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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES MESTRADO EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS RUBENS MATIAS DE SOUSA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PATRIMONIAL DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NATAL RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

MESTRADO EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS

RUBENS MATIAS DE SOUSA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE

SEGURANÇA PATRIMONIAL DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

NATAL – RN

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS

RUBENS MATIAS DE SOUSA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE

SEGURANÇA PATRIMONIAL DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Gestão de Processos

Institucionais da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre.

Linha de pesquisa: Política e Gestão

Institucional

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Rique Caricio

NATAL – RN

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -

CCHLA

Sousa, Rubens Matias de. Análise ergonômica do trabalho dos

profissionais de segurança patrimonial de uma instituição de

ensino superior / Rubens Matias de Sousa. - 2017.

95f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Mestrado

em Gestão de Processos Institucionais. Natal, RN, 2017.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Rique Carício.

1. Análise Ergonômica do Trabalho. 2. Análise de Processo. 3.

Segurança Patrimonial. I. Carício, Marcelo Rique. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 005.961:005.336.1

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RUBENS MATIAS DE SOUSA

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE

SEGURANÇA PATRIMONIAL DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

Aprovado em: ______ / ____________ / ________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Rique Carício

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador

_____________________________________________________________

Profa. Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Examinador Interno

____________________________________________________________ Prof. Dr. Walid Abbas El-Aouar

Universidade Potiguar Examinador Externo

NATAL – RN

2017

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Dedico este estudo a Deus, pois sem a sua ajuda não teria concluído.

“...Até aqui nos ajudou o Senhor”. 1Sm 7.12

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, a minha eterna gratidão por essa tão importante e feliz conquista.

A minha esposa Maria Alda, aos meus filhos Rubens Filho e Maria Rayanne pelo apoio

prestado em mais um momento importante da minha vida.

Aos meus pais pelas palavras manifestas de incentivo e de motivação.

Aos colegas de trabalho pela cooperação no desenvolvimento deste estudo.

Aos colegas de turma, companheiros desta jornada, pelo respeito e paciência manifestos

a mim.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Marcelo Rique Caricio pela forma como conduziu a

orientação desse trabalho acadêmico.

Ao meu irmão e amigo Manoel Eduardo que muito me ajudou na fase final do curso,

momento em que mais precisei de auxílio.

A toda a equipe de docentes do programa Mestrado Profissional em Gestão de Processos

Institucionais (MPGPI), pelo respeito e a compreensão que tiveram para comigo.

Aos servidores da coordenação do curso Mestrado Profissional em Gestão de Processos

Institucionais (MPGPI), pela atenção dispensada, nos momentos em que necessitei de seus

serviços.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte por mais essa atitude de valorização e

reconhecimento profissional para com os seus servidores.

A todos vocês os meus sinceros agradecimentos e que o Deus de Paz vos recompense.

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RESUMO

O serviço ostensivo de ronda de móvel, desenvolvido no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, executado por vigilantes concursados, tem se apresentado como a principal atividade de prevenção e

enfrentamento de atos de violência praticados contra pessoas e patrimônio público nesse ambiente acadêmico. Por

se tratar de uma atividade que apresenta riscos de segurança e ergonômicos, este estudo objetivou diagnosticar

esse processo, com base na Análise Ergonômica do Trabalho - AET, a fim de formular recomendações que visem

solucionar ou mitigar os problemas identificados. Trata-se de um estudo de caso de caráter qualitativo. A finalidade

da pesquisa, em termos metodológico, foi exploratória-descritiva. Para tanto, utilizou-se como fontes de coleta de

dados, a pesquisa bibliográfica, análise documental, entrevistas semiestruturadas aplicadas à 21 dos 32 vigilantes,

e a observação participante, todos ancorados na metodologia da AET. Foram ainda coletados dados sobre a

população investigada e dados relativos ao trabalho executado por esses servidores. Para a análise dos dados foi

utilizado o software editor de planilhas Microsoft Office Excel. Essa pesquisa ratificou a validação de conceitos

apresentados por vários autores que auxiliaram na compreensão do tema e na elaboração do diagnóstico. Quanto

aos resultados obtidos deste estudo, identificou-se a existência de problemas relacionados ao distanciamento entre

o trabalho prescrito e o trabalho real, às condições de trabalho, fatores esses que resultaram na apresentação de

recomendações que visam contribuir para a redução dos riscos de segurança e ergonômicos existentes, bem como

para a melhoria das condições de trabalho e qualidade do objeto investigado.

Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho. Análise de Processo. Segurança Patrimonial

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ABSTRACT

The ostensive mobile round service, developed at the Central Campus of the Federal University

of Rio Grande do Norte, run by bankrupt vigilantes, has been presented as the main activity of

prevention and coping with acts of violence against people and public assets in this academic

environment. Because this is an activity that presents safety and ergonomic risks, this study

aimed to diagnose this process, based on the Work Ergonomic Analysis - AET, in order to

formulate recommendations that aim to solve or mitigate the problems identified. This is a

qualitative case study. The purpose of the research, in methodological terms, was exploratory-

descriptive. For this purpose, bibliographical research, documentary analysis, semi-structured

interviews applied to 21 of the 32 guards, and participant observation, all anchored in the AET

methodology, were used as sources of data collection. We also collected data on the population

investigated and data related to the work performed by these servers. For data analysis, the

Microsoft Office Excel spreadsheet editor software was used. This research ratified the

validation of concepts presented by several authors that helped in understanding the theme and

in the elaboration of the diagnosis. Regarding the results obtained from this study, we identified

the existence of problems related to the distance between prescribed work and actual work,

working conditions, which resulted in the presentation of recommendations aimed at

contributing to the reduction of safety risks and ergonomics, as well as for the improvement of

working conditions and quality of the object under investigation.

Keywords: Ergonomic Analysis of Work. Process Analysis. Property security.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Foto do Campus Central da UFRN ................................................................. 48

Figura 2 - Organograma adotado pela DSP .................................................................... 49

Figura 3 - Organograma da DSP aprovado pelo CONUNI ............................................. 50

Figura 4 - Prédio da DSP/UFRN ..................................................................................... 50

Figura 5 - Modelos de carro e moto utilizados pela DSP ................................................. 64

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LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

Quadro 1 - Algumas definições de Ergonomia ................................................................. 27

Quadro 2 - Discrepância entre o trabalho prescrito e o real .............................................. 67

Gráfico 1 - Idade dos vigilantes lotados na DSP ................................................................ 52

Gráfico 2 - Faixa etária dos vigilantes que executam o serviço ostensivo de ronda móvel 53

Gráfico 3 - Escolaridade dos vigilantes que executam o serviço ostensivo de ronda

móvel .............................................................................................................

54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quadro funcional da DSP ............................................................................... 51

Tabela 2 - Perspectiva de aposentadoria dos vigilantes que ainda não estão incluídos na

regra de aposentadoria do INSS .....................................................................

54

Tabela 3 - Ritmo de trabalho dos vigilantes .................................................................... 58

Tabela 4 - Estatísticas de ocorrências registradas pela DSP ............................................ 60

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LISTA DE SIGLAS

ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia

AET Análise Ergonômica do Trabalho

ANDIFES Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino

Superior

CLT Consolidação das Leis de Trabalho

CONCURA Conselho de Curadores

CF Constituição Federal do Brasil

CFTV Circuito Fechado de TV

CONSAD Conselho Superior de Administração

CONSEPE Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão

CONSUNI Conselho Universitário

COPS Coordenadoria de Segurança do Trabalho

DAS Departamento de Assistência ao Servidor.

DSP Diretoria de Segurança Patrimonial

DMP Diretoria de Material de Patrimônio

EPI Equipamento de Proteção Individual

FASUBRA Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em

IESPB Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil

IEA International Ergonomics Association

IFES Instituição Federal de Ensino Superior

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

TEM Ministério de Trabalho e Emprego

NR Normas Regulamentadoras do Trabalho

OCT Organização Científica do Trabalho

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial de Saúde

PCCTAE Plano de Carreira e cargos dos Técnicos - Administrativo em Educação

PROAD Pró-Reitoria de Administração

QVT Qualidade de Vida e Saúde no Trabalho

RJU Regime Jurídico Único

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SELF Sociedade de Ergonomia de Língua Francesa

SINARM Sistema Nacional de Armas

SNCF Sociedade Nacional de Ferrovias

QVT Qualidade de Vida e Saúde no Trabalho

SSE Sessão de Segurança Eletrônica

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

URRJ Universidade Rural do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 15

1.2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 16

1.2.1 Geral ..................................................................................................................... 16

1.2.2 Específicos ............................................................................................................ 16

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .................................................................... 17

2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 18

2.1 O TRABALHO E SUAS TRANSFORMAÇÕES ................................................. 18

2.1.1 A reconstrução produtiva e sua contribuição para a organização do trabalho 20

2.2 ERGONOMIA ...................................................................................................... 23

2.2.1 Contexto histórico ............................................................................................... 24

2.2.2 Definições ............................................................................................................. 26

2.2.3 A ergonomia e sua interdisciplinaridade com outras ciências ......................... 28

2.3 ANALISE ERGONÔMICA DO TRABALHO – AET ......................................... 29

2.3.1 Surgimento e desenvolvimento ........................................................................... 30

3 PRINCIPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA APLICADOS A

ERGONOMIA ....................................................................................................

37

4 PROCEDIMENTOS METOSOLÓGICOS ...................................................... 44

5 ANALISE DE DADOS ........................................................................................ 46

5.1 ANÁLISE DA DEMANDA .................................................................................. 46

5.1.1 Coleta de informações sobre a empresa ............................................................. 47

5.1.2 Características da população ............................................................................. 51

5.1.3 Escolhas da situação de trabalho ........................................................................ 55

5.1.4 Análise do processo técnico da tarefa ................................................................. 57

5.1.5 Observações globais e abertas da atividade ....................................................... 60

5.1.6 Elaboração do pré-diagnostico ........................................................................... 62

5.1.7 Observações sistemáticas .................................................................................... 64

5.1.8 Validação ............................................................................................................. 65

5.1.9 Diagnóstico .......................................................................................................... 66

5.1.10 Recomendações e Transformações .................................................................... 67

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 68

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REFERÊNCIAS .................................................................................................. 71

APÊNDICE A – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ............................... 74

APÊNDICE B – TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIMENTO ........................................................................................

75

ANEXO 1 – RESOLUÇÃO DO CONSUNI DA UFRJ APROVANDO O

PORTE DE ARMA INSTITUCIONAL PARA OS VIGILANTES

CONCURSADOS DA UFRJ ..............................................................................

76

ANEXO 2 – DESPACHO DA DG/DPF SOBRE O USO DE ARMA DE

FOGO PARA OS VIGILANTES DO QUADRO DA UFRRJ .........................

77

ANEXO 3 – PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA DAS IFES DA

FASUBRA ...........................................................................................................

78

ANEXO 4 – DESCRIÇÃO DO CARGO DE VIGILANTE DE IFES ............. 91

ANEXO 5 – PARECER DA PROCURADORIA DA UFRN SOBRE O USO

DE ARMA DE FOGO PARA OS VIGILANTES, CONCURSADOS,

QUANDO EM SERVIÇO ..................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Estudos sobre Segurança Pública e Patrimonial é um assunto importante nos dias

atuais, e ao mesmo tempo, muito complexo. Como se trata de um ambiente novo,

completamente diferente do velho continente, de onde vieram seus colonizadores, torna-se

relevante observar que este tema é tratado em nosso país a partir da Constituição Republicana

de 1891. Esta constituição ampliou o controle sobre a moralidade e a legalidade administrativa,

dessa forma outras esferas do Poder. Esta Constituição inclusive, atribuía ao Senado o

julgamento do Presidente da República e de alguns funcionários federais ao estabelecer no art.

33, caput, que “Compete privativamente ao Senado julgar o Presidente da República e os

demais funcionários federais designados pela Constituição, nos termos e pela forma que ela

prescreve”, informando ainda no § 3.º do referido artigo, que “a poderá impor outras penas mais

que a perda do cargo e a capacidade de exercer qualquer outro, sem prejuízo da ação da justiça

ordinária contra o condenado.”

Dessa forma, procurava garantir a competência do Poder Judiciário e, ao mesmo tempo,

assegurar a observância do Princípio da separação e harmonia entre os poderes. Neste primeiro

momento, a Constituição visava grosso modo garantir a Segurança Pública através do controle

de seus próprios órgãos governamentais diante de possíveis crimes comuns e de

responsabilidades entre os próprios servidores públicos federais. O processo de trabalho da

segurança patrimonial da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN,

especificamente o serviço ostensivo de ronda móvel que é executado no Campus Central, por

vigilantes concursados, e que tem como objetivos proteger a comunidade universitária, o

patrimônio público, bem como contribuir para o estado de segurança e tranquilidade no

ambiente acadêmico, constitui-se como importante processo de trabalho desenvolvido por essa

categoria de servidores para a prevenção e enfrentamento de atos de violência física no referido

ambiente institucional, bem como principal objeto de investigação desse estudo.

A segurança patrimonial também se refere à segurança pública. Neste sentido, diante de

uma sociedade onde se exerce uma democracia plena, a segurança pública é observada como

um dispositivo legal para garantir a proteção dos direitos individuais e o pleno exercício da

cidadania nesta sociedade. Este trabalho é realizado em um momento bastante delicado da

segurança pública em todo o território nacional, diante da criminalidade que cresce de forma

desproporcional ao crescimento e desenvolvimento dos grandes centros urbanos, ocasionando

uma crise sem precedentes na segurança do próprio país.

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Desse modo, esta pesquisa, através da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) objetiva

analisar o referido processo, identificando os problemas existentes entre a relação do trabalho

prescrito e o real, considerando dentre algumas variáveis: as atribuições desses profissionais,

definidas no Plano de Carreiras dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação - PCCTAE,

as condições de trabalho, as limitações legais e, por fim sugerir recomendações que mitiguem

e/ou solucionem os problemas diagnosticados nessa relação.

Considerando, ainda a importância do referido processo para os profissionais que a

executam, bem como para a UFRN, comunidade universitária e sociedade em geral, será

utilizado para a elaboração desse estudo alguns instrumentos (tabelas, gráficos, documentos,

dados estatísticos, entrevista semiestruturada) que serão analisados, interpretados e, que, por

conseguinte, contribuirão para o alcance dos objetivos propostos pela respectiva pesquisa.

Inicialmente, o presente trabalho apresenta em sua revisão da literatura uma breve

contextualização histórica sobre a origem do “trabalho” na vida do homem e o surgimento e

desenvolvimento da “ergonomia e análise ergonômica do trabalho” como ciências. Sequenciada

da metodologia, que apresenta os instrumentos metodológicos utilizados para a elaboração da

pesquisa, da análise dos dados, bem como para a formulação de recomendações que objetivam

a organização do processo desses vigilantes e, que, por conseguinte resulte em melhor

desempenho profissional, qualidade dos serviços desenvolvidos, e segurança no trabalho.

1.1 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho justifica-se pela relevância do tema na elaboração de estudos

futuros, sobretudo pela importância da análise do serviço ostensivo de ronda móvel, através da

AET, para a organização e a melhoria do processo da segurança patrimonial da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.

A escolha desse objeto de estudo, deu-se ainda em razão das seguintes justificativas:

A primeira está relacionada quanto às condições de trabalho dos vigilantes concursados

que executam serviço ostensivo de ronda móvel no Campus Central, sob condições inadequadas

e inseguras, decorrentes da falta de Equipamentos de Proteção Individual e limitações legais.

Ademais, estatística da Diretoria de Segurança Patrimonial da UFRN (DSP) indica que

entre os anos 2013 e 2016, ocorreu o aumento de atos de violência praticados contra as pessoas

e o patrimônio público no respectivo ambiente acadêmico. Isso tem causado preocupação tanto

a Administração Central, quanto aos vigilantes que realizam o serviço ostensivo de ronda

móvel, haja vista que esses profissionais se encontram em condições de trabalho desfavoráveis,

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em virtude da Lei Federal nº 10.826/03 que restringiu o uso de equipamento de proteção

individual (arma de fogo) para a categoria de vigilantes das Instituições Federais de Ensino

Superior - IFES. Nesse contexto, o serviço ostensivo de ronda móvel, se destaca como o

principal processo da segurança patrimonial para a prevenção e enfrentamento da violência no

respectivo ambiente acadêmico.

Importante ressaltar que a experiência profissional do pesquisador, vigilante ativo da

UFRN, contribuiu significativamente no levantamento de informações importantes para o

desenvolvimento dessa pesquisa, bem como na formulação de recomendações que solucionem

e/ou minimizem os problemas identificados, e que, por conseguinte, resultem na melhoria do

trabalho, bem como na segurança desses profissionais no exercício de suas atribuições.

A segunda, pelo interesse em contribuir, através da Análise Ergonômica do Trabalho -

AET, para a adequação e/ou organização do objeto investigado.

Quanto a sua relevância no cenário acadêmico, espera-se com este estudo, poder

contribuir para que os processos de segurança patrimonial da UFRN, desenvolvidos pela DSP,

especificamente, o serviço ostensivo de ronda móvel, seja planejado respeitando-se: o perfil

desses trabalhadores, as condições de trabalho, as limitações legais e o contexto organizacional.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Analisar o processo de trabalho dos vigilantes concursados da UFRN que executam o

serviço ostensivo de ronda móvel no Campus Central da UFRN, com base na Análise

Ergonômica do trabalho – AET.

1.2.2 Objetivos específicos

Identificar o processo de trabalho dos vigilantes no Campus Central da UFRN;

Descrever o processo de trabalho dos vigilantes no Campus Central da UFRN;

Caracterizar o perfil dos vigilantes no Campus Central da UFRN;

Identificar as falhas, inadequações, desacordos e dificuldades, existentes no processo de

trabalho dos vigilantes, com base nos princípios da Ergonomia;

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Recomendar, por meio de Relatório pessoal, adequações e/ou reorganizações no

processo de trabalho dos vigilantes, que mitiguem e/ou solucionem os problemas

identificados.

1.3 ESTRUTURA DA PESQUISA

O presente estudo estrutura-se em7 capítulos organizados sistematicamente de maneira

a possibilitar uma melhor compreensão da contextualização do tema proposto com o objeto

investigado.

No capítulo 1 é apresentado o tema de maneira introdutória, seguido dos objetivos,

procedimentos metodológicos, bem como a justificativa da proposta de estudo.

No capítulo 2 apresenta-se uma revisão de literatura, abordando a ergonomia como uma

ciência que é utilizada para o estudo e organização do trabalho.

O capítulo 3 discorre sobre a aplicabilidade da ergonomia a alguns dos princípios

básicos da administração pública.

O capítulo 4 trata sobre os procedimentos metodológicos utilizados para a pesquisa,

explicitando as etapas seguidas na análise dos problemas identificados, com base na AET.

No capítulo 5 aborda-se a análise de dados da pesquisa, concomitantemente, as suas

interpretações, respectivas. E ainda são sugeridas recomendações para a minimização e/ou

resolução dos problemas diagnosticados no processo investigado.

O capítulo 6 disserta sobre as considerações, destacando a importância da AET para a

identificação e a análise dos problemas existentes na situação real do trabalho dos vigilantes da

UFRN, sobretudo para a obtenção dos objetivos propostos para essa pesquisa.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo apresenta em sua fundamentação teórica a abordagem conceitual sobre a

ergonomia, bem como sobre a aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho – AET, no

diagnóstico do processo investigado e, por conseguinte na formulação de recomendações que

melhor se ajuste ao contexto da organização e aos trabalhadores. Serão apresentados conceitos

e definições relacionados aos seguintes assuntos: o trabalho e suas transformações; ergonomia;

e análise ergonômica do trabalho.

2.1 O TRABALHO E SUAS TRANSFORMAÇÕES

O tema “trabalho e suas transformações” tem sido objeto de estudos e pesquisas

científicas que é consideravelmente relevante na discussão, sobre a relação homem/trabalho,

tanto no contexto social da vida humana, bem como no desenvolvimento socioeconômico dos

países. Nesse cenário, o aprofundamento do conhecimento científico, sobre o referido tema,

torna-se um diferencial para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do processo de trabalho

desenvolvido no contexto das organizações. Diante da sua origem negativa, onde o seu sentido

etimológico decorre de algo desagradável relacionado a dor, castigo, sofrimento e tortura, todas

as variações de trabalho ou tripalium assim foram assinalados por muito tempo, como tripaliare

(trabalhar) e trepalium (cavalete usado para aplicar a ferradura aos cavalos). Mesmo diante de

muitos adventos surgidos desde a antiguidade, o trabalho ainda é tido como algo essencial para

a sobrevivência humana, porém difícil de ser encarado como uma atividade prazerosa e

realmente gratificante nos dias atuais (CASSAR, 2017).

O trabalho, sempre fez parte da vida humana e, pode-se percebê-lo, desde quando o

homem primitivo (sociedade primitiva) adaptava seus instrumentos rudimentares para atender

às suas necessidades de subsistência (alimento e proteção). Essa maneira do homem se

relacionar com a natureza, implicitamente caracteriza a existência de uma forma de trabalho.

Entendemos ainda, que o trabalho é um fator determinante na formação social do indivíduo e

na relação que o mesmo estabelece com seus pares em suas respectivas classes sociais. Durante

a Antiguidade Clássica, a sociedade greco-romana observava o trabalho como algo material em

seu sentido e, portanto, era reduzido a coisa, o que tornou possível o advento da escravidão.

Eram considerados escravos naquela época todos os nascidos de mãe escrava, os prisioneiros

de guerra, os condenados, os que descumprissem as obrigações tributárias, os desertores entre

muitos a quem eram confiados toda a espécie de trabalho manual, enquanto as atividades

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intelectuais (pensamento e contemplação) eram ações específicas de homens livres por se

considerar os escravos incapazes para tal fim. (BARROS, 2016).

Segundo Iamamoto (2001), o trabalho é uma atividade humana que é fundamental na

mediação de suas necessidades, frente à natureza e outros homens. Nos dias atuais, o trabalho

pode ser observado como um fator importante na vida de todos os indivíduos, de forma que

muitos são percebidos no meio social a que pertencem, através do que fazem e onde trabalham.

Para Rodrigues (2008, p. 13) toda essa relação entre indivíduo e trabalho ainda

permanece conflitante, sendo percebido como algo indesejado “justamente porque na atual

sociedade, com muita frequência, ele se configura de uma forma totalmente fragmentada e sem

sentido, burocratizada, cheio de normas e rotinas, ou então, cheio de exigências e conflitos com

a vida social ou familiar”. Pode ser por motivos como estes que um dos sonhos de muitas

pessoas que se encontram inseridas no Mercado de Trabalho, seja exatamente um dia ganhar

na loteria e parar definitivamente de trabalhar.

Com o passar do tempo, algumas mudanças no cenário político, cultural e econômico

desencadearam a transformação na concepção do trabalho, bem como em sua relação com o

homem. Com isso, o “trabalho” evoluiu e assumiu um novo significado no contexto social da

vida humana, nos diferentes modelos de sociedades (pré-capitalista - homem/escravo e

capitalista – homem/assalariado). Barros (2016, p. 54) nos afirma que o trabalho a partir do

período renascentista passa a ter um caráter singular, expressando o valor e a personalidade de

quem o executa por atuar “como meio de subsistência, de acesso à propriedade, e cumpre um

conjunto de funções sociais” passando a ser considerado, segundo esse autor, “uma atividade

humana que pressupõe esforço físico ou mental.” Estes acontecimentos que marcaram o final

da Idade Média e o Renascimento, apoiados principalmente pelo cristianismo, contribuíram

para um estudo mais abrangente no ponto de vista filosófico, econômico e jurídico-trabalhista,

dando-se origem ao passar do tempo a dois sujeitos de direito: empregado e empregador.

Quanto à definição de “trabalho”, (Wisner, 1987, p.11) as apresenta sob as seguintes

formas:

Geral → atividade obrigatória, englobando o trabalho assalariado, o trabalho

produtivo individual (artesão, agricultor, escritor), o trabalho familiar e escolar”.

Restrita → o que acrescenta um valor e entra no circuito monetário. Neste caso, a

mãe de família, o agricultor dono de sua terra “não trabalham” (grifo nosso).

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Considera-se importante o breve relato sobre o aspecto histórico do trabalho na vida

humana, pois, se entende que para uma melhor compreensão sobre a ergonomia no cenário do

mundo do trabalho, faz-se necessário observar o “trabalho” sob os aspectos histórico, cultural

e socioeconômico.

Embora o termo “trabalho” indique significados variados em diferentes culturas,

sociedades e épocas (sofrimento, obra de arte, criação, etc.), limitaremos a abordá-lo de maneira

sucinta, sob algumas de suas transformações e o seu relevante significado para a construção do

estudo sobre a Análise Ergonômica do Trabalho- AET.

2.1.1 A reestruturação produtiva e sua contribuição para a organização do trabalho

As primeiras décadas do século XX foram marcadas por significativas mudanças no

mundo do trabalho, decorrentes das inovações tecnológicas, reestruturação produtiva e

industrial, que além de impulsionarem o desenvolvimento da economia mundial, foram fatores

determinantes para mudanças nas relações de trabalho, bem como no aprimoramento do perfil

produtivo dos trabalhadores (novas competências) nas organizações. Nos dias atuais, o trabalho

pode ser observado como um fator importante na vida de todos os indivíduos, de forma que

muitos são percebidos no meio social a que pertence, através do que fazem e onde trabalham.

Para Rodrigues (2008, p. 13) toda essa relação entre indivíduo e trabalho ainda permanece

conflitante, sendo percebido como algo indesejado “justamente porque na atual sociedade, com

muita frequência, ele se configura de uma forma totalmente fragmentada e sem sentido,

burocratizada, cheio de normas e rotinas, ou então, cheio de exigências e conflitos com a vida

social ou familiar”. Pode ser por motivos como estes que um dos sonhos de muitas pessoas que

se encontram inseridas no Mercado de Trabalho, seja exatamente um dia ganhar na loteria e

parar definitivamente de trabalhar.

Observa-se, por meio dessas transformações, que a relação homem/trabalho passou a

obedecer aos novos padrões econômicos e produtivos, de forma a resultar no desenvolvimento

e crescimento da economia e da produção industrial dos países com maior poder sócio-político

e econômico.

Para Antunes (2008), as transformações ocorridas no mundo do trabalho foram tão

significativas para a classe de trabalhadores que além de refletir na sua materialidade e na sua

subjetividade, afetou a sua forma de ser. Assim, é com base nesse cenário de transformações

que as formas de organização do trabalho passaram a utilizar estratégias inovadoras que

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21

repercutiram diretamente no âmbito da gestão de processos administrativos e operacionais,

colaborando assim para melhorias no campo da administração e nas condições de trabalho.

Entre essas mudanças vivenciadas no processo de reestruturação produtiva, destaca-se

o surgimento dos modelos de organização do trabalho, denominados de taylorista/fordismo.

O Taylorismo, sistema de produção desenvolvido por Frederick Winslow Taylor, no

final do séc. XX, consistia num modelo de produção, em que a administração (representada

pelos gestores) era quem planejava e repassava aos operários, as novas formas de execução de

tarefas, visando aumentar a produtividade, em menor espaço de tempo, e obter mais eficiência,

frente a um novo modelo de mercado competitivo (CHIAVENATO, 2014).

Para Taylor (1990, p. 42), “Na tarefa, é especificado o que deve ser feito e também como

fazê-lo, além do tempo exato concebido para a execução”. Isso ratifica a participação da

gerência no processo produtivo, ao estabelecer novas técnicas de produção a serem

desenvolvidas pelos operários.

Conforme Lida (1990, p. 4),

Taylor defendia que o trabalho deveria ser cientificamente observado de modo que,

para cada tarefa, fosse estabelecido o método correto de executá-la, com um tempo

determinado, usando as ferramentas corretas. Ou seja, todo o processo produtivo era

ordenado pela gerência da fábrica, que planejava os métodos de produção e o tempo

para cada tarefa produtiva.

No entanto, para Taylor (1990), o melhor aproveitamento do tempo e aumento de

rendimento do trabalhador, estava relacionado à realização de um estudo aprofundado,

realizado por uma pessoa competente, sobre as variáveis envolvidas no processo produtivo

(tempo/movimentos) a fim de identificar quais as vantagens resultantes das possíveis mudanças

na forma de execução das tarefas, tendo como base as suas respectivas variáveis.

Segundo Dejours (1997), esse modelo de organização do trabalho, introduzido por

Taylor, teve como pressuposto racionalizar a participação do operário no processo de produção,

separando o trabalho intelectual do manual, ou seja, distanciando a concepção da execução.

Essa concepção além de introduzir um novo modelo de produção, baseado na fragmentação,

em que cada operário só poderia executar apenas uma atividade específica, contribuiu para que

a organização do trabalho fosse hierarquizada, sistematizada e a forma de produção

cronometrada. Com isso, o trabalhador não poderia executar nenhuma atividade, diferente da

que fora previamente estabelecida ou que viesse a atender suas necessidades fisiológicas e

psicológicas, prejudicando assim, a relação operário/trabalho, como também a Qualidade de

Vida e Saúde no Trabalho – QVT, dos mesmos.

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22

Já o fordismo, criado por Henry Ford, modelo ampliado do taylorismo e caracterizado

pela linha de montagem na empresa, desenvolveu técnicas baseado na racionalização do

trabalho, onde cada trabalhador era responsável por realizar, repetidamente, apenas uma etapa

do processo produtivo durante toda a sua jornada de trabalho.

O referido modelo de produção consistia no aumento da produção, por meio da

aceleração do ritmo de trabalho, da eficiência, na redução dos custos de produção, e como

consequência, oferecer o produto, por um preço mais baixo, no mercado.

Para Antunes (2002, p. 37), “(...) esse processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela

mescla da produção em série fordista com o cronômetro taylorista, além da vigência de uma

separação nítida entre elaboração e execução”. Este sistema de produção reflete além da

alienação do trabalhador, a exigência de um ritmo acelerado de produção, que seria compensado

com a mais-valia.

Com o declínio do fordismo nos anos 70, ocasionado pela falta de personalização dos

produtos e rigidez do sistema, surgido no período pós-guerra. Em resposta a essa crise, emerge

um novo modelo de produção denominado de Toyotísmo, conhecido como just-in-time, frente

a um mercado mais exigente, primava tanto pela qualidade dos produtos, como em atender as

demandas de mercado. Esse novo modelo de produção exigia um novo perfil profissional dos

trabalhadores, que precisariam desenvolver atividades laborais diversificadas em setores

variados e que teve como consequências a desespecialização e intensificação do ritmo de

produção e dos processos de trabalho (MARQUES, 2015).

Essa nova fase do sistema produtivo desencadeia o surgimento de novos processos de

trabalhado, onde a produção em massa é substituída pela a flexibilização da produção e

especialização flexível, adequando assim, o modo de produção à lógica de mercado vigente.

(ANTUNES, 2008)

Ainda segundo Antunes (2008, p. 24), associadas às mudanças introduzidas no processo

produtivo:

Ensaiam-se modalidades de desconcentração industrial, buscam-se novos padrões de

gestão da força de trabalho, dos quais os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs),

a “gestão participativa”, a busca de qualidade total”, são expressões visíveis não só

no mundo japonês, mas em vários países de capitalismo avançado e do Terceiro

Mundo industrializado.

Diante do cenário apresentado, Borges e Mourão (2013, p. 558) destacam algumas

consequências que repercutiram no processo produtivo, sociedade e classe trabalhadora. Dentre

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as quais os referidos autores as enumeraram sob as seguintes dimensões interdependentes:

(grifos nossos)

No âmbito da produção: frequentes erros no processo produtivo, mau

aproveitamento de material; diminuição e queda na produtividade; danos a máquinas,

queda, etc.;

No comportamento e na saúde dos trabalhadores: absenteísmo, acidentes e

doenças ocupacionais do trabalho, etc.;

A esfera de satisfação dos cidadãos-usuários dos serviços públicos e na

fidelização de consumidores no setor privado: [...] reclamações formais ou

informais e exclusão social (Grifo nosso).

.

É importante ressaltar que a reestruturação produtiva, contribuiu significativamente para

que as organizações ajustassem seus modelos de gerenciamento, de forma a alcançar melhor

nível de eficiência, produtividade, qualidade, bem como minimizar os conflitos sociais

relacionados às formas conservadoras de organização do trabalho e do sistema de produção.

Nesse contexto de transformações no mundo do trabalho, onde os sistemas de produção

tornaram-se mais exigentes, ocasionando desconforto físico e ocupacional aos trabalhadores, a

intervenção ergonômica tem-se apresentado como um instrumento capaz de contribuir para

modificação e/ou adaptação do trabalho ao homem, de forma a proporcionar melhorias na

produtividade, bem como minimizar os fatores de riscos ergonômicos que comprometam a

saúde e segurança dos trabalhadores em seus respectivos ambientes de trabalho.

2.2 ERGONOMIA

A ergonomia é uma ciência multidisciplinar que estuda a relação homem/trabalho,

observando os impactos (positivos e negativos) decorrentes desta relação no ambiente de

trabalho. Por isso, tem sido utilizada para adequar e/ou transformar o trabalho ao homem

(tarefas e ferramentas) de forma a minimizar os riscos ergonômicos existentes no ambiente de

trabalho, melhorar a eficiência do sistema produtivo e contribuir na saúde, bem-estar e

segurança do trabalhador (LIDA, 2005).

Para Abrahão et al (2009, p. 19), “A ergonomia pode ser entendida como uma

disciplina que tem como objetivo transformar o trabalho, em suas diferentes dimensões,

adaptando-o às características e aos limites do ser humano”. Ainda segundo o autor, atualmente,

a ergonomia é considerada no mundo do trabalho como uma ferramenta para subsidiar as ações

de entidades representativas da classe de trabalhadores, organizações públicas e privadas,

quando buscam transformar e adequar o trabalho.

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2.2.1 Contexto histórico

A termologia da palavra ergonomia é formada pela junção de dois termos gregos = ergon

(trabalho) + nomos (leis, regras), mas foi em 1857, que a palavra ergonomia foi utilizada, pelo

polonês W. Jastrzebowski, ao publicar o artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do

trabalho baseada nas leis objetivas da ciência da natureza”. Porém, foi em 1949, através do

engenheiro inglês, K.F.H. Murrell, que a ergonomia foi reconhecida cientificamente,

motivando assim, a criação da primeira associação nacional de Ergonomia, a Ergonomic

Research Society, formada por fisiologistas, psicólogos e engenheiros que tinham o interesse

em adaptar o trabalho humano. A partir desse momento, o termo ergonomia assume um novo

significado entre as variadas sociedades científicas, conforme será tratado posteriormente

(SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2008).

O interesse das diferentes sociedades internacionais em desenvolver pesquisas sobre a

ergonomia proporcionou a sua universalização em vários países, de forma que seus diferentes

conceitos e definições que lhes fora atribuído passaram a ser utilizados de acordo, com o

momento histórico e econômico de cada nação. Estes estudos produzidos sobre a ergonomia

são classificados sob as seguintes vertentes: a ergonomia angla saxônica ou clássica,

denominada, também, de Human Factors, sendo de predominância americana, que estuda a

relação entre o homem/trabalhador e a máquina e, a ergonomia franco-fônica de origem

francesa que tem como principal interesse, analisar o processo produtivo do homem/trabalhador

(ALMEIDA, 2011).

Especificamente no Brasil, os primeiros estudos sobre a ergonomia ocorreram na

década de 1970, por Alain Wisner, pesquisador francês que contribuiu significativamente para

que outros estudos realizados no país seguissem a vertente da ergonomia franco-fônica. No

entanto, foi a partir da década de 80 que a ergonomia ganhou destaque no Brasil, através de

alguns brasileiros que ao retornarem da França, onde cursaram Mestrado e Doutorado, sob a

orientação de Alain Wisner, e que ao ingressarem em instituições de ensino superior do país

contribuíram para a criação de cursos de especialização em ergonomia, bem como para a

fundação da Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) em agosto de 1983 (SCOTT, 2009).

No início da década de 80, surgiram duas vertentes da ergonomia: a Europeia baseada

na observação do trabalho executado pelo trabalhador (atividades e tarefas), considerando o seu

desenvolvimento e competência; e a Americana voltada, principalmente, para os aspectos

físicos do homem (anatômicos, antropométricos, fisiológicos e sensoriais), visando

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dimensionar o trabalho para melhor compreendê-lo. De acordo com Abrahão et al (2009, p.30),

a Internacional Ergonomics Association (IEA) apresenta a classificação da ergonomia sob as

seguintes formas: a ergonomia física, a ergonomia cognitiva e a ergonomia organizacional,

conforme descritas a seguir:

A Ergonomia física: fundamenta-se na relação das atividades do trabalhador com as

disciplinas: anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica.

A Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos cognitivos (a percepção, memória,

raciocínio e respostas motoras) e seus efeitos frente às situações de trabalho.

A Ergonomia organizacional: está relacionada com a otimização dos sistemas

sócio técnicos, abrangendo suas estruturas organizacionais, regras e processos (Grifo

nosso).

O referido autor ainda declara que, atualmente, a ergonomia é considerada no mundo

do trabalho como uma ferramenta utilizada para subsidiar as ações de entidades representativas

da classe de trabalhadores, organizações públicas e privadas, quando buscam transforar e/ou

adaptar o trabalho ao homem/trabalhador.

Nesse sentido, compreende-se que a ergonomia, ao ser analisada sob essas vertentes, possibilita

a construção de projetos de intervenção ergonômica que contribuem para resolução de

problemas existentes no trabalho.

No entanto, foi no período da II Guerra Mundial, em razão da complexidade tecnológica

e design dos equipamentos e instrumentos bélicos utilizados pelos militares, do número

representativo de acidentes decorrentes da falta desses conhecimentos técnicos, exigido dos

operadores para a adequada operacionalização dos respectivos equipamentos e instrumentos,

bem como as desfavoráveis condições ambientais as quais os mesmos eram submetidos no

campo de batalha, que um grupo interdisciplinar, formados por profissionais de diferentes áreas

do conhecimento (psicólogos, engenheiros e médicos), desenvolveu estudos objetivando

diagnosticar a causa desses acidentes, minimizar suas consequências, como também adequar

esses utensílios de guerra para um melhor desempenho, segurança e conforto dos operadores.

Isso, fez com que a ergonomia passasse a ser utilizada como instrumento de intervenção na

elaboração de projetos de design de produtos (Ergodesign), nos ambientes e situações de

trabalho (SILVA PASCHOARELLI, 2010).

Após esse período a ergonomia se tornou reconhecida como ciência do trabalho,

ganhando destaque no campo das pesquisas científicas e tornando-se objeto de estudo entre

várias ciências, dentre as quais destacamos a Fisiologia do trabalho, que iniciou estudos de

pesquisa buscando compreender os fenômenos do corpo humano diante das situações

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enfrentadas pelo trabalhador em seu ambiente de trabalho, ou seja, como o sistema motor e

psicológico do trabalhador reage ou se comporta frente às atividades desenvolvidas em seu

cotidiano laboral (SCARPIM et al, 2010).

Ainda segundo o referido autor, as formas de análise da ergonomia na empresa, quando

associada a outras atividades, desenvolvida em seus variados setores internos, tais como:

medicina do trabalho, segurança do trabalho, seleção de pessoal, treinamento de pessoal,

organização do trabalho, engenharia, desenho industrial, gerencia comercial, contribui para a

renovação de seu conteúdo.

Diante desse cenário de transformações ocorridas no mundo do trabalho, as técnicas de

produção e o ambiente de trabalho, passaram a ser analisados sob a perspectiva ergonômica, a

fim de adaptar o trabalho ao homem/trabalhador, melhorando seu desempenho e

consequentemente aumentado os lucros das empresas.

Apesar de ainda não existir um vasto material científico sobre a ergonomia, podemos

dizer, diante dos estudos já existentes, que a ergonomia ganhou destaque no cenário do mundo

do trabalho, a partir do impulso da industrialização, quando ocorreu uma maior inter-relação

entre homem, atividade e máquina.

2.2.2 Definições

Baseada na definição atribuída pela International Ergonomics Association (IEA), em

2000, para a Ergonomia, Falzon (2007, p. 5) expressa a seguinte definição:

É a disciplina científica que visa a compreensão fundamental das interações entre os

seres humanos e os outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica

princípios teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem-estar das

pessoas e o desempenho global dos sistemas.

Conforme, explicita Daniellou (2004, p. 25), a Sociéte d’ergonomie de langue française

(Sociedade de Ergonomia de Língua Francesa –SELF) apresenta a seguinte definição:

A ergonomia é a utilização de conhecimentos científicos relativos ao homem e

necessários para conceber instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser

utilizados pelo maior número de pessoas, com o máximo de conforto, de segurança e

eficiência.

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Para Daniellou e Béguin (2007), a definição de ergonomia, baseada nas situações reais

de trabalho e nos aspectos físicos e sociais, favorece uma melhor compreensão ao pesquisador

e/ou analista do processo de trabalho.

Ainda segundo esses autores, a ergonomia não se interessa apenas em produzir

conhecimentos, mas, sobretudo, intervir de maneira científica nas situações de trabalho,

porventura já existentes, como também contribuir com novas concepções sobre o assunto.

Diante da evolução do trabalho, a ergonomia obteve outras definições que foram

formuladas por estudiosos e algumas sociedades científicas de medicina e saúde do trabalho,

que são utilizadas nos dias hodiernos, com o propósito de contribuir para uma melhor

compreensão do referido termo, bem como de sua aplicação para a promoção do bem-estar,

segurança e eficiência dos trabalhadores, em seus ambientes de trabalho. Neste sentido, para

uma melhor compreensão sobre a ergonomia, faz-se necessário entender as atividades humanas

sob o esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (MÁSCULO; VIDAL, 2011).

A ergonomia que antes era vista como única relação de trabalho homem/máquina, agora

passaria a assumir um novo e importante papel no mundo dos afazeres. Sociedades científicas

como: Organização Mundial da Saúde, Organização Internacional do Trabalho, Associação

Brasileira de Ergonomia propuseram suas diferentes definições sobre ergonomia, contudo,

todas convergem para uma melhor relação entre o homem (trabalhador) e suas situações de

trabalho, conforme descrito no quadro 1, a seguir.

Quadro 1 - Algumas definições de “ergonomia”

Fonte: ABERGO (2007); OMS (2010) PORTAL EDUCAÇÃO (2013).

Muito embora, para a ergonomia, existam definições variadas, percebe-se que além de

todas ressaltarem a interdisciplinaridade e terem em comum o mesmo objeto de estudo, a

relação homem/trabalho, demonstra preocupação em sugerir as transformações e/ou adaptações

SOCIEDADES

CIENTÍFICAS DEFINIÇÕES

ABERGO “A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho às características fisiológicas e

psicológicas do ser humano”.

OMS

"A Ergonomia é uma ciência que visa o máximo rendimento, reduzindo os riscos do erro

humano ao mínimo, ao mesmo tempo trata de diminuir, dentro do possível, os perigos

para o trabalhador. Estas funções são realizadas com a ajuda de métodos científicos e

tendo em conta, simultaneamente, as possibilidades e as limitações humanas devido à

anatomia, fisiologia e psicologia".

OIT

“A Ergonomia consiste na aplicação das ciências biológicas do Homem em conjunto com

as ciências de engenharia, para alcançar a adaptação do homem com o seu trabalho

medindo-se os seus efeitos em torno da eficiência e do bem-estar para o Homem”.

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das situações de trabalho, que proporcionem segurança, eficiência e conforto na realização das

atividades.

De acordo com Abrahão et al (2009, p. 19), a ergonomia pode ser entendida como “uma

disciplina que tem como objetivo transformar o trabalho, em suas diferentes dimensões,

adaptando-o às características e aos limites do ser humano”. Ainda segundo o autor, atualmente,

a ergonomia é considerada no mundo do trabalho como uma ferramenta para subsidiar as ações

de entidades representativas da classe de trabalhadores, organizações públicas e privadas,

quando buscam transformar e adequar o trabalho.

Baseado nessas definições observa-se que com a interdisciplinaridade da ergonomia, a

realização de uma Análise Ergonômica do Trabalho - AET, que discorreremos a seguir, consiste

em uma observação e análise criteriosa sobre a relação do homem/trabalho, com a participação

de outras diferentes áreas do conhecimento científico.

2.2.3 A ergonomia e sua interdisciplinaridade com outras ciências

Com a evolução do trabalho e dos sistemas produtivos fez-se necessário integrar a

ergonomia a outras ciências, e a sua aplicação nos diferentes tipos de abordagens contribuiu

para que outras ciências, tais como: engenharia; design, psicologia, medicina, enfermagem e

administração, fossem agregadas as, já existentes, como exemplo: sociologia, antropologia

cultural. Essa interdisciplinaridade aplicada à ergonomia dar-se, também, em razão da

importância de se realizar a análise da situação real do trabalho, sob suas diferentes perspectivas

(ZILLI, 2002).

Sobre essa interdisciplinaridade, Abrahão et al (2009) argumenta que a mesma, sobre a

qual se fundamenta a ergonomia como área de conhecimento, resulta da importância de analisar

o fenômeno do trabalho humano sob diferentes perspectivas, de forma que seus objetivos e

resultados possam ser alcançados, levando em consideração fatores importantes como: homem,

maquinário, ambiente de trabalho, informação, organização e consequências do trabalho.

Conforme Wisner apud Daniellou (2004), a ergonomia deve ser observada como uma

disciplina autônoma, mas que ao mesmo tempo não pode viver sem se nutrir de aquisições

dinâmicas e assimiladas de várias disciplinas, trabalhadas sobre um aspecto interdisciplinar.

Esta interdisciplinaridade, segundo a Ergonomics Research Society, contribui na resolução de

problemas identificados na relação homem/trabalho.

A ergonomia se trata da ciência que tem como o objetivo a compreensão das interações

entre o homem e os outros elementos de um sistema de trabalho. No entanto, o seu principal

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conceito foi apresentado em 1949 pela Ergonomic Research Society como o estudo do

relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente e particularmente, a

aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas

surgidos desse relacionamento (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013).

Dessa forma, mesmo sabendo que os fatores considerados na relação ergonomia e

interdisciplinaridade façam parte da preocupação de projetistas, a ergonomia aborda esses

fatores objetivando propor intervenções durante a realização do projeto e/ou propriamente na

operacionalização dos processos de trabalho. Nesse entendimento, um estudo ergonômico,

requer uma abordagem sistemática dos fatores que integram a relação homem/trabalho, e que

implicam diretamente nessa relação (VIDAL, 2003).

Conforme observa-se a ergonomia é uma ciência que interage com outras áreas do

conhecimento acadêmico. Por isso, requer que os estudos e pesquisas científicas que objetivem

entender a relação homem/trabalho, bem como os problemas resultantes dessa relação, sejam

construídos sob um olhar interdisciplinar.

2.3 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO - AET

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), prescrita na NR 17.1, orienta que as

adaptações e transformações das condições de trabalho devem estar sob a observância das

características psicofisiológicas dos trabalhadores, a fim de que suas atividades sejam executas

com conforto, segurança e eficiência (BRASIL, 2007).

Desse modo, a abordagem metodológica da AET deve considerar tanto o funcionamento

do sistema (trabalho), bem como o empregado que como ser humano possui caraterísticas

físicas, biológicas, sociais e psíquicas, e que necessitam ser observadas e analisadas na

elaboração de estudos ergonômicos.

Observando o artigo 17.1.2 da NR 17 e a redação dada pela Portaria MTPS n. 3.51, de

23 de novembro de 1990 e atualizada pela Portaria SIT n.13, de 21 de junho de 2007, encontra-

se o seguinte texto:

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características

psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica

do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho,

conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora (BRASIL, 2007).

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Com base na NR 17.1.2, a observância da Análise Ergonômica do Trabalho é de

responsabilidade do empregador e, no entanto, faz-se necessário que as empresas públicas e

privadas, bem como os órgãos públicos, cujos empregados estejam sob as condições de trabalho

desfavoráveis (riscos), em seus respectivos postos de trabalho, realizem a AET, a fim de

proporcionar melhorias nas situações de trabalho, minimizando os riscos ergonômicos, e que,

por conseguinte, resultem na eficiência dos serviços executados pelos trabalhadores e na QVT.

2.3.1 Surgimento e desenvolvimento

Segundo Abrahão et al (2009), a Análise Ergonômica do Trabalho - AET teve seu

surgimento nos trabalhos de Pacaud, filósofa, 1946, quando pesquisou sobre “os carteiros de

registro da SNCF” - Sociedade Nacional de Ferrovias. Esse estudo mostrou como “todas as

operações são de uma extrema variedade, não acontecem a partir de uma ordem pré-

estabelecida, mas se entrelaçam e algumas são abandonadas momentaneamente, em benefício

de outras mais urgentes e imperativas”. Isso tornou a AET mais evidenciada no cenário

científico motivando outros pesquisadores para uma mais profunda reflexão epistemológica

sobre o referido assunto.

Este autor ainda descreve que a análise ergométrica do trabalho ajuda a compreenderas

estratégias utilizadas pelos trabalhadores no seu dia a dia no trabalho, para minimizar ou limitar

as suas condições patogênicas. Deste modo, os estudos sobre a Análise Ergonômica do

Trabalho – AET alcançaram dimensões no campo científico, de forma que conceitos de outras

disciplinas como a ergonomia, psicologia a etnologia foram integrados aos respectivos estudos

de pesquisas.

Vale ressaltar que a disciplina ergonomia, dentre as disciplinas destacadas, foi a que se

destacou na fundamentação teórica para as intervenções ergonômicas nas situações de trabalho,

por meio de sua ferramenta principal, a AET.

Para Guérin et al (2001, p.15), “A análise ergonômica do trabalho é uma análise da

atividade que se confronta com a análise de outros elementos do trabalho”. Isso atesta que para

a abordagem metodológica da Análise Ergonômica do Trabalho – AET faz-se necessário,

considerar todos os elementos que compõe o sistema e seu funcionamento. Dentre os elementos

que compõem o sistema destacamos o trabalho prescrito, o trabalho real e as condições de

trabalho.

Sobre o trabalho prescrito e sobre o trabalho real, segundo alguns autores existe certa

discrepância, que é assim explicitado por Guérin et al. (2001, p.15):

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A distância entre o prescrito e o real é a manifestação concreta da contradição sempre

presente no ato de trabalho, entre 'o que é pedido' e 'o que a coisa pede'. A análise

ergonômica da atividade é a análise das estratégias (regulação, antecipação, etc.)

usadas pelo operador para administrar essa distância.

Conforme Másculo e Vidal (2011, p. 252) o distanciamento entre as duas concepções

de trabalho (prescrito e real) “[...] é o grande problema que levou a Ergonomia a estabelecer os

conceitos de trabalho prescrito e trabalho real...”.

Ainda segundo o autor o interesse da ergonomia em entender o distanciamento entre o

trabalho prescrito e o trabalho real, possibilita a resolução de muitos problemas existentes nas

relações e situações de trabalho.

Segundo Falzon (2007), uma observação criteriosa do analista sobre a situação real do

trabalho, permite-lhe conhecer qual a conduta e/ou comportamento expressado pelo

empregado, sob as determinações as quais o mesmo está sujeito em seu ambiente de trabalho.

Assim, como demonstra o autor, as reações emocionais do trabalhador estão diretamente

relacionadas com o que lhe é imposto para realização de suas atividades.

Conforme Guérin et al. (2001), a falta de conhecimento sobre a atividade de trabalho, é

a causa de algumas disfunções existentes no processo de trabalho, que acarretam consequências

negativas à saúde do sujeito que executa a atividade.

Para Bolis (2011), a Análise Ergonômica do Trabalho é uma metodologia comumente

utilizada para a realização de análise e de investigação de atividades, objetivando proposições

de mudanças nas situações de trabalho, conforme os princípios da ergonomia.

Portanto, torna-se razoável considerar que os procedimentos utilizados para a validação

da AET não devem se sobrepor a natureza dos objetos a serem investigados (homem/trabalho).

Pois, segundo Ferreira e Mendes (2013, p. 27), “[...] a natureza do objeto de investigação

(interação indivíduo-contexto de trabalho) subordina o método”.

Complementando a fala do autor supracitado, Vidal (2003, p.) declara que a “Análise

Ergonômica do trabalho é o encaminhamento mais adequado para demandas concretas de

mudanças”. Com isso, o autor ressalta a importância da AET, como parâmetro para as

adequações e transformações necessárias nos postos de trabalho.

Dessa forma, a realização da AET orienta-se de maneira semelhante às abordagens

utilizadas nos processos de projetos no campo da engenharia, pois seguem etapas sequenciadas

que permite a compreensão da realidade percebida das situações de trabalho e que conduz ao

diagnóstico e proposições ergonômicas.

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Segundo Abrahão et al. (2009) a ergonomia propõe, através da Análise Ergonômica do

Trabalho – AET uma abordagem metodológica, compostas de algumas etapas, que objetivam

entender o trabalho para transformá-lo.

Ainda segundo o autor, a AET enquanto método pode ser compreendido como um

conjunto de etapas e ações que se mantém coerente durante a coleta das informações, que

podem ser questionadas, validadas e mais aproximadas da realidade pesquisada. A AET

compreende as seguintes fases, descritas respectivamente a seguir:

Análise da demanda;

Coleta de informações sobre a empresa;

Levantamento das características da população;

Escolha das situações de análise;

Análise do processo técnico e tarefa;

Observações globais e abertas das atividades;

Elaboração de um pré-diagnóstico – hipóteses explicativas nível 2;

Observações sistemáticas – análise dos dados;

Validação;

Diagnóstico e

Recomendações e transformação.

As etapas supracitadas são fundamentais para a realização do levantamento de

informações sobre a situação real do trabalho, identificação e hierarquização dos variados

problemas existentes, escolha dos instrumentos de pesquisas a serem utilizados, bem como

servirão de subsídio para a elaboração da intervenção ergonômica proposta.

a) Analise da demanda: Essa é a etapa inicial da AET que consiste em identificar e

descrever os problemas e dificuldades existentes na situação real de trabalho que justificarão a

necessidade da intervenção ergonômica (LIDA, 2005, p.60).

Conforme Abrahão et al (2009), a análise da demanda visa: formalizar as diferentes

informações; compreender melhor a natureza das questões e os problemas concretos dos

operadores; estabelecer o ponto de partida para as fases subsequentes da ação; avaliar a

amplitude do problema levantado; identificar as diferenças lógicas sobre o mesmo problema.

Diante do que pudemos observar com relação à análise da demanda, como fase inicial

da Análise Ergonômica do Trabalho - AET, as informações coletadas inicialmente serão

determinantes para a definição do problema a ser estudado e para o desenvolvimento das demais

fases subsequentes que servirão para a elaboração da intervenção ergonômica.

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33

Importante destacar que um dos problemas da demanda é que normalmente ela é posta

de maneira difusa e, por isso pode não demonstrar uma problemática importante a ser

considerada na investigação. (CARÍCIO, 2017)

b) Coleta de informações sobre a empresa: Essa fase refere-se ao conhecimento da

empresa/instituição, que será de suma relevância na compreensão do contexto organizacional e

que possibilitará entender melhor as questões colocadas e que serão avaliadas.

Conforme Abrahão et al (2009), o conhecimento da empresa/instituição, de seu

funcionamento e suas especificidades concorrerá para uma melhor compreensão de como os

problemas e as dificuldades se apresentam no contexto organizacional e, para os trabalhadores.

De acordo com Guérin et al. (2001, p. 100), “ o conhecimento do contexto industrial,

econômico e social é indispensável para situar-se o que está em jogo na ação ergonômica e

definir-se uma abordagem que leve em conta as especificidades da empresa”.

c) Levantamento das características da população: As informações sobre os indicadores

demográficos e funcionais dos empregados de uma organização são consideradas de suma

relevância para a AET e, em particular para uma ação ergonômica. Pois, não é recomendável

realizar ou propor qualquer intervenção ergonômica sem considerar as características da

população de trabalhadores. Com isso, Abrahão et al (2009) ressalta que não é proveitoso

realizar a AET trabalhando os indicadores da população de maneira isolada, pois, isso pode

ocultar alguns aspectos importantes da análise, a relevância da variabilidade, da singularidade.

d) Escolha da situação da análise: Para Abrahão et al.(2009, p.197) “a complexidade

dos elementos que envolvem a situação de trabalho interfere nos critérios da ação ergonômica,

principalmente na escolha das situações (tarefas) a serem analisadas”.

Em virtude da complexidade explicitada pelo autor para a escolha da análise, ou seja,

das situações a serem analisadas, faz-se necessário observar as reclamações que foram

apontadas na demanda inicial, o contexto organizacional e também as possibilidades de

transformar/adaptar às situações de trabalho aos empregados.

É importante ressaltar que diante de uma possível diversidade de problemas existentes

nas situações de trabalho, em um mesmo posto de trabalho, é importante escolher a análise que

favoreça a uma eficiente e possível intervenção ergonômica.

e) Análise da tarefa – Inicialmente precisamos definir “tarefa” sob o ponto de vista da

AET, e em seguida descrevermos sobre a análise da tarefa.

Ainda sobre este tópico, Lida, (2005, p.60) define tarefa como “... um conjunto de

objetivos prescritos que os trabalhadores devem cumprir”. As tarefas podem estar prescritas

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formalmente em documentos onde constam as atribuições de cada cargo, respectivamente, e de

maneira informal, as tarefas que estão implícitas em cada profissão.

É importante ressaltar que a “... análise do prescrito formal, como os documentos, não

é suficiente para mapear uma tarefa”. Isso, em razão de que algumas tarefas são definidas pelas

próprias profissões. (ABRAHÃO et al, 2009, p.204)

Essa etapa baseia-se nas condições de trabalho na organização, as quais os empregados

são submetidos, de forma que essas informações coletadas assegurem a fundamentação dos

dados técnicos, concernentes à situação real de trabalho, bem como a compreensão sobre como

a natureza da tarefa é concebida no processo de produção.

Por meio dessa análise também será possível distinguir o trabalho prescrito (tarefa), do

trabalho real (atividades) considerando como as exigências físicas e cognitivas, demandadas

pelas tarefas, desencadeiam os problemas e as dificuldades no trabalho.

f) Observações globais e abertas das atividades: Nessa etapa a observação global das

atividades objetivará a construção de um pré-diagnóstico que por sua vez contribuirá na

formulação de hipóteses explicativas.

Segundo o entendimento de Abrahão et al (2009, p.205), as observações globais das

atividades “... é o registro (com base em fichas, protocolos e imagens) da situação do trabalho

cujo enfoque é o quadro geral do contexto”. Baseando-se nesse entendimento, o contexto em

que os problemas no trabalho foram expressos, de forma macro, na demanda inicial, necessita

ser analisado através de varáveis (documentos) que auxiliarão na identificação das causas e

consequências dos problemas vivenciados pelos trabalhadores na organização/instituição.

Segundo Carício (2017), a observação é o método mais recomendado para ser utilizado

na etapa da ergonomia de campo, pois, trata-se de um procedimento que não se sujeita a

interferência e influência do pesquisador sobre o objeto investigado.

O respectivo autor ainda afirma que nessa etapa o investigador precisa aguardar as

possíveis mudanças na anormalidade do trabalho, para a obtenção de uma melhor compreensão

da situação a ser estudada.

Neste sentido, Abrahão et al (2009, p. 209) ainda declara que “as questões são tratadas

em separado, mas o pré-diagnóstico que é elaborado permite relacionar os problemas

encontrados com a atividade desenvolvida”. O autor ainda adverte que nessa fase a atenção

destinada aos fatores estáveis ou aleatórios será determinante para a qualidade e

representatividade dos dados coletados.

g) Elaboração do pré-diagnóstico: Nessa fase busca-se reunir e relacionar entre si as

informações obtidas durante a investigação realizada nas fases anteriores, resultantes da

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participação de interlocutores contatados, documentos, observações livres, dentre outras

ferramentas que foram utilizadas e que conduzirão a elaboração do pré-diagnóstico balizado na

coerência conceitual e reflexiva entre as fases da AET.

Segundo Abrahão et al (2009, p. 2012), a “demonstração das hipóteses levantadas no

pré-diagnóstico constitui o eixo central que determina o direcionamento da análise da

atividade”. Com isso, o autor enfatiza que as hipóteses levantadas é o instrumento principal da

investigação que determinará os rumos durante a análise da atividade.

h) Observações sistemáticas: A observação sistemática permite a observação dos

procedimentos utilizados pelo trabalhador na execução das atividades, distinguindo as

dimensões relevantes a fim de estabelecer relação com as hipóteses construídas durante o

processo da ação ergonômica.

Essa etapa objetiva verificar as manifestações, comportamentos expressos pelo

trabalhador, a fim de obter as informações necessárias à compreensão da atividade e dos

problemas decorrentes de seu desenvolvimento.

Abrahão (2009, p.214) entende que “todas as relações que têm por objetivo identificar

a lógica da atividade, devem considerar os fatores significativos, o desenvolvimento das ações,

seus encadeamentos e suas relações”.

i) Validação: Para Abrahão (2009, 209) a validação das informações coletadas “...

ocorre em diferentes momentos de uma ação ergonômica”. Segundo, essa afirmação, podemos

perceber que a partir do início da AET, as informações coletadas durante o processo de

investigação do trabalho, estão constantemente sendo confrontadas entre si, de forma a

proporcionar substancialidade na proposição da ação ergonômica.

Importante destacar que nessa etapa, os dados obtidos também necessitam também da

validação dos interlocutores, haja vista, que estes foram os atores principais envolvidos no

processo de investigação e, que participaram diretamente na identificação das dificuldades e

problemas existentes nas situações de trabalho, através de informações e de sua relação com o

trabalho.

j) Diagnóstico: Segundo Abrahão et al (2009, p. 230), o diagnóstico de uma AET “é o

fruto do processo de análise anteriormente conduzido, e ele não se resume apenas a

interpretação de dados da análise sistemática”. Isso, em razão da realização do pré-diagnóstico

que de certa forma propõe a formulação de hipótese que serão consideradas e analisadas nessa

referida fase.

Ainda segundo o autor o diagnóstico está assim classificado:

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36

Diagnóstico especifico – refere-se à sintetização dos resultados alcançados por meio de

entrevistas, observações, dentre outros, que contribuíram para a formação de um novo olhar das

situações do trabalho e consequentemente para uma intervenção ergonômica eficaz e eficiente.

Diagnóstico global – este consiste na inter-relação entre a situação-problema e a

organização, proporcionando relacionar os problemas identificados com o contexto

organizacional, de forma a colaborar no planejamento, transformação e reconcepção do

trabalho.

O referido autor destaca a importância de que “... no diagnóstico esteja presente, de

modo mais fiel, esta relação entre a atividade e os problemas que originaram a

demanda”.(p.231)

Conforme Carício (2017, p. 65) “[...] a elaboração do diagnóstico é a parte mais difícil

da solução do problema organizacional...”. Para o autor, essa etapa envolve a participação de

atores envolvidos no problema identificado e, por conseguinte exige à atenção especial do

pesquisador no planejamento ergonômico situado, que se destina a compreensão das estruturas

formais e informais do processo investigado.

k) Recomendações e transformações: Nessa fase final da AET as recomendações

ergonômicas que se originaram por meio do processo de investigação, sobre a situação do

trabalho, necessitam atender além do que fora descrito em cada fase da AET, contribuir para

melhorias nas relações de trabalho e consequentemente na Qualidade de Vida e Saúde no

Trabalho.

Para Abrahão et al (2009), a ação ergonômica proposta para resolução de problemas no

trabalho, precisa estar de acordo com o que fora explicitado na demanda. Pois, somente assim

será possível recomendar adaptações e/ou transformações no trabalho que possam proporcionar

além de melhor qualidade dos serviços, bem-estar, saúde, conforto e segurança para os

trabalhadores.

Todas essas fases compõem a metodologia utilizada para uma AET, que embora possa

parecer simples, tem seu grau de complexidade decorrente dos elementos identificados nas

situações de trabalho que interferem nas relações homem/trabalho. No entanto, as referidas

fases, além de subsidiarem o estudo ergonômico, também contribuirão para uma precisa

formulação do diagnóstico das situações de trabalho e sobre tudo, para proposições de

intervenção ergonômica.

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3 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA APLICADOS À ERGONOMIA

Todas as atividades das pessoas estão sob o ordenamento e regulação da legislação e

das normas vigentes em suas respectivas sociedades. No Brasil, não é diferente, pois, todos os

atos praticados por pessoas, que vivem em nosso país, estão também sob a apreciação da

legislação brasileira, instituída na Constituição Federal de 1988 (MÁSCULO; VIDAL, 2011).

Diante disso, observa-se que todos os atos administrativos praticados pelos

administradores públicos estão devidamente definidos na Constituição Federal de 1988, no

caput do artigo 37, que os orientam quanto aos limites de seu exercício e elaboração dentro da

organização pública, bem como servem de parâmetros legais para os gestores da administração

direta e indireta, no uso de suas atribuições.

Ao observar o artigo 37 da Constituição Federal, encontra-se o seguinte texto:

Art. 37. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] (BRASIL,

1988).

Com base nos princípios constitucionais, aplicados aos gestores públicos, importa

destacar que as Normas Regulamentadoras do Trabalho, especificamente a NR 17, disposta na

Consolidação de Leis Trabalhistas – CLT estabelece parâmetros legais para a atuação desses

agentes públicos quanto às condições de trabalho de seus subordinados, em seus respectivos

ambientes de trabalho.

Ainda da Constituição Federal, mais precisamente no Art.7º, Inciso XXII, garante aos

trabalhadores o direito à condição digna de segurança no ambiente de trabalho, para a execução

de suas atividades, independente de quaisquer regimes de trabalho. O seu texto encontra-se in

verbis:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social:

[...] XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

higiene e segurança (BRASIL, 1988).

Sendo assim, cabe ressaltar que a NR 17, mesmo que se destine a classe de

trabalhadores, regidos pela CLT, todavia, deve ser aplicada aos trabalhadores regidos pelo

Regime Jurídico Único – RJU, isso em razão do que dispõe a Constituição Federal de 1988,

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que garante a todos os trabalhadores, independente de regime de trabalho, o tratamento

isonômico no ambiente de trabalho, como expressa o seu artigo 5º:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(BRASIL,1988).

Diante disso, pode-se considerar que tanto os vigilantes concursados da UFRN quanto

os vigilantes terceirizados, tem o direito às mesmas condições de trabalho, previstas em leis

específicas, para a execução de suas atividades e tarefas.

Conforme disposto na Constituição Federal de 1988, os princípios que norteiam a

administração pública no Brasil são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência.

Cada um desses princípios possui suas especificidades e importância no campo

Administração Pública e, por isso, se faz necessário que o administrador público, conduza seus

atos administrativos pautados nos princípios supracitados, a fim de alcançarem uma gestão

bem-sucedida e evitar ações que incorram em improbidade administrativa.

Nesse sentido, é importante discutir sobre a relação de alguns desses princípios básicos

da Administração Pública, com as Normas Regulamentadoras do Trabalho (NRs), aprovadas

pela Portaria Nº 3.214, 08 de junho de 1978, citadas no Caput V, Título II, da Consolidação das

Leis do Trabalho - CLT, que regulamentam e orientam procedimentos obrigatórios,

concernentes à segurança e à medicina do trabalho.

Atualmente no Brasil existem 36 Normas Regulamentadoras do Trabalho – NR’s que

estão disponibilizadas no sítio do Ministério do Emprego e Trabalho – MET. No entanto, nesse

capítulo, serão relacionados alguns princípios básicos da Administração Pública (legalidade,

impessoalidade, eficiência) com a NR 17, que trata sobre a Ergonomia, considerando a

importância da sua observância no ambiente de trabalho e nos atos administrativos dos gestores

públicos.

Conforme descrito na CLT, a NR 17:

[...] visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho

às características psicológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo

de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 2007).

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Após um breve relato sobre a legitimidade dos princípios da Administração Pública no

Brasil, bem como da sua importância nos atos administrativos do gestor, será demonstrada a

relação desses princípios com a temática proposta para o projeto de intervenção, que será

delineada na Análise Ergonômica do Trabalho – AET sob os processos de trabalho dos

vigilantes concursados da UFRN, que executam o serviço ostensivo de ronda móvel no Campus

Central da referida Instituição de Ensino Superior.

Legalidade

Este princípio está aludido no artigo 5º, inciso II, na Constituição Federal de 1988 que

declara: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de

lei”. Nesse sentido, torna-se evidente que todo gestor de órgãos que integram a Administração

Pública de nosso país, tem o dever de observar e respeitar o que estabelece o referido princípio.

De acordo com o entendimento de Meirelles (2016, p. 67):

A legalidade, como princípio de administração, significa que o administrador público

está, em toda sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei, e às exigências

do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato

inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

Com base nesse princípio, o gestor público precisa estar atento quanto à tomada de

decisões que impliquem em análise jurídica, pois alguns instrumentos administrativos tais

como: publicação de portarias, resoluções, circulares, regimentos, dentre outros, que são

utilizados para respaldar os seus atos administrativos, necessitam previamente ser

encaminhados ao setor jurídico da organização, a fim de se evitar o cometimento de possíveis

afronta ao direito administrativo e em particular ao princípio da legalidade.

Pazzaglini Filho (1996) entende que o gestor público no exercício de suas funções, não

pode de maneira alguma desobedecer ao que determina o referido princípio, pois qualquer ato

administrativo que se contraponha ao princípio da legalidade configura-se um vício de prática

de improbidade administrativa.

Com essas considerações, compreende-se que a ergonomia, por estar regulamentada na

NR 17 do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE deve ser respeitada pelo gestor da DSP,

vez que regulamenta a execução de algumas atividades profissionais, procedimentos no

ambiente de trabalho e visa proporcionar aos trabalhadores, as condições necessárias,

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adequadas e seguras para o exercício de suas funções em seus respectivos ambientes de

trabalho.

Ademais, segundo Meirelles (2016, p. 88):

Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na

administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração

Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa “pode

fazer assim”; para o administrador público “deve fazer assim”.

Ainda de acordo com esse princípio, torna-se evidente que o (administrador) diretor da

DSP, no uso de suas atribuições, não deve submeter os seus administrados (vigilantes que

executam o serviço ostensivo de ronda móvel) a realizar atividades e/ou tarefas que apresentem

riscos ergonômicos, sem que os mesmos tenham as necessárias e adequadas condições de

trabalho.

Com base nesse princípio, entende-se que a Análise Ergonômica do Trabalho, prevista

em Lei Federal, deve ser observada pelo gestor da DSP, uma vez que normatiza e regulamenta

as condições de trabalho necessárias, adequadas e seguras para o desenvolvimento de algumas

atividades e/ou tarefas desenvolvidas pelos vigilantes que executam o serviço ostensivo de

ronda móvel. Pois, agindo o diretor da DSP poderá evitar que seus subordinados executem o

trabalho sem EPI’s, bem como estará obedecendo ao que está disposto na Lei Federal nº 6.514

de 22 de dezembro de 1977, que dispõe sobre a segurança e a medicina no trabalho, Captu V.

Art, 166, CLT, conforme transcrito abaixo:

Art. 166 - A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente,

equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de

conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam

completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

(BRASIL,1977).

Impessoalidade

O referido princípio estabelece que os atos administrativos devam ser realizados com

imparcialidade, sem favorecimento pessoal e voltados para o bem comum.

Ratificando essa afirmação, Paulo e Alexandrino (2009, p.200) dizem que “A

impessoalidade da atuação administrativa impede, portanto, que o ato administrativo seja

praticado visando a interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à vontade da lei,

comando geral e abstrato em essência”.

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Baseado no respectivo princípio, todos os administradores devem dispensar tratamento

igualitário no ambiente de trabalho, a todos os seus subordinados, independentemente das

categorias funcionais nas quais estão inseridos. Nesse sentido, a prática ergonômica, precisa

estar presente em todos os ambientes de trabalho das organizações, respeitando suas

particularidades e as atividades desenvolvidas, pelas diferentes categorias de classes de

trabalhadores.

Ainda, Segundo, Mello (2016, p.102):

No princípio da impessoalidade se traduz a ideia de que a Administração tem que

tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentos as. Nem

favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais,

políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e muito menos

interesses sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie. O princípio em causa

é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia.

Ainda de acordo com a descrição acima, o gestor da DSP deve em seus atos

administrativos, conceder as devidas condições de trabalho necessárias e adequadas,

disponibilizadas em seus respectivos ambientes de trabalho, a todos os vigilantes, independente

de regime de trabalho.

Eficiência

O referido princípio foi inserido na Constituição Federal do Brasil, por meio da emenda

de nº 19/98 e impõe aos gestores públicos que no uso de suas atribuições, assumam uma conduta

administrativa que proporcionem melhor desempenho das organizações públicas e a obtenção

de resultados mais eficientes.

Segundo Meireles (2016, p. 102):

Dever de eficiência é o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições

com presteza e perfeição funcional. É o mais moderno princípio da função

administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade,

exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das

necessidades da comunidade e seus membros.

É importante ressaltar que o gestor público ao praticar seus atos administrativos baseado

no respectivo princípio, deve considerar que para um melhor desempenho e eficiência das

atividades laborais executados pelos administrados, necessita obedecer ao que estabelece a NR

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17, quanto às condições necessárias e adequadas que visem colaborar para que as atividades e

tarefas, desenvolvidas pelos trabalhadores ocorram num estado se segurança, bem-estar e

saúde.

Diante desse princípio, os administradores precisam observar que antes de

estabelecerem metas, níveis de desempenho e de eficiência a serem alcançados, por seus

administrados, necessitam cumprir o que estabelece a NR 17, de forma que os trabalhadores

tenham suas condições de trabalho ajustadas aos interesses das organizações e, de acordo com

o que está definido nas Leis de trabalho, garantidas pela Constituição Federal brasileira e,

impreterivelmente na NR 17 da CLT.

No contexto apresentado, ao confrontarmos esse princípio com as condições de trabalho

dos vigilantes que executam o serviço ostensivo de ronda móvel, percebemos que a eficiência

desse processo, por parte desses profissionais, pode estar sendo comprometida, em razão das

disposições legais impostas pelo Estatuto do Desarmamento, bem como pelas inadequadas

condições de trabalho para a execução desse processo.

Importante ressaltar que a eficiência no serviço público não se restringe ao gestor, pois,

conforme bem explicitado no inciso III, § 1º, do art. 41 da Constituição Federal, todo servidor

deve prestar serviços públicos de qualidade à sociedade. No entanto, diante do cenário

apresentado pelo processo analisado, com base na AET, identificou-se, por meio de dados

estatísticos da DSP, o aumento de atos de violência ocorridos no Campus Central, o que pode

configurar ineficiência do serviço de segurança patrimonial da UFRN, e, por conseguinte

interferir na avaliação de desempenho desses servidores. Segundo o seu texto do artigo 41,

observa-se o seguinte:

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para

cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998);

I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998);

II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);

III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei

complementar, assegurada ampla defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19,

de 1998)(BRASIL, 1988)

Diante disso, se faz necessário considerar às condições de trabalho e as disposições

legais as quais esses trabalhadores estão sujeitos, antes de se emitir qualquer conceito para a

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avaliação de desempenho desses trabalhadores, respectivamente, que venha a comprometer a

estabilidade no emprego.

Considera-se que a abordagem dos princípios norteadores da Administração, aplicados

a ergonomia, estão evidentes e devidamente definidos na Constituição Federal do Brasil e

regulamentados nas Normas Regulamentadoras – NR’s, respectivamente, e em razão disso,

todos os gestores têm o dever de cumpri-los integralmente.

Por fim, pode-se afirmar que os atos administrativos do gestor da DSP encontram-se

subordinados às finalidades da Constituição Federal e, nesse sentido o não agir de acordo com

os princípios e regras constitucionais, lhe sujeita às sanções previstas em lei, haja vista que os

referidos princípios possuem plena juridicidade.

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4 METODOLOGIA

Conforme mencionado anteriormente, o objetivo principal desse estudo de caso é

diagnosticar o serviço ostensivo de ronda móvel, executado pelos vigilantes concursados da

UFRN, lotados na DSP, com base na Análise Ergonômica do Trabalho – AET, a fim de sugerir

recomendações quanto à organização desse processo, de forma a minimizar e/ou solucionar os

problemas identificados, os riscos ergonômicos existentes, contribuir para melhorias nas

condições de trabalho, na produtividade, na eficiência, na eficácia dos serviços realizados, bem

como no bem-estar e segurança, desses profissionais, no exercício de suas atribuições.

Trata-se de um estudo de caso e, ao mesmo tempo, uma pesquisa documental, onde

procurou-se diagnosticar o referido processo, identificando os problemas existentes entre a

relação do trabalho prescrito e/ o real, considerando dentre algumas variáveis: as atribuições

desses profissionais, definidas no Plano de Carreiras dos Cargos Técnico-Administrativos em

Educação - PCCTAE, as condições de trabalho, as limitações legais e, por fim, sugerir possíveis

recomendações que mitiguem e/ou solucionem os problemas diagnosticados nessa relação.

Para a realização dessa pesquisa optou-se por um estudo de caso de caráter qualitativo,

dada à integração entre os dados estatísticos coletados e a tradução subjetiva do objeto de

estudo, relativo a um fenômeno não mensurável. Neste sentido, o estudo de caso é um tipo de

pesquisa que estuda um fenômeno contemporâneo, relacionando-o com o seu contexto real,

especificamente quando essa relação não se apresenta de maneira bem evidenciada.

Quanto aos instrumentos utilizados para a coleta de dados da referida pesquisa, estes

foram diversificados. Para se alcançar os objetivos desejados em um estudo de caso, faz-se

necessário utilizar instrumentos variados (registros de arquivos, entrevistas, observação direta,

observação participante e artefatos físicos), respeitando os seus requisitos e procedimentos

metodológicos correspondentes (YIN, 2010).

Inicialmente, utilizou-se, como técnica de investigação, a observação participante que

permite ao observador assumir papéis diferenciados e participar diretamente nos eventos

estudados, seguida de entrevistas, semiestruturadas, que além de valorizar a presença do

investigador, contribui significativamente para que o sujeito investigador obtenha as

informações necessárias à investigação, que não são possíveis ser explicadas por outros

instrumentos utilizados na realização do estudo.

As entrevistas foram realizadas com os vigilantes (atores) envolvidos diretamente na

problemática, com o propósito de coletar dados fidedignos que subsidiassem a elaboração do

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respectivo estudo e possibilitar uma melhor compreensão da situação percebida no respectivo

ambiente de trabalho e no desenvolvimento do processo investigado.

O referido estudo foi desenvolvido em um órgão interno da UFRN, especificamente na

Diretoria de Segurança Patrimonial - DSP, onde foi analisado o serviço ostensivo de ronda

móvel no Campus Central, executado pelos vigilantes concursados da UFRN, tendo como

instrumento balizador utilizado para a sua realização, a Análise Ergonômica do Trabalho –

AET, delineada por Abrahão; et. al. (2009).

Inicialmente, foi realizada uma visita in loco à DSP, a fim de identificar, através da

AET, os problemas e dificuldades existentes no processo de trabalho desenvolvido pela

respectiva categoria de servidores, através da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), as

diferenças entre o trabalho prescrito e o trabalho real, bem como os riscos ergonômicos,

decorrentes das atividades e tarefas realizadas por esses profissionais.

Para a coleta de dados, realizou-se entrevistas semiestruturada, aplicadas a 21 dos 32

vigilantes que desenvolvem o serviço ostensivo de ronda móvel, utilizando o relatório de dados

estatísticos sobre ocorrências de natureza diversas no Campus Central da UFRN, registradas

pela DSP nos anos de 2013-2016, observação participante, bem como Laudo de Avaliação do

Ambiente de Trabalho realizado pela Coordenadoria de Promoção da Segurança do Trabalho e

Vigilância Ambiental – COPS/DAS, ano de 2013.

Inicia-se essa etapa da AET realizando uma visita in loco a Diretoria de Segurança

Patrimonial da UFRN - DSP, onde entrevistamos o Diretor da DSP e 21 dos 32 vigilantes que

realizam esse processo, com o intento de obter as informações necessárias e indispensáveis para

a elaboração dessa pesquisa e a formulação da demanda, e, por conseguinte, a formulação das

recomendações.

A fase subsequente à coleta dados é a da análise e interpretação destes, momento em

que o pesquisador/investigador confronta as informações coletadas, através das técnicas

utilizadas (entrevistas, documentos, literaturas, dentre outros), com a abordagem teórica,

anteriormente mencionada, objetivando alcançar os objetivos propostos na referida pesquisa.

Nesse sentido, a análise de dados consiste no exame, categorização e classificação das

evidências, conforme proposições iniciais do estudo. (YIN, 2010).

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46

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo será detalhado as fases da Análise Ergonômica do Trabalho, apresentadas

na revisão de literatura, que foram utilizadas na investigação do referido processo em

concomitância com os dados coletados, seguidos de suas respectivas interpretações.

5.1 Análise da Demanda

A análise da demanda, conforme mencionado anteriormente, é a primeira etapa a ser

realizada em uma investigação ergonômica, pois, é nesse momento em que o pesquisador

identificará os processos existentes no ambiente de trabalho, bem como os problemas de sua

execução e que subsidiarão as fases subsequentes da investigação ergonômica.

Conforme Wisner (1987), a análise da demanda “... é uma fase sempre importante do

estudo ou da pesquisa: deve-se analisar a representatividade do autor da demanda, a origem da

demanda, os problemas, as perspectivas de ação, os meios disponíveis” (p. 29).

A demanda foi motivada pelas queixas dos vigilantes, relativas às condições de trabalho

para a execução de suas atividades e tarefas. Assim, a demanda foi analisar o serviço ostensivo

de ronda móvel, executado em regime de plantão, sob a perspectiva das condições de trabalho

desses vigilantes durante todo o processo de desenvolvimento desse serviço.

A Principal demanda identificada pelo pesquisador e ratificada pelos vigilantes

entrevistados está relacionada às condições de trabalho, especificamente à falta de Equipamento

de Proteção Individual – EPI para a realização do trabalho.

Alguns desses entrevistados declararam que se sentem inseguros para a realização do

serviço. No entanto, afirmaram que apenas alguns vigilantes têm externado aos seus superiores

hierárquicos a preocupação quanto à falta de condições adequadas de trabalho. Conforme,

transcrito abaixo:

Entrevistado 1:

Algumas vezes procuramos os nossos chefes para alertar do risco que corremos e

também dizer que do jeito que a gente trabalha, estamos sujeitos ao pior.

Foi possível observar que nas realizações das atividades e tarefas ficou evidenciada a

falta de observância aos princípios da ergonomia, o que pode prejudicar o trabalho, aumentar

os riscos ergonômicos e, principalmente comprometer à saúde e segurança dos vigilantes.

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47

A análise da demanda revelou ainda que não há medidas de segurança para os vigilantes

realizarem o trabalho, pois executam o serviço de ronda móvel sem nenhum tipo de EPI,

aumentando assim, a possibilidade de possíveis acidentes de trabalho.

Além disso, observou-se que esse processo é realizado diuturnamente por 32 vigilantes,

que estão distribuídos, proporcionalmente, entre as quatro equipes de plantão (A,B,C,D) e que

concorrem as seguintes jornadas de trabalhado: 12hx24h e 12hx48h (12h de trabalho diurno/24h

de folga e 12h de trabalho/noturno x 48h folga, respectivamente); 12x24 e 12x60 (12h de

trabalho/diurno x 24h/folga e 12h de trabalho/diurno x 60h/folga, respectivamente); 12x24 e

12x60 (12h de trabalho/noturno x 24h/folga e 12h trabalho/noturno x 60h/folga). Durante o

turno diurno (dias úteis) de trabalho em dias úteis (diurno) de 12h os vigilantes realizam o

processo pelo período de 03 horas e ficam 03h descanso e/ou sobreaviso na DSP, ou seja, para

cada 03 horas trabalhadas existe 03h de descanso e/ou sobreaviso.

Cabe destacar que nos dias não úteis, o efetivo de vigilantes do turno diurno é dividido

em duas subequipes, e que trabalham 6h ininterruptas, respectivamente. No entanto, no turno

noturno o serviço é realizado dás 19h às 23h, (em dias úteis e não úteis) initerruptamente, após

esse horário a equipe do serviço ostensivo de ronda móvel é subdividida, ficando de sobreaviso

na DSP e, obedecendo ao seguinte horário de trabalho: 1º turno (dás 23h às 01h30min); 2º turno

(dás 01h30min às 04h) e o 3ºturno (dás 04h às 07h).

Nessa etapa da investigação foram levantadas algumas informações, sobre as seguintes

variáveis, respectivas a cada fase da AET, que serão comentadas a seguir: empresa (UFRN),

população investigada (vigilantes), tarefas, atividades, documentos, legislações.

5.1.1 Informações sobre a empresa

Segundo, Abrahão (2011, p. 191), obter informações sobre o objeto a ser investigado,

antes de se iniciar o processo de observação, permite ao investigador “... avaliar o contexto, as

implicações da ação, as dificuldades e definição do processo de acordo com as especificidades

da empresa/instituição”.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN foi criada pela Lei Estadual

de nº 2.307, de 25 de junho de 1958 que foi federalizada pela Lei nº 3.849 de 18 de dezembro

de 1960. Inicialmente, foi formada por faculdades e escolas de nível superior situadas em

diferentes bairros de Natal/RN (faculdade de odontologia; a faculdade de Direito; a Faculdade

de Medicina; a Escola de Engenharia, entre outras) e somente a partir de 1968, com a reforma

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48

universitária, assumiram uma nova estrutura organizacional, passando a funcionarem de acordo

com as suas respetivas naturezas de cursos e disciplinas.

Na década de 70 a UFRN, o Campus Universitário foi construído numa área de 123

hectares, conforme mostra a Figura 1, que posteriormente abrigaria algumas dessas faculdades.

No entanto, foi através do Decreto de nº 74.211 de 24 de junho de 1974, que foram criados os

seguintes conselhos administrativos: Conselho Universitário – CONSUNI, Conselho Superior

de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE, Conselho de Curadores – CONCURA e Reitoria

e, que posteriormente, no ano de 1996, sendo a estes acrescentados: o Conselho de

Administração (CONSAD) e Unidades acadêmicas Especializadas e Núcleos de Estudos

interdisciplinares. A UFRN atualmente oferece 48 cursos de graduação presencial, 09 cursos

de graduação à distância e 86 cursos de pós-graduação e sua comunidade universitária é

formada por 37.000 alunos matriculados; 3.146 servidores técnico-administrativo e 2.000

docentes efetivos, além de professores substitutos e visitantes. Diante pode-se perceber a

importância do serviço de segurança patrimonial para o referido ambiente acadêmico.

Importante ressaltar que dentre os técnico-administrativos, se encontra a categoria de

vigilantes concursados que executam o serviço de segurança patrimonial no Campus Central,

população investigada nessa pesquisa.

Figura 1 – Foto do Campus Central da UFRN

Fonte: UFRN (2016). Disponível em: http://agorarn.com.br/

Ainda sobre a empresa, se identificou que a mesma possui no centro de convivência,

algumas entidades financeiras (Bancos, correios, cooperativa, restaurante, livraria, farmácia), o

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49

que aumenta o risco de segurança no Campus Central, e consequentemente requer dos vigilantes

maiores cuidados e atenção, quanto às possíveis ocorrências de natureza criminosa nesse

ambiente.

Ao analisar o organograma administrativo da UFRN, foi possível identificar que a

Diretoria de Segurança Patrimonial, está vinculada a Pró-reitora de Administração – PROAD,

e que adota uma estrutura administrativa diferente do que está apresentado no anexo da

resolução do CONSUNI nº 020/2015, de 04 de novembro de 2015, que aprovou o regimento

interno da UFRN, em seu caput VI, subseção VI “Da Diretoria de Segurança Patrimonial”, o

que pode dificultar algumas das ações da segurança patrimonial da UFRN, haja vista que o

desenvolvimento das políticas de segurança desenvolvidas pela equipe administrativa da DSP,

conforme a Figura 2, requer reconhecimento institucional da Administração Central.

Figura 2 – Organograma adotado pela DSP

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

De acordo com o organograma apresentado, verifica-se que a DSP possui seus

departamentos bem definidos, de acordo com as responsabilidades de cada setor. No entanto,

percebe-se que se trata de uma estrutura administrativa diferente do que está apresentado no

anexo da resolução do CONSUNI nº 020/2015, de 04 de novembro de 2015, que aprovou o

regimento interno da UFRN, como pode ser observado na Figura 3.

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50

Figura 3 – Organograma da DSP aprovado pelo CONSUNI

Fonte: Regimento interno da Reitoria (2015).

A UFRN disponibilizou um prédio, como consta na Figura 4, localizado nas

proximidades do Departamento de Material e Patrimônio – DMP, Campus Central, que serve

para o funcionamento administrativo da DSP e como ponto de apoio para os vigilantes que

realizam o serviço ostensivo de ronda móvel.

Figura 4 – Prédio da Diretoria de Segurança Patrimonial da UFRN – DSP

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Como estrutura e organização funcional, a Diretoria de Segurança Patrimonial da UFRN

encontra-se em dissonância com as normas preestabelecidas para a realização de suas atividades

dentro do Campus Central da UFRN, podendo inclusive dificultar algumas das ações da

segurança patrimonial da UFRN, haja vista que o desenvolvimento das políticas de segurança

Diretoria

Setor de Coordenação Operacional

Secretaria

Assessoria Técnica

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51

desenvolvidas pela equipe administrativa da DSP, requer reconhecimento institucional da

Administração Central.

5.1.2 características da população

A Diretoria de Segurança Patrimonial da UFRN – DSP possui atualmente um efetivo de

112 vigilantes, sexo masculino, lotados em Natal e que estão distribuídos da seguinte forma:

Tabela 1 - Quadro funcional da DSP

Funções

Nº de

vigilantes

Porcentagem

%

Diretoria 01 1

Coordenadoria operacional 01 1

Auxiliar da coordenadoria operacional 01 1

Assessoria técnica da diretoria 01 1

Assessoria Técnica da seção de segurança eletrônica 01 1

Auxiliar da assessoria técnica da seção de segurança eletrônica 01 1

Supervisão de equipes de plantão 09 8

Auxiliar de supervisão de equipe de plantão 02 2

Supervisores- Adjuntos 04 3

Serviço de Inteligência 02 2

Efetivo de vigilância de postos fixos (prédios) 57 51

Equipe do serviço ostensivo de ronda móvel 32 28

Total 112 100

Fonte: DSP/UFRN (2017).

Nove vigilantes desempenham a função de supervisor de equipes, auxiliando a

coordenação operacional, quanto às ações dos vigilantes (concursados e terceirizados) de

serviço no Campus Central e prédios adjacentes a UFRN, registrando as ocorrências do plantão.

Dois vigilantes desenvolvem o serviço de auxiliar de supervisor da DSP, atendendo aos

telefones de emergência da DSP.

Quatro vigilantes que desempenham a função de supervisores- adjunto, auxiliando os

supervisores titulares, na fiscalização e coordenação das ações desenvolvidas pelas equipes de

plantão.

Dois vigilantes realiza o serviço de inteligência, observando e investigando possíveis

atos que resultem em delitos no Campus Central.

Cinquenta e sete vigilantes trabalham em postos fixos. Destes, oito vigilantes atuam em

prédios adjacentes da UFRN e quarenta e nove vigilantes trabalham em prédios localizados no

Campus Central.

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Seis vigilantes realizam funções administrativas na DSP, destes, hum exerce o cargo de

Diretor da DSP, tendo como atribuição: planejar, analisar, avaliar, implantar e acompanhar o

desenvolvimento das políticas de segurança patrimonial da UFRN.

Um vigilante desenvolve o cargo de coordenação operacional que tem a atribuição de

auxiliar a diretoria da DSP, quanto ao processo de segurança patrimonial da UFRN (Campus

Central e Campis avançados).

Um vigilante exerce o cargo de assessor técnico da diretoria da DSP, que tem como

função assessorar o diretor da DSP nos assuntos relacionados à segurança institucional, bem

como elaborar ações estratégicas voltadas para a segurança patrimonial da UFRN.

Um vigilante desenvolve a função de auxiliar administrativo da DSP, assessorando as

atividades administrativas da coordenação operacional da UFRN.

Um vigilante executa a função de auxiliar técnico na Seção de Segurança Eletrônica -

SSE da UFRN, sendo responsável pelo resgate de imagens gravadas por câmeras, bem como

em resolver possíveis problemas técnicos no sistema interno de segurança eletrônica.

Um vigilante desenvolve a função de auxiliar administrativo na SSE, assessorando as

atividades administrativas do DSP.

Quanto à faixa etária, os gráficos 1 e 2, respectivamente, apresentam dados sobre a

média de idade do efetivo geral dos vigilantes que são lotados na DSP e que trabalham no

Campus Central da UFRN, bem como dos vigilantes que executam o serviço ostensivo de ronda

móvel no referido ambiente acadêmico, conforme, demonstrado a abaixo:

Gráfico 1 – Idade dos vigilantes lotados na DSP

Fonte: Dados da DSP (2017).

<46>50 <51>55 <56<60 <61>65 <66<70 Total

VIGILANTES 2 14 53 35 8 112

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Conforme o gráfico 1, a idade média do efetivo total de vigilantes concursados da UFRN

que trabalham no Campus Central é de 59 anos. Sendo que a maior parte desses servidores se

concentra na faixa etária dos 56-60 anos. A população com idade menor que os 50 anos

corresponde a 02 vigilantes; 14 vigilantes com idade compreendida entre 51-55 anos; 35

vigilantes com faixa etária entre os 61- 65 anos; 08 vigilantes com idade superior a 66 anos e

inferior aos 70 anos.

É importante ressaltar, que o último concurso público para a admissão para o cargo de

vigilantes da UFRN, ocorreu no ano de 1989, o que justifica a média de idade desses

profissionais, ainda, em atividade.

Gráfico 2 – Faixa Etária dos vigilantes que executam o serviço ostensivo de ronda móvel

Fonte: Dados da DSP, 2017

O gráfico 2, possibilitou observar que 06 vigilantes têm idade inferior a 55 anos; 16

vigilantes com idade entre 55 e 60 anos e 10 vigilantes com idade superior a 60 anos. Com isso,

comprova-se que a maioria desses vigilantes já alcançou a idade mínima, para a aposentadoria

com integralidade e paridade e proventos integrais e, que a qualquer momento podem requerê-

la. Vale ressaltar que dados da pesquisa permitiu identificar que a média de idade desses

profissionais que executam o serviço ostensivo de ronda móvel é de 57 anos, representando

49% do efetivo total.

No entanto, para as atividades destinadas à estes profissionais, observa-se uma

necessidade urgente de um quadro com integrantes mais jovens, uma vez que ao passar do

tempo, as necessidades de segurança do campus e de agilidades por partes destes profissionais

possam não se encontrarem adequadas, diante do desgaste físico que a própria função apresenta

ao passar o tempo e das limitações físicas que o corpo humano apresenta após certa idade.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

>55 anos <55>60 anos <60 anos

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Gráfico 3 – Escolaridade dos vigilantes que executam o serviço ostensivo de ronda móvel.

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

O gráfico 3, revela o nível de escolaridade dessa categoria de profissionais, seguidas de

suas respectivas percentagens: 01 vigilante com alfabetização, representado 3%; 05 vigilantes

cursaram apenas o ensino fundamental, correspondente a 16%; 10 vigilantes concluíram o

ensino médio, representando 31%; 08 vigilantes possui nível de graduação, equivalente a 25%

e 08 possui algum curso de pós-graduação, strito-senso, significando 25% do efetivo de

vigilantes que desenvolvem o serviço ostensivo de ronda móvel.

Tabela 2 – Perspectiva de aposentadoria dos vigilantes que ainda não estão incluídos na regra

de aposentadoria do INSS.

PERSPECTIVA DE APOSENTADORIA

Anos N° de vigilantes

2019 01

2020 01

2022 01

2023 01

2024 01

2027 02

2029 02

Total 09

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Ainda sobre o perfil desses vigilantes, a tabela 2, apresenta os dados relativos à

perspectiva de aposentadoria para àqueles que ainda não adquiriram o direito à aposentadoria,

conforme, regra estabelecida pelo Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS.

0

2

4

6

8

10

12

Afalbetização Ens.Fundamental

Enns. Médio Ens. Superior Stricto-Sensu

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De acordo com a Tabela 2, identificamos que apenas 09 dos 32 vigilantes, ainda não

atingiram as condições exigidas pelo INSS, para se aposentarem com paridade e integralidade,

conforme, art. 3º da EC nº 47/2005. Porém, os demais já alcançaram o tempo de serviço,

mínimo, exigido pelo INSS para a aposentadoria com proventos integrais e, assim podem a

qualquer momento requerer esse direito.

No entanto, os possíveis motivos pelos quais esses vigilantes ainda continuam

trabalhando, pode ser em razão do Plano de Cargo e Salários dos Técnico-Administrativos das

IFES, PCCTAE, Lei nº 11.091/2005 (concessão do Incentivo de Qualificação), bem como pela

EC nº 41, de 2003 do Ministério da Previdência (concessão do abono de permanência).

5.1.3 Escolha das situações de análises

Conforme Abrahão et al. (2009, p. 197), “a complexidade dos elementos que envolvem

a situação de trabalho interfere nos critérios da ação ergonômica, principalmente na escolha das

situações (tarefas) a serem analisadas”. Em razão disso, a ação ergonômica deve ser iniciada

com a demanda, uma vez que esta permite ao pesquisador identificar quais os problemas

existentes, e que ao serem analisados possam apresentar possibilidades de resolução.

A entrevista semiestruturada aplicada a 21 dos 32 vigilantes que executam o serviço

ostensivo de ronda móvel indicou unanimidade, quanto à afirmação de que as inadequadas

condições de trabalho interferem na execução desse processo. Conforme, relato de alguns

desses entrevistados:

Entrevistado 2:

Como podemos realizar o nosso serviço se a DSP e a UFRN não oferecem as mínimas

condições de trabalho?

Entrevistado 3:

Não temos a mínima condição de realizar esse serviço, pois a DSP não nos dá o

equipamento que precisamos.

2- Que o Estatuto do Desarmamento interferiu na realização do serviço, porque ao

restringir o porte de arma, para a categoria, limitou algumas ações;

Entrevistado 3:

Esse estatuto do desarmamento veio só atrapalhar o nosso serviço, agora não podemos

mais fazer o que fazíamos antes. Não dar, para trabalhar desse jeito.

4- Que nos últimos cinco anos não participaram de nenhum curso de capacitação,

relacionado diretamente com o referido processo;

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Entrevistado 4:

Já faz algum tempo que não fazemos nenhum tipo de curso.

5- Que a ausência do armamento, colete balístico e a falta de manutenção de outros

equipamentos (rádios de comunicação e viaturas), são as principais dificuldades para a

execução do serviço;

Entrevistado 5:

Temos outras dificuldades, mas se tivéssemos os equipamentos que precisamos já seria

muito bom.

6- Que não existe plano de trabalho que oriente as ações desenvolvidas no plantão e que

por isso, as ações desenvolvidas pelos vigilantes executores, são definidas pelos seus

respectivos supervisores de equipes;

Entrevistado 6:

Até onde sei, não existe nenhum plano de trabalho, só sei que quem diz o que devemos

fazer são os supervisores de equipes, eles é que são responsáveis pelo serviço.

7- Que o retorno do uso de arma de fogo, em serviço, e melhores condições de trabalho

tornariam o serviço mais eficiente e mais seguro;

Entrevistado 7:

Hoje nós temos medo de atender as ocorrências, mas, se as armas retornassem, ai, sim,

a coisa seria diferente, esses bandidos não estariam fazendo tantos assaltos aqui no Campus.

8- Que a elaboração de um plano de trabalho para as equipes de plantão e a aquisição

de mais equipamentos de trabalho (rádio de comunicação interna, lanternas) poderia

proporcionar melhorias no trabalho desenvolvido e em seus resultados;

Entrevistados 8:

É, se tivéssemos um plano que dissesse o que é para fazer e equipamentos para

trabalhar, com certeza o trabalho iria melhorar.

9- Que não dispõem nem utilizam nenhum tipo de EPI para a realização do trabalho.

Entrevistado 09:

A única coisa que temos é farda, pois os rádios de comunicação que existe não dão pra

todos os vigilantes, por isso, torcemos para que não nos aconteça nada de grave.

A escolha da situação a ser analisada, iniciou-se a partir das observações realizadas na

DSP, objetivando levantar as informações importantes sobre a situação real de trabalho dos

vigilantes, frente à execução do serviço ostensivo de ronda móvel. Para a definição da escolha,

fez-se necessário considerar critérios relacionados às naturezas, características e a

operacionalidade das atividades e tarefas pertinentes ao cargo de vigilante de IFES. Diante das

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variadas situações de trabalho apresentadas, buscou-se observar a situação que possibilitasse

uma possível ação ergonômica no trabalho desses vigilantes.

Dentre as situações identificadas destacam-se: as atividades e tarefas que requerem

maior esforço cognitivo como, por exemplo: (redigir ocorrências, gerenciar crises) e outras que

exigem maior esforço físico: (rondas de pés, correr em perseguição e/ou para deter infratores,

isolamento de áreas, controlar tráfego de veículos).

Nessa etapa da AET, identificou-se que o serviço ostensivo de ronda móvel, realizado

por esses vigilantes apresenta maiores riscos ergonômicos e de segurança, se comparado às

demais atividades e tarefas desenvolvidas por esses servidores. Esse serviço, segundo o diretor

da DSP era executado até o ano de 20015, por aproximadamente 100 vigilantes, concursados,

em condições de trabalho aproximadas, das recomendadas pela NR17. No entanto, após esse

período, passou a ser realizado por 32 vigilantes em condições inadequadas de trabalho, bem

como em desconformidade com o que estabelece a referida norma regulamentadora.

Portanto, diante dos relatos dos vigilantes entrevistados, de algumas variáveis

identificadas que podem interferir nesse serviço, como também, da existência de riscos

ergonômicos e de segurança que podem provocar possíveis acidentes de trabalho, se escolheu

analisar as condições de trabalho desses vigilantes, baseados na AET.

5.1.4 Análise da tarefa

A tarefa refere-se ao trabalho prescrito pela empresa procura minimizar ao máximo o

trabalho improdutivo e maximizar ao máximo o trabalho produtivo (GUÉRIN et al, 2001).

Ela corresponde a um planejamento do trabalho e pode estar contida em documentos

formais, como a descrição de cargos. Informalmente, pode corresponder a certas expectativas

gerenciais. (LIDA, 2005).

As tarefas (trabalho prescrito) dos vigilantes concursados estão definidas no PCCTAE,

conforme transcritas, abaixo:

• Percorrer a área sob sua responsabilidade, atentamente para eventuais anormalidades

nas rotinas de serviço e ambientais;

• Vigiar a entrada e saída das pessoas, ou bens da entidade;

• Tomar as medidas necessárias para evitar danos, baseando-se nas circunstâncias

• Observadas e valendo-se da autoridade que lhe foi outorgada;

• Prestar informações que possibilitam a punição dos infratores e volta à normalidade;

• Redigir ocorrências das anormalidades ocorridas;

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• Escoltar e proteger pessoas encarregadas de transportar dinheiro e valores;

• Escoltar e proteger autoridades;

• Executar outras tarefas de mesma natureza e nível de complexidade associadas ao

ambiente organizacional.

Quanto às tarefas dos vigilantes pode-se observar que diferem, entre si, quanto aos riscos

de segurança e natureza e, que algumas são desenvolvidas parcialmente, devido às condições

inadequadas de trabalho e a falta de capacitação profissional.

Analisando os dados obtidos na entrevista sobre as tarefas, constatou-se que a maioria

dos vigilantes não concorda em executar as tarefas que aparentemente se apresentam com maior

classificação de risco de segurança. Contudo, as tarefas que eles consideram de menor risco,

segundo os entrevistados, podem ser realizadas normalmente, mesmo, diante das condições de

trabalho desfavoráveis.

Para um melhor entendimento sobre o ritmo de trabalho, desenvolvemos a seguinte

tabela:

Tabela 3 – Ritmo de trabalho dos vigilantes

Turnos Dias Horários de

trabalho

Turno de

trabalho

Sobreaviso

na DSP Observação

Diurno

Úteis 07h às 19h 12h 06h 03h de trabalho/03h de

sobreaviso

Não úteis 06h ás 13h

13h às 19h

06h

06h Nenhum Horário corrido de 06h

Noturno

Úteis 19h às 07h 12h 05h30min

Após ás 23h os vigilantes

trabalham em turnos de

02h30min

Não úteis 19h às 07h 12h 05h30min

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

Quanto à organização do processo, a análise ergonômica evidenciou que não existe um

plano de trabalho que oriente e legitime as ações dos vigilantes, o que contribui para que as

atividades sejam desenvolvidas sem que haja um ordenamento e critérios para as suas

realizações. Isso pode ser atribuído ao entendimento, expresso pelo diretor da DSP, em

entrevista, quando perguntado sobre a necessidade de um plano de trabalho para a vigilância da

UFRN: Entendo não ser necessário um plano de trabalho, pois todos os vigilantes já fazem

esse serviço há muitos anos e, por isso já sabem o que devem fazer.

Além disso, observou-se que durante o turno de trabalho, o processo é executado a cada

03h, por 04 vigilantes distribuídos em dois veículos, percorrendo todas as vias internas do

Campus Central, num tempo estimado de 40 min. Sendo que algumas vezes o serviço é

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realizado de pés, em ambientes internos (setores de aulas, centros, departamentos, etc).

Importante destacar que esse serviço é interrompido algumas vezes pela DSP, quando solicita

desses vigilantes a realização de outras atividades, tais como: entregar e receber documentos

internos, conduzir pessoas a setor de atendimento médico, pegar alimentos no Restaurante

Universitário, etc. Isso interfere na execução das tarefas e no desempenho do serviço.

Em relação à análise documental, relativa às disposições jurídicas que interferem no

desenvolvimento de algumas dessas tarefas, destaca-se o Estatuto do Desarmamento, que

restringi o porte de arma para os vigilantes das IFES. Contudo, se verificou também, através de

documento oficial, boletim interno (anexo 1), que na Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, a Administração Central, representada pelo Reitor, valendo-se da autonomia

universitária, disposta no art. 207 da Constituição Federal do Brasil, autorizou, mediante

aprovação no CONSUNI, o porte de arma de fogo, institucional, que dá aos seus vigilantes

concursados, o direito de portarem arma de fogo quando em serviço.

Para tanto, considerou-se, dentre algumas variáveis, a importância e especificidade do

referido processo na instituição, a descrição do cargo de vigilante e suas tarefas descritas no

PCCTAE, bem como a necessidade de garantir a segurança do desenvolvimento das atividades

acadêmicas, da comunidade universitária e das pessoas que a visitam. Seguindo, esse

encaminhamento a Universidade Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ, conforme documento

(anexo 2), conseguiu junto a Direção Geral da Polícia Federal, Brasília, a autorização para o

porte de arma de fogo para os vigilantes de seu quadro ativo de servidores.

Importante, ainda, relatar que existe um Plano de Segurança Patrimonial Institucional

para as Instituições Federais de Ensino Superior (anexo 3), com vigência 2002/2004, elaborado

pela Federação de Sindicatos dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de

Ensino Superior Públicas do Brasil – FASUBRA, que define as tarefas dos vigilantes das IFES.

Porém, até a presente data da realização dessa pesquisa, esse documento não havia sido entregue

oficialmente a administração central da UFRN.

A análise documental, Laudo Ergonômico realizado em 2013, atestou que as tarefas

desenvolvidas pelos vigilantes, apresentam riscos ergonômicos e de segurança, o que pode

comprometer a saúde e integridade física desses profissionais. Em razão disso, os vigilantes

percebem em seus vencimentos, uma vantagem de 10% do salário base, correspondente a

adicional de periculosidade.

Por fim, conclui-se que as tarefas dos vigilantes se apresentam de forma variada, e que

são desenvolvidas sem critérios de organização, indicando assim, problemas de ordem

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60

organizacional, o que pode tanto afetar a saúde e segurança dos vigilantes, quanto interferir

significativamente a produtividade e qualidade dos serviços realizados.

5.1.5 Observações globais e abertas da atividade

A análise da atividade consiste na análise das condições do ambiente de trabalho,

considerando a organização dos processos, bem como o comportamento do trabalhador na

execução das mesmas.

Para uma melhor compreensão das atividades identificadas pela AET e que são

desenvolvidas pelos vigilantes, teve-se como base a NR17 do MTE que objetiva estabelecer

parâmetros que contribuam para a adaptação do trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, em seus respectivos ambientes de trabalho. Com relação aos dados estatísticos,

tabela 5, correspondentes às ocorrências ocorridas no Campus Central da UFRN e, registradas

pela DSP entre os anos de 2013 a 2016, obteve-se os seguintes os dados relacionados

diretamente com o serviço ostensivo de ronda móvel:

Tabela 4 – Estatísticas de ocorrências registradas pela DSP

Fonte: Dados da DSP (2017).

Conforme a tabela 4 pode-se observar que houve um aumento significativo do número

de ocorrências registradas e que a quantidade de crimes praticados contra as pessoas,

especificamente os assaltos, se destaca em relação às demais, o que pode ser atribuído ao

aumento da criminalidade no estado do Rio Grade do Norte; às condições de trabalho dos

vigilantes; inadequação das políticas de segurança institucional, existentes, ao atual contexto

organizacional; a falta de parcerias e apoio de outros órgãos de segurança pública do Estado;

às limitações legais (estatuto do desarmamento), falta de maior investimento em tecnologias de

Tipos de Ocorrências

N° de registros de

ocorrências/Anos

Somatório das

ocorrências

2014 2015 2016

Assaltos 31 40 33 104

Ameaça a vida 2 4 7 13

Arrombamentos de patrimônio 4 5 4 13

Danos ao Patrimônio 14 14 18 46

Furtos de Patrimônio 16 5 5 26

Detenção à suspeitos 9 1 17 27

Furtos de Terceiros 23 15 10 48

Arrombamento de Terceiros 1 12 14 27

Furto de Veículo 0 2 3 5

Delitos com Drogas 13 17 26 56

Total 343

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61

segurança, a média de idade, efetivo insuficiente, bem como a forma de organização do trabalho

desses profissionais.

Identificou-se também que o número de detenção a suspeitos é inferior a quantidade de

atos de violência praticados. Segundo, informações do diretor da DSP, todas as detenções a

suspeitos e infratores foram realizadas por vigilantes terceirizados que executam o mesmo

serviço. Isso ratifica que as condições de trabalho dos vigilantes não permitem a realização de

tarefas mais complexas e de nível de risco mais elevado.

Face aos dados relacionados às ocorrências, ver-se a necessidade de uma análise de

riscos do ambiente de trabalho, bem como das atividades desenvolvidas pelos vigilantes, haja

vista a necessidade dos vigilantes trabalharem de acordo com o que estabelece as normas

regulamentadoras do trabalho.

Diante do que fora observado, identificou-se que os vigilantes realizam as seguintes

atividades: conduzir, em caso de emergência pessoas a postos de pronto atendimento médico e

hospitais de urgências da cidade; fechar e abrir prédios; combater incêndios; coibir o uso e a

comercialização de drogas lícitas e ilícitas; organizar e controlar, quando necessário, o tráfego

de veículos; entregar documentos oficiais no interior e exterior da referida instituição de ensino;

remover, quando necessário, para postos de serviço, vigilantes concursados e de empresa

terceirizada; atuar na segurança de eventos acadêmicos; comparecer à local do acidente

envolvendo veículos e/ou pessoas (colisão, atropelamentos, etc.); comparecer aos postos fixos,

quando solicitados pela DSP e/ou por vigiantes que estão de plantão; dar segurança aos

participantes (comunidade universitária) de manifestações no Campus Central.

Considerando-se o comportamento desses servidores no trabalho, foi constatado que os

vigilantes antes de assumirem o plantão colocam o uniforme, cedido pela UFRN, contudo, com

ausência de EPI’s. Durante o horário em que estão realizando o serviço ostensivo de ronda

móvel permanecem a maior parte do tempo, dentro do veículo, atentos tanto a possíveis atos

que possam interferir na sua segurança e no estado de tranquilidade do ambiente acadêmico,

quanto às informações emitidas pela DSP e demais vigilantes que trabalham em postos fixos.

Vale ressaltar que o rádio fixo, instalado no painel do veículo é operacionalizado pelo

vigilante que ocupa o banco dianteiro do passageiro, para atender as demandas do serviço,

enquanto que o outro vigilante ocupante da viatura (motorista) continua com a atenção voltada

para o ambiente externo ao veículo, sem, contudo, desviar a atenção do que estar sendo

transmitido no momento.

Importa ressaltar que segundo relato de um dos vigilantes entrevistados:

Entrevistado 10

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62

No momento em que somos informados sobre ato(s) de natureza(s) criminosa(s),

ocorrido no Campus Central, à sensação que tenho é de insegurança, medo e de incapacidade.

Pois, não me sinto seguro e capaz, frente a uma situação que apresenta risco de morte e, sem

ter nenhum equipamento para me proteger.

Foi possível identificar que durante as 03h de desenvolvimento do serviço, os vigilantes

comparecem algumas vezes ao prédio da DSP para receberem orientações do supervisor e/ou

para satisfazer alguma necessidade fisiológica. No entanto, durante as 03h que permanecem de

sobreaviso na DSP, aproveitam para descansar e/ou conversar com outros profissionais que ali,

trabalham.

Entrevistado 11:

Quando estou de sobreaviso na DSP aproveito para conversar com alguns colegas que

estão também de plantão.

Entrevistado 12:

Eu aproveito o tempo de sobreaviso para descansar um pouco, para renovar as minhas

energias para mais 03h de trabalho.

Quanto à organização do trabalho, se identificou que não existe um plano de trabalho

e/ou manual de procedimentos que oriente as ações desses vigilantes durante o horário de

trabalho. Isso, talvez seja o motivo pelo qual, os supervisores equipe planejem e coordenem as

ações executadas durante cada plantão, além de só procurar por seus superiores hierárquicos

(diretor e coordenador operacional) quando entendem que a situação de trabalho que se

apresenta, lhes exige maior comprometimento e responsabilidade profissional quanto à tomada

de decisões.

Entrevistado 13:

Percebo que quando surgi uma situação considerada complexa, o supervisor prefere

perguntar ao diretor ou coordenador operacional o que fazer.

Entrevistado 14:

Eu só vejo o supervisor procurar o diretor ou coordenador operacional, quando não

pode resolver a situação.

5.1.6 Elaboração de um pré-diagnóstico

O pré-diagnóstico, inicia-se a partir das comprovações obtidas durante o processo de

investigação sobre o objeto pesquisado, bem como do conhecimento que o

ergonomista/pesquisador possui sobre a relação homem/trabalho (GUÉRIN et al, 2001).

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63

Este instrumento da AET permite a formulação de várias hipóteses que auxiliam na

explicação dos problemas identificados e, que serve de embasamento a elaboração do

diagnóstico ergonômico.

Através das observações livres e entrevista semiestruturada foi possível confrontar as

percepções iniciais de problemas da situação de trabalho com o processo investigado, sobre

tudo, definir o recorte que seria utilizado para essa pesquisa.

Identificaram-se ainda alguns problemas relacionados: a organização do trabalho

(ausência de um plano de trabalho); condições de trabalho (falta de Equipamento Proteção

Individual); recursos materiais (pouca quantidade e precariedade); relacionamento interpessoal

(ausência de reuniões periódicas com os trabalhadores). No entanto, a principal queixa dos

vigilantes está relacionada à situação de trabalho, especificamente à falta de EPI’s para a

realização das atividades e tarefas.

Essa indicação concorreu para que essa fase da AET priorizasse essa situação de

trabalho, sem, contudo, menosprezar os outros problemas existentes que tanto podem interferir

no desenvolvimento do processo, quanto ser o objeto de estudos futuros de uma AET.

Importante ressaltar que foram identificados outros fatores que poderiam influenciar na

instrução da demanda, tais como: a necessidade de análise do trabalho dos vigilantes sob

algumas situações de riscos mais elevados (abordagem, detenção, perseguição); a forma como

o trabalho é posto por seus superiores hierárquicos (supervisores e diretoria). Porém, optou-se

em investigar o serviço ostensivo de ronda móvel, considerando as condições de trabalho

durante a sua execução, com base na AET.

Diante disso, para a formulação das hipóteses, torna-se relevante apresentar alguns dos

problemas identificados:

• Parcial efetividade do processo investigado – isso pode estar associado às condições

de trabalho, especificamente, quanto à falta de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs,

instrumentos de segurança e proteção que são considerados indispensáveis na execução de

serviços que apresentam riscos de segurança e saúde aos trabalhadores;

• Limitações para o trabalho – pode ser decorrente de disposições legais,

especificamente, o estatuto do desarmamento, que ao impor restrição aos vigilantes de IFES a

portarem arma de fogo, limitou significativamente a execução de algumas das atribuições

desses servidores em seus respectivos ambientes de trabalho;

• A ausência de um plano de trabalho para as equipes – Isso pode ser em razão do

comportamento adotado pelos gestores da DSP, frente à percepção dos vigilantes quanto ao

conhecimento de suas atribuições, descritas no PCCTAE;

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64

• Precariedade de recursos materiais– observou-se que os veículos e rádios

disponibilizados pela DSP para a realização do serviço, estão em quantidade inadequada e em

condições precárias de manutenção.

• Em relação à qualidade de vida e saúde dos vigilantes – percebeu-se que alguns

vigilantes, já apresentam visíveis limitações físicas para a realização dos trabalhos;

5.1.7 Observação Sistemática

O serviço ostensivo de ronda móvel é realizado por 32 vigilantes, distribuídos

proporcionalmente entre 04 equipes (A, B, C, D), em veículos oficiais (figuras 1,2) percorrendo

as vias internas do Campus Central e, quando necessário esses vigilantes também atuam nos

ambientes institucionais (centros acadêmicos, setores de aulas, laboratórios, etc.). Importante

destacar que esse serviço é executado sem EPI’s (arma de fogo e colete balístico) e alguns

instrumentos de trabalho de uso específico, de condutores de moto (botas, tornoseleiras,

joelheiras, blusão).

Figura 5 – Modelos de carro e moto utilizados pela DSP

Fonte: UFRN/DSP (2017).

Os vigilantes que desenvolvem o sérvio ostensivo de ronda móvel, desenvolvem as

seguintes atividades:

• Atender às solicitações das equipes de plantão, que trabalham na Seção de Segurança

Eletrônica da UFRN - SSE;

• Encaminhar às autoridades competentes, substâncias psicoativas, apreendidas no

Campus Central da UFRN;

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65

• Fiscalizar o serviço de vigilância, prestado por empresa de segurança terceirizada, no

Campus Central e em prédios adjacentes à UFRN;

• Entregar documentos;

• Combater pequenos focos de incêndio;

• Acompanhar, quando necessário, na condução de pessoas detidas no Campus Central,

aos órgãos de segurança competentes;

• Controlar tráfego de veículos.

Quanto ao ritmo de trabalho dos vigilantes, considera-se lento. Pois, segundo dados

obtidos por meio de entrevista, as condições de trabalho inadequadas para a realização das

tarefas é o principal fator que tem provocado um alto índice de desmotivação entre esses

profissionais para o desenvolvimento do trabalho.

Entrevistado 15

Sem arma de fogo (revolver), colete balístico e as péssimas condições dos rádios e

viaturas é impossível, ficar motivado para o trabalho. Sinto-me bastante desmotivado.

Em relação à carga de trabalho, percebeu-se que no turno diurno (dias úteis) para cada

03h trabalhadas é concedido aos vigilantes 03h de descanso e/ou sobreaviso no prédio da DSP.

Nos dias não úteis o horário de trabalho é de apenas 06h ininterruptas. Portanto, para o turno

o noturno todos os vigilantes realizam o serviço pelo período de 04h ininterruptas (19h às 23h),

após esse horário permanecem na DSP se revezando em quartos de horas, até às 05h, horário

em que recomeçam suas atividades e tarefas.

Vale lembrar que em razão dos vigilantes não utilizarem EPI, e que em decorrência

disso não realizarem abordagens e detenções de pessoas suspeitas e/ou que tenham cometido

algum tipo de delito no referido ambiente acadêmico, não foi possível observá-los, frente a essa

possível situação de trabalho.

5.1.8 validações

A validação dos resultados alcançados foi realizada junto aos atores participantes,

entrevistados (Diretor da DSP e 21 dos 32 vigiantes/executores) que os ratificaram.

Entrevistado 16:

É muito bom saber que esse trabalho do curso que você está fazendo poderá ser útil

para a vigilância da UFRN.

Entrevistado 17:

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66

É muito importante poder contribuir com essa pesquisa. Pois, quem sabe isso poderá

nos ajudar a ter melhor condições de trabalho.

5.1.9 Diagnóstico

A principal causa originadora do problema existente no processo dos vigilantes, descrito

na demanda inicial, está relacionada às condições de trabalho que não correspondem com as

Normas Regulamentadoras de trabalho, bem como não contribui para o bom desempenho do

trabalho e segurança dos vigilantes.

Os resultados das entrevistas e das observações também evidenciam a necessidade e

importância do uso dos EPIs durante o desenvolvimento do trabalho. Segundo o vigilante

entrevistado, a DSP não disponibiliza EPIs, no entanto, deseja que as atividades e tarefas sejam

devidamente executadas.

Entrevistado 18:

A UFRN não nos dá os equipamentos que precisamos pra o trabalho, e ainda quer que

nós façamos todo o trabalho como se tivéssemos condição.

Outro problema que necessita de resolução está relacionado aos instrumentos de

trabalho existentes e disponibilizados pela DSP, pois, além de ser em números reduzidos está

em péssimo estado de uso e de conservação, o que aumenta a dificuldade do trabalho.

Em relação às condições de trabalho, identificou-se que a falta de Equipamento de

Proteção Individual tanto compromete o desempenho do serviço, quanto à segurança e saúde

dos vigilantes, considerando-se que alguns riscos ergonômicos e de segurança são inerentes à

função de vigilante.

Quanto à organização desse processo, observou-se que os vigilantes executam o serviço

sem a orientação de um plano de trabalho, atualizado e, isso, tem interferido nas ações da

segurança patrimonial, haja vista que para execução de algumas atividades, faz-se necessário o

respaldo institucional. No entanto, vale ressaltar que existe um plano de segurança para a

vigilância da UFRN, aprovado em 2002 com vigência até 2004, pela Administração Central da

UFRN, e que até a presente data da pesquisa o mesmo continua da forma como fora

homologado. Contudo, observou-se que mesmo os vigilantes demonstram profissionalismo e

compromisso com a instituição e a sociedade, ao continuar a desenvolver o trabalho, mesmo

diante dos problemas existentes.

Considerando-se o diagnóstico apresentado, formularam-se algumas recomendações

que serão mencionadas na fase seguinte da AET.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · O serviço ostensivo de ronda de móvel, desenvolvido no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

67

5.1.10 Recomendações

De acordo com os resultados obtidos mediante as hipóteses validadas, esta pesquisa

apresenta as seguintes recomendações formuladas e apresentadas no Quadro 2:

Quadro 2 – Discrepâncias entre o trabalho prescrito e o real

Trabalho prescrito Trabalho real

Percorrer a área sob sua responsabilidade,

atentamente para eventuais anormalidades

nas rotinas de serviço e ambientais;

Realizar rondas parciais, em áreas de sua

responsabilidade, observando eventuais

anormalidades nas rotinas de serviço e

ambientais;

Vigiar a entrada e saída de pessoas, ou bens

da entidade;

Observar a movimentação de pessoas,

consideradas suspeitas, o patrimônio público

e os bens de terceiros, localizados em áreas

de fácil acesso e de vigilância;

Tomar as medidas necessárias para evitar

danos, baseando-se nas circunstâncias

observadas e valendo-se de autonomia que

lhe foi outorgada;

Tomar as medidas possíveis, a fim de tentar

evitar danos ao patrimônio público, bens de

terceiros e a pessoas, considerando-se as

condições de trabalho e as prerrogativas de

agente público em serviço;

Redigir ocorrências das anormalidades

ocorridas;

Realizar registros, por meio de máquina

fotográfica, de anormalidades observadas,

bem como informar ao supervisor de equipe

apenas os fatos que julgar necessário;

Escoltar e proteger pessoas encarregadas de

transportar dinheiro e valores;

Tarefa não executada devido à falta de

condições adequadas e seguras de trabalho;

Escoltar e proteger autoridades; Acompanhar, quando possível, autoridades

internas e/ou as que visitam o Campus

Central;

Executar outras tarefas de mesma natureza e

nível de complexidade associadas ao

ambiente organizacional.

Realizar rondas e/ou comparecer em

ambientes internos onde estiver ocorrendo

eventos acadêmicos e/ou culturais; controlar

o tráfego de veículos; fazer a remoção de

vigilantes; Fonte: Dados da pesquisa (2017)

No sentido de contribuir para a reorganização do processo de trabalho da segurança

patrimonial da UFRN, com base da Análise Ergonômica do Trabalho – AET, foram formuladas

algumas recomendações que podem possibilitar a curto e médio prazo, melhorias das condições

de trabalho, da produtividade, da qualidade dos serviços realizadas, bem como a redução de

possíveis riscos ergonômicos e de segurança, existentes nesse processo de trabalho dos

vigilantes. Cabe, ressaltar que para a implementação de algumas das recomendações, faz-se

necessário uma análise mais aprofundada, a fim de avaliar sua viabilidade.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · O serviço ostensivo de ronda de móvel, desenvolvido no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

68

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo teve como objetivo analisar o serviço ostensivo de ronda móvel

desenvolvido no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN,

com base na Análise Ergonômica do Trabalho.

Para a elaboração desse estudo, procurou-se examinar alguns estudos científicos

concernentes a AET, bem como instrumentos legais que definem e regulamentam o processo

dos servidores ocupantes do cargo de vigilante das Instituições Federais de Ensino Superior –

IFES, no Brasil.

É importante ainda destacar que a experiência profissional como vigilante do quadro

ativo de servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e que executou o serviço

ostensivo de ronda móvel, antes e após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, contribuiu

de forma precisa para uma melhor compreensão, descrição, exposição do processo investigado,

na identificação dos problemas existentes, e principalmente na formulação das recomendações

voltadas para a reorganização e, que resultem em melhorias desse processo.

De acordo com os resultados obtidos nesse estudo, considera-se que a Análise

Ergonômica do Trabalho se constitui como um importante instrumento de pesquisa para a

identificação e a análise dos problemas existentes na situação real de trabalho dos vigilantes

que executam o serviço ostensivo de ronda móvel, sobretudo para o alcance dos objetivos

propostos para essa pesquisa.

A revisão de literatura revelou informações importantes sobre: as legislações vigentes

quanto as Normas Regulamentadoras do Trabalho- NR’s, especificamente a NR 17, instituída

pelo Ministério do Trabalho e Emprego; legislações específicas do Ministério da Justiça e

Cidadania, relativas ao uso de EPI; das atribuições dos vigilantes concursados das IFES,

definidas no PCCTAE; Constituição Federal do Brasil, bem de documentos oficiais internos da

UFRN, UFRJ e URRJ.

A análise documental permitiu identificar que a UFRN no ano de 2004, através de sua

Procuradoria Federal, emitiu parecer favorável ao uso de arma de fogo para os seus vigilantes,

quando em serviço (anexo 5). No entanto, no ano de 2009, determinou, extraoficialmente, o

recolhimento de todas as armas de fogo que eram utilizadas por esses profissionais, quando em

serviço. Isso repercutiu negativamente nas relações de trabalho desses vigilantes.

Conforme a decisão documentada da UFRJ que autoriza aos seus vigilantes/servidores

usar arma de fogo, quando em serviço, se conclui que a UFRN, representada pela

Administração Central (Reitoria e Concelhos Administrativos), pode valer-se do art.207 da CF

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69

e institucionalizar e autorizar o porte de arma de fogo para os seus vigilantes concursados,

quando em serviço.

Quanto à relação entre o trabalho prescrito e o trabalho real, foi possível identificar que

há discrepância entre ambos, haja vista que as condições de trabalho dos vigilantes para a

execução de suas tarefas, estão incompatíveis com as normas legais, o que impacta

negativamente na segurança desses profissionais, da referida Instituição de Ensino, bem como

nas relações de trabalho. Também se observou que essa diferença reduz a capacidade desses

vigilantes em responder satisfatoriamente as demandas do trabalho e da instituição.

Esse estudo apresentou algumas limitações quanto: à coleta dos dados individualizados

da população investigada, relacionados ao absenteísmo, justificada pela Resolução do Conselho

Federal de Medicina de nº 1.819/2007, que regula as informações sobre a relação médico-

paciente; ao mapeamento das ocorrências (locais e tempo) registradas pela DSP. No entanto, a

principal dificuldade apresentada na pesquisa e enfrentada pelo vigilante/pesquisador, foi a de

manter-se imparcial frente a essa investigação, a fim de evitar interferências que viessem a

comprometer os resultados e objetivos a serem alcançados nesse estudo.

Ao investigar esse processo, baseado na Análise Ergonômica do Trabalho, entendemos

ter contribuído para o enriquecimento da literatura sobre o serviço de segurança patrimonial em

instituições públicas e privadas, sobre tudo na organização desse processo, quanto a

implantação de novos métodos de desenvolvimento , considerando alguns dos fatores

analisados, tais como: a segurança dos vigilantes na execução de suas tarefas e atividades; o

trabalho desses profissionais sob os aspectos legais e constitucionais; a produtividade e

eficiência desse serviço associada às condições de trabalho desses servidores. Dessa forma,

sintetizamos as principais contribuições teóricas que julgamos para este estudo.

Este estudo contribuiu para uma melhor compreensão de um processo extremamente

complexo. Todavia, a maior parte dos trabalhos já realizados nesta área, são estudos voltados

para os aspectos relacionados a segurança do patrimônio público, bens tangíveis, dada a

importância destes para as organizações e sociedade em geral. Por outro lado, a maioria dos

estudos sobre a ergonomia é conduzida sob os aspectos da ergonomia física, o que justifica a

importância dessa pesquisa.

Contudo, como fora já expresso anteriormente o serviço ostensivo de ronda móvel é

executado em diversas IFES do país e, em razão disso a análise desse processo sob a perspectiva

teórico-científica colabora para a adoção de medidas que melhor se ajuste ao seu

desenvolvimento no ambiente de trabalho.

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70

Considerando-se a importância dessa investigação, pode-se pressupor que é um

considerável instrumento de pesquisa que pode contribuir para a organização do processo da

segurança patrimonial da UFRN, principalmente, concernente ao planejamento de políticas de

segurança institucional destinadas ao Campus Central que tenham como finalidade, corroborar

para um estado de tranquilidade no âmbito acadêmico, sobretudo minimizar os riscos

ergonômicos que possivelmente venham a comprometer a segurança e saúde dos vigilantes que

executam o serviço ostensivo de ronda móvel, bem como servir de fonte de pesquisa para

estudos futuros.

Desse modo, recomenda-se a ampliação desse estudo mediante pesquisas que enfoquem

outros processos de trabalho relacionados à segurança patrimonial nas Instituições Federais de

Ensino Superior, brasileiras, desenvolvidos por vigilantes concursados e/ou por vigilantes

pertencentes a outras categorias de trabalhadores.

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74

APÊNDICE A – Entrevista Semiestruturada

1 - Qual(is) são as rotina(s) de trabalho que você executa, quando em serviço?

(...) procurar saber em que área irá trabalhar, em que viatura irá atuar e com quem formará a equipe de

trabalho;

(...) procurar saber se existe alguma determinação específica para ser realizada;

(...) fazer ronda móvel apenas nas áreas pré-estabelecidas;

(...) atender as autorizações de abertura de prédios;

(...) conduzir colegas que estão saindo de plantão, até pontos de ônibus;

(...) auxiliar o supervisor, quando solicitado;

(...) Outras:_______________________________________________________

2 - As condições de trabalho permitem você executar as suas atribuições, definidas no PCCTAE?

Escoltar e proteger pessoas em atividades da Instituição e autoridades; executar outras tarefas de nível

e complexidade associada à sua especialidade ou ambiente.

(...) concordo totalmente (...) concordo parcialmente (...) indiferente

(...) não concordo totalmente (...) não concordo parcialmente

3 - As condições de trabalho interferem na execução de seus serviços? Por quê?

4 - O Estatuto do Desarmamento interferiu no seu trabalho? Por quê?

5 - Você tem participado de treinamento e/ou curso de capacitação, nos últimos cinco anos, para o

exercício de sua função?

6 - Qual(is) a(s) principal(is) dificuldade(s) que interferem na execução de seu trabalho?

7 - De que maneira é definido o seu plano de trabalho?

8 - Existe um plano de trabalho que oriente suas ações?

9 - O que poderia ser feito para tornar o seu trabalho mais eficiente para a comunidade e mais seguro

para o vigilante em serviço?

10 - Que sugestões você apresenta para melhorar o seu trabalho e seus resultados?

11 - Você dispõe dos equipamentos necessários e adequados para a execução de seu trabalho? Quais?

12 - Você utiliza algum tipo de equipamento de proteção individual, para realizar o seu trabalho?

Qual(is)?

13 - Quanto à motivação, como você se considera executando o seu trabalho:

(...) com alto grau de motivação (...) com adequado nível de motivação

(...) com razoável nível de motivação (...) indiferente

(...) desmotivado (...) com alto grau de desmotivação

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75

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCE

Prezado (a) Senhor (a)

Você está sendo convidado (a) para participar da pesquisa intitulada “Análise Ergonômica do

Trabalho dos Profissionais de Segurança Patrimonial, de uma Instituição de Ensino Superior”

intitulada Estudo de caso na Diretoria de Segurança Patrimonial da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. Sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você pode

desistir de participar e retirar seu consentimento.

O objetivo deste estudo é “analisar o processo de trabalho dos vigilantes concursados da UFRN,

que executam o serviço ostensivo de ronda móvel no Campus Central da UFRN, com base na

Análise Ergonômica do trabalho – AET”.

Sua participação consistirá em responder às perguntas da entrevista, anexo a este termo de

consentimento.

As informações prestadas por você para essa pesquisa serão confidenciais, armazenadas por um

período de cinco anos e, podendo ser divulgados apenas em congressos ou publicações

científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe identificar.

Será também assegurado o sigilo sobre sua participação.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa, você deverá ligar para o Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, telefone (84) 3215-3135.

Os riscos a sua pessoa em função da participação nesta pesquisa são mínimos, haja vista que as

informações obtidas serão analisadas dentro de um contexto amplo, sob a perspectiva de

melhorias do serviço de segurança patrimonial da UFRN.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o pesquisador

responsável: Rubens Matias de Sousa.

Discente/pesquisador: Rubens Matias de Sousa

Email: [email protected] Fone: (84) 98705-4274

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Rique Carício

Natal, _____/_____/______

__________________________

Assinatura do entrevistado

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ANEXO 1 – BOLETIM INTERNO DA UFFRL

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ANEXO 2 - DESPACHO DA DG/DPF SOBRE O USO DE ARMA DE FOGO PARA OS

VIGILANTES DO QUADRO DA UFRRJ

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ANEXO 3 – PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA ELABORADO PELA FASUBRA

PARA AS IFES

APRESENTAÇÂO

A FASUBRA Sindical entende que construção de uma Política Institucional de

Segurança para as IES, está intrinsecamente relacionada a concepção de Universidade, no

cumprimento do seu papel formador e produtor do conhecimento.

O despertar da consciência de que a Universidade não é uma ilha e não está imune das

questões sociais, dentre elas a violência urbana, apresenta o desafio de pensar e construir

políticas que contribuam, no espaço acadêmico, com a reflexão acerca da problemática da

violência social, causas, prevenção e combate.

A definição de política para prevenir e coibir a “violência” e os “crimes” existentes no

âmbito da Universidade, deve desenvolver estudos produzindo conhecimento sobre o tema,

pensar sistemas de administração dos conflitos existentes no campus, aplicando tratamento

distinto, no ambiente acadêmico, do utilizado no espaço externo ao campus universitário.

Neste debate deve ser respeitada a premissa básica, da missão da universidade, cuja

finalidade é a produção do ensino e formação de cidadãos conscientes do seu papel

transformador da realidade social, que não deve se restringir, nesta área da segurança, apenas a

ação do combate ao crime.

Assim, o desenvolvimento de Programas permanentes de capacitação e formação de

vigilantes aliados a manutenção do quadro regular de pessoal, ingresso na Universidade através

de concurso público, é fundamental, na instrumentalização desses trabalhadores para o

momento da reação, de forma conveniente ao ambiente onde encontram-se inseridos e a

especificidade da Universidade e de sua comunidade.

Com este entendimento, a definição de uma Política de Segurança para as IES, deve de

um lado atentar ao perfil da Universidade, ao mesmo tempo em que deve se inserir nas diretrizes

nacionais de Segurança Pública. A segurança universitária extrapola as formas corriqueiras de

enfrentamento a criminalização do movimento social, devendo se debruçar no diagnóstico da

realidade social, identificando as desigualdades sociais, que servirão de produto bruto para

pesquisa e cursos de capacitação e de educação formal.

O exercício da segurança na Universidade deve ter como premissa a tolerância e a

compreensão dos particulares da comunidade universitária quanto a característica do espaço da

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universidade, que tem como característica principal a liberdade de organização, de

manifestação e de produção do conhecimento.

A construção desse conhecimento contribuirá com a consolidação de um ambiente e da

cultura de segurança nas Universidades, bem como o fortalecimento das políticas públicas de

segurança.

A política de segurança da universidade deve servir de referência às demais práticas, e

abrir um fórum de discussão envolvendo as diferentes corporações que atuam nesta área,

apresenta o desafio da construção dum sistema amplo de segurança em todas os espaços da

sociedade. A universidade não vai fazer esse sistema, mas vai contribuir para que se encontrem

alternativas para a identificação das causas, prevenção e combate ao crime em suas mais

diversas nuances.

O fórum de discussão, deve envolver a sociedade, envolvendo o movimento social para

discutir uma política de segurança com ações universais, priorizando neste debate as causas

dessa violência, que tem origem nas desigualdades sociais.

Um resgate é necessário. Até o ano de 1994 as condições da vigilância e de segurança

nas Universidades eram consideradas satisfatórias, tendo em vista a estrutura física das IES

(federal, estadual e municipal), e o número do corpo discente, docente e administrativo.

A próxima década foi demarcada por uma mudança no perfil da comunidade

universitária e sua relação com a Universidade. Ampliou-se o número de instituições e dos

campi do interior e do número de trabalhadores e estudantes. Esse crescimento obrigou essas

instituições a investirem na aquisição de novos materiais e equipamentos.

Contraditoriamente à expansão de IES, o quantitativo do quadro de vigilantes do quadro

regular foi diminuindo, com aberturas de poucas vagas, que sequer supriam as necessidades

que já se mostravam prementes, em função das aposentadorias e de óbitos, agravado pelo

Programa do Governo Collor, de Demissão Voluntária – PDV, que incentivava a demissão dos

funcionários efetivos.

A inexistência de concursos para o cargo de vigilante nas Instituições Federais de Ensino

impulsionou a utilização do serviço de vigilância terceirizado, buscando a carência de pessoal

do quadro de vigilância no interior das Instituições. Entretanto o perfil desses trabalhadores

(as), dado a inexistência de salários dignos, de condições de trabalho e de capacitação, não

garantiu a segurança da Universidade, ao mesmo tempo em que aumentou a responsabilidade

do quadro reduzido de efetivos da vigilância.

Com este quadro preocupante, a sociedade observa através da Imprensa, os inúmeros

episódios de violência na Universidade. A gestão das IES tem se desdobrado para garantir a

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segurança de sua comunidade, mas com a falta de concursos públicos para o cargo de vigilante,

bem como com a conivência dos gestores que não exigem do governo a abertura de vagas para

o quadro regular de vigilância, os gestores ampliam a contratação de empresas terceirizadas,

onerando os cofres públicos, pois a carga dos contratos tem o valor altíssimo, com baixa

qualidade dos serviços prestados, aliado a grande rotatividade dos vigilantes terceirizados, e o

total despreparo das empresas terceirizadas para realizar segurança dentro das IES.

É preciso neste debate, e na produção de conhecimento sobre tema, admitir que a

segurança dentro de uma Instituição de Ensino Superior é diferente da realizada em instituições

e empresas privadas, devido a missão e o fim da Universidade que é a formação acadêmica e

produção do conhecimento, através do exercício indissociável do ensino, da pesquisa e da

extensão. Com esta compreensão a Universidade não deve se limitar a reprodução dos modelos

de segurança que são aplicados no setor empresarial e/ou privado.

A implementação do REUNI, criou novas IFES e IFETS, além de novos cursos de

graduação, gerando a construção de inúmeras obras e aquisições de novos equipamentos, o

aumento significativo da população acadêmica e a quantidade de usuários das atividades

desenvolvidas por estas Instituições, e consequentemente a carência de vigilantes do quadro

regular tornou-se um problema crucial nas Universidades.

As precarizações das relações de trabalho, com a terceirização, principalmente nos

setores de segurança, avançaram desordenadamente, não sendo feitos estudos efetivos quanto

a objetividade, funcionalidade e eficácia da prestação do serviço dessas empresas dentro das

Instituições de Ensino Superior.

Portanto, urge a realização de diagnóstico, identificando o número e formas de violência

ocorridas no campus universitário a partir do início da década de 90.

É reconhecido o esforço do quadro regular de vigilantes das Universidades, e os dados do

diagnóstico atual, amplia o sentimento de insegurança dentro dos campi. Atualmente nos campi

das Universidades, é reproduzido as formas de violência que ocorrem em todas as camadas da

sociedade, bem como a sensação de impunidade e de impotência no combate, quer pelas leis

brandas, pela morosidade da justiça, pelas brechas que existe no código penal, processo penal

e pela inexistência de pessoal. Nas IES o problema se agrava, pois a Universidade funciona 03

turnos e dado a peculiaridade geográfica e espacial de alguns campi, e sua relação com o baixo

número de pessoal do quadro efetivo, a problemática torna-se mais complexa.

A FASUBRA Sindical com este Projeto, que será apresentado a comunidade

universitária, aos gestores, ao governo, assume o seu papel neste debate, entendendo que a

solução para minimizar essa problemática passa pelo investimento em concurso público, no

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reconhecimento da função estratégica da segurança no ambiente universitário e do papel dos

vigilantes, na compreensão implícita na Carreira defendida pela FASUBRA, de que “todos

somos docentes e abres diferentes”, portanto com uma responsabilidade pedagógica no nosso

fazer, que extrapola o rol das atribuições rotineiras.

CONSTRUINDO UMA POLÍTICA INSTITUCIONAL DE SEGURANÇA PARA AS IFES

CAPÍTULO I

Artigo 1º - Este Regimento regulamenta os princípios e as diretrizes de funcionamento

da Política de Segurança para as Instituições de Ensino Superior do País.

Artigo 2º – É composto de normas e procedimentos, incorporando em seu bojo o

conjunto de leis, regras e práticas que determinam como uma organização educacional

administra e protege bens lógicos, humanos e materiais.

Artigo 3º – Serão abrangidos por este Regimento todas IES que integram o Sistema

Nacional de Educação Superior Pública.

CAPÍTULO II

Da Natureza

Artigo 4º - A Política de Segurança nas IES deve integrar o rol de responsabilidades

institucionais, estabelecendo medidas inerentes à produção de conhecimento, promoção da

convivência com segurança e a prevenção de agravos.

Artigo 5º - As normas, procedimentos e recomendações de conduta da área de segurança

no interior dos campi e unidades acadêmicas e administrativas, visam prevenir e coibir os

incidentes de segurança.

Artigo 6º – A diretriz geral da Política de Segurança integrará os PDI – Plano de

Desenvolvimento Institucional de cada IES, se constituindo em uma política institucional em

todas áreas (acadêmicas e administrativas) e modalidades (educativa, preventiva e coercitiva)

de atuação.

Artigo 7º – Os Programas de Segurança das Universidades, deverão ser articulados,

através de convênios com a Política de Segurança Pública do governo federal, através da criação

de normas e procedimentos que atendam as prerrogativas de rotinas internas dispondo sobre:

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I - A notificação às autoridades competentes, de casos de suspeita ou de confirmação de

uso/consumo de entorpecentes, agressões, desacatos, destruição do patrimônio público e demais

atos ilícitos.

II - Inclusão no Programa de Segurança as prerrogativas da Portaria GM/MS nº 936, de 18 de

maio de 2004, que dispõe sobre a estruturação da Rede Nacional de Prevenção da Violência e

Promoção da Saúde e a implantação e implementação de Núcleos de Prevenção à Violência em

Estados e Municípios.

III - inclusão no Programa de Segurança das prerrogativas da portaria GM/MS 1.969/01, que

dispõe sobre o preenchimento da Autorização de Internação Hospitalar para os casos de

acidentes, violência, acidentes de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho de pacientes

atendidos no Sistema Único de Saúde.

Artigo 8º - A natureza da atividade de risco do cargo dos vigilantes das IFE´S, está

caracterizado nas condições gerais de trabalho e na descrição do cargo.

CAPÍTULO III

Dos Fins

Artigo 9º - A Segurança nas IES, como política institucional servirá de instrumento de

construção de conhecimento nas áreas de segurança e sua interface com a temática da violência,

atendendo os seguintes fins:

I – Promover no seio da comunidade universitária, programas educativos induzindo e

despertando o sentimento do zelo com o patrimônio público;

II – Induzir a reflexão na comunidade universitária sobre o papel de cada segmento que

compõem a comunidade universitária e o seu papel enquanto sujeito educativo na busca da

constituição de qualidade social na ambiência universitária.

III – Produzir conhecimento que contribua com a qualidade do espaço acadêmico e

administrativo das IES.

IV - Formar profissionais, através de programas de capacitação e educação formal, capazes de

ampliar o pensamento crítico e ações estratégicas na área de segurança das IES.

Artigo 10 – A Política de Segurança de cada IES deverá contemplar:

I - Investimento na capacitação e desenvolvimento do quadro de pessoal;

II - Investimento em Material e Equipamento;

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III - Investimento em Pesquisa e produção de conhecimento;

V - Acompanhamento Jurídico e Psicológico.

CAPÍTULO IV

DOS OBJETIVOS

Artigo 11 – AS IES deverão instituir Programas de Segurança integrando os PDI – Plano

de Desenvolvimento Institucional observando os seguintes objetivos:

I – Construção de Rede Nacional de Prevenção da Violência, com a participação dos Núcleos

Acadêmicos de cada IES que discutem a Segurança e Violência nas IES e dos trabalhadores da

área de segurança.

II – Construção de Programas de Segurança nas IES, visando a qualidade referenciada

socialmente dos serviços prestados á comunidade universitária e usuários.

III - Contribuir efetivamente para a redução da violência, vandalismo e destruição do

patrimônio público no interior das IFES e IFETS.

IV - Construção de diretrizes de programas educativos, preventivos e coercitivos.

V – Definição das atribuições do cargo de Vigilante e/ou Agente de Segurança Patrimonial

definindo o perfil de atuação e de necessidade do cargo, destacando a ação pedagógica desse(a)

trabalhador(a) na condução rotineira de suas atribuições.

VI - Definir responsabilidades institucionais contemplando e valorizando medidas inerentes à

promoção da convivência e a prevenção de agravos.

VII – Prever, anualmente, após diagnóstico, quais as metas de segurança da Instituição;

VIII - Estabelecer diretrizes e responsabilidades institucionais onde se contemplem e valorizem

medidas inerentes à promoção da convivência e a prevenção de agravos;

IX – Incluir nas normas, procedimentos e recomendações de conduta no interior dos campi e

unidades, campanhas educativas visando prevenir e responder os incidentes de segurança.

X - Trabalhar preventivamente, minimizando os impactos e perdas, sejam financeiras,

psicológicas e/ou humanas.

CAPÌTULO V

DA ORGANIZAÇÂO E A GESTÃO E PESSOAL

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Artigo 12 – As ações de segurança implantadas no ambiente universitário devem ser

legitimadas pela comunidade universidade e nos conselhos superiores das IES.

Artigo 13 – O quadro de trabalhadores(as) da área de segurança, deverá integrar o

quadro regular das IES - baseado no Regime Jurídico Único e PCCTAE.

Artigo 14 – A Unidade administrativa responsável pela Segurança nas IES estará

diretamente vinculada a Reitoria.

Artigo 15 - A capacitação na área preventiva, do controle e intervenção devem estar

ligados à Programas de Qualidade de Vida.

Artigo 16 – A comunidade acadêmica estudantil deverá receber no ato da matricula, na

perspectiva educativa, Guias Acadêmicos com orientações, quanto a missão da Universidade,

comportamento no ambiente universitário, além do Estatuto e Regimento Geral das IES e

Portarias internas que disciplinem a segurança no campus.

Artigo 17 – Anualmente as IES deverão elaborar Relatórios com diagnóstico de todas

as ações, preventivas e coibitivas, bem como o número, causas e resultados das incidências.

CAPÌTULO VI

DA REDE NACIONAL DE PREVENÇÃO VIOLÊNCIA

Artigo 18 – A Rede Nacional de Prevenção de Violência tem por parâmetro a construção

de ações integradas nacionalmente entre as IES, visando a socialização e multiplicação de

experiências e construção de conhecimento na área de combate à violência e de programas de

segurança, e será constituída através de:

I - Núcleos Nacionais – FASUBRA / ANDES / ANDIFES / MEC/ MINISTÉRIO DA

JUSTIÇA.

II - Núcleos Regionais – Órgãos de segurança pública.

III - Núcleos Locais – IFES / IEFET`s, sindicatos, GTs, associações.

IV - Núcleos Acadêmicos – DCE`s, DA’s, CA’s.

V - Núcleos Comunitários – Sociedade Civil, Movimentos Sociais, ONGS.

VI - Ações Integradas – Congressos, Seminários de Segurança, Palestras, etc.

Artigo 19 - Deve ser responsabilidade da FASUBRA, ANDIFES e MEC (Governo):

I – Institucionalizar a discussão sobre a temática da violência no interior das Instituições de

Ensino Superior, integrada às agendas da Federação (FASUBRA), da ANDIFES, do Ministério

da Educação, do Ministério da Justiça e outros órgãos vinculados;

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II - Desenvolver e operacionalizar estratégias nacionais de prevenção e atenção nos níveis

prioritários da assistência, prevenção e reação à violência.

III – Induzir e valorizar as IES que desenvolvam Políticas e Projetos de Segurança.

IV- Formação de Redes de Parcerias Institucionais, compostas por Universidades, Fasubra,

ANDIFES, Sindicatos, Setores de Vigilância e Segurança das IFE`s, DCE`s, Setores de

Segurança Pública, Sociedade Civil e outros colaboradores.

Artigo 20 – Caberá a cada IES:

I - O desenvolvimento de Políticas voltadas ao atendimento à pessoa vítima de violência, assim

como atender a todas as necessidades que permitam o bem-estar da pessoa agredida;

II - Trabalhar a prevenção do agravo;

III - Tratar os casos cientificamente;

IV - Superar a crença de que a violência é problema minoritário ou externo à Instituição, posto

que não deve ser negado e precisa de resposta profissional.

V - Demandar investimentos materiais, de capacitação, qualificação e de RH em seus setores

de Segurança.

Artigo 21 – O Programa deverá ser acompanhado e avaliado de forma sistemática

observando:

I - O acompanhamento da Política através dos órgãos gestores das Instituições e dos GTs

Segurança locais, cabendo aos setores de vigilância e segurança patrimonial das Instituições

assegurar o cumprimento da mesma.

II – A avaliação caberá a todos os órgãos sendo que deverão ser gerados relatórios para

avaliação macro para a obtenção e conferencia de resultados pela ANDIFES, FASUBRA e

MEC.

CAPÍTULO VII

DA ABRANGÊNCIA DA POLÍTICA DE SEGURANÇA

Artigo 22 - A Política de Segurança deve abranger todas as IES, seus Campi e setores

externos aos Campi, além de Unidades e Campi avançados, com programas envolvendo todo o

corpo Docente, Discente, Técnico-Administrativos e comunidade externa que utilize ou transite

pelas dependências da Instituição.

Artigo 23 - As regras, normas e penalidades, a depender da situação, devem ser

aplicadas de maneira mandatária. Fora de situações específicas as regras e normas devem servir

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de recomendação, podendo ser aplicadas ou não pelas Unidades, Institutos, Departamentos e

outros setores, de acordo com o regimento ou Política de Segurança, elaborada internamente.

CAPÍTULO VIII

DOS ASPECTOS DA SEGURANÇA

Artigo 24 - A Segurança pode ser enfocada sob três aspectos: bens humanos, bens

materiais e bens lógicos (informações).

I - Bens humanos - integridade física das pessoas, cabendo à Instituição promover a segurança

física das pessoas no interior de seus campi e instalações.

II - Bens materiais - são todos os bens patrimoniais da Instituição.

III- Bens lógicos - a segurança das informações os dados corporativos e acadêmicos das IFES

e IFETS armazenados nos servidores institucionais, tais como: servidores de E-mail, DNS,

Web, servidores administrativos e de serviços à comunidade. Incluem-se ainda os dados

gerados e armazenados em microcomputadores de uso administrativo.

CAPÍTULO IX

DAS FORMAS DE EXPRESSÃO DA VIOLÊNCIA:

Artigo 25 - A violência é entendida como um fenômeno representado por ações humanas

realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações, numa dinâmica de relações, ocasionando

danos físicos, emocionais, morais e espirituais a outrem e pode ser expressada através de várias

formas, abrangendo:

I. VIOLÊNCIA FÍSICA;

II. VIOLÊNCIA SEXUAL;

III. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA;

IV. VIOLÊNCIA AUTO-INFRIGIDA;

V. VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL.

CAPÍTULO X

DA CONCEITUAÇÃO DE ACIDENTE

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Artigo 26 - O acidente é um evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas

e/ou emocionais no âmbito doméstico ou nos outros espaços sociais como no trabalho, no

trânsito, nos esportes e lazer, dentre outros.

Artigo 27 – Os tipos de acidentes e violências mais comuns ocorridos no ambiente

universitário são:

I - Acidentes de trânsito;

II - Intoxicações e envenenamentos;

III - Agressões físicas e psicológicas;

IV - Latrocínio;

V - Furto e assaltos;

VI - Suicídios;

VII - Sequestros;

VIII – Estupros;

IX - Destruição e depredação do patrimônio;

X - Quedas;

XI – Afogamentos.

CAPÍTULO XI

DO CONCEITO DE RISCO

Artigo 28 - O risco está relacionado com a incerteza e a variabilidade, enquanto a sua

gestão envolve tudo que uma organização faz ou fornece. O risco combina os elementos da

probabilidade de ocorrência de dano e das consequências do dano criado.

Artigo 29 - podem-se considerar riscos para as organizações humanas:

I – Especulativos relacionados à possibilidade de ganho ou chance de perda Administrativa,

dependente de decisões gerenciais: de mercado, financeiros, de produção;

II - Políticos, vinculados a leis, decretos, portarias, etc.

III - De inovação, relacionados a novas tecnologias, novos produtos, etc.

CAPÍTULO XII

DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO PÚBLICO

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Artigo 30 - Visão legal e restritiva: Patrimônio público é o conjunto de bens e direitos

de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico, pertencentes aos entes da

administração pública direta e indireta Lei da Ação Popular (Lei 4.717, de 29.6.65, art. 1º,

parágrafo 1º,).

Parágrafo único - Patrimônio público é caracterizado por pertencer a um ente público – a União,

um Estado, um Município, uma autarquia ou uma empresa pública, ou seja, bens do domínio

nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, diferençando-os, portanto,

dos bens particulares (artigo 98).

Artigo 31 – Visão ampla: Patrimônio público, é o conjunto de bens e direitos que

pertence a todos e não a um determinado indivíduo ou entidade, é um direito difuso, um direito

trans-individual, de natureza indivisível de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas

pelo fato de serem cidadãos, serem o povo, para o qual o Estado e a Administração existem.

Parágrafo único - o patrimônio público não tem um titular individualizado ou individualizável

– seja ele ente da administração ou ente privado – sendo, antes, de todos, de toda a sociedade.

Artigo 32– O Patrimônio público abrange:

I - Bens materiais: como imóveis, os móveis, o erário, a imagem.

II- Bens imateriais: pertencem a todos, de uma maneira geral, como o patrimônio cultural, o

patrimônio ambiental e o patrimônio moral.

III- O patrimônio moral é composto por princípios éticos que regem a atividade pública,

sintetizados no princípio da moralidade, consagrado no artigo 37 da Constituição.

IV - O patrimônio deve ser zelado, preservado e defendido por todos cidadãos.

V - Quando o patrimônio estiver vinculado a um determinado ente, a ele cabe, em primeiro

lugar, adotar todas as providências necessárias à sua preservação e conservação.

CAPÍTULO XIII

DAS ATRIBUIÇÕES DO CARGO DE VIGILANTE

Artigo 33 – Os trabalhadores (as) do cargo de Vigilante (ou Agente de Segurança

Patrimonial), desenvolverão as seguintes atribuições:

I - Realização de atividades em assistência, assessoria, fiscalização, perícia e suporte técnico-

administrativos a projetos e atividades;

II - Elaboração dos planos de segurança e normas reguladoras da segurança na instituição;

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III - Planejamento, execução, fiscalização, controle ou avaliação de projetos.

IV - Execução de atividades de defesa patrimonial;

V - Investigações e registro das anormalidades;

VI - Registro de ocorrências de sinistros, desvios, furtos, roubos ou invasões;

VII - Atuação em postos de segurança instalados nas entradas, portarias e vias de acesso.

VIII - Exercer vigilância nas entidades, rondando suas dependências e observando a entrada e

saída de pessoas ou bens, para evitar roubos, atos de violência e outras infrações à ordem e à

segurança.

Artigo 34 - A atividade de segurança das IES será desenvolvida através de:

I - Patrulhamento a pé, motorizado;

II - abordagem E revistas de pedestres e veículos, prisões;

III - encaminhamento de delinquentes para a polícia federal e polícia civil,

IV - Enfrentamento com bandidos que vem até os campi para efetuarem roubos, assaltos, furtos,

inclusive com enfrentamento com bandidos,

V - Controle de tumulto;

VI – Organização de barreiras,

VII - atendimento a ocorrências de violência sexual,

VIII - combate a incêndios,

IX - Prestação de primeiros socorros para a comunidade interna e para pessoas que circulam

nos campi, conduzindo-as, inclusive, para o pronto socorro.

X - Exercer vigilância de áreas públicas com a finalidade de prevenir, controlar e combater

delitos como porte ilícito de armas e munições e outras irregularidades;

XI - Zelar pela segurança de pessoas e do patrimônio.

CAPÍTULO XIV

DOS RECURSOS OPERACIONAIS DE TRABALHO

Artigo 35 – IPI e EPC Constantes no C.B.O 5173 - 30 MTE

CAPÍTULO XV

DO SEGURO DE VIDA

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Artigo 36 - Será garantido, institucionalmente, Seguro de Vida para os vigilantes.

CAPÌTULO XVI

DOS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÂO

Artigo 37 - Para o desenvolvimento das atividades de Vigilante será garantido a inclusão

nos PDIC de Programas de Capacitação que abordem:

I – Papel do Trabalhador Técnico-Administrativo em educação.

II – Princípio e missão da Universidade.

III – Como e organiza a Universidade, administrativamente e academicamente.

IV – Como abordar estudantes em situações de risco.

V - Cursos exigidos pela lei 10.826 (PRONASCI) poderão ser executados dentro das

Universidades Federais.

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ANEXO 4 – DESCRIÇÃO DO CARGO DE VIGILANTE DE IFES

PLANO DE CARREIRA DOS CARGOS TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM

EDUCAÇÃO

DESCRIÇÃO DO CARGO

NÍVEL DE CLASSIFICAÇÃO: D

DENOMINAÇÃO DO CARGO: VIGILANTE

CÓDIGO CBO -

REQUISITO DE QUALIFICAÇÃO PARA INGRESSO NO CARGO:

ESCOLARIDADE: Fundamental completo e Curso de formação

OUTROS: Experiência de 12 meses

HABILITAÇÃO PROFISSIONAL:

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO CARGO:

Exercer vigilância nas entidades, rondando suas dependências e observando a entrada e saída

de pessoas ou bens, para evitar roubos, atos de violência e outras infrações à ordem e à

segurança.

DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES TÍPICAS DO CARGO

Percorrer a área sob sua responsabilidade, atentamente para eventuais anormalidades

nas rotinas de serviço e ambientais.

Vigiar a entrada e saída das pessoas, ou bens da entidade.

Tomar as medidas necessárias para evitar danos, baseando-se nas circunstâncias

observadas e valendo-se da autoridade que lhe foi outorgada.

Prestar informações que possibilitam a punição dos infratores e volta à normalidade.

Redigir ocorrências das anormalidades ocorridas.

Escoltar e proteger pessoas encarregadas de transportar dinheiro e valores.

Escoltar e proteger autoridades.

Executar outras tarefas de mesma natureza e nível de complexidade associadas ao

ambiente organizacional.

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ANEXO 5 – PARECER JURÍCO DA PROCURADORIA DA UFRN SOBRE O USO DE

ARMA DE FOGO PARA OS VIGILANTES, CONCURSADOS, QUANDO EM SERVIÇO

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