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1 UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Faculdade de Direito MICROECONOMIA 1.º Semestre de 2008/2009 João Amador Paulo Gonçalves CADERNO DE EXERCÍCIOS [TÓPICOS DE RESOLUÇÃO I]

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1

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

Faculdade de Direito

MICROECONOMIA

1.º Semestre de 2008/2009

João Amador

Paulo Gonçalves

CADERNO DE EXERCÍCIOS

[TÓPICOS DE RESOLUÇÃO I]

2

I. Análise e representação gráfica de funções lineares

1. […]

2. […]

II. Conceitos Básicos

3. Resposta a) é a correcta.

4. Resposta a) é a correcta.

5. Resposta b) é a correcta.

6. Neste exercício, existe apenas um recurso ou factor produtivo, o factor trabalho, sendo a

dotação de recursos do sr. Júlio correspondente a 9 horas diárias; a tecnologia é

traduzida nos seguintes coeficientes técnicos [i.e., quantidade de recursos que são

necessários para produzir uma unidade de cada um dos bens]:

Coeficientes técnicos

Vasos 1,5

Estatuetas 3

a) O seguinte gráfico representa a Fronteira de Possibilidades de Produção do sr. Júlio. Se

ele utilizar todos os seus recursos na produção de Vasos, consegue produzir 6 unidades

deste bem [9 horas de trabalho a dividir por 1,5 horas que leva a produzir cada um dos

vasos]; Se ele utilizar todos os seus recursos na produção de Estatuetas, consegue

produzir 3 unidades deste bem [9 horas de trabalho a dividir por 3 horas que leva a

produzir cada uma das estatuetas].

3

Ainda no que se refere a este gráfico, identificaram-se três cabazes de bens distintos:

dados os recursos e a tecnologia (traduzida nos coeficientes técnicos) disponíveis, o sr.

Júlio não consegue produzir o cabaz (3,2), na medida em que este se encontra para lá do

seu espaço de possibilidades de produção [ele necessitaria de 10,5 horas de trabalho

para, com a tecnologia disponível, conseguir produzir 3 vasos e 2 estatuetas por dia]; já

os cabazes (3;1,5) e (3,1) são cabazes que o sr. Júlio consegue produzir, dados os

recursos e tecnologia disponível (ou seja, são cabazes que pertencem ao espaço de

possibilidades de produção do sr. Júlio); Ainda assim, o cabaz (3,1) é um cabaz que

envolve a não utilização de todos os recursos disponíveis, e/ou a utilização de tecnologias

desadequadas (por exemplo, o sr. Júlio utilizaria todos os seus recursos, na produção

deste cabaz, se, em vez de recorrer à “melhor” tecnologia disponível, que lhe permite

produzir uma estatueta em 3 horas de trabalho, recorresse a uma “pior” tecnologia que

apenas lhe permitisse produzir uma estatueta em 4,5 horas de trabalho).

b) Para produzir uma estatueta adicional, o sr. Júlio terá de utilizar mais três horas de

trabalho na produção de estatuetas, o que o obrigará a reduzir o tempo dedicado à

produção de vasos em 3 horas. Ora, na medida em que estas 3 horas teriam permitido

produzir dois vasos [i.e., um vaso por cada 1,5 horas], então a produção de uma

estatueta adicional obriga o sr. Júlio a “sacrificar” a produção de dois vasos. Nestes

termos, o custo de oportunidade de uma estatueta corresponde a 2 vasos.

Já o custo de oportunidade de um vaso corresponde a ½ estatuetas, ou seja, a produção

de um vaso adicional obrigaria a “sacrificar” a produção de 0,5 estatuetas. Note que a

inclinação da FPP coincide com o custo de oportunidade dos vasos, ou seja, com o custo

de oportunidade do bem que aparece representado no eixo das abcissas.

c) Neste caso, estamos perante uma alteração dos recursos disponíveis na economia. Ora,

um aumento dos recursos disponíveis, sem que se tenha alterado a tecnologia (ou os

coeficientes técnicos), resulta numa expansão da Fronteira de Possibilidades de Produção.

Vasos

Estatuetas

2

3

6 3

Cabaz (3,2)

1,5

1

Cabaz (3;1,5)

Cabaz (3,1)

4

Se o sr. Júlio utilizar todos os seus recursos na produção de vasos, consegue produzir um

máximo de 8 vasos [12 horas de trabalho a dividir por 1,5 horas que leva a produzir cada

um dos vasos]; se o sr. Júlio utilizar todos os seus recursos na produção de estatuetas,

consegue produzir um máximo de 4 estatuetas [12 horas de trabalho a dividir por 3 horas

que leva a produzir cada uma das estatuetas].

A inclinação da Fronteira de Possibilidades de Produção não se altera, face à situação da

alínea a), uma vez que esta inclinação é determinada pela tecnologia ou coeficientes

técnicos (e não pela quantidade de recursos disponíveis), os quais não se alteraram.

d) Neste caso, ocorre uma alteração da tecnologia de produção (ou coeficientes técnicos) de

produção de vasos, o que altera a quantidade máxima de vasos que é possível produzir,

reflectindo-se também na inclinação da Fronteira de Possibilidades de Produção e nos

custos de oportunidade associados a cada um dos bens. Ou seja, a quantidade máxima

de Estatuetas que o sr. Júlio consegue produzir é, agora, igual a 4,5 [9 horas de trabalho

a dividir por 2 horas que leva a produzir cada uma das estatuetas], sendo o custo de

oportunidade das estatuetas igual a 1,33 (i.e., 2/1,5) e o custo de oportunidade dos

vasos igual a 0,75 (i.e., 1,5/2). A inclinação da FPP aumenta, passando a ser igual a 0,75

(i.e., o custo de oportunidade do bem que aparece identificado no eixo das abcissas).

Vasos

Estatuetas

3

4

6

FPP da alínea a)

Nova FPP

8

5

7. No exercício anterior, os coeficientes técnicos eram constantes (ou seja, a quantidade de

horas necessárias para produzir uma unidade de cada um dos bens é um valor que não

varia com a quantidade de bens que são produzidos); nos casos de tecnologia

representada por coeficientes técnicos constantes, a Fronteira de Possibilidades de

Produção é linear (ou seja, é representada por uma recta), assim como os custos de

oportunidade são constantes, não variando com a quantidade dos bens que é produzida –

a este propósito, recorde-se que existe uma relação entre a inclinação da FPP e os custos

de oportunidade.

Já no caso do presente exercício, a Fronteira de Possibilidades de Produção não é linear,

conforme resulta da alínea a). Ou seja, tal resulta de termos uma tecnologia em que os

próprios coeficientes técnicos poderão variar com a quantidade do bem que é produzida

(por exemplo, necessito de 2 horas para produzir a 1ª unidade do bem X; mas já

necessito de 3 horas para produzir a 2ª unidade do bem X).

a) Represente graficamente os 5 pontos ou pares (X,Y) que constam da tabela dada no

enunciado; una estes pontos através de uma linha, representando, dessa forma, a sua

Fronteira de Possibilidades de Produção.

Vasos

Estatuetas

4,5

3

6

FPP da alínea a)

Nova FPP

6

b) O custo de oportunidade da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª unidade do bem X é igual a, respectivamente,

1, 3, 5 e 7 unidades do bem Y. Ou seja, estes valores reflectem o “sacrifício” em termos

da produção do bem Y, que resulta da produção das 1ª, 2ª, 3ª e 4ª unidade do bem X.

Note que, neste caso, o custo de oportunidade do bem X aumenta (à medida que a

produção de X aumenta), o que resulta da forma não linear da Fronteira de Possibilidades

de Produção – aliás, sendo a inclinação da FPP coincidente com o custo de oportunidade

do bem X (i.e., do bem que aparece representado no eixo das abcissas), facilmente se

conclui que a inclinação da FPP aumenta com o nível de produção de X.

O custo de oportunidade do bem Y, para cada um dos pontos identificados na tabela

fornecida no enunciado, corresponde a 1/7, 1/5, 1/3 e 1, respectivamente. Ou seja,

também o custo de oportunidade do bem Y aumenta (à medida que a produção de Y

aumenta).

c) O cabaz (2,7) – representado no gráfico – corresponde a um ponto inferior à Fronteira de

Possibilidades de Produção.

Ora, uma economia que não utiliza todos os seus recursos (i.e., uma situação de

desemprego) ou que recorra a tecnologias desadequadas, produz um cabaz inferior à

respectiva Fronteira de Possibilidades de Produção. Nestes termos, as proposições (i) e

(ii) são de veracidade duvidosa. Ou seja, sabendo apenas que a economia está a produzir

um cabaz interior ao respectivo espaço de possibilidades de produção, não poderá

concluir que existe uma situação de desemprego, uma vez que tal poderá igualmente

resultar de uma utilização de tecnologias desadequadas; o mesmo se aplica à proposição

(ii).

X

16

15

4 3 2 1

12

7

Y

Cabaz (2,12)

5

Cabaz (2,7)

Cabaz (5,7)

Cabaz de Produção

Recta de Preços

7

Já relativamente à proposição (iii), é razoável antecipar que o bem-estar do consumidor

aumenta em função da quantidade de bens que consome, pelo que, para um qualquer

cabaz localizado no interior do espaço de possibilidades de produção, é possível definir

vários cabazes sobre a fronteira de possibilidades de produção que sejam preferidos pelo

consumidor, face aquele cabaz no interior do espaço de possibilidades de produção. Por

exemplo, os cabazes (2,12) e (3,7) tenderão a ser preferidos, pelo consumidor, face ao

cabaz (2,7), uma vez que aqueles cabazes envolvem o consumo de uma maior

quantidade de um dos bens (e a mesma quantidade do outro bem). Nestes termos, a

proposição (iii) será falsa.

d) O cabaz (5,7) corresponde a um ponto superior à Fronteira de Possibilidades de Produção.

Ora, a FPP representa as possibilidades máximas de produção da economia, dados os

recursos e a tecnologia disponíveis, pelo que a proposição (ii) é verdadeira, sendo falsas

as restantes proposições.

Ainda relativamente ao cabaz (5,7), não sendo o mesmo um cabaz possível de produção,

este cabaz poderá, em determinadas circunstancias, ser um cabaz possível de consumo,

dependendo do preço relativo a que os bens são transaccionados no mercado

internacional (o que determinará os ganhos de especialização e de troca que resultam da

abertura da economia ao comércio internacional). Um exemplo de um tal cenário é

representado no gráfico, através da linha recta (recta de preços), cuja inclinação coincide

com o preço relativo do bem X (i.e., o preço do bem X a dividir pelo preço do bem Y), que

se aplica às trocas comerciais entre países.

e) O cabaz (2,12) corresponde a um ponto localizado sobre a Fronteira de Possibilidades de

Produção. Ora, apenas no caso de se utilizarem todos os recursos da economia, assim

como as tecnologias mais eficientes, pode a economia encontrar-se a produzir sobre a

FPP, pelo que as proposições (i) e (ii) são falsas. Já relativamente à proposição (iii), esta

é igualmente falsa, pelas mesmas razões que foram apresentadas para justificar a

resposta ao ponto (iii) da alínea c).

8. […]

a) O agricultor B tem vantagem relativa na produção de cenouras, uma vez que o mesmo

apresenta um custo de oportunidade (associado à produção de cenouras) mais reduzido

do que o agricultor A. Ou seja, o agricultor B apenas “sacrifica” 2 kg de batatas, para

produzir 1 kg de cenouras, enquanto que o agricultor A teria de sacrificar uma maior

quantidade de batatas para produzir a mesma quantidade adicional de cenouras.

8

b) O custo de oportunidade de produzir um kg de batatas é igual a 1/3 e ½, para os

agricultores A e B, respectivamente.

c) A tabela seguinte corresponde à matriz de coeficientes técnicos, ou seja, identifica, para

cada um dos agentes económicos, a quantidade de recursos (horas de trabalho)

necessárias para produzir um kg de cada um dos bens. Esta matriz pode ser completada

a partir da informação sobre os custos de oportunidade.

Ou seja, se, para o agricultor A, o custo de oportunidade de produzir cenouras é igual a 3,

significa que a produção de um kg de cenouras despende a mesma quantidade de

recursos que a produção de 3 kg de batatas. Ou seja, se a produção de um kg de

cenouras despende 6 horas de trabalho, então a produção de 3 kg de batatas despende

as mesmas 6 horas de trabalho e, de forma equivalente, a produção de 1 kg de batatas

despende 2 horas de trabalho.

Se, para o agricultor B, o custo de oportunidade de produzir batatas é igual a ½, significa

que a produção de um kg de batatas despende a mesma quantidade de recursos que a

produção de ½ kg de cenouras. Ou seja, se a produção de um kg de batatas despende

1,5 horas de trabalho, então a produção de ½ kg de cenouras despende as mesmas 1,5

horas de trabalho e, de forma equivalente, a produção de 1 kg de cenouras despende 3

horas de trabalho.

Agricultor

Nº de horas de

trabalho por quilo de

cenouras

Nº de horas de

trabalho por quilo de

batatas

A 6 2

B 3 1,5

d) O agricultor B tem vantagem absoluta na produção de cada um dos bens, uma vez que

consome menos recursos do que o agricultor A para produzir a mesma quantidade

daqueles bens (esta conclusão resulta da comparação entre os coeficientes técnicos). Já

no que concerne a vantagem relativa, o agricultor B tem vantagem relativa na produção

de cenouras, enquanto que o agricultor A tem vantagem relativa na produção de Batatas

(esta conclusão resulta da comparação entre custos de oportunidade). Note que,

independentemente da vantagem absoluta, qualquer um dos agentes económicos terá

vantagem relativa na produção de um dos bens, nomeadamente, por ser este um

conceito relativo.

9

e) Numa economia de mercado com comércio livre entre os agentes económicos, conclui-se,

numa análise positiva, que os agentes económicos especializar-se-ão na produção do bem

para o qual apresentam vantagem relativa. Nestes termos, os agricultores A e B irão

especializar-se na produção de Batatas e de Cenouras, respectivamente. Já o preço

relativo das cenouras (i.e., o preço das cenouras a dividir pelo preço das batatas) será

maior do que 2 (i.e., custo de oportunidade da produção de cenouras, para o agricultor B)

e menor do que 3 (i.e., custo de oportunidade da produção de cenouras, para o agricultor

A) – veja a explicação que é apresentada no exercício 10.

9. […]

a) A construção do 3º estádio obriga a “sacrificar” 100 kms de auto-estrada, pelo que este

será o custo de oportunidade do 3º estádio. Ou seja, verifica-se que a construção do 3º

estádio reduz os quilómetros de auto-estrada possíveis, ao longo da FPP, de 640km para

540km, i.e., um “sacrifício” de 100 quilómetros de auto-estrada.

b) Não concordo. O custo de oportunidade do 5º estádio corresponde a 180 kms de auto-

estrada. Isto é, conclui-se que a construção do 5º estádio reduz os quilómetros de auto-

estrada possíveis, ao longo da FPP, de 400km para 220Km (um “sacrifício” de 180km de

auto-estrada). Nestes termos, o custo de oportunidade dos estádios aumenta com o

número de estádios já construídos, o que resulta da forma não linear da Fronteira de

Possibilidades de Produção.

c) A tabela apresentada no enunciado identifica a matriz de coeficientes técnicos desta

economia, agora uma matriz de coeficientes técnicos constantes.

A vantagem relativa pode ser determinada por comparação dos custos de oportunidade

dos vários agentes económicos.

Neste caso, para o empreiteiro A, o custo de oportunidade associado à construção de um

estádio corresponde a cerca de 111,11 kms de auto-estrada – ou seja, para produzir um

estádio, este empreiteiro necessitaria de 5000 horas de trabalho; estas 5000 horas de

trabalho, quando aplicadas na construção de auto-estradas, permitem produzir 5/9 de

uma auto-estrada com 200 km, ou seja, cerca de 111,11 kms (multiplique 5/9 por 200

km); para o Empreiteiro B, o custo de oportunidade de um estádio corresponde a cerca

de 133,33 kms de auto-estrada – ou seja, para produzir um estádio, este empreiteiro

necessitaria de 4000 horas de trabalho; estas 4000 horas de trabalho, quando aplicadas

na construção de auto-estradas, permitem produzir 4/6 de uma auto-estrada com 200

km, ou seja, cerca de 133,33 kms (multiplique 4/6 por 200 km).

10

Nestas condições, o empreiteiro A apresenta uma vantagem relativa na produção de

estádios, na medida em que este empreiteiro “sacrifica” menos quilómetros de auto-

estrada para produzir um estádio adicional do que “sacrificaria” o empreiteiro B. Ou seja,

na medida em que o empreiteiro A tem um custo de oportunidade (de produção de

estádios) mais reduzido do que o empreiteiro B.

10. Estamos na presença de uma economia com dois agentes económicos (Portugal e

Espanha), dois bens (Automóveis e Televisores) e um factor produtivo (Trabalho). A

tecnologia é representada pela seguinte matriz de coeficientes técnicos, a qual identifica,

para cada país e para cada bem, a quantidade de recursos necessários à produção de

uma unidade do bem:

Portugal Espanha

Televisores 10 20

Automóveis 40 20

a) Portugal apresenta vantagem absoluta na produção de televisores, uma vez que

consegue produzir este bem com menos horas de trabalho do que Espanha (i.e., o

coeficiente técnico associado à produção de televisores é menor em Portugal do que em

Espanha); Portugal tem desvantagem absoluta na produção de automóveis, uma vez que

o coeficiente técnico associado à produção de automóveis é maior em Portugal do que em

Espanha.

b) O custo de oportunidade dos televisores, em Portugal e em Espanha, é igual a 0,25 e 1,

respectivamente. Já o custo de oportunidade dos automóveis, em Portugal e em Espanha,

é igual a 4 e 1, respectivamente.

Nestes termos, Portugal apresenta uma vantagem relativa na produção de televisores, na

medida em que tem um custo de oportunidade mais baixo (ou seja, “sacrifica” menos

automóveis para produzir um televisor, do que aquilo que aconteceria em Espanha). Já

Espanha apresenta uma vantagem relativa na produção de Automóveis, na medida em

que “sacrifica” menos televisores para produzir um automóvel, do que aquilo que

aconteceria em Portugal.

c) Em termos de análise normativa, cada país deverá especializar-se na produção do bem

em que apresenta vantagem relativa. Nestes termos, Portugal e Espanha deverão

especializar-se na produção de televisores e automóveis, respectivamente.

11

Em termos de análise positiva, é precisamente aquele o padrão de especialização que

resulta de uma economia de mercado, com comércio livre entre os dois países. O

mecanismo que conduz a tal resultado é o mecanismo de preços. Senão vejamos: no que

se refere aos preços a que cada um destes bens poderá ser transaccionado no mercado,

vamos considerar três cenários alternativos:

• (Cenário I) Um automóvel é transaccionado por um preço inferior ao preço de um

televisor – ou seja, o preço relativo do automóvel (i.e., o preço do automóvel a

dividir pelo preço do televisor) é superior a 1;

• (Cenário II) Um automóvel é transaccionado por um preço inferior a 4 vezes o

preço de um televisor, e, ao mesmo tempo, um preço superior ao preço de um

televisor – ou seja, o preço relativo do automóvel está entre 1 e 4;

• (Cenário III) Um automóvel é transaccionado por um preço superior a 4 vezes o

preço de um televisor – ou seja, o preço relativo do automóvel é superior a 4;

A escolha destes três cenários é tal que, no 1º cenário, o preço relativo do automóvel

(i.e., o preço do automóvel a dividir pelo preço do televisor) é inferior ao custo de

oportunidade de produzir um automóvel em Espanha; no 2º cenário, o preço relativo do

automóvel pertence ao intervalo delimitado pelos custos de oportunidade de produzir um

automóvel em Espanha e em Portugal; no 3º cenário, o preço relativo do automóvel é

superior ao custo de oportunidade de produzir um automóvel em Portugal. Note que estes

três cenários esgotam as possibilidades, relativamente ao preço relativo do automóvel,

conforme resulta da ilustração seguinte:

Análise do Cenário II

Considere o canário II. Suponha, como simplificação da análise e sem perda de

generalidade, que um automóvel é transaccionado no mercado por um preço igual a duas

vezes o preço de um televisor (i.e., o preço relativo do automóvel é igual a 2) – qualquer

Cenário I Cenário II Cenário III

4 1

Custo de oportunidade dos automóveis, em

Espanha

Custo de oportunidade dos automóveis, em

Portugal

Preço relativo dos automóveis

12

valor entre 1 e 4, para o preço relativo do automóvel, permitiria chegar ao mesmo tipo de

conclusão.

Sendo o custo de oportunidade de produzir um automóvel, em Espanha, inferior ao preço

relativo do automóvel, será vantajoso para Espanha produzir automóveis? A resposta é

afirmativa. Se o custo (de oportunidade) de produzir um automóvel, em Espanha, é

inferior ao preço (relativo) desse bem, nas trocas internacionais, então será “lucrativo”

para Espanha produzir automóveis.

De forma equivalente, conclui-se que a especialização de Espanha na produção de

automóveis e, consequentemente, a exportação deste bem (e a importação de

televisores), acarreta ganhos (de especialização e de troca) para o país. Senão vejamos:

a produção de um automóvel adicional em Espanha obriga a “sacrificar” a produção de 1

televisor – ou seja, o custo de oportunidade de um automóvel é igual a 1, em Espanha; a

venda daquele automóvel adicional, no mercado internacional, permite uma receita

financeira suficiente para adquirir 2 televisores – ou seja, um automóvel tem um preço de

mercado que é igual a duas vezes o preço de um televisor. Nestes termos, ao produzir e

vender um automóvel adicional, Espanha obtém uma receita que permite adquirir 2

televisores, o que claramente compensa o televisor que, em termos de produção interna,

foi sacrificado para permitir a produção do automóvel adicional.

Assim sendo, no cenário II, e em termos de análise positiva, Espanha optará por

especializar-se na produção de automóveis, ou seja, na produção do bem em que

apresenta vantagem relativa. O mesmo raciocínio levar-nos-ia a concluir que Portugal se

especializaria na produção de televisores.

Análise dos Cenários I e III

No cenário I, conclui-se que seria “lucrativo”, quer para Portugal quer para Espanha,

reduzir a produção de automóveis e, ao mesmo tempo, especializar-se na produção de

televisores. De facto, para qualquer um daqueles países, o preço (relativo) do automóvel,

nas torças internacionais, seria inferior ao custo (de oportunidade) de produzir

automóveis, pelo que a produção deste bem não seria “lucrativa”. Ora, esta situação em

que ambos os países se especializam na produção de televisores, exportando este bem e

importando automóveis, dá origem a um excesso de procura de automóveis e a um

excesso de oferta de televisores, não podendo, por isso, constituir uma situação de

equilíbrio. Face ao excesso de procura de automóveis e ao excesso de oferta de

televisores, o preço relativo dos automóveis tenderá a aumentar nos mercados

internacionais.

13

No cenário III, conclui-se que seria “vantajoso”, quer para Portugal quer para Espanha,

especializar-se na produção de automóveis. Ou seja, neste cenário, o preço (relativo) do

automóvel seria superior ao custo (de oportunidade) de produzir automóveis, quer em

Portugal quer em Espanha, pelo que a especialização na produção de automóveis será

“lucrativa” para qualquer um daqueles países. Ora, esta situação em que ambos os países

se especializam na produção de automóveis, exportando este bem e importando

televisores, dá origem a um excesso de procura de televisores e a um excesso de oferta

de automóveis, não podendo, por isso, constituir uma situação de equilíbrio. Face ao

excesso de procura de televisores e ao excesso de oferta de automóveis, o preço relativo

dos automóveis tenderá a diminuir nos mercados internacionais.

Face a todo o exposto, conclui-se que o único cenário compatível com uma situação de

equilíbrio de mercado – i.e., uma situação em que não se verificam excessos de procura

ou de oferta, em nenhum dos mercados de bens – é o cenário II, ou seja, precisamente o

cenário em que cada um dos países se especializa na produção do bem em que tem

vantagem relativa.

d) De acordo com o raciocínio da alínea anterior, a solução de mercado resulta num preço

relativo do automóvel superior a 1 e inferior a 4.

e) Uma alteração na quantidade de recursos da economia Portuguesa – i.e., em termos da

quantidade de horas de trabalho disponíveis – não altera os padrões de especialização e

de troca identificados nas alíneas anteriores. De facto, estes padrões são determinados

pela vantagem relativa, e esta, por sua vez, resulta da comparação dos custos de

oportunidade verificados dos dois países, os quais não são determinados pela quantidade

de recursos disponíveis na economia mas antes pelos respectivos coeficientes técnicos.

f) Se a alteração no coeficientes técnico associado à produção de automóveis, em Portugal,

que resulta da evolução da tecnologia disponível, for significativa, ao ponto de alterar a

relação entre os custos de oportunidade verificados em Portugal e em Espanha, então

esta alteração tecnológica terá implicações sobre os padrões de especialização e de troca.

Por exemplo, se, face à alteração tecnológica verificada em Portugal, o coeficiente técnico

associado à produção de automóveis passasse a ser inferior a 10 – ou seja, Portugal

passaria a poder produzir um automóvel em menos de 10 horas de trabalho –, então o

custo de oportunidade do automóvel passaria a ser menor em Portugal do que em

Espanha e, nestes termos, as economias Portuguesa e Espanhola passariam a

especializar-se na produção de automóveis e televisores, respectivamente, invertendo os

padrões de especialização e de troca que foram identificados nas alíneas anteriores.

14

Qualquer outra alteração no coeficiente técnico de produção automóvel, em Portugal –

i.e., se este coeficiente técnico assumisse qualquer valor superior a 10 –, não teria

implicações sobre os padrões de especialização e de troca das economias que foram

identificados nas alíneas anteriores.

11. […]

12. […]

a) A afirmação é falsa. A inclinação da Fronteira de Possibilidades de Produção reflecte o

custo de oportunidade (do bem que aparece identificado no eixo das abcissas), e este,

por sua vez, é determinado pelos coeficientes técnicos da economia e não pela

quantidade de recursos disponíveis.

b) A afirmação é verdadeira. A abertura de uma economia ao comércio internacional de bens

não altera as respectivas possibilidades de produção, por não ter qualquer impacto sobre

a quantidade de recursos e tecnologias disponíveis na referida economia – isto assumindo

que o comércio apenas se dá ao nível dos bens, não havendo qualquer transferência de

recursos ou de tecnologias entre países. Ainda assim, o comércio internacional livre

acarreta um conjunto de ganhos de especialização e de ganhos de troca, que se traduzem

na expansão do espaço de possibilidades de consumo para além do espaço de

possibilidades de produção.

Esta conclusão poderá ser ilustrada através da seguinte representação gráfica, onde se

observa que o espaço de possibilidades de consumo (área delimitada pela recta de

preços) é maior do que o espaço de possibilidades de produção (área delimitada pela

FPP), sendo a diferença entre aquelas áreas o reflexo dos ganhos de especialização e de

troca que resultam da abertura da economia ao comércio livre de bens:

15

c) Esta afirmação é falsa, conforme resulta, aliás, das explicações já apresentadas na alinea

e) do exercício 10.

d) Esta afirmação é verdadeira, conforme resulta, aliás, das explicações já apresentadas na

alínea c) do exercício 10.

e) Esta afirmação é verdadeira. Ou seja, no Modelo Ricardiano de Troca, é precisamente a

diferença entre países (ou agentes económicos), ao nível dos respectivos custos de

oportunidade (os quais são determinados pelos coeficientes técnicos), que determina a

vantagem relativa dos vários países e, em função desta, os ganhos de especialização e de

troca resultantes de uma especialização do país na produção do bem em que apresenta

vantagem relativa.

f) Esta afirmação é falsa. Na determinação de uma determinada escolha, o agente

económico deverá comparar custos e benefícios da mesma, face a outras alternativas.

Nestes termos, e ainda que uma determinada opção apresente um custo de oportunidade

elevado, a mesma poderá ser a escolha óptima do agente económico, nomeadamente se

o beneficio (relativo) que resulta desta opção for superior ao respectivo custo de

oportunidade.

13. Os economistas estudam as escolhas dos agentes económicos. Normalmente, estas

escolhas baseiam-se numa análise marginal, ou seja, na avaliação da forma como

pequenas alterações de determinadas variáveis (v.g., a quantidade produzida ou

consumida de um bem) se reflectem nos objectivos dos agentes económicos. Por

exemplo, a escolha da quantidade a produzir, por um determinado produtor que pretenda

maximizar o seu lucro, resulta da comparação entre receitas marginais (ou seja, o

X

Y

Cabaz Produzido

Recta de Preços

FPP

16

acréscimo da receita que resulta da produção de uma unidade adicional do bem) e os

custos marginais (ou seja, o acréscimo de custos que resulta da produção de uma

unidade adicional do bem), devendo o produtor aumentar a quantidade produzida se e

enquanto a receita marginal for superior ao custo marginal – ou seja, se o acréscimo de

receita associada a um pequeno aumento na quantidade produzida (i.e., a receita

marginal) é superior ao acréscimo de custo associado ao mesmo pequeno aumento da

quantidade produzida (i.e., o custo marginal), então será lucrativo, para o produtor,

proceder a um pequeno aumento – aumento “na margem” – da quantidade produzida.

Este exercício introduz os alunos à análise marginal, a qual será utilizada em diferentes

contextos ao longo do Curso de Microeconomia.

Identificamos, na tabela seguinte, os benefícios totais e benefícios marginais associados a

cada um dos julgamentos que o jovem advogado se encontra a preparar. Para cada um

daqueles três casos, o benefício total corresponde à indeminização esperada, a qual varia

com o número de horas de preparação que são afectas ao caso (estes valores constam da

tabela que acompanha o exercício); já o beneficio marginal corresponde ao acréscimo na

indeminização esperada, que resulta de cada hora adicional que é utilizada na preparação

do caso em questão – exemplificando, se o beneficio total do caso I, quando o jovem

advogado utiliza 2 horas na preparação deste caso, é igual a 130, aumentando para 135

em resultado da 3ª hora de preparação, então o beneficio marginal desta hora adicional é

igual a 5, correspondendo ao acréscimo no beneficio total. Na tabela seguinte, os

benefícios marginais aparecem identificados em cor mais escura, uma vez que será esta a

informação utilizada na resposta às alíneas seguintes.

Caso I Caso II Caso III Horas de

preparação Beneficio

Total

Beneficio

Marginal

Beneficio

Total

Beneficio

Marginal

Beneficio

Total

Beneficio

Marginal

0 100 --- 0 --- 0 ---

1 120 20 40 40 70 70

2 130 10 70 30 120 50

3 135 5 90 20 150 30

4 137 2 105 15 175 25

5 138 1 115 10 195 20

6 138 0 120 5 210 15

7 136 - 2 127 2 220 10

8 132 - 4 128 1 228 8

9 125 - 7 128 0 232 4

10 110 - 15 127 - 1 233 1

17

a) O custo de oportunidade é definido como sendo o valor da melhor alternativa sacrificada

quando fazemos uma determinada opção.

Neste caso, o jovem advogado deverá, em alternativa, reduzir em uma hora o tempo de

preparação do caso I ou do caso II, se pretender afectar uma hora adicional à preparação

do 3º caso – tal acontece porque os recursos são limitados e, consequentemente, o

reforço dos recursos afectos a uma das opções obrigará a reduzir os recursos aplicados

numa das outras opções. Na situação inicial, o jovem advogado afectou 5 horas à

preparação de cada um dos casos I e II. Da tabela, resulta que o benefício marginal da

última hora de trabalho afecta aos casos I e II é igual a 1 e 10, respectivamente. Nestes

termos, a melhor alternativa sacrificada, quando se pretende aplicar mais uma hora de

trabalho ao 3º caso, é retirar essa hora da preparação do caso I, ou seja, do caso que

apresenta um benefício marginal mais reduzido.

O custo de oportunidade associado a gastar uma hora adicional na preparação do 3º

caso, face à afectação inicial de tempos de preparação dos vários julgamentos que se

encontravam previstas, é igual a 1, ou seja, corresponde ao benefício marginal

“sacrificado” na melhor alternativa.

b) O benefício marginal que resulta da aplicação da 5ª hora de trabalho na preparação do

caso III é, segundo a tabela apresentada, igual a 20. Já o custo de oportunidade

associado a afectar uma hora adicional na preparação do 3º caso, face à afectação inicial

de tempos de preparação dos vários julgamentos que se encontravam previstas, é,

segundo a conclusão da alínea anterior, igual a 1.

Ora, na medida em que o benefício marginal é superior ao custo de oportunidade, então

será benéfico, para o jovem advogado, afectar a 5º hora de trabalho na preparação do

caso III e, nesta medida, a afectação de tempos de preparação que foi proposta

inicialmente não será a mais adequada ou eficiente.

c) O raciocínio das alíneas anteriores poderá ser aplicado na determinação da afectação

óptima dos tempos de preparação do jovem advogado. Facilmente se conclui que, para

uma qualquer afectação de tempo, se o beneficio marginal que resulta de aplicar mais

uma hora de trabalho na preparação de um dos casos for superior ao beneficio marginal

da ultima hora de trabalho afecta à preparação de, pelo menos, um dos outros casos,

então a transferência de recursos deste ultimo caso para aquele caso é benéfica, na

perspectiva do advogado.

18

A aplicação sucessiva deste raciocínio levar-nos-á a concluir que o jovem advogado

deverá aplicar: uma 5ª hora na preparação do 3º caso (“sacrificando” a 5ª hora que era

aplicada na preparação do 1º caso); uma 6ª hora na preparação do 3º caso

(“sacrificando” a 4ª hora que era aplicada na preparação do 1º caso); uma 7ª hora na

preparação do 3º caso (“sacrificando” a 3ª hora que era aplicada na preparação do 1º

caso). Em resultado destas reafectações de tempos de preparação, o jovem advogado

aplicará 2 horas na preparação do 1º caso, 5 horas na preparação do 2º caso e 7 horas

na preparação do 3º caso. Neste cenário, o benefício marginal da última hora aplicada é

igual a 10, para qualquer um dos casos em julgamento, pelo que será esta a afectação

eficiente dos tempos de preparação do jovem advogado.

d) Na análise marginal que os economistas aplicam às escolhas dos agentes económicos,

resultam diversos princípios económicos, os quais serão recorrentes ao longo do Curso de

Microeconomia.

Nestes termos, resulta, da alínea anterior, que um agente económico que pretenda

afectar uma determinada dotação de recursos a várias aplicações alternativas, tenderá a

cumprir o seguinte principio: a afectação de recursos eficiente fará com que os benefícios

marginais das diversas opções possíveis sejam iguais entre si.

Este princípio é utilizado, por exemplo, no âmbito da teoria do consumidor, em que este

deverá afectar o seu rendimento à escolha das quantidades a consumir de vários bens

alternativos (neste contexto, o acréscimo de bem-estar que resulta do último euro

aplicado na aquisição de um determinado bem, deverá ser idêntico ao acréscimo de bem-

estar que resulta do último euro que é aplicado na aquisição de outro); será igualmente

utilizado, no âmbito da teoria do produtor, em que este deverá decidir a forma como o

produtor afecta uma determinada quantidade a produzir, entre várias fábricas

alternativas (neste contexto, o acréscimo de custos – ou custo marginal – que resulta da

ultima unidade produzida numa determinada fábrica, deverá igualar o custo marginal das

restantes fábricas controladas pelo mesmo produtor).

Resulta, igualmente, das alíneas anteriores que um agente económico que pretenda

determinar a quantidade de recursos a afectar a uma determinada opção, tenderá a

reforçar esta quantidade de recursos, enquanto o beneficio marginal de afectar mais

recursos àquela opção for pelo menos igual ao respectivo custo marginal (ou, dependendo

do contexto, custo de oportunidade). Este princípio será aplicado, por exemplo, no âmbito

da teoria do produtor, em que este deverá determinar a quantidade óptima a produzir de

um determinado bem (neste contexto, o produtor deverá reforçar a quantidade a produzir

19

sempre que a respectiva receita – ou beneficio – marginal for superior ao custo

marginal).

e) A título de exemplo, as Autoridades poderiam impor uma restrição que obriga qualquer

advogado a gastar pelo menos 4 horas na preparação de um caso. Esta hipotética

regulamentação poderia ser justificada, por exemplo, com o princípio (ou objectivo

normativo) de promoção do direito à defesa dos arguidos. Neste cenário, o jovem

advogado, ao ser obrigado a aplicar mais duas horas na preparação do caso I (face à

afectação de tempo óptima que foi determinada na alínea c)), passaria a aplicar apenas 4

e 6 horas na preparação dos casos II e III, respectivamente – Consegue justificar esta

nova afectação de tempos de preparação? Porque razão o jovem advogado não “sacrifica”

2 horas no trabalho de preparação do Caso II ou do Caso III, em vez de “sacrificar” 1

hora no trabalho de preparação de cada um dos casos II e III?.

14. O exercício anterior apresenta um problema de escolha relativamente simples, na medida

em que o jovem advogado tem apenas um objectivo, a maximização das indeminizações

totais a pagar. Ao longo do Curso de Microeconomia, a maioria dos problemas de escolha

serão deste género, ou seja, em que existe apenas um objectivo a prosseguir, por parte

do decisor em questão – exemplificando, no contexto da teoria do consumidor, a escolha

deste agente económico resulta da prossecução de um único objectivo, a maximização do

seu bem-estar ou utilidade; no contexto da teoria do produtor, a escolha deste agente

económico resulta, igualmente, da prossecução de um único objectivo, a maximização do

lucro ou a minimização dos custos, conforme os casos.

Ainda assim, importa notar que, em muitas das áreas da economia e do direito, o decisor

prossegue diversos objectivos, em simultâneo, os quais poderão ser conflituosos entre si,

e, nestes termos, deverá o decisor avaliar e proceder a determinados trade-offs entre

objectivos.

Em termos de análise normativa, os principais critérios ou objectivos que servem de base

às prescrições apresentadas pelos economistas, são os critérios de eficiência – eficiência

produtiva, eficiência na afectação de recursos e eficiência dinâmica – e de equidade,

relacionados, respectivamente, com a “maximização da dimensão do bolo” produzido pela

economia e com a forma como se procede à “divisão do bolo”1. Que outros critérios

normativos serão adequados à avaliação de questões jurídicas?

1 Também importa notar que, não obstante os economistas se referirem a questões de equidade, grande parte das suas análises normativas baseiam-se no critério de eficiência, uma vez que as avaliações de equidade obrigam a juízos de valor, que apenas poderão ser resolvidos através de um processo de escolha politica ou outros qualquer processo de escolha colectiva. Ou seja, não deverá ser o economista a impor, à sociedade, os seus próprios juízos de valor no que concerne a questões relacionadas com a equidade. Não obstante, o recurso à análise económica para avaliar custos ao nível da eficiência que resultam de uma

20

Em muitas das áreas da economia e do direito, existem potenciais conflitos entre a

eficiência, equidade e outros eventuais objectivos normativos que possam ser

considerados (v.g., potenciais conflitos entre objectivos normativos surgem quando se

procede à avaliação de diferentes regimes legais). Nestes casos, o decisor terá de avaliar

e proceder a determinados trade-offs – por exemplo, uma determinada lei que melhore a

eficiência da economia pode resultar numa distribuição menos equitativa dos recursos.

O presente exercício introduz os alunos à necessidade de se proceder a trade-offs,

quando se está perante uma escolha entre diversas opções, e existem vários critérios ou

objectivos normativos a prosseguir.

A tabela seguinte apresenta um problema de escolha multi-critério (ou multi-objectivo),

entre várias legislações alternativas de responsabilidade civil, em caso de atropelamento.

Aparentemente, o problema parece complicado, uma vez que não será possível identificar

uma única legislação que seja a “melhor” alternativa em termos de todos os objectivos

que se pretende prosseguir. Exemplificando, ainda que a Legislação C minimize os custos

de implementação ou o número de atropelamentos, esta já não será a “melhor” legislação

ao nível dos restantes critérios.

Não obstante, o problema poderá ser significativamente simplificado, se seguirmos as

sugestões que são feitas no enunciado. Isto é, aplicando sucessivamente os três passos

seguintes: (i) identificar e eliminar legislações que sejam dominadas por outras – uma

legislação é dominada por outra se a primeira não for melhor do que a segunda em

nenhum dos critérios de avaliação, sendo pior em pelo menos um dos critérios; (ii)

identificar e eliminar objectivos “não relevantes” – ou seja, objectivos para os quais as

várias legislações alternativas assumem o mesmo nível de cumprimento; (iii) identificar e

proceder a trade-offs que o decisor esteja disposto a fazer – começando por proceder a

trade-offs entre os objectivos que possam ser avaliados em termos da mesma unidade de

medida, por serem os trade-offs mais simples de serem avaliados2.

qualquer politica, é particularmente útil, uma vez que permite aos decisores políticos estar informados sobre as implicações das suas escolhas em termos de eficiência e, desta forma, estarão mais bem informados para proceder a eventuais trade-offs entre a eficiência da economia e a equidade ou outros eventuais objectivos normativos que se pretendam prosseguir. 2 Um excelente livro – não técnico e de leitura fácil, mas rigoroso – que cobre esta metodologia é o seguinte: John S. Hammond, Ralph L. Keeney, Howard Raiffa, “Smart Choices: A practical guide to making better decisions”, publicado pela Harvard Business School Press. Neste livro, é apresentada a metodologia PrOACT para tomar decisões. Ou seja, define-se o Problema, os Objectivos a prosseguir, as Alternativas de resolução do problema, as Consequências de cada alternativa no que concerne a cada um dos objectivos, e a avaliação de Trade-Offs. A tabela apresentada neste exercício segue esta metodologia PrOACT: é definido o Problema (definição de uma legislação sobre responsabilidade civil em caso de atropelamento), os Objectivos normativos (minimização da litigância, minimização dos custos de implementação, minimização da gravidade dos atropelamentos, etc.), as Alternativas de resolução do problema (Legislações A a E), Consequências (por exemplo, a legislação A tem um custo de

21

Objectivos Legislação A Legislação B Legislação C Legislação D Legislação E

Número de

atropelamentos 450 250 250 250 300

Gravidade dos

atropelamentos (nº

de mortes)

70 55 65 50 60

Litigância (nº de

casos em tribunal) 50 50 80 50 80

Erros judiciais na

aplicação da lei 10% 15% 20% 5% 15%

Custos de

implementação (em

milhares de euros)

1950 1700 1500 1900 1750

• Eliminação de Alternativas dominadas

Comparando as diversas legislações alternativas, duas a duas, facilmente conclui que as

legislações A e E são dominadas pelas legislações D e B, respectivamente.

Ou seja, da comparação das legislações A e D, conclui que a legislação A não é melhor do que

a legislação D em nenhum dos critérios, sendo pior nos objectivos de minimização de

atropelamentos, minimização da gravidade dos atropelamentos, na minimização dos erros

judiciais e na minimização dos custos de implementação.

Da comparação das legislações E e B, conclui que a legislação E não é melhor do que a

legislação B em nenhum dos critérios, sendo pior nos objectivos de minimização do número de

atropelamentos, minimização da gravidade dos atropelamentos, da minimização da litigância e

da minimização dos custos de implementação.

Face ao exposto, eliminamos as legislações A e E, por serem dominadas e, nestes termos,

nunca seriam as legislações escolhidas. Depois desta eliminação, o problema passa a ter o

seguinte aspecto:

Objectivos Legislação B Legislação C Legislação D

Número de 250 250 250

implementação de 1950 milhares de euros), sendo necessário proceder a determinados Trade-Offs na avaliação deste problema. Exemplificando, esta metodologia foi utilizada no estudo Options for separating the cable and PSTN networks in Portugal – What are the costs and benefits?, realizado pela OXERA para a Autoridade da Concorrência (Junho de 2006), disponível em http://www.concorrencia.pt/download/OXERA_NC.pdf

22

atropelamentos

Gravidade dos

atropelamentos (nº

de mortes)

55 65 50

Litigância (nº de

casos em tribunal) 50 80 50

Erros judiciais na

aplicação da lei 15% 20% 5%

Custos de

implementação (em

milhares de euros)

1700 1500 1900

• Eliminação de objectivos “não relevantes”

Atento este problema simplificado, que resultou da eliminação das legislações dominadas,

facilmente se conclui que o objectivo referente à minimização do número de atropelamentos é

“não relevante” para a escolha, uma vez que as legislações B, C e D resultam todas no mesmo

número de atropelamentos. Nestes termos, o problema poderá ser simplificado, através da

eliminação do objectivo referente à minimização do número de atropelamentos. Depois da

eliminação daquele objectivo, o problema passa a ter o seguinte aspecto:

Objectivos Legislação B Legislação C Legislação D

Gravidade dos

atropelamentos (nº

de mortes)

55 65 50

Litigância (nº de

casos em tribunal) 50 80 50

Erros judiciais na

aplicação da lei 15% 20% 5%

Custos de

implementação (em

milhares de euros)

1700 1500 1900

23

• Trade-Offs

Nesta fase, deverá identificar e proceder a trade-offs que o decisor esteja disposto a aceitar.

No presente exemplo, os objectivos de minimização dos custos de implementação e de

minimização da litigância são facilmente comparáveis, uma vez que estes dois objectivos

podem ser traduzidos na mesma unidade de medida. Ou seja, enquanto que os custos de

implementação são medidos em euros, também a litigância pode ser medida em euros, uma

vez que, segundo informação que consta no enunciado, estima-se que os custos associados à

litigância são, em média, iguais a cerca de 10 milhares de euros por cada caso que chega a

tribunal. Nestes termos, poderemos redefinir o problema da seguinte forma:

Objectivos Legislação B Legislação C

alternativa

Legislação D

Gravidade dos

atropelamentos (nº

de mortes)

55 65 50

Litigância (nº de

casos em tribunal) 50

50 (em vez

de 80) 50

Erros judiciais na

aplicação da lei 15% 20% 5%

Custos de

implementação (em

milhares de euros)

1700 1800 (em

vez de 1500) 1900

Desta forma, modifiquei as consequências que resultam da legislação C, sem, no entanto,

alterar a forma como esta legislação se compara com as restantes. De facto, ao definir uma

hipotética legislação C alternativa que, face à legislação C inicial, apresenta custos de

implementação superiores em 300 milhares de euros e uma litigância de menos 30 casos em

tribunal – estes 30 casos que deixam de ir a tribunal, traduzem-se numa poupança de 300

milhares de euros em custos de litigância, uma vez que se gasta, em média, 10 milhares de

euros por cada caso em tribunal –, pode-se afirmar que qualquer decisor estará indiferente

entre escolher uma ou outra legislação, uma vez que a redução no custo de litigância é

exactamente igual ao aumento nos custos de implementação – 300 milhares de euros.

Face a esta forma alternativa de apresentar o problema, facilmente se conclui que a legislação

C é dominada pela legislação A, e que o objectivo de minimização da litigância é um objectivo

“não relevante”. Nestes termos, a legislação C e o objectivo de minimização da litigância

poderão ser eliminados, resultando o seguinte problema simplificado:

24

Objectivos Legislação B Legislação D

Gravidade dos

atropelamentos (nº

de mortes)

55 50

Erros judiciais na

aplicação da lei 15% 5%

Custos de

implementação (em

milhares de euros)

1700 1900

Ainda que significativamente simplificado, o problema de escolha continua a não ter uma

resposta trivial, obrigando o decisor a ponderar outros tipos de trade-offs. Note que a

legislação D é preferível à legislação B nos critérios de minimização da gravidade dos

atropelamentos e de minimização dos erros judiciais, mas apresenta um custo de

implementação superior.

Vamos pensar em termos de trade-offs entre os objectivos de minimização da gravidade dos

atropelamentos e da minimização dos custos de implementação. Defina uma hipotética

legislação B alternativa, que, face à actual legislação B, resulte em menos 5 mortes por

atropelamento. Quanto é que o decisor estaria disposto a aceitar, em termos de acréscimo de

custos de implementação, para criar uma hipotética legislação B alternativa que, face à actual

legislação B, implicasse uma redução de 5 mortes por atropelamento? A resposta a esta

questão não será fácil, uma vez que envolve a quantificação do valor monetário da vida. Não

obstante, parece razoável assumir que, para a generalidade dos decisores, 5 mortes a menos

valem, pelo menos, 200.000 euros (avaliando cada uma das vidas em, pelo menos, 40.000

euros) – a vida terá um valor que, com toda a certeza, será significativamente superior a este

valor; para solucionar o nosso problema, não será necessário saber o valor exacto da vida,

bastando apenas concluir que esta vale mais de 40.000 euros. Nestes termos, o problema

poderá ser redefinido da seguinte forma:

Objectivos Legislação B

alternativa

Legislação D

Gravidade dos

atropelamentos (nº

de mortes)

50 (em vez

de 55) 50

Erros judiciais na

aplicação da lei 15% 5%

Custos de

implementação (em

milhares de euros)

Superior a

1900 (em

vez de 1700)

1900

25

Face a todas as simplificações que foram introduzidas no problema de escolha, as quais não

alteram a decisão final sobre a melhor legislação, facilmente se conclui, agora, que o ministro

da justiça deveria optar pela Legislação D, a qual claramente domina a legislação B – a

legislação D terá, face à legislação B alternativa, menores custos de implementação, resultará

em menos erros judiciais e em menos mortes por atropelamento.

III. Procura, Oferta e Equilíbrio de Mercado

15. Nas alíneas seguintes, identificamos os deslocamentos das curvas de procura e/ou oferta,

assim como a alteração no preço e quantidade de equilíbrio (as rectas a tracejado e a

cheio identificam a curva de procura e/ou oferta antes e depois do choque identificado na

alínea respectiva; E0 e E1 identificam o equilíbrio de mercado antes e depois do choque).

a) Aumento da população na sequência de

um fluxo imigratório.

b) Diminuição do preço da energia no

produtor.

c) Diminuição do rendimento disponível

dos consumidores.

d) Mau ano agrícola devido a condições

climatéricas.

Q

P E0

E1

Q

P E1

E0

Q

P E0

E1

Q

P E1

E0

26

e) Melhoria nos processos produtivos

devido a progresso tecnológico.

f) Subida do preço de um bem substituto.

g) Diminuição do preço de um bem

complementar.

h) Criação de expectativas de crise

económica por parte da população.

Q

P E0

E1

Q

P E1

E0

Q

P E0

E1

Q

P E1

E0

27

16. […]

a) A descida do preço dos microchips utilizados na produção de processadores, reduz o custo

de produção de um computador e, consequentemente, reduz os preços de reserva dos

produtores de computadores. Assim, há uma expansão da curva de oferta, o que se

traduzirá na diminuição do preço de equilíbrio, aumento da quantidade de equilíbrio, e

aumento do bem-estar dos consumidores e dos produtores (medido através dos

excedentes do consumidor e do produtor).

b) As alíneas b) e d) serão avaliadas nas aulas sobre Aplicações do Modelo de Porcura e

Oferta, nomeadamente quando se falar de subsídios e quotas à importação.

c) O acesso à Internet é um serviço complementar do computador, pelo que uma redução

do preço deste serviço aumenta os preços de reserva dos consumidores, no mercado dos

computadores, resultando na expansão da curva de procura de computadores, aumento

do preço e da quantidade de equilíbrio no mercado de computadores, e no aumento do

bem-estar dos consumidores e dos produtores (medido através dos excedentes do

consumidor e do produtor).

d) As alíneas b) e d) serão avaliadas nas aulas sobre Aplicações do Modelo de Porcura e

Oferta, nomeadamente quando se falar de subsídios e quotas à importação.

Q

P E1

E0

Q

P E0

E1

28

17. O aumento do prazo de garantia traduz-se no aumento da valorização que os

consumidores atribuem ao bem (i.e., preços de reservas dos consumidores) e, por esta

via, numa expansão da curva de procura;

Os produtores passam a exigir preços de reserva mais elevados para compensar o

eventual acréscimo dos custos que resulta da extensão de garantia e, por esta via,

assiste-se a uma contracção da curva de oferta.

Quais são as consequências da expansão da curva de procura e da contracção da curva

de oferta sobre o preço e a quantidade de equilíbrio?

Depende de qual das curvas sofre um deslocamento mais acentuado. No caso anterior, o

preço e a quantidade de equilíbrio aumenta e diminui, respectivamente, porque a

contracção da curva de oferta foi mais acentuada do que a expansão da curva de procura

– i.e. o efeito da extensão de garantia sobre os custos dos produtores é mais forte do que

o efeito sobre a valorização do electrodoméstico, por parte dos consumidores. No

entanto, o preço e a quantidade de equilíbrio podem aumentar em simultâneo, ou o preço

de equilíbrio pode aumentar sem que a quantidade de equilíbrio se altere (veja próximos

gráficos). A resposta depende de qual das curvas se desloca de forma mais acentuada,

em resposta à introdução da extensão de garantia.

Q

P

E0

E1

29

Em conclusão, apenas se poderá afirmar que, em resultado da introdução da extensão de

garantia, o preço de equilíbrio aumenta – note que este é o resultado,

independentemente de qual dos 3 cenários anteriores se verifica –, e que o impacto sobre

a quantidade de equilíbrio é incerto, podendo esta aumentar, diminuir ou não variar, em

função de qual das curvas se desloca de forma mais acentuada.

18. O impacto sobre os preços de reserva dos consumidores será igual a 20, ou seja, a

despesa média que o consumidor teria de suportar, com avarias de electrodomésticos

durante o 2º ano de vida dos mesmos, e que, face à extensão de garantia, passam a ser

suportadas pela empresa que lhe vendeu o electrodoméstico.

O impacto sobre os preços de reserva dos produtores será igual a 10, ou seja, o custo

médio que o produtor suportará com arranjos de electrodomésticos durante o 2º ano de

vida dos mesmos, e que, antes da adopção da nova legislação sobre garantias, era

suportado pelos consumidores.

Neste caso, a curva de procura tenderá a deslocar-se de forma mais acentuada do que a

curva de oferta, pelo que, face aos resultados do exercício anterior, o preço e a

quantidade de equilíbrio tenderão a aumentar, em resultado da nova legislação sobre

garantias.

19. O aumento da qualidade do bem resulta num aumento dos preços de reserva dos

consumidores e, nestes termos, numa expansão da curva de procura. Se o acréscimo de

qualidade for valorizado de forma distinta por diferentes consumidores, então a expansão

da curva de procura poderá não ser paralela. Ou seja, no cenário em que os

consumidores com preços de reserva mais elevados são também os que mais valorizam o

acréscimo de qualidade, a curva de procura tornar-se-á mais inclinada em resultado do

acréscimo de qualidade; no cenário em que os consumidores com preços de reserva mais

Q

P

E0

E1

Q

E0

E1 P

30

baixos são também os que mais valorizam o acréscimo de qualidade, a curva de procura

tornar-se-á menos inclinada em resultado do acréscimo de qualidade.

Conforme resulta dos gráficos seguintes, o efeito sobre o preço de equilíbrio é

determinado pelo acréscimo dos preços de reserva dos consumidores marginais – i.e.,

dos consumidores com preços de reserva mais baixos, dentro do grupo de consumidores

que, ainda assim, adquirem o bem. Ou seja, serão os preços de reserva dos

consumidores marginais, assim como a forma como estes preços de reserva reagem a

alterações na qualidade do bem, a determinar os preços de equilíbrio do mercado.

Nestes termos, no cenário 1, o aumento do preço de equilíbrio será (relativamente) pouco

significativo, uma vez que os consumidores marginais valorizam pouco o acréscimo de

qualidade; o bem-estar dos consumidores aumenta (porque o acréscimo no preço de

mercado é inferior ao acréscimo do preço de reserva dos consumidores que adquirem o

bem e, ao mesmo tempo, a quantidade de equilíbrio aumenta).

No cenário 2, o aumento do preço de equilíbrio será (relativamente) significativo, uma

vez que os consumidores marginais valorizam significativamente o acréscimo de

qualidade; o bem-estar dos consumidores poderá diminuir, uma vez que o acréscimo no

preço de equilíbrio poderá ser superior ao acréscimo no preço de reserva de alguns dos

consumidores que adquirem o bem, nomeadamente dos consumidores que têm preços de

reserva mais elevados.

Em qualquer um dos cenários, o bem-estar dos produtores aumenta – assumindo que o

acréscimo de qualidade não terá impactos significativos sobre os custos dos produtores –,

uma vez que a quantidade e o preço de equilíbrio aumenta naqueles dois cenários.

Em jeito de conclusão, importa reiterar que serão os preços de reserva dos consumidores

marginais, assim como a forma como os preços de reserva destes consumidores reagem

Q

P

Q

P

31

a alterações na qualidade do bem, a determinar os preços de equilíbrio do mercado Ou

seja, deverá sempre pensar em termos dos efeitos sobre os preços de reserva dos

consumidores marginais, uma vez que são estes a determinar os preços de equilíbrio no

mercado.

20. […]

a) […]

b) […]

Q

P

E0

20

14,8

10

1,6

18

E1

Mercado de Café

Q

P

E0

20

16

10

2

Mercado de Café O equilíbrio é determinado pela intercessão

da curva de procura com a curva de oferta.

Em termos matemáticos, o equilíbrio resulta

de igualarmos aquelas duas funções entre

si:

20-2Q=10+3Q ↔20-10=3Q+2Q

↔10=5Q↔Q*=2

Por substituição da quantidade de equilíbrio

Q*=2 na função oferta ou na função

procura, determinamos o preço de equilíbrio

P*=10+3Q*=16 ou P*=20-2Q*=16.

- Ocorreu uma contracção da curva de

procura (a ordenada na origem da procura

alterou-se de 20 para 18).

- O aumento do preço de um qualquer bem

complementar do café traduz-se na

contracção da curva de procura de café. Dado

que o açúcar e o café são bens

complementares, aquele deslocamento na

curva de procura de café justifica-se com um

aumento do preço do açúcar.

32

O novo equilíbrio resulta de igualarmos a função procura à função oferta:

18-2Q=10+3Q ↔ 18-10=3Q+2Q ↔ 8=5Q ↔ Q*=1,6.

Por substituição deste valor na função oferta ou na função procura, obtém-se o preço de

equilíbrio:

P*=10+3Q*=14,8 ou P*=18-2Q*=14,8.

c) […]

21. [...]

a) O preço e a quantidade de equilíbrio são iguais a 12 e 4, respectivamente.

b) Neste caso, a procura de esferográficas expande-se (porque aumentou o preço de um

bem substituto das esferográficas), o que faz aumentar o preço e a quantidade de

equilíbrio no mercado das esferográficas.

c) Comparando esta curva de oferta com a inicial, conclui-se que as mesmas têm a mesma

inclinação mas diferentes ordenadas na origem. Comparando as ordenadas na origem,

conclui-se ter havido uma expansão da curva de oferta, pelo que a mesma só pode ter

resultado de uma diminuição dos custos energéticos do produtor. O novo preço e

quantidade de equilíbrio é igual a 10,8 e 4,4, respectivamente.

Q

P E1

E0

Mercado de Café - O aumento do preço de um factor

produtivo (energia, trabalho, matérias-

primas, etc) faz aumentar os custos por

unidade produzida e, consequentemente,

resulta num aumento dos preços de

reserva dos produtores. Nestes termos,

assiste-se a uma contracção da curva de

oferta.

- O deslocamento da curva de oferta

implica o aumento e diminuição do preço

e da quantidade de equilíbrio,

respectivamente.

33

22. […]

a) […]

b) O Excedente do Consumidor e o Excedente do Produtor são as medidas utilizadas para

medir o bem-estar do consumidor e do produtor, respectivamente. O Excedente do

Consumidor mede a diferença entre o preço de reserva ou valorização que o consumidor

atribui ao bem e o preço pago pelo mesmo, sendo, por isso, uma medida do bem-estar

que o consumidor retira do consumo do bem (ex. se o consumidor paga 10 euros por um

bem que valoriza em 30 euros, ganha 20 euros com o consumo daquele bem). O

Excedente do Produtor mede a diferença entre o preço que o produtor recebe e o seu

preço de reserva ou preço mínimo que ele exige para vender o bem. Na medida em que o

preço mínimo exigido pelo produtor é idêntico aos respectivos custos por unidade

produzida, então o Excedente do Produtor mede a diferença entre o preço e o custo por

unidade, sendo uma medida daquilo que o produtor ganha por unidade vendida.

Efeitos da expansão da curva de procura, prevista na alínea anterior, sobre o Excedente

do Produtor (conforme gráfico seguinte):

Q

P

E0

E1

a

b

Q

P E1

E0

- Este fenómeno aumenta a valorização ou preço de

reserva que os consumidores atribuem à Máquina

de Café (na medida em que a nova máquina de

café reduz o desperdício de café, sem alterar a

qualidade da bica), o que se traduz na expansão da

curva de procura, e, consequentemente, num

aumento do preço e da quantidade de equilíbrio das

máquinas de café.

34

• O Excedente do Produtor é medido pela área compreendida entre o preço de equilíbrio

e a curva de oferta.

• A expansão da curva de procura altera o Excedente do Produtor num montante

medido pela área b (o excedente do produtor no equilíbrio E1 é medido pela área a+b;

o excedente do produtor no equilíbrio E0 é medido pela área a).

• O aumento do excedente do produtor é explicado por dois fenómenos: (i) o produtor

passa a receber um preço mais elevado (efeito preço); (ii) o produtor passa a vender

uma quantidade maior (efeito quantidade). Estes dois fenómenos reflectem-se

positivamente no bem-estar do produtor.

E quais os efeitos da expansão da procura prevista na alínea anterior, sobre o Excedente

do Consumidor:

A variação do excedente do consumidor resulta de três fenómenos: (i) O consumidor

passa a consumir uma quantidade maior, o que se traduz no aumento do seu bem-estar

Q

P

E0

E1

d

e

Q

P

E0

E1

c

- O Excedente do Consumidor é medido

pela área compreendida entre a curva de

procura e o preço de equilíbrio.

- Na situação inicial, o excedente do

consumidor era medido pela área c deste

gráfico.

- Após a expansão da curva de procura,

o Excedente do Consumidor passa a ser

medido pela área d+e.

- Para poder comparar o impacto da

expansão da procura sobre o Excedente

do Consumidor, repare que a área c no

gráfico anterior (que media o valor

inicial do excedente do consumidor) é

equivalente à área d.

- Nestes termos, a variação do

excedente do consumidor é medido pela

área e. O consumidor vê o seu bem-

estar aumentar.

35

(efeito quantidade); (ii) O consumidor passa a pagar um preço de equilíbrio mais elevado,

o que se traduz na diminuição do seu bem-estar (efeito preço); (iii) O preço de reserva

do consumidor, ou valorização que o mesmo atribui a cada máquina de café, aumentou

(este aspecto está reflectido no deslocamento da curva de procura), o que se traduz no

aumento do seu bem-estar (efeito valorização). O acréscimo do preço de reserva do

consumidor é superior ao acréscimo no preço de equilíbrio – a deslocação vertical da

curva de procura é superior à variação do preço de equilíbrio. Este aspecto permite-me

concluir que o efeito (iii) mais do que compensa o efeito (ii). Assim, a soma dos três

efeitos sobre o bem-estar do consumidor é positiva.

c) O acréscimo na valorização ou preços de reserva dos consumidores de máquinas de café,

traduzido na expansão da curva de procura, resulta do facto da nova máquina permitir

reduzir o (grão de) café necessário à produção de uma bica, sem alterar a qualidade da

mesma. Esta poupança de café é tanto mais relevante em termos económicos quanto

mais caro for o (grão de) café. Assim, a expansão da curva de procura de máquinas de

café será tão mais significativa quanto mais caro for o café. Quanto maior esta expansão

da curva de procura de máquinas de café, maior será a alteração que se irá dar no preço

e quantidade de equilíbrio, e no excedente do produtor e do consumidor de máquinas de

café.

d) Uma estimativa do preço do café, da poupança do (grão de) café que é utilizado para

produzir uma bica, e que resulta da adopção da nova máquina de café, assim como o

número de bicas que são “produzidas” com uma máquina de café. O acréscimo no preço

de reserva do consumidor seria igual à multiplicação do numero de bicas “produzidas”, da

poupança de café por bica e do preço do café – o valor assim determinado equivale à

poupança, em termos financeiro, que resultaria da adopção de uma nova máquina de

café, ao longo da sua vida útil.

e) Para além da expansão da curva de procura que resulta da maior valorização que o

consumidor atribui às máquinas de café, dá-se também uma expansão da curva de oferta

que resulta da diminuição do custo de produção unitário da máquina de café e,

consequentemente, dos preços de reserva dos produtores. Havendo uma expansão das

duas curvas em simultâneo, conclui-se que a quantidade de equilíbrio aumenta. O efeito

sobre o preço de equilíbrio depende de qual das curvas se deslocou de uma forma mais

significativa (recorde o exercício 17), i.e. depende de qual dos efeitos da adopção da nova

máquina é mais acentuado, se o efeito sobre o preço de reserva dos consumidores ou se

o efeito sobre o preço de reserva dos produtores.

36

23. […]

a) […]

P

E1

E0

Q

Q

P E0

E1

Q

P E0

E1

Q

P E1

E0

- No segundo gráfico, a curva de oferta desloca-

se de uma forma mais significativa do que a

curva de procura, o que se traduz no aumento

e diminuição da quantidade e do preço de

equilíbrio, respectivamente.

- No primeiro gráfico, a curva de procura

desloca-se de uma forma mais acentuada do

que a curva de oferta, o que se traduz no

aumento do preço e da quantidade de

equilíbrio.

- No terceiro gráfico, as duas curvas deslocam-

se de uma forma sensivelmente idêntica. Neste

caso, a quantidade de equilíbrio aumenta mas o

preço de equilíbrio não se altera.

- O progresso tecnológico (por exemplo ao nível

da produção de microchips cada vez mais baratos

e com maior capacidade de processamento)

traduziu-se na diminuição significativa dos custos

de produção por computador e,

consequentemente, na diminuição dos preços de

reserva dos produtores de computadores

(expansão da curva de oferta), fazendo diminuir e

aumentar o preço e a quantidade de equilíbrio,

respectivamente.

37

b) […]

O aumento da valorização que o consumidor atribui ao computador (alínea b)) em simultâneo

com a diminuição dos custos de produção (alínea a)) traduz-se na expansão simultânea das

duas curvas. Se o deslocamento da curva de oferta for mais significativo do que o

deslocamento da curva de procura, o preço de equilíbrio no mercado dos computadores vai

continuar a diminuir, apesar da expansão da curva de procura (o equilíbrio passa de E0 para

E2).

24. […]

Q

P

E2

E0 E1

Q

P

Bons Anos Agrícolas

Maus Anos Agrícolas

a

b c

Q

Bons Anos Agrícolas

Maus Anos Agrícolas

a

b c

P

- O aparecimento da Internet aumenta os

preços de reserva dos consumidores e, por

esta via, traduz-se na expansão da curva de

procura. O deslocamento isolado da curva

de procura implicaria o aumento do preço e

da quantidade de equilíbrio (o equilíbrio

passaria de E0 para E1).

38

Há mercados onde alterações nos preços não têm um efeito “significativo” sobre a quantidade

procurada (ex. procura de combustíveis, tabaco, produtos agrícolas, viagens de transporte

publico, etc) – neste caso, a curva de procura é muito inclinada (i.e. a quantidade não diminui

de forma “significativa” quando o preço aumenta), sendo classificada de procura rígida.

Há outros mercados onde alterações nos preços têm um efeito “significativo” sobre a

quantidade procurada – neste caso, a curva de procura é pouco inclinada, sendo classificada

de procura elástica.

Produtos necessários e com poucos substitutos tendem a ter uma procura rígida (o

consumidor não pode diminuir “significativamente” o consumo destes produtos, em resposta a

um aumento de preços, por se tratarem de produtos necessários e com poucos substitutos).

Produtos não necessários e/ou com muitos substitutos tendem a ter procuras elásticas.

Nos gráficos anteriores, assuma que oferta de produtos agrícolas é medida pelas rectas

verticais. Quando passamos de um bom ano agrícola para um mau ano agrícola, assiste-se a

uma contracção da curva de oferta, o que implica uma diminuição e um aumento da

quantidade e preço de equilíbrio, respectivamente. A receita dos agricultores é igual aos

rectângulos a+b (maus anos) e b+c (bons anos). A alteração da receita dos agricultores,

quando passamos de um bom para um mau ano agrícola, é explicada por dois fenómenos: (i)

a receita é menor nos maus anos agrícolas porque se vende uma quantidade de equilíbrio

menor – efeito quantidade; (ii) a receita é maior nos maus anos agrícolas porque os

produtores passam a vender o bem por um preço de equilíbrio mais elevado – efeito preço.

Se estivermos na presença de uma procura rígida (ver 1º dos gráficos apresentados), a

receita dos maus anos agrícolas é maior do que a dos bons anos agrícolas, porque o efeito que

resulta do aumento de preços é mais forte que o efeito da diminuição da quantidade. Se

estivermos na presença de uma procura elástica (ver 2º dos gráficos apresentados), a receita

dos maus anos agrícolas é menor do que a dos bons anos agrícolas, porque o efeito que

resulta do aumento de preços é mais fraco que o efeito da diminuição da quantidade.

A procura de produtos agrícolas tende a ser rígida (são produtos necessários e/ou com poucos

substitutos), o que implica que a receita dos agricultores tende a ser mais elevada nos maus

anos agrícolas. Desta forma, não se justificam ajudas adicionais ao rendimento dos

agricultores nos maus anos agrícolas.

A sua resposta seria distinta no caso de uma situação de comércio livre entre países ou

regiões distintas, as quais não são afectadas de igual modo pelas condições climatéricas? Esta

questão será analisada em resposta ao exercício 46.

39

25. Um procedimento administrativo de distribuição de slots não garante que as Companhias

Aéreas que mais valorizam os slots, sejam aquelas que acabam por o utilizar, mas tão

somente aquelas que os requereram há mais tempo. A utilização destes slots por parte

das Companhias que mais os valorizam, num cenário de atribuição administrativa dos

mesmos, só aconteceria se os mesmos acabassem por ser transaccionados num mercado

paralelo entre companhias, o que, na prática, é proibido e facilmente detectável. Já um

mercado de slots garante que estes serão adquiridos pelas Companhias que apresentam

um preço de reserva superior ao preço de mercado e, nestes termos, serão as

Companhias que mais valorizam aqueles slots. Face ao exposto, a afirmação é

verdadeira.

26. A solução deste exercício não será apresentada, neste documento, uma vez que se

pretende que os alunos tentem resolver o exercício fora da sala de aula, sendo o mesmo,

posteriormente, discutido na aula prática.

27. Neste caso, deve-se distinguir entre a procura de tabaco (em geral) e a procura dirigida à

marca/empresa XPTO:

• A procura de tabaco tenda a ser uma procura rígida – alterações no preço do tabaco

não tem um impacto significativo sobre a quantidade procurada de tabaco, na medida

em que estamos na presença de um produto que se torna necessário (após criar

habituação) e que tem poucos/nenhuns substitutos.

• A procura de tabaco da marca XPTO é menos inclinada do que a procura referida no

ponto anterior. Porquê? Se o preço de tabaco da marca XPTO aumentar, sem que

aumente o preço das outras marcas de tabaco, há uma diminuição “significativa” do

consumo do tabaco da marca XPTO (um grupo “significativo” de consumidores deixam

de consumir tabaco da marca XPTO, que se tornou mais caro, para passar a consumir

tabaco de outras marcas).

Q

Procura de Tabaco da Marca XPTO

Procura de Tabaco

P

40

28. […]

a) A procura de transportes públicos tende a ser uma procura rígida (procura muito

inclinada), por se tratar de um bem necessário e com poucos substitutos relevantes. A

procura de teatro tende a ser elástica (procura pouco inclinada), por se tratar de um bem

não necessário e com muitos substitutos (ex. cinema, televisão, jogos de futebol, leitura,

etc, são substitutos do teatro no mercado do entretenimento). No exercício 24 concluiu-

se que, no caso de mercados com procuras rígidas, a receita do produtor aumenta em

resultado do aumento do preço; no caso de mercados com procura elástica, a receita do

produtor aumenta em resultado de diminuições de preço. Assim, sugere-se o aumento do

preço dos transportes públicos (bem com procura rígida ou muito inclinada), e a

diminuição do preço do teatro (bem com procura elástica ou pouco inclinada).

Ao diminuir o preço do teatro, a quantidade consumida aumenta, a receita altera-se de

a+b para b+c (a alteração da receita é explicada por dois fenómenos: (i) o teatro vê a

sua receita diminuir no valor medido pela área a por causa da diminuição do preço; (ii) o

teatro vê a sua receita aumentar no valor medido pela área c por causa do aumento do

numero de bilhetes de teatro vendidos. A receita do teatro aumenta, como consequência

da diminuição dos preços, porque a procura é elástica (pouco inclinada).

Ao aumentar o preço dos transportes públicos, a quantidade consumida diminui, a receita

altera-se de e+f para d+e (a alteração da receita é explicada por dois fenómenos: (i) a

receita diminui no valor medido pela área f por causa da diminuição da quantidade de

bilhetes para os transportes públicos; (ii) a receita aumenta no valor medido pela área d

por causa do aumento do preço dos transportes. A receita dos transportes públicos

aumenta, como consequência do aumento do preço dos bilhetes, porque a procura é

rígida (muito inclinada).

Q

P Procura de Transportes (Proc. Rígida)

d

e f Q

P Procura de Teatro (Proc. Elástica)

a

b c

41

b) A elasticidade da procura relaciona a variação percentual na quantidade consumida, ao

longo da curva de procura, com a variação percentual do preço, podendo ser calculada

como ∆%Q/∆%P.

Assim, uma elasticidade da procura (de teatro) igual a 1,5 é interpretada da seguinte

forma: ∆%Q/∆%P=1,5, ou seja, ∆%Q=1,5∆%P. Nestes termos, para um aumento de

10% nos preços do teatro, a quantidade procurada diminui 15% (ou seja, 1,5 vezes o

aumento percentual de preços). Pelo mesma lógica, conclui-se que, face a uma

elasticidade de 0,5 no caso dos transportes públicos, um aumento de 10% nos preços dos

transportes públicos, traduzir-se-ia numa diminuição de 5% na procura de bilhetes para

os transportes públicos (ou seja, 0,5 vezes o aumento percentual de preços).

Nestes termos, estimam-se as seguintes alterações nas quantidades consumidas de cada

um dos bens e respectiva receita dos produtores, face a um aumento de 10% nos

respectivos preços:

Preços Quantidades Receitas

Mercado dos Transportes Públicos

Situação Inicial 1 10.000 10.000 euros

Situação Final 1,1 9.500 10.450 euros

Mercado do Teatro

Situação Inicial 20 200 4.000 euros

Situação Final 22 170 3.740 euros

29. A solução deste exercício não será apresentada, neste documento, uma vez que se

pretende que os alunos tentem resolver o exercício fora da sala de aula, sendo o mesmo,

posteriormente, discutido na aula prática.

30. […]

a) Um Inverno particularmente rigoroso, em termos de temperaturas, traduz-se na

expansão da procura de electricidade, em resultado de maiores necessidades de

aquecimento, etc. A expansão da curva de procura terá, como efeitos, um aumento da

quantidade e do preço de equilíbrio, no mercado de electricidade (conforme gráfico

seguinte).

42

b) Ao diminuírem significativamente os níveis de pluviosidade, reduz-se a capacidade de

produção eléctrica das centrais hidroeléctricas, o que obriga a reforçar a produção de

energia através das centrais de ciclo combinado. Ora, como estas são mais caras,

aumentam os custos de produção de energia, o que se traduz na contracção da curva de

oferta e, consequentemente, no aumento do preço de equilíbrio e na diminuição da

quantidade de equilíbrio, no mercado da electricidade (conforme gráfico seguinte).

c) Neste caso, assiste-se a uma expansão da curva de oferta (na medida em que diminuem

os custos de produção de energia eléctrica nas centrais de ciclo combinado, em resultado

da diminuição do preço do gás natural) e a uma contracção da curva de procura (em

resultado da diminuição do preço de um bem substituto da energia eléctrica, isto é, o gás

natural). Ora, ao deslocarem-se as duas curvas, conclui-se que o preço de equilíbrio da

electricidade diminui, enquanto que o impacto sobre a quantidade de equilíbrio de

electricidade é incerto, podendo esta aumentar, diminuir ou manter-se, conforme resulta

dos gráficos seguintes.

Q

P E1

E0

Q

P E1

E0

43

d) A resposta depende da elasticidade da procura. No caso da procura ser elástica, uma

diminuição do preço traduz-se num aumento da receita. Já no caso da procura ser rígida,

uma diminuição do preço da electricidade traduz-se numa diminuição da receita.

31. […]

a) O equilíbrio do mercado resulta de igualarmos a curva de procura à curva de oferta:

100-Q=20+Q ↔ 100-20=Q+Q ↔ 80=2Q ↔ Q*=40.

Por substituição deste valor na função oferta ou na função procura, obtém-se o preço de

equilíbrio:

P*=100-Q*=60 ou P*=20+Q*=60.

b) A introdução de programas de passageiro frequente aumenta os preços de reserva dos

consumidores (pois estes passam a receber, por cada viagem adquirida, um conjunto de

milhas que podem trocar por viagens oferecidas) e, consequentemente, traduz-se na

Q

P E0

E1

Q

P E0

E1

Q

P E0

E1

- No segundo gráfico, a curva de oferta desloca-

se de uma forma mais significativa do que a

curva de procura, o que se traduz na

diminuição do preço e no aumento da

quantidade de equilíbrio.

- No primeiro gráfico, a curva de procura

desloca-se de uma forma mais acentuada do

que a curva de oferta, o que se traduz na

diminuição do preço e da quantidade de

equilíbrio.

- No terceiro gráfico, as duas curvas deslocam-

se de uma forma sensivelmente idêntica. Neste

caso, o preço de equilíbrio diminui, enquanto

que a quantidade de equilíbrio não se altera.

44

expansão da procura; a introdução deste tipo de programas aumenta os preços de

reserva das Companhias Aéreas (pois estes passam a suportar custos mais elevados, em

função das milhas oferecidas) e, consequentemente, traduz-se na contracção da curva de

oferta). Face à expansão da curva de procura e contracção da curva de oferta, o preço de

equilíbrio aumenta, e a quantidade de equilíbrio poderá aumentar (se a expansão da

procura for mais significativa do que a contracção da oferta), diminuir (se a expansão da

procura for menos significativa do que a contracção da oferta), ou não se alterar (se a

expansão da procura for sensivelmente idêntica à contracção da procura).

c) Neste caso, o programa de passageiro frequente não tem quaisquer custos para as

Companhias Aéreas, uma vez que as viagens oferecidas apenas poderão ser utilizadas em

destinos para os quais o avião não se encontra totalmente lotado. Assim sendo, o

programa de passageiro frequente apenas resultará na expansão da curva de procura,

não tendo qualquer impacto sobre os preços de reserva das Companhias Aéreas e, nestes

termos, resultará num aumento da quantidade e preço de equilíbrio no mercado de

viagens aéreas.

d) As alegadas restrições à capacidade do aeroporto de Lisboa, ao restringirem a oferta de

voos entre Lisboa e Porto, aumentam os preços deste tipo de ligações e restringem a

respectiva quantidade de equilíbrio. Ora, sendo as ligações entre Lisboa e o Rio de Janeiro

complementares das ligações entre Lisboa e o Porto, o aumento do preço das ligações

entre Lisboa e o Porto terá, como efeito no mercado das ligações entre Lisboa e o Rio de

Janeiro, uma contracção da curva de procura e, consequentemente, uma diminuição do

preço e da quantidade de equilíbrio neste mercado dos voos de longo curso entre Lisboa e

o Rio de Janeiro.

Q

P

E1

E0

Q

E0

E1 P

Voos de curto curso (Lisboa-Porto)

Voos de longo curso (Lisboa-Rio de Janeiro)

45

e) Os voos entre o Porto e o Rio de Janeiro são substitutos dos voos entre Lisboa e o Rio de

Janeiro, pelo que a criação de voos directos entre o Porto e o Rio de Janeiro reduzem a

procura dos voos entre Lisboa e o Rio de Janeiro, nomeadamente por parte de dois

grupos de consumidores: (i) os habitantes do Norte que, anteriormente, iam a Lisboa

apanhar o avião para o Rio de Janeiro; e (ii) os habitantes do sul que, na sua deslocação

para o Rio e Janeiro, optem por apanhar o avião no Porto (provavelmente este grupo será

insignificante, a não ser que existam diferenças significativas nos preços cobrados nos

voos para o Rio de Janeiro a partir de Lisboa e a partir do Porto, sendo estes últimos mais

baratos).

A contracção da curva de procura das ligações aéreas de longo curso entre Lisboa e o Rio

de Janeiro terá, como efeito, uma redução dos preços e quantidades de equilíbrio neste

mercado dos voos directos entre Lisboa e o Rio de Janeiro (conforme resulta do seguinte

gráfico).

Já relativamente ao mercado dos voos de curto curso entre Lisboa e o Porto, o efeito

poderá ser incerto, uma vez que: (i) diminui o número de consumidores que recorre às

ligações aéreas entre o Porto e Lisboa para, a partir daqui, apanhar um avião para o Rio

de Janeiro (na medida em que uma parte dos consumidores do Norte passam a voar

directamente do Porto para o Rio de Janeiro); (ii) poderá surgir um grupo de

consumidores que, vivendo no Sul, optam por voar entre Lisboa e o Porto para, a partir

daqui, voar até ao Rio de Janeiro (o que acontecerá se houver diferenças significativas

nos preços cobrados nos voos para o Rio de Janeiro a partir de Lisboa e a partir do Porto,

sendo estes últimos mais baratos). Nestes termos, não se conseguindo determinar o

efeito da inauguração de voos directos entre o Porto e o Rio de Janeiro, sobre a procura

Q

E1

E0

Voos de longo curso (Lisboa-Rio de Janeiro)

P

46

de voos de curto curso entre Lisboa e o Porto, também não se consegue determinar o

impacto sobre o preço e a quantidade de equilíbrio no mercado das ligações aéreas entre

Lisboa e o Porto.

Ainda assim, será previsível que o efeito (ii) seja pouco significativo (ou seja, haverá

poucos consumidores a voar de Lisboa para o Porto e, a partir daqui, a voar para o Rio de

Janeiro, quando podem optar por voar directamente de Lisboa para o Rio de Janeiro),

pelo que se poderá antecipar uma contracção da curva de procura no mercado das

ligações aéreas entre Lisboa e o Porto e, consequentemente, uma redução do preço e da

quantidade de equilíbrio neste mercado (conforme resulta do seguinte gráfico).

Q

E0

E1

Voos de curto curso (Lisboa-Porto)