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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO
PLANETA MTV BRASIL. “O FENÔMENO DOS VJS E A IMAGEM DAS
TRIBOS URBANAS: Estudo das Formas Expressivas dos Figurinos e dos Cenários”
EDILMA FERREIRA DE QUEIRÓZ LOPEZ SALAMANCA
Dissertação Apresentada ao Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP. ___________________________
São Paulo / SP
2006
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2
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO
PLANETA MTV BRASIL. “O FENÔMENO DOS VJS E A IMAGEM DAS
TRIBOS URBANAS: Estudo das Formas Expressivas dos Figurinos e dos Cenários”
EDILMA FERREIRA DE QUEIRÓZ LOPEZ SALAMANCA
Dissertação Apresentada ao Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Paulista - UNIP, sob orientação da Prof (a). Dr (a).Solange Wajnman. _______________________________
São Paulo / SP
2006
3
Salamanca, Edilma Ferreira de Queiróz Lopez
Planeta MTV Brasil : O fenômeno dos VJs e a identificação da imagem das tribos urbanas através dos figurinos e dos cenários / Edilma Ferreira de Queiróz Lopez Salamanca. – São Paulo, 2006.
120 f. Contém Cd-rom. Dissertação ( Mestrado ) – Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2006. Área de Concentração: Comunicação e Cultura Midiática.
“Orientação: Profª. Drª. Solange Wajnman” 1. MTV. 2. Televisão. 3. Segmento jovem. 4. Materialidade da comunicação. 5. Cultura midiática. I.Título.
4
Para
Wilma,
Florian,
Enilma,
Ednéa,
e Fernanda
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha orientadora, Profª. Drª. Solange Wajnman, que entendeu
minhas propostas, me deu todas as diretrizes para chegar até aqui, e me abriu
portas preciosas. A minha mãe Wilma, que construiu as bases do ser humano
que sou. Ao meu marido Florian, companheiro de todas as horas. As minhas
irmãs Enilma e Ednéa e a minha sobrinha Fernanda pelo apoio. As minhas
amigas Ana Paula, Marta e Vânia, pelo apoio, amizade e colaboração
incontestáveis. Ao coordenador Profº. Dr. Antônio Adami e aos professores do
mestrado que me revelaram outras formas de ver o mundo. Ao diretor geral da
MTV Brasil André Mantovani. A Profª. Drª. Ana Claudia Mei de Oliveira e a
Profª. Drª. Carla Reis Longhi, que me apontaram caminhos na banca de
qualificação. A Profª. Drª Rosana Soares por ter aceitado o convite para minha
defesa, e a todas as pessoas que de forma direta ou indireta colaboraram para
que este trabalho fosse concluído.
6
SUMÁRIO
RESUMO...........................................................................................................12
ABSTRACT........................................................................................................15
INTRODUÇÃO...................................................................................................18
1. CAPITULO I - Nexos e conexões: MTV Brasil e a década de 90..................24
1.1. MTV Brasil: Breve histórico......................................................................24
1.2. A década de 90 e a perpetração da juventude........................................28
1.2.1. Juventude na política.........................................................................28
1.2.2. A TV Brasileira e a cultura jovem.......................................................35
1.2.3. A democratização da moda, as celebridades, e a ampliação do
limite de juventude...............................................................................40
1.2.3.1. As celebridades da comunidade estética.......................................42
1.2.3.2. O rejuvenescimento da imagem das grifes de moda, e a estética
das tribos urbanas............................................................................44
1.3. Considerações finais do capítulo ............................................................52
2. CAPITULO II - VJs: Imagem e Identificação..................................................56
2.1. Os VJs e suas intervenções....................................................................56
2.2. Imagem e Identificação limitada..............................................................65
2.3. VJs, Figurinos, Cenários e Tribos Urbanas.............................................71
2.4. Considerações finais do capítulo.............................................................78
7
3. CAPÍTULO III - O ser e o parecer jovem: Descrição e análise das imagens
dos VJs da MTV Brasil, em diferentes momentos de
atuação................................................................................80
3.1. Introdução................................................................................................80
3.1.1Penélope Nova......................................................................................81
3.1.2.Edgard Picolli........................................................................................88
3.1.3.Didi Wagner..........................................................................................91
3.1.4.Carla Lamarca......................................................................................96
3.1.5.Thaíde...................................................................................................99
3.1.6.Daniella Cicarelli.................................................................................102
3.1.7.João Gordo.........................................................................................109
3.1.8.Sarah Oliveira.....................................................................................115
3.1.9. Rafael Losso......................................................................................118
3.1.10.Cazé Pecini.......................................................................................121
3.1.11. Léo Madeira.....................................................................................125
3.1.12. Marina Person..................................................................................127
3.1.13. Marcos Mion....................................................................................131
3.2. Considerações finais do capítulo..............................................................136
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................138
GLOSSÁRIO....................................................................................................147
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................153
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Luis Inácio Lula da Silva.................................................................30
Figura 2 - Fernando Collor de Mello ................................................................30
Figura 3 - Passeata dos “caras pintadas”........................................................34
Figura 4 - Votação do impeachment no congresso........................................34
Figura 5 - Ayrton Senna da Silva.....................................................................38
Figura 6 - Capa da revista Vogue America......................................................43
Figura 7 - John Galliano para Christian Dior……………………………………..46
Figura 8 - John Galliano para Christian Dior……………………………………..46
Figura 9 - Criação de Jean Paul Gaultier.........................................................47
Figura 10 - Madonna na turnê Blonde Ambition................................................47
Figura 11 - Cartaz do festival de Woodstock....................................................48
Figura 12 - Cena da platéia do festival de Woodstock......................................48
Figura 13 - O grupo Nirvana com seu vocalista à frente Kurt Cobain...............50
Figura 14 - Editorial da Revista Vogue com tendências Grunge na moda das
passarelas..........................................................................................................50
Figura 15 - Ru Paul André Charles....................................................................51
Figura 16 - Desenho animado japonês..............................................................51
Figura 17 - VJs MTV USA……………………………………………………...…...57
Figura 18 - VJs. MTV Brasil...............................................................................57
Figura 19 - Página sobre os VJs da MTV Brasil................................................60
Figura 20 - Mega Liga dos VJs Paladinos.........................................................63
Figura 21 - Fudêncio..........................................................................................64
Figura 22 - Cazé Pecini.....................................................................................66
Figura 23 - Marcos Mion....................................................................................68
9
Figura 24 - Marcos Mion....................................................................................68
Figura 25 - Daniella no cenário do Beija Sapo..................................................72
Figura 26 - VJs da MTV Brasil...........................................................................73
Figura 27 - Daniella Cicarelli..............................................................................75
Figura 28 - Platéia do programa Dance o Clipe.................................................75
Figura 29 - Didi Wagner.....................................................................................76
Figura 30 - Marina Person.................................................................................76
Figura 31 - A cantora Sandy e Sarah Oliveira...................................................76
Figura 32 - Leo Madeira.....................................................................................77
Figura 33 - Edgard Picolli...................................................................................77
Figura 34 - Cazé Pecini.....................................................................................77
Figura 27 - Penélope Nova................................................................................83
Figura 28 - Penélope Nova................................................................................84
Figura 29 - Penélope Nova................................................................................85
Figura 30 - Penélope Nova................................................................................85
Figura 31 - Penélope Nova................................................................................86
Figura 32 - Penélope Nova na “Mega Liga dos VJs Paladinos”........................87
Figura 33 - Edgar Picolli e Rafael Losso............................................................89
Figura 34 - Edgar Picolli.....................................................................................90
Figura 35 - Edgar Picolli na “Mega Liga dos VJs Paladinos”.............................90
Figura 36 - Didi Wagner.....................................................................................92
Figura 37 - Didi Wagner.....................................................................................93
Figura 38 - Didi Wagner no programa “VideoClash” ..........................................94
Figura 39 - Didi Wagner caracterizada como a personagem do filme “Kill Bill”.94
Figura 40 - Didi Wagner…………………………………………………………..…94
10
Figura 41 - Leny Kravitz……………………………………………………….……94
Figura 42 - Didi Wagner na “Mega Liga dos VJs Paladinos”............................95
Figura 43 - Carla Lamarca................................................................................96
Figura 44 - Carla Lamarca na campanha “Assista, é Sagrado”........................97
Figura 45 – Carla Lamarca na “Mega Liga dos VJs Paladinos”........................98
Figura 46 – Thaíde...........................................................................................100
Figura 47 – Thaíde...........................................................................................101
Figura 48 – Thaíde na “Mega Liga dos VJs Paladinos”...................................102
Figura 49 – Daniella Cicarelli e “Beija o Sapo”................................................103
Figura 50 – Daniella Cicarelli em “Beija o Sapo”.............................................104
Figura 51 – Daniella Cicarelli...........................................................................104
Figura 52 – Daniella Cicarelli, Felipe Dilon e a personagem “Madrasta”
de Beija Sapo”.................................................................................................105
Figura 53 – Daniella Cicarelli...........................................................................106
Figura 54 – Daniella Cicarelli...........................................................................107
Figura 55 – Daniella Cicarelli na “Mega Liga dos VJs Paladinos”...................108
Figura 56 – João Gordo...................................................................................111
Figura 57 – João Gordo em “Gordo a Go Go”.................................................112
Figura 58 – João Gordo em “Gordo Freak Show”...........................................113
Figura 59 – João Gordo...................................................................................114
Figura 60 – João Gordo na “Mega Liga dos VJs Paladinos”...........................114
Figura 61 – As irmãs Kenya e Keyla ................................................................115
Figura 62 – Sarah Oliveira...............................................................................116
Figura 63 - Sarah Oliveira em “Verão MTV 2004”...........................................117
Figura 64 – Sarah Oliveira na “Mega Liga dos VJs Paladinos”.......................118
11
Figura 65 – Rafael Losso.................................................................................119
Figura 66 – Rafael Losso.................................................................................120
Figura 67 – Rafael Losso na “Mega Liga dos VJs Paladinos”.........................120
Figura 68 – Cazé Pecini...................................................................................122
Figura 69 – Cazé Pecini em loja de Shopping Center de São Paulo ..............123
Figura 70 – Cazé Pecini na versão 2005 do “Vídeo Music Brasil”...................124
Figura 71 – Cazé Pecini na “Mega Liga dos VJs Paladinos”...........................124
Figura 72 – Léo Madeira..................................................................................126
Figura 73 – Léo Madeira..................................................................................126
Figura 74 – Léo Madeira na “Mega Liga dos VJs Paladinos” .........................127
Figura 75 – Marina Person..............................................................................128
Figura 76 – Marina Person..............................................................................129
Figura 77 – Marina Person na campanha “Assista, é Sagrado”......................130
Figura 78 – Marina Person na “Mega Liga dos VJs Paladinos”.......................131
Figura 79 – Marcos Mion em “Covernation” ....................................................132
Figura 80 – Marcos Mion e seu sósia em “Covernation”.................................132
Figura 81 – Marcos Mion imitando a personagem loura do SBT.....................133
Figura 82 – Marcos Mion.................................................................................134
Figura 83– Marcos Mion na campanha “Assista é Sagrado”...........................135
Figura 84 - São Sebastião...............................................................................135
Figura 85 – Marcos Mion na “Mega Liga dos VJs Paladinos”.........................136
12
RESUMO
Este trabalho tem como propósito observar e compreender
historicamente, a partir da década de 90, como a materialidade da
comunicação, na programação da emissora de televisão MTV Brasil, se
configura na relação entre os VJs (Video Jóqueis) e a sua audiência
predominantemente jovem.
Observando-se o universo da MTV Brasil, percebe-se uma atração
imagética contida nos figurinos dos VJs e nos cenários dos programas, que
transformam as formas visuais em elo de reconhecimento imediato de iguais,
entre o jovem telespectador e a programação da emissora como forma de
acoplar a atenção.
A hipótese principal é a de que a MTV Brasil, apropriando-se de
algumas características pessoais e originais de seus VJs, desenvolve um
minucioso trabalho na construção de personagens pertencentes a grupos
sociais (Tribos Urbanas), valendo-se de figurinos de grifes do mercado da
moda, maquiagem, penteados, cenários que misturam formas físicas e virtuais,
iluminação e enquadramentos adequados, para que, no momento em que o
telespectador sintonize o canal, seja prontamente atraído para esses
apresentadores, e se faça à coligação com a imagem projetada.
Os VJs. da MTV Brasil são respeitáveis objetos de estudo por terem sido
concebidos por uma filosofia norte -americana de penetração na mídia mundial,
e prontamente se estabelecerem, na década de 90, em um país latino-
13
americano como o Brasil, com jovens sedentos por novidades e com as portas
e os olhos recém abertos para o mundo globalizado.
A partir da visão dos autores contidos na bibliografia, foram feitas
conexões, entre nossas hipóteses e as teorias, utilizando o método de
observação descritiva da imagem para as análises dos dados coletados e as
conclusões apresentadas de acordo com os focos principais das abordagens.
Para que a realização deste trabalho fosse possível, foram reunidos
materiais diversos para coleta de dados como reportagens publicadas em
jornais e revistas de circulação nacional, conteúdos específicos de sites
nacionais e internacionais da Internet, documentos fornecidos pela própria
emissora (como por exemplo, os gráficos) e o “Dossiê Universo Jovem 3” -
pesquisa que a MTV Brasil realiza a cada três anos para manter atualizado o
conhecimento sobre seu jovem telespectador. O dossiê foi lançado pela
emissora em 25 de maio de 2005, no auditório do Edifício Abril, e foi
comentado simultaneamente pelo filósofo e professor da PUC de São Paulo
Mario Sergio Cortella, presente ao evento.
A emissora também promoveu a palestra sobre a “MTV e o Jovem”,
proferida em 18 de março de 2005, pelo Diretor Geral da MTV Brasil André
Mantovani, no auditório do Edifício Abril, quando me foi possível uma breve
entrevista sobre os VJs.
Também foram selecionadas imagens dentre as muitas horas de
gravação em VHS da programação da emissora, no período que compreende o
primeiro semestre de 2004 ao segundo semestre de 2005, para observação e
registro dos dados analisados nesta pesquisa.
14
Na bibliografia utilizada estão os autores Hans Ulrich Gumbrecht, Michel
Maffesoli e Arlindo Machado entre outros, além de algumas dissertações que,
de algum modo, contribuíram para o desenvolvimento deste estudo.
Esta dissertação está composta por três capítulos e considerações
finais, da seguinte forma:
No Capítulo I, “Nexos e Conexões: MTV Brasil e a década de 90”, foi
feita uma sinopse histórico-cultural que traça um breve histórico da MTV Brasil
e expõe alguns fatos nos campos da política, da TV brasileira, e da moda.
Essas informações são importantes, uma vez que a “Teoria da Materialidade”
se serve de fatos históricos para se fundamentar.
No Capítulo II, “VJs: Imagem e Identificação”, são descritos o fenômeno
“VJs”, tanto no Brasil como no mundo, e a atenção dada pela emissora na
elaborada produção de suas imagens.
No Capitulo III, “O ser e o parecer jovem: Descrição e análise das
imagens dos VJs da MTV Brasil, em diferentes momentos de atuação”,
procuramos demonstrar, de forma material, algumas de nossas hipóteses neste
estudo.
Nas Considerações Finais é retomado todo o projeto e realizada uma
análise global das hipóteses iniciais, e as prováveis conclusões a que
chegamos neste estudo.
Palavras-Chave: MTV, Televisão, Segmento jovem, Materialidade da
comunicação, Cultura midiática.
15
ABSTRACT
This work aims to notice and understand, historically from the nineties,
how the materiality of communication in MTV Brasil programming grid has
been figured in the relationship between VJs and related viewers who are
specially young people.
By observing MTV Brasil context, it’s possible to realize an image
atraction concerning VJs’ garment and programs sceneries, which change
visual shapes into a range of immediate recognition of peers, that is between
the young viewers and the TV programming as a sort of attention capture.
The main presumption relates MTV Brasil as a collector of some
personal and original profiles of the VJs in order to develop a detailed task in the
building of characters pertaining social groups (Urban Tribes), regarding griffes
of fashion market, makeup, hair styles, sceneries that mix physical and virtual
shapes, proper artificial ligthing and frames in order to move the viewer to
syntonize the TV channel and be eventually atracted for the anchor artists and,
at once, get similarity to the projected image.
MTV Brasil VJs are considered objects for study since they have been
conceived by na American wordlwide media penetration, and readily stablished
in the nineties in a Latin-american country as Brazil, full of young viewers
craving for news, and open for any latest fashion of the globalized world.
It has been applied both deductive and descritive-image observing
methods for analyzing the collected data and the conc lusions presented
according to the focuses of the main approaches.
16
Providing this work could be developed, lots of materials had been
gathered as data collection including papers and magazines issues nationally
recognized, specific contents of national and international Internet sites, papers
supplied by MTV Brasil (like graphics and tables) and a so-called “Dossiê
Universo Jovem 3” - MTV Brasil particular search applied each three years to
bring up to date the knowledge about their young audience. The document was
launched in May 25, 2005 in Edifício Abril hall and simultaneously explained by
Mario Sergio Cortella, philosopher and teacher of PUC São Paulo, who was
present in the mentioned happening.
The broadcasting station also promoted a lecture on “MTV and the
Youth”, held on March 18, 2005, by André Mantovani, MTV Brasil General
Principal, in Edifício Abril hall, occasion that made possible to myself to perform
a concise enterview about VJs.
Featured images have been selected from a set of several VHS
recordings of MTV Brasil TV programming from the first semester of 2004 until
the second semester of 2005, in order to observe and register data for further
analysis for the current research.
Some authors compound the literature investigated for this work, like
Hans Ulrich Gumbrecht, Michel Maffesoli and Arlindo Machado, as well some
academic papers which have contributed in the whole for the growth of the
current work.
This paper is divided up three chapters and a final conclusion, as
follows:
17
In Chapter I, “Nexos e Conexões: MTV Brasil e a década de 90”, a
social-cultural abridgement of MTV Brasil is presented, associating facts of
politic fields, Brazilian TV and fashion world. This information is important once
the “Theory of Materiality” seizes historical events in order to be based upon.
In Chapter II, “VJs: Imagem e Identificação”, “VJs” phenomena are
described in Brazil and worldwide, secondly it is analysed how MTV Brazil
elaborates its imagery production.
In Chapter III, “O ser e o parecer jovem: Descrição e análise das
imagens dos VJs da MTV Brasil, em diferentes momentos de atuação”, some
material hypothesis of the current study are tested and set as examples.
In Chapter Final Considerations, assertions of the whole project are
reported in a global analysis of the outset hypothesis to corroborate the idea
developed in this investigation.
Key-Words: MTV, Television, Young segment, Materiality of
communication, Media culture.
18
INTRODUÇÃO
Nosso objetivo geral nesta pesquisa é de identificar e compreender
historicamente, a partir da década de 90, como a materialidade da
comunicação visual, entendida aqui como formas do figurino e cenário, na
programação da emissora de televisão MTV Brasil se configura na relação
entre os VJs (Video Jóqueis) e a sua audiência predominantemente jovem.
Para realizar este trabalho, apoiamo-nos nos referenciais do campo
Não- Hermenêutico de Gumbrecht e seus três conceitos característicos da pós-
modernidade: destemporalização, destotalização e desreferencialização a partir
dos quais conduzimos os seguintes direcionamentos epistemológicos:
1. Contextualização histórico-cultural que compreende a década de 90
no Brasil globalizado, e o conceito de juventude na política, na televisão e na
moda.
2. A criação dos VJs1 da MTV Brasil, e a sua imagem e identificação
com a audiência jovem, a partir dos figurinos e dos cenários.
3. Descrição e análise das formas visuais, em especial a produção dos
figurinos, os cabelos e a maquiagem dos VJs, auxiliados pela iluminação, os
cenários e ângulos de enquadramento, em diferentes momentos de atuação na
programação da emissora.
Considerando-se que a programação da MTV Brasil tem intenso apelo
visual dos VJs junto à jovem audiência das atrações da emissora, optamos por
privilegiar o estudo da imagem como campo limitador do nosso trabalho.
1 Video Jóqueis, criação da MTV Networks para denominar os apresentadores da programação.
19
Buscamos compreender o papel da juventude como corpo social
modificador de 2004 a 2006, período da pesquisa, a partir das formas materiais
visuais. Para isso utilizamos a metodologia de observação descritiva da
imagem.
Para que nossos objetivos fossem compreendidos, realizamos uma rede
de conexões dos principais acontecimentos na década de 90, no Brasil e no
mundo, nos campos da política, da televisão, do mundo jovem e da moda. A
partir desse trabalho, reunimos elementos que nos deram embasamento
contextual, para que pudéssemos fundamentar nossas hipóteses sobre a
relação dos VJs da MTV Brasil e o jovem brasileiro inspirada, sobretudo, nos
conceitos de Gumbrecht2, Maffesoli e Machado dentre outros.
A Materialidade da Comunicação na mídia televisiva
Como dito anteriormente, apoiamo-nos nos referenciais do campo Não-
Hermenêutico de Hans Ulrich Gumbrecht e seus três conceitos característicos
da pós-modernidade: destemporalização, destotalização e
desreferencialização.
Essa teoria, ou work in progress como prefere o autor, foi apresentada
em sua conferência proferida na UERJ 3 em 1992, transcrita no texto “O campo
Não-Hermenêutico ou a Teoria da Materialidade da Comunicação”, que
compreende o capítulo 5 do livro “Corpo e Forma”. Posteriormente, em 1998,
Gumbrecht organiza e publica com outros autores a obra “Inscribing Science:
2E seus conceitos de destemporalização, destotalização e desreferencialização, que posteriormente os autores Erick Felinto / Vinícius Andrade e Simone Pereira de Sá utilizaram para fundamentar seus estudos. 3Universidade Estadual do Rio de Janeiro
20
Scientific Texts and the Materiality of Comunication” 4.
Optamos por esta teoria, porque percebemos que para trabalhar nossas
hipóteses, necessitávamos de uma ferramenta epistemológica que desse
atenção às formas materiais, neste caso os figurinos e cenários, e levasse em
consideração as circunstâncias históricas que propiciaram o estudo do
fenômeno dos VJs da MTV Brasil e a imagem das tribos urbanas.
Outro aspecto de grande importância, é que estamos nos referindo à
contemporaneidade que, de maneira especial, representa transformações
profundas na experiência de vida e no pensamento humano, principalmente se
levarmos em conta o fenômeno da Globalização e a constituição de uma Aldeia
Global, cujo sentimento do mundo, segundo Gumbrecht, “não é mais fundado
na figura central do sujeito ”.
Retomando os três conceitos de destemporalização, destotalização e
desreferencialização, temos a seguinte justificativa:
Como se pode prever pelo uso do prefixo – des, os
três conceitos se opõem a uma conceituação que se
fundamenta na percepção do tempo, na afirmação do caráter
da universalidade, circunstâncias existenciais no Ocidente.
Gumbrecht, ao opor a esses conceitos tradicionais aqueles que
começam por – des, quer na referencialidade do contato dos
seres com o mundo externo. Essa conceituação vem do
tradicional modo de encarar as demonstrar a falência de uma
4 "Inscribing Science: Scientif Texts and Materiality of Comunication" - ("Inscrevendo a Ciência: Textos Científicos e Materialidade da Comunicação") - Hans Ulrich Gumbrecht, 1998 - Ainda não publicado no Brasil.
21
visão conceitual que vem baseando, desde o século XV, a
questão do sentido. A questão da busca do sentido era muito
importante para uma fundamentação hermenêutica. Ela está
ancorada na certeza fornecida pela noção de um tempo
contínuo em que o futuro era visto como um resultado do
presente, no caráter da universalidade e na referência segura
que, até então, sustentava as relações dos seres com o mundo
das representações. (Rocha / Lyra:2005)
Quando Gumbrecht afirma que “não mais procuramos identificar o
sentido, para logo resgatá-lo; porém, indagamos das condições de
possibilidade de emergência das estruturas de sentido”, podemos entender,
como sendo uma modificação nos sentidos anteriormente adotados pelo
campo hermenêutico, relacionados ao tempo, à totalidade e à referência.
Outra particularidade a ser observada nesta teoria, é a centralidade da
materialidade dos meios de comunicação, neste caso a televisão, e a sua
conexão com as instituições responsáveis pela reprodução da cultura, aqui
representada pela MTV Brasil, seus VJs e suas relações institucionais de
determinado período, neste caso, o contemporâneo. Segundo Rocha e Lyra:
.... a pesquisa deve levar em conta tanto a reconstrução
da época em que o objeto foi produzido, como as
circunstâncias sócio-culturais que cercam essa época, quanto a
tecnologia que permitiu a produção do objeto, de acordo com a
época. (Rocha / Lyra:2005)
22
Enfatizamos que, neste caso, estamos nos referindo ao ambiente
televisivo, meio de comunicação capaz de atingir milhares de pessoas e
propagar comportamento.
Através das imagens das personagens que nela transitam, a televisão
tem a capacidade de veicular não e tão somente um modo de entretenimento,
mas também uma forma de identificação de determinados grupos sociais, no
caso o segmento jovem e seus movimentos culturais. A MTV Brasil e seus VJs,
que aqui se encontram em estudo, são exemplares uma vez que suas figuras,
inseridas dentro da programação da emissora, estabelecem assimilação
imediata pela audiência.
Com relação à importância de dados históricos do meio que veicula as
mensagens na abordagem das materialidades na comunicação, cabe lembrar
que a cultura norte-americana, aqui representada pela MTV Networks, está
sempre expandindo seus domínios em territórios distintos. Seu slogan, “Pense
Globalmente, Aja Localmente”, traduz uma estudada capacidade de adaptação
como forma de materializar seu poder de atuação na mídia local. Quando da
implantação da MTV Brasil, em outubro de 1990, o momento histórico pelo qual
passava o país, constituiu fator de grande relevância para que a iniciativa fosse
coroada de sucesso.
A jovem emissora entra no país, no exato momento em que está no
poder o recém-eleito “jovem” presidente Fernando Collor de Mello, cuja
campanha, e a vitória nas urnas, impetrou a participação maciça da mídia
televisiva. Com a posse de Fernando Collor e o processo de globalização
econômica, a abertura do mercado nacional se transformou de possibilidade
em futura realidade material. A década de 90 trouxe com ela também, no
23
Brasil e no mundo globalizado, a institucionalização do poder da juventude,
uma vez que o mercado vislumbrou nesse segmento uma grande fatia a ser
explorada. Essa constatação fez com que o conceito de juventude se
ampliasse e se materializasse em imagem de juventude, quer pela idade
cronológica quer pelo espírito jovem.
Em conclusão, acreditamos ter reunido todos os elementos que deram
suporte a esta pesquisa, uma vez que foram registrados, nos capítulos que se
seguem, os ambientes histórico, social e cultural e suas interseções com as
formas visuais, sustentados pela materialidade televisiva, que os VJs com seus
figurinos e cenários articulam junto à audiência jovem da MTV Brasil.
24
CAPÍTULO I – Nexos e conexões: MTV Brasil e a década de 90.
1.1. MTV Brasil: Breve histórico.
A MTV Brasil, inaugurada em 20 de outubro de 1990 na cidade de São
Paulo, nasceu do contrato de licenciamento assinado entre o Grupo Abril
(composto pelas Editoras, Abril, Scipione, Ática e pela TV por assinatura TVA)
e a MTV Networks.
Como primeira TV segmentada em sinal aberto, iniciou suas
transmissões para as cidades de São Paulo por intermédio do canal 32 UHF, e
do Rio de Janeiro canal 24 UHF e abarcava 5.000.000 domicílios em 53
cidades. A partir de abril de 1995 passou a transmitir sua programação por 24
horas ininterruptas. Segundo o Ibope5 Telereport em Setembro de 2005, a
MTV alcançou, no target Ambos, ABC, acima de 15 anos, 21.534.997 pessoas
em 292 municípios em todo território Brasileiro.
TARGET: AS, AB 15-29 ANOS - DADOS DE SETEMBRO / 2005
PROGRAMA Alcance no Período
Número de Pessoas
Diferentes,
Impactadas no Período *
Afinidade no Período
COVERNATION 22.79% 1,247,915 345
BEIJA SAPO 22.54% 1,234,225 256
DISK MTV 22.23% 1,217,251 204
ROCKGOL DE DOMINGO 20.51% 1,123,068 396
FANÁTICO MTV 20.43% 1,118,688 386
VIDEOCLASH 20.13% 1,102,261 226
5Ibope – Instituo Brasileiro de Opinião Pública e Estatística.
25
TOP 20 BRASIL 19.51% 1,068,311 180
TOP TOP MTV 19.31% 1,057,360 248
MISSÃO MTV 18.60% 1,018,482 245
PULSO MTV 18.16% 994,389 264
VJS EM AÇÃO 17.15% 939,084 373
JORNAL DA MTV 15.40% 843,259 439
PONTO PÊ 14.19% 777,003 160
CONTROL FREAK 12.81% 701,439 240
BALELA MTV 12.80% 700,891 220
GORDO FREAK SHOW 12.53% 686,107 228
QUEBRA CAZÉ 11.31% 619,303 150
CINE MTV 10.48% 573,855 196
SOBE SOM 10.23% 560,165 177
YO! MTV RAPS 8.24% 451,199 238
SEMANA ROCK 7.88% 431,486 296
TOTAL MASSACRATION 7.13% 390,418 349
AMP 5.54% 303,354 250
GORDO A GO-GO 5.29% 289,665 294
Quadro 1 - Fonte: Ibope / Telereport – SETEMBRO /2005 *Projeção Brasil do Alcance no Período - Depto de Pesquisa MTV Brasil
Do mesmo modo que a sua matriz americana, a MTV Networks6, a MTV
Brasil implantou no país o conceito de canal de televisão fundamentado no
segmento musical e arquitetado para o público jovem, que compreende mais
fortemente a faixa etária de 15 a 29 anos, e corresponde a 53% da audiência
total do canal segundo medições do Ibope / Telereport.
6 Fundada em 01 de agosto de 1981 pela WASEC – Warner Amex Satellite Entertainment Company (Associação entre a empresa de cartões de crédito American Express e a Warner Cable)
26
PERFIL AUDIÊNCIA MTV - IDADE
1. Fonte: Ibope / Telereport - Janeiro a dezembro 2004
A programação, que apesar de direcionada para as classes AB, é vista
por todas as classes sociais e por ambos os sexos, evidenciando intensa
penetração no segmento público jovem.
PERFIL AUDIÊNCIA MTV - SEXO
2. Fonte: Ibope / Telereport - Janeiro a dezembro 2004
PERFIL AUDIÊNCIA PERFIL AUDIÊNCIA MTV - CLASSE SOCIAL
3. Fonte: Ibope / Telereport - Janeiro a dezembro 2004
27
A grande novidade em termos de mídia televisiva voltada para o
segmento jovem, foi a denominação de VJs7 concedida aos apresentadores da
programação. Trata-se de uma referência aos DJs8 que atuam nas rádios FM,
fato que pode ser justificado porque foi um profissional proveniente do rádio
que idealizou a MTV Networks.
A TV brasileira já havia proporcionado aos seus jovens telespectadores,
em outras épocas, a veiculação de programas para esse segmento,
apresentados por ídolos da musica nacional, caso dos cantores Fábio Junior9 e
Sílvio Brito10 nos anos 80, ou por jornalistas especializados como Nelsinho
Motta11, que não tinham uma identidade tão estreita com o telespectador.
O documentário “Especial 15 anos”12 que a emissora apresentou em
outubro de 2005 para comemorar o aniversário de 15 anos de atuação da
MTV no Brasil, apresenta a primeira imagem que deu início a transmissão.
Astrid Fontenele 13, em plano de close, com pano de fundo de imagens
computadorizadas, anuncia a entrada da MTV Brasil no ar. Na seqüência a tela
da TV é preenchida pelo logotipo da MTV, (a letra eme maiúscula adornada
com o mapa-múndi e a inscrição MUSIC TELEVISION). O primeiro videoclipe a
ser exibido foi o de “Garota de Ipanema” da cantora Marina Lima14.
7 VJ -Video Jóquei: Criação da MTV tem a função de comandar os programas, anunciando os clipes, informando sobre eventos (shows, raves, festas) e comentando amenidades sobre os artistas. 8 DJ -Disk Jóquei: Locutores que comandam a programação musical de rádio FM. Anunciam os nomes das bandas, músicos, e músicas tocadas, e divulgam eventos e notinhas . 9Cantor de música pop brasileira dos anos 70 e 80 e ator de novelas da Rede Globo de Televisão, iniciou carreira com nome fictício e cantando em inglês. Hoje aos 52 anos ainda faz sucesso como cantor romântico. Apresentou com Silvio Brito, na TV Tupi dos anos 70, o programa jovem “Alleluya”. 10Cantor de musica pop brasileira. A exemplo de Fábio Junior, também iniciou carreira com nome fictício e cantando em inglês. Apresentou com Fábio Junior, nos anos 70, o programa jovem “Alleluya”. 11Jornalista e produtor musical, chegou a apresentar um programa de clipes musicais na Rede Globo nos anos 80. Lançou entre outros Marisa Monte. 12Especial 15 anos – Série de 15 programas diários veiculados em agosto de 2005 contando cada ano da trajetória da MTV no Brasil de 1990 a 2005, com a participação dos VJs e de artistas da música. 13Jornalista que, anteriormente, já havia apresentado alguns programas alternativos na TV aberta. 14Cantora de música brasileira que iniciou carreira em 1980 com diversos gêneros musicais, tais como: pop, rock, blues, bossa-nova e música eletrônica.
28
As primeiras empresas patrocinadoras do canal foram a Cervejaria
Brahma, a indústria de eletro-eletrônicos Philips, o Banco Bamerindus, a
indústria de alimentos Nestlé e a São Paulo Alpargatas detentora, na época,
das marcas Nike, Rainha e Havaianas entre outras.
Um olhar mais atento para a estética visual proporcionada pela MTV
Brasil na tela da TV, a partir da escolha15 dos VJs, cenários, planos de
enquadramento, figurinos, vinhetas da programação, videoclipes e alguns
comerciais16 produzidos especialmente para o “jovem” consumidor MTV,
constata que todos seguem o mesmo padrão. Um padrão que tem como
filosofia de expansão da rede pelo mundo o slogan “PENSE GLOBALMENTE,
AJA LOCALMENTE”, em um claro desígnio de adequação ao meio onde se
esteja atuando com o propósito de implantar valores pré-estabelecidos de uma
forma sutil e despretensiosa, onde um olhar menos atento seria incapaz de
identificar.
1.2. A década de 90 e a perpetração da juventude.
1.2.1. Juventude na política.
A década de 90, período em que a MTV Brasil assentou sua bandeira
em território nacional, representou para o Brasil e o mundo um período de
grandes mudanças que transformaram os conceitos e os valores estruturais da
sociedade mundial.
15Segundo Hugo Prata, diretor de Videoclipes e um dos pioneiros na implantação da MTV no Brasil, a escolha dos primeiros VJs da MTV Brasil levou em conta conhecimentos profissionais e imagem marcante. Hoje, a escolha é feita nos moldes americanos que foi adotado por todas as franquias pelo mundo. É feito um concurso onde o que conta é a inexperiência televisiva, o desembaraço, a idade e a imagem e semelhança com a audiência. 16O anúncio das Casas Bahia veiculado na MTV dispõe apenas de imagens de animação gráficas com fundo musical, finalizado com o slogan da rede. Oposto dos anúncios com o popularíssimo e barulhento apresentador de ofertas dos demais canais.
29
A partir de 1989, com a queda do muro de Berlim e a falência do
comunismo na URSS, nossa civilização se deparou com o processo mais
devastador de todos: A Globalização17. Idealizada como um agente
integralizador e conseqüente facilitador das relações humanas no planeta, a
globalização desencadeou uma série de questionamentos e as problemáticas
que se sucederam com o poderio da mídia.
A introdução dessa mídia televisiva atuante, no Brasil, se deu a partir da
campanha eleitoral de 1989, época em que se fez necessária a contratação de
renomados publicitários pelos partidos políticos18. Esses profissionais foram
incumbidos da criação de programas que enfatizassem as qualidades do
candidato, principalmente o caráter de juventude e inovação.
O país voltava a conviver com a democracia e o voto direto, que atendeu
as aspirações do movimento que ficou conhecido como “Diretas Já”19, depois
de 20 anos de ditadura militar e um mandato civil de 5 anos eleito pelo voto
indireto.
A disputa presidencial do segundo turno das eleições de 1989 foi
altercada entre Luis Inácio Lula da Silva, ex-metalúrgico, aguerrido líder
sindical e um dos fundadores do maior partido popular de esquerda, o PT
(Partido dos Trabalhadores). Com aparência que remetia a imagem dos
revolucionários soviéticos, recebeu por parte da imprensa a alcunha de “Sapo
Barbudo”. O outro candidato era o rico, belo, e “jovem” Fernando Collor de
Mello, ex-governador do Estado de Alagoas, membro do inexpressivo partido 17Processo que a partir da década de 90 promoveu a integralização econômica entre vários países. 18Duda Mendonça publicitário responsável pela vitória de Paulo Salim Maluf pela prefeitura de São Paulo. Foi responsável pela criação do slogan “Lulinha Paz e Amor” aliado à produção da imagem favorável que levou Luiz Inácio Lula da Silva a presidência na campanha de 2002. Nizan Guanaes responsável pelas vitórias do PSDB nas campanhas para presidente e governo no país. 19 Campanha que reuniu em 1984 a classe política, artística e a sociedade civil pelo retorno ao voto direto para Presidente da República, Governadores e Prefeitos.
30
PRN (uma coligação de pequenos partidos) que cultivava a imagem de homem
competente, vestindo ternos bem cortados com gravatas de seda pura da grife
francesa “Hermes”20. Quando em campanha nas ruas, tirava o paletó de grife e
arregaçava as mangas como seu adversário.
O provável objetivo maior da campanha de Fernando Collor de Mello,
talvez não tenha consistido em divulgar suas competências e sim o de vendê-lo
como um novo produto de consumo. Os produtores do horário eleitoral gratuito
se valeram de todos os artifícios que dispunham para a realização dos
programas
Fig. 1 - Luis Inácio Lula da Silva Fig. 2 - Fernando Collor de Mello
televisivos. Das técnicas de produção ancoradas nas luzes, nos
enquadramentos de câmeras, na escolha meticulosa dos cenários externos e
internos, nos figurinos e na maquiagem, tudo foi utilizado sem o menor pudor
na arte de erigir uma personagem com imagem positiva e agradável aos olhos
do telespectador acostumados aos jovens galãs das tramas das novelas
televisivas, em especial da Rede Globo de Televisão, emissora que
20Tradicional grife francesa de moda clássica que nos anos 90 contratou o jovem estilista Martin Margiela para rejuvenescer sua imagem.
31
desempenhou papel de fundamental relevância na mutação da imagem do
político desconhecido à jovem estrela da mídia.
Segundo Tarcísio Costa, em estudo realizado sobre a história da política
brasileira na década de 90:
(...) Fernando Collor diluiu as fronteiras entre público e
privado. Os códigos da vida pública passaram a ser
determinados por categorias e práticas da vida privada - de
apelo publicitário mais imediato, por dispensarem crítica,
deliberação. A começar pela construção da imagem pública do
adversário a partir de aspectos de sua vida pessoal: uma
suposta irresponsabilidade conjugal, uma alegada rejeição do
papel paterno. Assumidos de antemão como verídicos, pela
presumida credibilidade de quem os trouxe à baila, tais
aspectos seriam suficientes para desqualificar Luís lnácio Lula
da Silva como homem público, independentemente de suas
posições políticas. O anti-herói era convertido “ipso facto” em
mau governante. Já o presidente eleito, apresentado à
exaustão como marido fiel e pai dedicado, seria
inelutavelmente bom líder, dirigente virtuoso, amparado, por
uma estreita identificação com o modelo yuppie.(...) No topo da
máquina do Estado estaria um jovem executivo, soberano para
dispor sobre os recursos púbicos como se inscritos em seu
patrimônio pessoal.(COSTA.260/261)
A partir desta transcrição podemos presumir que a “imagem de
juventude”, apesar da diferença de idade entre os dois candidatos ser de
32
apenas 5 anos, tenha feito toda a diferença na construção de um ideal de
credibilidade, ancorado na superficialidade da estética visual pura e simples no
caso de Fernando Collor, ao contrário do conteúdo solidamente construído no
decorrer de anos de atuação político-sindical representada por Luis Inácio Lula
da Silva onde a imagem estética não era visualmente favorável.
A deliberação do escândalo21, divulgado pela imprensa nacional com
sensacionalismo, foi capaz de arranhar de forma mortal a imagem abstrata de
candidato competente de Lula em contrapartida a imagem materializada e sem
conteúdo do jovem contestador Fernando Collor, no momento crucial de o
eleitor decidir quem subiria ao poder.
A sucesso midiático de Fernando Collor de Mello, amparado, dentre
outros, no conceito de juventude, nos remete a pensar no ser jovem ou estar
jovem como objeto de estudos complexos que necessitam de embasamentos
históricos e culturais quanto a deliberar um conceito que seja universal e
atemporal. Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt organizadores da obra
História dos Jovens 22, fundamentados por uma série de estudos
realizados por sociólogos, antropólogos e historiadores, fazem a seguinte
reflexão:
(...) a juventude é efetivamente o momento das
tentativas sem futuro, das vocações ardentes mas mutáveis, da
"busca" (a do cavaleiro medieval) e das aprendizagens
21No momento crucial da campanha, quando Luis Inácio Lula da Silva ameaçava a pretensa vitória de Fernando Collor de Mello, seus assessores divulgaram a existência de uma filha ilegítima de Lula. A mãe da menina, uma suposta ex-namorada de Lula, apareceu no programa eleitoral de Collor, e deu várias entrevistas na mídia, contanto em minúcias as particularidades do relacionamento e enfatizando o fato de Lula ter renegado a criança e pedido que fosse feito um aborto. 22 LEVI, Giovanni / SCHMITTT, Jean-Claude, “História dos Jovens, da Antiguidade à Era Moderna” – São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
33
(profissionais, militares, eróticas) incertas, sempre marcadas
por uma alternância de êxitos e fracassos. A investidura do
jovem cavaleiro, a noviça que toma o véu, o alistamento do
futuro soldado, os ritos goliardescos da universidade são
momentos cruciais, efêmeros, carregados de fragilidade. São
momentos de crise, individual e coletiva, mas também de
compromisso entusiástico e sem reservas: e, no fundo, não
vamos encontrar sempre os jovens na linha de frente das
revoltas e das revoluções?(Levi/Schitt:1996)
Fernando Collor de Mello, valendo-se da premissa de juventude como
ponto crucial de sua imagem, aos quarenta anos de idade, rico, belo e
divorciado, pai de dois filhos adolescentes e em segundas núpcias com a
jovem Rosane Collor, vence as eleições e se torna em 1º de março de 1990,
um dos mais jovens presidentes que a república brasileira já teve. Sua atuação
no poder manteve a imagem espetaculosa da campanha eleitoral.
O estilo de Fernando Collor se fez patente desde a
campanha eleitoral.(...) A cada semana, e com forte apoio
publicitário, Collor fazia questão de colocar em destaque
sua juventude e dinamismo, ora em corridas pelo cerrado,
ora pilotando jatos supersônicos, sempre com
gestualidade cênica. A imagem presidencial passou a ser
associada aos atributos de vontade e força física, como se
deles dependesse o exercício eficiente do cargo, a
superação dos problemas nacionais.(...) A população ficou
a acompanhar as façanhas de Collor de Mello pelo vídeo,
34
no papel de passiva espectadora, "a quem se pródiga o
fascínio mas se nega a ação", na feliz caracterização de
Renato Janine Ribeiro23. O público não poderia ir além do
aplauso ou da vaia. O palco seria exclusivo do presidente
e de seu círculo íntimo, senhores do enredo, com autono-
mia plena para definir a agenda pública.(COSTA:259)
Amparado exclusivamente por sua imagem de juventude e virilidade,
Fernando Collor de Mello desfrutaria do poder pelo período de dois anos. Sua
saída se deu através do impeachment24 por crime de responsabilidade.
Com os jovens “caras pintadas”25 saindo as ruas e pedindo a punição do
presidente, o congresso, pela dimensão que o caso tomou na mídia, não teve
outra escolha, sob pena de ferir sua imagem perante a massa de eleitores,
senão a de cumprir a lei e condenar Fernando Collor publicamente em votação
acompanhada pela população, ao vivo pela televisão, e destituí-lo do poder.
Fig. 3 - Passeata dos “caras pintadas” Fig. 4 - Votação do impeachment no congresso
23Renato Janine Ribeiro, "A política como espetáculo", em Evelina Dagnino (org.), “Anos 90: política e sociedade no Brasil” (São Paulo: Brasiliense, 1994), pp. 31-40. 24No regime presidencialista, ato pelo qual se destitui, mediante deliberação do legislativo, o ocupante de cargo governamental que pratica crime de responsabilidade. 25Denominação dada pela mídia aos jovens estudantes que saíram as ruas pedindo o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
35
Observando-se a semelhança entre o período que o então “jovem”
presidente Fernando Collor permaneceu no poder, e a temporada média no ar
de uma atração da MTV Brasil ancorada por um jovem VJ, percebemos que
foram no caso de Collor e são no caso dos VJs de 2 anos.
Será que um olhar mais atento não poderá concluir que tal situação se
dá, talvez, porque tanto o ex-presidente quanto os VJs, estão apoiados na
assimilação primeira da imagem e não propriamente do conteúdo? E que, em
caso afirmativo, isso se dá pela necessidade de troca de estímulos visuais, e
de agregação, no momento exato em que a superficialidade do conteúdo se faz
notar pela audiência?
No caso do presidente da república, a única alternativa foi a de destituí-
lo do cargo porque se tratava de crime de responsabilidade. Quanto aos jovens
apresentadores da MTV Brasil, cujo objetivo é o entretenimento, basta um novo
programa com novos cenários e figurinos.
1.2.2. A TV Brasileira e a cultura jovem.
A TV Brasileira inicia os anos 90 com a transmissão ao vivo da vitória do
mais jovem presidente eleito pelo voto direto Fernando Collor de Mello em 1º
de janeiro. Em agosto, o ministro Ozires Silva da Infra-Estrutura, revogou a
portaria, que no passado, deu poderes para os órgãos do extinto governo
militar exercer o direito de ter "redobrada vigilância quanto ao conteúdo da
programação de radiodifusão, especialmente no que se refere à ofensa à moral
familiar e pública, incitamento à desobediência às leis ou decisões judiciais e
colaboração na prática de rebeldia, desordem ou manifestações proibidas",
36
oficializando assim o fim da censura aos meios de comunicação e inaugurando
uma nova era da mídia televisiva no país.
Com o fim da ditadura, os produtores se viram livres para a criação de
novas atrações. A MTV, não por acaso, decide implantar sua filosofia “Pense
Globalmente, Aja Localmente”26 em território nacional, vislumbrando um
segmento a ser explorado: O segmento jovem.
A extraordinária aceleração dos processos históricos como o término da
guerra fria que dividia o poderio mundial entre os Estados Unidos e a URSS, a
reunificação da Alemanha ocidental com a Alemanha oriental, a renúncia de
Mikhail Gorbatchev27 que pos fim a União Soviética, o processo da
globalização e posteriormente a Internet, exibiram perante os olhos da
juventude brasileira sedenta por novidades, imagens ao vivo do planeta terra
na tela da T.V. e nas páginas dos sites acessados no computador pessoal.
Cria-se, então, no Brasil, o ambiente um tanto apropriado para a
acomodação de um canal de televisão destinado ao público jovem, a MTV, tão
adaptável às condições locais de implantação.
Do ponto de vista tecnológico, a entrada da MTV no Brasil em 1990
marcou o início da utilização da UHF (Ultra High Frequency) nas transmissões
televisivas em sinal aberto, vislumbrando o mercado onde 81% dos domicílios
possuíam aparelho de televisão. Um ano depois, entraria em funcionamento no
país, o segmento de TV por assinatura onde a empresa TVA28 proprietária da
26Slogan da MTV Networks, utilizado em todo o mundo, que demonstra sua capacidade de adaptação. 27Liderou a União Soviética de 1985 a 1991, no processo de reestruturação política e econômica, conhecida como Perestroika, da URSS. 28 Em 15 de setembro de 1991 a TVA entra no ar pelo sistema cabo e MMDS (antena) com os canais CNN (Notícias), ESPN (Esportes), Showtime (Variedades), Supercanal (Variedades) e TNT (Filmes Clássicos e Variedades).
37
MTV Brasil foi uma das pioneiras.
Hoje a MTV Brasil pode ser assistida tanto pelo telespectador de TV
com sinal aberto como pelo assinante de TV a cabo.
Esta inovação de tecnologia permitiu que o jovem brasileiro da década
de 90 tivesse seu universo de atrações televisivas largamente ampliado
quando da inauguração da MTV Brasil.
Pode-se observar que com essa atitude, ela implanta o conceito de
exclusividade da televisão a cabo na TV de canais abertos.
Quando a MTV Brasil entra no país e segmenta a grade de programação
exclusivamente para o público televisivo jovem, contrapondo os canais lideres29
que proporcionavam uma ou outra atração para este segmento dentro do
emaranhado de tantas outras destinadas as demais faixas etárias de
telespectadores, ela acaba ocupando esse grande vácuo existente na grade da
programação voltada para a juventude.
Um exemplo desse fato pode ser dado quando a Rede Globo de
Televisão, líder de audiência e com atuação extremamente profissional, passa
a dedicar maior espaço aos eventos esportivos, segmento que atrai a atenção
do público jovem masculino, dando ênfase às transmissões das derrotas e das
gloriosas vitórias de nosso ídolo maior e jovem tri-campeão mundial de
Fórmula I, Ayrton Senna da Silva, nas manhãs e tardes de domingo, em rede
nacional.
Empunhando a bandeira brasileira em cada final de corrida vitoriosa,
Ayrton Senna que materializou a imagem de que o Brasil pode dar certo,
29 Rede Globo, SBT e Bandeirantes.
38
passeava no bólido de sua máquina aos domingos pelas telas dos televisores
dos milhões de telespectadores embevecidos.
Fig 5 - Ayrton Senna da Silva
Ayrton Senna pode ser visto como um produto midiático por ter acoplado
à sua competência profissional a imagem de ser humano modelo.
Amparado por uma poderosa assessoria de imprensa, Ayrton Senna
nunca permitiu que se divulgassem fatos que comprometessem sua imagem
midiática imaculada de jovem de família, mesmo desfrutando a vida, a exemplo
de outros jovens ricos e famosos, freqüentando festas e colecionando
namoradas como a modelo em início de carreira Adriane Galisteu30. Depois de
apresentá-la a mídia como sua namorada oficial, Ayrton Senna comprou os
negativos das fotos nuas que a modelo havia feito para uma revista masculina,
de grande circulação nacional, para que não fossem publicadas e
comprometessem a sua imagem milionária.
A morte do piloto em 1º de maio de 1994 após um grave e fatal acidente
no autódromo de Imola, na Itália, em uma etapa do campeonato mundial de
Fórmula I, a chegada de seu corpo ao aeroporto de Cumbica em São Paulo e
seu funeral aberto à população na Assembléia Legislativa, foram transmitidos
30Apresentadora de programa de variedades nas tardes do SBT. Já foi VJ da MTV Brasil.
39
ao vivo em rede nacional de televisão. O Brasil acabava de perder seu jovem
campeão.
A jovem audiência, praticamente órfã no universo televisivo brasileiro,
que tinha à sua disposição, além da programação esportiva da Rede Globo,
apenas o programa destinado à faixa etária adolescente apresentado por
Serginho Groisman31 nas tardes de segunda a sexta-feira, se deparou, a partir
da inauguração da MTV Brasil, com uma grade de programação específica,
apresentada 24 horas no ar, por VJs que poderiam perfeitamente compartilhar
espaço com seu grupo social.
As diversas Tribos Urbanas passam então a materializar-se nas
imagens televisuais dos VJs. Um grupo de jovens apresentadores escolhidos e
produzidos cuidadosamente pela cúpula da emissora, para servir como elo de
adesão entre as perspectivas da audiência e a imagem transmitida pela MTV
Brasil.
Surge, então, em nosso país, o território midiático de reconhecimento e
compartilhamento da juventude contemporânea, concretizando-se assim o
objetivo traçado pela MTV Brasil de conquistar a audiência segmentada e se
manter no ar.
Sob este aspecto, podemos nos apoiar no pensamento de Maffesoli
sobre o momento das “condensações instantâneas” exemplificadas por suas
duas características:
31Apresentador de Televisão. Estreou em 18 de Junho de 1990 na TV Cultura de São Paulo o programa voltado para o público jovem “Matéria Prima”, ganhador do Premio APCA na categoria Revelação. Em agosto de 1991 o apresentador muda para o SBT levando o mesmo formato do programa com o nome de “Programa Livre”.
40
“Característica do social: o indivíduo podia ter uma
função na sociedade, e funcionar no âmbito de um partido, de
uma associação, de um grupo estável”.
“Característica da socialidade: a pessoa (personna)
representa papéis, tanto dentro de sua atividade profissional
quanto no seio das diversas tribos de que participa. Mudando o
seu figurino, ela vai, de acordo com seus gostos (sexuais,
culturais, religiosos, amicais) assumir o seu lugar, a cada dia,
nas diversas peças do theatrum mundi”.(2006:133).
Para Maffesoli, a característica do social está relacionada à estrutura
mecânica da modernidade, à organização econômica e política e a grupos
contratuais, enquanto que a característica da socialidade, refere-se à estrutura
complexa ou orgânica da pós-modernidade, às massas e a tribos afetivas.
Por meio dessas características, pode-se buscar o entendimento para o
padrão estético implementado pela MTV Brasil, e aceito junto a uma juventude
que passava por transformações políticas, econômicas e principalmente de
valores sociais.
1.2.3 A democratização da moda, as celebridades, e a ampliação do limite
de juventude.
Com a deflagração de problemas econômicos mundiais, oriundos na
década de 80, que reduziram o poder de compra da massa de consumidores e
limitou o universo de compradores da alta costura, abreviando o segmento a
alguns poucos milhares de mulheres em todo mundo, os grandes centros de
41
moda se viram na urgente necessidade de rever conceitos e expectativas para
se manterem ativos.
Os desfiles de moda europeus, antes restritos aos pequenos e íntimos
espaços dos ateliês de alta costura, tinham como platéia exclusiva o seleto
grupo de privilegiadas e abastadas damas da sociedade e da monarquia, que
se reuniam para apreciar as recentes novidades do vestuário, degustando chás
e biscoitos finos.
Este evento, a partir da globalização da década de 90, sai da intimidade
social transformando-se em espetáculo e principal atração da programação
televisiva dedicada ao segmento de moda na mídia mundial.
As redes de televisão por assinatura, que são transmitidas via cabo,
descobriram no segmento da moda uma nova fonte de crescimento dentro do
mercado do entretenimento.
O restrito e exclusivo espaço privado dos ateliês dos estilistas de moda
passa a ser invadido pelo imenso e acessível espaço público da televisão.
Embora a distinção entre o privado e o público coincida
com a oposição entre a necessidade e a liberdade, entre a
futilidade e a realização e, finalmente, entre a vergonha e a
honra, não é de forma alguma verdadeiro que somente o
necessário, o fútil e o vergonhoso tenham o seu lugar
adequado na esfera privada. O significado mais elementar das
duas esferas indica que há coisas que devem ser ocultadas e
outras que necessitam ser expostas em público para que
possam adquirir alguma forma de existência. Se examinarmos
42
essas coisas, independentemente de onde as encontramos em
qualquer civilização, veremos que cada atividade humana
converge para a sua localização adequada no
mundo.(ARENDT, 2005:83/84)
Os executivos das redes de televisão a cabo, com seus canais
segmentados onde se paga por aquilo que poderia ser visto de graça em TV
aberta, em sintonia com seus anunciantes que precisavam vender seus
produtos, perceberam que a moda conceitual se encontrava no momento
propício para se expor publicamente e atrair o grande contingente de jovens
consumidores, tão suscetível às novidades e, portanto, capaz de garantir sua
existência no acirrado e competiti vo mercado globalizado.
A massa consumidora passa a ter acesso, pela televisão e no conforto
de sua sala, às informações sobre as últimas tendências da moda, quase que
simultaneamente às obtidas pelas poderosas editoras das maiores revistas32
de moda do planeta.
A ciência da moda sai do patamar exclusivo de especialistas no objeto e
se torna argumento prosaico das superficiais atrações televisivas.
1.2.3.1 As celebridades da comunidade estética.
A década de 90 trouxe, para o mundo da moda, o conceito de
celebridade instantânea. Ao contrário das divas do cinema que edificaram sua
imagem mediante o desdobramento de sua carreira cinematográfica, as top
32VOGUE, Le”OFFICIEL, COLLEZIONI, GAP, ELLE, VANITY FAIR, W, ARENA, entre outras.
43
models se tornavam famosas pela quantidade de imagens que eram veiculadas
na mídia, provenientes dos desfiles de moda e dos editoriais de revistas.
Quando o assunto “moda” adentra ao espaço midiático, aberto para
expor os anseios da audiência, cria-se a necessidade da transformação de
manequins anônimas em celebridades instantâneas, cuja imagem de caráter
prático suscite identidade com o telespectador.
Segundo Nancy Etcoff (1999), os anos 90 foram a década das
supermodelos. Apontadas pela capa da revista Vogue inglesa de 1990 como
Top Models, Linda Evangelista, Christy Turlington, Cindy Crawford, Naomi
Campbell e Tatiana Patitz, passaram a ser conhecidas por seus nomes e,
remetendo a participação delas nos desfiles, pelo poder financeiro exercido
pelos estilistas e grifes que as contratavam, uma vez que seus cachês eram
imensamente maiores se comparados a grande maioria das modelos
profissionais.
Mesmo com o arrefecimento do mercado de consumo dos produtos da
alta costura, as empresas mantiveram os desfiles das grifes mais tradicionais,
nesse segmento, com o objetivo de criar um novo conceito do luxo e agregar
valor para todo o tipo de mercadoria que a indústria de bens de consumo
Fig. 6 - Revista Vogue América de
novembro de 1999, retratando o elenco
de tops que fez história ao longo da
década de 90, incluindo a brasileira
Gisele Bündchen.
44
pudesse produzir. Óculos, perfumes, lenços, canetas, cadernos e uma
infinidade de inutilidades, foram produzidos especialmente para o consumo de
massa.
Adquirir um objeto massificado, porém com a marca de estilista famoso,
passa a conceder ao anônimo a imagem instantânea do “poder pertencer” ao
seleto grupo de compradores do luxo exclusivo.
O indivíduo contemporâneo passa a se valer da superficialidade
estética, como forma de pertencer aos diversos grupos sociais.
Agora, cada vez mais, nos damos conta de que mais
vale considerar a sincronia ou a sinergia das forças que agem
na vida social. Isso posto, redescobrimos que o indivíduo não
pode existir isolado, mas que ele está ligado, pela cultura, pela
comunicação, pelo lazer, e pela moda, a uma comunidade, que
pode não ter as mesmas qualidades da idade média, mas que
nem por isso deixa de ser uma comunidade.(Maffesoli:114)
A estética passa a ser o instrumento de identificação imediata no lugar
das ideologias que foram se diluindo nos vário segmento da comunidade.
1.2.3.2 O rejuvenescimento da imagem das grifes de moda, e a estética
das tribos urbanas.
Em um país como o Brasil, com mídia televisiva atuante, submerso em
problemática política, econômica e social, onde o presidente recém-eleito
45
propalava a abertura dos mercados, a modernização da economia, e a
conseqüentemente entrada do Brasil para o reluzente mundo globalizado, o
jovem brasileiro se viu de frente com a real oportunidade de fazer parte da
aldeia global.
Foi a década da criação dos cursos superiores de moda33, decorrente da
necessidade de profissionalização de um mercado atuante mas, em sua
grande maioria, ainda amador nos desfiles de moda realizados em eventos
como o “Phytoervas Fashion” 34, o “Morumbi Fashion” 35 (que daria origem a
“São Paulo Fashion Week”), o “Amni Hot Spot” e a “Casa de Criadores”, os
quais se tornaram divulgadores de jovens talentos da moda como Alexandre
Herchicovit, Walter Rodrigues, Marcelo Sommer, Tais Losso, Jum Nakao e
tantos outros que, além de suas marcas próprias, passaram a responder pela
renovação da imagem de antigas marcas36 nacionais estabelecidas há
décadas.
Conforme o documentário “Moda, Sexo e Estilo dos anos 90” da TV
Canadense, o espírito jovem foi incorporado pela indústria da moda dos anos
90 com o surgimento nas passarelas internacionais de jovens e talentosos
estilistas egressos de conceituadas escolas da moda, a exemplo da St. Martin’s
of Art de Londres, que foram contratados por algumas tradicionais casas das
grifes européias.
Os ingleses John Galliano (da Christian Dior), Alexander McQueen (da
Givenchy), Estella McCartney (que responde pela grife Chloé) e o norte
americano do Texas Tom Ford (que revitalizou a imagem da grife italiana da
33 Faculdade Santa Marcelina, Anhembi Morumbi, Belas Artes, FMU e UNIP. 34 Inaugurada em São Paulo em 1993 35 1996 tem a 1ª edição no Morumbi Shopping com desfiles da Zoomp, Fórum, M. Officer, Ellus, etc. 36 Cori, Zelo, Viva Vida etc.
46
família Gucci), substituíram a figura do fundador-criador cujo nome originou e
consagrou grifes mundialmente. Alocados na cruel circunstância de serem
afastados, no momento em que seus negócios foram agregados a poderosos
conglomerados, a exemplo do grupo “LVMH”37, que detém as marcas “Louis
Vuitton” e “Moët & Chandon” dentre outras.
Figs. 7 e 8 - John Galliano para Christian Dior
O mercado da moda já não pertenceria mais aos criadores individuais e
suas criações, mas sim ao grupo de investidores da bolsa de valores.
A pop star Madonna, hábil em utilizar seu marketing pessoal e a mídia
para se manter no auge do segmento jovem da música pop, criou um
espetáculo irreverente e provocador, e se apropriou da imagem jovem e de
sucesso do genial estilista francês Jean Paul Gaultier. Suas criações
vanguardistas e consagradas foram de fundamental importância na
composição cênica do espetáculo “Blonde Ambition”, de 1990. As roupas que
37 LVMH – Louis Vuitton, Moët Hennessy, proprietária entre outras das grifes Kenzo, Givenchy, Marc Jacobs, Fendi, Donna Karan e do site e LUXURY.
47
foram desenhadas por Jean Paul Gaultier recriaram a irreverência de
Madonna, e mais uma vez mantiveram a identificação de sua imagem junto ao
público jovem transformando a turnê em magnífico sucesso mundial.
Fig. 9 - Criação de Jean Paul Gaultier Fig. 10 - Madonna na turnê Blonde Ambition
Essa identificação nos faz pensar sobre o ser jovem cronológico, no
caso do público, e o estar jovem independente da idade que se tenha, no caso
de Madonna. O jovem, nesta teoria, produto da condição pós-moderna, dispõe
da conveniente liberdade de não se definir somente pela idade cronológica ou
pela condição do ser jovem. Esta reflexão faz parte das hipóteses de Giovanni
Levi e Jean-Claude Schmitt que nos auxiliam com a seguinte
constatação:
Ao contrário do enquadramento em uma classe social (da
qual os indivíduos têm dificuldades para sair, a menos que
consigam realizar, em certos casos, suas esperanças de
mobilidade social); à diferença da definição sexual (que é
unívoca, fixada de uma vez por todas), pertencer à
48
determinada faixa etária - e à juventude de modo particular -
representa para cada indivíduo uma condição provisória. Mais
apropriadamente, os indivíduos não pertencem a grupos
etários, eles os atravessam. É justamente o caráter essencial
de liminaridade, típico da juventude, conjugado com a maior ou
menor brevidade da passagem pela condição de jovem, que
caracteriza em última análise (porém de maneira diversa nas
diferentes sociedades) a juventude, determinando tanto as
atitudes sociais, a atitude dos "outros" no seu confronto, quanto
a visão que os jovens têm de si mesmos. (1996:8)
Podemos observar esta tendência quando nos remetemos aos
movimentos culturais da juventude cronológica, a exemplo dos Hippies nos
Estados Unidos e dos Punks em Londres (Inglaterra) que se valiam dos
encontros com o grupo e de shows musicais dos anos 70 e 80, como o
celebrado “Woodstock”38, para materializar sua filosofia de vida em figurinos
elaborados e cortes de cabelos inusitados.
Figs. 11 e 12 - Cartaz e cena da platéia do festival de Woodstock
38 Festival de Música e Artes de Woodstock , foi realizado em uma fazenda em Bethel, Nova Iorque, durante os dias 15, 16 e 17 de agosto de 1969 e teve a participação de 400.000 jovens espectadores.
49
Os movimentos culturais, agora denominados na pós-modernidade
como Tribos Urbanas, voltam a se estabelecer, na atualidade, em grupos de
jovens sejam eles cronológicos ou de espírito jovem.
Não contam mais, é verdade, com as lutas ideológicas da Paz & Amor
dos Hippies, ou a critica a exclusão social dos Punks londrinos, movimento que
com o passar do tempo passa por várias derivações e denominações tais como
Hardcore, Crossover, Psychobilly, Emocore e Grunge entre outros. Também
não se mantém fiel ao grupo por muito tempo, transitando de um para o outro
com grande desenvoltura, bastando um novo corte e coloração de cabelos
acompanhados da roupa adequada.
O mais forte código de identificação é o visual estético, onde a produção
do figurino exerce, em sua grande maioria, o papel principal.
...a estética é um meio de experimentar, de sentir em comum e
é, também, um meio de reconhecer-se. Parva esthetica? Em
todo caso, os matizes da vestimenta, os cabelos multicoloridos
e outras manifestações punk, servem de cimento. A
teatralidade instaura e reafirma a comunidade. O culto do
corpo, os jogos da aparência, só valem porque se inscrevem
numa cena ampla onde cada um é, ao mesmo tempo, ator e
espectador. (Maffesoli:108)
Essa nova postura tem no movimento grunge, derivação do punk e
originário dos jovens da cidade de Seattle nos Estados Unidos, seu
balizamento.
50
Fig. 13 - O grupo Nirvana com seu vocalista à frente Kurt Cobain
Difundido para o mundo por meio da MTV na forma de sucesso
instantâneo do grupo musical local Nirvana, fez com que o vocalista da banda,
Kurt Cobain39, fosse alçado da categoria de cantor de banda de garagem a
ídolo pop internacional.
A moda grunge original, adotada até hoje, e que de tempos em tempos é
fonte de inspiração nas passarelas de moda jovem, compõe sua estudada
produção desleixada com camiseta básica sobreposta pela camisa de flanela,
peça chave da composição, calça jeans ou bermuda. Os coturnos são um
referencial ao clima chuvoso da cidade de Seattle.
Fig. 14 - Editorial da Revista Vogue com tendências Grunge na moda das passarelas
39 Suicidou-se em abril de 1994, fato que trans formou o ídolo pop em mito da juventude.
51
Outros caracteres estéticos das tribos urbanas se fazem presentes no
mundo pop e da moda com os clubbers, as drag queens40, os cyberspunks, e
os ravers entre outros.
41 42 Fig. 15 – Ru Paul André Charles Fig. 16 – Desenho animado japonês
Michel Maffesoli em sua obra no Fundo das Aparências, discorre sobre
esses movimentos estéticos:
O que dizer, senão que, num processo de massificação
constante operam-se condensações, organizam-se tribos mais
ou menos efêmeras que comungam valores minúsculos, e que,
em um balé sem fim, entrechocam-se, atraem-se, repelem-se
numa constelação de contornos difusos e perfeitamente fluidos.
É essa a característica das sociedades pós-modernas. Assim,
a unicidade da constelação em questão é feita do
entrecruzamento e da correspondência dos microvalores
éticos, religiosos, culturais, sexuais, produtivos, que por
sedimentação, constituem o solo da comunicação.(1999:32)
40 Homossexuais, bissexuais e heterossexuais masculinos, que se vestem de mulheres para shows em casas noturnas. 41 RuPaul Andre Charles, drag queen performer Norte-Americana, cantora e atriz famosa desde 1990. A foto mostra a sobreposição de RuPaul homem e transformado em mulher. 42 Desenho animado japonês, sub-gênero de ficção científica.
52
Segundo a ótica de Maffesoli, o papel da estética na sociedade
contemporânea, será o de “ressaltar a eficácia das formas de simpatia e seu
papel de “laço” social” para que haja compreensão da imagem do “estar junto”.
1.3 – Considerações finais do capítulo.
Estudar a influência das formas visuais da comunicação midiática no
Brasil da pós-modernidade sem nos remetermos a contextos históricos,
políticos, sociais e culturais da juventude da década de 90 não seria possível.
Parte integrante do bloco de países considerados em desenvolvimento,
a jovem sociedade brasileira, se viu diante de fatos do seu plausível futuro,
modas e referenciais de comportamentos que se davam primeiro na Europa e
Estados Unidos e que só muito tempo depois repercutiam no terceiro mundo,
incidindo em pleno tempo presente.
Essa constatação nos remete ao conceito de destemporalização de
Gumbrecht quando ele afirma:
A situação contemporânea evoca um futuro bloqueado.
Em lugar da percepção moderna de um futuro cujas opções
permanecem em aberto, passamos a temer este futuro: não
mais o vemos como um resultado do presente, antes o
presente parece tornar-se onipresente. Ao mesmo tempo, as
possibilidades técnicas de reprodução de ambientes e
condições do passado se aperfeiçoaram a tal ponto que,
constantemente, o presente parece invadido por passados
artificiais. Deste modo, as condições de destemporalização
53
insinuam não um tempo que progride, mas um presente que
cada vez mais domina o cenário contemporâneo.
(GUMBRECHT,1988:138)
Observando-se este esboço, e levando-se em conta a abertura do
acesso a informação para sociedades anteriormente fechadas como a
brasileira, descobre-se que, tomando-se como exemplo o segmento da moda,
as tendências da moda que estão sendo usadas hoje na Europa, no presente,
e que somente fariam parte do vestuário nacional daqui a seis meses, portanto
no futuro, com o acesso irrestrito a informação através da mídia televisiva e da
Internet, esse pseudo futuro começa a influenciar as produções de moda que
estão presentes nas vitrines dos shoppings e nos editoriais de moda brasileira.
Ou seja, o futuro já faz parte do presente, fazendo com que o presente se torne
onipresente.
Quando direcionamos este mesmo olhar para a MTV Brasil, percebemos
que os acontecimentos no universo jovem mundial da emissora repercutem,
quase que instantaneamente, nas atrações, noticias, modas e comportamentos
apregoados pelo canal junto a seus telespectadores.
Com relação a esses telespectadores e os movimentos culturais,
percebe-se que a fragmentação de movimentos importantes do final dos anos
70 (como o punk), na atualidade está presente em infinitos desdobramentos
que, muitas vezes, carregam leve traço da filosofia original, nos fazendo pensar
na destotalização de Gumbrecht que se ampara na obra de François Lyotard.
54
O conceito de destotalização, e aqui penso no.Jean-
François Lyotard de A Condição pós-moderna, explicita a atual
impossibilidade de sustentar afirmações filosóficas ou
conceituais de caráter universal.(...)Já não podemos construir
mitologias, filosofias que pretendam abranger a toda
humanidade. Nesta perspectiva se inspira à crítica a conceitos
como o de "razão humana" ou o de "natureza humana". (...) Em
suma, o conceito de destotalização descreve (e se inscreve
em) um esteticismo incipiente no que diz respeito às grandes
abstrações. (GUMBRECHT,1988:138)
Chegamos a esta conclusão, quando ressaltamos que os anos 90
representaram tanto para o Brasil como para o mundo, o advento da
globalização, o acesso a Internet e a conseqüente transformação do mundo em
aldeia global onde a imagem passa a ser fator importante na identidade dos
movimentos da juventude mundial.
Ao contrário do que se podia imaginar, essa mesma aldeia global que a
princípio uniu todos os povos em uma filosofia universal, pode ter compelido a
formação de pequenos movimentos culturais locais, derivados dos universais,
como forma de manter o pertencimento imediato e concreto.
Quanto ao objeto desse nosso estudo, os VJs da MTV Brasil e a
imagem das tribos urbanas junto a audiência jovem no suporte televisivo,
dispomos do conceito de desreferencialização como citação:
O conceito de desreferencialização ou desnaturalização
trata da experiência do trabalho humano. Trabalho este cada
55
vez mais definido como uma apropriação da natureza realizada
através do corpo humano. Em nossa práxis cotidiana perdemos
progressivamente um contato direto, a fricção do corpo com a
matéria, por assim dizer. Esta perda traz consigo a sensação
de enfraquecimento do nosso contato com o mundo externo.
Não me refiro ao que objetivamente constituiria este mundo,
mas à impressão de que nos movemos num espaço pleno de
representações que já não contam com a referência segura de
um mundo externo. (GUMBRECHT,1988:138)
O “trabalho humano” mencionado por Gumbrecht pode estar relacionado
com o posicionamento dos VJs perante a câmera de televisão dentro de um
estúdio, enquanto a “fricção do corpo com a matéria” nos remete a da
materialização de sua imagem junto ao telespectador que se encontra em
frente à tela de TV em lugares distintos. Ou seja, não há a “fricção do corpo
com a matéria” e sim a materialização da imagem do VJ diante da audiência.
A mídia televisiva da pós-modernidade abriu as janelas entre sociedades
longínquas, exibindo perante seus olhos, para o bem e para o mal,
acontecimentos, conceitos, estilos de vida, modas e imagens animadas do
macrocosmo, em contraponto aquelas que sempre fizeram parte do imaginário
do microcosmo.
Isso talvez tenha possibilitado o surgimento e a concretização de uma
emissora de televisão como a MTV Networks e suas coligadas mundiais, neste
caso a MTV Brasil, cujo slogan “Pense Globalmente e Aja Localmente”, não
poderia ser mais apropriado nessa sociedade contemporânea.
56
CAPÍTULO II - VJs: Imagem e Identificação.
2.1. Os VJs e suas intervenções.
Quando se analisa a identidade visual da MTV nos países onde ela está
instalada, um olhar mais atencioso supõe a grande eficácia da imagem dos
jovens apresentadores dos programas veiculados pela emissora, na
assimilação dos conceitos apregoados pela emissora junto à audiência.
Denominados pela emissora como VJs, abreviação para video jockey 43,
esses jovens onipresentes nas telas das TVs44, nos sites45 e na mídia
impressa, produzidos com as roupas, os cabelos, os acessórios e a
maquiagem da moda contemporânea, arraigados em elaborados cenários, e
contando com enquadramentos de câmera que favorecem uma aparição quase
que total de suas figuras, materializam aos olhos do telespectador, toda uma
analogia do ser jovem.
(...) a utilização das imagens dos VJs é feita com a
intenção de torná-los mais próximos do modo de vida de seu
público. O corpo, ou melhor, a imagem do corpo é muito
presente na MTV, os planos são da região das coxas para cima
até a cabeça, em geral. Quando sentados, o que é raro, os
apresentadores se inclinam em direção à câmera ou aparecem
de corpo inteiro, sem mesa ou outro aparato a lhes esconder.
(Mantovani,2005:48)
43Termo derivado de disc jockey que identificava o locutor de rádio que seleciona as músicas que eram tocadas durante a programação e fazia comentários e fofocas sobre os artistas. Atualmente os dois termos são utilizados para denominar os profissionais que comandam as atrações de música eletrônica conhecidas como raves. 44MTV Alemanha, Reino Unido, Países Nórdicos, Portugal, Romênia, Argentina, Benelux, México, América Latina, Itália, Europa. 45Todos os Canais MTV pelo mundo dispõe do site principal e outros correlatos.
57
Fundamentado na ocorrência de que a concepção da MTV Networks
tem como referência a logística das rádios FM, onde a programação é
ancorada pelos DJs46 e consiste na reprodução musical das paradas de
sucesso, notícias geradas nas atividades dos artistas e bandas relacionadas
com as músicas executadas e esquetes de humor, é possível perceber as
mesmas características na programação televisiva.
As 24 horas ininterruptas de atrações veiculadas na tela da MTV
consistem tanto na sucessão de programas relacionados com artistas do
segmento musical e bandas, como na exibição de videoclipes47, entrevistas e
notícias48 oriundas do segmento musical e ancoradas pela figura do VJ.
Fig. 17 - VJs. MTV USA49 Fig. 18 - VJs. MTV Brasil50
A hipótese da existência de um elo entre a emissora e o telespectador,
exercida pelos VJs nas MTVs do mundo todo, pode ser observada pelas
imagens acima que reproduzem o grupo norte-americano e o brasileiro. Sem o
auxilio das legendas, fica bastante difícil para quem não pertence ao universo
MTV, distinguir qual a nacionalidade dos sorridentes jovens retratados. Do
ponto de vista da audiência, a identificação com o canal provavelmente seria
imediata. 46Disc Jockey – locutor de rádio FM. 47Disk MTV, Videoclash. 48Jornal da MTV 49 Hillary, Quddus, La La e Damian 50 Didi, Daniella, Cazé, Marina e Edgard
58
Quando a MTV é sintonizada em qualquer parte do planeta e a figura do
VJ é percebida, involuntariamente o jovem é capaz de identificar a imagem
exibida e saber previamente as características da programação, mesmo que
não se possa compreender o idioma.
A implantação da MTV no Brasil teve acentuado o tempo de exposição
da imagem dos VJs na programação. Diversamente de seus pares, que
permanecem no ar por exatos 30 segundos entre uma atração e outra nas
diversas franquias da MTV pelos continentes Europeu, Asiático e Latino
Americano, os apresentadores brasileiros dispõem de 90 segundos no ar. Uma
eternidade para os padrões da MTV. Esta conquista se deu em virtude do
obstáculo inicial detectado pela emissora durante seu período de implantação
(Pedroso,2006:80).
Como se tratava, no momento da implantação da emissora, do primeiro
país de língua não inglesa, e dispondo de uma programação 100% proveniente
desse idioma, surgiu a necessidade de se estender o tempo de permanência
da imagem dos VJs na tela da televisão brasileira, para que fosse criado
vínculo entre o telespectador e a programação, até o ponto de encontrar-se
apto para ler a imagem que se concretizaria diariamente diante de seus olhos.
Sanados os problemas com relação ao acoplamento da programação
junto ao jovem telespectador, através das sucessivas alterações implantadas
na programação ao longo do tempo, com o abarcamento de atrações locais os
VJs da MTV Brasil se tornaram ídolos.
Segundo Mantovani (2005:51) os VJs são imagens de pessoas que,
assim como os rock stars, vivem num universo em que parecem ter maior
autonomia e liberdade se comparados aos cidadãos “normais”.
59
A ex-VJ Astrid Fontenelle, que foi a primeira imagem veiculada pela
MTV Brasil no momento da inauguração, deu a seguinte declaração:
Lembro que a mídia estranhou um pouco, mas o público
adorou. Tanto que em pouco tempo alguns VJs se tornaram
tão ídolos quanto a marca MTV que é sempre bom lembrar, é
um ícone no mundo todo. ( ... ) Fui a primeira brasileira a entrar
com a carinha no ar pela MTV Brasil. Se precisar mostrar esse
currículo para qualquer emissora estrangeira, é altamente
compreensível o que eu fiz ... (Astrid Fontenelle, ex-
apresentadora da MTV Brasil)
O Jornal da Tarde51, do Grupo O Estado de São Paulo , publicou
reportagem com o título “Programa Ego MTV”: Onde está a música da Music
Television? A programação da emissora está ficando cada vez mais focada nos
seus próprios “astros”, os VJs. Em matéria de capa, discorre sobre os
caminhos da MTV Brasil desde sua inauguração até aquela data, o texto da
ênfase a preocupação excessiva da emissora em veicular a imagem de seus
VJs exaustivamente durante toda a programação. Em um trecho da reportagem
o jornalista constata:
Exibir os VJs, mesmo que seja para falar abobrinhas, é
a estratégia da MTV para transformá-los em celebridades. Isso
pode ser notado pela mudança do perfil dos próprios VJs.
Saíram apresentadores que entendiam de música como
Gastão Moreira e Fabio Massarie vieram modelos como
51 Edição de 13 de dezembro de 2004 no caderno “Variedades”.
60
Daniella Cicarelli e Fernanda Tavares. Mesmo as escolhas que
não parecem se encaixar neste perfil, como Rafael Losso, têm
a ver com esta lógica. "O Rafael é a cara da audiência da MTV,
do público adolescente (mesmo já tendo 26 anos). Quando ele
foi selecionado a aposta era alta, maior até que no Léo”, disse
uma funcionária que preferiu não se identificar.
Pode-se também constatar o fenômeno da transformação dos VJs em
celebridade no site 52, onde estão disponíveis os perfis de cada VJ com
informações e gostos pessoais, programas que apresentam e fotos em
formato wallpaper para serem copiadas e utilizadas na tela do computador
pessoal.
A concretização da imagem dos VJs na tela da TV, através da exposição
constante de suas figuras, é imprescindível para uma mídia que atua em um
país onde o telespectador em geral e, na sua maioria jovem, utiliza a televisão
não só
Fig. 19 - Página sobre os VJs da MTV Brasil53
52 www.mtv.terra.com.br 53 http://mtv.terra.com.br/vjs2.0/mion.shtml
61
como entretenimento mas como fonte de educação, conhecimento, informação
e referencial de comportamento em menor ou maior grau, dependendo do
grupo social em que esteja radicado.
Segundo Arlindo Machado:
Em se tratando de sistemas figurativos, como é o caso
da fotografia, do cinema e do vídeo, a forma pregnante
consiste evidentemente na figura, ou seja, na referência a
seres e coisas familiares do mundo visível. Ver televisão
significa, antes de mais nada, preencher os intervalos que
fraturam a figura e completar os dados que foram suprimidos
na enunciação, para poder dar consistência a uma imagem
que, do ponto de vista do seu potencial informativo, não
constitui senão uma virtualidade.(...) A percepção das formas e
a combinação das cores no vídeo dependem, portanto, de
certo empenho do espectador no sentido de fazer emergir a
configuração plástica final.(1997:60)
Embora Arlindo Machado tenha feito tal afirmação em sua obra
publicada em 1997 com base nos estudos anteriores de Mcluhan54, e a imagem
televisiva desde aquele período até o presente momento tenha evoluído, e
muito, tecnologicamente, ainda assim, no Brasil, a grande maioria dos
aparelhos de televisão padecem de interferências das mais diversas, como as
provenientes de problemas ocasionados por antenas de recepção
inadequadas, ou por aparelhos novos, porém antiquados.
54MCLUHAN, Marshall – “Os meios de comunicação como extensões do homem” cuja 1ª edição se deu em 1964, está atualmente em sua 18ª edição pela Ed. Cultrix, São Paulo.
62
Apesar de amplamente propalada pela mídia, a televisão digital
brasileira, em fase de testes, e com previsão de implantação em 2007, ainda é
privilégio de pouquíssimos domicílios que dispõe de transmissão digital via
cabo.
Não obstante, Arlindo Machado informa que:
Ainda é preciso considerar que a tela do receptor de
video é banhada por luz irradiada do próprio tubo e não por luz
projetada como no cinema. Disso resulta que o dispositivo de
recepção televisual pode (e deve) prescindir inteiramente da
sala escura. (1997:51)
Portanto, principalmente em se tratando do meio televisivo e de um
canal de televisão que se baseia, na maior parte do tempo que está no ar, na
inserção frenética de múltiplas imagens, é perfeitamente compreensível se
expor exaustivamente a figura do VJs como forma de imprimir na memória do
telespectador a sensação de familiaridade para que se possa completar a
imagem toda a vez que ela se repetir e, conseqüentemente, retomá-lo das
possíveis dispersões com acontecimentos fora do quadro da TV.
Como forma de imortalizar o status de seres especiais adquiridos pelos
VJs, a MTV Brasil criou o desenho animado “Megaliga de VJs Paladinos”. Um
feito inédito no universo MTV.
Na animação, cada VJ é um super-herói com superpoderes
fundamentados na personalidade de cada um e não propriamente em poderes
63
sobrenaturais dos super-heróis das historias em quadrinho clássicas55.
Segundo a imprensa, a “Megaliga de VJs Paladinos” se transformou em
fonte de renda para o canal, que além dos protetores de tela para
computadores que podem ser baixados gratuitamente, permite o acesso aos
sons no formato MP3 para serem utilizados em telefone móvel da Claro56, ao
custo de R$ 2,00 a R$ 4,00. O serviço está disponível no site da MTV Brasil e,
segundo declarações da operadora de celulares, em 13 de dezembro de 2004,
“é um dos serviços mais acessados da categoria”.
Fig.20 - Mega Liga dos VJs Paladinos
55Super Homem (O Homem de Aço). 56A Claro é resultado da unificação de seis operadoras: Americel, BCP Nordeste, BCP SP, Claro Digital e Tess.
64
O fato dos VJs serem substituídos periodicamente 57 na grade da
programação por outros mais jovens, não representa dificuldade para a
manutenção da atração no ar. Da mesma forma que a grade da programação é
renovada no período de 2 a 4 anos, os personagens dos antigos VJs são
eliminados e os dos novos incorporados naturalmente.
A estratégia utilizada, para a efetivação deste método, foi a fórmula
norte- americana de exibir séries televisivas em temporadas58. A primeira
temporada do desenho animado continha 12 episódios. Nesse formato, entre
um período e outro de exibição, é possível se fazer os ajustamentos
necessários sem que se prejudique a atração, enfatizando a característica de
novidade aos olhos do telespectador.
Com o incondicional sucesso do desenho animado “Mega Liga de VJs
Paladinos” junto a audiência, a MTV Brasil lançou em agosto de 2005 a
escatológica animação denominada “Fudêncio”59 e Seus Amigos.
Fig. 21 – Fudêncio
57O tempo médio de permanência de um VJ no ar, com raras exceções é de 5 anos. 58Pacotes com número limitado de episódios da série, que são exibidos anualmente pelas redes de TV norte-americanas como a SONY e a WARNER. A cada temporada são avaliados os índices de audiência e o que pode ser modificado para a permanência da atração na grade da programação. O sucesso de uma série é medido pelo número de temporadas que ela fica no ar. 59Personagem criado pelo VJ João Gordo, a partir de um boneco de plástico que foi tatuado, vestido e furado com alfinetes. O boneco fazia parte dos aparatos do cenário dos programas “Gordo Pop Show” e “Piores Clipes do mundo”.
65
O roteiro se baseia na estória dos alunos da 4ª série do ensino
fundamental da fictícia escola pública EEPSG José Mojica Marins 60. A primeira
temporada contou com 8 episódios de 30 minutos que foram apresentados de
23 de agosto a 02 de outubro de 2005 às 23 horas.
2.2. Imagem e identificação delimitada.
Quando analisamos o entorno dos VJs na MTV Brasil, podemos
observar que todos os setores que atuam na emissora quer sejam eles
técnicos, artísticos ou comerciais, trabalham em sintonia para que a construção
da imagem do VJ e sua sedimentação no vídeo se dêem de modo a que ela
esteja vinculada de forma bastante estreita com a imagem da emissora.
Segundo Rosana Martins 61: “VJ nada mais é que a própria essência da
emissora na tela”.
Deste ponto de vista, podemos supor que o sucesso dos VJs esteja
restrito ao espaço televisivo da MTV Brasil. Para ilustrar esta suposição,
descreveremos duas situações distintas que podem dar embasamento a esta
hipótese.
Durante todo o período de permanência da MTV Brasil no ar alguns VJs,
que desfrutavam de prestígio em função do sucesso de seus programas na
grade da emissora, foram convidados a trocar de canal.
Os que não estavam inseridos no conceito original do “ser VJ”, não
tiveram maiores problemas de adaptação em outros canais de televisão mas,
60Cineasta brasileiro conhecido pela alcunha de “Zé do Caixão”. Figura lendária, seus filmes tratam de temas relacionados a morte e a vampiros. 61 Autora do Capitulo 7 “VJs, A Cara da MTV para o Brasil” do livro Admirável Mundo MTV Brasil.
66
com raríssimas exceções62, acabaram ocupando postos sem muito brilho a
frente de alguns programas.
Porém aqueles cuja imagem e fama foram construídas com base em
todo o suporte oferecido pela MTV Brasil, não tiveram a mesma sorte e, na
maioria das vezes, voltaram ao conforto da casa de origem.
Darei aqui dois exemplos ilustrativos que estão relacionados com VJs
que permanecem no ar até o presente momento.
O primeiro caso a ser descrito ocorreu entre o VJ Cazé Pecini e a Rede
Globo de Televisão.
Fig. 22 – Cazé Pecini
Em 2001, Cazé, confiante em seu grande sucesso na emissora jovem,
deixou a MTV Brasil seduzido por um contrato com a Rede Globo de Televisão,
que representaria maior visibilidade na mídia já que o alcance da emissora, na
época, ainda era bastante restrito.
62 Zeca Camargo como jornalista e um dos apresentadores do “Fantástico” da Rede Globo de Televisão e Maria Paula como integrante do “Caseta & Planeta” também da Rede Globo de Televisão.
67
Seu programa na Rede Globo, registrado na imagem acima, seria nos
mesmos moldes do apresentado na MTV Brasil, onde a sua personagem, “cria
da MTV”, fazia as vezes de um Chacrinha 63 estilizado com sua indefectível
buzina.
A Rede Globo investiu abundantemente no marketing televisivo para a
divulgação dessa “nova atração”.
Passadas apenas nove semanas e meia de programa no ar, Cazé se
viu fora da tela de TV, e preso ao contrato assinado, até que a MTV Brasil
resolveu resgatá-lo de volta para casa.
O colunista Ivan Ângelo fez o seguinte comentário no Observatório de
Imprensa64 quando da retirada do ar, pela Rede Globo de Televisão, do
programa de Cazé.
Alguns apresentadores que são ao mesmo tempo
personagens, e que fizeram sucesso numa emissora menor,
para um público menor, com outro nível de liberdade e
responsabilidade, com outra performance, podem não ‘dar
certo’ numa mega emissora. (...) Um apresentador-personagem
não é como um ator, que sai de si para ser outra pessoa; não
abdica da sua identidade, mas acrescenta a ela outros
elementos. Numa emissora de vôo pequeno, o personagem
fica no controle. Para grandes vôos, é preciso uma boa
tripulação.
63 Abelardo Barbosa, animador de programa de auditório de grande sucesso nas décadas de 70/80, que vestindo uma casaca colorida, com um disco de telefone gigante pendurado no pescoço e a buzina nas mãos se caracterizava como a personagem Chacrinha. 64 Diário jornalístico disponível nas TVs Educativas e na Internet.
68
A outra ocorrência bastante conhecida, foi entre o VJ Marcos Mion e a
Rede Bandeirantes de Televisão.
Assim como Cazé, Marcos Mion apresentava com bastante sucesso na
MTV Brasil a atração intitulada “Piores Videoclipes do Mundo”. Tratava-se de
uma produção bastante bizarra onde o VJ exercitava toda a sua verve artística
e que ficou no ar até Dezembro de 2001.
Em atitude semelhante a da Rede Globo, a Rede Bandeirantes que, na
época, passava por reestruturação da programação, contratou Marcos Mion
para apresentar a mesma formatação do programa da MTV Brasil, com o nome
de “Descontrole”. O programa entrou no ar em 18 de Fevereiro de 2002.
Figs. 23 e 24 – Marcos Mion
Criou-se uma grande polêmica. A MTV Brasil, incomodada com o
padrão do programa, criação de sua equipe de produção, divulgou nota
informando que processaria Marcos Mion e a Rede Bandeirantes por plágio. O
jornal Folha de São Paulo em reportagem de 07 de Março de 2002 informa:
A entrega de uma citação judicial se transformou em
show transmitido ao vivo em rede nacional ontem à noite. A TV
Bandeirantes, sentindo-se agredida pela forma como a citação
69
foi entregue, exibiu a ação ao vivo, durante o programa
‘Descontrole’. ”A decisão judicial, uma liminar concedida por
Mauro Conti Machado, da 7ª Vara Cível de SP, ontem à tarde,
determina a suspensão da exibição, pela Band, de dois
quadros do ‘Descontrole’. A decisão atendeu a pedido da MTV
do Brasil, que acusa Marcos Mion, apresentador do
‘Descontrole’, e a Band de plagiar o programa ‘Piores Clipes do
Mundo’. (...) A Band interrompeu o ‘Descontrole’ e registrou, ao
vivo, a entrega da citação ao seu departamento jurídico. Na
tela, a emissora exibia a legenda ‘Grupo Abril tenta tirar a Band
do ar’. O Grupo Abril é dono de 50% da MTV (a outra metade é
da Viacom).
Posteriormente a este episódio, a Bandeirantes reestruturou o programa
retirando as atrações que estavam sob acusação e trocando o nome
“Descontrole” por “Sob Controle”. Segundo declarações do diretor de
programação da emissora para o jornal O Globo de 26.06.2002
É preciso manter a irreverência, mas perdemos a mão.
Por isso, estamos tirando os excessos, o que não foi bem
recebido pelo público, o que estava agressivo. É hora de
acertar. Vamos valorizar o lado positivo do programa com as
ações de cidadania e disputas cujo objetivo é ajudar pessoas
carentes. (...) O programa não será descaracterizado. Ele
mesmo apresentou o primeiro ‘Sob controle’ fazendo uma
brincadeira, aparecendo de terno, dizendo que ficaria sério.
70
Logo depois arrancou o terno e apareceu como ele é - defende.
- O que vamos fazer agora é atingir o maior número possível de
pessoas e, para isso, tivemos que pôr um limite. Não adianta
falar para um segmento só. Estamos fazendo TV
aberta.(Rogério Gallo, Diretor de Programação).
Conjeturando sobre as alegações de Rogério Gallo pode-se perceber
que, em sua maioria, por serem talhados para atuar dentro do universo da MTV
Brasil, certos VJs não conseguem desenvolver suas carreiras e obter o mesmo,
ou maior, desempenho em outra emissora que não seja ela própria.
Um ano e dois meses depois da estréia, a atração foi definitivamente
retirada da grade de programação da Rede Bandeirantes.
Em 2005 Marcos Mion retorna para a MTV Brasil. De início aparece
improvisando um programa constrangedor e sem muito conteúdo, uma espécie
de punição da mãe, no caso a MTV Brasil, ao filho rebelde que resolve desafiar
os pais saindo de casa, mas é obrigado a voltar.
Atualmente sua atração “Covernation” faz grande sucesso e ele voltou a
ter o prestígio de antes na MTV Brasil.
Retomando os dois exemplos, podemos perceber dois importantes
aspectos:
1º -Que a imagem dos apresentadores está tão intimamente ligada a da
própria MTV Brasil, que eles não conseguem ter vida própria fora do habitat
natural.
71
2º -Que o universo MTV Brasil trabalha, nos mínimos detalhes, todos os
elementos da programação para que sua chancela, no segmento jovem, seja
constantemente cuidada com o intuito de não perder o foco e a legitimidade
junto a audiência.
2.3. VJs, Figurinos, Cenários e Tribos Urbanas.
Como em todo meio de comunicação imagético, o departamento de
figurinos, aliado ao dos cenários e da criação de vinhetas, consiste em peça
fundamental para que possa haver, num primeiro momento de contato visual
com o telespectador, identificação e uma certa familiaridade com aquilo que se
está assistindo. Na MTV, tanto no Brasil como no mundo, essa fórmula tem
uma acuidade ainda maior.
Por se tratar de uma emissora de segmento musical, direcionado ao
público jovem globalizado, o trabalho dispensado à visualidade das atrações,
requer infinitamente mais empenho e competência do que em qualquer outra
emissora.
A própria MTV Brasil, através das declarações de seu VJ Edgard Piccoli
assume:
O jovem é fisgado também pelo fator estético, e a
referência estética da MTV chega ao que o jovem quer: um
padrão descolado e sempre a frente das emissoras
tradicionais, (...) no visual dos programas e também nas
vinhetas, nos cenários e figurinos.(PEDROSO/MARTINS:168)
72
Ao contrário das emissoras de televisão aberta, que dispõe de núcleos
de dramaturgia e precisam construir uma infra-estrutura, como cidade
cenográfica, compra de objetos de cena e produção de figurinos que serão
utilizados por um período médio de oito meses65, a MTV Brasil, com exceção
de atração de vida mais longa (caso do Beija Sapo66), necessita renovar e
atualizar constantemente, e com extremo cuidado, todos os elementos que
compõe sua identidade visual.
Fig. 25 - Daniella no cenário do Beija Sapo
Nesta perspectiva específica e dentro desse grupo de elementos estão
inseridos os VJs.
Se observarmos toda a rede MTV no mundo, constataremos que, fora as
particularidades dos gostos locais pelo repertório musical, a figura dos VJs é
objeto de unanimidade na identificação do telespectador com as atrações
visualizadas.
65 Tempo médio dispensado com a gravação de uma novela. 66 Programa apresentado por Daniella Cicarelli.
73
Fig. 26 – VJs da MTV Brasil
O grupo de VJs da MTV Brasil, constituído em média por 15 jovens,
dispõe de representantes de praticamente todos os estilos de jovens que
circulam pelas ruas, shoppings, escolas, academias, universidades, bares e
baladas dos grandes centros urbanos.
...a pós-modernidade inaugura uma forma de
solidariedade social que não é mais racionalmente definida, em
uma palavra “contratual”, mas que, ao contrário, se elabora a
partir de um processo complexo feito de atrações, de
repulsões, de emoções e de paixões. Coisas que têm uma forte
carga estética. É a sutil alquimia das “afinidades eletivas”, bem
descrita por Goethe, que é transposta aqui para a ordem do
social. (Maffesoli:1999-pág.15)
74
Trajados com roupas cuidadosamente escolhidas para que não
interfiram em sua atitude natural, envergam grifes que são facilmente
identificáveis pelos membros do grupo do qual, teoricamente, fazem parte. Ao
final de cada atração da MTV Brasil, o jovem telespectador tem acesso a
marcas e estilistas de moda que vestem e calçam os VJs, sendo detalhados
abaixo de seus nomes nos créditos finais.
...propondo uma “lógica da identificação”, que
substituiria a lógica da identidade que prevaleceu durante toda
a modernidade. Enquanto esta última repousa sobre a
existência de indivíduos autônomos e senhores de suas ações,
a lógica da identificação põe em cena “pessoas” de máscaras
variáveis, que são tributárias do (ou dos) sistemas
emblemáticos com que se identificam. Este poderá ser um
herói, uma estrela, um santo, um jornal, um guru, um fantasma
ou um território, o objeto tem pouca importância, o que é
essencial é o ambiente mágico que ele segrega, a adesão que
suscita. Há viscosidade no ar. (Maffesoli:1999-Pág.19)
Através dos créditos expostos no final de cada programa, percebemos
que cada marca em particular veste determinado VJ ou grupo de VJs, o que
explicaria a ampla variedade de perfis distintos e a estreita identificação com a
audiência.
A supervisora de figurino e maquiagem da MTV Brasil, graduada em
moda, Juliana Maia, manteve por algum tempo, de 2003 a 2005, Blog que
podia ser acessado pelo site da emissora na Internet no provedor Terra, onde
75
uma espécie de boletim mensal trazia informações e curiosidades sobre os
bastidores do departamento de figurinos, contendo fotos dos VJs em diferentes
situações.
Abaixo está a reprodução fiel de um dos boletins informativos do blog da
figurinista Juliana Maia, onde ela utiliza as imagens dos VJs da MTV Brasil
para compor uma espécie de editorial de moda onde ela deixa claro, para os
jovens internautas e telespectadores da MTV, que as peças que compõe o
figurino dos VJs são “oferecidas pelo mercado e encontradas pela equipe nas
ruas e lojas” .
Uma sutil informação de que a jovem audiência da MTV Brasil tem a
possibilidade de vestir as mesmas roupas de seu VJ favorito, bastando buscá-
las no mercado, como faz a equipe de produção da emissora.
Arara de um VJ (12.04.2004)
Figs. 27 e 28 - Os lançamentos de inverno esquentam as produções, e as araras dos VJs ficam carregadas de novas informações.
76
Fig. 29 - Cada VJ tem sua arara. Cabe aos produtores de moda da MTV ir a busca dos lançamentos e novidades oferecidas pelo mercado e encontradas pela equipe nas ruas e lojas.
Fig. 30 - Tem o glamour dos brilhos, paetês, o prata e o ouro, as eternas mini saias. O estilo vintage atual, reforçando a atitude romântica das meninas, as sandálias agulha, as plataformas bordadas, a mistura do moletom com o brilho do paetê, T-shirts bordadas e estampadas. O tecido atoalhado ganha versão em calças e agasalhos da turma hip hop.
Fig. 31 - A grande vedete são as T-shirts vintage com cara de velhas, que fazem o estilo do VJ Edgard, no Jornal todos os dias à meia-noite.
77
Fig. 32 - O jeans está em todas as araras, o tweed, o rosa pink, escarpins com purpurina, estampas de bichos como onça e zebra.
Fig. 33 - Chapéus estão em todas as coleções, dos mais elegantes no estilo hip hop aos chapéus tipo boné esportivo.
Fig. 34 - Os acessórios são os mais legais, tem as correntes com penduricalhos e desenhos com bichinhos, escritos com frases fofinhas, do tipo “I love you, kiss me….” Tem pra todos os gostos! Juliana Maia é supervisora de figurino e camarim da MTV e trabalha no departamento desde 1996. Estudou Moda durante quatro anos com especialização em estilo.
78
Podemos argumentar que a MTV Brasil dispõe de logística
informacional, com o claro objetivo de frisar por todos os canais, junto a sua
audiência, o seu compromisso material com todas as tribos urbanas e todos os
estilos.
Um olhar mais atento vai detectar a utilização de marcas que estão
presentes nas passarelas da “São Paulo Fashion Week”, nas páginas de
revistas de moda e de segmento jovem.
A própria MTV Brasil lançou sua “Revista MTV” que cumpre a missão de
materializar em papel impresso boa parte dos assuntos tratados na emissora.
Sendo uma revista de variedades para o segmento jovem, traz
entrevistas, lançamentos, reportagens, os VJs e a seção de moda com
produções que fazem o pacto perfeito entre os figurinos dos VJ na tela da
televisão e a roupas apresentadas pelos modelos no editorial.
A revista que a princípio era vendida em bancas de jornal e livrarias,
passou a ser exclusiva de assinantes a partir de 2006.
2.4 - Considerações finais do capítulo II
Expor aqui o fenômeno dos VJs, no suporte televisivo, tem como
propósito delinear a trajetória percorrida por jovens que saíram da condição de
meros apresentadores para a categoria de ídolos de comportamento da
juventude mundial.
Apesar do objeto deste estudo estar delimitado à MTV Brasil, procurei
demonstrar que por estarem inseridos em uma emissora que atua no segmento
do entretenimento global, com formatos pré-estabelecidos, a única
79
característica peculiar de cada um deles é o idioma nativo com o qual se
comunicam junto à audiência jovem local.
Isso faz com que ao ser sintonizada em qualquer aparelho de televisão
do planeta, independente de se entender o que é falado, pode-se prontamente
identificar por intermédio das formas visuais, compostas pelos VJs, seus
figurinos e cenários, que se está diante do ambiente MTV.
Embora a emissora tenha a filosofia de se adequar localmente, a sua
logística estrutural visual é padrão nos quatro cantos do planeta, aspecto que
podemos constatar quando acessamos os sites disponíveis na Internet ou
sintonizamos os canais de televisão.
80
CAPÍTULO III – O ser e o parecer jovem: Descrição e analise das imagens
dos VJs da MTV Brasil, em diferentes momentos de atuação.
3.1. Introdução
O objeto deste estudo é a figura dos VJs da MTV Brasil e sua
identificação com a audiência através da imagem televisiva que eles projetam.
Para que possa haver entendimento de como se dá esse processo, se
faz necessária a descrição das características pessoais de cada um deles e,
posteriormente, das diversas imagens que foram divulgadas pela emissora em
várias situações, prática comum nas MTVs do mundo, como forma de vincular
o foco no segmento jovem com a figura do jovem.
Observando-se as imagens e confrontando-se os dados, observa-se que
o conceito de juventude nem sempre condiz com a idade cronológica dos VJs.
Percebe-se a forte existência da dualidade do ser jovem e parecer
jovem, principalmente pelo tempo em que eles chegam a atuar como VJs da
emissora, ou seja, enquanto suas imagens e suas atitudes refletirem juventude
identificável pelos telespectadores das atrações televisivas, a idade cronológica
não será empecilho para suas permanências no ar.
Para que isso aconteça com naturalidade, a MTV Brasil se apropria das
características da imagem real do VJ e a partir daí, se utilizando de
procedimentos dos mais diversos, como iluminação adequada, ângulos de
enquadramento favoráveis, cabelos, maquiagem e principalmente figurinos,
advindos das coleções comerciais de marcas famosas que são desfiladas em
81
eventos de moda, que são vendidas em lojas de shoppings, ou nas lojas
exclusivas dos centros de moda de rua, como da Oscar Freire (de São Paulo).
Suas figuras também podem ser divididas em duas categorias: A dos
VJs que eu chamaria de “neutros” e dos “definidos”.
Classifico de “neutros” aqueles de aparência comum, que concedem, a
equipe de produção de figurinos, uma certa liberdade na construção de suas
imagens televisivas. São figuras que, inclusive, podem ser substituídas por
outras mais jovens e com mesmo perfil, sem causar grandes mudanças na
grade da programação.
Já os “definidos”, carecem de um certo cuidado da equipe de produção
neste trabalho, no sentido de ressaltar, disfarçar ou sofisticar suas imagens,
que são naturalmente e facilmente identificáveis pela audiência da MTV Brasil,
fazendo com que suas figuras sejam substituídas não tão somente pela
aparência de juventude, e sim, quando não obtiverem mais respostas positivas
do telespectador.
Na seqüência, passo a descrever as características de cada um deles
em diferentes situações e a classificar e analisar suas imagens nesses
momentos diversos.
3.1.1. PENÉLOPE NOVA.
Penélope Cotrim Nova nascida em 19.08.73, na capital Salvador do
estado da Bahia, é filha de Marcelo Nova, vocalista da banda de rock “Camisa
de Vênus”. Concluiu o ensino médio e antes de fazer parte do corpo de VJs da
82
MTV Brasil, trabalhou em gravadoras, na divulgação de artistas junto à rádio e
televisão.
Em conseqüência do trabalho que desempenhava, conhecia todos os
funcionários do departamento de relações artísticas da MTV, que a convidaram
a integrar a equipe assim que surgiu uma vaga no departamento .
Penélope surgiu na tela da MTV Brasil em 1999, e desde então,
apresentou os programas “Pulso MTV”, “Sobe o Som”, “VJs em Ação”, e o de
maior sucesso até hoje, “Ponto Pê”. Permanece na MTV Brasil.
“Ponto Pê” consiste em uma atração que vai ao ar após as 23 horas e
dura 1h30m. Nele, Penélope sempre estendida sobre um divã ou uma espécie
de cama, dá conselhos sobre sexo e sexualidade aos telespectadores que
telefonam, e expõem em rede nacional, seus delicados problemas de ordem
sexual, e suas dúvidas mais íntimas.
A preocupação do programa não é o de advertir com conhecimento de
causa e responsabilidade, mas simplesmente o de utilizar a imagem irreverente
e liberal de Penélope, íntima da audiência da MTV Brasil, em virtude das outras
atrações que apresenta ou já apresentou, para dar conotação de competência
e seriedade aos seus desatinados comentários, uma vez que seu programa
substitui atração anterior que também discorria sobre o assunto, porém
ancorado pelo psicólogo, e especialista no assunto, Dr.Jairo Bauer.
Quando Penélope iniciou sua carreira na MTV Brasil, sua imagem e seu
figurino eram bastante distintos dos ostentados hoje. Claro que ela
amadureceu, mas a mudança está mais relacionada com a exposição da figura
na tela da televisão do que propriamente com a maturidade de suas atitudes.
83
Fig. 27 – Penélope Nova
Como se pode observar na foto acima, divulgada pela MTV Brasil por
ocasião da entrada de Penélope no ar, sua aparência é condizente com a de
uma garota na faixa de vinte anos, comum, que aprecia tatuagens, fato que me
faz classificá-la como VJ “definido”, com corte de cabelos um tanto clássico,
longo, com franja e sem tintura aparente e rosto maquiado de forma natural.
Percebe-se não haver preocupação com a forma física, uma vez que o
jeans em tom azul claro, básico e de cintura baixa, complementado por blusa
negra em tecido rendado que por aderir suavemente ao corpo e sobrepor a
parte superior de biquíni em tom azul, revela um tronco arredondado e saliente
na demarcação feita em seu contorno, pelo cinto em couro natural com
desenhos coloridos, ficando um tanto quanto evidente que a preocupação
estética está relacionada com a visualização das tatuagens coloridas dispostas
nos braços e ombro direito, num total de 23 (segundos declarações suas).
Passado algum tempo de sua permanência no ar, essa imagem foi
sofisticada pela emissora, o que pode ser constatado pela fotografia abaixo que
se encontra no site da MTV.
84
Fig. 28 – Penélope Nova
Penélope passar a exibir dez quilos a menos, uma exigência da imagem
televisiva que tende sempre a mostrar a figura com proporções maiores que o
peso original, e com figurino demasiadamente delicado para uma garota que
ostenta tantas tatuagens.
Nota-se que a preocupação aqui, é a de suavizar e elaborar a figura
despojada e quase comum que aparecia na foto anterior. Seu olhar e sua
inclinação de cabeça intimistas foram substituídos por expressão doce, com
leve sorriso. Os cabelos foram impecavelmente escovados, a franja e as
sobrancelhas alinhadas, e a maquiagem atribui um ar saudável.
Sua postura corporal foi feminilizada, e embora se mantenha a calça
jeans, a antiga blusa aderente, fora de moda, e um tanto disforme, foi
substituída por bata em tecido de renda negra, com acabamentos e detalhes
em renda azul clara e modelagem que valoriza as formas femininas e expõe
parte do seio esquerdo em profundo decote em “Vê” e sobrepõe o top negro
que é evidenciado pela sutil transparência da peça.
85
O fundo rosa forte e brilhante que ressalta a figura, o ângulo de
enquadramento que favorece o equilíbrio das formas corporais e a iluminação
sem sombras, descortina a imagem de uma pin-up pós-moderna, e livre de
toda argumentação ideológica da personagem original.
Figs. 29 e 30 – Penélope Nova
Quando Penélope se transmuta para a imagem de apresentadora do
programa sobre sexo “Ponto Pê”, nas fotos de 2004/2005, expostas aqui em
plano geral e no detalhe, percebe-se que a preocupação está em unir as duas
figuras. O ângulo explorado é o mesmo da foto anterior e o fundo berrante foi
substituído por neutro, com iluminação homogênea, também como forma de
ressaltar sua figura.
O cabelo liso e de penteado um tanto pueril, é substituído por corte em
camadas que dá volume, eliminando a demarcação da franja, e emprestando
uma aparência mais madura e um ar experiente à sua figura.
A calça jeans, fiel escudeira, ou talvez a peça que nos remeta a
personagem original, se mantém. A blusa agora é vermelha, com mangas
86
japonesas, e modelada em tecido tecnológico aderente ao corpo de formas
perfeitas. O decote generoso evidencia o par de seios que divide as atenções
com as tatuagens. A maquiagem é natural e as mãos expõem unhas pintadas
de vermelho escuro.
A foto panorâmica nos mostra o cenário do programa. Penélope se
posiciona semi deitada e descalça em divã dourado com faixa negra, almofada
branca e lençol com estampa de oncinha, displicentemente colocado sobre o
divã. Ao fundo a imagem, em repetição, de um par de algemas lúdicas
encontradas em lojas de artigos sexuais. A imagem aqui se relaciona com uma
amiga ou irmã mais velha.
Fig. 31 – Penélope Nova
A nova versão 2006 do programa “Ponto Pê”, traz Penélope aos 33 anos
de idade com uma aparência rejuvenescida. O cenário anterior, com
referências ao perfil mais velho do telespectador, foi substituído pelo atual,
mais leve e com motivos eróticos infantilizados, com profusão de bonecos de
pano tanto no cenário físico como nas vinhetas.
87
Penélope continua sobre uma espécie de divã, porém, está
acompanhada dos bichinhos de pano, e veste figurinos mais despojados e
juvenis, composto por blusas em meia malha com modelagem estruturada,
mas confortável e decotes profundos originais ou com auxilio de abertura de
botões ou zíper. Seus cabelos sofreram uma alteração no corte, que agora tem
uma pequena faixa na parte inferior da cabeça, atrás das orelhas, raspada. A
coloração, castanho claro, ostenta raízes dois tons mais escura que o restante
dos cabelos.
Fig. 32 – Penélope Nova na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Personagem da animação Mega Liga de VJs Paladinos, Penélope é
transformada em super heroína e, como tal, passa a adotar características que
valorizem sua imagem e convençam o telespectador de que ela é capaz de
atitudes sobre humanas.
De seu figurino original, fazem parte as calças jeans justíssimas, que
agora apresenta o detalhe estratégico do rasgo nos joelhos, e a camiseta preta
feminina, de mangas curtas, estilo baby look, decotada e aderente ao corpo. O
par de botas, de motoqueiro, negras até os joelhos sobrepostas aos jeans, e
88
cabelos negros, longos e com corte em camadas com parte da franja
encobrindo o olho direito, complementam a produção.
3.1.2. EDGARD PICOLLI.
Edgard Picolli nasceu em 20.05.1965, na cidade de Campinas, estado
de São Paulo. Formado em Publicidade pela PUC, trabalhava como locutor de
89FM de São Paulo. Fábio Massari67 que também trabalhava na mesma rádio
e já estava na MTV fez um convite para que ele participasse do teste para VJ
em 1992. Aprovado, passou a apresentar os programas: “Semana Rock”,
“Fanático”, “Sobe Som”,” VJs em Ação” e “Jornal da MTV”.
Edgard faz parte do que eu qualifico de VJ “neutro”. Aquele tipo comum
que não tem características de identificação acentuada, como piercings,
tatuagens, ou constituição física peculiar, que não demonstra a idade
cronológica real, parecendo sempre jovem e podendo ser substituído por outro
a qualquer momento sem que se possa notar a diferença. É aquela bela e
proporcionada figura masculina que aceita figurinos despojados ou elegantes
com a mesma envergadura. No final do primeiro semestre de 2006, depois de
14 anos no ar, Edgard deixou a MTV Brasil e foi contratado para apresentar um
programa de variedades na MULTISHOW, um canal por assinatura da empresa
NET, concorrente da TVA, proprietária da MTV Brasil.
67Fábio Massari é especialista no histórico dos movimentos musicais nacionais e internacionais, e trabalhou um curto período de tempo como VJ da MTV.
89
Fig. 33 – Edgar Picolli e Rafael Losso
Edgard Picolli sempre foi despojado no vestir. Talvez por ser proveniente
do rádio e ter feito muita locução na TV, e alguns comerciais com sua imagem
antes de fazer parte do corpo de VJs da MTV, a foto acima, onde ele aparece
ao lado de outro VJ, Rafael Losso, retrata o Edgard que se poderia encontrar
andando pelas ruas de São Paulo, e cuja figura se parece com outros tantos
rapazes de classe média de sua idade que circulam pelos shoppings, e
universidades. Camiseta pólo em meia malha lisa, de modelagem confortável,
na cor salmão e jeans azul escuro, com modelagem larga no estilo street, com
detalhe de recorte no meio da canela.
Sua característica pessoal sempre foi a “barba por fazer”, um
empréstimo e uma referência a algumas estrelas do rock internacional, já que
Edgard toca violão e guitarra em uma banda de garagem, e o corte de cabelos
cuidadosamente desalinhados.
Na foto 34, nota-se a preocupação da emissora em sofisticar a imagem
do VJ no sentido de suavizar a “barba por fazer” e modernizar seu desalinhado
corte de cabelos. A produção do figurino utiliza-se do seu natural despojamento
e gosto pessoal por t-shirts, na medida em que constrói uma imagem fashion
90
na sobreposição da camiseta vermelha, de manga curta, modelagem
proporcional l ao corpo, com silk-screen da banda de rock “Posers” em branco
Fig. 34 – Edgar Picolli
sobre a camiseta pólo negra de mangas curtas. Uma citação aos desfiles de
moda jovem da “São Paulo Fashion Week”, que tem em seus castings,
modelos com aparência muito semelhante a Edgard Picolli.
Fig. 35 – Edgar Picolli na “Mega Liga dos VJs Paladinos
O Personagem de Edgard na animação “Mega Liga de VJs Paladinos”,
faz alusão, no figurino por ele envergado, aos super-heróis de história em
quadrinhos como Batman e Super Homem. Porém, enquanto Batman tem
figura soturna e o Super Homem investe no perfil tímido e desajeitado, Edgard
91
é sorridente e romântico sempre disposto a sacar seu violão e a cantar uma
canção em homenagem a garota que está salvando.
Sua marca registrada, os cabelos desalinhados e a “barba por fazer”,
foram mantidos, e seu corpo proporcionalmente humano, foi transformado na
anatomia de atleta que pratica halterofilismo e evidencia a força física; é
vestido por macacão de malha colante na cor amarela com a impressão das
letras ED no peito, complementado por botas, luvas e capa na cor vermelha.
3.1.3. DIDI WAGNER .
Adriana Golombek Wagner, nascida em São Paulo (SP) em 16.10.1975,
trabalhava como modelo para a “Agencia Ford Models” quando foi convidada
pela MTV para apresentar o programa “Al Dente”, em 1997. Como a
experiência foi bem sucedida, ela decidiu, em 1999, investir na carreira
televisiva, dando preferência para a MTV Brasil, que era seu canal favorito na
época. Participou dos testes para VJ e, em janeiro de 2000 passou a fazer
parte do corpo de VJs da emissora. Apresentou as várias atrações:
“Videoclash”, “Balela MTV ”, “Sobe Som” e “VJs em Ação”.
“Videoclash” foi a sua atuação mais dinâmica. Como se tratava de um
programa com tema diário, onde eram travadas lutas fictícias entre dois
videoclipes, nele o vencedor era escolhido pela maior quantidade de votos da
audiência, que participava acessando a Internet ou enviando torpedos pelo
aparelho celular, Didi se utilizava de figurinos que remetessem a personagens
de filmes ou a estilos musicais.
92
Didi Wagner se desligou da MTV Brasil no final do primeiro semestre de
2006, após o término de seu contrato. Segundo declarações suas na imprensa,
a relação com a MTV Brasil estava desgastada. Como o ex-VJ, Edgard Picolli,
ela foi contratada pelo canal por assinatura MULTISHOW para apresentar um
programa de variedades.
Didi também fazia parte da categoria de VJ “neutro”. Tanto é verdade
que a novata Carla Lamarca, sete anos mais jovem mas, com as mesmas
características físicas, já ocupa o lugar que anteriormente era da ex-VJ, nas
atrações da MTV Brasil.
Figs 36 e 37 – Didi Wagner
Nestas fotos, de divulgação da MTV (2004), Didi aparece posando
como modelo.
Sua bela e sofisticada figura feminina, de cabelos louros com corte em
camadas, que valorizam seu rosto, aparece vestida com saia jeans,
provavelmente de marca famosa com tratamentos e lavagens que desgastam a
peça em lugares estratégicos, complementadas por camiseta regata de meia
93
malha na cor cáqui, sobreposta por regata de renda transparente sem
acabamento na cor bege queimado.
Fig. 38 – Didi Wagner
Como disse anteriormente, o programa “Videoclash” consistia em
atração diária temática, onde eram simuladas lutas entre dois videoclipes de
artistas diferentes com temas semelhantes. Didi Wagner apresentava esta
atração, tendo o cuidado especial da produção em caracterizá -la com figurinos
e penteados que se identificassem com o tema do programa ou com alguma
personagem de filmes e seriados que marcaram o público, ou que contivessem
referencial ao estilo visual de músicos e bandas conhecidas do segmento
jovem da MTV Brasil.
Nesta imagem se pode observar como era o cenário do programa
“Videoclash”. Um cenário virtual que simulava ginásio de arena com platéia e
ringue para lutas. Didi, mais uma vez em pose de modelo, aparece com
cabelos escovados que evidencia seu corte em camadas e seu belo rosto
maquiado em tons naturais. Jaqueta esportiva de malha tecnológica na cor
preta com duas listras paralelas em branco que saem dos ombros em direção
ao pulso.
94
Fig. 39 - Didi Wagner caracterizada como a personagem do filme “Kill Bill”
Caracterização de Didi Wagner, para apresentar o programa
“Videoclash”, com inspiração fiel na personagem da atriz norte-americana Uma
Thurman no filme de Quentin Tarantino “Kill Bill” volume 1. Didi aparece vestida
com réplica do macacão inteiriço amarelo com fechamento em zíper na cor
preta e com lista vertical nas laterais das pernas e dos braços também na cor
preta. Completam a produção, tênis fashion na cor amarela com detalhes em
preto e espada de samurai nas mãos.
Fig. 40 – Didi Wagner Fig. 41 – Leny Kravitz
Nesta produção fotográfica, a força da identificação da imagem não está
propriamente no figurino utilizado por Didi Wagner, que consiste em calça com
comprimento até o meio da canela, de modelagem colada ao corpo na cor
95
preta, sugerindo a utilização de tecido com elastano, e camiseta amarela com
detalhes em verde no decote e nas mangas, e silk-screen com desenho da
bandeira do Brasil no lado esquerdo do peito. A referência marcante aqui está
diretamente relacionada ao penteado executado em seus cabelos louros e
lisos, que foram arranjados no estilo conhecido como dreadlook ou rastafári,
penteados típicos da raça negra em alguns países, e de cantores de música
reggae da Jamaica, tendo Bob Marley como ídolo maior. A foto ao lado de Didi
é do cantor inglês Leny Kravitz que apesar de não cantar reggae adotou o
estilo por bastante tempo, aparecendo em alguns videoclipes de grande
sucesso, ostentando a cabeleira registrada da imagem.
Fig. 42 – Didi Wagner na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Didi Wagner, na animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, é retratada
como uma espécie de cientista que sempre soluciona de maneira inteligente os
problemas enfrentados pelas outras personagens do desenho animado.
A caracterização baseia-se em sua natural sofisticação e seus
impecáveis cabelos louros. Seu figurino é composto apenas de chemisier
96
branco modelado para evidenciar o equilíbrio de sua forma física, sobreposto
por jaleco e complementado por sapatos scarpin.
3.1.4. CARLA LAMARCA.
Carla Angyalossy Lamarca nasceu em 09.06.1982, em São Paulo,
capital. Formada em Publicidade na FAAP, trabalhou com desenvolvimento de
produtos da marca italiana Miss Sixty. Entrou para o casting da MTV Brasil
através do concurso “VJ em Teste”. Apresentou os programas: “Disk MTV”,
“Top 20”, “Sobe Som” e “VJs em Ação”. Atualmente, está com Rafael Losso a
frente do Jornal da MTV.
Fig.43 – Carla Lamarca
A estreante Carla Lamarca tem o tipo físico muito semelhante ao de Didi
Wagner, sua antecessora na MTV. Isso lhe da a definição de VJ “neutro”. Aqui
ela aparece com o mesmo tom louro e o mesmo corte de cabelo em camadas.
A maquiagem foi feita em tons que mantém a expressão natural com leve
destaque para os lábios.
97
Seu figurino é composto de blusa em tecido elástico branco, com
modelagem que valoriza as formas femininas sem apertar, com comprimento
até os quadris, mangas estilo japonês e vasto decote em “Vê”, e jeans de
cintura baixa com lavagem e desgastes que destacam os contornos das
costuras. Corrente com pingente branco complementam a produção.
Como cenário, o telão falso com moldura em cinza, sobre papel de
parede com figuras gráficas de jogos de videogame na cores lilás, amarelo e
vermelho em fundo preto.
Fig. 44 – Carla Lamarca em “Assista, é Sagrado”
Nesta imagem, Carla foi produzida como santa de altar da Igreja
Católica para a campanha publicitária da MTV Brasil na divulgação do VMB68
2005, cujo slogan era “Assista, é Sagrado”. A campanha, veiculada em jornais
68Video Music Brasil, premio oferecido pela MTV Brasil, com as votações da crítica especializada e da audiência da emissora, aos músicos, bandas e videoclipes de maior destaque durante o ano.
98
de grande circulação nacional, apresentava praticamente todos os VJs da
emissora caracterizados como divindades sagradas de várias religiões e seitas.
Carla, que está em pé, sobre um pedestal, com as mãos juntas, abaixo
do lado esquerdo do queixo e com olhar em direção a infinito, veste túnica
longa em cetim na cor roxa, com modelagem ampla para não demarcar a
silhueta, decote fechado e mangas longas. Na cabeça, lenço lilás sobre a testa
e amarrado atrás para prender parte dos cabelos, e manto em cetim branco
que sai do topo da cabeça e desce até o pedestal.
Fig.45 – Carla Lamarca na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Como personagem da animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Carla
Lamarca é retratada como “projeto em desenvolvimento”. Sua aparência é
sensual e suas qualidades estão na capacidade de prever o futuro e desvendar
mistérios.
Seu figurino consiste em macacão aderente ao corpo na cor negra, com
mangas longas e decote princesa. Como complemento , botas de salto
99
altíssimo e faixa negra com pedra âmbar no centro da testa. Cabelos louros,
retos e longos.
3.1.5. THAÍDE .
Altair Gonçalvez, ou Thaíde, nascido em 05.11.1967, em São Paulo (SP)
é cantor do estilo rapper, o que fez com que ele se aproximasse de alguns VJs
que trabalhavam na MTV Brasil. Segundo suas próprias palavras, “Minha
presença passou a ser mais constante na MTV. Fiz teste com outras pessoas,
tive a felicidade de agradar a direção e, graças a Deus, estou aí”.
Como VJ da emissora apresentou as atrações “Sobe Som” e “VJs em
Ação”, e até hoje é o titular do programa “Yo!”, voltado para o público negro
que aprecia os segmento hip hop, rap e r&b nacionais e internacionais.
Classifico Thaíde como VJ “definido”, porque está intimamente
relacionado ao segmento da música negra e a população da classe C que
utiliza a música, assim como o futebol, para ascenderem socialmente e porque
ele apresenta apenas o programa “Yo!” na MTV Brasil, e não chegou a
substituir algum outro VJ nas demais atrações da casa, participando apenas do
“VJs em Ação”, que se tratava de um bate papo informal sobre assuntos
diversos entre os VJs da casa, ambientados em uma sala de estar.
A imagem de juventude aqui não tem o mesmo referencial das classes A
e B, visto que nas classes menos abastadas o jovem não tem os mesmos
privilégios, e o sucesso e o poder aquisitivo não são uma conseqüência natural
da vida de seus pais, e sim o resultado de árduo trabalho e muitas vezes do
100
fator sorte. Aqui, os figurinos devem, além de rejuvenescer a imagem, agregar
o fator sucesso à figura.
São poucas as fotos de Thaíde divulgadas pela MTV Brasil, embora
possam ser encontradas várias na Internet, relacionadas com sua carreira
musical. Seu programa é veiculado as vinte e três horas e trinta minutos das
sextas-feiras, dia e horário em que a classe C, maioria dos telespectadores da
atração, pode assistir tranqüilamente, por ser véspera do fim de semana, não
havendo a preocupação de se levantar cedo no dia seguinte, para a jornada de
trabalho, seguida de estudo noturno.
Fig. 46 – Thaíde
Esta é uma das duas fotos disponíveis de Thaíde no site da MTV Brasil,
onde ele aparece com bigode e cavanhaque, traços peculiares seus, vestido
com uma espécie de blusa de capuz, com cordões negros, em tecido com
padronagem xadrez em tons de caqui e bege, com modelagem confortável e
fechamento com zíper negro. Boina negra, provavelmente de lã, complementa
a produção.
101
Fig. 47 – Thaíde
Vemos aqui a imagem de Thaíde, em versão sofisticada, de
apresentador do programa “YO!”.
Seu rosto continua ornamentado pelo dueto bigode e cavanhaque, agora
aparados cuidadosamente. O ângulo em que foi tirada a foto, favorece a
visualizarão de barba nas mandíbulas, criando assim um conjunto harmonioso
com o bigode e o cavanhaque.
A boina negra da foto anterior, foi substituída por chapéu também
negro, modelado com tecido estruturado que adere com perfeição a cabeça.
Sua camisa com tecido e padronagem sofisticados em tons de cinza, sobrepõe
uma correta camiseta básica negra. Para complementar a produção, cordão
prateado no pescoço e brinco brilhante na orelha esquerda.
A imagem, principalmente pela produção do figurino, pode ser facilmente
relacionada com os cantores de música negra internacional, especialmente os
norte-americanos, presentes em diversos videoclipes veiculados pela emissora.
102
Fig. 48 – Thaíde na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Como personagem da animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Thaíde
aparece caracterizado no estilo do movimento cultural “Black Power” dos anos
70, que nos remete aos conjuntos de música negra norte-americana.
Seu rosto conserva bigode e cavanhaque originais, porém seu vestuário
é totalmente distinto ao utilizado por ele tanto fora quanto na tela da MTV.
Aqui ele aparece vestindo um conjunto composto de jaqueta laranja,
com gola vermelha ao estilo marinheiro e punhos das mangas em amarelo,
sobreposta por peça amarela e calça laranja, com modelagem boca de sino,
com detalhes na barra em amarelo e silk-screen em vermelho. Complementam
o figurino, sapatos vermelhos com sola, biqueira e saltos na cor amarela e
óculos com aros redondos e lentes azuis.
3.1.6. DANIELLA CICARELLI.
Daniella Cicarelli Lemos nasceu em 06.11.1979, na cidade de Belo
Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Trabalhava como modelo
publicitário, quando foi convidada para apresentar um prêmio no VMB na
103
companhia de Fernando Meligeni69, e acabou sendo contratada para integrar a
equipe de VJs da casa. Apresentou os programas: “Sobe Som”, “VJs em
Ação”, “Dance o Clipe”, “Daniella no país da MTV” e “Beija Sapo”, o de maior
sucesso, no ar até o momento.
Fig. 49 – Daniella Cicarelli e “Beija o Sapo”
Trata-se de atração com a mesma formatação ideológica do programa
“Namoro na TV”, que Silvio Santos apresentava na extinta TV Tupi, dos anos
80.
No “Beija Sapo” de Daniella Cicarelli, garotos e garotas buscam seus
pares escolhendo entre três pretendentes ocultos, que ora ficam escondidos
atrás do cenário ora vestidos com figurino peculiar e máscara de sapo.
Com base em depoimentos dos melhores amigos, demonstração do
quarto e coisas pessoais do pretendente, fotografias antigas, e características
de personalidade e preferências, que vão sendo reveladas no decorrer do
programa, chega-se à escolha definitiva e o tão esperado beijo final.
69 Tenista profissional que trabalhou breve temporada na MTV, apresentando o MTV Sports.
104
A ousadia do programa foi a participação de vários homossexuais
femininos e masculinos, em busca de seu par.
Fig. 50 – Daniella Cicarelli em “Beija o Sapo”
A maior polêmica, veiculada insistentemente pela mídia e registrada na
imagem acima, se deu porque participantes homossexuais, femininos e
masculinos, trocaram beijos apaixonados no ar, estimulados pela produção,
porque o ato simboliza o sucesso da busca e faz parte das últimas cenas de
fechamento do programa.
Fig. 51 – Daniella Cicarelli
Nesta imagem de um dos vários programas, vemos parte do cenário
com Daniella Cicarelli à frente, vestindo camiseta regata branca com
justaposição de mini camiseta regata em tecido transparente e textura fluídica
105
na cor púrpura. Corrente com berloque e múltiplas pulseiras douradas no braço
direito.
Ao fundo duas “pererecas”, como são denominadas as pretendentes
femininas do programa, com figurino que simula o animal, composto de
macacão em meia malha na cor verde alface, com modelagem ampla, saia de
tule na mesma cor do macacão, luvas também verdes e máscara de perereca.
Fig. 52 – Daniella Cicarelli, Felipe Dilon e a personagem “Madrastra” de Beija o Sapo”
Aqui visualizamos o cenário principal, que é pertinente às gravuras
coloridas dos livros de estórias infantis, constituído por sofá modelo capitonner
na cor mostarda com detalhes dois tons mais escuro, tendo ao fundo parede na
cor lilás com desenhos estilo barroco três tons mais claros, e um par de janelas
com cortinas em tecido texturizado em tons de rosa e vinho.
Encontram-se no cenário, a personagem “Madrasta” que adentra meio
corpo pela janela à esquerda, mostrando parte do vestido negro, com profundo
decote ornamentado por múltiplas cascatas de babados e plumas também
106
negros, cabelos presos para trás e topete elevado acima da cabeça,
maquiagem estilo vilã e brincos pêndulo. Sentados no sofá estão Daniella
Cicarelli, que veste camiseta regata branca em tecido delicado em modelagem
exata, e saia em camadas estilo “cigana” na cor bordeaux e debruns negros, e
ao seu lado o cantor carioca Felipe Dilon que aparece como participante do
programa, vestindo camiseta regata em meia malha branca, sobreposta por
camisa de mangas longas, dobradas até a altura do cotovelo, na cor chocolate
e calça jeans, de modelagem básica, no tom azul claro, obtido por processo de
lavagens, com desgastes estratégicos nas coxas.
Fig. 53 – Daniella Cicarelli
A bela Daniella Cicarelli, que se tornou celebridade nacional e
internacional, após rápido noivado e casamento com o milionário jogador
brasileiro de futebol Ronaldo “Fenômeno”, o que faz com que seja classificada
como VJ “definido”, aparece aqui com os cabelos longos, mal cuidados e com
tintura desbotada em dois tons. A maquiagem delicada em tons róseos destaca
os olhos e suaviza as proporções da boca.
107
A camiseta frente única com decote em “Vê”, adaptação de uma t-shirt
básica que foi devidamente recortada com tesoura para que se pudesse
construir decotes na frente e nas costas, sem acabamentos, em malha negra
com tratamento de tae dae em cinza claro, que dá o aspecto de peça
manchada, e silk-screem rosa, com modelagem que contorna suavemente a
silhueta perfeita. Jeans básico, de cintura baixa, em tom azul escuro e com
modelagem perfeita, completam a produção.
Apesar de apresentar uma silhueta perfeita que não pôde ser
prejudicada pelo ângulo da câmera, percebe-se que a iluminação deixa a
desejar quando evidencia o descuido dos cabelos, e ao fazer jogo de luz e
sombra deficiente.
Fig. 54 – Daniella Cicarelli
Daniella Cicarelli aparece aqui, no cenário do programa semanal que
apresenta, “Beija Sapo”. Como se pode observar, há o cuidado da produção do
programa em valorizar sua bela figura, utilizando iluminação uniforme e ângulo
108
que mostra o corpo por inteiro, sem interferir de forma radical em seu estilo
pessoal, detectado na representação anterior.
Apesar de atleta assumida, por força da profissão de modelo, Daniella
investe bastante em sua feminilidade, fazendo-se valer de peças com
modelagem junto ao corpo que valorizam seu belo perfil de manequim de
passarela, fazendo com que a MTV Brasil se utilize dessa marca pessoal para
compor seus figurinos no ar.
Nesta produção, seus cabelos estão bem cuidados, escovados e
brilhantes. Ela veste top modelo bata na cor negra com decote tomara que caia
e marcação de cintura linha império, logo abaixo do busto, em tom dourado.
Veste jeans de cintura baixa, com lavagem e desgaste estratégico nos joelhos,
de modelagem perfeita junto ao corpo e boca levemente sino. Complementam
acessórios como as pulseiras douradas, os brincos e o par de sapatos modelo
scarpin com estampa de pele de animal, no caso onça, com salto 71/2 e
detalhe no peito do pé em azul.
Fig. 55 – Daniella Cicarelli na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
109
Na animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, a personagem de Daniella
Cicarelli tem valorizada, como características principais, sua forma física, seus
olhos claros e sua boca avantajada. Esta valorização se dá não no sentido de
expor o corpo perfeito de atleta, característica pessoal de Daniella, mas sim o
corpo atraente e sensual de uma belíssima mulher.
Seus cabelos são na cor castanho claro, longos e com franja, e sua
maquiagem utiliza os mesmos tons de rosa, que ela normalmente usa,
destacando com olhos, evidenciados no tamanho, e boca.
Seu figurino é composto de top vermelho, quase que um soutien,
modelando e evidenciando o busto com detalhe em amarelo, e micro saia
évasé em tecido esvoaçante também em amarelo. Botas de cano alto até os
joelhos e salto agulha na cor vermelha e luvas longas também vermelhas
complementam a vestimenta.
3.1.7. JOÃO GORDO.
João Francisco Benedan nascido 13.03.1964, em São Paulo, capital, já
era figura conhecida do público da MTV Brasil por ser vocalista da banda de
punk rock “Ratos de Porão” e conseqüentemente ser assunto de reportagens
do departamento de jornalismo da emissora.
A maneira como João Gordo entrou para o casting da emissora é
contada por ele próprio. “Estava numa situação financeira bem tosca, minha
banda já tinha 10 discos lançados e eu não tinha dinheiro pra andar de ônibus.
Aí fui lá e falei: Por que vocês não me contratam?”.
110
João Gordo participou de várias atrações, mas na maioria das vezes os
programas de maior sucesso foram aqueles desenvolvidos para o seu perfil,
caso do “Gordo a Go-Go”, similar ao programa de Jô Soares na Rede Globo, e
“Gordo Freak Show”, uma atração escatológica, ambos com a participação da
platéia que se inscreve para participar do programa.
Atualmente, ele apresenta também o “João Gordo Visita”, uma espécie
de revista “Caras” eletrônica, onde ele vai até a casa de uma personalidade
conhecida da audiência da MTV Brasil para um diálogo descontraído e
teoricamente íntimo.
A princípio, e na grande maioria das vezes, por estar muito acima do
peso ideal, que lhe causou sérios problemas de saúde e o obrigou a passar por
uma cirurgia de redução de estomago, João Gordo aparecia sentado. Hoje,
com a diminuição da silhueta e a maior facilidade de locomoção, ele já aparece
com mais freqüência de corpo inteiro na tela da TV.
Classifico João Gordo como VJ “definido” porque o máximo que a MTV
Brasil conseguiu fazer com sua imagem, foi a de vesti-la com figurinos mais
sofisticados, porém no mesmo estilo dos utilizados por ele anteriormente em
versão popular.
Parece claro que João Gordo foi contratado como VJ, porque,
igualmente ao seu colega de trabalho Thaíde, é um representante original de
sua tribo, os amantes do punk rock. Não devemos esquecer que ele pertence,
até hoje, a banda de punk rock “Ratos de Porão” como vocalista, chegando
inclusive a tirar licença da emissora para excursionar no circuito underground
europeu.
111
Fig. 56 – João Gordo
João Gordo veste camiseta básica branca com silk-screen com inscrição
na cor vermelha, com filete em preto e rato desenhado em azul claro com filete
em preto. Cabeça coberta por boné, característica forte de João, em tecido na
cor verde militar, com silk-screen de estrela de cinco pontas na cor branca,
ornamentado com óculos escuros. Seu rosto ostenta bigode e cavanhaque
ralos, piercing nas laterais do lábio inferior, no centro do queixo e na lateral
esquerda do nariz, e brincos prateados de argola nas orelhas.
João Gordo aparece, na foto 57, apresentando o programa “Gordo a Go
Go” (2004), e antes da cirurgia de estômago, que faria diminuir seu perfil
avolumado.
O programa era uma versão “trash” do sofisticado “Jô Soares Onze e
Meia”, onde João Gordo, utilizando vocabulário chulo e perguntas
constrangedoras, realizava entrevistas com convidados que também chegaram
a participar anteriormente do programa de Jô Soares, a exemplo do padre
Marcelo Rossi que se viu bombardeado por questões delicadíssimas para um
112
Fig. 57 – João Gordo em “Gordo a Go Go”
sacerdote, onde o assunto abordado foi o desejo sexual. Segundo as próprias
palavras de João à “Revista Veja” de 26.04.2000, época em que o projeto
estava sendo estudado pela MTV Brasil: "É igualzinho ao do Jô Soares, só que
totalmente underground".
João Gordo está no estilo preto total, que ao contrário do que se ajuíza
não dissimula sua avantajada silhueta. Ele veste jaqueta de moletom com
capuz, com fechamento e detalhes em zíper metálico, aplicações bordadas e
bottom. Como detalhe final, boné negro com silk-screen de estrela de cinco
pontas dentro de circulo em branco.
Esta produção é uma versão aprimorada da imagem que João Gordo
sempre assumiu em sua vida fora da MTV Brasil.
No recente programa “Gordo Freak Show”(foto 58), atração cuja ação
predominante é a escatológica, João Gordo, mais magro e com mais
mobilidade, pode se dar ao luxo de circular pelo palco, instigando os
participantes do programa na execução das provas bizarras a que são
submetidos.
113
Fig. 58 – João Gordo em “Gordo Freak Show”
Aqui podemos vê-lo de corpo inteiro vestindo conjunto composto por
camiseta básica ampla negra, com silk-screen na cor branca, e bermuda ampla
negra com silk-screen semelhante ao da camiseta. Tênis clássicos negros da
marca Adidas, e boné preto com bordado completam a produção.
Cenário de fundo, com listras horizontais em tons de cinza claro, grafite,
amarelo, verde claro e branco, e poltrona quadrada em couro negro, ampla e
confortável, para que ele possa observar o desenrolar das apresentações.
Mais uma vez, podemos observar seu estilo inconfundível e a relação
íntima entre sua imagem, os participantes do programa e a platéia que
acompanha tudo ao vivo. Trata-se de uma celebração entre a tribo que está
refletida na tela da televisão, e a tribo que está espalhada por diferentes
ambientes em frente à televisão.
114
Fig. 59 – João Gordo
Esta fotografia retrata a imagem atual de João Gordo como
apresentador do programa “João Gordo Visita ”. Bem mais magro e com
fisionomia de homem na faixa de 40 anos, na verdade 42, João Gordo ainda
mantém fortes laços de identificação com seu público jovem, condição
fundamental para que ele continue na tela da MTV Brasil. A exemplo de tantos
outros, os roqueiros não envelhecem jamais.
Fig. 60 – João Gordo na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
A personagem de João Gordo, na animação “Mega Liga de VJs
Paladinos”, ostenta sua identificação usual com a audiência, e aqui é composta
por camiseta básica negra com silk-screen em branco R.D.P (Ratos de Porão),
homenagem a sua banda de punk rock, bermuda em azul jeans, tênis estilos
All Star vermelhos, boné na cor grafite, óculos escuros e piercing no lábio
inferior.
115
3.1.8.SARAH OLIVEIRA .
Sarah Oliveira nasceu em São Paulo, capital, no dia 29.01.1979.
Graduou-se em Rádio e TV na FAAP e trabalhou como repórter musical da
rádio 89 FM de São Paulo por três anos.Tem formação também como bailarina
clássica.
Trabalhava no departamento de jornalismo da MTV desde dezembro de
1999, e já havia feito teste de câmera para ser repórter do programa “Contato”.
Ao substituir a ex-VJ Sabrina Parlatore na apresentação do “Disk MTV”,
acabou conquistando seu espaço no ar. Passou a apresentar também o “Jornal
da MTV”, “Sobe Som”, “VJs em Ação”.
A classificação de Sarah Oliveira neste estudo é a de VJ “neutro”,
porque assim como ela entrou no ar ao substituir uma VJ mais velha que
deixava o canal, recentemente ela também foi substituída por VJs mais novas,
no caso as irmãs gêmeas Keyla e Kenya (foto 61), as quais são muito
parecidas fisicamente com ela.
Fig. 61 – As irmãs Kenya e Keyla
116
Sarah, ultimamente, pode ser vista em um quadro de entrevistas do
programa “Video Show” da Rede Globo de Televisão.
A imagem da foto 62 retrata o início de Sarah Oliveira na MTV Brasil.
Seus cabelos longos e lisos no tom castanho claro e com corte repicado em
camadas na altura da mandíbula para dar volume aos fios.
Fig. 62 – Sarah Oliveira
Ela usa blusa tomara que caia na cor vermelha, modelada ao corpo e
com aplicação de galões bordados nas cores azul claro, cinza, rosa, vermelho,
branco, verde, preto e dourado. Jeans de cintura baixa na cor azul escura, com
lavagem e desgaste localizados, e par de sapatos clássicos modelo Chanel
com salto 7,5 na cor preta.
A maquiagem é natural e a iluminação sugere que a pele está
bronzeada.
117
Sarah Oliveira aparece, na próxima imagem, como apresentadora do
“Verão MTV.2004”. O “Verão MTV” é um programa feito em alguma praia bem
freqüentada do litoral brasileiro, com o objetivo de aproximar a programação da
emissora à sua audiência que está na praia de férias e certamente não na
frente da televisão.
A MTV aluga uma casa em um ponto estratégico da praia e convida os
telespectadores, que estão nos arredores, para participarem das atrações.
Algumas bandas e músicos que tem seus videoclipes vinculados na MTV
Brasil, são convidados a fazer apresentações ao vivo e no clima descontraído
de férias junto ao mar.
Fig. 63 - Sarah Oliveira em “Verão MTV 2004”
Utilizando-se de seu corpo saudável de bailarina clássica, e das sessões
de musculação que ela declarou ter feito para participar desta atração, a
produção de moda teve apenas o trabalho de escolher o biquíni azul claro, que
valoriza o tom bronzeado de sua pele, com estampa de flor rosa escuro no seio
direito e figura feminina no seio esquerdo, para compor a aparência. Seus
cabelos castanho claro, estão repartidos ao meio e presos atrás da cabeça. O
rosto bronzeado não necessita de maquiagem, no máximo um brilho nos
118
lábios. O cenário ao fundo, gramado, árvores e grupo de jovens com alguém
tocando violão e cantando, dão a quem está em casa e não pode viajar, a
sensação agradável de também estar desfrutando das mesmas férias.
Fig. 64 – Sarah Oliveira na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Integrante da animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Sarah Oliveira é
retratada como a figura de garota delicada mas com personalidade forte. Seus
cabelos castanhos são evidenciados no comprimento desproporcional ao
tamanho de seu corpo magro.
A composição de figurino é muito simples, contando apenas com top
curto e saia évasé na cor laranja e sapatos femininos vermelhos, uma relação
com a imagem da bailarina clássica que Sarah é.
3.1.9. RAFAEL LOSSO.
Rafael Vinícius Losso nasceu em 19.02.1978 na cidade de Curitiba no
Paraná, graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba. Entrou
para o casting de VJs. da MTV Brasil, através do concurso “Caça VJ”.
119
Já apresentou vários programas entre eles, “Control Freak”, “Sobe
Som”, “VJs em Ação”. Hoje em dia apresenta “Banda Antes” e “Tribunal”.
Rafael Losso pode ser classificado como VJ. “definido” porque sua
constituição física magra e levemente envergada para frente e sua fisionomia
marcante, tem na audiência identificação sólida. Ele representa o garoto
franzino, tímido e sem atrativos, que veste roupas extremamente largas para
disfarçar seu corpo delgado e tem dificuldades de se declarar para aquela
garota linda e popular da escola pela qual ele está apaixonado. Para sua
frustração as meninas o vêem como amigo e confidente e não como possível
namorado.
Com uma figura tão marcante, o máximo que a produção pode fazer é
vesti-lo com roupas de grife com o intuito de chamar um pouco mais de
atenção para o belo e atrativo figurino.
Fig. 65 – Rafael Losso
Nesta imagem ele aparece envergando o figurino, um tanto quanto
básico, usual de início de carreira. Com cabelos castanhos com corte
arredondado, franja sobre os olhos e penteado revolto. Seu rosto é liso, com
barba feita e as sobrancelha são grossas e expressivas. Veste camiseta, com
120
modelagem extra larga, em meia malha azul claro com debruns marinho no
decote e nas mangas e jeans azul escuro.
Fig. 66 – Rafael Losso
Aqui, Rafael Losso veste Parka na cor cinza chumbo, com fechamento
frontal feito por zíper e botões de pressão, em modelagem maior que o figurino
original, sobrepondo camiseta pólo na cor azul anil e camiseta básica na cor
salmão.
Seus cabelos castanhos têm corte arredondado com franja irregular
sobre os olhos e seu rosto é liso e sem barba.
Fig. 67 – Rafael Losso na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
121
Na animação “Mega Liga de VJs Paladinos” Rafael Losso mantém sua
imagem original facilmente identificável que são os cabelos castanhos, lisos
com corte arredondado na altura do maxilar com a franja, aqui, cobrindo
totalmente os olhos, que ressalta seu nariz e a boca avolumada.
Seu figurino é composto por camiseta básica de mangas longas,
modelagem confortável, em tom de azul anil, com monograma em silk-screem
azul royal em fundo amarelo. Calça de cintura baixa na cor azul anil, ajustada.
Botas de cano curto sobrepostas à barra da calça e luvas no mesmo tom de
azul anil complementam a produção.
3.1.10. CAZÉ PECINI.
Carlos José de Araújo Pecini nasceu no bairro da Glória na cidade do
Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro em 07.01.1968.
Trabalhou como redator de agência de publicidade, agente de check-in
da extinta empresa aérea “Pan Am”, foi professor de inglês, ajudante de
garçom nos EUA e camelô em Hong Kong.
Participou do circuito de poesia falada do Rio de Janeiro e chegou a
levar poetas para recitais em hospital psiquiátrico.
Em 1993 participou e ganhou o concurso chamado "MTV Pega Pra
Criar” que a MTV Brasil realizou nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte e Porto Alegre. Apresentou os programas “Quebra Cazé”, “Sobe
Som”, “VJs em Ação”, “Buzzina MTV”.
122
Atualmente Cazé, ao lado da VJ Marina Person, apresenta o programa
“Neura MTV ”, uma gincana de perguntas e respostas entre um grupo feminino
e outro masculino.
Fig. 68 – Cazé Pecini
Cazé Pecini aparece aqui, em imagem divulgada pelo site da MTV
Brasil, com o cabelo raspado, característica que ele adotou por um longo
período, e que foi um dos importantes atrativos que motivou a Rede Globo de
Televisão na sua breve contratação do ano de 2001.
Seu rosto liso e sem barba carrega óculos com lentes transparentes e
armação grossa na cor negra.
Ele veste, displicentemente, camisa branca de mangas compridas,
sobreposta por blazer negro, e écharpe também na cor negra, que substitui a
gravata. O conjunto é complementado por calças jeans de modelagem básica
com lavagens em pontos estratégicos.
123
Em 2005, cansado de sua imagem de cabeça raspada e eternizada
através da sua personagem na animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Cazé
deixou crescer os cabelos. Como não ocorreu nenhuma espécie de rejeição
por parte da audiência, esta é a sua estética atual.
Fig. 69 – Cazé Pecini em loja de Shopping Center de São Paulo
A foto retrata Cazé em uma loja de moda jovem localizada em Shopping
Center de São Paulo, trajando camiseta de modelagem básica na cor negra,
jeans também básicos na cor azul claro, óculos com armação densa na cor
marrom e relógio grande com pulseira em couro marrom.
Também faz parte da programação da MTV Brasil, a entrega de prêmios
aos músicos, bandas e videoclipes que são veiculados na programação, tanto
da emissora brasileira quanto das demais existentes em outros países, onde a
participação dos VJs locais, como mestre de cerimônias, é fundamental.
124
Fig. 70 – Cazé Pecini na versão 2005 do “Vídeo Music Brasil”
Cazé, nesta imagem, aparece com o figurino utilizado por ele na entrega
da versão 2005 do “VMB” (Video Music Brasil).
Seus cabelos, no tom louro escuro, têm corte irregular curto e seu rosto
é limpo e sem barba. Ele veste camisa com estampa estilizada de flores
coloridas em tons de rosa, amarelo, azul, verde e laranja, e blazer com talhe
perfeito, modelo um botão, com estampa de listras verticais em tons de cinza
azulado, rosa escuro, salmão e branco.
Fig. 71 – Cazé Pecini na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
125
Na animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Cazé é uma espécie de
híbrido, homem acoplado a cadeira de rodas no lugar de pernas e pés, com
sensor na testa e buzina sinalizadora, amarela e vermelha, na mão direita.
Veste uma espécie de agasalho nas cores azul royal, vermelho queimado e
preto e usa óculos com armação quadrada e grossa na cor preta. Sua cadeira
de rodas tem dois tons de azul, com a parte frontal e letra lateral em preto.
Ele é o assistente do chefe, figura sempre retratada pelas costas, como
nas histórias em quadrinhos de super heróis, atrás de uma grande mesa e
sentado em poltrona executiva, deixando visível uma das mãos, e sua função é
ser o elo entre o comandante e os VJs Paladinos.
3.1.11. LÉO MADEIRA.
Nascido em 04.01.1980 na cidade de Fortaleza, capital do Ceará, Léo
Madeira graduou-se em Administração de Empresas e trabalhou em estúdio de
fotografia. Ingressou na MTV Brasil através do concurso “Caça VJ”, e
apresentou, entre outros, os programas “Pulso MTV”, “Sobe Som”, “VJs em
Ação” e, atualmente, está nas atrações “Top Top” e “Jornal da MTV”.
Por sua aparência peculiar, Léo Madeira é aqui classificado como VJ
“definido”. Mesmo não tendo sinais aparentes como tatuagens e piercings, seu
semblante e seus cabelos encaracolados, tem aspectos marcantes.
126
Fig. 72 – Léo Madeira
Léo Madeira, em imagem de divulgação do site da emissora, veste
camisa branca com modelagem confortável. Os cabelos negros são
encaracolados e volumosos, seu rosto sem barba ostenta um par de
costeletas. Ao fundo a logomarca da MTV nas cores rosa escuro e branco.
Fig. 73 – Léo Madeira
Nesta produção, Léo Madeira com aparência de modelo internacional,
veste blusão em tecido moletom na cor vermelha, com modelagem adequada,
gola estilo pólo e abertura com zíper em substituição aos botões. Jeans
clássicos em dark blue.
127
Fig. 74 – Léo Madeira na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Na animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Léo Madeira é descrito
como integrante em treinamento, onde suas tarefas se resumem a pequenos
favores para o restante da equipe.
Como seu parceiro de execuções é a personagem do VJ Rafael, suas
roupas se diferem apenas na modelagem. Leo veste macacão inteiriço
modelado ao corpo, com mangas longas, na cor azul anil, e cintura baixa
marcada por cinto no mesmo tom, tendo no peito monograma com a letra L
maiúscula na cor azul royal e fundo amarelo. Luvas também na cor azul e par
de patins no mesmo tom com rodinhas em vermelho.
3.1.12. MARINA PERSON.
Nascida em São Paulo, Capital, em 15.02.1969, Marina Person estudou
cinema na ECA / USP e trabalhou em diversos filmes, entre eles, "Perfume de
Gardênia", "Capitalismo Selvagem", "O Efeito Ilha" e "Alma Corsária".
128
Por indicação da amiga e ex-VJ Chris Couto, que sairia de licença
maternidade, fez o teste para VJ e começou na MTV Brasil em 1995
apresentando o programa “Cine MTV”.
Esteve a frente dos programas “Cine MTV”, “Balela MTV”, “Sobe Som”,
“VJs em Ação”. Esta no ar nas atrações “Top Top” em parceria com Léo
Madeira e “Neura MTV” ao lado de Cazé Pecini.
Classifico Marina como VJ “neutro” em virtude das atrações que
apresenta, em parceria com outros VJs, e de seu tipo físico prosaico e
desprovido de marcas identificáveis, que pode ser confundido com outras
garotas de seu perfil e futuramente ser substituída por outra apresentadora
mais jovem, sem causar danos a programação da MTV Brasil.
Fig. 75 – Marina Person
Esta é uma das primeiras imagens de Marina Person assim que ela
começou a fazer parte do corpo de VJs. da MTV Brasil. Ela usa camiseta preta
com silk-screen na cor branca, modelagem baby look, e Jeans cintura baixa
129
com múltiplas lavagens e desgastes, resultando em nuances de azul. Seus
cabelos castanhos e naturalmente lisos, com corte médio em leves camadas.
Maquiagem natural com destaque para o delicado rosado dos lábios.
Fig. 76 – Marina Person
Nesta imagem de 2005, Marina Person está produzida com maquiagem
fashion, similar a utilizada por modelos profissionais em editorias de grandes
revistas, nacionais e internacionais, do segmento de moda.
Seu rosto foi cuidadosamente uniformizado com base e corretivo. Para
que o destaque ficasse para os olhos circundados por sombra negra, os lábios
foram cobertos por batom na cor rosa natural, e as maças do rosto receberam
suaves pinceladas de blush no mesmo tom dos lábios. Os cabelos foram
escovados e acabados com prancha, para que ficassem com aspecto liso e
com os fios milimetricamente posicionados.
130
Fig. 77 – Marina Person em “Assista, é Sagrado”
A campanha publicitária da MTV Brasil de divulgação do prêmio 2005 do
“Video Music Brasil”, cujo slogan “Assista, é Sagrado” apresentava os VJs
como divindades.
Marina Person surge como um anjo, trajando panejamentos nas cores
cinza e azul, com amarrações feita por faixa com listinhas. Nas costas, par de
folhas formando asas e, no ombro esquerdo, protetor similar ao das armaduras
dos cavaleiros medievais. Nos pés, chinelos com sola de borracha e gáspea
em tecido índigo lavado, e na mão esquerda o cetro-troféu da premiação.
Os cabelos estão semi presos na altura da nuca e sua cabeça ostenta
long play dourado, como aureola, com raios brilhantes e a maquiagem do rosto
destaca o contorno dos olhos e os lábios vermelhos.
Em seu entorno, renda dourada com motivos florais, par de rosas
artificiais, que saem do chão, na cor rosa, e par de long play sobrepostos por
gérbera amarelo ouro nas laterais.
131
Fig. 78 – Marina Person na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Nesta ilustração da animação “Mega Liga de VJs Paladinos”, Marina
Person está vestida com macacão longo e com mangas compridas e decote
em “Vê”, modelando os contornos do corpo, na cor rosa. Botas de cano acima
dos joelhos e luvas até os cotovelos em vermelho. Cabelos negros com
penteado volumoso e maquiagem que valoriza o contorno dos olhos e suaviza
os lábios rosados.
3.1.13. MARCOS MION.
Marcos Mion se auto intitula originário de “Outro mundo, outra
freqüência”. Participou do extinto programa dominical "Sandy & Júnior" da
Rede Globo de Televisão, e chegou a estudar Filosofia na USP.
Entrou para a MTV Brasil através da indicação do ex-diretor de
programação Jorge Espírito Santo. Participou das atrações “Sobe Som”,
“VJs em Ação”, “Piores videoclipes”, “The Nadas”, e está no ar com
“Covernation”.
132
Fig. 79 – Marcos Mion em “Covernation”
O termo Covernation está relacionado com a palavra inglesa cover que
em português significa sósia.
O formato do programa é análogo aos programas de auditório
apresentados por Chacrinha 70 e Silvio Santos. A originalidade está no fato do
apresentador Marcos Mion dispor, como ajudante de palco e durante todo o
programa, de seu cover pessoal que é produzido exatamente como ele nos
mínimos detalhes de figurino, penteado e acessórios.
Fig. 80 – Marcos Mion e seu sósia em “Covernation”
Nesta imagem, pode-se comprovar o trabalho minucioso da produção do
programa até mesmo nos gestos e na postura de ambos no palco. Não
70Abelardo Barbosa, o “Velho Guerreiro”.
133
obstante o tipo físico ser exatamente igual, o cuidado nos detalhes os deixa
extremamente parecidos.
A particularidade da atração consiste na disputa entre dois grupos
musicais, sósias de originais conhecidos do público. Como jurados do
desempenho de cada um nas provas que são aplicadas, estão dois sósias e
um artista original.
No palco, um telão ao fundo serve ao mesmo tempo como decoração, e
como emissor de imagens que fazem parte das avaliações. Um andaime na
lateral esquerda serve de tablado para dançarinas sensuais.
Fig. 81 – Marcos Mion imitando a personagem loura do SBT
Na prova “Qual é a música”, cópia desavergonhada do programa Silvio
Santos do SBT71, Marcos Mion chega a imitar com fidelidade a personagem
loura que dublava as músicas como resposta.
A fotografia registra Marcos Mion com peruca similar aos cabelos louros
da personagem, a pintura no rosto e o detalhe lascivo do blazer em paetês
dourados e modelagem com péssimo caimento.
71 Sistema Brasileiro de Televisão.
134
Marcos Mion é um VJ “definido”, porque sua fisionomia é facilmente
identificável, principalmente pelo formato de seu rosto e sua expressão.
Pode-se afirmar que ele possui brilho próprio, e tendência artística que
se apropria de imagens as mais diversas, assumindo suas aparências de forma
brilhante.
Ele não carece do elemento de juventude para permanecer na tela da
MTV Brasil. Enquanto sua versatilidade perdurar, sua presença estará
garantida.
Fig. 82 – Marcos Mion
Nesta ocasião, ele aparece vestido com camiseta branca, com
sobreposição de camisa de mangas longas na cor preta.
Seus cabelos castanhos são encaracolados e seu rosto adota barba e
bigode com pouca densidade.
Marcos Mion também fez parte da campanha publicitária da MTV Brasil
de divulgação do prêmio “Video Music Brasil” (2005), a qual foi veiculada nos
135
principais jornais e revistas que circulam pelo país, e cujo slogan “Assista, é
Sagrado” apresentava os VJs como divindades.
Fig.83 - Marcos Mion em “Assista é Sagrado” Fig. 84 - São Sebastião
Nesta representação ele aparece como São Sebastião sem as flechas,
em desenho original ao lado, usando tanga em tecido estampado com
grafismos em tons de azul e lilás. Pés descalços ladeados por um par de
holofotes que emanam luz em sua direção, a cabeça, com os cabelos curtos e
encaracolados, é ornamentada por long play dourado utilizado como aureola
iluminada. Par de pombos brancos circunda seus ombros. A moldura é
texturizada na cor lilás e ao fundo o céu azul com nuvens brancas.
A personagem de Marcos Mion na animação “Mega Liga de VJs
Paladinos” é descrito como “novo homem borracha” porque, na primeira edição
da série de desenhos, havia outra personagem derivada do VJ Max Fivelinha,
que não está mais na MTV Brasil, e dispunha dos mesmos poderes.
136
Fig. 85 – Marcos Mion na “Mega Liga dos VJs Paladinos”
Aqui o “fator substituição” fica evidente, ou seja, os poderes
permanecem e quem é trocado é o VJ, com um detalhe astuto, Max Fivelinha
era assumidamente gay e Marcos Mion é declaradamente heterossexua l,
casado e pai.
3.2. Considerações finais do capítulo III
Durante este capítulo, detectamos a existência de dois grupos distintos
de VJs: os “neutros” e os “definidos”.
São “neutros”, aqueles VJs com aparência bastante prosaica, ordinary
people, que vemos circulando por todos os domínios da cidade e que, para a
MTV Brasil, significa a possibilidade da criação de infinitas personagens “a
cada troca de roupa”. São como Barbies de carne e osso em seu gigantesco
closet.
A atuação na tela da TV é também bastante versátil, visto que este
grupo participa de uma espécie de “dança das cadeiras televisiva”, apresen-
137
tando as atrações com menos marcação de identidade.
A característica principal dos VJs “neutros” é que eles podem ser
substituídos, no momento mais conveniente para a emissora, por outros
exemplares mais jovens, fartamente disponíveis.
Estão nesta categoria os VJs. Edgard Picolli, Didi Wagner, Carla
Lamarca, Sarah Oliveira e Marina Person.
Já os VJs “definidos”, são aqueles que carregam forte marca pessoal
visual, caso das tatuagens, dos piercings, integrantes de grupos musicais
conhecidos, modelos ou manequins célebres, seres com compilação física
peculiar ou semblante exótico.
Neste caso, a criação de personagens é bastante limitada, uma vez que
eles quase que já são personagens e o que se permite que seja manipulado,
são os quesitos sofisticação, rejuvenescimento e modernização da figura.
A substituição desses VJs se dará de forma mais distinta e acontecerá
na resposta positiva ou negativa da audiência porque, independente do
trabalho desenvolvido pela emissora, eles já fazem parte do repertório visual da
audiência.
Sua troca se dará, quando necessária, por outro tão distinto quanto ele
porque diversidade é algo que a MTV Brasil presa, primordialmente, como
forma de se manter forte no segmento jovem.
Estão nesta categoria os VJs. Penélope Nova, João Gordo, Cazé,
Thaíde, Daniella Cicarelli, Leo Madeira, Rafael Losso e Marcos Mion.
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao decidirmos pelo estudo dos VJs da MTV Brasil, sabíamos dos
desafios que teríamos que enfrentar para demonstrar nossa hipótese: a de que
existe uma articulação visual entre os VJs da MTV Brasil e a audiência jovem
por intermédio do figurino, penteado, maquiagem e cenário de cada programa
que apresentam na emissora.
O principal deles se relacionava ao referencial teórico, ou work in
progress como prefere o seu autor, o filósofo alemão Hans Ulrich Gumbrecht,
expresso no texto “O Campo Não-Hermeneutico ou a Teoria da Materialidade
da Comunicação”, gerado a partir de sua conferência na UERJ, em 1992.
O próprio Gumbrecht que, posteriormente, organizou e publicou o livro
“Inscribing Science: Scientific Texts and the Materiality of Communication” 72,
com vários textos sobre o assunto, e outros estudiosos73 brasileiros com artigos
publicados, nos dão embasamento no sentido que este tipo de pensamento
começa a se consolidar.
A opção pela teoria das materialidades exige, antes de tudo, a utilização
de suporte histórico, social e cultural do período em que se insere a pesquisa.
Para a fundamentação da teoria, o primeiro passo foi dado com a
realização de minuciosa pesquisa em torno das circunstâncias em que se
encontrava o Brasil na década de 90, momento em que a MTV Brasil plantava
sua bandeira em território nacional.
72Publicado pela Stanford University Press em Junho de 1998 73Erick Felinto / Vinícius Andrade e Simone Pereira de Sá são alguns autores que se util izaram da teoria para fundamentar seus estudos.
139
Paralelamente, foi gravada em VHS a programação da emissora, bem
como assistidos alguns programas da MTV Brasil e observados seus VJs no
período em que este estudo se deu, de fevereiro de 2004 a início de 2006.
Um material de grande valia que foi conseguido durante a pesquisa, foi o
documento “Dossiê Universo Jovem MTV”, volume 3. Trata-se de ampla
pesquisa que a MTV Brasil faz periodicamente para conhecer cada vez melhor
seu telespectador e, conseqüentemente adaptar sua programação para se
manter na liderança do segmento jovem do meio televisivo.
Tomaremos a liberdade de relacionar alguns tópicos e constatações
obtidos pela MTV Brasil, ao final desse estudo, para corroborar com nossas
descobertas. Acreditamos ser essa uma grande ferramenta de suporte nas
conclusões deste trabalho, já que essa obra foi amplamente divulgada e
distribuída pela emissora através de palestras específicas em território
nacional.
Ao agruparmos os fatos histórico, cultural e social aqui relacionados com
a década de 90, constatamos que a juventude brasileira, com o início do
processo de abertura política, passa a fazer parte do fenômeno da globalização
que simultaneamente se dava nos paises ricos. A capacidade de adaptação à
nova realidade mundial é tão assustadoramente imediata, que os jovens
nativos passam a adotar comportamento e preferências semelhantes a seus
pares internacionais.
Segundo constatação do dossiê da MTV Brasil, a partir de 1999, já é
possível constatar o seguinte:
140
O “right now”74 do mundo jovem globalizado é o mesmo
imediatismo que circunda e caracteriza o comportamento do
jovem brasileiro, que se reconhece como geração impaciente,
com pressa. - Dossiê MTV:4/18/05:Pág.21.
Ou seja, a juventude brasileira que se viu encastelada no regime
ditatorial, e na economia fechada por vinte anos, absorve, em apenas nove
anos, todas as novidades a que é submetida, e passa a ter comportamento
semelhante ao dos jovens que habitam o planeta.
Percebeu-se também, que a globalização econômica trouxe consigo
bem mais do que o acesso a bens de consumo. Ela ampliou o conceito do que
é ser jovem dentro da estrutura social.
A idéia da adolescência expandida parece hoje um
fato não só para alguns profissionais, como para os próprios
jovens. Enquanto os jovens esticam a adolescência, os adultos
continuam empenhados em viver a juventude. - Dossiê
MTV:4/18/05:Pág.21.
A adolescência e a juventude que eram delimitadas pela idade
cronológica, não tem mais limites. Aqueles que já passaram da idade
cronológica jovem, passam a desenvolver e a cultuar o “espírito de juventude”.
Este fato pode ser constatado através do corpo de VJs mantido pela
MTV Brasil.
74 Rigth now – Tradução: imediatamente.
141
Apesar de ser uma emissora direcionada ao segmento jovem, ou
seja, a faixa etária que vai principalmente de 15 a 25 anos, alguns VJs que tem
ente 30 e 40 anos de idade, se comportam como adolescentes sem o menor
constrangimento ou censura por parte da audiência.
Difícil precisar o que é juventude. Quem não se
considera jovem hoje em dia? O conceito de juventude é bem
elástico: dos 18 aos 40, todos os adultos são jovens.
Passamos de uma longa, longuíssima juventude, direto para a
velhice…- Maria Rita Kehl, psicanalista, “Juventude e
Sociedade do Projeto Juventude” - Instituto Cidadania.
Organizado por: Regina Novaes e Paulo Vannuchi. - Dossiê
MTV 4/18/05 Pág. 21.
A indústria da moda, da beleza e dos bens de consumo, passa a
estimular esse culto à juventude eterna, como forma de ampliar o montante de
consumidores dispostos a comprar seus produtos globais. Podemos citar como
exemplo, os comerciais veiculados pela MTV Brasil, que recebem produção e
tratamento de imagens, semelhantes às utilizadas em todo o material visual da
programação da emissora.
Movimentos sociais dos anos 70 e 80, como os hippies e os punks, se
ramificam infinitamente dando origem a manifestações imediatas e
momentâneas, focadas mais na aparência do que propriamente na ideologia.
Cria-se aí o conceito de tribos urbanas, que retratam os movimentos de
pertencimento exercido pelos jovens que habitam as metrópoles mundiais.
142
As tribos eram a manifestação mais emergente da
juventude, significavam possibilidade de trânsito, mudança e
diferenciação. Mas, acima de tudo, indicavam que a diver-
sidade estava vindo para ficar. - Dossiê MTV 4/18/05 Pág. 9.
Nesse parágrafo o dossiê retrata que o movimento, em 1999, já se fazia
notar e que permanece no tempo presente.
A imagem das tribos urbanas é utilizada tanto pela MTV Networks como
pela MTV Brasil, quer seja na caracterização do VJ que já trabalha na
emissora, ou na contratação de novo membro, como forma visual de
assimilação da programação pelo jovem telespectador que se vê reproduzido
na tela da televisão.
A surpreendente arrancada da tecnologia no século XX, passa a ser
uma realidade concreta para o jovem brasileiro a partir da globalização.
Eventos de moda, que antes estavam restritos a feiras da indústria têxtil,
a exemplo da “Fenit”, voltadas exclusivamente para as empresas, e que
expunham tecidos produzidos em teares arcaicos, passam a conviver, com a
abertura econômica, com os desfiles de moda do “Morumbi Fashion”, que
passou a se chamar “São Paulo Fashion Week” e abriga o que de mais
moderno a tecnologia pode produzir, seja no Brasil ou na China.
Tecnologia é uma coisa, tipo muito demais. E tá
absolutamente em tudo: tem tecnologia na roupa, nos tecidos
das roupas, nos óculos, no tênis, no computador, no celular, na
música, nos efeitos das festas… Nossa, ela é tudo no meu
143
tempo, na minha geração! - Entrevistado na fase qualitativa. -
Dossiê MTV:4/18/05: Pág.10.
O conceito de destemporalização que Gumbrecht relaciona com a
sociedade contemporânea, pode ser explicado com o advento da globalização
e a disseminação da Internet.
A informação que antes passava por todo um processo editorial até
chegar ao leitor final, é lançada em rede e rapidamente acessada e repassada
freneticamente pelos internautas, sem que se tenha tempo hábil para uma
assimilação mais precisa dos fatos.
Sofremos de um excesso de velocidade de informações
que nos faz sentir incapazes de absorver por muito tempo os
acontecimentos. O tempo se comprime, vira uma sucessão de
presentes acelerados que logo se transformam em passado. -
Denise Schittine - “Blog: comunicação e escrita íntima na
internet” - Dossiê MTV:4/18/05:Pág.19.
No quesito moda, as coleções lançadas na Europa geravam todo um
movimento de pesquisadores de tendências que se dirigiam fisicamente até os
pólos lançadores de moda e, munidos de todas as informações, desenhavam
suas coleções que seriam lançadas no Brasil para o consumidor final, somente
seis meses depois.
Hoje, os desfiles internacionais e as tendências de moda são divulgados
quase que instantaneamente, pelas redes de televisão a cabo e sites da
Internet, para o consumidor final que, muitas vezes, acaba incorporando, em
144
seu guarda-roupa, por conta própria, tendências de moda que só estarão
disponíveis nas lojas na próxima estação.
A sucessão de fatos novos e mudanças está causando
um fenômeno incontestável: a sensação de que o futuro se
torna presente, na mesma velocidade, absurda, com que o
presente se torna passado. - Dossiê MTV:4/18/05:Pág.19.
Aquilo que era exibido no presente europeu e faria parte do futuro
brasileiro, passa a fazer parte do presente que se torna passado antes mesmo
de acontecer.
A própria MTV é o retrato disso. Ao sintonizar o canal em qualquer parte
do planeta e tomar como referência suas formas visuais e a diversidade étnica
de seus apresentadores, não se sabe com certeza, se aquela atração se passa
no Brasil, Estados Unidos, Europa ou Japão.
A necessidade da ocupação dos espaços gerados por horas
ininterruptas no ar trouxe para a programação televisiva da mídia
contemporânea as celebridades instantâneas. Top models e super stars que
sobrevivem mediante a quantidade de imagens que conseguem gerar para
veiculação na mídia.
A vida privada virou pública, é partilhada na rede,
chegou à TV, às revistas; a mídia tornou desconhecidos,
ilustres, assim como fez de ilustres, desconhecidos.
Celebridades muitas vezes se perdem rapidamente, porque o
conceito de celebridade se perdeu. As celebridades de
145
essência estão ficando mais distantes. As referências são
outras. Dossiê MTV:4/18/05:Pág.59.
A MTV Brasil, de acordo com suas necessidades, transforma seus VJs
em celebridades que ditam comportamento, mas estão sujeitos a
permanecerem no ar até que a novidade se esgote ou a audiência deseje. Uma
vez descartados, voltam ao anonimato ou a papel secundário em qualquer
outro canal de televisão.
Eles se articulam visualmente junto aos telespectadores, de acordo com
suas características físicas, seus figurinos, maquiagem, cenários, e podem ser
classificados como “neutros” e “definidos”.
Os VJs “neutros” pertencem à categoria daqueles que podem ser
exaustivamente vestidos e penteados de acordo com as necessidades da
programação, ou, em situação mais urgente, simplesmente serem substituídos
por outro exemplar semelhante no mercado.
Já os VJs “definidos”, por pertencerem à categoria daqueles que
possuem alguma marca própria (tatuagens, por exemplo), contam com um
prazo de validação mais ampliado que permite ajustes, porém de forma
progressiva e sem que o grupo de telespectadores que é atraído por eles
perceba, sob o risco de perder a audiência.
Percebemos, então, que os elementos e as formas visuais consistem em
fatores de extrema importância na assimilação da imagem dos VJs e seus
programas, junto à audiência jovem da MTV Brasil, visto que, na sociedade
contemporânea, a juventude (cronológica ou não), utiliza a superficialidade da
146
aparência, traduzida aqui como imagem, para que possa pertencer a um ou
vários grupos, sejam eles quais forem, oriundos das tribos urbanas.
Apropriando-nos da conclusão do dossiê da MTV: “Temos o retrato de
uma geração que está em obras, vivendo em um momento no qual o mundo
está em obras”.
Como parte importante das formas visuais, os figurinos consistem em
fator determinante na composição de um VJ.
É através das roupas que vestem que os VJs conseguem manter um
discurso não verbal com seus jovens telespectadores, e influenciar, entre
outras coisas, na definição do que comprar diante da abundante oferta
mercadológica. A participação dos VJs no mercado da moda é a proposta para
um próximo trabalho.
147
GLOSSÁRIO
Baby-look – [Do Inglês baby, “Bebê”, e look, “aparência”.] Vestido usado
desde a década de sessenta do século XX, com corte abaixo do busto, franzido
e solto a partir daí, como a camisola de um bebê. Também chamada assim, na
década de noventa, a camiseta curta com mangas pequenas.
Blazer - [Inglês] Paletó leve e largo, de corte masculino, introduzido no final do
século XIX, em flanela ou tecido listrado. O blazer estilo naval inspirou o
uniforme colegial inglês, cor azul-marinha com botões dourados e comprimento
um pouco menor que o tradicional. A partir da década de vinte do século XX
começou a ser usado também pelas mulheres, em diferentes versões.
Blog - Página da Internet cujas atualizações (chamadas post) são organizadas
cronologicamente (como um histórico ou diário). Estes posts podem ou não
pertencer ao mesmo gênero de escrita, se referir ao mesmo assunto ou à
mesma pessoa. A maioria dos blogs são compilações onde se escreve com
total liberdade.
Botton - [Inglês] Peça do vestuário que veste a parte inferior do corpo humano.
A exemplo da calça, saia, bermuda, etc.
Casting - Processo de seleção para a escolha de modelos, manequins e
atores para determinado trabalho.
Crossover - Termo utilizado nos anos 80 para descrever o início do movimento
de bandas que misturavam o hardcore com o thrash metal, a partir de 1982,
sendo cristalizado por volta de 1986.
Dreadlook - Espécie de aplique, com contas e cordões coloridos, que faz nos
cabelos para enfeitar. Modismo de freqüentadores de praia.
148
Emocore - Emo (abreviação do inglês emotional hardcore) é um gênero
musical. O termo foi originalmente dado às bandas do cenário punk de
Washington, DC que compunham num lirismo mais emotivo que o normal. A
realidade é que o nome foi criado por publicações alternativas como o fanzine
Maximum RocknRoll e a revista de skate Thrasher para descrever a nova
geração de bandas de "hardcore emocional" que aparecia no meio dos anos
80, encabeçada por bandas da gravadora Dischord de Washington DC, como
Embrace e Rites of Spring, além de Gray Matter, Dag Nasty e Fire Party.
Escarpin - [(Do Francês) Sapato fechado, de sola fina, com salto baixo ou
médio, que se afunila na direção do bico].
Evasê - Saia que apresenta forma trapezoidal.
Grunge - [Inglês, expressão surgida no final da década de oitenta do século
XX, no meio universitário de Seattle, EUA] Estilo inspirado nos trajes dos
mendigos, com roupas largas e relaxadas, com muito preto, ou um mix
cromático desconexo.
Hardcore - Ritmo musical apreciado por surfistas.
Hip hop - Movimento cultural que surgiu na Jamaica na mistura entre a
tradição africana do canto falado e a animação dos bailes dos guetos
jamaicanos, os "sound sistems" e foi levado pelo DJ Kool Herc às comunidades
afro-americanas das regiões Bronx, Queens e Brooklyn de Nova Yorque no
início dos anos 1970. O crédito é dado ao DJ Afrika Bambaataa pela criação do
termo hip-hop para descrever a cultura.
Hippye - [Inglês] Chamavam-se assim os membros do grupo não conformista
da década de sessenta do século XX caracterizado pelo rompimento com a
sociedade tradicional, especialmente quanto aos hábitos de vida e à aparência
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pessoal. Sua máxima era paz e amor universal, usavam túnicas e claras,
semelhantes às dos gurus orientais, e cabelos longos e soltos.
Ordinary people - Gente como a gente, pessoas comuns.
Piercing - Forma de modificar o corpo humano, furando-o a fim de introduzir
peças de metal esterilizado.
Pin-up - Modelo cujas imagens sensuais produzidas em grande escala
exercem um forte atrativo na cultura pop. Destinadas à exibição informal, as
pin-ups constituem-se num tipo leve de pornografia. As mulheres consideradas
pin-ups são geralmente modelos e atrizes. Ex. Beth Boop
Pop - Popular
Pop star - Ídolo popular.
Psychobilly - É um dos gêneros mais divertidos do rock’n’roll. Com origem no
rockabilly dos anos 50, o psycho como é chamado pelos fãs, faz uma mistura
de punk, filmes de terror e muito humor negro.
Punk - [Inglês, “jovem criminoso, de pouco valor, no sentido de inépcia,
podridão, sujeira, insanidade”.] Esse grupo de jovens no future, que não
enxergam nenhum futuro para a humanidade, nasceu na Inglaterra, na pobreza
de Birmingham, no final da década de setenta do século XX. Seus adeptos
adotam o estilo anárquico, com botas de couro, t-shirts semidestruídas e
pichadas, correntes e pulseiras de vinil com tachas e crivos, alfinetes de
gancho, capacetes nazistas e óculos escuros. Costumam adornar o corpo com
tatuagens.
Punk rock - Movimento musical que surgiu com força na Inglaterra em meados
de 1976, e em 1974 nos Estados Unidos (embora seus precursores possam
ser encontrados no fim dos anos 60). As primeiras bandas punks podem ser
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exemplificadas por bandas inglesas e americanas como o The Damned,
Ramones, Sex Pistols, The Clash e Dead Boys. O termo também é usado para
descrever subseqüentes cenários musicais que dividiam algumas das
características principais dessa primeira geração "Punk".
Rap- Na língua das ruas em (Inglês Rhythm and Poetry) ritmo e poesia,
expressão musical-verbal da cultura.O Rap é um gênero musical surgido no
início dos anos 1970 nos Estados Unidos da América. A música rap é um dos
elementos do Hip hop; é uma espécie de texto com rimas falado em ritmo com
instrumentos musicais.
Rapper - Músico ou cantor de Rap.
R&B - Rhythm and blues ou R&B foi um termo comercial introduzido no
Estados Unidos no final de 1940 pela Revista Billboard. Versão da música
negra, e um predecessor do rock.
Rastafári - Nome dado ao grupo negro que na década de sessenta do século
XX imbuiu-se de uma ideologia de retomada dos valores culturais africanos,
usando desde estampas com coloridos quentes e motivos étnicos até os
cabelos encarapinhados ou repletos de trancinhas, inspirando um estilo de
moda.
Scarpin - O mesmo que escarpin.
Silk-screen - Processo para estampar peças do vestuário ou tecido, que
consiste na utilização de um quadro para cada cor do desenho a ser
estampado.
Street - [Do inglês street, “rua”] Nome dado à moda idealizada para uso nas
ruas das grandes capitais.
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Super star - Atores de cinema, cantores e bandas do segmento musical que
estão no topo de suas carreiras e recebem por seu trabalho cachês milionários.
São perseguidos constantemente por fotógrafos e jornalistas, ávidos por fatos
de suas vidas privadas, que viram notícia em revistas, programas de televisão
e sites de fofocas.
Tae dae -[Do Inglês, Tye and die] Técnica oriunda da África do Norte, que
consiste em dar nós, dobrar, enrugar, preguear ou plissar tecidos, que recebem
um banho de tinta; as partes tinturadas com maior ou menor volume de
pigmentos, provocarão resultados diferenciados.
Target – Também conhecido por levantamento do perfil, segmento de mercado
ou público-alvo, auxilia a empresa no direcionamento que irá promover a um
determinado produto, bem como para a agência de publicidade desenvolver
suas campanhas publicitárias.
Top - [Inglês] Peça do vestuário que veste a parte superior do corpo humano, a
exemplo da camisa, camiseta, blusa, etc. Também denomina peça do vestuário
feminino, curta e ajustada à parte superior do corpo, confeccionada em tecidos
elásticos. Roupa própria para ginástica.
Top models - Manequins de passarela, como a brasileira Gisele Bündchen,
que estão no auge de suas carreiras, recebem altos cachês por desfile que
participam e assinam contratos publicitários milionários no segmento da moda
e da beleza. Também são consideradas celebridades pela mídia.
Trash - [Inglês] É uma estética que pode ser usada em qualquer gênero. No
cinema está relacionado aos filmes de baixo custo, e na música jovem ao som
sujo e agressivo.
Tratamento de tai dae - O mesmo que Tae dae.
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Tribos Urbanas - Nome dado a um grupo de pessoas com hábitos, valores
culturais, estilos musicais e/ou ideologias políticas semelhantes. Algumas tribos
são alternativas à ordem social baseada na organização familiar, outras são
apenas nomes genéricos dados a determinados grupos de pessoas. São mais
comuns em grandes metrópoles, por isso são denominadas "urbanas".
T-shirt - [Inglês] Camiseta curta de malha, com o formato da letra T.
Vintage - [Inglês, “safra, vinho de alta qualidade”] Refere-se a tipo ou espécie
de apropriação de algo, de um tempo ou estação específica do passado. O
conceito vintage em moda é a apropriação de uma peça de vestuário tal qual
foi no passado (recente ou distante) incorporando-a a um repertório atual.
Wallpaper -[Do inglês, papel de parede] Fotos, desenhos ou gravuras com as
dimensões da tela do computador ou do aparelho de telefone celular, que
podem ser baixados pela Internet gratuitamente ou mediante pagamento , para
serem utilizados como protetores de tela. A grande maioria deles está
relacionada com bandas de música jovem, personagens de desenhos
animados e celebridades do cinema e da televisão.
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