UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · mercantilização da escravidão; e a vida nos...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CAMPUS DE CAICÓ DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO- BRASILEIRA ANA LÚCIA CANÁRIO DE BRITO EDUCAÇÃO NÃO TEM COR: QUESTÕES DE RAÇA E COR EM SALA DE AULA NUMA ESCOLA DE CERRO CORÁ/RN - BRASIL, 2014-2016. CAICÓ 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES

ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-

BRASILEIRA

ANA LÚCIA CANÁRIO DE BRITO

EDUCAÇÃO NÃO TEM COR: QUESTÕES DE RAÇA E COR EM SALA DE

AULA NUMA ESCOLA DE CERRO CORÁ/RN - BRASIL, 2014-2016.

CAICÓ

2016

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ANA LÚCIA CANÁRIO DE BRITO

EDUCAÇÃO NÃO TEM COR: QUESTÕES DE RAÇA E COR EM SALA DE

AULA NUMA ESCOLA DE CERRO CORÁ/RN - BRASIL, 2014-2016.

Trabalho de Conclusão de Curso, na

modalidade Artigo, apresentado ao Curso

de Especialização em História e Cultura

Africana e Afro-Brasileira, da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Ensino Superior do

Seridó, Campus de Caicó, Departamento

de História, como requisito parcial para

obtenção do grau de Especialista, sob

orientação do Prof. Ms. José Duarte

Barbosa Júnior.

CAICÓ

2016

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 5

2. PRIMEIRA PALAVRAS ................................................................................................... 5

3. PESQUISANDO NA SALA DE AULA ............................................................................. 6

3.1. Fontes ............................................................................................................................... 6

3.1.1. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). ........................................................... 6

3.1.2. Na sala de aula a discriminação e a possibilidade de sua reversão através do

ensino: a aplicação de um questionário. .................................................................................... 8

3.1.3. Na sala dos professores pesquisando raça e cor. .................................................... 13

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 14

FONTES ..................................................................................................................................... 16

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 17

ANEXOS .................................................................................................................................... 18

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EDUCAÇÃO NÃO TEM COR: QUESTÕES DE RAÇA E COR EM

SALA DE AULA NUMA ESCOLA DE CERRO CORÁ/RN - BRASIL,

2014-2016.

Ana Lúcia Canário de Brito1

José Duarte Barbosa Júnior – Orientador2

RESUMO

O presente trabalho trata de pesquisa acerca das questões de raça e cor em sala de aula no

Centro Educacional Rodrigues Neto, escola de nível fundamental da rede privada na

cidade de Cerro Corá, situada no estado do Rio Grande do Norte – Brasil. A observação

que resulta no presente trabalho ocorreu entre os anos de 2014 e 2015 e utilizou como

fontes os Parâmetros Curriculares Nacionais e as visões de mundo de alunos e

professores. Predomina entre alunos uma visão de mundo negativa sobre a África e uma

negação da herança afro-brasileira. Defende-se entre professores a necessidade de

discussão do tema e de capacitação como forma de alterar o quadro do preconceito e da

intolerância.

PALAVRAS-CHAVE

Relações etnicorraciais. Preconceito na escola. Cor e raça. Sala de aula.

1 Discente do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de

Caicó, Departamento de História (DHC). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do

Acaraú. Professora da Rede Municipal e Privada de Ensino, na Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga e

Centro Educacional Rodrigues Neto (Cerro Corá-RN), onde ministra a disciplinas de Ciências. E-mail:

[email protected]. 2 Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN. E-

mail: [email protected].

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata de pesquisa acerca das questões de raça e cor em sala de

aula no Centro Educacional Rodrigues Neto, escola de nível fundamental da rede privada

na cidade de Cerro Corá, situada no estado do Rio Grande do Norte – Brasil. A observação

que resulta no presente trabalho ocorreu entre os anos de 2014 e 2015.

A opção de tratar do presente tema se deu pela experiência em sala de aula no

ensino de História, ao perceber por parte de alguns alunos, atitudes de discriminação

relativas a raça e cor. Um fato em especial marca o interesse em transformar essa

experiência numa pesquisa. No ano de 2012, ao realizar uma atividade em grupo na sala

de aula, foi presenciado um fato que se tornou marcante: a recusa de uma aluna a formar

grupo com outra colega pelo fato da mesma ser “gorda e negra”. Por que e como crianças

na faixa etária dos 7 a 8 anos de idade demonstram atitudes de discriminação racial ligadas

a cor e mesmo de classe?

2. PRIMEIRA PALAVRAS

Racismo é um problema recorrente na sociedade brasileira e, portanto, em suas

instituições (SANTOS, 1984) embora tenhamos obtido muitas conquistas como foi a

Constituição de 1988 e as políticas públicas iniciadas nos anos 2000 e que culminaram

dentre outras coisas com o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e a lei

10.639/2003 que instituiu o Ensino da História e da Cultura da África.

A discriminação racial permeia a sala de aula causando grande desconforto para

educandos e educadores. A cultura africana, para além da concepção do fenômeno “raça”

é constituinte da cultura brasileira e logo das relações cotidianas. Esse aspecto torna

importante problematizar a presença do racismo na sala de aula, como também a história

da vida cotidiana ressaltando a herança da cultura africana. Preconceito existe nas salas

de aulas, como reflexo do preconceito existente fora, tanto na escola muitas vezes entre

professores e gestores como na sociedade de forma geral, notadamente pela falta de

informação e demonstração de opiniões do senso comum que não (re)conhecem os

valores existentes da cultura africana/afro-brasileira.

Essas questões tornam necessários trabalhos de permanente de ensino que sejam

capazes de fazer entender e afirmar a contribuição e o valor da cultura africana sem a qual

não seria possível a riqueza e complexidade da cultura brasileira.

6

3. PESQUISANDO NA SALA DE AULA

Apresentamos a seguir os resultados de uma breve abordagem dos documentos

escritos acerca do ensino de História; e, em seguida, os resultados do questionário

aplicado aos alunos do 4º ano vespertino do Centro Educacional Rodrigues Neto; e, por

fim, os resultados das entrevistas realizadas com professores do Ensino Fundamental na

mesma escola situada na cidade de Cerro Corá/RN – Brasil.

3.1. Fontes

3.1.1. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s).

Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), no que toca o respeito mútuo

e o convívio escolar,

A escola, sobretudo a escola pública, costuma receber um público

heterogêneo. Para muitas crianças, a escola é a primeira oportunidade

de conviver com pessoas diferentes. Uns são brancos, outros negros,

outros mestiços, há meninos e meninas, pessoas de renda familiar

desigual, oriundas de famílias de diversas religiões e opiniões políticas,

etc. Todos os alunos estão na sala de aula usufruindo do mesmo direito

à educação. É excelente oportunidade para que aprendam que todos são

merecedores de serem tratados com dignidade, cada um na sua

singularidade (PCN, 2001, p. 119).

Ao tratar da constituição da pluralidade cultural no Brasil e a então situação na

qual o documento foi publicado explica-se,

Este conteúdo trata de como se constituiu, se constitui, por sua

permanente reelaboração, e se apresenta a face cultural complexa e

cheia de potencial do País, com sobreposição de tempos, no social,

cultural e no individual. Para conhecer a situação dos diferentes povos

que aqui vivem e valorizá-los, é necessário trabalhar aspectos ligados

às suas origens continentais: a presença no continente e em território

nacional anterior ao descobrimento, no caso dos indígenas; a vida

culturalmente complexa presente na África, desde antes da

mercantilização da escravidão; e a vida nos continentes de origem de

conquistadores e imigrantes – Europa, Ásia, Oriente Médio, África – ao

longo da história (PCN, 2001, p. 70).

7

Quanto à crítica dos materiais didáticos afirma,

Conteúdos do tema Pluralidade Cultural estiveram presentes na escola

de maneira frequente, porém, colaborando na disseminação de

preconceitos, mais que esclarecendo. Nesse sentido, materiais didáticos

desempenharam papel crucial, tanto por veicularem explicitamente

noções erradas quanto de maneira velada e implícita, por exemplo, em

ilustrações que insistiram em passar estereótipos que aprisionavam

grupos étnicos a certos papéis sociais. Um exemplo de divulgação de

erro refere-se à noção de que existiria uma organização social única e

comum a todos os índios, o que se veiculou por meio da escola e dos

livros didáticos por muito tempo. Da mesma forma, não se pode aceitar

a difusão da escravidão como fato que se vincula exclusivamente aos

povos africanos, de imagens de negros apenas como escravos ou no

desempenho de papéis sociais sem prestígio. É importante lembrar que

o reconhecimento e a valorização de todo trabalho é papel da escola em

seu cotidiano, veiculando a consciência de que toda profissão é

importante (PCN, 2001, p. 99).

Vê-se nos três fragmentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em

2001 para orientar o Ensino Básico de 1ª a 4ª série, que a questão etnicorracial aparece de

forma residual e genérica dentro da discussão da Pluralidade Cultural. Apenas no ano de

2003 com a institucionalização da Lei 10.639 que veremos um avanço significativo na

discussão etnicorracial com a introdução dos temas História e Cultura Afro-brasileira.

Para analisar o contexto cultural e compreender a importância da discussão etnicorracial

optamos por desenvolver uma pesquisa tendo como fonte a oralidade a partir das

expressões verbais, ideias e mentalidades, emergidas das interlocuções realizadas no

campo da presente pesquisa. Foram entrevistados alunos e professores considerando

temas da cultura africana apresentados em aula (no caso dos alunos) e do preconceito

racial (no caso dos professores).

Para responder a questão de através de quais elementos imaginais e discursivos se

dá o preconceito de raça e cor na escola, entendendo-o como reprodução de um racismo

de escala mais ampla, ou seja, disseminado nas instituições sociais, entendemos as fontes

históricas como testemunhas de fatos sociais desdobrados na vida cotidiana.

A utilização desses dois tipos de fontes teve como principal objetivo,

problematizar as fronteiras entre o atual projeto de país e cidadania, e a realidade da

educação. Essa problematização traz, no primeiro, questões de transformação social e

lutas políticas, enquanto o segundo traz um aspecto propriamente cultural, terreno onde

8

símbolos e significados (GEERTZ, 2008) atuam ativamente reconhecendo ou negando

sujeitos.

Esse caminho analítico colocou-nos, a nosso modo de ver, na dimensão da cultura

historiada ao referenciarmos ideias e mentalidades transmitidas que atuam nas atitudes

dos sujeitos no mundo, na sua vida imediata, cotidiana (BURKE, 2008). Ao se optar pela

observação participante como procedimento metodológico objetiva-se abordar como,

através dos processos comunicativos, o conhecimento é desenvolvido e transmitido e,

ainda para reiterar, o impacto desse conhecimento nas atitudes dos sujeitos.

3.1.2. Na sala de aula a discriminação e a possibilidade de sua reversão através

do ensino: a aplicação de um questionário.

Os dados a seguir são o resultado do questionário realizado em sala de aula com

os alunos do 4º ano vespertino do Centro Educacional Rodrigues Neto no ano de 2016. A

pesquisa abordou 17 crianças do ensino fundamental, na faixa etária de 8 a 9 anos de

idade, município de Cerro Corá/RN, sendo 9 crianças do sexo masculino e 8 do sexo

feminino, sobre a pratica e atos de racismo em sala de aula, escola e comunidade em geral.

O questionário-exercício constou de 10 questões das quais duas são objetivas

sobre ano de estudo e faixa etária e 8 subjetivas que abordam as visões de mundo dos

alunos acerca da África, da raça e do racismo. Utilizo na presente discussão, 6 das 10

questões. A metodologia de tratamento dos dados consistiu no grupamento das principais

ideias que aparecem nas respostas e são apresentadas em gráficos a seguir. O modelo do

questionário encontra-se no Anexo I.

9

Gráfico 3 – Na sua opinião como você vê a África?

Produção independente.

Vê-se na questão 3 um certo “equilíbrio” na quantidade de categorias, exceto pelo

pela categoria “lugar pobre”. É importante ressaltar se unirmos as categorias “B”, “C” e

“D”, considerando a semelhança das visões nelas contidas, obtemos uma predominância

de uma visão negativa sobre a África como lugar pobre e de falta (de comida, de água, de

riquezas). É necessário ressaltar que a afirmação da África como um lugar de pessoas

negras e/ou humildes tem a dupla possibilidade de, por um lado ser apenas uma descrição

física de uma população de cor, mas por outro lado a reiteração de um preconceito, não

por ignorar que ajam pessoas de cores e etnias diversas, mas por fazer equivalência entre

negritude como aspecto negativo e de forma correspondente a afro descendência como

aspecto igualmente negativo. Vale ressaltar que a categoria “A” levanta imagens muito

singulares dentro de um quadro cuja prevalência é negativa, que é o fato de se identificar

a África como um lugar bonito e de natureza.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(A) Lugar bonito, natureza

(B) Lugar onde falta comida (fome) e água

(C) Lugar pobre

(D) Lugar de pessoas negras, humildes

10

Gráfico 4 – Qual a imagem que você tem dos africanos?

Produção independente.

Na questão 4 abordamos a visão dos alunos sobre os africanos. Predomina ainda,

como na questão acerca da visão sobre a África, uma imagem negativa que está

representada pela categoria “D” através das visões de “pessoas negras, humildes, pobres

ou magras. Na categoria “C”, que é a segunda em relevância, a imagem sobre os africanos

está ligada ao aspecto da cor da pele. Há ainda nas categorias “B” e “E” imagens toscas

como a dos africanos como “pessoas com roupas rasgadas” e “pessoas negras com muitos

filhos”. Em um número muito ínfimo há a afirmação de que os africanos são “pessoas

normais e/ou boas”.

0 2 4 6 8 10 12

(A) Pessoas normais, pessoas boas

(B) Negros com roupas rasgadas

(C) Pessoas de cor negra/preta

(D) Pessoas, humildes, pobres ou magras

(E) Pessoas negras com muitos filhos

11

Gráfico 5 – Qual a cor que você se define?

Produção independente.

Na questão 5 interrogamos acerca de qual a cor o aluno se define. Dez, dos

dezessete alunos, afirmam ser pardos, sete afirmam ser brancos e nenhum afirma-se negro

ou indígena.

Gráfico 6 – Você acha que na sua escola há práticas de racismo entre os alunos?

Produção independente.

7

10

0 0

Branco Pardo Negro Indígena

16

1

Sim Não

12

Quando interrogamos se há práticas de racismo na escola entre os alunos, dos

dezesseis dos dezessete afirma positivamente, para um que afirma negativamente.

Gráfico 7 – Você já ouviu alguém dizer expressões tais como “macaco”, “só poderia ser preto

mesmo”, “neguinho” ou outras parecidas?

Produção independente.

Quando, na questão 7, questionamos se os alunos ouviram alguém dizer

expressões tais como “macaco”, “só poderia ser preto mesmo”, “neguinho” ou outras

expressões parecidas, onze dos dezessete afirmam que sim para seis que afirmam não ter

ouvido.

11

6

Sim Não

13

Gráfico 9 – Você já sofreu algum tipo de preconceito devido a sua cor?

Produção independente.

Quando, na questão 9, questionamos se o aluno já sofreu algum tipo de

preconceito devido a sua cor, dezesseis dos dezessete afirmam que não e apenas um

afirma que sim.

3.1.3. Na sala dos professores pesquisando raça e cor.

Os dados a seguir são o resultado do questionário respondido por 6 professores

das diversas áreas do Ensino Fundamental do Centro Educacional Rodrigues Neto no ano

de 2016. O questionário consistiu em 10 questões subjetivas a partir do qual seleciono 6

questões para uma abordagem mais quantitativo/objetiva e 3 questões para uma

abordagem qualitativa.

Quando questionados se haviam presenciado ato de racismo na Escola, três dos

seis professores afirmam que sim, dois que não e um imitiu-se.

Quando questionados sobre o que entendem por racismo em sala de aula, as

principais visões são a intolerância, exclusão e discriminação.

Todos os entrevistados afirmaram achar importante trabalhar o tema do racismo

em sala de aula.

1

16

Sim Não

14

Todos os entrevistados afirmaram não ter recebido qualquer capacitação sobre o

tema.

Todos os entrevistados afirmaram que o livro didático não dispõe de conteúdos

que aborde o assunto.

Todos os entrevistados afirmaram conhecer alguma manifestação cultural afro-

brasileira.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho abordou as questões de raça e cor em sala de aula numa escola

da cidade de Cerro Corá, município do Rio Grande do Norte. O trabalho deu-se início

com inquietações já no ano de 2014 referentes à experiência de sala de aula. A partir das

fontes escritas, escolhidas para o desenvolvimento deste trabalho, quais sejam os

Parâmetros Curriculares Nacionais referentes à Pluralidade Cultural e à Ética, percebe-se

tratar-se de um tímido delineamento de uma política de Estado.

No que toca às fontes orais, ou seja, às visões de mundo delineadas a partir da

observação, da interlocução e da aplicação de questionários a alunos e professores,

procuramos abordar e compreender as construções do preconceito sobre raça e cor na

escola. Como resultado dessa experiência, ao abordar as visões dos alunos, percebemos

a predominância de uma visão negativa sobre a África como lugar pobre e de falta de

comida, de água e de riquezas, características que vêm associadas à cor da pele, ou seja,

quando nas expressões do pensamento e da fala une-se tais categorias.

Quando buscamos abordar as visões sobre a África, predominou imagem negativa

representada por visões como lugar habitado por pessoas negras, pobres e magras e ainda

por imagens toscas dos africanos como “pessoas com roupas rasgadas” e “pessoas negras

com muitos filhos”. Tais imagens reiteram uma visão que conecta uma percepção de

elementos negativos como pobreza e doença à raça e à cor. Entre os alunos, há um número

muito ínfimo que considera os africanos como “pessoas normais e/ou boas”.

Como resultado dessa visão de mundo, nenhum dos alunos reconhece-se como

negro, afrodescendente ou mesmo indígena, apesar de afirmarem haver práticas de

racismo na escola entre os alunos e de muitos já ter sofrido algum preconceito devido a

cor. Vê-se que há uma “negação de resguardo”, de defesa contra o medo de ser

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constrangido por expressões rasteiras como “macaco(a)”, “preto(a)” ou “neguinho(a)”,

dentre outras.

Para os professores entrevistados, existe práticas de preconceito na escola e na

sala de aula e os mesmos já presenciaram os fatos que atestam. Para eles esses fatos se

dão por intolerância, exclusão e discriminação. E ainda que não tenham recebido qualquer

capacitação, que o livro didático não dispõe de conteúdos que aborde o assunto,

afirmaram achar importante trabalhar o tema do racismo e do preconceito em sala de aula.

Há, portanto, um trabalho contínuo a ser feito dentro e fora de escola no sentido

de alcançar objetivos previstos em políticas de Estado como é o caso dos Parâmetros

Curriculares Nacionais. Há ainda a necessidade de contínua formação e capacitação dos

profissionais em educação para maior sensibilidade no trato de questões de pluralidade

cultural como é o caso específico das relações etnicorraciais.

16

EDUCATION HAS NO COLOR: ISSUES OF RACE AND COLOR IN THE

CLASSROOM IN A SCHOOL OF CERRO CORÁ/RN - BRAZIL, 2014-2016.

ABSTRACT

This paper deals with research about race and color issues in the classroom in the Centro

Educacional Rodrigues Neto, fundamental level private school in the city of Cerro Corá,

located in the state of Rio Grande do Norte - Brazil. The observation wich results in this

study occurred between the years 2014 and 2015 and used as sources the Parâmetros

Curriculares Nacionais and the worldviews of students and teachers. Prevails among

students a negative world view on Africa and a denial of african-Brazilian heritage. It is

argued among teachers the need for discussion of the topic and training as a way to change

the framework of prejudice and intolerance.

KEY-WORDS

Racial and ethnic relations. Prejudice at school. Color and race. Classroom.

FONTES

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Pluralidade cultural; Orientação Sexual / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:

MEC / SEF, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Apresentação dos temas transversais: Ética / Secretaria de Educação Fundamental.

Brasília: MEC / SEF, 2001.

Estudantes e Professores do Centro Educacional Rodrigues Neto.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Pluralidade cultural; Orientação Sexual / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:

MEC / SEF, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Apresentação dos temas transversais: Ética / Secretaria de Educação Fundamental.

Brasília: MEC / SEF, 2001.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF, Senado, 1998.

BURKE, Peter. O que é História Cultural? 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Ed, 2008.

SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. São Paulo: Ed. Abril Cultural/ Ed.

Brasiliense, 1984.

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ANEXOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO HISTÓRIA AFRICANA E CULTURA AFRO-

BRASILEIRA.

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS

1. Que Série (Ano) você estuda?

( ) 3º Ano ( ) 6º Ano

( ) 4º Ano ( ) 7º Ano

( ) 5º Ano ( ) 8º Ano

2. Em que faixa de idade você se enquadra?

( ) de 6 a 7 anos ( ) de 12 a 13 anos

( ) de 8 a 9 anos ( ) de 14 a 15 anos

( ) de 10 a 11 anos ( ) de 15 a 16 anos

3. Na sua opinião, como você vê a África?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

4. Qual a imagem que você tem dos africanos?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

5. Qual cor você se define:

Preto ( ) Branco ( ) Pardo ( ) Indígena ( )

6. Você acha que na sua escola há práticas de racismo entre os alunos?

19

( ) sim ( ) não

7. Você já ouvir alguém dizer expressões tais como: “macaco”, “só poderia

ser preto mesmo”, “neguinho” ou outras parecidas?

( ) sim ( ) não

8. Você acha correto esses tipos de expressões?

( ) sim ( ) não

Por quê?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

9. Você já sofreu algum tipo de preconceito devido sua cor?

( ) sim não ( )

- Em caso afirmativo esta descriminação partiu de:

(Pode marcar mais de uma alternativa).

( ) Pelos colegas da escola

( ) Por parte dos professores

( ) Por parte de pessoas da família

( ) De amigos da rua, do bairro ou da minha comunidade

10. Como você caracteriza o preconceito racial?

( ) Vejo como algo normal.

( ) Enxergo como uma atitude grosseira.

( ) Vejo como algo que deve ser evitado.

( ) Enxergo como uma atitude comum no dia a dia pois temos que viver de

forma separada.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPOS DE CAICÓ - DEPARTAMENTO DE HISTORIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTORIA E CULTURA AFRICANA E

AFRO-BRASILEIRA

POLO CURRAIS NOVOS

DISCENTE: Ana Lucia Canário de Brito

OBJETIVO DO QUESTIONÁRIO: Analisar o entendimento dos docentes no

que refere a questão do racismo existente em sala de aula

INSTITUIÇÃO DE ENSINO: ________________________________________

AREA DE FORMAÇÃO:____________________________________________

SEXO:

( ) FEMININO ( ) MASCULINO

1. Você já presenciou o ato do racismo em sala de aula?

( ) Sim ( ) Não

2. O que você entende por racismo em sala de aula?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

3. Você acha importante trabalhar esse tema em sala de aula?

( ) Sim ( ) Não

Por quê?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

4. Você já recebeu alguma capacitação sobre o tema?

21

( ) Sim ( ) Não

Qual?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

5. O livro didático dispõe de conteúdos que aborde o assunto?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

6. Você pode descrever a situação da discriminação?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

7. A escola já desenvolveu algum projeto ou aula sobre diversidade racial?

( ) Sim ( ) Não

8. Qual a maior dificuldade que você encontra em falar de racismo em sala

de aula?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

9. Você conhece alguma manifestação cultural trazidas pelos negros?

( ) Sim ( ) Não Qual?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

10. Como devemos combater o racismo?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________