UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · AUTISMO, AMBIENTE ESCOLAR E OBSTÁCULOS...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
AUTISMO, AMBIENTE ESCOLAR E OBSTÁCULOS NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
FRANCISCA JALES DA COSTA DINIZ
NATAL-RN
2016
FRANCISCA JALES DA COSTA DINIZ
AUTISMO, AMBIENTE ESCOLAR E OBSTÁCULOS NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade a distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia, sob a
orientação da professora Dda. Ivone Braga
Albino.
NATAL-RN
2016
AUTISMO, AMBIENTE ESCOLAR E OBSTÁCULOS NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
Por
FRANCISCA JALES DA COSTA DINIZ
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade a distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profa Dda. Ivone Braga Albino (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
_____________________________________________________
Profa Ms. Antonia Maira Emelly Cabral da Silva Vieira
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.
______________________________________________________
Profa Ms. Gerlanne da Cunha Tavares
Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte.
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AUTISMO, AMBIENTE ESCOLAR E OBSTÁCULOS NO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
Resumo
Este artigo trata sobre uma pesquisa bibliográfica que objetivou compreender como ocorre o
processo de ensino-aprendizagem do aluno com autismo com ênfase nos obstáculos existentes no
ambiente escolar. Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico, explorando desde
livros, dissertações, teses, artigos e e-books, para analisar criticamente como tem sido trabalhado o
processo de ensino-aprendizagem com crianças autistas. Nos estudos foi verificado que cabe à
sociedade, à escola e à família se adequarem às necessidades específicas das pessoas com autismo,
de acordo com as suas limitações. Além disso, a mediação e o contato entre o aluno e educador
devem ser planejados e executados com mais atenção, especialmente quando os alunos apresentam
transtornos que comprometem suas relações interpessoais e o seu processo de aprendizagem.
Desconsiderar a identidade do autista, ao tentar normalizar o processo de lecionar em sala de aula,
adequando um aluno a uma realidade que não lhe integra, é o que tem, de fato, ocorrido diante do
despreparo dos educadores que necessitam de qualificação profissional. Verificou-se, portanto, que
é possível que o autismo seja vivenciado no ambiente escolar, de forma inclusiva, contando com o
apoio da família e dos educadores, superando as limitações e os obstáculos no processo de ensino-
aprendizagem.
Palavras-chaves: Autismo. Educação. Infância. Aprendizagem. Obstáculos.
Abstract
This article is about a bibliographical research that aimed to understand how is the teaching-
learning process of the student with autism with an emphasis on barriers in the school environment.
Initially it was based on a literature exploring from books, dissertations, theses, articles and e-
books, to critically analyze how it has been working the process of teaching and learning with
autistic children. In studies it has been found that it is the society, the school and the family fit the
specific needs of people with autism, according to its limitations. In addition, mediation and contact
between the student and educator should be planned and executed with more attention, especially
when students present disorders involving interpersonal relations and their learning process. Disregarding the identity of autism, to try to normalize the process of teaching in the classroom, a
student adapting to a reality that is not part of it, is what has, in fact, occurred before the
unpreparedness of teachers who require professional qualification. It was verified, therefore, it is
possible that autism is experienced in the school environment, inclusively, with the support of
family and educators, overcoming the limitations and obstacles in the teaching-learning process.
Key- words: Autism. Education. Childhood. Learning. Obstacles.
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Introdução
O autismo tem sido definido como um transtorno que compromete o desenvolvimento
humano e se manifesta, normalmente, antes dos três anos de idade, provocando alterações na
interação social, comunicação e comportamento da criança. Com as alterações comportamentais
elas enfrentam muitas dificuldades na aprendizagem e precisam de constante auxílio em sua vida
(CAETANO, 2000; PEREIRA et al., 2013), especialmente por parte da família e da escola, para
serem inseridas adequadamente na sociedade.
Atualmente, ouve-se falar muito sobre o autismo, entretanto, ainda permanecem
divergências e grandes questões ainda indecifráveis (AIRES et al., 2014). Boettger et al., (2013),
esclarecem que as dificuldades fazem com que o aluno com autismo apresente certas limitações no
processo de ensino-aprendizagem. Contudo, existe um consenso mundial de que, quanto antes for
diagnosticado e tratado, melhores serão as possibilidades de maior qualidade de vida da pessoa
diagnosticada como autista (BRITO, 2015). O diagnóstico, portanto, só poderá ser realizado
previamente com a atenção da família e de profissionais qualificados no ambiente escolar, para
tornar o processo de aprendizagem de forma inclusiva para estas crianças.
Santos et al., (2015), explicam que o desafio de alfabetizar alunos com Transtorno do
Espectro Autista- TEA, vem sendo superado à medida que as estratégias de ensino são adaptadas às
reais necessidades, refletindo positivamente no processo de desenvolvimento e aprendizagem das
crianças atendidas. Entretanto, persiste uma tendência de eliminação ou desprezo de crianças com
necessidades especiais na maioria das escolas, devido ao despreparo dos profissionais, da
inadaptação da escola para recebê-las e falta de investimento em capacitação (PEREIRA et al.,
2013).
Diante disso, a escola se constitui como um recurso fundamental para enriquecer as
experiências sociais das crianças possibilitando a interação e contribuindo para o desenvolvimento
de novas aprendizagens (NUNES et al., 2013). Logo, o processo de inclusão do aluno com
deficiência tem sido bastante discutido, tendo em vista que ainda existe um grande contingente de
alunos que frequentam apenas a escola de educação especial, como o caso de alunos com TEA
(BOETTGER et al., 2013).
Menezes (2013) percebeu em sua pesquisa sobre a inclusão escolar de alunos com TEA,
que ainda merecem ser estudadas e conhecidas as características comuns aos alunos com TEA, e as
suas particularidades em cada sala de aula comum, para que o trabalho de inclusão seja delineado
adequadamente. Essa compreensão tem sido analisada e explorada sobre a educação especial e suas
interfaces com outras áreas do conhecimento que se refletem na diversificada produção científica
(HAYASHI, 2011).
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Esse conhecimento científico e acadêmico tem determinado que a criança autista pode
apresentar aparência normal e um perfil irregular com os seguintes sintomas do TEA: distúrbios de
habilidades físicas, sociais e linguísticas (linguagem ausente ou atrasada), reações anormais às
sensações com restrita compreensão de ideias e com relacionamento anormal com os objetos,
eventos e pessoas, e ainda com a utilização de respostas inapropriadas a adultos e crianças e de
objetos e brinquedos não usados de maneira devida (AIRES et al., 2014).
Essas alterações influenciam nas questões educacionais e percebe-se que para se educar um
autista é preciso também promover sua integração social e, neste ponto, a escola é, sem dúvidas, o
primeiro passo para que aconteça esta integração (BRITO, et al., 2015), tendo em vista que Santos
(2014), concorda com esse pensamento e nos explica que abordar o atendimento educacional de
crianças e adolescentes que apresentam Transtornos Globais do Desenvolvimento é deparar‐se com
um campo em construção. Este autor nos fala, ainda, que a diversidade de abordagens de outras
áreas do conhecimento como a psiquiatria, a psicologia, a neurologia, evidenciam sua
complexidade, por isso não pode ser vista por uma única perspectiva.
Diante das características do autista e devido ao seu comportamento peculiar, incluindo
dificuldade de sociabilização, assim também de aprendizagem, é necessário que os profissionais
sejam habilitados para mediações claras e precisas de acordo com um programa que esteja ligado
diretamente ao autista (PAULA, 2014). Nesta perspectiva, é importante evidenciar que o tema
inclusão vem propondo sugestões de ação para a sociedade brasileira, visando propiciar o
conhecimento e a consciência da realidade social, educacional e psicológica aos que educam,
principalmente alunos que necessitam de atendimentos especiais (SOUZA; MATHIAS, 2012).
Essas considerações iniciais embasam a necessidade, nessa formação inicial de pedagoga, de
verificar quais as barreiras presentes no processo de ensino-aprendizagem de pessoas com TEA.
Elas existem? Como ocorrem? Diante disso, acredita-se que, por ser um transtorno de
desenvolvimento que compromete as áreas de socialização, a criança autista tem dificuldades para
aprender e por isso barreiras estão presentes no seu processo de ensino-aprendizagem. Acredita-se,
também, que esses obstáculos podem ser identificados e reexaminados à luz da teoria que trata
sobre o TEA, podendo ser dirimidos no processo de ensino-aprendizagem e, possivelmente, trará
benefícios à mediação escolar e à aprendizagem da pessoa autista.
Para a verificação da existência (ou não) de barreiras que atrapalham a vida escolar desses
alunos é necessário realizar uma pesquisa bibliográfica, utilizando-se da literatura existente sobre
essa temática. Segundo Gil (2002), este tipo de pesquisa proporciona o conhecimento e utilização
de estratégias e táticas de pesquisa adequadas aos objetivos e requisitos básicos tanto das pesquisas
acadêmicas quanto das pesquisas elaboradas para a solução de problemas práticos no processo de
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ensino-aprendizagem. Como caminhos orientadores da pesquisa é preciso, portanto, discorrer sobre
o TEA (caracterizando a pessoa que possui e apontando causas e tratamento clínico e pedagógico) e
sobre a trajetória escolar da pessoa com TEA no ensino regular. Especialmente os fatos sociais que
dificilmente podem ser tratados como coisas, pois, são produzidos por seres que sentem, pensam,
agem e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes maneiras (GIL, 2008).
Desenvolver esse trabalho de investigação científica, por meio da exploração bibliográfica
existente, é considerar que esta é motivada pela vivência com uma pessoa com espectro de TEA que
passou por obstáculos em sua vida escolar. Nesse sentido, o presente texto procura ser composto de
exploração de conceitos, opiniões, resultados de pesquisas, vivências, etc. tratados a seguir. Nesses
termos, metodologicamente a pesquisa foi desenvolvida com a realização de um levantamento
bibliográfico (sites, revistas, livros, dissertações, teses, artigos e e-books), para analisar criticamente
como tem sido trabalhado o processo de ensino-aprendizagem com crianças autistas. Foram
verificadas temáticas que evidenciam os problemas e questões sociais e estratégias de ensino que
visam solucionar os principais problemas e obstáculos, que surgem na vida social e escolar de
crianças com TEA.
Historicizando o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Em uma retrospectiva histórica, Bereohff (1994), relata que os indivíduos com TEA
sofreram com a eliminação de crianças mal formadas ou deficientes em várias civilizações, desde a
marginalização e segregação promovidas pela Idade Média, até um período marcado por uma visão
mais humanista na Europa, após a Revolução Francesa, para, então, chegar no século XIX, nos
primeiros estudos sobre as deficiências dessa síndrome. Esta autora esclarece ainda que, apenas no
início do século XX, a questão educacional passou a ser abordada, porém, ainda muito contaminada
pelo estigma de um julgamento social.
Historicamente as características apresentadas por crianças autistas têm sido usadas como
justificativa para a não inserção escolar, inclusive em escolas regulares (GOMES, 2011). Contudo,
os objetivos educacionais são específicos sobre adquirir as habilidades básicas de desenvolvimento,
especialmente comunicação e autonomia, e todas as intervenções dependerão da concepção teórica
utilizadas como apoio e principalmente do conceito de TEA (SERRA, 2010), que é defendido e
considerado como um distúrbio do desenvolvimento humano, e uma deficiência nos sistemas que
processam a informação sensorial que faz com que a criança reaja a alguns estímulos de maneira
excessiva, e em outras de forma débil (PAULA, 2014).
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Hayashi (2011) explica que a produção científica no campo da educação especial tem
apontado diferentes perspectivas teóricas, conceituais e metodológicas, sobre os estudos e
abordagens, indicando aos pesquisadores que a diversidade de perspectivas propicia um diálogo
entre múltiplas formas de aprofundamento teórico-conceitual na área. Especialmente porque a
incidência de casos de TEA tem aumentado de forma significativa durante as últimas décadas, pois,
apesar de muitas pesquisas e debates, até o momento, não se sabe ao certo se esse aumento
realmente reflete um crescimento genuíno do número de casos (SILVA; MULICK, 2009).
Com o passar do tempo a noção de TEA tem sofrido uma série de mudanças ao longo do
tempo. Sua definição e seu diagnóstico têm variado a partir da busca de uma maior elaboração
conceitual, fruto do grande aumento de pesquisas na área (LAMPREIA, 2003). A história do
diagnóstico oficial sofreu uma série de mudanças, ao longo do tempo, o termo TEA surgiu
oficialmente pela primeira vez na CID 9 (Classificação Internacional de Doenças), em 1975, e foi
categorizado como uma psicose da infância (LAMPREIA, 2003).
Em busca de evidências que justificassem a precocidade das clínicas, os conceitos teóricos
sobre a etiologia e dinâmica do TEA se modificaram gradativamente, ao longo do tempo, com
abordagens que buscam uma etiologia orgânica para o quadro e o caracterizam, prioritariamente,
por falhas cognitivas e sociais (TAMANAHA et al., 2008). Sobre tais fatores na aprendizagem Orrú
(2008, p.10) explica que:
No caso de pessoas com TEA, numa perspectiva de desenvolvimento e educação
tradicional centrada na doença ou nos sintomas, suas condições normalmente
encontradas envolvem dificuldades de aprendizagem, interação e comunicação,
gerando certa complexidade no que se refere ao trabalho a ser realizado pelo
educador. Porém, mesmo em tais circunstâncias, na perspectiva da abordagem
histórico-cultural, espera-se um salto a ser dado por esse indivíduo, a partir do
contexto de relações pessoais, das atitudes possibilitadas e envolventes do
educador.
O que as pesquisas e estudos têm mostrado é que, mesmo com as dificuldades de
aprendizagem, durante os últimos oito anos, as políticas educacionais brasileiras passaram por um
conjunto de reformas que trouxe para o centro da cena as propostas curriculares, entretanto, em
outros momentos históricos, o currículo também foi objeto de expressiva intervenção
governamental (DIAS; LOPES, 2003), especialmente quanto ao ensino de disciplinas especificas na
educação de crianças especiais, considerando a vivência na escola, na sociedade e família, a
qualificação profissional dos educadores, as interações comportamentais, a inclusão escolar e o
desempenho quanto ao processo de ensino aprendizagem na escola.
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Vivência: uma forma de constatação de barreiras.
O tema da acessibilidade de crianças com TEA em ambientes educacionais, mais
precisamente nas escolas de ensino básico, tem chamado a atenção de grandes autores e
pesquisadores da área educacional (SOUSA; SOUSA, 2015). É bastante comum observar
comentários como “as pessoas com TEA vivem num mundo à parte” (Gomes, 2011, p.04). Para este
autor essa conduta justifica-se pela dificuldade de interação social evidenciado nessa população e na
medida em que se conhece mais sobre esse transtorno melhor se compreende os déficits na
interação social.
Muito já se discutiu sobre a importância de se levar um sujeito com TEA até a escola e sobre
o quanto as vivências educacionais representam para o desenvolvimento dessas crianças (SERRA,
2010). Contudo, o acompamhamento deve ser realizado tanto por profissionais escolares, quanto
por profissionais da área da saúde, junto da família da criança ou adolescente que apresenta o
quadro do espectro autista, com agravamento nas suas relações e interações interpessoais.
O contato entre família, escola e sociedade deve ser a forma básica de tratamento no intuito
de melhorar o comportamento e as interações da criança com todos que convivem com ela,
permitindo um melhor processo de ensino-aprendizagem, e, consequentemente, uma melhor
qualidade de vida. Atualmente, dentre as técnicas e metodologias utilizadas, os programas de
intervenção precoce no TEA seguem uma perspectiva com princípios gerais básicos altamente
individualizados ao perfil de habilidades comunicativas da criança-alvo, as de processamento
sensorial e formas não convencionais de comportamento (LAMPREIA, 2007). Entre um tratamento
mais convencional com a família, e os tratamentos que podem ser trabalhados entre profissionais da
saúde e da educação, o ideal seria a junção de diferentes técnicas no intuito de melhorar a inclusão
escolar e social da criança e a sua qualidade de vida.
Para haver inclusão, portanto, é necessário que haja aprendizagem, e isso traz a necessidade
de rever os nossos conceitos sobre currículo e programas educacionais (SERRA, 2010). Sendo
imprescindível reconhecer as principais deficiências acometidas pela síndrome do espectro autista,
que, de acordo com Bereohff (1994, p.17), podemos considerar as seguintes deficiências: primárias,
que, provavelmente, estariam relacionadas com os problemas subjacentes de compreensão e
motricidade: alterações neurológicas, quociente de inteligência, respostas anormais a sons, deficiência ou
ausência de compreensão da linguagem verbal, dificuldade em imitar movimentos finos e complicados,
compreensão deficiente da informação visual, dentre outras (BEREOHFF, 1994, p.17). Ainda, de acordo
com esse autor, são consideradas deficiências secundárias (relacionadas com os distúrbios de
comportamento consequentes aos itens anteriormente): dificuldade nas relações pessoais, resistência a
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mudança no meio ambiente ou na rotina, resposta anormal a situações cotidianas, comportamento social
inadequado, auto-agressão, dentre outras (BEREOHFF, 1994, p.17).
De um modo geral, considerando qualquer que seja o problema do aluno comum, ou de um
aluno com alguma necessidade especial, devemos considerar o que Capellini et al., (2004),
explicam: quanto mais precoce for a identificação, por parte do professor, das alterações referentes
aos atos de ler, escrever e calcular, melhor se estabelecerá sua prática pedagógica, pois questões que
permeiam a sala de aula como o fracasso escolar, a repetência, a baixa autoestima, tanto do
professor como do aluno, e a evasão escolar, podem ser minimizadas, a partir do oferecimento de
melhores condições de estabelecimento da relação desenvolvimento/aprendizagem. O que torna
evidente a necessidade de melhorar as condições na escola e na vida das crianças e adolescentes
autistas no intuito de melhorar o processo de aprendizagem. Ainda, sobre estas características
referentes ao TEA, Sousa; Sousa (2015, p. 02), relatam que as crianças apresentam, na maioria das
vezes, vários sintomas como:
Dificuldade de relacionamento com outras crianças; riso inapropriado; pouco ou
nenhum contato visual; aparente insensibilidade à dor; preferência pela solidão;
modos arredios; rotação de objetos; inapropriada fixação em objetos; ausência de
resposta aos métodos normais de ensino; insistência em repetição e resistência à
mudança de rotina; ecolalia; recusa colo ou afagos; age como se estivesse surdo;
dificuldade em expressar necessidades (usa gesticular e apontar no lugar de
palavras), dentre outros.
O comportamento descrito por este autor evidencia ainda mais a complexa situação que os
educadores e familiares que convivem com estas crianças enfrentam para proporcionar a inclusão
social adequada, assim como, tornar a aprendizagem confortável e tranquila, e, ao mesmo tempo
interessante e cotidiana. Sabe-se que a maioria das crianças autistas, por exemplo, apresentam
dificuldades de compreensão de linguagem abstrata ou dificuldade para lidar com seqüências
complexas de instruções que necessitam ser decompostas em unidades menores (BOSA, 2006).
Nesse sentido, sabe-se que a comunicação é um aspecto afetado na vida da pessoa com TEA
apresentando-se severamente prejudicado, pois, o desenvolvimento incial da linguagem é
caracterizado pela demora no início da fala ou pela falta de progresso (com possibilidade de
regressão), após a aquisição incial da linguagem (FÁVERO et al., 2005).
Diante do exposto é importante compreender que a perspectiva da inclusão escolar,
atualmente, parte do pressuposto de que a participação plena e igualitária das pessoas com
necessidades educacionais especiais só será alcançada se o pensamento não for em adaptar as
pessoas à sociedade, e, sim, em adaptar a sociedade às pessoas (CARVALHO; TAVARES, 2011),
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assim cabe a sociedade se adequar, assimo como a escola e a família a estas pessoas de acordo com
suas necessidades e limitações.
Por uma necessidade de qualificação profissional
A educação se caracteriza num trabalho que visa desenvolver as oportunidades para que
cada um venha a ser um sujeito em toda sua plenitude, apoiando-se nos recursos da pessoa,
mediante a consideração de suas necessidades e limitações, suas habilidades e possibilidades
(CARVALHO; TAVARES, 2011). Tais necessidades e limitações são observadas pelos educadores
durante todo o desenvolvimento de aprendizagem, assim como estes profissionais qualificados
também auxiliam aos alunos a superarem estas dificuldades, fazendo-os desenvolverem novas
habilidades, com novas possibilidades de aprendizagem.
Nesse contexto, podemos denotar o quanto é essencial que a formação docente seja moldada
de forma inclusiva, com base nas necessidades de todos os alunos, sem excluir qualquer que seja,
com suas peculiaridades ou não. Um dos mecanismos apontados pelos documentos oficiais para o
controle da formação de professores é o processo de avaliação de competências, essa formação por
competências tem sido elemento fundamental em um número significativo de reformas curriculares,
nos mais variados níveis e modalidades de ensino em diversos países (DIAS; LOPES, 2003),
principalmente, quando o tema se trata da educação inclusiva e sobre o perfil de alunos especiais,
como os que apresentam o TEA.
O debate em torno da formação de professores/as no Brasil não é algo novo, há muito tempo
vem se sentindo a necessidade de se formar professores(as) que, cada vez mais, possam atender às
novas demandas de nossa sociedade, que procuram os serviços oferecidos pela escola (SOUSA et
al., 2015) e atualmente um desses serviços se trata justamente da educação desenvolvidaa de forma
inclusiva. Nesse sentido, Orrú (2008, p.07) explica que:
O professor em sua relação com o aluno conduz a apreensão dos significados
tomados como também dos conceitos elaborados, além de fazer uso de
instrumentos e da própria linguagem em seu processo de ensino-aprendizagem
tornando o conhecimento mais acessível. Ele atua como um agente de mediações
entre o contato de seu aluno e a cultura que é desenvolvida na relação com os
outros, proporcionando aquisição de conhecimentos a partir de circunstâncias
diversas que geram a compreensão significativa.
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Essa mediação e contato entre o aluno e educador deve ser planejada e executada com mais
atenção, especialmente, quando os alunos apresentam transtornos que comprometem suas relações
interpessoais e o seu processo de aprendizagem. Por isso a inclusão de pessoas com necessidades
educacionais especiais nas classes do Ensino Fundamental, no Brasil, necessita de educadores
qualificados e dispostos a lidar com esse novo cenário educacional que vem desafiando a prática
pedagógica dos professores (GOMES, 2011).
Esse desafio de incluir as crianças especiais e adequando a metodologia pedagógica de
ensino, tem sido um tema comumente discutido, especialmente, quando evidenciamos a
qualificação e formação docente especificamente para lecionar de uma forma inclusiva a diferentes
alunos, com suas limitações, deficiências e transtornos, no intuito de inserí-los adequadamente no
meio escolar e social, com o apoio familiar de forma equilibrada. Como é mencionado por Souza;
Mathias (2012, p.02):
Um dos aspectos mais desafiadores da educação contemporânea é a exigência de
um tratamento educacional cuja metodologia surja a partir da vertente dos próprios
alunos e dos pais, para que se possa atender às necessidades não só dos que estão
dentro dos parâmetros da considerada “normalidade”, mas também dos que
apresentam outras demandas em razão de sua realidade pessoal.
Desse modo, a qualificação profissional para lidar com crianças que apresentam espectro
autista, é imprescindível, especialmente pelo fato dos autistas apresentarem agressividade,
autoagressão, agitação, irritabilidade, déficits de atenção e controle motor, temor excessivo a
objetos inofensivos ou ausência de medo em resposta a perigos reais e transtornos de humor e
afetivos (AIRES et al., 2014). Os educadores também devem orientar a família sobre a melhor
forma de desenvolver o ensino em casa, com o memso grau de eficiência, envolvendo a criança ou
adolescente na aprendizagem sem que esta perca a sua própria noção de realidade, adequando a
escola, a família e a sociedade de acordo com essa realidade vivenciada pelo autista.
No entanto, nem sempre os profissionais apresentam qualificação, formação ou informação
adequada para aplicar em sala de aula, aos casos específicos a serem acompanhados na escola.
Gomes (2011) percebeu que a falta de capacitação em serviço, possivelmente, tem influência na
concepção que os professores têm do fazer pedagógico em sala de aula. Ao avaliar ações dos
profissionais da educação sobre a inclusão de alunos com TEA na escola regular esta autora
concluiu que, pelo fato destes professores não terem sido capacitados e nem informados a respeito
do tipo de alunos que receberiam, se sentiam incapacitados de lidar com o fazer pedagógico. Nesse
sentido Serra (2010, p. 164), explana que:
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A inclusão educacional é a palavra de ordem e os principais documentos que
subsidiam a formulação de políticas públicas de Educação Especial - a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948), a Declaração de Salamanca (1994), e a
Lei n. 9394 de Diretrizes e Bases da Educação (1996) - enfatizam a igualdade e o
direito à educação para todo cidadão. No entanto, quando se trata do indivíduo
portador de TEA, é importante analisar alguns aspectos relevantes para o
entendimento das suas necessidades educacionais. Caso contrário, a inclusão pode
representar intenções de “normalização” ou ainda uma violência à identidade
autista.
Violar a identidade do autista ao tentar normalizar o processo de lecionar em sala de aula,
adequando um aluno a um realidade que não lhe integra, é o que tem, de fato, ocorrido, diante do
despreparo dos educadores, com base em sua formação ou processo de qualificação profissional. Os
cursos de licenciatura ou formação de professores precisam formar sujeitos que possam atuar nos
diferentes contextos que compõem a escola. Não se forma um professor sem que este não tenha
conhecimento mínimo da realidade do ambiente escolar (SOUSA et al., 2015), assim como, das
limitações e habilidades de seus alunos.
Contudo, as dificuldades encontradas pelos profissionais são uma realidade comum, por
isso, na escola os profissionais devem realizar análises reflexivas diante das dificuldades e
necessidades apontadas, e realizarem as mudanças cabíveis, como implementar um programa de
treinamento como a educação continuada em serviço (MONTAGNER et al., 2007). Em meio a
todos estes obstáculos, que impedem uma formação docente adequada e um processo educacional
eficiente para os alunos autistas, comumente, tem sido utilizadas propostas metodológicas e
tecnologias no intuito de proporcionar uma melhor aprendizagem, tanto para educadores, quanto
para alunos.
Na busca pelo rompimento de barreiras impostas a indivíduos, que sofrem por causa de
distúrbios físicos e/ou cognitivos, o homem voltou, também, sua atenção para o desenvolvimento de
tecnologias capazes de suprir as necessidades desencadeadas por esses distúrbios (AVILA et al.
2013). Avila e colaboradores (2013, p.117) explicam que:
Estas tecnologias são conhecidas como Tecnologias Assistivas (TAS) e definidas
pelo Comitê de Ajudas Técnicas da Coordenadoria Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência como uma área do conhecimento de caráter
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas
e serviços visando promover a inclusão social de Pessoas com Necessidades
Especiais (PNES).
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O uso destas tecnologias deve ser utilizado na capacitação profissional e também deve ser
explorado posteriormente por estes profissionais em sala de aula. Cabe ainda acrescentar, que a
capacitação de profissionais voltada para a educação de alunos com necessidades educacionais
especiais deve esclarecer características das variadas síndromes, pontuar limitações e habilidades
relacionadas a estas, e apresentar e discutir outras possibilidades de aprendizagem fundamentadas
em vivências significativas (CARVALHO; TAVARES, 2011) especialmente com a disponibilidade
de diferentes tecnologias.
Diante disso, é importante que os educadores repensem sobre a atuação, e reavaliem
criticamente a forma de ensinar, refletindo sobre os preconceitos e sobre a necessidade de uma
mudança social, assim como a inserção de atividades práticas que possam fazer alguma diferença
dentro da sala de aula e possam atenuar o sentimento de fracasso nos alunos (BORUCHOVITCH,
1999). De toda forma, alguns estudos sugerem que, com educação apropriada, mais crianças
autistas são capazes de utilizar as habilidades intelectuais que possuem para avançar em níveis
acadêmicos (BOSA, 2006) a partir da dedicação, orientação e ensino de profissionais dedicados e
qualificados.
Interações comportamentais x inclusão social e escolar da criança autista
Apesar do grande número de pesquisas e investigações clínicas realizadas em diferentes
áreas e abordagens de trabalho, não se pode dizer que o TEA é um transtorno claramente definido
(AIRES et al., 2014) especialmente pelo TEA ser confundido com outras doenças que têm sintomas
parecidos, sendo que, freqüentemente, é confundido com o retardo mental (GOMES, 2011) assim
como outros tipos de transtornos.
É comum observar em crianças com TEA respostas sensoriais e perceptuais peculiares,
como hiper ou hiposensibilidade a estímulos sonoros, visuais, táteis, olfativos e gustativos, dor
física e um medo exagerado à estímulos considerados inofensivos (SILVA; MULICK, 2009). Com
a variedade de problemas apresentados a possibilidade e diversidade de problemas e transtornos são
bastante variáveis nas escolas. Diante disso, a forma de lecionar irá depender diretamente do
contato e interação destes professores com este perfil de alunos, como foi observado por Vitta et al.
(2004, p.49). Ao entrevistar 70 professores de educação infantil da cidade de Bauru, eles
observaram que:
Questionados a respeito de um possível contato prévio com crianças deficientes,
85,71% responderam positivamente. Como era esperada, a resposta foi positiva
para os grupos referentes à escola especial e à escola regular com inclusão, sendo
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que no grupo sem inclusão, 71,43% responderam que também já tiveram contato
com estas crianças. As deficiências com as quais os professores tiveram mais
contato são: mental e a auditiva, respectivamente, com 31,52% e 30,43% das
respostas. A deficiência visual foi a menos citada, com 1,09%. Ainda, foram
apontadas deficiências variadas como Síndrome de Down, TEA e Paralisia
Cerebral.
Dentre as diversas manifestações clínicas, os indivíduos acometidos por esses transtornos
podem demonstrar capacidades cognitivas e lingüísticas atípicas e peculiares, tais como excelente
memória para detalhes (LIRA et al., 2008). Nesse ponto, essa é uma discussão complexa e um
tanto quanto polêmica, mas que nos faz refletir como sendo mais um limite apresentado, onde
percebe-se, claramente, o problema da educação brasileira no que se refere à inclusão (SOUZA;
ASSIS, 2015). Em seu trabalho Sousa; Assis (2015), observaram, em sua pesquisa com professores
de Educação Física de Jataí-GO, que estes profissionais não conseguiam lidar qualitativamente com
os alunos autistas nas escolas públicas, pois encontraram mais limites do que propostas e
possibilidades da parte desses professores. Outra questão ainda mais agravante, identificada em sua
pesquisa, é o fato de perceberem que a relação dos profissionais com os autistas ainda é distante,
originada do desconhecimento do assunto que, segundo esses sujeitos, parte tanto de sua formação
inicial quanto continuada.
No entanto, a educação inclusiva é um movimento que busca repensar a escola, de forma
contextualizada para que esta deixe de ser a escola da homogeneidade e passe a ser a escola da
heterogeneidade, para que a escola fundamentada na discriminação dê lugar à escola aberta a todos
(CARVALHO; TAVARES, 2011). Embora a educação inclusiva não seja um programa e sim uma
filosofia, existe uma forte tendência política para a implementação da mesma (SERRA, 2010). Essa
educação deve cotemplar diferentes disciplinas e cursos na vida escolar dos alunos, algo que foi
evidenciado na pesquisa de Santos et al., (2013). Estes, analisando indivíduos autistas, no ambiente
aquático, concluíram que um trabalho realizado de forma lúdica proporcionou às crianças um
ambiente prazeroso, contribuindo no desenvolvimento biopsicomotor e emocional.
Como existem diversas variações desta síndrome, cada uma com seus sinais específicos, não
existe um tratamento específico, tampouco uma cura. O que existem são abordagens individuais que
apresentam resultados variados. O tratamento, tanto da criança quanto do adulto autista, deve
procurar não a sua normalização, mas atenuar os prejuízos apresentados o máximo possível
(PICONI; TANAKA 2003). Na teoria, as escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o
sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em
virtude dessas necessidades para configurar o verdadeiro caráter da inclusão (CARVALHO;
TAVARES, 2011).
16
A educação inclusiva desses alunos ainda é um tema que traz muitos questionamentos e
polêmicas, devido aos déficits de comportamento, interação social e comunicação, observados nos
Transtornos Globais do Desenvolvimento - TGD, que têm sido assinalados como possíveis ou
principais limitações para sua efetiva inclusão escolar (BRITO; MISQUIATTI, 2013). Mas a
política educacional de inclusão se expande cada vez mais, com maior força a partir da Declaração
de Salamanca (1994), e ganha adeptos entre políticos, já que advoga tratamento equânime para
todos (LACERDA, 2003).
Assim a inclusão visa à modificação dos contextos sociais, pois o investimento em
processos inclusivos, gera uma ampliação nas possibilidades de participação das pessoas com
deficiência ao convívio social, sem segregá-las em instituições especiais, mas contribuindo para
legitimá-las como cidadãos (MATTOS; NUERNBERG, 2011). Nesse sentido esses autores ainda
evidenciam que, o trabalho interdisciplinar é indispensável e a parceria da educação com a
psicologia demonstrou como essa experiência pode ser muito proveitosa para melhorar as interações
entre os indivíduos e proporcionar a inclusão social de forma prática.
Desempenho educacional das crianças no processo de ensino-aprendizagem
A educação especial repousa sobre contradições sociais de categorias, como sobre noções de
deficiência e de inadaptação e também sobre instituições e públicos específicos, principalmente
porque a educação inclusiva implica a igualdade de oportunidades para todos e o acesso a um
direito universal (NABUCO, 2010). Nesta perspectiva, Silveira et al., (2012) explicam que a
promoção da saúde nos espaços escolares, deve ser tema discutido diante de uma preocupação
maior com a saúde do aluno com deficiência, no sentido de conter as limitações observadas. Estas
autoras evidenciam características e fatores imprescindíveis como o processo de medicalização das
deficiências, necessidade de treinamento dos profissionais, necessidade de se construir estratégias
promotoras de saúde e explicam que se colocadas em prática, em muito poderão contribuir para a
efetivação dos princípios estabelecidos pelas políticas inclusivas e para a estimulação do
desenvolvimento social, acadêmico e emocional dos alunos.
Desse modo, Visani; Rabello (2012) ao discutirem considerações sobre o diagnóstico
precoce do TEA e das psicoses infantis explicam que este tipo de diagnostico é essencial para se
pensar em ações futuras e observar as necessidades de maior concentração de esforços para que o
tratamento do TEA e das psicoses infantis possa acontecer de maneira cada vez mais precoce.
Especialmente porque a grande maioria das crianças desenvolve habilidades de produção e
compreensão da linguagem de forma natural e espontânea durante os primeiros anos de vida, a tal
17
ponto que se poderia esquecer a real complexidade do sistema a ser dominado ante a diversidade
das línguas humanas (BOMFIM, 2010). Pois o autista, independentemente de seu grau, está sempre
vinculado a um déficit em seu convivio social (ROCHA; TONELLI, 2013).
Esse processo de ensino envolve um planejamento criterioso das contingências de
aprendizagem, das seqüências de atividades e modelagem do comportamento do homem, por meio
de manipulações de reforços, desconsiderando os elementos que não podem ser observados ou
sujeitos a esse mesmo comportamento (ORRÚ, 2008). Existem atividades que são próprias de cada
idade e que permitem aprendizagens apropriadas às suas características e necessidades particulares
(VITTA et al., 2004). Mesmo compreendendo o TEA a partir das correntes psicológicas ou
psiquiátricas, a educação pode e deve ser usada como técnica (SERRA, 2010). Portanto, elucidar as
estratégias apropriadas para a aprendizagem eficiente permitiria elaborar planos pedagógicos com o
intuito de ensinar também procedimentos e estratégias de aprendizagem no ambiente formal de sala
de aula (BUSNELLO et al., 2012).
Atualmente diferentes metodologias e estratégias de ensino têm sido exploradas e utilizadas
na educação de crianças e jovens com TEA, tanto no ensino básico quanto no ensino médio, como o
uso de tecnologias assistivas (AVILA et al., 2013). Dispositivos de comunicação computadorizados
têm sido especialmente projetados para as finalidades da educação de pessoas com esse transtorno.
Em geral, o foco está em ativar a alternância dos interlocutores e em encorajar a interação (BOSA,
2006). Bosa (2006) explica que, mesmo crianças sem dificuldades de linguagem evidentes podem
também requerer alguns sistemas potencializadores da comunicação, em certas situações. Neste
contexto, alunos com dificuldades de aprendizagem seriam especialmente beneficiados, a partir do
conhecimento e do aprimoramento das estratégias que utilizam para aprender (BUSNELLO et al.,
2012).
Um exemplo do uso desta tecnologia pode ser observada na pesquisa de Piconi; Tanaka
(2003), estes utilizaram a construção de histórias em quadrinhos eletrônicos por alunos autistas e
perceberam que cada aluno possui suas singularidades e habilidades e, que é possível utilizar o
computador como uma ferramenta auxiliar na educação deste grupo de pessoas especiais através da
integração com o conteúdo visto em sala de aula e no cotidiano, favorecendo o desenvolvimento
cognitivo de forma reflexiva, como também pessoal, respeitando as especificidades de cada um.
Em uma abordagem distinta, explorando a música na aprendizagem de crianças e jovens
autistas, Pendeza; Souza (2015) concluíram em sua pesquisa que, a criança com TEA tem um
potencial muito grande dentro das aulas de música quando suas necessidades específicas são
atentadas e exploradas, podendo desenvolver diversas áreas do seu ser de forma global e integrada.
Estas autoras explicam que tal proposta gerou benefícios necessários ao desenvolvimento e
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autonomia às crianças com diagnóstico de TEA, constatando a assertiva da proposta e a sugestão da
ampliação do número de sujeitos investigados, bem como a ideia para uma futura investigação da
manutenção dos benefícios alcançados.
Quanto a disciplinas comuns na grade curricular escolar, Rocha; Tonelli (2013), concluíram
que, sobre o ensino de língua ingluesa, para pessoas autistas, é preciso uma maior conscientização
sobre as especificidades dessa síndrome nos cursos de formação de alunos-professores de língua
inglesa, pois, só assim deixaremos de conceber o aluno autista como um dilema e passaremos a vê-
lo como um mundo de oportunidades para o crescimento profissional.
Assim, progressivamente tanto para os alunos autistas, quanto para os profissionais em
formação, o desempenho durante o processo de ensino- aprendizagem resultará em benefícios. Pois
a qualificação profissional permitirá aos educadores integrar diferentes alunos especiais e trabalhar
de forma inclusiva em sala de aula, proporcionando igualdade social, oportunizando realizar a
prática da inclusão educacional, ofertando ensino de qualidade para diferentes perfis de crianças e
jovens, possibilitando que estes, com necessidades e limitações, possam ultrapassar as barreiras
sociais e educacionais, e possam ter um processo de ensino-aprendizagem efetivo e prático, com
educação de qualidade ao alcance de todos.
Considerações finais
O processo de ensino-aprendizagem do aluno com TEA com base em uma pesquisa
bibliográfica permitiu refletir acerca das dificuldades que as crianças e jovens com TEA têm
enfrentado, buscando qualidade de vida, inclusão e aceitação familiar e socioeducacional. Entre as
dificuldades foram observadas a ausência de investimento metodológico e de qualificação
profissional na educação das crianças, que podem apresentar limitações psicológicas, físicas e
emocionais. Expondo, desse modo, as dificuldades dos educadores em lidar com o aluno com TEA.
A presente pesquisa permitiu esclarecer as principais características do TEA, seu conceito,
características, diagnóstico, causas e possíveis formas de tratamento metodológico na abordagem
escolar, como a utilização de metodologias assertivas e de tecnologias no processo de
aprendizagem, como o computador. Observou-se, portanto, que com qualificação docente e
utilização de recursos metodológicos eficientes será possível enfrentar as características desse
transtorno, permitindo inclusão social, ensino e aprendizagem com eficiência.
Assim, pode-se concluir que o processo de ensino-aprendizagem do aluno com TEA
enfrenta muitos obstáculos, especialmente devido a problemas incidentes neste transtorno, como: a
ausência de qualificação profissional, a ausência de inserção de novas técnicas de ensino e o
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agravamento nas interações comportamentais da criança prejudicando o seu desempenho. Por isso é
essencial que o TEA seja vivenciado de forma inclusiva no ambiente escolar, com o apoio da
família e educadores, superando as limitações e os obstáculos no processo de ensino-aprendizagem.
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