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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE IERICÊ DUARTE CABRAL PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL – CIDADE ALTA E RIBEIRA NATAL/RN 2006

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE

IERICÊ DUARTE CABRAL

PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL – CIDADE ALTA E RIBEIRA

NATAL/RN 2006

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IERICÊ DUARTE CABRAL

PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL – CIDADE ALTA E RIBEIRA

Monografia apresentada à Universidade Potiguar-UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em História do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Prof. Ms. Marluce Lopes da Silva

NATAL/RN 2006

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TERMO DE APROVAÇÃO

IERICÊ DUARTE CABRAL

PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DO NATAL – CIDADE ALTA E RIBEIRA

Monografia apresentada à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção do Titulo de Especialista em História do Rio Grande do Norte.

Aprovado em: ________/___________/________________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________ Profª. Esp. Marlúcia Galvão Brandão – Coordenadora do Curso

Universidade Potiguar - UnP

_____________________________________________________________ Prof. Ms. Ms Marluce Lopes da Silva – Orientadora

Universidade Potiguar - UnP

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A meus pais Severino Laurentino Duarte (In Memoriam) e

Maria Luiza Cabral Duarte (In Memoriam), por ter-me

gerado e me encaminhado para o conhecimento.

A minha esposa Rejane Dias Duarte e meus dois filhos

Iericê Filho e Arthur Antunius, minhas perolas raras.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela minha existência e discernimento para

aprender;

A todos que colaboraram e incentivaram para o

prosseguimento dos meus estudos e pesquisas;

A Marluce Lopes da Silva, que muito contribuiu para

que esse trabalho se apresentasse como está.

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TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Autorizo a Universidade Potiguar – UnP, a disponibilizar o presente trabalho

no acervo das Bibliotecas do SIB-UnP, para efeito de consulta, empréstimo e através

da web.

Iericê Duarte Cabral

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RESUMO

Este trabalho aborda o patrimônio cultural edificado da cidade do Natal/RN, com enfoque nos remanescentes arquitetônicos dos seus dois espaços urbanos mais antigos: a Cidade Alta e a Ribeira. A identificação destes remanescentes subsidiou uma reflexão sobre a importância das ações de educação patrimonial à luz da realidade e problemas relacionados à preservação de bens patrimoniais no Estado do Rio Grande do Norte. Para a realização da pesquisa foram consultadas fontes bibliográficas, registros fotográficos, icnográficos e textuais (Relatórios de Presidentes de Província e artigos de jornais de época). Foram realizadas ainda pesquisas de campo para a documentação dos remanescentes arquitetônicos em meio ao atual estado de desenvolvimento urbano de Natal. Foi observado que o processo de transformação dos espaços urbanos em Natal tem levado a perda de importantes exemplares históricos. Uma parte desse processo é motivada pela insuficiente atuação das instituições governamentais de tutela, mas principalmente ela é motivada pelo desconhecimento dos agentes sociais, dos membros das comunidades, sobre o valor e importância desse patrimônio. Ressalte-se que estas mesmas instituições governamentais desenvolvem iniciativas bem sucedidas no âmbito do tombamento e preservação de bens edificados. Não obstante, a valorização deste Patrimônio, a partir de estratégias de educação patrimonial, pelas comunidades é parte essencial nas ações de preservação. Palavras-chave: Patrimônio histórico – arquitetura – Cidade Alta – Ribeira – Preservação - Educação Patrimonial.

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ABSTRACT

This work approaches cultural the patrimony built of the city of the Natal/RN, with approach in the remaining architectural of its two older urban spaces: the High City and the Ribeira. The identification of these remainders subsidized a reflection on the importance of the actions of patrimonial education to the light of the reality and problems related to the preservation of capital assets in the State of the Great River of the North. For the accomplishment of the research bibliographical sources had been consulted, photographic, icnográficos and literal registers (Reports of Presidents of Province and time periodical articles). Research of field for the documentation of the remaining architectural in way to the current state of urban development of Christmas had been carried through still. It was observed that the process of transformation of the urban spaces in Christmas has taken the loss of important historical units. A part of this process is motivated by the insufficient performance of the governmental institutions of guardianship, but mainly it is motivated by the unfamiliarity of the social agents, of the members of the communities, on the value and importance of this patrimony. She stands out myself that these same governmental institutions develop successful initiatives in the scope of the falling and preservation of built goods. Not obstante, the valuation of this Patrimony, from strategies of patrimonial education, for the communities is essential part in the actions of preservation. Word-key: Historic site - architecture - High City - Ribeira - Patrimonial Education - cultural identity.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Praça das Mães (local da Cruz do Norte) .............................................23

Figura 2 - Santa Cruz da Bica (Cruz do Sul) .........................................................23

Figura 3 - Aspecto da Rua Grande no início do século XX ..................................24

Figura 4 - Antiga Catedral da cidade do Natal.......................................................26

Figura 5 - Ruínas da Casa de Câmara e Cadeia – Pça André de Albuquerque

– ano de 1911 .......................................................................................27

Figura 6 - Memorial Câmara Cascudo – foto de 2001..........................................28

Figura 7 - Igreja Santo Antonio – 2000................................................................30

Figura 8 - Igreja Santo Antonio – 2003.................................................................30

Figura 9 - Vista parcial da Rua da Conceição no início do século XX...................31

Figura 10 - Vista parcial da Rua da Conceição no seu lado esquerdo.................31

Figura 11 - Vista parcial da Rua da Conceição no sue lado direito .......................31

Figura 12 - Instituto Histórico e Geográfico do RN – ano 2001 ............................32

Figura 13 - A casa da direita é o Anexo do IHGRN – 2004...................................33

Figura 14 - Coluna Capitolina – Largo Vicente Lemos – 2005 ..............................35

Figura 15 - Sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –

sub-sede do RN. – 2002 ....................................................................36

Figura 16 - Museu Café Filho – 2001 ....................................................................38

Figura 17 - Palácio do Governo, da Cultura ou Pinacoteca? – 2003.....................40

Figura 18 - Rua Ulisses Caldas em 1922 .............................................................41

Figura 19 - Rua Ulisses Caldas hoje – 2006 ........................................................42

Figura 20 - Palácio Felipe Camarão (Prefeitura Municipal do Natal) – 2002.........43

Figura 21 - Casa de Dr. Barata no seu tempo áureo.............................................45

Figura 22 - Casa de Dr. Barata hoje – 12.11.05....................................................45

Figura 23 - Igreja Nossa Senhora do Rosário doas Pretos – 2002 .......................47

Figura 24 - Avenida Junqueira Ayres, nos tempos do bonde................................47

Figura 25 - Avenida Câmara Cascudo – 2006 ......................................................48

Figura 26 - Sede da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/RN – 2003.............49

Figura 27 - Fundação Capitania das Artes – 2006 ................................................50

Figura 28 – Solar João Galvão (antes da restauração).........................................52

Figura 29 - Solar João Galvão (hoje) – 2005 ........................................................52

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Figura 30 - Solar Bela Vista – 2001 ......................................................................54

Figura 31 - Residência de Câmara Cascudo – 2001.............................................55

Figura 32 - Arremedo de uma ponte na Praça Augusto Severo – 2006 ...............60

Figura 33 - Praça Augusto Severo – início do século XX .....................................60

Figura 34 - Praça Augusto Severo hoje – 2006.....................................................60

Figura 35 - Vista do prédio da antiga Escola Doméstica – março/2001 ................61

Figura 36 - Vista do prédio do Grupo Escolar Augusto Severo – março/2001 ......63

Figura 37 - Aspectos da reforma do Teatro Carlos Gomes – 1914 .......................65

Figura 38 - Vista do prédio don Teatro Alberto Maranhão – março/2001..............65

Figura 39 - Avenida Duque de Caxias no século XX.............................................66

Figura 40 - Avenida Duque de Caxias hoje – 2006 ...............................................67

Figura 41 - Vista do prédio do Grande do Hotel – maio/2006 ...............................68

Figura 42 - Av. Tavares de Lira – início do século XX...........................................69

Figura 43 - Av. Tavares de Lira hoje – maio/2006.................................................69

Figura 44 - Avenida Tavares de Lira, vendo-se ao fundo o Cais de mesmo

Nome – fevereiro/2006 .......................................................................70

Figura 45 - Residência e comércio da família Martins – esquina da Tavares de

Lira com a Dr. Barata – 2004 ............................................................70

Figura 46 - Rua Chile – início do século XX..........................................................72

Figura 47 - Vista da Rua Chile entre a Tavares de Lira e Trav. Aureliano –

Maio/2006..........................................................................................72

Figura 48 - Sobrado da Rua Chile, no 106 – maio/2006........................................74

Figura 49 - Rua Frei Miguelinho – início do século XX..........................................76

Figura 50 - Vista do início da Rua Frei Miguelinho na Esplanada Silva Jardim –

Fevereiro/2006 ..................................................................................76

Figura 51 - Rua Dr. Barata da Tavares de Lira para a Praça Augusto Severo –

Início do século XX.............................................................................79

Figura 52 - Rua Dr. Barata – fevereiro/2006 .........................................................79

Figura 53 - Livraria Cosmopolita – 2006 ...............................................................81

Figura 54 - A Samaritana – fevereiro/2006 ...........................................................82

Mapa 01 - Bairro da Cidade Alta ..........................................................................21

Mapa 02 – Bairro da Ribeira..................................................................................56

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO......................................................................................................12

2 A PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE E A CIDADE DO NATAL

NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX ....................................................13

2 PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO DA CIDADE DO NATAL...20

2.1 A Toponímia urbana e o patrimônio arquitetônico da Cidade Alta e Ribeira ...21

2.1.1 Cidade Alta...................................................................................................21

2.1.2 Rua Grande..................................................................................................24

2.1.3 Igreja Matriz Nossa senhora da Apresentação.............................................25

2.1.4 Casa de Câmara e Cadeia ...........................................................................27

2.1.5 Memorial Câmara Cascudo (Real Erário).....................................................28

2.1.6 Rua Santo Antônio .......................................................................................29

2.1.7 Igreja de Santo Antônio (Igreja do Galo) ......................................................29

2.1.8 Rua da Conceição........................................................................................30

2.1.9 Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN ..............32

2.1.10 Coluna Capitolina .......................................................................................34

2.1.11 Sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mais conhecido

como a Casa do Padre João Maria..................................................................35

2.1.12 Sobradinho ou Museu Café Filho ...............................................................37

2.1.13 Palácio do Governo....................................................................................38

2.1.14 Rua Ulisses Caldas ....................................................................................40

2.1.15 Palácio Felipe Camarão .............................................................................42

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2.1.16 Casarão de Dr. Barata................................................................................43

2.1.17 Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos .......................................46

2.1.18 Avenida Luis da Câmara Cascudo (antiga Av. Junqueira Aires) ................47

2.1.19 Sede da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB ......................................48

2.1.20 Capitania das Artes ....................................................................................49

2.1.21 Solar João Galvão......................................................................................50

2.1.22 Sola Bela Vista ...........................................................................................53

2.1.23 Residência de Câmara Cascudo................................................................54

2.2 RIBEIRA SENTIMENTAL ...............................................................................56

2.2.1 Praça Augusto Severo..................................................................................59

2..2.1.1 Antiga Escola Doméstica..........................................................................61

2.2.1.2 Grupo Escolar Augusto Severo .................................................................62

2.2.1.3 Teatro Alberto Maranhão...........................................................................63

2.2.2 Avenida Duque de Caxias ............................................................................66

2.2.2.1 Grande Hotel .............................................................................................67

2.2.3 Avenida Tavares de Lira...............................................................................69

2.2.4 Rua Chile......................................................................................................72

2.2.4.1 Wonder Bar ...............................................................................................74

2.2.5 Rua Frei Miguelinho .....................................................................................76

2.2.6 Rua Dr. Barata .............................................................................................79

2.2.6.1 Livraria Cosmopolita..................................................................................81

2.2.6.2 A Samaritana.............................................................................................82

3 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO SOLUÇÃO DE CONSCIENTIZAÇÃO..84

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................91

REFERÊNCIAS.....................................................................................................93

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INTRODUÇÃO

Este trabalho trata do patrimônio histórico-arquitetônico da cidade do Natal,

tendo como foco principal os seus dois bairros iniciais: Cidade Alta e Ribeira. Este foi

suscitado pela constatação do avançado processo de descaracterização que se

abate sobre esta classe de Patrimônio Cultural na cidade do Natal. Como em todas

as grandes capitais do país assisti-se a destruição de bens arquitetônicos pela

dinâmica de transformação do espaço urbano: os espaços tradicionais de habitação

ou comércio são abandonados ou revalorizados pela especulação imobiliária.

A identificação destes remanescentes subsidiou uma reflexão sobre a

importância das ações de educação patrimonial à luz da realidade e problemas

relacionados à preservação de bens patrimoniais no Estado do Rio Grande do Norte.

Para a realização da pesquisa foram consultadas fontes bibliográficas,

registros fotográficos, icnográficos e textuais (Relatórios de Presidentes de Província

e artigos de jornais de época). Foram realizadas ainda pesquisas de campo para a

documentação dos remanescentes arquitetônicos em meio ao atual estado de

desenvolvimento urbano de Natal.

No primeiro capítulo foi traçada a história do período provincial com a análise

do contexto histórico da segunda metade do século XIX, que legou a maior parcela

de remanescentes histórico-arquitetônicos da cidade do Natal. No segundo, a partir

de um levantamento bibliográfico, foi analisado perfil cultural dos bairros em foco.

No terceiro e quarto capítulos, foi realizada uma reflexão sobre as

experiências no campo da Educação Patrimonial partindo-se da realidade da cidade

do Natal e das experiências governamentais na Preservação Patrimonial

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1 - A PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE E A CIDADE DO NATAL NA

SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

A Província estava dividida, até 1872, em 8 cidades, 19 vilas e 13 comarcas.

A situação econômica se insere no quadro geral nordestino e nacional, que

passam por grandes transformações face à emergência do Brasil no mercado

mundial. A economia provincial se alicerçava na agro-indústria canavieira, o

crescimento da cultura do algodão, desenvolvimento das atividades extrativistas do

sal marinho e da cera de carnaúba, além do grande domínio da pecuária.

A Província do Rio Grande, conforme os censos estatísticos oficiais,

registravam, em 1872, uma população de 233.979 habitantes, dos quais, 119.292

são homens e 114.687 mulheres. A maior parte da população era

predominantemente rural.

Na segunda metade do século XIX, Natal capital da Província, era uma cidade

pouco desenvolvida e tranqüila. Situada à margem direta do Rio Grande, era

residência do Presidente e do funcionalismo público. Possuía uma população de

47.782 habitantes e dividia-se na época em dois bairros: Cidade Alta e Ribeira, onde

se localizava a parte comercial da cidade.

A localização geográfica da Província era responsável por períodos de longas

estiagens que prejudicaram bastante o seu desenvolvimento econômico.

É assim, nessa conjuntura, que a economia da Província era baseada

primariamente na pecuária. Com a grande seca dos anos 1844 a 1846, veio a

dizimação de quase todo o rebanho da região central. Além disso, a sua lavoura não

prosperou, o que trouxe como conseqüência, bruscas mudanças em sua economia e

principalmente na sociedade em geral. O homem do sertão semiárido, sem ter o que

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comer para sobreviver seguia, inconscientemente, os passos dos seus

antepassados (indígenas), buscando, na faixa litorânea, o caminho para sua

sobrevivência. Nesta busca, foram inúmeros os homens que passaram a viver nas

povoações do litoral, acarretando situações de desconforto e miséria, como bem

atesta o Presidente da Província, o Dr. Cazimiro José de Moraes Sarmento, na sua

fala de 7 de setembro de 1845, na abertura da segunda sessão Ordinária da Quinta

Legislatura da Assembléia Legislativa Provincial:

TRANQUILLIDADE PUBLICA (...) grande parte da povoação do Centro a abandonar as suas habitações e a vir homisiar-se no litoral, onde a caristia e escassez, que já se sentia, augmentou-se, como era natural, com o accrescimo de novos consumidores que sobrevierão, tornando-se por consequencia geral a miséria e a indigencia, cujas calamitosas consequencias soffrem em maior escala os ´retirados´ ou ´emigrados´, os quaes, além da necessidade de alimentos, carecem de casas em que se abrigarem, e de roupa com que se tirem da nudez em que se achão. (Falas e Relatórios dos Presidentes da Província do RN, 2000, p. 283)

Ultrapassada toda essa problemática, a partir da década de 50 do século XIX,

a Província viveu intensamente as mudanças em sua economia com a chegada de

comerciantes que aqui se estabeleceram, notadamente estrangeiros, com a

finalidade de importar produtos europeus e fazer a exportação de nossas matérias-

primas, onde se destacavam o algodão, couros e açúcar. Nesse contexto de

crescimento do setor da agro-exportação, Natal passou a ter uma evolução urbana,

embora de maneira lenta e gradual.

Como resultado de certa lentidão das mudanças em seu quadro urbano, Natal

continuou sendo uma cidade de poucas ruas, cujas casas e armazéns. Subsistiam

ainda no século XIX, casas de taipa, cobertas de palha ou de telha vã. Lembremos

que por todo o período colonial a cidade era preterida pela elite proprietária que

preferia viver nas cercanias, conforme afirma Cascudo, num artigo para a Revista

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Escola Doméstica nos anos de 1950.

Com o incremento das transações comerciais, era evidente que o progresso,

mesmo que lentamente se assenhoreasse da província e, como ponto de partida,

em 1859, foi inaugurada a luz em Natal: sessenta lampiões, sendo quarenta para o

bairro da Cidade Alta e vinte para o bairro da Ribeira. No ano de 1863, precisamente

no dia 9 de junho, foi concluído o cais da Ribeira, contribuindo para que houvesse

uma grande expansão comercial nesse bairro. Em 1878, foi inaugurado, no dia 04

de agosto, o telégrafo elétrico.

O quadro demográfico da cidade, entretanto, pouco se modificava e sua

população, crescia lentamente. De acordo com um levantamento de 1870, aponta

uma população de 8.909 habitantes e desses somente 2.263 eram alfabetizados.

Outro censo feito na passagem do século XIX para o século XX, contabilizou 16.056

almas, segundo nos informa Cascudo(1999, p. 94-95).

A Natal desse período tinha como folguedos públicos, os praticados durante

as festas religiosas, tais como: o boi, fandango, congos, pastoris, lapinhas, etc. Tais

diversões aconteciam, após as celebrações dentro das igrejas. No final do século

XIX, possuía dois jornais: “A República” e o “Diário do Natal”.

Todos esses acontecimentos se desenvolviam em duas partes da Natal, que

estava assim dividida: a “Cidade Alta dos Xarias” e a “Ribeira dos Canguleiros”. A

fronteira entre estas duas partes era uma ponte sobre um pequeno córrego, defronte

ao atual Colégio Salesiano São José, que antes fora a residência do industrial

Juvino Barreto. A fábrica de tecidos de Juvino Barreto se localizava a pouca

distância da referida ponte e de sua residência. A referência aos “Xarias” e

“Canguleiros”, advém da gastronomia. Dizia-se que os primeiros comiam Xaréu,

peixe vindo de Ponta Negra e Areia Preta, e os últimos consumiam cangulos,

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advindos dos barcos aportados em seu próprio bairro – eram peixes mais baratos e

supostamente mais apropriados para a classe trabalhadora.

O crescimento populacional e a necessidade de uma urbanização, impuseram

a criação de medidas sanitárias, que passaram a fazer parte das leis e resoluções

dos presidentes provinciais do Brasil e como não poderia ser diferente, a Província

do Rio Grande do Norte também se inseria nesse contexto.

O mundo daquela época estava em constante evolução e novas idéias iam

surgindo e se disseminando nos países centrais do capitalismo em suas grandes

cidades e chegava aos países da periferia do capitalismo como a América Latina.

É nesse cenário que em nível nacional, as cidades passam a modificar os

aspectos de suas moradias, utilizando-se do neoclassicismo e o ecletismo, ao nível

de fachada, bem como motivos “neogóticos” e do “art nouveau” sem, no entanto,

apresentar o glamour dos centros mais ricos do país, principalmente na classe

média e burguesa1. Natal vivencia um período de crescimento, passando por

transformações das edificações e casario urbanos, sendo exemplo o Teatro Carlos

Gomes construído nesse período com evidente inspiração eclética.

Para que se possa reconstruir a evolução da cidade do Natal é necessário se

fazer referência ao processo de desenvolvimento dos centros urbanos nas outras

províncias do Nordeste Brasileiro, nos fins do século XIX e início do século XX.

Paul Singer em seu livro “Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana”

traçou a história das principais cidades brasileiras dentre as quais a cidade de Recife

e Salvador nos permite traçar algumas linhas de comparações em especial com

base nas dessemelhanças existentes entre estas e Natal.

Recife se configurou como uma cidade portuária. O Bairro do Recife,

1 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. A evolução da Casa Potiguar no Século XIX: algumas considerações a partir do contexto nacional. In: Caderno de História, 1996.

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atualmente chamado de Recife Velho, sempre teve o seu destino estreitamente

ligado ao porto. Quando havia queda no escoamento de mercadorias, chegavam a

reboque o desemprego e a decadência. Somente no início do século XIX que o porto

e, consequentemente, o Bairro do Recife receberam a atenção merecida. A vinda da

família real para o país e a abertura dos portos brasileiros ao comércio estrangeiro

repercutiram profundamente na cidade2.

A chegada de capital estrangeiro, principalmente o britânico, revigorou a

economia da cidade, obrigando a modernização do porto do Recife, por onde

escoava grande parte da produção canavieira e do algodão3.

Projetos de reforma do porto do Recife tiveram seu início do ano de 1815.

Mas os trabalhos só foram iniciados em 1909. Nesse período, o bairro estava em

plena efervescência econômica. Ali se concentrava o comércio exportador e

importador, as finanças nacionais e estrangeiras, os serviços públicos básicos (como

transportes ferroviário e marítimo), além das comunicações. O bairro começou a

inchar, abrigando cerca de 13 mil pessoas distribuídas em 1.180 casas e sobrados4.

A conexão entre o Bairro do Recife e o restante da cidade era feita pelo bairro

de Santo Antônio, que abrigava o Palácio do Governo, o Tesouro do Estado, o

Quartel da Cavalaria, o Fórum, o Teatro Santa Isabel, a Biblioteca Estadual, o

Gabinete Português de Leitura e as redações dos jornais da época. Durante o

século XIX, o bairro reunia a parte mais pobre da cidade (pescadores, artesãos,

caixeiros, trabalhadores portuários), enquanto a elite se concentrava em áreas como

Boa Vista e Benfica. Com a reforma, que teve início nas primeiras décadas do

século XX, a situação mudou5.

2 http://www.longoalcance.com.br/brecife_reforma.htm - acessado em 01/04/2006. 3 Ibid 4 Ibidem 5 http://www.longoalcance.com.br/brecife_reforma.htm - acessado em 01/04/2006.

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O Recife sofreu a sua primeira reforma urbana. Todo núcleo original foi

demolido para dar lugar a um traçado influenciado pelo urbanismo francês do século

XIX. Foram alargadas ruas, elaborados planos de saneamento para o bairro e

iniciadas algumas obras. A reforma, no entanto, não levou em consideração a

conservação do patrimônio histórico. Prédios foram destruídos, como a capela do

Corpo Santo (construída pelos portugueses no século XVI) e os arcos da Conceição

e Santo Antônio, que davam passagem para a Ponte Maurício de Nassau, a primeira

do país. Dos 1.180 prédios do bairro, 205 foram demolidos. Houve desapropriações

e os antigos moradores formaram uma população marginalizada, ocupando os

prédios em ruínas ou erguendo barracos6.

A cidade de Salvador durante o período colonial sediou o Porto mais

importante do Brasil, comumente chamado de "Porto do Brasil". Este fato traduz a

importância desse porto na vida da colônia, pois ele foi seguramente o porto mais

importante do Atlântico Sul na logística econômica portuguesa.

A importação de mercadorias advindas da África e de Portugal, se utilizavam

do ancoradouro da Bahia, bem como a exportação de produtos tropicais para o

Reino, desde meados do século XVI. Os principais produtos exportados para a

Coroa e suas possessões ultramarinas, dessa época eram: o açúcar, o pau-brasil, o

algodão, o fumo, o couro e a aguardente7.

Mesmo com a transferência da capital da Colônia para o Rio de Janeiro, em

1763, motivada, sobretudo, pela crescente exploração de ouro em Minas Gerais, a

importância do Porto de Salvador, não decresceu. A entrada média anual, na

segunda metade do século XVIII, foi de pelo menos 90 a 100 navios8.

6 http://www.longoalcance.com.br/brecife_reforma.htm - acessado em 01/04/2006. 7 http://www.codeba.com.br/porto_ssa_historico.php - acessado em 7.4.06. 8 Ibid.

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Apesar disso, o Porto permaneceu com instalações rudimentares,

aproveitando as condições naturais de atracação, por quase 400 anos. Só veio a se

tornar um porto organizado a partir do início do século XX, depois de longo período

de reivindicações destinadas ao melhoramento de suas condições físicas, isto

também ocorreu nos portos de Recife/PE e Natal/RN.

Constata-se que nas cidades litorâneas da América portuguesa as quais

diferentemente das cidades fundadas nas colônias espanholas não havia um

planejamento de forma a orientar o desenvolvimento urbano. As cidades fundadas

pelos portugueses nasciam antes de certos costumes como o de situar cidades em

colinas ou outeiros, originando acrópolis espontâneas de traçados irregulares e

estreitos onde eram edificadas as construções civis religiosas e do estado. Além

disso, as cidades portuguesas eram fundadas em áreas próximas ou servidas por

portos naturais, em redor dos quais se localizavam as construções para a guarda de

mercadorias. O comércio nessas redondezas era intenso.

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2- PATRIMÓNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO DA CIDADE DO NATAL

Sendo o foco principal deste trabalho, o Patrimônio Histórico e Arquitetônico

remanescente dos bairros da Cidade Alta e Ribeira, é necessário que se trace a

história e evolução o espaço urbano onde estão inseridos, bem como do contexto de

sua ocupação e de suas características em termos de tipologia e estilos

arquitetônicos.

Sabe-se que a vinda da família Real, a abertura dos portos e a derrubada do

estatuto colonial, foi responsável pelo primeiro surto de modificações em termos

econômicos políticos e culturais do Brasil.9 Já no contexto do advento do ciclo do

café do início do Segundo Reinado ao fim da República Velha assistiu-se ao

primeiro surto de industrialização e emergência de novas classes sociais, num que

iria conformar a implantação da ordem capitalista no Brasil.

Nesse contexto, percebe-se o início das transformações da arquitetura

residencial, melhorando sensivelmente o estilo e conforto de se bem morar.

Estilisticamente vai predominar o ecletismo e o neoclassicismo, advindo da Europa.

Em Natal, esse processo de modernização vem ocorrer muito lentamente no

final do século XIX e início do século XX, tendo como exemplos: o Teatro Alberto

Maranhão, outrora Carlos Gomes; a residência do folclorista Luis da Câmara

Cascudo; o Solar Bela Vista e o Solar João Galvão10.

O que importa nesse estudo, é discernir sobre como os dois bairros em

questão, evoluíram no tocante a conservação do seu patrimônio arquitetônico e a

sua historicidade.

9 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. A Evolução da Casa no Século XIX: algumas considerações a partir do contexto nacional. In: Caderno de história. v. 3, n. 1 (jan./jun. 1996). 10 Ibid.

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2.1 - A Toponímia Urbana e o Patrimônio Arquitetônico da Cidade Alta e Ribeira

2.1.1 - A Cidade Alta

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Mapa 01 – Cidade Alta – Natal/RN

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No outeiro natural formado por uma da colina foi escolhida para sediar a

cidade do Natal. Nesse espaço, então, nasceu a cidade. Depois o costume popular

de chamar aquele espaço fazendo-se referência à sua condição natural fez surgir a

denominação de “Cidade Alta”. No bairro da Cidade foram localizados os edifícios

religiosos, as edificações representativas do Estado e as edificações civis.

Segundo historiadores como Luis da Câmara Cascudo e Augusto Tavares de

Lyra por todo o período colonial a cidade do Natal teve um crescimento pouco

significativo, em alguns períodos como o da ocupação holandesa no século XVII a

cidade regrediu. No início o espaço da Cidade Alta se resumia a algumas poucas

construções e poucas ruas sendo a principal a Rua Grande e o largo da Matriz.

Segundo estes autores, em suas proximidades é que efetivamente moravam os

habitantes do lugar, em pequenas glebas de terras, destinadas às atividades

criatórias e agrícolas.

O espaço do bairro da Cidade Alta é efetivamente o mais antigo da cidade do

Natal.

Segundo Cascudo (1999, p. 143), neste espaço foram chantados duas

cruzes, sendo uma ao norte fincada onde hoje está localizada a Praça das Mães e a

outra, no sul, bem perto do riacho Tiçuru, rio do Baldo, hoje esta cruz encontra-se na

praça que tem o sugestivo nome de Santa Cruza da Bica.

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Figura 1 – Praça das Mães (local da Cruz do Norte)

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Figura 2 – Santa Cruz da Bica (Cruz do Sul)

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2.1.2. A Rua Grande

Inicialmente era denominada de Rua Grande, depois Praça da Matriz e

finalmente Praça André de Albuquerque, em homenagem ao mártir da Revolução

Pernambucana de 1817, na Província do Rio Grande.

Segundo Cascudo esta rua inicialmente abrigava apenas a Matriz e poucas

casas de taipa à sua frente. Assim o foi por todo o período colonial, mantendo-se o

aspecto urbano desde fins do século XVI (quando da fundação da cidade), ao longo

do século XVII, com o episódio da ocupação holandesa e verificando-se algumas

modificações apenas no século XVIII; com a intensificação da distribuição das datas

de terras nesse século11. construiu-se em frente a Matriz a residência do poder e

vizinho a Casa de Câmara e Cadeia.

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Figura 3– Aspecto da Rua Grande no início do século XX.

11 Sobre a concessão das datas de terra no espaço da cidade ver: MEDEIROS FILHO, Olavo. Terra Natalense. Ano (???), etc. É possível inferir que a cidade tenha-se se expandido no século XVIII graças às ações do Senado da Câmara do Natal com a distribuição de um número crescente de datas de terra nesse século.

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2.1.3 - Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação

De acordo com Cascudo (1999, p. 99), a primeira igreja da Capitania se

resumia a uma capelinha, de barro socado e coberta de palha, ramos secos

entrançados (nesse tempo não havia coqueiros) teria apenas uma entrada, sem sino

nem aparato.”O mesmo autor acrescenta que após 1654, quando da expulsão dos

holandeses, os colonos em número de 25, fizeram à reconstrução da igreja, pois ela

houvera sido destruída".

O padre Leonardo Tavares de Melo, assumindo a freguesia de Natal, reconstruiu

a antiga igreja. Por ela, passaram dezenas de sacerdotes: o primeiro deles foi o padre

Gaspar Gonçalves da Rocha cujo sucessor, nos dias atuais, é o padre Agnelo Dantas

Barreto, que muito se dedica às obras de restauração e conservação da matriz. A feição

arquitetônica da igreja de fins do século XIX e inícios do século XX, era a de um templo

que não apresentava as características de sua concepção original. Isto foi o resultado

das sucessivas modificações sofridas ao longo dos anos. As alterações que foram

realizadas pelos próprios párocos, no afã ou vontade de aplicar medidas tendentes à

conservação do templo, acabaram por descaracterizá-lo.

A fachada apresenta no seu corpo principal três portas, superpostas por igual

número de janelas rasgadas e guarnecidas por grades de ferro, todas em vãos de

arcos, ou figura típica, o cruzamento de dois arcos iguais, que substituem os antigos

arcos abatidos.

A matriz é constituída por uma capela-mor e capelas laterais, construídas em

1905, não apresentando o mesmo desenho encontrado no altar-mor. Possui arco-

cruzeiro de pedra e seis arcadas de alvenaria que ligam a nave principal às laterais,

superpostas por igual número de tribunas guarnecidas por grades de ferro. Os dois

púlpitos, confeccionados à época do padre João Maria Cavalcanti de Brito, são feitos

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de madeira. O guarda corpo do coro, que é também de madeira, está pintado na cor

grafite, na mesma coloração das grades das tribunas. O seu piso é de madeira.

Em sua última restauração, num trabalho conjunto do Instituto do Patrimônio

Histórico e Arquitetônico Nacional, sub-seção do Rio Grande do Norte – IPHAN/RN e

Fundação José Augusto, foi encontrada a ossada de André de Albuquerque

Maranhão, morto durante o período da Revolução Pernambucana de 1817, no seu

lado esquerdo. Remanescentes da família Maranhão residentes do Rio de Janeiro,

mandaram erigir uma lápide no local.

Ainda durante esta restauração, foram descobertas várias fases da vida

desse prédio. Teve-se o cuidado de isolá-las e fazer um tratamento de proteção,

deixando à mostra, para que se possa visualizá-las.

Tombada em nível Estadual, pela Portaria 251/92 da SEC-GS, publicada em

30.07.92..

Figura 4 – Antiga Catedral da cidade do Natal

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2.1.4 Casa da Câmara e Cadeia

Na Rua Grande, além da igreja, ergueu-se um edifício com dois pavimentos

para abrigar a Casa da Câmara (no piso superior) e Cadeia Pública (térreo), e ao

seu largo foi chantado o Pelourinho (guardião da justiça e do poder) que hoje se

encontra na entrada do nosso Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do

Norte - IHGRN; a Provedoria da Fazenda; algumas casas residenciais que tinham

suas fachadas voltadas para o poente, como se tivessem a receber diuturnamente

as bênçãos do templo sagrado.

Nas fotos a seguir, vê-se a Casa de Câmara e Cadeia, que não é mais

possível contemplá-la, a não ser nessas fotografias, pois ela foi demolida em nome

do progresso, para dar lugar a Rua Monsenhor da Mata.

Figura 5 – Ruínas da Casa de Câmara e Cadeia – Praça André de Albuquerque – ano de 1911.

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2.1.5 - Memorial Câmara Cascudo (Real Erário)

Localizado na Praça André de Albuquerque, tendo sua construção inicial no

ano de 1830, para ser a sede do Real Erário. Em 1875 foi reconstruído, sofrendo

ampliação em suas laterais. Foi preservado, no entanto, um ar de construção de

sobrado colonial, mas trata-se de uma edificação com características neoclássicas.

Com estrutura em dois pavimentos, possuem amplas salas, altas portas e

janelas com peitoris e grades de ferro, colocadas por ocasião da reforma. O peitoral

das janelas e todo o piso são em pedra sabão, como era usado na época.

O prédio, em 1875, foi estruturado para abrigar a Tesouraria da Fazenda do

Estado, posteriormente a Delegacia Fiscal e, mais tarde, o Quartel General do

Exército.

Atualmente o edifício guarda o acervo da vida e obra do eminente mestre da

nossa cultura, Luís da Câmara Cascudo.

Tombado, em nível estadual, em 30 de agosto de 1989, pela Portaria 443/89,

recebeu uma grande estátua de bronze, do folclorista, fixado em sua frente.

Figura 6 – Memorial Câmara Cascudo –foto de 2001.

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2.1.6 - Rua Santo Antônio

Segundo Cascudo (1999, p. 145), a Rua Santo Antônio, era no período

colonial chamada de “Caminho-de-beber”, em alusão ao local onde a cidade se

abastecia de água para consumo.

Nessa rua ainda se preserva um dos patrimônios arquitetônicos mais

expressivos da nossa cidade, apesar de que o mau gosto, ultimamente, tem nos

privado de observá-lo com prazer e satisfação, pois, está pintado numa cor não

condizente com a sua condição de exemplar histórico da arquitetura barroca no

estado.

2.1.7 - Igreja de Santo Antônio (Igreja do Galo)

Construção de 1763, esta igreja apresenta os elementos arquitetônicos

característicos do estilo barroco. No seu interior, a arquitetura é das abadias de

conventos. A torre encimada de azulejos portugueses constitui-se um grande

pedestal para o galo heráldico. É a terceira igreja mais antiga de Natal.

Parte desta igreja serviu de aquartelamento do corpo de Polícia do Rio

Grande do Norte e do Colégio Diocesano Santo Antônio. Atualmente, num salão à

esquerda da igreja, funciona o Museu de Arte Sacra, que guarda imagens barrocas,

oratórios, trabalhos de ourivesaria e prata, além de outras peças dos séculos XVI ao

XX.

Todos os anos é realizado o novenário no mês de junho, em homenagem ao

padroeiro Santo Antônio, com missas, palestras e festividades profanas na sua

calçada.

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Figura 7 – Igreja Santo Antonio - 2000 Figura 8 – Igreja Santo Antonio - 2003

2.1.8 - Rua da Conceição

Segundo Câmara Cascudo, esta rua desde o início do século XIX, já era

conhecida por este nome. Tudo levando a crer que o nome seja, em homenagem a

Nossa Senhora da Conceição que ficava em um nicho de uma residência, de

propriedade de Joaquim Inácio Pereira, que também era proprietário da maioria das

casas dessa rua. Em 1914, em nome do progresso grande parte dessa rua foi

destruída, dando lugar a Praça Sete de Setembro e os Jardins do Palácio do

Governo12.

12 CASCUDO, Luis da Câmara. História da cidade do Natal, 1999.

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Figura 9 - Vista parcial da Rua da Conceição no início do século XX.

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Diante de tamanha agressão, ainda restam seis prédios. Cinco abrigando

rvos que certamente perpetuarão a nossa história; 02 em bom estado de

servação, sendo utilizado pelos seus proprietários e um outro em completo

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ra 10 – Vista parcial da Rua da Concei- Figura 11 – Vista parcial da Rua da Conceição no seu lado esquerdo. no seu lado direito.

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2.1.9 - Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN

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Figura 12 – Instituto Histórico e Geográfico do RN – ano 2001

A memória de um estado guardada e enriquecida em um prédio suntuoso e

histórico. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte mostra em seu

estilo Rococó, misturado à Arte "Nouveau", uma beleza esplendidamente

harmoniosa. As belas sacadas, com desenhadas grades de ferro, retratam uma

época de imponência artística.

Tombado em nível Estadual pela Portaria no 840/84 de 06 de dezembro de

1984 e com mais de um século de história, é também chamado de “Casa da

Memória”. O Instituto foi fundado em 29 de março de 1902, recebendo do

governador da época, Rafael Fernandes, a doação do prédio.

Abriga inúmeras relíquias, as quais constituem a história da vida dos

potiguares, desde arte indígena, até acervos fotográficos e documentais, objetos

pessoais de algumas personalidades que escreveram a história da região; retém

uma das maiores bibliotecas do Estado, com acervo de cerca de cinqüenta mil livros,

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entre tantos, de autores estrangeiros, nacionais e, em sua maior parte, de ilustres

escritores norte-rio-grandenses.

Segundo Lauro Pinto, em sua obra “Natal que eu vi”, de 1971, ele relembra

com saudade de quando esse casarão abrigava a Casa da Justiça, por muitos e

muitos anos. Relata, ele que havia duas salas amplas, uma chamada de sala das

conversas, que dava para a Rua da Conceição e a outra que tinha como cenário a

Praça André de Albuquerque, servindo de recinto das sessões. Ainda segundo ele,

na primeira sala, estava localizada meia dúzia de cadeiras de balanço, que era para

os desembargadores discutirem assuntos jurídicos, políticos e saborearem café.

Posteriormente é que o centenário Instituto fez dele a sua morada.

Recentemente o Instituto recebeu como doação o prédio que fica em frente, sendo o

primeiro da Rua da Conceição no sentido da Avenida Luis da Câmara Cascudo.

Figura 13 – A casa da direita é o Anexo do IHGRN - 2004

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2.1.10 - Coluna Capitolina

Numa briga sadia e salutar do ilustre presidente do Instituto Histórico e

Geográfico do Rio Grande do Norte, Dr. Enélio Lima Petrovich, conseguiu finalmente

colocar em lugar seguro e altaneiro esta Coluna, que muito representa para a

história de Natal. Está dormindo em berço esplêndido entre o secular Instituto e o

Palácio do Governo, hoje Palácio da Cultura ou será Pinacoteca? No Largo Vicente

Lemos, em homenagem ao primeiro presidente na instituição.

A Coluna Capitolina foi oferecida a Natal pelo ministro italiano Benito

Mussoline para rememorar o feito glorioso dos aviadores italianos. Ela também é

conhecida como Romana, ou Del Prate. A Coluna Capitolina recebeu tal

denominação em virtude de ter pertencido às ruínas do templo sagrado de Júpiter,

existente no monte do Capitólio, na antiga Roma.

Trata-se de uma coluna de relevante valor artístico e histórico, representando

um raríssimo exemplar de coluna com fuste espiralado, que só começou a aparecer

no início do século IV em Roma.

O templo foi o centro principal da vida religiosa dos antigos e era na área

capitolina que se realizavam as grandes reuniões populares de Roma.

A Coluna Capitolina de Natal acha-se tombada em nível Estadual, desde 17

de fevereiro de 1990, pela Portaria 044/90.

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Figura 14 – Coluna Capitolina – Largo Vicente Lemos - 2005

2.1.11 - Sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, conhecido como a Casa do Padre João Maria.

O prédio foi construído antes de 1731, na Rua da Conceição, para abrigar o

Armazém Real da Capitania do Rio Grande. Do original, atualmente ainda existe uma

parede de alvenaria de pedra e cal, contendo um vão de acesso com três metros de

largura, apresentando marcas de pedra e chumbadores para fixar dobradiças.

Por volta de 1825, o terreno do Armazém, provavelmente em ruínas, foi feita

sua doação a Agostinho Leitão de Almeida. No ano de 1881, a casa, já reconstruída,

serviu de pousada para Padre João Maria, quando aqui chegou para pastorear a

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paróquia de Nossa Senhora da Apresentação.

No início do século XX, este prédio pertencia ao comerciante Guilherme

Lettiere, tendo sido vendida a dona Clara Maria Soares de Araújo, no ano de 1927,

tendo ela ali residido até o seu falecimento em 1975. Após a sua morte, a família

vendeu para uma empresa comercial, que serviu de depósito até o ano de 1987,

quando foi adquirida pela Fundação Nacional pró-Memória, passando no ano de

1988 a funcionar como sede da representação local do IPHAN.

No ano de 1955 foi executada obra de restauração, permitindo uma melhor

análise do prédio, encontrando relevantes vestígios arquitetônicos e arqueológicos.

A partir daí, o prédio apresenta de forma clara, as várias etapas de transformação

por que passou ao longo de sua existência13.

Tombado em nível Estadual pela Portaria. 457/90 de 22.12.90.

Figura 15 – Sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – sub-sede do RN. - 2002

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13 CASTRO, Nei Leandro de.(coord, geral). Terra Potiguar, 1999.

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2.1.12 - Sobradinho ou Museu Café Filho

Localizado na Rua da Conceição, no 601, o início de sua construção

aconteceu no ano de 1816 e concluída em 1820, servindo de moradia do capitão-

mor de milícias José Alexandre Gomes de Melo.

É considerado o primeiro sobrado particular construído em Natal. Constituído

com traços simples, bem característico do período colonial, composto de dois

pavimentos, sendo sua fachada em emoldurada por cunhais de massa e beiral com

extremidade em “cauda de andorinha”, seguindo o gosto da época. Já na lateral

norte, apresenta uma arquitetura singular: parte do telhado desce em um declive

bem acentuado, lembrando um véu de noiva, daí o seu apelido “Véu de Noiva”.

Parte de sua existência serviu unicamente como residência. Entre 1925 e

1927, quando o jornalista Café Filho, era presidente do Sindicato Geral dos

Trabalhadores, alocou para ser a sua sede. Tempos depois, abrigou a Cooperativa

de Crédito Norte-rio-grandense e a Congregação Mariana.

No ano de 1962 o Governo do Estado, adquiriu este prédio, para nele instalar

o Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte, tendo ali funcionado entre 1965

a 197814.

Numa homenagem ao único potiguar a ocupar o cargo de Presidente da

República, foi inaugurado no dia 12 de março de 1979, o Museu Café Filho, numa

justa homenagem.

É parte integrante do patrimônio do Estado, estando vinculado ao Centro de

Documentação Cultural Eloy de Souza da Fundação José Augusto.

14 CASTRO, Nei Leandro de.(coord, geral). Terra Potiguar, 1999.

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Figura 16 – Museu Café Filho - 2001

2.1.13 - Palácio do Governo

Este prédio é o representante maior do estilo neoclássico encontrado em

nossa cidade, está enquadrado como sendo da Rua da Conceição, tendo em vista,

que originalmente sua frente fora projetada para essa rua. Construído com planta

retangular, distribuído em dois pavimentos, sua cobertura é na forma de quatro

águas, recoberto por platibanda. Sua frente está na mais perfeita simetria, possuindo

três portas centrais em forma de arco pleno emoldurado por cornija e cunhais,

ladeadas por cinco janelas de vergas retas em cada lado. O pavimento superior

apresenta as mesmas características do andar térreo, acrescentando guarda-corpos

de ferro. No ápice central do seu frontão central de forma triangular com brasão no

tímpano, acima da janela central deste pavimento, encontra-se inscrito uma data –

1868 –, sem significação da conclusão do prédio, talvez tenha sido o ano de

conclusão da fachada.

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No local onde está chantado o Palácio do Governo, até meados do século

XIX, existia uma casa onde funcionava a Assembléia Legislativa e a Tesouraria

Provincial, tendo ela sido demolida e iniciada a construção da forma atual no ano de

1866, de acordo com o projeto do engenheiro Ernesto Augusto Amorim do Vale e

executado pelo engenheiro Feliciano Francisco Martins. No dia 17 de março de

1873, deu-se a inauguração do prédio, abrigando inicialmente no pavimento inferior

a Tesouraria Provincial e a Repartição dos Correios (alugada por dezesseis mil réis

mensais). No pavimento superior ficou destinado as sessões da Assembléia

Provincial, Câmara Municipal e do Júri.

Quando era governador Alberto Maranhão, no dia 10 de março do ano de

1902, ele fez a transferência da sede do Executivo da atual Rua Chile (antiga do

Comércio), para o prédio em questão.

Nos fins do século XIX, um quarteirão de casas que existia entre o Palácio e a

Catedral Nossa Senhora da Apresentação, foi demolido em nome da construção de

um jardim para o palácio, com concepção francesa, tendo sido atualmente

eliminado, conforme pode ser visto na figura 9. Para a construção da atual Praça 7

de Setembro, no ano de 1914, também foi demolido um quarteirão de casas de

ficavam à sua frente. Para complementar, tempos depois, os casarões existentes no

leu dado direito (Rua da conceição), foram igualmente demolidos para dar lugar ao

caixão de concreto, onde abriga a Assembléia Legislativa.

A partir do ano de 1995, o governo passou a despachar no Centro

Administrativo no bairro de Lagoa Nova, ficando o prédio da Praça 7 de Setembro,

para abrigar os eventos culturais, denominando-o de Palácio da Cultura e mais

recentemente de Pinacoteca.

Desde o ano de 1965, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e

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Artístico Nacional, através do processo o no 0758-T-63, estando inscrito no Livro

Histórico sob no 383 de 11.06.1965, sendo considerado monumento nacional.

Figura 17 – Palácio do Governo, da Cultura ou Pinacoteca? - 2003

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2.1.14 - Rua Ulisses Caldas

Rua que nos fins do século XIX e durante a quase a metade do século XX,

abrigou a vida social do bairro da Cidade Alta, pois, nela ficava o “Royal Cinema”,

vizinho ao prédio da Prefeitura Municipal do Natal. Importante informar a respeito

desse cinema, o que Lauro Pinto em seu livro “Natal que eu Vi” (1971, p. 34), relata:

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[...] a sessão noturna somente começava quando Donana (D. Ana Maria Câmara Cascudo) mãe do nosso querido Luís da Câmara Cascudo (Cascudinho) chegava, embora com o atraso de meia-hora. Naquele tempo o povo era cheio de bom, humor e assim ninguém reclamava.

Além do citado cinema, na esquina da Avenida Rio Branco no 57 com a Rua

Ulisses Caldas, no 163, ficava o “Salão Rio Branco”, casa de jogo e de bilhar. Já na

esquina da Rua Ulisses Caldas no 101 com a Rua Vigário Bartolomeu no 549,

funcionou quase que por uma centena de anos, um café, inicialmente com o nome

de “Potiguarania”, depois de batizado de “Café Magestic”, ponto de convergência

dos mais ilustres intelectuais de nossa sociedade.

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Figura 18 – Rua Ulisses Caldas em 1922

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Figura 19 – Rua Ulisses Caldas hoje

2.1.15 Palácio Felipe Camarão

Na esquina da Rua Ulisses Caldas com a Av. Luis da Câmara Cascudo, onde

outrora fora a Intendência Municipal, foi construído este prédio e inaugurado no dia 7

de setembro de 1922, pelo então presidente da Intendência Theodósio Paiva, como

parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil. No ano de 1955

até os dias atuais, está sendo ocupado pela Prefeitura de Natal.

O prédio foi construído em dois pavimentos, apresentando fachada trabalhada

e toda recoberta com decoração de massa, com características arquitetônicas

ecléticas; com excesso de detalhes e enfeites, cornija em massa, platibanda com

muitos ornatos em metal, com jarras e minaretes. Suas telhas foram trazidas da

França e sua concepção arquitetônica foi de Miguel Micussi, nascido em Udine,

Itália, em 1870, vindo ainda moço a residir em Natal, onde viveu o resto de sua vida

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e faleceu a 8 de novembro de 1927. Os dois pavimentos tem porte majestoso com

três portas entre colunas adornadas com capitéis. Seu nome é uma homenagem do

povo de Natal ao seu grande guerreiro “Felipe Camarão”.

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Figura 20 – Palácio Felipe Camarão

2.1.16 Casarão de Dr. Barata

Prédio construído na confluência da Rua Ulisses Caldas, com a Dom Pedro I,

entre 1910 e 1912, pelo Dr. Afonso Moreira de Loyola Barata, médico e ex-

deputado, fundador do Partido Republicano do Rio Grande do Norte e tesoureiro da

Sociedade Libertadora Norte-Riograndense, mais conhecido como Doutor Barata,

como era costume na época, a maioria do material utilizado na sua construção era

composta de produtos importados, pois, seu teto de zinco veio da Suíça e o piso da

Riga, capital da Letônia.

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Foi durante muito tempo sua residência. Após sua morte serviu de moradia

para sua filha Alice China Barata, até os idos dos anos 60, quando foi transformado

em hotel, recebendo o nome de Hotel Majestic, quando nos anos 80 foi vendido ao

Governo do Estado15. Ficando no mais indecente abandono, servindo atualmente

para a deposição de lixo e de alvo para a depredação. Lamentavelmente essa é a

realidade e estamos a viajar na contramão da história, vendo a nossa história se

perder no tempo, pela falta de sensibilidade e vontade política. A justificativa de que

faltam recursos para se fazer o mínimo para se preservar este belo exemplo de

nossa história não se justifica.

Para melhor entendimento, no ano de 2000, a Fundação José Augusto,

através do Processo no 2316/2000/FJA de 10 de agosto de 2000, solicitou o

tombamento do prédio em questão. Pelo Decreto no 491/2000 da SEC-GS,

publicado no Diário Oficial do Estado do dia 09.12.2000 fez seu tombamento a nível

estadual, pergunto: Para quê? Sabe-se que apenas o tombamento não assegura a

preservação de um bem cultural, são necessárias ações emergenciais de

restauração e conservação, bem como um plano de uso que assegure que este seja

inserido em estratégias de educação patrimonial da comunidade.

15 Diário de Natal. Caderno Cidades, p. 4, domingo 2 de abril de 2006.

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Figura 21 - Casa do Dr. Barata no seu tempo áureo

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2.1.17 Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Não se sabe com exatidão o ano da sua construção, provavelmente date de

1714. Este foi o segundo templo católico edificado na Cidade.

Com arquitetura típica barroca, mostra uma clara inspiração nas construções

congêneres da Escola Portuguesa. Em seu interior, altares denotam fortes

características românicas, pilares aparentes e semi-arcos em estilo romano. Até nos

dias de hoje, vê-se presente na fachada da igreja: simplicidade, beleza e uma certa

imponência.

No fim do século XVII, os negros não podiam freqüentar as mesmas igrejas

que os brancos. Portanto, escravos ou libertos pobres necessitavam ter seu próprio

templo, onde pudessem fazer suas rezas, entoar seus cânticos e comemorar seus

festejos religiosos. Ergueram, então, um templo primitivo e simples, do tipo “caixão

de nave contraceptivo”, e uma simples torre, em forma de um oratório, de onde

soava um humilde sino, alegrando o triste coração daqueles fiéis.

Dentro dela e em seu entorno, várias ossadas de negros alforriados ou não,

com certeza estão a sustentar suas paredes e a mantê-la presente, a derramar

bênçãos sobre aqueles que de ajuda imaterial necessitam. Isto tudo, segundo nosso

mestre Luis da Câmara Cascudo, que deixou escrito no seu livro “A História da

Cidade do Natal”, produzido no ano de 1956.

A localização privilegiada proporciona a esplêndida visão do pôr-do-sol

refletido ao longe, sobre o rio Potengi.

Encontra-se tombada em nível estadual, pela portaria 945/87 de 05.12.87

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Figura 23 - Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos - 2002

2.1.18 Avenida Luis da Câmara Cascudo (antiga Av. Junqueira Aires)

Essa rua foi sempre o elo entre os dois bairros da cidade do Natal. No início

do século XX, nela foram encravados os mais belos palacetes da cidade, que

serviam de moradia para os mais abastados que conviviam em perfeita harmonia

com os centros de poder na Cidade Alta.

Nela, ainda hoje, é possível encontrar vários exemplares da arquitetura da

cidade do Natal

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Figura 24 - Avenida Junqueira Ayres, nos tempos do bonde.

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Figura 25 - Avenida Câmara Cascudo - 2006

2.1.19 Sede da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB

O número 478 da Avenida Câmara Cascudo, de construção e projeto de

autoria do arquiteto mineiro Herculano Ramos, foi sede do Congresso Legislativo

Estadual, tendo sido inaugurado no dia 14.07.1906, em sessão solene presidida pelo

Governador Tavares de Lira.

Em 1938, com a dissolução do Congresso Legislativo, o prédio foi cedido ao

Tribunal de Justiça.

Em 1974, é permutado por outro prédio, passando a ser a sede da OAB/RN.

Neste recinto aconteceram os maiores embates entre os representantes

legislativos do nosso Estado. Também foi palco de memoráveis atos cívicos, quando

da posse de vários governadores.

Tombado em nível estadual através da Portaria. 253/92 de 30.07.1992.

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Figura 26 - Sede da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/RN - 2003

2.1.20 – Capitania das Artes

A segunda sede do governo provinciano do Rio Grande do Norte, foi instalada

no período de 1830-1862, numa construção denominada de “prédio de muitas

janelas”, situada na Rua da Cruz (hoje Avenida Câmara Cascudo).

Nos períodos de 1873 a 1885 e 1890 a 1898, a Companhia de Aprendiz

Marinheiro nele também se instalou.

Em 1988, foi revitalizada sua fachada, num trabalho meticuloso do arquiteto

João Maurício Miranda, após seu tombamento em nível estadual pela portaria

352/88 de 11.08.1988, abrigando atualmente a Fundação Capitania das Artes, órgão

pertencente à Prefeitura Municipal do Natal.

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Figura 27 - Fundação Capitania das Artes - 2006

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2.1.21 Solar João Galvão

Casarão no 431 da Avenida Câmara Cascudo, antiga Av. Junqueira Aires,

está localizado em local privilegiado, sendo o primeiro dos edifícios da aludida

avenida, no sentido Cidade Alta–Ribeira, no seu lado direito.

Construído no ano de 1908 pelo senhor João Alfredo, o edifício foi adquirido

pelo Coronel Aureliano Clementino de Medeiros, abastado comerciante de Natal,

fixando residência pelo período de dois anos, enquanto aguardava a construção do

Palacete ao lado, que receberia o nome de Solar Bela Vista.

Dona Olívia Medeiros, filha do Coronel, herdou do pai o casarão em foco. Não

tendo se casado, morreu solteira, porém, deixou em testamento a casa como

heranças para dois sobrinhos/netos: João Galvão de Medeiros Filho e Bernardo

Galvão de Medeiros.

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A fachada do prédio é de concepção simétrica, implantada no alinhamento da

Rua, porém, elevada em relação à calçada. Na parte frontal existe um porão alto,

com acesso através de quatro portas, que se abrem diretamente para a calçada,

ladeando essas portas, existem outras duas portas falsas. Todas as portas do porão

apresentam vãos com vergas de arco pleno com cercaduras de massa.

Ao nível do pavimento superior da casa, existem 5 janelas rasgadas,

guarnecidas por guarda-corpos de ferro, apresentando as referidas janelas, vãos

com vergas retas. Com cobertura de duas águas, o casarão ostenta em sua fachada

principal um frontão triangular com um óculo central e cornija de massa. Compondo

ainda a fachada, existiam dois alpendres laterais, também com cobertura de duas

águas, graciosamente arrematada por lambrequins.

A cobertura daquele alpendre foi posteriormente modificada, passando a

possuir uma meia-água, que acompanha a inclinação da cobertura do casarão.

Aproveitando o esquema do porão alto, o acesso principal à casa se verifica

pela lateral, pois apesar de conservar-se sobre o alinhamento da rua, a casa é

recuada nos limites laterais do terreno. Esse acesso se faz através de uma

escadaria que leva diretamente ao alpendre do lado esquerdo, o qual funciona como

um corredor externo, dando acesso a algumas das dependências da casa.

O Governo do Estado desapropriou para restaurá-lo, através da Fundação

José Augusto, tendo sido tombado a nível Estadual em 19 de julho de 1988, pela

Portaria 0273/88.

Atualmente abriga o Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza da

Fundação José Augusto.

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Figura 28 - Solar João Galvão (Antes da restauração) Fo

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2.1.22 – Solar Bela Vista

Localizado à Av. Câmara Cascudo, no 417, o Solar foi construído na primeira

década do século XX, pelo Coronel Aureliano Medeiros com o máximo de

refinamento possível, onde residiu ali com sua família. Depois sediou o Tribunal de

Justiça e o Hotel Bela Vista. Em 1958, foi vendido ao SESI. Em 1984 foi restaurado

e atualmente é utilizado como Centro de Cultura e Lazer do SESI/RN.

A fachada principal e lateral do palacete apresentam frontões triangulares,

com estrela vazada ao centro. Esses frontões emoldurados por cornijas de massas

são características de estilo neoclássico. As referidas janelas apresentam vãos com

arco de ogiva, bem ao gosto de estilo gótico, toda constituída por peças de vidros

em formas de varandas.

Este prédio foi tombado em nível Estadual pela Portaria no 042/90 de 17 de

fevereiro de 1990.

É mais um exemplo bem sucedido de tombamento e ulterior restauração e

uso com fins educativos e culturais.

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Figura 30 – Solar Bela Vista - 2001

2.1.23 – Residência de Câmara Cascudo

Localizada na Avenida Câmara Cascudo sob o no 377, construída no ano de

1900 pelo industrial Afonso de Albuquerque Maranhão, que a vendeu ao Dr. José de

Teotônio Freire, pai de Dona Dália, esposa do mestre Câmara Cascudo, que passou

a ocupar o referido imóvel em 1944, até os últimos dias de vida.

Numa concepção do tipo chalé, muito em moda naquela época, tem o seu

telhado em duas águas. Erguida acima do nível da rua, a entrada para a residência

é possibilitada por um portão lateral. A sua fachada é emoldurada por quatro janelas

rasgadas, ornadas com molduras de massa que se sobressaem, todas elas

guarnecidas por gradis de ferro. O seu frontão tem a forma triangular e óculo central,

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encimados por cornijas e por um belo lambrequim16.

É voz corrente de que o mestre Cascudo até os últimos dias de sua vida,

tinha como prazer e “hobby” vislumbrar o pôr-do-sol no seu amado Rio Potengi, da

sacada da primeira janela do seu chalé.

Hoje este prédio está tombado em nível Estadual pela Portaria 045/90 de 17

de fevereiro de1990.

Em contato recentemente com a neta do mestre Cascudo, me foi informado

que a família está custeando uma mini-reforma nas suas dependências, como seja,

mudando todo o madeiramento e retelhamento, para assim, melhor servir a

população que a ela queira adentrar.

Figura 31 – Residência de Câmara Cascudo - 2001

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16 NESI, Jeanne Fonseca Leite. Patrimônio Histórico e Artístico.In: Terra Potiguar, 1999.

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2.2 RIBEIRA SENTIMENTAL

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Mapa 02 – Bairro da Ribeira – Natal/RN

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Na Ribeira era o bairro onde se localizava o porto natural de que se servia a

cidade, era o espaço oposto ao da colina na qual foi fundada a cidade em fins do

século XVI, porque é extremamente plana e baixa. No período colonial a Ribeira não

passava de uma campina constantemente alagada pelas águas do Potengi.

Anteriormente foram analisados dois casos de cidades coloniais que se

desenvolveram em redor movimentados portos naturais. A Ribeira desde o início

tinha uma vocação portuária por excelência, e alongo do tempo foram se instalando

construções que abrigavam o comércio local, tanto de importação, como de

exportação e de varejo para o consumo local. Sabe-se que em qualquer bairro

portuário o comércio é o principal elemento/atividade na configuração do espaço

urbano. O bairro da Ribeira, não poderia fugir à regra e como tal, no final do século

XIX, o próprio governo se transfere para o local, embalado pela prosperidade do

bairro.

Neste período o Rio Potengi, ainda continuava assoreado pelas brancas

areias das dunas móveis que teimavam em mover-se rumo ao seu leito. As

embarcações que aqui chegavam, trazendo mercadorias e pessoas e daqui, levando

nossos produtos e pessoas da terra ou de outras localidades que a outras plagas

iam visitar ou retornar.

Nota-se que nele, no período compreendido entre meados do século XIX até

os anos 70 do século XX, os maiores acontecimentos, políticos, econômicos e

sociais o tiveram como palco.

A Ribeira, o bairro comercial de Natal/RN tem como moldura do seu passado,

uma formação recheada de valores como: poesia, história, arquitetura, mitos e

personagens humanos.

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Construções dos séculos XVIII e XIX se espalham por toda a antiga campina

da ribeira. Os exemplares arquitetônicos mais representativos estão localizados em

suas principais ruas iniciando-se pela Avenida Duque de Caxias, onde se encontra

os seguintes monumentos: Sede da Delegacia Fiscal, Igreja do Bom Jesus, Grande

Hotel, Associação Comercial, Casa de Januário Cicco, Junta Comercial, Teatro

Alberto Maranhão, Grupo Escolar Augusto Severo (também foi a Faculdade de

Direito) e a primeira sede da Escola Doméstica. Na Rua Chile encontra-se todo um

complexo de armazéns que serviram de desembarcadouro de mercadorias. A sede

do Governo do Estado foi para lá transferida nos primórdios da República. Na Rua

Frei Miguelinho e Dr. Barata, ainda existem remanescentes arquitetônicos, o casario

que até bem pouco tempo abrigou o mais importante comércio da cidade do Natal.

Na Tavares de Lira, que foi o corredor cultural por excelência da nossa cidade onde

se discutiam os destinos do Estado em conversas informais no Café Cova da Onça e

no carnaval desfilam os alegres corsos. Saindo daí entre a Ribeira e a Cidade Alta,

encontra-se o corredor histórico por excelência, que é a antiga Avenida Junqueira

Aires, atual Câmara Cascudo, iniciando com o prédio do Colégio Salesiano São

José, outrora residência do industrial Juvino Barreto, o prédio do jornal A República,

a residência do historiador Câmara Cascudo, o Solar Bela Vista, o Solar João

Galvão, a Capitania das Artes, o prédio da Ordem dos Advogados do Brasil/RN,

Além do seu casario, que tem relevância e significação para a nossa cidade, é

importante mencionar os homens que mais se destacaram na cena cultural, política e

econômica do estado: Luís da Câmara Cascudo, Pedro Velho, Ferreira Itajubá, Newton

Navarro, Henrique Castriciano, Aderbal de França, Erasmo Xavier, Januário Cicco.

O bairro da Ribeira, enfim, reflete através de seu patrimônio humano,

histórico, arquitetônico e de seu traçado urbano, os seus quatro séculos de história.

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2.2.1 Praça Augusto Severo

A Praça Augusto Severo nos seus tempos áureos já fora um belo jardim, uma

verdadeira obra de arte do paisagismo. Esse jardim tinha forma circular, repleta de

canteiros floridos bastante arborizados, da antiga praça existem não mais que

remanescentes.

Era entrecortada por alamedas, passeio público, canais e pontes que se

enchiam com a maré.

De acordo com Lauro Pinto (1971, p. 27), o centro da praça:

[...] possuía um grande e belo coreto de madeira, montado em base de alvenaria, sendo obra prima de marcenaria, localizado com frente para a rua das Virgens, hoje, Câmara Cascudo. A banda musical da Polícia Militar realizava sempre magníficas retretas. Havia mais outra grandiosidade: uma fonte ornamental de bronze, constante de uma bacia tendo no centro, em plano elevado, um índio estrangulando uma jibóia que jorrava água pela bôca. Esta riqueza em arte e bronze desapareceu.

Este autor ainda faz um questionamento acerca de onde se encontra uma

herma de Nísia Floresta, confeccionada em bronze, que estava depositada sobre um

pedestal de pedra polida.

A praça era um centro de socialização e desempenhava um importante papel

na vida cultural da cidade, pois no seu entrono estavam localizados o Teatro Carlos

Gomes; o maior cinema de Natal, o Cinema Politeama, que segundo Lauro Pinto,

tinha um grande salão de bilhar, outro grande espaço pintado a óleo que servia de

sala de espera e uma área livre no seu interior, que servia para arejar a sala de

projeção.

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Figura 32 – Arremedo de uma ponte na Praça Augusto Severo - 2006

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Figura 33 - Praça Augusto Severo – início do século XX

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Figura 34 - Praça Augusto Severo hoje - 2006

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2.2.1.1 Escola Doméstica

Este prédio foi construído e inaugurado no ano de 1914 para abrigar a Escola

Doméstica de Natal. Apresenta portada em arco pleno, sacada suportada por

colunas de frontão neoclássico. A iniciativa da sua construção foi de Henrique

Castriciano, que propôs criar uma escola para moças. A Escola Doméstica foi

transferida para a Avenida Hermes da Fonsêca, no bairro do Tirol, no início dos anos

cinqüenta.

Tempos depois, o prédio passou a abrigar o Instituto Nacional da Previdência

Social (INAMPS), hoje Sistema Único de Saúde (SUS).

Aparentemente está em bom estado de conservação. Tendo sido tombado

em nível estadual pela Portaria no 012/99 de 11.05.99.

Figura 35 – Vista do prédio da antiga Escola Doméstica – março/2001

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2.2.1.2 Grupo Escolar “Augusto Severo”

Edificada nos primeiros anos do século passado, na praça Augusto Severo,

261, bairro da Ribeira.

O governador Alberto Maranhão, por decreto de 29 de abril de 1908, reformou

a instituição primária e o grupo escolar construído passou a ser o primeiro no

Estado. Sua inauguração foi no dia 12 de junho de 1908, tendo sido projetado pelo

arquiteto Herculano Ramos.

Edifício de relevante interesse arquitetônico, desenvolvido em um único

pavimento, ostenta uma fachada rebuscada, de composição simétrica. Possui corpo

central com pórtico de entrada enquadrado por pilastras, valorizado por escadaria de

acesso e ladeado por duas janelas. Exibe um frontão triangular, platibanda com

ornatos e cornija em massa, arrematada por elementos de metal, jarros, águias e

estátua antropomórfica.

Em 1952 funcionou o Atheneu Norte-Riograndense e no dia 21 de abril de

1956, a Faculdade de Direito de Natal, instalada há pouco mais de um ano em uma

sala do Atheneu Norte-Riograndense, transferiu-se para o referido prédio,

permanecendo até a sua transferência para o Campus Universitário. A partir de 1974

passando então a ser ocupado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública,

tendo há pouco tempo sido devolvido ao seu guardião, a Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, estando atualmente, fechado e sem utilização.

O prédio foi tombado em nível estadual pelo Decreto no 11.201 de 07.12.91.

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Figura 36 – Vista do prédio do Grupo Escola Augusto Severo – março/2001

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2.2.1.3 Teatro Alberto Maranhão

A sua construção foi iniciada em 1898, concluída em 1904, ano de sua

inauguração, a 24 de março, pelo governador Alberto Maranhão. Em homenagem ao

grande músico da época, o Teatro recebeu o nome de Carlos Gomes. Para a época

ele surgia como um marco do progresso, tendo sido projetado pelo engenheiro José

de Berredo, e as obras ficaram a cargo do Major Teodósio Paiva.

Na concepção inicial num estilo chalé, possuía três portas enquadradas por

colunas e frontão triangular com uma escultura confeccionada por Marthrin Moreau,

escultor francês, que simbolizava a “Arte”.

Passou por diversas reformas, sendo a primeira ainda nas mãos do

governador que o havia inaugurado, em seu segundo mandato tendo sido iniciada

em 1910 e reinaugurado em 19 de julho de 1912, numa concepção do arquiteto

Herculano Ramos que do antigo prédio aproveitou apenas as paredes laterais. O

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prédio reconstruído agora possuía dois pavimentos, numa arquitetura eclética,

aonde se encontrava traços da art noveau. Passando a ter 5 portões confeccionados

em Paris, e igual número de janelas rasgadas no piso superior, guarnecidas por

guarda-corpos de ferro. A cobertura possui platibanda, com ornatos de metal (jarros

e estátua) todos importados da França.

Inicialmente a iluminação interior era de gás acetileno, sendo toda a

decoração feita pelo arquiteto Herculano Ramos.

No ano de 1957, passou a denominar-se Teatro Alberto Maranhão, uma justa

homenagem ao homem que o idealizou, sendo também neste ano, precisamente no

dia 2 de outubro, inaugurada uma inscrição com o nome “Theatro Alberto Maranhão”

no seu frontão17.

Outra reforma significativa ocorreu quando da preparação das

comemorações do seu centenário, sendo feitos vários trabalhos como: trocas de

todas as poltronas, estilização da sua área central, acabando com o jardim e

cimentando esta área, acessos para deficientes foram implementados, entre outras.

Porém, seu estilo Neoclássico sempre foi preservado.

Está tombado em nível Estadual de acordo com o Decreto no 9.300/85 do

Governo do Estado do Rio G. do Norte de 28.06.85.

17 NESI, Jeanne Fonseca Leite. Patrimônio Histórico e Artístico.In: Terra Potiguar, 1999.

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Figura 37 – Aspectos da reforma do Teatro Carlos Gomes - 1914

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Figura 38 – Vista do prédio do Teatro Alberto Maranhão – março/2001

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2.2.2 Avenida Duque de Caxias

Outrora chamada de Rua Sachet, abrigou por muito tempo a residência do

grande médico e sanitarista Dr. Januário Cicco, que após formado e recém-chegado

à sua terra, quando da conclusão do seu curso de medicina, casou-se e nos

terrenos de fundo da residência de seu pai, que ficava na Rua das Virgens, hoje

além desse nome, também recebe o de Rua Câmara Cascudo, por ali ter nascido o

historiador Luís da Câmara Cascudo.

Esta rua fazia a ligação da Cidade Alta com o parte norte da cidade, ou seja,

a própria Ribeira, o Areado (Rocas) e a Limpa (Santos Reis).

Nela está encravada a sede da Junta Comercial, fazendo esquina com a

praça Augusto Severo e ser o sentinela, que vigia diuturnamente o nosso bem maior,

onde aflora a nossa cultura (Teatro Alberto Maranhão).

Na confluência da esquina com a Avenida Tavares de Lira, está o hoje

Tribunal do Júri da Comarca de Natal, onde no segundo quarto do século XX, fora

instalado o primeiro hotel de porte na cidade do Natal, tendo sido denominado de

Grande Hotel.

Figura 39 - Avenida Duque de Caxias no século XX

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Figura 40 - Avenida Duque de Caxias hoje - 2006

2.2.2.1 Grande Hotel

Era um dos endereços mais nobres de Natal durante a Segunda Guerra.

Naquele período de nossa história, representou uma edificação de vital importância

para a cidade, tanto pelos seus arrojados traços arquitetônicos.

Inaugurado em 13 de maio de 1939, durante a gestão do governador Rafael

Fernandes, somente em setembro do mesmo ano é que veio entrar em

funcionamento, provavelmente por problemas burocráticos, quando foi arrendado ao

Sr. Theodorico Bezerra, que fixou residência com a família no próprio hotel.

Com a decretação de “estado de guerra”, Natal tornou-se conhecida como o

“Trampolim da Vitória”. Milhares de militares americanos e o pelotão da Air Force

inglesa se instalaram na base área de Parnamirim Field. Verificou-se então o

período de apogeu do Hotel, cujas instalações tornaram-se insuficientes para a

demanda, dado o grande número de americanos em trânsito ou ali morando.

Naquele período da guerra, o Grande Hotel também hospedou vários artistas

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americanos, a maioria dos quais em trânsito para a Europa. Esses artistas, em sua

curta permanência na cidade, animavam as noites dos Cassinos e Night-Clubs

Natalenses.

O Grande Hotel atravessou anos oferecendo o que havia de melhor, em

hospitalidade e diversão. A orquestra do maestro Paulo Lyra animava as noites do

hotel. Lautos banquetes oferecidos a políticos eram ali realizados com freqüência.

Bailes carnavalescos lotavam as suas amplas dependências.

Assim “reinou” o Grande Hotel, como o melhor, para não dizer, o único hotel

da cidade, por mais de vinte anos.

Em 1965, o Hotel Reis Magos, construído na praia dos Artistas, passou a

disputar com o Grande do Hotel a preferência da clientela. Veio então o “boom”

turísticos de Natal, com a proliferação de dezenas de novos hotéis, construídos em

pontos mais atraentes da cidade, o que afastou os hóspedes da Ribeira. O prédio foi

tombado em 06 de dezembro de 1991, e o que foi modelo em hospedagem e

nobreza na Ribeira de muitos anos atrás é hoje repartição do Poder Judiciário

Natalense. Há seis anos, o prédio abriga o Tribunal do Júri da Comarca de Natal.

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Figura 41 – Vista do prédio do Grande Hotel – maio/2006

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Continuando a perscrutar a Avenida Duque de Caixas, vamos encontrar na

esquina com a Esplanada Silva Jardim, outro belo exemplo da arquitetura potiguar.

É o prédio do Ministério da Fazenda, rebuscado de cornijas e no seu frontão colunas

aparentes, no estilo gótico dão charme e elegância.

2.2.3 Avenida Tavares de Lira

Figura 42 - Av. Tavares de Lira - início do século XX

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Figura 43 - Av. Tavares de Lira hoje – maio/2006

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Figura 44 – Avenida Tavares de Lira, vendo-se ao fundo o Cais de mesmo nome – fevereiro de 2006.

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Segundo Cascudo, que nascera na Ribeira, a Avenida Tavares de Lira,

originalmente iniciava-se na Praça José da Penha (Igreja do Bom Jesus) indo até a

Rua Dr. Barata, daí até o cais, a rua não era aberta, existia um beco cimentado que

era denominado de Beco de José Lucas, mas vulgarmente conhecido como o “Beco

do Mijo”18.

Figura 45– Residência e comércio da família Martins – esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata - 2004

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18 CASUDO, Luis da Câmara. O Livro das Velhas Figuras. vol IX, Natal, 2005.

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No trecho inicial, compunha a paisagem várias residências, dentre elas a do

capelão do Exército, o Padre Constâncio. A República funcionou por muitos anos

nessa residência.

Ainda de acordo com Cascudo, a rua apresentava belos exemplares de

mongubeiras frondosas que davam sombras. Diante de uma delas fora instalado o

Café Abolicionista, depois chamado de Café Socialista, de onde saíam boêmios para

fazer suas serenatas. Nos anos 30 do século XX, foram replantadas novas árvores,

agora pés de fícus, que também desapareceram.

O cais Tavares de Lira em 1869 recebera o nome de Cais 10 de junho, no

entanto, era conhecido como Cais Pedro de Barros – Presidente da Província, que

fizera seus melhoramentos. Quando a república foi proclamada, o cais passou a se

chamar Praça Marechal Deodoro. Em 1904, através da Resolução no 97 de

27.12.1904, novamente seu nome foi mudado, passando a chamar-se Cais e Praça

Augusto Lira, em homenagem ao governante do Estado; em 1908, o nome foi

realinhado para Avenida Tavares de Lira, que permanece até os dias atuais19.

Esta avenida representa o que houve de moderno e charme na Natal do início

do século passado. Todos os grandes eventos sociais aqui aconteciam, desde

discussões sobre política, até os monumentais desfiles de carnaval. No início dela,

beirando o rio Potengi, se localizava o caís da cidade, que segundo Lauro Pinto

(1971) tanto o cais como a rua recebera esse nome no governo de Alberto

Maranhão.

Nela por muito tempo, funcionou o café chamado de “Cova da Onça”. Ainda

de acordo com Lauro Pinto (1971, p. 31), ele nos informa que este café, fora por

muito tempo o:

19 Ibidem.

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Quartel General do Partido Popular, depois UDN [...] ali se reuniam os políticos e adeptos dos chefes políticos, entre eles: José Augusto Bezerra de Medeiros e Rafael Fernandes, que das sete horas da manhã até às dezoito horas discutiam, confabulavam, faziam prévias eleitorais, elaboravam minutas de telegramas e resolviam todos os assuntos políticos.

Ele também informa que a bebida servida (quase única) era o “cafezinho”,

que se consumia em grande quantidade.

2.2.4 Rua Chile

Figura 46 - Rua Chile – início do século XX

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Figura 47 – Vista Rua Chile entre a Tavares de Lira e Trav Aureliano - maio/2006

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É paralela ao rio Potengi, sendo a primeira e bem próxima a ele.

Originalmente chamava-se Rua do Comércio, depois Tarquínio de Souza, segundo

nos revela Cascudo (1999, p. 186), sendo ela a de maior fluxo de pessoas, que iam

e vinham transportando mercadorias vindas do cais e daí para o resto da cidade.

Nela se concentra os grandes armazéns que abrigavam as mercadorias que

daqui partiam para outros Estados ou para o exterior e as que aqui chegam vindas

dos mais diferentes pontos do país e do mundo.

Os maiores exportadores, os grandes comerciantes e as indústrias ali

mantinham suas instalações.

A rua teve uma importância tão grande que o governo aqui fez sua morada

por um longo período. No trecho que vai da Travessa Aureliano até a Esplanada

Silva Jardim, no no 232, ficava a Alfândega, hoje abriga a Capitania dos Portos, nos

demais – escritório da firma Cirne – Companhia Industrial do Rio Grande do Norte,

com sede em Macau (sal); firma João Galvão & Cia (ramo de tecidos no atacado); a

empresa Wharton Pedrosa (compra e beneficiamento e exportação de algodão); o

Departamento do Correio e Telégrafos, continua ocupando um dos prédios dessa

rua; na Pesca Alto Mar, funcionou as empresas por ordem cronológica Julius Von

Shosten & Cia, depois a firma Lafaiete Lucena & Cias, depois a firma Anderson

Clayton S/A, em seguida a firma Exportadora Dinarte Mariz, sendo depois transferida

para à Cook & Cia.; na esquina com a Tavares de Lira, ficava o Hotel Internacional,

hoje ocupado pela Construtora ECOCIL; uma fábrica de bebidas da firma M.

Machado & Cia; a firma M. Martins & Cia (comércio); Comercial José Lucena (ramo

de construção) ainda permanece em atividade do bairro do Alecrim e Lagoa Nova; a

firma Faria & Pinheiro (distribuição de automóveis), sendo logo desativada passando

a funcionar em seu lugar a firma Afonso Rique & Cia (venda de estivas em atacado);

o escritório da firma Mesquita & Cia (representantes do Moinho Santista, Texaco

Co., Farinha de Trigo e Querosene, gasolina, óleos, sendo também representantes

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da navegação Pereira Carneiro Comércio e Navegação S/A); Prédios dos Sport

Náutico Potengi e Centro Náutico, tantas e tantas outras. Vai-se elencar em

especial, como representante de todos os outros prédios o “Wonder Bar”20

2.2.4.1 – Wonder Bar

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Figura 48 – Sobrado da Rua Chile, no

106 – maio/2006

Antigo sobrado que pertencia a Domingos Henrique de Oliveira, comerciante

de grandes posses, que alugou ao Presidente da Província, tendo assinado o

20 ANDRADE, Júlio César de. Comerciantes e firmas da Ribeira (1924-1989). Natal, 1989, p. 46-49.

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contrato no dia 25 de maio de 1869, pelo valor de 2:000$ anuais, e com promessa

de venda pelo valor de 35:000$, porém, essa compra nunca de concretizou.

No andar térreo, servia para a administração da província e o andar superior,

como residência do presidente.

O governo morou e trabalhou ali por trinta e três anos, quando o Governador

Alberto Maranhão no dia 10 de março de 1902, já despachara no Palácio do

Tesouro (Palácio do Governo) na Cidade Alta.

Após a desocupação pelo governo, o prédio foi vendido a uma firma comercial

chamada de Tasso & Irmão (Recife) pelo valor de 30:000$000, depois o ex-

presidente que fora deposto em 1981, Miguel Castro, comprou este casarão.

Passou a funcionar nele o Wonder Bar, cabaré para onde emergiam os

homens da cidade. Manteve essa atividade até os fins dos anos 80, quando a

Ribeira entrou em processo de declínio21.

Foi restaurado, estando em ótimas condições, após quase ter ido abaixo, tal o

processo de deteorização que se encontrada. Até bem pouco tempo funcionou o

Museu de Arte Popular.

Tombado em nível Estadual, Portaria no 444/89 de 30.08.89.

21 CASCUDO, Luis da Câmara. História da Cidade do Natal. 1999, p. 185-187.

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2.2.5 Rua Frei Miguelinho

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Figura 49 - Rua Frei Miguelinho – início do século XX

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igura 50 – Vista do início da Rua Frei Miguelinho na Esplanada Silva F

Jardim – fevereiro/2006.

Paralela a Rua Chile, sendo a segunda após o rio Potengi, tendo seu início na

confluência com a Esplanada Silva Jardim, como as outras ruas do bairro, durante

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os meados do século XIX até os anos 70 do século XX, viveu intensamente e por ela

transitavam, comerciantes, compradores, a elite social e política de Natal.

Era chamada de Rua 13 de maio, tendo depois recebido o nome de Rua Frei

Miguelinho, quando o correto seria Padre Miguelinho em homenagem ao filho do

dono do sítio quer compreendia o lado esquerdo da rua.

Nela foram instaladas diversas organizações comerciais de grande

importância para a vida da cidade do Natal.

Passar-se-á elencar algumas empresas que ali estavam instaladas e outras

que ainda teimam em dar vida à rua.

Iniciar-se-á pelo primeiro prédio de no 2, iniciado com a firma mercantil Martins

Irmãos & Cia que até hoje mantém suas portas abertas. Na outra esquina, funcionou

os escritórios das Obras do Porto de Natal, atualmente, serve de abrigo ao Sindicato

dos Arrumadores do Porto.

Nela funcionou vários escritórios de representações, sendo os mais

importantes os de Ruy Paiva Ltda, Miguel Carrilho & Cia, Teixeira & Filhos, Danúbio

Representações, J. A. Maia & Cia, Carlos Dumaresq Comércio e Representações

Ltda, Trigueiro & Cia, Severo Gomes & Cia.

Armazéns de cereais de: Durval Porpino, José Maurício de Souza, a

Comercial Mário Lima, João Francisco de Oliveira, João G. Alcoforado, Clemente de

Carvalho e Silva, dentre outros. Oficinas de niquelação de Mário G. Alcoforado,

O Banco do Estado de São Paulo teve sua sede inicial nesta rua, sendo

depois transferida para a Rio Branco na Cidade Alta; a Casa Bancária Norte-

Riograndense, depois passado para o controle do ex-Banco do Estado do Rio

Grande do Norte.

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Nela tiveram bares e mercearias, bem como perfumarias, sendo as mais

importantes a Perfumaria Minerva de propriedade de Higino Aguiar e a O. Barbosa

de responsabilidade do italiano Domingos Dandréa.

Além das empresas acima mencionadas é importante mencionar que a firma

Comercial José Lucena, teve sua origem na Rua Frei Miguelinho, depois expandido

suas filiais para o Bairro do Alecrim e mais recentemente abriu mais uma filial no

bairro de Lagoa Nova.

Nela funcionou por muito tempo a alfaiataria de Joca Lira, figura de grande

relevância para a história dessa rua.

Importante registrar também, que várias personalidades da sociedade local,

ali residiam, como: Hermógenes de Medeiros (dono de um açougue na esquina com

o Beco da Quarentena), o professor Tertuliano Pinheiro, Pedro Duarte (despachante

aduaneiro), Osmínio Barroca (gerente da Singer MachineCo.), Herculano Barbalho

(comerciante na Rua Dr. Barata e depois representante comercial na Rua Nísia

Floresta, de quem o autor desta obra foi seu empregado nos anos 65/67), Dra.

Letícia Cerqueira Eugênio e outras.22

22 ANDRADE, Júlio César de. Comerciantes e firmas da Ribeira (1924-1989). Natal, 1989, p. 32-42.

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2.2.6 Rua Dr. Barata

Figura 51 - Rua Dr. Barata da Tavares de Lira para a Praça Augusto Severo – início do século XX

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Figura 52 – Rua Dr. Barata – fevereiro/2006

Nos fins do século XVIII esta se chamava Rua Correia Teles, só tempos

depois passou a denominar-se Rua Dr. Barata, em homenagem ao cirurgião baiano,

que formou-se na Universidade de Coimbra em Portugal por nome de Dr. Cipriano

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José Barata de Almeida, que a pedido de amigos, para cá veio trabalhar, isto

aconteceu no período de 1837 a 1838, sendo um brilhante orador e militante político,

tendo lecionado a disciplina francês no Atheneu Norte-riograndense e clinicado nos

bairros da Cidade Alta e Ribeira (na rua que recebe o seu nome), tendo falecido no

dia primeiro de junho de 183823.

Por ela toda a elite social da cidade do Natal, transitava, principalmente aos

sábados à tarde, quando o comércio abria as portas.

Segundo Júlio César (1989) era onde se localizava o que havia de chique na

cidade, pois nela ficavam casas de moda tanto masculina, como feminina.

Desfilavam por suas calçadas figuras ilustres da política, da sociedade e de

visitantes que por aqui aportavam, principalmente no período da II Guerra Mundial.

Ainda de acordo com o levantamento feito por Júlio César (1989), as

principais lojas eram: Galvão & Cia. (comércio de ferragens); Café Globo de

propriedade de Luiz de Barros; Livraria e Papelaria do Sr. João Argílio que depois

transferiu para Ismael Pereira que repassou para seu filho Walter Pereira, que

montou uma filial da Cidade Alta, continuando com a matriz nesta rua, porém há

pouco tempo, foi desativada; a mais chic alfaiataria da cidade, por nome de

Alfaiataria Brasil (especializada em fardamento militar, mas atendia a civis);

alfaiatarias de Joca Lira, Pelino Matos e Chico Noronha; a firma José Farache &

Filhos, grande loja de calçados e chapéus; artigos esportivos, instrumentos musicais,

eram vendidos pelo Carlos Lamas e seu irmão Salvador Lamas tinha outra firma por

nome de Mercantil Valparaíso; A Caixa Rural e Operária de Natal, administrada por

Ulisses de Góis; Casa Lux, com venda de material elétrico; várias farmácias

funcionaram nessa rua: a Farmácia de Dr. Leonel Freire, Farmácia e Drogaria

23 PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL. Circuito Histórico, Turístico e Cultural de Natal, 2003.

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Ferreira de João Alves Ferreira; Farmácia Monteiro, de J. G. da Maia Monteiro,

Farmácia Santa Cruz de José Pedro Bezerra, Farmácia e Drogaria Brasil, tendo

passado por várias mãos, sendo o último J. Cabral Fagundes, Farmácia de J.

Fassanaro Pepino; loja de ferragens por nome de Galvão Mesquita Ferragens que

até hoje se mantém em pé; Casa Lux, com venda de material elétrico; tipografia

Augusto Leite, cujo proprietário que emprestara o nome; a firma Tobias Palatinick &

Irmãos, de família judia, com fabricação e móveis e moisacos, nos fundos das lojas

que davam para a Rua Chile; joalheria de Samuel de Góis: Casa Rubi, na venda de

calçados, e tantas outras24.

Merece registro especial dois prédios, tanto pelo seu uso, como pelo seu

abandono.

2.2.6.1 Livraria Cosmopolita

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Figura 53 – Livraria Cosmopolita – 2006

24 ANDRADE, Júlio César de. Comerciantes e firmas da Ribeira (1924-1989). Natal, 1989, p. 69-82.

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O Primeiro é o no 184, onde inicialmente funcionou o Banco de Natal e depois

a Livraria Cosmopolita, de propriedade de Fortunato Aranha, ponto de encontro de

intelectuais presidida por Nestor dos Santos Lima, que a ela recorriam na busca de

novos saberes e de políticos nos finais das tardes. Foi seu assíduo freqüentador o

governador Rafael Fernandes25.

Hoje é triste em ver aquele belo exemplar de arquitetura, estar

completamente em ruínas, sem que se encontrem soluções para que não se perca

este remanescente histórico.

2.2.6.2 A Samaritana

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Figura 54 – A Samaritana – fevereiro/2006

25 PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL. Circuito Histórico, Turístico e Cultural de Natal, 2003.

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O segundo prédio que se encontra em abandono total, podendo a qualquer

chuva mais forte vir a abaixo, e com ele todo um passado de glória e de glamour

vivido nos áureos tempos da nossa querida Ribeira.

Pertenceu a família Farache, que tinha a firma José Farache & Filhos, com

uma grande loja de calçados, chapéus, etc., com seus três filhos Antonio, Carlos e

Vicente, sendo este último apaixonado pelo ABC Futebol Clube, tendo um certo

tempo, colocado os escritório do time nessas dependências, ao morrer, deixou um

grande patrimônio para o clube do seu coração.

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3 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO SOLUÇÃO DE CONSCIENTIZAÇÃO

Diante do assunto apresentado no capítulo anterior, é importante tentar-se

encontrar soluções para uma convivência harmoniosa entre o velho e o novo, entre

o passado e o presente e acima de tudo a real necessidade de se conscientizar as

atuais e novas camadas populacionais no sentido de preservar, cultuar e admirar

seus bens patrimoniais, porque como se diz popularmente: uma cidade sem

memória é uma cidade sem história.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – 1997 e 1998,

para o ensino de história, contempla a educação patrimonial como parte integrante

dos assuntos a serem abordados. Os Parâmetros são referências para reorientação

curricular e constituem o eixo norteador da política educacional no país. A questão

da memória é uma das qualidades do documento, com a incorporação das histórias

locais e no interior delas a educação patrimonial. Isto ocorreu como resultado da luta

dos professores que participaram da sua elaboração. Os conteúdos obrigatórios

para o primeiro ciclo do ensino fundamental, por exemplo, o eixo temático é a

história local e do cotidiano. Sendo o professor orientado a enfocar de preferência as

histórias da localidade do aluno, tendo como objetivo principal o estudo da história

local no sentido de ampliar a capacidade do aluno de observar o seu entorno com

isso compreendendo as relações sociais existentes no seu próprio tempo.

Hoje se valoriza o novo, o amanhã, o futuro, anulando dessa forma a

dimensão do tempo e um enfraquecimento do passado e do presente. Com a

educação patrimonial as relações sociais e econômicas que deram origem a lugares,

monumentos, símbolos com os quais convivemos, passarão a fazer parte na

instrumentalização de novos conceitos. Sendo ampliado o conceito de patrimônio,

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além dos monumentos arquitetônicos, trazendo à tona histórias de vida. Esse

contato com o patrimônio, deve ser feito partindo do presente, de modo a trazer

contribuições para nossa vida de hoje. Com a educação patrimonial tem-se como

resultado prático o alargamento de nossas concepções de vida, incluindo as

diferenças. É notório que as cidades possuem espaços onde a maioria da população

não têm acesso, como esses espaços fossem isolados por uma cortina impeditiva de

penetração. O direito de ir e vir do cidadão, inclui o de questionar o caráter público

que a gente vem imprimindo às nossas relações hoje, caráter este que no fundo não

é público, é privado. Segundo Bovério “apesar dos avanços presentes nos PCNs, na

prática de educação patrimonial nas escolas ainda prevalece uma visão que tenta

modelar, instruir o aluno de cima para baixo, desqualificando os saberes tradicionais

e sua experiência de vida”26.

De acordo com Maria de Lourdes Parreiras Horta, ela define a Educação

Patrimonial como sendo:

Um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Isto significa tomar os objetos e expressões do Patrimônio Cultural como ponto de partida para a atividade pedagógica, observando-os questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos me conceitos e conhecimentos. Só após esta exploração direta dos fenômenos culturais, tomados como ‘pistas’ ou ‘indícios’ para a investigação, se recorrerá então as chamadas ‘fontes secundárias’, isto é, os livros e textos que poderão ampliar esse conhecimento e os dados observados e investigados diretamente. [...] o trabalho da Educação Patrimonial buscar levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos.27

26 http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/ep/tetxt1.htm - acessado em 24.2.06. 27 Ibid.

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Adiante ela ainda afirma:

O aprendizado desse método investigatório é uma das primeiras capacitações que se pode estimular nos alunos, no processo educacional, desenvolvendo suas habilidades de observação, de análise crítica, de comparação e dedução, de formulação de hipóteses e de solução de problemas colocados pelos fatos e fenômenos observados28.

Quando o indivíduo ou a comunidade adquire conhecimento crítico e se

apropria com consciência do seu patrimônio, eles estarão aptos a atuarem no

processo de preservação sustentável desses bens, bem como, de impregnarem de

sentimentos de cidadania e com identidade própria, isto levando-se em

consideração que patrimônio significa, como algo herdado de nossos pais e

ancestrais. Portanto, para que se considere como nossa, é necessário que a

conheçamos profundamente e tenhamos certeza que nos pertence, para assim,

deixarmos como legado para as futuras gerações.

Maria de Lourdes Parreiras Horta, muito bem define Educação Patrimonial,

dizendo que:

A Educação Patrimonial pode ser assim um instrumento de ‘alfabetização cultural’ que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao desenvolvimento da auto-estima dos indivíduos e comunidades, e à valorização de sua cultura, como propõe Paulo Freire em sua idéia de ‘empowerment’, de reforço e capacitação para o exercício da auto-afirmação.29

Segundo o trabalho da autora acima, a Educação Patrimonial tem uma

metodologia específica, podendo ser aplicada a qualquer material ou manifestação

28 Ibidem. 29 Ibidem.

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de cultura, podendo ser monumentos, sítios históricos ou arqueológicos, paisagens

naturais, parque ou área de proteção ambiental, centros históricos urbanos ou rurais,

manifestações populares de caráter folclórico ou ritual, saberes populares, dentre

outros. O importante é que a Educação Patrimonial pode ser aplicada como método

em todas as disciplinas, tendo, portanto, um caráter transdisciplinar.

A Educação Patrimonial tem como objetivo induzir a situações de

aprendizado, a partir de manifestações culturais, despertando no aluno o interesse

em solucionar situações próprias e/ou coletiva.

Para induzir o alunado a ter consciência do valor do patrimônio do seu

entorno, pode-se utilizar como metodologia conforme a seguir, proposta por Maria de

Lourdes Parreiras Horta30, podendo ser enriquecidas e inovadas pelos professores:

Etapas Recursos / Atividades Objetivos 1) Observação exercícios de percepção/sensorial, por

meio de perguntas, manipulação de objetos, medição, anotações, dedução, comparação, jogos de detetive, etc.

identificação do objeto; função/significado; de-senvolvimento da perce-pção visual e simbólica.

2) Registro desenhos, descrição verbal ou escrita, gráficos, fotografias, maquetes, mapas e plantas baixas, modelagem, etc.

fixação do conhecimento percebido, aprofunda-mento da análise crítica; desenvolvimento da me-mória, pensamento lógi-co, intuitivo e operacional.

3) Exploração análise do problema, levantamento de hipóteses, discussão questionamento, avaliação pesquisa em outras fontes como bibliotecas, arquivos, cartórios, documentos familiares, jornais, revistas, entrevistas, etc.

desenvolvimento das ca-pacidades de análise e julgamento crítico, inter-pretação das evidências e significados.

4) Apropriação recriação, releitura, dramatização, interpretação em diferentes meio de expressão, como a pintura, escultura, drama, dança, música, poesia, texto, filme e vídeo, exposição em classe.

envolvimento afetivo, in-ternalização, desenvol-vimento da capacidade de auto-expressão, apro-priação, participação cria-tiva, valorização do bem cultural.

30 Museóloga, Doutora em Museologia pela Universidade de Leicester, UK. Diretora do Museu Imperial, IPHAN, Ministério da Cultura.

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Ela alerta para a necessidade do professor procurar antes, estudar e

conhecer o tema a ser tratado. Definir os objetivos educacionais e os resultados

pretendidos. Verificar quais outras disciplinas, além a de História poderiam estar

envolvidas na exploração do tema.

Chegou à hora do professor, deixar a sala de aula, levando seus alunos em

aulas-passeio, aos locais que representam a cultura da comunidade, da sociedade e

do entorno onde vivem. Com isto, com certeza a preservação da memória local,

passará a ter novos e intransigentes aliados.

Com isto, um grande passo será dado, no sentido de incutir na criança, e por

não dizer, na comunidade em geral, na criação de vínculos afetivos e históricos com

o seu passado, conscientizando-o na preservação, para que futuras gerações se

apropriem e usufruam o bem comum.

A Educação Patrimonial está sendo vista como solução para a conservação

dos bens culturais, sejam eles material ou imaterial, para tanto o Ministério da

Cultura, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),

neste ano de 2006 escolheu o Estado do Maranhão para dar início a um projeto

piloto reunindo, numa parceria inédita, com o Ministério da Educação, o Ministério do

Turismo, as Secretarias de Turismo e Educação do Maranhão, as secretarias de

Educação e Turismo da cidade de São Luís e ainda duas universidades, a

Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e a Universidade Federal do Maranhão

(UFMA).

Este projeto tem como objetivo incluir como tema transversal nas escolas do

Maranhão a Educação Patrimonial, e em seguida levá-la aos outros estados da

federação31.

31 Revista Virtual do IPHAN, n.3, jan/fev./2006, http://www.revista.iphan.gov.br/secao.php?id=1&ds=17 – acessado em 27.04.06.

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Segundo a reportagem apresentada na revista do IPHAN, quando interrogado

a respeito sobre o assunto, o gerente de educação patrimonial e projetos do Iphan

Tadeu Gonçalves diz:

O projeto vem atender uma demanda relacionada com turismo, meio ambiente e educação. Todas as áreas pretendiam desenvolver projetos nas escolas para sensibilizar a comunidade sobre as questões ligadas à preservação do patrimônio e do meio ambiente e seu aproveitamento para o turismo. Diante disso, decidimos reunir os esforços e otimizar os recursos num projeto único que atendesse a todos [...] a cidade de São Luís possui um grande potencial para o projeto por causa do seu alto volume de turismo relacionado tanto com o meio ambiente quanto com seu patrimônio arquitetônico, tombado pela Unesco, e imaterial32.

Ele continua dizendo:

Projetos de educação patrimonial como esse são muito mais eficazes do que uma campanha publicitária, por exemplo. [...]. A educação patrimonial deve gerar multiplicadores e a escola é o canal mais efetivo para isso, porque envolve professores que repassam seu conhecimento para os alunos, que repassam o que aprenderam para suas famílias e para a comunidade, possibilitando alcançar grande número de pessoas.33

Espera-se sinceramente que as escolas do no Estado, sejam elas privadas ou

públicas (estaduais e municipais), incluam em seus currículos a Educação

Patrimonial como ponto de partida para a formação de cidadãos críticos e

conscientes de que possuem uma identidade cultural, preservando-a e tendo

orgulho de dizer eu sou potiguar.

32 Ibid. 33 Ibidem.

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Sigamos o exemplo da Escola Estadual Gregório Manuel de Bem que fica na

cidade de Laguna, Santa Catarina, que há seis anos já desenvolve projetos de

Educação Patrimonial.34

Esta é apenas um exemplo, recentemente um projeto está sendo

desenvolvido em São Luiz do Maranhão, com o intuito de servir de modelo para o

restante do país. Antecipemo-nos, façamos o nosso próprio projeto.

34 http://www.revista.iphan.gov.br/secao.php?id=1&ds=17 – acessado em 27.04.06.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Natal teve a primazia de já ter nascido cidade. Pequenina inicialmente,

continuando provinciana por longo período. Na segunda metade do século XIX,

devido principalmente ao seu desenvolvimento econômico, a Cidade passa por

transformações em sua estrutura. Entretanto observamos que no advento da

Segunda Guerra Mundial, milhares de estrangeiros – principalmente americanos –

chegam aqui, fincaram raízes, modificando sistematicamente nossos usos e

costumes.

A Natal de outrora, está se apagando, ficando apenas no papel, nos retratos

de nossos ilustres “retratistas”, como Jaeci Emerenciano, que através de suas

lentes, tem imortalizado nossos áureos tempos, bem como outros poucos

profissionais.

Foi no alto da colina, depois denominada de Cidade Alta, que a cidade foi

fundada em fins do século XVI, seguindo o rito de demarcação com cruzeiros. A

Cidade Alta foi o primeiro bairro da cidade de Natal, guarda em alguns de seus

remanescentes arquitetônicos, partes importantes de nossa história.

O bairro da Ribeira já teve, como nos lembra Lauro Pinto, um verdadeiro

“Jardim do Éden”, retomando a sua inspiração original. Atualmente no espaço do

antigo jardim, vê-se apenas um arremedo. Sem o glamour e o charme de épocas

passadas, restando dessa época importantes remanescentes arquitetônicos. A

dinâmica urbana e o “progresso” ameaçam ainda estes remanescentes.

O progresso é altamente importante para qualquer comunidade, povoado,

cidade, ou nação, no entanto, deve-se ter o cuidado de se buscar uma convivência

harmônica entre o “velho” com o “novo”, pois, é através das manifestações do

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passado que se consegue dar continuidade e formar uma identidade cultural de um

povo.

Na pesquisa de campo para a documentação dos remanescentes históricos

urbanos da Cidade Alta e Ribeira, foi constatado que muitos destes remanescentes

estão ameaçados de desaparecimento.

Constata-se que este fato é devido a vários fatores, mas os principais estão

relacionados à inoperância das instituições de tutela do patrimônio cultural, não

cumprimento da legislação de proteção aos bens culturais, inexistência de

levantamentos e estudos para tombamento, e, principalmente falta de investimentos

na recuperação física destes remanescentes arquitetônicos.

Um componente importante no processo de perda destes remanescentes é a

falta de consciência do valor destes bens por parte dos agentes sociais, ou mais

genericamente da população.

Conclui-se que, através da Educação Patrimonial estará se investindo na formação

de agentes multiplicadores que terão condições de influírem nos processos

decisórios que podem condenar os bens culturais ao desaparecimento ou os

resgatarem do esquecimento.

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C117p Cabral, Iericê Duarte.

Patrimônio histórico da cidade do Natal – Cidade Alta e Ribeira / Iericê Duarte Cabral. – Natal, 2006.

94f.

Monografia (Especialização em História do Rio Grande do Norte) Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.

1. História do Rio Grande do Norte – Monografia.

2. Patrimônio Histórico – Monografia. 3. Patrimônio Arquitetônico – Monografia. I. Título.

RN/UNP/BCFP CDU:94(813.2)(043)