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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA DEPARTAMENTO DE TURISMO CURSO DE TURISMO EDUARDA FARRAPO DA FONSECA A CRIANÇA COMO TURISTA: UM ESTUDO NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL NITERÓI 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

DEPARTAMENTO DE TURISMO

CURSO DE TURISMO

EDUARDA FARRAPO DA FONSECA

A CRIANÇA COMO TURISTA: UM ESTUDO NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

NITERÓI

2015

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EDUARDA FARRAPO DA FONSECA

A CRIANÇA COMO TURISTA: UM ESTUDO NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Turismo da

Faculdade de Turismo e Hotelaria da

Universidade Federal Fluminense como

requisito parcial para obtenção do Título

de Bacharel em Turismo.

Orientadora: Prof.ª Drª Karla Estelita

Godoy

NITERÓI

2015

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A CRIANÇA COMO TURISTA: UM ESTUDO NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

Por

EDUARDA FARRAPO DA FONSECA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Turismo da

Faculdade de Turismo e Hotelaria da

Universidade Federal Fluminense como

requisito parcial para obtenção do Título

de Bacharel em Turismo.

BANCA EXAMINADORA

Niterói, 30 de junho de 2015.

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À minha família

por ter acreditado na realização desse sonho.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me deu condições para alcançar meus objetivos, me abençoando e

colocando pessoas especiais na minha vida.

Aos meus pais, que sempre priorizaram os estudos das filhas, e pelos ensinamentos

de que o esforço vale a pena. Obrigada por todo carinho e dedicação. Eu amo

vocês!

Aos meus avós Muniz e Alaide, por todos os abraços apertados das idas e vindas

para casa, pelas comidinhas deliciosas, o colinho e as palavras de renovo para que

eu pudesse chegar até aqui!

Às minhas amadas irmãs Emanuele e Viviane Farrapo, que são exemplos para mim,

por suas palavras de incentivo e pelo suporte em todos os momentos.

Ao meu namorado, Natan Moreno, por todo amor, dedicação, compreensão e, por

ter me acompanhado em minhas idas ao MHN durante a pesquisa de campo.

À professora Karla Godoy, orientadora do presente trabalho e coordenadora do

Grupo de Pesquisa Turismo, Cultura e Sociedade (T-Cult), do qual tive a

oportunidade e o prazer de participar como pesquisadora, dando continuidade às

pesquisas. Agradeço também pelas aulas ministradas sobre Turismo, Patrimônio e

Museologia, pois despertaram um olhar mais aguçado sobre essa temática. Muito

obrigada pela experiência adquirida!

Aos professores do Departamento de Turismo que, por meio da interdisciplinaridade,

colaboraram com a minha formação acadêmica. Especialmente, à Claudia Moraes

que acompanhou minha trajetória na Universidade, sempre me aconselhando e

oferecendo diversas oportunidades, inclusive, meu primeiro estágio. À Erly Maria,

além de professora, uma pessoa muito querida. Sou muito grata por ouvir as minhas

dúvidas e por ter sido muito prestativa comigo. Obrigada por tudo! Ao Ari Fonseca

por sua gentileza e auxilio com materiais, e à Priscila Edra pelo apoio, me

confortando e incentivando a seguir em frente.

Ao Diogo Nogueira, ex-bolsista do T-Cult e atualmente Turismólogo, por ter

compartilhado os resultados da pesquisa do Grupo, que contribuíram com esse

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estudo. E, aos alunos que participaram tanto do Grupo como da disciplina

“Museologia Aplicada ao Turismo” durante o trabalho de campo.

Ao Diogo Tubbs, responsável pela Divisão Educativa do Museu Histórico Nacional,

que concedeu a entrevista para pesquisa e a toda equipe do Museu pela

prestatividade.

À Valéria Lima por toda compreensão, amizade, carinho, preocupação comigo

durante todo esse processo e pela nossa convivência diária no estágio. Incluindo a

“família” PRODETUR-RJ: Natália Soutosa por ter sido como uma irmã e ter me

ajudado nos momentos mais difíceis; Carmen Cecília pela cumplicidade que

construímos nesta etapa de nossas vidas e continuidade de uma linda amizade;

Victor William pela paciência, revisão do texto, edição das fotos, parceria e suporte;

Juliana Pereira por transmitir alegria aos que estão ao seu redor e a sensação de

que no fim tudo dá certo; Letícia Telles pela descontração proporcionada em nossa

rotina, além de ser como um exemplo de profissional; Ricardo Wyllie pela amizade,

conselhos, sensibilidade, e suas “tiradas” inteligentes, cheias de humor; Julio

Oliveira pela sua gentileza e seu jeito de ser “de bem com a vida”; e às recém-

chegadas Tatiana Oliveira e Priscila Guimarães pelo apoio e cobertura em

momentos em que precisei me ausentar do estágio para tratar de assuntos do TCC.

À Itatiana Araujo, minha amiga de infância, que sempre acreditou na minha

capacidade e torce muito pelo meu sucesso.

À Natalia Maia e família por todos os conselhos e apoio desde da época do

vestibular, quando tudo ainda parecia distante e incerto. Obrigada por todo amor e

carinho!

Aos meus amigos da faculdade: Gabriela Sousa, se não fosse o seu jeito de ser, eu

não teria começado com a escrita do trabalho; Izabel Brito pelo companheirismo e

todo carinho por mim; Nikita Chrysan por ter disponibilizado materiais; Érica Fonseca

pelo seu jeito doce e atencioso comigo; Evelyn Oliveira, amiga de coração enorme;

Izadora Montez pela sua dedicação aos amigos e sempre pronta a ajudar mesmo à

distância; Elaine Amaral, apesar de nos conhecemos da forma mais inesperada,

juntamos nossas forças e vencemos essa etapa; e Raphael Giammattey por nossa

sintonia e ajuda mútua durante nosso período acadêmico.

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“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu,

mas pensar o que ninguém ainda pensou

sobre aquilo que todo mundo vê”.

Arthur Schopenhauer

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RESUMO

O Museu Histórico Nacional é uma instituição que possui potencial para atrair públicos diversificados, dentre os quais, os turistas mirins. Dessa maneira, o presente trabalho visa identificar como se estrutura a visitação para esse público infantil. Para atender a este objetivo, optamos por fazer, ao lado da pesquisa bibliográfica, necessária para a fundamentação teórica deste estudo, uma observação assistemática, acrescida de entrevista com o responsável pela Divisão Educativa do MHN. Os resultados indicam que o setor educativo do Museu promove ações para receber grupos de escolares que o buscam como parte de programas curriculares. No entanto, ainda não possui projetos e programas que têm como foco a criança na condição de turista, que o visita como atrativo cultural de forma espontânea. Sugerimos ações que possam ser implementadas para atender a esse público de forma mais específica e mais lúdica.

Palavras chaves: Turismo Cultural. Turista mirim. Museu Histórico Nacional.

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ABSTRACT

The National Historical Museum is an institution that has the potential to attract diverse audiences, among them, the junior tourists. Hence, this paper aims to identify how to structure the visitation of these children. To meet the chosen goal, alongside the literature necessary for the theoretical basis of this study, a systematic observation is made, as well as an interview with the person responsible for the Educational Division of MHN. The results indicate that the Museum's educational sector promotes actions to receive school groups as part of curricula. However, it does not have projects and programs that focus on the junior tourist that visit the cultural attraction spontaneously. We suggest actions that can be implemented to serve this audience more specifically and more interactively.

Key words: Cultural tourism. Junior Tourist. National History Museum.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Crianças ajudadas pela entidade 19

FIGURA 2 Estúdio de design 25

FIGURA 3 Mediação no Museu com grupo de criança 26

FIGURA 4 Mapa ilustrativo para as famílias com crianças 28

FIGURA 5 Programa Sunday Studio - Crianças construindo suas obras

de arte 28

FIGURA 6 Famílias com crianças participando da atividade 29

FIGURA 7 Mediação com turistas mirins no Thyssen-Bornemisza 32

FIGURA 8 Estação da brincadeira 34

FIGURA 9 Idade dos respondentes turistas 41

FIGURA 10 Estado Civil 42

FIGURA 11 Especificação do contexto social da visita ao MHN 43

FIGURA 12 Bonecos e kits do playmobil à venda na Loja do Museu 47

FIGURA 13 Criança no colo para visualizar o acervo 48

FIGURA 14 Criança entre as cartas suspensas 49

FIGURA 15 Vitrine da exposição do Playmobil com prateleiras de alturas

diferentes 50

FIGURA 16 Criança se divertindo com os brinquedos 51

FIGURA 17 Pais lendo os painéis informativos sem interagir com as

crianças 52

FIGURA 18 Meninas em direção à TV 53

FIGURA 19 Mãe posicionando a criança para tirar foto próximo ao acervo 54

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

1 TURISMO CULTURAL E MUSEU 15

1.1. MUSEUS COMO ESPAÇOS CULTURAIS 17

1.1.1 A criança como potencial visitante 18

2 MUSEU COMO ESPAÇO LÚDICO 23

3 O MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: PANORAMA ATUAL E PERSPECTIVAS FUTURAS PARA O TURISTA MIRIM 37

3.1. O TURISTA MIRIM DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL 40

3.2. A DIVISÃO EDUCATIVA DO MHN E O TURISTA MIRIM 44

3.3. O TURISTA MIRIM E A VISITAÇÃO AO MHN 46

3.4. AÇÕES LÚDICO-EDUCATIVAS: POSSIBILIDADES 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS 57

REFERÊNCIAS 59

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INTRODUÇÃO

A temática deste estudo surgiu a partir da identificação da autora com a área

cultural, principalmente com as disciplinas afins integrantes do currículo de

graduação em Turismo e, posteriormente, com sua participação no Grupo de

Pesquisa Turismo, Cultura e Sociedade (T-Cult), coordenado pela Professora Dra.

Karla Estelita Godoy, orientadora deste trabalho. Tendo atuado como pesquisadora

nas duas etapas do Projeto Turismo e Museus, e tendo sido aluna da disciplina

optativa “Museologia Aplicada ao Turismo”, ministrada pela mesma professora, cuja

parte prática fora desenvolvida no Museu Histórico Nacional – MHN, por meio de

uma parceria entre a Universidade e o Museu, intensificaram o seu interesse para

trabalhar o tema em questão.

Os resultados de ambas as fases da pesquisa empreendida por esse Grupo

causaram estranheza à autora, devido ao baixo percentual (1,97% e 4,31 %) de

turistas que responderam afirmativamente à opção de regresso ao Museu,

acompanhados dos filhos, tendo em vista a participação da instituição no Programa

de Qualificação dos Museus para o Turismo, cujo objetivo é tornar o Museu

qualificado para públicos diversificados, incluindo o turista mirim.

Deste modo, surgiu a questão-problema deste estudo: Como ocorre a

visitação dos turistas mirins no Museu Histórico Nacional? Isto se justifica, pois o

MHN é procurado por grupos de estudantes da rede escolar pública e privada, que

ali são levados devido à relevância histórica do Museu, como também há crianças

que acompanham seus pais em visitações turísticas. Baseados nesse fato,

procuramos investigar até que ponto o MHN atende a esse público, de modo a

possuir infraestrutura e programação que trabalhem conceitos e valores ligados à

educação e à formação da identidade cultural.

Os museus a cada dia se inserem mais no segmento histórico e cultural do

turismo como atrativo procurado pelos turistas desejosos em conhecer a história e a

cultura da sociedade visitada. Já vai longe o tempo em que a visita aos museus

destinava-se a poucos intelectuais, pois o que lá existia para ser observado seria

incompreensível para outros menos letrados.

Esse relativamente recente interesse pelos museus deve-se, em parte, ao

esforço despendido para acompanhar e adequar-se às novas tecnologias e aos

meios interativos demandados pela sociedade contemporânea. Os museus

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passaram a ser espaços culturais instigantes tanto para o público adulto como para

o jovem ou a criança.

No que se refere ao visitante mirim, chamando, assim, as crianças que

visitam os museus na condição de turistas, experiências pedagógicas têm sido

realizadas tanto em nível internacional como nacional, com resultados interessantes

no envolvimento desse visitante, tendo em vista as boas práticas empreendidas,

como por exemplo, o Family Map do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque

(EUA) ou a Estação da Brincadeira, do Museu das Artes e Ofícios de Belo Horizonte

(MG).

No caso do MHN, existe a Divisão Educativa, contudo o foco de suas ações

direciona-se para grupos de escolares, não tendo como alvo a visitação realizada

por turista mirim que o procura, geralmente, acompanhado de seus familiares.

Partindo desse fato, objetivamos identificar como lá se estrutura a visitação deste

público infantil, uma vez que a criança é, normalmente, conduzida por um adulto,

que possui interesses e motivações diversos com relação ao acervo e às

exposições.

Para atender a esse objetivo, optamos por fazer, ao lado da pesquisa

bibliográfica, necessária para a fundamentação teórica deste estudo, uma

observação assistemática, acrescida de entrevista com o responsável pela Divisão

Educativa do MHN. Essa investigação descritiva permitiu verificar in loco o

desenrolar de uma visitação, observar as atitudes tanto por parte dos adultos que

acompanham a criança, como dela mesma, identificar o layout das exposições,

dentre outros aspectos que compõem a experiência vivenciada no Museu.

A revisão da literatura empreendida, somada às informações obtidas na

pesquisa de campo, permitiram estruturar este trabalho em três capítulos.

O primeiro aborda os diversos aspectos do turismo cultural, bem como os

museus como atrativo cultural, no qual podemos inserir a criança como turista.

No segundo capítulo, tratamos dos museus como espaço lúdico,

apresentando práticas bem sucedidas realizadas por instituições diversas que veem

a criança como um ator a ser inserido na experiência museal e pronta para educar-

se culturalmente.

O Museu Histórico Nacional é apresentado no terceiro capítulo, tangenciando

sua história, sua estrutura física e organizacional, discutindo resultados de

pesquisas anteriores sobre a percepção do visitante em relação ao Museu,

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analisando o desdobramento da visitação do turista mirim e propondo ações que

poderiam auxiliar o MHN na adequação de um espaço lúdico que contemplasse, de

forma mais efetiva, a necessidade e motivação da criança.

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1 TURISMO CULTURAL E MUSEU

Para Edward Tylor (1958 apud LARAIA, 2005, p. 25) cultura “é este todo

complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer

outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma

sociedade”. Tal consideração envolve aspectos da vida humana como um todo, uma

vez que podem ser representados de forma imaterial e material.

O conceito amplo de cultura abre um leque de possibilidades para se

caracterizar o turismo cultural, uma vez que este comporta muitas especificações,

associado ainda ao fato que o próprio turismo é de natureza intrincada.

O ato de fazer turismo envolve vários fatores que justificam a complexidade

desse fenômeno, tais como deslocamento/ transporte, meios de hospedagem,

alimentação, atividades recreativas, dentre outras. A Organização Mundial do

Turismo (OMT), com intuito de estabelecer um conceito de caráter oficial, definiu

turismo da seguinte maneira:

[...] atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras (OMT, 2001, p. 38).

A partir desta consideração, é importante o entendimento da classificação do

indivíduo que viaja. A OMT (2001, p. 40) define viajante como “qualquer pessoa que

viaje entre dois ou mais países ou entre duas ou mais localidades em seu país de

residência habitual” e visitante como “todos os tipos de viajantes relacionados ao

turismo”.

Por outro lado, a mesma entidade define turista como “passageiro que

permanece uma noite, pelo menos, em um meio de alojamento coletivo ou privado

do país visitado”. Já o excursionista é o “viajante que não pernoita num meio de

alojamento coletivo ou privado do país visitado” (2001, p. 40). De fato, a diferença

entre tais nomenclaturas está relacionada com a ocasião de haver ou não a

permanência em um determinado lugar em forma de pernoite, podendo influenciar

em dados estatísticos da atividade turística.

Levando em consideração o perfil dos turistas e seus anseios por novas

vivências, as estratégias de marketing, bem como as políticas de planejamento e

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gestão para os destinos turísticos são formuladas a fim de articular os melhores

critérios entre oferta (características da região, equipamentos e serviços turísticos

que atraem os visitantes) e demanda (fator comum entre os turistas reais e os que

ainda visitarão a localidade). Com o objetivo de atingir os mercados-alvo,

convencionou-se estabelecer os segmentos de turismo, tais como: cultural; negócios

e eventos; rural; sol e praia; ecoturismo; aventura; pesca; saúde; náutico; estudos; e

social (BRASIL, 2010).

Com enfoque na demanda, a segmentação é definida pela identificação de certos grupos de consumidores caracterizados a partir das suas especificidades em relação a alguns fatores que determinam suas decisões, preferências e motivações, ou seja, a partir das características e das variáveis da demanda. Os produtos e roteiros turísticos, de modo geral, são definidos com base na oferta (em relação à demanda), de modo a caracterizar segmentos ou tipos de turismo específicos (BRASIL, 2014, p. 3).

Vale lembrar que, conforme a necessidade de consumir produtos cada vez

mais diversificados, outros segmentos de turismo podem surgir. Logo, tais

classificações existem por uma questão mercadológica, mas isso não implica que

um indivíduo que esteja praticando turismo de aventura não possa visitar uma feira

de eventos ou outra atividade que não esteja diretamente relacionada à principal.

Deste modo, o turista pode encontrar condições favoráveis para desfrutar de dois ou

mais segmentos em uma mesma viagem. Sendo assim, podemos notar as opções

existentes para que os turistas possam satisfazer a procura por novos

conhecimentos e experiências memoráveis.

Com base em informações obtidas na página oficial do Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2015), os bens culturais imateriais são as

práticas e domínios da vida social manifestada em saberes, ofícios e modos de

fazer, celebrações, formas de expressões cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas.

No que tange aos bens materiais, segundo a mesma fonte, estes podem ser

caracterizados como núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos, coleções

arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos entre outros.

Nessa perspectiva, o turista em contato com a localidade visitada tem a

possibilidade de construir uma troca cultural a partir do conhecimento que está

sendo adquirido. De fato, o conjunto desses elementos culturais materiais e

imateriais despertam interesses nos turistas e compõem o Turismo Cultural, que –

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[...] compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura (BRASIL, 2014, p.13).

Dentre os diversos componentes desse segmento, incluindo tanto os bens

culturais quanto as atividades turísticas, existem os museus, que podem ser

considerados atrativos culturais.

1.1 MUSEUS COMO ESPAÇOS CULTURAIS

Suano (1986, p.10) se refere a museu como “coleção de espécimes de

qualquer tipo e está, em teoria, ligado com a educação ou diversão de qualquer

pessoa que queira visitá-la”. Partindo desse pressuposto, podemos perceber a

relação entre turismo, cultura e educação, e ter em vista que os museus podem ser

locais de fruição e aprendizado para o público em geral e também para o infantil.

De acordo com o Conselho Internacional de Museus (ICOM, 2015), as

instituições museológicas têm como funções adquirir, conservar, investigar, difundir

e expor os testemunhos materiais do homem. Dessa maneira, o público tem a

oportunidade de estar próximo às exposições e, por meio de experiências

sensoriais, refletir sobre a memória individual e coletiva.

Dada a complexidade cultural abarcada pelos museus, ele é alvo de muitas

demandas por parte de seus visitantes, que apresentam diversas expectativas a

cada visita, uma vez que, de certa maneira, ele é o guardião da cultura e da história,

além de ainda exercer um papel educativo e fazer a mediação entre o homem e o

mundo que o cerca.

Os museus, de forma geral, têm acompanhado as revoluções tecnológicas

presentes neste século e deixaram de ter, como afirma Godoy (2010, p. 200) uma

“visão reducionista de que ‘é um lugar que guarda coisas velhas’ e que deveriam

‘modernizar-se’ só para atender a um público cada vez mais heterogêneo e

apressado”.

Uma das funções do museu é a educação patrimonial e tendo em vista a

heterogeneidade do público, como observa Godoy (2010), deve se iniciar na

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infância, a fim de que o entendimento correto de respeito aos bens patrimoniais seja

um valor importante na formação da identidade cultural.

Nesse aspecto, os museus devem passar a considerar a presença do público

infantil em suas exposições e procurar propiciar uma educação patrimonial que seja

adequada ao seu nível de entendimento e que lhe desperte o gosto de frequentar

esse espaço, ao mesmo tempo em que trabalha novos conceitos, conhecimentos e

valores.

1.1.1 A criança como potencial visitante

Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2015, sp.), encontramos alguns

significados da palavra criança relacionados com menino ou menina no período da

infância; cria; criação e educação.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), regido pela Lei nº 8.069/90,

dispõe sobre a proteção integral a essa faixa etária. De acordo com o Art. 2º,

“considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 anos de idade

incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade” (BRASIL, 2012,

p.12). Outro ponto que podemos considerar é a associação de alguns termos

utilizados em instituições, jornais, artigos e revistas, como por exemplo, mirim,

infantil, menor e infanto-juvenil.

Com a intenção de garantir e legitimar os direitos, foram implementadas

outras medidas de apoio e proteção às crianças. Assim, no ano de 1919, foi criada

por Eglantyne Jebb e sua irmã Dorothy Buxton a primeira entidade internacional -

Save the Children (Salvem as Crianças) cujo objetivo era conseguir fundos para

cuidar e dar suporte as crianças que sofreram as consequências da Primeira Guerra

Mundial. Nos anos seguintes, a missão foi difundir no mundo esta iniciativa por meio

de projetos de pesquisa e direitos infantis como, alimentação, vestimenta e

educação, como podemos observar na figura 1(SAVE THE CHILDREN, 2014).

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Figura 1: Crianças ajudadas pela entidade. Fonte: Save the Children, 2014.

Frente a esse contexto, na página da web Promenino (PROMENINO, 2014),

existem informações sobre a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em

1945, com a finalidade de conservar a paz, segurança e progresso dos países. Com

isso, foram declarados os Direitos Humanos e a partir destes expandiram-se

aplicações para o público infantil. Sendo assim, em 1959, a Assembleia Geral das

Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos da Criança com adoção de dez

princípios que garantem às crianças a titularidade de direitos, dentre os quais o

direito ao nome, nacionalidade, benefícios da previdência social, educação

fundamental e média gratuitas, oportunidades de brincadeiras e diversões, dentre

outros.

Cabe considerarmos que essas deliberações legislativas pretendem garantir

uma infância com condições adequadas para o desenvolvimento das capacidades

da criança, e por sua vez, contribuem para que ela seja preparada para o futuro.

Conforme o Princípio 2:

A criança gozará proteção social e ser-lhe-ão proporcionadas oportunidades e facilidades, por lei e por outros meios, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social de forma sadia e normal e em condições de liberdade e dignidade. Na instituição das leis visando este objetivo levar-se-ão em conta sobretudo, os melhores interesses da criança” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2014).

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Em consonância com esses valores, é relevante a incorporação da análise do

processo de construção do saber infantil. Para Jean Piaget (1969 apud ARANHA;

MARTINS, 1993), não nascemos com inteligência e aspectos relacionados com a

razão, afetividade e moral vão sendo construídos gradativamente em conformidade

com as fases da infância. O referido teórico se baseia na teoria chamada de

construtivismo, uma vez que o entendimento da criança frente ao mundo é

estruturado de dentro para fora, isto é, uma ação de percepção que ocorre

naturalmente e não de forma imposta.

O estudo piagetiano foi elaborado por meio de observações e experiências

vivenciadas na cidade de Genebra, na Suíça, tendo como referência crianças de

várias idades, para descrever os estágios de desenvolvimento mental, dividindo-os

em quatro períodos: sensório-motor (de zero a dois anos – reconhece o mundo com

as sensações e os movimentos); intuitivo ou simbólico (entre dois aos sete anos – a

lógica começa fazer parte do contexto da criança com o uso de símbolos);

operações concretas (a partir de sete a doze anos – fase de internalização dos fatos

ocorridos no dia a dia) e operações formais (acima de doze anos – condição mais

autônoma com capacidade para reflexão e resposta ao condicionamento de regras)

(PIAGET, 1968 apud ARANHA: MARTINS, 1993).

De modo geral, a criança vai evoluindo ao longo da vida à medida que suas

habilidades vão sendo aprimoradas em função das práticas e experiências de

aprendizado, como jogos educativos, relações interpessoais, conhecimentos

escolares, entre outros. Dessa maneira, vemos a necessidade de motivar e oferecer

meios para que ela construa seu senso crítico, pois assim terá um raciocínio lógico e

apto para discernir sobre o mundo em que vive.

Nesse processo de construção, segundo o Artigo 277 da Constituição Federal

de 1988, a criança necessita de uma base para a sua formação que será produto do

trabalho conjunto entre a família, sociedade e poder público.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 2015).

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Como podemos perceber, o documento prevê o direito à educação, que

abrange os aspectos formal e não-formal, de acordo com Gadotti:

A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos ministérios da educação. A educação-não formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de aprendizagem (2005, p. 2) (grifos do autor).

Na prática, o que diferencia essas duas formas de educação são as

metodologias aplicadas bem como o meio em que ocorrem. Gohn (2006, p. 2)

explica que a finalidade da educação não-formal “é abrir janelas de conhecimento

sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Seus objetivos

não são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um

processo educativo”. A mesma autora ressalta ainda que esse processo não-formal

utiliza aspectos da Pedagogia Social, como, por exemplo, a ideia de coletividade no

processo de desenvolvimento e aprendizado de saberes sociais.

Na atualidade, existem diversas formas de atuação da educação não-formal e

dentre elas podemos citar a visitação a museus. De acordo com a Lei nº 11.904, de

14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto de Museus, esses espaços são

definidos como:

[...] instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico e técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. (IBRAM, 2009, p. 2).

Segundo Gadotti (1991), esses espaços culturais não estão inseridos nos

padrões regulares do ensino escolar, uma vez que podem realizar múltiplas ações

de experiências, cujo intuito educacional é fazer uma abordagem de comunicação

social com procedimentos educativos. Assim, podemos enfatizar a relevância do

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ambiente do museu, tendo como base as suas atribuições e benefícios para a

sociedade.

Podemos inferir, portanto, que no caso de visitações de crianças, são

necessárias intervenções para que elas sejam incentivadas a interagir com o novo

mundo de possibilidades, visto que a função pedagógica se insere dentre as

finalidades socioculturais dos museus. Almeida (1997, p. 50) acrescenta que “a ação

educativa em museus visa ampliar as possibilidades de aproveitamento pedagógico

dos acervos, para que o visitante acentue seu espírito crítico em relação à sua

realidade e daqueles que estão à sua volta”.

Suano (1986) relata que no período de transição entre os séculos XVII e XVIII

alguns pensadores foram perseguidos pela inquisição, pois suas ideias relacionadas

à educação não estavam de acordo com os padrões propostos pela escolástica

jesuíta oficial, que possuía um método de ensino rígido e sistema de memorização.

Como exemplo deste fato, a obra intitulada A cidade do Sol escrita pelo filósofo

Tommaso Campanella, traz reflexões a respeito de que “nesta utópica cidade,

haveria um mouseion1 bem diferente do modelo da época. Ele seria uma

revolucionária sede do pensamento científico, sem paredes, onde as crianças

aprenderiam brincando todas as ciências e artes” (SUANO, 1986, p.25).

Em conformidade com o exposto, podemos perceber que naquele momento

histórico já existia um pensamento muito avançado para a época sobre a inserção

das crianças no espaço museal, de forma lúdica, para além dos métodos rígidos de

aprendizado estabelecidos.

1 Na Grécia, o mouseion, ou casa das musas, era uma mistura de templo e instituição de pesquisa,

voltado, sobretudo, para o saber filosófico (SUANO, 1986, p.10)

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2 MUSEU COMO ESPAÇO LÚDICO

O museu é um local de aprendizado lúdico para as crianças, que assim como

os adultos, fazem turismo. Para efeitos do presente trabalho, trataremos deste

público como turistas mirins. Moliterno e Zago (2010 apud BONIFÁCIO, 2012)

afirmam que a prática do turismo é vista por muitos pais como uma oportunidade de

lazer e aprendizado. Eles veem a viagem como uma experiência construtiva na

infância dos filhos.

Bonifácio (2012) em Trabalho de Conclusão de Curso, defendido junto ao

Departamento de Turismo da UFF, buscou analisar o olhar da criança sobre as

atividades turísticas locais, bem como suas percepções e motivações sobre os

destinos turísticos. Para coletar os dados, utilizou os métodos de pesquisa

qualitativa, investigando crianças do 5º ano do ensino fundamental de uma escola

particular de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Para Bonifácio (2012), a criança influencia na decisão da viagem e dos

atrativos a serem visitados. Além disso, percebem quais os lugares apresentam mais

condições para se divertir e adquirir experiências. Assim, podemos observar a

criança assumindo seu papel de turista e, de certa forma, demonstrando seus

desejos e preferências. A autora frisa a falta de estudos sobre a temática, indicando

que gestores e planejadores públicos e privados poderiam direcionar suas ações de

forma mais efetiva para esse público.

Devemos ponderar, entretanto, que para crianças e adolescentes realizarem

viagens nacionais e internacionais, é necessário seguir as recomendações do

Estatuto da Criança e do Adolescente, artigos 83 e 84:

Art.83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da Comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável se a criança ou adolescente: I – estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; II – viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida (BRASIL, 1990, p. 50- 51).

A documentação legal é fundamental para garantir a segurança de crianças e

adolescentes, tendo em vista a necessidade de cuidados durante uma viagem, tanto

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do responsável, como para a criança que viaja. Dessa maneira é preciso um olhar

mais atento direcionado a essa faixa etária, visto que demanda mais atenção por

diferentes aspectos, tais como, perigos presentes no ambiente, possibilidade de se

perder, acidentes, entre outros.

Vale ressaltar que o artigo 83 está garantindo o cuidado à criança que viaja

sozinha, isto é, sem um responsável legal, sendo necessária uma autorização

judicial para que ela possa ter liberdade para viajar. Isso possibilita um tipo de

turismo, denominado por Kushano (2008) de infantil, como sendo uma adequação

às necessidades e características desse público, por meio de atividades a serem

desenvolvidas pelas crianças e para as crianças, como por exemplo, acampamento

de férias, viagens aos parques temáticos, resorts e turismo pedagógico.

[...] é o turismo praticado por crianças e planejado para crianças em que há supervisão de adultos, como também a adequação de produtos e serviços para atender a criança com qualidade e segurança, proporcionando a ela atratividade, conforto e desenvolvimento pessoal (KUSHANO, 2008, p. 77).

Com isso, a atividade turística também deve ser planejada e organizada para

esse público, e se tratando das diversas atividades possíveis em uma viagem, existe

a visitação a espaços culturais, entre os quais, os museus. Com respeito à tipologia,

podemos classificá-los como etnográficos, de ciência e tecnologia, de arte,

históricos, de arqueologia ou temáticos, tais como Museu do Futebol, em São Paulo

(SP), Museu de Valores do Banco Central, localizado em Brasília (DF), Museu

Aeroespacial, no Rio de Janeiro (RJ) e o Brooklyn Children’s Museum, situado em

Nova Iorque (EUA).

Segundo o site da instituição, Brooklyn Children’s Museum (2014), este foi o

primeiro museu das crianças, inaugurado nos Estados Unidos, em 1899, e tem como

missão envolver ativamente as crianças em experiências educacionais e de

entretenimento por meio da inovação e excelência nas exposições, programas e o

uso da coleção museológica. O museu incentiva crianças a desenvolverem

compreensão e respeito por elas mesmas e pelos outros, bem como pelo mundo

que as rodeia ao explorarem outras culturas, as artes, ciência e meio ambiente

(BROKLYN CHILDREN’S MUSEUM, 2014, em tradução livre da autora).

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Como aponta Valença (2008, p. 12), “esse tipo de museu desenvolve suas

atividades através do uso de uma metodologia dinâmica: as exposições interativas

que respeitam as características das crianças, ou seja, sua curiosidade, sua vontade

de descobrir e explorar”. Para tanto, estes atrativos devem dispor de recursos

específicos para interagir com o meio. Por exemplo, a forma como a exposição for

montada, o tipo de legenda, a existência de áudio e objetos para que a criança

manuseie. De fato, aparatos com os quais o aprendizado será facilitado.

É deste modo que o Brooklyn Children’s Museum se apresenta com toda uma

estrutura voltada para o público infantil, como por exemplo, um estúdio de design

onde a criança pode explorar o que é ser um arquiteto, designer e engenheiro (figura

2).

Além disso, existe a oferta de mediação com agendamento prévio de grupos

com dez ou mais crianças interessadas em visitar o local, algo que demonstra uma

ação diferenciada por parte dos gestores em relação à experiência do visitante

(figura 3). Ademais, há um espaço denominado Kids Coffee o qual permite que as

famílias, em um momento de pausa da visitação, façam lanches nas mediações do

museu, gerando mais comodidade e propiciando momentos de troca de

conhecimentos adquiridos na visita.

Figura 2: Estúdio de design.

Fonte: Brooklyn Children’s Museum, 2014.

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Figura 3: Mediação no museu com grupo de criança. Fonte: Brooklyn Children’s Museum, 2014.

No Brasil existe o Museu dos Brinquedos, uma casa que é patrimônio histórico

da cidade de Belo Horizonte (MG), inaugurada em 2006. Sua história começou com

Luiza de Azevedo Meyer, que tinha uma visão diferenciada a respeito dos

brinquedos, e assim guardou os seus, dos seus filhos e netos. Ela fazia exposições

em vários lugares, tais como, galerias de arte, shoppings, entre outros. Com o

tempo, por meio de pesquisas e aquisição de outros brinquedos, o projeto foi

crescendo e após a sua morte, foi criado o Instituto Cultural Luisa Azevedo Meyer e

posteriormente virou museu com um acervo de 5 mil brinquedos, contendo 800 de

diferentes nacionalidades (MUSEU DOS BRINQUEDOS, 2015).

O espaço possui uma ação educativa com programações permanente e

temporária, como por exemplo, “Anos 80 de volta ao Museu dos Brinquedos”, uma

oportunidade para pais e filhos compartilharem esse momento de estar em contato

com os brinquedos dessa época. Vale destacar que é possível fazer o download no

site da instituição de arquivos direcionados para educadores, com apresentação

sobre as exposições, ações e metodologias do trabalho, bem como objetivos e

resultados esperados com a visitação (MUSEU DOS BRINQUEDOS, 2015).

De modo geral, trata-se de um ambiente que oferece atividades para crianças,

como oficina de construção de brinquedos com materiais recicláveis, contação de

história introduzindo as crianças ao universo dos brinquedos, da fabricação até o

contexto histórico, legoteca e sala de leitura, que possibilita maior contato com

brincadeiras e jogos tradicionais, como pular corda, corrida-de-saco, entre outros. É

então, “um museu para quem já foi criança e fez da boneca a melhor amiga, da bola

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de gude, a melhor conquista, de cada jogo uma aventura”, como define sua página

da internet (MUSEU DOS BRINQUEDOS, 2015).

Diante desse panorama, o mundo infantil abarca elementos como fantasia e

imaginação e tais características devem ser exploradas pelos gestores com

programas atrativos para esse público. Vale citar que podemos considerar o tempo

de visitação da criança diferentemente ao do adulto, visto que a criança não

necessariamente terá interesse pelas mesmas coisas. Outro fator relevante é a

cognição2, que por sua vez versa sobre o ato ou processo de conhecer, envolvendo

atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem

e ação. Desse modo, a presença da criança no museu pode contribuir com seu

processo de construção, por meio da associação dos objetos ao que está sendo

exposto. Para Horta (1984 apud ALMEIDA, 1997, p. 55) “O nível de percepção e de

motivação será tanto maior quanto for o apelo à sensibilidade da criança e quanto

maior for o grau de seu envolvimento afetivo”.

Considerando que o foco deste trabalho é a visitação do turista mirim,

acompanhado de sua família e/ou parentes e assim, não incluindo as visitas com

grupos escolares, iremos observar as experiências das crianças e as possíveis

influências das boas práticas em museus de alguns países.

O Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, segundo informações da

página do museu na internet, abriga um acervo com mais de dois milhões de obras,

entre as quais de Van Gogh, Picasso e Renoir. Na mesma página é possível fazer o

agendamento prévio de visita guiada para diferentes tipos de público como adultos,

universitários, turistas e crianças (METROPOLITAN, 2014).

Tratando-se do universo infantil, a instituição disponibiliza um family map

(figura 4) nas versões impressa e online, com possibilidade de download no próprio

site. É um material ilustrativo que contém frases instrutivas com vista ao estímulo à

visitação, elaborado para as famílias que levam seus filhos ao museu. Com intuito

de exemplificar, as frases educativas não são impositivas, mas apresentadas de

forma hospitaleira como se estivessem dialogando com o público, tais como, “você

não precisa visualizar tudo em um dia, você pode visitar o museu várias vezes”,

“obrigado por não comer nas galerias”, “imagine-se em outro tempo e espaço” e

“explore, aprenda e divirta-se” 3(METROPOLITAN, 2014).

2 Dicionário InFormal, disponível em endereço eletrônico. Acesso em 24 abr. de 2015.

3 Tradução livre da autora.

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Figura 4: Mapa ilustrativo para as famílias com crianças. Fonte: Met Museum, 2014.

O museu organiza programas para famílias com crianças de todas as idades

(figura 5). De certa forma, isto pode facilitar a escolha dos pais referente ao tipo de

informação condizente com o grau de entendimento e adequação ao conteúdo por

faixa etária. Um dos programas é o Sunday Studio, no qual é possível ter a

experiência de criar obras de artes com diferentes materiais e técnicas auxiliadas

por artistas. As crianças interagem entre si e os pais podem acompanhar e

incentivar o desenvolvimento da criatividade. Vale citar que é gratuito para crianças

menores de 12 anos e, aqueles que quiserem desfrutar ainda mais do lugar, podem

participar do Family Tour – uma visita guiada pelas galerias de arte

(METROPOLITAN, 2014).

Figura 5: Programa Sunday Studio- Crianças construindo suas obras de arte. Fonte: Met Museum, 2014.

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A instituição também organiza suas ações para crianças e adolescentes com

deficiências visuais entre cinco e 17 anos, cujo intuito é inserir e apresentar o mundo

das artes. Dessa forma, realiza oficinas gratuitas com reservas antecipadas, que

permitem ao visitante explorar algumas obras de maneira descritiva, utilizando o tato

e diversos meios que despertem o uso de outros sentidos. É um momento de

descoberta e liberdade de criação e todos os trabalhos manuais podem ser levados

para casa. Assim, podemos perceber aspectos de valorização da criança e incentivo

à imaginação, pois mesmo com uma limitação física não há o impedimento de ter

acesso às possibilidades de adquirir conhecimento (METROPOLITAN, 2014).

Outro programa é o Storytime in Nolen Library – Hora da história na Biblioteca

Nolen (figura. 6), um espaço reservado para contar histórias com imagens para o

público entre 18 meses a 6 anos. As crianças podem cantar e se divertir com suas

famílias em um ambiente lúdico, que propicia o desenvolvimento da imaginação.

Ademais, é possível continuar a atividade fazendo uma visita, com a proposta de

uma aventura. Uma espécie de caça autoguiada pelas galerias. O programa

disponibiliza dois horários, um na parte da manhã e outro à tarde, sendo que o

primeiro é direcionado às crianças até os três anos (METROPOLITAN, 2014).

Figura 6: Famílias com crianças participando da atividade. Fonte: Met Museum, 2014.

O British Museum localiza-se em Londres e foi fundado em 1753, sendo o

primeiro museu público nacional no mundo e, até os dias atuais, mantém a entrada

gratuita para todos os visitantes. O museu funciona todos os dias e realiza eventos

familiares mensalmente, com oficinas digitais cada fim de semana. Nesse caso, a

oficina Teatro de Sombras, que aborda a temática da antiga tradição japonesa por

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meio de um software, em que as crianças maiores de sete anos podem criar

marionetes e dar vida aos seus personagens, gravando vozes e fazendo um vídeo

(BRITISH, 2014).

A instituição sugere alguns objetos das galerias que podem ser descobertos

pelas famílias com crianças e indica no seu site onde as peças estão situadas no

museu. Além disso, seções táteis com mesas Hands On, que permitem que o

visitante toque nos objetos da coleção. O local dispõe ainda de uma equipe de

voluntários capacitados para acompanhar a atividade e responder as possíveis

perguntas (BRITISH, 2014).

Um dos serviços de destaque do museu é um guia multimídia infantil em

vários idiomas, com o qual o visitante pode criar seu próprio itinerário ou utilizar os

sete roteiros sugeridos. Existe ainda, a possibilidade de ouvir comentários sobre as

obras, visualizar imagens e jogos interativos. O aparato tecnológico pode ser

reservado pelo site da instituição ou retirado no local mediante ao pagamento. Tais

fatores, de certa forma, podem motivar o interesse das crianças em descobrir e

explorar o acervo (BRITISH, 2014).

Na cidade de Madri, na Espanha, o museu Thyssen – Bornemisza abriga em

sua coleção obras dos principais períodos artísticos: Renascimento, Barroco, artes

dos séculos XIX e XX até ao Pop Art. Com intuito de receber públicos diversos e

compreendendo que cada pessoa tem uma visão particular do que é um museu, o

setor educativo – Educa Thyssen gerencia atividades para grupos escolares, jovens,

adultos, universitários e famílias com crianças (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Os gestores da instituição compreendem que o museu dispõe de uma

atmosfera educativa e que isto facilita as possibilidades para explorar diferentes

formas de educar, sendo impulsionados a inovar cada vez mais. Uma das missões é

permitir a qualquer pessoa a percepção do museu, desmitificando a ideia de que é

um local apenas para os indivíduos da área cultural e/ou com formação elevada

(THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Considerando que algumas pessoas podem não ter tido fácil acesso ao

mundo da arte ou tenham vivenciado experiências anteriores negativas, suas ações

oferecem múltiplas atividades para atrair todos os públicos a fim de tornar o espaço

mais acolhedor. Dessa maneira, pretendem contribuir com o enriquecimento dos

indivíduos a partir da compreensão da arte e da prática criativa (THYSSEN-

BORNEMISZA, 2014).

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Com isso, os projetos são elaborados de acordo com a linha educativa do

setor, mas apresentados de forma flexível e adaptados às atividades realizadas com

cada grupo específico. Assim, tais intervenções visam valorizar o instante de troca

de conhecimento entre educador e educando (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Direcionado ao público infantil, a instituição dispõe de oficinas para os pais ou

familiares com crianças. São atividades nos finais de semana para a faixa etária

entre três e doze anos com duração aproximadamente de duas horas e meia. Trata-

se de um programa que inclui uma experiência lúdica tanto para os adultos quanto

para as crianças, pois eles interagem criando suas próprias obras de artes. A

visitação possui vários itinerários e permite que eles aprendam a observar os

quadros de maneira divertida (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Existem oficinas para idades específicas, tais como de três a cinco anos e

seis a doze anos. São atividades que selecionam um objeto para ser o ponto de

partida cujo intuito é a reflexão de diferentes costumes. Além disso, trabalham com

cores e outros recursos que contribuem com a imaginação artística (THYSSEN-

BORNEMISZA, 2014).

Para que todas essas propostas alcancem o objetivo esperado, o museu

disponibiliza uma espécie de manual com orientações para as famílias de como

procederem antes, durante e depois da visita. Instruções para perguntarem as

crianças o que elas gostariam de ver no local a fim de descobrir suas intenções e

escolherem quais coleções visitar, fazer a opção pelas oficinas lúdicas ou até

mesmo criarem seus próprios percursos (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Com o objetivo de despertar interesse e também se for a primeira visita,

devemos explicar à criança o que será apresentado no local. O material sugere que

os adultos estejam disponíveis e pacientes para as perguntas e opiniões da criança

bem como motivá-la com histórias e jogos. Durante a atividade é sugerido que use

roupas confortáveis e que os adultos possam permitir o tempo necessário para a

observação das obras, mas levem em consideração que a visita não deve passar de

uma hora (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Se for o caso, a visita pode ser interrompida com uma pausa se for percebido

algum tipo de cansaço por parte da criança. Também é instruído que haja um

diálogo para ter conhecimento do que ela mais gostou e descobrir o que gostaria de

fazer em uma próxima visita. Por fim, as famílias podem enviar sugestões para o

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setor educativo, bem como os trabalhos feitos pelas crianças para serem publicados

na página online do museu (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Tendo em vista a aproximação entre museus e turismo, a instituição

disponibiliza um canal de turismo para que os gestores do setor façam um cadastro.

Estes são representados pelos hotéis, agências de viagem e operadoras turísticas

que recebem folhetos com informações do lugar e fazem a interface entre o museu e

o visitante (THYSSEN-BORNEMISZA, 2014).

Segundo Priscila Guilayn, em reportagem publicada no dia 26 de maio de

2014, no caderno Boa Viagem, do jornal O Globo, o museu direcionou suas ações

para turistas que viajam com crianças de seis a 12 anos. Durante a visita, de

duração de uma hora e quinze minutos, existe um profissional que faz a mediação

de acordo com o tema proposto – “A cidade” e vai despertando a atenção das

crianças para os quadros e destacando as mudanças que ocorreram nas cidades

durante o século XIII ao XX, tais como, a urbanização, os meios de transporte, as

estações do ano representadas nas vestimentas das pessoas e na natureza (figura.

7). Mais uma vez percebemos o interesse de inserir e dar condições para que a

criança conheça o mundo das artes, aprenda a admirar os quadros e desenvolva o

desejo de frequentar museus (GUILAYN, 2014).

Figura 7: Mediação com turistas mirins no Thyssen-Bornemisza. Fonte: O Globo, 2014.

Já no Brasil, o Museu do Futebol localizado no Estádio Municipal Paulo

Machado de Carvalho, em São Paulo, oferece uma proposta de interatividade para o

visitante, além de um simulador de pênalti e um acervo que conta a história do

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esporte e dos jogadores. As visitas podem ser mediadas pelos educadores que

fazem a relação entre futebol e a sociedade, envolvendo os aspectos históricos e

culturais (MUSEU DO FUTEBOL, 2014).

O local está promovendo uma oficina de criação, Futebol – arte da ponta dos

dedos, que será conduzida para um trabalho de produção artística por meio do

telefone celular com fotos, poesias e vídeos. Isto demonstra o uso de recursos

tecnológicos como ferramentas, na tentativa de atrair tanto adultos quanto crianças,

considerando que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE os celulares estão cada vez mais sendo utilizados por brasileiros acima dos

dez anos de idade (G1, 2014).

Na mesma cidade, o Museu da Língua Portuguesa também utiliza a

tecnologia nas suas exposições com mesas interativas e totens, que facilitam que o

visitante brinque com as palavras. Ademais, o local possui uma sala de

apresentações na qual os poemas são recitados em voz alta, caracterizando o fator

humano (MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2014).

No dia 12 de outubro de 2014 o museu realizou uma programação especial

gratuita para o Dia das Crianças. As atividades incluíam leitura de histórias em um

espaço reservado com livros e poemas, cujo foco era o estímulo aos pais ou

familiares pela prática de ler para as crianças. Outra proposta para a diversão foi o

jogo que simulava um piquenique com palavras e as crianças poderiam aprender a

origem dos nomes dos alimentos utilizados na cultura brasileira (MUSEU DA

LÍNGUA PORTUGUESA, 2014).

De maneira lúdica, os educadores fizeram um desafio para que os visitantes

falassem os trava-línguas corretamente e descobrissem as curiosidades da língua

portuguesa. O interessante do programa foi permitir que os adultos e as crianças

interagissem e não apenas tornar as ações exclusivas para o público infantil

(MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2014).

Instalado na Estação Ferroviária Central de Belo Horizonte, o Museu de Artes

e Ofícios representa a história do trabalhador e sua evolução por meio de objetos e

utensílios de trabalho no período pré – industrial brasileiro. No espaço, o visitante

vivencia a experiência de descobrir como os profissionais desenvolviam suas

funções trabalhistas e podem expressar o aprendizado com desenhos, pinturas,

música e até mesmo esculturas (MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS, 2014).

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A ação Educativa promove a Estação da Brincadeira, que é uma atividade

nas férias de janeiro e julho para crianças, jovens e adultos. A cada ano o programa

é repensado e promove atrações com contadores de histórias, oficinas de artes e

palhaços que conduzem as brincadeiras pelas galerias (figura 8). Após toda

diversão, os visitantes recebem uma surpresa como uma recordação de um dia

prazeroso de trocas e possibilidades de aprendizado (MUSEU DE ARTES E

OFÍCIOS, 2014).

Figura 8: Estação da brincadeira. Fonte: Museu de Artes e Ofícios, 2014.

Assim como boas experiências, as insatisfatórias infelizmente também

acontecem nos museus. Como o caso de um menino de dois anos, filho da escritora

Dea Birkett, que relatou no jornal inglês The Guardian na sua coluna Travelling with

Kids (Viajando com crianças), o despreparo da equipe de segurança que a expulsou

com seu filho após os gritos de espanto da criança ao ver a figura de Homem-Águia

da exposição Astecas no Royal Academy of Arts, em Londres (REPROGRAME,

2012).

Com a publicação do ocorrido, o jornal recebeu vários relatos de famílias

insatisfeitas com a receptividade nos museus e galerias da Grã-Bretanha. Com isso,

surgiu a iniciativa de tornar esses espaços mais acolhedores com a criação do

manifesto Kids in Museums (Crianças nos Museus), tendo Birkett como diretora.

Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, composta por patronos,

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funcionários e voluntários que visam orientar as instituições a fim de propiciar visitas

agradáveis ao público (REPROGRAME, 2012).

O manifesto é um documento que foi elaborado após análise dos comentários

dos visitantes e é composto pelas 20 sugestões a seguir:

Conte histórias juntos das crianças e das famílias; seja acolhedor e cumprimente cada visitante; jogue o jogo das gerações; convide adolescentes para fazer parte da sua turma; tenha atividades, eventos e pacote de ingressos flexíveis; atinja outras esferas; crie um lugar seguro para as crianças e famílias; seja o coração da sua comunidade; não diga “sssshhhhh!”; diga “toque, por favor”, sempre que puder; ajude adultos, assim como crianças; preste atenção nas alturas e na linguagem; aproveite ao máximo seus espaços internos e externo; leve em consideração as diferentes necessidades das famílias; assegure-se de que todos estão confortáveis; providencie comida saudável e a um custo razoável, além de bebedouros; venda itens que não sejam muitos caros na sua loja; tome conta de seu site (mantendo atualizado); utilize mídias sociais para dialogar com as famílias e; faça a visita durar (REPROGRAME, 2012, p.104-106).

Existe no site um espaço reservado para preenchimento de uma ficha

cadastral e atualmente 550 museus já se cadastraram para receber suporte dos

profissionais envolvidos. A equipe faz uma premiação anual do museu que melhor

adequa suas ações para o público em questão com auxílio de juízes – famílias que

voluntariamente fazem seus cadastros para visitar e avaliar de forma secreta os

lugares de acordo com os itens do manifesto (KIDS IN MUSEUMS, 2014).

No ano de 2014 foram selecionados seis museus e o vencedor foi o National

Maritime Museum Cornwall, um museu que conta a importância do mar no processo

de construção da história da Grã-Bretanha. Vale citar que Dan Neve, um dos

patronos, afirma que um futuro melhor poderia ser imaginado a partir das

inspirações de jovens frequentadores de museus e estes, deveriam se apropriar do

potencial que possuem (KIDS IN MUSEUMS, 2014).

Como resultados destas ações, vemos a importância da educação cultural

tendo em vista que as crianças de hoje representam as gerações futuras. Diante

disso, dependendo da maneira como a experiência e a relação da criança com o

museu se desenvolvem, o futuro adulto terá um olhar diferenciado em relação a

esse atrativo cultural, entendendo-o como um espaço que pode gerar aprendizado

de diversas formas.

Cabe observarmos que as instituições voltadas para o público infantil podem

servir de referencial para que outros museus se adequem ao uso desses recursos

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didáticos, inclusive o MHN. Neste sentido, devem adequar-se a uma linguagem que

seja mais acessível às crianças e permitir o aprendizado de forma lúdica,

contribuindo com o desenvolvimento sociocultural e sua percepção a respeito dos

museus.

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3 O MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: PANORAMA ATUAL E PERSPECTIVAS

FUTURAS PARA O TURISTA MIRIM

O Museu Histórico Nacional foi criado em 1922 pelo presidente Epitácio

Pessoa. A instituição foi originada a partir do conjunto arquitetônico iniciado pelos

portugueses, em 1603, com a construção da Fortaleza de Santiago, na Ponta do

Calabouço, sendo estrategicamente um local de defesa da cidade do Rio de Janeiro

(MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, 2015).

Uma das edificações é a Casa do Trem, construída em 1762, cujo objetivo era

a guarda do “trem de artilharia”, isto é, os materiais bélicos utilizados para

salvaguarda. De acordo com Angela Cardoso Guedes, Assessora de Comunicação

do Museu (GUEDES, 2010), após alguns anos esse espaço foi sede da Academia

Militar – primeira instituição brasileira de ensino superior, e posteriormente a primeira

escola de engenharia do país.

Outra construção de destaque é o Arsenal de Guerra (1764) – Arsenal Real

do Exército, que produzia armamento para as tropas da corte portuguesa. Após sua

transferência para a Ponta do Caju, o espaço que abrigava o antigo arsenal foi

adaptado, decorado segundo os padrões da arquitetura neocolonial e transformado

em Palácio das Grandes Indústrias. Ademais, a região onde era situado passou por

algumas transformações urbanas cujo intuito era receber a “Exposição Internacional

comemorativa do Centenário da Independência do Brasil” (GUEDES, 2010, p.132).

Dessa maneira, o Palácio foi utilizado como pavilhão para a exposição, e por

meio de uma deliberação do então presidente do Brasil, duas de suas galerias

deram início ao MHN. Atualmente possui um acervo com mais de 348 mil itens, tais

como, pinturas sobre a Família Real, esculturas, indumentária civil e militar,

documentos manuscritos e iconográficos, caricaturas, brinquedos, entre outros –

destaque para a maior coleção de numismática4 da América Latina (MUSEU

HISTÓRICO NACIONAL, 2015).

Assim, com a intenção de tornar o local mais apropriado a vários tipos de

visitantes, no período entre 2003 e 2006, o Museu entrou em reformas de

restauração e modernização, a fim de adequar sua infraestrutura e ações aos

parâmetros museográficos (MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, 2015).

4 Moedas, valores impressos, medalhas, ordens honoríficas, filatelia e sigilografia. Museu Histórico

Nacional, disponível em endereço eletrônico. Acesso em 30 abr. 2015.

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Podemos perceber tais intervenções logo na entrada da instituição, pois

oferece uma recepção espaçosa, com escada e rampa de acesso para pessoas com

dificuldades de locomoção. Há recepcionistas bilingues e atendem aos visitantes do

Museu com proficiência. Os painéis informativos em português e inglês sinalizam as

galerias das exposições, bem como os outros espaços.

Outra iniciativa é o Bistrô Café Histórico, localizado próximo à entrada, e

estabelecido onde era o antigo Arsenal de Guerra. Um ambiente com atmosfera

histórica e que possibilita ao público opções gastronômicas nas mediações do

Museu. Dessa maneira, o visitante não precisa se deslocar para se alimentar em

outro lugar, algo que pode ser visto como um valor agregado à visitação.

Há que se acrescentar que o MHN possui uma loja que oferta ao público

materiais e publicações com edição própria e de diversas instituições culturais.

Também são disponibilizados souvenirs, tais como livros, blusas, canecas, canetas,

chaveiros, entre outros, baseados nas exposições permanentes e temporárias.

Adjacente à recepção, no hall de acesso ao segundo pavimento, o visitante se

depara com uma imponente estátua equestre em gesso de D. Pedro II. A escultura

foi produzida por Francisco Manuel Chaves Pinheiro, em 1866, com a intenção de

homenagear o fato histórico “A Rendição de Uruguai”, no período da Guerra do

Paraguai.

No pavimento térreo, o lugar é composto por três pátios: Pátio da Minerva,

situado na entrada; Pátio dos Canhões, que abriga a exposição permanente em

braile com modelos nacionais e europeus (franceses, holandeses, ingleses e

portugueses) e, por fim, o Pátio Gustavo Barroso, nome em reverência ao instituidor

e primeiro diretor do Museu.

No Hall do Arcazes – Galeria Bankboston, podemos encontrar coleções de

influência da colonização espanhola na América Latina, com destaque para as

pinturas da cultura peruana do período histórico, entre os séculos XVII e XIX. No ano

de 2007, foi construída uma plataforma móvel para oferecer mais acessibilidade ao

local, com o intuito de integrar todos os tipos de visitantes (principalmente

portadores de necessidades especiais) ao espaço. Podemos citar, como exemplo, o

palco do auditório (com capacidade para 200 pessoas), onde são realizados

concertos musicais, cursos, seminários, entre outros (MUSEU HISTÓRICO

NACIONAL, 2015).

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Entre esses espaços, encontra-se a exposição permanente “Do Móvel ao

Automóvel: Transitando pela História”, concentrando uma interessante coleção de

meios de transportes terrestres. Neste acervo, podemos encontrar: berlindas,

cadeirinhas de arruar, carruagens, traquitanas, entre outros. Destacando-se o

automóvel Protos, que foi de uso do Barão do Rio Branco, no início do século XX

(MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, 2015).

Ao longo dos anos, A Casa do Trem sofreu um processo de adaptação e

restauração para receber a coleção de numismática e as exposições: “Coleção de

moedas – uma outra História” e “As Moedas Contam a História”. Além disso, o local

possui uma biblioteca especializada, bem como um Centro de Estudos de

Numismática e alas para novas exposições. A edificação, devido a sua relevância

histórica para a cidade, tornou-se um lugar de memória5, contendo os principais

acontecimetos e elementos do acervo do Museu.

No pavimento superior está situada grande parte do acervo permanente. O

visitante pode fazer uma “viagem” pelo tempo descobrindo as transformações que o

Brasil sofreu desde a pré-história até o período da República. Com o objetivo de

facilitar a compreensão do acervo, o local utiliza aparatos de multimídia, como por

exemplo, as exposições: “Oreretama” (com sons de animais) e “Portugueses no

Mundo” (com vídeo sobre as grandes navegações.

Quanto às exposições “A República no Traço de Rian”, “Memória Cearense”,

“O Império e a República” e “Imagens do Brasil”, de acordo com o endereço

eletrônico do MHN, fazem parte do acervo itinerante exposto em outros museus,

centros culturais e diversas instituições. Observamos ainda que há uma Galeria

Virtual que possiblita ao público apreciar outros objetos do acervo (MUSEU

HISTÓRICO NACIONAL, 2015).

Vale complementar que o Museu é composto por setores como, Arquivo

Institucional, Arquivo Histórico, Assessoria de Comunicação, Museografia, Acervo e

conservação, Biblioteca, Restauração, Pesquisa, Editoria dos Anais – cuja função é

relatar a história do MHN e servir de referencial de pesquisa, Divisão Educativa,

5 “Lugares de memória”, expressão usada por Pierre Nora para designar os locais que irão funcionar

como espaço de representação da memória, dos vestígios de um passado desaparecido ou em desaparecimento, onde ela se cristaliza e se refugia. Esses lugares são âncoras para a memória, como é o caso dos museus, bibliotecas, arquivos e monumentos, ou seja, espaços que abrigam documentos potencialmente necessários para o trabalho da história e que ampliaram substancialmente a capacidade de memorização do mundo (GODOY, 2014, p. 132).

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Projetos Sociais, Material e Patrimônio, entre outros (MUSEU HISTÓRICO

NACIONAL, 2015).

Além disso, na perspectiva de melhorias, o MHN foi selecionado para

participar do Programa de Qualificação dos Museus para o Turismo, criado em

2008. Uma ação conjunta entre os Ministérios da Cultura (MinC) e do Turismo

(Mtur), cujo intuito é fomentar o Turismo Cultural no Brasil por meio da qualificação

dos museus (IBRAM, 2015).

No âmbito prioritário de desenvolvimento das regiões indutoras, o Programa,

em sua primeira fase, comtemplou outras sete instituições federais: Museu

Oceanográfico – RS, Museu de Arte Sacra da UFBA – BA, Museu das Artes do

Divino – GO, Museu da Inconfidência – MG, Museu Nacional de Belas Artes – RJ,

Museu da República – RJ e Museu Castro Maia – RJ. Já na segunda fase, em 2009,

a preferência foi concedida aos museus das cidades sede da Copa do Mundo FIFA

de 2014 (IBRAM, 2015).

Dentre as medidas para incrementar a potencialidade turística dessas

instituições, podemos citar instalação e montagem de exposições, confecção de

guias turísticos trilíngue (português, inglês e espanhol) e em braile, obras de

infraestrutura, compra de equipamentos e mobiliário para receptivo, entre outros.

Tais medidas visam oferecer condições para que o público tenha experiências

museais de qualidade (GODOY, 2010, p. 203).

3.1 O TURISTA DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

O Grupo de Pesquisa Turismo Cultura e Sociedade (T-Cult)6, coordenado

pela Professora Dra. Karla Estelita Godoy, do Departamento de Turismo da

Universidade Federal Fluminense (UFF), realizou pesquisas de demanda turística

em museus (GODOY, 20137) com objetivo de definir o perfil, as motivações e a

percepção dos visitantes em alguns museus administrados pelo Instituto Brasileiro

de Museus (IBRAM) e, dentre as instituições, o Museu Histórico Nacional.

6 Para mais informações, acesse o Grupo de Pesquisa no Diretório de Grupos do CNPq, disponível

em: <http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/4828243672051727>. 7 Uma das publicações que apresenta a pesquisa é o texto GODOY, K. E. Fortificações como atrativo

turístico: um estudo sobre o Museu Forte Defensor Perpétuo, em Paraty (RJ). Caderno Virtual de Turismo. Edição especial: Turismo em fortificações. Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.34-48, out. 2013.

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A investigação aconteceu no ano de 2011 por meio de duas etapas: a

primeira se desenvolveu nos meses de janeiro/fevereiro e a segunda em junho/julho.

Em 2013, nos meses de novembro/dezembro, o MHN permitiu que fosse feita uma

nova coleta de dados, a fim de monitorar as possíveis variações dos resultados após

dois anos da pesquisa. Vale mencionar que isso ocorreu a partir da discilplina

optativa oferecida no curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal

Fluminense, ministrada pela referida professora, “Museologia Aplicada ao Turismo”.

Observando os resultados, percebemos que os percentuais dos turistas que

afirmaram a intenção de regressar ao MHN em companhia dos filhos, nos diversos

momentos da coleta, eram inexpressivos (2011 – 1.97% e 2013 – 4.31%). Assim,

surgiu o interesse de conhecermos esse turista, principalmente no que se refere ao

seu perfil, motivação e composição da visita, supondo que esse conhecimento possa

subsidiar algumas ações para adequar o Museu também em espaço lúdico infantil.

Passaremos a examinar, a seguir, outros dados oriundos da pesquisa, que

servem de subsídios à nossa análise.

Quanto à idade, verificamos que continuou predominante a faixa etária entre

30 a 39 anos e houve um aumento de 21,36% para 25,77%. Os turistas entre 25 a

29 anos tiveram uma variação positiva de 4,72% de sua representatividade. Já os

que se encontram entre os 50 a 59 anos apresentaram uma redução de 6,07%,

como podemos observar na figura 9.

Figura 9: Idade dos respondentes turistas.

Fonte: T-Cult, 2015. Em relação ao gênero dos participantes, em 2011 prevaleceu o feminino com

59,22% e em 2013 o masculino 58,28%. No que tange ao estado civil, identificamos

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na primeira amostra uma dominância entre os respondentes casados ou com união

estável de 44,66% e solteiros com 43,69%. Ademais, os turistas

divorciados/separados e viúvos somaram 11.65%. Entretanto, no último ano, esse

quantitativo passou a ser de 6,17% e o de turistas solteiros de 48,77%. Tais

aspectos podem ser visualizados na figura 10.

Figura 10: Estado Civil.

Fonte: T-Cult, 2015. Quanto ao público, percebemos que tanto em 2011 como 2013, ficaram em

evidência os turistas brasileiros, 62,14% e 64,42% respectivamente. Tratando-se da

escolaridade, o que teve destaque nos dois períodos foram os respondentes com

ensino superior completo, sendo que na última amostra, eles totalizaram 39,88%, os

pós-graduados 16,56% e 14,11% com nível superior incompleto.

Sobre a frequência das visitas a museus e centros culturais nos últimos 12

meses, os dados mais representativos em 2011 são dos respondentes que

realizaram uma ou duas visitas (37,86%) e 35,92% com mais de três visitas. Em

2013, ocorreu nesse aspecto um aumento de 13,16%. Dessa maneira, podemos

inferir que 49,08% dos turistas parecem estar propensos a desenvolver uma relação

mais próxima com o meio cultural.

Quando questionados a respeito da renda domiciliar familiar, constatamos

que, em 2013, 19,75% dos turistas possuíam renda entre R$ 2.801,00 a 7.000,00

reais e 35,80% acima de R$ 7.000,00. Esta informação demonstra um perfil de

pessoas de classe A ou B8, de nível mais elevado .

8 Classificação obtida a partir do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas, disponível

em: <http://cps.fgv.br/node/3999>.

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Em relação à motivação da visita, em 2011, o quesito conhecer o museu foi

preponderante (60,96%), bem como em 2013 (57,83%). Ademais, no último ano,

25,22% dos turistas afirmaram ter interesse pelo tema da exposição, 17,23%

visaram ao lazer e entretenimento e, para pesquisa e estudo 8%. Vale citar que, em

2011, somente 0,98% dos turistas tinha como motivação trazer os filhos e na

amostra mais atual esse percentual subiu para 2,46%. Embora tenha havido um

aumento, percebemos que ainda é irrisório esse percentual e que algumas medidas

podem ser adotadas para mudar esse quadro.

Em 2011, o contexto social da visita com mais notoriedade foi de duas a cinco

pessoas, com percentual de 54,37% e, quando questionados sobre a especificação

do grupo, 40,31% disseram ser de familiares. Após dois anos, houve uma alteração

na composição do visitante, uma vez que 19,07% passaram a realizar visitas com

familiares e 30,76% com cônjuge/ namorado (a), como podemos visualizar na figura

11.

Figura 11: Especificação do contexto social da visita no MHN. Fonte: T-Cult, 2015.

No questionário havia uma pergunta livre para que o respondente pudesse

fazer observações e/ou dar alguma sugestão sobre o Museu e a visita. Dentre os

comentários dos turistas, foram elencados: utilização de novas tecnologias para a

interatividade; mais legendas no acervo; possibilidade de maiores informações sobre

o museu; e adaptação de espaços para o público infatil como, luzes, vídeos e

objetos.

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Tendo em vista esse levantamento feito na pesquisa coordenada pela

Professora Dra. Karla Estelita Godoy e com base na entrevista livre e observação

assistemática desenvolvida pela autora deste Trabalho de Conclusão de Curso,

podemos delinear aspectos a serem trabalhados para tornar a visitação no MHN

mais atrativa para os turistas infantis, objeto de nossa próxima seção.

3.2 A DIVISÃO EDUCATIVA DO MHN E O TURISTA MIRIM

Com intuito de conhecer as ações da Divisão Educativa e verificar como

ocorre a visita de turistas mirins com famílias, bem como as perspectivas para

estruturar este tipo de visitação no MHN, foi realizada uma entrevista livre, no dia 08

de outubro de 2014, com o Educador responsável pelo setor, Diogo Guarnieri Tubbs.

Foi questionado sobre a visitação mediada para turistas mirins, quem são as

pessoas que as realizam, como são preparadas para esse tipo de atendimento bem

como, suas qualificações. Foi respondido que não é feita mediação para esse

público, pois o trabalho da Divisão Educativa é direcionado para o atendimento

escolar. O motivo mencionado foi a limitação da equipe, composta por Educadores

e estágiários da área de História, os quais só permanecem no Museu durante a

semana. Embora o final de semana seja o período que provavelmente teria mais

turistas, o setor não disponibiliza visitação mediada.

Contudo, em ocasiões especiais, foram realizadas algumas atividades em que

ocorreram visitação mediada, como a Semana dos Museus e Primavera dos

Museus, porém o foco não eram turistas e tampouco turistas mirins. Quando

perguntado se essa visitação poderia ser solicitada na recepção ou agendada

previamante, a resposta foi que na ocasião havia educadores ao dispor do turista,

pois era um dia de grande fluxo de pessoas, inclusive famílias com crianças, em

virtude do Circuito Cultural Rio Ônibus. No entanto, ratificou que devida à grande

demanda, a equipe fez algumas visitas mediadas, mas que não existe nenhuma

ação focada para turistas. Além disso, os estagiários são treinados para atender o

público escolar.

De acordo com o que foi informado, não existe material instrutivo para a

mediação com os turistas mirins. Ademais, a instituição não possui um

programa/projeto específico para esse público, tampouco uma equipe qualificada

para atendê-los.

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Questionado sobre organizações de programas ou eventos infantis, foi

apontado que as visitas mediadas, para os grupos de escola, são consideradas uma

forma de aproximar o público com o acervo do Museu e, algumas vezes, são

realizadas atividades específicas para esse tipo de público, tais como ocorreram na

8ª Primavera dos Museus, promovida pelo IBRAM, com a realização de oficinas

artísticas que abarcaram o tema do evento: “ Museus Criativos”.

O MHN tem uma página oficial no facebook onde são feitas as divulgações

dos eventos que promove. Vale mencionar que a Divisão Educativa possui um

mailing com todos os contatos das escolas Municipais, Estaduais, particulares e de

alguns professores, que preenchem uma ficha quando visitam o Museu. Sendo

assim, essas formas de divulgação têm sido bastante efetivas para alcançar o

público escolar.

Segundo informações coletadas, o material educativo voltado para as

crianças é composto por seis livros e estão disponíveis para venda na Loja do

Museu ou distribuídos gratuitamente quando são solicitados pelos professores. Cabe

observar que, o ingresso é gratuito para os estudantes das escolas públicas e

crianças até seis anos de idade. Já os alunos de colégio particular têm direito à

meia entrada.

Sobre o serviço de audioguide e audiovisual com linguagem infantil, foi

apontado que há um audioguide que está direcionado para o turista que faz o uso

autônomo desse recurso durante sua visitação no Museu. Dessa maneira, foi

constado que não existe uma versão para o público infantil. Ademais, o local

também não possui audiovisual para crianças.

De acordo com o exposto, o Museu não realiza monitoramento de visitação

de turistas mirins. Existe um setor de pesquisa sendo desenvolvido, mas não possui

o viés para esse tipo de análise. Conforme foi mencionado, poderia ser realizado

um trabalho específico com intuito de investigar o perfil dos turistas com crianças

que visitam o MHN – origem, motivação da visita, entre outros.

Foi relatado que não é possível modificar a exposição permanente em curto

prazo e, por esta razão, a Divisão Educativa elabora estratégias para trabalhar com

o acervo exposto. Isto é visto como um desafio, uma vez que os grupos recebidos

são de 40 alunos de turmas diferentes e, para cada turma deverá ser feito um tipo

de abordagem. Além disso, a realização da visita não é imprescindível em todas as

galerias do Museu ou até mesmo em uma exposição inteira.

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O responsável pela Divisão Educativa afirmou que existe a intenção em

médio/longo prazo na elaboração e implementação de projetos para a visitação de

turistas mirins, visto que a Prefeitura do Rio de Janeiro concedeu ao MHN um

terreno próximo às suas intermediações. Dessa maneira, o local passará por

reformulações e será construído um prédio anexo que abrigará o setor de Pesquisa,

Biblioteca e Arquivo e, com a transferência desses setores, haveria mais espaços

para novas exposições.

Com base no que foi reportado, não necessariamente um acervo específico

desperta interesse e identificação por parte das crianças. Isto pode estar relacionado

com a forma de apresentação das exposições, bem como a disposição dos objetos.

Como por exemplo, a exposição permanente “Do Móvel ao Automóvel: Transitando

pela História” que, por não possuir vitrines, apresenta outra dinâmica.

Durante a mediação feita pelo setor educativo, com o grupo escolar, foi dito

que é possível notar que as crianças ficam impactadas com a grandiosidade das

carruagens e algumas fazem associação com as princesas da Disney, pois é o

referencial dos desenhos que assitem. Entretanto, algumas exposições podem ser

mais atrativas e a curiosidade variar de acordo com a faixa etária.

O MHN dispõe de um vídeo com cenas do cotidiano indígena e algumas

crianças acham curioso a ausência de roupas. Outras, principalmente os meninos,

ficam atraídos pelas lanças, arcos e flechas, pois relacionam tais objetos com armas.

Uma das exposições possui uma tela, como um porta-retrato digital, onde passam

as imagens da restauração e conservação dos quadros. Foi mencionado que as

crianças tentam interagir, achando que o aparato tecnológico é touch screen.

Em suma, a partir dessa entrevista foi possível obter uma dimensão do

trabalho da Divisão Educativa, bem como da autorização para que a autora do

presente trabalho permanecesse nas intermediações do Museu, com a finalidade de

averiguar na prática a visita de turistas mirins.

3.3 O TURISTA MIRIM E A VISITAÇÃO AO MHN

No período entre 17 de outubro a 23 de novembro de 2014, foi realizada pela

autora uma observação assistemática a respeito da visitação de turistas mirins nos

ambientes do MHN, tendo como ponto de partida a suposição de que durante a

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exposição temporária comemorativa “40 Anos Playmobil” haveria um fluxo maior

deste público no Museu.

Os funcionários do Museu estavam cientes da pesquisa e isto facilitou o

processo, pois na recepção uma das funcionárias recebia as famílias com crianças,

dando boas vindas e fazia uma sondagem rápida com intuito de descobrir a

procedência das pessoas. Após o filtro, caso fossem turistas, discretamente era

sinalizado para a pesquisadora dar início a observação.

Foi procedido dessa forma devido uma explicação anteriormente para a

recepcionista de que o foco da pesquisa era turistas mirins, isto é, não residentes da

cidade do Rio de Janeiro. Ademais, para que as pessoas não percebessem que

estavam sendo observadas e com isso, tornasse a visitação espontânea, pois em

nenhum momento foram abordadas para responder algum tipo de pergunta.

Assim, a recepcionista avisava sobre as exposições do museu (permanentes

e temporárias) e dava a informação de que alguns bonecos do Playmobil estavam

disponíveis para venda na Loja do Museu. Poderiam ser adquiridos itens como:

guerreiros; cavaleiros; chaveiros; kits temáticos – country; cantores; ciclistas;

veterinário; marinheiro; entre outros; com preços que variavam entre R$ 20,00 a R$

500,00, os quais podem ser visualizados abaixo na figura 12:

Figura 12: Bonecos e Kits do playmobil à venda na Loja do Museu. Fonte: Acervo pessoal.

A observação começou com uma mulher e um menino (aparentando ter

aproximadamente uns quatro anos) que estava adormecido em seu colo e, no

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caminho para a exposição “Com a palavra D. Leopoldina – Imperatriz do Brasil”, ela

queria despertá-lo para ver o acervo. Logo depois, os dois tiraram fotos e a mãe

orientou a criança para não colocar as mãos nos objetos. Conforme foram

caminhando, o menino demonstrou interesse pela exposição e, em alguns

momentos, precisou ser colocado no colo (figura 13), pois havia vitrines que não

estavam em uma altura adequada para que a criança pudesse ver o acervo.

Figura 13: Criança no colo para visualizar o acervo. Fonte: Acervo pessoal.

Durante a exposição, a mãe interagiu com a criança, leu as legendas e tentou

explicar, de uma maneira que pudesse ser entendido, o que estava sendo

apresentado e que o local se tratava de um museu. O diálogo continuou e o filho fez

algumas perguntas mantendo a necessidade de tocar na exposição.

A sala com sons de pássaros foi o local onde ficaram por cerca de 10

minutos. A criança ficou encantada com a ambientação, querendo descobrir onde

estavam os passarinhos que cantavam. Além disso, havia no chão uma

representação de uma cobra que chamava atenção devido ao seu tamanho. O

menino ao mesmo tempo em que aparentava medo, ficava com vontade de se

aproximar. A mãe explicou que não se tratava de um animal vivo e aos poucos foi

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conduzindo o filho para possivelmente tocá-lo. Logo depois, ele achou divertido e a

mãe tirou algumas fotos.

Durante a visita, havia uma estrutura com cartas suspensas e a criança

aparentou admiração com todo aquele universo desconhecido. Então, questionou a

mãe a respeito do que se tratavam. Ela fez uma explicação rápida de que eram

“cartas da princesa” e a criança não esboçou nenhuma reação com a aquela

informação.

A mãe orientou o filho sobre o que deveria fazer, isto é, que não tocasse em

nada e que ficasse sentado enquanto ela fazia a leitura das informações. Cerca de

um minuto depois, a criança apresentou inquietação, levantou e caminhou em

direção as cartas para tentar brincar e se escondeu entre elas (figura 14). Mas, logo

em seguida, foi novamente advertida.

Figura 14: Criança entre as cartas suspensas. Fonte: Acervo pessoal.

Foi perceptível que a mãe não deu liberdade para que a criança sozinha

pudesse visualizar e despertar interesse pelo acervo. Algumas vezes foram ouvidas

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frases como: “vamos por aqui, meu filho”, “isso aqui é mais legal”, “primeiro mamãe

vai ver isso e depois te leva lá”, entre outras. Tais aspectos podem influenciar na

experiência museal da criança, visto que, fica em partes, limitada sua condição de

perceber e interagir com o ambiente.

Quando eles entraram na exposição do Playmobil, a criança pensou que

fosse uma loja e que os bonecos estavam à venda. Então, com muito entusiasmo

fez seu pedido: “Compra pra mim, mamãe! Por favor!”. A mãe achou engraçada essa

reação e explicou que eram os brinquedos de sua época e que não poderia comprar

porque faziam parte daquela exposição. Como pôde ser observado, a percepção

sobre o espaço foi divergente, pois a criança não o identificou do mesmo modo que

a mãe.

No mesmo âmbito, algumas vitrines onde os bonecos estavam possuíam

prateleiras com alturas diferentes (média e baixa), como podemos verificar na figura

15. Isso não impedia a visualização de um adulto, porém, na perspectiva de uma

criança de estatura menor, interferia. Vale citar que a exposição não foi criada pelo

MHN, mas o Museu a abrigou, e, portanto, deveria levar em consideração estas

peculiaridades.

Figura 15: Vitrine da exposição do Playmobil com prateleiras de alturas diferentes. Fonte: Acervo pessoal.

Em um dos ambientes havia mesas e cadeiras onde as crianças podiam se

entreter com alguns brinquedos. Com receio de ser novamente advertida, a criança

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perguntou se poderia ficar naquele espaço. A mãe permitiu e, finalmente, pôde

brincar com outras crianças e ter um momento lúdico no Museu (figura 16).

Figura 16: Criança se divertindo com os brinquedos. Fonte: Acervo pessoal.

Como existem limites, em algumas exposições para o público infantil, isto

pode criar no imaginário da criança que museu é um ambiente com muitas

restrições, isto é, nada pode ser tocado ou experimentado. Sendo assim, isso está

relacionado com a recordação da visita, o que faz que futuramente o retorno possa

ser prejudicado.

Já em outra observação, a criança estava acompanhada pelos pais. O

menino deveria estar na faixa dos seis anos, fazia muitas perguntas sobre o local e

era retribuído com atenção. Os pais interagiam e tentavam passar para a criança

algumas informações sobre o acervo.

Em um dado momento, o filho pediu para ver a exposição do Playmobil, mas

os pais não atenderam ao seu pedido e caminharam em direção ao Pátio dos

Canhões. No local a criança demonstrou empolgação quando avistou os diferentes

tipos de canhão e simulou com sua família um combate de guerra, como se

estivessem atirando em algum inimigo. Ficaram nesse espaço cerca de cinco

minutos e a mãe logo em seguida chamou a atenção do filho para visitarem a

exposição “Com a palavra D. Leopoldina – Imperatriz do Brasil”.

Ao entrar na galeria, a criança pediu novamente para ir até a exposição do

Playmobil. A mãe levou a criança até a entrada da exposição, tirou uma foto do filho

ao lado do banner e depois voltou para a galeria onde estava inicialmente para

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encontrar com o pai. Isto refletiu novamente que a vontade da criança foi preterida

pelos pais, pois demonstrou que eles estavam visitando o museu e não o filho.

Mesmo estando onde os pais queriam, ficou perceptível uma situação

desconfortável, pois a criança estava inquieta e insatisfeita. Depois de muita

insistência, a mãe decidiu deixar o pai e levou o filho para a exposição do Playmobil.

Quando percebeu que seu pedido havia sido concedido, sua expressão facial logo

mudou e se acalmou. Eles caminharam pelas vitrines e a criança se encantou com o

acervo. Uma percepção que se repetiu foi achar que os bonecos estavam à venda

ao fazer o pedido: “Eu quero um desse! ”. A mãe apenas disse que não poderia, não

deu mais nenhuma explicação e continuaram a visita até o espaço onde as crianças

poderiam brincar.

A visita pareceu ser apenas contemplativa para duas meninas que estavam

com seus pais, pois eles liam os painéis informativos e raramente interagiam com as

crianças. A seguir, isto pode ser observado na figura 17:

Figura 17: Pais lendo os painéis informativos sem interagir com as crianças. Fonte: Acervo pessoal.

Na exposição de Numismática “As moedas contam a História”, o pai advertiu

uma das filhas para não fazer barulho, exigindo que ela se “comportasse”. As

crianças olhavam, mas pareciam não entender o que viam. Pouco depois, o pai fez

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comentários sobre o acervo com a mãe, mas em momento algum interagiu com as

crianças. A mãe até demonstrou um esforço para fazer alguma interação com a filha

mais velha, mas nada que tivesse consistência. Nesse sentido, as crianças estavam

apenas como acompanhantes.

Na exposição “Com a palavra D. Leopoldina – Imperatriz do Brasil” havia uma

televisão que exibia um vídeo com a música do “Samba do Criolo Doido”. As duas

meninas caminharam para frente da TV (figura 18) e começaram a dançar, rindo

uma da outra e se divertindo. Foi o único momento que elas conseguiram

“aproveitar” o Museu.

Figura 18: Meninas em direção à TV. Fonte: Acervo pessoal.

O último caso observado foi de duas mulheres e uma menina. Elas deixaram

a criança caminhando sozinha e ficaram conversando entre si e mais atentas às

mensagens do celular. Em um dos momentos, a criança chamou atenção no intuito

de compartilhar o que ela tinha observado na mesma sala do exemplo anterior:

“mamãe, olha o cobão (sic)! ”. Mas, a mãe ignorou e continuou olhando a outra parte

da exposição.

No mesmo ambiente, a menina insistiu várias vezes para ver o animal

inanimado, mas só foi atendida depois que a mãe tirou suas fotos (figura 19).

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Durante a visitação, a mãe não leu e tampouco explicou algo para a menina, que

ficou entediada e dizia continuamente que queria ir embora.

Figura 19: Mãe posicionando a criança para tirar foto próximo ao acervo. Fonte: Acervo pessoal.

Quando avistaram o banner da exposição do Playmobil, as mulheres não

paravam para ler o conteúdo dos textos, apenas tiravam fotos. Como havia um local

específico para o público infantil, elas deixaram a criança sozinha na mesa de jogos

e continuaram vendo o acervo.

Em algum momento pôde ser escutado que a mãe gostava muito de História

e que tinha ido ao Museu por essa motivação pessoal. Sendo assim, mais uma vez,

foi notado que a vontade dos pais se manteve como prioridade, interferindo na

experiência da visita do turista mirim no MHN.

3.4 AÇÕES LÚDICO-EDUCATIVAS: POSSIBILIDADES

Baseado na entrevista realizada e na observação empreendida, podemos

elencar os seguintes pontos que serviriam de esboço para a proposição de

atividades que viriam ao encontro da inserção da criança como turista no MHN:

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Visitação mediada para o público infantil – aumento da equipe

técnica, dentre os quais profissionais da área de turismo, tendo em

vista as similaridades e intersecções entre as duas áreas;

disponibilização de visita guiada com agendamento prévio pelos canais

de comunicação do Museu;

Monitoramento da visitação de turistas mirins – inclusão dessa

temática nas linhas de pesquisa da Divisão Educativa, a fim de coletar

dados, como por exemplo, quantitativos das crianças que visitam o

MHN, quais as galerias que despertam maior interesse, entre outros,

que possam subsidiar os gestores para ações direcionadas para esse

público;

Novas exposições – Usufruir da reformulação dos espaços, a partir do

prédio anexo que foi cedido ao Museu. Dessa maneira, poderia ser

desenvolvido um layout para algumas exposições cujo objetivo seria

atrair e despertar a curiosidade das crianças, como um “ambiente

lúdico”, que abordasse as dimensões sensoriais: olfato, tato, visão e

audição;

Roteiro infantil – Adequação de algumas galerias com a utilização de

legendas para crianças, tais como, “tirinhas em quadrinho”;

disponibilização de objetos ou réplicas que possam ser manuseados a

partir de uma seleção feita pela equipe técnica e mediante uma

supervisão da atividade;

Recursos tecnológicos – aplicativos, audioguide e vídeos com

versões infantis; instalação de totens digitais com tela touch screen.

Poderia ser um jogo que instigasse a observação da exposição, algo

que fizesse com que a criança interagisse com o acervo. Vale citar que

o objetivo do aparato não é ser o foco principal, mas um recurso

adicional para auxiliar o aprendizado;

Criação de oficinas artísticas – Oferecer atividades nos finais de

semana para turistas mirins com intuito de despertar, estimular e

dialogar a partir da criatividade por meio de teatralização, pinturas,

músicas, jogos, entre outros, tendo em vista os estímulos individuais;

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Potencialização da visita – elaboração de um manual para os

pais/parentes com o objetivo de instruí-los antes, durante e depois da

visitação. Nesse sentido, poder explorar as possibilidades que o Museu

oferta, como também, adquirir os livros educativos para que a criança

em casa possa aprofundar o conteúdo;

Site institucional – Atualização do layout e criação de um link infantil

em que a criança pudesse, com a supervisão de um adulto, interagir

online com o acervo por meio de jogos, como por exemplo, “os sete

erros”, nomear os objetos, entre outros.

De modo geral, tais ações poderiam contribuir para expandir os projetos da

Divisão Educativa do MHN, incluindo os turistas mirins e, assim, tornar o Museu

mais atrativo. De certa forma, as intervenções não ficariam restritas ao público

infantil, pois a experiência museal também poderia ser compartilhada com os

pais/parentes.

Além disso, é importante considerar a construção da educação cultural tendo

em vista a possibilidade de interação com o meio, principalmente as trocas que

ocorrem nas atividades que são realizadas em grupos. Nessa perspectiva, com

vistas a minimizar uma presença “figurativa” da criança durante a visitação e

fomentar o hábito de visitar museus.

Cabe ressaltar a relevância da atuação do Bacharel em Turismo no ambiente

museológico, contribuindo com a gestão das potencialidades dos museus, a fim de

pensá-lo também como um lugar turístico, por meio de ações compartilhadas entre

áreas de Museologia, Turismo e Educação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na contemporaneidade, os museus abrem perspectivas para abarcar novos

públicos com interesses diversificados e com motivações específicas. Assim, não

precisam ser, apenas, repositórios da memória cultural e histórica mas, também,

fazer usos de tecnologias que dão acesso à interatividade e passam a ser atrativos

turísticos com múltiplas funções, dentre as quais as pedagógicas.

No cenário internacional e mesmo nacional existem esforços para incluir o

turista mirim como um dos destinatários de suas políticas de gestão, tendo em vista

que a formação cultural deve ser uma das preocupações da educação patrimonial a

ser adquirida também nos museus. Dessa forma, a visitação ao museu integraria a

educação não-formal da criança, preferencialmente de forma lúdica, a fim de que o

gosto pela frequência a esse tipo de instituição estimulasse a presença mais

constante do público infantil.

Neste sentido, a atividade turística necessita trabalhar a sensibilidade da

criança para aspectos relevantes da cultura e da história, de maneira tal que a

aprendizagem fuja do sentido doutrinário do ensino e passe a ser uma aquisição

quase natural, apreendida sem pressões ou coações.

Em se tratando de setor educativo, o Museu Histórico Nacional possui a

Divisão Educativa que já trabalha com um público infantil. No entanto, ainda não

promove ações voltadas para o turista mirim, tratado de forma individual, isto é, que

o visita como atrativo cultural, independentemente de grupos que buscam o Museu

como parte de programas curriculares.

Assim, como proposto inicialmente neste estudo, procuramos verificar como

se realizam os procedimentos das visitas do turista mirim no MHN. Por meio de

observação assistemática e de entrevista livre, reunimos informações que nos

possibilitam concluir que a própria Divisão Educativa poderia ampliar seus projetos e

promover ações que não exigem muita complexidade, tais como, visitação mediada,

organização de oficinas infantis, criação de roteiro infantil, elaboração de manual

direcionado aos pais e acompanhantes para auxiliá-los no monitoramento da

visitação, dentre outras.

Observamos que medidas simples, como por exemplo, colocação do acervo

em vitrines com altura propícia à visibilidade da criança, legendas (preferencialmente

bilíngues) em linguagem adequada ao seu nível de compreensão, poderiam facilitar

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a interpretação do acervo e fazer com que ela se interessasse mais em direcionar

sua atenção para o que está exposto.

A visitação deve ser vivenciada como uma experiência prazerosa, lúdica, que

faça com que o turista mirim queira retornar ao Museu (o desejo de retorno é uma

indicação do sucesso da visita) e que seus familiares percebam a importância que

essa atividade pode exercer na configuração do conceito a ser formado sobre a

instituição museal como locus de aprendizagem e de recreação.

Devemos ressaltar que a temática estudada ateve-se a particularidades do

objeto escolhido e, como tal, possui limitações, pois não se pode apreendê-lo em

todos os seus aspectos. Certamente muitas de suas implicações deixaram de ser

abordadas e, por isso mesmo, esperamos que novas pesquisas e investigadores,

estimulados por este estudo, possam desvendar outras facetas e, assim, contribuir

com o conhecimento para que os museus possam, cada vez mais, abrir suas

possibilidades educativas também para a categoria das crianças como turistas.

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