UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ......

161
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENFERMAGEM CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO E DOUTORADO CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO GRANDE DO NORTE NATAL/RN 2016

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ......

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENFERMAGEM

CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO E DOUTORADO

CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE

MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO

GRANDE DO NORTE

NATAL/RN

2016

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

2

Cleonice Andréa Alves Cavalcante

MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO

GRANDE DO NORTE

Tese apresentada à banca de defesa do Programa de Pós-

graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do

título de Doutor em Enfermagem.

Área de concentração: Enfermagem na atenção a saúde

Linha de pesquisa: Educação e trabalho em Enfermagem e

saúde

Orientadora: Profª Drª Soraya Maria de Medeiros

NATAL/RN

2016

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

3

Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

4

MAGNITUDE DA MORBIDADE RELACIONADA AO TRABALHO NO RIO GRANDE DO

NORTE

Tese apresentada à banca de defesa do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em

Enfermagem.

Aprovada em: 28/01/2016, pela banca examinadora.

PRESIDENTE DA BANCA:

Professora Dra. Soraya Maria de Medeiros

(Departamento de Enfermagem/UFRN)

BANCA EXAMINADORA:

Professora Dra. Soraya Maria de Medeiros

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Orientadora

Professora Dra. Izaura Luzia Silvério Freire

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Membro Externo do Programa

Professora Dra. Maria Lúcia Azevedo Ferreira de Macêdo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Membro Externo do Programa

Professora Dra. Iris do Céu Clara Costa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Membro Externo do Programa

Professora Dra. Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi

Universidade de São Paulo – USP

Membro Externo do Programa

Professora Dra. Claudia Santos Martiniano Sousa

Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

Membro Externo do Programa

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

5

A Deus, que conhece a minha alma, guia os meus passos e sossega o meu coração. “O

coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”

(Provérbios, 16-1).

Aos meus pais (in memoriam), Raimundo Ferreira e Margarida Alves, sempre, pelos

exemplos a serem seguidos, pela dedicação ao trabalho e à família.

Ao meus amados e abençoados filhos, Lucas e Daniel, que apesar dos momentos de ausência

souberam compreender e ainda presentear-me com demonstrações de afeto, carinho, incentivo

e amor, proporcionando-me a alegria de ser mãe.

Ao meu amor, Gilson Júnior, companheiro de todas as horas. Obrigada pelo carinho,

compreensão e apoio, sempre. “Você é o amor da minha vida”.

À minha família, irmãs e irmãos, sobrinhos e sobrinhas, cunhados e cunhadas. Saibam o

quanto eu sou abençoada de ter vocês em todos os momentos da minha vida.

Em especial a minha irmã Francisca Lúcia e ao meu cunhado Cleber Gomes por me

proporcionar aprendizado, carinho e ensinamentos. Minha eterna gratidão.

Ainda aos meus queridos irmãos Melchíades Alves Neto e Ronaldo Cavalcante pelo carinho

de pais que me dedicam e por cuidarem com carinho de sua sempre “Deinha”.

A minha irmã Barbara Thalita e sua linda família, meu carinho e admiração pelo exemplo

de mãe, irmã, filha e esposa. Seu carinho é especial em nossas vidas.

A minha secretária e amiga Lúcia Andréa (Dedé) por cuidar com tanto carinho e zelo da nossa

família e do nosso lar. Você, por mérito, faz parte da nossa pequena família.

Ao meu sogro e sogra, Seu Gilson e D. Célida e sua família que me tratam e amparam como

filha e irmã. Pelos exemplos em tudo que fazem, minha enorme admiração e respeito

À minha segunda família, todos que fazem parte da Escola de Saúde da UFRN. Saibam o

quanto eu sou abençoada de ter vocês em minha vida.

As minhas companheiras de trabalho e luta pela Enfermagem: Jovanka, Edilene, Gilvânia,

Agripino, Cleide, Sheila, Juliana Jales, Eliane Santos e Ana Cristina.

As minhas grandes e fieis amigas/irmãs Maria Lúcia, Elisangela Franco, Lannúzya Veríssimo

– companheiras de todas as horas, grandes incentivadoras– agradeço por terem acreditado em

mim, contribuído em tudo, esse título é nosso!

À querida colega e Profª Dra. Izaura Luzia Silvério Freire, que não mediu esforços em

auxiliar-me nesse processo, contribuindo com o seu saber, sempre disposta a me dispor de

seus ensinamentos e conselhos. Você foi um verdadeiro anjo em minha vida.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

6

AGRADECIMENTOS

A elaboração deste trabalho foi marcada por uma trajetória árdua, mas com inúmeras

contribuições, que me auxiliaram a ultrapassar os obstáculos com mais facilidade e

determinação. Agradeço nominalmente a algumas pessoas que estiveram comigo nesta

caminhada, com a certeza de que muitas deveriam também aqui constar.

A minha orientadora, Prof. Dra. Soraya Maria de Medeiros, por ter aceitado o desafio desse

trabalho, quando essa possibilidade era ainda um sonho rabiscado em forma de projeto, mas,

sobretudo, pelas valiosas orientações, o meu mais profundo agradecimento.

A minha amiga/chefa Francisca Idanésia da Silva, que me amparou nos momentos mais

difíceis, disponibilizando seu tempo para meus desabafos, sempre apoiando e encorajando-me

com suas sábias palavras e sua loucura encantadora.

A minha querida mestre, Profa. Dra. Maria Ângela Fernandes Ferreira, incentivadora dos

meus sonhos, com quem aprendi a sonhar ainda mais, nas disciplinas que me fizeram admirá-

la como um exemplo de mestre a ser seguido.

Ao colega e amigo Marquiony Santos pela contribuição primorosa na Consultoria estatística

nos resultados da tese. A quem aprendi a admirar sua espontaneidade e alegria de menino.

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte: à coordenação, aos professores, aos funcionários e servidores terceirizados.

À Zanigley e José Carlos, meus amigos e compadres que me fizeram sorrir, nos momentos

mais difíceis que atravessei, eu jamais esquecerei.

Às minhas colegas de trabalho e amigas de coração, Alessandra, Maristela e Alice, com

quem dividi minhas necessidades durante esses anos de doutorado, entendendo e suprindo

minhas ausências e que souberam sempre me ouvir, apoiando-me em tudo que precisei na

secretaria da direção de ensino.

As minhas queridas Profª Drª. Lara de Melo Barbosa de Andrade, Profª Drª. Iris do Céu

Clara Costa e Profª Drª. Bertha Cruz Enders pela honra em tê-las na banca de qualificação

e de defesa. Vocês me incentivaram e deram Luz as minhas dúvidas e inseguranças. Esse

trabalho tem um pouquinho de cada uma de vocês.

Aos colegas do CEREST/RN, que me receberam com carinho, dividiram suas angústias e

frustrações. Vocês foram os meus grandes incentivadores para realizar esse estudo, obrigada

pelo carinho com que eu era recebida em seus postos de trabalho. Especialmente a Edmilson

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

7

Castro que se dispôs a trabalhar comigo na coleta de dados, apesar da demanda de trabalho

que já assume e do compromisso que demonstra na luta pela Saúde do trabalhador do RN.

A minhas querida Profª Drª. Maria Lúcia Robazzi (USP), pela honra em tê-la na banca

examinadora de defesa, por quem tenho profunda admiração.

A Profª Drª. Claudia Santos Martiniano Sousa (UFPB), pela honra em tê-la na banca

examinadora de defesa, pelo prazer de conhecê-la e admirá-la.

Aos colegas dos grupos de mestrado/doutorado com quem vivi momentos inesquecíveis, em

especial à Marcely, Sales, Renata, Fernando, Larissa, Kalyane Kelly, Theo Duarte, João

Mário e Cilene com quem partilhei minhas alegrias e tristezas, na organização e

planejamento das tarefas a serem apresentadas nos seminários e oficinas. Sem dúvida,

formamos um excelente grupo.

Aos meus amigos e amigas que vivenciam e sentem na pele as consequências nefastas da

precarização do mundo do trabalho: Zefinha, Aparecida, Célia, Eduardo, Alexandre,

Célia, Lízia, Fátima, Joana, Edvânia e Wanderley. Vocês são os verdadeiros guerreiros

nessa luta desigual e excludente.

Aos meus amigos e amigas do grupo de oração Madre Teresa de Calcutá que tem

alimentado a minha fé por meio das nossas reuniões, orações e nas atividades de cunho social.

Obrigada pela gentil e desmedida amizade de vocês.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

8

“Nada mais concreto do que a

inserção do homem no sistema

produtivo, onde a saúde garante ao

homem a disponibilidade do uso da força

de trabalho. A doença representa uma

ruptura nesta lógica”

Victor Wünsch Filho

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

9

CAVALCANTE, C. A. A. Magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no Rio Grande do

Norte. 2016. 160 f. Tese (Doutorado) – Programa de pós-graduação em Enfermagem,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

RESUMO

Doenças e agravos relacionados ao trabalho configuram-se em importante problema de Saúde

Pública no Brasil e no mundo. No entanto, a realidade desses agravos ainda se constitui em

uma lacuna quanto à sua caracterização e situação epidemiológica, especialmente no Brasil.

Nesse contexto, o presente estudo objetiva analisar a magnitude da morbidade relacionada ao

trabalho a partir dos agravos e doenças notificados pelos serviços de Saúde ao Sistema de

Informações de Agravos Notificáveis do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador da

Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte no período de 2007 a 2014.

Trata-se de estudo ecológico, quantitativo de delineamento transversal, tendo como unidade

de análise os municípios do Estado do Rio Grande do Norte. Os dados foram coletados a

partir da base estadual do Sistema de Informações de Agravos Notificáveis do Centro de

Referência de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande

do Norte, entre março e junho de 2015, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Parecer 014/2014. A população foi

representada pelo universo de casos de doenças e agravos relacionados ao trabalho que foram

notificados e encerrados no sistema no período de 2007 a 2014. Os dados foram analisados

por meio da estatística descritiva e inferencial, apresentados em forma de tabelas, gráficos,

quadros e figuras. Para tanto, utilizou-se o Microsoft Excel 2007 e um programa estatístico.

Para verificar o nível de significância optou-se pela aplicação dos testes do Qui-quadrado ou

Fisher. Adotou-se o nível de significância p-valor <0,05. Dos 10.161 casos de agravos

relacionados ao trabalho notificados, os acidentes de trabalho biológicos obteve maior

percentual (52,84%) seguidos dos acidentes de trabalho graves (37,49%). Quanto às doenças,

destacaram-se as osteomusculares (4,82%), transtornos mentais (2,19%) e intoxicação

exógena (1,97%). Entre os homens, houve predominância dos acidentes graves (91,80%),

transtornos mentais (70,00%) e intoxicações exógenas (52,84%). As mulheres foram mais

acometidas por acidentes biológicos (77,50%) e doenças osteomusculares (64,10%). Entre os

trabalhadores que sofreram os agravos predominou a cor parda (46,02%), média de idades de

35,86 anos, ensino fundamental (14,22%) e trabalhadores no mercado formal (27,84%).

Dentre os acidentes de trabalho biológicos (n=5.369) ocorreu predomínio de casos entre os

profissionais de enfermagem (48,31%). A exposição percutânea foi a mais frequente

(73,05%) e as circunstâncias de ocorrência foi o descarte inadequado de perfurocortantes

(45,28%), a agulha o agente mais comum (66,62%) e o material orgânico foi o sangue

(72,99%). A maioria dos trabalhadores acidentados era vacinada contra o vírus da hepatite B

(68,13%), no entanto, a situação sorológica para o HIV (30,14%), anti-HBS (32,18%) e anti-

HCV (32,00%) encontravam-se ignorados. Na evolução dos casos predominou a situação

ignorada com perda de acompanhamento do seguimento clínico (55,62%). Houve ainda

aumento na notificação de acidentes de trabalho grave com predominância do sexo masculino

(91,80%), trabalhadores entre 25 a 44 anos (54,3%) e acidentes típicos (76,3%). A

incapacidade temporária foi à evolução mais comum (55,53%) e a mão a parte mais atingida

(33,00%); a indústria extrativa e da construção civil teve o maior número de casos (25,1%)

em empregado registrado (34,2%). Os achados do presente estudo demonstram um resultado

positivo em relação ao aumento da notificação compulsória dos agravos e doenças

relacionadas ao trabalho junto aos serviços de saúde que atendem trabalhadores vitimados, no

sentido do conhecimento da ocorrência destes acidentes para tomada de decisões em

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

10

planejamentos e políticas públicas de saúde. No entanto, o sistema de informação ainda carece

de melhoria tanto na cobertura como na qualidade dos dados no sentido de demonstrar com

maior fidedignidade a magnitude dos eventos para subsidiar o planejamento das ações em

Saúde do Trabalhador no estado.

Descritores: Estudos Transversais; Sistema de Informação; Doenças ocupacionais; Acidentes

de Trabalho; Saúde do Trabalhador; Notificação de Doenças; Vigilância em Saúde do

Trabalhador.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

11

CAVALCANTE, C. A. A. Magnitude of morbidity related to work in Rio Grande do

Norte. 2016. 160 f. Thesis (Doctorate) - Post Graduate Program in Nursing, Federal

University of Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

ABSTRACT

Diseases and disorders related to work sets up an important public health problem in Brazil

and worldwide. However, the reality of these diseases still constitutes a gap with regard to its

characterization and epidemiological situation, especially in Brazil. In this context, this study

aims to analyze the magnitude of morbidity related to work from the injuries and illnesses

reported by Health the Diseases Notifiable of Health of the State Public River Health

Department worker Reference Center Information System services Grande do Norte from

2007 to 2014. It is ecological study, quantitative cross-sectional study in which the analysis

unit of the municipalities of Rio Grande do Norte. Data were collected from the state base of

Diseases Notifiable Information System Centre of the Secretariat of State Workers' Health

Reference Public Health of Rio Grande do Norte, between March and June 2015, after the

approval of the Committee of Ethics in Research of the Federal University of Rio Grande do

Norte, Opinion 014/2014. The population was represented by the universe of cases of diseases

and disorders related to work that were reported and shut down the system from 2007 to 2014.

Data were analyzed using descriptive and inferential statistics, presented in tables, graphs,

charts and figures. For this, we used the Microsoft Excel 2007 and SPSS version 20.0. To

check the significance level we opted for the application of the chi-square or Fisher tests. We

adopted the significance level of p <0.05. Of the 10,161 cases of diseases related to the

reported work, the biological work accidents had the highest percentage (52.84%) followed

by serious occupational accidents (37.49%). For diseases, the highlights were musculoskeletal

(4.82%), mental disorders (2.19%) and exogenous intoxication (1.97%). Among men, there

was a predominance of major accidents (91.80%), mental disorders (70.00%) and exogenous

poisoning (52.84%). Women were most affected by biological accidents (77.50%) and

musculoskeletal diseases (64.10%). Among workers who have suffered injuries predominated

mulatto (%), mean age of 35.86 years, low education (%) and workers in the formal sector

(%). Among the accidents, biological (n = 5,369) accounted for 52.84% of cases occurred

predominantly among nursing professionals (48.31%). The percutaneous exposure was the

most frequent (73.05%) and the occurrence of circumstances was improper disposal of sharps

(45.28%), the needle the most common agent (66.62%) and the organic material was blood

(72.99%). Most injured workers were vaccinated against hepatitis B (68.13%), but no

information as to the assessment of the vaccine response. In the course of the disease

predominated ignored the situation with loss of monitoring of clinical follow-up (55.62%).

There was also an increase in the notification of serious industrial accidents predominantly

male (91.80%) workers aged 25-44 years (54.3%) and typical accidents (76.3%). The

temporary disability was the most common outcome (55.53%) and hand the most affected

part (33.00%); the mining and construction industry had the highest number of cases (25.1%)

in registered employee (34.2%). The findings of this study show a positive result in relation to

increased mandatory reporting of injuries and illnesses related to work together to health

services that meet victimized workers, towards the occurrence of knowledge of these

accidents for decision making in public plans and policies of health. However, the information

system still needs improvement in both the coverage and the quality of the data to

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

12

demonstrate with greater reliability the magnitude of events to support the planning of

workers' health into shares in the state.

Descriptors: Cross-Sectional Studies; Information system; Occupational diseases; Work

accidents; Worker's health; Disease Notification; Surveillance of the Workers Health.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

13

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Variáveis dependentes com escala/critério e identificação dos agravos e

doenças relacionadas ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Natal/RN,

2015 ...........................................................................................................................

64

Quadro 2 – Variáveis de caracterização sociodemográfica dos trabalhadores que

sofreram agravos e doenças relacionadas ao trabalho no Estado do Rio Grande do

Norte. Natal/RN, 2015...............................................................................................

65

Quadro 3 – Variáveis ocupacionais relacionadas aos casos de agravos e doenças

relacionados ao trabalho dos notificados e acompanhados pelo CEREST/RN.

Natal/RN, 2015..........................................................................................................

65

Quadro 4 – Síntese dos artigos que compõem os resultados e discussões da Tese de

doutorado: Análise da magnitude das doenças relacionadas ao trabalho no Rio

Grande do Norte. Natal/RN, 2015.............................................................................

72

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

14

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Divisão político - administrativa do Rio Grande do Norte, Natal/RN,

Brasil, 2015......................................................................................................................

62

ARTIGO 1

Figura 1 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande

do Norte, notificados no período de 2007 a 2014 ..........................................................

78

Figura 2 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande

do Norte por ano de notificação, notificados no período de 2007 a 2014.......................

79

Figura 3 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande

do Norte estratificado por sexo. Rio Grande do Norte, RN, Brasil, 2007-

2014.......................................................................................................................................

81

ARTIGO 2

Figura 1 - Distribuição da frequência relacionada à evolução dos casos de acidentes

com exposição a material biológico em trabalhadores no Estado do Rio Grande do

Norte. Brasil, 2007 a 2014...............................................................................................

100

Figura 2 - Distribuição da frequência do uso de equipamentos de proteção individual

durante a ocorrência do acidente com exposição a material biológico no Estado do

Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014......................................................................

101

ARTIGO 3

Figura 1 - Distribuição da frequência relacionada à evolução dos casos de acidentes

de trabalho grave em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a

2014.................................................................................................................................

120

Figura 2 - Distribuição da frequência das partes do corpo atingida nos acidentes de

trabalho grave em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a

2014...............................................................................................................................

120

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

15

LISTA DE TABELAS

ARTIGO 1

Tabela 1 – Distribuição de valores absolutos e porcentagens das variáveis socioeconômicas

e relacionadas ao trabalho. Rio Grande do Norte, RN, Brasil, 2007-2014 .............................

80

ARTIGO 2

Tabela 1– Distribuição da frequência das variáveis sociodemográficas dos acidentes com

exposição a material biológico notificados em trabalhadores no Estado do Rio Grande do

Norte. Brasil, 2007 a 2014.......................................................................................................

96

Tabela 2 – Comparação das proporções do tipo de acidente percutâneo com as variáveis

contextuais dos acidentes com material biológico em trabalhadores no Estado do Rio

Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.............................................................................

98

ARTIGO 3

Tabela 1– Frequência e incidência de acidentes de trabalho graves ocorridos e registrados

por ano no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2011............................................

118

Tabela 2 – Risco relativo para acidentes de trabalho graves notificados segundo sexo,

idade e grau de escolaridade no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2017 a

2014..........................................................................................................................................

119

Tabela 3 – Frequência de acidentes de trabalho graves segundo tipo do acidente no Estado

do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014..............................................................................

119

Tabela 4 – Frequência de acidentes de trabalho graves, segundo o tipo de ocupação do

trabalhador acidentado no estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014....................

121

Tabela 5– Frequência de acidentes de trabalho graves segundo a situação do trabalhador no

mercado de trabalho, Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014............................................

121

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMB – Acidente com exposição ao material biológico

AT – Acidente de trabalho

ATG – Acidente de trabalho grave

Anti-HIV – Anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana

Anti-HBS – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B

Anti-HCV – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite C

ARV– antirretrovirais

AZT – medicamento antirretroviral zidovudina

CAT – Comunicação de acidente de trabalho

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CDC – Centro de Prevenção e Controle de Doenças

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CEREST – Centros de Referência em Saúde do Trabalhador

CGSAT – Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador

CID – Classificação Internacional de doenças

COSAT – Coordenação de saúde do trabalhador

CNST – Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador

DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

DSAT – Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador

EPI – Equipamento de proteção individual

FII – Ficha Individual de Investigação

FIN – Ficha de Notificação e Investigação

Hbs Ag - Antígeno de superfície da Hepatite B

HVB – Vírus da hepatite B

HIV - Vírus da imunodeficiência humana

HCV - Vírus da hepatite C

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social

ILO - International Labour Organization

LER/DORT – Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares relacionados ao

trabalho

LNC – Lista Nacional de Notificação Compulsória

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

17

MS – Ministério da Saúde

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família

NOST – Núcleo Operacional de Saúde do Trabalhador

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial da Saúde

PAIR – Perda auditiva induzida por ruído

PEA – População Economicamente ativa

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNSST - Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador

PPP – Profilaxia Pós-exposição

RP – Razão de prevalência

RENAST - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador

RN – Rio Grande do Norte

SAT – Seguro de acidente de trabalho

SESAP – Secretaria de Estado da Saúde Pública

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SIM - Sistema de Informações de Mortalidade

SIH - Sistema de Informações Hospitalares

SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

SUVIGE – Sub-Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica

SUS - Sistema Único de Saúde

TME - Transtornos musculoesqueléticos

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

VISAT – Vigilância em Saúde do trabalhador

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

18

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 18

2 OBJETIVOS............................................................................................................... 24

2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................. 24

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................................... 24

3 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................. 25

3.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO/SOCIAL DA SAÚDE DO TRABALHADOR... 25

3.2 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA MARXISTA.................... 26

3.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT): O TRABALHO DECENTE..................

29

3.4 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA VIGILÂNCIA EM

SAÚDE NO BRASIL......................................................................................................

35

3.5 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO

(SINAN): INSTRUMENTO PARA REVELAR A SITUAÇÃO DO

TRABALHADOR NO BRASIL ....................................................................................

55

4 MÉTODO.................................................................................................................... 61

4.1 TIPO DE ESTUDO................................................................................................... 61

4.2 LOCAL DO ESTUDO.............................................................................................. 61

4.3 POPULAÇÃO .......................................................................................................... 62

4.4 PRODEDIMENTO DE COLETA DE DADOS....................................................... 63

4.5 VARIÁVES DE INTERESSE PARA O ESTUDO.................................................. 64

4.6 ASPECTOS ÉTICOS................................................................................................ 70

4.7 TRATAMENTO ESTATÍSTICO............................................................................. 70

5 RESULTADOS .......................................................................................................... 72

5.1 ARTIGO1- DOENÇAS E AGRAVOS OCUPACIONAIS EM UM ESTADO DO

NORDESTE: UM ESTUDO TRANSVERSAL.............................................................

73

5.2 ARTIGO 2 - ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS ACIDENTES COM

MATERIAL BIOLÓGICO EM TRABALHADORES...................................................

92

5.3 ARTIGO 3 - ACIDENTES DE TRABALHO GRAVE NO RIO GRANDE DO

NORTE: ESTUDO TRANSVERSAL ..................................................................................

113

6 CONCLUSÃO............................................................................................................. 131

REFERÊNCIAS............................................................................................................ 136

ANEXOS........................................................................................................................ 147

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

19

1 INTRODUÇÃO

A formulação e a implementação de políticas e ações governamentais são meios

necessários para que o Estado cumpra seu papel na garantia da saúde como direito básico dos

cidadãos, conforme instituído na Constituição Federal de 1988.

A referida legislação estabeleceu explicitamente a competência da União para cuidar

da segurança e da saúde do trabalhador por meio de ações integradas dos Ministérios do

Trabalho e Emprego, Previdência Social e Saúde. Além disso, enunciou o conceito ampliado

de saúde incluindo entre seus determinantes as condições de alimentação, habitação,

educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego – e atribuiu ao Sistema Único de Saúde

(SUS) a responsabilidade de coordenar essas ações no país (BRASIL, 2004; DIAS, HOEFEL,

2005).

As políticas governamentais no âmbito da saúde devem, portanto, nortear-se pelas

diretrizes do SUS, dispostas na Lei Orgânica nº 8.080/90, dentre as quais se encontra a

integralidade, entendida como um “conjunto articulado e contínuo de ações e serviços

preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de

complexidade do sistema” (PAIM, SILVA, 2010).

Nesse sentido, em 2004, foi criada a Política Nacional de Segurança e Saúde do

Trabalhador (PNSST), que aponta para uma concepção de trabalho como base da organização

social e direito humano fundamental, que deve se realizar em “condições que contribuam para

a melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores e sem

prejuízo para sua saúde, integridade física e mental” (BRASIL, 2004).

O campo da saúde do trabalhador emerge no Brasil e no mundo como alternativa à

prática da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional, buscando entre outros aspectos

referenciar o trabalhador como figura central e sujeito ativo no processo saúde/doença. Assim,

na PNSST, o Ministério da Saúde dispõe como objetivos a “promoção e proteção da saúde

dos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de

forma integrada no SUS” (JACQUES, MILANEZ, MATTOS, 2012).

Como articulação prévia à PNSST, surge em 2002, a Rede Nacional de Atenção

Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), que segundo a Portaria nº 1.679 constitui

ferramenta estratégica nacional para a disseminação dos princípios e práticas da Saúde do

Trabalhador no SUS, em todos os níveis de atenção. Compõem-se por 178 Centros Estaduais

e Regionais de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) e por uma rede sentinela de

1.000 serviços médicos e ambulatoriais de média e alta complexidade, responsáveis por

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

20

identificar, investigar e notificar os acidentes e doenças relacionados ao trabalho, registrando-

os no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN (BRASIL, 2012;

JACQUES; MILANEZ; MATTOS, 2012).

No contexto da RENAST, os CEREST desempenham papel fundamental, posto que

funcionam como pólos irradiadores da cultura da produção social das doenças e da

centralidade do trabalho no processo de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, atuando

nos níveis estadual e regional.

Sua função em nível regional é de prover suporte técnico e viabilizar ações de

vigilância, facilitando processos de capacitação para técnicos, controle social e toda a rede do

SUS, além de executar, organizar e estruturar a assistência nos níveis de atenção secundária e

terciária para atender aos acidentes e agravos à saúde relacionados com o trabalho. Cabe

também aos CEREST regionais apoiar as investigações de maior complexidade, assessorar a

realização de convênios de cooperação técnica e subsidiar a formulação de políticas públicas

(BRASIL, 2012; JACQUES; MILANEZ; MATTOS, 2012).

Quanto aos CEREST estaduais compete elaborar e executar a Política Estadual de

Saúde do Trabalhador, acompanhar os planos de ação dos CEREST regionais, participar da

pactuação para definição da rede sentinela e contribuir para as ações de vigilância em saúde

(BRASIL, 2012).

Tomando-se o enfoque das ações de vigilância em Saúde do Trabalhador enquanto

campo de atuação, é possível estabelecer diferenças com a vigilância em saúde em geral e de

outras disciplinas no campo das relações entre saúde e trabalho, uma vez que delimita como

seu objeto específico “a investigação e intervenção na relação do processo de trabalho com a

saúde” (MACHADO, 1997).

As doenças e agravos prioritários à vigilância em saúde devem ser selecionados,

dentre outros aspectos, pela sua magnitude, que diz respeito à dimensão do problema ou do

processo saúde-doença em questão (PEREIRA, 2004). A magnitude é adotada universalmente

como critério de seleção, portanto, aferida pela incidência e prevalência, bem como pela

extensão geográfica de ocorrência da doença ou agravo. Assim, para obter dados de

magnitude é preciso considerar incidência, prevalência, morbidade, mortalidade e gravidade

de efeito do evento (PAIM; ALMEIDA-FILHO, 2014).

Pesquisas revelam que os acidentes de trabalho fatais por ano no mundo alcançam 2

milhões de trabalhadores, enquanto que os acidentes não fatais chegam a 330 milhões e as

doenças relacionadas ao trabalho atingem cerca de 100 milhões de trabalhadores anualmente,

considerando como problema mundial o estresse e as disfunções musculoesqueléticas. O

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

21

custo atual dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho é equiparado a 4% do PIB

mundial. Na China, as perdas anuais chegam a US$131,8 bilhões, enquanto que na Índia

atingem a marca dos US$54 bilhões (SCHMIDT, 2010).

A vigilância em Saúde do Trabalhador no Brasil responsabiliza-se por conhecer a

magnitude dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, para que seja possível identificar

fatores de riscos ocupacionais, estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os

serviços de saúde de forma permanente. Só assim ocorrerão significativas transformações nas

condições de trabalho e será garantida a qualidade da assistência à Saúde do Trabalhador

(BRASIL, 2001; BRASIL, 2005).

Em face ao exposto é possível considerar que, ainda com as transformações políticas e

organizacionais alcançadas no campo da saúde do trabalhador no Brasil, que constituíram

avanços, vivencia-se no momento atual uma realidade desafiadora. Os agravos e as doenças

relacionados ao trabalho, por exemplo, apresentam expressiva morbimortalidade e constituem

importante problema de saúde pública. Os sistemas de informação em saúde no país são

avançados, mas as informações sobre acidentes de trabalho continuam a demandar melhores

registros, tanto de cobertura como de qualidade. É frequente a ocorrência de sub-registro do

SINAN e os dados mais amplamente utilizados, da Previdência Social, são parciais, restritos

aos trabalhadores segurados que correspondem a apenas um terço da população

economicamente ativa ocupada, além de também sofrerem sub-registros (GALDINO et al,

2012).

Em relação ao perfil de acidentes, mortes e adoecimentos relacionados ao trabalho,

são, em geral, destacados dois problemas que ainda carecem de resolução e que, como tais,

dificultam a definição de prioridades para o planejamento e a implementação de ações focais:

primeiro, a qualidade e a consistência das informações sobre o quadro de saúde dos

trabalhadores; segundo, o caráter parcial das mesmas, cobrindo, sobretudo, o mercado formal

de trabalho (CHAGAS, SALIM, SERVO, 2011).

Partindo da noção de que o conhecimento dos fatores que impulsionam a notificação

irá contribuir para o desenvolvimento de ações mais apropriadas e direcionadas para os pontos

frágeis da RENAST e do CEREST, é fundamental que este cenário seja investigado, visando

à melhoria da qualidade e da cobertura da notificação (GALDINO et al, 2012).

Além disso, essa situação de desinformação e de subdiagnóstico não permite conhecer

densamente o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores no Brasil e seus fatores

associados, informação essencial para a organização da assistência a essas pessoas e o

planejamento, execução e avaliação das ações, no âmbito dos serviços de saúde.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

22

De acordo com o Ministério da Saúde (2001), o perfil de morbimortalidade dos

trabalhadores caracteriza-se pela coexistência de agravos que têm relação direta com

condições de trabalho específicas, como os acidentes de trabalho típicos e as doenças

profissionais; as doenças relacionadas ao trabalho, que têm sua frequência, surgimento e/ou

gravidade modificadas pelo trabalho e doenças comuns ao conjunto da população, que não

guardam relação etiológica com o trabalho.

Desse modo, a dimensão da problemática dos efeitos à saúde, relacionadas ao

trabalho, nos diversos coletivos populacionais, depende da qualidade das informações

coletadas relativas à: documentação da distribuição de agravos segundo variáveis

demográficas, detecção de situações para relacioná-las às suas causas, identificação de

necessidade de investigação, estudos ou pesquisas e, finalmente, organização de banco de

dados para o planejamento de ações e serviços. Decorre daí a importância de serem definidos

instrumentos de coleta de dados a partir do nível local que alimentem e retro-alimentem as

diversas instâncias do sistema de saúde para as ações em saúde do trabalhador (BRASIL,

2001).

O Estado do Rio Grande do Norte/RN tem sua rede de atenção à Saúde do

Trabalhador composta de três CEREST regionais (Caicó, Mossoró e Natal) e um estadual,

situado na capital, além de instituições sentinelas, tais como hospitais de referência estadual e

distritos sanitários municipais. Vale salientar que uma das dificuldades enfrentadas no nível

estadual é a qualidade da informação gerada nas unidades sentinelas, nem sempre adequada.

Os dados gerados atualmente pelos CEREST Natal, CEREST Caicó e CEREST Mossoró/RN,

encaminhados para o CEREST estadual, contabilizam de parte das notificações registradas no

Estado do RN sobre a morbimortalidade relacionada ao trabalho. Porém, há necessidade

constatada de maiores avaliações, como por exemplo, a investigação sobre a magnitude de

morbidade relacionada ao trabalho no quadro de morbidade geral no Estado do Rio Grande do

Norte.

Nesse contexto, a relevância do estudo justifica-se, inicialmente, pela sua contribuição

ao campo de saberes e práticas da Saúde do Trabalhador, uma vez que não há estudos desta

natureza considerando a realidade do Estado do Rio Grande do Norte (RN), Brasil.

Em consonância com os objetivos e estratégias do Plano Nacional de Segurança e

Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que prevê como um dos seus

objetivos a criação de uma agenda integrada de estudos e pesquisas em saúde e segurança do

trabalhador e propõe como respectivas estratégias: a realização e apoio ao desenvolvimento

de estudos e pesquisas pertinentes a Segurança e Saúde no Trabalho atendendo a prioridades

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

23

nacionais e regionais; o estabelecimento de parcerias e intercâmbios com organismos e

instituições técnicas e universidades para a realização de estudos e pesquisas nessa área e a

busca de recursos nas instituições financiadoras de pesquisa para apoiar estudos e pesquisas e

a promoção de estudos e pesquisas para conhecer o perfil epidemiológico e os riscos à Saúde

e Segurança no Trabalho (BRASIL, 2011).

A motivação para a realização do presente estudo teve como eixo principal à

necessidade constatada na prática de estudos analíticos no que se refere à situação

epidemiológica das doenças e agravos relacionados ao trabalho no estado, para orientação da

gestão local quanto às ações voltadas para a Saúde do Trabalhador e políticas públicas. Desta

forma, esta investigação é fruto de diálogos com a equipe do CEREST estadual na tentativa

de buscar novas formas de enfrentamento para a otimização do processo e organização do

sistema de informação nessa área a partir de análise aprofundada da realidade das doenças

ocupacionais no estado, partindo desse conhecimento para planejamento e implementação das

ações de promoção, prevenção e controle das doenças relacionadas ao trabalho.

A pesquisa produziu dados essenciais ao planejamento, execução e avaliação das

ações em Saúde do Trabalhador desenvolvidas em nível local, o que poderá ser utilizado

como instrumento de assistência e gestão, bem como para elaboração de políticas públicas

voltadas para a população trabalhadora. Nesse sentido, o estudo apresenta significativa

relevância social, pois pretende responder as reivindicações de entidades e instituições que

atuam na defesa dos direitos dos trabalhadores.

Além disso, buscou atender a necessidade de visibilidade social, como contribuição na

formação de consciência coletiva sobre a magnitude da problemática da saúde do trabalhador

e seu impacto na saúde pública, como forma de alerta para a sociedade e órgãos gestores

sobre a necessidade de maior envolvimento, compromisso e investimentos com pactuação

interinstitucional e intersetorial, destacando-se o papel do controle social. Ressalta-se também

a importância da participação de entidades da sociedade civil, como parceiras nessa busca de

esforços para a melhoria da Saúde do Trabalhador como, por exemplo, a participação de

universidades públicas, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na

perspectiva de contribuir na integração e cooperação ensino-serviço.

Salienta-se ainda que o presente estudo traz contribuições para a ciência,

possibilitando a ampliação da produção científica e atualização dos conhecimentos nessa área,

mediante a divulgação de seus resultados em âmbito nacional e internacional.

Diante do exposto, teve-se como objeto de estudo a situação epidemiológica das

doenças e agravos relacionados ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Nesse sentido,

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

24

pretendeu-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Qual a magnitude e os fatores

associados à morbidade relacionada ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte no período

de 2007 a 2014?

Em conformidade com o que foi exposto, propõe-se, por meio desta investigação,

buscar respostas as seguintes questões de pesquisa:

Qual o perfil da morbidade relacionada ao trabalho registrado no CEREST estadual no

estado do Rio Grande do Norte?

Quais as doenças e agravos ocupacionais que apresentam maior incidência/prevalência

nesse Estado?

Quais os principais fatores associados às doenças e agravos ocupacionais que

acometem os trabalhadores nesse estado?

Partindo do pressuposto que o conhecimento da magnitude da morbidade relacionada

ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte será importante para determinar as formas de

prevenção e controle dos riscos relacionados ao trabalho, elegeram-se as seguintes hipóteses

de pesquisa:

Hipótese nula (H0): As doenças e agravos ocupacionais não tem relação com os

determinantes relacionados ao trabalho.

Hipótese alternativa (H1): As doenças e agravos ocupacionais têm relação com os

determinantes relacionados ao trabalho.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

25

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a magnitude da morbidade relacionada ao trabalho a partir dos agravos e doenças

notificados pelos serviços de Saúde ao SINAN/CEREST do Rio Grande do Norte no

período de 2007 a 2014.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar e descrever as doenças e agravos ocupacionais notificados pelo

SINAN/CEREST no Estado do Rio Grande do Norte.

Identificar se as doenças e agravos ocupacionais registrados pelo SINAN/CEREST

apresentam relação com os determinantes relacionados ao trabalho no Estado do Rio

Grande do Norte.

Analisar os fatores determinantes dos acidentes de trabalho notificados pelo

SINAN/CEREST no Estado do Rio Grande do Norte de 2007 a 2014.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

26

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO/SOCIAL DA SAÚDE DO TRABALHADOR

O trabalho, realizado por homens e mulheres, ao longo da história, assume uma

centralidade fundante do ser social. No conjunto de atividades intelectuais e manuais

organizadas pela espécie humana e aplicadas sobre a natureza visa assegurar a existência da

humanidade (CAMARGO, 2012).

Para Marx (2004) o objetivo do trabalho é a objetificação da vida como espécie do

homem, pois ele não mais se reproduz a si mesmo apenas intelectualmente, como na

consciência, mas ativamente e em sentido real e vê seu próprio reflexo em um mundo por ele

construído. Assim, o trabalho emerge como categoria central do ser social.

Esse conceito de trabalho proposto por Marx não se limita ao aspecto econômico

como meramente ocupação ou tarefa, mas como categoria central nas relações sociais, nas

relações dos homens com a natureza e com outros homens sendo uma atividade vital.

Significa dizer que, se o caráter de uma espécie define-se pelo tipo de atividade que ela exerce

para produzir ou reproduzir a vida, esta atividade vital, essencial aos homens, é o trabalho

(CAMARGO, 2012).

A partir dessa concepção dialética, Marx reafirma o entendimento que sem o trabalho

o homem não poderia existir como ser social, ou seja, é a partir do trabalho que o ser humano

diferencia-se de outras formas pré-humanas na história. Dotadas de consciência, as pessoas

têm a possibilidade de planejar antes de dar forma ao objeto (CAMARGO, 2012).

O desenvolvimento do capitalismo no século XIX transformou o trabalho concreto

social em trabalho abstrato assalariado. Essa transformação ocorreu em função de interesses

econômicos e capitalistas que se encontram fortemente presentes até os dias atuais.

No capitalismo, independente das formas organizativas que o trabalho adquire, o

fenômeno da alienação estará sempre presente. Enquanto existir um sistema em que se

privilegia a produção de mercadorias em detrimento da classe trabalhadora, o antagonismo

entre capital-trabalho permanecerá (CAMARGO, 2012).

A alienação do trabalhador em seu produto não significa apenas que o trabalho dele

se converte em objeto, assumindo uma existência externa, mas ainda que existe

independentemente, fora dele mesmo e a ele estranho e que com ele se defronta

como uma força autônoma. A vida que ele deu ao objeto volta-se contra ele como uma força estranha e hostil (MARX, 2004, p. 4).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

27

Para Marx (2004) a alienação ocorre quando o trabalho passa a ser externo ao

trabalhador, negando sua natureza e a si mesmo; por conseguinte, ele não se realiza em seu

trabalho o que lhe causa sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolvendo mais livremente

suas energias mentais e físicas.

Nessa perspectiva, as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores são atingidas

de forma intensa e destrutiva, em que a propriedade privada dos meios de produção determina

a intensidade e o ritmo acelerado do trabalho, bem como o aumento da sua jornada

(CAMARGO, 2012).

A alienação, a opressão e a perda da identidade do trabalho como categoria fundante

do ser, trazem consequências diretas para a vida e a saúde do trabalhador podendo ocasionar

doenças físicas e mentais que interferem na sua capacidade laborativa e na sua relação social.

A desigual distribuição dos poderes e dos recursos econômico-sociais produzidas pela lógica

do sistema capitalista determina a estrutura das classes sociais e, também, as suas

desigualdades e os fenômenos de saúde e doença (SKALINSKI; PRAXEDES, 2003).

3.2 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA MARXISTA

Em decorrência da crise capitalista, pós década de 1970, que alterou de forma

significativa as relações entre Estado x Sociedade e, portanto, trazendo consequências para as

condições de trabalho e vida do trabalhador, colocam-se em questão as teses do fim do

trabalho e da centralidade da categoria trabalho, na perspectiva marxista. Esta parte do

pressuposto de que a crise do capital insere mudanças significativas na ordem social, não

desconsiderando a perspectiva da centralidade do trabalho, no sentido de compreender os

mecanismos adotados pelo capital para garantir a exploração da força de trabalho e a

valorização do capital (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Porém, torna-se frequente no debate acadêmico o aparecimento de uma tendência

denominada de Pós-Modernidade que aponta o “fim da sociedade do trabalho” como uma

realidade da sociedade contemporânea, exaltando a sociedade do conhecimento e a criação de

novos padrões de sociabilidade voltados para a construção dos particularismos e para uma

visão direcionada para a compreensão dos micro-espaços (MIRANDA; MENDONÇA;

NUNES, 2010).

Analisar a saúde do trabalhador na contemporaneidade exige que se leve em

consideração as relações sociais, muitas vezes conflitivas, contraditórias e antagônicas e

obrigam, cada vez mais, o trabalhador a vender sua força de trabalho (MENEZES, 2007).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

28

Torna-se necessário, portanto, utilizar novas abordagens na interpretação do processo

saúde/doença do trabalhador por meio de concepções teórico-metodológicas que ampliem sua

análise, considerando a influência social no desenvolvimento desse processo.

Conforme Skalinski e Praxedes (2003) foram Marx e Engels que estabeleceram essa

possibilidade, uma vez que introduziram os caminhos para a compreensão dos fenômenos

geradores de agravos e doenças, permitindo observar as relações entre o biológico e o social.

Marx propunha a análise das relações que conectam o social e o natural, a produção e o

consumo e seus efeitos sobre a classe trabalhadora. A adoção dos princípios gerais delineados

por Marx e Engels na investigação epidemiológica pode permitir a organização de uma

sociedade que rompa com as barreiras do capitalismo para resgatar a saúde física e mental do

ser humano.

O modelo Neoliberal é entendido como fonte potencializadora do processo de

precarização do trabalho, uma vez que propõe as questões da livre iniciativa, da competição

individual, da economia de mercado como panaceia para curar as mazelas do mundo do

capital. Além disso, a flexibilização dos mercados e dos contratos de trabalho, subcontratação

das relações de trabalho, a fragilização do poder sindical, o desemprego estrutural, uma

política de privatizações de empresas estatais, a fuga de capitais para o setor financeiro, a

proposta de redução do Estado no financiamento de políticas públicas e na regulação social

entre capital e trabalho contribuem na produção de novos riscos e de novas formas de

adoecimentos e sofrimento sob a orientação dos preceitos dos organismos financeiros

internacionais (MENEZES, 2007; MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010; FERREIRA;

AMARAL, 2014).

No capitalismo contemporâneo a partir dos meados da segunda metade do século 20,

particularmente nos países centrais, as transformações no mundo do trabalho vêm trazendo

sérias consequências para a saúde dos trabalhadores, contribuindo para o aumento do desgaste

físico e mental da força de trabalho, precarização, retração e perda dos direitos historicamente

conquistados pelos trabalhadores. Já nos países capitalistas periféricos, este processo possui

particularidades que, todavia, não ficaram imunes à crise capitalista e foram atingidos no

âmbito da produção e da reprodução social com consequências para o mundo do trabalho

atual (FERREIRA; AMARAL, 2014).

As transformações ocorridas no processo de trabalho têm impulsionado uma perda

do poder aquisitivo do trabalhador e aviltamento das suas condições de vida ocasionando um

aumento significativo do desemprego, desassalariamento, ampliação dos postos de trabalho

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

29

precários, exacerbação dos riscos e aumento nos índices de adoecimento e acidentes de

trabalho (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Na atualidade, são fatores determinantes/condicionantes que afetam diretamente a

saúde do trabalhador: os baixos salários; a carga de trabalho excessiva ou o desemprego; a

falta de equilíbrio entre o volume de responsabilidade e o de autoridade ou de capacidade de

tomar decisões; a falta de gerenciamento eficiente; as condições físicas de trabalho incômodas

ou perigosas. Esses fatores somados aos conflitos pessoais (relação familiar, relação amorosa,

satisfação profissional e outros) podem vir também a provocar situações de adoecimento e

morte (MENEZES, 2007).

Para Marx (2004),

O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a

sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria

tão mais barata quanto mais mercadoria cria. Com a valorização do mundo das

coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens

(destaques do autor).

As condições sociais de vida decorrentes da contradição capital e trabalho, como

fonte geradora de desigualdades sociais, intensificada pela massificação do trabalho pelo

capital, adquirem, conforme Marx, uma aparência de questão natural e, por isso mesmo,

assume um caráter de imutabilidade e eternização, que dificulta os questionamentos e o

enfrentamento ao que está posto como verdade (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Nesse processo, o trabalho, de categoria fundante e realização do homem enquanto

ser social passa a instrumento de exploração, subjugação, subordinação do sujeito a formas

aviltantes de extração de mais-valia e venda da força de trabalho, único bem daqueles

destituídos dos meios de produção, que agora são submetidos às relações hierárquicas

desiguais e autoritárias de trabalho (MIRANDA; MENDONÇA; NUNES, 2010).

Na perspectiva equivocada da dinâmica capitalista, o trabalho transforma-se em

objeto de sofrimento e desumanização, perdendo sua função de atividade vital e realizadora,

seja nas relações do homem com a natureza, seja nas relações sociais, tornando-se fonte

geradora de agravos e doenças com consequências nas múltiplas dimensões dos seres

humanos.

Esse paradoxo permite refletir sobre novas formas de ver e entender o trabalho e o

trabalhador em uma perspectiva dialética, em que o trabalho deve ser concebido como um fim

em si mesmo para o desenvolvimento da humanidade, partindo do princípio de que se o

homem não for humano a expressão de sua natureza não o será e, consequentemente, o

próprio pensamento não será concebido como uma expressão de sua natureza, ou seja, como

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

30

uma expressão de um sujeito humano vivendo na sociedade, no mundo e na natureza (MARX,

2004).

A saúde do trabalhador deve ser compreendida como um bem social, sendo condição

fundamental para o desenvolvimento humano, indissociável do trabalho, objetivo precípuo

nas relações de produção no sentido de favorecer e promover o desenvolvimento da cultura do

trabalho decente para a promoção da saúde e da qualidade de vida do

trabalhador/trabalhadora.

3.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT): O TRABALHO DECENTE

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde sua criação em 1919 é

responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho através de

convenções e recomendações, que uma vez ratificadas por decisão soberana de um país,

passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico (OIT, 2012).

Um dos grandes marcos na história da OIT foi a Conferência Internacional do

Trabalho em 1944 que teve como produto a Declaração de Filadélfia que constitui a carta de

princípios e objetivos da OIT e serviu de referência para a Declaração Universal dos Direitos

Humanos (1948). A primeira reafirma o princípio de que a paz permanente só pode estar

baseada na justiça social e estabelece quatro ideias fundamentais, que constituem valores e

princípios básicos da OIT: o trabalho deve ser fonte de dignidade; o trabalho não é uma

mercadoria; a pobreza, em qualquer lugar, é uma ameaça à prosperidade de todos e que todos

os seres humanos tem o direito de perseguir o seu bem estar material em condições de

liberdade e dignidade, segurança econômica e igualdade de oportunidades (OIT, 2012).

A OIT desempenha um papel importante na definição das legislações trabalhistas e

na elaboração de políticas econômicas, sociais e trabalhistas durante boa parte do século XX

até os dias atuais, tendo como uma de suas metas a luta pela a saúde e segurança no trabalho

(SCHMIDT, 2010).

Destaca-se que em 1998, a 87ª Conferência Internacional do Trabalho adota a

Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho, definidos como o respeito à

liberdade sindical e de associação e o reconhecimento efetivo do direito de negociação

coletiva, a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório, a efetiva

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

31

abolição do trabalho infantil e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e

ocupação (OIT, 2012).

O Brasil que está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência

Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião, tem mantido representação do órgão

desde a década de 1950, com programas e atividades que refletem os objetivos da

Organização ao longo de sua história (OIT, 2012).

Além da promoção permanente das Normas Internacionais do Trabalho, do emprego,

da melhoria das condições de trabalho e da ampliação da proteção social, a atuação da OIT no

Brasil tem se caracterizado, no período recente, pelo apoio ao esforço nacional de promoção

do trabalho decente em áreas tão importantes como o combate ao trabalho forçado, ao

trabalho infantil e ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e comercial, à

promoção da igualdade de oportunidades e tratamento de gênero e raça no trabalho e à

promoção de trabalho decente para os jovens, entre outras (OIT, 2012).

Ao final da década de 1990, a OIT desenvolveu e passou a disseminar o conceito de

trabalho decente como síntese do seu mandato histórico, lastreado em quatro pilares

estratégicos: i) respeito às normas internacionais do trabalho, em especial aos princípios e

direitos fundamentais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de

negociação coletiva; eliminação de todas as formas de trabalho forçado; abolição efetiva do

trabalho infantil; eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e

ocupação); ii) promoção do emprego de qualidade; iii) extensão da proteção social e iv)

diálogo social. Nesta perspectiva, trabalho decente é um trabalho produtivo e adequadamente

remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, sem quaisquer

formas de discriminação e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que dele

vivem (RIBEIRO; BERG, 2010).

A OIT formalizou o conceito de Trabalho Decente como uma síntese da sua missão

histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho

produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade

humanas. Considerando-o como o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da

OIT, o trabalho decente é condição fundamental para a superação da pobreza, redução das

desigualdades sociais, garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento

sustentável (OIT, 2012).

Partindo desse entendimento, o Trabalho Decente integra as dimensões quantitativa e

qualitativa do trabalho. A OIT além de propor medidas dirigidas à geração de emprego e

renda, o enfrentamento do desemprego e do subemprego, propõe também a superação de

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

32

formas de trabalho cuja renda seja insuficiente para que os indivíduos e suas famílias superem

a situação de pobreza ou que se baseiam em atividades insalubres, perigosas, inseguras e/ou

degradantes. Afirma ainda a necessidade de que toda forma de trabalho ou emprego esteja

também associado à proteção social e aos direitos do trabalho, entre eles os de representação,

associação, organização sindical e negociação coletiva (RIBEIRO; BERG, 2010).

As políticas de proteção social desempenham um papel fundamental na

concretização do direito humano à segurança social para todos, reduzindo a pobreza e a

desigualdade e apoiando o crescimento inclusivo – ao promover o capital humano e a

produtividade, apoia a demanda doméstica e facilita a transformação estrutural das economias

nacionais. No entanto, apesar do reconhecimento internacional de sua importância, apenas

uma parcela de 27% da população global usufrui do acesso a sistemas de segurança social

abrangente, enquanto 73% têm cobertura parcial ou nenhuma (OIT, 2014).

Ao longo da década de 1990, os elevados níveis de desemprego e de precarização do

trabalho vivenciados proporcionaram severos impactos sobre a proteção social em toda a

América Latina, levando a uma diminuição nos já limitados padrões de cobertura da

população. A insuficiência de cobertura do sistema de proteção social, tanto em relação ao

número de trabalhadores, quanto a gama de riscos cobertos e a baixa qualidade da proteção

oferecida, estão entre os principais desafios enfrentados para a promoção do trabalho decente

e o fortalecimento da coesão social na região (RIBEIRO; BERG, 2010).

A proteção social é um elemento fundamental para a promoção do desenvolvimento

humano, da estabilidade política e do crescimento inclusivo. Em relação aos trabalhadores, os

tipos de proteção social estão relacionados às mulheres e aos homens em idade ativa,

estabilizando os seus rendimentos em caso de desemprego, acidente do trabalho,

incapacidade, doença e maternidade e garantindo que tenham, pelo menos, a segurança de

uma renda básica (OIT, 2014).

Enquanto o emprego serve de fonte primária de renda durante a vida ativa, a proteção

social tem uma importante função de proteger a renda e a demanda agregada, facilitando desta

forma a mudança estrutural no seio das economias. Dessa forma, os regimes de proteção em

caso de desemprego têm uma função importante ao proporcionar segurança de renda aos

trabalhadores e respectivas famílias, na eventualidade de desemprego temporário,

contribuindo assim para prevenir a pobreza, apoiar a mudança estrutural da economia,

proporcionar salvaguardas contra a informalização e, em caso de crise, estabilizar a demanda

agregada, ajudando uma recuperação mais rápida da economia (OIT, 2014).

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

33

De acordo com as legislações em vigor, apenas 28% dos trabalhadores de todo o

mundo encontram-se em situação de proteção social no caso de ficarem desempregados.

Neste quadro geral, há ainda consideráveis diferenças regionais: 80% dos trabalhadores são

abrangidos na Europa, 38% na América Latina, 21% no Oriente Médio, 17% na região Ásia-

Pacífico e 8% na África. Em todo o mundo, apenas 12% dos trabalhadores desempregados

recebem, de fato, benefícios por desemprego e, mais uma vez, com enormes disparidades

regionais, com uma cobertura efetiva que varia desde 64% dos desempregados na Europa

Ocidental até 7% na região Ásia-Pacífico, 5% na América Latina e no Caribe e menos de 3%

no Médio Oriente e na África (OIT, 2014).

Conforme a OIT (2014), apenas 33,9 % da força de trabalho mundial estão

abrangidas pela legislação relativa aos acidentes de trabalho e doenças profissionais, por meio

de regimes obrigatórios de seguro social. Mesmo que se inclua a cobertura voluntária por

seguros sociais e as disposições jurídicas sobre a responsabilidade de empregadores, apenas

39,4% da força de trabalho está coberta pela lei. Na prática, o acesso efetivo à proteção em

caso de acidentes do trabalho é ainda mais baixo, em grande parte devido à deficiente

aplicação da lei em muitos países.

Assim, o modelo neoliberal alavancado pelo já instituído modo de produção

capitalista estabelece novas formas de relação de trabalho que enfraquecem o poder de

reivindicação e participação coletiva dos trabalhadores e reduz o papel do Estado nas relações

de trabalho, o que diminui a regulação e, consequentemente, restringe também a proteção

social (ANDRADE; MARTINS; MACHADO, 2012; IM et al, 2012).

A virada do século é marcada por grandes mudanças no mundo do trabalho,

decorrentes do processo de reestruturação produtiva, com a perda da centralidade do trabalho

industrial, crescimento do setor de serviços e incremento do desemprego estrutural e dos

índices de informalidade. Destaca-se a adoção na gestão do trabalho de estratégias como a

terceirização e a flexibilização dos contratos de trabalho resultando na precarização das

condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores (NOBRE, 2010; IM et al, 2012).

No contexto da reestruturação produtiva no Brasil a reboque da globalização e da

disseminação do modelo neoliberal, o processo de mudanças no mundo do trabalho foi se

desenvolvendo gradualmente e a precarização apresenta-se nos espaços produtivos do

emprego, da informalidade e do desemprego, produzindo a violência moral, ética, política,

física e psíquica do trabalhador, tornando-se uma das marcas do modelo de acumulação

flexível. A condição para a sua materialização é dada pela instabilidade, insegurança,

intensificação dos ritmos, extensão da jornada de trabalho, fragmentação de classe e a

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

34

concorrência entre os próprios trabalhadores, que somada a desproteção social, tem fortes

impactos sobre a saúde dos trabalhadores e a sua reprodução (FERREIRA; AMARAL, 2014;

IM et al, 2012).

Estudos evidenciam que alguns riscos tradicionais têm diminuído em virtude de

melhorias na segurança, dos avanços tecnológicos e de uma melhor regulamentação de

normas de Saúde e Segurança no Trabalho, especialmente nos países desenvolvidos;

entretanto os mesmos continuam a provocar danos inaceitáveis na saúde dos trabalhadores em

países em desenvolvimento. Paralelamente, riscos emergentes e doenças relacionadas ao

trabalho estão surgindo por ocasião das novas tecnologias e formas de organização do

processo de trabalho que suscitam perigos novos e desconhecidos no local de trabalho sem

que se implementem medidas adequadas de prevenção, proteção e controle, tais como as

deficientes condições ergonômicas, a exposição à radiação eletromagnética e aos riscos

psicossociais (OIT, 2013).

Assim, o mundo do trabalho atual trouxe, por um lado, aspectos positivos como os

relacionados aos avanços em matéria de novas tecnologias dos processos produtivos e da

mudança de paradigmas de trabalho (mudanças organizacionais) e, por outro, novos riscos

emergiram desse processo com destaque para as novas formas de organização, as condições e

as relações de trabalho (SCHMIDT, 2010; OIT, 2013; SUBIRÁN, 2014).

A relação trabalho/saúde/doença passa a ter como expressão as diversas formas de

violência que desencadeiam o adoecimento/acidentes no trabalho: a violência da manutenção

de condições precárias de trabalho, traduzida pelos acidentes e doenças do trabalho; a

violência decorrente de relações de trabalho degradantes, como o trabalho análogo ao de

escravo; o trabalho infantil; a violência ligada às discriminações de gênero, raça/cor da pele,

etnia, orientação sexual, religiosa ou geracional; o assédio sexual e as práticas de assédio

moral (NOBRE, 2010).

Assim, os determinantes da saúde dos trabalhadores não compreendem apenas

fatores de risco ocupacionais como físicos, químicos, biológicos, de acidentes e ergonômicos,

mas também estão relacionados ao conjunto de condicionantes sociais, econômicos,

tecnológicos e organizacionais responsáveis por contextos e situações de vulnerabilidades,

fragilidades, nocividades e riscos presentes no ambiente e no processo de trabalho que possam

comprometer a saúde e a vida dos trabalhadores.

Nesse contexto, as mudanças no mundo do trabalho e as novas evidências científicas

no que se refere aos determinantes e condicionantes da morbidade e mortalidade dos

trabalhadores, provocaram revisões contínuas na lista de doenças relacionadas ao trabalho

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

35

proposta pela OIT ao longo dos anos. Essa lista de doenças profissionais estabelecidas no

ordenamento jurídico nacional e internacional tem desempenhado um papel importante na

prevenção das doenças relacionadas ao trabalho no mundo e subsidia as convenções e

recomendações propostas pela OIT (KIM; KANG, 2014; SUBIRÁN, 2014).

É importante destacar que no Brasil o processo da industrialização ocorreu de forma

tardia e acelerada, permitindo a existência de ambientes e condições de trabalho que variam

desde os cenários mais “tecnologizados” às condições laborais mais rudimentares, inclusive

com a existência de trabalho escravo e infantil. Todo esse processo modificou, de forma

significativa, o ambiente, as condições e a organização do trabalho, interferindo no processo

saúde/doença dos trabalhadores com consequências advindas das contínuas transformações

que se operam no mundo ocidental geradas desde a revolução industrial à globalização da

economia e à entrada no mercado de novas tecnologias altamente sofisticadas (BRASIL,

2011).

Partindo do entendimento que, por um lado o trabalho representa uma dimensão

fundamental na estruturação do homem (individual e coletivo), no que se refere ao

desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, psicológicas, espiritual, como também, em

relação à garantia das condições materiais de sobrevivência, por outro, ele tem sido, ao longo

dos tempos, causador de sofrimentos, adoecimentos e morte. Ou seja, os trabalhadores

adoecem e morrem por causas relacionadas ao trabalho, como consequência direta das

atividades profissionais que exercem ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou

foi realizado. Dessa forma, o trabalho impacta sobre o perfil de morbimortalidade dos

trabalhadores, contribuindo de forma direta – os acidentes de trabalho e as chamadas doenças

profissionais e, de forma indireta, nas chamadas doenças relacionadas com o trabalho

(BRASIL, 2011).

Assim, as mudanças no perfil da morbimortalidade dos trabalhadores brasileiros

acompanharam todas essas modificações e têm sido motivo de preocupação e alerta para a

gravidade do problema. Observa-se com isso um aumento nos acidentes do trabalho, na

prevalência das doenças relacionadas ao trabalho, no número de afastamentos, nas

aposentadorias por invalidez, no absenteísmo, nos sofrimentos mentais e psicológicos – quer

sejam diretamente nos trabalhadores, quer nas suas relações sociais e familiares.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

36

3.4 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA PERSPECTIVA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE

NO BRASIL

A Carta de Ottawa, assinada no dia 21 de Novembro de 1986, no documento final da

1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde permanece, até os dias atuais, como

um guia orientador para as políticas e ações em promoção da saúde como uma fonte de

inspiração e um desafio para a implementação de iniciativas neste domínio. O corpo teórico

da Carta de Ottawa influenciou de modo significativo formulação de políticas e programas na

área da saúde pública em todo o mundo (NUNES, 2011).

Esta Carta vem trazer uma nova perspectiva da saúde como um recurso para a vida a

partir das ações de Promoção à Saúde, as quais devem ser entendidas e buscadas a partir de

ações intersetoriais e transdiciplinares no sentido de subsidiar políticas públicas saudáveis. A

saúde é considerada, portanto, o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e

pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida (OTTAWA CHARTER

FOR HEALTH PROMOTION, 1986).

Partindo desses princípios, a Carta de Ottawa traz no seu arcabouço teórico novas

estratégias para melhoria da qualidade de vida e saúde, a partir da proposição de estratégias e

ações específicas sobre os determinantes sociais da saúde com o propósito de reduzir as

iniquidades, em uma tentativa de superação da concepção de causalidade biologicista do

processo saúde/doença vigente desde a década de 1970 (OTTAWA CHARTER FOR

HEALTH PROMOTION, 1986; HEIDEMANN et al., 2012).

De acordo com Nunes (2011), agir sobre os determinantes sociais da saúde implica

em lutar contra os efeitos adversos, econômicos e sociais, decorrentes da globalização, aos

quais estamos sujeitos tais como a massificação, a liberalização econômica, o desemprego, a

marginalidade, a pobreza e a exclusão social, no sentido de garantir igualdade de

oportunidades entre gêneros e entre diferentes grupos sociais.

Entre outras ações, a Carta de Ottawa propõe a criação de ambientes favoráveis à

saúde tanto nos aspectos sociais como ecológicos, partindo do princípio de que o trabalho e o

lazer devam ser fontes de saúde e não de adoecimento e morte. Para isso, sugere que a

organização social do trabalho deva contribuir para a constituição de uma sociedade mais

saudável a partir da “promoção de condições de vida e trabalho seguras, estimulantes,

satisfatórias e agradáveis” (OTTAWA CHARTER FOR HEALTH PROMOTION, 1986).

Dessa forma, a 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde e seu

documento final, a Carta de Ottawa, estabelece em suas análises e proposições que o trabalho,

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

37

em seus aspectos gerais e específicos e, em situação de iniquidade social, pode ser

considerado fator de risco para a saúde e, portanto, determinante social na qualidade de vida

da população.

Uma das primeiras abordagens epidemiológica no estudo da relação

saúde/doença/trabalho foi a publicação do estudioso italiano Bernadino Ramazzini do livro

De Morbis Artificum Diatriba em 1700, reconhecido internacionalmente como um marco

histórico no estudo da Saúde do Trabalhador. A partir de então, numerosos estudos abordando

esse tema vêm sendo realizados em todos os países do mundo, inclusive no Brasil, buscando

estabelecer a relação existente entre o trabalho e o processo saúde-doença, que vão se

materializar nas formas de sofrimentos, adoecimentos, acidentes e mortes dos trabalhadores

(BRASIL, 2011).

No Brasil, o campo da saúde do trabalhador teve sua embriogênese durante o

movimento da reforma sanitária brasileira na década de 1980, com a postura de ruptura com

as abordagens e práticas distanciadas do trabalhador e do processo de trabalho. Desenvolveu a

partir das mudanças e ampliação do conceito de saúde/doença, assim como na própria

concepção e proposta que permitiu um novo olhar sobre as questões que envolvem a saúde e o

mundo do trabalho, cujas demandas do movimento sanitário e dos trabalhadores foram

canalizadas para o arcabouço teórico e jurídico, dando uma nova forma de entender a saúde e

o trabalho - e conduzindo seus aspectos para a discussão e fortalecimento social por meio de

sua politização (SANTOS, 2009).

Nesse contexto de redemocratização do Estado brasileiro e com influência do

interesse na saúde por parte de alguns sindicatos de ramos industriais da região Sudeste, a

discussão da Vigilância Epidemiológica em Saúde do Trabalhador no país também se

desenvolve inicialmente a partir das experiências da Secretaria de Estado de Saúde de São

Paulo que, em 1986, estabelece a primeira lista de doenças relacionadas ao trabalho e com a

Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, a partir da criação da Coordenação Estadual

de Saúde do Trabalhador (RABELLO NETO et al., 2011).

A formulação e a implementação de políticas e ações governamentais são meios

necessários para que o Estado cumpra seu papel na garantia da saúde como direito básico dos

cidadãos, conforme instituído na Constituição Federal (CF) de 1988. Esta CF é considerada o

marco legal referencial do processo de criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a qual

expressa em seu Artigo 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas (BRASIL, 1988).

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

38

A Saúde do Trabalhador é evidenciada na CF no seu Artigo 200, quando determina

que ao SUS compete executar as ações de saúde do trabalhador e colaborar na proteção do

meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Essa determinação é reafirmada pela Lei

Orgânica da Saúde (LOS – Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990), que define a

Saúde do Trabalhador como integrante do campo de atuação do SUS e regulamenta os seus

dispositivos constitucionais (BRASIL, 1990).

É importante destacar que a incorporação da temática da saúde do trabalhador no

âmbito do SUS trazida pela Constituição Federal de 1988 e pela LOS, expressa,

principalmente, a necessidade de que o setor saúde não se limite a ações assistenciais e

curativista, mas se dedique a desenvolver ações de promoção e vigilância que transformem os

processos e os ambientes de trabalho que impactam negativamente na saúde da população

(CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).

Constituindo-se em uma área da Saúde Pública, a Saúde do Trabalhador tem

como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e o processo saúde/doença.

Em uma concepção dialética, a saúde e a doença são consideradas como processos dinâmicos,

estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em

determinado momento histórico. Parte-se, portanto do princípio de que a forma de inserção

dos homens, mulheres e crianças nos espaços de trabalho contribui decisivamente para suas

formas específicas de adoecer e morrer (LIMA, 2014).

A Saúde do Trabalhador tem como objetivos prioritários a promoção da saúde e a

proteção do trabalhador, traduzidos nas ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes

e condições de trabalho, bem como a vigilância dos agravos (acidentes e

doenças) decorrentes. Ocupa-se também da organização e prestação dos serviços assistenciais

aos trabalhadores vitimados com agravos decorrentes do trabalho, compreendendo

procedimentos de diagnóstico, tratamento, notificação e reabilitação de forma integrada e

regionalizada no SUS (BRASIL, 2001).

Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012), trabalhadores são todos os homens e

mulheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer

que seja sua idade e forma de inserção no mercado de trabalho, nos setores formais ou

informais da economia. Estão incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou

trabalham como empregados assalariados, trabalhadores domésticos, trabalhadores avulsos,

trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores públicos, trabalhadores cooperativados e

empregadores. São também considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades não

remuneradas – habitualmente, em ajuda a membro da unidade domiciliar que tem uma

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

39

atividade econômica, os aprendizes e estagiários e aqueles temporária ou definitivamente

afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou desemprego.

A legislação brasileira estabeleceu a competência da União para cuidar da segurança e

da saúde do trabalhador por meio de ações integradas dos Ministérios do Trabalho e Emprego,

Previdência Social e Saúde, atribuindo-se ao Sistema Único de Saúde (SUS) a

responsabilidade de coordenar essas ações no país. Além disso, enunciou o conceito ampliado

de saúde incluindo entre seus determinantes as condições de alimentação, habitação,

educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego (BRASIL, 2004; DIAS; HOEFEL, 2005).

As políticas governamentais no âmbito da saúde no Brasil devem, portanto, nortear-se

pelas diretrizes do SUS, dispostas na Lei Orgânica nº 8.080/90, dentre as quais se encontra a

integralidade, entendida como um “conjunto articulado e contínuo de ações e serviços

preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de

complexidade do sistema” (PAIM; SILVA, 2010).

A Portaria N° 3.908/98 que aprovou a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador

(NOST/SUS) agregou mais elementos ao campo da Saúde do Trabalhador no SUS,

ratificando princípios como: universalidade e equidade; integralidade das ações; direito à

informação sobre a saúde; controle social; regionalização e hierarquização das ações de saúde

do trabalhador; uso do critério epidemiológico e de avaliação de riscos no planejamento e na

avaliação das ações, ao elencar prioridades e na alocação de recursos. Nesta norma foi

apontada a necessidade de notificação dos agravos relacionados ao trabalho, possibilitando a

criação de uma base de dados nacional cuja alimentação e análise sistemática das informações

subsidiaria o planejamento das políticas e ações nessa área.

As primeiras ações em Saúde do Trabalhador foram inseridas em áreas afins como

Vigilância Sanitária, Assistência à Saúde e Secretaria de Políticas de Saúde, quando se

estabeleceu como Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Em 1999 foi criada a Assessoria de

Saúde Ocupacional na então Secretaria de Assistência à Saúde, que posteriormente teve o

nome alterado para Assessoria Técnica de Saúde do Trabalhador. Assim, por alguns anos, o

Ministério da Saúde conviveu com a insólita situação de ter duas áreas de saúde do

trabalhador na sua estrutura, com perspectivas diferenciadas, inclusive pelas próprias

características e funções das secretarias, e pouco articuladas em relação à formulação e

implementação da PNST.

Até 2002 foi marcante o predomínio da condução da Política pela Área Técnica de

Saúde do Trabalhador da SPS, situação que perdurou até 2003 quando foi criada a Secretaria

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

40

de Atenção à Saúde (SAS), com uma única Área Técnica de Saúde do Trabalhador - COSAT

(CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).

A inserção da Saúde do Trabalhador no Ministério da Saúde consolida-se com a

publicação do Decreto nº 6.860, de 27 de maio de 2009, que formaliza a Coordenação Geral

de Saúde do Trabalhador (CGSAT) no interior do Departamento de Vigilância em Saúde

Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST) da SVS, cabendo à Secretaria a coordenação da

gestão da PNST (BRASIL, 2009).

Em 2004 foi criada a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador

(PNSST), que aponta para a concepção de trabalho como base da organização social e direito

humano fundamental, que deve ser realizado em “condições que contribuam para a melhoria

da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores sem prejuízo para sua

saúde, integridade física e mental” (BRASIL, 2004; OIT, 2012).

O campo da saúde do trabalhador emerge no Brasil e no mundo como alternativa à

prática da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional na perspectiva de superar seu

caráter meramente assistencial e reducionista, buscando entre outros aspectos referenciar o

trabalhador como figura central e sujeito ativo no processo saúde/doença. Assim, na PNSST,

o Ministério da Saúde dispõe como objetivo a “promoção e proteção da saúde dos

trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de

forma integrada no SUS” (JACQUES et al., 2012).

A PNSST tem por objetivo a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do

trabalhador, a prevenção de acidentes e de danos à saúde advindos do trabalho ou a ele

relacionados, ou que ocorram no curso dele, por meio da eliminação ou da redução dos riscos

nos ambientes de trabalho. Essa política deverá ser implementada por meio da articulação

continuada das ações de governo, que deverá ocorrer no campo das relações de trabalho,

produção, consumo, ambiente e saúde, com a participação das organizações representativas de

trabalhadores e empregadores. E estabelece também, responsabilidades aos setores de

governo diretamente responsáveis por sua implementação e execução: Ministério do Trabalho

e Emprego, Ministério da Saúde e Ministério da Previdência Social, sem prejuízo da

participação de outros órgãos e instituições que atuam na área (CHAGAS; SALIM; SERVO,

2011).

Como articulação prévia à PNSST, foi criada em 2002 por meio da Portaria no

1.679/GM a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST),

constituindo-se como ferramenta estratégica nacional para a disseminação dos princípios e

práticas da Saúde do Trabalhador no SUS, em todos os níveis de atenção, com vistas ao

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

41

fortalecimento e articulação das ações de promoção, prevenção, proteção, vigilância e

recuperação da saúde dos trabalhadores urbanos e rurais, independente do seu vínculo

empregatício e inserção no mercado de trabalho (BRASIL, 2012; JACQUES et al., 2012).

O processo de construção da RENAST representou o fortalecimento da Política de

Saúde do Trabalhador no SUS, reunindo as condições para estabelecer uma política de Estado

e os meios para sua execução, integrando a rede de serviços do SUS, voltados à assistência e à

vigilância, para o desenvolvimento das ações de Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2006).

A instituição da RENAST teve como principal estratégia a consolidação e

implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da trabalhadora, a partir do

fortalecimento da articulação das ações de promoção, prevenção, proteção, vigilância e

recuperação da saúde dos trabalhadores urbanos e rurais, independentemente do vínculo

empregatício e do tipo de inserção no mercado de trabalho; e a atenção integral à saúde do

trabalhador, com suas especificidades, que deve ser objeto de todos os serviços de saúde,

consoante com os princípios do SUS de equidade, integralidade e universalidade (CHAGAS;

SALIM; SERVO, 2011).

A implementação da RENAST permitiu ainda a elaboração de estratégias para

promover o acesso dos trabalhadores informais e desempregados aos programas e serviços de

Saúde do Trabalhador no âmbito do SUS com o intuito de minimizar essa iniquidade social

com o trabalhador informal tão amplamente desassistido pelas diversas políticas públicas. No

entanto, apesar de esforços empreendidos para garantir políticas de assistência social e de

saúde a esses trabalhadores, medidas de vigilância e controle dos agravos à saúde continuam

fugazes e pouco consistentes (MIQUILIN; CORREA FILHO, 2011).

No período de 2002 a 2010 foram habilitados 181 Centros Estaduais e Regionais de

Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), uma rede sentinela de 1.000 serviços

médicos e ambulatoriais de média e alta complexidade, responsáveis por identificar,

investigar e notificar os acidentes e doenças relacionados ao trabalho, registrando-os no

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A RENAST responsabiliza-se

pela execução de ações curativas, preventivas, de promoção e de reabilitação à saúde do

trabalhador brasileiro (BRASIL, 2012; JACQUES et al., 2012; OIT, 2012).

No contexto da RENAST, os CEREST constituem-se em Centros estaduais

localizados nas capitais e regionais, de gestão estadual ou municipal, localizados em regiões

metropolitanas e municípios sede, polos de assistência das regiões e microrregiões de saúde.

Os mesmos desempenham papel fundamental, posto que funcionam como polos irradiadores

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

42

da cultura da produção social das doenças e da centralidade do trabalho no processo de

Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, atuando nos níveis estadual e regional (OIT, 2012).

Em nível regional o CEREST tem por função prover suporte técnico e viabilizar ações

de vigilância, facilitando processos de capacitação para técnicos, controle social e toda a rede

do SUS, além de executar, organizar e estruturar a assistência nos níveis de atenção

secundária e terciária para atender aos acidentes e agravos à saúde relacionados com o

trabalho. Cabe ainda aos CEREST regionais apoiar as investigações de maior complexidade,

assessorar a realização de convênios de cooperação técnica, subsidiar a formulação de

políticas públicas (BRASIL, 2012; JACQUES; MILANEZ; MATTOS, 2012; OIT, 2012).

Quanto aos CEREST estaduais compete elaborar e executar a Política Estadual de

Saúde do Trabalhador, acompanhar os planos de ação dos regionais, a participação da

pactuação para definição da rede sentinela e a contribuição para as ações de vigilância em

saúde (BRASIL, 2012).

Os CEREST deixam de ser porta de entrada do sistema, constituindo-se como centro

articulador e organizador no seu território de abrangência, das ações intra e intersetoriais de

saúde do trabalhador, assumindo uma função de retaguarda técnica e pólos irradiadores de

ações e ideias de vigilância em saúde, de caráter sanitário e de base epidemiológica (BRASIL,

2006).

No debate interno no Ministério de Saúde, entre as áreas de vigilância epidemiológica

e de saúde do trabalhador, foi acordada a estratégia de criação de uma rede sentinela para o

registro dos agravos composta pela vigilância epidemiológica coordenada pelas secretarias

estaduais e municipais e apoiada pelos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador

(CERESTs), no bojo da recém-criada Rede Nacional de Atenção Integral em Saúde do

Trabalhador (RENAST), por meio da Portaria GM/MS no 1.679/2002, posteriormente

ampliada pelas Portarias GM/MS no 2.437/2005 e no 2.728/2009 (RABELLO NETO;

GLATT; SOUSA et al., 2011).

Em relação à necessidade de estruturação da Rede de Serviços Sentinela em Saúde do

Trabalhador, ressalta-se como marco institucional a Portaria GM/MS nº 777, de 28 de abril de

2004, que dispôs sobre os procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à

saúde do trabalhador em rede de serviços sentinela específica, no SUS. Na referida portaria

estabeleceu-se 11 agravos prioritários para notificação compulsória no Sistema de Informação

de Agravos de Notificação (SINAN): Acidente de Trabalho Fatal; Acidentes de Trabalho com

Mutilações; Acidente com Exposição ao Material Biológico; Acidentes de Trabalho em

Crianças e Adolescentes; Dermatoses Ocupacionais; Intoxicações Exógenas (por substâncias

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

43

químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados); Lesões por Esforços

Repetitivos (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT);

Pneumoconioses; Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR); Transtornos Mentais

Relacionados ao Trabalho e Câncer Relacionado ao Trabalho (CHAGAS; SALIM; SERVO,

2011).

A Rede de Serviços Sentinela em Saúde do Trabalhador é constituída basicamente por

serviços de atenção básica, média e alta complexidade e hospitais de referência para o

atendimento de urgência e emergência, o atendimento, o diagnóstico e a notificação dos

agravos à saúde do trabalhador considerados prioritários pelo Sistema de Informação de

Agravos de Notificação – SINAN/NET (BRASIL, 2004).

O SINAN-NET é considerado de grande relevância para a Saúde do Trabalhador, uma

vez que subsidia a análise da situação dos agravos ocorridos com todos os trabalhadores, a

partir dos dados coletados, permitindo elaborar políticas públicas de promoção, prevenção,

tratamento e reabilitação em todos os níveis de assistência a saúde (SCUSSIATO et al.,

2010).

Dessa forma, os CEREST enquanto estruturas das Secretarias Estaduais e Municipais

de Saúde de apoio técnico especializado para toda a rede do SUS, têm um importante papel a

desempenhar na capacitação das unidades de saúde componentes da Rede de Serviços

Sentinela em Saúde do Trabalhador nos estados e municípios.

A PNSST foi instituída através do decreto presidencial Nº 7602 de 07 de novembro de

2011 e teve como objetivos a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do

trabalhador e a prevenção de acidentes e de danos à saúde relacionados ao trabalho ou que

ocorram no curso dele, por meio da eliminação ou redução dos riscos nos ambientes de

trabalho. Sua proposição veio no sentido de tentar dar respostas às pressões para superar a

fragmentação das ações interministeriais no âmbito do trabalho, da saúde e da previdência

(MINAYO-GÓMEZ, 2013).

De acordo com a Portaria Nº 1.823 de 23 de agosto de 2011, a Política Nacional de

Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora tem, entre os seus objetivos, o fortalecimento da

Vigilância em Saúde do Trabalhador, com a identificação das atividades produtivas da

população e das situações de risco à saúde; análise das necessidades, demandas e problemas

de saúde dos trabalhadores; intervenção nos processos e ambientes de trabalho; produção de

tecnologias de intervenção e monitoramento e controle e avaliação da qualidade dos serviços

e programas de saúde do trabalhador (BRASIL, 2012).

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

44

Evidencia-se assim, uma política que se integra ao conjunto de políticas de saúde do

SUS, contemplando a transversalidade das ações de saúde e o trabalho como um dos

determinantes do processo saúde/doença, delimitando como campo de atuação o enfoque das

ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador e como objeto específico a investigação e

intervenção na relação do processo de trabalho com a saúde e seus determinantes sociais

(MINAYO-GÓMEZ, 2013).

Determinantes sociais da saúde do trabalhador são os fatores que influenciam na saúde

individual e coletiva, interagindo nos diferentes níveis da dimensão de trabalho e

determinando o estado de saúde da população trabalhadora. Estão compreendidos os

condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais responsáveis pelas

condições de vida e pelos fatores de risco ocupacionais presentes nos processos de trabalho.

Entre estes últimos encontram-se as condições laborais e de precariedade do emprego; o

acesso à capacitação e à educação contínua; a cobertura da previdência social; a renda e os

salários adequados; a legislação e as práticas de saúde e segurança no trabalho (BRASIL,

2014).

A Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) é responsável por conhecer a

magnitude dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho, para que seja possível identificar

fatores de riscos ocupacionais, estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os

serviços de saúde de forma permanente. A partir disso, poderão ocorrer significativas

transformações nas condições de trabalho e será garantida a qualidade da assistência à Saúde

do Trabalhador (BRASIL, 2001; BRASIL, 2005).

É importante destacar que, para uma melhor compreensão da política e ações

propostas pelo VISAT, é necessário esclarecer seus princípios e objetivos assim como seus

objetos de estudo e análise.

Nesse sentido, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) parte do entendimento que a

doença relacionada ao trabalho compreende toda alteração orgânica, transtorno enzimático ou

bioquímico, transtorno funcional ou desequilíbrio mental; permanente ou temporário,

causado, adquirido, produzido, desencadeado ou agravado pelas condições especiais em que

um trabalho deve ser realizado por um trabalhador ou trabalhadora no exercício de uma

profissão ou atividade determinada.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério da Previdência Social

definem as doenças relacionadas ao trabalho como aquelas produzidas ou desencadeadas pelo

exercício de um trabalho particular em uma atividade determinada e doença do trabalho, isto

é, doença adquirida ou desencadeada em função das condições especiais em que o trabalho é

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

45

realizada e diretamente relacionado a ele, com reconhecimento de sua relação respectiva

elaborada pelo MTE e MPS ou conforme estabelece o Decreto Nº 3.048, de 6 de maio de

1999 e de acordo com o que consta da relação mencionada no inciso I, “Doença causada,

provocada ou agravada pelas condições especiais nas quais o trabalho é realizado”

(BRASIL, 2014).

O acidente de trabalho é todo acontecimento ou evento repentino e violento, de

consequências geralmente imediatas, que se traduz no trabalhador ou trabalhadora em uma

lesão orgânica ou perturbação funcional com incapacidade, temporária ou permanente, ou no

óbito. Sua ocorrência é resultado de ação devido ao trabalho ou durante o exercício do

mesmo. Ou ainda é entendido como um evento único, bem configurado no tempo e no espaço,

de consequências geralmente imediatas, que ocorre pelo exercício do trabalho, provocando

lesão física ou perturbação funcional, resultando em morte ou incapacidade para o trabalho,

seja ele temporária ou permanente, total ou parcial (BRASIL, 2014).

Em condições práticas, as ações de Saúde do Trabalhador apresentam

dimensões sociais, políticas e técnicas indissociáveis. Como consequência, esse campo de

atuação tem interfaces com o sistema produtivo e a geração de riqueza, a formação e o

preparo da força de trabalho, as questões ambientais e a seguridade social. As ações de saúde

do trabalhador estão, ainda, integradas com as de saúde ambiental, uma vez que os riscos

gerados nos processos de trabalho podem afetar, também, o meio ambiente e a população em

geral (RIO GRANDE DO NORTE, 2014).

A VISAT é ainda um dos componentes do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde

que tem como objetivo a promoção da saúde e a redução da morbimortalidade dos

trabalhadores, por meio da integração de ações que intervenham nos agravos e seus

determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos. Nessa

perspectiva, a relação da saúde com o ambiente e os processos de trabalho constitui o seu

objeto, abordada por práticas sanitárias desenvolvidas com a participação dos trabalhadores

em todas as suas etapas (VASCONCELLOS; MINAYO-GOMEZ; MACHADO, 2014).

A implantação das ações da VISAT está fundamentada, também, na possibilidade de

serem estabelecidas articulações entre as instâncias executoras do SUS e apresenta como

característica a conexão com instituições além do sistema de saúde, com a configuração de

redes intersetoriais a partir de diferentes polos institucionais e organizativos de acordo com o

objeto da ação priorizado. Observa-se assim, a transversalidade das ações com a

responsabilidade múltipla das instâncias sociais envolvidas (BRASIL, 2012).

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

46

No entanto, na prática essa concepção não está incorporada em seu sentido amplo,

dada a relação fragmentada e pouco articulada entre os componentes envolvidos na atenção à

saúde (TAMBELLINI, 1984). Sua integração como componente da vigilância em saúde e

visando à integralidade do cuidado, a VISAT deve estar inserida no processo de construção da

Rede de Atenção à Saúde coordenada pela Atenção Primária à Saúde na perspectiva

estruturante do modelo de Atenção Integral em Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2015).

A VISAT tem como objetivo precípuo a intervenção nos ambientes, processos e

formas de organização do trabalho geradores de agravos à saúde, passando a incorporar a

dimensão preventiva e de promoção à saúde do trabalhador no sentido de superar o caráter

assistencialista e curativista dos projetos anteriores. A partir da promoção de ações

interventoras de vigilância é possível interromper o ciclo de doença e morte no trabalho.

Contudo, esta dimensão prevencionista de atenção à saúde cabe, principalmente, à RENAST

por meio dos CEREST, os seus núcleos executivos de ação efetiva (VASCONCELLOS;

MINAYO-GOMEZ; MACHADO, 2014).

Nesse sentido, a Vigilância em Saúde do Trabalhador deve preceder de uma atuação

contínua e sistemática no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores

determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e ambientes

de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, com a

finalidade de planejar, executar e avaliar sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los ou

controlá-los. Portanto, suas ações deverão ser desenvolvidas por profissionais da Vigilância

em Saúde, dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, devidamente instituídos

como Autoridades Sanitárias e, quando necessário, da Atenção Primária (BRASIL, 2012).

Minayo-Gomez (2013) considera que para atingir os objetivos propostos, seria preciso

seguir as principais orientações para um autêntico planejamento estratégico que pressupõe,

entre outros aspectos: analisar o perfil produtivo e a situação de saúde dos trabalhadores;

integrar a VISAT com os demais componentes da Vigilância em Saúde e com a Atenção

Primária em Saúde; fortalecer e ampliar a articulação intersetorial, a participação dos

trabalhadores e o controle social e desenvolver e capacitar adequadamente os profissionais e

os gestores.

Essa concepção ampliada parte do princípio fundamental de que a atenção integral à

saúde do trabalhador e sua qualidade de vida prescindem do direito à saúde no seu sentido

irrestrito da cidadania plena. Na prática, traduz-se em ações que incluem a promoção, a

prevenção e a assistência, a serem executadas de forma integradas e indissociáveis e sempre

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

47

com o objetivo do alcance da saúde integral do trabalhador, através de uma abordagem

interdisciplinar e intersetorial (ANDRADE; MARTINS; MACHADO, 2012).

Os obstáculos ao desenvolvimento da VISAT vão desde os relacionados ao

enfrentamento do poder econômico, como também ao poder político representativo e ao

próprio poder executivo dos setores do aparelho de Estado brasileiro, sobre os quais recai a

responsabilidade da preservação da vida e da saúde no trabalho. No que se refere à estrutura

do SUS encontram-se ainda enormes dificuldades de apoio, principalmente por parte da

gestão nos seus diversos níveis e em instâncias intrassetoriais onde haja responsabilidades

diretas ou indiretas sobre estas questões. Para além do setor saúde, as dificuldades de apoio às

ações de VISAT residem na falta de entendimento da mesma como ação típica de saúde

pública (VASCONCELLOS; MINAYO-GOMEZ; MACHADO, 2014).

Em relação aos CEREST, os entraves e limitações para sua efetiva implantação

referem-se à dificuldade de comunicação entre os mesmos, pouca ou nenhuma articulação

intra e intersetoriais e o predomínio da concepção assistencialista em saúde do trabalhador.

Tais fatores ou condições evidenciam o embasamento mecanicista, segmentado e fragmentado

da RENAST. Avançar na perspectiva da integração em rede depende de uma matriz diferente

com uma visão sistêmica, integralizadora e totalizadora, ou seja, uma mudança efetiva de

paradigma que vá além de uma simples nomenclatura e possibilite intervenções nos

determinantes da saúde dos trabalhadores, integrando as ações de promoção, prevenção,

assistência básica, cuidado e reabilitação a partir de uma efetiva cultura de rede (LEÃO,

VASCONCELLOS, 2011).

Quanto à realização das ações relativas à vigilância em saúde do trabalhador, as

dificuldades são conhecidas há muito tempo e foram agravadas pelo longo período de

transição associado à implantação do SUS, que esbarrou em entraves consideráveis no âmbito

da descentralização, do financiamento, do controle social e da gestão do trabalho. Essas

dificuldades impactaram também nas ações na área da saúde do trabalhador, limitando-as pela

incapacidade do sistema, até o momento, de estabelecer um processo contínuo de detecção,

conhecimento, pesquisa, identificação dos fatores de risco ocupacionais, estabelecimento de

medidas de controle, prevenção e avaliação dos serviços de forma sistemática e eficaz

(SANTA CATARINA, 2014).

Apesar dos avanços do SUS no que tange ao acesso do cidadão às ações de atenção à

saúde e à participação da comunidade em sua gestão, por meio das instâncias de controle

social, cujos resultados refletem-se na melhoria substancial dos indicadores gerais de saúde

como o da mortalidade infantil. Porém, o direito pleno à saúde requer ainda que o sistema

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

48

alcance a melhoria da qualidade e da equidade em suas ações, incluindo as ações em Saúde do

Trabalhador (BRASIL, 2006).

Tradicionalmente, as questões referentes aos acidentes e doenças no trabalho no Brasil

têm sido competência exclusiva dos Ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência

Social, que, ao longo do tempo, organizaram-se para ter informações relativas à Saúde dos

Trabalhadores. Os dados estatísticos oficiais sobre acidentes e doenças no trabalho provêm

dos registros existentes no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) construídos a partir

das Comunicações de Acidentes no Trabalho (CAT) e são utilizadas para notificar tanto os

acidentes de trabalho típicos, os de trajeto, como as doenças profissionais e as do trabalho.

Assim, toda vez que os trabalhadores, especificamente aqueles inseridos no mercado formal

de trabalho, ou seja, aqueles que possuem carteira de trabalho assinada e são contratados pelo

regime celetista, sofrem um acidente ou doença no trabalho, o mesmo é comunicado ao INSS,

por meio da CAT (BRASIL, 2011).

Entre as limitações que dificultaram, sobremaneira, o conhecimento da real situação

epidemiológica da saúde do trabalhador no Brasil, encontra-se a fragilidade desses sistemas

de informação disponíveis até a década de 1990 cujos registros eram restritos aos dados dos

trabalhadores do mercado formal com vínculo previdenciário, a partir da emissão da CAT do

INSS. Portanto, a informação dizia respeito a uma parcela limitada dos trabalhadores, ou seja,

aqueles com vínculo formal com a Previdência Social, o que corresponde a cerca de um terço

da população economicamente ativa (PEA), excluindo-se funcionários públicos, autônomos,

pequenos comerciantes e grande parte dos trabalhadores rurais (BRASIL, 2011).

Os estudos sobre saúde do trabalhador no Brasil sempre foram limitados por essa

fragilidade nas informações disponíveis, pois as mesmas omitiam parcela importante da

população economicamente ativa causando distorções e vieses no entendimento e na

interpretação do quadro da morbimortalidade dos agravos relacionados ao trabalho e

consequentemente não permitia um planejamento das ações de promoção à saúde, prevenção

e controle através das ações e programas direcionados para a melhoria da qualidade de vida

dos trabalhadores (SANTA CATARINA, 2014).

Políticas e programas voltados para a saúde e segurança no trabalho, sejam no âmbito

da atenção individual, sejam no campo da saúde pública, assentam-se no uso de informações

fidedignas e completas para que as questões relativas ao trabalho e a ocupação possam ter

visibilidade nas análises da situação de saúde e segurança nos ambientes e processos de

trabalho. Portanto, o Sistema de Informação em Saúde do Trabalhador representa uma grande

contribuição para a redução significativa da subnotificação de acidentes, doenças e agravos de

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

49

saúde no trabalho, o que significa aumentar as possibilidades de intervenção e de participação

social e a democratização de novas práticas nessa área (QUILIÃO, 2009).

Já na 2a Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (CNST), em 1994, entre

outros temas houve uma importante discussão sobre a informação da saúde do trabalhador

centrada na análise dos acidentes e nas potencialidades oferecidas pela notificação

compulsória de agravos relacionados ao trabalho, no sentido de legitimar institucionalmente e

socialmente as ações de vigilância em saúde do trabalhador junto aos trabalhadores e

empregadores (RABELLO NETO; GLATT; SOUZA, 2011).

No intuito de melhorar e avançar na universalização das informações, a partir de 2007

foi incluído no SINAN, pela Portaria GM/MS nº 777 de 28 de abril de 2004 do Ministério da

Saúde, os registros de acidentes, doenças e agravos relacionados ao trabalho constante na

Lista de Doenças e Agravos de Notificação Compulsória na rede de serviços do Sistema

Único de Saúde e na rede privada e conveniada ao SUS, ampliando-se assim as informações

sobre a morbimortalidade ocupacional.

Em 2011 a Portaria Nº 2.472 foi revogada pela Portaria Nº 104, na qual foi incluída,

entre os agravos e doenças relacionados ao trabalho, a notificação das Intoxicações Exógenas

(por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados) na Lista de

Notificação Compulsória (LNC). As Portarias nº 1.271 de 6 de junho e a Portaria nº 1.984 de

12 de setembro, ambas de 2014, revisaram as listas de doenças, agravos e eventos de

notificação compulsória no território nacional, incluindo aqueles relacionados ao trabalho. A

primeira estabelece que os Acidentes com Exposição ao Material Biológico, Acidentes

Graves e Fatais, Intoxicação Exógenas e Violência relacionada ao trabalho, passem a ser de

notificação universal em todos os serviços de saúde públicos e privados. A segunda trata da

notificação em unidades sentinela de agravos relacionados ao trabalho: câncer, dermatoses, o

câncer, as dermatoses ocupacionais, Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios

Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), Perda Auditiva Induzida por Ruído

(PAIR), pneumoconioses e os transtornos mentais.

Apesar dos avanços do SUS na disponibilização de informações na área da saúde do

trabalhador, ainda persistem, especialmente nesta área, fragilidades na qualidade dos dados,

que dificultam a produção de informações precisas e úteis. Assim, tem-se como resultado

dessa problemática a falta de definição de prioridades para alocação de recursos e o

planejamento e execução das atividades necessárias para a superação dos principais

problemas de saúde do trabalhador (SANTA CATARINA, 2014).

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

50

O SINAN vem sendo implantado gradualmente pelo Ministério da Saúde desde 1993.

No entanto, esse processo não foi homogêneo, somente a partir de 1998 seu uso foi

regulamentado, tornando obrigatória sua alimentação regular pelos municípios, estados e

Distrito Federal. Este sistema é mantido, sobretudo, pela notificação e investigação de casos

de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória

(INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 2009).

Embora os Sistemas de Informação apresentem diferenças e especificidades nos

diferentes países, dificuldades e limitações como inconsistências, incompletude e

subnotificação dos agravos ocupacionais foram evidenciados também em outros países como

a Noruega, República da Irlanda, Irlanda do Norte, Grã-Bretanha e Coréia (ALFONSO;

LØVSETH; SAMANT; HOLM, 2015; MONEY et al, 2014; KANG; KWON, 2011; RHEE;

CHOE, 2010).

Para uma compreensão da magnitude da ocorrência de acidentes e doenças em

trabalhadores é necessário aperfeiçoar a cobertura e a qualidade dos dados, gerando

informações completas, atualizadas e fidedignas. O impacto de tal informação melhoraria o

entendimento da problemática dos acidentes e das doenças relacionadas ao trabalho no Brasil,

além de subsidiar a elaboração de medidas que diminuíssem as ocorrências e a proposição de

políticas voltadas aos trabalhadores (WALDVOGEL, 2011).

É importante observar que a qualidade dos dados dos sistemas de informação em

Saúde constitui-se em um dos atributos de avaliação dos sistemas de vigilância em saúde

preconizado pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos,

devendo ser examinada pela quantificação de respostas “ignoradas” ou “em branco” dos

campos, pela duplicidade e também pela consistência dos registros, ou seja, o quanto eles se

aproximam da verdade (ALVARES; PINHEIRO; SANTOS; OLIVEIRA, 2015).

Conforme Teixeira (2012), a invisibilidade do adoecimento relacionado ao trabalho

tem como uma das causas à inexistência de uma efetiva política nacional de saúde do

trabalhador nos quais os órgãos governamentais trabalhem de forma integrada e

complementar conforme prevê a PNSST do Ministério da Saúde, ou seja, os Ministérios do

Trabalho, da Previdência Social e da Saúde realizam esforços estanques, cada qual no seu

segmento com pouca integração ou articulação.

Apesar dos problemas relacionados como a invisibilidade, a subnotificação e o sub-

registro, as doenças ocupacionais são reconhecidas mundialmente como um importante

problema de Saúde Pública. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 2,34

milhões de pessoas no mundo morrem todos os anos em virtude de acidentes e doenças

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

51

relacionados com o trabalho. A maioria dessas mortes, mais de 80%, é causada por doenças

profissionais. Estima-se ainda que os acidentes de trabalho e as doenças profissionais resultam

em uma perda anual de 4% no produto interno bruto (PIB) mundial, cerca de 2,8 bilhões de

dólares, em custos diretos e indiretos por lesões e doenças (INTERNATIONAL LABOUR

ORGANIZATION, 2013; TAKALA et al, 2014).

Nos países industrializados, a percentagem de mortes causadas por acidentes de

trabalho e doenças transmissíveis relacionadas com o trabalho vêm diminuindo, enquanto as

doenças com longo período de latência como o câncer e as doenças cardiovasculares são as

principais causas de mortalidade. Nos países em desenvolvimento, as principais causas são os

acidentes de trabalho e as doenças transmissíveis (TAKALA et al, 2014).

Os custos econômicos de acidente de trabalho e doença variam entre 1,8 e 6,0% do

PIB de acordo com o nível de desenvolvimento de cada país. Em Cingapura os custos

econômicos foram estimados no equivalente a 3,2% do PIB, com base em um estudo

preliminar. Na Finlândia esses custos podem chegar a até 15% do PIB. No entanto, esta

estimativa abrange várias desordens onde o trabalho e as condições de trabalho podem ser

apenas um fator de risco entre muitos, ou onde o trabalho pode agravar as doenças, lesões ou

distúrbios, tais como acidentes de trânsito, transtornos mentais e alcoolismo (TAKALA et al,

2014).

Em uma perspectiva global, estima-se que ocorram anualmente cerca de 160

milhões de novos casos de doenças e agravos ocupacionais. Na medida em que

doenças deste tipo resultam em uma redução da capacidade para o trabalho, elas estão se

tornando, cada vez mais, um problema para os sistemas de seguro social. O aumento da

incidência de doenças ocupacionais incide em gastos diretos na área da saúde, assistência

social e programas de benefícios e pensão (SUBIRÁN, 2014).

No Brasil, o número de notificações de agravos e doenças relacionadas ao trabalho no

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) passaram de 41.164 em 2007

para 152.655 em 2014, com uma média de crescimento de 24% ao ano, atingindo 270% em

relação ao início do período. Percebe-se uma tendência de diminuição do ritmo de

crescimento no período e que pode indicar que os casos mais evidentes já vêm sendo

notificados. No entanto, observa-se a necessidade urgente de melhoria da capacidade de

diagnóstico e relação do evento com o trabalho, por exemplo, através de treinamento e

capacitação dos profissionais de saúde (BRASIL, 2014).

Destacam-se as perdas humanas e os impactos que os acidentes e as doenças

relacionadas ao trabalho ocasionam e que são imensuráveis para os trabalhadores vitimados,

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

52

suas famílias e a sociedade. Conforme Rios et al. (2012), os acidentes e as doenças

relacionadas ao trabalho configuram-se como um complexo problema econômico, social e de

Saúde Pública para um país, com repercussões nas condições de vida e saúde dos

trabalhadores e suas famílias, gerando ônus econômico e social.

Há uma dificuldade de doenças e agravos serem reconhecidos como vinculados ao

trabalho, sobretudo na atualidade, considerando a globalização caracterizada pela difusão de

novas tecnologias, o fluxo de ideias, a troca de bens e serviços, o aumento do capital e fluxos

financeiros, a internacionalização dos negócios e a circulação de pessoas, modificando

especialmente a forma como os indivíduos e as nações interagem, causando uma verdadeira

revolução no direito do trabalho cujo reflexo é observado na precarização do trabalho e na

saúde do trabalhador. Na realidade, o reconhecimento do problema como originário do e pelo

trabalho, o nexo causal, tem se constituído em um verdadeiro calvário para os trabalhadores

que vão e vêm em busca de diagnóstico e do vínculo do seu problema de saúde com a sua

atividade laboral (INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 2013; BRASIL, 2011;

LOURENÇO, 2011; GÓMEZ, 2014).

O desconhecimento da realidade das doenças ocupacionais ou relacionadas ao trabalho

representa um dos principais problemas na prevenção dos riscos ocupacionais. O

conhecimento do número e dos tipos de doenças profissionais aos quais os trabalhadores estão

sendo acometidos e em quais atividades e locais de trabalho estão sendo vitimados, tornaria

possível desenvolver medidas preventivas mais eficazes e desenvolver um diagnóstico

precoce para promover um tratamento mais rápido e eficaz (GÓMEZ, 2014).

De acordo com os estudos de Gomez (2014) e Subirán (2014) essa realidade de

desconhecimento dos números reais em relação às doenças e agravos relacionados ao trabalho

também é revelada na maioria das estatísticas oficiais de países industrializados que registram

apenas uma parte dessas doenças. Takala et al. (2014) afirmam que os acidentes de trabalho e

as doenças relacionadas ao trabalho no mundo constituem-se em um problema maior do que

as estimativas sugerem.

No entanto, muitos países em desenvolvimento também carecem de conhecimento e

experiência necessária para diagnosticar, reconhecer e notificar as enfermidades profissionais.

Em muitos países, os trabalhadores das pequenas e médias empresas e da economia informal

encontram-se à margem do sistema de saúde e segurança. Outros agravantes dessa situação

têm sido a intensificação do fluxo migratório, o envelhecimento da força de trabalho e o

número crescente de trabalhadores temporários, além do fato de que muitas enfermidades

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

53

profissionais são de difícil detecção, pois apresentam longos períodos de latência

(INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 2013).

Estudos evidenciam que muitas doenças relacionadas ao trabalho não são

diagnosticadas pela dificuldade de estabelecimento do nexo causal, o que caracteriza seu sub-

registro e dificulta sua visibilidade. Essa situação deve-se, entre outros motivos, as

dificuldades dos médicos em estabelecer a relação da doença com os determinantes

relacionados ao ambiente e/ou ao processo de trabalho, principalmente na atenção primária.

Essa realidade foi encontrada, até mesmo em países que apresentam um sistema de

informação bem consolidado como a Espanha (RUIZ-FIGUEROA; FERNÁNDEZ-CID;

GAMO-GONZÁLEZ; DELCLÓS-CLANCHET, 2013).

No entanto, alguns países desenvolvidos apresentam estatísticas que sugerem um

avanço, tanto na informação relacionada aos agravos ocupacionais, como na eficiência e

eficácia nas ações de prevenção e promoção à saúde do trabalhador. No estudo de Coggon et

al. (2011) foi evidenciado que houve um declínio global na mortalidade atribuível ao trabalho,

o que reflete a prevenção e o controle dos riscos em ocupações consideradas mais perigosas,

tais como aquelas com exposições dos profissionais ao amianto e ao pó de madeira, bem

como as melhorias nas condições de trabalho.

De acordo com a OIT alguns riscos tradicionais continuam afetando gravemente a

saúde dos trabalhadores. No entanto, as mudanças tecnológicas, sociais e organizativas nos

ambientes e processos de trabalho contemporâneo como consequência da rápida globalização,

têm desenvolvido riscos emergentes e novos desafios à área de saúde e segurança do

trabalhador. Nesse contexto, observa-se o desenvolvimento de novos tipos de enfermidades

profissionais como os transtornos musculoesqueléticos (TME) e os transtornos mentais, que

carecem de medidas de prevenção, proteção e controle adequados (INTERNATIONAL

LABOUR ORGANIZATION, 2013; TAKALA et al, 2014).

Em um panorama mundial, os TME representaram 59% de todas as enfermidades

profissionais registradas nas estatísticas europeias em 2005, sendo considerados os principais

causadores de absenteísmo e de incapacidade laboral permanente pela Comissão Europeia. Na

República de Coreia, os TME aumentaram drasticamente dos 1634 casos foram registrados

em 2001, passando para 5502 casos em 2010. A Argentina em 2010 notificou 22.013 casos de

enfermidades profissionais, sendo os TME as mais frequentes (INTERNATIONAL LABOUR

ORGANIZATION, 2013).

Os riscos psicossociais e o estresse relacionado com o trabalho são problemas

emergentes desencadeados pelas crises econômicas mundiais que têm ocasionado um

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

54

aumento do estresse, ansiedade, depressão e outros transtornos mentais que, em situações

extremas, têm provocado, inclusive, suicídio em trabalhadores. O estresse tem relação, ainda,

com os TME, cardiovasculares e digestivos (INTERNATIONAL LABOUR

ORGANIZATION, 2013).

À medida que se toma consciência do problema, torna-se necessário determinar seu

alcance, adotar medidas contundentes no sentido de evitar suas consequências. Para isso, a

OIT defende um paradigma de prevenção abrangente em relação às doenças profissionais que

incluem três princípios: a dificuldade em estabelecer a magnitude do problema não justifica

ignorá-lo; o reconhecimento, a prevenção e o tratamento das doenças profissionais, bem como

a melhoria dos seus sistemas de registro e notificação, devem ser uma prioridade e a melhoria

dos programas nacionais de saúde e segurança é essencial para a promoção da saúde dos

trabalhadores e das sociedades em que vivem (SUBIRÁN, 2014).

As ações de Saúde do Trabalhador pressupõem, por sua natureza, além de recursos

materiais, recursos humanos suficientes, capacitados e dotados de carreira compatível com as

funções essenciais do Estado provedor, condição mínima para o enfrentamento dos problemas

complexos dessa área, ou seja, uma política de Estado condizente com a perspectiva de

superação da precariedade do trabalho contemporâneo e com a proteção integral da saúde e a

segurança dos trabalhadores (COSTA; LACAZ; JACKSON FILHO; VILELA, 2013;

INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 2013).

Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde tem um papel fundamental, sendo racional

e adequado que a rede de serviços públicos de saúde qualifique-se e estruture-se para atender

as demandas de Saúde do Trabalhador de forma integral (BRASIL, 2006).

Reconhecendo que uma política de saúde do trabalhador apresenta interfaces com as

políticas econômicas, de indústria e comércio, agricultura, ciência e tecnologia, educação e

justiça, além de estar diretamente relacionada às políticas do trabalho, previdência social e

meio ambiente, em uma perspectiva intersetorial e de transversalidade, é de fundamental

importância que a mesma esteja articulada com as organizações de trabalhadores e as

estruturas organizadas da sociedade civil, de modo a garantir a participação e dar subsídios

para a promoção de condições de trabalho dignas, seguras e saudáveis para todos os

trabalhadores (BRASIL, 2006).

Takala et al. (2014), propõem ainda a necessidade de um novo paradigma no qual o

trabalho não seja entendido meramente como uma atividade diária, mas que permita promover

condições e circunstâncias estáveis de vida e de trabalho sustentável, cujo objetivo seja

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

55

manter a saúde e a capacidade para o trabalho. O trabalho deve ser seguro e saudável,

sobrepondo-se aos interesses econômicos na perspectiva de um direito humano básico.

Assim sendo, a vigilância em saúde tem como parâmetros os dados que o sistema de

saúde e outros sistemas possuem sobre a morbidade e a mortalidade da população. Utilizando-

os como evidências para produzir ações programáticas e chamar atenção da população sobre a

necessidade de prevenir as doenças e atuar sobre os fatores de risco. Cabe ressaltar que quanto

maior e melhor for a capacidade de coletar e analisar os dados econômicos, demográficos e de

saúde de uma população, maior a possibilidade de construção e análise de informações

precisas que permitam deflagrar o processo de vigilância em saúde (VASCONCELOS;

MINAYO-GOMEZ; MACHADO, 2014).

Nessa perspectiva, dispor de um Sistema de Vigilância Epidemiológica estruturado e

fidedigno torna-se indispensável para o planejamento em saúde, partindo do princípio que um

dos maiores desafios para essa área diz respeito à informação, uma vez que os sistemas

nacionais implantados ainda não contemplavam de forma adequada os registros sobre os

agravos ocorridos.

Este deve se caracterizar como um sistema de informação/decisão/controle de doenças

específicas, que forneça recomendações, que avalie medidas de controle e subsidie o

planejamento, instrumentalizando a estruturação de um modelo assistencial adequado,

configurado por meio da instalação da rede física, do aporte de recursos humanos, da

utilização de tecnologia necessária e da hierarquização de assistência no sistema (BRASIL,

2011).

Entende-se, portanto, que a vigilância em Saúde do Trabalhador deve procurar

conhecer a realidade da população trabalhadora, intervir nos fatores determinantes de agravos

à saúde dessa população, avaliar o impacto das medidas adotadas, subsidiar a tomada de

decisões dos órgãos competentes do governo (tanto a nível federal, estadual como municipal)

e, ainda, estabelecer sistemas de informação nessa área que incorporem, além das informações

tradicionalmente existentes, a criação de bases de dados provindas do processo de vigilância e

a divulgação sistemática das informações analisadas e consolidadas (LACAZ; MACHADO;

PORTO, 2002).

Além disso, deve ser entendida de forma ampla, como um processo de saúde pública

que articula saberes e práticas de controle e de intervenção sobre os problemas que causam

danos (agravos) relacionados aos processos de trabalho, aos ambientes de trabalho e às

condições em que o trabalho se realiza. Partindo do pressuposto que a ação de vigilância é

prevenir os agravos à saúde dos trabalhadores, manifestos por sofrimento, alteração biológica,

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

56

dano, desgaste, doença, lesão ou acidente (VASCONCELOS; MINAYO-GOMEZ;

MACHADO, 2014).

3.5 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN):

INSTRUMENTO PARA REVELAR A SITUAÇÃO DO TRABALHADOR NO BRASIL

O Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) é o principal sistema

de informações, desenvolvido no início da década de 1990 pelo Ministério da Saúde (MS)

tendo por objetivos principais coletar e processar os dados sobre doenças de notificação

compulsória (DNC) em todo o território nacional. Sua concepção e implantação foi

fundamental no processo de trabalho da Vigilância em Saúde envolvido não somente nas

ações de Vigilância Epidemiológica, mas também na Vigilância Ambiental em Saúde e

Vigilância em Saúde do Trabalhador (RABELLO NETO; GLATT; SOUZA, 2011).

Além disso, o sistema foi concebido para ser utilizado como a principal fonte de

informação e estudar a história natural de um agravo ou doença, além de estimar a sua

magnitude como problema de saúde na população, detectar surtos ou epidemias, bem como

elaborar hipóteses epidemiológicas a serem testadas em ensaios específicos (LAGUARDIA;

DOMINGUES; CARVALHO et al., 2004).

O sistema é alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de casos de

doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória,

definidas e publicadas pelo Ministério da Saúde por meio de portarias, mas é facultado a

estados e municípios incluírem outros problemas de saúde regionalmente importantes. Nelas

constam todas as doenças e os agravos de notificação compulsória, incluindo não só as

doenças transmissíveis como outros agravos, a exemplo dos notificados em unidades

sentinela, entre eles, os relacionados ao trabalho (RABELLO NETO; GLATT; SOUZA,

2011; BRASIL, 2011).

O SINAN tem por objetivo coletar, transmitir e disseminar dados gerados

rotineiramente pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica das três esferas de governo, por

intermédio de uma rede informatizada, para apoiar o processo de investigação e dar subsídios

à análise das informações de vigilância epidemiológica das doenças de notificação

compulsória (BRASIL, 2011).

Os dados coletados a partir do SINAN serão transformados em informações cuja

análise permitirá a realização de um diagnóstico da ocorrência de um evento na população,

podendo fornecer subsídios para explicações causais dos agravos de notificação compulsória,

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

57

além de indicar riscos ou determinantes aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo,

assim, para a identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica ou

população específica (BRASIL, 2011).

Para isso, seguindo a orientação de descentralização do SUS é necessário que os dados

sejam coletados em nível administrativo mais periférico possível, ou seja, nas unidades ou

serviços de Saúde prestadores do atendimento no SUS através da entrada de dados em

formulários padronizados, pré-numeradas, específicas para cada agravo de notificação

compulsória, e que incluem em seu cabeçalho a definição de caso conhecidos, como a Ficha

Individual de Notificação (FIN) e a Ficha Individual de Investigação (FII), que devem ser

preenchidas pelos profissionais de saúde nas unidades assistenciais (RABELLO NETO;

GLATT; SOUZA, 2011; BRASIL, 2011).

Nesse sentido, a implantação da Portaria GM/MS n. 777, publicada em 28 de abril de

2004, que regulamenta a Notificação Compulsória de Agravos à Saúde do Trabalhador na

Rede de Serviços Sentinela específica, veio no sentido de superar as limitações dos sistemas

de informações que davam suporte a Vigilância em Saúde do Trabalhador. As coordenações

estaduais, regionais e municipais de saúde do trabalhador identificam quais os serviços de

saúde que devem compor as unidades sentinela para vigilância de cada agravo relacionado ao

trabalho de notificação compulsória.

Os agravos à saúde do trabalhador passaram a ser de notificação compulsória em

2004, por meio da portaria citada anteriormente, a partir da qual se investiu para a adequação

da base de dados do SINAN com o objetivo de incluir as informações sobre agravos

relacionados ao trabalho o que permitiria análises epidemiológicas e uma ágil detecção de

eventos sentinela, facilitando a definição de prioridades e intervenção adequadas e oportunas.

Contudo, somente a partir de 2006, foram inseridos no SINAN dados referentes à notificação

compulsória de agravos relacionados ao trabalho (CARDOSO, 2014).

A notificação atualmente é realizada através do sistema SINAN-NET, para os

seguintes agravos: acidente de trabalho fatal, acidente de trabalho com mutilações, acidente

de trabalho com exposição a material biológico, acidentes no trabalho com crianças e

adolescentes, dermatoses ocupacionais, perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR),

intoxicações exógenas (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e

metais pesados), lesões por esforços repetitivos (LER), distúrbios osteomusculares

relacionados ao trabalho (DORT), pneumoconioses (silicose e asbestoses), transtornos

mentais relacionados ao trabalho e câncer relacionado ao trabalho.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

58

Pelo fato de serem os casos de agravos relacionados ao trabalho notificados após a

confirmação, exceto a intoxicação exógena, que se notifica a partir da suspeita, os dados da

investigação são registrados no sistema na mesma ocasião da inclusão dos dados da

notificação. Nas Secretarias Municipais de Saúde que utilizam ferramenta baseada na internet

(SISNET) os dados são transferidos quase que simultaneamente para as secretarias estaduais.

No caso de unidades notificantes que ainda não têm esse sistema implantado, a transmissão de

dados ocorre semanalmente, ocasião em que as fichas de notificação/investigação preenchidas

ou, se for informatizada, o arquivo de transferência de dados por meio eletrônico para as

Secretarias Municipais de Saúde. Estas, por sua vez, enviam semanalmente, às respectivas

regionais de saúde ou à Secretaria de Estado da Saúde, os arquivos de transferência de dados

(RABELLO NETO; GLATT; SOUZA, 2011; BRASIL, 2011).

Além disso, na esfera federal, os dados do SINAN são processados, analisados

juntamente com aqueles que chegam por outras vias e divulgados pelos instrumentos de

análise de situação de saúde e informes epidemiológicos eletrônicos (BRASIL, 2011).

No SINAN as informações relacionadas aos agravos relacionados ao trabalho de

notificação compulsória notificada dispõem de diversos dados para análise epidemiológica e

operacional, com campos que possibilitam a caracterização do trabalhador (do indivíduo e

localização de sua residência), do empregador, do acidente ou doença e morte, e do vínculo

empregatício, além das variáveis comuns aos demais agravos registrados no sistema. Esses

dados são utilizados no cálculo de indicadores epidemiológicos e operacionais em diversos

níveis de gestão, entre eles, o indicador para monitoramento e avaliação do Pacto pela Saúde,

relativo ao biênio 2010-2011, referente à saúde do trabalhador e que mede o incremento no

número de notificações de agravos relacionados ao trabalho de notificação compulsória,

pactuado entre as três esferas de governo (RABELLO NETO; GLATT; SOUZA, 2011).

Com a disponibilização do SINAN para registro dos agravos relacionados ao trabalho

de notificação compulsória a partir de 2007 houve um crescimento nas notificações anuais em

todas as Unidades Federadas. No entanto, a qualidade do preenchimento dos campos não

acompanhou o crescimento progressivo do número de notificações. Essa situação reflete a

realidade do trabalho e/ou o preparo dos profissionais responsáveis pela notificação dos

agravos (ALVARES; PINHEIRO; SANTOS, 2015).

Assim, a capacidade de cálculo de indicadores epidemiológicos específicos e a análise

dos mesmos ficam comprometidas ou, até mesmo, inviáveis diante da incompletude de

determinados campos e mascaram dados que aferem a qualidade da assistência prestada,

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

59

deixando de informar reconhecidas variáveis preditoras de risco (ALVARES; PINHEIRO;

SANTOS, 2015).

A utilização qualificada do SINAN no campo de saúde do trabalhador permite avaliar

a situação de saúde desse grupo populacional em nível mais abrangente, além de nortear

políticas públicas, investigações, inspeções, avaliações e vigilância dos ambientes e processos

de trabalho, a própria assistência ao trabalhador, assim como subsidiar estudos e pesquisas

específicos. Para isso, torna-se necessário abrir mão de mecanismos mais efetivos para a

melhoria da completitude do sistema de informação (ALVARES; PINHEIRO; SANTOS,

2015).

Adiciona-se que o SINAN NET é um Sistema de Informações de fácil acesso, por ser

nacional, ou seja, é um instrumento valioso para a caracterização da Saúde do Trabalhador no

Brasil, pois por seu intermédio podem ser desenvolvidas ações de investigação e/ou

fiscalização; realizar estudos e pesquisas específicos; avaliar o ambiente e os processos de

trabalho; normatizar o atendimento aos trabalhadores; e planejar a organização, a definição e

o desenvolvimento de recursos humanos e tecnológicos nos serviços. Os dados fornecidos

pelo sistema não são somente os relacionados aos agravos, mas também informações sobre os

riscos nos ambientes de trabalho e a situação trabalhista no Brasil, além de cobrir todos os

trabalhadores sem se restringir somente aos segurados pelo SAT, ou seja, diminuirá a

probabilidade de subnotificação dos casos de agravos relacionados à Saúde do Trabalhador

(SCHERER; MIRANDA; SARQUIS et al, 2007).

Nessa perspectiva, as informações devem ser completas, fidedigna aos dados originais

registrados nas unidades de saúde (confiabilidade), sem duplicidades de registros e seus

campos devem estar preenchidos (completitude dos campos) e com dados consistentes.

Assim, seus dados podem ser efetivamente úteis às análises epidemiológicas, ao

monitoramento das ações e à avaliação do seu impacto no controle dos agravos de notificação

compulsória (RABELLO NETO; GLATT; SOUZA, 2011; BRASIL, 2011).

A despeito das limitações, as informações sobre saúde contida em bancos de dados

secundários como o SINAN são fontes valiosas de pesquisas. Contudo é preciso reconhecer

que essas fontes de informação no Brasil vêm melhorando significativamente, porém, seu

aprimoramento constitui-se num processo contínuo de avaliações e ajustes (ALVARES;

PINHEIRO; SANTOS, 2015).

Apesar das limitações, os sistemas de informação são de fundamental importância, se

não para desvelar uma realidade, minimamente para alertar sobre as situações de maior

gravidade num panorama que ainda se constitui como um cenário desconhecido (CARDOSO,

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

60

2014). Vários estudos no Brasil têm evidenciado essa limitação dos bancos de dados do SUS

com destaque para o SINAN (ALVARES; PINHEIRO; SANTOS et al, 2015; BARBOSA;

BARBOSA, 2013; LIMA; CHAGAS; MENDES et al, 2014).

Contudo, o estudo de Bartholomay et al (2014) revelou satisfatória a vinculação de

registros através do linkage probabilístico entre os bancos de dados do SINAN e do Sistema

de Informação sobre Mortalidade (SIM) de tuberculose no Brasil nos anos de 2008 e 2009. Os

resultados do estudo revelaram que, após o linkage, o percentual de óbito por tuberculose

aumentou com variação em torno de 15%. O estudo de Poldi et al. (2005) também constatou

que o SIM, apresenta um grande potencial de fornecer esclarecimento sobre acidentes de

trabalho, pois as Declarações de Óbitos são uniformes e universalizadas como instrumento de

notificar acidentes de trabalho fatais.

O estudo de Cavalini e Leon (2007) propõe ainda uma metodologia de correção de

sub-registro dos óbitos e de redistribuição das causas mal definidas de morte e internação que

pode ser sistematizada em rotinas computacionais, utilizando-se os estimadores bayesianos

empíricos de James-Stein modificados para eventos em áreas geográficas delimitadas. Com

esse método utilizado em estados do Norte e Nordeste brasileiro, obteve-se um acréscimo dos

dados de óbitos, resultando num percentual de correção de sub-registro de 5,9%, apresentando

consistência em relação aos achados da literatura, quanto às faixas etárias, causas e regiões do

país mais acometidas.

Acrescenta-se que os Sistemas de Informações como Sistema de Informações de

Mortalidade (SIM), Sistema de Informações Hospitalares (SIH), Sistema de Informações de

Agravos Notificáveis (SINAN) e o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

(SINITOX) precisam incorporar melhor a dimensão da ocupação em seus registros e do

próprio registro do evento relacionado com o trabalho, assim como o desenvolvimento de

linkage entre os mesmos poderia melhorar sua completitude e inconsistências, além de

otimizar o tempo e os esforços empreendidos no processo de registro dessas doenças e

agravos (BRASIL, 2011).

É importante destacar que estudos dessa natureza são imprescindíveis para

compreender os fatores que ocasionam as limitações e dificuldades no sistema de informação

como também no sentido de propor possíveis soluções para esse problema que merece

destaque e urgência em sua resolução no sentido de contribuir na melhoria desse importante

instrumento que auxilia o planejamento da saúde e define prioridades de intervenção, controle

e prevenção das doenças e agravos de maior impacto no país.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

61

Um exemplo importante de Sistema de Informação que se destaca no mundo é o

modelo finlandês que pode ser usado como ferramenta de avaliação de exposição em

epidemiologia, particularmente em estudos baseados no registro em banco de dados. Além

disso, fornece informações para a vigilância sobre o nível de risco em todo o território. É

capaz de identificar ainda as ocupações com maior grau de risco ocupacional e servir de

configuração para a definição de prioridades para a prevenção dos riscos (KAUPPINEN;

UUKSULAINEN; SAALO et al., 2014).

Contudo, as especificidades epidemiológicas e territoriais do Brasil devem ser

consideradas e avaliadas em relação às mudanças e orientações quanto às melhorias e avanços

no sistema de informação de maneira a torná-lo adequado a nossa realidade e limitações,

especialmente quanto à questão do acesso, da capacidade e estrutura dos serviços de saúde.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

62

MÉTODO

3.5 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo ecológico, transversal, tendo como unidade de análise os

municípios do estado do RN, a partir da utilização de dados secundários do Sistema de

Informação de Agravos Notificáveis (SINAN) do Centro de Referência em Saúde do

Trabalhador (CEREST) do estado do Rio Grande do Norte.

Os estudos ecológicos utilizam como unidade de análise uma população ou um grupo

de pessoas, em uma determinada área geográfica e analisam as relações entre saúde e espaço

por meio de atributos de uma população (grupo de pessoas) e do ambiente (contextos) onde os

mesmos estão inseridos (MEDRONHO, 2009).

De acordo com Polit, Beck e Hungler (2011) as pesquisas analíticas estão usualmente

subordinadas a uma ou mais questões científicas, que relacionam eventos a uma suposta causa

e a um dado efeito. Nos estudos transversais a causa e o efeito são detectados num mesmo

espaço de tempo.

4.2 LOCAL DO ESTUDO

O estudo foi realizado no Estado do Rio Grande do Norte (RN), uma das 27 unidades

federativas do Brasil, situado na região Nordeste do Brasil. Tem como limites ao norte e ao

leste o Oceano Atlântico, ao sul o Estado da Paraíba e a oeste o Estado do Ceará (IBGE,

2015).

O RN é dividido politicamente em 167 municípios e ocupa uma área de 52.811 Km2, o

que corresponde a 3,42% do território nordestino e de 0,62% do território nacional e uma

população estimada de 3.442.175 habitantes em 2015 com uma densidade demográfica de

59,99 de habitantes por Km2. Oficialmente, tem como única região metropolitana do estado

a de Natal, cujos municípios integrantes são: Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante,

Ceará-mirim, Macaíba, Extremoz, São José de Mipibu, Nísia Floresta, Monte Alegre e Vera

Cruz (IBGE, 2015).

O estado faz divisas com o Oceano Atlântico ao norte e ao leste, o estado da Paraíba

ao sul e o Ceará ao oeste. Devido à localização geográfica em território brasileiro, conhece-se

o Rio Grande do Norte como "esquina do continente" por sua maior proximidade com os

continentes africano e europeu.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

63

Natal, capital do estado, localizado na região leste, reúne em sua região metropolitana

cerca de 1,3 milhões de habitantes, sendo a quarta maior região metropolitana do Nordeste, a

sexta maior do Norte/Nordeste e a 15ª maior do Brasil. O estado possui uma renda familiar

que está situada entre as mais altas do Nordeste, com valor médio de R$ 1.203, uma

expectativa de vida em torno dos 70 anos e com um Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) de 0,684 (RIO GRANDE DO NORTE, 2014).

Figura 1 – Divisão político- administrativa do Rio Grande do Norte

Fonte: OpenBrasil.org, 2016.

4.3 POPULAÇÃO

A população foi representada pelo universo de casos de doenças e agravos

relacionados ao trabalho que foram notificados e acompanhados pelos serviços de saúde ao

CEREST estadual. Os critérios de inclusão utilizados foram todos os casos notificados e

acompanhados pelo CEREST e encerrados no sistema no período de 2007 a 2014, por

retratarem as informações mais recentes e completas no estado. Além disso, foi somente a

partir de 2007 que os agravos relacionados ao trabalho passaram a ser notificados por meio do

SINAN/CEREST. Foram excluídos os casos não concluídos e/ou não encerrados no sistema

de informação até a data da coleta de dados.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

64

4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Essa coleta relativa às informações de casos notificados de 2007 a 2014 ocorreu no

período de março a abril de 2015 no CEREST estadual a partir da seleção dos agravos e

doenças relacionados ao trabalho.

O CEREST estadual atua segundo o princípio da desconcentração de ações que são

desenvolvidas pelas regionais de saúde - URSAP, sediadas nos municípios de São José do

Mipibú, Mossoró, João Câmara, Caicó, Santa Cruz e Pau dos Ferros. Os técnicos responsáveis

atuam em unidades especializadas denominadas Núcleos Regionais de Saúde do Trabalhador

- NURSAT, cuja missão é desenvolver as ações de Saúde do Trabalhador na região.

No Rio Grande do Norte existem três CEREST regionais, responsáveis, dentre outras,

pelas seguintes atribuições: atuar como agentes facilitadores na descentralização das ações de

Saúde do Trabalhador; capacitar à rede de serviços de saúde, em saúde do trabalhador em

nível local e regional; ser referência técnica para as investigações de maior complexidade, em

conjunto com técnicos do CEREST estadual; estabelecer os fluxos de referência e contra

referência com encaminhamentos para níveis de complexidade diferenciada; desenvolver

práticas de aplicação e de treinamento regional para a utilização dos Protocolos em Saúde do

Trabalhador, visando à consolidação dos CEREST como referências de diagnóstico e de

estabelecimento da relação entre o quadro clínico e o trabalho; efetuar o registro, a notificação

e os relatórios sobre os casos atendidos e o encaminhamento dessas informações aos órgãos

competentes, visando às ações de vigilância e proteção à saúde; desenvolver ações de

promoção à Saúde do Trabalhador; participar de treinamento e da capacitação de profissionais

relacionados com o desenvolvimento de ações no campo da Saúde do Trabalhador, em todos

os níveis de atenção.

De acordo com as variáveis de interesse, os dados foram coletados de forma agregada

por meio de elaboração de tabelas exportadas para o Excel, oriundas do Tabwin vinculado ao

SINAN/CEREST estadual. Os dados foram fornecidos pela Subcoordeandoria de vigilância

epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde Pública – SESAP após o consentimento

escrito do gestor estadual por meio da Carta de Anuência (ANEXO A) e do termo de

autorização da instituição (ANEXO B) e a autorização pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

UFRN por meio do Parecer N° 014/2014 (ANEXO C).

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

65

4.5 VARIÁVEIS DE INTERESSE PARA O ESTUDO

Após a análise descritiva e, de acordo com o plano de interesse para o estudo analítico,

as variáveis do presente estudo foram classificadas em dependentes e estão apresentadas na

sequencia (Quadro 1).

Quadro 1 – Variáveis dependentes com escala/critério e identificação dos agravos e doenças relacionadas ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Natal/RN (2007-2014).

AGRAVO OU

DOENÇA

VARIÁVEL

DEPENDENTE

ESCALA/CRITÉRIO IDENTIFICAÇÃO NO

BANCO DE DADOS

ACIDENTE COM

MATERIAL

BIOLÓGICO (CID

Z20.9)

Tipo de exposição

percutânea

(1) Sim (2) Não

(9) Ignorado ACBIO

ACIDENTE DE

TRABALHO

GRAVE (CID Y96)

Evolução do Caso

Incapacidade temporária

(1) Sim (2) Não

(9) Ignorado ACGRAVE

LER/DORT (CID

Z57.9)

Evolução do Caso

Incapacidade temporária

(1) Sim (2) Não

(9) Ignorado LER_DORT

TRANSTORNO

MENTAL (CID

F99)

Evolução do Caso

Incapacidade temporária

(1) Sim (2) Não

(9) Ignorado TRMENTAL

INTOXICAÇÃO EXÓGENA (CID

T65.9)

Exposição/contaminação decorrente do trabalho/

Ocupação

(1) Sim (2) Não (9) Ignorado

IEXOGNET

FONTE: SINAN/CEREST. Natal-RN, 2014.

A definição dessas variáveis como dependentes apoiou-se nas normatizações

nacionais, a seguir:

O Ministério da Saúde do Brasil (2001) adota a definição da Organização Mundial de

Saúde para a incapacidade (disability) como “qualquer redução ou falta (resultante de uma

deficiência ou disfunção) da capacidade para realizar uma atividade de uma maneira que

seja considerada normal para o ser humano ou que esteja dentro do espectro considerado

normal” ou ainda como aquela que ocorre quando a limitação de uma ou várias funções

orgânicas, intelectuais ou psíquicas, com seu corolário, a redução parcial ou total das aptidões

físicas, intelectuais ou mentais, produzidas por um acidente ou doença, originadas ou não no

trabalho, impossibilitam que o trabalhador realize suas tarefas habituais (BRASIL, 2014).

A incapacidade temporária é entendida como a situação estabelecida quando o dano

sofrido pelo trabalhador o impede temporariamente de realizar suas tarefas habituais, mas vai

permitir, por sua natureza ou efeitos transitórios, sua recuperação e reintegração às tarefas que

desempenhava antes do acidente (BRASIL, 2014).

Para fins previdenciários, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) define a

incapacidade laborativa ou a incapacidade para o trabalho como a impossibilidade do

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

66

desempenho das funções específicas de uma atividade (ou ocupação), em consequência de

alterações morfopsicofisiológicas provocadas por doença ou acidente. (...) Para a imensa

maioria das situações, a Previdência trabalha apenas com a definição apresentada, entendendo

impossibilidade como incapacidade para atingir a média de rendimento alcançada em

condições normais pelos trabalhadores da categoria da pessoa examinada. Na avaliação da

incapacidade laborativa, é necessário ter sempre em mente que o ponto de referência e a base

de comparação devem ser as condições daquele próprio examinado enquanto trabalhava e

nunca os da média da coletividade operária (BRASIL, 2001).

O Ministério da Saúde (2010), entre as exposições que podem trazer riscos de

transmissão ocupacional do vírus HIV e dos vírus das hepatites B e C, define a exposição

percutânea como uma lesão provocada por instrumentos perfurantes e cortantes, como

agulhas, bisturi, vidrarias.

Para caracterizar os trabalhadores do Estado do Rio Grande do Norte que sofreram

agravos ou doenças relacionadas ao trabalho, foram utilizadas as variáveis independentes de

caracterização sociodemográfica (Quadro 2) e as relacionadas à ocupação (Quadro 3).

Quadro 2 – Variáveis de caracterização sociodemográfica dos trabalhadores que sofreram agravos e doenças

relacionadas ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Natal/RN, 2015.

CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA

VARIÁVEIS ESCALAS/CRITÉRIOS

Idade (1)Até 36 anos; (2)37-44; (3) 45anos ou mais; (9) Ignorado Por tercis

Sexo (1) Feminino (2) Masculino (9) Ignorado

Raça/cor (9) Ignorado (1) Branco (2) Negro (3)Amarela (4) Pardo (5) Indígena

Escolaridade (1) Até Ensino fundamental (2)Ensino médio (3) Educação superior (9) Ign/Branco/Não se

aplica

FONTE: SINAN/CEREST. Natal-RN, 2014.

Quadro 3 – Variáveis ocupacionais relacionadas aos casos de agravos e doenças relacionados ao trabalho dos

casos notificados e acompanhados pelo CEREST/RN. Natal/RN, 2015.

CARACTERIZAÇÃO OCUPACIONAL

VARIÁVEIS ESCALAS/CRITÉRIOS

Tipo de Ocupação Categorizado de acordo com as ocupações mais notificadas

conforme especificidade de cada agravo

Situação no mercado de trabalho

Ign/Branco/Não se aplica (9); Empregado registrado com carteira assinada (1); Servidor Público (celetista/estatutário) (2);

Trabalhador do mercado informal (Autônomo;Empregado não

registrado; Trabalhador Temporário; Cooperativado;Trabalhador

avulso) (3); Outros (Aposentado/ Desempregado/Empregador (4).

Tempo de trabalho na ocupação (em anos) CATEGORIZAÇÃO POR MEDIANA

Empregador terceirizado (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

CARACTERIZAÇÃO SOBRE O TIPO DE ACIDENTE OU DOENÇA

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

67

Tipo de doença ou agravo ocupacional Acidente com material biológico (1); Acidente grave (2);

Dermatose (3); Intoxicação exógena (4); LER/DORT (5);

PAIR(6); pneumopatia (7); transtorno mental (8).

ACIDENTE COM MATERIAL BIOLÓGICO

Tipo de exposição percutânea (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Tipo de exposição mucosa/pele não

integra/pele integra

(1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Tipo de exposição OUTRAS (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Tipo de material orgânico

Ignorado /Branco/Não se aplica (9); Sangue (1); Fluidos de menor

risco (Liquor/liquido amniótico/liquido pleural/liquido

ascitico/soro/plasma) (2); Outros (3)

Circunstância do Acidente

Ignorado /Branco/Não se aplica (9); Administração de medicação

por diferentes vias/punção venosa ou arterial (1);Descarte

inadequado (2); Reencape (3); Outros (4).

Agente Acidente material biológico Ignorado /Branco/Não se aplica (9); Agulhas com ou sem lumen

(1); Outros perfuro cortantes (2); Outros (3).

Uso de EPI1 (LUVA) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Uso de EPI (AVENTAL) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Uso de EPI (MASCARA) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Uso de EPI (ÓCULOS) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Uso de EPI (PROTEÇÃO FACIAL) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Uso de EPI (BOTA) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Situação vacinal do acidentado em relação

à hepatite B (3 doses)

(1)Vacinado (2)Não vacinado (9)Ignorado

Resultados de exames do acidentado (no momento do acidente- data ZERO)

Anti-HIV2 (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado

HbsAg3 (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado (9)Ignorado

Anti-HBs4 (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado

Anti-HCV5 (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado Paciente Fonte Conhecida (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Resultado dos testes sorológicos (PACIENTE FONTE)

Anti-HIV (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado

HbsAg (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado

Anti-HBs (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado

Anti-HCV (1)Positivo (2)Negativo (3)Inconclusivo (4)Não realizado

(9)Ignorado Conduta no momento do acidente

Sem indicação de quimioprofilaxia (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Recusou quimioprofilaxia indicada (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

AZT6+3TC7 (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

AZT+3TC+Indinavir (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

AZT+3TC+Nelfinavir (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Imunoglobulina humana contra hepatite B

(HBIG)

(1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Vacina contra hepatite B (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Outro esquema de antirretroviral (ARV8) (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Evolução do Caso

Alta com conversão sorológica (2) Alta sem conversão sorológica

(3)Alta paciente fonte negativo (4) Abandono (5) Óbito por

acidente com exposição à material biológico (6) Óbito por Outra Causa (9) Ignorado

Emissão da CAT9 (1) Sim (2) Não (3) Não se aplica (9) Ignorado

ACIDENTE DE TRABALHO GRAVE

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

68

Local de ocorrência do acidente (1) Instalações do contratante (2) Via pública (3) Instalações de

terceiros (4) Domicílio próprio (9)Ignorado

Tipo de Acidente (1) Típico (2) Trajeto (9) Ignorado

Outros Trabalhadores Atingidos (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Atendimento Médico (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Partes do Corpo Atingidas

(01) Olho (02) Cabeça (03) Pescoço (04)Tórax (05) Abdome

(06) Mão (07) Membro superior (08) Membro inferior (09) Pé

(10) Todo o corpo (11) Outro (99) Ignorado

Regime de Tratamento (1) Hospitalar (2) Ambulatorial (3) Ambos (9) Ignorado

Evolução do Caso

(1) Cura (2) Incapacidade temporária (3) Incapacidade parcial

(4) Incapacidade total permanente (5) Óbito por acidente de

trabalho grave (6) Óbito por outras causas (7) Outro (9) Ignorado

LER/DORT

Agravos associados LER/DORT10

Hipertensão Arterial (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Diabetes Mellitus (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Hanseníase (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Transtorno Mental (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Tuberculose (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Asma (1)Sim (2) Não (9) Ignorado Exposição do trabalhador aos riscos

Tempo de exposição ao agente/risco CATEGORIZAÇÃO POR MEDIANA

Sinais e Sintomas LER/DORT

Alteração de sensibilidade (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Limitação de movimentos (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Diminuição de força muscular (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Sinais flogísticos (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Diminuição do movimento (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Dor (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Outro (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Limitação e incapacidade para o exercício

de tarefas

(1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Tipo de exposição em seu local de trabalho (LER/DORT)

Prêmios de produção (1)Sim (2) Não

Há tempo de pausas (1)Sim (2) Não Movimentos repetitivos (1)Sim (2) Não Jornada de trabalho de mais de 6 horas (1)Sim (2) Não Ambiente estressante (1)Sim (2) Não Necessidade de tempo de afastamento (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Tempo de Afastamento do Trabalho para

Tratamento

(1) Menos de 6 meses (2) 1 a 6 meses (3) mais de 6 meses

Situação após Afastamento do Trabalho (1) Melhora (2) Piora (9) Ignorado

Outros Trabalhadores com a mesma

Doença no Local de Trabalho

(1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Conduta Geral (LER/DORT)

Afastamento do agente do risco com

mudança de função e/ou posto de trabalho

(1)Sim (2) Não

Adoção de mudança na organização do trabalho

(1)Sim (2) Não

Adoção de proteção coletiva (1)Sim (2) Não

Adoção de proteção individual (1)Sim (2) Não

Afastamento do local de trabalho (1)Sim (2) Não

Nenhum (1)Sim (2) Não

Evolução do Caso

(1)Cura (2) Cura não confirmada (3) Incapacidade temporária

(4) Incapacidade permanente parcial (5) Incapacidade total

permanente (6) Óbito por doença relacionada ao trabalho (7) Óbito

por outras causas (8) Outro (9) Ignorado

Emissão da CAT (1) Sim (2) Não (3) Não se aplica (9) Ignorado

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

69

TRANSTORNOS MENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO

Tempo de Exposição ao Agente de Risco CATEGORIZAÇÃO POR MEDIANA

Regime de Tratamento (1) Hospitalar (2) Ambulatorial

HÁBITOS

Álcool (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Psicofármacos (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Drogas psicoativas (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Hábito de Fumar (1) Sim (2) Não (3) Ex- fumante (9) Ignorado

Tempo de Exposição ao tabaco CATEGORIZAÇÃO POR MEDIANA

CONDUTA GERAL

Afastamento da situação de desgaste

mental

(1)Sim (2) Não

Adoção de proteção individual (1)Sim (2) Não

Adoção de mudança na organização do

trabalho

(1)Sim (2) Não

Adoção de proteção coletiva (1)Sim (2) Não

Afastamento do local de trabalho (1)Sim (2) Não

Nenhum (1)Sim (2) Não

Outros (1)Sim (2) Não

Existência de outros trabalhadores com a

mesma doença no local de trabalho

(1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Encaminhado a um Centro de Atenção

Psicossocial (CAPS) no SUS ou outro

serviço especializado em tratamento de

transtornos

(1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Evolução do Caso

(1)Cura (2) Cura não confirmada (3) Incapacidade temporária

(4) Incapacidade permanente parcial (5) Incapacidade total

permanente (6) Óbito por doença relacionada ao trabalho

(7) Óbito por outras causas (8) Outro (9) Ignorado

Emitida a Comunicação de Acidente do

Trabalho

(2) Sim (2) Não (3) Não se aplica (9) Ignorado

INTOXICAÇÃO EXÓGENA

Local de ocorrência da exposição

(1) Residência (2) Ambiente de trabalho (3) Trajeto do trabalho

(4) Serviços de saúde (5) Escola/creche (6) Ambiente externo

(7) Outro (9)Ignorado

Grupo do agente tóxico/Classificação

geral

(01) Medicamento (02) Agrotóxico; uso agrícola

(03)Agrotóxico/uso doméstico (04) Agrotóxico/uso saúde pública

(05) Raticida (06) Produto veterinário (07) Produto de uso

Domiciliar (08) Cosmético/higiene pessoal (09) Produto químico

de uso industrial (10) metal (11) Drogas de abuso (12) Planta

tóxica (13) Alimento e bebida (14) Outro (99) Ignorado

Agente tóxico (informar até três agentes)

Agrotóxico, qual a finalidade da

utilização.

(1)Inseticida (2) Herbicida (3) Carrapaticida (4) Raticida

(5) Fungicida (6) Preservante para madeira (7) Outro

(8) Não se aplica (9) Ignorado

Se agrotóxico, quais as atividades

exercidas na exposição atual

(01) Diluição (02) Pulverização (03) Tratamento de sementes

(04) Armazenagem (05) Colheita (06) Transporte

(07)Desinsetização (08) Produção/formulação (09) Outros (10) Não se aplica (99) Ignorado

Se agrotóxico de uso agrícola, qual a

cultura/lavoura.

CATEGORIZAÇÃO DE ACORDO COM AS RESPOSTAS

ENCONTRADAS

Via de exposição/contaminação (1) Digestiva (2) Cutânea (3) Respiratória (4) Ocular (5)

Parenteral (6) Vaginal (7) Transplacentária (8) Outra (9) Ignorada

Circunstância da exposição/contaminação

(01) Uso Habitual (02) Acidental (03) Ambiental (04) Uso

terapêutico (05) Prescrição médica inadequada (06) Erro de

administração (07) Automedicação (08) Abuso (09) Ingestão de

alimento ou bebida (10) Tentativa de suicídio (11) Tentativa de

aborto (12) Violência/homicídio (13) Outra (99) Ignorado

exposição/contaminação decorrente do (1)Sim (2) Não (9) Ignorado

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

70

trabalho/ ocupação

Tipo de Exposição (1)Aguda - única (2) Aguda - repetida (3) Crônica (4) Aguda

sobre Crônica (9) Ignorado

Tempo Decorrido entre a Exposição e o

Atendimento

CATEGORIZAÇÃO DE ACORDO COM AS RESPOSTAS

ENCONTRADAS

Tipo de atendimento (1) Hospitalar (2) Ambulatorial (3) Domiciliar (4) Nenhum

(9) Ignorado

Hospitalização (1) Sim (2) Não (9) Ignorado

Classificação final (1) Intoxicação confirmada (2) Só Exposição (3) Reação Adversa

(4) Outro Diagnóstico (5) Síndrome de abstinência (9) Ignorado

Intoxicação confirmada, qual o

diagnóstico.

CATEGORIZAÇÃO DE ACORDO COM AS RESPOSTAS

ENCONTRADAS

Evolução do Caso

(1) Cura sem sequela (2) Cura com sequela

(3) Óbito por intoxicação exógena (4) Óbito por outra causa

(5) Perda de seguimento (9) Ignorado

Emitida a Comunicação de Acidente do

Trabalho

(3) Sim (2) Não (3) Não se aplica (9) Ignorado

FONTE: SINAN/CEREST. Natal-RN, 2014.

1LER/DORT – Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho

2PAIR – Perda auditiva induzida por ruído

3EPI – Equipamento de proteção individual

4Anti-HIV – Anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana

5Anti-HBS – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B

6Anti-HCV – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite C

7ARV– antirretrovirais

8AZT – medicamento antirretroviral zidovudina

93TC - medicamento antirretroviral lamivudina

10CAT – Comunicação de acidente de trabalho

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

71

4.5 ASPECTOS ÉTICOS

Antes da execução da pesquisa e após a autorização escrita do gestor estadual para a

utilização do banco de dados do SINAN/CEREST estadual (Anexo A), o projeto foi

submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte que o autorizou por meio do Parecer N° 014/2014 (ANEXO B), seguindo o

que determina a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012).

Na pesquisa foram utilizados apenas dados secundários de acesso publico e de forma

agregada, não havendo qualquer possibilidade de dano de ordem física ou moral para nenhum

grupo de população ou indivíduo, respeitando a confidencialidade e o anonimato dos sujeitos

notificados no Sistema de Informação, que compõem o banco de dados, através do documento

base que o alimenta - FICHA DO SINAN (Anexo C).

As informações relacionadas à cadeia produtiva no estado e por município foram

fornecidas diretamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do RN,

além das publicações do Atlas de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD).

4.7 TRATAMENTO ESTATÍSTICO

Os dados foram organizados em banco de dados eletrônicos do Microsoft Excel versão

2010 e, após essa organização foram exportados para o programa estatístico SPSS® versão

20.0.

Para alcançar o objetivo de identificar e descrever as doenças e agravos ocupacionais

notificados pelo SINAN/CEREST no Estado do Rio Grande do Norte utilizou-se a estatística

ou análise descritiva das variáveis por meio de valores absolutos e relativos das variáveis

categóricas, representados em figuras, gráficos e tabelas. Utilizaram-se como medidas de

tendência central as médias e como medida de dispersão o desvio-padrão para algumas

variáveis numéricas.

Para estabelecer os fatores associados aos desfechos por agravo: Acidente com

material biológico (exposição percutânea) e Acidente de trabalho Grave (Incapacidade para o

trabalho), que responde ao objetivo de identificar se as doenças e agravos ocupacionais

registrados pelo SINAN/CEREST apresentam relação com os determinantes relacionados ao

trabalho no Estado do Rio Grande do Norte, utilizou-se o teste do Qui-quadrado/Fisher para

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

72

as variáveis independentes qualitativas como as variáveis sociodemográficas, as relacionadas

à ocupação e ao evento ou doença com significância estatística de 95% e valor de p<0,05.

Para verificar a magnitude das associações, que corresponde ao objetivo de analisar os

fatores determinantes dos acidentes de trabalho notificados pelo SINAN/CEREST, utilizou-se

a Razão de Prevalência (RP) e seu respectivo intervalo de confiança (99%), como também foi

utilizado o limite de 1% para significância estatística para rejeitar a hipótese nula. Além disso,

utilizou-se a incidência anual dos acidentes de trabalho graves obtida dividindo-se o número

absoluto de acidentes pela população economicamente ativa referente a cada ano pesquisado

por cem mil.

Em relação a esse agravo, também foram calculadas os Riscos Relativos para as

variáveis: sexo, faixa etária e escolaridade para o ano de 2010, quando os dados censitários da

população permitiram uma desagregação por tais características.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

73

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados estão apresentados em formato de manuscritos de acordo com o escopo

e as normas de periódicos científicos selecionadas para submissão dos mesmos (Quadro 4),

por isso a sua formatação apresenta-se diferente do restante do texto. O manuscrito três foi

publicado em periódico científico nacional (qualis B1) em janeiro de 2016. Os demais artigos

serão encaminhados para submissão após a defesa e aprovação da tese.

O primeiro artigo refere-se ao objetivo de identificar e descrever as doenças e agravos

ocupacionais notificados pelo SINAN/CEREST no Estado do Rio Grande do Norte.

O segundo e terceiro artigos correspondem ao objetivo de identificar se as doenças e

agravos ocupacionais registrados pelo SINAN/CEREST apresentam relação com os

determinantes relacionados ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte.

O segundo e terceiro artigos também estão relacionados ao objetivo de analisar os

fatores determinantes dos acidentes de trabalho notificados pelo SINAN/CEREST no Estado

do Rio Grande do Norte de 2007 a 2014.

Quadro 4 – Síntese dos artigos que compõem os resultados e discussão da Tese de doutorado: Análise da

magnitude das doenças relacionadas ao trabalho no Rio Grande do Norte. Natal/RN, 2015

ARTIGO

TÍTULO

OBJETIVO DO ARTIGO

QUALIS EM

ENFERMAGEM

1

Doenças e agravos ocupacionais em

um estado do Nordeste: um estudo

transversal

Identificar e descrever as doenças

e agravos ocupacionais ocorridos

entre trabalhadores do estado do

Rio Grande do Norte

B1

2

Análise dos acidentes com

exposição ao material biológico em

trabalhadores

Realizar uma análise dos

acidentes com material biológico

em trabalhadores do estado do Rio

Grande do Norte

A1

3

Acidentes de trabalho grave no Rio Grande do Norte: estudo transversal

Analisar os acidentes de trabalho grave no estado do Rio Grande do

Norte de 2007 a 2014

B1

FONTE: Autoria própria. Natal-RN, 2015.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

74

5.1 ARTIGO 1

Doenças e agravos ocupacionais em um estado do Nordeste: um estudo transversal*

Cleonice Andréa Alves Cavalcante1, Soraya Maria de Medeiros

2, Izaura Luzia Silvério Freire

3

RESUMO Objetivo: Identificar e descrever as doenças e agravos ocupacionais ocorridos entre trabalhadores do Rio

Grande do Norte de 2007 a 2014. Método: Estudo transversal, descritivo realizado com dados secundários do

Sistema Nacional de Agravos Notificáveis do Centro de Referência Estadual em Saúde do Trabalhador.

Resultados: Dos 10.161 casos de agravos relacionados ao trabalho notificados, destacaram-se os acidentes

biológicos (52,84%) e de trabalho grave (37,49%). Quanto às doenças, destacaram-se as osteomusculares

(4,82%), transtornos mentais (2,19%) e a intoxicação exógena (1,97%). Houve predominância dos agravos entre

homens nos acidentes graves (91,80%), transtornos mentais (70,00%) e intoxicações exógenas (52,84%). As

mulheres foram mais acometidas por acidente biológico (77,50%) e doenças osteomusculares (64,10%). Entre os

pesquisados predominou a cor parda (46,02%), média das idades de 35,86 anos, escolaridade ignorada (30,73%)

e situação no mercado de trabalho ignorada (30,73%). Conclusão: Constatou-se avanço na notificação dos

agravos relacionados ao trabalho no período analisado, sobretudo os acidentes. No entanto, o sistema de

informação ainda carece de melhoria tanto na cobertura como na qualidade dos dados no sentido de demonstrar com maior fidedignidade a magnitude dos eventos para subsidiar o planejamento das ações em Saúde do

Trabalhador no estado.

Descritores: Estudos Transversais; Doenças ocupacionais; Acidentes de Trabalho; Saúde do Trabalhador;

Notificação de doenças; Vigilância em Saúde do Trabalhador.

ABSTRACT

Objective: To identify and describe the diseases and occupational injuries occurred between Rio Grande do

Norte workers from 2007 to 2014. Method: Cross-sectional, descriptive study conducted with secondary data

from the National System of Notifiable Diseases of the State Reference Center in Occupational Health. Results:

Of the 10,161 cases of diseases related to the reported work, stood out biological accidents (52.84%) and serious work (37.49%). For diseases, the highlights were musculoskeletal (4.82%), mental disorders (2.19%) and

exogenous intoxication (1.97%). There was a predominance of injuries among men in serious accidents

(91.80%), mental disorders (70.00%) and exogenous poisoning (52.84%). Women were more affected by

biological accident (77.50%) and musculoskeletal diseases (64.10%). Among the surveyed predominant brown

color (46.02%), mean age of 35.86 years, ignored education (30.73%) and ignored situation in the labor market

(30.73%). Conclusion: There were advances in the reporting of work-related injuries during the study period,

especially accidents. However, the information system still needs improvement both in coverage and quality of

data to demonstrate with greater reliability the magnitude of events to support the planning of the worker's health

actions in the state.

Descriptors: Cross-Sectional Studies; Occupational Diseases; Accidents, Occupational; Occupational Health;

Disease Notification; Surveillance of the Workers Health.

*Artigo parte integrante da tese de doutorado intitulada “Magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no

Rio Grande do Norte” do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFRN.

1Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Pós-graduação em Enfermagem, Professora, Escola de Saúde,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected]. 2Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected] 3Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora, Escola de Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected].

Autor correspondente: Cleonice Andréa Alves Cavalcante Av. Gandhi, 1652, residencial Santa Sofia, Casa 13, Nova Parnamirim CEP: 59152-780, Parnamirim, Rio

Grande do Norte, RN, Brasil. E-mail: [email protected]

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

75

INTRODUÇÃO

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 2,34 milhões de pessoas

no mundo morrem todos os anos em virtude de acidentes e doenças relacionados ao trabalho e

mais de 80% dessas mortes são causadas por doenças profissionais. Estima-se ainda que os

acidentes de trabalho e as doenças profissionais resultam em perda anual de 4% no produto

interno bruto (PIB) mundial, ou cerca de 2,8 bilhões de dólares, em custos diretos e indiretos

por lesões e doenças(1,2)

.

A doença relacionada ao trabalho compreende toda alteração orgânica, transtorno

enzimático ou bioquímico, transtorno funcional ou desequilíbrio mental, permanente ou

temporária, que pode ser causada, adquirida, produzida, desencadeada ou agravada pelas

condições especiais em que um trabalho deve ser realizado por um trabalhador no exercício

de determinada profissão ou atividade(3)

.

No Brasil, o conhecimento da magnitude dos acidentes e doenças relacionadas ao

trabalho é de responsabilidade da vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT), que faz parte

do Sistema de Vigilância em Saúde. A VISAT atua de forma contínua e sistemática,

objetivando identificar fatores de riscos ocupacionais, estabelecer medidas de controle,

prevenção e avaliar os serviços de saúde. Partindo desse entendimento, propostas de

mudanças e transformações nas condições de trabalho poderão garantir a qualidade da Saúde

do Trabalhador e nos ambientes de trabalho(3)

.

Ainda no Brasil, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria Nº 777 de 28 de Abril de

2004, regulamentou a notificação compulsória dos agravos relacionados ao trabalho na rede

de serviços sentinela no SUS através do SINAN. A referida portaria foi substituída pela

Portaria nº 104 de 25 de janeiro de 2011 e pela Portaria Nº 1.271 de 06 de junho de 2014 que

define a lista nacional de doenças, agravos e eventos de Saúde Pública nos serviços do SUS e

na rede privada e conveniada em todo o território nacional. A portaria Nº1984, de 12 de

setembro de 2014, define as doenças e agravos a serem monitorados por meio da estratégia de

vigilância em unidades sentinelas.

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) responsabiliza-se pela

notificação das doenças e agravos ocupacionais e, após a inserção desses eventos na Lista de

Doenças e Agravos de Notificação Compulsória, o número de casos notificados apresentou

um aumento significativo, passando de 41.164 em 2007, para 152.655 em 2014, com uma

média de crescimento de 24% ao ano, atingindo 270% em relação ao início do período. No

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

76

entanto, observa-se ainda a necessidade urgente de melhoria da capacidade de investigação

diagnóstica e etiológica da relação do agravo com o trabalho, destacando-se a importância de

treinamento e qualificação dos profissionais de saúde(3)

.

O SINAN é alimentado a partir de um processo permanente de coleta, transmissão e

disseminação de informação sobre doenças e agravos de notificação compulsória,

constituindo-se em ferramenta fundamental do sistema de vigilância epidemiológica. Os

dados são coletados nos serviços de saúde e enviados para as instâncias regionais de saúde,

encaminhados semanalmente para as secretarias estaduais e quinzenalmente, para a instância

federal. Para a notificação de doenças e agravos relacionados ao trabalho, as rotinas e fluxos

dos dados são definidos com base nos recursos e capacidade operacional dos CERESTs e suas

respectivas unidades sentinelas(4)

.

Salienta-se que a dificuldade das doenças e agravos serem reconhecidas como

vinculadas ao trabalho ainda é considerado um problema recorrente enfrentado pelos

profissionais de saúde, sobretudo na atualidade, considerando a globalização caracterizada

pela difusão de novas tecnologias, o fluxo de ideias, a troca de bens e serviços. Essa

problemática resulta no aumento do capital e fluxos financeiros, na internacionalização dos

negócios e na circulação de pessoas modificando, especialmente, a forma como a população e

as nações interagem, causando uma verdadeira revolução no direito do trabalho cujo reflexo é

observado na precarização do trabalho e na saúde do trabalhador. Na realidade, o

reconhecimento do problema como originário do e pelo trabalho, o estabelecimento do nexo

causal, tem se constituído em verdadeiro calvário para os trabalhadores que vão e vêm em

busca de diagnóstico e do vínculo do seu problema de saúde com a sua atividade laboral(3,4)

.

A falta de informação adequada sobre os agravos relacionados ao trabalho representa

um dos principais obstáculos para a prevenção e o controle dos riscos ocupacionais. O

conhecimento da epidemiologia e dos tipos de doenças aos quais os trabalhadores estão sendo

acometidos, em quais atividades e locais de trabalho em que ocorrem os agravos, tornaria

possível desenvolver medidas preventivas mais efetivas e um diagnóstico precoce para

promover um tratamento mais rápido e eficaz(4)

.

A problemática relatada também é evidenciado na maioria das estatísticas oficiais de

países industrializados que apresentam registros parciais dessas doenças(4,5)

. Em termos

globais mais da metade dos países não coleta dados estatísticos adequados sobre doenças

profissionais, os mesmos são limitados a acidentes e mortes. Tal fato não só dificulta a

identificação do tipo específico de doenças e lesões profissionais, como prejudica a

formulação de medidas preventivas eficazes(1)

.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

77

Enfatiza-se que estudos sobre a situação epidemiológica da saúde do trabalhador no

Brasil sempre foram prejudicados pela fragilidade nas informações, pois as fontes de dados

disponíveis omitiam parcela importante da população economicamente ativa causando

distorções e vieses no entendimento e na interpretação do quadro da morbimortalidade dos

agravos relacionados ao trabalho, e consequentemente, dificultando um planejamento das

ações de promoção à saúde, prevenção e controle das doenças e acidentes por meio de

políticas e programas direcionados para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores(6)

.

Desse modo, os acidentes e as doenças relacionadas ao trabalho, no mundo,

constituem-se em um problema maior do que as estimativas sugerem. E, ainda que ocorram

problemas relacionados com a invisibilidade, a subnotificação e o sub-registro, as doenças

ocupacionais são reconhecidas mundialmente como importante problema de Saúde Pública(2)

.

Nesse contexto, esse estudo justifica-se pela necessidade de conhecer a situação

epidemiológica das doenças e agravos ocupacionais no Estado do Rio Grande do Norte no

sentido de subsidiar o planejamento e a elaboração de políticas públicas de promoção,

prevenção, assistência e gestão voltadas aos trabalhadores a partir da realidade identificada.

Diante do exposto, a pesquisa objetivou identificar e descrever as doenças e agravos

ocupacionais ocorridos entre trabalhadores do Estado do Rio Grande do Norte.

MÉTODO

Estudo transversal, descritivo, desenvolvido a partir de dados levantados junto ao

Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) no Rio Grande do Norte, estado

da região nordeste do Brasil.

O Rio Grande do Norte está situado na região nordeste do Brasil. Tem 167

municípios distribuídos em 52.811 Km2, o que equivale a 3,42% da área do nordeste e a

0,62% da superfície brasileira e uma população estimada de 3.442.175 habitantes em 2015.

Os CEREST são serviços de saúde destinados aos trabalhadores, implementados na rede

de saúde pública do Brasil a partir dos anos de 1980, com a proposta de prestar atendimento

integral, assistência e acompanhamento das doenças, das condições e dos ambientes de

trabalho além de desenvolver conhecimentos na área e nas atividades educativas com a

participação dos trabalhadores(3)

. Suas ações devem estar articuladas aos demais serviços da

rede do Sistema Único de Saúde (SUS), orientando-os e fornecendo retaguarda às suas

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

78

práticas, de forma que os agravos e doenças relacionados ao trabalho possam ser atendidos em

todos os níveis de atenção à saúde, de forma integral e hierarquizada.

A população desta pesquisa foi representada pelo universo de casos de doenças e

agravos relacionados ao trabalho, que foram notificados nos serviços de saúde e encerrados

pelo CEREST/RN no período de 2007 a 2014, excluindo-se os casos não encerrados no

SINAN até o período da coleta de dados que ocorreu de março a abril de 2015.

Foram coletados dados secundários registrados no SINAN exportados para planilhas do

software Microsoft Excel 2007. No sentido de manter o sigilo dos sujeitos pesquisados, não

foram exportados dados de identificação dos trabalhadores, agregando-se as variáveis

sociodemográficas e as relacionadas à ocupação.

As variáveis de estudo foram: tipo de agravo relacionado ao trabalho notificado

(acidente de trabalho fatal, acidente de trabalho com mutilações, acidentes de trabalho com

crianças e adolescentes, acidente com exposição ao material biológico, dermatoses

ocupacionais, intoxicações exógenas, lesões por esforços repetitivos (LER)/distúrbios

osteomusculares relacionadas ao Trabalho (DORT), pneumoconioses, perda auditiva induzida

por ruído (PAIR), transtornos mentais relacionados ao trabalho e câncer relacionado ao

trabalho; características demográficas e socioeconômicas do trabalhador: sexo

(masculino/feminino/ignorado), idade (em anos), raça/cor

(parda/branca/preta/amarela/indígena/ignorado), escolaridade (analfabeto/ ensino

fundamental/ensino médio/ ensino superior/ignorado/não preenchido), trabalhador

terceirizado (sim/não/ignorado) e situação do trabalhador no mercado de trabalho (empregado

registrado com carteira assinada/servidor público/trabalhador do mercado informal/

outros/ignorado/ não preenchido); situação no mercado de trabalho (Ignorado/Branco/Não se

aplica /Empregado registrado com carteira assinada/Servidor Público/Trabalhador do mercado

informal /Outros), tempo de trabalho na ocupação (em anos) e situação de terceirização (Sim/

Não/Ignorado).

Os dados utilizados nesta investigação foram fornecidos pela Subcoordenadoria de

Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde Pública – SUVIGE/SESAP, após

o consentimento escrito do gestor estadual por meio da carta de anuência e do termo de

autorização da instituição, e autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN, Parecer

N° 014/2014, seguindo o que determina a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde-

CNS/MS.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

79

A análise dos dados foi realizada utilizando-se a estatística descritiva, apresentando-os

em forma de tabelas e gráficos, com medidas de frequências relativas e absolutas, utilizando-

se o Microsoft Excel 2007 e o programa SPSS® versão 20.0.

RESULTADOS

Entre os anos de 2007 a 2014, foram notificados pelo SINAN, 10.161 casos de agravos

relacionados ao trabalho no Estado do Rio Grande do Norte. Desses, 9.178 (90,33%)

configuraram-se como acidentes. A maioria (5.369; 52,84%) dos acidentes notificados

referiu-se aos biológicos, seguidos dos acidentes de trabalho graves (3.809; 37,49%). Quanto

às doenças, destacaram-se as LER/DORT (490; 4,82%), os transtornos mentais (223; 2,19%)

e a intoxicação exógena (200; 1,97%), seguidos dos casos de dermatoses, câncer,

pneumoconioses e perda auditiva induzida por ruído (PAIR), que apareceram com menor

percentual de notificações (70; 0,69%) (Gráfico 1).

Figura 1 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte, notificados

no período de 2007 a 2014.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

80

Observa-se que entre os anos analisados houve uma evolução no número de notificação

dos acidentes biológicos e graves e uma discreta melhoria na notificação dos casos de câncer,

dermatose, PAIR e pneumoconioses. Os casos de LER/DORT obtiveram destaque em relação

ao número de notificações a partir de 2009, enquanto os casos de intoxicação exógena

mantiveram-se estáveis desde 2008. Os transtornos mentais tiveram considerável aumento de

notificações em 2014 (Figura 2).

Figura 2 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho ocorridos no Rio Grande do Norte por

ano, notificados no período de 2007 a 2014.

Ao traçar o perfil dos pesquisados (Tabela 1), observou-se que a maior parte dos

trabalhadores vitimados era do sexo masculino (51,42%), média das idades de 35,86 (±10,99

anos), com idade mínima de 18 anos e máxima de 69 anos, raça/cor parda (46,02%), não

terceirizado (40,60%), com escolaridade ignorada (30,73%) e situação no mercado de

trabalho ignorado (32,12%). Apresentava uma média de tempo de trabalho na ocupação de

7,65 anos.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

81

Tabela 1 – Distribuição das variáveis socioeconômicas e relacionadas ao trabalho dos agravos notificados no

Rio Grande do Norte, RN, Brasil, 2007-2014.

VARIÁVEL CATEGORIA n %

SEXO Masculino 5225 51,42

Feminino 4936 48,58

RAÇA/COR

Parda 4676 46,02

Branca 2985 29,38

Preta 398 3,92

Amarela 56 0,55

Indígena 19 0,19

Ignorado 1751 17,23

Não preenchido 276 2,72

TERCEIRIZADO

Sim 548 5,39

Não 4125 40,60

Não se aplica 336 3,31

Ignorado 2615 25,74

Não preenchido 2537 24,97

ESCOLARIDADE

Analfabeto 116 1,14

Ensino Fundamental 1445 14,22

Ensino Médio 3001 29,53

Ensino Superior 1595 15,70

Ignorado 3122 30,73

Não preenchido 882 8,68

SITUAÇÃO NO MERCADO

DE TRABALHO

Registrado com carteira 2829 27,84

Trabalhador do mercado

informal

1740 17,12

Servidor público 1356 13,35

Outros 499 4,91

Ignorado 3264 32,12

Não preenchido 473 4,66

FONTE: SINAN/SUVIGE/CEREST/SESAP. Natal-RN, 2015.

Ao analisar a variável sexo por agravo (Figura 3), observa-se uma predominância do

sexo masculino nos casos de acidentes de trabalho graves (91,80%), pneumoconioses

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

82

(91,70%), PAIR (85,70%), transtornos mentais (70,00%) e intoxicações exógenas (67,50%).

O sexo feminino sobressaiu-se nos acidentes com material biológico (77,50%) e nos casos de

LER/DORT (64,10%).

Figura 3 - Distribuição dos agravos relacionados ao trabalho notificados no Rio Grande do Norte estratificado

por sexo. Rio Grande do Norte, RN, Brasil, 2007-2014.

DISCUSSÃO

Entre os agravos relacionados ao trabalho notificados no SINAN/CEREST/RN, os

acidentes predominaram no período analisado, com destaque para os acidentes com material

biológico seguidos dos acidentes de trabalho graves. Em relação às doenças, houve um

aumento expressivo da notificação de casos de LER/DORT, transtornos mentais e

intoxicações exógenas. No entanto, constatou-se um possível sub-registro dos casos de

dermatoses, pneumoconioses, PAIR e câncer relacionado ao trabalho, uma vez que não se

observa uma evolução das notificações ao longo dos anos no período investigado.

Essa situação epidemiológica segue a realidade nacional(3,6)

, na qual os acidentes estão

entre os mais frequentemente notificados e as doenças, especialmente as de caráter lento e

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

83

insidioso, aparecem com menor número de notificação o que caracteriza, muitas vezes,

limitações no diagnóstico, no estabelecimento do nexo causal e um consequente sub-registro.

Enfatiza-se que as doenças profissionais estão sendo reconhecidas erroneamente pelo

sistema de Seguridade Social ou outros sistemas de informação como doenças comuns. Esse

fato ocorre devido à complexidade de se estabelecer relação causal, pois a determinação da

origem de uma doença, longe de ser uma ciência exata, é uma questão de julgamento baseado

em uma análise crítica dos elementos disponíveis, entre as quais a intensidade da associação

com o fator de risco, consistência, especificidade, o gradiente de horizonte de tempo

apropriado e a plausibilidade biológica(4)

.

Muitas doenças relacionadas ao trabalho não estão sendo diagnosticadas pela

dificuldade de estabelecimento do nexo causal, o que caracteriza seu sub-registro e dificulta

sua visibilidade(1)

. Essa situação deve-se, entre outros motivos, as dificuldades vivenciadas

pelos médicos em estabelecer a relação da doença com os determinantes relacionados ao

ambiente e/ou ao processo de trabalho, principalmente na atenção primária(1,2)

. Essa realidade

foi encontrada até mesmo em países que apresentam um sistema de informação bem

consolidado como a Espanha(7)

.

No entanto, em relação à situação internacional especialmente em alguns países

desenvolvidos, esta realidade demonstra ainda diferenças significativas em relação ao Brasil,

pois as estatísticas sugerem um avanço, tanto na informação relacionada aos agravos

ocupacionais, como na eficiência e eficácia nas ações de prevenção e promoção à saúde do

trabalhador(2,8,9)

.

Estudo realizado em 2014 sobre estimativas globais da carga de lesões e doenças no

trabalho(2)

constatou que em países industrializados as doenças relacionadas com o trabalho

que têm um período de latência longo e estão ligadas ao envelhecimento estão aumentando,

enquanto o número de acidentes de trabalho tem diminuído, graças a uma melhor promoção

da saúde no local de trabalho, serviços de gestão de segurança e saúde. Portanto, nesses

países, a percentagem de mortes causadas por acidentes e doenças transmissíveis relacionadas

com o trabalho é baixa, enquanto as doenças não transmissíveis são a principal causa.

Em termos globais, embora tenha ocorrido atualmente um declínio de acidentes de

trabalho em países como os Estados Unidos, o Canadá, da União Europeia e a Austrália(2,8)

,

este foi compensado pelo aumento nos acidentes de trabalho graves e fatais devido as

atividades de manufatura, construção, mineração e agricultura, os países em rápido

desenvolvimento industrial, notadamente, os asiáticos como a China(2)

e a Índia(9,10)

.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

84

O estabelecimento do nexo causal em relação ao câncer relacionado ao trabalho

constitui-se em um problema a ser enfrentado pelo sistema de Vigilância em Saúde no Brasil

e no mundo, pois esse agravo exige uma investigação mais minuciosa e detalhada no sentido

de identificar os fatores que o relacionem à ocupação. Além disso, o longo período de latência

(intervalo de tempo entre a exposição e o diagnóstico), que tipicamente ocorre num período

de dez a quinze anos ou a várias décadas, torna difícil estabelecer claramente a relação entre a

exposição e a doença(1,11)

.

Contradizendo os resultados encontrados na presente investigação, estudos realizados

no Japão(8)

e no Reino Unido(12)

, cujos sistemas de vigilância e informação têm demonstrado

melhorias na identificação e detecção de doenças como dermatoses, PAIR e respiratórias,

apresentaram redução desses agravos. Esses países têm, em comum, uma política baseada em

medidas preventivas e no controle dos riscos além de promoção da saúde e bem-estar no

trabalho com melhorias na educação e pesquisa na área de saúde e segurança no trabalho,

além de investimentos em recursos humanos e na estratégia da gestão baseada no risco.

Nos Estados Unidos, em 2011, 207.500 trabalhadores foram acometidos por doenças

profissionais entre as quais as dermatológicas, a perda auditiva e as respiratórias foram as

mais prevalentes(13)

.

Estudo realizado na Austrália sobre a saúde e segurança com trabalhadores de industrias

evidenciou que entre as doenças ocupacionais, as lesões musculoesqueléticas representam

87% dos afastamentos, seguidas dos transtornos mentais, nos períodos de 2003 a 2004 e 2009

a 2010(11)

. Investigações conduzidas em diferentes países(8,12,14-16)

, também constataram um

aumento crescente do número de casos de LER/DORT e de transtornos mentais, considerados

os agravos mais frequentemente relatados. O primeiro se relaciona aos fatores de riscos

físicos e ergonômicos do processo de trabalho e o segundo está intimamente associado ao

estresse mental e ao excesso de trabalho, tendo consequências os transtornos ansiosos e

depressivos e até mesmo o suicídio, indicadores sensíveis de comprometimento da saúde

mental da população dos trabalhadores.

Na Coréia os casos de doenças musculoesqueléticas (LER/DORT) foram responsáveis

por 78,8% das doenças ocupacionais em 2010 e a taxa de acidentes fatais tem diminuído

desde 2000. No entanto, esses dados podem estar subestimados, pois as estatísticas ainda são

muito limitadas aos agravos que são registrados no sistema de compensação securitária do

Ministério do Trabalho e Emprego e, portanto, não incluem os eventuais casos que não

entraram com pedidos de indenização, especialmente aqueles relacionados às pequenas lesões

e doenças relacionadas ao trabalho(17)

.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

85

Quanto ao perfil dos pesquisados no presente estudo, constatou-se que o sexo masculino

predominou na maioria dos agravos, com destaque para os acidentes de trabalho graves,

transtornos mentais e intoxicações exógenas. Achados semelhantes foram encontrados em

estudos realizados no Reino Unido(12)

, Suécia(15)

e na Turquia(18)

, nos quais os acidentes foram

mais comuns em adultos jovens do sexo masculino.

A desigualdade de gênero é uma realidade vivenciada no mundo do trabalho e, portanto

também se reflete nas estatísticas dos agravos e doenças do trabalhador, como reforça um

estudo sobre as desigualdade de gênero em saúde ocupacional na Espanha, demonstrando esse

problema tanto em relação as condições de emprego e de trabalho, bem como nos agravos

relacionados com a ocupação(19)

.

Na presente investigação, as mulheres foram mais vitimadas nos acidentes com material

biológico nos casos de LER/DORT e de dermatoses. Observa-se que nos trabalhos manuais

há mais probabilidade de exposição aos riscos psicossociais, dores musculoesqueléticas e

doenças profissionais do que em trabalhos não manuais. Na indústria, setor fortemente

masculino, as mulheres apresentaram maior probabilidade em relação aos homens de

trabalhar em condições precárias e sofrer assédio sexual e discriminação(19)

.

Pesquisa desenvolvida na Espanha sobre a prevenção dos riscos profissionais e sua

relação com o gênero(20)

também evidenciou que as mulheres são discriminadas e

desfavorecidas em comparação aos homens em relação à prevenção, pois exercem sua

atividade laboral em condições de maior exposição a situações de risco ocupacional.

Em relação à idade, este estudo constatou que os trabalhadores vitimados são, em sua

maioria, jovens em plena idade produtiva. Outras pesquisas(21-22)

também evidenciaram que os

trabalhadores jovens são os mais vitimados por acidentes de trabalho grave e representam

uma grande carga de incapacidade e absenteísmo, especialmente entre os homens.

Além disso, as estatísticas nacionais demonstram que em todas as grandes regiões

brasileiras há maior concentração da mão de obra ocupada no mercado formal de trabalho na

faixa etária entre 25 e 44 anos, correspondendo a mais de 60% da força de trabalho.

Considerando a raça/cor, apesar dos poucos estudos em relação a essa variável, observa-

se que houve, neste estudo, um predomínio da cor parda entre os trabalhadores. Estudo

realizado sobre as disparidades raciais no trabalho entre trabalhadores americanos e

imigrantes constatou que os imigrantes negros eram 2,9 vezes mais propensos a relatar tensão

no trabalho do que os trabalhadores brancos, principalmente em ocupações menos

qualificadas, evidenciando, portanto uma discriminação étnico-racial também nas

instituições(23)

.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

86

Destaca-se, portanto, que no RN os agravos e doenças relacionadas ao trabalho

apresentam um perfil epidemiológico com dupla carga de agravos com destaque para os

acidentes como os mais notificados. Entre as doenças observa-se um aumento daquelas

consideradas relacionadas ao mundo do trabalho atual como as LER/DORT e os transtornos

mentais. Assim, o RN apresenta uma situação epidemiológica das doenças e agravos

ocupacionais com características tanto de países em desenvolvimento como de países

desenvolvidos(2)

.

É importante frisar que no Brasil o processo de industrialização ocorreu de forma tardia

e acelerada, permitindo a existência de ambientes e condições de trabalho que variam desde

os cenários mais “tecnologizados”, às condições mais rudimentares de trabalho, inclusive com

a existência de trabalho análogo ao escravo e infantil. Todo esse processo modificou de forma

significativa o ambiente, as condições e a organização do trabalho, interferindo no processo

saúde/doença dos trabalhadores com consequências advindas das contínuas transformações

que se operam no mundo ocidental geradas desde a revolução industrial à globalização da

economia e à entrada no mercado de novas tecnologias altamente sofisticadas(3)

.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), alguns riscos

tradicionais continuam afetando gravemente a saúde dos trabalhadores. No entanto, mudanças

tecnológicas, sociais e organizativas nos ambientes e processos de trabalho contemporâneo

como consequência da rápida globalização, têm desenvolvido riscos emergentes e novos

desafios à área de saúde e segurança do trabalhador. Nesse contexto, observa-se o

desenvolvimento de novos tipos de enfermidades profissionais como os transtornos

musculoesqueléticos (TME) e os mentais, que carecem de medidas de prevenção, proteção e

controle adequados(1,2)

.

Apesar dos dados classificados como “ignorados” comprometerem a análise em

relação a essas variáveis, acredita-se que os eventos, em geral, ocorram entre os trabalhadores

com menor nível de escolaridade. Outros estudos nacionais e internacionais também

evidenciaram que trabalhadores com menor nível educacional, menores salários e baixo poder

decisório são os que mais se acidentam e adoecem(2,3,18,20,22,24,25)

.

Em relação à situação no mercado de trabalho, os trabalhadores formais apresentaram

um maior número de registro, embora o excessivo número de casos ignorados (32,20%) possa

estar mascarando esses resultados, demonstrando também um sub-registro importante nessa

variável. Este achado deve-se, provavelmente, ao fato que o trabalhador da economia formal

no Brasil tem obrigatoriedade legal de notificar as doenças e acidentes por meio da

Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), instrumento de informação do Instituto

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

87

Nacional do Seguro Social (INSS) no sentido de gerar benefícios previdenciários a esses

trabalhadores, o que reflete, por conseguinte na notificação do SINAN(26)

.

No entanto, destaca-se que o trabalhador do mercado informal não tem esse benefício

assegurado e, portanto não tem obrigatoriamente que emitir a CAT, refletindo na baixa

notificação e no sub-registro dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho entre esses

trabalhadores. Entretanto, a notificação no SINAN é, desde 2007, obrigatória para os agravos

relacionados ao trabalho para quaisquer trabalhadores, o que demonstra ainda uma baixa

sensibilidade na notificação dos agravos nesse grupo.

A proteção social é um elemento fundamental para a promoção do desenvolvimento

humano, da estabilidade política e do crescimento inclusivo. Sua importância diz respeito não

só aos regimes de proteção em caso de desemprego, pois ao proporcionar segurança de renda

aos trabalhadores e suas respectivas famílias, na eventualidade de desemprego temporário,

contribuindo assim para prevenir a pobreza, apoiar a mudança estrutural da economia,

proporcionar salvaguardas contra a informalização e, em caso de crise, estabiliza ainda a

demanda agregada, ajudando em uma recuperação mais rápida da economia. No entanto,

apesar do reconhecimento internacional de sua importância, apenas 27% da população global

usufrui do acesso aos sistemas de segurança social abrangente, enquanto 73% têm cobertura

parcial ou nenhuma(27)

.

A análise da completitude dos campos de notificações dos agravos à saúde do

trabalhador registrados em um município no Brasil mostrou que a capacidade de cálculo de

indicadores epidemiológicos específicos fica ameaçada diante da incompletude de

determinados campos e mascaram dados que aferem a qualidade da assistência prestada,

deixando de informar reconhecidas variáveis preditoras de risco(28)

.

Embora os sistemas de informação apresentem diferenças e especificidades nos

diferentes países, dificuldades e limitações como inconsistências, incompletude e

subnotificação dos agravos ocupacionais foram evidenciadas também na Noruega, Austrália,

República da Irlanda, Irlanda do Norte, Grã-Bretanha, Coréia, Nigéria e outros(2,5,9,10,12,16,17,29)

.

Considera-se que a vigilância em saúde tem como parâmetros os dados que o sistema

de saúde e outros sistemas possuem sobre a morbidade e a mortalidade da população e esses

devem ser utilizados como evidências para produzir ações programáticas e chamar a atenção

da população sobre a necessidade de prevenir as doenças e evitar os fatores de risco. Ressalta-

se que quanto maior e melhor for à capacidade de coletar e analisar os dados econômicos,

demográficos e de saúde de uma população, maior a possibilidade de construção e análise de

informações precisas que permitam deflagrar um efetivo processo de vigilância em saúde(30)

.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

88

Assim, à medida que se estabelece a dimensão do problema, torna-se necessário

determinar seu alcance, adotar medidas contundentes no sentido de evitar suas consequências.

Para isso, a OIT defende um paradigma de prevenção abrangente em relação às doenças

profissionais que incluem três princípios: a dificuldade em estabelecer a magnitude do

problema não justifica ignorá-lo; o reconhecimento, a prevenção e o tratamento das doenças

profissionais, bem como a melhoria dos seus sistemas de registro e notificação, devem ser

uma prioridade e, a melhoria dos programas nacionais de saúde e segurança é essencial para a

promoção da saúde dos trabalhadores e das sociedades em que vivem(5)

.

Nessa perspectiva, dispor de um Sistema de Vigilância estruturado, atuante e

fidedigno torna-se indispensável ao planejamento em saúde, partindo do princípio que um dos

maiores desafios nessa área diz respeito à informação.

Considerou-se como limitação desse estudo o excessivo número de dados incompletos,

ignorados e inconsistentes, especialmente nas variáveis escolaridade e situação no mercado de

trabalho/terceirizado. Essa situação demonstra ainda que o sistema de informação necessita de

importantes melhorias tanto no que diz respeito à cobertura de notificação (sensibilidade),

quanto à qualidade dos dados (especificidade). Partindo dessa realidade, sugere-se que essas

variáveis sejam consideradas campos obrigatórios de notificação uma vez que essas

informações são de extrema importância para a análise e interpretação dos dados.

Além disso, partindo da realidade apresentada sugere-se que em relação à

subnotificação e o sub-registro, em médio e longo prazo, novos investimentos em melhorias

na estrutura, pesquisa e na formação de recursos humanos nessa área para que a Vigilância em

Saúde do Trabalhador sejam finalmente colocados em prática, na perspectiva de um trabalho

digno e que promova a saúde do trabalhador.

CONCLUSÃO

O presente estudo evidenciou um considerável aumento na notificação dos agravos

relacionados ao trabalho, no período analisado, especialmente entre os agravos agudos como

os acidentes. O acidente de trabalho com material biológico destacou-se como o agravo mais

notificado, seguido dos acidentes de trabalho graves entre mulheres e homens

respectivamente. Por outro lado as doenças apresentaram um aumento discreto na notificação,

destacando-se LER/DORT e transtornos mentais. As demais doenças tiveram pouco ou

nenhum aumento na notificação.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

89

Essa situação demonstra ainda uma provável subnotificação/sub-registro das doenças

relacionadas ao trabalho junto ao SINAN, demonstrando a necessidade de envolvimento dos

profissionais da saúde e melhorias na estrutura da Vigilância em Saúde do Trabalhador para

uma melhor cobertura e qualidade dos dados do sistema de informação e no processo de

estabelecimento do nexo causal das referidas doenças.

Estudos como este se tornam necessários, visto que, com uma descrição precisa e mais

próxima da realidade sobre a situação epidemiológica das doenças e agravos ocupacionais e

dos trabalhadores vitimados, torna-se possível compreender com maior profundidade a real

situação epidemiológica dos referidos agravos no sentido de ampliar o conhecimento nessa

área e subsidiar outras investigações. Ressalta-se, sobretudo, a contribuição da presente

pesquisa no desenvolvimento de políticas públicas específicas e eficazes para a promoção da

saúde dos trabalhadores particularmente na região nordeste, no tocante às suas especificidades

e as diferenças regionais.

Espera-se com isso que a informação seja utilizada adequadamente pelos gestores

públicos para que as ações e políticas de saúde e segurança no trabalho sejam mais eficientes,

preservando assim a vida e a saúde dos trabalhadores brasileiros, garantindo que o trabalho

seja fonte de dignidade para todos os envolvidos, os trabalhadores, suas famílias e a sociedade

como prerrogativa do trabalho digno e compatível com a vida.

REFERÊNCIAS

1. International Labour Organization (ILO). Labour Administration and Inspection

Programme: The prevention of occupational diseases. Geneva: ILO, 2013. Available in:

http://www.ilo.org/safework/info/publications/WCMS_208226/lang--en/index.htm

2. Takala J, Hamalainen P, Saarela KL, Yun LY, Manickam K, Jin TW, Heng P, Tjong C,

Kheng LG, Lim S, Lin GS. Global Estimates of the Burden of Injury and Illness at Work

in 2012. Journal of Occupational and Environmental Hygiene; 2014, 11: 326-37.

Available in: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4003859/

3. Ministério da Saúde (Brasil). Acompanhamento das Notificações de Agravos e Doenças

Relacionados ao Trabalho Notificados no SINAN. Informe de Saúde do Trabalhador:

Notificações de agravos relacionados ao trabalho de 2007 a 2014. Brasília: Ministério da

Saúde, 2014. Disponível em:

http://renastonline.ensp.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/recursos/boletim_ST-5.pdf.

Acesso em: 22/08/2015.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

90

4. Gómez MG. La sospecha de enfermedad profesional: Programas de vigilancia

epidemiológica Laboral. Med Segur Trab. 2014, (1): 157-63. Available in:

http://scielo.isciii.es/pdf/mesetra/v60s1/ponencia21.pdf

5. Subirán CG. El desafío de la gestión de las enfermedades profesionales. Solvitas

perambulum. Med Segur Trab (Internet). 2014, (1): 144-56. Available in:

http://scielo.isciii.es/pdf/mesetra/v60s1/ponencia20.pdf

6. Magajewski FRL, Conceição MBM, Silva M. Morbimortalidade por acidente de trabalho

em Santa Catarina: a evolução de 1996 a 2012. Informativo epidemiológico “barriga

verde”. 2014, 12(2): 1-9. Available in:

http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/phocadownload/Noticias/2014/boletim%20com%

20dados%20da%20sade%20do%20trabalhador.pdf

7. Ruiz-Figueroa MJ, Fernández-Cid M, Gamo-González MF, Delclós-Clanchet J.

Necesidades y actitudes de los facultativos de Atención Primaria frente a la gestión de las

enfermedades profesionales. Med Segur Trab. 2013, 59(233): 393-404. Available in:

http://scielo.isciii.es/pdf/mesetra/v59n233/original3.pdf

8. Sakurai H. Occupational safety and health in Japan: current situations and the future.

Industrial health. 2012, (50): 253-60. Available in:

http://www.jniosh.go.jp/en/indu_hel/doc/IH_50_4_253.pdf

9. Salminen S, Seo D. Future of occupational injuries. International Journal of Asian Social

Science. 2015; 5(6): 341-54. Available in: http://www.aessweb.com/pdf-files/ijass-2015-

5(6)-341-354.pdf

10. Pingle S. Occupational and health and safety in India: now and future. Industrial health.

2012, (50): 167-71. Available in:

http://www.oehni.in/files/OSH%20in%20India%20now%20and%20Future.pdf

11. Macdonald W, Driscoll T, Stuckey RWTH, Oakman J. Occupational and health and

safety in Australia. Industrial health. 2012, (50): 172-79. Available in:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22790480

12. Harrison J. Occupational and health and safety in the United Kingdon: securing future

workplace health and wellbeing. Industrial health. 2012, (50): 261-66. Available in:

http://www.jniosh.go.jp/en/indu_hel/doc/IH_50_4_261.pdf

13. United States Department of Labor. Incidence rates and numbers of nonfatal occupational

illnesses by major industry sector, category of illness, and ownership, 2011. Bureau of

Labor Statistics. 2012. Available in: www.bls.gov/news.release/osh.t06.htm. Access in:

27/09/2015.

14. Molen HF van der, Kuijer PPFM, Smits PBA, Schop A, Moeijes F, Spreeuwers D, Frings-

Dresen MHW. Annual incidence of occupational diseases in economic sectors in The

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

91

Netherlands. Occup Environ Med. 2012; 69:519-21. Available in: http://oem.bmj.com/.

Access in: July 1, 2015

15. Nilsing E, Söderberg E, Öberg B. Sickness certificates in Sweden: did the newguidelines

improve their quality? BMC Public Health 2012, 12:907. Available in:

http://www.biomedcentral.com/1471-2458/12/907. Access in: 10/09/2015

16. Money A, Carder M, Noone P, Bourke J, Haye J, Turner S, Agius R. Work-related ill-

health: Republic of Ireland, Northern Ireland, Great Britain 2005-2012. Occupational

Medicine. 2014, (16): 1-7. Available in: http://occmed.oxfordjournals.org/. Access in:

04/06/2015

17. Kang Seong-Kyu. The current status and the future of occupational and safety and health

in Korea. Industrial health. 2012, (50): 12-16. Available in:

http://www.jniosh.go.jp/en/indu_hel/doc/IH_50_1_12.pdf

18. Celik K et al. Occupational Injury Patterns of Turkey. World Journal of Emergency

Surgery. 2013, 8 (57): 1-6. Available in: http://www.wjes.org/content/8/1/5. Access in:

04/06/2015.

19. Campos-Serna J, Round EP, Artazcoz L, Benavides FG. Desigualdades de género en

salud laboral en Espana. Gac Sanit. 2012, 26(4):343-51. Available in:

http://www.scielosp.org/pdf/gs/v26n4/original7.pdf

20. Rubio JLL, Gil-Monte PR. Prevención de riesgos laborales y su relación con el género de

los trabajadores. Saúde Soc. 2013, 22(3): 727-35. Available in:

http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v22n3/07.pdf

21. Santana VS, Villaveces A, Bangdiwala SI, Runyan CW, Albuquerque-Oliveira PR.

Workdays Lost Due to Occupational Injuries among Young Workers in Brazil. American

Journal of Industrial Medicine. 2012,(55):917-25. Available in:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajim.22099/pdf

22. Gagliardi D, Marinaccio A, Valenti A, Iavicoli S. Occupational and safety and health in

Europe: Lessons from de past, challenges and opportunities for the future. Industrial

Saúde 2012, 50:7-11. Available in:

http://www.researchgate.net/publication/221825513_Occupational_safety_and_health_in_

Europe_lessons_from_the_past_challenges_and_opportunities_for_the_future

23. Hurtado DA, Sábado EL, Ertel KA, Buxton OM, Berkman LF. Racial disparities in job

strain among American and immigrant long-term care workers. Int Nurs Rev. 2012, 59

(2): 237-44. Available in: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1466-

7657.2011.00948.x/pdf

24. Cavalcante CAA, Santos RS, Cavalcante EFO, Martins RL, Silveira EA, Silva ET. Perfil

dos agravos relacionados ao trabalho notificados no Rio Grande do Norte, 2007 a

2009. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2014, 23(4): 741-52. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ress/v23n4/2237-9622-ress-23-04-00741.pdf.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

92

25. Silva AID, Machado JMH, Santos EGOB, Marziale MHP. Acidentes com material

biológico relacionados ao trabalho: análise de uma abordagem institucional. Rev Bras

Saude Ocup. 2011;36(124):265-73. Available in:

http://www.scielo.br/pdf/rbso/v36n124/a10v36n124.pdf

26. Souza NSS, Santana VS. Incidência de doenças musculoesqueléticas incapacitantes. Cad

Saude Publica. 2011;27(11):2124-34. Available in:

http://www.scielosp.org/pdf/csp/v27n11/06.pdf

27. International Labour Organization (ILO). World Social Protection Report 2014/15:

Building economic recovery, inclusive development and social justice. Geneva: ILO,

2014. Available in: http://www.ilo.org/global/research/global-reports/world-social-

security-report/2014/WCMS_245201/lang--en/index.htm

28. Alvares JK, Pinheiro TMM, Santos AF, Oliveira GL. Evaluation of the completeness of

compulsory work-related notifications recorded by county industrial center in Brazil, 2007

-2011. Rev Bras Epidemiol. 2015, 18(1): 123-36. Available in:

http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v18n1/en_1415-790X-rbepid-18-01-00123.pdf

29. Alfonso JH, Løvseth EK, Samant Y, Holm JØ. Work-related skin diseases in Norway may

be underreported: data from 2000 to 2013. Contact Dermatitis. 2015. Available in:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/cod.12355/pdf

30. Vasconcellos LCF, Minayo-Gomez C, Machado, JMH. The gap between what has been

defined and what is still pending in occupational health surveillance. 2014, 19(12):4617-

26. Available in: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n12/1413-8123-csc-19-12-04617.pdf

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

93

5.2 ARTIGO 2

ANÁLISE DOS ACIDENTES COM EXPOSIÇÃO AO MATERIAL BIOLÓGICO EM

TRABALHADORES*

ANALYSIS OF ACCIDENTS WITH EXPOSURE TO BIOLOGICAL MATERIAL IN

WORKERS

ANÁLISIS DE LOS ACCIDENTES CON EXPOSICIÓN A MATERIAL BIOLÓGICO EN

TRABAJADORES

Cleonice Andréa Alves Cavalcante2, Soraya Maria de Medeiros

2, Izaura Luzia Silvério Freire

3

RESUMO

Objetivo: Analisar os acidentes de trabalho com exposição ao material biológico notificados no estado do Rio

Grande do Norte de 2007 a 2014. Método: Estudo transversal, analítico, realizado com dados do Sistema

Nacional de Agravos de Notificação enviados ao Centro de Referência de Saúde do Trabalhador. Resultados:

Dentre os acidentes ocupacionais notificados no período estudado, destacam-se os acidentes com exposição a

materiais biológico (n=5.369) que corresponderam a 52,84%, com predomínio de casos entre os profissionais de

enfermagem (48,31%). A exposição percutânea foi a mais frequente (73,05%), a circunstância de ocorrência foi

o descarte inadequado de perfurocortantes (45,28%), a agulha o agente mais comum (66,62%) e o material

orgânico, o sangue (72,99%). A maioria dos trabalhadores acidentados era vacinada contra o vírus da hepatite B

(68,13%), porém sem informação quanto à avaliação da resposta. Quanto à evolução dos casos predominou a

situação ignorada, com perda de acompanhamento do seguimento clínico. Conclusão: O estudo revelou que o

acidente percutâneo esteve associado à presença de sangue, à administração de medicação e ao descarte e

reencape de agulha. Constatou-se a necessidade de melhoria na qualidade das informações, uma vez que os sub-

registros e inconsistências comprometem a análise de algumas variáveis e tornam as informações menos

fidedignas.

Descritores: Estudos Transversais; Acidentes de Trabalho; Saúde do Trabalhador; Notificação de Acidentes de

Trabalho; Exposição a Agentes Biológicos; Vigilância em Saúde do Trabalhador.

ABSTRACT

Objective: To analyze the occupational accidents with exposure to biological material reported in Rio Grande do

Norte state from 2007 to 2014. Method: cross-sectional analytical study conducted with the National System

data on communicable diseases sent to the Health Reference Center Worker. Results: Among the occupational

accidents reported during the study period, stand out accidents involving exposure to biological material (n =

5,369) corresponding to 52.84%, with a predominance of cases among nurses (48.31%). The percutaneous

exposure was the most common (73.05%), the occurrence of circumstance has improper disposal of sharps

*Artigo parte integrante da tese de doutorado intitulada “Magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no

Rio Grande do Norte” do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFRN.

1Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Pós-graduação em Enfermagem, Professora, Escola de Saúde,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected]. 2Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected] 3Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora, Escola de Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected].

Autor correspondente: Cleonice Andréa Alves Cavalcante Av. Gandhi, 1652, residencial Santa Sofia, Casa 13, Nova Parnamirim CEP: 59152-780, Parnamirim, Rio

Grande do Norte, RN, Brasil. E-mail: [email protected]

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

94

(45.28%), the needle most common agent (66.62%), and organic material, blood (72.99%). Most injured workers

were vaccinated against hepatitis B (68.13%), but no information as to the assessment of the response. As for the

evolution of the cases it predominated ignored the situation, with accompanying loss of follow-up. Conclusion:

The study revealed that the percutaneous accident was associated with the presence of blood, medication

management and disposal and needle recapping. It was noted the need for improvement in the quality of the

information, since underreporting and inconsistencies undertake the analysis of some variables and make the

least reliable information.

Descriptors: Cross-Sectional Studies; Accidents, Occupational; Occupational Health; Occupational Accidents

Registry; Exposure to Biological Agents; Surveillance of the Workers Health

INTRODUÇÃO

O acidente de trabalho é aquele que acontece no exercício da atividade laboral e traz

como consequência uma lesão corporal ou perturbação funcional, com redução ou perda da

capacidade para o trabalho, de forma temporária ou permanente, ou até mesmo a morte. O

acidente com exposição ao material biológico (AMB) encontra-se nessa categoria de agravo à

saúde do trabalhador e consta na lista de notificação compulsória do Sistema Nacional de

Agravos de Notificação (SINAN) desde 2004(1)

.

Os AMB ocorrem mais comumente entre os profissionais da área da saúde e envolvem

exposição dos trabalhadores ao sangue e a outros fluidos orgânicos potencialmente

contaminados. Consideram-se os ferimentos ocasionados por agulhas e/ou materiais

perfurocortantes extremamente perigosos pelo risco de transmitir mais de 20 tipos de

patógenos diferentes, sendo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o da hepatite B

(HBV) e o da hepatite C (HCV) os agentes infecciosos mais comumente envolvidos. Por isso,

esse tipo de acidente de trabalho deve ser tratado como caso de emergência médica, uma vez

que as intervenções para profilaxia da infecção pelo HIV e hepatite B necessitam ser iniciadas

logo após a ocorrência do acidente para sua maior eficácia, no sentido de diminuir o risco de

contaminação do trabalhador acidentado(2)

.

Estatísticas internacionais revelam que, mundialmente, cerca de 320.000 trabalhadores

morrem, a cada ano, por doenças transmissíveis causadas por exposições relacionadas ao

trabalho; entre essas se encontram as decorrentes de acidentes com material biológico. A

Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de dois milhões de trabalhadores de

saúde experimentam o evento de uma lesão percutânea com material biológico a cada ano e,

25% a 90% desses acidentes, no entanto, permanecem sem registro. Acidentes envolvendo

sangue e outros fluidos orgânicos correspondem às exposições mais frequentemente

relatadas(2-5)

. O Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) estima que a cada ano 385

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

95

mil acidentes percutâneos e outras lesões relacionadas com perfurocortantes têm vitimado os

profissionais de saúde nos Estados Unidos da América (EUA)(3)

.

A despeito de todos esses riscos, a falta de registro e notificação desses acidentes é uma

realidade vivenciada em muitos países do mundo, dentre eles, o Brasil. Nos EUA ocorrem,

anualmente, cerca de 50% de subnotificações de um conjunto estimado em aproximadamente

600 mil a 800 mil exposições ocupacionais(3)

. Essa realidade é constatada até mesmo em

países que apresentam um sistema de informação bem consolidado como a Espanha e a

Suíça(6,7)

.

Desse modo, os acidentes e as doenças relacionadas ao trabalho constituem-se em um

problema maior do que as estimativas sugerem. E, ainda que ocorram dificuldades

relacionados com a visibilidade, a notificação e o registro, as doenças e agravos ocupacionais

são reconhecidos mundialmente como importante problema de Saúde Pública(8)

.

O Ministério da Saúde têm destacado a importância epidemiológica desse agravo na

saúde do trabalhador, particularmente entre profissionais de saúde, uma vez que esses

trabalhadores são os mais vitimados(2)

. Em relação ao problema de subnotificação e sub-

registro, observa-se que após a inclusão desse agravo na lista de notificação compulsória em

2004, houve um aumento do número de notificação em todo o país. No entanto, os estudos

nacionais carecem de maiores informações relacionadas aos fatores associados ao AMB e a

necessidade de melhoria no acompanhamento e apoio ao trabalhador vitimado, especialmente

no que se refere às políticas públicas de saúde e segurança no trabalho.

Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi analisar os acidentes de trabalho com

exposição ao material biológico notificado ao Centro de Referência de Saúde do Trabalhador

(CEREST) do estado do Rio Grande do Norte no período de 2007 a 2014.

MÉTODO

Estudo transversal, analítico, desenvolvido junto ao CEREST, da Sub-Coordenadoria de

Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte

(SUVIGE/SESAP/RN), realizado a partir de todos os casos notificados e encerrados de

acidentes com material biológico, presentes no banco de dados do Sistema Nacional de

Agravos Notificáveis (SINAN), no período entre 2007 e 2014.

Para fins de investigação e notificação no SINAN, os acidentes de trabalho com

exposição a material biológico são aqueles que envolvem sangue e outros fluidos orgânicos,

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

96

ocorridos com todos os trabalhadores expostos aos materiais biológicos potencialmente

contaminados durante o desenvolvimento do seu exercício laboral(2)

.

A coleta de dados ocorreu no período de março a abril de 2015 no CEREST/RN,

incluindo todos os casos notificados de acidentes de trabalho com exposição ao material

biológico no Estado do RN. Os dados foram fornecidos pelo Centro de Referencia estadual

em Saúde do Trabalhador (CEREST) após consentimento escrito do gestor estadual por meio

da Carta de Anuência, termo de autorização da instituição e autorização pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte através do Parecer N°

014/2014, seguindo o que determina a Resolução Nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

As variáveis analisadas foram as sociodemográficas: idade, sexo, cor/raça,

escolaridade, ocupação e situação no mercado de trabalho. As relacionadas aos acidentes com

material biológico foram: tipo de material biológico, circunstância do acidente, agente causal,

paciente-fonte, objeto envolvido, atividade em execução, situação vacinal do acidentado, uso

de Equipamento de Proteção Individual (EPI), sorologia da fonte, emissão de Comunicação

de Acidente de Trabalho (CAT), tipo de exposição, soroconversão do acidentado, evolução do

caso e tempo de trabalho na ocupação.

Para a caracterização da amostra recorreu-se à estatística descritiva, com cálculo de

frequências absolutas e relativas. Utilizou-se o teste do Qui-quadrado/Fisher para as variáveis

independentes qualitativas como as variáveis sociodemográficas, as relacionadas à ocupação e

ao evento. Todos os testes levaram em consideração uma significância estatística de 95% e

valor de p<0,05. Para analisar a magnitude das associações, utilizou-se a Razão de

Prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança (95%). Todos os testes foram

realizados no software SPSS 20.0.

RESULTADOS

No Estado do Rio Grande do Norte, entre os anos 2007 e 2014, foram notificados pelo

SINAN, 10.161 casos de agravos e doenças relacionados ao trabalho. Desses, os agravos

configurados como acidentes representaram 90,33% dos casos (n=9.178), sendo os acidentes

com exposição ao material biológico os mais frequentes (n=5.369; 52,84%).

Em relação às variáveis sociodemográficas (Tabela 1), observa-se predominância de

casos no sexo feminino (74,99%), com média das idades de 34,85 anos (±10,73), entre pardos

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

97

(42,76%) e com o ensino médio (37,10%). Os profissionais de nível médio de enfermagem

foram os mais vitimados (48,31%). Quanto à inserção dos trabalhadores no mercado de

trabalho predominaram os casos ignorados (44,07%) seguidos dos servidores públicos

(18,14%). Em relação à situação vacinal dos trabalhadores, 68,13% relataram estar vacinados

contra o vírus da hepatite B (VHB), 14,51% não estavam vacinados e 12,87% dos casos

encontra-se em situação vacinal ignorada.

Tabela 1 – Caracterização sócio demográfica dos trabalhadores que sofreram acidentes com

exposição ao material biológico, entre os anos de 2007 a 2014, notificado pelo SINAN. Natal/RN,

Brasil, 2015.

CARACTERIZAÇÃO SÓCIODEMOGRÁFICA DOS PROFISSIONAIS n %

SEXO

Feminino 4026 74,99

Masculino 1176 21,90

COR/RAÇA

Parda 2296 42,76

Branca 1987 37,01

Preta 155 2,89

Amarela 29 0,54

Indígena 4 0,07

Ignorado 684 12,74

ESCOLARIDADE

Ensino Fundamental 247 4,60

Ensino Médio 1992 37,10

Ensino Superior 1362 25,37

Ignorado 1378 25,67

OCUPAÇÃO

Técnicos/Auxiliares de enfermagem 2594 48,31

Enfermeiros 345 6,43

Médicos 253 4,71 Cirurgiões dentistas/atendentes de consultório 180 3,35

Outros Profissionais 910 16,95

Ignorado 845 15,74

SITUAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

Empregado/carteira assinada Não 4171 77,69

Sim 803 14,96

Servidor público Não 3852 71,75

Sim 1122 20,90

Mercado Informal Não 4617 85,99

Sim 357 6,65

Outros Não 4648 86,57

Sim 326 6,07

TEMPO DE TRABALHO

Até 3 anos 1017 18,94

> de 3 anos 910 16,95

FONTE: SINAN/CEREST. Natal-RN, 2015.

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

98

Quanto à caracterização dos acidentes com exposição a material biológico, observa-se

na Tabela 2, que o tipo de material orgânico mais frequente foi o sangue (72,99%), a

circunstância mais comum foi o descarte inadequado (45,28%), o agente foi a agulha

(66,62%) e na maior parte das vezes o paciente fonte era conhecido (58,89%). O trabalhador

era vacinado contra hepatite B (68,13%), com anti-HIV ignorado (30,14%), HBsAg não

realizado (26,73%), anti-HBS ignorado (32,18%), anti-HBC ignorado (32,00%). Com relação

a emissão do CAT, predominou a situação ignorada (63,59%) e em apenas 14,23% dos

acidentes as mesmas foram emitidas.

Tabela 2 – Caracterização dos acidentes com exposição ao material biológico, entre os anos de

2007 a 2014, notificados pelo SINAN. Natal/RN, Brasil, 2015.

CARACTERIZAÇÃO DOS ACIDENTES COM MATERIAL

BIOLÓGICO

n %

TIPO DE MATERIAL ORGÂNICO

Sangue 3919 72,99

Fluidos com menor risco 506 9,42

CIRCUNSTÂNCIA DO ACIDENTE

Descarte inadequado 2431 45,28

Administração de medicação/punção 1294 24,10

Reencape de agulha 339 6,31

Outras 817 15,22

AGENTE

Agulha 3577 66,62

Outros perfuro cortante 472 8,79

Outros 753 14,02

Ignorado 348 6,48

PACIENTE FONTE CONHECIDO

Sim 3162 58,89

Não 1407 26,21

Ignorado 522 9,72

VACINA HEP B

Sim 3658 68,13

Não 779 14,51

Ignorado 691 12,87

ANTI-HIV

Ignorado 1618 30,14

Negativo 1286 23,95

Não realizado 1186 22,09

Inconclusivo 294 5,48

Positivo 17 0,32

HBSAG

Não realizado 1435 26,73

Negativo 873 16,26

Inconclusivo 266 4,95

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

99

Positivo 14 0,26

ANTI-HBS

Ignorado 1728 32,18

Não realizado 1626 30,28

Negativo 415 7,73

Inconclusivo 295 5,49

Positivo 232 4,32

ANTI-HCV

Ignorado 1718 32,00

Não realizado 1382 25,74

Negativo 911 16,97

Inconclusivo 288 5,36

Positivo 13 0,24

EMISSÃO CAT

Ignorado 3414 63,59

Sim 764 14,23

Não 754 14,04

Não se aplica 269 5,01

FONTE: SINAN/CEREST. Natal-RN, 2015.

Anti-HIV – Anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana

HBSAg – antígeno de superfície da hepatite B

Anti-HBS – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B

Anti-HCV – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite C

CAT – Comunicação de acidente de trabalho

Observa-se na Tabela 3 que ocorreu significância estatística entre as variáveis cor/raça

branco (p=0,005) e pardo (p=0,002), ensino fundamental (p<0,001), a ocupação de médico

(p=0,002) e enfermeiro (p<0,001), sorologia para anti-HIV (p<0,001), HBsAGg (p<0,001),

Anti-HBs (p<0,001), anti-HCV (p<0,001), paciente fonte conhecida (p<0,001), emissão de

CAT (p<0,001), tipo de material biológico sangue (p<0,001) e fluidos com menor risco

(p<0,001), circunstância do acidente de administração medicação / punção (p<0,001),

descarte (p<0,001) e reencape (p<0,001) com a variável acidente percutâneo.

Tabela 3. Comparação das proporções do tipo de acidente percutâneo com as variáveis contextuais dos acidentes

com material biológico em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

PERCUTÂNEO

Variáveis Categoria Sim (%) Não (%) RP IC 95% p

SEXO Feminino 3120(81,4%) 715(18,6%) 0,99 0,96-1,02 0,636

Masculino 910(82,0%) 200(18,0%)

COR/RAÇA

BRANCO

Sim 1555(81,9%) 343(18,1%) 0,96 0,94-0,99 0,005*

Não 2020(85,1%) 354(14,9%)

PARDO

Sim 1875(85,4%) 320(14,6%) 1,04 1,02-1,07 0,002*

Não 1700(81,8%) 377(18,2%)

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

100

ESCOLARIDADE

Ensino

Fundamental 214(89,5%) 25(10,5%) 1,00 - <0,001*

Ensino Médio 1646(86,5%) 256(13,5%) 1,03 0,99-1,08

Ensino Superior 1040(79,6%) 267(20,4%) 1,12 1,07-1,18

OCUPAÇÃO

MÉDICO Sim 179(75,5%) 58(24,5%) 0,91 0,84-0,98 0,002

Não 3201(83,2%) 645(16,8%)

DENTISTA Sim 151(85,8%) 25(14,2%) 1,04 0,98-1,10 0,279

Não 3229(82,6%) 678(17,4%)

ENFERMEIRO Sim 254(75,8%) 81(24,2%) 0,91 0,85-0,97 <0,001

Não 3126(83,4%) 622(16,6%)

TECNICO/AUX

ENF

Sim 2052(83,4%) 409(16,6%) 1,02 0,99-1,05 0,212

Não 1328(81,9%) 294(18,1%)

VACINA HEP B

Sim 2840(81,3%) 655(18,7%) 0,97 0,94-1,00 0,104

Não 640(83,8%) 124(16,2%)

ANTI_HIV

Positivo 12(80,0%) 3(20,0%) 1,00 - <0,001

Negativo 952(78,9%) 254(21,1%) 1,01 0,79-1,31

Inconclusivo 182(65,5%) 96(34,5%) 1,22 0,94-1,60

Não realizado 1012(87,2%) 149(12,8%) 0,92 1,71-1,18

HBSAG

Positivo 9(69,2%) 4(30,8%) 1,00 - <0,001

Negativo 660(80,1%) 164(19,9%) 0,86 0,60-1,24

Inconclusivo 165(66,0%) 85(34,0%) 1,05 0,72-1,52

Não realizado 1188(85,0%) 209(15,0%) 0,81 0,56-1,17

ANTI_HBS

Positivo 162(75,7%) 52(24,3%) 1,00 - <0,001

Negativo 308(79,2%) 81(20,8%) 0,96 0,87-1,05

Inconclusivo 186(66,9%) 92(33,1%) 1,13 1,01-1,26

Não realizado 1343(84,9%) 238(15,1%) 0,89 0,82-0,96

ANTI_HCV

Positivo 9(81,8%) 2(18,2%) 1,00 - <0,001

Negativo 691(80,7%) 165(19,3%) 1,02 0,76-1,34

Inconclusivo 180(66,2%) 92(33,8%) 1,24 0,92-1,65

Não realizado 1143(84,6%) 208(15,4%) 0,97 0,73-1,28

PACIENTE

FONTE

CONHECIDA

Não 1181(86,0%) 193(14,0%) 1,08 1,05-1,11 <0,001

Sim 2402(79,7%) 610(20,3%)

CAT Não 578(79,5%) 149(20,5%) 1,12 1,06-1,19 <0,001

Sim 498(70,7%) 206(29,3%)

SITUAÇÃO MERCADO DE TRABALHO

Empregado cart

assinada

Sim 618(82,6%) 130(17,4%) 1,02 0,98-1,06 0,274

Não 3240(80,9%) 764(19,1%)

Servidor público Sim 855(78,7%) 231(21,3%) 0,96 0,93-0,99 0,018

Não 3003(81,9%) 663(18,1%)

Mercado Informal Sim 260(79,0%) 69(21,0%) 0,97 0,92-1,03 0,299

Não 3598(81,3%) 825(18,7%)

Tempo de Trabalho

em anos CAT

Até 3 anos 736(79,3%) 192(20,7%) 0,98 0,93-1,02 0,340

>3 anos 679(81,1%) 158(18,9%)

TIPO DE MATERIAL BIOLÓGICO

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

101

Sangue Sim 3256(85,6%) 549(14,4%) 1,27 1,22-1,33 <0,001

Não 729(67,1%) 357(32,9%)

Fluidos com menor

risco

Sim 263(55,8%) 208(44,2%) 0,66 0,61-0,72 <0,001

Não 3722(84,2%) 698(15,8%)

Agente novo

Agulhas 3128(89,6%) 364(10,4%) 1,00 - <0,001

Outros perfuro

cortantes 385(84,2%) 72(15,8%) 1,06 1,02-1,11

Outros 303(44,8%) 374(55,2%) 2,00 1,84-2,18

CIRCUNSTÂNCIA DO ACIDENTE

ADMINISTRAÇÃO

MEDICAÇÃO/PUN

ÇÃO

Sim 1067(85,0%) 188(15,0%) 1,06 1,03-1,09 <0,001

Não 2942(80,3%) 723(19,7%)

DESCARTE Sim 1976(84,4%) 365(15,6%) 1,07 1,04-1,10 <0,001

Não 2033(78,8%) 546(21,2%)

REENCAPE Sim 289(88,4%) 38(11,6%) 1,09 1,05-1,14 0,001

Não 3720(81,0%) 873(19,0%)

FONTE: SINAN/CEREST. Natal-RN, 2015. IC95%: intervalo de 95% de confiança.

* Testes qui-quadrado e Fisher

Anti-HIV – Anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana

HBSAg – antígeno de superfície da hepatite B

Anti-HBS – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B

Anti-HCV – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite C

CAT – Comunicação de acidente de trabalho

Em relação à evolução dos casos de AMB no período analisado, observa-se no Gráfico

1 que mais da metade foi considerado ignorado (55,62%), seguido de alta por paciente-fonte

negativo (17,73%), e alta sem conversão sorológica (7,79%).

Figura 1 - Distribuição da frequência relacionada à evolução dos casos de acidentes com exposição ao

material biológico em trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

102

Com relação ao uso de EPI, observa-se na Figura 2 que a luva foi o equipamento de

proteção individual mais relatado (54,24%), seguido do uso de máscara (24,46%) e do avental

(20,69%).

Figura 2 - Distribuição da frequência do uso de equipamentos de proteção individual durante a

ocorrência do acidente com exposição a material biológico no Estado do Rio Grande do Norte.

Brasil, 2007 a 2014.

DISCUSSÃO

Observa-se que no RN os acidentes com exposição ao material biológico (AMB)

configuram-se entre os mais notificados. Resultados semelhantes foram evidenciados em

outras pesquisas realizadas no Brasil(9-11)

e em outros países como a Suíça(7)

, China e Índia(8)

.

No entanto, em nível mundial os acidentes têm diminuído consideravelmente em relação as

doenças, principalmente em países como República Checa, República Eslovaca, Estados

Unidos, Canadá, Austrália e em alguns da União Europeia(4,5,8)

.

A população mais vitimada por AMB é formada por pessoas do sexo feminino, com

idade média de 34,85 anos (±10,73) e aproximadamente 12 anos ou mais de escolaridade.

Outros estudos também evidenciaram esses achados(7,10-14)

. Nesta pesquisa constatou-se que

quanto maior o nível de escolaridade dos trabalhadores maior a prevalência de ter acidente

percutâneo (RP=1,12; p<0,001).

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

103

O fato dos profissionais da saúde serem os mais vitimados e, dentre estes,

predominantemente os trabalhadores de nível médio de enfermagem (48,31%), mostra que se

trata de uma realidade que se configura no cenário brasileiro(9-15)

. Isto ocorre visto que os

profissionais de enfermagem, sobretudo os de nível médio, são reconhecidos como maior

força de trabalho e apresentam maior representatividade em instituições de saúde do Brasil.

Esses trabalhadores ao realizarem sua atividade laboral estão diuturnamente em contato

direto e contínuo com os pacientes, além de serem responsáveis por grande parte dos

procedimentos considerados de maior risco para AMB, tais como a administração de

medicamentos, realização de curativos, entre outros procedimentos invasivos. Por outro lado,

estudos realizados na Suíça(8)

, Polônia(9)

, Portugal(16)

e China(17)

, constataram que os

enfermeiros apresentaram maior incidência de AMB por apresentarem diferenças no processo

de trabalho, pois no contexto desses países são esses profissionais que realizam os

procedimentos invasivos e os cuidados diretos aos pacientes de forma ininterrupta, deixando-

os ainda mais expostos ao risco laboral.

Os fatores de risco que predispõem os profissionais de enfermagem ao AMB são

conhecidos como condicionantes individuais e institucionais. Os condicionantes individuais

dizem respeito às longas jornadas de trabalho ocasionadas pelos múltiplos empregos, como

também o acúmulo de atividades no lar e no trabalho causando muitas vezes sobrecarga,

estresse, cansaço e fadiga, além dos comportamentos de risco como a não adesão ao uso dos

equipamentos de proteção individual, o reencape das agulhas contaminadas e o descarte

inadequado do material contaminado(10,13-16)

.

Dentre os condicionantes institucionais, destacam-se aspectos como a falta de

capacitação e educação permanente dos profissionais, a dinâmica e o ritmo de trabalho, a falta

de recursos humanos, a inadequação de alguns equipamentos de segurança, a ausência de

avaliação e gerenciamento dos riscos, entre outros (10,16)

.

Apesar da maioria dos profissionais afirmar estar com o esquema completo da vacina

anti-hepatite B, pode-se considerar que essa informação autorreferida pode ter sido

comprometida pelo viés de memória e, portanto, é importante a realização do teste Anti-HBs

para verificação da resposta vacinal nos trabalhadores. Este teste é importante, pois muitos

trabalhadores, apesar de vacinados, não estão protegidos contra a infecção pelo HBV,

provavelmente por não terem completado o esquema vacinal ou por não apresentarem

resposta vacinal adequada. Dessa forma, o referido exame é útil ainda para certificar-se da

imunidade protetora e descartar-se a necessidade de realização de profilaxia pós-exposição

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

104

para hepatite B, conforme orienta o Centro de Controle de Doenças(3)

, o Ministério da Saúde

do Brasil(2)

e a International Labour Organization(5)

.

Considera-se inaceitável a situação identificada nos achados desta pesquisa no que se

refere ao número de casos de trabalhadores não vacinados (14,51%) ou em situação ignorada

(12,87%), tendo em vista que no Brasil a vacinação é ofertada pelo serviço público desde o

ano de 1996 com indicação especial aos trabalhadores da saúde e, ainda, a relevância

epidemiológica da Hepatite B como doença ocupacional entre os profissionais de saúde e a

possibilidade da não conversão (Anti-HBs>10mUI/mL) com apenas três doses(2,3,14)

.

Neste estudo, mais de 60% dos trabalhadores que sofreram AMB não fizeram o teste

Anti-HBs ou encontravam-se em situação ignorada. Tal fato demonstra que, mesmo entre os

vacinados, observa-se ausência de acompanhamento dos acidentados ou abandono da

continuidade do seguimento da profilaxia pós-exposição (PPP) conforme orientação de

organismos nacionais e internacionais(2,3,5)

. Os casos inconclusivos apresentaram significância

estatística (p<0,001) com 13% de probabilidade maior de frequência.

Estudos nacionais e internacionais(2,3,4,14,18,19)

confirmam a importância e necessidade da

imunoprevenção por meio da vacina, principalmente em trabalhadores com elevado risco de

se infectarem com o HBV após o AMB, como os que trabalham na saúde. Sua importância

reside no fato de que a transmissão do HBV após exposição ao sangue ou aos líquidos

corporais representa um risco importante para os profissionais que varia de 6% a 30%, ou

seja, o risco de transmissão desse vírus é de 3 a 5 vezes maior nesses trabalhadores do que na

comunidade.

Em relação à emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), o excessivo

número de casos ignorados (63,59%) demonstra um sub-registro importante desta variável. O

AMB é caracterizado como um acidente de trabalho de notificação compulsória, portanto o

empregador tem obrigação de emitir a CAT. Havendo falta de comunicação pelo empregador,

podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o

médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública(20-21)

. Outros estudos apresentaram

resultados similares(10,14,22)

.

Destaca-se que o fato do AMB ser notificado pelo SINAN, a emissão da CAT ainda se

faz necessária, por questões legais e de cobertura da seguridade social ao trabalhador. Vários

motivos são elencados para ocorrência de subregistro ou a não emissão da CAT, desde o

desconhecimento da obrigatoriedade desse procedimento, passando pela não caracterização

do episódio como acidente, até o medo do trabalhador acidentado em realizá-la e sofrer

sanções por parte do empregador(10)

. Além disso, a ausência da CAT descaracteriza a

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

105

possibilidade de associar a exposição à probabilidade do desenvolvimento da doença

ocupacional, dificultando o estabelecimento do nexo causal em caso de infecção do

trabalhador acidentado e a adoção de ações de prevenção e proteção para os trabalhadores nos

ambientes de trabalho(22)

.

A exposição percutânea foi a mais frequentemente relatada (73,05%), sendo a principal

causa de AMB o descarte inadequado de material perfurocortante (45,28%) ocasionado em

sua maioria por agulha (66,62%) por ocasião da administração de medicação injetável ou

punção venosa (24,10%). Dessa forma, depreende-se que as circunstâncias e a maior

frequência de manuseio deste material por profissionais da saúde contribuem para aumentar a

incidência de acidentes e a consequente exposição aos materiais orgânicos, principalmente o

sangue. Além disso, esses resultados são corroborados por achados na literatura nacional e

internacional(10-12,14-18, 22-25)

.

Neste estudo o acidente percutâneo está associado à administração de medicação e

punção venosa (RP=1,06/p<0,001), ao descarte inadequado de material perfurocortante

(RP=1,07/p<0,001) e ao reencape de agulhas (RP=1,09/p=0,001).

O sangue foi o material orgânico mais presente nos AMB e foi significativamente

associado ao acidente percutâneo com uma prevalência 27% maior nesse tipo de acidente.

Esses achados têm sido relatados frequentemente em estudos realizados sobre essa temática,

sendo a presença do sangue responsável por um risco maior de gerar infecções nos

trabalhadores expostos(11,14, 18, 21,24,25)

.

A exposição ocupacional ao sangue, em geral, resulta de lesão percutânea por picada de

agulha ou outros tipos de exposição (pele íntegra ou não íntegra, mucosas). O ferimento por

picada de agulha é considerado a forma mais comum de exposição e a que apresenta maior

risco de infecção, sendo suas causas mais frequentes o reencapamento de agulha e a

eliminação inapropriada dos resíduos perfurocortantes(2-3)

.

A transmissão de diversos tipos de agentes virais e bacterianos após acidente com

material perfurocortante tem sido evidenciada em diversos estudos, sendo o sangue humano

uma das principais fontes de contágio. O HIV-1, o HBV e o HCV são os agentes mais

frequentemente envolvidos nessas infecções ocupacionais. A prevenção da exposição ao

sangue ou a outros materiais biológicos é a principal medida para que não ocorra infecção por

patógenos de transmissão sanguínea nos serviços de saúde. Precauções básicas ou precauções

padrão são normatizações que visam reduzir a exposição aos materiais biológicos, e essas

medidas devem ser utilizadas na manipulação de artigos médico-hospitalares e na assistência

a todos os pacientes. Além disso, as condutas apropriadas a serem adotadas após a exposição

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

106

constituem, igualmente, importante componente de segurança no ambiente de trabalho para o

trabalhador e para o paciente(4,11,18,25,26)

.

O descarte inadequado de materiais perfurocortantes demonstra a não adesão às

precauções padrão, pois, muitas vezes, os recipientes de descarte estão excessivamente cheios

ou mesmo distantes do local do procedimento, além da presença de agulhas e outros

perfurocortantes fora dos recipientes recomendados como medida de precaução

padrão(10,14,18)

. Constata-se, com frequência, a não implementação das medidas de

biossegurança tanto pelos gestores como pelos trabalhadores dos serviços de saúde, o que se

configura explícito descumprimento à legislação relacionada à promoção da saúde e

segurança do trabalhador. Essa postura é sustentada por uma prática fortemente curativa em

detrimento das ações de promoção e prevenção na área da saúde, desde a formação do

trabalhador até o exercício profissional(10,11,26)

.

Estudo desenvolvido com profissionais da saúde de hospitais na China revelou um

elevado nível de exposição ocupacional ao sangue e uma baixa adesão às precauções padrão

(PP) entre os profissionais de saúde investigados(26)

.

É importante destacar a importância de identificar tanto as circunstâncias do AMB,

como o tipo de material biológico envolvido. Acidentes de trabalho envolvendo sangue e

outros fluidos potencialmente contaminados devem ser tratados como casos de emergência,

uma vez que as intervenções para profilaxia pós-exposição para infecções por HIV e HBV,

quando indicadas, necessitam ser iniciadas logo após a ocorrência dos mesmos, para a sua

maior eficácia(2,3,10)

.

Em relação à evolução dos casos de AMB, o grande número de casos ignorados

(55,62%) representa um achado importante que demonstra a perda do acompanhamento dos

profissionais acidentados por parte da Vigilância em Saúde e revela um desconhecimento

sobre a conduta recomendada na profilaxia pós-exposição e o seguimento clínico desses

trabalhadores. Este resultado aponta, ainda, uma limitação no SINAN, uma vez que este

sistema não possibilita que se avalie a conduta pós-acidente e o desfecho em relação ao

profissional vitimado, dificultando a análise da problemática e impedindo a inclusão das

variáveis mencionadas no estudo. Outras investigações nacionais e internacionais

encontraram resultados semelhantes(10-14,16,19)

.

No que se refere às condutas frente ao AMB com exposição de risco, constata-se por

meio dos achados que o somatório entre os campos sorologia não realizada, informação

ignorada e inconclusivo, os resultados dos exames dos profissionais foram respectivamente

Anti-HIV: 57,71%, HBsAg: 31,68%, Anti-HBs: 67,95% e Anti-HCV: 63,10% dos casos. Essa

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

107

situação configura uma inadequação às normas de profilaxia pós-exposição propostas pelo

Ministério da Saúde(2)

e por organismos internacionais como o Centro de Controle de

Doenças(3)

e a International Labour Organization(5)

. Constata-se, mais uma vez, a ausência de

uma conduta adequada quanto à profilaxia pós-exposição, à perda de acompanhamento do

profissional exposto e ao seguimento clínico deste trabalhador.

O profissional exposto deve ser submetido à sorologia para HIV, hepatites C e B, para

verificar sua condição sorológica no momento do acidente, sendo que para a hepatite B os três

marcadores são indispensáveis (HBsAg, Anti-HBc e Anti-HBs). O paciente-fonte, na maioria

dos casos identificados, apresentou os resultados dos exames negativos, seguidos de

inconclusivos ou não realizados. Os resultados dos exames do trabalhador exposto e os do

paciente-fonte irão determinar o fluxo do seguimento e acompanhamento do profissional

vítima do AMB, portanto são fundamentais na definição das condutas frente ao acidente

ocupacional(2,3,5,12,23)

.

Ressalta-se que mesmo com as sorologias negativas, no caso do paciente-fonte, existe o

risco de transmissão do HIV, HCV e HBV, caso o mesmo esteja no período de janela

imunológica. Sendo assim, destaca-se a importância do seguimento clínico até a alta médica,

considerando-se as características de cada acidente(15)

.

A despeito da limitação do SINAN, são inegáveis os avanços e melhorias que a sua

implantação trouxe enquanto instrumento de notificação dos casos de AMB. No Brasil e no

RN observa-se um nítido impacto no número de notificação por esses agravos desde o ano de

2007. Estudo multicêntrico realizado no Reino Unido(27)

evidenciou que o sistema eletrônico

de dados é a melhor forma de registro de acidentes e uma das maneiras de minimizar as

possíveis barreiras envolvidas na notificação.

Contudo, destaca-se ainda a necessidade urgente de melhorias na sensibilização e

adesão dos gestores e profissionais de saúde às normas e protocolos de biossegurança como

parte de uma cultura de promoção da saúde e prevenção de acidentes nas instituições de

saúde. Para isso, a política de segurança e de prevenção de acidentes ocupacionais deve

assumir uma posição de destaque na formação acadêmica dos profissionais das áreas da saúde

e que seja implantado um processo de educação permanente durante o exercício profissional,

viabilizando a necessária atualização contínua desses trabalhadores(28)

.

Entretanto, somente a realização de treinamento informativo não é suficiente para

assegurar a mudança da realidade e da cultura de segurança. É necessária, ainda, a formação

de grupos multiprofissionais para discussão das dificuldades entre os trabalhadores e os

gestores dos serviços de saúde no sentido de adotar as recomendações propostas nos

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

108

protocolos e normas de biossegurança, além de buscar estratégias e ações conjuntas para

melhoria das condições de trabalho, em especial direcionadas à organização do processo de

trabalho, oferta e treinamento no uso de materiais e equipamentos com dispositivo de

segurança, assim como sensibilização para a mudança de comportamento tanto dos

trabalhadores como dos gestores, uma vez que ações isoladas são consideradas ineficazes para

a minimização de tais agravos(10,28)

.

Diante da magnitude da ocorrência do AMB entre os trabalhadores, destacam-se ainda

as ferramentas atuais de proteção ao profissional contidas na Norma Regulamentadora 32,

Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde, e sua recomendação no tocante ao

Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes(29)

.

Contudo, a subnotificação relacionada aos AMB ainda é um grave problema no Brasil

que dificulta as atividades de prevenção e controle desse agravo de inquestionável

importância epidemiológica e de grande impacto no processo saúde/doença do trabalhador,

em especial, os da saúde(5,10-14,19, 22-23)

. Além disso, o processo de notificação também precisa

avançar na melhoria da qualidade da informação, diminuindo as informações ignoradas ou

não registradas, permitindo uma análise mais consistente e que permita a adoção de

estratégias de prevenção mais efetivas em todos os níveis do sistema(12,14)

.

A análise e divulgação dessas informações contribuem para a adoção de medidas de

controle, avaliação do cumprimento das recomendações nacionais e internacionais do controle

e prevenção de AMB e possibilita a avaliação da eficácia, efetividade e eficiência das ações

empregadas em cada uma das instituições de saúde(14)

.

As limitações mais importantes deste estudo estão relacionadas às deficiências

encontradas no SINAN ocasionadas por problemas na qualidade do registro no processo de

notificação, uma vez que muitas informações da ficha de notificação e investigação eram

ignoradas e/ou não preenchidas, o que fragiliza a caracterização epidemiológica da situação

dos AMB no estado do RN. Essa situação compromete o planejamento e organização das

atividades de promoção, prevenção e acompanhamento dos profissionais acidentados, uma

vez que a ausência de informação não permite conhecer com fidedignidade essa realidade.

Portanto, sugere-se que o instrumento de notificação do AMB seja revisto e aprimorado

com mudanças ou acréscimos de variáveis a partir da identificação de fatores que

comprometem o preenchimento (dados em branco ou ignorado), além da categorização das

variáveis como obrigatória nos campos nos quais as variáveis sejam prioritárias para a

formulação de indicadores epidemiológicos e de análise da situação de saúde do trabalhador,

diagnósticos essenciais para o planejamento da Saúde e segurança no trabalho.

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

109

Outrossim, considera-se como revisão urgente no instrumento de notificação, a

definição do tipo de caso de acidente de trabalho com exposição a material biológico na Ficha

de Notificação e Investigação (FIN), pois atualmente na sua definição do AMB consta uma

grave inconsistência quando afirma que a notificação deva ser em caso de acidentes entre os

profissionais de saúde enquanto no protocolo de Exposição ao material biológico do

Ministério da Saúde(2)

afirma-se que a notificação deve ser feita para os casos ocorridos com

“Todos os profissionais e trabalhadores que atuam, direta ou indiretamente, em atividades

onde há risco de exposição ao sangue e a outros materiais biológicos”. Assim, essa

inconsistência pode estar contribuindo para a subnotificação e o sub-registro desse evento nos

serviços de saúde que o notifica.

A despeito das limitações do SINAN, depreende-se que tal fato demonstra que as ações

de promoção e prevenção dos AMB ainda não estão acompanhando as mudanças no mundo

do trabalho atual e necessitam de importantes melhorias e avanços, especialmente no Brasil,

considerando que essa realidade tende a ser mais grave em razão da subnotificação e do sub-

registro de dados.

Ressalta-se, portanto a importância do presente estudo contribuição ao conhecimento na

área da saúde e, especificamente da enfermagem como a mais afetada pelos eventos

acidentários, considerando a necessidade de fortalecimento da Política Nacional de Educação

permanente entre os trabalhadores da Saúde. Além disso, pode subsidiar as políticas de

biossegurança em relação aos trabalhadores de saúde e, consequentemente na segurança do

paciente.

CONCLUSÃO

O AMB é o principal agravo que acomete o trabalhador no RN notificado pelo

SINAN/CEREST, no período de 2007 a 2014. O maior número de casos notificados ocorreu

entre os trabalhadores da saúde, com destaque para os profissionais de nível médio de

enfermagem, categoria que historicamente tem sido acometida por esse tipo de acidente, em

virtude das características do trabalho que realiza que os expõe a maiores riscos com material

biológico, e ainda, pelo grande contingente desses trabalhadores nas instituições de saúde.

Há sub-registro dos dados de AMB, uma vez que no SINAN foram encontrados grande

número de dados ignorados e/ou em branco. Tal fato reforça a necessidade de

aperfeiçoamento do processo de investigação e registro de acidentes, visto que os sub-

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

110

registros e as inconsistências tornam esse sistema menos fidedigno na caracterização do perfil

epidemiológico desses agravos.

Observa-se uma importante perda de acompanhamento do profissional acidentado, já

que não se faz registro de soroconversão ou não do profissional pós-exposição biológica.

Assim, perde-se o acompanhamento do trabalhador vitimado e o desfecho do acidente,

objetivo precípuo do cuidado e recuperação do trabalhador.

Esta pesquisa contribui com à Vigilância em Saúde do Trabalhador por revelar a

realidade dos AMB no RN, e os achados podem subsidiar ações e planejamento em saúde e

segurança do trabalho no estado. Contribui, também, de maneira singular para a área da

saúde, em especial para a enfermagem, pois possibilitará a tomada de decisão na perspectiva

de mudanças e melhorias nas práticas profissionais no que se refere aos riscos e à adesão às

medidas de biossegurança, a fim de tornar as ações e intervenções em saúde mais seguras

tanto para os profissionais como para os usuários dos serviços de saúde.

REFERÊNCIAS

1. Ministério da Saúde (Brasil). Glossário temático da saúde do trabalhador do Mercosul:

Comissão Intergovernamental de Saúde Ambiental e do Trabalhador (Cisat). Brasília:

Ministério da Saúde, 2014. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/glossario_tematico_saude_trabalhador_mercosul.p

df

2. Ministério da Saúde (Brasil). Exposição a materiais biológicos. Brasília: Editora do

Ministério da Saúde, 2011. Disponível em:

http://www.saude.rs.gov.br/upload/1336999794_Protocolo%20de%20Exposic%C3%A3o%20

a%20Materiais%20Biol%C3%B3gicos.pdf

3. Centers for disease control and prevention (CDC). Guidelines for the management of

occupational exposures to HBV, HCV, and HIV and recommendations for post-exposure

prophylaxis. Atlanta: Centers for disease control and prevention, 2010. Available in:

http://nccc.ucsf.edu/wp-

content/uploads/2014/03/Updated_USPHS_Guidelines_Mgmt_Occupational_Exposures_HIV

_Recommendations_PEP.pdf

4. Buchancová Jana et al. Occupational viral hepatitis in the Slovak and the Czech Republic.

Cent Eur J Public Health 2013; 21 (2): 92-97. Available in:

http://apps.szu.cz/svi/cejph/archiv/2013-2-05-full.pdf

5. International Labour Organization (ILO). Labour Administration and Inspection

Programme: The prevention of occupational diseases. Geneva: ILO, 2013. Available in:

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

111

http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---

safework/documents/publication/wcms_208226.pdf

6. Ruiz-Figueroa MJ, Fernández-Cid M, Gamo-González MF, Delclós-Clanchet J.

Necesidades y actitudes de los facultativos de Atención Primaria frente a la gestión de las

enfermedades profesionales. Med Segur Trab. 2013; 59(233): 393-404. Available in:

http://scielo.isciii.es/pdf/mesetra/v59n233/original3.pdf

7. Voidea C, Darlinga KEA, Kenfak-Foguenaa A, Erarda V, Cavassinia M, Lazor-Blanchet C.

Underreporting of needlestick and sharps injuries among healthcare workers in a Swiss

University Hospital. Swiss Med Wkly. 2012;142:w13523. Available in:

file:///C:/Users/een/Downloads/smw-2012-13523%20(2).pdf

8. Takala J, Hamalainen P, Saarela KL, Yun LY, Manickam K, Jin TW, Heng P, Tjong C,

Kheng LG, Lim S, Lin GS. Global Estimates of the Burden of Injury and Illness at Work in

2012. Journal of Occupational and Environmental Hygiene; 2014, 11: 326-37. Available in:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4003859/

9. Rozanska A, Szczypta A, Baran M, Synowiec E, Bulanda M, Wałaszek M. Healthcare

workers’ occupational exposure to bloodborne pathogens: a 5-year observation in selected

hospitals of the Małopolska province. Int J Occup Med Environ Health. 2014; 27(5):747-56.

Available in: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25209317

10. Vieira M, Padilha MICS, Pinheiro RDC. Analysis of accidents with organic material in

health workers. Rev Latino Am Enfermagem. 2011;19(2):332-9. Available in:

www.eerp.usp.br/rlae

11. Chiodi MB, Marziale MHP, Mondadori RM, Robazzi MLCC. Acidentes registrados no

centro de referência em saúde do trabalhador de Ribeirão Preto, São Paulo. Rev Gaucha

Enferm. 2010 jun;31(2):211-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v31n2/02.pdf

12. São Paulo (Estado). Vigilância epidemiológica dos acidentes ocupacionais com exposição

a fluidos biológicos no Estado de São Paulo-2007 a 2010. BEPA [Internet]. 2011 [citado 2014

maio 15];8(94). Disponível em:

http://www.cve.saude.sp.gov.br/bepa/txt/bepa94_acid_biologico.htm

13. Pimenta FR, Ferreira MD, Gir E, Miyeko H, Canini SRMS. Care and specialized clinical

follow-up of nursing professionals who have been victims of accidents with biological

material. Rev Esc Enferm USP[online]. 2013;47(1):198-204. Available in:

http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n1/en_a25v47n1.pdf

14. Julio RS, Filardi MBS, Marziale MHP. Acidentes de trabalho com material biológico

ocorridos em municípios de Minas Gerais. Rev. bras. enferm. [online]. 2014; 67(1):119-26.

Available in: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n1/0034-7167-reben-67-01-0119.pdf

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

112

15. Almeida MCM, Canini SRMS, Reis RK, Toffano SEM, Pereira FMV, Gir E. Clinical

treatment adherence of health care workers and students exposed to potentially infectious

biological materia. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(2):261-66. Available in:

http://www.revistas.usp.br/reeusp/article/view/103195/101599

16. Martins MDS, Silva NAP, Correia TIG. Accidents at work and its impact on a hospital in

Northern Portugal. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. 2012; 20(2): 217-25.

Available in: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n2/02.pdf Acesso em: 14/11/2015.

17. Zhang X, Gu Y, Cui M, Stallones L, Xiang H. Needlestick and Sharps Injuries Among

Nurses at a Teaching Hospital in China.Workplace Health Saf May. 2015; 63: 219-25.

Available in: http://whs.sagepub.com/content/63/5/219.full.pdf+html

18. Goniewicz M, Włoszczak-Szubzda A, Niemcewicz M, Witt M, Marciniak-Niemcewicz A,

Jarosz MJ. Injuries caused by sharp instruments among healthcare workers – international and

Polish perspectives. Ann Agric Environ Med. 2012; 19(3): 523-27. Available in:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23020050

19. Cavalcante CAA, Cavalcante EFO, Macêdo MLAF, Cavalcante ES, Medeiros SM.

Acidentes com material biológico em trabalhadores. Rev Rene. 2013; 14(5): 971-9.

Disponível em: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/view/1267/pdf

20. Decreto-Lei n. 5452, de 1 de maio de 1943 (Brasil). Aprova a Consolidação das Leis do

Trabalho. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 12 maio 2012.

21. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 (Brasil). Dispõe sobre os Planos de Benefícios da

Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 25 de julho

de 1991. 1991b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>.

Acesso em 18: mar. 2011.

22. Oliveira AC, PMHR Siqueira. Condutas pós-acidente ocupacional por exposição a

material biológico entre profissionais de serviços de urgência. Rev enferm UERJ. 2014;

22(1):116-22. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v22n1/v22n1a18.pdf

23. Paiva MHRS, Oliveira AC. Fatores determinantes e condutas pós-acidente com material

biológico entre profissionais do atendimento pré-hospitalar. Rev Bras Enferm. 2011;

64(2):268-73. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n2/a08v64n2.pdf

24. Marziale MHP, Robazzi MLCC, Cenzi CM, Santos HEC et al. Organizational influence

on the occurrence of work accidents involving exposure to biological material. Rev. Latino-

Am. Enfermagem [online]. 2013; 21(n.spe): 199-206. Available in:

http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21nspe/25.pdf

25. Rybacki M, Piekarska A, Wiszniewska M, Walusiak-Skorupa J. Work safety among

Polish health care workers in respect of exposure to bloodborne pathogens. Med Pr. 2013;

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

113

64(1):1–10. Available in: http://www.imp.lodz.pl/upload/oficyna/artykuly/pdf/full/---

2013_1_Rybacki.pdf

26. Liu Xiao-na, Sun Xin-ying, Genugten L, Shi Yu-hui, WangYan-ling, Niu Wen-yi,

Richardus JH. Occupational exposure to blood and compliance with standard precautions

among health care workers in Beijing, China. American Journal of Infection Control. 2014;

42:e37-e38. Available in:

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0196655313014211

27. Winchester SA, Tomkins A, Cliffe S, Batty L, Ncube F, Zuckerman M. Healthcare

workersł perceptions of occupational exposure to blood-borne viruses and reporting barriers:

A questionnaire-based study. J Hosp Infect. 2012; 82:36-9. Available in:

http://www.journalofhospitalinfection.com/article/S0195-6701(12)00170-3/pdf

28. Martins RJ, Moimaz SAS, Sundefeld MLMM, Garbin AJÍ, Gonçalves PRV, Garbin CAS.

Adherence to standard precautions from the standpoint of the Health Belief Model: the

practice of recapping needles. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2015; 20(1):193-98.

Available in: http://www.scielo.br/pdf/csc/v20n1/1413-8123-csc-20-01-00193.pdf

29. Ministério do Trabalho e Emprego (Brasil). Portaria GM n.º 1.748, de 30 de agosto de

2011. Altera a Norma Regulamentadora 32. Segurança e Saúde no Trabalho em

Estabelecimentos de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 31 de Ago. 2011. Disponível

em: http://portal.mte.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR32.pdf

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

114

5.3 ARTIGO 3

Acidentes de trabalho grave no Rio Grande do Norte: estudo transversal

Cleonice Andréa Alves Cavalcante3, Soraya Maria de Medeiros²

RESUMO

Objetivo: Analisar os acidentes de trabalho grave no Estado do Rio Grande do Norte de 2007 a 2014. Método:

Estudo epidemiológico e transversal dos acidentes de trabalho graves notificados no Sistema de Informação de

Agravos de Notificação. Resultados: Observou-se aumento na notificação de acidentes de trabalho grave com

predominância do sexo masculino, trabalhadores entre 25 a 44 anos e do acidente típico em todo o período. A

incapacidade temporária a evolução mais comum e a mão a parte mais atingida; a indústria extrativa e da

construção civil teve o maior número de casos e o empregado registrado foi o mais vitimado. Conclusão: Os

achados demonstram que os acidentes de trabalho grave se configuram em problema de saúde pública no estado

e a importância da notificação nos serviços de saúde para subsidiar a tomada de decisões e o planejamento de

políticas públicas.

Descritores: Acidentes de trabalho; Saúde do Trabalhador; Epidemiologia descritiva; Notificação de Acidentes

de trabalho; Riscos Ocupacionais; Vigilância em Saúde Pública.

ABSTRACT

Aim: To describe the profile of serious occupational accidents in the state of Rio Grande do Norte, Brazil, from 2007 to 2014. Method: This is a cross-sectional study on the serious workplace accidents reported in the

Information System for Notifiable Diseases. Results: there was an increase in the reporting of these occurrences

involving predominantly male workers between 25 and 44 years and the typical accidents during the entire

period. The most common development was a temporary disability and the hands were the most affected part of

the body; the mining and construction industries had the largest number of cases and the registered employees

were the most victimized professionals. Conclusion: The findings demonstrate the importance of reporting

accidents at work in the health services to support decision-making and planning of public policies.

Descriptors: Accidents, Occupational; Occupational Health; Epidemiology, Descriptive; Occupational Accidents Registry; Occupational Risks; Public Health Surveillance.

*Artigo parte integrante da tese de doutorado intitulada “Magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no

Rio Grande do Norte” do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFRN 1Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Pós-graduação em Enfermagem, Professora, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected], 2Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. E-mail: [email protected]

Autor correspondente: Cleonice Andréa Alves Cavalcante

Av. Gandhi, 1652, residencial Santa Sofia, Casa 13, Nova Parnamirim CEP: 59152-780, Parnamirim, Rio

Grande do Norte, RN, Brasil. E-mail: [email protected]

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

115

INTRODUÇÃO

Historicamente os trabalhadores têm sofrido diversos infortúnios no ambiente de

trabalho, com grandes repercussões nos âmbitos social, econômico e na saúde. Sua exposição

aos riscos físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais e/ou biológicos advindos da execução

do trabalho pode resultar em doenças e agravos ocupacionais(1)

. Os agravos relacionados ao

trabalho são constituídos pelas doenças e acidentes que acometem a população em geral, mas

que adquirem características particularmente diferenciadas em certas categorias de

trabalhadores(2)

.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 2,34 milhões de pessoas no

mundo morrem todos os anos em virtude de acidentes e doenças relacionados ao trabalho.

Isso equivale a uma média diária de mais de 6.300 mortes. Estima-se ainda que os acidentes

de trabalho e as doenças profissionais resultam numa perda anual de 4% no produto interno

bruto (PIB) mundial ou cerca de 2,8 bilhões de dólares, em custos diretos e indiretos de lesões

e doenças(3)

.

Entre os agravos relacionados ao trabalho, o acidente de trabalho (AT) é considerado o

mais grave e, portanto, o de maior importância epidemiológica devido a sua elevada

ocorrência no Brasil. Esse evento representa aproximadamente 25% das lesões por causas

externas atendidas em serviços de emergência e mais de 70% dos benefícios acidentários da

Previdência Social(4)

.

Para fins de notificação e análise, o Ministério da Saúde considera como acidente de

trabalho grave (ATG) aquele que resulta em mutilação física ou funcional e o que leva à lesão

cuja natureza implique em comprometimento extremamente sério como politraumatismos,

amputações, esmagamentos, traumatismos crânio encefálico, fratura de coluna vertebral, lesão

de medula espinhal, trauma com lesões viscerais, eletrocussão, asfixia, queimaduras, perda de

consciência e aborto; que pode ter consequências nefastas ou até mesmo fatais. Consideram-

se também como acidentes de trabalho graves aqueles que acontecem em menores de dezoito

anos(2,3)

.

No Brasil, o AT é considerado importante problema de saúde pública, pois além de

causar prejuízos aos trabalhadores e empregadores afeta a economia do país, portanto merece

análise dos seus aspectos para melhor compreensão e controle dos riscos. No entanto, o

conhecimento da magnitude do problema ainda é bastante limitado, contrariando a existência

de um aparato legal no país para que os AT sejam notificados e a informação produzida, a fim

de nortear as ações na promoção e na prevenção de danos à saúde dos trabalhadores. Desta

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

116

forma, a subnotificação é uma realidade que dificulta o conhecimento das reais condições em

que o trabalho se desenvolve, desqualificando os direitos sociais e securitários ao

trabalhador(5-6)

.

Em vigor desde 2004, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador do Ministério da

Saúde visa reduzir os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, através de ações de

promoção, reabilitação e vigilância na área da saúde. Sua principal estratégia é a Rede

Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), composta pelos Centros

Estaduais e Regionais de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) - pólos de suporte

técnico e científico no processo de trabalho/saúde/doença que desenvolvem ações de

prevenção e vigilância para melhoria das condições de trabalho e qualidade de vida dos

trabalhadores - e por redes sentinelas de serviços médicos e ambulatoriais de média e alta

complexidade - responsáveis por diagnosticar acidentes e doenças relacionados ao trabalho e

registrá-los no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-NET), um sistema

desenvolvido para a coleta e divulgação dos dados gerados rotineiramente na vigilância

epidemiológica(2)

.

Assim, são necessárias informações completas, atualizadas e fidedignas sobre a

ocorrência de acidentes e doenças aos quais os trabalhadores estão sujeitos no exercício de

sua profissão, para a orientação de medidas que minimizem tais eventos e subsidiem a

elaboração de políticas direcionadas à classe trabalhadora, tantas vezes vítima de acidentes e

doenças do trabalho. As fontes de dados existentes fornecem informações incompletas, que

revelam panoramas parciais e muitas vezes desencontrados, demandando estudos específicos

para o melhor entendimento desta questão(7)

.

Além disso, as doenças e agravos relacionados ao trabalho encontram problemas para

serem reconhecidas como vinculadas ao trabalho, sobretudo, na atualidade, considerando a

globalização caracterizada pela difusão de novas tecnologias, o fluxo de ideias, a troca de

bens e serviços, o aumento do capital e fluxos financeiros, a internacionalização dos negócios

e a circulação de pessoas modificando especialmente a forma como as pessoas e as nações

interagem, causando uma verdadeira revolução no direito do trabalho cujo reflexo é

observado na precarização do trabalho e da saúde do trabalhador. Na realidade, o

reconhecimento do problema como originário do e pelo trabalho, o nexo causal, tem se

constituído em um verdadeiro calvário para os trabalhadores que vão e vem em busca de

diagnóstico e do vínculo do seu problema de saúde com a sua atividade laboral(4,8)

.

Dentro de todo contexto que envolve a ocorrência e o conhecimento formal dos

acidentes de trabalho no Brasil, a subnotificação destes acidentes, incluindo a de eventos

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

117

fatais, é reconhecidamente um empecilho para o planejamento das ações de vigilância em

saúde do trabalhador. Estudos(3,4,7,9,10)

evidenciam que as estatísticas divulgadas

correspondem a menos que um terço do total de óbitos ocorridos, mesmo os estudos

utilizando informações do Ministério da Previdência Social, limitados aos trabalhadores do

mercado formal, declara que os números reais estão subestimados.

No Brasil fica evidenciado (4,8-11)

que uma das principais lacunas em relação à saúde do

trabalhador diz respeito às limitações do sistema de informação (SI) que permitam estimar e

acompanhar sistematicamente o real impacto do trabalho sobre a saúde dos trabalhadores.

Nesse sentido, a subnotificação de doenças e eventos relacionados ao trabalho compromete o

desenvolvimento de um perfil dos riscos e da real situação do trabalhador no sentido de

subsidiar o planejamento das ações de saúde e segurança no trabalho. Essa situação tem como

principal consequência o desconhecimento do impacto do trabalho sobre a saúde do

trabalhador e a inexistência de respostas organizadas por parte do Sistema Único de Saúde

(SUS) em relação à sua prevenção e ao seu controle.

Considerando a magnitude e importância desta temática, objetivou-se no presente

estudo analisar os acidentes de trabalho graves no Estado do Rio Grande do Norte – Brasil, no

período de 2007 a 2014 notificados no SINAN/CEREST.

MÉTODO

Estudo epidemiológico e transversal, realizado com dados secundários relativos aos

acidentes de trabalho graves ocorridos no estado do Rio Grande do Norte no período de 2007

a 2014, a partir da notificação desse agravo no SINAN/CEREST.

O Rio Grande do Norte está situado na Região Nordeste e tem 167 municípios

distribuídos em 52.811 Km2 o que equivale a 3,42% da área do Nordeste e a 0,62% da

superfície do Brasil e uma população estimada de 3.373.959 de habitantes. Oficialmente, a

única região metropolitana do estado é a Região Metropolitana de Natal, cujos municípios

integrantes são Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará-mirim, Macaíba,

Extremoz, São José de Mipibu, Nísia Floresta, Monte Alegre e Vera Cruz.

O SINAN faz parte do Sistema de Informação do SUS a partir de um processo

permanente de coleta, transmissão e disseminação de informação sobre doenças e agravos de

notificação compulsória, constituindo-se em ferramenta fundamental do sistema de vigilância

epidemiológica. Os dados são coletados e digitados no nível municipal, enviados para as

instâncias regionais de saúde e encaminhados semanalmente para as secretarias estaduais.

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

118

Quinzenalmente os dados são enviados para a instância federal. Para a notificação de doenças

e agravos relacionados ao trabalho, as rotinas e fluxos dos dados são definidos com base nos

recursos e capacidade operacional dos CEREST e suas respectivas unidades sentinelas(2)

.

Foram utilizados como critérios de inclusão: todos os casos de acidentes de trabalho

graves registrados no SINAN entre 2007 e 2014 com trabalhadores entre 16 e 65 anos de

idade. Foram excluídos os trabalhadores abaixo de 16 anos e acima de 65 anos, devido ao

cálculo da incidência ser realizado com base na população economicamente ativa (PEA), a

qual é definida por esta faixa etária. O calculo da incidência foi realizado somente até 2013,

pois a PEA de 2014 só foi divulgada em novembro de 2015.

Por meio da Portaria 777, de 28 de abril de 2004, o Ministério da Saúde (MS)

regulamentou a notificação compulsória de acidentes e doenças relacionados ao trabalho. A

referida portaria foi substituída pela Portaria nº 104 em janeiro de 2011 e pela Portaria Nº

1.271 em junho 2014, que entre outros documentos oficiais, definem acerca da relação de

doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória. A portaria

determinou a notificação imediata de todos os ATG, independente da vinculação trabalhista, a

partir da implantação da Ficha de Investigação (FI), através do SINAN.

As variáveis de estudo foram: as sócio-demográficas: sexo, idade, cor/raça e

escolaridade; ocupacionais: tipo de ocupação, área econômica de atuação, situação no

mercado de trabalho, local e tipo do acidente, trabalhadores envolvidos, tipo atendimento de

médico, emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), tempo de trabalho, partes

do corpo atingidas e evolução do caso.

Os dados registrados nas fichas foram exportados e tabulados por meio do TabWin

versão 3.6, vinculado ao SINAN-NET, e do Microsoft Office Excel 2010. Para análise foi

realizada estatística descritiva, por meio de medidas de frequência absoluta e relativa. A

incidência anual dos acidentes foi obtida dividindo-se o número absoluto de acidentes pela

população economicamente ativa referente a cada ano pesquisado por cem mil.

Também foram calculados os Riscos Relativos para as variáveis: sexo, faixa etária e

escolaridade para o ano de 2010, quando os dados censitários da população permitiram uma

desagregação por tais características.

A análise baseou-se em estatísticas descritivas, além do cálculo da incidência. Para

proceder à análise foi utilizado o programa estatístico SPSS® (versão 20).

Este estudo foi realizado com dados secundários agregados de acesso público,

fornecidos pelo CEREST estadual mediante anuência e consentimento escritos do gestor

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

119

estadual e aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

através do parecer Nº 014/2014.

RESULTADOS

No RN entre os anos de 2007 e 2014 foram notificados 10.161 casos de agravos e

doenças relacionados ao trabalho no SINAN. Desses, os agravos configurados como acidentes

representaram 90,33% dos casos (n=9.178), sendo os acidentes de trabalho grave (3.809;

37,49%) a segunda principal causa, apresentando menor frequência somente para os casos de

acidentes com exposição ao material biológico (5.369; 52,84%).

Observa-se na Tabela 1 que os casos de ATG notificados apresentaram aumento

expressivo no período analisado, com incremento na incidência em quase 10 vezes do ano de

2011 (41,8/100mil) em relação a 2007 (4,2/100 mil).

Tabela 1: Frequência e incidência de acidentes de trabalho graves ocorridos e

registrados, por ano, no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2013.

Ano n %

Taxa de Incidência (por 100

mil entre a PEA)

2007 66 2,0 4,2

2008 116 3,6 7,2

2009 681 20,9 41,0

2010 511 15,7 37,2

2011 654 20,1 41,8

2012 560 17,2 35,3

2013 672 20,6 40,6

Total 3260 100,0 -

FONTE: SINAN/CEREST/RN.

Em relação ao sexo, observa-se predominância do masculino (91,8%), o que

representou um risco seis vezes maior em relação ao sexo feminino. A maioria dos casos

aconteceu com trabalhadores na faixa etária de 25 a 44 anos (54,3%). No entanto, a razão de

risco para essa variável não apresentou significância estatística. Ocorreram ATG, também,

entre crianças, adolescentes e adultos jovens, 18 casos na faixa etária de 05 a 14 anos e 803,

entre 15 e 24 anos. Além disso, observa-se uma predominância de baixa ou pouca

escolaridade entre os vitimados representando um risco cinco vezes maior entre os mesmos.

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

120

No entanto, o número de dados não preenchido ou ignorado é expressivo (57,4%),

comprometendo a análise dessa variável.

Tabela 2: Risco relativo para acidentes de trabalho graves notificados segundo sexo, idade

e grau de escolaridade no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2017 a 2014.

Variável Risco relativo Intervalo de confiança

Sexo

Feminino 1 -

Masculino 6,26 (6,20; 6,32)

Faixa etária

Até 24 anos 1 -

25 a 44 anos 1,21 (0,98; 1,44)

45 e mais 1,09 (0,83; 1,35)

Escolaridade

Superior completo 1 -

Médio completo 3,38 (2,46; 4,30)

Fundamental completo 5,29 (4,36; 6,21)

Sem instrução/fundamental

incompleto 4,54 (3,64; 5,44)

FONTE: SINAN/CEREST/RN

Na tabela 3 observa-se que houve predomínio do acidente típico em todos os anos

analisados (n=2908/76,3%).

Tabela 3: Frequência de acidentes de trabalho graves notificados segundo tipo do acidente no Estado do Rio

Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

Variável 2007

n

2008

n

2009

n

2010

n

2011

n

2012

n

2013

n

2014

n N %

Tipo acidente

Típico 61 88 572 408 528 432 444 375 2908 76,3

Trajeto 5 24 78 73 85 82 189 119 655 17,2

FONTE: SINAN/CEREST/RN

A incapacidade temporária foi a evolução mais comum (2115/55,53%) e o óbito ocorreu

em 3,33% (127) dos casos (Figura 1).

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

121

Figura 1 - Distribuição da frequência relacionada à evolução dos casos de acidentes de trabalho grave em

trabalhadores notificados no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

A mão foi a parte do corpo mais atingida (33,00%), seguido dos membros inferiores

(11,00%) e superiores (10,00%) e da cabeça (9,00%) (Gráfico 2).

Figura 2 - Distribuição da frequência das partes do corpo atingida nos acidentes de trabalho grave em

trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

De acordo com a ocupação observa-se que os trabalhadores da indústria extrativa e da

construção civil foram os mais vitimados (25,1%), seguidos dos que atuam na agropecuária

(12,5%) e no setor de serviços (11,1%).

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

122

Tabela 4: Acidentes de trabalho graves notificados, segundo o tipo de ocupação do trabalhador acidentado no

estado do Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

FONTE: SINAN/CEREST/RN

Considerando os vínculos laborais, os ATG vitimaram trabalhadores em diferentes

situações no mercado, destacando-se, ao se excluir os ignorados ou em branco, o empregado

registrado, com maior frequência de notificação (34,2%); em seguida o autônomo (13,1%) e o

empregado não registrado (9,1%).

Tabela 5: Acidentes de trabalho graves notificados segundo a situação do trabalhador no mercado de trabalho,

Rio Grande do Norte. Brasil, 2007 a 2014.

SITUAÇÃO NO

MERCADO DE TRAB.

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total %

Ignorado/Branco 1 7 367 126 191 185 114 58 1049 27,5

Empregado registrado 64 85 137 190 193 168 270 197 1304 34,2

Empregado não registrado 0 2 25 36 59 49 82 92 345 9,1

Autônomo 1 9 37 53 84 79 117 119 499 13,1

Servidor Público 0 7 9 17 20 16 24 17 110 2,9

Aposentado 0 1 1 7 5 7 3 5 29 0,8

Desempregado 0 1 1 1 1 6 3 4 17 0,4

Trab. Temporário 0 1 3 11 4 11 18 13 61 1,6

Cooperativado 0 2 83 27 61 19 16 6 214 5,6

Trab. Avulso 0 1 13 41 29 13 12 23 132 3,5

Empregador 0 0 3 0 1 1 3 4 12 0,3

Outros 0 0 2 2 6 6 10 11 37 1,0

FONTE: SINAN/CEREST/RN

SUBGRUPO 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total %

Trabalhadores da indústria

extrativa e da construção

civil

28

38

183

134

180

127

145

116

951

25,1

Trabalhadores na exploração

agropecuária

1

7

40

56

99

96

87

89

475

12,5

Trabalhadores dos serviços 3 8 84 63 60 47 89 67 421 11,1

Outros trabalhadores da conservação, manutenção e

reparação.

0

3

74

45

40

78

59

40

339

9,0

Trabalhadores de funções

transversais

15

14

42

38

40

30

37

28

244

6,4

Trabalhadores da

transformação de metais e de

compósitos

7

9

45

24

32

19

28

30

194

5,1

Trabalhadores das indústrias

de madeira e do mobiliário 0 4 31 22 28 17 28 21 151 4,0

Trabalhadores da fabricação

de alimentos, bebidas e fumo 1 3 26 25 27 28 18 19 147 3,9

Trabalhadores em serviços de reparação e manutenção

mecânica

7

7

38

12

25

13

26

15

143

3,8

Outras ocupações 4 23 114 89 119 104 150 117 720 19,0

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

123

DISCUSSÃO

No presente estudo, observa-se aumento expressivo na notificação de ATG no período

analisado, especialmente em 2011 (41,8/100 mil) no Estado do RN. Situação semelhante foi

encontrada em estudo realizado sobre o perfil epidemiológico dos acidentes de trabalho

graves no Estado do Paraná(9)

. No entanto, outro estudo realizado sobre a incidência e

mortalidade por acidentes de trabalho no Brasil(10)

encontrou resultado diferente, com

tendência significativa de decréscimo na incidência de acidentes de trabalho, pois os autores

analisaram a incidência utilizando como base de dados o Departamento de Informática do

SUS (DATASUS), que utiliza a fonte do Ministério da Previdência Social, ou seja, considera

somente os trabalhadores segurados pelo INSS.

Essa situação demonstra a importância desse Sistema de Informação pelo SINAN/SUS

no sentido de proporcionar maior visibilidade a situação desse agravo no Brasil, uma vez que

inclui todos os trabalhadores e não somente os cobertos pela previdência social. Ademais, a

inclusão desse agravo como evento de notificação compulsória na Portaria das doenças e

agravos de notificação compulsória pelo Ministério da Saúde tem como propósito favorecer o

planejamento e as ações de vigilância e controle das doenças e agravos relacionados ao

trabalho.

Além do mais, notificações e investigações dos AT estão entre os principais requisitos

para as ações de vigilância. Incentivos para a conformação de uma rede com unidades

notificantes devem se refletir nas ações de estruturação da rede sentinela, e de capacitação dos

seus profissionais. Essas ações favorecem a consolidação das estratégias de implantação do

SINAN e a continuidade das atividades desenvolvidas em busca da superação da grande

subnotificação dos AT(2)

.

O Brasil é considerado recordista mundial de AT com três mortes a cada duas horas e

três acidentes de trabalho não fatais a cada minuto. Em 2009 foram registrados cerca de 750

mil AT entre os trabalhadores segurados pelo INSS, sendo que ocorreram 2.851 AT fatais. Ou

seja, em média 31 trabalhadores ao dia não retornaram às atividades de trabalho por invalidez

ou morte, o que representa uma morte a cada três horas naquele ano. Porém, estes dados

mostram apenas a realidade dos trabalhadores do mercado formal, ou seja, os segurados pelo

INSS; calcula-se que metade da população economicamente ativa (PEA) brasileira esteja na

informalidade(11)

. Situação semelhante foi evidenciada na Índia em que 90% da PEA está na

economia informal principalmente na agricultura e no setor de serviços demonstrando

importante fragilidade na área de saúde e segurança ocupacional e da seguridade social(12)

.

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

124

Os trabalhadores do mercado informal são aqueles que, além da baixa remuneração, são

privados dos benefícios da Previdência Social, não possuem garantia de suporte financeiro em

casos de doenças e acidentes e nem aposentadoria remunerada. Outro lado da precarização no

trabalho informal é a ausência de sindicalização e a reconhecida negligência dos

empregadores quanto às medidas de proteção, de segurança e saúde, uma vez que estes

trabalhadores se encontram à margem do controle do Estado(6,11,12)

.

O presente estudo constatou ainda que os trabalhadores jovens apresentam maior risco

de acidentes. Situação semelhante foi encontrada em outras pesquisas nacionais e

internacionais(6,9,11,13,14)

nas quais a maioria dos acidentes atingiu homens jovens, participantes

ativos na força de trabalho e em atividades de maior grau de risco para acidentes. O elevado

número de agravos nessa faixa etária é preocupante, uma vez que os AT geram incapacidade e

sequelas nesses trabalhadores limitando e comprometendo sua capacidade produtiva.

Outro aspecto que merece destaque na situação dos AT no Brasil é a sua ocorrência em

crianças e adolescentes, situação também evidenciada no presente estudo. Esse fato revela

mais um agravante contra o trabalhador, principalmente entre crianças e adolescentes por

representar importante causa de morbimortalidade entre os indivíduos desse grupo etário(15)

.

Apesar de no Brasil o trabalho infantil ser legalmente proibido com exceção para

circunstâncias especiais, como na condição de aprendizes para os adolescentes de 14 e 16

anos, é uma situação ainda encontrada principalmente em regiões de desigualdades sociais

mais acentuadas. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) confirmam que

existem 115 milhões de crianças que trabalham em atividades perigosas no mundo e, a cada

minuto, uma criança sofre um acidente de trabalho, doença ou trauma, situação que

compromete sua saúde e seu desenvolvimento social, psicológica e intelectual(15)

.

O relatório da OIT afirma ainda que no Brasil há cerca de 4,2 milhões de crianças

trabalhando e mais da metade delas estão inseridas em atividades consideradas de alto risco

ocupacional, como a manufatura, a mineração e a agricultura. No entanto, essa realidade não

se limita somente aos países em desenvolvimento como o Brasil, mas também há evidencias

nos EUA e em países da Europa que apontam para uma elevada vulnerabilidade dos jovens

para os AT(15)

.

Estudo realizado sobre a incidência de ATG entre trabalhadores jovens com idade entre

16 a 24 anos utilizou dados de benefícios de compensação do Instituto Nacional de

Seguridade Social do Brasil e revelou que, entre os segurados que receberam o benefício

nessa faixa etária, 24,4% eram relacionado ao trabalho, em sua maioria homens, trabalhadores

das indústrias de extração, alimentos e bebidas, com baixa renda. Além disso, os adolescentes

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

125

com idade entre 16 e 19 anos eram mais propensos a enfrentar uma lesão de trabalho grave do

que adultos jovens com idade entre 20 e 24 anos(16)

.

Um estudo realizado na Austrália evidenciou que os trabalhadores jovens estão mais

susceptíveis aos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho por apresentarem maior

vulnerabilidade à perda de sono e fadiga quando associado aos regimes de tempo de trabalho

imprevisível, emprego precário, alta carga de trabalho, horas extras de trabalho e capacidade

limitada(17)

.

Em relação ao nível educacional observou-se um risco elevado de AT em até 5 vezes

em trabalhadores com menor escolaridade. Situação corroborada por outras pesquisas(6,9,13-14)

.

Estudos sugerem ainda que os AT acontecem com a mão de obra menos qualificada, com

menores salários e menor poder decisório, com um público com ausência ou pouca vinculação

sindical e que desconhecem sobre os seus direitos enquanto cidadãos e trabalhadores(6,14)

.

Considerando as ocupações da construção civil, agropecuário e de serviços com um

maior número de casos de AT registrados, encontra-se semelhança com os dados nacionais e

internacionais(9,18,19,20)

. No Brasil, a construção civil representa o setor de maior absorção de

mão de obra, constituindo-se, portanto, em um setor produtivo importante no cenário eco-

nômico(18)

. Por outro lado, a magnitude da ocorrência dos AT na construção civil destaca-a

como um dos ramos produtivos mais perigosos, pois seus trabalhadores apresentam os

estágios mais avançados de precarização do trabalho em relação aos demais trabalhadores. Na

Espanha foi constatado que os trabalhadores de mineração apresentaram um maior risco de

acidentes de trabalho e o absenteísmo é superior aos da construção civil(21)

.

Além disso, estudos apontam para um maior número de óbitos por acidentes de trabalho

nos setores agropecuário, de transportes e da construção civil(22)

. Contudo, um estudo

realizado na Turquia(14)

e outro no Brasil(13)

evidenciaram maior razão de prevalência de

acidentes de trabalho em trabalhadores da produção de bens e serviços industriais,

agropecuários e serviços de reparação e manutenção.

A predominância do AT típico ocorreu em todos os anos analisados corroborando com

outros estudos(6,9,11,19)

. Estudo semelhante encontrou registros no SINAN com 52% de AT

fatais típicos no Brasil(11)

. Entretanto, um estudo que utilizou como base de dados o

DATASUS apresenta resultado divergente, com declínio na tendência da taxa de incidência

de AT típicos e aumento considerável na incidência por acidentes de trajeto no Brasil(10)

.

Dessa forma, demonstra-se mais uma vez que a fonte de informação restrita aos trabalhadores

segurados pelo INSS, não reflete a realidade da situação dos demais trabalhadores.

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

126

Por outro lado, os acidentes de trajeto apresentaram crescimento considerável no

período analisado, apresentando semelhança com outras pesquisas realizadas no Brasil(10,13)

nas quais destaca-se que, entre os fatores que podem ter contribuído para o crescimento do

número de acidentes de trajeto no Brasil estão o aumento do número de veículos por

habitante, a introdução da motocicleta como meio de transporte para o trabalho por sua

rapidez e economia, a violência e o crescimento urbano que passaram a atingir os

trabalhadores, principalmente nos grandes centros urbanos, tornando-se importante fator

desencadeante deste tipo de acidente.

Quanto à evolução dos casos a incapacidade temporária predominou em

aproximadamente 56% dos casos de acidentes nesse estudo, apresentando similaridade com

uma pesquisa desenvolvida no Paraná, na qual evidenciou que mais da metade dos

trabalhadores acidentados sofreram esse tipo de incapacidade, demonstrando que houve

absenteísmo ao trabalho e gravidade nos acidentes. Os estudos demonstram ainda que os AT

trazem grandes prejuízos e importante impacto social e econômico destes afastamentos por

incapacidade para a empresa, o trabalhador, a previdência e a sociedade, com uma estimativa

em torno de meio milhão de dias de trabalho perdidos por ano(3, 4, 9, 11, 13,14)

.

Com o potencial de causar limitações e incapacidades, o AT também pode causar

comprometimento das atividades cotidianas do trabalhador, incluindo implicações para o

desenvolvimento de suas rotinas diárias e das atividades de lazer. Em função disto, pode gerar

nos indivíduos afetados, sentimentos de frustração e inutilidade, na maioria dos casos

acompanhados por dor, insônia, oscilação do humor, baixa autoestima, depressão, ansiedade,

desvalorização profissional, entre outros, que muitas vezes são sintomas de transtornos

mentais, tornando-se uma das principais sequelas no trabalhador(22)

.

Importante destacar que a incapacidade gerada por esse tipo de acidente compromete a

capacidade produtiva do trabalhador limita ou inviabiliza o sustento da família. Por muitas

vezes, também, ocasiona transtornos à situação econômica e social dessas famílias tais como a

diminuição no padrão de renda e consumo e instabilidade financeira.

Um estudo longitudinal prospectivo estimou os custos de saúde diretos e das

consequências socioeconômicas dos AT atendidos em dois hospitais públicos de uma capital

no Brasil e revelou que aproximadamente metade dos trabalhadores vitimados sofreu perda de

rendimentos. Os custos totais com os ATG foram de US $ 40,077.00, mas os custos

individuais variaram muito, de acordo com a gravidade da lesão e estavam relacionados ao

transporte e à compra de medicamentos e outros produtos de tratamento. O Sistema Único de

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

127

Saúde (SUS), foi o segundo maior responsável pela contribuição (40,6%) e a participação do

empregador foi insignificante(23)

.

Em relação à parte do corpo atingida, nos acidentes investigados, à mão, os membros

superiores e inferiores e a cabeça foram os mais atingidos, resultados semelhantes a outros

estudos realizados no Brasil(6,9,18-19)

.

Considerando a situação no mercado de trabalho foi evidenciado que os ATG vitimaram

mais os trabalhadores registrados. Os casos ignorados ou não preenchidos, se fossem

revelados seus vínculos empregatícios, teriam potencial para mudar essa evidência. Estudo

que retratou a caracterização dos ATG no sul do país evidenciou achados semelhantes quanto

à ocorrência maior destes acidentes entre os trabalhadores com carteira de trabalho assinada(9)

.

No entanto, observa-se que as formas de vínculo precarizado, como o empregado não

registrado e o trabalhador avulso, encontram-se mais suscetíveis aos riscos. Isso se revela pela

ausência de proteção social e principalmente por se submeterem as piores condições de

trabalho.

Um estudo transversal realizado no Brasil que objetivou estimar a incidência de

acidentes de trabalho entre trabalhadores informais do comércio revelou uma incidência de

32,3% cujos fatores associados ao AT foram sexo, idade, tipo de mercadoria comercializada,

percepção de fatores de risco à saúde no processo de trabalho, esforço físico e demanda

psicológica, cujos resultados demonstraram que quanto maiores os fatores de risco e a menor

percepção dos mesmos teve importante associação com o aumento da incidência de

acidentes(24)

.

Destaca-se ainda que a seguridade social é um direito fundamental do cidadão e

pressupõe a assistência a todos contra os riscos ao longo da vida e no trabalho. É, portanto um

dos requisitos propostos pela OIT para a promoção do trabalho decente, na medida em que

promove garantia de renda e serviços sociais aos trabalhadores e suas famílias(3)

.

Do ponto de vista legal, vale a pena destacar que a multiplicidade de vínculos é reflexo

da reestruturação produtiva e da reorganização flexível das relações de trabalho que

vivenciamos no mundo do trabalho atual. Nesse contexto, nem sempre é respeitado o que a

legislação trabalhista brasileira estabelece como padrão de proteção ao trabalhador,

ocasionando insatisfação e conflitos, que tem contribuído sobremaneira para o incremento dos

riscos relacionados ao trabalho e, consequentemente, no aumento das doenças e dos acidentes.

Os achados dessa pesquisa sugerem aumento na notificação dos acidentes de trabalho

após a implantação da Portaria 104 de 2011. No entanto, não significa que a qualidade e a

cobertura da informação estejam adequadas, como demonstraram outros estudos no Brasil,

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

128

pois a ausência de notificação não indica, necessariamente, a inexistência de casos, mas

muitas vezes são indícios de subnotificação ou subregistro(3,8,9,10,11,12,13,20)

.

No Brasil, a subnotificação dos AT é um grande problema no contexto da saúde

pública, fato que não só dificulta as ações de vigilância, como também a concessão de direitos

trabalhistas e previdenciários conquistados. Além disso, ainda há o papel ideológico de

ocultamento dos impactos nocivos da organização produtiva sobre a saúde dos

trabalhadores(19)

.

No entanto, as causas da subnotificação de casos são múltiplas e, em algumas ocasiões,

difíceis de eliminar. Apesar disso, é possível minimizar suas causas e, desse modo, melhorar o

sistema de vigilância atuando sobre os componentes dos serviços de saúde para melhorar sua

eficiência, a partir da proposta de integração das unidades notificadoras e o fortalecimento, a

capacitação e a supervisão contínua desses sistemas.

Nesse sentido, o presente estudo evidenciou ainda que a problemática relacionada aos

sistemas de informação em saúde no país continua a demandar melhores registros, tanto de

cobertura, como de qualidade dos dados. O número considerável de dados em branco ou

ignorados em todas as variáveis analisadas reforça essa incompletude e inconsistência na

notificação. Por outro lado, a evolução relacionada às ações de notificação dos acidentes de

trabalho aponta para uma melhoria na sensibilidade do SINAN e uma evolução tímida e

gradativa.

É importante considerar que avanços e mudanças nessa situação dependem, também, de

melhorias e estruturação adequada dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador

(CEREST), tornando-os capazes de atender a demanda crescente da vigilância em Saúde do

Trabalhador num país de dimensão continental e que apresenta mudanças complexas e

estruturantes no mundo do trabalho(3)

.

Ademais, é preciso ponderar como limitação desse estudo o uso dos dados produzidos

pelo sistema de vigilância. Pois, apesar do mesmo ser, em princípio, a melhor fonte para

análise de dados epidemiológicos, sabe-se que há problemas no SINAN, como os dados

ignorados e não preenchidos, evidenciando investigação superficial, e a própria

subnotificação, que impossibilitam um diagnóstico situacional da Vigilância em Saúde do

Trabalhador com base mais aprofundada e acurada(4,20)

.

Considerando ainda que a taxa de acidentes e morte no trabalho, em longo prazo, está

diminuindo nos países desenvolvidos motivada principalmente pela mudança de uma

sociedade industrial para uma sociedade de serviços, nos países em desenvolvimento há uma

estimativa de aumento desse agravo por ocasião da transferência da produção industrial para

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

129

esses países e pela deficiência e fragilidade na política de prevenção e promoção a saúde nos

ambientes de trabalho e a situação de trabalho precarizado ainda fortemente presente em

países como a China e a Índia(25)

. Portanto, a vigilância em saúde do trabalhador no Brasil

ainda tem como um dos seus grandes desafios nessa área o desafio de reverter esse quadro

epidemiológico que se configura como um atraso social, econômico e tecnológico.

Conhecer a realidade dos AT graves e os fatores de riscos relacionados ao mesmo

permite que se planeje e organize com segurança as Políticas de promoção, prevenção e

assistência ao trabalhador vitimado, assim como possibilita a intervenção e mudanças nos

ambientes de trabalho no sentido de diminuir os riscos e promover a saúde de forma que

possa repercutir positivamente na qualidade de vida dos trabalhadores.

Nesse sentido, o presente estudo traz importantes contribuições à área da saúde com

informações que subsidiarão os programas e ações na Saúde do Trabalhador em todos os

níveis de atenção, como também as Políticas de Saúde e Segurança nos ambientes de trabalho.

CONCLUSÃO

O presente estudo evidenciou um aumento expressivo na notificação dos ATG, no

período analisado com incidência elevada em até 10 vezes e risco relativo maior entre homens

jovens com baixa escolaridade. Houve predomínio da incapacidade temporária entre os

trabalhadores vitimados sendo a mão e os membros superiores às partes do corpo mais

atingidas.

A despeito da limitação dos sistemas de informação na área de Saúde do Trabalhador

torna-se fundamental que os mesmos sejam analisados e divulgados, subsidiando assim o

planejamento e otimizando as ações de vigilância em saúde, no sentido de contribuir na

implementação das políticas de saúde e segurança. Necessária então a proposição de

estratégias e contribuições que minimizem as principais dificuldades e limitações existentes.

Finalmente, estudos como este se tornam necessários, visto que, com uma descrição

precisa e mais próxima da realidade sobre a situação epidemiológica dos AT e dos

trabalhadores vitimados, torna-se possível compreender com maior profundidade esse

fenômeno no sentido de ampliar o conhecimento nessa área e subsidiar outras pesquisas.

Espera-se com isso que a informação seja utilizada adequadamente pelos gestores

públicos para que os AT graves tenham sua incidência reduzida, preservando assim a vida e a

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

130

saúde de muitos trabalhadores brasileiros, e garantindo que o trabalho seja fonte de dignidade

para todos os envolvidos, os trabalhadores, suas famílias e a sociedade.

REFERÊNCIAS

1 Aragón A, Partanen T, Felknor S, Corriols M. Social determinants of workers' health in

Central America. International Journal of Occupational and Environmental Health. 2011;

17(3):230-7.

2 Ministério da Saúde (BR). Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador.

Manual de Gestão e Gerenciamento. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.

3 International Labour Organization (ILO). Labour Administration and Inspection

Programme: The prevention of occupational diseases. Geneva: ILO; 2013.

4 Galdino A, Santana V S, Ferrite S. Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador e a

notificação de acidentes de trabalho no Brasil. Cad. Saúde Pública, 2012; 28(1):145-59.

5. Gonçalves CGO, Dias A. Três anos de acidentes do trabalho em uma metalúrgica:

caminhos para seu entendimento. Ciência & Saúde Coletiva. 2011; 16(2): 635-46.

6 Bortoleto MSS, Nunes EFPA, Haddad MCL, Reis GAX. Acidentes de trabalho em um

pronto atendimento do Sistema único de saúde. Revista Espaço para a Saúde. 2011; 13(1):91-

7.

7 Chagas AMR, Salim CA, Servo LMS (org). Saúde e segurança no trabalho no Brasil:

aspectos institucionais, sistemas de informação e indicadores. Brasília: Ipea, 2011.

8 Lourenço EAS. Agravos à saúde dos trabalhadores no Brasil: alguns nós críticos. Revista

Pegada. 2011; 12(1): 3-33

9. Scussiato LA, Sarquis LMM, Kirchhof ALC, Kalinke LP. Perfil epidemiológico dos

acidentes de trabalho graves no Estado do Paraná, Brasil, 2007 a 2010. Epidemiol. Serv.

Saúde. 2013; 22(4): 621-30.

10 Almeida FSS, Morrone LC, Ribeiro KB. Tendências na incidência e mortalidade por

acidentes de trabalho no Brasil, 1998 a 2008. Cad. Saúde Pública. 2014; 30(9):1957-64.

11 Miranda FMD, Scussiato LA, Kirchhof ALC, Cruz EDA, Sarquis LMM. Caracterização

das vítimas e dos acidentes de trabalho fatais. Rev Gaúcha Enferm. Porto Alegre (RS) 2012;

33(2):45-51.

12 Pingle Shyam. Occupational Safety and Health in India. Industrial Health. 2012; 50: 167-

71.

13 Mascarenhas MDM, Freitas MG, Monteiro RA, Silva MMA, Malta DC, Gómez CM.

Emergency room visits for work-related injuries: characteristics and associated factors -

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

131

Capitals and the Federal District, Brazil, 2011. Ciênc. saúde coletiva. 2015; 20(3): 667-78.

Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v20n3/1413-8123-csc-20-03-00667.pdf

14 Celik K, Yilmaz F, Kavalci C, Ozlem M, Demir A, Durdu T et al. Occupational Injury

Patterns of Turkey. World Journal of Emergency Surgery. 2013; 8(57):1-6. Available from

http://www.wjes.org/content/8/1/5.

15 International Labour Organization (ILO). Children in hazardous work: what we know,

what we need to do. Ginebra;ILO, 2011.

16 Santana VS, Villaveces A, Bangdwala SL, Runyan CW, Oliveira PRA. Incidence of severe

work-related injuries among young adult workers in Brazil: analysis of compensation data.

Injury Prevention. 2012;18:221-27.

17 Paterson JL, Clarkson L, Rainbird S, Etherton H, Blewett V. Fatigue and other health and

safety issues for young Australian workers: an exploratory mixed methods study. Industrial

health. 2015; 53: 293–99

18 Takahashi MABC, Silva RC, Lacorte LEC, Ceverny GCO, Vilela RAG. Precarização do

Trabalho e Risco de Acidentes na construção civil: um estudo com base na Análise Coletiva

do Trabalho (ACT). Saúde Soc. 2012; 21(4):976-88.

19 Frickmann F, Wurm B, Victor Jeger, Lehmann B, Zimmermann H, Exadaktylos AK.. 782

consecutive construction work accidents: who is at risk? A 10-year analysis from a Swiss

university hospital trauma unit. Swiss Med Wkly. 2012;142:w13674.

20 Alves MMM, Nomellini PF, Pranchevicius MCS. Mortalidade por acidente de trabalho no

Estado do Tocantins, Brasil: estudo descritivo, 2000-2010. Epidemiol. Serv. Saúde. 2013;

22(2):243-54.

21 Felipe-Blanch JJ, Freijo-Álvarez M, Alfonso P, Sanmiquel-Pera L, Vintró-Sánchez C.

Occupational injuries in the mining sector (2000-2010). Comparison with the construction

sector. DYNA, 2014; 81(186):153-58. Available from:

http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0012-

73532014000400021&lng=en&tlng=en

22 Silva EJ, Lima MG, Marziale MHP. O conceito de risco e os seus efeitos simbólicos nos

acidentes com instrumentos perfurocortantes. Rev Bras Enferm. 2012; 65(5):809-14.

23 Santana VS, Souza LEPF, Pinto ICM. Health Care Costs and the Socioeconomic

Consequences of Work Injuries in Brazil: A Longitudinal Study. Industrial Health. 2013; 51:

463-71.

24 Rios MA, Nery AA, Rios PAA,Casotti CA,Cardoso JP. Factors associated with work-

related accidents in the informal commercial sector. Cad. Saúde Pública. 2015; 31(6):1199-

212.

25 Salminen S, Seo D. Future of occupational injuries. International Journal of Asian Social

Science. 2015; 5(6): 341-54.

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

132

5 CONCLUSÃO

O estudo constatou que a magnitude das doenças e agravos relacionados ao trabalho é

representada por um quadro epidemiológico caracterizado por um evidente crescimento na

notificação no número de casos de doenças e agravos ocupacionais após a estruturação dos

CEREST no Rio Grande do Norte e a inclusão dos agravos na LNC a partir de 2007, fato que

segue a situação epidemiológica nacional, especialmente em relação aos acidentes.

O AMB ainda é o principal agravo notificado pelo SINAN/CEREST que acomete

sobretudo os trabalhadores da saúde, com destaque para os profissionais de nível médio em

enfermagem no RN, categoria que historicamente tem sido acometida por AMB em virtude

das características do trabalho que realiza que os expõe a maiores risco com material

biológico e ainda, pelo grande contingente de trabalhadores nessa área.

Depreende-se que tal fato demonstra que as ações de promoção e prevenção desses

agravos ainda não estão acompanhando as mudanças no mundo do trabalho atual e necessitam

de importantes melhorias e avanços, especialmente no Brasil, considerando que essa realidade

tende a ser mais grave em razão da subnotificação e do sub-registro.

O estudo evidenciou ainda um considerável aumento na incidência dos ATG, no

período analisado, com destaque para os homens jovens com baixa escolaridade, em

atividades econômicas de alto risco, acometidos em sua maioria pelos acidentes de trabalho

típico com evolução para incapacidade temporária. Estes achados demonstram o resultado

positivo da notificação compulsória dos AT junto aos serviços de saúde que atendem

trabalhadores vitimados, no sentido do conhecimento da ocorrência destes acidentes para

tomada de decisões em planejamentos e políticas públicas de saúde.

Outro importante achado do estudo diz respeito ao número de variáveis com

informações ignoradas e/ou em branco, que em algumas variáveis foram alarmantes como

escolaridade e situação no mercado de trabalho/terceirizado das notificações, o que sugere

ausência ou o incorreto preenchimento da Ficha de Notificação ou dificuldade na coleta das

informações. Esse achado denota a importância de estudos mais aprofundados sobre essa

problemática que comprometem sobremaneira a análise das informações e a consequente

tomada de decisão.

No entanto, evidencia-se também que a subnotificação, o sub-registro e as

inconsistências ainda se configuram em importante problema no sistema de informação,

notadamente em relação às doenças que apresentaram subnotificações alarmantes junto ao

SINAN. Tal fato reforça a necessidade de aperfeiçoamento do processo de investigação e

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

133

registro dos mesmos, visto que os sub-registros e as inconsistências tornam o SINAN menos

fidedigno na caracterização desse perfil epidemiológico.

A área da saúde tem o SINAN como sistema de informação com potencial para dar

visibilidade à magnitude destes agravos e aos trabalhadores vitimados. Esta visibilidade

subsidiará as políticas de saúde e segurança do trabalho para que as mesmas sejam mais

efetivas de forma a repercutir positivamente na qualidade de vida desses trabalhadores por

meio de intervenções nos fatores determinantes e condicionantes dos riscos relacionados ao

trabalho.

Assim, estudar a magnitude da morbidade relacionada ao trabalho no Estado do Rio

Grande do Norte a partir de um estudo transversal possibilitou desvelar a situação

epidemiológica dos agravos e doenças relacionados ao trabalho de notificação compulsória no

RN, permitindo uma descrição mais próxima da realidade sobre as mesmas e dos

trabalhadores vitimados. Tornou possível ainda compreender com maior profundidade essa

realidade no sentido de ampliar o conhecimento dos possíveis fatores determinantes nessa

área e subsidiar outras pesquisas. Portanto, confirmou a hipótese de que as doenças e agravos

ocupacionais no RN tem relação com os determinantes relacionados ao trabalho.

Contudo, a despeito da limitação dos sistemas de informação na área de Saúde do

Trabalhador, torna-se fundamental que os mesmos sejam analisados e divulgados,

subsidiando assim o planejamento das ações e serviços e otimizando as ações de vigilância

em saúde, no sentido de contribuir na implementação das políticas de saúde e segurança do

trabalhador eficazes para a promoção da saúde dos trabalhadores particularmente na região

nordeste, no tocante às suas especificidades e as diferenças regionais. Para isso, necessário se

faz então a proposição de estratégias e contribuições que minimizem as principais

dificuldades e limitações existentes nessa área.

Além de importante contribuição a Vigilância em Saúde do Trabalhador no sentido de

conhecer a realidade dos AMB e de subsidiar as ações e planejamento em saúde e segurança

do trabalho, o presente estudo contribui de maneira singular a área da saúde, com destaque

para a enfermagem, pois possibilitará a tomada de decisão na perspectiva de mudanças e

melhorias nas práticas no que se refere aos riscos e a adesão às medidas de biossegurança, a

fim de tornar as ações e intervenções em saúde mais seguras para os profissionais e os

usuários dos serviços de saúde.

Diante dos achados, o estudo possibilitou o desenvolvimento de propostas de algumas

sugestões no sentido de contribuir para a melhoria e avanços nas limitações e dificuldades

identificadas.

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

134

O fortalecimento do enfoque em Saúde do Trabalhador na formação acadêmica dos

profissionais de saúde com vistas ao desenvolvimento de uma formação clínica,

epidemiológica e técnica que subsidiem um trabalho mais profícuo e aprimorado durante a

atuação profissional dos mesmos em qualquer nível de atenção dos serviços de saúde.

Constata-se a necessidade de melhoria na sensibilidade e coleta de informações do

SINAN através da educação permanente e sensibilização constante dos profissionais nos

diversos níveis de atenção com vistas ao envolvimento dos profissionais da saúde e melhorias

na estrutura da Vigilância em Saúde do Trabalhador para uma melhor cobertura e qualidade

dos dados do sistema de informação e no processo de estabelecimento do nexo causal das

referidas doenças.

A implantação efetiva e o fortalecimento da PNST no âmbito da atenção básica

partindo do princípio que, de acordo com as Redes de Atenção do SUS, a AB se constitui em

porta de entrada do sistema. Para isso propõe-se um trabalho integrado com as vigilâncias

com enfoque nas ações de saúde que incorporem os determinantes ou fatores de riscos

relacionados ao trabalho como subsídio para a integração das ações de promoção, prevenção e

assistência na AB pelos diversos profissionais que atuam nesse nível de atenção na

perspectiva da Clínica Ampliada. Somado a isso, propõe-se ainda um trabalho integrado com

o apoio matricial do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) e do Centro de Apoio

Psicossocial (CAPS) e demais dispositivos de atenção em saúde do trabalhador como os

CEREST regional ou estadual.

Destaca-se a importância da estruturação dos CEREST com equipe compatível com as

demandas, infraestrutura física e de pessoal capacitado e comprometido são importantes para

o aumento das notificações e devem ser priorizados para reduzir à expressiva subnotificação.

Destaca-se ainda o reconhecimento da necessidade do empoderamento do trabalhador

como prática do controle social e da promoção do autocuidado, condições indispensáveis e

amplamente defendidas pela PNSST que se encontra atualmente esquecida e fragilizada em se

tratando de um dos princípios do SUS, condição fundamental para a implantação da VISAT e

para o desenvolvimento de um trabalho decente.

Em relação aos sistemas de informação, a integração ou linkage entre os mesmos seria

uma forma de otimizar os recursos e as ações que diminuiria muito as subnotificações e sub-

registros uma vez que muitos dados e informações seriam compartilhados. Para isso torna-se

necessário que os sistemas de Informações, como Sistema de Informações de Mortalidade

(SIM), Sistema de Informações Hospitalares (SIH), Sistema de Informações de Agravos

Notificáveis (SINAN) e o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

135

(SINITOX) incorporem em seus registros a variável ocupação, a partir da estruturação de uma

rede integrada de informação em saúde do trabalhador, o que pode ser iniciado pela Comissão

Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho, criada pela PNSST, colocando essa diretriz

como prioridade.

Além disso, investimentos no desenvolvimento de novas tecnologias e softwares que

permitam a articulação entre diferentes bases de dados imprimindo agilidade no

preenchimento dos mesmos. Somado a isso, priorizar também o investimento e ampliação da

rede sentinela de unidades notificantes e do treinamento dos seus profissionais, além da

disponibilização dos acessos a essa tecnologias principalmente nos municípios de menor porte

e baixo poder de adesão.

Destaca-se também a necessidade de rever e aprimorar os instrumentos de notificação

com mudanças ou acréscimos de variáveis a partir da identificação de fatores que

comprometem o preenchimento (dados não preenchidos ou ignorados), além da categorização

das variáveis como obrigatória nos campos nos quais as variáveis sejam prioritárias para a

formulação de indicadores epidemiológicos e de análise da situação de saúde do trabalhador,

diagnósticos essenciais para o planejamento da Saúde e segurança no trabalho.

Reconhecendo a necessidade e importância do trabalho intra e intersetorial, torna-se

imprescindível a efetivação da vigilância em saúde do trabalhador e integração da mesma com

as demais vigilâncias (ambiental, epidemiológica e sanitária) no sentido que suas ações sejam

mais efetivas e eficientes na tentativa de superar a fragmentação das ações para que ocorra

tanto a elucidação do que realmente ocorre em relação à morbidade e mortalidade dos

trabalhadores, como as mudanças necessárias nos processos de trabalhos através da

responsabilidade compartilhada entre as mesmas com vistas à prevenção de acidentes e

doenças e promoção da saúde nos ambientes laborais numa perspectiva de Vigilância em

Saúde para os locais de trabalho.

Necessário se faz também que todos os envolvidos legalmente na garantia da saúde e

segurança dos trabalhadores, principalmente as instâncias executivas e seus respectivos

Ministérios, secretarias e serviços (Saúde, Previdência e Trabalho e Emprego), integrem-se e

desenvolvam ações contínuas de forma a compartilhar informações e planejar em conjunto de

forma a integrar suas ações e serviços no sentido de diminuir as ocorrências dos agravos e das

doenças relacionados ao trabalho, e de fato promovam a saúde dos trabalhadores oferecendo

uma atenção integral e integrada.

Finalmente, novos estudos como este tornam-se necessários, visto que, com uma

descrição precisa e mais próxima da realidade sobre a situação epidemiológica das doenças e

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

136

agravos ocupacionais e dos trabalhadores vitimados, torna-se possível compreender com

maior profundidade a real situação epidemiológica dos referidos agravos no sentido de

ampliar o conhecimento nessa área e subsidiar outras pesquisas. Ressalta-se, sobretudo, a

contribuição da presente pesquisa no desenvolvimento de políticas públicas específicas e

eficazes para a promoção da saúde dos trabalhadores particularmente na região nordeste, no

tocante às suas especificidades e as diferenças regionais.

Espera-se com isso que a informação seja utilizada adequadamente pelos gestores

públicos para que as ações e políticas de saúde e segurança no trabalho sejam mais eficientes,

preservando assim a vida e a saúde dos trabalhadores brasileiros, garantindo que o trabalho

seja fonte de dignidade para todos os envolvidos, os trabalhadores, suas famílias e a sociedade

como prerrogativa do trabalho digno e compatível com a vida.

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

137

REFERÊNCIAS

ALFONSO, Jose H; LØVSETH, Eva K; SAMANT, Yogindra; HOLM, Jan-Ø. Work-related

skin diseases in Norway may be underreported: data from 2000 to 2013. Contact Dermatitis.

2015.

ALVARES, Juliane Kate; PINHEIRO, Tarcísio Márcio Magalhães; SANTOS, Alaneir de

Fátima; OLIVEIRA, Graziella Lage. Evaluation of the completeness of compulsory work-

related notifications recorded by county industrial center in Brazil, 2007 -2011. Rev Bras

Epidemiol. 2015, 18(1): 123-36. Available in:

http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v18n1/en_1415-790X-rbepid-18-01-00123.pdf

ANDRADE, Elsa Thomé de; MARTINS, Maria Inês Carsalade; MACHADO, Jorge Huet.

O processo de construção da política de saúde do trabalhador no Brasil para o setor público.

Configurações [Online], v.10, sn, p. 137-150, 2012. Disponível em:

http://configuracoes.revues.org/1472. Acesso em: 21/05/2015

BARBOSA, Daniely Aleixo; BARBOSA, Andréa Maria Ferreira. Avaliação da completitude

e consistência do banco de dados das hepatites virais no estado de Pernambuco, Brasil, no

período de 2007 a 2010. Epidemiol. Serv. Saúde, n. 22, v.1, p:49-58, 2013.

BARTHOLOMAY, Patricia; OLIVEIRA, Gisele Pinto de; PINHEIRO, Rejane Sobrino;

VASCONCELOS, Ana Maria Nogales. Melhoria da qualidade das informações sobre

tuberculose a partir do relacionamento entre bases de dados. Cad. Saúde Pública, n.30, v.11,

p.2459-2469, 2014.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Política Nacional de Saúde e Segurança do

Trabalhador. Versão preliminar. Ministério do Trabalho e Emprego: Brasília, 2004.

Disponível em: http://www1.previdencia.gov.br/docs/pdf/pnsst_CNPS.pdf Acesso em: 30

mai. 2012.

______. Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho. Comissão Tripartite de Saúde

e Segurança no Trabalho. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde,

Ministério da Previdência Social, 2012. Disponível em:

http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A38CF493C0138E890073A4B99/PLANSAT_20

12.pdf . Acesso em: 09/04/2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância em Saúde: Parte 1. Brasília: CONASS, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política

Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Diário Oficial da República Federativa

do Brasil, Brasília, DF, 24 ago. 2012. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html. Acesso em:

18/05/2015.

______. Acompanhamento das Notificações de Agravos e Doenças Relacionados ao

Trabalho Notificados no SINAN. Informe de Saúde do Trabalhador: Notificações de

agravos relacionados ao trabalho de 2007 a 2014. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

138

Disponível em:

http://renastonline.ensp.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/recursos/boletim_ST-5.pdf

Acesso em: 22/08/2015.

______. Portaria nº 1.984, de 12 de setembro de 2014. Define a lista nacional de doenças e

agravos de notificação compulsória a serem monitorados por meio da estratégia de vigilância

em unidades sentinelas e suas diretrizes. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt1984_12_09_2014.html. Acesso em:

18/05/2015.

______. Portaria nº 1.271, de 06 de junho de 2014: Define a Lista Nacional de Notificação

Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e

privados em todo o território nacional e dá outras providências. Diário Oficial da União de Nº

108, segunda-feira, 9 de junho de 2014. ISSN 1677-7042. Pag. 67. Disponível em:

http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/Portaria_1271_06jun2014.pdfAcesso

em: 18/05/2015.

______.Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011: Define as terminologias adotadas em

legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI

2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória

em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos

profissionais e serviços de saúde. Disponível em:

http://www.saude.rs.gov.br/upload/1376576962_Portaria%20104%5B1%5D.pdf. Acesso em:

18/05/2015.

______.Portaria nº 2.472, de 31 de agosto de 2010: define as terminologias adotadas em

legislação nacional, conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI

2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória

em todo o território nacional e estabelecer fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos

profissionais e serviços de saúde. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt2472_31_08_2010.html. Acesso em: 18/05/2015.

______. Portaria nº 777/GM em 28 de abril de 2004: Dispõe sobre os procedimentos

técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de

serviços sentinela específica, no Sistema Único de Saúde - SUS. Disponível em:

http://www.cerest.piracicaba.sp.gov.br/site/images/Portaria_777_-NOTIFICAO.pdf. Acesso

em: 18/05/2015.

______. Resolução Nº 466 do Conselho Nacional de Saúde, de 12 de dezembro de 2012. Publicada no Diário Oficial da União nº 12, 13 de junho de 2013. Disponível em:

http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf.

______. Glossário temático da saúde do trabalhador do Mercosul: Comissão

Intergovernamental de Saúde Ambiental e do Trabalhador – Cisat. Brasília: Ministério da

Saúde, 2014.

______. Mapa dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado do Rio

Grande do Norte. Ministério da Saúde, Biblioteca Virtual em Saúde. Brasília, 2009.

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

139

Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/lista_cerest_0904_rn.pdf Acesso

em: 30 mai. 2012.

______. Rede Nacional de Atenção à Saúde do Trabalhador. Rede Nacional de Atenção

Integral à Saúde do Trabalhador: Manual de Gestão e Gerenciamento. Brasília: Ministério da

Saúde, 2006. Disponível em:

http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=25085&janela=1 Acesso

em 30 mai. 2012.

______. Curso Básico de Vigilância Epidemiológica. Ministério da Saúde, Secretaria de

Vigilância em Saúde. Brasília, 2005.

______. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao

trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Ministério da Saúde do Brasil,

Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil; Elizabeth Costa Dias; Idelberto Muniz

Almeida et al. Brasília, 2001.

______. Lei 8080 de 1990: Lei Orgânica de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 1990.

______. Recomendações para terapia antirretroviral em adultos infectados pelo HIV-

2008: Suplemento III - Tratamento e prevenção. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Vigilância em Saúde: Parte. Brasília:

CONASS, 2011.

CAMARGO, Marcio A. Lima. Trabalho enquanto categoria fundante na existência humana e

atual fase de reestruturação produtiva do Capital. Cáritas brasileira. Minas Gerais: UFVJM,

2012.

CAVALINI, Luciana Tricai; LEON, Antonio Carlos Monteiro Ponce de. Correção de sub-

registros de óbitos e proporção de internações por causas mal definidas. Rev Saúde Pública.

n.41, v.1, p. 85-93, 2007.

CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Update guidelines for

evaluation public health surveillance systems: recommendations from the guideline

working group. MMWR 2001; 50(RR13): 1-36.

COSTA, Danilo; LACAZ, Francisco Antonio de Castro; JACKSON FILHO, José Marçal;

VILELA, Rodolfo Andrade Gouveia. Saúde do Trabalhador no SUS: desafios para uma

política pública. Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, v.38, n.127, p.11-30, 2013.

COGGON, David; HARRIS, E. Clare; BROWN, Terry; RICE, Simon; PALMER, Keith T.

Work-related mortality in England and Wales 1979-2000. Occup Environ Med. v.67, n.12,

p.816-822, 2010.

CHAGAS, Ana Maria de Resende; SALIM, Celso Amorim; SERVO, Luciana Mendes

Santos. Saúde e segurança no trabalho no Brasil: aspectos institucionais, sistemas de

informação e indicadores. Brasília: Ipea, 2011

Page 140: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

140

SCHERER,Verena; MIRANDA, Fernanda M. D; SARQUIS, Leila M. M; LACERDA, Maria

Ribeiro. SINAN NET: um sistema de informação à vigilância na saúde do trabalhador.

Cogitare Enferm. n.12, v3, p. 330-337, 2007.

CHIODI, Mônica Bonagamba; MARZIALE, Maria Helena Palucci; MONDADORI,

Rosângela Murari; ROBAZZI, Maria Lúcia do Carmo Cruz. Acidentes registrados no Centro

de Referência em Saúde do Trabalhador de Ribeirão Preto, São Paulo. Rev Gaúcha Enferm,

v.31, n. 02, p. 211-217. Porto Alegre, 2010.

DIAS, Elizabeth Costa; HOEFEL, Maria da Graça. O desafio de implementar as ações de

saúde do trabalhador no SUS: a estratégia da RENAST. Ciênc Saúde Coletiva, v. 10, n. 04,

p. 817-827, 2005.

DRUCK, Suzana; CARVALHO, Marília Sá; CÂMARA, Gilberto; Monteiro, Antônio Miguel

Vieira.(eds). Análise Espacial de Dados Geográficos. Brasília: EMBRAPA, 2004.

FERREIRA, Aurora Marcionila de Assunção; AMARAL, Angela Santana do; A saúde do

trabalhador e a (des)proteção social no capitalismo contemporâneo. R. Katál., Florianópolis,

v. 17, n. 2, p. 176-184, 2014.

GALDINO, Adriana; SANTANA, Vilma Sousa; FERRITE, Silvia. Os Centros de Referência

em Saúde do Trabalhador e a notificação de acidentes de trabalho no Brasil. Cad. Saúde

Pública, v.28, n. 01, p. 145-159. Rio de Janeiro, 2012.

GÓMEZ, Montserrat García. La sospecha de enfermedad profesional: Programas de

vigilancia epidemiológica Laboral. Med Segur Trab. Suplemento extraordinário.n. 1, p.157-

163, 2014.

HEIDEMANN, Ivonete Teresinha Schülter Buss; BOEHS, Astrid Eggert; FERNANDES,

Gisele Cristina Manfrini; WOSNYJAMILA, Antonio de Miranda; MARCHI , Jamila

Gabriela. Promoção da saúde e qualidade de vida: concepções da carta de Ottawa em

produção científica. Cienc Cuid Saude, v.11, n.3, p. 613-619, 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estados@: Rio

Grande do Norte. Disponível em: http://ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=rn# Acesso em

15/10/2015.

INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION (ILO). Labour Administration and

Inspection Programme: The prevention of occupational diseases. Geneva: ILO, 2013.

INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION (ILO). World Social Protection Report

2014/15: Building economic recovery, inclusive development and social justice. Geneva:

ILO, 2014.

IM, Hyoung-June; OH, Dae-gyu; JU, Young-Su; KWON, Young-Jun; JANG, Tae-Won;

YIM, Jun. The Association Between Nonstandard Work and Occupational Injury in Korea.

American journal of industrial medicine. 2012; 55:876-883.

JACQUES, Camila Corrêa; MILANEZ, Bruno; MATTOS, Rita de Cássia Oliveira da Costa.

Indicadores para Centros de Referência em Saúde do Trabalhador: proposição de um sistema

Page 141: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

141

de acompanhamento de serviços de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 02, p. 369-

378, 2012.

KANG, Seong-Kyu; KWON, Oh-Jun. Occupational Injury Statistics in Korea. Saf Health

Work;v.2, n.1, p.52-6, 2011.

KAUPPINEN, Timo; UUKSULAINEN, Sanni; SAALO, Anja; MÄKINEN, Ilpo;

PUKKALA, Eero. Use of the Finnish Information System on Occupational Exposure

(FINJEM) in Epidemiologic, Surveillance, and OtherApplications. Ann. Occup. Hyg. n. 3, v.

58, p.380-396, 2014.

KIM, Eun-A; KANG, Seong-Kyu. Historical review of the List of Occupational Diseases

recommended by the International Labour organization (ILO). Annals of Occupational and

Environmental Medicine. V. 25, n.14, p. 1-10, 2013.

LACAZ, Francisco Antonio de Castro; MACHADO, Jorge Mesquita Huet; PORTO, Marcelo

Firpo de Souza. Estudo da Situação e Tendências da Vigilância em Saúde do

Trabalhador no Brasil: Relatório Final do Projeto. Rio de Janeiro: ABRASCO/OPAS,

2002.

LAGUARDIA, Josué; DOMINGUES, Carla Magda Allan; CARVALHO, Carolina;

LAUERMAN, Carlos Rodrigo; MACÁRIO, Eduardo; GLATT, Ruth. Sistema de Informação

de Agravos de Notificação (SINAN): desafios no desenvolvimento de um sistema de

informação em saúde. Epidemiol. Serv. Saúde, n. 13, v.3, p.135-147, 2004.

LEÃO, Luís Henrique da Costa; VASCONCELLOS, Luiz Carlos Fadel. Rede Nacional de

Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast): reflexões sobre a estrutura de rede.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v.20, n.1, p. 85-100, 2011.

LIMA, Leonardo Ribeiro. Saúde do trabalhador no Brasil: condições de trabalho e situação

de risco, uma revisão bibliográfica. [Monografia Curso de Graduação em Saúde Coletiva].

Brasília: Universidade de Brasília, 2014.

LIMA, Diego Jorge Maia; CHAGAS, Ana Carolina Maria Araújo; MENDES, Igor Cordeiro

et al. Completude e consistência dos dados de gestantes HIV positivas notificadas. Rev

enferm UERJ. n.22, v.3, p.321-326, 2014.

LOURENÇO, E.A.S. Agravos à saúde dos trabalhadores no Brasil: alguns nós críticos.

Revista Pegada. v.12, n.1, p. 3-33, 2011.

MACHADO, Jorge Mesquita Huet. Processo de Vigilância em Saúde do Trabalhador. Cad.

Saúde Públ, v. 13, Supl. 2, p. 33-45. Rio de Janeiro, 1997.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos, São Paulo: Boitempo, 2004. Disponível

em: <http://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/index.htm> acesso em

19/03/2010

MEDRONHO, Roberto de Andrade. Capítulo III: Estudos ecológicos. In: MEDRONHO,

Roberto de Andrade; CARVALHO, Diana Maul; BLOCH, Katia Vergetti; LUIZ, Ronnir

Raggio; WERNECK, Guilherme L. Epidemiologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2009.

Page 142: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

142

MENEZES, Paula Fernanda Menezes de. Saúde do Trabalhador: Ratificação do Capitalismo

Contemporâneo e sua materialidade no limite da Esfera Pública. Revista Intercâmbio dos

Congressos de Humanidades. Brasília: UNB, 2007. (ISSN: 1982-8640).

MINAYO-GÓMEZ, Carlos. Avanços e entraves na implementação da Política Nacional de

Saúde do Trabalhador. Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, v.38, n.127, p. 11-30, 2013.

MIRANDA, Valéria dos Santos Noronha; MENDONÇA, Albany; NUNES, Josely. Reflexões

acerca das relações de Trabalho x Geração de adoecimento na contemporaneidade. In:

III Seminário Internacional de políticas sociais e cidadania. Salvador: UCS, 2010. (ISBN 978-

85-88480-34-6).

MIQUILIN, Isabella de Oliveira Campos; CORREA FILHO, Heleno Rodrigues. Propostas de

inclusão dos trabalhadores informais e desempregados nas políticas publicas brasileiras: breve

analise a partir das Conferencias Nacionais de Saúde do Trabalhador. Saúde em Debate, Rio

de Janeiro, v. 35, n. 90, p. 426-436, 2011.

MONEY, A; CARDER, M; NOONE, P. et al. Work-related ill-health: Republic of Ireland,

Northern Ireland, Great Britain 2005–2012. Occupational Medicine. 2014. Available from:

http://occmed.oxfordjournals.org/content/65/1/15.full.pdf+html. Acesso em: 04/06/2015.

NOBRE, Letícia Coelho da Costa. Relações entre produção, trabalho, ambiente e saúde: a

contribuição do sistema único de saúde para a conquista do trabalho decente. Bahia anál.

dados, Salvador, v. 20, n. 2/3, p.339-348, 2010.

NUNES, Emília. Celebração do 25.º Aniversário da Carta de Ottawa. Rev. Port. Sau. Pub.,

Lisboa , v. 29, n. 2, 2011 . Disponível em

<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087090252011000200013&ln

g=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10/06/2015.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Guimarães, José Ribeiro Soares

(org). Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um olhar sobre as Unidades da Federação

durante a segunda metade da década de 2000. Brasília: OIT, 2012.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Boas práticas do setor saúde

para a erradicação do trabalho infantil. Brasília: OIT, 2009

OTTAWA CHARTER FOR HEALTH PROMOTION. First International Conference on

Health Promotion. Ottawa 21 November 1986 - WHO/HPR/HEP/95.1 [Internet]. Ottawa:

WHO; 1986. Available from:

http://www.who.int/healthpromotion/conferences/previous/ottawa/en/. Acesso em:

10/06/2015.

PAIM, Jairnilson Silva; ALMEIDA FILHO, Naomar de. Saúde Coletiva: teoria e prática:

Medbook, 2014.

PAIM, Jairnilson Silva; SILVA, Lígia Maria Vieira da. Universalidade, integralidade,

equidade e SUS. BIS, Bol. Inst. Saúde (Impr.), São Paulo, v. 12, n. 2, ago. 2010 .

Page 143: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

143

Disponível em <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-

18122010000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 26/13/2015.

PEREIRA, Sheila Duarte. Conceitos e definições da saúde e epidemiologia usados na

vigilância sanitária. São Paulo, 2004. Disponível em:

http://www.cvs.saude.sp.gov.br/pdf/epid_visa.pdf Acesso em: 30/05/2012.

POLDI, Roberta Melo Vello; LAIGNIER, Mariana Rabello; COSTA, Karla Binotte;

BORGES, Luiz Henrique. Declaração de óbito: instrumento de notificação de acidente de

trabalho? Rev. Bras. Med. Trab. n. 2, v. 3, p. 83-91, 2005

QUILIÃO, Paula Lamb. A saúde do trabalhador no município de Alegrete- RS: uma

análise de dados secundários. [Dissertação]. Pelotas: UFPel, 2009.

RABELLO NETO, Dácio de Lyra; GLATT, Ruth; SOUZA, Carlos Augusto Vaz de;

GORLA, Andressa Christina; MACHADO, Jorge Mesquita Huet. As fontes de informação do

sistema único de saúde para a saúde do trabalhador. In: CHAGAS, Ana Maria de Resende;

SALIM, Celso Amorim; SANTOS, Luciana Mendes Servo. Saúde e segurança no trabalho

no Brasil: aspectos institucionais, sistemas de informação e indicadores. Brasília: Ipea, 2011.

RHEE, Kyung Yong; CHOE, Seong Weon. Management System of Occupational Diseases in

Korea: Statistics, Report and Monitoring System. J Korean Med Sci; v. 25, p. S119-126,

2010.

RIO GRANDE DO NORTE. Secretaria de Saúde Pública. Centro Estadual de

Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST. Disponível em:

http://www.cerest.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/sesap_cerest/cerest/gerados/cerest.asp.

Acessado em: 21/08/2014.

RIOS, Marcela Andrade; NERY, Adriana Alves; ALVES, Murilo da Silva; JESUS, Cléber

Souza de. Occupational injuries and diseases in the municipality of Jequié, state of Bahia,

Brazil, registered in National Institute of Social Security, 2008-2009. Epidemiol. Serv.

Saúde, v.21, n.2, p.315-324, 2012.

RIBEIRO, José; BERG, Janine. Evolução recente do Trabalho Decente no Brasil: avanços e

desafios. Bahia anál. dados, Salvador: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da

Bahia, v. 20, n. 2/3, p.173-194, 2010.

RUIZ-FIGUEROA, Maria Josefa; FERNÁNDEZ-CID, Matilde; GAMO-GONZÁLEZ, Maria

Fe; DELCLÓS-CLANCHET, Jordi. Necesidades y actitudes de los facultativos de Atención

Primaria frente a la gestión de las enfermedades profesionales. Med Segur Trab (Internet);

v.59, n.233, p. 393-404, 2013.

SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Saúde. Informativo epidemiológico “barriga

verde”. MAGAJEWSKI, Flávio R. L.; CONCEIÇÃO, Mara Beatriz M; SILVA, Maurício.

Morbimortalidade por acidente de trabalho em Santa Catarina: a evolução de 1996 a 2012.

Ano XII, n. 2, 2014

SANTOS, Paula Raquel dos. Saúde do Trabalhador no trabalho hospitalar: metodologias

integradas de avaliação de experiências nos espaços de intervenção em hospitais no estado do

Rio de Janeiro. [Tese]. Rio de Janeiro: ENSP/FIOCRUZ, 2009.

Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

144

SCHMIDT, Martha Halfeld Furtado de Mendonça. Trabalho e saúde mental na visão da OIT.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.51, n.81, p.489-526, 2010.

SCUSSIATO, Louise Aracema; CÉSPEDES, Laís Del Moro; SARQUIS, Leila Maria

Mansano; STEIN JUNIOR, Altair Von; MIRANDA, Fernanda Moura D Almeida. Analise

dos agravos relacionados ao trabalho notificados pela unidade saúde do trabalhador. Rev.

Min. Enferm., v.14, n.1, p. 88-95, 2010.

SKALINSKI, Lacita Menezes; PRAXEDES, Walter Lúcio de Alencar. A abordagem

marxista aplicada aos métodos de investigação em saúde. Acta Scientiarum. Human and

Social Sciences Maringá, v. 25, n. 2, p. 305-316, 2003.

SUBIRÁN, Clara Guillén. El desafío de la gestión de las enfermedades profesionales.

Solvitas perambulum. Med Segur Trab (Internet). Suplemento extraordinário, n. 1, p. 144-

156, 2014.

TAKALA; Jukka; HAMALAINEN, Paivi; SAARELA, Kaija Leena; YUN, Loke Yoke;

MANICKAM, Kathiresan; JIN, Tan Wee; HENG, Peggy; TJONG, Caleb; KHENG, Lim

Guan; LIM, Samuel; LIN Gan Siok. Global Estimates of the Burden of Injury and Illness at

Work in 2012. Journal of Occupational and Environmental Hygiene, v.11, p. 326–337,

2014.

TAMBELLINI, A. T. A política oficial de desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil

na área de saúde-trabalho: discurso e prática. In: P. M. Buss (org) Ensino da Saúde Pública,

Medicina Preventiva e Social no Brasil . Abrasco n. 03, p. 13 a 40. Rio de Janeiro, 1984.

TEIXEIRA, Márcia Cunha. A invisibilidade das doenças e acidentes do trabalho na sociedade

atual. RDisan, v. 13, n. 1, p. 102-131, São Paulo, 2012.

VASCONCELLOS, Luiz Carlos Fadel; MINAYO-GOMEZ, Carlos; MACHADO, Jorge

Mesquita Huet. Entre o definido e o por fazer na Vigilância em Saúde do Trabalhador.

Ciência & Saúde Coletiva, V.19, N.12, p.4617-4626, 2014.

WALDVOGEL, B.C. Quantos acidentes do trabalho ocorrem no Brasil? Proposta de

integração de registros administrativos. In: MINAYO-GOMEZ, C.; MACHADO, J.M.H.;

PENA, P.G.L. (Org.). Saúde do Trabalhador na Sociedade Brasileira Contemporânea.

Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

145

ANEXO A - TERMO DE

CONSENTIMENTO

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

146

ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP/UFRN)

Page 147: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

147

Page 148: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

148

ANEXO C – FICHAS DE INVESTIGAÇÃO DO SINAN

Page 149: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

149

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

150

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

151

Page 152: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

152

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

153

Page 154: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

154

Page 155: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

155

Page 156: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

156

Page 157: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

157

Page 158: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

158

Page 159: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

159

Page 160: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

160

Page 161: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · CLEONICE ANDRÉA ALVES CAVALCANTE ... Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

161