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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA
PAULO EDUARDO SILVA OLIVEIRA NETO
FONTES DE INFORMAÇÃO CATÓLICAS:
conceitos, tipos e usos
NATAL – RN
2019
PAULO EDUARDO SILVA OLIVEIRA NETO
FONTES DE INFORMAÇÃO CATÓLICAS:
CONCEITOS, TIPOS E USOS
Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em Biblioteconomia do
Departamento de Ciência da Informação da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Biblioteconomia.
Orientadora: Profª. Drª. Mônica Marques
Carvalho Gallotti.
NATAL – RN
2019
CDU 002:2 RN/ UF/ DECIN
O48f Oliveira Neto, Paulo Eduardo Silva.
Fontes de informação católicas: conceitos, tipos e usos / Paulo Eduardo Silva
Oliveira Neto. – Natal: UFRN, 2019
Orientadora: Monica Marques Carvalho Gallotti (Dra)
Monografia (Bacharelado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de
Biblioteconomia. Curso de Graduação em Biblioteconomia.
1. Fontes de Informação – Igreja Católica. 2. Unidades de Informação – Igreja
Católica. 3. Tipologias documentais católicas. 4. Memória. I Gallotti, Monica
Marques Carvalho II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.
Título.
CATALOGAÇÃO DA PUBLICAÇÃO NA FONTE
PAULO EDUARDO SILVA OLIVEIRA NETO
FONTES DE INFORMAÇÃO CATÓLICAS:
CONCEITOS, TIPOS E USOS
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Biblioteconomia
do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Biblioteconomia.
Data de aprovação ___/___/_____.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Prof.ª Drª. Monica Marques Carvalho Gallotti
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
__________________________________________
Prof.ª Drª. Luciana de Albuquerque Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(Membro da banca Examinadora)
__________________________________________
Prof. MsC. Francisco de Assis Noberto Galdino de Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(Membro da banca Examinadora)
“Realmente não há coisa mais gloriosa, mais
honrosa, mais nobre, que fazer parte da Igreja,
santa, católica, apostólica, romana, na qual nos
tornamos membros de tão venerando corpo; nos
governa uma tão excelsa cabeça; nos inunda o
mesmo Espírito divino; a mesma doutrina, enfim,
e o mesmo Pão dos Anjos nos alimenta neste
exílio terreno, até que, finalmente, vamos gozar
no céu da mesma bem-aventurança sempiterna.”
(Venerável Pio XII – Carta Encíclica Mystici
Corporis)
Dedico este trabalho a todos os grandes homens
que formaram o tesouro da fé católica, dando,
muitas vezes, suas vidas para salvaguardar a
mesma fé que receberam de Cristo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, por guiar-me, através da Sua Igreja, pela Verdade.
Agradeço aos meus pais, pelo auxílio, amor e renúncias realizadas por mim.
Agradeço à Prof. Mônica Gallotti, por ter me orientado e norteado em tantas ocasiões de
dúvidas no decorrer desta pesquisa.
Agradeço a todos, em especial minha noiva, que incentivaram a realização deste trabalho,
reconhecendo seu potencial e a importância.
Por fim, agradeço a inspiração de todos os santos e santas, os quais intercedem
constantemente por mim e por toda a Igreja.
RESUMO
O registro e preservação da informação ao longo do tempo têm sido tradicionalmente feito por
meio das instituições tais como bibliotecas, arquivos e museus. Nesse sentido, algumas
instituições, como a Igreja Católica tem tido um papel preponderante neste contexto, uma vez
que desde sua origem, existiu uma preocupação de registro de informação por meio da
Tradição eclesiástica. Os registros emanados neste âmbito servem de suporte e contribuem
para a perpetuação da memória social e cultural da sociedade. São variadas as tipologias de
fontes de informação geradas por este tipo de instituição e faz-se necessário a sua
identificação. Este trabalho visa propor uma identificação e categorização das fontes de
informação geradas e utilizadas pela Igreja Católica. Especificamente visa apontar os tipos e
as funções das fontes de informação no âmbito eclesiástico, bem como identificar,
caracterizar os tipos de unidades de informação eclesiais e como são realizadas ações de
disseminação da informação nesse contexto. Além de resgatar aspectos históricos, a
metodologia utilizada para tal foi a de pesquisa bibliográfica sobre o assunto, e uma
investigação de campo em unidades de informação ligadas a Igreja Católica. Espera-se, ao
final que a identificação e caracterização da tipologia de fontes de informação mencionadas
anteriormente possa contribuir e agregar valor para a base de conhecimento da área.
Palavras-chave: Fontes de Informação – Igreja Católica. Unidades de Informação – Igreja
Católica. Tipologias documentais católicas. Memória.
ABSTRACT
Information preservation over time has traditionally been done through institutions such as
libraries, archives and museums. In this sense, some institutions, such as the Catholic Church,
have played a major role in this context. Ecclesiastical Tradition has propitiated a large array
of information sources. These sources support and contribute to the perpetuation of society's
social and cultural memory. The typologies of these sources are varied making it necessary to
categorize and identify them. This work aims to propose an identification and categorization
of the information sources generated and used by the Catholic Church. Specifically, it aims to
identify their types and functions in the ecclesiastical field, as well as to identify, characterize
ecclesial information units and how information dissemination actions are carried out in this
context. Besides analyzing corresponding historical aspects, the methodology used for this
work bibliographical research on the subject, and a field investigation in information units
linked to the Catholic Church. In the end, it is hoped that the identification and
characterization of the information sources mentioned above can contribute and add value to
the knowledge base of the area.
Key-Words: Information Sources – Catholic Church. Information Units – Catholic Church.
Catholic documentary typologies. Memory.
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Figura 1 Descrição dos tipos de fontes de informação........................................................................ 25
Figura 2 Tratado da Verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria......................................... 41
Figura 3 Bula Papal Quo Primum Tempore......................................................................................... 41
Figura 4 Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis........................................................................... 42
Figura 5 Certidão de Batismo............................................................................................................... 42
Quadro 1 Fontes de informação católicas de acordo com cada unidade de informação............. 38
Quadro 2 Tipologias documentais de fontes de informação católicas.............................................. 40
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 11
2. O USO E DESENVOLVIMENTO DA INFORMAÇÃO ATRAVÉS DOS
TEMPOS....................................................................................................................
16
2.1 Conceito de informação e seu uso........................................................................ 16
2.2 Evolução histórica rumo a sociedade da informação....................................... 18
3. FONTES DE INFORMAÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS...................... 24
3.1 As fontes de informação digitais.......................................................................... 26
4. CONSIDERAÇÕES BREVES SOBRE A IGREJA CATÓLICA E
ORGANIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA INFORMAÇÃO..............................
32
4.1 Classificação das fontes........................................................................................ 36
4.2 Tipologia documental........................................................................................... 39
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 44
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 46
11
1 INTRODUÇÃO
A Igreja Católica, enquanto instituição, tem seu legado e a sua própria história
intimamente relacionados com a informação. Em se tratando da própria história, foi a
Igreja o único vínculo de unidade social após a queda do Império Romano e a entrada
no Medievo. Pela ótica da preservação, partiu da Igreja a organização da informação e
dos produtos de conhecimento durante o período medieval, possibilitando, hoje, o
acesso de indivíduos aos conhecimentos e ciências que tiveram, em muitos casos, suas
gêneses na Idade Média.
Ao longo da história – ao menos no mundo ocidental – destes dois mil anos de
cristandade, boa parte da mediação entre a informação e o homem foi mantida pela
Igreja Católica.
A fé cristã, sendo o norte para os indivíduos, era orientada pela Igreja. Portanto,
nada mais óbvio e consequente que, em uma sociedade cuja experiência, fatos e atos
culminavam sempre para a fé do povo, fosse por meio da religião que o saber viesse a
ser gerenciado. Em várias partes da história mundial – sobretudo após o nascimento de
Cristo –, percebe-se a influência eclesial para o acesso da sociedade civil ao mundo das
informações.
No Brasil, país em que 64,6% da população se declara católica, segundo o Censo
de20101. Sendo assim, a vivência da fé, configurada na religião católica, é parte da vida
da maioria dos cidadãos brasileiros. Essa vivência é representada ou materializada por
uma série de documentos, materiais informacionais presentes em diversificados tipos de
unidades de informação e locais de preservação; todos remetendo à identidade de cada
católico e à profissão de fé de cada um.
O presente estudo teve como gênese o interesse de pesquisa da parte do autor acerca
das tipologias e fontes informacionais que fazem parte da Igreja Católica, bem como o
uso de cada uma delas e dos seus fins, sendo, ao mesmo tempo, uma motivação
intrínseca – quanto aos aspectos pessoais do interesse de pesquisa – e extrínseca – em se
tratando da inserção pessoal no meio eclesial e no grupo de usuários de unidades de
informação da Igreja Católica.
1 De 2000 para 2010, o número de católicos caiu 9%, sendo 73,6% na primeira ocasião, e 64,3% na
última. Os dados podem ser consultados em: < https://bit.ly/2thM353 >.
12
Esta pesquisa pretende analisar uma área ainda com pouca representatividade na
literatura – fato atestado no processo de busca de referencial teórico – na Ciência da
Informação, visualizando e descrevendo as tipologias documentais eclesiásticas, abrindo
caminho para futuros estudos complementares e que deem continuidade ao exposto
aqui. Busca-se, então, contribuir com novas informações para uma área que, apesar de
importante, recebeu pouca atenção da comunidade científica. Na segunda dimensão
deste trabalho, procura-se contribuir e ampliar o repertório dos estudos sobre fontes de
informação, partindo de uma ótica macro – nas próprias conceituações comuns
encontradas na bibliografia – para uma ótica micro, estudando um determinado recorte
social – a própria Igreja enquanto instituição – e promovendo uma análise que dê
contribuição teórica e científica para a área em geral.
É necessário, pois, pensar, refletir e produzir mais conhecimento sobre a
importância destas fontes de informação para o meio em que são geradas, acessadas e
disseminadas.
A importância histórica das fontes e tipos documentais católicos são uma das
motivações da pesquisa, uma vez que fizeram e ainda fazem parte da vida comum de
muitos brasileiros, podendo ser considerados então como registros históricos
importantes em determinados contextos da nação. Sob o prisma do impacto e
importância social, o presente trabalho justifica sua elaboração pelo grande número de
indivíduos que estão intimamente relacionados com as fontes de informação eclesiais,
por meio de suas vidas e do cotidiano de cada um, através da expressão de fé comum da
maioria dos brasileiros. Fazer um estudo sobre as fontes e tipos
informacionais/documentais existentes na Igreja Católica Apostólica Romana; o
gerenciamento destes objetos de estudo; a utilidade e fins deles; e a importância de cada
um é estudar também os objetos envolvidos na demanda dos fiéis católicos, que têm na
Igreja não somente uma religião em comum, mas muitas vezes uma unidade de
informação.
Os acervos, arquivos, bibliotecas, tipos documentais utilizados e emitidos em
paróquias e o próprio site do Vaticano são exemplos de fontes pouco – ou nunca –
estudadas, mas que são buscadas por inúmeras pessoas para fins pessoais, científicos ou
até mesmo de trabalho. Em termos gerais, falar de sociedade da informação – como
conhecemos hoje, a qual será também abordada mais à frente – sem citar o caminhar
que a Igreja Católica realizou, não seria plenamente honesto, pois o hoje não pode ser
dissociado do ontem.
13
No sentido do que foi exposto anteriormente, surge uma reflexão necessária:
entender o que os católicos utilizam como fonte informacional para a sua própria fé. Se
em todos os âmbitos e aspectos da vida ordinária há a necessidade de cada pessoa em
ser orientada pela informação, independente de qual seja ou da esfera de sua vida onde
será aplicada, se supõe que isso é estendido para a realidade religiosa e no dia-a-dia de
uma instituição bimilenar como a Igreja Católica Apostólica Romana. Nessa breve
reflexão, o estopim deste presente trabalho, surge uma necessidade: entender, além do
que os fiéis buscam, aquilo que a Igreja oferta. A demanda informacional para a
vivência da fé sempre foi uma constante. As Fontes de informações voltadas para o
atendimento de necessidades deste tipo são elaboradas a fim de comunicar os preceitos
da religião e nortear aqueles que demandam informação em caráter eclesial. No âmbito
da Igreja Católica existem variadas tipologias documentais, dentre as quais podemos
citar material bibliográfico teológico, bulas, decretos, tratados, etc. Tudo isto corrobora
para a demanda informacional, embora, nestes casos, sendo observada em caráter
externo.
Observando, de fora para dentro, entendemos a dimensão da influência católica
na biblioteconomia e na gestão do conhecimento. O caminho contrário, porém, é
nebuloso e não nos traz uma visão concreta. Enxergar quais são as fontes usadas – não
necessariamente geradas – na Igreja Católica, em âmbito administrativo, burocrático,
sacramental, entre outros, é uma árdua tarefa que muitas vezes não é feita – ou sequer
pensada.
Faz-se necessário um entendimento maior de a fim de conhecer as fontes
informacionais geradas pela própria Igreja; de onde surgiram; para que servem; como
são gerenciadas; em quais unidades de informação se situam; como se dá o
gerenciamento das mesmas, especialmente ligados ao seu uso e disseminação, etc.
Todas essas questões se enquadram em uma necessidade de investigação: Quais são as
fontes informacionais católicas, como conceituá-las e quais seus usos e tipologias? Para
o atendimento a esta questão de investigação, o estudo tem, como objeto geral,
identificar e categorizar as principais fontes de informação geradas pela Igreja Católica
Apostólica Romana. No que se refere aos objetivos específicos, se busca refletir
teoricamente sobre os conceitos e funções das fontes de informação na sociedade atual,
Apontar os tipos e as funções das fontes de informação no âmbito eclesiástico e
igualmente Apontar as fontes informacionais eclesiais como elementos importantes de
perpetuação da memória social.
14
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos adotados neste trabalho,
destaca-se que nesta pesquisa foi escolhida, entre todas as abordagens, o método
indutivo, descrito por Marconi e Lakatos (2003, p.86) como um “[...] processo mental
por internédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados,
infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas”.
Aplicando ao trabalho, o método auxilia o recorte de fonte, tipo documental, uso e
unidade estudada, para então encontrar resultados que satisfaçam os de pesquisa.
Como procedimento, utilizar-se-á o método histórico, por meio do qual se
colocam “[...] os fenômenos, como, por exemplo, as instituições, no ambiente social em
que nasceram” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 107). Este método é eficaz para
trazer o resgate da própria história da Igreja Católica Apostólica Romana enquanto fonte
e geradora de informação; de algumas unidades utilizadas como exemplos e observadas
para a pesquisa; do desenvolvimento orgânico católico do conceito de determinados
tipos documentais (ex.: Batistério, proclamas matrimoniais, dentre outros.); e mesmo
das fontes de informação enquanto objeto de estudo comum da Biblioteconomia e
Ciência da Informação, citando exemplos históricos para nortear os conceitos
apresentados sobre os tipos de fontes, seus usos e fins.
Também será utilizado o método funcionalista, o qual “[...] estuda a sociedade
do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de
atividades” (MARCONI, LAKATOS, 2003, p. 110). Sua aplicação serve para
compreender cada fonte de informação não isoladamente, mas enquanto partes de um
sistema encadeado, a exemplo dos Sacramentos, dentre os quais podemos citar o
Batismo, com o documento do Batistério, passando pelas cartas de envio de candidatos
ao sacerdócio para o Seminário (elaborada se organizadas por cada Paróquia, para
serem enviadas ao Reitor de cada Seminário, de maneira a tornar expressa a ciência do
pároco da situação vocacional de um paroquiano seu);pelo certificado da Ordem,
conferindo valor e atestando que um determinado homem recebeu o Sacramento da
Ordem e, portanto, tornou-se diácono e depois padre; e chegando até mesmo às carteiras
de identificação usadas por padres de todo o Brasil, elaboradas em conformidade com a
Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil (CNBB).
Por fim, também foi escolhido o método monográfico, para análise de aspectos
particulares e exemplos de grupos em um todo (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 108).
No trabalho sua aplicação ocorre em se tratando de unidades de informação a serem
visitadas para observação e investigação, como bibliotecas, paróquias e arquivos, bem
15
como meios virtuais, a exemplo do próprio site do Vaticano, onde são disponibilizadas
bulas, encíclicas e tipos documentais.
Esta pesquisa apresenta caráter documental, utilizando as próprias fontes,
documentos e unidades estudadas; pesquisa bibliográfica que Para Gil (2008, p. 50), “a
pesquisa bibliográfica se constitui numa proposta de se tentar compreender e/ou
explicar um fenômeno a partir de um referencial teórico, que pode ser composto por
livros, artigos científicos, dentre outras fontes”. Para respaldo conceitual, e mesmo
exploração em campo, foram realizadas visitas de campo às unidades de informação
utilizadas no decorrer da pesquisa, como forma de ter maiores dados e base factual na
investigação para apresentar resultados ao final do processo.
Inicialmente serão abordadas as Fontes de Informação com vistas a indicar seus
principais conceitos e tipologia. Nesta mesma seção se fará necessário apontar os
principais conceitos de informação, bem como apontar a evolução deste importante
insumo na sociedade. No capitulo três nos dedicaremos a abordar o assunto das Fontes
de informaçao identificando seus principais conceitos e tipologias. Em seguida, no
capítulo quatro, discorre se sobre a Igreja Católica e seu papel na organização da
informação.
16
2 O USO E DESENVOLVIMENTO DA INFORMAÇÃO ATRAVÉS DOS
TEMPOS
Para promovermos um entendimento melhor sobre as Fontes de Informação, sua
gênese, características se faz necessário entender o que seria a informação, como se deu
a sua evolução histórica, os suportes desenvolvidos e a visão da ciência acera da
informação. Portanto, o objetivo deste capitulo é conceituar e caracterizar informação e
também as fontes de informação.
2.1 CONCEITO DE INFORMAÇÃO E SEU USO
Antes de enfatizar o que seriam as fontes de informação, faz-se necessário
promover um entendimento do que seria a informação em si. Wurman (1991, p.138)
afirma que a informação é a matéria-prima que alimenta toda a comunicação, pois a
motivação básica de qualquer comunicação está em transmitir de uma mente para outra
algo que será recebido como informação nova. A relação entre informação e
comunicação aqui levantada é extremamente pertinente, uma vez que, enxergando sob o
prisma de uma instituição eclesiástica, a comunicação e a informação caminham lado a
lado.
Quando um indivíduo emite uma informação, a disseminando em níveis de
impacto e de público diversos, o faz para que aqueles que a detenham – o público-alvo –
façam daquele aglomerado de dados um conhecimento perene. Nas palavras de Le
Coadic (1996, p. 5), “a informação é um conhecimento inscrito (gravado) sob a forma
escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual”. É partindo dessas concepções
acerca do que é informação que pode-se traçar de forma mais concreta o que seriam as
fontes de informação.
A informação em si depende de uma dinâmica, tanto na sua produção quanto
recebimento e assimilação – para a construção do que concebemos como sendo
conhecimento. McGarry (1999, p. 11) expressa que “[...] a informação deve ser
ordenada, estruturada ou contida de alguma forma, senão permanecerá amorfa e
inutilizável. [...] A informação deve ser representada para nós de alguma forma, e
transmitida por algum tipo de canal. [...] a informação documentária pode estar contida
em qualquer coisa que uma pessoa escreva, componha, imprimam desenhe ou transmita
por meios similares”.
17
Destaca-se, pois, a expressão “amorfa e inutilizável”, ambos usados para
classificar a informação quando não estruturada e ordenada para algum fim – no caso, o
de externar e comunicar.
Segundo Le Coadic (1996, p. 5), a informação pode ser “[...] um conhecimento
inscrito sob a forma escrita, oral ou audiovisual. Ela comporta um elemento de sentido e
é transmitida a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita.
Wersig (1993), por sua vez, afirma que "informação é conhecimento em ação
[...] como algo que serve de apoio a uma ação específica em uma situação específica, na
premissa de que todo comportamento humano necessita de algum tipo de
conhecimento". Encontramos sentido ao refletirmos sobre a relação de causa e efeito
entre informação e conhecimento: a transmissão da primeira e a sua consequente
aplicação geram o segundo. A informação é, pois, aquilo que é transmitido com o fim
de assimilação da parte de terceiros.
Conforme Silva (2006, p. 83), ambos os processos são complexos e interligados
sendo a comunicação a ação de comunicar-se, de partilhar, de dividir, transmitir a
informação, o seu conteúdo e receber outra mensagem como resposta, que por extensão
geram uma conversação promovendo a comunicabilidade entre os indivíduos.
Ao estudarmos a informação, muitas vezes nos deparamos com a chamada
“tríade”: dado, informação e conhecimento. A respeito de cada termo e seu conceito,
Fernandez-Molina (1994, p. 328) faz uma descrição: “[...] os dados são informação
potencial, que somente são percebidos por um receptor se forem convertidos em
informação e esta passa a converter-se em conhecimento no momento em que produz
uma modificação na estrutura do conhecimento do receptor”. Com base nisso,
visualizamos a informação como um conjunto de dados a assumirem forma para um
processo posterior de comunicação – gerando, então, o dito conhecimento. Contudo, o
processo de transformação de um para o outro não é o mesmo do processo de busca.
Fazendo o caminho inverso, entendemos que o conhecimento só é gerado a
partir da aplicação, ao menos interna, sem contar as consequências sociais, na vida
daquele que recebeu uma informação. Para isso, o processo de busca por informação é
uma etapa imprescindível, sem a qual não haverá o ciclo de geração de conhecimento. A
informação só poderá ser perpetuada e acessada uma vez que é registrada em algum tipo
de suporte. Nesse sentido, existem diversos tipos de suportes que são considerados
fontes de informação.
18
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA RUMO À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO.
Dentro do tema de pesquisa, é necessário abordar historicamente a relação entre
a Igreja Católica Apostólica Romana e informação. Para isso, também deve-se trazer um
relato histórico do desenvolvimento orgânico do corpo eclesial.
Há divergências no campo teológico se a Igreja Católica Apostólica Romana
surgiu na Cruz (no Sacrifício de Cristo) ou em Pentecostes – episódio bíblico que narra
o envio de dons e carismas do Espírito Santo aos apóstolos. Independentemente, sabe-se
que, já no século 100 d.C, havia um corpo magisterial de bispos e padres e uma legião
de leigos e fiéis que aumentava a cada dia, gerando a crise humanitária de perseguição
religiosa no império romano. No ano 313, o imperador Constantino, que havia se
tornado católico, publicou o Édito de Milão, documento que proibiu a perseguição aos
cristãos. Coincidentemente, foi através de um tipo documental que a Igreja sairia das
catacumbas e passaria a professar publicamente sua fé.
Nos anos posteriores, o catolicismo cresce mais ainda. Como prova dos passos
dados pela religião, destacam-se alguns outros documentos, como o Édito de
Tessalônica, do imperador Teodósio, tornando-o o credo oficial do Império Romano, ou
os documentos do Concílio2 de Nicéia, ocorrido em 325, e Constantinopla, em 381, que
refutaram e condenaram o arianismo3.
Ao longo dos tempos, o cristianismo vai tornando-se cristandade. Não é mais
uma fé, mas também formou uma civilização. Reinos são convertidos, e com eles a
relação entre Igreja e Estado torna-se íntima. Com os Tempos Bárbaros (400 – 1050), os
nobres europeus terão papel fundamental na proteção da Igreja, a qual, por sua vez,
seria curadora das primeiras formações de acervos.
Um exemplo das consequências deste contato e de “troca” de proteções é o
ponto alto do período medieval, com o Papa Inocêncio III (1198-1216), o qual ficou
conhecido como “embaixador do Rei dos reis”, pela diplomacia com a nobreza, a qual
trouxe para a humanidade grandes contributos informacionais e intelectuais (AQUINO,
2015).
2 Reunião de bispos do mundo inteiro com o Sumo Pontífice, realizada com o intuito de discutir questões
importantes, combater heresias e confirmar a fé. Ocorreram 21 concílios na história da Igreja, sendo o
último, o Vaticano II (1962-1965) o único não dogmático – que não proclamou dogma algum. 3 Heresia dos primeiros séculos difundida por um presbítero chamado Ário. Basicamente é a ideia de que
Cristo não era verdadeiramente homem e Deus, mas somente homem. Se contrapõe à Doutrina da
Santíssima Trindade.
19
Destacando o período medieval4, pode se afirmar que o mesmo se identifica uma
sociedade sem maiores acessos à educação. A pobreza do Império Romano alastrou-se à
Idade Média, e a não total eficácia das bibliotecas públicas romanas teve como
consequência a estagnação intelectual do povo. A alfabetização era para poucos, e
coube ao Magistério (as autoridades da Igreja) a manutenção do saber por meio da
escrita, que era contextualizada junto com a Liturgia e a profissão de fé (MCGARRY,
1999).
Essa relação se torna mais evidente quando enxergamos o legado da cultura do
mundo antigo e da sociedade cristã misturadas, ambas norteando o que a Igreja
transmitiria à humanidade durante o período medieval (LE GOFF, 2007, p. 32). Será o
historicismo e o registro da história o norte da divulgação do conhecimento medieval, a
exemplo da enciclopédia, gênero preferido de clérigos e leigos com instrução, uma vez
que oferece um resgate cultural de outrora para a construção do futuro (LE GOFF,
2007).
Com o passar do tempo, o arcabouço historiográfico presente nas universidades
e mosteiros mostra uma nova utilidade. Por meio da chamada “prensa de Gutenberg”, a
informação presente nos livros torna-se mais disseminada dispersa, sendo acessada mais
facilmente, conforme a sociedade ia se tornando alfabetizada e aderindo ao hábito de
procurar as fontes literárias existentes. “Essa nova situação de acessibilidade dos livros-
de papel e impresso – acabou sendo um estímulo ao conhecimento das letras e à
absorção de conhecimento” (MILANESI, 2002, p. 25).
A informação, que até aquele momento não era atrelada a outro meio senão a
biblioteca, torna-se não mais um bem “místico”, mas uma ponte ao saber. Conforme
Milanesi (2002, p. 7), “[...] em O Nome da Rosa, [...] emerge a figura misteriosa do
bibliotecário do convento, que levava a chave de um mundo complexo e misterioso [...],
no Renascimento ele surge como um guia de ajuda na caminhada por um mundo novo e
aberto”. O contexto de abertura dos meios de informação é o início do Renascimento. A
partir dele, duas formas de enxergar um bem informacional são colocadas lado a lado:
no Ocidente, a escrita e a cultura romana, enquanto no Oriente, o mundo bizantino
aderia à cultura helênica, tendo elementos romanos e pagãos em seu meio.
4 Apesar da importância da contextualização histórica, não é o objetivo deste trabalho esgotar o assunto
nessa área.
20
Em termos de evolução histórica os séculos seguintes se caracterizaram por
mudanças constantes e revoluções seguidas umas das outras, principalmente em virtude
do desenvolvimento de novas ferramentas e tecnologias que possibilitaram a formação
das estruturas sociais que serviriam de base para a ascensão de uma nova forma de se
produzir, lidar e receber informação, intimamente ligada com os passos da
industrialização e de aprimoramento do que, mais tarde, seria chamado de “recurso
digital”.
Castells (1999) indica a existência, na história, de duas revoluções industriais,
sendo a primeira destas no século XVIII e a segunda no século seguinte, a partir do
desenvolvimento e uso da eletricidade e do motor de combustão interna. Ele afirma que
“[...] um conjunto de macroinvenções preparou o terreno para o surgimento de
microinvenções nos campos da agropecuária, indústria e tecnologia” (CASTELLS,
1999, p. 71). O autor afirma também que estas invenções tiveram impacto ímpar na
própria sociedade que as recebeu:“Portanto, atuando no processo central de todos os
processos – ou seja, a energia necessária para produzir, distribuir e comunicar – as duas
revoluções industriais difundiram-se por todo o sistema econômico e permearam todo o
tecido social” (CASTELLS, 1999, p. 75).
Com o tempo, o trabalho de aprimoramento tecnológico realizado de acordo
com a capacidade de cada povo e cultura, viria a ser o grande diferencial nos níveis de
construção de uma sociedade mais ligada aos passos dados pelas novas tecnologias.
Segundo Lopes (2009):
[...] capacidade tecnológica e desenvolvimento regional influenciam-
se reciprocamente: a um padrão elevado espacial de adoção de novas
tecnologias será de esperar que correspondam novas atividades
inovadoras, originando novas estruturas territoriais, através da
instalação de empresas mais avançadas ou da reestruturação das
existentes, mais eficientes e competitivas (LOPES, 2009, p. 1000).
O crescimento das novas formas de tecnologia dariam, portanto, crescimento às
nações que as desenvolvessem. Analisando o século passado, percebemos uma
proporcional relação entre o poderio militar das nações e sua relação com novos
aparatos tecnológicos. Ironicamente, é num contexto de guerra que haverá um salto
histórico para os tempos hodiernos:
21
Creditam-se ao período da Segunda Guerra Mundial e ao seguinte as
principais descobertas tecnológicas no campo da eletrônica, como o
primeiro computador programável e o transistor, fonte da
microeletrônica, o verdadeiro cerne da revolução da tecnologia da
informação no século XX. (PEREIRA, SILVA, 2010)
A “globalização”, resultado dos choques culturais daquele tempo, vai impor
maior força com o papel da burguesia na produção e acesso à informação. A hegemonia
da curadoria eclesiástica não mais existia, e agora eram os duques e reis – que estavam
no topo da estrutura social – que gerenciavam a informação, financiando a prensa e a
produção de edições de escritos. Com o tempo, a informação passa a ter seu valor, e
com o peso monetário atrelado a um tipo informacional, é cada vez mais cobiçada.
Esses processos sócioeconômicos ganharão maior fôlego nas revoluções
iluministas e no surgimento de uma classe burguesa cada vez mais aparente. Com o
advento do capitalismo, o comércio ganha novos ares, e com ele a própria noção de
informação – e a demanda por ela.
Os frutos da Segunda Grande Guerra seriam acompanhados pelos grandes
Estados, em especial a União Soviética e os Estados Unidos, que, num contexto de
Guerra Fria e disputa ideológica e geopolítica de domínio mundial, travaram uma
intensa batalha a nível tecnológico, expandindo os limites da tecnologia e construindo
redes que aliassem a informação com a inteligência. Segundo Oliveira Neto et al (2018):
Uma vez instituído esse novo sistema de governança mundial
passamos a conviver com a noção de progresso e o início de dois
fenômenos que iriam mudar as relações sociais, econômicas e
informacionais em todo o mundo: um, chamado globalização, e outro
denominado tecnologia. (OLIVEIRA NETO et al, 2018).
Quando esses dois fenômenos ganham força, a forma de disseminar e, ao mesmo
tempo, acessar informação, muda completamente. Com uma nova divisão no mundo
entre Ocidente e Oriente – agora sob as sombras do capitalismo norte-americano e do
comunismo soviético –, o embate político, ideológico, econômico, cultural e
tecnológico traz o advento das chamadas TICs – Tecnologias da Informação e
Comunicação. É no olho do furacão do desenvolvimento tecnológico americano que é
criada a ARPANET, uma rede de computadores que auxiliavam o programa de
tecnologia espacial dos Estados Unidos.
22
A ARPANET foi a primeira rede de computadores e entrou em
funcionamento em 1969, conectando seus quatro primeiros nós, ou
seja, universidades americanas. Na década de 80, a ARPANET
encerra suas atividades e cede lugar à Internet. A partir daí, a Internet
parte para sua difusão internacional, sem fronteiras nem rumos.
Assim, conforme a rede se expandia e ganhava mais adeptos, outras
tecnologias relacionadas à Internet foram criadas. Por volta de 1990,
os ‘não iniciados’ ainda tinham dificuldade para usar a Internet e a
capacidade de transmissão ainda era muito limitada.(PEREIRA,
SILVA, 2010)
Com o fim da Guerra Fria e a internet ficando livre do seu contexto militarizado,
novas técnicas de comunicação e troca de informações são desenvolvidas, através dos
chamados protocolos (padrões de comunicação em rede de informática que dá
comandos aos sistemas e aparelhos).
A partir desse momento, a Internet começou a desenvolver-se
rapidamente, como uma rede global de redes informáticas,
desenvolvimento proporcionado pelo desenho original da ARPANET,
baseado numa arquitetura descentralizada de varias camadas (layers) e
protocolos de comunicação abertos. (CASTELLS, 1999, p. 28)
Da mesma forma como a escrita, os suportes informacionais e as maneiras de
ofertar informação, as TICs também mudaram. Temos, hoje, softwares desenvolvidos
para os repositórios digitais, que preservam a produção institucional; as nuvens; data
centers (centro de dados da instituição que os mantém, gerenciando, por meio deles, os
servidores que mantém as informações); bases de dados desenvolvidas para o acesso
remoto e a catalogação cooperativa via meio virtual, etc. São estes os meios atuais e
mais comuns de se ter contato com a informação. Retomando Le Coadic, ao classifica-
la através do formato escrito, oral ou audiovisual (1996, p. 5), entende-se que as atuais
formas nas quais se acha a informação – independente do conjunto de dados que a
forme – são várias, sendo aplicadas a cada tipo de usuário que dela necessita.
Atualmente, o olhar das instituições responsáveis pela organização da
informação vai além dos nossos tempos. A preocupação das bibliotecas e demais
unidades de informação é com a “travessia” do mundo analógico para o digital,
quebrando cada vez mais barreiras físicas e possibilitando um contato com a informação
maior a cada dia da parte dos usuários.
23
Apesar da ausência de um uso exclusivo para o conceito de biblioteca
digital, é cada vez mais importante, para a biblioteca, a capacidade de
digitalização de documentos de qualquer natureza, que a instituição
detém de forma característica ou exclusiva – fotografias, coleções
hemerográficas antigas, coleções especiais etc. Este aspecto tem a ver
com a tarefa tradicional da biblioteca, que nada mais é que selecionar,
organizar, preservar e fornecer acesso aos conteúdos culturais. Não
faz muitos anos que esses conteúdos se encontravam apenas no papel,
mas agora estão em formato digital ou em processo de digitalização.”
(ABADAL, ANGLADA, 2017)
Os autores fazem uma reflexão acerca de uma grande consequência desta
“migração” para uma realidade mais próxima das tecnologias: a digitalização dos tipos
informacionais existentes, de maneira a caminhar lado a lado com as novas demandas
de informação, seja em forma de apresentação, seja no conteúdo:
A preservação digital aumenta sua importância em relação direta com o
número de documentos digitais existentes em uma instituição e também
na medida em que estes já nascem digitais – e talvez nunca tenham tido
outra forma. A preservação digital provavelmente afeta os serviços
administrativos, os serviços de arquivo e os de informática, mas será,
sem dúvida, um serviço que as bibliotecas oferecerão. (ABADAL,
ANGLADA, 2017).
É este o atual esforço das unidades de informação: trabalhar todo o potencial que
as atuais tecnologias apresentam, usufruindo delas para uma maior eficácia em atender a
missão de atender as necessidades informacionais de seus usuários. Em seguida, no
próximo capítulo enfatizaremos os aspectos relacionados diretamente às fontes de
informação.
24
3 FONTES DE INFORMAÇÃO E SUAS CARACTERÍSITCAS
As fontes de informação, como o próprio termo já é capaz de descrever por si só,
são as nascentes do aglomerado de dados (informação), de onde se retira o necessário
para a produção de conhecimento.
Dessa forma, a disposição de formato no por meio do qual a informação será
encontrada varia de caso em caso. São muitos os suportes, formatos e possibilidades de
visualização de uma mesma informação. Um livro, por exemplo, pode ser encontrado
em formato digital como também físico– e, neste caso, em várias possibilidades de
edição. O acesso a esses tipos documentais em formatos e meios de apresentação
diversos correspondem também às fontes nas quais eles são encontrados. Cada fonte
possibilita a recuperação de uma informação, aplicada para cada tipo de usuário.
Baggio, Costa e Blattmann (2016, p.33) afirmam que fonte de informação é uma “[...]
ferramenta que auxilia na recuperação de informações para usuários inseridos em
diferentes contextos”. Estas fontes são os meios de se encontrar informações precisas,
obedecendo a um recorte de assunto, tempo, autor, título, conteúdo, etc.
Para Rodrigues e Blattmann (2014), fonte de informação é tudo o que gera ou
veicula informação. No campo de estudo da biblioteconomia, compreendemos que as
informações estão presentes em uma relação de oferta e demanda informacional, em
qualquer que seja a unidade de informação em questão. Em um caráter micro,
analisando uma organização – ou instituição -, entendemos que “[...] o acesso às
informações de uma organização pode se dar através dos indivíduos a ela ligados ou dos
documentos que ela gera” (CAMPELLO, 2000). Em outras palavras, a forma de se
acessar uma informação institucional se dá por meio daqueles que formam esta
instituição ou mesmo do caminho contrário: os materiais informacionais que dela
partem para aqueles que demandam tais informações.
Rodrigues e Blattmann (2014) ainda distinguem as fontes de informação como
internas e externas, variando de acordo com seus formatos, o conteúdo e a própria
natureza de cada uma delas, ampliando essa distinção em outras categorias:
[...] as fontes de informação ou documento podem abranger
manuscritos e publicações impressas, além de objetos, como amostras
minerais, obras de arte ou peças museológicas, podendo ser divididas
em três categorias: documentos primários, documentos secundários e
documentos terciários. (CUNHA, 2001, apud RODRIGUES;
BLATTMANN, 2014).
25
Dentro da categorização das fontes podemos apontar como sendo primárias,
secundárias e terciárias, há o limiar entre cada uma delas, de acordo com o processo de
produção e busca das mesmas – que podemos considerar como parte do processo de
fluxo de informação, anteriormente citado.
Figura 1: Descrição dos tipos de fontes de informação.
Fonte: Gomes e Dumont, 2015.
Os primeiros tipos, denominados como primários, teriam a interferência direta
do autor e são o registro de informações “[...] que estão sendo lançadas, no momento de
sua publicação, no corpo de conhecimento científico e tecnológico” (GROGAN, 1992,
apud MULLER, 2000, p. 31). São estas as fontes procuradas quando se quer ter acesso
direto à “fala” da própria organização que a gerou.
As fontes secundárias “apresentam a informação filtrada e organizada de acordo
com um arranjo definido, dependendo de sua finalidade” (Mueller, 2000, p. 31). Ou
seja, são aquelas que nos dão os documentos e informações primários caracterizados de
maneira particular ao nosso interesse, seja pessoal, financeiro, social ou mesmo
científico. Exemplos gerais são as enciclopédias e dicionários.
Por fim, as fontes terciárias são as guias para as fontes anteriores, a exemplo das
bibliografias, os resumos e indexações, os catálogos coletivos, entre outros. Segundo
Pacheco e Valentim (2010, p. 334), “[...] a categorização das fontes de informação
permite compreender a dimensão de cada uma diante de sua função [...]". Entendemos,
portanto, que compreender cada fonte com suas características próprias; seus usos
particulares e os fins específicos é importante para visualizar a dimensão de suas
funções em caráter organizacional – o que, atrelado ao assunto das fontes de informação
católicas, nos leva à problemática: a falta de categorização dos tipos e fontes
26
informacionais/documentais geradas e utilizadas externa e internamente em âmbito
eclesial.
Ao longo da história, a criação e desenvolvimento de fontes de informação
diversas foram se adequando de maneira diretamente proporcional ao próprio
desenvolver da sociedade. Este resgate histórico é visto de forma concreta a partir do
momento que contemplamos a difusão científica na história mundial, a cada tempo e em
cada mudança. Se a ciência é produto do conhecimento, e este por sua vez é gerado a
partir da comunicação entre um meio que emite informação e aquele que a recebe, para
trabalha-la interiormente e gerar um saber, a fonte de informação se encontra na gêse da
busca, e portanto da própria comunicação científica.
3.1 AS FONTES DE INFORMAÇÃO DIGITAIS
Além das diversas formas de se enxergar e, consequentemente, categorizar uma
fonte de informação, há que se avaliar uma possibilidade além do comum: a aplicação
das fontes no ambiente digital.
As tecnologias sempre foram produto do desenvolvimento intelectual humano.
Por tecnologia podemos inferir o significado de “ferramenta”, ou algo que irá auxiliar
na elaboração de uma tarefa. Tigre (2006, p. 72) classifica tecnologia “como
conhecimento sobre técnicas, enquanto as técnicas envolvem aplicações desse
conhecimento em produtos, processos e métodos organizacionais.”
Com a grande corrida tecnológica realizada entre os Estados Unidos e a União
Soviética durante parte significativa do Século XX, o que antes era desenvolvido
timidamente, com praticamente fins unicamente militares, passou a ser procurado e
utilizado por toda a população.
A ciência e a academia não estavam restringidas sob a sombra das duas grande
potências científicas, políticas e bélicas. Sendo assim, o contato com a internet (ou
Arpanet – fruto do trabalho dos Estados Unidos), alguns hardwares e softwares (que
surgiram paulatinamente) potencializaram e fomentaram um desenvolvimento de
pesquisa além do ordinário. Agora a comunidade acadêmica podia dispor de meios com
os quais promover pesquisas.
Como outrora exposto, as fontes são os meios nos quais se encontram as bases e
princípios do acesso as informação para a comunicação científica. Com isso, expandido
os horizontes para além dos catálogos, bibliotecas, arquivos e demais unidades de
27
informação que apresentavam produto físico, inaugurou-se a era das fontes de
informação eletrônicas, responsáveis, atualmente, por muito do que se encontra como
contributo de pesquisa acadêmico-científica.
Como o meio tecnológico é globalizado, o acesso a informação – e as formas de
a utilizar – se tornam variados. Em se tratando disto, e da responsabilidade daqueles que
promoverão a manutenção e gerenciamento destas gamas de saberes, Bueno e Blatmann
(2005), destacam que é salutar “[...]conhecer os recursos informacionais disponíveis
para desempenhar com habilidade a pesquisa de conteúdos e tomar atitudes específicas
quanto ao uso ético da informação (leal, sigiloso e confidencial)” (BUENO;
BLATMANN, 2005, p. 4).
Outro elemento que deve ser considerado é a segurança e preservação das fonte
eletrônicas, principalmente ao percebermos que estes novos tipos informacionais têm
características que “não são compartilhadas com os documentos em papel” (LEGGETT;
NURNBERG; SCHNEIDER, 1996, p. 95). A ampliação das possibilidades de
transmissão de informações por meio digital também implica em maiores cuidados com
o que é transmitido, bem como com os receptores do que se transmite. Taubes (1996)
trata de vantagens do formato eletrônico de disposição informacionais, em comparação
com o físico, a exemplo das ferramentas de busca e os recursos de áudio e vídeo. Em
suma, quanto mais maleável for a maneira de disseminar uma informação, mais
cuidados se deve ter com o gerenciamento desta. Se, no passado, o suporte físico –
presente através das bibliotecas – dava segurança aos que detinham a informação, nos
tempos atuais as implicações tecnológicas trazem, ao mesmo tempo, inovação e
preocupação.
Com a informatização do acesso a informação, esta deixa de ser “criação do
intelecto ou resultado da produção científica de um indivíduo, mas aquilo que gera
status, poder e, consequentemente, dinheiro” (OLIVEIRA NETO; SOARES;
VECHIATO, 2017). Segundo Ferreira (1989), a realidade da informação eletrônica
surge “[...] como um quarto setor, capaz de mobilizar uma grande massa de
profissionais e de gerar uma nova sociedade, a chama sociedade da informação”. Neste
novo arranjo social, não temos mais o mundo informacional cercado pelos muros das
academias e outras instituições, mas sim o acesso rápido e total ao que se quer
encontrar. São estes os dois principais pontos a classificar a chamada “sociedade da
informação”: acesso globalizado e integral à fonte informacional; e o uso da informação
28
não mais como apenas fruto do trabalho intelectual e científico, mas também como meio
de se ganhar capital e adquirir poder.
Isto ocorre com a ascenção de uma nova realidade digital/virtual, que seria,
futuramente, classificada como Web 2.0:
Em linhas gerais, Web 2.0 diria respeito a uma segunda geração de
serviços e aplicativos da rede e a recursos, tecnologias e conceitos que
permitem um maior grau de interatividade e colaboração na utilização
da Internet (BRESSAN, 2007, p. 2)
Uma realidade paralela a esta é a das Tecnologia da informação e comunicação
(TICs), que trazem inovações tecnológicas mais perenes ainda. As TICs, como qualquer
ferramenta, são utilizadas como forma de melhorar os serviços de informação.
Com o uso das TIC as bibliotecas inovaram produtos e serviços, a
noção de valor agregado a informação ganha corpo, as bibliografias
foram substituídas por bases de dados, os levantamentos
bibliográficos feitos através da cópia xerográfica das fichas
catalograficas são realizadas em poucos minutos em catálogos digitais
[...] a consulta ao catálogo, livros e periódicos eletrônicos podem ser
feitos de qualquer lugar que tenha acesso a internet, suprimindo assim
a distância entre a informação e seu usuário. (RIBEIRO, 2012).
No contexto de relação íntima entre informação e tecnologia, por meio do
processo de desenvolvimento tecnológico pós-guerra fria, a aplicação dos conceitos
anteriormente elencados é mais perene. Pinheiro (2006, p. 2) considera o critério de
análise das fontes de informação como sendo, respectivamente, seus conteúdos e
propósitos. Na sociedade informatizada, o grande meio no qual temos nossas demandas
saciadas é, de fato, o digital. Por meio do acesso à realidade digital/virtual, os mundo de
fontes e unidades de informação dispostas na web surgem, dando-nos inúmeras
possibilidades de uso e acesso.
Embora, com a explosão da informação e o surgimento da chamada sociedade da
informação, este recurso seja visto como um produto informacional produzido e usado
como valor econômico – ou ao menos um meio para se chegar ao fim financeiro –, não
é um trabalho em si impossível, traçar uma fronteira entre cada fonte e como ela se
encontra.
No meio eletrônico/digital, a fronteira entre uma e outra fonte é também visível.
Segundo Reis (2005, p. 17), “[...] a busca, o acesso e o uso de fontes de informação
29
facilitam a solução de problemas informacionais e colaboram na geração e inovação do
conhecimento”. Destarte, no contexto da sociedade da informação outrora citada, novas
possibilidades de se assimilar informação são desenvolvidas. Rodrigues e Crespo (2006)
afirmam que as fontes digitais/eletrônicas
[...] tendem a unificar seus serviços e recursos, uma vez que juntam
características que anteriormente faziam parte de apenas um único
tipo de fonte, como os índices impressos. Assim pode-se obter, com
um único recurso, a busca, localização e obtenção do documento,
distinguindo-o do panorama anterior onde, para cada passo, utilizava-
se uma ferramenta diferente.
A partir dessa caracterização de uso de tais fontes, as autoras citam alguns
exemplos distintos no ambiente digital/eletrônico. São eles: os periódicos científicos
eletrônicos, inseridos em portais, bases de dados ou na rede em geral, viabilizando o
acesso a artigos variados; as bases de dados, as quais permitem várias formas de se
elaborar uma pesquisa, por pontos de acesso, palavras-chave, descritores, etc.; as
ferramentas de busca na internet, as quais são, normalmente, generalistas, filtrando uma
gama enorme de informação a partir de termos de indexação (exemplos: Google, Bing,
etc.); bibliotecas digitais, as quais “combinam recursos tecnológicos e informacionais
para acessos remotos, quebrando barreiras físicas entre eles” (BLATTMANN, 2001, p.
93); entre outras.
Podemos citar, também, os repositórios digitais, que são vistos como fontes a
partir do momento em que orientam o usuário/pesquisador na busca por material
informacional. Gomes e Rosa (2010, p. 7) apontam os repositórios institucionais como
“[...] uma das estratégias mais eficazes de melhoria das condições de disponibilidade e
facilitação do acesso à produção intelectual, acadêmica e científica dos centros
produtores do conhecimento, como as universidades e centros de investigação”. Em
suma, o papel de reunir produções e organizá-las uniformemente por um único meio
caracteriza um repositório como fonte de informação; afinal, em muitas ocasiões é ao
repositório que usuários encaminham suas pesquisas, confiando no crivo deste meio.
Um segundo exemplo são os catálogos – e aqui são abrangidos os catálogos
físicos e também online (os chamados OPACs –, os quais, pela descrição de Paiva
(2011, p. 3), têm “[...] uma função essencial como meio de comunicação, conduzindo o
usuário à informação almejada com o menor número de falhas e a maior quantidade de
possibilidades possíveis”. (PAIVA, 2011, p. 3). Quanto a estes, são agrupados entre as
30
fontes de informação por permitirem a comunicação – termo utilizado anteriormente,
neste trabalho – a qual é o elo entre o acesso à informação e a assimilação para a
geração de conhecimento.
Como observado, há fontes que levam para outras fontes, remetendo umas as
outras por meio da comunicação científica (BAGGIO; COSTA; BLATTMANN, 2016,
p.35). Tomando como base que todas utilizam recursos e suportes diversos para a
apresentação e disseminação da informação em canais distintos e para públicos-alvo
também diferentes entre si, há uma fonte em específico que é utilizada como exemplo –
talvez, dentre todos eles, o mais generalista no seu fim – de comunicação para outras
fontes: a bibliografia.
As bibliografias são o norte de uma pesquisa, e portanto o alimento para um
estudo. Se a ciência necessita de comunicação para tornar-se concreta, a bibliografia
permite esta mesma comunicação para práticas científicas diversas.
Segundo Cunha (2010, 36-37):
a bibliografia é uma lista de referências bibliográficas relativas aos
diversos tipos de fontes de informação sobre determinado assunto ou
pessoa. Em geral, é organizado por ordem alfabética ou cronológica
de autores. Em termos de cobertura, pode ser exaustiva ou seletiva,
podendo trazer apenas a referência bibliográfica ou incluir anotações
sobre o item analisado. Os índices, também denominados bibliografias
correntes, em geral indexam novos livros e artigos de periódicos.
Podem incluir Resumos (abstracts) e são publicados com frequência
variada e de modo regular.
O recurso da bibliografia é, pois, a organização das informações que foram
utilizadas para a formação de um conhecimento em específico, e, portanto,
imprescindíveis para a pesquisa em questão elaborada. Enquanto fonte de informação,
pode ser considerada, como outrora chamada, a mais generalista no seu fim último, pois
abrange tudo o que foi acessado, em suportes, fontes, materiais, informações e tipos
variados, permitindo a recuperação da informação.
Em resumo, conforme apresentado e exemplificado, o desenvolvimento das
fontes de informação corresponde ao caminhar da demanda informacional e da
comunicação científica. Não só isso, mas também dentro de cada unidade e meio
informacional há fontes a serem criadas ou aperfeiçoadas para o bom gerenciamento
informacional e uma melhor recuperação da informação. Na sociedade da informação, a
31
tecnologia auxiliou nesse processo, dinamizando mais ainda o contato com o que se
demandava em termos informacionais.
32
4 CONSIDERAÇOES GERAIS SOBRE A IGREJA CATÓLICA E
ORGANIZAÇÃO E PRESERVAÇAO DA INFORMAÇÃO
Antes de o relacionamento da Igreja Católica com a dinâmica da promoção e
disseminação da informação neste contexto, é importante retomar aspectos históricos
desta relação, para que a haja uma reflexão necessária do problema e do paradigma
histórico associado e que há entre a disseminação informacional e o meio eclesiástico
católico apostólico romano.
Historicamente, há uma problemática envolvendo a visualização dos processos
informacionais no interior da Igreja5, em seu sistema administrativo e burocrático – sem
desconsiderar aquilo que tem relação mais direta com a própria fé, religiosidade e
espiritualidade. É possível acessar tipos e fontes de informação sob o “prisma externo”,
a exemplo de documentos disponibilizados para os fiéis e toda a sociedade civil, além
do que é exposto em meios como o próprio site do Vaticano. Aquilo que é utilizado em
ambiente interno, porém, é de difícil visualização.
Pode-se inferir, sobre a dificuldade em visualizar a dinâmica dos tipos e fontes
informacionais no interior da Igreja enquanto instituição, que isto ocorre, em partes, em
decorrência do fato de que a necessidade de informação não faz parte dos anseios
exclusivos dos que demandam, mas também dos que ofertam (LE COADIC, 1996). Em
resumo, o acesso às fontes informacionais católicas é dificultado pelo paradigma
custodial6 ainda presente na Igreja Católica, cautelosa em preservar, manter e proteger
seus elementos de referência, registro e conhecimento, ao passo que acaba por criar
arestas na busca informacional.
De forma geral, desde os primórdios de sua existência, a Igreja, ao registrar as
informações sociais e religiosas, acaba por atuar como uma das principais instituições
que contribuíram com a perpetuação da memória. Para Le Goff (1984), a memória
enquanto construção social pode ser compreendida por meio do entendimento que a
mesma implica, sugere sua crucialidade, expressa em noções que se remetem
mutuamente: tempo e espaço, suporte e sentido, memória individual e coletiva, tradição
e projeto, acaso e intenção, esquecimento e lembrança: as diferenças de natureza entre
5 Não e nosso intuito esgotar todas as possibilidades neste campo e sim assinalar os fatos principais
relacionados ao papel da Igreja nos processos de preservação e organização da informação 6 Relação entre o interesse eclesial em disseminar as informação geradas na Igreja e a cautela para com a
preservação e manutenção das mesmas.
33
sociedades com escrita ou não. Portanto, ao se propor a registrar informações e
armazená-las ao longo do tempo, a Igreja tem contribuido sobremaneira para a
perpertuação dos registros de informação. No entanto, é sabido que a memória não
existe isoladamente, e sim materializa-se por meio de suportes de informação. E, neste
sentido, corroboramos com Ferreira e Amaral (2004, p.138) quando colocam que:
A memória não pode existir sem o suporte técnico, como algo
puramente cerebral; o passado não pode sobreviver sem os suportes
técnicos que nos inscrevem numa determinada cultura, tradição. Posto
que a memória não é possível sem artifícios como a linguagem, a
escrita, falar de memória é falar de esquecimento.
Neste caso, é fundamental analisar os suportes de informação como elementos
preponderantes das variadas unidades de informação. Neste contexto, um dos suportes
mais importantes que garantem o armazenamento da informação com a potencialidade
de gerar conhecimento são as fontes de informação.
Como já destacado anteriormente, as fontes de informação são comumente
distinguidas umas das outras em três tipos principais: primárias, secundárias e terciárias.
Partindo da primeira tipologia, uma fonte primária de caráter eclesial é uma
encíclica papal, documento escrito pelo próprio Papa, com auxílio e assessoria de um
cardeal, por exemplo, com o intuito de exortar e tratar de um tema de relevância.
Destaca-se a encíclica Mit Brennender Sorge, escrita pelo então Papa Pio XI em 1937,
condenando o regime nazista alemão. Esta fonte, publicada originalmente em alemão e
espalhada entre igrejas e comunidades, era acessada diretamente, sendo a própria voz da
instituição que a elaborou – a Igreja Católica.
Para caracterizar as fontes secundárias eclesiais, que filtram e organizam a
informação em arranjos diferentes, de acordo com cada necessidade, destacam-se os
homiliários – obras que apresentam organizações de homilias de um determinado
sacerdote para a posteridade – destacando a obra “Um Caminho de Fé Antigo e Sempre
Novo”, contendo as homilias do Papa Bento XVI. É um tipo de documento que
organiza fontes primárias em uma nova roupagem, de acordo com a necessidade do
público-alvo.
Como fonte terciária, há o próprio site do vaticano
(http://w2.vatican.va/content/vatican/pt.html), que permite o acesso aos vários
documentos e escritos primários, como bulas e encíclicas, além de homilias, orações,
34
audiências papais e informações relacionadas à própria Cidade do Vaticano – a Sede da
Igreja Católica.
Dentro do contexto eclesiástico, é possível citar algumas unidades de informação
comuns à própria Ciência da Informação, cada qual com suas ofertas e demandas
informacionais e, em se tratando da realidade na qual estão inseridas, também com suas
finalidade e objetivos de existência na realidade eclesial: bibliotecas, arquivos, museus,
paróquias e portais.
Sobre as bibliotecas – e citando também os arquivos –, Berto (2012) afirma que
“tornam-se as fontes primordiais de pesquisa, capazes de refletir determinados modelos
de Igreja, seja por sua organização ou pelos itens neles depositados”. Historicamente,
pode-se destacar a Biblioteca Vaticana, fundada por Nicolau V, em 1450, como fruto da
organização do acervo de papas posteriores, sendo a mais antiga biblioteca da Europa,
possuindo mais de 8,3 mil incunábulos (livros impressos nos primórdios da imprensa,
por volta do século XV, 150 milhares de códices manuscritos, 100 milhares de gravuras
e desenhos, 300 milhares de moedas e medalhas e quase 20 milhares de objetos de valor
artístico) – os quais serão, em um projeto iniciado em 2014, integralmente digitalizados
para aqueles que quiserem acessar o conteúdo, que varia da própria religião e arte até
mesmo à ciência.
Acerca, especificamente, dos arquivos, Bacellar (2005, p. 39), os cita como
“detentores de grandes conjuntos documentais”. Recortando o contexto arquivístico
religioso ao catolicismo, o autor afirma que
[...] compõe-se em especial de registros paroquiais de batismo,
casamento e óbito, processos diversos, livros-tombo das paróquias e
correspondência, organizados pelo nome das paróquias e em ordem
cronológica. (BACELLAR, 2005, p. 40).
A importância dos registros paroquiais e diocesanos de cada fiel – seja em
caráter estatístico, para ter poder do número de indivíduos católicos; seja para registro e
preservação da caminhada de fé particular de cada um – é atestada pelo fato de que “a
Igreja, por intermédio do Padroado Régio, atuava como um autêntico serviço público.”
(BACELLAR, 2005, p. 40).
Segundo o mesmo autor:
O uso dos registros de batismo, casamento e óbito sempre foram
essenciais para os genealogistas, mas, a partir da década de 1960, os
35
demógrafos historiadores e historiadores da população passaram a
usar tais fontes de maneira bastante intensa alcançando resultados
expressivos na análise dos padrões demográficos de populações do
passado. (BACELLAR, 2005, p. 40).
Os registros paroquiais e diocesanos, com todos os materiais presentes em seu
interior, e independente dos fins para os quais existem e são desenvolvidos,
compreendem uma grande e valiosa fonte de informação primária para o povo
brasileiro, já que até a proclamação da República, em 1889, coube à Igreja Católica
realizar “os registros e a coleta de informações sobre nascimentos (através dos
batizados), matrimônios e óbitos da população brasileira.” (BOSCHI; BOTELHO,
2008, p. 113). Os tipos documentais encontrados nesta unidade de informação – grande
promotora de fontes de informação primárias – remetem à construção do caráter
nacional a partir dos registros da própria existência de tantos cidadãos brasileiros.
A visão da Igreja sobre a importância de seu patrimônio cultural pode ser
encontrada no documento “As bibliotecas eclesiásticas na missão da Igreja”, elaborado
pela Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja em 19 de março de 1994, na
qual se afirma o compromisso católico em manter “viva a memória, dentro das tradições
das sociedades e culturas , sendo assim um meio insubstituível para colocar as
gerações(...) em contato com tudo o que o evento cristão produziu na história e na
reflexão humana, para não privá-los da experiência que talvez já tenha sido alcançada
pelas gerações anteriores nas pegadas de suas respectivas culturas” (PONTIFÍCIA
COMISSÃO PARA OS BENS CULTURAIS DA IGREJA, 1994).
A biblioteca é, portanto, um patrimônio inalienável da Igreja Católica, sendo
uma unidade que, juntamente com arquivos, permite a guarda e preservação do depósito
cultural e de fé católico. Enquanto os arquivos promovem a pesquisa de fatos, dados e
informações muitas vezes pessoais, relacionando registros da própria cidadania com a fé
católica, as bibliotecas trazem fontes de informação primárias – a exemplo de tratados
teológicos, bulas e encíclicas –, como também secundárias – citando aqui as diversas
enciclopédias e organizações, como o “Compêndio dos símbolos, definições e
declarações de fé e moral”, elaborado pelo teólogo belga Heinrich Denzinger, e, por
fim, terciárias – como o próprio catálogo da biblioteca em si.
Outra fonte de informação eclesial é o próprio site do Vaticano, sendo aqui
classificada como um portal, por redirecionar o usuário para vários tipos informacionais
e documentais, dependendo da necessidade informacional e da própria busca elaborada.
36
No site são encontrados documentos, cartas, audiências, homilias, mensagens, orações e
uma aba específica para serviços de informação, referentes ao material relacionado à
imprensa.
Estes são alguns exemplos de unidades de informação, com suas respectivas
fontes e o uso de cada uma delas, abarcando o caráter religioso, de acordo com a
importância pessoal de cada material informacional encontrado; o caráter social,
considerando a relação íntima entre usuários/fiéis com os tipos documentais e
informacionais encontrados; e, por fim, o caráter científico, sendo estas e outras fontes e
unidades necessárias para pesquisas de caráter principalmente histórico, mas que são
úteis para a Ciência da Informação na medida em que se busca entender as formas de se
gerenciar a informação em recortes de realidades distintas daquelas fomentadas no meio
acadêmico.
4.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES
Analisando o que foi anteriormente exposto, denota-se a variedade de tipos e
fontes que compreendem o universo informacional católico. Em suas mais variadas
fontes de informação, a Igreja deliberadamente promove um acervo de informações
próprio, além de, quando necessita, utilizar do que está fora de seus muros. O maior
contributo deste trabalho – que, entre outras coisas, expões o trato eclesiástico com a
informação que produz e que utiliza – é a definição das fontes de informação católicas,
a partir das conhecidas definições entre primárias, secundárias e terciárias; as unidades
de informação nas quais estão inseridas; e também o meio de onde são geradas – se são
fruto da produção da Igreja ou se é por ela estudada e utilizada.
Mesmo tratando especificamente dos arquivos, a fala do arcebispo Francesco
Marchisano, então presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja,
em sua carta sobre a Função Pastoral dos Arquivos Eclesiásticos, de 1997, é cabível a
toda a gama de produção informacional eclesiástica. Sobre este universo, o prelado
afirma que os arquivos:
37
[...] merecem, pois, atenção sobre o aspecto tanto histórico quanto
espiritual e permitem compreender o ligame intrínseco destes dois
aspectos na vida da Igreja. De fato, através da história diversificada da
comunidade como registrada nos documentos, os traços da ação de
Cristo são revelados, uma ação que nutre Sua Igreja como um
instrumento universal de salvação e a inspira no caminho da
humanidade. Nos arquivos da Igreja, como o Papa Paulo VI adorava
dizer, são mantidos os vestígios datransitus Domini na história da
humanidade (PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA OS BENS
CULTURAIS DA IGREJA, 1997).
O que o arcebispo traz como reflexão é que o gerenciamento da informação
católica trabalha elementos que são fruto da caminhada da própria humanidade. Sendo a
Igreja a instituição mais antiga do mundo – e influenciando nos ditames sociais ao
longo dos dois mil anos de existência –, o que ela mantém, protege e utiliza tem
elementos de todos os arranjos sociais que percorreram igual período histórico.
Categorizar as fontes é, além de um trabalho de elucidação daquilo que se encontra na
Igreja, para auxiliar futuras pesquisas, é também aparar as arestas no entendimento de
duas facetas: o que a humanidade produziu e a Igreja utilizou, e o que a Igreja gerou
para que o homem, católico ou não utilizasse. Como está disposto no documento da
Pontifícia Comissão para Bens Culturais da Igreja (1994), referentes às bibliotecas
eclesiásticas:
A mera existência de bibliotecas eclesiásticas, das quais muitas são de
fundação antiga e de extraordinário valor cultural, constitui um
testemunho decisivo deste esforço irrevogável da Igreja para uma
herança espiritual documentada por uma tradição da biblioteca que ela
considera, ao mesmo tempo, como tanto um bem próprio quanto um
bem universal colocado a serviço da sociedade humana.
Ou seja, a compreensão das fontes presentes nas bibliotecas e demais unidades
de informação existentes no contexto eclesiástico é importante não somente para
entender a relação da igreja com a informação existente dentro da própria organização
eclesial, mas também as influências disto na sociedade global, que muitas vezes recorre
às fontes católicas suprir as demandas que necessita. E, em se tratando do papel
primário ao qual a Igreja deve se debruçar, as mais variadas fontes de informação
dispersas entre variadas unidades de informação são imprescindíveis para a catequese,
evangelização e salvação das almas, já que, ao menos em se tratando das bibliotecas, a
criação destas unidades:
38
[...] significaria revitalizar o espírito das velhas bibliotecas
eclesiásticas colocadas a serviço da igreja e da cidade, onde se podem
encontrar testemunhos autênticos e documentados da tradição e onde
se pode encontrar a mensagem que emana da cultura cristã
(PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA BENS CULTURAIS DA
IGREJA, 1994).
Buscando satisfazer o objetivo ao qual o tema deste trabalho se propõe, foi
elaborado um quadro classificatório das fontes de informação presentes nas unidades de
informação distintas, sendo consideradas as bibliotecas, pelo acervo que apresentam,
preservam e mantém para consulta; os museus, pela proposta de preservação de
memória; os arquivos, uma vez que são centros de documentação responsáveis pela
guarda e manutenção de materiais informacionais importantes para a memória e gestão
da Igreja (a exemplo do Arquivo da Arquidiocese de Natal, que mantém viva a memória
de fatos da Igreja particular em Natal e também serve de base documental para
necessidades presentes); e as paróquias, as quais utilizam de inúmeros documentos
externos a si mesmas, mas também geram outros, os quais são utilizados como
probatórios durante toda a vida de um fiel católico, como, por exemplo, os batistérios
(certificado de Batismo, que atesta que o indivíduo tornou-se cristão e está incorporado
à Igreja Católica Apostólica Romana) e os certificados matrimoniais, comprovante que
um homem e uma mulher estão unidos sacramentalmente.
Quadro 1 – Fontes de informação católicas de acordo com cada unidade de informação
Fonte: autoria própria.
Unidades de Informação Fontes Primárias Fontes Secundárias Fontes Terciárias
Bibliotecas Tratados teológicos;
obras de referência
(ex.: Suma Teológica);
Bulas, Encíclicas;
Sermões; etc.
Organizações de obras (ex.:
conjunto de homilias de
Bento XVI); Coleções de
Sermões do Padre Antônio
Vieira; Organizações de
Encíclicas; etc.
Catálogos de obras;
Enciclopédias
eclesiais; etc.
Museus Paramentos; objetos
litúrgicos; pinturas;
cadernos de anotações;
etc.
Arquivos Atas de reuniões de
pastorais; cartas de
sacerdotes e prelados;
Fotografias; etc.
Documentários de redes de
televisão; gravações
audiovisuais; etc.
Paróquias Batistérios; Certidão
de Matrimônio;
Proclamas nupciais;
Catálogos com fontes
primárias; guias para
orientar no trabalho
com o arquivo
paroquial.
39
Para a elaboração do quadro classificatório, foram considerados alguns aspectos.
O primeiro foi o contributo científico do estudo, permitindo que novas pesquisas
tenham base teórica para tratar do tema. O segundo foi o conhecimento próprio de cada
espaço, pela vivência no ambiente eclesial, tendo sido realizadas visitas à biblioteca do
Seminário de São Pedro – Seminário da Arquidiocese de Natal, responsável pela
formação dos futuros sacerdotes – e ao Arquivo da Arquidiocese de Natal, para pesquisa
sobre o funcionamento, objetivo e características do corpo informacional presente em
cada uma destas unidades. Quanto aos museus e paróquias, o contato cotidiano com
estas e periódico com aquelas unidades permitiu que houvesse referencial para tais
análises. O terceiro aspecto considerado foi a conceituação de cada tipo de fonte, de
maneira a definir melhor como cada tipo informacional pode vir a ser classificado,
existindo, em algumas unidades, certos tipos de fontes ou não.
4.2 TIPOLOGIA DOCUMENTAL
Ao analisar todas as fontes de informação católicas, bem como esquematizá-las
de acordo com níveis de uso (primário, secundário e terciário) juntamente com as
respectivas unidades nas quais estão inseridas, denota-se que há um grande apelo aos
documentos. Por mais que hajam unidades com fontes diversas, de bibliotecas aos
museus, contendo objetos, paramentos (trajes litúrgicos), obras de arte e outras coisas
mais, os documentos , registros e livros são os mais percebidos e que recebem maior
atenção da gestão de curadoria que a Igreja promove.
Estes documentos são, em sua maior parte, fontes primárias, por serem
produções da própria Igreja, do Magistério, e fruto do desenvolvimento teológico que
mantém-se ao longo dos dois mil anos de existência da Igreja Católica Apostólica
Romana. Por mais que estejam categorizados sob a ótica das fontes e unidades (cf.
Quadro das fontes de informação católicas de acordo com cada unidade de
informação), seus conceitos plenos não foram abordados aqui, e a isto se refere o
presente tópico.
Conceituar os tipos documentais é uma tarefa importante, que dá mais bases para
o estudo e permite uma exploração futura sobre cada uma delas, uma vez que muitos
leigos não entendem concretamente ao que se propõe cada tipo. Para elucidar isto, foi
realizado o quadro a seguir:
40
Quadro 2 – Tipologias documentais de fontes de informação católicas
Fonte: autoria própria.
O quadro anterior serve, portanto, para auxiliar o bom entendimento acerca de
conceitos que envolvem determinados tipos documentais, os quais não são tão
explorados, mas que se abrem para um grande arcabouço teórico, científico e passível
de pesquisas.
Para melhor auxiliar na compreensão dos dados apresentados no Quadro 2,
seguem algumas imagens referentes a algumas tipologias documentais apresentadas:
Tipo documental Conceito Exemplo Fonte de
informação
Tratado teológico Estudo formal acerca de
um determinado tema
teológico, expondo uma
opinião teológica acerca
de uma questão.
Tratado da Verdadeira Devoção à
Santíssima Virgem Maria, de São Luis
Maria Grignion de Montfort, por meio
do qual é exposta a chamada “escravidão
de amor” e a necessidade de se ter uma
grande devoção para com Nossa
Senhora.
Primária
Bula papal Alvará passado pelo
Papa ou Pontífice
católico, com força de
lei eclesiástica.
Quo Primum Tempore, do Papa São Pio
V, através da qual foi instituído o Rito
Tridentino.
Primária
Encíclica Carta circular do papa
abordando algum tema
da doutrina católica.
Pascendi Dominici Gregis, de São Pio
X, condenando os erros do modernismo;
Primária
Batistérios Certificados que
comprovam que um
determinado cristão
recebeu o Sacramento
do Batismo.
Primária
Constituição
dogmática
Documento por meio do
qual o Sumo Pontífice
proclama um dogma.
Dei Filius, do Concílio Vaticano I,
confirmando a Doutrina Católica e os
princípios de fé.
Primária
41
Figura 2 – Tratado da Verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria
Fonte: Fraternidade Arca de Maria.
Figura 3 – Bula Papal Quo Primum Tempore
Fonte: Editora Permanência.
42
Figura 4 – Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis
Fonte: Editora Burns & Oates.
Figura 5 – Certidão de Batismo
Fonte: Arquivo pessoal de Nestor de Oliveira Filho.
43
Nos dois quadros elaborados neste trabalho são elencados exemplos através dos
quais pode ser assimilada uma informação. Muitos deles – as fontes primárias em geral
– são publicados através do Magistério (termo que vem de Magisterium / Magister, o
qual está relacionado a “mestre” e, portanto, à autoridade que ensina) Eclesiástico, o
qual é formado pelos bispos e o papa. Cristo criou a Igreja Católica como instituição
que ligasse e desligasse tudo entre o Céu e a terra, de maneira a guiar os homens pela
Sua Doutrina, os Sacramentos, etc (cf. Evangelho de São Mateus 16, 18-20).
É com esta visão que são elaboradas tantas fontes, pois a Igreja reconhece que
sua missão não é ser uma gestora da informação ou estruturar unidades, e sim ser o
meio da salvação das almas. Todo o arcabouço informacional gerado e utilizado pela
Igreja está sempre intimamente ligado com o sentido salvífico de sua existência, e não
pode ser, jamais, dissociado dele.
44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto ao longo do trabalho, o universo de organização informacional,
disposição e uso de fontes de informações e unidades informacionais presentes no
contexto eclesial é vasto. A Igreja Católica Apostólica Romana construiu, ao longo dos
séculos, um enorme acervo de materiais importantes para sua gestão interna e o contato
dos que estão no mundo externo.
A princípio, a informação era apenas um registro da Tradição – com T
maiúsculo, por ser, neste caso, a representação do chamado “depósito da fé” (Depositum
Fidei) – católica, de maneira a preservar o que os católicos, desde o próprio Cristo,
realizavam, com a doutrina, a liturgia, a Missa e demais atos e fatos da fé.
Depois, a informação adquiriu um valor superior, com cada tipo documental
rigorosamente preservado e protegido nas abadias e mosteiros; estudados e lidos por
monges que transcreviam tais obras – religiosas ou seculares – não mais exatamente
para registro, mas para preservação.
Após esta fase histórica, a disseminação da informação ganha força, com cópias
de obras sendo realizadas e as universidades tomando rumos maiores desde sua criação.
Nesta linha contínua, a relação entre Igreja e informação nos traz aos tempos atuais, em
que podemos acessar as fontes católicas através de meios analógicos ou digitais.
Através deste trabalho, as fontes foram detalhadas, de acordo com tipos
documentais categorizados, de maneira a exemplificar cada uma delas. Com a pesquisa
realizada, também foram acrescentadas unidades de informação ao estudo, uma vez que
não há organização da informação sem uma unidade para organizar, tratar, curar e
preservar esta.
Diante do exposto, compreende-se que a pesquisa atingiu os objetivos propostos,
uma vez que visou apontar as fontes de informação existentes no âmbito eclesiástico,
bem como elencar suas tipologias documentais e funções associadas. dependendo de
onde se encontra no fluxo informacional que cruza informações internas e externas da
Igreja.
O que se espera com a conclusão desta pesquisa é que se compreenda a
importância dos registros e da organização informacional católica, necessária, em
muitos aspectos, para a comunidade científica, a promoção de novos conhecimentos e
também a preservação da memória civilizacional; afinal, como já outrora exposto, a
Igreja Católica teve e tem, não somente como instituição religiosa mas também
45
enquanto gestora de informação, papel fundamental na construção do arcabouço
científico da humanidade. Contudo, também não se pode enxergar a Igreja como uma
grande unidade de informação, pois separá-la do seu caráter espiritual e doutrinário
seria mutilar a chamada “missão salvífica” de tal instituição.
Espera-se, pois, que este trabalho possa potencialmente servir de suporte a
futuras pesquisas realizados sobre o tema, e que ao agregar ao conjunto com o que foi
publicado anteriormente acerca de tais questões, fomentar o apreço pelo estudo de uma
instituição tão importante para o desenvolvimento intelectual da humanidade. Em
termos gerais, falar de sociedade da informação – como conhecemos hoje – sem citar o
caminhar que a Igreja Católica realizou, não seria plenamente fidedigno em termos
históricos, e mesmo honesto, pois o hoje não pode ser dissociado do ontem.
46
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