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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO STA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO Larissa Miranda de Oliveira Consumo colaborativo: usabilidade, motivações e resistências Niterói 2018 Orientador: Carlos Navarro Fontanillas, D.Sc

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO – STA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Larissa Miranda de Oliveira

Consumo colaborativo: usabilidade, motivações e

resistências

Niterói

2018

Orientador:

Carlos Navarro Fontanillas, D.Sc

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II

LARISSA MIRANDA DE OLIVEIRA

CONSUMO COLABORATIVO: USABILIDADE, MOTIVAÇÕES E RESISTÊNCIAS

Monografia apresentada ao corpo docente da

Faculdade de Administração e Ciências Contábeis

da Universidade Federal Fluminense, como parte

das exigências para a conclusão do curso e

obtenção do grau de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Carlos Navarro Fontanillas, D.Sc

Niterói – 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - STA

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Consumo colaborativo: usabilidade, motivações e resistências

Larissa Miranda de Oliveira

AVALIADA EM: 18 de Dezembro de 2018.

Banca Examinadora:

Professor: Carlos Navarro Fontanillas, D.Sc

Professor Orientador

Universidade Federal Fluminense

Professor: Antonio Ranha da Silva, D.Sc

Universidade Federal Fluminense

Professor: Mauricio de Souza Leão, D.Sc

Universidade Federal Fluminense

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Ficha catalográfica automática – SDC/BAC

Gerada com informações fornecidas pelo autor

Bibliotecária responsável: Carlos Roberto Santos de Lima - CRB7/5531

O48c Oliveira, Larissa Miranda de

Consumo colaborativo: usabilidade, motivações e

resistências: / Larissa Miranda de Oliveira ; Carlos

Fontanillas, orientador. Niterói, 2018.

72 p. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Administração)-Universidade Federal Fluminense, Faculdade de

Administração e Ciências Contábeis, Niterói, 2018.

1. Consumo Colaborativo. 2. Economia Compartilhada. 3.

Consumo Compartilhado. 4. Produção intelectual. I.

Fontanillas, Carlos, orientador. II. Universidade Federal

Fluminense. Faculdade de Administração e Ciências

Contábeis. III. Título.

CDD -

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V

“Você tem que pensar em coisas

grandes, enquanto você está fazendo

coisas pequenas, de modo que todas

as pequenas coisas caminhem na

direção certa”

(Alvin Toffler)

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VI

Aos meus pais.

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VII

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que sempre fizeram tudo por mim, principalmente em relação a minha

educação e desenvolvimento pessoal, e acompanharam a minha trajetória de perto.

À minha família como um todo, que me deu estrutura para poder entrar na Universidade

Federal.

Ao meu namorado, pelo companheirismo, incentivo e paciência durante toda esta

jornada.

Aos amigos feitos ao longo da vida por todo apoio, companheirismo e amizade.

Aos meus amigos e colegas da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro que

me acompanharam durante metade desta jornada por toda compreensão e apoio. Vocês me

tornaram uma pessoa melhor.

Aos amigos da faculdade que estiveram ao meu lado, me ajudando, incentivando e

dando forças para prosseguir.

À Universidade Federal Fluminense, que me proporcionou a oportunidade da formação.

Ao meu orientador, Professor Carlos Navarro Fontanillas, por toda a paciência ao longo

do processo e também, pelo incentivo, compreensão, flexibilidade e apoio.

Agradeço a todos os professores de Administração da Universidade Federal Fluminense

que participaram da minha formação acadêmica.

A todos aqueles que contribuíram de alguma forma com este trabalho, se

disponibilizando a responder o questionário e dando dicas.

À Deus por esta oportunidade.

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VIII

RESUMO

Na sociedade do consumo na qual estamos inseridos, somos estimulados através do

marketing a consumir excessivamente para sermos felizes e pertencermos a determinado grupo.

Tal sociedade vende a satisfação dos desejos individuais, mas desperta nos consumidores a cada

momento novos desejos a serem satisfeitos, fazendo-os consumir mais. Dessa forma, se torna

inviável financeiramente e também insustentável em uma perspectiva ambiental. Neste

contexto, o consumo colaborativo surge como uma alternativa que valoriza o compartilhamento

ao invés da posse.

Esta pesquisa tem como objetivo principal avaliar a usabilidade, motivações e barreiras

do consumo colaborativo na cidade do Rio de Janeiro. Para atingir tal objetivo foi realizada

uma revisão bibliográfica que definiu conceitos como: marketing, consumo e consumo

colaborativo. Além dessa pesquisa, foi efetivada uma pesquisa de campo através da aplicação

de um questionário estruturado a uma amostra de 166 indivíduos na cidade do Rio de Janeiro.

O questionário é composto por questões estruturadas com base no referencial teórico. Os

resultados apontaram que a usabilidade do consumo colaborativo é alta, que a principal

motivação para o uso são os benefícios financeiros e que a maior barreira está relacionada às

questões de segurança.

Palavras chave: Consumo Colaborativo, Economia Compartilhada, Consumo Compartilhado.

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IX

ABSTRACT

In the consumer society that we live, we are encouraged to be happy and belong to a

particular group. This society sells satisfaction to individual wishes, however it awakens new

consumer desires and increases consumption. In that way, it can be economically unviable and

environmentally unsustainable. In this context, the collaborative consumption appears as an

alternative that values sharing rather than ownership.

This research has as main objective to evaluate the use, motivations and problems of the

collaborative consumption in the city of Rio de Janeiro. Then, to reach this goal, a bibliographic

review was carried out that defined concepts such as: marketing, consumption and collaborative

consumption. In addition, a field survey was conducted through a questionnaire with a sample

of 166 individuals in the city of Rio de Janeiro. The questionnaire is based on the theoretical

reference. The results showed that the usability of the collaborative consumption is high, and

also the main motivation for the use is the financial benefit, with security being the biggest

barrier.

Key Words: Collaborative consumption; sharing economy.

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X

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................14

1.1 Suposição ..................................................................................................................16

1.2 Objetivos ...................................................................................................................16

1.2.1 Objetivo geral...................................................................................................16

1.2.2 Objetivos intermediários.................................................................................. 16

1.3 Delimitação do estudo ..............................................................................................17

1.4 Relevância do estudo ................................................................................................17

2 METODOLOGIA .........................................................................................................18

2.1 Tipo de pesquisa ........................................................................................................18

2.1.1 Quanto aos fins .................................................................................................18

2.1.2 Quanto aos meios .............................................................................................18

2.2 Universo e amostra ....................................................................................................18

2.3 Coleta de dados .........................................................................................................19

2.4 Tratamento de dados .................................................................................................19

2.5 Limitações do método ..............................................................................................19

3 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................21

3.1 Marketing ..................................................................................................................21

3.1.1 Marketing 1.0: foco no produto .......................................................................22

3.1.2 Marketing 2.0: foco no cliente .........................................................................24

3.1.3 Marketing 3.0: a evolução do marketing na era da sustentabilidade ...............25

3.1.4 Marketing 4.0: do tradicional ao digital ...........................................................28

3.2 Consumo ...................................................................................................................32

3.3 Consumo Colaborativo .............................................................................................33

3.3.1 Sistemas de Consumo Colaborativo ................................................................36

3.3.1.1 Sistemas de serviços de produtos (SSP) ............................................. 36

3.3.1.2 Mercados de redistribuição ..................................................................37

3.3.1.3 Estilos de vida colaborativos ................................................................38

3.3.2 Princípios do consumo colaborativo ................................................................39

3.3.2.1 Massa crítica ........................................................................................ 39

3.3.2.2 Capacidade ociosa ................................................................................40

3.3.2.3 A crença no bem comum ......................................................................41

3.3.2.4 A confiança entre estranhos .................................................................41

3.4 Plataformas de consumo colaborativo ......................................................................42

3.4.1 Zipcar - sistema de serviço de produto ............................................................42

3.4.2 Enjoei - mercados de redistribuição .................................................................45

3.4.3 Airbnb - estilo de vida colaborativo .................................................................48

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XI

4 RESULTADOS DA PESQUISA .................................................................................51

4.1 Resultados descritivos ...............................................................................................51

4.2 Cruzamentos ..............................................................................................................60

4.2.1 Gênero ..............................................................................................................60

4.2.2 Faixa etária ........................................................................................................62

4.2.3 Classe social ..........................................................................................................64

5 CONCLUSÃO ..............................................................................................................67

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................68

7 APÊNDICE ...................................................................................................................70

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XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Taxas do Enjoei ......................................................................................................44

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XIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Propaganda Kodak .................................................................................................. 22

Figura 2 - Respostas referentes ao gênero ................................................................................ 50

Figura 3 - Respostas referentes à faixa etária. .......................................................................... 51

Figura 4 - Respostas referentes à classe social. ........................................................................ 52

Figura 5 - Resultados dos respondentes quanto ao conhecimento do consumo colaborativo . 53

Figura 6 – Respostas referentes à possibilidade de pegar carona............................................. 54

Figura 7 - Respostas referentes ao uso do Airbnb .................................................................... 55

Figura 8 – Respostas referentes a possibilidade de comprar em brechó online. ..................... 55

Figura 9 - Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de pegar uma

ferramenta. ................................................................................................................................ 56

Figura 10 – Respostas referentes à probabilidade de compartilhas bens e serviços. ................ 57

Figura 11 – Respostas referentes aos motivos pelos quais utilizaria o consumo colaborativo58

Figura 12 - Respostas referentes aos motivos pelos quais não utilizaria o consumo colaborativo.

.................................................................................................................................................. 58

Figura 13 - Cruzamento do gênero feminino com o conhecimento e uso do consumo

colaborativo. ............................................................................................................................. 59

Figura 14 - Cruzamento do gênero masculino com o conhecimento e uso do consumo

colaborativo. ............................................................................................................................. 60

Figura 15 - Cruzamento da faixa etária de 18 a 25 anos com o conhecimento e uso do consumo

colaborativo. ............................................................................................................................. 61

Figura 16 - Cruzamento da faixa etária de 26 a 33 anos com o conhecimento e uso do consumo

colaborativo. ............................................................................................................................. 62

Figura 17 - Cruzamento da classe A com o conhecimento e uso do consumo colaborativo.... 63

Figura 18 - Cruzamento da classe B com o conhecimento e uso do consumo colaborativo. ... 63

Figura 19 - Cruzamento da classe C com o conhecimento e uso do consumo colaborativo. ... 64

Figura 20 - Cruzamento da classe D com o conhecimento e uso do consumo colaborativo.... 65

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INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade estimulada pelo capitalismo a consumir bens e serviços de

maneira excessiva. Esta sociedade do consumo além de ser inviável financeiramente também

é insustentável na perspectiva ambiental. Dessa forma, é cada vez mais evidente e perceptível

a preocupação com a escassez de recursos como combustível, água, metais, madeira e o

consequente prejuízo desta escassez no atendimento às necessidades básicas dos indivíduos,

ao passo que a população cresce em ritmo exponencial.

Além disso, o desperdício vem se tornando insustentável e, muitas vezes, decorre da

subutilização de produtos ou de bens que compramos e não utilizamos. Um aumento na

eficiência da utilização dos bens pode ser compatível também com a preservação do meio

ambiente (BOTSMAN, 2013).

Nesse contexto, surge a economia compartilhada, baseada na troca ou venda de

produtos e serviços entre indivíduos e entre empresas e indivíduos. Essa tendência tem como

estrutura as novas ferramentas tecnológicas, plataformas, sites e aplicativos digitais que

permitem o compartilhamento e a socialização dos consumidores sob suas percepções de

valor, entre si e com as marcas, através de uma troca entre pessoas que desejam coisas e

outras que as têm (PISCICELLI, 2014).

Além disso, as crises financeiras, que por muitas vezes deixaram cidadãos

desempregados ou em situações financeiramente ruins, também podem ser consideradas um

gatilho da economia compartilhada, pois fizeram com que muitos perdessem a confiança em

grandes empresas que pareciam se beneficiar do sofrimento do homem comum.

Adicionalmente, a população também foi incentivada naturalmente a ser mais criativa e

buscar opções que permitissem economizar e utilizar pequenos negócios como alternativa às

grandes corporações. Isto tornou o ramo de compartilhamento mais popular, principalmente

com a percepção da população de que o modelo de consumo existente é insustentável

(SCARABOTO, 2015).

Outro fator que contribuiu para o surgimento da economia compartilhada foi a

popularização da internet, que acabou com diversas limitações nas trocas e comunicações da

sociedade. Esta rede nos permitiu uma conexão completa ao criar comunidades de

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colaboração que permitem um consumo mais eficiente. Sem a internet, seria impossível que a

economia compartilhada alcançasse esta dimensão de hoje. Ela colabora no processo de

consumo servindo como ponte de conexão entre os envolvidos e facilita consideravelmente o

compartilhamento (JOHN, 2013; BOCKER, 2016).

A tecnologia reduziu drasticamente os custos de transação e tornou os bens e serviços

mais baratos e acessíveis. As plataformas online são um ponto chave de auxílio para essa

economia. Botsman e Rogers (2011) afirmaram que, no início dos anos 2000, em resposta à

escassez de recursos, a sociedade começou a utilizar a internet para aumentar o nível de

eficiência ao conectar os mundos online e offline. A economia compartilhada surgiu como

uma destas iniciativas.

Assim, muitas pessoas ao redor do mundo agora estão engajadas em compartilhar uma

grande diversidade de coisas. Os exemplos mais conhecidos são: casas, como o Airbnb, e

carros, como o UberPool, mas também é possível compartilhar ferramentas, máquinas de

lavar, brinquedos, roupas, comida, entre outros.

No Brasil especificamente, o sistema de compartilhamento já está presente no dia-a-

dia de diversas pessoas, ao passo que é visível na população e nas notícias cotidianas o uso de

diferentes aplicativos e/ou programas deste tipo. Estes fatos comprovam as suposições de que

o consumo colaborativo é capacitado pela tecnologia e pelas plataformas virtuais (BELK,

2014).

Nessa linha de pensamento, este novo padrão de consumo se baseia na colaboração em

massa, na valorização da sustentabilidade, da redução do hiperconsumo, do desperdício e da

reutilização dos produtos. O consumo colaborativo descreve a rápida explosão nas formas

tradicionais de compartilhamento, troca e empréstimo reinventados por meio de tecnologias

de rede, numa escala e de maneiras nunca antes possíveis. Ele representa um modelo

socioeconômico construído sob estes hábitos, transformando num modelo de consumo que se

baseia em acesso, e não em posse (BOTSMAN e ROGERS, 2011).

Dessa forma, um padrão caracterizado pela priorização do compartilhamento de bens

em detrimento da propriedade, tem se mostrado crescente. Agora, os consumidores podem ter

acesso a produtos e pagar pela experiência de tê-los temporariamente, ao invés de adquiri-los.

Esta possibilidade antigamente existia apenas no compartilhamento com pessoas próximas,

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mas a internet possibilitou que se dividisse com pessoas desconhecidas, inaugurando uma

nova forma de consumo, o colaborativo.

Com o interesse de compreender as características de funcionamento e a usabilidade

do Consumo Colaborativo, que ao mesmo tempo propiciam o desenvolvimento de um

sentimento de coletividade e apontam possibilidades de redes de negócios que visam um

consumo mais consciente, o trabalho propõe-se a avaliar a usabilidade do consumo

colaborativo, suas motivações e barreiras na sociedade contemporânea.

1.1 Suposição

A suposição analisada é a de que os consumidores, em sua maioria, não conhecem o

consumo colaborativo. E aqueles que conhecem não utilizaram por insegurança mesmo com

as plataformas digitais trabalhando como mediadoras.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Avaliar a usabilidade do consumo colaborativo, suas motivações e barreiras no Rio de

Janeiro.

1.2.2 Objetivos intermediários

- Entender o marketing e o consumo;

- Definir o consumo colaborativo e entender sua classificação, princípios e aplicações.

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1.3 Delimitação do estudo

O intuito dessa monografia é avaliar a usabilidade, resistências e motivações dos

indivíduos ao uso do consumo colaborativo na cidade do Rio de Janeiro. Como na maior parte

das pesquisas de levantamento (survey), utilizou-se apenas de uma amostra selecionada,

amostra esta que pode não representar completamente (em todas as características) toda a

população do Rio de Janeiro. Dessa forma, a pesquisa foi geograficamente delimitada à

cidade do Rio de Janeiro.

1.4 Relevância do estudo

Esta pesquisa é relevante tanto para o meio acadêmico quanto para a sociedade. No

meio acadêmico por tratar-se de um assunto ainda recente que aborda pontos importantes

presentes na disciplina da administração comportamento do consumidor.

Para a sociedade também é importante já que ela é voltada para o consumo de bens e

serviços na qual o indivíduo precisa ter para ser. E o consumo colaborativo mostra uma outra

vertente, a da experiência ao invés da posse. Dessa forma, o entendimento do

compartilhamento irá questionar os hábitos de compra.

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2.METODOLOGIA

2.1 Tipo de pesquisa

Segundo taxonomia proposta por Vergara (1998), as pesquisas se classificam quanto aos

meios e quanto aos fins.

2.1.1 Quanto aos fins

Quanto aos fins, a presente pesquisa é exploratória, descritiva e explicativa.

Exploratória pela necessidade de um maior conhecimento acerca do assunto, proporcionando

uma visão geral sobre o mesmo, através de pesquisa em livros, artigos, dissertações e internet.

Descritiva, porque objetiva expor as principais características do assunto. E explicativa

porque tem como objetivo principal tornar o assunto inteligível e esclarecer, portanto, quais

são as resistências ao consumo colaborativo.

2.1.2 Quanto aos meios

Quanto aos meios a pesquisa é bibliográfica e de campo. A pesquisa é do tipo

bibliográfica por utilizar materiais acessíveis ao público em geral como livros e redes

eletrônicas, conforme descreve Vergara (1998), com o objetivo de construir a base teórica que

fornece respaldo à pesquisa. A pesquisa de campo foi realizada por meio da aplicação de um

questionário.

2.2 Universo e amostra

O universo da pesquisa foi definido de forma não probabilística por acessibilidade e

obteve 166 respondentes na cidade do Rio de Janeiro, sua divulgação foi feita através de

diversas redes sociais e nas salas de aula da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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2.3 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada por meio de:

- Pesquisa bibliográfica em livros, artigos, dissertações, além da internet em acessos a sites

especializados.

- Pesquisa de campo realizada através de um questionário criado na plataforma Formulários

Google.

As pesquisas bibliográficas e de campo justificam-se por permitirem que se estabeleça uma

correlação entre os objetivos definidos neste trabalho e os meios para alcançá-los.

2.4 Tratamento de dados

Os dados coletados serão tratados através de estatísticas descritivas com o intuito de

estudar os questionamentos levantados pela pesquisa. O método de estatística descritiva tem

como objetivo apresentar, em números e representações gráficas, as características da amostra

e as variáveis do estudo, coletadas por meio da pesquisa de levantamento (questionário

online).

2.5 Limitações do método

Uma das limitações refere-se à idade dos respondentes já que do total de 166, a

maioria, composta por 139 pessoas, pertence à faixa etária de 18 a 25 anos enquanto a faixa

etária de 26 a 33 possui 23 integrantes. Já as faixas de 31 a 41 e de acima de 41 possuem,

respectivamente, apenas 3 e 1 respondentes.

Outra limitação está relacionada ao gênero já que apenas um respondente se definiu na

categoria outros.

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Além das já mencionadas, também existe a limitação quanto ao volume de dados da

amostra.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Marketing

Para Kotler e Keller (2006), “o marketing é uma função organizacional e um conjunto

de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes,

bem como administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e

seu público interessado”.

Porém, a definição vai além de uma função organizacional. Conforme exposto por

Kotler e Keller (2006), “podemos estabelecer definições diferentes de marketing sob as

perspectivas social e gerencial”. Kotler conceitua, o mesmo termo, como um processo social

“por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e que desejam

com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”

(KOTLER 2000). Isto é, o marketing deve entender o comportamento do mercado e dos

consumidores para atender as necessidades e desejos dos mesmos.

Pode-se acrescentar ainda que o marketing é resultado de um relacionamento entre

organização e sociedade. Então, suas ações bem planejadas são o diferencial para que o

cliente opte por um produto na hora de fazer uma compra em detrimento de outro. O

marketing se baseia no longo prazo e permanece em constante movimento.

Ogden e Crescitelli (2007) apontam o marketing “como uma ciência que pesquisa,

analisa e monitora mercados”. Resumindo, seria uma relação entre empresa e consumidor, na

qual a empresa buscaria a satisfação das necessidades e desejos de seu público para alcançar

seus objetivos, ou seja, uma relação em que todos sairiam ganhando. Atualmente, esse

conceito busca ir além. Mais do que satisfazer seu público, é preciso surpreendê-lo e tentar

prever quais serão suas próximas expectativas.

“A orientação sobre esse tema sustenta que a chave para alcançar as metas

organizacionais está no fato de a empresa ser mais efetiva que a concorrência na criação,

entrega e comunicação de valor para o cliente de seus mercados-alvo selecionados”

(KOTLER, 2000).

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Marketing é a função empresarial que identifica necessidades e desejos insatisfeitos,

define e mede sua importância e potencial de rentabilidade, especifica que mercados

alvos serão melhor atendidos pela empresa, decide sobre produtos, programas e

serviços adequados para servir esses mercados selecionados e convoca todos na

organização para pensar no cliente e atender ao cliente (KOTLER, 2003).

Dessa forma, ele se demonstra como um processo social, composto por padrões de

comportamento humano, e não apenas uma técnica para acrescentar lucros aos negócios. A

liderança de mercado é conquistada ao prever novos produtos, serviços, estilos de vida e

formas de elevar os padrões de vida. Existe uma grande diferença entre empresas que

oferecem produtos comuns e aquelas que criam antecipadamente produtos e serviços de valor.

O conceito de marketing pode ser visto como um contraponto ao de macroeconomia.

Sempre que ocorrem mudanças no ambiente macroeconômico, o comportamento do

consumidor muda, o que provoca mudança no marketing. Ao longo dos últimos 60

anos, o marketing deixou de ser centrado no produto e passou a ser centrado no

consumidor. Hoje, vemos o marketing transformando-se mais uma vez, em resposta

à nova dinâmica do meio. Vemos as empresas expandindo seu foco dos produtos

para os consumidores, e para as questões humanas (KOTLER, KARTAJAYA e

SETIAWAN, 2010).

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) classificam o marketing em quatro momentos:

marketing 1.0, centrado no produto; marketing 2.0, voltado para o consumidor; marketing 3.0,

que é focado nos valores e no ser humano e o marketing 4.0 que leva em conta os sentimentos

humanos e as transformações sociais causadas pelas relações online.

3.1.1 Marketing 1.0: foco no produto

No período da Revolução Industrial, o grande objetivo era a produção em massa e a

padronização dos produtos, que eram praticamente sem distinção e não havia possibilidade de

escolha para o consumidor. Essa era a época do marketing 1.0, que era voltado somente para o

produto e as empresas tinham pouco interesse em atender aos desejos dos consumidores. O

consumidor não tinha voz ativa, apenas consumia, e o marketing se resumia a vender os

produtos da fábrica a todos que quisessem comprá-los.

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Essa épica também ficou conhecida como “Era Ford”, o objetivo era padronizar os

produtos e otimizar os processos para poder oferecer um preço acessível e atingir a massa.

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), ressaltam que Henry Ford, dizia que o carro (Modelo

“T”) poderia ser de qualquer cor, desde que fosse preto.

O valor agregado ao produto se limitava a sua funcionalidade e não havia qualquer

preocupação em conhecer, entender ou corresponder às expectativas dos consumidores. Como

exemplo temos esse anúncio da Kodak, que carrega as seguintes frases:

“Para boas ‘fotos’… Ao Sol ou á Sombra, use película Kodak”.

“Ela corrige os vossos erros de exposição…

Faz a “foto” onde e quando qualquer outra falha.

Encontrá-la-eis em todas as boas casas de artigos fotográficos”1

Figura 1 – Propaganda Kodak

Fonte: https://marketingcomcafe.com.br/marketing-4-0-resumo-completo/

Isto é, você tem apenas essa opção, compre ou fique sem. Não existia segmentação, os

consumidores precisavam se adaptar aos produtos oferecidos pelas empresas. Produzindo em

larga escala era possível reduzir os custos de produção, assim as mercadorias podiam ter um

preço mais baixo o que permitia serem adquiridas por um número maior de compradores. O

marketing era visto apenas como uma entre várias funções importantes de apoio à produção,

ao lado dos recursos humanos e das finanças.

1 https://marketingcomcafe.com.br/marketing-4-0-resumo-completo/

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“A função principal do marketing era gerar demanda de produtos. Os 4Ps de

McCarthy explicavam de maneira concisa, as práticas genéricas da gestão do

produto vigentes na época: desenvolver um produto (product), determinar o preço

(price), realizar a promoção (promotion), e definir o ponto (place) de distribuição.

Com a maré alta do setor durante aquelas duas décadas, nada mais era necessário do

marketing além de orientações táticas” (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN,

2010).

Porém, os conceitos aplicados à essa época mudaram uma vez que a economia

ocidental se viu atingida por uma recessão provocada pela crise do petróleo na década de

1970. Dessa forma, tornou-se mais difícil gerar demanda e seria necessário algo além dos 4Ps

de McCarthy.

3.1.2 Marketing 2.0: foco no cliente

A partir de meados dos anos 1970 e 1980 surgiu o marketing 2.0 em durante a era da

informação e seu foco está em satisfazer e reter os consumidores. Nessa fase, os

consumidores são bem informados, e encontram várias ofertas de produtos muito

semelhantes. Assim, o valor do produto é definido pelo cliente, fazendo com que os

profissionais de marketing precisassem segmentar o mercado e desenvolver um produto que

atendesse aos desejos e necessidades de determinado mercado-alvo.

A regra de ouro segundo a qual o “cliente é rei” funciona bem para a maior parte das

empresas. Os consumidores estão em melhor situação porque suas necessidades e

desejos estão sendo atendidos. Têm opção em meio a uma gama de características

funcionais e alternativas. Os profissionais de marketing de hoje tentam chegar ao

coração e à mente do consumidor. (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN, 2010).

Além de segmentar o mercado consumidor, os profissionais de marketing deveriam

criar demandas em meio a um período de estagnação econômica decorrente da crise do

petróleo. O que exigiu esforços que iam além dos 4Ps, um contexto que acabou resultando nas

empresas buscando novas alternativas, práticas e conceitos para melhorar seus produtos e

serviços. Com isso, surgem:

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Outros Ps – pessoas, processo, provas físicas, opinião pública e poder político – se

juntaram aos 4Ps originais. No entanto, a natureza tática do modelo clássico de

Marketing 1.0 continuou existindo. Talvez o declínio na atividade econômica tenha

sido uma bênção disfarçada, pois o marketing finalmente ganhou proeminência

durante esse período de baixa demanda. (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN,

2010).

Nessa fase o foco foi do produto para o cliente e com isso, os profissionais da área

elevaram o marketing de um nível tático para um nível estratégico para segmentar melhor

o público-alvo e gerir os clientes, pois seus produtos não podem mais ser básicos e servidos

para a massa. Então, investe-se em qualidade para satisfazer um grupo mais específico.

O ano de 1989 também foi o ponto de virada para o marketing. O computador

pessoal passou a ser utilizado em massa e a Internet surgiu como forte complemento

no início da década de 1990. O networking de computadores foi acompanhado pelo

networking de seres humanos. A computação em rede permitiu maior interação entre

os seres humanos e facilitou a difusão do compartilhamento de informações. Tornou

as informações onipresentes, e não mais escassas. Os consumidores tornaram-se

bem conectados e, assim, bem informados. (KOTLER, KARTAJAYA e

SETIAWAN, 2010).

O cliente não aceita mais a relação vertical, ele quer fazer parte do

processo. (KOTLER, KARTAJAYA, SETIAWAN, 2010).

Com todas as transformações e evoluções tecnológicas, econômicas e sociais, a

segunda fase do marketing que iniciou com o consumidor como centro das atenções chegou

num momento em que esse foco passou a ser mais profundo, não se limitando ao consumidor,

meramente, mas também às razões e emoções humanas.

Todavia, a maior preocupação do consumidor com o meio ambiente, as novas mídias

sociais e globalização, serão responsáveis por novas mudanças no marketing. Esse novo

contexto abre espaço para um terceiro momento.

3.1.3 Marketing 3.0: a evolução do marketing na era da sustentabilidade

A partir dos anos 2000, a internet chega a um número cada vez maior de lares e as

pessoas passam a ficar mais curiosas e atentas aos produtos que compram. Além de poderem

se relacionar melhor com as marcas que os produzem, pelas redes sociais.

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Com isso, surge o marketing 3.0 e a “Era do Valor”, na qual deve-se atrair e extrair do

consumidor o que ele quer. Quem dita as regras são os desejos e necessidades dos

consumidores. Enquanto o marketing 2.0 visa o consumidor, o marketing 3.0 busca satisfazer

esse consumidor e todos seus anseios que são gerados por uma série de avanços tecnológicos,

de mercado e de comunicação ao longo dos anos.

O consumidor está mais engajado em causas sociais, demonstra preocupação com o

meio ambiente e passa a consumir de empresas que façam o mesmo. Em decorrer disso, as

empresas começam a sair em defesa da sustentabilidade, criando produtos que não agridem o

meio ambiente, embalagem biodegradáveis e buscando empoderar os seus consumidores.

O marketing 3.0 tem a ver com marketing emocional, com marketing do espírito

humano. Em época de crise econômica global, onde há problemas na economia, no

meio ambiente, onde há pobreza e doenças caminhando a passos largos, as empresas

perceberam que precisam fazer parte de uma mudança, seja sua motivação a venda

ou seja ela o real interesse por um mundo melhor. Saber que a empresa apoia uma

causa social não basta para que ela seja percebida de maneira positiva, pois hoje

todos os aspectos que envolvem o processo de fabricação de um produto são

acompanhados e avaliados pelo consumidor, desde sua origem e condições de

fabricação até o impacto do produto no meio ambiente, por exemplo. (ZENONE,

2006)

Assim, o objetivo é oferecer soluções para os problemas sociais, econômicos e

ambientais), pois esse conceito pressupõe que os consumidores são seres humanos plenos,

com mente, coração, espírito e com questões que não podem ser deixadas de lado. As

empresas adeptas do marketing 3.0 oferecem esperança a problemas do mundo e, assim,

conseguem levar a experiência do consumidor a um outro patamar. Logo, se diferenciam por

sua missão, visão, valores e como isso contribui para a sociedade.

Em suma, essa era é aquela em que as práticas de marketing são muito influenciadas

pelas mudanças no comportamento e nas atitudes do consumidor. É a forma mais sofisticada

da era centrada no consumidor, em que o consumidor demanda abordagens de marketing

colaborativas, culturais e espirituais, (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN, 2010). A

medida que o consumidor se torna mais espiritualizado, mais culto e mais evoluído, o caráter

do marketing tem que acompanhá-lo. Desse modo, deve ser pautado em valores, considerar as

pessoas não mais apenas como simples consumidores e sim seres complexos e multifacetados.

O foco maior é no ser humano pleno, com mente, coração e espírito.

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Os consumidores estão não apenas buscando produtos e serviços que satisfaçam

suas necessidades, mas também buscando experiências e modelos de negócios que

toquem seu lado espiritual. Proporcionar significado é a futura proposição de valor

do marketing. O modelo de negócio baseado em valores é o que há de mais inovador

no marketing 3.0. (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN, 2010).

Antigamente, em meados dos anos 80, o marketing era mais simples e suas atribuições

mais restritas. O mundo mudou, o marketing não opera mais somente na determinação de

preço, ponto de venda, promoção, características e qualidade do produto, os profissionais de

marketing, atualmenteo deparam-se com as mesmas difíceis decisões, mas o mercado de hoje

é imensamente mais complexo (KOTLER, 2000).

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) ainda afirmam que as três fases convivem na

gestão atual, ou seja, o marketing 1.0 e o 2.0 ainda possuem relevância. Assim como na

segunda fase, o marketing 3.0 também se volta para o consumidor, mas com níveis de relação

e engajamento diferentes. Sua aplicação continua relacionada a atividades como a

segmentação, posicionamento e oferta dos 4Ps, entre outras. Entretanto, “as mudanças no

ambiente de negócios – recessão, preocupações com o meio ambiente, novas mídias sociais,

empowerment do consumidor, nova onda de tecnologia e globalização – continuarão

provocando mudança maciça nas práticas de marketing” (KOTLER, KARTAJAYA e

SETIAWAN, 2010).

Assim, as empresam devem procurar soluções que atendam as aspirações dos

consumidores em transformar o mundo globalizado em um mundo melhor, suprindo suas

necessidades econômicas, ambientais e de justiça social.

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) pregam que “vivemos a era da participação e da

sociedade criativa”. Para as empresas, isso significa estarem mais próximas de seus clientes,

trabalhando de maneira unida com eles, pois os consumidores ajudarão as corporações a

criarem seus novos produtos e iniciativas de marketing.

Na primeira fase, o marketing era orientado pela transação, concentrava-se em como

efetuar a venda. Na segunda fase, o marketing tornou-se orientado pelo

relacionamento – como fazer o consumidor voltar e comprar mais. Na terceira fase,

convida os consumidores a participar do desenvolvimento de produtos da empresa e

de suas comunicações. O marketing colaborativo é o primeiro elemento básico do

marketing 3.0. As empresas que praticam o marketing 3.0 querem mudar o mundo.

Não conseguirão fazê-lo sozinhas. O marketing 3.0 representa a colaboração de

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entidades de negócios que compartilham conjuntos semelhantes de valores e desejos

(KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN, 2010).

Os autores também declaram que "a missão do marketing 3.0 nas empresas consiste

em estabelecer um elo com o cliente, promover a sustentabilidade no planeta e melhorar a

vida dos pobres. Se você criar um caso de amor com os seus clientes, eles próprios farão a sua

publicidade”.

Com a expansão da tecnologia da informação e a experiência dos usuários da internet

com as mídias sociais ocorre uma conectividade e a colaboração entre os usuários. Assim, as

pessoas criam e consomem conteúdo e ideias.

Nessa fase, também ocorreu a disseminação do consumo colaborativo, no qual os

consumidores passam a partilhar os produtos e serviços, a fim de diminuírem o consumo

excessivo e reduzirem os custos.

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) defendem que “a nova onda de tecnologia

transforma as pessoas de consumidores em prosumidores”. O prosumidor é o consumidor que

produz conteúdo, ou seja, o produtor e consumidor.

Porém, a internet faz com que os consumidores estejam muito mais preocupados com

a qualidade dos produtos e empresas antes de fazerem qualquer negócio. Pode-se descobrir

qualquer informação sobre uma empresa utilizando o Google, se essa empresa tem

reclamações, como ela trata seus clientes e quais os principais problemas e dificuldades

enfrentados pelos consumidores dela. Em resumo, a conectividade tornou os clientes mais

informados dando espaço à um quarto momento do marketing.

3.1.4 Marketing 4.0: do tradicional ao digital

O marketing 4.0 surgiu no momento em que a internet trouxe conectividade e

transparência, permitindo mudanças drásticas nos padrões sociais e nas estruturas de poder.

“Marketing 4.0 é uma abordagem de marketing que combina interações on-line e

off-line entre empresas e clientes, mescla estilo com substância no desenvolvimento

das marcas e, finalmente, complementa a conectividade máquina a máquina com o

toque pessoa a pessoa para fortalecer o engajamento dos consumidores. Ele ajuda os

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profissionais de marketing na transição para a economia digital, que redefiniu os

conceitos chave do marketing. O marketing digital e o marketing tradicional devem

coexistir no Marketing 4.0 com o objetivo máximo de conquistar a defesa da marca

pelos clientes” (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN, 2017).

Algumas mudanças no cenário que impulsionaram o marketing 4.0 foram:

Do exclusivo ao inclusivo: O diferencial era a exclusividade e agora a inclusão tornou-

se a nova tendência, um produto é valorizado pela sua capacidade de incluir mercados

emergentes no consumo. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) ressaltam que “o

mercado está se tornando mais inclusivo. A mídia social elimina barreiras geográficas

e demográficas, permitindo às pessoas se conectarem e se comunicarem, e, às

empresas, inovar por meio da colaboração”.

Do vertical ao horizontal: As hierarquias se perderam. O fluxo de influência e de

inovação, que antes era vertical, tornou-se horizontal: empresas e consumidores estão

lado a lado. De acordo com Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017), os consumidores

estão adotando uma orientação mais horizontal. Desconfiam cada vez mais da

comunicação de marketing das marcas e preferem confiar no círculo social (amigos,

família, fãs e seguidores).

Do individual ao social: O consumo não é mais um ato individual. O

compartilhamento de experiências pela internet se tornou crucial nos comportamentos

de compra. O "reconhecimento social" é um aspecto muito relevante da decisão do

consumidor.

Conforme Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017),

“Dada a conectividade em que vivemos atualmente, o peso da conformidade social

está aumentando de forma generalizada. Os consumidores se importam cada vez

mais com as opiniões dos outros. Eles também compartilham suas opiniões e

compilam enormes acervos de avaliações. Juntos, pintam o próprio quadro de

empresas e marcas, que muitas vezes é bem diferente da imagem que as empresas e

marcas pretendem projetar. A internet, sobretudo a mídia social, facilitou essa

grande mudança fornecendo as plataformas e as ferramentas.”

Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) destacam que “os consumidores comunicam-se

entre si e conversam sobre marcas e empresas. Do ponto de vista da comunicação de

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marketing, os consumidores não são mais alvos passivos; estão se tornando mídias ativas de

comunicação.”

Os mesmos autores elucitam que um mundo conectado, o conceito do mix de marketing

evoluiu para acomodar mais participação do cliente. Desse modo os quatro Ps devem ser

redefinidos como os quatro Cs:

Cocriação (co-criation): a cocriação é a nova estratégia de desenvolvimento de

produtos. Através da cocriação e do envolvimento dos clientes desde cedo no estágio

de concepção, as empresas podem melhorar a taxa de sucesso do desenvolvimento de

novos produtos. A cocriação também permite que os clientes customizem e

personalizem produtos e serviços criando proposições de valores superiores.

Moeda (currency): Na economia digital, o preço é semelhante à moeda, que flutua em

função da demanda do mercado. Assim, a precificação passa a ser dinâmica com base

na demanda do mercado e no perfil dos clientes.

Ativação comunitária (communal activation): O conceito de canal também está

mudando. Na economia compartilhada, o conceito de distribuição mais potente é a

distribuição ponto a ponto. Protagonistas como Airbnb, Uber, Zipcar e Lending Club

estão abalando os setores de hotelaria, transporte via táxi, aluguel de carros e bancário,

respectivamente. Eles fornecem aos clientes acesso fácil a produtos e serviços que não

são de sua propriedade, e sim de outros clientes. A facilidade de acesso e obtenção de

bens e serviços é a essência da ativação comunitária. A ascensão da impressão 3D

facilitará ainda mais essa distribuição.

Conversa (conversation): O conceito de promoção também evoluiu nos últimos anos.

Tradicionalmente, a promoção sempre foi uma relação unilateral, com as empresas

enviando mensagens aos consumidores como públicos passivos. Hoje, a proliferação

da mídia social permite aos consumidores reagir a essas mensagens. A ascensão de

sistemas de avaliação como TripAdvisor fornece uma plataforma para que os

consumidores possam conversar e oferecer avaliações de marcas com as quais tenham

interagido.

Com um mix de marketing conectado (os quatro Cs), as empresas têm grandes chances de

sobreviver na economia digital. Porém, o paradigma da venda também precisa mudar.

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Tradicionalmente, os consumidores são objetos passivos de técnicas de vendas. Em um

mundo conectado, a ideia é que ambos os lados obtenham valor comercial de forma ativa.

Com a maior participação do consumidor, as empresas estão envolvendo os clientes na

comercialização transparente.

Dessa forma, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) propõe uma nova jornada do

consumidor na relação com as marcas, os 5As:

Assimilação: fase em que os consumidores são expostos a uma longa lista de marcas

em função de experiências passadas, comunicações de marketing e/ou defesa de

marcas por clientes.

Atração: quando os consumidores são atraídos somente para uma lista curta de marcas.

Arguição: A arguição se tornou ainda mais complexa pela integração dos mundos

digital (on-line) e físico (off-line) possibilitando diversas formas de consulta de

opiniões e conselhos. As decisões serão tomadas com base no que ele obtém das

conversas com outros.

Ação: quando o consumidor efetua a compra.

Apologia: Os clientes podem desenvolver uma sensação de forte fidelidade à marca,

refletida em retenção, recompra e, por fim, defesa da marca perante seus pares.

O objetivo dessa jornada é transformar consumidores em advogados. Para isso, eles

precisam ser satisfeitos em todas as etapas anteriores e construir uma relação emocional com

a marca.

“Advogados de marca ativos recomendam espontaneamente marcas que adoram,

ainda que não sejam solicitados a fazê-lo. Eles contam histórias positivas aos outros

e tornam-se evangelistas. No entanto, a maioria dos advogados de marca fiéis é

passivo e inerte. Eles precisam ser estimulados por uma consulta ou manifestação

negativa. Quando deparam com tal deixa, sentem-se obrigados a recomendar e

defender as marcas que adoram. Como correm riscos para fazer recomendações,

advogados de marca fiéis são também mais passíveis de comprar mais dessa marca

no futuro” (KOTLER, KARTAJAYA e SETIAWAN, 2017).

Com toda essa evolução do marketing, os consumidores são bombardeados de

informações constantemente. Essa facilidade e rapidez das informações limita a racionalidade

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do consumidor e faz com que os indivíduos comprem além do necessário à sua subsistência e

confundam a necessidade com o desejo.

3.2 Consumo

O consumo é a atividade de compra, troca ou permuta de bens e serviços, sendo

caracterizada como o passo posterior ao processo de distribuição e produção. Mas, ele é mais

do que isso. Ele envolve questões simbólicas, que ultrapassa as questões puramente

econômicas, o consumo serve para pensar. Desta maneira, Canclini (1996) propõe a definição

de que:

O consumo é o conjunto de processos socioculturais em que se realizam a

apropriação e os usos dos produtos. Esta caracterização ajuda a enxergar os atos

pelos quais consumimos como algo mais do que simples exercícios de gostos,

caprichos e compras irrefletidas, segundo os julgamentos moralistas, ou atitudes

individuais, tal como costumam ser explorados pelas pesquisas de mercado.

Vivemos em uma sociedade de consumo na qual somos estimulados a consumir por

reprodução social, pertencimento, identidade, estilo de vida e outros. Nesse momento surge o

"compro, logo existo" como uma forma do indivíduo se posicionar, e diferenciar, dentro da

sociedade através do que consome. Quem possui carro importado é melhor, quem se veste

com roupas de marca ou quem acompanha a moda são pessoas que se tornam mais notadas e

assim por diante.

Não é preciso apenas consumir para existir, mas é preciso consumir para ser feliz. A

sociedade do consumo vende a satisfação dos desejos individuais, mas desperta nos

consumidores a cada momento novos desejos a serem satisfeitos, fazendo-os querer e

consumir sempre mais.

Essa sociedade estimula o consumismo, que nas referencias de Branco (1997) é:

Um processo eticamente condenável, pois faz que as pessoas comprem mais coisas

do que realmente necessitam. Com sistemas complexos de propaganda, que

envolvem sutilezas psicológicas e recursos espetaculares, industriais e produtores

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em geral convencem a população a adquirir sempre os novos modelos de carros,

geladeiras, relógios, calculadoras e outras utilidades, levando-a a lançar fora o que já

possui.

O consumismo exagerado, somado ao aumento populacional no globo terrestre, faz

com que existam cada vez mais indústrias, que por sua vez, consomem grande quantidade de

energia elétrica e matérias primas, gerando grandes quantidades de lixo, causando enormes

impactos ambientais. Além disso, ocorre um esgotamento de recursos não renováveis, que

uma vez consumidos não podem ser repostos, como o petróleo e os minérios.

Com isso, a cultura de consumo – marcada pelo consumismo e pela obsolescência

programada – tem como grande problemática os recursos naturais que são utilizados como se

fossem infinitos e a falta de preocupação com o impacto ambiental que é gerado.

Inseridos em um pensamento de busca por novas saídas e posicionamentos diante do

consumismo, observa-se a emergência de movimentos de resistência ao consumo, nos quais

se podem incluir as redes de consumo colaborativo. Como irá ser demonstrado no próximo

capítulo, a prática do consumo colaborativo é uma proposta que se inscreve enquanto corrente

que contesta os hábitos consumistas e o padrão de trocas da sociedade capitalista, envolvendo

diversas motivações e meios para a mudança, dentre elas a preocupação com a questão

ambiental.

3.3 Consumo Colaborativo

Tomando como base o que foi exposto no capítulo anterior, pode-se dizer que ainda

que a cultura de consumo tenha se instalado na sociedade contemporânea, isso não ocorre sem

a oposição por parte de alguns setores da sociedade. Inseridos em um pensamento de busca

por novas saídas e posicionamentos diante do consumismo, observa-se a emergência de

movimentos de resistência ao consumo, nos quais se podem incluir, por sua proposta geral, as

redes de consumo colaborativo.

Formalmente, Rachel Botsman (2011) definiu o consumo colaborativo como um

modelo econômico baseado no compartilhamento, na troca, intercâmbio ou aluguel de

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produtos e serviços que possibilitam o acesso de forma oposta à posse. O consumo

colaborativo reinventa os costumes de mercado, alterando a forma como consumimos.

No site da rede Consumo Colaborativo no Brasil2, é possível encontrar a seguinte

definição:

“Prática comercial que possibilita o acesso a bens e serviços sem que haja

necessariamente aquisição de um produto ou troca monetária entre as partes

envolvidas neste processo. Compartilhar, emprestar, alugar e trocar substituem o

verbo comprar no consumo colaborativo.”

Belk (2007) adiciona que definir o conceito de consumo colaborativo obrigatoriamente

passa pela consideração da aquisição e da distribuição de recursos durante atividades entre

indivíduos. Botsman e Rogers (2011) sugerem que o compartilhamento não é uma nova

tendência de nicho específica, nem uma mudança reacionária à recessão, mas sim um

fenômeno socioeconômico que transforma os negócios e a forma como consumimos e

vivemos.

Belk (2014) conceitua o consumo colaborativo como um fenômeno que está crescendo

rapidamente com diversas variantes, no qual há coordenação entre as pessoas para a aquisição

e a distribuição de um recurso por uma taxa ou outra compensação. Ao incluir outra

compensação, esta definição também inclui trocas e intercâmbios que envolvem dar e receber

compensações não monetárias. O autor afirma ainda que existem dois pontos em comum

nestas práticas de compartilhamento e de consumo colaborativo: o uso do acesso temporário e

modelos de consumo de bens e serviços opostos a posse; e a sua dependência na internet,

especialmente na Web 2.0, para conseguir firmar isso.

Ainda conforme Belk (2014), há uma distinção entre “consumo colaborativo” e

“compartilhamento facilitado pela internet”. Para o autor, consumo colaborativo consiste de

indivíduos “coordenando a aquisição e distribuição de um recurso por uma taxa ou outra

compensação”. A diferenciação para compartilhamento está na segunda parte da definição

2 Portal colaborativo que tem como objetivo divulgar e incentivar o consumo colaborativo no Brasil, mostrando

ideias, projetos, cases brasileiros e internacionais que já fazem uso desta nova economia. Confira em:

<http://www.consumocolaborativo.cc/>.

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proposta, pois o compartilhamento não envolve nenhum tipo de compensação, seja monetária

ou não monetária.

Neste sentido, o consumo compartilhado é uma forma de acomodar necessidades e

desejos de uma forma mais sustentável, atraente e com pouco ônus para o indivíduo que

permite duas maneiras de participação. Uma delas é desempenhando o papel de “par

provedor”, aquele quem fornece bens para alugar, compartilhar ou tomar emprestado; ou de

“par usuário”, quem apenas consome os produtos e serviços disponíveis. Os participantes

podem fazer as duas coisas, mas se sentirão confortáveis de maneiras distintas, de acordo a

necessidade e interesse (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

John (2013) afirma que existem dois tipos de compartilhamento em jogo, ambos

relacionados de forma muito próxima com o surgimento da internet. O primeiro tipo é o

compartilhamento de bens pessoais com outras pessoas. O outro tipo é representado por um

terceiro membro, como no exemplo do Zipcar, que possui uma frota de carros e os membros

podem usar quando quiserem, mas não há compartilhamento entre si. Todavia, um produto

está sendo compartilhado somente por um terceiro, no caso o Zipcar, para outros membros,

todos que têm interesse em utilizar da frota de carros.

John (2013) baseia o sucesso do consumo colaborativo no movimento atual de uma

geração que já está crescendo acostumada a compartilhar na internet, algo natural. O mesmo

está pautado nas tecnologias e compartilhamentos de redes sociais online. Botsman e Rogers

(2011) complementam afirmando que o consumo colaborativo se estabelece nas tecnologias e

nos comportamentos de redes sociais. Estas interações facilitam uma avaliação de que a

colaboração não ameaça o individualismo, e sim valida um sistema utilizado pelas pessoas

para dividir seus recursos sem que haja perda de liberdades ou sacrifício ao estilo de vida.

Assim, o consumo colaborativo pode ser entendido como um sistema coletivo de

práticas sustentáveis e socialmente corretas, que ocorre através do compartilhamento,

colaboração e cooperação de produtos ou serviços entre usuários (membros) de uma

comunidade, com objetivo em comuns e interligados, em grande maioria, por meio de

plataformas digitais.

Botsman e Rogers (2011) sugerem que o consumo colaborativo pode ser tão

importante quanto a revolução industrial foi em termos de como pensamos com relação à

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posse. Dessa forma, seria inadequado ignorar o compartilhamento e o consumo colaborativo

como formas alternativas de consumo e novos paradigmas de negócios. Esquecer a velha

sabedoria de que “você é o que você possui” e convertê-la para a nova sabedoria de que “você

é o que você compartilha” indica que podemos estar entrando em uma economia pós-posse.

(BELK, 2014)

Mohlmann (2015) enuncia que o consumo colaborativo não é mais um nicho de

tendência com destaque momentâneo. Ao invés disso, é algo de larga escala, envolve milhões

de usuários e gera uma tendência de lucro que muitos negócios estão optando por investir.

Além disso, é um modelo de negócios competitivo e que apresenta um desafio que os

prestadores de serviço precisam analisar.

3.3.1 Sistemas de Consumo Colaborativo

Para Botsman e Rogers (2011), autores que evidenciaram o termo, o consumo

colaborativo é identificado por um sistema que envolve:

[...] permuta, bancos de horas, sistema de comércio locais, trocas, empréstimo

social, moedas entre pares, trocas de ferramentas, compartilhamento de terra,

permuta de roupas, compartilhamento de brinquedos, espaços de trabalho

compartilhados, coabitação, trabalho em conjunto, CouchSurfing, compartilhamento

de carros, financiamento coletivo, compartilhamento de bicicletas, carona,

cooperativa de alimentos, andar de ônibus escolares, microcreches compartilhadas,

aluguel entre pares.

Esses exemplos, que estão crescendo rapidamente, são organizados por Botsman e

Rogers (2011) em três sistemas: sistemas de serviços de produtos, mercados de redistribuição

e estilos de vida colaborativo.

3.3.1.1 Sistemas de serviços de produtos (SSP)

Nos sistemas de serviços de produtos ocorre o uso compartilhado de produtos de uma

empresa ou o compartilhamento de produtos de propriedade individual entre pares, ou seja,

paga-se “pela utilização do produto sem necessidade de adquiri-lo. É uma inovação disruptiva

no que diz ao tradicional modelo baseado na propriedade individual” (BOTSMAN; ROGERS,

2011). A base desse sistema na mudança “para uma ‘mentalidade de uso’, na qual elas pagam

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pelo benefício de um produto – o que ele faz por elas – sem ter de possui o produto

definitivamente” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

A vantagem ambiental está na maximização da utilidade de um produto, que sem o

compartilhamento possui um uso limitado. Para os usuários, os benefícios são financeiros já

que não precisam pagar completamente pelo produto assim removendo os encargos da

propriedade, como manutenção, conserto e seguro; e a alteração do relacionamento com as

coisas (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Dentre os exemplos trazidos pelos autores estão o compartilhamento de automóveis

(de empresas e entre pares) e de bicicletas; o aluguel entre pares, de brinquedos, de objetos de

moda e acessórios, de livros; e filmes. Neste sistema a lógica é de passagem da propriedade

para o uso das coisas, muitas vezes aproximando-se bastante do modelo de aluguel

tradicional, mas que é ampliado e ressignificado, seja pelo tipo de produto compartilhado,

pela forma como os indivíduos tratam diretamente com seus pares, pela ausência de contrato

formal ou pelo uso da internet como meio para tomar conhecimento da oferta e efetuar a

transação.

3.3.1.2 Mercados de redistribuição

Os mercados de redistribuição promovem a “redistribuição de mercadorias, usadas ou

não, cujos proprietários desejam passar adiante” (BOTSMAN; ROGERS, 2011), por meio de

trocas livres e vendas em geral: a mercadoria sai de um lugar onde ela não é necessária para

onde ela será útil. Este seria um sistema que “estimula a reutilização e a revenda de itens

antigos, em vez de jogá-los fora, e também reduz significativamente o desperdício e os

recursos que acompanham uma nova produção” (BOTSMAN; ROGERS, 2011). Por isso, os

mercados de redistribuição têm um papel importante na sociedade contemporânea:

“A redistribuição é o quinto “R” – reduzir, reciclar, reutilizar, reformar e redistribuir

– e é considerada uma forma sustentável de comércio. Ela contesta o relacionamento

tradicional entre produtor, varejista e consumidor, e interrompe as doutrinas de

“comprar mais” e de “comprar um novo”” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

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Botsman e Rogers (2011) defendem que “as redes sociais permitem e ligam as

mercadorias usadas ou de outro proprietário sejam redistribuídas.” Dessa forma, o ambiente

digital torna-se um grande potencializador para o comportamento de troca e

compartilhamento de bens e conteúdo, pois as relações são intensificadas e permite o

agrupamento de pessoas com interesses em comuns.

Como exemplos são apresentados os grandes mercados online; sites de troca de livros,

de brinquedos, de roupas e de mídia; e plataformas que permitem a venda e troca livre entre

pares. Nesse sistema, temos o brechó como referência, que agora aparece com uma nova

roupagem pelo uso da tecnologia e pelo novo status que adquire.

3.3.1.3 Estilos de vida colaborativos

Nos estilos de vida colaborativo as “pessoas com interesses semelhantes procuram

dividir e trocar ativos intangíveis, como tempo, espaço, habilidades e dinheiro” (BOTSMAN;

ROGERS, 2011). Estas trocas tenderiam a ocorrer em um nível local, incluindo sistemas

compartilhados para espaços de trabalho, de estacionamento, compartilhamento de jardins,

habilidades, tempo e de alimentos, compartilhamento e troca de favores entre vizinhos,

caronas, etc. Este sistema recupera a ideia de comunidade tradicional na qual se

compartilham bens comuns, e de colaboração entre vizinhos, amigos e familiares, com uma

mentalidade em que se busca ajudar e apoiar sua rede de relacionamento.

Porém, a internet permite que as pessoas coordenem, reduzam e transcendam limites

físicos em atividades como o empréstimo social entre pares e viagens e com os estilos de vida

colaborativos estão ocorrendo no mundo todo. Nesses exemplos o grau de confiança

necessário tende a ser elevado, pois o foco da troca é a interação entre humanos e não um

produto físico, o que gera uma infinidade de relacionamentos e conectividade social

(BOTSMAN; ROGERS, 2011). Os ambientes de coworking3 representam um bom exemplo

dessa categoria. Esses movimentos estão acontecendo no mundo inteiro e são potencializados

pelo uso da internet.

3 Coworking é um modelo de trabalho que se baseia no compartilhamento de espaço e recursos de escritório,

reunindo pessoas que trabalham não necessariamente para a mesma empresa ou na mesma área de atuação,

podendo inclusive reunir entre os seus usuários os profissionais liberais e usuários independentes

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Todos esses sistemas colaborativos acabam sendo sustentáveis, mesmo que não

tenham essa intenção, já que, na maioria das vezes, a motivação inicial vai desde a economia

ou ao ato de ganhar dinheiro, da conveniência e interesse de conhecer pessoas, de economizar

espaço e tempo, de se sentir parte de uma comunidade ou de simplesmente de “fazer a coisa

certa”.

Isso ocorre porque “tanto a sustentabilidade quanto a comunidade são um par inerente

e inseparável do consumo colaborativos e não uma reflexão tardia ou um suplemento”

(BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Sobre a classificação proposta por Botsman e Rogers pode-se destacar que, em alguns

casos, é possível encaixar a mesma rede em mais de um sistema, por exemplo, o empréstimo

entre vizinhos, que contempla características dos três sistemas: produtos são usados de forma

compartilhada, estende-se a vida útil do produto e aproxima-se pessoas aumentando a

conectividade social. Dessa forma, surge uma questão em relação a este conceito que abarca

exemplos tão distintos: o que caracterizaria o consumo colaborativo?

Assim, faz-se necessário, para um maior entendimento do tema, o estabelecimento de

critérios que venham a definir o que é necessário para que uma prática seja considerada como

de consumo colaborativo.

3.3.2 Princípios do consumo colaborativo

Botsman e Rogers (2011) identificam quatro princípios essenciais para a existência e

funcionamento do consumo colaborativo: a massa crítica, a capacidade ociosa, a crença no

bem comum e a confiança entre desconhecidos.

3.3.2.1 Massa crítica

A massa crítica é o que torna um sistema autossustentável; e, no caso do consumo

colaborativo, ela diz respeito às escolhas. Por isso, Botsman e Rogers (2011) dissertam que

“para o consumo colaborativo competir com as compras convencionais, deve haver escolhas

suficientes para que o consumidor sinta-se satisfeito com o que está disponível”

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Posteriormente, os primeiros usuários desse novo modelo formariam uma massa

crítica baseada na “prova social”. Para os autores, a prova social é:

“Fundamental porque a maioria das formas geralmente exige que as pessoas façam

alguma coisa um pouco diferente e que elas mudem velhos hábitos. Para que elas se

convençam a fazer a mudança, a maioria das pessoas precisa ver ou experimentar

uma massa crítica de consumidores que também fazem a troca. Muitas vezes

decidimos o que fazer ou o que não fazer de acordo com as pessoas à nossa volta

estão fazendo” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Dessa forma, permite que as pessoas, a partir de experiências de terceiros, superem

uma possível barreira psicológica e adotem novos comportamentos de consumo.

3.3.2.2 Capacidade ociosa

A capacidade ociosa está relacionada com a quantidade de tempo que objetos ou

ativos menos tangíveis – como habilidades, espaço e energia - não são utilizados. A proposta

é que essa capacidade inativa seja redistribuída através da tecnologia, a internet e redes

sociais online. Botsman e Rogers (2011) falam sobre o poder da divulgação digital ao

destacarem que: “a onipresença da conectividade barata que nos rodeia pode maximizar a

produtividade e a utilização de um produto e enxugar o excedente criado pelo

hiperconsumismo sem criar custos ou inconvenientes”.

Alguns exemplos de produtos ociosos são as roupas compradas e pouco/nunca usadas,

um carro que fica parado por muito tempo e/ou circula com lugar vago, um quarto de hóspede

que raramente é utilizado e objetos que foram úteis em apenas uma situação. Em relação ao

último, Botsman e Rogers (2011) citam o exemplo de uma furadeira. Existem

aproximadamente 50 milhões de furadeiras elétricas nos Estados Unidos acumulando poeira

sendo que a maioria das pessoas irá utilizar uma por 6 a 13 minutos durante a sua vida útil.

Então, pra que ter uma se conforme afirmou Victor Papanek a maioria quer é “o buraco, não a

furadeira” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

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3.3.2.3 A crença no bem comum

O terceiro princípio é a crença nos bens comuns, esses que representam a cultura, o

conhecimento, a natureza, os espaços destinados ao uso público, como praças e parques e

ambientes digitais, entre outros

Os bens comuns são um novo paradigma para criar valor e organizar uma

comunidade de interesses compartilhados. O consumo colaborativo está vinculado à

maneira como estes princípios estão sendo aplicados a outras partes das nossas

vidas, além da mídia ou do conteúdo, ao explorar uma busca inata por fazer parte de

uma solução ou até mesmo de um movimento de pessoas com interesses

semelhantes. A experiência é atraente tanto pela “colaboração” quanto pelo

“consumo” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

A questão que norteia esse princípio é o equilíbrio entre os interesses individuais e

coletivos. Botsman e Rogers (2011) pregam que um único telefone não tem utilidade, mas se

várias pessoas possuírem telefones o valor dele irá aumentar para cada proprietário à medida

que sua rede aumenta. Da mesma forma, quanto mais usuários participarem de programas

como Airbnb, grupos de troca e de carona, melhor o sistema funcionará. Dessa forma,

ocorrerá um “efeito de rede”. “Todos que aderem ou usam o consumo colaborativo criam

valor para outras pessoas, mesmo que a intenção não tivesse sido essa” (BOTSMAN;

ROGERS, 2011).

3.3.2.4 A confiança entre estranhos

Por último, a confiança entre desconhecidos é necessária na medida em que não

existem mais fiscalizadores que garantam as transações: “a maioria das formas de consumo

colaborativo exige que confiemos em alguém que não conhecemos em diferentes graus”

(BOTSMAN; ROGERS, 2011) e esta confiança entre estranhos é desenvolvida uma vez que

“as plataformas entre pares permitem que comunidades descentralizadas e transparentes sejam

formadas” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Dessa forma, Botsman e Rogers (2011) afirmam que empresas como Airbnb devem

criar plataformas que facilitem as trocas e contribuições autogeridas na qual as pessoas terão

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acesso à um sistema de reputação e interesses de outros usuários e com isso, diminuem, de

certa forma, o grau de anonimato de cada usuário.

O papel deste novo intermediário é, portanto, criar as ferramentas e o ambiente

certos para que se desenvolva a familiaridade e a confiança, um local intermediário

onde o comércio e a comunidade se encontrem. [...] Novos mercados online e offline

estão se formando, em que as pessoas podem voltar a se “encontrar” em uma vila

global e desenvolver uma confiança que não seja local (BOTSMAN; ROGERS,

2011).

Nos sistemas de consumo colaborativo na internet, as avaliações de

produtos/serviços/usuários, os comentários e os compartilhamentos de boas e más

experiências nos ajudam no processo de decisão de com quem trocar ou se relacionar. Além

disso, através desse julgamento os sistemas conseguem banir os usuários que não estão agindo

de acordo com a política da plataforma.

Nesse contexto, a internet desempenha uma função fundamental a partir do momento

em que oferece ferramentas e plataformas para que se desenvolva a familiaridade e a

confiança, bem como sirva como um espaço onde também se possa se promover o consumo

compartilhado. Por isso, no próximo capítulo serão abordados três exemplos de consumo

colaborativo facilitados pela internet.

3.4 Plataformas de consumo colaborativo

Neste capítulo serão apresentadas três plataformas de consumo colaborativo

classificadas de acordo com os três sistemas já abordados: sistemas de serviços de produtos,

mercados de redistribuição e estilos de vida colaborativo.

3.4.1 Zipcar - sistema de serviço de produto

Para Botsman e Rogers (2011), o crescimento do Zipcar, com sede nos Estados

Unidos, é uma indicação clara de que os consumidores passarão a adotar alternativas ao

aluguel ou à propriedade de carros particulares se o serviço for prestado de maneira correta.

Robin Chase, fundador do Zipcar afirma: “Este é o carro que sua mãe disse que você nunca

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poderia ter. Quando você não estiver usando, o problema é de outra pessoa e ninguém se

importa com isso”.

“A Zipcar é o maior serviço de compartilhamento de carros do mundo. Os membros

da Zipcar podem reservar um carro 24 horas por dia, sete dias por semana pela

internet, usando um aplicativo para o iPhone ou pelo telefone por períodos de pelo

menos uma hora em qualquer uma das 49 cidades dos EUA em que funciona além

de Vancouver, Toronto e Londres” (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

O serviço foi criado há quase duas décadas por Robin Chase e Antje Danielson quando

estavam em um café em Cambridge, Massachusetts, e decidiram levar a ideia europeia de

compartilhamento de carros para a América do Norte. Uma vez que as rodas estavam em

movimento, era apenas uma questão de tempo até que algumas mudanças importantes

ajudassem no crescimento da pequena empresa de compartilhamento de carros na principal

rede de compartilhamento de carros do mundo. Hoje, graças a uma experiência de usuário

orientada a membros, um foco em tecnologia inovadora e uma equipe incrível de entusiastas

de compartilhamento de carros, a Zipcar redefine a maneira de pensar sobre o transporte

alternativo.4

Os carros possuem diversos gastos como manutenção, limpeza, seguro, registro e

estacionamento, mas acabam ficando ociosos em grande parte do dia. Dessa forma, o Zipcar

pode ser uma solução baseada em um conceito de car sharing, que funciona como um

sistema de locação de carros, mas, ao contrário do tradicional rent a car, que oferece opções

de locação mais longas, o cliente retira o carro apenas por algumas horas ou por um dia, com

preços muito mais baratos, e ainda com gasolina e seguro inclusos.5

De acordo com o site da empresa, a missão da Zipcar é possibilitar uma vida urbana

simples e responsável, além de um futuro repleto de mais membros do compartilhamento de

carros do que os proprietários de carros nas principais cidades do mundo. Para se tornar um

membro da Zipcar é bem simples: o usuário precisa ter 21 anos ou mais (18 se for estudante)

e ter carteira de motorista válida; deve selecionar o plano de associação que melhor se adapta

4https://www.zipcar.com/ 5https://destinonegocio.com/br/casos-de-sucesso/conceito-de-car-sharing-utilizado-pela-zipcar-e-alternativa-a-

locacao-de-carros/

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ao seu estilo de vida; depois terá a sua carteira de motorista será verificada, que normalmente

leva um dia útil, mas em alguns casos pode demorar um pouco mais e, uma vez aprovado,

recebe um Zipcard pelo correio em 3-7 dias.

Para dirigir, o usuário deve reservar um carro por hora ou dia e deve dirigir-se a ele.

Para desbloquear e bloquear deve aproximar o Zipcard do leitor de cartão no para-brisa. Após

dirigir, ao final da reserva, o carro deve ser devolvido onde estava estacionado.

O Zipcar possui 6 regras simples de compartilhamento de carros:

Denunciar danos: O usuário deve inspecionar o carro por dentro e por fora e relatar

caso haja dano, o carro esteja sujo ou com pouco combustível para que saibam que

não foi ele.

Manter o carro limpo: Lixo e pertences pessoais não devem ser deixados no carro.

Deixar sempre pelo menos 1/4 do tanque cheio: Para abastecer deve utilizar o cartão

de crédito da empresa que está dentro do carro.

Proibido fumar: Nem mesmo com janelas e portas abertas. Caso ocorra, o membro

será cobrado com uma taxa pelo custo da limpeza.

Animais de estimação devem ser mantidos em caixas transportadoras.

Devolver na hora combinada: Se o usuário não for pontual pagará uma taxa de $50.

Porém, ele pode utilizar o aplicativo para estender a reserva e evitar multa.

. Essas regras servem para manter o bom funcionamento do sistema. Como não existe

um funcionário conferindo os carros após cada uso (como acontece nas locadoras

tradicionais), a organização depende totalmente dos usuários. Assim, cada usuário é fiscal do

usuário anterior.

Botsman e Rogers (2011) ressaltam que o Zipcar está fazendo com que pessoas

mudem seus hábitos de propriedade de carros, usando a mesma mentalidade psicológica e

sociológica de marcas que nos levou a comprar e possuir para nos fazer compartilhar. Os

painéis brancos e verdes do Zipcar em ônibus com as mensagens “350 horas por ano fazendo

amor e 420 procurando uma vaga” e “Hoje é um dia de BMW. Ou será que é um dia de

Volvo?” destacam os benefícios fundamentais do compartilhamento de carros, a conveniência

e a escolha. Da mesma forma que acontece com outras formas de consumo colaborativo, o

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rápido crescimento do compartilhamento de carros é alimentado pela consciência de custo e

pela necessidade ambiental.6

3.4.2 Enjoei - mercados de redistribuição

O Enjoei é plataforma digital colaborativa de compra e venda baseada em ferramentas

de comércio social criada pelo casal carioca Ana Luiza McLaren e Tiê Lima no ano de 2009.

Inicialmente era um blog na plataforma WordPress para a venda de objetos e utensílios

usados. 7Ana queria vender o que não usava mais, então selecionou as peças, as fotografou e,

com a ajuda do seu marido, colocou o blog no ar. Algumas amigas também quiseram vender

naquele espaço, o que dissipou a ideia e, em pouco tempo, fez o casal receber mais de 700

pedidos via e-mail de pessoas que também gostariam de ter suas peças expostas na lojinha

virtual. Com isso, o blog se transformou em uma loja online de verdade, e o casal passou a se

dedicar exclusivamente ao negócio.8

Para vender é bem simples, o usuário deve criar uma conta, tirar fotos dos objetos e

colocar os anúncios. O Enjoei funciona como mediador e monitora as relações comerciais dos

cadastrados e com isso, lucra 20% de comissão mais uma tarifa (vide tabela) pelos serviços de

intermediação, meios de pagamentos, segurança, e demais custos da plataforma. Também

arcam com cupons de descontos, fretes promocionais e condições especiais de parcelamento.9

Tabela 1 – Taxas do Enjoei

Valor do produto vendido Tarifa fixa (por item)

até R$ 10 R$ 0,95

de R$ 11 a R$ 20 R$ 1,95

de R$ 21 a R$ 40 R$ 3,95

de R$ 41 a R$ 70 R$ 4,95

de R$ 71 a R$ 100 R$ 5,95

de R$ 101 a R$ 200 R$ 7,95

6 https://www.zipcar.com/ 7http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/tecneira/2016/02/16/enjoei-recebe-aporte-de-r-20-milhoes-da-

monashees-e-bessemer/ 8 https://exame.abril.com.br/pme/de-segunda-mao/ 9https://www.enjoei.com.br/taxas

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de R$ 201 a R$ 300 R$ 11,95

de R$ 301 a R$ 500 R$ 13,95

de R$ 501 a R$ 1500 R$ 17,95

acima de R$ 1501 sem taxa fixa

Fonte: https://www.enjoei.com.br/taxas

O Enjoei permite que os relacionamentos entre os usuários se desenvolvam através da

colaboração e estabeleçam relações com base da confiança, proposta básica do consumo

colaborativo. Dessa forma, a plataforma é utilizada tanto para uso comercial, como para uso

social, podendo reunir pessoas que não gostariam de simplesmente jogar fora coisas das quais

já enjoou, mas sim dar a oportunidade de alguém continuar usufruindo daqueles bens

materiais em troca de uma quantia em dinheiro acordada entre ambos com pessoas

interessadas em consumir produtos de “segunda mão”. É uma operação contínua, na qual os

usuários são responsáveis pelo funcionamento da empresa e cooperam para mantê-la.

Na plataforma é possível encontrar uma variedade enorme de produtos, desde os mais

comuns, como roupas, calçados, acessórios e eletrônicos, até carros e animais para adoção –

que recebem um preço simbólico.

O Enjoei pode ser definido como um Mercado de Redistribuição (Botsman e Roger,

2011). Esse sistema se aplica à plataforma já que ela permite que mercadorias usadas sejam

redistribuídas e encontrem novos donos. As trocas monetárias estão presentes nesse sistema e

os usuários estão conectados por se interessarem pela mesma atividade. A necessidade de

“comprar mais” ou de “comprar um novo” são contestadas, como lembram os autores.

Com os novos comportamentos da sociedade atual e o crescimento do consumo

colaborativo, podemos entender o sucesso do Enjoei, que só cresce ao longo dos anos. No site

da empresa, você encontra três motivos para vender seus pertences que estão parados e sem

utilidade: “ressignificar a sua relação com as coisas do mundo, trocar energias e fazer

fortuna”. 10

No Enjoei, os usuários constroem identidades através da foto de perfil e descrição do

enjoado e da sua lojinha, que são importantes para gerar proximidade entre os atores e

estimular a interação social entre eles.

10 https://www.enjoei.com.br/vender

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Além da compra e venda de produtos, existem outras atividades interativas que podem

ocorrer dentro da plataforma. São elas:

Seguir lojinhas - significa que um usuário tem interesse em acompanhar determinado

perfil e saber quais são os novos produtos cadastrados e colocados à venda por um

enjoado

Dar um “yeah-yeah” em um enjoo – é uma maneira de mostrar interesse pelo item.

Acompanhar o preço de um enjoo – através dessa opção o usuário receberá notificação

por e- mail caso o item entre em promoção.

Fazer uma oferta a um enjoado – depois da oferta ser realizada, o vendedor tem três

dias para aceitar, recusar ou fazer uma contraproposta. Depois desse período, se nada

for feito, a oferta expira. Caso um acordo seja fechado, o preço combinado aparece

somente para o usuário que fez a proposta e ele também tem até três dias para realizar

a compra.

Durante esse processo, o produto permanece disponível e os demais usuários poderão

fazer ofertas simultaneamente. É importante ressaltar que se um objeto já foi

comprado e está passando pelo processo de aprovação de pagamento, aparece em sua

página uma notificação de reserva para que não ocorram conflitos e casos de compras

simultâneas.

Comentar na página de um enjoo – Os diálogos construídos na plataforma são

realizados nas páginas de venda dos produtos através do campo destinado aos

comentários.11

Quando algo é vendido, o vendedor recebe uma notificação e espera pela confirmação do

pagamento. Após confirmado, o vendedor tem três dias úteis a contar da data de aprovação da

venda para ir a uma agência dos correios ou entregar seu produto ao comprador.

No caso de o item vendido não ser enviado, o comprador deve entrar em contato com a

central de atendimento da plataforma para que as questões burocráticas de devolução de

valores sejam realizadas. Porém, se ocorreu tudo certo e o item foi recebido, o comprador

deve confirmar o recebimento do mesmo na seção de “minhas compras” para que o vendedor

tenha o seu dinheiro estará disponível no enjubank. O Enjoei também é notificado pelos

11 https://www.enjoei.com.br

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Correios quanto ao recebimento de mercadorias; então, mesmo sem a confirmação, o

vendedor é pago corretamente. Essas medidas de segurança são maneiras de tornar as

transações seguras tanto para quem compra, como para quem vende.12

3.4.3 Airbnb - estilo de vida colaborativo

É um serviço online comunitário de hospedagem confiável para pessoas anunciarem,

descobrirem e reservarem acomodações ao redor do mundo que pode ser acessado por um

computador, celular ou de um tablet.

Airbnb é uma redução de Air Bed and Breakfast. O nome vem das palavras em inglês

air bed (colchão de ar), pelo advérbio de ligação and (e) abreviado e breakfast (café da

manhã), uma grafia justaposta com partes das palavras citadas para designar uma ideia

advinda de uma necessidade. A ideia surgiu em 2008, na Califórnia quando seus fundadores,

notando a dificuldade de se buscar onde ficar em San Francisco durante uma conferência de

designers na cidade resolveram colocar colchões de ar (por isso “Air”) na sala da casa onde

moravam e oferecer o café da manhã.13

Os sócios desenvolveram a primeira versão do site de hospedagens, com apenas uma

opção. Eles alugaram os seus colchões para três pessoas e tiveram uma ótima interação com

elas, transformando uma grande ideia em um projeto inovador. A ideia inicial era que este

modelo de negócios suprisse a carência de hospedagem em San Francisco durante grandes

feiras e eventos na cidade. Mas ele cresceu rapidamente e foi além. Menos de um ano depois

da fundação o site já tinha seu nome como conhecemos hoje – Airbnb.com – e aceitava que

todo tipo de espaço fosse listado nele, dos colchões de ar iniciais a apartamentos e castelos

inteiros. (BOTSMAN; ROGERS, 2011).

Todo o processo de reserva de estadias, pagamento e trocas de mensagens acontece

dentro da própria plataforma na qual todos usuários devem ser cadastrados. O possível hóspede

pode escolher sete filtros que ajudarão na localização da sua hospedagem que são: datas da viagem,

quantidade de hóspedes, tipo de acomodação (espaço inteiro, quarto inteiro e quarto

12 https://www.enjoei.com.br/ajuda 13 https://vidacigana.com/como-funciona-airbnb/

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compartilhado), preço, possibilidade de reserva instantânea, tipo de viagem (em família ou a

trabalho) e mais filtros. Em outros filtros o usuário pode selecionar imóveis pelos mais

diferentes critérios. Pela quantidade de quartos e banheiros, pelas comodidades oferecidas

como TV, cozinha, internet, estacionamento gratuito no local, ar condicionado, ferro elétrico,

por permitir animais, ser acessível a cadeirantes, e por aí vai.

Após realizar a pesquisa, o usuário deve mandar mensagens a todos os anfitriões dos

anúncios considerados interessantes antes de tomar a decisão final. Nessa conversa, todas as

dúvidas sobre a hospedagem devem ser tiradas e, principalmente, deve-se confirmar se o

imóvel realmente está disponível para as datas desejadas.

Depois da tomada de decisão de acordo com as avaliações e características do local,

chega então o momento do pagamento. A tela é clara e confiável, contendo informações

suficientes para o fechamento do processo, tornando a operação rápida. Como não há uma

recepção formal, o processo do check-in deve ser combinado com antecedência entre hóspede

e anfitrião, para que não haja um desencontro na data.14

No final da estadia, o hóspede recebe um e-mail com uma solicitação para responder à

pesquisa de avaliação, onde também é informado de que, após avaliar o anfitrião, receberá a

sua própria avaliação feita pelo mesmo. Além dos comentários por escrito, os hóspedes que

ficarem em uma acomodação podem enviar uma avaliação geral por estrelas e algumas

avaliações por estrelas das categorias.

Os hóspedes podem avaliar:

Experiência Geral: Considera a experiência como um todo.

Limpeza: O padrão da limpeza e organização do imóvel no momento do check-in.

Precisão: O grau de precisão da representação do seu espaço na página do seu anúncio.

Valor: Leva em consideração se o valor cobrado pela acomodação foi justo.

Comunicação: Considera a prontidão do anfitrião para responder e se comunicar com

o hóspede no que for preciso durante o processo de reserva e estadia.

Chegada: A facilidade no processo de check-in do imóvel, se foi simples ou não

receber as chaves.

14 https://www.airbnb.com.br

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Localização: Se o imóvel é bem localizado ou não dentro da cidade.15

Quanto as taxas cobradas pela plataforma, temos:

Taxas de serviço do anfitrião - A taxa de serviço do anfitrião para acomodações

costuma ser de 3%.

Taxas de serviço do hóspede - A taxa de serviço do hóspede para acomodações varia

entre 0% e 20% do subtotal da reserva (preço por noite mais a taxa de limpeza e a taxa

de hóspedes adicionais, se aplicáveis, porém não incluindo as taxas do Airbnb e

impostos) e é calculada usando uma variedade de fatores, dentre eles: o valor do

subtotal da reserva, a duração da estadia e as características da acomodação. De um

modo geral, quanto mais alto o custo da reserva, mais baixo será a taxa de serviço. A

taxa de serviço é exibida na página de check-out antes dos hóspedes fazerem uma

reserva.16

Além da possibilidade de se hospedar de forma mais barata o Airbnb tem como vantagem

integrar o turismo social e cultural através do relacionamento com os anfitriões e vizinhos

nativos.

15 https://www.airbnb.com.br/help/article/1257/how-do-star-ratings-work 16 https://www.airbnb.com.br/help/article/1857/what-is-the-airbnb-service-fee

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4. RESULTADOS DA PESQUISA

O presente capítulo destina-se à apresentação dos resultados do questionário que foi

aplicado, através da plataforma Formulários Google, a uma amostra não aleatória de 166

respondentes na cidade do Rio de Janeiro, sua divulgação foi realizada através de diversas

redes sociais. Adicionalmente, foi realizada a distribuição do questionário em salas de aula da

Universidade Federal Fluminense, fator que foi determinante para que a amostra representasse

um perfil jovem. O questionário explorou as motivações e resistências para participar da

economia compartilhada, ao passo que objetivou analisar tanto a inclinação para utilização

quanto os fatores que a influenciavam.

O capítulo irá dividir-se em resultados descritivos e cruzamentos.

4.1 Resultados descritivos

Nesta seção será realizada a descrição das principais características da amostra e serão

apresentadas as suas respostas quanto a inclinação dos indivíduos a compartilhar ou não.

Figura 2 - Respostas referentes ao gênero

Fonte: Autora (2018)

48,2%51,2%

0,6%Gênero

Masculino Feminino Outros

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Quanto ao gênero, a maior parte é do sexo feminino (51,2%), mas o sexo masculino

também está bem representado (48,2%) e apenas uma pequena parcela (0,6%) respondeu

outros.

Figura 3 - Respostas referentes à faixa etária.

Fonte: Autora (2018)

A grande maioria dos pesquisados pertence a faixa etária de 18 a 25 anos (83,7%), já a

faixa etária de 26 a 33 anos representa uma parcela bem menor (13,9%). As demais faixas, de

35 anos em diante, complementam com o restante dos respondentes.

83,7%

13,9%

1,8% 0,6%

Faixa etária

18 a 25 anos 26 a 33 anos 34 a 41 anos Acima de 41 anos

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Figura 4 - Respostas referentes à classe social.

Fonte: Autora (2018)

Quanto à classe social, grande parte pertence à classe C (33,01%), e uma parte ainda

mais significativa pertence à classe D (48,2%). Uma pequena parte (11,4%) pertence à classe

B e uma parcela ainda menor (7,2%) pertente à classe A.

7,2%

11,4%

33,1%

48,2%

Classe social familiar

Classe A (de 20 salários mínimos em diante) Classe B (de 10 a 20 salários mínimos)

Classe C (de 4 a 10 salários mínimos) Classe D (de 2 a 4 salários mínimos)

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Figura 5 - Resultados dos respondentes quanto ao conhecimento do consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

As respostas referentes ao questionamento sobre o conhecimento do consumo

colaborativo indicam que os respondentes têm um bom conhecimento quanto ao assunto. De

todos os indivíduos da amostra, a maioria (84,9%) já conhecia e havia utilizado o consumo

compartilhado e se mostrou disposta a continuar utilizando conforme a conveniência. Ainda

nesta amostra, uma pequena parcela (7,2%) conhece esse tipo de consumo e pretende utilizar

no futuro enquanto outra menor (4,3%) conhece mas nunca quis utilizar. Uma parte ainda

menor (1,8%) não conhece o consumo colaborativo e outra de mesmo tamanho (1,8%)

utilizou e não teve uma boa experiência.

1,8%4,3%

7,2%

1,8%

84,9%

Conhecimento do consumo colaborativo

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendo vir a utilizar num futuro próximo

Conheço, já utilizei, mas não tive uma boa experiência

Conheço, já utilizei e pretendo continuar neste tipo de consumo conforme conveniência

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Figura 6 – Respostas referentes à possibilidade de pegar carona.

Fonte: Autora (2018)

Com relação às respostas referentes à possibilidade de pegar carona com alguém que

esteja indo a um local próximo ao seu por meio de uma plataforma (Exemplos: BlaBlaCar ou

Waze Carpool) ou de um grupo de caronas, a maioria (60,2%) afirmou que pegaria apenas se

a pessoa fosse da rede de conhecidos. Uma quantidade menor (20,5%), afirmou que pegaria a

carona mesmo sem conhecer a pessoa e uma parcela um pouco menor (19,3%) afirmou que

não pegaria por questões de segurança.

60,2%20,5%

19,3%

Carona

Pegaria a carona apenas se a pessoa fosse da minha rede de conhecidos

Pegaria a carona mesmo sem conhecer a pessoa

Não aceitaria por questões de segurança

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Figura 7 - Respostas referentes ao uso do Airbnb

Fonte: Autora (2018)

Ao serem perguntados sobre a possibilidade de alugar um local para ficar durante uma

viagem por intermédio do Airbnb, grande parte da amostra pareceu tender ao

compartilhamento, uma vez que 88% respondeu que pesquisaria no aplicativo e consideraria a

opção.

Figura 8 – Respostas referentes a possibilidade de comprar em brechó online.

88%

12%

Uso do Airbnb

Pesquisaria no aplicativo e consideraria Não ficaria na casa de outra pessoa

60,9%

2,4%

24,7%

12,0%

Uso de brechó online

Sim mas ainda não fiz isso Já comprei e tive uma experiência ruim

Já comprei e tive uma boa experiência Não compraria

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Fonte: Autora (2018)

Com relação a possibilidade de comprar itens no Enjoei (brechó online) ou em grupos

de desapega em redes sociais, a maioria (60,9%) respondeu que compraria, mas ainda não fez

isso. Uma parcela considerável (24,7%) respondeu que comprou e teve uma boa experiência,

uma parcela menor (12%) respondeu que não compraria e uma pequena parcela (2,4%)

respondeu que já comprou e teve uma experiência ruim.

Figura 9 - Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de pegar uma

ferramenta.

Fonte: Autora (2018)

Sobre a possibilidade de pegar uma ferramenta emprestada, como uma furadeira, por

um preço mínimo definido ou um custo zero, a grande maioria (82,5%) se mostrou propensa.

82,5%

17,5%

Pegar ferramenta emprestada

Pegaria emprestada Não pegaria, prefiro ter a minha ferramenta

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Figura 10 – Respostas referentes à probabilidade de compartilhar bens e serviços.

Fonte: Formulários Google

Neste item trabalha-se com a probabilidade de compartilhar bens e/ou serviços com

alguém, numa escala de 1 a 5, em que 1 é pouco e 5 é muito. Neste quesito,

24 atribuíram nota 5

41 pessoas atribuíram nota 4

63 pessoas atribuíram nota 3

26 atribuíram nota 2

12 atribuíram nota 1.

Isso demonstra que a probabilidade de compartilhamento dos respondentes que

optaram por escolher entre 3 e 5 é de 77,11%, o que enfatiza uma mudança de paradigma ao

mercado convencional.

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Figura 11 – Respostas referentes aos motivos pelos quais utilizaria o consumo colaborativo.

Fonte: Formulários Google

Ao avaliar os motivos pelos quais as pessoas compartilham, a maioria (86,7%)

respondeu compartilhar por benefícios econômicos. Uma parcela considerável (31,3%)

compartilha com o objetivo de promover a sustentabilidade, outras parcelas semelhantes de

25,9% e 24,7%, respectivamente se referem às motivações praticar desapego e ter

experiências ao invés de benefícios. E uma parcela bem pequena (8,4%) tem como motivação

gostar de lidar com pessoas.

Figura 12 - Respostas referentes aos motivos pelos quais não utilizaria o consumo

colaborativo.

Fonte: Formulários Google

Com relação aos motivos pelos quais não utilizaria o consumo colaborativo, a grande

maioria (76,5%) respondeu que não utilizaria por questões de segurança enquanto uma outra

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parcela considerável (31,9%) respondeu que não utilizaria por falta de hábito e apenas uma

pessoa (0,6%) respondeu que utiliza sempre.

4.2 Cruzamentos

A presente seção pretende expor o cruzamento das características da amostra com o

conhecimento e uso do consumo colaborativo.

4.2.1 Gênero

Figura 13 - Cruzamento do gênero feminino com o conhecimento e uso do consumo

colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

A grande maioria (85%) das mulheres respondeu que já utilizou e pretende utilizar

novamente o consumo colaborativo enquanto uma parte afirma (8,2%) que pretende utilizar e

outra parcela menor (2%) optou por nunca utilizar.

85%

1%

4%

2%8,2%

Conheço, já utilizei e pretendocontinuar neste tipo de consumoconforme conveniência

Conheço, já utilizei, mas não tiveuma boa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nuncautilizar

Conheço, nunca utilizei, maspretendo vir a utilizar num futuropróximo

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Figura 14 - Cruzamento do gênero masculino com o conhecimento e uso do consumo

colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

Quanto ao gênero masculino, grande parte (85%) respondeu que pretende continuar

utilizando o consumo colaborativo conforme a necessidade. Outras duas partes, de igual

percentual (6,3%) responderam que pretendem utilizar futuramente e que optaram por nunca

utilizar. E uma parcela menor (2,5%) respondeu que utilizou e teve uma experiência ruim.

Conforme mencionado no item 2.5 Limitações do Método, o número de respondentes

que se identificou como outros não é suficiente para embasar este item.

85,0%

2,5%

6,3%

6,3% Conheço, já utilizei e pretendocontinuar neste tipo de consumoconforme conveniência

Conheço, já utilizei, mas não tive umaboa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, maspretendo vir a utilizar num futuropróximo

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4.2.2 Faixa etária

Figura 135 - Cruzamento da faixa etária de 18 a 25 anos com o conhecimento e uso do

consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

Ao avaliar a relação da faixa etária de 18 a 25 anos, que teve uma amostra de 139

pessoas, com o conhecimento do consumo colaborativo, temos que a grande maioria (87,1%)

conhece, já utilizou e pretende continuar a utilizar e que uma outra parcela (5%) pretende usar

no futuro. Enquanto uma pequena parcela (3,6%) optou por nunca utilizar e outras duas

parcelas menores de 2,2% não conhecem ou não tiveram uma experiência boa.

87,1%

2,2%

2,2%

3,6% 5,0% Conheço, já utilizei e pretendocontinuar neste tipo de consumoconforme conveniência

Conheço, já utilizei, mas não tive umaboa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendovir a utilizar num futuro próximo

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Figura 16 - Cruzamento da faixa etária de 26 a 33 anos com o conhecimento e uso do

consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

A faixa etária de 26 a 33 teve um número menor de respondentes, 23, e maioria deles

(69,6%) afirmou já ter utilizado e pretender continuar utilizando o consumo colaborativo.

Uma outra parcela considerável (21,7%) se mostrou propensa a vir utilizar. Ao mesmo tempo,

teve um número menor (8,7%) de pessoas que optaram por nunca utilizar.

Conforme mencionado no item 2.5 Limitações do Método, as faixas etárias acima de

33 anos não possuem número de respondentes suficientes para embasar este item. Através dos

cruzamentos, não foi possível observar que a faixa etária mais jovem utilizou mais o consumo

colaborativo.

69,6%

8,7%

21,7%Conheço, já utilizei e pretendocontinuar neste tipo de consumoconforme conveniência

Conheço, já utilizei, mas não tive umaboa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendovir a utilizar num futuro próximo

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4.2.3 Classe social

Figura 17 - Cruzamento da classe A com o conhecimento e uso do consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

Na classe A, a grande maioria (91,7%) pretende continuar a usar conforme a

conveniência enquanto uma parcela bem menor (8,3%) utilizou mas não teve uma boa

experiência.

Figura 18 - Cruzamento da classe B com o conhecimento e uso do consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

91,7%

8,3%Classe A Conheço, já utilizei e pretendo continuarneste tipo de consumo conformeconveniênciaConheço, já utilizei, mas não tive uma boaexperiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendo vira utilizar num futuro próximo

89,5%

5,3%5,3%

Classe B Conheço, já utilizei e pretendo continuarneste tipo de consumo conformeconveniênciaConheço, já utilizei, mas não tive umaboa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendovir a utilizar num futuro próximo

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Dos respondentes da classe B, a maioria (89,5%) está propensa a continuar utilizando

o consumo colaborativo enquanto outras duas parcelas menores de mesmo tamanho (5,3%)

pretendem utilizar num futuro próximo ou optaram por nunca utilizar.

Figura 19 - Cruzamento da classe C com o conhecimento e uso do consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

Quanto à classe C, a maioria (89,1%) pretende permanecer com o uso do consumo

colaborativo e 7,3% pretende utilizar no futuro. Duas parcelas menores de 1,8% afirmam não

terem tido uma boa experiência e optado por não realizem o uso.

89,1%

1,8%

1,8%7,3%

Classe CConheço, já utilizei e pretendocontinuar neste tipo de consumoconforme conveniência

Conheço, já utilizei, mas não tive umaboa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendovir a utilizar num futuro próximo

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Figura 20 - Cruzamento da classe D com o conhecimento e uso do consumo colaborativo.

Fonte: Autora (2018)

Na classe D, a maior parte (80%) pretende continuar utilizando o consumo

colaborativo e uma outra parte (8,8%) pretende utilizar num futuro próximo enquanto uma

parcela menos significativa (6,3%) optou por nunca utilizar. Uma pequena parcela afirmou

não conhecer essa forma de consumo (3,8%) e outra menor (1,3%) já utilizou, porém não teve

uma boa experiência. Através da análise por classes sociais tem-se que as mais altas

apresentam maior conhecimento sobre o consumo colaborativo.

80,0%

1,3%

3,8%

6,3%

8,8%Classe D

Conheço, já utilizei e pretendocontinuar neste tipo de consumoconforme conveniência

Conheço, já utilizei, mas não tive umaboa experiência

Não conheço

Conheço, mas optei por nunca utilizar

Conheço, nunca utilizei, mas pretendovir a utilizar num futuro próximo

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5. CONCLUSÃO

Este estudo buscou analisar a usabilidade do consumo colaborativo, suas motivações e

barreiras na sociedade contemporânea. Inicialmente, foi realizado um mapeamento literário a

fim de compreender como o marketing influência no consumo e entender o consumo

colaborativo nas suas diversas aplicações como uma forma de consumo alternativa e mais

sustentável.

Para atender ao objetivo geral, de forma posterior ao estudo literário, foi aplicado um

questionário de forma não aleatória a uma amostra de 166 indivíduos na cidade do Rio de

Janeiro, a fim de possibilitar, juntamente com a revisão da literatura utilizada para sua

construção, o desenvolvimento da pesquisa e a resposta aos objetivos do presente estudo.

Os objetivos foram alcançados, porém, a suposição analisada de que os consumidores,

em sua maioria, não conhecem o consumo colaborativo foi refutada já que a maioria dos

respondentes afirmou conhecer e já ter utilizado. E a de que os que conhecem deixam de

utilizar por insegurança foi confirmada pela resposta da maioria.

Quanto aos resultados a pesquisa, da possibilidade de pegar carona por meio de um

aplicativo, o fator segurança foi um grande empecilho já que a maioria respondeu que pegaria

apenas se conhecesse o motorista. Sobre a possibilidade de alugar a casa de alguém por meio

de um aplicativo, a maioria se mostrou disposta a considerar. O mesmo vale para a compra

em brechó online como o enjoei e o ato de pegar uma ferramenta emprestada. Com relação às

motivações, a maioria destacou os benefícios econômicos.

Os resultados mostraram que o perfil mais jovem, da faixa de 18 a 25, mostrou maior

inclinação ao uso do consumo colaborativo do que a de 26 a 33. Com relação a classe social,

quanto maior a classe, maior o conhecimento e uso do consumo colaborativo.

Em trabalhos futuros recomenda-se a utilização de amostras maiores e com mais

respondentes das faixas etárias mais altas para que a análise seja mais exploratória.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICE – QUESTIONÁRIO APLICADO

1) Qual é o seu gênero?

Feminino.

Masculino.

Outros.

2) Qual é a sua faixa etária?

18 a 25 anos.

26 a 33 anos.

34 a 41 anos.

Acima de 41 anos.

3) Qual é a sua classe social (Salário Mínimo segundo o Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística)?

Classe A (de 20 salários mínimos em diante / R$:18.740,01 ou mais)

Classe B (de 10 a 20 salários mínimos / R$:9.370,01 a R$:18.740,00)

Classe C (de 4 a 10 salários mínimos / R$:3.748,01 a R$:9.370,00)

Classe D (de 2 a 4 salários mínimos / R$:1.874,01 a R$:3.748,00)

4) Você conhece e/ou já utilizou o consumo compartilhado? Exemplos: UberPool,

Airbnb, BikeRio (bike do itaú), Netflix, coworking, Enjoei, grupos de carona, etc.

Não conheço.

Conheço, mas optei por nunca utilizar.

Conheço, nunca utilizei, mas pretendo vir a utilizar num futuro próximo.

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Conheço, já utilizei, mas não tive uma boa experiência.

Conheço, já utilizei e pretendo continuar neste tipo de consumo conforme conveniência.

5) Se você precisa ir a um lugar e tem a possibilidade de pegar carona com alguém que

está indo a um local próximo ao seu por meio de uma plataforma (Exemplos: BlaBlaCar

ou Waze Carpool) ou de um grupo de caronas. O que você faria?

Pegaria a carona apenas se a pessoa fosse da minha rede de conhecidos.

Pegaria a carona mesmo sem conhecer a pessoa.

Não aceitaria por questões de segurança.

6) Se você for viajar e pode alugar um local com segurança pelo aplicativo Airbnb. O

que você faria?

Pesquisaria no aplicativo e consideraria.

Não ficaria na casa de outra pessoa.

7) Você compraria itens no Enjoei (brechó online) ou em grupos de desapega em redes

sociais?

Sim mas ainda não fiz isso.

Já comprei e tive uma experiência ruim.

Já comprei e tive uma boa experiência.

Não compraria.

8) Se você precisar de uma furadeira, ou alguma ferramenta similar, e puder pegar uma

emprestada na sua vizinhança por um preço mínimo ou até mesmo por um custo zero. O

que faria?

Pegaria emprestada.

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Não pegaria, prefiro ter a minha ferramenta.

9) Quão provável é que você compartilhe seus bens e/ou serviços com alguém, como nas

questões anteriores, numa escala de 1 a 5 onde 1 é pouco e 5 é muito?

10) Por quais motivos você utilizaria o consumo colaborativo?

Benefícios econômicos.

Gostar de lidar com pessoas.

Promover sustentabilidade por preservar recursos naturais.

Praticar o desapego.

Para ter experiências e benefícios ao invés da posse.

11) Por quais motivos você NÃO utilizaria o consumo colaborativo?

Falta de habito.

Questões com segurança e confiança.

Outros. Quais?