestantes), e que entre estes, haveria melhor aceitação de sua mensagem. Em

setembro de 1851 o Élder Parley P. Pratt, sua esposa e o Élder Rufus Allen, partiram de São

Francisco para o Chile, numa viagem de aproximadamente dois meses, tempo este, que

proporcionou para Pratt, um melhor preparo em seus estudos,e um melhor preparo para o que

iria encontrar. Chegaram em 08 de novembro de 1851 em Valparaiso.

O Chile proporcionava bons recursos para a pregação do Evangelho, pois era

um País onde havia certa estrutura de liberdade religiosa, garantida pela sua Constituição, e

pelo bom desenvolvimento educacional ali existente. Estas circunstâncias deram à Pratt e

Allen, uma boa perspectiva para a implantação da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos

Últimos Dias”.

Fizeram contatos com pessoas importantes e com autoridades públicas da

cidade. Porém, o medo e o receio da mudança de religião, como também, o receio do que

outras pessoas pensariam, levaram-nos a não se dispor a aceitarem a nova mensagem trazida

pelos Missionários. Em janeiro do ano de 1852, Pratt e Allen, viajaram para o interior do

Chile, ao encontro dos povos indígenas, que segundo sua visão, eram remanescentes dos

povos descritos no Livro de Mórmon. Plantaram a semente para que em tempo oportuno ela

venha a dar os seus frutos.

Porém, o Chile passava por um período de crise, distúrbios e rebeliões devido à

política interna do governo, o que criou diversas complicações para a aceitação do Evangelho.

Num trecho de uma carta dirigida ao Presidente Brigham Young, citado por Blind em sua

historiografia do Élder Pratt que declarava:

Ficamos até que todos os meios tivessem exaurido e procuramos e oramos diligentemente para que nosso caminho fosse aberto, mas nem falávamos a língua para pregar o evangelho nem para achar qualquer meio de ganhar a nossa vida e, portanto, achamos melhor voltar para Califórnia. (2007, p. 5)

Em maio de 1852, após seis meses de trabalho missionário, a Missão na

América do Sul estava encerrada, o que originou nos corações daqueles missionários um

sentimento de tristeza, pois, segundo o Élder Allen que declarou: “A América do Sul ainda

não estava preparada para receber o Evangelho de Jesus Cristo”.

A Pregação do Evangelho na América ficou então paralisada num período de

73 anos (1852 – 1925). Em 1853 houve uma tentativa de implantação da Igreja na Guiana

Britânica pelos Élders James Brown e Elijah Thompson, porém, foram proibidos de tal obra.

A Igreja não se estabeleceu no Continente Sul Americano neste primeiro momento.

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No ano de 1923, o Élder Andrew Jenson e Thomas Page, assistentes da

História da Igreja, viajaram para a América do Sul para visitarem o Brasil, o Chile, a

Argentina, a Bolívia e o Perú, provavelmente, devido as cartas recebidas dos imigrantes,

membros da “A Igreja de Jesus Cristos dos Santos dos Últimos Dias”, que haviam imigrado

para estes países. Contemplaram grandes possibilidades, face à presença dos imigrantes

membros da Igreja, para a implantação da Igreja na Argentina e no Brasil.

2.2.2 A Segunda Tentativa – Argentina - Implantação

Os precursores da Igreja dos Santos dos Últimos Dias na Argentina foram as

famílias de Wilhelm Friederich e Emil Hoppe, que chegaram como imigrantes, em 1923, no

mesmo ano da chegada da família Lippelt no Brasil. As famílias, longe de sua terra natal e

longe de sua comunidade, sentiam falta da comunhão com os irmãos, das reuniões, dos

testemunhos e buscaram com ansiedade contato com a Igreja.

O trabalho teve início, após o envio por parte da “A Igreja de Jesus Cristo dos

Santos dos Últimos Dias”, que durante uma reunião da Presidência, o Profeta Presidente da

Igreja Heber Jeddy Grant, com o quorum dos Doze Apóstolos anunciou o estabelecimento da

Missão Sul Americana. Designaram o Apóstolo Melvin J. Ballard e como companheiros:

Elder Rulon S. Wells, que falava Alemão, e do Élder Rey L. Pratt (neto do Élder Parley Pratt,

que no século anterior havia tentado estabelecer a Igreja no Chile), que falava Espanhol,

membros do Conselho dos Setenta. Eles foram encarregados de abrir a Missão América do

Sul. Sob a autoridade do Presidente Heber J. Grant, estes homens dedicaram a vasta área da

América do Sul para a pregação do Evangelho, no dia 25 de dezembro de 1925, no Parque 3

de fevereiro, às margens do Rio de La Plata em Buenos Aires, (figura 12).

Heber J. Grant (22 de novembro de 1856 – 14 de maio de 1945)1 que serviu

como presidente durante 27 anos, teve um papel muito importante no estabelecimento e

desenvolvimento da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, na América do Sul

(figura 13). Recebeu das mãos de Joseph F. Smith a bênção para o desenvolvimento de seu

importante trabalho. Nosso Legado registra que antes de sua morte, Smith tomou Grant pela

mão e disse:

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O Senhor o abençoe, meu rapaz, o Senhor o abençoe. Você tem uma grande responsabilidade. Lembre-se sempre de que esta é a obra do Senhor, não do homem. O Senhor é maior do que o homem. Ele sabe quem Ele deseja que dirija Sua igreja e jamais comete um erro”. Heber J. Grant tornou-se o sétimo Presidente da Igreja aos 62 anos, tendo servido como Apóstolo desde 1882. (1996, p. 107).

Figura 12 – Élder Melvin J. Ballard e Élder Rey. L. Pratt – Buenos Aires - 1925

Figura 13 – Foto do Profeta Presidente Herbert J. Grandt

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Os membros designados para a implantação da Missão na América do Sul

chegaram à Argentina no dia 06 de dezembro de 1925, desembarcando do navio “S.S.

Voltaire”, sendo recepcionados pela família de Wilheim Friederich e Emil Hoppe.

No dia 07 de dezembro, foi realizada a primeira reunião da Igreja na

Argentina, em casa de Ernest Biebersdorf, vizinhos da família Friederich e Hoppe, contando

com a presença de nove adultos e quatro crianças, todos imigrantes alemães. Nesta reunião

houve o desejo de seis pessoas serem batizadas, sendo eles: Anna Kullick, Jacobo Kullick,

Herta Kullick, Ernest Biebersdorf, Maria Biebersdorf e Elisa Plassmann.

Estas seis pessoas são batizadas na reunião do dia 13 de dezembro de 1925, e

confirmados como membros da Igreja. Nascia assim, o primeiro Ramo da Igreja de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias na América do Sul. Assim, com o batismo dos seis

primeiros conversos foi criada a Missão Sul-Americana na Argentina.

Desde o início do trabalho de proselitismo na América do Sul, houve a

demonstração de interesse por parte da “A Igreja” pelos mais jovens. Já nas primeiras

reuniões, houve a presença de alguns curiosos; muitas crianças compareceram, para verem os

slides e os filmes que eram passados pelos Missionários. Este fato chamou a atenção dos

Missionários, que deram início ao trabalho entre os mais jovens, organizaram reuniões

especiais para eles.

Em 1º. de maio de 1926, aproximadamente umas 100 crianças compareceram a

reunião de jovens. Peterson registra comentário feito pelos Missionários: “Eles são muito

difíceis de controlar, e não tenho idéia de como santificar a reunião. Muitos deles não

conheciam a Bíblia ou sobre a sua existência” (1961, p.51). Mais tarde, esta maneira de

ensinar aos mais jovens foi deixada de lado.

A ênfase no trabalho com as crianças e com os jovens continuou na Missão. A

Escola Dominical foi organizada e se constituiu um dos mais efetivos meios de evangelização

desta idade. Foi através destas crianças, que muitos adultos despertaram interesse na “A

Igreja”. Os Missionários descobriram também, outra estratégia de proselitismo: O estudo da

língua inglesa. Formaram, então, classes para estudo da língua. Peterson afirma: “Muitas

pessoas expressaram o interesse em aprender o Inglês, e foram encorajados pelos

Missionários que se dispuseram a ensiná-los” (1961, p. 52).

Em Junho do ano de 1926, chegaram à Argentina, o Élder Reinhol Stöof,

acompanhado de sua esposa e mais dois Éders (figura 14), como será visto mais à frente, para

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darem continuidade ao trabalho. Stöof é designado pelo Conselho dos Doze como o novo

presidente da Missão Sul-Americana.

Os Élders Ballard e Pratt permaneceram na Argentina por mais alguns dias. A

chegada de novos Missionários trouxe um alento para o difícil trabalho que havia já se

estabelecido, fortalecendo o animo dos novos membros da Igreja. Pratt e Sharp, que falavam

Espanhol, conduziram muitas reuniões. O Presidente Stöof, que falava fluentemente o

Alemão, fez um grande trabalho entre os imigrantes alemães. Em 23 de julho de 1926, os

Élders Ballard e Pratt, retornam para seus lares.

Figura 14 – Élder Reinhold Stöof e sua esposa Ella Stöof e os Élderes Melvin J. Ballard, Rey L. Pratt e J. Vermon Sharp – Buenos Aires 1926

Durante os primeiros dez anos, do trabalho de proselitismo, os Missionários

dividiam o trabalho; metade trabalhava com os de língua alemã e a outra metade trabalhava

com os de língua espanhola. Durante os oito primeiros meses do trabalho de proselitismo,

Ballard e Pratt trabalhavam mais entre os de língua espanhola. Porém, o primeiro batismo foi

de imigrante alemão e depois de uma senhora Argentina. Ela foi batizada pelo Élder Melvin J.

Ballard. Após a chegada do Presidente Stöof, muitos alemães foram batizados pela Igreja.

Durante os anos seguintes, o Presidente deu maior ênfase à pregação do Evangelho, entre os

de língua alemã.

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Peterson (1961, p. 54), registrando a Estatística da Missão até o ano de 1930,

indica a nacionalidade dos primeiros membros da Missão da América do Sul, nos mostrando

esta hegemonia entre os alemães no trabalho de proselitismo, como segue:

TABELA 1 Batismos por Nacionalidade – Missão Sul Americana: 1925 – 1930

Durantes os dez primeiros anos, o trabalho de proselitismo na Argentina foi

centralizado na cidade de Buenos Aires, na qual, os Élders fizeram contato com muitos

grupos étnicos. Peterson mostra a diversidade dos povos que compunham o cenário daquela

cidade:

A cidade é formada em quase sua totalidade de pessoas que vivem em

grupos étnicos. Eles são: imigrantes da Itália, Espanha, Alemanha e muitas

outras Nações européias, que é muito difícil identificar um natural da

Argentina. A língua Espanhola não é falada em sua maioria nas grandes

metrópoles, ainda que muitos Espanhóis falem muito bem o Castelhano

(1961, p. 55).

A partir de novembro de 1930, a segunda cidade da Argentina a receber o

Ramo de “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, a cidade de Rosário, a 2ª.

Ano

No.

de

Bat

ism

os

Ale

mãe

s

Italia

nos

Esp

anhó

is

Por

tugu

eses

Irla

ndes

es

1925 6 6 -- -- -- --

1926 5 -- 4 1 -- --

1927 12 -- -- 12 -- --

1928 17 6 2 6 2 1

1929 20 8 2 10 -- --

1930 36 30 3 3 -- --

Total 96 50 11 32 2 1

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cidade de maior população naquele País. O Trabalho se desenvolvia. Peterson registra um

relatório de um Élder Missionário, mostrando o grande campo a ser trabalhado, e as

dificuldades em ter poucos trabalhadores, ele relata:

Argentina tem uma população de 12 milhões de pessoas. Três milhões

vivem em duas cidades principais: Buenos Aires e Rosário de Santa Fé.

Desde que os primeiros Élders chegaram, a Igreja fez muitos amigos e

conversos. Em sete anos do Distrito da Argentina dedicou uma casa de

reuniões e conta com 114 membros. A Escola Dominical foi organizada ...

porém, nós temos apenas arranhado a superfície. Há um vasto território

onde os pés dos Élders nunca pisaram. Somente duas cidades na Argentina

ouviram o Evangelho e há aproximadamente 400.000 habitantes por

Missionário nestas duas cidades. Mais trabalhadores são necessários

(1961, p. 66)

Porém, Peterson, afirmando que por falta de interesse por parte das pessoas, o

Ramo de Rosário foi fechado, no outono de 1933 (1961, p. 66).

Tendo sido iniciada na Argentina, a Igreja se expandiu por toda a América do

Sul da seguinte forma: Em 1944 teve início à atividade no Uruguai, com Missionários

enviados a partir da Argentina. Em 1948, no Paraguai, com Missionários do Uruguai. Em

1959, no Peru, também, com Missionários do Uruguai. Em 1956, foram enviados os

primeiros missionários da Argentina ao Chile, onde estabeleceram a Missão Chilena em 1961.

Em 1964, na Bolívia. Em 1965, no Equador. Em 1966, na Colômbia45.

Muitos dos Missionários dos Santos dos Últimos Dias na América do Sul eram

membros das Igrejas locais que foram sendo fortalecidos e preparados para o serviço e que

receberam educação nos seminários e programas instituídos pelo Sistema Educacional da

Igreja. Quando a Igreja teve originalmente somente uma missão em toda a América do Sul,

em janeiro de 1991 ela tinha 43 missionários, 381 estacas e distritos, e 3.791 alas e ramos

servindo mais de 1.350.000 membros, ver mapa (anexo 12)46.

45 AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais, Editora USP – FFLCH/USP, 1981, p.37, 38 46 Para maiores informações, ver: http://www.lightplanet.com/ – acessado em 24/03/2008.

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2.2.3 Karl Bruno Reinhold Stöof – 2º. Presidente da Missão Sul Americana

Élder Karl Bruno Reinhold Stöof (12 de janeiro de 1887 – Pfaueninsel,

Brandenburg, Prússia – 17 de agosto de 1956 – Salt Lake City, Salt Lake, Utah)47 Desde cedo

nutria o interesse pelos livros. Aos 20 anos tornou-se professor de crianças. Numa biblioteca

em Berlim, encontrou-se com o Livro de Mórmon.

Ainda na Alemanha, conhece “A Igreja” e filia-se a ela, tornando-se em

seguida um Missionário. Com o início, na Europa, da 1ª. Guerra Mundial, Stöof muda-se para

os Estados Unidos, indo para Salt Lake, onde trabalhou em um jornal, buscando assim,

aprofundar-se melhor na doutrina da Igreja.

Em Salt Lake conheceu uma jovem que havia sido sua aluna na Alemanha e

que desde sua infância havia se apaixonado por seu jovem professor. Sister Ella Hirte Stöof

(01 de outubro de 1900 – Seifersdorf, Brandensburg, Prússia – 20 de janeiro de 1937 – Salt

Lake City, Salt Lake, Utah)48, casando-se em 11 de setembro de 1925.

Figura 15 – Presidente Reinhold Stöof e sua esposa Sister Ella Stöof – Argentina – Buenos Aires, 1926 – Segundo Presidente da Missão Sul Americana – Argentina

47 Disponível em: http://www.familysearch.org/ – Acessado em 20/05/2008. 48 Disponível em: http://www.familysearch.org/ – Acessado em 20/05/2008.

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Na Conferência Geral de abril de 1926, Stöof foi indicado e apoiado para ser o

segundo Presidente da Missão Sul Americana. Partiu com sua esposa no dia 06 de maio de

1926 de Salt Lake e chegaram a Buenos Aires na Argentina em 06 de junho de 1926 (figura

15). Chegaram com Stöof os Élders: James Vermon Sharp e Waldo I. Stoddard.

Segundo Blind, citando a historiografia da Igreja, Stöof conhecia a família

Lippelt desde a Alemanha. Agora como Presidente da Missão Sul Americana buscou meios

para auxiliar aquela família (2007, p. 11). A matriarca da família Auguste Lippelt havia

escrito para a Igreja em Salt Lake solicitando auxílio para a proclamação da mensagem

Mórmon nesta nova terra.

Stöof foi o grande responsável pelo início do trabalho no Brasil. Desde que

chegou, buscou, através de investigação, as possibilidades para a implantação da Igreja, e viu

entre os imigrantes de língua alemã, a grande possibilidade deste trabalho. Ele viajou

primeiramente para São Paulo, para obter informações sobre as maiores Colônias Alemãs. Em

São Paulo, buscou contato com um antigo membro da Igreja, que havia sido Missionário na

Alemanha, porém, não o encontrou. Stöof observou que em São Paulo, a população estava

muito espalhada na área metropolitana, a semelhança de Buenos Aires. Stöof sentiu que o

trabalho seria mais bem recebido, entre os colonos alemães. Decidiu então, investigar o Rio

Grande do Sul e Santa Catarina.

Élder Stöof chegou ao Sul do Brasil em dezembro de 1927. Visitou grandes

cidades: São Paulo, Joinville e Porto Alegre, e viu por si mesmo o grande potencial para a

implantação da Igreja em solo brasileiro, e buscou entre os imigrantes alemães destas

localidades, possibilidades da pregação do Evangelho. Chegou à Santa Catarina no dia 26 de

dezembro de 1927. Os Élders gastaram alguns dias nesta cidade, investigando e descobriram

dois lugares favoráveis para preleção ao público. Stöof buscou também, informações sobre a

localidade chamada Princesa Isabel (Ipoméia), local onde estavam vivendo a família dos

Lippelt, como será visto adiante.

Um fato interessante a ser notado, e que é registrado por Peterson (1961, p. 73)

é o fato de que o Sul do Brasil vivia como uma ilha, afastada das influências da cultura

brasileira. Com o início do trabalho, logo vieram os primeiros frutos.

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Figura 16 – A Força Missionária da Missão Sul Americana – Agosto de 1927. Da esquerda para a direita, sentados: Élders Russel Spencer, Frederick S. Williams, Gouglas Merril, Paul Davis, Lewis E.

Christan, Waldo Stoddard, Ella Stöof, Reinhold Stöof, Jewel Jensen, Heber Clegg e Williams F. Heinz.

Élder Stöof focou entusiasmado com a possibilidade da implantação da Igreja e

viu em Joinville um local propício para implantar a Missão em solo brasileiro, pois, Joinville

era uma comunidade, naquela época, puramente de alemães, como já pode ser visto neste

trabalho. Havia ligação, através da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande a EFSPRG, que

tinha um ramal ligando o litoral de Santa Catarina até àquela localidade, no Meio-Oeste de

Santa Catarina.

2.3 Início do trabalho da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” no

Brasil – Ipoméia

Ipoméia, como já foi visto anteriormente, distrito de Rio das Antas, localizada

no Meio-Oeste do Estado de Santa Catarina, entre as cidades de Videira e Caçador. Distâncias

aproximadas entre os municípios: de Videira, aproximadamente 14 km; de Caçador, distante

aproximadamente 30 km; distante aproximadamente 5 km do centro de Rio das Antas, sede

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do Município. Constituída de um pequeno povoado, local que propiciou o início dos trabalhos

dos missionários Mórmons, após o estabelecimento da família de imigrantes alemães, os

Lippelt, àquela região.

No site da prefeitura de Rio das Antas, encontramos o belo relato histórico49 da

cidade, da seguinte forma:

A colônia, iniciada no final do século passado, recebeu esta denominação devido à grande quantidade de antas existentes no local. A colonização está ligada a construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul. Com a conclusão do trecho no Estado de Santa Catarina, passou-se à medição e demarcação das terras que constituíam a colônia de Rio das Antas, nas redondezas da estação ferroviária do mesmo nome, às margens do Rio do Peixe. Em 1911 com a colonização, as terras com preços acessíveis atraíram colonos do Vale do Rio Itajaí e do Rio Grande do Sul, estrangeiros ou descendentes de italianos e alemães. Em 1914, os jagunços atacaram a vila e, em conseqüência, muitos colonos abandonaram suas propriedades e a companhia colonizadora removeu-os para o estado do Paraná. Somente em 1918 houve reinicio do povoamento da região. Como as terras eram ocupadas por densa e extensa floresta de pinhais, o que dificultava o trabalho agrícola, os colonos fixaram-se nas proximidades da foz do Rio do Peixe. Porém, o pinheiro tornou-se uma fonte de riquezas, atraindo para a região gaúchos que desejam explorar estes recursos naturais. Em 1919 foi criado o município de Rio das Antas, e elevado por município por ato de 21 de junho de 1958, através da Lei número 348, mas instalado no dia 27 de julho de 1958. Em 02 de novembro de 1914, quando os colonos cultuavam os mortos, um cavaleiro a todo galope veio avisá-los de que os jagunços estavam se aproximando. Ao avistarem os jagunços vindo pela estrada da Barra Velha, os colonos recolheram-se as trincheiras, previamente construídas e reforçadas com cercas de arame farpado. Começou, então a luta que se prolongou até as 15H00 da tarde. Os jagunços não puderam tomar o entrincheiramento e perderam 20 homens, entre os quais o famoso chefe Chico Alonso. A colônia, por sua vez perdeu sete homens e uma menina. Em virtude disso, os colonos abandonaram suas terras e a Companhia Colonizadora os levou para o Estado do Paraná. Somente em 1918 houve reinício do povoamento da região. Em 1923, a família Lippelt instalou-se em Princesa Isabel, Ipoméia. Após os contatos da família Lippelt com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nos Estados Unidos, ela instalou-se na região, com a vinda de alguns líderes. Em 1958, inicia-se a construção do prédio oficial. Desde então, até 1959 as reuniões eram realizadas nos lares e posteriormente numa capela de madeira. Sua dedicação aconteceu de forma histórica, no dia 09 de março de 1959, por um dos Doze Apóstolos: Élder Spencer W. Kimbal.

49 Disponível em: http://www.riodasantas.sc.gov.br/ - Acessado em 09/05/2008

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Figura 17 – Foto ilustrativa da flor de Ipoméia

Ipoméia – morning-glory pertencente à família da hoes falliae é uma das

trepadeiras mais lindas que existem, com suas flores vermelho-vivo, em forma de trombetas

(figura 17). Floresce entre março e agosto. Outros tipos possuem flores azuis, arroxeadas,

brancas e rosas50.

Uma linda flor, de nome nativo indígena, de vegetação rasteira, que cresce à

beira das estradas ou rios, possuindo uma beleza angelical, de cor branca, azul ou lilás. Uma

de suas características é de que quando cortada a sua raiz, tanto as folhas como as flores

imediatamente murcham e se fecham.

A delicadeza encontrada nesta flor torna-se de um significado especial para um

Mórmon, pois, reflete, segundo eles, a beleza de sua convicção. Um de seus membros, Élder

Paulo R. Grahl, descrevendo essa “Beleza de Ipoméia”, nos diz51:

A pequena comunidade mórmon de Ipoméia floresceu e prosperou, com a adesão de várias outras famílias, que representaram as raízes para o sólido estabelecimento da Igreja em nossa terra. Um dos descendentes daqueles primeiros pioneiros foi meu querido amigo Frederico Blind, falecido em

50 http://www.agrov.com/flores/ipomeia.htm. Acessado em 09/05/200851 Élder Paulo R. Grahl – Segundo Conselheiro na Presidência da Área Brasil Sul (março/2006) A Beleza de Ipoméia - Disponível em: http://www.lds.org.br/. Acessado em 30/04/2008.

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2005, enquanto servia como bispo da Ala Navegantes, Estaca Vale do Itajaí - SC. A pequena capela de Ipoméia acaba de ser renovada e embelezada, tendo sido mantido o seu aspecto original. Ela representa um marco de fé e perseverança de muitos bons irmãos e irmãs daquela bela região catarinense. Meses atrás, aprendi o significado do termo Ipoméia (ou Ipoméa). Trata-se de uma linda flor, de nome nativo indígena, de vegetação rasteira, que cresce à beira das estradas ou rios, possuindo uma beleza angelical, de cor branca, azul ou lilás. A partir dessa definição, Ipoméia passou a ser para mim mais que o berço da Igreja no Brasil, um símbolo, que alerta para a necessidade de criarmos e mantermos firmes e fortes raízes no evangelho, se desejarmos conservar a beleza de nossa família, de nossos filhos, de nosso lar e de nossa congregação. (Março/2006).

Assim é a beleza de Ipoméia, uma localidade rural, às margens da ferrovia e às

margens do Rio do Peixe. Este local teve seu nome mudado por três vezes, Rio Preto –

Princesa Isabel – Ipoméia. Assim como a flor que concedeu o nome para a localidade,

Ipoméia, local simples, porém, local que emana um bom perfume. Local que despertou o

interesse dos imigrantes, alemães e italianos, onde se estabeleceram. Loca onde os Lippelt

fincaram as bases para a implantação da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos

Dias”.

2.4 Os precursores da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” no

Brasil – A Família Lippelt

O trabalho de proselitismo começou em Santa Catarina numa colônia agrícola

alemã situada em Ipoméia. Lá estavam membros de uma família que haviam sido convertidos

à Igreja Mórmon na Alemanha antes de imigrar para o Brasil em 1923.

Ao chegar ao Brasil, a Sra. Auguste Kuhlmann Lippelt escreveu para a sede da

Igreja em Salt Lake City solicitando literatura e contando sobre as condições favoráveis para

inicio da obra missionária no Brasil.

Em 1927 o Élder Karl Bruno Reinhold Stöof, então presidente da Missão Sul-

Americana, visitou a família Lippelt em Santa Catarina, pela primeira vez e prometeu enviar

missionários para a região. Stöof ficou impressionado com o que viu no Brasil: o grande

potencial para o trabalho missionário.

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Blind, citando os registros históricos de Georgina Lippelt Blind, destacando a

primeira reunião da Igreja no Brasil, com uma autoridade da Igreja presente, da seguinte

forma:

(...) neste período de dezembro de 1927, o Presidente Stöof, empreendeu uma viagem de trem e visitou a família Lippelt em Rio Preto (Ipoméia). Onde Élder Stöof realizou uma grande reunião em sua casa com a presença de muitos vizinhos da comunidade. Sendo a maioria de origem alemã. Élder Stöof falou e discursou na língua alemã. Realizou ali, uma reunião com a distribuição do Sagrado Sacramento. Algo que a irmã Lippelt (Augusta) tanto esperava. Uma vez que seus filhos eram jovens e ainda não possuíam o sacerdócio da Igreja. E o marido Robert Lippelt, não tinha se filiado a Igreja, era um homem ateu, não acreditava nestas coisas. Sorte da irmã Lippelt que seu marido estava trabalhando distante do lar, em que ficava ausente por mais de duas ou três semanas. Deixando assim a oportunidade para o Élder Stöof realizar esta reunião da Igreja com a família Lippelt e todos os convidados da comunidade de Princesa Izabel (Ipoméia). (2007, p. 12)

Após a reunião, o Élder Stöof comprometeu-se com a família de que enviaria

Missionários Mórmons, e que estes seriam estabelecidos em Joinville, por ser uma localidade

mais propícia para a implantação da Igreja, mas, comprometeu-se de que estes Missionários

seriam também, responsáveis pela implantação do Ramo da Igreja naquela localidade de

Princesa Isabel (hoje Ipoméia).

Tempos depois, a presidência da Missão Sul-Americana na Argentina enviou

dois missionários – Élder William Fred Heinz e Élder Emil Anton Joseph Schindler – ao

Estado de Santa Catarina52, chegando em 12 de setembro de 1928. Deram início ao trabalho

junto à colônia de imigrantes alemães em Joinville. Este próximo capítulo.

Amorim transcreve um relato sobre a Implantação do mormonismo no Brasil,

relato transcrito da revista “A Liahona – maio de 1978”, órgão oficial da Igreja, da seguinte

forma:

Somos de origem alemã. Minha avó e minha tia converteram-se à Igreja na Alemanha. Meu avô, de temperamento austero e rígido, de forma alguma queria saber dos mórmons. Queria evitar contato com membros da Igreja a qualquer custo. Pensando em solucionar o problema, pesquisava qual o país onde a Igreja não estava estabelecida. Descobriu que no México, para onde pretendia ir, havia uma grande colônia mórmon e por isso escolheu vir para o Brasil. Toda a família arrumou as malas e partiu para o desconhecido, em busca, dizia, de tranqüilidade e paz longe do contato com os mórmons. Não quis permanecer no litoral e por isso embrenhou-se no interior, supondo-se seguro e longe de contato com os mórmons. Minha avó, porém, perseverava na fé, e tendo um firme testemunho, escreveu a

52 Cf.,AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais,FFLCH/USP, 1981, p.39

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Salt Lake, recebendo folhetos e informações e toda ajuda espiritual que a Igreja podia dispensar-lhe. Não conhecendo bem o idioma, solicitou material impresso em alemão. A expectativa de uma resposta ia-se desvanecendo, quando um dia minha tia teve de ir à cidade. Era uma caminhada de quase 8 km. De longe ela vislumbrou a figura de um homem, bem vestido e com características de forasteiro. Ao aproximar-se da jovem, perguntou-lhe se conhecia a família Lippelt. “Você está falando com uma delas”, replicou minha tia. Foram feitas as apresentações e este homem não era outro senão o presidente da Missão Sul-Americana, sediada em Buenos Aires. O presidente foi recebido em casa dos Lippelt com alegria e entusiasmo. Explicou que recebera uma carta do Presidente David O. Mckay, pedindo-lhe que visitasse a família e estabelecesse os alicerces de Sião naquele rincão. Missionários foram enviados a Joinville e esses mesmos missionários dariam assistência a Ipoméia. Nessa época o irmão Blind, ainda com o coração endurecido, não quis receber as lições e não queria saber nada do Evangelho. Um dia, porém, o Senhor mostrou ao irmão o caminho par a humildade e aceitação. Sendo um homem de constituição muito forte e acostumado às lides do campo, amanheceu certa vez completamente paralítico. Foi aí que o Senhor tocou o coração daquele homem e a persistência dos missionários venceu o forte antagonismo pelos mórmons. Ele começou a receber as lições e aceitou o batismo. Mas como fazer para batizar um homem paralítico? Levá-lo às águas não era problema, mas mudar a roupa de que forma? O irmão Blind tranqüilizou os missionários dizendo: Não se preocupem, levem-me às águas e façam o batismo que eu sairei andando. E assim, naquele memorável dia, o irmão Blind foi batizado e saiu andando das águas, do batismo (1986, p. 58, 59).

Pode-se notar que a citação traz a narrativa da conversão do irmão Blind. Na

verdade, os Blind são a descendência dos Lippelt, após o cruzamento dessas famílias pelos

laços do matrimônio, como já se pode constatar com o nome daquela que foi a historiadora da

família Lippelt, que trás em seu sobrenome Blind - Georgina Lippelt Blind. Nesta narrativa,

quem está sendo batizado é o patriarca da família de imigrante, Robert Lippelt, como será

visto no próximo capítulo.

Após a chegada dos Missionários Mórmons em Joinville, no ano de 1928, dá-

se início ao trabalho de forma consistente, como será visto no próximo capítulo. No ano de

1930, temos a chegada dos primeiros Missionários à Ipoméia, com ordens específicas de

Reinhold Stöof, para estabelecer o Ramo de Ipoméia, pois, as reuniões já eram realizadas,

mesmo antes da primeira visita de Reinhold em 1927, dirigidas por Auguste Lippelt, em sua

própria casa. A partir de 1930, o trabalho se desenvolveu, e muitas foram as conversões. Em

1940 um novo momento se iniciará nesta localidade, o início da construção da capela de

Ipoméia.

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CAPÍTULO 3

A IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS –

SEUS MEMBROS

3.1 Os Lippelt

Figura 18 – Auguste Kuhmann Lippelt e Robert Fridrich Heinrich Lippelt – Bremenn Alemanha 1920

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Nádia Amorim destaca que o anseio do patriarca da família Lippelt, Robert

Lippelt, era o de encontrar uma localidade onde não houvesse pessoas ligadas a “A Igreja de

Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. Buscou em outros Países um local onde não havia

trabalho, escolheu o Brasil por este fato, pois, aqui, não havia trabalho naquela época,

embora, como já visto anteriormente, na mesma época da vinda dos Lippelt para o Brasil,

registra-se a chegada dos Friedrich e dos Hoppe na Argentina, aonde, após a vinda dos

Missionários, foi estabelecida a Missão da América do Sul.

A história desta família como vista no capítulo anterior, é registrada como

sendo a partir de 1923 na região de Ipoméia. Esta mesma informação pode ser vista nos

órgãos oficiais da Igreja, porém, 1923 é a data da chegada da família no Brasil, mas no Rio

Grande do Sul, e não em Santa Catarina.

Os Lippelt viveram em Porto Alegre por aproximadamente oito meses, sendo

que, após este tempo partiram para as terras de Santa Catarina, onde se dá início à história da

família e a história oficial da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. Ver

(anexo 13 A e B) da cópia da passagem do navio “Madeira” da Companhia de Navegação

Hamburgo, datada de 21 de setembro de 1923, onde está registrado o nome dos componentes

da família Lippelt, com destino ao Rio Grande do Sul.

Robert Fridrich Heinrich Lippelt (nasceu em 13 de julho de 1879 – Nienburg,

Hannover, Prüssen e faleceu em 3 de agosto de 1965)53 casado com Auguste Kuhlmann

(nasceu em 05 de março de 1880 – Walle, Bremen, Alemanha e faleceu em 04 de julho de

1952)54. A Alemanha na década de 20 vivia o clima do Pós-Guerra (1ª. Guerra Mundial), e a

vida naquele país tornou-se extremamente difícil. Os Lippelt viviam em meio a este clima.

Robert e Auguste tiveram os seguintes filhos: Eduard R. H. Lippelt, Heinrich

E. R. Lippelt, Auguste M. L. Lippelt, Robert E. H. Lippelt – faleceu aos 10 anos, Antonie E.

Lippelt, Georg F. Lippelt (foi presidente do Ramo de Ipoméia), Georgine L. Lippelt (a grande

pioneira da Igreja), que mais tarde, se casará com Henrich Blind.

Família estruturada, Auguste exercia atividades no lar, e expressava profunda

religiosidade, o marido Robert, era pintor profissional, professor de dança e música, porém,

era ateu.

53Disponível em: http://www.familysearch.org/ - acessado em 21/05/2008 54Disponível em: http://www.familysearch.org/ - acessado em 21/05/2008

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A Alemanha vivia um período de extrema pobreza, devido ao Pós-Guerra,

fazendo com que os bens perdessem seu valor. A família saiu de sua terra com poucas coisas

na bagagem em busca de novas terras. Partiram da Alemanha em 21 de setembro de 1923. A

viagem demorou mais de 30 dias, e muitas foram as dificuldades enfrentadas nesta viagem.

Uma dessas dificuldades ocorreu quando o navio “Madeira” encalhou e teve de ser rebocado

para ser consertado em Portugal. Chegaram primeiramente ao Rio de Janeiro, prosseguindo

em seguida para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

No Rio Grande do Sul, os Lippelt, passaram por várias dificuldades: a língua

portuguesa e dificuldades financeiras, pois, ao saírem da Alemanha não tiveram como trazer

muitas coisas. Estas dificuldades fizeram com que quase todos os membros tivessem de

trabalhar, permanecendo somente Auguste e a filha menor Georgine em casa.

Já em Porto Alegre, Auguste proclamava a mensagem da “A Igreja de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias” falando às pessoas sobre a mensagem do Evangelho,

atitude esta, que desagradava grandemente ao seu esposo Robert. Como visto anteriormente,

uma das razões pela qual Robert buscou sair de sua terra, foi a questão da proximidade da

Igreja, por esta razão, buscou um lugar onde não houvesse a possibilidade de que a Igreja

fosse implantada. Resolveu levar a família para um local longe das pessoas.

Robert Lippelt soube de que em Cruz Machado - SC, às margens da Estrada de

Ferro São Paulo-Rio Grande - EFSPRG, estavam promovendo, em um lugar ainda não

explorado, uma colonização. Partiram para aquela região ainda desabitada, sem, contudo, ter

um local definido.

Durante a viagem, no trem, conheceram Christiano Blind, que também havia

chegado da Alemanha, foi quem informou Robert de que as terras em Cruz Machado-SC não

eram férteis. Informou também que estava se dirigindo para uma localidade de terras férteis,

de vegetação vasta e de matas nativas. Terra de muitos pinheiros (araucária), como pode ser

visto na foto (anexo 10).

Desembarcaram em Rio das Antas, no inverno de 1924, sendo a família Lippelt

guiada por entre a mata por Christiano Blind. Como já visto anteriormente, o distrito de Rio

Preto (Ipoméia) está distante uns cinco quilômetros de Rio das Antas. A linha férrea está à

margem do Rio do Peixe, por onde os Lippelt foram conduzidos com suas bagagens. As

demais coisas foram conduzidas pelo Rio do Peixe; as corredeiras e as cachoeiras foram uma

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grande dificuldade a ser vencida. Venceram uma jornada de aproximadamente doze

quilômetros, até o local de sua nova morada.

Foram os primeiros moradores imigrantes a se estabelecerem na localidade de

Ipoméia. Blind descreve este momento, da seguinte forma: “A primeira moradia foi

construída de árvores roliças e brutas (pinheiro), o assoalho foi de terra batida, o fogão foi

erguido com pedras naturais (abundante na região) com fogo de chão aberto” (2007, p. 17).

Porém, esta solidão foi por pouco tempo, pois, as terras sendo de boa qualidade, logo

chegaram muitos outros imigrantes, pois aquela era uma região de colonização.

Assim como em Porto Alegre, Augusta aproveitando a ausência de seu marido,

que devido a profissão de pintor, ficava vários dias ausente, falava de sua Igreja para os

demais moradores, o que a levou posteriormente a iniciar reuniões de estudos em sua casa.

Muitos perigos eram enfrentados pela família Lippelt, além da ausência de seu

marido, havia as dificuldades naturais de uma floresta a ser desbravada e seus moradores: os

índios da tribo dos Guaranis, denominados Kaigang; e os específicos da região de Ipoméia, os

XOKLENG do grupo lingüístico Gê, também conhecidos, pejorativamente, como “bugres,

botocudos”. Índios arredios e temidos por sua ferocidade. Havia também, a presença do

“Jagunço”, remanescente da Guerra do Contestado, que como visto anteriormente, teve seu

fim em 1916, com a morte de seus líderes, porém, muitos de seus seguidores ficaram naquela

região, e levaram muito perigo aos seus moradores.

Os problemas enfrentados pela família Lippelt, muito provavelmente, serviram

de incentivo para uma mulher extremamente religiosa como demonstra a história de

perseverança de Auguste Lippelt.

Como já visto anteriormente, Auguste foi quem escreveu para a Igreja em Salt

Lake, buscando auxílio da Igreja, e solicitando material para a pregação do Evangelho

naquela localidade de Ipoméia. Em 1927 com a visita do Élder Reinhold Stöof, presidente da

Missão Sul-Americana, e da primeira reunião com a presença de um oficial da Igreja, o

caminho para a instalação da Igreja em Ipoméia estava aberto. As reuniões na casa dos

Lippelt, estudos sobre o Evangelho de Jesus Cristo, eram realizadas sem o consentimento de

seu marido, Robert Lippelt.

Segundo Blind (2007, p. 25), os primeiros Missionários Mórmons que

chegaram a Ipoméia, foram os Élders David Ballstaedt e Jack C. Cannon, na década de 1930.

Esses Élders foram os responsáveis pela organização das reuniões e que colheram os

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primeiros frutos de conversões, como visto na foto abaixo (figura 19), mostrando-nos a

presença dos Lippelt e de demais famílias presentes à reunião.

Figura 19 – Reunião em 03 de Agosto de 1930 no Ramo de Ipoméia na “casa” dos Lippelt dirigidos pelos Éders Jack C. Cannon e David Ballstaedt

Como pode ser visto na foto a seguir (figura 20), o rigor e a formalidade para a

reunião, não importando com o local onde seria feita, é fato a ser destacado. A família

Lippelt, mesmo em sua simplicidade buscava apresentar zelo na doutrina, e no testemunho.

Pode-se notar ao fundo, a casa ainda em madeira, piso de chão batido, mas, mesmo assim,

seriedade no preparo para a reunião, e já a presença de mais membros da família.

As reuniões eram todas elas em realizadas em Alemão, para imigrantes

alemães, e assim permaneceu por um longo tempo. Os Missionários enfrentaram muitos

desafios. O trabalho de proselitismo era feito, utilizando-se de vários meios de transporte. A

Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande - EFSPRG, o meio de transporte para a chegada dos

Missionários de Joinville à Ipoméia. A pé ou a cavalo era as formas mais utilizadas pelos

Missionários no trabalho de pregação do Evangelho, o que exigiu muita perseverança e fé

verdadeira.

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Figura 20 – Família Lippelt prontos para a reunião da igreja no domingo em sua própria casa. Vestidos a caráter - Rio Preto – SC – 1930/31

3.1.1 A conversão de Robert Fridrich Heinrich Lippelt

Figura 21 – Robert H. Lippelt (sentado) – Após seu batismo - Ipoméia

Como visto anteriormente, Robert era ateu. Desde que saiu da Alemanha, seu

propósito foi o de se afastar da comunhão dos Irmãos da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos

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dos Últimos Dias”. Buscou localidades onde não houvesse a Igreja. Já no Brasil, buscou uma

região onde não houvesse a possibilidade de implantação da Igreja.

Mas, como já visto, seu esforço foi em vão, pois por mais que ele se ausentasse

da Igreja, ela estava bem presente em sua vida, através da vida de sua família e de forma

especial na vida de sua esposa – Auguste.

“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” foi implantada, e já

contava com conversões. Robert, no entanto, mantinha-se afastado, concedendo certa

liberdade à família, já que as reuniões eram feitas em sua casa. Sempre manteve os vícios do

fumo (cachimbo) e do álcool (pinga).

Como visto anteriormente, Nádia Amorim, registra o final da vida deste

homem, e o milagre que o alcançou no momento do batismo. Blind registra este momento da

seguinte forma:

A esposa Auguste já era falecida. Robert era de idade avançada, aproximadamente uns 80 anos, e morava em Novo São Paulo, próximo a Ipoméia. Robert morava com seus dois filhos mais velhos: Heinrich e Eduard Lippel, os quais haviam se afastado da Igreja. Haviam se afastado (desassociados), viviam de certa forma na sujeira, com vícios e na indolência, de uma forma bastante rudimentar e distante da cidade e do comércio. Nesta ocasião Robert Lippelt teve um início de derrame cerebral, e foi morar com a filha Georgine Lippelt Blind, onde Robert passava o dia lendo jornal e fumando seu cachimbo. A filha deixava de propósito os livros da Igreja perto dos jornais dele. Num dia, a irmã Georgine percebeu que de forma escondida, Robert estava lendo o Livro de Mórmon, e assim, aos poucos, ele leu a História da Igreja, Regras de Fé e Doutrina e Convênios. Porém, não queria ser visto lendo as Escrituras. Este fato animou muito a irmã Georgine que nutria uma esperança por anos, de que seu pai poderia aceitar o Evangelho. (2007, p. 28, 29)

Foi então que houve o primeiro grande milagre na vida de Robert, o desejo de

ser batizado, expressando o desejo de estar com sua esposa, como relata Blind, “Quero ir

para onde minha esposa está, quero me batizar também nesta Igreja” (2007, p. 29).

Com a chegada dos Missionários, foi marcado o batismo, quando novamente

Robert sofreu mais um derrame, ou ataque, e ficou sem andar, sem falar e nem mesmo se

alimentar sozinho. Nádia Amorim registra este fato quando Robert não poderia se locomover

sozinho, e a dificuldade de levá-lo até a água para batizá-lo tornava-se bem difícil. Este é o

segundo grande milagre na vida de Robert, pois, quando levado até o Rio do Peixe, onde seria

batizado, e, ao levantar-se da água disse: “pode deixar que agora vou sozinho”.

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Estes milagres são confirmados e registrados, tanto por Nádia Amorim, quanto

por Henrique Blind. Ver este fato registrado na foto anterior (figura 21), mostrando à frente

Robert Lippelt, que está sentado, e que nos dá uma compreensão de seu estado.

3.2 Os primeiros membros da “A Igreja de Jesus Cristo” no Brasil –

A Família Zapf

“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” estabeleceu-se no

Brasil de um modo singelo e, ao mesmo tempo, milagroso. Segundo a história registrada desta

igreja, o início do trabalho deu-se com a chegada em terras brasileiras, da família originária da

Alemanha. Chegaram ao Brasil, na condição de colonos alemães, imigrantes, em busca de

novos caminhos, com sonhos e com novas perspectivas de vida. Foram eles: Max Richard

Zapf (nascido em 22/09/1875 em Bad Elster, Zwickau - Alemanha – faleceu em 31/05/1960

em Ipoméia – SC) e sua esposa Amalia Auguste Thiele Zaph (nascida em 09/01/1874 em

Asch Bohemia – faleceu em 12/06/1957 em Ipoméia – SC)55. Consta nos históricos da Igreja,

o seguinte relato:

O primeiro membro da Igreja conhecido no Brasil foi Max Richard Zapf, que foi batizado na Alemanha em agosto de 1908 e imigrou ao Brasil em 1913. Após muitos anos sem contato com a Igreja, Max Zapf e sua família souberam que Augusta Kuhlmann Lippelt e seus quatro filhos, que também se haviam filiado à Igreja na Alemanha, antes de imigrarem para o Brasil em 1923, estavam vivendo na pequena cidade de Ipoméia, no sul do Brasil. Roberto, o marido de Augusta, embora não sendo membro quando se mudou com sua família para o Brasil foi batizado vários anos mais tarde. A família Zapf logo mudou a sua residência para estar com os seus novos amigos, a família Lippelt. Essas duas famílias representaram o início da presença permanente da Igreja no Brasil" (2006 Church Almanac, p. 301).

Max Richard Zaph e Amalia Auguste Thiele Zaph (figuras 22 e 23) nasceram

na Alemanha, onde conheceram a “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” e lá

foram batizados, antes de emigrarem para o Brasil em 1913. Max exercia o ofício de padeiro e

que segundo Blind, “sentia o desejo em seu coração de conhecer uma nova terra, onde

pudessem iniciar uma nova vida” (2007, p. 26).

55 Informações obtidas no site: www.familysearc.org – acessado em 29/0/2008

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Ainda na Alemanha tiveram os seguintes filhos: Robert Richard Zaph, Rudi

Arthur Zapf (residente na cidade de Rio das Antas), Ana Zaph Hack, Arthur Zaph. Blind

registra o trajeto da família Zaph, após saírem da Alemanha, como segue:

Partiram da Alemanha em 1913, num navio com destino ao Brasil. Chegaram ao Rio de Janeiro em 14 de julho de 1913 (conforme identidade). Após três semanas no Rio de Janeiro, seguiram para São Paulo, onde o Sr. Max exerceu sua profissão de padeiro. No entanto, seu grande anseio era de ser proprietário de terras com mata virgem, assim sendo, seguiram viagem para Porto Alegre, onde no interior do Rio Grande do Sul, em Pororó, estabeleceram-se com o objetivo de cultivar a terra virgem. (2007, p. 27)

O trabalho duro e a falta de experiência fizeram com que os Zaph retornassem

a São Paulo. Em 1925 seguiram para Santa Catarina, onde estava sendo formada uma colônia

de imigrantes alemães, na comunidade de “Colônia Müller” hoje Tangará, distante uns 35 km

de Ipoméia.

Nesta comunidade (Colônia Müller hoje Tangará) os Ëlders David Ballstaedt e

Luwig Schindt encontram a família Zaph, que se apresentam como membros da Igreja na

Alemanha, no ano de 1931. Pois, haviam perdido o contato com “A Igreja de Jesus Cristo dos

Santos dos Últimos Dias”. Como seus filhos, ao saírem da Alemanha, eram menores de idade,

e ainda não haviam sido batizados, os Élders precedem o batismo num riacho da Colônia

Müller. Após o batismo, a família Zaph segue para Ipoméia, onde as reuniões já eram

realizadas. Blind, registrando o testemunho de um dos filhos da família Zaph, e apresenta-nos

foto dos Zaph, em 1931: Max, Amalia e o filho mais velho – Robert, como segue:

O irmão Rudi Arthur Zaph, filho de Max Zaph, nasceu na Alemanha em 25 de outubro de 1907, um Élder da Igreja que faleceu aos 98 anos de idade. Sempre pertencente ao Ramo de Ipoméia e que residia em Rio das Antas – SC. Foi um dos primeiros batismos de Ipoméia, sendo batizado em 26 de fevereiro de 1931 pelo Élder Luwig Schindt. (2007, p. 27)

Conforme comprovação dos órgãos oficiais da Igreja, os Zaph são a primeira

família de Mórmons no Brasil, porém, com exceção de seu filho que chegou ao ofício de

Élder, os Zaph não tiveram uma maior expressão dentro da Igreja. Isto é visto no fato de que

desde 1913 estavam no Brasil, porém, não tiveram a mesma expressão dos Lippelt que

buscaram meios para se comunicarem com a Igreja em Salt Lake. Também o fato de que

morando na Colônia Müller, desde 1925, próximo de Ipoméia (aproximadamente 35 Km),

porém sem ligação com as reuniões que já aconteciam e somente em 1931 foram novamente

ligados “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.

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Figura 22 – Foto de Max Richard , Amália Augusta e Robert Richard “Zapf” Ipoméia SC 1931

Figura 23 – Foto da Família Zapf em Ipoméia SC 1931

3.3 A Igreja implantada – Joinville

Como já visto nos capítulos anteriores, o Élder Reinhold Stöof, então

presidente da Missão Sul-Americana, partiu da Argentina no dia 12 de setembro de 1928,

aproximadamente um ano após a primeira visita ao Brasil, e chegou ao Sul do Brasil no dia 14

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de dezembro de 1927, juntamente com o Ëlder Waldo Stoddard, no navio “Sierra Ventana”.

Chegaram ao porto de Santos em São Paulo e de lá, seguiram para o porto de São Francisco

do Sul – SC, onde desembarcaram no dia 17 de setembro de 1928 e seguiram para a cidade de

Joinville. Nesta cidade, estabeleceram contato com mais de 142 pessoas, segundo Blind

(2007, p. 30), falando da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. Visitou

também, grandes cidades: São Paulo e Porto Alegre, e viu por si mesmo o grande potencial

para a implantação da Igreja em solo brasileiro. Buscou entre os imigrantes alemães destas

localidades, possibilidades da pregação do Evangelho. Stöof buscou também, informações

sobre a localidade chamada Princesa Isabel (Ipoméia), local da residência da família Lippelt.

O Élder Reinhold Stöof viu em Joinville – SC, um grande potencial para o

estabelecimento da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, por ser esta

cidade uma comunidade com predominância de imigrantes alemães, uma comunidade bem

estruturada desde 1851, como pode ser vista pela foto abaixo, e que havia também a Estrada

de Ferro São Paulo-Rio Grande, ligando àquela localidade com o sul do Brasil, possibilitando

assim, o atendimento à família Lippelt.

Figura 24 – Vista parcial da cidade de Joinville por volta do ano de 1929

Joinville nesta época, contava com uma população de aproximadamente 12.000

pessoas. Ver uma foto de Joinville do final da década de 20, mostrando o rápido

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desenvolvimento, (figura 24). Antes de chegar ao Brasil, próximo à entrada os Missionários

enfrentam um grande desafio, que Blind registra da seguinte forma:

Próximo a Baía de São Francisco do Sul, dá-se início a uma grande tempestade, dando a impressão de que a embarcação seria tragada pela tempestade, fazendo com que o capitão da embarcação não quisesse atracar no porto. O presidente e os missionários oraram ao Senhor se era de sua vontade que o trabalho missionário fosse iniciado em Joinville, que então acalmasse as fúrias do vento. E isto aconteceu. (2007, p. 31)

Os Missionários, após fixarem sua residência em Joinville, logo dão início ao

trabalho de proselitismo, entre os membros da comunidade de imigrantes alemães. Iniciaram

o trabalho com estudos em Escola Dominical, reuniões em casas de famílias e posteriormente

palestras ilustradas mostrando “Utah e seu povo”. Estas palestras eram realizadas num teatro

da cidade, sendo que a freqüência desta reunião chegou a alcançar 400 pessoas. Aos

domingos, realizavam reuniões sacramentais, sendo que em pouco tempo de trabalho, três

meses, contavam com a freqüência de 70 pessoas, nas reuniões de domingo.

A foto abaixo (figura 25), nos proporciona uma visão de como eram estas

reuniões, mostrando o alcance das famílias de imigrantes, o seu todo, ou seja, toda a família

estava presente participando e isto pode ser comprovado pela presença de adultos e de muitas

crianças.

No entanto, tiveram de enfrentar muitos problemas, e ao enfrentá-los,

alcançaram frutos de seu trabalho, como podemos ver numa entrevista registrada por Peterson

concedida pelo Élder Emil Schindler, numa Conferência da Igreja na cidade de Salt Lake, em

5 de setembro de 1960, como segue:

Noventa por cento da população de Joinville é de língua alemã. Há somente uma escola brasileira. Todos os alunos alemães recebem o suporto necessário do governo da Alemanha. Os imigrantes mantêm forte vínculo com a Alemanha. A área da educação está sob a direção da Igreja Luterana. Durante os primeiros anos, os Mórmons enfrentaram muitas perseguições por parte das Igrejas Protestantes na cidade. O Pastor Muller publicou uma série de artigos com o tema: “As meninas Mórmons”. Foi impossível imprimir qualquer refutação nos jornais. Quando o trabalho iniciou primeiramente no Brasil, havia a carência nas escolas de professores qualificados na cidade, e especialmente no interior, nas comunidades das fazendas afastadas. As escolas da igreja eram inçadas as crianças e muitos familiares estavam ansiosos para conseguirem qualquer professor para suas crianças, contanto que soubesse ler e escrever. Os Éders estabeleceram escolas em sua sede para crianças alemãs. Eles trabalhavam a metade do dia, na outra metade ensinavam. Desta forma eles alcançaram muitas crianças com o Evangelho, que era utilizado no aprendizado, na leitura e na escrita. Através das crianças, eles alcançaram seus pais. Um programa especial do Dia das Mães foi preparado com antecedência, e muitos pais compareceram ansiosos, para verem seus filhos cantarem e declamarem poesias, coisas que eram impossíveis

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tempos atrás. Muitos comentários surgiram por toda a cidade de Joinville, e nas reuniões anuais das Igrejas o dia das Mães começou a ser comemorado. A escola provou que poderia ser tão popular quanto outras escolas Alemãs, o que levou o Consulado Alemão a questionar do porque Schindler de ter parado seus ensinamentos; de qualquer modo ele foi feito. Os primeiros batismos foram frutos dessa escola. (1961, p. 73, 74)

Algum tempo depois, em 14 de abril de 1929, os primeiros batismos são

realizados em Joinville, e conseqüentemente, no Brasil – A família Sell, os pioneiros em terra

brasileira, sendo eles: Theodoro Sell, Berta A. Just Sell, Alice Sell, Siegfried Sell e Adele

Sell, fotos abaixo (figuras 26, 27 e 28).

Figura 25 – Foto de reunião no Ramo de Joinville

O trabalho se estabelecia e se estruturava. No início, a Missão do Brasil estava

vinculada à Missão Sul-Americana, estabelecida na Argentina. Reinhold Stöof era o

responsável por estes dois campos. Os primeiros Missionários no Brasil foram: Élder William

Fred Heinz; Élder Emil. A. J. Schindler (figura 29). Sendo posteriormente acrescidos pelos

Missionários: Élder John B. Gardner; Élder David J. Ballstaedt; Élder Jack. C. Cannon; Élder

Gerhardt O. Drechesel; Élder Ludwig Schmidt; Élder Wendell C. Vawdrey.

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Figura 26 – Foto da família Seel, tirada no dia do batismo em 14 de abril de 1929 em Joinville – SC

Figura 27 – Foto da família Sell no ano de 1929 – Joinville - SC

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Figura 28 – Foto do batismo de Berta A. Just Sell, sendo batizada pelo Élder Emil A. J. Schindler.

No mesmo ano dos primeiros batismos, houve a compra de uma propriedade

em Joinville, com uma antiga construção, que foi totalmente reformada e reformulada, sendo

transformada em uma bela capela, conforme nos mostra a foto (figura 30), e que foi

posteriormente reformada (anexo 14). Em 25 de outubro de 1931, esta capela é dedicada,

tendo a presença do presidente da Missão Sul-Americana Élder Reinhold Stöof contando

também, com a presença de 98 pessoas, sendo que, o Ramo de Joinville contava na época com

46 membros, como nos confirma a placa de inauguração da Capela (anexo 15). Esta capela é a

primeira inaugurada na América do Sul56.

O Ramo de Joinville era presidido nesta época, pelo Élder David Ballstaedt,

passando a ser o centro de trabalho missionário para todo Brasil. Da cidade de Joinville

partiram os primeiros missionários para Ipoméia no ano de 1930, e para outras regiões de

Santa Catarina. Segundo Blind (2007, p. 25), os primeiros Missionários Mórmons que

chegaram a Ipoméia, foram os Élders David Ballstaedt e Jack C. Cannon, na década de 1930.

56 http://www.lightplanet.com - acessado em 24/03/2008.

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Figura 29 – Foto Éder William Fred Heinz e Élder Emil A. J. Schindler

Figura 30 – Foto da Capela do Ramo de Joinville – SC. A construção da capela foi finalizada em outubro de 1931. No dia da dedicação, o presidente Stöof estava presente sendo acompanhado por

outros seis missionários e 98 membros. A reunião Sacramental deu-se início às 20:15hs.

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Blind (2007, p. 35), registra os dados estatísticos da Missão Sul-Americana, no

período de sua implantação – 1925 até o ano de 1934, conforme (tabela 2). Estas estatísticas

demonstram o crescimento da Igreja na América do Sul. Incluíam a Argentina e o Brasil,

como vemos a seguir:

TABELA 2 Estatística da Missão Sul Americana: 1925 – 1934

Anos

Mis

sio

nári

os

Bati

sm

o d

e C

on

vers

os

Éld

ers

Ord

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os

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as

Cri

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ças f

em

inin

as

To

tal

de M

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bro

s

Excu

mu

ng

ad

os

1925 3 6 - - 2 2 - - - - 18 -

1926 9 5 - 4 - 4 1 8 5 5 27 -

1927 12 12 - 5 2 3 6 19 5 8 48 -

1928 8 17 - 7 1 9 11 31 5 9 73 -

1929 10 20 - 5 2 7 17 40 8 10 89 1

1930 14 36 - 6 3 7 26 66 8 19 135 -

1931 18 20 - 7 2 8 34 74 13 21 159 -

1932 19 44 - 9 1 9 53 104 16 25 217 3

1933 14 39 1 8 4 13 62 120 17 30 255 -

1934 14 26 1 9 6 19 57 132 23 29 276 8

A primeira sociedade de mulheres, chamada “Sociedade de Socorro” foi

organizada em 1933, com a presença de 24 membros, no Ramo de Joinville. A foto abaixo

(figura 31), nos mostra a composição desta primeira sociedade. Esta é uma sociedade

importante dentro da Igreja, responsável pelo trabalho social dentro e fora da Igreja.

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Como já visto anteriormente, Joinville passou a ser o centro para o trabalho

Missionário, nas cidades vizinhas, bem como, para todo o Brasil. Em junho de 1933, o Élder

Emil. A. J. Schindler solicitou permissão para o presidente da Missão Sul-Americana para

iniciar a pregação do Evangelho entre os Alemães de Porto Alegre – RS.

Figura 31 – Foto da 1ª. Sociedade de Socorro: Presidente – Toni Barch; 2ª. Conselheira – Margareta Büchli; 1ª. Conselheira – Marta Otto

Neste período, muitos Missionários devido a seriedade em seus trabalhos, eram

convidados a pastorear igrejas na cidade de Joinville e em seus arredores, pois, havia a falta

de pastores naquelas comunidades. Peterson registra um desses momentos, quando o Élder é

convidado para trabalhar em uma dessas comunidades evangélicas, ele registra:

Após o tempo de seus serviços na Missão, o Élder William F. Heinz, que havia trabalhado como companheiro do Élder Emil Schindler, nos oito primeiros meses de trabalho no Brasil, se ausentou por seis meses. Neste tempo Schindler ficou sozinho em seu trabalho. Neste tempo, o Sr. Siedschike, representando um pequeno grupo de protestantes que viviam aproximadamente 12 quilômetros de Joinville, umas quatro horas de viagem andando, o convidou para ser seu novo pastor. Ao de eles estavam com problemas (rixas) com seu pastor e estavam procurando outro para ocupar seu lugar. Porque ele estava

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sozinho, Schindler lhe falou que seria impossível deixar seu trabalho em Joinville. No entanto, ele consentiu em visitá-los toda terceira semana do mês, permanecendo naquela pequena comunidade por quatro dias, conduzindo reuniões e ensinando a suas crianças. (1961, p. 74)

Com isso, muitas oportunidades apareceram, e muitos foram aqueles que

ouviram a mensagem do Evangelho. Também, pode-se observar a disposição dos

Missionários em buscar atender aquelas comunidades que careciam de direção e de

ensinamentos. Principalmente as crianças que sofriam sem o ensino de professores regulares,

vasto campo para o trabalho de proselitismo.

3.4 A Missão Brasileira

O Élder Hulon S. Howels foi designado como Presidente da recém criada

Missão Brasileira (serviu como presidente de 25 de maio de 1935 a 29 de setembro de 1938 e

posteriormente em 02 de março de 1949 a 21 de novembro de 1953). Chegou ao Brasil no dia

15 de maio de 1935, no Estado do Rio de Janeiro, viajou a bordo do navio “S.S. Delnorte”,

acompanhado de sua esposa Sister Mary Pierce Howells, de sua filha Marian, e dos Éder

Merlyn Porter. Chegou a São Paulo no dia 18 de maio. Em São Paulo foi recebido pelo Élder

A. J. Schindler, que até então, servia como presidente do Distrito Brasileiro. Schindler estava

servindo em Porto Alegre – RS. No dia 19 de maio foi realizada a primeira reunião em São

Paulo, na casa da Irmã Liselotte Schümm, na Rua Siqueira Campos, no. 16 sob a direção do

presidente Howells. A reunião foi realizada na língua alemã.

Em 25 de maio de 1935 é oficializada a primeira Missão no Brasil, data esta,

em que o Presidente Howells chegou a Joinville, acompanhado dos Élderes Schindler e

Palmer. Estavam a caminho do distrito de Rio Negro (Ipoméia).

Após a oficialização da Missão Brasileira, pelo Presidente Rulon S. Howells

foi realizada no dia 26 de maio de 1935, ou seja, um dia após a oficialização que também é a

data de aniversário de Howells, houve na Capela de Joinville, a primeira Conferência da

Missão Brasileira. Todos os Missionários que estavam trabalhando no Brasil, se reuniram

naquele local, juntamente com os “Santos” que moravam nas localidades próximas.

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Este fato colaborou em muito para o fortalecimento da “A Igreja de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias” a partir daquele período

Henrique Blind (2007, p. 46), citando dados do “Statical and Finacial Report,

Brazilian Mission” de 1935, nos traz a seguinte estatística dos primeiros números oficiais da

Missão Brasileira, em novembro de 1935, como pode ser visto abaixo (tabela 3).

Henrique Blind, avaliando a situação da Igreja no ano de 1935 faz o seguinte

comentário: “Percebe-se a fragilidade da Igreja nesta época, pela ausência do Sacerdócio de

Melquisedeque, mas ao mesmo tempo, percebe-se nos membros muita fé, esperança e certeza

de que o Senhor saberá guiar seus líderes para o crescimento”, (2007, p. 46). Como já foi

dito anteriormente, o trabalho de proselitismo no seu início foi feito com muita perseverança,

pois o crescimento foi de forma lenta, exigia paciência e muito amor ao próximo. Blind

registra a frase do Élder Ballard contemplando o trabalho da Igreja no Brasil, com as

seguintes palavras: “o crescimento da Igreja durante muitos anos será lento, mas depois ela

crescerá como uma flor que desabrocha” (2007, p. 46).

A partir do ano de 1935, o trabalho de proselitismo foi ampliado, no início a

Missão Brasileira contava apenas com oito Missionários de tempo integral, a partir de

novembro do mesmo ano, o número de Missionários aumentou para quatorze.

Henrique Blind, comentando a situação da Igreja no ano de 1935 faz o seguinte

comentário: “Percebe-se a fragilidade da Igreja nesta época, pela ausência do Sacerdócio de

Melquisedeque, mas ao mesmo tempo, percebe-se nos membros muita fé, esperança e certeza

de que o Senhor saberá guiar seus líderes para o crescimento”, (2007, p. 46).

Em 3 de julho de 1936, outros Ramos da Igreja foram abertos: Blumenau,

Jaraguá, Rio Branco e Novo Hamburgo.

A Missão Brasileira, sediada em São Paulo alugou uma casa na Rua Itapeva,

no. 378, no bairro da Bela Vista – São Paulo – SP, (figura 32). Desta Missão partia todas as

instruções para os Missionários no Brasil. Posteriormente, em local próprio, foi construído o

Templo sede da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”; centro de formação

dos Missionários que trabalharão no Brasil.

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TABELA 3 Estatística da Missão Brasileira – novembro de 1935

O Presidente da Missão Brasileira Hulon S. Howells ordenou que fossem

preparados materiais em Português, para que os Missionários pudessem trabalhar com os

brasileiros e não somente com os Alemães. Este trabalho ficou sob a responsabilidade de

Daniel G. Shupe, um Missionário que havia trabalhado na França e que vindo ao Brasil a

trabalho, conheceu e casou-se com uma brasileira e estava há anos morando no Brasil. Shupe

havia sido visitado por Howells, no Rio de Janeiro, na sua chegada ao Brasil em 1935, e que

havia se colocado a disposição para auxiliar a Missão Brasileira. Traduziu o Livro de Mórmon

para a língua portuguesa.

Também, outra mudança ocorreu. Élder Lucius Levier Gardiner foi designado

para aprender português e pregar o Evangelho nesta língua. Outros Missionários também

foram designados para pregar o Evangelho em português.

Até 1938, o trabalho de proselitismo era feito somente na língua alemã, junto

às famílias desses imigrantes. A partir desta data, teve início a pregação em português nas

cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Piracicaba, Guaratinguetá, Niterói,

Ponta Grossa, Vitória e Juiz de Fora57. Em muitos casos havia a composição de um

Missionário que falava alemão e outro que falava português.

57 Cf.,AMORIM, Nadia Fernanda Maia de, Os Mórmons em Alagoas: Religião e Relações Raciais,FFLCH/USP, 1981, p.39

Missão Brasileira

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To

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Ramo de Joinville 3 3 5 14 48 8 10 91

Ramo de Porto Alegre - - - 2 1 - - 3

Ramo Rio Preto (Ipoméia) 1 1 2 8 9 4 9 34

Ramo São Paulo - - - 1 8 - - 9

Total 4 4 7 25 66 12 19 137

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Figura 32 – Foto da casa alugada da Rua Itapeva no bairro da Bela Vista – SP – 1935

Em 1938 o Governo brasileiro proibiu o uso da língua Alemã em reuniões

públicas e nas escolas. Esta decisão prejudicou em muito, o trabalho e as atividades da Igreja

para os membros que somente falavam o Alemão. Esta proibição pouco tempo depois, foi

ampliada para todos os níveis da sociedade e até entre as pessoas dentro de suas próprias

casas era proibido a comunicação em sua língua materna, o alemão, e quem desobedecesse tal

ordem, sofreriam duras penas.

Os Missionários foram proibidos de pregar em alemão e a distribuírem

qualquer material em alemão. Somente os trabalhos na língua portuguesa poderiam ser feitos.

Foi publicada então, em português, a “História de Joseph Smith”, sendo este o primeiro

panfleto em português.

Em maio de 193958, outros folhetos foram produzidos em português: “A

necessidade da religião”, Um Deus que fala”, O Livro de Mórmon”, “O significado da

vida”e “A salvação Universal”.

Em 15 de março de 1940 os primeiros exemplares da primeira edição do Livro

de Mórmon, em português, foram fornecidos a Casa da Missão. Três mil livros foram

publicados nessa primeira edição.

58 BLIND, Henrique, A história da família Lippelt, 2008, p. 51 – trabalho não publicado.

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Porém, este foi um período muito complicado para os trabalhos nas

Comunidades Alemãs, devido ao conflito mundial que havia se estabelecido: a erupção da

Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939 que durou até maio de 1945. Blind registra

comentário do Presidente que precedeu a Howells, o Élder John A. Bowers (serviu como

presidente de 29 de setembro de 1938 a 20 de abril de 1942), em seu relatório, ele diz:

“Devido a pressão política, um maior número de alemães fala agora português ... reuniões

em alemão tem sido proibidas em alguns lugares onde a obra está sendo executada” (2007,

p. 51).

Este foi um período extremamente complicado para os imigrantes alemães.

Indiretamente eles foram relacionado a um programa denominado “Quinta Coluna”59. O

Governo brasileiro preocupava-se grandemente com os Alemães no Brasil, de que poderiam

criar um grupo militar em apoio a Adolf Hittler.

Em dezembro de 1941, os Estados Unidos da América entram na Guerra.

Devido ao conflito da Guerra, o trabalho Missionário da Igreja foi interrompido. Foram

suspensas as vindas de missionários Mórmons para o Brasil, procedentes daquele País.

Também foi determinado pela Igreja, que os Missionários que estavam no Brasil retornassem

para seus países de origem.

No período da Segunda Guerra Mundial, muitos Ramos da Igreja foram

fechados. Somente os Ramos que mais se desenvolveram e que alcançaram um fortalecimento

de sua liderança local, foram preservados e mantiveram-se em funcionamento durante o

período da Guerra. A fé de muitos havia enfraquecido.

Henrique Blind apresenta um quadro estatístico da Missão Brasileira, deste

tempo, citando dados do “Statistical and Financial Report, Brazilian Mission”, dados a partir

de novembro de 1935 até 1944, como pode ser visto na tabela abaixo (tabela 4):

Somente em 1945, após o fim da Guerra, a Igreja retomou suas atividades no

Brasil, promovendo o retorno dos Missionários Norte-Americanos ao Brasil. Em 1948,

59 Quinta Coluna é um termo usado para se referir a grupos clandestinos que trabalhavam dentro de um país ou região, ajudando a invasão armada promovida por um outro país em caso de guerra internacional, ou facção promovida por um outro país em caso de guerra internacional. A origem da expressão remonta a Emílio Mola Vidal, general nacionalista espanhol que atuou na Guerra Civil Espanhola. No final dos anos 30, quando o líder facista espanhol Francisco Franco preparava-se para marchar sobre Madri com quatro colunas, o general Quepo de Llano disse: “Pela primeira vez, o mundo ouvia a palavra fatídica – “quinta coluna”. O termo ganhou força no curso da Segunda Guerra Mundial, denominando aqueles que apoiavam a invasão nazista. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/; http://www.vermelho.org.br – acessado em 13/05/2008

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Sthephen L. Richards, um Apóstolo, visitou a Igreja brasileira, promovendo seu

fortalecimento. Em 1955, dá-se a visita do presidente David. O. McKay, que foi o 8º.

Presidenta da Igreja.

TABELA 4 Estatística da Missão Brasileira: 1935 – 1944

Anos

Mis

sio

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To

tal

de M

em

bro

s

Excu

mu

ng

ad

os

1935 14 29 - 4 4 7 25 66 12 19 137 -

1936 28 14 1 4 5 7 31 75 11 16 150 2

1937 37 19 4 3 5 9 36 92 16 16 181 -

1938 38 30 4 4 5 9 40 119 19 16 216 -

1939 55 17 5 4 4 10 43 137 17 12 232 -

1940 75 17 5 4 4 10 55 145 16 10 249 -

1941 79 18 7 3 5 15 59 154 15 18 276 1

1942 44 66 12 5 3 16 79 200 17 18 350 -

1943 1 34 * * * * * * * * * -

1944 - 25 9 9 6 23 82 231 18 22 409 -

3.5 A Capela de Ipoméia

Com o estabelecimento do Ramo em Ipoméia, e com as realizações das

reuniões de forma constante e o conseqüente crescimento do número dos conversos, a Igreja

em 17 de dezembro de 1940, adquire em Ipoméia, uma gleba de terra, junto às margens do

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Rio do Peixe, com 36.000 m2 de boa terra. Em fevereiro de 1951 adquire outros 40.000 m2,

totalizando um terreno de 7,6 alqueires60.

No local havia somente uma velha casa de madeira, que serviu por algum

tempo, de moradia aos Missionários que para lá se deslocavam, partindo de Joinville, e servia

também como local para as reuniões do Ramo de Ipoméia. Desta Capela de madeira tem-se

apenas uma fotografia, do ano de 1940 (figura 33) que registra o momento de uma

conferência naquela localidade de Ipoméia, mostrando a presença de várias pessoas, entre

elas, membros da família Lippelt, segundo Henrique Blind.

Em 18 de setembro de 1955, houve a cerimônia para o lançamento da

construção da capela de Ipoméia, (figura 34), mostrando o envolvimento dos líderes da Igreja

de Missionários e do então Presidente da Missão Brasil. Este trabalho demorou

aproximadamente quatro anos. Os membros do Ramo de Ipoméia tiveram papel importante na

construção da Capela, cedendo parte da mão-de-obra. O alicerce da construção foi feito de

pedras lascadas das rochas da região.

A Capela foi dedicada em 09 de março de 1959, contando com a presença do

Presidente da “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” Élder Espencer W.

Kimball e sua esposa Sister Camille Kimball, que estavam empreendendo uma viagem pela

América do Sul desde janeiro deste ano.

A Capela de Ipoméia está inserida dentro de uma região belíssima, de vasta

vegetação, às margens do Rio do Peixe. Embora a Capela de Joinville anteceda a construção

desta Capela, há grandes diferenças entre elas. A de Joinville é a primeira Capela na América

do Sul, porém, não é semelhante a dos Estados Unidos. A Capela de Ipoméia é a primeira no

Brasil, semelhante as dos Estados Unidos (anexo 16), sendo este, o modelo para todas as

demais Capelas

60 Henrique Blind, História de “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” no Brasil – Ipoméia e Joinville - SC, Ipoméia – Rio das Antas – SC, 2007, p. 38

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Figura 33 – Foto Conferência na Capela do Ramo de Ipoméia no ano de 1940. Ao fundo, junto à janela do lado esquerdo, Heinrich Lippelt.

Figura 34 Foto da abertura do terreno para a construção da Capela de Ipoméia pelo Presidente da Missão

Brasil Central – Asael T. Sorensen 6º. Presidente da Missão (serviu de 21 de novembro de 1953 a 26 de novembro de 1958 e posteriormente em 30 de setembro de 1959 a 15 de setembro de 1961)

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A Capela de Ipoméia é constituída de ampla sala sacramental, salão cultural e

demais salas para classes de organizações. Possui, também, quarto reservado para moradia de

Missionários. Na época, a Capela de Ipoméia, por não haver luz elétrica na região, teve a

instalação do primeiro gerador de luz própria.

A localidade tem um valor especial para os membros da “A Igreja de Jesus

Cristo dos Santos dos Últimos Dias” (anexo 17 – foto de 1980 e anexo 18 – foto de 2008). A

Capela está localizada em uma região de uma vista extremamente bela, em meio a uma

vegetação, margeados pelo Rio do Peixe (anexo 19). A Capela tem valor especial, pois foi

aquela região que contemplou o início do trabalho que hoje contempla todo o Brasil.