UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · entrevista com moradores mais antigos da cidade...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS - DCSH CURSO DE TURISMO BACHARELADO
SAYONARA PATRÍCIA AZEVÊDO DA COSTA
TURISMO RELIGIOSO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE: O
PROFANO E O RELIGIOSO NA FESTA DE NOSSA SENHORA DA GUIA NO
MUNICÍPIO DE ACARI.
CURRAIS NOVOS-RN
2015
2
SAYONARA PATRÍCIA AZEVÊDO DA COSTA
TURISMO RELIGIOSO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE: O
PROFANO E O SAGRADO NA FESTA DE NOSSA SENHORA DA GUIA NO
MUNICÍPIO DE ACARI.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Campus Currais Novos, para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.
Orientadora: Profa. Dra. Paula Rejane
Fernandes
CURRAIS NOVOS-RN
2015
3
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Currais Novos
Costa, Sayonara Patricia Azevedo da.
Turismo religioso no interior do Rio Grande do Norte: o profano e o religioso na festa de Nossa Senhora da
Guia no município de Acari / Sayonara Patricia Azevedo da Costa. – Currais Novos, RN, 2015.
60 f. : il. color.
Orientador(a): Profa. Dra. Paula Rejane Fernandes.
Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do
Seridó. Departamento de Ciências Sociais e Humanas. Curso de Turismo-Bacharelado.
1. Turismo Religioso – Monografia. 2. Festa de Padroeiro – Monografia. 3. Festejo religioso – Acari/RN –
Monografia. I. Fernandes, Paula Rejane. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSCN CDU 338.48(813.2)
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TURISMO RELIGIOSO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE: o profano e
o sagrado na festa de Nossa Senhora da Guia no município de Acari.
O trabalho apresentado foi julgado e aprovado para a obtenção do Grau de
Bacharelado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.
Currais Novos-RN, _____,de________________,de 2015.
____________________________________________
Prof. Carolina Todesco
Coordenadora do Curso de Turismo
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Dra. Paula Rejane Fernandes Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
Orientadora
____________________________________________
Me.,Marcelo Chiarelli Millito Universidade Federal do Rio Grande-UFRN
Membro da Banca Examinadora ____________________________________________
Dr. Rodrigo Cardoso da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
Membro da Banca Examinadora
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6
AGRADECIMENTOS
Dedico esta monografia, primeiramente a Deus, pois sem a fé que tenho a ele
não conseguiria chegar até onde cheguei e finalizar este trabalho.
A meus pais Maria de Fátima e José Francisco que sempre apoiaram as
decisões que tomei no decorrer do curso, e que acreditaram em mim investindo em
meus estudos suportando meus momentos de estresse, e principalmente por
almejar este sonho junto a mim.
Não posso deixar de agradecer a minha amiga Beatriz Ferreira que dentre
muitos amigos, foi à principal que me incentivou a não desistir, e por compartilhar os
melhores e piores momentos da vida universitária ao meu lado.
Aos meus amigos de colégio Priscilla Karine, Máyra Medeiros e Marcus
Vinícius que juntos sonhamos em ingressar numa faculdade e a partir daí trilharmos
nossos caminhos. Apesar da distância entre Priscilla e Máyra, sempre mantivemos o
contato e emanávamos força, coragem e perseverança umas as outras para que
mesmo com os desafios, os medos e as incertezas nunca recuássemos.
A minha avó paterna Inês da Costa que tinha como sonho em vida, ver um de
seus netos graduados, que infelizmente não chegou a realizá-lo, mas sei que onde
quer que esteja, torceu por mim.
A professora Mayara Farias que foi uma das peças fundamentais para o tema
deste trabalho e que me incentivou a não desistir no último ano do curso.
Agradeço também ao meu grande amigo Irismar Fernandes e a Rusimara por
estarem junto a mim desde o início compartilhando dessa conquista.
Por fim, agradeço a minha orientadora Paula Rejane que se manteve
preocupada e dedicou-se pacientemente comigo, uma pessoa simples, porém rica
de conhecimentos e que os ensinamentos como pessoa, aluna e futura profissional
não serão em vão.
7
“Posso ter defeitos, viver ancioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueça de que minha vida é a maior empresa do
mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é
reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise”.
Augusto Cury.
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COSTA, Sayonara Patrícia Azevêdo da. TURISMO RELIGIOSO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE: O PROFANO E O SAGRADO NA FESTA DE NOSSA SENHORA DA GUIA NO MUNICÍPIO DE ACARI. 2015. Monografia (Graduação em Turismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Currais Novos/RN
Resumo
O referente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geral analisar possível existência de impactos na Festa de Nossa Senhora da Guia até o ano de 2015 quanto alterações nos rituais e festejos religiosos de acordo com relatos de residentes mais antigos e de pessoas que participaram da festa na cidade de Acari no interior do Rio Grande do Norte. Quanto aos objetivos específicos, estes são: a) Identificar como os residentes mais antigos vivenciavam e vivenciam a festa da Padroeira Nossa Senhora da Guia; b) Identificar quem eram seus participantes e como a festa era organizada; c) Analisar como a festa deixou de ser realizada apenas com intuito religioso passando para momentos profanos. Desta forma, realizou-se inicialmente uma coleta de dados relacionados com diversos autores tendo em vista o tema proposto, dando profundidade aos temas: turismo religioso, o sagrado e o profano nas festas de padroeiro, e Acari e a festa de Nossa Senhora da Guia. Entre estes autores, cita-se: Andrade (2000), Dias e Silveira (2003), Durkheim (1996), Leite (2000), Minayo (1993), Novaes (1999), Oliveira (2010) e outros importantes autores para a concretização deste estudo. A metodologia utilizada constitui-se de pesquisa bibliográfica para a fundamentação do tema proposto, e principalmente a coleta de dados foi de uma entrevista com moradores mais antigos da cidade que participavam da festa da padroeira. Caracterizada como uma pesquisa exploratória, descritiva e qualitativa. O universo do trabalho envolve a religiosidade dos acarienses com a prática do turismo religioso de modo a investigar em que momento a festa de Nossa Senhora da Guia passou a realizar atividades de cunho profano em meio à religiosidade. Entre os resultados encontrados de acordo com as entrevistas, vale destacar que o sagrado e o profano na festa da padroeira perfazem ao longo dos anos a cultura da cidade de modo que os impactos causados pelo turismo vêm sendo minimizados, tendo em vista os que desenvolvem as atividades religiosas buscam conscientizar seus devotos que o turismo em Acari deve ser propagado e planejado de maneira eficaz para que a população e o meio ambiente em si não sofram danos em relação à recepção para com os peregrinos vizinhos. Já o profano, mesmo com a dificuldade da seca, foi-se trabalhado minimamente todos os detalhes para que os shows musicais, feirinha, festa privada não agredissem a memória da identidade do local.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo Religioso. Sagrado e Profano. Festa de Padroeiro. Nossa
Senhora da Guia.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Fachada da igreja do Rosário ..................................................................... 28
Figura 02: Interior da Igreja .......................................................................................... 29
Figura 03: Saída da imagem ........................................................................................ 30
Figura 04: Início da procissão ...................................................................................... 32
Figura 05: Desfile do Agricultor .................................................................................... 33
Figura 06: Cavaleiros, vaqueiros e agricultores ........................................................... 34
Figura 07: Cavalgada no desfile do agricultor .............................................................. 34
Figura 08: Feirinha ....................................................................................................... 35
Figura 09: Show musical na tradicional feirinha ........................................................... 36
Figura 10: Imagem de Nossa Senhora da Guia ........................................................... 36
Figura 11: Saída da imagem de Nossa Senhora da Guia da Matriz ............................ 37
Figura 12: : Acarienses e visitantes na Procissão de Nossa Senhora da Guia ............ 37
Figura 13: Procissão de Nossa Senhora da Guia nas principais ruas do centro de
Acari .............................................................................................................................. 38
Figura 14: Momento de fé e devoção na procissão de Nossa Senhora da Guia.......... 39
Figura 15: Programação social da festa da padroeira de Acari .................................... 40
Figura 16: Mapa do Rio Grande do Norte .................................................................... 43
Figura 17: Localização do município de Acari .............................................................. 43
Figura 18: Auto do Natal em Acari ............................................................................... 44
Figura 19: Encenação da Paixão de Cristo .................................................................. 45
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Identificação dos entrevistados ................................................................... 49
Quadro 2: Mês das entrevistas ..................................................................................... 51
Quadro 3: Impactos positivos e negativos (festa da padroeira – religioso) .................. 52
Quadro 4: Impactos positivos e negativos (festa da padroeira – profano) ................... 53
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA .................................................................................. 14
1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 16
1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................ 19
1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 19
1.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 20
2.1 TURISMO RELIGIOSO: PERSPECTIVAS GERAIS ............................................... 20
2.1.1 Turismo e suas vertentes religiosas ..................................................................... 21
2.2 O SAGRADO E O PROFANO NAS FESTAS DE PADROEIRO ............................. 24
2.3 ACARI E A FESTA DE NOSSA SENHORA DA GUIA ............................................ 26
2.3.1 A festa mais charmosa do Seridó ......................................................................... 30
3 METODOLOGIA ........................................................................................................ 42
3.1 NATUREZA DA PESQUISA .................................................................................... 42
3.2 UNIVERSO DA PESQUISA .................................................................................... 42
3.3 TÉCNICA DE COLETA ........................................................................................... 45
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 48
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS ....................................................... 48
4.2 ANÁLISE DOS PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS NA FESTA DA
PADROEIRA ANTIGAMENTE ATÉ O ANO DE 2015 ................................................... 52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 55
REFERÊNCIAS
APÊNDICE
12
1 INTRODUÇÃO
Conforme explica Waechter Júnior (2004), ao perceber que o turismo vem
crescendo mundialmente como atividade econômica, fazendo com que as pessoas
se desloquem de suas casas em busca de entretenimento, lazer e bem-estar, o
segmento turismo religioso tem nos últimos tempos, grande influência no que diz
respeito à atividade turística.
A realização do turismo se dá a partir da compreensão da motivação dos
turistas, no entanto, a prática da religiosidade tem como objetivo as manifestações
de fé e devoção, assumindo o papel da preservação dos valores antigos e da cultura
no que diz respeito ao futuro da sociedade.
Para Dias e Silveira (2003, p. 34) devido a este aspecto de atendimento
múltiplo das necessidades humanas, o turismo religioso poderá ser responsável pelo
fluxo principal de visitantes a muitas localidades, que poderão multiplicar seus
efeitos positivos através de um planejamento turístico que permita aumentar a
diversidade de atrativos locais e regionais fazendo com que o visitante permaneça
mais tempo no local.
Com isso, a existência de um planejamento que desenvolva um trabalho
capaz de unir o que o visitante deseja e a atividade que essa prática turística
religiosa proporciona, devem estar interligadas, para tanto Andrade (2000, p.77)
explica que “o conjunto de atividades”, com utilização parcial ou total de
equipamentos, e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos
místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade dos crentes ou pessoas
vinculadas a religiões, denomina-se turismo religioso.
Ainda para Dias e Silveira (2003, p. 35), o homem continua tendo que
satisfazer sua curiosidade humana, conhecer novos lugares, monumentos, pessoas.
Continua necessitando descansar, divertir-se e reunir com os amigos. É buscando
atender essas necessidades que o município multiplicará os efeitos econômicos
positivos do turismo religioso.
Nesse sentido, os deslocamentos de suas residências com intuito de
conhecer lugares que proporcionem espetáculos religiosos, independentemente do
credo, tendo as romarias, peregrinações, penitências, procissões e quaisquer outras
manifestações denominadas “místicas”, como símbolo do turismo religioso.
13
Em se tratando de turismo religioso, torna-se necessário apontar os pontos
positivos e negativos que esta atividade proporciona no seu desenvolvimento. Se de
um lado, este segmento possibilita ao peregrino a necessidade de viajar para outros
lugares a procura de cerimônias e festejos religiosos para assim fazer seus
agradecimentos, proporcionando maior demanda no fluxo turístico das cidades, por
outro lado, alguns problemas originários da falta de elaboração e implantação de
planos de desenvolvimento para essa prática religiosa, são causadores de uma má
organização na realização desses eventos, como por exemplo, a falta de
infraestrutura turística, participação da comunidade, do setor público e privado.
Novaes (1999, p. 129) retrata os efeitos econômicos do turismo religioso
quando diz que:
Estudos sobre os impactos econômicos do turismo religioso, apesar de ainda insuficientes ou pouco disponibilizados, permitem inferir que essa modalidade turística contribui para o redimensionamento da economia local por meio de adaptações de equipamentos de hospedagens, serviços de comércio e gastronomia, lazer etc., que tomam uma ampla configuração no espaço territorial.
Sendo assim, percebe-se que a prática de atividades religiosas não acontece
necessariamente devido ao calendário litúrgico como também de acordo com o
tempo disponível dos devotos para se deslocarem em busca de lugares que
possibilitem momentos de oração.
Com esse novo segmento turístico surgem as festas religiosas que se
tornaram parte da cultura de cada região, que além de celebrar os festejos da
localidade, as tradições religiosas permanecem vivas enriquecendo o patrimônio
cultural.
No município de Acari, interior do Rio Grande do Norte, a cada ano a
religiosidade ganha destaque nos ritos e festejos, tendo como principal manifestação
a devoção dos moradores da cidade para com a padroeira Nossa Senhora da Guia.
Bem como em qualquer outra cidade, o turismo religioso em Acari necessita
de investimentos, apoio do poder público e incentivo da população, podendo crescer
no cenário turístico de maneira ordenada.
Respirando a religiosidade, o município tem destaque nos atrativos turísticos
religiosos à igreja de Nossa Senhora do Rosário (1730), o Museu Sertanejo, a gruta
de Nossa Senhora de Lourdes, que se localiza no povoado Gargalheiras, e a Matriz
14
de Nossa Senhora da Guia (1737), reunindo turistas e peregrinos de toda região.
Durante o mês de agosto, a cidade se organiza para receber esses turistas
proporcionando-lhes atos de fé em virtude da santa (TEIXEIRA e ROMÃO JÚNIOR,
2000).
O município de Acari está localizado no Seridó Oriental do Rio Grande do
Norte, com sua população de 11.209 habitantes, segundo o IBGE1 (2010) sendo
8.865 habitantes na zona urbana e 2.344 na zona rural.
A cidade limita-se ao Norte, com os municípios de São Vicente e Currais
Novos; ao Sul, com os municípios de Jardim do Seridó, Carnaúba dos Dantas e
Parelhas; ao Leste, com o município de Frei Martinho (Paraíba); ao Oeste com os
municípios de Cruzeta e São José do Seridó.
Habitado inicialmente pelos índios Cariris, Acari foi fundada, na condição de
povoado, pelo sargento-mor Manuel Esteves de Andrade, vindo da Serra do Saco.
Manuel Esteves ergueu em 1737 a capela no novo povoado, consagrada a Nossa
Senhora da Guia. Em 11 de abril de 1835, foi criado o município de Acari, por
resolução do conselho de Governo (ver o site http://www.acari.rn.leg.br/).
Os bens culturais para consumo turístico, de acordo com Leite (2000, p. 159)
compreendem o acervo a monumentos históricos e o registro de legados que
expressam o valor da sociedade; os museus e as galerias de arte, que reúnem as
várias modalidades de expressão artística, um verdadeiro arquivo de etapas de
desenvolvimentos de culturas; as manifestações populares de caráter religioso e
profano; e a cultura popular, que mais efetivamente evidencia o presente de cada
área, tornando-se por vezes, geradora de fluxos turísticos específicos e
caracterizadora de regiões.
Dessa maneira, a festa da padroeira de Acari assim como outras cidades do
Seridó, como Currais Novos e Caicó não muda a data de comemoração visto que
são municípios que recebem um fluxo bastante considerável de turistas e visitantes.
Com início em 05 de agosto e término em 15 do referente mês, é estabelecida uma
programação das noites novenárias para que os devotos possam acompanhar e
participar das cerimônias religiosas.
1Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
15
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
O turismo é considerado por Dias e Aguiar (2002, p. 13) como a principal
atividade econômica, a maior “indústria” existente, superando setores tradicionais,
tais como a indústria automobilística, a eletrônica e a petrolífera.
Ainda ressaltando que o turismo, portanto, é um fenômeno universal,
conectando todas as partes do sistema global, aumentando a compreensão dos
indivíduos de pertencerem a um todo, e ao mesmo tempo incrementando a sua
consciência de pertencerem a um local determinado, pois, com a presença do outro,
ao se explicitarem as diferenças, se fortalece a identidade cultural.
Para tanto, percebe-se que o turismo apresenta várias vertentes a fim de
identificar qual a motivação dos turistas e visitantes, de modo que o turismo religioso
trabalha com a fé e devoção das pessoas, acarreta na necessidade de elaboração
de atividades que o devoto sinta-se inserido nesse aspecto da religiosidade.
Dias e Aguiar (2002, p. 30), afirmam que:
Turismo religioso relaciona-se com romarias e peregrinações que os fiéis realizam nos lugares sagrados. Há uma multiplicidade de lugares sagrados nos diversos países, que se relacionam com as mais diversas manifestações religiosas.
Com isto, Dias (2005, p. 57) acredita que definir motivações como forças que
se manifestam em resultado de uma necessidade não satisfeita e que induzem
condutas ou comportamentos das pessoas que buscam assim sua satisfação.
Portanto, a base das motivações são as necessidades que devem atingir um nível
de intensidade alto para induzir uma pessoa a agir.
Ao se tratar de turismo em si, muito se sabe sobre os impactos que decorrem
de sua prática, no qual Beni (1998, p.39, 40) destaca as seguintes eficiências nessa
atividade, tais como:
Promover a difusão de informações sobre uma determinada região ou
localidade, seus valores naturais, culturais e sociais;
Abrir novas perspectivas sociais como resultado do desenvolvimento
econômico e cultural da região;
Integrar socialmente, incrementar (em determinados casos) a
consciência nacional;
16
Desenvolver a criatividade em vários campos;
Promover o sentimento de liberdade mediante a abertura ao mundo,
estabelecendo ou estendendo os contatos culturais, estimulando o
interesse pelas viagens turísticas.
Por outro lado, o autor destaca os seguintes impactos que o turismo pode
causar:
Degradação e destruição dos recursos naturais;
Perda da autenticidade da cultura local;
Descrição estereotipada e falsa do turista e do país ou região de que
procede, por falta de informação adequada;
Ausência de perspectivas para aqueles grupos da população local das
áreas de destinação turística, que não obtêm benefícios diretos das
visitas dos turistas ou do próprio Sistema de Turismo da localidade;
Aparecimento de fenômenos de disfunção social na família, patologia
no processo de socialização, desintegração da comunidade;
Dependência do capital estrangeiro ou de estereótipos existentes em
face do Turismo.
Visto isso, deve-se observar que os impactos negativos do turismo por si só
não resultam em uma prática mal organizada, mas também o contato entre
visitantes e residentes podem ser prejudicial para a população local, em se tratando
da cultura que muitas vezes é afetada.
Alguns dos maiores impactos negativos que abarca os turistas e moradores de
determinada região, é a criminalidade e a saúde, segundo relata em seu livro,
Cooper (2007).
No entanto, para que a prática do turismo religioso seja trabalhada de maneira
a atrair os visitantes com intuito apenas voltado para a fé, devoção e religiosidade
buscam-se identificar em que momento a festa de Nossa Senhora da Guia na cidade
de Acari no interior do Rio Grande do Norte, passou a realizar atividades de cunho
profano, causando alterações nos festejos religiosos durante o período da festa.
Na localidade, observa-se que os turistas mostram-se mais devotos no
encerramento com a procissão, participando ativamente apenas dos ritos profanos,
com isso a cultura e a tradição da comunidade em trabalhar para oferecer um
momento sagrado para seus emissores, faz com que haja uma pequena decepção,
17
visto que muitos deixam de participar de uma missa para curtir shows musicais que
não estejam ligados à igreja.
Com isso, pode-se perceber que de um lado a participação dos turistas no
período da festa da padroeira não gera apenas pontos negativos, mas também
vários pontos positivos, como a participação fervorosa nas noites de novenário com
a vinda de caravanas de cidades vizinhas em noites específicas e na procissão,
tornando relevante conhecer se os residentes acreditam que a prática do turismo
pode resultar em alterações quanto à atividade religiosa. Deste modo, surge a
seguinte pergunta-problema: Em que momento a festa de Nossa Senhora da Guia
na cidade de Acari, passou a realizar atividades de cunho profano em meio à
religiosidade?
1.2 JUSTIFICATIVA
O turismo religioso tem se mostrado um importante segmento da atividade
turística em termos de atrair os visitantes, bem como entreter os moradores do local.
A preservação da identidade popular é uma das funções do Estado e um dever de
toda sociedade no qual a preocupação de preservar abarca todos os valores
humanísticos.
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e
Educação) é o órgão responsável pela definição de regras e proteção do patrimônio
histórico e cultural da humanidade. No Brasil, o IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional) é o órgão responsável pela gestão, proteção e
preservação do patrimônio histórico e artístico. A preservação da memória de um
povo está diretamente relacionada à conservação de seu patrimônio cultural.
A partir daí, entende-se que patrimônio histórico é mais que relatos do
passado, é uma nova visão do presente, expressado pela herança cultural,
materializados em bens que testemunham a presença do valor histórico na
sociedade.
Beni (2006) aborda o fato de que é necessário criar, desenvolver, conservar e
proteger recursos turísticos como parte de um desenvolvimento equilibrado das
atividades.
18
Estudar turismo religioso no interior do Rio Grande do Norte permite analisar
possível existência de impactos na Festa de Nossa Senhora da Guia até o ano de
2015 quanto a alterações nos rituais e festejos religiosos de acordo com relatos de
residentes mais antigos da cidade de Acari, no qual, devido às características dessa
atividade e a complexidade dos problemas causados por este segmento faz com
que seja oportuno o levantamento desses possíveis impactos na cidade,
considerando que cada lugar possui valor único para sua população, justificando o
desenvolvimento do referente projeto.
De tal modo, pode-se perceber que a festa é um patrimônio da cidade, como
retrata Dias (2003, p. 17),
o turismo religioso apresenta características que coincidem com o turismo cultural, devido à visita que ocorre num entorno considerado como patrimônio cultural, os eventos religiosos constituem-se em expressão cultural de determinados grupos sociais ou expressam uma realidade histórico-cultural expressiva e representativa de determinada região. Mas também se deve ter em conta que as motivações não são exclusivamente culturais, já que, para falar de turismo religioso, devem estar presentes também as motivações religiosas.
Assim, faz-se necessário conhecer as motivações turísticas para que a prática
da religiosidade seja desenvolvida em virtude das perspectivas dos turistas,
visitantes e moradores.
Durante as festas religiosas em Acari, o fluxo turístico não é considerado
apenas por demandas religiosas, mas também por outras razões como é o caso do
turismo cultural e histórico, visto que estão entrelaçados com a religiosidade.
Para Ribeiro (2010, p. 13), considerando a área de destino, objetivo final da
viagem, motivação e outro dos principais pontos a serem considerados, pode-se
fazer algumas distinções básicas entre os atrativos turístico-religiosos, classificando-
os em seis diferentes tipos:
Santuários de peregrinação;
Espaços religiosos de grande significado histórico-culturais;
Encontro e celebrações de caráter religioso;
Festas e comemorações em dias específicos;
Espetáculo artístico de cunho religioso;
Roteiros de fé.
19
Muitos acarienses devotos da santa Nossa Senhora da Guia acreditam que a
cidade de Acari concentra a terceira maior festa religiosa católica no Seridó, devido
principalmente a procissão que atrai milhares de fiéis a cada ano.
Moura (2001, p. 38) esboça a ideia de uma caracterização das festas
populares brasileiras, começando por seus componentes estruturais:
Religiosas: ministradas por sacerdotes ou pessoas autorizadas pela
igreja, como missa, procissão, benção, novena e reza; e
Profano-religiosas: ministradas por leigos com aprovação do sacerdote,
homenageando figuras sacras, de modo alegre e festivo, entre estas
estão: o levantamento de mastro bailado como congados, Folia de
Reis, Império do Divino, Reinado do Rosário, Pastorinhas.
Ainda segundo Moura, há uma importância das festas religiosas para o
turismo, ao afirmar que:
A beleza das festas que celebram as vidas dos santos nem sempre conservam a autenticidade de suas origens devocionais, mas constituem-se num dos principais atrativos turísticos do Brasil, tanto nos grandes centros como nas cidades mais humildes (...). As festas, grande motor do turismo nacional, constituem, assim, um dos grandes patrimônios culturais de nosso país (MOURA, 2001, p. 49).
Deste modo, em Acari os espetáculos religiosos buscam mostrar através da
fé e devoção que a cultura da cidade continua com suas características.
A relevância pessoal do projeto acarreta na prática do conhecimento teórico
obtidos em sala de aula sobre os impactos do turismo na realização de sua
atividade, bem como a possibilidade de adquirir informações sobre o perfil da
comunidade, dos turistas e visitantes no município. Como residente, percebe-se a
necessidade em contribuir de alguma forma para futuros trabalhos que poderão
surgir em torno do tema proposto, tendo em vista que o aspecto turismo religioso
sempre está em construção.
O projeto em si é de grande relevância para os Acarienses, visto que o
conhecimento da análise científica em torno da religiosidade e turismo no local é
bem delimitada, principalmente em relação à Festa da Padroeira. Muito embora haja
várias referências bibliográficas sobre a história de Acari, a falta de interesse na
realização de trabalhos acadêmicos sobre a comunidade resulta em dificuldades de
analisar as práticas religiosas e seus impactos.
20
Assim, a pesquisa proporcionará uma compreensão sobre a festa de Nossa
Senhora da Guia para seus moradores, atrelando ao turismo religioso.
A finalidade da presente pesquisa está em demonstrar, apresentar e/ou
contestar um conhecimento produzido ou acumulado. Retificar o conhecimento é
uma necessidade na comunidade acadêmica, no qual esse conhecimento torna-se
critério de acesso às informações obtidas ao longo do processo de aprendizagem
sobre determinado tema.
Por tanto, a problemática do referente trabalho está em analisar possível
existência de impactos na festa durante o presente ano quanto alterações notórias
que mudaram o festejo de cunho religioso para profano com o passar dos anos,
através de relatos de residentes mais antigos da cidade de Acari.
1.3OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
Analisar os impactos na Festa de Nossa Senhora da Guia até o ano de 2015 quanto
alterações nos rituais e festejos religiosos de acordo com relatos de residentes mais
antigos da cidade de Acari no interior do Rio Grande do Norte.
1.3.2 Objetivos específicos
a) Identificar como os residentes mais antigos vivenciavam e vivenciam a festa
da Padroeira Nossa Senhora da Guia;
b) Identificar quem eram seus participantes e como a festa era organizada;
c) Caracterizar como a festa deixou de ser realizada apenas como intuito
religioso passando para momentos profanos.
21
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 TURISMO RELIGIOSO: PERSPECTIVAS GERAIS
O turismo é considerado uma das maiores indústrias mundiais no mercado
econômico, movimentando inúmeras pessoas de seu habitat natural por diversos
motivos e para diferentes lugares.
Para Alvim (2003), “o aumento do tempo livre, o barateamento do transporte
aéreo, a melhora do mercado turístico focalizado na preferência das pessoas, a
melhora nas tecnologias de comunicação, a conversão de elementos das
localidades para produtos turísticos, a diminuição do número de pessoas nas
famílias, a juvenilização dos mercados e outros tantos fatores propulsionaram essa
atividade”.
Deste modo, percebe-se que o turismo vem aperfeiçoando-se de acordo com
as disponibilidades, necessidades e desejos dos turistas e visitantes, na medida em
que a demanda por atividades economicamente mais acessíveis possibilitam uma
maior procura para a realização dessa prática turística.
Dias e Silveira (2003, p. 99), declaram que se pode cogitar se toda motivação
turística (da viagem, destino e vivência) corresponde à demanda turística da
imaginação coletiva (dos mitos) e sistemas de crenças e valores que envolvem
nosso contexto de vida moderna.
Assim, ainda ressalta que toda motivação seria mítica na medida em que a
estrutura nos valores internos de cada turista, um sonho coletivo, um ideal, uma
metáfora das trajetórias heróicas de seres especiais (deuses) que vivenciam outros
mundos e retornam a sua origem iluminados. E, em boa parte das ocasiões, esse
ideal é sistematizado num credo religioso, num sistema de crenças.
Visto isso, acredita-se que o Brasil possui vários atrativos para conquistar os
turistas, porém, para que ganhe maior destaque em relação a países consolidados
no turismo como Espanha, França e Portugal são necessários à transformação de
atrativos como pontos turísticos, ou seja, não divulgar apenas uma imagem das
terras brasileiras, mas sim investir numa infraestrutura para melhor receber os
visitantes.
Mediante isto, Wille (2003) afirma que o Brasil perante o mercado mundial,
ainda ocupa uma posição discreta quanto aos números do turismo, apesar de
22
possuir um grande potencial devido a fatores como a grande extensão territorial -
favorece a existência de variações climáticas, ambiente natural (serra, litoral,
cerrado, planalto), fauna e flora entre outros, dentro de uma mesma estação do ano.
Ainda ressalta que é possível encontrar dias ensolarados propícios para a
praia no nordeste em pleno inverno, ou visitar o sul nesta mesma época e sentir
muito frio (com sorte, é possível ver até neve). Tendo em vista que o Brasil tornou-se
a "pátria mãe" para descendentes de diversas etnias. São alemães, italianos,
africanos, japoneses, poloneses, austríacos, húngaros, turcos, holandeses,
portugueses, espanhóis, indígenas e uma série de outros que trouxeram as
tradições da culinária, vestimenta, música, dança, festas.
Dessa maneira, tornam-se imprescindíveis dois fatores para uma boa
execução da atividade turística, que é um planejamento adequado, avaliando fatores
como: qual a opinião dos moradores a respeito da prática de turismo; o que os
visitantes esperam encontrar; quais os recursos e investimentos serão utilizados
para a realização, entre outros.
E o outro fator não menos importante é a qualificação profissional, podendo
observar que muitos desses profissionais são universitários de turismo, além de
cursos técnicos que preparam seus alunos para o mercado de trabalho no setor
turístico de modo que com uma preparação, o profissional pode desempenhar suas
tarefas de maneira eficaz contribuindo para a realização de uma atividade turística
bem executada.
2.1.1 Turismo e suas vertentes religiosas
O Brasil não oferece apenas carnaval e mulatas nem tampouco turismo de sol
e praia, o país é um grande investidor de turismo religioso.
O desenvolvimento de práticas religiosas é um importante fator na determinação de locais com potencial turístico. Nesse sentido, o Brasil, onde a fé católica é predominante, possui um número bastante significativo de locais religiosos que atraem viajantes de todo tipo: peregrinos, romeiros, pessoas atraídas pela cultura do espaço religioso etc. Na maioria das localidades, onde existem santuários ou ocorrem manifestações religiosas, a infraestrutura para receberem visitantes ainda é precária, muitas vezes devido a pouca compreensão do potencial econômico (OLIVEIRA, 2004).
23
O turismo religioso é, portanto, um grande produto turístico uma vez que sua
atividade expressa sentimentos místicos, suscitam a fé, e devoção das pessoas que
possuem um vínculo com a religião.
É uma prática social que envolve o deslocamento provisório de pessoas entre
diferentes localidades, cuja motivação principal é a religião, com utilização de
instalações e serviços turísticos a lugares considerados sagrados (DIAS E
SILVEIRA, 2003, p. 100).
Há uma consequência da necessidade humana de aperfeiçoar seu
conhecimento sobre o meio em que vive e refletir sobre sua existência, no qual, há
um avanço do turismo religioso.
Neste aspecto, Dias e Silveira (2003) afirmam que o turismo religioso poderá
ser responsável pelo fluxo principal de visitantes a muitas localidades, que poderão
multiplicar seus efeitos positivos através de um planejamento turístico que permita
aumentar a diversidade de atrativos locais e regionais fazendo com que o visitante
permaneça mais tempo no local. Em muitos casos, a motivação religiosa é muito
forte e o visitante se desloca de qualquer modo. No entanto sua permanência deve
ser trabalhada com o desenvolvimento de uma infraestrutura de serviços e
equipamentos que faça com que sua estadia seja agradável.
O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) incorporou definitivamente os
principais santuários católicos brasileiros como um produto turístico semiacabado. A
publicação de Roteiros da Fé Católica, o Brasil enumera 64 centros de atrativos
religiosos, entre templos, espetáculos e festividades diretamente ligadas ao
catolicismo popular e regional (TEIXEIRA e ROMÃO JÚNIOR, 2000).
Sendo um produto totalmente capitalista, o turismo enquanto fenômeno social
econômico vem transformando as viagens em mercadorias seja uma atividade
religiosa, de lazer ou outros.
Segundo Dias e Silveira (2003), o próprio peregrino moderno comporta-se
como um turista à medida que a religião se torna objeto de consumo. Mas ainda
assim o aspecto penitencial, ou seja, o turismo religioso é o motivador da viagem.
Para Andrade (2000, p. 79, 80), ressalvando o turismo de férias e o turismo
de negócios, o tipo de turismo que mais cresce é o religioso, porque – além dos
aspectos místicos e dogmáticos – as religiões assumem papel de agentes culturais
importantes em todas as suas manifestações de proteção a valores antigos, de
24
intervenção na sociedade atual e de prevenção no que diz respeito ao futuro dos
indivíduos e das sociedades.
Acrescenta ainda que “em nome do amor, a fé cristã tornou a Igreja Católica a
pioneira da organização hoteleira mundial, que em virtude das necessidades
humanas, tornou-se um dos ramos mais lucrativos do comércio de serviços”
(ANDRADE, 2000).
O cotidiano pode ser muito bom e excepcionalmente proveitoso, mas também
é cansativo e saturante, a ponto de levar indivíduos e grupos à procura dos mais
diversos substitutos – mesmo que temporários –, de variáveis e de alternativas
diversas, em busca de sua felicidade ou de alguma coisa que possa representá-la,
retrata Andrade (2000, p. 87).
Logo ainda, autor acredita que a intensa atividade humana e os desgastes
dela decorrentes levaram a própria sociedade a procurar recursos capazes de
fornecer aos indivíduos os necessários meios para o atingimento de muitas de suas
aspirações, entre as quais a prática do lazer e do turismo, cujas principais
motivações são as seguintes: desejo de evasão, necessidade de evasão, espírito de
aventura, aquisição de status, necessidade de tranquilidade, desejo ou necessidade
cultural, desejo ou necessidade de compra (ANDRADE, 2000, p. 89, 90).
Quanto ao produto turístico, Andrade aponta que:
Produtivo e dinâmico, o turismo se aproveita, de maneira intensiva e permanente, de todo o potencial dos recursos naturais sem esgotá-los, e também dos recursos e riquezas criados, propiciando todos os meios possíveis para conservá-los e valorizá-los tanto quanto possível, na medida das necessidades e das convivências de sua operação (ANDRADE, 2000, p.99).
De tal modo que classifica bens históricos, culturais e religiosos como tudo o
que diz respeito a construções espaciais e todas as demais formas de valores
artísticos, concebidos e executados em determinadas sociedades, sob rótulos de
arte, folclore e artesanato. Encerra também todas as formas e modos de
manifestações culturais e religiosas cuja compreensão segue as consequências das
leis da entropia aplicadas às ciências humanas.
A autora Sá (2002, p. 109, 110) aborda algumas questões sobre a imagem do
Brasil turístico, no qual se tem uma visão muito generalizada de que o país só se
vende turisticamente pelas suas belas praias, mulheres e apelo ao exótico, dentre as
25
quais faz as seguintes indagações: “Mas, o que é exótico brasileiro? O que significa
ser o País do Carnaval?
Claramente afirma que em termos de atratividade para o turismo, de um modo
geral a imagem do Brasil se qualifica pelas seguintes categorias:
O Brasil paraíso;
O lugar de sexo frágil;
O Brasil do brasileiro;
O país do carnaval;
O lugar do exótico e do místico.
Nesta última categoria está relacionada às ideias bizarras, a religiosidade, o
mistério, a cultura indígena pelo seu aspecto exótico, os ritos e rituais de um modo
geral. Contudo, a autora destaca que essa imagem se manifesta por meio das
citações de ritos, celebrações e manifestações religiosas, rituais de candomblé,
cerimônias de possessão.
Com isso, fica evidente que o turismo religioso é um dos maiores motivadores
para a prática da atividade turística, proporcionando momentos de fé e devoção com
aqueles que buscam um contato com o sagrado, divino ou misterioso.
2.2 O SAGRADO E O PROFANO NAS FESTAS DE PADROEIRO
O segmento religioso divide-se em duas partes: o sagrado e o profano, no
qual se prevalece uma visão dualista, onde um se opõe ao outro. Émile Durkheim
(1996, 51) em seus estudos sobre a religião destaca que o “sagrado e o profano
foram pensados pelo espírito humano como gêneros distintos, como dois mundos
que não têm nada em comum” e conclui: “existe religião tão logo o sagrado se
distingue do profano”.
Deste modo, evidencia-se o sagrado como aquilo que está ligado à religião,
mitos, crenças, remetendo-se ao que é considerado extraordinário, transcendental
ao anormal, porém, a concepção do profano é quando um fato natural, biológico e
normal é tratado diferentemente do que seja considerado sagrado.
Se por um lado as festas de padroeiro são entendidas como sagradas devido
às procissões e celebrações dos fiéis que oram, pagam promessas e se emocionam
26
com o tempo sagrado, de outro lado, existe o modo profano da festa que são os
leilões, shows musicais, bebidas e comidas.
Para Lima (2012), o sagrado está quase sempre relacionado à ideia de
santidade, mas não necessariamente no sentido de perfeição, e sim também no
sentido de propriedade, ou seja, enquanto certas coisas ou seres são propriedades
do ser ou dos seres divinos em questão.
E ressalta que
Ao contrário do sagrado, o profano é tudo aquilo que está relacionado ao mundo atual em que vivemos, também chamado de século. Mas é importante ressaltar que quando falamos de profano, não estamos nos referimos ao mundo como algo negativo ou ruim. Talvez algumas religiões possam ter uma visão negativa do mundo, mas não podemos generalizar.
Neste sentido, subentende-se que o profano refere-se ao mundo atual em que
vivemos e que não possui vínculo com divindades, significa a vida humana em si,
por exemplo, o ato de estudar e trabalhar, que não tem nenhuma relação com
divindade. O que é considerado sagrado dentro de uma religião pode não ser em
outra.
A maioria das festas religiosas é feitas com queima de fogos, procissão,
comemorações nas ruas e missas, mesclando a fé, religiosidade, alegria, sagrado e
o profano.
As festas de motivação religiosa no Brasil se notabilizaram pela concorrência
popular ou porque atraem peregrinos ou romeiros ao santuário de sua devoção. Nas
festas de orago, há quermesse, bandeirinhas, barracas, leilões, banda de música,
comidas típicas, danças, namoro, jogos da sorte e parques de diversão; além, é
claro, de alvoradas, missas, novenas e procissão, segundo retrata Savalli (2010, p.
140).
Alves e Ramos (2007) salientam que
Peregrinos, turistas e os moradores locais encontram-se, animados pelo mercado de consumo, pela infra-estrutura turística e hoteleira, sempre em desenvolvimento, que oferece os mais diversos produtos para todos os gostos. O momento da festa é o da geração de emprego e renda, é da sustentação do local, é do ritual religioso, do discurso político, e é também do grupo de forró, da música e da dança. Toda a complexidade do fenômeno do turismo religioso está
27
justamente na compreensão dessas relações que obviamente perpassam, mas não se fundamentam apenas nas motivações dos deslocamentos ou na suposta descaracterização da cultura local (ALVES E RAMOS, 2007, p. 48, 49).
Com isso, percebe-se que este tipo de festejo é de total importância para que
a cultura e a identidade local se perfaçam por muitos anos, e que possibilitem aos
futuros acarienses e visitantes sentimentos de satisfação.
Trigo, no texto Turismo Religioso no Brasil: construindo um investimento
sociocultural (2005, p. 326), destaca que um santuário religioso não deixa de ser
sagrado porque se tornou turístico, nem deixa de incluir uma série de elementos
profanos que estão longe de qualquer vinculação turística direta (comércio, poder,
serviços etc.).
O autor ainda considera que:
Fazer um panorama do turismo religioso no Brasil não é fixar o cadastramento de localidades e movimentos que buscam antes a visita a lugares tradicionalmente sacralizados, embora essa seja a opção privilegiada dos textos jornalísticos, veiculados pelas páginas da rede mundial de computadores. É, ao contrário, discutir as interfaces reveladas pelo encontro das peregrinações contemporâneas com a religiosidade presentes nos mais diversos aspectos do cotidiano nacional, estabelecendo um panorama de possibilidades das práticas turísticas por meio da dimensão religiosa existente nas regiões brasileiras (TRIGO, 2005, p. 326).
Visando este aspecto, Dias (2008, p. 55) aborda que o turismo provoca
alterações na cultura local que por sua característica de ser um produto que deve
ser consumido no local, o que implica o deslocamento de pessoas para a localidade
onde estão os atrativos, o turismo contribui enormemente para modificações nos
hábitos e costumes da comunidade receptora.
Visto isso, torna-se necessário encontrar um equilíbrio em relação ao fluxo de
visitantes, procurando minimizar impactos que possam causar na cultura de
determinada localidade.
2.3 ACARI E A FESTA DE NOSSA SENHORA DA GUIA/RN
28
O município de Acari limita-se ao Norte, com os municípios de São Vicente e
Currais Novos; ao Sul, com os municípios de Jardim do Seridó, Carnaúba dos
Dantas e Parelhas; ao Leste, com o município de Frei Martinho (Paraíba); ao Oeste
com os municípios de Cruzeta e São José do Seridó.
Habitado primitivamente pelos índios Cariris, o município de Acari foi fundado,
na condição de povoado, pelo sargento-mor Manuel Esteves de Andrade, vindo da
Serra do Saco. Manuel Esteves ergueu em 1737 a capela no novo povoado,
consagrada a Nossa Senhora da Guia. Em 11 de abril de 1835, foi criado o
município de Acari, por resolução do conselho de Governo (CÂMARA MUNICIPAL
DE ACARI, 2015).
Ainda pertencente à Caicó, a mãe de Manuel Esteves fez uma promessa, na
qual pediu para seu filho construir uma capela em homenagem a santa a qual era
devota, e que se a promessa fosse cumprida, a mesma retornaria ao município.
Conforme pedido, a pequena igreja foi construída e pouco tempo depois
casas começaram a serem feitas no seu entorno, dando início a cidade.
Medeiros (2004, p. 21) fala que Acari revela nuances prazerosas que somente
o poder das coisas simples pode proporcionar. Situada entre cordilheiras que
acentua o relevo irregular da região, a pequena cidade é portadora de uma história
rica, viva, permeada pela religiosidade, pela cultura e pelo comportamento dos seus
habitantes, sedimentando, ao longo da sua formação e consolidação como cidade,
valores imprescindíveis que marcam sua trajetória no espaço social e humano.
Deste modo, vale frisar que a cidade sempre teve uma preocupação com sua
estética, ou seja, os moradores procuram manter as fachadas de suas residências
sempre limpas, com isso o município ganhou o prêmio de Cidade Mais Limpa do
Brasil na década de 70 que perdura até os dias de hoje.
Antigamente considerada povoado, Acari foi crescendo em torno da capela
dedicada a Nossa Senhora da Guia, construída em 1737, iniciando-se a partir de
então a construção das primeiras ruas, no qual as casas eram dos donos que ali se
instalaram. Passou a ser matriz em 1835 quando em 1833 teve sua emancipação
religiosa da Matriz de Santana de Caicó.
Macêdo retrata a história da igreja do Rosário, antiga matriz do município
como:
29
Marco de fé e religiosidade implantado no sertão do Acauã, a Igreja do Rosário, com simplicidade e beleza da arquitetura barroca, testemunha histórias registradas em linhas temporais, vestígios da ação do homem e do seu relacionamento com Deus (MACÊDO, 2004, p. 25).
O bispo de Olinda – PE, Dom José Fialho autorizou uma petição feita pelo
Sargento-Mor Manuel Esteves que foi atendido em 14 de abril de 1738, no qual a
capela entrou em atividade e passou a celebrar os primeiros ritos religiosos, onde
aos domingos aconteciam as missas com a participação dos moradores da cidade.
Macêdo (2004) explica que a igreja edificada no século XVIII passou por
várias modificações. A maior delas ocorreu no período de 1836 a 1840, por iniciativa
do Capitão Tomaz de Araújo Pereira, momento em que foram construídos os
corredores laterais e o patamar.
Em 1867 houve a remoção da imagem da padroeira para a nova matriz, no
qual a anterior ficou consagrada como Igreja do Rosário, sendo tombada pelo
IPHAN em 1964. Em 1979 houve a primeira restauração nos altares laterais, já em
1997 ocorreu à segunda na estrutura física do prédio, como mostra as imagens a
seguir:
Imagem 1 – Fachada da Igreja do Rosário. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
A igreja é constituída de capela-mor, nave e coro e possui o piso revestido de
tijoleira. Uma fachada emoldurada por cunhais e cornijas, apresentando um frontão
30
com característica barroca, com ornamentação de volutas e rosáceas, ladeada por
dois corujéus. Sua porta de acesso e janelas está trabalhada em arcos abatidos com
cercaduras de massa com uma escadaria de acesso.
Segundo Rosa (1974 apud Macêdo, 2004, p.26), “a festa de Nossa Senhora
do Rosário era celebrada nos preceitos de fé e devoção, onde a Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário, vestidos a caráter e com certo luxo, desempenhavam os
papéis de rei, rainha e outros personagens, tanto em solenidades na própria igreja
em que as figuras régias se apresentavam em tronos, como em passeata pelas ruas
da Vila com guarda reais, munidos de espontões”.
Imagem 2 – Interior da Igreja do Rosário. Fonte: Arquivo pessoal, 2015.
31
Já no interior têm-se o destaque para o retábulo de madeira trabalhado com
volutas e concheados de influência barroca, em fios dourados, florais, cesteiras e
curvas.
Contudo, as tradições ficaram marcadas no tempo e na memória dos
acarienses. A igreja se encontra aberta a visitações, desde que seja programada e
direcionada por guias. Localizada na rua Dr. José Augusto, centro da cidade, tendo
sua festa celebrada do dia 23 de dezembro a primeiro de janeiro.
2.3.1 A festa mais charmosa do Seridó
A festa da padroeira de Acari teve seu início em 5 de agosto de 1835 na
antiga Matriz de Nossa Senhora da Guia, atual igreja do Rosário, no qual a imagem
da santa foi transferida para a nova matriz em 1867 com uma festa em
comemoração a sua chegada. O padre Tomaz Pereira juntamente com 18
sacerdotes, conduziu a primeira procissão em 1867, a partir de então a festa foi se
tornando conhecida na região e sua tradição passou a se tornar cada vez mais
relevante para o município.
32
Imagem 3 – Saída da Imagem de Nossa Senhora da Guia Fonte: Nelder Medeiros, 2015.
A partir de então, a cada dia 15 de agosto uma multidão de devotos e fiéis,
sendo eles moradores ou visitantes, aplaudem, oram e cantam com fervor à santa
padroeira que sai em partida ao início da procissão pelas principais ruas do centro
da cidade, como retrata a imagem acima no ano de 2015.
33
Imagem 4 – Início da procissão de Nossa Senhora da Guia Fonte: Nelder Medeiros, 2015.
Nesta imagem tem-se o início da procissão com a presença do padre
convidado Stanley Lopes e de coroinhas da igreja, juntamente com os acarienses
logo atrás seguidos da imagem da santa.
Segundo Lima (2007), do ponto de vista sociológico, as festas são
reconhecidas como figurações de relações humanas, ao ponto que, assim como a
religião, a norma, a comunicação e a educação, a festa é um dos componentes
universais da cultura.
Partindo desse pressuposto, as festas de caráter religioso têm como premissa
reunir não só os residentes, como também turistas e visitantes a fim de usufruírem
de serviços, assim como compartilharem de momentos de fé.
A festa é o cenário da mobilização espontânea de um grupo e de sua
expressão por meio de uma seqüência de rituais, sendo “agradecer, venerar,
homenagear” termos que se ligam diretamente ao ato de festejar. A celebração
coletiva geralmente se traduz pela união para um agradecimento. É um fenômeno
de comunicação em que diversos grupos e indivíduos se envolvem e se empenham
revelando suas habilidades e talentos de forma aparentemente gratuita, afirma Alves
e Ramos (2007, p. 41).
34
Neste sentido, é notório que a ocasião torna-se um motivo para que as
pessoas fiquem mais unidas, sejam solidárias umas as outras, partilhem dos
momentos cujo intuito é a busca pela paz.
Segundo Mauss (1974, p. 72) “a tríplice obrigação de dar, receber e retribuir
constitui o universal sócio-antropológico sobre o qual foram construídas as
sociedades antigas e tradicionais”.
Pensando assim, Alves e Ramos (2007, p. 42) ressaltam que “no caso das
festas do Seridó, são muitas as peculiaridades que reforçam essa característica de
oferenda. O sertão é marcado pelo sofrimento da estiagem, pelas altas temperaturas
e dificuldades de cultivar a terra [...]. Trata-se de uma luta pela própria estruturação
do que vem a ser o sertanejo, e o sagrado adentra-se a esse universo com a própria
promessa de vida.
No entanto, a festa da padroeira de Acari busca convidar aos moradores de
regiões circunvizinhas para participarem das celebrações, assim como também dos
conterrâneos que se encontram em outros lugares do estado ou do Brasil, com o
objetivo retornarem a sua terra e reencontrar familiares e amigos.
Durante o período da festa, o turista considerado peregrino muitas vezes não
vem em busca apenas do que esteja relacionada ao sagrado, em uma grande
maioria dos casos, a procura pela cultura local vem se tornando uma grande
motivação.
Desta forma percebe-se que a atividade turística quando se apossa das festas
religiosas usando-as como atrativo turístico, quer seja para promover a cidade ou
inserir novos meios de lucro à economia, de certa forma modifica as particularidades
das festas, tirando sua autenticidade (SILVA, 2004).
Nesse aspecto, as festas de padroeiros podem e devem ser vistas de
diversas formas, ou seja, muitos turistas viajam motivados pela devoção, que
também podem ser encontradas nas festas religiosas que são bingos, shows¸ leilões
que são considerados momentos profanos.
No Seridó, região do estado do Rio Grande do Norte, o turismo religioso se
concentra nas festas de padroeiros, que tem como finalidade reunir devotos de
35
santos para fazerem preces, agradecimentos, reencontrar amigos e familiares, assim
como atrair visitantes de cidades e regiões vizinhas.
Os municípios de Caicó, Currais Novos e Acari têm a mesma característica na
realização da festa de suas padroeiras. Iniciam com a cavalgada, representando a
vida dos moradores rurais, através do desfile do agricultor. As imagens a seguir
referem-se ao desfile em Acari.
Imagem 5 – Desfile do Agricultor Fonte: Davi Neto, 2015
O desfile do agricultor é um evento realizado com parcerias de várias
entidades do município, no qual tem como intuito representar a classe trabalhadora
rural.
36
Imagem 6 – Cavaleiros, vaqueiros e agricultores Fonte: Davi Neto, 2015
A tradicional festa do agricultor inicia-se com a missa pela manhã que reúne
centenas de cavaleiros, vaqueiros e agricultores. Logo após a missa realiza-se o
tradicional Desfile do Agricultor, onde, seja a pé ou a cavalo, os participantes
seguem a imagem de Nossa Senhora da Guia pelas principais ruas da cidade.
Imagem 7 – Cavalgada no Desfile do Agricultor Fonte: Davi Neto, 2015
37
O desfile é uma tradição que acontece todos os anos para homenagear os
agricultores da cidade, não só através dos cavalos, mas também de tratores,
caminhões que são acompanhados pela imagem de Nossa Senhora da Guia para
representar sua devoção.
Na sequência tem-se a tradicional feirinha que começa na manhã do primeiro
domingo de festa, indo até as 18horas, tendo atrações musicais para animar os
turistas, visitantes e moradores, assim como também tem aqueles que aproveitam
para exibir e vender seus trabalhos, como o bordado, bijuterias, comidas típicas da
região e artesanato.
Imagem 8 – Feirinha Fonte: Davi Neto, 2015
Os shows e atrações musicais animam as noites dos moradores e de
visitantes com músicas para todos os gostos, no qual a cidade de Acari é uma das
poucas cidades da região que durante as onze noites se tem bandas no meio da
rua.
38
Imagem 9 – Show musical na tradicional feirinha Fonte: Banda Arroxa Nó, 2015
A banda Arroxa Nó da cidade de Florânia/RN participa da tradicional feirinha
de Acari pelo segundo ano consecutivo, levando animação e música boa para os
festeiros.
Imagem 10 – Imagem de Nossa Senhora da Guia Fonte: Nelder Medeiros, 2015
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A imagem de Nossa Senhora da Guia no interior da matriz de Acari, onde a
cidade completa no ano de 2015, 180 anos de sua fundação.
Imagem 11 – Saída da imagem de Nossa Senhora da Guia da Matriz Fonte: Nelder Medeiros, 2015
A figura mostra a multidão de fiéis que se formam em frente à matriz da
padroeira quando a imagem da santa sai da igreja para que se inicie a caminhada
da procissão.
Imagem 12 – Acarienses e visitantes na Procissão de Nossa Senhora da Guia Fonte: Nelder Medeiros, 2015
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Moradores, visitantes e turistas reúnem-se em frente à matriz de Nossa
Senhora da Guia para dar início à procissão.
Imagem 13 – Procissão de Nossa Senhora da Guia nas principais ruas do centro de Acari Fonte: Nelder Medeiros, 2015
Finalizando com a procissão, que acontece no último dia de festa, no qual
romeiros e devotos da região e até visitantes de outros estados, comparecem para
fazerem seus agradecimentos expressando sua fé na procissão e pagamentos de
promessas em caminhada pelos principais bairros centrais do município e missas
realizadas na Matriz de Nossa Senhora da Guia.
41
Imagem 14 – Momento de fé e devoção na procissão de Nossa Senhora da Guia Fonte: Davi Neto, 2015.
As referentes imagens retratam a fé e a devoção dos acarienses e demais
visitantes pela padroeira da cidade fazendo suas preces, seus agradecimentos e
orações pelas graças alcançadas ou pelo simples fato de poder mais um ano estar
participando deste momento de religioso.
Segundo Braga (2010 apud FARIAS, 2014, p. 34), as pessoas que realizam o
turismo possuem vínculos afetivos e familiares com os moradores da localidade
turística, estando intimamente relacionado não só à romaria em si, mas à dinâmica e
significados dos vínculos e relações que aqueles que são parte dos grupos de
romeiros estabelecendo significados compartilhados e tensionados relativos às suas
formas de viver.
A comemoração da devoção a Nossa Senhora da Guia ocorre em agosto,
reunindo familiares, amigos e apreciadores da festa, já que músicas populares
animam a noite dos festeiros, o ritmo mais tocado é o forró, porém, os gostos
musicais vão desde o rock até o famoso “brega” – estilo musical que tem
características próprias e que fez sucesso na década de 80.
42
A festa da padroeira acontece de 5 a 15 de agosto com realização de
novenas todas as noites para celebrar a devoção dos fiéis a Santa, assim como
também as missas durante as manhãs e por fim a procissão.
Além disso, ainda há a “Noite Maior” que acontece uma vez durante o período
da festa. É nessa noite que pessoas de renome no município participam, no qual
pagam para fazerem parte, contribuindo assim na arrecadação de renda para a
manutenção da igreja.
Para Farias (2013), as festas religiosas são, portanto, compostas não
somente de rituais, mas também serviços prestados para que eles possam
alimentar-se, entreter-se, locomover-se e descansar. Porém, isto não minimiza o
caráter religioso dessas festas. Assim, nesta perspectiva, considera-se necessário
que sejam pesquisados e estudados os fatores de desenvolvimento turístico, no
âmbito social, cultural e econômico.
Dessa forma, percebe-se que há um risco se houver mudanças na
programação das festas e da parte religiosa, pois para satisfazer e atender as
necessidades e expectativas da clientela passageira deve-se haver um
planejamento para que o turista não fique sem fazer nenhuma atividade turística,
uma vez que há exposição da feira de artesanato durante o dia inteiro no período da
festa.
Imagem 15 – Programação Social da festa da padroeira de Acari Fonte: Davi Neto, 2015
43
A imagem ilustrada anteriormente mostra como foi planejado a programação
da festa social da cidade durante as onze noites de comemoração a Nossa Senhora
da Guia, de modo que a cada dia uma apresentação musical era colocada para que
o público participasse de forma alegre, divertida e descontraída.
O evento caracteriza em uma importante vertente para a economia do
município, seja de maneira direta ou indireta, o comerciante sente os resultados
positivos ou negativos que acarreta durante a realização do festejo.
44
3 METODOLOGIA
3.1 NATUREZA DA PESQUISA
Para a execução do presente estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica
para a fundamentação do tema proposto, envolvendo os conceitos de turismo
religioso, o sagrado e o profano nas festas de padroeiro, assim como Acari e a festa
de Nossa Senhora da Guia/RN. Buscou-se utilizar as referentes abordagens
metodológicas: pesquisa descritiva, exploratória e qualitativa.
O presente estudo se caracteriza como pesquisa descritiva visto que é
elaborada uma descrição do objeto de estudo, com intuito de comprovar a realidade
local para que se possam identificar os possíveis impactos que o turismo causa na
região.
A pesquisa qualitativa será trabalhada em cima de entrevistas com
participantes da festa da padroeira, assim como também pessoas mais velhas que
possam contar como eram vivenciadas as noites nas suas épocas, e alguns
depoimentos de residentes em relação à parte sociocultural.
Que para Veal (2011, p. 76), “[...] normalmente não se preocupa com
números. Envolve a coleta de uma grande quantidade de informações sobre um
pequeno número de pessoas, em vez de uma pequena quantidade de dados sobre
um grande número de pessoas”.
Este, ainda aborda a pesquisa exploratória que permite uma maior
familiaridade entre o pesquisador e o tema pesquisado, afirma Duarte (2015).
3.2 UNIVERSO DA PESQUISA
Por ser localizado no Seridó (como mostra as imagens 16 e 17) o município
de Acari abrange vários segmentos do turismo, no qual o religioso vem sendo
trabalhado de várias formas para que tenha uma visibilidade, divulgação e visitação
maior, assim, alguns projetos voltados para esta atividade são planejados para que
durante todo o ano visitantes possam ser atraídos para a cidade.
45
Imagem 16 – Imagem do Rio Grande do Norte Fonte: Google Imagens, 2015.
Acari se destaca em meios as outras cidades tendo em vista que se encontra
no centro de deslocamento para os outros municípios da região, com isso, resulta de
maneira estratégica e natural o convite aos que estão de passagem a conhecerem
os produtos turísticos nela contidos, assim como também a cultura local.
Imagem 17 – Localização do município de Acari Fonte: Google Imagens, 2015.
46
A cidade possui um grande elo com Currais Novos e Caicó, de modo que por
ter pertencido ao município do bordado, a antiga matriz pertencia ao vigário da
diocese de Caicó, assim como, ao ser desmembrada se tornando município, Acari é
considerada mãe de Currais Novos, uma vez que a cidade pertencia às terras dos
acarienses.
Por tanto, como o presente trabalho busca retratar o turismo religioso no
interior do estado na cidade de Acari, percebe-se que desta atividade é encontrada
nas festas de padroeiro da cidade, juntamente com apresentações culturais voltada
para a religiosidade, como o auto do Natal e a Paixão de Cristo.
Imagem 18 – Auto do Natal em Acari Fonte: Nelder Medeiros, 2014.
O auto do Natal é uma encenação que a cada ano encanta principalmente os
moradores da cidade, uma vez que a peça retrata a história do nascimento de Jesus
Cristo. Os atores são jovens e crianças da cidade que participam de ações artísticas
e culturais voltadas para a religiosidade. A peça é apresentada ao público todos os
anos, porém antes era mostrada em frente ao Museu do Sertanejo, mas por volta de
uns dois ou três anos vêm sendo dramatizada na frente da matriz de Nossa Senhora
da Guia.
47
Imagem 19 – Encenação da Paixão de Cristo Fonte: Davi Neto, 2015
A Paixão de Cristo acontece durante a quaresma, no entanto a peça não era
tradição na cidade, quando realizada a pela primeira vez e trouxe grande visibilidade
para a cidade, mostrando a arte religiosa encenada, assim como o Auto do Natal,
por artistas acarienses, mas também por atores convidados de cidades vizinhas.
Tem duração de mais ou menos duas horas de espetáculo, a peça atrai
milhares de espectadores para assistirem a ressurreição de Jesus.
Para tanto, percebe-se que o município de Acari busca salvaguardar a cultura
religiosa da cidade desenvolvendo trabalhos através de projetos culturais, peças
teatrais, danças e musicais que retratem a religiosidade de modo a entreter o
público, assim como cultuar a tradição e atrair recursos.
3.3 TÉCNICAS DE COLETA
Para Gil (2008) pode-se definir entrevista como a técnica em que o
investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formulam perguntas, com o
48
objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é,
portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de
diálogo assimétrico, em quem uma das partes busca coletar dados e a outra se
apresenta como fonte de informações.
Enquanto que para Dencker,
o procedimento de coleta de dado para uma pesquisa consiste em: primeiramente escolher a técnica de investigação, que pode ser por meio de entrevista semiestruturada ou por meio de questionários. Durante a fase da coleta de dados é realizado a elaboração do roteiro não-estruturado de entrevista. Logo após, a realização da entrevista com as pessoas que compõem o universo da pesquisa e depois a categorização das respostas das entrevistas para
identificação das variáveis (DENCKER, 1998 p. 112)
Segundo Ludke e André (1986, p. 13), para realizar uma pesquisa é preciso
promover um confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas
sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele.
Trata-se de construir uma porção do saber. Esse conhecimento é não só fruto da
curiosidade, da inquietação, da inteligência e da atividade investigativa do
pesquisador, mas também da continuação do que foi elaborado e sistematizado
pelos que já trabalharam o assunto anteriormente.
Deste modo, utilizou-se de início a técnica da pesquisa bibliográfica, no qual,
objetivava obter informações e conhecimentos sobre o que será abordado no
decorrer do trabalho, que para Carvalho (1989, p. 100) aborda que a pesquisa
bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informação
escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema.
Diez e Horn (2004, p. 26), pode ser realizada independentemente ou como parte de
qualquer outra pesquisa.
Este método de pesquisa é relevante de modo que se obtêm os dados
necessários acerca do que o entrevistado sabe, do que ele vivenciou e/ou vivencia e
até a sua opinião sobre determinado fato que aconteceu.
Também para a estruturação da coleta de dados, foi aplicada a pesquisa
exploratória que, segundo Gil (2008, p.27) tem como principal finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação
49
de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.
Ainda ressalta que:
Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 2008, p. 27).
Sendo assim, a ideia principal desse estudo trabalhado em cima do tema
turismo religioso no interior do Rio Grande do Norte busca encontrar respostas
voltadas para questões de valorização de uma cultura, cultura essa que perdura há
quase dois séculos e que com o passar dos anos muitas mudanças foram
decorrentes principalmente com a prática da atividade turística, uma vez que
independentemente da atividade, do local ou do planejamento, os impactos naturais,
sociais e culturais são inevitáveis, de tal modo que Gil busca mostrar que através da
pesquisa exploratória, subsidie em encontrar informações precisas para que esses
impactos que a festa da padroeira de Acari sofre, sejam relatados e discutidos.
50
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com Massud (2004, p.7), o Rio Grande do Norte não tem vocação
turística religiosa de referência nacional. As nossas festas religiosas ficam restritas
ao fluxo intermunicipal, com as festas das padroeiras, em especial Sant’Ana, em
alguns municípios do Estado. Esses eventos são bastante observados no interior
RN, na região do Seridó, onde a religiosidade sempre foi um fator de extrema
importância na vida das famílias seridoenses.
Visando isto, Dias e Silveira (2003, p. 36) relatam que estudos sobre os
impactos econômicos do turismo religioso, apesar de ainda insuficientes ou pouco
disponibilizados, permitem inferir que essa modalidade turística contribui para o
redimensionamento da economia local por meio de adaptações de equipamentos de
hospedagens, serviços de comércio e gastronomia, lazer etc., que tomam uma
ampla configuração no espaço territorial.
Para tanto, na realização deste trabalho foi necessário que entrevistas fossem
executadas com o atual padre da Matriz de Nossa Senhora da Guia, com o padre da
cidade de Jardim do Seridó, com um acariense devoto da santa, com o prefeito da
cidade, com uma comerciante que trabalhou todo o período da festa e com residente
que participou das festas socioculturais.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS
O passo inicial é a caracterização das pessoas entrevistadas de maneira que
o conhecimento que tenham sobre a festa da padroeira seja relatado. O quadro
abaixo lista o nome dos entrevistados, idade, sexo e profissão, tendo em vista que o
fator principal não é a quantidade de pessoas e sim a qualidade das informações
adquiridas de maneira que se faça legível os dados primordiais para dar
sustentabilidade ao objetivo do estudo.
51
Quadro 1 – Identificação dos entrevistados
Nome Idade Sexo Profissão
Fabiano Maurício
Dantas
36 anos Masculino Padre de Acari
Stanley Lopes
Dantas
39 anos Masculino Padre de Jardim
do Seridó
Isaias Cabral 45 anos Masculino Prefeito de Acari
Eliane Oliveira 31 anos Feminino Comerciante
Francisco Manoel 90 anos Masculino Aposentado
Raiane Felícia 29 anos Feminino Auxiliar
Administrativa
Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.
Sendo assim, pode-se perceber que o campo de atuação de cada
entrevistado é variado, porém, a visão destes quanto à festa da padroeira não se
diferencia no quesito de que é de suma importância manter a cultura religiosa de
Acari.
No decorrer das entrevistas com os padres é notória a grande
responsabilidade que é organizar os festejos da igreja, mas que acima de tudo é
uma grande alegria e emoção, relata padre Fabiano Dantas (2015).
A festa de Nossa Senhora da Guia e a semelhança das outras festas que
acontecem na região, é uma caminhada de longos três meses, até mais que isso, a
festa não é só dez dias, dez dias é a celebração, mas há três meses que é pensado,
refletido, reunido, trabalhado, mobilizando pessoas, forças e energias para que
pudesse ter essa brilhante festa (DANTAS, 2014).
“(...) meus seis primeiros anos de padre vivi intensamente nesta paróquia, e você sabe, a primeira paróquia, o primeiro amor, o primeiro afeto a gente nunca esquece. A paróquia de Nossa Senhora da Guia daqui de Acari comemora neste ano 180 anos de sua criação e fundação, é um marco histórico do qual eu tive a graça, e agradeço aos padres de ter sido convidado para compor o quadro dos pregadores do novenário 2015” (DANTAS, 2015).
52
Relatou padre Stanley com muita emoção e carinho sobre sua passagem na
festa de Nossa Senhora da Guia, da qual todo o ano participa como convidado pela
congregação de padres que elegem para cada noite um sacerdote para proferir uma
mensagem da bíblia durante cada novena.
Neste ano de 2015 a festa foi considerada por todos os entrevistados, a maior
dos últimos tempos, tanto na parte religiosa, quanto na social e na cultural. Na parte
cultural foi-se realizado vários eventos no museu histórico, assim como também na
feirinha com a participação de comerciantes vendendo seus trabalhos artesanais e
comidas típicas.
A cultura de Acari é muito marcante na tradicional feirinha, não só pelas
atrações musicais, mas também porque os moradores e visitantes fazem uma visita
ao artesanato local, onde é mostrado o bordado, o crochê, trabalhos em madeiras,
com a participação dos expositores do município para demonstrarem sua identidade
através da arte.
Para o prefeito Isaias Cabral, “todas as noites no novenário, a participação era
muito grande, e eu acredito que o tema desse ano A Paz fez com que as pessoas se
sensibilizassem mais, se desarmassem de espírito e fossem realmente pedir e
agradecer a Deus o que nós desejamos para nós e também para nosso próximo e
nossa cidade”.
Na parte econômica, como o número de visitantes e turistas cresce neste
período, o aumento é significante, tanto em relação à renda quanto o aumento de
empregos, seja para aqueles que trabalham diretamente nas noites, como para
donos de lojas de roupas, calçados e acessórios, uma vez que desde sempre houve
a tradição de se comprar pertences novos, e até hoje é mantido esse costume.
Recorda o senhor Francisco Manoel que nos tempos de adolescente quando
morava na zona rural trabalhando na roça ajudando os pais, apanhava algodão para
vender na cidade e poder comprar pelo menos uma peça de roupa para vestir na
procissão, e de preferência de tecido branco, representando a paz.
Desde criança sempre participou da festa, mas devido morar em sítio, havia a
dificuldade de conseguir um transporte para participarem todas as noites, mas seus
53
pais devotos de Nossa Senhora da Guia todo dia 15 de agosto se faziam presentes
com seus sete filhos.
Desde o início da celebração da festa que os moradores da cidade
compareciam aos novenários, apenas missas eram realizadas naquela época, o
profano ganhou visibilidade no final da década de 1970, e perdura até hoje com
participação de várias bandas de todos os estilos.
Algumas mudanças na parte religiosa aconteceram no decorrer dos anos,
como o aumento significativo de moradores participando e ajudando aos festejos da
igreja com a visita nas casas dos acarienses juntamente com pessoas que
trabalhavam para a paróquia, para fazerem orações desejando que a festa daquele
determinado ano fosse um evento de muita paz, comemoração e união.
O senhor Francisco Manoel comenta que a visitação na parte social
aumentou consideravelmente, tendo em vista que a cada ano a festa tomava uma
proporção maior, e com isso o número de turistas até hoje trouxe bastante
rendimento econômico não só para aqueles que oferecem serviços, como meios de
hospedagens e gastronômico, mas também para a igreja, uma vez que a
contribuição dos fiéis tornou-se tradição.
No quadro 2 apresenta o período da realização das entrevistas.
Quadro 2 – Mês das entrevistas
Entrevistado Mês das entrevistas
Fabiano Maurício Dantas Outubro/2015
Stanley Lopes Dantas Outubro/2015
Isaias Cabral Outubro/2015
Eliane Oliveira Outubro/2015
Francisco Manoel Outubro/2015
Raiane Felícia Outubro/2015
Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.
Desta maneira, o universo da pesquisa considera seis pessoas que estiveram
envolvidas diretamente com a realização do evento que foi a festa de Nossa
Senhora da Guia.
54
4.2 ANÁLISE DOS PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS NA FESTA DA
PADROEIRA ANTIGAMENTE ATÉ O ANO DE 2015
Como toda prática de atividade turística irá impactar negativamente quanto
positivamente, no turismo religioso os impactos negativos são menores, já o profano
há a necessidade de um planejamento para identificar quais serão estes impactos, e
qual a solução para minimizá-los.
O quadro 3 o mostra primeiramente pontos positivos e negativos relacionados
à religiosidade da festa de Nossa Senhora da Guia.
Quadro 3 – Impactos positivos e negativos (festa da padroeira - religioso)
Impactos Positivos Impactos Negativos
Investimentos da prefeitura;
Participação ativa da comunidade
na divulgação do turismo religioso
da cidade;
Contribuição dos moradores em
bingos, leilões e rifas em prol da
igreja no período da festa;
Conscientização da população de
uma prática turística religiosa
sustentável;
Cuidado em manter a tradição
dos fiéis acarienses participando
ativamente dos novenários;
Organização no espaço físico
interno e externo da igreja;
Transmissão das missas por telão
na parte externa da igreja.
Falta de controle quanto à
quantidade de fiéis dentro e fora
da igreja.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.
Enquanto que o quadro 4 retrata os pontos positivos e negativos voltados
para o profano durante a festa.
55
Quadro 4 – Impactos positivos e negativos (festa da padroeira - profano)
Impactos Positivos Impactos Negativos
Valorização do território;
Reconhecimento das diferenças
étnicas, religiosas e de gêneros;
Assegurar a autenticidade cultural
do destino;
Intercâmbio cultural, conservação
das tradições culturais;
A festa ajuda no desenvolvimento
econômico da cidade;
Turistas e visitantes de todo o
estado;
Divulgação em todas as regiões
vizinhas;
Oportunidades de empregos
temporários;
Variedades nos serviços de
gastronomia e hospedagens;
Atrações musicais de diferentes
estilos;
Atendimento médico 24 horas no
período da festa;
Policiamento e segurança.
Frustração e descontentamento;
Posicionamento contrário ao
turismo;
Rejeição;
Mudanças na cultura e na
identidade local;
Migração, difusão de imagens
estereotipadas da população
receptora;
Falta de controle sobre a
capacidade de visitantes;
Falta de planejamento quanto ao
espaço físico onde ocorrem os
shows musicais;
Lixo acumulado.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.
Sendo assim, o que pode se perceber quanto à festa religiosa é que os
impactos negativos encontrados foram apenas um, no qual a falta de controle
quanto à quantidade de fiéis dentro e fora da igreja é um ponto que deve ser
observado, analisado, discutido e trabalhado, de maneira a identificar quantas
pessoas cabem no interior da igreja sem estar no período da festa, e
56
consequentemente avaliar o aumento da demanda no mês de agosto, tendo em
vista que o número de devotos aumentará indiscutivelmente.
Já observando os pontos positivos, vê-se que as pessoas envolvidas na
realização dos festejos, trabalharam de maneira eficaz de modo que tanto o poder
público, colaboradores e a população ajudaram para na estruturação e organização
do turismo religioso para que se integre a outras atividades do município.
Partindo para o profano, nota-se que há quase uma compatibilidade de
impactos, ou seja, ainda precisa ser desenvolvido um planejamento que minimize os
pontos negativos, sabendo-se que estes colaboram para uma prática de um turismo
desordenado.
De tal modo que o poder público e os setores que estão envolvidos com a
programação sociocultural detectem os principais erros que ocorreram em festas
anteriores, a fim de reduzir estes problemas para eventos futuros.
57
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Seridó a religiosidade é um ponto muito marcante, no qual o município de
Acari nos últimos anos vem desenvolvendo trabalhos que expressem a memória da
cidade através da religião com intuito de não deixar perder os valores, costumes e
tradição de um povo devoto e que em meio a tantas dificuldades de desemprego,
seca e problemas sociais, buscam encontrar na fé a esperança que nunca faltou no
sertanejo.
Dessa forma, a pesquisa buscou identificar possíveis impactos na festa da
padroeira e identificou que o profano é a parte que mais resulta pontos
desfavoráveis a um festejo organizado.
A igreja organizou bingos, leilões, rifas, vendas de souvenires para arrecadar
fundos com objetivo de comprar novos arranjos de flores para decorar os altares,
materiais de limpeza, velas, toalhas de mesa e tudo o que for necessário para as
despesas da paróquia.
O presente estudo contribui para que um novo olhar sobre trabalhos
acadêmicos voltados para o turismo religioso no interior do Rio Grande do Norte
tenha uma visão mais detalhada, tendo em vista que o estado possui vários
municípios que podem desenvolver a prática dessa atividade de maneira a divulgar
sua cidade, assim como favorecer a demanda turística na região seridoense.
A principal dificuldade encontrada ao longo da realização da referente
pesquisa foi, principalmente a falta de informações sobre o turismo religioso da
cidade de Acari, visto que muitos residentes não entendem a dinâmica deste
segmento, impossibilitando o acesso a dados suficientes para a concretização deste.
Contudo, para trabalhos futuros sugere-se uma pesquisa abrangente de quais
atividades turísticas são mais desenvolvidas no município, quais os setores estão
envolvidos e quais as soluções para amenizar os impactos, utilizando de uma
abordagem metodológica quantitativa.
58
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APÊNDICE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE TURISMO BACHARELADO
DISCENTE: SAYONARA PATRÍCIA AZEVÊDO DA COSTA
TÍTULO DA PESQUISA: ENTREVISTA COM RESIDENTES ANTIGOS E
PARTICIPANTES SOBRE POSSÍVEIS IMAPCTOS NA FESTA DE NOSSA
SENHORA DA GUIA – ACARI/RN.
Nome do entrevistado:
Idade:
62
Estado civil:
Há quantos anos mora ou trabalha em Acari?
Há quantos anos participa da festa da padroeira?
Quais as pessoas que frequentavam a festa da padroeira naquela época?
A festa era ligada apenas a religião ou a parte social sempre era trabalhada?
Houve mudanças no decorrer dos anos na parte religiosa da festa?
Qual a sua percepção sobre essa mudança?
Acredita que com o passar dos anos a festa teve maior visitação devido à
parte social?
A chegada à festa era uma data esperada pelos moradores e visitantes?
Como era a questão de comprar roupas novas, sair pra paquerar, fazer
amizades?
As pessoas que vinham de fora movimentavam a economia da cidade?
Os donos de pousadas naquela época se beneficiavam com a vinda dos
turistas/visitantes no período da festa?
A feirinha sempre foi tradição na festa da padroeira? E as pessoas que
participavam eram do município ou das regiões vizinhas?